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Jifvai'Q J[ngusÍ0 da Costa Cabral '3. , ,... . . REGULAR1SACÁO DA MENSTRUAÇÃO jL,v; .PELO CASAMENTO DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA A ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO PORTO IMPRENSA 3NTA.CIOIsrA.Xj Rua da Picaria, 35 TQOO Jov/3 £Hd

DA MENSTRUAÇÃO - Repositório Aberto · Que Deus te proteja tanto como a mim tens auxiliado e protegido, ê o ... doente procura então os prazeres'do amor, que liquefa ... voso

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Jifvai'Q J[ngusÍ0 da Costa Cabral

'3. ­, ,... . . ■ REGULAR1SACÁO

DA

MENSTRUAÇÃO j L , v ; .PELO CASAMENTO

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

APRESENTADA A

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

PORTO I M P R E N S A 3NTA.CIOIsrA.Xj

Rua da Picaria, 35

TQOO

Jov/3 £Hd

ESCOLA MEDICO-CIRORGICA DO TORTO

DIRECTOR INTERINO A N T O N I O D 1 O L I V E I R A M O N T E I R O

L E N T E - S E C R E T A R I O INTERINO

C temente Joaquim dos Snnhs Pinto ■—===iiiiiré°g

C o r p o G a t h o d r a t i c o IiRiitfis Cathcdraticns

1." Cadeira —Anatomia descripti­

va geral João Pereira Dias Lebre. 2.a Cadeira — Physiologia . . . Antonio Placido da Costa. 3." Cadeira—Historia natural doa

medicamentos e materia me­

dica Illydio Ayres Pereira do Valle. 4.a Cadeira — Pathologia externa

e therapeutica externa . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5." Cadeira—Medicina operatória. Vaga. 6." Cadeira—Partos, doenças das

mulheres do parto e dos re­

cem­nascidos Cândido Augusto Corrêa de Pinho. 7." Cadeira — Pathologia interna

e therapeutica interna . . Antonio d'Oliveira Monteiro. 8.a Cadeira—Clinica medica . . Antonio d'Azevedo Maia. 9.a Cadeira —Clinica cirúrgica . Roberto B. do Rosário Frias.

10." Cadeira —Anatomia patholo­

gic» Aug .isto H. d'Almeida Brandão. l i . " Cadeira — Medicina legal, hy­

giene privada e publica e toxicologia Vaga.

12.a Cadeira—Pathologia geral, se­

meiologia e historia medica. Maximiano A. d'Oliveira Lemos; Pharmacia . Nuno Freire Dias Salgueiro.

Lentes jubilados . , ­ ■ , . \ José d'Andrade Gramaxo. Secção medica 1 _ _ . ■ ,

' Dr. José Carlos Lopes. ,, l Pedro Augusto Dias. Secção cirúrgica _ . .7 , , , . , „ ,

/ Dr. Agostinho Antonio do Souto­

Lentes substitutos ,, . ,. I João Lopes da S. Martins Junior. Secção medica . , , . „ . . . * , , .

' Alberto Pereira Pinto d1 Aguiar. . . . . I Clemente J. dos Santos Pinto. Secção cirúrgica J ­ , ■

f Carlos A. de Lima. Lente demonstrador

Secção cirúrgica Luiz de Freitas Viegas.

A líscóla não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(Regulamento da Eieola, de 23 de abril de 184.0, artigo 155.°)

AO ILLUSTRE CORPO DOCENTE

lliili IEÏÏIli4ipiEii II Wpi

O discípulo muito grato.

Á MEMORIA DE MINHA QUERIDA MÃE

Toda a tua ambição se resumia em vêr concluído o curso ao teu oAlvaro.

Cruel destino que assim empeçonhaste os últimos momentos d'uma mãe cujo único desejo era o bem de seu filho! As saudades que hoje sinto por não estares junto de mim serão suf-ficientes para compensar só uma das lagri­mas que por mim derramaste, mãe querida ?

A' MINHA QUERIDA IRMÃ

Que Deus te proteja tanto como a mim tens auxiliado e protegido, ê o que deseja o teu irmão.

AO MEU IRMÃO E AFILHADO

(Slrmanao

Mil v e n t u r a s ,

AOS MEUS QUERIDOS TIOS

clntonio e Zfëjerino

AO MEU BOM AMIGO

0 Ex""1 Sur.

^iç-QO- Cs Italic, ao- <z)o-â ia*

A' Ex.'"a Snr."

D. aio salina d fiaria de Òousa vi mmaraes

AO EX.»'° SNR.

ISCONDE DE f A R E D E S VISCONDE DE PÂ

e a sua Sx,'"" famifía

AOS EX.m o s SNRS.

<Shi £lnnif>at £ou&ada CS.° $edzo éïtocAa

Um abraço.

AO EX.mo SNR.

^MOSC de Gpauea. <^cuiia

fio px."° £NR.

ose fmwa Jjanto amaro

AOS MEUS ANTIGOS PROFESSORES

Q)t. ^Joaquim c/a Q%/va f^J/fiiwt zDi, <òcve%ia-iio m/o$& da çSî'wa Zradfoe QJWÍÍO -ùecoitt e iy/íenexes (Sltnafdo (Sóviêa de -ûacetda (St/vet/o £ri//-fo da <2>//va (3iiimaiã Get-vasio c/etteha dXSt.1a1.tj0 tojosé Q/3 es s a da o)ifva iSatdc. so

Como prova de gratidão eterna pelo vosso desinteresse.

é\o wen pae

%o* tncue parcnfee

ã oi> me-ui» a m v a o * r

AO MEU DIGNÍSSIMO PRESIDENTE DE THESE

P JLL."° E px."° £NR.

jjr. ;[llgdío |grc« Jjmi.ra k ^jalle

» -

Dura lex, scd lex.

Por a minha qualidade de aspirante a facultativo do ultramar assim o exigir, ten­do ainda hontem terminado os meus traba­lhos eêcolares, doente durante os últimos mezes do anno lectivo e por isso, sem tempo para estudar o assumpto com a devida atten-cão, sou obrigado a defender these (se a este trabalho se pôde dar aquelle nome) na pri­meira epocha.

Assumpto escolhido á pressa e mal coor­denado; no meu trabalho pouco mais apre­sento além do conjnncto de vários pedaços, extrahidos aqui e além, e que, fundamenta­dos no campo das theorias, ainda hoje são objecto de longa discussão, á qual evidente-

1(>

mente eu não resistiria, se não contasse com a benevolência dos illustres professo­res que constituem o meu jury, dos quaes esperarei que levem em conta as dificul­dades do assumpto e as pessoaes.

cWvafco CÍHCI wíto.

REGULARÏSAÇAO DA MENSTRÏÏAÇAO

—o®o

Em vários livros que consultamos, e que mais ou menos se referem ao assumpto, quer directa quer indi­rectamente, pouco encontramos que nos possa elucidar d'um modo positivo e absoluto.

No emlanto, alguns elementos pudemos colher, em­bora em nenhum auctor encontrássemos o assumpto des-criplo, clara e francamente.

Sobretudo, a' propósito da chlorose é que incide mais o casamento e prenhez como meio therapeulico; a cura da chlorose principia a manifestar-se pela apparição do menstruo; por consequência é pela regularisacão da mens­truação, ou antes pela tendência para a normalidade da menstruação, que nós poderemos seguir a cura progres­siva da chlorose até á desapparicão d'esla doença que coincidirá com a apparição physiologica da menstruação.

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IS

Não imporia que se considere a chlorose como cau­sa ou, effeilo das modificações menslruaes ; em primeiro logar vejamos quaes as ideas emitlidas acerca d'esté assumpto.

Já ha muílo tempo que Hyppocrales, acerca do casa­mento, exprimia assim as suas ideas: «Equidem virgi-nibus suadeo ut citissime cum viris jungantur; si enim conceperint, sanae evadunt». Também diz mais, que as relações conjugaes podem favorecer o corrimento san~ guineo periódico.

Platão exprime a mesma ideia (In prax. Cap. XIV). Hoffman na Medecina racional e systematica (t. IV), Cullen nos Eléments de Médecine (t. II, p. 136) estão mais ou menos d'accordo n'este assumpto. Cullen faltan­do d'um modo muito nilido sobre a influencia das rela­ções conjugaes sobre a amenorrhea chlorotica, diz: Ha nas mulheres um certo estado dos ovários, que as pre­para e dispõe a gozar dos prazeres de Venus desde a puberdade ; existe uma sympalhia entre o estado dos ovários e o dos vasos uterinos; o estado dos primeiros contribue para excitar a acção dos últimos e para pro­duzir o fluxo menstrual.

