80
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JULIANO DOS SANTOS DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS Biguaçu 2010

DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

  • Upload
    dinhnga

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

JULIANO DOS SANTOS

DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS

Biguaçu

2010

Page 2: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

2

JULIANO DOS SANTOS

DA (IN) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Juliano Cardoso Schaefer Martins

Biguaçu 2010

Page 3: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

3

JULIANO DOS SANTOS

DA (IN)POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS

Esta Monogragia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

Biguaçu, 22 de Novembro de 2010.

Prof. MSc. Juliano Cardoso Schaefer Martins UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientador

Prof. MSc. _________________________ Instituição Membro

Prof. MSc._________________________ Instituição Membro

Page 4: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus sem o qual nada seria possível.

Agradeço e minha mãe e meu padrasto pelo exemplo de honestidade, humildade e perseverança, que sempre me deram a base familiar para que eu busque meus sonhos.

Agradeço a minha irmã que sempre, em todos os momentos acreditou em mim e me orientou no caminho a ser seguido.

Agradeço a minha namorada por estar sempre ao meu lado e por te me dado um filho maravilhoso que se tornou a razão de minha vida e de querer buscar sempre mais.

Agradeço ainda aos meus amigos André João, Iolanda, Lívia, Mayara, Matheus Fabris, e outros que contribuíram direta ou indiretamente com o presente trabalho.

Por fim, agradeço a meu orientado que me recebeu de braços abertos, repassando seu conhecimento, contribuindo em muito para que se concluísse a pesquisa.

A todos e ao que me ajudaram o meu muito obrigado.

Page 5: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho diretamente a minha irmã Dra. Gisele dos Santos, por ser simplesmente tudo que ela é, especial, companheira, correta, humilde e outros diversos adjetivos que a descreveriam. Certamente se hoje estou aqui apresentando esta tese tudo se da graças a ela que sempre acreditou nos seus sonhos, buscou seu espaço, superando diversas dificuldades e, com o imenso coração que tem, me alicerçou e me conduziu a escolha profissional de ser um advogado. Devo muito a esta mulher que é à base de meu caminho, agradeço todo o amor que ela tem para comigo e que não tem vergonha alguma de demonstrar em todos seus gestos, quero dizer que a amo e que este trabalho dedica-se a ela, minha irmã.

Page 6: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 22 de Novembro de 2010]

Juliano dos Santos Graduando

Page 7: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

7

RESUMO

Dado a busca incessante do poder judiciário por uma justiça mais eficaz

surge no âmbito jurídico a Lei 9.099/95, que, cumprindo com uma previsão

constitucional, veio a introduzir no ordenamento jurídico o rito sumaríssimo, limitando

o valor das ações e amparando-se em diversos princípios com destaque ao da

celeridade processual que é a base de sua existência.

O trabalho tem o intuito de demonstrar que muito embora esteja à lei

amparada por tais princípios a ofensa a estes não é facilmente constatada como se

possa parecer, sendo motivo de questionamentos que se divergem, como por

exemplo, quando se trata da possibilidade de interposição do recurso adesivo frente

aos juizados especiais.

A lei apresenta lacunas quanto ao assunto, podendo, para alguns

doutrinadores, ser aplicada de forma subsidiária a regulamentação imposta pelo

Código de Processo Civil ou, para outros, simplesmente ser negada tal possibilidade

por falta de previsão legal.

Com isso, o trabalho em tela busca aclarar a divergência de

posicionamentos existentes no tocante a aceitabilidade ou não de interposição do

recurso adesivo frente aos Juizados Especiais Cíveis, mais precisamente nos

Estaduais. Demonstrando-se a tendência atual e uma visão pessoal voltada à

necessidade de uma nova interpretação quanto ao assunto.

Page 8: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

8

ABSTRACT

Given the relentless pursuit of the judiciary for more effective justice emerges

in the legal Law 9.099/95, which, complying with a constitutional provision came to

be introduced in the legal rite accelerated, limiting the value of stocks and holding on

several principles with emphasis on the speedy trial which is the basis of its

existence.

The work aims to demonstrate that although the law is supported by such

offense to these principles is not easily found as it may seem, and why questions that

differ, for example, when it comes to the possibility of bringing the appeal to the

adhesive face special courts.

The law has gaps in the matter and may, for some teachers, be applied to

subsidiary regulations imposed by the Code of Civil Procedure or, for others, only to

be denied this opportunity due to lack of legal provision.

Thus, the search screen work to clarify the divergence of views existing

regarding the acceptability or otherwise of the appeal to the adhesive face special

courts civil, more precisely in the state. Demonstrating the current trend and a

personal vision focused on the need for a new interpretation on the issue.

Page 9: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS (LEI 9.099/1995) ............... 122

1.1 BREVE HISTÓRICO ACERCA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS. ......................................................................................................... 12 1.1.1 Dos Juizados Especiais ............................................................................ 16 1.1.2 Sucintas considerações acerca das Turmas de Recursos ........................ 22

1.2 OS PRINCÍPIOS BASILARES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS. ......................................................................................................... 26 1.2.1 O princípio da Informalidade: .................................................................... 27 1.2.2 O princípio da Simplicidade ....................................................................... 28 1.2.3 O Princípio da Oralidade ........................................................................... 29 1.2.4 O Princípio da Economia Processual ........................................................ 31 1.2.5 O princípio da Celeridade .......................................................................... 32

2. DO RECURSO ADESIVO ..................................................................................... 34

2.1 DA ORIGEM DO RECURSO ADESIVO ........................................................... 34 2.1.1 Nomenclatura ............................................................................................ 34 2.1.2 Breve histórico .......................................................................................... 36 2.1.3 Conceito e Natureza Jurídica do Recurso Adesivo ................................... 38 2.1.4 Requisitos de Admissibilidade ................................................................... 42 2.1.5 Do Cabimento ........................................................................................... 43 2.1.6 Legitimidade para recorrer ........................................................................ 45 2.1.7 Da Tempestividade ................................................................................... 49

2.2 REGULARIDADE FORMAL ............................................................................. 51 2.3 INTERESSE RECURSAL ................................................................................ 51

3. O RECURSO ADESIVO E OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS ..... 53

3.1 OS PRINCÍPIOS VISADOS PELOS JUIZADOS ESPECIAIS VS RECURSO

ADESIVO ............................................................................................................... 54 3.2 APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DA IMPOSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS. ............................................................................................. 58 3.3 APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAS ACERCA DA IMPOSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS. ...... 60 3.4 APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DA POSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS. ............................................................................................. 63 3.5 APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA POSSIBILIDADE DA

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS. ............................................................................................. 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .................................................................. 74

Page 10: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca demonstrar de forma objetiva a grande

divergência encontrada entre posicionamentos doutrinários e até mesmo

jurisprudenciais quanto à possibilidade ou não de se ingressar com o recurso

adesivo, regulado pelo art. 500 do Código de Processo Civil, frente aos Juizados

Especiais Cíveis, regulado pela Lei 9.099/95.

O método dedutivo foi o utilizado, partindo-se da exposição acerca do

sistema recursal apresentando as peculiaridades quanto da interposição do recurso

adesivo, para ao final abordar a possibilidade da interposição deste recurso em sede

dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais.

Para tanto, buscou-se dividir a presente pesquisa em três capítulos.

No primeiro capítulo demonstra-se a origem histórica dos juizados especiais,

desde sua criação, o motivo de seu surgimento, a necessidade o qual este veio

suprir e seus procedimentos. Abordam-se, ainda, breves aspectos das Turmas

Recursais, com destaque para a responsabilidade da apreciação dos recursos, ou

seja, uma garantia a uma dupla apreciação, não chegando a ser um duplo grau de

jurisdição, mas uma segunda análise da matéria, que será apreciada por três juízes

singulares.

Ainda no primeiro capítulo estuda-se fato de grande relevância, a saber: os

princípios basilares defendidos pelo rito dos juizados especiais.

O artigo 2º da Lei 9.099/95 traz uma série de princípios que devem ser

respeitados para se alcançar o objetivo traçado pelo rito sumaríssimo presente nos

juizados especiais. O texto destaca resumidamente, entre outros, o princípio da

celeridade processual, ou seja, uma resposta mais rápida do Estado frente aos que

dele necessitam.

Na sequência, no segundo capítulo, aborda-se sinteticamente o recurso

adesivo, elemento de suma importância para esclarecimento da problemática

apresentada no decorrer deste trabalho. Busca-se, ainda, demonstrar como surgiu

esta modalidade de interposição de recurso, destacando-se algumas peculiaridades,

origem história, principal objetivo e previsão legal.

Page 11: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

11

Assevera-se ainda que, na abordagem do recurso na forma adesiva, há

necessidade da presença da sucumbência recíproca, que, em síntese, retrata uma

decisão que traz prejuízo para ambas as partes litigantes. Esta é uma condição que

esta diretamente ligada ao conhecimento do recurso.

No último e terceiro capítulo entra-se no estudo da problemática decorrente

da divergência de posicionamentos que envolvem os Juizados Especiais Cíveis,

quando da possibilidade de utilização do recurso adesivo.

Lembra-se que há a necessidade de que eventual utilização deste recurso

deverá vir amparada por diversos princípios, lançados no primeiro capítulo e que

devem ser seguidos ao se interpretar as normas regulamentares aplicáveis à

espécie.

A pesquisa tem o intuito maior de demonstrar que não se chegou a um

denominador comum, não há posicionamento sedimentado quanto à problemática,

apenas uma tendência voltada à determinada corrente que será abordada neste

trabalho.

Oportuno destacar que não se busca aqui esgotar todo o assunto nem ao

menos fazer juízo de valores quanto à divergência de posicionamentos existentes.

Page 12: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

1 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS (LEI 9.099/1995)

Busca-se abordar de forma clara todo o envoltório jurídico que engloba a Lei

dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais. Começa-se abordando a origem histórica

da Lei, passando pelas Turmas Recursais e finalizando com os princípios basilares

que envolvem este procedimento que é regulamentado pela Lei 9.099/1995.

1.1 BREVE HISTÓRICO ACERCA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS.

A entrada em vigor da Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995 que dispõe

sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais trouxe ao cenário jurídico nacional

uma nova visão de processo, um novo sistema, destinado a rápida e efetiva atuação

do direito, que se denominou procedimento sumaríssimo.

Com o intuito de proporcionar o acesso à justiça a todos os cidadãos que

dela necessitem, a lei surge para acelerar a resposta judiciária as causas

consideradas de menor complexidade, desburocratizando a maioria das

formalidades até então exigidas pelo procedimento comum.

No entanto, esta busca pela maior rapidez na solução das lides pelo Poder

Judiciário não é uma novidade advindas da lei 9.099/95 no sistema jurídico

brasileiro.

O denominado procedimento sumaríssimo surge no Brasil pela primeira vez

no Código de Processo Civil de 1973, que tentou resolver o problema da morosidade

das causas que possuíam reduzido valor pecuniário, especialmente nas causas cujo

valor não ultrapassasse vinte vezes o maior salário mínimo vigente no pais.

Marcus Cláudio Acquaviva comenta esta passagem:

Nesse procedimento, o juiz deve proferiri a sentença no prazo máximo de cinco dias, após a conclusão da instrução (art. 280), e

Page 13: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

13

todos os atos, desde a propositura da ação, até a sentença, não podem ultrapassar noventa dias (art.281). Lamentavelmente, a prática desiludiu todas as previsões, persistindo o impasse do moroso funcionamento da administração da justiça. (...) Em suma: o pequeno requerente, o cidadão humilde, continuou à margem da obtenção rápida e, economicamente exeqüível, de justiça.1

Percebe-se claramente que a tentativa do Código de Processo Civil 1973

fracassou, não surtindo os efeitos esperados por seus criadores nem pela população

que necessitava de maior efetividade e celeridade.

Começa a ter destaque em nível nacional, o Estado do Rio Grande do Sul,

que na tentativa de maior efetividade na resposta jurisdicional implantou os

chamados Juízos de Conciliação ou Juizados Informais, no ano de 1982, por

iniciativa da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJUSRIS). Merecendo

destaque também o Estado de Santa Catarina que antes da Lei Federal a seguir

exposta implantou seu primeiro Juizado Especial na Capital do Estado.

Nessa idéia e necessidade de busca de uma solução à morosidade do

Judiciário surge no ordenamento jurídico brasileiro os denominado Juizados

Especiais de Pequenas Causas, regulamentados pela revogada Lei 7.244 de 7 de

novembro de 1984, com competência para o processamento e julgamento das

causas cuja natureza patrimonial estava adstrita ao valor de até 20 (vinte) salários-

mínimos.

Pedro Manoel de Abreu e Paulo de Tarso Brandão comentando a referida

Lei 7.244/1984 assim asseveram:

Foram definidas causas de reduzido valor econômico, observando um critério estritamente valorativo, as que versavam sobre direitos patrimoniais. Os pedidos, à data do ajuizamento, não poderiam exceder a (20) vezes o salário mínimo vigente no país, tendo por objeto condenação em dinheiro e a entrega de coisa certa móvel ou o cumprimento de obrigação de fazer, a cargo do fabricante ou fornecedor de bens e serviços para consumo, ou, ainda, a desconstituição e a declaração de nulidades de contrato relativo a coisas móveis e semoventes(art.3º).

(...) A lei 7.244/84 trouxe um conjunto de conquistas ao processo civil e à própria teoria geral do processo que, no entender de Candido Dinamarco, não precisaria ficar confinada ao processo do juizado, só porque enunciadas no seu estatuto específico.2

1ACQUAVIVA, Marcos Cláudio. O juizado especial de pequenas causas ao alcance de todos. São Paulo: Universitária de Direito1985. p.07. 2ABREU, Pedro Manoel; BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais aspectos destacados. Florianópolis: Obra Jurídica, 1996. p. 40 - 41.

Page 14: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

14

Analisando a exposição de motivos que levaram a criação da lei 7.244/1984,

observa-se a realidade da justiça no Brasil, conforme transcrevemos abaixo o item

03 desta exposição:

Os problemas mais prementes, que prejudicam o desempenho do Poder Judiciário, no campo civil, podem ser analisados sob, pelo menos, três enfoques distintas, a saber: a) a inadequação da atual estrutura do Judiciário para a solução dos litígios que a ele já afluem, na sua concepção clássica de litígio individual; b) tratamento legislativo insuficiente, tanto no plano material como no processual, dos conflitos de interesse coletivos ou difusos que, por enquanto, não dispõem de tutela jurisdicional específica; c) tratamento processual inadequado das causas de reduzido valor econômico e consequente inaptidão do Judiciário atual para a solução barata e rápida desta espécie de controvérsia.3

No plano federal, a criação do Juizado Especial de Pequenas Causas deve-

se a uma inovadora iniciativa do Ministro Hélio Brandão, no período em que

comandava o Programa Nacional de Desburocratização.

Após a criação da lei 7.244/1984 tem-se a evolução da idéia dos Juizados e

no ano de 1988 é promulgada uma nova Constituição Federal, esta que em seu art.

98, I, permitiu a criação de Juizados Especiais, Cíveis e Criminais, destinados ao

processamento e julgamento das causas cíveis de menor complexidade e causas

criminais de menor potencial ofensivo.4

Apesar da Constituição Federal trazer esta possibilidade o certo é que, antes

do advento da lei 9.099/1995, poucos estados implantaram o sistema dos Juizados.

Santa Catarina foi o primeiro Estado da Federação a implantar um sistema

de juizados nos moldes concebidos pela Constituição Federal. Inicialmente editou a

Lei Estadual nº 8.151/1990, revogada posteriormente pela lei complementar nº

77/1993, emprestando-lhe conteúdo mais amplo, absorvendo além das causas

cíveis de menor complexidade, as de pequeno valor, fixado em até 40 (quarenta)

salários mínimos.5

A Lei 7.244/1984 muito embora tenha sido revogada pela Lei. 9.099/1995

constitui uma referência legislativa importantíssima para a definição dos institutos e

3ACQUAVIVA, Marcos Cláudio. O juizado especial de pequenas causas ao alcance de todos, p.2. 4SANTOS, Luiz Gonzaga dos. Lei dos juizados especiais cíveis anotada artigo por artigo. São Paulo: Universitária de Direito. 1996. p.12. 5Cf. ABREU, Pedro Manoel, BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais aspectos destacados, p. 50.

Page 15: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

15

a perfeita compreensão do microsistema processual dos Juizados Especiais.6

A Lei 7.244/1984 ficou vigente e mantendo sua eficácia até ser revogada

pela atual Lei 9.099/1995.

Nesta passagem histórica pode-se destacar, ainda, que o problema na

demora na resposta jurisdicional aos litígios de pequena expressão judiciária não

são e já não eram exclusivamente nacionais, tanto que pode-se citar alguns

exemplos de iniciativas em nível mundial que certamente contribuíram para o

desenvolvimento do atual sistema no Brasil.

Assim é que, na velha Inglaterra, desde o ano de 1846, começou a tomar

vulto a chamada justiça dos pobres, com a County Courts7. A experiência britânica

foi das mais válidas, obtendo justiça rápida e pouco dispendiosa, em face do limitado

âmbito de jurisdição dos magistrados8.

Destaque também para experiência desenvolvida pelos Estados Unidos das

América.

