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DADOS DE COPYRIGHT · Capítulo VIII - Alterações do NCPC ... Produção antecipada de prova 3. Meios de prova em ... prático e acessível – e ao mesmo tempo um destino

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DADOSDECOPYRIGHT

Sobreaobra:

ApresenteobraédisponibilizadapelaequipeLeLivroseseusdiversosparceiros,comoobjetivodeoferecerconteúdoparausoparcialempesquisaseestudosacadêmicos,bemcomoosimplestestedaqualidadedaobra,comofimexclusivodecomprafutura.

Éexpressamenteproibidaetotalmenterepudíavelavenda,aluguel,ouquaisquerusocomercialdopresenteconteúdo

Sobrenós:

OLeLivroseseusparceirosdisponibilizamconteúdodedominiopublicoepropriedadeintelectualdeformatotalmentegratuita,poracreditarqueoconhecimentoeaeducaçãodevemseracessíveiselivresatodaequalquerpessoa.Vocêpodeencontrarmaisobrasemnossosite:lelivros.loveouemqualquerumdossitesparceirosapresentadosnestelink.

"Quandoomundoestiverunidonabuscadoconhecimento,enãomaislutandopordinheiroepoder,entãonossasociedadepoderáenfimevoluiraumnovonível."

AugustoTavaresRosaMarcacini

AsInovaçõesdoCPCde2015

Daproposituradaaçãoatéasentença

SãoPaulo

2016

AsInovaçõesdoCPCde2015:Daproposituradaaçãoatéasentença

©AugustoTavaresRosaMarcacini

Sobreoautor:

AugustoTavaresRosaMarcacini éAdvogado em São Paulo, Bacharel (1987),Mestre (1993),Doutor (1999) e Livre-docente(2011)emDireitopelaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeSãoPaulo.ÉProfessornocursodeMestradoemDireitodaSociedadedaInformaçãodaUniFMU, instituiçãoemque também lecionaDireitoProcessualCivilnocursodeGraduaçãoemDireito.FoiPresidentedaComissãodeInformáticaJurídica(2004-2006e2007-2009)edaComissãodaSociedadeDigital(2010-2012)daOAB-SP.FoiVice-PresidentedaComissãodeDireitoProcessualCivildaOAB-SP(2013-2015).

Dadosbibliográficos:

Marcacini,AugustoTavaresRosa.AsInovaçõesdoCPCde2015:Daproposituradaaçãoatéasentença.SãoPaulo:A.Marcacini,2016.

ISBNdaversãoimpressa:

ISBN-13:978-1530589074

ISBN-10:153058907X

Aosmeuspais,NobilMarcacini(inmemoriam)eMarlyTavaresRosaMarcacini.

Àminhaesposa,Luciana,eaosnossosfilhos,AnaHelena,MariaClara(inmemoriam)eJoãoPedro.

Sumário

PrefáciodoAutor

Introdução

CapítuloI-Procedimentocomum

1.Aspectosgerais

2.Estruturadonovoprocedimentocomum

3.Flexibilizaçãodoprocedimento

4.Procedimentosespeciaisextintoseaaplicaçãodoprocedimentocomum

CapítuloII-Proposituradaação

1.Competência

1.1.Limitesdajurisdiçãonacional(aanteschamada“competênciainternacional”)

1.2.Competênciaterritorial

2.Instrumentodemandato

3.Petiçãoinicial

4.Valordacausa

5.Pedido

CapítuloIII-Deferimento,ounão,dapetiçãoinicial

1.Aspectosgerais

2.Questõesapreciáveisdeofíciopelojuiz

3.Emendadapetiçãoinicial

4.Indeferimentodapetiçãoinicial

5.Improcedêncialiminardopedido

6.Dadecisãojudicial

CapítuloIV-Citaçãodoréu

1.Formasdecitaçãoesuasformalidades

2.Efeitosdacitação

3.Finalidadedacitaçãonoprocedimentocomum

CapítuloV-Audiênciadeconciliaçãoemediação

CapítuloVI-Respostadoréu

1.Aspectosgerais

2.Prazo

3.Questõesprocessuaisempreliminardecontestação

3.1.Poucasmodificaçõesquantoaotema

3.2.Novasdisposiçõesquantoàalegaçãodeilegitimidadepassiva

3.3.Arguiçãodeincompetência

4.Defesasdemérito

5.Reconvenção

CapítuloVII-Providênciaspreliminares,réplicaeojulgamentoconformeoestadodoprocesso

1.Providênciaspreliminares

2.Réplica

2.1.Consideraçõesgerais

2.2.Forma

2.3.Conteúdodamanifestação

3.Julgamentoconformeoestadodoprocesso

3.1.Consideraçõesgerais

3.2.Julgamentoantecipadoparcialdomérito

3.3.Saneamentoedecisãodeorganizaçãodoprocesso

CapítuloVIII-AlteraçõesdoNCPCemmatériadeprovas

1.Partegeral

2.Produçãoantecipadadeprova

3.Meiosdeprovaemespécie

3.1.Atanotarial

3.2.Provadocumental

3.3.Documentoseletrônicos

3.4.Provatestemunhal

3.5.Provapericial

4.Audiênciadeinstruçãoejulgamento

5.Asprovaseodireitointertemporal

CapítuloIX-Sentença

1.Resoluçãodacausacomousemjulgamentodemérito

2.Requisitosdasentençaeamotivaçãodasdecisões

3.Dodispositivodasentença

4.Hipotecajudiciária

5.Remessanecessária

CapítuloX-IntimaçõeseprazosnoNCPC

1.Intimaçõeseotermoinicialdosprazos

2.Contagemdosprazos

CapítuloXI-Honoráriosadvocatíciosedespesasprocessuais

1.Obrigaçãodeantecipaçãodasdespesaseresponsabilidadesdecorrentesdasucumbência

2.Critériosdefixaçãodoshonorários

2.1.Disposiçõesgerais

2.2.HonoráriosnascausasemqueaFazendaéparte

3.Honoráriosprogressivos

4.Outrasdisposiçõessobrehonorários

5.Novasdisposiçõessobrecustasedespesas

CapítuloXII-Gratuidadedajustiça

CapítuloXIII-InformatizaçãodoprocessonoNCPC

1.Generalidades

2.Dapráticaeletrônicadeatosprocessuais

3.Outrasdisposiçõesrelevantessobreousodatecnologia

Bibliografia

PrefáciodoAutor

UmnovoCódigodeProcessoCivilvemàluzemnossopaís.

Abroesteprefácioesclarecendoque,seoleitorquisersaberaminhaopiniãopessoalsobreonovoCPC,eulhediriaqueelaosciladomaisentusiasmadootimismoaomaisempedernidopessimismo.Nãoquemeconsidereportadordeumapersonalidadevolátil:sãoasdiferentesdisposiçõesdanovaleiquefazemoscilaromeuhumor.Umasdelastrazemàmenteosmaiselevadosprincípiosprocessuais:estimulamaclareza,atransparência,oexercíciodocontraditório,aeliminaçãodasarmadilhas,aboa-fédaspartes,ofim da chamada “jurisprudência defensiva”. Outras, porém, enveredam por caminhos tortuosos acomplicar demasiadamente o procedimento, a tornar incertos os rumos do processo e a atuação daspartes,acercearliberdadessemumarazãomeritóriaqueojustifique,aaplicarasnovastecnologiassemhorizontesdefinidosesemconhecimentoprecisodosseusriscosevantagens,adeixarasuspeitadequeaindavamosassistiraomilagreàsavessasdamultiplicaçãodosincidentes...

Quantoaosalardeadospropósitoscomqueopoderpolíticojustificouaopçãoporumanovalei, tenhoumaopiniãoabsolutamenteneutra.OnovoCPCnãovaiacelerarosprocessos,simplesmenteporquenãoé a lei a causamaior damorosidade, nem será a soluçãoúnica para essemal; pudéssemos agilizar oprocessosimplesmenteproduzindoleis,oBrasilteriaajustiçacivilmaisexpeditadetodooplaneta,eisque durante poucomais de duas décadas o CPC de 1973 foi constante e freneticamente emendado eremendado.Mas,notodo,tambémnãopensoqueonovoCPCváretardá-los.Nesseaspectoqueenvolveaceleridade,estouapostandonumsimpleszeroazero.

Quenãomeentendamaloleitor.Tudosomado,devodizerquegostodonovoCPC.E,comosempre,aspalavrasporvezesnãopermitemexpressaroporquêdoapreçoquesentimosporalgooualguém.Tenhopor ele certa compreensão, a compreensão de saber que foi promulgado num país inusitado que seencontra de pernas para o ar, mas mesmo assim, sem sabermos bem o porquê, ainda funcionarazoavelmente, aomenos até o dia emque completei este prefácio; a compreensão de saber que suasnormasforamfrutodeumaespéciede“pega,esticaepuxa”político,emque,diantedocobertorcurto,osvários atores potencialmente interessados nas normas processuais tentaram como puderam aquecer osseusprópriospés.Eassimsaiuumaleiumtantoquantocontraditória,masquemesmoassimgerouumpunhadoderegrasqueconsiderobastantepromissoras.

Apesardealgumas“vedetes”muitocomentadasdanovalei,tenhoditoporaíqueoquemaismeencantanelasãoas suasentrelinhas,pequenasdisposiçõesquequeremconsertargrandesequívocos,eque,dealgum modo, parecem assoprar algo na nossa consciência. Regras que impõem ônus mais claros àspartes, como a exigência de formulação de pedidos líquidos, ou que ordenam mais precisão eespecificidade nas contestações e impugnações em geral, ou o aumento progressivo dos honoráriosadvocatícios,quenosfarápensarjuntoaoclientesevaleounãoapenarecorrer,sugeremqueoCódigopropõe a nós, advogados, uma observância mais rígida da boa-fé processual, uma maior atenção aodireitoqueaparteefetivamentetem,poiséespecialmenteparadiscutirtaldireitoqueocontraditórioéasseguradoaoslitigantese,não,paratumultuaroprocessoepostergaroseufinalparaascalendas.Poroutrolado,regrascomoapublicaçãodaordemdeprocessosqueaguardamdecisão,asquerevogamcasoacasoasarmadilhasda“jurisprudênciadefensiva”,ouaexcêntricadefiniçãodoquenãoseconsiderauma decisão motivada, fazem-me crer que o Código também espera maior diligência dos juízes nodesempenhodesuasrelevantesfunções,paraquedediquemseusmelhoresesforçosajulgarbemodireito

sobreoqualos jurisdicionadosdivergem,equeémotivodoconflitoaserpacificado,ao invésdeseapegaremàsminúciasmaisirrelevantesdodireitoprocessualparajustificarumamodernaformadedizersibinonliquet.

Enfim,quemeperdoeoleitorpelafaltadejeitooupelaspalavrasquepossamparecerásperas.Équequando,nosilênciodanoite,leioalgumasdessasentrelinhasquemeentusiasmameemseguidafechoosolhos, poderia jurar que ouço o novoCódigo ame sussurrar algo nos ouvidos.Ouço uma voz grave,comoseinvocasseaalmadetodososjuristasmortosquesededicaramaconstruiraciênciadoprocesso,mascomumsotaquecearensequesópodeprovirdeCapistranodeAbreu,amedizer:quetalsetodosvocêsbrasileirosaídoSéculoXXItivessemumpoucomaisdevergonhanacara?

Quem sabe seja disso que precisamos!Quem sabe a nova lei aomenos sirva para nos lembrar dessedetalhenadadesprezível.OCPCme informaqueeleésómaisuma lei,dessasmuitasquevêmevãodesde a origem dos tempos. Não vai solucionar os problemas que criamos e alimentamos por nósmesmos.Oqueprecisamosédeatitudes!

Sejaláquaisbonsoumausresultadosconcretosanovaleipoderáproduzir,importadeimediatoatodososprofissionaisqueatuamnoforo,advogados,juízesepromotores,conhecer,interpretarebemaplicarasnovasdisposiçõesqueregemoprocessocivilbrasileiro.

Daímeu propósito em publicar esta obra, destinada a comentar as alterações práticas decorrentes danova lei e que afetarão o cotidiano desses profissionais. E, seguindo uma opção pessoal que tomeirecentemente,quandopasseiapublicarosmeusescritos tantonoformato tradicional,empapel,como,especialmente, no formato digital, esta obra será encontrada nessas duas mídias. Sem dúvida, minhapreferênciarecaisobreomeiodigital,poisjulgoqueoschamadose-bookssãoummodelomuitomaisprático e acessível – e aomesmo tempo um destino inafastável e inevitável – para a transmissão doconhecimento(etambém,porcerto,dastoliceshumanas...).

Tento, com isso, somar aminha pequena contribuição, apoiada nos anos de experiência docente e demilitâncianaadvocaciaprivada,paraaconstruçãodamelhor interpretaçãoacercadasdisposiçõesdonosso novo Código. Por ora, apresento-lhes apenas as minhas considerações sobre o processo deconhecimento e alguns temas necessários aos primeiros passos na aplicação da nova lei, como asintimaçõeseprazos,oshonoráriosadvocatíciosdecorrentesdasucumbência,agratuidadeprocessualealguns comentáriosmais sobre a informatizaçãodoprocesso, dentrodas limitações comque asnovastecnologiasforamtratadasnonovoCPC.

Assumindo esse propósito, este livro se resume a abordar as novidades advindas do novo Código,deixandodediscorrersobreospontosquenãoforamporelealterados.Portanto,queoleitornãotomeestelivrocomoumestudocompletosobreatotalidadedoprocessodeconhecimento.Olivroévoltadoparaaquelesque,jáatuantesnasprofissõesjurídicas,conhecemamatéria,compreendemseusconceitose regras, tais como previstos no finado Código de 1973, oumesmo para os estudantes que, já tendosuperado algumas etapas do curso, foram surpreendidos com alterações a respeito de conteúdo jáensinado segundo o regime anterior. Assim, este livro aborda exclusivamente aquilo que sofreumodificação pelo novo Código. São expostos comentários sobre os seus aspectosmais práticos, queatenderão às necessidades do profissional, ao lado de opiniões interpretativas que integrempossíveislacunas,emaisalgumasanálisescríticassobreospropósitosepossíveisresultadosdanovalei.

Paraencerrar,aoleitoraquemessaobraporventuraagradar,deixonoarapromessadecompletaresseestudodasinovaçõesprocessuaiscomapublicaçãofuturadeoutrosvolumes,comentandoasalteraçõesquerecaemsobreosdemaistemasquenãoforamabordadosaqui.

Espero,assim,ofertaràcomunidadejurídicaumaobraquesemostreútileque,aoladodosexcelentestrabalhosqueproficuamentetêmlançadoboasluzessobreonovoCPC,possacontribuirparadivulgareesclarecerassuasdiferençasemrelaçãoàsvelhas regraseproporcionaromaisprecisoentendimentoacercadasnovíssimasdisposiçõesquepassamaregeroprocessocivilbrasileiro.

Bonsestudosatodos!

AugustoTavaresRosaMarcaciniMarçode2016

Introdução

ApóscincoanosdetrâmitenoCongressoNacional,veiofinalmenteàluz,emmarçode2015,umnovoCódigodeProcessoCivil,vigenteapartirdodia18demarçode2016,umanoapósasuapublicação.Desnecessário dizer a dimensão do impacto que uma lei desse porte e com essa relevância causa nocenárionacional,emmuitasfrentes.

ODireitoProcessualCivil,emboranãoregulediretamenteavidadaspessoas,regulaoexercíciodeumpoderporpartedoEstado,opoderquetemporfinalidadesolucionarosconflitosmedianteaimposiçãodalei.Éumconjuntodenormasgarantidorasdacorretaaplicaçãodaleiaocasoconcreto,darealizaçãoda justiça,daproteçãoaosdireitosasseguradospelo restantedoordenamento jurídico.ArevogaçãoepromulgaçãodeumnovoCódigodeProcessoCivil produz reflexosprofundos sobre toda a esferadajustiçacivil,cominduvidosasrepercussõesnasrelaçõesnegociaiseatémesmonaeconomiadopaís.

UmadasrazõesparaapropostadeumnovoCódigo,comofoiamplamentedivulgadopelopoderpolíticopátrio,quandoiniciouamovimentaçãoinicialdereformamedianteanomeação,peloSenadoFederal,deumanotávelComissãode Juristasparaelaboraçãodeumanteprojeto, eraa tentativade solucionarosconhecidosmalesqueacometemosprocessosjudiciais,especialmenteasuamorosidade.

Comosevê,trata-sedeummesmodiscursoqueserepeteaolongodostempos.DesdeoiníciodagrandeequaseinterminávelReformaprocessual,quedesde1994promoveualteraçõesquaseanuaisnoCódigodeProcessoCivilanterior,nãodeixoujamaisolegisladordeprometerumprocessomaisefetivo,maisrápido,maisacessível,sem,contudo,proporcionarnãomaisdoquealgunsresultadospontuais,frutodeajustessobreatoseformasprocessuaisquejáseencontravampordemaisempoeiradose,semdúvida,mereciam uma atualização. Mas não se pode dizer que, no todo, as reformas processuais passadasproduzirammelhoriassignificativasnotempodeduraçãodoprocesso.

Segundoafirmeiemestudosquedeià luzhámaisdequinzeanos,a lei jánãopareciaser,àépoca,aprincipalcausadamorosidadeprocessual;hoje,empiricamentesepodeconstatarisso,aoverqueapósuma sequênciaquase interminávelde reformas–umasprodutivas, outrasnem tanto–nãoháqualqueralteração sensível no tempodeduraçãodosprocessos.Mesmoassim,nessaperseguição embuscadaefetividadedaprestaçãojurisdicional,opoderpolíticoresolveudobraraaposta.Foidiscursocorrenteaafirmaçãodeque,apósasreformasdoCPCde1973–comosetodaselastivessemproduzidoreluzentesefeitos–opróximopassonessadireçãoseriaapromulgaçãodeumnovoCódigo.

Seja como for, legemhabemus.Queo futuromostreos resultados concretosdapromulgaçãodonovoCódigoparaamaiorefetividadedoprocessocivilemnossopaís!

Detodomodo,umadasprimeirasconsequênciasdeumanovalei–qualquerquesejaela,epormaisquetenhasidocuidadosamenteelaborada–éosurgimentodepossíveisinterpretaçõesdiscrepantessobreosseusmuitosdispositivos.Comojádiscorrinomesmotrabalhoanterior,brevementereferidoacima,1umdosmotivosdapoucaefetividadeedamorosidadeéapolêmicainterpretativasobreasprópriasnormasprocessuais.Divergênciasinterpretativassobreasnormasprocessuaissuscitamincidentesprocessuaisealimentamummonstroformalquepassaaconsumirtempoeesforçosdosatoresprocessuaistãosomentepara discutir o próprio processo, deixando-se de lado por um momento – eventualmente, um longomomento!–oobjetivoúltimodetodaaquelaatividade:asoluçãodoconflitoquefoitrazidoajuízo.

Assim,diretrizprimordialparaaefetividadedoprocessoéaexistênciadeumsistemaprocessualcujasregrassejamomenospossívelduvidosas,quegeremomenornúmeropossíveldeincidentes,questõeserecursosqueapenasversemsobreosprópriosatosdoprocesso.Sóassimodireitoprocessualselivrarádamerecidacríticaqueafirmaquesãodespendidosmaistempoeesforçosemjuízoparadecidirsobreopróprioprocessoe suas formasdoqueparadecidirodireitoqueaspartes têm.Logo,oponto inicialparaqualquerestudomaisprofundosobreosnovosrumosdodireitoprocessualresideemconheceraleie destacar suas possíveis divergências interpretativas, oferecendo-lhes, na medida do possível, umasoluçãoracionalmentesustentávelefinalisticamenteútil.

Estaobrapretende,nestesmomentosiniciaisdevigênciadanovalei,apontarasinovaçõesqueforamporela trazidas, comparando-as com a legislação recém revogada e, em alguns pontos que semostraramnecessários,suscitarcríticasacercadaracionalidadedosnovostextos,apoiadasnoseuconfrontocomasexperiênciasanterioresencontradasnadoutrinaenajurisprudência.E,comonãopoderiadeixardeser,queasnovasdisposiçõessejamexaminadassobaóticadainformatizaçãoprocessualquecadavezmaisganhacorpo.NãoobstanteosavançosimplementadosrecentementepeloPoderJudiciário,oCPC/2015muitopoucoavançounaregulamentaçãodeseuusoparaosprocessosjudiciais.

Este livro abrange um estudo restrito ao processo de conhecimento em primeiro grau, com capítulosadicionais destinados a temas relevantes e complementares, como a gratuidade processual e acondenação a honorários imposta ao vencido, as intimações e prazos, e a informatização processual.Além disso, procurei inserir, quando aplicável, ao longo dos demais capítulos, comentários pontuaissobreainformatizaçãoaplicadaàquelemomentoprocessualeasopçõesadotadaspelonovoCódigo.

Notocanteaocapítulodestinadoàfixaçãodaverbahonorária,merecealgumdestaquenestaintroduçãocomentararelaçãodesse temacomaefetividade.ÉcomcertasatisfaçãoquevejoonovoCPCadotarsugestão que sustentei hámais de quinze anos,2 quando apontei que a progressividade na fixação dasverbasimpostasaovencidopoderiaservircomoumvirtuosofatorinibidoraoexcessoderecursos,eisquefariacomqueoslitigantestivessemquevalorarracionalmenteosriscos,vantagenseprobabilidadesdeatacarumadecisãojudicial,enãodelasrecorrerdemodoautomáticoeimpensado,comoseomanejodetodososrecursosprevistosnosistemafosseocursonormaleinevitáveldamarchaprocessual.

Pretende-se,pois,comesteestudo,colaborarparaamaiorcompreensãodasnovasregras,tantoporpartedo estudioso da ciência processual, cujas pesquisas precisarão ser renovadas à luz do novo corponormativo,comotambémparaosprofissionaiseestudantesdoDireito.

Odesenvolvimentodaobraabrangeumadivisãoemcapítulossobreosgrandes temasdoprocessodeconhecimento, desde a propositura da ação até a sentença de primeiro grau. Em cada capítulo, sãocomentadas as reformas, suas possíveis interpretações e consequências práticas e, conforme o temacomportar, será feitaumaanálise críticada soluçãoadotadapelo legislador, ou correlaçõespossíveisentreasnovasmudançaseaaplicaçãodatecnologiaaosprocessosjudiciais.

CapítuloI-Procedimentocomum

1.Aspectosgerais

Oprocessodeconhecimentopodesedesenvolversegundodiferentesprocedimentos,queseclassificamemprocedimentoscomunseprocedimentosespeciais.Especialéoprocedimentoqueseaplicaapenasaumdeterminadotipodepedido,paraoqualsemostramaisadequadodoqueumprocedimentopadrão.Os casos que seguem procedimentos especiais são expressamente previstos na lei, aplicando-se aosdemaisoprocedimentocomum.Designa-seprocedimentocomumumprocedimentopadrãoquepodeseraplicadoparaodesenvolvimentodeprocessosemquequaisquertiposdepedidotenhamsidoformulados(excluídos,obviamente,aquelesparaosquaisaleidefiniuumprocedimentoespecial).

OnovoCódigodeProcessoCivildispõesobreoprocedimentocomumapartirdoart.318ededicaumtítuloaregulardiversosprocedimentosespeciais,acomodadosentreosarts.539e770.Afórmulaparaaescolha do procedimento não se altera, e nem era de se esperar que isso pudesse ser diferente. Nãohavendo procedimento especial definido em lei (seja no próprioCódigo, seja em lei extravagante), acausa segue o procedimento comum (art. 318). Mantém-se, igualmente, a aplicação subsidiária dasdisposiçõesdoprocedimentocomumaosprocedimentos especiais (art. 318,§ún.).Viade regra, enaquasetotalidadedassituações,asnormaslegaisqueregemosprocedimentosespeciaisdefinemapenasalguns poucos atos e formas diferenciados, aplicando-se, quanto ao mais, as disposições doprocedimentocomum.

No Código de 1973, havia dois procedimentos comuns: o sumário e o ordinário. A dualidade deprocedimentos comuns é eliminada pela nova lei, restando no Código de 2015 apenas um únicoprocedimento comum, ao qual a lei nem sequer atribuiu um nome, sendo chamado simplesmente deprocedimento comum. É, portanto, extinto o procedimento sumário. Também foram extintos algunsprocedimentosespeciais:dedepósito,deanulaçãoesubstituiçãodetítulosaoportador,denunciaçãodeobranova,deusucapiãodeterrasparticularesedevendasacréditocomreservadedomínio.Ascausas,que,segundooCPC/1973,seguiamessesprocedimentosespeciais,comavigênciadoCPC/2015passama se submeter ao procedimento comum. E, conforme disposto no art. 1.049, § ún., quando houverdeterminação,emoutrasleis,paraautilizaçãodoritosumário,aplicar-se-á,igualmente,oritocomumdonovoCódigo.

Apósavigênciadanovalei,portanto,essascausas,queantesseguiamessesritosextintos,deverãoserpropostassegundooprocedimentocomum.Quantoàscausaspendentes,oart.1.046,§1º,prevêregradetransiçãoespecíficaparaosfeitosqueseguemessesprocedimentosextintos.Dizque“asdisposiçõesdaLei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentosespeciaisque forem revogadasaplicar-se-ãoàsaçõespropostas enão sentenciadasatéo iníciodavigênciadesteCódigo”.

Trata-sedeexceçãoaosistemadeisolamentodosatosprocessuais,quedeterminaaaplicaçãoimediatadaleiprocessualaosprocessosemcursoeéconsideradoregrageraldedireitointertemporalemmatériaprocessual (preceito previsto no art. 1.211 do CPC/1973, que foi mantido, no art. 1.046, caput, doCPC/2015).Otextodo§1º,porém,dizmenosdoquedeveria.Oquesepodeentenderpelacondição“ações propostas e não sentenciadas”? Por certo, as ações propostas e já sentenciadas não são

atingidas pela regra desse parágrafo, aplicando-se-lhes oCPC/2015 imediatamente.Quanto aos feitosnãosentenciados,asuperveniênciadasentençaéapenasomarcotemporalparadefiniraaplicaçãodeumaououtraleiaosprocessosemcurso,ouseriatambémumlimiteparaaaplicaçãodaleianterioremcadaumdessesprocessos?Istoé,noprimeirosentido,osprocessosatingidospelanovaleienquantoseencontravam entre o ajuizamento e a sentença continuariam, até o seu final, regidos pelo CPC/1973(sistemadaunidadeprocessual);nasegundainterpretação,osprocessosnãosentenciadoscontinuariamregidospelaleivelhatãosomenteatéasentençaedaíemdiantepassariamaserregidospeloCPC/2015(sistemadoisolamentodasfasesprocessuais).

Emsualiteralidade,osentidodotextolegalpareceserodaprimeiraopção,masissonãosoalógico.Seosfeitosjásentenciadossãoatingidosimediatamentepelaleinova,querege,então,todaafaserecursalqueseseguir,nãohá razão lógicaoupráticapara justificarque,na fase recursal,nãoseapliquea leinova tambémaosprocessosqueaindanão tinhamsidosentenciadosquandodo iníciodesuavigência.Poroutrolado,apeculiaridadequehavianoritosumário,emmatériaderecursos,dedispensarumjuizrevisor,3 foi incorporada ao rito comum, já que o novo Código eliminou a revisão para todas asapelações.Dequalquermodo,não seria razoávelqueasnovas regras recursaisou sobreo trâmitedeprocessos nos tribunais possam ser imediatamente aplicáveis aos processos sentenciados, em quepossivelmente já foi interposto o recurso cujo trâmite pode ser afetado,mas os que ainda não foramsentenciadoscontinuemregidospeloCPC/1973tambémapósasentença.Ademais,oobjetivodaregrapareceserodeevitarotumultodosprocessosemprimeirograu,quandoadiferençaentreosritosémaisevidente.

Outraquestãoquerestarefere-seàleiaplicávelemcasodeanulaçãodasentençaeretornodosautosaoprimeirograu,tantodosfeitosmencionadosno§1ºquantoaquelesquejátinhamsidosentenciadoseseencontravampendentesdojulgamentoderecurso.Consideradoqueoperceptívelobjetivodaregra,comoditoacima,éevitarotumultogeradopelanecessidadedeadaptaçãodoprocedimentoemprimeirograudecausas já iniciadas segundoas formasanteriores, soaapropriadoque taisprocessos tambémsejamregidospeloCPC/1973emcasoderetornoaoprimeirograu,atéaprolaçãodanovasentença.

Noutraspalavras,amelhorinterpretaçãoparaoparágrafoemexamepareceseraseguinte:otrâmiteemprimeirograudascausasderitosumáriooudosritosespeciaisrevogados,masajuizadosnavigênciadoCPC/1973, seguirá as anteriores disposições específicas que regem esses ritos até a sentença. Se oprocessoforanulado,qualquerquesejaoestadodacausaquandodoiníciodavigênciadoCPC/2015,aplica-seaele,quandodoretornoaoprimeirograueaténovasentença,oCPC/1973.

Porúltimo,soaclarodotextoqueasnormascujaeficácianotempoépostergada,paraessesprocessosemcurso,sãoapenasasdisposiçõesespecíficasdosritossumárioeespeciaisqueforameliminadosdonovoCódigo, e não a totalidade doCPC/1973.As regras gerais doCPC/1973, aplicáveis a todos osprocedimentos e, portanto, também a esses que não mais existem, não têm sua vigência prolongada,aplicando-seimediatamenteasdisposiçõesgeraisdoCPC/2015tambémnosprocessosreferidosnoart.1.046,§1º,mesmoquenãotenhamsidosentenciados(como,p.ex.,asregrassobrecontagemdeprazos,sobre concessão de gratuidade processual, ou sobre o cabimento e formado recurso de agravo, entreoutras).

2.Estruturadonovoprocedimentocomum

Onovoprocedimentocomum,apesardasmodificaçõesqueneleforaminseridas,mantémaestruturado

“velho”procedimentoordinário.Assimcomo seu antecessor, o procedimento comumdonovoCódigopode ser igualmente dividido nas mesmas fases lógicas: fase postulatória, fase ordinatória, faseinstrutória,fasedecisóriaefaserecursal.

Afasepostulatória,inicial,émarcadapelassubsequentesmanifestaçõesdoautoredoréu,praticadasporpetiçõesescritas,talcomonoritoordinário,etendentesaproporcionarocontraditóriosobreasquestõesdefatoededireitoeaestabeleceroslimitesdacontrovérsiasobreocasoconcretotrazidoajuízo.

A fase ordinatória, que, em termos cronológicos, praticamente se sobrepõe à fase postulatória,caracteriza-se pela atividade judicial de ordenar o curso do processo e conduzi-lo conforme se fizernecessárioemfunçãodasmanifestaçõesapresentadaspelaspartes,bemcomodezelarpelavalidadeeregularidade do processo e de seus atos, determinando a eventual correção de vícios sanáveis. Domesmomodo como ocorre com o rito ordinário, a fase ordinatória do novo procedimento comum seencerracomaprolaçãodeumadecisão judicialqualificada,chamadadedecisãodesaneamentoedeorganizaçãodoprocesso(v.art.357)4.Taldecisão,evidentemente,nãoseráproferidaseforocasodeextinçãodoprocesso,comousemjulgamentodomérito,domesmomodocomoocorrenoCPC/1973.

Após,nãosendoocasodeproferir-sejulgamentoantecipado,tambémprevistoecomnovoscontornos,5passa-seà fase instrutória, emque sãocolhidasasprovas, seguindo-seabreve fasedecisória,que seresumeàprolaçãodasentença,contraaqualcaberecurso,abrindo-se,então,afaserecursal.

3.Flexibilizaçãodoprocedimento

Nãosepodedizerqueoprocedimentoordinário,talcomoprevistonoCPC/1973,fosseumprocedimentorígido e invariável. A sequência de postulações iniciais das partes é desenvolvida ao sabor dosacontecimentos, isto é, a depender do teor das manifestações do autor e do réu podem e devem serabertas novas oportunidades de vista ao adversário, para que este aduza suas impugnações ouconsiderações. Ou, conforme ocorra intervenção de terceiros, o rito segue demodo a dar-lhes voz eestabelecer o contraditório adequado sobre as questões que envolvem a entrada desses sujeitos. Ou,ainda,apossibilidadedejulgamentoantecipado,quandodesnecessáriasoutrasprovasacercadosfatosdacausa,tambémafastaaideiadequeoprocedimentoordináriofossealgoengessado.

Essas características são mantidas no procedimento comum do novo Código, que ainda prevê outrasmaneirasmaisdeflexibilizaçãoprocedimental.

Emsetratandodecausasqueadmitamautocomposição,oart.190doCPC/2015autorizaqueaspartes,“antes ou durante o processo”, estipulem modificações no procedimento “para ajustá-lo àsespecificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveresprocessuais”.E,noart.191,éprevistaapossibilidadedeelaboraçãodeum“calendárioparaapráticadosatosprocessuais”,aserfixadoconjuntamentepelaspartesepelojuiz,demodoque,umavezsejaassimacordado,osatosdevemserpraticadosnasdatasestabelecidas,comadispensadeoutrasfuturasintimações(art.191,§2º).

Tais normas rompem com a anterior orientação que afirmava a indisponibilidade do procedimento.SegundoonovoCódigo,asformaslegaisdoprocedimentopodemserafastadas,diantedenormaprivadapactuadaentreaspartes.Comoseadmitequeesseajustesejafeitoantesmesmoqueexistaumprocessoem curso (art. 190), isso abre, especialmente no campo negocial, amplas oportunidades para que os

contratantes insiramregrasdeprocedimentonos instrumentoscontratuais,definindoa formacomoserádesenvolvidoemjuízoeventualfuturoprocessoderivadodaquelaavença.

Pode-sepensar,porexemplo,emestipularumprocedimentocujafasepostulatóriafluaautomaticamente,fixando-seumcertonúmerodemanifestaçõesparacadalado,comumprazoiniciadologoapósooutro,semoutrasintervençõesdoórgãojudicial.Umavezqueoart.228,§2º,doCP/2015determinaajuntadaautomáticadepetiçõesemautoseletrônicos,semintervençãohumana,tarefaqueocomputadorécapazdecumprir instantaneamente, assimque terminadooprazodeumaparteoatoporelapraticadohádeestardisponívelparaconhecimentodoadversário.Aestritaobservânciadessadisposiçãoporpartedosistema informático judicial será um fator importantíssimo para o sucesso dessas disposições sobre adisponibilidadedoprocedimento,especialmenteafixaçãodocalendárioprevistonoart.191.E,talvez,seja esta determinação do art. 228, § 2º, uma das novas regras que verdadeiramente promovam aceleridadeprocessual,eisqueeliminarágrandesfatiasdotempomortodoprocesso.

O § ún. do art. 190 estabelece o poder do juiz de controlar a validade das convenções sobre oprocedimento,masafirmaquesuaaplicaçãosóserá recusada“noscasosdenulidadeoude inserçãoabusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação devulnerabilidade”.Nãoestáclaro,notexto,aquetipodenulidadesaressalvaserefere.Parecerazoávelsuporqueestãoaí incluídos tantoosvícios formaisouosdecorrentesdealgumvíciodevontadequeatinjam o próprio ato jurídico da convenção, como as nulidades decorrentes do conteúdo das regrasconvencionais pactuadas. Afinal, embora o litígio envolva direitos disponíveis, que admitamautocomposição, não soa possível que o procedimento fixado entre as partes possa atentar contraprincípiosbasilaresdodireitoprocessual,comoosdaisonomia,docontraditórioedodevidoprocesso.Assim,haverádeserrecusadopelojuizumprocedimentopactuadoquenitidamenteproporcionemaioresoportunidadesdeatuaçãoaumadaspartesemdetrimentodaoutra,ouque suprimaocontraditórionotodo ou em parte, ou que estabeleça formas que escapem dos contornos de racionalidade ou do dueprocess.

Nãocuidouolegisladordeestabeleceroutrosrequisitosformaisparatalconvenção,mas,poranalogiacomodispostonoart.63,§1º,quedispõesobreaeleiçãode foro,quepodeserentendidacomoumantigonegócio jurídicoprocessual admitidopelo sistema, essas estipulações sobrematériaprocessualdevemconstardeinstrumentoescritoedefinirsobrequaisfuturoslitígioselasseaplicam.

QuestãointeressantepodesurgiracercadessasdisposiçõesduranteoperíododevacatiolegisdonovoCódigo.Serialícitoaoscontratantes,desdelogoeantesmesmodaentradaemvigordanovalei,pactuarregras sobre o procedimento? Tais regras convencionais, evidentemente, não poderiam ser aplicadasantesdavigênciadoCPC/2015,masnãopareceilícitaainclusão,desdelogo,noscontratos,decláusulassobre o procedimento, dotadas de eficácia futura, pois sujeitas à condição suspensiva, isto é, a futuravigênciadeleiqueautorizeaconvençãosobrenormasdeprocedimento.

Algumaflexibilizaçãoquantoàaplicaçãodasformasprocedimentais tambémseobservanoart.327,§2º, do CPC/2015, que autoriza a cumulação de pedidos sujeitos a procedimento comum e especial,hipóteseemqueacausaseguiráumprocedimentoque,naverdade,seráhíbrido,enãocomum,comodizo texto.Afinal, em tal procedimento deverão ser empregadas as“técnicas processuais diferenciadasprevistasnosprocedimentosespeciaisaquesesujeitamumoumaispedidoscumulados”,comodispõeo referido parágrafo.Assim, por exemplo, pode-se cumular umpedido de consignação empagamentocomdeclaraçãodenulidadedecláusulacontratual,bastandoquesejainseridaa“técnicadiferenciada”

aplicávelaoprimeiropedido,qualseja,arealizaçãododepósitodaobrigaçãoconsignadaeosdemaisatosprocessuaisaelerelacionados.Osprocedimentosespeciais,emsuaquasetotalidade,nãosãomaisdoqueumprocedimentocomumemqueforaminseridasalgumaspoucasvariações.Evidentemente,éaesses procedimentos que se aplica a regra aqui analisada. Impossível se mostra tal fusão comprocedimentos cuja especialidade seja maior do que a aplicação de meras variantes sobre oprocedimentocomum,ouqueconduzamatiposespecíficosdetutela,comoporexemploomandadodesegurança,oprocedimentomonitório,ouoinventário.

Outra possibilidade de alteração procedimental que a lei confere às partes encontra-se no art. 456, §único,quepermiteouvirprimeiramenteastestemunhasdoréuedepoisasdoautor,seambasaspartesconcordarem. É de se indagar, porém, quais motivos concretos levariam o réu a abrir mão dessavantagemquealei lheconcedeeaceitartal inversão,demodoqueessaregracorreoriscodesertãopoucoobservávelnapráticaquantoaquelaque, jáconstantedoCPC/1973,6autorizaamodificaçãodopedidooudacausadepedir,apósacitação,medianteconcordânciadoréu.7

4.Procedimentosespeciaisextintoseaaplicaçãodoprocedimentocomum

Quando da entrada em vigor do CPC/1973, foram por ele extintos alguns procedimentos especiaisprevistosnoCódigoanterior,de1939.Omesmoocorreagora.NãoforammantidosnonovoCódigoosprocedimentosespeciaisdedepósito,anulaçãoesubstituiçãodetítulosaoportador,nunciaçãodeobranova,usucapiãodeterrasparticularesevendasacréditocomreservadedomínio.

Aodeixaremde figurarno roldosprocedimentos especiais, as causasqueversamsobre tais tiposdepedidosimplesmentepassamaseguiroprocedimentocomum.

De certomodo, a sequência de reformas a que oCPC/1973 foi submetido nas últimas duas décadas,especialmente a generalização da possibilidade de concessão de tutelas antecipadas no corpo doprocedimento comum, tornoumuito tênues as diferenças entre o procedimento comum e os especiais.Muitosdosprocedimentosespeciaisnãocontêmmaisdoqueumaspoucasvariantesaplicadassobreaestrutura do rito comum, especialmente a possibilidade de concessão demedidas liminares.Antes dainstituiçãodaantecipaçãodetutela,pelaLeinº8.952/1994,nãohaviaqualquerpossibilidadedepostularumatutelanoinícioouaolongodoprocedimentocomum.Oprocessodeconhecimentosomentepreviamedidasdeurgênciaemalgunsdosprocedimentosespeciais.Assim,diantedacrescenteflexibilização,que já há anos vem sendo dada ao procedimento comum, como mencionado anteriormente, é de seduvidaratémesmodautilidadedamanutençãodealgunsdosprocedimentosespeciaisquerestaram,cujafuturaextinçãoaindahaverádeocorrer.

Asnecessidadesdeformasprocedimentais“especiais”,quesedizemmais“adequadas”amuitosdessestipos de litígio, não vão além da prática de um ou outro ato, ou da observância de uma ou outraformalidadeadicional,quebempodemserintroduzidosnoprocedimentocomum.Assimsefez,nonovoCódigo,paraospedidosdeusucapião,agorasujeitosaoritocomum.Estabelece,porém,oart.246,§3º,que, nessas ações, a citação dos confinantes do imóvel se faz necessária, exceto quandoversar sobreunidadeautônomadeprédioemcondomínio,eoart.259determinaaexpediçãodeeditaisparaciênciade terceiros, regra essa que também se aplica ao pedido de recuperação e substituição de título aoportador,outroprocedimentoespecialextintopelanovalei.

As disposições do CPC/1973 continuarão aplicáveis a esses procedimentos especiais extintos, que

tenham sido ajuizados e não estejam sentenciados até a entrada em vigor do novo Código, conformeestabeleceoart.1.046,§1º.NãosãoafetadospelonovoCódigoosprocedimentosespeciaisprevistosemoutrasleis,queapenaspassamasersupletivamenteregidospelassuasdisposições,segundoo§2ºdomesmoartigo.

CapítuloII-Proposituradaação

1.Competência

1.1.Limitesdajurisdiçãonacional(aanteschamada“competênciainternacional”)

Uma das primeiras questões processuais a serem consideradas quando do ajuizamento da ação é aaferiçãodoórgãojudicialcompetenteparaacausa.E,talvez,sejatambémumadasmaiscomplexas,quenão raramente gera tumulto processual e atraso significativo no processamento e julgamento final dacausa.

Pode-seafirmarquepoucasforamasmodificaçõestrazidaspelonovoCPCsobreessetema.

Antesdeseverificarqualórgãojudicialnacionalécompetenteparacausa,éprecisoaferirseacausapodeserjulgadaemnossopaís.OnovoCPCsubstituiuaexpressão“competênciainternacional”,nomedo capítulo que abrangia os arts. 88 a 90 do CPC/1973, por “limites da jurisdição nacional”,designaçãoestaquesemostramaisprecisa.

Tais regras, agora posicionadas entre os arts. 21 a 25, estabelecem se a causa se submete, ou não, àjurisdição nacional. Em caso negativo, não se atribui “competência” a órgão algum, cabendo aointeressadoencontrarqualoutropaísnomundoaceita,segundosuasprópriasleis,processarejulgaressalide.Assim,oquesedefinenessasregraséseoEstadobrasileiroexerceounãopodersobreacausaquesedesejaajuizar.Daí,maiscorretaaexpressãoutilizadanonovoCPC,nomeandootemacomo“limitesdajurisdiçãonacional”.

Ashipótesesdecompetênciaconcorrenteprevistasnoart.88doCPC/1973foramrepetidasnoart.21doCPC/2015 e, com poucos acréscimos de texto, as situações de competência exclusiva da autoridadejudiciáriabrasileira,antesencontradasnoart.89,doCPC/1973,sãotambémreproduzidasnoart.23danovalei.

Resta claro, pelo novo texto legal, que a “partilha de bens, situados no Brasil” é litígio a serexclusivamente afeto à jurisdição nacional, tanto nas partilhas decorrentes da sucessão causa mortiscomotambémnaquelasdecorrentesde“divórcio,separaçãooudissoluçãodeuniãoestável”docasal,como foi expressamente acrescentado no inciso III do art. 23. Foi infeliz a escolha da expressão“sucessãohereditária”,constantedoincisoIIdoart.23,eisque,seomesmoincisotambémincluiua“confirmação de testamento particular”, a regra parece ser aplicável tanto nos casos de sucessãohereditária como testamentária. Por “sucessão hereditária”, o CPC/2015 deve ter desejado dizersucessãocausamortis,excluindo-sedacompetênciaexclusivadaautoridadebrasileiraoutrasformasdepartilhaesucessão,como,porexemplo,adecorrentededissoluçãosocietáriaoudeoutrosatosnegociaispraticadosentrevivos.

No art. 22, outras causas, não previstas no CPC/1973, são incluídas como hipóteses de competênciaconcorrenteda autoridade judiciáriabrasileira.Não se compreendeporqueo legisladornão reuniu asdisposições dos arts. 21 e 22 num único rol, eis que ambos tratam indistintamente de hipóteses decompetênciaconcorrente.

Assim, segundodispõeo inciso Idoart. 22, tambémpodemser ajuizadasperanteo juizbrasileiro asaçõesdealimentos,se:“a)ocredortiverdomicílioouresidêncianoBrasil”,ou,“b)oréumantivervínculos noBrasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção debenefícios econômicos”. A hipótese da letra “b” aplica-se quando nem o autor nem o réu foremresidentesoudomiciliadosnopaís(pois,paracasosassim,jásubmetidosàjurisdiçãonacionalporforçadasdisposiçõesanteriores,aexistênciadessaregraseriadesnecessária),bastandoqueaquiexistamosmeiosparaasseguraropagamentodapensãoalimentíciademandadaemjuízo.

Pelo inciso II desse mesmo art. 22, incluiu-se no rol as ações decorrentes de relações de consumo,quando o consumidor tiver domicílio ou residência noBrasil. No contexto em que a regra se insere,tornou-secompetenteojuizbrasileiroparadecidiraçõesmovidasporpessoaresidenteoudomiciliadanoBrasil que travou relação de consumo no estrangeiro, sendo também estrangeiro o réu fornecedor.Fosse a operação aqui ocorrida, ou estivesse o réu situado no Brasil, seja ele o fornecedor ou oconsumidor,asregrasdoart.21(comoasdoanteriorart.88doCPC/1973)jáfariamacausasesubmeteràjurisdiçãonacional.Anovaregradecompetênciaparecetersidoinspiradapelanovarealidadedeummundoglobalizado,emque,especialmentepormeiodaInternet,épossívelconsumirprodutoseserviçosoferecidosemqualquerlugardoplaneta.Note-se,porém,que,noafãdeprotegeroconsumidor,criou-seregradecompetênciaquecarregaumaabrangênciaexageradamenteampla.Naletrafriadonovotexto,não se exige sequer a contemporaneidade entre o domicílio no Brasil e a relação de consumocontrovertida.Portanto,domodocomoo incisoIIseencontraredigido,umestrangeiroquepassasseamorar noBrasil poderia aqui demandar a respeito das relações de consumode que foi parte, quandoainda residia no seu país de origem, o que soa absurdo. No mais, aguardemos sua aplicação, paraconstatar diante dos casos concretos se tal disposição será capaz proporcionar resultados úteis eeficazes.

No terceiro e último inciso, define-se a possibilidade de submissão, expressa ou tácita, à jurisdiçãonacional. É curioso que o legislador exija a forma escrita como requisito para a modificação decompetênciainternapelaeleiçãodeforo(art.63,§1º,doCPC/2015),mas,nestecaso,alémdenãosereferiràformaescrita,aindaadmitaqueajurisdiçãonacionalpossaserconsideradaaceitapelaspartesde forma apenas tácita. Por coerência, tal eleição de jurisdição internacional haveria de ser admitidasomente por escrito.Note-se que a situação inversa, isto é, a exclusão da competência da autoridadebrasileiraporforçadeeleiçãodeforoestrangeiro,deveseguirodispostonoart.63eseusparágrafos,conforme reza o art. 25 e seu § 2º, sendo, portanto, exigida a forma escrita, com alusão expressa adeterminadonegóciojurídico.

A inclusão, neste inciso, do vocábulo “tacitamente”, ainda parece capaz de produzir consequênciasaparentementeindesejáveis.Estariaolegisladorsereferindoàaceitaçãotácitaporpartedoréu,quenãoimpugnaoajuizamentodacausanoBrasil,talcomoocorrecomaprorrogaçãodacompetêncianoscasosde incompetência relativa não impugnada?A aceitar-se essa possibilidade, na prática qualquer causapoderáserajuizadanoBrasilenãopoderiaomagistradoindeferi-lasemantescitaroréu,aquemseriadadoapresentararecusaemcontestação.Talextensãodaautoridadejudiciáriabrasileirasoaexagerada,maséoque,àprimeiravista,parecederivardaliteralidadedotexto,aoadmitir-seaaceitaçãotácita,pelaspartes,dajurisdiçãonacional.

Alémdisso,deve-seconsideraraoportunidadedesubmeteraoJudiciárionacionalcausascujaexecuçãopossaserpraticamentedificultosaoumesmovedadapelalegislaçãodopaísdeorigem.NãosoalógicoquearegradoincisoIIIpossaimporaopaísaapreciaçãodequaisquercausas,nemsecompreendeessa

generosidade do legislador em oferecer os já sobrecarregados serviços judiciários brasileiros parajulgarlitígiosquenãoapresentemnenhumelementodeconexãocomopaís.

1.2.Competênciaterritorial

Noquetocaàcompetênciainterna,talcomonoregimeanterior,prevêonovoCódigoadistribuiçãodecompetência territorial, sendo as competências de justiça ou de juízo objeto de disposiçõesconstitucionaisoudasleisdeorganizaçãojudiciária.

Aregrageraldecompetênciaterritorial,quedefinecomocompetenteodomicíliodoréu,émantidanoCPC/2015, encontrando-se prevista no art. 46. Também se repetem, nos parágrafos deste artigo, osmesmosdesdobramentosdaregrageralfixadosnoCPC/1973,sendoacrescentadoum§5º,quedefineacompetênciadodomicíliodoexecutadoparaaexecuçãofiscal.

Entre as regras especiais de competência territorial, encontramos algumas ligeiras novidades, abaixoreferidas.

Aaçãoparaimpugnarouanularapartilhaextrajudicialtambémsegueoforodasucessão,agoraprevistonoart.48,ouseja,deveserajuizadanoúltimodomicíliodofalecido.

Asdisposiçõessubsidiárias,aplicáveisparaocasodeofalecidonãoterdomicíliocerto,tornam-semaisclaraseprecisasnonovoCódigo.Nãotendodomicíliocerto,sãocompetentes,nestaordem:“I–oforodesituaçãodosbensimóveis”,diferentementedoquediziaoCPC/1973,quenãofaziadistinçãoentrealocalizaçãodebensmóveiseimóveisparafinsdefixaçãodacompetência;“II–havendobensimóveisemforosdiferentes,qualquerdestes”,enãomaisnolugardoóbito,comoprevistonoCPC/1973;“III–nãohavendobensimóveis,oforodolocaldequalquerdosbensdoespólio”.Sendoassim,olocaldoóbito,previsto subsidiariamentenoart.96,§ún., II,doCPC/1973, jánãoé relevantepara fixaçãodacompetênciaparaasaçõesrelativasàsucessãocausamortis.

Outra regra de competência territorial modificada pelo novo CPC é a que diz respeito às ações deseparação,divórcioeanulaçãodecasamento,agoraprevistanoart.53,I,sendoacrescentadasàhipóteselegaltambémasaçõesdereconhecimentoedissoluçãodeuniãoestável.Emnomedaigualdadeentreossexos, o legislador eliminou o privilégio de foro da mulher, estabelecendo como competente, emprimeiro lugar, o foro do domicílio do guardião de filho incapaz. A regra anterior inseria-se em umcontextopatriarcal–porcertoaindanãototalmenteeliminadoemnossoextensoecontrastadopaís–emqueamulhercasadadesempenhavaasfunçõesdemãeedonadecasaenormalmenteseviaemsituaçãodedificuldadeeconômicacomaseparação,ajustificaressasuaproteçãopormeiodoprivilégiodeforo.Emnãohavendofilhoincapaz,estabeleceanovaregraquecompetenteéoforodoúltimodomicíliodocasal,desdequealgumdoscônjugesaindapermaneçanalocalidade.Decertomodo,paraoscasaisqueaindasigamaquelemodelopatriarcal,amulherquerestarcomosfilhosincapazes,oufordeixadanolarcomum,situaçõesbastantecorriqueirasnasseparaçõesquandoelaseencontraemposiçãodesubmissãoeconômica,oforocompetenteaindaseráoseu.Nãoocorrendonenhumadasduashipóteses,aletra“c”desseincisoremeteparaaregrageraldecompetência,devendoaaçãoserajuizadanoforododomicíliodoréu,eliminando-se,portanto,oprivilégiodeforo.

Duasnovasregrasdecompetênciaterritorialespecialforamincluídasnasletras“e”e“f”doincisoIII,domesmoart.53.Pelaprimeira, instituiu-seoforoespecialparao idoso,paracausaqueversesobre

direitoprevistonoseuEstatuto.Nestecaso,competenteéoforodesuaresidência.Aoutraregradefineacompetência da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por atopraticadoemrazãodoofício.

Porúltimo,modificou-sea regravoltadaparaaaçãode reparaçãodedanodecorrentedeacidentedeveículos,paraincluir-seaexpressão“inclusiveaeronaves”,demodoquetambémasaçõescompedidodeindenizaçãoporacidentesaéreosobservemacompetênciadolugardodomiciliodoautorouolocaldofato(art.53,V,doCPC/2015).

2.Instrumentodemandato

Aopostularemjuízo,cabeaoadvogadoapresentaro instrumentodemandato,excetuadasassituaçõesprevistasnoatualart.104,semelhantesàsdoart.37doCódigode1973.

Talcomonaleianterior,segundooart.105donovoCódigoaprocuraçãogeralparaoforoébastanteparaoutorgaraoadvogadopoderesparaapráticadetodososatosdoprocesso,excetuadosaquelesparaosquaisaleiexigepoderesespeciais.Entreosatosqueexigemoutorgaexpressadepoderesespeciais,incluiu-seaassinaturadedeclaraçãodehipossuficiênciaeconômica, repetindo-seosdemaisque já seencontravamnoart.38doCPC/1973.Assim,paraformularopedidodegratuidadeprocessualnapetiçãoinicial,nacontestação,ouemqualqueroutrapetição,ouaprópriaparteassinaapeçaconjuntamente,ouoadvogadoqueasubscrevehaverádeterpoderesespeciaisdefinidosexpressamentenaprocuração.

