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DADOS DE COPYRIGHTcabana-on.com/.../2017/09/Ziraldo-O-Menino-Maluquinho.pdfA melhor coisa do mundo na casa do menino maluquinho era quando ele voltava da escola. A pasta e os livros

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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e não mais lutandopor dinheiro e poder, então nossa sociedade poderá enfim evoluir a um novo

nível."

ZIRALDO

OMENINO

MALUQUINHO

Era uma vez um menino maluquinho.

Ele tinha o olho maior do que a barriga

tinha fogo no rabo

tinha vento nos pés

umas pernas enormes(que davam para abraçar o mundo)

e macaquinhos no sótão(embora nem soubesse o quesignificava macaquinho no sótão).

Ele era um menino impossível!

Ele era muito sabidoele sabia de tudoa única coisa que ele não sabiaera como ficar quieto. Seu cantoseu risoseu somnunca estavam onde ele estava.

Se quebrava um vaso aqui

logo já estava lá

às vezes cantava lá

e logo já estava aqui.

Pra uns, era um uirapuru

pra outros, era um saci.

Na turma em queele andavaele erao menorzinhoo mais espertinhoo mais bonitinhoo mais alegrinhoo maismaluquinho.

Era tantas coisasterminadas em inhoque os colegas não entendiamcomo é que ele podia serum companheirão.

Se ele perdia um cadernono colégio(e ele perdia um cadernotodo dia)era fácil encontrar seu dono.

Seu caderno era assim:

um dever e um desenho

uma lição e um versinho

um mapa e um passarinho.“Este caderno só pode serdo menino maluquinho.”

A melhor coisa do mundona casa do menino maluquinhoera quando ele voltava da escola.

A pasta e os livroschegavam sempre primeirovoando na frente.

Depoisentrava o meninocom seu pé de ventoe a casa ventavaos quartos cantavame tudo se enchiade som e alegria. E a cozinheira dizia:“Chegou o maluquinho!”

Um dia, num fim de anoo menino maluquinhochegou em casa com uma bomba: “Mamãe, tou aí com uma bomba!”

“Meu neto é um subversivo!”gritou o avô.

“Ele vai matar o gato!”gritou a avó.

“Tira esse negócio daí!”falou – de novo – a babá.

Mas aí o menino explicou:“A bomba já explodiu, gente.Lá no colégio”.

“Esse menino é maluquinho!”falou o pai, aliviado.E foi conferir o boletim.

Esse susto não era nadatinha outros que ele pregava.Às vezessem qualquer ordemdo papai e da mamãese trancava lá no quartoe estudava e estudavae voltava do colégiocom as provas terminadas,tinha dez no boletimque não acabava mais.

E ele dizia aos paischeio de contentamento:

“Só tem um zerinho aí.Num tal decomportamento!”

Numa noite muito escuraapareceu o fantasma!!! Coberto com um lençolmuito brancoassustadorcom dois buracosnos olhossaltoufazendo buuuuuuuuusobre os ombrosassustadosdo papai e damamãeque voltavamdo cinema.

O susto não foimuito, muito grande,não.Mas,com o fantasmano colo,o papai lheperguntou:“Você não temmedo do escuro?” E o meninorespondeu:“Claro que não!O fantasmasou eu!”

Na casa do menino maluquinhoera assim:se tinha chuvaele queria inventar o sol

pois sabia onde acharo azul e o amarelo;

se fazia frioele tinha uma transa quentinhapra se aquecer;

se tinha sombrasele inventava de criar o risopois era cheio de graça;

se, de repente,ficasse muito vazioele inventava o abraçopois sabia onde estavamos braços que queria;

se haviao silêncioele inventavaa conversapois haviasempreum tempopara escutaro queo meninogostavade conversar;

se tinha dorele inventava o beijoaprendidoem várias lições.

E quanto maisdeixavam ele criarmais o menino inventavavestido deDoutor Silvanacom óculos de aro grossoe jeitode maluquinho.

A pipa queo menino maluquinho soltavaera a mais maluca de todas,rabeava lá no céurodopiava adoidadocaía de ponta-cabeçadava tranco e cabeçadae sua linha cortavamais que o afiado cerol.

E a pipaquem faziaera mesmo o menininhopois ele havia aprendidoa amarrar linha e taquaraa colar papel de sedae a fazer com polvilhoo grude para colara pipa triangularcomo o papailhe ensinarado jeito que haviaaprendidocom o paie o pai do paido papai.

E quando vinha São Joãoo mais luminoso balãoque todo mundo apontavaera o gordo balãozinhodo menino maluquinhoque custara uma semanade trabalho da tesourae dos moldes da mamãe.

Era preciso vero menino maluquinhona casa da vovó!

Ele deitavae rolavapintava e bordavae se empanturravade bolo e cocada.E riacom a boca cheiae dormiacansadono colo da vovósuspirando dealegria.E a vovó dizia:“Esse meu netoé tão maluquinho!”

O menino maluquinhotinhadez namoradas!

E elas riam muito, muitode suas graçasriam tantoque nem tinham tempode beijar escondido.

Quando o namoro acabavae a nova namorada perguntavaqual tinha sido o motivodo namoro terminarela já sabia a resposta:“Esse seu namoradoé muito maluquinho!”

Mas todas ficavam muitoapaixonadas!

Ele eraum namoradoformidável que desenhavacoraçõesnos troncos das árvores

quedesenhavaflores no caderno de desenho

e levava laranjase levava maçãse pagava sorvetese roubava beijinhos

e fazia versinhos

e fazia canções.

