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Setembro de 2010 Ano XV Número 179 D.Antonio: O PNDH-3 é um golpe anti-cristão e anti-família A nova história de Dom João VI Até agora, ele era conhecido como um rei bobo, fraco e comilão. Pesquisas recentes revelam um estadista ousado e inovador – que criou os alicerces da nação brasileira Pág.8 Dom João VI O Hino da Independência e as mãos que o compuseram Pág.11 Quinta da Boa Vista, residência da família imperial, faz 100 anos em outubro, em completo abandono Pág.14 Família Imperial Brasileira, uma reserva moral neste País Pág.5 Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança Pág.3 Há 188 anos, D. Pedro I proclamava a independência do Brasil Pág.6

D.Antonio: O PNDH-3 é um golpe anti-cristão · trabalhando o seu Projeto 2018, aprovado pela Casa Imperial, da qual é parceiro. Embora o projeto prime pela implantação do Parlamentarismo

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Setembro de 2010 Ano XV Número 179

D.Antonio: O PNDH-3

é um golpe anti-cristão

e anti-família

A nova história de Dom João VIAté agora, ele era conhecido como um rei bobo,

fraco e comilão. Pesquisas recentes revelam um

estadista ousado e inovador – que criou os

alicerces da nação brasileira Pág.8

Dom João VI

O Hino da Independência e asmãos que o compuseram

Pág.11

Quinta da Boa Vista, residência da famíliaimperial, faz 100 anos em outubro, emcompleto abandono Pág.14

Família Imperial Brasileira, umareserva moral neste País Pág.5

Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe

D. Luiz de Orleans e Bragança Pág.3

Há 188 anos,D. Pedro I

proclamava aindependência

do BrasilPág.6

Foi no dia 7 desse mês, às margens do riacho do Ipiranga, que o príncipe regente Dom Pedro, cortou os laços que nos unia a Portugal e ali

nascia um novo Brasil brasileiro. Dom Pedro proclamou a independência do Brasil com 23 anos, idade em que hoje a maioria dos jovens ainda

freqüenta os bancos escolares.

É no instinto voluntarioso de assombrosa versatilidade e decidido de Dom Pedro que a juventude brasileira deve se basear para fazer um

grandioso movimento em prol da restauração da Monarquia no Brasil. O IBI – Instituto Brasil Imperial, como já é de conhecimento geral, está

trabalhando o seu Projeto 2018, aprovado pela Casa Imperial, da qual é parceiro.

Embora o projeto prime pela implantação do Parlamentarismo Monárquico Constitucional, moderno, própria do século 21, ele não se cristalizará

sozinho. Precisamos da adesão de todos os monarquistas em torno desse plano. As horas que dedicamos ao movimento precisam ser melhor

utilizadas. A internet é um bom meio de divulgação, mas precisamos de muitas horas em campo, diretamente com o povo.

Sem militância não teremos votos suficientes para o novo plebiscito. Só ela é que nos levará à vitória no plebiscito de 2018 e um dos seus meios

será relatar a história do período imperial conforme ela efetivamente aconteceu. Como já é sabido, nosso povo não conhece a história do nosso

período imperial, A republica contou-a à sua maneira, deixando o povo na ignorância do seu passado.

Essa atividade está a cargo dos Núcleos Municipais que realizarão suas ações diretamente junto às suas comunidades. São as comunidades

mais carentes que detêm 84% dos votos no Brasil. E um dos deveres dos Núcleos é atingir todas as camadas da população.

Nossa meta é instalar 1.114 Núcleos Municipais por todo o País. É necessário, pois, que os monarquistas despertem e percebam que lhes

compete fazer a diferença, começando pela identificação dos voluntários para instalar um Núcleo em suas respectivas cidades.

Na ausência inicial desses voluntários, que se incumbam os monarquistas isoladamente

de inaugurar sozinhos suas sedes, colocar uma página na internet de sua unidade e

iniciar, dessa forma, a chamada à adesão, que certamente será aceita forma, a

chamada à adesão, que certamente será aceita

pelos que identificam na Monarquia a melhor saída para as graves questões brasileiras.

Informamos que estamos negociando a implantação da TV WEB MONARQUISTA,

com transmissão pelo nosso site. Ali você acompanhará tudo o que acontece no

movimento. Estamos igualmente negociando uma sede social para o IBI, local ond

receberemos nossos associados e, também, promoveremos nossas reuniões.

Como podem perceber, estamos trabalhando e temos uma tarefa árdua pela frente,

porém possível. Para isso, necessitamos de sua valiosa contribuição financeira para

suportar os custos administrativos e os de desenvolvimento do Projeto 2018 porque,

sem recursos, nada poderemos fazer. Assim, esperamos poder continuar com seu

apoio, o que nos levará à vitória nesse ano.

Participe da reconstrução histórica de um novo Brasil.

Não vamos esperar pelo que os outros possam fazer

por nós aquilo que é uma nossa

obrigação enquanto monarquistas. Vamos pôr em

prática aquilo que podemos fazer pelo Brasil,

Nossa Pátria, Nossa Nação.

Saudações Monarquistas!

Em setembro o Brasil comemora o

nascimento da nacionalidade brasileira

ImperialGazeta

Prezados Monarquistas,

ImperialGazeta

Jornal editado pelo Instituto Brasil Imperial

Ano XV Número 178

www.brasilimperial.org.br

A Gazeta Imperial é uma publicação do

Instituto Brasil Imperial. Artigos, sugestões de

reportagens, divulgação de eventos

monárquicos e imagens podem ser enviados

para [email protected]

Alessandro Padin Editor e jornalista responsável

[email protected]

02

03

Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucessoUm perfil que exemplifica a tradição monárquica brasileira

Da redação do IBI

Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe

D. Luiz de Orleans e Bragança

Instituto Brasil Imperial

Atual Chefe da Casa Imperial do Brasil, D. Luiz de Orleans e Bragança é primogênito e herdeiro dinástico do falecido Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bra-gança (1909-1981), admirável figura de brasileiro, chefe de família exem-plar e artista de conhecido talento; é neto de D. Luiz de Orleans e Bragança (1878-1921) - cogno-minado o Príncipe Perfeito; bisneto da Princesa Isabel, a Redentora, e trineto do Imperador D. Pedro II.O Imperadores do Brasil, bem como os Reis de Portugal desde o século XVII, pertenceram à dinastia de Bra-gança, a qual teve sua origem em fins do século XIV, na figura heróica do Santo Condestável de Portugal, o Bem-Aventurado D. Nun'Alvares Pereira.Por sua Mäe, a Princesa D. Maria da Baviera de Orleans e Bragança, D. Luiz herda as tradições da Família de Wittelsbach, a Casa Real da Baviera, uma das mais antigas da Europa (pois tem sua origem no século IX) e célebre no campo das artes e da cultura. Através de seu bisavô Gastão de Orléans, Conde d' Eu, esposo da Princesa Isabel e herói da Guerra do Paraguai, o atual Chefe da Casa Imperial do Brasil descende da Casa Real francesa. Com efeito, provém ele em linha direta, por legítima varonia, de Hugo Capeto, que há precisamente 1006 anos - em 987 - ascendeu ao trono da França e de São Luís IX, o Rei-Cruzado que governou a França de 1226 a 1270.Descendendo de Reis, Santos e Heróis, de Fundadores de Impérios, Cruzados e Artistas - o nosso Prín-cipe havia de receber uma educação à altura das tradições que repre-senta.Foi intenção de seu Pai dar-lhe uma formação sólida, nos princípios tradicionais da Santa Igreja. Ao mes-mo tempo, desejou que ele tivesse uma cultura geral, um conhecimento em profundidade dos problemas atuais do Brasil e do mundo, e um trato social condizentes com a alta posição que lhe estava destinada.

