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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DA POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS DE CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE COM PENA DE ATÉ TRÊS ANOS DE DETENÇÃO - CTB JOÃO AUGUSTO VIANA NETO Itajaí, Novembro de 2008

DA POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELOS JUIZADOS …siaibib01.univali.br/pdf/Joao Augusto Viana Neto.pdf · 2009. 2. 25. · infrações de trânsito previstas no CTB e na legislação

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS DE CRIME DE EMBRIAGUEZ AO

VOLANTE COM PENA DE ATÉ TRÊS ANOS DE DETENÇÃO - CTB

JOÃO AUGUSTO VIANA NETO

Itajaí, Novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DA POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO PELOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS DE CRIME DE EMBRIAGUEZ AO

VOLANTE COM PENA DE ATÉ TRÊS ANOS DE DETENÇÃO - CTB

JOÃO AUGUSTO VIANA NETO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Renato Massoni Domingues

Itajaí, Novembro de 2008

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AGRADECIMENTOS

Quero externar minha sincera gratidão, primeiramente à Deus meu criador;

À Jesus Cristo meu Salvador, Senhor absoluto da minha vida e fonte de toda

minha inspiração; À minha doce e amada esposa,

Cleunice Gin Viana, nossos queridos filhos, tesouros em particular: Anne

Hellen, Samuel Wesley e Hebertt Augusto;

Aos amados sogro e sogra, Ernesto Gin e Regina Gin, verdadeiros país que

não tive; A família de um modo geral e a todos

quantos contribuíram para minha formação;

Aos nobres mestres entre os quais destaco com muito apreço, meu

orientador que se revelou verdadeiro amigo, professor Renato Massoni

Domingues, pelo apoio, dedicação, paciência, sacrifício pessoal e incentivo

na conclusão desta monografia; Ainda destaco com apreço o nobre

professor Antônio Augusto Lapa, amigo sincero que se colocou ao meu lado

com suas profundas palavras de incentivos e sábios conselhos;

Não poderia deixar de mencionar ainda os professores, Eduardo Campos, José

Everton, Dr.João José Leal e seu filho Rodrigo Leal, pelo apoio e incentivo

nos momentos difíceis. Aos colegas acadêmicos a quem

destaco os Nobres amigos, Éderson Roberto Lago, Liuton Luiz Severiano e

Cleber da Silva Malinverne que me prestaram grande ajuda no decorrer do

curso e finalmente a todos colegas de turma indistintamente os quais sempre

trarei guardado em lugar especial dentro do meu coração. A todos vocês

minha sempre eterna gratidão.

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iii

DEDICATÓRIA

O conhecimento vem e passa; a sabedoria permanece! Na busca da

sabedoria procurei: ouvir a voz de Deus através da meditação da sua santa

palavra a Bíblias Sagrada; reconhecer meus próprios limites, equívocos,

dificuldades e limitações; aceitar com resignação e determinação as

intempéries da vida; acreditar no impossível; vencer a mim mesmo;

curvar-me ao silêncio e à meditação; ouvir o conselho dos sábios; praticar a

justiça dos justos; o heroísmo dos humildes e depender sempre em todas

as circunstâncias e decisões do meu criador, buscando sempre sua

orientação através da sua santa palavra e prostrado em oração.

.

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iv

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, Novembro de 2008

JOÃO AUGUSTO VIANA NETO Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando JOÃO AUGUSTO VIANA NETO,

sob o título: Da possibilidade de julgamento pelos juizados especiais criminais de

crime de embriaguez ao volante com pena de até três anos de detenção -CTB, foi

submetida em 19 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Renato Massoni Domingues (Orientador e Presidente) e

Welington César de Souza (Examinador),aprovada com a nota ______

(_________________)

Itajaí, Novembro de 2008

Prof. Renato Massoni Domingues Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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vi

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ac Acórdão

Ampl. Ampliada

Art. Artigo

Atual. Atualizada

Aum. Aumentada

CEJURPS Centro de Ciências Sociais e Jurídicas

CF Constituição Federal

CF/88 Constituição Federal de 1988

CONTRAN Conselho Nacional de Trânsito

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

CTB Código de Trânsito Brasileiro

DENATRAN Departamento Nacional de Trânsito

D.J.U. Diário de Justiça da União

D.O.U. Diário Oficial da União

DP Direito Penal

Ed. Edição

HC Hábeas Corpus

JECRim (s) Juizado(s) Especial(is) Criminal(is)

LICP Lei de Introdução ao Código Penal

Min. Ministro

MP Ministério Público

nº, n. Número

p. Página

PIB Produto Interno Bruto

RCH Recurso Ordinário em Hábeas Corpus

Rel. Relator

Rev. Revisada

RT Revista dos Tribunais

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vii

STJ Supremo Tribunal de Justiça

TACRimSP Tribunal da Alçada Criminal de São Paulo

TJSC Tribunal de Justiça de SC

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Ver. Versão, verificada

Vol. Volume

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viii

ROL DE CATEGORIAS

Rol das categorias1 que o autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos2 operacionais:

ANTIJURIDICIDADE

É a relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. 3

CRIME

É sempre um ato humano decorrente de um impulso interior criminoso. Sem o

ato, Istoé, um procedimento humano, consistente em ação ou omissão, ou sem o

impulso criminoso não há crime. 4

CULPABILIDADE

É a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica, mas o princípio da

culpabilidade se depreende que, em primeiro lugar, toda pena supõe

culpabilidade, de modo que não pode ser castigado aquele que atua sem

culpabilidade (exclusão da responsabilidade pelo resultado) e, em segundo lugar,

que a pena não pode superar a medida da culpa de dosagem da pena no limite

da culpabilidade. 5

1 "Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia".

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 6. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40.

2 “Quando nós estabelecemos ou propormos uma definição para uma palavra ou expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expomos, estamos fixando um Conceito Operacional”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 108.

3 ANDREUCCI, Antonio Ricardo. Manual de Direito Penal: parte especial. 3. ed. atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 2004. p.73. 4 GOMES NETO, Francisco Antonio. Novo Código Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1997.p.52 5 JESCHECK, Hans-Heinrich. Tratado de derecho penal: parte general. Traducción José Luis Manzanares Samaniego. 4. ed. Granada: Comares editorial, 1993. ,p.30.

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ix

DIREITO PENAL

Direito Penal é o sistema de normas jurídicas, por força das quais o autor de um

delito (réu) é submetido a uma perda ou diminuição de direitos pessoais. 6

DIREITO PROCESSUAL PENAL

É o ramo do direito público, de caráter adjetivo, que sistematiza o estudo das leis,

institutos e princípios para permitir a aplicação do Direito penal, quer no âmbito

judicial, quer fora dele, porém, sempre com atuação voltada para a área da justiça

criminal. 7

EMBRIAGUEZ

É a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool, cujos efeitos podem

progredir de uma ligeira excitação inicial até ao estado de paralisia e coma. 8

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem

competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais

de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. 9

NEXO CAUSAL

É o elo concreto, físico, material e natural que se estabelece entre conduta do

agente e o resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu

ou não causa a este. 10

6

MAGGIORE, Giuseppe. "Diritto Penale", vol. 1, Bologna, Nicola Zanichelli Ed., 1955. p.4. 7 SILVA JÚNIOR, Euclides Ferreira da Silva. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo: Edilivros. 1997. p.2. 8 SILVA, Ronaldo. Direito Penal parte geral. Florianópolis: Momento Atual, 2002. p. 164. 9Brasil. Lei nº 9.099 de de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. 10

CAPEZ, Fernando, GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Aspectos Criminais do Código de Trânsito Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.155.

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x

PENA

Num sentido amplo, é a sanção que o Estado impõe àqueles que se insurge

contra seu ordenamento jurídico. 11

TIPICIDADE

É a subsunção, justaposição, enquadramento, amoldamento ou integral

correspondência de uma conduta praticada no mundo real ao modelo descritivo

constante da Lei (tipo Legal). 12

TRANSAÇÃO PENAL

É o ato jurídico através do qual o Ministério Público e o autor do fato, atendidos os

requisitos legais, e na presença do magistrado, acordam em concessões

recíprocas para prevenir ou extinguir o conflito instaurado pela prática do fato

típico, mediante o cumprimento de uma pena consensualmente ajustada13 .

11 COSTA JUNIOR, Paulo José da. Comentários ao Código Penal. São Paulo: Saraiva, 1989. p.245. 12

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. p.187. 13 SOBRANE, Sergio Turra. Transação penal. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 75

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SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................................XIII ABSTRACT.......................................................................................XIIIV INTRODUÇÃO...................................................................................1

CAPÍTULO 1...............................................................................................4 DIREITO PENAL...................................................................................4

1.1 CONCEITO ........................... ....................................................................4

1.2 CRIME ...................................................................................................7 1.2.1 Conceito ....................................................................................................... 7 1.2.2 Do crime no conceito analítico................................................................... 9 1.2.2.1 Tipicidade .....................................................................................10 1.2.2.2 Antijuridicade .................................................................................12 1.2.2.3 Culpabilidade .................................................................................15 1.2.3 Do Nexo Causal ................................................................................18 1.2.4 Da Autoria e Materialidade do Crime..................................................23 1.3 PENA...................................................................................................25

CAPÍTULO 2.............................................................................................29 O DIREITO PROCESSUAL PENAL E OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ....................................................................................... 29

2.1 BREVE HISTÓRICO.............................................................................29

2.2 CONCEITO ..........................................................................................31 2.3 O DIREITO PROCESSUAL PENAL NO BRASIL.......................................... 35

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xii

2.4 JUIZADOS ESPECIAS CRIMINAIS - JECRIMS ......................................37

2.4.1 Lei nº 9.099/95 - Considerações Gerais .............................................43 2.4.2 Lei nº 10.259/01 - Considerações Gerais................................................. 45 2.4.3 Lei nº 11.313/06 - Considerações Gerais . ............................................... 46 2.5 DOS CRITÉRIOS ATUAIS DE FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO JECRIM 47 2.6 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO................... 52

CAPÍTULO 3.............................................................................................54 DO CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE DO CTB E O JULGAMENTO PELOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS.......... 54

3.1 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO - CONSIDERAÇÕES GERAIS ......51

3.2 MERAS INDICAÇÕES DOS CRIMES DO CTB ........................................56 3.3 DAS REGRAS DO ARTIGO 291 DO CTB..................................................... 61 3.4 DO CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE .............................................. 63

3.5 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E O JULGAMENTO DE CRIMES DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE ................................................................67 3.6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LEI Nº 11.705/2008 - LEI SECA........... 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................78 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...........................................81 ANEXO .............................................................................................86

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RESUMO

A presente monografia trata da Possibilidade de

Julgamento pelos Juizados Especiais Criminais de Crime de Embriaguez ao

Volante com pena de até três anos de detenção - CTB. O Crime de embriaguez

ao volante está inserido no Código de Trânsito Brasileiro dentro do Capítulo XIX,

seção II, art. 306. Em todo o mundo é grande o consumo de bebida alcoólica,

seja num simples almoço familiar, seja numa “balada” com os amigos, seja nos

barzinhos a beira-mar. Com isso, aumenta também a incidência de embriaguez

em condutores de veículos automotores. Estes, porém, estão propensos às

infrações de trânsito previstas no CTB e na legislação em vigor. Até a

promulgação da nova Lei do CTB (11.705/2008) tinha-se uma idéia sobre os

crimes previstos no CTB - dentre eles o crime de embriaguez ao volante - de

acordo com a Lei nº 9.503/97 e aplicação da Lei nº 9.099/95 (JECRims) e suas

subseqüentes. Havia toda uma normatização a respeito: normas que envolviam

a conduta e suas conseqüências penais e os procedimentos judiciais para o

julgamento destas infrações. Com a introdução desta nova lei de 2008, chamada

de “lei Seca”, no cenário jurídico, houve alterações significativas, principalmente

no que diz respeito a aplicação da lei nº 9.099/95 e ao consumo de álcool ao

volante, que determinam a partir de agora novos procedimentos em relação ao

tema. Algumas das normas instituídas na antiga lei do CTB (Lei nº 9.503/97)

ainda permanecem devido a sua eficácia; outras sofreram alterações, pois não

surtiram o efeito esperado. Assim, o crime de embriaguez ao volante está

sujeito a estas normas (antigas e novas) e aos comentários da doutrina e da

jurisprudência.

Para a realização da pesquisa utilizou-se o método indutivo.

Palavras chave: Direito Penal. Crime. Direito Processual Penal. Juizados Especiais Criminais. Código de Trânsito Brasileiro. Embriaguez ao Volante.

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xiv

ABSTRACT

This paper deals with the possibility of trial by the Special Criminal

Courts of Crime of Drunkenness and driving with penalty of up to three years in

detention - CTB. The Crime of drunk at the wheel is inserted in the Code of

Brazilian Traffic within the Chapter XIX, section II, art. 306. Around the world is

large consumption of alcohol, is a simple family lunch, is a "ballad" with friends,

whether in pubs by the sea. With this, also increases the incidence of drunkenness

in drivers of motor vehicles. These, however, are prone to traffic violations in CTB

and the laws in force. Until the enactment of the new Law of the CTB

(11.705/2008) had been an idea about the crimes provided by CTB - among them

the crime of drunk at the wheel - in accordance with Law No. 9.503/97 and

application of Law No. 9099 / 95 (JECRims) and its subsequent. There was a

whole normalization about: standards involving the conduct and its consequences

and criminal judicial proceedings for the prosecution of these offenses. With the

introduction of this new law in 2008, called "Dry law" in the legal scene, there were

significant changes, especially as regards the implementation of Law No. 9.099/95

and consumption of alcohol at the wheel, which determine from now new

procedures in relation to the subject. Some of the rules imposed in the old law of

the CTB (Law No. 9.503/97) still remain due to their effectiveness, while others

have changed and therefore not have the expected effect. Thus, the crime of

drunk at the wheel is subject to these standards (old and new) and the comments

of doctrine and case law.

To conduct the survey used the inductive method.

Key words: Criminal Law. Crime. Criminal Procedure Law. Special Criminal

Courts. Brazilian Traffic Code. Drunk at the wheel.

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto abordar a

Possibilidade de Julgamento pelos Juizados Especiais Criminais de Crime de

Embriaguez ao Volante com pena de até três anos de detenção - CTB. Seus

objetivos são: institucional - produzir uma Monografia para obtenção do Título de

Bacharel em Direito Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; o objetivo geral é

o de analisar a possibilidade de Julgamento pelos Juizados Especiais Criminais

de Crime de Embriaguez ao Volante com pena de até três anos de detenção –

CTB.

A embriaguez em si surte efeitos nocivos ao homem e,

consequentemente, à sociedade como um todo. O simples fato de dirigir veículo

automotor sob o efeito do álcool é considerado uma falta gravíssima, não

importando a quantidade concentrada no sangue. O crime de embriaguez ao

volante possui pena de até três anos de detenção e está disposto no Código de

Trânsito Brasileiro e em outras legislações vigentes.

Este tema tem relevância para os dias atuais, pois os

crimes ao volante são uma das principais causas de mortes e a embriaguez ao

volante contribui em muito para esta estatística violenta que assombra o Brasil.

A monografia está dividida em três capítulos:

O primeiro capítulo trata do Direito Penal, englobando o

crime, seu conceito e elementos como a tipicidade, a antijuridicidade e a

culpabilidade, o nexo causal e a autoria e materialidade do crime e disposições

gerais acerca da pena.

O segundo capítulo aborda sobre o Direito Processual

Penal e os Juizados Especiais Criminais - JECRims, no que diz respeito ao seu

histórico, conceito e considerações sobre o Direito Processual Penal no Brasil.

Trata das considerações gerais dos Juizados Especiais Criminais – JECRims –

e demais considerações acerca da Lei que o instituiu e leis subseqüentes.

O terceiro capítulo expõe sobre o Crime de Embriaguez ao

Volante do CTB e julgamento pelos Juizados Especiais Criminais, iniciando com

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2

uma abordagem sobre as considerações gerais acerca do CTB, dos crimes

prescritos neste código e do art. 291. Trata, em especial, sobre o crime de

embriaguez ao volante e a possibilidade de julgamento deste crime pelo

JECRim.

Nas considerações finais serão expostas as análises

acerca dos doutrinadores e jurisprudência e as devidas conclusões de todo o ora

apresentado nesta monografia. Desta forma, é possível analisar e identificar

determinados problemas e situações cotidianas sobre o tema e sugerir soluções.

Para o desenvolvimento da pesquisa, fez se os seguintes

questionamentos:

a) Os Juizados Especiais Criminais tem competência para

julgar todos os crimes previstos em lei?

b) O crime de embriaguez ao volante pode ser julgado

como um crime comum?

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes

hipóteses:

a) Com o advento do Código de Trânsito Brasileiro que traz

o delito de embriaguez ao volante com pena de até três anos de detenção (art.

306) e levando em consideração as determinações do seu art. 291 e parágrafo

único sobre a transação penal, então, este crime passou a ter competência

jurisdicional dos Juizados Especiais Criminais quanto ao seu julgamento.

b) Caso a competência para julgamento do crime de

embriaguez ao volante não for dos Juizados Especiais Criminais, pode o referido

crime ser julgado na Vara Criminal Comum tendo, ainda, como benefício a

transação penal.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação14 foi utilizado o Método Indutivo15, na Fase de Tratamento de

14 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 101.

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3

Dados o Método Cartesiano16, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente17, da Categoria18, do Conceito Operacional19 e da

Pesquisa Bibliográfica20.

15 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma

percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

16 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

17 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

18 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

19 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

20 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

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CAPÍTULO 1

DIREITO PENAL

1.1. CONCEITO

Para que o homem viva e coexista dentro de um grupo

social heterogêneo é necessário haver um ordenamento jurídico que venha

garantir as condições indispensáveis de proteção dessa sociedade, defendendo

os bens jurídicos fundamentais penalmente tutelados, visando estabelecer

medidas de segurança indispensáveis à coexistência dos elementos que

compõem o grupo social. O Direito Penal, como conjunto de normas jurídicas e

suas vertentes em sua aplicabilidade, disciplina as relações jurídicas advindas.

Acerca dessa finalidade inerente do Direito Penal, Leal21

explica que os “estudos demonstram que, desde as origens, a sociedade humana

esteve sujeita a um conjunto de normas de conduta e de organização”.

Assim, todo grupo social é regido e disciplinado por um

ordenamento jurídico. Corrobora este entendimento Mirabete22quando diz:

A vida em sociedade exige um complexo de normas

disciplinadoras que estabeleça as regras indispensáveis ao

convívio entre os indivíduos que a compõem. O conjunto dessas

regras, denominado direito positivo, que deve ser obedecido e

cumprido por todos os integrantes do grupo social, prevê as

conseqüências e sanções aos que violarem seus preceitos.

21 LEAL, João José. Direito Penal Geral, 3. ed. rev. e atual. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004.p.35. 22 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado: referências doutrinárias, indicações legais, resenha jurisprudencial. Atualizado até julho/2003. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.21.

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5

Entende-se, portanto, que no que diz respeito às regras e

sanções impostas por um ordenamento jurídico sobre a conduta de determinado

grupo social, o Direito Penal Objetivo como regulador da ação estatal, define os

crimes e aplica as devidas sanções.

Ensina Rosa23

O Direito Penal, em sentido amplo, abrange três áreas: o Direito

Penal em sentido estrito, também chamado de Direito Penal

material; o Direito processual Pena; e, o Direito das execuções

Penais, designado ainda de Direito Penitenciário, que no nosso

País faz parte da “Lei das Execuções Penais”, e está incorporado

à Penalogia – ciência que estuda as penas, sua aplicação e

execução.

