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Diagnóstico socioeconômico e ambiental dos assentamentos de reforma agrária atendidos pelo Projeto Vale Sustentável Patrocínio:

Diagnóstico socioeconômico e ambiental dos assentamentos ... · agrícola. 3. Reforma agrária. 4. Assentamentos rurais. ... IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

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  • Diagnstico socioeconmicoe ambiental dos assentamentos de reforma agrria atendidospelo Projeto Vale Sustentvel

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    Diagnstico socioeconmico e ambiental dos assentamentos de reforma agrria atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel

    Ass/RN2015

    Judicleide de Azevedo NascimentoElisngelo Fernandes da Silva

  • Este livro foi elaborado pelo Projeto Vale Sustentvel que executado pela

    Associao Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrnomos ANEA com patrocnio da

    Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

    Coordenao InstitucionalFrancisco Auriclio de Oliveira Costa

    AutoresJudicleide de Azevedo Nascimento

    Elisngelo Fernandes da Silva

    Reviso Ortogrfi ca e Normalizao Bibliogrfi caAndrea de Albuquerque Vianna

    Gilceane Soares

    Glessa Santana

    Jlia Ribeiro

    Projeto Grfi co e DiagramaoGR Editorial Design

    www.grdesigneditorial.com.br

    Patrocinadores

    Catalogao da Publicao na Fonte (CIP). Ficha Catalogrfica elaborada por Lus Cavalcante Fonseca Jnior - CRB 15/726.

    N244d Nascimento, Judicleide de Azevedo. Diagnstico socioeconmico e ambiental dos

    assentamentos de reforma agrria atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel / Judicleide de Azevedo Nascimento ; Elisngelo Fernandes da Silva ; realizao, Associao-Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrnomos (ANEA). Ass, RN : Grfica RN Econmico, 2016.

    128 p. : il.

    ISBN 978-85-69516-01-9 Inclui referncias

    1. Recursos socioambientais. 2. Sustentabilidade agrcola. 3. Reforma agrria. 4. Assentamentos rurais. I. Silva, Elisngelo Fernandes da. II. Associao-Norte-Rio-Grandense de Engenheiros Agrnomos.

    RN/ANEA/LCFJ CDU 332.2:330.34

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    Lista de fi guras

    Figura 01 - Plantao de bananeiras no assentamento de Irm Dorothy, Carnaubais, RN 34

    Figura 02 - Vegetao de Caatinga em Novo Pingos, Assu, RN 35Figura 03 - Vegetao de carnaba no assentamento Margarida Alves, Carnaubais, RN 36

    Figura 04 - Agrovila de Novo Pingos, Assu, RN 48Figura 05 - Estrada vicinal de acesso ao assentamento de Ligao, Carnaubais, RN 51Figura 06 - Sede da Cooperativa dos Produtores de Novo Pingos, Assu, RN 56Figura 07 - Plantio de hortas em Novo Pingos, Assu, RN 61Figura 08 - Agricultora limpando de forma artesanal as castanhas no assentamento de Vassouras, Carnaubais, RN 62

    Figura 09 - Assentado levando rebanho de ovinos para pastagens, Prof. Maurcio de Oliveira, Assu, RN 64

    Figura 10 - Criao de gado no assentamento Rosa Luxemburgo, Carnaubais, RN 64Figura 11 - Cisterna de placas construda no assentamento Irm Dorothy, Carnaubais, RN 75

    Figura 12 - Cisterna calado construda no assentamento Professor Maurcio de Oliveira em Assu, RN 75

    Figura 13 - Concentrao de algarobas em rea de vrzeas em Irm Dorothy, Carnaubais, RN 82

    Figura 14 - rea de ravinas no assentamento Novo Pingos, Assu, RN 84Figura 15 - Reserva Legal no assentamento Cavaco, Carnaubais, RN 95Figura 16 - Mudas de Moror 97Figura 17 - Mudas de Tamarindo 97Figura 18 - rea de preservao permanente ocupada por culturas temporrias no assentamento Irm Dorothy, Carnaubais, RN 98

    Figura 19 - Curso de educao ambiental no assentamento Rosa Luxemburgo, Carnaubais, RN 104

    Figura 20 - Aula prtica de curso de educao ambiental no IFRN de Ipanguau, RN 104

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    Lista de mapas

    Mapa 01 - Mesorregies do estado do Rio Grande do Norte 29Mapa 02 - Mapa dos territrios rurais do estado do Rio Grande do Norte 30

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    Lista de grfi cos

    Grfi co 01 - Nmero de famlias distribudas por assentamentos 46Grfi co 02 - Faixa etria dos residentes nos assentamentos 48Grfi co 03 - Percentual de entrevistados conforme o nvel de escolaridade 49Grfi co 04 - Tipo de entidade que os assentados participam 55Grfi co 05 - Renda familiar dos assentados 57Grfi co 06 - Principal atividade econmica dos assentados 58Grfi co 07 - Prticas utilizadas no preparo da terra pelos assentados 60Grfi co 08 - Principais tipos de rebanhos criados pelos assentados 62Grfi co 09 - Formas de alimentar o gado na poca das estiagens 65Grfi co 10 - Difi culdades enfrentada pelos produtores durante o perodo de seca 67Grfi co 11 - Problemas ambientais que afetam os assentamentos 81Grfi co 12 - Principais problemas enfrentados pelos produtores rurais nos assentamentos nos municpios de Assu e Carnaubais/RN 90

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    Lista de tabelas

    Tabela 01 - Registro das precipitaes anuais 2013/2016 31Tabela 02 - Distribuio de mananciais e reservatrios de gua nos assentamentos 33Tabela 03 - rea total dos assentamentos atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel 45Tabela 04 - Quantitativo de agricultores familiares que armazenam sementes por assentamentos 59

    Tabela 05 - Quantitativo de rebanhos distribudos pelos assentamentos 63Tabela 06 - Quantidade de colmeias de abelhas distribudas por assentamentos produtores 66

    Tabela 07 - Nmero de benefi ciados do bolsa famlia por assentamentos 74Tabela 08 - Quantidade de cisternas distribudas pelos assentamentos 75Tabela 09 - rea total da reserva legal e da rea de preservao permanente dos assentamentos 96

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    Lista de quadros

    Quadro 01 - Tipos de solos existentes nos assentamentos de reforma agrria atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel 38

    Quadro 02 - Projetos prioritrios, linhas de ao e possveis parcerias 106

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    Lista de siglas

    ANEA - Associao Norte-Rio-Grandense de Engenheiros AgrnomosBAN 1 - Bandeirantes 1CAERN - Companhia de guas e Esgotos do estado do Rio Grande do Norte DAP - Declarao de AptidoDIRED - Diretoria Regional de EducaoDNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra a Seca EMATER - Instituto de Assistncia Tcnica e Extenso RuralEMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuria do Rio Grande do Norte FETARN - Federao dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Norte FUNASA - Fundao Nacional de Sade IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovveisIDEMA - Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio AmbienteIFRN - Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte.INCRA - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria MAPA - Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.MEC - Ministrio da EducaoMDA - Ministrio do Desenvolvimento AgrrioMMA - Ministrio do Meio AmbienteMS - Ministrio da SadeSAPE - Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuria e da PescaSEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas EmpresasSENAI - Servio Nacional de Aprendizagem IndustrialSENAC - Servio Nacional de Aprendizagem ComercialSECD - Secretaria da Educao, da Cultura e dos DesportosSEDEC - Secretaria de Desenvolvimento EconmicoSEMARH - Secretaria de Meio Ambiente e Recursos HdricosSTTR - Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras RuraisSETHAS - Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitao e da Assistncia Social UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do NorteUFERSA - Universidade Federal Rural do SemiridoZCIT - Zona de Convergncia Intertropical

  • 17Realizao: Patrocnio:Realizao: Patrocnio:

    Sumrio

    APRESENTAO 19

    1. INTRODUO 21

    2. DINMICA AMBIENTAL DOS MUNICPIOS DE ASS E CARNAUBAIS 272.1. Condies climticas 312.2. Recursos hdricos 322.3. Composio vegetal 352.4. Unidades de relevo 372.5. Recursos edfi cos 38

    3. CARACTERSTICAS POPULACIONAIS E SOCIAIS DOS ASSENTAMENTOS BENEFICIADOS PELO PROJETO VALE SUSTENTVEL 43

    3.1. Uma anlise das caractersticas sociais dos assentamentos 47

    4. AS ATIVIDADES PRODUTIVAS PREDOMINANTES NOS ASSENTAMENTOS E SUA REPERCUSSO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL 53

    5. POLTICAS PBLICAS E INFRAESTRUTURA COMUNITRIA 71

    6. IMPACTOS AMBIENTAIS NOS ASSENTAMENTOS E SUAS CONSEQUNCIAS 79

    7. DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS AGRICULTORES FAMILIARES NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRRIA 87

    8. RESERVA LEGAL E REA DE PRESERVAO PERMANENTE NOS ASSENTAMENTOS 93

    9. ALTERNATIVAS VIVEIS A SUSTENTABILIDADE NOS ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRRIA ATENDIDOS PELO PROJETO VALE SUSTENTVEL 101

    10. CONSIDERAES FINAIS 119

    11. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 123

  • 19Realizao: Patrocnio:

    O uso predatrio dos recursos naturais ao longo do tempo, principalmente aps a

    Revoluo Industrial tem provocado diversos problemas ambientais em vrias partes do

    planeta, comprometendo a sobrevivncia da fauna e da fl ora, inclusive, provocando a

    extino de algumas delas.

    No Brasil a degradao ambiental afeta todos os biomas, trazendo srias consequ-

    ncias para a biodiversidade e para a sociedade, o que requer uma mudana de com-

    portamento da populao para minimizar ou reverter a situao ambiental instalada no

    Pas. Para isso, fundamental partirmos de uma iniciativa que busque conscientizar a

    populao desde a infncia sobre a importncia de cuidarmos do meio ambiente. Dessa

    forma, a educao ambiental se confi gura como uma ferramenta essencial para a for-

    mao de cidados conscientes e mais cuidadosos no trato com os recursos naturais.

    Tratando-se do estado do Rio Grande do Norte podemos afi rmar que no estamos

    numa situao privilegiada em relao ao restante do Pas, no que concerne explora-

    o dos recursos naturais. Em nosso territrio h o registro de vrios impactos ambien-

    tais como desmatamento, degradao e salinizao dos solos, extino de espcies

    nativas da fauna e da fl ora, poluio dos recursos hdricos e do solo, desertifi cao,

    dentre outros problemas que acabam comprometendo o equilbrio ambiental, reper-

    cutindo negativamente na qualidade de vida da populao. Sabemos que os recursos

    naturais disponveis no estado so utilizados de forma inadequada pela populao, e sua

    regenerao natural no condiz com o nvel de explorao a que esto submetidos os

    ecossistemas.

    A demanda por recurso natural tem crescido substancialmente com o crescimento

    populacional, o que requer uma srie de aes para conter o avano do processo de

    degradao ambiental. Diante dessa realidade, a Associao Norte-Rio-Grandense de

    Engenheiros Agrnomos ANEA com patrocnio da Petrobras, por meio do Programa

    Petrobras Socioambiental, est desenvolvendo na regio do Vale do Au o Projeto Vale

    Sustentvel, que tem como principais aes a recuperao de reas degradadas e a im-

    plantao de aes de educao ambiental.

