2
O presente recorte do acervo de arte da Fundação Edson Queiroz, objeto desta exposição, coloca-nos diante de um modelo de colecionismo generoso, raro no Brasil. A importância intrínseca da coleção já suscita admiração, acrescida do fato significativo de sediar-se fora do âmbito da tradicional hegemonia do Sudeste. Décadas de dedicação, ousadia e paciência sustentam a criação, o desenvolvimento contínuo e a cura deste acervo cearense, apenas um dentre os inúmeros trunfos de uma instituição que transcendeu o papel tradicionalmente ocupado por uma universidade em nosso país para tornar-se instrumento efetivo de transformação e aprimoramento do ambiente em que se implantou. A Casa Fiat de Cultura orgulha-se de hospedar essa mostra e agradece à Fundação o privilégio de apresentar aos mineiros o que pode a força da iniciativa privada quando se empenha em reverter à comunidade a energia transformadora da cultura que construiu. José Eduardo de Lima Pereira Presidente da Casa Fiat de Cultura Podemos resumir o movimento modernista em uma só frase presente na obra Pintura Modernista, de Greenberg, um dos mais importantes críticos no assunto: o modernismo usou a arte para chamar a atenção para a arte. Em essência é isto, mas, ao encararmos as nuances sociais, políticas e filosóficas incorporadas à vasta produção no período modernista (que alguns defendem ter ocorrido entre o final do século XX e a década de 1970), percebemos que a afirmação é apenas a primeira pincelada em um amplo e colorido quadro. No Brasil, esta paisagem é ainda mais inspiradora com as múltiplas possibilidades e cenários favoráveis para a transição de uma sociedade colonial para uma sociedade dita independente. Não por acaso, o modernismo no Brasil teve seu marco bem definido, associado à simbólica Semana de 22, onde artistas e intelectuais se reuniram para formar este movimento que, não por acaso, aconteceu no centenário da independência. Dito isto, posso explorar em palavras a prazerosa dificuldade em organizar uma exposição que contemplasse os mais de 50 anos de um processo de (des)construção artística em um Brasil que ainda lutava por seus direitos primários e vivenciava conflitos históricos internos e externos, como as Guerras Mundiais. É a própria definição de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, conceito explorado amplamente pela Pop Art, vale ressaltar. O resultado está presente na escolha de 57 obras que entregam não apenas parte de um acervo organizado, mas uma relação orgânica que começa no olhar e não se encerra nunca. Assim, trata-se de uma mostra histórica, mas também pessoal, uma vez que a coleção cresce a partir de uma linha que envolve o gosto pessoal e a percepção do que deve ser incorporado para a manutenção de uma importante linha histórica da arte brasileira. Formas do Moderno é um passeio pelas fases do movimento, sem abandonar o caráter particular dos artistas. Encontraremos desde os precursores, como Di Cavalcanti, Victor Brecheret e Lasar Segall, que lançaram as bases para a arte moderna brasileira em sua fase primordial, a artistas da segunda geração modernista, como Cícero Dias, Ismael Nery e Alfredo Volpi. O olhar do espectador é levado, portanto, por entre paisagens, que invocam o espírito nacionalista, inspirado na beleza tropical, a exemplo da Floresta e Barcos na Praia de José Pancetti e na poesia em cores das obras de Guignard, para encontrar o abstracionismo do cearense Antonio Bandeira. A visita é praticamente uma odisseia do olhar em torno das singularidades de um dos movimentos mais importantes da arte brasileira, buscando libertá-lo a partir de histórias contadas e não contadas por meio de telas e esculturas. Chanceler Airton Queiroz Presidente da Fundação Edson Queiroz Realização Apoio cultural Apoio Patrocínio DE 3 DE MARÇO A 8 DE MAIO DE 2016 Entrada Gratuita CASA FIAT DE CULTURA Praça da Liberdade, 10 Funcionários BH/MG Agendamento de grupos e escolas: [email protected] | (31)3289-8910 Transporte Gratuito (vagas limitadas) Consulte a programação paralela Informações: (31) 3289-8900 www.casafiatdecultura.com.br [email protected] facebook.com.br/casafiatdecultura Instagram: @casafiatdecultura Horário de Funcionamento: terça a sexta das 10h às 21h Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h Obra da capa: Di Cavalcanti, Mulata com flores, s/data, óleo s/ tela [detalhe] ANTONIO BANDEIRA (1922-1967) Estudo para o painel do Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Bruxelas, c. 1958 aquarela, guache e nanquim sobre papel AVCB - Série: 176386 | processo e vistoria: 0624452201400376

