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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DA LEITURA DO MUNDO AO MUNDO DA LEITURA (A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL) Por: Simone Epelbaum Orientador Prof.ª .................................... Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DA LEITURA DO MUNDO AO MUNDO DA LEITURA

(A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL)

Por: Simone Epelbaum

Orientador

Prof.ª ....................................

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DA LEITURA DO MUNDO AO MUNDO DA LEITURA

(A LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL)

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Candido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Educação Infantil e

Desenvolvimento.

Por: Simone Epelbaum

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

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RESUMO

A monografia busca demonstrar a importância da leitura no desenvolvimento

biopsicossocial da criança, pautado na justificativa de que ler não é tão somente a

decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado

estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva

behaviorista-skinneriana), mas também, e principalmente, um processo de

compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais,

emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos bem como culturais, econômicos

e políticos (perspectiva cognitiva-sociológica). O objetivo do trabalho é propor uma

reflexão acerca do lugar e do papel da literatura na Educação Infantil.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta monografia foi a pesquisa bibliográfica.

Utilizou-se como fonte de consulta de consulta livros, monografias, artigos e

publicações eletrônicas que abordam o tema em análise.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL................................................................ 10

CAPÍTULO II

A LITERATURA INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA........... 22

CAPÍTULO III

AS CONTRIBUIÇÕES DOS CONTOS INFANTIS NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA..............................................................

32

CONCLUSÃO ................................................................................................. 39

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 40

ÍNDICE ............................................................................................................ 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................ 45

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INTRODUÇÃO

A leitura é uma importante atividade para o desenvolvimento da

imaginação dos indivíduos. Desde muito cedo, antes de terem conhecimento das

letras, crianças de diferentes idades se encantam pelas histórias infantis que lhes

são lidas - ou contadas oralmente. E a cada nova releitura da mesma história, uma

nova imaginação reaparece, novos significados são dados aos fenômenos, aos

personagens, às cenas etc. Em muitos livros infantis estão acompanhados os

desenhos, que acrescentam às histórias material pictográfico de cenas, cor e

fenômenos complementares, além das formas e expressões faciais que recebem os

diferentes personagens que dão "movimento" ao texto.

Ouvir e ler histórias é entrar em um mundo encantador, onde sonho,

fantasia e imaginação se misturam numa realidade única, e levam a criança a

vivenciar as emoções em parceria com os personagens da história, introduzindo

assim situações da realidade.

Uma história traz consigo inúmeras possibilidades de aprendizagem.

Entre elas estão os valores apontados no texto, os quais poderão ser objeto de

diálogo com as crianças, possibilitando a troca de opiniões e o desenvolvimento de

sua capacidade de expressão.

O presente trabalho busca demonstrar a importância da leitura no

desenvolvimento biopsicossocial da criança, pautado na justificativa de que ler não é

tão somente a decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de

aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta

(perspectiva behaviorista-skinneriana), mas também, e principalmente, um processo

de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais,

emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos bem como culturais, econômicos

e políticos (perspectiva cognitiva-sociológica).

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Dessa forma, o trabalho tem por objetivos: ampliar o conceito de

leitura, analisando seus diferentes níveis (sensorial, emocional e racional);

apresentar de que modo e quando começamos a ler, bem como a influência das

primeiras leituras no processo de construção do conhecimento; propor uma reflexão

acerca do lugar e do papel da literatura na Educação Infantil.

Busca-se com o estudo demonstrar que o conhecimento da língua não

é suficiente para que a leitura se efetive. Na verdade, o leitor pré existe à descoberta

do significado das palavras escritas, foi-se configurando no decorrer das

experiências de vida, desde as mais elementares e individuais às oriundas do

intercâmbio de seu mundo pessoal e universo social e cultural circundante.

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CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento da criança, assim como sua aprendizagem,

acontece por meio da relação que ela estabelece com outras pessoas e com o meio

em um contexto histórico e social. Segundo Bassedas et al. (1999), uma criança

estará mais aberta à determinada aprendizagem dependendo do contexto em que

ela está inserida ao contrário do que muitas vezes é esperado na sociedade.

[...] destaquemos a importância do contexto no qual se desenvolvem

as crianças. Os meios ricos em afeto e estimulação permitem uma

evolução mais rápida no desenvolvimento das capacidades do que

em outros contextos menos ricos em estímulos (BASSEDAS et al.,

1999, p.30).

Desde o início da vida, as ações são construídas nas interações

estabelecidas com os outros e com o meio. É o outro quem promove com a criança

as primeiras interpretações e constrói os primeiros significados do mundo externo

quando, num processo dialógico, dá sentido ao choro, ao gesto, o que aos poucos

vai sendo compreendido e respondido pela criança.

Bassedas et al. (1999) classificam três grandes áreas do

desenvolvimento infantil: motora, cognitiva e afetiva.

- Área motora: inclui tudo o que se relaciona com a capacidade de

movimento do corpo humano tanto de sua globalidade quanto dos

seguimentos.

- Área cognitiva: aborda as capacidades que permitem compreender

o mundo, nas diferentes idades, e de atuar nele, através do uso da

linguagem ou mediante o uso de situações problemáticas que se

apresentam.

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- Área Afetiva: engloba os aspectos relacionados com as

possibilidades de sentir-se bem consigo mesmo (equilíbrio pessoal),

o que permite confrontar-se com situações e pessoas novas (relação

interpessoal) e ir estabelecendo relações cada vez mais alheias,

distanciadas bem como atuar no mundo que o rodeia (atuação e

inserção social) (BASSEDAS et al. 1999, p. 31).

Estas áreas foram divididas somente por motivos didáticos, para que

fossem compreendidas suas peculiaridades, pois como seres integrados e

indivisíveis. O desenvolvimento se dá também de maneira integrada.

1.1 Características de desenvolvimento na área motora

No desenvolvimento motor duas etapas são evidenciadas: o primeiro

ocorrido no primeiro ano que culmina com a capacidade de locomoção

independente; em seguida a segunda etapa entre o segundo e o sexto ano de vida

onde ocorre um controle e domínio das principais capacidades motoras essenciais

(correr, saltar, caminhar), o conhecimento das partes do corpo e suas possibilidades

motoras. No decorrer dos seis primeiros anos de vida, a criança vive um conjunto de

transformações muito extensas, passando da total dependência dos primeiros

momentos para uma quase completa autonomia até o final do sexto ano.

Quando a criança nasce ela é completamente dependente do adulto,

ela nasce com dois reflexos básicos que lhe garantem a sobrevivência: os reflexos

de preensão e sucção.

Outro aspecto importante que se desenvolve é a utilização das mãos, a

criança explora o mundo através do uso das mãos. No, início a criança tem apenas

o reflexo de preensão, mas através do uso ela vai evoluindo até adquirir o que

denominamos movimento de pinça fina, o que permite o uso mais preciso dos

movimentos. As mãos passam de simples instrumentos para fontes de comunicação

e participação do mundo. Ao bater palmas ou representar músicas utilizando as

mãos, às crianças participam das relações com o seu meio ambiente.

