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DANIEL MENDES COUTINHO CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO SÃO JUDAS TADEU NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG: ENTRE O RURAL E O URBANO ALFENAS/MG 2011 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas. UNIFAL-MG Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714. Alfenas/MG. CEP 37130-000 Fone: (35) 3299-1000. Fax: (35) 3299-1063

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DANIEL MENDES COUTINHO

CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO SÃO JUDAS TADEU NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG:

ENTRE O RURAL E O URBANO

ALFENAS/MG

2011

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas. UNIFAL-MG Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714. Alfenas/MG. CEP 37130-000

Fone: (35) 3299-1000. Fax: (35) 3299-1063

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DANIEL MENDES COUTINHO

CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO SÃO JUDAS TADEU NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG:

ENTRE O RURAL E O URBANO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi realizado para a obtenção do título de Graduação em Geografia Bacharelado pelo Instituto de Ciências da Natureza da Universidade Federal de Alfenas/MG sob a orientação da Profa. Dra. Ana Rute do Vale.

ALFENAS/MG

2011

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DANIEL MENDES COUTINHO

CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO SÃO JUDAS TADEU NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG:

ENTRE O RURAL E O URBANO

A Banca examinadora abaixo-assinada aprova o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de graduação em Geografia Bacharelado pela Universidade Federal de Alfenas.

Aprovada em: 22 de Novembro de 2011

Prof.

Instituição: Assinatura:

Prof.

Instituição: Assinatura:

Prof.

Instituição: Assinatura:

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Este trabalho eu dedico aos meus avós, pela

confiança dedicada a mim durante todo período que

estive na universidade. Aos meus pais pela paciência

e esperança em que sempre depositaram em mim no

sonho de concluir um curso superior. A toda a minha

família e amigos que sempre foram uma fonte

inesgotável de amor e compreensão nos momentos

mais difíceis.

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Sinceros agradecimentos a minha orientadora por me

acolher e me orientar, no verdadeiro sentido do termo,

permitindo-me finalizar este trabalho. Aos funcionários

da prefeitura municipal de Pouso Alegre/MG que

contribuíram ricamente com informações para com

essa pesquisa e aos professores do ICN que me

guiaram e direcionaram meus interesses acadêmicos.

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RESUMO

Esse estudo trata da caracterização do bairro o São Judas Tadeu que se situa

entre dois bairros rurais, o Cantagalo e o Afonsos, no município de Pouso alegre

(MG). Ele surge na explosão de construções de loteamentos a partir de incentivos

dados pelo regime militar nas décadas de 70 e 80, porém pelo poder público

municipal não ter regulamentado a venda de seus lotes, a partir da criação da lei

6.766 de 19/12/1979 o bairro acabou nascendo já como um loteamento clandestino.

Pela falta de infraestrutura e sua proximidade a bairros rurais, o bairro São Judas

Tadeu, apresenta algumas expressões da ruralidade, porém também existem

influências urbanas, tendo, por exemplo, a presença de áreas destinadas ao lazer e

prestação de serviços. O estudo sobre esse bairro busca analisar as interferências

da zona de expansão urbana e também das características rurais que ainda

sobrevivem dentro da dinâmica territorial de bairros periféricos do município de

Pouso Alegre.

Palavra Chave: rural, urbano, cidade difusa, espaço periurbano.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES:

Figura 1- Localização do bairro dentro do município...................................... 11

Figura 2- Imagem aérea do bairro.................................................................. 12

Figura 3- Zoneamento urbano do município de Pouso Alegre/MG................. 22

Figura 4- Planta de Legalização do Loteamento............................................ 24

Figura 5- Infraestrutura de energia elétrica do bairro...................................... 25

Figura 6- Córrego de despejo de esgoto........................................................ 26

Figura 7- Igreja onde são realizados os principais eventos do bairro............ 28

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LISTA DE TABELAS:

Tabela 1- Moradores X Residências............................................................. 30

Tabela 2- Origem das Famílias (matriarcas e patriarcas)................................31

Tabela 3- Tipo de posse que os moradores têm com suas residências.........32

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 9

1.1. ÁREA DE ESTUDO......................................................................... 11

2. DESENVOLVIMENTO.......................................................................... 13

2.1. REFERENCIAL TEÓRICO............................................................... 13

2.2. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................... 16

2.3. RESULTADOS................................................................................. 16

2.3.1. Histórico do desenvolvimento recente do município de Pouso

Alegre/MG.......................................................................................... 16

2.3.2. Os problemas do ordenamento territorial no município de Pouso

Alegre/MG........................................................................................... 18

2.3.3. Caracterizando o bairro São Judas Tadeu......................................... 23

2.3.4. Características da população............................................................. 29

2.3.5. A Lei de parcelamento do solo no bairro São Judas

Tadeu.............................................................................................. 33

3. CONCLUSÃO...................................................................................... 36

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA........................................................ 37

APÊNDICE A........................................................................................ 38

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1. INTRODUÇÃO

Cidade, espaço rural e espaço periurbano são elementos de um sistema único,

que, a nosso ver, necessitam de uma análise geográfica mais apurada

(principalmente no Brasil). Antes de tudo, porém, é imprescindível mencionarmos

que entendemos o espaço periurbano como uma zona de transição entre cidade e

campo, onde se mesclam atividades rurais e urbanas na disputa pelo uso do solo,

ou seja, possui uma plurifuncionalidade (ESPAÑA, 1991).

A crise econômica que se iniciou em meados dos anos 80, introduziu as

modificações no esquema de distribuição da população que resultou na diminuição

do ritmo de crescimento das grandes cidades o que beneficiou o crescimento das

médias e pequenas próximas a elas. Pouso Alegre pode ser considerado como uma

dessas médias cidades que se beneficiou do processo de desconcentração

industrial da metrópole paulista, São Paulo, para então crescer e em consequência

disso sofrer fortes transformações na sua dinâmica urbana.

Essa modificação na dinâmica da cidade fez com que a população urbana tanto

de alta quanto de baixa renda buscassem fora do centro compacto, ou seja, em

áreas periféricas, uma possibilidade de residir ou em áreas mais prósperas e

tranquilas ou então deficitárias de infraestrutura para populações mais carentes, no

intuito de conseguir lotes mais baratos. Essa modificação criou um impacto

perturbador que implica em sucessivos processos de regularização de loteamentos

clandestinos e irregulares no município para que então houvesse uma maior

urbanização dessas periferias. É importante ressaltar que muitas dessas áreas

periféricas de Pouso Alegre se caracterizam mais como zonas rurais que urbanas.

De acordo com España (1991), existem etapas que descrevem o crescimento

urbano rumo às áreas rurais, tais como o crescimento por anéis concêntricos que

primeiramente acontece quando a cidade cresce de forma compacta, invadindo os

espaços mais próximos que então vão sendo integrado a uma economia urbana e

posteriormente um avanço mais incisivo alcançando áreas mais distantes. Estas

áreas periféricas que até então poderiam ser identificadas como tipicamente rurais,

tiveram sua essência modificada, e atividades urbanas começam a ser identificadas

dentro destes novos espaços.