3.Petiçãoinicial

Osrequisitosdapetiçãoinicial,antesprevistosnoart.282doCPC/1973,agoraseencontramnoart.319danovaleiprocessual.

Noquetangeàqualificaçãodaspartes,oincisoIIdesteartigopassouaexigiraindicaçãodeeventualexistênciadeuniãoestável,onúmerodeinscriçãonoCPFouCNPJ,conformesetratedepessoanaturaloujurídica,bemcomooendereçoeletrônico.

AmençãoaonúmerodoCPFouCNPJjávinhasendoexigidaporalgumasCortesemnossopaísdesdehámuitos anos, mesmo inexistindo qualquer determinação legal nesse sentido. Esses números, que nãopassam de um índice no cadastro de contribuintes federais, sem que qualquer lei lhes tenha atribuídofunçãodeidentificaçãocivil,hátemposvêmsendoirregularmentetratados,emdiferentescenários,comose fossem documentos de identidade. Com o avanço da informatização processual, os sistemasinformáticosdos tribunaispassaramasevalerdessesnúmeroscomoumdadocadastral indexador,umverdadeironúmeroúnicodeidentificaçãocivil.Agora,àpartequalquerjuízodevalorsobreanovidade,aomenosaleipassouaamparartaisexigências.

Duranteotrâmitelegislativo,chegouaconstardotextodoprojetoainfelizideiadesefazerintimaçõespelocorreioeletrônico,discussãoquetambémhaviasidoventiladanoprojetoqueresultounaanteriorLei nº 11.419/2006, que regula a informatização processual. Essa má ideia de efetuar citações pelocorreio eletrônico, felizmente, não restou aprovadano texto final denenhumadasduas leis, o que foimuitosábiodapartedolegislador,eisquetaltecnologianãoésuficientementeseguraparaessefimeoatocitatórionãopodeserdetalmodobanalizado.Retiradadotextofinalqualquerreferênciaàintimaçãopore-mail,aparentementeesqueceu-seolegisladorderemoveressaexigênciadapetiçãoinicial,como

se fez emoutros artigosque continhamdeterminação correlata.Dessemodo, a indicaçãodo endereçoeletrônico do autor e do réu constituem-se exigências menores, cuja inobservância não há de gerarqualquerconsequência.Mesmoporqueninguémpodeserobrigadoateremanterumendereçoeletrônico,e soa absurdo que um mero serviço, voltado para a comodidade do usuário, e que é contratado eencerrado, ora aqui ora ali, com variados prestadores de serviços, ou é fornecido por força de fatosconjunturais, como sua relação de emprego, associação ou participação em algum grupo social ouprofissional,possasercomparadoaumendereçofísicoondeapartepossaoudevaserencontrada,fatoestequecostumaserrazoavelmenteestáveleduradouro,aomenosparaamaioriadaspessoas.Deveservisto,pois,comouma indicaçãoopcional,quepoderáservirpara facilitarumeventualcontatocomaparte, quando isso se fizer necessário, mas não é de se esperar que se possa extrair daí outrasconsequênciasjurídicasouprocessuais.

Alémdisso, os §§1º a 3º do art. 319 abrandam sobremaneira as exigências de seu inciso II, o que ébastante consentâneo com a realidade prática, eis que nem sempre é sabida pelo autor a qualificaçãocompletadoréu.Dessemodo,oautorpoderequererarealizaçãodediligências tendentesacompletartais informações(§1º),algoque jáeracostumeiramentedeferidopelos juízes,diantedessassituaçõesexcepcionais. E, sendo possível a citação do réu, a falta dessas informações não pode acarretar oindeferimentoda inicial,conformedispõeo§2º,omesmoseaplicandoquandoasuapréviaobtençãotornarimpossívelouexcessivamenteonerosooacessoàjustiça.Oqueimporta,evidentemente,équeaspartespossamseridentificadaseindividuadas.

Dispensou-se o requerimento de citação do réu, previsto no inciso VII, do art. 282, da lei anterior,exigênciaquenãoérepetidanonovoCPC.Defato,tal“requisito”nãopassavademeraformalidadesemsentido, pois é claro que o réu haverá de ser sempre citado para que seja completada a formação darelaçãoprocessual,ouparaquesejaobservadooprincípiodocontraditório.Era,portanto,umexcessode formalismo considerar necessária a inclusão de uma frase-padrão na petição inicial, em que esseindispensávelchamamentodoréuprecisasseserexpressamentemencionadoourequerido.

O mesmo formalismo ainda restou, porém, na exigência de indicação de provas na petição inicial,constantedoincisoVIdoart.319,oquetambémserepeteparaacontestação,conformeditonoart.336,ambosdoCPC/2015.Enquantonãoesgotadaafasepostulatória,aspartesaindanãodefiniramoslimitesdo litígio, não restandonítidos a elasquais sãoos fatos controvertidosquedemandarãoprova.Daíorequisitoter-setornado,naprática,umafrasefeita,emqueaspartessolicitam,indistintamenteeemtodasascausas,aproduçãodetodososmeiosdeprovapossíveiseimagináveis.Emtodocaso,seanovaleicontinua a exigir tal referência, reitere-se, então,ad nauseam, nas iniciais e contestações, a tal frasefeita.Continuacorretoeoportuno,assim,queojuizsoliciteaespecificaçãodeprovasaofinaldafasepostulatória,momento em que os contornos do litígio estão definidos e as partes podem apontar comprecisão quais provas realmente pretendem produzir, ou afirmar que o feito não exige a produção deoutrasprovasesolicitarjulgamentoantecipado.

Pede,ainda,oincisoVIIdoart.319,queoautorexpressesuaopçãopelarealizaçãoounãodeaudiênciade conciliaçãooudemediação.Parece claroque issonão épropriamenteum requisitode aptidãodapeça vestibular, mas tão somente uma opção do autor de dispensar essa audiência prevista na lei.Omitindo-se a inicial quanto a esse item, é de se presumir que ele não optou pela dispensa, não seopondoaqueofeitosigaotrâmitelegalemsuainteireza.Quantoàaudiênciaemsiesuapossívelnãorealização,otemaserátratadomaisadiante.8

Comofimdoritosumário,desaparecequalquerexigênciaquantoàapresentaçãodoroldetestemunhasnapetiçãoinicial.9

Por último, a petição inicial deverá ser instruída comos documentos indispensáveis à propositura daação,conformedispõeoatualart.320,quereiteraaregradoart.283doCPC/1973.

4.Valordacausa

O incisoV do art. 319mantém o valor da causa como requisito da petição inicial e as regras a seurespeito encontram-se agora previstas nos artigos 291 a 293, com algumas ligeiras modificações emrelaçãoaodispostonoCPC/1973.

A orientação geral que deve prevalecer, no tocante à fixação do valor da causa, é que este deverepresentar, domodomais fiel possível, o significado econômicodopedido formuladopelo autor, aomenos tanto quanto se possa apurar no momento do ajuizamento. É notável que as modificaçõesobservadasacercadessetematêmoclaroescopodeatenderomaispossívelaessaorientaçãogeral.

Asregrassobreafixaçãodovalordacausa,constantesdoart.292,doCPC/2015,nãosãoexaustivas,assim como as que estavam no art. 259 da lei anterior. O artigo enumera situações suficientes paraabrangeramaiorpartedoscasosconcretosemqueacausatenhaconteúdoeconômico.Quandonãootem,ovalordadoacausaserámeramenteestimativo,nãosendoobjetodequalquercritériolegal.

Masésemprepossívelquesurjamsituaçõespráticasquenãoseencaixemperfeitamentenashipótesesdescritasnoroldoart.292,casosemqueovaloraseratribuídoàcausadeveserapuradocasoacaso,segundo a orientação geral acima referida. Nesse sentido, a regra do § 3º, a princípio destinada apacificaradúvidasobreapossibilidade,ounão,decorreçãodessevalorpordeterminaçãoexofficiodojuiz,serve tambémcomoumcritériosupletivoparaafixaçãodovalor,aoestabelecerqueo juizpodeordenarsuaalteração,quandoovaloratribuídopeloautornãocorresponder“aoconteúdopatrimonialem discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor”. Essa é precisamente a orientaçãogeralquedevebalizaraatribuiçãoinicialdovalordacausa,equeagoraapareceinscritanalei.

Os incisos do art. 292 fixam critérios objetivos para o valor da causa, representando uma estimativalegalparaoconteúdopatrimonialalienvolvido.Nafaltaderegraexpressa,esseconteúdopatrimonialeoscritériosparasuaobtençãodevemseraferidosedecididoscasoacaso.

NoincisoIdoart.292,aplicávelaospedidoscondenatóriosdeobrigaçãoemdinheiro,foiacrescentadaa expressão“monetariamente corrigida”. Deixa claro o novo CPC que o valor da causa é o valorpresentedaobrigaçãopostulada,contemporâneoàdatadoajuizamento,comtodososseusacréscimos,taiscomo,reiterandooCPC/1973,osjuroseoutraspenalidadespedidaspeloautor.

O inciso II, que rege o valor da causa para as ações em que se discute a existência, validade,cumprimento, modificação ou rescisão do ato jurídico, incluiu no rol também os pedidos para a suaresoluçãoouresilição.Aproximando-semaisdaorientaçãogeralacimamencionada,onovo textodizqueovalordacausa,nessescasos,é“ovalordoatoouodesuapartecontrovertida”.Porvezes,oquestionamentotrazidoajuízonãoatingetodoovaloreconômicodoatojurídicocontrovertido;assim,aparte final acrescentada ao texto deixa claro que o valor da causa corresponderá apenas ao conteúdoeconômicoqueestáemjogo,aindaqueovalortotaldocontrato,porexemplo,sejamaior.Tome-secomo

exemplo processo que verse sobre a validade ou não de uma determinada disposição contratual, cujaaplicação fosse capaz de aumentar ou reduzir o valor das obrigações contratadas. O valor da causa,portanto, seria apenas adiferençadecorrenteda aplicação,ounão,da cláusula controvertida, enãoovalortotaldocontrato.

OutranovidadeéobservadanoincisoIVdoart.292,acercadovalordacausaparaaçõesdedivisão,demarcação e reivindicação.NoCPC/1973, essa situação era prevista no incisoVII do art. 259, quedavaàcausaovalordoimóvelparafinsdelançamentodeimpostossobreapropriedadeurbanaourural.Embora taisvalores fiscais tenhamsido,nopassadoenomaisdasvezes,bastante inferioresaovalorreal demercado do bem, a velha regra trazia como vantagem o fato de constarem de um documentopúblico e oficial, a permitir desde logo e sem grande dificuldade atribuir-se o valor a essas causasrelativasabensimóveis.Comaaparenteintençãodeatenderàquelaorientaçãogeral,onovotextodizqueovalordacausapassaaser“ovalordeavaliaçãodaáreaoudobemobjetodopedido”.Aregrasemostra inoportuna, pois cria uma necessidade extra quando da propositura dessas ações, impondo umônusdesnecessárioaoautor.Poroutrolado,levadaasériotalexigência,édeseindagarcomopoderáserfeitaumaavaliação,comapuroeprecisão,sobreimóvelreivindicandoqueseencontraocupadopeloréu,comquemoautorprovavelmentenãoestáamanterrelaçõesmuitoamistosas...Parececlaroqueumprofissionalresponsávelnãosepermitiráassinarumlaudoavaliatórionessascondições;restaráaoautor,aseexigirtamanhorigorformalnafixaçãodovalor,valer-sedosquenãosãotãoresponsáveis...

Ademais, algunsMunicípios, interessados no aumento de arrecadação, têm nos últimos anos elevadosignificativamente os valores fiscais dos imóveis urbanos, e a realidade que se observa é que suadefasagemcomopreçodemercadotornou-sealgosuperadoouirrelevante,mesmoporqueomercadoésujeitoaoscilaçõespuramenteconjunturaisenemsempreduradouras.Teriasidomelhordeixarqueessemovimento das prefeituras cuidasse de tornar o valor fiscal mais próximo do real, do que criardificuldades adicionais ao autor da ação, a lhe embaraçar o acesso à justiça e a tornardesnecessariamentecustosooajuizamentodaação,comaexigênciaderealizaçãodeperíciasquetalveznemsequerprecisariamser feitasparadecidir opedido.Éde se esperarque impereobomsensonainterpretação dessa regra e da viabilidade de sua aplicação ao caso concreto levado a juízo,dispensando-seoautordessaexigência,aomenosquandosemostrardesproporcionalmentecara,oudedifíciloudemoradaexecução.Amelhorsoluçãoparaanovaregraépermitiraoautoruma“avaliação”estimativa,declaradaporelepróprionapetiçãoinicial;sehouvercontrovérsiaarespeito,semprecaberáaproduçãodeprovaposterior.

Além desses pequenos ajustes em três das regras presentes no CPC/1973, um novo inciso foiacrescentado no rol. Figura no inciso V a determinação de que o valor da causa seja, “na açãoindenizatória, inclusive a fundada em danomoral, o valor pretendido”. A regra, por um lado, nãoparece ser das mais felizes, pois não há motivo para tratar em incisos diferentes os pedidos decondenação em dinheiro, quaisquer que sejam os seus fundamentos. Segundo aorientação geral, quenessescasosdecondenaçãoemdinheiroencontraasmenoresdificuldadesdeaplicaçãoeapuraçãodovalor,ovalordacausadeveser,obviamente,ovaloremdinheiroquesepede.Fariasentidocriarregrasdistintas se desejasse o legislador que o valor da causa para uma ou outra cobrança seguisse algumcritériodiferenciado,masessenãopareceserocasodonovodispositivooracomentado.Oqueseria“ovalorpretendido”,senãoovalorpresentedaindenização,comtodososseusacréscimos,consoantejáestabelecidonoincisoIdomesmoartigo?Paradizertalcoisa,édesnecessáriaacriaçãodanovaregra.

Oqueparecemotivaressaregraéodesejodolegisladordeafirmarquetambémparaospedidosdedano

moralovalordacausadeveexprimirovalorpretendido.Mas,nestecaso,qualé,emmoeda,ovalorpretendido?Ficaaimpressãodequeolegisladorconfundiuovalordacausacomaexigênciadeliquidezdo pedido. Como apontado adiante,10 o CPC/2015 foi mais incisivo ao dispor sobre o requisito dedeterminaçãodopedidoe,aoqueparece,estaregraémaisumreflexodissodoquedisposiçãovoltadaparaaestimaçãodovalordacausa,eisque,comodito,nãosedistinguedocritériocontidonoincisoIdomesmoartigo.

Noutras palavras, esse texto quer sugerir, na verdade, que o pedido de dano moral seja igualmentelíquido,masolegislador,confundindoosconceitos,inseriuaregraentreasdisposiçõessobreafixaçãodovalorprocessualdacausa,enãosobreadeterminaçãodopedido.Assim,umavezexpressoemmoedaovalor dodanomoral pleiteado, exigência relativa à liquidezdopedido, o valor da causa é ovalorpretendido.

5.Pedido

Requisitomais importante da petição inicial, o pedido é, assim comonoCPC/1973, objeto deSeçãoprópria,queseestendeentreosarts.322a329.

Poucassãoasmodificaçõesintroduzidasacercadopedido,todasgirandoemtornodesuadeterminaçãoedesuainterpretação.Quantoaomais,sãoreiteradosospreceitosdoCPC/1973.

Segundooart.286doCPC/1973,opedidodeveser“certooudeterminado”,expressãoqueadoutrinacorrigia para “certo e determinado”. Afinal, essas não eram exigências alternativas nem tão poucosinônimas,devendoser,ambas,atendidaspeloautor.ApossívelconfusãofoieliminadapeloCPC/2015,quepassouatratardecadaumdessesrequisitosemartigosdiferentes.

Assim,oart.322doCPC/2015afirmaque“opedidodevesercerto”.Issosignificaqueopedidodeveser expresso, explícito, induvidoso, não pode pairar qualquer dúvida sobre o que pede o autor.Consequênciadissoéquenãoseconsideraintegrantedopedidoaquiloquedelenãoconstarcomclareza.

Nos parágrafos, porém, especialmente no § 2º, o CPC/2015 faz afirmações contraditórias, cujainterpretaçãopoderágerarsériosproblemasparaambasaspartes.

Corolário inseparável da exigência de certeza do pedido é a sua interpretação restritiva, que eraafirmadapeloart.293daleianterior.Omesmoartigoexcepcionavaosjuroslegaise,porforçadeoutrasdisposiçõeslegais,noCódigoouforadele,adoutrinaejurisprudêncianãohesitavamemincluirnoroldas exceções à interpretação restritiva também a correção monetária, eis que prevista na Lei nº6.899/1981,eascustasehonoráriosdeadvogado,impostasemoutrosartigosdoCódigo.O§1ºdoart.322doCPC/2015,aodizerque“compreendem-senoprincipalosjuroslegais,acorreçãomonetáriaeasverbasdesucumbência,inclusiveoshonoráriosadvocatícios”,consolidanomesmodispositivoessaorientaçãoanterior,demodoqueessasrubricasmencionadasnotextosãoconsideradasparteintegrantedo pedido, ainda que não expressamente referidas na petição inicial.Até aqui, nenhuma novidade emrelaçãoaoregimelegalanterior.

No § 2º, entretanto, há uma afirmação incongruente com o sistema, com as garantias do réu e com opróprioteordoquelheantecedenomesmoartigo.NãoreiterouoCPC/2015adisposiçãoqueafirmavaque“ospedidossão interpretadosrestritivamente” (art.293,doCPC/1973),preferindodizerque“a

interpretaçãodopedidoconsideraráoconjuntodapostulaçãoeobservaráoprincípiodaboa-fé”.

Há,aolongodonovoCPC,umadesejávelesaudávelorientaçãonosentidodeprestigiar-seasoluçãodademanda, esforçando-se a lei em tentar superar as questiúnculas processuais que possam obstar ouretardarojulgamentodomérito.Nessesentido,sãováriasasdisposiçõestendentesapermitiracorreçãodevíciosedefeitos,paraqueoprocessopossaser“salvo”esigaadianteatéo julgamentodemérito.Todavia,opedidoe suanecessáriacerteza–afirmadanocaputdessemesmoartigo–nãopodemsertratadossobessamesmaótica“salvacionista”.Seoautornãoforcapazdeapresentarpedidoinduvidoso,bem formulado, que não comporte entendimentos diferentes sobreoque precisamente veio buscar emjuízo,ninguémmais,anãoserelemesmo,podeoudeveserprejudicadopelosentidoenganosodesuasprópriaspalavras.

Afinal,antesdemaisnada,umpedidocertojánãocomportainterpretações.Eleéoqueé.Oquesepedeéoqueestáescrito.Umpedidoquecomporteinterpretações,quepossatersentidoouextensãodiversosaosolhosdediferentesleitores,énaverdadeumpedidoduvidoso.Ocritériodainterpretaçãorestritiva,expressonoCPC/1973, já erauma formade“salvar”umpedidoduvidosodaextinção, adotando-seaúnicasoluçãoquenãoprejudicaodemandado:restringirsuaextensão.Istoé,seumtextoéambíguo,apontodepodersignificartantoqueoautorquerX,comoquequerX+Y,conformeapercepçãodoleitor,isso pode prejudicar a defesa, caso esta, na sua interpretação, só tenha percebido o pedido deX. E,assim,oréusedefendeusomentedeX.ApresentouprovassomenteparafatosqueinfluíamnopedidoX.Aregrado§2º,aoafirmarque“a interpretaçãodopedidoconsideraráoconjuntodapostulaçãoeobservaráoprincípiodaboa-fé”, é, portanto, umverdadeiro atentado às garantias do réu. Invocar aaplicação do princípio da boa-fé não explica coisa alguma, a menos que se dissesse que a outraalternativa–agirdemá-fé–fosseumaopçãopossíveleaceitável.Boa-fééalgosempreesperado.Eoqueseriao“conjuntodapostulação”?Seoautor,emalgumparágrafoesparsoao longodeseu texto,sugeriuterdireitoaqualquercoisamais,masnãoapediuexpressamente,estariaojuizautorizado,porabsurdo,ajulgaressesupostopedido,apartirdo“conjuntodapostulação”?Teriaoréusedefendidosuficientementedisso?Ou,mais, seráqueopróprioautor tema intençãode formular talpedidonessemomento e vê-lo julgado? E se, mesmo não sendo intenção do autor formulá-lo, o juiz incluí-lo noconjunto da postulação e julgá-lo improcedente? Ainda que o quisesse, por que não o formulouexpressamente,selhecabiaaapresentaçãodepedidocerto?Ese,querendo,nãooformulou,sendoseuoerro,porqueflertarcomaviolaçãodegarantiasdoréu,seseriamuitíssimomaisóbvio,justoecoerentecomtodososprincípiosdedireitoqueoprejudicadoporsuasfalhasouomissõesdevaserelepróprio,oautor?

Feitas essas considerações, vê-se que a nova regra não resolve nenhum problema importante doprocesso,maspodecriaroutros,especialmentedandomargemaoarbítriojudicial.

Sobumângulomaisprático,oquerestaconsiderar?

Emprimeirolugar,anovidadenãoafastaasempresegurarecomendação,quesefazaopatronodoautor,nosentidodequeopedidosejaredigidocomomaiorcuidadopossível,sejalidoerelidoquantasvezesnecessário,depurando-seeventuaisambiguidadesdetexto.Nãoconvém,nemmesmoparaoautor,contarcomumapossívelinterpretaçãoposteriorsobreoqueestásendopleiteado,poisnadagarantequeessamargemdeflexibilizaçãosugeridapelolegislador–seconsideradaconstitucional,coisaqueduvidamos,pois atenta contra o princípiodocontraditório – poderá levar a resultado que coincida precisamentecomobemdavidaqueeleveiobuscaremjuízo.

Emsegundolugar,dopontodevistadoréu,talvezsejaocasode,diantedaconstataçãodeambiguidadesderedaçãoconstantesdapetiçãoinicial,apontá-lasnadefesae,seforocaso,tentarapresentardefesasobretodosospossíveissentidosdopedido.

Emterceirolugar,aojuiz,recomenda-sequeinterpreteospedidosrestritivamente,emregra,poiséessaa interpretaçãoquemaisatendeaoprincípiodocontraditórioe,decertomodo,éaquemaisseafinacomaboa-fépregadanotextolegal.Somentepodeserdiferentediantedesituação–certamentepoucofrequente–emque,apesardotextoduvidosocomqueopedidoseapresenta,ficarclaroqueaaplicaçãodessainterpretaçãoextensivafaçacomqueopedidocorrespondaàquiloqueoautorquerpedir,equeoréu o compreendeu e de tudo se defendeu de modo completo. Não observadas essas premissas, ouveremosojuizagirdeofício,julgandoaquiloqueoautornãodesejoupedir,ouprejuízosirreparáveisàdefesa,oquesoainadmissível.

Quanto à determinação do pedido, essa vem mencionada no art. 324, constando do § 1º as mesmasressalvasdoCPC/1973,queadmitempedidogenérico.Arigor,pedidosgenéricos,ouilíquidos,sósãoadmitidosnastrêssituaçõesconstantesdosincisosdo§1º,quesãorepetiçõesdosincisosdoart.286,doCPC/1973.Eo teordesses incisosé induvidoso:somenteseadmiteopedidogenéricoquandooautornãotemcomodeterminá-lo.Ajurisprudêncianacional,todavia,temsemostradomuitíssimobenevolentenaaceitaçãodepedidosgenéricos,sendorarososjulgadosqueaplicavamoart.286comonecessáriorigor. A determinação do pedido é, igualmente, uma garantia do réu, tanto no sentido de conhecerprecisamente os limites daquilo sobre o qual é demandado, como para proporcionar-lhe também aoportunidadedediscutiroquantumpretendidoouoscritériosquelevaramàsuafixação.

OCPC/2015incluiuentreosmotivosdeindeferimentodainicialaafirmaçãodequeéineptaapetiçãoinicial quando “o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite opedidogenérico”(art.330,§1º,II).Destarte,sedúvidainterpretativahavianaredaçãodoCPC/1973,onovo Código assinalou que os incisos do art. 324, § 1º, elencam hipóteses taxativas. E, não seencontrando entre elas, o pedido de dano moral, por exemplo, deve ser líquido, cabendo ao autorapresentarovaloremmoedaquedeseja recebercomocompensaçãopelador,vexame,ouhumilhaçãosofridos, ou o quemais tenhamotivado tal pleito indenizatório.É nesse sentido que o jámencionadoinciso V do art. 292 prevê, entre os critérios de fixação do valor da causa, que tal valor devecorresponder aomontante pretendido, tambémpara as indenizações por danomoral, como comentadoanteriormente.11

Porfim,oart.329doCPC/2015consolidaeaclaraasregrasrelativasàestabilizaçãodopedido,antesdivididas nos arts. 264 e 294 da lei anterior. Até a citação, segundo o inciso I, o autor tem livredisponibilidadeacercadopedido,podendotantoaditá-locomoalterá-lo,bemcomodesistirdelenotodoouemparte (art. 485,VIII, e §4º).Citado, o réu adquiredireitosna relaçãoprocessual, quepassa aintegrarapartirdaí,demodoqueapósacitaçãoessasmodificaçõesnoobjetodademandasóseadmitemcomo consentimentodele, conformeprevisto no inciso II.Embora tal situação, se ocorrer na prática,deva ser raríssima, teve o legislador o cuidado de prever que, feita a adição ou alteração do pedidonessas condições, terá o réu o prazo mínimo de 15 dias para “manifestação”, que é, na verdade,verdadeiracontestaçãoaopedidoacrescidooumodificado.

CapítuloIII-Deferimento,ounão,dapetiçãoinicial

1.Aspectosgerais

OnovoCPCmantémoexamepreliminardapetiçãoinicial.Ajuizadaademanda,ainicialésubmetidaaumpréviojuízodeadmissibilidadefeitopelomagistrado,doqualpoderesultaroseudeferimento,comadeterminaçãodecitaçãodoréu,oudecisãoparaquesejaemendada,casoemque,cumpridaaexigência,apetiçãovoltaanovoexamedeadmissibilidade,paraquesejadeferida,ousejaextintooprocesso.

Nesse sentido, a essência e a estrutura desse momento processual são praticamente as mesmas. Há,porém,novidadesemaspectosformaisquemerecemaatençãodosestudiososeprofissionais.

2.Questõesapreciáveisdeofíciopelojuiz

Entreasnormasfundamentaisdoprocessocivil,queabremotextodonovoCódigo,prevêoart.10que“ojuiznãopodedecidir,emgraualgumde jurisdição,combaseemfundamentoarespeitodoqualnãosetenhadadoàspartesoportunidadedesemanifestar,aindaquesetratedematériasobreaqualdevadecidirdeofício”.

Todos os pontos examinados pelo magistrado, quando dessa primeira apreciação, são matérias quedevemserdecididasdeofício,mesmoporqueapartecontráriaaindanemfoicitada.

Diantedessenovoprincípiolegalprevistonoart.10,aprimeiramanifestaçãojudicial,quandodoexamepréviodeadmissibilidadeda inicial, sópodeseguirdoiscaminhos:odeferimento,ouavistaàparte,sejaparaemendarainicial,sejaparasemanifestarsobrealgumaquestãoqueojuizpossadecretardeofício.Nãocabeaojuiz,portanto,extinguiroprocessodesdelogo,semdaroportunidadeaoautordesemanifestarsobreosfundamentosdessaextinção.Aindaquesetratedevícioquenãocomportecorreção–a existência de coisa julgada, ou a ilegitimidade ativa, por exemplo – ao autor deve ser dada aoportunidadedeesclarecer aquestãoe sustentarque taisvíciosnãoexistem.Outrasquestõesquenãoacarretariamextinção,comoadecretaçãodeincompetênciaabsoluta,tambémsópoderiamserdecididas,nestemomento,apósconcedidaoportunidadeaoautordesobreelassemanifestar.

Apósamanifestaçãodoautor,ainicialpodeser,então,deferidaouindeferida,conformeovíciotenhasidosanadoounão,outenhaounãooautorconvencidoomagistradodequeosupostovícioinexistia.

Essenovomododeconduziroprocessocertamentelevaráaoaprimoramentodasdecisões,umavezqueelas serãoproferidaspelomagistradoapartirdeumcaldode informaçõesmaisdenso, e,quemsabe,proporcionaráareduçãodonúmeroderecursosinterpostos.

3.Emendadapetiçãoinicial

No art. 321 doCPC/2015, repete-se, então, o disposto no art. 284 da lei anterior.Diante da falta derequisitosoudaexistênciadevícios,ojuizdeterminaráaoautorqueemendeapetiçãoinicial.

Oprazoparaaemendapassaaserde15dias,enãomaisos10diasprevistosnodiplomaanterior.E,

comotodososdemaisprazosemdias,sãocontadosapenasosdiasúteis(art.219).

Outraalteraçãoformalencontra-senapartefinaldoart.321.Aoordenaraemendadainicial,competeaomagistradoindicar“comprecisãooquedevesercorrigidooucompletado”.Otextoacrescido,arigor,poderiaserconsideradodesnecessário,poiséoquefazregularmenteaimensamaioriadosmagistradosedecorredamaispuraracionalidade:comopodeoautorcorrigirainicialsenãosabequaléodefeitoalivistopelomagistrado?Alémdisso,temaparteodireitode,aoinvésdeemendarapetição,sustentarqueodefeitoapontadonãoocorreesimplesmenteinsistirnodeferimentodapetiçãoinicial.

Dissoresultaque,seomagistradoidentificarposteriormenteoutrosvícios,quelhepareçamigualmenteinsanáveis,masnãoforamprecisamenteespecificadosnadecisãoquedeterminouaemendada inicial,outraoportunidadedeveserdadaàpartedesemanifestarsobreelesou,seforocaso,corrigi-los.

4.Indeferimentodapetiçãoinicial

As hipóteses de indeferimento da petição inicial encontram-se no art. 330 do novo Código e sãopraticamenteasmesmasenumeradasnoart.295dodiplomaanterior.Aestruturadosdoisartigos-velhoeonovo–éamesma.Ocaputenumeravíciosqueacarretamoindeferimento,umdosquaiséainépciadapetição inicial,que,porsuavez,vemesmiuçadaemparágrafodessesartigos.Nogeral,ocorridaasituaçãodequalquerdosincisos,sejadocaput,sejadoparágrafoquedefineainépcia,hávíciocapazdeacarretaraextinçãodoprocesso.

Há,porém,algumasnotáveisdiferençasentreosdoisdispositivos.Onovo textocontémumaprevisãoinexistentenoCPC/1973,quejáfoiacimareferida:ainicialéconsideradaineptaquandoopedidonãofordeterminado,excetuadasasrestritashipótesesdepedidogenérico,autorizadaspeloart.324,§1º.12

Poroutro lado, trêsdos incisospresentesnoart.295,doCPC/1973,nãoserepetemnanovalei.Doisdelesforamabolidos,outrofoiapenasdeslocadodelugar.

A impossibilidade jurídica do pedido deixa de ser considerada condição da ação. Assim, não émencionadanoart.330comohipótesedeinépciadainicial(comoantesfigurava,noart.295,§ún.,III,doCPC/1973),nementreos casosde extinçãodoprocesso sem julgamentodeméritodoart. 485,VI(disposiçãocorrespondenteaoart.267,VI,doCPC/1973).Se,apartirdavigênciadoCPC/2015,umpedido formuladopuder serconsiderado juridicamente impossívelem tese, semnecessidadedeoutrasconsideraçõesdefatoouindependentementedosdetalhesconcretosdacausa(característicasdacondiçãodaaçãoorasepultada),issodeveráserdecididocomohipótesedeimprocedênciadopedido,nãomaisdeinadmissibilidadedaação.Afinal,seopedidoéimpossíveljuridicamente,pode-sedizerqueoautor,então,nãotemdireitoaele.Seráproferido,portanto,umjulgamentodemérito,pelarejeiçãodopedido.

Nãoserepetiu,também,aregradoinc.V,doart.295,doCPC/1973,quenapráticajánãoeramesmoaplicadadamaneiracomoseencontravaaliescrita.Casooprocedimentoescolhidopeloautornãosejaocorreto,cabeaojuizsimplesmentedeterminarqueofeitosigaoprocedimentodeterminadopelalei.Éoque se fará, na vigência do novo CPC, respeitando-se o disposto no art. 10, já mencionadoanteriormente.13

Oart.295doCPC/1973tambémincluíaashipótesesdedecadênciaeprescriçãonoroldeincisosqueconduzemaoindeferimentodainicial.Adecretaçãodedecadênciaouprescriçãoresultaemsentençade

mérito–comojáconstavadoCPC/1973–efoimelhorsituada,nanovalei,entreasregrasacercada“improcedêncialiminardopedido”(art.332,§1º,doCPC/2015).

5.Improcedêncialiminardopedido

OCPC/2015 criou um capítulo destacado, denominado“da improcedência liminar do pedido”, paradisporsobretodasassituaçõesemqueopedidoéjulgadoimprocedente,porsentençademérito,antesmesmodacitaçãodoréu.OCapítulocontacomumúnicoartigo,odenúmero332.

O art. 332 substitui, com muito maior qualidade e oportunidade, o controvertido art. 285-A, doCPC/1973. Tal dispositivo havia sido inserido no Código anterior pela Lei nº 11.277/2006, criandosituaçãoqueadoutrinavinhachamandodejulgamentoantecipadíssimodalide.

O novo texto dispõe sobre situações em que omérito é julgado imediatamente pelo juiz, tal como seobservavanoanteriorart.285-A,ancoradas,porém,emfundamentoscompletamentediversos,previstosemseusquatro incisos.Todosos incisos são fundadosemsúmulasdos tribunaisouem julgamentoderecursos ou demandas repetitivas. A jurisprudência de um juiz só, ou jurisprudência das própriasdecisões,aberraçãocontidanoart.285-AdoCPC/1973,foi,portanto,abolida.

Oimprocedêncialiminardopedido,segundoonovoCódigo,temlugarquandoopedidocontrariar:“I–enunciadodesúmuladoSupremoTribunalFederaloudoSuperiorTribunaldeJustiça;II–acórdãoproferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento derecursosrepetitivos;III–entendimentofirmadoemincidentederesoluçãodedemandasrepetitivasoudeassunçãodecompetência;IV–enunciadodesúmuladetribunaldejustiçasobredireitolocal”.

Por fim, no § 1º desse mesmo artigo, o novo Código melhor enquadra a hipótese de decretação dedecadência ou prescrição, como já foi mencionado no tópico anterior. O texto desse parágrafo, naverdade,bempoderia constardemaisum incisodocaput, dentre os que já ali figuram, elencando assituaçõesdeimprocedêncialiminardopedido.

E, insista-se, por força do já mencionado art. 10 do novo Código,14 em qualquer das hipóteses deimprocedêncialiminardopedido,antesdeojuizproferirasentençadevedarvistaaoautorparaquesemanifestesobreaquestão.

6.Dadecisãojudicial

Oatodedeferirapetiçãoinicial,emboravulgarmentechamado,nodiaadiadoforo,de“despacho”dainicial, tem natureza de decisão interlocutória, embora dela não caiba recurso. O autor não foiprejudicadoaoterasuapetiçãoadmitidae,portanto,nãoteminteresseemrecorrer;eoréu,queaindanãoestánoprocesso,poderáapontarnacontestaçãotodososvíciosprocessuaisquepoderiamresultarno indeferimento, não sendo cabível, como já não o era no regime do CPC/1973, a apresentação derecurso,porqualquerdaspartes,contraoatodemerodeferimentodapetiçãoinicial.

Oatoqueindefereapetiçãoinicialeoquedecidepelaimprocedêncialiminardopedidotêmanaturezade sentença, em qualquer dos casos impugnável pelo recurso de apelação. Curiosamente, embora oconteúdodas regras seja rigorosamenteomesmo,oCPC/2015desdobrouasdisposições sobreumaeoutraapelaçãoemdispositivosdiferentes.

Assim, o art. 331 do CPC/2015 e seus parágrafos dispõem sobre a apelação contra a sentença deindeferimentoeos§§2ºa4ºdoart.332referem-seaomesmorecursoapresentadocontraasentençadeimprocedência liminar do pedido. Os textos são ligeiramente diferentes, mas o significado deles éidêntico.

Deambasas sentençascabeapelação, cujoprazoencontra-seprevistonoart.1.003,§5º,ou seja,osmesmos15diasprevistosnoCPC/1973,comadiferençadequeagoraserãocontadosemdiasúteis(art.219).Interpostaaapelação,épermitidoaojuizretratar-se,noprazode5dias(art.331eart.332,§3º).Nãohavendoretratação,oréuserácitadopararesponderaorecurso(art.331,§1ºeart.332,§4º).Nãoserepete,portanto,aregradoart.296,§ún.,doCPC/1973,quedeterminaaimediataremessadosautosaotribunaladquem,semsereferiràcitaçãodoréupararesponderaorecurso.Agora,emqualquerdoscasos,tantodeindeferimentocomodeimprocedêncialiminar,havendorecursodoautor,oréudevesercitadopararesponderaoapeloeacompanharoprocessoatéseusulteriorestermos.

Nãointerpostaaapelação,oréuseráintimadodotrânsitoemjulgado(art.331,§3º,eart.332,§2º),apenasparaofimdelhedarciênciadaexistênciadoprocessojámortoedeseuresultado,quelhefoifavorável.Tratando-sedejulgamentodemérito,noscasosprevistosnoart.332asentençaficarácobertapelacoisajulgadamaterial.

UmavezqueonovoCPCadmiteaprolaçãode julgamentosparciaisdemérito (art.356),nãoparecehaveróbiceaquetaldecisãoparcialsejaproferidatambémnessemomentoinicial.JánãoéestranhoaosistemadoCPC/1973queainicialpossaserdeferidaemparte,quantoaumoualgunsdospedidos,massejamindeferidososdemais.Omesmosemantémnanovalei.E,também,casopartedospedidosmereçadeferimento, mas, quanto ao restante, ocorra alguma das hipóteses do art. 332, não há óbice aojulgamento liminar de mérito quanto a esses últimos. Nesses casos, em que a inicial é parcialmentedeferida,contraaoutrapartedessadecisãocaberáagravodeinstrumento(art.356,§5º).

CapítuloIV-Citaçãodoréu

1.Formasdecitaçãoesuasformalidades

Deferidaapetiçãoinicial,oréuserácitadoparaostermosdaação.AcitaçãovemprevistanoCPC/2015apartirdoart.238.

Asformasdecitaçãosãopraticamenteasmesmasprevistasnoart.221,doCPC/1973,conformeroldoart.246,doCPC/2015.Estabeleceesseartigoqueacitaçãoseráfeita:“I–pelocorreio;II–poroficialdejustiça;III–peloescrivãoouchefedesecretaria,seocitandocompareceremcartório;IV–poredital;V–pormeioeletrônico,conformereguladoemlei”.Incluiu-senalista,comosenota,aformaconstante do novo inciso III, embora se possa dizer que mesmo no regime anterior essa meio decomunicaçãoaoréu,umavezqueseapresentassenasecretaria,nãoseriavedada.

Domesmomodoquenaleianterior,ocomparecimentoespontâneodoréusupreacitação,comoselênoart.239,§1º,doCPC/2015.Acrescentouesseparágrafoqueoprazoparacontestarouparaembargaraexecução flui a partir da data de seu comparecimento; entretanto, tal regra deve ser interpretada emconjuntocomasdemaisdisposiçõessobreoprazoparacontestação.Quandootermoinicialdoprazoforadatadajuntadadomandadoououtroseventosprevistosnoart.231(conformeestabeleceoart.335,III),essemomentoésubstituídopelaregradoart.239,1º.Otermoinicialdoprazo,então,éadatadocomparecimento. Mas, caso o prazo para contestar tenha início a partir de outro evento (como, porexemplo,aaudiênciadeconciliaçãooumediação,ouoprotocolo,peloréu,dopedidodecancelamentodessaaudiência,conformeart.335,IeII),ocomparecimentoespontâneodoréuapenasodáporcitado,semnenhumarepercussãoquantoaoiníciodealgumprazo.

Otextofinaldocomentado§1º,porém,trazrepercussãoimportantequantoaoprazoparacontestarouembargarquandoodemandado,jáconsideradorevel,adentrarosautosalegandovíciodecitação.Peloregime anterior, se o réu revel comparecesse posteriormente e alegasse apenas o vício de citação, esendotalvícioreconhecidopordecisãojudicial,acitaçãoe,consequentemente,otermoinicialdoprazo,seriamconsideradosocorridosnadataemqueoréuouoseuadvogadofossemintimadosdessadecisão(art. 214, § 2º, do CPC/1973). Pela nova sistemática, o réu que se apresenta no processo, mesmoalegandoanulidadedoatocitatório,precisaráoferecercontestaçãoouembargosdentrodoprazolegal,queseinicianadatadoseucomparecimento,enãomaisnadatadeintimaçãodadecisãoqueviesseaacolher a alegação de nulidade. Deste modo, acolhida a arguição de nulidade, a contestação, jáapresentada,érecebida,proporcionandomaiorceleridadeaosdesdobramentosposterioresdofeito;nãoacolhidaaalegaçãodenulidadedecitação,adefesaéconsideradaintempestiva.

A citação postal continua a ser a forma preferencial de citação, conforme referido no art. 247 doCPC/2015.Asanterioresrestriçõesàcitaçãopostal,contidasnasalíneasdoart.222,doCPC/1973,sãopraticamenterepetidasnonovodispositivo,excetuadaareferênciaaosprocessosdeexecução(art.222,letra “d”, do CPC/1973). Deste modo, a citação poderá ser postal também para os processos deexecução.Outrapequenadiferençadetextoentreosdoisdispositivosencontra-senoincisoV,aindicarqueopedidodoautorparaqueacitaçãosejafeitadeoutraformahádeserjustificado.Assim,seoautorentendermaisconvenientequesepromovadesdelogoacitaçãoporoficialdejustiça,dispensando-seatentativade fazê-lapor carta, pede anova lei que tal requerimento sejamotivado.Aoqueparece, tal

motivaçãonãohádeexigirlongaargumentação,bastandoapontarcircunstânciasfáticasqueindiquemqueocarteiropoderáterdificuldadesemefetivaracitaçãopessoal.

Tratando-sedepessoajurídica,acitaçãopostal,segundooart.248,§2º,poderáserentregueapessoacom poderes de gerência geral ou de administração, como já afirmava a lei anterior, ou ainda “afuncionárioresponsávelpelorecebimentodecorrespondências”,expressãoqueéacrescentadanonovotexto,confirmandocircunstânciaqueajurisprudênciaaotempodoCPC/1973jácostumavaadmitir.

Noquetocaàcitaçãoporhoracerta,foramabrandadososrigoresparasuarealização,oquepoderádarcausaamaisincidentesenulidades.Segundoart.252doCPC/2015,bastamagoraduasvisitasdooficialdo justiçaemqueo réunão sejaencontrado, enãomais as três exigidaspela lei anterior,paraqueooficialdejustiçapossamarcararealizaçãodacitaçãoporhoracerta.Evidentemente,asuspeitaobjetivadeocultaçãoémantidacomoimportante requisitodevalidadedacitaçãoporhoracerta,nãobastandoqueoréunãoestejapresentenoendereçoindicadoporduasvezes.

Adesignaçãodahoracertapodeserfeitaaqualquerparenteouvizinho,comojáfixadonoCPC/1973,admitindo-se também, na nova lei, que possa ser feita a funcionário da portaria responsável pelorecebimento de correspondência, caso o citando habite condomínio vertical ou horizontal, conformedispostono§ún.doart.252doCPC/2015.Nãoédeseesperar, todavia,queadiligênciadooficial,nessescasos,seresumaaperguntarpeloréunaportariae,diantedanegativa,marquedesdelogoahoracerta.Aexigênciadesuspeitadeocultaçãoexigequeooficialaveriguecomcautelaeatençãoasrazõesdaausênciadoréu,parecendoclaroque,nocumprimentodemandadojudicial,ocontroledeacessodaportarianãopodeobstá-lodeadentrarocondomínioparaessefim.Oqueoparágrafoautorizaéapenasdirecionaracomunicaçãodahoracertaaosfuncionáriosdaportaria,oquesefaránafaltadeparentesououtroshabitantesdoimóvelemqueadiligênciafoifeita.Nãooshavendo,melhorentregaracitaçãoaporteiro do condomínio do que a vizinho, seja para preservar a intimidade do citando, seja pelaexperiênciaordináriadequeocontatodomoradorcomaportariaébemmaisfrequenteeesperadodoque com vizinho. A regra do parágrafo, neste sentido, presta-se também a facilitar a chegada dainformação ao citando favorecendo o seu comparecimento para receber a citação pessoal na horamarcada,enãoapenasasimplificaratarefadomeirinho.

Duasnovasdisposiçõessobreacitaçãoporhoracertasãoagoraprevistasnos§§2ºe4ºdoart.253doCPC/2015. Pelo primeiro texto,“a citação com hora certa será efetivada mesmo que a pessoa dafamília ou o vizinho que houver sido intimado esteja ausente, ou se, embora presente, a pessoa dafamília ou o vizinho se recusar a receber o mandado”. Esclareceu-se, portanto, na lei, que não énecessárioqueestejapresente,nomomentodacitação,amesmapessoaintimadanodiaanterioracercada designação do horário de citação. Esqueceu-se o texto demencionar o porteiro do condomínio, aquemtambémpodetersidoentregueessacomunicaçãonodiaanterior.Porcerto,suapresençatambémédispensada no dia seguinte.Dessemodo, se o citando não estiver presente para receber a citação nohoráriomarcado,estapoderáseefetivarnapessoadequalqueroutroparente,vizinho,oufuncionáriodaportaria do condomínio. No § 4º, indica-se que “o oficial de justiça fará constar do mandado aadvertênciadequeseránomeadocuradorespecialsehouverrevelia”.Ocuradorespecialénomeadoemfavordocitadorevel,demodoquetalcomunicaçãonãopareceserpropriamenteuma“advertência”,massimumamera informação.Casoooficial,poresquecimento,nãoomencionenomandado,nãosevislumbranissoqualquerprejuízoaoréu,demodoquetalomissãonãoparecesermotivoparainvalidaracitação.

Porúltimo,feitaacitaçãoporhoracerta,acartaaserenviadaaoréudeveserexpedidadentrode10diasdajuntadadomandadoaosautos(art.254doCPC/2015).Talcartaéconsideradaumesforçoamaisparase tentardarciênciaaoréuacercadostermosdaação,sendoimportanteorespeitoaesseprazo,especialmentediantedanovasistemáticadoCPC/2015,emqueoprazoparacontestarsóseiniciaránadata da audiência de conciliação oumediação. Com isso, diversamente do que ocorria no regime doCPC/1973, hágrandesprobabilidadesde tal carta ser recebidapelo citando ainda em tempohábil deoferecersuadefesaeevitararevelia,desdeque,claro,oprazoprevistonesseartigosejaobservadopelasecretaria.Tratando-sedemero esforçopara aumentar as chancesde ciênciado réu, a exigência aquiprevista,assimcomoseencontranoCPC/1973,resume-seàexpediçãodetalcarta,sendodesnecessárioque tenha chegado às mãos do réu, que já se encontra formalmente citado desde a data em que foiefetivadaacitaçãoporhoracerta.

Noque tocaàcitaçãoporedital,observa-senoCPC/2015algumasmodificaçõesemsua forma,nestecasobastantepromissoras.Oedital,segundodispõeoart.257,II,jánãomaisserápublicadonosjornaisouemlocalvisíveldofórumcomoeradatradiçãodessamodalidadedecitaçãoeseencontravaprevistanoart.232,IIeIII,doCPC/1973.Excelenteexemplodebomusodosmeiosinformáticospeloprocessojudicial, essas formalidades foram substituídas pela “publicação do edital na rede mundial decomputadores, no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais doConselhoNacional deJustiça,quedevesercertificadanosautos”.Emdoisaspectos,anovidadesetraduzemmaioracessoàjustiça,tantoparaoautorcomoparaoréu.

Deumlado,apublicaçãoemumcanaldecomunicaçõesubíquo,comoéaInternet,emqueainformaçãopode ali permanecer indefinidamente, aumenta substancialmente a possibilidade de que o réu venha atomarconhecimentodasuacitação.Paraessefim,apublicaçãosemostramuitomaiseficientedoqueadivulgaçãonodiáriooficialouemjornais.

Poroutrolado,édeseesperarumaexpressivadiminuiçãodocustodesseatocitatório,eisque,aindaquetaxasvenhamasercobradaspeloórgão judicialparaarealizaçãodoedital,ocustodepublicaçãonopapel é muitas vezes maior do que nessas plataformas digitais. Embora o Estado brasileiro seja umarrecadador insaciável, deixa-se aqui os votos de que as custas para tal edital eletrônico sejamcompatíveiscomos ínfimoscustosdemanutençãodoserviço,oquerepresentarágrandeeconomiaemrelaçãoaopreçodoseditaispublicadosemjornais.Anovidade,portanto,reduzoscustosdoacessoàjustiça,nessescasosemquenãosesabeoparadeirododemandado.

Leve-se em conta, ainda, a diminuição de importância dos jornais impressos em nossa modernasociedadedainformação,nãosedescartandosequerquepossamserextintosemmaisalgunsanos,daímostrar-setambémoportunoquealeicomecedesdejáabuscaralternativasàsuautilização.

A possibilidade de publicação nos jornais torna-se, no novo Código, apenas uma faculdade a serdeterminadapelo juiz,conformedispõeo§ún.doart.257,parao fimdeatenderàspeculiaridadedacomarca.Nãosetratadeformaalternativa,massimdemaisumaformadedivulgaçãodacitação,asesomar à forma eletrônica prevista no inciso II dessemesmo artigo.Ambas as publicações devem serfeitas,casoojuizdetermineapublicaçãopelojornal.Nosgrandescentros,eondemaishajafacilidadeeuniversalização do acesso à Internet, a publicação empapel nada agregará, excetomais custos, razãopelaqualaopçãodoparágrafoúniconãodeveserutilizada,oquerestringeaaplicaçãodessaregraalocais ermos do país em que as comunicações eletrônicas ainda não tenham chegado ou sejam poucodisseminadasentreapopulaçãolocal.

Noque diz respeito à citação pormeio eletrônico,modalidade que, pelo seu caráter de comunicaçãopresumida,jámereceserpraticadaeinterpretadacommuitíssimasressalvas,onovoCPCcontinuousemesclarecer quais as formas pelas quais se fará tal comunicação ao réu, tão pouco se ocupou deestabelecerrequisitosformaisqueasseguremqueoatopossaatingirasuafinalidade.O§1ºdoart.246doCPC/2015criaumaexigênciaumtantoquantoextravagante,aodeterminarqueempresaspúblicaseprivadas,excetuadasasmicroempresaseasempresasdepequenoporte,sejamobrigadasasecadastrar“nossistemasdeprocessoemautoseletrônicos,paraefeitoderecebimentodecitaçõeseintimações”.No§2º,determina-seaaplicaçãodaregraanteriortambémparaacitaçãodaFazendaPública.Poucosediz,noentanto,sobrecomoasempresascadastradasserãointimadasoucitadas.Dizer,comoconstadoinciso V do art. 246 (repetindo exatamente o art. 221, V, do CPC/1973, inserido pela Lei nº11.419/2006), que a citação se fará por“meioeletrônico”, equivale a dizer simplesmente que, pelasoutrasformas,talatoserápraticadocomousodopapel.Háinúmerasmaneiraseletrônicasdeseenviarumacomunicaçãoaalguém,eaimportânciadesseatoinicialdecomunicaçãoexigeumadescriçãomaisminuciosa, em lei, da forma como será executado e, especialmente, das garantias que deverão serobservadas a fimde se assegurarqueo ato atinja sua finalidade, que é adedar adequada ciência aocitandoacercadaexistênciadoprocessoedoqueépostuladopeloautor.15

Quanto aomais, sãomantidas as disposições sobre citação previstas noCPC/1973, especialmente asreferentesàcitaçãopessoalporoficialdejustiça,repetidasnosarts.249e250doCPC/2015.

2.Efeitosdacitação

Osefeitosdacitaçãoestãoprevistosnoart.240doCPC/2015,comligeirasmodificaçõesemrelaçãoaodiplomaanterior.

Emprimeirolugar,segundooCPC/2015,acitaçãojánãoproduzoefeitodetornarpreventoojuízo.NoCPC/1973, havia duas regras acerca da prevenção, que ensejavam interpretação da doutrina ejurisprudência sobre a correta relação entre os dois dispositivos, prevalecendo a noção de que, entreórgãosjudiciaiscomamesmacompetênciaterritorial,aprevençãosedavapeloprimeirodespachoquedeferiuainicial(art.106,doCPC/1973),mas,entreórgãosjudiciaisdecompetênciaterritorialdiversa,aprevençãoerafixadapelaprimeiracitaçãoválida(art.219,doCPC/1973).

NonovoCódigo,aprevençãoéproduzidaporumúnicoato,independentementedofatodetratar-sedecausaspendentesemórgãosjudiciaiscommesmacompetênciaterritorialounão.Eoatoqueestabeleceaprevençãodoórgãojudicialnãoénenhumdosdoisatosqueadefiniam,noregimedoCPC/1973.Oart.59, do CPC/2015, determina que “o registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento ojuízo”.Assim,aprevençãojánãoéumdosefeitosprocessuaisdacitação.

Tambémainterrupçãodaprescriçãodeixadeserefeitomaterialdacitação.Segundoo§1ºdoart.240doCPC/2015,ainterrupçãodaprescriçãodecorredoatodojuizqueordenaacitação,aindaqueoórgãojudicialsejaincompetenteparaacausa.Praticadoesseato,ainterrupçãodaprescriçãoretroageàdatadaproposituradaação,segundoomesmoparágrafo,querepete,nesteponto,aregradaleianterior(art.219, § 1º, do CPC/1973). Compete ao autor, no prazo de 10 dias, promover “as providênciasnecessárias para viabilizar a citação”, sob pena de não se considerar interrompida a prescrição,conforme § 2º do mesmo art. 240. Embora tenha o mesmo sentido que a doutrina e jurisprudênciaatribuíamaotextocorrespondenteanterior(art.219,§2º,doCPC/1973),quediziaqueoautortinhatalprazopara“promoveracitação”,onovodispositivodeixaclaroquenãoénecessárioqueacitaçãose

efetivenesseprazo,mastãosomentequeoautornãoseomitaempraticaratonecessárioàdiligência,equelhecompita,como,porexemplo,anteciparasdespesasparasuarealização.