Naquele país, a primeira iniciativa ocorre em 1929, com uma curiosa

tentativa empírica de descongestionamento aos órgãos judiciários, sob a inspiração

do Juiz W. Jayne, assessorados pelos vogais da Terceira Circunscrição de Michigan,

Detroit. Esse Juiz e seus auxiliares passaram, num dado momento, a tentar conciliar

previamente, as partes dispostas a litigar em juízo, com o objetivo de simplificar a

aplicação da justiça, economizando tempo e dinheiro. A experiência trouxe bons

resultados e as partes e seus procuradores passaram, a partir daí, a prestigiar o

encontro prévio para acordo (pré-trial conferences).9

Tem-se ainda que, nos Estados Unidos da América, com o tempo houve a

ampliação do conceito de pequenas causas, Small Claims10 e hoje, o tribunal é

designado Common Man’s Court,(Tribunal do Homem comum) com jurisdição até mil

dólares americanos.11

6Cf. ABREU, Pedro Manoel, BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais aspectos destacados, p. 42. 7 São os Tribunais dos condados, equiparam-se aos tribunais nacionais 8GOMES DA CRUZ, José Raimundo. Apud: ACQUAVIVA, Marcos Claudio. O juizado especial de pequenas causas ao alcance de todos, p.08. 9LACERDA, Galeno Apud: ACQUAVIVA, Marcos Claudio. O juizado especial de pequenas causas ao alcance de todos, p.09. 10Tribunais de pequenas causas com competência limitada para conhecer a causa civil entre casos de litigantes particulares. Tribunais autorizados a julgar pequenas causas. 11ABREU, Pedro Manoel, BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais aspectos destacados. Florianópolis: Livraria e Editora Obra Jurídica LTDA, 1996. p. 32

Page 16: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

16

Na Itália existem os pretores12 e os conciliadores para atendimento das

pequenas causas, onde há previsão de um procedimento que prima pela celeridade

e pela concentração dos atos, sendo dispensada a intervenção do advogado. O

pretore exerce a jurisdição, enquanto o conciliatore atua em causa de menor

expressão.13

Assim, podemos observar que a exemplo do Brasil, outros países também

buscaram e almejam novas alternativas para uma maior efetividade de respostas as

causas menos complexas, alternativas estas que certamente contribuíram para o

desenvolvimento dos Juizados Especiais que hoje se conhece.

A seguir, passa-se a expor os principais aspectos dos Juizados Especiais

dos Juizados Especiais, destacando-se algumas questões pontuais das Turmas de

Recursos.

1.1.1 Dos Juizados Especiais

Os Juizados Especiais Cíveis como hoje se conhece, regulados pela lei

9.099/1995, são uma evolução dos extintos Juizados de Pequenas Causas,

Juizados estes que eram regulamentados pela revogada Lei 7.244/1984.

A Lei 9.099/1995 introduziu no ordenamento jurídico brasileiro os Juizados

Especiais, possibilitando um grande avanço no acesso a justiça ao povo brasileiro.

Muito embora a lei traga em seu escopo os Juizados Especiais Cíveis e Criminais

em nível Estadual, foca-se apenas no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis

Estaduais, previsto no Capítulo II, daquela Lei. Assim, sempre que o texto se referir

aos Juizados Especiais, estaremos nos referindo aos Juizados Especiais Cíveis

Estaduais.

Luiz Cláudio Silva destaca a importância dos Juizados Especiais ao alertar

que: “Os Juizados Especiais representam uma grande evolução do Poder Judiciário

12 Pretores: são magistrados com competência limitada. 13ABREU, Pedro Manoel, BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e criminais aspectos destacados, p. 34.

Page 17: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

17

pela eficácia imediata da prestação jurisdicional, tendo em vista o dinamismo do

procedimento como também a facilidade de acesso a esta prestação”.14

Importante lembrar que os Juizados Especiais Cíveis e Criminais em nível

federal são regulamentados por lei distinta, mais precisamente a lei 10.259/2001.

Não diferente dos Juizados Estaduais “os Juizados Especiais Federais foram criados

com a finalidade de solucionar ou amenizar o problema da morosidade da justiça

federal, que constituía verdadeiro entrave ao efetivo acesso à justiça pela

população”. 15

As leis nºs 9.099/1995 e 10.259/2001 vêm estabelecer o que Alexandre

Freitas Câmara denomina de Estatuto dos Juizados Especiais, porquanto “(...)

compõem, reunidas, um importantíssimo microssistema processual, distinto do

Código de Processo Civil, ainda que a ele tenha de recorrer para se completar”.16

Quando observamos acima que devem as leis recorrer ao Código de

Processo Civil para se complementarem devemos nos ater que isto só será

necessário caso a lei seja omissa em determinado ponto, necessitando dessa

regulamentação, aplicando-se, subsidiariamente, as regras do referido Código, caso

contrário, vale a regra contida na lei especial.

Quanto à aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, Nancy Andrigui

esclarece que:

Seguindo a mesma postura da Justiça Especial esposada na Lei nº 7.244/84, a nova Lei não determina expressamente a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, podendo-se inferir, salvo situação especial, que se buscou manter afastada sua incidência, considerada a especialidade de que é revestida esta Justiça. Convém salientar que só em três momentos a nova lei remete a aplicação do código de Processo Civil: nos arts. 30, 52 e 53. O primeiro cuida dos tipos de respostas do réu, quando manda processar a execução de suspeição ou impedimento do Juiz na forma da legislação em vigor; o segundo e o terceiro determinam à aplicação, na execução de sentença e de títulos executivos extrajudiciais, no que couber, o disposto no Código de Processo Civil, respeitadas as alterações propostas na nova Lei.17

14SILVA, Luiz Cláudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na prática forense. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.12. 15DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. p. 297. 16CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais e federais: uma abordagem crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2007. p. 1. 17ANDRIGUI, Fátima Nancy. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 24.

Page 18: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

18

No tocante a aplicação subsidiária tem-se um fato que merece destaque,

evidenciado por Elpídio Donizete, onde lembra o Doutrinador que, muito embora

apenas a Lei 10.259/2001 (Leis dos Juizados Especiais Federais) faça menção à

aplicação subsidiária de Lei 9.099/1995, a melhor interpretação que se pode

alcançar é que ambas a Leis se complementam, formando um só estatuto.18

Corroborando com esta mesma idéia tem-se as palavras de Alexandre

Freitas Câmara:

Não há qualquer razão para que não se possa aplicar nos Juizados Estaduais as conquistas e inovações contidas na Lei dos Juizados Especiais Federais, sempre que entre os dois diplomas não haja qualquer incompatibilidade. Isto permitirá, inclusive, a solução de problemas de outro modo insolúvel. Exemplifico: a Lei nº 9.099/1995 não permite a interposição de recurso contra as decisões interlocutórias. Isso faz com que haja um emprego exagerado do Mandado de Segurança contra ato judicial, transformando-se este em um sucedâneo recursal. Ocorre que a Lei dos Juizados Federais permite a interposição de recurso contra a decisão interlocutória que indefere medidas de urgência. Isso torna possível, a meu ver, a interposição de tal recurso também no processo dos Juizados Especiais Estaduais, viabilizando-se o reexame de tais decisões por via recursal.19

Vale lembrar ainda que a Lei 9.099/1995 veio regulamentar o que previa a

Constituição Federal em seu art. 98, inciso I, como se observa das palavras de

Elpídio Donizetti:

Em entendimento ao comando constitucional inserto no art. 98, I, da Constituição da República, a Lei. 9.099 de 26 de novembro de 1995 definiu as normas para julgamento e execução das causas cíveis de menor complexidade, mediante o procedimento sumaríssimo, permitindo assim a criação, nos Estados, dos denominados Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 20

A estrutura simplificada que rege os Juizados Especiais surge com a

finalidade de proporcionar um maior acesso à justiça, aproximando o Judiciário ao

povo, dado o fato de sua celeridade e simplicidade, alias, conforme menciona o

artigo 2º da referida lei “(...) o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,

18Cf.DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 274. 19CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais e federais: uma abordagem crítica. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p.8. 20DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 287.

Page 19: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

19

simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre

que possível a conciliação ou a transação”.21

Elpídio Donizetti, atento aos importantes anseios sociais, especialmente a

simplificação do acesso a justiça, assegura que:

A instituição desse microssistema processual representado pelos Juizados Especiais surgiu como resposta à insatisfação popular com a lentidão e o formalismo que dificultam a solução dos conflitos pelo métodos já existentes. Concebeu-se, assim, para as causas de menor complexidade, um processo orientado pelos critérios ou princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou transação (art. 2º). A finalidade de tudo isso, obviamente, consiste na ampliação do acesso à justiça.22

Podemos observar que os Juizados Especiais são banhados por uma série

de princípios que visam dar agilidade ao processo para se obter uma resposta do

judiciário de forma mais célere e eficaz.

Diferentemente do rito comum, o rito dos juizados especiais tem por

destaque a concentração de seus atos em audiência e a oralidade dos atos assume

importância especial neste rito.

O procedimento que rege os Juizados Especiais Cíveis Estaduais é

nitidamente distinto dos procedimentos ditos normais, previsto pelo Código de

Processo Civil. Esse visa, de um lado, atender aos critérios informativos do instituto

da Lei 9.099/95, e de outro, fornecer mecanismos apropriados para a tutela dos

interesses que se inserem na competência do órgão.23

É certo também que nem sempre o objetivo da oralidade prevalece,

conforme esclarece Elpídio Donizeti:

A possibilidade de utilização a palavra falada em detrimento da escrita, conquanto salutar em tese, não encontrou muita aceitação na prática. Com exceção do ajuizamento da ação, dificilmente os demais atos das partes são praticados oralmente, sobretudo em razão do excessivo apego dos advogados com a sistemática do processo civil tradicional.24

21 Artigo 2º da Lei 9.099/1995. 22DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 274 23MARINONI Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz Manual do processo de conhecimento 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista do Tribunais, 2006. p. 699. 24Cf. DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 275.

Page 20: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

20

Dentre as várias características que diferenciam o rito dos Juizados

Especiais do rito comum processual podemos destacar a questão da competência

que é limitada, conforme preceitua o art. 3º da lei:

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menos complexidade, assim consideradas: I – As causas cujo valor não exceda a 40 (quarenta) vezes o salário mínimo; II – As enumeradas no art. 275, inciso II25, do Código de Processo Civil; III – a ação de despejo para uso próprio; IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo; § 1º - Compete ao Juizado Especial promover a execução: I – dos seus julgados; II – dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até 40 (quarenta) vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º26 desta lei; § 2º – ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.

Os Juizados Especiais também foram de grande valia para diminuir o

extenso volume de processos, de menor complexidade, que afogavam o Poder

Judiciário. Assim, os Juizados têm competência para julgar as causas cujo valor não

exceda a 40 (quarenta) salários mínimos, possuindo algumas pequenas exceções

previstas no art. 3º da já citada lei.

Comentam o assunto, Joel Dias Figueira Júnior e Maurício Antônio Ribeiro

Lopes:

Essa forma de prestar jurisdição significa ante de tudo um avanço legislativo de origem eminentemente constitucional, que vem dar guarida aos antigos anseios de todos os cidadãos, especialmente

25 Art. 275 – observar-se-á o procedimento sumário: II – Nas causas qualquer que seja o valor: a)de arrendamento rural e de parceria agrícola; b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devida ao condomínio; c) de ressarcimento pro danos em prédio urbano ou rústico; d) de ressarcimento por danos causados em acidentes de veículo de via terrestre; e) de cobrança de seguro, relativamente ao dano causado em acidente de veículo, ressalvado os casos de processo de execução; f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado os dispostos em legislação especial; g) nos demais casos previstos em lei. Parágrafo único: este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à capacidade das pessoas. 26 Art. 8º - Não poderão ser partes no processo instituído por esta lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolventes. § 1º- somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluído os cessionários de direito de pessoa jurídica.

Page 21: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

21

aos da população menos abastada, de uma justiça apta a proporcionar uma prestação de tutela simples, rápida, econômica e segura, capaz de levar à liberação da indesejável litigiosidade contida. Em outros termos, trata-se, em última análise, do mecanismo hábil de ampliação do acesso à ordem jurídica justa. (...) Os Juizados Especiais não podem ser considerados uma justiça de segunda classe, porquanto não refletem qualquer dado indicativo capaz de importar num desprestígio ou diminuição. Ao contrário, a faixa valorativa de limitação imposta pelo legislador em quarenta salários mínimos significa o alcance de litígios que atingirá o interesse de todas as classes sociais.27

No entanto, é preciso ter em mente que não basta o pequeno valor da causa

para que ela seja de competência dos Juizados; o caput do art. 3º exige que haja

menor complexidade sempre, tanto que a própria lei exclui da competência dos

Juizados determinadas causas que, embora de baixo valor, são presumidamente

complexas.28

Em síntese, afasta-se a competência dos Juizados, toda vez que a causa

puder ser enquadrada como de grande complexidade. Na prática, significa dizer que

mesmo que a ação esteja no teto filado pela citada lei, a pequena causa poderá

apresentar contornos de grande complexidade, não devendo ser processada e

julgada nos Juizados Especiais.

Esclarece-se ainda, que há as ações de procedimentos especiais, elencadas

nos arts. 890 a 1.210 do Código de Processo Civil. Nessas, qualquer que seja o

valor da causa, por existir previsão de ritos próprios, não se aplica o procedimento

sumaríssimo, por consequência não se fala em Juizados Especiais.

Para maior compreensão do funcionamento dos Juizados Especiais importa

destacar alguns pontos quanto a sua organização, como se observa:

I - Em primeiro grau de jurisdição, os órgãos dos Juizados Especiais estão

assim estruturados:

a) Secretaria, quem recebe o processo, reduz a termos se feito de forma

oral, designa data da sessão, por fim, é responsável pela parte administrativa dos

juizados;

27FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentário a lei dos juizados especiais cíveis e criminais. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1997. p. 30. 28Cf. DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 279

Page 22: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

22

b) Juiz de direito, quem despacha os processos, preside as audiências de

instrução e julgamento e decide os pedidos;

c) Juiz leigo, que poderá também presidir a instrução e proferir sentença, a

qual será submetida imediatamente ao juiz togado, que poderá homologá-la, proferir

outra em substituição ou, antes de se manifestar, determinar a realização de atos

probatórios indispensáveis; será escolhido, preferencialmente, entre os advogados

com mais de cinco de experiência;

d) Conciliadores nomeados pelo Tribunal de Justiça (recrutados

preferencialmente dentre os bacharéis em direito), os quais presidirão somente as

audiências conciliatórias, lavrando-se os termos dos acordos celebrados pelas

partes em audiência, recrutados, preferencialmente, entre os bacharéis em Direito.

II - das decisões proferidas em nível de primeiro grau de jurisdição, caberá

recurso para as denominadas turmas de recursos, o qual passa-se a expor a seguir

sobre suas peculiaridades.

Na sequência, demonstra-se suas peculiaridades.

1.1.2 Sucintas considerações acerca das Turmas de Recursos

Embora de suma relevância o assunto relacionado com as turmas recursais,

a Lei nº 9.099/95 não elencou uma seção específica sobre o assunto. Preferiu dar

breves orientações sobre seu funcionamento na parte em que aborda a sentença

nos Juizados Especiais Cíveis.29

Sabe-se, porém, que as Turmas Recursais são compostas por juízes de

primeiro grau, mais precisamente três juízes, presidida pelo mais antigo, conforme

estipulado pelo art. 98, I, da Constituição Federal de 1988.30

29Cf. arts 41 a 50 da Lei. 9.099/1995. 30Segue artigo: “Art. 98. A união, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados e leigos, competentes para a conciliação, o

Page 23: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

23

As referidas Turmas não possuem o status de tribunais, porém, também

funcionam como órgão colegiado, integrante do próprio sistema dos Juizados

Especiais. A principal diferença reside nas suas atribuições, porquanto apresentam

tarefa única e específica, ou seja, de proceder ao exame de recursos, tanto que a

própria lei dispõe que das decisões proferidas nos Juizados Especiais caberá

recursos para o próprio Juizado31.

Enquanto o tribunal é um órgão de segundo grau a Turma Recursal, a seu

turno é um órgão de primeiro grau, só que esta servirá como uma instância diversa

de tramitação do processo nos Juizados Especiais, ou seja, uma espécie de 2º grau

de jurisdição. Assim pode-se afirmar tecnicamente que os processos que tramitam

nos Juizados Especiais correrão em um só grau de jurisdição, mesmo havendo

recurso, porém, estarão submetidos a um órgão colegiado, o que na prática reflete

uma 2ª instância no procedimento.

Mantovanni destaca:

Não se poderia impor, contudo, mesmo com a rapidez exigida para solução de tais casos, a irrecorribilidade das decisões proferidas pelos juízes dos Juizados Especiais, sob pena de se impor autêntico autoritarismo nos âmbitos desses Juizados.

Caso não houvesse a previsão da criação das turmas recursais, os recursos contra as decisões dos Juizados Especiais teriam que ser dirigidos aos tribunais de justiças dos Estados, Distrito Federal e Territórios, o que implicaria violação do critério da celeridade imposto pela lei.32

As Turmas recursais deverão ser presididas por um de seus membros,

observando-se os motivos de ordem administrativa como de ordem funcional.

O prazo para interposição de recurso foi uniformizado pela Lei 9.099/1995,

seu art. 42 esclarece que a parte que for vencida terá o prazo de 10 (dez) dias para

oferecer recurso. Os embargos de declaração, que são cabíveis quando da

existência de obscuridade, contradição, omissão ou dúvida de uma decisão judicial,

seguem a regra do processo civil, devendo ser interposto no prazo de 5 (cinco) dias.

julgamento e a execução de causas cíveis de menos complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em Lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau. 31CAVALCANTE, Mantovanni Colares. Recursos nos juizados especiais. 2. ed. atual., rev. e ampl. São Paulo: Dialética, 2007. p. 24. 32CAVALCANTE, Mantovanni Colares. Recursos nos juizados especiais, p. 17.

Page 24: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

24

O recurso, caso apresentado, trará o nome de Recurso Inominado,

exatamente por não haver nome específico na lei dos Juizados, mas se equipara ao

Recurso de Apelação e seu efeito, em regra, é apenas devolutivo.

Quanto ao efeito do recurso nos Juizados Especiais Cíveis Humberto

Teodoro Junior explica que “(...) o juiz a quo, porém, ao admiti-lo, pode

excepcionalmente conferir efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a

parte (art. 43), que a execução provisória do julgado pudesse ocasionar”.33

Quanto ao prazo do citado Recurso Inominado, dispõe a Lei nº 9.099/95 que

será de dez dias e sua contagem somente se inicia após ciência da parte acerca da

sentença.

Neste sentido esclarece Wander Paulo Morota Moreira:

O recurso é interposto dentro de dez dias a partir da sentença. Como esta deve ser pronunciada na própria audiência – em entendimento ao princípio da celeridade, sendo recomendável que se evite a sentença em gabinete - , o prazo será contado a partir da efetivação da audiência de instrução e julgamento. Se, por qualquer motivo, não puder ser proferida em audiência – aparecimento de questões complexas, por exemplo -, será contado a partir da intimação da parte ou de seu advogado quando assistida.34

Destacando que, embora seja alvo de críticas a lei 9.099/1995 exige para a

interposição do recurso a presença de um advogado, independente do valor da

causa.