Por fim, desejou para seu primo-gênito o que a antiga Lei do Banimento não permitira para si pró-prio: uma educação no Brasil, entre brasileiros, e dentro das melhores tradições brasileiras.Nascido em Mandelieu (França) em 6 de junho de 1938, foi batizado com o nome de Luiz Gastão Maria José Pio de Orleans e Bragança, na ca-pela de Mas-Saint-Louis, de sua Avó a Princesa D. Maria Pia de Bourbon-Sicílias de Orleans e Bragança, e foi registrado no Consulado Geral do Brasil em Paris.Com a deflagração, em 1939, da Se-gunda Grande Guerra, a Família Imperial ficou retida na França e impedida de transferir-se para o Brasil. Só após o término do conflito pôde D. Luiz, então menino de sete anos, ver pela primeira vez sua terra. Fez os estudos secundário em parte no Paraná onde seu Pai se instalara como fazendeiro, em parte no Rio de Janeiro, no Colégio Santo Inácio. A fim de aperfeiçoar o conhecimento de línguas, fez em Paris o Colégio pré-universitário, e, por fim, foi con-cluir seus estudos na Universidade de Munique, onde cursou Química.Nas horas vagas que lhe permitia o rígido curso universitário, e durante os períodos de férias, em que viajou por toda a Europa, aproveitou o jo-vem Príncipe para tornar mais co-nhecido o Brasil nos ambientes que freqüentava, a saber, os círculos da mais alta nobreza européia, e os meios universitários alemães, italianos e franceses.Retornado ao Brasil em 1967, pas-sou a residir em Säo Paulo, onde assumiu a direção do Secretariado de seu Pai, já então residente na sua propriedade rural em Vassoura, no Estado do Rio de Janeiro.Com o falecimento de D. Pedro Henrique, em 5 de julho de 1981, D. Luiz ascendeu à condição de Chefe da Casa Imperial do Brasil.Embora absorvido por suas ocupações e pelas responsabilida-des que lhe advêm da Chefia da Casa - na qual é dedicada e eficaz-mente assessorado por seu irmão D. Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil – D. Luiz

encontra tempo para prosseguir suas ativi-dades no campo cultural e suas viagens pelo Brasil. D. Luiz tem toma-do contato direto com os problemas de vários Estados do País. Com particular agrado rea-lizou três viagens pelo interior de Minas Gerais, para apreciar pessoal-mente a arte colonial brasileira, tema pelo qual tem grande dile-ção.Falando fluentemente três idiomas - o portu-guês, o francês e o ale-mão - e entendendo ain-da o castelhano, o inglês e o italiano, D. Luiz é senhor de sólida cultura, alicerçada em várias leituras sérias e prolongadas, especial-mente de assuntos históricos e sociológi-cos.Como o Imperador D. Pedro II, encontra no estudo um verdadeiro prazer. Mas divergindo neste ponto de seu trisavô, gosta de equitação e de caça, tendo mesmo, neste último esporte, conquistado alguns troféus. É ainda apreciador de música clás-sica, especialmente de composi-tores brasileiros da escola barroca.A vida de estudos e de pensamento não impede, porém, de ser um homem inteiramente atualizado, acompanhando com atenção e interesse o noticiário dos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo.Julga que à Família Imperial cabe representar, no panorama nacional, um conjunto de tradições e valores morais cuja ação de presença, no conturbado Brasil contemporâneo, se exerce de maneira discreta, po-rém profunda e eficaz.Seguindo o exemplo de seu Pai, abstém-se de uma interferência no embate dos interesses e paixões das grandes forças que dominam atualmente o cenário político-par-tidário do País. Com isso, evita en-

volver-se em toda espécie de mal-entendidos e ressentimentos para o prestígio da Família Imperial, mas exerce inegável ação de presença ideológica e moral no panorama brasileiro. Mantém avultada corres-pondência com amigos e admira-dores do Brasil inteiro. Nem todas as cartas que recebe, entretanto, expri-mem uma tomada de posição expli-citamente monárquica. Escrevem-lhe monarquistas ardorosos e dedi-cados, muitos deles jovens. Escrevem-lhe também amigos que, sem qualquer intuito político, gostam de cultivar as velhas relações de amizade e dedicação para com a Família Imperial. E, não raras vezes, são brasileiros não monarquistas - e até republicanos convictos - que o procuram, num gesto de simpatia e consideração para com as tradições e valores que representa.É Gräo-Mestre da Ordem da Rosa, e da Ordem de Pedro I. É ainda Grão-Cruz da Ordem Constantiniana de São Jorge, da Casa Real de Bourbon-Sicílias, e membro efetivo de diversos institutos culturais.

D. Luiz de Orleans e Bragança

Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucesso

Sem recursos, regime castrista busca saídas

Da redação do IBI

Cuba propõe 178 funções

para 500 mil dispensados

Instituto Brasil Imperial

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Numa tentativa de achar solução para uma situação econômica insustentável, o regime cubano divulgou recentemente uma relação de 178 t ipos de at iv idades profissionais que poderão ser exercidas pela iniciativa privada na ilha. Entre elas, estão serviços como o de descascador de frutas naturais, consertador de guarda-chuvas e penteador de tranças.A divulgação segue anúncio, de 13 de setembro de 2010, no sentido de que ao menos 500 mil funcionários estatais de Cuba serão demitidos até março de 2011. As regras permitirão que 250 mil cubanos pas-sem a trabalhar por iniciativa própria, mas submetidos a taxações que a população considera elevadas. Numa segunda etapa e em curto prazo, mais várias centenas de mi-lhares de cubanos igualmente serão dispensados como funcionários do governo. Estima-se hoje em quatro milhões o número de funcionários públicos existentes no país, re-cebendo salário mensal médio equi-

valente a US$ 20,00 ou R$ 34,00.Pela primeira vez, os cubanos de 83 atividades privadas poderão, tam-bém, contratar quem não seja pa-rente, além de vender, por meio de contrato, serviços para o Estado. Segundo números oficiais, mais de 85% da força de trabalho de cinco milhões de cubanos no total, ofere-ciam seus serviços para o governo no final de 2009.O regime do ditador Raúl Castro negou que as mudanças repre-sentem uma transição para o regime capitalista. "A decisão de afrouxar as regras sobre o setor privado é uma das medidas para reestruturar nossa economia para aumentar os níveis de produção e eficiência", informou o jornal oficial "Granma".

Desde que substituiu o convales-cente irmão mais velho Fidel Castro, Raúl promove uma série de peque-nas reformas no sentido da deses-tatização da economia. A medida se soma a outras tomadas desde 2008, como a distribuição de terras ocio-

Deterioração

sas estatais a pequenos produtores privados; a permissão para a aber-tura de negócios familiares particu-lares; e a eliminação dos tetos sala-riais aliada à ampliação de prêmios por produtividade aos funcionários.As mudanças foram impulsionadas pela deterioração econômica veri-ficada desde o chamado período especial, que se sucedeu à desin-tegração da União Soviética, patro-cinadora histórica da experiência desse Estado socialista a 150 km da costa norte-americana. Cuba conse-guiu respirar com o estímulo à indús-tria do turismo, que se tornou res-ponsável por 7% do PIB, e o auxílio de Hugo Chávez, no papel de mece-nas do socialismo do século 21. Em meio a ganhos propiciados pela ele-vação do preço do petróleo, o líder venezuelano passou a subsidiar o fornecimento de combustível à ilha.A chegada de Raúl ao poder, porém, coincidiu com a crise econômica mundial, que criou dificuldades para a Venezuela, agravadas por seus problemas internos, e golpeou a indústria do turismo, cujos ingressos recuaram 11% em 2009 em relação

a 2008.Há dois anos, Cuba foi atingida por furacões que causaram prejuízo de US$ 5 bilhões, o equivalente a 10% do PIB. Sofreu também com a derro-cada do preço do níquel, o principal produto de exportação. A série de más notícias obrigou o país a apertar ainda mais o cinto. Veio o raciona-mento de eletricidade e combustível e fecharam-se os restaurantes que ofereciam alimentação subsidiada. Providências paliativas - e também impopulares - como essas parecem dar lugar agora a medidas mais profundas de reorientação de rumos.A "perestroika" cubana inspira-se na abertura chinesa, país onde o comunismo foi gradualmente subs-tituído pelo capitalismo de Estado com a manutenção de um sistema político autoritário de partido único. Ao abrir a economia, o regime cas-trista espera atenuar as pressões por reformas na esfera política e obter novas concessões dos EUA, que sob Barack Obama eliminaram restrições a viagens e remessas financeiras por cubano-americanos.

