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ABC da Execução Trabalhista — teoria e prática —

da Execução Trabalhista · 2015. 1. 30. · LUIZ OTÁVIO LINHARES ... fazer para que fossem tratadas como iguais aquelas ... “Iguais também porque o sangue”, com a licença

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ABCda

Execução Trabalhista

— teoria e prática —

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Coordenadores

LUIZ OTÁVIO LINHARES RENAULT • MÁRCIO TÚLIO VIANALUIZ RONAN NEVES KOURY • PAULA OLIVEIRA CANTELLI

CLÁUDIO JANNOTTI

Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais

apresenta

ABCda

Execução Trabalhista

— teoria e prática — Homenagem ao Professor

Carlos Augusto Junqueira Henrique

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EDITORA LTDA.

© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.br

Outubro, 2014

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

ABC da execução trabalhista : teoria e prática : homenagem ao professor Carlos Augusto Junqueira Henrique / Luiz Otávio Linhares Renault coordenadores... [et al.]. — São Paulo : LTr, 2014.

Outros coordenadores: Márcio Túlio Viana, Luiz Ronan Neves Koury, Paula Oliveira Cantelli, Cláudio Jannotti

Bibliografia.

lisarB — )ohlabart od otieriD( oãçucexE .2 lisarB — ohlabart od laussecorp otieriD .1 .oilúT oicráM ,anaiV .II .serahniL oivátO ziuL ,tluaneR .I arieuqnuJ otsuguA solraC ,euqirneH .3

III. Koury, Luiz Ronan Neves. IV. Cantelli, Paula Oliveira. V. Jannotti, Cláudio.

14-10366 CDU-347.952:331(81)

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Execução trabalhista : Processotrabalhista 347.952:331(81)

2. Brasil : Processo de execução : Direito do trabalho 347.952:331(81)

Versão impressa - LTr 5116.6 - ISBN 978-85-361-3142-9Versão digital - LTr 8505.0 - ISBN 978-85-361-3186-3

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SUMÁRIO

Prefácio.............................................................................................................................................. . 9

introdução — O papel da Justiça do Trabalho no Brasil

Mauricio Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado ................................................................... 13

Teoria

AudiênciA trAbAlhistA e execução

Denise Alves Horta ......................................................................................................................... 23

As PenAlidAdes trAbAlhistAs e PenAis APlicáveis Ao dePositário infiel, APós A PublicAção dA súmulA vinculAnte n. 25 do stf

Guilherme Orlando Anchieta Melo e Lutiana Nacur Lorentz ......................................................... 29

Ação rescisóriA, imPugnAção recursAl e defesA dA coisA julgAdA

Júlio Bernardo do Carmo ................................................................................................................ 33

bens jurídicos e imPenhorAbilidAde convencionAl

Taísa Maria Macena de Lima ........................................................................................................... 37

coisA julgAdA

Roberta Campos Ferro e Emerson José Alves Lage ......................................................................... 43

direitos humAnos e efetividAde dA execução trAbAlhistA

Ricardo Wagner Rodrigues de Carvalho ......................................................................................... 49

execução ProvisóriA e liberAção de dinheiro

Paula Cantelli .................................................................................................................................. 57

execução no Processo coletivo

Cléber Lúcio de Almeida e Wânia Guimarães Rabêllo de Almeida ................................................ 61

fAlênciA e recuPerAção judiciAl: umA AbordAgem à luz dA Proteção lAborAl

Rosemary de Oliveira Pires ............................................................................................................. 67

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filigrAnAs e firulAs nA execução trAbAlhistA

Mônica Sette Lopes ......................................................................................................................... 73

gArAntiAs

Lucilde D’ajuda Lyra de Almeida .................................................................................................... 77

honorários obrigAcionAis nA justiçA do trAbAlho

Cláudio Jannotti da Rocha e Mirella Karen de Carvalho Bífano Muniz .......................................... 81

imPArciAlidAde sem neutrAlidAde

Sielen Barreto Caldas de Vilhena ..................................................................................................... 87

juiz e execução Luiz Otávio Linhares Renault e Márcio Túlio Viana ....................................................................... 93

liquidAção de sentençA nA execução trAbAlhistA

Luiz Ronan Neves Koury ................................................................................................................ 97

ministério Público e execução trAbAlhistA

Rafael de Araújo Gomes e Virgínia Leite Henrique ......................................................................... 101

nAturezA do título que fundA A execução PrevidenciáriA nA justiçA do trAbAlho

José Eduardo de Resende Chaves Júnior ......................................................................................... 111

nulidAde

Luiz Otávio Linhares Renault .......................................................................................................... 117

oito Artigos do cPc APlicáveis à execução trAbAlhistA

Fernanda Nigri Faria ....................................................................................................................... 123

PenhorA

Luiz Otávio Linhares Renault .......................................................................................................... 129

PenhorA de sAlários

Cleber Lúcio de Almeida ................................................................................................................. 133

PArAdoxos dA Prescrição

Márcio Túlio Viana .......................................................................................................................... 137

Prescrição intercorrente: não APlicAção Aos créditos trAbAlhistAs

Marcelo Pertence ............................................................................................................................. 145

questões PolêmicAs nA execução trAbAlhistA: frAude e execução e concurso PArticulAr de credores

Isabela Márcia de Alcântara Fabiano ............................................................................................... 149

recursos no tst — APontAmentos sobre o PrequestionAmento

Laura Ferreira Diamantino Tostes ................................................................................................... 153

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sindicAtos, Ações coletivAs e execução trAbAlhistA

Ellen Mara Ferraz Hazan ................................................................................................................. 157

tst e execução trAbAlhistA

Dimer Azalim do Valle .................................................................................................................... 163

utilizAção do Processo como instrumento sociAl

Dayse Coelho de Almeida ............................................................................................................... 169

vAlores — liberAção em execução ProvisóriA

Ezio Martins Cabral Júnior ............................................................................................................. 173

xeque-mAte nA execução trAbAlhistA

Luiz Otávio Linhares Renault e Leonardo Tibo Barbosa Lima ........................................................ 177

zonA cinzentA: entre A clt e o cPc

Luiz Otávio Linhares Renault e Leonardo Tibo Barbosa Lima ........................................................ 181

Yin-YAng e execução trAbAlhistA A efetividAde dA execução trAbAlhistA entre A bAlAnçA e A esPAdA dA justiçA

Roberta Freitas Guerra .................................................................................................................... 185

Temas relevanTes

execução de sentençA trAbAlhistA estrAngeirA

Vitor Salino de Moura Eça ............................................................................................................... 193

o discurso dos direitos humAnos no contexto do cAPitAlismo Pós-industriAl: estudo sobre A críticA de KArl mArx Ao PArAdigmA liberAl dos direitos humAnos de PrimeirA gerAção e os desAfios dA contemPorAneidAde

Lucas de Alvarenga Gontijo ............................................................................................................ 197

os excluídos e A justiçA

Egidia Maria de Almeida Aiexe ....................................................................................................... 207

os PArAdoxos dA conciliAção

Márcio Túlio Viana ......................................................................................................................... 211

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PREFÁCIO

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas, pretas, amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

(Carlos Drummond de Andrade)

Carlos Augusto Junqueira Henrique. Tal como o poeta, também gauche na vida. O homem que “atrás dos óculos e do bigode” — e também da barba —, “é sério, simples e forte” e que se comove com a lua e com o conhaque — quem sabe um vinho? —. O homem que percorreu esse “mundo, mundo, vasto mundo” propondo ora rimas, ora soluções, para torná-lo mais justo e bonito, tanto quanto o seu “vasto coração”. E assim, “comovidas como o diabo”, escrevemos este prefácio sobre a história desse homem.