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O município de Pouso Alegre apresenta alguns bairros periféricos que podem

ser identificados como tipicamente rurais por demostrar tanto uma ruralidade

enquanto manifestação cultural carregada de sentidos e de valores específicos ao

espaço rural quanto usos do solo relacionado à agricultura e algumas novas

territorialidades. Porém é reconhecível que essa essência vem sendo bastante

modificada já que começam a serem identificadas atividades urbanas dentro destes

novos espaços, o que caracteriza uma zona periurbana.

Muitas dessas áreas periféricas se originam de parcelamentos ilegais do terreno

o que caracteriza muito desses bairros como clandestinos ou irregulares dentro do

município de Pouso Alegre, isso acontece pela sua falta de infraestrutura urbana e

não adequação da lei de parcelamento do solo.

Diante dessa situação, o poder público vem buscado a regularização dessas

áreas para que então seja facilitada a introdução de uma infraestrutura urbana mais

efetiva. Muitas delas, que surgem como apêndices do perímetro urbano são

oriundos de incentivos governamentais da década de 1980, o que ocasionou na

construção de um grande número de loteamentos em municípios de médio e grande

porte. Contudo, a luz da legislação urbanística vigente que inclui a lei federal 6.766,

de 19/12/1979, que cuida do parcelamento do solo urbano (também conhecida como

lei Lehman) torna muitos desses loteamentos como clandestinos ou irregulares.

A partir desse contexto, essa pesquisa trata da análise do comportamento

funcional do bairro São Judas Tadeu no município de Pouso Alegre/MG, que é um

desses loteamentos considerados clandestinos pela lei Lehman, criando um enfoque

nas ações do poder público como principal agente modelador da falta de estrutura

urbana e os remanescentes costumes rurais herdados de uma antiga prática

agrícola da região. O objetivo perpassa pela compreensão das diversificadas

funções urbanas e rurais sobrepostas no bairro, com uma busca pela gênese do

problema estrutural apresentado pelo local.

É importante destacar que essa área foi parcelada sem nenhuma

regulamentação por herdeiros de uma antiga fazenda de gado que tinha

aproximadamente 58 hectares. A fazenda abrangia todo o bairro e mais o seu

entorno, sendo que esse foi formado por apenas 3 partes da propriedade original

que fora partilhada em 13 partes pelos filhos do antigo proprietário há 23 anos.

Apenas 3 herdeiros resolveram parcelar seus terreno, sendo que os demais deram

outros fins ou as mantiveram com estabelecimentos rurais. Nesses outros fins

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podemos identificar a construção de moradias para uso próprio de suas famílias,

construção de estabelecimentos comerciais com serviço de bar e restaurante,

tomando proveito da localização do bairro que fica à beira de um trevo que interliga

rodovias que ligam Pouso Alegre a Poços de Caldas e Alfenas.

A partir da administração 2009-2012 do município de Pouso Alegre/MG o

problema dos loteamentos clandestinos deixa de ser tratado como crime e passa a

ser considerado como um problema de habitação. Em janeiro de 2011 começa o

processo de regularização do bairro a partir de recursos da lei do governo federal “lei

papel passado”, porém existem requisitos que o município não dispõe para utilização

desses recursos como, por exemplo, o levantamento topográfico do bairro.

(Prefeitura Municipal de Pouso Alegre/MG).

1.1. Área de Estudo

O bairro São Judas Tadeu se encontra bem ao norte do perímetro urbano do

município de Pouso Alegre/MG

Figura 1- Localização do bairro dentro do município Fonte: Google Earth (2011).

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Nesta imagem do Google Earth o bairro é representado pela área mais parcelada e

todo seu entorno.

Figura 2- imagem aérea do bairro. Fonte: Google Earth (2011).

Nosso trabalho inicia-se com um referencial teórico sobre o rural e o urbano,

na busca de uma identificação do continuum que se estabelece entre essas duas

realidades formando assim a zona periurbana. Em seguida são abordados os

materiais e métodos utilizados na pesquisa no intuito de explicitar a forma com que

chegamos aos resultados, que são apresentados divididos em subtemas na tentativa

de caracterizar a realidade do bairro numa tentativa de associação com o referencial

teórico abordado no trabalho.

No fim apresentamos uma breve conclusão correspondente aos objetivos que

propomos para o trabalho como a delimitação da área como zona periurbana.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Referencial Teórico

No Brasil, para identificar os espaços urbanos, é usado o critério político-

administrativo e considera-se urbana toda sede de município (cidade) e de distrito

(vila). Segundo o IBGE, é considerada área urbanizada toda área de vila ou de

cidade, legalmente definida como urbana e caracterizada por construções,

arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por transformações

decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas reservadas à expansão urbana

onde se pode encaixar a definição de zona periurbana que é objeto de estudo dessa

pesquisa.

Já em relação ao espaço rural, é considerado como aquilo que não é urbano, sendo

definido a partir de carências e não de suas próprias características. Além disso, o

rural, assim como o urbano, é definido pelo arbítrio dos poderes municipais, o que,

muitas vezes, é influenciado por seus interesses fiscais. (MARQUES, 2002).

Isso acontece principalmente pela inversão da relação cidade- campo que é

decorrente das derrotas de antigos regimes político-econômicos como o feudalismo

na Europa e o escravismo no Brasil, que então permitiu um processo de dominação

de uma burguesia que deslocou o centro do poder do campo para a cidade. Esta

temática é abordada por Moreira (2003).

[...] A burguesia industrial e urbana projetou visões do rural, de campo e de agrícola. Na modernidade o rural foi apresentando na cultura e na política pelas oposições cidade-campo, tradicional-moderno, incivilizado-civilizado, não- tecnificado, tecnificado. O rural agrícola da modernidade- construído no caldo cultural, político e econômico das revoluções científicas, burguesa e industrial- foram concebidos como sujeitos dos domínios da natureza e da tradição. Constituiu-se como um rural a ser transformado, seja pelos processos civilizatórios burgueses, seja pelos processos de modernizações, dentre os quais os de tecnificação e os da lógica e racionalidade dos mercados. (MOREIRA, 2003, p. 115).

Com tudo isso o que se observa com essa nova lógica e racionalidade dos

mercados, é que em diversos países, nos dia de hoje, a área rural vem se

caracterizando como um espaço de pluriatividades e não mais apenas de produção

agrícola (España,1991), ou seja, de atividades muitas delas urbanas, ligadas ao

turismo e ao lazer, á prestação de serviços e a agroindustrialização de pequeno

porte.

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Para Graziano da Silva (1999) o rural deve ser compreendido como um

continuum do urbano, já que não são mais as atividades econômicas - no caso, a

agricultura, que caracterizam o mundo rural.

O que se observa, em diversos países, nos dia de hoje, é a existência de um

processo renovador nas áreas rurais sem que haja uma perda total de sua

identidade, assim, o rural e o urbano não devem ser vistos como mundos que se

opõem, mas se complementam. Entre eles existe um continuum espacial tanto do

ponto de vista de sua dimensão geográfica e territorial quanto de sua dimensão

econômica e social levando a surgir novos conceitos de território que se encontram

localizados nas proximidades do perímetro urbano, tais como: franja rural-urbana,

franja urbana ou rururbana, sombra urbana, subúrbio, ex-urbano, região urbana e

semi-urbano.