«Quando o estímulo produzido pelos órgãos genilaes falta, todo o systema cabe n'um estado de apalhia, que pôde occasional' a chlorose e a retenção das regras; o estado dos ovários n'este momento estimula todo o sys­tema, augmenlando-lhe a tensão; se esta mudança não é efectuada, pôde apparecer a chlorose, caraclerisada por flacidez e enfraquecimento; estes symptomas podem de­pender da falta de evolução d'estas partes. E' por estas

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razões que a retenção dos mezes deve ser relacionada a um certo estado ou a uma determinada affecção dos ovários.

«0 uzo dos prazeres de Venus é com certeza um es­timulo para os vasos uterinos. Entre os remédios que me parecem mais efficazes, os prazeres de Venus são o em-menagogo mais poderoso, que nós conhecemos nas mu­lheres.»

Gomo vemos, o auctor formula a sua opinião d'um modo claro, não hesitando sobre o processo a empregar para lutar contra a retenção dos mezes.

Brierre de Boismont, no seu trabalho: De la mens­truation considérée dans ses rapports phijsiologiques et pathologiques, mostra, que praticou investigações impor­tantes sobre este assumpto ; n'uma estatística de cento e viute e duas mulheres irregularmente menstruadas, dez melhoraram consideravelmente pelo casamento e prenhez.

Astruc, no sei: Traité des Maladies des femmes (1761-1765, t. II) diz: Il faut user du mariage modé­rément, en rendre peu á peu l'usage plus fréquent, mais ne pas se hâter d'en vouloir retirer tous les avan­tages qu'on doit en attendre.

Esta espécie de therapeutica, que consiste em fazer do casamento -o «mariage-médicament», como diz Gosset (these Paris 1896 — Le mariage des chloroliques) é de­veras singular.

Não é somente Astruc; é ainda Boundinier (these, Paris 1844) que lambem diz: «son usage doit être d'a­bord fort modéré, il doit être fractionné á petites doses, prises à d'assez longs intervalles».

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Amiral aconselhava : estiimilae nas chlorolicas o sys-tema nervoso pelas emoções physicas e moraes do casa­mento, e uma melhor coração da pelle annunciará o restabelecimento da saúde.

A opinião que Raciborsky emitte acerca da influen­cia da prenhez no seu Traité de la menstruation é a seguinte: «as prenhezes, que terminam por partos feli­zes não seguidos d'accidentés inflammatories do lado dos ovários, parecem favorecer geralmente o exercício da menstruação ; e, quando ellas se suecedem em grande numero e com intervallos próprios, essas prenhezes pa" recém entreter e auxiliar a actividade sexual em vez de a esgotar, e diminuir, em vez de augmentai-, a menopausa.

«Não queremos com isto dizer, que não existam mu­lheres que não cessam de ser regradas senão aos 49 ou 50 annos, posto que nunca tivessem filhos ; porém, em regra geral, os partos felizes exercem uma influen­cia favorável sobre a menstruação, regularisam a sua marcha, quando ella é irregular, e entretém a funeção da ovulação. Talvez que não haja exaggéro na exposição d'esté nosso pensar, pois não ha nada mais rasoavel, mais lógico e mais conforme ás leis physiologicas».

Com interesse puramente histórico, existe uma these de Th. Drossin (7 de janeiro 1616, Paris) An venus amantium ictero? que trata da icterícia dos amantes, que não é senão a chlorose; diz elle que esta doença é devida á obstrucção dos órgãos pelas paixões tristes ; a doente procura então os prazeres'do amor, que liquefa­zem os humores perigosos e favorecem a sua expulsão, obtendo por este meio o remédio para os seus males.

ai

Uma outra these escripta por Denyau, (28 Marfo 1658, Paris) inlilulada — An palliais virginum colori-bus Venus? — não diffère da antecedente, e também só a citamos como documento histórico. A chlorose, diz o auctor, é devida a uma condensação dos humores, que impedem a evacuação das regras. A sangria deve ser praticada; mas, diz elle, não é um remédio agradável, e do qual as chlorolicas possam fazer sem desgosto um uso frequente e diário ; é preciso recommendar-lhes o casamento, pois é elle o melhor meio de provocar o re­torno das regras.

Vê-se pois, que a maior parte dos andores antigos têm frizado, que o cazamento e a prenhez podem regu-larisar a menstruação, não hesitando alguns d'entre elles em aconselhar o casamento e prenhez, como meio thera-peulico. Aos nomes, acima citados, podemos juntar Lieu-tand, Gardieu, Velpeau, e mais alguns, considerados au-cloridades no assumpto.

Emquanto a andores modernos, M. Gilbert, na Gaz. Hebd. 1890, diz: «o medo, a tristeza e o amor provo­cam a chlorose, e apoz o cazamento apparecerá um rápi­do melhoramento». Isto é verdade, mas o cazamento não actua senão d'um modo indirecto ; é no systema ner­voso que as modificações se produzirão, e cuja acção actuará sobre a nutrição geral e sobre a menstruação (Gosset, these, Paris 1896).

Dieulafoy, no seu Manual do Palhologia, affirma que, na chlorose, as perturbações funccionaes são constantes, e pergunta-se ás vezes, se estas perturbações são causa ou effeito do estado chlorutico. A chlorose não é um obs-

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laculo á fecundação. A prenhez tem mesmo algumas vezes uma feliz influencia sobre a chlorose.

M. Chariin, com as suas recentes investigações, ex­plicou os benefícios do casamento na chlorose ; a sua nova theoria sobre a pathogenia d'esta doença parece dar-lhe razão.

Que deducções poderemos tirar d'estas opiniões to­das? Primeiro, existem casos indiscutíveis de regulari-sação dos menstruos pelo casamento e prenhez; depois, taes melhoras tem sido principalmente observadas na chlorose, e tudo isto confirmado pelo resultado de moder­nas investigações.

São estas investigações, são estas ttieorias modernas que resumidamente descreveremos; mas, para completo esclarecimento do assumpto, trataremos em primeiro lo-gar da p l i y s i o l o g i » t ios o r g a o s g e n i -t a e s cLa, m u l h e r .

PHYSIOLOGIA DOS ORGAOS GENITAES ® ¥ » A © Ã ® S 05aSKliT!BMÃfã© il @E©3ÍIf $©' D É t É M A

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IV o ovário o órgão mais importante dos órgãos ge-nilaes femininos; o valor dos outros órgãos, posto que de grande importância também, não parece ser senão accessorio no apparelho genital.

O ovário deve considerar-se como uma glândula, que tem a seu cargo segregar o ovulo, o qual, pela fe­cundação se transforma no ovo; é esta a sua principal funccão, á qual se chama secreção externa; todavia, não é a única; pelo sangue menstrual, é encarregado de eliminar o excesso das toxinas do organismo (Spil-Imann, Congres de Nancy 1896); é uma das secreções que, juntamente com as de outros órgãos, mantèem o estado de equilíbrio entre a assimilação com a produc-ção de substancias toxicas, e a desassimilação d'essas substancias produzidas; já M. Gharrjn demonstrou que,

H

anles do periodo catamenial, lia augmento de toxinas or­gânicas.

Ha ainda no ovário mais uma funeção ; a secreção interna, que tem um fim importante na nutrição geral.

As funções ovaricas apparecem na puberdade, para desapparecerem na menopausa ; é por isso que a pu­berdade marca uma phase totalmente nova e modifica dora na vida da mulher.

As 1res funeções ovaricas, são pois: ovulação, mens­truação e secreção interna; vamos estudai-as separada­mente.

Ovulação: — A ovulação é a queda do ovulo, de­pois de altingida a maturação, para fora do ovisacco pela ruptura d'esté (Pouchet). Quando esta queda ou expul­são se faz normal e habitualmente d'um modo espontâ­neo, e em épocas fixas, todos os messes, chama-se a esta funecão — ovulação espontânea, e determina a hemorra­gia sexual. Esta opinião foi formulada pela primeira vez, e quasi simultaneamente em França, por Gendrin e Né­grier em 1829 e 1840; as investigações de Pouchet, Raciborsky e Bischoff tornaram definitiva esta opinião.