    Assim, o Projeto Vale Sustentvel est formando agentes ambientais para atuarem

    na preservao dos recursos naturais existentes na sua regio, colaborando com o mo-

    nitoramento das reas de reserva legal e de preservao permanente existente nos as-

    sentamentos de reforma agrria contemplados pelo referido projeto.

    Nesse aspecto, destacamos que a presente apostila tem o papel de contribuir para a

    formao de agentes ambientais comprometidos com as causas de preservao dos re-

    Apresentao

  • 20Realizao: Patrocnio:

    cursos naturais. Assim, os contedos previstos envolvem a formao tica e cidad dos

    jovens benefi ciados pelo projeto, como tambm o conhecimento sobre associativismo,

    cooperativismo e legislao ambiental. Alm disso, os agentes ambientais conhecero

    tambm as peculiaridades dos biomas brasileiros.

    De forma geral, esse instrumento didtico tem o objetivo de nortear o processo de

    ensino-aprendizagem nos cursos de formao de agentes ambientais locais, contribuin-

    do para a refl exo das problemticas que afetam o municpio e o estado onde residem.

  • 1.Introduo

  • 23Realizao: Patrocnio:

    1. INTRODUO

    O Projeto Vale Sustentvel, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petro-

    bras Socioambiental, benefi cia doze assentamentos da reforma agrria nos municpios

    de Assu e Carnaubais. Em Assu, os assentamentos selecionados para receber as aes

    do Projeto foram: Novo Pingos e Professor Maurcio de Oliveira. J em Carnaubais foram

    benefi ciados os assentamentos de Canto Comprido, Canto das Pedras, Cavaco, Irm Do-

    rothy, Ligao, Margarida Alves, Morada do Sol, Planalto, Rosa Luxemburgo e Vassoura.

    O presente documento confi gura-se como um diagnstico ambiental, social e econ-

    mico dos doze assentamentos benefi ciados, expondo uma anlise sobre a situao so-

    cial e ambiental observada nos assentamentos, destacando dados e informaes sobre

    as condies naturais dos municpios benefi ciados, bem como as atividades produtivas,

    a infraestrutura comunitria, os impactos ambientais e as difi culdades enfrentadas pelos

    moradores dos assentamentos. Alm disso, so apresentadas aes que precisam ser

    direcionadas para esses locais com vistas a melhorar a qualidade de vida da populao.

    No tpico II, apresenta-se a dinmica ambiental dos municpios de Assu e Carnau-

    bais, com destaque para condies climticas, disponibilidade hdrica, composio ve-

    getal, unidades de relevo dominantes e tipos de solos que ocorrem em cada um dos

    assentamentos. Todas essas particularidades ambientais so tratadas de forma sistem-

    tica e buscam mostrar a situao ambiental dos assentamentos benefi ciados.

    O tpico III mostra os dados populacionais, a distribuio demogrfi ca nos as-

    sentamentos, a escolaridade dos moradores, alm de informaes sobre o abasteci-

    mento de gua, a disposio do lixo domstico e o saneamento bsico. Todas essas

    informaes so fundamentais para que futuramente sejam direcionadas aes para

    solucionar alguns dos problemas que foram identifi cados nesses locais, como a falta

    de saneamento bsico.

    Na seo IV, discorre-se acerca das atividades produtivas predominantes nos doze

    assentamentos rurais da reforma agrria, tendo destaque a agricultura familiar, a criao

    de animais para a venda de leite e para o abate, alm de outras atividades de menor

    importncia para a sobrevivncia da populao.

    O tpico V, por sua vez, expe as polticas pblicas, a infraestrutura existente nas

    comunidades, o nmero de benefi ciados pela contribuio do Bolsa Famlia e aes

    como a construo de cisternas, que tm procurado solucionar problemas referentes ao

    abastecimento humano primrio das famlias que residem no campo.

    Vale destacar que a seo VI evidencia problemas ambientais como eroso, desma-

    tamentos, queimadas, uso de agrotxicos nas lavouras, salinizao e compactao do

    solo, alm do assoreamento dos corpos de gua. Todas essas problemticas so apre-

  • 24Realizao: Patrocnio:

    sentadas de forma particular, destacando as consequncias de cada uma dessas aes

    para a populao e para o meio ambiente.

    As difi culdades enfrentadas pelos assentados so citadas no tpico VII, tendo des-

    taque nesse item as estiagens, a falta de capital para investimentos nas comunidades, a

    desorganizao dos agricultores familiares, as difi culdades para comercializao da pro-

    duo, a baixa remunerao com as atividades produtivas, a concorrncia, a inexistncia

    de um selo de qualidade que melhore o acesso dos produtos ao mercado consumidor e

    a falta de equipamentos para aperfeioar a produo.

    No tpico VIII, so apresentados dados referentes extenso da Reserva Legal e

    da rea de Preservao Permanente dos assentamentos, dando destaque s espcies

    nativas e ao estgio em que se encontram essas reas.

    Por fi m, a seo IX mostra as alternativas necessrias para que a sustentabilidade

    faa parte da rotina dos assentamentos rurais. Para tanto, so evidenciados projetos

    para que haja uma melhoria na qualidade de vida da populao, com os quais as insti-

    tuies devem colaborar.

    Nas consideraes fi nais, destaca-se a importncia desse diagnstico e das aes

    desenvolvidas pelo Projeto Vale Sustentvel para a formao ambiental dos moradores

    dos assentamentos, como tambm para a recuperao de reas degradadas, o que per-

    mite um aumento na biodiversidade local.

  • 25Realizao: Patrocnio:

  • 2.Dinmica ambiental

    dos municpios de Assue Carnaubais

  • 29Realizao: Patrocnio:

    2. DINMICA AMBIENTAL DOS MUNICPIOS DE ASSU E CARNAUBAIS

    O estado do Rio Grande apresenta uma diversidade ambiental semelhante s ca-

    ractersticas registradas no Nordeste brasileiro, com destaque para o domnio do clima

    semirido, que se estende por grande parte de seu territrio. Considerando a diviso po-

    ltica do estado do Rio Grande do Norte, este apresenta um total de 167 municpios, que

    esto aglomerados em quatro mesorregies, que recebem o nome de: Leste Potiguar,

    Agreste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar, conforme pode ser visualizado no

    mapa 01.

    Mapa 01: Mesorregies do estado do Rio Grande do Norte

    Fonte: RIO GRANDE DO NORTE, IDEMA, 2014.

    Vale destacar que o estado do Rio Grande do Norte encontra-se tambm dividido

    em dez territrios rurais, que recebem o nome de: Agreste e Litoral Sul, Alto Oeste, As-

    su-Mossor, Terra dos Potiguaras, Mato Grande, Potengi, Serid, Serto Central Cabugi

    e Litoral Norte, Serto do Apodi e Trairi (ver mapa 02).

    A rea de abrangncia do Projeto Vale Sustentvel, patrocinado pela Petrobras por

    meio do Programa Petrobras Socioambiental, contempla assentamentos rurais da refor-

    ma agrria situados nos municpios de Assu e Carnaubais, que, por sua vez, localizam-

  • 30Realizao: Patrocnio:

    -se na mesorregio do Oeste Potiguar (mapa 01) e no territrio Assu-Mossor, formado

    pelos municpios de Assu, Carnaubais, So Rafael, Itaj, Ipanguau, Alto dos Rodrigues,

    Pendncias, Porto do Mangue, Serra do Mel, Areia Branca, Grossos, Mossor, Tibau e

    Baranas (mapa 02).

    Mapa 02: Mapa dos territrios rurais do estado do Rio Grande do Norte

    Fonte: BRASIL; MDA, 2010.

    No municpio de Assu, foram contemplados os assentamentos de Novo Pingos e

    Professor Maurcio de Oliveira, enquanto em Carnaubais foram benefi ciados os assenta-

    mentos de Canto Comprido, Canto das Pedras, Cavaco, Irm Dorothy, Ligao, Margari-

    da Alves, Morada do Sol, Planalto, Rosa Luxemburgo e Vassouras.

    Todos esses assentamentos esto situados na delimitao geogrfi ca do serto,

    cujas caractersticas ambientais esto relacionadas aos domnios do clima semirido e

    suas particularidades. Considerando a necessidade de sntese, as condies ecolgicas

    presentes nos assentamentos sero tratadas com base nas caractersticas apresentadas

    pelos municpios de Assu e Carnaubais, tendo em vista as semelhanas entre eles.

  • 31Realizao: Patrocnio:

    2.1 CONDIES CLIMTICAS

    Os municpios de Assu e Carnaubais situam-se em plenos domnios do clima semi-

    rido, apresentando em anos regulares de chuvas apenas duas estaes: o inverno e o

    vero. A estao chuvosa ocorre geralmente entre os meses de janeiro a maio, perodo

    em que h precipitaes e os moradores do lugar chamam a estao de inverno. Em

    anos de invernos irregulares, as chuvas ocorrem de forma esparsa e mal distribuda tan-

    to no espao quanto no tempo. Isso signifi ca dizer que elas caem de forma muito irregu-

    lar apenas em alguns lugares, deixando outros sem ou com pouqussima precipitao.

    A ocorrncia de secas compromete diretamente a recarga dos reservatrios superfi ciais

    que abastecem os municpios, provocando em alguns casos o desabastecimento de po-

    pulaes inteiras, inclusive, de cidades.

    As chuvas no semirido potiguar dependem do sistema meteorolgico determi-

    nado pela Zona de Convergncia Intertropical (ZCIT), que responsvel pela precipi-

    tao que acontece em grande parte do estado do Rio Grande do Norte, o que inclui

    nesse rol os municpios de Assu e Carnaubais (BRITO, 2007). Esse sistema determina a

    regularidade ou escassez de chuvas que cair sobre a regio. Vale destacar ainda que

    outros fenmenos climticos infl uenciam a estao chuvosa no semirido brasileiro,

    como o caso do El Nin, cuja ocorrncia provoca seca em toda essa delimitao

    territorial (MEDEIROS, 2008).

    A seca um fenmeno natural recorrente no serto nordestino e sua ocorrncia de

    forma anual e plurianual afeta a populao residente nas reas rurais, que se dedica s

    atividades agropecurias. Em anos de inverno normal, as precipitaes chegam a atingir

    os 800 milmetros, garantindo uma recarga satisfatria do volume hdrico acumulado

    nos reservatrios. Na dcada atual, tem-se registrado uma sequncia de anos com in-

    vernos irregulares, de modo que os municpios de Assu e Carnaubais tambm foram

    afetados com baixas precipitaes, conforme pode ser visualizado na tabela 01.

    Tabela 01: Registro das precipitaes anuais 2013/2016

    MunicpiosPrecipitaes registradas por ano

    2012 2013 2014 2015 At maro de 2016

    Assu 280,7 440.2 524.7 415.8 235.1

    Carnaubais 196,1 166.7 493.5 282.9 143.2

    Fonte: EMPARN (2016).