Para Leal24,

O Direito Penal, portanto, é um dos ramos da ciência jurídica que,

com suas normas, objetiva controlar o comportamento dos

homens, proibindo a prática de certas condutas sociais e/ou

moralmente intoleráveis ou, em alguns casos, ordenando

determinadas formas de ação. Num e noutro caso, o

descumprimento da ordem emanada da norma, poderá sujeitar o

infrator a uma sanção específica que é a pena criminal. Com isto,

o Direito Penal se apresenta como o garantidor de valores morais,

sociais e humanos fundamentais e, por isso, transformados em

bens jurídicos. Para alguns autores seria apenas um mero

conjunto de regras repressivas.

Esse conjunto de normas compõe o ordenamento jurídico, ou seja, o sistema de

legalidade do Estado, em que os seus preceitos se desenvolveram ligados uns

aos outros. Objetivando-se proteger o cidadão cumpridor das normas jurídicas

bem como dos deveres sociais impostos a ele dentro de um complexo de

relações sociais, divergentes em cultura, ideologia, costumes, crenças

heterogênicas e demo psicologia diversificada pelas etnias e diversidade racial,

23 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. Brasília: Editora Consulex. 2004, p. 27 24 LEAL, José João. Direito Penal Parte Geral, p.39.

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dentre tantas outras diferenças, fica demonstrando que o viver em sociedade é

mais do que ocupar um espaço, mas sim; dar cumprimento as regras impostas

pelo ordenamento jurídico contribuindo para a promoção da harmonia social

evitando os delitos.

Nesse aspecto, Segundo Maggiore25, “Direito Penal é o

sistema de normas jurídicas, por força das quais o autor de um delito (réu) é

submetido a uma perda ou diminuição de direitos pessoais”.

Portanto, o meio em que o Direito Penal surge, desde o

tempo da vingança privada, e se desenvolve é a sociedade humana, pois sem

sociedade não há necessidade de forma alguma de ordenamento jurídico a ser

aplicado, visto que ordenamento jurídico e sociedade estão intrinsecamente

ligados pelo fato de um ser a causa da existência do outro.

Observa Lima26

De fato, aquilo que o direito primeiro quer atender é o

estabelecimento da paz e da segurança reclamada pela vida em

sociedade, a fim de que esta se desenvolva com o menor número

de conflitos e a menor quantidade possível de arbítrio, ou seja, de

emprego da força fora ou contra os preceitos Legais.

Entende-se, portanto, que o Direito Penal, em todas as suas

vertentes, seja objetivo ou subjetivo; direito de punir (jus puniende) do Estado;

seja comum abrangendo todas as pessoas, bem como todos os atos delitivos de

um modo geral; na ascensão do Direto Penal especial, que vem a abranger

indivíduos de acordo com sua qualidade especial de vida; aplicando punições a

casos especiais particularizados; seja o Direito Penal substantivo abrangendo as

normas que definem as figuras penais, estabelecendo as sanções respectivas,

bem como os princípios gerais a elas relativos; seja o Direito Penal adjetivo,

alcançando os preceitos de aplicação de direitos substantivos e de organização

25 MAGGIORE, Dirrito Penale, p.4. 26 LIMA, Hermes. Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Delta, 1963. p.2656.

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judiciária; todos eles sem exceção estão ordenados e elencados no Código

Penal, processo penal e leis processuais penais, bem como Legislação Penal

Especial, tendo como objetivo precípuo, dar proteção aos bens jurídicos tutelados,

protegendo-os pela ameaça de sanções e aplicação da pena em cada caso

concreto.

1.2. CRIME

1.2.1. Conceito

O conceito legal de crime é dado pela Lei de Introdução do

Código Penal - Decreto-Lei nº 3.914/41- dispondo que “Considera-se crime a

infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer

isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. (LICP,

art.1º).”

Conforme Mirabete27,

Em um conceito formal, crime é toda conduta proibida por Lei sob

ameaça de pena. O ilícito penal pode ser conceituado como a

conduta definida pelo Legislador como contrária a uma norma de

cultura reconhecida pelo Estado e lesiva de bens juridicamente

protegidos. No aspecto analítico, a doutrina causalista mundial

tem considerado o crime como a conduta típica, antijurídica e

culpável.

Entende-se, portanto, que mesmo ocorrendo em campos e

situações diversas, o crime é visto por muitos, como fenômeno social, somente

poderá ser praticado mediante a conduta do agente em suas três modalidades:

típica, Ilícita e culpável, consumada em ação ou omissão como exercício da

atividade final do agente, sendo que a doutrina pátria optou pelo conceito analítico

para definir crime.

27MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interprestado: referências doutrinárias, indicações legais, resenha jurisprudencial. p.143

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O princípio da Legalidade direcionado ao Direito Penal,

conforme o art. 5º XXXIX da CF/88 que diz: “Não há crime sem Lei anterior que o

defina, nem pena sem prévia cominação legal”, nos faz entender que não há

dentro do Ordenamento Jurídico Penal Pátrio, possibilidade de haver crime se o

mesmo não estiver anteriormente positivado na Lei.

Nesse aspecto, Bitencourt28, entende que:

Essa Lei de introdução, sem nenhuma preocupação científico-

doutrinária, limitou-se apenas a destacar as características que

distinguem as infrações penais consideradas crimes daquelas

que constituem contravenções penais, as quais como se

percebe, restringem-se à natureza da pena de prisão aplicável.

Ao contrário dos Códigos Penais de 1830 (art. 2º, § 1º) e 1890

(art. 7º), o atual Código Penal (1940, com a Reforma Penal de

1984) não define crime, deixando a elaboração de seu conceito

à doutrina nacional.

Considerando assim a Lição de Bitencourt, exclui-se a

necessidade de um conceito Legal de crime, no aspecto da Legalidade, pois o

próprio princípio traz em si mesmo o dever de todo cidadão respeitar a Lei em

face da aplicação da sanção em resposta a ilegalidade na conduta.

Afirma Gomes Neto29 “que o crime é sempre um ato humano

decorrente de um impulso interior criminoso. Sem o ato, Istoé, um procedimento

humano, consistente em ação ou omissão, ou sem o impulso criminoso não há

crime”.

De acordo a psicologia, o homem é produto do seu meio

ambiente, contudo em estado de doença mental, desenvolvimento mental

incompleto ou retardado, fica configurado na ação ou omissão do agente a

ausência de culpabilidade legal da conduta, isentando-o de pena por não haver

culpa, pois o que interessa no Direito Penal e saber a razão da culpabilidade do

sujeito.

28 BITENCOURT, Roberto Cezar. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva. 2003. p.263. 29 GOMES NETO, Francisco Antonio. Novo Código Penal Brasileiro, p.52

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1.2.2. Elementos do Crime no Conceito Analítico

O Código Penal Brasileiro, quando passou pela reforma no

ano de 1984 adotou a teoria finalista da ação, entendendo que todo

comportamento humano é motivado por uma finalidade.

Marques30, argumentando acerca da teoria finalista da ação,

entende que:

A ação, no sentido Lato é acromática, como o diz, (Jimenez de

Asúa, apud Marques), por isso que é focalizada sem qualquer

conteúdo finalístico ou normativo. Não, se examina, assim, se a

conduta do agente, no plano da tipicidade, está ligado,

intencionalmente ao resultado, nem tão pouco a sua causa finalis

em qualquer dos aspectos que possa oferecer.

E possível entender a teoria finalista da ação, fazendo uma

comparação entre esta e a teoria causalista da ação onde nesta; o crime e

apresentado como elemento do fato típico, antijurídico e culpável sendo que

naquela o crime é fato típico e antijurídico não compondo o conceito de crime pela

ausência de culpabilidade. Fazendo uma distinção da conduta entre a teoria

finalista e causalista, Leal31 argumenta que:

Para os causalistas, no processo de análise teórica dos

elementos do fato punível, a conduta aparece como suporte

material sobre o qual ficarão assentados a tipicidade, a

antijuridicidade e a culpabilidade. Nesta fase do processo

analítico, a conduta é examinada com o um fenômeno voluntário

puramente causal ou natural, despido de qualquer contorno

subjetivo. A conduta é conceituada como sendo um ato de

vontade capaz de causa um resultado no plano exterior (evento

delituoso), divorciada de qualquer elemento psíquico.

30 MARQUES, Frederico. Tratado de Direito Processual Penal. Vol, II. São Paulo: Saraiva. 1980. p.48. 31 LEAL, João José. Direito Penal Geral. p.208.

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Em contraposição a esse conceito causalista da conduta do

agente, a doutrina finalista da ação aceita dentro do Direito Penal Pátrio,

conforme entendimento de Leal32:

...não está isenta de críticas. A crítica maior ressalta a

insuficiência desta teoria em face do crime culposo e a

discutibilidade da premissa – que se pretende absoluta – de que o

comportamento humano é sempre dirigido a um fim,

apresentando-o invariavelmente como uma conduta previamente

deliberada, - refletida, planejada e avaliada em todos os seus

aspectos e resultado.

Argumentando acerca da teoria Finalista, absorvida em

nosso sistema jurídico penal, na reforma de 1984 do Código Penal Brasileiro o

saudoso penalista, Noronha33 entende que:

Crime é o fato típico, antijurídico e culpável, isto é, enquadrável

em dispositivo legal, sem ter a seu favor causa excludente de

ilicitude e praticado com dolo ou culpa. Mas a culpabilidade

pressupõe a imputabilidade, isto é, só pode agir com dolo ou

culpa (sentido estrito) quem goza de imputabilidade.

Assim, são elementos do crime a tipicidade, a

antijuridicidade e a culpabilidade. Passaremos a analisar cada um desses

elementos em separado à luz do ordenamento jurídico brasileiro para uma melhor

compreensão, da teoria causalista e finalista mundial.

1.2.2.1 Fato Típico e Elemento do Fato Típico

Conforme já podemos verificar, o Código Penal Brasileiro, ao

adotar a teoria finalista da ação compreende que o crime é fato típico e

antijurídico.

Na lição de Capez34,

32 LEAL, João José. Direito Penal Geral. p.211. 33 NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal 21. Ed. / atual. Por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo, SP. Saraiva, 1992. p. 84

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Tipicidade “é” a subsunção, justaposição, enquadramento,

amoldamento ou integral correspondência de uma conduta

praticada no mundo real ao modelo descritivo constante da Lei

(tipo Legal). Para que a conduta humana seja considerada crime,

é necessário que se ajuste a um tipo legal. Temos, pois, de um

lado, uma conduta da vida real e, de outro, o tipo legal de crime

constante da lei penal. A tipicidade consiste na correspondência

entre ambos.

Compreende-se, portanto, que toda conduta não ajustada a

um Tipo Penal e que não esteja ferindo a Lei Penal editada pelo Estado, não pode

ser considerada criminosa por não estar adequada a um fato-tipificado como

criminoso. Nesse aspecto entende Rosa35 que “ O objeto formal do Direito é a paz

social. Assim ao lado do princípio fundamental, “nullum crimen, nulla poena sine

lege”, surgiu sem complemento: “nullum crimen sine tipum”, ou seja, não pode

haver crime sem tipo.”

Desse modo, percebe-se que a Lei, ao descrever de forma

concreta uma conduta considerada proibida pelo ordenamento jurídico, o faz,

como meio de avaliar, ou ajustar o comportamento do cidadão aos atos

considerados lícitos e ilícitos, incriminando-o ao que se ajusta ao tipo e

descriminando-o ao que não se ajusta ao tipo penal. Na lição arguta, de

Mirabete36 observa-se que:

Como último elemento do fato jurídico tem-se a tipicidade, que é

a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato

natural, concreto, e a descrição contida na Lei. Como o tipo penal

é composto não só de elementos objetivos, mas também de

elementos normativos e subjetivos, é indispensável para a

existência da tipicidade que não só o fato, objetivamente

considerado, mas também a sua antijuridicidade e os elementos

subjetivos se subsumam a ele. Num sentido amplo, tipo é a

descrição abstrata da ação proibida ou da ação permitida.

Existem, pois, tipos incriminadores, descritivos das condutas

34 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. p.187. 35 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 235. 36 MIRABETE, Julio Fabrinni. Manual de Direito Penal. p.110/111.

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proibidas, e tipos permissivos ou justificadores, descritivos das

condutas permitidas.

Portanto, levando em consideração o ensino de Mirabete, o

Tipo faz parte do conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei

penal.

Na lição de Toledo apud Mirabete37, em se tratando de Tipos

como elementos descritivos da Lei Penal, os primeiros, são os tipos legais de

crime, que só podem ser criados pelo legislador (nullum crimen sine lege); os

segundos são as denominadas causas de justificação ou de exclusão da ilicitude.

Ensina Leal38:

Sem essa propriedade de pleno ajustamento do fato concreto

(conduta) o modelo incriminador descrito na norma repressiva em

que consiste a tipicidade, desaparece o elemento fundamental do

conceito jurídico de crime. A conduta torna-se atípica, ou seja,

indiferente ao Direito Penal. Por isso, a tipicidade encarna o

primeiro elemento do conceito analítico de crime, a ser examinado

antes da antijuricidade e da culpabilidade.

Portanto, não havendo fato concreto na conduta do agente,

sendo a tipicidade a ratio essendi da ilicitude, ocorre a atipicidade, ou seja, a não

conduta incriminadora do agente.

1.2.2.2 Antijuridicidade

Este instituto relativo a natureza jurídica do crime revela

algumas questões de elevada relevância no âmbito da doutrina Penalista.

Conforme Andreucci39:

37 MIRABETE, Julio Fabrinni. Manual de Direito Penal. p.111. 38 LEAL, José João. Direito Penal - Parte Geral. p.233. 39 ANDREUCCI, Antonio Ricardo. Manual de Direito Penal. p.73.

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A antijuridicidade é a relação de contrariedade entre o fato e o

ordenamento jurídico. Não basta, para a ocorrência de um crime,

que o fato seja típico (previsto em Lei). É necessário também que

seja antijurídico, ou seja, contrário à Lei penal, que viole bens

jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico. Antijuridicidade é

sinônimo de ilicitude.

Entende-se, portanto, conforme a teoria finalista da ação,

que crime como fato típico é todo comportamento que a Lei prever como crime;

sendo que o fato antijurídico é todo comportamento contrario a Lei.

Neste aspecto, baseado na lição de Mirabete40,

compreende-se que:

Quanto ao caráter da antijuridicidade, há uma teoria subjetiva,

fundada na noção de que o direito, com o fim de proteger bens,

exerce uma função reguladora das vontades individuais e que o

comando da Lei somente pode dirigir-se àqueles capazes de

serem motivados a responderem às exigências da ordem emitida.

Assim sendo, percebe-se que as causas de exclusão de

ilicitudes elencadas no Código Penal, só excluirá o tipo penal quando houver a

exclusão da antijuridicidade, explicada na lição de Antolisei, apud Marques41 de

que “a existência de um poder reconhecido pelo direito e, a fortiore, de um dever,

elimina a antijuridicidade penal e com isso a existência de crime.”

Segundo entendimento doutrinário adotado pelo Código

Penal, art. 23, o fato típico como estado de necessidade, legítima defesa, estrito

cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito, excluem a

antijuricidade, por permitirem a prática de um fato típico.

40 MIRABETE, Júlio Fabrini, Manual de Direito Penal, p.169. 41 MARQUES, Frederico. Tratado de Direito Processual Penal. Vol, II São Paulo: Saraiva. 1980. p.118.

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Neste aspecto, conforme Leal42, “Toda conduta típica que,

de forma excepcional, estiver amparada por uma causa de exclusão de

criminalidade ou ilicitude, perde o seu caráter de antijuridicidade.”

Compreende-se que a antijuridicidade, no sentido de

contrariedade à Lei, constitui um dos elementos básicos para a existência do

crime. Nesse aspecto entende Rosa43 que a “antijuridicidade não é a ação que

contraria a Lei. É a ação contrária ao Direito, ou seja, às normas que se apóiam

as Leis, e de onde nasce todo o sistema jurídico.”

Considera-se, portanto, que a antijuridicidade, em seu

aspecto formal ou material, é a primeira oposição a uma norma Legal em seu

aspecto material operando fora do direito positivo. Contrária um bem de ordem

social tutelado pela Lei. Ao serem contrariados, pelo resultado (ação e omissão)

da conduta ilícita do agente, atinge não apenas a Lei ou a norma, mas ainda toda

conduta típica justificada pelo ordenamento jurídico.

Reale Júnior apud Mirabete44 refere-se à “antijuridicidade

concreta” ao afirmar que “não há tipicidade quando a conduta não é antijurídica,

ou seja, que, ocorrendo uma causa de justificação, não há adequação típica.”

Com a vitória da democracia em nosso país, o Estado

passou a ser chamado de Estado Social Democrático de Direito. Portanto, o

direito penal pátrio, com a reforma de 1984 ao aderir a teoria finalista de Welzel,

retira do Estado o poder arbitrário de punir e estabelece o dever de proteger o

cidadão em seus direitos sociais, através do denominado controle social. Assim,

podemos entender que uma das funções do Direito penal, porque não dizer a

principal no Estado de Direito é exatamente proteger bens juridicamente

tutelados, tanto individuais quanto a sociedade de um modo geral.

42 LEAL, João José. Direito Penal - Parte Geral. p.237 43 ROSA, José Antonio Miguel Feu. Direito Penal, parte geral. p.231. 44 MIRABETE, Júlio Fabrini, Manual de Direito Penal, p.169.

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A doutrina finalista de Welzel tem como fundamento principal

a proteção dos bens jurídicos tutelados, visando como finalidade última a

manutenção da ordem social em estado de paz e harmonia.

Percebe-se, portanto, que o Direito Penal Brasileiro em sua

missão de controle social, diferente do Direito Penal moralizador e punitivo, busca

em sua missão sociológica proteger os bens tutelados pelo Estado. Assim sendo;

o Estado garantidor da segurança jurídicida torna-se garantidor dos bens

jurídicos.

1.2.2.3 Culpabilidade

Analisando o caso concreto na teoria finalista Brasileira a

culpabilidade ao contrário dos causalistas que tem o crime como fato típico,

antijurídico e culpável, não e vista como um dos componentes do crime, por

entender que a culpabilidade esteja mais a associada ao pressuposto da pena.

Em conformidade com a largueza do seu

entendimento, compreende-se que a culpabilidade pressuposto da imputabilidade

só pode ser direcionada a quem agiu com dolo ou culpa em sentido estrito.

Batista45 preleciona que:

O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro

lugar, como repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo

resultado, ou responsabilidade objetiva, mas deve igualmente ser

entendido como exigência de que a pena não seja infligida senão

quando a conduta do sujeito, mesmo associada causalmente a um

resultado, lhe seja reprovável .

Portanto, o que prevalece entre os doutrinadores brasileiros

na busca da sua natureza jurídica, de acordo com a norma, é que a pena

pressupõe culpabilidade, em razão de ser ela quem determina a gravidade ou

não de um delito. 45 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. Rio de Janeiro: Renovar, 1990. p. 103.

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Andreucci46 argumenta que:

Ao empregar a expressão é isento de pena, o Código Penal

admite a existência de um crime não punível, pois a culpabilidade

liga o agente à punibilidade. O crime como já foi visto, é um fato

típico e antijurídico, mas somente estará ligado ao agente se este

for culpável. Logo, a culpabilidade não se confunde com culpa.

Culpa é elemento subjetivo do crime, se encontrado situada no

fato típico, juntamente com o dolo.

Entende-se, portanto que culpabilidade e culpa são duas

coisas distintas devendo ser examinadas à luz do ordenamento jurídico, que

segundo entendimento de Giuseppe Maggiore apud Maggio47 apresenta-se da

seguinte forma:

Culpa é a conduta humana voluntária (ação ou omissão) que

produz resultado antijurídico, não querido, mas previsível e,

excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser

evitado.

Em contrapartida, no que diz respeito ao princípio da

culpabilidade, em relação à sua diferenciação da culpa, a lição de Batista48,

reveste-se de suma importância para entendermos cada uma em sua própria

dimensão e extensão. Vejamos:

O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro

lugar, como repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo

resultado, ou responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser

entendido como exigência de que a pena não seja infringida

senão quando a conduta do sujeito, mesmo associada

causalmente a um resultado, lhe seja reprovável.