DE 3 DE MARÇO A 8 DE MAIO DE 2016 CASA FIAT DE …casafiat.com.br/wp-content/uploads/2016/03/Clique-aqui-para-baixar... · Alfredo Volpi. O olhar do espectador é levado, portanto,

Embed Size (px)

Citation preview

O presente recorte do acervo de arte da Fundação Edson Queiroz, objeto desta exposição, coloca-nos diante de um modelo de colecionismo generoso, raro no Brasil. A importância intrínseca da coleção já suscita admiração, acrescida do fato significativo de sediar-se fora do âmbito da tradicional hegemonia do Sudeste.

Décadas de dedicação, ousadia e paciência sustentam a criação, o desenvolvimento contínuo e a cura deste acervo cearense, apenas um dentre os inúmeros trunfos de uma instituição que transcendeu o papel tradicionalmente ocupado por uma universidade em nosso país para tornar-se instrumento efetivo de transformação e aprimoramento do ambiente em que se implantou.

A Casa Fiat de Cultura orgulha-se de hospedar essa mostra e agradece à Fundação o privilégio de apresentar aos mineiros o que pode a força da iniciativa privada quando se empenha em reverter à comunidade a energia transformadora da cultura que construiu.

José Eduardo de Lima PereiraPresidente da Casa Fiat de Cultura

Podemos resumir o movimento modernista em uma só frase presente na obra Pintura Modernista, de Greenberg, um dos mais importantes críticos no assunto: o modernismo usou a arte para chamar a atenção para a arte. Em essência é isto, mas, ao encararmos as nuances sociais, políticas e filosóficas incorporadas à vasta produção no período modernista (que alguns defendem ter ocorrido entre o final do século XX e a década de 1970), percebemos que a afirmação é apenas a primeira pincelada em um amplo e colorido quadro. No Brasil, esta paisagem é ainda mais inspiradora com as múltiplas possibilidades e cenários favoráveis para a transição de uma sociedade colonial para uma sociedade dita independente. Não por acaso, o modernismo no Brasil teve seu marco bem definido, associado à simbólica Semana de 22, onde artistas e intelectuais se reuniram para formar este movimento que, não por acaso, aconteceu no centenário da independência.

Dito isto, posso explorar em palavras a prazerosa dificuldade em organizar uma exposição que contemplasse os mais de 50 anos de um processo de (des)construção artística em um Brasil que ainda lutava por seus direitos primários e vivenciava conflitos históricos internos e externos, como as Guerras Mundiais. É a própria definição de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, conceito explorado amplamente pela Pop Art, vale ressaltar. O resultado está presente na escolha de 57 obras que entregam não apenas parte de um acervo organizado, mas uma relação orgânica que começa no olhar e não se encerra nunca. Assim, trata-se de uma mostra histórica, mas também pessoal, uma vez que a coleção cresce a partir de uma linha que envolve o gosto pessoal e a percepção do que deve ser incorporado para a manutenção de uma importante linha histórica da arte brasileira.