    Observa-se com os dados apresentados anteriormente que as precipitaes desde

    o ano de 2012 esto muito abaixo do normal, o que vem comprometendo a recarga

    dos reservatrios superfi ciais e dos poos distribudos na regio. Em virtude da bai-

    xa precipitao, muitos audes do estado do Rio Grande do Norte secaram ou esto

  • 32Realizao: Patrocnio:

    num nvel muito crtico. A barragem Armando Ribeiro Gonalves, situada na regio do

    Vale do Au, que o maior reservatrio do estado, com capacidade acumulativa de

    2.400.000.000 m3, est com apenas 19,81% de seu volume de gua, o menor nvel re-

    gistrado desde sua inaugurao. preocupante a situao hdrica do estado, tendo em

    vista que uma grande quantidade de municpios e comunidades rurais depende desse

    reservatrio para garantir seu abastecimento.

    Nesse tipo climtico, registra-se elevada insolao durante o ano inteiro e tem-

    peraturas mximas acima dos 35C. Com isso, independentemente da ocorrncia de

    chuvas no perodo de estiagens, a evaporao considerada altssima, o que interfere

    na diminuio signifi cativa do volume de gua nos reservatrios como audes e bar-

    ragens. As comunidades rurais que possuem audes de pequeno porte so as mais

    afetadas com a evaporao, perdendo sua reserva de gua em pouco tempo, o que

    provoca um desabastecimento da populao, seja para o consumo humano, seja para

    a dessedentao animal.

    O descompasso entre oferta de gua no perodo chuvoso afeta diretamente a pro-

    duo agrcola dos municpios, cujos agricultores dependem das chuvas para garantir

    uma boa colheita. Diante desse contexto, as difi culdades para garantir a sobrevivncia

    do homem do campo se intensifi cam e muitos acabam migrando para as reas urbanas,

    com o intuito de obter uma vida com mais qualidade.

    2.2 RECURSOS HDRICOS

    Os municpios de Assu e Carnaubais encontram-se na delimitao da bacia hidrogr-

    fi ca do Piranhas-Au, que se estende por toda a mesorregio central do estado do Rio

    Grande do Norte. O rio principal recebe o mesmo nome dado bacia e em condies

    naturais intermitente, ou seja, durante a longa estao de seca mantm-se sem gua

    no seu leito. No entanto, sua perenizao foi possvel com a construo de dois reser-

    vatrios de gua pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), que

    funcionam como reguladores do curso do rio. O primeiro foi construdo no estado da

    Paraba (complexo Coremas-Me Dgua) e o segundo a barragem Armando Ribeiro

    Gonalves, no Rio Grande do Norte.

    Vale destacar, ainda, que com a construo desses grandes reservatrios de gua

    superfi cial muitas regies que esto fora da abrangncia da referida bacia hidrogrfi ca

    foram benefi ciadas com a construo de adutoras que levam suas guas para munic-

    pios distantes, que sofriam com a falta de gua. Alm disso, com a transposio do rio

    So Francisco, a bacia do Piranhas-Au vai funcionar como receptora dessas guas,

    garantindo o abastecimento hdrico da populao.

    Os municpios de Assu e Carnaubais fi cam a jusante da barragem Armando Ribeiro

    Gonalves e so benefi ciados diretamente com suas guas para o abastecimento da

  • 33Realizao: Patrocnio:

    populao, para o desenvolvimento de atividades produtivas, como a fruticultura, e para

    a dessedentao animal.

    No que tange infraestrutura hdrica disponvel nos assentamentos rurais, pode-se

    afi rmar que existe uma srie de reservatrios e poos tubulares ou Amazonas (ver tabe-

    la 02), os quais, na maioria das vezes, no garante o abastecimento hdrico da popula-

    o, sendo necessrio recorrer a adutoras vindas de locais mais distantes.

    Tabela 02: Distribuio de mananciais e reservatrios de gua nos assentamentos

    Assentamentos de Reforma

    Agrria

    Nmero de rios/riachos

    Nmerode audes

    e barragens

    Nmerode lagoas

    N de Poos Tubulares/Amazonas

    Canto Comprido 1 2 0 2

    Professor Maurcio

    de Oliveira3 1 1 3

    Vassouras 1 0 0 2

    Planalto 2 0 0 2

    Novo Pingos 2 2 1 3

    Ligao 0 0 0 2

    Cavaco 2 2 0 2

    Morada do Sol 1 0 0 3

    Rosa Luxemburgo 2 0 2 5

    Canto das Pedras 1 1 0 1

    Irm Dorothy 2 0 0 1

    Margarida Alves 1 0 2 0

    Total 18 8 6 26

    Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    O nmero de poos registrados nos assentamentos de 26, de modo que a qualida-

    de da gua muito abaixo do recomendado pelos rgos de proteo sade. Em 69%

    dos poos, a gua salobra e apenas 31% apresentam gua prpria para o consumo.

    Os assentamentos rurais de Margarida Alves e Irm Dorothy, ambos situados em

    Carnaubais, so benefi ciados pela perenizao do rio Piranhas-Au. Desse modo, a gua

    que chega s referidas comunidades garante o abastecimento humano, a dessedenta-

    o e o desenvolvimento de atividades agrcolas como plantio de hortas, rvores frutfe-

    ras como bananeiras (fi gura 01), mangueiras, mamoeiros, dentre outras.

  • 34Realizao: Patrocnio:

    A construo de grandes reservatrios e a perenizao do rio Piranhas-Au confi gu-

    raram-se como alternativas de convivncia com a semiaridez para o homem do campo

    residente s margens do rio, que mesmo durante a seca tem como desenvolver suas

    atividades agrcolas. A disponibilidade de gua nas comunidades permite o desenvolvi-

    mento da fruticultura, gerando renda e oportunidade de uma melhor qualidade de vida

    para a populao local.

    Nos assentamentos de Maurcio de Oliveira e Novo Pingos a oferta de gua chega

    com o sistema adutor Assu-Mossor, atravs de ramais que garantem gua tratada para

    o consumo da populao local. No assentamento de Rosa Luxemburgo, a gua vem de

    um ramal da Companhia de guas e Esgotos do estado do Rio Grande do Norte (CA-

    ERN), por estar prxima rea urbana de Carnaubais.

    Nos assentamentos de Canto Comprido, Cavaco, Canto das Pedras, Morada do Sol,

    Planalto, Ligao e Vassouras, o abastecimento garantido com a gua advinda do

    Poo Bandeirantes I (BAN I), que foi perfurado pela Petrobras e atualmente est sen-

    do administrado pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA).

    Vale destacar que os demais usos so garantidos atravs de cacimbes, cisternas e

    pequenos audes. Ressalta-se tambm que o abastecimento fi ca dependente do uso

    de carros-pipas, quando os sistemas de abastecimento de gua provenientes de poos

    apresentam defeito em seus equipamentos.

    No que tange ao cuidado com a preservao dos recursos hdricos e dos rios que

    cortam as reas dos assentamentos, 57% dos entrevistados revelaram que conservam

    as matas prximas s nascentes de riachos e rios. A continuao dessa preservao de-

    Figura 01: Plantao de bananeiras no assentamento Irm Dorothy, Carnaubais, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

  • 35Realizao: Patrocnio:

    pende, em boa medida, das aes de educao ambiental, que orientam os agricultores

    familiares sobre as necessidades de cuidar das matas e da gua. Cuidar dos recursos

    hdricos fundamental para que a populao tenha uma boa qualidade de vida. Evitar a

    poluio dos rios e dos audes um dever de todos os cidados.

    2.3 COMPOSIO VEGETAL

    A vegetao dominante nos municpios de Assu e Carnaubais a de Caatinga, que

    apresenta rvores de pequeno porte com galhos retorcidos. Durante o perodo chuvoso,

    destaca-se verdejante e na estiagem perde suas folhas para reduzir a evapotranspirao.

    H o domnio de plantas que apresentam folhas pequenas que reduzem a transpirao,

    caules suculentos para armazenar gua e razes espalhadas para capturar o mximo de

    gua durante as chuvas. Alm das cactceas (fi gura 02), destacam-se espcies arbre-

    as, herbceas e arbustivas (SILVA, 2006, p. 18).

    A vegetao de Caatinga desenvolveu uma srie de mecanismos para garantir a

    sobrevivncia das plantas durante os longos perodos de estiagem e de poucas chuvas,

    que acabam comprometendo a sobrevivncia da fl ora e, consequentemente, da fauna

    silvestre. Para garantir a sobrevivncia das espcies na Caatinga,

    a associao fl orstica com o solo e a atmosfera quase uma simbiose, tal o regime de economia rgida da gua para entreter as funes em equilbrio; a unio densa, fechada, de catingueiras, accias, umbuzeiros, maniobas, macam-biras, cactceas, pereiro, etc., protege o solo no inverno com a sua folhagem verde, e no vero cobre-o com uma camada de folhas fenadas que so parte

    Figura 02: Vegetao de Caatinga em Novo Pingos, Assu, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

  • 36Realizao: Patrocnio:

    comidas pelo gado e o restante aduba o cho; as espcies, para sobreviverem em relativa harmonia fi siolgica, absorvem umidade do ar, com o abaixamento da temperatura noite, quando a terra seca lhe nega e fora-as ao repouso. Este o clmax de estabilizao vegetativa (DUQUE, 1974, p. 26).

    Na formao vegetal dos municpios de Assu e Carnaubais, destaca-se tambm a

    presena da fl oresta ciliar de carnaba (fi gura 03), uma palmeira tpica de reas de cur-

    sos de gua, de ocorrncia nas vrzeas do rio Piranhas-Au. A carnaba recebe o nome

    cientfi co de copernicia prunfera, que signifi ca rvore que arranha, devido s particula-

    ridades de seu caule, podendo atingir cerca de 15 metros de altura, sendo muito bem

    aproveitada pelo homem (BARBOSA; COSTA; SILVA, 2009).

    Encontrada nas vrzeas dos rios e nas reas de aluvies, a carnaba auxilia no contro-

    le da salinidade do solo, protege os espelhos dgua dos reservatrios e ainda pode ser

    utilizada para uma diversidade de fi ns econmicos. Em virtude de sua elevada utilizao,

    a vegetao de carnaba est bastante antropizada, de modo que o desmatamento tem

    sido um dos fatores de maior alterao nos ltimos anos. Esse fato ocorre devido ao

    aproveitamento da cera, da madeira, das folhas e do p presentes na carnaba, alm de

    ainda ser usada como cobertura morta para o plantio de culturas como milho e feijo.

    A cera utilizada no ramo industrial para a produo de uma diversidade de produ-

    tos, como impermeabilizantes, frmacos, tintas, computadores, componentes automo-

    tivos, dentre outros. Ela encontrada no material que reveste as palhas, cuja obteno

    ocorre de forma artesanal com o corte de suas palhas e a consequente secagem no

    qual retirado o p cerfero das folhas onde o mesmo est presente em pelcula prote-

    tora existente em suas superfcies protegendo a planta da transpirao excessiva que

    Figura 03: Vegetao de carnaba no assentamento Margarida Alves, Carnaubais, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

  • 37Realizao: Patrocnio:

    ocorre em ambientes com longos perodos de estiagem e com baixa umidade relativa

    (JUNIOR; MARQUES, 2009, p. 36).