As criticas surgem pelo fato de a lei possibilitar o acesso a justiça, sem a

presença de advogado, nas causas cujo valor não exceda a 20 (vinte) salários

mínimos, fazendo valer os princípios norteadores do Juizado Especial, como

simplicidade e informalidade. Princípios que podem esta sendo feridos quando da

obrigatoriedade de um advogado para a interposição de um recurso.

No tocante ao preparo a lei estabelece que a parte recorrente tenha o prazo

de 48 (quarenta e oito) horas, após a interposição do recurso, para efetuar o

preparo, recolhendo custas e taxas incidentes. Feito o preparo a secretaria intimará

o recorrido para oferecer resposta escrita.

33THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: procedimentos especiais. vol.III, Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 480. 34MOREIRA, Wander Paulo Morota. Juizados Especiais Cíveis. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 73

Page 25: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

25

Ao recorrido é assegurado o prazo de 10 (dez) dias para responder ao

recurso adversário, prazo que passará a contar a partir de sua intimação.

Luiz Cláudio da Silva esclarece referido procedimento:

Subindo os autos em grau de recurso de apelo, serão eles encaminhados diretamente ao Cartório secretário da Turma Recursal, o qual processará o recurso, procedendo inicialmente ao seu tombamento, fazendo a seguir conclusão dos autos ao juiz presidente, procedendo este ao sorteio do recurso a um dos membros da Turma, que servirá de relator do recurso, devendo a distribuição ser feita no prazo de 24 horas, a contar do recebimento do processo pela Turma, em audiência pública e alternada aos seus integrantes.35

Superada a fase acima descrita, concluída a votação será lavrado o acórdão

pelo juiz relator, se este for vencido o acórdão será lavrado pelo prolator do primeiro

voto vencedor, contendo esta decisão um breve relatório e sua fundamentação, de

forma sucinta.

Humberto Theodoro Junior explica esta fase:

O acórdão, com que se dará solução ao recurso não dependerá de lavratura e publicação oficial, como ocorre nos Tribunais ordinários. Haverá apenas uma ata, onde o processo será identificado e se lançarão, de forma sucinta, a fundamentação e a parte dispositiva (art.46). Nos casos de confirmação da sentença por seus próprios fundamentos, este não deverão Sr repetidos na ata. Bastará a súmula do julgamento para produzir os efeitos de acórdão (art.46 in fine)36

Pode-se evidenciar que a lavratura do acórdão deve respeitar o princípio da

informalidade na sua elaboração.

35SILVA, Luiz Claudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na prática forense. p. 78. 36THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: procedimentos especiais, p.478.

Page 26: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

26

1.2 OS PRINCÍPIOS BASILARES DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

ESTADUAIS.

Dentre todos os princípios que podem alcançar os objetivos traçados pelos

Juizados Especiais certamente tem-se de destacar os trazidos pela Lei 9.099/1995

em seu artigo 2º, que assim dispõe: “O processo orientar-se-á pelos critérios da

oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando

sempre que possível a conciliação ou a transação das partes”.

Todo o regime previsto na lei 9.099/1995 deve orientar-se por estes

princípios, sob pena de comprometer o sistema como um todo. As regras dispostas

a respeito do procedimento exigem que o intérprete que as examina tenha em mente

tais princípios, pois somente assim se poderá adequadamente lidar e manejar o

poderoso instrumento previsto por essa lei.37

Deve-se deixar claro que todos os demais princípios fundamentais à

orientação do universo processual civil e que estejam em sintonia dos Juizados

Especiais, tais como o contraditório, ampla defesa, igualdade entre as partes,

segurança jurídica, relação entre o pedido e o pronunciado etc. têm ampla e irrestrita

aplicabilidade neste microssistema.38

Destacando as palavras de Luiz Gonzaga dos Santos: “Vê-se que a

celeridade predomina, eis que a simplicidade, a oralidade e informalidade e a

economia processual desembocam inelutavelmente numa prestação jurisdicional

célere”.39

Passa-se a expor suscintamente todos os princípios trazidos pelo art. 2º da

Lei 9.099/1995, visando uma maior compreensão de suas verdadeiras garantias.

37MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p.691. 38FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentário a lei dos juizados especiais cíveis e criminai, p. 57. 39SANTOS, Luiz Gonzaga dos. Lei dos juizados especiais cíveis anotada artigo por artigo, São Paulo: LEUD, 1996. p. 3.

Page 27: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

27

1.2.1 O princípio da Informalidade:

Este princípio, vinculado aos demais critérios, é levado a suas mais altas

conseqüências no procedimento dos juizados especiais, visa tornar o processo

menos burocrático e mais rápido, consequentemente mais acessível, ou seja, tudo

deve ser feito da maneira mais simples e informal possível.

Luiz Guilherme Marinoni comentando este princípio aduz:

O juizado, ao romper com o formalismo processual, elimina os litígios de modo mais simples e célere. Além disso, por não ser burocratizado e não guardar a mesma formalidade dos outros órgãos do Poder Judiciário, o juizado é mais simpático ao cidadão comum, que deixa de se sentir intimidado ao entrar nos salões da administração da justiça40

Os Juizados Especiais visam atos processuais os mais informais possíveis.

É com base nesse princípio que se admite neste procedimento a propositura da

reclamação de forma oral, ou seja, através de termo lavrado pelo próprio secretário.

Registra-se ainda, que neste procedimento a conciliação será conduzida por

juiz togado ou por Leigo ou por conciliador sob sua orientação (Cf. arts. 21 e 22 da

Lei 9.099/1995).

Outro ponto que caracteriza perfeitamente esta informalidade dos Juizados

Especiais é o fato de se poder ingressar com a reclamação sem a assistência de

advogado quando a ação tiver valor igual ou inferior a 20 salários mínimos, nos

termos do art. 9º da Lei 9.099/1995.

Comentando ainda esta informalidade, que visa facilitar o acesso da

população a proteção jurídica merece ser lembrado a redação do art. 12 da

comentada lei que possibilita o funcionamento dos juizados fora do expediente

normal, o que representa grande avanço no sentido de aproximar o cidadão da

justiça.

Luiz Guilherme Marinoni comenta esta passagem:

Para facilitar o acesso do cidadão à tutela estatal, o juizado pode funcionar no horário noturno, quando assim o recomendar a situação específica da comarca ou do Estado. Realmente, esta previsão é fundamental, pois toma em consideração precisamente a situação do

40Cf.MARINONI, Luiz Guilherme;. ARENHART, Sergio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p.693-694.

Page 28: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

28

cidadão carente de tutela jurisdicional. Normalmente, o cidadão tem dificuldade para deixar o seu emprego no horário normal de trabalho – especialmente quando a lesão não é tão grave, a ponto de determinar, sob quaisquer circunstâncias, a busca da jurisdição.41

Percebemos, desta forma, que a informalidade vem garantir o acesso a

justiça, desencadeando uma justiça mais simples, como se esboçará no tópico

seguinte.

1.2.2 O princípio da Simplicidade

Este princípio se confunde com o princípio da informalidade, orientando que

o processo deva ser simples, ou seja, sem a complexidade exigida no procedimento

comum.

O cidadão comum, como regra geral, tem dificuldade para entender o

procedimento judicial, sem dúvida, a perspectiva de litígio assusta o cidadão comum

e lhe impõe uma carga psicológica negativa a respeito da atuação jurisdicional, o

que costuma intimidá-lo quando estiver frente a máquina judiciária.

Assim, é de suma importância que o cidadão compreenda o procedimento

judicial. Nesse sentido, o Juizado Especial busca facilitar essa compreensão e com

base nesse princípio, restou instituído o procedimento simplificado, facilmente

assimilável pelas partes.

Por esta razão, é que para as causa complexas não se recomenda

processá-las perante os Juizados Especiais Cíveis, considerando que aquelas, via

de regra, exigem a realização de prova pericial, o que não é recomendado pelo

procedimento sumaríssimo, salvo quando o reclamante já adunar à inicial a prova

técnica necessária para a comprovação de seu direito articulado na peça inaugural

da ação.42

Nesta Esteira Joel Dias e Maurício Antônio argumentam:

A lei 9.099/95 não esta muito preocupada coma forma em si mesma; sua atenção fundamental dirigi-se para a matéria de fundo, ou seja, a

41Cf. MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sergio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p. 690. 42Cf. SILVA, Luiz Claudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na prática forense. p. 8.

Page 29: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

29

concretização, a efetivação do direito do jurisdicionado que acorreu ao judiciário para fazer valer a sua pretensão, com a maior simplicidade e rapidez possível.43

Nesses Termos, o que se destaca é que este princípio garante a

informalidade dos atos tornando-os, por conseguinte, mais simples e ao alcance de

todos.

1.2.3 O Princípio da Oralidade

Os Juizados Especiais possuem o procedimento eminentemente oral.

Fellippe Borring Rocha afirma que “(...) a oralidade é, seguramente, o princípio mais

importante da Lei. nº 9.099/1995, e um dos mais importantes do sistema processual

pátrio”. 44

A oralidade surge como reação ao sistema escrito absoluto, no qual o

julgador não tinha nenhum contato com as partes e com as provas, como bem expôs

Vicente Greco Filho “(...) substituindo-se um juiz distante e passivo por um juiz

presente e ativo”. 45

É necessário lembrar que a oralidade do processo não deve abolir a sua

forma escrita, isso porque não se pode confundir um processo oral com processo

verbal.

Nas palavras de Felippe Borring:

Ademais, é inevitável que o processo tenha alguma documentação escrita dos seus atos. Em suma, o princípio da oralidade pressupõe a convivência harmônica da palavra escrita e a falada, servindo a primeira basicamente para registrar ou subsidiar a segunda.46

E também comenta Alexandre Freitas Câmara:

Oralidade ou escritura dizem respeito a prevalência de uma forma 43FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentário a lei dos juizados especiais cíveis e criminais, p. 66. 44 ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos da lei nº 9.099/95. 4ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 09. 45GERCO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. vol.II. 10. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 227. 46ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos da lei nº 9.099/95, p.08.

Page 30: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

30

sobre a outra. Quando se diz, portanto, que o processo dos Juizados Especiais Cíveis é um processo oral, está-se com isso querendo dizer que nesse processo a palavra falada prevalece sobre a escrita.47

Ao contrário do que se observa no procedimento comum, em que se prega a

oralidade como princípio, mas a prática demonstra exatamente o inverso, ou seja,

que o processo é estritamente escrito, o procedimento nos juizados é todo

desenhado para se desenvolver oralmente, reduzindo-se ao máximo as peças

escritas e, mesmo, a escrituração das declarações orais.48.

Marinoni comenta o princípio da oralidade:

A oralidade, sem dúvida, contribui não apenas para acelerar o ritmo do processo, como ainda para se obter uma resposta muito mais fiel à realidade. O contato direto com os sujeitos do conflito, com a prova e com a nuances do caso permitem ao magistrado apreender de forma muito mais completa a realidade vivida, possibilitando-lhe adotar visão mais ampla da controvérsia e decidir de maneira mais adequada.49

No que tange a este princípio, também chamado de viga mestra da técnica

processual, preconizado com ênfase absoluta no art. 14 caput, art. 30, 49 e 52,IV da

Lei 9.099/1995 e refletido com intensidade em todo o texto legislativo, podemos

aplicar os mesmos ensinamentos do processo comum, porquanto o princípio

enfocado nada mais significa do que a exigência precípua da forma oral no

tratamento da causa, sem que com isso se exclua por completo a utilização da

escrita o que, alias, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade

na documentação de todo o processado e a conversão em termos, no mínimo, de

suas fases e atos principais, sempre ao estritamente indispensável.50

Apesar de todo o empenho do legislador em projetar o procedimento menos

burocrático para que ele corra na forma oral, o certo é que, na realidade, este

princípio não é do todo acatado.

Na prática, o procedimento nos Juizados Especiais Cíveis, acaba por

parecer muito com o procedimento comum, em que a palavra escrita prevalece

sobre a falada. 47CÂMARA, Alexandre freitas. Juizados especiais cíveis estaduais e federais: uma abordagem crítica. 3. Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 12. 48MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p.687. 49MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p. 687. 50FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias, LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentário a lei dos juizados especiais cíveis e criminais, p. 58.

Page 31: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

31

O ideal, para que se pudesse produzir o resultado a que o microssistema

dos Juizados Especiais se propõem, é que a palavra oralmente expressada fosse

mais usual do que a escrita, mas na prática, infelizmente, não tem acontecido.51

Felippe Borring Rocha Comenta esta realidade:

Não obstante, é preciso reconhecer que todos os envolvidos no procedimento, Juízes, serventuários, advogados e partes, não têm adotado uma postura oral, preferindo por utiliza-se, sempre que possível, da forma escrita. Trata-se de um aspecto na nossa cultura que ainda levará anos para ser flexibilizado, até podermos afirmar que a oralidade do processo deixou de ser um ideal para torna-se uma realidade.52

Dada todas estas considerações a respeito deste importante princípios que

pouco utilizado é na prática dos Juizados Especiais, passa-se a expor sobre a

economia processual como princípio norteado dos Juizados Especiais.

1.2.4 O Princípio da Economia Processual

Este princípio visa garantir a concentração dos atos processuais em

audiência, tornando o procedimento o mais célere possível. É o que garante toda a

informalidade, oralidade, e simplicidade, ou seja, ele busca evitar a utilização da

documentação escrita.

Para se obter a eficácia mais completa das controvérsias submetias ao

Juizado Especial é necessário o menor gasto material possível. E para isso, é

necessário minimizar a quantidade de atos processuais, evitando-se repetir atos já

praticados quando estes não sejam indispensáveis para o legítimo desenvolvimento

do processo.53

No ano de 2004 a celeridade e a razoável duração do processo tornaram-se

51CÂMARA, Alexandre freitas. Juizados especiais cíveis estaduais e federais: uma abordagem crítica, p.13. 52ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos da lei nº 9.099/95, p.09 53Cf. MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sergio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p. 690.

Page 32: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

32

princípios constitucionais, albergados no art. 5º, inc. LXXVIII.54

O certo é que minimizando-se os procedimentos voltados a prestação

jurisdicional ganha-se de forma menos complicada uma resposta jurisdicional mais

barata e rápida, fatos fundamentais ao estímulo de acesso a justiça. O que é visado

pelos Juizados Especiais e o princípio da economia processual.

1.2.5 O princípio da Celeridade

Dado todos os princípios acima elencados, percebe-se que o processo, no

que tange ao seu andamento, pauta-se sobre o binômio: rapidez e segurança. A

maior expectativa gerada pelo sistema dos Juizados Especiais é sua promessa de

celeridade, sem violar a segurança das relações jurídicas.

Todo o processo, por mais simples que seja, precisa estar cercado de certos

princípios que lhe dêem as devidas garantias legais. Dentre todos os princípios

norteadores dos Juizados Especiais Cíveis, certamente, o que melhor caracteriza a

intenção do legislador na busca da solução aos problemas já destacados, é o da

celeridade.

Isto porque, ao se analisar todos os princípios já destacados percebe-se que

o objetivo maior da existência dos demais princípios desembocam na busca de uma

prestação jurisdicional de forma mais célere.

Paulo Lúcio Nogueira destaca:

Quanto ao princípio da celeridade, prevê a prestação de uma justiça rápida, que pode ser aplicada tanto nos Juizados Especiais como em qualquer outra justiça, desde que se tenha aplicadores responsáveis e cônscios. Contudo a celeridade que se almeja é o término de um processo em poucos meses, inclusive com sentença definitiva, pois de nada adianta a solução rápida em primeiro grau, se o processo vai se arrastar no segundo, como acontece frequentemente.

Tem-se ainda, o posicionamento de Felippe Borring Rocha:

54Art. 5 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Page 33: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

33

(...) os juizados especiais foram construídos sobre a tônica equacionando tempo e dinheiro, de um lado, com as restrições do Procedimento sumaríssimo fica basicamente restrito às questões referentes aos direitos patrimoniais, por outro lado, como a celeridade é da essência do Procedimento, o autor, ao optar por esta via excepcional, implicitamente está abrindo mão da segurança jurídica que teria no juízo comum em favor da celeridade55

É de suma importância a efetiva aplicação dos princípios supra-apontados,

de forma a atender aos fins colimados com a criação dos Juizados Especiais,

facilitando o acesso das partes à prestação jurisdicional e à satisfação imediata

dessa prestação.56

Sobre o referido princípios, tem-se a palavras de Elpídio Dnizetti:

Além da oralidade, da simplicidade ou informalidade e da economia processual, prevê a Lei. nº 9.099¹1995 a observância do princípio da celeridade, de forma que o processo dure o tempo mínimo posssível, atendendo à garantia constitucional da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da CR).57

Contudo, percebe-se que a simplicidade dos atos, sua concentração em

audiência, os atos orais, por fim, a busca do máximo de resultados com o mínimo de

esforço foi assim disciplinado com a finalidade de se fornecer ao procedimento a

maior celeridade possível.

55Cf. ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos da lei nº 9.099/95, p.10. 56Cf. SILVA, Luiz Cláudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na prática forense, p.9 57Cf. DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 276.

Page 34: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

2 DO RECURSO ADESIVO

Vencidos, autor e réu podem assumir uma das quatro posições possíveis de

serem tomadas: (i) não impugnarem a decisão; (ii) ambos impugnarem a decisão no

prazo comum, cada qual na parte em que ficou vencido; (iii) apenas uma das partes

impugnar; e (iv) na hipótese de apenas uma das partes impugnar, a outra poderá, no

prazo de resposta, se insurgir contra a decisão na parte em que ficou vencido. A

esta última hipótese de impugnação dar-se o nome de Recurso Adesivo.58

1.3 DA ORIGEM DO RECURSO ADESIVO

1.3.1 Nomenclatura

O vocábulo recurso adesivo é de origem alemã e espanhola, foi extraído do

direito processual civil alemão, onde existem as figuras da Anchlussberufung e da

Anschlussrevision, institutos este que foram traduzidos como apelação adesiva e

revisão adesiva.59

No ordenamento jurídico brasileiro a expressão ‘adesivo ’ esta longe de ter

sentido unívoco e ser aceita pela doutrina.

O vocábulo adesivo prende-se ao significado de unir, ligar, colar. Dado

significado pode levar a crer que o que se busca é o mesmo resultado do recurso

58CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo. Revista de processo, São Paulo, v.137, 2006. p. 32. 59Cf. CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo. Revista de processo, São Paulo, v.137, 2006. p. 35.