46 ANDREUCCI, Antonio Ricardo. Manual de Direito Penal. p,73. 47 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal - Parte Geral 1. 3.ed. São Paulo: EDIPRO, 2002. p. 113. 48 BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, p. 103.

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Portanto, é de bom alvitre transcrever o comentário feito por

Jescheck49, quando diz que:

a culpabilidade é, assim, a reprovabilidade da conduta típica e

antijurídica, mas o princípio da culpabilidade se depreende que,

em primeiro lugar, toda pena supõe culpabilidade, de modo que

não pode ser castigado aquele que atua sem culpabilidade

(exclusão da responsabilidade pelo resultado)e, em segundo

lugar, que a pena não pode superar a medida da culpa de

dosagem da pena no limite da culpabilidade.

A Doutrina Penal, muito bem antes da teoria finalista de

Welzel, já entendia que a culpabilidade como elemento do crime era desprovida

de conteúdo finalista, por entender que a ação é a manifestação da vontade sem

conteúdo finalistico. Esta foi a conclusão que Welzel50 teve ao fazer a seguinte

analogia da enfermeira que, “sem pensar em nada, aplica uma dose de morfina

demasiado forte, de efeito mortal, realiza uma injeção finalista de cura, mas não

uma ação finalista de homicídio.”

Entende-se, portanto, que o nexo finalista da ação só se

estende a esses elementos de conduta que configuram crime, quando os

resultados propostos pela vontade regem conjuntamente o princípio causal da

ação e a atitude final do agente.

Percebe-se, portanto, em conformidade com o art. 19 do

Código Penal Brasileiro, que O Código vigente adotou o princípio da

responsabilidade subjetiva (nullum crimen sine culpa), ao entender que pelo

resultado que agrava especialmente a pena só responde o agente que o houver

causado ao menos culposamente, agregando como resultado o liame da natureza

psicológica que se põe entre o fato e o agente; a imputabilidade como

pressuposto indispensável da culpabilidade; a antijuridicidade da conduta do

agente; impossibilidade do conhecimento do ilícito causado por doença mental,

49 JESCHECK, Hans-Heinrich, ob. Cit.,p.30. 50 WELZEL. La Teoria de La accion finalista, trad, Carlos Fontân Balesttra e Eduardo Friker, Buenos Aires, Depalma, 1951, p.20.

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desenvolvimento mental incompleto e desenvolvimento mental retardado (art. 26

do CP); desenvolvimento mental incompleto por presunção Legal, do menor de 18

anos (art. 27 do CP); embriagues fortuita completa (art., 28, § 1º do CP); erro

inevitável sobre a ilicitude do fato (art. 21 do CP); erro inevitável a respeito do fato

que configuraria uma discriminante – descriminantes putativas (art. 20, § 1º do

CP); obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico (art.

22, segunda parte); e por fim inexigibilidade de conduta diversa na coação moral

irresistível (art. 22, primeira parte do CP).

Finalmente, com base nessas afirmações, pode-se concluir

que em nosso ordenamento jurídico penal brasileiro, a culpabilidade não pode ser

tida como elemento ou coeficiente do crime. Assim entende a Jurisprudência:

STJ, RCH Nº 4.472, 65ª Turma, DJU de 30.09.1996, p.36.651. Significa

reprovação, reprovabilidade, censurabilidade, juízo de valor que recai sobre o

sujeito que praticou o fato típico e antijurídico.

1.2.3 Do Nexo Causal do Crime

O Nexo Causal está previsto no Código Penal, art. 13:

Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime,

somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a

ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Capez51conceitua nexo causal como sendo “o elo concreto,

físico, material e natural que se estabelece entre conduta do agente e o resultado

naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a

este.”

Compreende-se, portanto, que o nexo causal consiste em

uma mera constatação acerca da existência de relação entre conduta e resultado.

51 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, p.155.

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Conforme entendimento de Leal52, “esse vínculo entre o

comportamento do indivíduo e o resultado criminal, que deve ser devidamente

demonstrado, configura o que se chama em matéria penal de relação de

causalidade ou nexo causal.”

Para entendermos melhor a conduta que conduz ao crime

Costa Junior53 ensina:

Procedendo-se a um estudo analítico-abstracional do crime,

deveremos principiar pelo aspecto físico ou material, que se

compõe de conduta (comportamento, posição, atitude) geradora

de um evento naturalístico que produz uma alteração no mundo

exterior. Entre conduta e evento estabelece-se um elo, numa

relação de causa e efeito.

O caput do art. 13 estabelece o nexo de causalidade (ou

relação causal), pelo qual o resultado (nos crimes que dele dependem) só pode

ser atribuído a quem lhe deu causa. Segundo Delmanto54:

Este art. 13 trata do resultado (efeito natural da conduta humana),

de modo que é inaplicável aos crimes formais (que se consumam

antecipadamente), aos de mera conduta (sem resultado) e aos

omissivos próprios (que não dependem de resultado). Quanto aos

crimes omissivos impróprios, conforme o § 2º deste art.13. A

palavra causa significa aquilo que faz com que algo exista; as

palavras ação e omissão correspondem, respectivamente, ao

comportamento humano positivo e negativo.

Observa-se pelas citações transcritas que, em relação à

conduta omissiva do agente, de acordo o parágrafo 2º do art. 13 do CP, somente

será penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o

resultado. E complementa Delmanto55:

52 LEAL, José João. Direito Penal Geral, p.215. 53 COSTA JUNIOR. Paulo José da. Código Penal Comentado, p.26. 54 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar. 2002. p.19. 55 DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. p.20.

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20

Não se pode dizer que a omissão produza um resultado, pela

lógica razão de que “o nada; nada causa”, daí ter o reformador

penal resolvido acrescentar este parágrafo 2º, estabelecendo que

a relação de causalidade nos crimes omissivos impróprios é

normativa, pois não há nexo de causalidade entre a omissão

(abstenção) e o resultado, mas, sim, entre o resultado e o

comportamento que o agente estava juridicamente obrigado a

fazer, mas se omitiu. Ou seja, não se pune o comportamento

físico negativo em si, mas a omissão ilegal, isto é, o não ter o

agente cumprido um dever legal.

Neste sentido, conforme o reformador, a causalidade

comissiva verifica-se apenas quando o omitente coopera com o evento danoso

desenvolvendo uma condição negativa ou deixando de movimentar-se, ou ainda

quando, podendo, não impede que o evento se concretize.

Conforme a opinião de Leal56, em se tratando de:

Crimes omissivos próprios são crimes em que o tipo penal ocorre

pela omissão do agente que, diante de determinado fato, se

abstém de praticar um comportamento imposto pela Lei Penal. (A

configuração desta categoria de crime independe de qualquer

resultado dano concreto ou perigo), bastando para sua

configuração que o indivíduo deixe de realizar uma atividade

exigida pela Lei Penal.

Segundo ainda o entendimento de Leal57:

O crime omissivo impróprio apresenta-se como uma categoria

especial de infração penal, pois somente pode ser atribuído

àqueles que estejam obrigados a preservar ou garantir bens

jurídicos pertencentes a certas pessoas ou entidades e às quais

se encontrem vinculados por uma relação de ordem jurídica. São

eles elevados à posição de garantidor.

56 LEAL,João José. Direito Penal Geral. p.224. 57 LEAL,João José. Direito Penal Geral. p.226.

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21

Observa-se ainda que a lição de Heleno Fragoso apud

Leal58, é elucidativa, quando relaciona o autor do crime aos bens tutelados.

Esta é situação de fato, que se relaciona com o agente, sendo,

pois, característica da autoria. Autor de crime comissivo por

omissão só pode ser quem esteja em estreita relação com o bem

jurídico tutelado, de modo a considerar-se garantia da não

superveniência do resultado.

No entendimento de Mirabete59 a respeito da omissão do

agente ser penalmente relevante, para a aplicação da sanção penal, esta:

Pode ser elemento do tipo penal, nos crimes omissivos puros ou

próprios, ou apenas a forma de conduta para alcançar o resultado

previsto em um crime comissivo, ocorrendo assim o crime

omissivo impróprio ou crime comissivo-omissivo ou, ainda, crime

comissivo por omissão.

Entretanto, existe divergência entre os melhores

doutrinadores das várias escolas criminais no que diz respeito ao que vem ser a

causa. Para alguns, esta causa seria a última condição que produz o evento;

outros entendem ser a condição dinâmica que produz o evento; outros

determinam que a causa surja no momento da prevalência do positivo ou do

negativo voltado exclusivamente para o comportamento do agente, originando-se

dessa forma a causa eficiente, ou melhor, a força que produz diretamente o

evento; ou a causa adequada que seria a força idônea e adequada para produzir

o evento.

Maggio60 entende que:

A relação de causalidade é o terceiro elemento do fato típico. É o

nexo causal entre o comportamento humano (conduta) e a

modificação do mundo exterior (resultado). Conforme seu

entendimento; a causalidade é temperada porque seu dispositivo

58 LEAL,João José. Lições de Direito Penal. Parte Geral, p.242. 59 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. p.155. 60 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal - Parte Geral 1. p. 89.

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22

Legal não se satisfaz com a simples ocorrência material do

resultado. Exige, conforme o caso, o dolo e a culpa.

É entendimento Jurisprudencial, admitindo que o nexo

causal, tanto nos crimes dolosos como nos culposos, não suporta a

superveniência de causa que, por si só, afete o resultado e possa isentar a

responsabilidade do agente (TACrSP, julgados 84/407: RT 598/349).

Percebe-se, portanto, conforme preleciona a Lei 7.209/84

em seu art. 13, § 2º, primeira parte, que a omissão do agente, é penalmente

relevante quando o omitente encontra-se em condição e razão superveniente do

cumprimento à Lei, tem a obrigação de dar cuidado, de proteger, dar vigilância,

assumir a responsabilidade de impedir o resultado e não o faz por omissão cria a

parti dessa postura indiferente e negligente a possibilidade do risco da ocorrência

do resultado.

Maggio61 leciona que

a relação de causalidade é o terceiro elemento do fato típico. É o

nexo causal entre o comportamento humano (conduta) e a

modificação do mundo exterior (resultado). Conforme seu

entendimento; a causalidade é temperada porque seu dispositivo

Legal não se satisfaz com a simples ocorrência material do

resultado. Exige, conforme o caso, o dolo e a culpa.

Conforme esclareceu os doutrinadores acima citados, o CP,

ao adotar a teoria da equivalência dos antecedentes causais, considerando como

causa, toda ação e omissão, sem a qual o resultado não teria ocorrido, esclarece

que nexo causal, sempre vai está relacionada a duas coisas: conduta e resultado

final da ação.

Encerradas, portanto, as considerações sobre crimes e seus

elementos componentes, fazendo de forma sucinta uma distinção entre as teorias

causalista e finalista da ação, discorrendo ainda sobre o nexo causal ou relação

61 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal - Parte Geral 1. p. 89.

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23

de causalidade, no próximo item analisaremos à luz do entendimento jurídico e

doutrinário sobre a autoria e materialidade dos crimes.

1.2.4 Da Autoria e Materialidade do Crime

Os crimes, conforme estão descritos no CP, podem ser

cometidos por uma ou várias pessoas ao mesmo tempo. Existem aqueles que

exigem a participação de várias pessoas como no caso, os de formação de

quadrilha ou bando, conforme, art. 288, ou ainda os cometidos por uma só pessoa

como: homicídio, falsificação de documentos, furto, dentre outros elencados no

CP. Quanto a materialidade, entende a doutrina que a simples materialidade não

constitui o fato criminoso, não sendo, portanto suficiente para uma condenação

criminal se não ficar provado à luz do ordenamento jurídico, se este fato não for

típico, antijurídico e culpável. Agrega-se a tudo isso a determinação da autoria, a

ausência de prova suficiente para tanto, a existência da prova de ter o réu

concorrido para a infração penal ou existir circunstâncias que exclua o crime ou

isente o réu de pena.

O Código de Processo Penal, em seu título II preleciona em

seu art. 4º que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no

território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das

infrações penais e da sua autoria62.”

Portanto em conformidade com as respectivas Leis, bem como

preleciona Salles Junior63,

“O inquérito Policial é o procedimento destinado à reunião de

elementos acerca de uma infração penal. É o conjunto de

diligências realizadas pela polícia judiciária, para apuração de

uma infração penal e sua autoria, para que o titular da ação penal

possa ingressar em Juízo, pedindo a aplicação da Lei ao caso

concreto”.

62 Redação dada pela Lei nº. 9.043, de 9 de maio de 1995. 63 SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito Policial e Ação Penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 1986. p. 3.

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24

Conforme o art. 144 § 4º da CF/88, “Às policias civis,

dirigidas por delegado de polícia de carreira, incubem, ressalvada a competência

da União às funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto

os militares”.

Entende-se, portanto que o inquérito policial em sua

definição concreta, engloba em si mesmo um conjunto de atos praticados pela

polícia judiciária através das autoridades policiais tendo como escopo principal

apurar fatos concretos que elucidem a autoria e materialidade de uma infração

penal, não tendo, portanto função acusatória defensiva ou punitiva.

Na lição de Marques64

O inquérito policial não é um processo, mas simples

procedimento. O Estado, por intermédio da polícia, exerce um

dos poucos poderes de autodefesa que lhe é reservado na

esfera de repressão ao crime, preparando a apresentação em

juízo da pretensão punitiva que na ação penal será deduzida por

meio de acusação. O seu caráter inquisitivo é, por isso mesmo,

evidente. A polícia investiga o crime para que o Estado possa

ingressar em juízo, e não para resolver uma lide, dando a cada o

que é seu. Em face da polícia, o indiciado é apenas objeto de

pesquisas e investigações, porquanto ela representa o Estado

como titular do direito de punir, e não o Estado como juiz.

Percebe-se, portanto, que o objetivo principal do inquérito

policial é reunir provas objetivando-se confirmar a materialidade e a autoria de

determinado crime, que irão servir de fundamento probatório indispensável para a

propositura da ação, e oferecimento da denuncia, para abertura do processo,

dando dessa forma cumprimento ao princípio da ilicitude das provas, pois

conforme o artigo 5º, incisos LVI da CF/88, não é admissível, no processo, as

provas obtidas por meios ilícitos.

64 MARQUES, Frederico. Tratado de Direito Processual Penal. p. 189/190.

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25

Com base nas afirmações acima referidas, vale ainda

ressaltar o que está disposto nos artigos, 12 e 41, respectivamente, do Código de

Processo Penal que diz:

Art. 12 – O Inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa,

sempre que servir de base a uma ou outra.

Art. 41 - A denuncia ou queixa conterá a exposição do fato

criminoso, com todas as suas circunstancias e qualificação do

acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a

classificação do crime e, quando necessário, o rol de

testemunhas.

Conclui-se, portanto em face de todas as informações

supracitadas, que o inquérito policial, como instrumento de perquirição da polícia

judiciária, que visa apurar e confirmar a autoria e materialidade de determinado

crime, afim de que o titular da ação penal disponha de elementos para promover a

respectiva ação penal, tem por finalidade última, servir de base para que a ação

penal a ser proposta pelo Ministério Público e esteja fortemente embasada,

fornecendo elementos probatórios que possibilitem ao Juiz aplicar a pena em

cada caso, demonstrando o que já se convencionou de justitia, ae.

1.3 PENA

A Pena surge no contexto da história da humanidade

juntamente com o DP, como conseqüência jurídica principal, da infração penal.

Conforme definição de Costa Junior65, “Pena, num sentido

amplo, é a sanção que o Estado impõe àqueles que se insurge contra seu

ordenamento jurídico”.

De acordo Reale Junior66

65 COSTA JUNIOR, Paulo José da. Comentários ao Código Penal, p.245. 66 REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2003.p, 43.

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26

a justificativa para a atuação do poder-dever de punir do Estado

variará de acordo com a perspectiva adotada para seu estudo.

Desse modo, a finalidade da pena será diversa desde que vista

sob diferentes ângulos, como o do condenado, o da sociedade e o

do Estado. A finalidade atribuída à pena variará também se

investigada quanto ao momento de sua cominação e execução,

bem como se analisada de acordo com a natureza da sanção

imposta. Por fim a finalidade da pena pode variar, ainda, de

acordo com a perspectiva adotada por cada penalista da doutrina.

Fazendo uma breve retrospecção na história, entende-se

que tanto os castigos, quanto as penas impostas pelo Estado aos transgressores

das normas, foram evoluindo, na medida em que o crime tomava novas formas,

advindo daí uma maior necessidade de humanização e ressocialização dos

povos, em face da necessidade de uma convivência segura e pacífica no convívio

social.

Segundo Rosa67,

A experiência secular veio demonstrar e comprovar cabalmente

que a pena, além de representar um castigo cada vez maior para

a sociedade, ocasionam, em muitos casos, efeitos altamente

negativos e contraproducentes. Com efeito, de um lado aumentam

os custos do sistema penitenciário, dada a melhoria das

instalações, exigida pela civilização e pelo progresso, sendo,

como não poderia deixar de sê-lo, um imperativo da própria

época; e, de outro lado, o contato do recluso, no ambiente

carcerário, com elementos viciados, perigosos, irrecuperáveis,

trazer-lhe deformações de caráter, estigmas morais e perversões,

o encaminhado irremediavelmente para o abismo.

Em conformidade com o entendimento doutrinário, sabe-se

que a pena como meio de aplicação da sanção criminal, imposta pelo Estado

como meio de controlar as ações do cidadão, conhecida como a “ultima ratio

juris”, no início a sua aplicação tinha efeito retributivo ou que seja: olho por olho e

dente por dente conforme lei de Talião e posteriormente Lei de Moises entre os

Hebreus no Antigo Testamento. Posteriormente com a revolução das idéias

67 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Direito Penal parte geral, p.412.

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27

principalmente as propagadas por Beccaria a pena passou a ser aplicada com

fins de intimidação.

Na Lição de Leal68

A pena representa uma ameaça de castigo, visando intimidar o

indivíduo e com isto evitar a ocorrência de novos crimes. Esta

função preventiva se passa em dois níveis. Como mera ameaça,

ainda no plano abstrato, a sanção criminal exerce uma coação

psicológica, levando aos indivíduos a se absterem de praticar

infrações penais, pelo medo de sofrer respectiva reprimenda. A

efetiva aplicação da pena também pode intimidar os indivíduos e

desestimulá-los da eventual prática de infrações penais.

Conforme se pôde perceber no nosso atual sistema jurídico

brasileiro, dentre as múltiplas finalidades da pena, três se sobre saem como: a

retributiva, preventiva e corretiva. A retributiva valoriza os crimes já praticados,

sem levar em conta os interesses sociais. A preventiva se preocupa apenas em

afastar o delinqüente do convívio social evitando que ele venha cometer novos

crimes. A corretiva tem como principal aspecto a correção do delinqüente em sua

índole e caráter moral tornando-o apto para o convívio social.

Nesse aspecto segundo entendimento dos juristas, a

ressocialização do apenado e sua efetiva reintegração ao convívio social, não se

mostra mais necessária promover uma urgente modificação na legislação, mas,

sim tratar de dar cumprimento das regras vigentes. A Lei de Execução penal

apresenta inúmeras disposições viabilizando a inserção social do indivíduo.

Nesse aspecto, dentre outras coisas, destacam-se as disposições que visam

envolver a comunidade na execução penal como (art. 4º); dar adequada

assistência social ao preso tratando-o como ser humano; (Arts. 12 e 13),

tratamento de saúde (art. 14),assistência jurídica (art. 15), assistência social;

(Arts. 22 e 23), religiosa; (art. 24); instrução escolar; (art. 18); ensino

profissionalizante (art. 19); e o trabalho (art. 28).

68 LEAL, João José. Direito Penal, p, 381/382.

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28

Jesus69 preleciona que;

nos termos do art. 38 do CP, o preso conserva todos os direitos

não atingidos pela perda de liberdade, impondo-se a todas as

autoridades o respeito à sua integridade física e moral. O trabalho

do preso, de acordo com o art. 39 do CP, será remunerado,

sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência Social. Os

direitos do preso estão disci0plinados nos Arts. 40 a 43 da Lei de

Execução Penal, Lei nº 7.210, de 11-7-1984. O trabalho está

regulado nos Arts. 28 a 37 da mesma Lei.