Essa pesquisa trata essas áreas consideradas de transição entre o urbano e

o rural como periurbanas que é definida por Lopez Trigal (2003), como:

[…] nuevos e diferentes espacios de los propiamente urbanos o rurales, participando más de los primeros por su hábitat, su plurifuncionalidad y diversificación de actividades y sobre todo por ser el espacio realmente de reserva y urbanizable y el soporte de los amplios espacios de todo tipo que necesita la ciudad (LÓPEZ TRIGAL, 2003, p.62).

Para Entrena Durán (2003), estes conceitos, como o espaço periurbano,

surgem a partir do termo “cidade difusa” que é utilizado para designar um fenômeno

caracterizado pela dispersão da população urbana pelo território, inclusive sobre as

áreas rurais, sem que exista vínculo algum dessas pessoas com as atividades

agrícolas.

Esse processo de dispersão da população urbana é de relevância central

para essa pesquisa, visto que a área estudada trata-se de um loteamento periférico

a região central da cidade, efeito que se encaixa perfeitamente na caracterização

por fases do crescimento das cidades feito por España (1991), onde há a fase da

suburbanização, em que o crescimento da cidade central começa a decrescer, ao

mesmo tempo em que aumenta a população da área suburbana.

Todos esses espaços rurais no entorno do urbano que sofrem interferências

do processo de dispersão da população das cidades, podem ser caracterizadas pela

pluriatividade que é definida por Schneider (2001) como:

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[...] situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família em domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura e ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção (SCHNEIDER, 2001, p.3).

Para España (2001), a plurifuncionalidade cria usos do solo tanto urbanos

como rurais nesses espaços, na qual submete o território a profundas

transformações econômicas, sociais e físicas, com uma dinâmica extremamente

ligada a presença de um núcleo urbano em expansão.

Estas áreas de plurifuncionalidade demonstram uma evolução no espaço que

anteriormente era dedicada apenas à produção agrícola. Hoje observamos nestas

áreas muitas funções urbanas, como a ligação com o turismo e ao lazer, á prestação

de serviços além da agroindustrialização de pequeno porte.

Com tudo isso, observa-se que vem perdendo sua importância àquela antiga

dicotomia entre o urbano e o rural, onde o rural consistia apenas nas atividades

agrícolas e o urbano nos serviços e na industrialização. Hoje essas atividades se

complementam em áreas comuns, como nas zonas periurbanas.

O bairro São Judas Tadeu, foco do estudo, se enquadra nessa realidade,

porém com um agravante pelo fato deste ser considerado um bairro oriundo de um

loteamento clandestino, o que torna sua regularização condição essencial para o

seu desenvolvimento como parte da zona urbana do município.

A clandestinidade do bairro é atestada pela lei 6.766, conhecida como lei

Lehman de 1979 em alusão ao senador relator da lei, por não atender aos requisitos

mínimos de infraestrutura. A lei traz como requisitos à reserva de 35% da área dos

loteamentos para equipamentos comunitários e praças, o que realmente não

acontece no bairro São Judas Tadeu, o caracterizando como um loteamento com

parcelamento ilegal. (SOUZA, 2002).

De acordo com o autor o status de loteamento irregular é tratado de maneira

juridicamente distinta e bem mais estável que a questão das favelas, pois diferentes

destas, não são ocupações. Seus moradores possuem algum tipo de documento de

propriedade e, por via de consequência, uma maior segurança jurídica.

Os loteamentos irregulares demandam, por conseguinte, infraestrutura, como

condição fundamental para a regularização definitiva do assentamento, por isso a

prefeitura de Pouso Alegre no ano de 2011 começa o processo de regularização

com verbas do governo federal a partir da lei “papel passado”.

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2.2. Materiais e Métodos

A realização deste presente trabalho envolvem levantamento e revisão

bibliográfica, coleta de dados, execução de atividades técnicas e pesquisas de

campo.

Levantamento e revisão bibliográfica: livros, artigos e teses relacionados à

teoria da geografia agrária, aos bairros rurais, periurbanos e pluriatividade. As

pesquisas foram realizadas junto as biblioteca da UNIFAL-MG, UNESP/ Rio

Claro; bibliotecas virtuais de teses de universidades brasileiras; artigos

disponíveis em site e revistas eletrônicas na internet.

Coleta de dados:

a) Documentação indireta: Prefeitura e biblioteca Municipal de Pouso Alegre

(MG), Companhia de Água e Saneamento de Minas Gerais (COPASA),

Central Elétrica de Minas Gerais (CEMIG), Departamento Nacional de Infra

Estrutura de Transporte (DNIT).

b) Documentação direta: pesquisas de campo foram realizadas como método de

investigação qualitativo, usando como recurso a história oral em entrevista

com os moradores mais antigos residentes ex- residentes do bairro, visando

resgatar o processo histórico de formação do bairro; aplicação de

questionário junto aos moradores para obter informações sobre a vida de

bairro. Realização de entrevistas com representantes do poder público como

secretários, engenheiros e se possível o próprio poder executivo como a

figura do prefeito do município. Levantamento de infraestruturas de caráter

privado (subsidiados pelos próprios moradores).

Tabulação e análise dos dados coletados;

Apresentação oral da pesquisa, como processo avaliativo da disciplina de

TCC II.

Elaboração de relatório de pesquisa.

2.3. Resultados

2.3.1. Histórico do desenvolvimento recente do município

No início da década de 1970 inicia-se o processo de industrialização no

município de Pouso Alegre na tentativa de tornar o Vale do Sapucaí numa imitação

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do Vale do Paraíba, em seu desenvolvimento, interligando com estradas os vários

municípios, tendo Pouso Alegre como centro. Tudo isso se iniciou com a criação de

incentivos fiscais para as indústrias, convidando empresas de grande porte para se

instalar no município. No curto espaço de dois anos criou-se as bases para a

pujança industrial que o município ostenta hoje.

A criação de um distrito industrial que se localiza estrategicamente às

margens de rodovias importantes que ligam os maiores centros econômicas do país

como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com uma boa topografia,

facilidade de mão de obra e os incentivos municipais, formaram os fatores que

impulsionaram a expansão industrial no município.

A expansão da indústria e do comércio produziu riquezas, dando ao município

uma sólida base financeira que vem empurrando o seu desenvolvimento frente à

nova dinâmica mundial da globalização. Em 2011 Pouso Alegre se encontra

totalmente integrada às redes comercias internacionais, tendo inclusive certa

funcionalização quanto o tipo de produção de seu parque industrial, como a

produção farmacêutica e de alimentos.

Em relação à agricultura, Pouso Alegre seguiu o fluxo do resto do país e a

partir de meados da década de 1960, iniciou o processo de modernização, com a

chamada Revolução Verde que tem em seu pacote tecnológico a mecanização do

campo a produção de sementes melhoradas, insumos químicos e biológicos.

(MARTINE; GARCIA, 1987).