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Do segundo ao sexto ano após a criança ter alcançado uma das mais

importantes aquisições, a conquista da marcha, a criança inicia o domínio do

conhecimento do corpo e das suas possibilidades no tempo e no espaço. O

desenvolvimento do esquema corporal e sua representação e orientação espacial e

do tempo, acontecem de maneira gradual.

Durante os próximos anos, todas as experiências relacionadas com o

corpo, experiências verbais, motoras, e representações cognitivas contribuem para a

construção do esquema corporal. No final da etapa de Educação Infantil iniciar-se-á

a tomada de consciência e interiorização da imagem corporal que permite que a

criança se situe no tempo e no espaço. Ocorre também uma progressiva

independência motora e uma coordenação que lhes possibilita coordenar cada vez

mais de maneira mais precisa os músculos. É possível evidenciar e diferenciar

algumas habilidades que colaboram para esta crescente coordenação, habilidades

de locomoção e deslocamento, habilidades de não locomoção-equilíbrio e

estabilidade, habilidades de projeção, recepção e manipulação. Através do

desenvolvimento destas habilidades, cada vez mais a criança experimenta o

domínio do conhecimento, das possibilidades do próprio corpo e das possibilidades

deste mesmo corpo no espaço e tempo o que é fundamental para a construção da

própria identidade.

A aquisição da linguagem aos dois anos colabora para que a criança

se organize em relação ao seu corpo que agora pode ser nomeado. Por volta dos

seis anos a criança torna-se capaz de descobrir a simetria imaginária que divide o

corpo em duas partes direita e esquerda. Outro elemento que ajuda a desenvolver o

esquema corporal é o exercício de aptidões básicas; força, flexibilidade, agilidade e

velocidade. É importante evidenciar que estas aptidões devem ser exercitadas de

maneira lúdica e não competitiva permitindo assim que a criança construa uma

representação corporal ajustada e sinta-se motivada a conhecer suas capacidades e

possibilidades. As experiências corporais são fundamentais para aquisições

posteriores como evidencia Bassedas et al. (1999, p. 35):

É importante que não nos esqueçamos de um aspecto que está

relacionado com todo trabalho relacionado com o corpo e que é base

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de todas as aquisições posteriores. As experiências que a criança

vive em relação a seu corpo dão lhe a imagem que será um dos

aspectos que a ajudarão a delimitar uma determinada maneira de ver

a si mesma. Se suas experiências ajudarem-na a ter uma percepção

positiva de si mesma, ajustada, com possibilidades de superação,

como a aceitação dos próprios defeitos, a criança poderá ter uma

boa auto-estima, que lhe permitirá também ter confiança em suas

possibilidades.

Portanto todo trabalho realizado com o corpo está relacionado com a

maneira com que a criança vê a si mesma o ambiente e aos outros de acordo com

seu ponto de vista.

Outro ponto do desenvolvimento é a orientação no espaço e no tempo.

Varias experiências vividas demonstram às crianças a maneira que os adultos têm

de se relacionar com os outros e o ambiente em relação ao tempo e ao espaço. Aos

poucos a criança vai interiorizando estas idéias. As ações motoras contribuem para

que as crianças ajustem conceitos como perto, longe, amanhã, cedo, noite, dia;

atividades onde elas utilizam alto, embaixo, de um lado, de outro. Nesta etapa, o

principal referencial é o corpo, só mais tarde elas poderão relativizar, somente à

medida que puderem se ver em relação ao outro. É preciso lembrar da construção

da noção de duração, de sucessão, de ritmos.

“As noções temporais e espaciais são muito importantes na

organização pessoal das crianças pequenas e, também, para o desenvolvimento de

suas capacidades cognitivas” (BASSEDAS et al., 1999, p. 36).

1.2 Características do desenvolvimento na área cognitiva

As capacidades cognitivas são definidas como capacidades de

raciocínio e de pensamento. A criança nasce com dotação genética para fazer parte

da espécie humana. Porém as crianças exigem muita atenção dos adultos até

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atingirem a autonomia. Este processo é bastante longo se comparado a outras

espécies.A capacidade de cognição e linguagem são características do ser humano.

A primeira etapa aqui caracterizada vai do nascimento à conquista da

linguagem verbal. Esta conquista permite à criança ter acesso ao sistema de

símbolos garantindo que ela se comunique. Esta aquisição é básica para todo o

desenvolvimento posterior das capacidades de raciocínio.

A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações

(motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência

eminentemente prática, sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à

palavra-frase. Sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferença (o

mundo é ela).

Outra fonte de conhecimento nesta etapa é a ação que a criança

exerce sobre o meio. Durante o primeiro ano de vida, a criança experimenta várias

situações de comunicação entre ela e o adulto, o que se torna momento de

importantes aquisições, como nos afirmam os autores anteriormente citados “trocam

informações e estabelecem alguns laços afetivos, primordiais para o crescimento e o

desenvolvimento de todas as capacidades” (BASSEDAS et al.,1999, p. 38).

Estas relações oferecem à criança subsídios para gradativamente

construir seu conceito em relação ao meio e aprender pelo contexto. Outro ponto

importante relatado pelos autores é a visão otimista que o adulto tem em relação à

criança, o que a impulsiona a se desenvolver. Um exemplo típico desta situação é o

fato de que o adulto conversa com a criança como se ela fosse capaz de

compreender o sistema simbólico utilizado, neste caso a linguagem. A criança com

isto aprende pelo contexto. Esta atitude é fundamental “é ela que apresenta

condições de estabilidade, de afeto, de tranqüilidade e de estimulação para que tudo

isso seja possível” (BASSEDAS et al., 1999,p. 39).

Segundo Piaget o desenvolvimento da criança se dá em períodos, são

eles:

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a) Período simbólico (2 a 4 anos): neste período surge a função semiótica que

permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc.

Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação, é o período da

fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. A linguagem está no nível do monólogo

coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as

argumentações dos outros. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro

do coletivo.

b) Período Intuitivo (4 a 7 anos): este período é a “Idade dos porquês”, onde o

indivíduo pergunta o tempo todo.Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a

fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio

ponto de vista. Quanto à linguagem, não mantém uma conversação longa, mas já é

capaz de adaptar sua resposta às palavras do companheiro.

A partir da importante aquisição da linguagem, a criança vai em um

esforço contínuo tentando compreender o mundo que a cerca e a ele se adaptar.

Sua forma de pensar é muito diferente da lógica do adulto.

As situações vivenciadas permitem que as crianças ampliem

gradativamente seus esquemas de conhecimento, o que possibilita um avanço

gradual em sua lógica, aproximando-a cada vez mais da lógica do adulto. Esta

evolução se dá através de situações onde a criança é levada a questionar suas

hipóteses construindo novas.

A linguagem torna-se instrumento do desenvolvimento além de um

instrumento de comunicação.

1.3 Características do desenvolvimento infantil na área afetiva

Engloba as relações consigo mesmo e com os outros. Segundo

Bassedas et al. (1999, p. 43) “o substrato que possibilita um bom desenvolvimento

psicomotor, cognitivo e lingüístico é a progressiva construção da identidade pessoal

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(a personalidade) juntamente com as capacidades de relacionar-se e comunicar-se

com outras pessoas.”