Conclui-se que o processo de reinserção social do preso

deve começar dentro do sistema prisional no decorrer da pena, afim de que em

seu estado de liberdade o apenado esteja habilitado para ser novamente inserido

no convívio da sociedade, através da sua integração ao mercado de trabalho para

não mais voltar a delinqüir.

No Capítulo 2 abordaremos sobre o Direito Processual

Penal, histórico, conceito, os Juizados Especiais Criminais, conhecidos como

JECrims, suas leis introdutórias e aditivas, Lei nº 9.099/95, 10.259/01 e 11.313/06,

e os critérios atuais de fixação da competência do JECrim.

69 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, vol. I, 21a ed. rev. e atual., 1998. p.463.

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CAPÍTULO 2

O DIREITO PROCESSUAL PENAL E OS JUIZADOS ESPECIAIS

CRIMINAIS

2.1. BREVE HISTÓRICO

O Direito Processual Penal, de acordo com os historiadores,

pode ser dividido em dois grandes períodos. Ensina Noronha70

No primeiro, dominavam os glosadores, os práticos e os

precursores. Os primeiros limitavam-se a breves notas ao Direito

Romano do Império. Sucedem-lhes os pós-glosadores, que, não

abandonando o Direito Romano, são, entretanto, mais sensíveis

às necessidades de seu tempo. (...)

Com os práticos, a exposição já é sistemática, há alguma técnica.

Sobressaem-se, dentre outros, Júlio Clarus, Próspero Farinacio e

Benedito Carpsov.

Já na metade do século XVIII, correspondendo ao chamado

Período Humanitário do Direito Penal, outra é a orientação

tomada: o objetivo é a humanização da justiça; procura-se

concicliar a legislação penal com a s exigências da justiça e os

princípios de humanidade. O maior vulto é, então, Cesare Becaria,

com seu ‘pequeno grande livro’ Dei delitti e dlle pene, a par de

outras reivindicações, investe contra as atrocidades da pena, a

natureza dos processos e as iniqüidades da justiça. Ao lado de

Baccaria, Pascoal José de Melo Freire e Pereira e Souza (estes

dois últimos em Portugual).

Noronha71 complementa seu ensinamento com o segundo

período. Veja:

70 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. p. 7/8 71 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. p. 7/8.

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O segundo período caracteriza-se principalmente pelo Código

Napoleônico de 1808 (Code d’Instruction Criminelle). Surgem,

então, estudos mais completos e ponderados da disciplina, agora

separada do direito substancial. Há elaborações doutrinárias, em

que se sobressaem vultos como Carrara, com Programma del

Corso di Dirito Criminale, no qual a Secção III do vol. II é

destinada ao juízo criminal; Faustin Hélie, com o magnífico Traité

de I’Instrucion Criminalle; Garraud, com o Compêndio de Direito

Criminal, ocupando-se o vol. II com o processo; Luigui Lucchini,

com Elementi di Procedura Panale; Puglia, em Manuale di

Procedura Penale. Bentham, Haus e Oscar Büllow, com sua obra

A Teoria das Exceções Dilatórias e dos Pressupostos

Processuais, em que, com fundamento na relação processual de

caráter público, imprime novos rumos e aponta outros métodos ao

Direito Processual.

Após este período de contribuições importantes como as

Carrara, Faustin Hélie, Luigui Lucchini, entre outros, surgiu o “processo penal

reformado”, como ensina Rosa72

A reforma referiu-se, em primeiro lugar, à organização do Poder

Judiciário. Tinham sido feitas, ou pelo menos assim se acreditava,

más experiências com a jurisdição exercida por juizes técnicos;

particularmente nos processos políticos parecia que ela não dava

garantia alguma para um juízo objetivo e justo. Então exigiu-se a

independência dos tribunais, e com esta idéia fundamental, a

participação do elemento leigo. Chegou-se à introdução dos

jurados (cour d’assises; júri). Ante o convencimento de que era

impossível ser a questão de direito decidida satisfatoriamente por

juizes leigos, no começo só se arriscou pôr em mãos dos jurados

a resolução da questão de fato; mas quando resultaram

complicações insolúveis por causa da separação das questões de

direito e de fato, confiou-se aos jurados também a questão de

direito.

Contudo, salienta ainda Rosa:

a pura justiça leiga, tal como se realiza na organização dos

jurados, não conservou um domínio absoluto; a seu lado se punha

a jurisdição exercida por tribunais de escabinos, nos quais juizes

72 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 40

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31

letrados e leigos decidem juntos num colégio único. Um segundo

princípio realizado pela legislação de reforma foi a abolição do

processo inquisitório; em seu lugar apareceu o processo

acusatório, de modo que se criava, para o papel do acusador, o

MP. Finalmente, se substituiu o processo por escrito, mediato e

secreto, pelo processo oral, imediato e público, e a teoria da prova

formal, pelo princípio da sua livre apreciação.

O período evolutivo do Processo Penal passou, ainda, por

três sistemas que trouxeram importantes contribuições para o Direito Processual

Penal, como bem preconiza Silva Júnior73:

...observamos que o processo penal passou por três sistemas em

sua evolução, quais sejam: o sistema inquisitivo (acusação sem

formalidade e ausente o contraditório); o acusatório, onde a

acusação é formal e vigora o princípio do contraditório; e, o

sistema misto, decorrente da aplicação de ambos os sistemas.

E finaliza: “Hoje, no contexto da justiça universal, predomina

este sistema misto”.74

O Direito Processual Penal recebeu a contribuição de vários

doutrinadores e juristas para, então, chegar à sua concepção atual.

2.2 CONCEITO

O Direito Processual, como ramo do Direito Público, consiste

sistematicamente, num conjunto de normas e princípios que aplicados através do

Poder Judiciário, que tem como finalidade principal, acionar a jurisdição para que

esta com rapidez, eficiência e eficácia, sane as pretensões tanto de ordem civil

quanto penal e ainda do trabalho, amparadas pelo Direito Material.

73 SILVA JÚNIOR, Euclides Ferreira da Silva. Curso de Direito Processual Penal, p.9. 74 SILVA JÚNIOR, Euclides Ferreira da Silva. Curso de Direito Processual Penal, p.9.

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32

Neste sentido, Silva Júnior75 conceitua o Direito Processual

Penal como sendo

um ramo do direito público, de caráter adjetivo, que sistematiza o

estudo das leis, institutos e princípios para permitir a aplicação do

Direito penal, quer no âmbito judicial, quer fora dele, porém,

sempre com atuação voltada para a área da justiça criminal.

Assim, como direito adjetivo, O Direito Processual Penal tem

como finalidade principal a aplicação do Direito Penal, que na condição de direito

substantivo, reprova a ação delituosa, proibindo e reprimindo comportamentos

àqueles que violarem suas normas jurídicas.

Tendo em vista o Código de Processo Civil, ensina

Noronha76, “conceituamos Direito Processual Ppenal como a disciplina jurídica

que se ocupa com a atuação jurisdicional do Direito Penal, as atividades da

polícia judiciária, os órgãos respectivos e seus auxiliares.”

Lopes77, no mesmo sentido, conceitua Direito Processual

Penal como sendo “o conjunto de princípios e normas jurídicas que regulam a

aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da

polícia judiciária, e a estrutura dos órgãos da função jurisdicional e respectivos

auxiliares.”

Entende-se, portanto, que o Direito Processual Penal, como

ciência jurídica tem finalidade própria e por essa razão administra a justiça em

matéria penal, abrangendo os procedimentos preparatórios que é o inquérito

policial realizado pela Polícia Judiciária e a realização do processo em si, tendo

sua atuação voltada para a área da justiça criminal, sendo, portanto o instrumento

pelo qual se aplica o Direito Penal, no sentido de impor uma pena ao agente que

75 SILVA JÚNIOR, Euclides Ferreira da. Curso de Direito Processual Penal, p.2. 76 NORONHA, E. Magalhães. Curso de directo processual penal. p. 4. 77 LOPES, Ivonete Bernardes Oliveira. Sentenças, nulidades e recursos no processo penal – uma abordagem doutrinária sobre a complexidade dos temas. São Paulo: Editora de Direito. 2004. p. 27

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33

cometeu o delito criminoso fazendo com que o autor que causou a pratica do

delito repare o dano criminal, através da sanção imposta pelo Estado.

Na visão de Rosa78

O Direito Processual Penal é o Direito Penal formal, que cuida de

regular minuciosamente a apuração dos crimes e o julgamento

dos acusados. Dá ao indivíduo condições de se defender e de

propor ações, quando agredido. Esclarece os meios e modos para

o exercício da Justiça Penal. Oferece os componentes remédios

diante de qualquer ameaça ou violação dos bens protegidos pelo

Estado, mas ao mesmo tempo estabelece limites à investigação

da verdade e à apuração dos fatos, proporcionando segurança e

garantias ao acusado de que o processo se desenvolverá

estritamente de acordo com a forma preestabelecida.

A concepção de Direito Processual Penal depende da visão

do doutrinador que pode revelar seu lado cético, como expressa Beling apud

Rosa79,

o direito processual penal está a frente ao direito penal material na

posição de servidor: existe para o direito penal. O direito penal

não toca no delinqüente nem num pêlo. Estabelece, é verdade,

que o assassino merece a pena de morte e o ladrão a de prisão, e

que o Estado tem tal ou qual pretensão punitiva contra o

delinqüente. Mas o mundo dos criminosos pode livrar-se dos

parágrafos, que só vivem no papel, até enquanto o direito penal

não atue realmente. A realização do direito penal é a tarefa do

direito processual penal.

O Direito Processual atua como mediador de uma relação

jurídica entre as partes litigantes em sua essência, encontra-se disciplinado em

uma norma jurídica que cria direitos e obrigações e que depois de trazido a juízo

o Estado, através do poder judiciário, julga e disciplina o caso concreto através da

jurisdição fazendo valer o direito.

78 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 27 79 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 27/28

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Fundamentando o comentário dispensado, explica

Schlichting80 a respeito da jurisdição:

A jurisdição é um instituto jurídico-processual específico que

consiste no poder, função e atividades dos quais estão investidos

os julgadores que compõem os juízos, tanto os singulares

(unipessoais) quanto os coletivos (colegiados) para, analisado os

fatos e situações jurídicas, trazidas à sua apreciação e para os

quais se está requerendo a tutela respectiva, concedê-las ou não,

conforme constatem através da ação judicial correspondente e do

devido processo Legal, estejam ou não amparadas pelo direito

material inerente a esses fatos/situações jurídicas.

O conceito de DPP é entendido por Marques81 como sendo

“[...] o ramo da Ciência Jurídica que tem por conteúdo os princípios, institutos e

normas concernentes à administração da justiça em matéria penal.”

Seu objetivo, como salienta Lopes82 “...é com seguir a

realização da pretensão punitiva em decorrência da prática de um delito através

das regras do próprio Direito Processual Penal, que tem caráter instrumental, no

sentido de estabelecer as regras de apuração dos fatos.”

Entende-se que o Sistema Penal é um instrumento seletivo

de controle social que aplica a Lei de forma desigual, sendo o status econômico

individual um dos principais critérios não-declarados de ação sobre os mais

vulneráveis. Reprime a violência individual, facilmente perceptível, enquanto deixa

de lado a violência sistêmica, que, embora diluída, apresenta um enorme

potencial ofensivo à sociedade, não alcançando seu fim proposto que é o

equilíbrio e a paz social.

80 SCHLICHTING, Arno Melo.A teoria do processo. Florianópolis: Momento, 2007.p.23. 81 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Processual Penal, p.23. 82 LOPES, Ivonete Bernardes Oliveira. Sentenças, nulidades e recursos no processo penal p. 27

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35

2.3 O DIREITO PROCESSUAL PENAL NO BRASIL

O Direito Processual Penal brasileiro sofreu influências de

países aonde a matéria já havia sido deferida a mais tempo. Leciona Rosa83 que:

No Brasil a fonte direta remota do Direito Processual Penal é a

legislação portuguesa, inspirada no sistema inquisicional, como

toda a legislação européia do século XVI. O primeiro código

português recebeu, em homenagem a D. Afonso V – em cujo

reinado foi concluída a obra – o nome de “ordenações Afonsinas”.

Este código disciplinava o processo penal em seu livro V.

Depois disso, ensina Rosa84, vieram as “ordenações

Manuelinas”, por conta do reinado de D. Manuel I, em 1521, o “Código

Sebastiânico”, por designação do cardeal D. Henrique e só em 1830 é que “surgiu

o Código Criminal, seguido, em 1832, pelo Código de Processo Criminal,

elaborado por Manuel Alves Branco”, recebendo duas reformas de grande

importância: em 03.12.1841, “referindo-se às funções da polícia e ampliando suas

atribuições; e a de 20.09.1871, criando o Hábeas Corpus preventivo e o inquérito

policial.” Logo depois, o processo penal foi regulamentado pela Lei nº 2.033, de

20.09.1871 e pelo Decreto nº 4.824, de 22.11.1871. Assim, “com a Proclamação

da República, em 1889, foi adotado o sistema do pluralismo processual”, que

acabou com a Constituição de 1937 e o Estado Novo. Nesta mesma época,

lançou-se uma “comissão de três juristas para elaborar um projeto de Código de

Processo Penal”, mas que só saiu do papel em 1941, a cargo de outra comissão.

Noronha85 segue o ensinamento de Rosa e complementa

que esta comissão era

... composta de Narcélio de Queiroz, Nélson Hungria, Cândido

Mendes, Vieira Braga, Florêncio de Abreu e Roberto Lira, que,

pelo Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, viu seu projeto

convertido em Código de processo Penal, que entrou em vigor em

1º de janeiro de 1942 e que vige atualmente.

83 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 29 84 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 30/31 85 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. p. 8/9.

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O CPP foi um marco na história do direito no Brasil, como

destaca Rosa86:

Este Código foi editado com o objetivo de coordenar

sistematicamente as regras do processo penal num Código único,

e ajusta-las de modo a proporcionarem maior eficiência e unidade

ao Estado, bem como frisa a ‘Exposição de Motivos’, quando

declara que, com sua promulgação, estará ‘finalmente realizada a

homogeneidade do Direito Judiciário Penal do Brasil, segundo

reclamava, de há muito, o interesse da boa administração da

Justiça, aliado ao próprio interesse da unidade nacional’.

E complementa salientando que:

(...) Um dos princípios fundamentais adotados pelo Código é o ne

procedat judex ex officio, não competindo mais ao juiz dar início

ao procedimento. Outro princípio adotado é o jura novit cúria, que

dá ao juiz a oportunidade de retificar a classificação feita na

denúncia.

Essa inovação veio com a exigência de tornar a justiça mais

ampla e acessível, voltada para o lado da vitima.

Nessa prerrogativa, explana Marinoni87:

a exigência de tornar a justiça acessível a todos é uma importante

faceta de uma tendência que marcou os sistemas jurídicos mais

modernos no nosso século, não apenas no mundo socialista, mas

também no ocidental. Isso é evidenciado, mais claramente, pelas

constituições ocidentais mais progressistas do século XIX,

caracterizadas por seu esforço em integrar as liberdades

individuais tradicionais – incluindo aquelas de natureza processual

– com as garantias e direitos sociais, essencialmente destinados a

tornar as primeiras a todos acessíveis e, por conseguinte, a

assegurar uma real, e não meramente formal, igualdade perante a

lei.

86 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Processo penal. p. 31. 87 MARINONI, Luiz Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil. 4. ª. ed São Paulo: Malheiros, 2000. p. 24/25.

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37

Referido Código continua em vigor até os dias atuais, como

salienta Silva Júnior88, com algumas modificações essenciais relativamente à sua

original edição, mas permanecendo os pontos já difundidos.

Este Diploma Legal continuou mantendo o inquérito policial com

sua natureza inquisitiva, atribuiu a titularidade da ação penal ao

órgão do Ministério Público na ação penal pública, e, ao ofendido,

na ação penal privada, eliminando o procedimento ex-officio, salvo

nas contravenções penais e, posteriormente, nos crimes de

homicídio culposo e lesão corporal culposa (Lei n. 4.611/65),

restringiu a competência do Tribunal do Júri, o qual em 1948,

através da Lei n. 263, sofre nova modificação, estando atualmente

com a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra

a vida, consumados ou tentados (...). Por força do art. 129 da

Constituição federal de 1988, restou definitivamente eliminada a

iniciativa da ação penal por qualquer outro órgão que não o

Ministério Público.

O Código de processo Penal englobou num único Código as

regras do processo Penal, o que facilitou em muito as ações da justiça.

2.4 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS – JECrims.

Na tentativa de reverter o quadro de falência em que se

encontra o sistema criminal, vem surgindo, nas últimas décadas, uma série de

teorias que o deslegitimam, dentre as quais encontramos o Minimalismo, ou

intervenção penal mínima, cujos traços põem ser observados nos Juizados

Especiais Criminais (no âmbito estadual), criados pela Lei nº 9.099/9589. Esses

novos Juizados, regidos por regras de cunho mais socializador, tentam extrair

algum benefício para a sociedade.

88 SILVA JÚNIOR, Euclides Ferreira da. Curso de Direito Processual Penal, p.10. 89 BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências

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Os Juizados Especiais Criminais são responsáveis pelo

julgamento das infrações penais que atualmente tenham o teto de pena máxima

de até dois anos de reclusão ou detenção, seja de crime ou contravenção penal,

conforme art. 2º da Lei nº 10.259/2001, que ampliou o teto anteriormente

determinado pelo art. 63 da Lei nº 9.099/95, onde era de até 1 ano de reclusão ou

detenção.

No caso das contravenções penais, de acordo com o art. 60

e 61, só devem ser julgadas no JECrim.

A principal finalidade dos Juizados Especiais Criminais, diz

Figueira Junior e Lopes90, é que “tudo nos procedimentos do Juizado deve

conduzir à solução não impositora de pena privativa de liberdade”.

A colocação do autor remonta a importância de se ter

através do JECrim uma justiça mais humana e mais maleável.

O Juizado Especial Criminal busca dar atenção às

denominadas infrações de menor potencial ofensivo, proporcionado mecanismos

de solução de conflitos mais adequados que a restrição de liberdade individual,

dando, ainda, atenção para a vítima, por muito tempo esquecida pelo Estado. Por

outro lado, a apreciação destes delitos menores – com os quais o Judiciário

nunca se preocupou – termina revelando o efeito perverso de potencializar ainda

mais a seletividade do sistema penal, uma vez que para a clientela típica deste, a

legislação só tende a ficar mais opressora.

Esta atenção destinada a vitima retrata o avanço que a

Justiça buscou ter com todas as inovações ocorridas no século 20.

Neste sentido, opina Gomes91

90 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias e LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 2 ed. São Paulo: RT, 1997, p. 504. 91 GOMES, Flávio Luiz. Juizados Especiais: Esplendor ou Ocaso? Bol. IBCCRIM, Nº 89. Abr. 2000

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Muitas vítimas, que jamais conseguiram qualquer reparação no

processo de conhecimento clássico, saem agora dos Juizados

Criminais com indenização. Permitiu-se a aproximação entre o

infrator e a vítima. O sistema de Administração de Justiça está

gastando menos para a resolução desses conflitos menores. E

atua com certa rapidez. Reduziu-se a freqüente prescrição nas

infrações menores. As primeiras vantagens do novo sistema são

facilmente constatáveis.

A criação da Lei nº 9.099/95 demonstrou coesão ao instituir

a realização de uma audiência preliminar de cunho extra – penal para efetuar,

quando possível, a conciliação, composição de alunos e a transação penal. Para

proceder às duas primeiras, a Lei permitiu a utilização de conciliadores, que são

auxiliares da justiça treinados para obter o melhor resultado para o conflito do

ponto de vista social.