Segundo dados da prefeitura municipal de Pouso Alegre (2010) o município

de Pouso Alegre merece destaque na agricultura regional na produção de milho,

feijão, arroz, batata, morango e hortaliças. Na pecuária, são mais de 35 mil cabeças

de gado, sendo a maioria de exploração mista que fornecem leite e carne. Para

atender à agropecuária, Pouso Alegre conta com uma câmara frigorífica para

conservação de batata e morango, o centro tecnológico de apoio ao pós-colheita,

Business Park, laboratório de virologia e análise do solo, dois centros de

comercialização de atacado e varejo, além de inúmeras feiras livres. Possui também

11 clínicas veterinárias e 14 lojas de produtos agrícolas. Ademais estão instaladas

na cidade as regionais da EMATER, do Instituto Mineiro de Agricultura, do Ministério

da Agricultura e da Ruralminas. O trabalhador rural é assistido pelo sindicato rural

que congrega quase dois mil associados entre pequenas, médias e grandes

unidades agropecuárias. (Plano Diretor do Município de Pouso Alegre/MG, 2008).

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Pouso Alegre é uma das cidades que mais cresce em Minas Gerais e no

Brasil, de acordo com o IBGE, o município teve uma crescente na população de 96

mil habitantes em 1996, para 130 mil em 2010. O município possuí 14 bairros

considerados pela prefeitura como preponderantemente rurais com uma população

de 10.984 habitantes, (IBGE, 2010), sendo cobrado destes o ITR (Imposto Territorial

Rural) ao invés do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano), imposto residencial

urbano. Os bairros rurais do município são: Afonsos, Cervo, Fernandes, Pântano

São José, Itaim, Cava, Algodão, Cruz Alta, Massaranduba, Fazenda Grande, Olaria,

Cristal, Cantagalo e Ipiranga (id.).

2.3.2. Os Problemas do Ordenamento Territorial no Município de Pouso

Alegre/MG.

Numa visão técnica o zoneamento é definido como um preceito legal da

natureza administrativa que em benefício do bem comum e de cada cidadão

regulamente os usos e ocupação do solo urbano, estabelecendo para cada zona as

normas e restrições urbanísticas (VILLAÇA, 2005).

Pouso Alegre/MG caracteriza-se pela alta densidade de ocupação dos lotes e

os recuos laterais e afastamentos frontais são raros. O padrão de ocupação

caracterizado pelo adensamento é agravado no centro tradicional que corresponde

às áreas ocupadas inicialmente onde hoje se concentra os comércios principais

sendo as ruas em geral bastante estreitas tanto a faixa de rolamento como nos

passeios. Isso só não acontece em novos loteamentos destinados ao mercado de

média e alta renda. No município ocorre uma grande pressão pela verticalização

inadequada tendo em vista a capacidade reduzida do sistema viário que apresenta

seções transversais bastante reduzidas (Perfil Municipal de Pouso Alegre: Versão

Preliminar, 2007).

Alguns autores ilustram bem as vantagens e as desvantagens das

densidades mais altas ou mais baixas, por exemplo, a alta densidade traz vantagens

pelo uso mais eficiente do solo urbano e também pela eficiência da infraestrutura,

controle social e economia de escala; porém, está ligada a degradação ambiental,

congestionamento e poluição. Por outro lado, zonas urbanas com baixa densidade

têm problemas por tornar mais difícil a oferta de serviços urbanos encarecendo o

transporte público e possibilitando pouca interação social, no entanto, tem como

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vantagens a menor degradação do meio ambiente, possibilitando soluções de

saneamento de baixo custo e de propiciando uma vida mais tranquila. (DUARTE,

2007.)

O zoneamento em Pouso Alegre/MG procura ocultar a sua finalidade que

sempre foi proteger o meio ambiente e os valores imobiliários de interesse

econômico ou de moradia da minoria mais rica, contra processos que os degradem.

Não é possível identificar um vetor predominante de expansão urbana em

Pouso Alegre, pois o processo de parcelamento ocorre em todas as direções. Por

outro lado, é significativa atividade clandestina de parcelamento do solo rural em

lotes menores do que regulamenta o FPM (Fundo de participação dos municípios)

do INCRA (Instituto nacional de colonização e reforma agrária). Estas são chamadas

pelo Plano Diretor do Município de Pouso Alegre/MG como Zonas Urbanas

Especiais.

Estes loteamentos clandestinos estão passando por um processo de

regularização no município e apesar das similaridades, principalmente em relação à

função social, com as favelas, de acordo com Souza (2002) os loteamentos são

tratados de maneira juridicamente distinta e bem mais estável, pois, não são

ocupações e seus moradores possuem algum tipo de documento de propriedade e,

por via de consequência, uma maior segurança jurídica.

Com a criação da lei 6.766, conhecida como Lei Lehman, estes bairros

acabam se tornando irregulares perante a lei, por não atenderem aos requisitos

mínimos de infraestrutura. A lei traz como requisitos à reserva de 35% da área dos

loteamentos para equipamentos comunitários e praças, o que não acontece, por

exemplo, na área de estudo desse trabalho, o bairro São Judas Tadeu (SOUZA,

2002).

A pressão pelo adensamento com fracionamento de lotes e consequente

construção de mais de uma moradia por lote é uma tendência generalizada em

Pouso Alegre/MG, á qual só escapam os loteamentos destinados à população de

alta renda. (Perfil Municipal de Pouso Alegre: Versão Preliminar, 2007).

Em relação à expansão urbana, são notáveis as facilidades com que os

loteamentos destinados à população de alta renda têm para aprovação perante

fiscalizações e análises dos projetos de parcelamento pelo Departamento de

Urbanismo vinculado à Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano,

atendendo ao disposto na legislação específica. Isto acontece graças ao cuidado

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que os agentes imobiliários têm em garantir a necessidade da população de alta

renda em viver numa área munida de infraestrutura e bonita estética.

As áreas de expansão urbana que são destinadas a populações mais

carentes sofrem com a falta de infraestrutura desde que um decreto permitiu a

aprovação e registro dos loteamentos antes da finalização das obras, com isso

vários loteamentos estão ficando inacabados, com as obras incompletas, a exemplo

da Cidade Vergani, Guanabara, São Pedro, São Paulo e São Fernando. (Perfil

Municipal de Pouso Alegre: Versão Preliminar, 2007).

É importante comentar que como na maioria dos municípios brasileiros, em

Pouso Alegre os processos de fiscalização e aprovação de loteamentos apresenta

deficiências graves como insuficiência de pessoal e equipamentos além de uma

capacitação inadequada que leva a ações que caracterizam uma visão ideologizada

da elite, que se utiliza da legislação que ordena o espaço urbano para “disciplinar” o

crescimento da cidade.

O município apresenta vinte loteamentos irregulares, classificados como

Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS 1) como aponta a figura 3 , pelo

zoneamento do Plano Diretor, sendo localizados nas regiões adjacentes ao

perímetro urbano. Estes loteamentos irregulares demandam por infraestruturas

como condição fundamental para a regularização definitiva dos assentamentos. Com

isso a prefeitura de Pouso Alegre no ano de 2011 começa o processo de

regularização com a intenção de utilizar verbas a partir do programa “papel passado”

do governo federal, que financia projetos, levantamentos de informações e a

titularidade de lotes ilegais, porém esse programa não cobre gastos com

infraestruturas e ele não é disponibilizado regularmente para os municípios pelo

governo federal. A prefeitura de Pouso Alegre/MG contando com esse financiamento

fixou uma parceria com o Departamento de Geografia do Instituto Federal do Sul de

Minas de Inconfidentes/MG que, então montou uma equipe de técnicos e estudantes

para a caracterização dos bairros, levantando informações como a estrutura

topográfica.

