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DADOS DE COPYRIGHTcolegioestacao.com/assets/files/Maze Runner 1 - Correr ou...Ele começou sua nova vida pondo-se em pé, envolvido pela escuridão fria e pelo ar poeirento e rançoso

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DADOSDECOPYRIGHT

Sobreaobra:

ApresenteobraédisponibilizadapelaequipeLeLivroseseusdiversosparceiros,comoobjetivodeoferecerconteúdoparausoparcialempesquisaseestudosacadêmicos,bemcomoosimplestestedaqualidadedaobra,comofimexclusivodecomprafutura.

Éexpressamenteproibidaetotalmenterepudíavelavenda,aluguel,ouquaisquerusocomercialdopresenteconteúdo

Sobrenós:

OLeLivroseseusparceirosdisponibilizamconteúdodedominiopublicoepropriedadeintelectualdeformatotalmentegratuita,poracreditarqueoconhecimentoeaeducaçãodevemseracessíveiselivresatodaequalquerpessoa.Vocêpodeencontrarmaisobrasemnossosite:LeLivros.clubouemqualquerumdossitesparceirosapresentadosnestelink.

“Quandoomundoestiverunidonabuscadoconhecimento,enãomaislutandopordinheiroepoder,entãonossasociedadepoderáenfimevoluira

umnovonível.”

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JAMESDASHNER

TRADUÇÃO:HENRIQUEMONTEIRO

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Elecomeçousuanovavidapondo-seempé,envolvidopelaescuridãofriaepeloarpoeirentoerançoso.

Um tremor súbitoabalouopiso sobos seuspés,metal rangendocontrametal. O movimento inesperado o derrubou, e ele recuou engatinhando, osuorbrotandoemgotasda testa,apesardoar frio.Suascostassechocaramcontraumarígidaparedemetálica;eleesgueirou-secoladonelaatéchegaraumcantodocompartimento.Mergulhandoemdireçãoaochão,encolheuaspernasbemdeencontroaocorpo,esperandoqueosolhosseacostumassemlogoàescuridão.

Commais um solavanco, o compartimentomoveu-se bruscamente paracima,comoumvelhoelevadornumpoçodemina.

Sonsásperosdecorrentesepolias,comoosruídosdeumavelhausinadeaço em funcionamento, ecoaram pelo compartimento, abalando as paredescomumlamentovazioedistante.Oelevadorsemluzoscilavaparafrenteepara trásna subida,oqueazedou seuestômagoaté lhe causarnáuseas;umcheiro semelhante ao de óleo queimado invadia-lhe os sentidos, fazendo-osentir-se pior. Teve vontade de chorar,mas as lágrimas não vinham; só lherestavaficaralisentado,sozinho,esperando.

“OmeunomeéThomas”,pensou.

Essaeraaúnicacoisadequeconseguiaselembrarsobreaprópriavida.

Não entendia comopodia ser possível.Amente funcionava sem falhas,tentando entender onde se encontrava e qual era a situação. Informaçõesdesencontradasinundaram-lheospensamentos,fatoseimagens,lembrançasedetalhes do mundo e de como as coisas eram. Imaginou a neve sobre asárvores, descendo por uma estrada coberta de folhas, comendo umhambúrguer,alualançandooseubrilhopálidosobreumaplaníciegramada,nadando em um lago, uma praçamovimentada da cidade com centenas de

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pessoaspreocupadascomosprópriosproblemas.

E ainda assim não sabia de onde vinha, ou como fora parar naqueleelevador escuro, ou quem eram os seus pais. Nem sequer se lembrava dopróprio sobrenome. Imagens de pessoas vieram de repente ao pensamento,mas não reconheceu ninguém, os rostos substituídos por manchas detonalidades fantasmagóricas.Não era capaz de se recordar de ninguémqueconhecessenemdeumaúnicaconversa.

O compartimento continuava a subir, sacolejando; Thomas já não seimportavacomoincessanterangidodascorrentesqueopuxavamparacima.Um longo tempo se passou. Os minutos viraram horas, embora fosseimpossível saber com certeza o tempo transcorrido, já que cada segundopareciaumaeternidade.Não!Eleeramaisespertoqueaquilo.Confiandonosprópriosinstintos,concluiuqueestiverasubindoporcercademeiahora.

Por estranho que parecesse, sentiu que o medo como que foradesaparecendo,talqualumenxamedemosquitoslevadopelovento,deixandoemseu lugaruma intensacuriosidade.Queria saberonde seencontravaeoqueestavaacontecendo.

Comumrangidoseguidodeumnovotranco,ocompartimentoascendenteestancou,asúbitamudançatirouThomasdesuaposiçãoencolhidaeojogousobre o chão duro. Quando conseguiu se levantar, sentiu que o lugarbalançava cada vez menos, até que finalmente parou. Tudo mergulhou nosilêncio.

Umminuto se passou. Dois. Ele olhava em todas as direções, mas viaapenasaescuridão;apalpouasparedesdenovo,procurandoumjeitodesair.Porémnãohavianada,apenasometalfrio.Gemeudefrustração;oecodesuavoz amplificou-se no vazio, como o lamento fantasmagórico da morte. Osruídosforamsumindoaospoucoseosilêncioretornou.

Elegritou,clamouporsocorro,esmurrouasparedes.

Nada.

Thomas recuou para o canto outra vez, cruzou os braços e estremeceu.

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Entãoomedovoltou.Sentiuumfrêmitodepreocupaçãonopeito,comoseocoraçãoquisesseescapar,fugirdocorpo.

-Alguém…me…ajude! -gritou,cadapalavra rasgando-lheagarganta.Um rangido estridente acimada sua cabeça o sobressaltou e, engolindo emsecoassustado,olhouparacima.Uma linha retade luzapareceuno tetodocompartimento, e Thomas ficou observando enquanto ela se alargava. Umsompesado e desagradável revelou portas duplas de correr sendo abertas àforça. Depois de tanto tempo na escuridão, a luz feria-lhe os olhos; eledesviouoolhar,cobrindoorostocomasmãos.

Ouviaruídosacima-vozes-,eomedocomprimiu-lheopeito.

-Vejasóaqueletrolho.

-Quantosanosseráqueeletem?

-Parecemaisumplongdecamiseta.

-Plongévocê,carademértila.

-Meu,quecheirodechuléláembaixo!

-Tomaraquetenhagostadodopasseiosódevinda,Fedelho.

-Nãotenspassagemdevolta,meuchapa.

Thomasfoitomadoporumaondadeconfusão,dominadopelopânico.Asvozes eram estranhas, como se tivessem eco; algumas palavras eramtotalmente desconhecidas - outras pareciam familiares. De olhossemicerrados,fezumesforçoparaenxergarnadireçãodaluzedaquelesquefalavam.A princípio só conseguiu ver sombras semovendo,mas elas logoganharam a forma de corpos - pessoas inclinadas sobre a abertura no teto,olhandoparabaixonasuadireçãoeapontando.

Eentão,contoseaslentesdeumacâmerativessemencontradoofoco,asfaces tornaram-se nítidas. Eram garotos, todos eles - alguns riais novos,outrosriaisvelhos.Thomasnãosabiaoqueesperar,aiasveraquelesrostosoconfundiu. Eram apenas adolescentes. Meninos. Alguns dos seus temoresdesapareceram,porémnãoobastanteparaacalmarocoraçãoacelerado.

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Alguém jogou uma corda lá de cima, a extremidade amarrada em umgrandelaço.Thomashesitou,depoisenfiouopédireitonolaçoeagarrou-seàcordaenquantoeraiçado.Mãosestenderam-separabaixo,umaporçãodelas,alcançando-o, agarrando-o pelas roupas, puxando-o para cima. O mundopareceugirar,umanévoarodopiantederostos,coreseluz.Umatempestadedeemoçõesfezseuestômagosecontrair,contorcer,revirar;elequeriagritar,chorar,vomitar.Quandoopuxarampelabordaásperadacaixaescuraocorode vozes silenciou, mas alguém falou. E Thomas teve certeza que nuncaesqueceriaaquelaspalavras.

-Legalconhecervocê,trolho-disseogaroto.-Bem-vindoàClareira.

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As mãos que o puxaram só pararam de se agitar ao seu redor quandoThomas se levantou e sacudiu a poeira da camisa e das calças. Aindaatordoadopelaclaridade,hesitouumpouco.Estavamorrendodecuriosidade,mas sentia-se muito enjoado para observar o local mais atentamente. Seusnovos companheiros não disseram nada quando girou a cabeça de um ladoparaooutro,tentandoassimilartudo.

Enquantodavaumavoltaemtornodesimesmo,osoutrosgarotosriam-sedele eo encaravam; alguns estenderamamãoe cutucaram-nocomodedo.Deviamserpelomenosunscinquentaaotodo,asroupassujaseamassadas,como se tivessem interrompido algum trabalhopesado, umgarotodiferentedooutro,deváriostamanhoseraças,ocabelodecomprimentosvariados.Derepente, Thomas sentiu-se atordoado, os olhos indo e voltando dos garotosparaaquelelugarbizarroemqueseencontrava.

Estavam em um vasto pátio, várias vezes maior do que um campo defutebol, cercado por quatromuros enormes de pedra cinzenta, cobertos poruma hera espessa que se espalhava em manchas desiguais. As paredespareciamtermaisdecemmetrosdealturaeformavamumquadradoperfeitoaoredordaqueleespaço.Cadaladoeradivididoexatamenteaomeioporumaaberturatãoaltaquantoosprópriosmuroseque,atéondeThomasconseguiaver,levavaapassagensecorredorescompridosqueseestendiamaperderdevista.

- Olhem só o Novato - zombou uma voz fanhosa, que Thomas nãoconseguiu distinguir de onde vinha. - Vai quebrar o pescoço de mértilainspecionandoseunovocafofo.

Váriosgarotosriram.

-Fecheessamatraca,Gally-interveioumavozmaisgrave.

Thomasprocurouidentificaralguémemmeioàsdezenasdeestranhosao

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seuredor.Sabiaquedeviaparecermuitodeslocado-sentia-secomosetivessesidodrogado.Umgarotoalto,decabelo louroequeixoquadrado, franziuonariznasuadireção,orostoinexpressivo.Umoutro,baixinhoerechonchudo,inquietava-se,oscilandopara frenteepara trásempé, fixandoThomascomosolhosarregalados.Umjovemasiático,corpulentoemusculoso,cruzouosbraçosenquantoanalisavaThomas,acamisa justaedemangasarregaçadasexibindo os bíceps. Um rapaz de pele escura franziu as sobrancelhas - omesmoquelhederaasboasvindas.Váriosoutrosoobservavam.

-Ondeestou?-quissaberThomas,surpresoaoouviraprópriavozpelaprimeiravezatéondeconseguiaselembrar.Elasoavaumpoucoestranha…maisagudadoquetinhaimaginado.

-Umlugarnadabom.-Arespostapartiudorapazdepeleescura.-Agoraprocurerelaxareacalmar-se.

-QuetipodeEncarregadoelevaidar?-gritoualguémdetrásdogrupo.

- Já disse, cara de mértila - uma voz estridente respondeu. - Ele é umplong,logoseráumAguadeiro…Nãotenhoamenordúvidaquantoaisso.-Ogarotoriucomosetivessecontadoapiadamaisengraçadadomundo.

Umavezmais,Thomassentiuumapressãodeansiedadenopeito-eramtantas palavras e expressões que não faziam sentido. Trolho. Mértila.Encarregado. Aguadeiro. Elas saíam tão naturalmente da boca dos garotosque parecia estranho ele não entender. Como se a sua perda de memóriativesseroubadoumpedaçodasuacompreensão-nãoentendianada.

Diferentes emoções se chocavam em sua cabeça, atordoando amente esufocandoocoração.Confusão.Curiosidade.Pânico.Medo.Mastodasessasemoçõeserampermeadasporumasombriasensaçãodedesamparoabsoluto,comoseomundotivesseacabadoparaele,comosetivessesidoarrancadodesuamemóriaesubstituídoporalgosinistro.Asuavontadeerasaircorrendoeseesconderdaquelagente.

Ogarotodevozfanhosavoltaraafalar:

- …ou nem mesmo isso; aposto o meu fígado. - Thomas ainda não

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conseguiaverorostodele.

-Eudisse,calemamatraca!-gritouorapazdepeleescura.-Continuemtagarelandoevãoficarsemrecreio!

Aquele devia ser o líder, concluiuThomas.Detestando amaneira comocaçoavam dele, procurou se concentrar em avaliar o lugar que o rapazchamaradeClareira.

Adiante havia um pátio cujo chão era composto de enormes blocos depedra, muitos deles rachados e entranhados de grama e ervas daninhascrescidas.Pertodeumdoscantosdoquadrado,umaestranhaconstruçãodemadeira, meio decadente, contrastava completamente com as pedrasacinzentadas.Eracercadaporalgumasárvores,assuasraízesparecidascommãosencarquilhadasembrenhando-senochãorochosoembuscadealimento.Em outro canto do conjunto via-se uma espécie de plantação - de onde seencontrava,Thomasreconheceuunspésdemilho,algunstomateiros,árvoresfrutíferas.

Do outro lado do pátio, alinhavam-se currais demadeira, em que eramguardadosovelhas,porcosevacas.Umbosqueamploocupavatodooúltimocanto;asárvoresmaispróximasparecendoumtantoenrugadaseàbeiradamorte.Océuacimadelesnãotinhanuvens,eramuitoazul,masThomasnãoviu nem sinal do sol, apesar da claridade do dia. As sombras difusas dosmurosnão revelavamahoranemadireçãodos raios solares -podia serdemanhãcedooufinaldetarde.Elerespiroufundo,nuncatentativadeacalmarosnervos,eumamisturadecheirosoinvadiu.Lixorecente,estrume,perfumedepinheiros,umaromapodreeadocicado.Dealgummodosabiaqueaqueleseramoscheirosdeumafazenda.

Thomasvoltou-separaosseuscaptores,sentindo-sepoucoàvontade,masao mesmo tempo desesperado para fazer perguntas. “Captores”, pensou.Depois refletiu: “Por que essa palavra surgiu naminha cabeça?”Correu osolhos pelos rostos, apreendendo cada expressão, avaliando-os. Os olhos deumgaroto,faiscandodeódio,ogelaram.OmeninopareciatãocheioderaivaqueThomasnãose surpreenderia seeleavançassenasuadireçãocomuma

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faca.Tinhaocabelopreto,e,quandoosseusolharesseencontraram,ogarotoabanou a cabeça e virou-se, aproximando-se de um poste de ferro todobesuntado, comumbancodemadeira ao lado.Umabandeiramulticoloridapendiainertedoaltodoposte,semventoquerevelasseoseudesenho.

Assustado,Thomasficoumirandoascostasdogarotoatéelesevirarparasentar-senobanco.Thomasrapidamentedesviouoolhar.

Derepente,olíderdogrupo-talveztivesseunsdezesseteanos-deuumpasso à frente. Usava roupas comuns: camiseta preta, jeans, tênis, relógiodigital.Poralgumarazão,Thomassurpreendia-secomasroupasquevia;eracomo se cada um devesse estar usando algo mais ameaçador - como umuniformedeprisão.Orapazmorenotinhaocabelocortadocurto,orostobembarbeado.Masalémdassobrancelhassemprefranzidas,nãoaparentavanadaquecausassemedo.

-Éumalongahistória,trolho-disseorapaz.-Poucoapouco,vocêvaidescobrir…Vouconversarcomvocêamanhã,noPasseio.Atélá,procurenãoquebrarnada.-Estendeuamão.-MeunomeéAlby.-Ficouesperando,semdúvida,paraapertaremasmãos.

Mas Thomas não apertou a mão dele, os movimentos inibidos por uminstintodesconhecido.Semdizernada,deuascostasaAlbyeencaminhou-seaté a árvore mais próxima, onde deixou-se afundar no chão, apoiando ascostasdeencontroàcasca rugosa.Voltoua serdominadoporumaondadepânico,fortequaseapontodeparecerinsuportável.Masrespiroufundoefezumesforçoparaaceitarasituação.“Deixarolar”,pensou.“Nãovaiadiantarnadameentregaraomedo.”

- Entãome conte - gritou depois, lutando para não entrecortar a voz. -Contealongahistória.

Albyolhouderelanceparaosamigosmaispróximoserolouosolhosparao alto. Thomas examinou o grupo outra vez. Quase acertara na primeiraestimativa - devia haver, provavelmente, uns cinquenta a sessenta deles,variandodemeninosentrandonaadolescênciaajovensadultos,comoAlby,quepareciaserumdosmaisvelhos.Naqueleinstante,comumfrionabarriga,

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Thomas percebeu que não fazia amenor ideia de quantos anos ele própriotinha.Sentiuumapertonocoraçãoaopensarnisso-estava tãoperdidoquenemsequerselembravadaprópriaidade.

-Falandosério-insistiu,abandonandoaposedevalente.-Ondeéqueeuestou?

Alby aproximou-se e sentou, cruzando as pernas; o bando de garotos oacompanhou e se aglomerou atrás.As cabeças se destacavamaqui e ali, osgarotosinclinando-seemtodasasdireçõesparaenxergarmelhor.

-Senãoestiver commedo - falouAlby -, entãonãoéhumano.Ajademaneiradiferenteevouatirá-lodoPenhasco,porque isso significariaqueéumlouco.

-Penhasco?-repetiuThomas,osanguefugindo-lhedaface.

- Mértila - disse Alby, esfregando os olhos. - Agora não dá pra genteconversarsobreisso,estáentendendo?Nãomatamostrolhoscomovocêaqui,eugaranto.Sótenteevitarsermorto,dêumjeitodesobreviver,seilá.

Ele fez uma pausa e Thomas concluiu que o seu rosto devia terempalidecidoaindamaisaoouviraúltimaparte.

-Cara - recomeçouAlby, depois passando asmãos pelo cabelo curto esoltandoumlongosuspiro.-Nãosoumuitobompraessascoisas…vocêéoprimeiroNovatodesdequeNickfoimorto.

ThomasarregalouosolhosenquantooutrojovensseaproximouedeuumtapinhadebrincadeiranacabeçadeAlby.

-EsperepelomalditoPasseio,Alby- sugeriuele,avozgrossacomumsotaqueestranho.-Ogarotovaiterumataquedocoração,enemouviutodaahistóriaainda.-Eleinclinou-seeestendeuamãoparaThomas.-MeunomeéNewt,Fedelho,eseriabemlegalpratodomundosedesculpasseonossonovolíderinteligênciadeplongaqui.

Thomas estendeu amão e apertou a do rapaz - ele pareciamuitomaisamigáveldoqueAlby.NewteramaisaltodoqueAlby também,masdeviasercercadeumanomaisnovo.Seucabeloeralouroecomprido,caindoem

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ondassobreacamiseta.Asveiassedilatavamnosbraçosmusculosos.

-Engulaessalíngua,carademértila-grunhiuAlby,puxandoNewtparasentar-seaoseulado.-Pelomenoseleconsegueentendermetadedasminhaspalavras. -Ouviram-se risinhos esparsos.Depois todos se juntaramatrásdeAlbyeNewtparaouviroqueelesestavamdizendo,diminuindoaindamaisoespaço.

Albyabriuosbraçoscomasmãosespalmadasparaoalto.

-Este lugarsechamaClareira,certo?Éondemoramos,ondecomemos,ondedormimos…chamamosanósmesmosdeClareanos.Issoétudooquevocê…

-Quemmemandouparacá?-Thomasointerrompeu,omedocedendoàraiva.-Como…?

MasAlbyfoimaisrápidoe,antesqueThomaspudesseterminar,agarrou-opelagolaàmedidaqueseinclinavaparaafrente,apoiadosobreosjoelhos.

- Levante-se, trolho, levante-se! - Alby ficou de pé, levando Thomasconsigo.

Thomasfinalmenteconseguiuse levantar,denovototalmenteassustado.Encostou-senaárvore,tentandolivrar-sedeAlby,aiaselepermaneceunasuafrente.

-Seminterrupções,garoto-bradou.-Seumocorongo,seeulhecontassetudo, você morreria de medo, bem depois de se plongar nas calças. OsEmbaladoresolevariamevocênãoserviriamaisdenadapragente!

- Eu nem sei do que você está falando - respondeu Thomas devagar,impressionadoaopercebercomosuavozsoavaserena.

NewtestendeuosbraçosesegurouAlbypelosombros.

-Alby,pegaleve.Estámaisassustandodoqueajudando,sabia?

AlbysoltouagoladeThomasedeuumpassoparatrás,opeitoarfando,arespiraçãotensa.

-Não tenho tempopara ser legal,Novato.Avida anterior acabou, uma

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novacomeça.Aprendalogoasregras,ouça,nãofale.Estámeentendendo?

ThomasolhouparaNewt,buscandoajuda.Tudodentrodeleseremexiaedoía;aslágrimas,querendobrotar,faziamosolhosarder.

Newtacenoucomacabeça.

-Fedelho,vocêentendeuoqueeledisse,certo?-Acenoudenovo.

Thomasfungou,querendoesmurraralguém.Massimplesmentecedeu.

-Entendi.

-Bomisso-admitiuAlby.-PrimeiroDia.Issoéoquehojeéparavocê,trolho.Anoiteestáchegando,osCorredoresvoltarãologo.ACaixaveiotardehoje, não temos tempo para o Passeio. Amanhã demanhã, logo depois deacordar…-ElesevirouparaNewt. -Arranjeumacamaparaele, façacomquedurma.

-Bomisso-concordouNewt.

AlbyolhoumaisumavezparaThomas,osolhossemicerrados.

-Empoucas semanas, você estará feliz, trolho.Estará feliz e ajudando.Nenhumdenós tinhanoçãodenadanoPrimeiroDia, assimcomovocê.Anovavidacomeçaamanhã.

Alby voltou-se e abriu caminho pelo meio do grupinho, depois seencaminhouparaadecadenteconstruçãodemadeiranocanto.Amaioriadosgarotossedispersou,cadaumlançandoaThomasumolhardemoradoantesdeseafastar.

Thomascruzouosbraços,fechouosolhoserespiroufundo.Ovazioquetomaracontadoseuser rapidamentefoisubstituídoporuma tristezaaguda.Aquiloerademais-ondeestava?Quelugareraaquele?Seriaalgumtipodeprisão?Nessecaso,porque foramandadopara lá, eporquanto tempo?Osgarotosfalavamdeumjeitoestranho,enenhumdelespareciaseimportarseia viver oumorrer.Outra vez, as lágrimas ameaçaram encher-lhe os olhos,maseleserecusouadeixarqueviessem.

- O que foi que eu fiz? - sussurrou, ainda que suas palavras não se

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dirigissemaninguém. -Oque foiqueeu fiz…porquememandaramparacá?

Newtdeu-lheumtapinhanoombro.

-Fedelho,issoqueestásentindotodosnósjásentimos.TodostivemosoPrimeiroDia,aosairdaquelacaixaescura.Ascoisassãoruins,sãomesmo,eficarãomuito piores para você embreve, essa é a verdade.Mas, depois dealgumtempo,vai sesentirmaisconformadoesatisfeito.Possogarantirquevocênãoéummalditomaricas.

-Istoaquiéumaprisão?-quissaberThomas;vasculhounaescuridãodosseuspensamentos,procurandoumafalhacometidanopassado.

-Játerminoucomasperguntas?-replicouNewt.-Dequalquermaneira,asrespostasnãosãoboasparavocê,aindanão.Omelhoréseacalmaragora,aceitaramudança…Amanhãvaiseroutrodia.

Thomas não disse nada, baixou a cabeça, os olhos pregados no chãorochoso,rachado.Umafileiradeervasdefolhasmiúdascorriapelabordadeumdosblocosdepedra,comflorzinhasamarelasabertascontosebuscassemosolquehámuitodesapareceraatrásdosmurosenormesdaClareira.

- O Chuck vai ser bom para você - disse Newt. - Ele é um trolho umpoucogordo,masnofundoélegal.Espereaqui,voltologo.

Newtmalacabaradefalarquandoumgritolancinanteatravessouoarderepente.Sonoroearrepiante,umgemidoquemalpareciahumanoecooupelopátio de pedras; todos os garotos em seu campo de visão voltaram-se paraolharnadireçãodeondepartira.Thomassentiuosanguegelarnasveiasaoperceberqueosomhorrívelvieradaconstruçãodemadeira.

AtémesmoNewtpararaassustado,atestafranzidadeapreensão.

-Mértila - disse ele. - Será que osmalditosSocorristas não conseguemcontrolar aquele garoto por dez minutos sem a minha ajuda? - Abanou acabeçaedeuumchutinhonopédeThomas.-EncontreoChuck,digaqueeleestá incumbido de arranjar um lugar para você dormir. - Então voltou-se esaiucorrendorumoàconstrução.

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Thomasescorregoudeencontroaotroncorugosodaárvoreatésentar-senovamente no chão. Encolheu-se, apoiando as costas contra a madeira.Fechouosolhos,sóquerendoacordardaquelepesadelohorrível.

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Thomas ficou ali sentado por vários minutos, esgotado demais para semexer.Finalmente,obrigou-seaolharparaoedifíciodecadente.Umgrupodegarotos aglomerava-se do lado de fora, olhando ansiosos para as janelassuperiorescomoseesperassemqueummonstrohorrendosaltassepara foraemmeioaumaexplosãodevidrosemadeira.

Umtilintarmetálicoentreosgalhosacimachamou-lheaatenção,atraindoseu olhar; um raio de luz prateada e vermelha capturou seus olhosimediatamenteantesdedesaparecerdooutroladodotronco.Eleselevantouedeu a volta na árvore, esticando o pescoço em busca de um sinal do queacabaradeouvir,massóencontrougalhosnus,cinzentosemarrons,abrindo-seemforquilhascomodedosesqueléticos-eparecendovivos.

-Issofoiumdaquelesbesourosmecânicos-dissealguém.

Thomasvirou-separaadireitaeencontrouumgarotoempéaoseulado,baixo e rechonchudo, olhando na sua direção. Ele era bem jovem -provavelmente o mais novo de todo o grupo, pelo menos dos que eleconhecera até então, talvez comunsdozeou treze anosde idade.Ocabelocastanhocaía-lhesobreasorelhaseopescoço,roçandoosombros.Osolhosazuisbrilhavamnumrostotriste,fofoecorado.

Thomasfezumsinalparaelecomummovimentodecabeça.

-Besouro…oquê?

-Besouromecânico-repetiuogaroto,apontandoparaoaltodaárvore.-Nãofazemmalnenhum,amenosquevocêsejaburroobastanteparaencostarnumdeles.-Fezumapausa.-Trolho.-Nãopareceuàvontadedizendoessaúltimapalavra,comosenãotivesseentendidodireitoagíriadaClareira.

Outrogrito,dessavezlongoearrepiante,rasgouoar,eThomassentiuocoraçãoparar.Omedoespalhava-secomoumacapageladasobreasuapele.

-Oqueestáacontecendolá?-perguntou,apontandoparaoedifício.

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- Sei lá - o menino rechonchudo respondeu; a sua voz ainda tinha osagudosesganiçadosdainfância.-OvelhoBennyestálá,sofrendocomoumcão.Elesopegaram.

- Eles? - Thomas não gostou do tom malicioso com que o garotopronunciaraapalavra.

-É.

-QuemsãoEles?

- Melhor que você nunca descubra - respondeu o garoto, parecendo àvontadedemaisna situação.Eleestendeuamão. -Eu souChuck.EueraoNovatoatévocêaparecer.

“Éesseomeuguiaestanoite?”,pensouThomas.Malconseguiasuperaromal-estar extremo e agora já começava a se irritar. Nada fazia sentido; acabeçadoía.

- Por que todo mundo está me chamando de Novato? - quis saber, aoapertarrapidamenteamãodeChuck,logosoltando-a.

-PorquevocêéomaisnovoCalouro.-ChuckapontouparaThomaseriu.Outro grito partiu da casa, como se viesse de um animal faminto sendotorturado.

-Comopodeestarrindo?-revoltou-seThomas,horrorizadocomoruído.-Parecequealguémestámorrendolá.

-Elevaificarbem.Ninguémmorreseconseguemtrazê-loatempoparaaplicaroSoro.Étudoounada.Mortoouvivo.Sóquedóibastante.

Thomaspensoudepressa.

-Oquedóibastante?

Chuckdesviouoolharcomosenãosoubesseaocertooquedizer.

-Há…serpicadopelosVerdugos.

- Verdugos? - Thomas estava ficando cada vez mais confuso. Picado.Verdugos.As palavras transmitiam tantomedo que de repente não sabia se

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queriasabersobreoqueChuckestavafalando.

Chuckdeudeombros,depoisdesviouoolharerolouosolhosparaoalto.

Thomassuspiroufrustradoeabandonou-sedeencontroàárvore.

-Parecequevocê sabepoucomais doque eu - disse,mas comcertezaaquilonãoeraverdade.Asuaperdadememóriaeraestranha.Conseguiaselembrar de muita coisa da vida, porém faltavam os dados específicos, osrostos,osnomes.Comoumlivrointacto,masemquefaltasseumapalavraacada dez, tornando a leitura cansativa e confusa. Ele nem sequer sabia aprópriaidade.-Chuck,quantos…quantosanosvocêachaqueeutenho?

Ogarotoolhou-odecimaabaixo.

-Eudiriaunsdezesseis.Eparaocasodeestaremdúvida…ummetroeoitenta… cabelos castanhos. Ah, e feio como um churrasquinho de figadotorrado.-Eledeuumarisada.

Thomas estava tão atordoadoque nemouviu a últimaparte.Dezesseis?Tinhadezesseisanos?Sentia-semuitomaisvelhodoqueisso.

-Estáfalandosério?-Fezumapausa,procurandoaspalavras.-Como…-Nemmesmosabiaoqueperguntar.

-Nãosepreocupe.Vaificarmeiochapadonosprimeirosdias,maslogovai se acostumar com o lugar. Eu me acostumei. Vivemos aqui, só isso.Melhordoquevivernummontedeplong.-Eledeuumapiscada,comoqueprevendoapróximaperguntadeThomas.-Plongéoutrapalavraparacocô.Ococôfazplongquandocainovaso…

ThomasolhouparaChuck, incapazdeacreditarqueestava tendoaquelaconversa.

-Legal-foitudooqueconseguiudizer.Levantando-se,passouporChuckemdireçãoaoedifíciodecadente; choça seriaumnomemelhorparaaquelelugar.Pareciater trêsouquatroandaresdealturaeestarprestesadesabaraqualquermomento -umamontoadomalucode troncose tábuaspresoscomcordas,asjanelasparecendotersidodispostasaesmo,osimensosmurosdepedracobertosdeheraelevando-seportrás.Enquantoatravessavaopátio,o

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cheiropenetrantedeumafogueiraedealgumtipodecarneassadafezoseuestômago contrair. Saber agora que os gritos vinham apenas de um garotocom dores foi um certo alívio para Thomas. Até pensar no que causara ador…

-Qualéoseunome?-indagouChuckatrásdele,correndoparaalcançá-lo.

-Oquê?

- O seu nome! Ainda não nos contou… e sei que isso você deve selembrarmuitobem.

-Thomas.-Elemalouviuasipróprio…osseuspensamentoscorriamemoutra direção. Se Chuck estivesse certo, acabara de descobrir uma ligaçãocomos outros garotos.Umpadrão comumde perda dememória. Todos selembravamdopróprionome.Porquenãodonomedospais?Porquenãodonomedosamigos?Porquenãodosobrenome?

-Legalconhecê-lo,Thomas-falouChuck.Nãoprecisasepreocupar,voutomarcontadevocê.Chegueiháummêseconheçotudoissoaqui.VocêpodeconfiarnoChuck,certo?

Thomasestavaquasechegandoàportadafrentedachoçaeaopequenogrupo de garotos aglomerados ali quando foi tomado por um repentino esurpreendenteacessoderaiva.Virou-separaencararChuck.

-Vocênemconseguemecontarnada.Nãodiriaqueissoétomarcontademim.

Ele se voltou em direção à porta, com a intenção de entrar e encontraralgumas respostas. De onde tirara a coragem e a determinação súbitas nãofaziaamenorideia.

Chuckencolheuosombros.

- Nada do que eu disser vai fazer você se sentir melhor - falou. -Basicamente,aindasouumCalourotambém.Maspossoserseuamigo…

-Nãoprecisodeamigos-Thomasointerrompeu.

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Chegou à porta, uma lousa de madeira sombria e desgastada pelo sol,entãoabriu-aparaverváriosgarotosdeexpressãosériaesperandoaopédeuma escada torta, os degraus e corrimãos retorcidos e virados em todas asdireções.Asparedesdaentradaedocorredoreramforradascompapelescurojá descascando em alguns pontos. Os únicos elementos decorativos à vistaeramumvaso empoeirado sobre umamesa de três pernas e um retrato empretoebrancodeumamulheridosausandoumvestidobrancoforademoda.Aquilo lembrou aThomas uma casamal-assombrada de um filme ou coisaparecida.Faltavamatémesmotábuasdoassoalho.

O lugar recendiaapoeira ebolor -umgrandecontraste comosaromasagradáveisdoladodefora.Luzesfluorescentespiscantesbrilhavamnoteto.Não tinha pensado nisso ainda,mas ficou se perguntando de onde vinha aeletricidadeemumlugarcomoaClareira.Olhouparaasenhoranafotografia.Teriamoradoaliumdia?Teriacuidadodaquelaspessoas?

-Ei,olhem,éoNovato-falouumdosrapazesmaisvelhos.

Sobressaltado,Thomaspercebeuqueeraogarotodecabelospretosquelhedirigiraaqueleolharsinistronachegada.Pareciaterunsquinzeanos,eraalto e magro. O nariz, do tamanho de um pequeno punho, lembrava umabatatadeformada.

-EssetrolhoprovavelmentedeveterplongadonascalçasquandoouviuovelhoBennygritarcomoumamenina.Estáprecisandotrocarafralda,carademértila?

- Omeu nome é Thomas. - Tinha de se safar daquele cara. Semmaispalavras, encaminhou-se para a escada, só porque ela estava próxima, sóporque não tinha a menor ideia do que fazer ou dizer. Mas o importunopostou-senasuafrente,levantandoamão.

- Alto lá, Fedelho. - Apontou com o dedo para o andar de cima. - OsCalourosnão têmpermissãoparaver alguémque foi…pego.Newt eAlbynãodeixam.

-Qualéoseuproblema?-reagiuThomas,tentandonãorevelaromedonavoz,tentandonãopensarnoqueogarotoquiseradizercompego.-Nem

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mesmoseiondeestou.Sóestouprocurandoajuda.

-Escuteaqui,Novato.-Ogarotoenrugouaface,cruzandoosbraços.-Jávivocêantes.Algumacoisacheiramalemvocêevoudescobriroqueé.

UmaondadecalorpercorreuasveiasdeThomas.

-Nuncavivocêemtodaaminhavida.Nãofaçoideiadequemvocêé,enãome interessa saber -desfechou.Masde fatocomoele saberia?Ecomoaquelegarotopodialembrar-sedele?

O valentão soltou uma risadinha misturada com um bafo de catarro.Depoisficousério,cerrandoassobrancelhas.

- Eu.. vi você, trolho. Não hámuitos neste lugar que podem dizer queforampicados.-Eleapontouparaoaltodaescada.-Eufui.EseioqueoBenestápassando.Jáestivelá.EvivocêduranteaTransformação.-Estendeuamão e bateu no peito de Thomas. - E aposto a sua primeira refeição doCaçarolaqueoBennyvaidizeramesmacoisatambém.

Thomas recusou-se a desviar o olhar, mas decidiu não dizer nada. Opânicocomeçavaadevorá-lodenovo.Seráqueascoisasnuncaiamparardepiorar?

-OsVerdugosjáofizerammolharascalças?-ogarotoindagoucomumsorriso irônico. -Estáumpouquinhoassustadoagora?Nãoquerserpicado,né?

Lávinhaaquelapalavradenovo.Picado.Thomastentounãopensarnelaeapontouparaaescada,deondeosgemidosdogarotodoenteecoavampeloprédio.

-SeoNewtestáláemcima,entãoquerofalarcomele.

O garoto não disse nada, limitou-se a olhar para Thomas por váriossegundos.Entãobalançouacabeça.

-Quersaber?Vocêestácerto,TommyEunãodeviamepreocupar tantocomosCalouros.SubaláetenhocertezadequeAlbyeNewtvãodeixarvocêpordentrodetudo.Sério,podeir.Medesculpe.

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DeuumtapinhanascostasdeThomaseafastou-separao lado, fazendoum gesto em direção à escada. Mas Thomas sabia que o garoto estavatramandoalgumacoisa.Nãoéporquealguémperdepartedamemóriaquesetransformaemumidiota.

- Qual é o seu nome? - indagou Thomas, para ganhar tempo enquantodecidiasedeveriasubirounão.

- Gally. E não se deixe enganar por ninguém. Sou eu quem realmentemandaaqui,nãoasduasvelhotastrolhasláemcima.Eu.PodemechamardeComandante Gally se quiser. - Sorriu pela primeira vez; os dentescombinandocomonarizdesagradável.Faltavamunsdoisou trêsenenhumdelesnemdelongeseaproximavadealgodecorbranca.ArespiraçãoqueeledeixouescaparfoiobastanteparaThomassentirobafo,fazendo-olembrar-sedealgohorrívelnamemóriaquenãoconseguiaidentificar.Aquilofezoseuestômagorevirar.

-Tudobem-disse,comtantonojodogarotoquetevevontadedegritaredar-lheummurronacara.-ComandanteGallyentão.-Fezumacontinênciaexagerada, sentindo uma descarga de adrenalina ao perceber que haviapassadodolimite.

Umas risadinhas escaparam do grupo e Gally olhou em volta, o rostovermelho.VoltouaencararThomas,araivaencrespandoassuassobrancelhaseenrugandoonarizmonstruoso.

-Apenassubaaescada-falouGally.-Efiquelongedemim,cabeção.-Apontoudenovoparaoalto,masnãotirouosolhosdeThomas.

-Ótimo. -Thomasolhouao redorumavezmais, embaraçado, confuso,com raiva. Sentia o calor do sangue no rosto. Ninguém esboçou ummovimentoparaimpedi-lodefazeroqueGallypedia,anãoserChuck,quepermaneceunaportadafrentebalançandoacabeça.

-Nãodevefazerisso-falouogarotomaisnovo.-VocêéumCalouro…nãopodesubirlá.

-Vá-disseGallycomumsorriso.-Subalá.

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Thomasarrependeu-semuitode terentrado-masrealmentequeriafalarcomNewt.

Começouasubiraescada.Cadadegraurangiaeestalavasoboseupeso;elepoderia terparadoporcausadomedodecairporentreamadeirapodrenãoforapelasituaçãoincômodaquedeixaraláembaixo.Continuousubindo,encolhendo-seacadarangidodamadeira.Aescadadavanumpatamardepoisdo primeiro lance, virava à esquerda, depois chegava a um corredor comcorrimãosquelevavaadiversosquartos.Sódeumaportasaíaluzpelovãodobatenteinferior.

-ATransformação!-gritouGallyládebaixo.-Procureporela,carademértila!

ComoseosarcasmodeGallylhedesseumímpetorepentinodecoragem,Thomas aproximou-se da porta acesa, ignorando os rangidos das tábuas doassoalho e as risadas lá embaixo - semprestar atenção à chuvadepalavrasquenãoentendia,reprimindoostemoresqueelasinduziamnele.Chegando,virouamaçanetadelatãoeabriuaporta.

Dentrodoquarto,NewteAlbyestavaminclinadossobrealguémdeitadoemumacama.

Thomasaproximou-seumpoucoparasaberdoquesetratava,masquandoconseguiu ver o estado do paciente, seu coração esfriou. Precisou conter oacessodevômitoquesubiupelagarganta.

A visão foi rápida - de apenas alguns segundos -, mas o bastante paraassombrá-lopara sempre.Uma figurapálidae retorcida,contorcendo-seemagonia, o peito nu e horrendo. Os fios esticados e rígidos das veiasesverdeadasde formadoentiaespalhavam-secomo teiaspor todoocorpoemembrosdogaroto,comocordassobapele.Estavacobertoporhematomasarroxeados,brotoejasavermelhadas,arranhõessangrentos.Osolhosinjetadosdesanguesaltavamdasórbitas,comosepulsassem.AimagemjásefixaranamentedeThomasquandoAlbydeuumsalto,bloqueandoavisão,masnãoosgemidoseosgritos,empurrando-oparaforadoquartoebatendoaportaatrásdosdois.

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-Oqueestáfazendoaqui,Fedelho?!-gritouAlby,oslábiosesticadosderaiva,osolhosembrasa.

Thomassentia-sefraco.

- Eu… há… queria algumas respostas - murmurou,mas não conseguiaimprimir forçaàspalavras, sentindo-searrasadopordentro.Oquehaviadeerrado com aquele garoto? Thomas apoiou-se no corrimão do corredor eolhouparaaporta,semsaberoquefazer.

- Leve essa cara de anão lá pra baixo agora mesmo - ordenou Alby. -Chuckvailhedizeroquefazer.Nãoqueromaisvervocêatéamanhãcedo.Sepor acaso encontrá-lo antes disso, será um homem morto. Atiro você doPenhascoeumesmo,estámeentendendo?

Thomasestavahumilhadoeapavorado.Sentiuqueencolhiaaté ficardotamanho de um camundongo. Sem dizer uma palavra, passou por Alby eencaminhou-se para os degraus rachados, andandoomais rápido que pôde.Ignorandoosolharesembasbacadosde todos láembaixo-especialmentedeGally-foidiretoparaaporta,puxandoChuckpelobraçoquandooalcançou.

Thomasodiouaquelescaras.Odioutodoseles.ExcetoChuck.

-Meleveparalongedessescaras-pediuThomas,concluindoqueChuckpoderiaser,defato,oseuúnicoamigonomundo.

- Você é quem vianda - respondeu Chuck, a voz animada, como segostassedeserútil.-MasprimeirodeveríamosconseguiralgumacoisaparacomercomoCaçarola.

- Acho que nunca mais vou querer comer nada. - Não depois do queacabaradever.

Chuckinclinouacabeçaconcordando.

- Ah, vai, sim. Encontro com você na mesma árvore de antes. Dezminutos.

Thomas sentiu-semais do que satisfeito em se afastar da casa e voltoupara a árvore.Sóhavia estadoali porumcurto tempoe jáqueriaque tudo

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acabasse.Oquemaisdesejavanomundoeraselembrardealgosobreasuavida anterior. Qualquer coisa. Sua mãe, seu pai, um amigo, a escola, umpassatempo.Umagarota.

Piscouváriasvezescomdificuldade, tentando tirardacabeçaa imagemqueacabaradepresenciarnachoça.

ATransformação.GallychamaraaquilodeTransformação.

Nãoestavafrio,masThomastremeumaisumavez.

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Thomas recostou-se na árvore enquanto esperava porChuck.Correu osolhos pelo território da Clareira, o novo local de pesadelos onde pareciadestinado a viver. As sombras dos muros tinham aumentadoconsideravelmente de comprimento, já alcançando as laterais das faces depedrarecobertasdeheradooutrolado.

Pelomenosissooajudavaaperceberasdireções-oedifíciodemadeirainclinadonocantonoroeste,encravadoemumretalhodesombraescurecida,obosquenosudoeste.Aregiãodafazenda,ondealgunstrabalhadoresaindaatravessavamoscampos,espalhava-seportodaapartenordestedaClareira.Osanimaisficavamnocantosudeste,mugindo,cocoricandoebalindo.

Nomeioexatodopátio,o fossodaCaixacontinuavaaberto,comoseoestivessemconvidandoasaltarparadentroevoltarparacasa.Aliperto,unsseismetrosaosul,via-seumedifícioatarracadofeitodeblocosgrosseirosdeconcreto,tendocontoúnicaentradaumaportadeaçoameaçadora-lánãoseviamjanelas.Umagrandemaçanetaredondaquelembravaumarodadelemede aço assinalava a única maneira de abrir a porta, assim como em umsubmarino.Apesardoque acabaradever,Thomasnão sabiaqual sensaçãoera mais forte - a curiosidade sobre o que havia lá dentro ou o medo dedescobriraresposta.

Thomasacabaradevoltarsuaatençãoparaasquatroimensasaberturasnomeio dos muros principais da Clareira quando Chuck chegou, com doissanduíches,maçãseduascanecasdemetaldeágua.Asensaçãodealívioquepercorreu seu corpo surpreendeu Thomas - ele não estava completamentesozinhonaquelelugar.

-OCaçarolanãogostoumuitoqueeuinvadisseacozinhadeleantesdahoradojantar- informouChuck,sentando-sejuntoàárvore,sugerindocomumsinalqueThomasfizesseomesmo.Elesentou,pegouosanduíche,mashesitou, a imagem retorcida e monstruosa que vira na choça voltando a

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pulularemseuspensamentos.Logo,porém,afomelevouamelhoreeledeuumaboamordida.Os saboresmaravilhosos de presunto, queijo emaioneseencheramasuaboca.

-Ah,cara -murmurouThomasdebocacheia. -Euestavamorrendodefome.

-Bemqueeulhefalei.-Chuckmastigouosanduíche.

Depois demais alguns bocados, Thomas finalmente fez a pergunta quevinhatorturandoosseuspensamentos:

-OquehádeerradocomotalBen?Elenempareciamaishumano.

Chuckolhouderelanceparaacasa.

-Naverdade,eunãosei-murmurou,distante.-Nãoovi.

Thomas desconfiou que o garoto não estava dizendo a verdade, masdecidiunãopressioná-lo.

-Bem,vocênãoiaquerervê-lo,podeacreditar.

Continuouacomer,mastigandoasmaçãsenquantoexaminavaasimensasaberturas nos muros. Embora fosse difícil de ver direito dali onde estava,havia algo de estranho nas bordas de pedra das saídas para os corredoresexternos.Ele teveumadesagradável sensaçãodevertigemaoolhar paraosmurosmuitoaltos,comosepairasseacimadelesemvezdeestarsentadonasuabase.

-Oquetemlá?-perguntou,quebrandoosilêncio.-Issoaquifazpartedeumimensocastelooucoisaparecida?

Chuckhesitou.Pareciapoucoàvontade.

-Hã,nuncaestivedoladodeforadaClareira.

Thomasfezumapausa.

-Vocêestáescondendoalgumacoisa-dissefinalmente,enquantodavaaúltimamordidanamaçãetomavaumlongogoledeágua.Afrustraçãodenãoconseguirrespostasdeninguémestavacomeçandoalhedarnosnervos.Eera

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aindapiorpensarqueatémesmoseconseguisseasrespostas,nãosaberiaseestariaobtendoaverdade.-Porquevocêsguardamtantossegredos?

-Éassimmesmo.Ascoisas são realmentemuitoestranhasporaquieamaiorianãosabetudo.Nemametadedetudo.

OqueincomodavaThomaseraqueChucknãopareciaseimportarcomoquedizia.Comoselhefosseindiferentequelhetirassemavidaquetinha.Oqueestavaerradocomaquelescaras?Thomaslevantou-seecomeçouaandarnadireçãodasaídaparaoleste.

-Bem, ninguémdisse que eu não poderia dar uma olhada por aí. - Eleprecisavadescobriralgumacoisaouficariamaluco.

-Ei, espere! - gritouChuck, correndo para alcançá-lo. - Tome cuidado,estáquasenahoradaquelascoisasfecharem.-Elejápareciasemfôlego.

-Fechar?-repetiuThomas.-Doquevocêestáfalando?

-DasPortas,seutrolho.

-Portas?Nãovejonenhumaporta.-ThomassabiaqueChucknãoestavaenrolando, sabia que ele, Thomas, não estava entendendo algo que pareciaóbvio. Ficoumeio semgraça e percebeu que diminuíra o passo, já não tãoansiosoparachegaraosmuros.

-Comovocêchamariaaquelasgrandesaberturas?-Chuckapontouparaos espaços imensamente altos entre os muros. Estavam a apenas uns dezmetrosdedistâncianomomento.

-Euchamariadegrandesaberturas-arriscouThomas,tentandodisfarçaroseumal-estarcomsarcasmoeficandodecepcionadopornãofuncionar.

-Bem,elassãoasportas.Efechamtodasasnoites.

Thomasparou,pensandoqueChuckdeviaterditoalgoerrado.Olhouparacirna, depois para os lados, examinou as imensas lajes de pedra com umasensaçãoincômodatransformando-seempuromedo.

-Oquequerdizercom“elasfecham”?

-Veja vocêmesmo em umminuto. Os Corredores vão voltar já; então

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essasparedesenormesvãocomeçarasemoveratéqueaspassagensestejamfechadas.

- Você tem um parafuso amenos - murmurou Thomas. Não conseguiaentender conto aqueles muros colossais poderiam se mover… Tinha tantacertezadissoquerelaxou,pensandoqueChuckestivessepregandoumapeçanele.

Chegaramàimensaaberturaquelevavaaoexterior,paramaiscaminhosde pedra. Thomas engoliu em seco, ficando sem pensamentos quando viuaquilopelaprimeiravez.

-EstaéchamadadePortaLeste-informouChuck,comosedescortinasseorgulhosoumaobradeartequeelemesmocriara.

Thomas mal o ouvia, chocado com o tamanho daquilo, muito maiorquando visto de perto. Com pelo menos uns seis metros da largura, apassagemnomuroiaatéoalto,atéperderdevista.Asbordasquemargeavama imensa abertura eram lisas, a não ser por um desenho peculiar, que serepetiadeambososlados.DoladoesquerdodaPortaLeste,existiamorifíciosprofundos de vários centímetros de diâmetro e espaçados uns trintacentímetros entre si escavados na rocha, começando próximo ao chão econtinuandoatéoalto.Jánoladodireito,haviaprotuberânciascomocones,que se projetavam da borda do muro, também com vários centímetros dediâmetro, nomesmo desenho dos orifícios da face oposta. O propósito eraóbvio.

- Está falando sério? - exclamou Thomas, o medo contraindo o seuestômago.-Nãoestábrincandocomigo?Osmurosrealmentesemovem?

-Oquefoiqueeudisse?

Thomas ficou um bom tempo matutando sobre como aquilo podiaacontecer.

-Não sei. Imaginei que houvesse uma porta que fechasse ou ummuromenor que deslizasse de dentro do maior. Como esses muros podem semover?Elessãoimensos,eparecemestarfixosnosolohámilharesdeanos!-

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Ea ideiadeaquelesmurossefecharemeenclausuraremdentrodelesoquechamavamdeClareiraeraaterrorizante.

Chuckjogouosbraçosparacimaparaenfatizarasuafrustração.

- Não sei como, mas eles simplesmente se movem. Fazem a gente seencolhercomoseurangido.AmesmacoisaaconteceláforanoLabirinto…Aquelesmurostambémmudamdelugartodasasnoites.

De repente, desperto por esse novo detalhe, Thomas voltou-se para ogarotomaisnovo.

-Oquefoiqueacaboudedizer?

-Há?

- Você falou num labirinto… disse: “A mesma coisa acontece lá nolabirinto”.

Chuckenrubesceu.

- Pramim já chega.Agora chega. - Ele caminhou de volta à arvore deondetinhampartido.

Thomas ignorou-o, mais interessado do que nunca na parte de fora daClareira.Um labirinto?Na frentedele, atravésdaPortaLeste, era capazdeimaginar passagens que levavam ora para a esquerda, ora para a direita etambémparaafrente.Easparedesdoscorredoreseramsemelhantesàquelasque contornavam a Clareira, o chão feito dos mesmos imensos blocos depedra do pátio. A hera parecia ainda mais densa lá. À distância, maisintervalosnosmuroslevavamaoutroscaminhos,emaisàfrente,talvezacemmetrosoumais,apassagemretachegavaaumbecosemsaída.

- Parece mesmo um labirinto - sussurrou Thomas, quase rindo para simesmo.Como se as coisasnãopudessem se tornarmais estranhas.Tinhamlhetiradoamemóriaeohaviamcolocadoemumlabirintogigantesco.Eratãoloucoqueatépareciaengraçado.

Seu coração deu uma batida a menos quando um garoto apareceu demaneira inesperada ao redor de um canto à frente, entrando na passagem

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principaldeumadassaídasàdireita,correndonadireçãodeleedaClareira.Cobertodesuor,orostovermelho,asroupasgrudadasnocorpo,ogarotonãodiminuiuavelocidade,malolhandoparaThomasquandopassou.FoidiretoparaoedifícioatarracadodeconcretolocalizadopertodaCaixa.

Thomas virou-se quando ele passou, acompanhando com o olhar oCorredorexausto,semsaberporqueessenovoacontecimentoosurpreendiatanto. Por que as pessoas não saíam para percorrer o labirinto? EntãopercebeuqueoutrosentravampelastrêsaberturasrestantesdaClareira,todoscorrendoeparecendo tãoapressadosquantoogarotoqueacabaradepassarporele.Pelojeitoqueaquelescarasvoltavamtãocansadosedesgastados,ascoisasnãodeviamsermuitofáceisnolabirinto.

Curioso, observou quando eles chegaram à grande porta de ferro dopequeno edifício; um dos garotos girou a maçaneta em forma de roda,gemendocomoesforço.ChuckdisseraalgosobreosCorredoresantes.Oqueelesiamfazerláfora?

A grande porta finalmente cedeu e, com um rangido abafado de metalcontrametal, osgarotos a abriramcompletamente.Entãodesapareceramnointerior, fechando-aatrásdesicomumruídoalto.Thomasficouolhando,amente fervilhando para tentar encontrar alguma explicação possível para oque acabara de testemunhar. Nada mudara, mas algo sobre aquele velhoedifíciodecadentedava-lhesobressaltos,umcalafrioinquietante.

Alguémpuxou-opelamangadacamisa,tirando-odosseuspensamentos;eraChuckdenovo.

Antesdeterumachancedepensar,asperguntascorreramparaasuaboca.

-Quemsãoaquelescaraseoqueestavamfazendo?Oque temnaqueleprédio? -Girou nos calcanhares e apontou para a Porta Leste. - E por quevocês moram dentro de um labirinto esquisito? - Ele sentia a pressão dadúvidafustigá-lo,fazendoasuacabeçarachardedor.

- Não vou dizer mais nenhuma palavra - retrucou Chuck, com umaautoridadenovanavoz.-Achoquevocêprecisaircedoparaacama…Vaiprecisar dormir. Ah!… - Ele parou, levantou um dedo, coçando a orelha

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direita.-Vaiaconteceragora.

- O quê? - indagou Thomas, achando um pouco estranho que Chuckestivesse de repente agindo como um adulto e não como o meninodesesperadoporumamigoqueforaatéunsinstantesatrás.

Umestrondoaltoelevou-senoar, fazendoThomassaltar.Obarulho foiseguidodeumhediondosomásperoearrastado.Elerecuouapalermado,caiuno chão.Era como se a terra inteira fosse sacudida; ele olhou ao redor empânico. Os muros estavam se fechando. Os muros estavam realmente sefechando - prendendo-os dentro da Clareira. Uma repentina sensação declaustrofobia o enrijeceu, comprimindo os seus pulmões, como se as suascavidadesseenchessemdeágua.

-Calma,Fedelho-Chuckgritouacimadoruído.-Sãosóosmuros!

Thomas mal o ouvia, fascinado demais, abalado demais com ofechamento das Portas. Levantou-se e deu alguns passos trêmulos para trásparaobservarmelhor,achandodifícilacreditarnoqueosseusolhosestavamvendo.

Omuroenormedepedraàdireitadelespareciadesafiar todasas leisdafísicaconhecidasaodeslizarsobreochão,lançandofaíscasepoeiraenquantosemovia,rochacontrarocha.Osomesmagadorfaziaosseusossostremerem.Thomaspercebeuquesóaquelemuroestavasemovendo,encaminhando-separa o seu vizinho da esquerda, pronto para se fechar totalmente com osbastõessalientesdeumladointroduzindo-senosorifíciosescavadosdooutro.Eleolhouparaasoutrasaberturas.Asuacabeçapareciagirarmaisrápidodoque o corpo, e a tontura lhe deu um nó no estômago.Dos quatro lados daClareira,sóosmurosdadireitasemoviam,paraaesquerda,fechandoosvãosdasPortas.

“Impossível”,pensou.“Comoelesconseguemfazerisso?”Precisoulutarcontraoimpulsodecorreratélá,esgueirar-seporentreaslajesdasrochasemmovimentoantesqueumasefechassesobreaoutra,fugirdaClareira.Obomsenso venceu - o labirinto guardava aindamais segredos do que a situaçãodelealidentro.

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Tentou imaginar como a estrutura toda funcionava. Imensos muros depedra,commaisdecemmetrosdealtura,movendo-secomoportasdevidrodeslizantes - uma imagem da sua vida passada que voltou numa fração desegundo aos seus pensamentos. Tentou reter a lembrança, prendê-la,completá-lacomrostos,nomes,um lugar,mas tudoseperdeunaescuridão.Uma tristeza doída insinuou-se naquele redemoinho de emoções. Eleobservoucomoomurodadireitachegavaaofimdoseupercurso,osbastõesde ligação encontrando a posição e entrando sem uma falha. Um estrondoecoou por toda a Clareira quando as Portas foram lacradas para a noite.Thomas sentiu ummomento final de trepidação, uma tênue onda demedoatravessar-lheocorpoedepoisdesaparecer.

Umasurpreendentesensaçãodecalmarelaxouosseusnervos;soltouumlongosuspirodealívio.

-Uau!-exclamou,espantadocomtudoaquiloqueacabavadepresenciar.

-“Nãoénada,não”,comodiriaAlby-murmurouChuck.-Vocêacabaseacostumandodepoisdealgumtempo.

Thomasolhouaoredorumavezmais,asensaçãodolugarcompletamentediferente agora que todos os muros estavam unidos sem possibilidade desaída.Tentouimaginaropropósitodeumacoisadaquelasenãosoubedizerque palpite seria pior - que eles estavam presos dentro ou que estavamprotegidosdealgodefora.Opensamentoacaboucomoseubrevemomentode calma, lançando em sua mente um milhão de possibilidades de quaisseriam as formas de vida que havia no labirinto lá fora, todas elasaterrorizantes.Omedotomoucontadeleoutravez.

-Vamos-chamouChuck,puxandoThomaspelamangaumasegundavez.-Acrediteemmim,quandoanoitechega,vocêquerestarnacama.

Thomas sabia quenão tinhaoutra escolha.Fezomelhor quepôdeparareprimirotumultodeemoçõesqueestavasentindoeoacompanhou.

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Eles acabaram voltando à Sede - que foi como Chuck chamou aconstrução tortademadeiracomjanelas -echegaramaumasombraescuraentreoedifícioeomurodepedraatrásdele.

-Aondeestamosindo?-quissaberThomas,aindasobrecarregadocomavisãodosmurosse fechando,pensandono labirinto,naconfusão,nomedo.Disseasimesmoparapararouacabariaficandolouco.Tentandomanterumaaparência de normalidade, ele fez uma fraca tentativa de dizer algoespirituoso.-Seestáesperandoporumbeijodeboanoite,podeesquecer.

Chucknãosefezderogado.

-Apenascaleabocaefiquepertodemim.

Thomassoltouumgrandesuspiroedeudeombrosantesdeacompanharogarotomaisnovonocaminhodevoltaaoedifício.Andaramnapontadospésaté chegar a uma janelinha empoeirada, com um pequeno feixe de luz seprojetandoatravésdelasobreapedraeahera.Thomasouviualguémandarládentro.

-Obanheiro-Chucksussurrou.

-Edaí?-umfiodenervosismoinsinuou-seatravésdapeledeThomas.

- Adoro fazer isso com os outros.Me dá um grande prazer antes de irdormir.

-Fazeroquê?-AlgodiziaaThomasqueChuckiriaaprontaralguma.-Talvezeudevesse…

-Caleabocaeobserve.-Chucksubiuemsilêncionumagrandecaixademadeiraqueestavabemembaixoda janela.Agachou-sedemodoqueasuacabeça ficasse posicionada bem abaixo de onde a pessoa que estava dentropudessevê-la.Entãoestendeuamãoebateudelevenovidro.

-Quebesteira-sussurrouThomas.Nãopoderiahavermomentopiorpara

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pregarumapeça;podiaserNewtouAlbyládentro.-Nãoqueromemeteremmaisproblemas…Acabodechegar!

Chucksufocouumarisadacolocandoamãonaboca.IgnorandoThomas,estendeuamãoebateunajaneladenovo.

Umasombracruzoua luz; entãoa janela se abriu.Thomasescondeu-senum pulo, espremendo-se o máximo que pôde de encontro aos fundos doedifício.Nãopodiaacreditarque tinha semetidonaquelahistóriadepregarumapeçaemalguém.Oângulodevisãodajanelaprotegeu-oporuminstante,masThomassabiaqueeleeChuckseriamvistossequemquerqueestivessealidentropusesseacabeçaparaforaafimdeobservarmelhor.

-Quemestáaí? -gritouogarotodedentrodobanheiro, avozásperaecarregadaderaiva.

ThomasprendeuarespiraçãonahoraquandopercebeuqueeraGally;elejáconheciaaquelavoz.

Semavisar,Chuck levantoua cabeçanadireçãoda janela egritou comtodasasforças.Umgrandeestardalhaço ládentro indicouqueabrincadeirafuncionara-ealadainhadexingamentosqueseouviuemseguidamostravaqueGallynãoestavanadasatisfeitocomaquilo.Thomasficoutomadodeummistodehorroreembaraço.

-Eumatovocê,carademértila!-gritavaGally,masChuckjásaltaradacaixaecorriaparaomeiodaClareira.ThomascongelouquandoouviuGallyabriraportaesaircorrendodobanheiro.

Thomasfinalmentesaiudoseutranseefoiatrásdoseunovo-eúnico-amigo.MalacabaradedobraraesquinaquandoGallyirrompeugritandodaSede,comumaaparênciadeanimalferozdesembestado.

EleapontouparaThomas.

-Venhacá!-gritou.

OcoraçãodeThomasseapertou,rendendo-se.Tudoparecia indicarquereceberiaummurronacara.

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-Não fui eu, eu juro - disse,mas naquelemomentomediu o garoto decima a baixo e chegou à conclusão de que pensando bem ele não era tãoaterrorizante.Gally não era assim tão grande. Seria capaz de enfrentá-lo sefossepreciso.

-Não foivocê? - rosnouGally.Eleaproximou-sedeThomasdevagareparoubemnafrentedele.-Entãocomosabedealgoquedizquenãofez?

Thomas não disse nada. Estava constrangido, mas não tão assustadoquantoalgunsmomentosantes.

-Nãosoutrouxa,Fedelho-bradouGally.-ViacaragordadoChuckpelajanela. - Ele apontou de novo, dessa vez para o peito de Thomas. -Mas émelhor você decidir depressa quem vai querer como amigo ou inimigo,ouviu?Maisumabrincadeiradessas…nãomeinteressasefoiumaideiademaricas sua ou não… o sangue vai jorrar. Entendeu bem, Calouro? -Masantes que Thomas pudesse responder, Gally já tinha dado meia-volta e seafastado.

Thomassóqueriaqueaqueleepisódioacabasse.

-Sintomuito -murmurou, fazendoumacareta aoperceber como soavaridículaaresposta.

-Euconheçovocê-acrescentouGallysemolharpara trás. -EuovinaTransformaçãoevoudescobrirquemvocêé.

ThomasobservouenquantoovalentãodesapareciadentrodaSede.Nãoselembravademuita coisa,mas algo lhedizia quenuncadetestara tantoumapessoa.Estavasurpresodeverquantodefatoodiavaogaroto.Elerealmente,realmenteoodiava.Voltou-separaverChuckparado,olhandoparaochão,envergonhado.

-Muitoobrigado,amigão-disseThomas.

-Sintomuito…SesoubessequeeraoGally,nuncateriafeitoaquilo,eujuro.

Surpreendendo a si mesmo, Thomas deu uma risada. Uma hora antes,pensavaquenuncamaisouviriaumsomdaquelessairdenovodasuaboca.

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Chuck observou bem Thomas e aos poucos foi esboçando um sorrisomaroto.

-Confioassim?

Thomasabanouacabeça.

-Nãosedesculpe.0…trolhobemquemerecia,eolhaqueeunemseioquequerdizertrolho.Aquilofoichocante.-Elesesentiamuitomelhor.

Umasduashorasmaistarde,Thomasestavadeitadoemummaciosacodedormir ao ladodeChuck sobreum leitode relvapertodos jardins.Eraumgramadoextensoquenãotinhanotadoantes,emuitosdogrupoescolhiamolugarparadormir.Thomasachouestranho,mas,peloquepôdeobservar,nãohaviaespaçosuficientedentrodaSede.Pelomenosnãoestavafazendofrio.Oqueofezseperguntarpelamilionésimavezondeelesestavam.Cansaradetentarselembrardenomesdelugares,oudepaísesougovernantes,comoomundoseorganizava.EnenhumdosgarotosdaClareirapareciaterumaideiaarespeito-esetinham,nãorevelavam.

Ficoualideitadoemsilênciopelomaiortempopossível,contemplandoasestrelas e ouvindo osmurmúrios abafados de várias conversasmantidas aolongodaClareira.Apossibilidadededormir parecia estar a quilômetrosdedistância, e ele não conseguia se livrar do desespero e do desamparo quetomaracontadoseucorpoedasuamente-adiversãotemporáriadapeçaqueChuck pregara em Gally havia muito se desvanecera. Aquele era um diainterminável-eestranho.

Eraapenas…esquisito.Lembrava-sedeumaporçãodedetalhessobreavida - comida, roupas, estudo, jogos, imagens diversas da aparência domundo.Mas qualquer detalhe que pudesse se encaixar numa imagem paracompor uma lembrança de verdade e acabada tinha de alguma forma seapagado.Eracomoolharparaumaimagematravésdeumacamadadeáguasuja.Maisdoquequalqueroutracoisa,talvez,elesesentia…triste.

Chuckinterrompeuosseuspensamentos.

-Bem,Fedelho,vocêsobreviveuaoPrimeiroDia.

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-Porpouco. -“Agoranão,Chuck”, tevevontadededizer.“Nãoestouafim.”

Chuck levantou-se, apoiando-se num dos cotovelos, para observarThomas.

-Vocêvaiaprenderumaporçãodecoisasnospróximosdias,vaicomeçaraseacostumarcomtudo.Bomisso,né?

- Hã, sim, bom isso. De onde vêm todas essas palavras e expressõesestranhas,afinaldecontas?-Pareciaque tinhampegadoumoutro idiomaeincorporadoaodeles.

Chuckjogou-sedecostascomumruídooco.

-Seilá…Fazsóummêsqueestouaqui,lembra?

ThomasficoupensandoemChuck,seelesabiamaisdoquedemonstrava.Era um garoto sensível, divertido, e parecia inocente, mas quem sabe? Naverdade,eleeratãomisteriosoquantotudomaisnaClareira.

Passaram-sealgunsminutos,eThomassentiuqueolongodiafinalmenteocansara,osonocomeçandoapesarnasuamente.Mas…comoseumpunhobatessederaspãonoseucérebroesumisse…umpensamentopassou-lhederepentepelacabeça.Umpensamentoinesperadoequeelenãosabiadeondevinha.Numinstante,aClareira,osmuros,oLabirinto-tudoaquiloparecia…familiar.Confortável.Umaondadetranquilidadeespalhou-sepeloseupeitoe, pela primeira vez desde que se encontrava ali, não sentiu como se aClareirafosseopiorlugardouniverso.Eleseacalmou,sentiuosolhosbemabertos, a respiração contida por um longo momento. “O que acaba deacontecer?”,pensou.“Oquemudou?”Ironicamente,asensaçãodequetudoacabariabemdeixou-oumtantoincomodado.

Sem entender muito bem como, ele sabia o que precisava fazer. Adescoberta era estranha e familiar ao mesmo tempo. Mas parecia tão…correta.

-Queroserumdaquelescarasquevãopara lá -disseemvozalta, semsaberqueChuckaindaestavaacordado.-ParadentrodoLabirinto.

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-Há?-foiarespostadeChuck.Thomaspercebeuumtoquedeirritarãonavozdele.

-OsCorredores-falouThomas,desejandosaberdeondevinhaaquilo.-Sejaoqueforqueelesfazemlá,euquerofazertambém.

-Vocênemtemideiadoqueestáfalando-resmungouChuck,eviroudelado.-Vádormir.

Thomas sentiuumnovo ímpetodeconfiança,muitoemboranaverdadenãosoubessedoqueestavafalando.

-QueroserumCorredor.

Chuckvoltou-seeapoiou-senocotovelo.

-Podeesqueceressaideiaagoramesmo.

Thomasadmirou-secomareaçãodeChuck,masinsistiu.

-Nãotenteme…

-Thomas.Calouro.Meunovoamigo.Esqueça.

-VoufalarcomoAlbyamanhã.-“UmCorredor”,pensouThomas.“Nemmesmoseioqueissosignifica.Seráqueperdiojuízo?”

Chuckdeitou-secomumarisada.

-Vocêémesmoumpedaçodeplong.Vádormir.

MasThomasnãoconseguiaparar.

-Temalgumacoisaláfora…mesoafamiliar.

-Vá…dor…mir.

EntãoThomaspercebeu…comoseváriaspeçasdeumquebra-cabeçaseencaixassem.Ele não sabia como seria a imagemno final,mas as palavrasquedisseemseguidaquasesoaramcomosesaíssemdeoutrapessoa.

-Chuck,eu…euachoquejáestiveaquiantes.

Eleouviuoamigo sentar-se,ouviu-o respirar fundo.MasThomas rolouparaoladoeserecusouadizerqualquercoisa,preocupadoemnãoestragar

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aquela nova sensação de sentir-se encorajado, em não espantar a calmatranquilizadoraqueencheraoseucoração.

Osonoveiomaisfácildoqueesperava.

EstelivrosfoidisponibilizadoporLeLivros

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Alguém sacudiu Thomas para que acordasse. Ele abriu os olhos e sedeparoucomum rostodebruçado sobreo seu, com tudoao redor aindaemsilêncionaescuridãodo iníciodamanhã.Abriuabocapara falar,masumamão fria a tampou, obrigando-o a ficar calado. O pânico o invadiu atéperceberquemera.

-Psiu,Fedelho.NãoqueremosacordaroChuckagora,nãoé?

Era Newt, o sujeito que parecia ser o segundo no contando. O ar seimpregnoucomohálitomatutinodele.

Apesar da surpresa de Thomas, logo qualquer forma de sobressalto sedesfez.Nãopodiaevitaracuriosidade,imaginandooqueorapazqueriacomele. Inclinou a cabeça concordando, fazendoomelhorquepodiaparadizer“sim”comosolhos, atéqueNewt finalmente tirouamão, apoiando-senoscalcanhares.

- Vamos lá, Fedelho - o garoto alto sussurrou enquanto se levantava.EstendeuamãoparaajudarThomasase levantar;era tão fortequepareciasercapazdearrancarobraçodeThomas.-Devolhemostrarumacoisaantesdetodosacordarem.

Qualquer resquício de preguiça do sono já desaparecera da mente deThomas.

-Tudobemdisseele,prontoparaacompanharooutro.Sabiaquedeveriamanter alguma desconfiança, não tendo motivos para confiar em ninguémainda,masacuriosidadeeramaisforte.Rapidamenteabaixou-seeamarrouostênis.

-Aondevamos?

-Apenasmesiga.Efiquebemperto.

Passarampelomeiodogrupodecorposestendidosparadormir,Thomas

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quasetropeçandováriasvezes.Pisounamãodealguém,provocandoumgritoagudodedorcomoreação,depoisumsoconasuaperna.

-Desculpe-sussurrou,ignorandoumolharderepreensãodeNewt.

Depoisdesaíremdogramadoechegaremaopisodepedrascinzentasdopátio,Newtsaiucorrendonadireçãodomurodoladooeste.Thomashesitouaprincípio, imaginandoporqueeleprecisavacorrer,mas logocaiuemsieacompanhou-onomesmoritmo.

Havia pouca claridade,mas como os obstáculos pareciammais escurosque as sombras ele foi capaz de seguir seu caminho rapidamente. QuandoNewtparouelefezomesmo,bempróximodoimensomuroqueseelevavaacimadelescomoumarranha-céu-outra imagemaoacasoqueflutuavanolagolodosodoquerestavadasuamemória.Notoupequenasluzesvermelhaspiscandoaquieali ao longoda superfíciedomuro,movendo-seeparando,apagandoeacendendo.

-Oqueéaquilo?-sussurrouomaisaltoquepôde,imaginandoseasuavozsoaratãotrêmulaquantopensava.Obrilhovermelhofaiscantedasluzesguardavaumamensagemveladadeadvertência.

Newtficoudepéemfrentedagrossacortinadeheradomuro,amenosdeummetrodedistância.

-Quandoprecisarmesmosaber,vaisaber,Fedelho.

-Bem,sópodeserumaburricememandarparaumlugarondenadafazsentido e não responder às minhas perguntas. - Thomas parou, surpresoconsigo mesmo. - Trolho - acrescentou, carregando a palavra com todo osarcasmoaoseualcance.

Newtdeuumarisada,masserecompôs.

-Gostodevocê,Fedelho.Agoracaleabocaedeixe-memostrar-lheumacoisa.

Newt adiantou-se e enfiou as mãos na hera espessa, afastando váriosramos que estavam junto domuro para revelar uma janela empoeirada, umquadradodeunssessentacentímetrosdelado.Elaestavaescuranomomento,

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comosetivessesidopintadadepreto.

-Oqueestamosprocurando?-sussurrouThomas.

-Segureaonda,garoto.Vamoschegarlálogo,logo.

Umminutosepassou,depoisdois.Váriosmais.Thomasmudavadeumpé para outro, imaginando como Newt podia ficar parado ali, paciente ecalmo,olhandoparaalgoqueerasóescuridão.

Entãohouveumamudança.

Lampejosdeuma luzsobrenaturalbrilharamatravésda janela, lançandoumespectrooscilantedecoressobreocorpoeorostodeNewt,comoseeleestivesse próximo a uma piscina iluminada. Thomas manteve-se imóvel,olhandoderevés, tentandoentenderoquepoderiahaverdooutro lado.Umcaroçoespessoformou-senasuagarganta.“Oqueéisso?”,pensou.

-LáforaestáoLabirinto-sussurrouNewt,osolhosarregaladoscomoseestivesse em transe. - Tudo o que fazemos… toda a nossa vida, Fedelho…giraemtornodoLabirinto.Cadaadorávelsegundodecadaadoráveldiaquevivemos,dedicamosaoLabirinto, tentando resolveralgoqueparecenão terumamalditasolução,entendeu?Equeremosmostraravocêporquenãodevefazer besteira.Mostrar a você por que essesmuros amedrontadores fechamtodasasnoites.Mostraravocêporquenunca,masnuncamesmo,devedeixaroseutraseiroláfora.-Newtrecuou,aindasegurandoosramosdahera.FezumgestoparaThomasficaremseulugareolharpelajanela.

Thomas obedeceu, inclinando-se para a frente até tocar com o nariz asuperfície fria do vidro. Demorou um segundo para que os seus olhosdistinguissem o objeto que se movia do outro lado, para olhar através doescuro e da poeira e ver o que Newt queria que visse. Quando conseguiu,sentiu a respiração presa na garganta, como se umventomuito frio tivessesopradoecongeladooar atéque se tornasse sólido.Umacriaturagrandeebulbosa do tamanho de uma vaca, mas sem uma forma distinta, girava eagitava-sesobreochãonocorredordooutrolado.Elasubiunaparedeoposta,entãosaltoucontraajaneladevidrogrossocomumimpactosurdo.Thomasdeuumgritoagudosempodersecontrolar,afastou-sebruscamentedajanela

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-masacoisarecuou,deixandoovidrointacto.

Thomas respirou fundo por duas vezes e inclinou-se de novo. Estavaescuro demais para enxergar com nitidez,mas as luzes estranhas piscavamvindas de uma fonte desconhecida, revelando pontas prateadas indistintas eumacarnecintilante.Apêndices repulsivoseaparentementeperigososcomoinstrumentos projetavam-se do seu corpo parecendo braços: uma lâmina deserra,umatesouradepoda,longosespigõescujousosósepodiaimaginar.

A criatura era uma mistura horrível de animal e máquina, e pareciaperceberqueestava sendoobservada, comose soubesseoquehaviadentrodos muros da Clareira, como se quisesse entrar e se refestelar de carnehumana.Thomassentiuumterrorgeladodespontardentrodopeito,expandir-se como um tumor, tornando a respiração difícil. Mesmo com a memóriaprejudicada,eletinhacertezadenuncatervistoalgotãohorroroso.

Ele recuou, a coragem que sentira na noite anterior desaparecendo porcompleto.

- O que é essa coisa? - indagou. Algo se contraía no seu íntimo e eleimaginouseseriacapazdecomerdepoisdeveraquilo.

- Verdugos, nós os chamamos assim - respondeu Newt. - Sujeitosnojentos, hein? Pois agradeça por eles só saírem durante a noite.Agradeçaporessesmurosexistirem.

Thomas engoliu em seco, imaginando se seria capaz de ir lá fora. Seudesejodetornar-seumCorredorlevaraumgolpetremendo.Maseletinhadefazê-lo. De alguma forma, sabia que conseguiria. Era uma coisa muitoestranhadesentir,especialmentedepoisdoqueacabaradever.

Newtolhouparaajanelacomardistante.

- Agora você sabe o que nos espreita no Labirinto, meu amigo. Agorasabe que não é de brincadeira. Você foi mandado à Clareira, Fedelho, eestamosesperandoquesobrevivaenosajudeacumprirnossamissão.

-E qual é nossamissão? - quis saberThomas,muito embora esperasseaterrorizadoaresposta.

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Newt voltou-se para encará-lo direto nos olhos. Os primeiros sinais doamanhecerclareavamosseuscontornos,eThomaspôdevercadadetalhedorostodeNewt,apeleenxuta,assobrancelhasarqueadas.

-Descobrirumaformadesairdaqui,Fedelho-disseNewt.-DecifraromalditoLabirintoeencontraronossocaminhoparacasa.

Umasduashorasmaistarde,depoisqueasportastinhamtornadoaabrir,retumbando, ressoandoeabalandoochãoatéque todooprocessoestivesseterminado, Thomas estava sentado em uma velha e encarquilhadamesa depiqueniquedoladodeforadaSede.AúnicacoisaemqueconseguiapensareranosVerdugos, emqual seriao seupropósito, oque faziam ládurante anoite.Comoseriaseratacadoporalgotãoterrível.

Tentou tirara imagemdacabeça,pensaremoutracoisa.OsCorredores.Eles simplesmente partiam sem dizer uma palavra a ninguém, enveredandopeloLabirintoatodavelocidadeedesaparecendoatrásdasesquinas.Procuroufazerumaimagemdelesemsuamenteenquanto,comumgarfo,servia-sedeovoscombacon,semfalarcomninguém,nemmesmocomChuck,quecomiaemsilêncioaoseulado.Opobregarototinhasecansadodepuxarconversacom ele, que se recusara a responder. Tudo o que Thomas queria era ficarsozinho.

Ele não conseguia entender aquilo; o seu cérebro estava sobrecarregadotentandocalcularquão impossível era a situação.Comopodiaum labirinto,commuros tão imensos e altos, ser tão grande que dezenas de garotos nãofossem capaz de decifrá-lo depois de sabe-se lá quanto tempo tentando?Confioerapossívelexistirumaestruturadaquelas?Emaisimportanteainda,porquê?Qualseriaopropósitodeumacoisaassim?Porqueestavamtodosali?Eháquantotempo?

Pormaisquetentasseevitar,asuamentecontinuavavoltandoàimagemrepulsiva do Verdugo, que, como um fantasma, aparecia toda vez que elepiscavaouesfregavaosolhos.

Thomassabiaqueeraumgarotointeligente-dealgumaformasentiaissoprofundamente.Masnadaarespeitodaquelelugarfaziaalgumsentido.Anão

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serporumacoisa.EraprecisoqueelefosseumCorredor.Porquetinhaessepressentimento tão forte? E mesmo agora, depois de ver o que vivia nolabirinto?

Umtapinhanoombroarrancou-odospensamentos;ergueuosolhoseviuAlbyempéàsuafrente,debraçoscruzados.

-Está se sentindomais revigorado? - indagouo rapaz. -Teveumabelavisãopelajanelahojedemanhãzinha?

Thomaslevantou-se,esperandoquetivessechegadoahoradasrespostas-outalvezesperandoalgoqueodistraíssedospensamentosassombrosos.

-Obastanteparamefazerquerersabermaissobreestelugar-respondeuele,torcendoparanãodespertaromauhumorqueviradespontarnorapaznodiaanterior.

Albyinclinouacabeçaconcordando.

-Vocêeeu,trolho.OPasseiocomeçaagora.-Elefezmençãodecomeçaraandar,masparou,levantandoumdedo.-Enãoquerosaberdeperguntasatéo fim, estámeentendendo?Não tenho tempopara ficarmatraqueandocomvocêodiainteiro.

- Mas… - Thomas interrompeu-se ao ver as sobrancelhas de Albysubirem. Por que o sujeito tinha de ser tão desagradável? -Mas me contetudo…quero saber de tudo. -Tinhadecidido, na noite anterior, não falar aninguémsobreoquantoaquelelugarlhepareciafamiliar,aestranhasensaçãodequejáestiveraláantes…dequeeracapazdelembrar-sedecoisassobreolugar.Dividirissopareceu-lheumapéssimaideia.

-Voucontaroquetivervontadedecontar,Fedelho.Vamos.

-Possoirjunto?-indagouChuckdamesa.

Albyinclinou-seetorceuaorelhadogaroto.

-Ai!-gemeuChuck.

-Jánãodeiumatarefapravocê,cabeção?-indagouAlby.-Ummontedecoisasparalimpar?

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Chuckrolouosolhosparaoalto,depoisolhouparaThomas.

-Divirta-se.

-Voutentar.-Derepente,sentiupenadeChuck,pensandoqueaspessoasdeviam tratarmelhor omenino.Mas não podia fazer nada a respeito…erahoradeir.

Afastou-se com Alby, esperando que o Passeio tivesse começadooficialmente.

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Eles começaram pela Caixa, que estava fechada naquelemomento - asportas duplas demetal jazendo ao nível do chão, cobertas por uma pinturabranca,desgastadaerachada.Odiatinhaclareado,assombrasestendendo-senadireçãoopostaàqueThomasviranodiaanterior.Eleaindanãotinhavistoosol,masestepareciaestarprestesasurgiraqualquerminutosobreomuroaoleste.

Albyapontouparaasportasnochão.

- Esta aqui é aCaixa.Uma vez pormês, recebemos umCalouro comovocê, nunca falha. Uma vez por semana, recebemos suprimentos, roupas,algum alimento. Não precisamos de muito… a maior parte produzimossozinhosnaClareira.

Thomas concordou com um movimento da cabeça, o corpo inteiroardendodevontadedefazerperguntas.“Precisofecharabocacomumzíper”,pensou.

-NãosabemoschongassobreaCaixa,estámeentendendo?-continuouAlby.-Deondeelavem,comochegaaqui,queméoresponsável.Ostrolhosquenosmandaramparacánãonoscontaramnada.Temostodaaeletricidadede que precisamos, cultivamos e produzimos quase todo o nosso alimento,recebemos roupas e tudo mais. Tentamos mandar um Fedelho de volta naCaixaumavez…acoisanãosemexeuenquantonãootiramosdelá.

Thomas ficou imaginando o que haveria embaixo das portas quando aCaixanãoestivesseali,masmordeualíngua.Sentiaumamisturadeemoções- curiosidade, frustração, admiração -, todas misturadas com o horrorpersistentedetervistooVerdugonaquelamanhã.

Albycontinuoufalando,semnuncasedarotrabalhodeolharThomasnosolhos.

-AClareira sedivide emquatropartes. -Ele exibiuosdedos enquanto

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contavaasquatrodenominações:-Jardins,Sangradouro,Sede,Campo-santo.Sacou?

Thomashesitou,depoisabanouacabeça,confuso.

Alby piscou rapidamente antes de continuar; parecia que pensava emmilhares de coisas que poderia estar fazendo naquele exato momento.Apontou para o canto noroeste, onde ficavam os campos e as árvoresfrutíferas.

- Jardins… onde temos as plantações. A água é bombeada através decanosnochão…Nuncafaltou,outeríamosmorridodesedeefontehámuitotempo.Nunca chove aqui.Nunca. -Apontou para o canto sudeste, para ascocheiras e os cercados dos animais. - Sangradouro… onde criamos eabatemososanimais.-Indicouodeplorávelalojamento.-Sede…esselugarestúpidoestáduasvezesmaiordoquequandooprimeirodenóschegouaquiporquecontinuamosampliandoquandonosmandammadeiraeplongs.Nãoébonito,masfunciona.Dequalquerforma,amaioriadormedoladodefora.

Thomas sentia-se atordoado. Tantas dúvidas giravam na suamente quenemconseguiaordená-las.

Alby apontou para o canto sudoeste, a região de floresta marcada pelapresençadeváriasárvoresdoentesebancos.

-ChamamosalideCampo-santo.Ocemitérioficanaquelecanto,entreasárvoresmaiscopadas.Nãotemmuitomaiscoisa.Vocêpodeirláparasentar-se e descansar, perambular, o que quiser. -Ele limpou a garganta, conto sequisesse mudar de assunto. - Você vai passar as próximas duas semanastrabalhando um dia em cada uma das diferentes tarefas executadas pelosEncarregados, até descobrirmos em que você se sai melhor. Aguadeiro,Ajudante,Embalador,Desbastador…algumacoisavaidarcerto,sempredá.Vamos.

Albyencaminhou-separaaPortaSul,localizadaentreoqueelechamaradeCampo-santoeoSangradouro.Thomasseguiuatrás,franzindoonarizanteo súbito cheiro de sujeira e estrume que vinha dos cercados dos animais.“Cemitério?”,pensou.“Porqueprecisamdeumcemitérioemumlugarcheio

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de adolescentes?” Aquilo o perturbou ainda mais do que entender osignificado de algumas das palavras que Alby dizia - como Aguadeiro eEmbalador - que não soavammuito bem.Chegou tão perto de interromperAlbyquantoantes,masdecidiumanterabocafechada.

Frustrado,voltouaatençãoparaoscercadosnaáreadoSangradouro.

Diversasvacasmordiscavamemastigavamsobreumcochocheiodefenoverdejante. Porcos relaxavam em uma cova enlameada, agitandoocasionalmenteorabocomoúnicosinaldequeestavamvivos.Outrocercadocontinha ovelhas, e também se viam galinheiros e gaiolas de perus. Ostrabalhadoressemovimentavamativamente,comosetivessempassadoavidainteiraemumafazenda.