As crianças vão construindo sua maneira de ver o mundo e ver o outro

a partir de relações que vivenciam.Este processo se dá ao longo de toda sua

evolução, é um processo contínuo e permanente. Os autores acima citados afirmam

que

A personalidade estrutura-se a partir da relação com outras pessoas

e nessas interações vai sendo interiorizada. Dessa perspectiva é

conseqüente atribuir uma grande importância às relações e às

interações entre as pessoas. Como fator que possibilita a construção

progressiva da identidade da pessoa e do desenvolvimento de todas

as suas capacidades (BASSEDAS et al., 1999, p. 43).

A maioria das crianças nasce em um ambiente de estima e cuidado.

Neste ambiente vão organizando as primeiras relações vivenciadas. Atitudes de

sorriso, choro, que ocorrem neste ambiente constituem um momento de trocas entre

as crianças e os adultos. Esta relação é fundamental para que a criança inicie seu

processo de socialização e atue como indivíduo. O ser humano tem várias

necessidades ao nascer que são resolvidas nas relações com outras pessoas sendo

assim,

Essa relação é que permite desenvolver e amadurecer todo seu

potencial biogenético o qual por sua vez irá deixá-lo responder aos

poucos e de maneira adaptada,às suas potencialidades e aos

estímulos externos.Essa relação tão próspera será o início do

estabelecimento de vínculos afetivos que são extremamente

necessários durante todo o processo de socialização das pessoas

(BASSEDAS et al., 1999, p. 44).

Os cuidados dispensados à criança geram um sentimento de

segurança o que a torna uma criança segura. Através do estreitamento do vínculo,

as crianças vão gradativamente diferenciando as pessoas que as cercam e

respondendo a elas de maneira diferenciada.

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Durante o primeiro ano a criança estabelece contato com um número

limitado de pessoas e a segurança gerada nestas relações de cuidado e prazer

permitem que as crianças estabeleçam novas relações com pessoas que lhe são

estranhas.

No segundo ano de vida, a criança já possui mais liberdade e

autonomia com a conquista da marcha e aquisição da linguagem. Neste ponto ela já

se reconhece no espelho e em fotografias, já conhece várias características das

relações sociais. Sabe que algumas atitudes lhe são permitidas e outras não. O

processo de conquista da autonomia, meta do processo educativo já teve início.

Este caminho é longo com momentos de dificuldades que são

superados por meio das relações de afeto e de confiança que a criança vivencia. No

primeiro ano de vida os adultos são responsáveis pela organização da vida das

crianças. Por volta de dois anos a criança a criança inicia um processo de oposição

que fortalecerá sua personalidade. A atitude dos adultos que cercam esta criança

são fundamentais. Dependendo da atitude dos adultos é a maneira como a criança

passará a agir. Caso os adultos sejam muito permissivos a criança se torna

onipotente, e em caso de adultos muito repressivos crianças tímidas e retraídas

surgem. Nesta etapa as crianças precisam saber que a sociedade contém regras

que são alheias a sua vontade.

Por volta de três anos, as crianças percebem que têm que partilhar a

atenção e o tempo dos adultos, o que pode gerar sentimentos de rivalidade em

relação aos outros membros da família.

As experiências que as crianças vivenciam no decorrer dos anos em

todos os contextos (família, escola, entre amigos e amigas) fazem

com que elas interiorizem uma imagem e um conhecimento de si

mesma... e ao mesmo tempo, adquiram uma valorização do próprio

conceito que é transmitido por pessoas significativas em sua relação

diária. Isso representa a auto-estima (BASSEDAS et al., 1999, p. 45).

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Segundo o Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil

(1998, p. 30), “a auto-estima que a criança aos poucos desenvolve é, em grande

parte, interiorização da estima que se tem por ela e da confiança da qual é alvo”.

A auto-estima positiva proporciona um maior êxito escolar e a

possibilidade de construir relações sócio-construtivas. Pais e professores que

demonstrem afeto, disciplina e respeito pelas possibilidades das crianças estão

contribuindo para o processo de construção da autonomia, meta de todo processo

educativo.

Outro ponto importante na construção da autonomia é o controle das

necessidades fisiológicas com a conquista do uso das instalações sanitárias.

Gradativamente a criança vai tendo mais condições de se despir e vestir.

A conquista da capacidade de se alimentar independente da ajuda do

adulto, proporciona mais um ponto de autonomia importante no desenvolvimento da

criança.

A conquista de amizades também se mostra importante nesta idade.

As crianças que antes representavam rivais para tomar brinquedos e a atenção dos

adultos, pouco a pouco vão se tornando colegas que contribuem com agradáveis

momentos de trocas e brincadeiras isto, se as regras forem respeitadas.Neste ponto

aprender a ceder, a partilhar, a lutar pelo seu desejo é extremamente importante.

O conhecimento do processo de desenvolvimento infantil dá ao

professor mais condições para planejar e conduzir o processo pedagógico que deve

atingir o âmbito pessoal e social e o âmbito do conhecimento do mundo.

1.4 Escola Infantil: desenvolvendo competências

Conhecer o processo pelo qual as crianças se desenvolvem, é

importante, mas importante também é determinar ou conhecer quais capacidades

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precisam ser desenvolvidas nas crianças para que elas possam atuar no mundo

atual. Um mundo que muda permanentemente, onde produtos têm vida muito curta,

onde o conhecimento se renova a cada dia, um mundo onde o que parece hoje atual

e inovador pode ser tornar obsoleto no dia seguinte.

A criança deve vivenciar na escola, experiências que lhe permitam a

formação pessoal e social e lhe dê condições de conhecer o mundo que as cerca.

Isto através do movimento, da música, das artes visuais, da construção da

linguagem oral e escrita, do conhecimento da natureza, e da sociedade, da

construção de conceitos matemáticos. Mas muito mais que conhecimentos precisam

desenvolver capacidades, competências. A meta da escola deve ser cada vez mais

o desenvolvimento de competências pessoais. Muito mais que formar gramáticos ou

lingüistas, a escola deve formar pessoas que se comuniquem com eficiência.Mais

que pessoas capazes de dominar esta ou aquela máquina é preciso formar cidadãos

capazes de aprender a manusear qualquer nova máquina que lhe seja apresentada.

De acordo com Machado (2001, p. 15):

As competências constituem, portanto padrões de articulação do

conhecimento a serviço da inteligência. Podem ser associadas desde

aos esquemas mais simples de ação até as formas mais elaboradas

de mobilização do conhecimento, como capacidade de expressão

nas diversas linguagens, a capacidade de argumentação na defesa

de um ponto de vista, a capacidade de tomar decisões de enfrentar

situações problemas de pensar e elaborar propostas de intervenção

na realidade.

A escola tem por finalidade básica a construção de cidadãos: as

pessoas é que são importantes não os conhecimentos, como afirma Machado (2001,

18):

Um dado nunca se transforma em informação se não houver uma

pessoa que se interesse por ele, que o interprete e lhe atribua um

significado, todo o conhecimento do mundo não vale um tostão

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furado, se não estiver a serviço da inteligência, ou seja, dos projetos

das pessoais.

