18
dez contos indígenas VOZES ANCESTRAIS DANIEL MUNDURUKU

Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

  • Upload
    others

  • View
    8

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter índio”. Foi com essa motivação que o autor teve a ideia de procurar indígenas de dez povos e coletar os contos tradicionais transcritos nesta obra, trazendo para o leitor um pouco das crenças e tradições das popula-ções que habitam o território brasileiro.

“Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre os Umutina, Lua é um substantivo masculi-no. Os Nambikwara contam como o fogo, que pertencia ao tamanduá--bandeira, foi roubado e distribuído entre todos os seres. Em “Os dois teimosos”, os Maraguá ensinam a importância de “não mexer nas coi-sas da floresta sem ter necessidade”.

Esta composição de textos é enlaçada pelos retratos que abrem cada capítulo, revelando pela imagem a identidade cultural de cada povo, na expressão facial, nos adornos e até mesmo nos instrumentos e objetos do dia a dia.

dez contos indígenas

VOZES ANCESTRAIS

DANIEL MUNDURUKU

9 7 8 8 5 7 2 9 2 4 2 0 7

ISBN 978-85-7292-420-7

9280303000001

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_capa.indd 1 7/23/18 4:38 PM

Page 2: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

dez contos indígenas

VOZES ANCESTRAIS

DANIEL MUNDURUKU

1ª edição

Curitiba | 2018

Prêmio Jabuti 2017Categoria Juvenil

Prêmio FNLIJ 2017Categoria Reconto

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 1 7/19/18 10:49 AM

Page 3: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

Munduruku, DanielVozes ancestrais: dez contos indígenas / Daniel Munduruku. – Curitiba: Champagnat, 2018. 80 p.

ISBN 978-85-7292-420-7ISBN 978-85-7292-421-4 (Material do professor)

1. Contos brasileiros. 2. Índios. I. Título.

18-011 CDD 20. ed. – B869.31

M965v2018

Dados da Catalogação na Publicação Pontifícia Universidade Católica do Paraná Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBI/PUCPR Biblioteca CentralGiovanna Carolina Massaneiro dos Santos – CRB 9/1911

Copyright © Daniel Munduruku, 2018

Todos os direitos reservados à

EDITORA UNIVERSITÁRIA CHAMPAGNAT

Rua Imaculada Conceição, 1155 – Prédio da Administração – 6º- andar

Campus Curitiba – CEP 80215-901 – Curitiba – PR

Tel. (0-XX-41) 3271-1701

www.editorachampagnat.pucpr.br

Editor responsável

Marcelo Manduca

Revisora

Aline Silva de Araújo

Daniel Munduruku é indígena, é graduado em Filosofia, tem licenciatura em

História e Psicologia. Doutor em Educação pela USP, pós-doutor em Litera-

tura pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Diretor-presidente

do Instituto UK’A – Casa dos Saberes Ancestrais. Comendador da Ordem do

Mérito Cultural da Presidência da República na categoria da Grã-Cruz, a mais

importante honraria oficial dada a um cidadão brasileiro na área da cultura.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior, entre eles, o Prêmio Jabuti,

o Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Érico Vanucci Mendes

(outorgado pelo CNPq), e o Prêmio Tolerância (outorgado pela Unesco).

Fundada em 1983, a Editora Universitária Champagnat, da Pontifícia Universi-

dade Católica do Paraná, publica livros em todas as áreas do conhecimento.