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Nascido em Belo Horizonte, em 27 de maio de 1949, filho de advogado renomado e conhecido por seu conhecimento, oratória e bondade, e também de advogada séria e lutadora, uma das primeiras mulhe-res a se formar em Direito nesta Capital, Carlos cresceu em um ambiente que mesclava alegria e retidão, música e estudos, casa farta e distribuição do pão. Esses valores aprendidos em casa, juntamente com suas precoces leituras de obras consagradas da filosofia, economia e política, influenciaram decisivamente a vida daquele que, desde cedo, aprendeu a questionar não só “para que tantas pernas”, mas, sobretudo, como fazer para que fossem tratadas como iguais aquelas “brancas, pretas, amarelas”. Nesta luta, serviam todas as armas. As de Deus, iniciando sua militância vinculada à juventude católica, e as dos homens, participando de organizações estudantis (DCEs e UNE) e políticas, indo do Comando de Libertação Nacional (Colina), passando pela Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e chegando à Organização da Mobilização Operária (OMO), sigla que lhe valeu várias surras em sessões de tortura ao dizer que OMO seria um conhecido sabão em pó. Pelo menos, desculpe-nos o trocadilho, a alma estava lavada... E, em meio a prisões, torturas e exílios, mas também muita luta, militância e mobilização, Carlos graduou-se em Direito em 1971, tendo advogado por longos anos no escritório de Advocacia J. Milton Henrique. Iniciou a docência na ora recém-inaugurada Faculdade de Direito Milton Campos, dando aula desde a primeira turma. O magistério continuou na sua vida a partir de então, ministrando diversas disciplinas, de economia à prática trabalhista, passando por direito civil e prática forense. Na FDMC, ocupou também diversos cargos de coordenação acadêmica, dedicando-se de corpo e alma à formação de advogados que saibam pensar crítica e socialmente. Na área acadêmica, tornou-se mestre analisando as “Angulações do Estudo do Tempo no Direito: Processo, Intervalo intrajornada e Prescrição nos créditos trabalhistas de empregados rurais”, contando com um doutorado interrompido. E, se interrompeu um caminho, desbravou diversos outros, sendo um dos idealizadores do Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais. Conta ainda com vários artigos e livros publicados, não só jurídicos, mas também de poesia, tendo escrito ainda um livro infantil (além de povoar os sonhos de suas filhas com personagens criados em estórias de ninar em que crianças humildes lutavam contra o egoísmo de Smith, o dono da bola — e do mundo).

E se “o anjo torto, desses que vivem na sombra” predisse que seria gauche na vida, também lhe reservou outras surpresas, levando à magistratura aquele que, anos antes, era considerado “subversivo”, com cabelo na cintura ao vento, “sem lenço e sem documento” (literalmente, como no retorno do seu segundo exílio no Chile, um dos momentos mais tensos de suas tantas aventuras). Ninguém esperava por isso. Muito menos o próprio Carlos. Trabalhando como advogado na Caixa Econômica na área cível, sem qualquer contato com a matéria trabalhista, um conhecido que se tornaria um saudoso e combatente companheiro, Alaor, contou-lhe que iria prestar concurso para magistratura laboral, sugerindo que também o fizesse. Comprando sua CLT já na etapa final do concurso, Carlos iniciou sua atuação como magistrado em 1989, laborando como juiz até sua aposentadoria, tendo colaborado também na Escola Judicial e, sobretudo, para a imagem da Justiça Trabalhista, sendo reconhecido, por onde passou, como um juiz sério, célere e justo, que recusava qualquer auxílio, pois entendia que o agente do Estado era ele e não outro. Não se poderia esperar algo diferente desse homem íntegro e integral, que não mede esforços em tudo o que faz, mergulhando de cabeça naquilo que acredita e sente.

Mas quando o assunto é sentimento, é o coração de Carlos que, apesar de parecer “endurecer-se”, “não perde a ternura jamais”. Pois o anjo, aquele “torto”, da “sombra”, resolveu dar-lhe o sol, seu “monumento”, colocando em seu caminho as mais belas “pernas”, Maria Eugênia, que de aluna passou a esposa, mãe de suas duas filhas, Larissa, médica, e Virgínia, procuradora do trabalho, e avó de suas três netas, Beatriz, Janaína e Gabriela. São elas, suas “meninas”, como costuma chamá-las, que assinam este prefácio que, ao leitor acostumado às obras jurídicas, poderá parecer bastante pessoal, sensível, intenso. Pedimos, desde já, nossas desculpas. De fato, é. Pessoal, sensível e intenso. Como o nosso Carlos. A você, esposo, pai e avô, nossa homenagem e carinho. E ao leitor, nosso desejo de uma leitura interessante, inteligente e envolvente, como a vida gauche do nosso Carlos. Desfrutemos. Da vida e da leitura. Se possível, embriagados de poesia, olhando a lua, “Lua clara lua linda/amada lua da minha rua/resto de sol, cor de prata/imagem forte, gravada/sem nenhuma incorreção/suave flor na minha lua/a rua-lua do amor” (Minha filha).

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Assim, se começamos com uma poesia do Carlos, o Drummond, terminamos com essa acima, do nosso Carlos, o Augusto, o Junqueira, o Henrique. “Iguais também porque o sangue”, com a licença do outro poeta (João Cabral), dos dois Carlos tem não pouca, mas muita tinta. O tanto quanto necessário para descrever, em palavras, a beleza, e para viver, em realidade, os sonhos, ainda que possam parecer impossíveis.

SonharMais um sonho impossível

LutarQuando é fácil ceder

VencerO inimigo invencível

NegarQuando a regra é vender

SofrerA tortura implacável

RomperA incabível prisão

VoarNum limite improvável

TocarO inacessível chão

É minha lei, é minha questãoVirar esse mundoCravar esse chão

Não me importa saberSe é terrível demais

Quantas guerras terei que vencerPor um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijeiFor meu leito e perdão

Vou saber que valeu delirarE morrer de paixão

E assim, seja lá como forVai ter fim a infinita afliçãoE o mundo vai ver uma florBrotar do impossível chão.

(Sonho Impossível — Chico Buarque)

Belo Horizonte, outubro de 2013Maria Eugênia, Larissa, Virgínia, Beatriz, Janaína e Gabriela

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Introdução

O PAPEL DA JUSTIÇA DO TRABALHO NO BRASIL

Mauricio Godinho Delgado (*)

Gabriela Neves Delgado (**)

I — INTRODUÇÃO

O Poder Judiciário, de maneira geral, cumpre essencialmente duas principais funções na sociedade democrática constitucionalizada: dirimir conflitos por meio da aplicação da ordem jurídica e, ao mesmo tempo, estabelecer clareza e efetividade quanto ao sentido dessa ordem jurídica no plano do Estado e da sociedade civil.

Essas duas funções primordiais são, natural-mente, também cumpridas pela Justiça Trabalhista, segmento do Judiciário que é especializado no exame de litígios decorrentes do mundo do trabalho e das relações que lhe são próprias.

Seja na esfera das questões contratuais entre trabalhadores e empregadores ou tomadores de serviços, seja na esfera das questões coletivas entre trabalhadores e suas entidades sindicais em face dos entes coletivos no plano empresarial, a Justiça do Trabalho consiste em importante veículo de solução de conflitos, assim como é também o estuário prin-cipal de interpretação da ordem jurídica trabalhista na sociedade brasileira.

O que singulariza a Justiça do Trabalho em com-paração com os demais segmentos judiciais é parti-cularmente a circunstância de compor amplo sistema de proteção jurídica em direção à desmercantilização da força de trabalho no contexto econômico e social.

São distintos os sistemas de desmercantilização do trabalho gerados na história ocidental. No interior desses sistemas, o segmento judicial pode cumprir papel relevante. A Justiça do Trabalho, onde existe, é parte desse sistema complexo de desmercantilização.

No Brasil, sua existência data das décadas de 1930 e 1940, mantendo-se hígida e até mesmo se expandindo nos setenta anos subsequentes.

A Constituição de 1988, finalmente, confere a esse segmento do Poder Judiciário novo padrão, não somente em face de sua amplitude nacional então concretizada, como também em decorrência da sedimentação de seu papel desmercantilizador classicamente assentado décadas atrás.

(*) Magistrado do Trabalho desde 1989: inicialmente na 1ª e 2ª Instân-cias do TRT-MG e, desde novembro de 2007, no Tribunal Superior do Trabalho. Doutor em Filosofia do Direito (UFMG: 1993) e Mestre em Ciência Política (UFMG: 1980). Ex-Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG (1978-1992). Ex-Professor da Faculdade de Direito da UFMG (1993-2000). Ex-Professor da Faculdade de Direito da PUC-Minas (2000-2012). Ex-Professor do Centro Universitário IESB-Brasília (2008-2013). Professor Titular do Centro Universitário UDF, em Brasília, desde fevereiro de 2014.(**) Doutora em Filosofia do Direito (UFMG: 2005) e Mestre em Direito do Trabalho (PUC Minas: 2002). Professora Adjunta de Direito do Trabalho dos Programas de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Direito da UnB. Professora Adjunta de Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho dos Programas de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Direito da UFMG (2006-2009). Professora de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da PUC-Minas (2003-2006). Advogada.

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II — SISTEMAS DE DESMERCANTILIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAPITALISMO E NA DEMOCRACIA

“O trabalho não é uma mercadoria” — proclama o primeiro dos princípios fundamentais da Organi-zação Internacional do Trabalho, em conformidade com a Declaração Relativa aos Fins e Objetivos da OIT, firmada na Filadélfia, EUA, em 10 de maio de 1944 (“Declaração de Filadélfia — Anexo”)(1).