    A palha geralmente utilizada para a fabricao de chapus, esteiras, bolsas, vassou-

    ras, dentre outros produtos artesanais. Vale destacar que as esteiras so feitas por arte-

    sos da regio, atravs da organizao no governamental Carnaba Viva, que destina

    grande parte da produo Petrobras, que adquire o produto para o revestimento de du-

    tos de vapor. Desse modo, as esteiras obtidas pela empresa so impermeabilizadas, com

    o objetivo de manter a temperatura constante, bem como de diminuir os custos de manu-

    teno, uma vez que esses produtos substituem o alumnio como isolante trmico, alm

    de atenuar o processo de corroso decorrente do contato com a gua e com o solo salino.

    Certo que a vegetao de Carnaba vem sendo dizimada, nas ltimas dcadas,

    para dar lugar s reas de fruticultura irrigada, para servir de madeira para a queima de

    produtos nas indstrias de cermica vermelha e para dar lugar as reas de expanso

    imobiliria, principalmente, nos municpios de Assu e Itaj. Em Carnaubais, a vegetao

    de Carnaba encontra-se num estgio mais preservado em relao aos municpios vizi-

    nhos, muito embora seja necessria a criao de uma unidade de proteo dessa vege-

    tao, que uma caracterstica ambiental do lugar, presente na cultura do povo.

    2.4 UNIDADES DE RELEVO

    Tratando-se especifi camente das formas de relevo que ocorrem na regio, pode-

    mos elencar em primeiro lugar que todos os estudos sobre o espao geogrfi co devem

    considerar uma anlise sobre o relevo, tendo em vista que suas variaes favorecem

    ou difi cultam os usos que o ser humano faz delas. Ao se observar a ocupao humana

    sobre o relevo, percebe-se que este prefere terrenos planos para que possa desenvol-

    ver atividades econmicas e construir seus abrigos. Os municpios contemplados pelo

    projeto esto situados concomitantemente sobre os domnios das plancies fl uviais, da

    depresso sertaneja e da Chapada do Apodi.

    Em primeiro lugar, tratar-se- das plancies fl uviais que ocorrem em toda a extenso

    do rio Piranhas-Au, que corta os referidos municpios. Essa formao de relevo, geral-

    mente, apresenta baixa altitude, estando sujeita a inundaes nos perodos de grandes

    cheias do rio (FELIPE; CARVALHO, 2001). Verifi ca-se que essas reas so aproveitadas

    para o cultivo de inmeras culturas, graas presena de solos frteis e da disponibili-

    dade de recursos hdricos, permitindo a irrigao das lavouras.

    A depresso sertaneja caracteriza-se por apresentar terras aplainadas com ocor-

    rncia de morros isolados, associados s litologias do cristalino (ROSS, 2009). Ge-

    ralmente, os solos predominantes nesse tipo de formao so rasos e pedregosos,

    embora se registrem reas com uma profundidade maior. A chapada do Apodi ca-

    racteriza-se no municpio de Assu por apresentar terras planas e sedimentares, sendo

    cortada pelo rio Piranhas-Au.

  • 38Realizao: Patrocnio:

    2.5 RECURSOS EDFICOS

    Os solos predominantes nos assentamentos classifi cam-se nas categorias argilosos

    e arenosos. Essa exceo uma das poucas peculiaridades existentes no territrio po-

    tiguar, tendo em vista que na grande maioria das comunidades ocorre o predomnio de

    terrenos cristalinos. De acordo com Ross (2009, p. 121), nos domnios do clima semirido

    e de vegetao de Caatinga, os solos rasos ou pedregosos, embora sejam dominantes,

    no so exclusivos e existem extensas reas descontnuas com solos argilosos ou argi-

    loarenosos, naturalmente frteis, cujo aproveitamento na produo agropecuria no

    desprezvel.

    Tratando-se especifi camente dos assentamentos benefi ciados, pode-se afi rmar que

    os solos do tipo argilosos localizam-se nas vrzeas dos rios e so aproveitados no plan-

    tio de uma diversidade de culturas, por apresentarem elevada fertilidade. Por outro lado,

    os solos do tipo arenosos estendem-se na maior parte das propriedades, podendo ser

    utilizado no plantio de rvores frutferas como cajueiros e mangueiras. Assim, podemos

    afi rmar que nos assentamentos existe uma variedade de solos que est defi nida no

    Quadro 01.

    Quadro 01: Tipos de solos existentes nos assentamentos de reforma agrria atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel

    Assentamento Tipos de solo existente

    Canto Comprido Latossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico.

    Canto das PedrasLatossolo Vermelho Amarelo, Argissolo Neossolo

    Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico

    CavacoLatossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo

    Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico.

    Irm Dorothy Latossolo Vermelho Amarelo e Neossolo Flvicos

    LigaoLatossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo

    Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico.

    Morada do SolLatossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo

    Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico.

    Margarida Alves Neossolo Flvicos

    Novo Pingos Argissolo e Latossolo Vermelho Amarelo

    PlanaltoLatossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo

    Quartzarnicos com manchas de Neossolo Litlico.

    Professor Maurcio

    de Oliveira

    Latossolo Vermelho Amarelo, Argissolo, Neossolo

    Quartzarnicos e Neossolo Litlico.

  • 39Realizao: Patrocnio:

    Assentamento Tipos de solo existente

    Rosa Luxemburgo Neossolo Flvicos e Latossolo Vermelho Amarelo

    Vassouras Latossolo Vermelho Amarelo e Luvissolo.

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

    importante referendar que os solos existentes nos assentamentos de reforma agr-

    ria apresentam diversas potencialidades e fragilidades. Nesse contexto, o Latossolo, que

    encontrado na maior parte das comunidades, apresenta coloraes que variam do

    vermelho ao amarelo, sua profundidade supera os 2 metros e sua textura varia de mdia

    a muito argilosa (LEPSCH, 2010). Esse tipo de solo considerado poroso e bem drena-

    do. No entanto, apresenta restries para o plantio de lavouras temporrias, sendo apto

    para culturas de ciclo longo, como o caso do algodo arbreo, sisal, caju e coco, e

    adequado para o cultivo de pastagens e de refl orestamento (RIO GRANDE DO NORTE,

    2014).

    Os Latossolos Vermelho Amarelo esto situados em reas cujo relevo geralmente

    plano a suavemente ondulado, o que facilita a sua mecanizao. Entretanto, os latos-

    solos so muito susceptveis a eroso, como tambm apresentam baixa capacidade de

    armazenamento de gua, o que pode provocar em perodos de estiagens prejuzos aos

    rendimentos das culturas (SOUSA; LOBATO, 2010).

    Os Neossolos Quartzarnicos so considerados como solos originrios de depsi-

    tos arenosos, que chegam a alcanar at 2 metros de profundidade. So formados por

    gros de quartzo, sendo totalmente destitudos de minerais primrios. Por abranger as

    Areias Quartzosas, sua colorao varia entre o branco, o amarelo e vermelho. Seu teor

    de argila pode chegar a 15%, enquanto que o silte est totalmente ausente desse tipo de

    solo (SOUSA; LOBATO, 2010).

    Esse tipo de solo ideal para culturas de ciclo longo de algodo arbreo, sisal, caju

    e coco (RIO GRANDE DO NORTE, 2014). No entanto, apresenta algumas limitaes,

    como textura arenosa, baixa quantidade de argila e de matria orgnica, alm de uma

    reduzida capacidade de reteno de gua, o que o torna inapropriado para o plantio

    de culturas temporrias, pois a ausncia desses elementos citados anteriormente pode

    causar uma baixa produtividade da lavoura. Alm disso, quando desprovidos de vege-

    tao, so muito vulnerveis aos processos erosivos, sendo necessrio preservar a mata

    nativa, sobretudo em reas de declive e, principalmente, prximo aos corpos de gua

    (SOUSA; LOBATO, 2010).

    Os Neossolos Litlicos so considerados como solos rasos e pedregosos que no

    ultrapassam os 20 cm de espessura, geralmente esto situados sobre a rocha matriz e

    esto associados a reas de relevo acidentados (LEPSCH, 2010). Por apresentar uma

    baixa profundidade, esses solos no so aptos para o desenvolvimento de nenhum tipo

    de cultura, sejam elas temporrias, sejam permanentes, pois as razes das plantas no

  • 40Realizao: Patrocnio:

    conseguem se desenvolver. Alm disso, quando desprovidos de vegetao, so sus-

    ceptveis a eroso. Esse tipo de solo indicado para preservao da fl ora e fauna local

    (SANTOS; ZARONI; ALMEIDA, 2010).

    Neossolos Flvicos so solos que foram formados no perodo quaternrio e geral-

    mente so encontrados em ambientes de margens de rios, plancies fl uviais e terraos

    aluvionares. Alm disso, esto situados ao longo dos cursos de gua que formam as

    bacias hidrogrfi cas. Esses solos apresentam uma colorao que varia do vermelho ao

    amarelo e esto sujeitos a inundaes, devido a estarem situados em relevos aplainados

    (LEPSCH, 2010).

    Alm disso, por serem profundos, apresentam potencialidade para o plantio de di-

    versas culturas, como, por exemplo: cana-de-acar, frutas e algumas culturas de ciclo

    curto. Tambm podem ser utilizados para a retirada de areia e de argila, bastante utiliza-

    das nas indstrias da construo civil e de cermica vermelha. No entanto, esse tipo de

    solo apresenta algumas restries, como risco eminente de inundaes, baixa fertilidade

    em decorrncia do excesso de umidade e difi culdade na implantao do manejo meca-

    nizado (SILVA; OLIVEIRA NETO, 2011).

    No que se refere aos argissolos, esses so considerados como solos que apresentam

    uma variao em sua profundidade. Podendo ser considerados como rasos ou muito

    profundos, sua textura varia ao arenoso ao argiloso. So propcios ao cultivo de culturas

    temporrias e permanentes, desde que essas prticas no sejam realizadas em locais

    de declive acentuados. Alm disso, esse tipo de solo muito susceptvel aos proces-

    sos erosivos, principalmente se a vegetao nativa for retirada sem orientao tcnica

    (LEPSCH, 2010).

    Os luvissolos, por sua vez, anteriormente denominados Bruno No Clcicos, apre-

    sentam colorao avermelhada e so comumente encontrados no Semirido brasileiro,

    apresentando uma pequena espessura, que se torna endurecida na ausncia de gua,

    o que considerado desfavorvel ao desenvolvimento de culturas temporrias, como o

    milho e o feijo. Em reas com profundidade mediana, esses solos podem abrigar cultu-

    ras de ciclo longo, como algodo arbreo, sisal, caju e coco. Alm da baixa profundida-

    de e da ausncia de umidade, esse solo muito vulnervel eroso hdrica, que acaba

    levando suas camadas mais fi nas (LEPSCH, 2010).

  • 41Realizao: Patrocnio:

  • 3.Caractersticas populacionais e sociais dos assentamentos

    benefi ciados pelo Projeto Vale Sustentvel

  • 45Realizao: Patrocnio:

    3. CARACTERSTICAS POPULACIONAIS E SOCIAIS DOS ASSENTAMENTOS BENEFICIADOS PELO PROJETO VALE SUSTENTVEL

    Os Assentamentos de Reforma Agrria benefi ciados pelas aes do Projeto Vale

    Sustentvel, que patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socio-

    ambiental, esto situados nos municpios de Assu e Carnaubais. No municpio de Assu,

    os assentamentos selecionados para receber as aes do Projeto foram: Novo Pingos

    e Professor Maurcio de Oliveira. Os assentamentos de Canto Comprido, Canto das Pe-

    dras, Cavaco, Irm Dorothy, Ligao, Margarida Alves, Morada do Sol, Planalto, Rosa

    Luxemburgo e Vassoura foram os benefi ciados no municpio de Carnaubais.