Tendo como premissa a relevância científica, literária, artística e cultural, visa

atender aos interesses de ensino, pesquisa e extensão da comunidade aca-

dêmica e da sociedade como um todo.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 2 7/19/18 10:49 AM

Page 4: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

Convite à leitura| Daniel Munduruku ___ 6

PAITER SURUÍ Como Nossos Pais recriaram o povo Paiter Suruí ___ 10

TIKUNA MAGÜTA A Festa da Moça Nova ___ 18

MARAGUÁ Os dois teimosos ___ 22

TABAJARA O olho-d’água do pajé ___ 28

KRENAK Como as águas vieram ao mundo ___ 34

KAINGANG A origem das marcas ___ 40

NAMBIKWARA Como o fogo foi roubado do tamanduá-bandeira ___ 46

KADIWÉU O macaco e a onça ___ 52

UMUTINA Como o Sol ressuscitou o Lua ___ 58

KURÂ-BAKAIRI A víbora e o calango___ 62

Glossário ___ 68

Povos indígenas: suas narrativas tradicionais | Wilmar D’Angelis ___ 72

Agradecimentos ___ 76

Sobre o autor ___ 77

Informações paratextuais ___ 79

Créditos das imagens ___ 80

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 3 7/19/18 10:49 AM

Page 5: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 4 7/19/18 10:49 AM

Page 6: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 5 7/19/18 10:49 AM

Page 7: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

___6___

Este livro é fruto de trabalho de pesquisa e coleta de contos de povos indígenas espa-

lhados pelo território brasileiro.

Escolhemos apresentar os contos em língua portuguesa e ilustrá-los com fotos dos

referidos povos a fim de que o leitor tenha também uma referência visual.

É uma pequena amostra, se levarmos em conta que, atualmente, há 307 povos

indígenas morando no território brasileiro. Eles falam algo em torno de 275 línguas, que

estão distribuídas em três grandes troncos linguísticos, e sabemos que há outras que

não são conhecidas ou não foram devidamente estudadas. É muita coisa, não é mesmo?

Ah, e ainda existem cerca de 60 grupos indígenas escondidos pelas florestas.

Talvez nem fosse necessário citar esses dados, mas é importante frisar como foi

difícil selecionar quais histórias seriam recontadas posteriormente. Como eu queria fazer

as coisas de um jeito bem diferente, em que os próprios indígenas fossem os narradores,

inicialmente entrei em contato com amigos indígenas que tivessem interesse em parti-

cipar do livro. Em seguida pedi que escolhessem, escrevessem e me enviassem histórias

tradicionais que tivessem vontade de contar. Como isso demorou!

CONVITE À LEITURADANIEL MUNDURUKU

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 6 7/19/18 10:49 AM

Page 8: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

___7

___

Mas esperei e esperei. Alguns enviaram. Outros disseram que preferiam não parti-

cipar, porque precisavam do consentimento da comunidade, já que as histórias indígenas

são sempre coletivas. Respeitei.

Em seguida, chegou o momento de recontar as histórias apresentadas pelos amigos

indígenas. Procurando preservar o modo tradicional de narrar de cada um, esforcei-me para

manter o máximo da originalidade, um trabalho bastante cuidadoso. Foi necessário fazer

uma tradução do que foi dito/escrito e organizar as ideias de modo que você, leitor, pudesse

tirar o máximo proveito delas. Enfim, agora está em suas mãos o resultado desse esforço.

Atente para o que vai ler, mas não se deixe conduzir apenas pela razão. Há coisas

que são contadas aqui que só poderão ser bem compreendidas quando forem escuta-

das com o coração. Não se esqueça: os povos indígenas contam histórias não só para

se divertir mas também para ensinar. Nos contos estão presentes os sentidos da nossa

existência. Quem souber ouvi-las assim, compreenderá a essência da vida.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 7 7/19/18 10:49 AM

Page 9: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 8 7/19/18 10:49 AM

Page 10: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 9 7/19/18 10:49 AM

Page 11: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

PAITER SURUÍ

COMO NOSSOS PAIS RECRIARAM O POVO PAITER SURUÍ

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 10 7/19/18 10:49 AM

Page 12: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 11 7/19/18 10:49 AM

Page 13: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

___12___

PAITER SURUÍ_______________

H á muito tempo, Nossos Pais criaram todo o nosso povo. Era muita gente, vi-

víamos felizes na floresta, gostávamos de caçar e andar pelo mato. Um dia,

enquanto caçávamos, as onças nos comeram. Elas eram muitas! Depois, elas

levaram embora os nossos ossos e penduraram numa corda, em uma estradinha que

ia do rio até a porta de suas tocas.

