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Maze - Sem Saída, por Marja Li

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Primeiro capítulo do livro Maze - Sem saída, da autora Marja Li. www.editoramor.com.br

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Copyright © 2012 Marja LiTodos os Direitos Reservados pela Editora Mor.

Nenhuma parte desta publicação deverá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da editora.

Produção Editorial

Presidente: André C. S. dos SantosPublisher: Aline Cintra CarrascoEditoração: Nilza SantosPreparação: Karoline AlencarRevisão: Karoline Alencar | Aline CarrascoImpressão: Gráfica Hedra

Editora Mor Ltda.R. Fritz Johansen, 160, Pq. Boturussu, São Paulo-SPTel.: (11) 2047-3720Contato: [email protected]

“Dando raízes aos seus sonhos”

M344m Li., Marja Maze Sem Saída. / Marja Li. — São Paulo:Editora Mor, 2012. 339 p. ; 23cm.

ISBN: 978-85-914548-0-8

1. Literatura Brasileira. I. Título

CDD B869.3 CDU 869.0

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Dedico esse livro para Deus, que me protege e ampara. Para minha irmã, companheira e protetora.

E minha amada mãe, que se foi tão cedo e que amarei eternamente.

Marja Li.

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P r e fá c i o

Conheci a Marja pela internet antes da criação do blog “Estórias da

Marja” e desde então acompanhei a maioria de seus romances publicados na internet. Marja Li sempre me encantou com as histórias que criava, chegando ao ponto de visitar o blog todos os dias em busca de novos capítulos publica-dos. Fiquei imensamente feliz ao saber que a Marja ia publicar “Maze – Sem

Saída”. Uma das histórias mais vibrantes já escrita pela escritora. Quando soube que Maze seria publicado, fiquei agradavelmente sur-presa, sendo que a história fugia do estilo criado por Marja. Ela sempre escre-veu enredos românticos, mas poucas vezes ousava tanto, e essa ousadia que deu origem a Maze. O sequestro de Helena (protagonista do livro) dá uma guinada de emo-ção em sua vida monótona, e com todos os limites testados em seu cativeiro, a última coisa que Helena precisa é sentir atração pelo sequestrador. Helena se prende na sua aversão ao homem que a mantém cativa, e Ronald, contratado para sequestrá-la, tenta manter o profissionalismo e negar o forte magnetismo de Helena que tanto o atrai. O romance oferece um enredo intenso e dinâmico, dificilmente ente-diante. É o livro certo para quem gosta de conspiração política e cenas de forte emoção. Depois de ler Maze - Sem Saída você precisará urgentemente rever seus conceitos sobre tudo que já leu a cerca de romances.

Raíssa S. R. MedradoBlog Leitura com Cappuccino

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C a p í t u l o 1

A cerimônia havia começado há duas horas. Bem, para ser exa-ta, duas horas e oito minutos de puro tédio e marasmo. Não era incomum que as reuniões e eventos do Parlamento fossem

chatos.Em sua posição privilegiada dentro daquele pequeno círculo de polí-

ticos, Helena entendia e defendia a necessidade de momentos como aquele, mesmo detestando fazer-se presente neles.

Filha de Haword Gerher, Primeiro-Ministro do Parlamento Londri-no, Helena galgava os primeiros degraus na hierarquia dentro da polícia civil de Londres.

Seu trabalho de simples policial desagradava profundamente seu pai, mas, no fundo, ela imaginava que ele estivesse orgulhoso de suas escolhas.

No amplo salão luxuoso, Helena andava por entre as pessoas tentando passar-se despercebida. Desde a morte de sua mãe, ela se esforçava para acom-panhar o pai em sua carreira política, mas não poderia devotar sua vida a ser a filha do homem mais importante de Londres, havia dentro dela um clamor que exigia provar do novo e do perigoso.

Gostava da sensação de ser alguém que dedicava sua vida a salvar a de outros, de resolver crimes, orientar cidadãos desvalidos. Não era uma simples idealista, mas tinha seus princípios fundamentados na crença de sempre haver salvação para os perdidos e também os oprimidos.