    A rea territorial ocupada pelos 12 assentamentos de reforma agrria atendidos pelo

    Projeto Vale Sustentvel abrange um total de 17.821 ha (dezessete mil, oitocentos e vin-

    te e um hectares). Desse total, 20,73%, ou seja, 3.694 (trs mil, seiscentos se noventa e

    quatro) hectares pertencem ao assentamento de reforma agrria de Canto Comprido.

    Enquanto que 18,58%, o que equivale a 3.312 (trs mil, trezentos e doze) hectares, per-

    tence ao assentamento Professor Maurcio de Oliveira. No que se refere ao assentamen-

    to Vassouras, sua rea territorial abrange um total de 2.312 (dois mil, trezentos e doze)

    hectares, o que corresponde a 12,97% do total analisado.

    Os trs assentamentos analisados anteriormente concentram um total de 9.318 (nove

    mil, trezentos e dezoito) hectares, o que corresponde a um percentual de 52,28%. Os

    outros nove assentamentos descritos anteriormente englobam uma rea territorial de

    8.503 (oito mil, quinhentos e trs) hectares, o que representa um percentual de 47,72%

    em relao rea total dos 12 assentamentos atendidos, como pode ser constatado na

    Tabela 03.

    Tabela 03: rea total dos assentamentos atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel

    Assentamentosde Reforma Agrria

    rea Hectares do assentamento

    Percentual de reasem relao a rea total

    dos assentamentos

    Canto Comprido 3.694 20,73%

    Professor Maurcio de Oliveira 3.312 18,58%

    Vassouras 2.312 12,97%

    Planalto 1.529 8,58%

    Novo Pingos 1.480 8,30%

    Ligao 1.072 6,02%

  • 46Realizao: Patrocnio:

    Cavaco 1.000 5,61%

    Morada do Sol 987 5,54%

    Rosa Luxemburgo 942 5,29%

    Canto das Pedras 643 3,61%

    Irm Dorothy 475 2,67%

    Margarida Alves 375 2,10%

    Total 17.821 100,00%

    Fonte: INCRA (2011).

    Conforme visto anteriormente, a rea total atendida pelo Projeto Vale Sustentvel

    corresponde a 17.821 hectares, o que representa uma ao de grande relevncia para a

    melhoria da qualidade de vida do homem do campo, que sofre com o avano da degra-

    dao ambiental na regio do Vale do Au, no estado do Rio Grande do Norte.

    No que se refere ao nmero de famlias assentadas, os dados disponibilizados pelo

    Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria do Rio Grande do Norte (INCRA/

    RN, 2011) apontam que os assentamentos de Canto Comprido, Canto das Pedras, Ca-

    vaco, Irm Dorothy, Ligao, Margarida Alves, Morada do Sol, Novo Pingos, Planalto,

    Professor Maurcio de Oliveira, Rosa Luxemburgo e Vassouras possuem um total de 586

    famlias, distribudas conforme apresentado no grfi co 01.

    Grfi co 01: Nmero de famlias distribudas por assentamentosFonte: INCRA/RN, 2011.

  • 47Realizao: Patrocnio:

    De acordo com o grfi co 01, os assentamentos localizados no municpio de Assu,

    aqui compreendidos por Novo Pingos e Professor Maurcio de Oliveira, concentram um

    total de 126 (cento e vinte e seis) famlias.

    No municpio de Carnaubais, onde est concentrado um total de nove assentamen-

    tos, dos quais fazem parte Canto Comprido, Canto das Pedras, Cavaco, Irm Dorothy,

    Ligao, Margarida Alves, Morada do Sol, Planalto, Rosa Luxemburgo e Vassoura, o n-

    mero de famlias benefi ciadas pelo Projeto Vale Sustentvel de 461 (quatrocentos e

    sessenta e uma).

    Quando analisados os dados referentes ao nmero de famlias assentadas, percebe-

    -se que os 6 (seis) primeiros assentamentos, aqui representados por Canto Comprido,

    Professor Maurcio de Oliveira, Rosa Luxemburgo, Novo Pingo, Planalto e Ligao, con-

    centram um percentual de 72,19% da populao residente nos 12 (doze) assentamen-

    tos, enquanto que os outros seis, compostos por Morada do Sol, Cavaco, Irm Dorothy,

    Vassouras, Margarida Alves e Canto das Pedras, so responsveis por abrigar 27,81% das

    famlias assentadas pela reforma agrria.

    De modo geral, as aes direcionadas pelo Projeto Vale Sustentvel atendem prio-

    ritariamente famlias que foram benefi ciadas pela Reforma Agrria, confi gurando-se

    como uma ao de recuperao de reas degradadas e de educao ambiental para

    permitir ao homem que habita esse local uma oportunidade de desfrutar de um ambien-

    te equilibrado que atenda s necessidades das presentes e futuras geraes.

    3.1 UMA ANLISE DAS CARACTERSTICAS SOCIAIS DOS ASSENTAMENTOS

    A histria do Brasil marcada pela concentrao fundiria e pelas desigualdades so-

    ciais, deixando margem muitos brasileiros. A luta pela terra surgiu com o descontenta-

    mento de muitos trabalhadores rurais, que vendiam sua fora de trabalho aos latifundi-

    rios. Nesse contexto, a concesso de terras dada pela reforma agrria foi uma conquista

    para brasileiros que tiveram a oportunidade de ter um local para produzir e viver.

    Os assentamentos rurais de Assu e Carnaubais foram criados para atender a ne-

    cessidade de muitos trabalhadores rurais que no tinham posse de terra, de modo que

    toda a extenso territorial est subdividida em lotes familiares e coletivos e em rea de

    Reserva Legal. No lote familiar, o proprietrio tem sua residncia e pode desenvolver

    culturas temporrias ou permanentes e at mesmo criar animais, cuja produo de sua

    famlia. Nos lotes coletivos, a produo e colheita ocorre de forma compartilhada entre

    todos os assentados, enquanto a rea de Reserva Legal destinada proteo da fauna

    e da fl ora silvestre, no podendo ser aproveitada para o extrativismo vegetal e animal.

    importante salientar que a espacializao dos lotes esta organizada no formato de

    agrovilas (fi gura 04).

  • 48Realizao: Patrocnio:

    Os moradores dos assentamentos apresentam faixas etrias variadas, embora haja

    um maior nmero de adultos, o que equivale a 46,69% dos moradores, conforme pode

    ser visualizado no Grfi co 2. As crianas correspondem a 26,73% do total de moradores,

    os adolescentes, a 17,82%, enquanto os idosos atingem apenas um percentual de 6,75%

    da composio familiar. A representao mostra que grande parcela da populao est

    na faixa etria economicamente ativa, trabalhando, predominantemente, em atividades

    no campo, seja na agricultura, seja na pecuria.

    Grfi co 02: Faixa etria dos residentes nos assentamentos Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Figura 04: Agrovila de Novo Pingos, Assu, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

  • 49Realizao: Patrocnio:

    No aspecto da escolaridade, os jovens e adultos em idade escolar tm acesso a

    escola pblica e o Governo do Estado, juntamente com as prefeituras municipais, dis-

    ponibilizam transporte para lev-los das comunidades at a sede do municpio para

    estudar. Apenas nos assentamentos de Novo Pingos e Canto Comprido existem escolas

    de ensino fundamental I para as crianas estudarem. Aps a concluso desse nvel de

    ensino, todas precisam se deslocar cidade, em transporte escolar, para continuarem

    seus estudos.

    Tratando-se da escolaridade dos entrevistados, geralmente, os chefes de famlia per-

    cebe-se que a maioria apresenta o Ensino Fundamental Incompleto (ver Grfi co 3), que

    corresponde ao nvel I da Educao Bsica. Apenas 16,40% da populao apresenta o

    Ensino Mdio Completo, o que garante uma formao mais qualifi cada das pessoas. O

    acesso ao Ensino Superior ainda muito pequeno entre os entrevistados (cerca de 2%),

    o que mostra claramente que necessrio avanar nesse aspecto para que a populao

    do campo e da cidade tenha uma formao universitria independentemente de sua

    classe social e lugar de moradia.

    Grfi co 03: Percentual de entrevistados conforme o nvel de escolaridadeFonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Essa realidade da escolaridade em que o percentual de pessoas no alfabetizadas

    chega a 16,40% mostra que a educao no tem sido uma prioridade no pas, sendo

    necessria a continuidade nos investimentos, principalmente, para a populao campo-

    nesa, que, muitas vezes, fi ca s margens do acesso escola, devido s distncias e s

    difi culdades em frequentar regularmente as aulas. Alm disso, muitos moradores confi r-

    mam que no estudaram porque precisavam ajudar a famlia nas atividades agrcolas e

    isso acabou inviabilizando a frequncia na escola.

    Tratando-se especifi camente da situao de moradia, todos os assentados possuem

    lotes e casas para morar. Em todos os assentamentos existe energia eltrica, que per-

    mite o desenvolvimento das atividades produtivas e garante a qualidade de vida da

    populao do campo.

  • 50Realizao: Patrocnio:

    A gua, recurso fundamental para garantir a sobrevivncia da populao em qual-

    quer ambiente, obtida de vrias fontes, conforme observado in loco. Na maior parte

    das comunidades, a gua vem do rio Piranhas-Au, da adutora Ass-Mossor, de cacim-

    bes, poos, cacimbas e pequenos audes.

    Vale destacar que nas comunidades prevalece o abastecimento via tubulao, en-

    quanto que em algumas tem a presena de cisternas que garantem o abastecimento hu-

    mano primrio, como beber e cozinhar. Os animais tambm ainda so usados para levar

    gua para as residncias, enquanto que carros pipas abastecem algumas reas afetadas

    pela falta de gua no perodo mais seco do ano. Em relao qualidade da gua, a maior

    parte dos entrevistados revelou que a gua consumida nas residncias no tratada, um

    refl exo do sistema de distribuio, que no gerenciado pela CAERN.

    Tratando-se especifi camente do saneamento bsico, as guas servidas so deposi-

    tadas no solo ou em fossas spticas. Isso acontece porque os assentamentos no tm

    um sistema de tratamento de esgoto, o que compromete a qualidade ambiental do

    solo. Muitas famlias aproveitam a gua servida, principalmente da lavagem da loua,

    para irrigar rvores frutferas que so resistentes presena de sabo na gua, nos seus

    quintais.

    Em relao ao lixo domstico, 51% dos entrevistados afi rmaram que destinam o lixo

    para a coleta, que passa regularmente nas residncias, 34%, que enterram ou queimam,

    10%, que jogam ao ar livre e 5%, que descartam o lixo de outra forma, no especifi cada.