As onças comeram todo o nosso povo e não existia mais ninguém. Nossos Pais, que

tinham nos criado, ficaram sozinhos, sem gente no mundo.

Um dos Nossos Pais, sozinho em sua maloca, estava pensando em uma maneira de

recuperar os ossos dos seus filhos. Nesse momento, apareceu o veado-mateiro tocando

sua flautinha e cantando uma música assim:

Povo dos Makarabei

esperem por mim

descansando no calor da pedra.

Nosso Pai criador perguntou:

— Quem está tocando essa flautinha? Eu preciso de alguém para buscar os ossos

dos meus filhos na toca das onças.

— Sou eu — disse o veado-mateiro.

— Que bom que você chegou, meu neto. Você não gostaria de ir à toca das onças

buscar os ossos dos meus filhos para mim?

— Vou sim — respondeu o veado-mateiro.

Então Nosso Pai que nos criou passou umas ervas muito amargas feitas de cipós

e cascas de árvores no corpo do veado-mateiro; passou em todo o corpo, nas pernas,

nos olhos e nas orelhas.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 12 7/19/18 10:49 AM

Page 14: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

___13

___

PAITER SURUÍ _______________

— Agora você pode ir, mas primeiro vou fazer um teste. Você deve correr morro

abaixo, pois vou jogar uma pedra grande que esmagará seu corpo caso não corra mais

rápido que ela.

O veado-mateiro concordou com a proposta e saiu correndo morro abaixo. Em

seguida, Nosso Pai que nos criou jogou a grande pedra... PAM... a pedra rolava muito rá-

pido atrás do veado-mateiro, que correu muito, até que se cansou e desviou da pedra

gritando, assustado.

— Não consegui, não deu certo — gritou ele, assustado.

No meio dessa confusão, chegou outro veado, o veado-galheiro, também tocando

sua flautinha.

— Vá você então, veado-galheiro — disse o Nosso Pai que nos criou e também jogou

a pedra em cima dele.

A pedra rolava rapidamente atrás do veado-galheiro, mas ele era mais rápido que

a pedra e corria mais e mais, até que a pedra parou atrás dele.

Nosso Pai que nos criou disse ao veado-galheiro:

— Você é quem vai buscar os ossos dos meus filhos na toca das onças.

Então Nosso Pai que nos criou passou as mesmas ervas amargas no veado-

-galheiro, no corpo todo, enquanto explicava como deveria agir quando estivesse com

as onças. Depois, o veado-galheiro foi para a toca das onças, tocando sua flautinha e

cantando assim:

Podem me esperar

povo dos Makarabei

descansem sossegados

no calor da pedra.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 13 7/19/18 10:49 AM

Page 15: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

O veado-galheiro chegou na maloca das onças e as cumprimentou.

As onças responderam quase em coro:

— Hum... agora vamos ter que te comer.

O veado-galheiro disse sem gaguejar:

— Podem me comer, mas eu não presto, minha carne é muito amarga, muito ruim.

Havia muitas onças cercando o veado-galheiro e rugindo. Apesar do medo que sen-

tia, ele disse:

— Por que vocês não experimentam? Sei que não vão gostar da minha carne.

As onças lamberam as costas do veado-galheiro e perguntaram:

— Por que sua carne é tão ruim?

O veado-galheiro respondeu:

— Eu disse que sou amargo e minha carne não presta para comer.

As onças responderam na mesma hora:

— Então vamos comer só seus olhos.

— Não! — gritou o veado. — Os olhos são ainda mais amargos que o resto do meu corpo.

— Vamos comer assim mesmo — disseram as onças.