Além disso, para a regularização destes loteamentos são necessários

pareceres favoráveis das empresas de serviços e saneamentos como a Companhia

de Água e Saneamento de Minas Gerais (COPASA), Central Elétrica de Minas

Gerais (CEMIG), Departamento Nacional de Infra Estrutura de Transporte (DNIT).

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O bairro São Judas Tadeu é o primeiro bairro a passar por esse processo de

regularização, visto que a intenção da prefeitura em torná-lo modelo para os outros

bairros que viram a passar pelo mesmo processo. Porém, o DNIT não aprovou as

obras necessárias para estrutura de saneamento no bairro São Judas Tadeu, pela

necessidade de se utilizar da área de rodovias para a distribuição de água para o

bairro. Como esse orgão exigiu a formulação e a execução de projetos que a

prefeitura não foi capaz de realizar, as obras foram embargadas e o processo de

regularização foi interrompido temporariamente.

As infraestruturas mínimas exigida nos novos loteamentos de acordo com o

Plano Diretor do Município de Pouso Alegre/MG (2008) são:

1. Abertura de vias, colocação de meio fio e sarjeta;

2. Demarcação de lotes, quadras e logradouros;

3. Contenção de encostas;

4. Drenagem de águas pluviais;

5. Sistema de abastecimento de água;

6. Sistema de abastecimento de energia elétrica e iluminação pública;

7. Pavimentação

8. Sistema de coleta de esgotos sanitários;

9. Arborização viária.

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Zoneamento Urbano de Pouso Alegre/MG

Figura 3: Zoneamento urbano do município de Pouso Alegre/MG Fonte: Plano Diretor do Município de Pouso Alegre/MG, 2008.

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2.3.3. Caracterizando o bairro

Como já mencionado, por meio das entrevistas com moradores antigos,

resgatamos a história do bairro e verificou-se que a área de estudo foi parcelada

sem nenhuma regulamentação por herdeiros de uma antiga fazenda de gado que

tinha aproximadamente 58 hectares. A fazenda abrangia todo o bairro e mais o seu

entorno, sendo que o bairro foi formado por apenas três partes da propriedade

original que fora partilhada em 13 partes há 23 anos do proprietário para seus filhos.

Apenas três herdeiros resolveram parcelar seus terrenos sendo que os

demais deram outros fins ou até nem mexeram em suas propriedades. Nesses

outros fins podemos identificar a construção de moradias para uso próprio de suas

famílias, construção de estabelecimentos de pequenas conveniências com serviço

de bar e restaurante por estar situada à beira da rodovia que liga Pouso Alegre a

Poços de Caldas.

As áreas que originaram o bairro foram parceladas sem nenhum padrão

como demonstra a figura 4, tendo suas formas caracterizadas de acordo com a

fisiologia dos terrenos, sendo vendido ou trocado por baixos valores, o que atraiu

uma população de baixa renda. Segundo um dos herdeiros loteadores da área, não

foi realizado nenhuma publicidade para a venda dos terrenos, sendo estes

negociados diretamente com os herdeiros, sendo poucos os lotes vendidos com

escritura e os que não obtiveram acabaram ficando a mercê de um acordo verbal

com os antigos proprietários (herdeiros) o que é uma característica muito comum no

meio rural.

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Figura 4- Planta de Legalização do Loteamento Fonte: Prefeitura Municipal de Pouso Alegre/MG, 2010.

Os herdeiros que parcelaram seus terrenos também foram morar no bairro o

que criou uma relação de vizinhança muito forte com as pessoas que compraram os

lotes proporcionando assim um acordo verbal mais confiável.

O bairro foi prontamente atendido pelo serviço de energia elétrica (CEMIG) porém,

a estrutura de iluminação pública teve de ser implantada pelos próprios moradores já

que a prefeitura não pôde atuar na área visto que o bairro era considerado como

irregular frente à Lei Lehman (figura.5).

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Figura 5- Infraestrutura de energia elétrica do bairro. Fonte: Trabalho de campo (novembro /2011).

Os serviços sanitários como a distribuição de água nunca chegou ao bairro, o

que determinou uma estrutura tipicamente rural como a construção de poços

comuns, semiartesianos e artesianos para o uso doméstico de água. Em

determinadas épocas do ano alguns moradores sofrem com uma seca, o que os

forçam a um uso restrito deste recurso natural para que não haja escassez.

O despejo de esgoto é feito sobre um pequeno córrego que atravessa o

bairro, todavia foram instaladas há cerca de três anos toda tubulação para um

sistema regular de esgoto, embora por falta de um lugar para o despejo ou

escoamento destes dejetos, esse sistema nunca foi ligado o que não modificou em

nada a situação sanitária do local (figura. 6).

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A)

B)

Figura 6- Córrego de despejo de esgoto A) Córrego escoando em direção à rodovia B) Córrego atravessando dois lotes

Fonte: Trabalho de campo (novembro /2011).

É importante ressaltar que na venda dos lotes, os herdeiros deixaram claro

para os compradores o caráter irregular do bairro que ali estava sendo criado o que

não deixou margens para maiores reclamações da população com relação a falta de

infraestrutura. Os herdeiros fixaram um acordo com os compradores caso fosse

iniciado o processo de regularização para que todos arcassem com as

responsabilidades tanto no âmbito financeiro quanto político para a sua realização,

visto que os lotes já haviam sido negociados o que torna o problema de todos.

Os moradores relatam que houve durante diversas gestões da prefeitura a

promessa de regularização do bairro, porém nenhuma promessa foi cumprida

criando certa resistência da população em acreditar que a atual gestão realmente

levará o processo à diante.

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Para que haja um melhor acompanhamento de todo o processo de

regularização do bairro e também para uma melhor unidade representativa para

assuntos que envolvem o bairro São Judas Tadeu na prefeitura do município como o

destino e utilização dos recursos do orçamento participativo, foi criada uma

associação do bairro. Apesar de ainda ser incipiente e com pouca participação da

população, ela representa um avanço sócio político muito positivo para o bairro.

Dessa forma, o bairro apresenta algumas características tipicamente rurais

como a existência de uma pequena capela, onde são celebradas missas mensais,

festas e quermesses que reúnem grande parte de sua população. Nesse local ainda

são realizadas consultas médicas semanais pelo PSF (Programa Saúde da Família),

que oferece um bom atendimento, de acordo com os moradores entrevistados

(figura. 7).

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Figura 7- Igreja onde são realizados os principais eventos do bairro. Fonte: Trabalho de campo (novembro /2011).

Algumas propriedades apresentam algum tipo de horta, pomar ou criação de

animais como galinhas e porcos, sendo essa uma prática herdada de antigos

costumes rurais da população, além da grande presença de descendentes dos

herdeiros ainda residindo no bairro que se tornou um fator preponderante para a

forte relação de vizinhança entre os moradores do bairro o que inclusive

proporcionou a formação de uma associação do bairro. Consideramos que isso

caracteriza manifestações da ruralidade no bairro.