Formas do Moderno é um passeio pelas fases do movimento, sem abandonar o caráter particular dos artistas. Encontraremos desde os precursores, como Di Cavalcanti, Victor Brecheret e Lasar Segall, que lançaram as bases para a arte moderna brasileira em sua fase primordial, a artistas da segunda geração modernista, como Cícero Dias, Ismael Nery e Alfredo Volpi. O olhar do espectador é levado, portanto, por entre paisagens, que invocam o espírito nacionalista, inspirado na beleza tropical, a exemplo da Floresta e Barcos na Praia de José Pancetti e na poesia em cores das obras de Guignard, para encontrar o abstracionismo do cearense Antonio Bandeira.

A visita é praticamente uma odisseia do olhar em torno das singularidades de um dos movimentos mais importantes da arte brasileira, buscando libertá-lo a partir de histórias contadas e não contadas por meio de telas e esculturas.

Chanceler Airton QueirozPresidente da Fundação Edson Queiroz

RealizaçãoApoio cultural

ApoioPatrocínio

DE 3 DE MARÇO A 8 DE MAIO DE 2016Entrada Gratuita

CASA FIAT DE CULTURAPraça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MGAgendamento de grupos e escolas:[email protected] | (31)3289-8910Transporte Gratuito (vagas limitadas)

Consulte a programação paralelaInformações: (31) 3289-8900www.casafiatdecultura.com.brcasafiat@fcagroup.comfacebook.com.br/casafiatdeculturaInstagram: @casafiatdecultura

Horário de Funcionamento:terça a sexta – das 10h às 21hSábados, domingos e feriados – das 10h às 18h

Obr

a da

cap

a: D

i Cav

alca

nti,

Mul

ata

com

flor

es, s

/dat

a, ó

leo

s/ te

la [d

etal

he]

ANTONIO BANDEIRA (1922-1967)Estudo para o painel do Pavilhão do Brasil na Exposição Universal de Bruxelas, c. 1958aquarela, guache e nanquim sobre papel

AVC

B -

Sér

ie: 1

7638

6 | p

roce

sso

e vi

stor

ia: 0

6244

5220

1400

376

Formas do Moderno reúne 57 obras pertencentes ao acervo da Fundação Edson Queiroz, de Fortaleza, datadas do período entre 1913 e 1970. A mostra é composta de pinturas e esculturas que testemunham as inovações propostas por alguns dos mais renomados artistas atuantes no cenário brasileiro ao longo do século XX, em sua busca sistemática pela “modernidade”. Mais que um desejo flagrante de atualizar o sistema artístico e equipará-lo ao europeu, o que este conjunto de obras evidencia são os vários sentidos que a noção de modernidade assume para sucessivas gerações de artistas brasileiros. A essas várias formas de ser moderno é que o título da mostra faz alusão.

O amplo espectro temporal que esta seleção abarca permite pontuar uma série de momentos fundamentais para a compreensão dos desdobramentos da arte brasileira nesses pouco mais de 50 anos. Lasar Segall, Rêgo Monteiro e Victor Brecheret, entre outros, assinalam a marcante contribuição do primeiro círculo de modernistas, responsável, na década de 1920, pela introdução no meio brasileiro de um vocabulário artístico informado pelas vanguardas européias. As lições do cubismo, do surrealismo, do expressionismo são aqui bastante evidentes e permitem aproximar por vezes produções tão díspares quanto as de Ismael Nery e Antônio Gomide.

Se, desde o século XIX, um dos mais importantes desafios apresentados aos artistas brasileiros foi a formulação de uma arte verdadeiramente nacional, é fato que os modernistas não se furtaram também a esse debate. Ambicionaram promover a fusão entre a linguagem internacional do modernismo europeu e uma temática essencialmente brasileira. Esse intento perpassa do mesmo modo a produção de muitos dos artistas ativos nas décadas de 1930 e 1940, revestindo-se, contudo, de um forte componente de compromisso social. Um interesse particular por personagens anônimos, como os trabalhadores e transeuntes das cidades, os lavradores e retirantes. Moderno aqui é o cromatismo quente e a sensualidade da mulata de Di Cavalcanti, o olhar atônito dos personagens ora corpulentos ora esquálidos de Portinari, as figuras de De Fiori, homens universais que nada tem de heroico ou monumental.