Portanto para que a escola alcance sua finalidade primeira explicitada

na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394/96, em seu art.

22 que afirma que a “educação tem por finalidade o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o

trabalho.” Construção da cidadania, entendida como “a construção de uma

articulação permanente e consistente entre projetos individuais e coletivos”.

É preciso alcançar uma atuação que proporcione o desenvolvimento de

capacidades. Capacidades de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética, da

relação interpessoal e inserção social como afirma o referencial.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil conceitua

estas capacidades da seguinte forma:

As capacidades de ordem física estão associadas à possibilidade de

apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, ao auto-

conhecimento, ao uso do corpo na expressão das emoções, ao

deslocamento com segurança.

As capacidades de ordem cognitiva estão associadas ao

desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e apropriação de

formas de representação e comunicação, envolvendo a resolução de

problemas.

As capacidades de ordem afetiva estão associadas à construção da

auto-estima, às atitudes de convívio social, à compreensão de si

mesmo e dos outros.

As capacidades de ordem estética estão associadas à possibilidade

de produção artística e apreciação desta produção oriundas das

diversas culturas.

As capacidades de ordem ética estão associadas à possibilidade de

construção de valores que norteiam a ação das crianças.

As capacidades de relação interpessoal estão associadas à

possibilidade de estabelecimento de condições para o convívio

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social. Isso implica aprender a conviver com as diferenças de

temperamentos, de intenções, de hábitos e costumes, de cultura etc.

As capacidades de inserção social estão associadas à possibilidade

de cada criança perceber-se membro participante de um grupo uma

sociedade (REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A

EDUCAÇÃO INFANTIL, 1998, p. 48).

Estas capacidades são alcançadas mediante trabalho bem planejado e

estruturado tendo como meios os conteúdos. Através de projetos de trabalho onde

as atividades são organizadas quanto ao tempo, o espaço e principalmente o

interesse dos alunos.

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CAPÍTULO II

A LITERATURA INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA

2.1 Literatura e leitura

Pode-se compreender literatura como o conjunto das produções do

intelecto humano, falada ou escrita, que despertam o sentimento do belo pela

perfeição da forma e pela excelência das idéias. O objeto da literatura é a obra

literária, genericamente falando, seria qualquer produção intelectual escrita ou

falada. Esteticamente, é obra literária se provocar emoção.

A literatura, enquanto conhecimento, está diretamente relacionada às

funções psicológica, formativa e de conhecimento de mundo.

A função psicológica está vinculada ao aspecto da gratuidade, pois,

sendo inerente a qualquer ser humano a necessidade de ficção e fantasia, a

literatura é uma das formas de sistematização e satisfação dessa necessidade, que

pode ocorrer através de poesia, mitos, lendas, contos de fada, etc.

A função formativa ou educativa da literatura vai além da educação do

ponto de vista puramente pedagógico, sendo uma forma de recriação da realidade,

contribuindo com a formação da personalidade integral do homem, apresentando a

vida em sua totalidade, o belo e o feio, o bem e o mal com suas contradições, para

que nela o leitor possa reconhecer as forças conflitantes que a organizam. Segundo

Rosenfeld (1976, p. 58), a literatura não tem como função a transmissão de

conceitos exatos, mas “suscita uma poderosa animação da nossa sensibilidade, da

nossa imaginação e do nosso entendimento”.

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A função literária de conhecimento de mundo e do ser está vinculada à

construção autônoma da obra, mas sem perder o contato com sua fonte de

inspiração – a realidade social e humana, que é recriada por meio das fantasias e

das imagens do autor, para sugerir as virtualidades de uma experiência interna e

externa. Por meio da reconstrução interpretativa da realidade, a literatura possibilita

ao homem o conhecimento e a reorganização da complexidade, tanto do seu caos

interior quanto exterior, pois a ordenação especial das palavras constitui um todo

significativo, através do qual a mensagem atua.

Na concepção de Aguiar e Bordini (1993, p. 14):

a obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência

do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a

esse mundo pelo autor. Assim, não é um mero reflexo na mente, que

se traduz em palavras, mas o resultado de uma interação ao mesmo

tempo receptiva e criadora. Essa interação se processa através da

mediação da linguagem verbal, escrita ou falada [...].

No campo da Educação Infantil, até as duas primeiras décadas do século

XX, as obras produzidas para a infância, apresentavam um caráter ético-didático, ou

seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar modelos, moldar a criança

de acordo com as expectativas dos adultos. Havia poucas histórias que falavam da

vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a

afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da

escola, da vida (ELINE, 2009).

Pode-se atribuir, verdadeiramente, o início da literatura infantil brasileira à

Monteiro Lobato, em 1921, com a publicação de “Reinações de Narizinho”. O

conjunto da obra de Monteiro Lobato apresenta problemas sociais, políticos

econômicos e culturais que, através das especulações e discussões dos

personagens. Criador do Sítio do Picapau Amarelo, um local onde tudo pode

acontecer e onde tudo se pode saber, pois não há o que Dona Benta ignore, não há

o que Tia Nastácia não esteja disposta a fazer, não há lugar no mundo inteiro (da

Lua ao Reino das Águas Claras) onde Narizinho e Pedrinho não tenham vontade de

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ir, e não tenham ido; onde vivem o Burro Falante – um filósofo conselheiro, o

Marquês de Rabicó – um porco capaz de tudo comer -, o pacato rinoceronte

Quindim, o Visconde de Sabugosa – um sábio sabugo de milho -, e a fantástica

boneca Emília. É nesse sítio, aonde chegam almirantes ingleses, anjinhos caídos do

céu, Saci ou Peter Pan, a fantasia e a realidade se misturam o tempo todo. A lógica

que impera no sítio não é a do adulto, mas lá o adulto entra no jogo da criança e se

discute a História do mundo, se vive a mitologia grega, se debate o petróleo

brasileiro, se analisa a moral das fábulas e uma reforma da natureza, se recebem

todas as personagens dos contos de fadas (ROSA, 2003).

Segundo Zilberman (2003, p. 29), “a Literatura Infantil é levada a realizar

sua função formadora, que não se confunde com uma função pedagógica. Ela dá

conta de uma tarefa que está voltada toda a cultura de conhecimento do mundo e do

ser”.

Coelho (2000, p. 43) aponta que a literatura infantil é “o meio ideal não só

para auxiliá-las a desenvolver suas potencialidades naturais, como também auxiliá-

las nas várias etapas de amadurecimento que medeiam entre a infância e a idade

adulta”.

Importante se faz mencionar que antes de pensarmos em literatura infantil

devemos pensar na própria leitura. O ato de ler é um processo de compreensão, de

entender o mundo a partir da capacidade de interação do homem com o outro

através de palavras submetidas a um determinado contexto. Conforme aponta

Souza (1992, p. 22):

A leitura é, basicamente, o ato de perceber e atribuir significados

através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o

lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as

influências de um determinado contexto. Esse processo leva o

indivíduo a uma compreensão particular da realidade.