E se escalavravanos paralelepípedos

e rasgava os fundilhosno arame da cercae tinha tanto esparadraponas canelase nos cotovelose tanta bandagemna volta das fériasque todo ano ganhavados colegasno colégioo apelido de Múmia!

E chorava escondidose tinha tristezas

e ficava sozinhobrincando no quartosemanas seguidas

fazendo batalhas

fazendo corridas

desenhando mapasde terras perdidas

inventando estrelase foguetes espaciais.

E era montadonum foguete dessesque ele saía do quartoa voar outra vezpela mesa da salapelas grades da varandapelas cercas do quintal. E todo mundoficava alegre de novoao ver de voltaa alegria da rua!

O menino maluquinhotinha lá os seus segredose nunca ninguém sabiaos segredos que ele tinha(pois segredo é justo assim).

Tinha uns mais segredáveis.E outrosque erammenos.

Tinha uns dezque ele guardavasó pra contarpro papai.

E mais uns dez escolhidospra dividir com mamãe.

Os outros, que eram só dele,

não dá pra gente sabernem quantos eram, de fato.

Maso seu maior mistériotodos sabiam de cor:era o jeitoque o meninotinha de brincarcom o tempo. Sempre sobrava tempopra fazermil traquinadase dava tempopra tudo.

(o tempo era um amigão)

Seu ponteirinho das horasvai ver

era um ponteirão.

E sobrava tempopra ler os gibis

e sobrava tempopra colar figurinhas

e para anotar nos livrosde histórias e aventurastodas aquelas passagensem que ele virava o herói.

O tempo era assim pra ele:fazia horas a mais.

E o menino maluquinhoera um menino tão queridoera um menino tão amadoque quando deu de acontecerde o papai ir para um ladoe a mamãe ir pro outroele achou de inventar(pois tinha aprendido a criar)a Teoria dos Lados!

“Todo lado tem seu ladoEu sou o meu próprio ladoE posso viver ao ladoDo seu lado, que era meu.”

Foi uma barra, é verdade.E é verdade tambémque pouca gente entendeua teoria malucado menino maluquinhomasele ria baixinhoquando a saudadeapertavapois descobriuquea saudadeera o ladode um dos ladosda vidaque vinha aí.

Agora, vejam se podeuma descoberta dessas! Só mesmo sendo malucoou sendo amado demais.

O menino maluquinhojogava futebol.

E toda a turmaficava esperandoele chegarpra começar o jogo.

É que o timeera cheio de craquese ninguém queriaficar no gol.Só o menino maluquinhoque dizia sempre:

“Deixa comigo!” E ia rindo pro golpara o jogo começar.

E o menino maluquinhovoava na bola

e caía de ladoe caía de frente

e caía de pernas pro ar

e caía de bunda no chão

e dançava no espaçocom a bola nas mãos.

E a torcida riae gostava de vera alegria daquele goleiro. E todos diziam:“Que goleiro maluquinho!”

O menino maluquinhopegava todas! Masteve uma coisa que elenão pôde pegarnão deu pra ele segurarembora ele soubesse transá-lacomo um milagre.

O menino maluquinhonão conseguiu segurar o tempo!

E aí, o tempo passou. E, como todo mundo,o menino maluquinho cresceu.

Cresceue virou um cara legal!

Aliás,virou o cara mais legaldo mundo!Mas um cara legal, mesmo!

E foi aí quetodo mundo descobriuque elenão tinha sidoummeninomaluquinho

ele tinha sido era um menino feliz!

CONVERSA DE FIM DE LIVRO

A valsinha foi feita pelo Antônio (12 anos). Quem colocou as notas na pauta foio Sérgio Ricardo. O Antônio desenhou tam bém rosas e passarinhos. Os outros

desenhos infant is foram feitos pelos gêm eos Miguel e P edro (9 anos) e pelaApoena (6 anos), sendo que a Apoena entra aqui no papel de f ilha do cara legalque desenhou o papai. A Fabríz ia, o P aulo e a Vilm a tam bém colaboraram , e o

Geraldinho (da Graf io) criou as essas f igurinhas. Agradecim entos m is.P ara não com prom eter ninguém com m eras coincidências, deixo a dedicatória

do livro para o f inal. E dedico este livro ao Millôr e ao Jaguar, ao Zuenir e aoMilton, ao Rafa e ao Zé. P or várias razões.

(Ziraldo, no Rio de Janeiro, em julho de 1980)

Ziraldo nasceu em Carat inga, Minas Gerais, em 1932. Com eçou sua carreiranos anos 1950 em jornais e revistas com o Jornal do Brasil, O Cruzeiro e Folha

de Minas . Autor de livros infant is, ilustrador e cartunista, Ziraldo tem suasobras t raduzidas para diversos idiom as, entre eles inglês, espanhol, alem ão,

f rancês e italiano. Seu m aior sucesso, O Menino Maluquinho, com m ais de 100edições e 3 m ilhões de exem plares, tornou-se um ícone da literatura infant il

brasileira.

Edição revisada conform e o Acordo Ortográf ico da Língua P ortuguesa Capa e ilustrações do autor© 1980 Ziraldo Alves Pinto Conversão em epub: {kolekto} Direitos de publicação:© 1980 Cia. Melhoramentos de São Paulo© 2000, 2008 Editora Melhoramentos Ltda. 1.ª edição digital em ePub, janeiro de 2014ISBN: 978-85-06-07423-7 (digital)ISBN: 978-85-06-05510-6 (impresso) Atendimento ao consumidor:Caixa Postal 11541 – CEP 05049-970São Paulo – SP – BrasilTel.: (11) [email protected]