“Por queme lembro desses animais?”, perguntou-se Thomas. Nada emrelaçãoaelesparecianovoouinteressante-elesabiacomoeramchamados,oquecomiam,qualaaparênciadecadaumdeles.Porqueesse tipodecoisacontinuavanasuamemória,masnãoondeeleviraosanimaisantes,oucomquem?Acomplexidadedaquelaperdadememóriaeradesconcertante.

Alby apontou para o grande celeiro no canto de trás, com uma pinturavermelha que haviamuito tempo tinha desbotado até se tornar de uma corindistintadeferrugem.

-É láque trabalhamosRetalhadores.Coisaasquerosa,essa.Asquerosa.Sevocêgostadesangue,podeserumRetalhador.

Thomas abanou a cabeça. Retalhador não soava nada bem. Enquantocontinuavamandando,eleconcentrouaatençãonooutroladodaClareira,aparte queAlby chamara deCampo-santo.As árvores erammais copadas edensasnapartede trásdocantoparaondeosdois tinhamido,maisvivasecheias de folhas. Sombras escuras preenchiam as profundezas da áreaarborizada,apesardahoradodia.Thomasergueuosolhos,quasefechando-os sob o sol finalmente visível, ainda que estranho - mais laranja do quedeveria.Aquilootocoucomomaisumexemplodaestranhamemóriaseletivanasuamente.

Ele tornou a olhar para o Campo-santo, um disco brilhante ainda

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flutuando na sua visão. Piscando para tirá-lo da vista, ele captou as luzesvermelhas de novo, piscando e resvalando em meio à escuridão entre asárvores. “O que são essas coisas?”, perguntou-se, irritado porAlby não terrespondidoantes.Aquelesilêncioeramuitodesagradável.

Albyparou,eThomassurpreendeu-seaoverquetinhamchegadoàPortaSul; os dois muros que delimitavam a saída elevavam-se acima deles. Asgrossas lajes de pedra cinzenta estavam rachadas e cobertas de hera, tãoantigas quanto qualquer coisa que Thomas pudesse imaginar. Ele esticou opescoçoparaverapartesuperiordosmuroslánoalto;asuamentegiroucomaestranhasensaçãodeestarolhandoparabaixoenãoparacima.Recuouumpasso, impressionado uma vez mais pela estrutura do seu novo lar, entãovoltouaatençãoparaAlby,queestavadecostasparaasaída.

- Para lá fica o Labirinto. - Alby indicou com o polegar por cima doombro,fazendodepoisumapausa.Thomasolhounaqueladireção,atravésdoespaçoexistenteentreosmuros,quefuncionavacomoumasaídadaClareira.Os caminhos ali pareciam idênticos aos quevira da janela pelaPortaLestebemcedonaquelamanhã.Opensamentoprovocou-lheumcalafrio,fazendo-oimaginar se umVerdugo poderia aparecer de repente e investir contra eles.Deu um passo para trás antes de perceber o que estava fazendo. “Calma”,advertiuasimesmo,embaraçado.

Albycontinuou:

-Doisanos,éo tempoqueestouaqui.Ninguémestáhámais tempodoqueeu.Ospoucosquevieramantesdemimjáestãomortos.-Thomassentiuos olhos se arregalarem, o coração acelerar. - Por dois anos temos tentadodecifrar essa coisa, sem resultado. Esses muros de mértila movem-se lá ànoite tantoquantoestasportas aqui.Acompanharo seu traçadonãoé fácil,não é fácilmesmo. -Girou a cabeça emdireção à construçãodeblocosdeconcretoemqueosCorredorestinhamdesaparecidonanoiteanterior.

Outra pontada de dor rasgou o cérebro de Thomas - eram informaçõesdemaisparaprocessardeumasóvez.Elesestavamalihaviadoisanos?Asparedesmoviam-senoLabirinto?Quantostinhammorrido?Deuumpassoà

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frente, querendo ver o Labirinto por si mesmo, como se as respostasestivesseminscritasalinaquelasparedes.

AlbylevantouamãoeempurrouopeitodeThomas,fazendo-oretrocedercambaleante.

-Nadadesairparalá,trolho.

Thomasprecisouconteroorgulho.

-Porquenão?

- Você acha que mandei o Newt procurar você antes de todo mundoacordarsóporbrincadeira?Estrupício,essaéaRegraNúmeroUm,aúnicaquesealguémtransgredirjamaisteráperdão.Aninguém…aninguémalémdosCorredoresépermitidoentrarnoLabirinto.Desrespeiteessa regrae, senãoformortopelosVerdugos,nósmesmosacabaremoscomasuaraça,deupraentender?

Thomasinclinouacabeça,resmungandointeriormente,certodequeAlbyestava exagerando. Esperando que estivesse. De qualquer modo, se lherestavaalgumadúvidaquantoaoquedisseraaChucknanoiteanterior,estadesapareceraporcompleto.QueriaserumCorredor.SeriaumCorredor.Nofundo,sabiaquetinhadeirlá,noLabirinto.Apesardetudoqueaprenderaetestemunhara,aquilooconvocavatantoquantoafomeouasede.

Ummovimentono altodomuro à esquerdadaPortaSul chamoua suaatenção.Sobressaltado,reagiurapidamente,olhandobematempodeverumclarãoprateado.Umamanchadeherabalançouquandoacoisadesapareceudentrodela.

Thomasapontouparaoaltodomuro.

-Oquefoiaquilo?-perguntouantesdeconseguirseconterdenovo.

Albynemseincomodouemolhar.

-Nadadeperguntasatéofim,trolho.Quantasmilvezesprecisolhedizer?- Fez uma pausa e soltou um longo suspiro. - Aquilo foi um besouromecânico…écomoosCriadoresnosobservam.Émelhorvocênão…

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Ele foi interrompidopelo estrondodeumalarmequevinhade todas asdireções.Thomastapouasorelhascomasmãos,olhandoaoredorenquantoasirene tocava,ocoraçãoapontodesairpelaboca.ObservouAlby,quenãoparecia assustado. Ele parecia… confuso. Surpreso. O alarme continuavareverberandopeloar.

-Oqueestáacontecendo?-quissaberThomas.Oalívionoseupeitofoiimenso ao perceber que o seu guia no passeio não parecia pensar que omundo estavaprestes a acabar…masmesmoassimThomas estava ficandocansadodeseratingidoporondasdepânico.

-Éestranho-foioqueAlbyfalouenquantocorriaosolhossemicerradospelaClareira.

ThomasviuunsrapazesnoscercadosdoSangradouroolhandoparatodososlados,parecendoconfusos.AlguémgritouparaAlby,umgarotoesquálidocobertodelama.

-Oquefoiisso?-quissaberogaroto,olhandoparaThomasporalgumarazão.

-Nãosei-retrucouAlbycomumavozapagada.

Thomas,porém,nãoaguentavamais.

-Alby!Oqueestáacontecendo?

-ACaixa,carademértila,aCaixa!-foitudooqueAlbydisseantesdepartir para omeio daClareira compassos tão enérgicos que, paraThomas,sugerirammedo.

- E daí? - exigia Thomas, correndo para alcançá-lo. “Fale comigo!”,queriagritarparaele.

Mas Alby não respondeu nem diminuiu o passo, e, quando seaproximaramdaCaixa,Thomasviuquedezenasdegarotosestavamcorrendopelo pátio. Ele avistou Newt e o chamou, tentando controlar o medocrescente, dizendo a simesmo que tudo ficaria bem, que devia haver umaexplicaçãorazoável.

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-Newt,oqueestáacontecendo?-gritou.

Newt olhou de relance, depois fez um movimento com a cabeça eaproximou-se,estranhamentecalmonomeiodocaos.DeuumapalmadanascostasdeThomas.

-SignificaqueestáchegandoummalditoCalouropelaCaixa. -Ele fezuma pausa como se esperasse que Thomas ficasse impressionado. -Exatamenteagora.

- E daí? - Quando Thomas observouNewtmais atentamente, percebeuque aquilo que tomara por calma era na verdade incredulidade… talvezempolgação.

-Edaí?-replicouNewt,oqueixocaindoligeiramente.-Fedelho,nuncativemosdoisNovatos chegandonomesmomês,muitomenos emdois diasseguidos.

Depoisdisso,saiucorrendoparaaSede.

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Depoisdesoarpordois longosminutos,oalarmefinalmenteparou.Umbando de garotos se reunira no meio do pátio, ao redor das portas de açoatravés das quais Thomas chegara no dia anterior. “Ontem?”, ele pensou.“Teriasidorealmenteontem?”

Alguémlhedeuumtapinhanocotovelo;elesevoltoueviuChuckaoseuladooutravez.

-Eaí,comofoi,Novato?-quissaberChuck.

- Ótimo - replicou ele, muito embora nada estivesse mais distante daverdade. Apontou para as portas da Caixa. - Por que todomundo está tãocuriosodessejeito?Nãoécomotodossemprechegamaqui?

Chuckencolheuosombros.

-Seilá…achoquesemprefoitudomuitoregular.Umpormês,todomês,nomesmodia.Talvezoresponsáveltenhapercebidoquevocênãopassavadeumgrandeerro,entãomandoualguémparasubstituí-lo.-DeuurnarisadinhaecutucouascostelasdeThomascomocotovelo,umarisadinhatãoengraçadaqueinexplicavelmentefezThomasgostaraindamaisdele.

Thomasdeuumolharfingidoaonovoamigo.

-Vocêestámechateando.Sério.

- É, eu sei, mas somos parceiros agora, certo? - Dessa vez, Chuck riuabertamente,umarisadabemesganiçada.

-Parecequevocênãoestámedandomuitoescolhaquantoaisso.-Masaverdadeeraqueprecisavadeumamigo,eChuckiaservirbem.

Ogarotocruzouosbraços,parecendomuitosatisfeito.

-Aindabemquedeucerto,Fedelho.Todomundoprecisadeumparceironestelugar.

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ThomasagarrouChuckpelagola,brincandocomele.

-Muitobem,parceiro,entãomechamepelonome.Thomas.Ouentãovouatirá-lo no buraco depois que a Caixa partir. - Aquilo despertou umpensamentonasuacabeçaquandosoltouChuck.-Espereumpouco,seráquevocêsnunca…

-Tentamos,sim-ChuckinterrompeuantesqueThomaspudesseterminar.

-Tentaramoquê?

-DescernaCaixadepoisdeela terfeitoaentrega-respondeuChuck.-Mas não funcionou. Ela não desceu enquanto não estivesse completamentevazia.

Thomaslembrou-sedequeAlbylhedisseraamesmacoisa.

-Eujásabiadisso,masequantoa…

-Tambémtentamos.

Thomasreprimiuumgemido…aquiloestavaficandoirritante.

-Cara,édifícilconversarcomvocê.Tentaramoquê?

- Sair pelo buraco depois que aCaixa descesse.Não deu.As portas seabrem,massóháumvazio,umaescuridão,nada.Nadadecordas,nada.Nãodeu.

Comoaquiloerapossível?

-Vocês…

-Tentamos.

Thomasgemeudessavez.

-Muitobem.Oquê?

-Atiramosalgumascoisasnoburaco.Nuncaasouvimoscairemalgumlugar.Eesperamosporbastantetempo.

Thomasfezumapausaantesdefalar,nãoquerendoser interrompidodenovo.

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- O que você é? Algum leitor de pensamentos? - Procurou ser o maissarcásticopossívelnocomentário.

-Apenasmuitointeligente,sóisso.-Chuckpiscouumolho.

-Chuck,nuncapisqueparamimdenovo-disseThomascomumsorriso.

Chuck era um pouco irritante, mas ele tinha algo que fazia as coisaspareceremmenos terríveis. Thomas respirou fundo e tornou a olhar para ogrupoqueseaglomeravaaoredordoburaco.

-Eaí,quantotempodemoraparachegaraentrega?

-Normalmentedemoracercademeiahoradepoisdoalarme.

Thomas pensou por um segundo.Tinha de haver alguma coisa que nãoforatentada.

- Tem certeza quanto ao buraco? Vocês nunca… - Ele fez uma pausa,esperandopelainterrupção,masnãohouve.-Vocêsnuncatentaramfazerumacorda?

- Sim, eles tentaram. Com a hera. A mais comprida que conseguiramfazer.Vamosdizerqueoexperimentonãodeumuitocerto.

-Oquevocêquerdizer?-Thomaspensou:“Oquefoiagora?”

-Eunãoestavaaqui,masouvidizerqueogarotoqueseofereceuparairdesceuapenasunstrêsmetrosquandoalgumacoisacruzouoareocortouaomeio.

- O quê? - Thomas deu uma risada. - Não acredito nisso nem por umsegundo.

-Ah,é,espertinho?Euviosossosdodesgraçado.Cortadosaomeiocomoumafacacortaumpudim.Guardaramelenumacaixacomoumaadvertênciaparaqueosgarotosnãovenhamasertãoburrosnofuturo.

Thomas esperou que Chuck risse ou sorrisse, pensando que fosse umapiada-quemjáouviudizerquealguémfoicortadoaomeio?Masarisadanãoaconteceu.

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-Estáfalandosério?

Chuckoolhoudevolta.

- Eu não minto, Fede… hã, Thomas. Venha, vamos lá ver quem estáchegando.NãopossoacreditarquevocêtenhasidoumNovatoporapenasumdia.Cabeçadeplong.

Enquanto eles se aproximavam, Thomas fez a pergunta que ainda nãofizera.

-Comovocêssabemquenãosãoapenassuprimentosoucoisaparecida?

- O alarme não toca quando isso acontece - respondeu Chuck. - Ossuprimentoschegamnomesmohoráriotodasemana.Ei,olhe.-Chuckparoueapontouparaalguémnomeiodobando.EraGally,olhandodiretoparaeles.

-Mértila-falouChuck.-Elenãogostadevocê,cara.

-É,eusei-Thomasmurmurou.-Játinhapercebido.-Eosentimentoeramútuo.

Chuck cutucou Thomas com o cotovelo, e os garotos retomaram acaminhadaparajuntodobando,queesperavaemsilêncio;todasasdúvidasdeThomasdesapareceramporcompleto.Eleperderaavontadede falardepoisdeverGally.

Omesmo,porém,nãoaconteceracomChuck.

- Por que não vai perguntar para ele qual é o problema? - indagou,tentandoparecersério.

Thomas tentou pensar que era corajoso o bastante, mas aquilo nomomentolhepareceuapiorideiadomundo.

-Bem,umacoisaeusei,eletemmuitomaisaliadosdoqueeu.Nãoéotipoidealparasearranjarencrenca.

-Eusei,masvocêémaisinteligente.Eapostoqueémaisrápido.Poderiavencereleetodososseuscolegas.

Umdosgarotosàfrentedelesolhouparatrásporcimadoombro,comum

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arvisivelmenteirritado.

“DeveserumamigodoGally”,pensou.

-Poderiacalaraboca?-disparouThomascontraChuck.

Umaportafechouatrásdeles:eramAlbyeNewtsaindodaSede.Osdoispareciamexaustos.Vê-losofezlembrar-sedeBen,aimagemhorripilantedogarotosecontorcendonacama.

- Chuck, cara, você precisa me contar do que se trata esse negócio deTransformação.OqueseráquefizeramlácomopobredoBen?

Chuckdeudeombros.

-Nãoseidosdetalhes.OsVerdugosfazemcoisasruinscomvocê,fazemtodo o seu corpo passar por algo horrível. Quando acaba, você está…diferente.

Thomas sentiu a oportunidade de finalmente receber uma respostaconcreta.

- Diferente? O que você quer dizer? E o que isso tem a ver com osVerdugos?FoiissooqueoGallyquisdizercom“serpicado”?

-Psiu.-ChuckpousouumdedosobreabocadeThomas.

Thomasquasegritoudefrustração,masficouquieto.ResolveuquefariacomqueChuckcontassemaistarde,querogarotoquisesse,quernão.

Alby e Newt tinham chegado ao grupo e aberto caminho até a frente,parandobemdiantedasportasquelevavamàCaixa.Todomundoaquietou-se,epelaprimeiravezThomasnotouosrangidoseochocalhardoelevadorsubindo, lembrando-lheasuaprópriaviagemdepesadelonodiaanterior.Atristeza o invadiu, quase como se estivesse revivendo aqueles minutosterríveisdodespertarnaescuridãoparaaperdadememória.Sentiupenadequemquerquefosseonovogaroto,apassarpelasmesmascoisas.

Umbaqueabafadoanunciouqueoelevadorbizarrohaviachegado.

Thomas observou com expectativa enquanto Newt e Alby tomavamposiçãoemladosopostosdasportasdopoço-umestalodividiuoquadrado

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demetalexatamentenomeio.Decadaladohaviaumamaçanetasimplesemformadeganchoe,nummovimentoconjunto, cadaumpuxoua suaparaolado.Comumarrastarmetálicoasportasseabrirameumanuvemdepoeiradapedraaoredorelevou-senoar.

Umsilêncio absoluto abateu-se entreosmoradoresdaClareira.QuandoNewtinclinou-separavermelhorointeriordaCaixa,umfracoberrodecabraecoouàdistânciapelopátio.Thomasinclinou-separaafrenteatéondepôde,esperandoterumavisãodorecém-chegado.

Comummovimentobruscoeinesperado,Newtrecuouatéficarempédenovo,orostocontraídoemcompletaconfusão.

-Santo…-eleofegou,olhandoaoredorparanadaemparticular.

Nesse momento, Alby também dera uma olhada, tendo uma reaçãosemelhante.

-Nãoépossível-murmurouele,quaseemtranse.

Umcorodeperguntasencheuoarenquanto todomundocomeçavaaseadiantar para dar uma olhada na pequena abertura. “O que será que estãovendo lá?”, Thomas se perguntou. “O que estão vendo?” Ele sentiu umcalafriodemedoabafado, semelhante aoqueexperimentaranaquelamanhãquandoseadiantaraparaajanelaafimdeveroVerdugo.

-Esperemumpouco!-gritouAlby,silenciandoatodos.-Esperemsóumpouco!

-Eaí,oquehádeerrado?-gritoualguémemresposta.

Albyempertigou-se.

-DoisCalourosemdoisdias-disseele,quasenumsussurro.-Agoraisso.Dois anos, nada diferente, agora isso. -Então, por alguma razão, ele olhoudiretoparaThomas.-Oqueestáacontecendoaqui,Fedelho?

Thomas olhou para trás, confuso, seu rosto ficando vermelho vivo, oestômagoseencolhendo.

-Comoeupossosaber?

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-Porquenãodizpragentedeumavezquemértilatemaí,Alby?-gritouGally.Houvemaisrumoreseoutroavançoparafrente.

-Vocês,trolhos,calemaboca!-gritouAlby.-Conteaeles,Newt.

NewtolhouparaaCaixaumavezmais,depoisencarouosgarotostodos,muitosério.

-Éumagarota-disseele.

Todoscomeçarama falaraomesmo tempo;Thomassóentendia trechosaquieali.

-Umagarota?

-Essamepegou!

-Comoelaé?

-Quantosanostem?

Thomas estava se afogando em ummar de confusão. Uma garota? ElenemsequertinhapensadonomotivopeloqualnaClareirasóhaviagarotos,nenhumagarota.Não tivera oportunidadededar-se conta disso. “Quemeraela?”,pensou.“Porque…”

Newtpediusilênciodenovo.

-E issonãoé tudo - comentou,depois apontouparadentrodaCaixa. -Achoqueelaestámorta.

AlgunsgarotossegurandocordasfeitasdegalhosdeherabaixaramAlbyeNewtparadentrodaCaixa,paraquepudessemretirarocorpodagarota.Umaespécie de choque, ainda que discreto, tomara conta da maioria dosClareanos, que perambulavam ao redor com expressões solenes, chutandopedras soltas e não dizendo quase nada. Ninguém ousava admitir que nãopodiaesperarparaveragarota,masThomaspresumiuquetodosestavamtãocuriososquantoele.

Gally era um dos garotos que seguravam as cordas, pronto para içá-lajuntocomAlbyeNewtparaforadaCaixa.Thomasoobservouatentamente.Os seus olhos exibiam uma expressão sombria, quase um fascínio doentio.

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Um brilho que deixou Thomas, de repente, com mais medo dele do quesentiraminutosantes.

Do fundo soou a voz deAlby gritando que estavam prontos, eGally eoutros garotos começaram a puxar a corda. Alguns grunhidos depois e ocorpoinertedagarotafoiarrastadoparafora,passandopelobatentedaportaaté chegar ao chão de blocos de pedra da Clareira. Todo mundoimediatamente se aproximou formando um grupo compacto ao redor dela,umaexcitaçãopalpávelpairandonoar.Thomas,porém,permaneceuafastado.Osilênciosombriodava-lhearrepios,comosetivessemacabadodeprofanarumtúmulorecém-fechado.

Apesar de também estar curioso, Thomas não se incomodou em tentarabrir caminhoparadarumaolhada -os corpos estavamespremidosdemaisuns contra os outros. Mas ele tinha dado uma olhada nela antes de serbloqueado.Ela eradelicada, porémnãopequenademais.Talvez tivesseummetro e sessenta e cinco de altura. Pela aparência devia ter uns quinze oudezesseisanos,eoseucabeloerapretocomobreu.Masacoisaquemaislhechamaraaatençãoforaapeledela:clara,brancacomoaspérolas.

NewteAlbyarrastaram-separaforadaCaixadepoisdela,entãoabriramcaminhoatéocorposemvidadagarota,oagrupamentotornandoasefecharatrás, impedindo a visão de Thomas. Só alguns segundos depois, o grupoabriu-sedenovoeNewtapontouparaThomas.

-Fedelho,venhacá-disse,nãoseincomodandoemsereducado.

OcoraçãodeThomassaltouparaagarganta;assuasmãoscomeçaramasuar.Oquequeriamdele?Ascoisasficavamcadavezpiores.Eleseforçouaseaproximar,procurandoparecerinocente,semagircomoalguémquefosseculpado e estivesse tentando parecer inocente. “Fique calmo”, disse a simesmo. “Você não fez nada de errado.” Mas ele tinha um pressentimentoestranhodequetalveztivessefeitoalgoerradosemperceber.

Os garotos alinhados no caminho que levava até Newt e a garotafuzilaram-nocomoolharquandopassou,comoseelefosseoresponsávelportoda aquela bagunça do Labirinto, da Clareira e dos Verdugos. Thomas

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recusou-seafitarqualquerumdeles,temendoparecerculpado.

Ele se aproximou de Newt e Alby, que estavam ajoelhados ao lado dagarota.Thomas,semquererencontraroolhardeles,concentrou-senagarota.Apesardapalidez, elaeramuitobonita.Maisdoquebonita.Linda.Cabelosedoso, pele lisa, lábios perfeitos, pernas longas. Sentia-se mal de pensardessamaneira sobre uma garotamorta,mas não conseguia desviar o olhar.“Não vai ficar assim por muito tempo”, ele pensou com uma contraçãoincômoda no estômago. “Logo ela vai começar a se decompor.” Ficousurpresoporterumpensamentotãomórbido.

- Conhece esta garota, trolho? - indagou Alby, parecendo dar-lhe umareprimenda.

Thomasficouchocadocomapergunta.

-Conhecerela?Claroquenãoconheçoela.Nãoconheçoninguém.Anãoservocês.

- Não é isso… - começou Alby, depois parou com um suspiro defrustração.-Querodizerseela lheparecefamiliardealgumamaneira.Temalgumaimpressãodejátê-lavistoantes?

-Não.Nada. -Thomasmudoudeposição,baixouosolhosparaospés,depoisvoltou-senovamenteparaagarota.

Albyfranziuatesta.

-Temcertezadisso?-EleparecianãoteracreditadoemumasópalavradoqueThomasdissera,parecendoquaseemfúria.

“O que faz ele pensar que eu possa ter alguma coisa a ver com isto?”,pensouThomas.EleencarouAlbyerespondeudoúnicomodoquesabia.

-Sim.Porquê?

-Mértila-murmurouAlby,voltandoaolharparaagarotanochão.-Nãopodeserumacoincidência.Doisdias,doisFedelhos,umvivo,ummorto.

Então as palavras de Alby começaram a fazer sentido e o pânico seespalhouemThomas.

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-Vocênãoachaqueeu…-Nemsequerconseguiuterminarafrase.

- Corta essa, Fedelho - disse Newt. - Não estamos dizendo que vocêmatouagarota,droga.

AmentedeThomasgirava.Eletinhacertezadequenuncaaviraantes…Masentãoumavagasugestãodedúvidasurgiunosseuspensamentos.Apesardisso,falou:

-Vocêestá…

Antes queNewt pudesse terminar, a garota elevou-se de um ímpeto atésentar-se.Enquantosugavaumagrandeporçãodear,seusolhosseabrirameelapiscou,olhandoparaogrupoaoseuredor.Albydeuumgritoecaiuparatrás.Newtofegouedeuumpulo,recuandoeafastando-sedela.Thomasnãosemexeu,oolharfixonagarota,congeladodemedo.

Osardentesolhosazuisiamdeumladoparaooutroaomesmotempoqueela respirava vezes seguidas. Os lábios vermelhos tremiam enquanto elamurmuravasempararumaspalavras,algoindecifrável.Entãofalouumafrase-avozimpessoaleassombrosa,masnítida.

-Tudovaimudar.

Thomasobservouaturdidoquandoelarolouosolhosparaoaltoecaiudecostasnochão.Oseupunhodireitoprojetou-separaoarenquantoelacaía,permanecendorígidodepoisdaqueda,apontadoparaocéu.Presodentrodamãodelahaviaumpedaçodepapelamassado.

Thomastentouengolir,masasuabocaestavasecademais.Newtcorreuaté ela e abriu-lhe os dedos, agarrando o papel. Com as mãos trêmulas odesdobrou, depois caiu de joelhos, abrindo o bilhete no chão. Thomasaproximou-sedeleportrásedeuumaolhada.

Rabiscadasnopapelemgrossasletraspretasviam-sequatropalavras:

Elaéaúltima.

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UmestranhomomentodecompletosilênciopairousobreaClareira.Foicomoseumventosobrenaturaltivessevarridoolugaresugadotodosossons.Newt leraamensagememvozaltaparaaquelesquenãoconseguiamveropapel, mas, em vez de irromper em confusão, todos os Clareanospermaneceramemudecidos.

Thomasesperaragritoseperguntas,discussões.Masninguémdisseumapalavra;todososolhosestavamgrudadosnagarota,agoradeitadaalicomoseestivessedormindo, o peito subindo e descendonuma respiração suave.Aocontráriodaconclusãooriginaldeles,elaestavamuitoviva.

Newtlevantou-se,eThomasesperouumaexplicação,algorazoável,umapresençatranquilizadora.Mastudooquefezfoiamassarobilhetenamão,asveiassaltadasenquantooesmagava,eThomassentiuumapertonocoração.Não estava bem certo do motivo, mas a situação o deixara bem pouco àvontade.

Albyfechouasmãosemconchaaoredordaboca.

-Socorristas!

Thomas imaginou o que aquela palavra significava - ele sabia que aouvira antes -, mas então recebeu um brusco empurrão para o lado. Doisgarotosmaisvelhosabriamcaminhoatravésdogrupo-umeraaltoecomocabelocortadobemrente,onarizdo tamanhodeumlimãogrande.Ooutroera baixo e, surpreendentemente, já tinha cabelos grisalhos conquistadoespaçoporentreosfiosnegrosnaslateraisdacabeça.Thomassóesperouquetivessemalgumapercepçãocorretadaquilotudo.

-Eaí,oquefazemoscomela?- indagouomaisalto,avozmuitomaisagudadoqueThomasimaginava.

- Eu é que vou saber? - respondeu Alby. - Vocês dois trolhos são osSocorristas…virem-se.

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“Socorristas”,Thomasrepetiunasuacabeça,umaluzseapagando.“Deveseracoisamaisparecidacommédicoqueelestêm.”Obaixinhojáestavanochão, ajoelhado ao lado da garota, sentindo a sua pulsação e inclinando-separaouvirobatimentocardíaco.

-QuemdissequeoClintteveaprimeiravezcomela?-alguémgritoudogrupo.Ouviram-seváriasrisadas.-Eusouopróximo!

“Comoéqueelespodemfazerpiada?”,pensouThomas. “Agarotaestámeiomorta.”Elesesentiuenjoado.

Albysemicerrouosolhos;asuabocase repuxounumsorriso torto,quenãodenotavanenhumtraçodehumor.

-Se alguém tocarnagarota -disseAlby -, vaipassar anoitedormindocom os Verdugos no Labirinto. Banimento, sem dúvida. - Fez uma pausa,virando-se lentamenteemcírculo,comosequisesseque todosvissemoseurosto.-Achobomqueninguémtoquenela!Ninguém!

EraaprimeiravezqueThomasgostavadeouviralgoquesaíadabocadeAlby.

O garoto mais baixo que fora indicado como Socorrista - Clirat, se oespectadorestivessecorreto-levantou-sedepoisdeconcluiroexame.

-Elapareceestarbem.Arespiraçãoestáboa,obatimentonormal.Talvezumpoucolento.Oseupalpiteétãobomquantoomeu,maseudiriaqueelaestáemcoma.Jeff,vamoslevá-laparaaSede.

O parceiro dele, Jeff, adiantou-se para segurá-la pelos braços, enquantoClint a sustentava pelos pés. Thomas gostaria de poder fazer mais do queobservar - a cada segundo que passava, ele tinha mais dúvidas se o quedisseraanteseraverdade.Elalhepareciafamiliar,sim;elesentiaumaligaçãocomela,emborafosseimpossívelrecordaralgo.Aideiaodeixounervosoeeleolhouaoredor,comosealguémpudesseterescutadoseuspensamentos.

- No três - quem falava era Jeff, o Socorrista mais alto, a sua estaturaelevadaparecendoridículaporeleestarinclinado,comoseestivesserezando.-Um…dois…três!

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Elesalevantaramcomummovimentorápido,quaselançando-aparaoar-obviamenteelaeramaislevedoqueesperavam-eThomasporpouconãogritouparatomaremmaiscuidado.

-Achoqueprecisamosvercomoelareage-disseJeffparaninguémemparticular.-Podemosdarumpoucodesopaaelasenãoacordarlogo.

-Sóaobservemcomatenção-orientouNewt.-Eladeveteralgumacoisadeespecialouentãonãoamandariamparacá.

OestômagodeThomassecontraiu.Sabiaquetinhaalgumtipodeligaçãocomagarota.Vieramcomumdiadediferença,ela lheparecia familiar,eletinhaumaânsiaprementedesetornarumCorredor,apesardeficarsabendodetantascoisashorríveis…Oquesignificavaaquilotudo?

Albyinclinou-separaobservarorostodagarotamaisumavezantesquealevassem.

-ColoquemagarotaaoladodoquartodeBenefiquemdeolhoneladiaenoite. Quero saber de tudo o que acontecer. Não me interessa se ela falardormindooucomeralgumaporcaria…venhammecontar.

- Tudo bem - Jeff murmurou; então ele e Clint saíram apressados emdireção à Sede, o corpo da garota balançando enquanto avançavam, e osoutrosClareanosfinalmentevoltaramaconversar,espalhando-seenquantoasteoriasborbulhavamnoar.

Thomasobservava tudoemmudacontemplação.Aestranha ligaçãoquesentiranãoerasósua.Asacusaçõesnãotãodiscretasquelhehaviamlançadoalgunsminutosantesprovavamqueosoutrosdesconfiavamdealgotambém.Masdoquê?Elejáestavacompletamenteconfuso-seracusadodecoisassóofaziasesentirpior.Comoselesseosseuspensamentos,Albyaproximou-seecolocouamãonoseuombro.

-Vocênuncaaviuantes?-indagouele.

Thomashesitouantesderesponder:

-Não… não, não que eume lembre. - Esperou que a voz trêmula nãotraísseassuasdúvidas.Eseeleaconhecessedealgumaforma?Oque isso

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significaria?

-Temcertezadisso?-Newtinstigou,paradologoatrásdeAlby.

-Eu…não,achoquenão.Porqueestãomeinterrogandodessamaneira?-Tudo o que Thomas queria naquele momento era que a noite caísse, parapoderficarsozinho,irdormir.

Albyabanouacabeça,depoisvoltou-separaNewt,soltandooombrodeThomas.

- Tem alguma coisa errada. Convoque umConclave. - Ele tinha faladobaixoobastanteparaqueThomaspensassequeninguémtivesseouvido,masseutomprenunciavaalgoruim.EntãoolídereNewtseafastaram,eThomasficoualiviadoaoverChuckviremsuadireção.

-Chuck,oqueéConclave?

Ogarotopareceuorgulhosoporsaberaresposta.

- É uma ocasião emque osEncarregados se reúnem. Só convocamumquandoacontecealgumacoisaestranhaouterrível.

- Bem, acho que o dia de hoje se encaixa muito bem nessas duascategorias. - O estômago de Thomas roncou, interrompendo os seuspensamentos. -Nãotermineiomeucafédamanhã…seráqueconseguimosalgumacoisaparacomeremalgumlugar?Estoumorrendodefome.

Chucklevantouosolhosparaele,assobrancelhaserguidas.

- Ver aquela coisinha magra o deixou com fome? Você deve ser maisalopradodoquepensei.

Thomassuspirou.

-Vejasemearranjaalgumacoisaparacomer.

A cozinha era pequena mas tinha todo o necessário para fazer umarefeiçãosaborosa.Umgrandefogão,ummicro-ondas,umalava-louças,duasmesas. Parecia velha e gasta, mas limpa. Ver os utensílios e a decoraçãofamiliar fez Thomas sentir como se lembranças - lembranças verdadeiras,concretas - aflorassem em sua memória.Mas de novo as partes essenciais

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estavam faltando - nomes, rostos, lugares, acontecimentos. Era deenlouquecer.

-Sente-se-falouChuck.-Vouprepararalgumacoisa,masjuroqueéaúltimavez.FiquefelizpeloCaçarolanãoestarporperto…eleodeiaquandoatacamosasuageladeira.

Thomas sentiu-se aliviado por estarem sozinhos. Enquanto Chuck seocupava com pratos e coisas de geladeira, Thomas puxou uma cadeira demadeiraqueestavajuntoaumapequenamesadeplásticoesentou-se.

- Isso é loucura. Como tudo isso pode ser de verdade? Alguém nosmandouaqui.Alguémmaligno.

Chuckparouporuminstante.

-Paredereclamar.Apenasaceiteasituaçãoenãopensemais.

-Certo, tudobem. -Thomasolhoupela janela.Aquelepareciaumbommomento para fazer uma das milhões de perguntas que ocupavam o seupensamento.-Eaí,deondevemaeletricidade?

-Quemseimporta?Ésóusar.

“Quesurpresa”,pensouThomas.“Nenhumaresposta.”

Chucktrouxedoispratoscomsanduíchesecenourasparaamesa.Opãoerapesadoebranco,ascenourasdeumlaranjavivoebrilhante.Oestômagode Thomas implorou para que se apressasse; ele pegou o sanduíche ecomeçouadevorá-lo.

-Cara…-murmuroucomabocacheia.-Pelomenosacomidaéboa.

Thomas conseguiu comer o resto da sua refeição sem ouvir nenhumapalavra deChuck. E teve sorte que o garoto não estivesse comvontade defalar,porque,apesardosmuitosacontecimentosestranhosdequeeracapazdelembrar, Thomas se sentia calmo de novo. O estômago cheio, a energiareposta,amenteagradecidaporalgunsinstantesdesilêncio,eledecidiuquedaquelemomentoemdianteparariadereclamareenfrentariaasituação.

Depoisdaúltimamordida,Thomasrecostou-senacadeira.

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-Eaí,Chuck -disseenquanto limpavaabocacomumguardanapo -,oqueprecisofazerparametornarumCorredor?

-Nãomevenhacomessadenovo. -Chuck levantouosolhosdoprato,ondeestavacatandofarelos.SoltouumarrotobaixinhoegorgolejantequefezThomasseencolher.

-AlbydissequecomeçariaosmeustestescomosdiversosEncarregados.Então, quando devo ter contato com os Corredores? - Thomas esperoupacientementeparareceberalgumtipodeinformaçãoconsistentedeChuck.

O garoto rolou os olhos de maneira afetada, não deixando nenhumadúvidadequantoconsideravaaquelaumaideiaestúpida.

- Eles devem estar de volta em algumas horas. Por que não pergunta aeles?

Thomasignorouosarcasmo,procurandosabermais.

- O que eles fazem quando retornam todas as noites? O que acontecenaqueleedifíciodeconcreto?

-Mapas.Elessereúnemlogodepoisquevoltamantesdeseesqueceremdealgumacoisa.

“Mapas?”Thomasestavaconfuso.

-Masseestãotentandofazerummapa,elesnãotêmpapelparaescreverquandoestãoláfora?-Mapas.Aquiloodeixoumaisintrigadodoquetudooqueouviranopouco tempoqueestavaali.Eraaprimeiracoisaquesugeriaumapossibilidadedesoluçãoparaoseudrama.

- É claro que eles têm, mas ainda há coisas sobre as quais precisareiconversar,discutir,analisaretodaessaporcaria.Mas-ogarotorolouosolhos- elespassamamaiorpartedo tempocorrendo,nãoescrevendo.Épor issoquesãochamadosdeCorredores.

Thomas refletiu sobre os Corredores e sobre os mapas. Será que oLabirintoeraassimtãoimensoqueatémesmodepoisdedoisanoselesaindanão haviam encontrado uma saída? Parecia impossível. Mas então ele se

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lembrou do queAlby dissera sobre osmuros semoverem. E se todos elesestivessemsentenciadosaviveraliatéamorte?

Sentenciados.Apalavralheprovocouumacessodepânico,eacentelhadeesperançaquearefeiçãotrouxerasedesfezcomumsilvosilencioso.

- Chuck, e se formos todos criminosos? Quero dizer… e se formosassassinosoucoisaparecida?

-Há? -Chuckergueuosolhosparaelecomoseestivessediantedeumlouco.-Deondeveioessefelizpensamento?

- Pense nisso.As nossas lembranças são apagadas.Vivemos num lugarque parece não ter saída, cercado por guardas monstruosos sedentos desangue.Nãolheparecealgumtipodeprisão?-Enquantodiziaaquiloemvozalta, a ideia lhe soavacadavezmaispossível.Anáusea insinuou-seno seupeito.

-Eutenhoprovavelmentedozeanos,cara.-Chuckapontouparaoprópriopeito.-Nomáximotreze.Vocêachaquefizalgumacoisaquememandariaparaaprisãoparaorestodaminhavida?

-Nãoquerosaberoquevocêfezoudeixoudefazer.Dequalquermodo,você foimandadoparaumaprisão. Issoaquipor acasoparececomas suasférias? - “Ah, cara”, Thomas pensou. “Por favor, tomara que eu estejaenganado.”

Chuckrefletiuporuminstante.

-Nãosei,não.Émelhordoque…

- Sim, eu sei, viver num monte de plong. - Thomas levantou-se eempurrou a cadeira de volta para baixo da mesa. Gostava de Chuck, mastentar ter um conversa inteligente com ele era impossível. Para não dizerfrustrante e irritante. -Vá fazer outro sanduíche para você…vou sair paraexplorar.Agentesevêànoite.

ElesaiudacozinhaparaopátioantesqueChuckpudesseseoferecerparaacompanhá-lo. A Clareira voltara à atividade de costume - os garotosenvolvidoscomassuastarefas,asportasdaCaixafechadas,osolbrilhando.

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Qualquer sinaldeumagarota loucaportandoumbilhete sobreo juízo finaldesaparecera. Depois de ter a sua visita ao lugar interrompida, ele decidiufazerumacaminhadapelaClareiraporcontaprópriaedarumaolhadamelhorpara sentir o lugar. Encaminhou-se para o canto noroeste, na direção dasgrandesfileirasdealtosmilharaisquepareciamprontosparaacolheita.Haviaoutrasplantaçõesalémdaquela:pésdetomate,alface,ervilha,emuitasmaisque Thomas não conseguiu identificar. Respirou fundo, adorando o aromafresco da terra e das plantas crescendo.Estava quase certo de que o cheirotrariadevoltaalgumtipode lembrançaagradável,masnãoaconteceunada.Quando se aproximou, viu que vários garotos estavam capinando erecolhendo as ervas daninhas dos canteiros. Um acenou para ele com umsorriso.Umsorrisodeverdade.

“Talvezeste lugarnão seja tão ruim,afinaldecontas”,pensouThomas.“Nem todo mundo aqui deve ser um idiota.” Mais uma vez respirouprofundamenteoaragradáveleselivroudaquelespensamentos,haviamuitomaiscoisasparaver.

Em seguida vinha o canto sudeste, onde cercas de madeira precáriasguardavam diversas vacas, cabritos, ovelhas e porcos. No entanto, não seviamcavalos.“Éumapena”,pensouThomas.CavaleirosseriammuitomaisrápidosdoqueCorredores.Quandoseaproximou,percebeuquedevia lidarcom animais na sua vida anterior à Clareira. O seu cheiro, os sons queproduziam…pareciam-lhemuitofamiliares.

Ocheironãoeratãobomquantoodasplantações,maseleimaginouquepodia sermuito pior. Enquanto explorava o lugar, foi percebendo cada vezmaiscomoosClareanoscuidavambemdaquilo,comotudoeralimpo.Estavaimpressionadodevercomoeramorganizados,comodeviam trabalharduro.Ficou pensando como o lugar poderia ser horrível se todo mundo fossepreguiçosoeburro.

Finalmente,chegouàpartesudoeste,pertodafloresta.

Estava se aproximando das árvores ralas, esqueléticas, na frente dosbosquesmaisfrondosos,quandoseassustoucomumsinaldemovimentoaos

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seus pés, seguido por uma sequência rápida de sons tilintantes.Olhou parabaixoatempodeverosolrefletindoemalgometálico-umratodebrinquedo-esgueirando-separapassarporeleemdireçãoàpequenafloresta.Acoisajáestavaaunstrêsmetrosdedistâncianomomentoemquepercebeuquenãosetratavadeumrato-eramaisparecidocomumlagarto,compelomenosseispernasmovimentandodepressaocompridocorpoprateado.

Umbesouromecânico.“Éassimqueelesnosobservam”,disseraAlby.

Ele viu um brilho de luz vermelha projetando-se no chão à frente dacriatura como se saísse dos seus olhos.A lógica lhe disse que a suamentedeviaestarlhepregandopeças,maselepodiajurarquetinhavistoapalavraCRUELespalhadasobreascostasarredondadasdacriatura,emgrandesletrasverdes.Algotãoestranhoprecisavaserinvestigado.

Thomascorreuatrásdoespiãofujãoeemquestãodesegundosentrouporentreasgrossasárvorescopadaseomundoescureceu.

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Elenãoacreditavacomoaluzpuderadesaparecertãodepressa.VistadaClareira, a floresta não parecia tão grande, talvez tivesse menos de umhectare.Aindaassimasárvoreseramaltas,comtroncosrobustos,crescendobempróximasumasdasoutras,ascopasfechadasdefolhas.Oaraoseuredortinhaumtomesverdeado,embaçado,comosesóhouvessealgunsminutosdeluzdifusaporaliaolongododia.

Eraalgolindoehorripilanteaomesmotempo.

Avançando omais rápido possível, Thomas chocava-se contra a pesadafolhagem,osramosmaisfinosbatendonoseurosto.Elesecurvouparaevitarumramomaisbaixo,quasecaindo.Estendendoamão,segurou-seemoutroramoesebalançouparaafrentepararecobraroequilíbrio.Umgrossoleitodefolhasegalhoscaídosrangeusobosseuspés.

Durantetodootempo,procurounãoperderdevistaobesouromecânicoqueatravessavaligeiroochãodafloresta.Eleseembrenhouentreasárvores,asualuzvermelhabrilhandocommaisintensidadeenquantoolocalaoredorescurecia.

Thomas tinha penetrado uns dez ou doze metros entre as árvores,tropeçando e se abaixando, perdendo terreno a cada segundo, quando obesouromecânico saltou sobre uma árvore grande e subiu pelo seu tronco.MasnomomentoemqueThomasalcançouaárvore,nãohaviamaisomenorsinaldacriatura.Elatinhadesaparecidocompletamentenomeiodafolhagem-quasecomosenuncativesseexistido.

Eleperderaosafado.

- Mértila! - Thomas sussurrou, quase como uma piada. Quase. Porestranhoqueparecesse,apalavrasoouquasenaturalnosseuslábios,comosejáativessepronunciadonaClareira.

Umgalhinhoestalouemalgumlugaràsuadireitaeelevirourapidamente

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acabeçanaqueladireção.Prendeuarespiraçãoeescutou.

Outro estalo, dessa vez mais forte, quase como se alguém tivessequebradoumgalhosobreojoelho.

-Quemestáaí?-gritouThomas,umarrepiodemedocorrendopelosseusombros.Asuavozchegouatéacopadasárvoreslánoaltoeecoounoar.Elepermaneceuimóvel,pregadonolugarenquantotudosilenciava,anãoserpeloassobiomelodiosodealgunspássarosàdistância.Masninguémrespondeuaoseuchamado.Nemeleouviumaisnenhumsomdaqueladireção.

Sempensarnoquefazia,Thomasencaminhou-senadireçãodoruídoqueouvira. Ia afastando os ramos enquanto caminhava, sem se preocupar emdisfarçaroseurastro.Comumacareta,semicerrouosolhosparaespreitarnaescuridão cada vez mais densa, desejando ter uma lanterna. Pensou emlanternas e na sua memória. Uma vez mais, lembrava-se de uma coisatangível do passado, mas não conseguia vinculá-la a nenhummomento oulugar em especial, não conseguia associá-la a nenhuma outra pessoa ouacontecimento.Erafrustrante.

-Temalguémaí? - indagoudenovo,sentindo-seumpoucomaiscalmopelofatodeoruídonãoserepetir.Provavelmenteforaapenasalgumanimal,talvezoutrobesouromecânico.Sóporprecaução,gritou:

-Soueu,Thomas.Onovocalouro.Querodizer,umdosdoismaisnovos.

Deu de ombros e abanou a cabeça, esperando então que não houvesseninguémali.

Sentia-seumperfeitoidiota.

Denovo,nenhumaresposta.

Deu a volta em torno de um grande carvalho e parou de repente. Umarrepiogeladodesceupelassuascostas.Tinhachegadoaocemitério.

Olugarerapequeno,talvezcomunsdezmetrosquadrados,ecobertocomuma grossa camada demato verdejante que crescia rente ao chão. Thomasavistou diversas cruzes de madeira, feitas de modo desajeitado, espetadasentre as plantas, comas hastes horizontais presas sobre as verticais por um

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pedaçodebarbante.Asplacasdassepulturastinhamsidopintadasdebranco,mas por alguém que claramente fizera isso de maneira apressada - bolhaspastosas as cobriam e partes da madeira apareciam entre elas. Os nomestinham sido gravados namadeira. Hesitante, Thomas se aproximou da queestavamaispertoeseajoelhouparadarumaolhada.Aluzjáestavatãofracanaquelemomentoqueele tevea impressãodeestarolhandoatravésdeumanévoapreta.Atémesmoospássaroshaviamsecalado,comoseestivessemsepreparandoparadormir,eoruídodosinsetoseraquaseimperceptível,oupelomenosmuitomenordoqueonormal.Pelaprimeiravez,Thomaspercebeuoquantoestavaúmidonafloresta,oarsecondensandocomosuornasuatesta,nodorsodassuasmãos.

Eleseinclinoupertodaprimeiracruz.ElapareciarecenteetraziaonomeStephen - o n final pequeno e próximo da borda porque o gravador nãocalcularabemoespaçonecessário.

“Stephen”, pensou Thomas, sentindo uma tristeza inesperada masdistante.“Qualéasuahistória?Chuckirritouvocêatéamorte?”

Ele se levantou e aproximou-se de outra cruz, esta quase coberta pelomato,aterrabemfirmenasuabase.Fossequemfosse,essedeviatersidoumdosprimeirosamorrer,porqueasepulturapareciaamaisvelha.OnomeeraGeorge.

Thomasolhouemvoltaepercebeuquehaviamaisoumenosumadezenade outras sepulturas. Algumas delas pareciam ser tão recentes quanto aprimeira que examinara.Um lampejo prateado chamou a sua atenção.Esseeradiferentedobesouromecânicoariscoqueolevaraparaafloresta,mastãoestranhoquantoooutro.Elepassoupelasplacasatéchegaraumasepulturacobertacomumafolhadeplásticoouvidrosombrio,asbordassujascomumaespéciedelodo.Semicerrouosolhos,tentandoveroquehaviadooutrolado,entãolevouumsustoquandoconseguiuenxergar.Eraumajanelaparaoutrasepultura-nelahaviaosrestosempoeiradosdeumcorpoemdecomposição.

Apavorado,masaindaassimcurioso,Thomasseinclinouparavermaisdeperto.Otúmuloeramenordoqueocomum-sóametadesuperiordodefunto

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jazialádentro.EleselembroudahistóriadeChucksobreogarotoquetentaradescer pela corda no buraco negro da Caixa depois que ela tinha baixado,acabandopor ser cortadoemdoisporalgumacoisaqueoatacounoar.Novidrohaviapalavrasgravadas;Thomasconseguiulê-las:

Que essemeio-trolho sirva de advertência a todos: não se pode escaparpeloFossodaCaixa.

Thomassentiuumaestranhavontadederir-pareciaridículodemaisparaser verdade. Mas também ficou desgostoso consigo mesmo por ser tãosuperficialeinconstante.Abanandoacabeça,caminhouparaolado,paralermaisnomesdemortos,quandooutrogravetoquebrou,dessavezbemàsuafrente,atrásdasárvoresqueficavamdooutroladodocemitério.

Depoisoutroestalido.Emaisoutro.Aproximando-se.Aescuridãoestavamaisintensa.

- Quem está aí? - ele gritou, a voz trêmula e fraca. Soava como seestivesse falando dentro de um túnel vazio. - Falando sério, isso é umaidiotice.-Detestavaterdeadmitirasimesmooquantoestavaaterrorizado.

Em vez de responder, a pessoa desistiu de qualquer intenção de sersigilosa e começou a correr pela floresta ao redor do cemitério, cercandooponto onde Thomas se encontrava. Ele congelou, dominado pelo pânico.Agora, a poucos metros de distância, o visitante tornava-se cada vez maisaudível, até que Thomas vislumbrou a sombra de um garoto raquíticocorrendoemancandoportodootrajeto.

-Queméque…

Antesqueelepudesseterminar,ogarotosaiucorrendodesembestadoporentre as árvores. Thomas viu apenas o brilho fugidio da pele clara e olhosenormes - a imagem assombrada de uma aparição - e gritou, tentou correr,maseratardedemais.Afigurasaltaranoareestavaemcimadele,fustigandoosseusombros,agarrando-ocommãosfortes.Thomascaiunochão,sentiuumaplacadesepulturacravar-senassuascostasparaemseguidasepartiremduas,abrindoumprofundoarranhãonapele.

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Thomasempurrou seu agressor eogolpeou,umamontoado inquietodepeleeossossacolejandoemcimadeleenquantotentavasefirmar.Pareciaummonstro,umacriaturahorrorosadeumpesadelo,masThomassabiaquetinhade ser um Clareano, alguém que perdera o juízo por completo. Ele ouviudentesbateremcomoseabocaseabrisseesefechasse,numhorrívelclaque,claque, claque. Então sentiu uma pontada de dor quando a boca do garotoachouoseucaminho,mordendo-lheprofundamenteoombro.

Thomasgritou,comadorprovocandoumjorrodeadrenalinaatravésdoseu sangue. Ele encostou com energia a palma das mãos no peito do seuagressoreempurrou,esticandoosbraçosatéqueosmúsculosseestirassemcontra a figura que se debatia em cima do seu corpo. Finalmente, o garotocaiuparatrás;umestalidosecocorreupeloarquandooutraplacadesepulturaencontrouoseufim.

Thomassacudiuasmãoseospés,respirandoforteváriasvezes,edeuaprimeiraboaolhadanoagressorfurioso.

Eraogarotodoente.

EraBen.

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PareciaqueBen tinhase recuperadopoucodesdequeThomasoviranaSede.Não usava outra coisa a não ser um calção, a pele para lá de brancaesticadasobreosossoscomoumlençolenvolvendoumpunhadodevaretas.As veias, parecidas com cordas, corriam pelo seu corpo, verdes, pulsando,masmenos pronunciadas que no dia anterior.Os olhos injetados de sanguefitavamThomascomoseestivessemolhandoparaasuapróximarefeição.

Ben agachou-se, decidido a partir para um novo ataque. A certa alturamostrou uma faca, que segurava com força namão direita. Thomas estavatomado de ummedo nauseante, sem acreditar que aquilo estivesse mesmoacontecendo.

-Ben!

Thomasolhounadireçãodavoz,surpresoemverAlbyempéàentradadocemitério,ummerofantasmanasemi-escuridão.Oseualíviofoiimediato- Alby segurava um grande arco, uma flecha pronta para ser disparada,apontadaparaBen.

-Ben-repetiuAlby.-Pareagoramesmo,ounãovaiverodiadeamanhã.

ThomasolhoudevoltaparaBen,queespreitavaAlbymaliciosamente,alínguaseprojetandoentreoslábiosparaumedecê-los.“Oquepoderiahaverde errado com esse garoto?”, pensou Thomas. Ele se transformara em ummonstro.Porquê?

-Semematar-guinchouBen,projetandogotasdesalivavenenosapelaboca,longedemaisparaatingirorostodeThomas-,vaiacabarcomogarotoerrado. -EledardejouoolharnadireçãodeThomas. -Esse éo trolhoquevocêquermatar.-Avozsoavadesequilibrada.

-Nãosejaimbecil,Ben-disseAlby,avozcalmaenquantocontinuavaaapontar a flecha. -Thomasmal acaboudechegar aqui…Nãohánadacomque se preocupar. Você ainda está sentindo os efeitos da Transformação.

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Nuncadeveriaterdeixadoasuacama.

- Ele não é um de nós! - gritou Ben. - Eu o vi… ele… ele é mau.Precisamosmatá-lo!Deixe-mearrancarastripasdele!

Semquerer,Thomasdeuumpassoparatrás,horrorizadocomoqueBendissera.Oqueestavaquerendodizer,queovira?Porquepensavaquefossemau?

Albynãomovera a suaarmanemumcentímetro, aindaapontandoparaBen.

- Deixe isso comigo e com os Encarregados, nós resolvemos, cara demértila. - Tinha as mãos perfeitamente seguras enquanto manejava o arco,quasecomoseo tivesseapoiadosobreumramodeárvore. -Dêmeia-voltaagoramesmocomoseutraseiroesqueléticoeváparaaSede.

- Ele vai querer nos levar para casa - disse Ben. - Ele vai querer quedeixemosoLabirinto.MelhorseriatodossaltarmosdoPenhasco!Melhorsenósarrancássemosastripasdetodos!

-Doquevocêestáfalando?-começouThomas.

-Caleaboca!-gritouBen.-Caleessabocahorríveldetraidor!

-Ben-disseAlbycalmamente.-Voucontaratétrês.

- Ele é mau, ele é mau, ele é mau… - agora Ben sussurrava, quasecantando.Oscilavaparafrenteeparatrás,passandoafacadeumadasmãosparaaoutra,osolhosgrudadosemThomas.

-Um.

- Mau, mau, mau, mau, mau… - Ben sorriu; seus dentes parecerambrilhar,esverdeadosàpoucaluz.

Thomas quis desviar o olhar, sair dali. Mas não conseguia se mover;tambémestavahipnotizado,assustadodemais.

-Dois.-AvozdeAlbysooumaisalta,numtomdeadvertência.

-Ben-disseThomas,tentandodarumsentidoatudoaquilo.-Nãosou…

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nemmesmoseioque…

Ben gritou, um gorgolejo estrangulado de loucura, e saltou no ar,desferindoumgolperasantecomalâmina.

-Três!-Albygritou.

Ouviu-seumestalidoseco.Oruídoinstantâneodeumobjetocortandooar. Seguido de um somoco do encontro no alvo.A cabeça deBen pendeuviolentamente para a esquerda, girando o corpo até que ele caiu sobre abarriga, os pés apontados na direção de Thomas. Ele não deu nem umgemido.

Cambaleante, Thomas aproximou-se dele. A haste comprida da flechaprojetava-sedabochechadeBen, o sangue escasso,menosdoqueThomasesperava,masvazandodomesmojeito.Pretonaescuridão,comopetróleo.Oúnico movimento era do dedo mínimo da mão direita de Ben, que serepuxava.Thomas lutoucontraaânsiadevômito.Ben teria sidomortoporcausadele?Eraculpadele?

-Vamos-disseAlby.-OsEmbaladorescuidarãodeleamanhã.

“Oqueaconteceuaqui?”,pensouThomas,omundogirandoaoredordeleenquantoolhavaparaocorposemvida.“Oquefoiquefizparaessegaroto?”

Levantouosolhos,querendorespostas,masAlbyjá tinhaido,umgalhoagitadocontooúnicoindíciodequeestiveraali.

Quando saiu da floresta, Thomas comprimiu os olhos em reação à luzcegantedosol.Estavamancando,otornozelolatejavadedor,emboranãoselembrasse de tê-lo machucado. Mantinha uma das mãos cuidadosamentesobrearegiãoondetinhasidomordido;aoutraseguravaoestômago,comosepudesseimpediroqueagorasentiacomoumvômitoinevitável.AimagemdacabeçadeBensaltavanasuamente,caída,projetadaemumângulobizarro,osangueescorrendopelahastedaflechaatéseacumular,pingareseespalharpelochão…

Aimagemdacenafoiagota-d’água.

Elecaiudejoelhosembaixodeumadasárvoresdesgrenhadasnoslimites

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da florestaepôs tudopara fora, fazendoumesforçoparavomitarenquantotossiaeexpeliaosúltimosvestígiosdabileácidaedesagradáveldoestômago.Seucorpotodosacudiaepareciaqueovômitonãoacabarianunca.Eentão,conto se o seu cérebro estivesse caçoando dele, tentando deixá-lo pior,ocorreu-lheumpensamento.

JáestavanaClareirahaviavinteequatrohoras.Umdiainteiro.Eraisso.Eviratodasascoisasquetinhamacontecido.Todasascoisasterríveis.

Comcertezasópodiamelhorar.

Naquela noite, Thomas deitou-se olhando para o céu cintilante,imaginandoseconseguiriadormirdenovo.Todavezquefechavaosolhos,aimagemmonstruosadeBensaltavasobreele,orostodogaroto tonadopelademência,invadindoasuamente.Deolhosabertosounão,elepoderiajurarque continuava ouvindo o golpe amortecido da flecha atingindo o rosto deBen.

Thomas sabia que nunca se esqueceria daqueles minutos terríveis nocemitério.

- Diga alguma coisa - falou Chuck pela quinta vez desde que haviamestendidoossacosdedormir.

-Não-respondeuThomas,exatamentecomofizeraantes.

- Todo mundo sabe o que aconteceu. Aconteceu uma ou duas vezes…AlgumtrolhopicadoporumVerdugoescapaeatacaalguém.Nãopensequevocêéespecial.

Pelaprimeiravez,ThomaspensouqueapersonalidadedeChuckpassaradeumpoucoirritanteparaintolerável.

-Chuck,agradeçaporeunãoestarcomoarcodoAlbyagora.

-Sóestousendo…

-Caleaboca,Chuck.Vádormir.-Thomassimplesmentenãoconseguialidarcomasituaçãonomomento.

Porfim,oseu“colega”adormeceu,e,a julgarpelossonorosroncospor

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todaaClareira, todomundo fizeraomesmo.Horasmais tarde,nomeiodanoite, Thomas ainda era o único acordado. Queria chorar, mas não o fez.QueriaencontrarAlbyeesmurrá-lo,semnenhumarazãoaparente,masnãoofez.QueriagritarechutarecuspireabriraCaixaesaltarnaescuridãoládedentro.Masnãofeznadadisso.Fechouosolhoseforçouospensamentoseasimagenssombriasasaírem,e,acertaaltura,caiunosono.

Demanhã cedo, Chuck precisou arrastar Thomas para fora do saco dedormir,arrastá-loatéoschuveirosearrastá-loatéosvestiários.Otempotodo,Thomas sentia-se mole e indiferente, a cabeça doendo, o corpo querendodormir mais. Tomou o café da manhã num torpor, e uma hora depois nãoconseguia se lembrar do que comera. Estava muito cansado, era como sealguém tivesse entrado no seu cérebro e o grampeado no crânio em umadezenadelugares.Aaziaqueimavaoseupeito.

Noentanto,peloquepuderaentender,oscochiloserammalrecebidosnagigantescafazendadaClareira.

PermaneceuaoladodeNewtemfrenteaoceleirodoSangradouro,prontopara a suaprimeira aula comumEncarregado.Apesardamanhãdifícil, naverdade estava empolgado com a ideia de aprender mais e com aoportunidade de afastar os pensamentos de Ben e do cemitério. As vacasmugiam, as ovelhas baliam, os porcos grunhiam por toda parte. Em algumlugaraliperto,umcachorrolatiu,eThomasesperouqueCaçarolanãodesseumnovosignificadoacachorro-quente.“Cachorroquente”,elepensou.“Qualfoiaúltimavezquecomiumcachorroquente?Comquemeucomi?”

-Tommy,poracasoestáouvindooqueestoufalando?

Thomasreagiu,saindodasuaconfusãomental,econcentrou-seemNewt,queháumbomtempodeviaestarfalandocomele;Thomasnãoouviraumapalavradoquedissera.

-Certo,desculpe.Nãodormibemestanoite.

Newtesboçouumsorrisosemgraça.

-Normal.Depoisdetudooquevocêpassou.Deveestarpensandoqueeu

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souumtrolhocabeçudoporexigirqueestejaprontoparacomeçaratrabalharhoje,depoisdeumacenadaquelas.

Thomasencolheuosombros.

-Trabalhartalvezsejaamelhorcoisaqueeupossafazer.Qualquercoisaparadesligarminhamentedaquilo.

Newt inclinou a cabeça concordando e seu sorriso tornou-se maisverdadeiro.

-Vocêétãoespertoquantoparece,Tommy.Esseéumdosmotivospelosquais cuidamos deste lugar com tanto cuidado e muito trabalho. Se ficarpreguiçoso,vocêficatriste.Começaaentregarospontos.Simplesassim.

Thomas concordou com um movimento de cabeça, chutandodistraidamenteumapedrasoltanochãorochosoeempoeiradodaClareira.

-Eaí,qualéaúltimasobreagarotadeontem?-Sehaviaalgumacoisaque penetrara a névoa dos seus pensamentos fora a lembrança dela.Queriasabermaisaseurespeito,entenderaestranhaligaçãoquesentiaemrelaçãoaela.

-Continuaemcoma,dormindo.OsSocorristasvãolhedandodecolherasopaqueoCaçarolaprepara,verificandoosseussinaisvitaiseessascoisas.Elaparecebem,apenasmortaparaomundoporenquanto.

-Issoémuitoestranho.-SenãotivessepassadopeloincidentecomBenno cemitério, Thomas estava certo de que ela teria ocupado todos os seuspensamentos na noite anterior. Talvez não fosse capaz de dormir por outrarazãocompletamentediferente.Queriasaberquemelaeraeseeleaconheciadealgummodo.

-Éisso-falouNewt.-Estranhoéamelhorpalavranocaso,acho.

Thomas olhou por cima do ombro de Newt para o grande celeirovermelhodesbotado,pondodeladoospensamentossobreagarota.

- E aí, o que fazemos primeiro? Tiramos leite das vacas ou retalhamosalgunspobresleitõezinhos?

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Newtriu,eThomaspercebeuquenãotinhaouvidomuitoaqueletipodesomdesdequechegara.

-AgentesemprefazosCalouroscomeçaremcomosRetalhadores.Nãosepreocupe,cortarosalimentosqueoCaçarolavaiusaré sóumapartedotrabalho.OsRetalhadoresfazemtudooquetenhaavercomosanimais.

-Penanãoconseguirmelembrardetodaaminhavida.Talvezeuadorassemataranimais.

Eleestavaapenasbrincando,masNewtnãopareceuentenderassim.

Newtindicouoceleirocomummovimentodecabeça.

-Ah,vocêvaisabermuitobemissoatéopôrdosol.VamosláconversarcomoWinston…eleéoEncarregado.

Winston era um garoto cheio de espinhas, baixo mas musculoso, epareceu a Thomas que o Encarregado gostava demais do seu trabalho.“Talvezeletenhasidomandadoaquiporserumserialkiller”,pensou.

Durante a primeira hora, Winston mostrou todo o lugar a Thomas,indicando quais eram os cercados onde ficavam os diversos animais, ondeficavam as galinhas e os perus, o que ia para o celeiro. O cachorro, umlabrador preto, agitado, chamado Tagarela, rapidamente adotou Thomas,seguindoosseuspassosdurantetodaavisita.Imaginandodeondeteriavindoo cachorro, Thomas perguntou a Winston, que disse que Tagarela sempreestiveraali.Pareciaqueseunomeforadadocomoumabrincadeira,jáqueocãoerabemsilencioso.

A segunda hora transcorreu em meio ao trabalho de verdade com osanimais de criação - alimentando-os, limpando, consertando a cerca, dandoum jeito no plong todo. Plong. Thomas surpreendia-se cada vez maisempregandoasexpressõesdaClareira.

A terceira hora foi a mais difícil para Thomas. Ele precisou observarenquantoWinston abatia um porco e começava a preparar as suas diversaspartes para o consumo futuro. Thomas jurou duas coisas para si mesmoenquanto saía para o almoço. Primeiro, a sua carreira não seria entre os

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animais;segundo,nuncamaiscomerianadaqueviessedeumporco.

Winstondisseraparaelecontinuarsozinho,paraandarpeloSangradouro,oqueparaThomasfoiótimo.EnquantocaminhavanadireçãodaPortaLeste,não conseguia parar de imaginarWinston em um canto escuro do celeiro,mastigandopésdeporcocrus.Osujeitolhedavacalafrios.

ThomasestavapassandoexatamentepelaCaixaquandosesurpreendeuaover alguémentrar naClareira vindodoLabirinto, através daPortaOeste, àsuaesquerda-umgarotodeorigemasiáticacombraçosfortesecabelopretocortado curto, que parecia um pouco mais velho do que ele. O Corredorparou, deu três passos para dentro, depois se curvou e apoiou-se nasmãossobre os joelhos, respirando comdificuldade. Parecia que tinha acabado decorrertrintaquilômetros,orostovermelho,apelecobertadesuor,asroupasensopadas.

Thomasficouolhando,dominadopelacuriosidade-eraachancedeverumCorredordepertoouconversarcomumdeles.Alémdisso,combasenosúltimos dias, o Corredor tinha voltado algumas horas mais cedo. Thomasadiantou-se,ansiosoporconhecê-loefazer-lheperguntas.

No entanto, antes que Thomas pudesse articular uma frase, o garotodesmoronounochão.

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Thomas não se moveu por alguns segundos. O garoto jazia como ummonte disforme,mal semexendo,mas Thomas permanecia congelado pelaindecisão,comreceiodeseenvolver.Esehouvessealgumacoisamuitosériacomaquelegaroto?Esetivessesido…picado?Ese…

Thomas caiu em si de repente…Obviamente, o Corredor precisava deajuda.

-Alby!-gritou.-Newt!Alguémchameumdeles!

Thomascorreuatéogarotomaisvelhoeajoelhou-seaoladodele.

-Ei…vocêestábem?

AcabeçadoCorredordescansavaentreosbraçosabertoscomoelecaíra,o peito arfando. Ele estava consciente,masThomas nunca vira alguém tãoexausto.

- Estou…estou bem - disse ele ofegante, então ergueu os olhos. -Queplongévocê?

-Sounovoaqui.-OcorreuaThomasentãoqueosCorredorespassavamodia no Labirinto e não tinham testemunhado nenhum dos acontecimentosrecentes. Será que aquele rapaz sabia ao menos sobre a garota?Provavelmente…comcertezaalguémlhecontara.-SouThomas.Estouaquiháapenasdoisdias.

O Corredor sentou-se depressa, o cabelo preto grudado na cabeça pelosuor.

-Ah,sei,Thomas-eleofegou.-Calouro.Vocêeamina.

Albyapareceucorrendo,aborrecido.

-Oqueestáfazendodevolta,Minho?Oqueaconteceu?

-Calminha aí,Alby - replicouoCorredor, parecendoganhar forçaspor

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um segundo. - Faça alguma coisa útil e me arranje um pouco de água…Deixeiaminhamochilacairemalgumlugar.

MasAlbynãosemoveu.ChutouapernadeMinho…comforçademaisparaserdebrincadeira.

-Oqueaconteceu?

-Malconsigofalar,carademértila! -gritouMinho,avozáspera. -Mearranjeumpoucodeágua!

AlbyolhouparaThomas,queficouchocadoemvera insinuaçãodeumsorrisopassarpelorostodeleantesdedesapareceremumacarranca.

-MinhoéoúnicotrolhoquepodefalarcomigodessamaneirasemteroseutraseiroatiradopeloPenhasco.

Então,surpreendendoThomasaindamais,Albysevoltouesaiucorrendo,supostamenteparabuscaráguaparaMinho.

Thomasvoltou-separaMinho.

-Albydeixavocêmandarneleassim?

Minhodeudeombros,depoislimpouasgotasdesuordatesta.

-Vocêtemmedodaquelelinguarudo?Cara,vocêtemmuitoqueaprender.MalditosCalouros.

OcomentáriomagoouThomasmuitomaisdoquedeveria,considerandoqueconheciaaquelesujeitohaviamenosdetrêsminutos.

-Elenãoéolíder?

- Líder? -Minho deu um grunhido alto que provavelmente deveria seruma risada. - É, sim, pode chamá-lo de líder se quiser. Talvez devêssemoschamá-loElPresidente.Não,não…AlmiranteAlby.Éissoaí.-Eleesfregouosolhos,dandoumarisadinhaestridenteenquantofaziaisso.

Thomas não sabia que rumo dar à conversa - era difícil dizer quandoMinhoestavabrincando.

-Entãoqueméolídersenãoforele?

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-Fedelho,apenascaleabocaantesdeseconfundiraindamais.-Minhosuspirou como se estivesse entediado, depois resmungou, quase para simesmo: - Por que vocês trolhos sempre vêm aqui fazendo perguntasestúpidas?Quesaco.

-Oqueesperavaque fizéssemos? -Thomas sentiuum ímpetode raiva.“Apostoquenãoeradiferentelogoquechegouaqui”,tevevontadededizer.

- Façamo quemandarem,mantenham a boca fechada.É isso o que euespero.

Minhooolharadiretonorostopelaprimeiravezaoproferiraquelaúltimafrase, eThomas, inconscientemente, afastou-se alguns centímetros.Mas emseguidasedeucontadequehaviacometidoumerro:nãodeviadeixaraquelecarapensarquepodiafalarcomeledaquelejeito.

Recuou,erguendo-sesobreos joelhos,parapoderolhardecimaorapazmaisvelho.

-É,seidireitinhooquevocêfezquandoeraumCalouro.

MinhoobservouThomascomatenção.Depois,novamenteolhandodiretonosseusolhos,disse:

-FuiumdosprimeirosClareanos,cabeção.Fecheamatracaenquantonãosoubercomquemestáfalando.

Thomas, agora ligeiramente atemorizado pelo garoto, mas maisconsciente domotivo da sua atitude, fezmenção de se levantar.Minho deimediatoagarrouoseubraço.

-Cara,senteaqui.Sóestoutirandoondacomvocê.Édivertidodemais…você vai ver quando o próximo Calouro chegar… - Ele se interrompeu,curvando as sobrancelhas com perplexidade. - Parece que não haverámaisnenhumCalouro,hein?

Thomasrelaxou,voltouasentar-se,surpresopelafacilidadecomqueeletinhasidopostoàvontadenovamente.Pensounagarotaenobilhetedizendoqueelaeraaúltimaparasempre.

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-Achoquenão.

Minhosemicerrouumpoucoosolhos,comoseexaminasseThomas.

- Você viu a mina, certo? Todo mundo está dizendo que vocêprovavelmenteconheciaelaoualgoparecido.

Thomassentiuquesecolocavanadefensiva.

-Euavi.Nãomeparecefamiliar,demaneiranenhuma.-Imediatamentesentiu-seculpadopormentir…mesmoquefosseumamentirinha.

-Elaégostosa?

Thomas parou. Não tinha pensado nela daquele jeito desde que elaenlouquecera, entregara o bilhete e pronunciara a sua única fala: “Tudovaimudar.”Maslembrava-sedecomoerabonita.

-É…achoqueégostosa.

Minhojogou-separatrásatéficarestiradonochão,osolhosfechados.

-É…você acha. Se tivesse atração por garotas em coma, certo? -Deuumarisadinhaestridentedenovo.

-Certo.-ThomasestavatendodificuldadededecidirsegostavadeMinhoounão…apersonalidadedelepareciamudaracadaminuto.Depoisdeumalonga pausa, resolveu arriscar. - Então… - disse com cautela - você nãoencontrounadahoje?

MinhoarregalouosolhoseencarouThomas.

-Oquevocêsabe,Fedelho?EssaéacoisamaisidiotaemertilentaquesepoderiaperguntaraumCorredor. -Elefechouosolhosdenovo. -Masnãohoje.

- Como assim? - Thomas ousou esperar por alguma informação. “Umaresposta”,pensou.“Porfavor,sómedêumaresposta!”

-Esperesóatéobeloalmirantevoltar.Nãogostodefalarascoisasduasvezes.Mesmoassim,elepodenãoquererquevocêouça.

Thomas suspirou. Não estava enfim muito surpreso com a falta de

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respostas.

-Bem,pelomenosmeconteporqueparecia tão cansado.Não corre láforatodososdias?

Minhogemeuenquantoselevantavaecruzavaaspernas.

-É,Fedelho,corro lá fora todososdias.Digamosque fiqueiumpoucoempolgadoecorriumpoucomaisdepressaparatrazeromeutraseirodevoltaparacá.

-Porquê?-ThomasqueriadesesperadamenteouviralgumacoisasobreoqueaconteceranoLabirinto.

Minhojogouasmãosparaoalto.

-Cara.Eujádisse.Paciência.EsperepeloGeneralAlby.

Algonavozdeleatenuouogolpe,eThomastomouumadecisão.GostavadeMinho.

- Certo, vou calar a boca. Apenas faça com que Alby me deixe ouvirtambémoqueaconteceu.

Minhooobservouporumsegundo.

-Tudobem,Fedelho.Vocêmanda.

AlbychegouuminstantedepoiscomumgrandecopodeplásticocheiodeáguaeentregouaMinho,quebebeutudodeumgolesó,sempararnemumavezparatomarfôlego.

-Muitobem-disseAlby.-Desembuche.Oqueaconteceu?

MinhoarqueouassobrancelhasefezumsinalcomacabeçanadireçãodeThomas.

-Nãotemproblema-replicouAlby.-Nãomeinteressaoqueessetrolhoouvir.Agorafale!

Thomas ficou sentado em silêncio, esperando ansiosamente enquantoMinho se esforçavapara se levantar, fazendoumacareta a cadagesto, comumaspectoquedenotavaexaustão.OCorredorequilibrou-secontraomuro,

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dirigindoaosoutrosdoisumolharfrio.

-Encontreiumdelesmorto.

-Há?-surpreendeu-seAlby.-Umdelesoquê?

Minhosorriu.

-UmVerdugomorto.

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Thomas estava fascinado com a menção a um Verdugo. Só pensar nacriaturaasquerosajáeraalgoaterrorizante,maseleficouseperguntandoporque encontrar uma delas morta era grande coisa. Será que nunca haviaacontecidoantes?

Albyestavacomoalguémqueacabadesaberquepodecriarasasevoar.

-Nãoéumbommomentoparagracinhas-comentou.

-Olhe-falouMinho-,eutambémnãoacreditariaemmimsefossevocê.Masacredite,euvi.Umadaquelascoisasnojentas,gordasegrandonas.

“Semdúvidanenhuma,nuncaaconteceuantes”,concluiuThomas.

-VocêencontrouumVerdugomorto-repetiuAlby.

-Issomesmo,Alby-confirmouMinho,aspalavrasacompanhadasdeumtomdeirritação.-Aunstrêsquilômetrosdaqui,pertodoPenhasco.

AlbyolhouparaoLabirinto,depoisdenovoparaMinho.

-Bem…porquenãotrouxeacriaturadevoltacomvocê?

Minhoriudenovo,meiogrunhido,meiorisadinha.-VocêandoubebendoomolhoapimentadodoCaçarola?Aquelascoisasdevempesarmeiatonelada,cara.Além disso, eu não tocaria em uma delasmesmo que vocême desseumaviagemgrátisparaforadestelugar.

Albypersistiunasperguntas.

-Ecomoeraaaparênciadacoisa?Osferrõesdemetalestavamdentroouforadocorpo?Elasemoviadealgummodo…apeleaindaestavaúmida?

Thomas estava explodindo de vontade de fazer perguntas - “Ferrões demetal? Pele úmida? O que era tudo aquilo?” -, mas mordeu a língua, nãoquerendochamaraatençãoparaasuapresença.Etemendoqueelesfossemconversaremparticular.

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-Calma aí, cara - falouMinho. -Você temquever por simesmo.É…estranho.

-Estranho?-Albypareceuconfuso.

-Cara,estouexausto,morrendodefomeequasecomumainsolação.Massevocêestiverafimdedarumalôparaacoisaagoramesmo,podemosirláeestardevoltaantesqueosmurosfechem.

Albyolhouparaorelógio.

-Melhoresperaratéamanhã,nahoradeacordar.

- Essa foi a coisamais inteligente que disse em uma semana. -Minhorecompôs-se desencostando do muro, deu um tapinha no braço de Alby,depoispartiuemdireçãoàSedemancando.Aindafalouporcimadoombroenquantoseafastava,demonstrandoqueoseucorpointeirodoía:

-Euseiquedeviavoltar lá,masesqueça.VoucomerumpoucodaquelecozidonojentodoCaçarola.

Aquilo foi um ducha de água fria para Thomas. Precisava admitir queMinhomereciaumdescansoeumpoucodecomida,masqueriasabermais.

EntãoAlbyvoltou-separaThomas,surpreendendo-o.

-Sesabedealgumacoisaenãomecontou…

Thomasestavacansadodeseracusadodesaberdascoisas.Nãoeraesseoproblema? Ele não sabia de nada. Encarou de forma direta o rapaz eperguntou:

-Porquevocêmeodeiatanto?

A expressão que dominou o rosto de Alby foi indescritível - em parteconfusão,emparteraiva,empartechoque.

- Odiar você? Garoto, você não aprendeu nada desde que apareceunaquela Caixa. Isso não tem nada a ver com odiar, gostar, amar ou teramizade ou algo parecido. Só o que nos interessa é sobreviver. Deixe defrescuraecomeceausaressecérebrodemértilasetiveralgum.

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Thomassentiucomosetivesselevadoumtapanacara.

-Mas…porquevocêestásempremeacusando…

- Porque não pode ser coincidência, cabeção! Você surge aqui, depoisaparece uma garota como Calouro no dia seguinte. Depois umas coisasmalucas:Bententandomordervocê,Verdugosmortos.Estáacontecendoalgoenãovoudescansarenquantonãodescobriroqueé.

-Eunãoseidenada,Alby.-Pareceu-lheadequadocolocarumpoucodecalor nas palavras. - Nemmesmo sei onde eu estava três dias atrás,muitomenos por que esseMinho encontraria uma coisamorta chamadaVerdugo.Portanto,dáumtempo!

Alby inclinou-se ligeiramente para trás, olhando um tanto distante paraThomasporváriossegundos.Entãodisse:

- Pega leve, Fedelho. Cresça e comece a pensar. Não ganho nada emacusarninguémdecoisaalguma.Masselembrardealgo,sealgoaomenosparecerfamiliar,émelhorcomeçarafalar.Prometa.

“Nãoenquantonão tiverumamemória confiável”,pensouThomas. “Sóquandoquiserfalar.”

-Tábom,euacho,mas…

-Apenasprometa!

Thomasfezumapausa,enjoadodeAlbyedasuaatitude.

-Válá-disseporfim.-Euprometo.

Com isso Alby fez meia-volta e se afastou, sem dizer mais nenhumapalavra.

ThomasencontrouumaárvorenoCampo-santo,umadasmaisbonitasàbeiradaflorestacombastantesombra.TemiavoltaratrabalharcomWinston,oAçougueiro,esabiaqueprecisavaalmoçar,masnãoqueriachegarpertodeninguém enquanto não conseguisse se livrar de tudo aquilo. Recostado notronco,desejouumabrisa,masnãoateve.

MaltinhasentidoaspálpebrasbaixaremquandoChuckestragouasuapaz

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etranquilidade.

-Thomas!Thomas!-ogarotoguinchavaenquantocorrianadireçãodele,abanandoosbraços,orostoinflamadodeempolgação.

Thomasesfregouosolhosegemeu;nãoqueriamaisnadanomundodoquemeiahoradesoneca.SóquandoChuckparoubemnasuafrente,fazendoumesforçopararecuperarofôlego,foiqueabriuosolhos.

-Oquefoi?

As palavras saíram com dificuldade da boca de Chuck, em meio àrespiraçãoofegante.

-Ben…Ben…elenãoestá…morto.

TodosossinaisdecansaçoforamprojetadosparalongedoorganismodeThomas.ElesaltoudepéparaficardefrenteparaChuck.

-Oquê?

-Ele…nãoestámorto.OsEmbaladoresforamlácuidardele…aflechanãoatingiuocérebrodele…OsSocorristasocuraram.

Thomasvirou-separaaflorestaondeogarotodoenteoatacaraaindananoiteanterior.

- Você deve estar brincando. Eu vi como ele ficou… - Ele não estavamorto? Thomas não sabia o que sentir mais fortemente: confusão, alívio,medodeumnovoataque…

-Bem,quemmedera-disseChuck.-Eleestá trancadonoAmansador,comumgrandecurativocobrindometadedacabeça.

ThomasgirouparaencararChuckdenovo.

-0Amansador?0quequerdizercomisso?

-OAmansador.ÉanossaprisãonoladonortedaSede.-Chuckapontounaqueladireção.-ElesojogaramlátãodepressaqueosSocorristastiveramdefazerocurativolá.

Thomasesfregouosolhos.Aculpaoconsumiaquandopercebeucomose

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sentiadeverdade-ficaraaliviadoporBentermorrido,assimnãoprecisariasepreocuparemencontrá-lodenovo.

-Eaí,oquevãofazercomele?

- Já houve um Conclave dos Encarregados esta manhã. E pelo jeitochegaramaumadecisãounânime.ParecequeoBenvaidesejarqueaquelaflechativessechegadomesmoaocérebrodemértiladele.

Thomasfezumacareta,confusocomoqueChuckdissera.

-Doquevocêestáfalando?

-ElevaiserBanido.Estanoite,portentarmatarvocê.

- Banido? O que isso significa? - Thomas precisava perguntar, emborasoubesse que, seChuck achava que era pior do que estarmorto, então nãopoderiaseralgobom.

E então Thomas viu talvez a coisa mais perturbadora com que já sedepararadesdeasuachegadaàClareira:Chucknãorespondeu;apenassorriu.Sorriu, apesar de tudo, apesar do significado sinistro do que acabara deanunciar. Então virou-se e correu, talvez para contar a outro a notíciaexcitante.

Naquelanoite,NewteAlbyreuniramtodososClareanosnaPortaLestecercademeiahoraantesdeelase fechar,osprimeirossinaisdocrepúsculoanunciando-senocéu.OsCorredorestinhamacabadodevoltaredeentrarnamisteriosaCasadosMapas, fechandoaportade ferroatrásdeles;Minho játinha entradomais cedo.Albydisse aosCorredorespara se apressaremnosseusafazeres-queriaqueestivessemdevoltaemvinteminutos.

Thomas ainda se sentia incomodado pela maneira como Chuck sorriraquando dera a notícia sobreBen serBanido.Embora não soubesse ainda oque significava, com certeza não parecia ser uma coisa boa. EspecialmentequandoestavamtodosreunidospróximoaoLabirinto.“Seráquevãocolocá-loparaforadaqui?”,imaginou.“ComosVerdugos?”

Os outros Clareanos conversavam num murmúrio abafado, um fortesentimento de expectativa amedrontada pairando sobre todos como uma

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neblina espessa. Thomas, porém, não dizia nada, aguardando de braçoscruzados, esperando pelo espetáculo. Esperou calmo até que os Corredoresfinalmente saíram do seu edifício, todos eles parecendo exaustos, os rostosmarcados por profundas reflexões.Minho fora o primeiro a sair, o que fezThomasseperguntarseeleeraoEncarregadodosCorredores.

-Tragamele!-gritouAlby,tirandoThomasdosseuspensamentos.

Osseusbraçoscaíramparaolado,inertes,quandoelesevoltou,olhandopelaClareira em busca de um sinal deBen, um tremor elevando-se dentrodeleenquantoimaginavaoqueogarotofariaquandoovisse.

De um canto no fundo da Sede, três dos maiores garotos apareceram,arrastando Ben pelo chão. As roupas dele estavam em frangalhos, mal semantendonocorpo;umcurativosanguinolentocobriametadedasuacabeçaedoseurosto.Recusando-seapousarospésnochãoparaajudardequalquermaneira,elepareciatãomortoquantodaúltimavezemqueThomasovira.Anãoserporumdetalhe.

Osseusolhosestavamabertos,arregaladospeloterror.

- Newt - disse Alby em uma voz muito mais baixa; Thomas não teriaouvidosenãoestivesseapoucospassosdedistância.-TragaoPoste.

Newt concordou com um movimento de cabeça, já a caminho de umbarracão de ferramentas usado pelos jardineiros; era evidente que estavaesperandopelaordem.

Thomas tornou a acompanharBen e os guardas.O garoto, pálido e emestado lastimável, continuava sem esboçar resistência, deixando que oarrastassem pelo chão de rocha empoeirado do pátio. Quando chegaram àaglomeração, puseram Ben de pé na frente de Alby, o líder. Ben baixou acabeça,recusando-seaolharparaquemquerquefosse.

-Vocêcausouissoasimesmo,Ben-disseAlby.EntãoabanouacabeçaeolhouparaacabanaparaondeNewtsedirigira.

ThomasacompanhouoolhardeleatempodeverNewtpassarpelaportainclinada. Ele trouxe várias barras de alumínio, que foi prendendo pelas

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extremidades até formar umposte de uns seismetros de comprimento. Emseguida,prendeualgumacoisaestranhaemumadasextremidadesedirigiu-serumoaogrupo.UmarrepiocorreupelaespinhadeThomasaoouviroruídometálicoqueopostefaziaaoserarrastadosobreaspedrasdochãoàmedidaqueNewtavançava.