Palestras e encontros como os previstos e realizados em setembro deste ano estão ajudando a implantar em meio à sociedade as bases do edifício monárquico-parlamentarista, exemplo que vem se multiplicando, vagarosa mas solidamente, por diferentes pontos do território brasileiro.Este foi o caso da exposição e f e t u a d a p e l o r e n o m a d o monarquista, médico Rubens Vuono de Brito, no dia 22 deste mês de setembro, em dependências da Churrascaria Tourinho, no bairro do

Jabaquara, Zona Sul da Capital paulista. Na oportunidade, no evento patrocinado pelo Instituto Brasil Imperial (IBI), foram colocadas situações relacionadas aos rumos do movimento monárquico em nosso país.Para 20 de outubro, também patrocinada pelo IBI e naquele mesmo local, está prevista palestra de José Guilherme Beccari, advogado e membro do Conselho da organização Pró-Monarquia que abordará diferentes aspectos relacionados ao movimento que a

todos nos une.No dia 17 de novembro deste ano está prevista reunião do Instituto Brasil Imperial, quando serão expostas ações atualmente em curso e previsões para outras iniciativas de curto, médio e longo prazos, em favor da causa monárquica. O IBI solicita aos diferentes grupos monárquicos que informem a Gazeta Imperial sobre iniciativas similares para que possam ser divulgadas por este boletim, o que pode ser feito através do e-mail ...

Palestras impulsionam

movimento monárquicoMonarquista,

anuncie seus

produtos e

serviços aqui.

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Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucessoDa redação do IBI

Família Imperial Brasileira,uma reserva moral neste País

Instituto Brasil Imperial

Muitos brasileiros se surpreendem

com o simples fato de saber que, no

Brasil, existe uma Família Imperial.

Os poucos e ainda mal informados

que dela tiveram alguma notícia,

conhecem-na sob a face do distor-

cido imaginário republicano, que vili-

pendia os fundadores de uma Nação

que se estende por 8,5 milhões de

qui lômetros quadrados, hoje

castigada por mandos e desmandos

de infelizes mandatários deste regi-

me de governo.

A Família Imperial Brasileira é vista,

em meio a situações muitas vezes

caóticas de diferentes governos, co-

mo uma sólida reserva moral da

Nação, um exemplo a ser seguido.

Nossos príncipes têm laços com os

verdadeiros pais da pátria brasileira,

descendendo de Hugo Capeto (940-

996), que foi coroado rei da França

em 987, isto é, há mais de mil anos.

Tendo na sua árvore genealógica,

obviamente a Princesa Isabel, D.

Pedro II, D. Pedro I e D. João VI, os

príncipes do Brasil guardam linha

varonil direta, São Luiz (Luiz IX), Rei

Cruzado da França (1214-1270)

pela parte Orleans. Pela parte

Bragança remonta a D. Afonso,

primeiro Duque de Bragança, que

se casou com a filha de D.

Nun'Alvares Pereira, Condestável

de Portugal. E também pela parte

Wittelsbach remontando a Oto de

Wittelsbach (Conde Palatino da

Baviera em 1156).Dona Amélia Maria, Dona Maria Gabriela, Dom Rafael,Dona Cristina de Ligne, Dom Antonio, Dom Bertrand, Dom Luiz

Doze anos depois de proclamar a

independência do Brasil, em 24 de

setembro de 1834, morria, no Palá-

cio de Queluz, no quarto em cujas

paredes se vêem as grotescas ce-

nas de D. Quixote, de Cervantes - D.

Pedro de Alcântara, primeiro do no-

me no Império do Brasil, quarto

Pedro dos reis portugueses.

Um herói precoce que galgou a imor-

talidade cavalgando as grandes cri-

ses do século e, até por isso, deno-

minado "Rei Cavaleiro". As crises

foram da liberdade contra o abso-

lutismo, na América e na Europa.

Aqui, rompeu com a tradição,

aceitan-do a aclamação nacional.

Lá, desligou-se do passado, toman-

do a causa da Constituiçao. Vem dai

o fato, único no mundo, de ser o es-

tadista (à frente das multidões que,

ufano chefe das revoluções perma-

nentes, tem o seu monumento nas

duas margens do Atlântico, no Rio

de Janeiro a cavalo - na Praça Tira-

dentes e, em Lisboa, no Rossio, ere-

to sobre a coluna coríntia.

Ninguém o igualou no culto dos po-

vos desentendidos em 1822, na lín-

gua comum. No Brasil, promovendo

a Independência Lá, impondo a Lei;

com a circunstância de pôr no trono

os filhos, D. Pedro II no Brasil, D.

Maria II em Portugal. Juntou à pre-

visão o entusiasmo. Selou com a vi-

tória o destino. Soube comandar de

espada na mão a independência dos

brasileiros e a transformação dos

patrícios, soldado impetuoso, quer

na colina do Ipiranga, quer no cerco

do Porto, em ambas as conjunturas

ungido pela sorte, que é a ordenança

do valor. De um lado (eis o seu le-

gado!) consolidou a unidade brasilei-

ra, de um outro, impeliu Portugal pa-

ra diante, rasgando na antiga colônia

e na metrópole decadente, os diplo-

mas de antanho, em nome das luzes

da Civilização.

Fundando o Império, guiado peia sa-

bedoria de José Bonifácio de Andra-

da e Silva, traçou entre a era morta e

os novos tempos, a ponte da concór-

dia em vez de abrir como alhures os

abismos da divisão é da guerra. Sem

a solução monárquica de 1822, pro-

clamado D. Pedro I Imperador, reta-

lhar-se-ia o Pais em Estados sobe-

ranos, num desafio à posteridade,

que dificilmente o reuniria, se pudes-

se fazê-lo um dia, na imagem integra

da Pátria. Do mesmo modo, abdi-

cando em 1831 a coroa americana,

arrasou no Reino os arsenais da

Idade Média, implantando, seme-

lhantes às liberdades que outorgara

ao Brasil (Carta de 1824), as liber-

dades que vigoraram em Portugal

(Carta de 1826).

O Grito da Independência

Não importam os erros políticos que

acabaram encurtando o seu go-

verno, tão popular no começo - em

que aderiu à Nação adotiva - e tão

hostilizado no fim quando parecia ter

renegado a democracia que anun-

ciara. Sobre os desacertos e os in-

fortúnios, agiganta-se o gênio de

condutor das massas,o fulgor da es-

trela cívica, que lhe iluminou a jorna-

da, em ambos os continentes. Por

mais que o discutissem após sua

morte, as suas qualidades sobrepu-

jaram os seus defeitos. Foi formida-

velmente providencial, quase ado-

lescente (nascera em 1798) e ainda

moço (faleceu aos 36 anos) aquém e

alem-mar. É o Bolivar dos brasileiros

é o Condestável dos portugueses.

São comparações razoáveis, nas

perspectivas da Historia, em que o

idealismo e a bravura se aliam à

oportunidade - de gerar o tempo e o

indivíduo que deu corpo e alma à

coletividade.

Os monumentos que à beira do Oce-

ano, no Brasil e na Europa, celebri-

zam o "Rei Cavaleiro", equivalem a

mensagens imperecíveis recordan-

do-lhe as lutas, as opções, o poder e

a glória.

E continua lembrado e o reverencia-

mos em todos os 7 de setembro co-

mo se continuasse vivo, a cavalo, no

punho triunfante a Suprema Lei, irra-

diando a majestade do patrono da

Independência.

Morre Dom Pedro IPor Pedro Calmon

Ex-presidente do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro

Por Rainer Sousa

Graduado em História,

Equipe Brasil Escola

06

Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucesso

Há 188 anos, D. Pedro I proclamava

a independência do Brasil

Instituto Brasil Imperial

A Independência do Brasil, enquanto processo histórico desenhou-se muito tempo antes do príncipe re-gente Dom Pedro I proclamar o fim dos nossos laços coloniais às mar-gens do rio Ipiranga. De fato, para entendermos como o Brasil se tornou uma nação inde-pendente, devemos perceber como as transformações políticas, eco-nômicas e sociais inauguradas com a chegada da família da Corte Lusi-tana ao país abriram espaço para a possibilidade da Independência. A chegada da Família Real Portu-guesa ao Brasil foi episódio de gran-de importância para que possamos iniciar as justificativas da nossa inde-pendência. Ao pisar em solo brasileiro, Dom João VI tratou de cumprir os acordos firmados com a Inglaterra, que se comprometera em defender Portugal das tropas de Napoleão e escoltar a Corte Portuguesa ao lito-ral brasileiro. Por isso, mesmo antes de chegar à capital da colônia, o rei português realizou a abertura dos portos bra-sileiros às demais nações do mundo. Do ponto de vista econômico, essa medida pode ser vista como um primeiro “grito de independência”, onde a colônia brasileira não mais estaria atrelada ao monopólio comercial imposto pelo antigo pacto colonial. Com tal medida, os grandes pro-dutores agrícolas e comerciantes nacionais puderam avolumar os seus negócios e viver um tempo de prosperidade material nunca antes experimentado em toda história colonial. A liberdade já era sentida no bolso de nossas elites. Para fora do campo da economia, podemos salientar como a reforma urbanística feita por Dom João VI promoveu um embelezamento do Rio de Janeiro até então nunca antes vivida na capital da colônia, que deixou de ser uma simples zona de exploração para ser elevada à categoria de Reino Unido de Portu-gal e Algarves. Se a medida prestigiou os novos súditos tupiniquins, logo despertou a