Foramcompletamenteexcluídasdotextoasexigênciasanterioresparaqueacitaçãofosserealizada,ourealizada dentro de certo prazo, sob pena de não se considerar interrompida a prescrição. Assim,propostaaaçãodentrodoprazoprescricionaleexaradaadecisãodedeferimentodainicial,aprescriçãoestáinterrompidaretroativamenteàdatadoajuizamento,excetoseoautorfornegligenteemproporcionarosmeios para sua efetivaçãodentro dos dez dias seguintes ao deferimento.Por certo, o termo inicialdeste prazo é o dia da intimação do deferimento, como soe acontecer com todos os demais prazosprocessuais.

O novo texto é mais consentâneo tanto com a realidade de uma sociedade de massas quanto com aprópriaconcepçãodeprescrição,comoumaconsequênciadainérciadotitulardodireito.Nãosepodeexigirdelemaisdoquesimplesmenteproporaaçãonoprazo.Seodemandadosumiunomundo,seeleseoculta, ou se as próprias característicasdavidamoderna, especialmentenosgrandes centrosurbanos,produzemdificuldadesextrasparaqueseefetiveacitaçãopessoal,issonãopodesermotivoparaqueotitulardodireitosofraasconsequênciasdaprescrição.

O § 4º, do art. 240, estabelece que as disposições sobre a interrupção da prescrição são igualmenteaplicadas à decadência e aos demais prazos extintivos previstos em lei.Não é correto falar-se, nestecaso,eminterrupçãodadecadência,cujoprazonãoseinterrompe,esimque,ajuizadaaaçãodentrodoprazodecadencialeobservadasasdisposiçõesdos§§1ºe2º,adecadêncianãoocorreu.

Concluindo,acitaçãojánãoéoatodoprocessoqueproduzaprevençãoouainterrupçãodaprescrição.Comoexpostoacima,sãooutrososatosqueproduzemessesefeitos.

Osdemaisefeitosprevistosnoart.219,doCPC/1973,sãoreiteradosnanovalei.Noart.240,dispõeonovo Código que a citação “induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora odevedor”.Masháligeirasdiferençasdetextoquemerecemcomentário.

A expressão“aindaquandoordenadapor juízo incompetente” foi deslocada para o início do texto.Dessemodo,aeventualincompetência–relativaouabsoluta,jáquenãosefaznaleiqualquerdistinção–doórgãojudicialnãoéempecilhoàproduçãodequalquerdosefeitosdacitação.NoCPC/1973,pelaposição em que a expressão se encontrava na frase, referia-se tão somente aos efeitos materiais dacitação,istoé,aconstituiçãododevedoremmoraeainterrupçãodaprescrição.

Assim,paraoCódigode2015,é irrelevanteacompetência,ounão,doórgãojurisdicionalparaqueacitação produza seus efeitos todos, materiais e processuais. E, quanto à interrupção da prescrição,consequênciaquejánãomaisdecorredacitaçãoválida,masdodeferimentodainicial,o§1º,doart.240,afirmaquetalinterrupçãotambémoperamesmoquandoacausatenhasidoajuizadaperanteórgãojudicialincompetente.

A parte final do art. 240 acrescenta texto inexistente na lei anterior, afirmando que, no tocante àconstituiçãododevedoremmora,é“ressalvadoodispostonosarts.397e398daLeinº10.406,de10de janeirode2002(CódigoCivil)”.16Emboraa lembrançadessasdisposiçõessejaoportuna,nadasealteraemtermospráticos.Amoraeascausasqueconstituemodevedoremmoraencontram-senaórbitadodireitomaterialenãodoprocesso.Acitaçãoéapenasumdoseventosqueconstituemodevedoremmora.Se,porforçadaleimaterial,sejamessasdisposiçõesdoCódigoCivilreferidasnoart.240,sejam

outrasquaisquerquea leidefinir,odevedor já seencontravaemmoraantesda citação, neste casooefeito já foi produzido, sendo irrelevante a citação para esse fim. Mas esse já era o entendimentoanterior,istoé,seodevedoraindanãoestiveremmora,acitaçãoválidaassimoconstitui;sejáestavaemmoraantesmesmodoprocesso,porforçadeoutrosatosoufatosprevistosnaleimaterial,irrelevantesetornatalregraprocessualparaessecasoconcreto.

3.Finalidadedacitaçãonoprocedimentocomum

Noprocedimentoordinário,previstonoCPC/1973,oréuécitadoparaoferecerrespostanoprazode15dias.Noprocedimentosumário, tambémdoCódigoanterior,acitaçãochamaoréuparacompareceràaudiênciadesignada,comdata,horaelocalinformadosnomandado,momentoemquepoderáapresentarsuadefesa.

Não se pode deixar de apontar desde logo algumas críticas à alteração das formas processuais oraanalisadas,pois,aoquemeparece,essemomentodoprocedimentoéumadasduaspiorescriaçõesdonovoCódigo,fazendoparcomasdisposiçõessobreocabimentodorecursodeagravo.

OCPC/2015resolveuextrairoquehádepiornoritosumárioanterior,juntarcomasdemaisdisposiçõesdoritoordinárioedaraissoonomesimplesdeprocedimentocomum.Comomencionadoemcapítuloanterior,17háapenasumprocedimentocomumnonovoCódigo, tendosidoextintaadualidadeentreosprocedimentosordinárioesumário.Assim,prevêoart.334eseusdozeparágrafosarealizaçãodeumaaudiênciainicialdeconciliaçãooudemediação.Dessemodo,aquiloquejásemostrousuficienteparaprovocaratrasoecongestionarnossosjuízosdeprimeirograu,quandoaplicadoapenasaalgumascausasderitosumário,passaaserregraparatodasaslidesqueseguemoritocomum.Tambémjánãotinhasidomuito promissora a experiência obtida com a audiência preliminar de conciliação, que a Lei nº8.952/1994inseriunoart.331doCPC/1973,dando-lheinicialmentearesdeobrigatoriedade,masessarigidez foiposteriormenteatenuadapela inserçãodeum§3º aaqueleartigo,pelaLeinº10.444/2002.Desprezandoessasexperiênciasanteriores,olegisladorinsisteemobrigararealizaçãodeumaaudiênciapara tentativa amigável de solução do litígio, colocando-a, porém, no momento mais inoportuno doprocedimento.

Nãosetrata,estacrítica,deamaldiçoaraconciliaçãoemsi,ouamediaçãorecémprestigiadapelalei,nemmesmodeconfessarsemculpaumespíritoconflituosoque,supostamente–segundosetembradadoporaí–alimentaa sociedadeeaadvocaciadenossopaís,oqueseriaacausade todososmalesdoprocesso.Trata-seapenasdeconstatarque,emtermospráticos,designarumaaudiênciasemantescitaroréu–outodososréus–éumcaminhoquejámostrouseusdefeitosàexaustão,diantedamáexperiênciadoritosumário.Melhorseriacitaroréuparadesdelogodefender-seporescrito,comosedavanoritoordinário, semprejuízodese tentarconciliaroumediaracausaparalelamente,designando-seapós acitaçãoumadataparatalfim.

Ademais, consideramos que não há possibilidade de uma negociação séria, justa e honesta sem queambasaspartestenhamciênciadasrazõessustentadasporseuadversário,oquesósedá,pelomenos,apósaapresentaçãodadefesapeloréu.Oautordeveterodireitodesaberqueoréunãotemnadaderazoávelaofereceremdefesa,comotemoréuodireitodemostraraoautorquecontacomargumentoscontundentesaseufavor.Semisso,oquesequerésomenteumasaídaaleatóriaeomaisrápidopossível,para limpar o quanto antes os escaninhos judiciais, se é que isso vai concretamente acontecer, porimpulsodessasnovasdisposições.

Alémdisso,oritoprocessualnessafaseinicial,etãosomenteporcontadessaaudiência,nãopoderiatersidoregidodemodomaisconfuso.Piorou-seumpoucomaisaquiloque,noritosumário,jáeraruim.

Comovistoanteriormente,18oautorpode,napetiçãoinicial,optarpelanãorealizaçãodaaudiência(art.319, VII). Entretanto, mesmo que o autor afirme não ter interesse pela tal sessão de pacificação, aaudiênciaédesignadamesmoassim!Aleiexige,paranãoarealizar,quetodasaspartessemanifestemexpressamente pela sua dispensa conforme disposto no art. 334, § 4º, I, ficando claro no § 6º dessemesmoartigoque,emcasodelitisconsórcio,todososlitisconsortesdevemexpressamentemanifestarseudesinteresse.

Nãotendooréusidocitado,suaopinião,obviamente,sópoderásercolhidadepoisqueeletomarciênciadoprocesso.Masaleiquerqueelejásejacitadoparaacompareceraumaaudiência,oque,portanto,exige que ela seja previamente designada pelo magistrado, ao despachar a inicial, informando-se ocitando,nomandado,adata,horaelocaldesuarealização.Oresultadodissoéque,mesmoqueoautormanifesteseudesinteresse,aaudiênciaédesignadaeoréuserácitadoparacomparecimento.

Outrarazãoquepodelevaràdispensadadesignaçãodessaaudiênciainicialéodispostonoart.334,§4º,II,istoé,quandoacausanãoadmitiraautocomposição.

Feitasessasconsideraçõesiniciais,quantoàrealizaçãoounãodaaudiência,noquetocaàfinalidadedacitaçãoecomportamentoesperadodoréuumavezcitado,osdesdobramentossãoosseguintes:

Tendosidodesignadaaaudiência,oréuécitadotãosomenteparacomparecimento.Nemmesmoprecisaapresentardefesaouqualquermanifestaçãoprocessualporocasiãodessaaudiência,eisqueoprazoparatantocomeçaráafluirsomenteapartirdadatadessasessão,oudaúltima,semaisdeumafordesignadaemcontinuaçãodaprimeira(art.335,I,doCPC/2015).

Se, citado, observar o réu que o autor havia dispensado a audiência, tem aquele a opção de tambémmanifestarseudesinteresse.Nessecaso,cabeaoréuapresentarpetiçãosimples,apenasparadizerquetambémnãoquerarealizaçãodaaudiência,aserprotocoladacomatédezdiasdeantecedênciacontadosda data designada. É sempre oportuno lembrar que tal prazo é contado em dias úteis, como todos osdemaisprazosemdias(art.219).

Desistindo o réu da audiência, o prazo para oferecer defesa passa a ter como termo inicial o dia doprotocolo da petição em que manifestou seu desinteresse, segundo art. 335, II. E, neste caso,evidentemente,aaudiêncianãoserárealizadaeoPoderJudiciárioporcertonãoterácomoaproveitarparaoutracausaohorárioantesreservadonaagenda,ouolocalepessoaljáempenhadosparaoato.Ouseja,nãosetrataderegramuitoafinadacomaeconomiaprocessualoucomaboagestãodotrabalhonosórgãosjudiciais.

Mas, sendo vários os réus, todos devem igualmente se manifestar pela não realização da audiência.Nessecaso,oprazoderepostaparacadaréuseiniciaindependentementeumdooutro,cadaumcontadodadatadeprotocolodesuaprópriapetição.Umproblemaquepodeocorrer,casooJudiciárionãosejasuficientementeágilemjuntartaispetições,19équeolitisconsortequedispensouaaudiênciapodenãoficar sabendo de imediato acerca da manifestação de vontade do outro litisconsorte, quando nãodefendidospelomesmopatrono.

Note-se que não há, na lei, regra expressa sobre o início do prazo quando um réu semanifesta peladispensa da audiência e o outro simplesmente se omite (sem contar com o risco de uma situação dedúvida:eleseomitiuouapenassucedeuquesuapetiçãodedispensaaindanãofoijuntadaaosautos?).Mesmo que houvesse manifestação expressa do outro corréu, no sentido de indicar seu desejo pelarealizaçãoda audiência– atoque a lei não lheobriga a apresentar–não está claronoCódigoqueoprazodoprimeirolitisconsorte,queadispensou,sócorreráconjuntamenteapartirdadatadaaudiência,emborasejaessaainterpretaçãoqueparecefazermaissentido.

Nesses casos, portanto, convém ao demandado muita cautela, ao menos até que se possa considerarpacíficanosTribunaisalgumaorientaçãosobreoiníciodesseprazo,quandohálitisconsórcio.Emtermosestritamente práticos, para evitar surpresas, recomenda-se ao demandado litisconsorte apresentar suadesistêncianoderradeirodia.Seatéadatadaaudiêncianãohouvernosautosnotíciadadesistênciadooutro corréu, apenasdezdiasúteis sepassarame, à faltadeoutra informação,deve-se ir à audiênciadesignada. Se somente na ocasião da audiência for constatado pelo órgão judicial que o outrolitisconsorte tambémahaviadispensado,elanãoserá realizada,eo réuaindacontarácomcincodiasremanescentesdoprazoqueseinicioucomoprotocolodasuapetição.

Oqueémaisprovávelqueaconteça,invocando-seàsavessasumfamosoditadopopular–“nãofaçahojeoquepodeserdeixadoparaamanhã”–équeagrandemaioriadosdemandados,mesmosemterinteressealgumpeloacordo,nemproposta séria aoferecer,preferiránão semanifestar edeixar a audiência serealizar,poisnomínimoobterácomissoumadilaçãomaiorparaoferecimentodesuadefesa;e,claro,ademoraprocessualjásetornouumacínicaefrequentemoedadetrocaemacordos,sempreemdesfavordodemandante,ecujovalorédiretamenteproporcionalàsafliçõesdeste,oudesuamaiornecessidadeemobteraprestaçãojurisdicional.

Alémdisso,existeapossibilidadedenãodesignaçãodestaaudiência inicialporcontadodispostonoincisoII,do§4º,istoé,quandoacausanãoadmitirautocomposição.Considerandoquemesmodireitosindisponíveis admitem, emcerta extensão, algumamargemde acordo (como,por exemplo, odireito àpaternidade, que é indisponível pelo filhomas a relaçãopode ser reconhecidapelo pai), poucas são,estatisticamente falando, as causas que se encaixam nesse inciso, o que talvez fique restritoespecialmenteàscausascontraaFazenda,diantedaindisponibilidadedosbenspúblicos.

Nessecaso,oréuserácitadoparaoferecimentodedefesa,porpetição,emprazoquecomeçaráacorrerapartirdealgumdos termos iniciaisprevistosnos incisosdoart.231doCPC/2015,conformesejaocaso.Assim,otermoinicialdoprazoserá,emsíntese,ajuntadaaosautosdacomprovaçãoderealizaçãodoatocitatório.Havendolitisconsórcio,repete-seaquiaorientaçãodoCPC/1973,nosentidodequeoprazodevecorrerconjuntamenteparatodososréus.Dizo§1ºdoart.231,doCPC/2015,que“quandohouvermaisdeumréu,odiadocomeçodoprazoparacontestarcorresponderáàúltimadasdatasaquesereferemosincisosIaVIdocaput”.Anovaredaçãoémaisclaraeprecisadoqueaqueconstavadoart.241,III,doCPC/1973,emborafosseesseosentidoqueseextraiadaregraanterior.

Emsíntese:

a) se designada a audiência, o réu é citado para apenas comparecer à tentativa de conciliação oumediação,apósaqualcorreráseuprazopararesposta;

b) se, embora tenha sido designada a audiência, o autor havia semanifestado na inicial pela sua não

realização, o réu tem a opção de também dispensá-la, por petição apresentada em até dez dias queantecedem a audiência, caso em que seu prazo para resposta começa a correr a partir da data doprotocolo;

c) não designada a audiência, o réu é citado para contestar a ação, no prazo de 15 dias contados dajuntadaaosautosdoatocitatório.

CapítuloV-Audiênciadeconciliaçãoemediação

Segundo o art. 334 do CPC/2015, se não for o caso de indeferimento da inicial (art. 330), nem deimprocedência liminar do pedido (art. 332), “o juiz designará audiência de conciliação ou demediaçãocomantecedênciamínimade30(trinta)dias,devendosercitadooréucompelomenos20(vinte)diasdeantecedência”.Emrespeitoàsparteseseusadvogados,aleitambémexigeque,entreasaudiênciasmarcadasnomesmodia,sejarespeitadoointervalomínimodevinteminutosentreoiníciodeumaeohoráriodesignadodaseguinte(art.334,§12).

Como já salientado no capítulo anterior, a audiência não será designada se a causa não comportarautocomposição(art.334,§4º,II),casoemqueoréuécitadoparasedefendernoprazode15diasdajuntadaaosautosdoatodecitação.

Definida a data da audiência, quando do deferimento da inicial, tal informação deverá constar domandadodecitaçãoaserentregueaoréu(art.250, II).Oautorserá intimadodadatadaaudiêncianapessoade seuadvogado (art.334,§3º)pelosmodosusuais, especialmenteapublicaçãonodiáriodajustiça.Nãoéprevistanaleiaintimaçãopessoaldopróprioautor,cabendoaseuadvogadoinformá-lodadesignação.

Ocaputdoart.334jádesnudaumadasgrandesdificuldadesquesecriacomafixaçãodeumaaudiêncialogono iníciodoprocesso, sempréviacitaçãodo réu.Seo réuouos réus,havendomaisdeum,nãoforem citados a menos de 20 dias (úteis, conforme art. 219) da data da audiência, esta deverá serredesignadaparaoutradata.Nãohá,na lei, demodoexpresso,nenhumdeverouônusparaqueo réuconstituapatrononosautos,atéadatadaaudiência.Assim,seacitaçãoéfeitaamenosde20dias,ousenemtodososréussãocitados,enovadataédesignada,nãoapontoualeiporqualviaoréujácitadoseráintimadodessanovadata,casoaindanãotenhapatrononosautos.Aleinãooconsiderarevelatéalipoisoprazodecontestaçãonemsequercomeçou(v.art.344),apontodeseconsiderarqueestaráintimadopelamerapublicaçãodoatodecisórionoórgãooficial(art.346).Aparentemente,seoréucitadonãoseapresentar voluntariamente nos autos, por advogado, só resta a possibilidade de intimá-lo daredesignação pelas formas pessoais de comunicação, postal ou por oficial, o que possivelmente seráfontedeoutrasdificuldadespráticas.

Comojáditoanteriormente,mesmoqueoautormanifesteseudesinteressenarealizaçãodessaaudiência,ela será designada, e somente não será realizada se o réu ou todos os réus, se houver litisconsórcio,assim o desejarem, mediante manifestação expressa apresentada por petição, em até 10 dias queantecedem a audiência. Se isso já não fosse perverter o suficiente a ideia de conciliação, ou demediação,quesupõemavontadeeadisposiçãodolitiganteemencontrarumasoluçãopacíficaparaolitígio, que com ela irá colaborar, no § 8º, do art. 334, ainda se diz que “o não comparecimentoinjustificadodoautoroudoréuàaudiênciadeconciliaçãoéconsideradoatoatentatórioàdignidadedajustiçaeserásancionadocommultadeatédoisporcentodavantagemeconômicapretendidaoudovalordacausa,revertidaemfavordaUniãooudoEstado”.

Tem-sedito,comcertadosederazão,queoCPC/2015éomaisdemocráticodosCódigosprocessuais.Porém,frutodascontradiçõesporquepassaopaísnestestemposatuais,nãoseencontra,nosCódigosanteriores, de 1939 ou de 1973, promulgados durante ditaduras, nenhuma norma tão atentatória aosdireitoseàs liberdades individuaisquantoadeste§8º.Anormacontéminaceitável rançoautoritário-

paternalista,típicodosquesupõemqueaspartesnãosabemoqueébomparaelasprópriaseprecisamser“pacificadas”peloEstado-pai.Somentenessecontextosepodeconsideraratentadoàdignidadedajustiça recusar-se a ouvir os conselhos do agente público, que, dentro dessa concepção autoritária, éconsiderado o único portador da suficiente sabedoria, capaz de conduzir os litigantes na direção dafelicidade.Emumpaíslivre,emqueodireitodeaçãoéasseguradonaLeiMaior,talnormanãodevesuperaraarguiçãodeinconstitucionalidade.

Épossível,noentanto,queaparteseapresentepor“representante,pormeiodeprocuraçãoespecífica,com poderes para negociar e transigir” (art. 334, § 10). Não há óbice a que esses poderes sejamoutorgadosaoadvogadodaparte,que,então,poderárepresentá-lanessaaudiênciaerealizaratentativade autocomposição, ou firmá-la, se frutífera. Para tanto, basta que sejam incluídos na procuração ospoderes específicos para negociar e transigir, eis que tais não se encontram implícitos na cláusulaadjudicia,depoderesgeraisparaoforo,20oquenãoédiferentedoquepreviaoCPC/1973.

Segundo dispõe o § 9º, as partes devem estar acompanhadas, à audiência, “por seus advogados oudefensorespúblicos”.Oautor jáestácertamenterepresentadonosautos,pelospatronosqueconstituiuparaproporaação.Quantoaoréu,apesardessaexigênciacontidanotextodo§9º,nãoseencontranaleiconsequência alguma para o seu comparecimento sem advogado. Não se pode impor a ele asconsequênciasdarevelia,pois,comojáditoacima,estasódecorredanãoapresentaçãodecontestaçãono prazo legal (art. 344) e esse prazo nem se iniciou.Mais uma lacuna é deixada nessamal regradaaudiênciainicial.Nãohavendoacordo,ouseomagistradooptarpelonãoprosseguimentodaaudiênciadiantedessasituaçãodedesequilíbrio, inicia-seapartirdalioprazode15diasparaoferecimentodacontestação,quandoentãooréudeveráapresentá-la,constituindoadvogado,sobpenaderevelia.

Deacordocomo§1º,talaudiênciapodeserconduzidaporconciliadoroumediador,ondehouver.Trata-sedeopção interessantedo legislador, sejaparapreservar a imparcialidadedomagistrado, sejaparaevitar tomar-lhe o já tão assoberbado tempo de trabalho. Resta saber – e este autor simplório ousaperguntar,aindaquepossaseracusadode“inimigodapaz”pelospacifistasdeturno–sehaverárecursosmateriaisehumanossuficientespara realizar todaessa imensa levadeaudiências,em todasascausascivisderitocomumaseremajuizadasnopaís.Nemdelongeduvidamosqueomeritóriolegisladorsóincluiutaldisposiçãonaleidiantedominuciosoexamedenúmerosatuaiseconsistentessobreaestruturamaterialehumanadisponívelemtodasasjustiçasfederaiseestaduais!UmavezemvigoronovoCPC,essaestruturadeveráestarjáapostos.Mesmoassim,deixemosqueotemporespondaaessadúvida.

Nãohavendo solução autocompositiva, a sessãopode ser encerradaoupode ser designadaoutra datapara sua continuação, desde que seja realizada dentro de dois meses contados da primeira tentativa,segundo dispõe o § 2º, do art. 334. Tratando-se de prazo emmeses, conta-semês amês, não sendocorretoconvertê-loem60dias.Istoé,realizadaaprimeiraaudiênciaem1ºdefevereiro,asegundadeveserdesignadanomáximoparaodia1ºdeabril,poisconsidera-semêsoperíododetempoentreotermoinicialeodiacorrespondentenomêsseguinte.21Autilidadedesseprazoouarazãodeolegisladortê-loprevistonoCódigoproduzemumaenormeinterrogação.Seacontinuidadedodiálogoéintençãodetodasaspartes,frutodesuavontadelivreedesimpedida,nãoháporqueestabeleceressalimitaçãonotempoparaarealizaçãodapróximaaudiência.Caberiaexclusivamenteàspartesdecidirseaceitamcontinuarnatentativa de autocomposição,mesmoque a próxima sessão só tenha lugar depois de doismeses.Valelembrarqueaspartespodem,decomumacordo,pedirasuspensãodoprocessoporatéseismeses(art.313, II, e § 4º, doCPC/2015).Esse prazo, assim, não faz omenor sentido, amenos que o legisladorestivessepensandoempermitir a designaçãode tal segunda audiência contra avontadedeumaoude

ambas as partes, avançando mais profundamente no caráter autoritário-paternalista de algumas dasdisposições que rodeiam essa audiência, caso, então, em que o prazo do § 2º teria como significadoservir de limite ao abuso estatal e à denegação de justiça.Mas não esperamos que tenha sido essa aintençãodolegislador,nemquetalorientaçãováocorrernaprática.Assim,setodasaspartesquiseremcontinuaranegociar,nãoháóbiceemdesignaressaaudiênciacommaiorintervalo,oumesmosuspenderoprocessopeloprazomáximodeseismeses;seumdoslitigantesnãoquiserprosseguirnasnegociações,estas devem ser encerradas, dando-se curso regular ao processo, em homenagem ao princípio dainafastabilidadedocontrolejurisdicional.

Dizo§7ºque“aaudiênciadeconciliaçãooudemediaçãopoderealizar-sepormeioeletrônico,nostermosdalei”.Notocanteao trechofinal,nãohá leialgumaquedisponhasobre isso,aomenosatéopresentemomento.Quantoaomais,desdequeainfraestruturatecnológicaparatantoestejadisponível,etambémaspartestenhamacessoaela,estapodeserumasoluçãobastanterazoávelparaseagilizareatémesmodiminuiroscustoseotempoderealizaçãodessasaudiências.Nãoaparentaserfácil,noentanto,organizar uma extensa agenda de conciliações, compatibilizando o horário dos interlocutores e adisponibilidade da infraestrutura. Há, no exterior,22 experiências interessantes na realização denegociaçãoonlineeassíncrona,especialmenteparalitígiosenvolvendodiscussãosobreopagamentoemdinheiro, algo que poderia ser tentado, tanto pelo Poder Judiciário, como por entes privados demediação.

CapítuloVI-Respostadoréu

1.Aspectosgerais

AexpressãorespostadoréunominavaocapítulodoCPC/1973quetratavadasmanifestaçõesqueoréu,umavezcitado,poderiaoferecer,equenãoseresumiamapenasemapresentaçãodedefesas,processuaisoumateriais,poisnessarespostaseincluíatambémareconvenção.OCPC/2015nãorepeteousodessaexpressão,masissonãoimpedequecontinueaserempregadanessemesmosentido,istoé,paradesignarasmanifestaçõesqueoréupodeapresentarapóstersidochamadoajuízo.

Dopontodevistaformal,oCPC/2015resumiuarespostadoréuaumapeçaúnica,umapetiçãosingularemqueocontestantealinharátudooqueépossíveldizernessemomentoprocessual.Mas,naessência,nada foi alterado: todos os tipos de manifestação que o réu poderia apresentar, mas que, segundo oCPC/1973,viriamempetiçõesdestacadas,sãoagorareunidasemumcorpoúnico.

Todas as defesas do réu, portanto, serão apresentadas em contestação. Impugnações de naturezaprocessualqueanteseramobjetodepetiçãoautônoma,comoaexceçãodeincompetênciarelativa,ouaimpugnaçãoaovalordacausa,agoraforamsimplesmenterelacionadasnoart.337doCPC/2015aoladodas demais preliminares de contestação (incisos II e III). Até mesmo a impugnação de gratuidadeprocessual(quenãoépropriamenteumamodalidadededefesa,eisquepodesermanejadaporqualquerdaspartes)serásuscitadapeloréucomopreliminardecontestação(incisoXIII).

E, também, seo réudesejar reconvir, apresentaráos fatos e fundamentosdademandae formulará seupedidoreconvencionalnessamesmapetição.

Enfim,todasasdefesasdoréu–tantoprocessuaisquantomateriais–devemserapresentadasemumsócorpo, que também abrigará seu pedido reconvencional, se for o caso. Trata-se de uma inteligente,simples e oportuna alteração do novo Código, especialmente considerando que, com a já avançadainformatizaçãodoprocessoquevemsendopromovidaemnossopaís,nãohánenhumsentidopráticoemformarapensos,ouautosapartadosparaincidentesprocessuais.Autosdigitaissãoumameraorganizaçãológica, feita por um sistema informático, dos arquivos que representam os atos processuais. Comoarquivos digitais são imateriais e, quando disponíveis na Internet, ainda se tornam ubíquos, ficandopermanentemente,eaomesmotempo,disponíveisemtodososlugares,carecedeutilidadedesdobrarosautos em vários apensos. Ademais, já não parecia haver muita coerência técnica ou sistemática naescolhaquealeianteriorfaziaentreincidentessuscitadosnosprópriosautosouemapartado;e,decertomodo,pode-sedizerqueaapresentaçãodereconvençãoempeçadistinta,masjuntadanosmesmoautos,nuncatevesentidopráticoalgum,excetoamanutençãodecostumesecular.

Essa novidade talvez cause algum desconforto inicial aos operadores do direito, especialmente aosadvogados,queprecisarão remodelaroestilodesuaspetiçõespara juntarataqueedefesanumaúnicapeça, mas, superado o tempo de adaptação, os ganhos para a simplicidade do processo certamentecompensarãoopequenoesforço.

DasmanifestaçõesqueoCPC/1973chamavaderespostadoréu,apenasasarguiçõesdeimpedimentoesuspeiçãocontinuamaserapresentadasempeçaindependente.Emverdade,taismanifestaçõesnãosãopropriamente defesas do réu, eis que pode também o autor apresentá-las. E nem sequer são questões

unicamentesuscitadasnessemomentoprocessual,poispodehaverarguiçãodeparcialidadedirigidaaosmembros dos tribunais, aos juízes deprecados, ou a magistrado que, diante de promoção ouaposentadoriadoanterior,assumaaconduçãodacausaduranteocursodofeito;alémde,claro,poderserapresentadanocorrerdoprocesso,sesomenteentãoofatoqueocasionaimpedimentooususpeiçãoviera ser conhecido pelo suscitante. Assim, também foi correta, em termos sistemáticos, a opção doCPC/2015dereunirtodasasdisposiçõessobreotemaemumúnicocapítulo,entreosarts.144e148,ondeseencontramtantoasdefiniçõesdeimpedimentoesuspeiçãoquantoaformadesuaarguiçãoque,nestecaso,sefaráporpetiçãoprópria(art.148,§1º).

2.Prazo

Deacordocomoart.335doCPC/2015,oprazoparaoréuresponderfoimantidoem15dias,comonaleianterior, lembrando-se,maisumavez,quetalprazopassaasercontadoemdiasúteis(art.219).Otermo inicial desse importantíssimo prazo, entretanto, tornou-se um tanto mais confuso do que na leianterior.NoCPC/1973, a juntada aos autos do ato citatório positivo (a citação feita por carta ouporoficialde justiça)marcavaotermoinicialdoprazoe,havendomaisdeumréu,oprazopara todososlitisconsortespassivosseiniciavaconjuntamente,nodiaemqueaúltimacitaçãofossejuntadaaosautos.NonovoCódigo, as regras quedefinemo termo inicial doprazo estãono art. 335 e seusparágrafos,cabendodistinguirdiferentessituações.

Emprimeirolugar,umavezqueopadrão,nonovoprocedimentocomum,érealizarumapréviaaudiênciade conciliação ou mediação, podendo ser designadas outras sessões em continuação dos trabalhos,dispõeoart.335,I,queotermoinicialdoprazopararespostadoréuéadatadaúltimasessãorealizada,ainda que alguma das partes não tenha comparecido. Essa regra sempre será aplicada quando fordesignada a audiência preliminar de conciliação ou mediação, e caso ela não seja dispensada pelaspartes.

Seoautor,napetiçãoinicial,manifestou-sepelanãorealizaçãodaaudiênciapreliminardeconciliaçãooumediação,aaudiênciaémesmoassimdesignadapelomagistrado,e sónãoserá realizada seo réutambémadispensar.Assim,cabeaoréu,setambémnãoaquiser,apresentarpetiçãonessesentido,comnomínimo10dias de antecedência contados da data da audiência (art. 334, § 5º).Nãohavendo essamanifestação, a audiência será realizada, não importando que o autor a tenha dispensado, e o termoinicialdoprazoseráodoart.335,I,comentadoacima,istoéadatadaaudiência,oudaúltimadelas.Seo réu semanifestarpelanão realizaçãodaaudiência,nessecasoo termo inicialdoprazoéadatadoprotocolodessasuapetição,segundodeterminaoart.335,II.

Importantedestacarque,nocasodedispensadaaudiênciaporambasaspartes,sehouverlitisconsórciopassivo,onovoCódigoadotouopçãoquerompecomatradiçãoanteriordesempreunificaroiníciodoprazoparatodososréus.O§1ºdoart.335estabelecequeosprazospararespostadosréus,apenasnestecasoemqueaaudiênciaédispensadapelaspartes,terãoiníciosdistintos,conformeadataemquecadacorréuprotocolarsuamanifestaçãopelanãorealizaçãodasessãodeconciliaçãooumediação.Trata-sededisposiçãocapazdegerardúvidasoumesmoalgumtumultoprocessual.

O Código não deixa claro se o prazo fica ou não prejudicado, caso os demais litisconsortes não semanifestempelanãorealizaçãodaaudiênciapreliminar.Se,noúltimodiadoprazoparasemanifestarpeladispensadaaudiência,istoé,nodecênio(tambémcontadoemdiasúteis)anterioràdatadesignada,umdoscorréusdispensaraaudiência,seuprazode15diashaveriadeterminar5diasúteisapósadata

marcada.Eseooutrocorréunãoadispensar?Realizadaaaudiência,oprazodoréuqueadispensoujáestariaemcurso,ouseriareiniciado,naformadoart.335,I,casoemqueseriaomesmoparatodososdemandados?Considerandoqueaformapadrãodoprocedimentoéarealizaçãodaaudiência,asegundasoluçãoéaqueparecemaisconsentâneacomahipóteseoraanalisada.Entretanto,nãoédifícilimaginarque,noiníciodavigênciadonovoCódigo,entendimentoscontráriospululem,acausardificuldadesaopatronodoréu.Éaconselhável,portanto,tomarumaatitudecautelosaquandotaissituaçõessucederem,apresentando-sedesdelogoadefesanos15diasseguintesaoprotocolodapetição,aindaqueaaudiênciasejarealizada,porfaltademanifestaçãodosdemaislitisconsortespassivos.

Mais difícil pode ser a situação se um dos corréus se antecipar e, logo após citado, manifestar seudesinteresse na realização da audiência preliminar.Neste caso, o seu prazo começará a fluir desde oprotocolodessapetiçãoepoderáseencerrarantesdadatadaaudiência,ouantesmesmododecênioquelheantecede.Assim,semsaberseosdemaisréusadispensarãoounão,sórestaaoréuquemanifestouadesistência pela audiência apresentar sua defesa noprazode15dias.Como se vê, o prazodesse réupodeterminarantesmesmoqueseesgoteaoportunidadeparaqueooutrolitisconsorteapresenteoseupedido de dispensa e, assim, umdos réus já terá contestado a ação sem sequer ter como certo que aaudiêncianãoserárealizada,umavezquesuadispensaexigeamanifestaçãodetodososcorréusnestesentido (v. art. 334, § 6º).Diante desse descuido do legislador, ao criar essa regra passível de gerartumulto, pode ser recomendável aos litisconsortes que não se adiantemna apresentação do pedido dedispensa,deixando-oparaoderradeirodiadoprazo,a10dias(úteis)daaudiência,demodoqueoprazopararespostafindesomenteapósadatamarcada,sejaasessãorealizadaounão.

Porfim,segundodispõeoart.335,III,otermoinicialdoprazoserá,“nosdemaiscasos”,umdosfatosrelacionados nos incisos do art. 231.Aparentemente, não há“demais casos”, mas apenas uma únicasituaçãoemqueessaregraéaplicada:quandoaaudiêncianãofordesignadapelomagistrado.Pelaletradalei,aaudiêncianãoserárealizadaapenasnashipótesesdoart.334,§4º,incisosIeII.NasituaçãoprevistanoincisoIdessedispositivo,aaudiênciaédesignada,aguardando-seeventualmanifestaçãodosréus,casosemqueoprazopararespostaseiniciaráounadatadaúltimasessão(art.335,I),ounadatado protocolo da dispensa manifestada pelo demandado (art. 335, II), conforme explicado acima. Aprincípio,omagistradonãoadesignariaapenas“quandonãoseadmitiraautocomposição”(art.334,§4º, II). Não é de se descartar, porém, que outros motivos possam surgir, dentre eles até mesmo ainvencívelcargadetrabalhoeasobrelotaçãodaspautasdeaudiência,paraqueomagistrado,emnomedaceleridadeedagarantiadaação,deixedemarcaressaaudiênciainicial.

Enfim,seaaudiêncianãofordesignada,otermoinicialdoprazopararespostaéomesmoprevistonoCódigoanterior,ocorrendonadatadajuntadaaosautosdoatocitatóriopositivo,ou,conformeocaso,com a verificação de alguma das situações previstas nos incisos do art. 231.E, repetindo a regra doCPC/1973,havendolitisconsórciopassivo,oprazoparatodoselesserácomum,iniciando-senaúltimadasdatasemqueocorreramosfatosdescritosnosincisosdoart.231doCPC/2015,comoestabeleceo§1ºdomesmoartigo.

Oart.335doCPC/2015,emseu§2º,repeteorientaçãodaleianteriorestabelecendoque,quandohouverváriosréuseoautordesistirdaaçãoemrelaçãoaalgumdeles,oprazopararespostacorrerádadatadaintimaçãodadecisãoquehomologaradesistência.Segundodispostononovotexto,diantedavariedadedepossíveiscaminhosiniciais,essaregraéaplicávelapenasquandoocorrerahipótesedoart.334,§4º,II, isto é, quandoa audiêncianão fordesde logodesignadapelomagistrado.Então se já juntados aosautososmandadosdecitaçãodosdemaisréus,ouseocorridosemrelaçãoaelesosdemaisfatosdoart.

231quedãoensejoaoiníciodoprazo,casooautordesistadaaçãoquantoaréuremanescenteaindanãocitado,aspartesserãointimadasdadesistência,daípassandoacorreroprazo.Sedesignadaaaudiência,o autor certamente pode desistir da ação quanto a réu não citado atémesmo nomomento da própriaaudiência,casoemqueprossegue-senatentativadeconciliaçãooumediaçãocomosréusremanescentesjácitados,cujoprazopararespostafluirádessadata,senãohouverautocomposição.

ÀsemelhançadoCPC/1973,odiadotermoinicialnãoécontado(v.art.224),considerando-secomooprimeirodiadacontagemodiaútilsubsequente,apartirdoqualsãocontadososdemaisdiasúteisdoprazo.

3.Questõesprocessuaisempreliminardecontestação

3.1.Poucasmodificaçõesquantoaotema

Assimcomo jáocorriano regimedoCPC/1973,cabeao réuapresentareventuaisdefesasprocessuaiscomo preliminares de contestação. Não há grandes novidades nesse ponto. As mesmas defesasrelacionadasnoart.301,doCPC/1973,sãoreiteradasnoart.337danovalei.

ComooCPC/2015unificoua respostado réuemumaúnicapetição,novos itensaparecemno roldasdefesas preliminares contido no art. 337, como a alegação da incompetência relativa (inc. II), aimpugnação ao valor da causa (inc. III) e a impugnação da gratuidade concedida ao autor (inc.XIII),questõesque,noregimeanterior,podiamserigualmentesuscitadaspeloréunessemomentoprocessual,maspormeiodepetiçãodistinta.

Mudou-seapenasa forma,masnãooconteúdodessasmanifestações.Tudoaquiloeexatamenteaquiloque o réu teria escrito em petições autônomas, ao suscitar tais questões, agora será deduzido empreliminardecontestação.

3.2.Novasdisposiçõesquantoàalegaçãodeilegitimidadepassiva

Notocanteàpreliminardeilegitimidadepassiva,porém,oCPC/2015introduzalgumasnovidades,cujoevidenteobjetivoésuprir,comextensãomaisabrangente,asfinalidadesdafinadanomeaçãoàautoria.

Anomeaçãoàautoria,modalidadedeintervençãodeterceirosprevistanoCPC/1973,eraumamaneirade permitir a substituição do polo passivo quando o réu fosse parte ilegítima para a causa, mas suaincidência se resumiaàs restritashipótesesprevistasna lei (arts.62e63,doCPC/1973),oque faziadela um incidente raro no dia a dia forense. Excetuadas as poucas situações de cabimento dessamodalidadede intervenção,nãosendooréuparte legítimaparaacausa,odesfechodoprocessoseriainevitavelmenteasuaextinçãosemjulgamentodemérito.

OnovoCódigonãomanteveanomeaçãoàautoriaentreasmodalidadesdeintervençãodeterceiro.Emseulugar,inseriunovasregrassobreotratamentodadoàilegitimidadepassiva,voltadasparapermitiraeventualsubstituiçãodoréuilegítimoeaoaproveitamentodosatosprocessuaisatéentãopraticados,bemcomoascustasjárecolhidas.Observa,pois,umdosprincípiosgeraisqueseextraidonovoCPC,quedápreferência à solução de mérito sempre quando esta se mostrar possível, buscando ao máximo asuperaçãodevíciosformaisqueaimpeçam.

Oart.339doCPC/2015determinaque,aosuscitarailegitimidadepassiva,“incumbeaoréuindicarosujeitopassivodarelaçãojurídicadiscutidasemprequetiverconhecimento,sobpenadearcarcomasdespesasprocessuaiseindenizaroautorpelosprejuízosdecorrentesdafaltadeindicação”.Ouseja,apartirdoCPC/2015,oréupassaaterodeverlegaldeindicarquemseriaosujeitolegitimadoafigurarnopolopassivodaquela ação, desdequeo saiba, sobpenade aplicaçãodas sançõesprevistas nesseartigo.Nãolhebasta,portanto,apenasapontarsuailegitimidadeepostularaextinçãodoprocesso.

Ouvido o autor no prazo de 15 dias, este poderá, evidentemente, repelir as alegações do réu, ou, seaceitar a indicação feita, optar por substituir o réu pelo sujeito por ele apontado, ou apenas incluí-locomolitisconsortepassivo,semexclusãodoréuoriginal(art.339,§§1ºe2º).

Segundosecompreendedoart.338,apossibilidadedesubstituiçãodoréusefazpresentemesmoquandooverdadeirolegitimadonãosejaapontadonacontestação,comodeterminadonoart.339.Bastaqueoréususcite a sua ilegitimidade,mesmoquenão saiba e portantonão indiqueopossível legitimado.Nestecaso,caberáaoautorapontarosujeitoaserincluídonopolopassivo.

OnovoCódigo,portrêsvezes(nocaputdoart.338enos§§1ºe2ºdoart.339),refere-seàconcessãodeumprazode15diasaoautor,paraquesemanifeste sobreapreliminarde ilegitimidadee sobreosujeitoindicadopeloréu,podendoalterarapetiçãoinicial.Emboraotextolegalnãosejaexplícitoemrelaçãoaisso,tudoindicaque,assimcomooréudeduztodasassuasalegaçõesedefesasemumapeçaúnica, a manifestação do autor sobre a resposta do réu, neste terceiro “compasso” da sequênciaprocedimental,hádesertambémconcentradaemumamesmapetição.Apresentadaaresposta,aoautorédadaaoportunidadedemanifestaçãosobretodooseuteor,noprazode15dias.Emumamesmapetição,falaráentãosobreapreliminardeilegitimidade(repelindo-aouadotandooscaminhosautorizadospelosarts.338e339)juntamentecomasdemaismanifestaçõesquehãodeserapresentadasemréplica(v.arts.350e351).

Casooautor concordecomaexclusãodo réu, arcará comverbahonoráriamaisbrandadoqueaquesuportaria em caso de extinção do processo sem julgamento do mérito (v. art. 85, §§ 2º, 3º e 6º).Estabeleceoart.338,§ún.,queoshonorários,nestecasodeconcordânciadoautorcomaalegaçãodeilegitimidadepassiva,devemserfixadosentretrêsacincoporcentodovalordacausa,excetoseesteforirrisório,casoemqueovalordaverbaseráarbitradopelomagistrado.

Oquenãoficamuitoclarononovotextolegaléorumoqueoprocedimentohádetomar,apósainclusãodonovosujeitonopolopassivo.Acontestação,emregra,seráoferecidaapósaaudiênciadeconciliaçãoou mediação, de modo que somente então caberá ao autor oferecer réplica e manifestar-se sobre ailegitimidade.Sendoincluídaapessoaindicadapeloréu,estehaverádesercitadoparaqualfim?Paracompareceraumanovaaudiênciapreliminar?Ouparacontestarnoprazode15dias,contadosapartirdos fatos enumerados no art. 231?A segunda hipótese parece sermais consentânea com a celeridadeprocessual, ou do contrário o feito poderá permanecer meses sem que mal tenha dado os primeirospassos da fase postulatória. Ademais, a posterior tentativa de conciliação, em paralelo aodesenvolvimento do procedimento, é atividade sempre possível, não havendo prejuízo maior à tãoalmejadabuscapelapaz.

3.3.Arguiçãodeincompetência

OCPC/1973jáprevia,noart.305,§ún.,apossibilidadedeoréuprotocolaraexceçãodeincompetência

(apresentadaapenasemcasodearguir incompetênciarelativa)emjuízodeseuprópriodomicílio,queficaria incumbido de remetê-la para o juízo da causa. Com isso, facilitava-se o acesso à justiça dodemandado,especialmentequando,porcausadaalegadaincompetência,aaçãotivessesidoajuizadaemlocalidadedistantedeseudomicílio.OCPC/2015manteveessapossibilidadeao réu,mas,diantedaspeculiaridadesdonovoprocedimentocomum,algunscomentáriosmaismerecemserfeitos.

Como anotado acima, qualquer alegação de incompetência, seja relativa, seja absoluta, há de serdeduzida pelo réu em contestação que, por sua vez, será ordinariamente apresentada somente após aaudiênciadetentativadeconciliação.Destarte,nãohápreclusãodaquestão(nocaso,daincompetênciarelativa,apenas, jáquea incompetênciaabsolutanãosesujeitaàpreclusão)atéqueesgotadooprazopararespostadoréu.Bempodeoréu,então,deixarpassaraaudiência,para,emcontestaçãoofertadanos15diasseguintes,arguiraincompetência.

A regra do art. 340, portanto, é apenas uma faculdade concedida em proveito do réu, permitindo-lheapresentar sua contestação ao órgão judicial – ou justiça local – de seu domicílio, desde que, claro,apontea incompetênciarelativaouabsolutadoórgãojudicialemquetramitaoprocesso.Conformesededuzdo§3ºdomesmoartigo,aoalegara incompetência,permite-seao réuanteciparacontestação,apresentando-aantesdaaudiência,tantoqueocitadodispositivolegaldeterminaperemptoriamenteasuasuspensão(“serásuspensa”).

Não há, porém, na nova lei, qualquer prazo anterior à audiência para a alegação da incompetência,podendo o réu apresentá-la a qualquer tempo, mesmo às vésperas da data designada, e com issosuspenderasuarealização.Mesmoporque,insista-se,nãohápreclusãodaquestãoatéquevençaoprazoderesposta,quesomentese iniciaránadatadaaudiência.Nãoédifícil imaginaro tumultoprocessualque isso poderá provocar – não bastassem as já conhecidas dificuldades intrínsecas ao exame dacompetência–especialmentesehouvermaisdeumréuecadaumdelesdesejardiscutiraquestãoemmomentosdiversos,antesouapósaaudiênciapreliminar.

Ademais,oart.340eseusparágrafos,detãolacunososquesão,parecemestardespregadosdorestantedaestruturaprocedimental.Seoréu,antesdaaudiência,apresentaadefesacomoumtodo,contendoapreliminarde incompetência,cabeaoautor,porcerto,semanifestarantesqueo juizdecidaaquestão.Mas,nestecaso,seriaoautorouvidoapenassobreaalegaçãodeincompetência,ousobretodooteordaresposta? Extinta a exceção de incompetência, não há previsão de umamanifestação avulsa do autor,sobre apenas um dos pontos da defesa; por certo, apresentada a contestação como um todo, antes daaudiência, ao autor cabe ofertar sua réplica completa, também em peça única, e parece prudente queassimofaça,afimdeevitareventuaisentendimentosquantoàpreclusãodasdemaisquestões.Mas,nessatoada,oritoprevistonaleiteriasidototalmentepervertido.

Anote-se,porfim,queaprópriarazãodeexistênciadessaregra,quepermiteoprotocolodacontestaçãonoforodeseudomicílio,équestãoparcialmentesuperada,sejapelosprotocolosintegradosexistentesháanos, seja pela informatização já presente, e certamente será desnecessária quando todo o Judiciárionacional permitir o peticionamento eletrônico remoto para todos os processos. A principal utilidadedessaformaexcepcionalhádeserapossibilidadededispensarapartedecompareceràaudiência,aomenosatéqueaquestãoacercadacompetênciasejaresolvida,enãotantoadeapresentaçãodapetição,quejápodeserprotocoladadequalquerlugar,viaInternet,paramuitosórgãosjudiciaisdopaís.

Oart.63§4º,doCPC/2015,acrescentaque“citado,incumbeaoréualegaraabusividadedacláusula

deeleiçãodeforonacontestação,sobpenadepreclusão”.Édesesuporquetalquestãosejasuscitadanaprópriapreliminardeincompetênciadeduzidanacontestação.Nessecaso,oréuseinsurgecontraacompetênciadoórgãoindicadonaeleiçãodeforo,sobofundamentodesuaabusividade.

4.Defesasdemérito

Apresentadasasdefesasprocessuais,cabeaoréumanifestar-sesobreoméritodacausa.Nesteaspecto,asdisposiçõesdoart.341e342doCPC/2015repetemoteordosanterioresarts.302e303,reiterandooprincípio da eventualidade e o ônus da impugnação especificada dos fatos, com asmesmas exceçõesprevistasnoCPC/1973.Nãohá,pois,nenhumanovidadeatratarquantoàapresentaçãodasdefesasdeméritopeloréu.

5.Reconvenção

Nasuaessência,nãohámodificaçõesnareconvenção.Suashipótesesdecabimento,quandoháconexãocomaaçãoprincipaloucomofundamentodadefesa,sãorepetidasnoart.343doCPC/2015.

Novidadeháquantoàforma.Comojámencionado,todasasmanifestaçõesdoréusãocumuladasemumaúnica petição. O art. 343 diz, com impropriedade, que “na contestação” pode o réu propor areconvenção. Ora, contestação e reconvenção são manifestações essencialmente distintas; o que oCPC/2015quer,naverdade,dizer,équeoréuproporáareconvençãonamesmapetiçãoemqueofertasuacontestação.Emumamesmapeça,ummesmocorpocomtextocontínuo,cabeaoréudefender-see,sequiser,reconviraoautor.

Anovaregratalvezproduzaalgumtipodedificuldadeaosadvogados,aomenosnosprimeirostemposdesuavigência,nemtantopelosseusaspectosjurídicosouprocessuais,masporcontadequestõesdeestiloouredação.Nãohánenhumimpactopráticodopontodevistapuramentenormativo:tudoaquiloqueoréudiriaemumareconvenção,poderádizê-lo,igualmente,nacontestação-reconvençãoqueseapresentaempeçaúnica.No tocanteà redaçãoeapresentaçãoda reconvenção, sobumprismapuramenteprático,anovidadelogodeixarádecausarestranhezaaoprofissional,poiscertamenteserámuitomaissimplesedireto interpor as duasmanifestações em uma única narrativa sequencial.Nomais das vezes, quandoapresentadas emseparado segundoo regimedoCPC/1973, largaspartesda exposiçãodos fatos eramrepetidasnadefesaenareconvenção,oumesmoalgunstrechosdafundamentaçãojurídica.

Assim, a título de sugestão, a nova peça híbrida pode se iniciar com a narrativa completa dos fatos,segundoaversãodoréu,tantoosfatosquesãodeproveitocomumàsduasmanifestaçõescomoosquesereferemexclusivamenteàdefesaouàreconvenção.Emseguida,apresenta-seasconsequênciasjurídicasdesses fatos, eventualmente já destacando o que serve para repelir o pedido formulado pelo autor,daquiloquedará sustentaçãoaopedido reconvencional.Porúltimo,pede-se a improcedênciada açãoprincipal e formula-se o pedido reconvencional, acrescentando os demais requisitos formais, como ovalordacausareconvencionaleaindicaçãodeprovasparaambasações.

Outranovidadeencontra-senos§§3ºe4ºdoart.343.OnovoCódigopermiteaampliaçãosubjetivanareconvenção.Se,noregimeanterior,sóseaceitavaareconvençãomovidaporquemeraréu,tendocomosujeitopassivoapenasquemjáfigurassecomoautornarelaçãoprocessual,oCPC/2015permitequeareconvenção acrescente novos sujeitos ao processo, tanto na posição de reconvintes como na dereconvindos.

Assim, segundodispõeo§3ºdoart.343doCPC/2015,“areconvençãopode serpropostacontraoautor e terceiro”. Note-se, primeiramente, que a expressão “terceiro” nesse texto tem em vista asituaçãodarelaçãoprocessualoriginal,eisqueserefereaalguémque–atéomomentodeapresentaçãoda reconvenção – ainda não era parte.Mas ele será parte, será corréu da reconvenção, ou, como secostumachamarnaterminologiaprópriadesteinstitutoprocessual,serátambémreconvindo.Teremos,narelação processual, alguém que é autor-reconvindo (autor da ação principal e réu da reconvenção) eoutrosujeitoqueseráapenasreconvindo(réudareconvenção),nãosetornando,claro,autordademandaprincipal.