Thomasestavahorrorizadocomtudoaquilo.Emboranunca tivessefeitonada para provocarBen, sentia-se responsável.Como podia ser culpado dealguma coisa? Nenhuma resposta lhe ocorreu, mas a culpa continuavatorturando-ocomosefosseumadoença.

Porfim,Newtaproximou-sedeAlbyeestendeuaextremidadedopostequesegurava.Thomasconseguiuvermelhoroestranhoapêndiceagora.umaargoladecourogrosseiro,presaaometalporumimensogrampodearame.Umagrandefivelarevelavaqueaargolapodiaserabertaefechada,eoseupropósitotornou-seevidente.

Eraumacoleira.

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ThomasobservouenquantoAlbydesabotoavaacoleiraedepoisaprendianopescoçodeBen;estefinalmentelevantouosolhosquandoatiradecourofoiapertadaefechadacomumestalidoseco.Aslágrimasbrilhavamemseusolhos; fios de muco escorriam das narinas. Os Clareanos olhavam emsilêncio,ninguémpronunciouumapalavra.

-Porfavor,Alby- implorouBen,avoztrêmulasoandotãopatéticaqueThomas não conseguiu acreditar que fosse a mesma pessoa que tentaramorder-lhe o pescoço no dia anterior. - Juro que foi tudo por causa daTransformação.Nuncaquismatá-lo,sóperdiacabeçaporumsegundo.Porfavor,Alby,porfavor.

Cada palavra do garoto era como um soco no estômago de Thomas,fazendo-osentir-semaisculpadoeconfuso.

Albynãorespondeu;puxouacoleiraparasecertificardequeestavabemfechada e presa com firmeza ao poste comprido. Afastando-se de Ben eaproximando-se do poste, pegou-o do chão e correu a palma da mão e osdedos por todo o seu comprimento. Quando chegou à extremidade oposta,agarrou-ocomfirmezaeencarouamultidão.Osseusolhosestavaminjetadosdesangue,orostocontraídoderaiva,respirandocomforça-paraThomas,derepente,elepareceuoprópriodemônio.

Edooutroladoa imagemerabizarra:Ben, tremendo,chorando,a toscacoleira de couro presa ao pescoço pálido e descarnado, atado ao postecomprido que se estendia entre ele e Alby, colocado a uns seis metros dedistância. A haste de alumínio encurvava-se no meio, mas só um pouco.MesmodeondeThomasseencontrava,elapareciasurpreendentementeforte.

Alby falou em voz alta, quase cerimoniosa, olhando para todos e paraninguémaomesmotempo.

-BendosConstrutores,vocêfoisentenciadoaoBanimentopelatentativadeassassinatodeThomas,oCalouro.OsEncarregadosfalaram,eapalavra

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delesnãomuda.Evocênãopoderávoltar.Nuncamais. -Houveumalongapausa.-Encarregados,assumamoseulugarnoPostedeBanimento.

ThomasodiouqueasualigaçãocomBenfossetornadapública-odiouaresponsabilidade que sentiu. Ser, de novo, o centro das atenções só podiagerarmaissuspeitasaseurespeito.Oseuproblematransformou-seemraivaeculpa.Maisdoquetudo,elesóqueriaqueBensumisse,quetudoacabassedeumavez.

Umporum,osgarotossaíramdogrupoeseaproximaramdolongoposte;cadaumquechegavaoagarravacomasduasmãos,segurando-ocomforçacomo se estivessem prontos para disputar o cabo de guerra. Newt era umdeles,assimcomoMinho,confirmandoasuspeitadeThomasdequeeleeraoEncarregadodosCorredores.Winston,oAçougueiro,tambémtomouposição.

Assim que todos assumiram seus postos - dez Encarregados espaçadosigualmente uns dos outros entre Alby e Ben -, o ar como que parou esilenciou.OsúnicosruídoseramossoluçosabafadosdeBen,quecontinuavaenxugando o nariz e os olhos. Ele olhava à esquerda e à direita, embora acoleira ao redor do pescoço o impedisse de ver o poste e os Encarregadosatrásdesi.

OssentimentosdeThomasmudaramdenovo.Obviamente,haviaalgodeerradocomBen.Porqueelemereciaaqueledestino?Nãoseriapossívelfazeralguma coisa por ele? Thomas passaria o resto dos seus dias sentindo-seresponsável? “Acabem logo”, gritava dentro da cabeça. “Acabem logo comisso!”

- Por favor - pediu Ben, a voz elevando-se em desespero. - Pooorfaaavooooooor!Alguémmeajude!Vocêsnãopodemfazerissocomigo!

-Caleaboca!-trovejouAlbyatrásdele.

Mas Ben o ignorou, implorando por ajuda enquanto puxava a coleirapresaaopescoço.

-Alguémos impeça!Meajudem!Por favor! -Eleolhavadeumgarotopara outro, implorando com o olhar. Todos desviavam o rosto. Thomas

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rapidamenteescondeu-seatrásdeumgarotomaisaltoparaevitaroconfrontocomBen.“Nãopossoencararaquelesolhosdenovo”,pensou.

-Sedeixássemostrolhoscomovocêsesafardeumadessas-falouAlby-,nuncateríamossobrevividoatéaqui.Encarregados,preparem-se.

-Não,não,não,não,não-diziaBen,jásemfôlego.-Juroquenãoerromais.Juroquenãofaçoissodenovo!Pooorfaaaa…

OseugritoestridentefoiabafadopeloestrondodaPortaLestecomeçandoase fechar.Centelhassaltaramdapedraenquantoo imensomurodadireitadeslizou para a esquerda, rugindo como um trovão enquanto seguia o seucaminhoparasepararaClareiradoLabirintoduranteanoite.Ochãotremeuembaixo deles, e Thomas não sabia se seria capaz de ver o que sabia queaconteceriaemseguida.

-Encarregados,agora!-gritouAlby.

AcabeçadeBenchicoteouparatrásenquantoeraprojetadoparaafrente,osEncarregadosempurrandoopostenadireçãodoLabirintodoladodeforadaClareira.UmgritoestranguladobrotoudagargantadeBen,maisaltodoqueoruídodaPortaquesefechava.Elecaiudejoelhos,sóparaserlevantadoàforçapeloEncarregadoqueestavaàfrente,umgarotoforte,decabelopretoecomumaexpressãohostil.

- Nãããããoooo! - gritou Ben, a saliva espirrando da boca enquanto sedebatia, tentandoarrancaracoleiracomasmãos.Masa forçaconjuntadosEncarregadoserainabalável,empurrandoogarotocondenadocadavezmaispara perto do limite da Clareira, exatamente quando omuro direito estavaquaseali.-Nãããoooo!-elegritoumaisumavez,eoutravezainda.

Ben procurou fincar os pés no limiar, mas a tentativa mal durou umafraçãode segundo; comum solavanco, o poste omandoupara oLabirinto.LogoeleestavamaisdeummetroparaforadaClareira,sacudindoocorpodeumladoparaooutro,ainda tentandoescapardacoleira.OsmurosdaPortaestavamapoucossegundosdesefechar.

Numúltimoesforçoviolento,Benfoicapazdegiraropescoçonocírculo

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de couro de modo a ficar de corpo inteiro de frente para os Clareanos.Thomas não conseguia acreditar que ainda estivesse olhando para um serhumano-ainsanidadedosolhosdeBen,ocatarroescorrendodaboca,apelemuitobrancaeesticada,juncadadeveiassaltadassobreosossos.ElepareciamaisestranhodoquetudooqueThomaspudesseimaginar.

-Parem!-gritouAlby.

Ben gritou então, sem interrupção, um som tão penetrante que Thomastapou os ouvidos. Foi um grito bestial, insano, com certeza reduzindo ascordas vocais do garoto a farrapos. No último segundo, o Encarregado dafrente,dealgumaforma,afrouxouabarramais larga,destacando-adapartepresa a Ben, e, puxando-a com força de volta à Clareira, deixou o garotoentregueaoseuBanimento.OsgritosfinaisdeBenforamabafadosquandoosmurossefecharamcomumestrondoterrível.

Thomascontraiuosolhosfechadoseficousurpresoaosentiraslágrimascorrendopelassuasfaces.

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Pela segunda noite seguida, Thomas foi para a cama com a imagemassombrada da face deBen ardendo namemória, atormentando-o.Até quepontoascoisasseriamdiferentesapartirdalisenãofosseporaquelegaroto?Thomas quase conseguia se convencer de que ficaria contente, feliz eempolgadoporconhecerasuanovavida,buscandorealizarasuametadesetornarumCorredor.Quase.NofundoelesabiaqueBeneraapenasumapartedosseusinúmerosproblemas.

Masagoraelesefora,BanidoparaomundodosVerdugos,levadosabe-seláparaondeelescarregavamassuaspresas,vítimadoquequerquefizessemlá. Embora tivesse uma porção demotivos para desprezarBen, na verdadesentiamuitapenadele.

Thomasnãoseimaginavasaindodaquelamaneira,mastomandoporbaseos últimos momentos de Ben, debatendo-se psicoticamente, cuspindo egritando,nãoduvidavamaisdaimportânciadaleidaClareiradequeninguémdeveria entrar no Labirinto a não ser os Corredores, e assim mesmo sódurante o dia. De alguma forma, Ben já fora picado uma vez, o quesignificava que sabia melhor do que talvez todos exatamente o que oesperava.

“Pobregaroto”,pensou.“Pobre,pobregaroto.”

Thomas estremeceu e virou de lado. Quanto mais pensava no assunto,mais lhepareciaque serumCorredornãoeraassimuma ideia tãoboa.Noentanto,inexplicavelmente,aindasesentiatentado.

Na manhã seguinte, o céu mal começara a clarear e já os ruídos daatividadenaClareiradespertavamThomasdosonomaisprofundodesdequehavia chegado. Ele sentou-se e esfregou os olhos, tentando afastar a fortetonteira.Desistindo, deitou-se de costas, torcendo para que ninguém viesseincomodá-lo.

Nãodemorouumminuto.

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Alguémdeu-lheumtapinhanoombro,eeleabriuosolhosparaverNewtolhando-odoalto.“Oqueseráagora?”,pensou.

-Levante,paspalho.

-É,bomdiaparavocêtambém.Quehorassão?

-Sete, Fedelho - respondeuNewt comum sorriso de zombaria. -Achoquesedeixassevocêficariadormindoalémdacontapormaisunsbonsdias.

Thomasroloude ladoatésesentar,odiandonãopoder ficardeitadopormaisalgumashoras.

-Dormindo alémda conta?Vocês sãooquê?Umbandode caipiras daroça? -Caipirasda roça…comopodia lembrar-se tãobemdisso?Umavezmaisamemórialhepregavaumapeça.

- Há… é, já que tocou no assunto. - Newt deixou-se cair ao lado deThomasesentou-sesobreaspernascruzadas.Ficoualiemsilêncioporalgunsinstantes, contemplando o início domovimento por toda aClareira. -HojevamospôrvocêcomosDesbastadores,Fedelho.Vejasegostamaisdissodoquefatiarporcossangrentoseessascoisas.

Thomasestavacheiodesertratadocomoumbebê.

-Nãodariaparavocêparardefalarcomigodessejeito?

-Falarcomo?Porcossangrentos?

Thomasforçouumsorrisoeabanouacabeça.

-Não,Fedelho.Naverdade,nãosoumaisoCalouromaisnovo,certo?Agarotaemcomaéqueé.ChameeladeFedelha…OmeunomeéThomas.-Alembrançadagarotatomoucontadosseuspensamentos,fazendo-olembrar-sedaligaçãoqueelesentiaexistirentreeles.Umatristezaoinvadiuderepente,conto se sentissemuito a falta dela, quisesse vê-la. “Isso não faz omenorsentido”,pensou.“Nemseionomedela.”

Newtinclinouocorpoparatrás,assobrancelhasarqueadas.

-Sobroupramim…parecequeficouvalentinhodanoiteparaodia,hein?

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Thomasignorouocomentárioelevantou-se.

-0queéumDesbastador?

-Éassimquechamamososcarasquetrabalhamcomoumamulalánosjardins…podando,arrancandoomato,plantando,poraí.

Thomasinclinouacabeçanaqueladireção.

-QueméoEncarregado?

-Zart.umcaralegal,desdequenãofaçaceranotrabalho,simsenhor.Eleéaquelegrandalhãoqueficounafrenteontemànoite.

Thomas não comentou nada sobre isso, esperando que de algummodoconseguissepassarodiainteirosemfalarsobreBeneoBanimento.Ahistóriasóodeixavaenjoadoeculpado,onegócioeramudardeassunto.

-Certo…entãoporqueveiomeacordar?

- O quê? Por acaso não gosta de acordar vendo aminha cara antes dequalqueroutracoisa?

- Eu diria que não…Então… -Antes que pudesse completar a frase orumordosmurosseabrindononovodiaabafouassuaspalavras.EleolhounadireçãodaPortaLeste,quaseesperandoverBenparadoládooutrolado.Emvez disso, viu Minho fazendo alongamento. Depois observou como ele seadiantavaepegavaalgumacoisadochão.

Eraapartedopostecomacoleiradecouroaindapresanaextremidade.Minhonãopareceusepreocuparcomapeça,atirando-aparaumdosoutrosCorredores, que foi devolvê-la no barracão de ferramentas próximo aosjardins.

ThomasdeuascostasaNewt,confuso.ComoMinhoconseguiaagircomtantaindiferençaemrelaçãoatudoaquilo?

-Masque…

-SóhouvetrêsBanimentos,Tommy.Todoselestãodesagradáveiscomooquevocêviuontemànoite.MasemtodasasvezesosVerdugosdeixaramacoleirananossasoleira.Nadamedámaisnosnervosdoqueisso.

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Thomastevedeconcordar.

-Oqueseráqueelesfazemcomapessoaquepegam?-Eficoupensandoserealmentequeriasaberaresposta.

Newtdeudeombros,oseudesinteressenãoconvencendomuito.Eramaisprovávelquenãoquisesseconversararespeito.

- Então me fale sobre os Corredores - disse Thomas de repente. Aspalavrasparecerambrotarvindasnãose sabedeonde.Maselepermaneceucalmo, apesar de uma estranha vontade de se desculpar e de mudar deassunto; queria saber tudo sobre eles. Mesmo depois do que vira naquelanoite, mesmo depois de observar o Verdugo pela janela, queria saber. Oimpulso de saber era forte e ele não entendia bem por quê. Tornar-se umCorredorpareciaseraúnicacoisaparaaqualhavianascido.

Newttinhaparado,parecendoconfuso.

-OsCorredores?Porquê?

-Sóestavapensando.

Newtlançou-lheumolhardesconfiado.

-Osmelhoresdentreosmelhores:éoqueaquelescarassão.Precisamser.Tudo depende deles. - Ele pegou uma pedra do lado e atirou-a,acompanhando-acomoolharatéverondecaía.

-Porquevocênãoéumdeles?

Newtvoltou-seeolhouThomasfixamente.

- Era até machucar a perna alguns meses atrás. Ela nunca mais foi amesmadepoisdisso.-Eleestendeuamãoeesfregouotornozelodireitocomumarausente,umrápidoesgardedorpassandoporseu rosto.Aexpressãodele fezThomaspensarquese tratavamaisdeuma lembrança,nãodeumadorfísicaqueaindasentisse.

-Comofoiqueaconteceu?-Thomasindagou,pensandoquequantomaisconseguissequeNewtfalasse,maisaprenderia.

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-CorrendodosmalditosVerdugos,oquemaispoderiaser?Umquasemepegou. - Ele fez uma pausa. - Ainda sinto arrepios ao pensar que poderiapassarpelaTransformação.

A Transformação. Esse era o assunto que Thomas achava que poderialevá-loàsrespostasmaisdoquequalqueroutro.

- O que é isso, afinal? O que se transforma? Todomundo ficamalucocomoBenecomeçaatentarmataraspessoas?

- Ben ficou pior do que os outros.Mas achei que você quisesse sabersobreosCorredores.-OtomdeNewtdeuaentenderqueaconversasobreaTransformaçãoacabara.

Isso deixou Thomas ainda mais curioso, embora para ele fosse ótimovoltaraoassuntodosCorredores.

-Tudobem,estououvindo.

-Comoeudizia,elessãoosmelhoresdentreosmelhores.

-Eoquevocêsfazem?Testamtodomundoparaversecorremrápido?

NewtdirigiuumolharaborrecidonadireçãodeThomas,entãogemeu.

- Seja mais esperto, Fedelho, Tommy, como queira ser chamado. Serrápidoéapenasumapartedacoisa.Umapartemuitopequena,naverdade.

IssodespertouaindamaisointeressedeThomas.

-Oquevocêquerdizercomisso?

- Quando digo melhores entre os melhores, estou dizendo tudo. Parasobreviver no maldito Labirinto, você precisa ser esperto, rápido, forte.Precisa ser capaz de tomar decisões, saber o grau certo de risco que devecorrer.Nãopodeseratirado,nempodesermedrosotambém.-Newtesticouaspernaseinclinou-separatrásapoiando-senasmãos.-Éumacoisahorrívelláfora,saca?Nuncameesqueçodisso.

-PenseiqueosVerdugossóviessemdenoite.-Destinoounão,Thomasnãoqueriadardecaracomumadaquelascoisas.

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-É,normalmentesim.

-Então,porqueétãoterrívelláfora?-Oquemaiselesabia?

Newtsuspirou.

- Pressão. Tensão. O desenho do Labirinto mudando todo dia, a gentetentando guardar as coisas na memória, tentando tirar a gente daqui.Preocupando-se com os malditos Mapas. A pior parte, você está sempreapavoradopensandoquenãovaiconseguirrecomporocaminhodevolta.Umlabirintonormaljáseriadifícil…Masquandoelemudatodasasnoites,bastavocêcometerumoudoiserrosmentaisparapassaranoitecomaquelasbestasnojentas.Nãoéumtrabalhoparaidiotasebabacas.

Thomas franziu o cenho, não entendendo muito bem o impulso que omotivava, empurrando-o para aquilo. Em especial depois da noite anterior.Masaindasentiaaqueleanseio.Sentiaprofundamente.

-Porquetodoesseinteresse?-quissaberNewt.

Thomashesitou,pensando,commedodedizeremvozaltadenovo.

-QueroserumCorredor.

Newtvoltou-seeolhou-onosolhos.

-Nãoestáaquinãofaznemumasemana,seutrolho.Écedodemaisparaficartendovontades,nãoacha?

-Estoufalandosério.-AquilomalfaziasentidoatémesmoparaThomas,maselesentiaprofundamente.Naverdade,odesejodesetornarumCorredoreraaúnicacoisaqueomotivava,queoajudavaaaceitarasuasina.

Newtnãodesviouoolhar.

-Eutambém.Esqueça.NinguémnuncasetornaumCorredornoprimeiromês,muitomenosnaprimeirasemana.ÉprecisoprovarmuitacoisaantesqueagenteorecomendeaoEncarregado.

Thomaslevantou-seecomeçouadobrarosacodedormir.

- Newt, estou falando sério. Não posso ficar arrancando mato o dia

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inteiro…Vouficarmaluco.Nãofaçoamenorideiadoquefaziaantesdeelesmemandaremparacánaquelacaixademetal,masseiporinstintoquetenhodeserumCorredor.Soucapazdisso.

Newt ficou sentado ali, olhando para Thomas de baixo para cima, semoferecernenhumaajuda.

-Ninguémdissequevocênãopodeser.Masdêumtempoporenquanto.

Thomassentiuumímpetodeimpaciência.

-Mas…

-Escute,confieemmim,Tommy.Comeceaandarporaífalandoatortoea direito que é bom demais para trabalhar como um caipira da roça, que éótimo e está pronto para ser um Corredor… e vai se encher de inimigos.Esqueçaissoporenquanto.

Fazer inimigoseraaúltimacoisaqueThomasqueria.Eledecidiu irporoutrocaminho.

-Ótimo,vouconversarcomMinhosobreisso.

- Essa é boa, seumaldito trolho.OConclave elege osCorredores, e sevocêachaqueeusoudurão,elesiriamrirnasuacara.

-Sequeremsaber,eupoderiasermuitobomnisso.Éumdesperdíciodetempomefazeresperar.

Newtlevantou-sediantedeThomaseapontouodedonacaradele.

-Escuteaqui,Fedelho.Estámeouvindobem?

Parasuasurpresa,Thomasnãose sentiu tão intimidado.Rolouosolhosparaoaltoedepoisconcordoucomummovimentodecabeça.

-Émelhorvocêpararcomessabesteira,antesqueosoutrosescutem.Nãoé assim que as coisas funcionam por aqui, e a sua vida dependecompletamentedequeascoisasestejamfuncionando.

Fezumapausa,masThomasnãodissenada,temendoosermãoqueviriaemseguida.

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-Ordem-Newtcontinuou.-Ordem.Repitaessamalditapalavranasuacabeçademértilamilvezessemparar.Omotivodecontinuarmospensandodireitoporaquiéporquetrabalhamosduroparamanteraordem.Aordeméarazão de termos expulsadoBen…Não podemos ter birutas por aí tentandomatar os outros, podemos?Ordem.A última coisa de que precisamos é devocêbagunçandotudo.

AteimosiadeThomasesvaiu-sedeumavez.Elesabiaqueeraahoradecalaraboca.

-Certo-foitudooquedisse.

Newtdeu-lheumtapinhanascostas.

-Vamosfazerumtrato.

-Oquê?-Thomassentiuassuasesperançasrenascerem.

-Vocêmantémabocafechadasobreesseassuntoevoucolocá-lonalistadosaprendizescommaispotencialassimquevocêmostraralgumjuízo.Nãofique com amatraca fechada, e eu vou fazer de tudo para que isso nuncaaconteça.Combinado?

Thomasodiouaideiadeesperar,semsaberoquantopoderiademorar.

-Maséumadrogadeacordo.

Newtarqueouassobrancelhas.

Thomasconcordou.

-Fechado.

- Venha, vamos ver se conseguimos uma gororoba com o Caçarola. Etomaraqueagentenãoengasgue.

Naquelamanhã,ThomasfinalmenteconheceuotalCaçarola,aindaqueadistância.OcaraestavaocupadodemaistentandoservirocafédamanhãparaumexércitodeClareanosfamintos.Nãodeviatermaisdedezesseisanosdeidade,masexibiaumabarbacheiaeocorpotodocobertodepelos,comosecada folículo estivesse tentando escapar dos confins das suas roupasrecendendo a comida. Não parecia o sujeito mais asseado do mundo para

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cuidardetodaacomida,concluiuThomas.Eleprocurounãoseesquecerdeobservaraspróximasrefeiçõesembuscadeumpeloouumcabelonoprato.

ThomaseNewt tinhamacabadodesentar-secomChuckparaocafédamanhãemumamesadepiqueniquedo ladodeforadaCozinhaquandoumgrande grupo deClareanos se levantou e correu em direção à PortaOeste,comentandoentusiasmadossobrealgumacoisa.

- O que será que está acontecendo? - preocupou-se Thomas,surpreendendo-secomodisseraaquilodeformadescuidada.AsnovidadesnaClareiratinhamacabadodetornar-seumapartecorriqueiradasuavida.

Newtdeudeombroseentregou-seaosseusovosmexidos.

-Devem estar ir verMinho eAlby…eles vão sair para encontrar umadrogadeVerdugomorto.

-Ei-disseChuck.Umfiapodebaconvooudasuabocaquandoelefalou.-Tenhoumadúvidasobreesseassunto.

-Ah, é,Chuck? - respondeuNewt, demaneira um tanto sarcástica. -Equalseriaessadúvidacruel?

Chuckpareceupensarprofundamente.

-Bem,elesencontraramumVerdugomorto,certo?

-Certo-replicouNewt.-Obrigadopelainformação.

Chuck bateu o garfo na mesa por alguns segundos enquanto pareciaausente.

-Bem,entãoquemmatouaquelacoisaestúpida?

“Maravilha de pergunta”; pensou Thomas. Ficou esperando Newtresponder,masnãohouveresposta.Obviamente,elenãofaziaamenorideia.

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Thomas passou a manhã com o Encarregado dos jardins, “trabalhandocomoumamula”comoNewtdiria.Zarteraogarotoalto,decabelopreto,queestivera na frente do poste durante oBanimento deBen e que, por algumaestranharazão,cheiravaaleiteazedo.Nãoeradefalarmuito,masexplicouotrabalho a Thomas até que ele fosse capaz de executá-lo sozinho. Capinar,podar o pé de damasco, plantar sementes de abóbora e abobrinha, colherhortaliças. Ele não adorava aquilo e na maior parte do tempo ignorou osoutrosgarotosque trabalhavamaoseu lado,masnãodetestou tantoaquelasatividadesquantooqueforaobrigadoafazercomWinstonnoSangradouro.

Thomas e Zart estavam capinando uma longa fileira de milho verdequando Thomas decidiu que era omomento de começar a fazer perguntas.AqueleEncarregadopareciamuitomaisacessível.

-Eaí,Zart?-começouele.

O Encarregado olhou-o de relance, depois retornou o seu trabalho. Ogarototinhaolhoscaídoseumrostocomprido-poralgumarazãoelepareciatãoentediadoquantoépossívelumserhumanoficar.

-Certo,Fedelho,oquequersaber?

- Ao todo, quantos Encarregados existem aqui? - indagou Thomas,tentandoparecerdescontraído.-Equaissãoasopçõesdetrabalho?

- Bem, temos os Construtores, os Aguadeiros, os Embaladores, osCozinheiros, os Cartógrafos, os Socorristas, os Desbastadores, osAçougueiros.OsCorredores, é claro.Não sei,mais alguns, talvez.Émuitacoisacomquesepreocuparalémdoquejátenhodefazer.

Amaioriadostítuloseraautoexplicativa,masThomasficoupensandoemalgunsdeles.

-OqueéumAguadeiro? -ElesabiaqueeraoqueChuck fazia,masomenino nunca queria conversar a respeito. Recusava-se a falar sobre o

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assunto.

- É o que fazem os trolhos que não são capazes de fazer outra coisa.Lavam privadas, limpam banheiros, faxinam a cozinha, limpam oSangradourodepoisdeumabate,tudo.Passeumdiacomaquelesbabacas…Comcertezavocênãovaificarcomamenorvontadedeparticipardaquilo,eugaranto.

Thomas sentiu uma pontada de culpa em relação a Chuck - ficou compena dele. O garoto tentava tanto ser amigo de todomundo,mas ninguémpareciagostardeleoumesmoprestaralgumaatençãonele.Bem,Chuckeraumpoucoagitadoefalavademais,masThomasgostavadetê-loporperto.

-EquantoaosDesbastadores?-indagouThomasenquantoarrancavaumagrande erva daninha, batendo um punhado de terra que se acumulara nasraízes.

Zartlimpouagargantaeinterrompeuotrabalhoenquantorespondia.

-Sãoaquelesquecuidamde todoo trabalhopesadonos jardins.Cavamburacosecoisasdogênero.Duranteosperíodosde folgaeles fazemoutrascoisaspelaClareira.Naverdade,umaporçãodeClareanos temmaisdeumtrabalho.Ninguémdisseissoavocê?

Thomas ignorou a pergunta e seguiu em frente, determinado a obter omáximoderespostaspossível.

-EquantoaosEmbaladores?Seiqueelescuidamdosmortos,mas issonãoésempre,certo?

-Aqueles são tipos de dar arrepios.Eles atuam comoguardas e políciatambém.Todomundogostadechamá-losdeEmbaladores.Divirta-secomopuderhoje,irmão.-Eledeuumarisadinha.EraaprimeiravezqueThomasoouvirafazeraquilo…Dealgummodoeraalgoagradáveldesever.

Thomas tinha mais perguntas. Uma porção delas. Chuck e todos osdemaisnaClareiranuncaquiseramlhedarrespostaalguma.EaliestavaZart,quepareciaperfeitamenteacessível.MasderepenteThomasnãosentiumaisvontadedefalar.Poralgumarazãoagarotaretornaraaosseuspensamentos,

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sem mais nem menos, e em seguida lhe veio a lembrança de Ben e doVerdugomorto,oquedeviaserumacoisaboa,mastodosagiamcomosenãofossenadadisso.

Asuanovavidapareciamesmoumadroga.

Elerespiroufundo.“Apenastrabalhe”,pensou.Efoioquefez.

No meio da tarde, Thomas estava pronto para desabar de exaustão -aquela coisa de se curvar e se arrastar de joelhos na terra era demais.Sangradouro,jardins.Doisazeropraeles.

“Corredor”, pensou ele, enquanto fazia um intervalo. “Só quero ser umCorredor.” De novo pensou sobre como era absurdo querer aquilo tãointensamente.Masaindaquenãoentendesse,ounãosoubessedeondevinhaaquele desejo, não podia negá-lo. Os pensamentos sobre a garota eramigualmenteintensos,porémprocuravaafastá-losomáximoquepodia.

Cansadoecomocorpodolorido,eledirigiu-seàCozinhaparacomerumlancheetomarumpoucodeágua.Seriacapazdeengolirumarefeiçãointeiraapesar de ter almoçado havia apenas duas horas. Até carne de porcocomeçava a cair bemde novo.Deu umamordida emumamaçã, depois sedeixoucairnochãoaoladodeChuck.Newtestavalátambém,massentadosozinho,ignorandotodomundo.Osseusolhosestavaminjetadosdesangue,atesta marcada por rugas profundas. Thomas observou como Newt roía asunhasdosdedos,algoquenuncaviraosrapazesmaisvelhosfazerem.

ChuckpercebeuefezaperguntaqueThomastinhaemmente.

- O que será que há de errado com ele? - falou em voz baixa. - EstáparecendovocêquandosaiudaCaixa.

-Nãosei-respondeuThomas.-Porquenãovailáperguntarparaele?

-Possoouvircadamalditapalavraquevocêsestãofalandoaí-falouNewtemvozalta.-Nãoadmiraqueaspessoasodeiemdormirpertodevocês,seustrolhos.

Thomassentiu-secomosefossepegoroubandoalgumacoisa,masestavaverdadeiramentepreocupado-NewteraumadaspoucaspessoasnaClareira

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dequemelerealmentegostava.

-Oquehádeerradocomvocê?-indagouChuck.-Semquererofender,masvocêpareceumplong.

-Tudooquehádemaislindonouniverso-respondeuele,entãocaiuemsilêncio observando o vazio por um longo momento. Thomas quase opressionou comoutrapergunta,masNewtprosseguiu: -AgarotadaCaixa.Continua gemendo e falando todoo tipo de coisas estranhas,mas não queracordar.OsSocorristasfazemoquepodemparalhedarcomida,maselaestácomendocadavezmenos.Voudizerumacoisa:temalgoruimemtodaessamalditasituação.

Thomasbaixouosolhosparaamaçãquecomia,depoisdeuumamordida.Ogostoentãolhepareceuazedo-elepercebeuqueestavapreocupadocomagarota.Preocupadocomobem-estardela.Comoseaconhecesse.

Newtdeuumlongosuspiro.

-Quesedane.Masnãoéissoqueestámepreocupando.

-Entãooqueé?-indagouChuck.

Thomas inclinou-se para a frente, tão curioso que conseguiu parar depensarnagarota.

NewtsemicerrouosolhosobservandoumadasentradasdoLabirinto.

-AlbyeMinho-murmurouele.-Elesjádeviamtervoltadohorasatrás.

Antes de se dar conta disso, Thomas estava de volta ao trabalho,arrancandoervasdaninhasdenovo,contandoosminutosaté terminara suaobrigação nos Jardins. Olhava a todo momento para a Porta Oeste,procurandoalgumsinaldeAlbyedeMinho.ApreocupaçãodeNewthaviapassadoparaele.

Newtdisseraqueelesdeviamterretornadoaomeio-dia,temposuficientepara teremchegadoatéoVerdugomorto,exploradoo terrenoporumahoraouduas,depoisvoltado.Nãoeradeadmirarqueeleparecessetãoperturbado.QuandoChucksugeriraqueelesestivessemapenasexplorandoo lugare se

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divertindo, Newt lhe dirigira um olhar tão duro que Thomas pensou queChuckfossesofrerumacombustãoespontânea.

NuncaseesqueceriadaexpressãoquetomaracontadorostodeNewtemseguida.QuandoperguntaraporqueNewtealgunsoutrosnãosaíamparaoLabirinto em busca dos amigos, a expressão de Newtmudara para omaiscompletohorror-oseurostoseencovara,asolheirastornando-seprofundaseescuras.Aospoucosaimpressãopassoueeleexplicouqueenviargruposdebuscaeraproibido,poismaispessoaspodiamseperder,masnãohaviadúvidaquantoaomedoquelhepassarapelosemblante.

NewtmorriademedodoLabirinto.

Oquequerquetivesselheacontecidolá-talvezrelacionadoàpersistentelesãonotornozelo-deviatersidohorrível.

Thomastentounãopensararespeitoeprocurouseconcentraremarrancarervasdaninhas.

Naquelanoiteojantarserevelouumaexperiênciasombria,quenãotinhanadaavercomacomida.Caçarolaeosseuscozinheirosserviramumaótimarefeiçãodebife,purêdebatata,ervilhaepãezinhosquentes.ThomasaprendiarapidamentequeaspiadassobreasartesculináriasdeCaçarolaeramapenasisso-piadas.Todomundoengoliaacomidadeleeimploravapormais.Mas,naquela noite, os Clareanos comeram comomortos ressuscitados para umaúltimarefeiçãoantesdesermandadosparavivercomodiabo.

OsCorredoreshaviamvoltadonohorárionormal,eThomasforaficandocadavezmaisperturbadoàmedidaqueobservavaNewtcorrerdePortaemPorta quando eles entravam na Clareira, sem se incomodar em esconder opânico.MasAlby eMinhonão apareceram.Newt forçou osClareanos a irjantaracomida tãovalorizadadeCaçarola,mas insistiuemficaresperandoparaverseosdoisapareciam.Ninguémdissenada,porémThomassabiaquenãofaltavamuitoparaqueasPortassefechassem.

Thomas relutantemente seguiu as ordens como o resto dos garotos eestavadividindoumamesadepiqueniquenoladosuldaSedecomChuckeWinston. Só fora capaz de comer algumas garfadas e então não conseguira

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continuar.

-Nãoconsigoficaraquisentadoenquantoelesestãoláperdidos-disse,edeixoucairogarfonoprato.-VouobservarasPortascomNewt.-Levantou-seesaiuparaver.

Comoseriadeesperar,Chuckseguiu-lheospassos.

Encontraram Newt na Porta Oeste, andando de um lado para o outro,correndoasmãospelocabelo.EleergueuosolhosquandoThomaseChuckseaproximaram.

-Ondeseráqueelesestão?-falouNewt,avozesganiçadaetensa.

ThomassentiuquantoNewtsepreocupavacomAlbyeMinho-comoseelesfossemparentes.

-Porquenãomandamosumgrupodebusca?-sugeriudenovo.Pareciatão estúpido ficar ali se preocupando tanto quando poderiam ir lá tentarencontrá-los.

-Maldito…-Newtcomeçouafalar,massedeteve;fechouosolhosporumsegundoerespiroufundo.-Nãopodemos.Certo?Nãofalemaisnisso.Écemporcentocontraasregras.Aindamaiscomasmalditasportasquasesefechando.

-Masporquê?-insistiuThomas,questionandoateimosiadeNewt.-OsVerdugosnãovãopegá-losseficaremlá?Nãodevemosfazeralgumacoisa?

Newtvirou-separaele,orostototalmentevermelho,osolhosemchamasporcausadaraiva.

- Feche essa matraca, Fedelho! - gritou. - Não faz nem uma malditasemanaqueestáaqui!Vocêachaqueeunãoarriscariaaminhavidaporumsegundoparasalvaraquelespaspalhos?

- Não… me… desculpe. Não quis dizer… - Thomas não sabia o quedizer…estavaapenastentandoajudar.

AexpressãodeNewtseabrandou.

- Você parece que não entendeu ainda, Tommy. Ir lá durante a noite é

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pedir paramorrer.Estaríamos apenas desperdiçandomais vidas. Se aquelestrolhos não voltarem… -Ele parou, parecendo hesitar em dizer o que todomundoestavapensando. -Elesdois fizeramum juramento, assimcomoeu.Comotodosnósfizemos.Vocêtambém,quandoforoseuprimeiroConclaveeforescolhidoporumEncarregado.Nuncasairànoite.Nãoimportaoqueaconteça.Nunca.

ThomasolhouparaChuck,quepareciatãoabatidoquantoNewt.

-Newtnãofalou-disseogaroto-,entãoeufalo.Seelesnãovoltarem,isso significa que estãomortos. OMinho é esperto demais para se perder.Impossível.Elesestãomortos.

Newt não disse nada, eChuck virou-se e voltou para a Sede de cabeçabaixa.“Mortos?”,pensouThomas.Asituaçãotinhasetornadotãocríticaqueelenãosabianemcomoreagir,sentiaumgrandevazionocoração.

- O trolho está certo - falou Newt solenemente. - É por isso que nãopodemos ir. Não podemos permitir que as coisas fiquem piores do que jáestão.

PousouamãosobreoombrodeThomas,entãodeixou-aescorregarpelolado. As lágrimas umedeceram os olhos de Newt, e Thomas compreendeuque,mesmodentrodacâmaraescuradaslembrançasquetinhamseperdido,fora do seu alcance, nunca vira alguém tão triste.A escuridão crescente doentardecer era o cenário perfeito para expressar como as coisas pareciamsombriasparaThomas.

-Asportasvãofecharemdoisminutos-falouNewt,umadeclaraçãotãosucinta e final que parecia pender no ar como uma mortalha levada pelovento.Entãoeleseafastou,recurvado,emsilêncio.

ThomasabanouacabeçaetornouaolharparaoLabirinto.MalconheciaAlbyeMinho.Masoseupeitodoíaaopensarqueestavam lá,mortospelacriatura horrorosa que vira através da janela naquela primeira manhã naClareira.

Um estrondo partiu de todas as direções, despertandoThomas dos seus

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pensamentos.Entãoseguiu-seorangidoarrastadodepedracontrapedra.AsPortasestavamsefechandoparaanoite.

Omurodireitorugiusobreochão,espirrandopoeiraepedriscosàmedidaquesemovia.Afileiraverticaldospinosdetravamento,tantosquepareciamchegar ao céu lá no alto, encaminharam-se na direção dos orifícioscorrespondentes no muro esquerdo, prontos para selar a passagem até demanhã.Uma vezmais, Thomas olhou assombrado para o imensomuro emmovimento-aquilodesafiavaqualquerleidafísica.Pareciaimpossível.

Entãoumasugestãodemovimentoatraiuaatençãodosseusolhos.

AlgosemoveradentrodoLabirinto,aofundodocompridocorredoràsuafrente.

Aprincípio,umadescargadepânico tomoucontadoseucorpo;eledeuum passo atrás, preocupado que pudesse ser umVerdugo.Mas então duasformas sematerializaram a distância, avançando na direção da abertura daPorta.Elefinalmenteconseguiuenxergarmelhoratravésdacegueiradomedoe percebeu que eraMinho, com um dos braços de Alby dobrado sobre osombros, praticamente arrastando o rapaz atrás de si. Minho olhou para afrenteeviuThomas,quesabiaqueosseusolhosdeviamestarsaltandoparaforadasórbitas.

-Elesopegaram!-gritouMinho,avozestranguladaefracadecansaço.Cadapassoqueeledavapareciaseroúltimo.

Thomas estava tão atordoado com a virada nos acontecimentos quedemorouuminstantepararecobraraconsciência.

-Newt! -gritou, forçando-seaafastaroolhardeMinhoedeAlbyparaolhar emoutra direção. -Eles chegaram!Estou vendoos dois! - Sabia quedevia correr para o Labirinto e ajudá-los, mas a regra sobre não sair daClareiraestavagravadanasuamente.

NewtjáchegaranaSede,masogritodeThomasecoounoespaçoeeleimediatamentedeumeia-voltaesaiuemdisparadaemdireçãoàPorta.

Thomas virara-se para tornar a olhar para o Labirinto e o medo o

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paralisou. Alby escorregara do apoio em Minho e caíra no chão. ThomasobservouquandoMinho tentoudesesperadamente fazê-lose levantar,então,finalmentedesistindo,começouaarrastarorapazpelochãopuxando-opelosbraços.

Maselesaindaseencontravamaunstrintametrosdedistância.

Omuro da direita avançava com rapidez, parecendo se acelerar quantomaisThomas desejava que se retardasse. Faltavam apenas alguns segundosantes que se fechasse completamente. Eles não tinham chance de chegar atempo.Chancenenhuma.

Thomas voltou-se e olhou para Newt: mesmo correndo o máximo quepodia, ele, pelo fato de mancar, só chegaria até a metade da distância atéThomas.

Tornou a olhar para o Labirinto, para o muro que se fechava. Algunsmetrosmaiseestariatudoacabado.

Minhotropeçouprojetando-separaafrenteecaiunochão.Elesnãoiamconseguir.Otemposeesgotara.Nãotinhajeito.

ThomasouviuNewtgritaralgumacoisaláatrás.

-Nãofaçaisso,Tommy!Nãofaçaissodejeitonenhum!

Os pinos do muro à direita pareciam como braços estendidos para seencontrarcomoencaixe,embuscadaquelesorifíciosque lhes serviriamdedescansoduranteanoite.OsrangidosestrondeantesdasPortasenchiamoar,ensurdecedores.

Ummetroemeio.Ummetro.Noventacentímetros.Sessenta.

Thomas sabia que não tinha escolha. Ele se moveu. Para a frente.Esgueirando-sepor entreospinosde encaixenoúltimo segundo, entrounoLabirinto.

Osmurosfecharam-secomumestrondoatrásdele,oecodoseubramidopercorrendoapedrarecobertadeheracomoumarisadamaligna.

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Durante vários segundos, Thomas sentiu como se o mundo tivesse secongelado.Umsilêncioprofundoseguiu-seaoestrondosurdoetrovejantedaPortasefechando,eocéupareceuserencobertoporumvéusombrio,comoseatémesmoosoltivessemedodoquesemoviafurtivamentepeloLabirinto.O crepúsculo se instalara e osmuros colossais eram como lápides enormesemumcemitériodegigantesinfestadodeervasdaninhas.Thomasrecostou-senarochaáspera,exauridopeloqueacabaradefazer.

Aterrorizadosódepensaremquaisseriamasconsequências.

EntãoumgritoagudodeAlbymaisà frentechamousuaatençãoparaarealidade;Minholamentava.Thomasafastou-sedomuroecorreuemdireçãoaosdoisClareanos.

Minhoconseguiraselevantareestavaempédenovo,masasuaaparênciaerahorrível,mesmonapoucaluzaindarestante-suado,sujo,todoarranhado.Alby,nochão,pareciapior,asroupasrasgadas,osbraçoscobertosdecortesemanchassanguinolentas.Thomasestremeceu.SeráqueAlbyforaatacadoporumVerdugo?

- Fedelho - falou Minho -, se você acha que foi corajoso vindo aqui,escute uma coisa. Você é o cara de mértila mais mertilento, fedorento enojentoquejáexistiu.Podeseconsiderarmorto,assimcomonós.

Thomassentiuorostoarder-esperavaaomenosumpoucodegratidão.

-Nãopudeficarsóolhandoedeixarvocêsaqui.

-Equaléavantagemdeestaraquicomagente?-Minhorolouosolhospara o alto. - Seja como for, cara. Quebre a Regra Número Um, mate-se,quemseimporta?

-Muitoobrigado.Sóestavatentandoajudar.-Thomastevevontadedelhedarumchutenacara.

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Minhoforçouumarisadaamarga,depoisajoelhou-sedenovonochãoaolado de Alby. Thomas observou atentamente o rapaz caído e compreendeuquantoasituaçãoeraruim.Albypareciaàbeiradamorte.Asuapeleescuraperdiaacoraolhosvistos,earespiraçãoerarápidaesuperficial.UmafaltatotaldeesperançatomoucontadeThomas.

-Oqueaconteceu?-perguntou,tentandodeixardeladoaraiva.

- Não quero falar sobre isso - respondeuMinho, enquanto verificava apulsação deAlby e inclinava-se sobre ele para ouvir o seu peito. - VamosdizerapenasqueosVerdugossabemsefingirdemortosmuitobem.

EssaafirmaçãopegouThomasdesurpresa.

-Quer dizer que ele… foimordido? Picado, seja lá o que for? Ele vaipassarpelaTransformação?

-Vocêtemmuitoqueaprender-foitudooqueMinhosedignouadizer.

Thomasqueriagritar.Sabiaque tinhamuitoqueaprender - erapor issoqueestavaperguntando.

- Ele vai morrer? - forçou-se a dizer, encolhendo-se ao perceber comopareciatoloesuperficial.

-Senãoconseguirmostratá-loantesdopôrdosol,provavelmente.Poderáestar morto em uma hora… não sei quanto tempo demora quando não seaplica o Soro. Claro, vamos morrer também, portanto não adianta ficarchoramingandoporcausadele.Éissoaí,vamostodosestarmortinhoslogo,logo.-EledissoissocomtantacertezaqueThomasmalsepreocupoucomosignificadodaspalavras.

Mas logoa realidade terríveldasituaçãocomeçoua tomarcontadele,eeledesmoronoupordentro.

-Vamosmorrermesmo?-perguntou,incapazdeadmitiraverdade.-Vocêestámedizendoquenãotemosamenorchance?

-Nenhuma.

ThomasestavairritadocomonegativismoconstantedeMinho.

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- Ah, sem essa… deve haver alguma coisa que a gente possa fazer.Quantos Verdugos podem nos atacar? - Ele espreitou o corredor que seaprofundava pelo Labirinto adentro, como se esperasse que as criaturaschegassemaqualquermomento,atraídaspelosomdoseunome.

-Seilá.

Um pensamento surgiu na mente de Thomas, dando-lhe algumaesperança.

- Mas… e quanto a Ben? E Gally e os outros que foram picados esobreviveram?

Minhoolhou-oderelance,eaexpressãonosseusolhospareciadizerqueeleeramaisdesprezíveldoqueplongdevaca.

-Seráquenãoescutou?Elesconseguiramvoltarantesdopôrdosol,seuburro.VoltaramereceberamoSoro.Todoseles.

Thomas ficou pensando na menção ao soro, mas tinha muito maisperguntasparafazerprimeiro.

-MaspenseiqueosVerdugossósaíssemànoite.

- Então você estava errado, trolho. Eles sempre saem à noite. Isso nãosignificaquenuncaapareçamduranteodia.

Thomas não ia se deixar contaminar pela desesperança deMinho - nãoqueriadesistireesperaramortecerta.

-Alguémjápassouanoiteforadosmurosesobreviveu?

-Nunca.

Thomasfranziuatesta,desejandopoderencontrarumapequenacentelhadeesperança.

-Quantosjámorreram,então?

Minho olhou para o chão, agachou-se apoiando um antebraço sobre ojoelho.Eraevidentequeestavaexausto,quaseatordoado.

-Nomínimounsdoze.Nãoestevenocemitério?

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-Estive.-“Entãofoiassimquemorreram”,pensou.

-Bem,aquelessãoapenasosqueencontramos.Háoutros,masoscorposdesses nunca apareceram. - Minho apontou distraidamente na direção daClareirafechadaatrásdeles.-Aquelecemitérioesquisito láentreasárvorestemummotivo.Nadaacabamaiscomaalegriadagentedoqueserlembradotodososdiassobreosseusamigosdilacerados.

Minholevantou-seagarrandoAlbypelosbraços,entãoindicouospésdelecomummovimentodecabeça.

-Pegueessasporcariasfedorentas.Vamoscarregá-loparapertodaPorta.Daraelesumcorpoquesejafácildeencontrardemanhã.

Thomasnãopodiaacreditaremquantoessaideiapareciamórbida.

-Issonãoestáacontecendo!-gritouparaosmuros,girandoaoredordesi.Sentiaqueestavaapontodeenlouquecer.

- Pare de chorar. Devia ter seguido as regras e ficado lá dentro. Agoravamos,pegueaspernasdele.

Com uma expressão de dor por causa das convulsões no estômago,Thomasprocurou erguerospésdeAlby.Transportaramo corpoquase semvida,àsvezesarrastando-o,porunstrintametrosatéarachaduraverticaldaPorta,ondeMinholargouAlbycontraomuroemumaposiçãomeiosentada.OpeitodeAlbysubiaedesciacomarespiraçãoforçada,masapeleestavabanhadadesuor;pareciaquenãodurariamuitotempomais.

-Ondeelefoimordido?-indagouThomas.-Vocêconseguever?

- Eles nãomordem você porcaria nenhuma. Eles picam. E não, não dáparaveronde foi.Elepode ter dúziasdepicadaspelo corpo todo. -Minhocruzouosbraçosereclinou-secontraomuro.

Poralgummotivo,Thomaspensouqueapalavrapicarsoavamuitopiordoquemorder.

-Picam?Oqueissoquerdizer?

-Cara,sóvocêvendoumdelesparaentenderoqueestoudizendo.

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ThomasapontouparaosbraçosdeMinho,depoisparaaspernas.

-Bem,porqueaquelacoisanãopicouvocê?

Minhoergueuasduasmãos.

-Talveztenhapicado…talvezeudesabeaqualquermomento.

- Eles… - Thomas começou, mas não sabia como terminar. Não tinhacertezaseMinhoestavafalandosério.

-Nãohaviaeles,sóaquelequepensamosqueestivessemorto.EleficoumalucoepicouAlby,masdepoissaiucorrendo.-Minhoolhoudenovoparao Labirinto, que estava agora quase tomado pelas sombras da noite. -Mastenho certeza de que um bando daqueles desgraçados vai chegar aqui bemdepressaparaacabarcomagentecomassuasagulhas.

-Agulhas?-AscoisasestavamsoandocadavezmaisperturbadorasparaThomas.

-É,agulhas.-Elenãoforasutil,easuaexpressãoeradequenemtentara.

Thomas ergueu os olhos para os muros enormes cobertos com a heraespessa.Odesesperohaviadespertadoneleanecessidadedebuscarsoluçõesparaosproblemas.

- Não podemos escalar essa coisa? - Olhou paraMinho, que não disseumapalavra.-Astrepadeiras…nãopodemossubirporelas?

Minhosoltouumsuspirodefrustração.

- Eu juro, Fedelho, você deve pensar que somos um bando de idiotas.Você achamesmo que nunca tivemos a genial ideia de escalar osmalditosmuros?

Pelaprimeiravez,Thomassentiuaraivaaumentar,superandoomedoeopânico.

-Só estou tentando ajudar, cara.Por quenãopara de debochar de cadapalavraqueeudigoefalacomigo?

MinhosaltouabruptamentesobreThomaseagarrou-opelacamisa.

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- Você não entende, cara de mértila! Você não sabe nada, e está sópiorandoascoisastentandoteralgumaesperança!Nósestamosmortos,estámeouvindo?Mortos!

Thomasnãosabiaoqueeramaisfortenaquelemomento-searaivaquesentiadeMinhoouapenaque esteprovocava.Ele estavadesistindomuitofacilmente.

Minho baixou os olhos para as suas mãos que agarravam a camisa deThomaseavergonhatomoucontadoseusemblante.Lentamente,eleosoltouedeuumpassoatrás.Thomasendireitouaroupacomumardesafiador.

-Ah,cara,ah,cara-Minhosussurrou,entãodesabounochão,enterrandoo rosto nos punhos fechados. - Nunca tive tanto medo na vida, cara. Nãodessejeito.

Thomas queria dizer alguma coisa, falar para ele crescer, falar para elepensar,falarparaeleexplicartudooquesabia.Algumacoisa!

Abriuabocaparafalar,masfechou-adepressaquandoouviuoruído.Acabeça de Minho deu um salto; ele fitou um dos corredores de pedra àsescuras.Thomassentiuarespiraçãoacelerar.

AquilovinhaládofundodoLabirinto,umsomgraveeassombroso.Umchiado constante que fazia um barulho metálico em intervalos de três ouquatrosegundos,comofacasafiadassendoesfregadasumascontraasoutras.Oruídofoificandocadavezmaisalto,eentãoumasériedeestalidossinistrosseacrescentouaele.Thomaspensouemunhascompridasarranhandovidro.Um gemido cavernoso encheu o ar e em seguida alguma coisa soou comocorrentessendoarrastadas.

Tudo aquilo, junto, era horripilante, e o poucode coragemqueThomasconseguirareunircomeçouasedissipar.

Minho ergueu-se de um salto, o rosto imperceptível na ausência quasetotalde luz.Masquandofalou,Thomas imaginouosolhosdelearregaladosdeterror.

-Temosquenos separar…essa é a nossa única chance.Nuncapare de

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correr.Nãoparenunca!

E então deu meia-volta e saiu a toda velocidade, desaparecendo empoucossegundos,engolidopelaescuridãodoLabirinto.

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ThomasficouolhandoparaopontoondeMinhodesaparecera.

De repente,umprofundo sentimentode antipatia em relaçãoao rapazodominou.Minhoeraumveteranoali,umCorredor.ThomaseraumCalouro,com apenas alguns dias na Clareira, apenas alguns minutos no Labirinto.Ainda assim, dos dois, Minho fora quem se deixara abater e entrara empânico,saindoemdisparadaanteoprimeirosinaldeadversidade.“Comoelefoicapazdemedeixaraqui?”,pensouThomas.“Comoelefoicapazdefazerisso!”

Ovolumedos ruídosaumentou.Orangidodeengrenagensmisturava-seaossonsarrastadosemetálicos,comodecorrentestracionandoomecanismodeumamáquinaemumavelha fábrica sombria.Entãoveioaquele cheiro -algo queimado, oleoso. Thomas não podia adivinhar o que o esperava;emborativessevistoumVerdugo,sóderelanceeatravésdeumajanelasuja.Oqueseráquefariamcomele?Equantotempopoderiasuportar?

“Chega!”, disse a si mesmo. Não fazia sentido desperdiçar tempoesperandoqueviessempôrumfimnasuavida.

Virou-seeencarouAlby,aindalargadocontraomurodepedra,agorasóum amontoado de sombras na escuridão. Ajoelhando-se no chão, ThomasencontrouopescoçodeAlby,entãoprocurousentirapulsação.Algumacoisavibrava.OuviuopeitodelecomoMinhofizera.

Bu-bunip,bu-buinp,bu-burnp.

Aindaestavavivo.

Thomas inclinou-separa trás sobreos tornozelos,depois correuobraçopela testa, limpandoo suor.Naquelemomento,noespaçodeapenas algunssegundos,aprendeumuitacoisasobrequemera.QuemforaoThomasantes.

Não podia abandonar um amigo e deixá-lo morrer.Mesmo alguém tãorabugentoquantoAlby.

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Estendendoasmãos, segurouAlbypelosbraços,depoisacocorou-seatéconseguir se sentar e passou os braços ao redor do pescoço dele por trás.Então puxou o corpo inerte para as costas e ergueu-se sobre as pernas,grunhindocomoesforço.Opesoerademais.Thomascaiudebruçosnochão,comAlbyespalhando-separaoladocomumbaquesurdo.

Os sons assustadores dos Verdugos pareciam cada vez mais próximos,ecoandonosmurosdepedradoLabirinto.Thomasachouqueestavavendolampejosluminososadistância,projetando-senocéunoturno.Nãoqueriaseencontrarcomafontedaquelasluzesedaquelessons.

Tentando uma nova investida, agarrou os braços de Alby outra vez ecomeçou a arrastá-lo pelo chão. Não conseguia acreditar em quanto umgaroto podia ser tão pesado, e não precisou nem de três metros paracompreender que aquilo não daria certo. De qualquer forma, onde ele irialevá-lo?

Empurrou Alby de volta para a rachadura que assinalava a entrada daClareiraelargou-odenovosentado,reclinadocontraomurodepedra.

Thomas sentou-se com as costas apoiadas no muro, ofegando peloesforço,pensando.EnquantoexaminavacomcuidadoosrecantosescurosdoLabirinto,vasculhavaamenteembuscadeumasolução.Malconseguiaveralgumacoisa,esabia,apesardoqueMinhodissera,queseriaburricecorrermesmo que conseguisse carregar Alby. Não só havia a possibilidade de seperder,masnaverdadepoderiaacabarcorrendonadireçãodosVerdugosemvezdeirparalongedeles.

Pensounomuro,nahera.Minhonãoexplicara,masderaaentenderqueeraimpossívelescalaraquelasparedes.Aindaassim…

Um plano tomou forma na sua mente. Tudo dependia das habilidadesdesconhecidasdosVerdugos,maseraamelhorideiaquelheocorria.

Caminhou algunsmetros ao longo domuro até encontrar um tufomaiscrescido de hera, recobrindo a pedra quase por completo. Abaixando-se,pegouumadasramificaçõesqueiamatéochãoeenvolveu-acomamão.Atrepadeirapareciamaisgrossaemaissólidadoqueimaginara,talvezcomum

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centímetroemeiodediâmetro.Puxou-ae,comosomdeumpapelgrossoserasgando, ela desprendeu-se do muro - e foi se soltando cada vez mais àmedidaqueThomasseafastavadomuro.Depoisderecuaruns trêsmetros,não conseguiu mais ver a extremidade da hera no alto; ela desaparecia naescuridão. Mas a planta arrancada pendia solta do muro, então Thomasconcluiu que continuava presa a alguma coisa lá em cima. Hesitando umpouco,aprumou-senochãoepuxouatrepadeiracomtodaasuaforça.

Elaresistiu.

Puxoudenovo.Depoisdenovo,puxandoerelaxandocomasduasmãosvárias vezes. Então resolveu pendurar-se na trepadeira; seu corpo balançouparaafrente.

Atrepadeiraaguentava.

Rapidamente,Thomasagarrououtros ramosda trepadeira,desgrudando-osdomuro,criandoumasériedecordasparaescalar.Testoucadaumadelas.Todasmostraram-setãofortesquantoaprimeira.Confiante,voltouparajuntodeAlbyearrastou-oparapertodastrepadeiras.

UmestaloagudoecoouvindodoLabirinto,seguidopelosomhorríveldemetal amassado. Thomas, assustado, girou sobre si mesmo para ver. Suamente estivera tão concentrada nas trepadeiras que por um momento seesquecera dos Verdugos. Examinou as três direções do Labirinto. Nãoconseguia ver nada se aproximando, mas os sons estavam mais altos -zumbindo, gemendo, retinindo. E o ar tornara-se ligeiramente mais claro;conseguiadistinguirmaisdetalhesdoLabirintodoqueumminutoantes.

Lembrou-se das luzes estranhas que observara através da janela daClareiracomNewt.OsVerdugosestavampróximos.Eraóbvio.

Thomastentouignoraraondadepânicoeconcentrou-senoqueprecisavafazer.

Agarrandoumramodatrepadeira,enrolou-aaoredordobraçodireitodeAlby. A planta mal chegava até ele, por isso precisou empurrar Alby paracima o máximo que pôde para conseguir prendê-lo. Depois de dar várias

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voltascomaplanta,amarrou-acomfirmeza.Entãopegououtratrepadeiraepassou-aaoredordobraçoesquerdodeAlby,depoispelasduaspernasdele,amarrandocadaextremidadeomais firmequeconseguiu.Tevemedoqueacirculação sanguíneadeAlby fosseprejudicada,masconcluiuquevaleria apenacorrerorisco.

Thomas seguiuem frente, tentando ignoraradúvidaquebrotavana suamenteemrelaçãoaoplano.Agoraeraavezdele.

Agarrou uma trepadeira com as duas mãos e começou a escalar, logoacima do ponto onde acabara de amarrar Alby. As folhas grossas da herasustentavambemassuasmãos,e,àmedidaquesubia,Thomasficouanimadoaodescobrirqueasmuitasrachadurasnomurodepedraeramapoiosperfeitosparaosseuspés.Começouapensarcomoseriafácilsem…

Recusou-seaterminaropensamento.NãopoderiadeixarAlbyparatrás.

Depoisdechegaraquasesessentacentímetrosacimadoamigo,Thomaspassouumadastrepadeirasemvoltadoprópriopeito,enrolou-aaindaoutrasvezes,bempresasobasaxilasparaaumentaroapoio.Então,muitodevagar,começouacurvarocorpo,soltandoopesodasmãos,masmantendoospésapoiados firmemente nunca grande rachadura. Sentiu uma onda de alívioquandopercebeuqueatrepadeiraaguentavaopeso.

Agoravinhaaparterealmentedifícil.

As quatro trepadeiras amarradas a Alby, que estava abaixo dele,prendiam-no fortemente. Thomas alcançou a que estava ligada à pernaesquerda de Alby e puxou-a. Só conseguiu deslocá-la alguns centímetrosantesdesoltar-opesoerademais.Nãoconseguiria.

DesceuoutravezatéopisodoLabirinto,decididoatentarempurrarporbaixo emvezde puxar por cima.Para fazer um teste, tentou levantarAlbycercadeunssetentacentímetros,membropormembro.Primeiro,empurrouapernaesquerdaparacima,depoisamarrouumanovatrepadeiraaoredordela.Emseguida,apernadireita.Depoisqueasduasestavambempresas,ThomasfezomesmocomosbraçosdeAlby-odireito,depoisoesquerdo.

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Recuou,ofegante,paradarumaolhada.

Alby estava pendurado, aparentemente sem vida, agora quase noventacentímetrosacimadeondetinhaestadocincominutosantes.

Do Labirinto vinham sons metálicos. Rangidos. Zumbidos. Gemidos.Thomas pensou ter visto uns dois lampejos vermelhos à sua esquerda. OsVerdugosestavammaispertoeeraóbvioquehaviamaisdeumdeles.

Voltouaotrabalho.

UsandoomesmométododeempurrarcadabraçoecadapernadeAlbypara cima uns sessenta ou noventa centímetros de cada vez, aos poucosThomas foi conseguindo subir pelo muro de pedra. Ele subia até ficarembaixodocorpo,enrolavaumatrepadeiraemvoltadopeitoparaseapoiar,depois empurrava Alby o mais alto que podia, membro por membro, e oamarravacomahera.Emseguida,repetiatodooprocesso.

Subir,enrolar,empurrar,amarrar.

Subir, enrolar, empurrar, amarrar. Os Verdugos pelo menos pareciamavançarvagarosamentepeloLabirinto,oquelhedavaalgumtempo.

Poucoapouco,osdoisforamsubindo.Oesforçoeraexaustivo;Thomasarquejavaacadarespiração,sentiaosuorcobrircadacentímetrodasuapele.Asmãoscomeçaramaescorregarnastrepadeiras.Ospésdoíamporcausadapressãonasfendasdapedra.Ossonsestavamcadavezmaisaltos-aquelessonshorríveis.AindaassimThomascontinuou.

Quandochegaramaumpontoacercadenovemetrosdochão,Thomasparou,oscilandopenduradonaheraqueenrolaraaoredordopeito.Usandoosbraçosexaustoseesfolados,elesevirouparaveroLabirinto.Umaexaustãoqueelenãoacreditavaserpossíveltomavacontadecadaminúsculapartículadoseucorpo.Eraumcansaçoquedoía;osmúsculosestavamemfrangalhos.Não conseguiria empurrar Alby nem mais um centímetro. Não aguentavamais.

Eraaliqueficariamescondidos.Ouquetentariamresistir.

Sabia que não conseguiriam chegar até o alto, só esperava que os

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Verdugos não olhassem para cima e os encontrassem. Ou, no mínimo,Thomasesperavaquefossepossívelenfrentá-losalidoalto,umporum,emvezdeseratacadonochão.

Nãofaziaamenorideiadoqueesperar;nãosabiaseveriaodiaseguinte.Masali,penduradonahera,osdoisencarariamoseudestino.

AlgunsminutossepassaramantesqueThomasvisseoprimeirolampejoluminosorefletidonosmurosdoLabirintoàfrente.Ossonsterríveisqueeleouviraaumentarcadavezmaisnaúltimahoraagoraeramcomoumguinchomecânicoestridenteeensurdecedor,comoumurrodemortedeumrobô.

Umaluzvermelhaàesquerda,sobreomuro,chamouasuaatenção.Elesevirou e quase soltou um grito - um besouro mecânico achava-se a poucoscentímetrosdele,aspernaspontudasroçandoporentreosramosdeheraedealgumaformaprendendo-seàpedra.Aluzvermelhadoseuolhoeracomoumpequeno sol, brilhante demais para que se conseguisse olhar diretamente.Semicerrandoosolhos,Thomastentouconcentrar-senocorpodobesouro.

Otorsoeraumcilindroprateado,comunsoitocentímetrosdediâmetroeunsvinteecincodecomprimento.Dozepernasarticuladasprojetavam-seaolongodaparteinferiordocorpoemtodoocomprimento,estendidasparafora,o que lhedava a aparência deum lagarto.Era impossível ver a cabeçaporcausa do feixe de luz vermelha que brilhava na direção dele, emboraparecessepequena…talvezasuaúnicafinalidadefosseavisão.

Mas entãoThomas avistou apartemais sinistra.Pensouque tinhavistoaquiloantes,lánaClareiraquandoobesouromecânicopassaracorrendoporeleeperdera-senafloresta.Agoraestavaconfirmado:aluzvermelhadoseuolholançavaumbrilhohorripilantesobreascincoletrasborradasaolongodocorpo,comosetivessemsidoescritascomsangue:

CRUEL

Thomasnãopodiaimaginarporqueobesouromecânicotraziaestampadaaquela palavra no corpo, a menos que tivesse o propósito de anunciar aosClareanosqueeraalgoperverso.Inumano.

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Ele sabia que aquela coisa devia ser um espião de quem quer que osenviarapara lá -Albycontara-lhea respeito,dizendoqueosbesouroseramum instrumento dos Criadores para observá-los. Thomas ficou quieto,prendeu a respiração, esperando que talvez o besouro só detectassemovimentos.Segundosintermináveissepassaram,osseuspulmõesclamandoporar.

Com um dique e depois um claque, o besouro virou-se e saiu emdisparada, desaparecendo por entre a hera. Thomas absorveu um imensobocado de ar, depois outro, sentindo o aperto das trepadeiras ao redor dopeito.

OutroguinchometálicoressoouestridentepeloLabirinto,próximoagora,seguido por uma sequência de estalidos e rangidos de máquina. Thomastentou imitar o corpo inerte de Alby, pendendo imóvel em meio àstrepadeiras.

E então alguma coisa dobrou a esquina à frente e encaminhou-se nadireçãodeles.

Umacoisaqueele jáviraantes,maspor trásdasegurançadeumvidrogrosso.

Umacoisaindescritível.

UmVerdugo.

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ThomasolhouhorrorizadoparaaquelacoisamonstruosaquedesciapelolongocorredordoLabirinto.

Eracomosefosseoresultadodeumexperimentoquederaterrivelmenteerrado-algosaídodeumpesadelo.Parteanimal,partemáquina,oVerdugorolava e produzia estalidos ao longo do caminho de pedra. Seu corpolembravaumalesmagigantesca,cobertodepelosaquiealiecomumagosmareluzente,pulsandodeformagrotescaparadentroeparaforaaorespirar.Nãodava para perceber se tinha uma cabeça ou uma cauda, mas de umaextremidadeàoutramediapelomenosummetroeoitenta,compoucomaisdeummetrodelargura.

Acadadezouquinzesegundos,ferrõesaguçadosdemetalprojetavam-separa fora da sua carneverrugosa e toda a criatura abruptamente se curvavaassumindo a forma de uma bola para então girar para frente. Em seguidavoltavaaoestadoanterior,parecendoreunirsuasforças,recolhendoosferrõesatravés da pele úmida, produzindo um som arrastado e nojento. A criaturarepetiuosmovimentosdiversasvezessemparar,deslocando-sedevagar.

Masospeloseosferrõesnãoeramasúnicascoisasqueseprojetavamdocorpo do Verdugo. Diversos braços mecânicos dispostos ao acasodestacavam-se aqui e ali, cada um com um propósito diferente. Algunstraziam luzes como faróis acesos. Outros exibiam longas e ameaçadorasagulhas. Um terminava em uma garra com três dedos que se abriam e sefechavam sem nenhuma razão aparente. Quando a criatura rolava, essesbraçossedobravamemanobravamparaevitarseresmagados.Thomasficouse perguntando o que - ou quem - seria capaz de criar monstros tãoassustadoreseasquerosos.

A origem dos sons que ouvira agora fazia sentido. Quando o Verdugorolava,produziaumchiadometálico,comoa lâminagiratóriadeumaserra.Os ferrões e os braços explicavam os estalidos horripilantes, metal contra

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pedra.Mas nada produziamais calafrios na espinha de Thomas do que osgemidosassombradosefantasmagóricosquedealgumaformaescapavamdacriatura quando ela se aquietava, como o som de um moribundo em umcampodebatalha.

Observandotudoaquilojunto-abestacombinadacomossons-,Thomasnãoeracapazde imaginarumpesadeloquepudessese igualaraveraquelacoisaaproximar-senasuadireção.Procurouenfrentaromedo,forçouocorpoapermanecerperfeitamente imóvel,penduradonas trepadeiras.Estavacertodequeaúnicaesperançadeleseraevitarquefossemnotados.

“Quemsabeelenãonosvê”,pensou.“Quemsabe.”Masa realidadedasituaçãopesavacomoumapedrasobreasuabarriga.Obesouromecânicojárevelaraasuaposiçãoexata.

O Verdugo aproximou-se rolando e dando estalidos, ziguezagueando,gemendo e guinchando. Toda vez que parava, os braços de metal sedesdobravame giravam ao redor, comoum robô procurando sinais de vidaem um planeta alienígena. As luzes produziam sombras assustadoras noLabirinto.Umfiapodelembrançatentouescapardacaixalacradadentrodesuamente-assombrasnaparedeassustando-oquandoeleeraumgarotinho.Sentiuvontadedeestarlá,fosseondefosse,paracorrerparaosbraçosdamãeedopaiqueesperavaaindaestivessemvivos,emalgumlugar,sentindoasuafalta,procurandoporele.

Um forte sopro de algo queimado ardeu nas suas narinas; umamisturaenjoadademáquinassuperaquecidasecarnequeimada.Nãopodiaacreditarqueaspessoaspudessemtercriadoalgotãohorrívelparaperseguirgarotos.

Tentando não pensar no assunto, Thomas fechou os olhos por ummomento e concentrou-se em permanecer imóvel e em silêncio. A criaturacontinuavavindo.

Zuirrrrrrrrrrrrrrrr

Clique-dique-clique

Zuirrrrrrrrrrrrrrrr

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Clique-clique-clique

Thomasficouolhandoparabaixosemmoveracabeça-oVerdugotinhafinalmentechegadoaomuroondeeleeAlbyestavampendurados.Acriaturafez uma pausa junto à Porta fechada que dava para a Clareira, a poucosmetros à direita de Thomas. “Por favor, vá por outro caminho”, implorouThomasemsilêncio.

“Vire.”

“Poraquelecaminho.”

“Porfavor!“

OsferrõesdoVerdugoprojetaram-separafora;seucorporolounadireçãodeThomaseAlby.

Zuirrrrrrrrrrrrrrrr

Clique-clique-dique

Elefezumaparada,depoisrolououtravez,diretoparaomuro.Thomasprendeuarespiração,semousaremitiromínimosom.OVerdugoparouentãobem abaixo deles. Thomas queriamuito olhar para baixo,mas sabia que omenormovimento poderia chamar a atenção dele. Os feixes de luz que seprojetavamdacriaturailuminaramtodoolugar,totalmenteaoacaso,semsedeterempontoalgum.

Então,derepente,elesseapagaram.

Num instante o mundo tornou-se escuro e silencioso. Era como se acriaturativessesidodesligada.Elanãosemovianemproduziaumúnicosom-atémesmoos lamentos assustadorespararamcompletamente.E semmaisnenhumaluz,Thomasnãoconseguiavernada.

Estavacego.

A sua respiração resumia-se a pequenos sorvos de ar pelo nariz; o seucoraçãopalpitanteprecisavadesesperadamentedeoxigênio.Seráqueaquelacoisapodiaouvi-lo?Farejá-lo?Osuorempapava-lheoscabelos,asmãos,asroupas, tudo. Um medo que ele nunca conhecera dominou-o ao ponto da

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insanidade.

Silêncio, nada. Nenhum movimento, nenhuma luz, nenhum som. AexpectativadetentaradivinharoqueaconteceriaemseguidaestavamatandoThomas.

Passaram-sesegundos.Minutos.AplantafilamentosaapertavaacarnedeThomas - seupeito parecia anestesiado.Ele queria gritar para omonstro láembaixo:“Mate-meouvolteparaasuamalditatoca!”

Derepente,numasúbitaexplosãodeluzesom,oVerdugovoltouàvida,zumbindoeproduzindoestalidos.

Eentãocomeçouaescalaromuro.

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Os ferrões doVerdugodilaceravama pedra, atirandopedaços de hera elascas de rocha em todas as direções.Os seus braços sacudiam-se como aspernasdobesouromecânico,compontasaguçadasquepenetravamnapedrado muro para se apoiar. Uma luz brilhante na extremidade de um braçoapontounadireçãodeThomas,sóquedestavezofeixedeluznãosedesviou.

Thomassentiuqueaúltimagotadeesperançaseesvaíadoseucorpo.

Sabiaqueaúnicaopçãopossíveleracorrer.“Sintomuito,Alby”,pensouenquantoselivravadosramosgrossosdopeito.Usandoamãoesquerdaparase segurar com força na folhagemacima, ele terminou se desvencilhando epreparando-separafugir.Sabiaquenãopoderiasubir-issolevariaoVerdugoa passar porAlby.Descer, é claro, era a única opção se quisessemorrer omaisrápidopossível.

Precisavaseafastarparaolado.

Thomasestendeuobraçoeagarrouumramodeheraqueestavaasessentacentímetrosàesquerdadeondeestavapendurado.Enrolandooramonamão,puxou-o com um safanão rápido. A planta resistiu, exatamente como asoutras.Derelance,viuqueoVerdugoabaixojáchegaraàmetadedadistânciaqueosseparava,esemoviamaisrápido,sempausas.

Thomas terminou de se livrar do ramo que usara ao redor do peito ebalançou o corpo para a esquerda, roçando-se à parede. Antes que a suaoscilaçãocomoumpênduloo levassedevoltaaAlby,eleestendeuobraçoparaoutratrepadeira,alcançandoumamaisgrossa.Dessavez,agarrou-acomasduasmãosevirou-separapousarabasedospéscontraomuro.Mudouaposição do corpo para a direita, prosseguindo até onde a planta permitiu,entãolargou-aeagarrouumaoutra.Depoisoutra.Comosefosseummacacoescalando uma árvore, Thomas descobriu que era capaz de avançar maisdepressadoqueimaginava.

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Ossonsdoseuperseguidorcontinuavamsemdescanso,sóqueagoracomoacréscimohorripilantedoruídoderochaestilhaçada.Thomasoscilouparaadireitaváriasoutrasvezesantesdecriarcoragemparaolharparatrás.

OVerdugoafastara-sedeAlbyaomudaropercursopara irdiretamenteatéThomas.“Enfim”,pensouThomas,“algumacoisadeucerto.”Dandoumimpulso no próprio corpo com os pés, com omáximo de força que podia,balançoapósbalanço,elefugiadaquelacoisahorrenda.

Thomas não precisou olhar para trás para saber que o Verdugo estavaganhando terreno a cada segundo.Os sons eram a prova disso.De algumaforma,precisavavoltaraochão,outudoacabariarapidamente.

No balanço seguinte, deixou sua mão deslizar um pouco antes de seagarrarcomfirmeza.Ahastedatrepadeiraqueimou-lheapalmadamão,maselehaviaencurtadoadistânciaatéochão.Repetiuaoperaçãocomapróximatrepadeira.Ecomaseguinte.TrêsoscilaçõesdepoisestavaameiocantinhodochãodoLabirinto.Umadorpungentequeimavaosseusbraços;elesentiaa ardência da pele que era arrancada dasmãos.A adrenalina correndopelocorpooajudouaignoraromedo;simplesmenteseguiuemfrente.

No balanço seguinte, a escuridão impediuThomas de avistar uma novaparedeassomandoàsuafrente;ocorredorterminavaeviravaàdireita.

Elesechocoucomtodaaforçacontraapedraàfrente,perdendoocontatocomahera.Jogandoosbraçosparaafrente,Thomasdebateu-sesemcontrole,tentando alcançar algumacoisa emque se agarrar para impedir omergulhoem direção à rocha dura abaixo.Nomesmo instante, com o canto do olhoesquerdo,viuoVerdugo.Elealteraraopercursoeoestavaquasealcançando,comumagarraesticadanasuadireção.

Thomasencontrouuma trepadeiraameiocaminhodochãoeaagarrou,quase arrancando os braços das articulações com a parada repentina.Empurrouaparedecomosdoispéscomamaiorforçapossível,projetandoocorpopara longedelanoexatomomento emqueoVerdugoatacava comagarra e as agulhas. Thomas chutou com a perna direita, atingindo o braçoligadoàgarra.Umestalidoagudodenunciouumapequenavitória,mastodoo

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seuentusiasmoterminouquandoelepercebeuqueoimpulsodaoscilaçãoialevá-lodevolta,emdireçãoàparede,bememcimadacriatura.

Comaadrenalinacorrendopelasveias,Thomasjuntouaspernasepuxou-asapertadascontraopeito.AssimquefezcontatocomocorpodoVerdugo,sentindo-seafundarnaquelapeleasquerosa,passouachutarcomosdoispéspara se afastar dali, contorcendo-se para evitar o contato com as agulhas egarras que vinham de todas as direções. Girou o corpo para fora e para aesquerda;entãosaltouparaomurodoLabirinto,tentandoagarraroutroramode hera. As ferramentas malignas do Verdugo agitavam-se e fechavam-seprojetadasatrásdele.Sentiuumprofundoarranhãonascostas.

Debatendo-semaisumavez,Thomasencontrouumnovoramodeheraeagarrou-o com as duas mãos. Segurou a planta apenas o suficiente pararetardaradescida,ignorandoaqueimaçãohorrívelquesentia.Assimqueosseus pés tocaram o sólido piso de rocha, ele saiu em disparada, correndoapesardoclamordeexaustãodoseucorpo.

O ruído de um choque foi seguido pelos sons do Verdugo que rolava,estalava e zumbia.Mas Thomas recusou-se a olhar para trás, sabendo quecadasegundoeraimportante.

ContornouasesquinasdoLabirintoatodavelocidade,martelandoapedracomospés.Emalgumlugarnasuamenteprocuravaregistrarosentidodosmovimentos que fazia, esperando poder viver o suficiente para usar asinformaçõeseretornaràPorta.

Direita,depoisesquerda.Descidaporumlongocorredor,depoisàdireitadenovo.Esquerda.Direita.Duasvezesàesquerda.Outrocorredorcomprido.Os sons da perseguição não perdiam o vigor nem se distanciavam, mastambémelenãoestavaperdendoterreno.

Sempreemfrente,elecorreu,ocoraçãoapontodeexplodir. Inspirandograndesbocadosdear,tentavabombearoxigênioparaospulmões,massabiaquenãoiaaguentarmuitomaistempo.Imaginousenãoseriamuitomaisfácilvirar-seelutar,acabandodeumavezcomaquilo.

Quandodobrouaesquinaseguinte,conteve-senumaparadasúbitaantea

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visãoquetinhadiantedesi.Arquejandoincontrolavelmente,ficouolhando.

TrêsVerdugosestavambemàsuafrente,rolandoenquantoenterravamosferrõesnapedra,vindonasuadireção.

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Thomas voltou-se para ver o seu perseguidor inicial ainda seaproximando, embora tivesse reduzido um pouco a marcha, abrindo efechandoasgarrasdemetalcomosecaçoassedele,rindo.

“Ele sabe que não tenho saída”, pensou. Depois de tanto esforço, aliestava ele, cercado por Verdugos. Era o fim. Menos de uma semana naClareiraeasuavidachegaraaofim.

Quase consumido pelo sofrimento, tomou uma decisão. Partiria para aluta.

Preferindoobviamenteumatrês,elecorreunadireçãodoVerdugoqueoperseguira até ali. A coisa horrenda retraiu-se apenas alguns centímetros,parou de mover as garras, como se estivesse chocada com a coragem dogaroto. Procurando se aproveitar da ligeira indecisão, Thomas começou agritarenquantoatacava.

OVerdugoretornouàvida,osferrõesseprojetandodapele;rolouparaafrente, pronto para colidir de frente com o inimigo. O movimento súbitoquase fez Thomas parar, o breve momento de coragem insensatadesvanecendo-se;mascontinuoucorrendo.

Noúltimosegundoantesdacolisão,assimqueolhoudepertoometal,opelo e omuco viscoso,Thomas plantou o pé esquerdo emergulhou para adireita. Incapaz de deter o impulso, oVerdugo passou voando ao lado deleantes de se deter estremecendo. Thomas percebeu que a coisa estava semovimentandomuitomais rápido agora. Com um uivometálico, ela fez avolta e se preparou para atirar-se sobre a vítima. Mas agora, não maisencurralado,Thomastinhaespaçoparacorrer,devoltaaocaminho.

Eleficoudepéedisparouemfrente.Ossonsdaperseguição,dessavezdos quatro Verdugos, ouviam-se logo atrás. Certo de que exigia do corpomuitoalémdosseus limites,elecontinuouacorrer, tentandoafastardesiosentimentodedesesperançadequeseriasóumaquestãodetempoatéqueo

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alcançassem.

Então, três corredores adiante, duas mãos de repente apareceram e opuxaram violentamente para uma passagem vizinha. O coração de Thomassaltoupelagargantaenquantotentavaselibertar.ParouquandopercebeuqueeraMinho.

-Masoque…

- Cala a boca e me segue! - gritouMinho, já arrastando Thomas paralongedaliatéqueelefoicapazdeseapoiarnosprópriospés.

Sem um instante para pensar, Thomas se recompôs. Juntos, elesavançaramrapidamentepeloscorredores,dandovoltasemaisvoltas.Minhoparecia saber exatamente o que estava fazendo, para onde ia; nunca paravaparapensarsobrequecaminhodeviaescolher.

Aodobraremaesquinaseguinte,Minhofezumesforçoparafalar.Entrerespiraçõesentrecortadas,eledisse:

-Euvi bem…omergulhoquevocêdeu… lá atrás… issomedeuumaideia…sóprecisamosaguentar…maisumpouco.

Thomasresolveunãodesperdiçarofôlegocomperguntas;simplesmentecontinuoucorrendo.Semprecisarolharpara trás,elesabiaqueosVerdugosganhavamterrenocomumarapidezalarmante.Cadamilímetrodoseucorpodoía,pordentroeporfora;osmembrosclamavamparaqueparassedecorrer.Maselecontinuoucorrendo,esperandoqueocoraçãonãoparassedebater.

Depoisdemaisalgumasvoltas,Thomasviualgoà frentedelesquenãoconseguiu identificar.Parecia…errado.Ea luzfracaqueemanavadosseusperseguidorestornouacoisaaindamaisestranha.

Ocorredornãoterminavaemoutromurodepedra.

Eleterminavanaescuridão.

Thomasestreitouosolhosàmedidaquecorriamemdireçãoaomurodeescuridão, tentando compreender do que estavam se aproximando. Os doismurosrecobertosdeheradecadaladodelepareciamdaremnadaanãoserno

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céuàfrente.Elepôdeverasestrelas.Quandoseaproximaram,entendeuqueeraumaabertura-oLabirintoterminara.

“Como?”, imaginou. “Depois de anos de buscas, como Minho e euencontramosassimtãofacilmente?”

Minhopareceuadivinharosseuspensamentos.

-Nãofiquemuitoempolgado-disseele,malsendocapazdearticularaspalavras.

Algunsmetrosantesdofimdocorredor,Minhosedeteve,pondoamãosobreopeitodeThomasparaseassegurardequeeleparavatambém.Thomasreduziuamarcha,depoiscaminhouatéondeoLabirintoseabriaparaocéu.Os sons dosVerdugos que avançavam se aproximava. Tudo o queThomaspodiaveremtodasasdireções,acimaeabaixo,deumladoparaooutro,eraar vazio e as estrelas desaparecendo ao longe. Era uma visão estranha einquietante,comoseestivessenolimiardouniverso,e,porumbreveinstante,foidominadopelavertigem,os joelhosenfraquecendoantesquepudesse sefirmar.

O amanhecer começava a dar os primeiros sinais, o céu parecendo terclareadoconsideravelmenteapenasnoúltimominutooualgoassim.Thomasolhava em completa descrença, sem entender como tudo aquilo podia serpossível. Era como se alguém tivesse construído o Labirinto e depois odeixasse flutuando no céu para pairar ali no meio do nada pelo resto daeternidade.

- Não estou entendendo - ele sussurrou, sem saber se Minho sequer oouvia.

-Cuidado-replicouoCorredor.-Vocênãoseriaoprimeirotrolhoacairdopenhasco.-EleagarrouThomaspeloombro.-Esqueceualgumacoisa?-ElefezsinalcomacabeçanadireçãodoLabirinto.

Thomas lembrou-se de ter ouvido antes a palavra Penhasco, mas nãoconseguialocalizaronde.Verocéuimensoeabertoàsuafrenteeabaixodeledeixara-onumaespéciedeentorpecimentohipnótico.Forçando-seavoltarà

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realidade, virou-se para encarar os Verdugos que se aproximavam. Eles seencontravamagoraaunsdezmetrosdedistância,emfila indiana,atacandocom um sentimento de vingança, movendo-se a uma velocidadesurpreendente.

Tudoseencaixouentão,mesmoantesdeMinhoexplicaroquefariam.

- Essas coisas podem ser traiçoeiras - falouMinho -, mas são as maisimbecisdomundo.Fiqueaqui,pertodemim,bemdefrente…

Thomasointerrompeu.

-Jásei.Estoupronto.

Arrastaram os pés até que estivessem bem juntos um ao lado do outro,diante do precipício, bem nomeio do corredor. Seus tornozelos estavam apoucos centímetros da borda do Penhasco atrás deles, e depois apenas ovazio.

Aúnicacoisaquelhesrestavaeraacoragem.

- Precisamos agir em sincronia! - exclamou Minho, com a voz quaseabafadapeloruídoestrondejantedosferrõesrolandosobreapedra.-Quandoeudisserjá!

PorqueosVerdugoshaviamadotadoa formaçãode fila indianaeraummistério. Talvez o Labirinto parecesse estreito demais, incômodo para elesseguiremladoalado.Masumdepoisdooutroelesseguirampelocorredordepedra, emitindo estalidos e gemidos e prontos para matar. Os dez metrosreduziram-seaquatro,eosmonstrosestavamaapenassegundosdedistânciadesechocarcontraosgarotosqueosaguardavam.