Para Freire (2000, p. 11) a compreensão do texto se dá a partir de uma

leitura crítica, percebendo a relação entre o texto e o contexto:

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O ato de ler não esgota na decodificação pura da palavra escrita (...).

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior

desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele.

Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão

do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção

das relações entre o texto e o contexto.

Dessa forma, um leitor não é apenas um decifrador de sinais, mas sim um

indivíduo que se coloca como co-enunciador, travando um diálogo com o escritor,

sendo capaz de construir o universo textual e produtivo na medida em que refaz o

percurso do autor, instituindo-se como sujeito do processo de ler.

Nesse aspecto, Dowbor (2007, p. 103-104) coloca que:

Não poderíamos, assim, falar da importância da leitura no processo

de alfabetização sem remeter à importância da leitura de mundo que

cada um de nós temos. [...] É na relação entre a leitura do mundo e a

leitura da palavra que construímos e reconstruímos significados. É na

gostosura da brincadeira e dos encontros marcados entre essas

duas “leituras”, quando nos é permitido vivê-los, que nos

experienciamos no aprendizado de ler a palavra escrita. Não é por

acaso que dizemos que ler de verdade é construir significados. [...] o

desafio que temos então nas escolas, e mais especificamente nas

salas de aula, é o de ensinar a ler sem realizar a separação entre a

leitura do mundo do aluno e a leitura de sua palavra. [...] Quando

escrevemos ou lemos, não o fazemos como se estivéssemos soltos

no ar. Fazemo-lo sempre com base naquilo que somos, com a visão

do mundo que temos, da qual fazem parte nossos valores, desejos,

sonhos e experiências de vida.

No entanto, de acordo com Rego (1998, p. 50):

A maior parte das crianças que freqüentam nossas escolas

interagem com textos escritos de forma mecânica e artificial. Para

muitas crianças o primeiro contato efetivo com um texto escrito

ocorre através das cartilhas, em que se cultivam os textos criados

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para o propósito exclusivamente didático de ensinar as

correspondências grafofonicas existentes na nossa escrita

alfabéticas.

Ainda de acordo com Rego (1998), a literatura possui duas credenciais

básicas para levar de forma eficaz ao mundo da escrita: por um lado, prende-se a

conteúdos do interesse da criança, despertando grande interesse, por outro, através

desses conteúdos, ela poderá despertar a atenção da criança para as relações

existentes entre a forma lingüística e a representação gráfica.

Assim, não se pode utilizar um texto literário apenas para ensinar algo,

pois ler um texto significa ler o mundo e sua plurissignificação, permitindo-nos

reflexão, inferências e críticas. Desse modo, a literatura infantil deve impulsionar

todos esses movimentos, mesmo porque a criança convive com a leitura e escrita

em todos os momentos, como por exemplo, ao manejar um livro de histórias infantis.

A criança conhece o livro antes de saber lê-lo, assim como descobre a

linguagem antes de dominar seu uso. Conforme apontam Ferreiro e Teberosky

(1999, p. 29):

É bem difícil imaginar que uma criança de 4 ou 5 anos, que cresce

num ambiente urbano no qual vai reencontrar, textos escritos em

qualquer lugar não faça nenhuma idéia a respeito da natureza desse

objeto cultural até ter 6 anos e uma professora à sua frente.

Tem-se, pois, que a criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização,

folheando e olhando figuras, ainda que não identifique palavras, ela aprende

observando o gesto de leitura dos outros.

De acordo com Coelho (2000) o desenvolvimento da criança leitora,

passa por fases que não dependem somente de sua faixa etária, mas principalmente

da inter-relação existente entre sua idade cronológica, nível de amadurecimento

biopsiquico-afetivo-intelectual e grau ou nível de conhecimento ou domínio do

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mecanismo da leitura. Dessa forma a autora destaca as seguintes fases de

desenvolvimentos para a leitura:

Dos quinze-dezessete meses aos três anos: a criança inicia o

reconhecimento da realidade que a rodeia principalmente pelos contatos afetivos e

pelo tato. É também o momento em que a criança começa a conquista da própria

linguagem e passa a nomear as realidades a sua volta. É nessa fase que o mundo

natural e o mundo cultural começam a se relacionar na percepção que a criança

começa a ter do espaço em que vive.

A partir dos dois-três anos: fase em que começam a predominar os

valores vitais (saúde) e sensoriais (prazer ou carências físicas e afetivas); e quando

se dá a passagem da indiferenciação psíquica para a percepção do próprio ser.

Aprofunda-se a descoberta do mundo concreto e do mundo da linguagem, através

das atividades lúdicas. Tudo o que ocorre ao seu redor é importante e significativo.

Há o predomínio absoluto da imagem.

A partir dos seis-sete anos: fase da aprendizagem da leitura, a criança já

reconhece com facilidade os signos do alfabeto e reconhece a formação das sílabas.

Início do processo de socialização e de racionalização da realidade. Nessa faze a

presença do adulto faz-se ainda necessária, principalmente para decodificar os

sinais gráficos e levá-la a descobrir que ela pode, sozinha, se comunicar com o

mundo da escrita.

Em torno dos oito-nove anos: fase em que a criança já domina com

facilidade o mecanismo da leitura, aumenta o interesse pelo conhecimento das

coisas. Seu pensamento lógico organiza-se em formas concretas que permitem as

operações mentais. Há atração pelos desafios e pelos questionamentos de toda

natureza.

A partir dos dez-onze anos: fase de consolidação do domínio do

mecanismo da leitura e da compreensão do mundo expresso no livro. A leitura

segue apoiada pela reflexão, a capacidade de concentração aumenta, permitindo o

engajamento do leitor na experiência narrada e conseqüentemente alargando ou

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aprofundando seu conhecimento ou percepção de mundo. A partir dessa fase,

desenvolve-se o pensamento hipotético dedutivo e a conseqüente capacidade de

abstração. O ser é atraído pelo confronto das idéias e ideais e seus possíveis

valores e desvalores. É a fase da pré-adolescência.

A partir dos doze-treze anos: é a fase de total domínio da leitura, da

linguagem escrita, capacidade de reflexão em maior profundidade, podendo ir mais

a fundo no texto e atingir a visão de mundo ali presente. Fase de desenvolvimento

do pensamento reflexivo e crítico, empenhado na leitura do mundo, e no despertar

da consciência crítica em relação às realidades consagradas e agilização na escrita

criativa.

Estas fases apontadas são vistas como potencialidades de leitura que

podem ser aproveitados pela escola para auxiliar a desenvolver as mentes e a

estruturação do pensamento crítico e reflexivo na criança e no jovem na leitura de

diferentes versões de mundos simbólicos.

Cabe lembrar, como aponta Miguez (2000, p. 47), que a escola, muitas

vezes, é o único meio de contato da criança com a literatura infantil “e, sendo assim,

é necessário um comprometimento maior com a qualidade e o aproveitamento da

leitura como fonte de prazer e de pesquisa”.

2.2 O papel da literatura infantil no desenvolvimento da criança

De acordo com Zilberman (2003, p. 16):

a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do

gosto pela leitura, assim como um campo importante para o

intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito

menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar

uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da

criança.