insatisfação dos portugueses que foram deixados à mercê da admi-nistração de Lorde Protetor do exér-cito inglês. Essas medidas, tomadas até o ano de 1815, alimentaram um movi-mento de mudanças por parte das elites lusitanas, que se viam aban-donadas por sua antiga autoridade política. Foi nesse contexto que uma revolu-ção constitucionalista tomou conta dos quadros políticos portugueses em agosto de 1820. A Revolução Liberal do Porto tinha como objetivo reestruturar a sobera-nia política portuguesa por meio de uma reforma liberal que limitaria os poderes do rei e reconduziria o Brasil à condição de colônia. Os revolucionários lusitanos forma-ram uma espécie de Assembleia Nacional que ganhou o nome de “Cortes”. Nas Cortes, as principais figuras políticas lusitanas exigiam que o rei D. João VI retornasse à terra natal para que legitimasse as transformações políticas em anda-mento. Temendo perder sua autoridade real, D. João saiu do Brasil em 1821 e nomeou seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil. A medida ainda foi acompanhada pelo rombo dos cofres brasileiros, o que deixou a nação em péssimas condições financeiras. Em meio às conturbações políticas que se viam contrárias às intenções políticas dos lusitanos, Dom Pedro I tratou de tomar medidas em favor da população tupiniquim. Entre suas primeiras medidas, o príncipe regente baixou os impostos e equiparou as autoridades militares nacionais às lusitanas. Naturalmen-te, tais ações desagradaram bastan-te as Cortes de Portugal. Mediante as claras intenções de Dom Pedro, as Cortes exigiram que o príncipe retornasse para Portugal e entregasse o Brasil ao controle de uma junta administrativa formada pelas Cortes. A ameaça vinda de Portugal des-pertou a elite econômica brasileira para o risco que as benesses eco-nômicas conquistadas ao longo do período joanino corriam. Dessa ma-neira, grandes fazendeiros e comer-ciantes passaram a defender a as-censão política de Dom Pedro I a

líder da independência brasileira. No final de 1821, quando as pres-sões das Cortes atingiram sua força máxima, os defensores da indepen-dência organizaram um grande abaixo-assinado requerendo a per-manência e Dom Pedro no Brasil. A demonstração de apoio dada foi retribuída quando, em 9 de janeiro de 1822, Dom Pedro I reafirmou sua permanência no conhecido Dia do Fico. A partir desse ato público, o príncipe regente assinalou qual era seu posicionamento político. Logo em seguida, Dom Pedro I incorporou figuras políticas pró-independência aos quadros admi-nistrativos de seu governo. Entre eles estavam José Bonifácio, grande conselheiro político de Dom Pedro e defensor de um processo de inde-

pendência conservador guiado pe-las mãos de um regime monárquico. Além disso, Dom Pedro I firmou uma resolução onde dizia que nenhuma ordem vinda de Portugal poderia ser adotada sem sua autorização prévia. Essa última medida de Dom Pedro I tornou sua relação política com as Cortes praticamente insustentável. Em setembro de 1822, a assembleia lusitana enviou um novo documento para o Brasil exigindo o retorno do príncipe para Portugal sob a ameaça de invasão militar, caso a exigência não fosse imediatamente cumprida. Ao tomar conhecimento do docu-mento, Dom Pedro I (que estava em viagem) declarou a Independência do país no dia 7 de setembro de 1822, às margens do rio Ipiranga.

Imperatriz Dona Leopoldina de Habsburgo e José Bonifácio de Andrade e Silva

Por Rodrigo Constantino

Publicado em O Globo, RJ

07

Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucessoReflexões patrióticas

Independência: 188 anos depois,

o povo brasileiro aguarda D. Pedro III

Instituto Brasil Imperial

No dia de hoje, nada melhor do que fazer algumas reflexões acerca dos rumos do nosso país. O amor à Pátria é um sentimento de união de indivíduos que compartilham uma história, uma cultura e valores co-muns.Ele difere bastante do nacionalismo vulgar, uma forma de coletivismo xenófobo que transforma os indi-víduos em simples meios sacri-ficáveis. Foi o patriotismo que ali-mentou a Revolução Americana; foi o nacionalismo exacerbado que levou ao nazismo.Não podemos falar de patriotismo sem citar nosso Patriarca da Inde-pendência.Sob a influência iluminista, José Bonifácio de Andrada e Silva abra-çou os principais pilares da filosofia liberal, compreendendo que a ri-queza das nações é produzida pela concorrência e liberdade de empre-ender, e não pela tutela estatal.O comércio, livre da opressão de minuciosos regulamentos, seria o responsável pela prosperidade da nação.Ele foi uma das vozes mais im-portantes contra os abusos de poder da Coroa portuguesa e a escravidão. O Brasil era cada vez mais explo-rado como colônia. A independência era crucial. Andrada compreendia o que estava em jogo: “Sem liberdade individual não pode haver civilização nem sólida riqueza; não pode haver moralidade e justiça; e sem essas filhas do céu, não há nem pode haver brio, força e poder entre as nações.” O Brasil deveria ser um país de cidadãos livres, não de escravos. Infelizmente, deixamos de ser súdi-tos de Portugal, mas nos tornamos súditos de Brasília. O governo central foi concentrando cada vez mais poder à custa da liberdade individual, e o dirigismo estatal poucas vezes esteve tão forte.Neste contexto, o presidente da Fiesp chegou a afirmar que gostaria de “fechar o país”. Isto remete ao

que há de mais retrógrado no pen-samento econômico. O mercantilismo beneficia poucos empresários próximos ao governo, enquanto prejudica todos os con-sumidores e pagadores de impos-tos. Fala-se em “interesse nacional” para ocultar a simples busca por privi-légios e monopólios.Na nefasta aliança entre governo e grandes empresários, o povo acaba pagando a conta. Basta lembrar a absurda Lei da Informática para ter ideia do pesado custo imposto aos brasileiros por estas teorias ultrapassadas.O patriotismo pode ser uma arma poderosa contra a tirania. Unidos por um ideal comum de liberdade, os cidadãos representam uma cons-tante barreira às ameaças despó-ticas. Se mal calibrado, porém, ele pode dar vida ao nacionalismo coletivista, que serve justamente aos interesses dos oportunistas de plantão sedentos por poder. O “orgulho nacional” deve se sus-tentar em conquistas legítimas, não em fantasias tolas. O verdadeiro pa-triota não foge da realidade.Sob a luz da razão, devemos per-guntar: qual o motivo para sentir or-gulho de nossa trajetória enquanto nação? Somos recordistas mundiais em homicídios. Nossas estradas federais são as-sassinas. O transporte público é caótico. A saúde e a educação públicas são vergonhosas. A impunidade e a morosidade são as marcas registradas de nossa Jus-tiça.A corrupção se alastra feito um câncer.A cultura do “jeitinho” tomou conta do país e a ética foi parar no lixo.Nossas instituições republicanas estão ameaçadas. Nossa democra-cia é vítima do descaso e do escan-carado uso da máquina estatal para a compra de votos. O Estado, capturado por um partido, pratica crimes contra o cidadão, como a quebra de sigilo fiscal da Receita. E ainda somos obrigados a trabalhar cinco meses do ano so-

mente para pagar impostos! Regado a crédito facilitado e com o auxílio dos ventos externos favorá-veis, o consumo crescente atua co-mo um poderoso anestésico contra esta dura realidade. O velho “pão & circo” também faz sua parte. Será que devemos celebrar um time de futebol temido mundo afora, enquanto a miséria domina o país? Será que devemos ter orgulho do “nosso” petróleo, quando pagamos um dos combustíveis mais caros do

mundo e vemos a Petrobras ser estuprada pelos donos do poder? A transformação do patriotismo em nacionalismo está em seu auge quando o povo adere ao infantilismo e passa a encarar seu governante como uma figura paterna. Não se trata do respeito por um estadista, mas de uma forma de idolatria ao “pai do povo”, que não pretende governar, mas sim “cuidar” de sua prole ao lado da “mãe do povo”. É a demagogia em máximo grau.