O veado-galheiro, já quase sem esperança, respondeu:

— Experimentem primeiro.

Então as onças lamberam seus olhos e disseram:

— Ih, seus olhos são piores ainda, não prestam para comer.

As onças armaram uma rede bem no fundo de sua toca e chamaram o veado-

-galheiro para deitar.

— Deite aqui um pouco, depois vamos te comer.

O veado-galheiro estava tremendo de medo e quase não conseguia andar. Lem-

brou, então, que Nosso Pai que nos criou mandaria uma abelha zumbir em seu ouvido

___14___

PAITER SURUÍ_______________

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 14 7/19/18 10:49 AM

Page 16: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

quando fosse a hora de sair correndo para tirar os ossos que estavam pendurados

nas cordas.

O veado-galheiro esperava ansioso pela chegada da abelha. Ele se mexia tentando

levantar sem ser notado, mas a rede balançava e as onças levantavam também. Ele já

estava angustiado quando, de repente, escutou o zumbido da abelha.

Imediatamente o veado-galheiro pulou da rede, passou por cima das onças, e correu

desesperadamente em direção aos ossos para pegá-los e levar consigo.

Ele conseguiu pegar muitos ossos, de várias famílias que as onças tinham comido,

pegou muitos ossos de várias pessoas, indígenas e não indígenas.

O veado-galheiro corria com os ossos fazendo muito barulho.

As onças, com muita raiva, corriam atrás dele, mas o veado-galheiro corria mais

que as onças.

Ele já estava ficando cansado quando apareceu um bando de pássaros chamados

jacamins. Para ajudar o veado-galheiro, fizeram cocô em cima das onças, que pararam

de correr e se esconderam do ataque dos pássaros.

Só assim o veado-galheiro conseguiu escapar e levar os ossos para Nosso Pai que

nos criou, que disse:

— Muito bem, meu caro neto. Agora o resto eu farei.

Nosso Pai pegava cada osso e soprava, e cada osso que ele soprava fazia uma

pessoa, fazia um povo. O primeiro que ele fez foi nosso povo Paiter Suruí. Só depois fez

nascer outros parentes indígenas e, por último, os yaraey (os não indígenas).

E foi assim que Nosso Pai fez nascer outra vez a raça humana, soprando nos ossos

que as onças guardavam e que o veado-galheiro foi roubar.

___15

___

PAITER SURUÍ _______________

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 15 7/19/18 10:49 AM

Page 17: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

O território que ocupam hoje abriga uma grande jazida de diamante, o que tem trazido sérios

problemas para esse povo.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 16 7/19/18 10:49 AM

Page 18: Daniel Munduruku costuma afirmar: “Escrevo para me manter … · 2019-07-05 · “Como o Sol ressuscitou o Lua” é uma destas histórias. E, não, você não leu errado: entre

PAITER SURUÍ

Os Suruí se autodenominam Paiter, que significa

”gente verdadeira, nós mesmos”. Habitam a fronteira entre

os estados de Rondônia e Mato Grosso, embora tenham

como território tradicional a região onde está hoje a cidade

de Cuiabá. Historiadores dizem que eles foram sendo

empurrados daquela região em direção à que habitam

até hoje. Falam uma língua derivada da família linguística

Mondé, do tronco Tupi. Segundo a Fundação Nacional

de Saúde [Funasa], sua população atual é estimada em

1 172 pessoas. Foram encontrados, oficialmente, apenas

em 1969, graças ao desenvolvimento econômico ocorrido

na região, mas há notícias de sua presença desde o

início do século XX. No entanto, a memória ancestral

dos Suruí demonstra que eles já existem há muito mais

tempo. O território que ocupam hoje abriga uma grande

jazida de diamante, o que tem trazido sérios problemas

para esse povo, que busca reagir organizando-se contra

invasores para evitar a sua destruição.

VOZES-ANCESTRAIS-PNLD-2020_miolo.indd 17 7/19/18 10:49 AM