A cerimônia era um evento esperado por muitos, onde seu pai recebe-ria um prêmio pelos feitos em seu cargo.

Ele era um bom ministro, mas Helena reconhecia em seu pai falhas significativas, principalmente desde a morte brutal de sua amada esposa, que o fez perder o foco e até mesmo a objetividade de seus atos.

Helena serviu-se de uma taça de champagne, que um garçom ofereceu em seu caminho, uma tentativa de esquecer essas tristes lembranças, ocorridas seis anos atrás.

Perder sua mãe em um atentado político foi o pior momento de sua

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vida. Para Helena, Laura Gerher era a melhor mãe do mundo. Ela a amava e idolatrava, e mesmo não tendo herdado a coragem e a generosidade de sua mãe, Helena ficaria muito feliz em ser pelo menos um décimo de quem Laura foi.

Ela era filha de magnatas do petróleo, e o seu casamento com Howard o levou diretamente para o caminho certo de uma carreira brilhante. Muitos anos na política e hoje no auge de seus cinquenta e sete anos, ele percorria os primeiros meses de seu mandato de primeiro-ministro britânico com o mesmo brilhantismo com que regira e conduzira toda sua vida.

Brilhantismo que não se estendia quando o assunto era a sua filha. Mas Haword era muito ocupado, por isso Helena tentava não culpá-lo por sua ausência.

Aos vinte e cinco anos, Helena Gerher sabia muito bem o preço de ser filha de uma figura tão importante, sobretudo o preço de uma herança afortunada.

A solidão, o isolamento, a constante desconfiança. Muitos eram os que se aproximavam por interesses financeiros. Sanguessugas que tentavam conse-guir uma foto ousada da filha do ministro para ilustrar as primeiras páginas de algum tabloide sensacionalista ou apenas a possibilidade de casar-se com alguém abastado e influente.

Helena soltou um profundo suspiro enquanto desviava de um peque-no aglomerado de pessoas convidadas, torcendo para não ser vista. Andou para um local mais isolado e, ao passar ao lado da escadaria principal, teve a impres-são de haver alguém muito perto. Mas devia ser apenas isso, uma impressão, uma mania de perseguição, como vivia dizendo Friedrich.

Posicionou-se de modo a ver a premiação, sem precisar ser alvo de fotografias ou olhares exagerados. Havia um político qualquer apresentando os envolvidos e falando sobre a vida gloriosa de Haword Gerher. Ela sorriu ao ver que seu pai parecia desconfortável com isso.

Na parede oposta de onde Helena se encontrava, havia um espelho. Ele refletia uma moça jovem, magra, de curvas suaves e pouco exuberantes, mas bonita em seu vestido de cor azul turquesa, discreto, com tecido acetinado e de corte reto, mas com um transpassado nas costas, com um decote elegante, mas revelador.

No busto o decote era sutil. Brincos longos, pulseira fina no punho. Não usava colares, ou anéis. Não gostava da exuberância.

Os cabelos longos, quase na cintura, estavam soltos como que em um toque de rebeldia entre tantas beldades com penteados ostensivos.

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Ondas castanhas escurecidas por tinta, onduladas e com uma franja para o lado, permitiam destacar a forte maquiagem negra em volta dos olhos. Não usava batom, mas os olhos ela gostava de marcar e realçar o castanho cla-ro, em um tom jocoso de mel.

Helena ocultou um sorriso e baixou os olhos quando seu pai olhou em volta pelo amplo salão, decorado ostensivamente com o dinheiro público. O modo como ele parecia ironizar o momento era quase cômico para ela que o conhecia tão bem.

Seu pai, um homem pequeno, de porte mediano, gozava o luxo de seu cargo, mas algumas vezes divergia sobre os exageros.

Vestido impecavelmente, ele tomou posse do microfone, apoiando ambas as mãos na bancada a sua frente enquanto discursava. Helena herdara dele os cabelos castanhos clarinhos, que pintava em tom mais escuro, e tam-bém os olhos amendoados, sempre brilhantes e empolgados pela vida.