Este simples e abrangente enunciado da Organização Internacional do Trabalho, entidade criada em 1919 pelo Tratado de Versalhes, sintetiza a diretriz central de atuação dos movimentos sociais trabalhistas desde meados do século XIX, na Europa Ocidental, descortinando a essência da direção normativa do Direito do Trabalho desde sua origem há mais de século e meio atrás até a atualidade.

De fato, os sistemas jurídicos surgidos no mundo ocidental, de 1848 em diante, voltados a estruturar e reger as relações trabalhistas no capi-talismo, notadamente sob o marco do advento e avanço da democracia nos países europeus e das américas, são sistemas que, em maior ou menor grau, buscam concretizar a grande diretriz explici-tada posteriormente pelo princípio da OIT, ou seja, desmercantilizar, ao máximo, o trabalho nos marcos da sociedade capitalista.(2)

Grosso modo, são dois os padrões de estrutu-ração institucional e normativa dos sistemas jurídi-cos trabalhistas, a partir das experiências matrizes ocidentais, considerados os marcos da sociedade democrática: o modelo de normatização autônoma e privatística (ou modelo negociado, segundo expres-são mais corrente hoje) e o modelo de normatização privatística, mas subordinada (ou modelo legislado, segundo a linguagem dos dias atuais).

Ambos os modelos são plenamente compatíveis com experiências democráticas de organização e regência da sociedade política e da sociedade

(1) A respeito, consultar, o texto de Gabriela Neves Delgado, “Princípios Internacionais do Direito do Trabalho e do Direito Previdenciário”. In: SENA, Adriana Goulart de; DELGADO, Gabriela Neves; NUNES, Raquel Portugal (Coord.). Dignidade e Inclusão Social: caminhos para a efetividade do Direito do Trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2010. p. 451-463. Consultar também SÜSSEKIND, Arnaldo, Direito Internacional do Trabalho, 3. ed., São Paulo: LTr, 2000. p. 23-26. Ver ainda SÜSSEKIND, Arnaldo, Convenções da OIT e Outros Tratados, 3. ed., São Paulo: LTr, 2007. p. 13-30.(2) Sobre o papel do Direito do Trabalho como instrumento de desmercantilização (desmercadorização) do trabalho na sociedade econômica, consultar a historiadora Valéria Marques Lobo. Fronteiras da Cidadania: sindicatos e (des) mercantilização do trabalho no Brasil (1950-2000), Belo Horizonte: Argumentum, 2010, especialmente p. 11-23.

civil; ambos também são claramente interventivos nos contratos de trabalho, embora no primeiro a intervenção se faça mediante poderosa atuação sindical, ao passo que no segundo a imperatividade da norma estatal trabalhista cumpra destacado papel jurídico (papel maior ou menor, segundo a peculiaridade de cada país). Ambos criam uma estruturação complexa de regras jurídicas voltadas a diminuir e controlar o poder empresarial no âmbito dos contratos de emprego e da gestão trabalhista: no primeiro caso, por meio de instrumentos coletivos negociados e instituições representativas sólidas, com participação decisiva das entidades sindicais obreiras, dotadas de significativas prerrogativas jurídicas e institucionais em sua estruturação e vivência; no segundo caso, por meio de instrumentos coletivos negociados sindicais, mas também através de relevante legislação trabalhista estatal.

O segundo modelo, é verdade, conheceu va-riante autoritária durante a primeira metade do sé-culo XX, em que se exacerbaram suas características intervencionistas e publicistas, dando origem a sis-temas trabalhistas quase que estritamente legislados, sem qualquer espaço real para a livre organização e atuação das entidades sindicais dos trabalhadores e, muito menos, para a negociação coletiva trabalhista. Tratava-se dos experimentos fascistas e nazistas que vicejaram entre as décadas de 1920 e 1940, até o final da segunda guerra mundial, com reflexos em países latinoamericanos, inclusive no Brasil.

Porém, esta variante autoritária (modelo de normatização estatal subordinada) não invalida ou obscurece a importância histórica do modelo legislado democrático, que se mostrou ao longo de décadas notavelmente ajustado e partícipe da construção democrática no Ocidente, respeitadas suas feições peculiares em cada realidade nacional. Hoje, a propósito, o modelo legislado é claramente dominante em importantes países europeus noto-riamente democráticos (França, por exemplo, e, de certo modo, Alemanha) e em países latinoameri-canos de destaque, como, ilustrativamente, Brasil, México e Argentina.

É inegável que o processo de efetiva e ampla desmercantilização do trabalho realizado pelo modelo de normatização autônoma e privatística (modelo negociado) supõe o respeito profundo à atuação sindical, com o reconhecimento às entida-des sindicais de prerrogativas e poderes até mesmo inimagináveis nas ordens jurídicas de direito legisla-do — por exemplo, os impressionantes poderes das cláusulas closed shop e union shop, por mais de um

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século presentes no sistema sindical da Inglaterra(3). Tais enormes poderes conferidos aos sindicatos tornaram menos relevante a existência de regra legal imperativa do Estado na direção da desmercantili-zação do trabalho, uma vez que esta já despontava garantida no próprio plano da sociedade civil.

Com o advento, entretanto, da hegemonia neoliberal no Ocidente, desde finais dos anos de 1970, o modelo negociado clássico perdeu parte importante de sua eficiência desmercantilizadora, em face dos significativos assédios e restrições direcionados aos sindicatos desde então nos países matrizes desse modelo, com destaque para a Inglaterra e os EUA.

III — DESMERCANTILIZAÇÃO DO TRABALHO E SISTEMAS JUDICIAIS

Em qualquer sociedade democrática constitu-cionalizada, o Poder Judiciário cumpre, essencial-mente, duas funções: a) dirimir conflitos despontados na sociedade civil, no interior do Estado ou entre essas esferas e/ou seus integrantes; b) conferir clareza e efetividade à própria ordem jurídica imperante nessa sociedade civil e nesse Estado.

Essa duplicidade de funções comparece, de maneira geral, com respeito à Justiça do Trabalho ou segmento judicial congênere existente.

Nem todos os países construíram ramos es-pecializados do Judiciário para dirimir conflitos trabalhistas (Justiça do Trabalho) e nem todas as construções existentes são parecidas. Porém, os diversos exemplos históricos demonstram a possibi-lidade da existência de órgãos judiciais trabalhistas especializados em quaisquer dos sistemas jurídicos padrões, sejam os negociados, sejam os legislados. Naturalmente que é mais comum a presença de um segmento judicial trabalhista especializado nos sistemas de normatização privatística, mas subordinada (os ditos sistemas legislados), embora haja alguns exemplos concretos relativos a típicos sistemas negociados.

Entre os exemplos existentes, é mais comum a presença de um sistema judicial de primeiro grau especializado em matéria trabalhista, usualmente composto por órgão tripartite (uma autoridade estatal e dois representantes paritários de emprega-

(3) Tais cláusulas, guardadas suas peculiaridades, conferiam verdadeiro monopólio aos sindicatos no tocante à contratação de trabalhadores pelas respectivas empresas. Nos sistemas constitucionais de direito legislado, tais cláusulas têm sido, tradicionalmente, consideradas inválidas.

dores e empregados). Esse é o modelo dos Conseils de Prud’hommes, órgão pioneiro da França da pri-meira metade do século XIX. Observe-se também o modelo judicial alemão da Constituição de Weimar (1919-1933), “em que as cortes de primeira ins-tância se compunham de um presidente e um vice-presidente (juízes togados), apontados pela administração de justiça do Estado, e dois juízes leigos representando empregadores e empregados, cada um desses últimos escolhido pelo presidente da corte distrital ordinária a partir de uma lista de candidatos preparada por sindicatos de trabalhado-res e associações patronais”.(4)

A propósito, a Alemanha subsequente à Segunda Guerra Mundial instituiu sistema judicial muito semelhante ao brasileiro, com três níveis de organização institucional e de competência decisória dentro da mesma instituição judicial especializada (Justiça do Trabalho): os tribunais do trabalho, de primeiro grau, com composição paritária leiga, ao lado do juiz togado (composição similar à das antigas Juntas de Conciliação de Julgamento brasileiras, extintas pela Emenda Constitucional n. 24/1999); os tribunais especiais do trabalho, que têm âmbito regional; finalmente, o Tribunal Federal do Trabalho, um dos cinco tribunais superiores da República da Alemanha.

Há casos, mais raros, em que a Justiça do Trabalho exerceu, concomitantemente às duas fun-ções judiciais clássicas mencionadas, uma terceira função, específica do âmbito do Direito Coletivo do Trabalho: a de fixar normas e condições de trabalho para trabalhadores e empregadores de certa empresa ou de certo segmento empresarial.