Page 35: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

35

principal, quando na verdade o que se busca é exatamente o contrário, o que se

verifica é a contraposição e não a convergência de pretensões.60

Como argumenta Manoel Caetano Ferreira Filho “(...) a rigor o recorrido não

adere ao recurso da parte contrária, pois, diversamente, o que ele quer é que o

recurso seja desprovido”. Com efeito, não há adesão alguma.61

Barbosa Moreira ao tratar do assunto comenta “(...) recurso adesivo nada

mais é do que o recurso contraposto ao da parte adversa, por aquela que se

dispunha a não impugnar a decisão e só veio impugná-la porque o fizera o outro

litigante”.62

Nos países como Itália e França este procedimento recursal denomina-se

recurso incidental. No entanto, recurso subordinado, do processo lusitano63,

acredita-se ser a denominação mais adequada, em confronto a recurso principal, ou,

ainda, recurso dependente, em contraposição a recurso independente, como consta

do próprio art. 500 do Código de Processo civil. Afinal, a impugnação adesiva tem

sua admissibilidade subordinada (dependente) à do recurso principal.64

Revelando um sentido mais amplo à palavra adesão, têm-se os

apontamentos de Sérgio Rizzi:

É uma adição na vontade de recorrer do adversário. Sim, adição à vontade de recorrer do recorrente principal. As coisas se passam no plano do interesse de recorrer. Como o adversário teve interesse em recorrer, também passo a ter. Há adesão, no plano da vontade de recorrer. Como a parte contrária já exerceu a vontade, o recorrido que tem uma vontade subsidiária em relação à do outro, por meio do adesivo juridicamente expressa vontade idêntica de recorrer.65

Muito embora as críticas existentes quanto à nomenclatura utilizada, convém

utilizar o nome que é usualmente aceito no pais, qual seja recurso adesivo.

60BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. v. 5, 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p.311. 61Cf. FILHO, Manoel Caetano Ferreira. Comentário ao código de processo civil, p.48. 62Barbosa Moreira. Comentários ao código de processo civil, p.312. 63 Barbosa Moreira explica a distinção entre a figura do recurso subordinado e do recurso adesivo no direito português: “Ocorre a primeira quando, tendo ficado ‘vencidas’ ambas as partes, uma delas aguarda o decurso do prazo normal de interposição, para só impugnar a decisão por havê-lo antes feito o adversário; ‘o recurso subordinado pode ser interposto dentro de 10 dias, a contar da notificação que admite o recurso da parte contrária’ (...). De adesão ao recurso fala-se apenas com referência à hipótese de ‘sucumbência paralela’, como condição legal, sob determinadas circunstâncias, para que a impugnação oferecida por um dos litisconsortes aproveite ao outro. (Comentário ao Código de Prcesso Civil, p. 308-309). 64Cf. Borbosa Moreira. Apud: OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Revista da ESMESC, v.13. n. 19, 2006. p. 246. 65 RIZZI, Sérgio. Recurso adesivo. Repro 30. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr-jun. 1983. p.261.

Page 36: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

36

1.3.2 Breve histórico

É inegável a vantagem que o recurso adesivo trouxe ao ordenamento

jurídico brasileiro.

O recurso adesivo já existia em diversos ordenamentos processuais

estrangeiros antes mesmo do advento do Código e Processo Civil de 1973, como

exemplo de países como Argentina, Alemanha e Portugal.

Alcides Mendonça Lima ao referir-se ao recurso adesivo expressou a

importância da adoção dessa providência em nosso sistema processual “(...) é,

porém, útil, necessária e indispensável para a perfeita solução do conflito de

interesses, em grau de recurso, e sem romper com o sistema do Código baseado no

princípio dispositivo.”66

Barbosa Moreira afirma:

Ambas as partes, em suma, vêem-se no fundo incentivadas a abster-se de impugnar a decisão. Cada qual sabe que não precisa fazê-lo desde logo, porque terá tempo para pensar duas vezes; e mais: sabe que, recorrendo incontinenti, talvez provoque a reação de um adversário em princípio disposto a conservar-se inerte.67

A introdução do recurso adesivo no sistema processual brasileiro teve como

grande incentivador o princípio do favor setentiae.

O princípio do favor setentiae, nas palavras de Sérgio Rizzi será aplicado

quando:

(...) quando o sistema adota uma mecânica que estimula as partes a não recorrerem, ou, noutras palavras, a prestigiarem a sentença. E quando as partes prestigiam a sentença é exatamente quando dizem: “já obtivemos o suficiente, não vamos recorrer”.68

O que se percebe é que o Código de Processo Civil de 1973 manteve a

tradição de independência dos recursos, mas introduziu a inovação do recurso

adesivo.

66 Alcides Mendonça Lima apud Revista de Processo p.34 67Cf. Borbosa Moreira. Apud:OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Revista da ESMESC, v.13. n. 19, 2006. p. 245. 68RIZZI, Sérgio. Recurso Adesivo . RePro 30. São Paulo: Revistas dos Tribunais, abr.-jun. 1983, p.251

Page 37: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

37

A rigor, o recurso adesivo não é tradicional do direito luso-brasileiro, apesar

de que Portugal já o tivesse acolhido desde seu Código de Processo Civil de 1939

(art. 682). Esse procedimento recursal nunca estivera sequer nas cogitações do

legislador brasileiro.69

Como se percebe o recurso adesivo surgiu no ordenamento jurídico

brasileiro apenas no Código de Processo Civil de 1973. Alfredo Buzaid, autor do

anteprojeto do código, intentou reestruturar o sistema vigente da época.

Pedro Miranda de Oliveira comenta o Anteprojeto:

Pretendeu-se uma alteração radical do regime até então vigente no país, o qual era responsável por gerar uma insuportável parafernália de mecanismos de impugnações das decisões judiciais. Nesse sentido o novo Código teve o mérito de simplificar o confuso sistema recursal do Código de Processo Civil de 1939, que, em muitos casos, provocava a incerteza quanto ao recurso cabível em determinado caso concreto, tão complicada era sua sistematização.70

Alfredo Buzaid assim descreve: “(...) na tarefa de uniformizar a teoria geral

dos recursos, foi preciso não só refundi-los, atendendo a razões práticas, mas até

suprir alguns, cuja manutenção não mais se explica à luz da ciência”.71

Dentre outras novidades trazidas por este novo código tem-se o recurso

adesivo, até então ignorado pelo nosso sistema processual brasileiro. Sérgio Rizzi

vai mais além para dizer acreditar que “(...) essa inovação realmente tenha sido a

inovação mais útil colocada no sistema recursal brasileiro”.72

Athos Gusmão Carneiro assim comenta esta evolução processual:

Na vigência do Código de 1939, diante de uma sentença, cuja sucumbência fosse recíproca, um litigante ficava com receio de que a outra parte fosse recorrer e, para evitar surpresas, ambas as partes acabavam por recorrer quando, na verdade, teriam intenção de acatar desde logo o decidido, Ou seja, na incerteza da atitude do oponente e pelo temor de ver levada ao conhecimento do tribunal apenas a inconformidade da parte contrária era comum o litigante recorrer da sentença com o qual, em princípio, estaria de acordo.73

69Cf. OLIVEIRA. Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Revista da ESMESC, v.13. n. 19, 2006. p. 247. 70Cf. OLIVEIRA. Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Revista da ESMESC, v.13. n. 19, 2006. p. 247 71Exposição de motivos do Anteprojeto do Código de Processo Civil, disponível em <http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/CPC_ANTEPROJETOS.pdf>. 72Cf. RIZZI Sérgio. Recurso adesivo RePro 30, p.262. 73CARNEIRO. Athos Gusmão. Observações sobre o recurso adesivo RePro 18. São Paulo: Revistas dos Tribunais, abr.- jun. 1980, p.161.

Page 38: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

38

Não há como negar que a possibilidade do recurso adesivo veio trazer,

juntamente com a evolução processual uma tranquilidade jurídica imensurável,

evitando-se diversos recursos, colaborando assim, em muito, com o Poder Judiciário

e a protelação de decisões.

Conforme Sérgio Rizzi:

Se a Lei propiciasse situação diversa, em que cada um pudesse, enquanto litigante parcialmente sucumbente, ficar observando a conduta do outro também vencido em parte, e só recorresse após o outro havê-lo feito, muitos recursos certamente não nasceriam. Afinal, de um lado está o inconformismo pela derrota, de outro está o interesse na consolidação da vitória. Daí a utilização do recurso adesivo. 74

Assim, percebe-se que o mecanismo em apreço não se constitui, um

expediente de facilitação dos recursos, mas ao contrário, atua como contra-estímulo

às impugnações nos casos de sucumbência parcial.75

Na sequência demonstram-se todos os aspectos que regulamentam a

existência do recurso adesivo.

1.3.3 Conceito e Natureza Jurídica do Recurso Adesivo

Perante uma sentença que seja em parte favorável ao autor e em parte

favorável ao réu, o qual a doutrina usualmente denomina sucumbência recíproca, ou

seja, tanto autor quanto réu obteve prejuízo, como visto, poderá a parte litigante

contentar-se com a decisão e optar por não recorrer. Assim escolhendo, caso, após

passado o prazo para recurso, se umas das parte for surpreendida com a intimação

para apresentação de contrarrazões a um recurso interposto pela parte adversa, o

Código de Processo Civil lhe assegura a possibilidade de, neste mesmo prazo para

contrarrazoar, vir a apresentar recurso, o qual denominamos Recurso Adesivo .

74Cf. Sérgio Rizzi. Recurso adesivo RePro 30, p.256. 75Cf. Barbosa Moreira. Comentários ao código de processo civil. v. 5, p.306.

Page 39: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

39

O recurso adesivo é providência para beneficiar a parte que, embora tivesse

interesse, não exerceu o poder de recorrer, mas poderá exercitá-lo em razão da

interposição do recurso pelo adversário.76

Humberto Theodoro Junior assim comenta:

Aplica-se exclusivamente no caso de sucumbência recíproca (art. 500). É comum, em tais circunstâncias, uma das partes conformar-se com a decisão no pressuposto de que igual conduta será observada pelo adversário. Como, no entanto, o prazo de recurso é comum, pode uma delas vir a ser surpreendida por recurso da outra no ultimo instante. Para obviar tais inconvenientes, admite o Código que o recorrida faça adesão ao recurso da parte contrária, após vencido o prazo adequado para recurso próprio.77

Luiz Rodrigues Wambier ao tratar da sucumbência recíproca assim explica

“(...) a expressão sucumbência recíproca significa sucumbência parcial. Refere-se à

situação de nenhumas das partes ter obtido exatamente o que quer, mas ter sido

parcialmente satisfeita”.78

Conceituado recurso adesivo Elpídio Donizetti esclarecer que:

A propõe contra B uma ação de reparação de danos, na qual pleiteia a condenação de B em R$ 1.000,00. B contesta, alegando que não agiu com culpa, por isso nada deve. O juiz julga parcialmente procedente o pedido formulado por A, condenando B a pagar quantia de R$ 500,00. Há sucumbência recíproca. A que pretendia receber R$ 1.000,00, logrou êxito só em R$ 500,00; B, que nada queria pagar, foi condenado em R$ 500,00. A fica satisfeito coma decisão. É uma satisfação condicionada. Se B não recorrer, A também não recorrerá. Como prazo de recurso é comum, pode ocorrer de A ser surpreendido com o recurso de B e não haver mais tempo para interpor seu recurso. Em situações tais, para evitar que o litigante, vencedor ou vencido parcialmente na demanda, seja compelido a interpor recurso simplesmente para não ser surpreendido pela atitude da outra parte, o Código de 1973 engendrou a figura do recurso adesivo.79

Observe-se que o recurso adesivo não representa uma nova espécie de

impugnação, mas sim forma peculiar de interposição do recurso, sendo admissível

76Cf. CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo, p.33. 77MARINONI Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 648. 78 WAMBIER, Luiz Rodrigues.(coord.) Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo de conhecimento. v.1. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 671. 79 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. p. 485.

Page 40: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

40

na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso

especial (art. 50080, II do Código de Processo Civil).

Como citado, a interposição do recurso adesivo se dará no prazo que a parte

dispõe para responder ao recurso interposto pela outra parte (art. 500, I do CPC)

evitando-se assim um acontecimento imprevisto.

Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery advertem que o recurso

adesivo “(...) não é espécie autônoma de recurso (não esta no rol do CPC 496), mas

sim forma de interposição dos recursos de apelação, embargos infringentes, RE e

Resp, que, portanto, podem ser interpostos pela via principal ou pela via adesiva”.81

Quanto ao assunto Elpídio Donizetti comenta:

O recurso adesivo não é uma espécie de recurso, porquanto as espécies estão elencadas no art. 496, mas uma forma de interposição. Tal forma de interposição, aderida e condicionada ao recurso da outra parte, denominado principal, só é admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial (art. 500, II).82

Discordando o posicionamento elencado acima, têm-se os dizeres de Carlos

Silveira Noronha:

“(...) a natureza recursal do instituto é negada por Rosenberg, na Alemanha. Entre nós, não pode ser aceita a teoria do mestre. As características especiais com que ingressou no ordenamento processual pátrio fazem da impugnação adesiva verdadeiro recurso, não obstante sua proximidades com as espécies alemãs”

E complementa:

“Aqui, o recurso adesivo possui a mesma estrutura e se constitui dos mesmos elementos formativos do recurso principal. Deste se distingui apenas por uma circunstância extrínseca e formal, de ordem temporal: a interposição posterior”.83

80“Art. 500 – Cada parte interporá o recurso, independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal e se rege pelas disposições seguintes: I – será interposto pela autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para responder; II – Será admissível na apelação, nos embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial; III – não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou deserto. Parágrafo único: Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso independente, quanto as condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal superior”. 81 NERY Júnior, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunias, 2002. p. 834. 82 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009. p. 485.. 83 NORONHA, Carlos Silveira. Do recurso adesivo. Rio de janeiro: Forense, 1987. p.198.

Page 41: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

41

Diz se que o recurso adesivo é ato incidental, porquanto aparece em

procedimento já instaurado e que o afasta, em consequência de novo recurso, de

sua tramitação normal. Daí dizer-se que o recorrente adesivo exerce o poder de

recorrer secundum eventum litis.84

Muito embora os dizeres de Carlos Silveira Noronha, corrobora-se com o

entendimento de que o recurso adesivo não pode ser considerada uma espécie

autônoma de recurso.

Não se trata de espécie recursal, não pode ser considerada espécie

autônoma de recurso, pelo contrário, é tão somente um modo especial de

interposição de apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário e recurso

especial.85

É inegável, porém, a vantagem trazida pelo recurso adesivo ao sistema

processual civil brasileiro.

Barbosa Moreira assevera que:

Ambas as partes, em suma, vêem-se no fundo incentivadas a abster-se de impugnar a decisão. Cada qual sabe que não precisa fazê-lo desde logo, porque terá tempo para pensar duas vezes; e mais: sabe que, recorrendo incontinenti, talvez provoque a reação de um adversário em princípio disposto a conservar-se inerte.86

Para que seja possível a interposição do recurso adesivo é necessário

impreterivelmente a existência do recurso principal. Principal será o recurso

interposto em primeiro lugar e dentro do prazo estabelecido pela Lei. O adesivo será

subordinado ao conhecimento do recurso principal.

Fabiano Carvalho, quanto ao recurso principal assim comenta:

Entende-se por recurso principal (ou independente) apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário ou recurso especial, interposto no prazo habitual para a impugnação da decisão. O recurso adesivo é forma de impugnação dependente e subordinada ao recurso principal do adversário, visto que o recorrente (adesivo ) não estava disposto a recorrer da decisão na parte em que ficou vencido, desde que a parte contrária também não o fizesse.87

84Secundum eventum litis, do latim: depende do resultado do julgamento da lide.Cf. Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil. p. 484. 85Cf. José Afonso da Silva. Do recurso adesivo no processo civil brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973. p.117-118. 86BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. v. 5. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 308. 87CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo. Revista de processo, São Paulo, v.137, p. 32, 2006.p. 38.

Page 42: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

42

Quando se diz que o recurso adesivo esta subordinado ao recurso principal

há de se esclarecer que não basta o recurso principal existir para que o recurso

adesivo seja conhecido. Se por ventura o recurso principal deixe de preencher

alguns requisitos legais exigíveis para a emissão de um julgamento de mérito que

importe no seu não conhecimento, automaticamente, o recurso adesivo também se

torna prejudicado, não sendo nem ao menos analisado, é como se o mesmo não

existisse.

Este é um dos riscos que a parte terá de assumir ao interpor o recurso

adesivo.

Destacando que isso não significa que se o juízo de admissibilidade do

recurso principal for positivo igualmente o será o do recurso adesivo. Ao se

conhecer do recurso principal terá o órgão judicial a tarefa de analisar os requisitos

de admissibilidade do recurso adesivo. Isso porque em relação à matéria de

admissibilidade e mérito pertinente ao próprio recurso ao recurso adesivo não existe

vínculo de subordinação ao recurso principal.88

Como comentam Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, “ (...) os

recursos interpostos no processo são considerados independentes entre si, devendo

ser apreciado singularmente pelo tribunal ad quem”.89

Neste Contexto, pode-se dizer que o recurso adesivo amplia o objeto do

processo no juízo ad quem, pois este órgão competente, além de estar compelido de

apreciar as pretensões fixadas no recurso principal, também estará compelido de

apreciar a defesa suscitada em sede de recurso adesivo.

A seguir destacam-se os requisitos de admissibilidade e conhecimento do

recurso adesivo, englobando-se a questão da possibilidade de sua interposição.

1.3.4 Requisitos de Admissibilidade

88JORGE, Flávio Cheim. Apelação cível: teoria geral e admissibilidade. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 256. 89Cf. NERY, Junior, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. 834.

Page 43: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

43

Barbosa Moreira alinhavou os requisitos de admissibilidade dos recursos em

duas categorias aceitas pela doutrina pátria: a) intrínsecos e b) extrínsecos. O

primeiro grupo (intrínsecos) refere-se ao próprio poder de recorrer e é composto pelo

cabimento, legitimação para recorrer, interesse recursal e inexistência de fato

impeditivo ou extintivo do poder de recorrer.