08

Até agora, ele era conhecido como um rei bobo, fraco e comilão. Pesquisas recentes revelam um estadista

ousado e inovador – que criou os alicerces da nação brasileira

Leandro Loyola

A nova história de Dom João VI

Instituto Brasil Imperial

Dom joão VI, rei de Portugal, era um homem baixo, gordo e feio. Tinha feridas na perna. Era religioso e co-milão. Viveu a maior parte de seu reinado num palácio, em Mafra, enquanto sua mulher, a princesa Carlota Joaquina, morava noutro, em Queluz. Como governante, dom João era conhecido por empurrar as decisões com sua barriga avanta-jada. Ele é uma das figuras mais ridicularizadas da História brasileira, popularizado pela alcunha de “dom João Charuto”. Em sua imagem mais difundida, no filme Carlota Joa-quina, o ator Marco Nanini vive um rei mal-ajambrado, trôpego e come-dor compulsivo de coxinhas de fran-go, que fugiu covardemente de Portugal para se encostar no Rio de Janeiro. Por aqui, nada teria feito além de comer em excesso e de ser enganado pela mulher. A atuação de Nanini é divertida, mas as pesquisas mais recentes dos historiadores revelam que seu personagem não corresponde necessariamente à realidade. Das dezenas de livros lan-çados recentemente para come-morar os 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil – comple-tados na semana passada –, duas novas biografias se destacam. Elas mostram um rei completamente dife-rente da imagem estereotipada. Dom João foi um estadista inovador – ainda que por necessidade e sem muita consciência do que fazia – e um monarca que plantou a semente da nação que um dia se tornaria o Brasil. Neste ano, saiu em Portugal D. João VI, biografia escrita pelos histo-riadores portugueses Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa. A outra está sendo finalizada pela historia-dora Lúcia Bastos, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e será lançada no meio do ano. Os dois livros tentam limpar a imagem caricata de dom João para mergulhar em seu reinado. “A figura dele sempre suscitou histórias ane-dóticas, que permitia abordagens popularmente atrat ivas”, d iz Fernando Dores Costa, do Departa-mento de História do Instituto Su-perior de Ciências do Trabalho e da Empresa. “Mas as histórias são difí-

O PIONEIRO DA NAÇÃOImagem de dom João VI. Em seu reinado, o Brasil se abriu aocomércio mundial, ganhou o primeiro teatro e passou a terlivros e imprensa

ceis de comprovar. Elas são parte do jogo político.” O primeiro mito a cair é o famoso caso das coxinhas de fran-go. “Não há nenhum dado que com-prove essa história”, afirma Lúcia Bastos.

PLANO ANTIGOA vinda ao Brasil nãofoi repentina:foi planejada emsegredo por meses.Dom João decidiu partir naúltima hora

As duas biografias são uma opor-tunidade para separar a comédia e conhecer a fundo o legado de dom João, seu governo e seu papel na história do Brasil e na de Portugal. A última vez que dom João foi estudado com afinco foi há cem anos, no clássico D. João VI no Bra-sil, de Oliveira Lima, publicado em 1908. Das novas pesquisas surge um governante que tinha limitações, mas enfrentou uma conjuntura total-mente adversa e sobreviveu a ela, apesar de governar um país pe-queno, empobrecido e decadente como o Portugal do começo do sé-culo XIX. Ainda foi capaz, também, de dar início ao processo de criação de uma nação, o Brasil. “Foi a vinda de dom João que tornou possível a existência do Brasil”, afirma o histo-riador José Murilo de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro.Muitos historiadores apontam a che-gada de dom João como um passo fundamental para a constituição da unidade nacional. Formado por províncias tão diferentes e separa-das, o Brasil é um caso raro na Amé-rica colonizada por Portugal e Espa-nha. Enfrentou crises separatistas, mas acabou por se consolidar como país único, num continente onde o mais comum foi a fragmentação dos impérios em pequenos Estados. Essa foi a maior, mas não a única, contribuição de dom João. Eis as mais representativas em seu legado:• Ao desembarcar no Brasil, Dom João assinou a abertura dos portos, fato que completa 200 anos nesta

O COMEÇORetrato de Napoleão sobrecavalo

09

semana. A abertura dos portos rom-peu o eixo do sistema colonial em vigor. Após 300 anos, o Brasil come-çou a ter relações comerciais com outros países, além de Portugal. Foi esse o embrião de uma idéia que, ao longo da história brasileira, teve flu-xos e refluxos, mas se manteve co-mo central para o desenvolvimento de nossa economia: o livre-comér-cio. • Em 1808, dom João autorizou a impressão de livros, documentos e jornais no Brasil. A instituição da “Impressão Régia” foi um passo de-cisivo para a dispersão de idéias, informação e cultura no país, ainda que a maioria da população fosse analfabeta. Foi também dom João quem fundou o primeiro teatro no Brasil, então Teatro S. João (hoje Teatro João Caetano), no Rio de Janeiro. • Ainda em 1808, dom João fundou o Banco do Brasil, cuja função era ad-ministrar o tesouro real. Foi um mo-mento crucial em nossa história eco-nômica. A partir daí, o Brasil passou a ter um sistema financeiro.Nada disso estava planejado quan-do dom João embarcou para o Bra-sil. Ele decidiu vir para cá no fim de novembro de 1807. Portugal vivia uma fase difícil na geopolítica euro-péia. Havia décadas deixara de ser uma grande potência. O país estava encurralado numa guerra entre Inglaterra e a França de Napoleão Bonaparte. Napoleão conquistava a Europa com seus exércitos e ficava a cada dia mais claro que dom João perderia seu reino. Até 1807, a diplomacia portuguesa procurara manter-se neutra no conflito. Até que não foi mais possível. O exército de Napoleão estava a poucos quilô-metros de Portugal, e os franceses haviam firmado um tratado com a Espanha para dividir o país. “A deci-são de partir para o Brasil não foi propriamente uma decisão. Chegara a um ponto em que não havia outra hipótese”, diz o português Fernando Dores Costa.

A VIDA EM FAMÍLIADom João e DonaCarlota tiveram novefilhos, mas viviamseparados.Ela conspirou para roubaro trono do marido

A saída foi às pressas, mas era planejada em segredo havia meses. Toda a bagagem da Família Real estava pronta. Os l ivros da Bibl ioteca Real haviam sido embalados, mas, na pressa do embarque, foram esquecidos no

porto de Lisboa. Só chegaram ao Brasil em 1810 e formaram a base do acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. A pressa também fez c o m q u e m u i t o s n o b r e s embarcassem num dos 19 navios apenas com a roupa do corpo. Ao saber da decisão de dom João, o povo português assustou-se. Numa monarquia absolutista, o rei era o dono do Estado. “Havia um clima de estupefação em Lisboa”, diz Dores Costa. A viagem foi duríssima. Os navios se separaram na altura da Ilha da Madeira. Dom João demorou 54 dias para chegar ao Brasil. Em alguns navios, a falta de higiene provocou a dispersão de piolhos. M u i t a s d a m a s d a n o b r e z a portuguesa tiveram de raspar os cabelos.A viagem foi tão exaustiva que dom João não seguiu os planos de ir direto ao Rio de Janeiro, a capital de então. Parou na Bahia, onde descansou por um mês. Só chegou ao Rio no dia 7 de março. De acordo com relatos da época e do historiador Oliveira Lima, dom João e a princesa Carlota Joaquina foram recebidos numa festa popular. Uma multidão se formou para ver o então príncipe regente, dom João, passar sobre a areia branca e vermelha jogada nas ruas. Dom João foi morar num palácio, a Quinta da Boa Vista, cedido por um traficante de escravos. Sua mulher, Carlota Joaquina, foi morar em Botafogo com os filhos. A corte que o acompanhava tinha entre 12 mil e 15 mil pessoas e, segundo pesquisas do historiador Kenneth Light, ocupou casas confiscadas da população.