-Atenção-falouMinhocomfirmeza.-Aindanão…aindanão…

Thomasodioucadamilissegundodeespera.ElesóqueriafecharosolhosenuncamaisveroutroVerdugonavida.

-Já!-gritouMinho.

AssimqueobraçodoprimeiroVerdugoseestendeuparapegá-los,MinhoeThomasmergulharamemsentidosopostos,cadaumnadireçãodeumadas

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paredes externas do corredor. A tática funcionara antes com Thomas e, ajulgarpelosomhorríveldeumaderrapagemdoprimeiroVerdugo,funcionoudenovo.OmonstrovooupelabordadoPenhasco.Estranhamente,oseugritodeguerraapagou-seimediatamenteemvezdeirdesaparecendoàmedidaquemergulhavanasprofundezasàfrente.

Thomascaiudeencontroaomuroevirou-senomomentocertoparaverasegundacriaturasejogarnoabismo,incapazdefrear.Aterceiraplantouumbraçopontudocontraapedra,masoseuimpulsoerafortedemais.OrangidodearrepiarosnervosdoferrãorompendoochãofezumcalafriopercorreraespinhadeThomas,emboraumsegundodepoisoVerdugocaíssenoabismo.Denovo,nenhumdelesemitiuumsomquandocaiu,comosedesaparecessememvezdecair.

Aquartaeúltimacriaturaaseaproximarfoicapazdesedetera tempo,oscilandobemnabordadoabismo,seguraporumferrãoeumagarra.

Instintivamente, Thomas soube o que precisava fazer. Olhando paraMinho, ele fez um gesto com a cabeça e depois virou-se. Os dois garotoscorreramcontraoVerdugoesaltaramcomospéscontraacriatura,chutando-aparaforanoúltimosegundocomtudooquelhesrestavadassuasforças.Osdoisjuntos,mandandooúltimomonstroparaoseumergulhorumoàmorte.

Thomas rapidamente engatinhou até a borda do abismo, esticando acabeçaparaverosVerdugos emqueda.Mas, emboraparecesse impossível,eles tinham desaparecido - não havia nenhum sinal deles no vazio que seestendiaabaixo.Nada.

Não podia compreender aonde levaria aquele Penhasco nem o queacontecera àquelas criaturas terríveis. A sua última migalha de forçadesapareceueeleserecurvoucomoumabolanochão.

Entãovieramaslágrimas.

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Meiahorasepassou.

NemThomasnemMinhohaviamsemovidoumcentímetro.

Thomasfinalmentepararadechorar;nãopodiadeixardepensarsobreoqueMinhoachariadele, ou se contaria aosoutros, chamando-odemaricas.Havia perdido o autocontrole: sabia que não teria sido capaz de evitar aslágrimas.Apesardafaltadememória,tinhacertezadequeacabaradepassarpela noite mais traumática de sua vida. E as mãos cheias de feridas e acompletaexaustãonãoajudavamnada.

Comoamanheceremplenodesenvolvimento,arrastou-seoutravezatéaborda do penhasco e esticou a cabeça para vermelhor.O céu que se abriadiante dele era de um púrpura intenso, que se esmaecia aos poucos paraassumir o azul brilhante do dia, com pinceladas de laranja do sol, que seencontravanumhorizonteplanoedistante.

Daquela posição, viu que o muro de pedra do Labirinto prolongava-serumo ao chão verticalmente até desaparecer. Mas mesmo com a claridadecadavezmaisintensa,aindanãosaberiadizeroquehaviaali.EracomoseoLabirintoestivesse incrustadonumaestruturaaváriosquilômetrosacimadochão.

“Mas isso é impossível”, pensou. “Não pode ser. Com certeza é umailusão.”

Rolou para o lado ficando de barriga para cima. Gemeu com omovimento. Seu corpo doía em lugares que nem sabia que existiam. Pelomenos as Portas logo se abririam e eles poderiam voltar à Clareira. OlhouparaMinho,largadodeencontroaomurodocorredor.

-Nãoacreditoqueaindaestamosvivos-disse.

Minhonãorespondeu,apenasassentiucomacabeça,orostosemesboçarumaexpressão.

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-Seráqueexistemmaisdeles?Ouseráquematamostodos?

-Aindabemquefizemosissoaonascerdosol,outeríamosmaisunsdezatrás de nós em pouco tempo. - Ele endireitou o corpo, encolhendo-se egemendo. -Não consigo acreditar.Sério.Conseguimos atravessar todaumanoite…ninguémconseguiuissoantes.

Thomassabiaquedeviasentir-seorgulhoso,corajoso,algoparecido.Mastudooquesentiaeracansaçoealívio.

-Oquefizemosdediferente?

-Seilá.Édifícilperguntaraummortooqueelefezdeerrado.

ThomasnãoconseguiuevitardeseperguntarcomoosgritosodiososdosVerdugosterminavamquandoelescaíamdoPenhasco,ecomonãoforacapazdevê-losseprecipitandoparaamorte.Haviaalgumacoisamuitoestranhaeperturbadoranaquilo.

-Parecequeelesdesapareceramoualgoassimdepoisdepassarempelaborda.

- É, isso foi meio doido. Alguns Clareanos tinham uma teoria de queoutrascoisastinhamdesaparecido,masmostramosqueestavamerrados.Vejaisso.

Minho atirou uma pedra no Penhasco, e Thomas acompanhou a suatrajetóriacomoolhar.Elafoidescendo,descendoatéficarpequenaobastanteparaserobservada.

-Ecomoissoprovaqueestavamerrados?-perguntouThomas.

Minhodeudeombros.

-Bem,apedranãodesapareceuagora,desapareceu?

-Entãooquevocêachaqueaconteceu?-Tinhaalgumacoisaimportanteali,Thomaspodiasentirisso.

Minhodeudeombrosoutravez.

-Talvezsejamcriaturasmágicas.Estoucomacabeçadoendodemaispara

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pensarnisso.

Derepente,Thomaslembrou-sedeAlby.

- Precisamos voltar - disse enquanto fazia um grande esforço para selevantar.-VamospegaroAlbylánomuro.-NotandoaexpressãoconfusadeMinho,eleexplicourapidamenteoquetinhafeitocomosramosdahera.

Minhobaixouoolhar,osolhosabatidos.

-Éimpossívelqueestejavivo.

Thomasrecusou-seaacreditarnele.

-Comovocêsabe?Vamos.-Elesaiumancandodevoltapelocorredor.

-Porqueninguémnuncaconseguiu….

Avozdeleseapagou,eThomasadivinhouemqueestavapensando.

-ÉporquequandovocêsosencontravamelesjátinhamsidomortospelosVerdugos.Albysófoiatingidoporumadaquelasagulhas,certo?

Minho levantou-se e acompanhou Thomas na sua lenta caminhada devoltaàClareira.

-Nãoseinão,achoqueissonuncaaconteceuantes.Poucoscarasforampicadosduranteodia.EessesforamosquereceberamoSoroepassarampelaTransformação. Os coitados dos trolhos que ficaram presos no Labirintodurante toda a noite só foram encontradosmuito tempo depois… às vezesdiasdepois. Issoquandoforamencontrados.E todosestavammortosdeummodoquevocênãoiriaquerersaber.

Thomasestremeceusódepensar.

-Depoisdoqueacabamosdeenfrentar,achoquepossoimaginar.

Minhoergueuoolhar,osemblantetransformadopelasurpresa.

- Acho que você acabou de descobrir. Nós estávamos errados… bem,tomara que seja assim. Como nenhum dos que foram picados e nãoconseguiramretornaraoentardecerjamaissobreviveu,agenteachouquenãotinha mais jeito… por ser tarde demais para tomar o Soro. - Ele parecia

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empolgadocomessalinhadepensamento.

Elesdobrarammaisumaesquina,eMinho,derepente,tomouadianteira.O ritmodo rapaz se acelerou,masThomaso acompanhou, surpresodevercomoestavafamiliarizadocomocaminho,atémesmoinclinando-separaascurvasantesdeMinhoindicarasdireções.

-Certo…eessetaldeSoro?-quissaberThomas.-jáouvifalardeleummontedevezes.Oqueéisso?Edeondeelevem?

-Éexatamenteoquedizemos,trolho.Umsoro.0SorodaDor.

Thomasforçouumarisadasemgraça.

-Justoquandocomeçavaapensarquesabiatudosobreestelugaridiota.Porqueochamamassim?EporqueosVerdugossãochamadosVerdugos?

Minho foi explicando enquanto continuavam pelas voltas intermináveisdoLabirinto,nenhumdelesàfrentenomomento.

-Não sei de onde tiramos os nomes,mas o Soro vem dosCriadores…pelomenos é esse o nome que damos a eles.Vem com os suprimentos naCaixa toda semana, sempre veio. É um medicamento ou um antídoto ouqualquercoisaassim, jádentrodeumaseringa,prontoparaouso.-Elefezumgestodeaplicarumainjeçãonoprópriobraço.-Vocêaplicaessacoisaemalguém que foi picado e isso salva o cara. Ele vai passar pelaTransformação…queéhorrível…masdepoisestarácurado.

Ficaram algunsminutos em silêncio, enquantoThomas refletia sobre asinformações. Pensou sobre a Transformação e o que significaria. E poralgumarazão,voltouapensarnagarota.

-Engraçado…-Minhofinalmentecontinuou.-Nuncaconversamossobreissoantes.SeAlbyaindaestivervivo,nãohámotivoparapensarqueelenãopossa ser salvopeloSoro.Dealguma formacolocamosnanossacabeçadeplongquetodavezqueasportassefechavameraofim.Querovercommeuspróprios olhos essa história de Alby estar pendurado no muro… acho quevocêestámeenganando.

Os dois continuaram andando, Minho quase parecia feliz, mas alguma

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coisa incomodava Thomas. Ele vinha tentando evitar aquilo, negar para simesmo.

- E se outro Verdugo pegou o Alby depois que distraí aquele que meperseguiu?

Minhooencarou,senaexpressãonenhumanorosto.

- É melhor deixar de lado a conversa e andar mais depressa - falouThomas,esperandoquetodooesforçoparasalvarAlbynãotivessesidoemvão.

Elestentaramapertaropasso,masoseucorpodoíademaiseacabaramseacomodandonumritmoconfortávelapesardapressa.Depoisdedobrarmaisumaesquina,Thomasfraquejou,ocoraçãodandoumabatidaamenosquandopercebeuummovimentoàfrente.Oalívio tomoucontadeleno instanteemquepercebeuquesetratavadeNewteumgrupodeClareanos.APortaOesteda Clareira agigantou-se acima deles e estava aberta. Tinham conseguidovoltar.

Quandoosgarotossurgiram,Newtaproximou-sedelesmancando.

-Oqueaconteceu?-indagoucomumpoucodeirritaçãonavoz.-Oquevocês…

- A gente conta mais tarde - Thomas interrompeu. - Precisamos salvarAlby.

Newtempalideceu.

-Oqueestádizendo?Eleestávivo?

-Venhacomagente.

Thomasencaminhou-separaadireita,esticandoopescoçoparaolharparaoaltodomuro,procurandoentreos ramosespessosdeheraatéencontrarolugarondeAlbypendiapresopelosbraçosepelaspernasacimadeles.Semdizernada,Thomasapontou,nãoousandosentir-sealiviadoainda.Eleaindaestavalá,einteiro,masnãohavianenhumsinaldemovimento.

Newtfinalmenteviuoamigopenduradonahera.Voltou-separaThomas.

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Separecerachocadoantes,agoraasuaexpressãoeradetotalperplexidade.

-Eleestá…vivo?

“Porfavor,tomaraqueesteja”,pensouThomas.

-Aindanãosei.Estavaquandoodeixeiaínoalto.

- Quando você o deixou… - Newt abanou a cabeça. - Você e Minhotratemdeirparadentro,passemporumexamecomosSocorristas.Estãocomumacarahorrível.Querosaberdetodaahistóriadepoisqueelesterminaremevocêstiveremdescansado.

Thomas queria esperar para ver seAlby estava bem.Começava a falar,quandoMinhopuxou-opelobraçoeoforçouaacompanhá-loatéaClareira.

-Precisamosdormir.Erecebercurativos.Agora.

Thomas sabia que ele estava certo. Relutou um pouco, olhando para olugarondeAlbyestava,depoisacompanhouMinhoparalongedoLabirinto.

AcaminhadaatéaClareiraedepoisatéaSedepareceuinterminável,entreas fileiras de garotos dos dois lados observando-os incrédulos. Todospareciam assombrados, como se estivessem olhando para dois fantasmaspasseando pelo cemitério. Thomas sabia que era porque haviam realizadouma façanha, mas ficou um tanto desconfortável por ser o centro dasatenções.

ElequaseparoudeandaraoverGallymaisadiante,osbraçoscruzadosnopeitoefuzilando-ocomoolhar,mascontinuouemfrente.Thomasprecisoude todas as forças para encará-lo, sem desviar o foco. Quando chegou aapenasummetroemeiodele,ogarotobaixouoolharparaochão.

IssoquasetirouThomasdosério,detãobomquefoi.Quase.

Osminutosseguintesforamconfusos.EscoltadoparadentrodaSedepordoisSocorristas,subindoaescada,umolharrápidoporumaportaentreabertapara ver alguém alimentando a garota em coma - ele sentiu uma vontadeimensa de vê-la, de saber como estava -, depois entrando no seu próprioquarto,indoparaacama,comida,água,curativos.Dor.Porfim,foideixado

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só, a cabeça descansando no travesseiromaismacio de que a suamemórialimitadaconseguiaselembrar.

Masenquantoadormecia,duascoisasnãodeixariamosseuspensamentos.Aprimeira,apalavraqueviragravadanocorpodedoisbesourosmecânicos-CRUEL-cruzouseupensamentováriasvezes.

Asegundafoiagarota.

Horasdepois-quelhepareceramdias-Chuckestavalá,chacoalhando-oparaqueacordasse.ForamprecisosváriossegundosparaThomasrecobrarossentidoseolharparafrente.EntãoavistouChuckegemeu.

-Medeixadormir,seutrolho.

-Penseiquequisessesaber.

Thomasesfregouosolhosebocejou.

-Saberoquê? -TornouaolharparaChuck, confusocomo seugrandesorriso.

-Eleestávivo-disseogaroto.-Albyestábem,oSorofuncionou.

A entorpecimento de Thomas se desfez imediatamente, substituído peloalívio.Ficousurpresodeverquantaalegriaainformaçãolheproporcionava.MasentãoaspalavrasseguintesdeChuckfizeram-noreconsiderar.

-EleestácomeçandoapassarpelaTransformação.

Comosetrazidopelaspalavrasdele,umgritodearrepiaroscabelospartiudeumquartodepoisdaentrada.

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Thomas refletiu longa e profundamente sobre Alby. Considerava umagrandevitóriasalvar-lheavida, trazê-lodevoltadeumanoitenoLabirinto.Mas teriavalidoapena?Agoraorapazpassavaporumsofrimento intenso,sentindo as mesmas dores que Ben. E se ficasse maluco também? Ospensamentosotorturavam.

AnoitecaiusobreaClareiraeosgritosdeAlbycontinuaramaassombraro ar. Era impossível escapar daqueles sons terríveis, mesmo depois queThomasfinalmenteconvenceuosSocorristasa liberá-lo-exausto,dolorido,coberto de curativos, mas cansado dos lamentos penetrantes de agonia dolíder.Newtfoi inflexívelquandoThomaspediuparaverapessoaporquemarriscaraavida.“Sóvaipiorarascoisas”,argumentaraele,poucodispostoaceder.

Thomasestavacansadodemaisparainiciarumabriga.Nãoimaginavaquefossepossívelsentir-setãoexaustomesmodepoisdealgumashorasdesono.Ferira-sedemaisparafazerqualquercoisaepassouamaiorpartedodiasobreum banco nas imediações do Campo-santo, mergulhado em desespero. Aeuforia da fuga desaparecera rapidamente, deixando-o entregue à dor e aospensamentos sobre a sua nova vida na Clareira. Todos os seus músculosdoíam;estavacobertodecortesehematomasdacabeçaaospés.Masmesmoisso não era tão ruim quanto a insuportável carga emocional a que forasujeitadonanoiteanterior.Eracomosearealidadedesuanovavidativessefinalmente se instalado em sua mente, como se ouvisse um diagnósticodefinitivodecâncerterminal.

“Como alguém pode ser feliz numa vida como esta?”, pensou. “Comoalguémpodesertãodiabólicoparafazerissocomagente?”Agora,maisdoque nunca, entendia a obsessão dos Clareanos em descobrir a saída doLabirinto.Nãoera sóumaquestãodeescapar.Pelaprimeiravez, ele sentiuumavontadeimensadesevingardaspessoasresponsáveispormandá-lopara

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lá.

No entanto, esses pensamentos só devolveram a desesperança que já odominaratantasvezesantes.SeNewteosoutrosnãohaviamsidocapazesdeencontrar a saída do Labirinto depois de dois arcos de buscas, pareciaimpossívelquepudessehaverumasolução.OfatodeosClareanosnãoteremdesistidofalavamaissobreessaspessoasquequalqueroutracoisa.

EagoraThomaseraumdeles.

“Esta é a minha vida”, pensou. “Viver em um labirinto gigantesco,cercado por monstros horrendos.” A tristeza o inundou como um venenoforte.Osgritos deAlby, agoradistantesmas ainda audíveis, sópioravamasituação. Ele precisava tapar os ouvidos com as mãos cada vez que osescutava.

Finalmenteodiaterminou,eopôrdosoltrouxeoagorafamiliarrangidoopressivodasquatroPortasfechando-se.Thomasnãoselembravadesuavidaanterior àCaixa,mas tinha absoluta certezadeque acabaradepassar pelaspioresvinteequatrohorasdasuaexistência.

Assim que escureceu, Chuck trouxe-lhe alguma coisa para jantar e umcopograndedeáguagelada.

- Obrigado - falou Thomas, experimentando uma sensação de grandesimpatiapelogaroto.Atacouobifecommacarrãodopratoomaisrápidoqueosbraçosdoloridos lhepermitiram.-Precisavamuitodisso-murmurouemmeio a um grande bocado. Engoliu um bom gole da água, então voltou aatacaracomida.Sópercebeuoquantoestavacomfomedepoisdecomeçaracomer.

-Você énojentoquandocome - comentouChuck, sentadonobancoaoladodele.-Écomoverumporcofamintocomeropróprioplong.

-Engraçadinho-retrucouThomascomsarcasmo.-VocêdeveriairfazergracinhasparaosVerdugos,sóparaverseelesriem.

Uma sombra de mágoa atravessou o semblante de Chuck, fazendoThomas sentir-se mal, mas desapareceu quase tão depressa como se

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manifestara.

-Issomefazlembrarumacoisa:vocêéasensaçãodomomento.

Thomasendireitou-se,semsabercomosesentiaperanteanotícia.

-Oqueissoquerdizer?

-Ah,meu,deixe-mever.Primeiro,vocêsaiparaoLabirintoquandonãodevia.Depois se transforma numa espécie de homemdas selvas, escalandotrepadeiras e amarrando pessoas nos muros. Em seguida, torna-se um dosprimeiros caras a sobreviver a uma noite inteira no Labirinto. E, acima detudo isso, consegue matar quatro Verdugos. É, realmente não sei por queaquelestrolhosestãofalandodevocê.

UmaondadeorgulhocresceudentrodeThomas,depoissedesfez.Sentiu-seculpadopelafelicidadequeacabaradeexperimentar.Albyaindaestavanacama,uivandodedor,provavelmentedesejandotermorrido.

- Mas quem teve a ideia de levar os Verdugos para o Penhasco foi oMinho,nãoeu.

-Bom,nãoéoqueelediz.Eleviuvocêdaraqueledribletipomergulho,entãoteveaideiadefazeramesmacoisanoPenhasco.

-Aquele“drible tipomergulho”?- indagouThomas, rolandoosolhos. -Qualqueridiotadoplanetateriafeitoaquilo.

-Nãovenhacomessaconversadetadinhoparacimadagente.Oquevocêfezfoiincrível.VocêeoMinho,osdois.

Thomasatirouopratovazionochão,irado.

-Entãoporquemesintoumlixo,Chuck?Podemeexplicarisso?

ThomasbuscouumarespostanaexpressãodeChuck,maspelaaparênciaele não tinha nenhuma para dar. O garoto simplesmente continuou aliinclinado para a frente com as mãos cruzadas sobre os joelhos, a cabeçabaixa.Depoisdealgunssegundos,meiosussurrando,eledisse:

-Pelamesmarazãoquetodosnósnossentimosumlixo.

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Ficaramalisentadosemsilêncioatéque,minutosdepois,Newtapareceu,com uma cara horrível. Sentou-se no chão à frente deles, preocupado edevastadopelatristeza.Aindaassim,Thomasestavafelizportê-loporperto.

-Achoqueopiorjápassou-comentouNewt.-Aquelebestadevedormirunsdoisdias,depoisvaiacordarbem.Talvezgritandoumpoucodevezemquando.

Thomas não conseguia imaginar quanto devia ser ruim passar por tudoaquilo, ainda assim o processo da Transformação continuava sendo ummistério para ele. Voltou-se para o rapaz mais velho, tentando ao máximoparecernormal.

-Newt,comoéqueeleestásesentindoagora?Sério,nãofaçoamenorideiadecomoéessatalTransformação.

ArespostadeNewtsurpreendeuThomas.

-Evocêachaquenósfazemos?-respondeuelecomveemência,atirandoosbraçosparaoalto,depoisbatendo-oscomforçadevoltanosjoelhos.-Aúnicacoisaqueagentesabeéque,seosVerdugospicamvocêcomaquelasagulhasnojentas,vocêinjetaoSorodaDoroumorre.QuandovocêrecebeoSoro, o seu corpo enlouquece, não para de tremer, a sua pele se enche debolhas, fica toda esverdeada e você vomita até as tripas. Tá boa essaexplicaçãoagora,Tommy?

Thomas franziu a testa.NãoqueriadeixarNewtmais irritadodoque jáestava,masprecisavaderespostas.

-Ei,euseiqueéumadrogaverseuamigopassarporisso,massóqueriasaberoquerealmenteestavaacontecendolá.PorquevocêschamamissodeTransformação?

Newtrelaxou,pareceuseencolher,acalmou-seesuspirou.

-Équeelaprovocalembranças.Sãoapenasfragmentos,maslembrançasnítidasdeantesdevirmosparaestelugarhorrível.Todosquepassamporelaagem comoummaluco quando acaba…embora normalmente não tãomauquantofoicomocoitadodoBen.Enfim,écomosealguémdevolvessesua

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vidaanteriorsóparaarrancá-ladenovo.

Thomasruminavaospensamentos.

-Temcertezadisso?-quisseassegurar.

Newtpareceuconfuso.

-Oqueestáquerendodizer?Certezadoquê?

-Elesficamtransformadosporquequeremvoltarparaavidaanteriorouporquesesentemdeprimidosaoperceberqueaoutravidanãoeramelhordoqueaquetemoshoje?

Newtolhouparaeleporumsegundo,depoisdesviouoolhar,parecendorefletirprofundamente.

- Os trolhos que passaram por isso nunca falam como é. Eles ficam…diferentes.Desagradáveis.ExistemváriospelaClareira,masnãoconsigonemchegarpertodeles.-Suavozsooudistante,oolharperdidoemalgumpontoindefinido na floresta. Thomas entendeu que ele devia estar pensando queAlbytalveznuncamaisfosseomesmooutravez.

-Nemfale-concordouChuck.-OGallyéopiordetodos.

- Alguma novidade sobre a garota? - quis saber Thomas, mudando deassunto.Nãoestavacomdisposiçãode falar sobreGally.Alémdomais,osseus pensamentos sempre voltavam para ela. - Vi os Socorristas dandocomidaparaelaláemcima.

-Nenhuma-respondeuNewt.-Continuanadrogadocoma,ousejaláoque for. Muito de vez em quando murmura alguma coisa… palavras semnexo, como se estivesse sonhando. Ela aceita a comida, parece estar indobem.Meioestranho.

Seguiu-seumalongapausa,comoseostrêsestivessemtentandoencontrarumaexplicaçãoparaagarota.Thomas refletiudenovosobrea inexplicávelsensaçãoquetinhadeestarligadoaela,emboraissotivesseenfraquecidoumpouco,masdeviaserporcausade tudoomaisquevinhaocupandoosseuspensamentos.

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Newtrompeuosilêncio.

-Seilá…agoraépensaroqueagentevaifazercomoTommy.

Thomassobressaltou-senahora,confusocomocomentário.

-Fazercomigo?Doquevocêestáfalando?

Newtlevantou-se,abriuosbraços.

-Vocêvirou todaestadrogade lugardecabeçaparabaixo, seumalditotrolho. Metade dos Clareanos acha que você é Deus, a outra metade queratirarvocênoBuracodaCaixa.Oquenãofaltaéassuntoparaconversar.

-Porexemplo?-Thomasnãosabiaoqueeramaisinquietante:ofatodealguns acharem que ele era uma espécie de herói ou a ideia de que outrospreferiamqueelenãoexistisse.

-Tenhacalma-falouNewt.-Vocêvaidescobriramanhãcedo,depoisdeacordar.

-Amanhã?Porquê?-Thomasnãogostoudoqueouviu.

-ConvoqueiumConclave.Evocêvaiparticipar.Vocêéoúnicotemanadrogadapauta.

Dizendoisso,deumeia-voltaeseafastou,deixandoThomasimaginandoporqueafinaldecontasserianecessárioumConclavesóparadiscutirsobreele.

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Na manhã seguinte, Thomas encontrava-se sentado em uma cadeira,preocupado e ansioso, suando, de frente para outros onze garotos. Elesocupavam cadeiras dispostas em semicírculo em torno dele. Uma vezacomodados,ThomaspercebeuqueeramosEncarregados,paraseudesgostoissosignificavaqueGallyestavaentreeles.umacadeiracolocadaemfrenteaThomaspermaneciavazia-nãoseriaprecisoquelhedissessemqueeraadeAlby.

ElesseencontravamemumasalagrandedaSedenaqualThomasaindanão estivera. Além das cadeiras, não havia outros móveis a não ser umamesinha num canto. As paredes e o assoalho eram feitos de madeira, e aimpressãoeradequeninguémnuncatentaratornarolugaragradável.Asalanão tinha janelas; o ar cheirava amofo e livrosvelhos.Thomasnão estavacomfrio,masaindaassimtremia.

Sentiu-sealiviadoporNewtestarpresente.EleocupavaacadeiraàdireitadoassentovagodeAlby.

- Em nome do nosso líder, que está de cama, declaro este Conclaveiniciado-disseele,comumrápidorolardeolhos,comoseodiassetudoquelembrasse formalidade. - Como todos sabem, os últimos dias foram bemloucos, e muita coisa parece estar ligada ao nosso Novato, Tommy, aquipresente.

OrostodeThomasenrubesceudeembaraço.

-ElenãoémaisumNovato-falouGally,avozásperatãograveecruelquesoouquasecômica.-Agoraeleéapenasumtransgressor.

O comentário provocou uma profusão de murmúrios e sussurros, masNewtfezcomquesecalassem.Thomasderepentesentiuvontadedeestaromaislongepossíveldaquelasala.

-Gally-falouNewt-,vamosmanterumaordemnestadroga.Sepretende

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arreganharessalatrinatodavezqueeudisseralgumacoisa,podeirdandoofora,porquenãoestounumaboahoje.

Thomastevevontadedeselevantareaplaudir.

Gally cruzou os braços e recostou-se na cadeira, a carranca tão forçadaque Thomas quase deu uma gargalhada. Não podia acreditar que até o diaanterior estivera aterrorizado por aquele cara. Agora ele parecia um idiota,umafigurapatética.

NewtdirigiuumolharduroaGallyecontinuou.

- Quem bom que esclarecemos esse ponto - disse Newt rolandonovamente os olhos. - O motivo de estarmos aqui é porque quase todoadorávelgarotonestaClareirameprocurounosúltimosdoisdiasparaacabarcomThomasouparapedirsuamãoemcasamento.Precisamosdecidiroquevamosfazercomele.

Gally inclinou-se para a frente, mas Newt o cortou antes que pudessedizeralgumacoisa.

-Vocêteráasuaoportunidadedefalar,Gally.Umdecadavez.E,Tommy,vocênãoestáautorizadoadizerporcarianenhumaatéeumandar,bomisso?-advertiu ele enquanto aguardava um sinal de Thomas consentindo, que foidado de má vontade. Depois apontou para o garoto na cadeira à extremadireita.-Zart,vocêcomeça.

Zart,ogarotograndalhãoecaladoquecuidavadosJardins,remexeu-senacadeira.OlhouparaThomassentindo-semaisdeslocadodoqueumacenouranascidaemumtomateiro.

-Bem - começouZart, correndovivamenteoolhar pelo local, como seesperassequealguémlhedissesseoquefalar.-Seilá.Eledesrespeitouumadas nossas regras mais importantes. Não podemos deixar que as pessoaspensem que está tudo bem. - Fez uma pausa e observou as própriasmãos,esfregandoumanaoutra.-Mas,dequalquerforma,ele…mudouascoisas.Agora a gente sabe que pode sobreviver lá fora e que pode derrotar osVerdugos.

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Thomassentiuumgrandealívio.Alguémpelomenosestavadoseulado.PrometeuasimesmosermaislegalcomZart.

-Ah,cortaessa-bradouGally.-ApostoqueoMinhosozinhofoiquemnaverdadeconseguiuselivrardaquelascoisasestúpidas.

- Gally, feche a matraca! - gritou Newt, dessa vez levantando-se paraimpressionar;Thomassentiu,denovo,vontadedeaplaudir. -SouomalditoPresidente aqui e, se ouvir mais uma droga de comentário seu, vouprovidenciarumoutroBanimentoparaoseutraseirosujo.

-Porfavor-Gallymurmurousarcasticamente,enquantofranziaatestadeformaridículamaisumavezesesentavalargadonacadeira.

Newtsentou-seefezumsinalparaZart.

-Acabou?Algumarecomendaçãooficial?

Zartabanouacabeçanegativamente.

-Certo.Vocêéopróximo,Caçarola.

Ocozinheirosorriuportrásdabarbaeendireitou-senacadeira.

-Otrolhotemmaiscolhõesdoquetodososporcosqueprepareinoanopassado.-Fezumapausa,comoseesperasserisos,masninguémriu.-Istoéuma bobagem. Ele salva a vida doAlby,mata ummonte deVerdugos e agente senta aqui para tagarelar sobre o que fazer com ele?Como oChuckdiria,istoéumamontanhadeplongs.

Thomassentiuvontadede ir láapertaramãodeCaçarola.Ocozinheirotinha acabado de dizer exatamente o que ele próprio vinha pensando sobretudoaquilo.

-Eoquerecomendaentão?-indagouNewt.

Caçarolacruzouosbraços.

-PonhamelenoConselhoparanosensinartudooquefezláfora.

AsvozesseergueramdetodasasdireçõeseNewtprecisoudequaseumminuto para acalmar os ânimos. Thomas estremeceu. Caçarola fora longe

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demais com aquela recomendação, quase invalidando a sua opinião bemcolocadasobretodaasituação.

-Tudobem,tomandonota-falouNewtenquantofaziaexatamenteisso,escrevendo em um bloco de anotações. - Agora todo mundo fique com amalditabocafechada,nãoestoubrincando.Vocêsconhecemasregras:todasas ideias são aceitáveis… e todos têm direito a dar a sua opinião quandoformos votar. - Terminou de escrever e indicou o terceiro membro doConselho,umgarotoqueThomasnãoconheciaainda,comcabelopretoeumrostosardento.

-Naverdade,nãotenhoopiniãonenhuma-disseele.

-Oquê?-Newtreagiucomraiva.-QuebelacoisafoiescolhervocêparaoConselho,então!

- Sinto muito, sinceramente, não tenho. - Ele deu de ombros. - Nomínimo,concordocomoCaçarola,euacho.Porquepunirumcaraporsalvaravidadealguém?

-Entãovocêtemumaopinião…Ésóisso?-insistiuNewt,lápisnamão.

Ogarotoconcordou,eNewttomounota.Thomassentia-secadavezmaisaliviado; parecia que a maioria dos Encarregados estava a seu favor, nãocontra ele. Ainda assim, era mesmo difícil só estar sentado ali, queriadesesperadamente falar em sua própria defesa. Mas forçou-se a seguir asordensdeNewteficarcalado.

Emseguida foiavezdeWinston,umgarotocheiodeespinhasnacara.EraoEncarregadodoSangradouro.

-Euachoqueeledeveria serpunido.Sintomuito,Fedelho,mas,Newt,vocêmesmoéumquesempreestáfalandoemordem.Seelenãoforpunido,daremosummauexemplo.EletransgrediuaRegraNúmeroUm.

-Ok - falouNewt, anotandonobloco. -Entãovocê recomendaque elesejapunido.Equetipodepuniçãoseria?

-AchoqueeledeviasercolocadonoAmansadorapãoeáguaporumasemana. E devemos fazer com que todos saibam disso para que ninguém

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venhacomideias.

Gallybateupalmas,recebendoumacaretadefúriadeNewt.OcoraçãodeThomasficouumpoucoapertado.

OutrosdoisEncarregadosfalaram,umafavordaideiadeCaçarola,outrodadeWinston.

EntãochegouavezdeNewt.

- Concordo com a maioria de vocês. Ele deveria ser punido, masprecisamosencontrarummododeusá-lo.Voudeixaraminharecomendaçãoparadepois,quandotiverouvidotodomundo.Opróximo.

Thomas odiou toda aquela conversa sobre punição, ainda mais do queodiava ser obrigado a manter a boca fechada. Mas, no fundo, não podiadiscordar,pormaisestranhoqueparecessediantedetudoquehaviafeito-eletinhadesrespeitadoumaregraimportante.

Falaram todos na sequência. Alguns achavam que ele deveria serelogiado, outros que devia ser punido. Ou ambos. Thomas mal conseguiaprestar atenção, tentando imaginar os comentários dos últimos doisEncarregados,Gally eMinho.OúltimonãodisseraumapalavradesdequeThomasentraranasala;apenasficaralásentado,afundadonacadeira,comaaparênciadequemnãodormiahaviaumasemana.

Gallyfoioprimeiro.

-Achoquejádeixeibemclarasasminhasopiniões.

“Ótimo”,pensouThomas.“Então,fiquedebocafechada.”

-Bom isso - falouNewt commaisum rolar deolhos. -Suavez agora,Minho.

-Não!-gritouGally,fazendoalgunsEncarregadossaltaremnacadeira.-Querodizermaisumacoisa.

-Entãodesembuchelogo-replicouNewt.

Thomassentia-seumpoucomelhoraoverqueoPresidentedoConselhodesprezava Gally quase tanto quanto ele. Embora não sentisse mais medo,

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aindaodiavaosmodosdosujeito.

-Agora pensem no seguinte - começouGally. - Esse cabeção surge naCaixa, parecendo todo confuso e amedrontado. Alguns dias depois, estácorrendo no Labirinto com os Verdugos, agindo como se fosse o dono dopedaço.

Thomasencolheu-senacadeira,esperandoqueosoutrosnãopensassememnadaparecido.Gallycontinuouasualadainha.

-Achoquefoitudoumaencenação.Comoelepoderiafazeroquefezládepoisdeapenasalgunsdias?Nãodápraengolirisso.

-Oqueestá tentandodizer,Gally?- indagouNewt. -Que talesclarecerlogoasuamalditaopinião?

-Achoqueeleéumespiãodaspessoasquenospuseramaqui.

Outrofalatóriotomoucontadasala;Thomasnãopôdefazeroutracoisaanãoserabanaracabeça:nãoconseguiaentendercomoGallypodiavircomumaideiadaquelas.Newtfinalmenteacalmouatodosdenovo,masGallynãotinhaterminado.

-Nãopodemosconfiarnesse trolho-continuouele. -Umdiadepoisdeeleaparecer,veioatalgarotalunática,comaquelaladainhadequeascoisasmudariam, acenando comaquele bilhetemaluco.Encontramos umVerdugomorto. Thomas convenientemente fica no Labirinto durante a noite, depoistenta convencer a todos que é umherói.Bem, nemoMinhonemninguémmaisviuelefazeralgumacoisanastrepadeiras.ComovamossaberquefoioFedelhoqueamarrouAlbyláemcima?

Gallyfezumapausa;ninguémdisseumapalavraporváriossegundos,eopânicosurgiunopeitodeThomas.SeráqueelesacreditariammesmonoqueGally estava dizendo? Estava ansioso para se defender e quase rompeu osilênciopela primeira vez,mas, antes quepudessepronunciar umapalavra,Gallytinhavoltadoafalar.

-Muitascoisasestranhasestãoacontecendo,etudocomeçouquandoesseFedelho cara de mértila apareceu. E por acaso ele é a primeira pessoa a

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sobreviverumanoitenoLabirinto.Temalgumacoisaerradae,atéqueagentedescubra, recomendo oficialmente que ele fique apodrecendo noAmansador…porummês.Depoisfaremosumanovaavaliação.

Mais discussões brotaram, e Newt escreveu alguma coisa no bloco,abanandoacabeçaotempotodo,oquedeuaThomasumfiapodeesperança.

-Terminou,ComandanteGally-indagouNewt.

- Vê se para de dar uma de espertinho, Newt - desferiu ele, o rostovermelho. -Estou falandomuito sério.Comopodemos confiar nesse trolhodepoisdemenosdeuma semana?Pelomenospensenoqueestoudizendo,antesdeficarmetirando.

Pela primeira vez, Thomas sentiu um pouco de empatia por Gally. Eletinha uma opinião sobre comoNewt o tratava. Gally era um Encarregado,afinaldecontas.“Masaindaoodeio”,pensou.

-Ótimo,Gally-falouNewt.-Medesculpe.Ouvimosoquedisseevamostodosconsiderarasuamalditarecomendação.Acabou?

-Sim,acabei.Eestoucerto.

ComofimdafaladeGally,NewtapontouentãoparaMinho.

-Váemfrente.Oúltimo,masnãomenosimportante.

Thomasalegrou-seporseravezdeMinho.Comcertezaeleodefenderiaaté o fim. Minho levantou-se rapidamente, pegando todo mundodesprevenido.

-Euestavalá.Euvioqueessecarafez…elepermaneceuforteenquantoeu me transformei num covarde choramingão. Não vou ficar de conversamolequenemoGally.Querodaraminharecomendaçãoepontofinal.

Thomasprendeuarespiração,imaginandooqueeleiriadizer.

-Bomisso-falouNewt.-Fale,então.

MinhoolhouparaThomas.

- Eu indico esse trolho para me substituir como Encarregado dos

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Corredores.

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Umsilênciototalencheuasala,comoseomundotivessesidocongelado.Todos os membros do Conselho olhavam para Minho. Em sua cadeira,Thomas ficou atordoado, esperando que o Corredor dissesse que estavabrincando.

Gallyquebrouoencantamento,pondo-sedepé.

- Isso é ridículo! -OlhouparaNewt e depois apontouparaMinho, quevoltaraasentar-se.-EledeveriaserexpulsodoConselhopordizerumacoisatãoidiota.

Qualquer piedade que Thomas tivesse sentido por Gally, ainda queremota,desvaneceu-seporcompletodiantedaquelaafirmação.

Alguns Encarregados pareceram concordar com a recomendação deMinho -comoCaçarola,queaplaudiu tentandoabafaraspalavrasdeGally,pedindo para votar. Outros não.Winston abanou a cabeça inflexivelmente,dizendo alguma coisa que Thomas não conseguiu entender direito.Quandotodoscomeçaramafalaraumsótempo,Thomaspôsacabeçaentreasmãosem expectativa, ao mesmo tempo aterrorizado e admirado. Por queMinhodissera aquilo? “Deve ser uma brincadeira”, pensou. “Newt disse que erapreciso uma eternidade só para se tornar um Corredor, quanto mais oEncarregado.”Voltouaolharparaasala,desejandoestaraquilômetrosdali.

Por fim,Newt largou o bloco onde fazia as anotações e encaminhou-separa fora do semicírculo, ordenando aos gritos que todos calassem a boca.Thomas observou que a princípio ninguém parecia ter ouvido ou mesmonotado.Aospoucos,porém,aordemfoirestauradaetodossesentaram.

-Mértila-falouNewt.-Nuncavitantostrolhosagindocomobebezinhos.Pode não parecer, mas por aqui somos adultos. Ajam como tal, ou vamosacabarcomesteConselhoecomeçartudodaestacazero.-Caminhoudeumaextremidade à outra da fileira curva formada pelos Encarregados sentados,

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olhandocadaumdelesnosolhosenquantofalava.-Estamosentendidos?

Osilêncioseabaterasobreogrupo.Thomasesperoumaisexplosões,masficou surpreso quando todos inclinaram a cabeça concordando, até mesmoGally.

-Bomisso.-Newtvoltouparaasuacadeiraesentou-se,pondoobloconocolo.Depoisderabiscaralgumaslinhas,olhouparaMinho.

- Esta porcaria é muito séria, cara. Sinto muito, mas você precisaargumentarmelhorparairadiantecomasuaproposta.

Thomasnãopodianegarquantoestavaansiosoparaouviraresposta.

Minhopareciaexausto,mascomeçouadefenderasuaideia.

-É fácil demaisparavocês, seus trolhos, ficar sentados aqui discutindosobre uma coisa de que não entendem nada. Sou o único Corredor destegrupo,eoúnicoaquialémdemimquejáesteveláfora,noLabirinto,éNewt.

Gallyexclamou:

-Nãosevocêcontarotempoqueeu…

-Não conto! -Minho gritou. - E acredite emmim: você nem ninguémmais faz a menor ideia de como é estar lá. Você só foi picado porquedesrespeitouamesmaregrapelaqualestáacusandoThomas.Issosechamahipocrisia,seucarademértilacheiode…

-Chega-falouNewt.-Defendaasuapropostaeatenha-seaela.

A tensão era visível; Thomas sentia como se o ar da sala tivesse setornadoumvidro,passíveldequebrar-seaqualquermomento.GallyeMinhoencaravam-se como se a pele esticada e vermelha do rosto deles estivesseprestesarasgar-masfinalmentedesviaramoolhar.

-Sejacomofor,ouçamoquetenhoadizer-continuouMinhodepoisdesentar-se. - Em toda a vida, nunca vi nada parecido com aquilo. Ele nãoentrouempânico.Nãosequeixounemchorou,nuncapareceutermedo.Cara,e ele está aqui só há uns poucos dias. Pensem em como todos éramos nocomeço. Enfurnados pelos cantos, desorientados, chorando toda hora,

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desconfiando de todo mundo, recusando-se a fazer qualquer coisa. Todosfomosassim,durantesemanasoumeses,aténãotermosoutraescolhasenãoencararabarraeviver.

Minhotornoualevantar-se,apontandoparaThomas.

-Apenasalgunsdiasdepoisdeestecaraaparecer,elesaiparaoLabirintopara salvar dois trolhos que mal conhecia. Todo esse plong sobre eledesrespeitarumaregraépra láde idiota.Elenemconheciaas regrasainda.Mas quase todo mundo tinha falado para ele como é estar no Labirinto,especialmenteànoite.Emesmoassimelefoilá,justoquandoaPortaestavafechando, preocupado apenas comduaspessoasqueprecisavamde ajuda. -Elerespiroufundo,parecendoganharforçasàmedidaquefalava.-Masissofoiapenasocomeço.Depois,elemeviudesistirdeAlby,abandonando-oparamorrer. E eu era o veterano… aquele que tem toda a experiência e oconhecimento. Então, quando Thomas me viu desistir, ele não deveria terquestionado isso.Mas questionou. Pensem na determinação e na força queprecisou para empurrar Alby para cima naquele muro, centímetro porcentímetro.Éumadoidice.É amaior piração.Masnão foi só isso.Depoisvieram os Verdugos. Eu disse para Thomas que devíamos nos separar ecomeceiapôrempráticaasmanobrasevasivas,correndodeacordocomospadrões. Thomas assumiu o controle, quando deveria estar mijando nascalças, e desafiou todas as leis da física e da gravidade para levantarAlbynaquelemuro,distraiuaatençãodosVerdugosfazendo-osirparalongedali,derrotouumdeles,encontrou…

-Jásacamos-bradouGally.-OTommyéumtrolhosortudo.

Minhovirounadireçãodele.

-Não,seumértila inútil,vocênãoentendeu,não!Euestouaquihádoisanosenuncavinadaparecido.Paravocêdizeralgumacoisa…

Minho fez uma pausa, esfregando os olhos, gemendo de frustração.Thomaspercebeuqueatéeleficaradebocaaberta.Assuasemoçõesestavamdispersas:simpatiapelofatodeMinhoenfrentartodomundoemsuadefesa,descrença ante a agressividade persistente deGally, temor por qual seria a

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decisãofinal.

-Gally-disseMinhoemvozmaiscalma-,vocênãopassadeummaricasquenunca,nemumavez,pediuparaserumCorredorouparatentarser.Vocênãotemodireitodefalarsobrecoisasquenãocompreende.Entãocaleasuaboca.

Gallylevantou-seoutravez,furioso.

- Fale mais uma dessas e vou quebrar o seu pescoço, aqui mesmo nafrentedetodomundo.-Elerespingavasalivapelabocaenquantofalava.

Minho deu uma risada, depois levantou a palma damão e empurrou orosto de Gally. Thomas meio que se levantou quando viu o rapaz serarremessado de volta à cadeira, inclinando-a com violência para trás erompendo-aemdoispedaços.Gallyesborrachou-senochão,depois fezumesforço para se levantar, apoiando-se com dificuldade nasmãos e nos pés.Minho aproximou-se dele e atingiu as costas de Gally com a sola do pé,obrigando-oaestatelar-senochão.

Thomasafundou-senacadeira,atordoado.

-Eujuro,Gally-disseMinhocomumsorrisodeescárnio.-Nuncamaisousemeameaçar.Nemmesmofalecomigodenovo.Nunca.Senão,quemvaiquebraroseupescoçodemértilasoueu,logodepoisdefazeromesmocomosseusbraçosepernas.

Newt e Winston estavam de pé, segurando Minho antes que Thomassequer conseguisse entender o que estava se passando. Eles afastaram oCorredordeGally,queselevantaradeumsalto,orostotransformadonumamáscara contorcida de raiva. Mas Gally não fez nenhum movimento nadireção de Minho; simplesmente ficou ali parado com o peito arfando,respirandocomdificuldade.

Finalmente, Gally recuou, dirigindo-se meio cambaleante para a saídaatrás dele. Varreu a sala com os olhos raivosos, incendiados de ódioinflamado.Thomas teveopensamentodoentiodequeGallyparecia-secomalguémprestesacometerumassassinato.Elerecuouparaaporta,estendeua

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mãoatrásdesieagarrouamaçaneta.

-Ascoisasnãoserãoasmesmasapartirdeagora-disseele,cuspindonochão.-Nãodeviaterfeitoisso,Minho.Nãodeviaterfeitoisso.-Seuolharmaníacovoltou-separaNewt.-Seiquevocêmeodeia,quesempremeodiou.Você deveria ser Banido pela sua incapacidade vergonhosa de liderar estegrupo.Vocêépatético,etodososquecontinuaremaquinãosãomelhores.Ascoisasvãomudar.Issoeuprometo.

O coração deThomas se apertou.Como se as coisas já não estivessemestranhasobastante.

Gallyescancarouaportacomviolênciaesaiuparaosaguão,mas,antesquealguémpudessereagir,enfiouacabeçadevoltanasala.

-Equantoavocê-ameaçou,fuzilandoThomascomoolhar-,oNovatoquepensaqueéummalditoDeus.Nãoseesqueçadequejáoviantes…eupassei pela Transformação. O que esses caras decidirem aqui não valechongasnenhuma.

Fez uma pausa, olhando para cada pessoa na sala. Quando o seu olharmalignopousousobreThomas,eleselembroudedizerumaúltimacoisa.

-Sejaparaoqueforqueveioaqui,juropelaminhavidaquevouimpedir.Matovocêseprecisofor.

Entãovirou-seesaiudasala,batendoaportaatrásdesi.

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Thomas permaneceu imóvel na cadeira, um enjoo avolumando-se noestômagocomoumainfestação.Tinhapassadoportodaaescaladeemoçõesno curto período de tempo desde que chegara à Clareira. Medo, solidão,desespero, tristeza,atémesmoumligeirosentimentodealegria.Masaquiloeraalgonovo-ouvirumapessoadizerqueoodiavaobastanteparaquerermatá-lo.

“Gally está louco”, disse para simesmo. “Está completamente insano.”Mas o pensamento só aumentou as suas preocupações. As pessoas insanaspodiamsercapazesdequalquercoisa.

Os membros do Conselho estavam em pé ou sentados em silêncio,aparentemente tão chocados quanto Thomas diante do que acabavam detestemunhar. Newt e Winston finalmente soltaram Minho; os trêsencaminharam-se para os seus lugares e sentaram-se, contendo o seudesagrado.

- Até que enfim ele recebeu o que merecia - disseMinho, quase numsussurro.

Thomas não saberia dizer se Minho, ao falar, tivera a intenção de serouvidopelosoutros.

- Bem, ninguém nesta sala é santinho - falou Newt. - O que estãopensando?Acoisafoiumpoucoalémdoslimites,nãoacham?

Minho contraiu os olhos e atirou a cabeça para trás, como se fosseatingidoemcheiopelaperguntadeNewt.

- Não me culpe por esse lixo. Cada um de vocês adoraria ver aquelecabeçãoreceberoquemerece,esabemmuitobemdisso.Erasóumaquestãodetempoalguémenfrentaraqueletrolho.

-EleestánoConselhoporalgumarazão-argumentouNewt.

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-Meu,eleameaçouquebraromeupescoçoemataroThomas!Ocaraéumdoenteeachomelhorvocêsmandaremalguémagoramesmoatirá-lonoAmansador.Eleéperigoso.

Thomasnãopoderiaestarmaisdeacordoedenovoquasedesrespeitouaordem para permanecer calado, mas controlou-se. Não queria criar maisproblemas do que já tinha - mas não sabia por quanto tempo mais iriaaguentar.

- Quem sabe ele tenha uma boa razão - falouWinston, em voz muitobaixa.

- Qual? - indagou Minho, espelhando exatamente os pensamentos deThomas.

Winstonpareceusurpresoaoreconhecerquedisseraalgumacoisa.Correurapidamenteosolhospelasalaantesdeseexplicar.

-Bem…elepassoupelaTransformação…UmVerdugoopicouduranteodia perto daPortaOeste. Isso significa que ele tem lembranças, e ele dissequeoFedelholheparecefamiliar.Porqueinventariaisso?

ThomaspensousobreaTransformaçãoeofatodequetrazialembranças.Aideianãolheocorreraantes,masvaleriaapenaserpicadopelosVerdugos,passar por aquele processo horrível, só para se lembrar de alguma coisa?ImaginouBen se debatendona cama e lembrou-se dos gritos deAlby. “Dejeitonenhum”,pensou.

- Winston, você viu realmente o que aconteceu? - indagou Caçarola,parecendo incrédulo. - Gally está maluco. Não se pode acreditar em nadadaquela completa maluquice. E aí, você acha que o Thomas aqui é umVerdugodisfarçado?

Regras do Conselho ou não, para Thomas já era demais. Não poderiapermaneceremsilêncionemmaisumsegundo.

-Possodizeralgumacoisaagora?-perguntou,afrustraçãoaumentandoovolumedasuavoz.-Estoucansadodevervocêsfalandoameurespeitocomoseeunãoestivesseaqui.

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Newtrelanceouoolharnadireçãodeleeinclinouacabeçaconcordando.

-Váemfrente.Estamalditareuniãonãopoderiasermaiszoneada.

Thomas rapidamente organizou os seus pensamentos, procurando aspalavrascertasdentrodanuvemrodopiantedefrustração,confusãoeraivanasuamente.

-NãoseiporqueoGallymeodeia.Nãomeimporta.Eleparecemalucoparamim.Quantoaquemeurealmentesou,vocêstodossabemtantoquantoeu.Mas,semelembrocorretamente,estamosaquiporcausadoqueeufizlánoLabirinto,nãoporqueumidiotaachaquesouumdemônio.

Alguém deu uma risadinha, e Thomas parou de falar, esperando terexpressadooquesentia.

Newtconcordou,parecendosatisfeito.

-Bomisso.VamosacabardeumavezcomestareuniãoenospreocuparcomGallydepois.

-Nãopodemosvotarsemapresençadetodososmembrosaqui-insistiuWinston.-Amenosqueestejamdoentes,comoAlby.

-Façaofavor,Winston-replicouNewt.-EudiriaqueoGallytambémestápraládedoentehoje,entãovamoscontinuarsemele.Thomas,defenda-seedepoisvamosvotarnoquedevemosfazercomvocê.

Thomas percebeu que estava com os punhos cerrados sobre as pernas.Relaxou-aseenxugouaspatinasúmidasnascalças.Depoiscomeçou,semtercertezadoquediriaantesdeaspalavrassaírem.

- Não fiz nada de errado. Só sei que vi duas pessoas fazendo omaioresforçopara conseguir entrarpelosmuros enãoconseguir. Ignorar issoporcausa de uma regra estúpida me pareceu egoísmo, covardia e… bem,estupidez.Sequiseremmeatirarnaprisãoportentarsalvaravidadealguém,vão em frente. Da próxima vez, prometo que vou apontar para eles e darrisada,depoisircomeralgumacoisanacozinhadoCaçarola.

Thomas não estava querendo ser engraçado. Só não conseguia acreditar

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quetudoaquilopudessesermesmoumproblema.

-Aminharecomendaçãoéaseguinte-falouNewt.-Vocêdesrespeitouanossa maldita Regra Número Um, portanto deve passar um dia noAmansador.Essa é a sua punição.Também recomendo elegermos você umCorredor, passando a vigorar assim que esta reunião acabar. Você mostroumaisemumanoitedoqueamaioriadosaprendizesemsemanas.QuantoavocêserumadrogadeEncarregado,podeesquecer.-EleolhouparaMinho.-Gallyestavacertoquantoaisso…éumaideiaidiota.

OcomentárioferiuossentimentosdeThomas,muitoemboranãopudessediscordar.OlhouparaMinhoesperandoareaçãodele.

OEncarregadonãopareceusurpreso,masquestionoudomesmojeito.

-Porquê?Eleéomelhorquenóstemos…eujuro.OmelhordeveseroEncarregado.

-Ótimo-respondeuNewt.-Seforverdade,faremosatrocadepois.Dê-lheummêsparaverseeledánocouro.

Minhodeudeombros.

-Bomisso.

Thomassuspiroubaixinhoaliviado.AindaqueriaserumCorredor-oqueo surpreendia, considerando a experiência pela qual acabara de passar noLabirinto-,mastornar-seoEncarregadodeimediatopareciaridículo.

Newtrelanceouoolharpelasala.

- Muito bem, temos várias recomendações, então vamos discutir cadauma…

-Ah,semessa-falouCaçarola.-Vamosvotar.Euvotonasua.

-Eutambém-disseMinho.

Todososdemaisimitaramaaprovaçãodeles,enchendoThomasdealívioedeumsentimentodeorgulho.Winstonfoioúnicoadizernão.

Newtolhouparaele.

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-Nãoprecisamosdoseuvoto,masdigaparaagenteoqueestáfundindoasuacuca.

WinstonolhouparaThomasatentamente,depoisvoltou-separaNewt.

-Paramimestátudobem,masnãodeveríamosignorartotalmenteoqueGallyfalou.Temalgumacoisaaí…nãoachoqueelesimplesmenteinventou.EéverdadequedesdequeoThomaschegouaqui,tudotemsidomertilentoezoneado.

- Muito certo - falou Newt. - Todo mundo pensa nisso… quem sabequando estivermos a fim e sem mais nada para fazer podemos ter outroConclaveparadiscutiroassunto.Bomisso?

Winstonconcordou.

Thomasgemeuaopercebercomosetornarainvisível.

-Adoroamaneiracomovocês falamdemimcomoseeunãoestivesseaqui.

-Olhe,Tommy- falouNewt. -AcabamosdeelegervocêumadrogadeumCorredor.Parecomessachoradeiraedêoforadaqui.OMinhotemummontedecoisasparaensinaravocênotreinamento.

Thomas ainda não se dera conta disso até o momento. Seria agora umCorredor, ia explorar o Labirinto. Apesar de tudo, sentiu um calafrio deempolgação; tinha certeza de que evitaria ficar preso lá à noite de novo.Quemsabeaqueleforaoprimeiroeúnicogolpedemásorte.

-Equantoàminhapunição?

-Amanhã-respondeuNewt.-Dodespertaraopôrdosol.

“Umdia”,pensouThomas.“Nãodevesertãoruim.”

Areuniãofoiencerradaetodos,anãoserNewteMinho,saíramdasalaapressados.Newtnãosemoveradacadeira,ondeficarafazendoanotações.

-Bem,essafoiboa-murmurouele.

Minhoaproximou-seedeuummurrodebrincadeiranobraçodeThomas.

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-Foitudoculpadessetrolho.

Thomasrevidouomurrobrincalhão.

-Encarregado?VocêquerqueeusejaoEncarregado?VocêcomcertezaestábemmaismalucodoqueoGally.

Minhofingiuumsorrisomaligno.

-Funcionou,hein?Mirealto,acerteembaixo.Meagradeçamaistarde.

ThomasnãopôdedeixardesorriranteaespertezadoEncarregado.Umabatidanaportaabertachamouasuaatenção-elesevoltouparaverquemera.Chuckestava lá, parecendo ter acabadode serperseguidoporumVerdugo.Thomassentiuosorrisoapagar-sedoseurosto.

-Qualéoproblema?-quissaberNewt,levantando-se.OseutomdevozsóaumentouapreocupaçãodeThomas.

Chuckretorciaasmãos.

-OsSocorristasmemandaramaqui.

-Porquê?

-AchoqueAlbyestásedebatendoeagindocomoumlouco,dizendoqueprecisafalarcomalguém.

Newtcorreuparaaporta,masChucklevantouamão.

-Hum…nãoévocêqueelequerver.

-Oqueestádizendo?

ChuckapontouparaThomas.

-Elenãoparadechamarporele.

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elasegundaveznaqueledia,Thomasficouemsilêncio,chocado.

-Bem,venha-falouNewtparaThomasenquantoopuxavapelobraço.-Demaneiranenhumavoudeixardeircomvocê.

Thomasoacompanhou,comChucklogoatrás,enquantosaíamdasaladoConselho e desciam para o saguão na direção de uma escada estreita e emespiralqueelenãohavianotadoantes.Newtpisounoprimeirodegrau,depoisdeuumolhargeladoparaChuck.

-Vocêfica.

Nahora,Chuck inclinouacabeçaconcordandosemnadadizer.ThomasimaginouquealgumacoisanocomportamentodeAlbydeixaraogarotocomosnervosàflordapele.

-Anime-se-ThomasfalouparaChuckassimqueNewtcomeçouasubirpelaescada.-ElesacabaramdemeelegerumCorredor,portantovocêagoraéocolegadeumcampeãodecorridas.-Eletentavafazerumapiada,fingindoquenãoestavaaterrorizadoporirseencontrarcomAlby.EseelelhefizesseacusaçõescomoasqueBentinhafeito?Oualgumacoisapior?

- Ah, é, certo - Chuck sussurrou, olhando para os degraus de madeiracomoseestivesseemtranse.

Dando de ombros, Thomas começou a subir a escada. Sentia as mãosmolhadasdesuoreumadorzinhalatejantenastêmporas.Elenãoqueriasubirali.

Newt, todosérioesolene,esperavaporThomasnotopodaescada.Elesestavamnaextremidadedeumcorredorcompridoeescuro,nadireçãoopostaà da escada usual, aquela pela qualThomas subira no primeiro dia emquevira Ben. A lembrança lhe deu náuseas; desejava que Alby estivessetotalmente curado daquele mal para que não precisasse testemunhar algoparecidodenovo-apelenojenta,asveias,ainquietação.Masesperoupelo

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pioreprocurousepreparar.

AcompanhouNewtaté a segundaporta àdireita eobservouenquantoorapazmaisvelhobatiademansinho;ouviu-seumgemidoemresposta.Newtempurrou a porta, o ligeiro rangido fazendoThomas ter de novoumavagarecordação da infância sobre filmes de casas assombradas. Uma vez maisacontecia-ummínimolampejodopassado.Conseguialembrar-sedefilmes,mas não do rosto dos atores ou de com quem assistira a eles. Conseguialembrar-se dos cinemas,mas não da aparência específica de um deles. Eraimpossívelexplicarasensação,atéparasimesmo.

NewtentraranoquartoefaziasinalparaThomasoacompanhar.Quandoeleentrou,preparou-separaohorrorquepoderiaesperar.Masquandoergueuosolhos,tudooqueviufoiumadolescenteparecendomuitofraconacama,deolhosfechados.

- Ele está dormindo? - sussurrou Thomas, tentando evitar a verdadeiraperguntaquesaltaraemsuamente:“Elenãoestámorto,está?”

- Eu não sei - respondeu Newt em voz baixa. Avançou pelo quarto esentou-seemumacadeirademadeiraaoladodacama.Thomassentou-seemoutra,emfrente.

-Alby-Newtsussurrou.Depois,emvozmaisalta:-Alby.OChuckdissequevocêqueriafalarcomoTommy.

OsolhosdeAlbyescancararam-sede repente - osglobos avermelhadosreluzindosobaluz.EleolhouparaNewt,depoisnadireçãodeThomas.Comumgemido,remexeu-senacamaesentou-se,ascostasapoiadasnacabeceira.

-É…-murmurou,numgemidoroufenho.

-OChuck disse que você estava se debatendo, agindo como umdoidovarrido. - Newt inclinou-se para a frente. - Qual é o problema? Você estámuitomal?

As palavras seguintes deAlby saíram comoum lamento, como se cadaumadelasfossetomarumasemanadasuavida.

-Tudo…vaimudar…Agarota…Thomas…Euosvi…-Aspálpebras

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fecharam-se trêmulas, depois se abriram de novo; ele abandonou o corpoestiradosobreacama,olhandofixamenteparao teto. -Nãomesintomuitobem.

-Oquequerdizer,vocêviu…-Newtcomeçou.

-EuchameioThomas-gritouAlby,comumaexplosãosúbitadeenergiaqueThomasteriaconsideradoimpossívelinstantesatrás.-Nãochameivocê,Newt!Thomas!EuchameiomalditoThomas!

Newt olhou para cima, questionando Thomas com um arquear dassobrancelhas.Thomasencolheuosombros,sentindo-secadavezpior.OqueseráqueAlbyqueriacomele?

-Ótimo,seurabugentodemértila-falouNewt.-Eleestábemaqui…falecomele.

-Saia-falouAlby,osolhosfechados,arespiraçãopesada.

-Dejeitonenhum…queroescutar.

-Newt.-Umapausa.-Saia.Agora.

Thomas sentiu-se incrivelmente desconcertado, preocupado com o queNewtestavapensandoetemendooqueAlbyquerialhedizer.

-Mas…-Newtprotestou.

-Fora!-Albysentou-seenquantogritava,avozfalhandocomoesforço.Eleselargoudevoltaàcabeceiradacamaoutravez.-Caifora!

OrostodeNewtseencolheunumadorevidente-Thomassurpreendeu-sedeverquenãohaviaraivanele.Então,depoisdeuminstantelongoetenso,Newt levantou-se da cadeira e caminhoupara a porta, abrindo-a. “Será queelevaimesmosair?”,Thomaspensou.

-Nãoesperequeeulambaosseuspésquandovierpedirdesculpas-disseele,saindoparaocorredor.

-Fecheaporta!-gritouAlby,numinsultofinal.Newtobedeceu,batendo-acomforça.

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OsbatimentoscardíacosdeThomasseaceleraram-estavasozinhoagoracomumcaraquejáerairritadiçoacatesdeseratacadoporumVerdugoedeterpassadopelaTransformação.EsperavaqueAlbydissesseoquequeriaeacabasselogocomaquilo.Umalongapausaestendeu-seporváriosminutos,easmãosdeThomastremiamdemedo.

-Seiquemvocêé-disseAlby,rompendoosilêncio.

Thomas não conseguia encontrar palavras para responder. Tentou; nãoveio nada além de ummurmúrio incoerente. Estava totalmente confuso. Ecommedo.

-Seiquemvocêé - repetiuAlby lentamente. -Euvi.Vi tudo.Deondeviemos,quemvocêé.Queméagarota.EumelembrodoFulgor.

-Fulgor?-Thomasforçou-seafalar.-Nãoseidoquevocêestáfalando.Oquevocêviu?Adorariasaberquemeusou.

-Nãoénadabom-Albyrespondeu,e,pelaprimeiravezdesdequeNewtsaíra,Albyolhouparacima,diretoparaThomas.Seusolhoseramdoispoçosde sofrimento, abismo, escuridão. - É horrível, pode crer. Por que aquelesmértilas querem que a gente lembre? Por que não podemos simplesmenteviveraquieserfelizes?

-Alby…-Thomasgostariadedarumaespiadanamentedorapaz,veroqueeletinhavisto.-ATransformação-pressionou-,oqueaconteceu?Oquevocêlembrou?Vocênãoestásendoclaro.

-Você…-Albycomeçou,depois,derepente,segurouaprópriagarganta,produzindo sons gorgolejantes entrecortados.As pernas dele se agitaram, evirou de lado, debatendo-se como se outra pessoa estivesse ali tentandoestrangulá-lo.Alínguaprojetou-separaforadaboca;eleamordeuinúmerasvezes.

Thomas levantou-se depressa, recuou um passo, horrorizado. Alby sedebatiacomoseestivessetendoumataque,aspernasseagitandoemtodasasdireções. A pele escura do seu rosto, que apenas um minuto antes estavaestranhamente pálida, tornara-se vermelha, os olhos rolavam tão rápido nas

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órbitasquepareciamdemármorebrancoreluzente.

-Alby!-Thomasgritou,semcoragemdeestenderamãoparadetê-lo.-Newt!-gritou,fechandoasmãosaoredordaboca.-Newt,venhacá!

Aportaabriu-sedechofreantesqueeletivesseterminadoaúltimafrase.NewtcorreuatéAlbyeagarrou-opelosombros,fazendopressãocomocorpotodoparaprendernacamaorapazemconvulsão.

-Segureaspernasdele!

Thomas adiantou-se, mas as pernas de Alby chutaram e escaparam,tornandoimpossívelasuaaproximação.OpédeleatingiuThomasnoqueixo;umrasgodedoratravessouasuacabeça.Elerecuoucambaleante,esfregandoopontodolorido.

-Façaoquemandei,droga!-gritouNewt.

Thomasconcentrou-se,depoissaltousobreocorpodeAlby,agarrandoasduaspernas e prendendo-as de encontro à cama.Passouos braços ao redordascoxasdorapazeapertouenquantoNewtpunhaumjoelhosobreumdosombros de Alby, depois agarrou asmãos dele, ainda fechadas ao redor doprópriopescoçoemumapertosufocante.

-Solte!-Newtgritavaenquantopuxava.-Vocêestásematando,droga!

Thomas via os músculos dos braços de Newt flexionados, as veiassaltadas enquanto ele puxava as mãos de Alby, até que, finalmente,centímetro por centímetro, conseguiu despregá-las. Empurrou-as com forçacontra o peito ofegante do rapaz.O corpo inteiro deAlby estremeceumaisumas duas vezes, parte dele projetada para fora da cama. Em seguida,vagarosamente, acalmou-se, e alguns segundos depois se aquietou, arespiraçãomaiscalma,osolhosvidrados.

Thomas segurava as pernas de Alby com firmeza, temendomexer-se edeixarorapazescapardenovo.NewtesperouumminutointeiroantesdeirsoltandoasmãosdeAlbydevagar.Entãooutrominutoantesdetirarojoelhoeendireitar-se.Thomasentendeuadeixaparafazeromesmo,esperandoqueoacessotivesseterminadodeverdade.

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Albyolhouparacima,osolhoscansados,comoseestivesseprestesacairnumsonoprofundo.

- Me desculpe, Newt - ele sussurrou. - Não sei o que aconteceu. Foicomo…algoestavacontrolandoomeucorpo.Medesculpe…

Thomasrespiroufundo,certodequenuncapassariaporumasituaçãotãoperturbadoraedesagradáveldenovo.Eraoqueesperava.

-Quedesculpaoquê!-replicouNewt.-Vocêestavatentandosematar.

-Nãoeraeu,juro-Albymurmurou.

Newtatirouasmãosparaoalto.

-Oquequerdizercomnãoeravocê?-perguntou.

-Nãosei…Não…nãoeraeu.-AlbypareciatãoconfusoquantoThomasestavasesentindo.

No entanto, Newt parecia pensar que não valia a pena descobrir. Pelomenos nomomento. Pegouos lençóis que haviamcaído para fora da camacomosmovimentosdeAlbyearrumou-osporcimadorapazdoente.

-Vádormireconversaremossobreissomaistarde.-Deu-lheumtapinhanacabeça,depoisacrescentou:-Vocêestáumlixo,seutrolho.

MasAlbynãodormiraainda, inclinandoacabeçaligeiramenteenquantofechavaosolhos.

NewtconseguiuatrairoolharperdidodeThomaseapontouparaaporta.Thomas não teve o menor problema em sair daquela casa maluca -acompanhouNewt para fora e até o saguão. Então, assim que chegaram àporta,Albymurmuroualgumacoisanacama.

Osdoisrapazespararamnahora.

-Oquê?-Newtindagou.

Albyabriuosolhosporummomentobreve,depoisrepetiuoquedissera,emvozumpoucomaisalta:

-Cuidadocomagarota.

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Entãofechouosolhos.

Denovo-agarota.Dealgumaformaascoisassemprelevavamdevoltaàgarota. Newt dirigiu um olhar interrogativo para Thomas, mas este só lherespondeu com um encolher de ombros. Não fazia a menor ideia do queestavaacontecendo.

-Vamos-Newtsussurrou.

-Newt?-Albychamoudenovodacama,semseincomodaremabrirosolhos.

-Oqueé?

- Proteja osMapas. - Alby rolou para o lado, dando as costas a eles erevelando,assim,quefinalmenteterminaraasuafala.

Thomasachouqueaquilonãopareciamuitobom.Deverdade.EleeNewtsaíramdoquartoefecharamaportasemfazerruído.

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Thomas seguiuNewt enquanto ele descia a escada apressado e saía daSedesobosolbrilhantedomeiodatarde.Durantealgumtempo,nenhumdosdois disse uma palavra. Para Thomas, as coisas pareciam piorar cada vezmais.

-Estácomfome,Tommy?-Newtindagouassimquesaíram.

Thomasnãoconseguiuacreditarnapergunta.

- Fome?Estou pronto para vomitar depois do que acabei de ver…não,comfomeeunãoestou.

Newtapenasdeuumarisadinhairônica.

-Bem,euestou,seutrolho.Vamosversesobroualgumacoisadoalmoço.Precisamosconversar.

- Acho que sabia que você diria algo assim. - Não importava o quefizesse, Thomas estava ficando cada vez mais enrolado nos assuntos daClareira.Etinhaasensaçãoqueissoiaacontecercadavezmais.

Eles foram direto para a cozinha, onde, apesar dos resmungos deCaçarola, conseguiram sanduíches de queijo com legumes frescos. Thomasnão conseguiu ignorar o modo como o Encarregado dos cozinheiros lhelançava olhares estranhos, desviando o olhar sempre que seus olhosencontravamosdele.

Algumacoisalhediziaqueaqueletipodetratamentoserianormalapartirdali. Por alguma razão, ele era diferente de todos os demais na Clareira.Sentia-se como se tivesse vivido toda uma vida desde que acordara com aperdadememória,massóestavaalifaziaumasemana.

Os dois decidiram levar os seus lanches para comer do lado de fora, epoucos minutos depois encontravam-se no muro oeste, encostados em umponto de hera espessa, observando as diversas atividades que eram

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desenvolvidasnaClareira.Thomasforçou-seacomer;dojeitoqueascoisasestavamindo,eleprecisavaangariarforçasparalidarcomtudodeinsanoqueaparecessenoseucaminhodalipordiante.

- Já viu aquilo acontecer antes? - Thomas indagou depois de mais oumenosumminuto.

Newtoencarou,orostoderepentesombrio.

-OqueAlbyacaboude fazer?Não.Nunca.Ninguémnunca tentounosdizer o que lembrava durante a Transformação. Eles sempre se recusaram.Albytentou…vaiverquefoiporissoquepirouderepente.

Thomas fez uma pausa namastigação. Será que as pessoas por trás doLabirintooscontrolavamdealgumaforma?Eraumpensamentoaterrorizante.

-PrecisamosencontraroGally-disseNewtemmeioaumamordidaemuma cenoura, mudando de assunto. - O safado saiu para se esconder emalgumlugar.Assimqueacabarmosdecomer,precisoencontrá-loeatirá-lonacadeia.

-Sério?-Thomasnãopôdedeixardesentirumadescargadepuraalegriacomaquelepensamento.Ficariacontentedeelemesmofecharaportaejogarachavefora.

-Aquele trolho ameaçoumatar você e precisamos nos certificar de queissonuncaaconteçadenovo.Ocarademértilavaipagarcaroporteragidodaquelejeito…Temsortepornãopensarmosembani-lo.Lembre-sedoquelhefaleisobreaordem.

- É, eu sei. - A única preocupação de Thomas era que Gally apenas oodiariaaindamaisporserpostonaprisão.“Não importa”,pensou.“Aquelecaranãomeassustamais.”

-Acoisavaifuncionarassim,Tommy-falouNewt.-Vocêvaipassaroresto do dia comigo… precisamos entender uma coisas. Amanhã, oAmansador.Depois, vocêvai ficar comoMinho, e queroque semantenhalongedosoutrostrolhosporumtempo.Entendeu?

Thomas estavamais do que feliz em obedecer. Passar amaior parte do

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temposozinhopareciaumaótimaideia.

-Beleza.EntãooMinhovaimetreinar?

- É isso aí… agora você é umCorredor.OMinho vai ensinar você.OLabirinto, osMapas, tudo. Temmuita coisa para aprender. Espero que nãofaçacorpomole.

Thomas ficou chocado ao perceber que a ideia de entrar de novo noLabirintojánãooassustavatanto.EleresolveufazerexatamenteoqueNewtdizia,esperandoqueissooajudasseaseconcentrar.Nofundo,esperavasairdaClareiraomaisbrevepossível.Evitarasoutraspessoaseraanovametadasuavida.

Os dois rapazes ficaram ali sentados em silêncio, terminando os seuslanches,atéqueNewtenfimpassouaoassuntosobreoqualqueriaconversar.Amassando o que sobrara da comida em uma bola, ele se voltou e olhoudiretoparaThomas.

-Thomas-elecomeçou-,precisoqueadmitaumacoisa.Jáouvimosissomuitasvezesparanegar,eesteéomomentoparadiscutiroassunto.

Thomassabiaoqueviria,masficousurpreso.Tinhamedodaspalavras.

-Gallyfalou.Albyfalou.Benfalou-continuouNewt-,agarota,depoisqueatiranosdaCaixa…elatambémfalou.

Elefezumapausa,talvezesperandoqueThomasperguntasseoqueestavapretendendodizer.MasThomasjásabia.

-Todosdisseramqueascoisasvãomudar. -Newtolhoupara longeporummomento,depoisvoltou-sedenovoparaele.-Estácerto.Gally,AlbyeBendisseramtervistovocênassuaslembrançasdepoisdaTransformação…epeloqueentendi,vocênãoestavaplantandofloreseajudandovelhinhasaatravessararua.DeacordocomGally,temalgodepodrenessasuahistóriaeporissoelequerrelatarvocê.

- Newt, eu não sei… - Thomas começou, mas Newt não o deixouterminar.

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-Seiquevocênãoselembradenada,Thomas!Paredefalarisso…nemtentefalardenovo.Nenhumdenósse lembradenada,eficamosarrasadospor mencionar isso. A questão é que tem alguma coisa diferente a seurespeito,eestánahoradedescobrir.

Thomasfoidominadoporumacessoderaiva.

-Ótimo, então comovamos fazer isso?Quero saber quemeu sou tantoquantoqualquerum.Éóbvio.

- Preciso que abra a sua mente. Que seja sincero se alguma coisa…qualquercoisa…lheparecerfamiliar.

-Nada…-Thomascomeçou,masparou.Aconteceratantacoisadesdeasua chegada que ele quase se esquecera de como a Clareira lhe parecerafamiliar na primeira noite, dormindo ao lado de Chuck. Como se sentira àvontadeeemcasa.Umecobemdistantedosentimentodeterrorqueeledeviaterexperimentado.

- Posso ver as engrenagens da suamente funcionando - disseNewt emvozbaixa.-Fale.

Thomashesitou,temendoasconsequênciasdoqueestavaprestesafalar.Masjánãoaguentavamaisguardarsegredos.

-Bem…nãopossocitaralgoemespecial.-Elefaloudevagar,comtodoocuidado. -Masquando cheguei senti como se já tivesse estado aqui antes.-Olhou para Newt, esperando encontrar algum tipo de reconhecimento nosolhosdele.-Alguémmaispassouporisso?

MasNewtpermaneceuimpassível.Entãoelerolouosolhoserespondeu:

-Ah,não,Tommy.Amaioriadenóspassouumasemanaplongandonascalçaseespremendoosolhosdetantochorar.

- É, bem. - Thomas fez uma pausa, aborrecido e confuso. O quesignificavatudoaquilo?Seráqueeleeradealgumaformadiferentedetodos?Havia algo de errado com ele? - Tudome parecia familiar e eu sabia quequeriaserumCorredor.

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- Isso é pra lá de interessante. -Newt o analisou por um segundo, semesconder a evidentedesconfiança. -Bem, continueprocurando.Force a suamente, passe o seu tempo de folga revirando os seus pensamentos e pensesobreeste lugar.Vasculheesseseucérebroeprocure.Tente,paraobemdetodosnós.

- Pode deixar. - Thomas fechou os olhos, começando a procurar naescuridãodasuamente.

-Não agora, seumértila idiota. -Newt deu uma risada. - Só quis dizerparafazerissodaquipordiante.Nashorasdefolga,nasrefeições,quandofordormir à noite, quando andar por aí, quando estiver treinando, trabalhando.Contepramimtudooquelheparecerfamiliarmesmovagamente.Entendeu?

- Sim, entendi. - Thomas não pôde deixar de pensar que havia emitidoalguns sinais de alerta paraNewt, e queogarotomaisvelho estava apenasocultandoasuapreocupação.

-Paracomeçar,émelhorirvermosalguém.

- Quem? - Thomas indagou, mas soube a resposta assim que falou. Omedoodominoudenovo.

-Agarota.Queroqueolheparaelaatéosseusolhossangrarem,verseelaprovocaalgumareaçãonesseseucérebrodemértila.-Newtreuniuosrestosdarefeiçãoelevantou-se.-DepoisqueroquemecontecadapalavraqueAlbylhedisse.

Thomassuspirou,entãopôs-sedepé.

- Ok. - Não sabia se teria coragem de dizer toda a verdade sobre asacusações deAlby.E isso sem falar domodo como se sentia em relação àgarota.Eracomoseelenãotivesseconseguidoguardarsegredonenhum.

Eles voltaram para a Sede, onde a garota ainda permanecia em coma.Thomas não conseguiu abafar a preocupação com o que Newt estavapensando. Ele se abrira e realmente gostava deNewt. SeNewt se voltassecontraeleagora,Thomasnãosabiasepoderiaaguentar.

-Se tudoomais falhar - falouNewt, interrompendoospensamentosde

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Thomas-,vamosmandarvocêaosVerdugos…arrumar-lheumapicadaparaquepassepelaTransformação.Nósprecisamosdassuaslembranças.

Thomas deu uma risada sarcástica em relação à ideia, mas Newt nãosorriu.

Agarotapareciadormirtranquilamente,comosefosseacordaraqualquermomento. Thomas quase esperara encontrar os restos esqueléticos de umapessoa - alguém à beira da morte.Mas o peito dela subia e descia com arespiração;apeleestavacomacornormal.

Um dos Socorristas estava lá, o mais baixo - Thomas não conseguialembraronomedele-,pingandoáguanabocadagarotaemcoma,algumasgotasporvez.Numcriado-mudoaolado,umpratoeumatigelaguardavamos restosdoalmoçodela -purêdebatatase sopa.Elesestavamfazendodetudoparamantê-lavivaesaudável.

-Ei,Clint-falouNewt,parecendoàvontade,comosetivessepassadoaliparavisitá-lamuitasvezesantes.-Elaestásobrevivendo?

- Está - Clint respondeu. - Ela vai indo bem, embora fale dormindo otempotodo.Achamosquevaisairdesseestadologo.

Thomas sentiu os pelos da nuca se eriçarem. Por alguma razão, nuncaconsideraraapossibilidadedequeagarotapudesseacordareficarbem.Quepudesseviraconversarcomaspessoas.Nãofaziaideiadomotivopeloqualaquiloodeixavatãonervoso.

-Vocêstêmtomadonotadecadapalavraqueeladiz?-quissaberNewt.

Clintinclinouacabeçaconcordando.

-Amaioriaéimpossíveldeentender.Mas,sim,quandopodemos.

Newtapontouparaumblocodeanotaçõessobreocriado-mudo.

-Medêumexemplo.

-Bem,amesmacoisaqueeladissequandoatiramosdaCaixa,sobreascoisas mudarem. Outros papos sobre os Criadores e como “tudo tem deacabar”.E,hã…-ClintolhouparaThomascomosenãoquisessecontinuar

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napresençadele.

-Tudobem…elepodeouvirtudooqueeuouvir-Newtassegurouparaele.

- Bem… não sou capaz de reproduzir tudo, mas… - Clint olhou paraThomasdenovo.-Elacontinuadizendoonomedeleotempotodo.

Thomasquasecaiusentadodiantedaquilo.Seráqueas referênciasaelenunca iriam terminar? Como ele podia conhecer aquela garota? Era comoumacoceiradeenlouquecerdentrodacabeça,quenãopassava.

-Obrigado,Clint -disseNewtdeummodoquepareceuaThomasumadispensaevidente.-Prepareumrelatóriocomtudoissoparanós,ok?

- Pode deixar. - O Socorrista inclinou a cabeça para os dois e saiu doquarto.

-Puxeumacadeira-falouNewt,enquantosentava-senabordadacama.

Thomas, aliviadoporNewt aindanão ter partidopara acusações, pegouumacadeiradaescrivaninhaecolocou-apróximodeondeestavaacabeçadagarota;entãosentou-se,inclinando-separaafrente,afimdeobservarorostodela.

- Alguma coisa que refresque a memória? - indagou Newt. - Qualquercoisa?

Thomasnãorespondeu,continuouolhando,desejandoconseguirderrubara barreira damemória e procurar a garota no seu passado.Voltou a pensarnaqueles breves momentos em que ela abrira os olhos logo depois de serpuxadaparaforadaCaixa.

Eleseramazuis,comumacormaisintensadoqueadosolhosdequalqueroutra pessoa de quem ele se lembrava de ter visto antes. Tentou recriaraqueles olhos nela agora enquanto olhava para o seu rosto adormecido,fundindoasduasimagensnamente.Ocabelopreto,apelebrancaperfeita,oslábioscarnudos…Enquantoolhavaparaela,percebiaoquantoerabonitadeverdade.

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Umreconhecimentomaisfortetocoudeleveofundodasuamente-umrufardeasasnumcantoescuro,invisívelmaspresentedomesmojeito.Durouapenas um instante antes de desaparecer no abismo de outras lembrançascaptadas.Massentiraalgumacoisa.

- Eu conheço ela - sussurrou, recostando-se na cadeira. Era bomfinalmenteadmiti-loemvozalta.

Newtlevantou-se.

-Oquê?Queméela?

- Não faço ideia. Mas alguma coisa bateu… eu conheço ela de algumlugar.

Thomas esfregou os olhos, frustrado por não conseguir concretizar aconexão.

-Bem,continuepensando…nãopercaessalembrança.Concentre-se.

-Estoutentando,entãocaleaboca.-Thomasfechouosolhos,revirandoaescuridãodos seuspensamentos,buscandoo rostodelanovazio.Quemeraela?Aironiadaperguntaoincomodou-elenemmesmosabiaquemeraele.

Inclinou-separa a frentena cadeira e respirou fundo, depois olhouparaNewt,abanandoacabeçadesanimado.

-Eusimplesmentenão…

“Teresa.”

Thomasdeuumsaltodacadeira,empurrando-aparatrás,girandoemumcírculo,procurando.Eletinhaouvido…

-Qualoproblema?-Newtindagou.-Lembroudealgumacoisa?

Thomasoignorou,olhandoconfusopeloquarto,sabendoqueouviraumavoz,depoisvoltou-separaagarota.

-Eu…-Tornouasentar-se,inclinou-separaafrente,olhandoparaorostodagarota.

-Newt,vocêdissealgumacoisaantesdeeumelevantar?

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-Não.

Eraclaroquenão.

-Ah.Penseiterouvidoalgumacoisa…nãosei.Talveztenhasidominhacabeça.Poracaso…eladissealgumacoisa?

- Ela? - indagou Newt, os olhos acesos. - Não. Por quê? O que vocêouviu?

Thomastemiaadmitir.

-Eu…eujuroterouvidoumnome.Teresa.

-Teresa?Não, nãoouvi isso.Deve ser algumacoisaquebrotoudo seumalditobloqueiodememória!Esseéonomedela,Tommy.Temqueser.

Thomas sentia-se… estranho - uma sensação desagradável, como setivesseacontecidoalgosobrenatural.

- Foi como… eu juro, eu ouvi.Mas na minhamente, cara. Não possoexplicar.

“Thomas.”

Dessavezelesaltoudacadeiraeafastou-sedacamaomáximopossível,batendo no abajur sobre amesa; este caiu com o ruído de vidro quebrado.Umavoz.Avozdagarota.Sussurrante,doce,confiante.Eleaouvira.Sabiaqueouvira.

-Masquedrogahádeerradocomvocê?-indagouNewt.

OcoraçãodeThomasbatiadisparado.Elesentiaaspancadasnacabeça.Ácidofervendonoestômago.

-Ela…éincrível,elaestáfalandocomigo.Naminhacabeça.Elaacaboudedizeromeunome!

-Oquê?

- Eu juro! - Omundo girava ao redor dele, esmagando a suamente. -Estou…ouvindoavozdelanaminhacabeça…oualgumacoisaassim…nãoéumavozdeverdade…

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-Tommy,senteessetraseiroaí.Doquevocêestáfalando?

-Newt,estoufalandosério.É…nãoérealmenteumavoz…masé.

“Tom,somososúltimos.Logovaiacabar.Precisaacabar.”