Na segunda categoria (extrínsecos) que se relaciona com o modo de exercer

esse poder de recorrer, estão a tempestividade, a regularidade formal e o preparo.90

Nesse sentido, Elpídio Donizetti:

O recurso adesivo tem como pressuposto a sucumbência recíproca. Ambas as partes são vencidas em suas pretensões. A subordinação ao recurso principal é ampla, ou seja, a parte sucumbente que não interpôs o recurso independente poderá fazê-lo na forma adesiva sem que a matéria impugnada se limite àquela do recurso principal, interposto pela parte contrária. Isso porque a exigência de subordinação a que alude o art. 500 deve ser aferida apenas no plano processual.91

Destarte, na hipótese de o recurso principal não ser conhecido, o adesivo

restará prejudicado, ou seja, não basta apenas que o recurso adesivo preencha

todos os requisitos de admissibilidade é necessário também que o recurso principal

possa ser conhecido pelo órgão ad quem.

1.3.5 Do Cabimento

Como já comentado, a Lei estabelece que o recurso adesivo é cabível

quando houver sucumbência recíproca e uma das parte haja interposto o recurso

principal.

Fabiano Carvalho comenta:

Não se exige que o recurso se contraponha ao recurso principal. Basta o litigante ser vencido em parte da sua pretensão, isto é, haja sucumbência recíproca. O recurso do aderente não tem como

90Cf. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. p. 307 apud Revista de Processo – publicação oficial do IBDP Instituto Brasileiro de Processo Civil – ano 31 – julho de 2006 – Revista dos Tribunais, p. 37. 91Cf. Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil. p. 484

Page 44: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

44

requisito apresentar-se em oposição direta à matéria suscitada no recurso principal. O recurso adesivo é forma de oportunizar à parte parcialmente vencida, conformada em um primeiro momento com a sua sucumbência parcial, diante da interposição do recurso principal, procure reformar a decisão na parte em que decaiu.92

O objeto do recurso adesivo será sempre uma sentença ou um acórdão, isto

é, decisões finais de procedência parcial da pretensão que pressupõe que ambas as

partes são vencedoras e vencidas em parte, nascendo daí o direito de recorrer da

parte em que decaíram.

Deve-se assinalar, também, que como requisito de cabimento do recurso

adesivo deve a decisão ser suscetível de impugnação. O recurso adesivo é forma de

oportunizar a parte parcialmente vencida, conformada em um primeiro momento com

a sua sucumbência parcial, diante da interposição do recurso principal, procure

reformar a decisão na parte em que decaiu.93

Ernane Fidélis dos Santos destaca:

O campo de incidência do recurso adesivo fica restrito à sucumbência de ambas as partes no processo. A sucumbência, porém, se relaciona com o pedido e com as conseqüências obrigacionais necessárias que podem advir do julgamento. Assim, se o juiz julgou procedente o pedido, mas deixou de condenar o réu em custas e honorários, ou condenou o autor, como pode acontecer, recorrendo o primeiro, o outro pode aderir.94

Frisa-se, ainda, que de acordo com o propósito do recurso adesivo e com o

princípio da consumação, não pode a parte recorrer quando já manifestou esse

interesse no recurso principal.95

Fabiano Carvalho comenta:

De acordo com o propósito do recurso adesivo e com o princípio da consumação, não pode a parte recorrer adesivamente quando já manifestou recurso principal, ainda que a decisão haja sido impugnada parcialmente (art. 505 do CPC). Exercitando o poder de recorrer, está encerrado o ônus de que dispõe o vencido (ainda que em parte) para impugnar a decisão judicial recorrível, operando-se, dessa maneira, preclusão consumativa. Vale lembrar também que o recurso adesivo não é um expediente de “acabamento” ou “corretivo” que autoriza complementação para revigorar ou dar forma correta

92CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo . Revista de processo, São Paulo, v.137, 2006.p. 37. 93Cf. CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo . Revista de processo, São Paulo, v.137, 2006. p 32. 94SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 704. 95Cf. STJ, Ag.Rg. 487.381/CE, rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 15.09.2003; RePro 86/430.

Page 45: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

45

aos fundamentos do recurso principal do mesmo litigante. Não se trata de um recurso de solidariedade ou de reforço.96

Neste ínterim, observa-se que, interposto o recurso principal, não há como a

parte objetivar interpor, também, o recurso adesivo.

Outra situação que merece atenção é saber da possibilidade de interposição

do recurso adesivo,quando das hipóteses do art. 539, I e II, a, do CPC.97

A resposta para tanto deve ser negativa, levando em consideração os

diferentes meios que as partes possuem para impugnar a decisão judicial, a saber:

recurso ordinário para o impetrante ou autor nas causas em que forem partes, de um

lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, de outro, Municípios ou

pessoas residentes ou domiciliadas no País; e para o impetrado, recurso especial

e/ou extraordinários, conforme o caso.98

Desta forma, em síntese, tem-se que, quanto ao cabimento é necessário a

sucumbência recíproca para que seja possível a interposição do recurso adesivo.

Dito isto, passa-se a outro requisito essencial do recurso adesivo, que aborda a

legitimidade recursal.

1.3.6 Legitimidade para recorrer

O art. 499 do Código de Processo Civil estabelece que o recurso pode ser

interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público.99

No entanto, o art. 500, caput, segunda parte, do Código de Processo Civil dispõe

96 CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo. Revista de processo, São Paulo, v.137, 2006, p. 39-40. 97 “Art. 539. Serão Julgados em recurso ordinário: I – pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, quando denegatório a decisão; II – pelo Superior Tribunal de Justiça: a)os mandados de segurança decididos em única instância pelo Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; (...)” 98Cf. José Frederico Marques. Manual de direito processual civil. v. 3, p. 258. 99“Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público. § 1o Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. § 2o O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei”.

Page 46: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

46

que vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá aderir a

outra parte.100

Assim, não há dúvida de que as partes são legitimadas para interpor o

recurso adesivo, e somente elas, não valendo essa hipótese nem para o Ministério

Público, nem para o terceiro prejudicado. Isto porque, somente aquele que tem

direito de apresentar contrarrazões ao recurso tem a possibilidade de oferecer o

recurso adesivo, já que este último deve ser interposto no prazo concedido para a

apresentação das contrarrazões (art. 500 I do CPC).101

Ressaltando que, sendo o Ministério Público parte da relação processual e

desde que preenchidos os requisitos próprios poderá o mesmo interpor o recurso

adesivo. Sua impossibilidade é alcançada quando exercer a função fiscalizadora,

onde não é parte, muito embora detenha alguns poderes do sujeito processual (art.

83 do CPC102).103

Barbosa Moreira enfatiza que “(...) não há recurso adesivo do Ministério

Público nos processos onde não ocupava no momento da decisão, a posição parte,

ou tenha figurado apenas fiscal da Lei”. Em seguida afirma que “(...) ao Ministério

Público corre sempre o ônus de interpor, no prazo comum, recurso independente”.104

Destaca-se, ainda, que, não se conhece a possibilidade de o litisconsorte105

aderir ao recurso interposto pelo outro ocupante do mesmo pólo da relação jurídica

processual, isto porque, o recurso adesivo só se torna viável quando interposto o

recurso principal pela outra parte, dada a relação de sucumbência.106

100Cf. Nota 80. 101Cf. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 583 102 “Art. 83 – Intervindo como fiscal da Lei, o Ministério Público: I – terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo; II – poderá juntar documentos e certidões, produzir provas em audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao descobrimento da verdade”. 103Cf. Fabiano Carvalho. Admissibilidade do recurso adesivo, p. 43. 104BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. v. 5, 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 318/319. 105 Ernane Fidélis dos Santos explica o que venha a ser um litisconsórcio “Em todo processo, a existência das partes é uma constante. Não se concebe processo, sem o autor, que pede, e o réu, contra quem se pede. Não havendo, todavia, processos sem partes, poderão existir aqueles onde haja pluralidade de partes. O litisconsórcio é pluralidade de partes. E, se partes são o autor, que pede, e o réu, contra quem se pede, sempre haverá litisconsórcio, quando houver mais de um autor, ou mais de um réu. Litisconsórcio ativo, no primeiro caso; passivo, no segundo; misto, na hipótese de se formar litisconsórcio tanto em um pólo quanto em outro da relação processual”. SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 71. 106 NORONHA, Carlos Silveira. Do recurso adesivo . Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 97.

Page 47: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

47

Assim certo está que havendo sucumbência mútua, cada parte do processo

deverá interpor seu recurso de forma isolada, tanto principal quanto adesivo,

conforme seja o caso, independente da interposição de seu comparte, quando os

interesses não coincidem.

Destacando-se, porém, o disposto no art. 509107 do CPC, quando afirma que

o recurso interposto irá aproveitar aos demais quando as defesas opostas ao credor

lhe forem comum. Por esta razão, pode surgir a seguinte dúvida: poderá o terceiro

prejudicado vir a interpor recurso adesivo?

Em se tratando de terceiro interessado, observando a literalidade da Lei tem-

se que não seria possível a interposição do recurso adesivo, porém, este não é um

entendimento predominante na doutrina respectiva.

Há quem defenda, tendo por base entendimento disposto no art. 499108 do

CPC, que só seria lícito impedir a interposição do recurso adesivo se houvesse

disposição legal neste sentido.

Confirmando esta tendência, assegura Dinamarco: “(...) Aceitamos a

premissa segundo a qual terceiro são todos os sujeitos externos a determinada

relação processual e que se tornam partes a partir do momento em que intervenham

no feito”.109

Nesta linha de raciocínio, a expressão, parte, disposta no art. 500 do CPC,

deve ser entendida como parte recorrente, sendo perfeitamente cabível, nestes

termos, o recurso adesivo por terceiro prejudicado.

Marinoni ao tratar do cabimento do recurso adesivo, exclui a possibilidade de

terceiro interpor o recurso, aduzindo que, em certos casos, admite-se que, mesmo

após findo o prazo para a interposição do recurso, possa a parte (e somente ela, não

valendo essa hipótese nem para o Ministério Público, nem para o terceiro

prejudicado) beneficiar-se de recurso interposto por seu adversário, aderindo a ele

no seu interesse.110

107 “Art. 509 – o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos aos seus interesses. Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos aos seus interesses”. 108 “Art. 499 – O recurso pode ser interposto pela partevencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público. § 1º - Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. §2º - O Ministério Público te, legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naquele em que oficiou como fiscal de Lei”. 109 Dinamarco, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, p. 370. 110Cf. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p.582 - 583.

Page 48: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

48

Ainda quanto à legitimidade, questão de grande interesse, consiste em saber

se o advogado, em nome próprio, tem legitimidade para interpor recurso adesivo. A

resposta para tanto é positiva como, por exemplo: a situação da fixação dos

honorários.

Quando estes forem fixados em montante inferior ao pretendido inicialmente

ou ainda, abaixo do fixado por Lei, poderá o advogado considerar-se sucumbente de

forma parcial e vir a interpor o recurso adesivo no intuito de buscar a majoração das

verbas honorárias devidas.

Fabiano carvalho comenta esta possibilidade em seu artigo:

Se o advogado tem legitimidade e interesse para, autonomamente, promover a execução, na forma da Lei, não se pode excluir-lhe o direito de pleitear a elevação do quantum da verba honorária que lhe cabe pelo patrocínio dos interesses de seu constituinte por meio de um recurso, sob pena de esvaziar-se o próprio conteúdo da Lei.111

Assim, é indiscutível a legitimidade do advogado para interpor o recurso

adesivo em nome próprio quando lhe for de interesse, diga-se, respeitando os limites

legais.

O entendimento segundo o qual extinta a demanda sem julgamento do

mérito, não há interesse na interposição do recurso adesivo, porquanto não houve

sucumbência recíproca112, deve ser analisado com certa precaução.

Fabiano carvalho, nesta esteira, comenta:

Pode ocorrer, e não raras vezes ocorre, de o réu contestar a demanda alegando prescrição. Na sentença, o órgão judicial julga o autor carecedor da ação. Sobrevindo tal situação, e tendo o autor interposto recurso de apelação, mesmo vencedor, não parecerá razoável excluir a possibilidade de o réu recorrer adesivamente com o propósito de ver julgada a demanda com apreciação do mérito. Logo, observa-se presente o binômio necessidade-utilidade, porquanto o recurso adesivo, na modalidade apelação, é o remédio adequado para corrigir a decisão de primeiro grau, e o provimento desse recurso oferece situação mais vantajosa, já que o autor não poderá repropor a demanda.113

Para Sérgio Rizzi, “(...) importa aqui a qualidade do resultado. Embora o réu

tenha sido vencedor dos dois modos, vencer pela carência é vencer menos do que

vencer pela improcedência”.114

111Cf. CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo, p. 45. 112Cf. MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil, p. 253. 113Cf. CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo, p. 46. 114RIZZI, Sérgio. Recurso adesivo. Repro 30. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr-jun. 1983. p. 251.

Page 49: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

49

Assim, o que se percebe é que há a possibilidade de interposição do recurso

na forma adesiva, mesmo inexistindo a sucumbência recíproca.

1.3.7 Da Tempestividade

O prazo para interposição do recurso adesivo só começará a fluir a partir do

momento em que houver recurso interposto pela parte adversa, mais precisamente a

partir do momento em que este é intimado para apresentar contrarrazões ao recurso

do recorrente.

O já citado art. 500 I do CPC115 esclarece que será interposto no prazo em

que a parte dispõe para responder, ou seja, no prazo de contrarrazões. A vista do

disposto no art. 508116 do CPC, o prazo para a interposição do recurso adesivo será

de 15 dias, contados da intimação para as contrarrazões, observando-se a regra do

art. 184117 do CPC.

Elpídio Donizetti corroborando com o aduzido, sustenta que:

Deve ser interposto no prazo das contra-razões, ou seja, no prazo de 15 dias, uma vez que este é o prazo para responder os recursos nos quais se admite o recurso adesivo. Tal prazo é contado em dobro nas hipóteses dos art. 188118 e 191119. 120

Marinoni, comentado do prazo recursal destaca:

Assim, por exemplo, sendo vencidos autor e réu, relativamente a certa sentença, e interposta a apelação no prazo regular (quinze dias) apenas pelo autor, poderá o réu, no prazo que tem para apresentar contra-razões, oferecer também apelação adesiva, em

115Cf. nota 80. 116“Art. 508 – Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para responder é de quinze (15) dias”. 117“Art. 184 – Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento. § 1º - Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o vencimento cair em feriado ou em dia que: I – for determinado o fechamento do fórum; II –o expediente forense for encerrado antes da hora normal. § 2º - Os prazos somente começam a correr do 1º (primeiro) dia útil após a intimação”. 118“Art. 188 do CPC – computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público”. 119“Art. 191 do CPC – Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos”. 120Elpídio Donizetti. Curso didático de direito processual civil, 12. ed. p. 486.

Page 50: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

50

que apresentará seus motivos para a reforma (ou anulação) da sentença em seu próprio benefício. 121

E ao tratar do assunto especifica que o recurso deve ser apresentado

juntamente com as contrarrazões, conforme destaca “(...) ao recurso oferecido

tempestivamente poderá a outra parte aderir, no prazo que dispõe para apresentar

contra-razões, oferecendo, juntamente com estas, as razões que tiver para reforma

da decisão em seu próprio benefício”.122

Porém, Barbosa Moreira adverte que: “(...) não se exige que a petição de

adesão e a resposta ao recurso principal sejam apresentadas simultaneamente:

basta que ambas sejam na quinzena”.123

Este último entendimento, o mais correto, se assegura melhor aos princípios

processuais, inclusive ao avesso à justiça124, visto que, se estipulado o prazo para o

recurso, desnecessário se torna a apresentação simultânea ao oferecimento das

contrarrazões, isto porque, sua subordinação se da ao recurso principal e não a sua

resposta ao recurso da parte, que pode, se assim optar, não ocorrer. O recurso

adesivo não é um recurso subordinado ou secundário à apresentação das

contrarrazões.

Confirmando a afirmativa acima temos a situação da Fazenda Pública e do

Ministério Público que podem valer-se da prerrogativa de prazo em dobro apenas

para a interposição do recurso. Vale dizer, o prazo para contrarrazões é simples, isto

é, 15 dias.

Em se tratando de litisconsortes com diferente procuradores, conforme

estabeleceu o artigo 191 do Código de Processo Civil o prazo para falar nos autos é

121Cf. MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento, p. 583. 122Luiz Guilheme Marinoni. Processo de Conhecimento. v. 2, p. 583 123Barbosa Moreira. Comentário ao código de processo civil. v. 7, p. 320-321. 124Apesar de difícil conceituação, o termo acesso a justiça delimita duas finalidades básicas do sistema jurídico, consoante Cappeletti e Garth: “Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos’(Cappelletti, Mauro e Garth, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre, Fabris, 1988. Apud ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004 p. 38.) Acesso a justiça, para José Afonso da Silva, é uma expressão que denota “o direito de buscar proteção judiciária”, isto é, “(...) o direito de recorrer ao Poder Judiciário em busca da solução de um conflito de interesses”. Nesse enfoque, tem um sentido institucional, que não explicita integralmente o seu significado. Espera-se que o judiciário administre como valor, “instituição que, numa acepção moderna, não deve nem pode satisfazer-se com a pura solução das lides de um ponto de vista puramente processual. (Silva, José Afonso da. Poder constituinte e poder popular:estudos sobre a constituição. São Paulo, Malheiros, 2000, p. 150. Apud ABREU, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da consolidação de uma justiça cidadã no Brasil, p. 38)

Page 51: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

51

dobrado. A expressão alcança todas as situações em que a parte tenha de

pronunciar-se, sendo o prazo sempre duplicado, incluindo a resposta ao recurso.

Desta forma, o prazo para contrarrazões será de 30 dias, bem como o prazo para a

interposição do recurso adesivo.125

1.4 REGULARIDADE FORMAL

O recurso adesivo deve respeitar os requisitos formais para sua

interposição, de acordo com o art. 500 do Código de processo Civil126, aliado ao

recurso principal, sob pena de não ser conhecido.127

O recorrente adesivo deve manejar o recurso por petição escrita, não sendo

admissível introduzi-lo nas contrarrazões ao recurso principal, porquanto, será

aplicado ao recurso adesivo as mesmas regras do recurso independente quanto as

condições de admissibilidade, preparo e julgamento no tribunal.128

Portanto, observa-se que não há exigência da simultaneidade para

apresentação das contrarrazões ao recurso principal e do recurso adesivo, é preciso

apenas que os dois atos sejam oferecidos no prazo de 15 dias. Da mesma forma

não é necessário contrarrazoar para recorrer adesivamente.129

1.5 INTERESSE RECURSAL

O interesse de recorrer decorre da vontade da parte em ver alterada decisão

que de forma total ou parcial, causou prejuízo a esta.