O COMEÇOA chegada de dom João ao Rio. Dom João escapou de perder seureino para Napoleão ao vir com a família para o Brasil

O COMEÇOUm retrato da princesaCarlota Joaquina

As ações de dom João nos anos seguintes garantiram à colônia uma série de instituições e direitos que ela não tinha. Abriram para o mundo

um território oficialmente fechado havia três séculos. Muitos histo-riadores afirmam que as medidas de abertura tomadas por dom João e a presença da Família Real contri-buíram para o Brasil começar a se formar como um país e manter sua integridade territorial após a Independência de Portugal. “Não havia idéia de unidade, não havia Brasil antes de 1808”, diz o histo-riador João Paulo Garrido Pimenta, da Universidade de São Paulo. “A vinda da Família Real tornou pos-sível essa unidade do Brasil.” Pare-ce um detalhe, mas é um ponto fundamental. Desde o descobri-mento, o que chamamos hoje de Brasil não era uma nação, nem mesmo um país. Era um conjunto de províncias muito diferentes umas das outras, com pouca comunicação entre si e com vocações econômicas distintas. A província do Grão-Pará, um território que inclui o que hoje são os Estados do Pará e Maranhão, mantinha contato marítimo direto com Lisboa e praticamente nenhum intercâmbio com o Rio de Janeiro ou Salvador. O mesmo acontecia com Pernambuco. Quase não havia estradas para ligar uma província à outra e o volume de comércio entre elas era pequeno. Tal quadro fazia com que iniciativas de maior autonomia e até de sepa-ração surgissem em várias oca-siões. “Não vejo como a colônia pu-desse manter-se unida sem a pre-sença, em seu território, da fonte de legitimidade representada pela

monarquia”, diz o historiador José Murilo de Carvalho. De acordo com ele, se a Família Real não tivesse se mudado para o Rio e se dom João não tivesse feito tudo o que fez, o Brasil teria se esfacelado no processo de independência. “Te-ríamos, em vez do Brasil, uns cinco países independentes.” Só para comparar, o processo de indepen-dência na parte da América coloni-zada pela Espanha resultou na fragmentação do território em diver-sos países pequenos, no início do

MAIS IMPOSTOSAs provínciastinham de pagarimpostos parasustentar a corte deDom João no Rio de Janeiro

10

século XIX. O Brasil tornou-se inde-pendente em 1822, passou por vá-rias crises separatistas, mas se con-solidou como um país único. A abertura dos portos, assinada logo na chegada a Salvador, no dia 28 de janeiro, é vista como um dado es-sencial. Ela acabou com o mono-pólio que Portugal tinha sobre os produtos do Brasil. A Carta Régia libera no Brasil o comércio com ou-tros países, desde que fossem alia-dos de Portugal. “Ele fez isso porque não tinha alternativa”, diz o histo-riador Evaldo Cabral de Melo, um crítico de dom João e de sua obra. “Ele precisava da abertura para comerciar e cobrar os impostos da alfândega, que eram quase 90% da arrecadação.” Dois anos depois, Dom João assinou uma série de tra-tados comerciais com a Inglaterra. Eles privilegiavam absurdamente os comerciantes ingleses, que paga-vam taxas mais baixas que os de outros países. Além disso, vendiam produtos sem utilidade para os brasi-leiros, como patins de gelo. Mas dom João não tinha saída. A Inglaterra era a maior potência da época e a única aliada de um Portugal fraco. “Os tratados foram importantes porque o Brasil começou a comer-ciar não só com Portugal”, diz a his-toriadora Lúcia Bastos. “Em 1816, são estabelecidos tratados com a França, que ampliam esse comér-cio.”A partir da chegada da Família Real, o Brasil começou a ter um sistema financeiro, com a criação do Banco do Brasil. Era um passo importante para um país onde, no século an-terior, boa parte do comércio era feita na base da troca, por falta de papel-moeda. Além de não ter di-nheiro, o Brasil não tinha livros e jornais. Era proibido imprimir no Brasil. Dom João criou em 1808 a Impressão Régia. Foi liberada a pu-blicação de livros, jornais e docu-mentos, apesar de a censura ser mantida até 1821. Por ordem de dom João foram publicados tratados de filosofia (de autores como Voltaire), de saúde (destaca-se um estudo sobre a saúde pública no Rio de Janeiro) e de economia (o maior exemplo é Observações sobre o Co-mércio Franco no Brazil, de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu). Em 1815, dom João “elevou” o Brasil à categoria de Reino Unido a Por-tugal e Algarves. Na prática, o novo título não tinha efeito prático. Mas, simbolicamente, o país deixava de ser apenas uma colônia para ser uma parte – a maior – do reino de Portugal.Por que dom João fez tudo isso? Não foi por ser apaixonado pelo Bra-sil, ainda que ele gostasse de viver aqui. Foi por uma questão de sobre-

O RESULTADOA ilustração mostra carregadores levando uma moça na Rua SãoSebastião, no Rio de Janeiro. No período joanino, o Brasil se abriuao mundo no comércio e se tornou independente

OS VÁRIOS BRASISO Brasil não existiacomo país em 1808,era um conjunto de províncias com poucaligação.Não havia idéia de unidade

vivência. “Dom João estava refor-mando um território fundamental pa-ra o bom funcionamento de seu im-pério”, afirma a historiadora Andréa Slemian, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo. “Desde o século ante-rior, havia o entendimento de que as colônias não deviam ser dominadas

pela metrópole, mas sim funcionar em harmonia e sincronia com ela.” O projeto ousado de transferir a corte portuguesa para o Brasil fora formu-lado na primeira metade do século XVIII por dom Luís da Cunha, um dos maiores diplomatas portugue-ses. No reinado de dom João VI, a idéia ressurgiu com dom Rodrigo de Souza Coutinho, um de seus mi-nistros mais influentes. Oficialmen-te, a mudança era uma tentativa de reformular o Império. Como Portugal era uma potência de segunda classe na Europa, poderia se tornar uma grande potência a partir do Brasil, talvez com a conquista de territórios vizinhos da América espanhola. “Na verdade, tudo era um grande jogo de cena para esconder a melancolia, a falta de vergonha com que eles tinham fugido da Europa”, diz o his-toriador Cabral de Melo. A instalação da corte transformou o Rio numa cidade portuguesa dentro do Brasil. Isso fez com que as outras províncias fossem chamadas a sus-tentar esse enclave português em solo brasileiro. Era comum o tesouro real fazer saques antecipados das receitas de impostos pagos pelas províncias para bancar gastos da corte. “As outras províncias tiveram de sustentar o Rio”, afirma Cabral de Melo. O Recife, capital de Pernam-buco, não tinha iluminação pública, mas seus habitantes pagavam um imposto para custear a iluminação do Rio. Na volta para Portugal, assim como havia feito quando deixou Portugal, em 1821, dom João levou todo o dinheiro do Banco do Brasil e deixou o país quebrado. A principal conseqüência disso foi a dificuldade de seu filho, dom Pedro I, de ad-ministrar o país sem recursos. Me-ses depois, ele acabaria procla-mando nossa independência.As novas biografias também ajudam a entender como a atribulada vida pessoal de dom João influenciou seu governo. “Ele foi um homem que teve a desgraça de, não tendo as ca-

racterísticas desejadas para gover-nar, ter se confrontado com uma das conjunturas mais complicadas que já existiram na história portuguesa”, afirma o historiador português Fer-nando Dores Costa. Dom João não era um grande líder. Tornou-se rei por destino. Herdou o trono porque seu irmão mais velho, dom Miguel, morreu de varíola. Dom João assu-miu como príncipe regente em 1792 – sua mãe, a rainha Maria I, era doente mental – quando a situação era totalmente desfavorável. O sistema de monarquia absoluta que vigorava em Portugal estava em declínio na Europa desde a Revolu-ção Francesa, em 1789. Enquanto toda a Europa evoluía, Portugal era um país atrasado, que não tinha pas-sado por nenhuma das três grandes revoluções modernas: religiosa, científica e política. Além da doença da mãe, seu casa-mento com a princesa espanhola Carlota Joaquina era um inferno. “As relações entre eles eram péssimas desde os primeiros anos do século XIX”, afirma Dores Costa. Tiveram nove filhos e trocaram cartas bastan-te cordiais. No lado político, dona Carlota participou de pelo menos duas conspirações para afastar o marido do trono. Não teve sucesso em nenhuma delas. Ao contrário do que se pensa, não há sinais públicos de que Carlota tenha traído dom João – apesar de isso ser quase certo, pois os casamentos reais da-quele tempo eram simples contratos diplomáticos. A historiadora Lúcia Bastos encontrou vestígios capazes de sugerir que Dom João teria tido uma filha ilegítima com uma das da-

mas de companhia de sua mulher. De acordo com ela, a imagem cari-cata de um rei bobalhão, glutão e enganado pela mulher deve ser con-trastada com a do estadista que teve de vencer adversários mais fortes para plantar as sementes do que um dia viria a ser uma nova nação.