As palavras ecoavam na mente dele, tocavam os seus tímpanos - eleconseguia ouvi-las. Ainda assim, elas não pareciam estar vindo do quarto,masdeforadocorpodele.Elasestavamliteralmente,emtodosossentidos,dentrodasuamente.

“Tom,nãofiquetãochocadoporminhacausa.”

Ele pôs as mãos sobre as orelhas, fechou bem os olhos. Era estranhodemais;nãoconseguiaentenderoqueestavaacontecendo.

“Aminhamemória jáestádesaparecendo,Tom.Nãovoumelembrardemuita coisa quando acordar. Podemos passar pelas Provas. Isso precisaacabar.Elesmemandaramcomoumsinal.”

Thomasnão conseguia aguentarmais aquilo. Ignorando asperguntasdeNewt,correuparaaportaeaescancarou,saiuparaosaguão,correu.Desceuaescada,saiupelaportadafrente,correudenovo.Masnadadissofaziacomqueelasecalasse.

“Tudovaimudar”,disseela.

Elequisgritar, correraténãopodermais.Assim foiatéaPortaLesteepassouemdisparadaporela,paraforadaClareira.Continuouindo,passandode um corredor para outro, cada vez mais para dentro do Labirinto, comregrasousemregras.Masaindanãoconseguiaescapardavoz.

“Fomosvocêeeu,Tom.Nósfizemosissocomeles.Comagente.”

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Thomassóparoudepoisqueavozsecaloudefinitivamente.

Ficouchocadoaoperceberqueestiveracorrendoporquaseumahora-assombrasdosmurosalongavam-separaoleste,logoosoliasepôrparadeixarviranoiteeasPortassefechariam.Precisavavoltar.Sódelevelheocorreuentão que, sem ter de pensar, reconhecera a direção e o tempo.Viu que osseusinstintoseramfortes.

Precisavavoltar.

Noentanto,nãosabiaseseriacapazdeenfrentá-ladenovo.Aquelavozemsuacabeça.Ascoisasestranhasqueelahaviadito.

Nãotinhaescolha.Negaraverdadenãoresolverianada.Epormaisruim-epormaisestranha-quetivessesidoaquelainvasãodasuamente,eramelhordoqueumencontrocomosVerdugosemqualquerdia.

EnquantocorrianadireçãodaClareira,descobriuumaporçãodecoisasarespeito de simesmo. Sem ter se esforçado nesse sentido - e também semperceber como o fizera -, registrara mentalmente o percurso exato peloLabirinto enquanto fugia da voz. Na volta, nenhuma vez errou o caminho,virando à esquerda e à direita, percorrendo os corredores compridos nosentidoinversoaoquetomaranaida.Sabiaoqueissosignificava.

Minhoestavacerto.LogoeleseriaomelhorCorredor.

A segunda coisa que descobriu sobre si mesmo, como se a noite noLabirintojánãootivesseprovado,eraqueoseucorpoachava-seemperfeitaforma. No dia anterior mesmo chegara ao limite das suas forças e ficaradoloridodacabeçaaospés.Recuperara-serapidamente,eagoracorriaquasesem nenhum esforço, apesar de estar se aproximando da segunda hora decorrida.NãoeraprecisoserumgêniodamatemáticaparacalcularqueasuavelocidadeeotempoconjugadossignificavamqueteriacorridopraticamentemeiamaratonanomomentoemquechegassedevoltaàClareira.

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NuncaanteselesepreocuparacomotamanhodoLabirinto.Quilômetrose quilômetros e quilômetros. Com os muros movendo-se todas as noites,finalmenteentendiaporqueoLabirintoeratãodifícildeserdesvendado.Atéentão, tinha duvidado disso, pensando como os Corredores podiam ser tãoincapazes.

Correusemparar,àesquerdaeàdireita,emfrente,sempararnunca.Nomomento em que cruzou o limite da Clareira, as Portas estavam a apenasalgunsminutosdesefecharparaanoite.Exausto,eleseencaminhoudiretoaoCampo-santo,entrandonaflorestaatéchegaraopontoemqueasárvoreserammaisdensascontraocantosudoeste.Maisquetudo,queriaficarempaz.

Quandochegouaumpontoemquesópodiaouvirossonsdeconversasde Clareanos à distância, além dos ecos de ovelhas balindo e dos porcosroncando, concluiu que estava bom; encontrando a junção dos dois murosgigantescos, deixou-se cair no canto para descansar. Ninguém apareceu,ninguémoincomodou.Omurosulfinalmentesemoveu,fechando-separaanoite;eleseinclinouparaafrenteatéquandoparou.Minutosdepois,denovocom as costas confortavelmente de encontro às espessas camadas de hera,acabouadormecendo.

Namanhãseguinte,alguémosacudiudeleveparadespertá-lo.

- Thomas, acorde. - EraChuck…O garoto parecia ter a capacidade deencontrá-loondequerqueestivesse.

Resmungando, Thomas inclinou-se para a frente, esticou as costas e osbraços.Entãopercebeuquehaviamcolocadoduasmantassobreoseucorpoduranteanoite-alguémfazendoopapeldeMãedaClareira.

-Quehorassão?-eleperguntou.

-Vocêestáquaseatrasadodemaisparaocafédamanhã.-Chuckcutucou-lheobraço.-Vamos,levante-se.Precisacomeçaraagirdemaneiranormalouascoisasvãopioraraindamais.

OsacontecimentosdodiaanteriorforamdespencandoumatrásdooutronamentedeThomas,eoseuestômagopareceusecontorcerlánofundo.“O

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que será que vão fazer comigo?”, pensou. “As coisas que ela disse. Algosobreelaeeutermosfeitoissocomeles.Comagente.Oqueseráqueissosignificava?”

Entãoocorreu-lheque talvezestivesse louco.Talveza tensão incessantedoLabirintootivessedeixadomaluco.Dequalquermaneira,sóeleescutaraavoz dentro da sua cabeça. Ninguém mais sabia das coisas estranhas queTeresadissera,oudoqueoacusara.Elesnemsequersabiamquelhedisseraoseunome.Bem,ninguémanãoserNewt.

Deixariaascoisascomoestavam.Asituaçãojáeraruimobastante-nãofaziasentidopiorá-lacontandoàspessoassobrevozesnasuacabeça.Oúnicoproblema eraNewt.De algummodo, precisaria convencê-lo de que aquelatensãotodaacabarasendodemaisparaeleequeumaboanoitededescansoresolveria tudo. “Eu não estou louco”, disse a simesmo. Com certeza nãoestava.

Chuckoobservavacomassobrancelhaslevantadas.

- Desculpe - falou Thomas enquanto se levantava, procurando agir damaneiramais normal possível. - Só estava pensando.Vamos comer algumacoisa,estoumorrendodefome.

-Bomisso-disseChuck,dandoumtapinhanascostasdeThomas.

ElesseencaminharamàSede,Chucktagarelandootempotodo.

Thomas não se queixava - era a coisamais próxima do normal na suavida.

- Newt o encontrou ontem à noite e disse a todos para deixarem vocêdormir.EtambémnoscontousobreoqueoConselhodecidiuaseurespeito:umdianacela,depoisvocêentraparaocursode treinamentodeCorredor.Algunstrolhosresmungaram,algunsaplaudiram,amaioriaagiucomosenãoestivessenemaí.Pormim,achobastanteincrível.-Chuckfezumapausapararecuperar o fôlego, depois continuou no mesmo ritmo. - Naquela primeiranoite, quando você falava em ser um Corredor e todo aquele plong… quemértila,euestavamorrendoderirpordentro.Nãoparavadedizerparamim

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mesmo:ocomeçodessebabacaestásendobastanteduro.Bem,vocêmostrouqueeuestavaerrado,né?

MasThomasnãotinhavontadedealongaraconversa.

- Só fiz o que qualquer um teria feito. Não é culpaminha seMinho eNewtqueremqueeusejaumCorredor.

-É,eusei.Quantamodéstia…

SerumCorredoreraaúltimacoisaemqueThomasestavapensandonomomento.SónãoconseguiaparardepensaremTeresa,aquelavozdentrodasuacabeça,oqueeladissera.

-Achoqueestoumeioempolgado.-Thomasforçouumrisinho,emborase encolhesse só de pensar em passar o dia inteiro sozinho no Amansadorantesdecomeçarostreinos.

-Vamosvercomovaisesentirdepoisdecorreratépôrosbofesparafora.Dequalquermaneira, fiquesabendoqueovelhoChuckaquiestáorgulhosodevocê.

Thomassorriuanteoentusiasmodoamigo.

- Se aomenos você fosse aminhamãe -murmurou -, a vida seria umdoce. “Minhamãe”, pensou. Omundo pareceu sombrio por um instante…Não era capaz de se lembrar nem da própria mãe. Afastou na hora opensamento,antesqueoconsumisse.

Elesforamdiretoparaacozinha,conseguiramumcafédamanhãrápidoeocuparam dois lugares vagos na grande mesa interna. Todo Clareano queentrava ou saía não deixava de dar uma olhada em Thomas; alguns seaproximaram para felicitá-lo. A não ser por uns poucos olhares nadaamistososdaquiedali,amaioriadaspessoaspareciaestardoladodele.EntãoeleselembroudeGally.

- Ei, Chuck - indagou depois de dar uma garfada nos ovos mexidos,tentandoparecerdistraído.-ChegaramaencontraroGally?

-Não. Já ia lhe contar…Alguémdissequeoviu correr paradentrodo

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LabirintodepoisdesairdoConclave.Nãoapareceumaisdepoisdisso.

Thomas deixou cair o garfo, sem saber o que pensar ou esperar. Dequalquermaneira,anotíciaosurpreendia.

-Oquê?Estáfalandosério?EleentrounoLabirinto?

- Pois é. Todo mundo acha que ele ficou doidão… Alguns trolhos atéacusaramvocêdematá-loquandocorreuparaláontem.

- Não posso acreditar… - Thomas olhou para o prato, tentandocompreenderporqueGallyfariaaquilo.

-Nãosepreocupecomisso,cara.Ninguémgostavadele,anãoserosseuspoucoscupinchasdemértila.Elessãoosúnicosaacusarvocê.

ThomasnãoconseguiaacreditarqueChuckpudessecomentaroassuntotãodistraidamente.

-Meu,ocaradeveestarmorto.Vocêficafalandodessejeito,comoseeletivessesaídodeférias.

Chuckficoupensativoporummomento.

-Nãoachoqueestejamorto.

- Há? Então onde ele está? O Minho e eu não fomos os únicos asobreviveraumanoiteláfora?

-Éoqueestoudizendo.AchoqueoscolegasestãoescondendoeleemalgumlugardentrodaClareira.Gallyeraumidiota,masnãopoderiasertãoestúpidoapontodepassaranoitenoLabirinto.Comovocê.

Thomasabanouacabeça.

-Talvezsejaexatamenteporissoqueeleficouporlá.Queriaprovarquepoderia fazer tudooque eu faço.O carameodeia. -Fezumapausa. -Meodiava.

-Bem,queseja. -Chuckdeudeombroscomoseestivessemdiscutindosobreoquecomernocafédamanhã.-Seestivermorto,vocêsaívãoacabarencontrando-o. Se não estiver, umahora a fomevai fazer comque apareça

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paracomer.Eunãotônemaí.

Depoisdecomer,Thomaslevouopratoatéobalcão.

-Tudooqueeuqueroéumdianormal…umdiapararelaxar.

- Então vai ter omaldito desejo realizado - disse uma voz da porta dacozinhaatrásdele.

Thomasvirou-separaverNewtlá,sorrindo.Osorrisodeleproduziuumaonda tranquilizadora emThomas, como sedescobrisse queomundo estavaemordemoutravez.

-Vamos indoparaagaiola, seupássaro fujão - falouNewt. -Vaipoderrelaxar bastante enquanto permanecer no Amansador. Venha. Chuck levaráalgumacoisaparavocêcomernahoradoalmoço.

Thomasconcordoueencaminhou-separaaporta,comNewtafastando-separadarpassagem.De repente,umdianaprisãopareciaexcelente.Umdiaparaficarapenassentadoerelaxar.

No entanto, alguma coisa lhe disse que seriamuitomais possívelGallylevar-lhe floresdoquepassarumdianaClareira semquenadadeestranhoacontecesse.

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0AmansadorficavaemumlugarobscuroentreaSedeeomuronortedaClareira,escondidoatrásdearbustosespinhentoseirregulares,quepareciamnãoserpodadosháséculos.Eraumgrandeblocodeconcretogrosseiramentedelineado, com uma única janela minúscula e uma porta de madeira queestavatrancadacomumameaçadorferrolhodemetalempoeirado,comoalgosaídodaIdadeMédia.

Newtpegouumachaveeabriu-a,entãofezsinalparaThomasentrar.

-Sótemumacadeiraládentroemaisnadaparavocêfazer.Divirta-se.

Thomas gemeu em seu íntimo quando entrou e viu a única peça demobília - uma cadeira desconjuntada e empéssimo estado, comumapernamaiscurtadoqueasoutras,provavelmentedepropósito.Nemmesmotinhaestofamento.

-Fiqueàvontade-disseNewtantesdefecharaporta.Thomasvirou-separaoseunovolareouviuoferrolhosendoengatilhadoeodiquedatravadocadeado atrás de si. A cabeça de Newt apareceu na janelinha sem vidros,observando-oatravésdasbarrasdeferrocomumsorrisoafetadonorosto. -Umabelarecompensapordesrespeitarasregras.Vocêsalvoualgumasvidas,Tommy,masaindaassimprecisaaprender.

-É,eusei.Ordem.

Newtsorriu.

-Vocênãoédetodomau,trolho.Mas,amigosounão,precisamosfazeras coisas direito, tocar a vida para sobreviver. Pense nisso enquanto estiversentadoaíeolhandoparaasmalditasparedes.

Entãofoiembora.

A primeira hora passou e Thomas sentiu o tédio infiltrar-se sorrateiro

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comoratosporbaixodaporta.Nasegundahora,sentiuvontadedebatercoma cabeça contra a parede. Duas horas depois disso começou a pensar quejantar com Gally e os Verdugos seria melhor do que ficar sentado dentrodaquele estúpidoAmansador.Sentado, tentou recompor as lembranças,masqualquer esforço evaporava-se numa névoa de esquecimento antes quealgumacoisaseformasse.

Felizmente,Chuckchegoucomoalmoçoaomeio-dia,aliviandoThomasdosseuspensamentos.

Depoisdepassar-lhealgunspedaçosdefrangoeumcopodeáguaatravésda janela, ele assumiu a sua função costumeira de tagarelar nosouvidosdeThomas.

- Tudo está voltando ao normal - anunciou o garoto. - Os Corredoressaíram para o Labirinto, todo mundo está trabalhando, talvez a gente vásobrevivernofinaldascontas.AindanãohásinaldeGally.NewtdisseparaosCorredores voltarem imediatamente se encontrarem o corpo dele. E, ah,sim,Albylevantoueestámelhor.ParecebemeNewtsente-semelhorpornãoprecisarmaisserochefão.

AmençãoaAlbydesviouaatençãodeThomasdacomida.Visualizouorapaz mais velho debatendo-se, estrangulando-se no dia anterior. Então selembroudequeninguémmaissabiaoqueAlbydisseradepoisqueNewtsaíradoquarto-antesdesofreraqueleataque.MasissonãosignificavaqueAlbymanteriaaquiloentreelesagoraquesaíradacamaejápodiaandar.

Chuckcontinuouafalar,dandoumaguinadaimprevista.

-Thomas,andomeioesquisito,cara.Éestranhoalguémsentir-setristeecomsaudadedecasa, sem teramenor ideiadeparaondeachaquepoderiavoltar,sabe?Tudooqueseiéquenãoqueroficaraqui.Querovoltarparaaminha família.Não importa onde seja, nemde ondeme tiraram.Queromelembrar.

Thomas ficou um pouco surpreso. Nunca ouvira Chuck dizer algo tãoprofundoetãoverdadeiro.

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-Seioquequerdizer-murmurou.

Chuckerabaixodemaisparaqueosseusolhosficassemnumaalturanaqual Thomas pudesse vê-los enquanto falava, mas, depois da afirmaçãoseguinte, Thomas imaginou-os cheios de uma tristeza desoladora, talvezmesmocomlágrimas.Eledisse:

-Anteseuchoravamuito.Todasasnoites.

Isso fez com que os pensamentos sobre Alby deixassem a mente deThomas.

-Ah,é?

-Comoumbebêmijão.Quaseatéodiaemquevocêchegouaqui.Depoismeacostumei,euacho.Aquitornou-seomeular,mesmoagentetendotodososdiasesperançadesair.

-Eu só chorei umavezdesdeque cheguei aqui,mas isso foi depois dequasetersidocomidovivo.Devoserapenasumidiotacarademértila.

ThomasnãoteriaadmitidoissoseChucknãotivesseseabertocomele.

-Vocêchorou?-EleouviuChuckdizeratravésdajanela.-Depois?

- Sim. Quando o último deles caiu pelo Penhasco, eu não aguentei esoluceiatéaminhagargantaeopeitodoerem.-Thomaslembrava-sedetudomuitobem.-Tudodesabousobremimdeumavezsó.Comcertezaissofezcomquemesentissemelhor…Nãosesintamalporchorar.Nunca.

-Querdizerqueissofazvocêsesentirmelhor?Estranhocomofunciona.

Algunsminutos se passaram em silêncio. Thomas viu-se torcendo paraqueChucknãotivesseidoembora.

-Ei,Thomas?-chamouChuck.

-Estouaqui.

-Vocêachaquetenhopais?Paisdeverdade?

Thomasdeuumarisada,principalmenteparaafastaroacessorepentinodetristezaqueaperguntalhecausara.

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-Claroquetem,seutrolho.Vocêprecisaqueeuexpliquetudo,atéomaisóbvio? - O coração de Thomas doía; lembrava-se de ter recebido umareprimendacomoaquela,masnãodequemadera.

-Nãofoioqueeuquisdizer-falouChuck,avozcompletamentedespidadealegria.Falaraemvozbaixaedesolada,quasenummurmúrio.-Amaioriados caras que passaram pela Transformação lembra-se de coisas terríveis,sobre as quais nem quer comentar, o queme faz duvidar se teria um bommotivoparavoltarparacasa.Então,querodizer,vocêachaqueépossívelqueeu tenha umamãe e um pai em algum lugar nomundo lá fora, sentindo aminhafalta?Vocêachaqueeleschoramànoite?

Thomassentiu-sechocadoaoperceberqueosseusolhosestavamcheiosde lágrimas. Fora tudo tão loucodesde que chegara que nunca pensara nosClareanos como pessoas com famílias de verdade, sentindo a falta dosparentes. Era estranho, mas nem mesmo pensara sobre si mesmo dessamaneira. Só sobre o que tudo aquilo significava, quemosmandara para lá,comopoderiamsairumdia.

Pelaprimeiravez,elesentiualgoporChuckqueodeixoucomtantaraivaque lhedeuvontadedemataralguém.Ogarotodeveriaestarnaescola,emum lar,brincandocomosgarotosdavizinhança.Elemerecia irparacasaànoiteparaestarcomafamíliaqueoamava,quesepreocupavacomele.umamãequeomandasse tomarbanhotodososdiaseumpaiqueoajudassenaliçãodecasa.

Thomasodiouaspessoasquehaviamtiradoaquelepobregarotoinocentedafamília.Odiou-ascomumardorquenãosabiaqueumserhumanopodiasentir. Quis que morressem, até mesmo que fossem torturadas. Queria queChuckfossefeliz.

Masafelicidadeforaarrancadadavidadeles.Oamorforaarrancadodavidadeles.

-Ouça,Chuck…-Thomasfezumapausa,acalmando-seomáximoquepôde,assegurando-sedequeavoznãofalhasse.-Tenhocertezadequevocêtempais.Eusei.Podeparecerterrível,masapostoqueasuamãeestásentada

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noseuquartonesteexatomomento,abraçandooseutravesseiro,olhandoparaomundoqueroubouvocêdela.E,sim,apostoqueelaestáchorando.Muito.Comosolhosinchados,onarizescorrendo.Deverdade.

Chuck não disse nada, mas Thomas pensou tê-lo escutado fungarbaixinho.

-Nãodesista,Chuck.Vamosdarumjeitonessacoisa,sairdaqui.SouumCorredoragora…Juropelaminhavidaquevoumandá-loparaaquelequartona suacasa.Paraquea suamãeparedechorar. -EThomasqueria issodeverdade.Elesentiaaquiloardernofundodocoração.

- Tomara que você esteja certo - falouChuck com a voz trêmula. Pelajanela,mostrouopolegarlevantado,depoisfoiembora.

Thomas levantou-se e andou de um lado para o outro pelo cômodoapertado,fumegandocomodesejointensodecumpriroqueprometera.

-Eu juro,Chuck-sussurrouparaninguém.-Juroquevoumandá-lodevoltapracasa.

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LogodepoisdeThomasouvirorangidoeorumordepedracontrapedraanunciando o fechamento das Portas por aquele dia, Alby apareceu paralibertá-lo,oquefoiumasurpresaenorme.Ouviuoruídometálicodachaveedocadeado,depoisaportadacelaescancarou-se.

-Nãomorreuainda,nãoé,trolho?-indagouAlby.ElepareciatãomelhoremrelaçãoaodiaanteriorqueThomasnãoconseguiaparardeolharparaele.Apelevoltaraàcornatural,osolhosnãoestavammaisentrecruzadosdeveiasinflamadas;elepareciaterganhounsdezquilosemvinteequatrohoras.

AlbynotouThomasobservando-ocomosolharfixoeesbugalhado.

-Mértila,moleque,oqueestáolhando?

Thomas balançou a cabeça ligeiramente, sentindo-se como se saísse deumtranse.Ospensamentoscorriamacelerados, imaginandodoqueAlbyselembrava,oquesabia,oquepoderiadizersobreele.

-Ah,nada.Sóqueparecemeiomalucovocêtersaradotãodepressa.Estásesentindobemagora?

Albyflexionouobícepsdobraçodireito.

-Nuncaestivemelhor…Vamos,saia.

Thomas obedeceu, esperando que o olhar não o traísse, tornando a suapreocupaçãoevidente.

Alby fechou a porta do Amansador e trancou-a, depois virou-se paraencará-lo.

- Na verdade, é tudomentira. Sinto-me um pedaço de plong evacuadoduasvezesporumVerdugo.

- Sei, dava para ver seu estado ontem. -QuandoAlby fuzilou-o comoolhar,Thomasesperouque fossedebrincadeirae rapidamenteesclareceu. -Mashojevocêparecenovinhoemfolha.Juro.

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Alby guardou as chaves no bolso e reclinou-se de encontro à porta doAmansador.

-Masgosteidaconversinhaquetivemosontem.

O coração de Thomas disparou. Ele não fazia ideia do que esperar deAlbyàquelaaltura.

-Há…sim,eumelembro.

-Euseioquevi,Fedelho.Estáficandomeioapagadoagora,masnuncavou me esquecer. Foi terrível. Tentei conversar sobre isso, mas ficavachocado só de tentar.Agora as imagens vêm e vão, como algo que eu nãogostassedelembrar.

Acenadodiaanterior surgiunumclarãonamentedeThomas.Albysedebatendo, tentando estrangular a si mesmo - Thomas não acreditaria queaquilo acontecera se não tivesse testemunhado.Apesar de temer a resposta,sabiaqueprecisavafazeraquelapergunta.

-Oque tinha aver comigo, você ficavadizendoquemevia.Oque euestavafazendo?

Alby contemplou por um tempo o espaço vazio à distância antes deresponder.

-VocêestavacomosCriadores.Ajudandoeles.Masnãofoiissoquemeabaloudaquelejeito.

Thomas sentiu como se alguém tivesse lhe dadoum socono estômago.“Ajudandoeles?”Nãoconseguiuencontraraspalavrasparaperguntarqualosignificadodaquilo.

Albycontinuou.

-EsperoqueaslembrançastrazidaspelaTransformaçãonãosejamreais,sóplantemalgumascoisasfalsas.Unsdesconfiamdisso,eusópossoesperar.Se o mundo for como eu vi - a voz dele falhou, deixando um silêncioaterrador.

Thomasestavaconfuso,masforçou-oacontinuar:

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-Nãopodedizeroqueviuameurespeito?

Albyabanouacabeça.

-Dejeitonenhum,trolho.Nãovoumearriscaratentarmeestrangulardenovo.Talvezsejaalgumacoisaquecolocamnocérebroparacontrolaragenteassimcomoapagamamemória.

-Bem,sesouumdemônio,talvezdevessememantertrancado.-Thomasarriscousemacreditarmuito.

-Fedelho,vocênãoéumdemônio.Podeserumcabeçãocarademértila,masnãoumdemônio.-Albymostrouumaligeiramençãodeumsorriso,umafissuraquase imperceptível no semblantenormalmente carrancudo. -Oquevocêfez,arriscandooseutraseiroparamesalvareaoMinho,issonuncafoicoisadodemônio,queeusaiba.Não,sóficopensandoqueoSorodaDoreaTransformaçãoproduziramumefeito desgraçado.Para o seubeme omeu,esperoquesejaisso.

Thomassentia-se tãoaliviadoporAlbypensarqueestava tudobemquemalouviuorestodaspalavrasqueorapazacabaradedizer.

-Foitãoruimassim?Aslembrançasquevoltaram.

-Lembreidecomoeraaminhavida,ondemorava,essetipodecoisa.EseopróprioDeus empessoameaparecesse agora emedissessequepodiavoltarparacasa-Albyolhouparaochãoebalançouacabeçadenovo.-Seaquiloformesmoreal,Fedelho,juroqueprefiroconvivercomosVerdugosavoltarpralá.

Thomasficousurpresoaoouvirqueeratãoruim-queriaqueAlbydessedetalhes,descrevessealgumacoisa,qualquercoisa.Massabiaqueochoqueaindaestavarecentedemaisnamentedeleparafazê-lomudardeopinião.

-Bem,talveznãosejareal,Alby.TalvezoSorodaDorsejaumtipodedrogaqueprovocaalucinaçõesnagente.-Thomassabiaqueestavaforçandoabarra.

Albypensouporumminuto.

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-Umadroga…alucinações…-Depoisbalançouacabeça.-Não,duvido.

Valeraapenatentar.

-Aindaprecisamosfugirdestelugar.

-É isso aí, obrigado,Fedelho -disseAlby sarcasticamente. -Não seioqueseriadenóssemassuaspalavrasdeincentivo.-Denovooquasesorriso.

AsúbitamudançadehumordeAlby tirouThomasdaquela sensaçãodeabatimento.

-ParedemechamardeFedelho.AgarotaéaFedelhaagora.

-Tácerto,Fedelho.-Albysuspirou,semdúvidaencerrandoaconversa.-Vá procurar alguma coisa para jantar, a sua terrível sentença de um dia deprisãofoicumprida.

-Umfoimuito.-Apesardedesejarrespostas,Thomasestavaprontoparaficar longedoAmansador.Alémdisso,estava faminto.Sorriumeiode ladoparaAlby,depoisfoidiretoatéacozinhaembuscadecomida.

Ojantarestavadelicioso.

CaçarolasabiaqueThomaschegariatarde,entãoreservaraumpratocheiode rosbife e batatas; um bilhete avisava que havia biscoitos no armário. OCozinheiro parecia mesmo disposto a confirmar o apoio a Thomas quedemonstrara no Conclave. Minho apareceu enquanto Thomas comia,preparando-o um pouco antes do primeiro grande dia de treinamento comoCorredor, dando-lhe algumas dicas e informações interessantes. Coisas emquejáirpensandoquandofossedormirnaquelanoite.

Depoisdeterminarem,Thomasvoltouparaolugarretiradoondedormirananoiteanterior,nocantoatrásdoCampo-santo.Pensava sobreaconversacomChuck,imaginandocomoseriaterpaisparalhedesejarboa-noite.

DiversosgarotosperambularampelaClareiranaquelanoite,masnamaiorpartedotempotudoficouemsilêncio,comosetodossóquisessemirdormir,encerrar o dia e se dar por satisfeitos. Thomas não se queixava - eraexatamentedissoqueprecisava.

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Asmantasquelhetinhamdadonanoiteanterioraindaestavamnomesmolugar. Ele se acomodou entre elas, ajeitando-se no canto onde osmuros depedraseencontravamemumtufoespessodeheramacia.Sorveuosaromasmisturadosdaflorestaquandorespiroufundo, tentandorelaxar.Oarpareciaperfeitoeofezpensaroutraveznoclimadaquelelugar.Nuncachovia,nuncanevava,nuncaeraquenteoufriodemais.NãofossepelodetalhedeteremsidoarrancadosdosamigosefamiliareseaprisionadosemumLabirintocomumbandodemonstros,poderiaseroparaíso.

Algumascoisasalieramperfeitasdemais.Elesabiadisso,masnãotinhaexplicaçãoparaofato.

Seus pensamentos se desviaram para o queMinho lhe falara durante ojantar sobre o tamanho e a escala do Labirinto. Ele acreditou em tudo - jápercebera a escala gigantesca quanto estivera no Penhasco. Mas nãoconseguiaimaginarcomopodiatersidofeitaumaconstruçãocomoaquela.OLabirinto se estendia por quilômetros e quilômetros. Os Corredoresprecisavamestaremumaformasobre-humanaparafazeroquefaziamtodososdias.

Eaindaassimnunca tinhamencontradoumasaída.Apesardisso,apesardatotaldesesperançadasituação,elesnãodesistiam.

No jantar, Minho contara-lhe uma velha história - envolvendo coisasbizarraseimprevisíveisdequeselembravadeantes-sobreumamulherqueficarapresaemumlabirinto.Elaescaparapornuncatirarsuamãodireitadosmurosdolabirinto,deslizandoaolongodelesenquantocaminhava.Aofazerisso,elaeraforçadaaviraràdireitaacadavolta,eassimplesleisdafísicaeda geometria asseguraram que ela por fim encontrasse a saída. Isso faziasentido.

Masnãoali.Ali, todososcaminhosretornavamàClareira.Elesdeviamestardeixandodeentenderalgumacoisa.

Amanhãcomeçariaotreinodele.Amanhãpoderiacomeçaraajudá-losadescobrir o que estavam deixando de entender. Naquele exato momentoThomas tomou uma decisão. Esquecer todas aquelas coisas estranhas.

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Esquecer todas as coisas ruins. Esquecer tudo.Não desistiria enquanto nãodesvendasse o enigma do labirinto e encontrasse o caminho de volta paracasa.

Amanhã.Apalavraflutuounasuamenteatéqueelefinalmentepegounosono.

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Minho acordou Thomas antes do amanhecer, fazendo sinal com umalanterna para que o seguisse até a Sede. Thomas afastou com facilidade azonzeiramatinal, empolgado por começar o treinamento. Jogou amanta delado e seguiu ansiosamente atrás do seu professor, desviando dos muitosClareanosquedormiamsobreogranado,osseusroncossendooúnicosinalde que não estavam mortos. O brilho fugaz do amanhecer iluminava aClareira, distribuindo uma tonalidade azul escura entremeada de sombras.Thomas nunca vira o lugar parecer tão sossegado. Um galo cantou noSangradouro.

Porfim,aochegaremaumafendatodairregularnumcantonosfundosdaSede,Minhotiroudobolsoumachaveeabriuumaportadesconjuntadaquelevavaaumapequenadespensa.Thomas sentiuumcalafriode expectativa,imaginandooquehaveriaalidentro.Teveumavisãodecordasecorrentes,além de outros objetos estranhos enquanto a lanterna deMinho corria peloambiente. Por fim, a luz encontrou uma caixa aberta repleta de tênis decorrida.Thomasquaseriu,pareciaalgomuitocomum.

-Aquivocêencontraoequipamentonúmeroum-anunciouMinho.-Pelomenos pra gente. Eles nos mandam outros novos pela Caixa de vez emquando. Se não tivéssemos calçados adequados, os nossos pés seriammaisfeios do quemarcianos. - Ele se curvou sobre a caixa e revirou a pilha detênis.-Quetamanhovocêusa?

- Tamanho? - Thomas pensou por um segundo. - Eu não sei. - Eraestranhocontoàsvezeslembravaeàsvezesnão.Abaixando-se,tirouumdostênisqueusavadesdequechegaraàClareiraeolhoupordentro.-Quarentaetrês.

-Caramba, trolho,você temumpezão.-Minhoendireitou-sesegurandoumpar de tênis prateados. - Parece que consegui encontrar um.Cara, davaparapraticarcanoagemcomestascoisas.

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-Estessãobonitos. -Thomasadmirouos têniseafastou-sedadespensapara sentar-se no chão, ansioso por experimentá-los. Minho pegou maisalgumascoisasantesdejuntar-senovamenteaele.

- Só osCorredores e osEncarregados têm desses - falouMinho.AntesqueThomaspudessedesviaroolhardoscadarçosqueamarrava,umrelógiodepulsodeplásticocaiunoseucolo.Erapretoemuitosimples,comapenasummostradordigitaldahora.-Coloque-oenuncamaistire.Asuavidapodedependerdele.

Thomas ficou contente com o relógio. Embora o sol e as sombrasparecessem ter sido suficientes até então para calcular mais ou menos ashoras,serumCorredor talvezexigissemaisprecisão.Eleafivelouorelógionopulsoedepoisterminoudeamarrarostênis.

Minhocontinuoufalando:

- Aqui está uma mochila, garrafas de água, lancheira, alguns shorts ecamisetas,maisumascoisinhas.-ElecutucouThomas,queergueuosolhos.Minho segurava duas cuecas de elástico bem justas, feitas de ummaterialbrancoresplandecente.-EstassãocuecasprópriasparaosCorredores.Fiquecomelas,sãomaciaseconfortáveis.

-Maciaseconfortáveis?

-Tá,eusei.Oseu…

-Tá,entendi.-Thomaspegouascuecaseasoutrascoisas.-Parecequevocêspensamemtudo,hein?

- Depois de dois anos correndo sem parar todo dia, você acabadescobrindo o que é melhor e sabe o que pedir. - Ele começou a guardarcoisasnaprópriamochila.

Thomasestavasurpreso.

-Querdizerquepodemfazerpedidos?Ossuprimentosqueprecisarem?-Por que será que as pessoas que os tinham mandado para lá eram tãosolícitas?

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-Claroquepodemos.ÉsódeixarumbilhetenaCaixaepronto.Issonãosignificaque sempreconseguimosoquequeremosdosCriadores.Àsvezesconseguimos,àsvezesnão.

-Jápediramummapa?

Minhodeuumarisada.

-Já,bemquetentamos.PedimosumaTVtambém,masnãodemossorte.Acho que aqueles mértilas não querem que a gente veja como a vida émaravilhosaquandovocênãomoranummalditolabirinto.

Thomassentiuumapontadadedúvidasobreseavidaseriatãoótimadeondetinhamvindo-quetipodemundopermitiaqueaspessoasobrigassemgarotosaviverdaquelamaneira?Opensamentoosurpreendeu,comoseeleestivesseembasadonumalembrançareal,umacentelhadeluznastrevasdasuamente.Maspassoudepressa.Abanandoacabeça,acaboudeamarrarostênis,depoisse levantouecorreuemcírculono lugar, saltandoparacimaeparabaixoparatestá-los.

-Parecemmuitobons.Achoqueestoupronto.

Minhoaindaestavaagachadosobreamochilanochão;relanceouoolharparaThomascomumolhardereprovação.

-Vocêpareceumidiota,saltitanteaífeitoumabailarinademértila.Boasorteláforasemocafédamanhã,semlevarlanche,semarmas.

Thomasjápararadesemover,sentindoumarrepiogelado.

-Armas?

-Armas.-Minholevantou-seevoltouàdespensa.-Vemcá,voumostrar.

ThomasseguiuMinhoatéasalinhaeobservouenquantoelepuxavaumascaixasdaparedeaofundo.Embaixodelasvia-seumpequenoalçapão.Minholevantou-opararevelarumaescadademadeiraquelevavaaumlocalescuro.

- A gente guarda no porão para que trolhos como o Gally não possamencontrá-las.Venha.

Minho foi na frente. A escada rangia ao menor movimento enquanto

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descerammaisoumenosumadezenadedegraus.Oar frio era refrescante,apesardapoeiraedofortecheirodemofo.Chegaramaumlocalimundo,eThomasnãoconseguiavernadaenquantoMinhonãoacendeuumalâmpadaquependiadecimaporumfio.

OcômodoeramaiordoqueThomasesperava,nomínimocomunsdezmetrosquadrados.Asparedesestavamforradasdeprateleiraseviam-seporalialgumasmesaspesadasdemadeira;tudoquepodiaverestavacobertocomtodotipodelixo,oquelhedeucalafrios.Postesdemadeira,espetosdemetal,grandes pedaços de tela - do tipo usado para fazer galinheiros -, rolos dearame farpado, serras, facas, espadas. Uma parede inteira era dedicada aequipamentosdearqueiro:arcosdemadeira,flechas,cordassobressalentes.Avisão daquilo trouxe-lhe à lembrança a imagemdeBen sendo alvejado porAlbynoCampo-santo.

- Uau! - murmurou Thomas, a voz soando como um golpe seco noambiente fechado.Aprincípio ficouaterrorizadoporverqueprecisavamdetantas armas, mas sentiu-se aliviado ao notar que a imensa maioria estavacobertaporumagrossacamadadepoeira.

-Nãousamosquasenadadisso-comentouMinho.-Masnuncasesabe.Agentesócostumalevarumasduasfacasafiadas.

Ele fez ummovimento com a cabeça na direção de um grande baú demadeira aumcanto, a tampaaberta inclinadadeencontroàparede.Dentrovia-se todo tipo de facas de todas as formas e tamanhos, empilhadasdesordenadamenteatéaborda.

Thomas só desejou que a sala fosse mantida em segredo em relação àmaioriadosClareanos.

-Pareceumtantoperigosotertodaessacoisa-comentouele.-Jápensouse o Ben tivesse descido aqui logo depois de pirar daquele jeito e ter meatacado?

Minhotirouaschavesdobolsoechacoalhou-as.

-Sóunspoucoscaretasdesortetêmummolhodestes.

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-Aindaassim…

- Cale essa matraca e pegue logo duas. Veja se estão boas e afiadas.Depoisvamostomarocafédamanhãeprepararonossolanche.QueropassaraindaalgumtemponaCasadosMapasantesdeirmos.

Thomasficouempolgadoaoouviraquilo-estavacuriososobreoedifícioatarracadodesdequevirapelaprimeiravezumCorredorpassarpelasuaportaameaçadora. Escolheu uma adaga prateada curta com cabo de borracha,depoisumacomumalâminapretacomprida.Suaempolgaçãodesvaneceu-seum pouco. Por mais que soubesse perfeitamente bem o que vivia noLabirinto,aindaassimnãoqueriapensarsobreomotivodeseremnecessáriasarmasparairatélá.

Meiahoradepois,alimentadoseequipados,elesseachavamemfrenteàporta demetal cheia de rebites daCasadosMapas.Thomas estava ansiosoparaconhecerládentro.Odiaamanheciaemtodaasuaglória,eosClareanosandavampor todaparte,preparando-separamaisuma jornada.Oaromadebaconfritoimpregnavaoar-Caçarolaeasuaequipetentandodarcontadedezenas de estômagos famintos.Minho destrancou a porta, girou a roda dafechaduraatéouvir-seumestalidointerior,depoisapuxou.Comumrangidosinistro,apesadaplacademetaldeslizouparaoladoatéseabrirtoda.

-Vocêprimeiro-falouMinho,fazendoumareverênciadezombaria.

Thomas entrou sem dizer nada. Um temor gelado,misturado com umacuriosidadeintensa,odominava,eeleprecisouselembrarderespirar.

Asalaàsescurasrecendiaamofoeumidade,alémdeumodortãointensodecobrequedavaparasentirogosto.Umalembrançadistantenotempo,deterchupadomoedasdaquelemetalquandocriança,surgiuderepenteemsuamente.

Minho acionou um interruptor e várias fileiras de luzes fluorescentespiscaram até se iluminarem completamente, revelando a sala em todos osdetalhes.

Thomassurpreendeu-secoma simplicidadedo local.Comcercade seis

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metrosdelargura,aCasadosMapastinhaparedesdeconcretodesprovidasdequalquer decoração.Bem no centro via-se umamesa demadeira, com oitocadeiras dispostas ao seu redor.Conjuntos de lápis e papel arrumados comcuidadojaziamsobreasuperfíciedamesa,cadaumdelescorrespondendoaumadascadeiras.Osúnicosoutrosartigosnasalaeramoitobaús,exatamentecomo aquele que continha facas no porão de armas. Fechados, eles eramigualmenteespaçados,doiscontracadaparede.

-Bem-vindoàCasadosMapas - falouMinho. -O lugarmais felizquevocêpoderiavisitar.

Thomas ficou um pouco decepcionado - esperava alguma coisa maisinteressante.Respirouprofundamente.

-Penaquetenhaocheirodeumaminadecobreabandonada.

-Atéquegostodessecheiro.-Minhopuxouduascadeirasesentou-seemumadelas.-Podesentar,queroqueguardeumasimagensnacabeçaantesdesairparalá.

Depois que Thomas sentou-se,Minho pegou uma folha de papel e umlápisecomeçouadesenhar.Thomas inclinou-separaobservarmelhoreviuque Minho tinha desenhado uma caixa grande, que ocupava quase toda apágina. Depois ele a encheu com caixas menores até que ficou parecendoexatamente com um jogo da velha fechado, três fileiras de três quadrados,todos do mesmo tamanho. Ele escreveu a palavra “CLAREIRA” no meio,depoisnumerouosquadradosexterioresdeumaoito,começandopelocantosuperior esquerdo e indo no sentido horário. Por fim, desenhou pequenoscortesaquieali.

-Estas são asPortas - informouMinho. -Você conhece as daClareira,mas existemmais outras quatronoLabirintoque levampara asÁreasUm,Três,CincoeSete.Elaspermanecemnomesmolugar,masocaminhoparalámudacomosmovimentosdosmuros todasasnoites. -Depoisde terminar,eleempurrouopapelparaafrentedeThomas.

Thomaspegou-o,fascinadoaoverqueoLabirintoera tãoestruturado,eestudou-oenquantoMinhocontinuavafalando.

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-Portanto, temosaClareira,cercadaporoitoÁreas,cadaumadelasumquadrado totalmente independente e indecifrável nos dois anos desde quecomeçamosessejogoinsano.AúnicacoisaqueseaproximadeumasaídaéoPenhasco,enãoparecesernadabom,amenosquesegostedecairparaumamortehorrível.-MinhodeuumtapinhanoMapa.-Osmurossemovemportodo o lugar de mértila todas as noites… no mesmo momento em que asPortasse fecham.Peloplenos,pensamosquesejanessahora,porquenuncaouvimososmurossemoverememoutrohorário.

Thomaslevantouosolhosdopapel,felizporpoderdarumainformação.

-Nãovinadasemovernaquelanoiteemqueficamospresoslá.

-OscorredoresprincipaisdoladodeforadasPortasnuncamudam.Sóosqueestãoumpoucomaisafastados.

-Ah.-Thomasvoltouaomapaabstrato,tentandovisualizaroLabirintoevermurosdepedraondeMinhodesenharalinhas.

- Sempre temos pelo menos oito Corredores, incluindo o Encarregado.UmparacadaÁrea.Levamosodiainteiroparamapearanossaárea,sempreria esperança de que haja uma saída.Depois voltamos e desenhamos tudo,cadadiaemumapáginaseparada.-Minhorelanceouoolharparaosbaús.-ÉporissoqueaquelasmértilasláestãosemprecheiasdeMapas.

Thomasteveumpensamentodepressivo-eassustador.

-Poracasoestou…substituindoalguém?Alguémmorreu?

Minhoabanouacabeça.

- Não, estamos apenas treinando você… Alguém provavelmente vaiquererparar.Nãosepreocupe,fazumbomtempodesdequeumCorredorfoimorto.

Por alguma razão, essa última afirmação preocupou Thomas, emboraesperassequenãoacontecessenada.EleapontouparaaÁreaTrês.

- Quer dizer que… é preciso um dia inteiro para percorrer essesquadradinhos?

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- Essa é boa. - Minho levantou-se e foi até o baú logo atrás deles,ajoelhou-se,depoislevantouatampaeapoiou-acontraaparede.-Vemaqui.

Thomas já se levantara; ele se inclinou sobre o ombro deMinho e deuumaolhada.Obaúeragrandeobastanteparaconterquatropilhasdemapas,e todas as quatro chegavam até em cima. Cada uma delas era muitosemelhante: todas traziam um esboço grosseiro do labirinto quadrado,enchendoquasetodaapágina.Nocantosuperiordireito,estavaescrito:“Área8”, seguido pelo nome “Hank”, depois a palavra “Dia” seguida por umnúmero.Aúltimatraziaodiadenúmero749.

Minhocontinuou:

- Logo no início, descobrimos que osmuros semoviam. Depois disso,começamos a acompanhar. Sempre achamos que comparando asmudançasdiaadia,semanaasemana,encontraríamosumpadrão.Eencontramos…oslabirintosbasicamenteserepetemacadamêsmaisoumenos.Masaindanãovimosumasaídaabertaquenoslevasseparaforadoquadrado.Nuncahouveumasaída.

- E já se passaram dois anos - comentou Thomas. - Não ficaramdesesperadosapontodepermanecerláumanoiteinteira,versetalvezalgoseabreenquantoosmurossemovem?

Minhoolhouparaele,umlampejoderaivanosolhos.

-Issoéumaespéciedeinsulto,cara.Sério.

-Oquê?-Thomasficouchocado;nãopensavadaquelemodo.

-Arriscamosonossotraseirolápordoisanosetudooquevocêperguntaéporquefomostãomaricasapontodenãoficarláduranteanoite?Algunstentaram bem no começo… Todos apareceram mortos. Quer passar outranoitelá?Arriscardenovoassuaschancesdesobreviver,hein?

OrostodeThomasficouvermelhodevergonha.

-Não.Medesculpe.-Derepenteelesesentiuumaporcaria.Ecertamenteconcordava: faria muito melhor em voltar são e salvo à Clareira todas asnoitesdoqueprovocaroutrabatalha contraosVerdugos.Estremeceu sóde

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pensar.

-Muito bem, então. -Minho voltou a olhar para omapa no baú, paraalíviodeThomas.-AvidanaClareirapodenãoserumamaravilha,maspelomenosésegura.Nãofaltacomida,somosprotegidoscontraosVerdugos.SemchancedepediraosCorredoresparasearriscaraficarporlá…semchance.Pelomenosatéagora.Enquantoalgonessespadrõesnãoderumadicadequeumasaídapossaseabrir,mesmotemporariamente.

-Vocêsestãopertodisso?Algumacoisaprogrediu?

Minhodeudeombros.

- Não sei. É um tanto desanimador, mas não sabemos que outra coisapoderíamos fazer.Nãopodemosdeixardeacharqueumdia, emumponto,emalgumlugar,possaaparecerumasaída.Nãopodemosdesistir.Nunca.

Thomas concordou, aliviado com essa atitude. Por ruins que fossem ascoisas,desistirsópiorariaaindamais.

Minhopegouváriasfolhasdobaú,osMapasdosúltimosdias.Enquantoosfolheava,eleexplicava:

-Fazemoscomparaçõesdiaadia,semanaasemana,mêsamês,comoeuestavadizendo.CadaCorredoréresponsávelpeloMapadesuaprópriaÁrea.Prasersincero,nãodescobrimoschongasnenhuma.Aindamaissincero:nãosabemosoqueestamosprocurando.Issoéumadroga,cara.Realmenteumagrandedroga.

-Mas não podemos desistir. - Thomas disse aquilo em um tom neutro,comonumarepetiçãoresignadadoqueMinhodisserahaviaalgunsinstantes.Dissera “nós” sem mesmo pensar a respeito, e percebeu que agora faziamesmopartedaClareira.

-Éissoaí,cara.Nãopodemosdesistir.-Comcuidado,Minhocolocoudevoltaospapéisnobaú,depois levantou-se. -Bem, temosque tentaromaisrápido possível enquanto estivermos aqui… Nos primeiros dias, você vaiapenasmeseguirparatodolugarqueeufor.Estápronto?

Thomassentiuumapertodenervosismopordentro,estrangulandooseu

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estômago.Aquiloeradeverdade…agoraeraparavaler,semfalaroupensarmaisarespeito.

-Há…estou.

-Nadade“hás”poraqui.Estáprontoounãoestá?

Thomas olhou para Minho, encontrando o seu olhar repentinamenteimplacável.

-Estoupronto.

-Entãovamoscorrer.

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ElesatravessaramaPortaOesteparadentrodaÁreaOitoeseguiramporvárioscorredores,ThomaslogoatrásdeMinho,enquantoeleviravaàdireitaeàesquerdasemparecerpensararespeito,correndootempotodo.Aluzdoiníciodamanhãseespalhavapor todaparte, tornandotudomaisbrilhanteenítido-ahera,osmurosrachados,osblocosdepedradochão.Emboraosolainda fosse demorar algumas horas para chegar ao ponto mais alto acimadeles,aluzeraabundanteparateremumavisãoclara.Thomasfaziaomelhorpossível para acompanhar Minho, precisando apressar o passo de vez emquandoparaseguirnoseurastro.

Finalmentechegaramaumcorteretangularemumaparedecompridaaonortequesepareciacomumaaberturadeporta,massemportapropriamentedita.Minhoatravessoudiretosemparar.

-IstolevadaÁreaOito…oquadradoàesquerdadapartecentral…paraaÁreaUm…oquadradonoaltoeàesquerda.Comoeudisse,essapassagemestá sempre no mesmo lugar, mas o caminho aqui pode ser um poucodiferenteporqueosmurosmudamdelugar.

Thomas o seguiu, surpreso ao ver quanto a sua respiração já se tornarapesada.Esperavaquefosseapenasonervosismo,quearespiraçãologofossevoltaraonormal.

Seguiramporumcorredorcompridoàdireita,dandodiversasguinadasàesquerda.Quando chegaram ao fim da passagem,Minho reduziu o ritmo apoucomaisqueumacaminhadaecolocouobraçoparatrás,afimdetirardobolsolateraldamochilaumlápiseumblocodeanotações.Fezumaanotação,depoisdevolveuomaterialaomesmo lugar,nuncaparandocompletamente.Thomasficou imaginandooqueescrevera,masMinhorespondeuantesquechegasseafazerapergunta.

-Euconfio…namaiorparte…namemória-oEncarregadobufava,avozfinalmentemostrando sinaisde cansaço. -Mas a cada cincovoltasmaisou

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menos, tontonotade algumacoisaquemeajudemais tarde.Amaiorparterelacionada ao que observei no dia anterior… o que está diferente hoje.DepoispossousaroMapadeontemparafazerodehoje.Moleza,cara.

Thomasestavaintrigado.Minhofizeraparecerfácil.

Eles correram durante mais algum tempo antes de chegar a umcruzamento.Tinhamtrêsescolhaspossíveis,masMinhoseguiuàdireitasemhesitar.Quandofezisso,pegouumadasfacasdobolsoe,semperderoritmo,cortouumgrandepedaçode hera domuro.Lançou-o ao chão atrás de si econtinuoucorrendo.

-Migalhasdepão?- indagouThomas, lembrando-sedoantigocontodefadas.Aqueles estranhos lampejos dopassado já quasenãoo surpreendiammais.

-Migalhasdepão-confirmouMinho.-SouoJoão,vocêaMaria.

Foramemfrente,seguindoocursodoLabirinto,oravirandoàdireita,oraà esquerda. Depois de cada volta, Minho cortava e lançava ao chão umpedaço de hera de quase um metro. Thomas não podia deixar de ficarimpressionado-Minhonemprecisavadiminuiramarchaparafazeraquilo.

-Muitobem-falouoEncarregado,respirandomaispesadamenteagora.-Suavez.

-Oquê?-Noseuprimeirodia,Thomasnãoesperavafazernadaanãosercorrereobservar.

-Corteaheraagora…Precisaseacostumarafazerissoduranteacorrida.Recolhemostudonavolta,ouatiramosparaolado.

Thomas ficou mais contente do que pensara por ter alguma coisa parafazer, embora precisasse de algum tempo para adquirir prática. Nas duasprimeirasvezes,precisouaceleraropassoparaseprepararparacortarahera,enumaocasiãoespetouodedo.MaslápeladécimatentativaestavaquasetãobomquantoMinhonatarefa.

Seguiram sempre em frente. Depois de terem corrido por um tempo -Thomasnãofaziaideiadotemponemdadistânciapercorrida,masimaginava

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unscincoquilômetros-,Minhoreduziuamarchaparaumacaminhada,depoisparouporcompleto.

- Intervalo. - Pegou amochila e tirou dela uma garrafa de água e umamaçã.

ThomasnãoprecisouserconvencidoaimitarMinho.Engoliuasuaágua,apreciandoofrescorúmidoenquantoelabanhava-lheagargantaseca.

-Vácomcalma,cabeçadebagre-repreendeuMinho.-Guardeumpoucoparamaistarde.

Thomasparoudebeber,deuumaboarespirada,depoisarrotou.Mordeuum pedaço da maçã, sentindo-se surpreendentemente renovado. Por algummotivo,voltouapensarnodiaemqueMinhoeAlbytinhamsaídoparaveroVerdugomorto-quandotudoviraraumplong.

-Vocênuncachegouamecontaroque aconteceucomoAlbynaqueledia… por que ele ficou tão mal daquele jeito. Obviamente, o Verdugoacordou,masoqueaconteceu?

Minhojárecolocaraamochilanascostas.Pareciaprontoparapartir.

-Bem,aquelamértilanãoestavamorta.Albycutucou-acomopécomoum idiota e o monstro de repente ganhou vida, os ferrões disparando, ocorpanzilbaloforolandoparacimadele.Maspareciahaveralgoerradocomaquelacoisa…elanãoatacoucomodecostume.Eracomoseestivessemaispreocupadaemfugirdali,eocoitadodoAlbyestavanocaminho.

-Entãoelafugiudevocês?-Peloqueviraapenasalgumasnoitesantes,Thomasnãopodiaimaginarisso.

Minhodeudeombros.

-Poisé,éoqueacho…talvezaquelacoisaprecisasseserrecarregadaoualgoassim.Seilá.

- O que poderia estar errado com ela? Viu algum ferimento ou coisaparecida? - Thomas não sabia que tipo de resposta estava buscando, masestavacertodequetinhadehaverumadicaouumaliçãoaaprendercomo

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queacontecera.

Minhopensouporumminuto.

- Não. Aquela mértila só parecia morta… como uma estátua de cera.Depois,bum,voltouàvida.

Thomaspensavafuriosamente,tentandoconcluiralgumacoisa,sóparaterporondeouporquecomeçar.

-Ficoimaginandoparaondeelafoi.Paraondesemprevão.Vocênão?-Ficou em silêncio por um segundo, depois continuou: - Nunca pensou emsegui-las?

-Cara,vocêdevemesmoquerermorrer,hein?Vamos,precisamosir.-EcomessecomentárioMinhoreiniciouacorrida.

Enquantooseguia,Thomastentouimaginaroqueoincomodavanofundodospensamentos.AlgosobreoVerdugoestarmortoedepoisnãomorto,algosobreparaondeteriaidodepoisdesereanimar…

Frustrado,deixouospensamentosdeladoecorreuparaalcançarMinho.

ThomascorreulogoatrásdeMinhopormaisduashoras,intercaladasporpequenos intervalos que pareciam tornar-se cada vezmais breves. Em boaformaounão,Thomassentiaoesforço.

Porfim,Minhoparoue tirouamochilamaisumavez.Elessentaram-seno chão, recostando-se contra a hera macia enquanto faziam um lanche,nenhum deles falando muito. Thomas saboreava cada bocado do seusanduícheedasverduraselegumes,comendoomaisdevagarpossível.SabiaqueMinhomandarialevantarassimqueacabassemdecomer,entãonãotevepressa.

-Temalgumacoisadiferentehoje?-quissaberThomas,curioso.

Minhoestendeuobraçoedeuumtapinhanamochila,onderepousavamosseusapontamentos.

- Só osmovimentos habituais dosmuros. Nada com que pensar em seassanhar.

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Thomas sorveuum longogole de água, erguendoos olhospara omurocobertodeheraàfrentedeles.Avistouumlampejoprateadoevermelho,algoquejáviramaisdeumaveznaqueledia.

-Qualéadessesbesourosmecânicos?-indagou.Elespareciamestarportoda parte. Então Thomas lembrou-se do que vira no Labirinto… algo queaconteceraenãotiveraaoportunidadedemencionar.-Eporqueelestêmapalavracruelescritanascostas?

-Nuncaconseguipegarum.-Minho terminoua refeiçãoe jogouforaacaixa do lanche. - E não sabemos o que essa palavra significa…provavelmente é alguma coisa para nos assustar. Mas devem ser espiões.Deles.Aúnicacoisaquepodemosadmitir.

-Quemsãoeles, afinal? - indagouThomas,prontoparamais respostas.EleodiavaaspessoasportrásdoLabirinto.-Alguémtemumapista?

-NãosabemoschongassobreosestúpidosCriadores.-OrostodeMinhose avermelhou e ele espremeu as mãos como se estivesse estrangulandoalguém.-Nãopossoesperarparapegaro…

MasantesqueoEncarregadoterminasse,Thomasestavadepédooutroladodocorredor.

-Oquefoiisso?-interrompeuele,encaminhando-separaumlampejodecinzaqueacabaradenotarportrásdaheranomuro,àalturadacabeça.

-Ah,sim,isso-disseMinho,avozindiferente.

Thomasesticouobraçoeafastouascortinasdehera,depoisolhousempalavrasparaoquadradodemetalpregadonapedracompalavrasestampadasemgrandesletrasmaiúsculas.Estendeuamãoecorreuosdedossobreelas,comosenãoacreditassenoquevia.

CATÁSTROFEERUÍNAUNIVERSAL:EXPERIMENTOLETAL

Leuaspalavrasemvozalta,depoistornouaolharparaMinho.

-Oqueéisso?-Aquilolhedeuumcalafrio;deviateralgoavercomosCriadores.

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-Sei lá, trolho.Estãopor todaaparte,comorótulosmalucosdolindoemaravilhosoLabirintoqueconstruíram.Pareidemeincomodarcomissofaztempo.

Thomasvoltou-separaolharaplaca, tentandocontrolarosentimentodecondenaçãoquesurgiaemseuíntimo.

-Nãohámuitacoisaaquiquepareçaboa.Catástrofe.Ruína.Experimentoletal.Umabeleza.

-É,umabelezamesmo,Fedelho.Vamos.

Relutante, Thomas deixou os galhos voltarem ao seu lugar anterior ejogou a mochila sobre os ombros. Em seguida partiram, as seis palavrasabrindoburacosnamentedele.

Uma hora depois do lanche, Minho parou no fim de um corredorcomprido.Eleerareto,commurossólidos,semaberturas.

-Oúltimobecosemsaída-disseeleparaThomas.-Horadevoltar.

Thomas engoliu bastante ar, tentando não pensar que aquilo era só ametadedocaminhododia.

-Nadadenovo?

-Sóasmudançasdecostumepelocaminhoquefizemosatéaqui…Faltametadepara acabar o dia - replicouMinho, enquantoolhavapara o relógiosemaparentarnenhumaemoção.-Vamosvoltar.-Semesperarporresposta,oEncarregadofezmeia-voltaesaiucorrendonadireçãodeondetinhamvindo.

Thomasoseguiu,frustradopornãoteremtempoparaexaminarosmuros,explorarumpouco.Porfim,acompanhouoritmodeMinho.

-Mas…

-Caleaboca,meu.Lembre-sedoqueeudisseantes:nãoarrisquetudodeumavez.Alémdomais,pensenisso.Vocêachamesmoqueexisteumasaídaemalgumlugar?Umapassagemsecretaoualgoparecido?

-Nãosei…talvez.Porqueperguntadessejeito?

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Minhoabanouacabeça,deuumagrandecuspidaparaaesquerda.

-Nãoexistesaída.Sómaisdamesmacoisa.Ummurodepoisdeummurodepoisdeummuro.Sólido.

Thomassentiuopesodaverdade,masresistiudequalquermodo.

-Comovocêsabe?

- Porque as pessoas que mandam os Verdugos atrás de nós não vãofacilitaranossafuga.

IssofezThomasduvidarcompletamentedosentidodaquiloqueestavamfazendo.

-Entãoporqueseincomodaremviraqui?

Minhooencarou.

-Porqueseincomodar?Porcausadisso:paraterumarazão.Masseachaque vamos encontrar um belo portão que leva para a Cidade Feliz, estáredondamenteenganado.

Thomas olhou para frente, sentindo-se tão sem esperança que quasechegouaparar.

-Quesaco.

-Éacoisamaisinteligentequejádisse,Fedelho.

Minhosorveuumaboaquantidadedearecontinuoucorrendo,eThomasfezaúnicacoisaquesabiafazer.Foiatrásdele.

O restante do dia transcorreu em meio a uma névoa de exaustão paraThomas.EleeMinhovoltaramparaaClareira,foramatéaCasadosMapas,anotaram o caminho do dia pelo Labirinto, compararam-no com o diaanterior.Depoisosmurossefecharameveioojantar.Chucktentouconversarcomeleváriasvezes,mastudooqueThomasconseguiufazerfoibalançaracabeçaouabaná-ladevezemquando,malescutandooqueogarotofalavadetãocansadoqueestava.

Antesqueocrepúsculosetransformasseemescuridãototal,elejáestava

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pronto no seu novo lugar favorito no canto da floresta, recurvado contra ahera,imaginandoseconseguiriacorreroutravez.Perguntando-secomoseriapossívelfazeramesmacoisanodiaseguinte.Especialmentequandopareciatãosemsentido.SerumCorredorperderatodooencanto.Depoisdeapenasumdia.

Cadagramadanobrecoragemquesentira,avontadedefazeradiferença,a promessa que fizera a si mesmo de devolver Chuck à família - tudo sedesvanecera em uma neblina exaustiva de desesperança, um esgotamentoprofundo.

Estava bem próximo de dormir quando uma voz falou em seupensamento,umabelavoz femininaquesoavacomoseviessedeuma fadapresa em seu crânio. Na manhã seguinte, quando tudo começava aenlouquecer,ele imaginariaseavozforadeverdadeoupartedeumsonho.Masaindaassimeleouviutudo,erecordou-sedecadapalavra:

“Tom,acabeidedesencadearoTérmino”.

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Thomasacordoucomuma luminosidade fracae semvida.Seuprimeiropensamentofoiquedespertaramaiscedodoqueohabitual,deviafaltaraindaumahoraparaosolnascer.Masentãoouviuosgritos.Edepoisolhouparacima,atravésdadensacoberturaderamos.

Océueraumalajeopacacinzenta-nãocomaluzclaranaturaldamanhã.

Levantou-sedeumsalto,apoiouamãonomuroparasefirmarenquantoesticavaopescoçoparaobservarocéu.Nemsinaldoazul,nemdopreto,nemdasestrelas,nadadaresplandecênciapúrpuradeumamanhãdespontando.Océu,cadacentímetrodele,estavacinzento.Semcoremorto.

Olhouparaorelógio-passaraumahorainteiradoseuhorárioobrigatóriode levantar. Teria acordado com o brilho do sol - como sempre fizera semdificuldadedesdeachegadaàClareira.Masissonãoocorrerahoje.

Olhoudenovoparacima,comoseesperassequetudotivessemudadoevoltado ao normal. Mas continuava cinzento. Nenhuma nuvem, nada decrepúsculo, nem os primeiros minutos do amanhecer. Só aquele tomacinzentado.

Osoldesaparecera.

Thomas encontrou amaioria dosClareanosparadosperto da entradadaCaixa, apontando para o céumorto, todomundo falando aomesmo tempo.Àquelahora,ocafédamanhãjádeveriatersidoservido,aspessoasdeveriamestar trabalhando. Mas o desaparecimento do maior item do sistema solartornara-se o assunto predominante, e todos os horários normais foramdesajustados.

Naverdade,enquantoobservavaemsilêncioacomoção,Thomasnãosesentiu em pânico ou amedrontado quanto os seus instintos indicavam quedeveria se sentir. E surpreendeu-o que tantos outros parecessem comogalinhasperdidasatiradasparaforadogalinheiro.Naverdade,eraridículo.

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Osolobviamentenãodesaparecera-issonãoerapossível.

Emborafosseissoqueparecesseteracontecido-emnenhumaparteviam-seossinaisdaboladefogo incandescente,assombras inclinadasdamanhãestavam ausentes.Mas ele e todos osClareanos eram de longe por demaisracionais e inteligentes para concluir uma coisa dessas.Não, deveria haveruma razão cientificamente aceitável para o que estavam testemunhando. Enãoimportavaoquefosse,paraThomassignificavaumacoisa:ofatodenãopoderemmais ver o sol queria dizer que, em primeiro lugar, nunca tinhamsidocapazesdisso.Umsolnãopodiasimplesmentedesaparecer.Océudelesdeviatersido-eaindaera-fabricado.Artificial.

Emoutraspalavras,osolquebrilharasobreaquelaspessoasdurantedoisanos,proporcionandocalorevidaatudo,nãoeraosolcoisíssimanenhuma.Dealgumaforma,erafalso.Tudonaquelelugarerafalso.

Thomas não sabia o que isso significava, não sabia como era possível.Mas sabiaqueessaera averdade - era aúnicaexplicaçãoquea suamenteracional podia aceitar. E a julgar pelas reações dos outros Clareanos, eraóbvioquenenhumdelesperceberaissoatéomomento.

Chuckoencontroueaexpressãodemedonosemblantedogarototocou-lheocoração.

-Oquevocêachaqueaconteceu?-indagouChuck,umtremordedardóna sua voz, os olhos grudados no céu. Thomas pensou que o pescoço deledevia estar doendo terrivelmente. - Parece um grande teto cinzento… tãopertoqueagentequasepodetocá-lo.

ThomasacompanhouoolhardeChuckelevantouacabeça.

- É, faz a gente pensar sobre este lugar. - Pela segunda vez em vinte equatrohoras,Chuckmataraacharada.Océupareciaumteto.Comootetodeumquartoimenso.-Talveztenhadadoalgumdefeito.Querdizer,talvezelevolteaseroqueera.

Finalmente,ChuckparoudeseadmirarcomocéueolhounosolhosdeThomas.

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-Algumdefeito?Oqueestáquerendodizercomisso?

Antes que Thomas pudesse responder, a lembrança distante da noiteanterior,antesdeadormecer,ocorreu-lhederepente,aspalavrasdeTeresanosseus pensamentos. Ela dissera: “Acabei de desencadear o Término”. Nãopoderiaserumacoincidência,poderia?Sentiuumardorazedoavolumar-senoestômago.Fossequalfosseaexplicação,oquequerquetivesseacontecidonocéu, o sol, fosse ele verdadeiro ou não, desaparecera. E isso não podia serumacoisaboa.

-Thomas?-chamouChuck,batendo-lhedelevenoantebraço.

-Oqueé?-AmentedeThomaspareciaenevoada.

-Oquevocêquisdizercomdefeito?-repetiuChuck.

Thomassentiaqueprecisavadetempoparapensaremtudo.

- Ah… sei lá! Deve haver coisas a respeito deste lugar que nósobviamente não entendemos. Mas não se pode fazer o sol desaparecer doespaço.Alémdomais,aindatemosbastanteluzparavertudo,pormaisfracaqueseja.Deondeseráqueelavem?

Chuckarregalouosolhos,comoseosegredomaisprofundoetenebrosodouniversoacabassedelheserrevelado.

-É,deondeseráqueelavem?Oqueestáacontecendo,Thomas?

Thomasesticouobraçoeapertouoombrodogaroto.Sentia-seestranho.

-Nãofaço ideia,Chuck.Nenhumaideia.Mas tenhocertezaqueNewteAlbyvãodescobrir.

-Thomas! -Minhovinhacorrendonadireçãodeles. - Interrompao seurecreioaquicomoChuckevamosindo.Jáestamosatrasados.

Thomas sentia-se atordoado. Por alguma razão esperava que aquele céuestranhotivessejogadopelajanelatodososplanosnormais.

-Vocêsaindapretendem irpara lá? - indagouChuck, surpreso também.Thomassentiu-segratocomogarotoporterfeitoaperguntaemseulugar.

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-Maséclaroquesim,trolho-respondeuMinho.-Vocênãotemdefazeralimpeza?-EledeslocouoolhardeChuckparaThomas.-Nomínimo,issonosforneceaindamaismotivosparadarmosoforadaqui.Seosolrealmentesumiu, não vai demorarmuito para que as plantas e animais caiammortostambém.Achoqueodesesperoaumentouconsideravelmente.

A última frase dele tocou fundo em Thomas. Apesar de todas as suasideias - todas as coisas que expressara aMinho -, não estava ansioso paramudaromodocomoascoisastinhamsidofeitasduranteosúltimosdoisanos.SentiuummistodeempolgaçãoetemorquandoentendeuoqueMinhoestavadizendo.

-Querdizerquevamosficarlátodaanoite?Vamosexplorarosmurosumpoucomaisafundo.

Minhobalançouacabeça.

-Não,aindanão.Mastalvezembreve.-Eleolhounadireçãodocéu.-Cara…quejeitodeacordar.Venha,vamosembora.

ThomaspermaneceuemsilêncioenquantoeleeMinhosepreparavametomavamumcafédamanhã rápidocomoumraio.Os seuspensamentos seconsumiamentreocéuacinzentadoeoqueTeresadissera-lheempensamento- pelo menos, pensava que fosse a garota - para participar de qualquerconversa.

O que será que ela queria dizer com Término? Thomas não conseguiaafastarasensaçãodequedeviacontaraalguém.Atodomundo.

Masnãosabiaoquesignificava,enãoqueriaquesoubessemqueouviaavoz da garota dentro da cabeça. Pensariam que ficara maluco, talvez oprendessem-eparasempredessavez.

Depois demuita deliberação, decidiumanter a boca fechada e sair paracorrer comMinho no seu segundo dia de treinamento, embaixo de um céusombrioesemvida.

ElesavistaramoVerdugoantesmesmodechegaràportaque levavadaÁreaOitoparaaÁreaUm.

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Minho achava-se a alguns passos à frente de Thomas. Ele acabara dedobrar uma esquina à direita quando se deteve abruptamente, quasederrapando com os pés imóveis. Saltando para trás, agarrou Thomas pelacamiseta,empurrando-odeencontroaomuro.

-Shh!-sussurrouMinho.-HáummalditoVerdugoaliadiante.

Thomas arregalou os olhos numa pergunta muda, sentiu o coraçãoacelerar,muitoemborajáestivessebatendoforteeseguidamente.

Minhoapenasinclinouacabeçaafirmativamente,depoispôsodedosobreos lábios. Soltou a camiseta de Thomas e deu um passo atrás, em seguidaesgueirou-secomcuidadoparaaesquinaondeviraoVerdugo.Bemdevagar,inclinou-separaa frentea fimdedarumaolhada.Thomas tevevontadedegritar-lheparaquetomassecuidado.

Minhorecuouacabeçacomforçaevoltou-separaencararThomas.Asuavozsoouaindacomoumsussurro.

- Ele está sentado lá…quase como aquele que pensamos que estivessemorto.

-Oquevamosfazer?- indagouThomas,falandoomaisbaixopossível.Tentava ignorar o pânico crescente dentro de si. - Ele está vindo na nossadireção?

-Não,idiota,acabeidelhedizerqueeleestavasentadolá.

-Edaí? -Thomasergueuasmãosparaos ladosemfrustração. -Oquevamosfazer?-FicartãopertodeumVerdugopareciaumaideiabemruim.

Minhopermaneceuparadoporalgunssegundos,pensandoantesdefalar.

-Precisamosseguirporaliparachegarànossaárea.Vamossóobservarpor enquanto… Se ele vier na nossa direção, voltamos correndo para aClareira. - Deu mais uma espiada, depois olhou rapidamente por cima doombro.-Droga,eledesapareceu!Vamos!

Minhonãoesperouumaresposta,nemviuThomasexpressarohorrorquesentia,arregalandoaindamaisosolhos.Minhopartiucorrendonadireçãoem

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que vira o Verdugo. Embora contra os próprios instintos, Thomas oacompanhou.

DisparoupelocorredoratrásdeMinho,virouàesquerda,depoisàdireita.A cada volta, eles diminuíam o passo para que o Encarregado pudesseobservarantesdedobraremaesquina.AcadavezelesussurravaparaThomasque vira a cauda do Verdugo desaparecer depois da curva seguinte. Issocontinuoupordezminutos,atéchegaremaolongocorredorqueterminavanoPenhasco, alémdoqualnãoexistianadaanão serocéu inerte.OVerdugoestavaseatirandonadireçãodaquelecéu.

Minho parou tão abruptamente que Thomas quase o atropelou. DepoisThomasolhouchocadoàfrenteenquantooVerdugoseadiantavacomosseusferrõeseselançavaemdireçãoàbordadoPenhasco,caindoemseguida,noabismo cinzento. A criatura desapareceu, uma sombra engolida por maissombras.

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Issoresolvetudo.

ThomaspermaneceuparadoaoladodelenabordadoPenhasco,olhandoparaovaziocinzentoaperderdevista.Nãohaviasinaldenada,àesquerda,àdireita,embaixo,emcima,ouàfrente,atéondeavistaalcançava.Nadaalémdeummurodeimensidãovazia.

-Resolveoquê?-indagouThomas.

-Éaterceiravezquevemosisso.Significaalgumacoisa.

-É.-Thomassabiaoqueelequeriadizer,masesperoupelaexplicaçãodeMinhodequalquermaneira.

-OVerdugomortoqueencontrei…elecorreudessemodoenuncamaisvoltou ou entrou no Labirinto.Depois enganamos aqueles desgraçados quesaltaramsobrenós.

-Enganamos?-indagouThomas.-Talveznãotenhasidotantoassim.

Minhoobservou-opensativo.

-Hum…Dequalquermaneira,vejaisso.-Eleapontouparaoabismo.-Nãotenhomuitomaisdúvidas…dealgumaforma,osVerdugosconseguemsair do Labirinto por aqui. Parece mágica, mas o desaparecimento do soltambémparece.

- Se eles podem sair dessa maneira - acrescentou Thomas, seguindo alinha de raciocínio de Minho -, também podemos. - Um arrepio deempolgaçãopercorreu-lheaespinha.

Minhodeuumarisada.

-Aí está a suavontadedemorrer denovo.Quer ir atrás dosVerdugos,quemsabecomerumsanduíchecomeles?

Thomassentiuassuasesperançasdesaparecerem.

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-Temideiamelhor?

-Umacoisadecadavez,Fedelho.Vamospegarumaspedrasefazerumteste.Devehaveralgumtipodesaídaescondida.

Thomas ajudou Minho enquanto procuravam pelos cantos e frestas doLabirinto, recolhendo quantas pedras encontrassem. Conseguiram maiscutucando rachaduras nosmuros, deixando cair pedaços de rocha no chão.Quandofinalmentereuniramumapilhaconsiderável,levaramaspedrasparaperto da borda e sentaram-se, os pés balançando no ar. Thomas olhou parabaixoenãoviunadaanãoserumabismocinzento.

Minho pegou o bloco de anotações e o lápis, colocando-os no chão aolado.

- Muito bem, vamos fazer boas anotações. E procure memorizar tudonessasuacabeçademértilatambém.Sehouveralgumtipodeilusãodeóticaescondendo a saída por esse lugar, não quero ser quem vai estragar tudoquandooprimeirotrolhotentarsaltaratravésdela.

-Esse trolhodeveria seroEncarregadodosCorredores - falouThomas,tentandofazerumapiadaparadisfarçaromedo.EstarpertodeumlugarondeosVerdugospodiamapareceraqualquerinstantecausava-lheumsuadouro.-Talvezprefirairpenduradonapontadeumabelacorda.

Minhopegouumapedradasuapilha.

-Éissoaí.Muitobem,vamosatirarumdecadavez,emziguezague,deum lado para o outro. Se existe alguns tipo de saída mágica, tomara quefuncionecomaspedrastambém…fazendo-asdesaparecer.

Thomas pegou uma pedra e atirou-a com cuidado para a sua esquerda,bem em frente de onde o muro à esquerda do corredor que levava aopenhasco encontrava a borda. O pedaço de pedra caiu. Continuou caindo.Depoisdesapareceunovaziocinzento.

Minho foi o seguinte. Lançou a sua pedra a trinta centímetros além deondeThomastinhaatiradoadele.Apedratambémcaiuláembaixo.Thomaslançououtra,amaisunstrintacentímetrosdedistância.Depoisfoiavezde

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Minho. Todas as pedras mergulharam nas profundezas. Thomas continuouseguindoasordensdeMinho-elesprosseguiramatéterassinaladoumalinhaque chegava a pelomenos uns quatrometros a partir do Penhasco, depoismudaramopadrãode trintacentímetrosdoalvoparadireitaecomeçaramavoltarnadireçãodoLabirinto.

Todas as pedras caíram. Terminada mais uma linha à frente, seguiramoutradevolta.Todasaspedrascaíram.Eleslançarampedrassuficientesparacobrirtodaametadeesquerdadaáreaàfrente,alcançandoadistânciaaquequalquerum-ouqualquercoisa-poderiasaltar.Thomassentia-secadavezmaisdesencorajadoacadalançamento,atésentirumprofundodesencanto.

Nãoconseguiaimpedir-sedesecensurar-foraumaideiaestúpida.

EntãoapedraseguintedeMinhodesapareceu.

Foiacoisamaisestranha,maisdifícildeacreditarqueThomasjáviraemtodaasuavida.

Minholançaraumapedragrande,umadasqueeleshaviamarrancadodeuma fenda no muro. Thomas ficara observando, concentrando-seprofundamenteemcadaumadaspedrasquelançavam.EssadeixaraamãodeMinho, voara em frente, quase no centro exato da linha do Penhasco,começara a sua descida para o terreno invisível lá no fundo. Entãodesaparecera, como se tivesse atravessado uma superfície de água ou deneblina.

Numinstanteestavacaindo.Noinstanteseguinte,desaparecera.

Thomasperdeuafala.

-JáatiramoscoisasdoPenhascoantes-observouMinho.-Comoéquenãopercebemosisso?Nuncavinadadesaparecer.Nunca.

Thomastossiu;agargantapareciaemcarneviva.

-Tentedenovo…talveztenhasidoumailusãonossaoucoisaassim.

Minho repetiu o gesto, atirando a pedra nomesmo lugar. De novo, eladesapareceucompletamente.

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-Talveznão tenhamolhadocomatençãodasoutrasvezesque lançaramcoisasporaí -comentouThomas. -Querdizer,deveriaser impossível…àsvezes não prestamos atenção nas coisas que não acreditamos que possamacontecer.

Elesatiraramo restodaspedras,mirandonopontooriginaleemvárioscentímetrosaoredordele.ParasurpresadeThomas,opontonoqualaspedrasdesapareciamrevelouterapenasalgoemtornodeummetroquadrado.

-Não admira que não tenhamos percebido - observouMinho, tomandonotafuriosamentedasobservaçõesedasdimensões,esboçandoumdiagramadomelhormodoquepôde.-Éumespaçobempequeno.

- Os Verdugos mal devem caber nessa coisa. - Thomas continuava deolhosatentosaoquadradoflutuanteinvisível,tentandogravaradistânciaealocalização mentalmente, lembrar-se exatamente onde ficava. - E quandosaem, eles devem se equilibrar na borda do buraco e saltar sobre o espaçovazioparaabeiradoPenhasco…senãoparamaislonge.Seeupossosaltar,estoucertoqueéfácilparaeles.

Minhoconcluiuodesenho,depoistornouaolharparaopontoespecial.

-Comoépossível,cara.Paraqueestamosolhando?

-Comovocêdisse,nãoémagia.Deveseralgumacoisacomoonossocéuficarcinzento.Algumaespéciedeilusãodeóticaouholograma,escondendouma passagem. Este lugar é todo cheio de surpresas. - E, Thomas admitiuparasimesmo,atéqueinteressante.Fezumesforçoparaimaginarquetipodetecnologiapoderiaestarportrásdetudoaquilo.

- É isso aí, cheio de surpresas, está certo. Vamos. -Minho levantou-secom um grunhido e recolocou a mochila nos ombros. - Acho melhorpercorrermosoLabirintoomaisquepudermos.Comanossanovadecoraçãodocéu,talveztenhamacontecidooutrascoisasestranhasporlá.VamoscontaraoNewteaoAlby sobre issohojeànoite.Nãosei comopodeajudar,maspelomenossabemosagoraparaondevãoosmértilasdosVerdugos.

-Eprovavelmentedeonde eles vêm - disseThomasdandoumaúltima

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olhadanapassagemoculta.-OBuracodosVerdugos.

-É,nãodeixadeserumbomnome.Vamos.

Thomasficouparadoeobservando,esperandoMinhotomarainiciativa.Vários minutos se passaram em silêncio e Thomas concluiu que o amigodeviaestartãofascinadoquantoele.Porfim,semdizerumapalavra,Minhovirou-se para partir. Thomas o seguiu com relutância, e eles correram peloLabirintocinza-escuro.

ThomaseMinhonãoencontraramnadaalémdemurosdepedraehera.

Thomas fazia o corte das ramagens e o trabalho de anotar tudo. Tinhadificuldadedereconhecerasmudançasemrelaçãoaodiaanterior,masMinhoapontavasempestanejarondeosmurostinhamsemovido.Quandochegaramaobecosemsaídafinalechegouahoradevoltarparacasa,Thomassentiuumímpetoquaseincontroláveldemandartudoparaoespaçoepassaranoiteali,sóparaveroqueacontecia.

Minhopareceuperceberesegurou-lheoombro.

-Aindanão,cara.Aindanão.

Eassimelesregressaram.

UmhumorsombriopairavasobreaClareira,umacoisafácildeacontecerquandoestátudocinzento.AluzfracanãomudaranemumpoucodesdequetinhamacordadonaquelamanhãeThomasimaginousealgumacoisapoderiamudartambémao“pôrdosol”.

MinhofoidiretoàCasadosMapasquandopassarampelaPortaOeste.

Thomas surpreendeu-se. Pensava que seria a última coisa que deveriamfazer.

- Não estámorrendo de vontade de contar aoNewt e aoAlby sobre oBuracodosVerdugos?

- Ei, ainda somos Corredores - respondeuMinho -, e ainda temos umtrabalhoafazer.

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Thomasoacompanhouatéaportadeaçodograndeblocodeconcreto,eMinhovirou-separadirigir-lheumsorrisosemgraça.

-Maséverdade,vamos láomaisdepressaquepudermosparacontaraeles.

Já havia outros Corredores na sala, desenhando os seusMapas quandoeles entraram. Nenhum disse uma palavra, como se todas as especulaçõessobreonovocéutivessemsidoesgotadas.AdesesperançanasalafezThomassentir-secomoseestivessecaminhandosobreumterrenopantanoso.Elesabiaquetambémdeviaestarexausto,masestavamuitoempolgadoparasentir-seassim-nãopodiaesperarparaverareaçãodeNewteAlbyàsnotíciassobreoPenhasco.

Sentou-seàmesaedesenhouoMapadodiacombasenoquelembravaenasanotaçõesquefizera,comMinhoobservandoporcimadosseusombrosotempo todo, dando sugestões. “Acho que aquele espaço foi na verdadeinterrompido aqui, não ali” e “Observemelhor as proporções” e “Desenhemais reto, seu trolho”. Ele era irritante, mas prestativo, e, quinze minutosdepoisdeentrarnasala,Thomasobservouoseuprodutoacabado.Sentiu-setodoorgulhoso…estavatãobomquantoqualqueroutroMapaquetinhavisto.

-Nadamal-comentouMinho.-NadamalparaumFedelho.

Minho levantou-se, encaminhou-se para o baú da Área Um e abriu-o.Thomasajoelhou-senafrentedele,pegouoMapadodiaanteriorecolocou-oladoaladodoqueacabaradedesenhar.

-Oqueéqueestouprocurando?-indagou.

-Padrões.Masobservarsódoisdiaspassadosnãovailhedizernada.Naverdade,precisaestudarváriassemanas,procurarospadrões,qualquercoisa.Sei que há alguma coisa lá, algo que vai nos ajudar. Só não conseguiencontrarainda.Comoeudisse,éumadroga.

Thomassentiuumacomichãonofundodamente,amesmaquesentiranaprimeiravezqueentraraalinaquelasala.OsmurosdoLabirintomovendo-se.Padrões. Todas aquelas linhas retas - estariam sugerindo um tipo

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completamentediferentedemapa?Indicandoalgumacoisa?Teveumaforteimpressãodequeestavadeixandopassaralgumasugestãooudicaóbvias.

Minhodeu-lheumtapinhanoombro.

-Vocêpodevoltaraquiquandoquisereestudardepoisdojantar,depoisdeconversarcomNewteAlby.Vamos.

Thomas guardou os papeis no baú e trancou-o, odiando a sensaçãoestranhaquesentia.Eracomoumacoceira.Asparedessemovendo,aslinhasretas,padrões…Tinhadehaverumaresposta.

-Tudobem,vamos.

MaltinhamsaídodaCasadosMapas,aportapesadafechando-secomumruído forteatrásdeles,quandoNewteAlbyaproximaram-se,nenhumdelesparecendo muito contente. A empolgação de Thomas transformou-se empreocupação.

-Oi-falouMinho.-Estávamosjustamente…

-Vamoslogocomisso-Albyinterrompeu.-Nãotemostempoaperder.Encontraramalgumacoisa?Qualquercoisa?

Minhochegouaseencolherantearecepçãoáspera,masparaThomasasuaexpressãopareceumaisdeconfusãodoquededecepçãoouraiva.

-Ébomvervocêstambém.Sim,encontramosalgumacoisa.

Estranhamente,Albyquasepareceudecepcionado.

- Pois toda esta mértila de lugar está caindo aos pedaços. - Lançou aThomasumolhardedesaprovaçãocomosetudofosseculpadele.

“Oquehádeerradocomele?”,pensouThomas,sentindoaprópriaraivadespontar. Tinham passado o dia trabalhando duro e era assim queagradeciam?

-Oqueestádizendo?-indagouMinho.-Oquemaisaconteceu?

Newt respondeu, indicando a Caixa com um movimento de cabeçaenquantofalava.

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-Osmalditossuprimentosnãochegaramhoje.Vêmtodasemanahádoisanos,nomesmohorário,nomesmodiadasemana.Mashojenão.

Osquatroolharamparaasportasmetálicaspresasaochão.ParaThomas,pareciapairarsobreolugaralgomaisescurodoqueoarcinzentoquecobriatodooresto.

-Ah,dessavezestamosferrados-suspirouMinho,suareaçãoalertandoThomassobreatéquepontoasituaçãoeragrave.