    Vimos que grande parcela dos resduos so recolhidos pela coleta realizada pela equipe

    das prefeituras, embora esse material tenha como destino fi nal os lixes municipais, ten-

    do em vista que a regio do Vale do Assu no apresenta um aterro sanitrio que receba

    os resduos slidos produzidos nos municpios.

    A formao de consrcio uma estratgia discutida nos ltimos anos, principalmen-

    te, com a instituio da Poltica Nacional de Resduos Slidos, que estabelece prazos

    para a organizao dos aterros sanitrios nas microrregies brasileiras. Com a constru-

    o dos aterros, a problemtica gerada com a deposio de lixo estar minimizada pelo

    territrio, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da populao.

    O acesso aos assentamentos realizado por estradas vicinais (fi gura 05) que se

    caracterizam por no apresentar pavimentao. Essas estradas de terra resultam de

    caminhos precrios muito antigos, visto que alguns datam do perodo da colonizao,

    quando no havia nenhum tipo de planejamento para a abertura desses trajetos. Mesmo

    com os avanos tecnolgicos, identifi camos ainda hoje estradas em pssimo estado de

    conservao, sobretudo aquelas vias que do acesso s comunidades rurais.

  • 51Realizao: Patrocnio:

    Anualmente, as prefeituras municipais realizam um trabalho com maquinrios que

    removem e raspam as camadas mais superfi ciais das estradas para nivelar os caminhos.

    No entanto, a passagem cada vez maior de carros particulares e de veculos pesados

    acaba danifi cando com mais rapidez o estado das estradas, o que refl ete nos dados

    apresentados nos assentamentos atendidos pelo Projeto Vale Sustentvel.

    Vale destacar que os municpios foram benefi ciados com mquinas e equipamentos

    como retroescavadeira, caminho caamba, motoniveladora, caminho pipa e p carre-

    gadeira para a recuperao de estradas, para o desenvolvimento de atividades agrcolas

    e para a minimizao dos efeitos da seca, porm muitos desses equipamentos no es-

    to sendo utilizados para apoiar as obras de infraestrutura rural e de apoio agricultura

    familiar.

    De acordo com 53% dos assentados, as estradas vicinais que do acesso s suas

    comunidades so pssimas, j 28% as consideram razoveis. Apenas 12% afi rmam que

    os acessos so bons, enquanto o restante no opinou sobre esse aspecto. Ressalta-se

    que o bom estado de conservao das estradas garante aos moradores o acesso a uma

    srie de benefcios, pois as atividades produtivas tambm dependem desse fator para

    o escoamento da produo. preciso direcionar maiores investimentos para a conser-

    vao das estradas vicinais, de modo que a populao tenha a oportunidade de ampliar

    sua produo, sem que essas vias sejam um fator limitante.

    Figura 05: Estrada vicinal de acesso ao assentamento de Ligao, Carnaubais, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2014.

  • 4.As atividades produtivas

    predominantes nos assentamentos e sua

    repercusso para o desenvolvimento

  • 55Realizao: Patrocnio:

    4. AS ATIVIDADES PRODUTIVAS PREDOMINANTES NOS ASSENTAMENTOS E SUA REPERCUSSO PARA O DESENVOLVIMENTO

    Os assentamentos de reforma agrria representam uma vitria na luta pela distribui-

    o de terras no Brasil, que historicamente teve na sua confi gurao espacial o domnio

    de latifndios, muitas vezes, improdutivos. O acesso a terra e o apoio inicial para sua ex-

    plorao permitiram aos assentados a oportunidade de produzir e assegurar o sustento

    de sua famlia. Alm disso, a organizao das agrovilas confi gura-se como um instru-

    mento de promoo da agricultura familiar e da organizao associativa, tendo em vista

    que muitos apresentam associaes para garantir a articulao da comunidade com as

    polticas pblicas e sociais.

    A pesquisa mostra que 84% dos entrevistados participam de algum tipo de entidade

    coletiva como associaes, cooperativas ou sindicatos. Em funo dos benefcios alcan-

    ados com a participao nessas organizaes, alguns assentados so scios de asso-

    ciaes e sindicatos concomitantemente. importante destacar que, de acordo com os

    dados pesquisados, grande parte dos assentados faz parte de associaes, conforme

    pode ser visualizado no grfi co 04.

    Grfi co 04: Tipo de entidade de que os assentados participamFonte: Pesquisa de campo, 2015.

    As associaes so entidades sem fi ns lucrativos que apresentam o objetivo de mo-

    bilizar recursos tcnicos, materiais e fi nanceiros para promover benefcios nas comuni-

    dades, sem a inteno de fi ns lucrativos. A rigor, a atuao dessas entidades tem funcio-

    nado de maneira positiva no desenvolvimento local, com a execuo de uma diversidade

    de projetos comunitrios. Para Cardoso, Carneiro e Rodrigues (2014, p. 7), a associao

  • 56Realizao: Patrocnio:

    uma forma jurdica de legalizar a unio de pessoas em torno de necessidades e ob-

    jetivos comuns. Sua constituio permite a construo de melhores condies do que

    aquelas que os indivduos teriam isoladamente para a realizao dos seus objetivos.

    No entanto, um dos entraves na execuo dos projetos destinados aos assentamentos

    a ausncia de assistncia tcnica, o que acaba interferindo na perpetuidade dos be-

    nefcios implantados. Isso ocorre porque em muitas das instituies envolvidas no h

    recursos humanos sufi cientes para atender toda a demanda de assistncia tcnica no

    municpio.

    As cooperativas, por sua vez, so entendidas como uma associao autnoma de

    pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspiraes e necessidades eco-

    nmicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva

    e democraticamente gerida (MENEZES, 2005, p. 94). Algumas delas so criadas por

    um conjunto de pessoas que desempenham atividades produtivas com caractersticas

    semelhantes e que desejam ofertar produtos no mercado e angariar um maior nmero

    de clientes. No assentamento de Novo Pingos, existe a Cooperativa dos Produtores de

    Castanha (fi gura 06).

    No assentamento de Novo Pingos, existem pessoas vinculadas cooperativa dos

    produtores de castanhas com o intuito de melhorar sua atividade produtiva. A pro-

    psito, essa cooperativa de comercializao de castanha de caju foi criada com o

    objetivo de vender a produo, devido s difi culdades em comercializar os produtos

    diretamente com o mercado consumidor. Com a formao de cooperativas, ocorre

    Figura 06: Sede da Cooperativa dos Produtores de Novo Pingos, Assu, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

  • 57Realizao: Patrocnio:

    uma diminuio na comercializao com atravessadores e os agricultores familiares

    acabam angariando melhores rendimentos com a venda dos produtos, tendo em vista

    que podem atender diretamente as demandas das redes de supermercados ou at

    mesmo do consumidor fi nal.

    A participao dos assentados em sindicatos dos trabalhadores rurais ainda muito

    pequena, se considerarmos a importncia da sua vinculao a essas entidades. Os sindi-

    catos caracterizam-se por concentrar um conjunto de pessoas de uma mesma categoria

    que lutam por direitos trabalhistas e pela legitimao de suas aes. Alm disso, com a

    vinculao ao sindicato, o trabalhador rural tem acesso aposentadoria rural, um direito

    garantido a todos os moradores do campo que durante sua vida economicamente pro-

    dutiva dedicaram-se s atividades agrcolas e pecurias.

    De maneira geral, a maior parte dos assentados que esto sendo benefi ciados pelo

    Projeto Vale Sustentvel atua em atividades produtivas no campo, ou seja, na agricul-

    tura ou na pecuria. No entanto, alguns dos entrevistados afi rmaram que trabalham em

    atividades de pesca, no extrativismo da carnaba, no artesanato e ainda em indstrias

    de cermica vermelha. importante ressaltar o papel desempenhado tambm pelas

    aposentadorias, pois h um grande nmero de pessoas com esse tipo de benefcio.

    A renda auferida com essas atividades permite a sobrevivncia dessa populao

    no campo, de modo que os rendimentos familiares mensais variam de menos de um

    salrio-mnimo at no mximo 3 salrios, sendo esse ltimo valor registrado em apenas

    duas famlias (ver grfi co 05).

    Grfi co 05: Renda familiar dos assentados Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Analisando o grfi co acima, percebe-se que a maior parte dos benefi ciados tem a

    renda de um salrio-mnimo para alimentar e garantir a qualidade de vida de toda sua

    famlia. Sabemos que esse valor no sufi ciente para que a famlia possa usufruir de um

    nvel de vida satisfatrio, tendo em vista que os gastos familiares que envolvem custos

  • 58Realizao: Patrocnio:

    com alimentao, sade, vestimentas, lazer e educao so altos e, muitas vezes, as fa-

    mlias precisam priorizar algumas dessas necessidades mais bsicas e deixar outras de

    lado. Convm observar que a maior parte dos assentados trabalha em tempo integral

    em atividades no campo que sero detalhadas minuciosamente a posteriori.

    A agricultura lidera a dedicao por parte dos assentados, sendo a responsvel pelo

    sustento de 65,59% das famlias. Essa atividade histrica na regio e desde a coloniza-

    o foi implantada e consorciada com a pecuria. As aposentadorias tambm tm seu

    papel de destaque na renda das comunidades, ganhando, inclusive, da pecuria, que

    vem perdendo espao devido s constantes estiagens, as quais reduzem os rebanhos de

    maneira signifi cativa. A pesca, o extrativismo da carnaba, o artesanato e as cermicas

    so atividades que ocupam poucas pessoas nos assentamentos. signifi cativa a por-

    centagem de pessoas que se dedicam a mais de uma atividade econmica, como, por

    exemplo, agricultura e pecuria de forma consorciada (grfi co 06).

    Grfi co 06: Principal atividade econmica dos assentados Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Vale destacar que a agricultura de sequeiro realizada, principalmente, no perodo

    chuvoso, que compreende os meses de janeiro a maio, quando as chuvas caem no ser-

    to e a oferta de gua maior. Convm lembrar que a disponibilidade hdrica para as

    lavouras um fator de estrangulamento ao desenvolvimento das culturas, tanto perma-

    nentes quanto temporrias, sobretudo, naqueles assentamentos que no dispem de

    gua sufi ciente para irrigao.

    Geralmente, os agricultores dedicam-se na estao chuvosa produo de culturas

    temporrias para abastecimento domstico e, caso a produo seja excedente ao con-

    sumo, ocorre a comercializao em feiras locais ou at mesmo para pequenos comer-

    ciantes dos municpios onde residem. As culturas dominantes so as de milho, feijo,

    melancia, jerimum, macaxeira, melo e sorgo.

  • 59Realizao: Patrocnio:

    Para garantir a continuidade do plantio de culturas temporrias nos anos seguintes,

    muitos agricultores recorrem prtica do armazenamento de sementes logo aps a

    colheita. So guardadas as melhores sementes colhidas para que haja uma boa rebrota

    no ano posterior. Essa prtica adotada por muitos agricultores familiares, evitando que

    fi quem dependendo da oferta do Governo Estadual no fornecimento de sementes com

    a chegada das chuvas. Os dados da pesquisa in loco mostram que 79% dos produtores

    guardam as sementes, enquanto 21% no tm essa preocupao (tabela 04).