Assim, na colocação de Wunderlich92:

... os Juizados Especiais Criminais passaram a dar conta de um

tipo de delituosidade que não chegava até às Varas Judiciais,

sendo resolvido através de processos informais de ‘mediação’ (ou

‘intimidação’) nas Delegacias de Polícia.

Desta forma, a solução de conflitos ficava a mercê da

Polícia; ora sobrecarregada, ora prejudicada pela falta de pessoal capacitado.

A criação dos JECrims foi um acontecimento comemorado e

esperado por doutrinadores, juristas e pela população, como bem destaca

Grinover93:

É indiscutivelmente a via mais promissora da tão esperada

desburocratização da Justiça criminal (grande parte do movimento

forense criminal já foi reduzido), ao mesmo tempo em que permite

a pronta resposta estatal ao delito, a imediata (se bem que na

92 WUNDERLICH, Alexandre. A vítima no processo penal (impressões sobre o fracasso da Lei nº 9.099/95). In: WUNDERLICH, Alexandre; CARVALHO, Salo (Orgs.). Novos diálogos sobre os Juizados Especiais Criminais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 36. 93 GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados Especiais Criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1995. 5. ed. São Paulo: RT, 2005. p. 49

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medida do possível) reparação dos danos à vítima, o fim das

prescrições (essa não corre durante a suspensão), a

ressocialização do autor dos fatos, sua não-reincidência, uma

fenomenal economia de papéis, horas de trabalho etc.

A fase processual no JECrim se dá com a citação pessoal

do réu no próprio juizado sempre que possível, ou por mandato, através de edital,

por AR, entre outros. É realizada no próprio juizado e o ato citatótio praticado pelo

escrivão ou responsável pelo expediente cartorário, além do oficial de justiça. Se

o acusado for analfabeto, deve o mandato citatório ser assinado a rogo por

alguém depois de colhido a impressão digital do acusado. Não encontrando o

acusado para ser citado, deve o juiz processante encaminhar as peças existentes

ao Cartório Distribuidor a fim de proceder sua distribuição ao juízo da Vara

Criminal competente, considerando a não admissibilidade de citação editalícia

junto ao juizado. Remetido o processo para o juízo comum por esse fundamento,

devem ser aplicados em favor do acusado os benefícios regulados na lei nº

9.099/95, considerando que sua revelia não obsta o gozo desses benefícios.

A criação dos Juizados Especiais Criminais realmente trouxe

inovações ao sistema penal e através das jurisprudências tem a tendência de se

manterem presentes e atuantes, como por exemplo, o fenômeno da transação

penal, ou como expressa o art. 72, “aplicação imediata de pena não privativa de

liberdade”.

A transação penal, na definição de Sobrane94 é o

[...] ato jurídico através do qual o Ministério Público e o autor do

fato, atendidos os requisitos legais, e na presença do magistrado,

acordam em concessões recíprocas para prevenir ou extinguir o

conflito instaurado pela prática do fato típico, mediante o

cumprimento de uma pena consensualmente ajustada.

94 SOBRANE, Sergio Turra. Transação penal. p. 75

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Na visão de Figueira Junior e Lopes95 sobre a transação

penal, salienta-se que:

Consiste o seu procedimento, em contornos gerais, no seguinte:

uma vez que se tem definida a prática de uma infração penal,

superada a fase do premilinary sreen, abre-se a oportunidade ao

argüido para o pleading, ou seja, para que se pronuncie a respeito

de sua culpabilidade. Se o argüido se declarar culpado (pleads

guilty) – ou seja, se confessa o crime -, opera-se a plea, a

resposta da defesa e então pode manifestar-se o Juiz, uma vez

comprovada a voluntariedade da declaração, fixar a data da

sentença, ocasião em que a pena será aplicada sem a

necessidade de processo ou veredicto. Caso o argüido manifeste-

se pelo no guilty, abre-se, ou continua-se, o processo e entra em

ação o Júri.

No entanto, pondera Oliveira96

No que tange a transação penal, temos que não poderia o

legislador de trânsito aplicá-la aos seus crimes, com penas

máximas superiores a um ano, visto tratar-se de deliberação

constitucional, na qual estabeleceu-se que este instituto seria

aplicado após a criação de lei ordinária (Lei dos Juizados

Especiais). (sem sublinhado no original)

Neste sentido, a Constituição Federal manifesta-se através

do artigo 98, a respeito:

Art. 98. A União, No Distrito Federal e nos Territórios, e os

Estados criarão:

I- juizados especiais, providos por juízes togados, ou

togados e leigos, competentes para a conciliação, o

julgamento e a execução de causas cíveis de menor

complexidade e infrações penais de menor potencial

ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,

permitidos, na hipóteses previstas em lei, a transação e o

95 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias e LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 602. 96 OLIVEIRA, Luiz Carlos de. A aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais sobre os onze crimes previstos no CTB . Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2045>. Acesso em: 10 out. 2008.

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julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro

grau. (sem grifos e negritos no original).

Razão pela qual, sustenta Oliveira97, a aplicação da

transação penal, mister se faz necessário que as infrações não prescrevam pena

máxima superior a um ano, visto que este mandamento constitucional foi

regulamentado pela lei dos Juizados Especiais, conforme o próprio texto

constitucional, que por sua vez, assinalou ser cabível a transação àquelas

infrações de pena delimitada.

Em contrapartida, salienta Bitencourt98:

(...) Logicamente, o legislador pode utilizar outros critérios e outros

parâmetros para determinar a definição ou extensão das infrações

penais de menor potencial ofensivo, desde que seja para outros

fins. Juizados Especiais Criminais e transação penal são dois

institutos intimamente relacionados à pequena ofensividade da

infração penal, e somente para essas pequenas infrações a

Constituição autoriza a utilização da transação penal. (sem negrito

no original)

A transação penal é tida como ferramenta no JECrim, como

desperta o entendimento do relator paulista Oldemar Azevedo, descritos por

Figueira Júnior e Lopes99:

CONTRAVENÇÃO PENAL. APLICABILIDADE

INDEPENDENTEMENTE DO PROCEDIMENTO ADOTADO.

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. TRANSAÇÃO PENAL.

APLICAÇÃO ÀS CONTRAVENÇÕES PENAIS,

INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE PROCEDIMENTO

ESPECIAL. POSSIBILIDADE. É admissível a transação penal

prevista no art. 76 da lei 9.099/95, quando se trata de infração

qualificada como de menor potencial ofensivo, desde que não haja

97 OLIVEIRA, Luiz Carlos de. A aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais sobre os onze crimes previstos no CTB . Acesso em: 10 out. 2008. 98 BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas penas alternativas. Análise Político-Criminal da Lei n. 9.714/98. São Paulo: Saraiva. 1.999. p. 77. 99 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias e LOPES, Maurício Antonio Ribeiro. Comentários à lei dos juizados especiais cíveis e criminais: Lei 9.099, de 26.09.1995 p. 507.

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previsão legal de procedimento especial, ou que se trate de

contravenção penal, independentemente da existência de

procedimento especial, pois esta infração, pela sua natureza, deve

ser considerada de menor potencial ofensivo. (TACRIM-SP – AC

1011651 – Rel. Oldemar Azevedo).

É certo salientar que o parágrafo único do art. 291 da lei de

97 abriu exceção na aplicação da transação penal em crimes de trânsito de lesão

corporal culposa, de embriaguez ao volante e de participação em competição não

autorizada.

No contexto geral os Juizados Especiais Criminais têm a

incumbência de realizar o processamento, o julgamento e a execução das

infrações de menor potencial ofensivo, salvo os que a lei trata como casos

especiais, podendo ser aplicada a transação penal.

2.4.1 Lei 9.099/95 – Considerações Gerais

Com a introdução desta lei pode-se impor uma nova era do

padrão processual, onde examina-se a criminalidade que deriva das infrações

penais de menor potencial ofensivo. Veio de encontro ao preceito constitucional

do art. 98, § I, CF/88, que criou os Juizados Especiais Criminais.

Diz seu art. 1º, das disposições gerais:

Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da

Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e

nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo,

julgamento e execução, nas causas de sua competência.

Regulamentando os Juizados Especiais Criminais no âmbito

Estadual abriu-se a possibilidade de definir-se o que é crime de menor potencial

ofensivo.

De acordo com o art. 61

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Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,

para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a

que a lei comine pena máxima não superior a 1 (um) ano,

excetuados os casos em que a lei preveja procedimento

especial.100

Através dos JECRims (Juizados Especiais Criminais) podem

ser julgados os delitos que não possuem o procedimento especial para

julgamento (pena até 1 ano), inclusive contravenções penais.

Não obstante, há controvérsias sobre a imposição do

legislador, como manifesta Gomes101, pois manteve-se apenas “em adotar

processos substitutivos ou alternativos, de natureza penal ou processual, que

visam, sem rejeitar o caráter ilícito do fato, dificultar, evitar, substituir ou restringir

a aplicação da pena de prisão ou sua execução ou, ainda, pelo menos, sua

redução.”

Com a instauração dos Juizados no país, explica Bizzotto e

Rodrigues102, “os números são os objetivos declarados. Especialmente na esfera

penal, o art. 62 da Lei 9.099/95 indica os desideratos da reparação dos danos

sofridos pela vítima e da aplicação de pena não privativa da liberdade”.

Veja o que diz o art. 62:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos

critérios da oralidade, informalidade, economia processual e

celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos

danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de

liberdade.

100 A Lei nº 10.259/01 ampliou para até dois anos a pena máxima, como esclareceremos no item 2.4.2 desta monografia. 101 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão Condicional do Processo Penal. 2ª ed. rev., atual e ampl., São Paulo: RT, 1997, p. 111. 102 BIZZOTTO, Alexandre e RODRIGUES, Andréia de Brito. Os juizados especiais e o movimento restaurativo: velhas guerras, novas estratégias. Parte integrante do Capítulo 3: Justiça Restaurativa da obra A crise do processo penal e as novas formas de administração da justiça criminal. Organização: Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo e Salo de Carvalho. Sapucaia do Sul: Notadez, 2006. p. 174.

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45

Com a introdução desta lei surgiu o chamado princípio da

oportunidade inovador, onde o MP aprecia a conveniência de não ser proposta a

ação penal, oferecendo ao autor do fato o imediato encerramento do

procedimento pela aceitação de pena menos severa. Este mister, portanto, não é

absoluto.

Numa comparação entre a Lei nº 9.099/95 e a nº 10.259/01,

Tourinho Filho103 salienta que

Considerando que hoje, em virtude de o parágrafo único do art. 2º

da Lei n. 10.259/2001, que instituiu o Juizado Especial Criminal

Federal, haver alterado a noção de ‘menor potencialidade

ofensiva’, não mais excluindo da ‘transação’ as infrações sujeitas

a procedimento especial (...) se a pena máxima não ultrapassar 2

anos, seja observada a Lei nº 9.099/95.

A introdução da Lei nº 9.099/95 foi uma das formas

encontradas pelo Judiciário de “desafogar” o sistema penal abastecido de

indivíduos com delitos de menor potencial ofensivo a espera de julgamento.

2.4.2 Lei nº 10.259/01 – Considerações Gerais

Esta Lei foi instituída em 12 de julho de 2001 e criou os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais do âmbito Federal para julgar crimes de

menor poder ofensivo de competência federal.

Introduziu uma mudança significativa em relação ao conceito

de crime de menor potencial ofensivo através de seu art. 2º, parágrafo único.

Veja:

Art. 2º - Compete ao Juizado Especial Federal Criminal

processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal

relativos às infrações de menor potencial ofensivo.

103 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 4º vol. 27. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 238

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46

Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor

potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

Para Gomes104, “a Lei 10.259/01 derrogou o conceito de

menor potencial ofensivo previsto na Lei 9.099/95”.

Já para Rangel105 “a Lei 10.259/01 é inconstitucional”.

Num consenso, entendeu-se que não poderia haver dois

conceitos distintos para crime de menor poder ofensivo descritos nas duas leis, na

esfera Estadual e Federal.

A Lei 10.259/01, diferentemente da Lei nº 9.099/95, não

previu através de procedimento especial a exclusão dos crimes julgados, evitando

impasses. Mesmo assim, muita coisa fora resolvida com a introdução desta lei,

como é o caso do crime de menor poder ofensivo agora entendido ser punido com

pena de até dois anos, de forma isolada ou cumulada e com pena de multa e,

outros punidos somente com pena de multa.

2.4.3 Lei nº 11.313/06 – Considerações Gerais

Esta lei foi instituída com a finalidade de modificar alguns

artigos das leis 9.099/95 e 10.259/01 sobre o regimento dos Juizados Especiais

Criminais nas esferas Estaduais e Federais. Sendo assim, a redação destes

artigos passaram a ser da seguinte maneira:

Lei nº. 9.099/95

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados

ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o

julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial

ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.

104 GOMES, Luiz Flávio. Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei n. 10259/2001). Aspectos Criminais. In Escritos de Direito e Processo Penal (em Homenagem ao Professor Paulo Cláudio Tovo). p. 224-225. 105 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001, p. 276.

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47

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo

comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras

de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da

transação penal e da composição dos danos civis.

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial

ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os

crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois)

anos, cumulada ou não com multa.

Lei nº. 10.259/2001

Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e

julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às

infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de

conexão e continência.

Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo

comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação das regras

de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da

transação penal e da composição dos danos civis.

Essas alterações dizem respeito à relação entre crime de

menor potencial ofensivo e os delitos de competência da área do juízo comum.

Neste termos, podemos dizer que com a Lei 11.313/06 extingui-se possíveis

divergências entre o procedimento especial determinando assim que os delitos de

pena de até dois anos estão enquadrados como de menor potencial ofensivo.

2.5 DOS CRITÉRIOS ATUAIS DE FIXAÇÃO DA COMPETENCIA DO JECRIM

Atualmente, os JECrims possuem competência para

conciliação, processo, julgamento e execução de infrações penais de menor

potencial ofensivo, sendo compostos por juizes togados e leigos.

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Nas palavras de Mirabete106

A competência do Juizado Especial Criminal restringe-se às

infrações penais de menor potencial ofensivo, conforme a Carta

Constitucional e a lei. Como tal competência é conferida em razão

da matéria, é ela absoluta, de modo que não é possível sejam

julgadas no Juizado Especial Criminal outras infrações, sob pena

de declaração de nulidade absoluta.

No mesmo sentido, diz Grinover107

A competência do Juizado, restrita às infrações de menor

potencial ofensivo, é de natureza material e, por isso, absoluta.

Não é possível, portanto, que nele sejam processadas outras

infrações e, se isso suceder, haverá nulidade absoluta.

Sobre o tema descorre Dalabrida108

A competência do Juizado Especial Criminal foi firmada a nível

constitucional (art. 98, I, CF), restringindo-se à conciliação

(composição e transação), processo, julgamento e execução de

infrações penais de menor potencial ofensivo. É competência que

delimita o poder de julgar em razão da natureza do delito (ratione

materiae), e, sendo assim, absoluta. Logo, na ausência de

disposição legal permissiva, é inadmissível a submissão a

processo pelo Juizado Especial Criminal de outras infrações

penais, sob pena de nulidade absoluta.

No complemento do explanado pelo autor, observou a CF/88

art. 98, § 1º:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados

criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e

leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações

106 MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais, p. 41. 107 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Juizados Especiais Criminais, p. 69. 108DALABRIDA, Sidney Eloy. Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais - IBCCrim, n.º 57, agosto/1997.

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penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos

oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a

transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de

primeiro grau;

Fundamenta-se juridicamente através do art. 61, como

leciona Andrade109:

O art. 61 da Lei nº. 9.099/95 diz que os Juizados Especiais

Criminais são competentes para os delitos de menor potencial

ofensivo, assim considerados aqueles cuja pena máxima não seja

superior a um ano. Assim, o homicídio de trânsito continua

excluído da competência dos Juizados Especiais, pois sua pena

máxima é de 4 anos (pelo CP, eram 3 anos).

Quanto ao crime de lesão corporal culposa no trânsito, a pena

máxima passou de 1 para 2 anos, logo também ficou excluído da

competência dos Juizados. Contudo, o art. 291, parágrafo único,

do CTB admitiu, em enumeração exaustiva, que se lhe aplicassem

alguns institutos típicos dos Juizados Especiais, previstos em três

artigos da Lei nº. 9.099/95. São eles: arts. 74 (composição dos

danos civis), 76 (transação penal) e 88 (ação penal pública

condicionada a representação do ofendido).

Como observa o autor, o parágrafo único do art. 291 abre

uma exceção determinando que o disposto nos artigos ora citados possam ser

aplicados aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao

volante, e de participação em competição não autorizada.

Para complementar o entendimento do autor, segue os arts.

supracitados da Lei nº 9.099/95:

Composição dos danos civis

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,

homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia

de título a ser executado no juízo civil competente.

109 ANDRADE, Paulo Gustavo Sampaio. Homicídio e lesão corporal: forma culposa qualificada no CTB. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 43, jul. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1736>. Acesso em: 10 out. 2008.

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Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada

ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo

homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou

representação.

Transação Penal Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação

penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o

Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena

restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.

§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o

Juiz poderá reduzi-la até a metade.

§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:

I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à

pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;

II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco

anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste

artigo;

III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a

personalidade do agente, bem como os motivos e as

circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será

submetida à apreciação do Juiz.

§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor

da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa,

que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para

impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.

§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação

referida no art. 82 desta Lei.

§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não

constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins

previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo

aos interessados propor ação cabível no juízo cível.

No entendimento do artigo acima, quando for representação

ou ação pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o MP poderá

propor a aplicação da pena restritiva de direito ou multa. Quando a pena de multa

for a única medida aplicável, o juiz poderá reduzí-la pela metade.

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Não caberá a proposta quando ficar comprovado que o autor

da infração tinha sido beneficiado anteriormente, não indicar uma boa conduta

social, antecedente. Aceita a proposta pelo autor da infração esta será apreciada

pelo juiz. Acolhendo a proposta do MP o juiz aplicará a pena restritiva de direito

ou multa que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para

impedir um novo benefício durante cinco anos. Da sentença, caberá recurso de

apelação.

Ação penal pública condicionada a representação do ofendido Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação

especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos

crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

A Jurisprudência tem manifestado-se em relação à

competência do Juizado Especial Criminal110:

"COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. DIFAMAÇÃO.

O art. 61 da Lei nº 9.099/95, que criou os Juizados Especiais

Criminais, estabeleceu a competência para julgamento das

infrações penais de menor potencial ofensivo, considerando estas

como as contravenções penais e os crimes que a lei não comine

pena máxima superior a um ano. A referida norma legal traz uma

exceção: os casos em que a lei prevê procedimento especial. Esta

exceção se refere apenas ao crime, pois todas as contravenções

serão julgadas pelos Juizados Especiais Criminais. O art. 519 do

CPP prevê regras especiais para o processo e julgamento dos

crimes de calúnia e injúria, omitindo-se o crime de difamação.

Contudo, uma exegese analógica inclui o crime de difamação, por

ser, também, crime contra a honra, como sujeito a rito processual

específico. Logo, os crimes contra a honra não são da

competência dos Juizados Especiais Criminais.

Assim, de acordo com a doutrina e a jurisprudência

apresentadas, podemos dizer que a competência dos JECrims está alicerçada

nas infrações penais (crimes) de menor poder ofensivo.

110 HC 22.508-MG, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, julgado em 24/3/1999.

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2.6 INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

As infrações penais de menor potencial ofensivo são

aquelas com penas inferiores a um ano.

De acordo com Bittencourt111

O conceito de infração de menor potencial ofensivo, portanto, em

todo o sistema jurídico brasileiro, é único e se aplica a brancos e

pretos, ricos e pobres, jurisdicionados federais e estaduais, enfim,

a todo e qualquer indivíduo, independentemente da previsão de

procedimento especial. A harmonia do sistema jurídico impede o

tratamento discriminatório, desigual e paradoxal de eventuais

infratores em todo o território nacional.