Por outro lado, é eminente a influência urbana dentro do bairro, já que lá

podemos observar muitos serviços e funções destinados à população urbana como

serviços de comércio de produtos para piscinas, pequenos mercados e bares além

de casas noturnas.

O bairro São Judas Tadeu apresenta uma ruralidade enquanto manifestação

cultural carregada de sentidos e de valores específicos ao espaço rural,

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combinando-se com outras manifestações como valores e expressões urbanas, o

que a caracteriza como um espaço periurbano. Portanto, há uma difusão de valores

e, além disso, a combinação de costumes e lógicas que extrapolam os limites

geográficos intensificando, assim, as interdependências entre o campo e a cidade

enquanto realidades dinâmicas.

Mesmo dando destaque às dimensões cultural e simbólica, que se dá ao rural neste

trabalho, não se pode deixar de lembrar que o que se observa é uma permanente

recriação do capitalismo, nunca restrito à dimensão econômica, mas contemplando

as múltiplas dimensões das relações sociais.

Quando Entrena Duran (2003) utiliza o termo “cidade difusa” para designar

um fenômeno caracterizado pela dispersão da população urbana pelo território,

inclusive sobre as áreas rurais, sem que exista vínculo algum dessas pessoas com

as atividades agrícolas, podemos vincular imediatamente esse processo ao que foi

observado na análise desse bairro, visto que sua população esta fortemente atrelada

aos setores secundários e terciários da economia e quase não exercendo mais

atividades agrícolas. Sua relação com o mundo rural está mais acentuada no

comportamento e modo de vida com que esta população vive, sendo essas

características resistentes ainda vivas pela falta de infraestruturas que o bairro

apresenta por sua origem ilegal, como a distribuição de água, coleta de esgoto,

pavimentação e acesso a internet banda larga. Fica evidente que os aspectos rurais

no bairro em estudo fogem das estruturas materiais e se consolidam como aspectos

sociológicos.

2.3.4. Características da população

As propriedades do bairro são predominantemente residenciais, sendo

poucas as atividades de serviços como bares e armazéns. As famílias não são muito

extensa sendo a maioria com 2 a 5 moradores por residência (tabela 1), tendo

poucas famílias que fogem dessa realidade. No bairro existem cerca de 100

residências divididas em 47 lotes.

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Tabela 1- Moradores X Residências

N° de moradores por residência % de ocorrências no bairro

2 26,82%

3 24,39%

4 21,95%

5 12,19%

6 4,87%

7 7,31%

Fonte: Coutinho, 2011.

Percebe-se uma queda de ocorrências de acordo com o aumento do número

de moradores por residência. Nas entrevistas foi relatado um número significante de

jovens casais que ainda não tiveram filhos que na amostra aponta como o tipo de

residência mais recorrente no bairro. Muitos se mudaram para o bairro após o

casamento por herdarem terras ou até pelo baixo custo dos lotes, além de também

ser significativa a existência de famílias que são compostas por diversas gerações,

como filhos que casados ainda moram com os pais junto de seu parceiro (a).

Percebe-se no bairro que seus moradores exercem suas atividades para

sustento em empresas de serviços em outras regiões da cidade, o que caracteriza o

bairro como eminentemente residencial, podendo ser, inclusive, considerado como

bairro dormitório.

O meio de transporte mais utilizado por sua população é o coletivo urbano

oferecido pela Viação Princesa do Sul, pela linha Ribeirão que tem como seu ponto

final uma usina de asfalto que fica em frente à entrada do bairro. A frequência do

ônibus no bairro é de cada trinta minutos, o que provoca em parte da população

insatisfação pela baixa opção de horários. São poucos os moradores que possuem

automóveis, sendo esse o principal sonho de consumo de parte da população,

conforme mostrou nossas entrevistas.

Por ser um bairro relativamente novo, foi possível obter a origem de suas

famílias que quase sempre não foram formadas no bairro, ou seja, são oriundas de

outros lugares (tabela 2).

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Tabela 2- Origem das Famílias baseadas numa amostra de 74 pessoas (matriarcas e patriarcas)

Origem

Porcentagem de ocorrência no bairro (patriarca e matriarca)

Outro município em zona rural

26%

Outro município em zona urbana

3,7%

Pouso Alegre em zona rural

18,5%

Pouso Alegre em zona urbana

51,85%

Fonte: Coutinho, 2011.

Podemos observar que mais de 50% da população é oriundo de bairros

urbanos de Pouso Alegre, o que reforça o fato de o baixo custo dos lotes ter atraído

famílias urbanas de baixa renda para a realização do sonho da casa própria. É muito

comum no bairro famílias formada por recém-casados que encontram no bairro um

lugar acessível para iniciar uma vida em conjugue.

É representativo também a presença de famílias de origem rural de outros

municípios e estados da federação como Pará, Paraná e São Paulo. Percebe-se que

essas famílias encontraram no bairro São Judas Tadeu uma possibilidade de morar

num centro econômico importante obtendo baixas despesas pela ilegalidade do

bairro, relacionadas a não cobrança do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), a

utilização de poços, obtendo água gratuitamente, além do já citado baixo custo dos

lotes.

Outro fator importante de atração do bairro a essas famílias são as suas

características rurais que imperam no dia a dia desta população como o contato

direto com a natureza e a forte relação de vizinhança que ali impera.

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O bairro tem como seus moradores mais antigos os próprios herdeiros que

lotearam a área, tendo isso acontecido há 23 anos. Com a venda dos lotes a cerca

de 20 anos, começaram as construções e chegada de outras famílias.

Alguns dos lotes vendidos na formação do bairro foram novamente repartidos

por volta da década de 90 desmembrando ainda mais os terrenos, em muitos casos

por motivos matrimoniais dos filhos dos primeiros compradores dos lotes, sendo

essa uma forte causa para a expansão do bairro nesta década.

A grande maioria dos lotes foi comprada por seus residentes, sendo em 2011

entre as famílias entrevistadas, cerca de 60%, já as alugadas são apenas a metade

do número das herdadas e menos de 1/4 das residências compradas, com 26,7% e

13,3% respectivamente, demonstrando uma fraca atuação do setor imobiliário no

bairro, ainda mais que as residências alugadas identificadas na amostra possuem

contratos feitos diretamente com o proprietário (tabela 3).

Tabela 3- Porcentagem do tipo de posse que os moradores têm com suas residências

Tipo de posse da

residência

Porcentagem de ocorrência no bairro (%)

Herança 26,7%

Compra 60%

Alugado 13,3%

Fonte: Coutinho, 2011.

Apesar dos contratos serem feitos diretamente entre os locadores e

locatários, não seria correto dizer que não há atuação do setor imobiliário no bairro,

já que foram realizadas diversas vendas de lotes e casas no período de expansão

do bairro que então poderiam ter sido realizadas por agentes formais e informais

deste ramo, sendo a atuação informal imobiliária uma atividade ainda recorrente no

município de Pouso Alegre.