OCódigoéumtantoomissoacercadoprocedimentoaseseguir,casooréuincluaumnovosujeitonaposição de reconvindo. O § 1º do art. 343 repete a disposição do Código anterior (art. 316, doCPC/1973),estabelecendoqueoprazoparacontestarareconvençãoéde15dias,contadosdeintimaçãofeitanapessoadoadvogadodoautor.Masésilenteanovaleinoquetangeao“terceiro”,incluídocomoreconvindo.Porcerto,haverádesercitadopessoalmentenaformadaleieseuprazoterátermoinicialemalgumdosfatosenumeradosnoart.231.Masnãoesclarecealeiseoprazoparaoautor-reconvindo,citadonaformade intimaçãoaoseuadvogado,serácomumcomoprazodoreconvindo(iniciando-se,pois, com a juntada do ato de citação pessoal deste) ou se fluirá independentemente, aplicando-sesimplesmentearegrado§1º.Considerandoaimportânciadoatoeatradiçãoanteriordeprazocomumaosréus–rompidaapenaspelaregraexpressadoart.335,§1º–melhorentenderque,naomissãodalei,osprazosdosréuspara respostadevemsercomuns.Assim,aodeferira reconvençãocomreconvindo“externo”,convémaomagistradosupriralacunaedefinirexpressamentequeoprazopararespostaserácomum, a se iniciar com a juntada domandado de citação pessoal do novo reconvindo. Na falta dedecisãoexpressanessesentido,eatéqueaquestãosejapacificada,ou–aindamelhor–objetodenovaemendanalei,convémaoadvogadodoautor-reconvindoevitarriscoseapresentarsuadefesanoprazodoart.343,§1º.Nestecaso,oprocessoficaráparalisado,noaguardodacitaçãodooutroreconvindorecémchamadoaoprocesso.

Também não parece conveniente designar nova audiência de tentativa de conciliação por conta dainclusãoaofeitodonovoreconvindo,ouoprocessopoderápermanecermesessemquemaltenhadadoosprimeirospassosda fasepostulatória.Ademais,épossívelaposterior tentativadeconciliação,emparaleloaodesenvolvimentodoprocedimento,semquedissoresultequalquerprejuízo.

Maissimples,oumenossujeitaadúvidasoutumultoprocessual,éapossibilidadedeincluirsujeitonoprocessonaqualidadedeapenasreconvinte.O§3ºdoart.343admiteareconvenção“propostapeloréuem litisconsórcio com terceiro”. Reitera-se, aqui, as mesmas considerações sobre o uso da palavra“terceiro”,jáfeitasporocasiãodocomentárioaoparágrafoanterior.Essesujeitotorna-separte,éautorda reconvenção (ou também chamado reconvinte), tão logo seja interposta a reconvenção.Mas nestecaso, tudoémaissimples:bastaqueo“terceiro”constituaadvogado,provavelmenteomesmodoréu-reconvinte, e com este apresente a reconvenção (que continua a ser deduzida na mesma peça dacontestação).Assim,teremosumréu-reconvinteeumoutrosujeitoqueseráapenasreconvinte,autordareconvenção,masquenãosetornaréudaaçãoprincipal.

No§5ºdoart.343,oCPC/2015trazàluzumaregraincompreensível.Otextosubstituiomal-explicado§ún.doart.315,doCPC/1973, segundooqual“nãopodeo réu,emseupróprionome, reconviraoautor, quando este demandar em nome de outrem”. Esse texto anterior continha evidente erroredacional,poisquandooréudemandasse“emnomedeoutrem”,esse“outrem”équeseriao“réu”,eaqueleaquemotextochamade“réu”nãopassariadeumrepresentante(poisageemnomedeoutrem).A

interpretação doutrinária, porém, entendia o texto como uma proibição à reconvenção nos casos desubstituiçãoprocessual,tratandoareferênciaàrepresentaçãoprocessualcomoumequívocodetexto.23

O atualCódigo, contudo, estabeleceu no art. 343, § 5º, que“se o autor for substituto processual, oreconvintedeveráafirmar ser titulardedireito em facedo substituído, ea reconvençãodeverá serproposta em face do autor, também na qualidade de substituto processual”. Inovando sobre o textoanterior,tambémsepodereconvirquandohásubstituiçãoprocessual,mas,seodireitopleiteadonaaçãoé do substituído processual (que não é parte), a reconvenção deve invocar a existência de direito doreconvinteemrelaçãoa tal substituído.Esta regra,evidentemente,éemsi inaplicávelàssubstituiçõesprocessuais emmatéria de interesses difusos, casos em que o substituído não é sujeito determinável.Mas,nosdemaiscasos (como,p.ex.,naaçãopopular,emqueosubstituídoseriaapessoa jurídicadedireitopúblicolesada),nãofazsentidooutorgaraosubstitutoprocessualquepropôsaaçãonointeressedo ente público substituído, poderes para verdadeiramente representá-lo como sujeito passivo dareconvenção.Aexcepcionalidadedasubstituiçãoprocessualnãopodeserassimestendidaparaopolopassivodademanda,privandooentesubstituídododireitodeserregularmentecitadoeoferecerdefesaprópria.Afinal,ninguémseráprivadodaliberdadeoudeseusbenssemodevidoprocessolegal.Essareconvenção,porsuposto,exigecitaçãodosubstituído,talcomosedarianocasoprevistonoart.343,§3º,emqueseadmitequeareconvençãosejapropostaemfacedoautoreterceiro.

Capítulo VII - Providências preliminares, réplica e o julgamentoconformeoestadodoprocesso

1.Providênciaspreliminares

Apresentadaarespostadoréu,inicia-seachamadafaseordinatóriadoprocedimento,cabendoaojuizverificarseexistemvíciosnoprocessoedeterminarsuacorreção;alémdisso,competeaomagistradodeterminar o rumo a seguir a partir daí, concedendo vista ao autor sobre a resposta e, se for o caso,outrasoportunidadesdemanifestaçãoserãofranqueadasàsparteseaeventuaisterceirosintervenientes,tudo como objetivo de esgotar o contraditório.Encerradas as oportunidades demanifestação, o feitoatinge omomento do julgamento conforme o estado do processo, em que caberá ao juiz proferir umadecisão qualificada, seja para extinguir o processo, com ou sem julgamento de mérito, seja paradeterminarseuprosseguimento,dandoinícioàfaseinstrutória.

OCPC/2015nãoapresentanovidadesquantoàsprovidênciaspreliminares,ouàfasesaneadora.Osarts.347a353doCPC/2015repetemaestruturaeoteordosdispositivosequivalentesdoCódigoanterior.

Odesdobramentomaiscomumqueseobservanessemomentoprocessualéooferecimentoderéplicaporpartedoautor,tratadanoCPC/2015comligeirasmodificações,comoobservadoaseguir.

2.Réplica

2.1.Consideraçõesgerais

O autor tem o direito de se manifestar sobre a defesa, permitindo-lhe exercer o contraditório sobrepontos novos que o réu eventualmente tenha inserido na discussão, sejam esses pontos de naturezaprocessual,sejamrelativosaoméritodacausa.Nalinguagemforense,essamanifestaçãoéchamadaderéplica,emboraoCPC/1973nãoutilizasseessevocábuloparadesigná-la.

No regime anterior, embora as referências ao oferecimento da réplica se desdobrassem em doisdiferentes artigos (arts. 326 e 327 do CPC/1973), que concediam ao autor prazo de 10 dias paramanifestação,eracertoquesetratavamdomesmoprazoedamesmamanifestação.Noentanto,havendoreconvenção, o autor teria prazo de 15 dias (art. 316, do CPC/1973) para contestá-la, neste casooferecendopeçaautônoma.Qualquerdosincidentesautonomamentearguidospeloréueram,igualmente,respondidos pelo autor em petição independente (p.ex., exceção de incompetência, ou impugnação aovalordacausa).

OnovoCódigoéexplícitoaodizerquetodasasmanifestaçõesdoréu,apóscitado,serãoapresentadasnumaúnicapetição,nelacumulandotodasasdefesaspossíveisetambémareconvenção.Noentanto,nãoéexpressoaesserespeitoaosereferiraesseterceirocompassodamúsica,istoé,quandonovamenteédadavozaoautor.

Por coerência com a forma adotada para a resposta do réu, a interpretação mais adequada apontaigualmente para uma única manifestação do autor nesse momento processual. E se o réu contestou ereconveionamesmapeça,deveserintençãodalei,aindaquenãotenhasidoexplícitanestesentido,que

oautorrepliqueosargumentosdedefesaecontesteareconvençãotambémnamesmapeça.Enfim,queuma única petição reúna todas as oportunidades demanifestação do autor neste terceiromomento dodebateprocessual.

As referências à manifestação do autor, após a resposta do réu, estão diluídas no CPC/2015, e emnenhumadelasusa-seapalavraréplicaparadesignaresseatoprocessual.MasovocábulofoiutilizadonoutraspassagensdonovoCódigo,comose lênosarts.100,430e437, revivendona leiousodessadenominaçãobastantearraigadanocotidianoforense.

2.2.Forma

Aréplicaéapresentadaporpetição,semoutrasexigênciasformaisprevistasnalei,nãohavendo,nesseaspecto,qualqueralteraçãoemrelaçãoaoregimeanterior.

Oprazoparaaréplica,quenoCPC/1973erade10dias,foialteradonoCPC/2015,passandopara15dias (e agora contados em dias úteis). É, então, o mesmo prazo que tem o autor para contestar areconvenção,sehouver,oquereforçaaideiadequeasduasmanifestaçõestambémserãoapresentadasempeçaúnica.

2.3.Conteúdodamanifestação

À semelhança do CPC/1973, cabe ao autor, em réplica, manifestar-se sobre os fatos impeditivos,modificativos e extintivos do direito do autor (art. 350, do CPC/2015), bem como sobre as defesasprocessuaisalegadaspeloréuempreliminardecontestação(art.351,doCPC/2015).

Considerando,comoesboçadoacima,aunicidadedapetição,cabeaoautor,nestamesmapeça,contestarareconvenção(art.343,§1º,doCPC/2015),seforocaso.

Comovistoacima,24emcasodealegaçãodeilegitimidadepassiva,comousemindicaçãopeloréudosujeitoqueconsideracorretamentelegitimado,oautorteráaoportunidadedemanifestação,noprazo15dias.Aoquetudoindica,trata-sedomesmoprazo,paraamesmamanifestação.Assim,namesmapetiçãoda réplica, cabe ao autor infirmar a preliminar de ilegitimidade passiva, ou, aceitando-a, incluir olegitimadocorretonopolopassivo,comousemexclusãodoréuoriginal,segundodispõemosarts.338e339,eseusrespectivosparágrafos,doCPC/2015.

3.Julgamentoconformeoestadodoprocesso

3.1.Consideraçõesgerais

Chegadoomomentodojulgamentoconformeoestadodoprocesso,competeaojuizproferirumadecisãoqualificada,diantedeumcenárioprocessualmaisdefinido, emqueaspartes jáapresentaram–ouaomenostiveramaoportunidadedeapresentar–todasasmanifestaçõesnecessáriasaocontraditórioacercadalide,deseusfatosedeseusfundamentos.Osdesdobramentospossíveissãopraticamenteosmesmosprevistos no CPC/1973, surgindo como grande novidade – inexistente no regime anterior – apossibilidadedadaaojuizdeproferirdecisãodejulgamentoantecipadoparcialdomérito.

3.2.Julgamentoantecipadoparcialdomérito

Nãosendoocasodeextinçãodoprocessosemjulgamentodomérito,nemsendopossívelproferirumasentença de mérito mais simples, como as previstas no art. 487, incisos II e III, do novo Código(sentenças homologatórias de autocomposição e o reconhecimento de decadência ou prescrição), issosignificaqueoprocessoreúneosrequisitosnecessáriosaojulgamentodopedido,restandoaomagistradoaárduatarefadedecidi-lo.Duasopçõesseapresentamnessemomento:julgá-loimediatamente,senãohouvernecessidadedeoutrasprovasalémdasquejáconstamdosautos,ou,docontrário,prosseguircomainstrução.

No CPC/1973, o julgamento antecipado do pedido exigia que todos os pedidos, se mais de um foiformulado, estivessem em condições de receber pronto julgamento. Se para um único pedido fossenecessária a colheita de prova, o feito prosseguiria, e na sentença final todos os pedidos seriamconcomitantementedecididos.

O CPC/2015 cria a possibilidade de julgamento antecipado parcial do mérito, estando o magistradoautorizadoaproferirdecisãodeméritodefinitivaapenasquantoaumoualgunsdospedidos,ouquantoapartedelese,aomesmotempo,determinararealizaçãodeinstruçãoparacolheitadasprovasnecessáriasaos demais pedidos. Trata-se de uma opção interessante do ponto de vista prático, especialmente emnomedaceleridadeedaefetividadedaprestaçãojurisdicional.

Assim,segundodispõeoart.356,doCPC/2015,severificadasashipótesesprevistasnosseusincisos,épossívelojulgamentoparcialdoméritoparaqueojuizdecida“umoumaisdospedidosformuladosouparcela deles”. A segunda situação aplica-se especialmente a pedidos condenatórios a pagamento dequantia em dinheiro, ou a qualquer outra situação em que o pedido comporte diversos graus deapreciaçãoparcial,podendoojuizdecidirdesdelogosobrepartedoquefoipostuladopeloautor.

Uma das razões que autorizam o julgamento antecipado parcial (art. 356, I) é a existência deincontrovérsia acerca de um ou alguns dos pedidos, ou de parte deles. É o que pode ocorrer, porexemplo,quando,emaçãocompedidocondenatórioapagamentodequantiaemdinheiro,oréunãonegueaexistênciadadívida,resumindo-se,emsuadefesa,aimpugnaroquantumpostuladopeloautor.Assim,noquetangeaovalorporeleadmitido,podeserproferidoojulgamentoantecipadoparcialdomérito,seguindoofeitoparainstruçãoeposteriordecisãoacercadovalorimpugnado.

No regime do Código anterior, adotava-se uma solução diversa para essa situação em que ocorria aincontrovérsia parcial: segundoo art. 273, § 6º, doCPC/1973, era autorizada a antecipação de tutelajurisdicional “quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-seincontroverso”. Essa hipótese de antecipação de tutela não foi mantida no Título correspondente doCPC/2015,relativoàstutelasdeurgência(arts.300a311),quesubstituiutantoasdisposiçõesanterioressobreo tema, comoasque tratavamdoprocesso cautelar, quedeixoude servisto comoumprocessoautônomo. Agora, ocorrendo a incontrovérsia parcial, a solução prevista na nova lei é decidi-ladefinitivamente,emjulgamentoantecipadoparcialdomérito.

AoutrapossibilidadeprevistanoCPC/2015parajulgamentoantecipadoparcialéacircunstânciadenãosernecessáriaacolheitadeoutrasprovasapenasemrelaçãoaalgunsdospedidosoupartedeles(art.356,II).Istoé,asmesmassituaçõesqueautorizariamojulgamentoantecipado,sóquepresentesapenasparapartedospedidos.EssaéumainovaçãodoatualCódigo,nãoexistindonenhumdispositivoanálogonaleianterior,quedispusessesobreessasituaçãoprática.SegundooCPC/1973,ouerapossívelproferirjulgamentoantecipadocompletoparatodosospedidos,ouojulgamentodelestodossóseriaproferidona

sentençafinal.Destarte,segundooCPC/2015,seojulgamentodepartedospedidosdependeapenasdaapreciaçãodequestõesdedireito,ousenãodependemdeoutrasprovas,taispedidospodemserdesdelogodecididosdefinitivamente,prosseguindoainstruçãoquantoaosdemais.

Nonovoregime,aocontráriodahipótesedoart.273,§6º,doCPC/1973,queadmitiaantecipaçãodetutela para pedidos parcialmente incontroversos, essa decisão proferida no curso do processo comojulgamentoantecipadoparcialresolvedefinitivamenteospedidosnelajulgados.Nãoserãotaispedidos,portanto, reapreciados ou reafirmados na sentença final. Proferida a decisão de julgamento parcial,esgotou-se a atividade processual de primeiro grau em relação aos pedidos apreciados. Não sendoobjetoderecurso,essadecisãodeméritotransitaemjulgadoeficacobertapelacoisajulgadamaterial(observe-sequeoart.502,doCPC/2015,falaemcoisajulgadadadecisãodemérito,enãodasentença,comoditonaregraanálogadaleianterior)ecomportaexecuçãodefinitiva(art.356,§3º),aindaqueoprocessonãotenhaterminadoporqueprosseguiuparajulgamentodaporçãoremanescentedoméritodacausa.

Segundo o regime adotado pelo CPC/2015, esse ato judicial que decide parcialmente o mérito temnaturezadedecisãointerlocutória.Segundooart.203,§1º,sóseconsiderasentençaopronunciamentodojuizque“põefimàfasecognitivadoprocedimentocomum”.Adefiniçãolegalnãoabarca,portanto,essadecisãoproferidanocursodoprocedimento,semencerraraatividadeprocessualdecogniçãoemprimeirograudejurisdição.E,assim,oart.356,§5º,estabelecequeorecursocabívelparadesafiá-laéoagravode instrumento.Oart.1.015,aoenumerar“asdecisões interlocutórias”quesãoagraváveis,inclui no inciso II as que versarem sobre “mérito do processo”. Trata-se, pois, dessa decisão dejulgamentoantecipadoparcial.

Nãoobstante suanatureza formaldedecisão interlocutória,os requisitosda sentençaprevistosnoart.489doCPC/2015devemserobservados.Tais requisitos, revividosdo art. 458da lei anterior, nuncaforam propriamente requisitos da sentença, mas sim daquilo que se pode chamar de julgamento demérito em sentido estrito,25 eis que eram desnecessários nas demais sentenças, tanto as terminativascomo as sentenças de mérito por equiparação legislativa, isto é, as meramente homologatórias deautocomposição (renúncia, reconhecimento ou transação), ou as que decretam a decadência ou aprescrição.Necessáriosàcompreensãodojulgamentodeméritoemsentidoestritoeàtransparênciadaatividade jurisdicional, tais requisitos devem ser observados também nessa decisão interlocutória dejulgamentoparcialdomérito.

Anote-seaindaque,segundoonovoCódigo,aaçãorescisóriaévoltadapararescindirdecisãodemérito(art.966doCPC/2015)enãoapenassentençademérito,comoprescreviaodispositivocorrespondenteanterior (art. 485, do CPC/1973). Portanto, embora tenha a natureza de decisão interlocutória, ojulgamentoparcialdeméritopodeserobjetodeaçãorescisória.

Emverdade,essadistinçãoentredecisão interlocutóriae sentença,ouacoexistênciadedois recursosdistintospara atacar asdecisõesproferidas emprimeirograude jurisdição, éum temaesgarçadoquemereceriaumacorajosarevisão.Especialmenteemrazãodaavançadainformatizaçãodoprocesso,queproduziu autos ubíquos, carece de sentido prático formar autuações em separado ou estabelecer umaforma recursal específicapara se recorrerdasdecisõesproferidasno cursodoprocesso.Comoautoseletrônicosnãoviajam,nemseausentam,umaúnicaformarecursalseriasuficienteparaatacarambasasdecisões, mas o legislador ainda manteve a secular tradição luso-brasileira de recorribilidade emseparadodasdecisõesinterlocutórias,propiciadapelamodalidaderecursaldeagravo.26

Mesmo que tenha sido interposto o recurso, a decisão demérito proferida em julgamento antecipadoparcialcomporta,desdelogo,execuçãoprovisória(art.356,§2º).Aqui,oCPCcriaumdescompassoque, certamente, gerará profunda controvérsia acadêmica e prática. Não parece haver qualquerinconveniente em se adotar execução imediata para o julgamento fundado na incontrovérsia parcial;afinal,talincontrovérsia,nostermospostosnalei, incidesobreoprópriodireitodisputado,nãosendooutracoisaquenãoumreconhecimentoparcialdopedidoporpartedoréu(ourenúnciaparcial,porpartedoautor).Nestecaso,podeatémesmoparecermaliciosaaeventualinterposiçãoderecursopelapartevencida, eis que estaria se insurgindo contra algo que expressa ou implicitamente foi por elareconhecido.

Noentanto,darexecução imediataao julgamentoparcial antecipado fundadono inciso II,doart.356,correspondeatratardemododiversoduassituaçõesperfeitamenteiguais.Afinal,setodosospedidosseencontrassem em condições de julgamento imediato, por não dependerem de outras provas ou porversarem apenas sobre questões de direito, o feito seria sentenciado, da sentença caberia apelação,dotada de efeito suspensivo, e nenhum dos pedidos poderia ser provisoriamente executado. Mas seapenas um, alguns, ou parte dos pedidos não dependerem de prova, neste caso, segundo a lei, seriapossível executar o julgamento parcial de mérito, enquanto pendente o recurso de agravo. Não fazsentido.A interpretaçãomais adequada para a regra do art. 356, § 2º, portanto, deve ser a restritiva,delimitandosua incidênciaapenasao julgamentoantecipadoparcialdo inciso I,doart.356,emqueaexecução imediata é plenamente justificável por razões lógicas, como exposto acima. Afinal, essasituaçãodeincontrovérsiaparcialcomportava,noCPC/1973,aconcessãodeantecipaçãodetutela,queensejariaoiníciodeumaexecuçãoprovisória.

Emboraoart.356,II,façareferênciaapenasaoart.355,nãoháóbiceaojulgamentoantecipadoparcialtambémnoscasosemqueocorrejulgamentodeméritoporequiparação(art.354c/cart.487,IIeIII),especialmentenocasodeacolhimentodedecadênciaouprescriçãoapenasquantoaum,algunsoupartedospedidosformulados.Nãohámotivosparadistinguiressassituaçõesdasdemaisquepodemreceberjulgamentoparcial,naformadoart.356,II.Verificando,porexemplo,aocorrênciadeprescriçãocomrelaçãoapartedospedidos,podeojuizdesdelogodecidi-losdefinitivamenteemjulgamentoantecipadoparcial,prosseguindo-secomainstruçãoparaacolheitadeprovarelativaaospedidosremanescentes.

3.3.Saneamentoedecisãodeorganizaçãodoprocesso

Há temposque a lei e a doutrinaprocessuais estãoprecisando criar umnomeadequado, e facilmentepronunciável, para a decisão outrora chamada – inapropriadamente – de despacho saneador. Nãoobstantenãosernemdespacho,nemsanearcoisaalguma,esseeraumnomefácilesonoroque,porisso,às vezes ainda é reverberadono cotidiano forense.Como se sabe, trata-se dedecisão interlocutória,pois o ato judicial emquestão temconteúdodecisório.E, na verdade, esse ato apenasdeclara que oprocessoseencontraválidoeregular.Sealgumaatividadedesaneamentoocorreu,quandonecessária,issosedesenvolveuantesdaprolaçãodessadecisão,queapenasreconheceoprocessocomoregular.Emresumo, ouo processo já não continhavício algumdesdeo princípio, e essa decisão assimo afirma,rejeitando eventuais preliminares apresentadas pelo réu, ou os eventuais vícios foram previamentecorrigidospelaatividadede saneamentoque se realizoudurantea faseordinatória, culminandocomasubsequenteprolaçãodessadecisão,quesomentereconheceasuperaçãodosdefeitosoriginais,demodoqueoprocesso,agora,apresenta-seválido.

OCPC/2015batizouesseatojudicialdedecisãodesaneamentoeorganizaçãodoprocesso(art.357).

Tambémnãoéumnomemuitopreciso,poissaneamento,comoesboçadologoacima,éumaatividadequeantecedeessadecisão;setaldecisãoéproferida,nosmoldesdesseart.357,éporqueoprocessooujá foi saneado, ou, válido e regular desde o início, não precisou de correção alguma. Se o processocontémvício,oudetermina-sesuacorreção(casoemqueessadecisãodesaneamentoeorganização,aomenosporenquanto,nãoéproferida),oueleéextintosemjulgamentodemérito.Nenhumsaneamento,portanto,érealizadoaoseproferiressadecisão.

Emsuaessência,essadecisãonãoémuitodiferentedaqueladefinidanoCPC/1973:éumatoemqueojuiz declara válido o processo e rejeita as defesas processuais arguidas pelo réu (pois se fosse paraacolhê-las,nãoteriaproferidoessadecisão),bemcomodefereasprovasaseremproduzidas (poissenenhumaprovafossenecessária,oprocessocomportariajulgamentoantecipadodomérito).

Ao tratar dessa decisão de saneamento e organização do processo, e essa é a razão de chamá-la dedecisãodeorganização, o novoCódigo tenta recuperar e reafirmar a intenção de umadas alteraçõestrazidasnareformaprocessualde1994,que,infelizmente,poucoefeitosurtiunapráticacotidiana.Trata-se da regra inserida no CPC/1973 pela Lei nº 8.952/94, voltada para a delimitação do objeto dacontrovérsia e da instrução.Aalteração ao art. 331doCPC/1973, promovida em1994, determinou arealização, nesse momento processual, de uma audiência preliminar de tentativa de conciliação,estabelecendo, em § 2º inserido no mesmo artigo, que “se, por qualquer motivo, não for obtida aconciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes edeterminará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, senecessário”. O excesso de serviço e a necessidade de o juiz adequar suas infindáveis pautas deaudiênciacontribuíramparaodesprestígiodessanovidadee,consequentemente,essafixaçãodepontoscontrovertidosemaudiêncianãofoidascoisasmaisvistasemjuízonessasduasdécadaspassadas.

OnovoCódigo,então, tenta recuperaressaútilatividadedeorganizaçãodoprocesso,dando-lhenovaroupagem.Continuapossíveladesignaçãodeumaaudiênciaparaessefim,comorezao§3º,doart.357,doCPC/2015, sempre que“a causa apresentar complexidade emmatéria de fato ou de direito”, aponto de se considerar mais conveniente que as partes e o juiz, oralmente, definam os pontoscontrovertidos.Porcerto,aoralidadeseráútilemsituaçõesassim,permitindoaclarareprecisarmelhorospontoscontrovertidosdolitígio.

Segundo o novo diploma legal, porém, a fixação dos pontos controvertidos, e outras definiçõesmais,torna-sesempreobrigatória,mesmoquandoaaudiêncianãoserealiza.Assim,emsubstituiçãodovelhodespachosaneador,aagoranomeadadecisãodesaneamentoeorganizaçãodoprocessoéatobemmaiscomplexo, em que cabe ao juiz: “I – resolver as questões processuais pendentes, se houver; II –delimitarasquestõesdefatosobreasquaisrecairáaatividadeprobatória,especificandoosmeiosdeprovaadmitidos;III–definiradistribuiçãodoônusdaprova,observadooart.373;IV–delimitarasquestões de direito relevantes para a decisão domérito;V – designar, se necessário, audiência deinstruçãoejulgamento”.

Comonovidades,essadecisãosempredeverádelimitarasquestõesde fatoqueserãoobjetoda futurainstrução,conformedispostonoseuincisoII.Essa,portanto,jánãoéumaquestãoaserdefinidaapenasquandorealizadaaaudiênciapreliminar,comoseachavaprevistonoart.331,§2º,doCPC/1973(eque,naprática,nemsempreeraassimdecidida,mesmoquandoaaudiênciaera feita).Aindanosentidodereafirmar regra já vigentemas pouco aplicada, o inciso IV dessemesmo artigo determina que sejamdelimitadas“asquestõesdedireitorelevantesparaadecisãodomérito”.Maisprecisodoqueanorma

anterior, que se referia apenas à fixação de “pontos controvertidos”, o novo Código esclarece que,sendorelevantesecontrovertidas,tantoasquestõesdefatoascomodedireitoserãorelacionadaspelojuizaoproferiresseatodecisório.

AlémdessareafirmaçãoemelhordefiniçãoderegrasjápresentesnoCPC/1973,mascomessamesmafinalidade deorganização, incluiu-se nessa decisão a definição da “distribuição do ônus da prova,observado o art. 373” (inc. III). Se, para o juiz, a aplicação dessas regras só se faz necessária nomomentodejulgar,eapenasquandoalgumfatonãorestousuficientementedemonstradonainstrução,paraas partes é primordial o conhecimento prévio acerca dessa distribuição e, assim reconhece o novoCódigo,aspartestêmdireitoaessapréviaciênciaacercadosfatoscujoônusdaprovalheséatribuído.Evita-se,comisso,queapartesejasurpreendidanasentençacomaafirmaçãodequeeraseuoônusdeprovar algum fato que não restou esclarecido na instrução já encerrada. E, por conseguinte, é este omomento em que o juiz deverá decidir a eventual inversão do ônus da prova, demodo a dar préviaciência à parte a quem a carga foi transferida, tendo ela condições de melhor agir durante a faseinstrutóriaqueseiniciará.27

Somadas, essas regras todas cumprem um importante papel no sistema processual, no sentido deaperfeiçoamento do contraditório. Por força desse importante princípio, as partes têmo direito de terciência de todos os atos processuais, bem como a oportunidade de sobre eles se manifestaradequadamente. Tão mais perfeito é o contraditório quanto menos o processo for um palco dearmadilhasechicanas–doqueporvezeséacusado!–ouquantomenossurpresasseesconderemnascurvas sinuosas do procedimento, a surpreender os litigantes.Deve ser um jogo jogado com todas ascartas sobre amesa. Deve, pois, distanciar-se diametralmente d'OProcesso imprevisível descrito naficçãoporFranzKafka.

Proferidaessadecisão, elaainda se submeteaocontraditóriodaspartes,que“têmodireito depediresclarecimentosousolicitarajustes,noprazocomumde5(cinco)dias,findooqualadecisãosetornaestável”, como disposto no § 1º, do art. 357. Embora se assemelhe ao recurso de embargos dedeclaração,esteatocomelenãoseconfunde.Observadaaorigemdessasdisposições,bemsenotaqueolegislador de 2015 substituiu a discussão oral sobre os limites da causa (a do art. 331, § 2º, doCPC/1973) por uma discussão praticada por escrito. A título de exemplo, podem as partes, nestaoportunidade, apontar ao juiz a existência de outros fatos incontroversos, além dos relacionados nadecisãodeorganização,eventualmenteindicandoemqualmanifestaçãoanteriorforamimpugnados;ou,ao contrário, afirmar que fatos relacionados como controvertidos foram, na verdade, admitidos pelaspartescomoverdadeiros.Consideradooobjetivodaregra,queéodetornarainstruçãomaisprodutivaeeficaz, além de se evitar as surpresas, é de todo desejável que essa decisão seja proferida comoresultadodemuitaatençãoatodososfatosefundamentosdacausa,daíestabeleceraleiesseverdadeirodiálogoentrepartesejuiz,mesmoqueapenaspelaformaescrita.

Embora não o diga expressamente, havendo manifestação das partes, na forma do § 1º do art. 357,competeaojuizcomplementaroureafirmarostermosdesuadecisão,quesóentãosetornaestável.

Adelimitaçãodacontrovérsiasobreasquestõesdefatoededireitopodetambémserobjetodeajusteentre as partes, a ser homologado pelo juiz, conforme dispõe o § 2º do art. 357.A lei não prevê ummomentoparaquetalmanifestaçãoconjuntasejaapresentadaemjuízo,mascertamentedeveseradmitidaenquantonãoestabilizadaadecisãodeorganizaçãodoprocesso.Assim,parece-mequeaindanoprazode5diasprevistono§1ºdesseartigo,podemaspartesoferecerasuadelimitaçãodacontrovérsia,em

substituiçãodaquelarecémdefinidapelomagistrado.Restasabersehaveria,aí,umprazofinalparatalestipulação. Parece-me que não. Tratando-se apenas de interesse das partes, definir em conjunto acontrovérsiaouincontrovérsiaacercadealgumpontodoprocesso–oquepodesignificarconfissãodeuma das partes – é ato de vontade que pode ser praticado a qualquer tempo. É de se perguntar,praticamentefalando,porqueaspartesfariamissonocursoouemmomentosadiantadosdoprocesso,interrogaçãoque,ademais,pairasobreosváriosregramentosdonovoCódigoqueestabelecemformasdecooperaçãoentreaspartes.Seaspartesquiseremdispordequalquerdireito, faculdadeouposiçãodevantagem seus, incluindo-se nisso o próprio direito material em disputa, não cabe ao processo civilproibi-lasde fazê-lo, à exceçãodoscadavezmais escassoscasosemquea lideverse sobredireitosconsideradosindisponíveis.

Nosdemaisparágrafosdoart.357,encontram-sealgumasmodificaçõesqueatingemaproduçãodeprovae,porisso,serãocomentadasadiantenoCapítulodedicadoaotema.28

CapítuloVIII-AlteraçõesdoNCPCemmatériadeprovas

1.Partegeral

Asdisposiçõesgeraisrelativasàsprovasencontram-senosarts.369a380doCPC/2015.Emboaparte,são repetiçõesdasdisposiçõescontidasnocapítulocorrespondentedoCPC/1973,queabarcaosarts.332a378,oudasdisposições sobreo juizque foram trasladadasdosarts.130e131da lei anterior,correspondendo,agora,aosnovosarts.370e371.Comopropostonestaobra,serãocomentadassomenteasdiferençastrazidaspelonovodiplomaprocessual.

Oart.371reafirma,comtextoligeiramentemodificado,oprincípiodapersuasãoracionaldojuiz,antesprevistonoart.131doCPC/1973.Trata-sedeprincípiorelativoaomododeapreciaçãoevaloraçãodaprovaequepode ser consideradoummodelo intermediário, situadoentredois sistemasopostos, cujoobjetivo é definir ométodo pelo qual se forma a convicção acerca da verdade dos fatos.Umdessesextremoséachamadaprovatarifada,modeloarcaicoesuperadoemqueovalorprobantedosmeiosdeprova é preestabelecido em lei, cabendo ao juiz nada mais do que constatar a verdade medianteaplicaçãodessespesoslegais.Ooutroextremoéodojulgamentoconformeaconsciênciadojulgador,aindaencontradomodernamentenos julgamentosdecididospelo tribunaldo juri.Cabeao juradovotarpela existência ou inexistência dos fatos segundo ditar a sua convicção íntima, sendo dispensado deexternar qualquer motivação ou esclarecimento a respeito do seu convencimento. O princípio dapersuasãoracionaldojuiz,jáadotadopeloCódigoanterior,encontra-seentreessesdoissistemas:nemvinculaojuizavalorespredefinidospelolegislador,dando-lheliberdadeparavaloraraprova,nemodeixa completamente livre para julgar segundo suas convicções íntimas, pois dele se exige umamotivaçãoracional,medianteaapresentaçãodeumdiscursológicoecalcadonasprovasdosautos,queexpliqueaosseusinterlocutores–nãosóaspartes,mastodaasociedade–oporquêdeteracreditadonaveracidadeouinveracidadedecadaumdosfatosrelevantesecontrovertidosdacausasubmetidaaoseujulgamento.

Emrelaçãoaotextoanterior,eliminou-senoCPC/2015areferênciaaapreciarlivrementeaprova,tendosidoretiradoessevocábulodo texto.Emmeuentendimento,asupressãodovocábulo livremente nadaalteraosentidoquejáeradadoaoprincípio,eisque,pelorestantedotextodoart.131doCPC/1973,ficavaclaroqueessaliberdadenãoeratotal–talcomosedánojulgamentopelojúri–mastãosomentesignificava a liberdade de formar o convencimento sem se submeter a qualquer prévia amarraçãoapriorísticadadapelalei;masaliberdadeprevistanotextoanteriorestavarestritapelanecessidadedeapresentarmotivaçãoracional,calcadanaprovaconstantedosautos.Éoquetemosnanovaredação.

Acresceu-se, nomesmo artigo, a expressão“independentemente do sujeito que a tiver promovido”,referindo-se o texto, no caso, às provas constantes dos autos. Apenas se inseriu na lei posiçõesconsagradasdateoriaacercadodireitoprobatório,cujaaplicaçãoanteriorpareciasedarsemqualquerhesitação.Considera-se que as provas, uma vez produzidas, devem ser analisadas objetivamente pelomagistrado,queasvaloraporaquiloqueemsiafirmam,nãoimportandoquemastrouxeaosautos.Éoquejásecostumouchamar–sobascríticasdamodernadoutrina–deônusobjetivodaprova,expressãoemsicriticávelpoisaomagistradonãoseimpõeônusalgumnarelaçãoprocessual.Ojuiztemodeverde apreciar as provas e, nessa apreciação, não lhe cabe distinguir qual das partes as trouxe, eis quedevemserexaminadasobjetivamente.

Oart.372fazreferênciaàprovaemprestada.NãohaviadispositivosobreotemanoCPC/1973,massuaadmissibilidade já era amplamente aceita em juízo, bem como ventilada na doutrinamais tradicionalsobreamatéria.Eoartigoemcomentoseresumeaafirmaraadmissibilidadedetalprova,semadentraremquaisquerregramentosadicionaissobreaformadesuaproduçãooucritériosparasuavaloração,nãosignificando,portanto,umarealnovidade.

AmaiorinovaçãonesteCapítulodizrespeitoàsregrassobreadistribuiçãodoônusdaprova.

Aregrageraldedistribuição,antesprevistanoart.333eincisosdoCPC/1973,érepetidanoart.373eseusincisos,doCPC/2015.Aoautoréatribuídooônusdeprovaro“fatoconstitutivodeseudireito”,aoréucabeoônusdeprovara“existênciadefatoimpeditivo,modificativoouextintivododireitodoautor”. Admite-se, tal qual no regime anterior, que as partes disponham diferentemente sobre adistribuiçãodoônusdaprova(art.373,§3º),acrescentandoonovoCPC,no§4ºdestemesmoartigo,queestaconvençãopodesercelebradaantesouduranteoprocesso.

InovaoCPC/2015aopermitirqueojuizdecidasobreadistribuiçãodoônusdaprovademododiversodo estabelecido no caput, adotandomoderno posicionamento acerca da chamada carga dinâmica daprova. A questão, porém, não é simples, e o legislador mostrou-se cheio de cuidados ao regular aquestão,nos§§1ºe2ºdoart.373.

Emprimeirolugar,taldisposiçãodiversapodeserdeterminada“noscasosprevistosemlei”.Tome-secomo exemplo, neste caso, a regra consumerista que permite inversão do ônus da prova em favor doconsumidor, quando suas alegações forem verossímeis ou quando ele for hipossuficiente, segundo aexperiênciaordináriadomagistrado(art.6º,VIII,doCDC).

Asegundasituação,maisfluida,refere-se“apeculiaridadesdacausarelacionadasàimpossibilidadeou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade deobtenção da prova do fato contrário” (art. 373, § 1º).A subjetividade dos adjetivos empregados notexto dão conta da dificuldade que tal regra poderá trazer. E, com receio de eventual injustiça que anovidadepossainfligiraolitigantequerecebeesseônus,inseriuolegisladorumcontrapontono§2ºdomesmo artigo, que afirma que a inversão “não pode gerar situação em que a desincumbência doencargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil”. Disso resulta que a prolixidade dolegisladorfoiinútil.Oque,naprática,deverápermitiressaalteraçãonaatribuiçãodoônusdaprovaseráapenasamaiorfacilidadequeapartecontráriateriaemdesincumbir-sedele,comparativamenteaoseuadversário.Havendoapenasexcessivadificuldadeparaaparteaquemincumbiriaoriginalmenteoônusdaprova,comoexpressono§1º,seidênticaexcessivadificuldadetiveroadversárioemproduzi-la,otexto dos dois parágrafos se anulam. Portanto, não havendo previsão legal a respeito dessa inversão,conclui-sequesósepodetransferiraoutrooônusdaprovaseaesteformaisfácilproduzi-la;mesmoassim,sefalamosdodescompassoentreoquaseimpossíveleoexcessivamentedifícil,o§2º tambémimpedeamodificação,aindaquemaisfácil(ouligeiramentemenosdifícil)sejaaprovadofatoparaoadversário.

Anovaregraquepermitemodificaçãodoônusdaprovapelojuiztalvezencontrecampofértilnoâmbitodosfatosnegativos.Jásedisse,nopassadoremoto,quefatosnegativosnãopodemserprovados,oquefoi depurado mais modernamente, aduzindo-se que somente os fatos negativos e indeterminados nãopodemserprovados.Fatosnegativosedeterminadospodem,sim,serprovados,mediantedemonstraçãodeoutrosfatosquelhesejamexcludentes.Atítulodeexemplo,éimpossívelprovarquenuncaestiveemPequim(fatonegativoeindeterminado).MasépossívelprovarquenãoestiveemPequim,digamos,no

dia6deoutubrode2004 (fatonegativo edeterminado),mediantedemonstraçãodequenessadata euestavaemoutrolugar.Mas...ondeémesmoqueaparteestavanesseprecisodia?Ora,umacoisaédizerque tais fatos negativos e determinadospossam ser logicamenteprovados, outra coisa é a dificuldadeprática em fazê-lo, pois isso exige identificar e provar, no caso concreto, quais seriam esses fatospositivoscapazesdeexcluirofatonegado.Equetenhaocorridonopassadoumfatodemonstrávelcomessaaptidãoparaexcluirofatonegado.

Assim,pensoquejádeveriasercompreendidonaregradocaputdoart.373(oudoanteriorart.333),que cabe às partes a prova dos fatos positivos que lhes aproveitam.Ao autor aproveita demonstrar aexistência dos fatos constitutivos de seu direito; ao réu aproveita demonstrar a existência dos fatosimpeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. Se o autor fundamenta seu pedido nanegativa de existência de uma relação jurídica, como ocorre, por exemplo, nas ações com pedidodeclaratóriodeinexistênciadeobrigação(tipodecausaque,namodernasociedadedeconsumo,tem-setornadocorriqueira),nãosepodeimporaeleoônusdeprovarquenãofirmoucontratoalgumcomoréu.Aoréuincumbeprovaraexistênciadaobrigaçãonegadapeloautor,poiséfatoquelheaproveita.Definirquecadapartetemoônusdeprovarosfatospositivosquelheaproveitamparecedecorrênciadiretadaregrageraldedistribuiçãodoônusdaprova.Nãopodeserconsideradofatoconstitutivododireitoumnão-fato.Nãopodeserônusdoautorprovaranão-existênciadeumfato,oquenãoseconfundecomovelhobrocardosobreaimpossibilidadedessaprova,quepodesertrazidaaosautos,seforocaso,comocontraprova.Idem,comrelaçãoaoréu,quantoaoônusdeprovarosfatosimpeditivos,modificativosouextintivos,oquenãoabrangeosnão-fatos.

Noart.379,oCPC/2015repetetrêsônusprocessuaisqueoanteriorart.340doCPC/1973impunhaàspartes:“I–compareceremjuízo,respondendoaoquelheforinterrogado;II–colaborarcomojuízona realizaçãode inspeção judicialque for consideradanecessária; III –praticaroatoque lhe fordeterminado”.Há,noentanto,umadiferençadetextonocaputdesseartigoquemerecesercomentada,paraevitarconfusões.Éressalvado,nocaputdoart.379,“odireitodenãoproduzirprovacontrasiprópria”,casosemqueosônusprevistosnostrêsincisosseriamafastados.Esclareça-sequetaldireitonãoexistenoâmbitodoprocessocivil:énormaprópriadogarantismopenal,decorrentedasdisposiçõesqueasseguramaoacusadoodireitoaosilêncio(CF,art.5º,LXIII).Portanto,esseacréscimodetextonãomudaaordem jávigente,mas apenas esclarece, na lei processual civil, que abuscadaprova emumprocesso civil não pode compelir a parte a informar fato que lhe acarrete risco de ser processadocriminalmente,poisissoseriaumatalhoasubverteragarantiaprocessualpenal.

Nemsepensequeanovaleipretendeutrazeressagarantiapenalparaoâmbitocivil,poisasconfissõesdecorrentes do silêncio previstas noCPC/1973 foram todasmantidas no novoCódigo, especialmenteaquelaquedecorredarecusaemresponderaoquelheéperguntadoemdepoimentopessoal,ouquandoodepoente emprega evasivas (arts. 385, §1º, e 386, do CPC/2015).Mais que isso, foram introduzidasnovassituaçõesemqueosilênciofazpresumiraverdadecontraointeressedequemsilencia,comosenota no art. 411, III, a se melhor comentado adiante.29 A nova redação, portanto, apenas enfatiza asimplicações e reflexos no processo civil da já conhecida garantia penal que assegura ao acusado odireitoaosilêncioeanãosercompelidoaproduzirprovacontrasimesmo.

2.Produçãoantecipadadeprova

Comaextinçãodolivrodedicadoaoprocessocautelar,eoconsequentefimdaatividadecautelarcomoobjetodeprocessoautônomo,asdisposiçõesantesconstantesdosarts.846a851doCPC/1973foram

acomodadasnoCapítulodedicadoàsprovas.OnovoCódigodedicaaotemaosarts.381a383.

Nãoobstanteanaturezaindefinidaqueanovaleideuaoinstituto,eanítidaintençãodolegisladoremextinguiroprocessocautelar,asnormasdispostasnessestrêsartigosdãoàproduçãoantecipadadeprovauma natureza inegável de processo autônomo, cujo objeto é tão somente a colheita e preservação daprova,talqualacautelarnominadaqueseencontravaprevistanoCódigoanterior.

A produção antecipada de prova do CPC/1973 era medida de natureza acautelatória, destinada àproteção da prova, sem caráter constritivo.É assimque amedida pode ser definida, segundo o novoCPC.Emverdade,pode-sedizerqueessanovaroupagemdadapeloCPC/2015substituiasfinalidadesnãoapenasdaproduçãoantecipadadeprovadaleianterior,mastambémdoarrolamentodebensquandonão constritivo de direitos (arts. 855 a 860, do CPC/1973 - v. art. 381, § 1º, do CPC/2015), dajustificação(arts.861a866,doCPC/1973–v.art.381,§5º,doCPC/2015)edaexibição(arts.844a845,doCPC/1973).

Trata-se, enfim, de medida que pode ser ajuizada quando o único objetivo do requerente, naquelemomento,épreservar,documentarouapenasconheceraprova.

Segundooart.381,amedidaseráadmitidaquando:“I–hajafundadoreceiodequevenhaatornar-seimpossível oumuito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação; II – a prova a serproduzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado de solução deconflito;III–oprévioconhecimentodosfatospossajustificarouevitaroajuizamentodeação”.AhipótesedescritanoincisoIfoitranscritadoart.849doCPC/1973e,emboraalisefizessereferênciaapenasàprovapericial,estaeraafórmulageralquepermitiaamplamenteamedida,paraacolheitadequaisquerdosmeiosdeprovaapontadosnoart.846doCPC/1973.AssituaçõesdescritasnosoutrosdoisincisossãoinovaçõesdoCPC/2015,queampliamaautorizaçãolegalparaorequerimentodamedidaequepraticamenteasseguramàparteumdireitoabstratoemsomenteregistraraprova,paraqualquerfim,mesmoquenãosejaafuturaproposituradeação,ousimplesmenteterciênciadosfatosque,atéentão,nãoconheciatotalouparcialmente.

Não se tratando demedida restritiva de direitos de outrem, não há porque a lei ou o juiz introduzammaioresdificuldadesaopedidodeperpetuaçãodaprovaque,segundoreconheceolegisladorde2015,podeseprestaratémesmoparaevitarousolucionarlitígiospresentesoufuturos.

Diversamentedodispostonoart.846,doCPC/1973,queestabeleciaoprocedimentoparaacolheitade“interrogatório da parte, inquirição de testemunhas e exame pericial”, a medida prevista no novoCódigoédestinadaacolheitadequalquermeiodeprova(art.382,§3º,doCPC/2015),oquesignificadizernãosóosmeios típicosdescritosna lei,comotambémqualqueroutromeioatípico(art.369,doCPC/2015)quepuderserproduzidoparademonstraraverdadedosfatosquesequerperpetuar.E,assim,substituitambémaextintaaçãocautelarnominadadeexibição(arts.844a845,doCPC/1973).

Acompetênciaparaaproduçãoantecipadadeprovaédefinidanoforodolocalondeaprovadevaserproduzidaounododomicíliodoréu,comoprevistonoart.381,§2º,doCPC/2015.Oajuizamentodessamedidanãotornapreventoojuízoparaumaeventualaçãoposterior,segundodizo§3ºdomesmoartigo.Ainda quanto à competência, a lei confere à justiça estadual competência para processar estamedida“emfacedaUnião,entidadeautárquicaouempresapúblicafederal,senalocalidadenãohouvervarafederal”,comoprevistono§4º.

Nãoháqualquernecessidadedeindicarumaaçãoprincipalaserfuturamenteajuizada,eisque,comojádito,ocabimentodessamedidasequerseresumeaservirdeprovaemumfuturoprocesso judicial.Apetiçãodeveserfundamentadaapenascom“asrazõesquejustificamanecessidadedeantecipaçãodaprova”; cabe,porém,ao requerente,mencionar“comprecisãoos fatos sobreosquaisaprovaháderecair”,(art.382,doCPC/2015).

Serãocitados“os interessadosnaproduçãodaprovaouno fatoaserprovado”, segundorezaoart.382,§1º,doCPC/2015.Essassãoaspessoasemrelaçãoaquemoautorteminteresseemfazeraprova.Paraqueaprovasejacolhidasobocontraditório,taissujeitosdevemsercitadosparaoprocesso.Note-sequeapossibilidadedeatuaçãodorequeridofoiampliada,emcomparaçãocomamedidaanálogadoCPC/1973,sendo-lheautorizadosolicitaraproduçãodeoutrasprovasacercadomesmofato(art.382,§3º,doCPC/2015),cabendoaojuizdecidirsobresuaadmissibilidade.

Esgotada a colheita das provas requeridas, o procedimento é encerrado, sem que o juiz se pronuncie“sobreaocorrênciaouainocorrênciadofato,nemsobreasrespectivasconsequênciasjurídicas”.Aprova é simplesmente colhida, para o uso extrajudicial que a parte der a ela, ou, se apresentada emprocesso judicial futuro, caberá ao juiz dessa segunda causa apreciá-la e aplicar as consequênciasjurídicasdofatoaodireitoalipostulado.Oqueimportaéque,colhidasobasvistasdapartecontrária,seuvalorprobantenosegundoprocessodeveseridênticoaodeumaprovaquetivessesidocolhidanelepróprio.

Diz o art. 383, do CPC/2015, que “os autos permanecerão em cartório durante 1 (um) mês paraextração de cópias e certidões pelos interessados”. Em se tratando de autos digitais, a regra éevidentementedesnecessária.AspartespodemfazerdownloaddetodososatosdoprocessoebempodeoJudiciáriomanter tais registrosnoseubancodedados, juntamentecomosautosdigitaisdosdemaisprocessosfindos.

Nãoseadmiterecursonesseprocedimento,“salvocontradecisãoqueindeferirtotalmenteaproduçãodaprovapleiteadapelorequerenteoriginário”(art.382,§4º,doCPC/2015),istoé,contraadecisãoqueindeferiropedidoedeterminaraextinçãodoprocesso.Écuriosaarestriçãofeitanalei:deveriaseradmitido recurso também contra o indeferimento parcial. Se a parte tem interesse na preservação daprovasobrecertosfatos,nãoháporquedistinguirodireitoaorecursocontraadecisãoquenegoutodasouapenasalgumasdasprovassolicitadas.Seaprovanegadativessesidoaúnicasolicitada,teriasidoaceitoorecurso;nãofazsentidonegá-loapenasporqueamesmaprovafoirequeridaemconjuntocomoutra, cuja produção antecipada foi admitida.Note-se que ao negar o direito a recurso por parte dosrequeridos,comfundamentonaexcessivademoraemcolheraprova(art.382,§3º,doCPC/2015),aleinãoatingeseudireitoàprovaantecipada.Odireitodestesderequerermedidaautônomaparacolhertaisprovas, por certo, é preservado.O indeferimento, nesse caso, apenas tem o evidente objetivo de nãocausarembaraçosàmaisexpeditacolheitadaprovaquefoisolicitadapelorequerenteoriginal.

3.Meiosdeprovaemespécie

Comosesabe,nãomaisvigora,nosmodernossistemas jurídicos,osistemadaprova legal,segundooqualsomentesãoaceitososmeiosdeprovaquealeienumerar.Oart.369doCPC/2015,naesteiradoque jádeterminavao art. 332doCPC/1973, estabeleceque são aceitos comoprova“todososmeioslegais, bem comoosmoralmente legítimos, ainda que não especificados nesteCódigo”. Portanto, aprevisão legal dos meios de prova na lei processual só faz sentido quando o legislador desejar

estabelecer regras procedimentais sobre sua produção em juízo, ou, ainda, quando sobre eles desejarestabelecerpresunçõeslegais.Nãocabeàleidefiniroquefazprovaouoquenãofaz,eisqueprovaéumademonstraçãodaverdadeque sópode ser compreendidamediante aplicaçãoda inteligência edarazãohumanas sobreocasoconcretoe sobreasprovasacercados fatos litigiososque foram trazidasparaosautos.

O CPC/2015 reitera a previsão expressa dos mesmos meios de prova já descritos no CPC/1973:depoimentopessoal,confissão,exibiçãodedocumentooucoisa,provadocumental,prova testemunhal,provapericialeinspeçãojudicial.Alémdesses,foiacrescentadaumanovaseção,comumúnicoartigo,introduzindoaatanotarialnoroldosmeiosdeprovaespecificadosemlei.Serãocomentadas,nositensqueseseguem,apenasasnovasdisposiçõesqueoCPC/2015estabeleceuacercadosmeiosdeprovaemespécie.

3.1.Atanotarial

AatanotarialfoiinseridapeloCPC/2015entreosmeiosdeprovaexpressamenteprevistosemlei.

Comojáafirmado,osmeiosdeprovanãoseresumemaosquesãodescritosemlei,admitindo-seoutrosque, de um modo lógico e racional, permitam desvendar a verdade dos fatos da causa. Destarte, aprevisãolegaldaatanotarial,especialmentedomodosingeloemqueseencontra,emartigoúnico,eraabsolutamente desnecessária.A ata notarial é espécie de prova documental,meio de prova que já seencontraextensamenteregradonaleiprocessual.Maisespecificamente,éumdocumentopúblicolavradopor tabelionato de notas, conforme elencado no art. 7º, III, da Lei nº 8.935/1994, e que tem comoconteúdo a descrição de fatos presenciados pelo Tabelião. Não é um ato de disposição nem dereconhecimento acerca de direitos e, sim, uma constatação de fatos captados pelo notário e por eledescritosnessedocumento.

Eaatanotarialjátemsidoutilizadacomrazoávelfrequência,paradocumentarsituaçõesquepossamserpresenciadaspeloagentequealavra.Assim,nãohápropriamenteumanovidadenainserçãonoCódigodessainéditaseção,contendoapenasoart.384eseuparágrafoúnico.Ocaputdesseartigo,confirmaafinalidade acima descrita para esse documento público, ditando, com uma certa veia poética, que“aexistênciaeomododeexistirdealgumfatopodemseratestadosoudocumentados,arequerimentodointeressado,medianteatalavradaportabelião”.Oparágrafoacrescentaque“dadosrepresentadosporimagemousomgravadosemarquivoseletrônicospoderãoconstardaatanotarial”.