Nesse sentido, esclarece Tourinho Neto112:

... para efeitos de regulamentação do art. 98 da

Constituição é possível afirmar que, a partir da entrada em

vigor da Lei 10.259/2001 numa visão sistêmica do

ordenamento jurídico, serão infrações penais de menor

potencial ofensivo: 1) As contravenções penais; 2) os

crimes punidos com pena de multa, desde que cominada

isoladamente; 3) os crimes punidos com pena privativa de

liberdade, cuja pena máxima não seja superior a dois anos,

executados os casos em que a lei preveja procedimento.

Desta maneira, podemos dizer que a Lei 10.259/2001

ampliou os delitos de menor potencial ofensivo devido a elevação da pena. O

art. 61 da lei anterior previa pena máxima de um ano.

Diz o art. 2º, parágrafo único, “consideram-se infrações de

menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei, os crimes a que a lei comine

pena máxima não superior a dois anos, ou multa”.

Expressa, ainda, Bitencourt113

111 BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizado Especiais Criminais Federais: análise comparativa das Leis 9.099/95 e 10.259/01. p. 4. 112 TOURINHO NETO, Fernando da Costa e FIGUEIRA Jr., Joel Dias. Juizados especiais federais cíveis e criminais: comentários à lei 10.259, de 10.07.2001. p. 490.

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As infrações que não se caracterizarem como de menor potencial

ofensivo, ainda que estejam dentro do limite previsto no artigo 89,

não poderão receber a suspensão do processo através do Juizado

Especial, posto que a competência será da Justiça Comum.

No Capítulo 3, e último desta monografia, destaca-se o

Código de Trânsito Brasileiro, suas considerações gerais, seu caráter misto e

multidisciplinar, meras indicações dos crimes à ele incumbido, o crime de

embriagues ao volante, as regras do art. 291 e demais jurisprudências

catarinenses.

Resulte-se que este projeto de monografia e tema, título,

foram concebidos antes do advento da Comanda “Lei Seca”, Lei Federal nº

11.705 de 2008, que modificou a matéria.

Todavia, optou-se pela continuidade da pesquisa que tem

desfecho no capítulo 3, conforme segue.

113 BITENCOURT, Cezar Roberto. Juizados Especiais Criminais e Alternativas à Pena de Prisão, São Paulo: Livraria do Advogado. 1997. p. 58.

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54

CAPÍTULO 3

DO CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E A POSSIBILIDADE

DE JULGAMENTO PELOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

3.1 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO – Considerações Gerais

O trânsito no Brasil mata milhões pessoas todos os anos e

deixa um número quase que incalculável de politraumatizados, inválidos e

amputados. Pessoas que vêem suas vidas mudadas radicalmente por uma fração

de segundos. Num piscar de olhos ficam aprisionados em cadeiras de rodas ou

perdem entes queridos.

Neste contexto preocupante, os legisladores deram um

passo para organizar e tentar amenizar os estragos que o trânsito faz na vida das

pessoas.

Assim, o CONTRAN através da Lei nº 9.503, de 23 de

setembro de 1997 com publicação no D.O.U. no dia 24 do mesmo mês e ano ,

instituiu o Código de Trânsito Brasileiro.

O Código de Trânsito Brasileiro - CTB114 entrou no nosso

ordenamento jurídico trazendo um total de 341 artigos, sendo vinte capítulos e

dois anexos.

Neste sentido Porto115 esclarece:

O CTB é regulamentado por Resoluções e deliberações do

Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e portarias do

114 BRASIL, Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o Código Brasileiro de Trânsito. 115 PORTO, Juarez Mendes Ferreira, ALMEIDA, Mizael de, e FIGUEIREDO, Stella Maris Silva. Reciclagem para condutores infratores do código de transito brasileiro. Instituto Tecnológico de Transporte e Trânsito Brasileiro (ITT). São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. p. 191.

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Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Os demais órgãos

estaduais e municipais, no âmbito de suas circunscrições, podem

complementar a legislação de trânsito.

O CTB trouxe uma nova cultura em reação à obediência às

normas de trânsito. É um manual de conduta, que determina as ações que os

motoristas, pedestres, motoqueiros e ciclistas devem ter quando se deslocarem

pelas vias de trânsito.

Carneiro116 expressa sua opinião sobre o CTB de duas

formas distintas:

A POSITIVA: O Código, sem dúvida, é inovador em muitos

aspectos, trazendo notável contribuição à causa da segurança

pública. A direção defensiva é incentivada, mediante obrigação de

condutas facilitadoras da circulação, punindo-se comportamentos

tendentes a causar acidentes de trânsito.

A NEGATIVA: A redação, todavia, deixa muito a desejar. Em

alguns aspectos apresenta-se confusa. Em outros, contraditória. E

o estilo poderia ser melhorado. A idéia que passa é que apesar da

ampla conduta aos mais diversos segmentos e setores da nossa

sociedade, ou não foram apreciadas as sugestões, transitando em

circuito fechado, ou faltou boa sistematização, uma redação mais

técnica, sem perda do estilo solto e arejado, para bem servir a

todos os gostos, todas as camadas sociais. As tarefas do

Regulamento, que há de vir, certamente obterão maior

participação técnica dos órgãos incumbidos da administração

superior do trânsito, podando esse ou aquele excesso, nos limites

impostos pela lei, naturalmente, inclusive quanto à inovação, do

disciplinado pela lei stricto sensu.

Apesar disso, o CTB veio ao encontro às necessidades de

controle do trânsito no Brasil, trazendo normas de organização e formas de

amenizar esta violenta realidade brasileira, onde a maioria dos crimes cometidos

contra a vida se dá através do trânsito.

116 CARNEIRO, Joseval. Comentários ao código de trânsito brasileiro. São Paulo: LTr, 1998. p. 13.

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56

3.2 MERAS INDICAÇÕES DOS CRIMES DO CTB

O CTB, em seu Capítulo XIX, seção II, apresenta

determinadas infrações tipificadas como Crimes de Trânsito cometidos na direção

de veículo automotor.

Ao apresentar tais infrações, na visão de Andrade117, o

CTB, com certeza, inovou.

O Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº. 9.503, de 23 de setembro

de 1997) inovou no sistema penal brasileiro, ao trazer uma seção

que enumera os crimes de trânsito em espécie (arts. 302 a 312).

Destes novos tipos penais, destacam-se dois, por se tratarem de

importantes crimes já capitulados no Código Penal, mas agora

qualificados pela nota específica de serem cometidos "na direção

de veículo automotor". São eles o homicídio culposo (art. 302) e a

lesão corporal culposa (art. 303).

O CTB atua como um disciplinador no sentido de coibir os

crimes contra à vida.

Tais crimes como, por exemplo, de embriaguez ao volante,

homicídio culposo, lesão culposa, entre outros, quando o CTB não dispuser sobre

o tema, automaticamente passam a receberem aplicação do Código Penal e do

Código de Processo Penal.

Para um melhor entendimento, Carneiro118 lista os delitos

capitulados no CTB classificados em menor potencial ofensivo, médio potencial

ofensivo e maior potencial ofensivo, sendo onze crimes no total.

Crimes de menor potencial ofensivo:

a) fuga após acidente (art.305);

117 ANDRADE, Paulo Gustavo Sampaio. Homicídio e lesão corporal: forma culposa qualificada no CTB. Acesso em: 10 out. 2008. 118 CARNEIRO, Joseval. Comentários ao código de trânsito brasileiro. p.195/196.

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b) fraude processual (art. 312);

c) omissão de socorro (art. 304);

d) violação de proibição de dirigir (art. 307);

e) dirigir sem habilitação (art. 309);

f) entrega de direção a pessoa não habilitada (art. 310);

g) direção perigosa (art. 311).

Crimes de médio potencial ofensivo:

a) lesão corporal culposa (art. 303);

b) participação de “pega” ou “racha” (art. 308);

c) embriaguez ao volante (art. 306).

Crime de maior potencial ofensivo:

a) homicídio culposo (art. 302).

Estes crimes possuem penas distintas entre si. Veja os arts.

302 e 303 nas palavras de Andrade119:

O caput do art. 302 do CTB dispõe: "Praticar homicídio culposo na

direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 2 (dois) a 4

(quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão

ou a habilitação para dirigir veículo automotor". A pena é mais

severa que a do homicídio "normal", que é de detenção, de 2 a 4

anos.

Literalmente, diz o art. 303 do CTB: "Praticar lesão corporal

culposa na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 6

(seis) meses a 2 (dois) anos, e suspensão ou proibição de se

obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor".

119 ANDRADE, Paulo Gustavo Sampaio. Homicídio e lesão corporal: forma culposa qualificada no CTB. Acesso em: 10 out. 2008.

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58

No crime doloso previsto no CP, a pena continua sendo de

detenção, de 2 meses a 1 ano.

(...)

Desta forma, observa também o autor sobre o que dispõe o

art. 305:

O art. 305 do CTB cria um novo tipo penal, consistente em

‘afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir

da responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída’. É

perfeitamente cabível o concurso material entre o crime de

homicídio ou lesão corporal com pena aumentada (CTB, art. 302,

parágrafo único, III) com o de fuga do local do acidente (CTB, art.

305), pois este último tem como objeto jurídico protegido a tutela

da administração da Justiça. Anote-se que tal situação era, no

sistema anterior, simples causa de aumento da pena do homicídio

(CP, art. 121, §4º: ‘foge para evitar prisão em flagrante’).

Dos crimes prescritos no CTB, salienta Marrone120, três

deles estão fora da competência do JECRM: lesão corporal culposa, participação

em racha e embriaguez ao volante.

Esses três delitos, porém, não se inserem na competência do

Juizado Especial, devendo ser objeto de processo perante o Juízo

comum. Por conseguinte: (a) pode haver prisão em flagrante

(exceto se o condutor do veículo prestar pronto e integral socorro

à vitima, conforme previsão do art. 301 do CTB); (b) a autoridade

policial instaurará inquérito policial, não sendo caso de elaboração

de termo circunstanciado; (c) não realizada a transação penal, ou

pela recusa motivada do oferecimento da proposta ministerial, ou

por sua não aceitação por parte do autor da infração, cabe ao

ministério Público oferecer a denúncia, obedecendo-se ao rito

previsto no art. 539 do Código de Processo Penal.

O mesmo entendimento tem Capez e Gonçalves121 que

fazem uma análise da ressalva de Marrone.

120MARRONE, José Marcos. Delitos de Trânsito. São Paulo: Atlas, 1998, p. 19/20. 121 CAPEZ, Fernando, GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Aspectos Criminais do Código de Trânsito Brasileiro. p. 1/4.

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59

Essa ressalva tem justamente a finalidade de excluir da aplicação

dos institutos da Lei n. 9.099/95 os crimes de trânsito com pena

superior a um ano, pois, sem ela, a lei seria cabível para

absolutamente todos os delitos previstos no novo Código. Assim,

a Lei dos Juizados terá incidência somente sobre os crimes de

menor potencial ofensivo, quais sejam, aqueles cuja pena máxima

não exceder a dois anos. A respeito do parágrafo único do art.

291, escrevem ainda os autores: Ao tomar essa atitude, o

legislador não transformou esses crimes em infrações de menor

potencial ofensivo, pois se quisesse fazê-lo teria dito

expressamente (...).

O autor, ainda, é categórico ao concordar com tais autores

sobre o parágrafo único do art. 291. Acompanhe:

Ora, ao possibilitar a aplicação de apenas três institutos da lei, o

legislador foi de uma clareza impressionante, não deixando

margem a interpretações em sentido contrário, ou seja, para tais

crimes estão vedados, por exemplo, a adoção do rito sumaríssimo

e o julgamento dos recursos por turmas recursais compostas por

juízes de primeira instância. Dessa forma, para os crimes em tela,

é cabível a prisão em flagrante (salvo se a vítima for socorrida de

imediato) e a fase policial deve ser realizada por meio de inquérito

e não de simples termo circunstanciado (medida salutar, visto que

os termos circunstanciados sobre lesões culposas nada

esclareciam). Na seqüência, deve ser realizada audiência

preliminar (...). Em seguida, para os três crimes deve ser tentada a

transação penal, visando a aplicação imediata de pena de multa

ou restritiva de direitos. Todavia, tal dispositivo fere o art. 98, I, da

Constituição Federal, que somente permite o rito sumaríssimo, a

transação e o julgamento por turmas recursais para as infrações

de menor potencial ofensivo, mas, definitivamente, esses delitos

não o são.

O tema é controverso, pois se compararmos esta última

colocação do autor com o que prevê o parágrafo único do art. 291 veremos que

aqui o legislador abriu uma exceção para a aplicação em tais infrações dos arts.

da Lei nº 9.099/95 (JECRims), quais são: art. 74 (composição dos danos civis),

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60

art. 76 (transação penal) e art. 88 (ação penal pública condicionada a

representação do ofendido).

Resta a Carneiro122, então, partir da premissa de que o CTB

não foi instituído como forma de sanar e acabar com todos os problemas do

trânsito no Brasil.

Sob essa rubrica, o Código não pretende solucionar os graves

problemas de trânsito, mas inibir, conter a sua prática que tem

enlutado a família brasileira e até mesmo retirado uma fatia

preciosa do PIB, em serviços policiais e judiciários, assistenciais e

previdenciários, perdas materiais e humanas, indenizações e

absenteísmos.

E cabe a Maldaner123 explanar a respeito de que é preciso

ter consciência e responsabilidade ao volante.

No curso de direito aprendemos que dos crimes contra a vida, o

acidente de trânsito com morte, dentre outros, se enquadra, ora

nos delitos de homicídio (matar alguém), ora de lesão corporal,

sempre na modalidade culposa, ou seja, ‘produz um resultado

antijurídico não querido, mas previsível, ou excepcionalmente

previsto, de tal modo que poderia, com a devida atenção, ser

evitado’. Isto significa dizer que os acidentes podem ser

invariavelmente, evitados quando dirigimos com prudência e

atenção, respeitando não só os pedestres, ciclistas e

motociclistas, mas também, as normas sinalizadoras de trânsito

nas áreas urbanas e interestaduais. Os pedestres e usuários de

veículos de duas rodas, também, precisam ser educados, pois, de

forma negligente, colocam em risco a sua vida e a de outros

motoristas.

Desta forma, a missão do CTB é coibir, através de normas

de conduta, as infrações cometidas, procurando assim trazer mais segurança nas

vias públicas.

122 CARNEIRO, Joseval. Comentários ao código de trânsito brasileiro. p.195. 123 MALDANER, Cacildo. Senador. Código de trânsito brasileiro. Apresentação. Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 1997. p. 15.

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61

3.3 DAS REGRAS DO ARTIGO 291 DO CTB

O artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº

9.503/97) instrui sobre os crimes cometidos na direção de veículos automotores

dando aplicação as normas gerais do CP e do CPP quando o mesmo não

dispuser de modo contrário.

Para maior entendimento, diz o referido artigo124:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos

automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais

do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo

não dispuser de modo diverso, bem como a Lei n. 9.099, de 26 de

setembro de 1995, no que couber.

Parágrafo único. Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão

corporal culposa, de embriaguez ao volante, e de participação em

competição não autorizada o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da lei

n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Tais artigos ora citados no parágrafo único dizem respeito à

composição dos danos civis, onde poderá ser executado no juízo civil competente

se reduzida a escrito e homologada pelo juiz mediante sentença irrecorrível;

transação penal, onde o MP poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva

de direitos ou multas, sendo especificada na proposta, quando se tratar de crime

de ação penal pública incondicionada e não sendo caso de arquivamento; e ação

penal pública condicionada a representação do ofendido, respectivamente, onde

oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao

acusado como forma de citação de forma a fazer tomar ciência também o MP, o

ofendido, o responsável civil e seus advogados.

124 BRASIL, Lei nº 9.503. Capítulo XIX – Dos Crimes de Trânsito – Seção I – Disposições Gerais. art. 291 e parágrafo único.

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Delmanto125 discorda do exposto no parágrafo único do art.

291 em relação a aplicação de destes artigos ora citados, da lei nº 9.099/95, pois

acredita que deve ser levado em consideração o ponto principal desta lei que

regula os JECRims que é a aplicação em infrações de menor potencial ofensivo,

como bem explana:

Em face desta última expressão ‘“no que couber’, a Lei dos

Juizados Especiais é aplicável aos delitos previstos nos arts. 304,

305, 307, 309, 310, 311 e 312 do CTB, posto que a pena máxima

desses crimes é inferior a 1 (um) ano (art. 61 da Lei nº 9.099/95).

Neste compasso, a lesão corporal culposa (art. 303), a

embriaguez ao volante (art. 306) e a participação em competição

não autorizada (art. 308), por possuírem penas máximas

superiores a 1 (um) ano, estariam fora da competência dos

juizados especiais criminais. (grifos e negritos nossos)

E complementa seu entendimento com uma análise do

parágrafo único em questão e estes citados artigos:

De outro lado, a aplicação isolada dos arts. 74 (composição dos

danos), 76 (transação penal) e 88 (representação) aos crimes

descritos no parágrafo único do art. 291 do CTB implicaria na

incidência pura e simples desses institutos, aplicando-se, no mais,

o rito sumário dos crimes apenados com detenção (art. 539 do

CPP). Nesta esteira, a instauração de inquérito policial e o

indiciamento do autor do fato se fariam perfeitamente possíveis.

A respeito da orientação doutrinária no sentido de que a

representação (art. 88) e a composição civil (art. 74) só devem ser

aplicadas aos crimes de lesões corporais culposas, e não aos

crimes de embriaguez ao volante e de “racha”, pois esses delitos

são de perigo (concreto indeterminado), não sendo possível a

determinação de uma pessoa-vítima, permanecendo tais crimes

como de ação penal pública incondicionada, optamos, no presente

artigo, por não cuidar desse assunto. (grifos do autor)

125 DELMANTO, Fábio Machado de Almeida. O parágrafo único do art. 291 do código de transito brasileiro. Disponível em www.delmanto.com/artigo15.htm. Acesso em 10 out 2008

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A visão crítica de Delmanto126 ainda deixa uma dúvida no ar:

A proposta do presente artigo é a de investigar se a tais crimes -

lesão corporal culposa, embriaguez ao volante e participação em

competição não autorizada - aplicam-se única e exclusivamente

os arts. 74, 76 e 88 da Lei dos Juizados Especiais ou se esta lei

deve incidir como um todo. (sem grifo no original)

Apesar de toda polêmica em torno do referido artigo e

parágrafo único Silva Júnior127 tem uma posição firme a respeito.

Todos os crimes de trânsito são infrações de menor potencial

ofensivo, logo abrangidos pela Lei 9.099/95, exceto o homicídio

culposo. Sendo esse o conteúdo do parágrafo único do artigo 291

do CTB, desaparece a polêmica em torno da representação para

os crimes de embriaguez ao volante ou participação em

competição não autorizada porque o dispositivo amplia o conceito

de infração de menor potencial ofensivo e não simplesmente

transforma a natureza da ação penal dos crimes que nomina. Pela

mesma razão, perde significado o questionamento sobre a

inaplicabilidade da transação penal aos crimes elencados; embora

com penas superiores a um ano são infrações de menor potencial

ofensivo definidas na lei.

Assim, podemos dizer que o art. 291, caput, salientou uma

regra sobre a aplicação de normas gerais e instituiu no parágrafo único uma

exceção a esta regra, no caso dos crimes de lesão corporal culposa, de

embriaguez ao volante e de participação em competição não autorizada (racha).

3.4 DO CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Uma das principais causas de acidentes e mortes no trânsito

é, com certeza, a embriaguez ao volante. O sistema nervoso central fica abalado

126 DELMANTO, Fábio Machado de Almeida. O parágrafo único do art. 291 do código de transito brasileiro. Acesso em 10 out 2008 127 SILVA JUNIOR, Edison Miguel da. Crimes de trânsito de menor potencial lesivo. UJGOIÁS – Serrano Neves – Caderno Goiano de Doutrina. 2000. p.3

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e não responde de maneira satisfatória aos comandos do motorista devido ao

álcool e outras substâncias que têm efeitos embriagantes.