A maioria das famílias entrevistadas obtém uma renda média mensal de 1 a 3

salários mínimos, sendo estas uma parte da população que nos últimos anos

adquiriu um grande poder de compra de diversos bens de consumo como

eletrodomésticos e bens duráveis. Isso acontece pelo aumento da oferta de créditos

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das grandes empresas de varejo como crediários e a popularização dos cartões de

crédito.

2.3.5. A lei de parcelamento do solo no bairro São Judas Tadeu

A partir de 1950, com o crescente êxodo rural em direção às cidades, o

governo passou a proteger os compradores de lotes à prestação em terras próximas

às áreas urbanas, nas periferias, que então passaram a ser retalhadas, sendo o

processo feito todo abertamente por uma legislação federal que visava basicamente

o máximo lucro sobre a menor área possível em formas de crescimento urbano.

Muitas dessas áreas não apresentavam condições de receber urbanização

futura, tornando toda regulamentação urbanística responsabilidade exclusiva dos

municípios.

Nessa época ficou evidente que o poder político e a iniciativa privada estavam

muito próximos, quando não muito eram configurados pelas mesmas pessoas, o que

fazia prevalecer a não regulamentação, ou a regulamentação falha, caracterizando

os loteamentos clandestinos e irregulares, beneficiando primordialmente o lucro

máximo em detrimento de qualquer preocupação de cunho social-urbanístico.

Os parcelamentos do solo, principalmente o urbano e o da expansão urbana,

sob as formas de loteamento e desmembramento, são operações voluntárias

executadas pelo Estado (todas as esferas) ou por particulares, pessoas físicas ou

jurídicas, segundo o que intuírem, imperativamente, as legislações federal, estadual,

municipal ou distrito federal. (GASPARINI, 1983).

A Lei de Parcelamento do Solo Urbano – Lei Federal nº6766/79, elaborada

ainda sob as bases do antigo Código Civil de 1916 e totalmente desatualizada em

relação ao Estatuto da Cidade - Lei nº10. 257/01 foi criada no intuito de

regulamentar o uso do solo urbano em via de leis unificadoras de conceitos e

modelos ligados diretamente ao urbanismo. Nela foram regulamentados padrões de

desenvolvimento urbano como a questão do parcelamento do solo e as funções

sociais do espaço como a reserva de 35% da área dos loteamentos para

equipamentos comunitários e praças. (SOUZA, 2002).

Sua principal característica foi contribuir para que o cenário da informalidade

não se transformasse o que dificultou ainda mais o acesso à terra legal, barata e

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urbanizada aos mais pobres, favorecendo a desqualificação espacial e propiciando o

agravamento do quadro de irregularidade fundiária no país.

O bairro São Judas Tadeu pode ser destacado por ser uma área parcelada

sem nenhuma regulamentação o que cria a circunstância jurídica de loteamento

clandestino. O parcelamento, loteamento, ou desmembramento é clandestino na

medida em que o poder público competente (neste caso o município de Pouso

Alegre/MG) para examinar, e se for o caso, aprovar o plano, dele não tem, nesse

sentido, qualquer conhecimento oficial. A não aprovação do loteamento ou do

desmembramento pode ser por consequência do indeferimento do pedido de

aprovação ou da própria ausência dessa solicitação (GASPARINI, 1983), como é o

caso do bairro São Judas Tadeu. Apesar do conhecimento oficial do bairro pelo

município, isso não é suficiente para nomear o loteamento como apenas irregular, já

que a clandestinidade não quer dizer oculto, mas é sim uma circunstância jurídica.

Para o parcelamento ser considerado irregular, outra circunstância jurídica,

este precisa ser aprovado pelo poder público, porém o imobiliário da situação deixa

de executar ou o executa em descompasso com a legislação vigente ou em

desacordo com o ato de aprovação ou após a aprovação e execução regular, não o

registra. (GASPARINI, 1983).

Os parcelamentos ilegais como os loteamentos clandestinos trazem duas

espécies de problemas: as de ordem social e os de ordem urbanística. Os primeiros

atingem principalmente os compradores dos lotes que normalmente são de baixa

renda, que após a compra não consegue atestar seu domínio pela área e então

também não consegue aprovar suas construções o que agrava ainda mais a

situação por restar apenas à opção de construir também clandestinamente.

(GASPARINI, 1983).

Já os segundos alcançam mais a esfera do poder público já que são

descumpridas as exigências mínimas de natureza urbanística e outras de ordem

sanitárias, higiênicas e de segurança. Também não são implantadas as

infraestruturas necessárias e não são reservadas áreas para lazer ou implantação

de equipamentos urbanos e comunitários. (GASPARINI, 1983).

Fazendo uma análise um pouco mais profunda sobre o assunto podemos

concluir que uma nova legislação de parcelamento do solo e de regularização

fundiária de áreas urbanas deveria ter como base o processo de planejamento

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urbano, vinculado aos Planos Diretores Municipais Participativos, utilizando-se das

diretrizes e aos instrumentos definidos no Estatuto da Cidade.

É necessário que além dos novos parcelamentos, os processos de

regularização fundiária também estejam integrados aos planos diretores municipais,

sendo este instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão

urbana, no qual o projeto de cada cidade deverá estar definido a partir de suas

necessidades. Esse é o caso do município de Pouso Alegre/MG e, mais

especificamente do bairro São Judas Tadeu.

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3. CONCLUSÃO

Neste trabalho o levantamento histórico de ocupação do bairro, sua

consolidação como área residencial e a questão do parcelamento do solo vem para

nortear uma análise em relação à distribuição da população pelo território e com isso

identificar a formação de “mistos” onde podemos destacar às ruralidades e

urbanidades em bairros como o São Judas Tadeu.

Isso foi possível a partir da identificação de parâmetros como as infraestruturas

urbanas e aspectos rurais encontrados no bairro, além da análise do processo de

regularização que vêm a ser realizado no intuito de munir a área de infraestrutura

urbana e então inserir o bairro no perímetro urbano para uma maior arrecadação de

impostos municipais como o IPTU.

Esta pesquisa buscou contribuir com o poder público no objetivo de traçar um perfil

para que sejam então realizadas ações realmente benéficas para a população que

ali vive, pois não se podem subestimar as ruralidades que ali sobrevivem e

simplesmente suprimi-las por uma busca incessante pela urbanização.

Além do processo de caracterização, esse trabalho traz uma preocupação em

relação às ações do poder público quanto ao ordenamento territorial com críticas as

políticas que são empregadas por este apresentar traços elitistas que então muitas

vezes esquece-se de atender as necessidades de boa parte da população como os

que residem em áreas de parcelamento ilegal.

Toda a análise realizada conclui que o bairro São Judas Tadeu pode ser

enquadrado como uma zona periurbana por mesclar tanto atividades rurais como

urbanas, tornando-se cada vez mais importante esse tipo de classificação para fins

de planejamento urbano.

A população é ciente do caráter clandestino do bairro e torce pelo processo

de regularização para melhorias das infraestruturas como pavimentação das ruas e

ativação do sistema de esgoto. Por outro lado fica o descontentamento por parte da

população já que com a regularização será obrigatório o pagamento do IPTU e a

distribuição de água.