TemsidobastantecomumousodeatanotarialparadocumentarregistroseletrônicospresentesemsítiosdaInternet,comopropósitodedemonstrarumamiríadedefatos,taiscomoviolaçãodedireitoautoral,qualidades e características de produtos e serviços anunciados, contratos e termos de uso publicadosapenas em páginas web, conteúdo ofensivo, entre outros fatos praticados por computadores, cujosvestígiospoderãoserapagadoscomfacilidadepeloseudetentor,daíautilidadedaexpeditalavraturadeumaatanotarial.Assim,écomumquetaisatascontenhamimagensdastelasdecomputadorvistaspelonotário,quandodaconstataçãodessamodalidadedefatosinformáticos.

3.2.Provadocumental

A prova documental é prevista nos arts. 405 a 441 do CPC/2015. São amplamente reiteradas asdisposiçõesdoCPC/1973acercadaprovadocumental,atémesmoaquelasque,pelaevoluçãodosmeios

decomunicação,jánãoparecemfazermuitosentidoemrazãododesuso,como,porexemplo,adoart.413 do novoCódigo, que apenas repete regra do art. 374 da lei anterior.Como proposto nesta obra,serãocomentadasapenasasdiferençasentreosCódigosnovoevelho.

No art. 411, nota-se alteração acerca da presunção de autenticidade dos documentos particulares.Autenticidade é a certeza quanto à autoria do documento. A regra anterior, constante do art. 369, doCPC/1973, estabelecia que o documento particular somente era considerado autêntico quando suaassinaturafossereconhecidademodopresencialpelo tabelião.OnovoCódigoampliaa incidênciadapresunçãodeautenticidade,paraabrangerasseguintessituações:“I–otabeliãoreconhecerafirmadosignatário;II–aautoriaestiveridentificadaporqualqueroutromeiolegaldecertificação,inclusiveeletrônico, nos termos da lei; III – não houver impugnação da parte contra quem foi produzido odocumento”.

No primeiro inciso, ao referir-se somente ao reconhecimento de firma, sem distinguir as duasmodalidades,istoé,presencialeporsemelhança,parecetersidovontadedolegisladoratribuiraambasaforçadegerarapresunçãodeautoriadodocumento.Trata-sedealteraçãoarriscada,poissabe-seque,na tarefa de reconhecer firmas por semelhança, o tabelionato se resume a verificar se a assinatura separece com outramantida em seus arquivos. Falsificadores habilidosos, com ou sem o uso de novastecnologias,sãocapazesdereplicaraassinaturaautógrafadeoutros,nãosesupondoqueotabelionato,nameraaferiçãodesemelhançaentreasassinaturas,tenhacondiçõesdeconstatarapresençadefraudesmais finas.Écertoquea regradoart.411apenasestabeleceumapresunçãosimplesdeautenticidade,que,portanto,admiteprovacontrária.Contudo,diantedapresunção,oônusdaprovadafalsidadepassaaserdosupostosignatárioqueimpugnaafirmaditacomosua,acarretando-lhe,porisso,tambémoônusdesuportarasdespesasparaproduçãodaprovanecessáriaàdemonstraçãodafalsidade.Melhor teriasidoqueolegisladordeixasseessetemacomoestavanoCPCanterior,oquedavaàspartesaopçãoderealizarounãooreconhecimentodefirmapresencial,quelhesdariamaiorsegurançacontraimpugnaçõesde falsidade; ou, querendo, optassem apenas pelo reconhecimento por semelhança, sem presunção deautenticidade,comoobjetivodeaomenosaumentaraconfiabilidadenegocialdoato,ouparacumprirodispostoemsituaçõesprevistasemlei,comonoart.654,§2º,doCódigoCivil.

O segundo inciso é fruto de uma moderna tendência legislativa, que, desejosa de modernizar asinstituiçõesjurídicaseoprocesso,tentaaqualquercustointroduzireregularousodasnovastecnologiassem, contudo, compreendê-las, ou nemmesmo conhecê-las.É o que venho chamando, com certa dosesarcasmo,desíndromedamodernidadedesconhecidaque,porvezes,afligeolegislador.Eoresultadodissotemsidoacriaçãodenormasmalformuladas,malexplicadas,ouprofundamenteincompletasparao fim a que se destinam. Neste caso, como o legislador ao menos exige outro “meio legal decertificação”, finalizandoo incisodeformaredundantecomaexpressão“nos termosda lei”,o textoapenasremeteparaoutraleiamissãodeprevermaisalgunsmecanismostendentesacriaressapresunçãode autenticidade. No momento, parece-me que tal lei não existe. Há um profundo lobby neste país,originário principalmente das esferas governamentais, que vem paulatinamente obrigando o uso dacertificaçãodigitalemitidapelaICP-Brasil,mesmoquenãohajaleialgumaqueoautorizeoudetermine.AICP-BrasilfoicriadapelaMedidaProvisórianº2.200/2001que,caídanovácuodeixadopelaECnº32,jamaisfoivotadapeloCongressoNacional.EotextodessaMedidaProvisórianãoprevênenhumapresunçãode autenticidade à certificaçãodigital ali criada e regulada, apesar da insistência do lobbygovernamental,quetentasustentarocontrário,comofitodeobrigartodoopaísausaressamegaestruturaestatal.Assim,essesegundoincisoapenasremeteparaleipororainexistente.

Oterceiroincisodeixaexplícitooquejádeveriaserconsequêncialógicadoprocedimentoadotadonaproduçãodaprovadocumental.Todavezqueumdocumentoéjuntadoaosautos,apartecontráriatemodireito de se manifestar a seu respeito. Se uma das partes junta documentos em suas manifestaçõesiniciais,aindadurantea fasepostulatória,oadversáriodeverásemanifestarsobreelesnasuapetiçãoseguinte. Se juntado no curso do processo, a qualquer tempo, abre-se vista e oportunidade demanifestação à parte adversa, conforme art. 437, 1º, do CPC/2015, a ser comentado logo abaixo. Oinciso III deixa expressoque, se a parte não impugnar os documentos juntados pelo adversário, dissoresultarásuapresunçãodeautenticidade,assimcomoosilêncio,emoutrosmomentosdoprocessocivil,produzdiferentesformasdepresunçãodeveracidade.

O art. 422 do CPC/2015 traz norma análoga à do art. 383, do CPC/1973, destinada a regrar aapresentação de reproduções de documentos, isto é, cópias feitas a partir do documento original. Domesmo modo que o texto legal anterior, cópias cuja conformidade com o original não tenha sidoimpugnadapeloadversáriosãoigualmenteaptasa“fazerprovadosfatosoudascoisasrepresentadas”.Háumasutilmodificaçãodetextoentreanovaeavelhanorma.Noart.383,doCPC/1973,ascópiasseriammeiosidôneosdeprova“seaquelecontraquemfoiproduzidalheadmitiraconformidade”.Nonovo texto, ficou claro que essa admissão de conformidade também pode ser tácita, decorrente daausência de impugnação expressa, pois a hipótese legal agora é redigida deste modo: “se a suaconformidadecomodocumentooriginalnãoforimpugnadaporaquelecontraquemfoiproduzida”.Esseentendimentojápoderiaserdeduzidodotextoanterior;comanovaredaçãodadapeloCPC/2015,ficaclarooônusqueseatribuiàspartesdeimpugnardocumentosdeformaexpressaeprecisa.

Havendoimpugnaçãopelapartecontrária,adependerdeseuteor,oscaminhosatomarserãodiversos.Se a parte apenas impugnar a conformidade da cópia como original, oumesmo a inexistência de umoriginalcorrespondente,bastaqueestesejaexibidoemjuízoeexaminadopelojuiz,paraqueaquestãoseja solucionada.Sea impugnação recair sobreaveracidadedoprópriooriginal,nestecaso,alémdaapresentação deste, pode ser necessária a realização de prova pericial sobre o documento, tudo emconformidadecomoslimitesdaimpugnaçãoedarespostaoferecidapelapartequejuntouodocumento.

Éoportunoconsiderarque,comacrescenteinformatizaçãodoPoderJudiciárioeaintroduçãodeautosdigitais, a prova documental juntada passa a ser formada quase que exclusivamente por cópiasdigitalizadasdosdocumentosoriginais.Documentosoriginaiseletrônicos,aoqueparece,aindasãodeuso raríssimo e, além disso, os sistemas informáticos adotados pelos tribunais, cheios deespecificidades,nemsemprepermitemsuaapresentaçãonaformaoriginal.

Foram introduzidos, neste art. 422, três parágrafos que não encontram correspondência no Códigoanterior.Asregrasdosparágrafos, todavia,nãotêmrelaçãocomotemadocaput,que,comovisto,serefere à juntada de cópias de documentos originais.Os parágrafos não tratam de cópias,mas sim deoutrostiposdedocumento:afotografiaeasmensagenseletrônicas.

No tocante às fotografias, o § 2º determina que“se se tratar de fotografia publicada em jornal ourevista, será exigido um exemplar original do periódico, caso impugnada a veracidade pela outraparte”. O texto parece ser autoexplicativo. Anote-se, apenas, que, por “exemplar original doperiódico”,otextoserefereapenasàmídiaimpressa.Emboratratedeassuntodiverso,esseparágrafomerece ser interpretado em consonância como disposto no caput, ou seja, a exigência de juntada doexemplaroriginaldoperiódicosódeveserconsideradanecessáriasehouverimpugnaçãodapartecontraquemafotografiafoiproduzida.Porcerto,nãoéexcluídaajuntadadeapenasumacópiadoperiódico,só

sendonecessáriaaapresentaçãodooriginalsehouverimpugnaçãodapartecontrária.

Os§§1ºe3ºsãosintomadamesmasíndromedamodernidadedesconhecidareferidaacima.Aindacomapretensãoderegraraapresentaçãodefotografias,o§1ºsepropõeacriarregrassobreaapresentaçãodefotografiasdigitais.O§3ºpreocupou-secomasmensagenseletrônicas.

Hápelomenosumadécadaqueasfotografiasdigitaistomaramocotidianodetodasaspessoas,nãosetendo notícia do emprego do velho filme, senão em nichos profissionais e artísticos extremamenterestritos.E,porconseguinte,nadécadapassada,fotografiasdigitaisforamfartamenteapresentadascomoprova nos processos judiciais. Se é certo que a edição dessas imagens tem se tornado cada vezmaisacessível ao leigo, não parece haver outro modo de apreciar tal prova, senão submetendo-a aocontraditório e, no limite das impugnações e respostas apresentadas pelas partes em torno de suaveracidadeoufalsidade,colheroutrasprovasqueesclareçamaquestão,especialmenteaperíciasobreaprópria foto. O § 1º, entretanto, diz que, se impugnadas tais fotografias, deve ser apresentada “arespectivaautenticaçãoeletrônicaou,nãosendopossível,realizadaperícia”.Nãotenhoamenorideiado que seja essa autenticação eletrônica de fotografia. Simplesmente não há, e provavelmente nãohaverá,qualquertecnologiaqueautentiqueafotografia,apontodeassegurarqueaimagememquestãocorrespondeàquiloquefoicaptado,nopassado,pelossensoreseletrônicosdoequipamentofotográfico.

O§3º,porsuavez,apenasdeterminaaaplicaçãodasdisposiçõesdoartigotambém“àformaimpressade mensagem eletrônica”. Uma análise mais minuciosa das mensagens eletrônicas como provaextravasam os objetivos deste trabalho. São documentos facilmente autoproduzidos ou alteradosunilateralmente, cuja apreciação pelo juiz requer extrema cautela. Exceto se tais mensagens foramassinadas digitalmente, algo que, na prática, ainda é bastante raro, são documentos profundamentevoláteisnãoapenasemsuaformaimpressa,mastambémnaformaeletrônica“original”.Suavaloraçãocomo prova depende grandemente dos limites do contraditório que sobre elas se estabeleceu, ou daverosimilhança das alegações em favor ou contra sua veracidade, especialmente quando apoiada nosdemais elementos constantes dos autos. Portanto, tudo o que pode ser extraído deste parágrafo é:apresentada como prova umamensagem eletrônica, se não impugnada, ou, se o for parcialmente, noslimitesdoquenãofoi impugnadoelaéconsideradaverdadeira; impugnada, torna-seprovafrágil,cujaveracidadedependerádeoutroselementosdeconvicaçãoedocontraditórioquefoiestabelecidosobreessedocumento.

Ocontraditóriosobreaprovadocumentalsignificadaràpartecontrária,contraquemodocumentofazprova,aoportunidadedesemanifestarsobreseuteoresobreasuaprópriaveracidadeouautenticidade.OCPC/2015regulaadiscussãosobreodocumentodeformamaisprecisaeminuciosa,emcomparaçãocomaleianterior.

AgrandeunificaçãodeprazosfeitapeloCPC/2015,dando-lhesduraçãode15dias,atingiutambémessemomentodoprocesso.Umavezjuntadoumdocumento,cabeaoadversáriomanifestar-sesobreele.Osdocumentosjuntadospeloautorserãoimpugnadospeloréunacontestação,enquantoosqueoréujuntarnadefesaserãoimpugnadospeloautoremréplica,ambososatossubmetidosaomesmoprazode15dias.Juntado o documento em qualquer outra oportunidade, como na réplica, ou por petição avulsaapresentadanocursodoprocesso, temapartecontráriaomesmoprazode15diasparamanifestar-sesobreele,conformearts.430e437,§1º.

Uma novidade importante acerca do prazo para essa manifestação encontra-se no § 2º do art. 437:

“poderáojuiz,arequerimentodaparte,dilataroprazoparamanifestaçãosobreaprovadocumentalproduzida,levandoemconsideraçãoaquantidadeeacomplexidadedadocumentação”.Hásituaçõesemqueovolumededocumentosjuntadosporumadaspateséextenso,ouexigequeapartecontráriafaçaalgumtipodediligência,analiseoutrosregistrosseus,oupreciseapurarfatos,parapodersemanifestarsobreeles.Nãodizo textoqualomomentoparaessasolicitação,masparececlaroquedeveserfeitaantesdofinaldoprazo,seapartenãoquisercorrerriscos,esperando-sequeojuizprontamenteaprecieo pedido. Como parágrafo do art. 437, cujo caput se refere às manifestações sobre documentos nacontestação e na réplica, parece claroque essaprorrogaçãodeprazos tambéma elas se aplica.Mas,nestecaso,nãodizoCódigoseaprorrogaçãoatingeacontestaçãoeréplicacomoumtodo,ouapenaspara amanifestação sobreosdocumentos.Deveria a lei ter sidomais claraneste sentido,mas, nãoosendo,creioqueasduashipótesespodemsercontempladas,cabendoàparterequerê-lascomclareza,eao juiz decidir expressamente se a prorrogação concedida é para praticar o ato como um todo(contestação, réplica) ou apenas para que a parte possa posteriormente peticionar, apresentandomanifestaçãomaisabrangentesobreaprovadocumental.Certamente,haverásituaçõesemqueadefesanão terá como impugnar precisamente os fatos alegados na inicial se não puder ter plena ciência dosdocumentosjuntadoscomainicial;ou,omesmopodeacontecerporocasiãodaréplica,relativamenteafartosdocumentosjuntadoscomadefesa.

Note-sequeoCPC/2015extinguiuoincidentedefalsidadecomoumincidenteprocedimental(art.390,doCPC/1973).Emseulugar,simplificandoasformas,cabeàpartemanifestar-sesobreosdocumentosemsua fala seguinte, nomesmocorpoda contestação, da réplica, oudequalqueroutro ato seu, comocontrarrazõesderecurso,casoodocumentosejajuntadoemumrecurso.Ou,sejuntadoaqualquertempo,édadoaparteoprazode15diasparaumamanifestaçãotambémavulsa,apenassobreodocumento.

Uma primeira observação que pode ser feita a esse respeito é que, uma vez abolido o incidente defalsidade,deveriaaleiterunificadoasregrasquedispõemsobreamanifestaçãodapartecontrária.AomanterasmesmasrubricasdoCPC/1973,quedividiaasregrasquetratavam“daarguiçãodefalsidade”(arts.430a433)dasquecuidam“daproduçãodaprovadocumental”,(arts.434a438),onovoCPCinclui normas que se mostram redundantes. Parece claro que o prazo de 15 dias e a petição demanifestação sobreosdocumentos,previstos separadamentenosarts.430e437,§1º, sãoosmesmosatoseprazos.

Assim,apresentadodocumentoporumadaspartes,aoutratemaoportunidadedesobreelesemanifestar.Trata-sedeumaúnicamanifestação,dentrodoprazode15dias,sejaelanobojodacontestaçãooudaréplica,sejaporpetiçãoexclusivaparaessefim,oquesomenteocorreráquandoodocumentoforjuntadoaqualquertemponocursodoprocesso.

UmdospontosmaismeritóriosdonovoCPCresidenasuaclaraintençãodedarmaisobjetividadeaoslimitesdo litígio.Há, aqui, um louvável esforçodo legisladorpara afastar as impugnaçõesgenéricas,vazias, oumesmo levianas sobre os documentos juntados pelo adversário.Diz o art. 436 que cabe àparte,aosemanifestarsobreosdocumentos:“I–impugnaraadmissibilidadedaprovadocumental;II–impugnarsuaautenticidade;III–suscitarsuafalsidade,comousemdeflagraçãodoincidentedearguição de falsidade; IV – manifestar-se sobre seu conteúdo”. E, nos casos dos incisos II e III,situaçõesemqueacrítica recai sobreveracidadedodocumentooudesuaautoria,dizo§ún.que“aimpugnação deverá basear-se em argumentação específica, não se admitindo alegação genérica defalsidade”.Nãobastam,pois,palavrasvazias:deve-seapontarprecisamentequaléomalqueatingeodocumentoimpugnado,sobpenadeinadmissibilidadedaimpugnaçãoe,consequentemente,presumir-se

verdadeiroodocumentoeseuteor.

Distingue-se,noCPC/2015,aarguiçãodefalsidadetratadaapenascomoquestãoincidental,daquelaquefoi suscitada comoquestãoprincipal. Em regra, segundo dispõe o art. 430, § ún., será ela resolvidacomoquestão incidental, isto é, será apenasmotivo para que o juiz inclua ou exclua o documento doconjunto probatório, que, por sua vez, embasará o julgamento do mérito. Pode a parte, no entanto,“requererqueojuizadecidacomoquestãoprincipal,nostermosdoincisoIIdoart.19”,consoantepartefinaldessemesmoparágrafo.Nestecaso,segundooart.433,adecisãosobreafalsidade“constarádapartedispositivadasentençaesobreelaincidirátambémaautoridadedacoisajulgada”.

Nenhum desses dispositivos, entretanto, estabelece a necessidade de um pedido autonomamenteapresentado,nemodesenvolvimentodeumincidenteprocedimentalemparalelo.Emummodeloemqueatémesmo a reconvenção é deduzida namesma petição que contém as defesas do réu, a arguição defalsidade, com ou sem o pedido para que seja julgada como “questão principal”, será igualmentededuzidanacontestação,ouemréplica,ouempetiçõesavulsasposterioresaessas,conformeocaso.

Asexigênciasformaisdoart.431,istoé,aexposiçãodos“motivosemquefundaasuapretensãoeosmeioscomqueprovaráoalegado”,que,nocaso,éa falsidadedodocumento,devemserobservadastanto na falsidade a ser resolvida como questão incidente como na que for suscitada como questãoprincipal. Afinal, são elementos lógicos e necessários a apoiar o exame e eventual decretação defalsidade, estando, esta regra, em sintonia com o já comentado art. 436, § ún., que exige uma“argumentaçãoespecífica”doimpugnante,aoafirmarafalsidadedodocumentooudesuaautoria.

OincisoIII,doart.436,fazreferênciaàdeflagração,ounão,do“incidentedearguiçãodefalsidade”.Como sustentado acima, esse incidente, enquanto dotado de uma estrutura procedimental própria, foiaparentemente eliminado no novo Código, tanto que a impugnação de falsidade pode ser feita emcontestaçãoouréplica.Aoquetudoindica,apartefinaldesseincisodevesignificar“comousempedidode resolução como questão principal”, harmonizando o texto com os arts. 430, 431 e 433. Noutraspalavras,nãohádistinçãoformalaosearguirafalsidadededocumentos.Apartesempreofarádomodomais simples: na manifestação seguinte, se já houver uma a ser normalmente praticada na sequênciaregulardoprocedimento(contestaçãoouréplica),ouporpetiçãoexclusivamentevoltadaparaessefim,masencartadanosmesmosautos.Adiferençaexistenteentrerequererounãoasuasoluçãocomoquestãoprincipaléalgoqueseobservaráapenasnopedidofeitonessasmesmasmanifestações,cabendoàparteoptarporfazê-loounão,conformetenhaounãointeresseemobterumadecisãodefinitivaarespeitodafalsidadedodocumento.

Apresentadaqualquerimpugnaçãoaodocumento,dentreasarroladasnoart.436,apartequeojuntouaosautosdeveserouvida,nomesmoprazode15dias,segundodispostonoart.432,cujaaplicaçãodeveserestendida a todas as hipóteses demanifestação, e não apenas à arguição de falsidade. Claro, feita aimpugnação pelo réu, em contestação, essa manifestação será deduzida no corpo da réplica. Se emréplica,ojuizdeverádarvistaaoréuparaumatréplica,nosmesmos15dias.Senocursodoprocesso,amanifestaçãosobreaimpugnaçãoseráfeitaporpetiçãoautônoma.

O art. 434, § ún., estabelece que documentos cinematográficos ou fonográficos, além de juntados aosautos, serãoexecutadosemaudiência.Éestauma importante inovação.Comaampladisseminaçãodeaparelhos capazes de criar tais tipos de registros, sua utilização como prova tem sido crescente e,certamente,seráaindamaiscomumnofuturo.Poroutrolado,exibiroáudioouvídeoemaudiência,napresençadojuiz,dasparteseseusadvogados,permitiráummelhorcontraditórioe,consequentemente,

umamelhorapreciaçãodaprova,comodecorrênciadoexercíciodaoralidadeedaimediação.Aregradeve ser compreendida como a afirmação de um direito das partes de solicitar sua reprodução emaudiênciaenão,propriamente,umadeterminaçãonecessáriaàproduçãodessetipoespecíficodeprovadocumental.Autilidadedessareproduçãonocasoconcretocertamentedependerádoslimitesdolitígioou do contraditório que se estabeleceu sobre esses mesmos documentos. Assim, cabe às partesinteressadas solicitar a exibição e, eventualmente, fornecer osmeios necessários para tanto, o que, aprincípio, deve ser deferido pelo magistrado, que não poderá recusar tal apresentação apenas sob oargumentodefaltadeprevisãolegal,dificuldadeoudemoradacolheitadaprova.Comoqualqueroutraprova, cabe ao juiz deferir ou indeferir suaprodução, levando emconta apenasosmesmos requisitosgeraisdeadmissibilidadedaprovaousuaadequaçãoaofatoconcreto.

3.3.Documentoseletrônicos

O CPC/2015 incluiu, entre as disposições sobre prova documental, uma nova seção, formada pelosartigos439a441,dispondosobreosdocumentoseletrônicos.OCPC/1973nãofaziareferênciaaotema,queéapenasmarginalmentetratadonaMedidaProvisórianº2.200/2001,naLeinº11.419/2006enaLeinº12.682/2012.

Odocumentodigital,oudocumentoeletrônico,comoémaisconhecidoapesardaimprecisãoconceitualdessesegundoadjetivo,éumarepresentaçãonuméricadainformação,independenteeautônomadomeiofísico em que esteja momentaneamente gravado, que é definido como uma sequência de bits que,traduzidaporumprogramadecomputador,sejarepresentativadeumfato.Obitéamenorunidadedeinformação,podendosercompreendidocomouminterruptorligadooudesligado,simounão,ou,comorepresentação numérica, por 0 (zero) ou 1 (um). O documento eletrônico não transmite a informaçãodiretamente aos sentidos humanos, como ocorre com um documento escrito em papel ou outrosdocumentosfísicos;énecessárioqueasequênciadebitssejatraduzida,pormeiodeumsoftware,paraalgumaformadecomunicaçãoreconhecívelpelossentidos.

AsdisposiçõescontidasnostrêsartigoscomqueoCPC/2015sepropôsaregularotemasãobastantemodestas.Emverdade,aadmissibilidadedodocumentoeletrônicocomoprovajánãodeixavadúvidas,sejaporquenãohácomonegar-lheanaturezadedocumento,eassim,reconhecê-locomoespéciedessaprovajátipificadanalei,sejaporque,seassimnãofosse,seriaeleumaprovaatípica,igualmenteaceitaemumsistemaprocessualquehámuitoabandonoualimitaçãodasprovasaosmeiosdescritosnalei(art.369,doCPC/2015,ouart.332,doCPC/1973).

Oart.439afirmaque“autilizaçãodedocumentoseletrônicosnoprocessoconvencionaldependerádesuaconversãoàformaimpressaedaverificaçãodesuaautenticidade,naformadalei”.Oartigonãoéaplicávelaosdocumentosquenãosãoconversíveisàformaimpressa,eisquedocumentoseletrônicosnãoseresumemapenasemtextosouimagensestáticas.Osarquivosdeáudioouvídeopodemtersuasfalastranscritas.Quantoaosarquivosdigitaispassíveisdeimpressão–textos,desenhosoufotografias–esta é apenas uma cópia do documento original de modo que qualquer conferência da autoria ou daintegridadedeumdocumentoassinadodigitalmente,seforocaso,sópoderáserfeitamedianteacessoaosoriginaiseletrônicos.

Oartigoéomissosobrecomo,quandoouporquemessaconferênciaseráfeita,antesdaapresentaçãodosimpressos, remetendo o problema para “a forma da lei”, embora nenhuma outra lei atual trateespecificamente dessas questões próprias à produção de prova eletrônica em juízo. Por outro lado,

documentos eletrônicos em sentido amplo, incluindo-se os não assinados digitalmente, são tambémadmissíveiscomomeiodeprova,nãohavendocomorealizaraconferênciadesuaautenticidademedianteexamedoprópriooriginal.Aparentemente,otextodizapenasoóbvio:nãosepodejuntarbitsemautosfísicos, daí a necessidade – apenas prática – de passar a informação do arquivo eletrônico para umafolhadepapel,quandoissoforpraticamentepossível.Quandonãoofor,quesejaoarquivoeletrônicoapresentado em algumamídia de gravação (CDs ouDVDs, por exemplo) a ser entregue em cartório.Qualqueroutroentendimentodessetexto,comoodeconsiderararegraumarestriçãoàapresentaçãodeprovas eletrônicas, ou de supor se tratar de requisito de admissibilidade para tais provas, seria uminaceitávelcerceamentododireitoàprova,quedecorrediretamentedagarantiadaaçãoedoprincípiodocontraditório.Alémdisso,nãobastassemasregrasgeraissobreaamplaadmissibilidadedosmeiosdeprova,oartigoseguinterefere-seàprovapordocumentoeletrôniconãoconvertido,deixandoclaroquenãoéintençãodoartigo439estabelecerqualquerrequisitodeadmissibilidadeparaaapresentaçãodedocumentoseletrônicos.

Oart.440,doCPC/2015,dizapenasque“ojuizapreciaráovalorprobantedodocumentoeletrôniconãoconvertido,asseguradoàspartesoacessoaoseuteor”.Porcerto,aspartesdevemterciênciadetodososatosetodasasprovasproduzidasnoprocesso,noqueestetexto,portanto,chovenomolhado.Tãopoucooiníciodotextoésignificativo,poiscabeaojuizapreciarovalorprobantedestaedetodasasdemaisprovas,sempremotivandoracionalmenteasrazõesdeseuconvencimento.

Porúltimo,estaseçãoéencerradacomoart.441,quetemoseguinteteor:“serãoadmitidosdocumentoseletrônicosproduzidoseconservadoscomaobservânciadalegislaçãoespecífica”.Trata-sedenormadesnecessária,que,ademais,estáemconflitocomosistemaprobatório,queadmiteamplamentetodososmeios de prova idôneos a demonstrar a verdade dos fatos (art. 369, do CPC/2015). Não se podeconfundiraadmissibilidadedaprovacomseuvalorprobante.Admissíveissãotodososmeioscapazesdedemonstraralgumfato(art.369,doCPC/2015);outracoisaéovalorprobantequecadaprovaterá,oquesópodeserestimadonocasoconcreto,diantedocontraditórioqueseestabeleceusobreoconjuntodosautoseporaquiloqueaprovapuderracionalmenteesclareceraojulgador.

Alémdisso, o artigo441doCPC/2015 é tambémum tantoquanto extravagante por fazer referência alegislaçãoinexistente.Nãohánenhumaleiespecíficaqueregulecomodocumentoseletrônicosdevamserproduzidosouconservados,paraque tenhamvalorprobanteou sejamadmissíveis em juízo.Ademais,essedispositivo aparentemente confunde aprodução de prova, que em seu sentido técnico-processualsignificaaapresentaçãoouacolheitadaprovanoprocesso,comacriaçãododocumento.Areferênciaàconservaçãododocumento,por suavez, soaestranha,porque tal atividadenãoguarda relaçãovisívelcomaadmissibilidadeounãododocumentocomoprova,nemnadadizacercadoseuvalorprobante.

Não foi muito feliz, portanto, o legislador, na redação desses três artigos sobre “documentoseletrônicos”, que pouco ou nada acrescentam ao sistema jurídico do país. Como sumo dessesdispositivos,restaapenascertoqueodocumentoeletrônicofoiexpressamentereconhecidopelaleicomoespécie de prova documental, eliminando-se eventuais dúvidas que ainda restassem a esse respeito.Contudo, a apreciaçãoquanto à sua autenticidade, ouquanto à féquepossammerecer, não é, de todomodo,questãoquepossaseraprioriedemodogeralreguladaemlei.30

3.4.Provatestemunhal

O Código anterior restringia a admissibilidade da prova exclusivamente testemunhal como meio de

demonstraçãodaexistênciadecontratos,pagamentoouremissãodedívidas,cujovalorfossemaiordoqueo equivalente a dez saláriosmínimos (arts. 401 e403, doCPC/1973), admitindo-a, entretanto, sehouvessecomeçodeprovaporescrito,ounassituaçõesemqueocredornãopodiaobterprovaescritadaobrigação(art.402,IeII,doCPC/1973).Taisrestriçõesforamabolidas.Nostermosdoart.444,doCPC/2015, somente quando“a lei exigir prova escrita da obrigação” é que não se admite a provaexclusivamente testemunhal, podendo a parte valer-se dela, no entanto, “quando houver começo deprovaporescrito,emanadodapartecontraaqualsepretendeproduziraprova”.Nota-se,pois,queonovoCódigofoimaisamplonashipótesesdeadmissãodaprovaexclusivamentetestemunhal,nãomaisalimitando ao valor da obrigação,mas foimais restritivo ao definir o que se entendepor“começo deprovaporescrito”:oescritodeveprovirdaparteadversacontraquemaprovaéproduzida,oquesoadeacordocomumavaloraçãoracionaldaprova.Étambémmantidaaressalvaantesprevistanoart.402,II,doCPC/1973,acrescidademaisumahipótese:quandoocredornãopodiaobteraprovaescrita“emrazãodaspráticascomerciaisdolocalondecontraídaaobrigação”.

No tocante às pessoas que não podem prestar testemunho, consideradas incapazes, impedidas oususpeitas, incluiu-se o companheirono rol dos sujeitos impedidos (art. 447, § 2º, II, doCPC/2015) eeliminou-seduassituaçõesbastantecriticáveis,previstasnoroldossuspeitosdaleianterior.Assim,nãoé mais considerado suspeito “o condenado por crime de falso testemunho” (art. 405, § 3º, I, doCPC/1973). Era absurdo pressupor, sem qualquer prazo limitador, que aquele quementiu uma vez nopassado devesse ser suspeito para sempre. Também retirou-se do texto a imprecisa e aparentementepreconceituosa restrição àquele que“por seus costumes, não for digno de fé” (art. 405, § 3º, II, doCPC/1973).Detodomodo,essasregrasnãopareciamteraplicaçãomuitousualnapráticaforense.

Ligeira modificação se observa na regra que desobriga a testemunha a depor. Entre as pessoassuscetíveisdesofrergravedanoemdecorrênciadodepoimento,incluiu-seocompanheiroeestendeu-sea regra para abranger os colaterais até o terceiro grau (art. 448, I, do CPC/2015), e nãomais até osegundograu,comoprevistonoCPC/1973.

Notocanteaorolde testemunhas,oprazoparasuaapresentaçãoserásemprecontadoda intimaçãodadecisão de saneamento e organização do processo. Deferida, nessa decisão, a produção de provatestemunhal, as partes terão prazo comum, fixado pelo juiz em não mais do que 15 dias, paraapresentaçãodorol(art.357,§4º,doCPC/2015).Se,porém,fordesignadaaudiênciaparaprolaçãodadecisão,oroldetestemunhasdeveráserlevadoparaaaudiência(art.357,§5º,doCPC/2015).Édesedestacar,portanto,queessessãoosdoisúnicosmomentosprevistosnanovaleiparaaapresentaçãodoroldetestemunhas.Jánãovigora,portanto,aregraquedeterminaasuaapresentaçãoematé10diasdaaudiência,diantedaomissãodojuizemfixarexpressamentetalprazo(art.407,doCPC/1973).Casoojuizseomitanafixaçãodoprazo,aoproferiradecisãodeorganizaçãodoprocesso,édesesuporqueseráde15diasdaintimaçãodadecisãodesaneamentoeorganização,poiseste,dequalquermodo,seriaoprazomáximofixadono§4ºdoart.357.Talsituaçãoemqueojuizseomita,porém,poderásuscitarcontrovérsiasquantoaoprazoaplicável.Seriaoprazodeapenas5dias,comoprevistonoart.218,§3º,doCPC/2015(merarepetiçãodoart.185,doCPC/1973)?Creioquenão,poishápreceitolegal,fixandoumprazomáximo.Nãoseentendeporqueolegisladorjánãofixoudesdelogoumprazocertonoart.357,§4º,doCPC/2015,fosseelede5,10ou15dias,paraevitarpossíveisdesentendimentosearmadilhas.Nãosevênenhummotivoútilparaaconduçãodoprocessoque justifiquedeixaroprazoaosabordoentendimentodojuiz,decadajuizdopaís,emcadaprocesso.Falandoaosadvogados,ecomoadvogado,emborasustenteque,naeventualomissãodomagistrado,oprazodevasercontadopelaextensãomáximadadanocitado§4º,podesermaiscautelosopraticaroatodentrodos5diasdoart.218,§3º.

No tocante à apresentação do rol em audiência, não se vê utilidade na nova regra, ou qualquer razãológica a exigir sua antecipação para esse momento. Além disso, o legislador aparentemente não selembroudainformatizaçãoprocessual.Se,nosautosdigitais,aspetições jánãosãomaisapresentadasempapel,oqueseráfeitodorollevadoempetiçãocartáceaparaaaudiência?Melhorteriasidodispordissoemregraúnica,ado§4º.Talvezsejaocasodeojuiz,nosprocessoscomautosdigitais,dispensarexpressamente as partes de levar o rol em audiência, quando esta for designada, estabelecendo quedeveráserapresentadonaformado§4º.Paraparteseadvogados,sórestalevaràaudiênciaaspetiçõesempapelcontendooroldetestemunhas,àfaltadeoutrasdeterminações,mesmoemsetratandodeautosdigitais.Queojuizresolvaoquefazercomelasoucomoinseri-lasnosautos,casotenhaequipamentosde digitalização disponíveis na sala de audiência. Eventualmente, é possível que o rol levado pelaspartes seja simplesmente transcrito na ata de audiência, na impossibilidadeoudificuldadede juntar apetiçãoempapelnosautosdigitais.Convémaoadvogado,seporqualquermotivoseurolnãopuderserjuntadoaosautos,solicitarqueconsteemataqueapetiçãofoilevadaàaudiênciaeoquedecidiuojuizaesserespeito.

O art. 450 doCPC/2015 estabelece os dados da testemunha que devem constar do rol,“sempre quepossível”.Evidentemente,nemsempreaparteconheceatestemunhaobastante,oucomelamantémumcanaldecomunicaçãodireto,paraquesaibasuaidentificaçãocompletaepossafornecê-laaoprocesso.Cabe-lhe,pois, indicaroquesouberequesejasuficienteparaidentificá-la.Alémdonome,profissão,residênciae localdetrabalho,mencionadosnoart.407,doCPC/1973,onovoCódigoquerquesejamtambéminformadosoestadocivil,idade,númerodoCPFedodocumentodeidentidadedastestemunhasarroladas,“semprequepossível”.

Com relação ao número de testemunhas que podem ser arroladas o CPC/2015 manteve o mesmolimitadoranterior,masacrescentouumsegundodispositivosobreessetema,aflexibilizá-lo.Oslimitesde10 testemunhasno total ede trêspara cada fato, previstosno art. 407, §ún., doCPC/1973, foramtrasladadosparaoart.357,§6º,doCPC/2015.Sempreopineinosentidodequeesselimitenãopoderiaser tomado com ares absolutos, pois isso seria uma afronta ao contraditório e ao direito à prova.Naprática, jánãoéfrequentequeaspartes,nomaisdasvezes,sequer tenhammaisdoquecincoouseistestemunhas para arrolar, que saibam dos fatos da causa. Vindo a juízo uma causa excepcionalmentecomplexa,emquemuitossejamosfatosrelevantesecontrovertidos–talvez,até,porquemuitossãoospedidoscumuladoseváriasasdefesasapresentadas–havendotestemunhasdiferentesquepresenciaramcada um dos fatos a serem objeto de prova, seria inaceitável limitar a apenas dez o número detestemunhasquecadapartepossaarrolar.Olimitedetrêsparacadafato,então,sópodeserentendidocomoumarecomendaçãoàparte,istoquandoestasaibapreviamenteoquecadatestemunhasabeesobreoqueserácapazdedepor.Aojuiz,éimpossívelindeferirdeantemãoaoitivadeumaquartatestemunhaarrolada,amenosquesejadotadododomdavidência,demodoasaber,antesdodepoimento,aquilosobreoqualatestemunhaarroladaaindavaifalar.

Nestesentido,oCPC/2015inseriuumasegundaregraarespeitodonúmerodetestemunhas,no§7º,domesmoart.357,queassimdispõe:“ojuizpoderálimitaronúmerodetestemunhaslevandoemcontaacomplexidadedacausaedosfatosindividualmenteconsiderados”.Jáhavendoregrasobreonúmerodetestemunhasnoparágrafoanterior,parececlaroqueeste§7ºdáaojuizopoderdetantodiminuircomoaumentar o número de testemunhas, conforme a causa tenha uma menor ou maior complexidade,autorizandoquemaisdoquedeztestemunhassejamarroladaspelaspartes.Aexperiênciademonstraquecasostaishaverãodeserescassosnocotidianoforense,oquenãoretiraaimportânciadaregra,evitandoqueolimiterígidoprevistonaleianterioratentecontraocontraditórioeocorrelatodireitoàprova.

Noart.453,§1º,estáprevistaapossibilidadedeouvir-se testemunhasporvideoconferênciaououtrorecurso tecnológico equivalente, quando“residir em comarca, seção ou subseção judiciária diversadaquelaondetramitaoprocesso”.É,pois,umainteressanteinovaçãocomoportunoempregodasnovastecnologiasda informação e comunicação, em substituiçãodasvetustas cartasprecatórias.Estabelece,ainda, o novo dispositivo legal, que essa oitiva por canais eletrônicos de comunicação poderá serrealizadaduranteaprópriaaudiênciade instruçãoe julgamento.Nãoseráfácila implementaçãodessanovidade,mesmo porque é necessário estabelecer em que condições, e com quemeios, a testemunhatransmitiráseudepoimento,apartirdalocalidadeemqueseencontra.Énecessárioassegurarqueelanãoteráauxíliodeterceirosparaproferirsuasrespostas,nemestaráconsultandoqualquertipodematerialnãoautorizado,domesmomodocomosãotomadososdepoimentospresenciais.Isso,aparentemente,sóse mostra possível se a testemunha comparecer à sede do Judiciário local para que ali, sob algumasupervisão, seja conectada com o juízo da causa. O § 2º do mesmo artigo determina que os juízosdeverão estar equipados com tais equipamentos de transmissão e recepção de sons e imagens.Não énorma processual, mas mera determinação às esferas administrativas do Poder Judiciário para queinstalemtaisequipamentos.Se,porém,oselesnãoexistirem,nãoháoutrasconsequênciasprocessuaisquenãoodesatendimentodaregrado§1º,tomando-seodepoimentoporcarta,domodotradicional.

Embora, como alardeado, este seja o primeiro Código de Processo Civil brasileiro elaborado emperíododemocrático, o novodiplomaprocessual não conseguiu se livrar das regalias concedidas aosprivilegiadosdesempre.Emverdade,ampliouoroldosquesãotratadosdeforma“maisigual”doqueaplebe,demodoquemaisautoridadesforamincluídasnarelaçãodaquelesque“sãoinquiridosemsuaresidência ou onde exercem sua função”, segundo os muitos incisos do art. 454. Destaco, pois, asseguintes ilustrespresenças, agora agregadas ao roldaspessoasmais importantes:os conselheirosdoConselhoNacionaldeJustiça,osconselheirosdoConselhoNacionaldoMinistérioPúblico,oadvogado-geral daUnião, o procurador-geral do Estado, o procurador-geral doMunicípio, o defensor público-geralfederaleodefensorpúblico-geraldoEstado,oprefeito,osdeputadosdistritais,oprocurador-geralde justiça.Aumentar esse rol, ao invés de reduzi-lo ou simplesmente extingui-lo, é o retrato atual denossarepública!

TalqualdispõeoCPC/1973,aautoridadearroladacomotestemunhatemaprerrogativadedefinirdia,horaelocalparaatomadadeseuprópriodepoimento.Prefeitosdepequenascidadesagorapoderãosesentirimportantescomonunca!OCPC/2015aomenosintroduzumlimiteataisvantagens,inexistentenaleianterior:passadoummêssemmanifestaçãodaautoridade,opoderdedesignaçãoretornaráaojuizdacausa,realizandoaoitiva“preferencialmentenasededojuízo”,comoestabelecidonoart.454,§2º.Omesmo poder é restituído ao magistrado caso a autoridade não compareça à sessão por ela mesmaagendada,conforme§3ºdomesmoartigo.Faltou,porém,regraqueobrigasseaautoridadeadesignaradatacomalgumabrevidade.

Segundodispõeoart.455eseu§1º,astestemunhasarroladasdeverãoserinformadasouintimadasdaaudiênciapeloadvogadodapartequeasarrolou,medianteenviodecartacomavisoderecebimento.Acópia da correspondência e o comprovante de recebimento deverão ser juntados aos autos comantecedênciade3dias(comosempre,diasúteis)dadatadaaudiência,deacordocomomesmo§1º.E,pelodispostono§3ºdomesmoartigo,“ainércianarealizaçãoda intimaçãoaqueserefereo§1ºimportadesistênciadainquiriçãodatestemunha”.Considerandoquefoimantidaaregraquepermitearrolartestemunhasindependentementedeintimação(art.455,§2º),parececlaroqueasconsequênciasdo§3ºsóseaplicamseatestemunhanãocomparecer;se,intimadanaformado§1ºouinformadaporqualqueroutromodo,atestemunhaestiverpresenteàaudiência,nãoimportaqueosdocumentosprevistos

no§2ºnãotenhamsidopreviamentejuntadosaosautos,poisafinalidadedoatofoiatingida.

O§4ºdoart.455arrolaassituaçõesemqueaintimaçãodatestemunhaseráfeitapelaviajudicial.Sãoelas:“I–forfrustradaaintimaçãoprevistano§1ºdesteartigo;II–suanecessidadefordevidamentedemonstrada pela parte ao juiz; III – figurar no rol de testemunhas servidor público ou militar,hipóteseemqueojuizorequisitaráaochefedarepartiçãoouaocomandodocorpoemqueservir;IV– a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública; V – atestemunha for uma daquelas previstas no art. 454”. Os incisos III a V, ao que parece, sãoautoexplicativos. Os dois primeiros incisos merecem algumas considerações de ordem prática,especialmente porque são os quemais diretamente se relacionam com os problemas que a intimaçãoexpedidapeloadvogadopoderácausar.

Nota-se queoCPC/2015 cuidoude fixar umprazopara a comprovaçãodo recebimentoda intimaçãopelatestemunha(art.455,§1º),mascometeuograveesquecimentodenãoestabelecerprazoalgumparaaexpediçãodaintimação.Nem,tãopouco,umprazoparajuntardesdelogoainformaçãodenegativadeintimação.Oúnicoprazoprevistonanovaleiarespeitodessaintimaçãoenviadapelaprópriaparteéoprazodemeros3diasantesdaaudiência,doart.455,§1º.Teriasidoconvenientequea leihouvessedefinidomaisessesdoisprazos:a)oprazoparaaexpediçãodaintimaçãoesuacomprovaçãonosautos,contado da apresentação do rol ou da intimação do ato judicial que designou a audiência, o que forposterior;b)oprazoparaajuntadadocomprovantederecebimento,positivoounegativo(especialmentesenegativo),contadodeseuretornodoserviçopostal.Issoevitariaque,designadaumaaudiênciacomalgunsmesesde antecedência, apartemalemolentedeixassepara convocar suas testemunhaapenas àsvésperasdodiamarcado;ouque, já cientedanegativade intimação, sóo informassenoprocessonoterceirodiaqueantecedeaaudiência.Aomissãolegislativanestecasopode,porcerto,sersupridapelojuiz,cabendo-lhefixarprazorazoávelparaapráticaecomprovaçãonosautosdessesdoisatos,afimdemelhororganizarodesenvolvimentodessafaseprocessual.

Emcasodenãocomparecimentodatestemunhaintimada,oucujaintimaçãofoirequeridamasatéentãofoifrustrada,apartequeaarrolouterádireitodeinsistiremseudepoimento.Seapartedispensousuaintimação, o não comparecimento implica desistência da testemunha. Não há diferença, aqui, entre ovelhoenovotexto.Comonovidade,nesseponto,considera-seigualmentecomodesistênciadeouvi-laonãoatendimentoàsprescriçõesdo§3º,doart.455,jácomentadoacima.

Naaudiência,assimcomoprevistonoCPC/1973,sãoouvidasemprimeirolugarastestemunhasdoautore,depois,asdo réu (art.456,doCPC/2015).O§ún.doart.456, insereapossibilidadedealteraçãodestaordem,“seaspartes concordarem”.Essa éumadas regrasdonovoCódigoqueestabelecemapossibilidade de uma cooperação entre as partes, no tocante à condução do processo. A experiênciaprática no dia a dia forense, contudo, torna lícito indagar por quais motivos no mundo o réu iriaconcordarcomessainversãoeabrirmãodeumavantagemque,pordireito,aleilheconcede.E,comoestáclaronotexto,semaconcordânciadetodasaspartes(oqueincluitodososeventuaislitisconsortes),talalteraçãonaordemdosdepoimentosnãoéautorizada.

A inovação mais relevante relativa à prova testemunhal é a superação do modo arcaico, lento eimprodutivocomoatomadadosdepoimentoseradesenvolvidaatéentão,segundoaleianterior.Oart.459 estabelece que“as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha”. Dessemodo, além do evidente ganho de tempo, o desenrolar dos depoimentos deverá parecer algo maisespontâneo, e não aquela atividade exageradamente formal que as leis anteriores, de longa data,

determinavam. Considerando, especialmente, o emprego das novas tecnologias para gravação daaudiência em áudio e vídeo, essemodo de tomada de depoimentos ainda os tornarámuitíssimomaisexpeditos.Depoimentosque,paraarespostadeumpunhadodeperguntas,levavamcercademeiahoracadaum,podemperfeitamenteserresolvidosemtempomuitasvezesmenor.

Evidentemente,restaaindaaomagistradoopoderdeindeferirperguntas,masoCPC/2015delimitouessepoder com contornos bem mais objetivos. O art. 416, § 1º, do CPC/1973, vedava a formulação deperguntas“impertinentes, capciosas ou vexatórias”, o que, por vezes, davamargem a interpretaçõesmuito restritivas por parte do magistrado, motivando tumulto na audiência, recursos, incidentes e,principalmente, prejuízos irreparáveis à qualidade do depoimento da testemunha, que, leiga, nãoacostumadacomaqueleritualeassustadacomaelevaçãodatemperaturadasdiscussõestravadasentrejuizeadvogadosarespeitodesuapresençaali,apartirdessemomentojánãoselembranemmaisdoendereçodesuaresidência...

A proibição, em primeiro lugar, de perguntas vexatórias era absurda. Se os fatos da causa envolvemsituaçõesvexatórias,aparte temodireitodeprová-lospor todososmeiospossíveiseadmissíveise,portanto,deperguntá-losàtestemunha,que,porsuavez,podeseescusardedeporapenassobreosfatosdescritosnoart.448doCPC/2015(tambémprevistosnoart.406,doCPC/1973).

Quantoaosfatosimpertinentes,essaeraumarestriçãoqueprecisavaseraferidacommuitacautelapelojuizdiantedeumdepoimentotestemunhal.Aspartestantotêmdireitodeprovardemododiretoosfatosrelevantesecontrovertidosdacausa,comotambémdeprová-losdemodo indireto,pelademonstraçãode outros fatos que permitam concluir pela existência ou inexistência do fato principal, como, ainda,devem ter o direito de tentar desqualificar a capacidade da testemunha de prestar tais informações,eventualmentedesmascarandoofalsotestemunho.Portanto,sempremepareceumuitíssimodifícil,senãoimpossível,queo juizpudesse indeferircorretamenteperguntassupostamente impertinentes,seelenãosabe–enãotemcomosaber–deantemãoquaisserãoasrespostasqueaindaserãodadaspelodepoente.Detodosossujeitosdoprocesso,ojuizéoúnicoalinasaladeaudiênciaquenãoconhecenenhumdosfatos da causa; a prova se presta, precisamente, a informá-lo a respeito deles. É um tanto irracionalpermitirqueojuiz,queaindanãoconheceosfatosdacausa,possaconsiderarimpertinenteumapergunta,semsaberondesepoderáchegarcomarespostaaessamesmaperguntaouàsperguntassubsequentesquepodemserformuladasapartirdarespostaaindanãodita.

Por suavez, aperguntamaliciosa, capciosa, era algo indefinidoe sujeitoa todo tipode interpretaçãosubjetiva.Émalicioso tentardesmascarara testemunhaquemente,comperguntasquea façamcairemcontradição?Porcertonão.

Assim,andoubemoCPC/2015aofixardemodomaisobjetivoasperguntasquepoderãoserindeferidaspelomagistrado.Dizomesmoart.459queojuizpoderáindeferirasperguntasque“pudereminduziraresposta,nãotiveremrelaçãocomasquestõesdefatoobjetodaatividadeprobatóriaouimportaremrepetiçãodeoutrajárespondida”.

Noprimeirocaso,cabeaojuizcontrolaromodocomoapartefazapergunta,evitandoqueaspalavrasusadasnasuaformulaçãojáindiquemarespostadesejada.Essa,sim,éaperguntamaliciosaquedeveserrepelida.

Nosegundocaso,onovotextorestringeedelimitaaperguntaimpertinenteaserrechaçada:éaquenãotiverrelação comos fatosdacausa.Ter relaçãocomos fatosda causaé expressãode largo sentido.

Refere-se, na esteira da crítica feita acima, à relação com fatos diretos e indiretos, bem como com aidoneidade do próprio testemunho (tais como perguntas que tentem demonstrar que a testemunha nãopoderiaterciênciadiretadosfatossobreosquaisprestaodepoimento).Convém,portanto,aojuizciosopelabuscadaverdade,quetenhaextremacautelaaoindeferirperguntasporessefundamento,afimdenãoprejudicaraqualidadedacolheitadaprova.Ademais,opoderdeindeferirperguntassupostamenteimpertinentessóseprestaaatenderosprincípiosdaceleridadeedaeconomiaprocessual.Nãocausaqualquer outro prejuízo, seja à prova, seja ao contraditório, ou a qualquer direito da parte adversa,deixarquesejaproferidarespostaataisperguntas,queseperderãonosautosemrazãodesuaprópriainutilidade. Considerando que o tempo de resposta não vai além de alguns poucos segundos,especialmente se utilizados equipamentos eletrônicos de registro no lugar da velha datilografia ou dadigitação, é de se perguntar o que é mais vantajoso praticamente: deixar a audiência fluir commaisnaturalidade,ougerarparalisaçõesepossíveisfuturosincidentesemrazãodoindeferimentodeumaoudeváriasperguntasconsideradasimpertinentes.Muitasvezes,essetumultoemaudiênciaéprecisamenteo que a parte sem razão está procurando, para ter algominimamente plausível para escrever em seufuturorecurso.Quesedeixe,pois,perguntarcommaisflexibilidade!Malnãofará.

Oterceiromotivoprevistonoart.459tambémmereceservistocomcautela.Apartenãopodeformularnovamenteamesmaexataperguntajárespondida,atémesmoparaqueissonãosejausadocomoummeioardilosoparaconduziro testemunhodeumdepoente,digamos, influenciável.Porém,formularperguntasimilar,melhoresclarecida,melhoresmiuçada,incluindodetalhesmaisfinossobreosfatosperguntados,nãopodeserconsideradaumamerarepetiçãodaperguntajárespondida,especialmentequandoquemfazanovaperguntaéaparteadversa,comoobjetivodeapontarcontradiçõesouimprecisõesnodepoimentoprestadoesobreasrespostasjádadas.

No§1ºdoart.459doCPC/2015,diz-seque“ojuizpoderáinquiriratestemunhatantoantesquantodepois da inquirição feita pelas partes”.A regra se apresentamelhor do que a que substituiu, antesfixada no art. 416 do CPC/1973. De algummodo, era o que já acontecia na prática. Não tem o juizqualquerdeverfuncionalemformularperguntasàstestemunhas.Fazperguntasseastiver,podendopassara palavra diretamente às partes, para que formulem suas perguntas às testemunhas.Mas, em qualquercaso, poderá fazer perguntas após os depoimentos.O juiz, em nosso sistema processual, é dotado deamplospoderesinstrutórios,cabendo-lhebuscaraverdade,eisque,afinal,éelequedeverádecidirnasentençaqualéaverdadedosfatose,paratanto,éprecisoqueestejabeminstruído.Ocasamentodeumjuizcomamplospoderesinstrutórioscomumprocessocontraditóriohádelevaraoentendimentodequecabe ao magistrado valer-se desses seus poderes sempre com o intuito de aumentar o conjuntoprobatório, trazendo mais luzes sobre os fatos controvertidos, o que certamente atende aos fins doprocesso,enãoparacercearourestringirodireitodaparteàproduçãodaprova.