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Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucesso

Instituto Brasil Imperial

O Hino da Independência e

as mãos que o compuseramDa redação do IBI

Se a arte imita a vida, podemos notar

que a história do Hino da Indepen-

dência foi tão marcada de improviso

como a ocasião em que o príncipe

regente oficializou o fim dos vínculos

que ligavam Brasil a Portugal.

No começo do século XIX, o artista,

político e livreiro Evaristo da Veiga

escreveu os versos de um poema

que intitulou como “Hino Consti-

tucional Brasiliense”. Em pouco tem-

po, os versos ganharam destaque

na corte e foram musicados pelo

maestro Marcos Antônio da Fonseca

Portugal (1760-1830).

Aluno do maestro, D. Pedro I já

manifestava um grande entusiasmo

pelo ramo da música e, após a pro-

clamação da independência, decidiu

compor uma nova melodia para a

letra musicada por Marcos Antônio.

Por meio dessa modificação,

tínhamos a oficialização do Hino da

Independência. O feito do governan-

te acabou ganhando tanto destaque

que, durante alguns anos, D. Pedro I

foi dado como autor exclusivo da

letra e da música do hino.

Abdicando do governo imperial em

1831, observamos que o “Hino da

Independência” acabou perdendo

prestígio na condição de símbolo na-

cional. Afinal de contas, vale lembrar

que o governo de D. Pedro I havia

sido marcado por diversos proble-

mas que diminuíram o seu prestígio

como imperador.

De fato, o “Hino da Independência”

ficou mais de um século parado no

tempo, não sendo executado em

solenidades oficiais ou qualquer ou-

tro tipo de acontecimento oficial.

No ano de 1922, data que marcava a

comemoração do

centenário da in-

dependência, o

hino foi novamen-

te executado com

a melodia criada

pelo maestro Mar-

cos Antônio.

Somente na déca-

da de 1930, gra-

ças à ação do mi-

nistro Gustavo

Capanema, que o

Hino da Indepen-

dência foi final-

mente regulamen-

tado em sua forma

e autoria.

Contando com a

ajuda do maestro

Heitor Villa-Lobos,

a melodia com-

posta por D. Pedro

I foi dada como a

única a ser utili-

zada na execução

do referido hino.

Nesta pintura, D. Pedro I estaria executando o Hino à Independência do Brasil

Já podeis, da Pátria filhos,

Ver contente a mãe gentil;

Já raiou a liberdade

No horizonte do Brasil.

Brava gente brasileira!

Longe vá... temor servil:

Ou ficar a pátria livre

Ou morrer pelo Brasil.

Os grilhões que nos forjava

Da perfídia astuto ardil...

Houve mão mais poderosa:

Zombou deles o Brasil.

Brava gente brasileira!

Longe vá... temor servil:

Ou ficar a pátria livre

Ou morrer pelo Brasil.

Não temais ímpias falanges,

Que apresentam face hostil;

Vossos peitos, vossos braços

São muralhas do Brasil.

Brava gente brasileira!

Longe vá... temor servil:

Ou ficar a pátria livre

Ou morrer pelo Brasil.

Parabéns, ó brasileiro,

Já, com garbo varonil,

Do universo entre as nações

Resplandece a do Brasil.

Brava gente brasileira!

Longe vá... temor servil:

Hino da Independência

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Um privilégio que a história permitiu a poucos

Da redação do IBI

Testemunhas de Pindamonhangaba

estiveram presentes na proclamação

Instituto Brasil Imperial

Quando se vê a famosa tela de Pedro Américo de Figueiredo e Mello exibindo D. Pedro I em seu ato de proclamação da independência brasileira de Portugal, muitas vezes somos levados a indagar quem se-riam aqueles coadjuvantes em torno do imperador num momento único da história nacional. Talvez seja possível em algum dia até iden-tificar-se todos ou a maioria dos pre-sentes. Mas, desde já, alguns deles são conhecidos. Uma dezena deles era nascida em Pindamonhangaba, no Estado de São Paulo.Naquele grupo de cavalarianos es-tavam os 10, inclusive o comandante da guarda, coronel Manuel Mar-condes de Oliveira Mello. Foi este quem registrou o acontecimento, que hoje se encontra em várias obras sobre nossa história.Segundo o ilustre pindamonhanga-bense o fato resumidamente se deu assim:“Ao romper do dia a guarda já aguar-dava ordens em frente ao palacete em que Sua Alteza havia se hos-pedado.Saímos cedo. Montava D. Pedro uma possante besta gateada, não em ardoroso cavalo de raça mineira, como mais tarde noticiaram os jor-nais. S.A. ia satisfeito e expansivo, mantendo animada conversação com o padre Belchior Pinheiro que ia a seu lado.Havíamos subido a serra, quando D. Pedro se queixou de cólicas intes-tinais e precisou apear-se para ali-viar. Resolvemos seguir e esperá-lo na entrada de São Paulo, se antes não fôssemos por ele alcançados.Chegando ao Ipiranga, fiz parar a guarda junto a uma casinhola à beira da estrada, à margem daquele ria-cho. Para prevenir qualquer surpre-sa, mandei o guarda Miguel de Godoy colocar-se de atalaia em um lugar de onde percebesse a apro-ximação do príncipe, para avisar com tempo de nos pormos em forma e escoltá-lo à entrada da cidade.Pouco tempo depois de havermos apeado para descansar, vimos, diri-gindo-se para o nosso lado, dois via-

jantes. Eram Paulo Bregaro, oficial da Secretaria do Supremo Tribunal Militar, e o major Antônio Ramos Cordeiro, que, a mandado de José Bonifácio, vinham do Rio à procura de d. Pedro para entregar-lhe papéis importantes que o governo lhe en-viava.Ficamos curiosos por saber do que se tratava. Mas os emissários só nos disseram que ao Rio havia chegado um navio trazendo despachos da Corte de Lisboa, dos quais entendeu o ministro que devia imediatamente dar conta a D. Pedro.Os viajantes continuaram sua mar-cha ao encontro de S.A., deixando-nos ansiosos, procurando adivinhar o que seria. Embora naquele tempo se falasse muito em desembarque de forças portuguesas nas costas do Brasil, ninguém se mostrou assus-tado.Minutos depois, vinha apressada-mente em nossa direção o guarda que havíamos colocado de vigia. Compreendi o que aquilo significava e mandei formar a guarda para recebê-lo. Mas tão apressado vinha o príncipe, que chegou antes que alguns soldados tivessem tempo de alcançar as selas. Havia de ser 4 horas da tarde, mais ou menos. Vinha o príncipe na frente. Saímos ao seu encontro e, diante da guarda, que descrevia um semicírculo, ele estacou seu animal e de espada desembainhada, bradou:– Amigos! Estão para sempre que-brados os laços que nos ligavam ao governo português! E nos topes que nos indicam como súditos daquela nação, convido-vos a fazerdes as-sim. E, arrancando ao chapéu que ali trazia a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisso acompanhado por toda a guarda, que, tirando dos braços o mesmo distintivo, lhe deu igual destino.– E viva o Brasil livre e indepen-dente!Ao que, desembainhando também nossas espadas, respondemos:– Viva o Brasil livre e independente!– Viva d. Pedro, seu defensor perpé-tuo!E bradou ainda o príncipe:– Será nossa divisa de ora em diante

– Independência ou Morte!Em seguida d. Pedro colocou nova-mente a espada na bainha, gesto imitado por toda a sua guarda, e seguimos em direção a São Paulo. A galope, lá foi D. Pedro experimentar as fortes emoções que sua alma de moço devia estar sentido, vibradas

pela incomparável vitória que aca-bava de alcançar, vencendo precon-ceitos e interesses de família, afron-tando a animosidade de um povo de que estava dependente o seu futuro, só para elevar a nossa pátria à po-sição de país livre e independente. Foi um herói aquele D. Pedro!”

Em 1922, para comemorar o 1º Centenário da Independência, foiconstruído na praça Monsenhor Marcondes um monumento emmemória dos pindamonhangabenses da Guarda de Honra.A iniciativa foi de Athayde Marcondes e do presidente da Câmara naépoca, dr. Raul Moreira Marcondes (neto do guarda José Romeirode Oliveira)

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Coronel Marcondes, comandante da Guarda de D. Pedro. Algunscronistas atribuíram, erroneamente, ao coronel Antônio Pereira GamaLobo o comando do efetivo que esteve com D. Pedro na proclamaçãoda Independência.