Herdara sua taciturnidade. Seu pai era rabugento às vezes, e ela com toda a certeza o era em vários momentos.

O discurso chegou ao fim, com Haword agradecendo a condecoração e respondendo algumas perguntas. Quando o tópico levantado foi sobre um casamento dentro da monarquia real, ele desconversou.

Helena acompanhou sua imagem, principalmente quando a música voltou a ser tocada pela refinada orquestra e as pessoas retomaram seus lugares, andando pelo salão, interagindo umas com as outras.

Ela notou ele aproximar-se de Friedrich, e este falar algo no ouvido de seu pai. Pela expressão contrariada dele, imaginou que estivesse indagando sobre onde ela estaria. Revirando os olhos, pois Friedrich era muito previsível, Helena voltou a andar pelo salão procurando um local mais reservado, onde pudesse esperar aquela noite maçante terminar e poderem voltar para Londres na manhã seguinte.

A premiação fora impropriamente marcada para acontecer em Cardiff, País de Gales. Uma gafe imperdoável, levando em conta que a agenda do mi-nistro era apertadíssima.

Helena não quis olhar na direção do namorado e de seu pai. Em al-guns momentos, ela mal podia olhar para Friedrich, todo certinho e pomposo em seu terno perfeito e impecável. Alto, magro, louro. Rosto inglês, voz ingle-sa. Tom de voz neutro.

No fundo de seu coração, Helena sabia muito bem que era a culpada por ver tantos defeitos em um namorado perfeito. Sua personalidade forte e inquieta a compelia a isso. Friedrich a amava e era adorável namorar alguém

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tão apaixonado e dedicado. Mas em alguns momentos, ela apenas desejava ser deixada de lado por um tempo. Sem abraços, sem beijos, sem sua presença.

Era uma filha obtusa e uma péssima namorada. Bebeu outro gole de champagne e aproximou-se do terraço. Sorte sua não haver outras pessoas ad-mirando a bela paisagem. Helena riu consigo mesma ao pensar isso, como se aquelas pessoas realmente dessem valor a uma noite escura com uma lua imen-sa no céu. Se o brilho não provinha de um diamante, não possuía valor. Aque-las pessoas eram assim, e apesar de Helena não concordar, precisava adequar-se ao mundo ao qual fazia parte.

Solitária, ela bebeu sua bebida, e quando a taça estava vazia ela fechou os olhos, pedindo paciência aos céus antes de voltar ao salão.

A dança tornava o ambiente mais suportável, mas ao descobrir que seu namorado a localizara entre as pessoas, Helena sentiu vontade de correr, fazer-se de tola e cair fora.

Não era ela quem sonhava com isso todas as noites? Cair fora? Saltar do trem? Chutar o balde?

— Helena! — Friedrich abordou-a tentando disfarçar a insatisfação que brilhava em seus olhos claros. — Tenho a procurado durante toda a noite. Onde se meteu? — Disse ao segurar o seu braço.

Friedrich sempre fazia isso. Segurá-la. Era carinho, ela sabia, mas sen-tia sempre essa vontade de afastar-se e dizer-lhe que não era um cachorrinho para usar uma coleira e ser segurada daquela forma.

— Estava andando, conhecendo o local. — Notando a mágoa na face do namorado ela sorriu menos austera e brava. — Estava entediada. E não queria aparecer em nenhuma foto depois dos últimos dias atribulados no tra-balho.

— Esse seu trabalho na polícia... Preciso achar um modo de colocá-la diretamente na polícia investigativa. — Ele falou pensativo.

— Se fizer isso me ofenderá. Sei que tem boas intenções, Fried, mas eu quero conquistar o meu lugar sozinha!