Trata-se da singular prerrogativa de criar regras jurídicas para incidir sobre certa comunidade trabalhista, em exercício de atuação mais própria ao Poder Legislativo ou, no plano da sociedade civil, própria à negociação coletiva trabalhista. Consiste no poder normativo (assim denominado no caso brasileiro) ou do poder arbitral (mais próximo à experiência da Austrália e da Nova Zelândia, por exemplo) conferido por essas ordens jurídicas aos tribunais do trabalho.

Esse poder legiferante anômalo, de caráter normativo ou arbitral, surgiu, inicialmente, nas experiências da Austrália e da Nova Zelândia (primeiros anos do século XX), constando também,

(4) SILVA, Fernando Teixeira da, “Justiça do Trabalho Brasileira e Magistratura Del Lavoro Italiana: apontamentos comparativos”, in CAIXETA, Maria Cristina Diniz et alii (Org.), IV Encontro Nacional da Memória da Justiça do Trabalho — cidadania: o trabalho da memória. São Paulo: LTr, 2010. p. 66.

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posteriormente, do sistema corporativista autoritário italiano, criado no período do fascismo (décadas de 1920 a 1940). Com a instalação da Justiça do Trabalho no Brasil, em 1941, iria também caracterizar esse sistema jurídico nacional.

É, contudo, padrão que não se generalizou em distintas experiências nacionais do Ocidente, provavelmente pela circunstância de constituir forte concorrente normativo à negociação coletiva sindical, traduzindo, ademais, intervenção desproporcional do Estado no âmbito de matéria e de dinâmica próprias à atuação dos sindicatos e da negociação coletiva trabalhista. Afinal, não se trata de efetivo poder jurisdicional — próprio ao Judiciário, aplicando normas já existentes aos casos concretos —, mas poder legiferante, criador de normas jurídicas.

IV — A JUSTIÇA DO TRABALHO E A DESMER-CANTILIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL

A instauração de um sistema de desmercan-tilização do trabalho na economia e na sociedade brasileiras teve como marcos, nas décadas de 1930 e 1940, três importantes fatores: a estruturação do Di-reito do Trabalho, em seu ramo individual, com objetivo de regular, de modo imperativo, a relação de emprego, principal forma de conexão do trabalhador ao sistema socioeconômico (Direito Individual do Trabalho); a generalização da inspeção administrativa trabalhista no país, como instrumento de busca da efetividade desse ramo jurídico instituído (fiscalização pelo Estado das relações de trabalho no âmbito empresarial); a es-truturação de um segmento do Judiciário especializado na matéria trabalhista, como mecanismo de solução de conflitos individuais e coletivos, além de meio de sedimentação das regras e princípios componentes do Direito que lhe cabia aplicar (Justiça do Trabalho).(5)

A índole autoritária existente no processo de estruturação desse sistema desmercantilizador comprometeu, em boa medida, uma de suas importantes dimensões, a do Direito Coletivo do Trabalho, seja por restringir, significativamente, a

(5) Não se está tratando aqui da política trabalhista geral do período Vargas (1930-1945), que envolve, também, de modo correlato, por exemplo, três aspectos altamente autoritários, não inclusivos e sem relação necessária com os pontos desmercantilizantes enfocados neste artigo: de um lado, uma estratégia de repressão aos sindicatos livres e de criação de uma estrutura sindical vinculada ao Estado; de outro lado, o consequente comprometimento da negociação coletiva trabalhista; finalmente, a organização e o direcionamento do Ministério do Trabalho (na época, Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio) como órgão controlador e repressor do sindicalismo. Está-se enfatizando, neste artigo, somente o sentido includente e desmercantilizador de parte do sistema trabalhista estruturado naquelas duas décadas da primeira metade do século XX, no Brasil.

liberdade e autonomia dos sindicatos, na época, seja por controlar e diminuir os cenários e instrumentos propícios à negociação coletiva trabalhista, seja por instituir e exacerbar o poder normativo estatal conferido à Justiça do Trabalho.

A dimensão autoritária presente na origem do sistema, nas décadas de 1930 e 1940, não teve o condão, entretanto, de eliminar ou restringir o significativo papel desmercantilizador e includente do sistema trabalhista então sedimentado. Claro que essa dimensão poderia suplantar-se nos anos de experimentação democrática subsequentes a 1945; porém, conforme se sabe, essa experimentação foi de curto período, não atingindo duas décadas, sendo logo a seguir inviabilizada pelo golpe de estado de 1964.

Tal faceta autoritária, tempos depois, foi diluída pela promulgação da Constituição Federal de 1988, que, em seus dispositivos, assegurou a liberdade de associação e a autonomia aos sindicatos, além de produzir fortes incentivos à negociação coletiva trabalhista. Apesar de a Constituição ter mantido a estrutura do poder normativo da Justiça do Trabalho, iria atenuar, pela Emenda Constitucional 45/2004, a tradicional amplitude de atuação desse poder.

Com a nova Constituição, portanto, o sistema trabalhista brasileiro de desmercantilização do trabalho ganhou três novos pilares, além dos três oriundos das décadas precedentes: um sistema sindical com maior liberdade de organização e atuação (embora os sindicatos passem por crise inegável nesse período, parcialmente provocada pela inadequação das regras legais de sua estruturação ainda vigentes); uma dinâmica de negociação coletiva mais generalizada do que em qualquer época no passado; o destaque alcançado pelo Ministério Público do Trabalho, entidade também promotora da efetividade do Direito do Trabalho, dotada de novo perfil após 1988.

Esse sistema de desmercantilização favorece a afirmação do trabalho ao estabelecer regras de pro-teção trabalhista superiores aos simples imperativos do mercado, regras destinadas à concretização do marco constitucional de proteção trabalhista, que é expresso pela afirmação dos direitos fundamentais.

V — ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA JUSTIÇA DO TRABALHO NO BRASIL — SÍNTESE

1. CRIAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A Justiça do Trabalho foi instituída e estruturada por meio do Decreto-lei n. 1.237, de 1º de maio de 1939. Foi instalada e entrou em efetivo funcionamento,

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inaugurando-se em todo o país, em 1º de maio de 1941.

Inicialmente com caráter administrativo, pos-suía órgãos em três níveis: o então chamado Conse-lho Nacional do Trabalho — CNT —, com sede na capital da República (Rio de Janeiro). Em seguida, os então denominados Conselhos Regionais do Traba-lho — CRTs, distribuídos em 8 grandes regiões, que eram centralizadas nos maiores estados brasileiros, do ponto de vista populacional, com sede nas respec-tivas capitais do estado matriz. As regiões originais abrangiam, naturalmente, outros estados e territórios pátrios, de modo a englobar toda a federação.

As regiões pioneiras foram: 1ª: Rio de Janeiro, com sede na então capital da República; 2ª: São Paulo, com sede na capital do Estado, São Paulo; 3ª: Minas Gerais, com sede em Belo Horizonte; 4ª: Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre; 5ª: Bahia, sediada em Salvador; 6ª: Pernambuco, com sede em Recife; 7ª: Ceará, sediada em Fortaleza; 8ª Região: Pará, com sede em Belém.

Em 1º grau, haviam as Juntas de Conciliação e Julgamento, que, à época da inauguração, representavam poucas dezenas em todo o Brasil. Em 1945, por exemplo, havia somente 31 Juntas de Conciliação e Julgamento no país, que passaram a 39 em 1947. Ou seja, inicialmente, portanto, a Justiça do Trabalho estava presente em apenas algumas poucas grandes cidades brasileiras(6).

Embora tendo jurisdição por largos espaços geográficos, as Juntas de Conciliação e Julgamento não abrangiam, como visto, todos os municípios brasileiros, razão pela qual tornou-se necessária a extensão da jurisdição trabalhista aos Juízes de Direito, relativamente aos locais não abrangidos por JCJs — medida já determinada pelo próprio Decreto-lei n. 1.237/39.

Com a democratização do país em 1945/46, os debates constituintes direcionaram-se no sentido de incorporar a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário, suplantando sua origem administrativa. Nesse contexto, dias antes da promulgação da nova Carta Magna, o Decreto-lei n. 9.777, de 9.9.1946, preparou os termos do processo de incorporação do novo ramo ao sistema judicial. A nova Constituição, promulgada em 18 de setembro daquele ano, constitucionalizou a existência da Justiça do Trabalho, com sua plena integração ao Poder Judiciário brasileiro, inclusive no tocante às garantias clássicas asseguradas à magistratura.

(6) Fonte: Tribunal Superior do Trabalho — Coordenadoria de Estatística e Pesquisa — 2011.