Moderno também foi o negar a disciplina do ensino acadêmico da arte e valorizar os pintores ditos autodidatas ou treinados em escolas profissionalizantes. Pancetti, marinheiro de profissão e pintor de barcos, e Volpi, cuja atividade era pintar paredes, são os exemplos mais notáveis dessa geração que se afirma na década de 1940. A economia dos meios e o flerte com a abstração e a geometria são características presentes na trajetória de ambos os artistas, cujas obras se constituem em alguns dos momentos de maior lirismo e sensibilidade da pintura brasileira.

A emergência das correntes construtivas ocorre no Brasil em concomitância com o reconhecimento internacional que a arquitetura nacional alcançou nas décadas de 1950 e 1960, bem como do surto desenvolvimentista que marca o cenário político e econômico do período. Arquitetura e artes visuais partilham de uma mesma “vontade construtiva”, fruto do primado da racionalidade e da geometria. Ao desaparecimento do tema e da narrativa, segue-se o fundamento dos valores plásticos – a cor, a linha, a forma –, apontando para outra maneira de ser moderno.

Ainda que o encadeamento dado a esse texto sugira uma organização cronológica das obras na exposição, os diversos núcleos estão na verdade compostos a partir de afinidades formais. Busca-se, assim, ressaltar a permanência de certas estruturas compositivas, sublinhar simultaneidades, sugerir coincidências. São muitas as possibilidades que esse valioso conjunto de obras propicia. Formas do Moderno é apenas uma delas.

Valéria PiccoliCuradora

ALFREDO VOLPI (1896-1988)Fachada, década de 1960têmpera sobre tela

ANTÔNIO GOMIDE (1895-1967)O ceramista, 1929óleo sobre tela

CÍCERO DIAS (1907-2003)Moças na janela, década de 1930óleo sobre tela

NÚCLEO 1A figura humana é o fio condutor que revela a assimilação de novas linguagens artísticas pela primeira geração de artistas modernistas a atuar no Brasil. A geometrização das formas proposta pelo cubismo é especialmente influente nesse momento, assim como as distorções da pintura expressionista de Flavio de Carvalho e Lasar Segall.

NÚCLEO 2A arte moderna no Brasil pretendeu se despojar dos temas heroicos e voltar-se para o homem comum. A pintura de Di Cavalcanti e Portinari, principalmente, revela o interesse dos artistas pelas festas de rua, pelos conflitos no campo e a migração para as cidades, e pelos tipos urbanos em geral.

NÚCLEO 3A valorização de uma expressão mais pessoal e mais lírica na pintura – em detrimento da norma acadêmica – abre espaço, a partir da década de 1940, para o surgimento de algumas das manifestações mais sensíveis da arte brasileira, expressas nas obras de Guignard, Volpi e Pancetti.

NÚCLEO 4A partir da década de 1950, assistimos à primazia da abstração, seja de vertente geométrica – de que são exemplos as obras de Fiaminghi e Milton Dacosta –, seja da corrente lírica, representada em Flexor e Vieira da Silva. Os “Metaesquemas”, de Hélio Oiticica, apontam para desdobramentos posteriores, que abririam caminho para a arte contemporânea.

NÚCLEO 5Este último conjunto de obras propõe uma aproximação formal entre pinturas de quatro artistas bastante diversos, tanto em formação quanto em atuação. Essas pinturas revelam o quanto a arte moderna buscou se afastar do seu referente no mundo real e explorar seus próprios elementos; nesse caso a cor e o potencial das vibrações cromáticas.

ELEVADORES

ESCADA

BANHEIROS

NÚCLEO 1 NÚCLEO 2

NÚCLEO 3

NÚCLEO 4

CLEO

5

SALA DEVÍDEO