7
1 Trinta anos depois da ‘Lei Barreto’ Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum Neste mês de Setembro completam-se 30 anos sobre a entrada em vigor da ‘Lei Barreto’ que foi o primeiro travão à reforma agrária implantada no Alentejo e no Ribatejo desde 1975. No caminho percorrido ao longo destas três décadas, a reforma agrária desapareceu do debate político e a agricultura alentejana tornou-se cada vez menos relevante para o abastecimento do país, hoje integrado num mercado comum europeu e numa política agrícola definida em Bruxelas. A posse da terra, que ao longo de séculos foi determinante nas relações sociais, tem hoje cada vez menos importância na sociedade alentejana. A desigualdade social A situação vivida nos campos do Alentejo antes da revolução de Abril era geradora de um forte conflito social, fruto da situação relativa à posse da terra. De um lado, os proprietários, um pequeno grupo de pessoas que detinha a grande maioria das campos cultiváveis da região e, do outro lado, um vasto conjunto de pessoas que não tinha praticamente nada, a não ser a sua força de trabalho, para dar de comer aos filhos. Face ao reduzido peso das outras actividades económicas na região, era a agricultura e a posse da terra que estabeleciam a estratificação social da sociedade alentejana e que determinavam as relações de poder e de trabalho. “A extraordinária desigualdade patrimonial reflectia-se, naturalmente, numa incomensurável diferenciação social que opunha a maioria da população à reduzida elite das família latifundiárias. A imensa mole de assalariados agrícolas vivia em condições deploráveis que podemos classificar abaixo da linha de pobreza. Com rendimentos médios próximos ou mesmo inferiores às condições indispensáveis de sobrevivência, a fome, a miséria e a doença grassavam” 1 . Durante o antigo regime, os proprietários das terras tinham um forte suporte no governo de então, pelo que a sua situação privilegiada estava garantida. No entanto, o Partido Comunista, desde a década de 30, foi fazendo o seu trabalho no Alentejo, levando a sua consciência de classe e os seus ideais junto dos trabalhadores rurais, pelo que estes viram neste partido um apoio importante para as suas reivindicações. As revoltas tentadas pelos trabalhadores agrícolas foram sempre paradas pelas forças do poder. As conquistas sociais e laborais, como o horário das 8 horas, em 1962, foram o resultado de um enorme

Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O impacto da Reforma Agrária.

Citation preview

Page 1: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

1

Trinta anos depois da ‘Lei Barreto’

Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum Neste mês de Setembro completam-se 30 anos sobre a entrada em vigor da ‘Lei Barreto’ que foi o primeiro travão à reforma agrária implantada no Alentejo e no Ribatejo desde 1975. No caminho percorrido ao longo destas três décadas, a reforma agrária desapareceu do debate político e a agricultura alentejana tornou-se cada vez menos relevante para o abastecimento do país, hoje integrado num mercado comum europeu e numa política agrícola definida em Bruxelas. A posse da terra, que ao longo de séculos foi determinante nas relações sociais, tem hoje cada vez menos importância na sociedade alentejana.

A desigualdade social

A situação vivida nos campos do Alentejo antes da revolução de Abril era geradora de um forte conflito social, fruto da situação relativa à posse da terra. De um lado, os proprietários, um pequeno grupo de pessoas que detinha a grande maioria das campos cultiváveis da região e, do outro lado, um vasto conjunto de pessoas que não tinha praticamente nada, a não ser a sua força de trabalho, para dar de comer aos filhos.

Face ao reduzido peso das outras actividades económicas na região, era a agricultura e a posse da terra que estabeleciam a estratificação social da sociedade alentejana e que determinavam as relações de poder e de trabalho. “A extraordinária desigualdade patrimonial reflectia-se, naturalmente, numa incomensurável diferenciação social que opunha a maioria da população à reduzida elite das família latifundiárias. A imensa mole de assalariados agrícolas vivia em condições deploráveis que podemos classificar abaixo da linha de pobreza. Com rendimentos médios próximos ou mesmo inferiores às condições indispensáveis de sobrevivência, a fome, a miséria e a doença grassavam”1.

Durante o antigo regime, os proprietários das terras tinham um forte suporte no governo de então, pelo que a sua situação privilegiada estava garantida. No entanto, o Partido Comunista, desde a década de 30, foi fazendo o seu trabalho no Alentejo, levando a sua consciência de classe e os seus ideais junto dos trabalhadores rurais, pelo que estes viram neste partido um apoio importante para as suas reivindicações.