Deixou a Justiça do Trabalho o âmbito do Poder Executivo, onde surgira. Nesse novo quadro institucional, os CRTs receberam nova designação — Tribunais Regionais do Trabalho —, passando o CNT a ser denominado Tribunal Superior do Trabalho.

Apesar de sua integração ao Judiciário, a Jus-tiça do Trabalho manteve sua peculiaridade de ser constituída por órgãos paritários, com a presença de juízes togados ao lado da representação classista, composta por representantes de empregadores e de empregados. Em primeiro grau, as JCJs eram inte-gradas por um Juiz do Trabalho e dois representantes leigos, o vogal representante dos empregadores e o vogal representante dos empregados. A paridade estava presente também nos TRTs e, até mesmo, no Tribunal Superior do Trabalho.

2. EVOLUÇÃO NO PERÍODO DEMOCRáTICO DE 1946 A 1964

A Carta de 1946, como visto, conferiu status constitucional à Justiça do Trabalho, integrando-a, com todos os poderes e prerrogativas, ao Poder Judiciário Federal. A partir de então, rapidamente destacou-se no cenário institucional e social do país.

No plano institucional, o destaque se deu por despontar como único segmento efetivamente célere e eficaz do Judiciário, conferindo resposta pronta e efetiva aos litígios postos a seu exame. Por décadas, o processo do trabalho e seus magistrados aprofun-daram a especificidade e a eficiência de seu modus operandi processual, quer no plano das lides indivi-duais, quer no plano das lides coletivas, demarcando a existência de inquestionável novo paradigma no tocante ao funcionamento do Judiciário.

No plano social, o destaque se deu por des-pontar como segmento judicial dotado de notável reconhecimento da comunidade, que rapidamente se integrou às dinâmicas mais importantes dos conflitos individuais e coletivos trabalhistas.

Ao longo dos 18 anos de democracia entre 1946 e 1964, a Justiça do Trabalho aprofundaria sua inserção na sociedade urbana e industrial brasileira, seja em face das disputas individuais levadas a seu exame, ou no tocante aos processos de dissídios co-letivos, que se tornaram extremamente importantes nessa fase.

O segredo do rápido sucesso público da Justiça do Trabalho residia no fato de conferir efetividade a uma ordem jurídica nova, especialmente dirigida a regular as relações de emprego características do sistema capitalista em expansão no Brasil. Profunda-mente diverso do clássico Direito Civil — notoria-mente individualista e não intervencionista, moldado para reger essencialmente relações entre seres iguais

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—, o jovem Direito do Trabalho era, ao revés, eco-nomicamente distributivista, intervencionista no contrato de emprego e com forte senso coletivo em sua diretriz geral. Em razão dessas características, o novo segmento jurídico decididamente deflagrava significativo e ágil processo de inclusão social, cul-tural e econômica das incontáveis levas de trabalha-dores que chegavam às cidades em crescimento em diversas partes do país.

Naturalmente que se está falando, entre 1945 e 1964, de um segmento judicial que ainda não pe-netrava todo o interior da sociedade e do território brasileiros, ficando circunscrito às capitais e grandes cidades do país. A Justiça do Trabalho, tal como o Direito Trabalhista à época, nos limites do pacto polí-tico informalmente estabelecido nas décadas de 1930 a 1945, não chegara ao campo, mantendo estrutura urbana não muito distinta daquela que lhe fora con-ferida em 1º de maio de 1941. Ilustrativamente, não se criaram quaisquer novos Tribunais Regionais do Trabalho entre 1946 e 1964 e nem se disseminaram as Juntas de Conciliação e Julgamento pelas cidades brasileiras, embora tivesse ocorrido crescimento no número de JCJs na época, até atingir 137 no ano de 1964. Mas, seguramente, não se pode considerar al-cançada a real interiorização da Justiça do Trabalho no período(7).

Esse relativo isolamento da Justiça do Trabalho aos maiores centros urbanos respondia também à circunstância de não ser ainda o Direito do Trabalho aplicável às relações empregatícias rurais, omissão que propiciava irreprimível exercício do poder oli-gárquico rural sobre os trabalhadores do campo. Tal pacto político de exclusão das áreas rurais brasileiras da influência da nova ordem jurídica trabalhista, expressado no primitivo art. 7º, b, da CLT, apenas começou a ser suplantado em 2 de junho de 1963, quando entrou em vigor o Estatuto do Trabalhador Rural (Lei n. 4.214/63), revogando, tacitamente, o excludente art. 7º, b, da Consolidação e estendendo direitos trabalhistas aos rurícolas.

3. O PERÍODO AUTORITáRIO DE 1964 A 1985

As duas décadas do período ditatorial iniciado em 1964 propiciaram o surgimento de fase curiosa

(7) Naturalmente, houve um processo de criação paulatina de novas Juntas de Conciliação e Julgamento entre 1946 e 1964, mas sem permitir a efetiva interiorização da Justiça do Trabalho no largo território brasileiro. De 1945 a 1964, ilustrativamente, o número de JCJs passou de 31 para 137, um crescimento expressivo porém incapaz de ultrapassar a zona urbana e desenvolvida da sociedade e economia do Brasil. Quanto aos TRTs, a primeira criação em seguida a 1946 somente ocorreu quase 30 anos depois, em 1975: Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, com sede em Curitiba-PR. (Fonte de dados sobre JCJs e TRTs: Tribunal Superior do Trabalho — Coordenadoria de Estatística e Pesquisa — 2011).

com respeito à Justiça do Trabalho: é que, apesar de o novo regime ser manifestamente refratário aos movimentos sociais e coletivos trabalhistas, não se propôs a desconstruir o sistema judicial trabalhista, até mesmo possibilitando certa ampliação e interio-rização de sua estrutura no território e sociedade brasileiros.

No período de cerca de duas décadas, foram criados quatro Tribunais Regionais do Trabalho, a saber: 9ª Região, com sede em Curitiba (Lei n. 6.241, de 1975); 10ª Região, com sede em Brasília (Lei n. 6.927, de 1981); 11ª Região, com sede em Manaus (Lei n. 6.915, de 1981) e 12ª Região, com sede em Florianópolis (Lei n. 6.928, de 1981).

Foram também inauguradas novas Juntas de Conciliação e Julgamento na época, em continuidade ao processo de disseminação da Justiça do Trabalho no território brasileiro. O número de JCJs passou de 137, em 1964, para 382, em 1984(8).

No plano do Direito Coletivo do Trabalho, a ordem jurídica buscou restringir a atuação dos tribunais do trabalho, em especial no tocante à fixação de reajustamentos de salários. Não obstante, em face do refluxo operário e da repressão ao movimento sindical, os dissídios coletivos mantiveram-se como importante canal de veiculação de reivindicações coletivas no sistema jurídico trabalhista brasileiro.

4. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E O PAPEL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

O período descortinado pela Constituição de 1988 é de notável importância na história da Justiça do Trabalho. Corresponde à fase de sua plena consagração como lídimo segmento concretizador da justiça social no campo do Judiciário.

O novo período constitucional foi precedido por quase quatro anos da Nova República, fase iniciada em março de 1985, com a superação do regime militar. Essa fase imediatamente anterior à Constituição já hauria as fortes orientações sociais que iriam se consumar em princípios e regras explícitos da Carta promulgada em 5.10.1988.

Nesse quadro de novos ventos democráticos e socialmente includentes, acelerou-se o processo de generalização da estrutura da Justiça do Trabalho no Brasil, criando-se, em apenas três anos e meio, quatro novos Tribunais Regionais no território nacional: 13ª Região, com sede em João Pessoa (Lei n. 7.324, de 1985); 14ª Região, com sede em Porto Velho (Lei n. 7.523, de 1986); 15ª Região, com sede em Cam-

(8) Os dados sobre a criação de JCJs e TRTs foram indicados pela Coordenadoria de Estatística e Pesquisa do Tribunal Superior do Trabalho, em junho de 2011.

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pinas (Lei n. 7.520, de 1986) e 16ª Região, com sede em São Luís (Lei n. 7.671, de 21.9.1988).

A Constituição de 1988, entretanto, é que iria ter notável clareza quanto ao papel includente e democrático da Justiça do Trabalho no sistema institucional brasileiro, compreendida como decisivo vértice da noção de justiça social no país.

Assim, determinou a Constituição da República, em seu texto original de 1988, a extensão dos tribu-nais do trabalho aos distintos estados da federação. Nesse quadro, oito tribunais regionais foram criados desde a nova Constituição: 17ª Região, com sede em Vitória (Lei n. 7.872/89); 18ª Região, com sede em Goiânia (Lei n. 7.873/89); 19ª Região, com sede em Maceió(Lei n. 8.219/91); 20ª Região, com sede em Aracaju (Lei n. 8.233/91); 21ª Região, com sede em Natal (Lei n. 8.215/91); 22ª Região, com sede em Teresina (Lei n. 8.221/91); 23ª Região, com sede em Cuiabá (Lei n. 8.430/92); 24ª Região, com sede em Campo Grande (Lei n. 8.431/92)(9).

A Constituição também direcionou forte incre-mento na rede de juízos de primeira instância nas diversas localidades dos estados brasileiros. Número expressivo de juízos de primeiro grau foram criados desde 5.10.1988, ultrapassando o montante de mais de 850 novas Varas Trabalhistas (antigas Juntas de Conciliação e Julgamento), além de se ter ampliado o número de Juízes do Trabalho por unidade judicial(10). Considerado, por exemplo, o marco do final de 2011 e início de 2012, o país já possuía mais de 1.450 Varas do Trabalho, com mais de 2.460 Juízes do Trabalho de 1ª instância em todo o Brasil, de modo a assegurar significativa presença da Justiça Trabalhista em todo o território nacional, mesmo nas áreas interioranas e preponderantemente rurais(11).

(9) O art. 112 da Constituição de 1988 determinava a existência de, pelo menos, um TRT em cada Estado e no Distrito Federal. Teve sua redação alterada, contudo, pela Emenda Constitucional n. 45/2004, suprimindo- -se esse comando institucional à União. No entanto, em 2004, data da EC n. 45, praticamente já se cumprira a determinação essencial do preceito constitucional primitivo, uma vez que todos os grandes Estados federais sediavam cortes regionais trabalhistas (na verdade, em 2010, todos os Estados federais com mais de 2 milhões de habitantes já possuíam TRS). Não havia TRTs, na época (e até hoje, julho de 2011), somente nos Estados mais escassamente populosos, quais sejam, Roraima (cerca de 450 mil habitantes em 2010), Amapá (cerca de 670 mil habitantes em 2010), Acre (cerca de 730 mil habitantes em 2010) e Tocantins (cerca de 1.380 mil habitantes em 2010). Todos os demais Estados e o DF passaram a sediar pelo menos um TRT (São Paulo, com mais de 40 milhões de habitantes em 2010, possui dois TRTs, o da 2ª Região e o da 15ª Região).(10) A partir da Emenda Constitucional n. 24, de 1999, com a extinção da representação classista, as Juntas de Conciliação e Julgamento desapareceram, passando a existir, em seu lugar, as Varas do Trabalho, sob direção do Juiz do Trabalho.(11) Considerado o período entre o fim do regime militar (março de 1985) e o início do ano de 2011, em torno de 1.000 novas Varas do Trabalho (ex-JCJs) foram criadas, passando de 382 para mais de 1.370, em

No contexto criado pela Constituição, novo avanço relevante ocorreu em 1999, com a extirpação da representação classista no Judiciário Trabalhista, por meio da Emenda Constitucional n. 24, de 1999. Com isso, a Justiça do Trabalho pode aperfeiçoar sua feição técnico-jurídica, criando condições para a mais nítida melhoria no exercício da prestação jurisdicional(12).

Ainda nesse mesmo contexto cultural, desponta a Emenda Constitucional n. 45, de dezembro de 2004, que alargou a competência da Justiça do Trabalho para relações de trabalho não empregatícias, lides intersindicais e litígios entre empregadores e União, em face dos atos praticados pela auditoria fiscal trabalhista (nova redação do art. 114 e incisos do Texto Máximo da República). Além disso, o novo texto reformado eliminou dúvidas reiteradas da jurisprudência acerca da competência judicial especializada(13).

A Constituição de 1988 é, pois, terreno fértil a propiciar a expansão da estrutura da Justiça do Trabalho, tanto em relação às varas do trabalho, como no tocante aos tribunais regionais.

Para além do incentivo à ampliação do quadro estrutural da Justiça Trabalhista propiciado pelo período democrático pós 1988, a Constituição também revigora a tese de compreensão da Justiça do Trabalho enquanto instrumento de justiça social; instrumento de desmercantilização do trabalho e de democratização das relações trabalhistas no Brasil.

Portanto, a Constituição de 88 também fortalece o sentido axiológico atribuído à Justiça do Trabalho, fundado e ancorado no valor da justiça social, e que

crescimento de cerca de 258% em 26 anos. Acresça-se a isso que, durante o próprio ano de 2011, cinco novos diplomas legais foram promulgados pela Presidenta da República, Dilma Roussef, criando outras novas Varas do Trabalho e vagas de Juízes de Trabalho, titulares e substitutos, em diversas regiões brasileiras, atingindo, somente em 2011, 84 Varas Trabalhistas e 160 cargos de Magistrados instituídos. Ou seja, no cômputo entre março de 1985 e o final do ano de 2011, passaram a existir cerca de 1.450 Varas Trabalhistas e 2.460 Magistrados do Trabalho de 1º Grau em todo o País, traduzindo um exponencial crescimento, apenas quanto às Varas Trabalhistas, de aproximadamente 280% nesse lapso temporal. Nos anos seguintes, novas Varas Trabalhistas ainda foram instituídas.(12) A extinção da representação classista, ademais, eliminava um dos mais impressionantes mecanismos de vinculação da estrutura sindical ao aparelho de Estado, no Brasil. Sua manutenção por 11 anos após 1988 representava, na verdade, inquestionável contradição com os princípios da liberdade de associação e, em especial, da autonomia dos sindicatos, enfatizados pela mesma Constituição de 1988 e fundamentais a qualquer construção e consolidação democráticas. Nessa medida, a Emenda Constitucional n. 24/1999 afirmou o melhor espírito da própria Constituição da República.(13) Entre as dúvidas eliminadas, situam-se as relativas ao exercício do direito de greve e as concernentes às indenizações por dano moral e material. Por outro lado, a amplitude da expressão relação de trabalho tem propiciado dissidências interpretativas no âmbito da doutrina e jurisprudência dos últimos anos.

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deve vincular a interpretação e aplicação do direito, no marco do Estado Democrático. Ou seja, a Justiça do Trabalho é considerada um dos mais sólidos e democráticos instrumentos jurídicos e institucionais para a concretização da dignidade do ser humano e dos direitos fundamentais nos conflitos de interesse.

VI — CONCLUSÃO

A Justiça do Trabalho, estruturada há mais de setenta anos no Brasil, cumpre, naturalmente, as funções clássicas aos segmentos do Poder Judiciário, quais sejam, solucionar controvérsias trazidas a seu exame no âmbito de sua competência e, cumulativamente, interpretar a ordem jurídica, assegurando-lhe sentido e abrangência universais no território brasileiro.

Cumpre também a Justiça Trabalhista a função particularizada de se integrar a um sistema institucional amplo, que visa a garantir certa desmer- cantilização do trabalho humano na vida social e econômica.

Embora tenha iniciado sua história como um experimento aparentemente datado, mera parte das políticas sociais elaboradas nas décadas de 1930 a 1945, a Justiça do Trabalho firmou sua identidade e seu papel social, econômico e jurídico no período democrático subsequente (1945-64), preservando- -se e se impondo também na regressão autoritária de 1964 a 1985.

Com a democratização do país em 1985 e subsequente promulgação da Constituição da Repú-blica de 1988, encontrou seu inteiro papel como a Justiça Social da República brasileira, contribuindo, decisivamente, para a realização da essencial função de desmercantilizar o trabalho humano no moinho incessante da economia e da sociedade.

Na verdade, a promulgação da Constituição Federal de 1988 é um marco no debate em torno desse processo de desmercantilização, por elaborar fundamentos mais sistematizados de proteção ao trabalho. Notadamente, o elenco de direitos fun-damentais previstos na Constituição Republicana unifica o sentido de proteção ao trabalho e em certa medida direciona o sentido de atuação da Justiça do Trabalho.

Em uma sociedade civil e um Estado que se consideram baseados nos princípios da dignidade da pessoa humana, da valorização do trabalho e espe-cialmente do emprego, da submissão da propriedade à sua função social e ambiental — em conformidade com o que determina a Constituição —, torna-se imprescindível a existência de uma sólida e univer-salizada estrutura dirigida à efetividade do Direito do Trabalho na vida econômica e social, inclusive com um segmento especializado, célere e eficiente de acesso ao Judiciário e de efetivação da ordem jurídica. Nesse sistema, cumpre papel decisivo a Justiça do Trabalho na democracia brasileira.

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Teoria

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AUDIÊNCIA TRABALHISTA E EXECUÇÃO

Denise Alves Horta (*)

INTRODUÇÃO

O processo [...] é um conjunto de fatos, ou melhor de atos: alguns homens, chamados partes e defen-sores, pedem alguma coisa a outros, chamados juízes; para fazer o que a eles se pede, os juízes escutam, observam, raciocinam, administram, condenam.(1)

As normas de processo — instrumentais — constituem os meios pelos quais as normas de direito material são adequadamente aplicadas na solução do conflito de interesses apresentado à aferição juris-dicional. Mas não é só. No caráter instrumental do processo, também está a preocupação com a “prote-ção de direitos” e a observância de princípios que o informam. Assim, como assinala Carnelutti, “a rela-ção entre direito e processo é dupla e recíproca”(2).

Esse aspecto é realçado por Marinoni ao as-sinalar que, por força das mudanças sobrevindas ao longo do tempo, “o processo deixou de ser um instrumento voltado à atuação da lei para passar a ser um instrumento preocupado com a proteção dos

(*) Desembargadora do TRT da 3ª Região. Especialização em Direito do Trabalho — Materialidade, Instrumentalidade e Efetividade pela PUC-MG. Especialização em Temas Filosóficos pela UFMG. Mestrado em Filosofia pela PUC-SP.(1) CARNELUTTI, Francesco. Instituições de processo civil. Tradução de Adrián Sotero De Witt Batista. v. I, Campinas: Servanda, 1999. p. 49.

(2) Ibidem, p. 72.

direitos”(3). Com efeito, a jurisdição afinada com os direitos e princípios constitucionais fundamentais do Estado democrático exige um processo que se amolde a esses valores da sociedade.(4) Da mesma forma os procedimentos, ou ritos processuais, que são o modo de se revelar o processo segundo a na-tureza e valor das causas, estão comprometidos com esse mesmo foco.

Desse modo, impõe-se ao juiz, no seu mister jurisdicional, exercê-lo à luz da preservação do direito ao contraditório e à ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (CF, art. 5º, LV), do direito à publicidade dos atos processuais (CF, art. 5º, LX), bem como do direito à razoável duração do processo e aos meios que garantam a celeridade de sua tramitação (CF, art. 5º, LXXVIII), observando, ainda, o princípio constitucional de serem fundamentadas todas as decisões (CF. art. 93. IX).

Na jurisdição trabalhista, estão inseridos, em máxima intensidade, os objetivos fundamentais constitucionalmente assegurados, impondo-se realçar, com Castelo que, assim, a jurisdição visa, “primeiramente, atender interesses do Estado/sociedade, relacionados com os escopos social,

(3) MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. v. 1, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 413.

(4) Cumpre salientar a observação de Marinoni de que “a jurisdição, no Estado contemporâneo, tem o dever de proteger todas as espécies de direitos, com isso se querendo evidenciar que o juiz, muito mais do que simplesmente aplicar a lei, tem o dever de compreendê-la a partir dos direitos fundamentais, no caso concreto” (MARINONI, op. cit., p. 410).

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político e jurídico, com isto poderá, também, ser, mediatamente, satisfeito o interesse das partes envolvidas no conflito”(5).

O exercício da jurisdição não se completa sem a efetividade do processo, que não se limita ao alcance da coisa julgada, mas visa à satisfação do direito judicialmente reconhecido, o que se realiza com a execução. Nesse sentido, observa Chiovenda que “a execução se inclui na jurisdição, constituindo o complemento necessário da atuação da vontade da lei, que é o escopo da jurisdição e do processo civil”(6). Nesse contexto, podem ser incluídos tam-bém os demais processos, mormente o trabalhista, pois a execução sem efetividade compromete a credibilidade do próprio Judiciário.

O processo do trabalho reveste-se de cunho especial, não implicando, porém, em seu afastamento do processo civil, que permanece como sua fonte subsidiária, consoante previsto no art. 769 da CLT.

No universo processual, a audiência é uma ocasião de vital importância, pois é a oportunidade em que as partes estarão frente a frente e perante o juiz. Trata-se de momento apropriado para a prática pelos litigantes e pelo magistrado de atos essenciais ao desfecho do processo, tanto na fase de conheci-mento, quanto na fase de execução, como se verá nos tópicos subsequentes.

AUDIÊNCIA TRABALHISTA: ASPECTOS RELE-VANTES

O juiz do trabalho é aquele que sente, em audiên-cia, as angústias do jurisdicionado e provê para que a prestação jurisdicional seja entregue com a maior rapidez possível.(7)

Audiência significa ouvir com atenção e pro-vém do latim audientia(8), palavra que tem como “elemento de composição, do latim audi —, de au-dire ‘ouvir’, que se documenta em alguns vocábulos formados do próprio latim (como audiência) e em

(5) CASTELO, Jorge Pinheiro. O direito processual do trabalho na moderna teoria geral do processo. São Paulo: LTr, 1996. p. 164.

(6) CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. v. 1, Campinas, SP: Bookseller, 1998. p. 60.

(7) OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual de audiências trabalhistas. São Paulo: LTr, 2013. p. 45.

(8) CUNHA, Antonio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Verbete audi (o), Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 83.

muitos outros introduzidos [...]”(9). Em juízo, é o instante, designado pelo juiz, para atender as partes, incentivar a conciliação, colher provas, proferir de-cisões necessárias à instrução do feito e, a final, pro-ceder ao julgamento da lide. Sobre o tema, sintetiza Pontes de Miranda, citado por Francisco Antônio de Oliveira: “audiência é o trecho de espaço de tempo em que, presente o juiz que preside a reunião, se dá a concentração e a imediatidade do processo; ou só para instrução ou só para julgamento; ou para instrução e julgamento”(10).

Indo além, com Isis de Almeida, a audiência é a espinha dorsal do processo e somente nela é que a dinamização do processo se realiza.(11) No mesmo sentido, observa Renault que “modernamente, a audiência avançou sobre o processo e dominou-o: retirou alguns de seus disfarces; inseriu o jurisdicio-nado diretamente no procedimento; desmistificou o juiz, exigindo-lhe atuação efetiva [...]. A audiência é realmente o coração do processo”(12). Com efeito, a audiência é o eixo sobre o qual os litigantes dei-xam fluir seus desenganos e as suas esperanças e que permite ao juiz situar-se no contexto litigioso para compreensão maior do fato controvertido, com vistas à melhor solução para a demanda. Como as-sinala Schiavi, “o processo do trabalho, na tradição forense, é um processo de partes e de audiência, pois se desenrola, na fase de conhecimento, durante a audiência, na presença das partes”(13).

A audiência é um ato solene e público (CF, art. 93, IX), afastando-se a publicidade para cau-sas em segredo de justiça (CPC, art. 155 e CLT, art. 770). Na condução da audiência, o juiz não tem um perfil passivo, ao contrário, a sua presença é emi-nentemente participativa. Não só como diretor do processo, condição que lhe atribui tanto o poder de polícia (CLT, art. 816) quanto o dever de velar pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento de-las (CLT, arts. 765 e 852-D). Mas, sobretudo, como intérprete dos fatos segundo o seu tempo e lugar e especialmente segundo os fins da jurisdição, tem o juiz o poder-dever de atuar, com imparcialidade,

(9) Idem.

(10) MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil, v. 2. p. 273, apud, OLIVEIRA, op. cit., p. 27.

(11) ALMEIDA, Isis de. Manuel de direito processual do trabalho. v. 2, São Paulo: LTr, 1994. p. 39.

(12) RENAULT, Luiz Otávio Linhares. Audiência trabalhista. In: BARROS, Alice Monteiro de (Coord.). Compêndio de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 268-269.

(13) SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2013. p. 85.

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para o alcance do fim último do processo e da sua destinação social. O impulso oficial está ínsito nos dispositivos da CLT supra citados, assim como no seu art. 878, convivendo harmonicamente os princí-pios inquisitório (primazia da iniciativa judicial não só na direção do processo, como na composição do material de cognição(14)) e dispositivo (prevalência da iniciativa das partes na formação do material cognitivo(15)).

Nesse contexto, a conciliação, como forma ideal de pacificação dos conflitos, é mecanismo intensamente prestigiado a qualquer momento do processo trabalhista (CLT, art. 764, caput e §§ 1º, 3º e art. 852-E). Para fomentar a conciliação, a sua tentativa é prevista, em duas oportunidades formais: à abertura da audiência (CLT, art. 846) e após as razões finais (CLT, art. 850), sem prejuízo da possibilidade de serem reiterados a qualquer tempo os esforços conciliatórios. No processo civil, a conciliação é também festejada, dispondo o art. 125, IV do CPC que compete ao juiz “tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes”, prevendo ainda o CPC, formalmente, a providência antes de se iniciar a instrução (CPC, art. 448).

Com efeito, a conciliação é a maneira mais eficaz de tornar efetivo o direito constitucional fundamental referente à razoável duração do pro-cesso e à celeridade de sua tramitação (CF, art. 5º, LXXVIII), além da economia dos altos custos que o processo representa. Desse modo, os Tribunais foram levados a estimular os acordos mediante a instituição de centrais e núcleos permanentes de conciliação em primeiro e segundo graus de juris-dição, que realizam audiências tanto em processos de conhecimento quanto de execução, visando especificamente o objetivo conciliatório.

Entretanto, o juiz do trabalho deve cuidar para que a conciliação não se faça de modo lesivo ao trabalhador, velando para que sejam preservados os direitos indisponíveis; mas o espectro conciliatório pode abranger direitos não pretendidos em juízo, tendo em vista o seu escopo tanto de solucionar quanto de prevenir litígios.

As partes estão obrigadas a comparecer em au-diência, pessoalmente, salvo nos casos de reclama-tórias plúrimas ou ações de cumprimento, quando os empregados poderão ser representados pelo sin-

(14) BATALHA, Wilson de Souza Campos. Tratado de direito judiciário do trabalho. v. I, São Paulo: LTr, 1995. p. 666.

(15) Idem.

dicato de sua categoria (CLT, art. 843), facultado o acompanhamento de advogado, pois vige no âmbito processual trabalhista o jus postulandi dos litigantes. O reclamado pode ser substituído pelo gerente ou preposto que tenha conhecimento dos fatos (CLT, art. 843, § 1º), que deverá ser empregado, exceto nas reclamações de empregado doméstico ou contra micro ou pequeno empresário (Súmula n. 377 do TST). O reclamante, em caso de doença ou motivo poderoso, devidamente comprovado, pode ser subs-tituído por outro empregado da mesma profissão ou pelo seu sindicato (CLT, art. 843, § 2º). A ausência em audiência implica, para o reclamante, o arqui-vamento da reclamação; para o reclamado a revelia, além de confissão quanto à matéria de fato (CLT, art. 844), exceto na ocorrência de motivo relevante (CLT, art. 844, parágrafo único).

Outro princípio informador do processo do trabalho é o da concentração dos atos processuais, que está atrelado ao princípio da oralidade e aos princípios da celeridade e economia, sendo os atos praticados com a imediatidade do juiz, que detém a condução do processo. Valorizando o princípio da concentração, a CLT prevê a realização dos atos processuais em uma única audiência, desde a ten-tativa conciliatória (art. 846), a colheita de defesa (art. 847), a instrução do feito com o interrogatório das partes (art. 848), a produção de provas teste-munhais e oitiva de peritos, se necessário (art. 848, § 2º), a apresentação de razões finais orais e reno-vação da proposta conciliatória, até o proferimento da sentença (art. 850). Os processos de rito suma-ríssimo estão regulados nos arts. 852-A a 852-I da CLT. Consentâneo com a dinâmica do processo do trabalho, vigora o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias (art. 893, § 1º e Súmula n. 214 do TST).

A previsão legal de audiência numa única assentada para instrução e julgamento do processo nem sempre pode ser rigorosamente cumprida, ante o volume de processos e a complexidade das causas, o que permite o seu adiamento (CLT, arts. 849, 852-H, §§ 1º, 3º, 4º, 7º). Na audiência em prosseguimento, a ausência de qualquer das partes acarreta-lhe a pena de confissão quanto à matéria de fato, se foram os litigantes intimados a compare-cer para depor (CPC, art. 343, §§ 1º e 2º e Súmula n. 74, I do TST). Finda a instrução, apresentadas as razões finais orais e renovada, sem êxito, a proposta conciliatória, poderá o juiz proferir de imediato a sentença, mas o comum é o adiamento da assentada, com a designação de data e hora para o julgamento (Súmula n. 197 do TST).

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Nos processos de alçada exclusiva das Varas (causas com valor de até dois salários mínimos), cujo rito é o sumário, o juiz poderá imprimir à audiência maior celeridade, pois é dispensável, a seu critério, o resumo dos depoimentos, devendo constar da ata a conclusão do magistrado quanto à matéria de fato (CLT, art. 851, § 1º e Lei n. 5.584/70, art. 2º, § 3º), sendo-lhe facultado, como nos demais ritos, o adiamento da audiência para o julgamento do litígio. Nos processos de rito especial, como no inquérito para apuração de falta grave (CLT, arts. 853 a 855) e ação de cumprimento (CLT, art. 872), a par das previsões que lhes são próprias, aplicam-se-lhes as normas do procedimento ordinário. A exceção está no dissídio coletivo, cujo procedimento vem disciplinado nos arts. 856 a 871 da CLT.

Com o elastecimento da competência da Justiça do Trabalho, decorrente da nova redação do art. 114 da CF, conferida pela EC n. 45/04, as ações incluídas nesse leque ampliativo tiveram sua tramitação regulada pela Instrução Normativa n. 27 do TST. Assim, o procedimento a ser adotado, incluído o das audiências, é o da CLT, salvo para as ações com rito específico disciplinado por lei, como o Mandado de Segurança, Habeas Data, Ação rescisória, Ação Cautelar e Ação de Consignação em Pagamento (IN-27, art. 1º).

A implantação do processo eletrônico, nos termos da Lei n. 11.419, de 19.12.2006, não trouxe a necessidade de alteração das sistemáticas processuais no desenvolvimento das audiências. Apenas quanto à defesa escrita, passou-se a permitir a sua apresentação antes da audiência ou durante a assentada em mídia removível, ou, até mesmo, após a audiência, em prazo concedido pelo juiz, se houver falha no sistema. Cabe enfatizar que o processo eletrônico, ao trazer a substituição do papel pelo meio informatizado, propicia maior celeridade, economia e racionalidade aos atos processuais, na busca permanente pela real efetividade da jurisdição e em sintonia com a preservação ambiental.

AUDIÊNCIA NA EXECUÇÃO

Sententia sine executione veluti campana sine pistillo est [...](16).

A execução é a fase em que se procura conferir efetividade ao título que detém força executiva, ou

(16) “Sentença sem execução é como um sino sem badalo”. Apud, BATALHA, Wilson de Souza Campos. Tratado de direito judiciário do trabalho. v. II, São Paulo: LTr, 1995. p. 685.

seja, é o momento processual em que se exige do devedor o cumprimento da obrigação reconhecida.

A CLT, no art. 876 e parágrafo único, discrimina os títulos que serão executados pela forma estabele-cida no seu Capítulo V. Assim, realiza-se a execução das sentenças com trânsito em julgado, a que se equi-param, nos termos do parágrafo único do art. 831, os acordos homologados em juízo; das sentenças de que não caiba recurso com efeito suspensivo; dos termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho; dos termos de conciliação fir-mados perante as Comissões de Conciliação Prévia (parágrafo único do art. 625-E). Executam-se, ainda, as custas processuais (art. 790, § 2º); os honorários periciais, de advogado, as multas e as contribuições previdenciárias (art. 876, parágrafo único) incluídos nos títulos executivos.

Na fase de liquidação do título executivo, que poderá ser por cálculo, arbitramento ou por artigos (CLT, art. 879), a audiência também pode e deve ser realizada. Na liquidação por artigos, a audiência é imperiosa, pois o exequente deverá provar fato novo (CPC, art. 475-E). Na liquidação por arbitramento, a audiência também tem previsão legal (CPC, art. 475-D, parágrafo único). Na liquidação por cálculos — a mais usual — a CLT prevê a intimação das partes para apresentação dos cálculos que entendam corretos (art. 879, § 1º-B). Na grande maioria das vezes, os cálculos do exequente e do executado são divergentes, pelo que a audiência é importante para que os litigantes cheguem a um denominador comum não só em relação aos valores divergentes, mas, quiçá, quanto à composição sobre a satisfação da própria execução.

Esse procedimento de se realizar audiência após a apresentação de cálculos pelas partes é adotado no Tribunal do Trabalho de Minas Gerais há mais de duas décadas, estando regulamentado no Provimento n. 3, de 17 de julho de 1991. Segundo o Provimento, apresentados os cálculos de liquidação pelas partes e sendo eles divergentes, “o juiz poderá, com a cele-ridade possível, designar audiência para tentativa de composição em relação à divergência”. Não havendo acordo ou ausentes as partes à audiência, o juiz po-derá homologar um dos cálculos ou, dependendo da sua complexidade, designar perito contador para fazê-los, no prazo que lhe for fixado (TRT/MG/Pro-vimento n. 3/1991, art. 1º, §§ 1º, 2º e 3º).

Liquidada a obrigação reconhecida, inicia-se a execução. Embora seja a fase verdadeiramente dolorosa do processo, ante a dificuldade trivial em se alcançar a satisfação da obrigação exequenda, não há previsão na CLT, específica, para a realização de audiências na fase de execução, tampouco na Lei