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Nessa perspectiva Jesualdo (1993, p. 29) enfatiza que:

[...] à função da literatura infantil, é ela quem, por si mesma, estimula,

nas crianças, interesses adormecidos que esperam que essa espécie

de varinha mágica os desperte para aspectos do mundo que as

rodeia; age sobre as forças do intelecto, como a imaginação ou o

senso estético, que precisam do impulso de correntes exteriores para

adquirir pleno desenvolvimento na evolução psíquica da criança.

Assim, a literatura infantil tem um papel importantíssimo na vida da

criança, pois oferece as mesmas oportunidades de conviver e viver o imaginário,

fornecendo uma visão original à criança, pois ao ler a mesma adquire um

conhecimento do real e também do não-real. Como diz Cademartori (1986, p. 73):

“através da história, a dimensão simbólica da linguagem é experimentada, assim

com a sua conjunção com o imaginário e o real”, fazendo com que a literatura infantil

preencha uma função de conhecimento. Conforme esclarece Zilberman (2003, p.

13):

[...] o ler relaciona-se com o desenvolvimento lingüístico da criança,

com a formação da compreensão do fictício, com a função específica

da fantasia infantil, com a credulidade na história e a aquisição de

saber.

Ao ter contato com livros literários, seja com pequenas gravuras e

textos simples, a criança percorre um caminho de experimentação e descoberta, se

insere, muitas vezes, no mundo simbólico, se coloca no lugar dos personagens e

com eles vivencia as diversas situações, como medo, tristeza, alegria, perda,

insegurança, sucesso, bem estar, tranqüilidade e tantas outras que a narrativa

promover por intermédio dos personagens, além de poder criar seu próprio mundo

vivendo seus sonhos, fantasias oportunizando o conhecimento de si mesmo e do

ambiente que a cerca, conforme o explica Frantz (2001 p. 62):

Por meio do processo de identificação, o leitor infantil vive

intensamente essas situações na pele das personagens e com elas

sofre, luta, se alegra e se sai vitorioso no final. Com esse exercício,

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ele aprende a reconhecer as suas próprias dificuldades e como lidar

com elas também. Ele está aprendendo a se reconhecer melhor e

também a conhecer o mundo que o cerca.

A leitura de obras infantis permite que a criança observe não só os

padrões da língua escrita, mas também as imagens e seus significados, que revelam

comportamentos e atitudes, mostrando formas diferentes do homem que

representam o mundo e a realidade (BARROS et al., 2009). Com isso, a criança

torna-se sujeito de sua própria aprendizagem, capaz de aprender textos, códigos

lingüísticos e pictóricos contidos nas histórias infantis.

Como explica Aroeira (1996, p. 141): "por meio da história, a criança

observa diferentes pontos de vista, vários discursos e registros da língua. Amplia

sua percepção de tempo e espaço e o seu vocabulário". Ela desenvolve a reflexão e

o espírito crítico, pois a partir da leitura, "ela pode pensar, duvidar, se perguntar,

questionar" (ABRAMOVICH, 1997, p. 143).

A literatura possibilita, também, à criança, uma leitura em vários níveis:

o sensorial, através dos aspectos exteriores do livro; o emocional, pelos sentimentos

que a leitura provoca; e, racional, pela reflexão a que conduz e a construção do

conhecimento. Conforme aponta Pinto (apud RUFINO e GOMES, 1999, p.11):

A Literatura Infantil tem um grande significado no desenvolvimento

de crianças de diversas idades, onde se refletem situações

emocionais, fantasias, curiosidades e enriquecimento do

desenvolvimento perceptivo. Para ele a leitura de histórias influi em

todos os aspectos da educação da criança: na afetividade: desperta

a sensibilidade e o amor à leitura; na compreensão: desenvolve o

automatismo da leitura rápida e a compreensão do texto; na

inteligência: desenvolve a aprendizagem de termos e conceitos e a

aprendizagem intelectual.

No aspecto afetivo, o ato de ouvir uma história, coloca a criança em

contato não apenas com o mundo imaginário, com suas fantasias e inquietações,

pois de acordo com Abramovich (1997), a criança ao ouvir histórias terá a sua frente

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a oportunidade de expressar suas opiniões, de ouvir o que o seu amigo de classe

está pensando. Assim, a roda de histórias pode propiciar momentos relevantes com

relação ao que se pode considerar a formação do aspecto afetivo.

Quando deixamos que a criança crie sua história esta estará

desenvolvendo sua criatividade, despertando a curiosidade,

expressando sentimentos, desenvolvendo o raciocínio e trabalhando

a memória. Quando os pais lêem histórias ou inventam colocando as

crianças como personagens, despertam na mesma novas idéias e

conhecimentos e, também, enriquece o vocabulário das mesmas. A

dramatização das histórias ou brincadeiras de faz-de-conta também

levam à criança a vivenciar a história, isto é muito importante para a

socialização com os outros e a história em si (SANTOS et al., 2009,

p. 05).

Também no nível afetivo, a criança descobre o universo da leitura pela

voz, plena de entonação e de significação, daqueles em quem ela tem mais

confiança e com quem se identifica.

Ler, normalmente é fonte de prazer, estímulo à criatividade,

enriquecimento de experiências e motivação de aprendizagem. Segundo Zilberman

(2003, p. 45):

a linguagem, que é o medidor entre a criança e o mundo, de modo

que, propiciando, pela leitura, um alargamento do domínio lingüístico,

a literatura preencherá uma função de conhecimento: o ler relaciona-

se com o desenvolvimento lingüístico da criança.

Dessa forma, o hábito da leitura irá desenvolver a linguagem e a escrita

das crianças, pela ampliação do vocabulário, que passa a dispor de um repertório

mais amplo de informações.

Assim, a literatura desempenha papel fundamental na vida da criança,

não apenas pelo seu conteúdo recreativo, mas também pela riqueza de motivações,

sugestões e recursos que oferece ao seu desenvolvimento.

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CAPÍTULO III

AS CONTRIBUIÇÕES DOS CONTOS INFANTIS NO

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

3.1 O conto na Educação Infantil

Os contos de fadas tratam de questões universais como do poder, do

conflito entre os dominantes e dominados, do medo, do amor, da morte, do

abandono, da doença, dos valores morais.

Bettelheim (1980) defende o maniqueísmo dessas narrativas com a

existência de personagens simples e diretos, radicalmente bons e maus que se

comunicariam mais facilmente com o nosso inconsciente; defende o maravilhoso,

que seria uma viagem acompanhada pelo ouvinte, partindo do mundano, passando

pelo universo fantástico e com o retorno seguro à realidade; defende a simplicidade

da estrutura do conto, que coloca os problemas existenciais de forma breve e

categórica, facilitando a compreensão do essencial, sugerindo imagens que

ajudariam na estruturação dos devaneios; defende ainda o final feliz, com o célebre

viveram felizes para sempre, tendo a certeza de que o ouvinte não acredita que terá

vida eterna, mas que somente ligações fortes com outras pessoas é que darão

significado à vida.