— Sim — ele concordou, soltando seu braço.A expressão chateada deu lugar a um sorriso bonito, de dentes perfei-

tos. Friedrich era o protótipo do inglês perfeito. — Meu pai deve estar precisando de você — ela disse suave, olhando

na direção onde estavam os principais figurões.— Fique onde eu possa vê-la — disse ele, antes de um rápido beijo em

sua bochecha.Responsável pela operação de segurança do primeiro-ministro, Frie-

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drich era perfeito em seu trabalho. Sua obrigação era defender o ministro e, seu prazer, entreter a filha do mesmo. Odiava lembrar-se dessas maledicências dos tabloides.

Seu namoro logo faria seis meses, e ela não poderia encontrar homem melhor ou mais apaixonado.

Inquieta, sem saber de onde vinha essa estranha sensação, Helena an-dou um pouco pelo salão e avistou alguns conhecidos pessoais.

Mia, uma grande amiga de infância que sempre a acompanhava nessas viagens chatas. Filha de sua governanta, Mia casara-se no ano passado com o irmão de Friedrich. Diante daquele grande salão, Mia dançava com o marido e não a notou. Helena não se fez notar também, encontrou seu refúgio naquele terraço.

Estava irritada e melancólica. Perto das enormes cortinas, ela encon-trou o esconderijo perfeito para observar, sem precisar interagir. Seus olhos foram imediatamente para o namorado e seu pai. Às vezes ela só queria que Friedrich não fosse tão... Tão... Pomposo.

Afogando suas mágoas em mais champagne, quase levou um susto ao ver que não estava sozinha naquele local recluso. Havia um homem solitário por entre as cortinas vermelhas aveludadas do terraço, observando a lua. He-lena afastou os olhos, e olhou outra vez para o salão. Então, voltou a olhar a figura solitária.

Por mais que se esforçasse, não conseguia lembrar de ninguém com aquele porte. Conhecia todos os figurões presentes e os seus familiares.

Intrigada, Helena aproximou-se do terraço e, se aquele estranho ho-mem notou sua presença, não demonstrou, fazendo com que Helena manti-vesse alguma distância para observá-lo melhor.

Alto, bem mais alto que a média dos homens presentes na festa, de-veria ter bem mais de um metro e noventa. Ao contrário de Friedrich que era magro e elegante, o estranho era largo, provavelmente por músculos. O terno era impecável, mas havia algo em sua postura que a fazia crer imediatamente em sua falta de hábito com esse tipo de roupas.

Cabelos ruivos, um pouco mais longos do que o aceitável na alta socie-dade. Testa alta, olhos claros em um profundo azul que fitava a noite.

— Sempre observa homens desconhecidos? — ele perguntou sem muito interesse sobre ela.

— Quando não constam na lista de convidados de uma festa onde há segurança máxima em jogo, sim, observo — ela respondeu surpreendida pelo tom de voz forte daquele homem, tão rouco, quase grosso.

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— Não é preciso constar em listas, quando se é um convidado VIP. Não é o que dizem?

Ele virou-se para ela. Havia uma segura distância entre os dois, algo como uns dois metros. Ele mantinha uma das mãos sobre a murada do terraço e Helena havia pousado sua própria taça no mesmo local.

— Deve ser. Não faço parte desses grupinhos fúteis — ela disse azeda.— Um fato difícil de acreditar, já que você é filha do primeiro-minis-

tro — ele ironizou num quase sorriso.— Se pretende ofender, saiba que tenho muito orgulho do meu pai —

ela disse disfarçando a irritação.— Jamais seria minha intenção ofender uma dama em sua própria

festa. — Outra ironia, e ele olhou em volta. — Dança, Policial Gerher?Helena ergueu o queixo, orgulhosa por alguém finalmente a chamar

por seu real interesse e ligar seu nome a sua profissão.— Depende. Todos nesta festa sabem quem sou eu. Mas eu não sei

quem você é — ela jogou com as palavras e ele sorriu. Um sorrisão, como diria sua mãe. Boca carnuda, dentes perfeitos, ros-

to anguloso. Um sorriso que alcançou seus olhos azuis tão expressivos. Sorriu como se soubesse que ela jamais diria não para um sorriso assim.

Desistindo do combate verbal, ela deixou a taça sobre a murada e deu o primeiro passo em sua direção.