A Guarda de Honra

Nesta oportunidade, faz-se oportuno

esclarecer alguns fatos referentes à

Guarda de Honra antes da

proclamação e aquela criada depois

do 7 de setembro; ou seja, a Guarda

de Honra de D. Pedro I enquanto

príncipe regente e a Guarda de

Honra de D. Pedro depois de

coroado imperador.

A primeira existia desde o início de

1822. Tratava-se de um corpo de

patriotas que voluntariamente havia

se formado com o intuito de proteger

D. Pedro, principalmente do

inconformado português, tenente-

coronel Jorge de Avilez Zuarte de

Souza França, um dos descontentes

com a resolução de D. Pedro de

resistir às Cortes, permanecendo no

Brasil no exercício dos poderes que

seu pai lhe havia conferido.

Essa guarda fora formada por

voluntários, com autorização de D.

Pedro. “Existia desde abril de 1822,

conforme se vê no itinerário descrito

pelo desembargador Estevam

Ribei ro de Rezende que o

acompanhou com secretário de

Estado e ministro em sua viagem

para Minas naquele mês e ano”.

“Compunha-se de moços das mais

distintas famílias, e em condições de

poderem manter-se em contato com

o príncipe. Era uma guarda nobre,

tinham todos os seus respectivos

pagens e as despesas que faziam

em viagens ou na Corte corriam por

conta deles mesmos” (João

Romeiro).

Foi a partir desse efetivo que em 1º

de dezembro de 1822, d. Pedro or-

ganizou, a pedido de seus próprios

integrantes, um corpo regular com a

denominação de Guarda de Honra

Os pindamonhangabenses

da Guarda de HonraEm “Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos”, Athayde

Marcondes registra os seguintes nomes de pindamonhangabenses,

membros da Guarda de Honra de Pedro I, que o acompanharam na viagem

que culminou com a proclamação da Independência:

1. Coronel Manuel Marcondes de Oliveira Mello - (segundo coman-

dante interino);

2. Capitão João Monteiro do Amaral;

3. Tenente-mor Francisco Bueno Garcia Leme;

4. Sargento-mor Domingos Marcondes de Andrade;

5. Alferes Manuel Ribeiro do Amaral;

6. Alferes Adriano Gomes Vieira de Almeida;

7. Antônio Marcondes Homem de Mello;

8. Capitão Benedito Corrêa da Silva Salgado

9. Miguel de Godoy Moreira e Costa;

10. Capitão Manuel de Godoy Moreira.

Ainda de Pindamonhangaba tivemos mais quatro oficiais pertencentes à

guarda que por motivos ponderáveis não puderam acompanhar o príncipe

naquele evento, a saber:

11. Capitão José Romeiro de Oliveira;

12. Capitão Antônio Salgado Silva (que se tornaria Visconde da

Palmeira)

13. Alferes Rodrigo de O. Bueno de Godoy;

14. Capitão Cândido Marcondes Ribas;

Em “Pindamonhangaba no Século XIX – Cafezais, Servidão e Nobreza”

(1994), de Fábio Schmidt Goffi, consta que “todos os nomes acima

referidos são confirmados pelo historiador e jurista Augusto César Salgado,

que acrescenta ainda, o nome de Manuel Marcondes do Amaral, também

membro da guarda, porém ausente da epopéia do Ipiranga.” Há outras

situações indicadas por outros historiadores relatando a participação de

naturais dessa cidade no panorama monárquico brasileiro.

de Minha Imperial Pessoa. Daí, tal-

vez, a razão de aparecerem, tam-

bém de Pindamonhangaba, outros

componentes da Guarda de D. Pe-

dro, pois seu efetivo aumentou de-

pois da Independência, e ela se tor-

nou uma organização permanente e

regular, como corpo do Exército.

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Primeira reunião do Instituto

Brasil Imperial é um sucesso

Parque, com área verde que já abrigou Família Real,

completa 100 anos mês que vem (outubro 2010).

Prefeitura vai recuperar jardins até megafesta

Residência da Família Real entre os

anos de 1808 e 1889 e uma das

áreas de lazer mais frequentadas

nos fins de semana, a Quinta da Boa

Vista, em São Cristóvão, vai ganhar

tratamento especial para comemo-

rar seu primeiro centenário como

parque público em outubro.

Sem receber o devido cuidado há

alguns anos e com valor histórico

quase no esquecimento, o parque

será presenteado com pacote de

reformas. Bancos, sistema de ilumi-

nação e pavimento, que estão

destruídos, serão trocados por

novos.

As ações estão previstas só ter-

minam na primeira semana do mês

que vem. Uma programação es-

pecial, que terá como ponto alto o

Dia das Crianças, vai encerrar a

semana de comemoração.

“Vamos fazer uma ação concen-

trada no local, que é um dos princi-

pais pontos de visitação da cidade.

Tudo será revisto. Do piso à de-

sobstrução das vias pluviais. Uma

nova Quinta será entregue para a

população”, disse o secretário

municipal de Conservação, Carlos

Roberto Osório.

A história que se perde em meio a

pichações, à sujeira, a estruturas

corroídas pelo ferrugem, ao mato

alto e ao improviso que descarac-

Por Christina Nascimento

Quinta da Boa Vista, residência da

família imperial, faz 100 anos em

outubro, em completo abandono

Turismo

14

www.brasilimperial.org.br

Transcrito de O DIA, RJ

terizam o estilo imperial do parque

foi o sinal vermelho para que a pre-

feitura criasse plano quase emer-

gencial para entregar o espaço de

lazer com novo visual em outubro.

“É quando se comemoram os 100

anos. Tem também um outro fator

importante. Sabemos que a Quinta

vai ficar movimentada durante a

Copa de 2014 e as Olimpíadas,

porque fica perto do Maracanã,

onde vão acontecer partidas

importantes”, disse o secretário.

As mudanças, segundo Osório,

estão sendo assessoradas pelo

Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (Iphan). O

cuidado é para que se preserve a

estrutura original das peças

reformadas, como no caso das

papeleiras. Também vai entrar no

pacote de recuperação o jardim do

Museu Nacional, que fica na Quinta

da Boa Vista. Apesar de o museu

não ser de competência municipal,

a prefeitura vai custear a reforma

para recuperar o paisagismo.

O valor do investimento ainda não

foi calculado, mas é um dos

presentes guardados para o

aniversário. “Para nós, essa

revitalização que a prefeitura está

planejando no parque é muito

importante. Melhorando o entorno,

aumenta o conforto ao visitante”,

Museu também reformado

disse a diretora do Museu Nacional,

Claudia Rodrigues Ferreira de

Carvalho.

Mais antiga instituição científica do

Brasil, o Museu Nacional, localizado

na Quinta da Boa Vista, também

sofre com a ação do tempo. A

situação mais crítica é a do jardim,

que é habitual alvo de vandalismo. A

expectativa da diretoria da unidade é

arrumar um patrocinador para ajudar

na reforma interna do prédio.

“Precisamos fazer a manutenção

das salas dos embaixadores e do

Trono, que ainda têm decoração dos

anos de império”, afirmou a diretora

do Museu Nacional, Claudia

Rodrigues Ferreira de Carvalho.

Enquanto a ajuda não vem, a

instituição vai acumulando projetos

para o futuro. Um deles é aumentar a

Museu Nacional à espera de

patrocínio

interação com os visitantes.

“Pretendemos usar a 'realidade

aumentada' e outros dispositivos de

tecnologia”.

Separados por uma linha férrea, o

Estádio do Maracanã e a Quinta da

Boa Vista devem ser integrados num

único ambiente, uma 'praçarela'

para se transformar num grande

área de lazer. O projeto da prefeitura

ainda não saiu do papel, mas é dado

como certo já para a Copa de 2014.

“Serão novas passarelas e pontes

unindo esses dois pontos para se

criar um grande parque público.

Com isso, faremos uma ação maior,

que terá a ampliação e reforma das

estações de trem do Maracanã e da

Quinta, para suportar a demanda de

turistas que vão visitar esses locais”,

disse o secretário municipal de Con-

servação, Carlos Roberto Osório.

Ligação entre Maracanã e parque

Jardins do Museu Nacional terão o paisagismo recuperado. Projeto éacompanhado pelo Iphan. Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia