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INTRODUÇÃO É o presente texto um estudo por meio de dissertação a respeito da pessoa jurídica, definindo sua natureza, conceito e espécies do gênero, conforme disposição no Código Civil de 2002, analisando de forma direta e simples, através de exposição de posicionamentos entre três doutrinadores que discorrem a respeito do mesmo tema. Trata-se de assunto complexo, pois a visão de vários doutrinadores são dispares em seus entendimentos. Porém o texto não irá de nenhuma forma criticar, avaliar ou até mesmo validar uma ou outra visão doutrinária, mas tão somente buscar um ponto de consenso e entendimento entre três autores. No final, a conclusão irá esclarecer o tema de forma resumida, com base na posição dos autores mencionados. NATUREZA DA PESSOA JURÍDICA A pessoa jurídica é um tipo de sujeito abordado pela da ciência do Direito como figura passível de direitos e obrigações como qualquer outro sujeito, embora sua autonomia seja limitada em razão de uma característica: sua existência somente é permitida pelos parâmetros da lei. Segundo o Prof. Silvio Rodrigues, em seu livro Direito Civil – Parte Geral, “A existência desses seres provocou, naturalmente, certa perplexidade nos juristas, ansiosos de lhes descobrirem a natureza jurídica”, o que causou a formulação de dezenas de teorias quanto a natureza da pessoa jurídica. O autor não toma uma posição clara a respeito, se furtando apenas a criticar as teorias existentes, discorrendo sobre as teorias da ficção legal (Savigny), da pessoa jurídica como realidade objetiva 1

DAS PESSOAS JURIDICAS

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INTRODUÇÃO

É o presente texto um estudo por meio de dissertação a respeito da pessoa jurídica,

definindo sua natureza, conceito e espécies do gênero, conforme disposição no Código

Civil de 2002, analisando de forma direta e simples, através de exposição de

posicionamentos entre três doutrinadores que discorrem a respeito do mesmo tema.

Trata-se de assunto complexo, pois a visão de vários doutrinadores são dispares em seus

entendimentos. Porém o texto não irá de nenhuma forma criticar, avaliar ou até mesmo

validar uma ou outra visão doutrinária, mas tão somente buscar um ponto de consenso e

entendimento entre três autores.

No final, a conclusão irá esclarecer o tema de forma resumida, com base na posição dos

autores mencionados.

NATUREZA DA PESSOA JURÍDICA

A pessoa jurídica é um tipo de sujeito abordado pela da ciência do Direito como figura

passível de direitos e obrigações como qualquer outro sujeito, embora sua autonomia

seja limitada em razão de uma característica: sua existência somente é permitida pelos

parâmetros da lei.

Segundo o Prof. Silvio Rodrigues, em seu livro Direito Civil – Parte Geral, “A

existência desses seres provocou, naturalmente, certa perplexidade nos juristas, ansiosos

de lhes descobrirem a natureza jurídica”, o que causou a formulação de dezenas de

teorias quanto a natureza da pessoa jurídica. O autor não toma uma posição clara a

respeito, se furtando apenas a criticar as teorias existentes, discorrendo sobre as teorias

da ficção legal (Savigny), da pessoa jurídica como realidade objetiva (Gierke e

Zitelmann), da pessoa jurídica como realidade técnica (Planiol e Ripert) e a teoria

institucionalista (Hauriou), entendendo-se mais como um posicionamento implícito, não

expresso, quanto a natureza da pessoa jurídica, sugerindo que Planiol e Ripert possuem

a teoria mais aceita (teoria da pessoa jurídica como realidade técnica), desconsiderando

a discussão a respeito da natureza da pessoa jurídica, afirmando que a lei ao

regulamentar a sua existência, assim o define de forma objetiva, não cabendo qualquer

racionalização a respeito do tema¹. Ou seja, para Silvio Rodrigues, a pessoa jurídica tem

a natureza de alcançar um objetivo de acordo com o interesse humano que a criou. Já o

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Prof. Cezar Fiúza pensa de forma contrária, adotando a teoria da pessoa jurídica como

realidade objetiva, o qual entende que a pessoa jurídica é detentora de realidade,

realidade ideal, a realidade das instituições jurídicas e que podem ser comparadas no

mesmo nível que as pessoas naturais, possuindo ambos subjetivismo e sendo os mesmos

sujeitos de direitos e deveres². Por fim, o Prof. Fernando dos Santos Esteves Fraga, em

seu livro Novo Código Civil Comentado, segue a teoria da despersonalização da pessoa

jurídica, conhecida como disregard of the legal entity ou lifting the corporate veil³.

CONCEITO DE PESSOA JURÍDICA

Muita discussão tem ocorrido sobre o verdadeiro conceito de pessoa jurídica. Para

alguns, as pessoas jurídicas são seres de existência anterior e independente da ordem

jurídica, se apresentando ao direito como realidades incontestáveis (teoria orgânica da

pessoa jurídica). Para outros, as pessoas jurídicas são criações do direito e, assim, fora

da previsão legal correspondente, não se as encontram em lugar algum (teoria da ficção

da pessoa jurídica). Hoje, para a maioria dos teóricos, a natureza das pessoas jurídicas é

a de uma ideia, cujo sentido é partilhado pelos membros de uma comunidade jurídica,

que a utilizam na composição de seus interesses. Em sendo assim, ela não preexiste ao

direito.

Pelo conceito do Prof. Cezar Fiuza, pessoas jurídicas “São entidades criadas para a

realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como sujeitos de direitos e

deveres. São conhecidas como pessoas morais, no Direito Francês, e como pessoas

coletivas, no Direito Português”², o que difere do conceito dado pelo Prof. Silvio

Rodrigues, que entende que “Pessoas jurídicas, portanto, são entidades a que a lei

empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com personalidade

diversa da dos indivíduos que os compõem, capazes de serem sujeitos de direitos e

obrigações na ordem civil”¹. O Prof. Fernando dos Santos Esteves Fraga dá uma

definição mais simples sobre o conceito ao dizer que “Pode-se dizer que se entende por

pessoa jurídica a unidade de pessoas naturais ou de patrimônio, que vise à consecução

de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direito e obrigações”³.

Desta forma, a autora entende que a pessoa jurídica é uma criação técnica.

A pessoa jurídica por ser um sujeito de direito personalizado, igual as pessoas naturais,

está em desacordo com os sujeitos de direito despersonalizados, como o nascituro, a

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massa falida, o condomínio horizontal, etc. Desse modo, a pessoa jurídica pode praticar

todos os atos jurídicos, exceto o expressamente proibidos nos termos da lei. Feitas tais

considerações, cabe conceituar pessoa jurídica como um sujeito de direitos e deveres

porém de natureza imaterial e artificial.

São requisitos para a existência da pessoa jurídica a organização de pessoas civilmente

capazes, patrimônio, objeto lícito e forma prescrita em lei.

DAS ESPÉCIES DE PESSOA JÚRIDICA

A pessoa jurídica se divide em duas espécies a saber: a pessoa jurídica de direito

privado e a pessoa jurídica de direito público.

A espécie de pessoa jurídica de direito privado está compreendida nas seguintes

categorias: corporações e fundações.

As corporações são um conjunto de pessoas que se reúnem com a finalidade de

alcançarem o mesmos objetivos estabelecidos por seus integrantes. Dentre as

corporações que se destacam, temos as associações (art. 59 a 61, do CC/2002) que

possuem finalidade meramente representativa ou de fomento de atividades relacionadas

ao lazer, educação, esportes ou cultural, vedado a elas o caráter comercial; as

sociedades, sejam simples ou empresariais; as entidades religiosas e; os partidos

politicos.

O traço característico mais atual com base no direito comparado a nível internacional, é

o fato de as pessoas jurídicas representarem uma união de esforços para a realização de

fins comuns, como as cinco categorias apontadas acima, porém se esses fins são

econômicos-financeiros, a pessoa jurídica é necessariamente uma sociedade, não

entrando nesta seara, as associações, as fundações, os partidos políticos e as entidades

religiosas.

Silvio Rodrigues faz a divisão das pessoas jurídicas com enfase nos seguintes

agrupamentos: a) sociedades que tem como elemento subjacente o homem, através da

composição de reunião de pessoas e; b) sociedades que se reúnem em torno de um

patrimonio destinado a um fim não-ecônomico-financeiro, como as fundações¹. Tal

divisão também é observado pelo Prof. Fernando dos Santos Esteves Fraga, ao colocar

as pessoas jurídicas de direito privado nas classificações de universitas personarum

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(associações, sociedades, partidos políticos) e de universitas bonorum (entidades

religiosas e fundações)³, o que não ocorre na definição do Prof. Cezar Fiusa, que divide

as pessoas jurídicas entre as colegiadas (grupos de pessoas que a lei confere

personalidade) e as não colegiadas (não são grupos de pessoas mas uma reunião de

acervos patrimoniais aos quais a lei atribui a elas personalidade)². No entanto, essa

diferenciação não foge a mesma definição dos dois primeiros autores, havendo

semelhança entre a forma como são classificadas as pessoas jurídicas, somente

mudando a designação de como entendem essa divisão.