Ousodegravaçõescomoformadedocumentaçãodosdepoimentosjáeraautorizado,aomenos,desdeoadventodaLeinº11.419/2006.OCPC/2015foiapenasmaisexplícitoaodizê-lo,noart.460,afirmando,também,queatranscriçãoparaaformaescritasóseráprovidenciada,emcasoderecurso,“quandoforimpossíveloenviodesuadocumentaçãoeletrônica”(art.460,§2º).Atendência,evidentemente,équeamédio prazo as gravações sejam utilizadas com exclusividade, sem necessidade de transcrição, demodoqueosdepoimentospossamserrevistospelosjulgadoresnoseuflagrante.Nãosedigaqueessapromissoranovidadepossadificultarojulgamentoemsegundograu!Arigor,orecursodeveapontarosequívocosdasentençae,seéarguidonoapeloalgumdivórcioentreoquefoifaladonosdepoimentoseoqueseencontradecididopelomagistrado,cabeàparteapontar–transcrevendoaspalavrasdagravação–ostrechosdodepoimentosobreosquaisapoiaseuinconformismo,indicandoosminutosesegundosem

queafalaaparecenovídeo.Omesmopodefazerorecorrido.

Causacalafriosaalgunsasupostanecessidadedequeosjuízesdostribunaisdesegundograutenhamqueassistir por completo as gravações de audiências e depoimentos, para poder julgar amatéria de fatoabrangida nos recursos.Nãome parece assim.O recurso será julgado segundo o que for impugnado,cabendo ao recorrente, caso sustente o apelo sobre a prova oral, transcrever o que foi dito no trechoconsideradorelevante,indicandootempoemqueafalaaparecenagravação.Orecorrido,porsua,vez,podeconfrontaroquefoiafirmadonorecurso,eventualmenteindicandoetranscrevendooutrostrechosdaprovaoral.Bemformadososrecursos,oqueéônusdaspartes,otribunalpoderájulgá-loscombasenoteordasrazõesecontrarrazõesedoquefoinelastranscrito;sóseránecessárioassistirdiretamenteàsgravações quando sobre elas pairar controvérsia nas razões e contrarrazões do recurso, ou quando seinvocarqueocomportamentododepoenteouaformacomorespondeuàsperguntaspossacontribuirparavalorizaroudesqualificarseurelato(p.ex.,sefoi titubeanteaoresponder,ousepareceuinduzidapelapergunta,entreoutrassituaçõesrelevantesqueficarãoregistradasnagravação).Julgaramatériadefatonosrecursos,especialmentequandoprovadapordepoimentosorais,semprefoiumarriscadoatodeféporpartedos tribunais,menosporcontadacapacidadededecisãodosmagistradossuperioresdoquepelarestritivalimitaçãoquelhestemsidoimpostapelosmeiosdedocumentaçãodessamodalidadedeprova. As gravações e a possibilidade de revê-las no tribunal, quando necessário, certamenteaprimorarãoaqualidadedosjulgamentosdosrecursosacercadamatériadefato.

OCPC/2015trouxealgumaspoucasregrasadicionaissobreoprocedimentodeacareação.Apráticadaacareaçãonãoémuitofrequentenosprocessoscivis,sendoesperadoquealembrançadolegisladordêumsoprodeestímuloàsuarealização,quandosemostraroportuna.Assim,dizo§1º,doart.461,doCPC/2015, que “os acareados serão reperguntados para que expliquem os pontos de divergência,reduzindo-sea termooatodeacareação”.O§2ºdesteartigo,por suavez, autorizaa realizaçãodaacareaçãopormeiodevideoconferênciaourecursotecnológicosimilar.

3.5.Provapericial

Comrelaçãoàprovapericial,asmodificaçõestrazidaspeloCPC/2015têmonotávelpropósitodedarmaiortransparênciae,consequentemente,valorizaressemeiodeprova.

Asdiferençassãoencontradasjánasformasdeescolhadoexpertoqueatuaránacausa.Oart.156,§1º,estabelecequeosperitosserãoescolhidosentreprofissionaiseórgãostécnicos“devidamenteinscritosemcadastromantidopelotribunalaoqualojuizestávinculado”.AcriaçãodessecadastroéagrandenovidadedoCPC/2015quantoàprovapericial,poisdespersonalizaaescolhaedesvinculaoperitodeeventuais relações de confiança quemantenha com o juiz.O perito sempre foi considerado como umprofissionaltécnicodeconfiançadojuiz,31oque,dopontodevistadeumprocessocontraditório,éemsiumgrandeequívoco,poisdeixaoriscodetransformarotrabalhotécnicoemprovainatacável.Nãopodeomagistrado,apriori,confiarnapessoadoperito.Avaloraçãodaprovanãopode teroutra fontederacionalidade,quenãoaqualidadedolaudoemsiconsideradoou,eventualmente,asboasqualificaçõesobjetivasdoexperto.

Portanto, a escolha do louvado a partir de um cadastro geral foi, em si, uma inovação importante ebastanterepublicana,atémesmoparapermitirquebonsprofissionaispossamseinscrevereatuarcomoperitos, apenas comprovando suas adequadas qualificações perante os organizadores de um cadastrounificado,semanecessidadedeindicaçõespessoaisoudetravarrelaçõescordiaiscomosmembrosdo

aparatojudiciário.

Alémdisso, amanutenção do profissional no referido cadastro depende de avaliações e reavaliaçõesperiódicas, tal como foi previstono art. 156, § 3º, bemcomonohistóricodos serviçosprestados emperícias anteriores (v. arts. 158 e 468, § 1º). O perito que prestar informações inverídicas, além deresponderpelosprejuízoscausados,poderáficarinabilitadoparaoutrasperíciasporumperíodomaiordoqueprevistonoCódigoanterior,variandode2a5anos,alémdesujeitar-seàrepresentaçãoqueojuizdeveráfazer,deofício,aoseuórgãodeclasse,segundodispõeoart.158,doCPC/2015.

Quantoà formadeprodução,nomeadooperito,oprazoparaoferecimentodequesitose indicaçãodeassistente técnicopassaaserde15dias(comosempre,diasúteis),cabendoàparte,nomesmoprazo,arguiroseuimpedimentooususpeição,deacordocomoart.465,§1º,doCPC/2015.

A submissão, a esse mesmo prazo, da arguição de parcialidade do perito deve ser interpretada emconjuntocomoutrasdisposições.Écertoqueos fatosquecaracterizamo impedimentoouasuspeiçãopodemchegaraoconhecimentodaspartessomenteemalgummomentoposterior.Portanto,assimcomooCPC/2015 tornou claro que o prazo para arguir tais vícios em relação ao juiz é contado “doconhecimentodo fato” (art. 146), a gravidadeda situaçãode parcialidadedoperito oude quaisqueroutros“sujeitosimparciaisdoprocesso”(v.art.148,III,doCPC/2015)afastaqualquerpossibilidadedeseconsiderarpreclusaaquestão,senãoarguidanoprazoprevistonoart.465,§1º.

Aoperito,porsuavez,oCPC/2015impõeaapresentação,em5diasdaciênciadanomeação,de:“I–proposta de honorários; II – currículo, com comprovação de especialização; III – contatosprofissionais,emespecialoendereçoeletrônico,paraondeserãodirigidasasintimaçõespessoais”,segundodispõeo§2ºdoart.465. Intimadasaspartesparamanifestaçãoem5dias,o juizarbitraráovalordoshonorários,comorezao§3ºdomesmoartigo.

Cabeao juizdeterminaroprontopagamentoaoperitodeatémetadedovalorfixado.Opagamentodovalor remanescente, porém, só será autorizado “depois de entregue o laudo e prestados todos osesclarecimentos necessários” (art. 465, § 4º). E, ainda, o novo Código autoriza a redução daremuneraçãoinicialmentearbitradaseaperícia“forinconclusivaoudeficiente”(art.465,§5º).Nestecaso, é de se compreender que o perito só pode ser punido se a perícia for inconclusiva, porquedeficiente.Evidentemente,hácasosemqueosfatosjánãopodemserapurados,nãoobstanteosmelhoresesforçosdolouvado,oqueporcertodeveráserbemdemonstradoporeleemseulaudo.Seosvestígiosedemaiselementosdeprovacomqueoperitopudercontar–semquehajanegligênciaouimperíciadesuaparte–nãopermitiremchegar aqualquer conclusão, issopor certonãodesmereceo seu trabalho.Decerto modo, afirmar o perito que o material colhido ou analisado é inconclusivo, não deixa de ser,também,umelementodeconvicçãoqueojuizdeveráenfrentarnasentença.Nomais,anovaregralegalébastanteoportuna,paraestimularoperitoaprestarbonsserviços,cientequeestádaspunições,tambémpecuniárias,aqueestarásujeito.

Notocanteàatuaçãodosassistentes,oCPC/2015tambémtrouxemais transparênciaaesse importantemeiodeprova.Dizoart.466,§2º,que“operitodeveasseguraraosassistentesdaspartesoacessoeoacompanhamentodasdiligênciasedosexamesquerealizar,compréviacomunicação,comprovadanosautos,comantecedênciamínimade5(cinco)dias”.Criou-se,pois,umprocedimentosimplificadodedesenvolvimentodostrabalhospericiais,aserseguidopeloperito.

Em caso de substituição do perito, pelos mesmos motivos já elencados na lei anterior (art. 468, do

CPC/2015), incluiu-seregraexpressaparadeterminarqueoperitorestitua“osvaloresrecebidospelotrabalho não realizado sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5(cinco)anos”(art.468,§2º),podendoapartepromoverexecuçãoemfacedoperitoquenãoofizeratempo(art.468,§3º).

O art. 471 doCPC/2015 traz como novidade a possibilidade de indicação do perito pelas partes, decomumacordo.Trata-sedemaisumadasregrasvoltadasparaaconstruçãodeumprocessocooperativo.Aocontráriodealgumashipótesesdecooperaçãoounegóciojurídicoprocessualprevistasnanovalei,cujoajustepelaspartessoapraticamente improvável (como,p.ex.,a inversãodaordemdeoitivadastestemunhasprevistanoart.456,§ún,ouaconvençãosobreônusdaprovafeitanocursodoprocesso,constantedoart.373,§4º),nãoédesedescartarqueaspartes,mesmocomolitígioconflagrado,tenhamconfiança em um mesmo perito e seja interesse mútuo entregar-lhe a missão de realizar essa provatécnica. Os requisitos de admissibilidade para a indicação do perito pelas partes são poucos, o quepermitirásuarealizaçãoemgrandeespectrodascausasjudiciais:bastaqueaspartessejamcapazeseacausaadmitasoluçãoautocompositiva(art.471,IeII,doCPC/2015).Optandoporessavia,aspartesdevem, na mesma oportunidade em que indicam o perito escolhido de comum acordo, indicar seusassistentes técnicos e, pelo que se deduzdo trecho final, apresentar data e local para a execuçãodostrabalhos (art. 471, § 1º). Por certo, cabe-lhes também ofertar quesitos, de comum acordo ouindividualmente, apesar da omissão do texto a esse respeito. Se a perícia exigir trabalhos maiscomplexos, a serem desenvolvidos ao longo de certo tempo, seria conveniente que um cronogramadetalhadofosseapresentadonessemesmomomento.Aojuiz,mesmoassim,cabefixarprazodeentregadolaudoedospareceresdosassistentestécnicos(art.471,§2º).Porúltimo,dizo§3ºdomesmoartigoque“aperíciaconsensualsubstitui,paratodososefeitos,aqueseriarealizadaporperitonomeadopelojuiz”.Nãofariasentidoseassimnãofosse.

Emboranadadissessealeiaesserespeito,aboadoutrinajáafirmavaqueumlaudotécnicohaveriadeconter a descrição do que foi observado, as operações executadas, a fundamentação e, claro, asconclusões a que chegouo experto.Peça racional que é, à semelhançadas sentenças, o laudo técnicodeveconterumadescriçãodoquefoiobservado;umadiscussão,emqueoperito,utilizando-sedeseusconhecimentos, analisa o material colhido, e por fim a conclusão, em que aponta qual é a verdadeapuradaacercadosfatoscujaverificaçãolhefoisolicitada.OCPC/2015,emseuart.473,define,comoelementos do laudo: “I – a exposição do objeto da perícia; II – a análise técnica ou científicarealizada pelo perito; III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando serpredominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV –resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão doMinistérioPúblico”.

Exigeanovalei,ainda,queoperitoutilize“linguagemsimplesecomcoerência lógica” (art.473,§1º). Por certo, o laudo deve ser um instrumento que permita aos leigos na matéria – juiz, partes,advogados – compreender a técnica e o raciocínio empregados e como se chegou às conclusõesapresentadas.Aperíciatambémdeveestarisentade“opiniõespessoaisqueexcedamoexametécnicooucientíficodoobjetodaperícia”(art.473,§2º).

Entregue o laudo, as partes terão o prazo de 15 dias paramanifestação (art. 477, § 1º), cabendo aosassistentes técnicos, em igual prazo, apresentar seu parecer. Nova voz é dada, então, ao perito, que,segundoregrasemcorrespondentenoCPC/1973(art.477,§2º), temodeverde,noprazode15dias,esclarecerponto“I–sobreoqualexistadivergênciaoudúvidadequalquerdaspartes,dojuizoudo

órgãodoMinistérioPúblico;II–divergenteapresentadonoparecerdoassistentetécnicodaparte”.Sendo necessários outros esclarecimentos, a parte poderá requerer a intimação do perito paracompareceràaudiênciadeinstruçãoejulgamento(art.477,§3º),intimaçãoessaqueseráfeitapormeioeletrônicocompelomenos10diasdeantecedência(art.477,§4º).Nãoesclarecealei,porém,qualoprazoparaqueapartepeçaocomparecimentodoperito, talcomoprevistono§3ºacimaaludido.Nafaltadeprevisãoexpressa, é razoável suporqueoprazoseráde5dias, segundo regrade fechamentocontidanoart.218,§3º.

Nota-se,nessepontodoprocedimento,queo legisladorcometeunotávelescorregão,sendotraídopelaaritméticaelementar.Se,repetindoregradoCPC/1973,olaudodeveserapresentadocomantecedênciadepelomenos20diasdadatadaaudiência(art.477,doCPC/2015),e,comovistoacima,osprazosdemanifestaçãodaparte(15dias),demanifestaçãodoperito(15dias),desolicitaçãodecomparecimento(5dias,comoexpostoacima)edeantecedênciadaintimação(10dias),jásomamsozinhos55dias,semcontar o inevitável tempo morto entre o fim e o início de cada um desses prazos, haverá tumultoprocessual,aconduzirparaoadiamentodaaudiência.Louvável,detodomodo,aintençãodolegisladoremdefinirclaramentecomoserealizaumprocedimentocontraditóriosobreaprovapericial.Aojuiz,amelhorsoluçãoparaevitartaisdesdobramentoseoriscodeadiamentodaaudiênciaeinutilizaçãodeumdosseushoráriosdapautahádesernãodesignaraaudiênciacomantecedência,aguardando,se forocaso,aentregadolaudo,demodoaacomodaradataaofinaldessapossívelsequênciademanifestaçõesprevistasnalei.Afinal,umavezprevistasemlei,aspartestêmdireitoaesseprocedimentodecolheitadaprovapericialeaoexercíciodocontraditórioalidefinido,sendopassíveldedecretaçãodenulidadeasuasupressão.

Porfim,nota-sediferençanotextodoart.479doCPC/2015,quefazreferênciaàapreciaçãodolaudopelo magistrado. Evidentemente, para a prolação de uma decisão motivada, não bastaria apenastranscreverasconclusõesdolaudoenelasdepositarumafédogmáticaeacrítica,especialmentesesobretais conclusões houve divergências e impugnações razoavelmente motivadas pelas partes e seusassistentestécnicos.Assim,nascausasemqueseproduziuprovapericial,alémdosdemaisrequisitosdasentença(art.489)aseremobservados,ojuizdeveráindicar“osmotivosqueolevaramaconsiderarouadeixardeconsiderarasconclusõesdolaudo,levandoemcontaométodoutilizadopeloperito”.(art.479,doCPC/2015).

4.Audiênciadeinstruçãoejulgamento

Poucassãoasalteraçõesnasregrasrelativasàaudiênciadeinstruçãoejulgamento.

Emrespeitoàsparteseadvogados,oCPC/2015incluiuentreosmotivosdoadiamentodaaudiênciao“atrasoinjustificadodeseuinícioemtemposuperiora30(trinta)minutosdohoráriomarcado”(art.362, III, doCPC/2015).Embora louvável a intençãoda lei, é de se perguntar o que tornaria o atrasoinjustificado.O novo Código já estabeleceu que o intervalo entre as audiências deverá ser de, nomínimo, umahora (art. 357, § 9º).Éumavanço, a impedir a designaçãode audiências com intervaloexcessivamente reduzido, que à toda evidência não será suficiente para o seu desenvolvimento,acumulandoenormesatrasosatéofinaldodia,emdesrespeitoàsparteseadvogadosquecompareceramnohoráriomarcado.Mas,nãoseriajustificadooatrasose,arroladasmuitastestemunhas,acolheitadosdepoimentospostergouaaudiênciaparaalémdohoráriomarcadoparaasessãoseguinte?Aoqueditaaexperiência prática, esse é um fator de frequente atraso nas pautas. Um pouco mais de inteligênciapoderiatersidoaplicadaaoregraressemomentodoprocessoe,comtodaatecnologiadeprocessamento

dedadoshojedisponívelparaauxiliaroPoderJudiciário,melhorteriasidoestabelecernaleiqueadataehoráriodaaudiênciaserãodesignadosapós,pelomenos,aentregadorolde testemunhas.Afinal, seserãocolhidosum,dois,nenhum,ouvintedepoimentos,estaéumainformaçãoquedeveriaserlevadaemcontanaformaçãodaspautas.Arroladaumatestemunhadecadalado,ointervalodeumahoraseráumdesperdício,consideradaamaioragilidadenatomadadedepoimentos,quandoregistradosporgravação.Se há seis, sete, ou mais testemunhas a ouvir, o tempo será insuficiente. Mas se as pautas já foramdesignadasantesdachegadadoroldetestemunhas,jánãomaisserápossíveladequaroshorários.

Emcasodeadiamentoouantecipaçãodaaudiência,oart.363doCPC/2015deixaclaro–enãopoderiaserdiferente–queosadvogadosdacausadeverãoserintimados.Nãoobstanteozelodolegisladoreminserir essa nova regra, sente-se a expressiva omissão de um prazo de antecedência para que talintimação seja feita. A alteração de uma data de audiências impõe todo um reagendamento doscompromissosdasparteseadvogados,semcontarcomanecessidadedeseexpedirnovasintimaçõesàstestemunhas,oqueagoraéfeitopelaprópriaparte.Poranalogia,separaadesignaçãodaaudiênciadeconciliaçãoemediação,oréudevesercitadocompelomenos20diasdeantecedência(art.334),casoemquetudooqueseexigedeleéquecompareça,aintimaçãoemapreço,queenvolveumrearranjomaiscomplexo,nãopodeserfeitacomintervalomenoremrelaçãoànovadata.

Substituídososdebatesoraispormemoriaisescritos,preferiuanovaleifixarumprazoparasuaentrega,emvezdedeixarparao juiz fixá-lo, comoconstavado art. 454, §3º, doCPC/1973.Assim, segundodisposto no art. 364, § 2º, do CPC/2015, as razões finais escritas serão apresentadas “em prazossucessivosde15(quinze)dias,asseguradavistadosautos”.Assim,oautorteráprazode15dias(úteis,sempre)paraapresentaçãodesuasrazões,seguindo-seimediatamenteoprazode15diasparaoréu.Oprazoédadoparaqueamanifestaçãosejaapresentada enãoapenasparaqueaparte tenhavistadosautos.Aoréuédadoodireitodeconhecerasmanifestaçõesfinaisdoautor,antesdeapresentarassuas,talcomoocorreriaseodebatetivessesidofeitoemaudiência.

Éimportantenotarque,nacontagemdeprazossucessivos,deve-selevaremcontaodiadotermoinicialdoprazoseguinte.Terminadooprazodoautor,odiaútilseguinteseráotermoinicialdoprazodoréu,cuja contagem se iniciará no próximo dia útil. Isto é, se o décimo quinto dia do prazo dado ao autorvencernumaterça-feira,oprazodoréucomeçaránodiaútilimediato,nocaso,naquarta-feira,quenãoécontadopoiséodiadotermoinicial,sendoaquinta-feiraoprimeirodosseusquinzedias.Alémdisso,oprazodeambasaspartessópoderácomeçaracorrerumavezlhesejafranqueadaavistadosautos,oque,emse tratandodeautosdigitais,éumproblemapraticamentesuperado,excetoseocorreralgumafalhadosistemainformático.Emcasodeautosnãodigitais,eespecialmenteparaquesejajuntadaaosautosamanifestaçãodoautor,teriasidoconvenientequeoréufosseintimadodoiníciodoseuprazo,masaleifoiomissaaesserespeito.Seriaconveniente,então,queconstassedaatadeaudiênciaomodocomoseiniciaráoprazodoréu,assegurando-lheacessoaosautoseàmanifestaçãodoautorjáapresentada.

Havendo necessidade de continuação dos trabalhos em outra data, o art. 365, § ún., determina que oprosseguimentosejamarcado“paraadatamaispróximapossível,empautapreferencial”.

EntendeuporbemonovoCódigodispensaraspartesdeassinarapautadeaudiência,“excetoquandohouver ato de disposição para cuja prática os advogados não tenham poderes” (art. 367, § 2º, doCPC/2015).Nãoseentendeoporquêdessadisposição.Sepresentesàaudiência,emnadaprejudicaaassinaturadaata;aocontrário,dá-lhemaiselementosdeautenticidade.

Aaudiênciapoderáserintegralmentegravada,segundodispõeoart.367,§5º,“desdequeassegureorápidoacesso das partes e dos órgãos julgadores”.Não define a lei o que poderia ser consideradorápido,nestecaso.Seoacessonãopuderser feitodemodoimediato,duranteaprópriaaudiência,osdebatesoraisserãoprejudicados,poisapartedeveterodireitodeconferiroexatoteordosdepoimentosantesdeapresentaressasúltimasmanifestações.Acrescente-se,finalmente,queo§6ºdomesmoartigoautoriza a gravação da audiência “por qualquer das partes, independentemente de autorizaçãojudicial”.Aampladisseminaçãodeequipamentoscapazesderealizargravaçõesdeáudioevídeotornourealaprofeciaantevistanosanos40porJorgeAmericano,afirmandoqueoscustosparaagravaçãodo“fonograma”haveriamdeserreduzidosnofuturo,diantedosprogressostécnicos.32Amedidacertamentetrarámaiortransparênciaàsaudiências,evitaráasinfrutíferasdiscussõessobreoquefoiounãofoiditoe,espera-se,servirácomopotentefreioaencorajartodosospresentesaagircommaiorurbanidade,umavezcientesdequetodosossonsemovimentosestãosendogravadosparaaposteridade.

5.Asprovaseodireitointertemporal

O CPC/2015 definiu regra de direito intertemporal específica para regular a aplicação das novasdisposições acerca da prova. Trata-se do art. 1.047, que diz: “as disposições de direito probatórioadotadasnesteCódigoaplicam-seapenasàsprovasrequeridasoudeterminadasdeofícioapartirdadatadeiníciodesuavigência”.

Portanto, tal regraexcepcionaa regrageralqueestabeleceaaplicação imediatada leiprocessualaosprocessosemcurso(art.1.046,doCPC/2015).

Sendo assim, na literalidade do texto, as provas requeridas ou determinadas de ofício até a data deentrada em vigor do CPC/2015 ainda serão regidas pelas disposições do CPC/1973. As novasdisposições só seaplicamquandoo requerimentooudeterminaçãoexofficio forempraticados após aentradaemvigordonovoCódigo.

SegundoestabelecemambososCódigos,omomentodorequerimentodasprovaséapetiçãoinicial,parao autor, e a contestação, para o réu. Assim, a princípio, praticamente todos os processos em cursocontinuarão regidos pelas disposições do CPC/1973, no que tange ao direito probatório. É possível,porém,queaoespecificarprovasaspartessolicitemmeiosnãoexpressamentepedidosnainicialounadefesa,casoemqueesseseriaomomentoutilizadoparadefiniraleiaplicável.

Aescolhadoatoquedelimitaaaplicaçãodeumaououtranormanãopoderiatersidomaisinfeliz,sendovisíveisosproblemaspráticosquedelaadvirão.Havendoprovasrequeridasemmomentosdiversosporautoreréu,oudeterminadasdeofíciopelojuizemoutrosmomentosseguintes,corre-seoriscode,sendounsdessesatospraticadosnavigênciadoCPC/1973,eoutrosnavigênciadoCPC/2015,acolheitadaprovaseguirpartesegundoaleivelha,epartesegundoaleinova,oquenãofazqualquersentido,sejapolítico,sejaapenasprático.

Tome-secomoexemploacausaque,propostaaindanavigênciadoCPC/1973,fixandoaíoregimedaprovarequeridapeloautor,sósejacontestadapeloréunavigênciadoCPC/2015.Seguiria,aprovadoautor,aleivelha,eadoréu,aleinova?Ou,seojuizdeterminarprovasdeofíciojánavigênciadonovoCódigo,asprovasrequeridaspelaspartesseguiriamoCódigoanterior,enquantoaquefoideterminadapelo magistrado se regeria pelas regras novas? Não pode ter sido essa a intenção do legislador,determinarquepartedasprovassigaumalei,eoutrasprovasobservemumaoutralei.Aparentemente,o

legislador se mostrou cioso em não violar direitos adquiridos de natureza processual, que, em tese,poderiamseratingidospelanovalei.

Seolegisladorquisprotegersupostosdireitosadquiridos,considerando-osnessestatusumavezqueaprovatenhasidoapenasrequerida,aevitaraaplicaçãodaleinova,teriasidomelhoradotardesdelogoosistema da unidade processual e simplesmente não aplicar as disposições de direito probatório aosprocessosemcurso.Masenganou-seemdefinircomoadquiridoodireitoàprovajánomomentodoseurequerimento. O direito à prova nasce nomomento do seu deferimento. Ademais, não se confunde odireito à prova com o direito apenas ao procedimento de sua colheita. A alteração, por exemplo, daextensão do prazo para manifestação sobre documentos juntados pelo adversário, ou sobre o laudopericial,nãoatentamcontraeventualdireitoadquiridoàprova:sãoregraspuramenteprocedimentais.

Eseconsiderarmosnãofazersentido,nemserrazoável,queaproduçãodealgumasprovasdeummesmoprocessosigamumregimelegal,eoutrassigamoutroregime,aconsequênciapráticadissoéquetodasasprovasproduzidasnosprocessosemcursoseguirãoaleidotempoemqueoprimeirorequerimentoporprovas foi efetivado. Na prática, é como se o CPC/2015 tivesse adotado o modelo da unidadeprocessual.

Melhorteriasidofixaromomentododeferimentodaprovacomoodivisordeáguasparaaaplicaçãodaleinova.Nestecaso,osfeitosjásaneadosseguiriamasdisposiçõesdedireitoprobatóriodoCPC/1973;àquelesprocessosemqueo juizproferisseanovadecisãodesaneamentoeorganização,por suavez,seria aplicado oCPC/2015.Com isso, ainda se teria a vantagemde aplicar uma única lei a todas asprovas deferidas na mesma oportunidade. É o que, em interpretação contra legem, defendem algunsautores.33

Essaopçãodolegisladorcertamentecausarágrandebalbúrdianaverificaçãodeprazosenapráticadeoutrasdisposiçõesmeramenteformaisacercadaproduçãodaprovaquesofrerammodificaçãonanovalei.Paraevitarcairemarmadilhas,recomenda-seaospatronos,nessesprocessosqueseencontravamemcursoquandodaentradaemvigordoCPC/2015,autilizaçãodoprazomaisbreveparaapráticadeatosrelativosàprova,que,aoqueparece,sempreseráodoCPC/1973.

CapítuloIX-Sentença

1.Resoluçãodacausacomousemjulgamentodemérito

NoCapítulodestinadoàsentençaecoisajulgada,oCPC/2015incorporouosartigosqueelencavamashipótesesdeextinçãodoprocesso,comousemjulgamentodomérito.Asdisposiçõesantesconstantesdosarts.267e269doCPC/1973encontram-se,agora,nosarts.485e487,compouquíssimasalterações.Entreosincisosquearrolamashipótesesemqueojuiznãojulgaráomérito,acrescentou-senonúmeroVII,alémdajáprevistaconvençãodearbitragem,oreconhecimentodacompetênciapelojuízoarbitral.Otextoaditadorefere-seapenasàsituaçãoemqueoprocedimentoarbitraljáfoiiniciadoerecebido.

Nosdoiscasosdeabandonodoprocesso,porambasaspartesouapenaspeloautor(art.485,IIeIII,doCPC/2015),oprazoparaqueaparte,pessoalmenteintimada,dêandamentoaofeito,foidilatadopara5dias,segundodispostono§1º,doart.485,emlugardoprazode48horasdaregraanterior(art.267,§1º, doCPC/1973).Quanto aoabandonodo feitopelo autor, onovo texto inseridono§6ºdoart. 485esclareceque,“oferecidaa contestação, a extinçãodoprocessoporabandonoda causapeloautordepende de requerimento do réu”. Esse já era um entendimento possível na vigência do CPC/1973,medianteinterpretaçãoconjuntadaregrasobreoabandonocomasdisposiçõesacercadadesistênciadaação,que,porregraexpressadaleianterior,dependiadeconcordânciadoréu.Oabandonopeloautornadamaisédoqueumaformadedesistênciatácita;portanto,devesersubmetidoaomesmotratamentodado à desistência expressa. Se o réu, no processo de conhecimento, tem tanto direito à prestaçãojurisdicional quanto o autor, este não pode provocar, por ato unilateral de vontade, o que inclui aomissão,ofimdoprocessosemjulgamentodomérito.Daíanecessidadedeouviroréuemambososcasos,tantooprevistoneste§6ºcomono§4º,comentadoaseguir.

No§3ºdomesmoartigo,incluiu-seentreassituaçõesquepodemserconhecidasedecretadasdeofíciopelo juizado inciso IX.Este inciso repetea situaçãoprevistanoart.267, IX,doCPC/1973,que foimelhorexplicadanoCPC/2015:“emcasodemortedaparte,aaçãoforconsideradaintransmissívelpordisposiçãolegal”.

Eliminou-se,nessemesmo§3º,a imposiçãodecondenaçãoaoréupelascustasdoretardamento,casonãoalegueovícionaprimeiraoportunidadeemquefalassenosautos.Aseveridadedotratamentodadoaoréu,noCPC/1973,realmentenãofaziamuitosentido.

A desistência da ação depende do consentimento do réu após “oferecida a contestação”, segundoredaçãodo§4º,doart.485doCPC/2015.NaregracorrespondentedoCPC/1973,dizia-se“depoisdedecorrido o prazo para resposta”. A alteração produz algumas consequências práticas, decorrentesdiretamente da literalidade das palavras. Se o réu apresentar a contestação antes do fim do prazo,evidentemente jánãopodeoautordesistirdaaçãosemaconcordânciadoprimeiro.Poroutro lado,otextosugereque,sendooréurevel,oautorpoderálivrementedesistirdaaçãoaqualquertempo.No§5ºdomesmoartigo,inseriu-senovadisposiçãosobreadesistênciadaação,inexistentenoCPC/1973:nãosepodedesistirdaaçãoapósproferidaasentença.Assim,mesmoqueoréusejarevel,aprolaçãodasentençaimpedeoautordedesistirdaação.Oparágrafotambémimplicananãoaceitaçãodadesistênciaapósasentença,mesmoquehajaconcordânciadaspartes.Osentidodaregraparececlaro:seoprocessochegouatéasentença,houveusoprolongadodamáquinaprocessualestatal,sendocontrárioaointeresse

públicoqueesteconflitonãorecebaumasoluçãodefinitivae,porisso,possavoltarajuízo.Aspartes,podem,claro, transigirapósaprolaçãodasentença,mas issoacarretaráumasoluçãohomologadaporsentençademérito(art.487, III,“b”,doCPC/2015),queficarácobertapelacoisa julgadamaterial.Ésempre importante salientar que a exigência de concordância do réu para a desistência da ação –expressa ou tácita (§§ 4º e 6º, do art. 487) – é norma típica do processo de conhecimento, não seaplicandoàexecução.

Foiinserido,porfim,um§7ºaesteartigo,quecriaapossibilidadederetrataçãodojuiz,dentrode5dias da interposição de apelação contra a sentença terminativa. Há, no CPC/2015, uma louvávelpreferência pelo julgamento de mérito, o que se reflete emmuitas de suas disposições. Assim, se omagistrado de primeiro grau reconhecer o equívoco cometido na prolação da sentença meramenteterminativa,nãoseránecessárioqueofeitosejaremetidoaoórgãodesegundograu,paraquesóentãoasentençavenhaaseranuladaedaliretorneaoprimeirograu.Aregraseaplicaatodasashipótesesdesentençaterminativa.

Oart.486doCPC/2015eseusparágrafosapenasesclarecemmelhoraregradoart.268doCPC/1973.Nãohavendojulgamentodemérito,nãoseformaacoisajulgadamaterial,demodoquenadaháaobstarumanovaproposituradamesmaação.Claroque,serepetidoovícioquemotivouaextinçãodoprocessosemjulgamentodemérito,osegundoprocessoestáfadadoaomesmodestinodoanterior,eéissoqueseinfere do § 1º do art. 486. Para ser purista, é evidente que a propositura da ação, mesmo nessassituações, é sempre decorrente de um direito abstrato e totalmente incondicionado. Somente apósproposta,apenas,équecaberáaojuizdacausaaferirapresençadosrequisitosdeadmissibilidade.

Quantoàshipótesesdejulgamentodemérito,essassãorepetidasnoart.487,queapenasreorganizou-asde forma mais sistemática, agrupando em alíneas de um mesmo inciso (inc. III) as sentençashomologatóriasdastrêssoluçõesautocompositivas:reconhecimento,transaçãoerenúncia.No§ún.,foiincluída regra sem correspondência na lei anterior. Seguindo a orientação geral do CPC/2015 de seevitarsurpresaseprestigiarocontraditório,estabeleceonovodispositivoque“ressalvadaahipótesedo§1ºdoart.332,aprescriçãoeadecadêncianãoserãoreconhecidassemqueantessejadadaàspartesoportunidadedemanifestar-se”.Aressalvafeitaaplica-seàdecretação liminardedecadênciaou prescrição, antes mesmo da citação do réu. Como o réu ainda não foi citado, não se pode daroportunidadedemanifestação“àspartes”,masporcertoénecessárioemuitoconvenienteouvir-seoautor a respeito. O art. 321 determina seja dada vista ao autor para sanar qualquer defeito ouirregularidade capaz de dificultar o julgamento do mérito e o art. 10 contém regra geral que inibequalquerdecisãodeofíciosemquesejadadapréviaoportunidadeàspartesparamanifestação.Arazãodessasregraséclara:melhoraraqualidadedadecisãojudicial,eisque,semocontraditórioespecíficosobreaquestão,podeojuizter-seequivocadocomumavisãoapenassuperficialeincompletadaquiloquedecidiu.Pode-se,comisso,evitar tambémeventuais recursos,aliviandooacúmulodeserviçonasinstânciassuperiores.

Aindacomo intuitodeprestigiaro julgamentodemérito, foicriadaaregraconstantedoart.488,queestabelece que, desde que possível, o juiz deverá decidir o mérito, quando o julgamento puder serfavorável àparte aquemaproveitaria adecisão sem resoluçãodemérito.A finalidadedoprocessoédecidir o litígio entre aspartes, dando-lheuma soluçãoestável.Éumdesperdíciode tempo, recursosmateriais e esforços das partes e do aparato estatal o encerramento do processo com uma decisãomeramente terminativa, que mantém vivo o conflito original. Há, evidentemente, situações em que ojulgamentodeméritosemostraimpossível,comoashipótesesdoincisoV,doart.485.Estandoacausa

maduraparajulgamentodeméritoemfavordoréu,enãohavendovíciocontrárioaointeressepúblico,épreferívelojulgamentodoméritoàsoluçãomeramenteterminativacalcadanoart.485,doCPC/2015.

2.Requisitosdasentençaeamotivaçãodasdecisões

Amotivaçãoérequisitofundamentaldetodasasdecisõesjudiciais,tantoqueem1988ganhoustatusdegarantiaconstitucional(art.93,IX,daCF).Amotivaçãoéessencialparadartransparênciaaoexercíciodo poder, esclarecendo, não só às partes mas também à sociedade, as razões que levam os juízes asolucionar litígios desse ou daquele modo. É, ainda, um dos principais elementos legitimadores dasdecisões judiciais, já que, não sendo proferidas por deuses, mas por humanos, é somente a ratiopublicamenteexpostanadecisãoquepermiteaferirajustiçaeoacertodasoluçãoimpostaàspartespeloEstado. Aliada à publicidade, outro importante princípio processual, a motivação das decisões abrecaminhoparaocontrolesocialsobreoexercíciodoPoder.Alémdisso,emumsistemaprocessualquepermiteàparterecorrerdasdecisões judiciais,é fundamentalqueconheçaosmotivosque levaramaojulgamentodesfavorável,parapoder,ouaomenostentar,desconstruí-losnasrazõesderecurso.

Reforçandoaimportânciadamotivaçãodasdecisões,oCPC/2015inovouaoincluiraregrado§1º,doart. 489, que traz um rol, certamente casuístico, de situações em que a decisão judicial de qualquernatureza “não se considera fundamentada”. A nova norma foi causadora de uma das maiorescontrovérsiasemtornodonovoCódigo.Porcerto,éumanormaumtantoquantoexótica,especialmenteaoenumeraroquenãoéumadecisãofundamentadae,emtermosestritamenteteóricosouacadêmicos,parece ser desnecessária, eis que certamente todos haveriam de compreender o que é uma decisãofundamentada.ODireito,porém,nãoexistenovácuo.Aplica-seasociedadeshumanasconcretasereais,ondeabelezadorigortécnicoouacadêmicoporvezesnãoésuficienteparaproduzirosbonsresultadosdesejados. Qualquer profissional que milite no foro com alguma frequência já deve ter vivido a máexperiênciadesedefrontarcomdecisõesqueseencaixamperfeitamenteemtodososincisosdocitado§1º. É sabido que, na História, quando se encontra uma lei remota proibindo ou regrando algo muitoespecífico,ébastantepossívelqueaquelefatoacontecesseaotempodalei,poisseriaimprovávelquelegisladorfossetãoimaginativonaformulaçãodaquelesdetalhes,outivessesepreocupadoemproibirfatoquesuasociedade,aoseutempo,desconhecesse.Poiséessaajustificativaquesepodedaraesseestranhotextodo§1º.

Assim,segundorezaocitadodispositivo,nãoseconsiderafundamentadaadecisãojudicialque:“I–selimitarà indicação,àreproduçãoouàparáfrasedeatonormativo,semexplicarsuarelaçãocomacausaouaquestãodecidida;II–empregarconceitosjurídicosindeterminados,semexplicaromotivoconcreto de sua incidência no caso; III – invocarmotivos que se prestariam a justificar qualqueroutradecisão; IV– não enfrentar todos os argumentos deduzidos noprocesso capazes de, em tese,infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V – se limitar a invocar precedente ou enunciado desúmula,semidentificarseusfundamentosdeterminantesnemdemonstrarqueocasosobjulgamentoseajustaàquelesfundamentos;VI–deixardeseguirenunciadodesúmula,jurisprudênciaouprecedenteinvocadopelaparte,semdemonstraraexistênciadedistinçãonocasoemjulgamentoouasuperaçãodoentendimento”.

O§2ºaindaacrescentamaisumaexigência:“nocasodecolisãoentrenormas,ojuizdevejustificaroobjeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam ainterferênciananormaafastadaeaspremissasfáticasquefundamentamaconclusão”.

Osentidodessasregraséumsó:nãobastaapoiar-seemnormasoutesesjurídicasabstratas:énecessáriodemonstrar,medianteumdiscursojurídicoconsistente,quetaisnormasoutesesjurídicasseaplicamaosfatos da causa. Ademais, o inciso IV, do § 1º, já acima transcrito, é voltado para retirar do sistemaprocessualamalsinadaorientaçãojurisprudencialquehaviaseformadoemsentidocontrárioeque,emminhaopinião,afrontavaagarantiaconstitucionaldemotivaçãodasdecisões.Motivardecisõesnãopodesignificaroutracoisaquenãoapontar,acolhendoourejeitando,todososelementosdefatoededireitoquepossaminfluirnoresultado.Eseissosetornougarantiaconstitucional,éporqueoconstituintequislimitar o arbítrio do julgador. Permitir ao julgador escolher sem outras justificativas explícitas quaisfatos ou argumentos jurídicos quer decidir, sem nem aomenos justificar que as demais questões nãoapreciadassejamimpertinentes,ésemdúvidaumperigosoflertecomoarbítrio.

Nãosedesconheceque,afrontandooslimitesdaboa-fé,algumaspartesporvezesapresentamarrazoadoscom dezenas de páginas absolutamente despropositadas, em que se invoca o sexo dos anjos ou coisaparecida. Igualmente, qualquer profissional que milite no foro com alguma frequência também já sedeparoucomsituaçõestais.Oproblema,seoleitorpermiteumaconsideraçãodeordempolítica,équeonosso país tem se acostumado a ministrar remédios errados para as doenças que o afligem, sendocontumazempunircoletivamentequemnadafezdeerrado,masnãopunirespecificamentequemofez.Apresentardezenasdelaudasinócuasesemsentido,porcertoinfringemosincisosIIeIIIdoart.77,doCPC/2015,meras repetições de regras idênticas do anterior art. 14, doCPC/1973.Assim, se a partedeixa de discutir a lide para apenas produzir tumulto, cabe ao magistrado aplicar a sançãocorrespondente, apontando, também de modo expresso e fundamentado, que esses argumentos sãoexógenosàquestãodiscutidaemjuízo.Oquenãosepodeadmitiréquesejafranqueadoaosjulgadores,emescala,ignoraroquequiserignorar,emtodososjulgamentos,esemdemostrardemodoexplícitoqueasquestõesignoradasnãosãorelevantes.

E se a parte é demasiadamenteprolixa, estendendode formapomposa e retórica a sustentaçãodeummesmo argumento, sobre questão de fato ou de direito, é claro que a norma não exige do juiz que sepronunciesobrecadaparágrafodotexto,masapenassobrecadaargumento.Seapesardaprolixidadedaspalavras,háaliumúnicoargumento,bastadecidi-lo.

Épossívelque,diantedaproporçãoquejátomouessetipodeabusodaspartes,especialmenteusualporalguns tipos identificáveis de litigantes, atender às novas disposições e punir especificamente os quelitigamdemá-fépoderáaumentar, inicialmente,acargade trabalhodos juízes.Mas,creiofirmemente,uma vez sinalizado ao mundo que as partes não têm o direito de deduzir pretensões sem qualquerseriedade,equeporessecomportamentomaliciososerãoefetivamentepunidas,a tendênciaéque taissançõesdesempenhemumafunçãoeducativa,quenosconduzaànormalidadeperturbadapelascrisesdosúltimosanos:aspartes,senãoporética,peloreceiodaesperadasanção,limitar-se-ãoadeduzirfatosefundamentosrelevanteseosjuízes,porsuavez,terãoodeverdedecidi-lostodos.

Como a fundamentação das decisões é requisito essencial para sua validade, nula é a decisão quedesatendaaessasdisposiçõesouque,alémdassituaçõesenumeradasnesseextensorol,possamtambémserconsideradas imotivadas.Comooatonuloemdireitoprocessualexigeumadecisão judicialqueoreconheça, a eventual nulidade dessas decisões será motivo a ser deduzido em recurso apresentadocontraessadecisão.

O§3ºdoart.489,tambémregranova,faladoscritériosdeinterpretaçãodasdecisõesjudiciais.Deveser dito em primeiro lugar que decisões judiciais devem ser certas e precisas, de tal modo que seu

sentidosejacompreendidosemanecessidadedeempregarquaisquercritériosinterpretativos.Essessemostrarão necessários apenas diante de decisões duvidosas, em que as palavras, demodo traiçoeiro,permiteminferirmaisdeumsignificado.Nestecaso,dizoCPC/2015queainterpretaçãodetaisdecisõesdevelevaremconta“aconjugaçãodetodososseuselementoseemconformidadecomoprincípiodaboa-fé”. Chove no molhado, pois é impensável algo diverso disso, isto é, que a decisão fosseinterpretadasomenteàvistadefrasesisoladas,ouqueamá-fépudesseservirdeparâmetro.

Foradestecapítulo,oart.479,doCPC/2015,contémdisposiçãoafinadacomessamesmaorientaçãodanova lei, estabelecendo em sua parte final que, ao apreciar a prova pericial, o juiz deve indicar nasentença“osmotivosqueolevaramaconsiderarouadeixardeconsiderarasconclusõesdolaudo,levandoemcontaométodoutilizadopeloperito”.Ouseja,olaudopericialnãoéumjulgamentonemaeleseequivale;é tãosomenteummeiodeprova.Cabeaomagistrado,pois,decidirexpressamentenasentençaporqueo laudomerece féounão, emseu todoouquantoaalgunsde seuspontos relevantes.Evidentemente,aextensãocomqueojuizdeverádiscutireapreciarolaudodecorredocontraditórioquese estabeleceu anteriormente. As partes tiveram a oportunidade de criticar o laudo, com ou semapresentaçãodoparecerdosseusassistentestécnicos.Pontonãoimpugnadoépontoincontroverso,eamençãoa tal incontrovérsia émotivobastantepara atender aodispostonoart. 479.Omesmocritériovalorativo,claro,deveocorrerquantoatodososdemaismeiosdeprova,poiséoquedecorredosistemadeapreciaçãodasprovas segundoapersuasão racionaldo juiz (art. 371,doCPC/2015).Osaspectoscontrovertidos resultantes da colheita da prova devem ser, todos, apreciados e decididosfundamentadamente.

3.Dodispositivodasentença

Nodispositivodasentença,ojuiz“resolveráoméritoacolhendoourejeitando,notodoouemparte,ospedidosformuladospelaspartes”,segundoafirmaoart.490doCPC/2015.Háligeiramodificaçãodetexto,emcomparaçãocomanormacorrespondentedaleianterior,oart.459,doCPC/1973.ComojáseobservavamesmosobaégidedoCPC/1973,podehaveroutrospedidosnoprocesso,alémdoque foiformuladopeloautor.Ousodopluralremeteparaapresençademaisdeumpedidoaserjulgado.Devemserjulgadosnasentença,peloseuacolhimentoourejeição,ospedidosiniciaisformuladospeloautor,ospedidosreconvencionais,formuladospeloréu,bemassimoseventuaispedidosincidentais,taiscomoodedeclaraçãodefalsidadedodocumentoouadenunciaçãodalide.Masassimjáera,houveapenasumaadequaçãodotexto.

Oart.491doCPC/2015ébemmaisincisivodoquearegraanterior(art.459,§ún.,doCPC/1973)aoapontarparaanecessidadede liquidezdadecisãocondenatóriaaopagamentodequantia.Éumaregrasalutar,tendenteaevitaroprolongamentodecertasdiscussõesarespeitodovalordacondenação,que,porvezes,permeiamafuturaexecuçãodasentença.Assim,dizocaputdesseartigoque,mesmoqueopedido tenha sido genérico, “a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice decorreçãomonetária,ataxadejuros,otermoinicialdeamboseaperiodicidadedacapitalizaçãodosjuros”, com a ressalva feita nos incisos, isto é, quando:“I – não for possível determinar, demododefinitivo, omontante devido; II – a apuração do valor devido depender da produção de prova derealizaçãodemoradaouexcessivamentedispendiosa,assimreconhecidanasentença”.

O § 2º do artigo em questão estabelece que essa regra também se aplica ao acórdão que alterar asentença. Isso tanto pode ocorrer quando a sentença de improcedência for reformada, julgando-seprocedenteopedidocondenatório,comoquandoojulgadosuperiorreformarasentençaapenasemparte.

Nestesegundocaso,seacolhidoumdospedidosoupartedepedidoquehaviasidorejeitadonasentença,ou,inversamente,serejeitadonotodoouempartepedidoacolhidonasentença,deveoacórdão,serestaralgumacondenaçãoimpostaaovencido,serigualmenteclaroeprecisonadelimitaçãodoquantumoudaformadesuaapuração,apontandooselementosprevistosnocaputdoart.491,doCPC/2015.

A ressalva do inciso I contém alta dose de generalização, que, se não aplicada com parcimônia,significaráaineficáciacompletadaregradocaput.JáoincisoIItraz,emverdade,umdilemadedifícilenfrentamentoprático.Senemodireitodaparteestádefinido,seasprovasdesuaexistêncianãoforamsequer colhidas e se outros graus de jurisdição acima do magistrado ainda podem decidir pelaimprocedência totaldademanda,podesemostrar inoportunaa realizaçãoda talprova“demorada ouexcessivamente dispendiosa”. Entretanto, há um dilema prático em se postergar essa perícia paramomentofuturo:alémdedeixarparaaliquidaçãodesentençaumamiríadedenovasquestões,atorná-lamaiscomplexaedilatandono tempoasatisfaçãofinaldapartevencedora,corre-seo riscode,comopassardosanos,sermaisemaisdifícilaapuraçãocompletadosfatosdeixadosparatráseconsequentemensuraçãodovalordevido.Talvezfosseocasodecombinar-secomessasressalvas,emespecialadoincisoII,aeventualsituaçãodeincontrovérsiaouprobabilidadedoandebeatur.Casoincontroversooumuito provável a existência do direito ao pedido condenatório formulado pela parte, pode ser maisconveniente “perder” tempo e esforços na realização das provas tendentes a liquidar o valor emdiscussãojánafasedeconhecimentodoquepostergaressatarefaparafuturaliquidação.

Essaregradoart.491doCPC/2015temoméritodedaralgumaobjetividadeaoscritériosparaqueovalor cobrado seja ou não seja discutido e provado na fase de conhecimento, resultando em decisãolíquida,ousejaaquestãopostergadaparafuturaliquidação,casoemqueasentençapoderáseresumirareconhecerodireitoaopagamento,semdefinirovaloremsuaextensãoedemaiselementosacessórios.

4.Hipotecajudiciária

Condizentecomsuaproposta–umatendênciadostemposatuais–deprocurardarmaisefetividadeaoprocessojudicial,oCPC/2015dáumaroupagemmaiscompletaaoinstitutodahipotecajudiciária.

Inicialmente, o art. 495 doCPC/2015, em comparação com a regra análoga (art. 466 doCPC/1973),amplia as possibilidades de sua aplicação, acrescentando que também são títulos constitutivos dehipotecajudiciáriaadecisãoquedeterminaraconversãoemdinheirodasobrigaçõesdefazer,nãofazeroudedarcoisa.

O§1ºdomesmoartigoacrescentaqueadecisãocondenatóriaproduzahipotecajudiciária“mesmoqueimpugnadapor recursodotadodeefeito suspensivo” (inc. III), alémde reafirmar outras situações jádescritas no Código anterior. Trata-se de inciso meramente esclarecedor, a espancar eventuaiscontrovérsias existentes sobre a questão, pois, ao que parece, a função da hipoteca judiciária éprecisamenteadegarantirofuturocréditoqueaindanãopodeserexecutado,porqueoefeitosuspensivodorecursooimpede,nãotendoocredorcomopenhorarbens.

Simplificando o procedimento de registro, o CPC/2015 dispensa qualquer decisão específica do juizparaqueoefeitosejaproduzido,easentença, registrável.Ameraapresentaçãodecópiadasentença,segundodizo§2ºdoart.495,ébastanteparaqueoregistroimobiliárioprocedaàsdevidasanotaçõesnamatrículadoimóvel,dispensando-sepronunciamentojudicialespecíficoouaexpediçãodeummandado.A parte terá prazo de 15 dias, contados da realização da hipoteca, para informá-la nos autos,

providenciando-seaintimaçãodaparte.Trata-se,aoqueparece,deatodemeraciência,poisnãotratoua lei das possíveis consequências processuais decorrentes da inércia em prestar nos autos essainformação.Comoafinalidadedoatoédarciênciaàpartedequebensseusencontram-sehipotecados,aúnica consequência aparente da omissão ou intempestividade dessa informação seria o eventualpagamento de perdas e danos porventura decorrentes do desconhecimento do vencido acerca dessahipoteca.

Eventualmente, pode a parte cujos bens foram hipotecados exigir correções ou ajustes nos termos edelimitaçõesdahipoteca,oquepoderásuscitarnovasquestõesprocessuais.Emboraaleinãoodiga,porcerto a constrição deve atingir apenas tantos bens quantos bastempara o pagamento da dívida e seusacréscimos,poranalogiacomoslimitesàpenhora(art.831,doCPC/2015).Nãodizaleicomoeperantequalórgãojudicialessaquestãopodesersuscitada,casovenhaasurgirnocasoconcreto.Bastaimaginarasituaçãoemqueapartevencedora,apenasmunidadacópiadasentença,constituahipotecajudiciáriasobreváriosbens,excedendograndementeovalordadívida.UmavezqueoCPC/2015parecetentardarumanovavidaaoinstitutodahipotecajudiciária,sente-seaomissãodemaioresconsideraçõesacercadeseus eventuais limites, de como controlá-los e do procedimento a tomar em caso de sua utilizaçãoabusivaouexcessivasobreopatrimôniodapartevencida.

Nos dois parágrafos restantes, também inéditos, estabelece a lei os efeitos da lavratura da hipotecajudiciária,comparáveisaosdapenhoradebens,istoé,dáaocredor“odireitodepreferência,quantoaopagamento,emrelaçãoaoutroscredores,observadaaprioridadenoregistro”,segundoo§4º.Porsuavez,o§5ºimpõearesponsabilidadeobjetivadorequerentedahipoteca,“pelosdanosqueaoutraparte tiver sofrido em razão da constituição da garantia, devendo o valor da indenização serliquidado e executado nos próprios autos”. É regra consentânea com o sistema, que atribuiresponsabilidade objetiva àquele que, em prejuízo do adversário, dá eficácia concreta a decisõesjudiciaisaindapassíveisdemodificação.