As revoltas tentadas pelos trabalhadores agrícolas foram sempre paradas pelas forças do poder. As conquistas sociais e laborais, como o horário das 8 horas, em 1962, foram o resultado de um enorme

Page 2: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

2

esforço e de uma luta desigual. Catarina Eufémia, Alfredo Lima e José Adelino dos Santos foram mortos pela GNR quando lutavam por melhores salários.

A revolução de Abril veio alterar tudo na sociedade portuguesa. O antigo regime deposto pelos capitães caiu sem qualquer tipo de resistência, fruto da sua decadência. Depois de décadas de repressão, o povo saiu para a rua sem medo, liberto das grilhetas do fascismo. “No Sul, como por todo o país, o 25 de Abril de 1974 trouxe ao meio rural uma enorme esperança de trabalho e de uma vida melhor. O projecto de democracia apresentado pelo MFA, e apoiado publicamente pelo Partido Comunista Português, significava para os trabalhadores rurais o oposto da situação vivida até então: querer trabalho e comida e não os ter”2.

A ocupação das terras

Logo após a revolução de Abril, os proprietários das terras começaram a ter algum receio do rumo que o país começou a definir e tomaram a opção de deixar de cultivar as terras e de dar trabalho. Os trabalhadores iniciaram a constituição de sindicatos e passaram a ter uma capacidade reivindicativa bem maior, o que alterou os pratos da balança nas relações de trabalho no Alentejo, “onde a luta pelo emprego e por melhores salários era agora legal”3.

A I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, em Fevereiro de 1975, na qual Álvaro Cunhal esteve presente, concluiu que “é necessário que as terras incultas ou mal aproveitadas sejam entregues aos trabalhadores rurais desempregados”4, sendo considerada como o momento decisivo para a ocupação das terras, sob o lema ‘a terra a quem a trabalha’.

Deste modo, o avanço para as terras foi feito rapidamente e em força, sendo ocupados 700.000 hectares até Novembro de 1975. No concelho de Montemor-o-Novo foram constituídas 25 Unidades Colectivas de Produção (UCP) que conseguiram fazer desaparecer quase por completo o desemprego aqui existente.

Com as ocupações estava em causa não só a posse da terra, mas igualmente a alteração da sociedade alentejana. Os trabalhadores não pretendiam apenas o domínio dos meios de produção, pretendiam mudar a própria sociedade. Por isso, “a terra, como suporte básico da organização da actividade económica agrária e fonte de poder, constitui o cerne de toda a reforma agrária que, para o ser, implicará a transferência da posse e do uso da terra e dos meios de produção de classes “velhas” que os detém, para uma ou mais classes “novas” capazes de impulsionar novas relações sociais e de produção”5, consubstanciando a luta de classes defendida na doutrina do partido comunista.

Alexandre Pirata, membro do PCP de Montemor, revelou com entusiasmo o significado da reforma agrária, ao afirmar que “foi com

Page 3: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

3

base na reforma agrária que as populações das aldeias, dos lugarejos, de toda a região do Alentejo se desenvolveram, tendo ao longo daqueles 10 ou 15 anos, aumentado exponencialmente o seu nível de vida. Para muitos trabalhadores foi a única possibilidade de poder adquirir a sua casa, de poder adquirir bens de consumo necessários, o seu carro, a sua mobília. Do ponto de vista social foi o acontecimento mais importante do último século, a partir do qual a população veio a ter as melhores condições de vida de sempre e a garantia de estabilidade laboral, coisa que nunca tinha tido antes e que nunca mais veio a ter, com o termo da reforma agrária”6.

Contudo, apesar do forte impacto conseguido no terreno e na transformação da própria sociedade alentejana, a reforma agrária não teve o apoio político que esperava. Logo nas primeiras eleições livres, realizadas em Abril de 1975, o Partido Comunista chega apenas a 12,46% dos votos expressos, e só é vencedor no distrito de Beja. Este era um sinal claro para aquela força política. Através do voto, o povo português dizia claramente que não queria converter Portugal num país comunista, por isso, os modelos sociais e políticos de suporte à reforma agrária estavam condenados, situação que se veio a concretizar.

A influência americana

Durante a época de Vasco Gonçalves, primeiro-ministro dos II, III, IV e V governos provisórios, entre 18 de Julho de 1974 e 19 de Setembro de 1975, foram efectuadas as primeiras ocupações. Estas acções foram efectuadas com o seu apoio tácito, uma vez que ainda não existia qualquer legislação sobre esta matéria. Como o próprio refere, “para mim e para a esquerda do MFA e para aqueles que apoiaram o MFA na reforma agrária – esta foi uma medida de salvação nacional! Para procurar que as terras fossem cultivadas, para aumentar a produção, para criar emprego”7.

A administração norte-americana exerceu uma forte pressão sobre Portugal para o afastamento do general Vasco Gonçalves, utilizando as armas económicas para fazer valer os seus interesses.

Face ao cenário existente em Portugal, onde a situação financeira do país apresentava algumas debilidades, “o Ocidente prometia um amplo empréstimo a Portugal, mas punha como condição o afastamento do PCP do executivo. No início de Outubro de 1975, os Estados Unidos e a Europa Ocidental concediam ao país uma ajuda económica de emergência no valor de 272 milhões de dólares”8.

É interessante constatar que embora Portugal não tenha tido nenhuma atenção especial por parte da administração norte-americana logo a seguir à revolução, os acontecimentos ocorridos durante o PREC começaram a inquietar a diplomacia do outro lado do Atlântico, tendo Henry Kissinger, à data Secretário de Estado do

Page 4: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

4

governo americano, considerado que “Portugal podia ser salvo do comunismo e ganho para a democracia”9, originando uma forte actuação dos americanos em Portugal. O próprio Kissinger, referindo-se à situação em Portugal, registou nas suas memórias que ”estava alarmado com a falta de uma estratégia dos políticos democratas para fazer frente à actividade comunista”10.

Assim, logo a 29 de Agosto de 1975 o General Costa Gomes afasta Vasco Gonçalves da chefia do V governo provisório. O governo seguinte, chefiado por Pinheiro de Azevedo e com tomada de posse a 19 de Setembro, apenas teria um comunista na equipa ministerial, o que significou o afastamento político daquele partido.

Logo a seguir, os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975 contribuíram decisivamente para o afastamento dos elementos afectos ao partido comunista dos centros de poder, e acabaram por influenciar várias situações e alterar o rumo que o sul de Portugal estava a seguir. Pezarat Correia, à data membro do Conselho da Revolução, recorda que depois daquele dia “travaram-se as ocupações e acordou-se que uma medida essencial para que a reforma agrária pudesse prosseguir era o ajustamento à legalidade de todos as terras ocupadas”11.

A Constituição

Apesar destas contrariedades, a reforma agrária acabou por ficar vertida na Constituição aprovada em 1976, na parte relativa à organização económica, sendo-lhe dedicado o Título IV, e definidos os seus objectivos concretos, no artigo 96º: a) promover a melhoria da situação económica, social e cultural dos trabalhadores rurais e dos pequenos e médios agricultores pela transformação das estruturas fundiárias e pela transferência progressiva da posse útil da terra e dos meios de produção directamente utilizados na sua exploração para aqueles que a trabalham, como primeiro passo para a criação de novas relações de produção na agricultura; b) aumentar a produção e a produtividade da agricultura, dotando-a das infra-estruturas e dos meios humanos, técnicos e financeiros adequados, tendentes a assegurar o melhor abastecimento do país, bem como o incremento da exportação; c) criar as condições necessárias para atingir a igualdade efectiva dos que trabalham na agricultura com os demais trabalhadores e evitar que o sector agrícola seja desfavorecido nas relações de troca com os outros sectores.

Em 1977 o ministro da agricultura, António Barreto, propôs à Assembleia da República uma nova Lei da Bases Gerais da Reforma Agrária, para começar a pôr limites à reforma agrária que estava em curso. Esta lei veio a ser aprovada com os votos favoráveis do PS e do PSD e com os votos contra do PCP, da UDP e do CDS. A ‘Lei Barreto’, como ficou a ser conhecida, “marcou um momento culminante na politização da reforma agrária, não tanto pela lei em si, que

Page 5: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

5

disciplinava mas admitia a necessidade de um reconversão fundiária como condição prévia para uma nova política agrícola no sul do país, mas pela marcada hostilidade do PCP à sua elaboração e pela aproximação verificada na Assembleia da República entre o PS e o PSD à volta da sua defesa”12.

O diploma foi bastante criticado pelo PCP que viu claramente na lei a condenação das actividades existentes na Zona de Intervenção da Reforma Agrária. Lino de Carvalho, fazendo eco das opiniões daquele partido, afirmou que “esta lei constituiu uma verdadeira contra-ofensiva no plano fundiário com a qual se revogaram os diplomas de expropriação e nacionalização de Julho de 1975”13.

Actualmente, António Barreto continua a rever-se no conteúdo da lei “porque naquelas circunstâncias era o que eu julgava ser possível fazer e que devia ser feito”, acrescentando que “tinha absoluta convicção e certeza que não estava a tirar as terras aos verdadeiros agricultores, mas a uma espécie de cartel entre o PCP, os sindicatos e as direcções das UCP. Além disso, sabia que tinha o apoio eleitoral e político da maior parte dos trabalhadores do resto do País”14.

As dúvidas em relação ao sistema proposto pela reforma agrária também começam a ganhar consistência, e a visão de outras forças políticas sobre o tema começa a ser equacionada de forma bastante diferente daquela anunciada pelos comunistas. José Cutileiro, escrevendo sobre o Alentejo, em 1977, referia que “a reforma agrária não foi uma conquista mas uma outorga, enxertada sobre uma população para ela aliciada à pressa, que não tinha experiência política nem sindical e que seguiu as ‘consignes’ de um poder que lhe era exterior (Partidos Políticos, Sindicatos, Forças Armadas). Essas ‘consignes’ indicavam o rumo do grande sonho milenário alentejano - o fim dos latifundiários, a entrega da terra ao povo – e foram acatadas se nem sempre com entusiasmo, sempre com grande esperança”15.

Na primeira revisão constitucional, em 1982, a reforma agrária é literalmente substituída pela política agrícola que mantém os mesmos objectivos, apresentados acima. Todavia, a Constituição ainda acrescenta que “a reforma agrária é uma dos instrumentos fundamentais da realização dos objectivos da política agrícola”. Isto significa que a reforma agrária deixou de ser um objectivo político em si, para passar a ser uma forma de se implementar a política agrícola.

Já com o país integrado na então Comunidade Económica Europeia, em 1989, tem lugar a segunda revisão constitucional que vem acabar com o papel da reforma agrária na Constituição. A ‘transferência’ da posse da terra para aqueles que a trabalham foi substituída pelo ‘acesso’ à propriedade, o que significa literalmente que quem quiser trabalhar a terra terá que a comprar. O desígnio

Page 6: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

6

constitucional que permitia a ocupação de terras desapareceu nesse ano.

A União Europeia

Com a entrada na Comunidade Europeia, o país adaptava-se a uma nova realidade. O então primeiro-ministro do governo a que o país deu pela primeira vez uma maioria absoluta, Aníbal Cavaco Silva, faz publicar, em 1988, uma nova Lei de Bases da Reforma Agrária e, em 1995, a Lei de Bases do Desenvolvimento Agrário que vêm dar o golpe mortal no sistema que tinha sido implantado no Alentejo e Ribatejo, durante os primeiros tempos da revolução de Abril.

Cavaco Silva revela que “com a agricultura portuguesa a iniciar a sua adaptação aos mecanismos da Política Agrícola Comum, era imperioso corrigir erros e abusos cometidos no passado, restabelecer o clima de confiança indispensável à modernização do sector e criar condições para o desenvolvimento da capacidade empresarial e níveis de gestão exigidos por uma economia aberta e concorrencial”16. O PCP reconhecia o final do sistema, tendo Lino de Carvalho sublinhado que “estava assim encerrado, na lei e no terreno, um ciclo único da história agrária de Portugal, onde, pela primeira vez se procurou pôr termo à secular hegemonia do latifúndio nas terras alentejanas e ribatejanas”17.

A partir do momento em que Portugal passa a ser um Estado-membro da Comunidade Europeia, as regras relativas à política agrícola passam a ser determinadas em função dos interesses de um grupo de países, situação a que a agricultura do Alentejo foi forçada a adaptar-se. A partir de 1986, para Portugal, “a unicidade do mercado agrícola da Comunidade implica preços comuns, instrumentos comuns de apoio a esses preços, uma protecção comum em relação ao exterior, um financiamento comum e, de uma forma geral, uma gestão comum, que a Comissão tem a seu cargo”18.

Dentro desta política, os excedentes agrícolas que continuam a ser produzidos nos países mais ricos, acabam por limitar drasticamente a produção nos países mais pequenos e mais pobres que, ao ficarem com limitações à produção, acabam por ter que comprar os produtos que vêm de outros Estados-membros.

Com a concorrência vinda de outros países onde os níveis de produtividade são bastante superiores aos nacionais, as pequenas empresas agrícolas portuguesas passam a ter bastantes dificuldades em sobreviver, pelo que o número de empresas que deixa a actividade tem crescido substancialmente nos últimos 20 anos. Entre 1989 e 2006 desapareceram 250 mil explorações e a área média passou de 7 para 12 hectares, o que significou o abandono do trabalho agrícola para mais de 400 mil pessoas.

O valor acrescentado na agricultura, que era de 9,4% em 1986, é hoje de apenas 3,9%. O Alentejo é actualmente a região menos

Page 7: Da Reforma Agrária à Política Agrícola Comum

7

povoada do país, com uma densidade de 20 habitantes por km2, tendo a população diminuído fortemente nas últimas duas décadas. Embora Portugal se tenha aproximado dos níveis de vida existentes nos demais países europeus, nestes últimos anos a tendência para a redução dessa diferença abrandou e a posição de regiões como o Alentejo, o Centro e o Norte, nomeadamente, piorou em comparação com as médias comunitárias.

Com a integração na política agrícola comum, o reforço da agricultura portuguesa passa a estar mais dependente da modernização das estruturas de produção e dos canais de comercialização, principalmente em benefício de alguns sectores cruciais, tais como os do vinho, dos frutos e dos produtos hortícolas. Deste modo, para poder ser competitiva e possibilitar que o Alentejo se mantenha vivo, a agricultura nacional tem obrigatoriamente que se modernizar, para que, no futuro, ainda seja possível a existência de uma sociedade rural.

Com todas estas mudanças, ser proprietário de terras deixou de ter a importância que teve no passado, por isso, a posse da terra é um factor cada vez menos influente nas relações sociais hoje existentes no Alentejo, facto que é incontestável na sociedade onde vivemos.

Sobre a reforma agrária, quando se olha para os acontecimentos de há 30 anos nesta região, pode hoje afirmar-se que apenas resta a ‘Utopia’ cantada por José Afonso: “toma o fruto da terra / é teu a ti o deves / lança o teu desafio”.

A.M. Santos Nabo [email protected]

Setembro, 2007 1 PINTO DE SÁ, Carlos Manuel, ‘O Emprego Agrícola Numa Zona de Grande Propriedade Fundiária’, in Revista Almansor, nº 12, 1994 2 LEAL, Américo Lázaro, ‘O Rosto da Reforma Agrária’; Lisboa, 2005, Edições Avante 3 BRITO, J. M. Brandão e Outros, ‘O País em Revolução’, s/l, 2001, Círculo de Leitores 4 CARVALHO, Lino de, ‘Reforma Agrária – Da Utopia à Realidade’, Porto, 2004, Campo das Letras 5 MURTEIRA, António, ‘Uma Revolução na Revolução’, Porto, 2004, Campo das Letras 6 Entrevista de Alexandre Pirata ao jornal ‘Folha de Montemor’, Novembro de 2002. 7 Entrevista de António Murteira a Vasco Gonçalves in ‘Uma Revolução na Revolução’, 8 MOREIRA DE SÁ, Tiago, ‘Os Americanos na Revolução Portuguesa”, Lisboa, 2004, Editorial Notícias 9 MOREIRA DE SÁ, Tiago, idem 10 KISSINGER, Henry, ‘Years of Renewal’, Nova Yorque, 1999, Simon & Schuster 11 CORREIA, Pedro Pezarat, in ‘Uma Revolução na Revolução’, Porto, 2004, Campo das Letras 12 FERREIRA, José Medeiros ‘Portugal em Transe’, s/l, 1994, Círculo de Leitores 13 CARVALHO, Lino de, idem 14 Entrevista de João Céu e Silva a António Barreto, in Diário de Notícias de 5 de Agosto de 2007 15 CUTILEIRO, José, ‘Ricos e Pobres no Alentejo’, Lisboa, 2004, Livros Horizonte 16 SILVA, Aníbal Cavaco, ‘As Reformas da Década’, Venda Nova, 1995, Bertand 17 CARVALHO, Lino de, idem 18 MOUSSIS, Nicolas, ‘Acesso à Europa’, Venda Nova, 1992, Bertrand