Fora do periodo menstrual, e sob a influencia de excitações sexuaes, o ovulo pode ser expulso, estando por consequência a mulher apta para ser fecundada ; n'este caso a ovulação não é espontânea.

Vejamos quaes as condicções necessárias para que um ovulo seja expulso. E.' claro que, em primeiro logar, deve estar maduro. Quando a mulher atlinge a epocha da puberdade, muitos folliculos de Graaf augmenlam de

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volume, o bolbo do ovário vascularisa-se, por assim di­zer entra em erecção, e, como diz Ribemont-Derssaignes na sua Obstétrica, o ovisacco impellido para o exterior, distende-se fazendo saliência externa. Ha augmento de tensão interna.

Passado tempo, a parede da vesícula, que então já está muito delgada, rompe-se, e o ovo eahe, sendo reco­lhido na trompa.

Casos ha em que a queda do ovulo se effectua no peritoneu ; ahi é então destruído ; a emigrarão uterina do ovulo é a mais vulgar; a disposição do epilhetio In-bar com as suas celhas vibrateis, junta ás contracções das fibras musculares da trompa, explicam esta emi­gração do ovulo até á parte superior do utero; o tem­po médio necessário para o ovulo percorrer a trompa é de 12 a 15 dias; se, durante este trajecto o ovulo é fecundado, enxerta-se na mucosa uterina; se não é fe­cundado, é reabsorvido.

A laceração produzida pela ruptura do folliculo sof-fre um trabalho de restauração, que termina pela forma­ção do corpo amarello.

Dissemos que havia uma espécie de erecção, de hy-perhemia no ovário ; mas não é este o único órgão geni­tal que se congestiona ; o utero e as trompas mostram periodicamente a mesma influencia.

Menstruação : — E' a evacuação sanguínea temporá­ria mensal no estado normal desde a puberdade até á menopausa. Quando ella apparece pela primeira vèz, a

mulher entra n'uma vida nova, vida activa por excel-

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lencia (este desenvolvimento rápido, intenso, enfraquece o organismo e diminue a sua resistência); é a vida geni­tal; geralmente é entre os 13 e 16 annos que se opéra esta transformação, (nos nossos climas, pois que o appa-recimento da menstruação aos 9 annos nos inter-tropicaes, por exemplo, é tão normal como nas nossas mulheres aos 13 annos; sendo por consequência variável com a edade, e obdecendo a influencias, como a constituição orgânica e o meio exterior, que são susceptíveis de modificar este novo estado).

Raciboroky diz no seu Traité de la menstruation : «le degré de la puissance vitale dévolue á la faculté de reproduction.»

A hereditariedade e a raça são também dois facto­res importantes, e que entram em conta para a explica­ção da apparição normal precoce ou tardia da mens­truação, assim como a alimentação (um regimen confor­tável auxilia a apparição normal das regras) ; a perma­nência nas cidades, onde as excitações cerebraes são mais frequentes que no campo, também tem o seu po­der modificador.

A duração média da faculdade de reproducção, limi­tada pela puberdade e pela menopausa é, segundo as estatísticas, de 32 annos. A menopausa apparece geral­mente aos 45 annos.

Na occasião em que a creança se vae a tornar mu­lher, poderosas modificações se operam no seu organis­mo; os seios principiam a desenvolver se, a voi modi-fica-se, principiam a apparecer os péllos no pubis (for­mação do monte de Venus), e nas axillas; e, sobretudo,

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novas aptidões se revelam. E' n'este momento que, como ,já dissemos, um ovulo attinge a sua maturação completa.

Admitle-se que a quéda d'esté ovulo é o signal da menstruação ; entretanto ha alguns auclores, que não confirmam esta regra, e por isso não devemos suppôr absoluta a submissão da menstruação á ovulação ; Beigel, por exemplo, diz que a menstruação é um sim­ples affluxo sanguíneo na mucosa do utero e irompas, onde o ovário é tão passivo como aquelles mesmos ór­gãos.

São conhecidos alguns signaes precursores que an-nnnciam a menstruação : pêzo no baixo ventre; sensibi­lidade exaggerada dos seios; dureza do mamillo; per­turbações digestivas e cephaléa muitas vezes, etc.

A ovulação nos mammiferos determina a apparição de desejos genésicos, que chamamos cio.

Gompara-se também a menstruação na mulher á dos animaes.

O corrimento catamenial dura 3 a 6 dias (no estalo normal); costuma dividir-se em très phases:

l.a Invasão. — Nas vésperas da apparição das re­gras, o mucos exsudado pelo apparelho sexual adquire um cheiro sui generis e, ordinariamente, torna-se mais escuro ; a duração d'esté periodo é d'ordinario um a dois dias; algumas vezes, passadas 12 horas, desappare-cem estes signaes e o.muco torna-se normal, para no dia seguinte apparecer um corrimento de sangue quasi puro; este periodo é muitas vezes acompanhado de calor e prurido nas partes genitaes.

2." Estado. — E' n'este periodo que a hemorragia

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se manifesta com maior intensidade ; no primeiro dia, o sangue apresenla-se em pequena quantidade, ou appare-ce e desapparece alternativamente ; o exame microscó­pico das mucosidades, mais ou menos coradas de san­gue, mostra ceilulas epilheliaes provenientes da mucosa uterina; esle corrimento é mais notado no 2.° dia, e durante o 3.° attinge o seu maximum; ao 4." diminue o corrimento para desapparecer ao 5.° dia.

3.» Cessação—E' caracterisada pela diminuição da hemorragia menstrual, e pela desapparição do sangue e do muco ulero-vaginal.

Galcula-se entre 100 a 200 grammas a quantidade media do sangue expellido pela menstruação ; este san­gue tem lodos os caracteres do sangue venoso ; contem muito acido carbónico.

D'um modo geral, diz-se que ha suspensão das re­gras, sempre que haja no organismo da mulher um gas­to phisiologioo anormal ; é assim que, durante a prenhez e lactação, não apparece a menstruação.

Estudada a funcção, vamos vér por que mecanismo se produz.

Mecanismo da menstruação

Rouget demonstrou que as fibras lizas do utero en­tram em contracção durante o período catamenial.

Ora, sabemos que existem no utero bastantes plexos venosos de paredes delgadas; estes seios venosos deixam-se facilmente comprimir, emquanlo que as artérias, pela

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sua espessura, resistem, apresentam mesmo phenome-nos de vaso dilatação, d'onde resulta um augmenlo de entrada sanguínea, emquanto que a circulação de retor­no está diminuída. Resulta d'isto, que o utero congestio-na-se; augmenta de volume, a sua mucosa engrossa, hy-pertrophia-se, o seu coito lumefaz-se e amollece ; todo o apparelho genital participa d'esta congestão : trompas, ovários e os ligamentos largos lambem.

A mucosa uterina soffre uma degenerescência gordu­rosa (segundo Williams), exfolia-se completamente, para depois se regenerar.

Engelmann e Kundrat dizem que só a camada super­ficial se exfolia ; Moricke diz mesmo que esta exfoliação não existe ; mas, como dissemos ao descrever as phases da menstruação, o apparecimenlo de cellulas proprias á mucosa uterina é a prova mais concludente d'essa exfo­liação uterina.

Causas da menstruação

A congestão do ovário produz a queda do ovulo ; mas esta congestão coincide com a congestão geral dos órgãos genitaes na occasião da epocha da menstruação ; será a ovulação independente da menstruação, ou a pri­meira funcção a causa determinante da segunda?

Négrier, Gftndoin e Bischoff demonstraram que, em cada epocha menstrual, ha a ruptura d'um folliculo de Giaaf. Píliiger e Vulpieau explicam o phenomeno por um acto reflexo : «a excitação das extremidades terminaes

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dos fblliculos, devida á distensão do foUiculo, reagiria sobre os centros nervosos e trariam por via reflexa uma congestão dos órgãos genitaes.

Pflilger pretende que a muda epithelial do utero tem por fim expor uma superficie de proliferação para o en­xerto do ovulo.

Kuss et Duval na sua Phisiobgie, admittem que es­ta muda epithelial é um phenomeno sympalhico do de­senvolvimento epithelial do ovário.

Alguns gynecologists, n'estes últimos tempos, querem fazer da menstruação uma funcção uterina ligada ao modo de evolução da sua mucosa, e independente da ovulação.

Com effeito, dizem elles, existem exemplos de ovu­lação sem menstruação (já alraz nos referimos a isto); exemplos ha de amas de leite, de mulheres, que passa­ram já o periodo da menopausa, e que têm alcançado-

Inversamente, existem casos de menstruação sem ovulação, nas mulheres que soflreram a operação de ova-roitomia dupla.

Ashevell fez três necropsias cm mulheres mortas du­rante as regras, e não encontrou nos ovários nem cor­pos amarellos nem vestígios de rupturas de folliculos de Graaf. Então conclue Sinety que a ovulação e a mens­truação não são duas funeções unidas entre si.

Goodmann diz que a menstruação é a causa da ovu­lação; é a theoria chamada da nidação; cada mêz, a mucosa uterina hypertrophiando-se, prepararia ao ôvo um verdadeiro ninho, não se libertando o ovulo do seu folliculo sem este acto estar completo ; fecundado o ovulo, ahi se enxertaria.

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Uma nova lheoria (Sigismond et Leovenhart) consi­dera a menstruação como o effeilo da destruição do ovulo no utero.

Mais ou menos é isto o que sabemos sobre a relação da ovulação espontânea e a prodncção do fluxo catame-nial. Não devemos todavia appressarmo-nos em concluir por esta ou aquella theoria sob pena de erro, (como por exemplo, em prenhezes de mulheres não regradas) ; tal­vez que em dadas circumstancias pathologicas de difficil determinação possa produzir-se a ovulação, sem que a excitação que ella produz no resto do apparelho genital seja bastante intensa para produzir a hemorragia habitual.

Já de ha muito que o sangue menstrual é considera­do toxico; Gharrin nas suas Leçons de pathogenie appli­quée (1897, pag. 186) serve-se de antigas theorias, mas modificando-as; a menstruação, prepara antes de tudo o enxerto ovular, e expurga também a economia de verdadeiros venenos.

Na occasião em que as regias vão apparecer, a toxi­cidade do soro sanguíneo tende a crescer ; as amas de leite que porventura continuem amamentando, nas quaes appareça ou esteja para apparecer o fluxo menstrual, pro­vocam nascreanças diarrheas, febres, erupções, herpes, ele.

Na propria mulher, e n'este periodo, bastantes modi­ficações podem produzir-se, como por exemplo, no ap­parelho pulmonar, na pelle, e no estado geral.

Grattery (New-York Journal, 1888) apresenta a se­guinte observação:

F., regrada desde os 12 annos tem hoje 19 annos,

32

e em cada période- menstrual apresenta dores perineaes intensas, cephalalgia e perturbações digestivas; estes ac­cidentes duram alguns dias para desapparecerem com as regras. Demais a voz modifica se d'uma maneira pe­riodica, e as perturbações da phonação são taes que a doente não pode cantar.

No apparelho pulmonar, ha também observações, que provam a coincidência da apparição de perturbações n'este apparelho e a apparição da menstruação ; em ca­da epocha das regras vé-se apparerer, n'um praso de 3 ou 4 annos consecutivos, uma bronchite, para desappa-recer com as regras; não se pôde admitlir que, justamen­te todos os mezes, e na mesma epocha, a mulher possa expôr-se a qualquer causa provocadora d'aquella doença, não se queixando ella, no intervallo das regras, da bron­chite; tal coincidência não tem razão de ser.

Não poderemos, por consequência, vêr na descripção de varias affecções ou perturbações, como as descriptas, uma manifestação da toxicidade do sangue menstrual, toxicidade cuja acção se faz sentir principalmente sobre os órgãos que, como o pulmão, apresenta uma aptidão e receptividade especiaes? Talvez que a hyperhemia vas­cular da economia explique esta localisação pulmonar.

O systema nervoso lambem participa do abalo geral, e isto é demonstrado por varias modificações durante a menstruação : mudança de caracter, cephalêas, etc.

Charrin, a propósito da toxicidade do soro diz: «o soro recolhido vinte e quatro horas antes da hemorra­gia, paraceu-me mais toxico para o rato, do que o que se obtém dois dias depois: o soro d'uma cadella matou

te

a 'Yiooo l10 momento da epocha catamenial e a 20/iooo n o

terceiro dia depois da desapparição das regras.» Gonclue-se por aqui, quaes as modificações do soro,

que, juntas lambem ás modificações reflexas da innerva-ção vaso-motôra (como no exemplo da affecção pulmo­nar) justificam os factos apontados.

Por este resumo das funcções menstruaes, vimos qual a sua utilidade, e veremos mais longe quaes as pertur­bações que a suppressão d'esta via de emunctorio parece occasional' ou reflectir no organismo. '

Secreção interna do ovário

Parece-nos que esta questão da secreção interna do ovário não está ainda completamente estudada e resol­vida; algumas palavras.

M. Duval, n'uina licção, emitle a idêa que, na opothe-rapia ovarica, é a substancia dos corpos amarellos que forma o principio activo. Os corpos amarellos são ver­dadeiras glândulas fechadas.

As cellulas que constituem os corpos amarellos, tem lodos os caiacteres das cellulas glandulares; não se di­videm, conservando assim toda a sua actividade para uma funcção de secreção; as suas relações com os vasos sanguíneos confirmam esta opinião; já de ha muito que Malpighi considerava o corpo amarello como uma glân­dula destinada a segregar o ovo.

Gomo se forma o corpo amarello? Depois da ruptura do folliculo de Graaf, a membrana interna hypertrophia-

3

u

se consideravelmente, as cellulas impregnam-se de gra­nulações réfringentes mais ou menos coradas, e que dão pigmentação amarella especial. Sob a influencia da re­tracção cicatricial da parede externa, a membrana hy-pertrophiada dobra-se, formando cireumvoluções cujos bordos livres acabam por se soldar por contado. Forma-se um corpo amarello sempre que um ovisacco se rompe.

»E' notável, dizDuval, se o ovulo, que foi expulso, é fecundado, e que ao fixar-se no utero ahi soífre os phénomènes da gestação, no ovário produz-se por um acto sympatbico ou reflexo, di/ficil de explicar, uma evo­lução hyperlropbica do ovisacco lacerado, hyperlrophia á qual succède ulteriormente (no fim da prenhez) uma atrophia, dando origem a uma cicatriz análoga á dos óvulos não fecundados, mas muito mais considerável e mais persistente. São estes os corpos amarellos verda­deiros, e aos da menstruação chamam-se falsos».

A evolução do segundo dura 25* a 30 dias, emquan-lo que o do primeiro dura durante todo o periodo da gestação. N'esta occasião, em que os phénomènes vitaes se encontram consideravelmente augmentados, parece que a funcção ovarica é especialmente activada.

Qual será pois, essa funcção? Brown-Séquard foi o primeiro (1889) que disse al­

guma coisa sobre as secreções chamadas internas: «A ausência de certas glândulas é sentida quando são ex­tirpadas, visto darem ao sangue princípios uleis»; do mesmo modo attribue elle ás glândulas fechadas um fim que não se conhecia.

Por experiências, chegou a demonstrar que todas as

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glândulas de secreção externa possuíam lambem uma secreção inlerna. Experimentou.o sueco ovarico, e em-pregou-o como agente llierapeulico; os bons resultados tirados em mulheres castradas são uma prova quasi certa da existência d'uma secreção inlerna do ovário, e o logar d'essa secreção é o corpo amarello, provavel­mente.

Vamos agora examinar as causas que podem deter­minar perturbações n'esta luneção tão importante como é a menstruação.

Irregularidades da menstruação

A irregularidade da menstruação manifesta-se, na maior parte dos casos, pela amenorrhea, ausência, sup-pressão ou simples diminuição do (luxo menstrual — Dice. Dechambre —n'uma mulher em edade de ser iCs-grada, e fora das condicções phisiologicas da prenhez e lactação; sob o ponto de vista etiológico, dividem-se os casos d'amenorrhea em muitas classes :

l.° Amenorrhea essencial, classe para a qual não se pôde encontrar a causa.

2.° Amenorrhea accidental —o frio, sangrias, fadi­gas, paixões, emoções, etc., são causas d'estas amenor­rheas, devendo-se levar em conta as predisposições individuaes, pois é sabido que ha mulheres expostas cons-lantemènte ás correntes d'ar, esfalfadas pelo trabalho, etc., e que são sempre menstruadas regularmente.

3.° Amenorrhea primitiva, que résulta d'um orga-

:ÎO

nismo defeituoso; diversas doenças podem aqui ser leva­das em linha de conla: anemia, quer determinada por uma má hygiene ou resultante d'uma intoxicação, as doenças agudas, tuberculose, syphilis, mal de Bright, diabete, cachexias palustres, mercuriaes, saturninas e por ultimo a chlorose.

0 desenvolvimento incompleto do organismo (rachi-lismo, escrófula, etc.) retarda a puberdade, e d'ahi pôde resultar a amenorrhea.

As perturbações nervosas também são causas de amenorrhea, como a hysteria, que pode determinar phe-nomenos vaso-constrictores, resultando a ischemia da mucosa uterina,, assim como se observa a ischemia em diversas partes do corpo.

Por ultimo, a amenorrhea pôde ser symptomatica de certas condicções anormaes dos órgãos genitaes: infan-tilismo genital, ausência do utero ou ovários, e as affec-ções d'estes diversas órgãos.

Por este resumo, vemos que as causas da irregula­ridade menstrual são variadas; talvez que não haja af-fecção rio decurso da vida genital da mulher, que não seja uma causa de amenorrhea; Roussel diz : «o corri­mento menstrual é na mulher o signal, e por assim dizer a medida da saúde».

Eliminamos os casos de deformidade dos órgãos ge­nitaes, assim como as affecções especiaes dos ovários, trompas o utero, porque pouco interessa no que diz respeito ao assumpto, assim como as amenorrheas conse­cutivas aos estados mórbidos, pois sabemos que estas amenorrheas desapparecem ou modiíicam-se pela modiíi-

;\1

cação d'esse estado mórbido. Taras hereditárias lambem não podem ser modificadas pela prenhez, para assim se combater a amenorrhea.

De todas as innumeras causas da amenorrhea falla-remos da chlorose pois é a única que nos interessa, atlen-dendo a que é sobre a chlorose que a prenhez pôde ter alguma influencia. Esta affecção parece estar ligada á propria evolução dos órgãos genilaes da mulher.

No seu tratado de medicina, Charcot e Bouchard (II pag. 501) dizem que as perlurbações da menstruação estão em relação com o grau da chlorose ; quando ella é d'uma média intensidade ou ligeira, as regras persistem, diminuindo mais ou menos notavelmente em relação à duração é á quantidade. Uma das manifestações da cuia, consiste na volta ou augmento da quantidade do mens­truo. Dieulafoy diz que «as perturbações funccionaes dos órgãos genilaes são constantes, pergunlando-se ás vezes se são causa ou effeito. Sobre isto tem-se discutido mui­to. Numerosas theorias ha sobre a pathogenia da chlorose; fallaremos n'ellas, afim de optarmos pela que pareça melhor para explicar a regularisação da menstruação pelo casamento e prenhez.

Pathogenia da chlorose

Vamos fallar somente da chlorose chamada essencial, primitiva, sem lesões orgânicas propriamente dilas : dei­xo de lado as chloroses symptomalicas, anemias secun­darias, ou falsas chloroses.

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M. Gilbert (Press. Medic. 18 août. 1897) distingue muitas lheorias para explicar a pathogenia da chlorose :

1.»— Theoria nervosa. — Tem em Trosseau um de­fensor, que considera o elemento anemico como secun­dário; o elemento nevropalhico é o primário n'esta doença. A chlorose seria uma verdadeira névrose, cuja localisacão é différente : para uns andores essa localisação faz-se nos centros vaso-molores activados por uma exci­tação centrípeta vinda dos órgãos genilaes. Não offerece duvida que o syslema nervoso é profundamente pertur­bado n'esta doença; mas será o systema nervoso o prin­cipal factor?

2.° — Theoria digestiva.—Uma alimentação defei­tuosa sob o ponto de vista da quantidade de ferro, dys­pepsias associadas a perturbações nevropathicas, insnffi-ciencia motora do estômago, fermentações (Bouchard), tem sido apresentadas como cansa. As perturbações dys-peplicas produziriam uma aulo-intoxicação que actuaria nos órgãos hematopoietics (Mongour, congres de mé­decine de Nancy, 1896).

3 . a — Theoria vascular. — Esta theoria é baseada nos trabalhos de Yirchow. Numerosas autopsias lhe mos­traram anomalias vasculares em mulheres, que tinham succumbido durante a chlorose.

A aorta está profundamente modificada (aortis chloro-roliça), llayem pergunta como se podem explicar estes factos, se ha curas rápidas em 5 ou 6 semanas, sem recidiva, havendo lesão na aorta e hypoplasia dos vasos.

Si)

4a. — Theoria hematka. —Gilbert — As lesões cons-lanles, diz elle, são as que ferem os he m ato blast os e as hematias. As investigações de Ilayem vêm em auxilio d'esla theoria.

o.*—Theoria evolutiva. — A chlorose seria devida a uma paragem no desenvolvimento da constituição (Ach-well), ou a uma predisposição natural (Bouilland), á evolução dos órgãos genilaes no momento da puberdade (M. Levy), á desproporção entre as forças de desenvol­vimento e os meios reparadores [Cj. Sée), a uma insuífi-ciencia orgânica geral (Hanoi).

6.a—Theoria infecciosa — Esta theoria, sustentada em Lyon, baseia-se na apparição de febre. Bronssais vê n'isso uma irritação visceral, que causa consecutivamen­te a retenção das regras. «A natureza infecciosa da doen. ça, diz Clement, é demonstrada pela hyperlrophia fre­quente do baço, peta presença de phlébites, de nephri­te parenchymatosa, endocardites e pericardite. M. Blon-dcl (Soe. Therap. 7 abril 1897) diz que é o effeito d'uma suppressão da funeção anlitoxica da secreção interna, quer do thymus quer do ovário.

7.a—'Theoria genital. — E' a antiga theoria de Hypo-crates, e renovada por Pinei, Bean, Roche e Moutard-Martin. Ambroise Paré diz: «A aucunes le sang mens­truel ne s'écoule si que ne pouvant sortir, regorge en la masse sanguine, que s'altère et corrompt faulte d'être évacuée.. . d'où procèdent les pales couleurs.» A clilo-

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rose é devida aos obstáculos que podem ir de encontro ao estabelecimento das funcções uterinas na puberdade (Trousseau et Pidoux, no seu Tratado de Therapeutica); a chlorose é uma intoxicação do sangue pelos productos deletérios não eliminados pelas regras (Mansard-Martin). Esta ultima theoria foi modificada por M. Charrin : «re­sulta d'uma insulficiencia do desenvolvimento dos órgãos genilaes, que faz com que elles preencham menos efli-cazmente a sua funcção eliminadora.

Uma nova theoria de Spillmam "e Etienne (congrès de Nanry, 1896) parece conciliar as différentes hypothe­ses anteriores: a secreção interna do ovário actuaria como antitoxica sobre as substancias eliminadas na nutri­ção; se esta secreção fosse supprimida ou somente al­terada, haveria uma intoxicação geral do organismo, e provavelmente a insuficiência d'oxydaçao das substan­cias orgânicas phosphoradas, carbonatos de hydrogenio e gorduras. Com eífeito, observa-se o engordamento na menopausa. A ausência d'esta secreção (castração, por exemplo) dá logar a symptomas idênticos aos que se en­contram na chlorose.

0 poder toxico do sangue, em geral, está em razão inversa do poder toxico das urinas; ora, na chlorose, a toxicidade das urinas está quasi sempre diminuída.

Os rins podem tornar-se fracos na sua funcçáo eli­minadora, d'onde resultará o Chloro Brigtismo ; e, se o ' fltixo menstrual não intervisse, haveria intoxicação.

Ve-se que esta theoria é lógica, e attestada por mui­tos factos clínicos e experimentaes. Emfim, uma prova

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das mais convincentes, é a que se pode tirar dos resul­tados da opotherapia ovarica no tratamento da chlorose. Muitas vezes são os tratamentos que indicam a natureza dus doenças: «naturam morborumcuralionesostendunt».

Com estas ideias vamos entrar na discussão do as­sumpto.

Dissemos já, que não consideraríamos como susceptí­veis de ser modificados, felizmente, senão os casos de amenorrhea não originados por qualquer lesão orgânica verdadeira. Os effeilos terríveis do casamento e prenhez sobre o mal de Bright, tuberculose, syphilis, afteccões cardíacas (lembro a celebre phrase de Peter: afilies, pas de mariage; femmes, pas de grossesses ; mères pas d'al­laitement», são demais conhecidos, pelas innum.^ras observações; são um facto indiscutível.

No entanto não são raros os casos que provam accen-tuaçâo de melhoras da menstruação depois do casamen­to e prenhez.

Auctores ha que, interrogando, investigando numero­sas mulheres idosas sobre o seu passado genital, e es­colhendo d'entre ellas as que eram de recordação mais precisa, obtiveram observações preciosas para justificar a modificação da menstruação pelo ca?amento e prenhez. Temos duas observações pessoaes; uma completa, outra incompleta.

E' natural, por consequência, poder aífirmar a in­fluencia reguladora do casamento sobre o corrimento periódico.

O coito é um facto physiologico, um acto que só au­gmenta a actividade funccional dos órgãos genitaes. A

it

congestão pélvica, que d'ahi resulta, com toda a certeza apressa a dehiscencia d'um folliciilo de Graal' e a queda d'um ovulo; é isto um facto normal, e, desde que a funcção genital parece extinguir se, o coito vem favo-recel-'a, alimenlal-a. Escusado é dizer que uma condicção especial é a normalidade de todos os órgãos. «Ha casos em que a amenorrhea deve ser considerada como irreme­diável (Dechauíbre). Se se luctasse contra elle, perigaria com isso a mulher nas doenças incuráveis : na ausência congenital do utero, a atrophia, a degenerescência do ovário, por exemplo; mas no caso de asthenia dosyste-ma nervoso, de torpor dos órgãos genitaes, o coito pa­rece indicado, e aconselhar-se-ha o casamento».

Na occasião em que a excitação parle do ovário, o organismo faz como que um esforço para conseguir a realisação da funcção menstrual, esforço que se traduz por cólicas surdas, pézo no baixo ventre, cephalêa, mnlimon; ora, a excitação genésica não poderá refor­çar e mais ainda, favorecer este reforço da natureza? Claro é que isto são simples vistas do espirito, e que não explicam d'um modo scienlifico o mechanismo pelo qnal se operam estas transformações, pois para se po­derem explicar, seria necessário conhecer bem a fundo os phenomenos da menstruação.

Tomemos para exemplo qualquer das observações : uma menina, saudável, sem tara hereditaria, lorna-se mulher. Na occasião d'esta transformação apparece a chlorose e uma menstruação irregular. A que devemos atlribuir isto? Uk hygiene? Alimentação insufficient? Não será provável.

4:î

Casa-se, e as melhoras apparecem e com tendência para a cura.

(Vide observações finaes).

N'eslas observações, a influencia das simples relações sexuaes não é o único factor em jogo: o elemento mo­ral não deve ser rejeitado. «Estimule-se o systema ner­voso pelas emoções physicas e moraes do casamento, diz Andral, e uma melhor coloração da pelle annunciará o restabelecimento da saúde». A snggeslão, que n'esta circumstancia parece actuar, altinge o seu fim, pois excita o systema nervoso do ovário, que, principiando novamente a funccionar com normalidade, tem urna feliz influencia pela sua secreção interna sobre a hematopoiese e sobre as permutas orgânicas (Riforma Medica, 1896, n.os 244 e 245J.

Esta theoria parece justa e concordar bem com os novos dados sobre as funcções do ovário. «As chloroticas tem direito ao ea-iamento, pois em razão das emoções physicas e moraes que o casamento lhes proporciona, podem obter melhoras no seu estado mórbido.

Vem a propósito dizer que estes casamentos devem ser feitos em boas condieções, com o lim de ser melho­rada a situação social da mulher ; se ao augmenlo de si­tuação social puder ella associar o amor reciproco, as chloroticas podem tirar bons effeitos.

W preciso lambem que a chlorotica não esteja n'um grau de doença tão adiantado, que o casamento e sobre­tudo os riscos d'uma prenhez, lhes sejam interdictos.

Repelindo, as influencias moraes bem ou mal deter-

u

minadas, tem uma grande influencia nas mulheres, com especialidade nas nervosas. À prova d'isto está na Ob­servação 10." em que uma menina é curada pela simples satisfação d'um dos seus desejos. N'mna outra menina, é o impedimento a um casamento que determina a ame­norrhea e a chlorose (observação 9.a). Em outra é o medo que supprime as regras, e determina consecutivamente a chlorose. A cura realisa-se nos dois casos cfepois do casamento.

Por causa d'uma emoção moral viva, diz Trousseau na sua clinina (T. III pag. 546): as regras supprimem-se, e a chlorose apparece em alguns dias; depois a cura é annunciada pela volta do fluxo menstrual. Talvez se possam comprehender estes factos, suppondo que no caso de haver suppressão das regras, ha uma suppressão de funcção eliminadora, e com a apparição das regras, ha eliminação d'estes princípios. E' a theoria de Gharrin.

Não são só as influencias moraes, que actuam na ame­norrhea chlorotica ; já falíamos do coito, e diremos que parece enterter a actividade dos órgãos genitaes. As ob­servações de Mauriceau são concludenles sob este ponto de vista, pois que a volta menstrual é consecutiva ao casamento.

«Sem querer considerar o acto do casamento como uma panacea para todas as perturbações funccionaes dos órgãos genitaes nas púberes, pode-se entretanto espe­rar, que as modificações importantes produzidas pelas relações conjngaes nos órgãos sexnaes femeninos, pre­disponham a mucosa uterina ás hemorragias, (visto haver augmento de sangue nos corpos cavernosos ; e o escoa-

45

mento do liquido, na occasião da sensação, provoca nova secreção da glândula, de que é expellido, secreção á custa do sangue, fazendo aííluir por isso maior quanti­dade d'elle, correspondendo ella assim com um corrimen­to sanguíneo periódico á incitação vinda do ovário (André Petit, these 18-83-Paris). Gullen parecia adivinhar já as novas descobertas sobre a secreção interna do ovário, e a sua acção sobre o organismo ; dizia: «o estado dos ovários estimula lodo o systema, a retenção do mez e a chlorose devem ser attribuidas a um certo estado dos ovários». Sim; a chlorose depende de certo estado dos ovários, e é devida ás modificações da sua secreção interna (Eti­enne).

E' esta secreção intern*; que tem um papel impor­tante na nutrição.

No momento da puberdade, produz-se um augmenta de trabalho physiologico considerável, d'onde resulta au­gmenta de desassimilação orgânica, que produz into­xicação da economia, se não existir a funcção ovarica. Os órgãos funccionarão d'um modo imperfeito, e o utero corresponderá mal à excitação ovarica. A retenção mens­trual vae ainda aggravar os primeiros symptomas d'in-toxicação, supprimindo assim uma via d'emunclorio ne­cessário ao organismo (Charrin).

Mas, se a congestão pélvica, devida ás approxima-ções sexuaes vem estimular os órgãos genitaes, não só a Congestão ovarica favorecerá a ovulação espontânea, mas ainda os vasos uterinos tornar-se-hão mais favorá­veis á hemorrhagia; o restabelecimento da ovulação com os seus corpos amarellos novos, fornecerá sem inlerru-

•:L<;

pção oslas glândulas fechadas, cuja secreção talvez que seja indispensável ao organismo.

As recentes investigações, que tem sido feitas sobre o sueco ovarico, têm sido o ponto de partida d'uni tra­tamento novo da chlorose. Os resultados lèm sido ma­ravilhosos: sob sua influencia, a nutrição e as trocas orgâ­nicas, íicceleram-se ; augmentam as oxidações, crescem as forças e a circulação é régularisa ia.

Se o sueco ovarico tem um elFeito favorável sobre a chlorose e sobre a amenorrhea, porque é que o casa­mento, activando as funeções do ovário, não actua do mesmo modo? Brown Séquard (Arch. Phys. 1890) per­gunta: as mulheres, enfraquecidas ou não, ganharão em vigor algum tempo depoisálo coito, quando este não é em demasia? Vários medicos concluíram para resposta, que : nas mulheres saudáveis, vigorosas e de edade pou­co avançada, com regras normaes, e um estado são dos ovários, o coito não. é seguido de nenhum augrnento notável de forças ; mas, nas mulheres em que os ovários não funecionam d'uni modo normal, se o coito não é uma causa de excitação muito viva, e não muito fre­quente, é em geral seguido d'uni bem-estar mais ou menos notado, e d'nm augmente de forças.

«Os factos que me serviram n'esta discussão, conclue bïonn Séquard, estabelecem como tantos outros, que na glândula espermatica e no liquido que ella produz, se encontram uma ou muitas substancias capazes de esti­mular o systema nervoso e sobre tudo a espinal-me-dulla».

Uis pois argumentos que se juntam e completam,

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que nos dão razão sob o ponlo de vista de possibidade de modificações felizes pelo casamento.

Observando a influencia da vida do convento sobre a menstruação, obtemos o seguinte resultado: A enorme frequência da chlorose ; as religiosas são, em geral, mal regradas e a menopausa precoce. Embora não possamos concluir destes factos, que seja uma má hygiene a causa, ou privações, etc., lambem poderemos suppor que a falta do estimulante, que é o casamento, tem parte acti­

va sobre a amenorrhea chlorotica. Boismont (De ia mens­

truation) diz que nunca viu uma religiosa regrada com exactidão e em dia fixo.. «Eu não vi ainda nas religio­

sas as funcções digestivas irreprehensiveis, e este estado é acompanhado de grande fraqueza■>. A privação do ca­

samento pôde produzir melancolia, mania etc. «Virgibus suadeo, quibus tale accidit, citio cum viris jungantur, quod nisi Gat una cum pubertate ant non ila multo post,' his lenlabunlur, nisi viro jnngantur». (Hipp.)

Já vimos que o casamento pôde em certos casos ré­

gularisai­ as regras. Mas a prenhez será nociva ? Vamos examinar o assumpto.

Em primeiro logar : uma mulher mal regrada, pode­

rá conceber? Grande numero d'observapoes provam ser affirmativa a resposta ; os factos d'ovulaçao sem mens­

truação, lambem nol'o affirma. A chlorose não é um obstáculo á prenhez: alguns auclores affiïmam que as ohlorotioas eram mais fecundas que as outras mulhe­

res (?) Seja ou não exagero; o que é verdade, é que uma

chlorotica, mal regrada, pôde tornar­se gravida e, depois

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do parto on da lactação, as regras regiilarisam-se ; as observações são uma prova evidente de que esta chlo­rose pôde curar-se.

A fortiori, a gestação pôde ter uma influencia favo­rável n'uma mulher saudável, mas irregularmente mens­truada.

Bierre de Boismont, depois de estudo aturado em 122 mulheres irregularmente menstruadas, conclue que «a irregularidade dos menstruos não deve inspirar cui­dados quando não ha órgão doente». «Tem-se visto apparecer na primeira noite do casamento um lluxo menstrual, pelo qual se linha em vão esperado com o emprego de remédios, e depois da concepção, sem ou­tra therapeutica, a saúde reapparecer com as suas cores vermelhas sobre um rosto quasi côr de cera». (Frank).

Uma objecção pôde ser-nos apresentada: não é a prenhez, que contribue para a volta regular dos mens­truos e para a cura da chlorose, ma« a prenhez appa-reoe pela cwa da chlorose. Seria bastanle singular admittir uma tal coincidência, e suppôr que a doença desappareça bruscamente, e que o seu desapparecimento seja annunciado por uma prenhez; não é d'um dia para o outro que uma doença, como a chlorose, cura, dir-se-ha : élla não cura, mas melhora. Como pôde isto ser, se durante toda a gestação, não apparecem melhoras ? E, se é que pôde haver com a gestação uma influencia noci­va, como explicar que ella não se exerça, e não laça reapparecer a doença primitiva em vez de a curar?

Poderá suppor-se que esta cura, esta regularisação seja passageira; lendo as observações de vários auclores

4lJ

ver-se-ha, que algumas relatam muitos partos felizes, uma saúde perfeita (com excepção das doenças acciden-taes), e algumas vezes uma menopausa mais retardada ; tudo isto constitue uma prova de que a influencia da prenhez não se desmente durante toda a vida genital.

Explicação scientifica para estes factos? Mais uma vez ainda entraremos no domínio das hypotheses.

A prenhez é uma funcção physiologica ; quando ella se produz em condicções normaes, quando os órgãos ge-nitaes são normalmente conformados, e quando a bacia é normal, alliado tudo isto a uma perfeita saúde na mu­lher, a prenhez auxilia a actividade sexual em vez de a esgotar (Raciborsky), e não pôde senão favorecer a

if menstruação e prolongar a vida sexual da mulher. Tem-se observado que nas mulheres que tem tido muitas prenhezes a menopausa é lardia.

Estes bons effeitos serão devidos a que a prenhez di­lata o syslema arterial, e prepara assim a menstruação que vae succéder? E' provável; a theoria de Etienne sobre a chlorose pôde servir para interpretar os resul­tados.

Sabemos que existe uin corpo amarello, chamado verdadeiro, que tem a sua evolução durante lodo o pe­ríodo da gestação, as suas fnncções devem ser muito activas, pois se a evolução não se faz n'este momento, o ovário concentra toda a sua actividade do lado da sua segunda funcção : a secreção interna.

Não será augmentada esta secreção interna com o fim - de custear as necessidades physiologicas novas ? Ora, co­nhecemos, a parle attribuida ás perturbações da secreção

, 4

30

interna na chlorose e amenorrhea ; a prenhez, fazendo partilhar o ovário fia hypertrophia geral do apparelho genital, a prenhez não favorecerá a funcção especial que lhe é attribuida, e não luctaria ella por este meio contra as perturbações que determinou ?

Claro é que isto são hypotheses, até que novos estu­dos nos venham elucidar por completo. Eis resumida­mente como se podem apreciar estes phenomenos de modidcações felizes devidas ao parto, mas constatamos unicamente o facto, o que é um ponto importante pelas consequências praticas que d'ahi podem ser tiradas.

Pergunta-se a um medico a sua opinião acerca do casamento d'uma senhora amenorrheica, ou d'uma que é chlorotica e amenorrheica ; estas senhoras têm direito ao*v

casamento, á prenhez ? A questão é embaraçosa pois conhecemos os ris­

cos vários da prenhez. Mas, teremos o direito de lançar a interdicção ao casamento de todas as amenorrheicas, de todas as chloroticas ?

Deveremos ser prudentes e reservados, n'estes casos. Se a senhora, irregularmente menstruada, é saudável, conformada normalmente nos seus órgãos genitaes, nada poderá oppor-se ao casamento e á prenhez, que pôde ter sobre ella uma influencia feliz ; se ella é também chlorotica, mas sem lesão orgânica, sem tara hereditaria, se não é uma chlorose symptomatica, se esta chlorose não é muito grave, não devemos prohibir o casamento, contanto que elle se faça em boas condicções sociaes ou montes.

OBSERVAÇÕES

1.»

M.",e X . . . 61 annos, domestica, domiciliada em Pa­ris, natural de Alsacia, filha de pães saudáveis; começou a ser menstruada aos 11 annos. A menstruação fez-se d'um modo irregular, desde o principio, com interrupção de 5 a 6 mezes, e com retardamento de 10 e 15 dias. Cada epocha era precedida de soffrimenlos quasi insupporta-veis ; pouco sangue; não linha leucorrhea. Saúde regular. _ Casou-se aos 22 annos. A menstruação não se modificou, até que alcançou aos 2i annos.

Parto feliz, uma creança que viveu. Amamentou esta creança durante 9 mezes ; seis semanas depois as regras reappareceram normaes. Desde então foi sempre bem regrada, sem dores, nem retenções, nem flores brancas. Teve mais 4 filhos vivos e com partos normaes, conti­nuando a ser saudável. Ultimo parto aos 45 annos e a

52

emoção produzida pela perda de seu marido, diz cila, que foi a causa da cessação das regras.

2.»

Pessoal

X . . . de edade 30 annos, moradora no Porto e na­tural do Brazil, sem antecedentes hereditários de im­portância; principiou a ser regrada aos 12 annos; desde esta edade alé aos 15 annos foi regularmente regrada, posto que houvesse retardamento de 5 a 8 dias; aos 15 annos, talvez pela morte do pae, por causa da qual ella adoeceu, principiaram as regras a falhar 4 e 5 mezes, e, quando vinham eram sem periodo certo ; pallida, ane-miada, emmagrecendo bastante, irrita-se por qualquer coisa, queixa-se de dores de cabeça e estômago, princi­palmente nas vésperas da menstruação, e é por estes signaes precursores que ella sabe não apparecerem as regras no tempo normal ; casa-se aos 20 annos ; casa­mento de simples amor, o que foi uma grande causa adjuvante para a modificação do seu caracter, como real­mente succedeu ; aos 21 annos tem o seu primeiro filho, amamentou-o 8 mezes, e, se antes de ter alcançado, a menstruação não se tinha modificado, o contrario suc­cedeu depois de 1er o seu primeiro filho; são normaes as regras, e com esta normalidade, claro é, desappare-ceram as dores de cabeça, estômago, ele.

r>a

3.a ;

de Brierre de Boismont

Rogerre, de 25 annos, natural de Sirét, entrou paia o hospital de Caridade. Esta mulher, forte, d'uni tempe­ramento lymphatico-sanguineo, foi regrada aos 12 annos, no seu paiz, depois de ter estado muito doente durante i anno; até a edade de 17 annos, os seus menstruos são regulares e duram 8 dias.

N'esta epqcha, adoeceu, diz ella, com uma febre pú­trida, e que determinou uma suppressáo de 9 mezes; ao fim d'esté tempo, as regras reapparecem menos regu­larmente e em pequena quantidade ; são acompanhadas de dores de cólicas.

Rogerre casa se neste estado, e tem um filho robus­to; a partir d'esté momento, os menstruos regularisam-se e mostram-se de novo com abundância.

4.a

Do mesmo

F. regrada pela primeira vez aos 17 annos, sem d isso 1er sido advertida por nenhum signal, e apresen­tando todos os predicados d'uma excellente saúde. Ape-zar d'eslas condiccões favoráveis, os menstruos são irregulares, havendo muitas vezes 4 a 5 mezes de in-tervallo d'uma a outra epocha. Tem um filho aos 27 an­nos, e, depois d'isso os menstruos regulares.

54

5.«

Annalles de Gynécologie, mars 1882-Petit.

Zoé S., 23 annos, habita em Paris desde que nasceu. Regrada aos 12 annos. Primeiras regras dolorosas, irre­gulares ; ora abundantes, mesmo em demasia, ora eram apenas apreciáveis. Nenhuma perda branca. Irregular até aos 18 a 19 annos, são supprimidas as regras durante J4 mezes. Até então, nenhuma relação sexual, nenhuma alteração grave na saúde geral, leucorrhea permanente, amenorrhea persistente. Saúde, em geral, boa.

Casada aos 20 annos, ella sente algumas dores pro­duzidas pelas primeiras relações sexuaes, dores que de-sapparecem.

As regras reappareceram no mez que se seguiu ao casamento. Mostraram-se um pouco irregulares, mas sem accidentes dolorosos, e sem acção sobre a saúde geral. As perdas brancas diminuíram bastante..

6.»

Gosset-1896

M. 29 annos, professora. Regrada difficilmenle aos 15 annos. Desde este momento observam-se nella os signaes funccionaes da chlorose e de accidentes hystericus. Aos 24 annos, desapparecem os seus soffrimentos ; coincide este desapparecimento com os signaes d'uma prenhez. Este estado particular e novo, produziu uma acção lhe-

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rapeutica maravilhosa; o bem estar d'ella dura 9 mezes e uma parle do tempo de latacão.

Influencias sociaes particulares despertai am n'ella a chlorose.

7."

Brierre de Boismont-1842

Uma mulher de 60 annos, d'uni temperamento bi-lioso, d'il ma constituição fraca, entrou para o hospital de Caridade com uma doença no fígado. Tinha sido as­sistida pela primeira vez aos 18 annos, no meio do cam­po, e sem soffrimento nenhum. Desde esta epocha até aos 22 annos, foi. mal menstruada, pouco, e de longe em longe ; mas immediatamente depois do casamento,

-as regras apparecem regularmente duraram 2 dias e vinham sem signaes precurssores. Aos 50 annos, vem a menopausa sem ella dar por isso, e depois, sómenle os symplomas determinados pela doença da fígado a préoccupa.

8.a

Bríerre de Boismont

Lediguel, de 37 annos, costureira, lymphatico-san-guinia, bôa constituição, entrou paia o Hotel Dieu por convulsões ligadas a uma hemiplegia. Esta mulher foi regrada aos 11 annos, no seu paiz, sem estar doente ; depois as regras desapparecem durante 2 annos. Aos 13 annos, a funeção reslabelece-se d'uma maneira regular,

m

nias de tempos a tempos ella era perturbada por hemor­ragias uterinas que duraram 5 a 6 semanas. Quando ellas estavam para apparecer, Lediguel tornava-se mui­to vermelha, com cephalalgia, oppressão, e queixava-se de dores na região hypogaslrica ; desde que o sangue corria, todos estes symptomas paravam e ella sentia-se bem. Estas hemorragias persistiram muitos aft'nos ; Le­diguel casou-se aos 20 aimos e as perdas sanguíneas cessaram completamente e d'ahi para cá, os menstruas são normaes.

9.»

Queanel, Paris-1817

Uma senhora de 17 annos estava para casar ; oppo-sicão formal dos pães, e d'ahi o desgosto cresce de dia a dia ; olhos cóvados, face pallida ; indifférente a tudo, pelle pallida como chumbo ; as regras são suspensas : esta doença foi combalida por lodos os meios da arte mas inutilmente, e a senhora succumbiria, se os pães não ti­vessem dado o consentimento.

10.a

Gaseta de Santi-1896

Uma rapariga de 18 annos, de core compleição ar­dente, amava muito seu primo ; este amor foi contra­riado e ella tornou-se chlorolica. Tratada sem successo, foram-lhe permitlidas entrevistas sob vigilância da fa­mília.

57

Eslas distracções familiares enfraqueceram a sua pai­xão e recuperou a saúde. . •

II.»

M au rice au

Mulher de 21 annos ; pubera aos 12, as regras sup-primem-se durante 5 annos.

Esta mulher casou ; algumas gottas de sangue mar­caram a sua primeira menstruação, em seguida á qual, alcançou, um rapaz gordo e rubusto, posto que ella só tivesse comido fructas verdes durante toda a sua pre­nhez. Gessaram depois d'isto, todas as suas enfermida­des. Fui inteiramente curada pelo casamento que lhe produziu o effeito d'um salutar remédio, tornando-se depois tão fecunda que cada anno tinha uma creança.

12.a

Veisseyre, Paris-1829

Maria F., criada, forte e bem constituída. As suas regras pararam por causa d'um medo. Seguem os sym-ptomas d'hematocelo e mais tarde chlorose; não ha re­gras. 14 mezes passados, está n'uma fraqueza extrema. Uma alimentação escolhida melhora-a um pouco., e des­de que as regras desappareceram ha já 2 annos que não voltam. Casa-se e pouco depois recobra a saúde. 4 annos passados ,ja tem 2 filhos.

PROPOSIÇÕES

Anatomia. — É de grande importância o conhecimento dos pontos d'ossificaçào, para a pratica medica.

Physiologia. — A deglutição provoca uma excitação res­piratória.

Materia medica. — A forma medicamentosa preferível deve sêr a forma liquida.

Pathologia geral. — Em todas as doenças microbianas devemos distinguir a infecção da intoxicação.

Anatomia pathologica. — Não é o elemento bacteria, que de per si caractérisa ou define a doença.

Operações. — Devemos ter em consideração a edade do doente, na operação do lábio leporino.

Pathologia intertia. — As alterações do rim tornam mais graves as doenças do figado.

Pathologia externa.—A frequência das hernias no lado direito tem a sua razão de sêr.

Partos. — Diagnosticada a prenhez extra-uterina, deve intervir-se immediatamente.

Hygiene. — Não sou d'opiniâo favorável ao uso do es­partilho.

Visto, • Pôde imprimir-se, 3£{i.cUo l o °ya,{f&, (3. áHlo-ntcito,

fRESIDBNTE. piRECTOR lNT»RINO.