    Tabela 04: Quantitativo de agricultores familiares que armazenam sementespor assentamentos

    Assentamentos Nmero de agricultores que armazenam sementes

    Canto Comprido 60

    Professor Maurcio de Oliveira 24

    Vassouras 17

    Planalto 24

    Novo Pingos 35

    Ligao 24

    Cavaco 9

    Morada do Sol 9

    Rosa Luxemburgo 43

    Canto das Pedras 2

    Irm Dorothy 23

    Margarida Alves 10

    Total 280

    Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Conforme apresentado na tabela, os assentamentos que apresentam o maior n-

    mero de agricultores armazenando sementes so Canto Comprido, Rosa Luxemburgo

    e Novo Pingos. Essa estratgia precisa ser bem orientada porque em boas condies

    de armazenamento as sementes tendem a fi car com nveis elevados de germinao,

    podendo ser utilizadas no ano seguinte sem nenhum problema.

    Com o objetivo de garantir um bom desenvolvimento de suas culturas, os agricul-

    tores recorrem a algumas prticas comuns ao preparo e ao cultivo da terra, como, por

    exemplo, capina de forma manual, arao profunda, queimadas, uso de herbicidas e uso

    reduzido de mecanizao, conforme apresentado no grfi co 07.

  • 60Realizao: Patrocnio:

    Grfi co 07: Prticas utilizadas no preparo da terra pelos assentadosFonte: Projeto Vale Sustentvel, pesquisa de campo, 2015.

    Com base no grfi co acima, a capina a prtica mais usada pelos agricultores fa-

    miliares e consiste na limpeza do terreno com capinadeira de trao animal ou mesmo

    manual, com o uso de enxadas.

    A arao mais profunda com uso de tratores foi citada por 36% dos entrevistados, de

    modo que alguns agricultores familiares comentaram que esse tipo de prtica utilizado

    antes do plantio das culturas, uma vez que, com o crescimento das plantas, a limpeza

    das ervas daninhas somente pode ser realizada com arao de trao animal ou mesmo

    com o uso de enxadas. As queimadas foram citadas por 5% dos entrevistados e o uso

    de herbicida por 3%, sendo necessria orientao tcnica para evitar que esses solos

    submetidos a essas prticas fi quem degradados. O uso reduzido de mecanizao foi

    citado por 2% dos agricultores que fazem uso de prticas menos agressivas ao solo no

    tocante arao.

    Vale ressaltar que em muitas comunidades ocorre o plantio de hortas nos lotes fa-

    miliares, que so extenses de terras destinadas ao cultivo. Os assentamentos de Novo

    Pingos, Irm Dorothy, Rosa Luxemburgo e Margarida Alves destacam-se na produo

    de alface, cebolinha, coentro, pimento, conforme demonstrado na fi gura 07.

  • 61Realizao: Patrocnio:

    importante salientar que o cultivo de plantas no semirido possvel com tcnicas

    apropriadas s caractersticas naturais do local. Nesse sentido, necessrio que sejam

    adotadas aes que viabilizem o plantio, aproveitando a gua disponvel. O plantio de

    rvores frutferas permite que as comunidades tenham uma variedade alimentar com a

    introduo de frutas no seu cardpio dirio.

    No tipo de produo de culturas permanentes, as comunidades desenvolvem, princi-

    palmente, cajueiros, planta frutfera que apresenta resistncia aos perodos de estiagens.

    Alm disso, os assentamentos esto em reas de antigas fazendas que se dedicavam

    produo de frutas tropicais, sendo comum a presena de cajueiros e mangueiras. Do

    cajueiro se extrai o fruto, a castanha do caju (fi gura 08), que contm no seu interior uma

    amndoa, a qual, aps torrada, comercializada para vrios lugares do mundo, sendo

    bastante apreciada por muitos consumidores. O pseudofruto, que maduro apresenta as

    cores amarelo ou alaranjado, pode ser aproveitado para a produo de sucos e polpas

    ou at mesmo para o consumo in natura.

    Figura 07: Plantio de hortas em Novo Pingos, Assu, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

  • 62Realizao: Patrocnio:

    A pecuria considerada uma das mais importantes atividades econmicas desen-

    volvidas nos assentamentos rurais, com o predomnio de animais do tipo ovino e bovino

    (grfi co 08). Os animais sunos e caprinos tambm so criados em menor nmero. O

    intuito dessa criao garantir uma renda extra ao agricultor familiar, principalmente, no

    perodo mais seco do ano.

    Grfi co 08: Principais tipos de rebanhos criados pelos assentadosFonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Os rebanhos de ovinos e bovinos so os que apresentam o maior nmero de animais

    (tabela 05), sendo usados como renda complementar para as famlias. Os equinos, por

    exemplo, so utilizados nos trabalhos dirios da comunidade para levar cargas e condu-

    zir os demais animais.

    Figura 08: Agricultora limpando de forma artesanal as castanhas no assentamentode Vassouras, Carnaubais, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

  • 63Realizao: Patrocnio:

    Tabela 05: Quantitativo de rebanhos distribudos pelos assentamentos

    Assentamentos Ovinos Bovinos Sunos Caprinos Equinos

    Novo Pingos 338 301 65 16 20

    Prof. Maurcio

    de Oliveira292 254 74 76 20

    Vassouras 38 26 6 1 9

    Planalto 82 80 7 8 9

    Canto Comprido 259 170 24 48 37

    Ligao 27 74 7 0 23

    Cavaco 55 41 3 17 9

    Morada do Sol 222 74 47 100 7

    Rosa Luxemburgo 330 210 70 6 52

    Canto das Pedras 8 42 6 5 5

    Irm Dorothy 1501 861 254 339 209

    Margarida Alves 127 111 3 1 37

    Total 3279 2244 566 617 437

    Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    A ovinocaprinocultura explorada no sistema de manejo extensivo, ou seja, os ani-

    mais fi cam soltos nos cercados, por demonstrarem uma adaptabilidade muito grande s

    condies do semirido, permitindo seu crescimento na regio. O assentamento de Irm

    Dorothy tem um rebanho de ovinos e caprinos de 1840 cabeas, o que provoca, con-

    sequentemente, uma presso muito grande sobre os recursos naturais existentes. Vale

    destacar que esses animais, pastejando acima da capacidade de suporte da rea, tm

    papel decisivo na degradao ambiental de uma rea, tendo em vista que consomem

    as folhas mais altas das plantas e ainda comem sementes presentes no solo, inibindo a

    rebrota das plantas nativas. Para Sampaio et al. (2002, p. 71), esses animais desenvolve-

    ram uma impressionante mobilidade labial que lhes permite colher os frutos pendentes

    das rvores e apanhar no solo as sementes cadas em uma verdadeira operao de ras-

    pagem, qual no escapam nem sequer as pequenas sementes das gramneas.

  • 64Realizao: Patrocnio:

    A criao de bovinos (fi gura 10) tambm se confi gura como uma importante ativi-

    dade para os assentamentos, uma vez que, para terem uma renda extra, muitos agricul-

    tores familiares dependem da renda auferida com a venda do leite e dos animais para

    abate. Os rendimentos advindos da comercializao do leite so uma fonte de renda

    constante para os pequenos agricultores familiares. Muitas vezes, o excedente utiliza-

    do para a fabricao de queijos e doces, destinados para o consumo domstico ou para

    a comercializao em feiras ou em pequenas unidades de comercializao.

    Figura 09: Assentado levando rebanho de ovinos para pastagens,Prof. Maurcio de Oliveira, Assu, RN

    Figura 10: Criao de gado em Rosa Luxemburgo, Carnaubais, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

  • 65Realizao: Patrocnio:

    Com o intuito de garantir a criao dos rebanhos bovinos, os agricultores familiares

    plantam capim para servir de alimento no perodo em que as pastagens naturais for-

    madas com as chuvas secam, embora 16,83% dos agricultores utilizem xiquexique para

    complementar a alimentao dos animais. A silagem e a fenao so prticas realiza-

    das por poucos agricultores familiares, o que evidencia a necessidade de orientao

    tcnica para que essas tcnicas sejam implantadas nos assentamentos com vistas

    melhoria no alimento dos rebanhos, bem como reduo nos gastos com alimentao

    comprada na poca.

    Grfi co 09: Principais tipos de rebanhos criados pelos assentadosFonte: Pesquisa de campo, 2015.

    importante destacar que os agricultores familiares tambm realizam prticas de

    proteo sanitria dos animais, como a vacinao dos rebanhos, e garantem um suple-

    mento alimentar quando as forragens naturais diminuem

    A apicultura tambm realizada em consrcio com outras atividades, como a pe-

    curia e a agricultura, embora ocorra em apenas cinco assentamentos, a saber: Canto

    Comprido, Ligao, Planalto e Rosa Luxemburgo, em Carnaubais, e Novo Pingos em

    Assu, conforme visto na tabela 06. Nos assentamentos, diagnosticou-se um total de

    150 colmeias com abelhas do tipo italiana, produzindo uma mdia de 2.500 kg de mel,

    comercializados no mercado local, regional e estadual.

  • 66Realizao: Patrocnio:

    Tabela 06: Quantidade de colmeias de abelhas distribudas por assentamentos produtores

    AssentamentosQuantidade de colmeias por tipo de abelha

    Italiana Jandara

    Canto Comprido 90 6

    Novo Pingos 27 0

    Ligao 25 0

    Planalto 8 0

    Rosa Luxemburgo 0 9

    Total 150 15

    Fonte: Pesquisa de campo 2015.

    Conforme dados da tabela acima, o assentamento de Canto Comprido o que regis-

    tra o maior nmero de colmeias de abelhas do tipo italiana, enquanto Rosa Luxemburgo

    apresenta uma maior quantidade na variedade jandara. Por ser de fcil adaptabilidade

    e elevada produo, as abelhas africanizadas como a do tipo italiana so as preferidas

    entre os produtores do estado do Rio Grande do Norte.

    Em relao produo de mel de abelha jandara, apenas os assentamentos de Can-

    to Comprido e Rosa Luxemburgo registram essa produo, totalizando 15 colmeias, sen-

    do, de acordo com os produtores, difcil estimar o quantitativo de mel, em virtude da

    baixa produtividade dessas abelhas e da sua variabilidade, que depende da intensidade

    dos invernos. Essa abelha tpica do semirido brasileiro, cujo mel bem aceito no

    mercado, devido a suas caractersticas medicinais de combate a infeces na garganta.

    Como essa abelha no tem ferro, de fcil manejo e pode ser criada at mesmo nas

    reas urbanas. No entanto, uma espcie rara e precisa de todo cuidado para no entrar

    em extino.

    Alguns agricultores familiares afi rmaram que cortam a vegetao nativa e extica

    presente nos seus lotes para suprir a necessidade de abastecer os foges domsticos

    e at mesmo para complementar a renda com a venda da lenha. As estacas retiradas

    da mata nativa so destinadas prioritariamente construo de cercados para os ani-

    mais. Ainda que a extrao da lenha seja considerada uma prtica espordica, preciso

    considerar a necessidade de se proteger as reas de reservas legais para garantir uma

    melhoria na qualidade de vida dos referidos moradores. O corte da vegetao nativa

    provoca srios impactos de ordem ambiental, social e econmica.