Já as pessoas jurídicas de direito público compreendem duas categorias: direito público

interno e direito público externo.

Começando pelas pessoas jurídicas de direito público externo, são aqueles entes que

representam uma nação soberana, no caso, um Estado estrangeiro, ou então organismos

internacionais que representam uma multiplicidade de nações estrangeiras (ONU, OEA,

UNIÃO EUROPÉIA, MERCOSUL, OPEP, FMI, etc).

Analisando as pessoas jurídicas de direito público interno, temos neste caso a

administração pública direta e indireta. A administração pública direta estaria neste caso

dividido em três entes representativos do Poder Público: o Executivo, o Legislativo e o

Judiciario, sendo que os dois primeiros são representados em todos os níveis: União,

Estados, Munícipios e Distrito Federal, enquanto que o Judiciario somente está presente

no nivel da União, Estados e do Distrito Federal. Já a respeito da administração pública

indireta, temos as autarquias, as agências reguladoras, as agências fiscalizadoras, as

empresas públicas, as sociedades de economia mista e as fundações públicas.

CARACTERISTICAS DA PESSOA JURÍDICA

Definida como pressupostos de existência da pessoa jurídica, podemos citar os seguintes

itens que são considerados para a existência da pessoa jurídica. Começando com:

a) capacidade volitiva ou composta de pessoas civilmente capazes;

b) objeto licito, ou seja, patrimônio formado por reunião de bens adquiridos de forma

legitima e;

c) forma prescrita em lei.

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Pelo Prof. Silvio Rodrigues, tais pressupostos podem ser entendidos como requisitos, no

qual se aplicam o requisito material (representado, quer pela associação de pessoas

(preexistente), quer por um patrimônio destinado a um fim) e o requisito jurídico

(constante da atribuição de personalidade, que decorre de uma determinção da lei, e cuja

eficácia advém da inscrição dos estatutos no registro peculiar) o qual define da seguinte

forma: a) vontade humana criadora: mais conhecida como affectio societatis, que é a

responsável primeiramente pelo surgimento da pessoa jurídica, devendo haver uma

reunião de vontades e propósitos entre várias pessoas para a formação da pessoa jurídica

em si e; b) forma prescrita em lei: uma sociedade somente existe quando há previsão

legal, ou seja, a norma é quem define como se dará a formação da pessoa jurídica, bem

como a sua identidade¹. Embora essa seja a posição do autor, a mesma não é observada

de forma explicita pelo Prof. Fernando dos Santos Esteves Fraga, que ao citar os

pressupostos, o faz de forma dissertativa em seu texto sobre a Pessoa Jurídica, não

indicando neste caso qual o posicionamento que segue³. Mas tal posição não é

compartilhada pelo Prof. Cezar Fiusa, que define como caracteristicas da pessoa

jurídica: a) personalidade própria, em que a personalidade da pessoa jurídica não se

confunde com a de seus membros-sócios; b) patrimonio próprio e individualizado,

distinto da de seus membros; c) vida própria, ou seja, a pessoa jurídica existe sem

depender da permanencia de seus criadores; d) capacidade limitada para exercer todos

os atos da vida civil, exceto aqueles que são próprios de pessoa natural e; e) podem ser

sujeitos passivo ou ativo de delitos².

DAS ASSOCIAÇÕES

Uma associação é uma pessoa jurídica de direito privado que é constituida pela união de

pessoas que reúnem seus esforços para fins não ecônomicos. As associações podem ser

de vários tipos: a) culturais; b) desportivas; c) religiosas; d) altruísticas; e) beneficientes;

f) educativas; g) científicas; etc.

A principal caracteristica das associações é a de que a sua existência não visa o objetivo

lucro, mas nada sugere que estas estejam impedidas de possuirem uma receita financeira

para a sua manutenção, sendo essencial, em muitos casos que estas gerem tal receita

com fins de manutenção das próprias instituições, o que se não ocorrese, as mesmas se

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tornariam inviáveis e deixariam de existir e de prestarem o serviço-objeto ao qual foram

criadas.