-Semsolparaasplantas-observouNewt-,semsuprimentosdamalditaCaixa…poisé,parecequeestamosferradosmesmo.

Alby tinha cruzado os braços, ainda olhando para a Caixa como setentasseabrirasportascomaforçadamente.ThomasesperouqueolídernãofizesseoqueviranaTransformação-oualgoemrelaçãoaele,apropósito.Especialmenteagora.

- Pois é, seja como for - continuou Minho. - Descobrimos uma coisaestranha.

ThomastorceuparaqueNewteAlbydemonstrassemumareaçãopositivaem relação às notícias, talvez até tivessem mais alguma informação quelançasseumaluzsobreomistério.

Newtarqueouassobrancelhas.

-Oquê?

Minho levou uns trêsminutos inteiros para explicar, começando com oVerdugoque seguirame terminando comos resultadosdo experimentoquefizeramatirandoaspedras.

-Deve levaratéonde…você sabe…osVerdugosmoram-disseeleaoterminar.

-OBuracodosVerdugos-acrescentouThomas.Ostrêsvoltaram-separaele, irritados, como se não tivesse o direito de se manifestar. Mas pelaprimeiravezsertratadocomoumFedelhonãooincomodoutanto.

-Queriaverpormimmesmo-falouNewt.Depoismurmurou:-Difícilde

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acreditar.-EraexatamenteoqueThomastambémachava.

-Nãoseioquepodemosfazer-disseMinho.-Talvezpossamosinventaralgumacoisaparabloquearaquelecorredor.

-Semchance-falouNewt.-Aquelesmértilaspodemescalarosmalditosmuros,lembra?Nadaquenóspudéssemosfazerimpediriaqueviessem.

Mas uma comoção do lado de fora da Sede distraiu a atenção deles daconversa. Um grupo de Clareanos permanecia na porta da frente da casa,gritandoummaisaltodoqueooutro.Chuckestavanogrupoe,quandoviuThomas e os outros, aproximou-se correndo, com uma expressão deempolgaçãonorosto.Thomasficouimaginandoqueloucurateriaacontecidoagora.

-Oqueaconteceu?-quissaberNewt.

-Elaacordou!-gritouChuck.-Agarotaacordou!

TudodentrodeThomassecontraiu;eleseapoiounaparededeconcretodaCasadosMapas.Agarota.Agarotaquefalavanasuacabeça.Quiscorrerantesqueacontecessedenovo,antesqueelafalassecomelenasuacabeça.

Maseratardedemais.

“Tom, não conheço nenhumadessas pessoas.Venha até aqui!Está tudodesaparecendo…”

“Estoumeesquecendodetudomenosdevocê…Precisolhecontarumascoisas!Masestátudodesaparecendo…”

Elenão conseguia entender comoela conseguia, comoestavadentrodasuacabeça.

Teresa fez uma pausa, depois disse uma coisa que não fez o menorsentido.

“OLabirintoéumcódigo,Tom.OLabirintoéumcódigo.”

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Thomasnãoqueriavê-la.Nãoqueriaverninguém.

AssimqueNewtpartiuparairconversarcomagarota,Thomasafastou-sesilenciosamente,apostandoqueninguémiriaseimportarcomelenomeiodetodaaempolgação.Comospensamentosdetodosocupadoscomanovidadedeagarotaterdespertadodocoma,acabousendofácil.Eleseesgueiroupelaborda daClareira e depois, começando a correr, encaminhou-se para o seulugardeisolamentoatrásdaflorestadoCampo-santo.

Agachou-senocanto,aninhou-senaheraeatirouamantasobreocorpo,cobrindo-sedacabeçaaospés.Dealgumaforma,eracomosefosseummodode se esconder da intrusão deTeresa nos seus pensamentos. Transcorreramalgunsminutos,finalmenteseucoraçãoacalmou-seatébatermaisdevagar.

-Esquecervocêfoiapiorparte.

A princípio, Thomas pensou que fosse outra mensagem na cabeça; eleapertouospunhoscontraasorelhas.Masnão,fora…diferente.Escutaracomosprópriosouvidos.Umavoz feminina.Calafrios subindopelaespinha, foiabaixandoamantabemdevagar.

Teresa achava-se à sua direita, recostada no imensomuro de pedra.Elaparecia muito diferente agora, desperta e alerta - em guarda. Usando umacamisa branca demangas compridas, jeans e sapatosmarrons, ela parecia -algoquaseimpossível-aindamaisimpressionantedoquequandoaviraemcoma.Ocabelonegroemolduravaa tezclaradorosto,osolhosazuiscomoduaslabaredas.

-Tom,vocênãose lembramesmodemim?-Avozdelaeramacia,umcontrastecomosomdesconjuntadoeásperoqueouvirapartirdelaassimquechegara,quandoelatransmitiraamensagemdequetudoiriamudar.

-Querdizerquevocê…vocêselembrademim?-indagouele,aturdidopelosomesganiçadoqueescaparanaúltimapalavra.

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-Sim.Não.Talvez.-Elaatirouosbraçosparacimaemdesagrado.-Nãoseiexplicar.

Thomasabriuaboca,depoisafechousemdizernada.

-Eumelembrodelembrar-murmurouela,sentando-secomumsuspiropesado;encolheuaspernaspara juntodocorpoepassouosbraçosaoredordos joelhos. - Sentimentos. Emoções. Digamos que tenho todos essesarquivosnacabeça,rotuladosparalembrançaserostos,maselesestãovazios.Comose tudoantesdisso fosseapenasooutro ladodeumacortinabranca.Incluindovocê.

-Mascomovocêmeconhece?-Elesentiucomoseosmurosgirassemaoseuredor.

Teresavoltou-separaele.

- Eu não sei. Alguma coisa sobre antes de virmos para o Labirinto.Algumacoisasobrenós.Estápraticamentevazio,comoeudisse.

-VocêsabesobreoLabirinto?Quemcontou?Vocêacaboudeacordar.

-Eu…Estátudomuitoconfusonestemomento.-Elasuspendeuamão.-Masseiquevocêémeuamigo.

Quaseatordoado,Thomasafastouamantaeinclinou-separafrente,paraapertaramãodela.

-GostodeouvirvocêmechamardeTom.-Assimquea frasesaiu,elenãotevedúvidasdequenãopoderiaterfaladoalgomaisimbecil.

Teresarolouosolhos.

-Esseéoseunome,nãoé?

-É,sim,masamaioriadaspessoasmechamadeThomas.Bem,anãoserNewt…elemechamadeTommy.Tommefazsentir…comoseestivesseemcasaoualgoparecido.Muitoemboraeunãosaibaoqueéestaremcasa.-Eledeuumarisadaamarga.-Achoqueestamosbemencrencados,hein?

Elasorriupelaprimeiravez,eelequaseprecisoudesviaroolhar,comosealgotãobonitonãopertencesseaumlugarassimsombrioecinzento,comose

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nãotivesseodireitodeobservaraexpressãodela.

-É,sim,estamosencrencados-confirmouela.-Eeuestoumorrendodemedo.

-Tambémestou,acrediteemmim.-Oqueeradefinitivamenteafrasedodia.

Umlongomomentosepassou,osdoisolhandoparaochão.

-Oquevocê…-ele começou, semsabermuitobemcomoperguntar. -Como…vocêfaloudentrodaminhamente?

Teresa abanou a cabeça. “Não tenho ideia… simplesmente faço”, elapensouparaele.Depoisvoltouafalaremvozalta.

-Écomosevocêtentasseandardebicicletaaqui…seelestivessemuma.Apostoquefariasempensar.Masvocêselembradeteraprendidoapedalar?

-Não.Querdizer…lembrodeandardebicicleta,masnãodeaprender.-Ele fez uma pausa, sentindo uma onda de tristeza. - Nem de quem meensinou.

-Bem-disseela,osolhostrêmuloscomoseficassesemjeitodiantedatristezainesperada.-Enfim…émaisoumenosisso.

-É,esclarecetudo.

Teresadeudeombros.

-Vocênãocontouaninguém,contou?Vãopensarquesomosloucos.

-Bem…quandoaconteceudaprimeiravez,contei.MasachoqueoNewtdevepensarqueeuestavaestressadooucoisaparecida. -Thomas sentiu-seirrequieto, comose fosseenlouquecer senão semovesse.Ele se levantouecomeçou a andar de um lado para o outro na frente dela. - Precisamosentender o que está acontecendo. Aquele bilhete estranho que você trouxedizendo ser a última pessoa a vir pra cá, o seu coma, o fato de poderconversarcomigotelepaticamente.Temalgumaideia?

Teresa acompanhou-o com o olhar enquanto ele ia de um lado para ooutro.

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- Poupe o fôlego e pare de perguntar. A única coisa que tenho sãoimpressões distantes…que você e eu éramos importantes umpara o outro,que de alguma forma estávamos acostumados um como outro.Que somosinteligentes.Queviemosaquiporumarazão.SeiquedesencadeeioTérmino,sejaláoqueissosignifique.-Elagemeu,enrubescendoviolentamente.-Asminhaslembrançassãotãoinúteisquantoassuas.

Thomasajoelhou-senafrentedela.

-Nãosão,não.Querdizer,ofatodevocêsaberqueaminhamemóriafoiarrancadasemprecisarmeperguntar…eessaoutracoisa.Vocêestámuitoàfrentedemimedetodososoutros.

Osseusolharesseencontraramporumlongotempo;pareceuparaelequeamentedelagirava,tentandodarumsentidoparatudoaquilo.

“Sóqueeunãosei”,disse-lheelamentalmente.

- Olhe aí você de novo - falou Thomas em voz alta, embora estivessealiviadopornãoseperturbarmaiscomessacapacidadedela. -Comoéquevocêconseguefazerisso?

-Euapenasfaço,eapostoquevocêtambémécapaz.

-Bem,nãodiriaqueestoumuitoansiosoparatentar.-Elevoltouasentar-se e encolheu as pernas como ela fizera. - Você disse alguma coisa paramim… nos meus pensamentos… pouco antes de me encontrar aqui. Vocêdisse:“OLabirintoéumcódigo”.Oquequisdizercomisso?

Elaabanouacabeçaligeiramente.

-Assimqueacordei,foicomosetivesseentradoemumhospício…todosaqueles caras estranhos emvolta daminha cama, omundogirando aomeuredor, as lembranças rodopiando naminha cabeça. Tenteime livrar deles eachoqueacerteium.Nãomelembrorealmenteporquedisseisso.

-Aconteceumaisalgumacoisa?

-Naverdade,sim.-Elaarregaçouamangadobraçoesquerdo,expondoobíceps.Havialetrasmiúdasescritasnapeleemtintaescura.

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-Oqueéisso?-eleperguntou,inclinando-separavermelhor.

-Leiaporsimesmo.

Asletraseramdifíceisdedistinguir,maseleconseguiuentenderquandoseaproximoubemobastante.

CRUELébom

OcoraçãodeThomasbateumaisforte.

-Jáviessapalavra…cruel.-Elevasculhounamentetentandoentenderoquepoderiasignificaraquelafrase.-Emunsserespequenosquevivemaqui.Osbesourosmecânicos.

-Oquesãoeles?-elaquissaber.

-Sãomaquininhasparecidas comum lagartoquenos espionamparaosCriadores…aspessoasquenosmandaramparacá.

Teresa considerou a informação por um instante, olhando para o vazio.Depoisvoltou-separaoprópriobraço.

-Nãome lembro por que escrevi isto - disse ela, enquanto umedecia opolegar e começava e esfregar aspalavras. -Masnãomedeixe esquecer…deveteralgumsignificado.

AstrêspalavrasgiravamsempararnamentedeThomas.

-Quandoescreveuisso?

-Quandoacordei.Deixaramumacanetaeumblocodeanotaçõesaoladodacama.Nacomoção,euescrevi.

Thomasestavaperplexocomagarota-primeiroaligaçãoquesentiracomeladesdeocomeço,depoisacapacidadedesecomunicarmentalmente,agoraisso.

-Tudosobrevocêébemestranho.Vocêjádevesaber,certo?

- A julgar pelo seu esconderijo, eu diria que você também não é tãonormal.Gostadevivernomato,né?

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Thomastentouficarsério,massorriu.Sentia-seridículo,eenvergonhadoporseesconder.

-Bem,vocêmeparecefamiliaredizquesomosamigos.Achoquevouconfiaremvocê.

Eleestendeuamãoparaoutroapertoeelaapegou,segurando-aporumlongotempo.UmarrepioatravessouThomasdemaneirasurpreendentementeagradável.

-Tudooqueeuqueroévoltarpracasa-disseela,finalmentesoltandoamãodele.-Assimcomotodosvocês.

Thomas sentiu um aperto no coração ao voltar de chofre à realidade elembrar-sedecomoomundoficarasombrio.

-É,bem,ascoisasestãomuitodifíceisnomomento.Osoldesapareceueocéu ficoucinzento,nãonosmandaramos suprimentos semanais…parecequetudovaiseacabardeumaformaoudeoutra.

Mas, antes deTeresapoder responder,Newt apareceu correndo entre asárvores.

-Mascomofoique…-disseenquantosecolocavaàfrentedeles.

Albyealgunsoutrosvinhamlogoatrásdele.NewtolhouparaTeresa.

- Como veio parar aqui? O Socorrista disse que você estava lá numinstanteenooutrotinhadesaparecido.

Teresalevantou-se,surpreendendoThomascomasuasegurança.

-Achoqueogarotoseesqueceudecontaraparteemquedeiumchutebemnaquelelugardeleepuleiajanela.

Thomas quase deu uma risada enquantoNewt virava-se para um rapazmaisvelhoparadoaliperto,cujorostoenrubesceraviolentamente.

-Parabéns,Jeff-falouNewt.-Vocêéoficialmenteoprimeirocaraaquiaserderrotadoporumagarota.

Teresanãosedeteve.

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-Continuefalandoassimeseráopróximo.

Newtvoltou-separaencararThomaseagarota,masoseurostomostravatudomenosmedo.Eleficouparado,sóolhandoparaeles.Thomasdevolveuoolhar,imaginandooquepassavapelacabeçadorapazmaisvelho.

Albyadiantou-se.

-Estoucheiodisso.-ApontouparaopeitodeThomas,quasetocando-o.-Quero saber quem é você, quem é essa trolha aqui e como vocês dois seconhecem.

Thomasquaseafrouxou.

-Alby,eujuro…

-Elaveiodiretoatévocêdepoisdeacordar,carademértila!

A raiva cresceu dentro de Thomas - e a preocupação de que Alby secomportassecomoBen.

-Edaí?Euaconheço,elameconhece…oupelomenosnosconhecíamos.Issonãosignificanada!Nãoconsigomelembrardenada.Nemela.

AlbyolhouparaTeresa.

-Oquevocêfez?

Thomas, confuso com a pergunta, voltou-se para Teresa e viu que elasabiaoqueelequeriadizer.Masnãorespondeu.

-Oquevocêfez!-Albygritou.-Primeiroocéu,agoraisso.

-Eudesencadeeialgumacoisa-respondeuelacomvozcalma.-Nãodepropósito,eujuro.OTérmino.Nãoseioqueissosignifica.

-Qualoproblema,Newt?-Thomasindagou,semquererfalarcomAlbydiretamente.-Oqueaconteceu?

MasAlbyoagarroupelacamisa.

-Oqueaconteceu?Voutecontaroqueaconteceu,trolho.Estavaocupadodemais com esses olhinhos adoráveis para dar uma espiada por aí? Para se

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incomodarempercebercomootempoenlouqueceu?

Thomas olhou para o relógio, percebendo horrorizado o que deixaraescapar,sabendooqueAlbyestavaprestesadizerantesqueeledissesse.

-Osmuros,seumértila.AsPortas.Elasnãofecharamànoite.

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Thomasemudeceu.Tudoseriadiferenteagora.Semsol,semsuprimentos,semproteçãocontraosVerdugos.Teresaestavacertadesdeocomeço-tudotinhamudado.Thomassentiucomoseoarquerespiravaficassesólido,presonagarganta.

Albyapontouparaagarota.

-Quero ela presa.Agora.Billy! Jackson!Ponhamela noAmansador, eignoremqualquerpalavraquesaiadasuabocademértila.

Teresanãoreagiu,masThomasfezobastantepelosdois.

-Oqueestádizendo?Alby,vocênãopode…-EleparouquandoAlbylançou-lheumolhardetalformaferozquefezseucoraçãohesitar.-Mas…comopodeacusá-lapelosmurosnãoteremfechado?

Newt aproximou-se, pousou a mão de leve sobre o peito de Alby edeslocou-oparatrás.

-Comonãopodemos,Tommy?Elamesmaadmitiu!

Thomas voltou-se para olhar paraTeresa, empalidecendo com a tristezaque viu nos olhos azuis. Sentia como se alguém tivesse atravessado o seupeitoeespremidooseucoração.

- Dê-se por contente por não ir junto com ela, Thomas - falou Alby,dirigindoumúltimoolharparaelesantesdesair.Thomasnuncativeratantavontadedeesmurraralguém.

Billy e Jackson adiantaram-se e agarraram Teresa pelos braços,começandoaacompanhá-lapara foradali.Antesquechegassemàsárvores,porém,Newtosdeteve.

- Fiquem com ela. Nãome importa o que aconteça, ninguém vai tocarnessagarota.Podemapostaravidanisso.

Os dois guardas concordaram, depois se afastaram, Teresa a reboque.

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Thomassofreuaindamaisaovercomoelasefoideboavontade.Enãopodiaacreditar no quanto estava triste… queria continuar conversando com ela.“Masacabeide conhecê-la”,pensou. “Nemmesmoseiquemela édireito.”Aindaassim,sabiaquenãoeraverdade.Jásentiaumaafinidadequesópodiaexistirporconhecê-laantesdaexistênciadesprovidadememórianaClareira.

“Venhamevisitar”,elalhefaloumentalmente.

Ele não sabia como fazer isso, como falar com ela daquelemodo.Mastentouassimmesmo.

“Euvou.Pelomenosestaráseguralá.”

Elanãorespondeu.

“Teresa?“

Nada.

Nostrintaminutosseguintesocorreuumaerupçãodeconfusões.

Emboranãotivessehavidonenhumamudançasensívelnaluzdesdequeosol e o céu azul haviam deixado de surgir de manhã, parecia que umaescuridão espalhava-se sobre a Clareira. QuandoNewt e Alby se reuniramcom os Encarregados e os instruíram a distribuir responsabilidades e fazercom que os seus grupos estivessem na Sede dentro de uma hora, Thomassentiu-senadamaisdoqueumespectador,semsabercomopoderiaajudar.

Os Construtores - sem o seu líder, Gally, que ainda não aparecera -receberam ordens de erguer barricadas diante de cada Porta aberta; elesobedeceram,emboraThomassoubessequenãoteriamtemposuficienteequenãohaviamateriaisquepermitissemumbomresultado.Teveaimpressãoqueos Encarregados, ao manter as pessoas ocupadas, tentavam retardar osinevitáveis ataques de pânico. Thomas ajudou enquanto os Construtoresreuniamtodososobjetossoltosquepudessemencontrareosempilhavamnasaberturas,prendendoascoisasumasnasoutrasdamelhormaneirapossível.Aquilo lhe parecia horrível, ridículo e o aterrorizava - não havia comoproteger-sedosVerdugos.

Enquanto trabalhava, Thomas vislumbrava de relance as outras tarefas

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executadasemtodaaClareira.

Todas as lanternas existentes tinham sido reunidas e distribuídas aomáximo de pessoas possível; Newt dissera ter planejado que todo mundodormissenaSedenaquelanoite,equeapagassemtodasasluzes,anãoseremsituaçõesdeemergência.AtarefadeCaçarolaeratirartodososalimentosnãoperecíveisdacozinhaearmazená-losnaSede,paraocasodeficarempresoslá.Thomasmalpodiaimaginarquantoissoseriahorrível.Outrosreuniamossuprimentoseferramentas;ThomasviuMinhotransportandoarmasdoporãopara o prédio principal. Alby deixara claro que não tinham escolha:precisavam transformar aSede na sua fortaleza e deviam fazer o que fosseprecisoparadefendê-la.

Thomasfinalmentesafou-sedosConstrutoreseajudouMinho,carregandocaixasdefacaserolosdearamefarpado.DepoisMinhofalouquetinhaumaincumbênciaespecialdapartedeNewt,emaisoumenosdisseparaThomasseafastar,recusando-searesponderqualquerumadassuasperguntas.

Isso deixou Thomas chateado, mas ele partiu assim mesmo, querendoconversar comNewt sobreoutra coisa.Finalmenteo encontrou, cruzandoaClareiraacaminhodoSangradouro.

-Newt!-chamou,correndoparaalcançá-lo.-Vocêprecisameescutar.

Newt parou tão de repente que Thomas quase se chocou contra ele. Orapazmaisvelhovirou-seedirigiuumolhartãoaborrecidoparaThomasqueelepensouduasvezesantesdedizeralgumacoisa.

-Sejarápido-falouNewt.

Thomas quase se arrependeu, sem saber como dizer o que estavapensando.

-Vocêprecisasoltaragarota.Teresa.-Elesabiaqueelasópoderiaajudar,quepoderialembrar-sedealgumacoisaimportante.

-Ah,quebomsaberquevocêsdoisestãosedandobem.-Newtcomeçouaseafastar.-Nãopercaoseutempo,Tommy.

Thomassegurou-opelobraço.

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- Escute! Tem alguma coisa a ver com ela… acho que ela e eu fomosmandadosaquiparaajudaraacabarcomtodaestacoisa.

-Estábem…terminartudodeixandoosmalditosVerdugosentraremaquie matarem todos? Já ouvi planos idiotas antes, Fedelho, mas esse ganhadisparado.

Thomasgemeu,querendoqueNewtsoubessecomosesentiafrustrado.

-Não,eunãoachoquesejaisso…osmurosnãosefecharem.

Newtcruzouosbraços;pareciaexasperado.

-Fedelho,sobreoqueestáresmungandoaí?

DesdequeviraaquelaspalavrasnomurodoLabirinto-catástrofeeruínauniversal:experimentoletal-,vinhapensandosobreelas.Sabiaque,sehaviaalguémquelhedariacrédito,essealguémseriaNewt.

- Acho… acho que estamos aqui como parte de uma espécie deexperimento, ou teste, ou algo parecido.Mas isso deve terminar de algummodo. Não podemos viver aqui para sempre… quem quer que tenha nosmandadopara cá quer o fimdisto.Deumamaneira ou de outra. -Thomassentia-sealiviadopordesafogaropeito.

Newtesfregouosolhos.

- E isso deveme convencer de que tudo está bem…que devo soltar agarota?Porqueelachegouaquiederepentetudovirouumaquestãodevidaoumorte?

-Não,vocênãoestáentendendo.Nãoachoqueelatenhaalgumacoisaavercomofatodeestarmosaqui.Elaéapenasumjoguete…elesamandaramaquicomoonossoúltimoinstrumentooudicaouoquequerquesejaparanosajudarasair.-Thomasrespiroufundo.-Eachoquememandaramparaissotambém.OfatodeelaterdetonadooTérminoporsinãoatornaumapessoaruim.

NewtolhounadireçãodoAmansador.

- Quer saber de uma coisa, estou pouco me lixando para tudo neste

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momento.Elapodepassarumanoitelá…Nomínimo,estarámaisseguradoquenós.

Thomasconcordou,vendonissoumcompromisso.

-Tudobem,vamos aguentar por estanoite, de alguma forma.Amanhã,quando tivermosumdia inteirodesegurança,podemospensarnoque fazercomela.Pensarnoquedevemosfazer.

Newtsorriucomironia.

- Tommy, o que torna amanhã diferente? Já se passaram dois malditosanos,vocêsabe.

Thomasteveumsentimentoavassaladordeque todasaquelasmudançaseramumestopim,umcatalisadorparaofimdojogo.

- Porque agora precisamos resolver isso. Seremos forçados a isso. Nãopodemosmais continuar vivendo assim, dia após dia, pensando que o quemais importa é voltar para a Clareira antes que as Portas se fechem, bemabrigadoseseguros.

Newt pensou por umminuto parado ali, a agitação dos preparativos daClareiraenvolvendoosdois.

-Irmaisfundo.Permanecerláforaenquantoosmurossemovem.

-Issomesmo-disseThomas.-Éexatamentedissoqueestoufalando.Etalvez possamos fazer barricadas ou explodir a entrada do Buraco dosVerdugos.EncontrandotempoparaanalisaroLabirinto.

-Albynãovaiquerersoltaragarota-falouNewt,inclinandoacabeçanadireçãodaSede. -Aquele cara não temvocêsdois emmuita consideração.Masnomomentoprecisamosnosprepararechegaratédemanhã.

Thomasconcordou.

-Vamosconseguirafugentá-los.

-Jáfezissoantes,nãoé,Hércules?-Semsorrirnemmesmoesperarpelaresposta,Newtseafastou,gritandoparaosgarotos terminaremo trabalhoeentraremnaSede.

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Thomasficoucontentecomaconversa-saíra-setãobemquantopoderiaimaginar.Decidiu apressar-se e conversar comTeresa antes que fosse tardedemais.EnquantocorrianadireçãodoAmansadornapartedetrásdaSede,eleobservouosClareanosentrando,amaioriacomosbraçoscheiosdeumacoisaoudeoutra.

Thomasaproximou-sedapequenacadeiaecontrolouarespiração.

-Teresa?-falouatravésdasbarrasdajaneladacelaàsescuras.

Orostodelaapareceudooutrolado,olhandoparaele.

Ele deixou escapar uma exclamação de surpresa antes de poder secontrolar;levariaumsegundopararecobraroequilíbrio.

-Vocêàsvezesseparececomumfantasma,sabia?

-Muitogentildasuaparte-disseela.-Obrigada.-Noescuro,osolhosazuispareciambrilharcomoosdosgatos.

-Nãotemdequê-respondeuele,ignorandoosarcasmo.-Escute,estivepensando.-Fezumapausaparaorganizarospensamentos.

-ÉbemmaisdoquepossodizerparaaqueleidiotadoAlby-murmurouela.

Thomasconcordou,masestavaansiosoparaexpressaroquevieradizer.

-Devehaverummododesairdestelugar…sóprecisamosnosesforçar,passarmais temponoLabirinto.Eoquevocêescreveunoseubraço,oquedisse sobre o código, tudo tem um significado, certo? - “Precisa ter”, elepensou.Nãopodiadeixardesentiralgumaesperança.

-É, sim, estivepensando amesma coisa.Masprimeiro…nãopodemetirardaqui?-Asmãosdelaapareceram,agarrandoasbarrasdajanela.

Thomassentiuavontaderidículadeestenderamãoetocá-las.

-Bem,oNewtdissequetalvezamanhã.-Thomasjáestavacontenteporele ter feito tamanha concessão. - Você vai precisar passar a noite aí. Naverdade,talvezsejaolugarmaissegurodaClareira.

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-Obrigadaporpediraele.Deveserdivertidodormirnessechãofrio.-Elafezsinalpara tráscomopolegar. -MasimaginoqueumVerdugonãopodeentrarporessajanelinha,portantoestareibem,certo?

A menção aos Verdugos o surpreendeu - ele não se lembrava de tercomentadoarespeitodelescomelaatéentão.

-Teresa,temcertezadequeseesqueceudetudo?

Elapensouporuminstante.

-Éestranho…achoquemelembrodealgumacoisa.Anãoserquetenhaouvidoaspessoasconversandoenquantoestavaemcoma.

- Bem, isso não importa agora. Só queria ver você antes de ir lá paradentroparapassaranoite.-Maselenãoqueriair;quasedesejoupoderentrarno Amansador para ficar com ela. Sorriu ironicamente por dentro - podiaimaginararespostadeNewtaessepedido.

-Tom?-chamouTeresa.

Thomaspercebeuqueolhavaparaovazioemdevaneio.

-Ah,desculpe.Diga.

Ela recolheu as mãos da janela. Ele só conseguia ver os olhos dela, obrilhoclarodasuapele.

-Nãoseiseconsigofazerisso…passartodaanoitenestacela.

Thomassentiuumatristezaincrível.TevevontadederoubaraschavesdeNewt e ajudá-la a fugir.Mas sabia que era uma ideia ridícula. Ela teria desofreresearranjarcomopodia.Fitouaquelesolhosbrilhantes.

-Pelomenosnãoficará totalmenteescuro.Parecequevamos terdenosacostumar comesse lixo de crepúsculo de vinte e quatro horas daqui pra afrente.

-É.-ElaolhouparaaSedeatrásdele,depoistornouafitá-lo.-Souumagarotaforte…ficareibem.

Thomas sentiu-se péssimo em deixá-la ali, mas sabia que não tinha

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escolha.

-Voufalarparaelessoltaremvocêbemcedo,logodemanhã,tudobem?

Elasorriu,oqueofezsentir-semelhor.

-Issoéumapromessa,certo?

-Euprometo.-Thomasfezumacontinência,tocandoatêmporadireita.-E caso se sinta sozinha, pode conversar comigo com a sua… habilidadesempre que quiser. Tentarei responder. - Ele aceitava aquilo agora, quasedesejava. Só esperava conseguir descobrir como responder, para poderemconversar.

“Logovocêvaiconseguir”,falouTeresamentalmente.

-Assimespero.-Eleficouparadoali,semquererpartir.Dejeitonenhum.

-Émelhorvocêir-disseela.-Nãoqueroteroseuassassinatobrutalnaminhaconsciência.

Thomasconseguiusorrirdiantedocomentário.

-Tudobem.Agentesevêamanhã.

Eantesquepudessemudardeideia,escapuliudali,passandopelaesquinadoprédioemdireçãoàportadafrentedaSede,exatamentequandooúltimopardeClareanosentrava, comNewt tocando-oscomogalinhas extraviadas.Thomasentroutambém,seguidodeNewt,quefechouaportaatrásdesi.

Antesqueeleatrancasse,ThomaspensouterouvidooprimeirogemidohorripilantedosVerdugos,vindodealgumlugarnofundodoLabirinto.

Anoitecomeçara.

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Amaiorpartedelesdormiaaorelentonostemposnormais,eaSedenãoestavapreparadaparaacomodartodosaquelescorpos,oquetornavaoespaçobemapertado.OsEncarregadostinhamorganizadoedistribuídoosClareanospor todos os aposentos, juntamente com mantas e travesseiros. Apesar donúmero de pessoas e do caos provocado pela mudança, um silêncioperturbador pairava sobre todas as atividades, como se ninguém quisessechamaraatençãoparaeles.

Depois de estarem todos acomodados, Thomas encontrou-se no andarsuperior com Newt, Alby e Minho, e eles finalmente foram capazes determinaradiscussão iniciadaantesnopátio.AlbyeNewtestavamsentadosnaúnicacamadoquarto,aopassoqueThomaseMinhosentarampróximoaeles nas cadeiras.Os outrosmóveis eram uma velha cômoda demadeira eumamesinha,sobreaqualrepousavaumabajur,aúnicafontedeluzdequedispunham.Aescuridãoacinzentadaládeforapareciafazerpressãosobreajanela,compromessasdecoisasruinsporacontecer.

- Issoéomaispróximoquechegueiatéagorade tudoseacabar -diziaNewt. - Está tudo danado e ainda temos de dar um beijinho de boa-noitenessesmalditosVerdugos.Suprimentoscortados,essadrogadecéucinzento,os muros abertos. Mas não podemos desistir, e todos sabemos disso. Osdesgraçadosquenosmandaramparacáouqueremqueagentemorraouestãodando uma espécie de empurrãozinho. Seja o que for, precisamos ralar aomáximoatéestarmosmortosounão.

Thomas acenava com a cabeça, mas não disse nada. Concordavatotalmente, porém não tinha ideias concretas sobre o que fazer. Seconseguisse sobreviver até o dia seguinte, talvez ele e Teresa elaborassemalgumacoisaqueajudasse.

Thomas olhou de relance paraAlby, que olhava para chão, perdido nosprópriospensamentossombrios.Seusemblanteaindaapresentavaasmarcas

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profundasdadepressão,osolhosfundosevazios.ATransformaçãoreceberaumnomebemadequado,considerando-seoquefizeracomele.

-Alby?-chamouNewt.-Vaidizeralgumacoisa?

Albytirouosolhosdochão,asurpresaestampadanorostocomosenãosoubessequehaviamaisalguémnoquarto.

-Há?Ah!Sim.Bom isso.Masvocêsviramoque acontece ànoite.SóporqueesseFedelhodeuumadesuper-heróieconseguiusobrevivernãoquerdizerqueorestodenóstenhaamesmasorte.

ThomasrolouosolhosparaoaltoeligeiramenteparaMinho,exaustodasatitudesdeAlby.

SeMinhosentiaomesmo,conseguiadisfarçarmuitobem.

-ConcordocomThomaseNewt.Precisamosparardechoramingaredesentir penadenósmesmos. -Ele esfregouasmãos juntas e sentou-semaisparaafrentenacadeira.-Amanhãdemanhã,antesdequalqueroutracoisa,vocês podem indicar equipes para passar o dia inteiro estudando osMapasenquantoosCorredoresestiveremfora.Vamosnosabasteceraomáximodesuprimentosparapoderpassaralgunsdiasláfora.

-Oquê?-reagiuAlby,finalmentedemonstrandoalgumaemoçãonavoz.-Comoassim,dias?

-Issomesmo,dias.Afinal,comasPortasabertasesempôrdosol,nãofazsentido voltar aqui. Teremos um bom tempo para ficar lá e ver se algumacoisaseabrequandoosmurossemovem.Seéqueaindasemovem.

-Dejeitonenhum-disseAlby.-TemosaSedeparanosesconder…eseisso não funcionar, ainda restam a Casa dos Mapas e o Amansador. Nãopodemos pedir às pessoas que vão lá para morrer, Minho! Quem seriavoluntárioparaumaloucuradessas?

-Eu-falouMinho.-EoThomas.

Todos se voltaram para Thomas; ele simplesmente concordou com ummovimentode cabeça.Aindaquemorressedemedo, exploraroLabirinto -

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explorá-lo de verdade - era algo que queria fazer desde a primeira vez queaprenderaalgumacoisasobreele.

- Eu irei se for preciso - falou Newt, surpreendendo Thomas; nuncahaviam conversado sobre isso, o jeito como o rapaz mais velho andavamancandoerauma lembrançaconstantedealgohorrívelque lheaconteceranoLabirinto.-EtenhocertezadequetodososCorredorestambém.

- Com essa perna estropiada? - indagou Alby, uma risada ríspidaescapando-lhedoslábios.

Newtfranziuocenho,olhandoparaochão.

-Ora,nãomesintobemempedirparaosClareanosfazeremalgoqueeumesmonãoestejadispostoafazer.

Albyatirou-sedecostasnacamaejogouospésparacima.

-Entãotudobem.Façaoquequiser.

- Fazer o que eu quero? - indagouNewt, levantando-se. -Qual é o seuproblema,cara?Poracasotemosescolha?Devemosficarporaíparados,semfazernada,esperandoseratacadospelosVerdugos?

Thomassentiuvontadedelevantareaplaudir,certodequeAlbysairiadeumavezdadepressãoedamelancolia.Masolídernãodemonstrousesentirnemumpoucorepreendidoouarrependido.

-Bem,issoparecemelhordoquecorreremdireçãoaeles-disseAlby.

Newtrecostou-senaparede.

-Alby.Vocêprecisacomeçarademonstrarmaisjuízo.

Pormaisqueodiasseadmitir,ThomassabiaqueprecisavamdeAlbyemtudooquefossemfazer.OsClareanosorespeitavam.

Finalmente,Albyrespiroufundo,depoisolhouparacadaumdeles.

- Vocês todos sabem que estou ferrado. Sério, eu… sinto muito. Nãodeveriamaisseressaporcariadelíder.

Thomasprendeu a respiração.Nãopodia acreditar queAlby acabarade

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dizeraquilo.

-Masquedroga…-começouNewt.

-Não!-Albygritou,suaexpressãodemonstrandofraqueza,derrota.-Nãofoiissooqueeuquisdizer.Estousódizendoque…achoqueprecisodeixarvocês tomarem as decisões. Não confio mais em mim mesmo. Portanto…sim,fareiqualquercoisa.

Thomas reparou que tanto Minho quanto Newt estavam tão surpresosquantoele.

- Há… tudo bem - falou Newt devagar. Como se estivesse inseguro. -Vamosfazerdarcerto,euprometo.Vocêvaiver.

- É. - murmurou Alby. Depois de uma longa pausa, ele falou com umtraço de estranha excitação na voz. - Ei, sabemde uma coisa? Ponham-mecomooresponsávelpelosMapas.VoufazercomquecadaClareanosematedetantoralarparaestudaraquelascoisas.

-Paramimparecebom-falouMinho.Thomasqueriaconcordar,masnãosabiasepodia.

Albyvoltouaapoiarospésnochão,sentando-seereto.

- Vocês sabem, foi uma besteira completa dormirmos aqui esta noite.DeveríamosestarlánaCasadosMapas,trabalhando.

Thomas pensou que essa fora a coisamais inteligente que ouviraAlbydizerdesdemuitotempo.

Minhodeudeombros.

-Provavelmenteestácerto.

- Bem… pois eu vou - falou Alby, inclinando a cabeça de maneiraconfiante.-Agoramesmo.

Newtabanouacabeçanegativamente.

-Podeesquecerisso,Alby.JáouviosgemidosdosmalditosVerdugosláfora.Podemosesperaratéoamanhecer.

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Albyinclinou-separaafrente,oscotovelossobreosjoelhos.

-Ei,seusmértilas,paremdemedizeroquefazer.Nãovenhamcomessachoradeirapracimademim.Voufazer issoepronto,euconsigo,comonosvelhostempos.Precisodealgoquememotivedeverdade.

Thomassentiu-sealiviado.Estavaenjoadodetodaaqueladiscussão.

Albylevantou-se.

-Ésério,precisodisso.-Encaminhou-separaaportadoquartocomosefossesair.

-Nãopodeestarfalandosério-falouNewt.-Nãopodeirláforaagora!

- Vou e pronto. - Alby tirou o molho de chaves do bolso e agitou-odivertido.Thomasnãoconseguiaacreditarnosúbitoacessodebravura.

-Vejovocêsdemanhã,seusmértilas.

Esaiuemseguida.

Eraestranhosaberqueanoitejáiaalta,queaescuridãodeviaterengolidoomundoaoredordeles,eaindaassimverapenasaluzacinzentadadoladodefora.IssofezThomassentir-sedeslocado,comoseavontadededormirqueaumentava a cada minuto fosse algo antinatural. O tempo se arrastavaagonizante;elesentiacomoseodiaseguintenuncafossechegar.

Os outros Clareanos tinham se acomodado, ocupados com os seustravesseiros emantas na tarefa impossível de dormir. Ninguém dizia nada,todoscomumarsérioesombrio.Sóoqueseouviaeramfungadassilenciosasesuspiros.

Thomas fezopossívelpara se forçar adormir, sabendoquecom issootempopassariamaisdepressa,masdepoisdeduashorasaindanãotiveraessasorte.Continuavaestendidonochãoemumdosaposentosnoandarsuperior,emcimadeumgrossocobertor,entreváriosoutrosClareanosamontoadosaoseulado,quasecorpoacorpo.AcamaficaraparaNewt.

Chuckforapararemoutroquarto,eporalgumarazãoThomasimaginou-oencolhidoemumcantoescuro,chorando,apertandoasmantasdeencontro

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ao peito como se fossem um ursinho de pelúcia. A imagem entristeceuThomasatalpontoquetentouapagá-ladospensamentos,masemvão.

Praticamente todos tinhamuma lanternaao ladoparaserusadaemcasodeemergência.Anãoserporisso,Newtordenaraquetodasasluzesfossemapagadas,apesardaluzpálidaefunéreadoseunovocéu-nãofaziasentidoatrair mais atenção do que o necessário. Tudo o que podia ser feito deimediatoparaprepará-losparaumataquedosVerdugosforafeito:asjanelashaviam sido fechadas com tábuas, os móveis amontoados de encontro àsportas,asfacasdistribuídascomoarmasdedefesa…

MasnadadissofezThomassentir-seseguro.

A expectativa em relação ao que poderia acontecer era desmedida, umsufocantemantodeangústiaemedoqueatudocobriaequepareciacomeçara ganhar vida própria. Ele quase desejou que os malditos simplesmenteaparecessemeacabassemlogocomtudo.Aesperaerainsuportável.

OslamentosdistantesdosVerdugosforamseaproximandoàmedidaqueanoiteavançava,cadaminutoparecendodemorarmaisdoqueoanterior.

Outrahora sepassou.Depoisoutra.Osono finalmentechegou,masempéssimas condições. Thomas calculou que eram cerca de duas horas damadrugadaquandoviroudebruçospelamilionésimaveznaquelanoite.Pôsasmãossoboqueixoeolhouparaopédacama,quaseumasombraemmeioàluzescassa.

Entãotudomudou.

Umfragormecanizadodemáquinasemmovimentoelevou-sedoladodefora,seguidodosfamiliaresestalidosdeumVerdugorolandosobreochãodepedra, como se alguém tivesse espalhado um punhado de pregos. Thomaslevantou-sedeumsalto,comoamaioriadosgarotos.

Mas Newt já estava de pé antes de todos, agitando os braços, depoisfazendosinalparasilenciarem,comodedosobreoslábios.Poupandoapernaruim, ele se encaminhouna ponta dos pés para a única janela do aposento,queforacobertaportrêstábuaspregadasàspressas.Grandesbrechasentreas

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tábuasdavamespaçodesobraparaquesevigiasseoladodefora.Comtodoocuidado, Newt inclinou-se para dar uma olhada, e Thomas avançoufurtivamenteparapertodele.

EleseagachouabaixodeNewtcontraamaisbaixadastábuasdemadeira,pressionando o olho contra a fenda - era de aterrorizar estar tão perto domuro. Mas tudo o que viu foi a Clareira descampada; não tinha espaçosuficienteparaolharparacima,parabaixoouparaoslados,sódiretoàfrente.Depois de um minuto mais ou menos, desistiu e sentou-se recostado naparede.Newtvoltouatrásesentou-senabordadacama.

Alguns minutos se passaram, vários sons de Verdugos penetraram asparedes a cada dez ou vinte segundos. Os guinchos de pequenos motoresseguidos de um rangidometálico giratório. O estalido dos ferrões contra adurezadapedra.Coisasqueestalavame se estendiamevoltavamaestalar.Thomasencolhia-sedemedotodavezqueouviaessascoisas.

Pareciahaverunstrêsouquatrodelesdoladodefora.Nomínimo.

Eleouviuosanimais-máquinasretorcidosseaproximarem,chegarembemperto, sobre os blocos de pedra lá embaixo. Todos emitindo zumbidos eestalidosmetálicos.

AbocadeThomassecou-vira-osfaceaface,recordava-semuitobemdetudo; precisou lembrar-se de respirar.Os outros no quarto estavamquietos;ninguém produziu um único som. Omedo parecia pairar no ar como umatempestadedenevenegra.

UmdosVerdugossoavacomoseestivesseseencaminhandoemdireçãoàcasa. Então o rangido dos seus ferrões contra a pedra de repente tornou-secadavezmaisprofundoeoco.Thomasconseguiavisualizar todaacena:osferrões de metal enterrando-se nas laterais de madeira da Sede, a criaturarolandoocorpovolumoso,subindoatéoquartodeles,desafiandoagravidadecomasuaforça.ThomasouviuosferrõesdoVerdugoarranharemalateraldemadeirapelocaminhoenquantoseprojetavameserecolhiam,girandoparaseprojetardenovo.Oprédiointeiroestremeceu.

Oslamentosdamadeirarangendoeestalandotornaram-seosúnicossons

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nomundoparaThomas, aterrorizantes.Eles foram ficandomais altos,maispróximos - os outros garotos tinham se amontoado no quarto omais longepossíveldajanela.Thomasfinalmenteseguiu-lhesoexemplo,Newtficouaoseulado;todosgrudadoscontraaparedeoposta,olhandoparaajanela.

Exatamente quando a situação tornou-se insuportável - quando ThomasconcluiuqueoVerdugo achava-seperto da janela - tudo ficou em silêncio.Thomasquasepodiaouviroprópriocoraçãobatendo.

Luzes tremularam lá fora, lançando estranhos feixes através dasrachadurasentreastábuasdepiadeira.Depoisumasombratênueinterrompeua luz,movendo-se de um ladopara o outro.Thomas sabia que as sondas earmamentos do Verdugo tinham se projetado, em busca de um banquete.Imaginouosbesourosmecânicosláfora,ajudandoascriaturasaencontrarocaminho. Segundos depois a sombra parou; a luz acomodou-se em umaposição,lançandotrêsfeixesimóveisdeclaridadenoquarto.

Atensãonoarerapalpável;Thomasnãoouvianinguémrespirar.Pensouque praticamente amesma coisa se passava nos outros aposentos da Sede.Entãolembrou-sedeTeresanoAmansador.

Acabaradedesejarqueeladissessealgumacoisaparaelequandoaportadocorredorabriu-sesubitamente.Gritoseexclamaçõesexplodiramemtodooquarto.OsClareanosesperavamquealgumacoisaviessepelajanela,nãodetrásdeles.Thomasvirou-separaverquemabriraaporta,esperandoquefosseChuck assustado ou quem sabe Alby arrependido. Mas quando viu quemestavalá,suacabeçapareceusecontrair,espremendoocérebroemchoque.

EraGally.

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Gallypareciaforadesicomosolhosarregalados;assuasroupasestavamemfrangalhoseimundas.Elecaiudejoelhoseficouali,opeitoarfandocomarespiraçãopesada,sugandooarcomosefossesufocar.Correuosolhospelasalacomoumcãoraivosoembuscadealguémparamorder.Ninguémdisseuma palavra. Era como se todos acreditassem - como Thomas - queGallyfosseapenasuminventodasuaimaginação.

-Elesvãomatarvocês! -gritouGally, respingandosalivapara todososlados.-OsVerdugosvãomatartodosvocês…umacadanoiteatétudoestaracabado!

Thomas observou, perplexo, quando Gally levantou-se com esforço eavançou para eles, arrastando a perna direita, mancando pesadamente.Ninguém no quarto moveu um músculo enquanto assistia à cena, todossurpresosdemaisparaesboçaralgumareação.AtémesmoNewtpermaneciamudo como um túmulo.Thomas estava quase commaismedo do visitanteinesperadodoquedoataquedosVerdugosdoladodeforadajanela.

Gallyparou,equilibrando-sepoucospassosà frentedeThomaseNewt;apontouparaThomascomumdedoensanguentado.

-Você…-dissecomumsorrisodeescárniotãoexageradoquepassoudecômico a perturbador. - É tudo culpa sua! - Sem avisar, ele lançou a mãoesquerda, o punho fechado projetando-se até chocar-se contra a orelha deThomas.Thomasdeuumgritoecaiunochão,mais tomadodesurpresadoquededor.Levantou-sedeimediatoassimqueatingiuochão.

NewtfinalmentedespertaradoseutorporederaumempurrãoemGally,quecambaleouparatráseesborrachou-sesobreumaescrivaninhaaoladodajanela.Oabajurrolouparao ladoedesfez-seempedaçosnochão.ThomasimaginouqueGallyrevidaria,maseleserecompôse,emvezdisso,dirigiuatodosumolharensandecido.

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-Nãotemmaisjeito-disseele,avozagorabaixaedistante,espectral.-Omaldito Labirinto vai matar todos vocês, seus trolhos… Os Verdugos vãomatarvocês…umacadanoiteaté tudoestaracabado…É…Émelhorqueseja assim… - Os seus olhos projetaram-se para o chão. - Eles vão matartodosvocês…umpornoite…suasestúpidasVariáveis…

Thomas ouviu assombrado, tentando dominar o medo para podermemorizartudooqueogarotoenlouquecidodizia.

Newtdeuumpassoàfrente.

- Gally, cale essa maldita boca… Tem um Verdugo bem em cima dajanela.Agorasente-seaíefiquequieto…Assim,talvezeleváembora.

Gallylevantouacabeça,osolhosapertados.

- Parece que você não entendeu nada, Newt. Você é idiota demais…semprefoiumgrande idiota.Não temsaída,nãohácomovencer!Elesvãomatarvocê,todosvocês…umporum!

Gritando a última palavra,Gally lançou-se contra a janela e começou aarrancar as tábuas como um animal selvagem tentando fugir de uma jaula.AntesqueThomasouqualquerumpudessereagir,elejáarrancaraumatábua,queatiroucontraochão.

- Não! - gritou Newt, correndo na direção dele. Thomas o seguiu paraajudar,senaacreditarnoqueestavaacontecendo.

GallyarrancavaasegundatábuanoinstanteemqueNewtoalcançou.Elegirou-apara tráscomasduasmãoseacertouacabeçadeNewt, lançando-oesparramadosobreacamaenquantoumpequenoborrifodesanguemanchavaoslençóis.Thomasaproximou-se,prontoparaumaluta.

-Gally!-gritou.-Oquevocêestáfazendo?

Ogarotoplantouospésnochão,bufandocomoumcãoesbaforido.

-Fechejáessabocasuja,Thomas.Caleaboca!Euseiquemvocêé,masnãomeimportamais.Sóvoufazeroqueécerto.

Thomassentiucomoseosseuspéstivessemcriadoraízesnochão.Estava

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completamentesurpresocomoqueGallydissera.Observouogarotovoltar-seesoltaraúltimatábua.Noinstanteemqueatábuaarrancadaalcançouochãodoquarto,ovidrodajanelaexplodiuparadentrocomoumenxamedevespasde cristal. Thomas cobriu o rosto e caiu no chão, agitando as pernas paraarrastar o corpo para o mais longe possível. Quando bateu na cama,recompôs-seeolhouparacima,prontoparaveroseumundochegaraofim.

OcorpopulsanteebulbosodeumVerdugoachava-seenfiadopelametadeatravés da janela destruída, os braços metálicos com pinças agitados etentando agarrar alguma coisa em todas as direções. Thomas estava tãoaterrorizado que mal percebera que todo mundo no quarto fugira para ocorredor-anãoserNewt,quejaziainconscientesobreacama.

Paralisado,Thomasobservouquandoumdos longosbraçosdoVerdugoadiantou-separaocorpoinerte.Issofoioquebastouparalibertá-lodomedo.Levantando-se comdificuldade, apalpou o chão ao redor embusca de umaarma.Tudooqueencontrouforamfacas-não teriamutilidadenenhumanomomento.Opânicoexplodiudentrodele,consumindo-o.

Então Gally tornou a falar; o Verdugo recolheu o braço, como seprecisasse da coisa para ser capaz de observar e ouvir. Mas o corpopermaneceupulsando,tentandoespremer-seatodocustoparadentro.

-Ninguémnunca entendeu! - gritavaogarotopor sobreohorrível somproduzido pela criatura, que se contraía tentando entrar de vez na Sede,fazendoaparedeempedaços.-Ninguémnuncaentendeuoqueeuvi,oqueaTransformação fezcomigo!Nãovolte aomundo real,Thomas!Vocênão…quer…selembrar!

Gally dirigiu a Thomas um olhar demorado e assombrado, a expressãotomada pelo terror; depois voltou-se e mergulhou de encontro ao corpoenroscadodoVerdugo.Thomasgritouenquantotodososbraçosestendidosdomonstro imediatamente se retraírame agarraramGallypelos braços e pelaspernas,impossibilitandoqueeleescapasseoupudesseserresgatado.Ocorpodo rapaz afundou vários centímetros na carne pegajosa da criatura,produzindoumsomhorríveldeesmagamento.Depois,comumavelocidade

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surpreendente, o Verdugo recuou de volta para o lado de fora do batenteestraçalhadodajanelaecomeçouadescerparaochãoláembaixo.

Thomascorreuatéoburacoescancaradoedisforme,olhouparabaixonoexatomomentoemqueoVerdugochegavaaochãoecomeçavaafugirpelaClareira, o corpo de Gally aparecendo e desaparecendo enquanto a coisarolava.As luzes domonstro brilharam commais intensidade, lançando umbrilho amarelo funesto sobre a pedra da Porta Oeste aberta, por onde oVerdugo saiu para as profundezas do Labirinto. Então, segundos depois,vários outros monstros seguiram logo atrás do companheiro, silvando eestalandocomosecomemorassemumavitória.

Thomas estava enjoado a ponto de vomitar. Ele começou a recuar dajanela,masalgumacoisadoladodeforaatraiuasuaatenção.Rapidamenteseinclinou para fora do prédio para olharmelhor. Uma forma solitária corriaatravésdopátiodaClareiraemdireçãoàsaídapelaqualGallyacabaradeserlevado.

Apesardaluzfraca,Thomasreconheceuimediatamentequemera.Entãogritou-gritouparaqueparasse-,maseratardedemais.

Minhocorriaatodavelocidade,desaparecendonoLabirinto.

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Luzes flamejarampor toda a Sede.OsClareanos corriamde um lado aoutro, todos falando ao mesmo tempo. Alguns garotos choravam em umcanto.Ocaosimperava.

Thomasignoroutudoisso.

Saiuemdisparadapelocorredor,depoisdesceuaescadasaltandodetrêsem três degraus.Abrindo caminho através de uma aglomeração na entrada,logo estava fora da Sede, encaminhando-se a toda velocidade para a PortaOeste. Fez uma parada no limite do Labirinto, os instintos forçando-o apensarduasvezesantesdeentrar.Newtchamou-ode trás,oque retardouadecisão.

- Minho foi para lá! - gritou Thomas quando Newt o alcançou, umatoalhinhapressionada contra o ferimentona cabeça.Via-se umamanchadesanguevazandopelotecidobranco.

- Eu vi - retrucou Newt, afastando a toalha para examiná-la; fez umacaretaerecolocou-anolugar.-Mértila,estádoendopracaramba.Minhodeveter fritadooúltimopedaçodecérebroqueainda lhe restava…semfalardeGally.Sempresoubequeeleeralouco.

ThomassósepreocupavacomMinho.

-Estouindoatrásdele.

-Horadebancaromalditoheróidenovo?

ThomaslançouumolharseveroparaNewt,magoadocomareprimenda.

-Achaque faço as coisas para impressionar vocês, trolhos?Se liga.Sóquerosaberdedaroforadaqui.

-Sei, tudobem,vocêémesmoumcaradurão.Masnomomento temosproblemaspiores.

-Problemas?-Thomassabiaque,sequisessealcançarMinho,nãotinha

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tempoparaaquilo.

-Alguém…-começouNewt.

-Láestáele!-gritouThomas.Minhoacabaradecontornarumaesquinaevinhacorrendonadireçãodeles.Thomasfechouasmãosemconchaaoredordaboca.-Oqueestavafazendo,seuidiota?

Minho esperou até atravessar a Porta, depois curvou-se para frente, asmãossobreos joelhos,engolindooarsofregamentealgumasvezesantesderesponder:

-Eusó…queria…tercerteza.

-Tercertezadoquê?-quissaberNewt.-Grandecoisavocêfez,seguiromesmocaminhodeGally.

Minhoendireitouocorpoepousouasmãosnosquadris,aindarespirandocomdificuldade.

-Peguemleve,caras!SóqueriaverseelesiamparaoPenhasco.ParaoBuracodosVerdugos.

-Eentão?-indagouThomas.

-Namosca.-Minhoenxugouosuordatesta.

-Nãopossoacreditar-falouNewt,quasenumsussurro.-Quenoite!

Thomas tentou refletir sobre aquele Buraco e o que tudo aquilosignificava,masnãoconseguiudesviaropensamentodoqueNewtacabaradedizerantesdeveremMinhoretornar.

-Oquevocê iamedizer agora há pouco? - indagou. -Disse que tinhaumacoisapior…

-Issomesmo.-Newtapontoucomopolegarporcimadoombro.-Vocêaindapodeveramalditafumaça.

Thomas olhou naquela direção. A pesada porta de metal da Casa dosMapas estava entreaberta, uma coluna de fumaça preta escapando pelaaberturaemdireçãoaocéuacinzentado.

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-AlguémpôsfogonosbaúsdeMapas-falouNewt.-Nãosobrounenhumpracontarhistória.

Por alguma razão, Thomas não estava assim tão preocupado com osMapas - até porque eles pareciam sem utilidade àquela altura. Depois dedeixarNewteMinho,queforaminvestigarasabotagemdaCasadosMapas,parouembaixodajaneladoAmansador.Thomasnotaraosdoistrocandoumolharcúmpliceantesdeseafastarem,comosecomunicassemalgumsegredo.Maselesóconseguiapensaremumacoisa.

-Teresa?-chamou.

Orostodelaapareceu,asmãosesfregandoosolhos.

-Alguémfoimorto?-perguntouumpoucogrogue.

-Vocêestavadormindo?-surpreendeu-seThomas.Eraumalívioverqueelapareciabem,aquiloofezrelaxar.

-Estava-respondeuela.-AtéqueouvialgumacoisaatacaraSededuasvezes.Oqueaconteceu?

Thomasabanouacabeça,incrédulo.

- Não sei como conseguiu dormir com a agitação de todos aquelesVerdugosporaí.

- Experimente sair de um coma alguma vez. Vai ver o que vai lheacontecer. -“Agora respondaàminhapergunta”,disseeladentrodacabeçadele.

Thomaspiscou, surpresoporum instantecomavoz,umavezque faziaumtempoqueelanãoagiaassim.

-Parecomessaporcaria.

-Entãomedigaoqueaconteceu.

Thomas suspirou; era uma longa história e não estava com vontade decontá-lainteiranomomento.

-VocênãoconheceoGally,maseleéumgarotosurtadoquefugiu.Então

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reapareceu,saltousobreumVerdugoeelestodossaíramparaoLabirinto.Foimuito estranho. - Ele ainda não conseguia acreditar que tivesse acontecidomesmo.

-Oquesignificamuitacoisa-falouTeresa.

-Poisé.-Eleolhouparatrás,esperandoverAlbyemalgumlugar.

ComcertezaeledeixariaTeresasairagora.OsClareanosespalhavam-sepor todoo lugar,masnãohavianemsinaldo líder.Ele tornouaolharparaTeresa.

-Sóquenãoentendi.PorqueosVerdugosiriamemboradepoisdepegaroGally? Ele disse alguma coisa sobre matarem um de nós a cada noite atéestarmostodosmortos…eledisseissopelomenosduasvezes.

Teresaatravessouasmãospelasbarras,descansandoosantebraçossobreobatentedeconcreto.

-Sóumpornoite?Porquê?

-Sei lá.Ele tambémfalouque isso tinhaaver com…experiências.Ouvariáveis.Algumacoisadotipo.-Thomasteveomesmoimpulsoestranhodanoiteanterior: - estenderobraçoe segurarumadasmãosdela.Noentanto,controlou-se.

-Tom,euestavapensandonoquevocêmecontouqueeudisse.QueoLabirinto é um código. Ficar enfurnada aqui é umamaravilha para fazer océrebrofuncionardeverdade.

-Oquevocêachaquesignifica?-Muitointeressado,eletentoubloquearos gritos e as conversas que cruzavam a Clareira enquanto os outrosdescobriamqueaCasadosMapasforaincendiada.

-Bem,osmurossemovemtodososdias,certo?

- Certo. - Ele poderia dizer que ela realmente tinha alguma coisa emmente.

-EoMinhodissequeelesachamqueháumpadrão,certo?

-Certo.-AsengrenagenstambémseencaixavamnacabeçadeThomas,

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quasecomoseumaantigalembrançacomeçassearetornar.

-Bem,nãoconsigomelembrarporquelhedisseaquilosobreocódigo.Quando saí do coma, todos os pensamentos giravam loucamente naminhacabeça, quase como se pudesse sentir alguém esvaziando a minha mente,sugandotudo.Esentiqueprecisavadizeraquelacoisasobreocódigoantesdemeesquecer.Entãodevehaverumarazãoimportante.

Thomas quase não a ouvia - estava mais concentrado nos própriospensamentosdoqueonormal.

-Eles semprecomparamoMapaque fazemdecadaáreacomododiaanterior,ecomodiaanterioràquele,ecomodiaanterioràqueleoutro,diapor dia, cada Corredor analisando a suaÁrea. E se devessem comparar osMapascomasoutrasáreas…-Silenciou,comosetivessechegadoaolimiardealgumaconclusão.

Teresapareceuignorá-lo,desenvolvendoasuaprópriateoria.

-A primeira coisa em que a palavra códigome faz pensar é em letras.Letras do alfabeto. Quem sabe o Labirinto esteja tentando soletrar algumacoisa.

Tudose juntou tão rápidonamentedeThomasqueelequaseouviuumdique,comoseaspeçastodasseencaixassemnolugaraomesmotempo.

-Vocêestácerta…vocêestácerta!MasosCorredoresviramacoisademaneiraerradaotempotodo.Elesanalisaramdeumjeitoerrado!

Dessa vez, Teresa segurou as barras com força, os nós dos dedosempalidecendo,orostopressionadocontraosbastõesdemetal.

-Comoassim?Doquevocêestáfalando?

Thomas agarrou-se às duas barras exteriores às que ela segurava,aproximando-se a ponto de sentir o cheiro dela - um cheirosurpreendentementeagradáveldesuoreflores.

-Minho disse que os padrões se repetiam, só que eles não conseguiamdescobriroqueissosignificava.Maselessempreosanalisaramáreaporárea,

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comparandoumdiaao seguinte.E secadadia fosseumapeçadiferentedocódigo,dealgummodoelesdevessemusartodasasoitoáreasjuntas?

- Você acha que talvez cada dia tente revelar uma palavra? - indagouTeresa.-Comosmovimentosdosmuros?

Thomasinclinouacabeçaconcordando.

-Ou talvezuma letrapordia, sei lá.Mas eles semprepensaramqueosmovimentosrevelariamcomoescapar,nãocomodecifraralgumacoisa.Elesestudavamoconjuntocomoummapa,nãocomoaimagemdealgumacoisa.Precisamos… - Então ele parou, lembrando-se do que Newt acabara deinformar.-Ah,não!

Teresafixouosolhosnele,preocupada.

-Algumproblema?

-Ah, não!Não, não, não…-Thomas soltou as barras e cambaleouumpasso para trás quando se deu conta. Virou-se para olhar para a Casa dosMapas. A fumaça diminuíra, mas ainda saíam baforadas pela porta, umanuvemescuraedensacobrindotodaaregião.

-Qual o problema? - repetiuTeresa. Ela não conseguia ver aCasa dosMapasdeondeseencontrava.

Thomasvoltouaencará-la.

-Nãopenseiquefosseimportante…

-Oquê?!-exigiuela.

-AlguémpôsfogoemtodososMapas.Sehaviaumcódigo,jáera.

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Já volto - falou Thomas, virando-se para ir embora. O seu estômagoestavacheiodeácido.-VouprocuraroNewt,versesobroualgumMapa.

-Espere!-Teresagritou.-Metiredaqui!

Masnãohaviatempo,eThomassentiu-sepéssimoemrelaçãoaisso.

-Nãoposso…jávolto,prometo.

Elevirou-seantesqueelapudesseprotestarepartiuemvelocidadeatéaCasa dosMapas e sua espessa nuvem de fumaça negra. Pontadas de dor oconsumiampordentrodemaneiratorturante.SeTeresaestivessecertaeelesestivessem tão perto de descobrir alguma pista de como sair dali, toda apossibilidadeliteralmenteseconsumiranaschamas…Eratãoperturbadorquechegavaadoer.

A primeira coisa que Thomas viu quando chegou lá foi um grupo deClareanosamontoadosdoladodeforadagrandeportadeaço,aindaaberta,asuabordaexteriorescurecidapelafuligem.Mas,quandochegoumaisperto,elepercebeuqueestavamrodeandoalgumacoisanochão,todosolhandoparaaquilo.AvistouNewtajoelhadonochão,inclinadosobreumcorpo.

Minho estava em pé atrás dele, parecendo profundamente perturbado esujo,epercebeuprimeiroapresençadeThomas.

-Paraondevocêfoi?-indagou.

- Fui conversar com a Teresa… O que aconteceu? - Ele esperouansiosamentepelopróximogolpedemásnotícias.

AtestadeMinhofranziu-sefuriosamente.

-AnossaCasadosMapasfoiincendiadaevocêsaiuparaconversarcomasuanamoradinha?Oquedeuemvocê?

Thomas sabia que a reprimenda seria dolorosa, mas estava preocupadodemaisparaisso.

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-Nãopenseiqueainda tivesse importância…sevocêsnãoconseguiramdecifrarosMapasatéagora…

Minho pareceu muito aborrecido, a luz fraca e a neblina de fumaçatornandooseusemblanteaindamaissinistro.

-Ah,é,essaseriaamelhorhoraparadesistir.Que…

-Medesculpe…sóconteioqueaconteceu.-Thomasinclinou-sesobreoombrodeummeninomagroàsuafrenteparaterumavisãomelhordogarotonochão.

EraAlby,caídodecostas,umimensocortenatesta.Osangueescorriadeambos os lados da cabeça, uma parte sobre os olhos, onde formava umacrosta.Newt limpava o ferimento comuma ataduramolhada, com extremocuidado,fazendoperguntasemumsussurrotãobaixoquenãosepodiaouviro que dizia. Thomas, preocupado com Alby, apesar do seu maucomportamentorecente,voltou-separaMinhoerepetiuapergunta.

-Winstonencontroueleaqui,meiomorto,aCasadosMapasemchamas.Algunstrolhosentrarametiraramascoisas,mastardedemais.Todososbaúsviraramcinzas.SuspeiteideAlbyaprincípio,masquemfezissobateucomacabeçademértiladelecontraamesa…vocêpodeveronde.Éumanojeira.

-Quemvocêachaquefezisso?-Thomashesitavaemcontar-lhesobreapossível descoberta que ele eTeresa haviam feito. SemMapas, estava tudoperdido.

- Será que foi oGally, antes de aparecer naSede e pirar daquele jeito?QuemsabeosVerdugos?Nãoseinemquerosaber.Nãointeressa.

Thomasficousurpresocomasúbitamudançadeopinião.

-Ei,agoraqueméqueestádesistindo?

Minho virou a cabeça com tamanha rapidez que Thomas recuou umpasso. Apesar da raiva aparente, rapidamente esta se fundiu com umaexpressãoestranhadesurpresaouconfusão.

-Nãofoioqueeuquisdizer,trolho.

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Thomassemicerrouosolhosdecuriosidade.

-Oquevocê…

- Só feche a matraca por ora. - Minho pôs os dedos sobre os lábios,correndo os olhos pelos lados para ver se alguém os observava. - Cale amatraca.Vaidescobrirlogo,logo.

Thomas respirou fundo e pensou. Se esperava que os outros garotosfossemsinceros,deviasersincero também.DecidiuqueseriamelhorcontarparaelesobreopossívelcódigodoLabirinto,comousemMapas.

-Minho,precisocontarumacoisaavocêeaoNewt.EprecisamossoltaraTeresa…talvezelaestejamorrendodefome,epodemosusaraajudadela.

-Aquelagarotaidiotaéaúltimacoisacomqueestoupreocupado.

Thomasignorouoinsulto.

-Sónosdêalgunsminutos…temosumaideia.TalvezaindafuncioneseosCorredoreslembraremdosseusMapas.

Issopareceu atrair toda a atençãodeMinho -mas, de novo, ele adotouaquela expressão estranha, como se Thomas tivesse deixado de perceberalgumacoisamuitoevidente.

-Umaideia?Comoassim?

-ÉsóviremcomigoatéoAmansador.VocêeoNewt.

Minhopensouporumsegundo.

-Newt!-chamouele.

-Oquefoi?-Newtlevantou-se,redobrandoopanoensanguentadoparaencontrar uma parte limpa. Thomas não pôde deixar de notar que cadacentímetroestavaempapadodevermelho.

MinhoapontouparaAlbynochão.

-DeixequeosSocorristascuidemdele.Precisamosconversar.

Newt lançou-lhe um olhar de interrogação, depois entregou o pano ao

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Clareanomaispróximo.

-Vá procurar o Clint… diga a ele que temos problemas piores do quecarascommalditosestilhaços. -Assimqueogarotopartiupara fazeroquemandara,Newtafastou-sedeAlby.-Conversarsobreoquê?

Semdizernada,MinhoindicouThomascomummovimentodecabeça.

-Ésóviremcomigo-falouThomas.Entãovoltou-see,semesperarporresposta,encaminhou-separaoAmansador.

-Deixemelasair.-Thomasparounaportadacela,osbraçoscruzados.-Deixem ela sair e depois conversamos. Acreditem em mim… vocês vãoquerersaber.

Newt estava coberto de fuligem e sujeira, o cabelo empastado de suor.Comcerteza,nãodeviaestardemuitobomhumor.

-Tommy,issoé…

- Por favor. Basta abrir a porta… deixe ela sair. Por favor. - Ele nãodesistiriadessavez.

Minhoparounafrentedaportacomasmãosnosquadris.

-Comopodemosconfiarnela?-indagou.-Assimqueelaacordou,todoolugarpartiuempedaços.Elamesmaadmitiuterdeflagradoalgumacoisa.

-Eletemrazão-falouNewt.

ThomasapontouparaaportaatrásdaqualestavaTeresa.

-Podemosconfiarnela.Todavezquefaleicomela,foisobrecomotentardar o fora daqui. Ela foimandada para cá exatamente como todos nós…éburricepensarqueelasejaresponsávelporqualquercoisaqueaconteçaaqui.

Newtgrunhiu.

- Então, que droga demértila ela quis dizer com aquela história de terdesencadeadoalgumacoisa?

Thomasencolheuosombros, recusando-seaadmitirqueNewt tinhaumbomargumento.Deviahaverumaexplicação.

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- Quem sabe… Ela podia estar com as ideias mais malucas na cabeçaquando acordou.Vai ver que todos nós ao sair daquelaCaixa falamos todotipodebesteiraantesdeacordarparaarealidade.Deixemelasair.

NewteMinhotrocaramumolhardemorado.

- Ora, vamos - insistiu Thomas. - O que ela pode fazer, sair por aíesfaqueandocadaClareanoatéamorte?Semessa.

Minhosuspirou.

-Certo.Deixeessagarotaidiotasair.

-Nãosou idiota! -Teresagritou,avozabafadapelasparedes. -Eestououvindotudooqueestãodizendo,seusimbecis!

Newtarregalouosolhos.

-Quedocedegarotavocêfoiarrumar,Tommy.

-Vamoslogo-disseThomas.-Estoucertodequetemosumaporçãodecoisaspara fazerantesdosVerdugosvoltaremànoite…Issosenãovieremduranteodia.

Newtgrunhiueadiantou-separaoAmansador,tirandoaschavesdobolsoeabrindoaporta.Depoisdealgunsrangidosaportaseabriu.

-Podesair.

TeresasaiudapequenaconstruçãoefuzilouNewtcomumolharraivosoaopassarporele.ApenasrelanceouaborrecidaparaMinho,depoisparouaolado deThomas.O braço dela esfregou no dele; arrepios correram por suapele,eelesentiu-semortalmentesemgraça.

-Muitobem,fale-disseMinho.-Oqueétãoimportante?

ThomasolhouparaTeresa,imaginandocomodizeraquilo.

-Oquê?-disseela.-Falevocê…elespensamquesouumaserialkiller.

-É,sim,vocêparecemuitoperigosa-murmurouThomas,masvoltouaatençãoparaNewteMinho.-Muitobem,quandoTeresacomeçouasairdosono,umaslembrançascontinuaramnosseuspensamentos.Ela,hã…-elese

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conteve,apontodedizerqueelafalavanasuamente-elamedissedepoisque se lembrava que o Labirinto é um código. Que talvez, em lugar dedecifrá-lo para encontrar uma saída, devêssemos ficar atentos a umamensagemqueelepossaestarnosenviando.

-Umcódigo?-indagouMinho.-Comopodeserumcódigo?

Thomasabanouacabeça,desejandopoderresponder.

-Eunãoseibem…vocêémuitomaisfamiliarizadocomosMapasdoqueeu. Mas tenho uma teoria. É por isso que estava esperando que vocêspudessemselembrardealgunsdeles.

Minho olhou para Newt, as sobrancelhas erguidas em dúvida. Newtinclinouacabeçaconcordando.

-Oquefoi?-surpreendeu-seThomas,percebendoqueguardavamalgumainformaçãoparaelesmesmos.-Vocêsdoisestãoagindocomosetivessemumsegredo.

Minhoesfregouosolhoscomasduasmãoserespiroufundo.

-NósescondemososMapas,Thomas.

Aprincípionãocaiuaficha.

-Oquê?

MinhoapontouparaaSede.

-EscondemososmalditosMapasnasaladearmas,deixandobobagenslánolugardeles.PorcausadaadvertênciadeAlby.EporcausadotalTérminoqueasuanamoradadesencadeou.

Thomas ficou tão entusiasmado de ouvir aquilo que por um instanteesqueceu-sedecomoascoisas tinhamse tornado tãohorríveis.Lembrou-sedeMinho agindo de forma suspeita no dia anterior, dizendo que tinha umatarefaespecial.EntãoolhouparaNewt,queconcordoucomummovimentodecabeça.

-Elesestãosegurinhosdasilva-disseMinho.-Cadaumdosqueforamfeitosporaquelestrolhos.Portanto,sevocêtemumateoria,continuefalando.

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-Leve-meatéeles-pediuThomas,ansiosopordarumaolhada.

-Muitobem,vamoslá.

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Minho acendeu a luz, fazendo Thomas semicerrar os olhos por umsegundo até se acostumar com a claridade. Sombras ameaçadoras pendiamsobreascaixasdearmasespalhadaspelamesaepelopiso, facas,bastõeseoutrosinstrumentosasquerosospareciamestaresperando,prontosparaganharvidaprópriaemataraprimeirapessoaidiotaobastanteparaseaproximar.Ocheirodeboloreumidadesócontribuíaparaintensificaramáimpressãoqueasalacausava.

- Tem uma despensa oculta aqui atrás - explicouMinho, passando poralgumasprateleirasparachegaraumcantoescuro.-Sópoucosdenóssabemsobreela.

Thomasouviuo rangidodeumavelhaportademadeira e entãoMinhoarrastouuma caixa de papelãopelo chão; o atrito sobre o piso soava comoumafacacortandoumosso.

-Guardeioconteúdodecadabaúnasuaprópriacaixa,oitonototal.Estãotodasali.

-Aqualcorrespondeesta?-quissaberThomas;eleseajoelhouaoladodacaixa,ansiosoparacomeçar.

-Abraevejavocêmesmo…cadapáginaestáidentificada,lembra?

Thomaspuxouasabasentrecruzadasatéqueelasseabriram.

Os Mapas da Área Dois formavam uma pilha bagunçada. Thomasestendeuamãoepuxouomaçodepapéisparafora.

-Ok-disseele.-OsCorredoressemprecompararamumdiacomooutro,procurandoversehaviaumpadrãoquedealgumaformaajudasseadescobrirummeiodeencontrarasaída.Vocêmesmodissequenãosabiadeverdadeoquevocêsestavamprocurando,mascontinuavamaestudarosMapasassimmesmo.Certo?

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Minhobalançouacabeçaconcordando,osbraçoscruzados.Eleobservavacomosealguémestivesseprestesarevelarosegredodaimortalidade.

-Bem -Thomas continuou -, e se todososmovimentosdosmurosnãotivessemnadaaver comummapaouum labirintoouqualqueroutra coisadessetipo?Eseemvezdissoopadrãorepresentassepalavras?Algumtipodedicaquenosajudeaescapar.

MinhoapontouparaosMapasnamãodeThomas,soltandoumsuspirodefrustração.

-Cara, você faz alguma ideia de quantas vezes estudamos isso aí?Nãoachaqueteríamosnotadosehouvessealgumasugestãodemalditaspalavras?

-Talvezsejamuitodifícilveraolhonu,apenascomparandoumdiacomoseguinte.Esenãodevessemcompararumdiacomoseguinte,masobservarumdiadecadavez?

Newtdeuumarisada.

-Tommy,possonãoserocaramaisespertodaClareira,masparecequevocêestáfalandoumaenormebobagem.

Enquantoelefalava,amentedeThomasfuncionavaaindamaisrápido.Arespostaachava-seaoseualcance-elesabiaqueestavaquaselá.Sóqueeramuitodifíciltraduzirempalavras.

-Tábom,eusei-disse,decididoacomeçar.-SemprehouveumCorredorresponsávelporcadaárea,certo?

-Certo-respondeuMinho.Elepareciagenuinamenteinteressadoeprontoparaentender.

-EesseCorredorfaziaumMapaacadadia,edepoisocomparavacomosMapas dos dias anteriores, dentro dessa área. E se, em vez disso, vocêsdevessemcompararasoitoáreasentresi,todososdias?Cadadiasendoumapistaoucódigoindividual?Algumavezvocêscompararamumaáreacomasoutras?

Minhocoçouoqueixo,confirmandocomummovimentodecabeça.

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-Sim,maisoumenos.Tentamosversefaziamalgumsentidoquandoascolocávamosjuntas…éclaroquefizemosisso.Tentamostudo.

Thomaspuxouaspernasparabaixodesi, estudandoosMapasnocolo.Mal conseguia ver as linhas do Labirinto desenhadas na segunda páginaatravés da página que estava por cima. Nesse instante, ele soube o queprecisavamfazer.Entãoergueuosolhosparaosoutros.

-Papel-manteiga.

-Há?-surpreendeu-seMinho.-Oqueéque…

-Apenasconfieemmim.Precisamosdepapel-manteigaedetesouras.Etodasascanetaspretastipomarcadorelápisquepuderemencontrar.

Caçarolanãogostoumuitoque lhe tomassemumacaixa inteiraderolosde papel-manteiga, especialmente depois do corte dos suprimentos. Eleargumentouqueesseeraumdositensquesemprepedia,jáqueousavaparaassar. Finalmente, para convencê-lo a entregar o papel, foi preciso que lhecontassemparaqueprecisavam.

Depois de dez minutos procurando canetas e lápis - a maioria seencontravanaCasadosMapaseforadestruídanoincêndio-,Thomassentou-seàmesadetrabalhonoporãodosarmamentoscomNewt,MinhoeTeresa.Nãotinhamconseguidoencontrartesouras,assimThomaspegaraafacamaisafiadaqueconseguiraencontrar.

-Tomaraqueissodêcerto-falouMinho.Suavoztransmitiaumtoquedeadvertência,masosolhosdemonstravamalguminteresse.

Newtinclinou-separaafrente,apoiandooscotovelossobreamesa,comoseesperasseporumtruquedemágica.

-Vamoslogocomisso,Fedelho.

-Muitobens. -Thomasestavaansiosopor isso,mas tambémmorriademedoquepudessedaremnada.EleentregouafacaaMinho,depoisindicouopapel-manteiga.-Comececortandoretângulos,maisoumenosdotamanhodosMapas.NewteTeresa,vocêspodemmeajudarapegarosprimeirosdezMapasmaisoumenosdecadacaixadeárea.

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- O que é isso, recorte-e-cole? -Minho segurou a faca e olhou para oobjetoaborrecido.-Porquenãonosdizlogoqueplongestamosfazendocomtudoisso?

- Não tenho mais o que explicar - falou Thomas, sabendo que sóprecisavam ver o que ele estava imaginando. Levantou-se para ir dar umabusca na despensa onde estavam os mapas. - Será mais fácil mostrar paravocês. Se estiver errado, paciência, podemos voltar a correr pelo Labirintocomocamundongos.

Minho suspirou, irritado, murmurando alguma coisa inaudível. Teresaficaraquietaporumtempo,masfaloudentrodacabeçadeThomas:

“Seioquevocêestáfazendo.Brilhante,deverdade”.

Thomaslevouumsusto,mastentoudisfarçardamelhormaneirapossível.Sabiaquenãopodiademonstrarqueouviavozesdentrodacabeça-osoutrospensariamqueestavamaluco.

“Só… venha…me… ajudar”, tentou responder, pensando cada palavraseparadamente,procurandovisualizaramensagem,enviá-la.MasTeresanãorespondeu.

-Teresa -disseeleemvozalta -,poderiameajudarumsegundo?-Eleindicouadespensacomummovimentodecabeça.

Os dois foram para a salinha empoeirada e abriram todas as caixas,pegando uma pequena pilha de Mapas de cada uma. Voltando à mesa,Thomas descobriu que Minho já cortara vinte folhas, fazendo uma pilhabagunçadaàdireitaenquantoatiravacadafolhanovaporcima.

Thomassentou-seepegoualgumas.Segurouumdospapéiscontraaluz,viu como ele deixava passar um brilho leitoso. Era exatamente do queprecisava.

Pegouummarcador.

-Muitobem,todomundodesenhaosdezúltimosdiasmaisoumenosemuma folha desta pilha. Não se esqueçam de identificar em cima parapodermos saber a que dia correspondem. Quando terminarem, acho que

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poderemosveralgumacoisa.

-Oque…-começouMinho.

-Continuecortandoaí,droga-ordenouNewt.-Achoqueseiaondeelequerchegar.Thomassentiu-sealiviadoporalguémfinalmenteentender.

Elesseentregaramàtarefa,passandoodesenhodosMapasoriginaisparao papel-manteiga, um por um, tentando fazer um tracejado bem claro ecorreto aomesmo tempo que trabalhavam omais rápido possível. Thomasusoualateraldeumatabuinhaqueencontroucomoumaréguaimprovisada,mantendo as suas linhas bem retas. Logo ele tinha terminado cincomapas,depois mais cinco. Os outros seguiram o mesmo ritmo, trabalhandofebrilmente.

Enquanto desenhava, Thomas começou a sentir um certo pânico, umasensaçãoincômodadequeoqueestavamfazendoeraumtotaldesperdíciodetempo.MasTeresa,sentadaaoladodele,eraumexemplodeconcentração,alínguaaparecendonocantodabocaenquantodesenhavaaslinhasdeumladoparaooutro,paracimaeparabaixo.Elapareciamuitoconfiantedequeelesestavamnocaminhocerto.

Caixaporcaixa,áreaporárea,seguiramemfrente.

-Pramimchega-Newtanunciou,quebrandoosilêncio.-Osmeusdedosestãoqueimando.Vamosversefunciona.

Thomasabaixouacaneta,depoisflexionouosdedos,naesperançadequeestivessecertosobretudoaquilo.

-Tá,passemparamimosúltimosdiasdecadaárea…Façampilhassobreamesa,emordemdesdeaÁreaumatéaÁreaOito.Aumaqui-eleapontouparaumaextremidade-eaOitoali.-Eleapontouparaaoutraextremidade.

Em silêncio, eles fizeram o que Thomas pedira, separando tudo o quehaviamdesenhadoemoitopilhasbaixasdepapel-manteigaalinhadassobreamesa.

Agitadoenervoso,Thomaspegouumapáginadecadapilha,certificando-se de que eram domesmo dia,mantendo-as em ordem.Depois colocou-as

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umaemcimadaoutra,demodoquecadadesenhodoLabirintocoincidissenomesmodiaemcimaeembaixo,atépoderolharparaoitoáreasdiferentesdoLabirintodeumasóvez.Achouincríveloqueviu.Quasecomonumpassedemágica,comoumquadroentrandoemfoco,umaimagemapareceu.

Teresaofegoubaixinho.

Aslinhassecruzavam,paracimaeparabaixo,detalmaneiraqueoqueThomas tinhanasmãospareciaumagradequadriculada.Masdeterminadaslinhasnomeio-linhasqueporacasoapareciamcommaisfrequênciadoquetodasasoutras-produziamumaimagemligeiramentemaisescuradoqueorestante.Erasutil,mas,semsombradedúvida,davaparaver.

Bemnocentrodapáginavia-sealetra“F”.

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Thomas sentiu várias emoções ao mesmo tempo: alívio por terfuncionado, surpresa, entusiasmo, maravilhando-se ao pensar aonde aquilopoderialevar.

- Cara… - falouMinho, resumindo na sua perplexidade o que Thomassentia.

-Podeserumacoincidência-interveioTeresa.-Continue…depressa!

Thomascontinuou,juntandoasoitopáginasdecadadia,emordemdesdeaÁreaUmatéaÁreaOito.Todasasvezes,umaletravisívelformava-senocentro das linhas entrecruzadas.Depois do “F” foi um “L”, então um “U”,depoisum“T”,um“U”eemseguidaumA”.Porfim,“P”…“E”…“G”…

-Vejam - falouThomas, apontando para a fileira de pilhas que haviamformado,confuso,mascontenteporas letrasseremtãoevidentes. -Formou“FLUTUA”edepois“PEG”.

-Flutuapeg?-estranhouNewt.-Nãofazsentido,paramimnãoparecedeformaalgumaumcódigodesalvação.

-Precisamoscontinuarcommaispáginas-falouThomas.

Maisumacombinaçãooslevaramaperceberqueasegundapalavraeranaverdade“PEGA”.“FLUTUA”e“PEGA”.

-Nãoéumacoincidência.

-Definitivamente,não-concordouThomas.Nãoaguentavadeansiedadeparavermais.

Teresaapontouparaadespensa.

-Precisamos fazeromesmocom todoseles… todas aquelas caixasqueestãolá.

-Éissomesmo-Thomasconcordou.-Vamoslá.

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-Nãopodemosajudar-falouMinho.

Ostrêsolharamnasuadireção.Eledevolveuoolhar.

- Pelo menos não eu nem o Thomas. Precisamos fazer com que osCorredoressaiamparaoLabirinto.

-Oquê?-indagouThomas.-Issoémuitomaisimportante!

- Pode ser - respondeuMinho calmamente -, mas não podemos perdernemumdialá.Aindamaisagora.

Thomassentiuumassomodedecepção.CorrernoLabirintopareciaumdesperdíciodetempoemcomparaçãoadescobrirocódigo.

-Porque,Minho?Vocêdissequeopadrãovinhaserepetindohámeses…umdiaamaisnãoquerdizernada.

Minhobateuamãocomviolênciasobreamesa.

- Isso é besteira, Thomas! De todos os dias, este pode ser o maisimportanteparaestar lá.Algumacoisapodetermudado,algumacoisapodeter-se aberto. Na verdade, como os malditos muros não estão se fechandomais, acho que deveríamos testar a sua ideia…passar a noite lá e explorarmaisafundo.

Aquilo atiçou o interesse deThomas - ele vinha querendo fazer aquilo.Emconflito,perguntou:

-Masequantoaocódigo?Equanto…

- Tommy - falou Newt em tom consolador. - Minho está certo. VocêstrolhosdevemirláfazerasuaCorrida.Vouconvocaralgunsgarotosemquepodemosconfiarpara trabalharnistoaqui. -Newt sooumaiscomo líderdoquenunca.

-Eutambém-concordouTeresa.-VouficareajudaroNewt.

Thomasolhouparaela.

- Tem certeza? - Estava louco para desvendar o código por si só, masconcluiuqueMinhoeNewtestavamcertos.

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Elasorriuecruzouosbraços.

- Se forem decifrar um código secreto de um conjunto complexo dediferentes labirintos, tenhocertezadequeserápreciso terocérebrodeumagarota comandando tudo. -Seu sorriso irônico transformou-se emumardeafetação.

-Seévocêquemdiz.-Elecruzouosbraçostambém,olhando-acomumsorriso,perdendoderepenteavontadedepartir.

-Bom isso. -Minhobalançouacabeçaevirou-separa sair. -Está tudobemaqui.Vamos.-Saiuemdireçãoàporta,masparouquandopercebeuqueThomasnãooacompanhava.

-Nãosepreocupe,Tommy-falouNewt.-Asuanamoradavaificarbem.

Thomas sentiu um milhão de pensamentos lhe passarem pela cabeçanaquelemomento. A vontade de desvendar o código, omal-estar pelo queNewt pensava dele e de Teresa, a curiosidade do que podiam descobrir noLabirintoe…medo.

No entanto, pôs tudo de lado. Sem sequer se despedir, finalmenteacompanhouMinho,eosdoissubirampelaescada.

Thomas ajudouMinho a reunir os Corredores para lhes dar a notícia eorganizá-losparaagrande jornada.Surpreendeu-secomaprestezacomquetodos concordaram que era hora de fazer uma exploração em maiorprofundidadedoLabirintoepassaranoitelá.Aindaqueestivessenervosoeapreensivo,eledisseaMinhoquepoderiacuidarsozinhodeumadasáreas,mas oEncarregado recusou.TinhamoitoCorredores experientes para fazerisso. Thomas iria com ele… o que o deixou tão aliviado que ele quase seenvergonhoudisso.

Ele eMinho abasteceram asmochilas commais suprimentos do que onormal;nãohaviacomopreverquantotempopermaneceriamláfora.Apesardo medo, Thomas não pôde evitar sentir-se empolgado também - talvezaquelefosseodiaemqueencontrariamasaída.

EleeMinhoestavamalongandoaspernasaoladodaPortaOestequando

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Chuckaproximou-separasedespedir.

-Euiriacomvocês-falouogarotoemumavozjovialexagerada-,masnãoqueroterumamortehorrível.

Thomasriu,surpreendendo-se.

-Obrigadopelaspalavrasdeencorajamento.

- Tome cuidado - falou Chuck, num tom de voz mudado, expressandopreocupaçãodeverdade.-Gostariadepoderajudá-los.

Thomasemocionou-se-apostavaque,serealmentefossepreciso,Chuckiriamesmocomele,casolhepedisse.

-Obrigado,Chuck.Podetercertezaquevamostomarcuidado.

Minhogrunhiu.

-Tomarcuidadonãoadiantanada.Étudoounadaagora,baby.

- Melhor a gente ir - falou Thomas. Borboletas enxamearam-lhe asentranhas, e sóoquequerianomomentoera ação,parardepensarnaquilotudo. Afinal de contas, sair para o Labirinto não era pior do que ficar naClareira comasPortas abertas.Emborapensar nissonãoo fizesse sentir-semelhor.

-Éissoaí-respondeuMinhocomcalma.-Vamosembora.

- Bem - falou Chuck, baixando os olhos para os pés antes de voltar aencararThomas.-Boasorte.Seasuanamoradasentir-semuitosozinhasemvocê,vouprocurarconsolá-la.

Thomasrolouosolhosparaoalto.

-Elanãoéaminhanamorada,carademértila.

-Uau!-exclamouChuck.-VocêjáestáusandoospalavrõesdoAlby.-Obviamente,eleseesforçavaparafingirquenãomorriademedodiantedosúltimos acontecimentos, mas os seus olhos o traíam. - Sério mesmo, boasorte.

-Obrigado,issoajudamuito-respondeuMinho,porsuavezrolandoos

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olhostambém.-Agentesevê,trolho.

-Éissoaí,agentesevê-murmurouChuck,depoisdeumeia-voltaeseafastou.

Thomas sentiuumgolpede tristeza - erapossívelquenuncamaisvisseChuck ou Teresa ou nenhum deles outra vez. Mas um ímpeto repentinoapoderou-sedele.

-Nãoseesqueçadaminhapromessa!-gritou.-Vocêvaivoltarparacasa,eugaranto!

Chuckvoltou-seefezumsinaldepositivoparaele;aslágrimasbrilharamnosseusolhos.

Thomas levantou os dois polegares; depois ele e Minho puseram asmochilaseentraramnoLabirinto.

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ThomaseMinhosópararamquandoestavamameiocaminhodoúltimobecosemsaídadaÁreaOito.Tinhamfeitoumbomtempo-Thomaseragratopelo relógio de pulso, com o céu se tornando acinzentado - porquerapidamentedeuparanotarqueosmurosnãotinhamsemovidodesdeodiaanterior. Tudo estava exatamente igual. Não havia necessidade de fazerMapas ou de tomar notas; a sua única tarefa era chegar ao fim e tomar ocaminho de volta, procurando tudo o que tivesse passado despercebido -qualquercoisa.Minhoconcedeuumaparadadevinteminutosedepoiselesretomaramoritmo.

Corriamemsilêncio.MinhoensinaraaThomasquefalarsódesperdiçavaenergia, então ele se concentrava no ritmo e na respiração. Regular. Igual.Inspirar, expirar. Inspirar, expirar. Foram entrando cada vezmais fundo noLabirinto, apenascomos seuspensamentos eos sonsdos seuspésbatendocontraochãodurodepedra.

Na terceira hora, Teresa o surpreendeu, falando em sua mente lá daClareira.

“Estamosprogredindoaqui…jáencontramosmaisalgumaspalavras.Masnenhumadelasfazsentidoainda.”

O primeiro instinto de Thomas foi ignorá-la, negar uma vez mais quealguémtivesseacapacidadedeentrarnasuaalente,invadirasuaprivacidade.Maselequeriafalarcomela.

“Você consegueme ouvir?”, perguntou, visualizando as palavras dentrodasuacabeça,lançando-asmentalmenteparaeladeumamaneiraquenuncaninguémlheexplicara.Concentrando-se,repetiu:“Vocêconseguemeouvir?”

“Sim! “, foi a resposta. “Com certeza, nitidamente da segunda vez quevocêfalou.”

Thomas ficou abismado. Tanto que quase parou de correr. Tinha

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funcionado!

“Fico me perguntando por que conseguimos fazer isso”, falou com amente.Oesforçodeconversarcomeladessaformajácobravaoseupreço-sentiaumadordecabeçaformando-secomouminchaçonocérebro.

“Talvezfôssemosnamorados”,falouTeresa.

Thomastropeçoueesborrachou-senochão.SorrindoenvergonhadoparaMinho,quesevoltaraparaolharsemdiminuiropasso,Thomaslevantou-seeoalcançou.“Comoassim?”,perguntou.

Ele sentiu a risada dela, uma imagem diluídamas colorida. “Isso é tãoestranho”,disseela.“Écomosevocêfosseumdesconhecido,maseuseiquenãoé.”

Thomas sentiu um arrepio agradável, muito embora estivesse suando.“Sintodecepcioná-la,massomosmesmodesconhecidos.Acabeideconhecervocê,lembra?”

“Nãosejabobo,Tom.Achoquealguémmodificouonossocérebro,pôsalguma coisa nele para podermos nos comunicar por telepatia. Antes devirmosparacá.Oquemefazpensarquejánosconhecíamos.”

Nisso ele já tinha pensado e achou que ela estivesse certa. Era o queesperava,enfim…estavarealmentecomeçandoagostardela.

“Cérebrosalterados?”,indagou.“Como?”

“Sei lá… essa é uma lembrança que não consigo recuperar. Acho quefizemosalgumacoisaimportante.”

Thomas pensou que sempre sentira uma ligação comTeresa, desde queela chegara à Clareira. Queria saber um poucomais e descobrir o que eladizia.“Doquevocêestáfalando?”

“Gostariadesaber.Sóestoutentandopôrasideiasparafora,paraversefazemsurgiralgumafagulhanasuamente.”

ThomaspensounoqueGally,BeneAlbytinhamditoantes-asuspeitadelesdequeThomasestariacontraelesdealgummodo,quefossealguémem

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que não deviam confiar. Pensou no que Teresa lhe dissera também, naprimeiravezqueseviram-quedealgummodoeleeelatinhamfeitoaquiloaeles.

“Essecódigodevesignificaralgumacoisa”,continuouela.“Eacoisaqueescrevinomeubraço…CRUELébom.”

“Vaivernãotemimportância”,respondeuele.“Quemsabeencontramosasaída.Nuncasesabe.”

Thomasfechouosolhoscomforçaporalgunssegundosenquantocorria,tentandoseconcentrar.Umabolsadearpareciaflutuarnoseupeitotodavezque conversavam, uma sensação que em parte o incomodava e em parte oemocionava. Abriu os olhos de repente quando percebeu que ela talvezpudesselerosseuspensamentosmesmoquandoelenãoestivessetentandosecomunicar.Esperouporumaresposta,masnãochegounenhuma.

“Vocêaindaestáaí?”,eleindagou.

“Estou,sim,masissosempremedádordecabeça.”

Thomassentiu-sealiviadoaoouvirquenãoeraoúnico.

“Aminhacabeçatambémdói.”

“Tudobem”,disseela.“Agentesefaladepois.”

“Não, espere!” - Ele não queria que ela se fosse; ajudava a passar otempo.Atornaracorridamaisfácildealgummodo.

“Tchau,Tom.Informovocêsedescobrirmosalgumacoisa.”

“Teresa…equantoàquiloquevocêescreveunoseubraço?”

Váriossegundossepassaram.Nenhumaresposta.

“Teresa?“

Ela se fora.Thomas sentiu como se aquelabolhade ar nopeito tivesseestourado, liberando toxinas dentro do seu corpo. O estômago doía e opensamentodecorrerpelorestododiaderepenteodeprimiu.

Num certo sentido, tinha vontade de contar aMinho sobre como ele e

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Teresa eram capazes de conversar, compartilhar o que estava acontecendoantes que aquilo fizesse o seu cérebro explodir. Mas não tinha coragem.Misturar a telepatia a toda aquela situaçãonãoparecia amelhor das ideias.Tudojáestavabastanteestranho.

Thomas baixou a cabeça e respirou fundo, bem fundo.Manteria a bocafechadaecontinuariaacorrer.

Dois intervalos depois, Minho finalmente diminuiu para o ritmo decaminhada enquanto seguiam por um corredor comprido que terminava emum muro. Ele parou e sentou-se contra o beco sem saída. A hera cresciaespessaali;passavaumasensaçãodemundoverdeeexuberante,escondendoaduraeimpenetrávelpedra.

Thomas abandonou-se ao lado de Minho no chão, e eles atacaram omodestolanchedesanduíchesefrutasfatiadas.

-É issoaí - falouMinhodepoisdasegundamordida. -Jácorremosportodaaárea.Surpresa,surpresa…semsaída.

Thomasjásabiadisso,masouvi-lofezseucoraçãoapertar-seaindamais.Sem mais nenhuma palavra - dele ou de Minho -, terminou o lanche epreparou-separaaexploração.Paraprocurarsabe-seláoquê.

Durante as quatro horas seguintes, ele eMinho esquadrinharamo chão,apalparamosmuros,escalaramaheraempontosaoacaso.Nãoencontraramnada, e Thomas foi sentindo-se cada vez mais desanimado. A única coisainteressante foi outra daquelas placas estranhas em que se lia:“CATÁSTROFE E RUÍNA UNIVERSAL - EXPERIMENTO LETAL”.Minhonemolhouduasvezes.

Fizeram outra refeição, investigaram um poucomais. Não encontraramnada,eThomasestavacomeçandoasentir-seprontoparaaceitaroinevitável-quenãohavia iradaparaencontrar.Quandochegouahorado fechamentodosmuros, ele começou a procurar sinais deVerdugos, dominado por umahesitação gelada a cada esquina. Ele e Minho sempre levavam uma facafirmemente segura em cada mão. Mas não apareceu nada até quase meia-noite.

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MinhoavistouumVerdugodesaparecendoatrásdeumaesquinaàfrentedeles; e ele não voltou. Trinta minutos depois, Thomas viu um fazerexatamenteamesmacoisa.Umahoradepoisdisso,umVerdugopassouporelescorrendonoLabirinto,semsequerparar.Thomasquasecaiuporcausadoacessosúbitodeterror.

EleeMinhocontinuaram.

- Acho que estão brincando com a gente - falou Minho um instantedepois.

Thomas percebeu que desistira de examinar os muros e estava apenasvoltandoparaaClareiraemumpassodeprimido.Pelaaparência,Minhodeviasentiromesmoqueele.

-Oquevocêquerdizercomisso?-indagouThomas.

OEncarregadosuspirou.

-AchoqueosCriadoresqueremqueagentesaibaquenãoexistesaída.Osmuros nem estão semovendomais…É como se tudo não passasse dealgumjoguinhoidiotaequeestivessenahoradeparar.Eelesqueremqueagente volte e conte para os outros garotos daClareira.Quantoquer apostarque, quando a gente voltar, vai encontrar outroVerdugo pegando um delesexatamentecomoontemànoite?AchoqueoGallyestavacerto…elesvãonosmatarumporum.

Thomas não respondeu - reconhecia a verdade no que Minho dissera.Todaaesperançaquesentiaantesquandotinhampartidosedestroçarahaviamuitotempo.

-Entãovamosembora-falouMinhoemvozcansada.

Thomasodiavaadmitiraderrota,masbalançouacabeçaconcordando.Ocódigopareciaserasuaúnicaesperançaagora,eeleresolveuseconcentrarnisso.

Ele eMinho seguiram em silêncio de volta àClareira.Não virammaisnenhumVerdugoportodoocaminho.

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Pelo relógio de Thomas, era o meio da manhã quando ele e Minhoatravessaram a PortaOeste de volta àClareira. Thomas estava tão cansadoque queria deitar ali mesmo e tirar uma soneca. Haviam permanecido noLabirintoporcercadevinteequatrohoras.

Curiosamente,apesardaluzfracaedetudoestardesmoronando,odianaClareira parecia prosseguir como de costume - todos entregues às diversasatividades. Não deplorou muito para que alguns garotos notassem a suachegada.Newtfoiinformadoeveiocorrendo.

-Vocêssãoosprimeirosavoltar-disseeleenquantoseaproximava.-Oque aconteceu? - A expressão de esperança infantil no rosto dele cortou ocoração de Thomas; ele pensava que haviam encontrado algo importante. -Digamquetêmboasnotícias.

Minhotraziaosolhosmortos,focalizandoumpontoqualquernadistânciacinzenta.

-Nada-disseele.-OLabirintoéumamalditagrandepiada.

NewtolhouparaThomas,confuso.

-Doqueeleestáfalando?

- Ele só está desanimado - Thomas respondeu encolhendo os ombroscansados.-Nãoencontramosnadadiferente.Osmurosnãosemoveram,nãoexistemsaídas,nada.OsVerdugosvieramontemànoite?

Newt fez uma pausa, uma nuvem sombria cobrindo-lhe o rosto.Finalmente,elebalançouacabeça,confirmando.

-Vieram.LevaramAdam.

Thomasnãoconheciaonomeesentiu-seculpadopornãosentirnada.“Sóumapessoadenovo”,pensou.“TalvezGallytivesserazão.”

Newt estava prestes a dizer alguma coisa quando Minho perdeu a

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compostura,olhandoparaThomas.

- Não aguento mais isso! - Minho estapeava a hera, as veias quaseestourando no pescoço. - Não aguento mais isso! Está acabado! Está tudoacabado!-Ele tirouamochilaeatirou-anochão.-Nãoexistesaída,nuncaexistiu,nemexistirá.Estamostodosferrados.

Thomasficouolhando,agargantaseca,enquantoMinhosaíamarchandoemdireçãoàSede.Erapreocupante-seMinhodesistisse,estavamtodosemumagrandedificuldade.

Newtnãodissemaisnada.DeixouThomasparadoali,absortoemmeioaosprópriospensamentos.OdesesperopairavanoarcomoafumaçadaCasadosMapas,espessaeamarga.

OsoutrosCorredoresregressaramaindanaquelahora,e,peloqueThomasouviu,nãotendoencontradonada,elestambémtinhamacabadopordesistir.Asfacessombriasespalhavam-sepelaClareira,eamaioriadostrabalhadoresabandonouastarefasdiárias.

Thomas sabiaqueocódigodoLabirintoeraaúnicaesperançaque lhesrestavaagora.Ele tinhaderevelaralgumacoisa.Tinhamesmo.EdepoisdecaminharaesmopelaClareiraparaouvirashistóriasdosoutrosCorredores,fezumesforçoparasairdaqueladepressão.

“Teresa?”,dissementalmente,fechandoosolhos,comoseissoajudasse.“Ondevocêestá?Descobriualgumacoisa?”

Depois de uma longa pausa, ele quase desistiu, pensando que nãofuncionara.

“Há?Tom,vocêdissealgumacoisa?”

“Disse”, falou ele, empolgado por fazer contato de novo. “Está meouvindo?Estoufazendoessacoisadireito?”

“Àsvezesfalha,masestáfuncionando.Meiolouco,né?”

Thomas pensou sobre o assunto - na verdade, estava começando a seacostumar.

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“Nãoétãoruim.Vocêsaindaestãonoporão?VioNewt,masdepoiselesumiudenovo.”

“Ainda estamos aqui.ONewt conseguiu três garotos para nos ajudar adesenharosMapas.Achoquejátemosocódigotododecifrado.

OcoraçãodeThomassaltouparaagarganta.

“Sério?”

“Venhaatéaqui.”

“Estouindo.”

Ele já se encaminhava para lá ao dizer isso, de alguma forma não sesentindomaistãoexausto.

Newtabriu-lheaporta.

-OMinhoaindanãoapareceu-informoueleenquantodesciamaescadaatéoporão.-Àsvezeseleémuitoesquentadinho.

ThomasestavasurpresoporMinhodesperdiçar tempoemburrado,aindamais agora com as possibilidades do código. Afastou aquele pensamentoquandoentrounasala.Váriosgarotosquenãoconheciaestavamreunidosaoredor damesa, empé; todos pareciam exaustos, os olhos fundos. Pilhas deMapasjaziamespalhadaspor todocanto, incluindoochão.Pareciacomoseumtornadotivessepassadobemnomeiodasala.

Teresaestavareclinadacontraumapilhadeprateleiras, lendoumaúnicafolhadepapel.Elaergueuosolhosquandoeleentrou,masdepoisvoltouaobservar o que quer que tinha nasmãos. Isso o entristeceu umpouco - eleesperavaqueparecessefelizaovê-lo-,masdepoissentiu-seumidiotaporatémesmo ter tido aquele pensamento. Obviamente ela estava ocupadadesvendandoocódigo.

“Vocêprecisaver isto”,falouTeresaparaeleassimqueNewtdispensouos ajudantes. Eles saíram batendo os pés na escada de madeira, algunsresmungandosobrefazertodoaqueletrabalhoparanada.

Thomas assustou-se, por um breve momento, preocupado que Newt

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pudesseperceberoqueestavaacontecendo.

“NãofalenaminhacabeçacomNewtporperto.Nãoqueroqueelesaibasobreonosso…dom.”

-Venhadarumaolhadanisto-falouelaemvozalta,maldisfarçandoosorrisodesatisfaçãoqueexibirarapidamente.

-Ficode joelhosebeijoosseusmalditospéssepuderdesvendar isso -falouNewt.

Thomas aproximou-se de Teresa, ansioso para ver o que tinhamencontrado.Elaestendeuopapel,assobrancelhaslevantadas.

-Nãorestadúvidaque istoestácerto-disseela. -Sónãofaço ideiadoquesignifica.

Thomas pegou o papel e correu os olhos por ele rapidamente. Viam-secírculosnumeradosdecimaabaixodoladoesquerdo,deumaseis.Aoladodecadaumvia-seumapalavraescritaemgrandesletrasmaiúsculas.

FLUTUA

PEGA

SANGRA

MORTE

RÍGIDO

APERTA

Issoeratudo.Seispalavras.

Thomassentiu-setomadopelodesânimo-estavacertodequeopropósitodocódigoficariaóbviodepoisqueodescobrissem.OlhouparaTeresacomocoraçãoapertado.

-Sóisso?Temcertezadequeestãonaordemcerta?

Elatomouopapeldamãodele.

- O Labirinto vem repetindo estas palavras há meses… paramos

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finalmentequandoissoficouclaro.Acadavez,depoisdapalavra“APERTA”,passavaumasemanasemaparecernenhumaletra,edepoiscomeçavatudodenovocom“FLUTUA”.Daí imaginamosquefosseaprimeirapalavra,nessaordem.

Thomas cruzou os braços e inclinou-se sobre as prateleiras ao lado deTeresa.Sempensar a respeito, elememorizouas seispalavras, gravando-asmentalmente.Flutua.Pega.Sangra.Morte.Rígido.Aperta.Nãoparecianadabom.

- Divertido, não acha? - disse Newt, refletindo exatamente os seuspensamentos.

-Pois é - replicouThomas comumgemidode frustração. -Precisamosque o Minho venha até aqui… talvez ele saiba de alguma coisa que nãosabemos. Se a gente tivesse mais pistas… - Parou, tocado por umapremonição atordoante; teria caído no chão se não estivesse apoiado nasprateleiras. Acabara de lhe ocorrer uma ideia. Uma ideia horrível, terrível,pavorosa.Apiorideiadahistóriadasideiashorríveis,terríveis,pavorosas.

Masoinstintolhediziaqueestavacerto.Haviaumacoisaqueprecisavafazer.

- Tommy? - chamou Newt, aproximando-se com a testa franzida depreocupação. - Qual é o problema? Parece que você acabou de ver umfantasma.

Thomasabanouacabeça,recompondo-se.

-Ah…nada,desculpe.Osmeusolhosestãoardendo…achoqueprecisodormirumpouco.-Eleesfregouastêmporasparadarmaisênfase.

“Está tudobemcomvocê?”, indagouTeresamentalmente.Eleaviu tãopreocupadaquantoNewt,oqueofezsentir-sebem.

“Estou,sim.Sério,estoucansado.Sóprecisodescansarumpouco.”

-Bem- falouNewt,apertandooombrodeThomas. -Vocêpassou todaessamalditanoitenoLabirinto…vátirarumcochilo.

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ThomasolhouparaTeresa,depoisparaNewt.Queriacompartilharasuaideia, mas decidiu que não. Em vez disso, balançou a cabeça e foi para aescada.

Dequalquerforma,Thomastinhaumplanoagora.Porpiorquefosse,eletinhaumplano.

Eles precisavam de mais pistas sobre o código. Precisavam delembranças.

EntãoelesedeixariapicarporumVerdugo.PassariapelaTransformação.Depropósito.

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Thomasnãoquisconversarcomninguémpelorestododia.

Teresatentouváriasvezes.Maselelherespondiasemprequenãoestavasesentindobem,quesóqueriaficarsozinhoedormirnoseucantoatrásdafloresta, talvez passar algum tempo pensando. Tentar descobrir um segredoocultonasuamentequeosajudassearesolveroquefazer.

Mas na verdade ele estava se preparandomentalmente para colocar empráticaoqueplanejaraparaaquelanoite,convencendo-sedequeeraacoisacerta a fazer. A única coisa a fazer. Além disso, estava absolutamenteaterrorizadoenãoqueriaqueosoutrospercebessem.

Porfim,quandoseurelógioindicouqueanoitechegara,elefoiatéaSedecomtodososoutros.Nemnotouqueestava famintoatécomeçaracomerarefeiçãopreparadaàspressasporCaçarolacombiscoitosesopadetomate.

Eentãochegaraahorademaisumanoitesemdormir.

Os Construtores recolocaram as tábuas nos buracos deixados pelosmonstros que haviam levado Gally e Adam. O resultado final pareceu aThomascomoseaobra tivessesidoexecutadaporumexércitodebêbados,maspareciasólidoobastante.NewteAlby-quefinalmentesentia-sebemosuficienteparacaminhardenovo,acabeçatodaenfaixada-insistiramemumplanoparaque todosse revezassemem turnosnos locaisondedormiriamànoite.

Thomas acabou num salão no andar de baixo da Sede, com asmesmaspessoas com que dormira duas noites antes. O silêncio logo instalou-se noaposento, embora ele não soubesse se era porque todos estavam realmentedormindoouseporqueestavamaterrorizados,torcendoemsilêncioparaqueosVerdugos não voltassem.Ao contrário de duas noites antes, Teresa tevepermissãopara permanecer noprédio como resto dosClareanos.Ela ficouperto dele, enrolada emdois cobertores.De alguma forma, ele podia sentir

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queelaestavadormindo.Realmentedormindo.

Thomascomcertezanãoconseguiadormir,muitoemborasoubessequeoseu corpo precisava desesperadamente de descanso. Ele tentou com afincomanterosolhosfechados,forçando-searelaxar.Masnãoconseguiu.Anoitesearrastava,eelesentiasobreopeitoopesodaexpectativa.

Então, como todos esperavam, ouviram-se os sons mecânicos eassombrososdosVerdugosdoladodefora.Omomentotinhachegado.

Todosseamontoaramcontraaparedemaisdistantedasjanelas,fazendoomáximo possível para manter-se em silêncio. Thomas encolhera-se em umcantopertodeTeresa,abraçandoos joelhos,osolhosgrudadosna janela.Arealidade da dolorosa decisão que tomara apertava-lhe o coração como umpunhoesmagador.Maselesabiaquetudopoderiadependerdisso.

Atensãonocômodoaumentavanumaprogressãoconstante.OsClareanosestavam quietos, nem uma alma se movia. Um ruído distante de metalraspandocontraamadeiraecoouportodaacasa;pareceuaThomascomoseumVerdugo estivesse escalando aparte de trás daSede, no ladooposto aoqueseencontravam.Maisruídosseguiram-sealgunssegundosdepois,vindosdetodasasdireções,omaispróximobemdoladodeforadajaneladeles.Oar no salão parecia imobilizado, feito gelo sólido, e Thomas pressionou ospunhoscontraosolhos,torturadopelaexpectativadoataque.

Uma explosão repentina de madeira estraçalhada e vidro quebradoribombouemalgumlugarnoandardecinca,abalandoacasainteira.Thomasficouparalisadoquandováriosgritos irromperam,seguidospelo impactodepassosemfuga.RangidosegemidosaltosanunciaramquetodoumgrupodeClareanoscorriaparaopisoinferior.

-PegaramDave!-alguémgritou,avozesganiçadadeterror.

Ninguém no salão de Thomasmoveu ummúsculo; ele sabia que todosprovavelmentesentiam-seculpadospelopróprioalívio-porpelomenosnãoterem sido eles. Por talvez estarem em segurança pormais uma noite. Porduasnoitesseguidasumgarotoforalevado,eosClareanoshaviamcomeçadoaacreditarqueaquiloqueGallydisseraeraverdade.

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Thomasdeuumpuloquandoumestrondoterrívelsooudooutroladodaporta,acompanhadoporgritoseumcrepitardemadeiraestilhaçada,contosealgummonstro de presas de ferro estivesse comendo a escada inteira. Umsegundo depois ouviu-se outra explosão de madeira triturada: a porta dafrente.OVerdugoatravessaratodaacasaeagoraestavaindoembora.

Thomasestremeceu,torturadoporumacessoviolentodemedo.Eraagoraoununca.

Deumsalto, saiucorrendoparaaportadoaposento,escancarando-adeumavez.OuviuNewtgritar,masignorou-oecorreuparaosaguãodeentrada,desviando de centenas de estilhaços demadeira espalhados, saltando sobreeles.Davaparaverqueolugarondeantesficavaaportadafrenteeraagoraum rasgo aberto para a noite cinzenta.Encaminhou-se direto para lá e saiucorrendoparaaClareira.

“Tom!”,gritouTeresadentrodasuacabeça.“Oquevocêestáfazendo!”

Eleaignorou.Apenascontinuoucorrendo.

O Verdugo que levava Dave - um garoto com quem Thomas nuncaconversara-seguiarolandosobreosseusesporõesnadireçãodaPortaOeste,sacudindo-seezumbindo.OsoutrosVerdugosjásehaviamreunidonopátioeseguiamocompanheironadireçãodoLabirinto.Semhesitar,sabendoqueosoutros pensariam que estava tentando cometer suicídio, Thomas saiu emdisparada na direção deles até encontrar-se nomeio do grupo de criaturas.Tomadosdesurpresa,osVerdugoshesitaram.

Thomas saltou sobre o que segurava Dave e tentou libertar o garoto àforça,naesperançadequeacriatura revidasse.OgritodeTeresadentrodasuamentefoi tãoaltoqueelesentiucomosetivessementerradoumpunhalnoseucrânio.

Três dos Verdugos atiraram-se sobre ele ao mesmo tempo, as pinças egarrascompridaseasagulhasvoandoemtodasasdireções.Thomasagitouosbraçoseaspernas,afastandooshorríveisbraçosmetálicosenquantochutavaasbolhaspulsantesdocorpodosVerdugos-sóqueriaserpicado,nãolevadocomo Dave. O ataque implacável intensificou-se, e Thomas sentiu a dor

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espalhar-se através de cada centímetro do corpo - as picadas das agulhasinformando-oqueconseguiraoquequeria.Gritando,elechutava,empurravae se debatia, rolando o corpo para fora, tentando se afastar deles. Lutando,impregnado de adrenalina, ele finalmente encontrou um espaço aberto parafirmar-senospésecorrercomtodasasforças.

Logo que escapou do alcance imediato dos instrumentos dosVerdugos,eles desistirame bateramem retirada, desaparecendonoLabirinto.Thomasdesmoronounochão,gemendodedor.

Newt chegou ao seu lado em um segundo, seguido imediatamente porChuck, Teresa e vários outros. Newt agarrou-o pelos ombros e ergueu-o,segurando-oporbaixodosbraços.

-Peguemaspernasdele!-gritou.

Thomas sentiu o mundo nadando à sua volta, percebeu que estavadelirandoesentindonáuseas.Alguém,elenãosaberiadizerquem,obedeceuàordem deNewt. Thomas foi sendo carregado pelo pátio, levado através daporta da frente da Sede, passando pela entrada empedaços, até umquarto,ondefoicolocadoemumsofá.Omundocontinuavaagirar,abalançá-lodeumladoaoutro.

-Oquefoiquevocêfez!-gritouNewtjuntoaoseurosto.-Comopôdesertãoimbecil!

Thomasprecisavafalarantesdemergulharnaescuridão.

-Não…Newt…vocênãoentende…

-Caleaboca!-Newttornouagritar.-Nãodesperdiceasuaenergia!

Thomas sentiu alguém examinar os seus braços e pernas, rasgandofuriosamenteassuasroupas,embuscadelesões.OuviuavozdeChuck,nãopodendo deixar de sentir-se aliviado pelo amigo estar bem. Um Socorristadissealgumacoisasobreeletersidopicadodezenasdevezes.

Teresaestavaaosseuspés,esfregando-lheotornozelodireitocomamão.

“Porque,Tom?Porquefoifazerumacoisadessas?”

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“Porque…”Elenãotinhaforçasparaseconcentrar.

NewtpediuaosberrosoSorodaDor;umminutodepois,Thomassentiuumaagulhadanobraço.Umcalorespalhou-sedaquelepontoparaorestodocorpo, acalmando-o, amainando a dor. Mas o mundo ainda pareciadesmoronarsobreele,esabiaquetudoiriaseconsumaremalgunssegundos.

Oquartogirava,ascoresmisturando-seumasàsoutras,sacudindo-secadavezmaisrápido.Aquiloexigiutodasassuasforças,maselefalouumaúltimavezantesqueaescuridãooenvolvesseporcompleto.

-Nãosepreocupem-sussurrou,esperandoquepudessemouvi-lo.-Fizdepropósito…

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ThomasperdeuanoçãodotempoaoentrarnaTransformação.

TudocomeçoudemaneiramuitoparecidacomasuaprimeiralembrançanaCaixa-escuroefrio.Masdessaveznãoteveasensaçãodetocarnadacomos pés ou como corpo. Flutuava no espaço, olhando para umvazio negro.Nãovianada,nãoouvianada,nãosentianenhumcheiro.Eracomosealguémtivesseroubadoosseuscincosentidos,deixando-onumvácuo.

Otemposeestendeu.Econtinuouseestendendo.Omedotransformou-seemcuriosidade,estaporsuaveztransformou-seemtédio.

Por fim, depois de uma espera interminável, as coisas começaram amudar.

Um vento distante soprou, não sentido, mas ouvido. Então umredemoinhodeneblinamuitobrancaapareceuaumagrandedistância - umtornado rodopiante de fumaça que formava um funil comprido, que foi sealongandoatéumpontoemqueThomasnãoconseguiavernemapartedecima nem a de baixo do torvelinho branco. Então ele sentiu as rajadas,sugadasparadentrodociclonequandopassaramporeleatingindo-oportrás,sugandocomviolênciaassuasroupaseoscabelos,comosefossembandeirasemfrangalhosvergastadasporumatempestade.

A torre de neblina espessa começou amover-se na suadireção - ou eleestava se movendo na direção dela, não saberia dizer - aumentando avelocidadedeumaformaalarmante.Ondesegundosanteseleforacapazdeveraformadistintadofunil,agorasóviaumaexpansãocontínuadebranco.

Eentãoaquilooconsumiu;elesentiuamentetonadapelaneblina,sentiuaslembrançasinundaremosseuspensamentos.

Tudoomaistransformadoemdor.

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-Thomas.

Avozeradistante,cantada,comoumecoemumtúnelcomprido.

-Thomas,vocêconseguemeouvir?

Elenãoqueria responder.Asuamente sedesligaraquandoelenão foramais capaz de aguentar a dor; ele temia que tudo aquilo retornasse caso sepermitissevoltaràconsciência.Sentiuumaluzdooutro ladodaspálpebras,massabiaqueseriainsuportávelabri-las.Nãofeznada.

-Thomas,éoChuck.Vocêestábem?Porfavor,nãomorra,cara.

Tudo voltou de chofre à sua mente. A Clareira, os Verdugos, a agulhapicante, a Transformação. Lembranças. O Labirinto não podia serdesvendado.Aúnicasaídaparaeleseraalgoporquenuncatinhamesperado.Algoaterrorizante.Elefoiesmagadopelodesespero.

Gemendo, forçouos olhos a se abrirem, a princípiodeixando-os apenassemicerrados.OrostorechonchudodeChuckestavalá,fitando-ocomolhosassustados.Masentãoelesseacenderameumsorrisoabriu-senorostodele.Apesardetudo,apesardohorrordetudoaquilo,Chucksorria.

- Ele acordou! - gritou o garoto para ninguém em especial. - Thomasacordou!

OalaridodavozdelefezThomasencolher-se;tornouafecharosolhos.

-Chuck,vocêprecisagritar?Nãomesintomuitobem.

-Desculpe…sóestavacontenteporvocêestarvivo.Temsorteporeunãolhedarumbeijão.

-Porfavor,nãofaça isso,Chuck.-Thomasabriunovamenteosolhoseforçou-se a sentar-se na cama em que se encontrava, apoiando as costascontra a parede e esticando as pernas. A dor devorando articulações emúsculos.-Quantotempodurouisso?-quissaber.

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-Trêsdias-respondeuChuck.-PusemosvocênoAmansadorànoiteparaqueficassemaisseguro…trazíamosdevoltapracáduranteodia.Desdequevocê entrou nessa, pensamos que estivesse morto pelo plenos umas trintavezes.Masdêsóumaolhada…vocêestánovinhoemfolha!

Thomassópodiaimaginarcomonãodeviaestarcomumaboaaparência.

-OsVerdugosvoltaram?

AalegriadeChuckdesmoronoueelebaixouosolhosparaochão.

- Voltaram… levaram Zart e alguns outros. Um por noite.Minho e osCorredoresvasculharamoLabirinto,tentandoencontrarumasaídaoualgumusoparaaquelecódigoidiotaquevocêsarrumaram.Masnada.PorqueachaqueosVerdugossólevamumtrolhodecadavez?

Thomas sentiu um amargor no estômago - agora sabia a resposta exatapara aquela pergunta, e para algumas outras. O bastante para saber que àsvezessaberéumadroga.

-EncontreNewteAlby-dissefinalmenteemresposta.-DigaaelesqueprecisamosfazerumConclave.Omasrápidopossível.

-Sério?

Thomassoltouumsuspiro.

-Chuck,acabeidepassarpelaTransformação.Vocênãoachaqueestoufalandosério?

Semdizernada,Chuckvirou-sedeumsaltoecorreuparaforadoquarto,os gritos com que chamava Newt diminuindo de volume à medida que seafastava.

Thomas fechou os olhos e descansou a cabeça contra a parede. Entãochamouporelamentalmente.

“Teresa.”

Aprincípio, ela não respondeu,mas depois a sua voz surgiu de repentenospensamentosdele,tãonítidaquantoseestivessesentadaaliaolado.

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“Foirealmenteumacoisamuitoidiota,Tom.Muito,muitoidiota.”

“Euprecisavafazer”,respondeuele.

“Bemque eu te odiei bastante nos últimos dois dias.Você precisava sever.Asuapele,assuasveias…”

“Vocêmeodiou?”Sentiu-seemocionadoporelasepreocupartantocomele.

Elafezumapausa.

“Esseésóomeujeitodedizerqueteriamatadovocêsevocêmorresse.”

Thomas sentiu um assomo de calor no peito, alcançando-o e realmentetocando-o,surpresoconsigomesmo.

“Bem…obrigado.Euacho.”

“Então,consegueselembrardemuitacoisa?”

Elefezumapausa.

“Osuficiente.Oquevocêdisse sobrenósdois e sobreoque fizemosaeles…”

“Eraverdade?”

“Fizemosalgumasmaldades,Teresa.”Elesentiuumafrustraçãodapartedela,comosetivessemilhõesdeperguntasparafazerenenhumaideiadeporondecomeçar.

“Vocêdescobriualgumacoisaqueajudeagenteasairdaqui?”, indagouela, comosenãoquisesse saberaparteque lhecabiaem tudoaquilo. “Umsentidoparaocódigo?”

Thomasfeznovapausa,semquererfalarsobreaquiloainda-nãoantesdeorganizar direito os pensamentos.Aúnica chancede escaparempoderia serumdesejodemorte.

“Talvez”,elefinalmentefalou,“masnãovaiserfácil.PrecisamosdeumConclave. Pedirei para que você possa participar…Não tenho energia paracontartudoduasvezes.”

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Nenhum deles disse nada por um momento, um sentimento dedesesperançapairandoentreassuasmentes.

“Teresa?“

“Oi?”

“NãoépossíveldesvendaroLabirinto.”

Elafezumalongapausaantesderesponder:

“Achoquetodossabemosissoagora”.

Thomasdetestouosofrimentoquepercebeunavozdela-podiasenti-lonaprópriamente.

“Nãosepreocupe;mesmoassim,osCriadoresqueremqueescapemos.Eutenhoumplano.”Elequeriadaralgumaesperançaaela,pormenorquefosse.

“Ah,nãodiga.”

“Tenho,sim.Éterrível,ealgunspodemmorrer.Pareceatraente?”

“Essaéboa.Contecomoé.”

“Nósprecisamos…”

Antesqueelepudesseterminar,Newtentrounoquarto,interrompendo-o.

“Contodepois”,Thomasencerrourapidamente.

“Nãodemore!”,disseela,eentãosefoi.

Newtaproximara-sedacamaesentara-seaoladodele.

-Tommy…vocênemparecedoente.

Thomasconfirmoucomummovimentodecabeça.

-Estouumpouco enjoado,mas fora isso estouótimo.Pensei que fossemuitopior.

Newtabanouacabeça,orostoexibindoummistoderaivaeadmiração.

- O que você fez foimeio corajoso emeio imbecil. Parece que se deubem.-Elefezumapausaebalançouacabeçaafirmativamente.-Euseipor

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que você fez isso.Quais lembranças voltaram?Alguma que possa ajudar agente?

-PrecisamosfazerumConclave-disseThomas,mudandoaposiçãodaspernas para sentir-se mais confortável. Para sua surpresa, não sentia muitador,apenastontura.-Antesquecomeceameesquecerdascoisas.

-Certo,Chuckmefalou…vamosfazer.Masporquê?Oquedescobriu?

-Trata-sedeumteste,Newt…acoisatodaéumteste.

Newtinclinouacabeçaconcordando.

-Comoumexperimento.

Thomasabanounegativamenteacabeça.

-Não,vocênãoentendeu.Elesestãoeliminandoagente,vendosevamosdesistir, descobrindo os melhores de nós. Submetendo-nos a variáveis,tentando nos fazer desistir. Testando a nossa capacidade de ter esperança elutar.MandarTeresaaquieacabarcomtudofoiapenasaúltimaparte,maisuma…últimaanálise.Agoraestánahoradoúltimoteste.Escapar.

Newtarqueouassobrancelhasconfuso.

-Oqueestáquerendodizer?Vocêsabecomosair?

-Sei…ConvoqueumConclave.Agora.

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Umahoradepois,Thomasachava-sesentadoemfrenteaosEncarregadospara o Conclave, exatamente como acontecera uma semana ou duas antes.Não haviam permitido a participação de Teresa, o que o aborrecera tantoquantoaela.NewteMinhojáconfiavamnela,masosoutrosaindatinhamassuasdúvidas.

-Muitobem,Fedelho-falouAlby,parecendomuitomelhor,aosentar-seno meio do semicírculo de cadeiras, ao lado de Newt. As outras cadeirasestavamtodasocupadas,comexceçãodeduas…umaduralembrançadequeZart e Gally haviam sido levados pelos Verdugos. - Sem essa de ficarenrolando.Comeceafalar.

Thomas,aindaumpoucoenjoadoporcausadaTransformação,forçou-sea ganhar um segundo para se recompor. Tinhamuita coisa a dizer, mas iafazertudoparapareceromenosidiotapossível.

-Éumalongahistória-começou.-Nãotemostempoparaabordartodosos detalhes, mas vou contar a vocês o essencial. Quando passei pelaTransformação, vi instantâneos de imagens… centenas deles… como numaexibição de slides acelerada. Conseguime lembrar demuita coisa, mas sóumaparteficouclaraobastanteparaeucomentararespeito.Outrasimagensse perderam ou estão desaparecendo pouco a pouco. - Ele fez uma pausa,organizandoospensamentosumaúltimavez. -Masconsigome lembrardonecessário.OsCriadores estãonos testando.OLabirintonunca foi pensadopara ser desvendado. Tudo não passa de uma prova. Eles querem osvencedores…ousobreviventes…parafazeralgo importante. -Eleparoudefalar,jáconfusosobreemqualordemdeveriacontarascoisas.

-Oquê?-indagouNewt.

-Me deixem começar de novo - falou Thomas, esfregando os olhos. -Todosnósfomosescolhidosquandoéramosmuitopequenos.Nãomelembrocomoouporquê…Sótenhovagaslembrançasesensaçõesdequeascoisas

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mudaramnomundo,dequealgorealmenteruimaconteceu.Nãofaçoideiadoquê.OsCriadoresnosroubarameachoque tiveramrazãoaofazer isso.Dealgumaforma,elesconcluíramquetemosumainteligênciaacimadamédiaeéporissoquenosescolheram.Sei lá,amaiorpartedessasinformaçõesnãoestábemclarae,dequalquermaneira,não importamuito.Nãoconsigomelembrardenadasobreaminhafamílianemdoqueaconteceucomela.Masdepoisquefomoslevados,passamososanosseguintesestudandoemescolasespeciais,vivendoumavidamaisoumenosnormalatéelesseremcapazesdefinanciar e construir oLabirinto.Os nossos nomes não passamde apelidosidiotas que eles inventaram… como Alby, relacionado a Albert Einstein.Newt,deIsaacNewtoneeu…Thomas.DeThomasEdison.

Albyestavacomaaparênciadequemforaesbofeteadonaface.

-Onossonome…nãoénemsequeronossonomedeverdade?

Thomasabanounegativamenteacabeça.

-Até onde entendo, provavelmente nenhumde nós saberá qual é o seunome.

- O que você está dizendo? - indagou Caçarola. - Que somosmalditosórfãoscriadosporcientistas?

-Issomesmo-confirmouThomas,torcendoparaqueasuaexpressãonãodeixasseveroquantoelesesentiadeprimido.-Supostamente,somosmesmointeligentes e eles estão estudando cada coisa que fazemos, estão nosanalisando.Vendoquemdesisteequemnãodesiste.Vendoquemsobreviveafinal. Não admira que tenhamos tantos besouros mecânicos espiõescirculandoporaqui.Alémdisso,algunsdenóstiveramcoisas…alteradasnocérebro.

-Acredito tantonesse lixoquanto acredito que a comidadoCaçarola éboa-resmungouWinston,parecendocansadoeindiferente.

-Porqueeuinventariatudoisso?-disseThomas,elevandoavoz.Elesedeixarapicardepropósitopara se lembrardaquelas coisas! -Melhor ainda,qual você acha que seja a explicação? Que a gente vive num planeta

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alienígena?

- Apenas continue falando - disse Alby. - Mas não entendo por quenenhum de nós se lembrou dessas coisas. Passei pela Transformação, mastudooquevifoi…-Eleolhouaoredorrapidamente,comosetivesseacabadodefalaralgoquenãodevia.-Nãodescobrinada.

-Voudizer já, já por que achoquedescobrimais queosoutros - falouThomas,temendoessapartedahistória.-Devocontinuarounão?

-Fale-disseNewt.

Thomasrespiroufundo,comoseestivesseparaparticipardeumacorrida.

-Muitobem,dealgumaformaeleseliminaramnossaslembranças…nãosó da nossa infância,mas de todas as coisas que antecederam a entrada noLabirinto. Eles nos colocaram na Caixa e nosmandaram aqui… um grupograndeparacomeçaredepoisumpormêsaolongodosúltimosdoisanos.

-Masporquê?-quissaberNewt.-Qualéomalditomotivo?

Thomasergueuamãopedindosilêncio.

- Estou chegando lá. Como disse, eles queriam nos testar, ver comoreagiríamos ao que chamam de Variáveis, e a um problema que não temsolução. Ver se seríamos capazes de trabalhar juntos… desenvolver umacomunidademesmo.Providenciaramtudoparanós,epropuseramoproblemana formade umdos enigmasmais conhecidos da civilização: um labirinto.Tudoissocontribuiuparanosfazerpensarquehaveriaumasolução,sóparanosencorajar a trabalhar comomáximodeafinco, aomesmo tempoqueonossodesânimopornão encontraruma saída ia aumentando. -Ele fezumapausaparaolharpara todos,assegurandosedequeoestavamouvindo. -Oqueestoudizendoéisso:nãoexisteumasolução.

Todoscomeçaramafalar,asperguntassesobrepondoumasàsoutras.

Thomasergueuasmãosdenovo,desejandoapenaspoderincutirosseuspensamentosnocérebrodecadaumdospresentes.

-Estãovendo?Areaçãodevocêssóprovaoqueestoudizendo.Amaioria

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das pessoas já teria desistido. Mas eu acho que somos diferentes. Nãoadmitimosqueumproblemanãopossaserresolvido…aindamaisquandoéalgo tão simples como um labirinto. E continuamos lutando não importa oquantopareçainútil.

Thomaspercebeuque foraelevandoavozàmedidaque falavae sentiuumcalornorosto.

-Sejaqualforarazão,issomeenoja!Tudoisso…osVerdugos,osmurossemovendo,oPenhasco…tudonãopassadeelementosdeumestúpidoteste.Estamos sendo usados e manipulados. Os Criadores queriam nos manterpensando em uma solução que nunca existiu.Amesma coisa em relação àvindadeTeresaaqui,aofatodeelaserusadaparadesencadearoTérmino…sejaláoqueissosignifique…olugarsendodesativado,océucinzentoeporaíafora.Elesestãonospropondocoisassemsentidoparaveranossareação,testaranossaforçadevontade.Paraversenosvoltamosunscontraosoutros.Nofim,elesqueremossobreviventesparaalgumacoisaimportante.

Caçarolalevantou-se.

-Ematargente?Essaéumapartelegaldoplanodeles?

Thomas teve um instante de medo, preocupado que os Encarregadosvoltassem a sua raiva contra ele por saber tanto. E ainda tinhamuitomaiscoisas.

-Sim,Caçarola,matargente.AúnicarazãoparaosVerdugospegaremumpor um é para não morrermos todos antes que tudo acabe conforme oplanejado.Asobrevivênciadosmaisfortes.Sóosmelhoresdenósescaparão.

Caçarolachutouacadeira.

-Bem,entãoémelhorquecomeceafalarsobreessatalfugamágica!

-Elevai-disseNewt,emvozbaixa.-Caleabocaeescute.

Minho,queestiveraemsilênciootempotodo,limpouagarganta.

-Algumacoisamedizquenãovougostardoqueestouprestesaouvir.

- Provavelmente, não - falou Thomas. Ele fechou os olhos por um

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segundo e cruzou os braços. Os minutos seguintes seriam decisivos. - OsCriadoresqueremosmelhoresdenósparaseiláoqueestiveramplanejando.Masprecisamosmerecer.-Asalaficouemsilênciototal,todoscomosolhosgrudadosnele.-Ocódigo.

- O código? - repetiu Caçarola, a voz mais animada com um traço deesperança.-Oquetemocódigo?

Thomasolhouparaele, fazendoumapausaparaaumentaro impactodoqueiriadizer.

- Ele foi escondido nos movimentos dos muros do Labirinto por umarazão.Eudeviasaber…euestavaláquandoosCriadoresofizeram.

EstelivrosfoidisponibilizadoporLeLivros

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Por um longomomento, ninguémdisse nada, e tudo o queThomas viuforamsemblantesmudos.Elesentiaosuorbanhar-lhea testa,umedecer-lheasmãos;estavaaterrorizadodemaisparacontinuar.

Newtpareciaperplexoefinalmenterompeuosilêncio.

-Doquevocêestáfalando?

-Bem,primeirotemalgoqueprecisocontaravocês.SobremimeTeresa.Háuma razãoparaGally termeacusadode tantascoisas, eparaque todosquepassarampelaTransformaçãomereconhecerem.

Eleesperavaperguntas,umaerupçãodevozes,masasalapermaneceuemumsilênciomortal.

- Teresa e eu somos… diferentes - continuou ele. - Participamos dasProvasdoLabirintodesdeocomeço…Mascontraanossavontade,eujuro.

Minhofoioúnicoasemanifestar.

-Thomas,doquevocêestáfalando?

-TeresaeeufomosusadospelosCriadores.Sepudessemse lembrardetudo, vocês iriam querer nos matar. Mas eu precisava contar issopessoalmenteparamostrar que agoravocêspodemconfiar nagente.Assimvão acreditar emmim quando eu falar da únicamaneira de podermos sairdaqui.

ThomasobservourapidamenteasfacesdosEncarregados,pensandoaindauma última vez se deveria dizê-lo, se eles entenderiam. Muito emborasoubessequeprecisavacontar.Eleprecisavacontar.

Thomasrespiroufundo,depoisdisseoquetinhaadizer.

-TeresaeeuajudamosaprojetaroLabirinto.Ajudamosacriarestacoisatoda.

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Todospareceramatordoadosdemaispara reagir.Denovo,umasucessãodeexpressõesvaziasocontemplava.Thomaspensouqueelesounãotinhamentendidoounãotinhamacreditado.

- O que isso quer dizer? - Newt finalmente perguntou. - Você é ummolequededezesseisanos.ComopodetercriadooLabirinto?

Elemesmonãodeixavadeterdúvidassobre isso-mastinhacertezadoqueselembrava.Pormaisloucoquefosse,elesabiaqueeraverdade.

- Nós somos… inteligentes. E acho que isso poderia ser parte dasVariáveis.Mas omais importante é queTeresa e eu temos um…dom, umdom que nos tornou muito valiosos quando eles decidiram construir estelugar.-Eleparou,sabendoquetudopoderiaparecerumabsurdo.

-Falelogo!-gritouNewt.-Desembuche!

-Somos telepatas!Podemosconversarumcomooutrodentrodanossadrogadecabeça!-Dizerissoemvozaltaquaseofezsentir-seenvergonhado,comoseacabassedeadmitirqueeraumladrão.

Newtpiscouváriasvezes,surpreso;alguémtossiu.

- Mas ouçam o que vou dizer - continuou Thomas, com pressa de sedefender.-Elesnosforçaramaajudar.Nãoseicomonemporque,masfoioquefizeram.-Deuumapausa.-Talvezfosseparaversepoderíamosganharaconfiançadevocêsapesardetermossidoumdeles.Talvezfôssemosotempotodo aqueles que revelariam como escapar. Seja qual for omotivo, comosseusMapasdescobrimosocódigoeagoraprecisamosusá-lo.

Thomas correu os olhos ao redor e, de maneira surpreendente,impressionante, ninguém parecia estar com raiva. Amaioria dos Clareanoscontinuavaaolharpara ele comumaexpressãovaziaoua abanar a cabeçademonstrando estupefação ou incredulidade. E por alguma estranha razão,Minhoestavasorrindo.

-Éverdadeeeusintomuito-continuouThomas.-Maspossodizerumacoisa:estounomesmobarcoquevocêsagora.Teresaeeufomosmandadosaquicomotodomundo,epodemosmorrercomamesmafacilidade.Masos

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Criadores já viram o suficiente…Está na hora do teste final.Acho que euprecisava da Transformação para acrescentar as peças que faltavam aoquebra-cabeça.Enfim,queriaquevocêssoubessemaverdade,soubessemqueháumapossibilidadedesairmosdessa.

Newt balançou a cabeça para frente e para trás, olhando para o chão.Depoisergueuosolhos,encarandoosoutrosEncarregados.

-OsCriadores…aquelesdesgraçadoséquefizeramissocomagente,nãoforamTommynemTeresa.OsCriadores.Eelesvãosearrepender.

- Não importa - disseMinho -, quem dá amínima a tudo isso?O queinteressaagoraécomoescapar.

Thomas sentiu um nó na garganta. Estava tão aliviado que quase nãoconseguiafalar.Tinhaquasecertezadequeiriamparacimadeleporcausadaconfissão - isso se não o atirassem pelo Penhasco. O que ainda tinha paradizerquasepareciafácilagora.

-Existeumacentraldecomputadoresnum lugarquenuncanotamos.OcódigoabriráumaportaparasairmosdoLabirinto.EletambémvaidesativarosVerdugosparaquenãopossamnosseguir…seconseguirmossobreviverobastanteparachegaratélá.

- Um lugar que nunca notamos? - indagou Alby. - O que acha queestivemosfazendodurantedoisanos?

-Acreditememmim,vocêsnuncaestiveramnaquelelugar.

Minholevantou-se.

-Bem,ondefica?

-Équasesuicídio-falouThomas,sabendoqueestavaseesquivandodedararesposta.-OsVerdugosvirãopracimadenóstodavezquetentarmoschegar lá. Todos eles. 0 teste final. - Ele queria ter certeza de que haviamentendidooqueestavaemjogo.Aschancesdesobrevivênciaerammínimas.

-Então,ondefica?-insistiuNewt,inclinando-separaafrentenacadeira.

- Além do Penhasco - respondeu Thomas. - Precisamos passar pelo

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BuracodosVerdugos.

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Alby levantou-se tão rápido que derrubou a cadeira para trás. Os seusolhosavermelhadosdestacavam-secontraaatadurabrancadatesta.Deudoispassos à frente e então parou, como se estivesse prestes a avançar e atacarThomas.

- Agora você está sendo um idiota de mértila - disse ele, fuzilandoThomas com o olhar. - Ou um traidor. Como podemos confiar em uma sópalavradoqueestádizendoseajudouacriarestelugar,anoscolocaraqui!NãopodemosenfrentarumVerdugononossopróprioterritório,muitomenoslutar contra toda umahorda deles no seu esconderijo.Oque você pretendeafinal?

Thomasficoufurioso.

-Oqueeupretendo?Nada!Porqueinventariatudoisso?

Albyenrijeceuosbraços,cerrouospunhos.

- Pelo que todos nós sabemos você foimandado aqui paramatar todosnós.Porquedeveríamosconfiaremvocê?

Thomasolhouparaelesemacreditar.

- Alby, você tem algum problema de memória de curto prazo? EuarrisqueiaminhavidaparasalvarasuanoLabirinto…Vocêestariamortosenãofossepormim!

-Talvezessetenhasidoumtruqueparaganharanossaconfiança.Sevocêé um aliado daqueles mértilas que nos mandaram para cá, não ficariapreocupado se os Verdugos o pegassem… Talvez tenha sido tudo umaencenação.

A raiva de Thomas amainou um pouco depois do que ele disse,transformando-se empena.Tinha algumacoisa estranha ali…algumacoisasuspeita.

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-Alby -Minho finalmente interveio, para alívio deThomas. -Essa é ateoriamaisimbecilquejáouvi.Eleacaboudesearrebentartodonasúltimastrêsnoites.Achaqueissofazpartedeumaencenação?

Albyinclinouacabeçaumavez,rigidamente.

-Talvez.

- Eu passei por aquilo - disse Thomas, carregando a voz com toda airritaçãoquepôde-numatentativaderecuperarasminhaslembranças,ajudartodosnósasairdaqui.Seráqueprecisomostraroscortesehematomasqueganheinocorpo?

Albyficouemsilêncio,orostoaindacontraídoderaiva.Osseusolhosseencheramdelágrimaseasveiasincharamnopescoço.

-Nãopodemosvoltar! -elegritou,voltando-separaolharparacadaumnasala.-Euvicomoeraanossavida…nãopodemosvoltar!

-Entãoéessaaquestão?-indagouNewt.-Vocêestáfalandosério?

Alby voltou-se para ele, ferozmente, chegando a erguer um punhofechado. Mas se deteve, abaixou o braço, depois se afastou e afundou nacadeira. Mergulhando o rosto entre as mãos, soluçando arrasado. Nadapoderia surpreendermais Thomas. O líder destemido dos Clareanos estavachorando.

-Alby,conteparanós-pediuNewt,nãoquerendoperderaoportunidade.-Oqueestáacontecendo?

-Fuieu-falouAlbyentresoluços.-Fuieuquefizaquilo.

-Fezoquê?-indagouNewt.PareciatãoconfusoquantoThomas.

Albyergueuosolhosbanhadosemlágrimas.

-EuqueimeiosMapas.Fuieu.Batiacabeçanamesaparaquepensassemquetinhasidooutrapessoa,eumenti,queimeitudo.Fuieu!

Os Encarregados trocaram olhares, o choque evidente nos olhosarregaladosenas sobrancelhas levantadas.ParaThomas,porém,agora tudofazia sentido.Alby lembrara-se de comoa suavida era horrível antes de ir

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pararalienãoqueriavoltar.

-Bem,acoisaboaéquesalvamosaquelesMapas-disseMinhocomtotalfranqueza, quase com ironia. - Graças à dica que você nos deu depois daTransformação…paraprotegê-los.

Thomas ficou esperando para ver como Alby reagiria ao comentáriosarcástico,quasecruel,deMinho,maseleagiucomosenãotivesseescutado.

Newt,emvezdemostrarraiva,pediaqueAlbyexplicasse.ThomassabiaporqueNewtnão estava forade si…osMapas estavamseguros, o códigoforadescoberto.Nãoimportava.

-Estoudizendopravocês…-Albyfalavacomoseestivesseimplorando,quase histérico. - Não podemos voltar para o lugar de onde viemos. Eu vicomo era, lembrei de todas as coisas muito, muito medonhas. A terraincendiada,umadoença…umacoisachamadaFulgor.Erahorrível…muitopiordoqueoqueestamospassandoaqui.

-Seficarmosaqui,vamostodosmorrer!-Minhogritou.-Épiordoqueisto?

AlbyolhouparaMinhoporumlongotempoantesderesponder.Thomassóconseguiapensarnaspalavrasqueeleacabaradedizer.OFulgor.Algumacoisa a respeito lhe soava familiar, bem no fundo dos pensamentos. MasestavacertodequenãoselembraradenadasobreaquiloquandopassarapelaTransformação.

-Sim-Albyrespondeu.-Épior.Émelhormorrerdoquevoltarparacasa.

Minhofezumaexpressãodezombariaerecostou-senacadeira.

-Cara,voutedizer:vocêéumtremendobabaca.EuestoucomoThomas.Estoucomelecemporcento.Setivermosdemorrer,quesejalutando,droga!

- Dentro do Labirinto ou fora dele - acrescentou Thomas, aliviado porMinhoestardo seu lado.Entãovirou-separaAlbye fitou-o solenemente. -Aindavivemosnomundodequevocêselembra.

Albylevantou-sedenovo,expressandonorostoasuaderrota.

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-Façamoquequiserem.-Elesuspirou.-Nãoimporta.Vamosmorrerdequalquerjeito.-Ecomissoencaminhou-separaaportaesaiudasala.

Newtsoltouumlongosuspiroeabanouacabeça.

-Elenuncamaisfoiomesmodepoisdeserpicado…Devetersidoumalembrançaetanto.MasoqueseráessetaldeFulgor?

- Não me interessa - falou Minho. - Qualquer coisa é melhor do quemorrer aqui. Podemos nos preocupar com os Criadores depois de sairmos.Mas por enquanto a gente precisa fazer o que eles planejaram. Passar peloBuracodosVerdugosefugir.Sealgunsdenósmorrer,paciência.

Caçarolariucomdesdém.

- Vocês trolhos estão me deixando maluco. Não podemos sair doLabirinto, e essa ideia de enfrentar os Verdugos na pensão deles parece acoisamaisimbecilquejáouvinavida.Écomocortarospulsos.

OsoutrosEncarregados iniciaramumadiscussão,cadaumfalandomaisqueooutro.Newtfinalmentegritouparacalaremaboca.

Thomasfaloudenovoassimqueosânimosseacalmaram.

-VouatravessaroBuracooumorrertentando.ParecequeoMinhoqueromesmo também. E tenho certeza que Teresa irá. Se pudemos enfrentar osVerdugospelotemposuficienteparaalguémaplicarocódigoedesativá-los,entãopoderemospassar pela porta de onde eles vêm.Teremospassadonostestes.EntãopoderemosencararosCriadores.

Newtsorriasemacharnenhumagraça.

- E você acha que podemos enfrentar os Verdugos? Mesmo se nãomorrermos, provavelmente seremos picados. A tropa inteira deles estaráesperandopornósquandochegarmosaoPenhasco…osbesourosmecânicosestãosempreporlá.OsCriadoresvãosaberquandopartirmosparalá.

Embora teme-se aquilo, Thomas sabia que era hora de contar a eles aúltimapartedoseuplano.

-Nãoachoquevãonospicar…aTransformaçãoeraumaVariávelquese

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aplicava a nós enquanto vivíamos aqui. Mas isso vai acabar. Além disso,podemosterumacoisaanossofavor.

-Ah,é?-falouNewt,rolandoosolhosparaoalto.-Malpossoesperarparaouviroqueseria.

-NãoseránadabomparaosCriadoressetodosnósmorrermos…Oquevamos fazer é uma coisa bem difícil, não impossível. Acho que agorasabemoscomcertezaqueosVerdugosestãoprogramadosparamatarapenasumdenóspordia.Portanto,alguémpodesesacrificarparasalvarosoutrosenquantocorremosparaoBuraco.Achoqueessaéumapossibilidadedeascoisasviremaacontecer.

AsalapermaneceuemsilêncioatéqueoEncarregadodoSangradourodeuumagranderisada.

- Será que eu entendi bem? - falou Winston. - Quer dizer que a suasugestãoéqueatiremosumpobredeumgarotoaoslobosparaqueorestodenóspossaescapar?Estaéasuabrilhantesugestão?

Thomas recusava-se a admitir como aquilo soava mal, mas teve umaideia.

- Sim,Winston, agradeço por você ter prestado atenção tão bem. - Eleignorouoolharfaiscantequeooutrolhelançou.-Epareceóbvioquemdevaseropobregaroto.

-Ah,é?-indagouWinston.-Quem?

Thomascruzouosbraços.

-Eu.

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Areuniãofoitomadaporumcorodeprotestos.Newt,muitocalmamente,levantou-se, aproximou-se de Thomas e pegou-o pelo braço; em seguida,conduziu-oparaaporta.

-Vocêdevesair.Agora.

Thomasficousementender.

-Sair?Porquê?

- Acho que já disse o bastante por uma reunião. Precisamos debater edecidir o que fazer… sem a sua presença. -Eles tinham chegado à porta eNewt sutilmente empurrou-o para fora. - Espere por mim perto da Caixa.Quandoterminarmosaqui,vouláparaconversarmos.

Elecomeçouasevoltar,masThomasodeteve.

- Precisa acreditar em mim, Newt. É a única maneira de sair daqui…vamosconseguir,eujuro.Éparaissoqueestamosaqui.

Newtaproximou-sedorostodeThomasesussurroucomraiva.

-Certo,adoreiespecialmenteaquelaparteemquevocêseofereceuparasermorto.

-Estouplenamentedisposto a isso. -Thomas estava falando averdade,massóporcausadaculpaqueodevastava.AculpaporterdealgummodoajudadoacriaroLabirinto.Nofundo,porém,tinhaesperançadequepoderialutarobastanteparaalguémintroduzirocódigoedesativarosVerdugosantesqueomatassem.Abrindoaporta.

-Nãodiga!-falouNewt,aindamaisirritado.-Anobrezaempessoa,nãoé?

-Tenhotodasasrazõesparaisso.Acimadetudo,decertomodoaculpaporestarmosaquiéminha.-Eleparou,respiroufundoeserecompôs.-Dequalquer maneira, eu vou de um jeito ou de outro, portanto é melhor não

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gastarsuaenergia.

Newtfranziuocenho,osolhosrepentinamentecheiosdecompaixão.

-SevocêrealmenteajudouaprojetaroLabirinto,Tommy,nãofoiculpasua.Vocêéumgaroto…nãopodiadeixardefazeroquemandaram.

Masnão importavaoqueNewtdissesse.Não importavaoquequalquerpessoa dissesse. Thomas assumia a responsabilidade de toda forma - e elaficavacadavezmaiorquantomaispensavanoassunto.

-Ésóque…achoqueprecisosalvartodos.Precisomeredimir.

Newtdeuumpassoatrás,balançandoacabeçalentamente.

-Sabeoqueéengraçado,Tommy?

-Oquê?-replicouThomas,naexpectativa.

- Eu acredito em você.Você não demonstrou nem ummínimo sinal dementiranosolhos.Enãopossomesmoacreditarqueestouapontodedizerisso.-Fezumapausa.-Masvouvoltarláparaconvenceraquelestrolhosquedevemospassar peloBuracodosVerdugos, exatamente comovocêdisse.Ébemmelhor lutar contra osVerdugos do que ficar aqui sentado, esperandoenquantovãolevandoumporum.-Eleergueuumdedo.-Masescutebemumacoisa…nãoqueromaisnenhumamaldita palavra sobrevocêmorrer etodaessababoseiradeheroísmo.Sevamosfazer isso,vamostodoscorrerorisco…todosnós.Ouviubem?

Thomasergueuasmãos,dominadopelasensaçãodealívio.

-Voudizeremaltoebomsom:sóestavatentandodefenderaideiadequevaleapenacorrero risco.Sealguém temdemorrer todanoitedequalquermaneira,pelomenospodemosusarissoanossofavor.

Newtfranziuatesta.

-Puxa,masissonãoéumabeleza?

Thomasdeumeia-voltaparaseafastar,masNewtochamou.

-Tommy?

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-Oi?-Eleparou,masnãoolhouparatrás.

- Se eu conseguir convencer aqueles trolhos… e eu disse: se euconseguir… omelhormomento para ir seria à noite. Podemos esperar queuma porção de Verdugos esteja por todos os cantos no Labirinto…menosnaqueleBuracodeles.

- Bom isso - Thomas concordou com ele; só esperava que Newtconseguisse convencer os Encarregados. Voltou-se para Newt e inclinou acabeça.

Newt sorriu, uma fissura quase imperceptível na sua carranca depreocupação.

-Devemostentarestanoite,antesquemaisalguémsejamorto.-EantesqueThomaspudessedizeralgumacoisa,Newtdesapareceu,voltandoparaoConclave.

Um pouco chocado com a última afirmação, Thomas deixou a Sede eencaminhou-seatéumvelhobancopróximoàCaixa,ondesentou-se,amenterodopiando.PensavanoqueAlbycomentarasobreoFulgorenoquepoderiasignificar. O garoto, que era omais velho de todos, tambémmencionara aterra incendiada e uma doença. Thomas não se lembrava de nada daquilo,mas,sefossetudoverdade,omundoparaoqualestavamtentandovoltarnãopareciatãobom.Aindaassim…queoutraescolhalhesrestava?Alémdofatode os Verdugos continuarem atacando todas as noites, a Clareira estavabasicamentedesativada.

Frustrado, preocupado, cansado dos seus pensamentos, ele chamou porTeresa.

“Vocêconseguemeouvir?”

“Sim”,respondeuela.“Ondevocêestá?”

“PertodaCaixa.”

“Chegoaíemumminuto.”

Thomaspercebeuoquantoprecisavadacompanhiadela.

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“Ótimo.Voutecontaroplano;achoquevaifuncionar.”

“Dequesetrata?”

Thomas reclinou-se no banco e pôs o pé direito sobre o joelho,imaginandocomoTeresareagiriaaoqueiadizer.

“PrecisamospassarpeloBuracodosVerdugos.Usar aquele códigoparadesativarosVerdugoseabriraportadesaídadaqui.”

Umapausa.

“Jáesperavaumacoisaassim.”

Thomaspensouporumsegundo,depoisacrescentou:

“Amenosquevocêtenhaumaideiamelhor”.

“Não.Vaiserterrível.”

Elesocouopunhodireitocontraaoutramão,muitoemborasoubessequeelanãopodiavê-lo.

“Vamosconseguir.”

“Duvido.”

“Bem,precisamostentar.”

Outrapausa,destavezmaislonga.Elepodiasenti-lapensando.

“Vocêestácerto.”

“Achoquevamosestanoite.Venhaaquiepodemosconversarmaissobreisso.”

“Estareiaíemalgunsminutos.”

Thomas sentiu o estômago se contrair num nó. Agora começava aperceberopesodoquesugerira,oplanoqueNewtestavatentandoconvenceros Encarregados a aceitar. Sabia que era perigoso; a ideia de enfrentar osVerdugos - em vez de apenas correr deles - era aterradora. Namelhor dashipóteses,apenasumdelesmorreria-masnemnissopodiamconfiar.TalvezosCriadorestivessemreprogramadoascriaturas.Eentãoseriaumdeusnos

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acuda.

Tentounãopensarnessapossibilidade.

Mais cedo do queThomas esperava, Teresa o encontrou e sentou-se aoseu lado, o corpo encostado no seu, apesar de sobrar espaço no banco.Elasegurou-lheamão.Ele retribuiuapertandoamãodela,comtanta forçaquepensouquefossemachucá-la.

-Conte-pediuela.

Thomas o fez, repetindo cada palavra que dissera aos Encarregados,detestandoamaneiracomoosolhosdeTeresaseenchiamdepreocupação-edeterror.

-Oplanofoi fácildeexpor -disseeledepoisde lhecontar tudo. -MasNewtachaquedevemosirestanoite.Nãoparecebomagora.-Oquemaisoaterrorizava era pensar emChuck e Teresa lá: ele já encarara os Verdugosantes e sabiamuitobemcomoera.Queria ser capazdeprotegeros amigosdessaexperiênciaterrível,massabiaquenãopodiafazerisso.

-Vamosconseguir-falouelaemvozbaixa.

Ouvi-ladizeraquilosóodeixouaindamaispreocupado.

-Masquedroga,estoucommedo.

-Masquedroga,vocêéhumano.Entãotemdeestarcommedo.

Thomas não respondeu, e por um longo tempo eles apenas ficaram alisentados,demãosdadas,semdizerpalavra,mentalmenteouemvozalta.Elesentiuumaligeirapaz,aindaquebreve,etentouconservá-lapelotempoquepudessedurar.

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Thomas estava quase triste quando o Conclave finalmente terminou.QuandoNewtsaiudaSede,elesabiaqueotempodedescansoacabara.

OEncarregadoosavistoueaproximou-senumpassoapressado,aindaquemancando. Thomas notou que soltara a mão de Teresa sem pensar. Newtparouàfrentedelesecruzouosbraçossobreopeitoenquantoolhavaparaosdoissentadosnobanco.

- Isso é uma loucura total, vocês sabem disso, certo? - Seu semblanteestavaindecifrável,masosolhosdeixavamtransparecerumanesgadevitória.

Thomaslevantou-se,sentindoumatorrentedeempolgaçãoinundaroseucorpo.

-Entãoelesconcordaramemir?

Newtinclinouacabeçaconfirmando.

-Todoseles.Nãofoitãodifícilquantopenseiqueseria.Aquelestrolhosviram o que acontece à noite com aquelas malditas Portas abertas. NãopodemossairdesteLabirintoidiota.Precisamostentaralgumacoisa.-EleseviroueolhouparaosEncarregados,quecomeçavamareunirosrespectivosgruposdetrabalho.-AgorasóprecisamosconvencerosClareanos.

ThomassabiaqueissoseriaaindamaisdifícildoquetinhasidopersuadirosEncarregados.

- Acha que vão comprar a ideia? - Teresa indagou, levantando-se parajuntar-seaeles.

-Nemtodoseles-falouNewt,eThomasreparounafrustraçãonosseusolhos.-Algunsvãoficarecorrerorisco…possogarantir.

Thomasnãoduvidavaqueaspessoasiriamamarelaranteaideiadepartirparaaação.PedirquelutassemcontraosVerdugoserapedirmuito.

-EquantoaAlby?

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-Quemsabe?-respondeuNewt,olhandoemvoltanaClareira,enquantoobservavaosEncarregadoseosseusgrupos.-Paramimparececlaroqueobabaca está commaismedodevoltar para casadoquedosVerdugos.Masvouconseguirquevácomagente,nãosepreocupe.

Thomas gostaria de poder recuperar lembranças daquelas coisas queestavamatormentandoAlby,masnãolheocorrianada.

-Comopretendeconvencê-lo?

Newtdeuumarisada.

-Vouinventaralgumabesteira.Dizeraelequeencontraremosumanovavidaemoutrapartedomundo,quevamosviverfelizesparasempre.

Thomasdeudeombros.

-Bem,talvezagentecheguelá.PrometiaoChuckqueolevariaparacasa,vocêsabe.Oupelomenosqueiriaencontrarumacasaparaele.

-Éclaro-murmurouTeresa.-Qualquercoisaémelhordoqueestelugar.

ThomasobservouasdiscussõesqueirrompiamportodapartenaClareira,os Encarregados fazendo omelhor possível para convencer as pessoas quedeveriamcorreroriscoelutarparaabrircaminhoeatravessaroBuracodosVerdugos.AlgunsClareanosbateramopé,masamaioriapareciaouvireaomenosconsideraraproposta.

-Eoquedevemosfazeragora?-indagouTeresa.

Newtrespiroufundo.

-Descobrirquemvai,quemfica.Preparar-se.Alimento,armas,tudoisso.Entãopartimos.Thomas,euocolocariacomooresponsável,umavezqueaideia foi sua,mas já seriabemdifícilmanter aspessoasdonosso lado semtransformarvocê,Fedelho,emnossolíder…semofensa.Entãoémelhorficarnasua,certo?VamosdeixaronegóciodocódigocomvocêeTeresa.Vocêspodemcuidardissoporbaixodospanos.

Thomasachavamaisdoquebomdeixarde ladoa liderança - encontraraquela central de computadores e introduzir o código era responsabilidade

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mais do que suficiente para ele. Mesmo com esse fardo sobre os ombros,precisavalutarcontraaondacrescentedepânicoquesentia.

-Você fala como se fosse fácil - disse, fazendo omelhor possível paraamenizarasituação.Oupelomenosparadaraimpressãodequefaziaisso.

Newtcruzouosbraçosdenovo,olhandofixamenteparaele.

-Comovocêdisseantes,seficarmos,umtrolhomorreànoite.Seformos,um trolhomorre.Qual a diferença? - Ele apontou para Thomas. - Se vocêestivercerto.

-Eestou.-ThomassabiaqueestavacertoquantoaoBuraco,aocódigo,àporta, à necessidade de lutar.Mas se um oumuitos deles iriammorrer eraalgodequenão faziaamenor ideia.Entretanto, sehaviaumacoisaqueosseusinstintoslhediziameraparanãoadmitirnenhumadúvida.

Newtdeu-lheumtapinhanascostas.

-Bomisso.Aotrabalho,então.

Ashorasseguintesforamfrenéticas.

AmaioriadosClareanosacabouconcordandoemir-maisgentedoqueThomas imaginara. Até mesmo Alby decidiu ir junto. Embora ninguémadmitisse,Thomasacreditavaqueamaiorpartedeles apostavana teoriadequeapenasumapessoaseriamortapelosVerdugos,etodosconsideravamqueas chances de não ser o trouxa infeliz eram aceitáveis. Os que decidirampermanecernaClareiraerampoucos,masobstinadoseveementes.Passaramo tempo todoandandopor todosos lados reclamando, tentandomostraraosoutroscomoeramestúpidos.Porfim,desistiramemantiveram-seàdistância.

Quanto a Thomas e aos demais comprometidos com a fuga, havia umatoneladadetrabalhoaserfeito.

Houve uma distribuição de mochilas, e nelas foram colocadossuprimentos.Caçarola-NewtcontaraaThomasqueoCozinheirotinhasidoumdosúltimosEncarregadosaconcordarcomafuga-estavaincumbidodereunir todo o alimento e encontrar um jeito de distribuí-lo igualmente.SeringasdeSorodaDorforamincluídas,muitoemboraThomasnãoachasse

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queosVerdugosfossempicá-los.Chuckficouencarregadodeenchergarrafasdeáguaefornecê-lasatodos.Teresaoajudou,eThomaspediu-lheparafazera jornada soar omenos assustadora possível,mesmo que precisassementirdescaradamente, o que era quase inevitável.Chuck tentara parecer corajosodesdeomomentoemqueforainformadosobreoqueiriamfazer,masosuorbrotandonasuapeleeoolharperplexorevelavamaverdade.

MinhofoiatéoPenhascocomumgrupodeCorredores,atirandocordasdeheraepedrasparatestaroinvisívelBuracodosVerdugosumaúltimavez.Eles tinhama esperançadeque as criaturasmanteriamohoráriohabitual enãoapareceriamduranteodia.ThomaspensaraemsaltardiretoparadentrodoBuraco e tentar introduzir o código rapidamente,masnão fazia ideiadoquedeveriaesperaroudoquepoderiaestaràsuaespreita.Newtestavacerto-era melhor aguardar até a noite e torcer para que a maioria dos VerdugosestivessenoLabirinto,nãodentrodoBuraco.

Quando Minho retornou, são e salvo, Thomas pensou que ele pareciamuito otimista em relação a haver realmente uma saída. Ou entrada.Dependendodopontodevista.

Thomas ajudou Newt a distribuir as armas e até mesmo umas maisinovadoras foram criadas no desespero de se preparar para os Verdugos.Bastões demadeira foram apontados como lanças ou envolvidos em aramefarpado; as facas foram afiadas e amarradas, com cipós, na extremidade degalhos arrancados de árvores da floresta; pedaços de vidro quebrado foramenvolvidosemfitaadesivaparaservircomopás.Nofimdodia,osClareanostinham se transformado em um pequeno exército. Um exército ridículo edespreparado,pensouThomas,masaindaassimumexército.

Depois de ajudarem no que podiam, ele e Teresa foram para o localsecreto no Campo-santo para planejar uma estratégia sobre a central decomputadores que havia dentro do Buraco dos Verdugos e discutir comoimaginavamintroduzirocódigo.

-Teremosdesernósafazerisso-disseThomasenquantoserecostavamcontra as árvores enrugadas, as folhas antes verdes já começando a ficar

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cinzentas com a falta de luz solar artificial. - Porque, se formos separados,poderemosficaremcontatoecontinuarajudandoumaooutro.

Teresapegaraumavaretaedescascavaotroncodaárvore.

-Masprecisamos ter substitutos,paraocasodeaconteceralgumacoisacomagente.

- Sem dúvida.Minho e Newt conhecem as palavras do código, vamosdizeraelesparadigitá-lasnocomputadorsenós…bem,vocêsabe.-Thomasnãoqueriapensarsobretodasascoisasruinsquepoderiamacontecer.

- O plano não é tão difícil então. - Teresa bocejou, como se a vidaestivessecompletamentenormal.

-Nemumpouco.LutarcontraosVerdugos,digitarocódigo,escaparpelaporta.DepoisvamosenfrentarosCriadores…sejaláoqueissosignifique.

-Seispalavrasdocódigo,quemsabequantosVerdugos.-Teresaquebrouavaretanomeio.-OquevocêachaquesignificaCRUEL,afinal?

Thomassentiucomosetivessesidoatingidocomumsoconoestômago.Poralgummotivo,ouvirapalavranaquelemomento,deoutrapessoa, ligoualgumaspontassoltasnasuamenteehouveaconexão.Eleficouespantadodenãoterfeitoessaligaçãoantes.

-Aquela placa que vi no Labirinto… lembra?Aquela demetal com aspalavras gravadas. -O coração deThomas começara a bater acelerado, porcausadaexcitação.

Teresa franziu a testa confusa por um segundo, mas depois uma luzpareceuseacenderportrásdosseusolhos.

- Uou! Catástrofe e Ruína Universal: Experimento Letal. CRUEL.CRUELébom…oqueescrevinomeubraço.Oqueseráqueissosignificaafinal?

-Não faço ideia.Épor issoqueestoumorrendodemedodequeoqueestamosprestesafazersejaumaimensaidiotice.Podeserumderramamentodesangue.

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-Todomundosabenoqueestásemetendo.-Teresaestendeuobraçoesegurouamãodele.-Nadaaperder,lembra?

Thomas lembrava, mas por alguma razão as palavras de Teresa ochatearam…nãohaviamuitaesperançaparaeles.

-Nadaaperder-repetiuele.

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PoucoantesdahoranormaldofechamentodasPortas,Caçarolapreparouumaúltimarefeiçãocomquepassariamanoite.OhumorquepairavasobreosClareanosenquantocomiamnãopodiasermaissombrioouimpregnadodemedo. Thomas estava sentado perto de Chuck, pegando a comida com arabsorto.

-Eaí…Thomas-omeninodisseemmeioaumenormebocadodepurêdebatata.-Nonomedequemseráquemeuapelidofoibaseado?

Thomasnãopôdeevitardeabanaracabeça-aliestavameles,prestesaembarcarnatarefamaisperigosadassuasvidas,eChuckestavacuriososobrequemtinhainspiradooseuapelido.

-Seilá,CharlesDarwin,talvez.Ocaraquedescobriuaevolução.

-Apostoqueninguémnuncachamoueledecaraantes.-Chuckserviu-sedeoutrograndebocadoepareciapensarqueaqueleeraomelhormomentoparaconversar,debocacheiae tudo. -Sabe,nãoestounemumpoucocommedo.Querdizer,nasúltimasnoites, ficar sentadonaSede, esperandopelachegada de um Verdugo para pegar um de nós, foi a pior coisa que meaconteceu na vida. Pelo menos agora estamos fazendo alguma coisa emrelaçãoaeles,tentandoalgumacoisa.Epelomenos…

- Pelo menos o quê? - indagou Thomas. Não acreditava nem por umsegundo que Chuck não estava commedo; era quase um sofrimento vê-lotentandoparecercorajoso.

-Bem,todomundoestáespeculandoqueelessópodemmatarumdenós.Talvezeupossaparecerumbabaca,masissomedáalgumaesperança.Pelomenos a maioria de nós vai conseguir se safar… só um pobre idiota vaimorrer.Émelhordoquetodosnós.

Thomassofriaaopensarqueosgarotosseapegavamàquelaesperançadeapenas ummorrer; quantomais pensava nisso,menos acreditava que fosse

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verdade.OsCriadoressabiamdoplano-poderiamreprogramarosVerdugos.Masmesmoumafalsaesperançaeramelhordoquenenhuma.

-Quemsabetodosconsigam.Desdequetodomundolute.

Chuck parou de empanturrar-se por um segundo e olhou para Thomasatentamente.

-Vocêachaissomesmoouestásótentandomeanimar?

-Vamosconseguir. -Thomascomeuaúltimagarfada,bebeuumgrandegole de água. Nunca se sentira tãomentiroso em toda a sua vida. Pessoasmorreriam.MaselefariatudooquefossepossívelparaqueChucknãofosseumadelas.ETeresa.-Nãoseesqueçadaminhapromessa.Aindapodecontarcomela.

Chuckfranziuocenho.

-Grandecoisa…todomundofalaqueomundoestáumagrandemértila.

-Ei,podeserquesim,masvamosencontraraspessoasquecuidarãodenós…Vocêvaiver.

Chucklevantou-se.

-Bem,nãoqueropensarnisso-anunciou.-SómetiredoLabirintoesereiumcarafeliz.

-Bomisso-Thomasconcordou.

Uma agitação nas outras mesas chamou a atenção dele. Newt e AlbyestavamreunindoosClareanos,dizendoatodosqueerahoradepartir.Albyparecia quase o mesmo, mas Thomas ainda se preocupava com o estadomental do rapaz. No entender de Thomas, Newt era o chefe, mas tambémpodiaserimprevisívelàsvezes.

O frio demedo e pânico que Thomas sentira com tanta frequência nosúltimos dias abateu-se sobre ele uma vez mais com toda força. Não haviacomonegar.Elesestavampartindo.Tentandonãopensarnisso,apenasagir,ele pegou amochila. Chuck fez omesmo, e eles se dirigiram para a PortaOeste,aquelevavaaoPenhasco.

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ThomasencontrouMinhoeTeresaconversandopertodalateralesquerdadaPorta, repassandoosplanos feitosàspressaspara introduzirocódigodefugaassimquepassassempeloBuraco.

- E aí, seus trolhos, estão prontos? - indagou Minho quando seaproximaram. - Thomas, isso foi tudo ideia sua, portanto é melhor quefuncione.Senão,matovocêantesqueosVerdugospossamfazerisso.

-Obrigado- falouThomas.Masnãoconseguiuse livrardasensaçãodeenjoonoestômago.Esealgumacoisaestivesseerrada?Eseas lembrançasdele fossem falsas? Plantadas nele de alguma forma? Esse pensamento oaterrorizou,eeleprocurouafastá-lo.Nãotinhamaiscomovoltaratrás.

Ele olhou paraTeresa, quemudava de umpé para outro, esfregando asmãos.

-Tudobemcomvocê?-eleindagou.

-Estouótima-respondeuelacomumsorrisinho,nitidamentenadaótima.-Sóansiosaemacabarlogocomisso.

-Amém,irmã-disseMinho.ElepareceuomaiscalmoaThomas,omaisconfiante,oquesentiamenosmedo.Thomasoinvejou.

Depois que Newt finalmente conseguiu reunir todo mundo e pediusilêncio,Thomasvoltou-separaouviroqueeletinhaadizer.

-Somosquarentaeumaotodo.-Elecolocounosombrosamochilaquesegurava e levantou um grosso bastão de madeira com arame farpadoenroladonaextremidade.Aarmapareciamortal.-Nãoseesqueçamdassuasarmas.Alémdisso,nãotenhomaisporcarianenhumaadizer…todosforaminformados do plano. Vamos abrir caminho lutando até o Buraco dosVerdugos,oTommyaquivaidigitaroseucódigomágicoedepoisvamosdarotrocoaosCriadores.Muitosimples.

ThomasmalouviuoqueNewtdizia,depoisdeverAlbyresmungandoaolado,longedogrupoprincipaldeClareanos,sozinho.Albyseguravanacordadoarcoenquantoolhavaparaochão.Umaaljavacomflechaspendia-lhedoombro. Thomas sentiu uma maré crescente de preocupação com a

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possibilidade de queAlby estivesse instável, de que viesse a estragar tudo.Decidiuobservá-loatentamentesepudesse.

- Alguém quer dizer algumas palavras ou algo parecido? - perguntouMinho,afastandoaatençãodeThomasdadireçãodeAlby.

-Váemfrente-replicouNewt.

Minhoinclinouacabeçaeencarouogrupo.

-Tomemcuidado-dissesecamente.-Nãomorram.

Thomasteriaridosepudesse,masestavacommedodemaisparaisso.

-Beleza.Estamostodosdivinamenteinspirados-respondeuNewt,depoisapontou por cima do ombro, na direção do Labirinto. - Todos conhecem oplano.Depoisdedoisanossendo tratadoscomocamundongos,hojeànoitetomamos uma decisão.Hoje à noite vamos reagir contra os Criadores, nãoimporta o que precisemos fazer para chegar lá.Hoje à noite é bom que osVerdugossecuidem.

Alguémaplaudiu,edepoismaisalguém.Emseguidagritoseclamoresdebatalha se fizeramouvir, aumentandodevolume, enchendoo ar comoumatrovoada.Thomassentiuumagotadecoragemdentrodesi-agarrou-acomopôde, aferrou-se a ela, desejou ardentemente que crescesse. Newt estavacerto. Naquela noite eles lutariam. Naquela noite haviam tomado umadecisão,deumavezportodas.

Thomas estava pronto. Rugiu com os outros Clareanos. Sabia quedeveriamestar em silêncio, não chamandoa atenção sobre simesmos,masnãosepreocupou.Ojogohaviacomeçado.

Newtgolpeouoarcomasuaarmaegritou:

-Ouçamisso,Criadores!Estamoschegando!

Edepoisdisso, ele sevoltouecorreuparaoLabirinto.Quasenãodavapara notar que ele mancava. Para dentro do ar cinzento que parecia maistenebrosodoquenaClareira,cheiodesombraseescuridão.OsClareanosaoredordeThomas,aindaaplaudindo,pegaramassuasarmasecorreramatrás

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de Newt, até mesmo Alby. Thomas os seguiu, alinhando-se entre Teresa eChuck,segurandoumagrande lançademadeiracomumafacaamarradanaextremidade.Osentimentorepentinoderesponsabilidadepelosamigosquaseoesmagava,dificultandoacorrida.

Maseleseguiuemfrente,determinadoavencer.

“Vocêécapazdisso”,pensou.“ÉsópassarporaqueleBuraco.”

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Thomasmantinhaumamarcha constante enquanto corria comosoutrosClareanos ao longo dos caminhos de pedra em direção do Penhasco.Acostumara-seacorrernoLabirinto,masaquiloeracompletamentediferente.Os sons de pés chispando sobre o chão ecoavam nos muros e as luzesvermelhasdosbesourosmecânicosbrilhavammaisameaçadoramentenahera-osCriadorescomcertezaestavamobservando,escutando.Deummodooudeoutro,seriaumaluta.

“Estácommedo?”,indagouTeresaenquantocorriam.

“Não,adorocoisasfeitasdebolhasedeaço.Malpossoesperarparavê-las.”Nãosentianenhumprazernemalegriaeimaginousealgumavezaindasentiria.

“Muitoengraçado”,respondeuela.

Elaestavabemaoladodele,maselepermaneciacomoolharàfrente.

“Vamosficarbem.BastaestarpertodemimedeMinho.”

“Ah, meu Cavaleiro de Armadura Brilhante. Não acha que sei medefendersozinha?”

Na verdade, ele pensava praticamente o contrário: Teresa parecia tãocorajosaquantoqualqueroutroali.

“Não,sóestoutentandoserlegal.”

Ogruposeguiaespalhadopor todaa larguradocorredor, correndonumritmoconstante,masrápido-ThomasficouimaginandoquantotempoosquenãoeramCorredoresaguentariam.Comoserespondesseaoseupensamento,Newtrecuou,dandoumtapinhanoombrodeMinho.

-Vocêindicaocaminhoagora-Thomasouviu-odizer.

Minhoconcordouecorreuparafrente,guiandoosClareanosemtodasasvoltasnecessárias.CadapassoeraumatorturaparaThomas.Acoragemque

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reunira transformara-se emmedo e ficava imaginando quando osVerdugosfinalmenteosperseguiriam.Imaginandoquandoalutacomeçaria.

E assim foi para ele enquanto continuavam correndo, os Clareanos nãoacostumadosacorrertaisdistânciasofegandoesorvendograndesgolesdear.Masnenhumdesistiu.Elescorreramsemparar,enenhumsinaldosVerdugos.Depoisdealgumtempo,Thomaspermitiu-sesentirumaminúsculachamadeesperança-quemsabeconseguissemantesdeseratacados.Quemsabe.

Porfim,depoisdahoramaislongadavidadeThomas,eleschegaramàcomprida passagem que levava à última volta antes do Penhasco - umcorredorcurtoàdireitaquesedividiacomoahastedaletra“T”.

Thomas,ocoraçãoaospulos,apeleencharcadadesuor,adiantara-separaficar bem atrás de Minho, com Teresa ao seu lado. Minho diminuiu avelocidadenaesquina,depoisparou,levantandoamãoparadizeraThomaseaos outros para fazerem o mesmo. Então ele se virou, uma expressão dehorrornaface.

-Ouviuisso?-elesussurrou.

Thomas abanou a cabeça, tentando abafar o terror que a expressão deMinholhetransmitira.

Minhoesgueirou-seàfrenteeespreitounabordaafiadadepedra,olhandonadireçãodoPenhasco.Thomasotinhavistofazeromesmoantes,quandoseguiram um Verdugo até aquele mesmo local. Exatamente como naquelavez,Minhorecuoudeimediatoevirou-separaencará-lo.

-Ah,não-oEncarregadodisseemmeioaumgemido.-Ah,não.

EntãoThomasouviu.OssonsdoVerdugo.Eracomoseelesestivessemseescondendo,esperando,eagoraapareciamdevez.Elenemprecisouolhar-sabiaoqueMinhoiadizerantesdeelefalar.

-Hápelomenosumadúzia deles.Talvezquinze. -Ele ergueu amão eesfregouosolhoscomabasedasmãos.-Estãoesperandopornós!

OarrepiogeladodemedoatingiuThomasaindacommais forçadoqueantes. Ele olhou para Teresa, a ponto de dizer alguma coisa, mas parou

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quandoviuaexpressãonorostopálido-nuncaviraoterrorseapresentartãovivamente.

Newt eAlby avançaram em relação à linha dosClareanos que estavamesperando e foram juntar-se a Thomas e aos outros. Aparentemente, opronunciamento deMinho já fora sussurrado através das fileiras, porque aprimeiracoisaqueNewtdissefoi:

-Bem,nóssabíamosqueteríamosdelutar.-Masotremornasuavozotraiu;elesóestavatentandodizeracoisacerta.

Thomassentiuomesmo.Tinhasidofácilfalar-alutadequemnãotinhanadaaperder,aesperançadequeapenasumserialevado,aoportunidadedefinalmenteescapar.Masagoraestavatudoali,dooutrolado.Dúvidassobreseiriamconseguirseinfiltrarnasuamenteenoseucoração.EleimaginouporqueosVerdugosestavamsóesperando-eraóbvioqueosbesourosmecânicosostinhamavisadoqueosClareanosestavamchegando.SeráqueosCriadoresestavamgostandodaquilo?

Teveumaideia.

-TalvezjátenhampegoumgarotolánaClareira.Talvezagenteconsigapassarporeles.Porqueoutromotivoelesestariamsóesperando?

Um ruído alto vindo de trás o interrompeu - ele se virou para vermaisVerdugos descendo pelo corredor na direção deles, os ferrões brilhando, osbraços de metal tateando, vindos da direção da Clareira. Thomas estavaprestes a dizer alguma coisa quando ouviu sons da outra extremidade dapassagemcomprida.Virou-separaveraindamaisVerdugos.

Oinimigoestavaportodososlados,encurralando-ostotalmente.

OsClareanosencolheram-senadireçãodeThomas,formandoumgrupocompacto, forçando-o a deslocar-se rumo a uma interseção aberta onde ocorredor do Penhasco encontrava a passagem comprida. Viu o grupo deVerdugos entre eles e o Penhasco, os ferrões estendidos, a pele úmidapulsando para dentro e para fora. Esperando, observando. Os outros doisgrupos de Verdugos tinham se aproximado e parado a apenas uns quatro

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metrosdosClareanos,tambémesperando,observando.

Thomas girou lentamente em círculo, lutando contra o medo que odominava. Estavam cercados. Não tinham escolha agora - não havia paraonde ir. Uma pulsação aguda de dor latejava atrás dos seus olhos. OsClareanos comprimiam-se emumgrupomais apertado ao redor dele, todosolhando para fora, amontoados no centro da interseção em “T”. ThomasestavapressionadoentreNewteTeresa-podiasentirNewttremer.Ninguémdisse uma palavra. Os únicos sons eram os lúgubres gemidos e zumbidosmaquinais vindos dosVerdugos, parados ali como se estivessem curtindo aarmadilhaque tinhampreparadoparaoshumanos.Seuscorpos repugnantesondulavamparadentroeparaforacomrangidosmecânicosderespiração.

“Oqueseráqueestãofazendo?“,ThomasfalouaTeresa.“Oqueseráqueestãoesperando?”

Elanãorespondeu,oqueopreocupou.Eleestendeuobraçoeapertou-lheamão.OsClareanosaoredordeleesperavamemsilêncio,segurandoassuasarmasprecárias.

ThomasolhouparaNewt.

-Temalgumaideia?

-Não-replicouele,avozdesafinada,quaseimperceptível.-Nãoentendooqueosdesgraçadosestãoesperando.

-Nãodevíamos tervindo - falouAlby.Ele tinhaestadomuitoquieto, avoz soava estranha, especialmente com o eco vazio criado pelosmuros doLabirinto.

Thomasnãoestavacomaintençãodeselamuriar-elesprecisavamfazeralgumacoisa.

-Bem,nãoestaríamosmelhorlánaSede.Odeiodizerisso,masseumdenósmorrer,émelhordoquetodosnósmorrermos.-Eleesperavaqueaopçãode umapessoa por noite ainda se aplicasse.Ver todos aquelesVerdugos deperto calava fundo com uma explosão de realidade, será que poderiamrealmenteenfrentartodoseles?

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UmlongomomentosepassouantesdeAlbycomentar:

-Talvezeudevesse…

Ele se interrompeu e começou a avançar lentamente - na direção doPenhasco -, como se estivesse em transe. Thomas observou-o com umaexpressãoassombradaedistante-nãoconseguiaacreditarnoquevia.

-Alby?-Newtchamou.-Volteaqui!

Emvez de responder,Alby saiu emdisparada, encaminhando-se para ogrupodeVerdugosentreeleeoPenhasco.

-Alby!-Newtbradou.

Thomas ia começar a dizer alguma coisa, mas Alby já alcançara osmonstrosesaltaraemcimadeumdeles.Newtafastou-sedoladodeThomasna direção deAlby,mas cinco ou seisVerdugos já haviam ganhado vida eatacavamorapaznumaamálgamaconfusademetalepele.

Thomas alcançouNewt e segurou-o pelos braços antes que ele pudesseadiantar-semais.Entãopuxou-oparatrás.

-Mesolte!-Newtgritou,esforçando-separasedesvencilhar.

-Vocêficoudoido!-gritouThomas.-Nãopodefazernada!

Dois outros Verdugos saíram do grupo e atiraram-se sobre Alby,empilhando-se um sobre o outro, agredindo e cortando o rapaz, como sequisessem pulverizá-lo, numa exibição de crueldade depravada. Por algummotivo, aindaqueparecesse impossível,Albynãogritou.Thomasperdeu avisãodocorpoenquantolutavacomNewt,eficougratopeladistração.Newtfinalmentedesistiu,recuandoderrotado.

Alby havia pirado de uma vez por todas, pensouThomas, lutando paranãopôrparaforaoquetinhanoestômago.Olídertemiatantoavoltaasejaláo que tivesse visto que preferira sacrificar-se a retornar. Ele se foi.Definitivamente.

Thomas ajudou Newt a equilibrar-se sobre os pés; o Clareano nãoconseguiadesviaroolhardopontoondeoamigodesaparecera.

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-Nãopossoacreditar-sussurrouNewt.-Nãopossoacreditarqueelefezisso.

Thomas balançou a cabeça, incapaz de responder. Ver Alby se acabardaquele jeito…Umnovo tipodedorquenuncasentiraantes instalou-senoseuíntimo,umsofrimentodoentio,perturbador;erapiordoqueadorfísica.EelenemmesmosabiasetinhaalgumacoisaavercomAlby-nuncagostaramuitodorapaz.MasaideiadequeoqueacabaradeverpoderiaaconteceraChuckouaTeresa…

Minhoaproximou-sedeThomaseNewt,apertouoombrodeNewt.

-Nãopodemosdesperdiçaroqueele fez. -Ele sevoltounadireçãodeThomas. - Vamos lutar contra eles se for preciso, abrir caminho até oPenhascoparavocêeTeresa.PassepeloBuracoefaçaasuaparte…Vamosmantê-losocupadosatévocêgritarparaoseguirmos.

ThomasolhouparacadaumdostrêsgruposdeVerdugos-nenhumdelesfizeraummovimentonadireçãodosClareanos-econcordou.

-Quemsabeficamadormecidosporalgumtempo.Sóprecisamosdemaisoumenosumminutoparaintroduzirocódigo.

-Comovocêspodemser tão insensíveis? -murmurouNewt,odesgostonasuavozsurpreendendoThomas.

-Oquevocêquer,Newt?-disseMinho.-Deveríamostodosvestirlutoefazerumfuneral?

Newt não respondeu, ainda olhando para o ponto onde os Verdugospareciam estar devorando Alby, seu corpo sob o deles. Thomas não pôdeevitarumsobressalto-viuumanesgadevermelhovivonocorpodeumadascriaturas.Seuestômagosereviroueelerapidamentedesviouoolhar.

Minhocontinuou:

- Alby não queria voltar para a vida que levava. Ele se sacrificou pornós… e eles não estão atacando, então talvez tenha funcionado. Seríamosinsensíveissedesperdiçássemosessachance.

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Newtapenasdeudeombros,fechandoosolhos.

Minhovoltou-seeencarouogrupoamontoadodeClareanos.

-Escutem!AprioridadenúmerouméprotegerThomas eTeresa.FazercomquecheguemaoPenhascoeaoBuracopara…

OssonsdosVerdugosreadquirindovidaointerromperam.Thomasergueuosolhoshorrorizado.Ascriaturasdeambososladosdogrupodelespareciamtê-losnotadodenovo.Osferrõessaltavamdoseucorpocomapelebulbosacontraindo-se e alongando-se; os corpos deles estremeciam e pulsavam.Então, em uníssono, os monstros se adiantaram, lentamente, os seusapêndicescominstrumentosnaextremidadesedesdobrando,apontadosparaThomaseparaosClareanos,prontosparamatar.Apertandoasuaformaçãocomo se estivessemenlaçados e presos por umnó, osVerdugos avançaramimplacavelmentenadireçãodeles.

OsacrifíciodeAlbyfracassara.

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ThomasagarrouMinhopelobraço.

-Precisoatravessaraquilodequalquerjeito!-Fezumsinalcomacabeçaparaogrupo compacto e rolantedeVerdugos entre eles e oPenhasco; elespareciam uma grande massa rolante, uma bolha com ferrões, piscandolampejos luminosos de luzes de aço. Eram ainda mais ameaçadores sobaquelailuminaçãocinzentaesmaecida.

ThomasesperouporumarespostaenquantoMinhoeNewttrocavamumolhardemorado.Aexpectativaemrelaçãoaocombateeraquasepiordoqueotemordalutaemsi.

-Elesestãovindo!-gritouTeresa.-Precisamosfazeralgumacoisa!

-Vocêlidera-disseNewtaMinho,avozpoucomaisqueumsussurro.-AbraumadrogadecaminhoparaTommyeagarota.Vá!

Minhoconcordou,umolharmetálicodedeterminaçãoendurecendo-lheosemblante.Emseguidavirou-separaosClareanos.

- Vamos direto ao Penhasco! Lutem pelo meio, empurrem as malditascoisasparaosmuros.OquemaisinteressaéconseguirqueThomaseTeresacheguemaoBuracodosVerdugos!

Thomas desviou o olhar dele, de novo observando a aproximação dosmonstros - eles estavam a apenas alguns passos de distância.Agarrou commaisforçaaquelearremedodelança.

“Precisamos ficar bem próximos”, disse ele a Teresa. “Deixe que osoutros lutem… precisamos atravessar aquele Buraco.” Ele sentia-se umcovarde,massabiaquetodaaluta-etodasasmortes-seriaemvãosenãoconseguissemdigitarocódigo,abrindoaportaparachegaraosCriadores.

“Eusei”,respondeuela.“Ficarbemjuntinhos.”

-Preparar! - gritouMinhopróximo aThomas, erguendono ar o bastão

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envolvidoemaramefarpadoemumadasmãos,umacompridafacaprateadanaoutra.EleapontouafacaparaahordadeVerdugos;umclarãorebrilhounalâmina.-Agora!

OEncarregado saiu correndo sem esperar uma resposta.Newt foi atrásdele, colado nos seus calcanhares, e depois o resto dos Clareanos osacompanhou,umgrupocompactodegarotosrugindonumataquediretoparaumabatalhasangrenta,asarmaslevantadas.ThomaspegouTeresapelamão,esperou que passassem - levando encontrões, sentindo o cheiro do suor,percebendo todo o terror deles -, à espera da oportunidade perfeita paradesferirogolpecerteiro.

Assim que os primeiros sons dos garotos entrando em luta contra osVerdugosencheramoar,permeadosporgritoserugidosdamaquinariaedamadeirachocando-secontraoaço,ChuckpassoucorrendoporThomas,querapidamenteestendeuamãoeagarrou-lheobraço.

Chuck cambaleou para trás, depois olhou para Thomas, os olhos tãocheiosdemedoqueThomas sentiu algumacoisa se romperempedaçosnocoração.Naquelafraçãodesegundo,eletomaraumadecisão.

-Chuck,vocêvaicomigoeTeresa-dissedeterminado,comautoridade,semdeixarespaçoparaadúvida.

Chuckolhouparaabatalhaencarniçadaàfrente.

- Mas… - Chuck se interrompeu e Thomas entendeu que o garotoapreciavaaideia,emboraestivesseenvergonhadoparaadmiti-lo.

Thomastentousalvaradignidadedele.

-PrecisamosdasuaajudanoBuracodosVerdugos,paraocasodeumadaquelascoisasestaresperandopornós.

Chuckconcordoudepressa-depressademais.Denovo,Thomassentiuadorda tristezanocoração,numaânsia aindamais fortede levarChuckemsegurançaparacasadoquequandolhefizeraapromessa.

-Muitobem,então-disseThomas.-SegurenamãodaTeresa.Vamos.

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Chuckfezoqueeledisse,tentandoaomáximoagircombravura.E,comoThomasnotou,semdizerumapalavra,talvezpelaprimeiraveznavida.

“Elesabriramumabrecha!”,gritouTeresanamentedeThomas,oquelheprovocou uma dor súbita por toda a cabeça. Ela apontava para a frente, eThomas viu a passagem estreita que se abrira no meio do corredor, osClareanoslutandoselvagementeparaempurrarosVerdugoscontraosmuros.

-Agora!-Thomasgritou.

Eledisparouàfrente,puxandoTeresaatrásdesi,TeresapuxandoChuckatrás dela, correndo a toda velocidade, as lanças e facas levantadas para abatalha,emdireçãoàpassagemdepedracobertadesangueeentrecortadadegritos.EmdireçãoaoPenhasco.

Aguerraestrondeavaemtornodeles.OsClareanoslutavam,movidospelaadrenalina induzida pelo pânico. Os sons ecoando nos muros eram umacacofoniadeterror-gritoshumanos,metalchocando-secontrametal,rugidode motores, os rangidos assombrosos dos Verdugos, as serras girando, asgarrasseabrindoefechando,osgarotosclamandoporajuda.Tudosefundianumamassadesangue,ocinzentoinerte,obrilhodoaço.Thomastentounãoolhar à esquerda nem à direita, apenas à frente, através da lacuna estreitaabertapelosClareanos.

Mesmo enquanto corriam, Thomas repassava as palavras do códigomentalmente. “FLUTUA,PEGA,SANGRA,MORTE,RÍGIDO,APERTA.”Sófaltavamunsquatrometros.

“Algumacoisacortouomeubraço!”,gritouTeresa.Maleladisseraisso,Thomas sentiu uma punhalada na perna. Mas não olhou para trás, não seincomodouemresponder.Abrutalimpossibilidadedasuasituaçãoeracomoum imenso dilúvio de água negra escoando ao seu redor, arrastando-o àrendição.Elelutoucontraaquilo,impulsionando-separaafrente.

LáestavaoPenhasco,abrindo-sesobocéucinza-escuro,unsseismetrosàfrente.Eleavançoucommaisímpeto,puxandoosamigos.

As lutas prosseguiam dos dois lados deles; Thomas recusou-se a olhar,

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recusou-seaajudar.UmVerdugogirou,vindocolocar-senoseucaminho;umgaroto,afaceforadoalcancedavista,estavapresoentreassuasgarras,batiacom todas as forças contra a pele grossa como a de uma baleia, tentandoescapar.Thomasdesviouparaaesquerda,seminterromperacorrida.Ouviuumgritoaopassar,umgemido rascanteeabrasadorquesópodiasignificarque o Clareano perdera a luta, encontrando um fim horrendo. O gritocontinuou, rompendo o ar, sobrepondo-se aos outros sons da guerra,silenciandoatéamorte.Thomassentiuocoraçãotremer,esperandoquenãofossealguémqueconhecesse.

“Continueemfrente!”,disseTeresa.

-Eusei!-gritouThomasemresposta,dessavezemvozalta.

Alguémpassou porThomas em disparada, batendo nele de raspão.UmVerdugoatacoupeladireita,aslâminasrodopiando.UmClareanointerpôs-seentre eles, atacando com duas espadas compridas, o metal estrepitando eretinindo enquanto lutavam. Thomas ouviu uma voz distante, gritando asmesmas palavras vezes seguidas, algo sobre ele. Sobre protegê-lo enquantocorria.EraMinho,irradiandotodooseudesesperoeasuafadigaemgritos.

Thomascontinuouemfrente.

“UmquasepegouoChuck!“,gritouTeresa,criandoumecoviolentonacabeçadeThomas.

MaisVerdugos acorreram para interceptá-los,maisClareanos ajudaram.Winstonpegaraoarcoeas flechasdeAlby,disparandoashastesdepontasmetálicasnadireçãode tudonãohumanoque semovesse, errandomaisdoque acertando. Garotos que Thomas não conhecia corriam ao seu lado,golpeandovigorosamente os instrumentos dosVerdugos comas suas armasimprovisadas, saltando sobre eles, atacando. Os sons - choques, retinidos,gritos, lamentos abafados, o clamor de motores, serras girando, espadassilvando,orangidodosferrõescontraochão,pedidosdesocorrodearrepiaroscabelos-todosprosseguiamnumcrescendo,tornando-seinsuportáveis.

Thomasgritou,mascontinuoucorrendoatéchegaremaoPenhasco.Paroubruscamentebemrenteàborda.TeresaeChuckbateramdeencontroaoseu

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corpo,quaselançandoostrêsnumaquedasemfim.Numafraçãodesegundo,Thomas reconheceu a posição doBuraco dosVerdugos. Pendurados ali, nomeiodoarrarefeito,galhosdeheracresciamparalugarnenhum.

Anteriormente,MinhoealgunsCorredoreshaviampuxadoramosdehera,amarrando-oscomocordasàstrepadeirasaindapresasaosmuros.AtiraramasextremidadessoltassobreoPenhasco,atéalcançaremoBuracodosVerdugos,onde agora seis ou sete trepadeiras corriam da borda de pedra para umquadrado impreciso invisível, pairandonocéuvazio,ondedesapareciamnonada.

Aquele era o momento de saltar. Thomas hesitou, sentindo um últimomomentodeterrortotal-ouvindoossonshorríveisàscostas,vendoailusãoàfrente-,entãolivrou-sedele.

-Vocêprimeiro,Teresa.-ElequeriairporúltimoparatercertezadequeumVerdugonãopegariaTeresaouChuck.

Parasuasurpresa,elanãohesitou.DepoisdeapertaramãodeThomaseem seguida o ombro de Chuck, saltou para fora da borda, imediatamenteesticando as pernas, com os braços ao lado do corpo. Thomas prendeu arespiraçãoatéqueeladeslizouparadentrodolocalentreosgalhosdeheraedesapareceu.Pareciaqueforaapagadadaexistêncianumrápidosafanão.

-Uou!-Chuckgritou,numaligeiramostradoseuhumorcostumeiro.

-Uoumesmo-disseThomas.-Vocêéopróximo.

Antesqueogarotopudessequestionar,Thomasoagarrouporbaixodosbraços,apertandootroncodeChuck.

- Empurre forte com as pernas que eu dou impulso. Pronto?Uni, dois,três! - Ele grunhiu com o esforço, lançando-o para cima em direção aoBuraco.

Chuckgritouenquantovoavanoar,equaseerrouoalvo,masosseuspéspassaram;depoisabarrigaeosbraçosbateramcontraas lateraisdoburacoinvisível antes de desaparecer lá dentro. A bravura do garoto como quecristalizou algo no coração deThomas.Ele amava aquele garoto.Amava-o

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comosetivessemtidoamesmamãe.

Thomas apertou as alças da mochila, segurando fortemente a lança debatalhaimprovisadacomamãodireta.Ossonsatrásdeleeramassustadores,horríveis-sentia-seculpadopornãoajudar.“Apenasfaçaasuaparte”,disseparasimesmo.

Preparando os nervos, apoiou a lança contra o chão de pedra, entãoplantou o pé esquerdo bemna borda doPenhasco e saltou, catapultando-seatravésdoardecorindistinta.Puxoualançaparapertodocorpo,apontouosdedosdospésparabaixo,enrijeceuocorpo.

EntãoatingiuoBuraco.

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UmalinhageladaatingiuapeledeThomasquandoeleentrounoBuracodos Verdugos, começando pelos dedos dos pés e continuando por todo ocorpo, como se tivesse saltado através de uma camada fina de águacongelada.Omundotornou-seaindamaisescuroaoseuredorquandoosseuspésbateramaopousarsobreumasuperfíciedeslizante;eleescorregouecaiuparatrásnosbraçosdeTeresa.ElaeChuckoajudaramaseequilibrar.ForaummilagreThomasnãoterfuradooolhodealguémcomalança.

OBuracodosVerdugosserianegrocomopichenãofossepelofachodalanternadeTeresaatravessandoaescuridão.Assimquerecuperouosensodeequilíbrio,Thomaspercebeuqueestavamdentrodeumcilindrodepedradeuns três metros de altura. Era úmido, e coberto de um óleo reluzente,encardido;estendia-seàfrentedelesporunsdozemetrosantesdedesaparecernaescuridão.ThomaslevantouosolhosparaoBuracoatravésdoqualhaviamvindo-parecia-secomuma janelaquadradaemumespaçoprofundoesemestrelas.

-Ocomputadorficaparalá-falouTeresa,chamandoaatençãodele.

Avançandoalgunsmetrosparadentrodotúnel,elaapontaraaluzparaumquadradinhodevidrosujodeondepartiaumaluzesverdeada.Embaixodele,um teclado fora instalado na parede, num ângulo adequado para alguémdigitardepé.Aliestavaele,prontoparaocódigo.Thomasnãopôdeevitardepensarquepareciafácildemais,bomdemaisparaserverdade.

-Digiteaspalavrasnele!-gritouChuck,dandoumtapinhanoombrodeThomas.-Depressa!

ThomasfezumgestoparaTeresafazerisso.

-Chuckeeuvamosficardeguarda,vendosenãoaparecealgumVerdugoatravésdoBuraco. -Ele sóesperavaqueosClareanos tivessemdeixadodeladoatarefadeabrircaminhonoLabirintoparaseempenharememmanteras

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criaturasafastadasdoPenhasco.

-Tudobem- falouTeresa;Thomassabiaqueelaera inteligentedemaispara desperdiçar tempo discutindo. Ela se aproximou do teclado e da tela,depoiscomeçouadigitar.

“Espere!”, falou Thomas na mente dela. “Tem certeza de que sabe aspalavras?”

Elavirou-separaeleefranziuatesta.

- Não sou nenhuma idiota, Tom. Sim, sou perfeitamente capaz de melembrar…

Umgolpeviolentoacimaeatrásdelesainterrompeu,fazendoThomasdarumsalto.ElegirousobresimesmoparaverumVerdugoprojetar-seatravésdoBuracodosVerdugos,aparecendocomonumpassedemágicadoquadradoescurocomobreu.Acoisahavia retraídoos ferrõeseosbraçosparaentrar.Quando pousou com um baque borbulhante, uma dúzia de objetospontiagudosedesagradáveissaltoucomvida,parecendomaismortaisdoquenunca.

ThomasempurrouChuckparatrásdesieencarouacriatura,segurandoalançacomosequisesseafastá-la.

-Nãoparededigitar,Teresa!-elegritou.

Um bastãometálico descarnado projetou-se da pele úmida doVerdugo,desdobrando-seemumapêndicecompridocomtrêslâminasgiratórias,quesemoveramemdireçãoaorostodeThomas.

Ele segurou a extremidade da lança com as duasmãos, apertando comforçaenquantobaixavaapontacomafacaamarradaparaochãoàsuafrente.O braço armado avançou uns sessenta centímetros, pronto para fatiar a suapele em pedaços. Quando estava a apenas trinta centímetros de distância,Thomastensionouosmúsculoselevantouviolentamentealança,projetando-aemdireçãoao teto comamaior forçaquepôde.Atingiu comviolênciaobraçodemetal egiroua coisaparao alto,descrevendoumarcoaté atingiruma vez mais o corpo do Verdugo. O monstro soltou um grito raivoso e

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recuoualgunsmetros,osferrõesretraindo-senocorpo.

Thomasinspiravaeexpiravacomviolência.

“Talvez eu consiga detê-lo”, disse ele rapidamente a Teresa. “Andedepressa!”

“Estouquaseterminando”,replicouela.

OsferrõesdoVerdugoreapareceram;eleavançounadireçãodeleseoutrobraçosaltoudasuapeleelançou-seàfrente,esteagoracomimensasgarras,golpeando para agarrar a lança. Thomas projetou-a, dessa vez de cima dacabeça, concentrando todas as suas forças no ataque. A lança chocou-secontra a base das garras. Com um baque ruidoso, e depois um chiadoarrastado, todoobraço foiarrancadodoencaixe,caindonochão.Então,deuma espécie de boca queThomas não conseguiu ver, oVerdugo soltou umgritolongo,penetrante,erecuoudenovo;osferrõesdesapareceram.

-Essascoisaspodemservencidas!-gritouThomas.

“Ele não quer me deixar introduzir a última palavra!”, falou Teresa namentedele.

Malpodendoouvi-la,sementenderdireito,elesoltouumberroeatacoudefrenteparatirarvantagemdomomentodefraquezadoVerdugo.Brandindoa lança com selvageria, saltou para cima do corpo bulboso da criatura,arrancandodoisbraçosdemetalviolentamentecomumestalidoalto.Ergueua lança acima da cabeça, apoiou com firmeza os pés na pele domonstro -sentindo-seafundarnocorpobulbosodesagradável-,entãoenterroua lançanele. Uma substância amarela visguenta explodiu da carne, espirrando naspernasdeThomasenquantoeleenfiavaomáximopossívelalançanocorpodaquela coisa. Então soltou o cabo da arma e saltou para trás, correndo devoltaparaChuckeTeresa.

ThomasobservounumfascíniodoentioenquantooVerdugosecontorciaincontrolavelmente,espirrandooóleoamareloemtodasasdireções.Osseusferrõeslançavam-seeencolhiam-se;osbraçosquerestaramseagitavamemtotalconfusão,àsvezesenterrando-senoprópriocorpo.Logoelecomeçoua

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tornar-semaislento,comasuaenergiadiminuindoacadalitrodesangue-oucombustível-queperdia.

Alguns segundos depois, parou demover-se por completo.Thomas nãoconseguia acreditar. Não podia acreditar. Acabara de derrotar umVerdugo,umdosmonstrosquetinhamaterrorizadoosClareanospormaisdedoisanos.

Relanceou o olhar para Chuck atrás de si, parado com os olhos muitoarregalados.

-Vocêmatou ele - disse o garoto. Ele riu, como se aquele único gestotivesseresolvidotodososseusproblemas.

-Nãofoitãodifícil-murmurouThomas,depoisvoltou-separaverTeresadigitando freneticamente no teclado. Soube imediatamente que algo deraerrado.

- Qual é o problema? - indagou, quase gritando. Correu para olhar porcimadoombrodelaeviuqueelacontinuavadigitandoapalavra“APERTA”vezesseguidas,masnadaaparecianatela.

Elaapontouparaoquadradodevidrosujo,vazioanãoserpeloseubrilhodevidaesverdeado.

-Digiteitodasaspalavrase,umaporuma,elasapareceramnatela;entãoalgumacoisa soltouumbipe e elasdesapareceram.Mas elenãomedeixoudigitaraúltima.Nãoestáacontecendonada!

OfrioencheuasveiasdeThomasaoouviroqueTeresadissera.

-Bem…porquê?

-Seilá!-Elatentoudenovo,depoisoutravez.Nãoaparecianada.

-Thomas!-Chuckgritouatrásdeles.

Thomasvirou-separavê-loapontandoparaoBuracodosVerdugos:outracriaturaestavaatravessando.Enquantoeleobservava,acriaturacaiuemcimadoirmãomortodelaeoutroVerdugocomeçouaentrarnoBuraco.

- Por que está demorando tanto? - Chuck gritou. - Você disse que elesseriamdesligadosdepoisqueintroduzissemocódigo!

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Os dois novos Verdugos tinham se endireitado e liberado os ferrões,começandoaavançarnadireçãodeles.

-NãoconseguimosintroduzirapalavraAPERTA-disseThomascomarausente,semfalarparaChuck,mastentandopensarnuncasolução…

“Nãoestouconseguindo”,disseTeresa.

Os Verdugos se aproximavam, a apenas alguns passos de distância.Sentindo a força de vontade esvair-se nas trevas, Thomas firmou os pés elevantouospunhostimidamente.Deviafuncionar.Ocódigodevia…

-Talvezvocêssódevamapertaraquelebotão-falouChuck.

ThomasficoutãosurpresocomaafirmaçãocasualquedeuascostasaosVerdugos,olhandoparaogaroto.Chuckapontavaparaumpontopróximoaochão,bemembaixodatelaedoteclado.

Antes que ele pudesse se mover, Teresa já estava lá, ajoelhada. Econsumidopelacuriosidade,porumaesperançavaga,Thomasjuntou-seaela,abaixando-separavermelhor.OuviuoVerdugogemerebramiratrásdesi,sentiuagarraafiadaprendersuacamisa,sentiuumaagulhadadedor.Massópodiaolhar.

Via-se um botão vermelho instalado na parede a apenas algunscentímetrosacimadochão.Trêspalavrasestavamgravadasaliemtintapreta,tãoóbviasqueelenãoconseguiaacreditarquenãoastinhanotadoantes.

DesativaroLabirinto

Uma nova dor arrancou Thomas do seu estupor. OVerdugo o agarraracomdois instrumentos, começando a arrastá-lo para trás.O outro fora paracimadeChuck e estavaprestes a golpear violentamenteogaroto comumalâminacomprida.

Umbotão.

-Aperte! -gritouThomas,maisaltodoquepensouserpossívelumserhumanogritar.

ETeresaobedeceu.

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Ela apertou o botão e tudo ficou em perfeito silêncio. Então, de algumlugardentrodotúnelàsescuras,veioosomdeumaportadeslizandoparaseabrir.

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Quase de imediato, os Verdugos foram desligados por completo, seusinstrumentos recolhidos à sua pele bulbosa, as luzes apagadas, os seusmecanismosinternosmortalmentesilenciosos.Eaquelaporta…

Thomas caiu ao chão depois de ser solto pelas garras do seu captor e,apesardadordediversaslaceraçõesnosombroseemtodaaextensãodesuascostas,sentiuumaalegriatãograndequenãosabiacomoreagir.Eleofegou,depoisriu,entãosufocouumsoluçoantesderirdenovo.

Chuck fugira dosVerdugos, chocando-se contraTeresa - ela o seguravabemforte,apertando-onumabraçoarrebatado.

-Vocêconseguiu,Chuck-Teresadisse.-Estávamostãopreocupadoscomasestúpidaspalavrasdocódigoquenãopensamosemprocuraralgumacoisaparaapertar:aúltimapalavra,aúltimapeçadoenigma.

Thomasriudenovo,semacreditarquetalcoisapoderiaserpossível tãorápidodepoisdetudopeloquehaviampassado.

- Ela está certa, Chuck.Você salvou a gente, cara! Eu disse que íamosprecisardevocê!-Thomaslevantou-sedesajeitadamenteeuniu-seaosoutrosdois em um abraço em grupo, quase em delírio. -OChuck é um herói docaramba!

- E quanto aos outros? - perguntou Teresa com um movimento com acabeçanadireçãodoBuracodosVerdugos.Thomassentiuaalegriaesvair-seerecuou,voltando-senadireçãodoBuraco.

Comoserespondendoàperguntadela,alguémcaiuatravésdoquadradonegro: eraMinho, parecendoque tinha cortesou arranhões emnoventaporcentodocorpo.

-Minho!-gritouThomas,cheiodealívio.-Tudobemcomvocê?Ecomoestátodomundo?

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Minho cambaleou para a parede curva do túnel, depois apoiou-se nela,engolindogolfadasdear.

- Perdemos uma tonelada de gente…Está uma sangueira lá em cima…Entãotodoselessedesligaram.-Fezumapausa,inspirandoomaisfundoquepôde e liberando o ar numa grande expiração. - Vocês conseguiram. Nãopossoacreditarquetenhafuncionado.

Newtatravessoulogodepois,seguidoporCaçarola.NasequênciavieramWinston e os outros. Em pouco tempo, dezoito garotos tinham se unido aThomas e aos seus amigos no túnel, perfazendo um total de vinte e umClareanos.Atéoúltimo,todososdemaisquetinhamficadoparatráselutadoestavam cobertos pela baba dosVerdugos e por sangue humano, as roupasdesfeitasemfarrapos.

-Eosrestantes?-indagouThomas,aterradocomaresposta.

-Metadedenós-falouNewt,avozdébil.-Estãomortos.

Ninguém disse uma palavra então. Ninguém disse nada por um longoperíododetempo.

-Queremsaberdeumacoisa?-falouMinho,aprumandoumpoucomaiso corpo. - Metade pode ter morrido, mas metade de nós sobreviveu. Eninguémfoipicado…ExatamentecomoThomaspensava.Precisamosdaroforadaqui.

“Perdas demais”, pensou Thomas. “Realmente, perdas demais.” A suaalegria esvaiu-se por completo, transformada em um grande lamento pelosvinte garotos que tinham perdido a vida. Apesar da alternativa, apesar desaberque,senãotivessemtentadoescapar,todospoderiamtermorrido,aindaassim doía, muito embora ele não os conhecesse bem. Quantas mortes…comoaquilopoderiaserconsideradoumavitória?

-Vamoscairforadaqui-falouNewt.-Agoramesmo.

-Paraondevamos?-quissaberMinho.

Thomasapontouparaotúneldistante.

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-Ouviaportaseabrirdaquelelado.-Eletentouafastaradorquesentiapor tudo aquilo; os horrores da batalha que haviam acabado de vencer.Asperdas.Afastoudevezador, sabendoqueaindaeramuitocedoparaacharqueestivessemseguros.

-Bem,entãovamos-disseMinho.Virou-seecomeçouaencaminhar-separaotúnelsemesperarporumaresposta.

Newt concordou, determinando aos outros Clareanos que oultrapassassemeseguissemMinho.UmporumosgarotosseforamatéquesóelepermaneceucomThomaseTeresa.

-Vouporúltimo-falouThomas.

Ninguémcontestou.Newtfoi,depoisChuck,entãoTeresa,paradentrodotúnel negro. Até mesmo as luzes das lanternas pareciam engolidas pelaescuridão.Thomasseguiu,nemmesmose incomodandoemolharpara trás,paraosVerdugosmortos.Depoisdeumminutomaisoumenosdecaminhada,ouviuumgritoagudolánafrente,seguidoporoutro,depoisoutro.Osgritossecalaram,comoseosgarotosestivessemcaindo…

Murmúrios seguiram-se por toda a fila de garotos e finalmente Teresavoltou-separaThomas.

-Parecequeterminaemumadescidalánafrente,umaquedaabrupta.

OestômagodeThomasserevirouaopensarnaquilo.Eracomosefosseumjogo-pelomenos,paraquemquerquetivesseconstruídoaquelelugar.

Umporum,eleouviaosgritosdecrescenteslánafrente.DepoisfoiavezdeNewt, então a deChuck.Teresa apontou a luz para baixo sobre a calhapretametálicaformandoumtuboinclinadoemumadescidaíngreme.

“Achoquenãoháescolha”,disseelamentalmente.

“Achoquenão.”

Thomas teve uma forte impressão de que não havia saída daquelepesadelo;sóesperavaqueaquilonãolevasseaoutrogrupodeVerdugos.

Teresa escorregou pela rampa com um grito quase divertido, e Thomas

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seguiu-a antes que pudesse hesitar… qualquer coisa era melhor do que oLabirinto.

Seu corpodespencoupelo declive abrupto, deslizante, comumamelecaoleosa que tinha um odor horrível - como plástico queimado e máquinasesgotadaspelouso.Contorceuocorpoaté terospésà frente,depois tentouusarasmãosparafrearadescida.Foiinútil-aquelaespéciedegraxarecobriacadacentímetrodapedra;nãoconseguiusegurar-seemnada.

OsgritosdosoutrosClareanosecoavampelasparedesdotúnelàmedidaqueelesescorregavampelarampaoleosa.OpânicotomoucontadocoraçãodeThomas.Não podia afastar a imagemde que tinham sido engolidos poralgumanimalgigantescoequeestavamescorregandodiretopeloseuesôfagocomprido,prestesacairnoestômagoaqualquerinstante.Ecomoseosseuspensamentostivessemsematerializado,oscheirosmudaram-paraalgomaisparecidocommofoepodridão.Começoua terânsias;precisoufazer todooesforçopossívelparanãovomitarsobresimesmo.

O túnelcomeçouavirar, tomandoa formadeumaespéciedeespiral,osuficienteapenasparadiminuiravelocidadedaqueda,eThomasbateucomospésdiretamentesobreTeresa,atingindo-anacabeça;eleseencolheuefoitomadodeum sentimentodamais completa infelicidade.Eles continuavamcaindo.Otempopareciasealongar,interminável.

Volta após volta, foram descendo pelo tubo. A náusea ardia em seuestômago - a sensaçãopegajosadaquelameleca contrao corpo,o cheiro, omovimentocircular.EleestavaprestesaviraracabeçadeladoparavomitarquandoTeresasoltouumgritoagudo-dessaveznãohouveeco.Umsegundodepois,Thomasvoouparaforadotúnelecaiusobreela.

Oscorposseespalhavamportodososlados,unsporcimadosoutros,comos garotos gemendo e contorcendo-se em confusão enquanto tentavam sedesvencilhar.ThomasagitouosbraçoseaspernasparaficarlongedeTeresa,depoisarrastou-sepormaismeiometroparavomitar,esvaziandooestômago.

Aindaestremecendoemconsequênciadaquelaexperiência, ele limpouabocacomodorsodamão,sóparaperceberqueelaestavacobertaporuma

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camada de sujeira. Então sentou-se, esfregando as duas mãos no chão, efinalmentedeuumaboaolhadanolugarondeacabavamdechegar.Enquantoobservavaboquiaberto,viu,também,quetodososdemaistinhamsereunidoemumgrupo,analisandoosnovosarredores.Thomastiveravislumbresdalidurante a Transformação, mas não se lembrara de lá até aquele exatomomento.

Encontravam-se em uma imensa câmara subterrânea, grande o bastanteparaconternoveoudezSedes.Decimaabaixo,deladoalado,olugarestavaforradodetodosostiposdemáquinas,fiações,dutosecomputadores.Emumlado do salão - à direita dele -, havia uma fileira de uns quarentacompartimentosquesepareciamcomenormescaixõesfunerários.Emfrente,dooutrolado,viam-segrandesportasdevidro,emboraailuminaçãotornasseimpossíveldistinguiroquehaviaalémdelas.

-Olhem!-alguémgritou,maselejávira,arespiraçãopresanagarganta.Seucorpoficoutodoarrepiado,umcalafrio insidiosodemedopercorrendo-lhetodaaespinhacomoumaaranhamolhada.

À frente deles, uma fileira de umas vinte janelas encardidas estendia-sepelolugarhorizontalmente,umadepoisdaoutra.Portrásdecadauma,umapessoa - alguns homens, algumas mulheres, todos pálidos e magros -observavaosClareanos,olhandoatravésdovidrocomosolhossemicerrados.Thomas estremeceu, aterrorizado - todos se pareciam com fantasmas.Aparições de pessoas sinistras, cheias de ira e debilitadas pela fome, quenuncatinhamsidofelizesemvida,muitomenosmortas.

MasThomassabiaquenãoeram,éclaro,fantasmas.EramaspessoasqueostinhamenviadoàClareira.Aspessoasquetinhamlhestiradosuaprópriavida.

OsCriadores.

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Thomas recuou umpasso, notando que os outros faziamomesmo.UmsilênciomortalsugavaavidadoarenquantocadaumdosClareanosolhavaparaafileiradejanelas,paraafileiradeobservadores.Thomasviuumdelesbaixarosolhosparaescreveralgumacoisa,outroestenderamãoecolocarosóculos.Todosusavamcasacopretosobrecamisabranca,umapalavragravadanoladodireitodopeito-nãofaziaideiadoqueestariaescrito.Nenhumdelesexibiaalgumaespéciedeexpressãofacialdiscernível -eramtodos lívidosedescarnados,umavisãodeploravelmentetriste.

ElescontinuaramaolharparaosClareanos;umhomemabanouacabeça,umamulher concordou.Outro homem levantou amão e coçou o nariz - acoisamaishumanaqueThomasviraalgumdelesfazer.

-Quemsãoaquelaspessoas?-sussurrouChuck,masasuavozecoouportodaacâmaracomumacentorouco.

-OsCriadores - falouMinho; depois pisoteou o chão. -Vou quebrar acaradevocês!-gritou,tãoaltoqueThomasquasetapouosouvidos.

- O que vamos fazer? - indagou Thomas. - O que será que estãoesperando?

- Devem ter reanimado os Verdugos - disse Newt. - Eles devem estarvindodiretamente…

Um bipe intermitente alto e lento o interrompeu, como o alarme deadvertênciadeumcaminhãoimensoemmarchaaré,masmuitomaispotente.Nãovinhadelugarnenhum,estrondeavaeecoavaportodaacâmara.

-Eagora?-estranhouChuck,semesconderapreocupaçãonavoz.

Por alguma razão, todosolharamparaThomas; ele encolheuos ombrosem resposta - só se lembrava do que já comentara e agora estava tãodesorientado quanto os demais. E com medo. Esticou o pescoço enquantoesquadrinhavaolugardecimaabaixo,tentandoencontrarafontedosbipes.

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Mas nada havia mudado. Então, com o canto do olho, notou os outrosClareanos olharemna direção das portas. Fez omesmo também; o coraçãoacelerou-se quando viu que uma das portas estava sendo aberta na direçãodeles.

Os bipes pararam e um silêncio tão profundo quanto o espaço sideralinstalou-se na cântara. Thomas esperou sem respirar, na expectativa de quealgumacoisahorrívelpudesseseprojetardaporta.

Emvezdisso,duaspessoasentraramnosalão.

Uma era mulher. Um adulto de verdade. Ela parecia muito comum,usando calças pretas e uma camisa branca de botões com um logotipo nopeito - CRUEL - gravado em letras maiúsculas azuis. Usava o cabelocastanhocortadonaalturadosombrosetinhaorostomagroeolhosescuros.Enquantocaminhavanadireçãodogrupo,nãosorrianemfranziaocenho-quasecomosenãotivessenotadoqueestavamaliounãoseimportassecomisso.

“Eu a conheço”, pensou Thomas. Porém, era um tipo de lembrançanebulosa - não conseguia lembrar-se do nomedela nemdo que tinha a vercomoLabirinto,maselalhepareceufamiliar.Enãosópelaaparência,maspelojeitodeandar,pelosmodos-rígida,semumpingodealegria.ElaparouemfrenteaosClareanos, aunsdoismetrosdedistânciadeles, e lentamenteolhoudaesquerdaparaadireita,observandoumaumdemaneiraminuciosa.

A outra pessoa, parada ao lado dela, era um garoto usando um blusãograndedemais,ocapuzsobreacabeça,ocultando-lheaface.

-Bem-vindosdevolta-disseamulherfinalmente.-Depoisdedoisanosetãopoucosmortos.Impressionante.

Thomaspercebeuasuabocaseabrir-sentiuaraivaenrubescer-lheaface.

-Oquê?-falouNewt.

OsolhosdelavarreramogrupodenovoantesdepousaremNewt.

-Tudocorreudeacordocomoplano,Sr.Newton.Emboraesperássemosqueumpoucomaisdevocêsdesistissempelocaminho.

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Elarelanceouoolharparaocompanheiro,depoisestendeuamãoepuxouocapuzdogaroto.Eleolhouparacima,osolhoslavadosemlágrimas.Todosos Clareanos presentes ofegaram de surpresa. Thomas sentiu os joelhoscederem.

EraGally.

Thomaspiscou,depoisesfregouosolhos,comosealgoestivesseforadolugar.Sentia-seconsumidopelochoqueepelaraiva.

EraGally.

-Oqueeleestáfazendoaqui!-gritouMinho.

-Vocêsestãoemsegurançaagora - respondeuamulher, comosenãootivesseescutado.-Porfavor,fiquemàvontade.

-Àvontade?-bradouMinho.-Quemévocêparanosdizerparaficaràvontade?Queremosverapolícia,oprefeito,opresidente…alguém!

Thomaspreocupou-secomoqueMinhopoderia fazer -então,denovo,meioquequisqueeledesseummurronacaradela.

ElasemicerrouosolhosenquantoolhavaparaMinho.

- Você não faz ideia do que está falando, garoto. Eu esperaria maismaturidade de alguém que passou pelas Provas do Labirinto. - O tomcondescendentedelachocouThomas.

Minho fez menção de retrucar, mas Newt deu-lhe uma cotovelada nabarriga.

-Gally-falouNewt.-Oqueestáacontecendo?

Ogarotodecabelosescurosolhouparaele;seusolhosfaiscaramporuminstante, a cabeça balançando ligeiramente. Mas ele não respondeu. “Eleparecemeioforadesi”,pensouThomas.Piordoqueantes.

Amulherinclinouacabeçacomoseestivesseorgulhosadele.

-Umdia,vocêstodosserãogratospeloquefizemosporvocês.Sópossoprometerisso,econfiarquesuasmentesaceitemisso.Ouentãoacoisatoda

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terásidoumerro.Sãotempostenebrosos,Sr.Newton.Tempostenebrosos.-Elafezumapausa.-Há,éclaro,umaVariávelfinal.-Deuumpassoatrás.

ThomasconcentrouaatençãoemGally.Ocorpo tododogaroto tremia,seurostoestavabrancoleitoso,todoúmido,osolhosvermelhosdestacando-secomomanchasdesanguesobreumpedaçodepapel.Estavacomoslábiosapertados;apeleaoredordelesseretorcia,comoseestivessetentandofalarmasnãopudesse.

-Gally?-Thomaschamou,tentandoeliminararaivaabsolutaquesentiaporele.

PalavrasbrotaramdabocadeGally.

-Eles…podemmecontrolar…eunão…-Osseusolhosincharam,amãofoiparaagargantacomoseestivessesufocando.-Eu…tenho…de…-Cadapalavraeracomoumacessodetosse.Entãoelesecalou,afaceseacalmando,ocorporelaxando.

Era exatamente comoAlby na cama, naClareira, depois de passar pelaTransformação. O mesmo tipo de coisa tinha acontecido com ele. O queserá…

MasThomasnãotevetempodeterminaropensamento.Gallyestendeuamãoatrásdesi,puxoualgumacoisacompridaebrilhantedobolsodetrás.Asluzes da câmara se refletiram na superfície prateada - um punhal com umaspecto ameaçador, fortemente seguro pelos dedos dele. Com uma rapidezinesperada,elerecuouumpoucoeatirouafacaemThomas.Quandofezisso,Thomasouviuumgritoàsuadireita,sentiuummovimento.Nadireçãodele.

Alâminagiravacomoaspásdeummoinhodevento,Thomasvendocadaumadassuasvoltas,comoseomundotivesseficadoemcâmeralenta.Comoseissoacontecesseassimcomoúnicopropósitodepermitir-lhesentiroterrordeveroqueacontecia.Afacaseaproximava,girandosemparar,diretosobreele. Um grito estrangulado estava se formando na sua garganta; ele seapressouasemovermasnãoconseguia.

Então, inexplicavelmente, Chuck apareceu,mergulhando na frente dele.

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Thomassentiucomoseosseuspésestivessemcongeladosemblocosdegelo;sópodiaobservaracenadehorrordesenrolando-seà sua frente, totalmenteimpotente.

Com um baque violento e oco, o punhal chocou-se contra o peito deChuck,enterrando-seatéocabo.Ogarotogritou,caiunochão,ocorpojáemconvulsões.Osanguejorravadoferimento,vermelho-escuro.Suaspernassedebateramcontraochão,ospéschutandosemdestinoenquantoamorte seinstalava.Umrespingovermelhovazoudosseuslábiosentreabertos.Thomassentiucomoseomundoestivessedesmoronandoaoseuredor,esmagandooseucoração.

Ele jogou-se no chão e puxou o corpo trêmulo de Chuck para os seusbraços.

- Chuck! - gritou, a voz saindo como um ácido que dilacerava a suagarganta.-Chuck!

O garoto tremia descontrolado, havia sangue por toda a parte,umedecendo as mãos de Thomas. Os olhos de Chuck rolaram nas órbitas,brancasesemvida.Osangueescorria-lhedonarizedaboca.

- Chuck… - disse Thomas, dessa vez num sussurro.Devia ser possívelfazeralgumacoisa.Elespoderiamsalvá-lo.Eles…

Ogarotoparoudesecontorcer,aquietou-se.Osolhosvoltaramàposiçãonormal,focalizadosemThomas,presosàvida.

-Thom…mas-Foiaúnicapalavraqueelemalbalbuciou.

-Aguente firme,Chuck-disseThomas. -Nãomorra…resista.Alguémprocureajuda!

Ninguémsemoveu,enofundoThomassabiaporquê.Nadapodiaajudaragora. Era o fim. Pontos negros dançaram diante dos olhos de Thomas; osalãogiroueoscilou.“Não”,elepensou.“NãoChuck.NãoChuck.QualquerummenosChuck.”

- Thomas - Chuck sussurrou. - Encontre… a minha mãe. - Uma tosseroucairrompeudosseuspulmões,lançandoumjatodesangue.-Digaaela…

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-Ele não terminou.Os seus olhos se fecharam, o corpo imobilizou-se.Umúltimosuspiroescapoudasuaboca.

Thomasolhouparaele,olhouparaocorposemvidadoamigo.

Alguma coisa aconteceu dentro de Thomas. Começou no fundo do seupeito,umasementederaiva.Devingança.Deódio.Algotenebrosoeterrível.E então explodiu, vazando com violência dos seus pulmões, através dopescoço,correndopelosbraçosepelaspernas.Portodaasuamente.

Ele largouChuck, levantou-se, trêmulo,viroua faceparaos seusnovosvisitantes.

Eentãoreagiu.Reagiutotalecompletamente.

Correndo a toda velocidade à frente, atirou-se sobre Gally, as mãosencurvadas comogarras. Encontrou a garganta do rapaz, apertou-a, caiu aochão sobre ele.Montado sobreo corpodogaroto, prendia-o comas pernasparaquenãopudesseescapar.Começouaesmurrá-lo.

Com a mão esquerda, Thomas mantinha Gally de encontro ao solo,prendendoopescoçodogaroto,enquantoopunhodireitodesferia-lhegolpesna face, umapósoutro.Maisumgolpe emaisoutro emaisoutro, batendocomosnósdosdedoscontraorostoeonarizdogaroto.Ouviu-seumsomdealgoesmagado,osanguejorrou,osgritosforamhorríveis.Thomasnãosabiaquaisgritoserammaisaltos-osdeGallyouosseus.Elebateu-bateunelecomoseliberassecadagotaderaivaacumuladaemtodaasuavida.

Eentão foipuxadodaliporMinhoeNewt,osbraçosainda seagitandomesmoquandosóatingiamoar.Elesoarrastarampelochão;eleresistiu,sedebateu, gritou para que o largassem. Não desviava os olhos de Gally,estiradolá,imóvel;Thomassentiaaraivadescarregar,comosealinhavisíveldeumachamaosunisse.

E então, sem mais nem menos, tudo desapareceu. Só restaram ospensamentossobreChuck.

Ele se livroudasmãosdeMinhoeNewt, correuparaocorpo imóvel esemvidadoamigo.Agarrou-o,puxou-oparaosbraços,ignorandoosangue,

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ignorandoosemblantecongeladodamortenorostodogaroto.

-Não!-Thomasgritou,consumidopelatristeza.-Não!

Teresaestavalá,pousouamãosobreoseuombro.Elearepudioucomummovimento.

-Euprometiaele!-gritou,percebendonomesmoinstantequeasuavozestava entremeada de algo errado. Quase insanidade. - Eu prometi que osalvaria,queolevariaparacasa!Prometiaele!

Teresanãorespondeu,apenasinclinouacabeça,osolhospresosnochão.

Thomas abraçouChuck contra o peito, apertou-o omais forte possível,como se de algummodopudesse trazê-lo de volta, oumostrar-se grato porsalvarasuavida,portersidoseuamigoquandoninguémmaisqueriasê-lo.

Thomaschorou,soluçoucomonuncasoluçaraantes.Osseussoluçosaltoseroucosecoaramportodaacâmaracomoossonsdeumadortorturada.

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Thomasfinalmenterecolheutudodevoltaaoseucoração,sugandoamarédolorosadoseusofrimento.NaClareira,Chuck tornara-seumsímboloparaele-umsinaldequedealgummodoelespoderiamconsertartudooutraveznomundo.Dormiremcamas.Receberumbeijodeboanoite.Terumcafédamanhãdecente,iraumaescoladeverdade.Serfelizes.

MasagoraChucksefora.Eoseucorpofrouxo,aoqualThomasaindaseprendia,pareciaumtalismãfrio-mostrandoquenãosóaquelessonhosdeumfuturoesperançosonuncase realizariam,masqueavidade fatonunca foradaquele jeito.Eque,mesmoem fuga,dias sombrios aindaestavamporvir.Umavidadeinfelicidade.

As lembranças que lhe ocorriam eram nomelhor dos casos imprecisas.Maspoucascoisasboasemergiamdalama.

Thomasrecolheuador,guardou-aemalgumlugarnofundodesimesmo.FezissoporTeresa.PorNewteporMinho.Pormaioresquefossemastrevasqueosesperavam,elespermaneceriamjuntos,eissoeratudooqueimportavanomomento.

Soltando Chuck, caiu para trás, tentando não olhar para a camisa dogaroto, enegrecida de sangue. Enxugou as lágrimas do rosto e esfregou osolhos,pensandoquedeveriaestarenvergonhadoportudoaquilo.Masnãosesentiaassim.Finalmente,olhouparacima.OlhouparaTeresaeparaosseusenormesolhosazuis,carregadosdetristeza-tantoporelequantoporChuck,estavacertodisso.

Ela inclinou-se, segurou a mão dele, ajudou-o a se levantar. Mesmodepoisdeestardepé, elanãoo soltou, e ele tampoucoafastou-sedela.Eleapertou a mão dela, tentou dizer o que sentira agindo daquela maneira.Ninguémmais falouumapalavra,amaioriaolhandoparaocorpo inertedeChuck,comosetivessemidomuitoalémdosentimento.NinguémolhouparaGally,querespiravamascontinuavaimóvel.

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AmulherdoCRUELrompeuosilêncio.

- Todas as coisas acontecem segundo um propósito - disse ela, a vozdesprovidadequalquersinaldemalícia.-Vocêsdevementenderisso.

Thomasencarou-a, transmitindocomoolhar todooseuódio represado.Masnãofeznada.

Teresapousouaoutramãosobreoseubraço,segurouoseubíceps.

“Eagora?”,indagouela.

“Seilá”,replicouele.“Nãoposso…”

A sua frase foi bruscamente interrompida por uma repentina série degritoseporumacomoçãodoladodeforadaentradapelaqualamulherviera.Elapareciaempânico,osangueesvaídodesuafaceaovoltar-separaaporta.Thomasacompanhou-lheoolhar.

Vários homens e mulheres trajando jeans encardidos e casacos suadosirromperam pela entrada com armas levantadas, gritando e vociferandopalavrasunsparaosoutros.Era impossível entenderoquediziam.As suasarmas - algumas eram fuzis, outras pistolas - pareciam…arcaicas, rústicas.Quase como brinquedos abandonados em uma floresta por anos, recém-descobertospelageraçãoseguintedegarotosprontosparabrincardeguerra.

Thomasobservouchocadoenquantodoisdosrecém-chegadosatiraramaochãoamulherdoCRUEL.Entãoumdelesdeuumpassopara trás,sacouaarmaeapontouparaela.

“Nãopodeser”,pensouThomas.“Não…”

Clarões iluminaram o ar quando vários disparos explodiram da arma,chocando-se contra o corpo da mulher. Ela estava morta, um destroçoensanguentado.

Thomasdeuváriospassosparatrás,quasetropeçando.

UmhomemavançouparaosClareanosenquantoosoutrosintegrantesdogrupoespalhavam-seaoredordeles,agitandoasarmasàdireitaeàesquerdaenquanto atiravam nas janelas de observação, esmigalhando-as. Thomas

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ouviu gritos, viu sangue, desviou o olhar, concentrou-se no homem que seaproximaradeles.Eletinhacabeloescuro,orostojovem,mascheioderugasaoredordosolhos,comosetivessepassadocadadiadavidapreocupando-seemcomoconseguirchegaraoseguinte.

-Nãotemostempoparaexplicar-falouohomem,avoztãotensaquantoorosto. -Apenassigam-meecorramcomoseasuavidadependessedisso.Porquedepende.

Depoisdissoohomemfezunsgestosparaoscompanheiros,entãovirou-se e correu para as grandes portas de vidro, a arma erguida rigidamente àfrente.Disparosegritosdeagoniaaindaressoaramnacâmara,masThomasfezomáximopossívelparaignorá-loseseguirasinstruções.

-Vão!-umdosseusresgatadores(esseeraoúnicomodocomoThomasconseguiapensarneles)gritoudetrás.

Depoisdeumahesitaçãomínima,osClareanososacompanharam,quaseseatropelandonapressadesairdacâmara,procurandoirparaomaislongepossíveldosVerdugosedoLabirinto.Thomas, amãoaindaapertandoadeTeresa, correu comeles, reunindo-se à parte de trás do grupo.Não tiveramescolhaanãoserdeixarocorpodeChuckparatrás.

Thomasnãosentiunenhumaemoção-estavacompletamenteentorpecido.Desceu correndo por um corredor comprido, que dava para um túnel maliluminado. Subiu um lance de escada em curva. Tudo estava escuro,cheirandoaaparelhoseletrônicos.Seguiuporoutrocorredor.Subiumaisumaescada. Mais corredores. Thomas queria sofrer por Chuck, alegrar-se porTeresaestarlácomele.Masviracoisasdemais.Restavaapenasumacarênciaagora.Umvazio.Continuoucorrendo.

Eles não pararam de correr, alguns dos homens e mulheres tomando adianteira,outrosdandogritosdeencorajamentoportrás.

Chegaramaoutroconjuntodeportasdevidroeatravessaram-nassobumachuvatorrencial,quedespencavadeumcéunegro.Nãosevianadaanãosermanchasdifusasdecentelhasflamejantesemmeioàscortinasdeágua.

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O líder só parou de correr quando chegaram a um ônibus imenso, aslateraisamassadaseriscadas,amaiorpartedasjanelascomrachadurascomoteias de aranha. A chuva inundava tudo, fazendo Thomas imaginar umaimensacriaturabestialemergindodooceano.

-Entremlogo!-gritouohomem.-Depressa!

Elesobedeceram,aglomerando-seemumgrupocompactodiantedaportaenquanto entravam, um por um. Aquilo parecia não acabar nunca, osClareanos empurrando-se e tropeçando nos três degraus em busca dosassentos.

Thomasficouatrásdosdemais,Teresalogoàsuafrente.Eleolhouparaocéu,sentiuaáguabatercontraasuaface-aáguaeramorna,quasequente,tinhaumaespessuraesquisita.Estranhamente,essecontatooajudouasairdotormento,devolver-lheaatenção.Talvezfosseapenasporcausadaferocidadedodilúvio.Eleseconcentrounoônibus,emTeresa,nafuga.

Estavamquasenaportaquandoumamãosubitamenteabateu-sesobreoseu ombro, agarrando-lhe a camisa.Thomas gritou quando foi puxadoparatrás,oquearrancouasuamãodadeTeresa-eleaviuvoltar-sebematempode vê-lo desabar no chão, espirrando água para todos os lados. Uma dorintensadesceupelasuaespinhaenquantoacabeçadeumamulherapareceualguns centímetros acimado seu rosto, de cabeçapara baixo, interpondo-seentreeleeTeresa.

O cabelo ensebado da mulher caía escorrido, tocando Thomas,emoldurandoumafaceocultanassombras.Umcheirohorrívelencheu-lheasnarinas,comoovoseleiteestragados.Amulherrecuouobastanteparaqueofacho da lanterna de alguém revelasse os seus traços - uma pele clara,enrugada,cobertadeferidaspurulentas.UmterrorautênticotomoucontadeThomas,imobilizando-o.

-Vamosnossalvartodos!-disseamulherhorrenda,cuspindoperdigotosdeumasalivamalcheirosa,querespingaramemThomas.-VamosnossalvardoFulgor!-Eladeuumarisada,nãomuitomaisdoqueumatosserouca.

Amulheruivouquandoumdosresgatadoresagarrou-acomasduasmãos

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earrancou-adecimadeThomas,querecobrouoespíritoelevantou-secomdificuldade. Ele recuou até Teresa, observando o homem arrastar a mulherpara longe,enquantoelasedebatiadebilmente,osolhossobreThomas.Elaapontouparaeleegritou:

- Não acredite em uma palavra do que dizem! Vamos nos salvar doFulgor,vocêaí!

Quandoestavaaváriosmetrosdoônibus,ohomemlançouamulheraochão.

-Fiquelongeouvoumatá-laatiros!-gritoueleparaela;depoisvirou-separaThomas.-Entrenoônibus!

Thomas,trêmulodeterrordiantedoacontecido,virou-seeseguiuTeresapelos degraus e pelo corredor do ônibus. Olhos arregalados o observaramenquanto eles passavam por todos até o banco de trás e afundavam-se noassento,grudadosumnooutro.Umaáguanegralavavaasjanelasdoladodefora.Achuva tamborilavano tetopesadamente;o trovãofazia tremerocéuacimadeles.

“Oquefoiaquilo?”,indagouTeresanamentedele.

Thomas não conseguiu responder, apenas balançou a cabeça. OspensamentosarespeitodeChuckoinvadiramdenovo,ocupandoolugardamulher louca e escurecendo o seu coração. Ele simplesmente não seimportava,nãosentianenhumalívioemescapardoLabirinto.Chuck…

Umdos resgatadores,umamulher, sentou-senobancodooutro ladodeThomaseTeresa;olíderquelhesfalaraanteriormentesaltouparadentrodoônibusetomouoassentoàdireção,ligandoomotoreengatandoamarcha.Oônibuscomeçouaavançar.

Assimquepartiu,Thomasviuumsúbitomovimentodo ladode foradajanela.Amulher crivada de feridas conseguira se levantar, correndo para afrentedoônibus,agitandoosbraçosvivamente,gritandoalgoabafadopelossons da tempestade. Seus olhos luziam de loucura ou terror. Thomas nãosaberiadizerqualdosdois.

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Eleaproximou-sedovidrodajanelaenquantoeladesapareciadasuavistaàfrente.

-Esperem!-gritouThomas,masninguémoouviu.Sealguémouviu,nãoseimportou.

Omotoristaacelerouomotor-oônibussacolejouquandobateunocorpodamulher.O impactoquaseatirouThomaspara foradoassento,quandoasrodas da frente passaram sobre ela, rapidamente seguidas por um segundoimpacto-odasrodasdetrás.ThomasolhouparaTeresa,vendoaexpressãoangustiadanoseurosto,queseguramenterefletiaadele.

Semumapalavra,omotoristamanteveopéembaixoeoônibusavançou,mergulhandonanoitevarridapelachuva.

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Ahoraqueseseguiu-ouumpoucomaisdoqueisso-foiumamisturaindistintadeimagensesonsparaThomas.

Omotoristadirigiaavelocidadestemerárias,passandoporvilasecidades,a chuva torrencial obscurecendo a maior parte da vista. Luzes e prédiospareciamdistorcidosedifusos,comoalgovistoemumaalucinaçãoinduzidapordrogas.Acertaalturapessoasdoladodeforacorreramparaoônibus,asroupasrasgadas,ocabelogrudadonacabeça,asfacesaterrorizadascobertasporchagasestranhascomoaquelasqueThomasviranamulher.Batiamnaslateraisdoveículocomosequisessementrar,comosequisessemescapardequalfosseavidahorrívelqueviviam.

Oônibusnãodiminuíanuncaavelocidade.Teresaseguiaemsilêncioaolado deThomas. Finalmente, ele reuniu coragem bastante para falar com amulhersentadadooutroladodocorredor.

- O que está acontecendo? - perguntou, não muito seguro de como seexpressar.

Amulheroolhou.Ocabelopretoemolhadopendiaemcachosgrossosaoredordorosto.Osolhosescurosexpressandosofrimento.

-Éumahistóriamuitolonga.-AvozdamulhersooumuitomaisbondosadoqueThomasesperava,dando-lheesperançadequefosseverdadeiramenteumaamiga;quetodososseusresgatadoresfossemamigos.Apesardofatodeterematropeladoumamulherasanguefrio.

-Porfavor-disseTeresa.-Porfavor,conte-nosalgumacoisa.

A mulher olhou de um lado para outro entre Thomas e Teresa, entãosoltouumsuspiro.

-Vaidemoraralgumtempoatérecuperaremassuaslembranças,seéqueissovaiacontecer…Nãosomoscientistas,nãofazemosideiadoquefizeramavocês,oudecomofizeram.

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O coração de Thomas apertou-se diante do pensamento de que talveztivesseperdidoamemóriaparasempre,masinsistiu.

-Quemsãoeles?-indagou.

- Tudo começou com as explosões solares - disse a mulher, o olhartornando-sedistante.

-Oque…-Teresacomeçou,masThomasafezcalar-se.

“Deixe-afalar”,disse-lhementalmente.“Elaparecequerer”

“Ok.”

Amulher quase parecia em transe enquanto falava, nunca desviando oolhardeumpontoindistintoàdistância.

-As explosões solares não puderam ser previstas.As explosões solaressãonormais,masaquelasforamsemprecedentes,imensas,tornando-secadavezmais intensas…e,quandoperceberam, foiapenasalgunsminutosantesque o seu calor se abatesse sobre a Terra. Primeiro os nossos satélites sequeimaram, emilhares de pessoasmorreram instantaneamente,milhões emalguns dias, incontáveis quilômetros de terra tornaram-se terras devastadas.Então veio a doença. - Ela fez uma pausa, recobrou o fôlego. - Quando oecossistema foi destruído, tornou-se impossível controlar a doença… atémesmomantê-lanaAméricadoSul.Asselvasdesapareceram,masosinsetosnão. As pessoas agora chamam a doença de Fulgor. É uma coisa horrível,horrível.Sóosmaisricospodemsetratar,ninguémécurado.AmenosqueosrumoresquechegamdosAndesseconfirmem.

Thomasquasetransgrediuopróprioconselho-asperguntasfervilhavamemsuamente.Ohorrorcrescianoseuíntimo.Eleficoualisentado,ouvindo,enquantoamulhercontinuava:

- Quanto a vocês, todos vocês… são apenas uma pequena parte demilhões de órfãos. Eles testarammilhares, escolheram vocês para o grandeteste. O teste supremo. Tudo pelo que vocês passaram foi calculado epensado.Catalisadoresparaestudarassuasreações,assuasondascerebrais,osseuspensamentos.Tudonumatentativadeencontraraspessoascapazesde

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nosajudaraacharummeiodevenceroFulgor.-Elafezoutrapausa,puxouum cacho de cabelo para trás da orelha. - A maioria dos efeitos físicos écausada por outra coisa. Primeiro começam os delírios, depois os instintosanimais passam a se sobrepor aos humanos. Finalmente, isso os consome,destrói a sua humanidade. Está tudo no cérebro. O Fulgor vive no cérebrodeles.Éumacoisapavorosa.Melhormorrerdoqueservítimadadoença.-Amulher desviou o olhar do vazio e olhou paraThomas, depois paraTeresa,entãoparaThomasdenovo.-Nãovamosdeixarquefaçamissocomcrianças.JuramospelanossavidalutarcontraoCRUEL.Nãopodemosperderanossahumanidade,nãoimportaqualsejaoresultadofinal.

Elaentrelaçouasmãossobreocolo,baixouosolhosparaelas.

-Vocês vão aprendermais como tempo.Vivemos bem longe ao norte.EstamosdistantesmilharesdequilômetrosdosAndes.Eleschamamolugarde Cáustico… fica entre este lugar em que estamos e os Andes. Estálocalizadoprincipalmenteemtornodoquecostumavamchamarde linhadoEquador… não é mais do que calor e poeira agora, cheio de selvagensconsumidos pelo Fulgor, sem salvação. Estamos tentando atravessar aquelaterra… encontrar a cura. Mas até então, vamos lutar contra o CRUEL eimpedir os experimentos e os testes. -Ela olhou atentamente paraThomas,depoisparaTeresa.-Temosesperançadequevocêssejuntemanós.

Elaafastouoolhardenovo,fitandoatravésdajaneladoseulado.

Thomas olhou para Teresa, arqueou as sobrancelhas em dúvida. Elaapenas abanou a cabeça e depois descansou-a no ombro dele, fechando osolhos.

“Estoucansadademaisparapensarnisso”,disseela.“Vamossóficaremsegurançaporenquanto.”

“Talvezestejamos”,replicouele.“Talvez.”

Eleouviuoressonarsuavedelaenquantodormia,massabiaqueparaeleseriaimpossíveldormir.Aindaassimeramelhordoqueovazioinsensívelemqueseencontraraantes.Sópodiaficaralisentadoeolharpelajanelaparaachuva e a escuridão, ponderando sobre palavras como “Fulgor”, “doença”,

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“experimento”,“Cáustico”e“CRUEL”.Sópodiaficarsentadoeesperarqueascoisaspudessemsermelhoresagoradoque tinhamsidoquandoestavamnoLabirinto.

Masenquantoelebalançavaesacolejavacomosmovimentosdoônibus,sentiaacabeçadeTeresabatercontraoseuombrovezporoutra,quandoossacolejos eram maiores, ouvia-a agitar-se e voltar a dormir, ouvia osmurmúrios das outras conversas entre os outrosClareanos, os pensamentosdelevoltandosempreparaumacoisa.

Chuck.

Duashorasdepois,oônibusparou.

Elesestavamemumestacionamentoenlameadoemvoltadeumedifícioindefinível com várias fileiras de janelas. A mulher e outros resgatadoresconduziram de qualquer jeito os dezenove garotos e uma garota através daportada frenteeporum lancedeescada,depoisparadentrodeum imensodormitóriocomumasériedebelichesalinhadosaolongodeumadasparedes.Do lado oposto viam-se alguns armários e mesas. Todas as paredes doaposentotinhamjanelascobertasporcortinas.

Thomas considerou tudo com uma admiração distante e muda - estavalonge de se surpreender ou se impressionar demais por qualquer coisanovamente.

O lugar era todo colorido. A pintura era amarelo vivo, os cobertoresvermelhos,ascortinasverdes.DepoisdoacinzentadomonótonodaClareira,eracomose tivessemsido transportadosparadentrodeumarco-íris.Vendotudoaquilo,vendoascamaseosarmários,tudoarrumadoenovo,asensaçãodenormalidadeeraquaseesmagadora.Aquilotudoerabomdemaisparaserverdade.Minhoexpressoucomperfeiçãoaoentrarnonovomundodeles:

-Eumeferreiefuiparaocéu.

Thomasachavadifícilsentiralegria,comosefossetrairChuckcomisso.Mastinhaalgumacoisaestranhaali.Algumacoisa.

O líder que dirigira o ônibus deixou os Clareanos nas mãos de uma

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pequenaequipe-noveoudezhomensemulheresvestidoscomcalçadeumpretoretintoecamisabranca,ocabeloimaculado,orostoeasmãoslimpos.Elessorriam.

Ascores.Ascamas.Aequipe.Thomassentiuumafelicidadeimpossíveltentando irromper dentro dele. No entanto, um poço enorme espreitava nomeiodessafelicidade.Umadepressãosombriaquetalveznuncadeixassedeexistir -a lembrançadeChuckedoseubrutalassassinato.Oseusacrifício.Mas,apesardisso,apesarde tudo,apesardetudooqueamulhernoônibuslhes contara sobre o mundo a que retornavam, pela primeira vez Thomassentia-semaisdoquenuncasegurodesdequeapareceranaCaixa.

Todos escolheram uma cama, receberam roupas e artigos de banho, foiservido o jantar. Pizza. Uma pizza de verdade, genuína, de engordurar osdedos.Thomasdevoroucadapedaço,a fomevencendo todoo resto;aoseuredor, o humor de contentamento e alívio era palpável. A maioria dosClareanospermaneceracaladaotempotodo,talvezpensandoquesefalassemtudo se desvaneceria. Mas ali só se viam sorrisos. Thomas se acostumaratanto com expressões de desespero que era quase inquietante ver rostosfelizes. Especialmente quando estava tendo ele próprio a sensação de ummomentodifícil.

Logodepoisdecomerem,ninguémdiscutiuquandolhesdisseramqueerahoradeiremparaacama.

Thomasmuitomenos.Elesentiuquepoderiadormirporummês.

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ThomasdividiuumbelichecomMinho,queinsistiuemdormiremcima;Newt e Caçarola encontravam-se bem ao lado deles. O pessoal acomodouTeresaemumquartoseparado,conduzindo-aparaforaantesquepudessesedespedir.Thomassentiudesesperadamentea faltadela trêssegundosdepoisdeelapartir.

Quandoestavaseacomodandoentreoslençóismaciosparapassaranoite,Thomasfoiinterrompido.

-Ei,Thomas-falouMinhodecimadele.

-Oi?-Thomasestavatãocansadoquemalpronunciouapalavra.

-OquevocêachaqueaconteceucomosClareanosqueficaramparatrás?

Thomas não tinha pensado nisso. Seus pensamentos estavam ocupadoscomChuckeagoracomTeresa.

-Seilá.Mas,pensandoemquantosdenósmorreramparachegaraqui,eunãogostariadeserumdelesnomomento.OsVerdugosprovavelmenteestãocaindoaosmontesemcimadeles.-Elenãopodiaacreditarcomoasuavozsoaraindiferenteaofalarisso.

-Achaqueestamosseguroscomessagente?-indagouMinho.

Thomasponderousobreaperguntaporuminstante.Sóhaviaumaúnicarespostaaqueseapegar.

-É,achoqueestamosseguros.

Minhodissemaisalgumacoisa,masThomasnãoouviu.Consumidopelaexaustão, amente divagou pelo seu breve período noLabirinto, seu tempocomo Corredor e quanto quisera ser um deles - desde a primeira noite naClareira.Aquilopareciater-sepassadoumacentenadeanosantes.Comonumsonho.

Murmúriosdeconversas flutuarampelocômodo,masparaThomaseles

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pareciam vir de um outro mundo. Olhou para as ripas de madeiraentrecruzadasdacamaacimadele,sentindoaatraçãodosono.MasquerendoconversarcomTeresa,lutoucontraele.

“Como é o seu quarto?”, perguntou-lhe mentalmente. “Gostaria queestivesseaqui.”

“Ah, é?”, replicou ela. “Com todos esses garotos fedorentos?Achoquenão.”

“Achoqueestácerta.Minhopeidouumastrêsvezesnoúltimominuto.”

Thomassabiaquesetratavadeumatentativapatéticadepiada,maseraomelhorquepodiafazer.

Elesentiuqueeladavaumarisada,desejoupoderfazeromesmo.Houveumalongapausa.

“SintomuitodeverdadepeloChuck”,elafaloufinalmente.

Thomassentiuumapontadadedorefechouosolhos,mergulhandofundonosofrimentodaquelanoite.

“Eleconseguiaserbemchatinhoàsvezes”,disse.Fezumapausa,pensouna noite emqueChuck dera umgrande susto emGally no banheiro. “Mascomodói.Sintocomosetivesseperdidoumirmão.”

“Eusei.”

“Euprometi…”

“Pare,Tom.”

“Oquê?”ElequeriaqueTeresaoconfortasse,dissessealgomágicoparaafastarador.

“Pare com essa coisa de promessa. Metade de nós conseguiu. TodosteríamosmorridosetivéssemosficadonoLabirinto.”

“MasoChucknãoconseguiu”, falouThomas.Adoro torturavaporquesabiacomcertezaquetrocariaqualquerumdosClareanosnaquelequartoporChuck.

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“Elemorreu pra salvar você”, lembrou Teresa. “Ele fez a escolha dele.Nuncaseesqueçadisso.”

Thomassentiuaslágrimassobaspálpebras;umadelasescapouecorreupelatêmporadireita,paradentrodocabelo.Umminutointeirosepassousemnenhumapalavraentreeles.Entãoeledisse:“Teresa?”

“Oi?”

Thomasreceavaconfessaroquepensava,masconfessou:

“Queromelembrardevocê.Lembrardenós.Vocêsabe,antes.”

“Eutambém.”

“Écomosenós…”Elenãosabiacomodizer,afinal.

“Eusei.”

“Imaginacomoseráamanhã?”

“Vamosdescobriremalgumashoras.”

“É. Bem, boa noite.” Ele queria dizer mais, muito mais.Mas nada lheocorreu.

“Boanoite”,disseela,noinstanteemqueasluzesseapagaram.

Thomasrolouparao lado,gratoporestarescuroeninguémpoderveraexpressãoqueseinstalaranoseurosto.

Não era um sorriso, exatamente. Nem mesmo uma expressão defelicidade.Masquase.

Eporenquanto,quaseerabomobastante.

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MemorandoCRUEL,Data232.1.27,Hora22:45

PARA:MeusAssociados

DE:AvaPaige,Chanceler

ASSUNTO: REFLEXÕES SOBRE AS PROVAS DO LABIRINTO,GrupoA

Deacordocomtudooquefoiverificado,acreditoquetodosconcordamosqueasProvasforamumsucesso.Vintesobreviventes,todosbemqualificadosparaoempreendimentoplanejado.AsreaçõesàsVariáveisforamsatisfatóriaseencorajadoras.Oassassinatodogarotoeo“resgate”revelaram-seumfinalimportante. Precisávamos chocar os seus sistemas, ver as suas reações.Francamente, acho incrível que, no fim, apesar de tudo, tenhamos sidocapazesdereunirumapopulaçãotãograndedegarotosquenuncadesistiram.

Pormais estranho que pareça, vê-los dessamaneira, pensando que estátudobem,paramimfoiacoisamaisdifícildeobservar.Masnãohá tempoparaarrependimento.Paraobemdonossopovo,vamosseguiremfrente.

Sei que tenho as minhas próprias impressões sobre quem deveria serescolhidocomolíder,masvoumepouparderevelarnestemomentodemodoanãoinfluenciarasdecisões.Noentanto,paramim,aescolhaéóbvia.

Estamos todos cientes do que está em jogo. De minha parte, sinto-meestimulada.Lembram-sedoqueagarotaescreveunobraçoantesdeperderamemória?Aúnicacoisaaqueeladecidiuseprender?CRUELébom.

Os objetos do experimento acabarão por se recordar e entender opropósito das dificuldades que planejamos para eles e lhes impingimos. Amissão doCRUEL é servir à humanidade e preservá-la, não importa a quepreço.Nóssomos,defato,“bons”.

Por favor, respondam com as suas próprias impressões. Será concedida

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aosobjetosumaplenanoitedesonoantesdaImplementaçãodaFase2.Porora,vamosnospermitirsentir-nosesperançosos.

Os resultados da prova com oGrupo B também foram extraordinários.Preciso de tempo para processar os dados,mas podemos discutir o assuntopelamanhã.

Atéamanhã,então.

FIMDOLIVROUM

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JamesDashnernasceunaGeórgia,EstadosUnidos,masatualmentemoraemUtah.TambéméautordasérieThe13thReality.Aindanãoacreditaqueganhaparafazeroquemaisama:escrever.

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