O autor destaca que

essas estórias falam ao ego em germinação e encorajam o

desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam pressões

pré conscientes e inconscientes. À medida em que as estórias

se desenrolam, dão validade e corpo às pressões do id,

mostrando caminhos para satisfazê-las, que estão de acordo

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com as requisições do ego e do superego (BETTELHEIM,

1980, p.14).

Ainda de acordo com Bettelheim (1980), pensadas como reflexos da

realidade, essas histórias são incoerentes e absurdas, mas vistas como símbolos de

acontecimentos psicológicos elas se tornam verdadeiras: “embora a fantasia seja

irreal, os bons sentimentos que ela nos dá sobre nós mesmos e nosso futuro são

reais, e estes bons sentimentos reais são o de que necessitamos para sustentar-

nos” (p.157).

Na visão junguiana, todos os personagens dos contos de fada são a

personificação, são o símbolo de todo um mundo inconsciente, um elo entre o

consciente e o inconsciente, e esse contato direto tem como conseqüência o

enriquecimento da pessoa, dando-lhe vitalidade e criatividade e evitando patologias.

Ao ouvir esses relatos de experiências humanas em situações-limite, dificuldades,

crises e conflitos - expressão do inconsciente coletivo -, o ouvinte tem contato, com

os arquétipos e passa assim por um processo que poderá resolver seus conflitos

internos. Em suma, segundo a visão junguiana, os contos de fadas, através dos

problemas, crises e frustrações apresentados em sua estrutura, auxiliam as pessoas

no processo de individuação (FRANZ, 1990).

Os contos, com os seus símbolos, conseguem envolver emoções,

apresentando soluções para problemas existenciais e, assim, colaboram para o

desenvolvimento da personalidade. Histórias aparentemente simples que

conseguem comunicação direta com o ouvinte por conterem a linguagem simbólica

que fala, sobretudo, ao inconsciente.

Além do mais, seus personagens apresentam determinadas

características que despertam profundas identificações entre eles e as crianças.

Essa identificação ocorre, muitas vezes, pelo fato desses personagens não

possuírem nomes próprios, mas sim nomes que são ligados às suas características

físicas e emocionais. “Branca de Neve” tem esse nome porque sua pele é branca

como a neve; “Bela Adormecida” assim se chama porque de fato adormece por 100

longos anos; e “Gata Borralheira” tem essa alcunha porque suas irmãs invejosas

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obrigam-na a dormir no borralho (cinza), significado de onde também vem seu outro

nome, “Cinderela”. Isso faz com que identificar-se com o personagem torne-se mais

fácil. Não tendo nome, ele não tem uma identidade própria, e assim pode emprestar

sua personalidade ao ouvinte enquanto ele acompanha a narrativa.

Sobre esse processo de identificação com os personagens do conto,

Amarilha (1997, p. 18) relata que:

Através do processo de identificação com os personagens, a criança

passa a viver o jogo ficcional projetando-se na trama da narrativa.

Acrescenta-se à experiência o momento catártico, em que a

identificação atinge o grau de elação emocional, concluindo de forma

liberadora todo o processo de envolvimento. Portanto, o próprio jogo

de ficção pode ser responsabilizado, parcialmente, pelo fascínio que

(o conto de fadas) exerce sobre o receptor.

É bem verdade que esse tipo de identificação, através do jogo simbólico,

está presente em muitas das brincadeiras espontâneas infantis, como brincar de

casinha, médico, e tantas outras brincadeiras que qualquer criança faz, sem que

seja necessária a intervenção de um adulto. Contudo, nos contos, essas fantasias

adquirem uma dimensão mais ampla e profunda:

Na brincadeira normal, objetos tais como bonecas e animais de

brinquedo são usados para incorporar vários aspectos da

personalidade da criança que são muito complexos, inaceitáveis e

contraditórios para ela enfrentar. Isso permite que o ego da criança

consiga algum domínio sobre estes elementos, o que ela não pode

fazer quando solicitada ou forçada pelas circunstâncias a reconhecê-

los como projeções de seus processos internos. Algumas pressões

inconscientes nas crianças podem ser elaboradas na brincadeira.

Mas muitas não se prestam a isso porque são muito complexas e

contraditórias, ou muito perigosas e socialmente desaprovadas

(BETTELHEIM, 1980, p. 71).

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Essas pressões inconscientes profundas não poderiam ser representadas

pela criança numa brincadeira, devido ao seu conteúdo potencialmente violento e

destrutivo, mas estão representadas no universo simbólico dos contos de fadas,

através das vitórias dos heróis e da crueldade que os vilões dos contos de fadas

podem desempenhar.

Isto porque o conto permite a criança ultrapassar o isolamento e construir

um elo com o outro, permitindo um processo de conquista da autonomia seguindo

ritos de iniciação onde o herói, através de suas conquistas, atinge um nível

satisfatório de realização existencial tornando-se ele mesmo, o herói ou a heroína

torna-se digno de ser amado.

Percebe-se, assim, que os contos de fadas têm uma função

extremamente importante na constituição da personalidade do indivíduo, pois além

de alimentar a imaginação e estimular as fantasias, os contos de fadas refletem

sobre as questões mais importantes do infante e contribuem com o processo de

socialização.

Por exemplo, no conto, o sapo transforma-se em príncipe para casar-se

com a princesa; o cavaleiro desperta Bela Adormecida de seu profundo sono; o

Patinho Feio torna-se um lindo e esplendoroso cisne. Ouvir essas histórias assegura

à criança que ela também será capaz de superar suas dificuldades. Essas

identificações com os personagens, esse “faz-de-conta”, desempenham um

importante papel no seu desenvolvimento.

Alicia Pietro, citada por Coelho (2000, p. 61), reforça essa importância ao

afirmar que:

A história contada tem a vantagem de oferecer, num plano de

idealização estética, a oportunidade de um jogo emocional que, ao

lado da aprendizagem condicionadora da conduta, terá sua função

terapêutica. A ocasião está dada e cada um faz sua própria terapia.

Nunca saberemos que cargas emocionais perturbam nossos

pequenos, nem atinaremos em medir as ressonâncias subjetivas que

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poderão ser provocadas por esse jogo simbólico que, no fundo, toda

história esconde.

As histórias infantis estimulam, ainda, o desenvolvimento de funções

cognitivas importantes para o pensamento, tais como a comparação entre as figuras

e o texto lido ou narrado, o pensamento hipotético, o raciocínio lógico, o pensamento

divergente ou convergente, as relações espaciais e temporais, pois toda história tem

princípio, meio e fim. Por meio delas pode-se, igualmente, enriquecer as

experiências infantis, desenvolvendo diversas formas de linguagem, ampliando o

vocabulário, formando o caráter, desenvolvendo a confiança na força do bem,

proporcionando a ela viver o imaginário.

Através do uso da imaginação, da estimulação da fantasia, o aluno

desenvolve seu potencial criativo e as faculdades anímicas que lhe possibilitam

enxergar o mundo de forma artística. Na prática, ao ouvir um conto de fadas, por

exemplo, ela criaria ativamente imagens em sua alma. Essas imagens surgiriam no

momento em que ela fosse solicitada a desenhar aquilo que lhe foi transmitido

através das palavras. O exercício constante dessas atividades fortaleceriam suas

potencialidades de criação. E seria nisso que residiria sua maneira diferenciada de

enxergar o mundo.