Uma das determinações que a lei exige para que a associação seja considerada regular

sem que sejam seus atos considerados nulos é a de possuirem uma indicação de sua

denominação, seus fins, sua sede, requisitos para admissão e exclussão de associados,

direitos e deveres dos membros-sócios, a indicação das fontes de recursos para a sua

manutenção, constituição e modo de funcionamento dos órgãos deliberativos, formas de

alteração do estatuto da entidade bem como sua dissolução, a forma de gestão

administrativa e a aprovação de contas.

O art. 57 do Código Civil de 2002, em seu antigo texto, dispunha da seguinte forma: “A

exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, obedecido o disposto no

estatuto; sendo este omisso, poderá também ocorrer se for reconhecida a existência de

motivos graves, em deliberação fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes à

assembléia geral especialmente convocada para esse fim”. Tal disposição foi alterada

pela Lei n.º 11.127/2005, que entendeu que o texto anterior era muito genérico,

tornando possível a exclusão de um associado sem que seja observado o princípio do

exercício da ampla defesa e do contraditório previsto no art. 5º, inciso LV, da

Constituição Federal/88, ocorrendo neste caso flagrante ilegalidade quanto ao

procedimento adotados pelas associações ao não permitirem a apresentação de defesa

por parte de associado que esteja sendo excluído do corpo social da entidade por

motivos pessoais decorrentes de rixas entre associados ou opiniões contrárias a gestão

administrativa do órgão colegiado da associação. Desta forma, o texto alterado dispõe

da seguinte forma: “A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim

reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos

previstos no estatuto”.

Desta forma, o princípio da ampla defesa manteve-se observado, sendo desnecessária a

previsão estatutária, cabendo a lei civil neste caso, permitir uma maior amplitude de

proteção ao associado e a de garantir uma maior independência da vontade da entidade

frente aos sócios que compõe o órgão gestor da associação.

DAS FUNDAÇÕES

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Fundação é o acervo de bens que recebe personalidade para a realização de fins

determinados, de interesse público e de modo permanente e estável, sendo

expressamente proibido o escopo do lucro, devendo sua destinação ser para fins

religiosos, educativos, científicos, promoção do meio ambiente, assistenciais, morais ou

culturais. Não há qualquer destaque por parte da doutrina que entenda de forma

contrária, tanto por parte do Prof. Silvio Rodrigues ou o Prof. Cézar Fiuza ou o Prof.

Fernando dos Santos Esteves Fraga, sobre qual a função das fundações, havendo um

consenso entre os três autores.

Existem duas formas de fundações, a saber: as particulares e as públicas, sendo a

primeira objeto de estudo no Direito Civil, enquanto a última é objeto de estudo do

Direito Administrativo.

Com previsão expressa no art. 62 do Código Civil, as fundações são encaradas como

entidades de interesse social, ou seja, sem fins lucrativos, que dentre varias maneiras

beneficentes, apresentam em suas finalidades objetivos de natureza assistencial. Elas

também são reguladas pela Lei nº 9.790/99 que trata da qualificação de pessoas

jurídicas de direito privado (associações e fundações), sem fins lucrativos, como

OSCIPS (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Dentre essas entidades

se destacam as fundações, que com o advento do Código Civil Brasileiro (1916), houve

sua consolidação no ordenamento jurídico, como a forma utilizada por pessoas com

patrimônio considerável, que de maneira altruísta separam parte desse patrimônio para

finalidade social de modo a ajudar seus semelhantes.

Para que uma fundação exista, são necessários os seguintes requisitos:

a) afetação de bens livres por meio de dotação patrimonial (art. 62, caput): ou seja, parte

do patrimônio que pertença a quem institui a fundação, deverá ser destacada para

integrar a fundação, que será feita através de escritura pública ou testamento,

especificando o fim a que se destina e o modo da administração da fundação, de acordo

com o desejo de seu instituidor;

b) estatuto da fundação: o estatuto da fundação pode ser feito de duas formas – de forma

direta, através da vontade do instituidor; de forma indireta ou fiduciária, por meio de

indicação de pessoa pelo próprio instituidor, sendo esta pessoa designada para a função,

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devendo elaborar o estatuto no prazo em que for especificado pelo instituidor ou de

acordo com a previsão legal (180 dias). Não cumprido o prazo, caberá então ao

Ministério Público fazê-lo, conforme disposição dos arts. 1.199 a 1.204 do CPC;

c) aprovação dos estatutos: a aprovação deverá caber ao Ministério Público, que tem

como função, velar pela manutenção, funcionamento e legitimidade das fundações,

fiscalizando-as inclusive quanto a regularidade de seus estatutos;

d) registro civil: este é necessário para convalidar a existência da fundação, devendo ser

este feito em cartório de registro civil das pessoas jurídicas (Lei dos Registros Públicos

– Lei n.º 6.015/73, art. 114).