O homem deveria ter uns poucos anos a mais que ela, trinta no máxi-mo, e a conduziu elegantemente em direção à pista.

Helena não poderia mentir para si mesma que o toque daquela mão quente na sua, e, sobretudo em suas costas quase nuas, não era o sentimento mais forte que a perturbara em meses. Ou até mesmo anos.

Fora uma garota de poucos namorados por conta da carreira política de seu pai, e Friedrich não era propriamente um homem de ação.

Os corpos aproximaram-se o necessário para a dança e ela se calou. Em silêncio, ela ergueu o olhar, somente para encontrar aquele homem com os olhos sobre ela de um modo estranho, profundo. Ela o manteve fixos nele, talvez num desafio.

— Friedrich não tira os olhos de nós dois — ele disse mesmo sem olhar em volta, apenas por percepção pura ou prévia constatação. — Um na-morado ciumento?

Helena lutou para não sorrir:— Friedrich não é ciumento — ela respondeu, lutando contra o im-

pulso de rir histericamente. Ciumento? Friedrich? Mordeu a língua para não

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desmoralizar o próprio namorado. — Você o conhece?— De vista — ele desconversou.— É engraçado, pois sabe que sou policial e filha do Primeiro-Minis-

tro britânico, e não sabe que obterei informações sobre você um segundo após deixar esse baile? — alfinetou.

— Talvez saiba e mesmo assim, pretenda manter algum mistério — ele respondeu, como se a ridicularizasse.

— Não é elegante deixar uma mulher curiosa. — Havia veneno em sua voz.

— Mas é elegante dizer a uma dama quando ela está linda?— Depende, se ela for comprometida, pode ser confundido com au-

dácia — ela disparou de volta.— Sorte a minha ser um homem que goste de viver perigosamente —

ele a rodopiou ao sabor da música e Helena lembrou-se que dançava. — De qualquer modo não me julgo suficientemente perturbador a

ponto de levá-la a querer saber mais sobre mim quando estiver nos braços de seu namorado esta noite.

Helena corou. Aquele homem falava de modo direto, e o modo como a olhou deixou seu coração acelerado. Ele não disse nada explícito, mas só de pensar em sexo enquanto olhava aqueles olhos azuis, Helena sentiu o corpo se agitar.

Esse assunto em particular não era o seu favorito, mas se aquele es-tranho sentiu sua tensão, não demonstrou, e quando ela pensou ter visto o namorado tentando se livrar de outros políticos influentes foi a própria Helena quem se movimentou querendo direcionar a dança para outro lugar.

O estranho sorriu e ela se perguntou por quê. — Não se preocupe, não é a única achar Friedrich um chato — ele

disse audaz.— É meu namorado! Por que o acharia um chato? — ela perguntou

na defensiva, enquanto os dois dançavam deliciosamente próximos.— Porque é o que ele é. De longe, muito polido e agradável. De perto,

um chato. Mas não se preocupe, algumas mulheres apreciam homens assim. Algumas. E com certeza você não é uma delas.

Sua arrogância a fez corar um pouco mais:— O que sabe de mim para julgar meus sentimentos? — perguntou

incomodada. Olhos nos olhos. Raramente os homens olhavam em seus olhos, normalmente se assustavam com sua personalidade forte, ou apenas não nu-triam o hábito de olhar nos olhos das mulheres com quem conviviam.

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Mas este homem mantinha o contato, como um desafio.— Sei bastante sobre Friedrich para supor que não manteria seu inte-

resse por muito tempo. Aquela arrogância a levou a extremos. Helena parou no meio da dan-

ça, mas ele não a soltou. Conseguiu apenas captar sua total atenção, e tolher os movimentos.

— Pois saiba que Friedrich é uma pessoa muito especial na minha vida, em breve seremos noivos. Inclusive o pedido será formalizado ainda essa semana. Portanto não fale dele desse modo para mim, me ofende.

Sua petulância quase o fez rir.— Sim, e por isso tenho tantas dúvidas sobre os mistérios do universo

— ele ridicularizou nada discretamente, enlaçando-a outra vez, e conduzindo-a novamente para a dança.

— Ronald.Helena estivera muito perto de brigar com aquele homem e mandá-lo

para o inferno, mas saber seu nome a distraiu. Um artifício usado por ele, para acalmá-la.

— Ronald é um nome muito comum — ela disse tentando arrancar-lhe o complemento.

— Boout — ele respondeu sorrindo.— Segundo nome? — ele não respondeu, mas ela tomou o silêncio

como resposta. Sorrindo, a moça baixou os olhos. — Não é um nome muito bonito, é?

— Helena Netzbullger também não é o nome mais adorável que já ouvi — ele atiçou.

— Por enquanto ainda é Gerher — ela fez questão de lembrá-lo disso.— Não consigo visualizar futuro em um casamento entre o responsá-

vel pela segurança do Primeiro-Ministro e uma simples policial — ele disse. — Você consegue?

Helena não respondeu. Em seus planos, não havia lugar para casamen-to. Não agora, talvez em uns cinco anos...

— Estou cansada, não quero mais dançar — ela disse séria, detestando ser pega no flagra. — Não me ouviu?

— Está mentindo. E a dança está agradável, não seja dissimulada.Helena abriu os lábios para responder, mas nada disse. As palavras lhe

faltaram naquele momento. Não sabia lidar com este homem. Não mesmo. E isso era assustadoramente excitante.

— Além disso, não posso interromper esta dança, estou muito perto

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de levá-la de volta para o terraço e beijá-la. — Ele arrematou.Helena encontrou um brilho de desejo e malícia nos olhos azuis, um

olhar que, francamente, ela não conhecia. Algo pré-histórico, talvez. Um olhar inapropriado para um salão de festa lotado.

— E por que eu permitiria uma coisa dessas?“Além de estar derretida nos braços desse homem?”, a pergunta martelou

em sua mente. — Por que estive a noite toda procurando um modo de abordá-la

como um bobo apaixonado? — ele sugeriu.Helena não pôde evitar um sorriso. Ele mentia. Mentia de um modo

tão sedutor que suas pernas estavam bambas, e havia algo petulante em seu olhar, como se ele estivesse fazendo isso contra sua vontade.

— Diz isso para todas as mulheres que considere lindas? — perguntou revivendo o seu comentário anterior quando a elogiou, soando irônica e pro-vocadora, tentando disfarçar sua própria pulsação acelerada.

Mas o modo como ele a cingiu pela cintura, aquela mão em suas costas de maneira possessiva, deu-lhe uma pista de que ele sabia o quão acelerado estava seu coração. Sabia do reboliço que causava em seu interior.

Helena manteve o contato visual. Nunca antes havia sentido isso, aquele calor, aquela sensação única, aquele formigamento nas palmas das mãos, ou mesmo o arfar da própria respiração.

Quando trocava carinhos com o seu namorado, ela sentia nele essas reações, mas nunca em si mesma.

Atiçada pela novidade, curiosa, e completamente envolvida, Helena esperou que ele encontrasse algum bom argumento para convencê-la a ceder. E ela queria ceder, como queria...

— Não todas, apenas as mais interessantes.— É um homem muito arrogante, Ronald Boout — ela disse impres-

sionada consigo mesma por dizer aquelas coisas.— Arrogante? Talvez. Não gosto de perder tempo. — Havia um roçar

de corpos e Helena lutou para não se distrair da conversa. — Quero e vou beijá-la ainda essa noite. Por que complicar aquilo que desejo?

Para ilustrar suas palavras, ele parou de dançar. Por um segundo He-lena temeu que ele a beijasse bem ali, no centro do salão, entre tantos olhares atentos. Mas obviamente, esse era apenas o seu próprio desejo secreto e não a meta de Ronald. A música chegou ao fim, e ele a puxou gentilmente pelo salão, levando-a de volta para o terraço.

Helena se considerava uma mulher sincera, honesta e capaz de agir

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por si só. Independente e decidida. Raramente se sentia frágil por causa de alguma coisa ou alguém. Mas no curto caminho até o terraço, ela sentiu as pernas faltarem, os olhos perdidos e a respiração acelerada. Havia milhões de mariposas em seu estômago, uma sensação de calor e frio ao mesmo tempo, a pele arrepiada, e quando eles estavam longe o bastante para não serem vistos no imenso terraço, sob a lua, não lhe foi dado tempo para pensar.

Ronald a segurou de um modo único, trazendo-a contra seu peito, olhando-a nos olhos daquele jeito profundo. Ela viu tantas coisas naquele olhar. Desejo. Carinho. Paixão. Viu possessão.

Sem saber como ou porquê, dando vazão unicamente aos seus sen-timentos e não aos pensamentos, ela enlaçou seu pescoço, e ele a beijou. Era exatamente o que ele precisava; sua aceitação.

As mãos grandes, ambas em sua cintura, apertando-a contra seu corpo forte e rijo, os lábios colados. Não eram lábios quaisquer, eram cheios, macios, quentes. Ele beijava com a mesma profundidade que a olhava. Nada de pedir licença. O contato foi avassalador. Beijo forte, exigente. Helena mal pôde re-sistir um pouquinho antes de entreabrir os lábios e aceitar sua língua.

Gemeu quando ele subiu uma das mãos por suas costas, e a outra dire-tamente para seus cabelos longos. Apertou as mechas entre os dedos e o suave puxar a excitou de um modo que jamais imaginou ser possível.

O ritmo dos corpos, a forma como se encaixavam e o roçar das coxas masculinas nas suas, de seu corpo viril excitado exibindo esse desejo contra seu quadril. Naquele momento, era tudo sobre calor e necessidade.

Helena não ofereceria barreira alguma se aquele homem decidisse a possuir ali mesmo, contra as paredes cobertas por cortinas. Seria insanidade, mas seria incrível.

Sua mente não se manifestou enquanto o beijo seguia e, quando o som alto de algo quebrando o apartou dela, Helena quase pediu para que ele não parasse.

Foi tudo muito rápido, em um segundo aquela boca incrível arranca-va-lhe uma resposta sensual, e no seguinte, gritava alguma coisa sobre correr e se abaixar.

Helena não entendeu até estar no chão e uma das janelas estourarem, cobrindo de cacos de vidros todos os lugares. Ele a levou para longe do terraço e quando ela se abaixou outra vez, junto a tantas outras pessoas que faziam o mesmo, um tiro acertou os cristais sobre as mesas, espalhando mais vidros e arrancando gritos de pânico dos convidados.

Desesperada, Helena sentia aquela mão segurando a sua, e o primei-

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ro momento de pânico passou. Ela era uma policial treinada e procurou a imagem de seu pai entre aquelas pessoas. Foi quando o viu, não muito longe, protegendo-se dos tiros.

Naquela confusão, avistou Friedrich aproximando-se em uma corrida desenfreada na direção do Ministro e, sem pensar, Helena soltou aquela mão que tanta segurança lhe passava e correu na mesma direção.

Alcançou-o antes de Friedrich e o protegeu. Não estava armada, mas conhecia os procedimentos. Levou seu pai para um local seguro, olhando para trás uma única vez, tentando encontrar Ronald na multidão de pessoas que se protegiam ou eram protegidas por seus seguranças.

Mas havia começado um inferno de tiros e Helena não conseguiu dis-tingui-lo entre as pessoas. Em sua busca, não lhe chamou a atenção a imagem de Friedrich desistindo de se aproximar do Ministro, aquele a quem devia pro-teger. Ele se recolheu, levando a arma que deveria estar usando para combater os tiros.

Haword estava acostumado com esses eventos, e sua mente treinada por anos de dedicação entendia que esse tipo de coisa poderia acontecer.

Na confusão, alguns encarregados da segurança do Ministro consegui-ram chegar até eles, e Helena conseguiu uma arma.

— Por aqui, pai — ela disse em voz de comando, levando-o para longe.

Notou a expressão confusa dele, enquanto ela dava cobertura para os demais seguranças. Dez minutos depois, ele era colocado às pressas em um carro blindado e para surpresa de Helena seu namorado foi um dos seguranças a entrar. O carro ganhou velocidade e ela manteve-se olhando pelo vidro de trás do carro oficial, esperando que fossem seguidos. O que não aconteceu. Intrigada, ela olhou para a propriedade vasta em território, mas ausente de construções.

Eles estavam em um castelo da época medieval, amplamente conser-vado. Não havia prédios em altura suficiente para atiradores à distância. Então os tiros vieram de dentro da propriedade?

— Estou bem, já disse que estou bem.Ela ouviu a voz irritada de seu pai e olhou para ele, sentando a seu

lado.— Deixe meu pai em paz, Fried — ela pediu sem olhar para ele. —

Foi um susto, não foi, Ministro?Seu sorriso pareceu relaxar o homem, e ele até sorriu de volta.— Sim, mas não tão grande quanto ver minha filha com uma arma

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nas mãos — ele disse, olhando para a arma que ela ainda segurava.— É o meu trabalho — ela disse pela milésima vez, pois era sempre

um tópico de discórdia entre ambos.— Sei disso — ele disse sem se importar muito. O Ministro abriu a gravata, recostou-se contra o estofado de couro

legítimo do veículo e respirou fundo várias vezes.— Pai, isso não é normal, é o segundo atentado em menos de seis me-

ses. Seu cargo é visado, mas alguma coisa está acontecendo, algo incomum. — Não houve respostas, e Helena olhou diretamente para o namorado. — Não sabem de nada ainda? Nenhuma nova informação?

O modo como Friedrich a olhou era de pura recriminação.— Esta não é melhor hora para discutirmos isso, Helena — ele res-

pondeu naquele seu eterno tom diplomático. — O Ministro será levado para um local seguro e isso é apenas o que você deve saber.

— Isso é ridículo. Suas investigações não deram em nada! Por que não admite a derrota e pede ajuda?

— Helena! — Dessa vez foi seu pai quem a contrariou. — Não é hora para isso, fique calada — ele pousou uma das mãos sobre a testa. — Acho que bati a cabeça em meio à confusão.

— Eu sinto muito — ela estendeu a arma para o namorado, sem olhar para ele. Às vezes ela até esquecia que eram namorados. — Leve-nos para algum lugar onde o Ministro possa ser atendido. Precisa de um check up completo.

— Não seja tão zelosa, Helena. — Brincou o homem mais velho, e ela sorriu para o pai.

— O que posso fazer? É o Ministro, e é minha obrigação como poli-cial protegê-lo. — Ela brincou de volta, amenizando a tensão.

— É sua obrigação ficar perto de mim, de preferência onde eu possa vê-la. — ele satirizou.

— Sim, ministro. — ela fingiu concordar.Ele não estava ferido, mesmo assim valia a pena checar qualquer possí-

vel dano a sua saúde. Helena queria saber o que estava acontecendo. Inquieta, olhou para o namorado. Ele a olhava a medindo da cabeça

aos pés. Algumas vezes, quando ele fazia isso, Helena sentia-se exposta demais, desconfortável. E era como se sentia agora.

Afastou os olhos e olhou outra vez pelo vidro da janela do carro, vendo através da blindagem.

Sua mente inquieta e o coração pesado. Pensou nas razões daquele

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atentado, e pensou naqueles olhos azuis. Por mais que tentasse afastar aqueles olhos de sua mente, não conseguia.

Ela sabia que era impróprio, que o momento era errado, ainda assim não conseguia afastar aquele pensamento insistente. Onde ele estaria, quem seria, e se estava bem.

Sentiu a boca formigando ao lembrar-se dele. Deveria sentir culpa por ter beijado outro homem, mas o único pensamento em sua mente era que se o visse outra vez repetiria tudo.

Seu suspiro chamou atenção, mas ela não percebeu. O pensamento estava distante, e o coração aquecido por aquele sentimento que não sabia nomear.

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literatura adulta