125Cf. MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Comentário ao código de processo civil. v. 2. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 117. 126Cf. nota n.80. 127Cf. Fabiano Carvalho. Admissibilidade do recurso adesivo p. 53. 128Cf. SILVA, Ovídio A. Baptista da Silva. Curso de processo civil. v. 1. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 55. 129Cf. FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Comentário ao código de processo civil. v. 7. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 54

Page 52: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

52

O recurso pode ser considerado o remédio para amenizar situação

desvantajosa obtida por decisão recorrida, ou, até mesmo, melhorar os termos e

minorar os prejuízos daquela.

Quando tratamos de recurso adesivo, o que autoriza seu manejo é a

sucumbência recíproca, ou seja, decisão que venha causar prejuízo tanto para o

autor quanto para o réu.

O já citado art. 500 caput do Código de Processo Civil é claro quando afirma

que “(...) vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá

aderir a outra parte”.

O interesse recursal somente nascerá quando interposto o recurso principal

por uma das partes, pois, até então, a parte já estava conformada com a sua

sucumbência parcial. O interesse de recorrer da parte se exteriorizou após a não

conformação da parte contrária na parte em que esta era sucumbente.130

Assim, o que se conclui é que terá interesse recursal aquele que até o

momento da interposição do recurso da parte adversa estava satisfeito com a

decisão, mesmo não sendo esta do todo procedente, porém, com a possibilidade de

ter piorada sua situação utiliza-se do meio cabível a fim de se resguardar desta

possibilidade.

130Cf Fabiano Carvalho. Admissibilidade do recurso adesivo . Revista de processo.137, p. 46.

Page 53: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

3 O RECURSO ADESIVO E OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS.

Já se viu que para o ingresso do recurso adesivo se faz necessário o

preenchimento de alguns requisitos dentre os quais podemos destacar a

necessidade de existência da sucumbência recíproca. Viu-se também que os

Juizados Especiais Cíveis surgiram com o objetivo de aproxima a justiça do povo na

busca de uma resposta mais rápida e eficaz, onde se destaca, entre outros, o

princípio da celeridade processual, que nada mais é do que a busca maior do

judiciário.

Esclarecido todos estes fatos, entra-se na questão da possibilidade ou não

da interposição do recurso adesivo frente aos Juizados Especiais Cíveis Estaduais.

Como se demonstrará a seguir não há um único posicionamento

predominante, respeitáveis doutrinadores são divergentes quanto ao assunto, cada

qual com seus embasamentos, haja vista a lacuna na lei que não o proíbe mas

também não o autoriza.

O que se observa é um número maior, uma tendência de posicionamentos

voltados à negativa de possibilidade de interposição do aqui destacado recurso

adesivo, porém, os que defendem tal idéia possuem justificativas questionáveis nos

levando a um questionamento sobre a possibilidade desta negativa ser a forma

correta e mais vantajosa ao judiciário de interpretar a lei que, como dito, não resta

clara quanto ao assunto. A seguir se demonstrará com detalhes o exposto.

Page 54: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

54

1.6 OS PRINCÍPIOS VISADOS PELOS JUIZADOS ESPECIAIS VS RECURSO

ADESIVO

Como visto, os Juizados Especiais Cíveis são banhados por diversos

princípios que norteiam sua existência, como disposto no artigo 2º da Lei 9.099/1995

“(...) o processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,

informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível a

conciliação ou a transação”.

Sabe-se, como visto, que o recurso adesivo necessariamente deve ser

interposto de forma subordinada a um recurso principal. Dito isto, tem-se que

necessários se faz verificar quais recurso são possíveis de interposição frente aos

Juizados Especiais Cíveis Estaduais.

Ao se analisar a Lei 9.099/95 percebe-se que não se pode interpor uma

série de recursos dispostos no Código de Processo Civil em face do rito dos

Juizados Especiais Cíveis Estaduais. Neste rito denominado sumaríssimo há

previsão legal apenas a dois recursos, ao conhecido usualmente por recurso

inominado, exatamente por não possuir em lei uma nomenclatura específica, recurso

este que é semelhante à apelação do procedimento comum e o recurso de

embargos de declaração.

A previsão ao recurso inominado encontra-se elencada no art. 41 da Lei

9.099/95 que dispõe: “da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou

laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado”.

Consoante disposição do art. 42131 da citada lei, o prazo para a interposição

do recurso inominado é de 10 dias devendo o preparo ser recolhido nas 48

(quarenta e oito) horas seguintes a data da interposição.

O embargos de declaração por sua vez esta previsto no art. 48 desta mesma

lei que dispõe: “caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão,

houver obscuridade, contradição, omissão ou duvida”.

131 Art. 42 – O recurso será interposto no prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. § 1º - O preparo será feito independentede intimação, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à interposição, sob pena de deserção. § 2º - Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

Page 55: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

55

Oportuno destacar que o prazo para a interposição dos embargos de

declaração é de cinco dias e no ato de sua interposição, ao contrário do que

acontece no rito ordinário, não se interrompe o prazo para recurso principal, mais

sim suspende. Assim, caso seja o recurso de embargos interposto no quinto dia

após sua publicação, passado seu julgamento, terá a parte apenas mais 5 (cinco)

dias para, querendo, ingressar com o recurso inominado e não os dez dias previsto

em lei.

Este reduzido número de recursos serve exatamente para acelerar a

prestação jurisdicional, fazendo valer os princípios norteadores dos Juizados

Especiais, evitando-se assim a interposição de recursos que sejam meramente

protelatórios.

Ocorre, entretanto, que o Código de Processo Civil, enquanto lei geral terá

aplicação de forma subsidiária sempre que a lei específica for omissa, houver

lacuna, ou a ele remeter.

Joel Dias Figueira Junior, comentando o art. 42 da Lei 9.099/1995 assevera:

Aplica-se subsidiariamente o CPC, no que pertine às disposições gerais e ao recurso de apelação, desde que não entre em conflito com qualquer artigo ou princípio norteador do microssistema. Assim, por exemplo, nada obsta que as Leis de Organização Judiciária regulem a matéria do recurso adesivo.132

Dentre os princípios elencados pela lei dos juizados especiais dar-se maior

guarida a celeridade processual visada, isto é, a busca de uma resposta mais rápida

do judiciário frente as necessidades da sociedade.

Destaca-se tal princípio por ser este um dos entendimentos pelo qual

doutrinadores não conhecem da possibilidade de interposição do recurso adesivo

frentes os Juizados Especiais Cíveis Estaduais, sob a alegação de que possibilitar a

interposição de tal recurso é contribuir para uma resposta cada vez mais demorada,

dado o fato de se necessitar de intimação da parte adversa para que apresente

contrarrazões, vindo contra aos princípios dos juizados especiais, principalmente,

como destacado, a celeridade processual.

Como visto, na sistemática dos juizados especiais, limitou-se a quantidade

de recursos cabíveis a fim de assegurar a perseguida celeridade. Nesse fato reside,

então, uma corrente de defesa para não se admitir o recurso adesivo em sede dos

132 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentário a lei dos juizados especiais cíveis e criminais. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1997. p. 288.

Page 56: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

56

juizados especiais, ou seja, há falta de previsão legal para seu cabimento e/ou ainda

ofensa aos princípios.

Estas alegações de falta de previsão legal e/ou ofensa aos princípios que

guarnecem o rito dos juizados especiais é a que se encontra com mais incidência

dentro da fundamentação usada em acórdão das Turmas Recursais brasileira, como

se demonstrará em tópico pertinente.

Ocorre que, dependendo da linha de raciocínio que se siga, o recurso

adesivo, ao contrário do que se defendeu acima, pode surgir como uma forma de

contribuição aos princípios da celeridade processual defendida pelos Juizados

Especiais Cíveis.

Isto porque, com a possibilidade de interposição do recurso adesivo, a

máxima defendida pela doutrina que a é a segurança jurídica, encontra-se na sua

mais pura acepção.

Explica-se: quando a parte tem em mãos a possibilidade de não recorrendo

de uma decisão que, muito embora parcialmente procedente, contentou-se com o

resultado, vir a recorrer caso a parte adversa o faça, caracteriza uma segurança

imensurável, fato que, automaticamente, reflete na celeridade processual, pois não

exige que a parte venha a recorrer apenas com o receio de que sua condição possa

vir a piorar com um possível recurso adverso, quando na verdade não desejava o

recurso.

Esta conquista, que traz o recurso adesivo, como defendida por

doutrinadores, em nada afeta a celeridade ou os demais princípios que guarnecem

os juizados especiais.

As palavras de Carlos Silveira Noronha demonstram o conformismo dos

sucumbentes:

Constituía-se uma cena pitoresca, mas comum às portas dos cartórios e secretarias dos juízes e tribunais, o fato de ficarem os advogados das partes, cada um com a sua petição, no último dia e hora do fechamento do prazo, à espera do recurso do outro. Caso um recorresse, o outro faria o mesmo. Mas, se um não tomasse a iniciativa, o outro também se manteria inerte, transitando a sentença em julgado.133

Acrescenta com clareza Noronha: “(...) a indecisão de cada uma das partes

em ingressar com o recurso principal pode resultar na inexistência deste, após o

133 NORONHA, Carlos Silveira, Do Recurso Adesivo. Rio de Janeiro: Forense,1974. p. 58.

Page 57: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

57

decurso do prazo, hipótese em que a sentença transita em julgado, acelerando a

solução do litígio”.134

Uma vez que é princípio do processo a isonomia ou a litigância com

paridade em armas, deve-se reequilibrar as partes caso alguma circunstância

superveniente possa causar superioridade ou inferioridade para uma parte em

relação à outra.135

Com probidade, Flávio Cheim Jorge enaltece, “desse modo, evita-se a

utilização de recursos sem muita convicção e, conseqüentemente, a desnecessária

carga de trabalhos nos tribunais”.136 O que se percebe é que a existência de dois

recursos principais afeta a velocidade do processo, o que vem em confronto com os

princípios dos Juizados Especiais.

Ou seja, aos que coadunam com esta visão, a não possibilidade de

interposição do recurso adesivo contribui para a sobrecarga cada vez maior do

poder judiciário afetando diretamente a celeridade da prestação jurisdicional.

É inegável que sob esta ótica o recurso além de não ferir com os princípios

dos juizados especiais, contribui para fazer valer a celeridade processual, evitando

recursos que nem ao menos surgiriam se possível fosse tal interposição.

Vale ressaltar que o recurso adesivo não se assemelha à resposta ao

recurso interposto da parte adversa. Não se pode pedir a reforma da decisão em seu

favor na resposta, mas somente pelo recurso adesivo.137

Ao contrário do que se pode pensar, o recurso adesivo não é uma

ferramenta para ajudar o mal recurso — que seria o recurso, principal, interposto

fora do prazo legal — ou ainda facilitar uma das partes que não haja interposto seu

recurso, mas serve para desestimular, através de um efeito psicológico, a

interposição de recursos meramente acautelatórios, carentes de inconformismo. O

interesse em interpô-lo nasce quando se sabe que a outra parte entrou com o

recurso.138

A tese de falta de previsão legal para a interposição do recurso adesivo na

Lei 9.099/95 é questionada pelo fato de não ser o recurso uma forma de interposição 134Cf. NORONHA, Carlos Silveira, Do Recurso Adesivo, p. 59. 135CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; e Dinamarco, Cândido Rangel, Teoria Geral do Processo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 53. 136GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 16. ed. vol 2, São Paulo: Saraiva 2003, p. 326. 137Cf.GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, p.289. 138 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 41 ed. São Paulo: Saraiva, 2004 p. 524.

Page 58: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

58

autônoma de recurso.

A seguir, demonstrar-se-á através de posicionamentos doutrinários e

jurisprudências, toda esta problemática e divergência existente, colocando em

prática os posicionamentos supracitados trazendo para o dia-a-dia, aplicando-se a

casos concretos.

1.7 APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS A CERCA DA IMPOSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS.

Iniciando tais posicionamentos, tem-se que o FONAJE (Fórum Nacional de

Juizados Especiais) fez editar o enunciado de número 88, pelo qual simplesmente

anuncia que: “Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de

expressa previsão legal”.

Como se comprovará nas jurisprudências colacionadas a seguir, este

enunciado é usado com enorme freqüência pelos posicionamentos que defendem a

impossibilidade de interposição do recurso

Tem-se ainda que a 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do

Distrito Federal, cogitando que o recurso adesivo afronta a celeridade processual

editou sua súmula n. 10 que traz a seguinte redação “o recurso adesivo, à míngua

de previsão legal na legislação de regência (Leis n. 9.099/95, de 26/09/1995, e

10.259, de 12/07/2001) e sendo incompatível com o princípio da celeridade, não é

admitido nos juizados especiais.”

Vale citar aqui o posicionamento assumido pelo ilustre jurista Theotônio

Negrão asseverando o não cabimento do recurso adesivo em sede de juizados

especiais, esboçado nas notas de rodapé relativas aos comentários ao artigo 41 da

Lei 9.099/1995, onde afirma na nota identificada como 41:3a, ao final: "Também não

Page 59: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

59

se admite recurso adesivo, que é incompatível com o princípio da celeridade (art.

2o)"139

Ainda quanto ao não cabimento, tem-se no estado do Rio de Janeiro o

Provimento nº 05/2002 da coordenadoria dos Juizados Especiais Federais que em

seu artigo 8º, § 4º que dispõe o seguinte: “Não Cabe recurso adesivo em sede de

Juizados Especiais”.

Tem-se o posicionamento doutrinário que é taxativo:

Incabíveis o recurso adesivo e os embargos infringentes contra as decisões proferidas pelas Turmas Recursais dos Juizados Especiais, já que tais recursos somente são admissíveis nas hipóteses taxativamente previstas nos arts. 500 e 530 do CPC (entre elas não está o acórdão proferido em recurso inominado por Turma Recursal do Juizado Especial Cível). “O recurso adesivo é incompatível com a celeridade, princípio informativo dos Juizados Especiais (Unanimidade)”(1º Encontro Regional de Turmas Recursais – Juizados Especiais, Foz do Iguaçu-PR, março de 1998, Conclusão2) “O recurso adesivo, à míngua de previsão legal na legislação de regência (leis n. 9.099, de 26-9-1995, e 10259, de 12-7-2001) e sendo incompatível com o princípio da celeridade, não é admitido nos Juizados Especiais” (Súmula 10 da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais do Distrito Federal)140

Colhe-se da doutrina de Ricardo Cunha Chimenti e Marisa Ferreira dos

Santos a seguinte assertiva:

O recurso adesivo não é cabível no juizado especial pelo fato de que tal recurso somente é admissível nas hipóteses taxativamente previstas no art 500 do Código de Processo Civil e que, dentre elas, não se encontra o acórdão proferido em recurso inominado por Turma Recursal do juizado especial cível.141

Uma observação que merece ser feita no tocante ao posicionamento acima

defendido é que a redação determinada no art. 500 foi disposta pela Lei 8.038/90,

portanto, antes da promulgação da lei que regulamenta os juizados especiais que é

de 1995.

139 NEGRÃO, Theotonio. Código de processo civil e legislação processual em vigor, 29. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 1.046. 140 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Juizados especiais cíveis e criminais: federais e estaduais.3.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005.p. 194-195. 141 CHIMENTI, Ricardo Cunha; SANTOS, Marisa Ferreira dos. Juizados especiais cíveis e criminais: federais e estaduais. 2.ed. ver. atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 205.

Page 60: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

60

Quanto aos posicionamentos negativos à interposição, elencados acima,

pode-se observar que a falta de previsão legal recai com maior força na

fundamentação destes, não aplicando as regras do Código de Processo Civil de

forma subsidiária. Importante destaque merece também a visão de proteção aos

princípios trazidos pela lei 9.099/95, destacando o princípio da celeridade, que,

conforme defendido, por se ver afetado e impossibilitaria o recurso adesivo.

Quanto a esta negativa, temos a seguir os mais recentes posicionamentos

pátrios que, como se observará, segue uma corrente de negativa a tal possibilidade,

fundamentada, entre outros, no citado enunciado 88 do FONAJE142.

1.8 APONTAMENTOS JURISPRUDÊNCIAS ACERCA DA IMPOSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS.

Ao se elaborar uma pesquisa jurisprudencial, percebe-se que o

posicionamento predominante frente às Turmas Recursais é o do não cabimento do

recurso adesivo, com o fundamento da falta de previsão legal e respeitando o

enunciado do FONAJE, como retira-se dos acórdão abaixo colacionados:

RECLAMAÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDO. FALTA DE PREVISÃO LEGAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 46, DA LEI Nº. 9099/95. RECURSO INOMINADO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. A sentença a quo pela abrangência com que foi prolatada, tendo apreciado todas as questões de direito, postas ao crivo do julgador de primeiro grau, fez a costumeira justiça, não estando a merecer reparos. Assim, com supedâneo no artigo 46, da Lei de Regência dos juizados especiais, considero integrada a este voto a respeitável sentença, que se sustenta pelos seus próprios e jurídicos fundamentos. Quanto ao recurso adesivo, subscrito assim nas contra razões apresentadas, pelo não conhecimento, uma vez que, não há previsão legal em nosso ordenamento jurídico, consoante orienta o enunciado nº 88 do fonaje:não cabe recurso adesivo em sede de juizado especial, por

142 Fórum Nacional dos Juizados Especiais.

Page 61: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

61

falta de expressa previsão legal (aprovado no XV encontro - Florianópolis -SC).143

E ainda, no mesmo sentido, tem-se o julgado do Distrito Federal:

CIVIL. LJE. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. PROVA ORAL CONTRADITÓRIA. AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL OU OUTRO MEIO HÁBIL À COMPROVAÇÃO DA DINÂMICA DO ACIDENTE. IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS PRINCIPAL E CONTRAPOSTO. RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDO, POR AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. I. Pretendem as partes a reparação dos danos materiais decorrentes de acidente de trânsito. Em face da prova oral inconclusiva, foi promovida acareação, na qual a testemunha arrolada pelo autor (ora apelante) ratificou a versão dos fatos narrada na inicial, enquanto a testemunha do réu (ora apelado) confirmou a versão por ele apresentada. O informante (motorista do veículo), por seu turno, apresentou terceira versão, distinta das oferecidas pelas referidas testemunhas. II. O julgamento do feito há que se basear em fatos devidamente comprovados e não pode, portanto, guiar-se por dúvidas, incertezas ou suposições. III. Em virtude da contradição da prova oral (testemunhas e informante), a par ainda da ausência de laudo pericial ou de outro meio hábil à demonstração da real dinâmica do acidente, inabalável a sentença que decidiu pela improcedência dos pedidos principal e contraposto em razão da ausência de comprovação dos fatos constitutivos do direito das partes (CPC, art. 333, I). Precedentes. 1ª Turma Cível do DF, APC 4657797, Rel. Des. João MARIOSA, DJ 04.03.1998; 2ª Turma Cível do DF, APC 20000110811077, Rel. Des. ADELITH DE Carvalho Lopes, DJ 11.12.2002 e 5ª Turma Cível do DF, APC 20000110211396, Rel. Des. Haydevalda Sampaio, DJ 26.02.2003. lV. Não se conhece de recurso adesivo em sede de juizado especial, por ausência de expressa previsão legal. SENTENÇA CONFIRMADA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS, O QUE AUTORIZA A LAVRATURA DO ACÓRDÃO NOS MOLDES DO ART. 46 DA Lei DOS JUIZADOS ESPECIAIS. CONDENADA A PARTE RECORRENTE AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, ARBITRADOS EM 20% (VINTE POR CENTO) DO VALOR CORRIGIDO DA CAUSA, COM BASE NO ART. 55 DA Lei nº 9099/95.144

Para maior esclarecimento destaca-se abaixo parte de uma decisão da 2ª

Turma Recursal do Estado do Rio de Janeiro, comprovando o posicionamento

desfavorável:

143 BRASIL.; RCIN 79/2010; Segunda Turma Recursal; TJMT Relator: Des. Sebastião Barbosa Farias; Julgado em 14/06/2010. 144 BRASIL. TJDF; Recurso n. 2008.07.1.014320-7; Ac. 407.050; Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF; Rel. Juiz Fernando Antônio Tavernard Lima; Julgado em 08/03/2010.

Page 62: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

62

(...) Inicialmente, cumpre ressaltar que não há possibilidade do manejo de recurso adesivo em sede de Juizados Especiais, motivo pelo qual não cabe qualquer discussão acerca da majoração da indenização arbitrada a título de danos morais (neste sentido: 11.4 - recurso adesivo inadmissibilidade Não cabe recurso adesivo em sede de Juizados Especiais, por falta de expressa previsão legal. Aviso 23/2008). À míngua de comprovação de cientificação inequívoca do autor no que pertine às cobranças efetuadas pela ré, comungo do entendimento de que as mesmas se verificam abusivas. A prova da cientificação seria de facílima produção pela ré, bastando acostar aos autos o contrato assinado por ambas as partes. Tal, contudo, não ocorreu. Isto posto, conheço do recurso interposto e nego-lhe provimento mantendo-se, na íntegra, a sentença atacada. Isto posto, conheço do recurso interposto e nego-lhe provimento condenando a parte recorrente ao pagamento das custas e honorários fixados em 20% do valor da condenação. Christiane Jannuzzi Magdalena Juíza Relatora.145

E ainda, o julgamento do acórdão n. 123.946, emanados pelo juiz relator

Arnoldo Camanho de Assis, retirada da Revista dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais Número 8 do Distrito Federal e Territórios:146

(...) processo civil. intimação de testemunhas residentes em outra comarca por carta precatória. descabimento em sede de juizados especiais. exclusão do motorista da empresa-ré do pólo passivo da relação processual. decisão que, em tese, poderia causar gravame apenas ao autor, não estando a ré, portanto, legitimada a questionar o ato judicial que assim decidiu, até porque a mesma dispõe de ação regressiva para a eventualidade de sua condenação. indemonstrados, tanto pelo autor, quanto pela ré, os fatos constitutivos dos direitos que alegam ter, é de ser mantida a sentença que julga improcedente a pretensão inaugural e o pedido contraposto. recurso adesivo. descabimento no micro-sistema dos juizados especiais. precedentes da turma recursal.

1. Não se admite recurso adesivo em sede de juizados especiais, não só porque inexiste previsão na lei de regência, como porque não há compatibilidade entre o seu processamento e o rito especial e célere preconizado pelo diploma legal específico. 6. Recurso conhecido e desprovido. Sentença confirmada.

Assim, observa-se que os recentes posicionamentos não concordam com a

possibilidade de se interpor o recurso adesivo frente os Juizados Especiais Cíveis

dado a falta de previsão legal para tanto e ainda pela proibição expressa no

Enunciado nº 88 do FONAJE.

Data Venia, questiona-se a aplicação do FONAJE, haja vista que não há 145BRASIL, Recurso Inominado nº 2009.700.039066-5. Segunda Turma Recursal do Rio de Janeiro, Relatora: Cristiane Jannuzzi Magdalena, Julgado em 22/04/2009. 146Disponível em: http://tjdf19.tjdf.gov.br/cgi-bin/tjcgi1?livro=8&mgwlpn=servidor1&nxtpgm= plejhtmc&origem=inter. Acesso em 01/01/2010.

Page 63: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

63

posicionamentos pacificados quanto sua aplicação, muito embora seja este seu

objetivo, o que se observa é que de todos os enunciados muitos poucos são

realmente utilizados de forma unanime, o que causa uma insegurança enorme aos

que utilizam dos Juizados Especiais.

Aliás, questiona-se ainda o poder de legislar que esta sendo praticado com a

elaboração de normas através de encontros por Juízes que não possuem

capacidade para tanto.

A seguir apontam-se os posicionamentos que coroboram com a interposição

do recurso adesivo frente os juizados especiais.

1.9 APONTAMENTOS DOUTRINÁRIOS ACERCA DA POSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS.

Já se destacou de forma implícita a existência de posicionamentos que

coadunam com a interposição do Recurso Adesivo frente aos Juizados Especiais,

porém, cumpre agora demonstrar tais posições adotadas por doutrinadores

relacionadas diretamente a esta possibilidade.

Oportuno destacar também que escassas são as matérias, artigo ou livros

que debatem o assunto, o que se percebe é que muitos dos doutrinadores não

mencionam quanto a tal possibilidade. Os que se manifestam, na maioria dos casos,

comentam de forma passageira, sem se aprofundar no assunto.

Dentre os doutrinadores que defendem a possibilidade de se ingressar com

o Recurso Inominado na forma adesiva temos Elpídio Donizetti, que em sua recente

obra esclarece: “Entendo, todavia, que o recurso adesivo não afronta a celeridade

processual, muito pelo contrário, contribui para que diminua a litigiosidade e, por

conseguinte, permite o trâmite mais rápido do processo”147

147 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil, p. 288.

Page 64: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

64

É de se destacar o posicionamentos de Elpídio Donizetti por ser sua obra de

grande expressão e muito atual, percebendo-se a tendência a que se apontam os

novos posicionamentos.

Cândido Rangel Dinamarco argumenta que o recurso adesivo tem perfeito

encaixe com os dispositivos dos juizados especiais quando assim menciona:

Os objetivos do recurso adesivo coadunam-se muito harmoniosamente com os da criação do processo especialíssimo dos juizados, onde o zelo pela determinação rápida do serviço jurisdicional se situa entre as preocupações centrais. Faz parte do espírito conciliatório que aqui se alvitra essa atitude do litigante que, atendido em parte quanto à pretensão sustentada em juízo, prefere recorrer e só recorrerá se o fizer o adversário. Por isso, também no processo dos juizados especiais é admissível o recurso adesivo, embora não se tenha aqui o recurso de apelação mas o inominado, uma vez que os objetivos práticos deste coincide com os daquela.148

A problemática em destaque foi debatida por Alexandre Coelho, quando em

palestra proferida na sede da OAB-Santos, que ao analisar caso concreto alertou:

“(...) Outra questão interessante é a do recurso adesivo. Cabe recurso adesivo no JEC ? Encontrei um julgado de Santos dizendo que não, por violar o princípio da celeridade. Realmente, consome-se mais tempo no processamento do recurso. Porém, penso que, ao contrário do afirmado, tal recurso prestigia a celeridade. Eu explico: na hipótese de sucumbência recíproca, é comum uma parte se dar por satisfeita, embora parcialmente vencida, motivo pelo qual ela não recorreria, caso a parte contrária também não o fizesse. O resultado então seria a mais rápida solução do litígio. Mas não se sabe de antemão se a parte contrária vai recorrer, então ambas as partes recorrem. Com o cabimento do recurso adesivo, o risco estaria remediado, pois quem estiver satisfeito com a sentença não precisará recorrer e só o fará – adesivamente – se a outra parte recorrer primeiro. Em conseqüência inúmeras sentenças não seriam impugnadas. Penso que o colégio recursal de Santos precisa rever este entendimento, aplicado em caso isolado.”149

Seguindo esta mesma linha de raciocínio Alexandre Freitas Câmara

comenta:

(...) não sendo possível interpor-se recurso adesivo, aquele que a princípio aceitaria a sentença como está acabará interpondo recurso, com receio de que a outra parte também o faça. Basta imaginar,

148 DINAMARCO, Candido Rangel. Manual dos juizados cíveis. Rio de Janeiro: Malheiros, 2001. p. 182-183 149Palestra “O advogado perante o Colégio Recursal do Juizado Especial Cível – aspectos práticos e jurisprudenciais” , proferida em 11/05/1999, na sede da OAB-Santos. O professor Alexandre Coleho é Juiz de Direito presidente do Colégio Recursal de Santos e Juiz de Direito Titular da 7ª Vara Cível de Santos, além de Professor Titular de Ciências Políticas na UniMonte.

Page 65: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

65

agora, a hipótese em que a mesma idéia (só recorrer se o adversário também) tenha ocorrido a ambas as partes. Neste caso, corre-se o risco de ambas as partes recorrerem contra uma sentença que, na verdade, deveria ter transitado em julgado desde logo.150

Tem-se ainda o posicionamento de Sérgio Bermudes, que explica:

(...) exemplificando, o autor pede a condenação do réu em determinada soma. A sentença acolhe o pedido para condenar o réu ao pagamento de metade da importância pleiteada. O autor, que se satisfez com a decisão que, parcialmente, abrigou-lhe o pedido, não pretende, em realidade, recorrer dela. Apesar disso, no direito anterior, para precaver-se da possibilidade do recurso do seu adversário, o autor recorria, pois, não o fazendo, não se poria em condições de obter uma decisão mais favorável, o que poderia suceder à parte contrária, por força do recurso que esta última interpôs. No regime do código de 1939, inadmitido o benefício comum e proibida a reformatio in peius, estava o litigante, parcialmente vencido, forçado a recorrer, se não quisesse deixar ao seu adversário a oportunidade de recorrer sozinho. Instituído, agora, o recurso adesivo, pode o litigante esperar a iniciativa recursal de seu adversário, também vencido, para só então provocar o reexame da providência na parte que lhe foi desfavorável. A conveniência do recurso adesivo é, portanto, óbvia. Evita a desnecessária sobrecarga dos órgãos jurisdicionais, impedindo que apreciem recursos que não decorrem do efetivo empenho das partes na reforma da decisão. Abre-se, agora, para os litigantes, parcialmente vencidos, a possibilidade de condicionar sua iniciativa recursal a do adversário.151

Comentando o recurso adesivo sob a ótica da Lei dos Juizados Especiais,

Mantovanni Colares Cavalcante apresenta respaldo a tese ora sustentada:

(...) Assim, como o recurso adesivo não atinge o princípio da celeridade previsto no sistema de juizado especial, já que será interposto no prazo de que qualquer modo teria que se aguardar para o recorrido oferecer suas contra-razões ao recurso, é mecanismo processual perfeitamente admissível.152

Quanto ao caso Ronaldo Fringini diz que:

(...) a sua admissibilidade não ofende o sistema do juizado, nem mesmo a celeridade processual, pois a parte que adere ao recurso

150 CAMARA, Alexandre Freitas Apud DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil,p. 289. 151BERMUDES, Sérgio Apud SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O recurso adesivo nos juizados especiais. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.148, 1 dez. 2003. p.05. Disponível em: <http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?id=4556>. Acesso em 01 set. 2010. 152 CAVALCANTE. Mantovanni Colares. Recursos nos juizados especiais. São Paulo: Dialética, 1997. p. 56.

Page 66: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

66

da outra, também tem, individualmente, direito a recorrer da sentença. Deste modo não haverá prejuízo para os litigantes.153

Por fim, entre os posicionamentos doutrinários favoráveis a possibilidade de

interposição do Recurso Adesivo, tem a palavra de. Wesley Ricardo Bendo da Silva:

Como se observa, o recurso adesivo, ao contrário do que muitos proclamam, emolda-se perfeitamente na estrutura do procedimento instituído pela Lei. 9.099/95, representando importante mecanismo de aceleração da prestação jurisdicional reclamada, obtendo o resultado que se espera desse procedimento inovador e atendendo, com justeza, ao anseio natural por justiça rápida e, assim vem, timidamente, sendo reconhecido.154

O mesmo Wesley Ricardo Bendo da Silva, ao rebater a falta de previsão

legal traz em seu artigo o seguinte comentário:

Primeiro, é preciso notar que, a despeito de manifestações contrárias, as disposições insertas no Código de Processo Civil devem ser utilizadas, subsidiariamente, no procedimento regulado pela LJE, mesmo porque entendimento oposto inviabilizaria a prestação da tutela jurisdicional nos Juizados, face a enormidade de situações processuais não contempladas na Lei nº 9.099/95.. O critério para a aferição da possibilidade de manuseio subsidiário do Código é, simplesmente, a verificação de que o dispositivo que se pretende utilizar não colida com os princípios albergados na Lei dos Juizados. Espancada essa questão, defrontamo-nos, novamente, com a ausência de previsão na LJE sobre o "recurso adesivo" o que, em tese, ofenderia o princípio recursal da taxatividade. Ocorre que os recursos cíveis previstos em lei e constantes no rol do art. 496 do CPC, são apenas 8 (oito): apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de divergência. O Código de Processo Civil, portanto, não mencionou como meio de impugnação cabível o denominado "recurso adesivo". Por que, então, é ele admitido e como é classificado ? A resposta a essa indagação é simples. A expressão "recurso adesivo" não está a indicar espécie de impugnação, como v.g. o termo "recurso de agravo", mas, tão-somente, forma especial de interposição dos recursos diversa da utilizada pelas partes por meio da via denominada principal. Não é por outra razão que os recursos adesivos exigem, para a possibilidade de sua utilização, além da sucumbência recíproca, a existência de recurso típico interposto pela parte contrária.

153FRINGINI.Ronaldo. Comentário a lei de pequenas causas. São Paulo: Livraria de Direito, 1995. p. 361. 154 SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O recurso adesivo nos juizados especiais. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.148, 1 dez. 2003. p.06. Disponível em: <http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?id=4556>. Acesso em 01 set. 2009.

Page 67: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

67

Afinal de contas, acaso se interponha Recurso Extraordinário adesivo ao principal, deixa ele de ser aquele mencionado no art. 496, inciso VII do CPC, para se transformar em nova espécie de recurso ? Parece evidente que não. Aliás, a Constituição Federal não previu, dentre a competência do Supremo Tribunal Federal, o julgamento de Recurso Extraordinário Adesivo, como espécie autônoma, todavia, milhares deles são julgados todos os anos. Sob o mesmo prisma, caso se interponha o recurso inominado previsto no art. 44 da Lei nº 9.099/95, na forma adesiva, pode-se dizer que se trata de outro recurso e não daquele inominado legalmente descrito ? Também nos parece de evidência palmar que não. Portanto, se a desinência "adesivo" só está a revelar a forma como foi interposta e não a espécie da impugnação, o recurso inominado adesivo, na sistemática da Lei 9.099/95, não ofende o princípio da taxatividade, prescindindo de prévia existência típica na lei155

Assim, pode-se observar que para os posicionamentos acima a interposição

do Recurso Adesivo frente aos juizados especiais é perfeitamente possível, mesmo

sem previsão legal na lei 9.099/95, afirmando que, sua aceitação, não fere os

princípios visados pelos juizados especiais, em destaque, o princípio da celeridade,

pelo contrário, entendem que a possibilidade de interposição do recurso adesivo

surge como forma de acelerar a prestação jurisdicional.

Na sequência, demonstram-se os posicionamentos jurisprudenciais que

apontam favoravelmente a interposição do recurso adesivo frente os juizados

especiais, concordando com a tese aqui defendida.

1.10 APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA POSSIBILIDADE DA

INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO FRENTE OS JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS ESTADUAIS.

Poucos são os posicionamentos jurisprudenciais que entendem pelo

cabimento, sendo este posicionamento mais defendido em doutrina e pequenos

artigos, porém, tratar-se-á alguns dos posicionamentos que respeitam esta posição

defendida, na sua maioria, por doutrina.

155 SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O recurso adesivo nos juizados especiais, p. 06.

Page 68: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

68

Merece destaque a posição vanguardista adotada em julgamento do

Recurso Inominado nos Juizados Especiais, pela Primeira Turma Recursal do

Distrito Federal, que reconheceu a possibilidade de admissão do recurso adesivo

sob a sistemática da Lei nº 9.099/95, apenas deixando de conhecê-lo, por falta do

respectivo preparo. O acórdão foi assim ementado:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. RECURSO ADESIVO. CABIMENTO. 1) O recurso adesivo não é meio de impugnação autônomo, a reclamar previsão legal específica, podendo e devendo ser admitido em sede de Juizados Especiais. 2) É grave a culpa do fornecedor que lança, indevidamente, o nome do consumidor em cadastros restritivos de crédito quando as prestações foram pagas antes mesmo do vencimento. 3) O valor das indenizações nos Juizados Especiais devem guardar, tanto quanto puderem,, semelhança com aquelas fixadas pelo juízo comum, sob pena de se desprestigiar quem busca a justiça do povo.156

No mesmo sentido a decisão do Rio Grande do Norte:

Recurso Adesivo. cabimento. reconhecimento de tempo de serviço. empregada doméstica. inexistência de prova documental. força maior. decurso do tempo. inadmissibilidade.

A Turma Recursal, à unanimidade, entendeu ser cabível, em sede de Juizados Especiais Federais, o recurso adesivo, julgando-o, no entanto, prejudicado, em razão do provimento do recurso do INSS. O Juiz Janilson Bezerra de Siqueira, em voto oral, face à inexistência de regulamentação própria nas Leis 10.259/02 e 9.099/95, considerou que, sendo uma forma de adesão, tal recurso não precisa estar elencado na lei específica, bastando a previsão do recurso principal. Levantou ainda que o recurso adesivo atende à agilidade processual, na medida em que desestimula a interposição de recursos simultâneos, mesmo quando não presente o inconformismo. No mérito, por maioria, vencido o Juiz Francisco Eduardo Guimarães Farias, a Turma Recursal, em acolhimento ao recurso do INSS, reformou a sentença que julgou procedente a pretensão de reconhecimento de alegados dez anos de tempo de serviço prestados como empregada doméstica e provados unicamente com a declaração da empregadora. O entendimento esposado pelo magistrado de 1º grau fundou-se na existência de força maior, que impediria a requerente de apresentar documentos contemporâneos, hipótese autorizada pela própria legislação previdenciária, consistente no decurso de tempo de quase vinte anos. O Relator, divergindo desse posicionamento, ponderou que tal acontecimento não merece ser qualificado como força maior, vez que não se reveste dos requisitos da imprevisibilidade ou extraordinariedade. Ademais, suscitou o fato de que o lapso de tempo alegado é suficientemente

156 BRASIL. Turma Recursal do DF. ACJ DF 20020310108655, Rel. Juiz Gilberto Pereira de Oliveira, julgado em 25/02/2003.

Page 69: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

69

considerável para apontar a existência de qualquer indício de prova documental.157

Como se observa, o recurso adesivo, ao contrário do que anteriormente

defendido, nesta visão amolda-se perfeitamente na estrutura do procedimento

instituído pela Lei nº 9.099/95, representando importante mecanismo de aceleração

da prestação jurisdicional reclamada, obtendo o resultado que se espera desse

procedimento inovador e atendendo o anseio natural de justiça, especialmente

célere e, assim, vem timidamente, sendo reconhecido.

Destaca-se abaixo um posicionamento retirado da fundamentação de um

acórdão que, muito embora se trate de um julgamento proferido em sede do Juizado

Especial Federal, vem mencionar a possibilidade de interposição do recurso adesivo

não afrontando os princípios nortedores dos juizados especiais já mencionados

anteriormente que se equiparam aos Juizados Especiais tanto Estaduais quanto

Federais, que possui a seguinte redação:

Inicialmente, cumpre analisar o cabimento do recurso adesivo em sede de Juizados Especiais Federais. Nessa matéria, tenho que, em sendo o recurso adesivo forma de interposição de recurso, e não de espécie recursal própria, é ele admissível no presente microssistema, vez que, inclusive, harmoniza-se com os princípios gestores dos Juizados, em especial a celeridade e a economia. Isso porque, como sabido, o recurso adesivo permite à parte optar por recorrer de sentença de parcial procedência apenas se a parte adversa o fizer, evitando-se, assim, a interposição desnecessária ou aventureira de recursos, motivada pelo só temor de que o adversário recorra, vindo a acarretar-lhe eventual prejuízo. Inocorrendo, portanto, vedação expressa a essa prática na legislação especial respectiva, entendo de bom alvitre aceitar tal modo de interposição, por não ferir, em nosso entendimento, o princípio da taxatividade recursal no JEF. 158

Muito embora as turmas recursais em todo o país tenham repelido a

interposição do recurso adesivo, tem-se que, na visão dos julgados acima, a

interposição de tal recurso encaixa-se perfeitamente ao rito dos juizados especiais,

suprindo qualquer alegação de falta de previsão legal ou ofensa aos princípios

norteadores dos juizados especiais.

157 BRASIL. Turma Recursal da JFRN. Recurso nº 2004.84.13.000123-1, Relator: Juiz Almiro José da Rocha Lemos, julgado em 05/03/2004. 158BRASIL. Turma Recursal do Juizado Especial Federal Cível da Seção Judiciária do Estado da Bahia Recurso n. 0200633007126720 (Nº DE ORIGEM: 0200433007187716) Relatora: Rosana Noya Weibel Kaufmann. Julgado em 16/05/2007.

Page 70: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

70

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que os Juizados Especiais Cíveis Estaduais como hoje

conhecemos, regulamentados pela Lei 9.099/95, previstos na Constituição Federal

de 1988, surgiram com a finalidade de proporcionar maior acesso à justiça a todos

os cidadãos que dela necessitem, a lei aparece para acelerar a resposta judiciária as

causas consideradas de menor complexidade, desburocratizando a maioria das

formalidades até então exigidas pelo procedimento comum.

Observa-se ainda que esta lei não foi a primeira tentativa do Judiciário

Brasileiro na busca de maior efetividade na prestação de serviços, sendo que a

mesma é uma evolução dos antigos juizados de pequenas causas regulamentados

pela revogada Lei 7.244, de 7 de novembro de 1984, com competência para o

processamento e julgamento das causas cuja natureza patrimonial estava adstrita

ao valor de até 20 (vinte) salários-mínimos.

Destacando ainda que Santa Catarina foi o estado propulsor da implantação

dos juizados especiais nos moldes previstos pela Constituição Federal.

Através da pesquisa foi possível constatar que a demora da resposta do

Judiciário não é um problema histórico de exclusividade brasileira, sendo que

diversos outros países como por exemplo Itália e França, há muito tempo, buscam a

solução par tanto.

Dentro do rito sumaríssimo que garantiu os Juizados Especiais, certamente

o destaque se da à celeridade processual que serve como protetor da lei, haja vista

que tudo que vir afetar esta garantia não deve ser aceito dentro deste rito para se

almejar a resposta mais imediata. Frisa-se que muito embora haja toda esta

celeridade, a lei não deixou de observar outra garantia constitucional, qual seja, o

duplo grau de jurisdição, com a possibilidade de se ingressar com o recurso

inominado da sentença proferida pelo juizados especiais.

Percebe-se que o recurso inominado previsto não se submete a uma dupla

jurisdição mais sim a uma dupla apreciação. Diferentemente dos recursos previstos

no rito comum, tratando de juizados especiais os recursos serão endereçados as

Turmas Recursais que fazem parte do próprio juizado, que nada mais são do que

três juízes singulares que proferirão a sentença em acordo.

Page 71: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

71

Enquanto o tribunal é um órgão de segundo grau a Turma Recursal, a seu

turno é um órgão de primeiro grau, só que esta servirá como uma instância diversa

de tramitação do processo nos Juizados Especiais, ou seja, uma espécie de 2º grau

de jurisdição. Assim pode-se afirmar tecnicamente que os processos que tramitam

nos Juizados Especiais correrão em um só grau de jurisdição, mesmo havendo

recurso, porém, estarão submetidos a um órgão colegiado, o que na prática reflete

uma 2ª instância no procedimento.

Dentro desta possibilidade recursal ingressa-se no campo do recurso na

forma adesiva, que dentre as condições para o seu ingresso destacou-se a

necessidade de se existir a sucumbência recíproca, assim, ciente desta

possibilidade entrou-se na questão do ingresso ou não do recurso adesivo nos

juizados especiais cíveis estaduais.

Conclui-se que não há um posicionamento pacificado e, como demonstrou a

pesquisa, há duas formas de se interpretar a questão sob enfoque doutrinário, a

saber: uma permissiva da utilização do recurso adesivo e outra negativa desta

possibilidade. Contudo, o posicionamento majoritário jurisprudencial tende a negar a

utilização do recurso na forma adesiva perante os juizados especiais cíveis.

Para os que coadunam com a negativa desta possibilidade o

posicionamento predominante trás duas defesas básicas, qual seja, a falta de

previsão legal, porquanto não vem regulamentada pela Lei 9.099/95 e a outra

reveste-se na possibilidade de tal recurso ofender diretamente os princípios básicos

defendidos pelo juizados especiais em especial, como dito acima, a celeridade

processual, que estaria sendo atingida com a interposição do recurso,

posicionamento o qual particularmente este pesquisador não segue.

Os posicionamentos favoráveis a interposição do recurso adesivo frente os

Juizados Especiais o qual este pesquisador acredita ser mais adequado, defendem

que muito embora o recurso adesivo não esta previsto na lei especial, é plenamente

possível sua interposição. Esta argumentação de falta de previsão é facilmente

suprida pela aplicação subsidiária da regulamentação prevista no Código de

Processo Civil, que enquanto lei geral terá aplicação sempre que lei específica for

omissa, lacunosa ou a ele remeter.

Portanto, não se vislumbra qualquer vedação para sua aplicação nos

Juizados Especiais Cíveis.

Page 72: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

72

Neste sentido colhe-se dos artigo 51 e 52 da citada lei a previsão de

aplicação subsidiária do Código do Processo Civil.

Há que se destacar: ainda que não previsto como recurso na Lei 9.099/95,

entende-se que não se esta diante de uma nova forma recursal mais sim de uma

forma de interposição aderida e condicionada ao recurso principal, assim, sem

necessidade de previsão no rol dos recursos possíveis na Lei 9.099/95.

Ressalta-se ainda, como se observou no decorrer da pesquisa, que a Lei

9.099/95, tem por base diversos princípios que regulamentam seus procedimentos.

Levando-se em consideração a ofensa a um desses, mais precisamente ao

princípios da celeridade processual, percebe-se posicionamentos doutrinários

contrários a interposição do recurso adesivo.

Ocorre que esta visão não condiz com o que realmente acontece. Quando

se possibilita a interposição do recurso na forma adesiva, contribui-se para

segurança jurídica o que automaticamente reflete na celeridade processual.

Observa-se que havendo sucumbência recíproca uma das partes, satisfeita com a

sentença, na hipótese de recurso da parte contrária, poderá vir a recorrer apenas

para evitar maiores prejuízo, por conseqüência, contribuindo diretamente para

celeridade processual.

Além disso, o manejo do recurso adesivo permite a retração da quantidade

de recursos principais, ou seja, a possibilidade de desistência do recurso principal,

servindo, assim, como mecanismo ambivalente de conformismo com as decisões de

primeira instância.

Porém, esta visão não é a que predomina, pelo contrário, para evitar agravar

prejuízo, as partes que ingressam com suas ações nos Juizados Especiais terão de

interpor cada qual, no momento oportuno, seu recurso, fato este que é o que

acontece, refletindo diretamente na celeridade processual, pois, com o crescente

número de apelo a resposta do judiciário torna-se cada dia mais longa,

desvirtuando-se da real pretensão da Lei.

Como se observou, na visão deste pesquisador, o recurso adesivo, ao

contrário do que muitos proclamam, emolda-se perfeitamente na estrutura do

procedimento instituído pela Lei 9.099/95, representando importante mecanismo na

busca de aceleração da prestação jurisdicional, encaixando-se perfeitamente aos

resultados que se espera deste procedimento.

Page 73: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

73

Atualmente tem-se assistido profundas mudanças na criação de institutos

processuais jurídicos, e ainda uma nova visão na aparelhagem do Judiciário, como

por exemplo: a possibilidade de se realizar o protocolo na forma eletrônica, com

certificado digital; há novos procedimentos previstos para a tramitação do agravo de

instrumentos; a ação monitória, outras ações que não se limitam a prestar uma

tutela jurisdicional qualquer mas sim uma resposta útil e efetiva, sendo a celeridade

requisito inafastável.

Desta forma, visto que a eficácia é a tônica da processualística moderna

brasileira, somente a eficácia de decisões pode saciar o desejo de uma população

que já tende a preferir a autotutela ao invés de procurar o Judiciário. Portanto,

entende-se pela possibilidade de interposição do recurso adesivo frente os juizados

especiais cíveis estaduais.

Page 74: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ABREU, Pedro Manoel; BRANDÃO, Paulo de Tarso. Juizados especiais cíveis e

criminais: aspectos destacados. 1. ed. Florianópolis: Editora Obra Jurídica, 1996.

_______, Pedro Manoel. Acesso à justiça e juizados especiais: o desafio histórico da

consolidação de uma justiça cidadã no Brasil. Florianópolis: Fundação Boiteux,

2004.

ACQUAVIVA, Marcos Cláudio. O juizado especial de pequenas causas, 1. ed. São

Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito, 1985.

ANDRIGUI, Fátima Nancy. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Belo Horizonte:

Del Rey, 1996.

ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. 11.

ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

ATHANÁSIO, João Batista. Caderno de direito processual civil. 1. ed. Curitiba: Juruá

Editora, 1997.

BAPTISTA, Sônia Márcia Hase de Almeida. Direito processual civil. 2. ed. São

Paulo: Editora Saraiva, 1997.

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. v. 5,

11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.

BERMUDES, Sérgio Apud SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O recurso adesivo nos

juizados especiais. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.148, 1 dez. 2003. p.05.

Disponível em: <http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?id=4556>. Acesso em 01

set. 2009.

Page 75: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

75

BRASIL, Turma Recursal da JFRN. Recurso nº 2004.84.13.000123-1, Relator:

Almiro José da Rocha Lemos, julgado. em 05/03/2004.

BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil:

procedimento comum: ordinário e sumário. 2. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

CÂMARA, Alexandre Freitas Apud DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito

processual civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009

CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais e federais: uma

abordagem crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2007

CARVALHO, Fabiano. Admissibilidade do recurso adesivo. Revista de processo,

São Paulo, v.137, 2006.

CAVALCANTE. Mantovanni Colares. Recursos nos juizados especiais. São Paulo:

Dialética, 1997.

CHIMENTI, Ricardo Cunha; SANTOS, Marisa Ferreira dos. Juizados especiais cíveis

e criminais: federais e estaduais. 2.ed. ver. atual. São Paulo: Saraiva, 2004.

_______, Ricardo Cunha. Teoria e pratica dos juizados especiais cíveis estaduais e

federais. São Paulo: Saraiva, 2005.

CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,

Cândido Rangel, Teoria Geral do Processo, 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.

COSTA, Hélio Martins. Lei dos juizados especiais cíveis anotada e sua interpretação

jurisprudencial. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 2000.

DINAMARCO, Candido Rangel. Manual dos juizados cíveis. Rio de Janeiro:

Malheiros, 2001.

Page 76: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

76

DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 12 ed. Rio de Janeiro:

Lúmen Júris, 2009.

FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Comentário ao código de processo civil. v. 7. 2.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias et. al. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais:

comentário a lei 9.099/1995. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005.

_______, Joel dias. Da competência nos juizados especiais cíveis: doutrina e

jurisprudência. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1996.

FRIGINI, Ronaldo. Juizados especiais cíveis: ementário de jurisprudências dos

colégios recursais. São Paulo: Editora de Direito, 1997.

GRECO FILHO, Vicente, Direito Processual Civil Brasileiro, 16. ed. São Paulo:

Saraiva, 2003.

JUNIOR, Nelson Nery. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 4. ed. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997.

LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

MELO, André Luis Alves de et al. Lei dos juizados especiais cíveis e criminais

comentada: jurisprudência legislação e prática. São Paulo: editora Iglu, 2000.

MELO, José Maria de; NETO, Mario Parente Teófilo. Lei dos juizados especiais

comentada. 1.ed. Curitiba: Editora Juruá, 1997.

MONIZ DE ARAGÃO, Egas Dirceu. Comentário ao código de processo civil. v. 2. 9.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

Page 77: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

77

MOREIRA, Wander Paulo Morota. Juizados Especiais Cíveis. Belo Horizonte, editora

Del Rey, 1996.

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Juizados especiais cíveis e criminais, 1. ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 1996.

OLIVEIRA. Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Revista da

ESMESC, v.13. n. 19, 2006.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa

jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007.

PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 6. ed. Porto Alegre: Editora Livraria

do Advogado, 2005.

ROCHA, Felippe Borring. Juizados especiais cíveis: aspectos polêmicos da lei nº

9.099/95. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

RIZZI, Sérgio. Recurso Adesivo . RePro 30. São Paulo: Revistas dos Tribunais, abr.-

jun. 1983.

RODRIGUES, Maria Stella Villela Souto Lopes. ABC do processo civil. 1.ed. São

Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999.

SÁ, Djanira Maria Radamés de. Teoria geral do direito processual civil. 2. ed. São

Paulo: Editora Saraiva, 1998.

SANTOS, Luiz Gonzaga dos. lei dos juizados especiais cíveis. 1. ed. São Paulo:

Livraria e Editora Universitária de Direito, 1996.

SANTOS, Marisa Ferreira dos. Juizados especiais cíveis e criminais: federais e

estaduais, tomo II / Marisa ferreira dos Santos, Ricardo Cunha Chimenti. 3.ed. rev. e

atual. São Paulo: Saraiva, 2005.

Page 78: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

78

SANTOS, Marisa Ferreira dos; RICARDO, Cunha Chimenti. Juizados especiais

cíveis e criminais federais e estaduais. 4. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2006.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 24. ed. São

Paulo: Editora Saraiva, 2005.

SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de

conhecimento. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

SILVA, Luiz Claudio. Os juizados especiais cíveis na doutrina e na prática forense.

Reio de Janeiro: Editora Forense, 1997.

SILVA, Ovídio A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. 3. ed. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2002.

SILVA, Wesley Ricardo Bento da. O recurso adesivo nos juizados especiais. Jus

Navigandi, Teresina, ano 8, n.148, 1 dez. 2003. p.06. Disponível em:

<http://jus2.oul.com.br/doutrina/texto.asp?id=4556>. Acesso em 01 set. 2009.

THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de direito processual civil. 41 ed. São

Paulo: Saraiva, 2004.

_______, Humberto. Curso de direito processual civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2007

TOURINHO NETO, Fernando da Costa et al. Juizados especiais estaduais cíveis e

criminais: comentário a lei 9.099/1995. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2005.

UNGER, Roberto Mangabeira. O Direito na Sociedade Moderna: contribuição à crítica da teoria social. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

Page 79: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade

79

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI,

Eduardo. Curso avançado de processo civil. 9 ed. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais. 2007.

Page 80: DA (IM) POSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO ADESIVO ...siaibib01.univali.br/pdf/Juliano dos Santos.pdf · universidade do vale do itajaÍ juliano dos santos da (im) possibilidade