Os estatutos das fundações só podem ser alterados por meio de assembléia composta

por maioria absoluta de seus componentes, através de deliberação e voto de 2/3 dos

integrantes da fundação responsáveis por sua gestão. Tais alterações devem ser

aprovadas previamente pelo Ministério Público ou através de provimento judicial no

caso de denegação pelo MP. Mas caso as alterações não forem aprovadas por

unanimidade, deverá ser dada ciência à minoria vencida quando a alteração for

aprovada pelo Ministério Público, a fim de que possam se apresentadas, em 10 dias,

eventuais impugnações as alterações.

As fundações poderão ser extintas, conforme disposição do art. 69 da Lei Civil, quando

esta se tornar ilícita, impossível ou inútil sua finalidade ou quando vencido o prazo de

sua existência, devendo a mesma ser promovida pelo parquet ou por qualquer

interessado. Porém, o patrimônio será destinado a outra fundação que atue na mesma

função que a fundação extinta ou que tenha finalidade igual ou semelhante, por meio de

decisão do judicial, sendo que se houver disposição em contrário no estatuto ou no ato

constitutivo, o patrimônio terá destinação diversa conforme previsão no diploma civil.

RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS

Por serem tipos de pessoas diferentes, as pessoas jurídicas não se confundem com as

pessoas naturais em razão de terem personalidades distintas.

Portanto, os atos praticados pela pessoa jurídica por meio de seus representantes, seja

ilícito, seja contratual, extracontratual, os danos advindos destes atos serão de inteira

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responsabilidade da pessoa jurídica, o qual esta responderá integralmente com o seu

patrimônio.

Caso os atos danosos da pessoa jurídica forem tomados por um de seus representantes,

ou a quem estiver ligado a pessoa jurídica, a culpa neste sentido é objetiva, sendo a

responsabilidade de forma indireta e solidária, cabendo a vítima reclamar reparação dos

danos causados pela pessoa jurídica ou quem quer que esteja ligada a ela.

Quanto aos atos ilícitos, estes podem ser responsabilizados na seara penal, podendo a

responsabilidade ser da pessoa jurídica quando o ato ilícito praticado for realizado por

decisão de quem a represente legalmente, no caso dos crimes ambientais (Lei n.º

9.605/98).

A responsabilidade objetiva por evento danoso causado pela pessoa jurídica, no

entendimento do Prof. Silvio Rodrigues, é necessária, em razão da teoria da

desconsideração da personalidade jurídica, em que em muitos casos, a pessoa jurídica é

utilizada por quem a representa com intuitos excusos, como forma de impossibilitar a

individualização da responsabilidade por atos danosos praticados contra terceiros.

Portanto, tal possibilidade é aventada no art. 50, do Código Civil, como forma de

dirimir qualquer dúvida a respeito quando se tratar de culpa objetiva por danos

praticados por representantes das pessoas jurídicas contra terceiros. Infelizmente, os

outros doutrinadores não discorrem a respeito do tema, deixando o tema analisado de

forma esparsa.

DA EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Sua extinção se dá de acordo com os dispositivos dos arts. 54, inciso VI, parte final, 69,

1.028, II, e 1.033 e seguintes do Código Civil.

A forma como a dissolução pode ser feita compreende as seguintes formas:

a) forma convencional: por meio de deliberação entre os membros da assembléia do

ente, obedecendo o quórum necessário, previsto em estatuto ou na lei;

b) forma legal: quando há motivo determinado pela lei. Ex.: falência, morte dos sócios,

desaparecimento do capital nas sociedades com fins lucrativos);

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c) forma administrativa: ocorre quando o Poder Público cassa a autorização de

funcionamento da pessoa jurídica;

d) forma judicial: se dá através da extinção judicial, quando um dos sócios ingressa em

juízo em razão de observar o desvio de finalidade ensejadora da pessoa jurídica.

BIBLIOGRAFIA:

1. RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2003. Págs.

86 à 112.

2. FIUZA, Cézar. Curso Completo de Direito Civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

Págs. 38 à 46.

3. FRAGA, Fernando Santos Esteves; outros. O Novo Código Civil Comentado - Livro

1: Parte Geral. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2002. Págs. 33 à 45.

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