5.Remessanecessária

Dasentençacaberecursovoluntáriodeapelação.Édatradiçãodenossodireito,porém,determinarquealgumassentençassãosujeitasaoreexamenecessário,tambémconhecidoporduplograuobrigatório.Asentença sujeita a reexamenecessárionão transita em julgado enquantonão reapreciadapelo tribunal,aindaquenãosejainterpostoqualquerrecursovoluntáriopelapartevencida.Hoje,essassituaçõesestãorestritasàshipótesesemqueaFazendaPúblicaévencida.Temacriticável,peladisparidadedeforçasquecausaentreoparticulareaFazenda,asuaincidênciatemsidopoucoapoucoreduzida.

Assim, o CPC/2015 limitou as hipóteses de sua incidência, ao elevar o valor mínimo do proveitoeconômico discutido no processo para que a remessa necessária seja obrigatória.OCPC/1973, apósreformaaplicadapelaLeinº10.352/2001,jáhavialimitadooreexamenecessárioapenasàscausasemqueacondenaçãoouodireitocontrovertidosuperassemoequivalentea60saláriosmínimos(art.475,§2º, do CPC/1973). O CPC/2015 criou pisos variáveis, considerando a capacidade financeira dosdiferentesentespúblicosbeneficiadospelaregra,comoseobservano§3ºdoart.496.Assim,oreexamenecessáriosóseaplicaàUniãoeentidadesfederaisseoproveitoeconômicodisputadoforsuperiora1.000 saláriosmínimos, umaumentobastante significativo em relação ànormaanterior.Em favordasFazendasdosEstados,oudosMunicípiosdasCapitaisdosEstados,erespectivosentesdaadministraçãopública, o limite passa a ser de 500 salários mínimos. Para os demais Municípios e respectivasautarquiase fundações,o limiteéde100saláriosmínimos.Nascausasemqueoproveitoeconômico

obtidonacausaforinferioraessespatamares,nãohaveráreexamenecessário,cabendoaoentepúblico,se for o caso, apresentar recurso voluntário sob pena de ocorrer o trânsito em julgado da decisão deprimeirograu.

Tambémforamampliadasasrestriçõesaoreexamenecessário,quandocalcadasnoconteúdodadecisão.Pelotextoanterior,do§3ºdoart.475doCPC/1973,nãohaviaduplograuobrigatórioquandoasentençaestivesse fundada em jurisprudência do plenário do STF, ou súmula deste ou de Tribunal superiorcompetenteparaamatéria.OCPC/2015limitaaremessanecessáriatambémquandoadecisãoestiverdeacordocomacórdãosproferidosemjulgamentoderecursosrepetitivospeloSTFouSTJ(art.497,§4º,II),oucom“entendimentofirmadoemincidentederesoluçãodedemandasrepetitivasoudeassunçãodecompetência”, (art. 497, § 4º, III) incidentes estes que tiveram julgamento perante os tribunais desegundo grau. Ou, ainda, quando a sentença estiver fundada em “entendimento coincidente comorientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada emmanifestação,parecerousúmulaadministrativa”(art.497,§4º,III).

Causa certa estranheza o fato de só haver referência ao reexame necessário das sentenças. O usoexpressodovocábulosentençaéfeitonocaputdoart.496,bemcomonoseu§4º.O§1º,porsuavez,refere-se à não interposiçãode apelação, demodoque, findooprazo, seja ordenada“a remessadosautos ao tribunal”, ou, na omissão domagistrado, o presidente do tribunal poderá avocá-los.Ora, oCPC/2015criouapossibilidadedojulgamentoantecipadoparcialdomérito,masessejulgamentotemanaturezadedecisãointerlocutória,passívelderecursodeagravo.Nãohávedaçãoaquetaisjulgamentosparciais sejam desfavoráveis à Fazenda. Aparentemente, houvemera desatenção do legislador com anovidade, pois seria um atentado à finalidade da normadispensar o reexamenecessário das decisõesinterlocutórias demérito proferidas na forma do art. 356 doCPC/2015.Mas não diz oCódigo comoprocedernessescasos,diantedaeventualnãointerposiçãovoluntáriadoagravodeinstrumentopeloentepúblico. Como, por sua vez, o procedimento em primeiro grau não se encerrou – prossegue parajulgamentodospedidosremanescentes–nãoserápropriamenteocasode“remessadosautos”aoórgãosuperior.As facilidades trazidaspela informáticapoderãocontornar essaquestão, aomenosquandooprocesso correr em autos digitais, que, por ubíquos ou facilmente duplicáveis, poderão serconcomitantementeexaminadospelo tribunal–para revisãodadecisãoparcial–enquantoprosseguememprimeirograuparajulgamentodosdemaispedidos.Paraosprocessosquecorrememautosfísicos,asoluçãoporcerto serámais trabalhosa,exigindoaextraçãodecópiaaomenosparcialdosautosparaenvioaotribunal,talqualsefarianaformaçãodoinstrumentodoagravo.

CapítuloX-IntimaçõeseprazosnoNCPC

1.Intimaçõeseotermoinicialdosprazos

AsnovidadesdoCPC/2015acercadasintimaçõesnão,são,emsuamaioriadignasdeaplauso.OPoderJudiciário nacional tem empreendido razoável esforço e despendidomuitos recursos para promover ainformatização e a prática eletrônica dos atos processuais e, no entanto, caminhos já bem trilhadosrestaramdesconsideradospelanovalei.

Éminha opinião, hámais de uma década, que não hámeiomais simples, eficiente, barato, rápido e,especialmente, seguro contra eventuais erros e os consequentes incidentes processuais que tais errosprovocam,doqueapublicaçãodasintimaçõesnoDiáriodaJustiçaEletrônico.Inúmerostribunaisjáoimplantaram,comestridentesucesso.Eousodainformatizaçãonafeituradaspublicações,aproveitandodados já existentes em bases eletrônicas, eliminou os erros de datilografia de tempos passados, quetantas nulidades produziam, de modo que praticamente não mais se vê discussões processuaisquestionando a validade desses atos de comunicação. Sendo assim, outros meios de intimação sópoderiamserconsideradosnaLeiquandoinexistente,ainda,oDiárioEletrônico,ouquandooatofossedestinadoaquemnãoéparte.Promover,emparalelo,outrosmeiosdeintimaçãodaparteconstituídanoprocessoéumperigosoflertecomainsegurançaecomaproliferaçãodenulidadesedeincidentesdeladecorrentes.

A principal vantagem de um Diário eletrônico é que, com um sistema informático adequadamenteprogramado,todasasdecisõesjudiciaispodemserobjetodeintimaçãoàspartesnodiaimediatoaodesua prolação. Basta que o sistema seja programado para automaticamente acumular todos os atosjudiciaispraticadosnumdadodia–partindo-sedapremissadequeforamproferidosutilizando-sedeumsistemainformático,noqualestãoarmazenados–e,reunindoosdemaisrequisitosquedevemconstardaintimação,produzaojornaleodisponibilizenosítioinformáticodostribunais.Umsistemaquearmazeneas informações que devem constar das intimações (nomes, número do processo etc.) não teriadificuldadesemproduzirodiárioeletrônicoe imediatamentepublicá-loonline, independentementedequalquer intervenção humana. Por outro lado, uma vez dada a público com a divulgação do diário, aintimaçãoestáperfeitaeacabada,semquesejanecessárioumsistemaespecializadoparaconferirquemacessouoque,ouquandoissofoifeito.Nadapodesermaissimples,rápidoouseguro.Noquetocaàsegurançaecertezadasintimações,apublicidadedoDiárioEletrônicoeliminaqualquerdúvidasobreofatodaciência,ounão,daintimação.Intimaçõeseletrônicassãoesempreserãointimaçõespresumidas,nãoimportaoquedigaalei,poisessaéasuaessência.NocasodoDiárioEletrônico,afraquezadeumaintimaçãopresumidaé contrabalanceadapelamáximapublicidadedoato, eliminandodúvidas sobreoteor da comunicação e o momento em que foi feita. E, assumindo que o advogado tem o deverprofissionaldeacompanharessasintimações,umatradiçãoquaseseculardonossoDireito,eliminam-sedúvidas quanto à sua entrega ao destinatário, restando apenas, a invalidar essa intimação, situaçõesexcepcionais, como o prévio falecimento do patrono, que teriam invalidado qualquer outra forma deintimaçãopresumida.Éimpossívelteressacerteza,nãodessemodosimplesefácil,emqualqueroutramodalidadeeletrônicadecomunicação.

JánoiníciodoCapítulodestinadoàsintimações,dizoart.269,§1º,que“éfacultadoaosadvogadospromoveraintimaçãodoadvogadodaoutrapartepormeiodocorreio,juntandoaosautos,aseguir,

cópiadoofíciode intimaçãoedoavisoderecebimento”.ComparadoaoDiárioeletrônico,a regraépordemaisarcaicaeoperfazimentodoatodecomunicaçãoserámuitomaislentoecustoso.Assim,ondequerquevigoreoDiárioeletrônico,anovidadedessedispositivodeveserdesconsiderada.Apenasseaplicaquandoasintimaçõesaindasejamfeitasdeoutromodomaisdemorado,facultando-seaospatronostentaradiantaras intimaçõesdaparteadversa, tomandoa iniciativadeenviá-lasdiretamente.Tambémnãoédifícilimaginarquantasdiscussõesnãopodemserlevantadasacercadacorreçãoevalidadedessasintimações,considerando-seaexigênciacontidano§2ºdomesmoartigo,paraqueoofíciodeintimação“seja instruído com cópia do despacho, da decisão ou da sentença”. Um aviso de recebimento, ésemprebomlembrar,podeapenasfazerprovadequeumenvelopeoualgosemelhantefoideixadopelocarteiroemmãosdodestinatário;nãoébastanteparadarcertezasobreoque foientregue, istoé,seoenvelopecontémumaintimaçãocorretamentedocumentada,oufolhetosdepropagandadeumrestaurantedelivery...

Domesmomodocomo jácriticadoacima,nocapítulodestinadoàscitações,34 oCPC/2015abusadasreferênciasàrealizaçãodaintimaçãopor“meioeletrônico”,maspoucoesclareceacercadecomosãofeitas,ouquemeioeletrônicoseráesse.Éoqueseobserva,nestemesmoCapítulo,nosarts.270,272,273e275.

O art. 272 do CPC/2015 trata das intimações feitas por “publicação dos atos no órgão oficial”,dispondosobrealgunsdeseusrequisitosaolongodosseusparágrafos.Asregrasseaplicam,igualmente,aoDiáriodaJustiçaeletrônico,quenadamaisédoqueo“órgãooficial”emformatodigital.

Assim,segundooCPC/2015,éfacultadoaosadvogadospedirainclusão,naspublicações,donomedasociedadeaquepertençam.Segundodispõeo§1º,doart.272,pode-sepedirparaqueas intimaçõessejam feitas apenasemnomeda sociedade.O§2ºdomesmoartigodeterminaque, alémdonomedoadvogado,deveapublicaçãoconteroseunúmerodeinscriçãonaOAB,sobpenadenulidade.Trata-sederequisitoimportante,quehámuitojádeveriatersidoinseridonalei,poispermitemaiorfacilidadenabusca,seleçãoeorganizaçãodaspublicações,deformaautomatizada,especialmentequandofeitaspeloDiárioEletrônico.Afinal,ovolumedeintimaçõespublicadasnessesperiódicosjáhámuitotempotornouinviávelsualeituravisual;oidealseriaqueesseperiódicofossedistribuídoemformatomaisfacilmentetratávelporcomputador(enãonoformatoPDF),demodoquesua“leitura”pudessesermaisfacilmenteautomatizada.Na parte final deste parágrafo, há nova referência à inclusão do nome da sociedade deadvogados, sugerindo que é possível à parte pedir que as intimações sejam feitas tanto em nomeexclusivo da sociedade, como em nome dos advogados, neste caso com ou semmenção do nome dasociedade.

No§3ºdessemesmoartigo,aleiprocessualfinalmenteeliminaumperigosofatorparaoquestionamentodasintimaçõesfeitasporpublicaçãonoDiáriodaJustiça.Segundoonovotexto,“agrafiadosnomesdas partes não deve conter abreviaturas”. No § 4º, acrescenta-se que “a grafia dos nomes dosadvogados deve corresponder ao nome completo e ser amesma que constar da procuração ou queestiverregistradanaOrdemdosAdvogadosdoBrasil”.Onomeaserincluídonaintimaçãoéonomecompleto e correto. Nome erradamente grafado não é o nome do destinatário do ato e, portanto, nãoatendeàsexigênciasdalei.Emverdade,aregrachegaaoCódigoumtantoquantoatrasada.Naprática,comaimplantaçãodainformática,essasintimaçõespassaramaserfeitasautomaticamente,capturandoonomeenúmerodeinscriçãodoadvogadodeumabasededadosinformatizada,oquevarreudocotidianoforenseumaimensaocorrênciadevíciosnasintimaçõesrelacionadasàindicaçãoerrôneadosadvogadosda causa. Foi-se o tempo em que a feitura de tais intimações era dependente do tortuoso trabalho do

serventuário,dedatilografarumaaumaasintimações,oqueinvariavelmentelevavaaerrosdegrafiaouinclusãoapenasparcialdonomedospatronos,gerandodiscussõesposteriores sobresuavalidade.Detodomodo, a regra é bem-vinda, para zelar pelamaior segurança das intimações por publicação emdiáriosjudiciais,eletrônicosounão.

O§5ºdoart.272estabeleceque,seapartepedirqueaintimaçãosejafeitaemnomededeterminadosadvogados, o seu desatendimento implicará nulidade. É esta, pois, mais uma faculdade que a leiexpressamenteconfereàparte.Jáeracomum,nodiaadiaforense,quetalpedidofosseformulado,sendotambémcomumconsiderar-seviciadaa intimaçãofeitaemnomedeoutrosdosdefensores,mesmoquetambémconstantesdaprocuração.Comaconsolidaçãodessapráticananormalegal,elimina-sequalquerdivergênciaremanescente:feitasasintimaçõesemnomedeadvogadosoutros,quenãoosindicadosparatalfim,aintimaçãoseráinválida.

Tambémparaofimdeeliminardúvidasacercadefatobastanteusualnaprática,o§6ºestabelecequearetirada dos autos em carga“pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou dasociedadedeadvogados,pelaAdvocaciaPública,pelaDefensoriaPúblicaoupeloMinistérioPúblicoimplicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente depublicação”. O § 7º, por sua vez, autoriza a carga dos autos por “preposto”, desde que este sejacredenciadopeloadvogadoousociedadedeadvogados.Assim,hádeseterocuidadoaosefazeressaretirada,poisaindaqueosautossejamapenas levadosparacópiaeemseguidadevolvidos,aparteéconsideradaintimadadequalquerdecisãocontidanosautos,mesmoquandotenhamsidoretiradosporummeropreposto.

Os derradeiros parágrafos do art. 272 do CPC/2015 apontam a forma como se deve arguir eventualnulidadedaintimação,que,porsuavez,possatercausadoaperdadoprazo.Aprincípio,segundodizo§8º,deveaparteapresentaroatocujoprazofoiperdidoemrazãodovíciodeintimação,neleincluindo,comopreliminar,aalegaçãodenulidadedaintimação.Seovícioforreconhecido,oatoérecebidocomotempestivo.Apenasseapartenecessitarprévioacessoaosautosparapraticaroato–e,porsuposto,emboraomissoo texto,esseacessonão lheestejadisponívelnomomentodamanifestação–poderáapartepeticionarparaapenasarguiranulidadeda intimação,conformeexpressono§9º.Seacolhidaaalegaçãodenulidade,oprazoparaapráticadoatocorrerádaintimaçãodessadecisão.

Outra novidade, por fim, quanto à forma das intimações, é a previsão de que também podem serrealizadasporhoracertaouedital(art.275,§2º,doCPC/2015).NoCódigoanterior,sóhaviaprevisãoexpressa para utilização dessas formas fictas de comunicação para a realização das citações, sendocontroversaasuaaplicaçãotambémparaasintimações.

Oart.231doCPC/2015elencaoitoincisosquefixamomomentodotermoinicialdosprazos.OsincisosI,IIeIVrepetemregrasjáexistentesentreosincisosdoart.241doCPC/1973.O§4ºdoart.231doCPC/2015, quemerece ser desde logomencionado, afirmaque“aplica-se o dispostono inciso II docaputàcitaçãocomhoracerta”.Jáeraoqueocorria.Praticadooatoporhoracerta,otermoinicialdoprazoéadatadajuntadaaosautosdomandadocumprido.Nosdemaisincisosdoart.231doCPC/2015,sãoencontradasalgumasnovidades,abaixoanalisadas.

NoincisoIII,doart.231,doCPC/2015,éprevistootermoinicialdoprazoquandoacitaçãoforfeitapeloescrivãoouchefedesecretaria.Tendoaparteouseuadvogadocomparecidoaoofício judicialerecebidoaliacitaçãoouintimação,estádesdelogocitadaeessadataéotermoinicialdoprazo.Seum

diário eletrônico for automaticamente publicado, carregando todos os atos judiciais praticados no diaanterior, conforme exposto acima, essa regra se torna quase desnecessária por sua inutilidade: jamaisacontecerá esse fato, pois as partes seriam quase que imediatamente intimadas de todos os atos doprocesso.Nestecaso,aregraseriaútilapenasparacitarouintimarquemnãoestáaindarepresentadonosautos, isto quando tal intimação se fizer necessária (ao revel, por exemplo, são dispensadas futurasintimações).

OincisoVdefineotermoinicialparaumamodalidadedeintimaçãoeletrônicaquevinhaprevistanaLeinº11.419/2006evemsendoaplicadaemalgunssistemasde informatizaçãoprocessualutilizadospeloPoderJudiciário.Segundodispõeoincisoemquestão,otermoinicialdoprazoserá“odiaútilseguinteà consulta ao teor da citação ou da intimação ou ao término do prazo para que a consulta se dê,quandoacitaçãoouaintimaçãoforeletrônica”.Diga-se,éumaformaconfusa, inseguraebemmaistrabalhosadoqueapublicaçãodoDiárioEletrônico!

Quandoacitaçãoouintimaçãoforfeitaporcarta,estabeleceoart.232doCPC/2015quecaberáaojuizdeprecadoinformararealizaçãodoatoaojuizdeprecante,utilizandomeioeletrônico.Assim,segundooart.231,VI, recebidaessacomunicaçãoeletrônicapelo juízodeprecante,o termo inicialdoprazoéadatadesuajuntadaaosautos;nafaltadessacomunicação,otermoinicialéajuntadaaosautosdaprópriacartacomacitaçãoouintimaçãocumpridas,comojáseencontravaprevistonoCPC/1973.

OincisoVIIafirmaqueotermoinicialdoprazoé“adatadepublicação,quandoaintimaçãosederpeloDiáriodaJustiçaimpressooueletrônico”.Nãosetratapropriamentedeumanovidade,poisassimjáseentendiasobaleianterior.Onovotextoapenasodizexplicitamente.Note-seque,segundooart.224, § 2º, do CPC/2015, a data da publicação é o dia útil seguinte ao da “disponibilização dainformação no Diário da Justiça eletrônico”. São regras já previstas na Lei nº 11.419/2006, agoraincorporadasaotextodoCódigo.

Porfim,odiadacargadosautosfoiexpressamenteincluídonorol,figurandonoinc.VIIIdessemesmoartigo, mas, tal qual a regra do inciso anterior, esta é apenas uma consolidação da lei acerca deentendimento já previamente existente. A parte que faz carga dos autos está ciente de seu conteúdo,considerando-se, portanto, de tudo intimada. Observe-se, novamente, que tal carga terá o efeito deconsiderar a parte intimada de todos os atos do processo mesmo quando feita por mero prepostoautorizado,comoprevistonoart.272,§§6ºe7º,doCPC/2015,jácomentadosacima.

No§2º,doart.231,define-seque“havendomaisdeumintimado,oprazoparacadaumécontadoindividualmente”.Considerando-seoquejáfoiditoacercadasintimaçõespeloDiárioEletrônico,eisaquimais umavantagem sua: todas as partes são simultaneamente intimadas coma suapublicação.Onovo Código envereda por um caminho confuso, eliminando a fluência comum do prazo para oslitisconsortes, oumesmopara ambas aspartes, como,por exemplo, emsituações emqueadecisão, asentença ou o acórdão decidiram pela vitória parcial dos dois polos da causa. Imagine-se o tumultocausadopordiferentesdatasdeiníciodoprazo,paracadaparteoulitisconsorte.Maséoquedeterminaalei.Portanto,ocorridasassituaçõesdescritasnosincisosdesteart.231,emsetratandodeintimação,oprazoparaaparteintimadapassaafluirindependentementedoprazoparaoutroslitisconsortesouparaapartecontrária.Note-seque,comojácomentadonocapítulopróprio,35quandonãodesignadaaaudiênciadeconciliaçãooumediação,otermoinicialdoprazoparacontestaçãoémarcadoporumdesseseventosdescritosnosincisosdoart.231e,havendolitisconsortespassivos,oprazo,nestecaso,écomumeteminícionadataemqueoúltimodesseseventosocorrer,comoprevistono§1ºdessemesmodispositivo.

O§3ºdoart.231distingueotermoinicialdoprazoparaatoaserpraticadodiretamentepelaparte,enão por seu procurador. É o caso, por exemplo, de pagamento, desocupação de imóvel, entrega dedocumentosoucoisas,cumprimentodeobrigaçãodefazer,entreoutrassituaçõesemqueéexpedidaumadeterminaçãojudicialparasercumpridapelaprópriaparte.Assim,dizocitadoparágrafoque“odiadocomeçodoprazoparacumprimentodadeterminaçãojudicialcorresponderáàdataemquesederacomunicação”.Sendopessoalaintimação,feitaporoficialdejustiçaoupelocorreio,otermoinicialdoprazo para cumprimento da ordem é o dia do recebimento da comunicação e não o da sua posteriorjuntadaaosautosdoprocesso,excepcionando-se,nestecaso,odispostonosincisosI,IIeVI,docaput.

2.Contagemdosprazos

AmaiornovidadedoCPC/2015arespeitodosprazoséofimdochamadoprincípiodacontinuidade(art.178,doCPC/1973),quedeterminavaquetodososdiasfossemconsideradosnocômputodoprazo,tantodias úteis como não-úteis. Segundo o art. 219 do CPC/2015, “na contagem de prazo em dias,estabelecidoporleioupelojuiz,computar-se-ãosomenteosdiasúteis”.

Com a revogação do art. 178 do CPC/1973, desconhecemos a existência de qualquer outra regraaplicávelaosprocessoscivisquedetermineacontagemdoprazodeformacontínua.Sehouver,claro,excepcionará, no âmbito de sua incidência, o disposto no art. 219 do CPC/2015. Não havendo talexceção, deve ser aplicada a nova regra a todos os processos não-penais, inclusive os que tramitamperantejustiçasespecializadas.Causaespécieadiscussãoqueaextensãodessaregratemgeradoentreos estudiosos. Negar vigência do prazo em dias úteis sem uma regra expressa que determine suacontagemde forma contínua é uma interpretação baseada sobre o nada. Semuma lei que determine oprazoemdiascontínuos, trata-sedemeroexercíciodovoluntarismodointérprete,semqualquerapoionasboasregrasdeexegética.

Éimportante,nestecaso,observaraunidadeusadaparadefiniraduraçãodoprazo.Prazosemmesesouanoscontinuamcontadosdomesmomodocomosempresefez:vencemnodiacorrespondenteaodiadoinício, nomêsou ano seguinte, conformeo caso, não importandoo númerode dias úteis ounão-úteisocorridosnoperíodo.Anovaregra,pois,afetasomenteacontagemdosprazosdefinidosemdias,sejamosprazosdelei,sejamosfixadospelojuiz,quandoaquelaforomissa(art.218,§ún.,doCPC/2015).

Acontagememdiasúteis,havendoferiadoslocais,temsidoexageradamentetratadacomopossívelfontededificuldadespráticas,tendosidoessa,aliás,amotivaçãoquesustentouumantigovetoaartigodeleique pretendeu instituí-la, ainda na vigência doCPC/1973.36 Suscitou-se, naquela ocasião, como razãoparaoveto,adificuldadedecontroledosferiadoslocaisporpartedostribunais.Nãoconcordocomessasupostaverdade sabida,que,desdeo trâmitedoprojetodonovoCPC, temsidoobjetodeacaloradasdiscussões.ComtodooorçamentoqueoPoderJudiciárionacionaljádespendeucomainformatizaçãode suas estruturas e do processo judicial, e diante das sabidas capacidades de processamento dainformaçãoporessasmaravilhosasmáquinas,pareceinacreditávelquesealeguequeacontagememdiasúteispossacausarinvencíveisdificuldadesporqueostribunaisnãoterãocomosaberquandoéferiado.

Quantoaosferiadosnacionais,porcertonãohaverádificuldade.

Quanto aos feriados locais, aos tribunais superiores só importa saber quando é feriado nas comarcassededostribunais,istoé,nasCapitaisdosEstados,ou,excepcionalmenteparaaJustiçadoTrabalho,nacidadedeCampinas,ondeésediadooTRTda15ªregião.Osúnicosprazosqueostribunaissuperiores

necessitam aferir, além dos que são inteiramente contados em Brasília, são os prazos recursais quecorreram enquanto o processo se encontrava nos tribunais de segundo grau, sendo ali interposto orecurso.Ostribunaislocaiseostribunaissuperiorestrocamimensosvolumesdedadosentresi,demodoquenãoseriadespropositadosugerirque,emtemporeal,deformaautomáticaepormeiodasredesdecomputadores, remetessem uns poucos bytes amais numa comezinha tabela para informar quando foiferiadonaCapitalemquetêmsede.Ainformaçãosobreferiadoslocaisnasmuitascomarcasdopaís,porsua vez, só é relevante para o órgão judicial da própria comarca ou para o tribunal de segundo grauimediatamente superior.Causa espécieque tais tribunaisnão saibamouencontremalgumadificuldadeparasaberquandoéferiadonascomarcasondefuncionamosórgãosjudiciaisdeprimeirograusujeitosàsua jurisdição. Os seus departamentos de recursos humanos devem sabê-lo, pois é dia em que nãotrabalham os funcionários lotados no órgão local. Não parece difícil compartilhar as informaçõesadministrativasdosetordepessoalcomossistemasinformáticosdecontroleprocessual.

É com tristeza, portanto, que se lê a exigência absurda, porquedemasiadamente primitiva, para que apartecomprove“aocorrênciadoferiadolocalnoatodeinterposiçãodorecurso”(art.1.003,§6º,doCPC/2015).Milhares de recursos precisarão, ano a ano, comprovar aos tribunais superiores que, porexemplo,odia25dejaneiro,aniversáriodafundaçãodacidade,éferiadolocalemSãoPaulo?Eassimocorrerá,igualmente,nosprocessosoriundosdasdemaisCapitaisdopaís?Nãoseriamaisinteligenteeeficiente anotar isso num sistema informático integrado, cujos desenvolvimento e manutenção nãoparecem exibir absolutamente nenhuma complexidade? Embora o CPC/2015 tenha arduamente lutadocontra as armadilhasprocessuais e as formalidades inúteis– e este é semdúvidaumde seusmaioresméritos–nessaregrasobreoprazorecursaloamorcegoaosinfinitosrequisitosdeadmissibilidadesesaiuvitorioso.Aosadvogados,então,sórestaagircomzeloredobradoaointerporrecursoseatenderaessaexigênciainútildalei,quandooprazofordilatadoporferiadosocorridosnãoapenasnofinal,comotambémnomeiodacontagem.

Maiscomplexodoqueocontroledosferiadosprevistosemlei–etalproblemajáocorrianoregimedoCPC/1973 – é o controle dos dias em que excepcionalmente não houve expediente forense. Segundodispõeoart.216doCPC/2015,queatualizaaregradoanteriorart.175doCPC/1973,alémdosdiasdeclaradosemlei,“sãoferiados,paraefeitoforense,ossábados,osdomingoseosdiasemquenãohaja expediente forense”.Nãohouvepropriamenteuma inovaçãono sentidodanorma,mas apenasoreconhecimentolegaldequeporferiados,aleiprocessualconsideravaosferiadosjudiciários.Diasemque somente o Judiciário tem folga, ou somente o serviço público, como o Dia da Justiça, em 8 dedezembro,ouodia11deagostoemalgumasjustiças,ouodiadofuncionáriopúblico,em28deoutubro,são, para o processo, considerados igualmente feriados. Portanto, não serão computados no prazocontadoapenasemdiasúteis.

A contagememdias úteis traz umnovo significado político-filosófico para os feriados e os dias semexpediente forense que são também havidos como feriados. Até o regime anterior, ao desconsiderarapenasoferiadonoinícioounofimdoprazo,aleisomentesepreocupavacomadisponibilidadedosserviços judiciais: no início do prazo, para que a contagem só começasse em umdia em que a partetivesseaoportunidadedeacessoaosautos;nofinaldoprazo,porqueoguichêdoprotocolodeveriaestaroperante, para que a petição fosse ali apresentada.Contado o prazo em dias úteis, reconhece a lei odireito ao descanso do advogado, que diante de prazos curtos com contagem iniciada às quintas ousextas-feiras,via-seobrigadoatrabalharnofinaldesemana,omesmoacontecendoquandoboaparcelado prazo fosse contada durante feriados prolongados. Se a Justiça não funciona nesses dias, deve oadvogadoigualmentegozarumafolga.Especialmentequandoosautosestãosendoamplamentemigrados

paraoformatodigital,tornando-sedisponíveis24horaspordias,durantetodososdiasdoano,eigualdisponibilidadeédadaaosistemaremotodeprotocolo,osferiadosjánãosãocontadosporqueosautosficaram indisponíveis ou porque o prédio do fórum está fechado, mas porque o advogado deve terasseguradooseudiadedescanso.

Diantedisso,osdiasinteiramentesemexpedienteforensedevemserexcluídosdacontagemdosprazos.Mas, em se tratando de problemas excepcionais que atingiram os serviços judiciários, nesse caso otratamento deve ser diverso. A regra anterior que atrasava o primeiro ou o último dia do prazo porirregularidadeanormaldoexpedienteforense(art.184,§1º,doCPC/1973)jánãofazomesmosentidoem relação aos dias intermediários da contagem.Manteve-se aquela disposição no art. 224, § 1º, doCPC/2015,quando“oexpediente forense forencerradoantesou iniciadodepoisdahoranormalouhouver indisponibilidade da comunicação eletrônica”. O texto mereceria ter sido mais claro, paraevitar dificuldades práticas. Diversamente do que foi afirmado acima, essas disposições já não sãovoltadas a assegurar o descanso do advogado, mas a restituir o correto tamanho do prazo que foiprejudicado por algum dos eventos relacionados na norma em comento. Mas, nesse caso, a normamencionasituaçõesqueouseaplicamaosprocessoscomautosfísicos,ouseaplicamaosprocessoscomautosdigitais.Seosautos sãodigitais, e seo sistema informáticoestáoperante,pouco importaqueoexpediente do fórum foi alterado por fatos aleatórios, como, por exemplo, a dispensa antecipada dosfuncionáriosemrazãodegrevesdetransporte,tumultospolíticos,jogosdaseleçãobrasileiradefutebol,ou quaisquer acidentes que demandem a evacuação do prédio. Se os autos são físicos, e nenhumainformaçãorelevanteparaoatoseencontraexclusivamentenosistemainformáticojudicial,nestecasoaindisponibilidadedacomunicaçãoeletrônicanãohádesercausadeaplicaçãodaregradoart.224,§1º.Em resumo, essas situações de inacessibilidade parcial descritas nesse parágrafo, observados seusrespectivosefeitosconcretos(istoé:inacessibilidadedosautosfísicos,porfuncionamentoanômalodofórum, ou dos autos digitais, por problemas relacionados aos sistemas informáticos), não devemrepercutir na contagem em dias úteis, pois esse é um dia regular de trabalho para o advogado, mascontinuam a prorrogar o prazo quando ocorrem nos dias inicial ou final da contagem, porque causamóbiceàsuaatuação,emprejuízodaduraçãototaldoprazooudapráticadoato.Mas,claro,situaçõesaindamais excepcionais (catástrofes naturais ou prolongada pane dos sistemas informáticos nos diasintermediáriosdacontagem)podemserapreciadascasoacaso,dentreosmotivosde justacausa (art.223,doCPC/2015),cabendoaomagistrado,seforocaso,restituiroprazoàparte.

Parececertoque,quandolocal,oferiadoqueinfluinacontageméoqueatingiroórgãojudicialperanteoqual o ato deva ser praticado. Enquanto o processo tramitar em primeiro grau, aplica-se, claro, osferiadosdacomarcaemquecorreoprocesso.Oadvogadoquepatrocinacausasemcomarcadiversadade seu escritório haverá de ficar atento aos feriados ocorridos na sede do juízo, não podendodesconsiderar na contagem os do seu próprio domicílio profissional. Como a apelação e suascontrarrazões sãodirigidasaoórgãodeprimeirograu, seusprazos tambémsofrerão influênciaapenasdosferiadosocorridosnacomarca.Omesmoseaplicaaosdemaisrecursos,quesãointerpostosperanteoórgão judicialqueproferiuadecisão recorrida,nãosecomputandonoprazoos feriadoshavidosnacomarcaemquetalórgãoseencontra.

Porfaltademaioresdetalhesnalei,acontagemdoprazoparaoagravodeinstrumentopoderásuscitardificuldadespráticas,jáqueorecursotemorigememprocessoqueestáemprimeirograu,masédesdelogoapresentadoaoórgãodesegundograu.Oart.1.017,§2º,doCPC/2015,prevêqueoagravopoderáserapresentadotantonoprotocolodotribunalcomonodacomarca,alémdeadmitirseuenviotambémpelocorreio,por fax,ououtraformaprevistaemlei.Paraos tribunaisque já informatizaramtodosos

novosprocessos, comoéo casodoTribunalde JustiçadeSãoPaulo eváriosoutros, os agravos sãoapresentadosexclusivamentepormeioeletrônico,viaInternet,portanto.Diantedessequadro,parece-meque,apriori,acontagemdoprazodoagravodevelevaremcontaosferiadosdacomarcaemquetramitaoprocessoenãoosdotribunal.

Emprimeirolugar,seosautossãofísicos,énacomarcaquepoderãoserconsultados,duranteosdiasdeexpedientedoórgãodeprimeirograu.Emsegundolugar,seanovaformadecontagemtemporobjetivoassegurarodescansodoadvogado,que,namaioriadasvezes,édomiciliadonacomarca,queoferiadolocalpossa serpor elecomemorado semprejuízode seu trabalho,podendo frequentar asquermesses,cerimônias religiosas, desfiles e demais atividades típicas da comunidade local, ou simplesmenteusufruirodiacomsuafamíliatalqualosdemaismunícipes.Aocorrênciadeferiadosnacomarcasededo tribunal só parece relevante caso, não se tratandodepetição a ser enviadapormeio eletrônico, oúltimodiadoprazofor feriadonaCapital.Aindaqueo recursopossaser interpostoporoutrosmeiosprevistosnosincisosdoart.1.017,§2º,estanormacriaopçõesdiversasdeinterposiçãodorecursoquesecolocamàescolhadaparte.Sendoprivadadeumadessasopções,oprazohádeserprorrogadoporumdia.Masosferiadosnasededotribunalquerecaemnomeiodoprazonãohãodeinfluirnacontagem,poisoprocessoaindanãoguardaqualquerrelaçãocomacortedesegundograu,nemcomacomarcadaCapitalondeestásediada.

Na hipótese de autos digitais e peticionamento eletrônico para interposição do agravo, somente osferiadosdacomarcaemquecorreofeitohaveriamdeserdesconsideradosnacontagemdoprazo,nãoimportandosequeroferiadonaCapitalnoderradeirodia,desdequeosistemaeletrônicodeprotocoloestejaoperante.

TalcomojápreviaaLeinº11.419/2006,emseuart.10,§1º,oatopraticadopormeioeletrônicopoderáser interposto até as 24 horas do último dia do prazo, segundo dita o art. 213, do CPC/2015,considerando-seofusohoráriodoórgãoparaoqualoatoédestinado,deacordocomo§ún.domesmoartigo. Também foi trasladada daquela Lei a regra que dispõe sobre o início da contagem do prazo,quandoaintimaçãoéfeitapeloDiáriodaJustiçaeletrônico.Repete-se,noart.224,§2º,doCPC/2015,adeterminaçãoconstantedoart.4º,§3º,daLeinº11.419/2006,demodoqueodiadotermoinicialdoprazo(inapropriadamentechamado,emambasasleis,de“datadapublicação”)éodiaútilseguinteaoda“disponibilização da informação noDiário da Justiça eletrônico”, começando-se a contagemnooutrodiaútil,apósessetermoinicial.

Osprazossãosuspensosentre20dedezembroe20de janeiro,conformeart.220,doCPC/2015.Sãotambémsuspensosemrazãode“obstáculocriadoemdetrimentodaparte” oupelos demaismotivosque dão ensejo à suspensão do processo, como reza o art. 221, do CPC/2015. Também podem sersuspensosduranteaexecuçãodeprogramasparaapromoçãodaautocomposição,naformado§ún.domesmoartigo.Comoosprazossãocontadosapenasemdiasúteis,aretomadadacontagemsedaránodiaútil seguinte ao fim de quaisquer dessesmotivos de suspensão, sendo desnecessária amanutenção daorientação constante da segundametade do art. 179, doCPC/1973, que, por isso, não foi repetida noCPC/2015.

Osprazosdobradosparalitisconsortesrecebem,noCPC/2015,algumasrestrições.Amaisrelevanteéado§2ºdoart.229,queafastaaaplicaçãodessadobraparaosprocessosemautosdigitais.Defato,omotivoparaadilataçãodoprazoparaoslitisconsortes,quandodefendidosporpatronosdiferentes,éadificuldadequeenfrentampara teracessosimultâneoaosautos,comrestriçõesàcargaporapenasum

delesnocursodosprazoscomuns.Sendoubíquososautosdigitaisdisponíveisonline,aregraperdesuarazãodeser,nãohavendoprejuízoaoslitisconsortesasuasubmissãoaoprazoregularfixadoemlei.Poroutro lado, o caput do art. 229 estabelece que, por “diferentes procuradores”, deve-se entenderprocuradores“deescritóriosdeadvocaciadistintos”.Elimina,pois,oCPC/2015,apráticamaliciosade se outorgar procurações diferentes a causídicos domesmo escritório, tão somente para obter essebenefíciodeprazodobrado.Por suavez, adobradoprazo,nessescasos, independede requerimento,segundoafirmaomesmodispositivolegal.

Nomais,aformadecontagemnãosealtera.Odiadotermoinicialnãoécontado,providênciaque,maisdoquefrutodaregralegal,estácorretaemtermoscronológicos.Assim,oprimeirodiadacontageméodiaútilseguinteaotermoinicialdoprazo,prosseguindo-seacontagemsomenteemdiasúteise,comonoCPC/1973,éincluídoodiadovencimentocomodiaaindahábilàpráticadoato.

CapítuloXI-Honoráriosadvocatíciosedespesasprocessuais

1. Obrigação de antecipação das despesas e responsabilidades decorrentes dasucumbência

Asregrassobredespesas,honoráriosemultasencontram-seprevistasnosarts.82a97doCPC/2015.Quantoàobrigaçãodaspartesdeproveresuportaroscustosdoprocesso,oCPC/2015introduzalgumassensíveismodificações,emboraaorientaçãogeralqueregeotemapermaneçaamesma,istoé,aolongodoprocessocadaumadaspartesdeveadiantarasdespesasrelativasaosatosaquedeucausa,excetosebeneficiária da gratuidade processual; e ao autor incumbe suportar as despesas necessárias aos atosdeterminadosdeofíciopelojuizouarequerimentodoMinistérioPúblico,quandoesteatuacomocustuslegis.Éoqueseencontranoart.82doCPC/2015,quereafirmaodispostonoart.19doCPC/1973.E,ao final, o vencido deve reembolsar o vencedor pelas despesas que este antecipou (art. 82, § 2º, doCPC/2015),maishonoráriosdeadvogadoaseremfixadospelojuiz,conformeasdisposiçõesconstantesdaquelaSeção,equeserãoobjetodoscomentáriosqueseseguem.

Porora,otemaserátratadosoboângulodassituaçõesemqueaspartessãoeconomicamentecapazesdesuportaroscustosprocessuais,deixando-seoexamedagratuidadeprocessualparaopróximoCapítulo.

2.Critériosdefixaçãodoshonorários

2.1.Disposiçõesgerais

Oart.85,§2º,trazligeirasmodificaçõessobreafixaçãodehonoráriosemrelaçãoaoqueseencontranoart.20,§3º,doCPC/1973.Oslimitescontinuamfixados,demodogeral,entredezevinteporcentodovalordacondenação,comoexpressavao textoanterior,masacrescentou-seque talpercentual tambémserá apurado sobreo“proveito econômico obtido ou, não sendopossívelmensurá-lo, sobre o valoratualizadodacausa”.Areferênciaao“valordacondenação”sósejustificanotextodonovoCódigoparamanteremparteajáconhecidaredaçãoanterior,pois,arigor,essaexpressãoestáabrangidadentrodo sentido mais amplo de “proveito econômico da causa”. Este é o benefício economicamenteapreciávelqueaparteobtémdasentença,sejaeleoreconhecimentodeumcréditoareceber–ovalordacondenação, portanto – seja o reconhecimento de que não o deve pagar por força de sentença deimprocedênciaoudeprocedênciadeaçãodeclaratórianegativadaexistênciadaobrigação,sejaovalordacoisadisputada,sejaobenefícioeconômicorepresentadopelaanulaçãooumanutençãodecláusulascontratuais, ou qualquer outro proveito econômico mensurável que seja alcançado pela parte comoresultadodoprocesso.

Asnovasdisposições tornaramclaroocritériode fixaçãodaverbahonoráriaquandonãose tratardesentençacondenatóriadeobrigaçãoemdinheiro.Destemodo,diferentementedoquepreviaoCPC/1973,quandonãohouvercondenaçãomasforpossívelaferiroproveitoeconômicoobtidopelaparte,estedeveser considerado como base de cálculo para a fixação do percentual da verba honorária; não sendopossívelaferiroconteúdoeconômicodadisputa,somentenessecasoovalordacausadeveserutilizadocomobasedecálculo.

NoCódigoanterior,nãohavendocondenação,dispunhaoart. 20,§4º,queesseeramaisumcasode

fixaçãodaverbapor“apreciaçãoequitativadojuiz”,emqueasentençasimplesmenteestimaumvalorem moeda a título de honorários advocatícios. Mesmo assim, observa-se com certa frequência autilizaçãodovalor da causa comoparâmetro,mas isso ficava a critério do juiz, a quemoCPC/1973autorizoucertograudediscricionariedade, jáqueemseutextonãose lênenhumadisposiçãoexpressaacerca da utilização do valor da causa como base de cálculo, quando improcedente o pedido. PeloCPC/2015,essa“apreciaçãoequitativa”nafixaçãodaverbahonoráriasóterálugar,segundoo§8º,doart. 85,“nas causas emque for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando ovalordacausaformuitobaixo”.

No§6º,domesmoart.85, estabeleceu-sequeoscritériosprevistosno§2º, acimacomentado,comotambém no § 3º, a ser tratado adiante, “aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo dadecisão,inclusiveaoscasosdeimprocedênciaoudesentençasemresoluçãodemérito”.Dessemodo,esclarece a lei mais uma vez que a fixação de honorários em um valor emmoeda, por“apreciaçãoequitativa”,ficamesmorestritaàssituaçõesprevistasnocitado§8º.Osnovoscritérioslegaismostram-semaisequitativos,especialmentenosentidodeequilibrarosriscosdademandaentreautoreréu.Tantoquanto seja apreciável o conteúdo econômico da causa, ou seu valor não seja irrisório, autor e réupagarãohonoráriosumaooutro,quandovencidos,segundoosmesmoscritériosebasesdecálculo.Comisso,eliminou-sesobremaneiraosubjetivismonafixaçãodessasverbas,oque,muitasvezes,levavaaodeferimentodehonoráriosvis.Aregraseráaaplicaçãodospercentuaisdefinidosnalei,variandodedezavinteporcento sobreo resultadoeconômico (eahipótesedecondenaçãoseencaixanesseconceitomaisamplo)ousobreovalordacausa,seaquelenãoformensurável.

O § 9º estabelece regra peculiar para a fixação da base de cálculo, quando houver condenação aindenizaçãoporato ilícitocontraapessoa.NoCPC/1973,o§5ºdoart.20estabeleciaqueabasedecálculoparaaplicaçãodopercentualdehonorários,nessescasos,deveriasera“somadasprestaçõesvencidas como capital necessárioaproduzir a renda correspondente às prestações vincendas”; nonovoCódigo,abasedecálculonãomaisécompostadocapital,masda“somadasprestaçõesvencidasacrescidade12(doze)prestaçõesvincendas”(art.85,§9º).Note-sequeéumaregraqueapenasdispõesobreabasedecálculo,sobreaqualserãoapuradosospercentuaisfixadossegundoo§2º,doart.85.

Nãosãoalterados,porseuturno,oscritériosutilizadospelojuizparajustificaraaplicaçãodepercentualmaioroumenor,dentrodasmargensmínimaemáximaestabelecidaspelalei.AssimcomonoCPC/1973,deve omagistrado levar em conta o grau de zelo do profissional, o lugar de prestação do serviço, anatureza e a importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seuserviço. Repetem-se, assim, nos incisos do § 2º do art. 85, do CPC/2015, as mesmas orientaçõesconstantesdos incisosdoart. 20,§3º, doCPC/1973.Esses elementosdevemserusados tantopara aorientarafixaçãodospercentuais,entredezavinteporcento,segundoeste§2º,comotambémparaqueojuizdefinaospercentuais aplicáveisnascausasemqueaFazenda forparte, segundoa tabelaprópriadefinidano§3º,comentadaaseguir.

2.2.HonoráriosnascausasemqueaFazendaéparte

Entendeuporbemolegisladorestabelecerparâmetrosquantitativosmaisclarosparaafixaçãodaverbahonorária nas causas em que a Fazenda Pública é parte. Trata-se de situação que tem suscitadoinfindáveiscontrovérsiasemnossostribunais,nãoraropelainsurgênciadospatronosdaparteadversa,quelitigacomaFazenda,diantedafixaçãodevaloresquerepresentamproporçõesinsignificantessobreoproveitoeconômicoemdisputa.

OCPC/1973tambémincluía,entreoscasosde“apreciaçãoequitativa”constantesdoart.20,§4º,ascausas em que “for vencida a Fazenda Pública”. A norma, que estabelecia mais um questionávelprivilégioprocessualemfavordaFazenda,tinhacomojustificativaanecessidadedepreservaroerário(embora seja o caso de perguntar, especialmente diante da realidade concreta do país: seriam oshonoráriosadvocatíciospagosproporcionalmenteàcondenaçãoimpostaàFazendaacausadabancarrotaestatal?).

MantidaaintençãodoCPC/1973–apreservaçãodopatrimôniopúblico–aomenossepodedizerqueonovoCPCeliminouumodiosotratamentodesigual.Otextodoart.85,§3º,criacritériosdiferenciados,eamenor,emcomparaçãocomoparágrafoantecedente,paraafixaçãodaverbahonoráriaparatodasascausas emqueaFazenda forparte.Assim, são aplicáveis osmesmos critérios tanto contra ela comotambémaseufavor.

Anova lei trouxemaisobjetividadeparaa fixaçãodaverba,estabelecendouma tabela regressivanosincisosIaVdessemesmo§3º,demodoqueojuizhaverádeobservarpercentuaismínimoemáximo,apuradossobreacondenaçãoouproveitoeconômicoobtido,talcomoocorrecomasdemaiscausas.Adiferença reside na aplicação dessa tabela regressiva, que abaixa consideravelmente os percentuaisfixadosno§2º,conformesejamaiorovalordoproveitoeconômicoobjetodadisputa,utilizando-seosaláriomínimo como critério atualizador da tabela (mas não da dívida, não esbarrando, portanto, naproibiçãodeseusarosalário-mínimocomoindexadordeobrigações).

Assinale-se que, embora nos incisos sejamencionado apenas o uso do“valor da condenação ou doproveitoeconômicoobtido”(textoqueserepeteemtodososincisos),lê-seno§4º,III,domesmoartigoque“nãohavendocondenaçãoprincipalounãosendopossívelmensuraroproveitoeconômicoobtido,a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado da causa”. Portanto, as bases decálculoparaapuraçãodehonoráriospercentuais,nascausasemqueaFazendaéparte,sãoasmesmasprevistasno§2ºparaasdemaiscausas.Istoé,havendocondenaçãoouproveitoeconômicomensurável,estes são utilizados como base de cálculo dos percentuais a serem pagos a título de honorários; docontrário,utiliza-seovalorprocessualdacausacomobasedecálculo.Reitere-sequeaqui tambémseaplicaodispostono§6º,relativamenteàssentençasdeimprocedênciaouapenasterminativas.

Assim,deformaesquemática,temosaseguintetabelano§3ºdoart.85:

I–até200SM–10%a20%

II–de200a2.000SM–8%a10%

III–de2.000a20.000SM–5%a8%

IV–de20.000a100.000SM–3%a5%

V–acimade100.000SM–1%a3%

Como,paraaplicar-seumatabelacomoessa,énecessárioconhecerovalormonetáriodacondenação,osincisos I e II do § 4º estabelecem, respectivamente, que, sendo líquida a sentença, cabe ao juiz fixardesde logo cada umdos percentuais da escala; se ilíquida, os percentuais aplicáveis serão decididossomente por ocasião de sua liquidação. Segundo o inciso IV domesmoparágrafo, para apuração dospatamaresdessatabelaregressiva,seráutilizadoovalordosalário-mínimodadatadasentençalíquida,

ouodadatadaliquidação,conformeocaso.

Por fim, o § 5º ainda esclarece que, na aplicação da tabela regressiva, deve-se inicialmente fixar oshonorários segundo o inciso I, evidentemente até o limite ali fixado, aplicando-se os percentuais doincisoIIparaosvaloresqueexcederemaosdoincisoI,eassimsucessivamente.

Ou,exemplificadamente,supondoumsalário-mínimodeR$900,00,essesseriamosvaloresdatabela:

I–atéR$180.000,00–10%a20%

II–deR$180.000,01aR$1.800.000,00–8%a10%

III–deR$1.800.000,01aR$18.000.000,00–5%a8%

IV–deR$18.000.000,01aR$90.000.000,00–3%a5%

V–acimadeR$90.000.000,01–1%a3%

Considerando como base de cálculo o montante de R$ 20.000.000,00, caso seja esse o proveitoeconômico ou o valor da causa, caberá ao magistrado fixar percentuais, dentre os limites máximo emínimodosrespectivosincisos,paraosquatroprimeirospatamaresdatabela.Se,porexemplo,fixasseem12%paraoslimitesdoincisoI,9%paraoII,6%paraoIIIe4%paraoIV,assimseriamcalculadososhonorários:

I–apuraçãode12%atéoslimitesdoincisoI:

12,00%XR$180.000,00=R$21.600,00

II – apuração de 9% sobre o que excede os limites do inciso I, até os limites do inciso II (R$1.800.000,00–R$180.000,00=R$1.620.000,00):

9,00%XR$1.620.000,00=R$145.800,00

III–domesmomodo,apuraçãode6%sobreoqueexcedeuaovaloranterior,atéolimitedoincisoIII(R$18.000.000,00–R$1.620.000,00=R$16.200.000,00):

6,00%XR$16.200.000,00=R$972.000,00

IV–descontadososlimitesanteriores,acondenaçãoaindaexcedeemR$2.000.000,00,sobreosquaisaplica-seopercentualdefinidoparaoquatropatamar:

4,00%XR$2.000.000,00=R$80.000,00

Tudosomado,oshonoráriosnestecasoseriamdeR$1.219.400,00.

3.Honoráriosprogressivos

Umadasmaisrelevantesmodificaçõessobrehonoráriosadvocatícioséageneralizaçãodaaplicaçãode

honoráriosprogressivos,quepodemseraumentadosaolongodoprocesso,tantonocorrerdoprocessode conhecimento como no de execução. Entenda-se porhonorários progressivos qualquer critério defixaçãodessaverbademododistribuídoecrescenteaolongodoprocesso.Contrapõe-seaummodeloemque,umavezfixadososhonoráriosnasentençadeprimeirograu, talverbanãomaissealtere,nãoimportandooquantooprocessoseestenda,nemoquantoapartevencidaresista,ouceda,ouseutilizemaisoumenosdosmeiosprocessuaisprevistosemlei.

Dealgummodo,esseaumentodaverbaaolongodoprocessojáeratimidamenteprevistonoCPC/1973,deumaformaesparsa,quantoàsexecuçõesdesentençaenoprocedimentomonitório.NonovoCódigo,issosetornaumaorientaçãogeral.

Afixaçãodehonoráriosadvocatíciosemdesfavordovencidoatendeaduasfinalidadespráticas.

A primeira, mais óbvia, é a de remunerar o advogado da parte vencedora. Tratando-se de atividadeexercida profissionalmente, da qual o procurador da parte retira o seu sustento, o mandato não é,evidentemente, gratuito.O pagamento de honorários ao advogado da parte vencedora, prática que foiamplamente institucionalizadapelaLei nº 4.632/1965, contribui para o acesso à justiça daqueles que,embora tendo razão, ou, aomenos, grandes perspectivas de sucesso na demanda judicial, não tenhamcondições de suportar completa e antecipadamente os honorários do seu defensor. Assim, diante daperspectiva vislumbrada pelo advogado, de receber honorários finais pagos pelo adversário vencido,maior facilidade teráesse litiganteemencontrarprofissionalqualificadoqueoatenda.Cria-se,assim,tanto um elemento facilitador para o ajuizamento de causas viáveis, quanto um desestímulo para apropositura de aventuras judiciais, que se mostrem desde logo improváveis ou descabidas. Assim,mesmonesseaspectomeramentevoltadoapropósitosremuneratóriosdopatronodaparte,essecritérioadotado há meio século cria uma lógica de prêmios e riscos para facilitar ou desestimular,respectivamente,oajuizamentodedemandasviáveisouinviáveis.