Dessa forma, os contos infantis contribuem para o desenvolvimento do

seu pensamento lógico e também da imaginação da criança, que segundo Vigotsky

(1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente

necessário, inseparável do pensamento realista”. Neste sentido, o autor enfoca que

na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse

distanciamento da realidade através de uma história, por exemplo, é essencial para

uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento do aspecto

externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita

processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade

se complica e se enriquece” (VIGOTSKY, 1992, p.129).

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3.2 Sobre a narrativa dos contos

A premissa básica do contador de contos na visão de Busatto (2003, p.

47), é que “ao contar doamos o nosso afeto, a nossa experiência de vida, abrimos o

peito e compactuamos com o que o conto quer dizer. Por isso torna-se fundamental

que haja uma identificação entre o narrador e o conto narrado”.

O contador de contos, ou narrador de contos, converte-se em um

mediador privilegiado dentro do contexto educacional quando leva o ouvinte a

indagar-se sobre os personagens, sobre o significado da estória, incitando a

pesquisa e a objetivação das mensagens do conto, por exemplo, incentivando novas

produções. O conto passa a ser reinventado num desenho, numa dramatização,

numa pintura, numa fala.

Conforme já dito anteriormente, o conto age nos contextos afetivos e

imaginativos, pois provoca possíveis identificações com os personagens ou

distanciamentos destes considerando os aspectos que formam as características

dos personagens no desenrolar da estória. O infante é levado a refletir sobre atos

éticos e morais que pela mediação do contador lhe possibilita discernir aspectos da

realidade e da fantasia convertendo a experiência em ações tanto em nível cognitivo

como existencial.

Na eleição dos contos como recurso pedagógico deve-se atentar para o

nível de compreensão da criança. Isso significa que a história ideal é aquele em que

a criança encontra tanto elementos que ela já reconhece, como alguns elementos

novos, a partir dos quais ela possa alargar seus horizontes e enriquecer sua

experiência de vida.

Conforme coloca Coelho (2000), convém, ao término da história, propor

atividades subseqüentes, num processo de associação a outras práticas educativas,

funcionando como agente desencadeador da criatividade; pois, segundo Abramovich

(1997), o ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o

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pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de

novo.

O repertório de histórias a contar na escola pode ser amplo, envolvendo,

além de obras literárias nacionais e estrangeiras, as histórias veiculadas pela

tradição oral das comunidades, as histórias do Estado e do país, as histórias ligadas

à tradição de outras culturas, de outras civilizações, etc. Assim, as histórias podem

ser, além de um espaço amplo de significações aberto às emoções, ao sonho e à

imaginação, um lugar favorável ao desenvolvimento do conhecimento social e à

construção de conceitos, tais como os de cultura, civilização e tempo histórico,

durante toda a infância.

As histórias podem ser apresentadas de várias maneiras, de acordo com

a criatividade e a disponibilidade de cada professor e as condições da turma de

alunos. Jolibert (1998) sugere o “ateliê de leitura”, onde o professor conta algumas

histórias ou relembra clássicos já conhecidos dos alunos e estimula para que uma

dessas histórias seja escolhida para recontá-la para o grupo em forma de

dramatização, música, fantoches, atividades nas quais todo o grupo se envolva

desde, a divisão dos personagens com suas características até a confecção do

material para apresentá-la.

Não se pode deixar de mencionar que o professor deve, na medida do

possível, variar as formas de leitura utilizadas, como: leitura oral, com gravuras,

leitura simples, espontânea, dramatizações com fantoches, leitura apenas com

gravuras, histórias apenas apresentando o início e o meio, deixando que as crianças

imaginem e criem o final da mesma.

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CONCLUSÃO

A literatura infantil permeia todo o processo de construção da leitura e

escrita, portanto, sua importância dentro da educação infantil é indiscutível. Por isso,

mais do que estar a serviço do hábito da leitura é preciso compreender a literatura

infantil como veículo de formação do sujeito, como promotora de conhecimento

crítico e reflexivo sobre o mundo interno e externo da criança.

Quanto ao desenvolvimento cognitivo, a literatura infantil proporciona às

crianças meios para desenvolver habilidades que agem como facilitadores dos

processos de aprendizagem. Estas habilidades podem ser observadas no aumento

do vocabulário, nas referências textuais, na interpretação de textos, na ampliação do

repertório lingüístico, na reflexão, na criticidade e na criatividade. Estas habilidades

propiciariam no momento de novas leituras a possibilidade do leitor fazer inferências

e novas releituras, agindo, assim, como facilitadores do processo de ensino-

aprendizagem não só da língua, mas também das outras disciplinas.

Estimular e propiciar ao alcance das crianças os livros infantis, os contos

de fadas, as fábulas, o folclore, o faz de conta, as histórias modernas,

contemporâneas, adaptações, diferentes versões, permitindo-lhes penetrar em seu

universo mágico dos sonhos, é o caminho não apenas de sua descoberta, mas

também um dos mais completos meios de enriquecimento e desenvolvimento de sua

personalidade, na busca de soluções para as suas inquietações e problemas de

ordem intelectual, social, afetiva, ética e moral.

Contudo, vale lembrar que o trabalho não se limita a ler histórias; é

preciso preocupar-se com a qualidade da leitura, adequação à faixa etária e,

sobretudo, estimular os alunos para o momento da leitura em sala.

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44

ÍNDICE

DEDICATÒRIA................................................................................................ 03

AGRADECIMENTOS....................................................................................... 04

RESUMO......................................................................................................... 05

METODOLOGIA ............................................................................................. 06

SUMÁRIO........................................................................................................ 07

INTRODUÇÃO................................................................................................. 08

CAPÍTULO I

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL................................................................ 10

1.1 Características de desenvolvimento na área motora............................. 11

1.2 Características do desenvolvimento na área cognitiva.......................... 13

1.3 Características do desenvolvimento infantil na área afetiva.................. 15

1.4 Escola Infantil: desenvolvendo competências....................................... 17

CAPÍTULO II

A LITERATURA INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA............ 22

2.1 Literatura e leitura............................................................................... 22

2.2 O papel da literatura infantil no desenvolvimento da criança................. 28

CAPÍTULO III

AS CONTRIBUIÇÕES DOS CONTOS INFANTIS NO DESENVOLVIMENTO

DA CRIANÇA................................................................................................

32

3.1 O conto na Educação Infantil................................................................. 32

3.2 Sobre a narrativa dos contos................................................................. 37

CONCLUSÃO.................................................................................................... 39

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BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 40

ÍNDICE.............................................................................................................. 44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Projeto A Vez do Mestre

Pós-Graduação “Lato Sensu”

TÍTULO DA MONOGRAFIA:

“Da leitura do mundo ao mundo da leitura (A literatura na Educação Infantil)”

Data da entrega: _______________________________________

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Avaliado por:_______________________________Grau______________.

Rio de Janeiro_____de_______________de 2010.