    No cenrio econmico dos assentamentos, cabe destacar a extrao de carnaba,

    planta nativa do Vale do rio Piranhas que est em risco de extino devido ao corte in-

    discriminado dessa vegetao. A carnaba desenvolve-se nas margens dos rios e prote-

    ge-os da ao erosiva no solo, sendo fundamental que a populao use esse recurso de

  • 67Realizao: Patrocnio:

    forma sustentvel, atravs de um manejo adequado capacidade de regenerao dessa

    planta. Todos os recursos extrados da carnaba so passveis de aproveitamento pelo

    ser humano, destacando-se a palha, o p e a cera. Muitos dos assentados utilizam a pa-

    lha da carnaba para produzir artesanato e comercializar os produtos. Evidncias a esse

    respeito foram obtidas nas entrevistas nas quais os agricultores familiares comentaram

    que realizam a produo de peas de palhas de forma artesanal e fazem, posteriormen-

    te, a comercializao para complementar a renda da famlia.

    Durante o perodo de estiagem, que geralmente acontece entre os meses de julho e

    dezembro, os assentados passam por uma srie de difi culdades que interferem na sua

    qualidade vida. Uma delas a constante falta de gua, seja para o desenvolvimento

    agrcola, seja para a criao de animais. A crise na oferta de gua nas comunidades

    ocorre, inclusive, para o consumo humano, de modo que muitos assentados fi cam

    dependendo do abastecimento proveniente de carros-pipas, conforme pode ser visu-

    alizado no grfi co 10.

    Grfi co 10: Difi culdades enfrentadas durante o perodo de secaFonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Os dados apresentados no grfi co 10 demonstram que mais de 50% das difi culda-

    des enfrentadas na seca referem-se disponibilidade de gua nas comunidades. Esse

    problema histrico na regio semirida nordestina e pode ser solucionado com o dire-

    cionamento de polticas pblicas para garantir o abastecimento hdrico de toda a popu-

    lao dos municpios, inclusive, a residente na zona rural.

    As difi culdades no abastecimento de gua das comunidades rurais acabam impondo

    ao homem do campo condies de vida precrias e tornando-se um fator que obriga

    muitos moradores a migrarem para as cidades, onde o abastecimento ocorre de forma

    regular. A oferta de gua nas residncias uma necessidade de primeira relevncia, sendo

  • 68Realizao: Patrocnio:

    necessrio o direcionamento de polticas pblicas para garantir o abastecimento hdrico.

    De modo geral, percebe-se que as atividades econmicas predominantes nos assen-

    tamentos so a pecuria e a agricultura, as quais necessitam de uma srie de medidas

    para se tornarem mais rentveis para os agricultores familiares. Porm, pertinente des-

    tacar que a maior difi culdade est relacionada falta de gua nas comunidades, seja

    para o desenvolvimento produtivo, seja para o abastecimento humano. Solucionar o

    problema da falta de gua na zona rural dos municpios do semirido extremamente

    necessrio para que a populao usufrua de uma melhor qualidade de vida.

  • 69Realizao: Patrocnio:

  • 5.Polticas pblicas e

    infraestrutura comunitria

  • 73Realizao: Patrocnio:

    5. POLTICAS PBLICAS E INFRAESTRUTURA COMUNITRIA

    Os assentamentos rurais pesquisados apresentam uma dinmica produtiva base-

    ada nas atividades agrcolas, destacando-se a agricultura e a pecuria. Para garantir

    o desenvolvimento dessas atividades, o Estado tem atuado como agente fomentador,

    atravs do estabelecimento de uma infraestrutura que possa viabilizar a melhoria dessas

    atividades econmicas. Para se ter ideia da participao dos assentados em programas

    governamentais, a pesquisa revelou que 77% so benefi ciados, enquanto apenas 23%

    no recebem nenhum tipo de benefcio como Bolsa Famlia ou crdito do PRONAF.

    Nos ltimos anos, o Estado tem colaborado com a criao de algumas polticas p-

    blicas, como o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que se

    destina a estimular e fomentar o crescimento de atividades produtivas agrcolas desen-

    volvidas por agricultores familiares, por meio da concesso de crdito. Os benefi cirios

    desse programa precisam comprovar seu enquadramento nos critrios de incluso do

    programa, atravs da apresentao da Declarao de Aptido ao PRONAF (DAP).

    Do total de assentados da reforma agrria entrevistados, 52% apresentam DAP, en-

    quanto 48% no dispem desse tipo de documento que permite o acesso aos bene-

    fcios do PRONAF. Os assentamentos de Rosa Luxemburgo, Canto Comprido e Prof.

    Maurcio de Oliveira registram o maior nmero de assentados com DAP. De modo geral,

    entende-se que os rgos responsveis devem incentivar os agricultores familiares a

    fazerem sua DAP, tendo em vista que os assentados da reforma agrria incluem-se no

    grupo A de benefi cirios do PRONAF. Os crditos concedidos pelo programa podem

    ser aplicados em custeio, investimentos e integralizao de cotas-partes em coopera-

    tivas de produtores, podendo ser fornecidos de forma individual ou coletiva. Com isso,

    os agricultores tm a oportunidade de angariar recursos fi nanceiros a juros baixos para

    que possam melhorar sua atividade produtiva, gerando renda e novas oportunidades de

    crescimento econmico no campo.

    Alm disso, o programa Bolsa Famlia, de amplitude nacional, consiste em distribuir

    renda para a populao mais carente, com o intuito de reduzir a fome e a pobreza. Esse

    programa regido pela Lei n. 10.836, de 9 de janeiro de 2004, cujo pblico-alvo so

    famlias em vulnerabilidade social que podem usar o recurso para adquirir alimentos ou

    qualquer outro tipo de gnero que a famlia julgar necessrio (LIMA, 2014). Os benefi cia-

    dos do Bolsa Famlia nos assentamentos pesquisados correspondem a um total de 239

    famlias, distribudas conforme tabela 07.

  • 74Realizao: Patrocnio:

    Tabela 07: Nmero de benefi ciados do Bolsa Famlia por assentamentos

    Assentamentos Nmero de benefi ciados do Bolsa Famlia

    Novo Pingos 40

    Prof. Maurcio de Oliveira 27

    Vassouras 12

    Planalto 18

    Canto Comprido 42

    Ligao 21

    Cavaco 4

    Morada do Sol 7

    Rosa Luxemburgo 40

    Canto das Pedras 2

    Irm Dorothy 15

    Margarida Alves 11

    Total 239Fonte: Pesquisa de campo, 2015.

    Os assentamentos que possuem o maior nmero de benefi ciados com o programa

    Bolsa Famlia so Novo Pingos e Rosa Luxemburgo, ambos com 40 famlias. Os valo-

    res recebidos no referido programa permitem aos benefi ciados a compra de produtos

    como alimentos e vestimentas, ou at mesmo material didtico para as crianas e ado-

    lescentes em idade escolar, o que viabiliza a reduo da pobreza entre a populao mais

    carente dos municpios. As famlias com crianas em idade escolar devem comprovar

    que elas esto frequentando a escola, sob a pena de ter o benefcio suspenso at a situ-

    ao escolar ser regularizada.

    Para garantir a qualidade de vida da populao nos assentamentos de reforma agr-

    ria, vrias polticas pblicas tm sido direcionadas a esses locais como, por exemplo, a

    construo de cisternas que armazenam gua para o consumo humano primrio (beber

    e cozinhar) durante o perodo mais seco do ano. Nos 12 assentamentos, foram constru-

    das 161 cisternas de placas ou de calado que garantem gua limpa para a populao

    local, de modo que o assentamento Professor Maurcio de Oliveira o que apresenta o

    maior nmero desses equipamentos.

  • 75Realizao: Patrocnio:

    Tabela 08: Quantidade de cisternas distribudas pelos assentamentos

    Assentamentos Quantidade de cisternas

    Novo Pingos 0

    Prof. Maurcio de Oliveira 63

    Vassouras 5

    Planalto 13

    Canto Comprido 61

    Ligao 6

    Cavaco 1

    Morada do Sol 5

    Rosa Luxemburgo 1

    Canto das Pedras 0

    Irm Dorothy 6

    Margarida Alves 0

    Total 161Fonte: Pesquisa de campo, 2016.

    A construo de cisternas (fi guras 11 e 12) evidencia a potencialidade dessa iniciativa

    para garantir a oferta de gua de qualidade para a populao local. Alm disso, preciso

    ressaltar o baixo investimento monetrio na sua construo e o papel desempenhado na

    oferta de gua durante o perodo seco.

    Figura 11: Cisterna de placas construda no assentamento Irm Dorothy, Carnaubais, RN

    Figura 12: Cisterna calado construda no assentamento Professor Maurcio de Oliveira, em Assu, RN

    Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015. Fonte: Projeto Vale Sustentvel, 2015.

  • 76Realizao: Patrocnio:

    No entanto, alguns cuidados devem ser tomados na conservao e manuteno da

    cisterna, bem como no manejo da gua. Para assegurar a vida til da cisterna, deve-se

    realizar periodicamente uma limpeza interna e externa pelo menos uma vez no ano e

    manuteno corretiva regular para evitar rachaduras.

    Em relao garantia da qualidade da gua, importante que o morador no per-

    mita que a gua das primeiras chuvas caia dentro da cisterna, pois essas so destinadas

    a limpar o telhado. Alm disso, importante colocar um fi ltro na entrada da gua, adi-

    cionar cloro, fi ltrar ou ferver a gua como forma de tratamento desse recurso. A veda-

    o da cisterna fundamental para evitar a entrada de pequenos animais e roedores

    que podem contaminar todo o lquido e comprometer a sade da famlia. Todos esses

    cuidados devem ser adotados por todos os proprietrios de cisternas para garantir a

    qualidade da gua.

    O acesso energia eltrica tambm ocorre em todas as comunidades, melhorando

    a qualidade de vida da populao local, tendo em vista que com a existncia desse re-

    curso os agricultores familiares podem comprar uma diversidade de equipamentos para

    suas residncias e at para melhorar as atividades produtivas. Vale destacar que o aces-

    so gua e energia eltrica um direito de todos os brasileiros, inclusive os moradores

    da zona rural, que durante muitas dcadas fi caram margem desses recursos.

  • 77Realizao: Patrocnio:

  • 6.Impactos ambientais

    nos assentamentose suas consequncias

  • 81Realizao: Patrocnio:

    6. IMPACTOS AMBIENTAIS NOS ASSENTAMENTOS E SUAS CONSEQUNCIAS

    A ao humana no espao geogrfi co tem provocado uma srie de transformaes

    ambientais que chegam a comprometer o equilbrio dos ecossistemas, com refl exos na

    biodiversidade e na qualidade de vida da populao. Geralmente, os problemas esto

    associados s atividades econmicas que no estabelecem critrios de sustentabilidade

    no seu sistema produtivo.

    As cidades so afetadas por vrios tipos de poluio que desafi am o homem a es-

    tabelecer polticas que melhorem a vida nesse ambiente. Os moradores da zona rural

    tambm sofrem com problemas ambientais originrios da forma de apropriao dos

    recursos naturais. As entrevistas realizadas in loco no deixaram dvidas sobre a inten-

    sidade da degradao nos assentamentos benefi ciados pelo Projeto Vale Sustentvel,

    conforme pode ser visualizado no grfi co 11.

    Grfi co 11: Problemas ambientais que