Está fundamentado no CTB (Lei nº 9.503/97) através do art.

306 que diz:

conduzir veículo automotor, na via pública, sob influência de o,6

decigramas de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo

a dano potencial a incolumidade de outrem. Penas - detenção, de

seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se

obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

É um tema polêmico, bem lembrado nas palavras de Leal128

A questão da embriaguez ao volante tem sido causa de polêmica

constante. Primeiro, pelo grande número de acidentes de trânsito

com vítimas fatais. As estatísticas não são precisas. As

informações mais freqüentes apontam para o trágico número

superior a 35 mil de mortes, a cada ano, nas estradas e vias

públicas deste país. Os acidentes de trânsito são hoje uma das

principais causas de morte no país. O número de vítimas não

fatais ultrapassa a casa a 400 mil. Isto já seria suficiente para que

o foco de nossa preocupação permaneça voltado para este grave

problema.

Em segundo lugar, a polêmica se intensifica e encontra motivação

no vácuo deixado pela falta de uma política de trânsito estável,

seja no plano da prevenção educacional, seja no plano da

repressão administrativa e/ou criminal. Assim, a cada mudança

legislativa pontual sobre o trânsito em geral e sobre a questão da

embriaguez ao volante, em especial, a polêmica se torna mais

intensa, propiciando a oportunidade de manifestação das posições

mais antagônicas.

Embriaguez é, na visão de Silva129, “a intoxicação aguda e

transitória causada pelo álcool, cujos efeitos podem progredir de uma ligeira

excitação inicial até ao estado de paralisia e coma”.

128 LEAL, João José e LEAL Rodrigo José. Embriaguez zero ao volante, infração de trânsito e penalidades administrativas. Comentários aos arts. 165, 276 e 277 do CTB. Elaborado em 07.2008. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11681&p=2. Acesso em 10 out 2008.

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65

Partindo da mesma premissa, conceitua Leal130

A embriaguez pode ser definida como um processo agudo de

intoxicação, resultante da ação do álcool ou substância análoga

sobre o sistema nervoso, capaz de causar profunda perfuração

mental e de privar o indivíduo de sua capacidade normal de

entender e de querer.

De acordo com Fürher131, a embriaguez pode ser voluntária,

culposa ou fortuita.

A voluntária é buscada intencionalmente. A culposa resulta de

imoderação imprudente no uso de bebida alcoólica ou substancia

de efeito análogo. A embriaguez fortuita ou de força maior resulta

de causas alheias à vontade do sujeito, como na hipótese de

quem foi drogado à força ou por meio de ardil.

A Embriaguez se manifesta no magistério de Koerner

Junior132 levando em consideração duas fases ou grau.

Observa-se que a embriaguez deve ser analisada em razão de

suas fases ou seus de graus: incompleta, quando há

afrouxamento dos freios morais, em que o agente tem ainda

consciência, mas se torna excitado, loquaz, desinibido (fase de

excitação); em que se desvanece qualquer censura ou freio moral,

ocorrendo confusão mental e falta de coordenação motora, não

tendo o agente mais consciência e vontade livres (fase de

depressão); e comatosa, em que o sujeito cai em sono profundo

(fase letárgica). A lei, porém, refere-se simplesmente à

embriaguez completa, que abrange, portanto, a comatosa. Quanto

a esta última, é de interes-se apenas na prática de crimes

omissivos puros ou comissivos por omissão’.

129 SILVA, Ronaldo. Direito Penal parte geral. p. 164. 130 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 369. 131 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, FÜHRER Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de direito penal (parte geral). 18. ed. Coleção Resumos. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 82. 132 KOERNER JUNIOR, Rolf. O perito deve auxiliar mais e melhor a justiça. A embriaguez: do código penal ao código de trânsito brasileiro. Disponível em: http://www.geocities.com/CollegePark/Lab/7698/med2.htm. Acesso em 10 out 2008.

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66

É importante destacar que, com o advento da Lei nº

11.705/2008 que deu nova regulamentação ao CTB, não admite-se o direito a

transação penal133 ao crime de embriaguez ao volante. No entanto, esta lei não

tem efeitos retroativos e, com isso, os crimes desta natureza ocorridos

anteriormente à data de vigência (20 de junho de 2008) serão abrangidos pelas

Leis nº 9.099/95 e 10.259/01 no que expressa o parágrafo único dos arts. 60 2º,

respectivamente, os quais igualmente expressam que “Na reunião de processos,

perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras

de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da

composição dos danos civis”. (sem grifo no original)

Com a aplicação da transação penal e preenchidos os

pressupostos objetivos e subjetivos, a proposta deixa de ser faculdade do

acusado, seja pública, seja particular, constituindo direito subjetivo do autor do

fato. Na prática é direito subjetivo do réu o oferecimento; se este aceita, ou não, é

um direito subjetivo.

Neste sentido, a jurisprudência catarinense tem-se

manifestado.

Acórdão: Habeas Corpus 99.022692-1

Relator: Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu

Data da Decisão: 31/01/2000

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE.

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E FALTA DE HABILITAÇÃO PARA

DIRIGIR (ARTIGOS 306 E 309 DO CTB). CONSTRANGIMENTO

ILEGAL CARACTERIZADO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 291,

C/C O 302, DA LEI N. 9.503/97 (CTB). ORDEM CONCEDIDA.

A indicação da transação penal nos crimes de embriaguez

ao volante não implica em transforma-lo em delito de menor potencial ofensivo

que é de competência dos JECrims.

133 No sentido jurídico: transação penal é o ato que extingue obrigações através de concessões recíprocas das partes interessadas; trata-se de um instituto que permite ao juiz, de imediato, aplicar uma pena alternativa ao autuado, junta para a acusação e defesa, encerrando o procedimento. É indicado em contravenções penais.

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67

Apesar do que dispõe a legislação vigente, o tema

embriaguez ao volante ainda preconiza muitas discussões.

3.5 OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS E O JULGAMENTO DE CRIMES DE

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Diz o art. 61 da Lei nº 9.099/95134:

Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,

para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a

que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados

os casos em que a lei preveja procedimento especial.

Desta maneira, os Juizados Especiais Criminais são

responsáveis pelo julgamento destas tais infrações de menor potencial ofensivo.

Nas palavras de Andrada135

Para os crimes cuja pena máxima não ultrapasse a dois anos,

aplicam-se as regras do Juizado Especial Criminal. Não nos

esqueçamos que a Lei n. 9.099/95 valerá como norma geral e o

CTB prevalecerá ante a sua especialidade havendo conflito entre

elas. Serão julgados pelo Juizado Especial Criminal os crimes

definidos nos arts. 304, 305, 307, 309. 310, 311, 312.

Nota-se que, de acordo com o autor, o crime de embriaguez

ao volante (art. 306) não está incluso na relação de crimes julgados pelo Juizado

Especial Criminal. Mas, a princípio, o mesmo não levou em consideração o

parágrafo único do art. 291.

Na interpretação do parágrafo único do art. 291, pensa

contrariamente Delmanto136

134 Com a introdução da Lei nº 11.313/06 as infrações penais de menor potencial ofensivo passaram de 1 ano para 2 anos. 135 ANDRADA, Doorgal Gustavo B. de. Crimes e penas do novo código de transito – breves comentários. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 56. 136 DELMANTO, Fábio Machado de Almeida. O parágrafo único do art. 291 do código de transito brasileiro. Acesso em 10 out 2008

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É verdade que o legislador não disse expressamente que os

crimes do parágrafo único do art. 291 são de menor potencial

ofensivo ou de competência dos Juizados Especiais Criminais.

Por outro lado, ele também não afirmou o contrário! Ora, se o

legislador não é claro ou expresso, cabe ao intérprete buscar o

verdadeiro sentido da lei, valendo-se dos métodos mais

consagrados em hermenêutica, como as interpretações

teleológica, sistemática e histórica.

E complementa afirmando que:

O que realmente importa é que o legislador determinou

expressamente a aplicação de institutos previstos na Lei dos

Juizados Especiais aos crimes de lesão corporal culposa,

embriaguez ao volante e “racha”. Registre-se: institutos típicos dos

juizados especiais criminais. Institutos que, a nosso ver, só podem

ser aplicados no rito sumaríssimo dos juizados e em nenhum

outro! (sem sublinhado no original)

Na verdade, a Lei do JECRIM não definiu claramente o

conceito de infração de menor potencial ofensivo, o que não impede que surjam

novas hipóteses previstas em lei a respeito da matéria.

Levando em consideração a lei do CTB, dispara Silva

Junior137

[...] o critério adotado foi o nomen juris da infração (qualificação do

fato) ao determinar a aplicação de medidas despenalizadoras-

consensuais aplicadas exclusivamente a infrações de menor

potencial ofensivo e ordinariamente nos Juizados Especiais

Criminais. Mantendo-se, dessa maneira, a harmonia do sistema

consensual de Justiça criminal implantado no Brasil pela Lei

9.099/95.

Nesta estreita de raciocínio, preconiza Oliveira138

137 SILVA JUNIOR, Edison Miguel da. Crimes de trânsito de menor potencial lesivo. p.3 138 OLIVEIRA, Luiz Carlos de. A aplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais Criminais sobre os onze crimes previstos no CTB. Acesso em: 10 out. 2008.

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(...) registre-se que a lei dos Juizados Especiais Criminais, anotou

como sendo infrações penais de menor potencial ofensivo aquelas

que a pena máxima em abstrato, não exceda a um ano. Esta é a

regra da lei. Como exceção, traz em seu art. 89, a possibilidade

de suspensão condicional do processo, desde que a pena mínima

não exceda a um ano.

Pode-se falar em exceção no que tange a suspensão condicional

do processo (art. 89), porque a regra da Lei dos Juizados

Especiais Criminais, são as infrações de menor potencial ofensivo,

classificada por esta lei como sendo aquelas cujas penas

máximas não excedam a um ano.

Entende-se, então, seguindo a linha de pensamento, de

Joseval Carneiro. Comentários ao Código de Trânsito brasileiro, p.195,196 que

são infrações de menor potencial ofensivo os crimes de trânsito que são

abrangidos pela Lei nº 9.099/95, com exceção do crime de homicídio culposo. Já

partindo de outra linha pensamento, pressupõe-se que como o crime de

embriaguez ao volante detém pena de até três anos de detenção, não pode ser

de competência dos Juizados Especiais Criminais.

3.6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LEI Nº 11.705-2008 - LEI SECA

O CTB (Lei nº 9.503/97) recebeu nova redação em 2008,

graças à Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008, em especial no que diz respeito

ao consumo de bebidas alcoólicas por condutores de veículos automotores, entre

outras de considerável importância.

Latocheski139 é enfático em sua dissertação a respeito.

É bom que se diga, desde logo, que a nova lei não trouxe

novidade alguma a respeito da proibição do consumo de bebidas

alcoólicas em momento anterior à condução de veículos

automotores. A vedação vem de longa data. O que se fez agora

139 LATOCHESKI, Luiz Gustavo. Álcool e direção: alguns breves apontamentos sobre as últimas alterações do Código de Trânsito Brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1827, 2 jul. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11456>. Acesso em: 10 out. 2008.

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foi dar maior evidência à proibição (desculpem o pleonasmo, mas

a evidência já havia sido dada quando da edição de leis

anteriores). Não obstante, mesmo para os casos de infração

administrativa a antiga norma apontava um limite de tolerância da

quantidade de álcool encontrada no sangue (art. 276), o que não

mais socorre aos motoristas que ingerem moderadamente a

bebida alcoólica.

A Lei nº 11.705/2008 trouxe inúmeras alterações,

principalmente no que diz respeito às infrações penais, como bem discorre

Cabette140

Em virtude de ultrapassarem a quantidade máxima de pena em

abstrato de dois anos, ficaram excluídos da aplicabilidade dos

dispositivos da Lei 9099/95 os crimes de homicídio culposo do

trânsito (art. 302, "caput" e também seu Parágrafo Único, CTB);

lesão corporal culposa do trânsito com aumento de pena (art. 303,

Parágrafo Único, CTB) e embriaguez ao volante (art. 306, CTB).

No entanto, salienta o autor

de acordo com a redação original do Parágrafo Único, do artigo

291, CTB, permitia-se a aplicação dos artigos 74, 76 e 88, da Lei

9099/95, aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa (art. 303

e também seu Parágrafo Único, CTB); participação em

competição não autorizada ("racha" – art. 308, CTB) e embriaguez

ao volante (art. 306, CTB), incondicionalmente e

independentemente do máximo da pena cominada.

Assim, a “Lei Seca” destituiu a aplicabilidade atribuída ao

parágrafo único do art. 291 ao crime de embriaguez ao volante, entre outros.

Nesta premissa, aduz Cabette141

Permita-se uma digressão para anotar que com as alterações

promovidas na Lei 9099/95 por força das Leis 10.259/01 (Juizados

140 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Primeiras impressões sobre as inovações do código de trânsito brasileiro. Elaborado em 06.2008. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11452&p=3. Acesso em 10 out 2008. 141 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Primeiras impressões sobre as inovações do código de trânsito brasileiro. Acesso em 10 out 2008.

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71

Especiais Cíveis e Criminais Federais) e 11.313/06, quanto à

definição de infração penal de menor potencial ofensivo, parte da

antiga dicção do Parágrafo Único do artigo 291, CTB, tornou-se

obsoleta. Isso tendo em vista que para os crimes dos artigos 308

e 303, "caput", CTB, passou a ser desnecessária a exceção do

referido Parágrafo Único. Ela só tinha razão de ser na época em

que a pena máxima prevista abstratamente num tipo penal para

configurar infração penal de menor potencial ofensivo não podia

superar 1 ano. Naquela época os artigos 303, "caput" e 308, CTB,

não seriam considerados de menor potencial porque suas penas

máximas são de 2 anos, daí a então utilidade do artigo 291,

Parágrafo Único, CTB, para tais casos. Com o aumento do

patamar para 2 anos, os artigos 303, "caput" e 308, CTB, tornam-

se naturalmente infrações abrangidas pela Lei 9099/95.

Apesar disso, o parágrafo único do referido artigo, salienta o

autor, não perdeu totalmente a sua validade

[...] pois que a lesão corporal culposa com aumento de pena (art.

303, Parágrafo Único, CTB) e a embriaguez ao volante (art. 306,

CTB) continuaram tendo penas máximas que excluiriam a

aplicabilidade dos dispositivos da Lei 9099/95. No caso do artigo

306, CTB, a pena máxima é de 3 anos e no caso do artigo 303,

Parágrafo Único, a pena máxima de 2 anos ultrapassará o referido

patamar tão logo aplicado o aumento previsto de 1/3 à 1/2. Assim

sendo, permaneceria útil a autorização de aplicação dos artigos

74, 76 e 88 da Lei 9099/95 a esses tipos penais.

Com a nova lei (Lei Seca) o art. 291 sofreu alterações. O

parágrafo único foi substituído pelos incisos 1º e 2º o que alterou indiretamente as

disposições sobre o crime de embriaguez ao volante, na visão de Oliveira142.

De fato, esse crime é de menor potencial ofensivo, estando sob a

égide da Lei 9099/95, portanto. Contudo, por disposição expressa

da nova Lei 11.705/08, que deu nova redação ao § 1º do art. 291

do CTB, a ele não mais se aplica os artigos 74, 76 e 88 da Lei dos

Juizados quando o agente estiver sob a influência de álcool ou

qualquer outra substância psicoativa (que não o álcool) que

142 OLIVEIRA, André Abreu de. Lei nº 11.705/08: novidades no combate à embriaguez ao volante. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1840, 15 jul. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11497>. Acesso em: 19 out. 2008.

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72

determine dependência. Ora, era o artigo 88 que exigia tal

condição de procedibilidade para as lesões corporais dolosas

leves e às lesões culposas.

Em outras palavras, complementa o autor:

embora se mantendo a mesma pena cominada anteriormente

para o crime de lesão corporal culposa ao volante, objetivamente

considerado como de menor potencial ofensivo e, ipso facto, sob a

égide da Lei dos Juizados, por expressa determinação da novel

Lei 11.705/08, fica vedada a transação penal, a composição civil e

a representação quando o agente estiver sob a influência de

álcool ou de qualquer outra substância psicoativa (que não o

álcool) que determine dependência, dentre outras situações

elencadas na nova redação dos incisos II e III do art. 291 do CTB.

A constitucionalidade desse dispositivo, por conseguinte, é, no

mínimo, duvidosa.

E não é só. Nas hipóteses previstas no § 1º desse artigo, deverá

ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração

penal e não mais será lavrado o Termo Circunstanciado de

Ocorrência previsto na Lei dos Juizados.

Em relação ao crime de embriaguez ao volante, a Lei

11.705/08 trouxe uma nova transcrição do artigo:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública,

estando com concentração de álcool por litro de sangue

igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência

de qualquer outra substância psicoativa que determine

dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e

suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

Na explicação de Oliveira143

143 OLIVEIRA, André Abreu de. Lei nº 11.705/08: novidades no combate à embriaguez ao volante. Jus Navigandi, Acesso em: 19 out. 2008.

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[...] a Lei nº. 11.705/08 trouxe uma nova definição ao delito de

embriaguez ao volante. Antes das recentes alterações, o CTB, em

seu art. 306, prescrevia assim o crime de embriaguez ao volante:

"Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de

álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano

potencial a incolumidade de outrem". Por sua vez, a Lei nº.

11.705/08 retirou da redação original a expressão "expondo a

dano potencial a incolumidade de outrem", acrescentando-lhe a

seguinte: "estando com concentração de álcool por litro de sangue

igual ou superior a 6 (seis) decigramas". Ou seja, o que antes era

exigido para se caracterizar a infração do art. 165 (o nível mínimo

de álcool), agora passou a fazer parte da conduta do art. 306,

crime de embriaguez ao volante. (grifo do autor)

Joveli144 também percebeu tal mudança:

A lei 11.705, de 19 de junho de 2008, (...) deu nova redação ao

artigo 306 daquele diploma, passando a exigir a concentração de

álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas,

para que alguém seja responsabilizado pelo crime ali previsto,

permitindo, por outro lado, que esteja apenas sob a influência de

qualquer outra substância psicoativa (que não o álcool) e que

determine dependência para essa mesma responsabilização.

Apesar de todas as mudanças, pondera o autor,

Manteve-se, todavia, no artigo 165 do CTB, a exigência de dirigir

apenas sob a influência de álcool para eventual responsabilidade

administrativa, cuja conduta transformou o crime de trânsito de

lesão corporal culposa, que era de ação pública condicionada,

para ação pública incondicionada, mantendo-se a mesma pena

que já era cominada a esse tipo penal, qual seja, detenção, de

seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a

permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Este artigo, por conseguinte, trás informações importantes

para o entendimento do tema em questão. Assim, vale transcreve-lo:

144 JOVELI, José Luiz. Breves considerações sobre a lei nº 11.705/08 - a questão da embriaguez ao volante e os testes de alcoolemia. Elaborado em 06/2008. Disponível eEm jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8809. Acesso em 10 Out 2008.

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74

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra

substância psicoativa que determine dependência:

Infração - gravíssima;

Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir

por 12 (doze) meses;

Medida Administrativa - retenção do veículo até a apresentação

de condutor habilitado e recolhimento do documento de

habilitação.

Parágrafo único. A embriaguez também poderá ser apurada na

forma do art. 277.

Numa análise comparativa entre a disciplina anterior lesão

corporal junto com embriaguez e a atual podemos dizer que na anterior dirigir

influenciado pelo álcool trazia como conseqüência o aumento da pena de dois

anos para dois anos e oito meses, excluindo-o do rol de crimes de menor

potencial ofensivo e a aplicação da prisão em flagrante e liberdade provisória

através de fiança o que não ocorre nas disposições da lei atual que apenas proíbe

a transação penal, a composição civil e a representação na lesão corporal

culposa cometida pelo agente no trânsito influenciado pelo álcool.

Para Oliveira145

Trata-se, por óbvio, de disposição flagrantemente inconstitucional

na medida em que veda disposições da Lei dos Juizados

Criminais para crime de menor potencial ofensivo, cuja pena

máxima cominada, como já dito, não se modificou.

Apesar de recente, a Lei Seca já encontra divergências nos

Tribunais catarinenses, como observa Leal 146:

145 OLIVEIRA, André Abreu de. Lei nº 11.705/08: novidades no combate à embriaguez ao volante. Acesso em: 19 out. 2008. 146 LEAL, João José e LEAL Rodrigo José. Embriaguez zero ao volante, infração de trânsito e penalidades administrativas. Comentários aos arts. 165, 276 e 277 do CTB. Acesso em 10 out 2008.

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75

A intensa polêmica causada pela nova lei já chegou aos tribunais.

No TJSC, as divergências são evidentes. Os dois primeiros

pedidos de Habeas Corpus tiveram suas liminares deferidas para

garantir o direito do impetrante recusar-se a se submeter ao teste

do bafômetro. No primeiro caso, entendeu o desembargador que a

ilegalidade da exigência do teste de alcoolemia somente "é

verificada em casos em que o condutor do veículo não aparenta

estar sob a influência de álcool". No entanto, admite o magistrado

que a penalidade pela infração de trânsito em exame poderá ser

aplicada quando "os motoristas forem flagrados em aparente

estado de embriaguez, exteriorizado, por exemplo, a partir de

andar cambaleante ou direção em zigue-zague". Concordamos

plenamente com este entendimento jurisprudencial, apenas

esclarecendo que a direção em ziguezague é apenas um dos

muitos indicadores da presença de álcool no sangue do motorista.

Já Latocheski147 cita sobre a controvérsia a respeito do novo

art. 276.

O que tem gerado muitos comentários, outrossim, é o novo teor

do art. 276, caput, do CTB: "Qualquer concentração de álcool por

litro de sangue sujeita o condutor às penalidades previstas no art.

165 deste Código". A redação anterior era: "A concentração de

seis decigramas de álcool por litro de sangue comprova que o

condutor se acha impedido de dirigir veículo automotor".

É bem verdade que este artigo tem gerado controvérsias

pelo rigor apresentado.

Tanto doutrinadores quanto a população em geral discutem

sobre o tema, pois alguns remédios podem trazer ao sangue algum teor alcoólico

e a ingestão de cinco ou mais bombons de licor, por exemplo, poderiam surtir o

mesmo efeito. Nestes casos, não houve a ingestão de bebida alcoólica.

Pazetti148 discorre sobre outra controvérsia da nova lei do

CTB, a saber:

147 LATOCHESKI, Luiz Gustavo. Álcool e direção: alguns breves apontamentos sobre as últimas alterações do Código de Trânsito Brasileiro. Acesso em: 10 out. 2008.

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76

Mesmo assim, há no corpo do Código uma série de posturas que

parece contrariar essa preocupação primária com a preservação

de vidas. O simples rompimento do lacre da placa traseira, por

exemplo, enseja a remoção do veículo ao depósito para a

aplicação da penalidade de apreensão (artigo 230, I), porém a

embriaguez ao volante ensejava a retenção do veículo até a

apresentação de condutor habilitado (artigo 165), ou seja, o

embriagado poderia voltar a salvo para casa em seu próprio

veículo desde que conduzido por outro condutor habilitado

Apesar de todas as contradições, divergências e posições

adversas de determinados doutrinadores acerca desta lei é importante frisar que a

mesma promoveu alterações determinantes no CTB, e que nada mai são que

adequações a situações do nosso dia-a-dia que não foram sanadas e talvez nem

lembradas na lei anterior de 97.

Ante a toda a explanação ora apresentada, percebe-se o

quanto foram importantes e relevantes às inovações trazidas com a Lei que

instituiu os Juizados Especiais Criminais e, recentemente, com a entrada em vigor

da Lei que alterou o CTB, e em muito contribuíram para a determinação de novas

regras acerca do crime de embriaguez ao volante.

Como o escopo desse trabalho foi trazer uma abordagem

acerca da possibilidade de julgamento pelos Juizados Especiais Criminais de

crime de embriaguez ao volante com pena de até três anos de detenção - CTB,

procurou-se dar destaque e ênfase aos principais aspectos cercam o tema, com

uma abordagem clara fundada na doutrina e na jurisprudência. Assim, deu-se por

encerrada a presente pesquisa.

148 PAZETTI, Arnaldo Luis Theodosio. As nem tão boas alterações do CTB trazidas pela Lei 11.705/08. Elaborado em 23/08/2008. Disponível em http://www.direitonet.com.br/artigos/x/45/32/4532/.Acesso em 10 out 2008.

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77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O curso de direito trás na sua concepção a visão de uma

sociedade mais consciente e mais justa. Assim, tenta-se ter consciência dos

direitos como cidadão contribuindo para a construção de uma sociedade mais

humana e igualitária, com exemplos de ampla cidadania que serão deixados para

as próximas gerações.

Na elaboração da presente monografia procurou-se, assim,

expor as idéias de doutrinadores e juristas a fim de compor uma pesquisa

baseada em informações condizentes com a realidade compostas de

pensamentos positivos e críticos sobre o tema como uma forma justa de expor o

tema sem deixar de lado o ético e a conduta adquirida no decorrer do curso de

direito.

Nesta premissa, cabe expor as idéias concluídas com as

explanações contidas nesta pesquisa.

O crime de embriaguez é tido como delito de perigo abstrato

sujeito às sanções penais do CTB e legislação vigente. Com a vigência da nova

lei em vigor, este crime ao volante sofreu ligeiras alterações, pois com a

substituição do parágrafo único pelos dois §§ deixou-se de aplicar o disposto da

lei nº 9.099/95 e qualquer instituto que tenha ligação com as infrações de menor

potencial ofensivo, restando somente a aplicação do artigo 89 da referida lei que

não é exclusivo para infrações de menor potencial ofensivo.

Em relação aos critérios administrativos e penais que

configuram a embriaguez ao volante foi-se adotado a “tolerância zero” e taxa de

alcoolemia igual ou superior a 0,6 g/l, respectivamente.

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No tocante ao que determina esta lei, salienta-se que trouxe

maior eficácia ao deixar claro alguns pontos obscuros da lei anterior trazendo

maior rigor em relação aos crimes de embriaguez ao volante.

Quanto às hipóteses levantadas no início da pesquisa

observa-se:

Primeira hipótese: a) Com o advento do Código de Trânsito

Brasileiro que traz o delito de embriaguez ao volante com pena de até três anos

de detenção (art. 306) e levando com consideração as determinações do seu art.

291 e parágrafo único sobre a transação penal, então, este crime passou a ter

competência jurisdicional dos Juizados Especiais Criminais quanto ao seu

julgamento? NÃO. Os Juizados Especiais Criminais tem competência para julgar

as infrações penais de menor potencial ofensivo. Como o crime de embriaguez ao

volante não é considerado crime de menor potencial ofensivo por deter pena de

até três anos de detenção não entra na competência dos mesmos. Com a

introdução da nova Lei do CTB (Lei Seca) excluiu-se o disposto do parágrafo

único que garantia a aplicabilidade da transação penal ao crime de embriaguez ao

volante. Na hipótese do crime desta natureza ocorrer anteriormente à data de

vigência (20 de junho de 2008) será abrangido pela lei anterior e,

consequentemente, a aplicação da transação penal.

Segunda Hipótese: b) Caso a competência para julgamento

do crime de embriaguez ao volante não for dos Juizados Especiais Criminais

pode o referido crime ser julgado na Vara Criminal Comum tendo, ainda, como

benefício a transação penal? SIM. O crime de embriaguez ao volante poderá ser

julgado na Vara Criminal Comum. Agora, no que diz respeito a transação, a nova

lei tornou-se mais severa e retirou este direito, sendo somente aplicado em

infrações ocorridas anteriores à data de vigência (20 de junho de 2008), penal

não está atrelada a lei dos JECRims e, por isso, a concessão deste benefício não

implica em transformar tal delito em infração de menor potencial ofensivo. A

exceção se faz quando a lei determinar como “casos especiais”.

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79

Ao final desta, observa-se a intenção da presente

monografia de apresentar elementos capazes de levantar discussões a

respeito da possibilidade de julgamento pelos Juizados Especiais

Criminais de Crime de embriaguez ao volante com pena de até três anos

de detenção, e não com a intenção de esgotar este assunto.

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85

ANEXO

DA JURISPRUDÊNCIA CATARINENSE

Acórdão: Habeas Corpus 99.022692-1

Relator: Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu

Data da Decisão: 31/01/2000

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE.

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E FALTA DE HABILITAÇÃO PARA

DIRIGIR (ARTIGOS 306 E 309 DO CTB). CONSTRANGIMENTO

ILEGAL CARACTERIZADO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 291,

C/C O 302, DA LEI N. 9.503/97 (CTB). ORDEM CONCEDIDA.

Acórdão: Habeas corpus 99.014901-3

Relator: Genésio Nolli

Data da Decisão: 28/09/1999

EMENTA: HABEAS-CORPUS. DELITO DE TRÂNSITO. LESÃO

CORPORAL CULPOSA. ART. 303 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

BRASILEIRO. NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO.

EXEGESE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 291 DO CTB.

AUSÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA PARA DECLARAR EXTINTA A

PUNIBILIDADE PELA DECADÊNCIA DO DIREITO DE

REPRESENTAÇÃO. O parágrafo único do art. 291 do Código de

Trânsito Brasileiro, dispõe que aos crimes de trânsito de lesão

corporal culposa, de embriaguez ao volante e de participação em

competição não autorizada, aplicam-se o disposto nos arts. 74, 76

e 88, da Lei n. 9.099/95, este último exigindo a representação

como condição de procedibilidade da ação penal.

Acórdão: Apelação Criminal 01.011454-2

Relator: Solon d'Eça Neves

Data da Decisão: 23/10/2001

EMENTA: Apelação Criminal - Delito previsto no art. 306 do

Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503/97) - Embriaguez ao

volante - Pena máxima respectiva superior a um ano a afastar a

competência dos Juizados Especiais - Art. 61 da Lei n. 9.099/95 -

Aplicação da transação penal ao delito em epígrafe por força do

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86

contido no art. 291 da Lei n. 9.503/97 - Descabimento, in casu, por

já ter sido o agente beneficiado com o referido instituto há menos

de um qüinqüênio (art. 76, § 2º, II) - Réu interceptado pela polícia

quando trafegava embriagado pela rodovia - Recusa ao exame de

graduação alcóolica - Vários testemunhos dando conta do visível

estado de embriaguez do recorrente - Condenação mantida.

Acórdão: Apelação Criminal 2002.013681-1

Relator: Solon d'Eça Neves

Data da Decisão: 20/08/2002

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

- TRANSAÇÃO PENAL - MINISTÉRIO PÚBLICO QUE NÃO SE

MANIFESTOU SOBRE A POSSIBILIDADE - OFENSA AO

DISPOSTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 291 DO CÓDIGO

DE TRÂNSITO BRASILEIRO - RETORNO DOS AUTOS À

ORIGEM - PREJUDICADO O EXAME DO MÉRITO RECURSAL

Em que pese o crime constante no art. 306 do CTB não se

enquadre como de menor potencial ofensivo, é dever do

representante ministerial, se as condições subjetivas do indigitado

assim autorizarem, propor a transação penal (art. 76 da Lei n.

9.099/95), ante o permissivo abstraído do parágrafo único do art.

291 do Código de Trânsito Brasileiro.

Acórdão: Apelação Criminal 2006.035755-0

Relator: Antonio Fernando do Amaral e Silva

Data da Decisão: 20/03/2007

EMENTA: ENAL - HOMICÍDIO CULPOSO - ACIDENTE DE

TRÂNSITO - IMPRUDÊNCIA CARACTERIZADA - CONDENAÇÃO

MANTIDA - DOSIMETRIA - ADEQUAÇÃO - FIXAÇÃO DA PENA

DE SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULOS

DE ACORDO COM O ARTIGO 68 DO CÓDIGO PENAL -

IMPOSSIBILIDADE DO PERDÃO JUDICIAL - SUBSTITUIÇÃO DA

PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE - POSSIBILIDADE DE

CUMULAÇÃO COM A SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR

VEÍCULO AUTOMOTOR - RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO. Age com imprudência o motorista que, dirigindo

fatigado, invadindo a contramão, intercepta trajetória regular de

terceiro, causando-lhe a morte. A pena de suspensão do direito de

dirigir veículo automotor, nos termos do artigo 291 do Código de

Trânsito Brasileiro, deve ser fixada em consonância com o artigo

68 do Código Penal. Incabível o perdão judicial quando o agente,

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que sequer conhecia a vítima, sofre lesões menos graves do que a

morte que causou com sua imprudência. Nos crimes de trânsito, a

pena de suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor é

autônoma. Portanto, perfeitamente cumulável com as penas

restritivas de direito, substitutivas da privação da liberdade.

Acórdão: Habeas Corpus 2002.017652-0

Relator: Jaime Ramos

Data da Decisão: 17/09/2002

EMENTA: HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

(ART. 306 DA LEI 9.503/97). DELITO QUE ADMITE A

TRANSAÇÃO PENAL. APLICAÇÃO DO ART. 76 DA LEI N°

9.099/95. INTELIGÊNCIA DO ART. 291, PARÁGRAFO ÚNICO,

DO CTB. OMISSÃO DESSA PROVIDÊNCIA.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ORDEM

CONCEDIDA. Por força do que dispõe o art. 291, parágrafo único,

da Lei n. 9.503/97 (CTB), o delito de embriaguez ao volante

previsto no seu art. 306, embora não seja de menor potencial

ofensivo, admite a transação penal prevista no art. 76 da Lei

9.099/95, sendo obrigatória a manifestação do Ministério Público a

respeito, antes do oferecimento da denúncia. Verificada a omissão

após a instauração da ação penal e conseqüente suspensão

condicional do processo, impõe-se que seja oportunizada a

transação penal, que, se aceita, tornará prejudicados os atos já

praticados, inclusive a denúncia, sendo que a rejeição ou a

verificação de impossibilidade pela insatisfação de requisitos

implicará na preservação da ação penal e na manutenção da

suspensão condicional do processo. Essa é a solução que melhor

consulta os interesses da economia processual.

Acórdão: Habeas corpus 2002.024980-2

Relator: José Carlos Carstens Köhler

Data da Decisão: 10/12/2002

EMENTA: HABEAS CORPUS - DELITO DE TRÂNSITO -

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE, ART. 306 DA LEI N. 9.503/97 -

TRANSAÇÃO PENAL - APLICABILIDADE, MESMO NÃO SE

TRATANDO DE CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO -

INCIDÊNCIA DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 291 DO CTB -

AUSÊNCIA DA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO,

ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA -

CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO - ORDEM

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CONCEDIDA EM PARTE. NULIDADE DA AÇÃO PENAL A

PARTIR DA DENÚNCIA - INOCORRÊNCIA A ausência da

proposta de transação penal (art. 76, caput, da Lei n. 9.099/95)

não tem o condão de nulificar a ação penal deflagrada, porquanto

caso aceita aquela, todos os atos já levados a efeito ficarão

prejudicados e, no caso de rejeição ou de impossibilidade por

inexistência dos requisitos legais, o processo terá seu curso

normal, com a renovação da audiência para os fins do disposto no

art. 89 da Lei n. 9.099/95.

Acórdão: Apelação Criminal 2005.007693-2

Relator: Antonio Fernando do Amaral e Silva

Data da Decisão: 05/07/2005

EMENTA: PROCESSUAL E PENAL - HOMICÍDIO CULPOSO E

EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - ACIDENTE DE TRÂNSITO -

PROVA COERENTE E CONVINCENTE - IMPRUDÊNCIA

CARACTERIZADA - CONDENAÇÃO MANTIDA - ADEQUAÇÃO

DA PENA DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA DE HABILITAÇÃO -

RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO Age com manifesta

imprudência condutor que, dirigindo embriagado e em excesso de

velocidade, perde o controle do veículo, provocando o

tombamento, resultando do acidente óbito. A pena de suspensão

do direito de dirigir veículo automotor pode ser imposta a motorista

profissional, devendo ser fixada de acordo com o artigo 68 do

Código Repressivo, nos termos do artigo 291 do Código de

Trânsito Brasileiro.

Acórdão: Apelação Criminal 2005.000227-4

Relator: Antonio Fernando do Amaral e Silva

Data da Decisão: 05/04/2005

EMENTA: PROCESSUAL E PENAL - ACIDENTE DE TRÂNSITO -

ATROPELAMENTO E COLISÃO EM VIATURA DA POLÍCIA

MILITAR - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - PROVA PERICIAL -

EXCESSO DE VELOCIDADE - IMPRUDÊNCIA CARACTERIZADA

- DOSIMETRIA - ADEQUAÇÃO - PRECEDENTES

JURISPRUDENCIAIS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO

Age com manifesta imprudência o condutor que, dirigindo

embriagado e em excesso de velocidade, em uma reta, perde o

controle do veículo, atropela policial militar e abalroa viatura

estacionada. A pena de suspensão do direito de dirigir veículo

automotor deve ser fixada de acordo com o artigo 68 do Código

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Penal, nos termos do artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro.

Processos em andamento e em que houve transação penal, não

servem para caracterizar maus antecedentes.

Acórdão: Conflito de Jurisdição 2003.004498-1

Relator: José Carlos Carstens Köhler

Data da Decisão: 03/06/2003

EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - CONDUTA

DELITIVA PREVISTA NO ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

BRASILEIRO - CRIME QUE NÃO SE ENQUADRA NO

CONCEITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO DE ACORDO

COM A LEI N. 10.259/01 - POSSIBILIDADE DE PROPOSTA DE

TRANSAÇÃO POR FORÇA DO ART. 291 DO CTB - FEITO QUE

DEVE TRAMITAR NO JUÍZO COMUM. CONFLITO

PROCEDENTE.

Acórdão: Mandado de Segurança 2002.014613-2

Relator: José Carlos Carstens Köhler

Data da Decisão: 03/06/2003

EMENTA: DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - DECISÃO

JUDICIAL QUE DETERMINOU AO CONCILIADOR A

CONDUÇÃO DA AUDIÊNCIA PRELIMINAR - IMPOSSIBILIDADE -

CRIME QUE NÃO É DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO DE

ACORDO COM A LEI N. 10.259/01 - COMPETÊNCIA DO JUÍZO

COMUM - POSSIBILIDADE DE PROPOSTA DE TRANSAÇÃO

PENAL POR FORÇA DO ART. 291 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

BRASILEIRO. ATAQUE À PARTE HIPOTÉTICA DA DECISÃO -

INEXISTÊNCIA DE LESÃO - AUSÊNCIA DE INTERESSE.

ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

Acórdão: Apelação criminal 98.014863-4

Relator: Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu

Data da Decisão: 01/11/1999

EMENTA: DELITO DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.

APELAÇÃO. COMPETÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 291 DO

CÓDIGO NACIONAL DE TRÂNSITO. TRANSAÇÃO PENAL.

INTELIGÊNCIA DO ART. 76 DA LEI N. 9.099/95. APLICAÇÃO

IMEDIATA DA PENA. POSSIBILIDADE NA ESPÉCIE.

PRETENSÃO DA DEFESA QUE SE ENQUADRA NA ESFERA DE

DIREITO SUBJETIVO DO APELANTE. APLICAÇÃO DO

INSTITUTO, RECHAÇADA NO JUÍZO A QUO. RETORNO DOS

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AUTOS PARA CONHECIMENTO DA MATÉRIA. SUSPENÇÃO

DO PROCESSO. COMPOSIÇÃO REALIZADA, A DESPEITO DE

POSTULAÇÃO EXPRESSA QUANTO À APLICABILIDADE DO

ART. 76 DA LEI N. 9.099/95. NECESSIDADE DO

ENFRENTAMENTO DA MATÉRIA. NÃO CONHECIMENTO DO

RECURSO.