A outra razão, por sua vez, é diretamente voltada para esse escopo de evitar demandas infundadas.Sabendoapartequepoderásercondenadaapagar tantoascustasdoprocessocomooshonoráriosdeadvogadodopatronodeseuadversário,issosetraduzemumimportantefreioaoajuizamentodeaçõescom pouca ou nenhuma chance de sucesso. Adotando a fixação progressiva dos honorários, pode-seaindacriardesestímulostambémaolongodoprocesso,ainibirainterposiçãoderecursosinviáveisouqualqueroutromododeresistênciameramenteprotelatóriaàentregafinaldaprestaçãojurisdicional.

SãoessesospropósitosdoCPC/2015.Deumlado,comoaumentoprogressivodoshonoráriosaolongodademanda,oadvogadodovencedorpassaaserremuneradodeumaformamaisproporcionalaotantode trabalhoqueoprocessodeleexigiu.Deoutro lado, impõeaambas aspartesanecessidadede,aolongodetodooprocesso,aferiroriscoeaoportunidadedecontinuararecorrerdasdecisõesproferidas.

Na realidade anterior, do CPC/1973, esse objetivo de evitar demandas infundadas só se mostravapraticamenteeficazpara inibiroajuizamento inicialdacausa.Ofreiorepresentadopeloreceiodesersucumbentesóseapresentavanessemomento,paraaquelequedesejasseirajuízo.Umavezqueaaçãofosse proposta, não havia, noCPC anterior,mais nenhum estímulo para que as partes – tanto o autorquanto o réu - abreviassem voluntariamente o processo por ato de disposição unilateral, renúncia,reconhecimento, não interposição de recursos contra a decisão final, oumesmo a transação bilateral.Nummodeloassim,osriscosresultantesdeganharouperderacausasemostraminvariáveisaolongodoprocesso.

Aos poucos, nas reformas aplicadas aoCPC/1973, o sistema incorporou algumas regras pontuais quedavam um caráter de progressividade às verbas suportadas ao final pelo vencido, que mais e maisresistisse à entrega da prestação jurisdicional. Tais disposições produziram um notável sucesso emabreviarosfeitos,comespecialdestaqueparaamultainseridapelaLeinº11.232/2005noart.475-JdoCPC/1973. Embora não se tenha notícia de estatísticas comparativas sobre o quanto essa nova regraestimulou o depósito ao início da execução, em detrimento daquela atávica opção de oferecer coisasquaisqueràpenhora,comoeramuitíssimofrequenteatéoadventodessaleide2005,oaumentodecasosemqueoexecutadooptoupelopagamentoinicialdaexecuçãofoiperceptívelnodiaadiaprofissionaldetodosaquelesquemilitamnoforo.

Enfim, se o chamado princípio da sucumbência tem por finalidade estimular uma atuação maisresponsávelporpartedos litigantes,oaumentoprogressivodosvaloresapagar,distribuídoao longodas fases processuais, cobra-lhes – de ambos os litigantes – mais responsabilidade durante todo odesenvolvimentodacausa.

Essenovocenárioexigirádosadvogadosdaspartesumaoutraposturanodecorrerdoprocesso,voltadaaavaliarriscosdesucessodurantetodoocursodoprocedimento,parabemorientaroclienteadecidirseprosseguecomadiscussão,ousenãoémelhorcurvar-seaoresultadoeevitarcorreroriscodequeascoisaspioremaindamais.

Édeseesperarqueanovidadepossaproporcionarbonsresultadosnosentidodediminuironúmeroderecursosouabreviarosfeitos,diantedaexperiênciaconcretatrazidacomainstituiçãodamultadoart.475-J,doCódigoanterior.Parececlaro,porém,que,nestecaso,taisbonsresultadosdependerãodedoisfatores: que os aumentos progressivos que os tribunais fixarão não sejam insignificantes e que asdecisões das instâncias inferiores se mostrem robustas e convincentes, bem fundamentadas como oCPC/2015minuciosamenteexigeeespera.37SeoJudiciáriosinalizarqueosaumentosprogressivosnãopassarãodemigalhas,apartevencida,mesmoquenitidamentesemrazãoousembonsargumentosdiantedoconjuntodasprovascolhidasedaqualidadedosfundamentosdasentençadesfavorável,continuaráavislumbrarvantagenseconômicas levaro feitoadiante, enão se inibiráem interpor recursos feitosnabasedocopyandpaste, cujo propósito evidente não é o de vencer,mas retardar o processo omaispossível,oucansaroadversário.Poroutrolado,dedecisõesaleatóriasnãohácomofazerqualquerjuízoracionaldeviabilidadedorecurso;quandoojurisdicionadopercebequeabsolutamentequalquercoisapodeemergirdojulgamentofinal,mesmoquemestáconscientedeterpoucaounenhumarazãosesentirátentadoaarriscarasorte, lançandoseusdadosnaesperadealgumdescuidooudistraçãoporpartedaCorte.

Feitasessasconsideraçõessobreaspossíveisconsequênciaspráticasqueaboaaplicaçãodessanormapoderáproduzir,passemosaoexamedonovotextolegal.

O art. 85, em seu § 1º, afirma que “são devidos honorários advocatícios na reconvenção, nocumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursosinterpostos,cumulativamente”.Otextoresumeemumúnicodispositivosituaçõesqueseencontravamdispersasnaleianterior,oueramobjetodecontrovérsia,eaelasacrescentouaimposiçãodehonoráriosemgraurecursal.

Adiante,no§11domesmoartigo,estáexpressoque,no julgamentodosrecursos,oshonoráriosserãomajoradosdeofíciopelotribunal.

Otexto,aprincípio,nãodistingueosrecursossobreosquais incideanovanorma,nemdistingueseorecurso foi julgado a favor ou contrariamente ao recorrente. Isso poderia ter sidomelhor apresentadopelonovoCPC,oque,noentanto,nãoocorreu,deixandomargemparaasmaisvariadasinterpretações.Não há motivos, igualmente, para deixar de aplicar honorários recursais contra a Fazenda Pública,semprequeestaapresentarrecursovoluntárionascausasemqueasentençanãoestejasujeitaareexamenecessário,situaçõesessasqueforamalargadaspeloCPC/2015.38

Notocanteaoresultadodorecurso,seriamaisapropriadoentenderqueamajoraçãosóseaplicaquandoo recorrente fosse mais uma vez vencido. Afinal, como dito acima, uma das finalidades da novaorientaçãolegislativaéadedirecionaraspartesparaumaatuaçãomaisresponsável.Nessesentido,nãosevêmotivosparaaumentaraverbahonoráriafixadanasentença,quando,diantedorecurso,elapassaaserimpostaàquelequehaviaanteriormentevencidoenãointerpôsqualquerrecurso.Noquedizrespeitoà remuneraçãodopatronovencedor, este já estará sendopremiadocoma reversãodo julgamento, eisque,nostermosdasentença,nenhumaverbahonoráriaeleteriarecebido,poisseuclienteforavencido.

Já no tocante aos recursos, parece razoável compreender que isso se aplica tão somente aos recursosinterpostoscontradecisõesfinais,asmesmas,aliás,quejá impuseramverbahonoráriaaovencido.Ouseja,naapelaçãodesentença,ounoagravoquepassaasercabívelparadesafiarsentençasquejulgamparcialmenteomérito,enosrecursosespecialeextraordináriointerpostoscontraacórdãosfinais,que,igualmente, tenham fixadoverbahonorária.Enfim, se adecisão recorrida comportou fixaçãodeverbahonorária,aplica-seaorecursointerpostocontraelaaregrado§11doart.85.

Nãosedevedesconsiderar,soboângulodeumaatuaçãoresponsáveldaspartes,queépropugnadapelonovo CPC, que nas execuções o recurso mais frequente é o agravo, que pode ser interposto contradiversas decisões relativas à forma da execução. Mas, para as execuções, há regra própria deprogressividadedaverbahonorárianoart.827,que seráadiantecomentada,demodoquenãoparecenecessárioquearegrado§11sejaaplicávelataisagravos.

Umdetalheinteressanteaacrescentar,emtermosdesimplificaçãodoprocesso,équeanovasistemáticatorna dispensável a interposição de recurso adesivo pela parte vencedora, caso pretenda apenas amajoração dos honorários advocatícios fixados pelo órgão a quo. Tal aumento, nos casos em que éaplicável, será imposto de ofício pelos magistrados que julgarem o recurso e independentemente dequalquerrequerimentodapartenascontrarrazões,jáquealeinãooexige.

Há tambémprogressividade, vista neste sentido de aumentar ou reduzir a verba honorária conforme aparteopteporcontinuararesistirouporcederantecipadamente,noart.90,§4º,quereduzpelametadeos honorários impostos ao réu que reconhece a procedência do pedido e simultaneamente cumpre aprestaçãoreconhecida.Aregrapoderiatersidomelhorelaborada,paraquenãoparecessetãocasuística.Haveriadeserdirigidatambémaoautorquerenunciasseaodireitosobrequesefundaaação.E,claro,nemsempreopedidoécondenatório,demodoquealeitambémdeveriaestimularoréuquereconhecepedidos meramente declaratórios ou constitutivos, em que não há prestação alguma a cumprirposteriormente,demodoqueamerahomologaçãodoatodedisposiçãojásejabastanteparasatisfazeraparte(como,p.ex.,emaçõesparadeclararainexistênciaoudesconstituirumdébito,ououtrostiposderelação jurídica). Assim, esse estímulo indireto à solução autocompositiva também se estenderá aoslitígios que não tenham caráter patrimonial. Nada obsta, evidentemente, que assim seja entendida eaplicadaaregrapeloPoderJudiciário;entretanto,seriaconvenientequealeiodissesseexpressamente,poisissoseriaumagarantiaprévia–eindependentedeinterpretaçõesposterioresdoórgãojudicial–de

queoréu,se reconhecerodireitodesde logo, terá fixadoscontrasihonorários reduzidosàmetadenasentençaquesóserádadaposteriormente.

Aosmagistradosqueconcordaremcomessainterpretação,queentãoindiquem,desdelogo,nodespachoinicial,queo réugozarádesse“desconto”, caso reconheça, totalouparcialmente,dodireitodoautor.Assim,o réu teráacertezadeque,mesmoemse tratandodecausadenaturezanão-condenatória,queescapeàliteralidadedanormadoart.90,§4º,suadisposiçãoemcederseráigualmentepremiada.

Otextodoart.90,§4º,dizqueoshonoráriosserãoreduzidospelametade.Porém,nomomentoemqueoréupraticartalato,nãohánenhumafixaçãodehonorários,apenasaperspectivadequeserãofixadosnasentença que homologará a renúncia. Isso significa dizer que a sentença deve arbitrar normalmente oshonorários, levandoemcontaosparâmetros legaisaplicáveis,segundoosvaloresmáximosemínimosconstantesdos§§2ºe3ºdoart.85(nosegundocaso,nahipótesedeatodedisposiçãodoparticularquelitigacomaFazenda),quesóserãodevidospelametadecasosejasatisfeitointegralmenteodireitodoautor.Se alguma resistênciapersistir, oudemora inaceitávelna satisfaçãodaprestação,oshonoráriosfixadosnasentençaserãoaplicadosemsuaintegralidade.

Note-se, neste sentido, que o texto semostramuito afinado com um determinado tipo de prestação acumprir:opagamentoemdinheiro.Dizendooparágrafoqueécondiçãoparaoabatimentodoshonoráriossucumbenciaiscumpririntegrale“simultaneamente”aprestaçãoreconhecida,parececlaroque,emsetratandodeobrigaçãoemdinheiro,deveoréuprovidenciaroimediatodepósitojudicialdaquantia,tãologoapresenteapetiçãocomoreconhecimento.Porém,adependerdoconteúdodealgumasobrigaçõesde dar coisa ou de fazer, o réu nem terá como cumpri-las simultaneamente com a apresentação doreconhecimento. Pense-se, por exemplo, na entrega de uma coisa de grande porte, um maquinárioindustrial, por exemplo.O transporte e o recebimento, pelo autor, de um bem assim precisam ser dealgummodo organizados e agendados, não sendo esperado, nem pelo credor, que o réu simplesmenteapareçacomumcaminhãoàsuaporta,paradespejaraliacoisadevida.

Como sugestão, em causas dessa natureza pode o autor mencionar na petição inicial em quecircunstânciasoréupoderá,emcertoprazo,cumpriraobrigaçãoemcasodereconhecimento,oque,separecerrazoávelaosolhosdojuiz,podeserdeferidoexpressamentenodespachodainicial,constandodomandado.

Há, ainda, outras formas de aumento progressivo dos honorários finais emdisposições espalhadas aolongodoCPC/2015.

Paraocumprimentodesentença,manteveolegisladoromecanismo“estimulante”constantedoart.475-JdoCPC/1973,masdeformamaisprecisadoqueconstavadaqueletextoanterior.Assim,ficouclaro,noart.523doCPC/2015,queoexecutadoseráintimadoacumprirasentençacondenatóriaepagarodébitono prazo de 15 dias.Não pago o débito nesse prazo, haverá o acréscimo demulta de 10%, como jáprevia o referido art. 475-J da lei anterior, mais 10% de honorários advocatícios. Se parcial opagamento,amultaeoshonoráriosincidirãosobreorestante,conformedispostono§2º.

Esses honorários fixados em execução são independentes e não se confundem com os já fixados nasentença,aosquaissesomam.Assinale-se,nestesentido,queo§11doart.85,aodisporsobreaverbahonoráriaemrecurso,apontaqueoslimitesdos§§2ºe3ºdomesmoartigosãoestabelecidosparaafasedeconhecimento.Emexecuçãodesentença,comotemsidocompreendidopelajurisprudênciaatual,há

incidênciadenovoshonorárioscasoaobrigaçãonãosejacumpridadesdelogo.

Para as execuções fundadas em título executivo extrajudicial, nota-se também a previsão daprogressividade de honorários, conforme se observa no art. 827 e seus parágrafos. Ao despachar ainicial,dizocaputdesseartigo,ojuizfixaráhonoráriosde10%aserempagospeloexecutado.Mas,seestepagaradívidaematé3dias–evidentementecontadosdesuacitação,39emboranãoodigaotexto–oshonoráriosdevidossão reduzidosàmetade, segundodispõeo§1º.Por fim,deacordocomo§2ºdesseartigo,ovalordehonoráriosfixadoinicialmentepodeserelevadonocorrerdaexecução,paraaté20% “quando rejeitados os embargos à execução, podendo a majoração, caso não opostos osembargos,ocorreraofinaldoprocedimentoexecutivo,levando-seemcontaotrabalhorealizadopeloadvogadodoexequente”.Conformeoexecutadoresistirmaisemaisàexecução,mesmoseminterporembargos, isso poderá ser levado emconta pelomagistrado para fixar honorários em caráter final naprópriaexecução.Essaresistênciapodedecorrer,porexemplo,dainterposiçãodeumoumaisagravoscontraaformadaexecução,desdeque,éclaro,oexecutadosejavencidonessesrecursos.Daítersidoafirmadoacimaquenãoseriacabível,pordesnecessária,afixaçãodehonoráriosrecursaisnessescasos.Ocomportamentodoexecutadocomoumtodopodeedeveserconsideradopelomagistradoparaofimdeelevaromontantedaverbahonoráriadevidanasexecuções.

Odispostono§2ºdesseart.827pareceigualmenteaplicávelàsexecuçõesdesentença,paraofimdeelevaroshonorárioscasohajaresistênciainjustificadadoexecutado,ouaexecuçãosemostreigualmentetrabalhosaparaoexequente.Assim,nocumprimentodesentença,oatendimentodocomandonoprazode15 dias dispensa o executado de qualquer verba adicional, cabendo-lhe pagar tão somente o que foifixadonasentença.Apósoprazo,incideamultade10%eoshonoráriosdeigualpercentual.Mas,senocorrerdaexecuçãoaindahouverresistência injustificadadodevedor,oua interposiçãodeagravosemque se saiu vencido, cabível elevar a verba honorária, também nesses casos de execução de títulojudicial,paraaté20%,aplicando-sesubsidiariamenteoparágrafooracomentado.

Segundooart.85,§7º,“nãoserãodevidoshonoráriosnocumprimentodesentençacontraaFazendaPública que enseje expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada”. Portanto, àFazenda, quando executada, não se aplicam essas disposições sobre honorários no cumprimento desentença, seja para o pagamento inicial, seja pelo desenvolvimento do processo, a menos que sejamopostosembargos,casoemque,narespectivasentença,novoshonoráriospodemserfixadoseimpostosàpartevencida.Assinale-sequeessaregraserefereaoshonoráriosacrescidosemrazãodocumprimentode sentença (art. 523, § 1º, do CPC/2015); não se refere, claro, aos honorários fixados na sentença,segundoosparâmetrosdoart.85,§3º.

Alémdessasdisposições,aprogressividadedaverbahonorária jáantesprevistaparaoprocedimentomonitórioéligeiramentemodificadanonovoCPC.Noregimeanterior,oréudoprocedimentomonitórioestariadispensadodopagamentodecustasehonoráriossecumprisseomandadodepagamentonoprazo,conformeart.1.102-C,doCPC/1973.Nãoofazendo,sujeitar-se-iaaoshonoráriosaseremfixadospelomagistrado.NonovoCódigo,aodespacharainicial,ojuizfixaráhonoráriosde5%dovalordacausa,segundo seu art. 701. A tempestiva atenção ao mandado, neste caso, dispensará o réu apenas dopagamento das custas, como se lê no § 1º desse artigo. Constituído o título judicial, se for o caso,aplicam-se, quanto aos honorários incidentes sobre a sua execução, as regras já tratadas acima. Emhavendoembargos, a sentençaqueos julgar fixaráverbahonoráriaautônoma,que, emcasode sair-sevencidooréu,sesomaráaos5%fixadosinicialmente.

4.Outrasdisposiçõessobrehonorários

Alémdasquestõesacimatratadas,onovoCódigotrazumasériedenovidadesoupequenasmodificaçõesacercadoshonoráriosdesucumbência.

Na esteira da orientação jurisprudencial dominante, o CPC/2015 consagrou o caráter alimentar doshonoráriosadvocatícios,oquesetornadisposiçãolegalexpressa,noart.85,§14.

Omesmodispositivoaindainstauraumanovidade,aregeraaplicaçãodaverbahonorárianascausasemquehouversucumbênciaparcial.Pelanovaregra,édescabidocompensarhonorários,istoé,emcasodeprocedênciaparcialdademanda,devemserfixadoshonoráriosaoautoreaoréu,apurados,cadaqual,segundo a proporção em que foram sucumbentes, não se compensando os valores. Noutras palavras,tendo o autor formulado pedido de R$ 100.000,00 e obtido sua procedência parcial para apenas R$70.000,00, o juiz deverá fixar percentual de honorários em favor do autor, calculados sobre acondenação,eemfavordoréu,sobreomontanteemqueoautorrestouvencido,istoé,osR$30.000,00.Supondo-seaaplicaçãodopisode10%,oréudeverápagar,alémdacondenaçãoprincipal,R$7.000,00aoadvogadodoautor,eestedeverápagarR$3.000,00aoadvogadodoréu,vedadaacompensaçãoentretais verbas. É mantida, no entanto, a disposição anterior que afasta a imposição das verbas desucumbência à parte quedecaiu emproporçãomínimadopedido, comoprevisto no art. 86, § ún., doCPC/2015,respondendoovencidopelaintegralidadedasdespesasehonorários.

O novo Código também estabelece expressamente a possibilidade de expedição do mandado delevantamentoemfavordasociedadedeadvogados integradapelopatronodaparte,seesteorequerer,segundoo§15,doart.85.Temsidocomumessaconcessão,pelomagistrado,orientaçãoessaqueanovaleiconsolidou.Seoadvogadomantémumasociedade regularcomoformadeexercer suaprofissão,enelacontabilizatodososseusrecebimentosedespesasesesujeitaaoregimefiscalprópriodaspessoasjurídicas,torna-semuitooneroso,quandonãolhecausadificuldadescontábeis,fazerolevantamentoemnomedapessoafísica.

Umaquestãoquetemgeradoalgumapolêmicaemnossostribunaiséapossibilidade,ounão,decontagemdejurossobreovalordaverbahonorária,quandoestaédefinidaemvalornominalnasentença.Afinal,quandofixadosempercentualsobreacondenação,suaapuraçãosucedeoacréscimodejurosecorreçãomonetáriasobreoprincipal,demodoqueapuradososhonoráriosaofinal,sobreovalorutilizadocomobasedecálculoestãoembutidososjuros.Mas,quandofixadosemmoeda,oraseaceitavaainclusãodejuros,oraeradeterminadaameraatualizaçãomonetáriadaquantiafixadanojulgado.AjurisprudênciadoSTJjáhaviareconhecidoaincidênciadejurosnessescasos.Oart.85,§16,pacificaeuniformizaaquestão: quando a verba honorária é fixada em quantia certa, incidirão juros a partir do trânsito emjulgadodadecisão.Nãoselembrouolegislador,porém,dedartratamentoexpressoaesseproblemanasdemaissituaçõesemqueoshonoráriosnãosãoapuradossobreacondenaçãoemdinheiro,mascombasenovalordacausa,ou,comoagora instituídoexpressamentepela lei, sobreoproveitoeconômico.Poranalogia,deve-seaplicaraessashipótesesamesmaregrado§16,aplicando-sejurosdesdeotrânsitoemjulgado.

Casoasentençasejaomissanafixaçãodaverbahonorária,essapoderáserpleiteadapeloadvogadoemaçãoautônoma,aserajuizadacontraapartecontráriavencida,segundooart.85,§18.Evidentemente,enquantonoprazo,cabemembargosdedeclaraçãoparaqueessaomissãosejasanada.Aregrado§18éaplicávelapenasquandotransitaremjulgadosentençatotalmenteomissaarespeitodafixaçãodaverba

honorária. Se a verba foi negada expressamente pela sentença, a questão pode ser objeto de recurso,sujeitando-se à decisão superior;mas não será o caso de aplicar-se este § 18, quando os honoráriosforamexpressamenteexcluídosdojulgamentofinal.

Sendo vencidos os litisconsortes, trouxe o novo CPCmais algumas disposições tendentes a eliminardúvidas sobre o quantum devido por cada um deles. Segundo o art. 87, § 1º, caberá ao magistradoestabelecer expressamente na sentença, se for o caso, a proporção das despesas e honoráriosadvocatíciosdevidosporcadaumdoslitisconsortes.Emsendoomissaasentença,dispõeo§2ºdessemesmoartigoquetodososlitisconsortessãoigualmentesolidáriospelopagamentodessasverbas.

Outraregranova,presenteno§10domesmoartigo,estabeleceque“noscasosdeperdadoobjeto,oshonoráriosserãodevidosporquemdeucausaaoprocesso”.

5.Novasdisposiçõessobrecustasedespesas

ComoafirmadonoiníciodesteCapítulo,mantém-senonovoCPCaobrigaçãodaspartesdeadiantaropagamentodasdespesasaquederamcausa,conformedispostonoart.82,caput.Repete-se,também,aregraqueimpõeaoautorodeverdeantecipá-las,quandooatofordeterminadodeofíciopelojuizouapedidodoMinistérioPúblico.

Observe-se, entretanto, que o art. 95 abre uma exceção a essa forma de distribuição. No tocante àremuneraçãodoperito,estaserádevidapelapartequerequereuaperícia,comonoCPC/1973,mas,sedeterminada de ofício ou requerida por ambos os litigantes, diz o novo texto que tais despesas serãorateadaspelaspartes,enãomaisadiantadasexclusivamentepeloautor.

Uma novidade, tendente a estimular a transação entre as partes, estabelece que, ocorrida a transação“antesdasentença,aspartesficamdispensadasdopagamentodascustasprocessuaisremanescentes,sehouver”(art.90,§3º).

CapítuloXII-Gratuidadedajustiça

OregramentodagratuidadeprocessualeraprevistonoCódigodeProcessoCivilde1939.Após,aLei1.060/1950passouaregeramatéria,revogandoocapítulocorrespondentedoCPCde1939.AusentedoCPC/1973, que se referia a ela apenas em alguns artigos isolados, a justiça gratuita voltou a sercodificada noCPC/2015, que dedica ao tema os arts. 98 a 102, além de algumas outras disposiçõesesparsas.

OCPC/2015revogaemparteaLeinº1.060/50,passandoaregularemseutextoaconcessãodejustiçagratuita,ougratuidadedajustiça,expressãoquefoiadotadapelolegislador.Segundooart.1.072,III,doCPC/2015,sãoexpressamenterevogadososarts.2º,3º,4º,6º,7º,11,12e17dasexagenáriaLeideAssistênciaJudiciária(LAJ).Édeseestranharofatodeolegisladornãoteroptadopelasuarevogaçãototal,comacompletaabsorçãodamatériapelonovoCódigo,poisváriosdosdispositivosquenãosãoaliexpressamenterevogadosoforamtacitamente,umavezqueoCPC/2015regulouaquestãoporinteiro.Éoqueseobservanoart.5º,caput(revogadotacitamentepeloart.99,§2º,doCPC/2015)eseu§5º(v.art.186,§§1ºe3º,doCPC/2015),noart.10(v.art.99,§6º,doCPC/2015)enoart.13(v.art.98,§§5ºe6º,doCPC/2015).

QuantoaosdemaisdispositivosdaLAJ,quenãoforamrevogadosexpressanemtacitamente,algunssãoapenastextosformaisquesereferemàaplicaçãoevigênciadaquelamesmalei(arts.1ºe19).Oart.8ºestende as situações previstas no art. 7º, que foi revogado expressamente, sendo duvidoso que possaaquelemanter-seemvigor.Outrasnormasrestantesaparentementecaíramemdesusodiantedaampliaçãoecapilaridadealcançadaspeloserviçodeassistênciajudiciária,demodoque,comorelevantes,ficarammantidosemvigorosarts.9ºe16,caput,quepreveem,respectivamente,queosbenefíciosseestendematodasasinstânciasequeomandatodadoaoadvogadoprivadopodeseroutorgadomedianteregistroematadeaudiência(adispensadeapresentaçãodeinstrumentodemandato,quandoaparteédefendidapelaDefensoria Pública, constante do parágrafo único do art. 16, da LAJ, encontra-se prevista na LeiComplementarnº80,emseusarts.44,XI,89,XIe128,XI).

Emseçãointitulada“Dagratuidadedajustiça”,contendoosarts.98a102,alémdeoutrasdisposiçõesaolongodotexto,oregramentodamatériafoiincorporadoaonovoCódigo.Tendoemvistaodispostonoart.15,doCPC/2015,essasdisposiçõescodificadasacercadagratuidadeprocessualsãoaplicáveissubsidiariamenteaosprocessoseleitorais,trabalhistasouadministrativos.

A fórmula legal quedefineoperfil econômicodo assistido foi simplificada, passandoonovoCPCadizerquetemdireitoaobenefíciodagratuidadeaquelesujeitoqueseapresente“cominsuficiênciaderecursosparapagarascustas,despesasprocessuaisehonoráriosadvocatícios”(art.98).Anovidademaior, neste ponto, é a expressa referência à possibilidade de concessão do benefício às pessoasjurídicasque tambémseenquadremnessemesmocritério,oque jávinhasendoaceitopeladoutrinaejurisprudênciamaisatuais.

O CPC/2015 mantém a presunção de veracidade da declaração feita apenas pelo requerente pessoanatural,emqueafirmenãotercondiçõesdearcarcomasdespesasdoprocesso(art.99,§3º).Apessoajurídica, então, deverá expor fundamentadamente a sua situação econômica, e eventualmente prová-la,comopressupostoparaaconcessãodegratuidade.

Segundodispõeoart.105,ospoderespara“assinardeclaraçãodehipossuficiênciaeconômica”devemserexpressamenteoutorgadosaoadvogadonoinstrumentodemandato.Dessemodo,orequerimentodegratuidadeprocessualouserásubscritopelaprópriaparterequerente,quehaverádeassinaremconjuntoapetiçãoemqueorequerimentofoifeito,ouporadvogadoquetenharecebidopoderesespeciaisparaessefim,constantesdoinstrumentodemandato.

O benefício compreende os itens previstos nos incisos do art. 98, § 1º, doCPC/2015, que repete emgrande parte o teor do art. 3º da LAJ. Como novidades nesse rol, encontram-se os honorários deintérpreteoutradutor(v.inc.VI,do§1º)eemolumentosdevidosanotáriosouregistradoresparaatosnotariais ou registrais necessários“à efetivação de decisão judicial ou à continuidade do processojudicial”(v.inc.IX).Detodomodo,osincisosdoart.98,§1º,assimcomoanormaanteriorcontidanaLAJ, representamumaenumeraçãomeramenteexemplificativadaabrangênciadagratuidade,eisqueobenefício decorre de garantia constitucional e não comporta limitação em sua extensão. A isenção,portanto, deve abranger todas as despesas para a prática ou eficácia de atos necessários ao acesso àjustiça do hipossuficiente. Desde a inserção do inciso VII ao art. 3º da LAJ, por força da LeiComplementar nº 132, ficou claro que o rol é meramente exemplificativo, sendo tal regra agoratransposta para o art. 98, § 1º, VIII, do CPC/2015, que confirma a dispensa de demais pagamentosnecessários“paraapráticadeoutrosatosprocessuais inerentesaoexercíciodaampladefesaedocontraditório”.

ÉdeseesperarqueaconstantepolêmicaquantoaopagamentodehonoráriospericiaisecustasparaaexecuçãodaperíciasejadevezpacificadapeloCPC/2015.Segundodispostonoart.95,§3º,incisosIeII,donovoCódigo,talperíciadevesercusteadapeloEstado,sejaquandofeitaporórgãopúblico,sejaquando por particular, caso em que os valores deverão ser tabelados pelo tribunal ou pelo CNJ. ÀFazendaé asseguradoodireito ao ressarcimentodessesvalores,quepoderão ser executados contraovencido(art.95,§4º).

Quanto à forma de requerer o benefício, foi mantida a simplicidade constante da LAJ, sanando-seeventuaisdúvidasinterpretativasqueessaleianteriorporvezessuscitava.Assim,deformamaisclara,diz o art. 99 doCPC/2015 que“o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petiçãoinicial,nacontestação,napetiçãopara ingressode terceironoprocessoouemrecurso” ou, ainda,“porpetição simples” apresentada apenas para esse fim, se o pedido é formulado a qualquer tempo,conforme § 1º desse mesmo dispositivo. Não há, portanto, qualquer formalidade específica para opedido,ficandoclaroqueseráapresentadoedecididonosprópriosautos.

Comodispostono§2ºdoart.99,doCPC/2015,édeseesperarmaiorprestezanodeferimentoinicialdobenefício,eisqueojuizsópodeindeferi-lodeplano“sehouvernosautoselementosqueevidenciemafaltadospressupostoslegaisparaaconcessãodagratuidade”.Maisexplícitodoqueorevogadoart.5º,caput,daLAJ,parececlaroquenãopodeojuizexigirqualquerprovaouformalidadeadicionaldorequerente,evitando-sedelongasouconstrangimentos,lembrando-semaisumavezqueadeclaraçãodeinsuficiênciaderecursosprestadaporpessoanaturalgozadepresunçãodeveracidade.Ademais,ofreioa pedidos de gratuidade que,mais do que descabidos, soem abusivos ou atentatórios à seriedade dajustiça,encontra-seprevistonoart.100,§único,doCPC/2015,que,repetindooteordoart.4º,§1º,daLAJ, impõemulta de até dez vezes o valor das custas em caso de comprovada ou evidentemá-fé dorequerente.

Alémdareferênciaexpressa,feitanocaputdoart.99,doCPC/2015,acercadapossibilidadederequerer

agratuidadeemrazõesderecurso,o§7ºexplicitaquetalpedidotemoefeitoimediatodedispensarorecorrentedorecolhimentodorespectivopreparo,submetendo-seaquestãoaorelator,quefixaránovoprazoparaorecolhimentodataxaemcasodeindeferimentodobenefício.

Seguindoaorientaçãopredominantenajurisprudêncianacional,oart.99,§4º,donovoCPC,afirmaqueopatrocíniodorequerenteporadvogadoparticularnãoimpedeaconcessãodagratuidade.Entretanto,sehouver recurso voltado exclusivamente a pleitear ou majorar os honorários advocatícios devidos aoadvogadodobeneficiário,opreparoserádevido(art.99,§5º).Ovocábuloexclusivamente,empregadonesseparágrafo,deixaclaroque,emcasoderecursomaisamplonointeressedoassistido,opreparonãoserádevido,mesmoqueainsurgênciadorecorrentetambémabranjaamajoraçãodaverbahonoráriaaserpagapeloadversário.

O CPC/2015 suprimiu a multiplicidade de petições simultaneamente apresentadas pela mesma parte.Assim como eliminou a exceção de incompetência ou a impugnação ao valor da causa como peçasautônomas, cabendo ao réu suscitar tais questões empreliminar de contestação, domesmomodo seráapresentadapeloréuaimpugnaçãodagratuidadepleiteadapeloautor(v.art.337,XIII).Sefoipedidapelo réu, a gratuidade poderá ser impugnada pelo autor em réplica; se em recurso, impugna-se nascontrarrazões; ou, feito o pedido a qualquer tempo, a parte contrária poderá impugná-lo também porpetiçãosimples,nosprópriosautos,aserapresentadaem15dias,tudoconformeodispostonoart.100doCPC/2015.

Não parece razoável, entretanto, considerar que esses momentos para a apresentação da impugnaçãosejampreclusivos,poisaquestãosuscitadapeloadversáriopodeserfundadanaperdadacondiçãodenecessitado durante o curso do processo, ou na ciência posterior de fatos que, embora preexistentes,demonstremodescabimentodaisenção.Nessesentido,eramaisclaroeprecisoodispostonoart.7ºdaLAJ.Assim,deveseradmitidaaapresentaçãode impugnação,porpetiçãosimples,aqualquer tempo,fundada nesses motivos, eis que há interesse público em não se conceder a gratuidade a quemevidentementenãoamereça.Constatadanocursodoprocessosituaçãoderiqueza incompatívelcomaconcessãodobenefício,ouseestaforsuperveniente,podeapartecontráriaapresentaraimpugnaçãoaqualquertempo,pormerapetiçãoavulsadestinadaaessefim.

Orecursocabívelcontraadecisãoqueversasobreagratuidadeéoagravodeinstrumento,conformeart.101,doCPC/2015,excetoseaquestãoforresolvidanasentença,casoemqueapartepoderáseinsurgirsobreessepontonaprópriaapelação.Orecursodeagravo,conformedefinidonoart.101econfirmadonoincisoVdoart.1.015 ,sóécabívelemcasoderejeiçãodopedidoouacolhimentodaimpugnação,istoé,quandofornegadaagratuidade.Odeferimentodagratuidade,aprincípio,nãoadmiteagravo,masse inclui nas questões que, não cobertas pela preclusão, porque irrecorríveis por essa via recursal,podem ser objeto da apelação, segundo dispõe o art. 1.009, § 1º do CPC/2015. Há aparente lacunaquantoaodeferimentodobenefícioquetenhasidoconcedidoemexecuçãoextrajudicialoucumprimentodesentença,parecendoaplicávelnestecasoodispostonoart.1.015,§único,demodoatambémadmitir-seoagravodeinstrumento.

Comointuitodeasseguraroacessoàjustiçaeevitar-seadesconcertantesituaçãodeterquepagarcustaspara ver reconhecida a impossibilidade de pagá-las, o § 1º do art. 101 do novo CPC assegura aorequerente, cujo benefício foi indeferido, a dispensa do preparo do respectivo recurso até exame dorelatorsobreaquestão,queseráporeleapreciadacomopreliminar.Denegadaourevogadaagratuidadepelotribunal,apartequeahaviarequeridoteráoprazode5diaspararecolherascustasdorecurso,sob

penadenãoconhecimento,deacordocomo§2ºdomesmoartigo.

Quantoàsverbasanterioresqueseencontramematraso,seurecolhimentosóse tornaexigívelquandotransitaremjulgadoadecisãodenegatória,cabendoaojuizfixarprazoparaoseupagamento(art.102,doCPC/2015).

OCPC/2015contemplaapossibilidadedeconcessãoparcialdobenefício.Aregraéimportanteporque,sendopressupostodagratuidade“a insuficiência de recursos” para pagar as custas e demais verbasinerentesàatuaçãodaparteemjuízo,ovalorconcretoapagaréumparâmetroasersempreconsiderado.Pessoasquenãosejamtãopobres,masqueteriamquerecolhercustasedespesasincompatíveiscomoslimitesdeseuorçamento,podemaomenospleitearaconcessãoparcialdobenefício,cujospatamaresojuiz deverá prudentemente estabelecer caso a caso. Ora, há em nosso país pessoas cujo estado demiserabilidade é tal que não têm mesmo condições de suportar sequer o pagamento de uns ínfimostostões;eháaquelesquepoderiampagarcustasedespesasnacasadacentenaoumesmoalgunspoucosmilharesde reais,masnãoalémdisso.Portanto, para as segundas, seovalordasdespesas ébaixoecompatível comseuorçamento,nãocabeconceder-lhesobenefício;mas seovalordosgastoscomoprocessocomprometeseusestipêndios,devea leiassegurar-lhesoacessoà justiça,oferecendo-lhesagratuidade parcial. Tal isenção parcial, que podia ser compreendida a partir de uma interpretaçãorazoável do art. 13 da LAJ, veio explicitamente prevista no CPC/2015, nos §§ 5º e 6º do art. 98,estabelecendoanovaleique“agratuidadepoderáserconcedidaemrelaçãoaalgumoua todososatosprocessuais,ouconsistirnareduçãopercentualdedespesasprocessuaisqueobeneficiáriotiverde adiantar no curso do procedimento” (§ 5º), cumulando-se ou aplicando-se alternativamente odisposto no § 6º, que autoriza o pagamento parcelado, o que parece incidir tanto em relação aopagamentototalcomoaopagamentoparcialeventualmenteautorizadonaformadoparágrafoanterior.

Vencidoofavorecidopelaisenção,oart.98,§2º,doCPC/2015,estabelecequeobenefícioquelhefoiconcedido não o exime da condenação às verbas decorrentes da sucumbência, que devem sernormalmentefixadaspelasentença.Entretanto,demodomaisclaroqueaLAJ,onovoCPCafirmaqueestá suspensa a exigibilidade desse crédito, cabendo ao credor, como pressuposto de sua execução,demonstrarqueobeneficiáriovencidopassouatercondiçõeseconômicasdesuportaroseupagamento(art.98,§3º,doCPC/2015).Deixanítido,também,onovotextolegal,queoprazodecincoanosdefineumtermoextintivodaobrigação,enãoumlapsoprescricional,comoincorretamentediziaoart.12daLAJ.Portanto,oprazoécontadodo trânsitoemjulgado,nãoestandosujeitoàscausassuspensivasouinterruptivasdaprescrição.Passadoscincoanos,enãoperdendoovencidoascondiçõesdenecessitado,aobrigaçãodepagarasverbasdecorrentesdasucumbênciaseextinguedeplenodireito.AsuspensãodeexibilidadeeotermoextintivoquinquenalsãotambémaplicáveisàexecuçãofeitapelaFazendaquantoàs verbas por ela despendidas para a realizaçãoda perícia, quandovencidoo beneficiário, conformedispostonoart.95,§4º.

OprazoemdobroemfavordaDefensoriaPública,previstonoart.5º,§5º,daLAJ,éagoraafirmadonoart.186,prazoessequepassaacorrerapósintimaçãopessoaldodefensor,naformado§ún.domesmodispositivo.SolucionandocontrovérsiaquesearrastadesdeainserçãodessanormanaLAJ,pelaLeinº7.871/1989, adotou o CPC/2015 a postura que parece ser constitucionalmente adequada à questão,estendendo o prazo em dobro para os “escritórios de prática jurídica das faculdades de Direitoreconhecidas na formada lei e às entidades queprestamassistência jurídicagratuita em razãodeconvêniosfirmadoscomaDefensoriaPública”.Emverdade,soboângulodaisonomiaprocessual,essebenefíciodeprazose justificaenquantoconcedidoemfavordapartenecessitada,enãodoentequeo

defende,nãohavendorazãoparadistinguiroshipossuficientesquesãodefendidosporórgãospúblicosdosquesãodefendidosporoutrasentidadesnotoriamentevoltadasàprestaçãodeassistênciajudiciáriaàpopulaçãocarente.Assim,porexemplo,aosquesãodefendidosporadvogadosvinculadosaconvêniosfirmadosentreaDefensoriaPúblicaeaOABtambémdevemseraplicadososprazosdobrados.Afinal,éapartecarenteadestinatáriadobenefício,enãooórgãopúblico.

CapítuloXIII-InformatizaçãodoprocessonoNCPC

1.Generalidades

ApropostadeumnovoCódigodeProcessoCivilesuapromulgaçãosederamemummomentohistóricopeculiar. Nesses últimos anos, o Poder Judiciário envidou amplos esforços para informatizar suasestruturasemigrarosautosprocessuaisparaoformatodigital.Autilizaçãodeautosdigitais,porcerto,trará benefícios, dúvidas e perspectivas de novos rumos que, talvez, ainda sejam imprevisíveis nestemomento. É minha opinião, já consolidada noutros textos anteriores,40 que a informatização bemconduzidapodedarensejoaumaradicalmudançanaformadoprocedimentoe,consequentemente,nasregrasqueregemosprocessosjudiciais.Noutraspalavras,hádesepensaremnormasprocessuaisqueabandonemoparadigmadopapelepassemaregrarumprocessoquesedesenvolveinteiramentecomouso das novas tecnologias da informação, aproveitando-se do poder de processamento de dados doscomputadores.

Projetado, discutido e promulgado neste momento de transição para a nova tecnologia, o CPC/2015combina algumas regras tendentes a regular a aplicação da informática aos processos, umas tímidas,outrasmaisadaptadasànovarealidade,comasmesmasregrasformaisanterioresecomumaestruturaprocessualquesemantémintacta.Nãoédesedescartarque,emfuturobreve,oCPC/2015sejarevisto,paramelhoradaptarasvelhasregrasdeprocedimentoaousodasnovastecnologias.

2.Dapráticaeletrônicadeatosprocessuais

OCPC/2015dedicaàpráticadeatosprocessuaispormeioeletrônicoumaseçãoprópria,inexistentenoCPC/1973,contendoosarts.193a199.Partedasnormasdessaseçãoédestinadanãoaossujeitosdoprocesso,juízes,parteseadvogados,masàsesferasadministrativasdoPoderJudiciário,quehaverãodezelarparaqueosprogramasdecomputadorempregadosestejamemconformidadecomessasdisposiçõesecumpramasfunçõesquedelesseespera,istoé,tenhamfuncionalidadessuficientesparapermitirquetodas as possibilidades previstas na lei processual possam ser perfeitamente executadas no ambientedigital.Essaé a tônicadosarts.194,195e196.Oart. 193,por suavez, apenas afirmaqueos autospodem ser total ou parcialmente digitais. No atual cenário, tal regra é apenas uma confirmação darealidade.

Nosdemaisartigosdaseção,estãodisposiçõesquerepercutemmaisdiretamentenarelaçãoprocessual,noquedizrespeitoaosdireitosdaspartes.

Segundooart.197,asinformaçõesprocessuaisdivulgadasnaspáginaseletrônicasdostribunaisgozarãode“presunção de veracidade e confiabilidade”. Trata-se de regra relevante, que supera uma longadiscussãojurisprudencialacercadasconsequênciasproduzidasporinformaçõeserrôneasouincompletascontidasnessaspáginas.A jurisprudêncianacional oscilou entredizer que tais sítios eletrônicos erammeramente “informativos” e sem caráter oficial, ou reconhecer que são, sim, um canal oficial decomunicaçãoe, portanto, emcasode equívocono fornecimentode informações, nãopodeapartequeneles confiou ser prejudicada. Essa segunda orientação é a que parece ser amais acertada.Afinal, anenhum órgão público é dado agir de modo informal! Se um órgão judicial oferece informaçõesprocessuaispelaInternet, issoéumaextensãodosseusserviços,demodoquetais informaçõesdevem

ser completas, corretas e atuais.O art. 197, então, confirma essa posição.O § ún. desse artigo aindacomplementa o preceito, afirmando que “nos casos de problema técnico do sistema e de erro ouomissãodoauxiliarda justiça responsávelpelo registrodosandamentos,poderá ser configuradaajustacausaprevistanoart.223,capute§1º”.Nempoderiaserdiferente.Separtefoiimpedidadesemanifestarecumprirseusprazosemrazãodefalhadosistemainformático,deve-seafastaraocorrênciadepreclusão,devolvendoaelanovaoportunidadedepraticaroato.

Noart. 198,oCPC/2015assegura aos interessados–oquecertamente incluipartes e advogados–odireitodeteràdisposição,gratuitamente,nasededojuízo,“equipamentosnecessáriosàpráticadeatosprocessuaiseàconsultaeaoacessoaosistemaeaosdocumentosdeleconstantes”.Ainformatizaçãoprocessualdevetercomometaagilizarostrabalhosforenses,mastambémfacilitaroacessoàjustiçadoslitigantes.Portanto,aosquecomparecemaoFórumealiseencontram,deveserfornecidoalgummeiodeacessoaosautosdigitaisedemaisinformaçõesprocessuais.Emaisdoqueapenasoacesso,devemserfornecidosmeiosparapermitiropeticionamentoeletrônico.O§ún.dispõequeondeessaregradocaputnãoforobservada,aspartespoderãoapresentarsuasmanifestaçõespormeionãoeletrônico,ouseja,empapel.

Porfim,oart.199ocupou-sededeterminarafacilitaçãodeacessoàspessoascomdeficiência.

Essa seção, com apenas sete artigos, não reúne todas as disposições relativas à aplicação da formadigital ao processo. Ao longo do texto, entre as disposições sobre vários atos processuais, sãoencontradasregrasespecíficassobreousodainformáticanessesmomentosdoprocesso.

3.Outrasdisposiçõesrelevantessobreousodatecnologia

Aotratardosváriosatosprocessuais,oCPC/2015traz,emalgunscasos,regrasrelativasàutilizaçãodasnovas tecnologias de comunicação e informação. Várias dessas regras acerca do uso da informáticaforam comentadas nos Capítulos iniciais desta obra, quando relacionadas aos temas ali abordados.Seguem-se, abaixo, algumasbreves referências sobre a aplicaçãoda tecnologiapelonovoCódigo emoutrosmomentosprocessuais.

O emprego da Internet como forma de divulgar informações processuais relevantes ou de dar maiorpublicidadeaatosprocessuaiséprevistonosarts.12,§1º,156,§2º,741,745,746,§2º,755,§3º,887,§2º,927,§5º,979,1.029,§1ºe1.043,§4º,destacando-se,pelasimplificaçãoereduçãodecustosquetrará,semprejuízodesuasfinalidades,autilizaçãodaredemundialdecomputadoresparapublicaçãodeeditaisdecitação,comoseencontraprevistonoart.257,II,eliminando-seaexigênciadesuapublicaçãonosjornaisimpressos.

Ousodeassinaturasdigitaiséexpressamente referidonosarts.105,§1º,205,§2º,209,§1ºe943.Tratam-se,porém,demerasdisposiçõesexemplificativas,eisquenãohárestriçãoalgumaaoamplousodasassinaturasdigitais,dentroeforadoprocesso,podendosubstituirousodaassinaturaautógrafaparatodososfins.

Sãoaperfeiçoadasasdisposiçõessobreapenhoraonline,noart.854,especialmenteemseus§§6ºe7º,que determinam que também o seu cancelamento, quando determinado pelo magistrado, deve serigualmenteexpeditoeefetivadopelosmesmosmeios.

Asalienações judiciaispodemserfeitaspormeioeletrônico,comojáprevistonoCPC/1973,segundodisposiçõesneleintroduzidaspelaLeinº11.382/2006.OCPC/2015tratadotemanosarts.879,II,880,§3º,882,capute§§1ºe2º,doCPC/2015.

Omandadodelevantamentodedepósitosjudiciaispoderásersubstituídoportransferênciaeletrônicaaserdeterminadapelo juízo, conformedispostonoart. 906,§ún., doCPC/2015.Asúnicas referênciasfeitasapagamentospormeioeletrônico,entretanto,sãoencontradasnasdisposiçõessobreopagamentodolançofeitopeloarrematante(arts.892e895,§3º).Dequalquermodo,sendoosmeioseletrônicosuma forma regulardepagamentoutilizadapelo sistema financeironacional, jáamplamenteaceitaparaoutrosdepósitosjudiciaisourecolhimentodecustasedespesas,nãoháporquesuporquedependamdeoutraautorizaçãolegalespecíficanasleisprocessuaisoudeorganizaçãojudiciária.Nuncaconstaramdasleisprocessuaisregrassobrecomoefetuaropagamentodeguiasdecustas;seaguiapodeserpaganosistemabancárioemgeral,seupagamentoestaráperfeitocomoquerqueosbancosoaceitem,segundoasnormas do sistema financeiro nacional. Importa, apenas, que os valores tenham sido efetivamenterecolhidos aos cofres do Estado ou a quem quer que deva recebê-los, mediante pagamento da guiaespecífica.

Deixou-se claro, no art. 1.007, §3º, quenão édevidoopagamentodeportede remessa e retornoderecursos,seosautossãodigitais.

Como comentário final, os textos legais em vigor ainda são incompletos para bem ordenar o uso dasnovastecnologiasaoprocessocivil.EmboraasdisposiçõesdoCPC/2015tenhamsesomadoaoquejáseencontravaprevistonaLeinº11.419/2006,quecontinuaemvigor,nãosepodedizerquehajaumsistemanormativocompletoaregulamentaroassimchamadoprocessoeletrônico,queavançaapassoslargosemnossopaís,oquedeixamargemamuitasfuturasdúvidaselacunas.Amaiorpartedostextoslegaissobreo temase restringeadeterminardiretrizesgeraisouaapenasautorizarousodemeioseletrônicosemmomentos pontuais do processo, sem descrever commaiores detalhes quais os requisitos formais, ousuasconsequências,aseremespecificamenteobservadosnessenovocenário.Muitomaisaindapodeserextraídodousodessastecnologias,umavezqueessamudançadeparadigmaécapazderepercutirtantonaformadosatosprocessuais,comonosseusrequisitosdevalidadeouadmissibilidade,oumesmonaprópria estrutura do processo, que poderia ser repensada à luz das possibilidades que a tecnologia écapaz de oferecer. E é neste sentido que, infelizmente, o novo Código corre o risco de envelhecerrapidamente.

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1MARCACINI,AugustoTavaresRosa.Estudosobreaefetividadedoprocessocivil.

2MARCACINI,AugustoTavaresRosa.Estudosobreaefetividadedoprocessocivil.

3Art.551,§3º,doCPC/1973.

4v.CapítuloVII-3.3.

5v.CapítuloVII-3.2.

6v.art.264doCPC/1973.

7v.art.329,II,doCPC/2015.

8v.CapítuloV-

9Sobremomentodeapresentaçãodorol,v.CapítuloVIII-3.4.

10v.CapítuloII-5.

11v.CapítuloII-4.

12v.CapítuloII-5.

13v.CapítuloIII-2.

14v.CapítuloIII-2.

15MARCACINI,AugustoTavaresRosa.CitaçõeseintimaçõespormeioeletrôniconoNovoCPC.

16DizemosmencionadosartigosdaLeiCivil:“Art.397.Oinadimplementodaobrigação,positivaelíquida,noseutermo,constituideplenodireitoemmoraodevedor.Parágrafoúnico.Nãohavendotermo,amoraseconstituimedianteinterpelaçãojudicialouextrajudicial.Art.398.Nasobrigaçõesprovenientesdeatoilícito,considera-seodevedoremmora,desdequeopraticou”.

17v.CapítuloI-1.

18v.CapítuloII-3.

19v.art.228,§2º,doCPC/2015,quedeterminaajuntadaautomáticadepetições,quandoosautosforemdigitais.

20v.art.105,doCPC/2015.

21v.Leinª810/1949.

22CORTÉS, Pablo. Online dispute resolution for consumers in the European Union. RULE, Colin. Online dispute resolution forbusiness.

23Nessesentido:GRECOFILHO,Vicente,DireitoProcessualCivilBrasileiro.

24v.CapítuloVI-3.2.

25Por julgamento demérito em sentido estrito, entenda-se a decisão emqueo juiz, apreciando fatos, provas e fundamentos da ação e dadefesa,decidepelaprocedênciaouimprocedênciadopedido(art.487,I,doCPC/2015,equivalenteaoart.269,I,doCPC/1973).

26Nestesentido,v.estudosanteriores:MARCACINI,AugustoTavaresRosa.Processoetecnologia:garantiasprocessuais,efetividadeeainformatizaçãoprocessual.MARCACINI,AugustoTavaresRosa.Apelações,agravoseainformatizaçãodoprocesso.

27Sobreinovaçõesdaleiacercadoônusdaprova,v.adianteCapítuloVIII-1.

28v.CapítuloVIII-3.4.e3.5.

29v.CapítuloVIII-3.2.

30MARCACINI,AugustoTavaresRosa.Odocumentoeletrônicocomomeiodeprova.

31GRECOFILHO,DireitoProcessualCivilBrasileiro.

32AMERICANO,Jorge,ComentáriosaoCódigodeProcessoCivildoBrasil.

33PRESGRAVE, Ana Beatriz Ferreira Rebello.O novo Código de Processo Civil e os processos em curso: uma teoria do direitointertemporalprocessual.

34v.CapítuloIV-1.

35v.CapítuloIV-3.

36Trata-se do veto à nova redação do art. 178, que teria sido dada pela Lei nº 10.358/2001 (mensagem de veto disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/Mensagem_Veto/2001/Mv1446-01.htm).

37v.CapítuloIX-2.

38v.CapítuloIX-5.

39Deve-seaplicar,nestecaso,odispostonoart.231,§3º,contando-seoprazoapartirda“dataemquesederacomunicação”enãodasuajuntadaaosautos.

40MARCACINI,AugustoTavaresRosa,ProcessoeTecnologia.