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Enquanto os foliões se divertem, milhares de pessoas trabalham para o sucesso do Carnaval. Uma prova de que manifestações culturais geram emprego, renda e oportunidades de inovação POR TRÁS DA FESTA Enquanto os foliões se divertem, milhares de pessoas trabalham para o sucesso do Carnaval. Uma prova de que manifestações culturais geram emprego, renda e oportunidades de inovação Janeiro 2008 n o 51 • Ano XIV AMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA SEGURANÇA Soluções para combate ao crime ampliam negócios ATIVOS INTANGÍVEIS O verdadeiro patrimônio de uma empresa inovadora

da inovação brasileira n Janeiro 2008 ambiente o Por trás ... · que atuam na área da cultura. Ao longo da reportagem, o leitor poderá perceber opor- ... Janeiro 2008 • no

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Enquanto os foliões se divertem, milhares de

pessoas trabalham para o sucesso do Carnaval.

Uma prova de que manifestações culturais

geram emprego, renda e oportunidades de inovação

Por trás da festa

Enquanto os foliões se divertem, milhares de

pessoas trabalham para o sucesso do Carnaval.

Uma prova de que manifestações culturais

geram emprego, renda e oportunidades de inovação

Janeiro 2008 no 51 • Ano XIVambiente da inovação brasileira

SEGURANÇASoluções para combate ao crime ampliam negócios

AtivoS iNtANGívEiSO verdadeiro patrimônio de uma empresa inovadora

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C a r t a a o l e i t o r

ara começar 2008 de forma inovado-ra, decidimos dar espaço a um tema

diferente nesta edição da Locus. Procura-mos por algo que estivesse relacionado a negócios e empreendedorismo, mas que não necessariamente tivesse o movimento de incubadoras e parques tecnológicos como foco. Então resolvemos apostar em uma reportagem sobre economia criativa e descobrimos o quanto esse tema está li-gado ao empreendedorismo inovador. Muito além das chances de lucro, que são várias, essa modalidade econômica gera oportunidades de transformação social, objetivo de incubadoras sociais e cultu-rais espalhadas por todo o Brasil.

E este imenso país serve como palco das festas populares que tratamos na reporta-gem de capa. Do Carnaval às procissões religiosas, relatamos de que forma mani-festações culturais movimentam a econo-mia, gerando emprego e renda – um fenô-meno que vem atraindo a atenção de pesquisadores. O destaque deste setor tam-bém faz com que incubadoras e programas de incentivo ao empreendedorismo se de-diquem ao desenvolvimento de empresas que atuam na área da cultura. Ao longo da reportagem, o leitor poderá perceber opor-tunidades de negócios ainda pouco explo-radas, talvez pela dificuldade de medir ganhos e benefícios do setor.

Também difíceis de mensurar são os ativos intangíveis, assunto da seção Inves-timentos. A iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES), que passará a ana-lisar esses ativos para conce-der financiamentos, mostra que este é o momento certo para que empreendedores aprendam a contabilizar itens que parecem subjetivos, como capacidade de liderança, respeito ao meio ambiente e capital intelectual. Cer-tamente a avaliação desses valores será mais fácil às empresas que apresentam uma gestão organizada. Por isso a seção Gestão trata dos processos de certifica-ção, que têm determinado as diretrizes do funcionamento de uma série de empresas incubadas e graduadas.

As incubadoras também abrigam em-preendimentos que atuam no setor de se-gurança, tema da seção Negócios. Solu-ções para reduzir acidentes de trânsito, inovações na área de vigilância eletrônica, sistemas avançados de biometria. São inú-meros os produtos e serviços oferecidos por empresas do movimento para a prote-ção dos cidadãos. Em um mercado que não pára de crescer, o que essas empresas buscam é perder o estigma de “indústria do medo” e colaborar com a redução dos índices de criminalidade.

Esses são alguns dos temas de destaque da primeira edição da Locus no ano de 2008, que traz diversas informações impor-tantes para o movimento de incubadoras e parques tecnológicos. Esperamos que este seja um ano repleto de realizações, apren-dizado, bons negócios e, claro, excelentes notícias para divulgarmos. Boa leitura!

POR TRÁS DA FESTA

Enquanto os foliões se divertem, milhares de

pessoas trabalham para o sucesso do Carnaval.

Uma prova de que manifestações culturais

geram emprego, renda e oportunidades de inovação

Janeiro 2008 no 51 • Ano XIVAMBIENTE DA INOVAÇÃO BRASILEIRA

SEGURANÇASoluções para combate ao crime ampliam negócios

ATIVOS INTANGÍVEISO verdadeiro patrimônio de uma empresa inovadora

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Conselho editorial

A revista Locus é uma publicação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

Conselho editorial Maurício Guedes – presidente Carlos Américo Pacheco, Gina Paladino, Helena Lastres, Josealdo Tonholo

Coordenação editorialDébora HornMárcio CaetanoColaboraçãoAdriane Alice Pereira, Amanda Miranda, André Vendrami, Andréia Seganfredo, Bruno Moreschi, Diogo d’Ávila, Emília Chagas, Francis França, Lucas Amorim, Michelle Araujo e Tatyana AzevedoJornalista responsávelDébora Horn – MTb/SC 02714 JPDireção de arteLuiz Acácio de SouzaEdição de arteGustavo de SouzaRevisãoSérgio RibeiroLu CoelhoFoto da capaAlexandre Vidal/foto br

PresidenteGuilherme Ary PlonskiVice-presidenteChristiano Becker DiretoriaGisa Bassalo, Josealdo Tonholo, Silvestre Labiak Junior e Paulo Gonzalez SuperintendênciaSheila Oliveira Pires Coordenação de Comunicação e MarketingMárcio Caetano Setúbal Alves

EndereçoSCN, quadra 1, bloco C, Ed. Brasília Trade Center, salas 209/211Brasília / DF – CEP 70711-902Contatos(61) 3202-1555E-mail: [email protected]: www.anprotec.org.brPortal: www.redeincubar.org.brAnúncios: (61) [email protected]

Produção Apoio

Janeiro 2008 • no 51 • Ano XIV

ISSN 1980-3842

ambiente da inovação brasileira

Índice

C A P A Por trás da festaProdutos e serviços relacionados à cultura sustentam um mercado rentável e cheio de oportunidades. Descubra por que Carnaval, romarias e outras festas populares representam trabalho e renda para muita gente.

5 E n t R E V i S t AO fundador da Embraer, Ozires Silva, não quer deixar de empreender. Agora, ele aposta no setor de biotecnologia para ver os negócios decolarem.

9 E M M o V i M E n t oRetrospectiva 2007: o último Seminário Nacional, as empresas do movimento que venceram o Prêmio Finep e a largada do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. Para 2008: editais em aberto, produtos inovadores e eventos importantes.

15 n E g ó C i o SA violência urbana impulsiona crescimento de empresas que atuam no setor de segurança. Incubadoras abrigam negócios que buscam reduzir índices de criminalidade e acidentes.

20 o P o R t u n i D A D ESaturado de soluções para tratamento e recuperação de pacientes, mercado da saúde ainda carece de inovações que auxiliem na prevenção de doenças.

22 i n V E S t i M E n t oSaiba o que são os ativos intangíveis de uma empresa. Em breve, conhecer o valor desses índices poderá garantir recursos.

32 E D u C A ç ã oPrática e estímulo ao empreendedorismo são os principais atrativos de empresas juniores que ganham força em universidades de todo o país.

34 E S P E C i A LA primeira edição do reality experience “Empreender é Show” chegou ao fim. Conheça empresas vencedoras, benefícios e lições que ficaram aos participantes.

38 i n t E R n A C i o n A LMais uma barreira à inovação: na pesquisa que avaliou níveis de aprendizado em todo o mundo, outros países emergentes se saíram muito melhor do que o Brasil.

41 S u C E S S oMais uma ex-incubada conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica: a Nanox. Empreendedores revelam os segredos do negócio.

43 g E S t ã oSaiba por que empresas que investem em certificações costumam dar um salto de qualidade em processos e produtos.

47 C R i A t i V i D A D EInstigado por uma experiência, empresário de Alagoas não descansou até criar um novo sistema para tomar água de coco.

48 C u L t u R AFilmes, livros, vídeos, sites. Idéias do mundo do entretenimento que podem ser aplicadas aos negócios. Ou apenas divertir.

50 o P i n i ã oIntegrantes da Anprotec relatam as lições deixadas por uma missão ao Reino Unido.

impressãoGráfica Coronáriotiragem5.000 exemplares

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taOs novos vôos de Ozires

O engenheiro Ozires Silva é formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), foi oficial da Força Aérea e criou, em 1969, a

empresa brasileira que é modelo mundial na fabricação de aviões. O desafio da fundação da Embraer ele compartilha no livro “Cartas a um Jovem Empreendedor”, lançado em 2005. Ozires Silva também esteve à frente da Petrobras e da Varig e foi ministro de Estado da Infra-Estrutura. Desde 2002, as atenções deste empreendedor voltaram-se para a empresa de biotecnologia Pele Nova, que promete ganhar o mundo nos próximos anos com inovações na área de regeneração de tecidos. Dividido entre o novo empreendimento e suas atribuições como reitor da Universidade de Santo Amaro (Unisa), cargo que ocupa desde junho de 2007, Ozires Silva fala aos leitores da Locus sobre o futuro da sua empresa e as características de um empresário de sucesso. Para ele, a persistência é qualidade essencial ao empreendedor. “É preciso saber que você vai cair, mas que pode levantar. Vai errar, mas vai acertar em seguida”, afirma. Conheça esse e outros segredos deste homem que, aos 77 anos, nem pensa em parar de empreender.

emília Chagas

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Locus: Por que o senhor se interessou em apostar na empresa de biotecnologia Pele Nova?Silva: Eu sempre me interessei pelo processo de transferência do conheci-mento do pesquisador, cientista ou in-ventor para que suas criações pudessem chegar ao mercado, ao acesso do consu-midor. É fato constatado que no Bra-sil essa é uma ponte quase inexistente. Precisamos pensar que tudo o que che-ga para nosso uso coube a alguém criar, projetar, desenvolver e fabricar, enfren-tando todas as dificuldades de empre-ender – seja em uma empresa existente, seja em uma nova. A pergunta seria: como isso ocorre? Infelizmente no Bra-sil o processo é muito difícil. Por essa razão, praticamente não temos marcas visíveis no mundo e, como vivemos em uma economia globalizada, as marcas dos produtos são uma vantagem com-petitiva fundamental.

Locus: No caso da Pele Nova, o senhor foi procurado por pesquisadores?Silva: Sim, fui procurado por dois pes-quisadores, um da Universidade de São Paulo e outro da Universidade Federal de Goiás, mencionando que tinham descoberto uma propriedade, contida no látex da seringueira – portanto, um produto natural –, que estimulava a vascularização sangüínea. Explicaram que o fenômeno era tão intenso que proporcionava quadros de regeneração celular ou tecidual, com aplicações num horizonte cuja dimensão era difícil de avaliar. Fiquei convencido de que se tratava de uma descoberta realmente sensacional e, consciente da excelência

da idéia, decidi me associar a outros amigos para tornar esse produto acessí-vel às pessoas, empreendendo na dire-ção que fosse necessária.

Locus: O que o senhor achou do projeto da biomembrana assim que o conheceu? Silva: Ficamos entusiasmados com a criação dos pesquisadores. Eles acentua-ram que a vascularização sangüínea – angiogênese, como chamaram o fenô-meno fisiológico – existe com intensidade quando o feto está no útero da mãe. Essa característica vai se per-dendo à medida que as pessoas envelhe-cem, e eles descobriram como trazer isso de volta para os adultos. Então vimos que se tratava de algo muito competitivo industrialmente e bem mais barato do que qualquer outra coisa existente hoje, já que se trata de algo diferente dos pro-dutos sintéticos, sempre mais caros no mercado. Assim, a idéia de empreender foi simplesmente reforçada.

Locus: A competitividade deste novo produto deve-se principalmente à matéria-prima utilizada, o látex, extrato natural de árvores seringueiras?Silva: O produto responsável pelo fenô-meno da angiogênese é uma proteína contida no látex da seringueira. Atual-mente, já o identificamos como uma proteína e já podemos isolá-la em labo-ratório. Isso ainda nos ajuda a aumen-tar o espectro de produtos a serem ofe-recidos pela Pele Nova.

Locus: Como foi o lançamento do Biocure? Silva: O Biocure foi lançado inicial-mente sob a forma de curativo. Sua efi-cácia já foi demonstrada clinicamente. O produto é aprovado pela Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e usado em várias aplicações, desde fe-ridas de difícil cicatrização até pés dia-

Precisamos pensar que tudo o que chega para nosso uso coube a alguém criar, projetar,

desenvolver e fabricar, enfrentando todas as dificuldades de empreender

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béticos que, em geral, resistem aos tra-tamentos em uso nos dias de hoje. Temos clientes que compraram pela primeira vez e já estão comprando pela segunda, terceira, quarta e assim por diante. Portanto, o produto chega ao mercado prometendo um efeito que vem sendo alcançado.

Locus: Há planos de lançar o produto no mercado internacional? Silva: Uma longa marcha começa com o primeiro passo. Por enquanto, ainda estamos falando do mercado nacional. Mas já estamos nos articulando para ir ao mercado internacional também. Te-mos a grande vantagem de um preço competitivo e, por isso, evidentemente, temos grandes chances de sucesso no mercado internacional.

Locus: E a tecnologia do Biocure abre espaço para novos produtos?Silva: O Biocure é o nosso primeiro produto, mas a tecnologia de base, com a proteína isolada, abre um espectro de alternativas muito amplo. Por exemplo, pode passar pela área de cosméticos, tratando rugas decorrentes da idade e problemas de pele de um modo geral, podendo até regenerar massa muscular. Estamos falando de algo muito novo e inovador. Com o tempo novas aplica-ções e usos poderão ser descobertos.

Locus: O que o senhor espera para o futuro da Pele Nova?Silva: Diria que estamos arranhando a ponta do iceberg. Se quiséssemos ante-cipar o que este produto poderia fazer, sobretudo para melhorar a qualidade de vida das pessoas mais velhas, seria mesmo difícil. Os produtos que estão em processo de testes são de uso tópico, mas com aplicações bem variadas. A Pele Nova, pelos resultados que esta-mos apresentando no Brasil e no exte-rior, mostra que poderá ser uma grande empresa, com produtos capazes de con-

quistar o mercado em várias áreas.

Locus: Que papel teve a Academia Brasileira de Estudos Avançados na história da Pele Nova?Silva: Foi o de financiar o nosso proje-to. Sem esse recurso não teria como dar certo. O Brasil é um dos países mais di-fíceis para empreender. O pesquisador descobre um produto e desenvolve a inovação, mas não encontra quem o fi-nancie para que essa pesquisa resulte em um produto. Há muitos exemplos no mundo, quase nenhum no Brasil. É essa a razão pela qual, como acentuei anteriormente, não temos sucesso com marcas brasileiras no mercado interna-cional. Ao contrário, temos uma quan-tidade de marcas internacionais ven-dendo um bocado no Brasil.

Locus: O que falta para o melhor desenvolvimento da inovação tecnológica nas empresas brasileiras? Silva: Falta fazer o dinheiro correr risco. No Brasil, a cultura local é que o dinhei-ro seja um produto. No mundo desenvol-vido, ao contrário, o dinheiro é um meio. É importante, mas é um meio. Aqui, o risco é da empresa, dos funcionários, dos empreendedores, mas não do dinheiro. É preciso mudar essa mentalidade e usar o dinheiro para gerar riquezas.

Locus: É uma questão de valores e de cultura também? Silva: Sim, é uma mentalidade que pre-cisa ser mudada.

Locus: Estreitar a relação universidade-empresa também é uma saída para melhorar o desenvolvimento tecnológico

No Brasil, a cultura local é que o dinheiro seja um produto. No mundo desenvolvido, ao

contrário, o dinheiro é um meio

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brasileiro? Silva: É uma saída, mas, sem dinheiro, ninguém consegue fazer nada. Talvez esse relacionamento já esteja mudando, porém sem capitais de risco nada acon-tece. Aqui no Brasil procura-se nego-ciar com capitais sem risco.

Locus: O senhor criou a Embraer em 1969. O empreendedorismo passou a fazer parte da sua vida nessa época ou mesmo antes dela? Silva: Muito antes. Desde garoto eu gostava de aviões. Mais do que pilotar, queria fabricá-los. O sonho virou reali-dade com a Embraer. A empresa come-çou como uma estatal e depois veio a ser privatizada. A empresa deu certo porque conseguimos dar a ela uma vi-são mercadológica.

Locus: O senhor já escreveu um livro voltado a jovens empreendedores. Quais as principais recomendações que se pode dar aos empresários principiantes? Silva: O livro parte de uma pergunta: é possível? Eu digo que sim. No livro eu tento passar a experiência que tive com a criação da Embraer. Conto os deta-lhes das decisões que foram tomadas para que a Embraer tivesse sucesso.

Locus: Todo jovem pode ser um empreendedor? Silva: Claro! Veja o exemplo dos Esta-dos Unidos. Os jovens lá são treinados para empreender. Eles chegam ao mer-cado não pensando em conseguir um emprego, como os jovens brasileiros. Antes mesmo de pensar em emprego eles já estão pensando em montar um negócio próprio. Dos objetos que você vê à sua volta, quantos são fabricados nos Estados Unidos?

Locus: Praticamente todos... Silva: Pois é, praticamente todos! E isso não é à toa.

Locus: É essa atitude que faz a diferença? Silva: Toda a diferença. É preciso tam-bém saber que você vai cair, mas que pode levantar. Vai errar, mas vai acer-tar em seguida. O empreendedor tem que insistir. Se nosso time não tivesse consciência disso, a Embraer simples-mente não existiria.

O projeto que conquistou Ozires Silva é resultado de pesquisas desenvolvidas há mais de uma década pela médica Fátima Mrué. Ao cursar pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), em 1994, ela iniciou estudos para reproduzir no Brasil uma prótese para esôfago que havia conhecido no Japão. Para substituir o silicone utilizado na versão original, Fátima usou látex, extrato natural de árvores seringueiras. Junto ao bioquímico Joaquim Coutinho Netto, a médica testou a nova prótese no esôfago de cães e descobriu que as proteínas do látex tinham capacidade de induzir a formação de novos tecidos – em poucos dias, os animais tinham o esôfago completamente reparado e expeliam a prótese nas fezes. 

A partir da descoberta, os pesquisadores aplicaram o princípio ativo no desenvolvimento de biomembranas, gerando um curativo capaz de acelerar a formação de vasos sangüíneos no tecido sobre o qual é aplicado. A inovação transformou-se em empreendimento em 2002, quando o projeto chegou à Academia Brasileira de Estudos Avançados, uma organização não-governamental voltada a aproximar inventores de investidores, que tem Ozires Silva como vice-presidente. Impressionado com o potencial da nova tecnologia, ele juntou-se a outros dois sócios, atraiu capital de risco e se tornou presidente do conselho de administração da Pele Nova. O curativo, chamado Biocure, foi lançado em 2004 e no ano seguinte conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, na categoria Produto. 

Pele Nova

DIVULG

AÇÃO/PELE NOVA

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E m M O V I M E N T O

Categoria Pequena Empresa

Vencedora: Nanox Tecnologia/SP – Originada na incu-badora do Parque Tecnológico de São Carlos (ParqTec), a empresa trabalha com nanotecnologia para produzir materiais com propriedades especiais e funções inova-doras. (Veja matéria na página 41)

Menção honrosa: Angelus Indústria de Produtos Odontológicos/PR – A empresa iniciou na Incubado-ra Industrial de Londrina (PR) e atua no desenvolvi-mento de produtos e técnicas inovadoras na área odontológica.

Categoria Média/Grande Empresa

Menção honrosa: Fotosensores Tecnologia Eletrônica (CE) – Originada no Padetec/CE, a empresa desenvol-ve soluções de fabricação, instalação, gerenciamento, processamento, pós-entrega e operacionalização de sistemas de monitoramento eletrônico de infrações de trânsito. (Veja matéria na página 15)

Instituição de C&T

Vencedora: Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-cuária/DF – Associada à Anprotec, a Embrapa viabili-za soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural, por meio da geração, adaptação e trans-ferência de conhecimentos e tecnologias.

Menção honrosa: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Inovapuc/RS – Formada por oito unidades periféricas, a Inovapuc, também tem o obje-tivo de integrar as ações de pesquisa e desenvolvi-mento da PUC.

Destaque no Prêmio Finep

Desafio Sebrae 2008

Universitários de todo o Brasil já se prepararam para tentar repetir o feito da equipe Engenharia Frenética, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), grande vencedora do Desafio Sebrae 2007. A competição reu-niu cerca de 70 mil estudantes em todo o Brasil, que se dedicaram à administração de uma empresa virtual do setor de cosméticos. Experientes no jogo, os estudantes da UFES Duar Pignaton, Eduardo Martins, Gustavo Re-zende, Frederico Humberto e Lucas Casali levaram a melhor e conquistaram como prêmio uma viagem para a Europa, onde visitarão centros de empreendedorismo. Neste ano, o Desafio Sebrae terá 84 mil vagas, 14 mil a mais que em 2007, e os estudantes terão que adminis-trar uma empresa virtual do setor calçadista. Segundo o Sebrae, o período de inscrições para o Desafio 2008 deve começar no próximo dia 10 de março.

Assim como em anos anteriores, empresas e entida-des ligadas ao movimento de incubadoras e parques tecnológicos se destacaram no Prêmio Finep de Inova-ção Tecnológica 2007, levando dois dos sete troféus concedidos aos vencedores e três menções honrosas. Os vencedores foram premiados no dia 12 de dezem-bro, no Palácio do Planalto, em Brasília. Conheça os destaques do empreendedorismo inovador:

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A necessidade de investimentos em am-bientes que promovam geração de conhe-cimento e inovação dominou as discussões do 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, realizado em Belo Horizonte (MG) entre os dias 17 e 21 de setembro do ano passa-do. Promovido pela Anprotec, o evento reuniu cerca de 700 participantes, de 26 estados brasileiros e outros 16 países.

A Anprotec aproveitou o encontro com associados para comemorar seu aniversá-rio de 20 anos, homenagear dirigentes e apresentar um balanço com números ani-madores sobre o segmento: 400 incuba-doras no país, 55 parques em fase de pro-jeto, implantação ou operação, 6 mil empresas incubadas, graduadas e associa-das, 2 mil postos de trabalho no gerencia-mento das incubadoras, 24 mil empregos diretos nas empresas incubadas e R$ 2,8 bilhões de faturamento – segundo esti-mativas de 2006.

Os associados da Anprotec também ele-geram a nova diretoria da entidade, com-posta pelo presidente Guilherme Ary Plonski, pelo vice-presidente Christiano Becker e pelos diretores Gisa Bassalo, Jo-sealdo Tonholo, Paulo Gonzalez e Silvestre Labiak Junior. A próxima edição do semi-nário será realizada entre os dias 22 e 26 de setembro deste ano, em Aracaju (SE).

Minas do conhecimento2

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1 - José Eduardo Fiates, ex-presidente da Anprotec, fez discurso de abertura do evento.2 -  Nova Diretoria da Anprotec. Da esquerda para a direita: Silvestre Labiak Junior, Christiano Becker, Guilherme Ary Plonski,Gisa Bassalo, Paulo Gonzalez e Josealdo Tonholo.3 - Nova Diretoria da Anprotec: Silvestre Labiak Junior, Christiano Becker, Guilherme Ary Plonski, Gisa Bassalo, Paulo Gonzalez e Josealdo Tonholo. 4 - Cerca de 700 participantes assistiram às palestras do Seminário. 5 e 6 - Intervalos das atividades eram o momento de fazer contatos. 7 - Dirigentes universitários discutiram formas de estímulo ao empreendedorismo inovador no Brasil. 8 - Equipe da B2ML, vencedora do Empreender é Show, recebeu viagem internacional como prêmio. 9 - Valerie D’Costa, gerente do Programa info Dev do Banco Mundial, entregou o Prêmio Nacional de Empreendedorismo Inovador ao coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Coppe/UFRJ, Gonçalo Guimarães.

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E m M O V I M E N T O

Parques paulistas recebem recursos

Fomentar pesquisa de alta qualidade. Esse será o principal objetivo do Sistema Pau-lista de Parques Tecnológicos, lançado no ano passado pela Secretaria de Desenvolvi-mento do Estado de São Paulo. De acordo com o projeto, sete cidades receberão inves-timentos para implantação ou expansão de parques tecnológicos: São Paulo, Campinas, São José dos Campos, Piracicaba, São Carlos, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto.

Em 27 de dezembro de 2007, a Secretaria de Desenvolvimento deu a largada para a implantação efetiva do sistema, assinando convênios no valor de R$ 5,8 milhões. Des-se total, R$ 3 milhões serão destinados à implantação do Condomínio Empresarial e da Central de Incubadoras do Parque Tecnológico de São José dos Campos. Outros R$ 550 mil permitirão à Fundação Parque de Alta Tecnologia (ParqTec), de São Carlos, adquirir um equipamento de prototipagem rápida que ajudará no desenvolvimento de produtos de micro e pequenas empresas.

O Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), de São Paulo, receberá cer-ca de R$ 2,3 milhões. “Esse recurso vai permitir a expansão do Cietec e a implantação de empresas no estágio de pós-incubação, ou seja, que já obtiveram sucesso no perío-do de incubação, mas ainda não estão preparadas para disputar o mercado”, afirmau o presidente do Conselho Deliberativo do Cietec, Cláudio Rodrigues.

R$ 900 mil para incubadas no Centev 

Das 17 propostas aprovadas no último edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), oito são de empresas vincu-ladas à Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Centro Tecnológi-co de Desenvolvimento Regional de Viçosa (Centev). Juntas, as residentes do Centev conquistaram R$ 900 mil, que possibilitarão a concessão de bol-sas a mestres e doutores, a compra de equipamentos, material permanente, material de consumo, passagens e diárias.

João Steiner, coordenador 

dos estudos do Sistema Estadual 

de Parques Tecnológicos de 

São Paulo.Ao lado, Parque 

Tecnológico de São José dos Campos. 

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Inovação na Amazônia 

No último dia 7 de janeiro, foi publica-do no Diário Oficial da União o projeto do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), um ambiente dedicado a promo-ver a inovação tecnológica a partir de processos e produtos relacionados à bio-diversidade da região. Conforme o pro-jeto, o CBA deve ser coordenado por um comitê, composto por representantes de seis ministérios: Desenvolvimento, In-dústria e Comércio Exterior (MDIC), Ci-ência e Tecnologia (MCT), Meio Ambien-te (MMA), Desenvolvimento Agrário (MDA), Saúde (MS) e Agricultura, Pecu-ária e Abastecimento (Mapa).

De acordo com o MDIC, esse comitê terá a função de definir o plano estratégi-co do CBA, propondo um modelo de ges-tão, além de acompanhar a execução das atividades previstas no projeto – que in-tegra a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. A previsão é de que o comitê seja formado até fevereiro.

Portas abertas para a inovação

A cada início de ano, incubadoras de todo o país sele-cionam novos projetos para incubação. O Centro Regio-nal de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) oferece 11 vagas: sete para a Incubadora de Base Tecnológica do Critt (IBT), duas para a Incubadora de Design (InDesign) do Colégio Técnico Universitário (CTU), e duas para o Condomínio de Empresas. Os editais estão disponíveis no site www.critt.ufjf.br. Os cronogramas para envio de propostas são diferenciados, de acordo com cada edital.

Vale lembrar que há incubadoras em que o processo de seleção é contínuo, como no Centro Incubador de Empre-sas de Sergipe (CISE). Os interessados em incubar empre-endimentos inovadores no CISE devem solicitar o edital de incubação através do endereço eletrônico [email protected].

No site da Anprotec, você encontra a lista completa e atualizada de incubadoras que estão com editais abertos. Basta acessar www.anprotec.org.br.

Balanço positivo

O ano de 2007 foi promissor para as 38 empresas do Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Cel-ta), incubadora de base tecnológica da Fundação Certi, de Florianópolis (SC). O faturamento médio das incubadas du-rante o ano beirou os R$ 40 milhões, segundo levantamento realizado pela Gerência do Celta. Em 21 anos de atividade, a taxa de mortalidade das empresas instaladas na incubadora manteve-se baixa, não passando dos 7%.

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E m M O V I M E N T O

Nesta edição, a revista Locus vai além do calendário do próximo bimestre. Selecionamos os eventos mais importantes de 2008 para você se programar e, claro, comparecer. Confira:

MArço Fórum Mundial de LucratividadeQuando: 11 e 12 de marçoOnde: São Paulo - SPInformações: www.hsm.com.br/eventos

MAio22ª Conferência Internacional de Incubadoras de EmpresasQuando: 4 a 7 de maio Onde: San Antonio, Estados UnidosInformações: www.nbia.org/nbia_events

8ª Conferência da Anpei Quando: 19 a 21 de maioOnde: Belo Horizonte - MGInformações: www.anpei.org.br

SeteMBro25ª Conferência Mundial da International Association of Science Parks (IASP)Quando: 14 a 19 de setembro Onde: Joanesburgo - África do Sul Informações: www.iasp.ws

XVIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de EmpresasQuando: 22 a 26 de setembroOnde: Aracaju - SEInformações: www.seminarionacional.com.br

noVeMBro Brasiltec 2008 – Salão de Inovação TecnológicaQuando: 5 a 8 de novembroOnde: São Paulo - SPInformações: www.anhembi.com.br

HigH-TecH AgendAVendedor sabe-tudo

Fidelizar clientes é o sonho de qualquer comerciante. Por isso a Pandorga, empre-sa da Incubadora Raiar, da PUC-RS, de-senvolveu o Adapta, um sistema que pro-mete melhorar a relação entre lojas e público. Por meio de dados captados pelas lojas e armazenados em etiquetas de Ra-dio Frequency Identification (RFID), o Adapta organiza informações sobre as preferências do cliente e as apresenta ao vendedor no momento do atendimento. Resultados esperados: venda fácil e clien-te satisfeito.

A tecnologia deve ser lançada no mer-cado ainda neste ano. Saiba mais: www.pucrs.br/raiar

Comunicação integrada

Lançado pela Sower IT, residente na In-cubadora Empresarial Tecnológica de Ala-goas, o Fastlink é um serviço corporativo de mensagens móveis (SMS, MMS e VOZ) que se integra a várias tecnologias de ban-co de dados e aplicativos. O serviço habili-ta o tráfego de mensagens móveis entre celulares e os sistemas corporativos. Saiba mais: www.cesmac.com.br/iet

Proteção certeira 

Conhecer a intensidade da radiação so-lar pode ajudar a população a se proteger melhor dos raios ultravioleta (UV). Por isso a Spherical, incubada no Centro de Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta), de Florianópolis (SC), desenvol-veu o Ozon-in – um totem medidor de UV que aponta o nível de radiação e o fa-tor de proteção solar (FPS) recomendado para cada índice. Saiba mais: www.spherical.com.br

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té dezembro de 2007, o número de acidentes de trânsito registrados pela

Polícia Rodoviária Federal chegou a 116.719, cerca de 5% a mais em relação aos dados de 2006. Um estudo produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pú-blica revela que em 2005 o número de fur-tos e roubos de veículos no país chegou a aproximadamente 530 mil. No mesmo pe-ríodo, 345 mil residências e estabeleci-mentos comerciais foram assaltados. Na internet, as ameaças de vírus e tentativas de invasão de sistemas chegaram a 250 mil só durante o ano passado, a mesma quantidade de ameaças registradas nas duas últimas décadas.

Essa mistura de dados desenha em par-te o cenário da insegurança pública brasi-leira, revelando a mola propulsora do mercado de segurança eletrônica no país. Considerando a venda de produtos e ser-viços, o setor faturou R$ 1,25 bilhão em 2006 e estima crescer, em média, 16,2% durante os próximos cinco anos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elé-trica e Eletrônica (Abinee), o crescimento esperado para o setor em 2007 era de 23%. E é nessa fatia de mercado que várias em-presas estão apostando.

É o caso da Life, graduada em 2002 no Centro Regional de Inovação e Transferên-cia de Tecnologia (Critt) da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). A empresa trabalha pela segurança no trânsito, com o objetivo de reduzir acidentes. Para isso, monitora e auxilia o motorista a aplicar conceitos de direção defensiva. O projeto, pioneiro no país, nasceu de uma visita do empreendedor Reinaldo Mansur à Alema-nha, em 1971. Próximo à cidade de Frank-furt, o empresário observou um test drive

A indústria do combateIdentificadas no passado como indústria do medo, empresas que atuam no setor de segurança diversificam negócios para contribuir com a queda dos índices de violência

andré Vendrami

e percebeu que o motorista recebia aulas de direção defensiva e primeiros-socorros. Mansur, que é médico, mas já havia sido motorista profissional e mecânico, resol-veu trazer a experiência para o Brasil.

Com a ajuda do pai, o empreendedor idealizou um aparelho chamado centrí-grafo. O equipamento, testado em ônibus, fazia o monitoramento das ações do veí-culo. “Além desse cuidado na direção, en-contramos outra vantagem, que foi a de aumentar em 80% a vida útil dos pneus”, destaca Mansur. Em 1995, Mansur criou a Life para produzir o aparelho. Precisando de apoio e suporte tecnológico, no ano se-guinte procurou o Sebrae, e no final de 1996 a Life tornou-se a primeira empresa incubada pelo Critt. A partir da incuba-ção, a tecnologia do centrígrafo evoluiu para um aparelho eletroeletrônico capaz de monitorar os giros do motor do veícu-lo. Em 1998, chegaram a um sistema qua-se totalmente eletrônico. Em 2000, a em-presa recebeu o prêmio de Inovação Tecnológica do Sebrae – em conseqüência desse prêmio, o Ministério da Ciência e Tecnologia concedeu ao Critt computado-res e equipamentos.

Veículos monitorados

O G3, nome do orientador eletrônico comercializado pela Life, além de ser um rastreador via GPRS, permite informar ao motorista sobre locais perigosos na estra-da, mas não interfere na condução do veí-culo e apenas registra dados. “Ele mensu-ra se o motorista está tomando cuidado ou se está dirigindo de qualquer jeito. Ele alerta para o comportamento da direção

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em função da estra-da”, explica Mansur. “Nossa preocupação sempre foi a valori-zação do ser huma-no, fazendo um tra-balho voltado para a prevenção de aciden-tes. O difícil é colo-car na cabeça do em-presário e do

motorista que o aparelho não deve ter função punitiva e sim tornar-se um cons-cientizador, um instrumento de capacita-ção”, conclui.

Hoje a Life conta com 18 funcionários, entre eles uma equipe de engenheiros. Seus principais clientes são empresas de ônibus como as catarinenses Viação União, Via-ção Santo Anjo e as empresas Itapemirim e Viação Progresso. A empresa acaba de lan-çar um sistema que permite o rastreamen-to on-line, para que o cliente, ou a própria

Life, monitore o gasto de combustível. Além disso, é possível interferir de forma indireta na condução do veículo, alertan-do o motorista, por meio de um módulo GPS, sobre os riscos de acidente.

Outra empresa mineira atuante no setor de segurança é a Star Sat, graduada em ju-lho do ano passado na Incubadora de Em-presas de Patos de Minas. Idealizada para atuar no ramo de rastreamento de veícu-los via satélite, a empresa expandiu hori-zontes e oferece soluções de logística e gerenciamento de risco veicular. “Atual-mente o rastreador não tem apenas fun-ção antifurto ou anti-roubo. Um bandido que entra em um caminhão sabe desmon-tar o aparelho. Nosso trabalho hoje é 90% administração da frota e 10% recuperação de roubos”, esclarece o proprietário da empresa, Mauro Teixeira. O sistema co-mercializado, além de bloquear o veículo em caso de furto, localiza-o via satélite ou pelo sistema de transmissão de dados via telefonia celular. Mas conta também com outras funcionalidades, como informar, a cada minuto, a temperatura da câmara fria dos caminhões. “Nós disponibiliza-mos mais serviços. Para desligar um veí-culo existem bloqueadores que custam apenas 10% do valor de um rastreador”, afirma Teixeira.

A Star Sat, hoje com oito funcionários, nasceu em 2004. Como muitos empreen-dedores, Teixeira tinha planos de ter um negócio próprio, mas não sabia em que área atuar. A escolha pela segurança nos transportes veio da experiência de ter tra-balhado com seguradoras e percebido a exigência de que as frotas asseguradas ti-vessem rastreadores instalados. Apesar da demanda, não havia muitas empresas ofe-recendo o serviço no mercado. Na incu-badora, Teixeira aprendeu a fazer o proje-to e o plano de negócios que resultariam na Star Sat. Durante os seis primeiros me-ses de incubação realizou testes de produ-to e no semestre seguinte dedicou-se a uma nova análise do mercado. Só depois passou a comercializar o rastreador. A es-

A FotoSensores, maior empresa da América Latina em tecnologia de semáforos,  ganhou menção honrosa no Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2007. Com sede em Fortaleza, a FotoSensores nasceu  em 1993 no Parque de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (Padetec). A tecnologia dos fotossensores é desenvolvida pela empresa desde 1995 e já gerou soluções integradoras para o gerenciamento de trânsito: sistemas capazes de registrar avanços de semáforos, excesso de velocidade e parada sobre a faixa de pedestres. 

O sistema foi implantado nas ruas de Fortaleza em 1996. Ao todo, foram instalados 56 equipamentos fotossensores, que registraram quase 150 mil infrações naquele ano. Em 2002, a frota da cidade aumentou para pouco mais de 400 mil veículos e o número de equipamentos instalados para 91. As infrações caíram para 51,8 mil, quase 35% do número registrado antes de o sistema funcionar. Segundo o Detran do Ceará, a quantidade de infrações registradas no estado em 2006 foi de quase 20 mil, numa frota com cerca de um milhão de veículos. Os resultados obtidos fizeram com que outras cidades do país, principalmente as capitais, se interessassem pelo sistema comercializado pela FotoSensores. Entre os clientes da empresa estão as cidades de Aracaju, Recife, Florianópolis, Blumenau, Natal, Franca e São Luís do Maranhão.

Trânsito mais seguro

Linha de produção da Life: foco da empresa é a segurança nas estradas. Acima, o empreendedor Ricardo Mansur.

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pera valeu a pena: hoje a empresa já ren-de, anualmente, em média 1.300% do va-lor investido inicialmente. A perspectiva da Star Sat é dobrar de tamanho em 2008, a partir da expansão regional. “Eu foquei a empresa muito aqui na porta. Agora quero crescer em torno da cidade tam-bém”, conclui.

Inovação reconhecida

Em Campinas, interior de São Paulo, a Griaule Biometrics, residente até 2005 na Incubadora de Base Tecnológica da Uni-camp, a Incamp, vem se destacando no desenvolvimento de soluções em biome-tria – uso de características biológicas em mecanismos de identificação como reco-nhecimento facial ou de impressões digi-tais – e já recebeu seis certificações do FBI, a polícia federal norte-americana, o que torna a empresa apta a participar de licitações realizadas nos Estados Unidos.

O programa desenvolvido pela Griaule foi reconhecido pelo Departamento de Justiça do governo americano em 2006 como a melhor tecnologia do mundo na área de biometria. Entre os produtos da empresa, apenas um é hardware: um cole-tor de impressão digital que trabalha o controle de acesso. Um painel com um te-clado colhe a impressão digital e, ligado a uma porta elétrica, reconhece essa im-pressão e permite o acesso. Porém o foco da produção da empresa é a criação de plataformas para desenvolvedores de softwares, ou seja, criar as bases dos pro-gramas. Com base no modelo de negócios Eletronic Software Download, a empresa permite ao cliente interessado baixar o programa pela internet, testá-lo por 90 dias e depois comprar sua licença. “A idéia é atingir o maior número de pessoas com essa facilidade em instalar e comprar o produto”, afirma o gerente de marke-ting da Griaule, Paulo Ribeiro.

Atualmente, 80% dos clientes da empre-sa estão no exterior. “No Brasil, a biome-

tria ainda encontra resistência. Embora goste de tecnologia, o brasileiro espera para ver como vai funcionar e só depois, quando nota que as pessoas estão usando, passa a confiar e compra”, ressalta Ribeiro. Segundo ele, apesar do crescimento do uso da biometria no país, os negócios da Griau-le no exterior vão melhor devido às facili-dades de investimentos em equipamentos, muito mais baratos, e também pela tradi-ção cultural do uso dessa tecnologia.

A Griaule foi fundada em 2002, fruto da aposta dos empreendedores Iron Daher e José Alberto Canedo no setor ainda pou-co conhecido e desenvolvido no Brasil. Na época, os sócios investiram R$ 6 mil para o primeiro pagamento de funcioná-rios e do aluguel. Hoje, a empresa fatura em média R$ 4 milhões ao ano e 40% da equipe de pesquisa e desenvolvimento é estrangeira. “Muitas pessoas de fora vêm estudar na Unicamp, um centro de exce-lência. É natural que a gente acabe traba-lhando com elas”, afirma Ribeiro. Em 2008, a empresa pretende integrar à equi-pe algum profissional chinês, de olho nos negócios com o gigante asiático.

Os principais clientes da Griaule estão na área de saúde, entre eles a Unimed, que pretende utilizar a biometria no esquema de autorização de consultas. Há outros clientes importantes, como o Tribunal Su-perior Eleitoral (TSE), a empresa de tele-fonia Oi e a própria Unicamp – que utiliza o sistema de biometria para evitar fraudes no vestibular. No estado de Tocantis, o software de coleta de impressão digital para carteira de identidade também foi produzido pela Griaule.

Casas inteligentes

Incubada no Instituto Gênesis, da PUC-RJ, a Future House apostou no filão da automação residencial para ingressar no setor de segurança. “A questão da se-gurança está envolvida em praticamente todos os sistemas implantados pela em-

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presa”, enfatiza Hélio Sinohara, um dos sócios. A idéia de trabalhar com “casas inteligentes” trouxe o desenvolvimento de tecnologias inéditas no país. Por exem-plo, um sistema no qual uma luz acende durante a noite quando uma criança ou idoso se aproxima de uma escada ou en-tão que ilumine, via sensores, um am-biente onde seja possível que alguém queira se esconder.

A empresa trabalha em três setores in-terligados: automação residencial, con-trole de iluminação e sistema de entrete-nimento com áudio e vídeo. Um sistema voltado especificamente para segurança é o de simulação de presença, no qual luzes se acendem alternadamente pela casa quando o proprietário não está – e pode até ter associação com áudio, como ligar rádio ou televisão. Esses produtos são chamados Sistemas Indiretos de Seguran-ça, pois não fazem uso de câmeras.

Alguns produtos desenvolvidos pela Future House chegam a ser engraçados. É o caso do Cachorro Virtual, um sistema no qual um sensor capta a passagem de uma pessoa por algum local da residência

– um quintal, por exemplo – e uma caixa de som emite um forte latido de cão. Após 10 segundos, as luzes da casa se acendem como se alguém fosse verificar o que está acontecendo.

Chamado de segurança preventiva, esse tipo de sistema tem como público-alvo pessoas físicas com alto poder aquisitivo, da classe AA, e proprietários de imóveis de valor estimado entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões. Entre os projetos desen-volvidos pela Future House estão o de au-tomação e sistemas de vídeo da mansão do xeique do Catar, de residências de alto padrão como no Edifício Chopin, em Co-pacabana, e em bairros da zona Sul e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, além de outras nas regiões de Búzios, Angra dos Reis e Itaipava.

Segundo Sinohara, o investimento ini-cial na empresa foi de no máximo R$ 10 mil. “Cada um trouxe de casa uma cadei-ra, o seu PC e eu arranjei dinheiro pra comprar um armário e uma bancada”, conta. O empresário acredita que o setor de tecnologia de segurança deve se expan-dir. “Primeiro, pelo crescimento da vio-

Sinohara, da Future House: tecnologia para segurança de 

imóveis de luxo. Entre os clientes da empresa, 

um xeique doCatar e moradores de 

zonas nobres do  Rio de Janeiro.

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lência no país, que gera necessidade de proteção pessoal. Segundo, pelo aumento do poder aquisitivo das pessoas, o que faz com que tenham cada vez mais condições de investir em segurança”, finaliza.

Ameaças ocultas

Estender a segurança de ambientes físi-cos para ambientes virtuais tornou-se o grande desafio do início deste século. Como conseqüência, o volume de negó-cios em segurança de informação não pára de crescer. “Embora seja um merca-do desenvolvido, os números ainda são nebulosos. Mas estima-se que gire em tor-no de 100 milhões de dólares no mundo”, afirma o responsável pela área de tecnolo-gia da F-Secure, Gabriel Menegatti. A F-Secure Corporation é uma empresa fin-landesa, líder de mercado em soluções de segurança para usuários móveis, operado-ras e provedores de serviços, com filial no Brasil há apenas três anos. Os serviços oferecidos vão além dos antivírus, anti-spywares e antiadwares. A empresa atua no mercado corporativo, com controles de aplicativos, auditoria de e-mail e con-trole de spam. No varejo, aposta no F-Se-cure Internet Security 2007 – uma espécie de antitudo – que, além de proteger o computador de ameaças, ainda permite o controle ao acesso de determinados sites, permitindo que os pais monitorem o que os filhos vêem na internet.

Foi a F-Secure que contabilizou a quan-tidade de 250 mil malwares – nome dado às ameaças vindas da internet – só em 2007. Menegatti acredita que neste ano a quantidade de ataques ou tentativas deve crescer ainda mais. “Isso se dá por conta de todas essas novas tecnologias como Web 2.0, smartphone e outros dispositivos ele-trônicos que permitem que as pessoas fi-quem mais tempo on-line e que mais bre-chas acabem surgindo”, esclarece.

A empresa, que também tem filiais no Japão, Estados Unidos, França, Alemanha,

Suécia e Reino Unido, possui laboratórios em San Jose, na Califórnia (EUA), em Hel-sinque, na Finlândia, e na Malásia. “Esta-mos posicionados estrategicamente em três hemisférios diferentes. Assim as ame-aças que surgem no Japão, por exemplo, são detectadas antes de os computadores da América serem ligados e infectados”, re-vela Menegatti. Segundo ele, a empresa leva de duas a seis horas para solucionar um problema e lançar uma atualização dos softwares, enquanto as concorrentes de-moram entre quatro e 10 horas.

As infecções por vírus e as tentativas de invasão de computadores não têm mais a finalidade de danificar os PCs ou, no caso de empresas, prejudicá-las no mercado. Segundo Menegatti, os ataques atuais têm interesse em geração criminosa de renda e os invasores criaram maneiras sofistica-das de espionar as ações do usuário e com isso coletar informações sigilosas, como senhas bancárias. “O Brasil é um dos principais players de mercado para a cria-ção de spyware para banco, já que o país também é referência mundial para plata-forma de banco on-line e relacionamento on-line com clientes”, explica Menegatti sobre a necessidade de proteção.

Menegatti, da F-Secure: invasores de PCs criam maneiras cada vez mais sofisticadas de espionagem.

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O melhor remédio

possível quebrar barreiras culturais e investir não só em tratamento, mas

também na prevenção de problemas de saúde? Segundo especialistas, isso pode e deve ser feito. “O Brasil possui muitas pes-quisas que poderiam evitar doenças gra-ves. Esses estudos surgem nas universida-des e são financiados pelo próprio governo. Mas dar o passo seguinte não é tão fácil”, avalia Paulo Renato Cabral, diretor do Instituto Inovação, aceleradora de empre-sas que investe em pesquisas inovadoras.

Cabral atribui essa dificuldade a três fa-tores: a maioria dos estudos desenvolvi-dos nas universidades não apresenta cará-ter empreendedor; as grandes empresas, já estabelecidas, ainda têm pouca intera-ção com o meio acadêmico; e o governo geralmente não compra os projetos nos quais investiu. Ao superarem essas etapas, pequenas empresas brasileiras provam ser possível inovar em prevenção e encon-tram um mercado promissor que gera, além de lucros, satisfação pessoal.

Foi a partir de uma experiência familiar que os empreendedores da Quasar Teleme-dicina descobriram um nicho de negócios. “Criamos o Glic-Online para melhorar a vida das pessoas com diabetes. É gratifi-cante fazer esse trabalho”, relata Floro Dó-ria, um dos sócios da empresa. Diabética desde a infância, a esposa dele, Karla Melo, sofria durante as refeições para calcular a relação entre o nível de carboidratos que ingeria e a quantidade de insulina que de-veria tomar para suprir suas necessidades. Por isso carregava na bolsa uma tabelinha para fazer as contas em qualquer lugar.

Dória e mais três sócios, entre eles a es-posa, criaram a Quasar Telemedicina e desenvolveram um software que disponi-

Inovações para prevenir epidemias ganham cada vez mais espaço no mercado. Mas ainda é preciso transformar pesquisas em produtos e conquistar investimentos

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biliza os cálculos por meio de aparelhos celulares. “No início era um portal de voz, mas com o avanço da tecnologia pudemos aperfeiçoar e disponibilizá-lo no celular”, explica Dória. O Glic-Online permite que a prescrição do médico fique registrada na internet. O paciente acessa o sistema pelo celular e baixa o programa para fazer os cálculos onde estiver. Toda vez que o médico altera a prescrição, o paciente é imediatamente avisado pelo telefone e tem seus dados atualizados.

Em 2004, a Quasar Telemedicina in-gressou no Centro Incubador de Empre-sas Tecnológicas (Cietec – SP) e, com fi-nanciamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), construiu um protótipo que foi testado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). No ano passado, o Glic-Online co-meçou a ser comercializado. A expectati-va dos empreendedores é que a venda do produto gere R$ 1,5 milhão em 2008.

Inovações como a desenvolvida pela Quasar também têm potencial para se transformar em poderosos instrumentos de prevenção. Considerada um dos males do século 21, a diabetes não controlada pode danificar vasos arteriais e nervos, causando doenças graves em diversos ór-gãos humanos. “O último censo oficial, feito pelo SUS em 2001, contabilizou 14,5% da população como possíveis pa-cientes. E cerca de metade deles não sabe”,

Tecnologias para monitoramento da diabetes ajudam a evitar doenças mais graves.

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clientes de grande porte, como hotéis, in-dústrias e distribuidoras de alimentos. Em 25 anos, a empresa que começou pe-quena no interior do estado transformou-se na maior do setor em toda a América Latina. Com 40 unidades no Brasil, distri-buídas por 15 estados, a empresa gera cer-ca de 3 mil empregos diretos e indiretos. Em 1996, entrou para o grupo de franque-adoras do país e em 2004 tornou-se a pri-meira empresa brasileira a exportar tec-nologia de controle de pragas urbanas ao abrir uma unidade em Portugal, visando o mercado europeu. Atualmente o fatura-mento anual da Astral chega a R$ 25 milhões, com expectativa de cresci-mento de 20% em 2008.

Há cinco anos, a empresa criou a ONG Alto Astral, com o objetivo de informar a população sobre os riscos à saúde causa-dos por ratos, baratas, mosquitos, formi-gas e carrapatos. “Eles podem causar mais de 400 doenças como dengue, malária, leptospirose e infecções hospitalares”, es-clarece o biólogo Fábio Castelo, responsá-vel pela ONG. Conforme dados da própria ONG, quase metade das contaminações ocorridas em hospitais é causada por pra-gas e vetores que circulam nesses ambien-tes e entram em contato com alimentos e equipamentos. Além disso, cerca de 30% dos atendimentos do SUS são causados por problemas gastrintestinais, dermato-lógicos e respiratórios, que poderiam ser evitados com medidas preventivas.

ressalta Dória. Mas a epidemia de diabe-tes não avança apenas no Brasil. A Orga-nização Mundial da Saúde estima que cer-ca de 5,1% da população mundial entre 20 e 79 anos sofra da doença – e até 2025 o número de casos deve duplicar.

Batalha contra vetores

O Brasil também sofre com doenças epidêmicas transmitidas por vetores na-turais. Entre as principais está a dengue, que atingiu cerca de 500 mil pessoas no país durante 2007. Com o intuito de evitar a propagação do Aedes aegypty – mosqui-to que transmite a doença – a Ecovec, em-presa que passou pela Incubadora da Uni-versidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu um sistema capaz de monitotar a presença do inseto.

Primeiro, armadilhas instaladas pela empresa capturam os mosquitos. Depois, os dados coletados são transferidos para um software que utiliza ferramentas de geoprocessamento para indicar os focos do inseto. Com as informações em mãos, os agentes de saúde sabem exatamente onde agir. “Nossos clientes são as prefei-turas, pois o sistema depende dessa se-gunda etapa que é o trabalho dos agentes”, explica Cristiane Queiroz, coordenadora comercial da Ecovec.

Atualmente, o Monitoramento Inteli-gente da Dengue (MIDengue) atende 13 cidades onde as administrações munici-pais investem na prevenção da doença. “O PNCD (Programa Nacional de Controle da Dengue), do Ministério da Saúde, não prevê a tecnologia em seu orçamento. En-tão, a prefeitura recebe o dinheiro, mas não pode usar para isso. Ela precisa de-sembolsar recursos próprios, o que nem todas têm”, lamenta Cristiane.

Outra empresa mineira percorreu com sucesso o difícil o caminho que a Ecovec começa a trilhar. Em 1983, a Astral – Saú-de Ambiental foi criada em Uberlândia para combater pragas, tendo como foco

Sistema desenvolvido pela Quasar: na tela do 

celular, informações para manter a saúde. 

Abaixo, crianças participam de ação preventiva da ONG 

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uanto vale a capacidade de liderança de uma empresa? Em que parte do ba-

lanço se encaixa o respeito ao meio ambien-te? Qual é o volume do capital intelectual? Essas perguntas difíceis de responder tra-tam de um patrimônio cada vez mais im-portante nas organizações: os ativos intan-gíveis. Em 2008, eles serão incorporados na análise de projetos a serem financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES).

Considerados diferenciais competitivos, os intangíveis são determinantes na gera-ção de valor. Aliados aos ativos tangíveis como terras, estrutura física e capital, são eles que garantem o sucesso da empresa em longo prazo. A metodologia para men-surar esses ativos está sendo desenvolvida em conjunto pelo BNDES e o Centro de Referência em Inteligência Empresarial, da Coppe/UFRJ. Os ativos intangíveis são classificados em quatro categorias básicas: ambiental, estrutural, intelectual e relacio-nal. Nesses tópicos, estão incluídos fatores como tecnologia, inovação, design, paten-tes, comunicação e reputação.

O valor do incontável Apontados como despesas pela contabilidade tradicional, os ativos intangíveis compõem a maior parte do capital de uma empresa. E agora podem garantir financiamento

FranCis Franç a A exigência de garantias para a conces-são de financiamentos, baseada hoje nos bens tangíveis das empresas, dificulta a elaboração de programas de apoio a seto-res cujo capital é formado quase inte-gralmente por intangíveis, como empre-sas de nanotecnologia, por exemplo. A necessidade de possuir bens a penhora, hipotecas e outros tipos de garantia legal acabavam excluindo empresas inovado-ras da disputa por recursos do BNDES.

Para ter direito a uma participação na sociedade do Sapiens Parque, na Ilha de Santa Catarina, a Fundação Certi preci-sou contabilizar o ativo intangível aplica-do na execução do projeto. “Todos reco-nhecem o valor do nosso trabalho, mas precisávamos saber exatamente quanto vale todo esse intangível que aplicamos no Sapiens”, diz Carlos Alberto Schneider, superintendente-geral da Certi. A mensu-ração foi exigência do governo de Santa Catarina, que detinha, por meio da Com-panhia de Desenvolvimento do Estado (Codesc) e da empresa SC Parcerias, vin-culada à Secretaria do Planejamento, todo o capital tangível do projeto. Como a Cer-ti não aportou terras nem dinheiro, preci-sou contabilizar o valor de seu conheci-mento para entrar na sociedade,.

O valor foi estimado em R$ 15 milhões, o que representa 7% de participação socie-tária. O cálculo incluiu número de horas trabalhadas e capital intelectual aplicado na elaboração do projeto do Sapiens. De-pois de mensurado, o estudo passou por uma auditoria independente, foi levado ao conselho da sociedade e aprovado. “Esse intangível é o valor que representamos para o empreendimento. O Sapiens Parque não existiria se a Certi não existisse, se não tivesse feito o trabalho”, diz. A avaliação

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Rath Fingerl: indicadores de ativos intangíveis revelam 

a capacidade de inovação de uma 

empresa.

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sobre os ativos intangíveis já rendeu outros projetos à fundação. Em um dos casos, a Certi detém praticamente 50% da socieda-de pelo aporte de patentes.

Novo rating

O método para mensurar o capital in-tangível de uma empresa não atribui ne-cessariamente um valor financeiro para esse ativo. De acordo com Eduardo Rath Fingerl, diretor da área de mercado de ca-pitais do BNDES, apesar de essa ser a po-sição predominante no mundo, o Banco prefere trabalhar com índices. Por isso o desenvolvimento da metodologia em par-ceria com a Coppe busca a elaboração de um rating de ativos intangíveis.

Quatro empresas participaram do pro-jeto-piloto – Embraer, Suzano, Genoa Biotecnologia e Totovs – e nos próximos três meses o BNDES deve começar a im-plementação do modelo. “Escolhemos empresas totalmente diferentes entre si, inclusive em relação ao setor, porte e seg-mento. Nosso objetivo foi avaliar tanto empresas de pequeno porte como a Ge-noa, formada praticamente só de intangí-veis, quanto uma gigante como a Embra-er”, afirma Fingerl.

De acordo com Ana Paula Wirthmann, diretora financeira da Genoa Biotecnolo-gia, foram realizadas reuniões com BNDES e Coppe para responder a questionários sobre todos os capitais envolvidos na em-presa. “Tivemos que preparar um relatório sobre o ativo intangível, estabelecendo um plano de ação para cobrir todas as necessi-dades dos projetos”, diz. Com base nessas informações, o BNDES atribuiu um rating à empresa – que ainda não foi revelado.

Para Ana Paula, a maior importância da avaliação é a transparência na divulgação dos projetos, o que, segundo ela, pode au-xiliar na tomada de crédito. “A incorpora-ção dessa metodologia vai auxiliar em-presas como a Genoa, cujos principais ativos não estão registrados no balanço,

que é nosso intangível: parcerias, funcio-nários e projetos de pesquisa”, afirma.

Rath Fingerl, do Bndes, explica que não existem diferenças entre o capital intan-gível das empresas em relação ao porte. “É natural que nas empresas maiores a participação dos intangíveis esteja mais presente no dia-a-dia, mas os fatores são observados da mesma maneira”, diz. Ape-sar de os números do rating ainda não terem sido divulgados, ele garante que as quatro empresas do projeto-piloto se saí-ram muito bem.

Segundo o diretor, a participação dos intangíveis deve acarretar mudanças in-clusive na contabilidade, que não reflete mais as necessidades dos investidores. “Estamos discutindo o futuro, a capacida-de de uma empresa de renovar continua-mente e se manter competitiva.” E isso não está em máquinas ou prédios, mas no conhecimento humano.

Indicadores de sucesso

Os ativos intangíveis foram tema da dissertação de mestrado de Eduardo Rath Fingerl, defendida na Coppe/UFRJ em 2004. Com base em diversos autores e documentos oficiais, o diretor da área de mercado de capitais do BNDES elencou 64 indicadores não-financeiros de performance. Conheça os primeiros da lista:ü Número de funcionários em funções operacionais/totalü Número de colaboradores alocados em atividades de P&Dü Número de colaboradores com nível superior, mestrado e      doutorado (em que áreas)ü Número de patentes registradasü Número de patentes citadas ü Entrada anual de clientes estratégicosü Entrada anual de fornecedores estratégicosü Número de pesquisas em curso com universidades e centros      de pesquisaü Número de funcionários alocados em pesquisas com     universidades e centros de pesquisaü Vendas para novos clientesü Rentabilidade por clienteü Venda por clienteü Tempo médio de relacionamento com clientesü Percentual de vendas realizadas com      clientes de mais de cinco anosü Freqüência de repetição de ordens de compra

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m fevereiro, em fevereiro, tem car-naval.” É com a letra da música “País

Tropical”, de Jorge Ben Jor, que milhares de pessoas anseiam pela chegada de um mês que não lembra apenas festa: lembra negócios, trabalho e renda. Por detrás disso tudo está o conceito de economia criativa, que nada mais é do que a busca por ferramentas de outras esferas empre-sariais para aplicá-las de forma adequada no campo da cultura.

Enquanto os foliões se divertem e os tu-ristas se encantam, milhares de pessoas trabalham para fazer da tradicional festa brasileira um grande sucesso. É o caso, por exemplo, das bordadeiras de Barra Mansa, no Rio de Janeiro. São 734 profis-sionais que fornecem produtos bordados em plumas e paetês para as escolas de samba dos grupos especiais do Rio de Ja-neiro e de São Paulo.

E não pára por aí. O rol de negócios que tem a economia criativa como eixo de sustentação é grande. O melhor de tudo é que são empresas que não poluem e utili-zam apenas a criatividade e o conheci-mento humano para gerar renda. Segundo dados divulgados pelo diretor-superin-tendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Pau-lo, Ricardo Tortorela, as famílias brasilei-ras gastam cerca de 7% do orçamento com produtos culturais, índice inferior somen-te ao de despesas com habitação, alimen-tação e transporte.

Para a chefe do programa de economia e indústrias criativas da Organização das Nações Unidas (ONU), Edna dos Santos, embora o conceito de criatividade sempre tenha existido, a tomada de consciência da sua dimensão econômica caracteriza um fato novo. Segundo ela, esse conceito é

Festa, trabalho e lucroCriatividade e capital intelectual constroem uma nova modalidade econômica, que tem a cultura como foco dos negócios

amanda miranda “E

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Em palestra durante o Fórum Internacional de Economia Criativa, Aurílio Sérgio Caiado, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), considerou importante não confundir o termo economia criativa com economia da inovação ou com economia da cultura.

Segundo ele, a definição ideal para o termo é considerá-la um ciclo que engloba a criação, a produção e a distribuição de produtos e serviços que tenham o conhecimento como principais recursos. Para tanto, a criatividade e as técnicas ou tecnologias devem ser aliadas para valorizar o componente intelectual, associando o talento a objetivos econômicos.

Conceito

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uma opção viável para diversificar econo-mias, reduzir pobreza e gerar ganhos no comércio de países em desenvolvimento.

A Fundação Sistema Estadual de Análi-se de Dados (Seade) estudou o assunto e detectou que a economia criativa é res-ponsável pela geração de cerca de 500 mil postos de trabalho no Brasil, mais de 180 mil somente no estado de São Paulo. Isso representa uma porcentagem de 3,5% da ocupação registrada no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE).

Dessas 500 mil pessoas, muitas são chamadas até hoje de “animadoras cultu-rais”. São profissionais que apostam, en-tre outras coisas, em produtos relaciona-dos a festas populares, patrimônios arquitetônicos, moda, design, música, li-teratura, artesanato ou qualquer outro campo que se relacione à cultura de uma forma geral.

Só no Rio de Janeiro, Carnaval gera cerca de 250 mil empregos, em diversas áreas. 

Carnaval o ano inteiro

Fenômenos como esses foram explica-dos em um estudo desenvolvido pelo Se-brae do Rio de Janeiro, coordenado pelo pesquisador Luiz Carlos Prestes Filho. O objetivo era entender a cadeia produtiva do carnaval carioca e, com isso, definir estratégias para ampliar e melhorar os ne-gócios. Nessa grande engrenagem que faz a festa funcionar, estão desde os fornece-dores de matéria-prima para as escolas até os turistas.

Na máquina carnavalesca há um com-ponente essencial: as escolas de samba. Na pesquisa, Prestes detectou cerca de 60, nos grupos C, D e E. Se fossem dispostas em um mapa, o resultado seria impressio-nante, já que quase todo o município do Rio de Janeiro é tomado pelas agremia-ções. “São micro e pequenas empresas que trabalham o ano inteiro para o Carnaval”, ressalta o pesquisador.

O estudo concluiu que a festa movimen-ta cerca de R$ 1,5 bilhão ao ano, gerando em torno de 250 mil postos de trabalho. Além das bordadeiras, artistas plásticos, figurinistas, costureiras e dezenas de ou-tros profissionais dão o ritmo que os turis-tas acompanham na avenida. Pelo menos 60 mil desses empregos são permanentes. “Temos que colocar o resultado em prática e criar alternativas que fortaleçam o seg-mento econômico do Carnaval, tal como se fortalecem outros tipos de setores da economia”, avalia Prestes.

O pesquisador destaca o trabalho das bordadeiras como exemplo. Segundo ele, até a realização do estudo, Barra Mansa era vista como um pólo de metalurgia. A pesquisa manifestou um outro potencial da cidade. Apesar de se enquadrarem como negócios informais, as artesãs são responsáveis por injetar cerca de R$ 53 milhões na economia da cidade, o equiva-lente a pouco mais que 4% do PIB. “O tra-balho delas e de todos os demais persona-gens da cadeia produtiva do Carnaval pertencem à esfera da economia da cultu-

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O Carnaval, a festa mais tradicional do Brasil, além de movimentar a economia de diversas cidades, também é responsável por histórias dignas de serem contadas e recontadas. Embora alguns pesquisadores reclamem da falta de material sobre o assunto, há um consenso de que a festa popular tenha como antecessor imediato o entrudo: uma brincadeira com água, vinagre, pó e balões cheios de líquido. A idéia era despejar a “gororoba” entre os foliões. Tempos depois, a combinação nada agradável seria substituída pelo popular confete.

Os bailes de Carnaval, mais voltados para a elite, foram os sucessores dessa verdadeira guerra. Munidas de máscara, as pessoas se divertiam em festas fechadas com um público bastante restrito. Ainda hoje alguns tentam manter a tradição foliã de forma mais inclusiva.

Somente no século 19 as primeiras batucadas começaram a surgir, com o nome de zé-pereira. No Rio de Janeiro, hoje um dos grandes redutos da festa, as pessoas se divertiam em passeatas ao som de tambores. A comemoração, entretanto, logo cedeu lugar ao corso, um verdadeiro cortejo de veículos pela cidade.

As primeiras escolas de samba, essas que movimentam a economia e atraem turistas do mundo todo, são originárias da capital carioca. A primeira delas teria sido a “Deixa Falar”, criada no Bairro do Estácio. A partir daí, surgiram agremiações em outras regiões do Rio de Janeiro, tais como a “Estação Primeira de Mangueira” e a “Vai como pode”, atualmente conhecida como “Portela”. 

Os desfiles, com suas plumas, paetês, carros alegóricos e um imenso backstage trabalhando para que tudo saia conforme o ritmo, acabaram se tornando sinônimo de Carnaval no país. 

No sangue do povo brasileirora”, destaca Prestes. Os resultados da pesquisa levaram o

Sebrae-RJ a fazer uma parceria com a As-sociação das Mulheres Empresárias do Brasil (Amebras-RJ) com o objetivo de in-vestir ainda mais no negócio do Carnaval. A união de forças deu resultado, e a enti-dade instalou uma loja dentro do galpão da Liga das Escolas de Samba do Rio (Lie-sa), na Cidade do Samba.

Atualmente, o Sebrae desenvolve um projeto de inteligência competitiva para a cadeia produtiva da economia do Carna-val (NicSamba). O objetivo é monitorar o mercado, a concorrência, as novas tecno-logias e o ambiente social para inserir mi-cro e pequenos empreendimentos nessa grande fatia. Além disso, os projetos apos-tam na capacitação para tornar o negócio cada vez mais lucrativo. Quanto melhor os profissionais desempenharem suas funções, maior a vitrine e, conseqüente-mente, maior o lucro.

Atrás do trio elétrico

A agitação e a “beijação” do Carnaval baiano impulsionaram o engenheiro José Elpídio Mendonça Cerqueira a criar um produto de nome curioso e finalidade in-questionável: o Beije. Proprietário da Natu-rapi, empresa incubada no Condomínio de Empreendedores e de Inovações Tecnológi-cas (Compete), ele contou com o apoio do Sebrae e da Universidade Federal da Bahia para criar um spray que combate bactérias causadoras de infecções bucais, tais como cáries dentárias, úlceras e herpes.

Apesar de não ser o responsável por fa-zer o trio andar nas ruas da cidade, o em-preendedor deu um bom exemplo de como utilizar a criatividade e a inovação para lucrar com uma festa popular bas-tante conhecida pela quantidade de beijos trocados por segundo. “Nós queremos voltar a comercializar esse produto já em janeiro”, adianta o empresário, que aten-deu uma enxurrada de jornalistas na épo-

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ca que o produto foi lançado, em pleno Carnaval de 2005.

O cartaz de publicidade do produto tra-zia uma mensagem bastante sugestiva: “Você não pode abraçar o mundo, mas pode beijar todo mundo”. Os sabores de gengibre, hortelã, menta e romã certa-mente adoçaram muitas bocas pelas ruas baianas. E a Naturapi agradeceu. Ponto para a criatividade.

Negócios movidos pela fé

O conceito de economia criativa abrange, além dos setores envolvidos no Carnaval, uma série de festas populares que movimentam diversas regiões do Brasil, gerando emprego e renda. Impor-tantes para a economia regional, esses eventos vêm sendo estudados nos últi-mos anos. O Círio de Nazaré, por exem-plo, foi tema de pesquisa na Universida-de Federal do Pará (UFPA).

O círio é um evento religioso que reúne

Milhões de pessoas lotam as ruas de Salvador durante o Carnaval. Para lucrar com a festa, Naturapi utilizou cartazes na divulgação do “Beije” .

devotos da Nossa Senhora do Nazaré na cidade de Belém (PA). A primeira procis-são com a imagem da santa foi realizada em 1793. Tradicionalmente, os fiéis a transportam da Catedral de Belém à Basíli-ca Santuário. “A grandiosidade plástica do evento, coisa conhecida de todos, des-de sempre, pode ser lida na sua ossatura, como num raio X que permite ver a estru-tura e inferir sobre seu desenvolvimento“, destaca o pesquisador da UFPA Francisco de Assis Costa, um dos autores do estudo.

Segundo Costa, a idéia de estudar o fe-nômeno partiu da RedeSist, uma rede de pesquisadores interessados em arranjos e sistemas produtivos locais. A idéia era jus-tamente entender o acontecimento religio-so sob o ponto de vista da economia, sem esquecer suas peculiaridades. De acordo com o pesquisador, a economia do Círio de Nazaré de Belém corresponde a R$ 2,1 bilhões em renda e receita bruta. Além dis-so, são gerados cerca de 295 mil empregos, que rendem um total de R$ 166 milhões em salários. Em tributos, são R$ 6,5 mi-

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No Rio de Janeiro, terra do Carnaval, existe um espaço preparado para respirar criatividade, cultura e inovação. Trata-se da incubadora cultural do Instituto Gênesis, na PUC-RJ. No início, a intenção era abrigar projetos de tecnologia, tal como faz a maioria das empresas do gênero. Entretanto, um núcleo de entretenimento começou a tomar forma por conta própria, desencadeando a formação de uma incubadora cultural.

O primeiro processo seletivo ocorreu em 2001 e um ano mais tarde já havia quatro empresas incubadas. Hoje, são 70. Um dos grandes desafios do projeto foi mudar a mentalidade de todos os envolvidos, tanto daqueles que queriam incubar empresas, quanto dos próprios gestores da incubadora. Acostumados a lidar basicamente com empreendedores do ramo da tecnologia, era necessário um grande passo para compreender as demandas de artistas e animadores culturais.

Naquele momento, uma das certezas dos idealizadores do projeto era a necessidade de capacitação por parte daqueles que seriam os atores do processo. Muitos dos artistas que procuravam a Gênesis não tinham curso superior e precisavam aprender todo o “bê-á-bá” ensinado a qualquer empresa incubada que queira atingir seus objetivos. 

De acordo com a gerente de desenvolvimento, Júlia Zardo, foram elencados 14 setores para a incubadora cultural, que compreendiam desde o design até a educação. Hoje, são feitas duas seleções por ano, e o perfil daqueles que procuram a Gênesis é basicamente um: o do artista que quer se organizar 

e fazer da sua criatividade e do seu produto cultural uma fonte confiável de renda. 

Antes de desenvolverem o plano de negócios que a incubadora solicita no processo de seleção, todos os interessados passam por um curso de capacitação. Isso porque muitos deles não sabem como se desenvolve um projeto e precisam aprender tudo, desde o primeiro passo. Segundo Júlia, cerca de 30 pessoas freqüentam o curso. Dessas, uma média de 15 concluem a oficina e seis entregam o plano de negócios. No fim do processo, de três a quatro empresas acabam sendo incubadas.

Os critérios de seleção são, além do potencial de inovação, a perspectiva de auto-sustentabilidade do negócio. Para Júlia, não existe muita distinção em relação ao que se leva em conta em incubadoras da área tecnológica, por exemplo, embora os fins sejam diferentes. “A principal diferença é que esses negócios são trazidos para a legalidade e se organizam. O crescimento é mais lento do que o de uma empresa de tecnologia, mas o objetivo não é esse“, explica.

De acordo com ela, o mais importante para os animadores culturais e artistas que se transformam em empresários é a mudança de mentalidade. Isso porque como muitos estão presos às leis de incentivo, acabam pensando, a curto prazo, em como conseguir verbas para um projeto específico apenas. “As leis de incentivo são boas, mas os gestores culturais ficaram viciados nelas. A partir do momento que eles mudam de mentalidade, passam a pensar em uma organização mais sustentável. Passam a pensar, por exemplo, na editora, e não no livro“, comenta.

De músicos a designers de jóias, empreendedores que passam pela Incubadora Cultural se capacitam e organizam seus negócios. 

Respirando criatividade: como nasce uma incubadora cultural

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lhões. Tudo isso implica em uma partici-pação de 3,5% no PIB anual de Belém.

A romaria de Juazeiro do Norte, no Ce-ará, é mais um exemplo de como a fé e a cultura podem fortalecer a economia de uma região. O mote da romaria é a crença no Padre Cícero Romão Batista, o chama-do “Padim” ou “Santo do Nordeste”. Ape-sar de não ser reconhecido como santida-de pela Igreja Católica, Padre Cícero atrai para Juazeiro milhares de fiéis que crêem nos seus milagres e feitos poderosos.

Um estudo desenvolvido pelo professor da Universidade Federal do Ceará Jair do Amaral Filho revelou que a romaria gera cerca de 250 empregos, em empreendi-mentos que vão de lanchonetes a lojas de redes de dormir. Segundo o pesquisador, a figura idolatrada pelos nordestinos é responsável por uma espécie de milagre econômico na região. “Os estímulos que mobilizam essas atividades não têm o pre-

ço como principal pano de fundo, mas sim a crença e a fé”, afirma Filho.

Os romeiros, que passam de três a qua-tro dias na cidade de Juazeiro, são res-ponsáveis pelo consumo de serviços e produtos oferecidos formal ou informal-mente, como transporte, alimentação e hospedagem. Além disso, há a tradicional compra de “lembrancinhas” característi-cas do evento, produzidas por artesãos da região de Juazeiro.

Culturas diversas

Assim como o conceito de cultura, o campo de atuação das empresas que apos-tam na economia criativa é bastante am-plo: desde um artesão que se profissiona-liza para ganhar mais durante o Carnaval, até um designer que se encanta pelas pos-sibilidades do bambu, passando pelo mú-

Círio de Nazaré: R$ 2,1 bilhões em renda, 295 mil empregoss e R$ 6,5 milhões em tributos.

JOÃO PARA

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Empresa  incubada produzir’á  

instrumentos musicais a partir de bambu.

O Produto Interno Bruto (PIB) representa a soma de todos os bens e serviços de uma determinada região. Acompanhado do termo “cultural”, o indicador é utilizado para mensurar quanto a indústria da cultura produz anualmente, desde as áreas informais e artesanais, até empresas incubadas ou já estabelecidas no mercado. 

Segundo pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por solicitação do Ministério da Cultura (MinC), o setor cultural tem 290 mil empresas espalhadas pelo Brasil e paga, em média, R$ 17,8 bilhões em salários por ano. 

O PIB cultural brasileiro está sendo estudado pelo IBGE, mas ainda não foi divulgado. O MinC, entretanto, trabalha com um valor correspondente entre 4% e 5% do total do PIB nacional. Em 2003, um levantamento feito pelo Banco Mundial (BIRD) apontou que o índice mundial chega aos 7%.

O IBGE está trabalhando para elaborar o indicador e elucidar de vez a questão. A previsão é de que o PIB cultural brasileiro seja divulgado ainda em 2008.

PIB cultural

sico e pelo cineasta que quer se livrar das amarras dos projetos de financiamento.

Pode uma empresa que tem o bambu como matéria-prima ser incluída na esfera da economia criativa? Se depender dos proprietários, sim. A Agência Bambu de Conhecimento, residente na Incubadora Cultural da Pontifícia Universidade Cató-lica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) , aposta na ampliação do espaço do bambu na cultura brasileira.(veja box na pagina anterior)

Segundo um dos sócios do empreendi-mento, Raphael Moras de Vasconcellos, o interesse em trabalhar com a matéria-prima surgiu ainda durante a faculdade de desenho industrial, a partir de uma es-cola criada por dois professores. Depois disso, ele decidiu que gostaria de aliar o interesse pelo bambu à criação de peças decorativas. Além disso, focou sua aten-ção na necessidade de difundir a infor-mação sobre o material e na criação de um grupo sobre o tema.

Apesar de desconhecer o conceito de economia criativa, Nascimento aposta na elaboração de produtos culturais e na criatividade do seu negócio para obter lu-cro. A agência elabora, entre outras coi-sas, projetos de mídias com informação sobre o bambu (livros, apostilas, docu-mentários). “Também planejamos produ-zir música com instrumentos de bambu, uma forma direta de chamar a atenção da sociedade para esse material“, adianta.

A empresa “Nós do Cinema”, mais tar-

de reconhecida como “Cinema Nosso”, também está impregnada com o conceito de economia criativa. Graduada no Insti-tuto Gênesis, a empresa foi criada quando 200 jovens de comunidades pobres cario-cas passaram a integrar o elenco do já consagrado “Cidade de Deus”. Após se-rem preparados pelos cineastas Kátia Lund e Fernando Meirelles, para operar câmera e atuar, esses jovens desenvolve-ram um projeto para disseminar o que haviam aprendido.

Assim nasceu o projeto “Nós no Cine-ma”, depois transformado na empresa “Ci-nema Nosso”, que hoje fatura em torno de R$ 1 milhão. “Muitas vezes as empresas ou os profissionais vêm até nós para ter um faturamento estável, não necessariamente para crescer“, aponta a gerente de desen-volvimento da incubadora, Júlia Zardo.

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aluna do terceiro ano de Adminis-tração da Universidade Federal de

Sergipe (UFSE) Amanda Marques está prestes a se tornar dona de uma agência que presta serviços de publicidade, comu-nicação e assessoria de imprensa. Com apenas 20 anos de idade, ela se acha pre-parada para administrar a Verscom, que residirá no Centro Incubador de Empre-sas de Sergipe (CISE). A empreendedora atribui a segurança à experiência adquiri-da durante os dois anos em que integrou a Empresa Junior de Administração da UFSE. “Na empresa júnior você obtém uma visão gerencial e utiliza ferramentas do seu curso para propor soluções aos clientes. Essa experiência me deu uma ba-gagem bem maior”, afirma.

Amanda é somente uma entre os milha-res de estudantes universitários e empre-endedores que trabalharam nas empresas juniores espalhadas pelas universidades brasileiras. O número só não é maior por-que os candidatos a uma vaga nas chama-das EJs enfrentam um concorrido proces-

Eles querem botar a mão na massaAproximação com o mercado, trabalho em equipe e estímulo ao empreendedorismo atraem estudantes universitários para as empresas juniores

diogo d’ÁVila so seletivo – de quebra, o aluno vive a difícil experiência de disputar um empre-go. Na Consulte Jr., da Universidade Esta-dual de Feira de Santana (UEFS), por exemplo, a escolha dos novos integrantes se dá em três etapas: entrevista, dinâmica de grupo e um teste psicotécnico.

Aos que desejam ingressar na mais an-tiga empresa júnior do país, a EJFGV, da Fundação Getulio Vargas, não basta ser aprovado no processo seletivo. Para fazer parte da equipe fixa da EJFGV, os estu-dantes aprovados na primeira etapa preci-sam participar de um trainee. “Após seis meses de curso o candidato passa por uma avaliação de desempenho. Se for aprovado, torna-se membro efetivo e começa a coor-denar projetos”, diz o presidente da EJFGV, Filipe Stremlow, de 19 anos, que cursa o quarto semestre de Administração.

Criada em 1988, a EJFGV foi a primeira empresa júnior da América Latina. Em 20 anos de história, realizou mais de 400 projetos de consultoria, executados por alunos de graduação dos cursos de Admi-

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Equipe da ITA Jr.: todos os anos eles participam do Encontro 

Nacional de Empresas Juniores (abaixo), que reúne

cerca de 800 estudantes.

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prática. Dessa forma, ele tem a consciên-cia da importância daquilo que ele apren-de nas aulas”, destaca.

A relação entre estudantes e professores nas empresas juniores varia conforme a universidade. Na EJFGV, os alunos procu-ram os docentes apenas quando há alguma dúvida em relação ao projeto, diferente-mente da ITA Jr., que conta com um pro-fessor especializado em cada área para ins-truir os estudantes e assinar os contratos.

Por serem instituições sem fins lucrati-vos, as empresas juniores não pagam salá-rios aos alunos, exigindo trabalho voluntá-rio – o faturamento da empresa cobre apenas despesas operacionais, como telefo-ne e viagens. “Não somos remunerados, mas recebemos uma pequena porcentagem do valor dos projetos como forma de estí-mulo. O objetivo primordial da EJ é a capa-citação do estudante”, enfatiza o presidente da Consulte Jr., Wiliam Jordão, de 22 anos.

Apesar de algumas empresas juniores terem clientes de grande porte em seu portfolio, a maior parte dos interessados no trabalho desenvolvido pelos estudan-tes é formada por micro e pequenos em-presários que não têm condições financei-ras de contratar uma consultoria. “É bom para os dois lados, pois os alunos geren-ciam todas as etapas do processo e o clien-te recebe um trabalho de qualidade, por um custo abaixo do de mercado”, avalia o professor da ITA Jr. Cláudio Jorge Alves. Entretanto, ele ressalta que o sucesso da consultoria depende da pressa do freguês. Quando se busca uma solução rápida, a contratação de uma empresa júnior não é a mais indicada. Afinal, os alunos tam-bém têm que se dedicar aos estudos.

nistração, Economia e Direito da FGV-Eaesp A iniciativa se espalhou rapida-mente pelo Brasil e as empresas juniores passaram a adotar estrutura semelhante à das grandes corporações. Há a presidên-cia e as diretorias, que geralmente são di-vididas em administrativa, recursos hu-manos, marketing e projetos.

Desde 2003, as EJs também contam com uma entidade representativa: a Con-federação Brasileira de Empresas Junio-res, chamada Brasil Júnior. “Para consoli-dar o movimento era necessário que houvesse um órgão capaz de unir as fede-rações estaduais de empresas juniores”, afirma o presidente da entidade, Rafael Martines. Atualmente, a Brasil Júnior conta com nove federações afiliadas. Dentre as ações promovidas pela entida-de está a implantação do sistema de indi-cadores que compara o desempenho das empresas juniores no país, além da orga-nização do Encontro Nacional de Empre-sas Juniores – evento anual que reúne cerca de 800 estudantes a cada edição.

Vantagens

Independentemente da universidade, o que atrai tantos alunos às empresas ju-niores é a oportunidade de aprender na prática. “Na EJ eu tenho a possibilidade de desenvolver habilidades que não são estimuladas dentro da sala de aula. É pre-ciso ter espírito empreendedor para pen-sar em novos projetos e fazer com que a empresa dê certo”, afirma o presidente da Empresa Júnior do Instituto Tecnológico Aeronáutico (ITA Jr.), Gustavo Bomfim, de 22 anos, estudante de Engenharia Ae-ronáutica.

Para o professor do ITA e orientador de alguns projetos da ITA Jr., Cláudio Jorge Alves, essa experiência torna-se essencial porque representa o primeiro contato do aluno com uma atividade de consultoria. “Eu percebo a motivação do estudante em ver o professor resolver um problema na

A primeira empresa júnior surgiu na França em 1967. Os estudantes da L’Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales fundaram a JR Essec, com o objetivo de levar para a prática todos os conhecimentos adquiridos em sala de aula. A JR Essec oferecia serviços nas áreas de marketing e finanças.

Idéia francesa

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isibilidade. Para nove empresas in-cubadas, esse foi o principal resul-

tado do Programa Empreender é Show – A Aventura de uma Geração Inovadora 2007. Durante seis meses os participan-tes tiveram oportunidade de divulgar seus serviços e o simples fato de integra-rem o Programa já serviu para o fortale-cimento de marcas e a ampliação da rede de negócios.

Tornar a empresa mais conhecida era o objetivo da maioria dos empreendedores selecionados, entre mais de 50 inscritos, para participar da competição. “Entramos para aparecer na mídia e não apenas pelo prêmio”, relembra Bernardo Carvalho, di-retor de produção da B2ML, incubada na Incubadora de Base Tecnológica de Itaju-bá (Incit/MG) e vencedora da competição. Além dos mineiros, os catarinenses da Consulti, empresa incubada no Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul (Midisul) e segunda colocada no jogo, ganharam uma viagem internacio-nal de prospecção de negócios e anúncios gratuitos na revista Locus.

Para os empreendedores, a recompensa foi muito além da viagem. “Tivemos um boom de acesso no nosso site, principal-mente no espaço para votações”, explica Carvalho. Segundo ele, as visitas ao site aumentaram 40% durante o período de competição. “Fomos vistos por concor-rentes e empresas que pediram mais in-formações. Até o número de currículos que recebemos aumentou, chegando a 20 por semana”, comenta Márcio Figueiredo, sócio da Consulti.

Uma nova geração de empreendedoresParticipantes do reality experience provam que persistência e superação são características de empreendimentos bem-sucedidos

tat yana azeVedo A divulgação do Programa mudou a ro-tina das empresas participantes. A BCS Tecnologia, de Campinas (SP), foi capa do caderno de negócios de um jornal de cir-culação nacional e ganhou destaque em três edições do jornal da Universidade de Campinas, onde fica sua incubadora, a In-camp. “Em alguns lugares eu chegava e me perguntavam: você é a Christiane da BCS? Como está a participação no jogo?”, lembra Christiane Ulbrich, sócia da em-presa, que foi chamada para expor sua ex-periência como um case de sucesso no Ibmec São Paulo.

Os empreendedores da Biologicus tam-bém não têm do que reclamar. Durante sua participação no programa, a impren-sa de Pernambuco não deu folga e o de-sempenho da empresa foi matéria até da primeira página do Diário Oficial do es-tado. “Nossa participação começou a chamar a atenção de muita gente. A visi-bilidade alcançada superou nossas ex-pectativas”, comenta Djalma Marques, sócio da Biologicus.

Resultados concretos

A participação no Programa ajudou a BCS a conseguir patrocínio da Incamp para que dois de seus sócios visitem a Fei-ra Mundial de Medicina, em Düsseldorf, na Alemanha. “Competimos porque que-ríamos essa viagem. Sabíamos que vencer seria uma tarefa muito difícil, mas nossa meta era chegar à final”. O bom desempe-nho no Empreender é Show foi essencial

Empreendedores da Biologicus: participação no Programa tornou a empresa mais conhecida, gerando bons negócios.

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para conseguir a ajuda da incubadora.A exposição na mídia também ajudou a

Biologicus a fechar diversos negócios, que mudaram o rumo da empresa. “Até o Em-preender é Show, a empresa precisava de investimento. Agora ela dá lucro”, afirma Marques. Enquanto participava do Pro-grama, a Biologicus firmou parceria com a empresa Pharma Pele para lançar um novo produto na Feira Internacional de Cosméticos, na Itália. Além disso, conve-niou-se ao Laboratório de Imunopatolo-gia Keizo Asami, da Universidade Federal de Pernambuco; ao Centro Nacional de Pesquisa (Cenapesq), na Universidade Fe-deral Rural de Pernambuco, e formou uma equipe multiinstitucional de pesqui-sa, composta por seis doutores e três mes-tres – o Grupo Biologicus. Para completar a satisfação dos empreendedores, a parti-cipante do Empreender é Show foi a única

microempresa do Nordeste aprovada no Edital de Subvenção Econômica da Finep. Isso significa que, se passar por todas as etapas do processo, receberá cerca de R$ 1,5 milhão para investimento.

Para alcançar resultados tão positivos, os participantes tiveram que se desdobrar. “Era difícil manter a vida da empresa e, ao mesmo tempo, fazer outras atividades. O jeito foi dormir menos”, conta Bruno Guin-go, sócio da Kognitus.

Trabalho em equipe

Na B2ML, os funcionários se organiza-ram para dividir responsabilidades e tare-fas relacionadas ao Programa. Para quem estava sozinho, como Fernando Campos, da Nutribox, a saída foi gerenciar a agenda. “Parava 30 minutos todos os dias, me con-

Formada por jovens profissionais e estudantes universitários, a B2ML, residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (MG), atua desde 2005 na área de Tecnologia da Informação para gestão empresarial e internet. No início, os cinco sócios produziam softwares para empresas de acordo com as necessidades de cada cliente. Após perceberem que perdiam muito tempo e obtinham pouco lucro, os empreendedores resolveram inverter o sistema, criando linhas de software para que cada empresa faça a sua customização. A decisão se mostrou acertada. Hoje, a B2ML tem 22 funcionários e espera dar um salto no faturamento em 2008.  

Para crescer, aposta no b2mlportal, sistema lançado em julho de 2007, que produz e atualiza sites empresariais de forma rápida e fácil. Outros dois produtos estão em fase de acabamento: o b2mlvarejo e o Empreenda! O primeiro é uma ferramenta para o gerenciamento completo de empresas e o segundo é um software para elaboração e gestão de planos de negócios, desenvolvido em parceria com a empresa iOpen, de Juiz de Fora (MG). 

Sócios da B2ML: decisões acertadas na competição e no 

mundo dos negócios.

A vencedora

DIVULG

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centrava e me dedicava ao Programa. To-dos temos tempo, só precisamos saber ge-renciá-lo”, destaca.

Para os organizadores do Empreender é Show, o comprometimento das empresas em fazer a experiência dar certo foi fun-damental para o sucesso. “No início tí-nhamos pouco pessoal para tocar o jogo, a infra-estrutura era pequena e o projeto era experimental”, afirma Márcio Caeta-no, coordenador da competição e da área de comunicação e marketing da Anprotec. Segundo ele, o apoio das incubadoras aos participantes colaborou muito para a competição. “Pedimos que cada empresa escolhesse um padrinho para ajudar com incentivo, orientações e, sempre que pre-ciso, arregaçar as mangas para ajudar os afilhados”, explica Caetano. A gerente da Incit, Geanete Batista, desempenhou com

afinco o papel da madrinha da B2ML. “Geanete foi madrinha mesmo, de peito aberto. Na terceira missão, ela foi atrás dos amigos para vender nossas camisetas”, elogia Carvalho.

O desafio da Anprotec foi dividido em cinco missões distintas. Os concorrentes conheciam suas tarefas por meio de ví-deos explicativos, produzidos pela em-presa Brasil Oikos, principal parceira da Anprotec na execução do programa. Especializada na produção de conteú-dos interativos, a equipe da Brasil Oi-kos foi responsável por elaborar e colo-car os vídeos da competição na internet. O site do Empreender é Show foi o pon-to de encontro dos competidores, que participavam de chats para tirar dúvidas e acompanhavam a votação do público de forma virtual.

Assim como a vencedora do Empreender é Show, a Consulti desenvolve softwares para gestão empresarial. Fundada em 2000, entrou na incubadora do Micro Distrito Industrial de Base Tecnológica do Sul (Midisul), em Criciúma (SC), apenas três anos depois. Na época, o crescimento dos negócios mostrava que logo seria preciso ampliar o número funcionários, que eram apenas dois. Atualmente, 11 pessoas trabalham na empresa, 

que tem como principal produto o Sistema de Gestão Empresarial (ERP) Consulti, concebido em banco de dados Oracle.  Nesse sistema, os módulos Administrativo, Comercial, Financeiro, Engenharia e Controladoria permitem acesso imediato às informações de diversos setores de uma organização. Até novembro de 2007, a Consulti faturou R$ 800 mil e a perspectiva é crescer entre 40% e 50% em 2008, gerando mais empregos. Para isso, a empresa conta com uma nova sede, inaugurada no final do ano passado.  

A vice-campeã

Equipe Consulti: destaque no Programa ampliou expectativas de crescimento da empresa.

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A primeira tarefa foi a inserção de con-teúdo nas páginas do site do Empreender é Show disponibilizadas para cada empre-sa. Na Missão 2, o objetivo era desenvol-ver um Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Comercial (EVTE) sobre seus produtos. A campeã foi a Biologicus, que na primeira missão tinha ficado atrás de seis concorrentes. “No início não sabí-amos exatamente o que era o jogo. Foi a partir da segunda etapa que começamos para valer”, revela Marques.

Competição acirrada

O divisor de águas para todas as empre-sas foi a Missão 3 – Mãos à Obra. “Querí-amos que elas fizessem a missão fora de suas áreas de atuação. E nenhuma nunca tinha vendido camisetas na vida”, explica Caetano. Mesmo assim, os participantes toparam o desafio de comprar R$ 200 em camisetas e transformá-las em mais di-nheiro. O investimento de R$ 1,6 mil ren-deu quase 10 vezes mais na mão dos em-preendedores. Mais da metade desse valor foi arrecadada por apenas duas empresas, a Biologicus – que garantiu R$ 5,4 mil com patrocínio de incubadoras no Nor-deste – e a B2ML, que faturou R$ 4,3 mil com a venda das camisetas. Conforme de-terminava a missão, todo o recurso arre-cadado pelas participantes foi destinado às incubadoras, que ganharam móveis, equipamentos e livros. “Depois dessa mis-são, vimos quem são nossos empreende-dores: inovadores e com capacidade de superação”, afirma Caetano.

Para o empreendedor Márcio Figueire-

do, da Consulti, a tarefa seguinte foi bem mais simples: conseguir crédito no Banco do Brasil. “Trabalho com bancos há muito tempo e já sabia como fazer”, afirma. A experiência garantiu à Consulti a vitória na Missão 4 e o passaporte para a grande final, ao lado de B2ML, Biologicus e BCS. A última missão ocorreu em Belo Hori-zonte durante o 17º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, em setembro do ano passado. A prova dos finalistas era administrar uma empresa de cosméticos, utilizando o software do Desafio Sebrae 2007.

A pontuação obtida nas outras missões foi zerada, o que gerou descontentamento por parte de alguns participantes. “Para mim foi uma falha, pois dessa forma o jogo final decide tudo”, diz Marques, da Biologi-cus. Apesar das reclamações, o sistema de pontuação não interferiu no resultado fi-nal, pois a empresa vencedora liderou o ranking desde o início da competição.

Agora, representantes da B2ML e da Consulti se preparam para a viagem inter-nacional. Diferentemente dos mineiros, que não tinham planos de expansão inter-nacional, os catarinenses já programavam conquistar o mercado externo. “Estamos traduzindo nosso sistema para inglês e es-panhol e começando a estudar a legisla-ção de outros países”, explica Figueiredo. De acordo com a Anprotec, o destino dos vencedores ainda não está definido, mas provavelmente os representantes das em-presas visitarão parceiros do Mercosul, Portugal, Espanha ou Estados Unidos. Como as duas empresas atuam na área de Tecnologia da Informação, vai ser fácil conciliar interesses.

A edição 2008 do Empreender é Show terá algumas mudanças em relação à primeira. A mais provável será a alteração do público-alvo, que deve ser formado por  empresas pré-incubadas. Para isso, a Anprotec está fazendo um levantamento de quantas existem no país. Há também a possibilidade de parceria,  desde o início do jogo, com Sebrae e Banco do Brasil. Em 2007, essaa parceria só ocorreu durante a realização das missões.  

O edital para a edição de 2008 deve ser lançado até o mês de março. Preparem-se! 

Novas aventuras

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Pesquisa avalia aprendizado nos países responsáveis por 95% da economia mundial. Reprovado em todos os exames, Brasil está fora da turma do desenvolvimento

Luc as amorim

Os líderes do futuroDesempenho dos estudantes representa um indicativo de investimentos em pesquisa e capacidade de inovação.

esquisas mundiais nas áreas de edu-cação e qualidade de vida divulgadas

no último bimestre de 2007 revelam que o Brasil caminha a passos lentos para in-gressar no clube dos países considerados desenvolvidos. Dados do Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA) e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) demonstram que os brasi-leiros têm mais acesso à sala de aula, mas a qualidade da educação ainda está longe até da conquistada por vizinhos próxi-mos, como o Chile.

O mais importante exame mundial na área de educação, o PISA, revelou que os alunos brasileiros com 15 anos de idade melhoraram seu desempenho em relação à avaliação de 2003, mas ainda não passa-ram do nível 1 de aprendizagem, o pior de uma escala que vai até 6. Realizado pela Organização para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE), o exame

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avaliou 400 mil alunos de 57 países nas áreas de ciências, matemática e leitura.

Em ciências, disciplina que foi o foco da pesquisa em 2006, o Brasil ficou em 51º lugar, à frente apenas de Quirguistão, Catar, Azerbaijão, Tunísia e Indonésia. Somente 0,5% dos estudantes brasileiros atingiram o nível 5. No Chile, o percentu-al foi de 1,8%, enquanto na campeã Fin-lândia chegou a 17%. Para a OCDE, isso significa que 61% dos estudantes brasilei-ros têm conhecimento científico “tão li-mitado que pode ser aplicado apenas a situações óbvias e familiares”.

Barreira à inovação

O diretor da divisão de indicadores e análise em educação da OCDE, Andreas Schleicher, afirma que há uma relação di-reta entre a proporção de alunos que tira-ram pelo menos nota 5 em ciências no PISA e o número de pesquisadores em ati-vidade nos países. Para ele, a obtenção de boas notas no exame representa um indi-cativo da intensidade do investimento em pesquisa no país. O Japão, por exemplo, onde 15% dos alunos tiraram mais que 5 no exame, investe 3,4% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desen-volvimento. No Brasil, esse índice não passa de 1%.

Ao apresentar os dados do PISA, no fi-nal do ano passado, o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, garantiu que os re-sultados do exame demonstram que a ca-pacidade de um país competir com suces-so em um mundo globalizado depende de sua habilidade para inovar. “Para superar os desafios futuros, os governos deverão dar suporte à pesquisa científica e capaci-dade a todos os cidadãos para que usem a ciência em seu cotidiano”, afirmou.

Segundo o assessor especial do Progra-ma das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), Flávio Comim, como o ensino público é a base de toda a educa-ção no Brasil, não deve causar surpresa o

Ciências Clas. País Média

1 FINLÂNDIA 563,32 2 HONG KONG 542,21 3 CANADÁ 534,47 4 CHINA (TAIWAN) 532,47 5 ESTÔNIA 531,39 6 JAPÃO 531,39

52 BRASIL 390,33 53 COLÔMBIA 388,04 54 TUNÍSIA 385,51 55 AZERBAIJÃO 382,33 56 CATAR 349,31 57 QUIRGUISTÃO 322,03

Matemática Clas. País Média

1 CHINA (TAIWAN) 549,36 2 FINLÂNDIA 548,36 3 HONG KONG 547,46 4 CORÉIA 547,46 5 HOLANDA 530,65 6 SUÍÇA 529,66 52 ARGENTINA 381,25 53 COLÔMBIA 369,98 54 BRASIL 369,52 55 TUNÍSIA 365,48 56 CATAR 317,96 57 QUIRGUISTÃO 310,58

Leitura Clas. País Média

1 CORÉIA 556,02 2 FINLÂNDIA 546,87 3 HONG KONG 536,07 4 CANADÁ 527,01 5 NOVA ZELÂNDIA 521,03 6 IRLANDA 517,31 49 BRASIL 392,89 50 MONTENEGRO 391,98 51 COLÔMBIA 385,31 52 TUNÍSIA 380,34 53 ARGENTINA 373,72 54 AZERBAIJÃO 352,89 55 CATAR 312,21 56 QUIRGUISTÃO 284,71

FONTE: INEP 

Resultados do PISA 2006

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i N t e r N a C i o N a l

fato de o país ter poucos centros de exce-lência. Para ele, a baixa qualidade na edu-cação pública do país não se dá apenas por falta de recursos. “É preciso pensar em estratégias de longo prazo que qualifi-quem diferentes gerações através de dife-rentes abordagens”, explica.

Angel Gurría, da OCDE, ressalta o fato de países como Finlândia, Coréia e Nova Zelândia, primeiros colocados no PISA, gastarem menos em educação do que Es-tados Unidos e Noruega, países cuja ava-liação ficou abaixo da média da OCDE. “Dinheiro é importante, mas o mais im-portante é como ele é investido. Autono-mia escolar e aumento do tempo dos alu-nos em sala de aula são práticas que não estão necessariamente ligados ao dinhei-ro”, exemplificou.

Melhoria insuficiente

O fraco desempenho dos estudantes brasileiros pode estar relacionado tam-bém à ampliação da taxa de matrículas nas escolas, tão festejada pelo governo. De acordo com a última pesquisa de IDH, divulgada no último mês de novembro pela Organização das Nações Unidas, a taxa de alunos matriculados no ensino fundamental passou de 67%, em 1990, para 87,5% em 2006. “Entre as 36 mais al-tas do mundo”, destacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No mesmo período, porém, a participa-ção das empresas brasileiras no cenário internacional da inovação caiu drastica-mente. Em meados dos anos 1990, o Bra-sil detinha 16,3% das patentes registradas por países em desenvolvimento. Hoje, tem apenas 4,2% – 10 vezes menos do que a Coréia do Sul. Uma explicação para isso pode estar no fato de que o Brasil ainda forma poucos alunos em universidades, apesar do crescimento das matrículas no ensino fundamental. Por ano, o país gra-dua cerca de 20 mil engenheiros, por exemplo. A mesma Coréia do Sul, com

um quarto da população, forma 80 mil. “A ampliação das taxas de matrículas

implicou na incorporação de pessoas que apresentam as piores condições de acesso e permanência na escola, razão pela qual existe uma tendência, se não houver uma intervenção concreta do poder público, de queda no rendimento médio dos alu-nos”, alerta o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e especia-lista em educação Paulo Corbucci.

O baixo desempenho no PISA, exame que avalia “a habilidade dos alunos para utilizar o conhecimento adquirido em si-tuações que serão relevantes em suas vi-das futuras”, está ligado à principal defici-ência do sistema educacional brasileiro, garante o analista do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), Rodrigo Silvestre. “Os alunos brasileiros são preparados para avaliações com con-teúdo predefinido e não para selecionar quais dados são relevantes em um am-biente abundante de informações, como é o mercado atual das tecnologias de infor-mação”, explica. O resultado desse méto-do: país reprovado.

Nos testes, alunos de outros países em 

desenvolvimento se mostraram mais bem preparados que os brasileiros.

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S U C e S S o

m sonho e um desafio surgidos ainda na época da faculdade motivaram

três estudantes do curso de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) a abrir uma empresa e ingressar na incubadora do Parque Tecnológico da cidade, o ParqTec. O sonho dos jovens era se tornarem empreendedores. O desafio: atender uma demanda do setor petroquí-mico. Hoje, Gustavo Simões, Daniel Mi-nozzi e André Araújo são sócios da Na-nox, a grande vencedora do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2007 na catego-ria pequena empresa.

Fundada em 2004, com recursos do CNPq e do Programa de Incentivo à Pe-quena Empresa (PIPE) da Fapesp – cerca de R$ 2 milhões –, a Nanox é hoje uma spin-off do Laboratório Interdisciplinar de Eletroquímica e Cerâmica (LIEC) da Uni-versidade Estadual Paulista (Unesp) e da UFSCar. Os três sócios desenvolviam pes-quisas no Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos da UFSCar quando bateu à porta uma em-presa petroquímica de São Carlos, em bus-ca de um revestimento para altas tempera-turas e corrosão por fogo. Para encontrar

Moléculas inovadorasMais uma vez, empresa do movimento conquista o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, resultado da trajetória de investimentos e aprendizado

andréia seganFredo essa solução foi criada a Nanox, na época denominada Science Solution. A empresa ingressou no ParqTec, onde permaneceu incubada por nove meses e desenvolveu seu primeiro produto: o Nanox Barrier.

O produto desenvolvido é um coating (revestimento) de filme cerâmico ultra-fino nanoestruturado, que pode ser apli-cado em diferentes superfícies para me-lhorar suas propriedades. No caso do Nanox Barrier, a aplicação é recomendada em metais submetidos a altas temperatu-ras e que necessitem manter suas caracte-rísticas originais de condução térmica. No setor petroquímico, por exemplo, a solução é utilizada em fornos de craquea-mento de nafta e etano, aumentando a vida útil dos equipamentos.

Apesar de a empresa ter surgido em função da demanda de um setor específi-co, a versatilidade de uso dos produtos desenvolvidos pela Nanox é o grande trunfo do negócio. “Nossa tecnologia pode ser aplicada em diferentes produtos de diversas formas, desde que avaliada a viabilidade do projeto”, analisa André Araújo, diretor de tecnologia da Nanox. A empresa lançou outros coatings, como o

Desenvolvimento de produtos na 

Nanox: múltiplas aplicações são o 

segredo do negócio.

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S U C e S S o

Nanox Clean, um material transparente de simples aplicação, com propriedades antibactericida e fungicida, que torna os objetos autolimpantes. Seu uso é reco-mendado em lugares que necessitam de limpeza eficiente, como hospitais, e em equipamentos e instrumentos que deman-dam alto grau de esterilização, reduzindo o tempo de permanência em autoclaves e também o custo operacional. Outro coa-ting é capaz de barrar raios infraverme-lhos e pode ser aplicado em vidros, para diminuir o calor de ambientes fechados.

Aprendizado

A sede atual da empresa ocupa um es-paço de 700 metros quadrados, onde os coatings são preparados e testados em ob-jetos produzidos em pequena escala. Quando os clientes são empresas de maior porte, a transferência de tecnologia é feita diretamente na linha de produção indus-trial, por meio da customização de má-quinas. “Cada caso deve ser analisado in-dividualmente, pois exige uma solução específica”, afirma Daniel Minozzi, dire-tor de operações da Nanox. A análise mi-nuciosa de cada demanda foi um dos aprendizados que os sócios tiveram ao longo da trajetória da empresa. “Nosso maior erro no início foi dar ouvidos a em-presas que buscavam uma solução para diversos problemas. A área de P&D é bas-

tante específica e dirigida, pois tenta bus-car soluções para situações e problemas complexos”, pondera Araújo.

Outro desafio enfrentado pela Nanox foi provar que uma empresa jovem seria capaz de honrar compromisso com investidores e clientes. “Foi difícil juntar pessoas talento-sas e romper o paradigma de que pessoas jovens não têm capacidade de organização e desenvolvimento”, avalia Minozzi. Além da desconfiança externa, foram necessá-rios ajustes no próprio empreendimento. “Um dos nossos problemas era o volume de vendas. Entramos no mercado fazendo aquilo que sabíamos e que nem sempre era o que o cliente precisava. Passamos por um processo de adaptação”, afirma Simões.

Mas os ajustes necessários ao cresci-mento da empresa foram rápidos. O reco-nhecimento da Nanox no mercado brasi-leiro ocorreu em 2006, quando foi lançado o secador de cabelos Taiff Titanium, re-vestido com o Nanox Clean. A inovação que garantia a redução de bactérias e fun-gos no jato de ar, diminuindo os riscos de caspa e seborréia capilar, colocaram a em-presa do ParqTec em evidência. No mes-mo ano, a Nanox tornou-se a primeira em-presa brasileira do setor de nanotecnologia a receber investimentos de venture capital, por meio do Fundo Novarum – e para isso teve de ser convertida em sociedade anô-nima, quando trocou o nome de Science Solution para Nanox Tecnologia S/A.

Entre as metas da Nanox para o futuro estão o incremento das vendas no merca-do interno, a inserção no cenário interna-cional e a contínua especialização de seus profissionais. “Esperamos crescer tanto na produção realizada na própria empresa quanto na transferência de tecnologia para linhas de produção dos nossos clien-tes”, afirma Araújo. Nos próximos meses, consultores estrangeiros visitarão a em-presa para realizar um diagnóstico de mercados potenciais no exterior. Se de-pender da boa fama conquistada no Bra-sil, a Nanox deverá pousar em solo es-trangeiro em breve.

Ano de fundação:   2004 Tempo de incubação:   9 mesesNúmero de produtos lançados:   4 Número de patentes:   4 (NANOX®BARRIER,     NANOX®CLEAN,     NANOX®Tecnologias,     NANOX®HIDROCELL)

Número de funcionários:   21Faturamento anual:   R$ 500 mil (2006)Prêmios:   Prêmio Finep de Inovação   Tecnológica 2007, na    categoria pequena empresa 

Raio X

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ara conquistar o exigente mercado de energia elétrica e começar a exportar,

a empresa Electrocell, de São Paulo, inves-te desde 2003 na implantação e certifica-ção pela norma ISO 9000/2000, de gestão da qualidade. Mas, mesmo antes de obter a ISO, muita coisa já mudou na empresa. “Com essa experiência foram implementa-das rotinas no desenvolvimento de proje-tos, na fabricação, nos testes, até a fase fi-nal de entrega e testes do produto no cliente”, afirma Angelo Massatoshi Ebesui, um dos sócios da empresa. A transforma-ção nos negócios vivenciada pela Electro-cell tem se mostrado a face mais importan-te de um processo de certificação.

Em etapa final de certificação pela ISO 9000/2000, a empresa de sete funcionários, graduada em 2005 no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), foi res-ponsável pelo desenvolvimento da primei-ra célula a combustível de hidrogênio com tecnologia 100% nacional. Agora, a Elec-trocell espera que a norma prepare a em-presa para a execução de projetos de alta qualidade, correspondente ao elevado ní-vel tecnológico dos produtos que desen-volve. “Entre os resultados esperados com a certificação está o rastreamento de pro-cessos e produtos e a organização no de-senvolvimento de projetos, fabricação, vendas e compras”, destaca Ebesui.

O conhecimento adquirido e aplicado para atingir a certificação, nas mais diver-sas áreas, pode se tornar um diferencial que um negócio precisa para crescer e se tornar competitivo no mercado. “A certi-ficação é um processo de auto-avaliação das empresas”, define José Fernando Mat-tos, diretor-presidente do Movimento

Muito além do seloInvestir em certificações pode transformar uma empresa em referência de gestão e qualidade. O resultado é o reconhecimento dos clientes e o aumento da competitividade

adriane aliCe Pereira

Brasil Competitivo (MBC). “A empresa precisa estar consciente de que a certifica-ção é uma ferramenta gerencial que en-volve subsídios e indicadores para a ava-liação do negócio”, complementa Antônio Carlos Barros de Oliveira, gerente-geral de certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Auto-avaliação

Segundo especialistas, a certificação deve ser vista pelo empreendedor como uma meta a ser alcançada, ou seja, o re-sultado da eficiência do modelo de gestão implantado na empresa. E essa preocupa-ção já deve estar presente no momento em que o empreendimento passa a ser idealizado. É no plano de negócios que as organizações devem deixar claras as suas normas de qualidade. “Quem começar uma empresa sem definir as premissas de qualidade vai ter que correr atrás disso depois. Porém, quando essa empresa rea-gir, poderá ser tarde demais”, aponta El-ton Brasil, gerente executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).

O importante, segundo Brasil, é enxer-gar o modelo de gestão não como uma etapa, mas como um “guarda-chuva” que ajuda a organizar o negócio, a desenhar e a sustentar a empresa. Por isso, para es-truturar o modelo de gestão, as empresas precisam ter um bom entendimento do mercado e do que elas precisam para se

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Em dezembro de 2003 uma reunião no Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) deu início à criação de uma norma brasileira para atestar a qualidade do software desenvolvido no país – a MPS.BR (Melhoria de Processos do Software Brasileiro). “Constatava-se na época que o Brasil poderia se tornar um grande player no mercado internacional de software, mas para isso precisava que as empresas atuassem em um nível superior de qualidade. Poucas possuíam CMMI e algumas tinham normas ISO”, conta José Antonio Antonioni, diretor de qualidade e competitividade da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex).

A MPS.BR visa promover a melhoria da qualidade da produtividade de soluções e serviços de software de acordo com os padrões de qualidade aceitos internacionalmente, mas a custos acessíveis às empresas nacionais, principalmente as de pequeno e médio portes. A MPS.BR é concebida com base na CMMI, nas normas ISO/IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e na realidade do mercado brasileiro. Seu custo reduzido de certificação em relação às normas internacionais faz com que o programa seja vantajoso para micro, pequenas e médias empresas.

 O sistema de implantação da MPS.BR funciona por meio de grupos cooperados, em que empresas se reúnem para compartilhar os custos de capacitação e certificação. Com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Sebrae e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), os grupos cooperados recebem financiamentos para custear até 50% do processo de implantação.

De acordo com o diretor da Softex, o mercado brasileiro já está bastante sensibilizado da importância da norma e muitas empresas e órgãos públicos estão exigindo a MPS.BR em licitações. “Mesmo que ainda não seja um selo, a MPS.BR representa a melhoria de processos, o cumprimento de prazos, a eficiência no desenvolvimento e uma série de elementos relacionados à produtividade da empresa e ao aumento da lucratividade”, avalia Antonioni.

A primeira empresa avaliada pela MPS.BR foi a In Forma, graduada do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), onde foi também a primeira empresa incubada, de 1995 a 1998. “Em 2005 vínhamos trabalhando para a avaliação CMMI nível 2, que envolve mais áreas de processo que o nível G da MPS.BR. Em setembro daquele ano, fomos avaliados com sucesso neste nível do modelo brasileiro”, explica 

Pedro Cecconello, gerente de qualidade da In Forma.Entre os benefícios alcançados pela In Forma com 

a MPS.BR está a conquista de maior visibilidade. “A vantagem da CMMI é a visibilidade internacional, pois a In Forma é, especialmente, interessada na exportação de software. A MPS.BR é importante no caminho para atingir este objetivo, pois subdivide-se em um número maior de níveis, facilitando o processo de adoção destes modelos em empresas pequenas”, avalia Cecconello. 

De acordo com o gerente, a empresa já era exportadora de tecnologia antes da certificação e o desempenho de vendas no mercado externo foi um dos motivadores para o esforço. “De fato, não apenas o ‘carimbo’ da avaliação MPS.BR como a própria existência dos processos somaram argumentação na venda de serviços no mercado externo. Do ponto de vista da venda de software-produto no mercado brasileiro, a certificação não foi tão importante, mas colaborou para dar credibilidade à nossa pequena empresa nas apresentações a clientes muito grandes”, destaca. “Também foi relevante o ganho de qualidade do produto final porque fideliza os clientes e também porque reduz custos significativos de retrabalho e tratamento de emergências”, completa Cecconello. Atualmente, a In Forma atende clientes nos EUA, Canadá e Chile.

Com 35 funcionários, a In Forma oferece ao mercado produtos e serviços como software para gerenciamento integrado de manutenção e operação de equipamentos em plantas complexas, como energia e telecomunicações. A empresa também funciona como uma fábrica de software especializada em gestão de ativos físicos, particularmente para exportação. A In Forma desenvolve ainda projetos de pesquisa e desenvolvimento com integração de conhecimento para inovação multidisciplinar.

Avaliações da MPS.BR Desde 2005, 60 empresas foram avaliadas no país, nas seguintes regiões:

Centro-oeste – 12 empresas

Nordeste – 10 empresas

Sudeste – 33 empresas

Sul – 5 empresas

Software de qualidade

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tornarem competitivas. “A empresa preci-sa saber aonde quer chegar, em que mer-cado quer atuar, qual o perfil do cliente e quais as metas para curto, médio e longo prazos”, explica.

Começar cedo essa auto-avaliação apre-senta uma série de vantagens. “A empresa precisa pensar no seu modelo de gestão ainda no início da organização para, no futuro, destinar mais tempo a outras pre-ocupações”, avalia o diretor-presidente do MBC, José Mattos. “O sistema de gestão estruturado melhora a comunicação e os processos internos, o que evita retraba-lho, erro e sucateamento. Esses são fatores fundamentais para as empresas que que-rem sobreviver em um mundo cada vez mais competitivo”, ressalta Antônio Oli-veira, da ABNT.

Para empresas bem gerenciadas, a certi-ficação se torna uma conseqüência. Em uma pesquisa realizada pela ABNT em 2005, sobre a credibilidade da ISO 9000, a melhoria da organização interna foi apon-tada como a principal vantagem do pro-cesso de certificação. Em seguida, aparece a melhoria da competitividade e a melho-ria do controle de processo. “O sistema de gestão é um referencial não apenas para os clientes sobre a preocupação e respon-sabilidade da empresa com a qualidade, mas também para a própria organização. É muito mais fácil evoluir quando se tem um total controle dos processos”, destaca Oliveira.

A mesma pesquisa revelou outro dado importante: atualmente, a maioria das em-presas que buscam certificação é micro e pequena. No caso da norma ISO 9000, até 2005, 49% das empresas certificadas per-tenciam a esse segmento. Para José Mattos, do MBC, essa procura é resultado de uma tendência que começa nas grandes empre-sas. “As grandes organizações estão exigin-do um melhor desempenho de seus forne-cedores, que por sua vez cobram o mesmo de seus próprios fornecedores. Isso gera uma cadeia de resultados que atinge pe-quenas e microempresas”, explica.

Bons motivos

De acordo com o estudo da ABNT, 32% das empresas investiram em sistemas de qualidade e certificação por exigência dos seus clientes. “O que leva as empresas a procurarem a certificação é o reconheci-mento que o público-alvo tem por quem zela pela qualidade”, destaca o gerente da Associação. Os dados da pesquisa da ABNT também deixam claro que não são apenas as grandes empresas que podem investir em qualidade e certificação. Por ter uma estrutura menos engessada a pe-quena empresa pode, inclusive, obter re-sultados melhores. “Em uma pequena em-presa a conscientização sobre a importância da gestão é mais rápida e fá-cil, assim como são maiores as chances de sucesso”, afirma Oliveira.

Apesar de oferecer um ambiente mais favorável à disseminação dos conceitos de qualidade, as pequenas empresas não dei-xam de enfrentar dificuldades nesse pon-to. Assim como empresas de outros por-tes, a mudança da cultura organizacional foi apontada na pesquisa da ABNT como a maior dificuldade para alcançar a certi-

Brasil, da FNQ: empresas precisam entender o mercado para estruturar modelo de gestão.

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ficação, segundo 25% das entrevistadas. Logo atrás está a resistência dos funcio-nários, com 21%, e a capacitação da equi-pe, com 13%. Esses foram os principais obstáculos enfrentados pela Soltin, em-presa de desenvolvimento de software por demanda, incubada do Centro de In-cubação e Desenvolvimento Empresarial (CIDE), de Manaus.

A empresa está em processo de certifica-ção da MPS.BR, norma brasileira de quali-dade de software. “Implantar modelos de qualidade não é tão simples quanto se ima-gina. Alguns conceitos ainda geram gran-des debates na nossa área técnica. Além disso, aperfeiçoar a qualidade eleva muito os custos internos e a empresa precisa ter um bom capital de giro para suprir essa necessidade”, revela Paulio Wagner Palheta

Viana, sócio-fundador da empresa.Para micro e pequenas empresas, inves-

tir em qualidade é também uma impor-tante oportunidade de diferenciação e competitividade. “O modelo de gestão ajuda a empresa a saber se ela tem ou não o diferencial que ela diz ter”, acredita El-ton Brasil, da FNQ. Para 81% das empre-sas ouvidas na pesquisa da ABNT, a com-petitividade e o desempenho da empresa melhoraram com o processo de implanta-ção da certificação.

Esse resultado se deve ao reconhecimen-to que o mercado tem de empresas com qualidade de gestão. “O Brasil está num processo de amadurecimento do ponto de vista da qualidade. Acontecimentos como o código de defesa do consumidor, as cer-tificações, a abertura da economia e o au-mento do nível de informação do consu-midor contribuem para isso”, completa Mattos, do MBC.

Apesar das dificuldades, o empreende-dor acredita que o processo de certificação melhora o desempenho da empresa. “Sem dúvida nenhuma a visibilidade da empresa aumenta e, com isso, a responsabilidade de melhorar constantemente seus processos e produtos”, avalia Viana. A Soltin também quer chamar a atenção do mercado inter-nacional. “Nosso objetivo primeiramente é obter a capacidade de produzir software com mais qualidade, e em segundo lugar é o reconhecimento do mercado nacional e internacional”, diz Viana.

Segundo a pesquisa da ABNT, ao inves-tir em certificação, a empresa incubada no CIDE está no caminho certo para conquis-tar os consumidores estrangeiros. Das em-presas certificadas que já exportavam, 48,3% registraram incremento nas vendas a outros países. Dessas, 64,3% creditaram os bons resultados à certificação. Conquis-tar o mercado externo é meta da maioria das empresas que investem em qualidade e certificação, já que as normas são padrões internacionais compatíveis para diversas partes do mundo, o que pode eliminar pos-síveis barreiras comerciais.

In Forma Office: certificação ajudou a empresa a conquistar visibilidade. 

ü Identificar as necessidades dos clientes

ü Entender os pré-requisitos do ambiente de negócios – 

códigos, legislação, regras socioambientais

ü Organizar um planejamento estratégico com ações de curto, 

ü médio e longo prazos

ü Priorizar ações

ü Manter uma liderança forte

Para implantar um modelo de gestão

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udo começou em uma viagem de fé-rias, em 1985. Na época, Orídio de

Souza Pinto era designer de móveis em Curitiba (PR) e foi passar uns dias em Porto Seguro (BA). Lá, experimentou uma novidade: água de coco batida com a pol-pa da fruta. O paladar aprovou a bebida, mas a mente criativa do designer não gos-tou do processo de preparo. Isso porque o vendedor precisava furar o coco, extrair a água, partir o coco, retirar a polpa, colo-car tudo em um liquidificador e bater por alguns minutos. “Era muito demorado e trabalhoso”, lembra Pinto.

Alguns anos depois, ele foi morar em Maceió (AL), onde ouviu comentários posi-tivos sobre a bebida, que fazia sucesso, mas continuava sendo preparada da mesma for-ma. Na época, ele produzia máquinas para a indústria moveleira e decidiu criar um equi-pamento que pudesse facilitar a produção da água de coco batida. Porém, unificar to-dos os processos não era uma tarefa fácil. Cinco anos – e muitas noites sem dormir – foram necessários para que a máquina saís-se do papel, ou melhor, da cabeça do inven-tor. Ele conta que a primeira inspiração veio de um documentário sobre Gengis Khan, conquistador e imperador mongol, que ti-nha na forma arredondada da espada um de

A reinvenção do tradicionalEmpreendedor de Alagoas inventa equipamento para inovar a venda de água de coco. E prova que, para fazer negócios, não basta apenas ser criativo

seus maiores trunfos. Essa forma foi copiada por Pinto no

projeto e, aliada a um sistema parecido com o utilizado em cortadores de grama, deu origem ao Cocão, equipamento capaz de bater água e polpa em um único pro-cesso, que leva apenas alguns segundos. “O resultado é uma bebida saborosa e muito mais nutritiva, preparada com ra-pidez e higiene”, afirma o inventor. Após patentear o produto, ele decidiu transfor-mar a inovação em um empreendimento e procurou o Núcleo de Incubação de Ne-gócios Espaço Gente, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

Residente na incubadora desde o ano passado, a Classmaq, empresa que produz o Cocão, encontrou o suporte que preci-sava para crescer. “Por estar dentro da universidade, contamos com a ajuda de diversos professores e pesquisadores, nas mais diversas áreas. Eles nos orientam e fazem com que a gente avalie os caminhos a seguir, diminuindo a chance de erros”, diz o empreendedor. Agora, a Classmaq ainda está definindo o modelo de negócio que adotará para comercializar o Cocão. “Aqui na incubadora recebemos a suges-tão de criar uma franquia, uma idéia que nem cogitávamos antes. Vamos analisar a melhor forma de comercializar o produ-to”, explica Pinto.

Apesar da indefinição quanto ao modelo de vendas, o empreendedor acredita que a invenção tem potencial para conquistar o litoral. “Quero ver o Cocão na beira das praias de todo o Brasil, gerando emprego e renda”, afirma. Segundo ele, pesquisas pre-liminares de mercado indicaram que um quiosque pode empregar de duas a três pessoas e render até R$ 4 mil por mês, de-pendendo do ponto-de-venda.

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Máquinas e quiosques desenvolvidos pela Classmaq já estão nas ruas de Maceió.

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A lição que vem do rock

Em outubro do ano passado, a agência Reuters noticiou e o mundo ecoou: Radiohead, uma das bandas de rock mais influentes do mundo, iria vender seu novo álbum por meio de downloads em seu site. O fã escolheria o quanto iria pagar. A idéia deu certo? Sim, a tal ponto que é difícil mostrar em números o quanto a iniciativa funcionou. No mundo da propaganda e do marketing há alguns eventos que não são medidos sobre o total de faturamento. Não importa qual foi o preço médio pago pelas faixas do álbum (nos Estados Unidos foi de US$ 8,05), tampouco a quantidade de pessoas que não pagaram um tostão (os pães-duros foram 52% do total). O que realmente mostra que a idéia funcionou foi que jornais do mundo inteiro falaram da iniciativa do Radiohead. Parece que deu certo por três motivos: 1. A idéia está ligada a um problema crônico que a indústria fonográfica evita tratar em público: a pirataria de música frente ao preço ainda muito alto dos CDs (CDs? Alguém ainda se lembra o que isso significa?). Ou seja: a banda assumiu que não sabe como resolver a questão, mas não fugiu da tentativa de buscar a solução. 2. O ouvinte só paga quando achar que a música vale seu precioso dinheiro. No mundo contemporâneo, liberdade de escolha é fundamental. O “Compre já” foi substituído pelo “Veja se vale a pena pagar”. 3. E, por fim, ao aliar as idéias de democratização da cultura (tão em voga quanto o desenvolvimento sustentável), a banda mostra que é atual. Hoje em dia qualquer negócio precisa se mostrar engajado. Fica a lição de casa: você já pensou em encarar o problema de seu negócio com uma audácia semelhante? Já tentou se arriscar no caminho nebuloso do futuro?

Cinema sem fim –  A História da Mostra: 30 anos

Autor: Leon Cakoff Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – R$ 60, 00A obra conta a história do maior festival audiovisual da América Latina, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Por trás do sucesso do evento está Leon Cakoff, que penou para fazer da Mostra uma unanimidade. Quem abre o livro é o diretor Walter Salles: “Não são só os 30 anos da Mostra que são narrados por Leon Cakoff. São 30 anos de luta e resistência contra o obscurantismo cultural, a favor do cinema como instrumento de conhecimento do mundo”. E o crítico Rubens Ewald Filho completa: “Admiro as pessoas que têm visão, um sonho, a coragem e a determinação de não apenas realizá-lo, mas também de perseverar, não deixá-lo morrer”. Nós, da revista Locus, também.

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S.O.S Saúde

Direção e roteiro de Michael Moore. Documentário. EUA, 2007, 113 min. Em cartaz. Há quem leve muito a sério as críticas do diretor norte-americano. Seus filmes são tão manipuladores quanto os discursos de Bush. Mas sua nova produção, que critica o sistema de saúde dos EUA, é, ao menos, bastante divertida. Ria com Michael Moore levando um grupo de doentes dos EUA para Cuba, onde o tratamento é gratuito.

Acesse (agora sem pagar): o novo site do jornal norte-americano The New York Times (www.nytimes.com). O veículo de comunicação liberou todo seu acesso. Destaque para a seção de cultura erudita. Assista: ao documentário O Longo Amanhecer - Cinebiografia de Celso Furtado (Brasil, 2007, 73 minutos). Do cineasta José Mariani,

o filme traz um panorama da história recente do Brasil, criado a partir de depoimentos de intelectuais. Estréia prometida para fevereiro de 2008. Leia: O Castelo na Floresta, o romance de despedida de Norman Mailer, que revela o demônio (também narrador do livro) escondido em Adolf Hitler.

C i N e m a

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Saneamento Básico, O Filme

Direção e roteiro de Jorge Furtado. Com Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga. Brasil, 2007, 112 min. Em cartazUma sátira dos caminhos tortuosos da burocracia brasileira. Um grupo é contratado para produzir um vídeo sobre obras de saneamento que nunca sairão do papel. Entusiasme-se e assista a outros filmes de Jorge Furtado, um dos poucos diretores despretensiosos do país. Sugestões: Houve uma vez dois verões e Meu tio matou um cara.

3 bons filmes

Jogo de Cena

Direção de Eduardo Coutinho. Documentário. Brasil, 2006. 105 min. Em cartazMulheres contam suas histórias em um teatro vazio. No mesmo local, atrizes consagradas, como Fernanda Torres e Marília Pêra, são convidadas para interpretá-las. Quem é a atriz? O que é realidade e o que é interpretação? O diretor Eduardo Coutinho conseguiu ultrapassar seu método de fazer documentário e, com essa obra, questiona tudo o que produziu.Preste atenção em Marília Pêra. Ela brilha como poucas atrizes brasileiras.

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Aprendizado no Reino Unido 

* Atual presidente da Anprotec e coordenador científico do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP.

** Presidente da Anprotec entre 1999 e 2003 e diretor do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília.

Guilherme Ary Plonski *

Luis Afonso Bermúdez **

Divulgação

Divulgação

m dezembro de 2007, participamos de uma estimulante missão de estu-

dos ao Reino Unido, focalizada no tema “Frontiers of Management of Innovation”. Promovida pelo British Council, a inicia-tiva permitiu que conhecêssemos os apri-moramentos recentes no sistema nacional britânico de inovação, apresentados por representantes do UK Trade & Investment e do próprio British Council. Visitas de campo foram feitas a incubadoras de em-presas e parques tecnológicos representa-tivos – incluindo alguns pioneiros (Man-chester e Surrey) e outros mais novos (Daresbury, Sussex e Imperial College).

Entidades regionais – com destaque para a East of England International e o Manchester Knowledge Capital – expres-saram o papel estratégico do empreende-dorismo inovador para o desenvolvimen-to local. No primeiro caso, para aumentar a competitividade de regiões defasadas e, no outro, para reverter os processos de es-tiolamento econômico e social decorren-tes da globalização. Impressionante o pa-pel decisivo do fundo regional europeu para, em conjunto com os governos na-cional e provinciais, criar ambientes favo-ráveis aos novos empreendimentos basea-dos na inovação.

No plano acadêmico, foram contatados os dois mais tradicionais think tanks de política de C&T: o Prest (que agora se de-nomina “Manchester Institute of Innova-tion Research”) e os vizinhos SPRU e Centrim, que agora se co-localizam no

belo Freeman Centre, no campus da Uni-versidade de Sussex, onde tivemos um in-teressante encontro com bolsistas brasi-leiros em fase avançada de sua pós-graduação. Outra agradável oportu-nidade foi conhecer o Demos, jovem enti-dade privada inspirada pelo modelo polí-tico da Terceira Via. Um de seus projetos, a construção de um Atlas das Idéias, que mapeia as mudanças na geografia mun-dial da ciência e da inovação, será esten-dido ao Brasil, com a parceria do CGEE.

No final do mês passado, logo após vol-tarmos de viagem, o International Herald Tribune trazia um artigo sobre um ‘chicle-te que não gruda’, no qual um gestor de um fundo de venture capital dizia que “a Grã-Bretanha e o resto da Europa ainda estão atrás dos EUA no que tange ao apoio à ino-vação no campus universitário”. Mas, pros-segue, “nos EUA (...) isso vem sendo feito há 50 anos. No Reino Unido, apenas nos últimos cinco a dez anos”. Esse é, também, o tempo em que o tema da inovação aden-trou a agenda pública no Brasil. Por isso, conhecer melhor a experiência britânica contemporânea, que enfaticamente busca mecanismos estimuladores da transfor-mação de conhecimento em valor econô-mico e social, teve para nós uma impor-tância singular. Principalmente nas regiões onde o poder público assume o papel de promover a inovação como fator diferencial para a competitividade dos empreendimentos instalados ou a serem criados para o desenvolvimento regional.

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