Muitos já visam lucrar com a situação, vendendo suas residências com a

valorização do bairro pela chegada das infraestruturas, sendo isso um possível foco

de especulação imobiliária.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DO BAIRRO SÃO JUDAS TADEU NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE/MG Dados pessoais Questionário no.__________ Endereço____________________________________________________________________. Data da Entrevista _________________ Nome do entrevistado_________________________________________________________________________________ Utilização do lote: ( ) residencial ( ) Unifamiliar ( ) multifamiliar ( ) comercial Se comercial que tipo de comércio? _____________________________________________________________________ 1. Descrição das atividades dos membros residentes (casa principal) Quantas pessoas residem na propriedade? ( ) Quantas exercem atividades remuneradas ( ) Que tipo de atividade: serviços ( ) Indústria ( ) Agrícola ( ) Quantas ainda estudam?________onde?____________________________________________________________________ Que tipo de transporte a família utiliza?______________________________________________________________ Este transporte atende bem as necessidades da família: Sim ( ) não( ) Se não, por qual motivo:_________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. Onde residem os membros de sua família? ( ) todos residem na mesma casa, dentro da propriedade ( ) os filhos solteiros moram fora da propriedade ( ) os avós moram em casa separada (mas dentro da propriedade) ( ) os filhos casados moram em casa separada (mas dentro da propriedade) ( ) outros integrantes da família (tios, etc) moram na propriedade ( )outra forma:_____________________________________________________________

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3. Mobilidade geográfica da família 3.1. Há quanto tempo reside no bairro? ___________________________________________________________________ 3.2. Quais eram as condições (acesso à água, energia elétrica, transporte, estradas,...) do bairro no período em que começou a residir nessa propriedade? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.3. As mudanças foram ruins ou boas, Por quê? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3.4. Situação da propriedade: () Compra: ___________________________________________________________________ () Herança- Quantas repartições:_____________________________________________________________________________________________________________________________ ( ) Parceria: ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ( ) Arrendatário: ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ( ) Comodatários: ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ( ) Cedida: ______________________________________________________________________________________________________________________________________

Membros da família

Município de origem

Origem Últimos locais que morou (município, Estado, outros bairros etc)

Motivo da mudança para bairro

Rural Urbana

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3.4.1. Em caso de herança, qual era a área total da propriedade?___________________________________________________ 3.4.1.1. Houve desmembramento?_________ Se sim, em quantas propriedades?_____________________________________ 3.4.1.2. Qual a área de cada unidade?____________________________________________________________ 4- Atividades agrícolas 4.2. Há quanto tempo desenvolve essas atividades? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.2.1. Qual é a renda obtida com as atividades agropecuárias? ( ) menos de 1 SM ( ) até 1 SM ( ) de 1 a 3 SM ( ) de 3 a 5 SM ( ) de 5 a 10 SM ( ) mais de 10 SM 4.2.2. Onde são comercializados os produtos? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.2.3. O que é feito com o dinheiro obtido com as atividades agrícolas: ( ) investimentos na propriedade ( ) sustento (subsistência) da família ( ) tanto para investimentos na propriedade como para aumentar o conforto doméstico ( ) nas despesas pessoais ( ) não sabe/não respondeu ( ) outra ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 4.3. Como é feita a divisão das rendas obtidas com as atividades agrícolas? ( ) o chefe da família centraliza os rendimentos ( ) o casal (o pai e a mãe) centralizam todas as rendas e as dividem conforme sua decisão ( ) as rendas são divididas entre os que trabalham na propriedade de forma igual ( ) os jovens que trabalham na propriedade ficam com sua parte e contribuem nas despesas ( ) cada um fica com a parte que ganha e os pais sustentam a casa e a família ( ) não sabe/não respondeu

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5- CONDIÇÕES SÓCIO/ECONOMICA DAS FAMILIAS RESIDENTES 5. Bens de consumo 5.1. Quais bens de consumo possuem?

Bens de Consumo N°

Energia elétrica

Aparelho de som/CD

Antena parabólica

TV

Computador

Notebook

DVD

Blu Ray

Fogão a gás

Freezer

Geladeira

Máquina de lavar roupa

Máquina de costura

Microondas

Rádio de pilha

Vídeo cassete

Telefone fixo

Telefone celular

5.2. Qual (is) bem (ns) de consumo (s) ainda não possui e deseja comprar?___________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Por quê?__________________________________________________________________________________________________________________________________ -Possui qual tipo de veículo? ( ) automóvel de passeio ( ) automóvel utilitário (caminhonete, pick-up etc.) ( ) moto ( ) bicicleta. ( ) carroça/charrete ( ) caminhão ( ) não possui 6. SANEAMENTO - Material da casa: ( ) alvenaria ( ) madeira ( ) mista - Que tipo de água a família consome? ( ) poço comum ( ) poço artesiano ( ) mina ( ) água encanada ( ) água mineral - Quantos banheiros têm na casa?_____________________________ - Como é lançado o esgoto doméstico? ( ) rede pública ( ) fossa séptica ( ) fossa comum ( ) outro - Com que frequência é coletado o lixo da residência ( ) não há coleta ( ) diariamente ( ) dias alternados ( ) semanalmente

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7. CONFORTO AMBIENTAL - Tamanho do Lote (em m2) ______________________________________________________________________________________________________________________________________ - Área construída (em m2) ______________________________________________________________________________________________________________________________________ - Fachada ( ) recuo frontal ( ) recuo lateral - Que tipo de área de lazer existe nas proximidades? ( )praça ( )quadra de esportes ( ) rio ( ) outros ( ) não existe Outros: ______________________________________________________________________________________________________________________________________ - Que tipo de área de lazer gostaria que existisse no bairro? ___________________________________________________________________ - Classifique a arborização de ruas? ( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim Obs. ______________________________________________________________________________________________________________________________________ - Existem problemas de meio ambiente no seu bairro? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei Qual?

- Os problemas ambientais incluem: ( ) Falta de água ( ) Aumento de ratos, baratas, animais peçonhentos ( ) Poluição das águas ( ) Esgoto a céu aberto. ( ) Lixo a céu aberto ( ) Fumaça de chaminés de indústrias ( ) Fumaça de carro, ônibus e caminhões, buzinas ( ) Falta de áreas verdes como parques e praças ( ) Contaminação do solo por agrotóxicos ( ) Corte de árvores, queimadas. ( ) Extinção de espécies animais e vegetais ( ) Inundações ( ) Outros ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ( )Nenhum ( ) Não sei - As causas dos problemas ambientais, incluem: ( ) Falta de saneamento ( ) Coleta de lixo ruim/ineficaz ( ) Obras municipais ruins Outros

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8. SITUAÇÃO DO BAIRRO EM RELAÇÃO AO PODER PÚBLICO: -Como você enxerga a atuação do poder público em relação ao bairro? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Péssimo Por quê?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ -Você sabe que o bairro se encontra irregular em relação à lei de parcelamento do solo? Sim ( ) não ( ) O que você tem a dizer sobre isso?__________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ - Para você é melhor que esse bairro seja: ( ) rural. Porquê?____________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ( ) urbano. Porquê?________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ - Quais melhorias você sugere para o bairro? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________