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7/21/2019 De cidade à Metrópole - Odette Seabra
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Revista Geografares, n°9, p.49-79 , jul./Dez., 2011
ISSN 2175 -3709
De cidade à Metrópole
From the city to the metropolis
Odette Carvalho de Lima [email protected]
Professora do Programa de Pós Graduação na área de Geografia HumanaDepartamento de Geografia Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Orienta alunos em nível de mestrado e de doutoramento.Pesquisadora do CNPq desenvolvendo as linhas de pesquisa: Políticas de espaço e Cotidiano e modo de vida.
Resumo
A cidade é uma formação transhistórica, a metrópole não. O processo de constituição
da metrópole contemporânea ocorre desarticulando formações pretéritas tanto de cidades
como de subúrbios. Na sua materialidade a metrópole é a síntese mais complexa da conexão
espaço-tempo porque no seu processo de formação o tempo ganhou um fundamento social,
regido pela lógica da reprodução capitalista, a qual implica no aprofundamento da divisão do
trabalho e da generalização da economia de trocas. Portanto, as separações discutidas como
segregação sócio-espacial são imanentes a esse processo.
O argumento principal é o de que é possível estudar a metrópole analiticamente no
movimento próprio de sua formação a partir do problema colhido, supostamente situado na
metamorfose da cidade, no decurso do tempo histórico. Metodologicamente, seguindo a trilha
aberta por Henri Lefebvre, trata-se de operar a regressão genética e a progressão analítica,
mobilizando as categorias que possam circunscrever o problema colhido.
Palavras-chave: reprodução, cidade, metrópole, urbanização, formação social.
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Abstract
The city is a transhistorical formation, while the metropolis isn’t. The constitution of
the contemporary metropolis has occurred through the dissolution of previous city and
suburban formations. In its materiality, the metropolis is the most complex synthesis of the
space-time nexus because, as it emerged, time has acquired a social foundation ordered by the
logic of capitalist reproduction, which has brought about an intensification of the division of
labor and the expansion of the exchange economy. Thus the separations that give rise tosocio-spatial segregation are inherent elements in this process.
The key argument here is that it is possible to analytically study the metropolis, in its process
of formation, from the point of view of the selected object of study, supposedly related to the
metamorphosis of the city over history. In methodological terms, following in Henri
Lefebvre’s footsteps, it is about making use of genetic regression and analytic progression,
thus mobilizing the categories suitable for defining the chosen problem.
Keywords: reproduction, city, metropolis, social formation.
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Introdução
Nesta formulação está implícito um movimento de raciocínio que vai da cidade à metrópole,
porque tanto uma como outra (a cidade e a metrópole) assumem formas histórico-geográficas
que correspondem a esta formação social. Nesse plano a questão é de verificar como as
mudanças no modo de produção repercutiram na forma urbana à medida que a formação
econômica e social capitalista penetrava os poros da sociedade, provocando enorme
diversificação e concentração espacial de atividades (indústria e comércio) e de riqueza. Acidade sujeitada a um enorme crescimento, que na prática era um enorme dilaceramento, seria
vivenciada com grandes transformações. Por isso será necessário compreender, de um ponto
de vista lógico-teórico, as mudanças qualitativas dos modos de vida.
Disto decorre a questão de saber como a problemática da cidade pode ser traduzida também,
como problemática da metrópole. Questão que pressupõe, no plano lógico-teórico, a
articulação de teorias e conceitos na perspectiva do movimento próprio desta formação. Nessesentido o marco histórico que lastreia o pensamento corresponde à transformação da cidade de
São Paulo em metrópole; esta forma de propor o problema conduz à discussão de São Paulo
nas suas metamorfoses e evoca a historicidade de um processo cujo sentido é o da
universalidade desta formação social.
Trata-se de compreender como a metrópole, no seu o processo de formação, parece
corresponder, pari passu, ao desenvolvimento da formação econômica e social na suageneralidade, (essencialmente capitalismo); logo, de compreender como a constituição formal
e real da metrópole corresponde às necessidades da reprodução social. A formação da
metrópole equivale ao movimento da própria formação social o qual ocorre dilacerando as
formações pretéritas, tanto de cidades como de subúrbios e alcançando, sobretudo, as
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entranhas da cidade, embora apenas algumas cidades cheguem de fato à condição de
metrópole.
As singularidades histórico-geográficas, resultantes de processos específicos de configuração
do fenômeno urbano no território nacional explicam a densidade econômica e política de
cada uma das cidades bem como suas funções. Delas derivam os atributos que justificam e ao
mesmo tempo explicam porque algumas cidades ascendem à condição de metrópoles
nacionais.
Não tem nada novo nessa forma de pensar; autores importantes pensaram seus objetos como processo, como formação. Caio Prado Junior indagando sobre o Brasil escreveu a Formação
do Brasil Contemporâneo; Celso Furtado escreveu a Formação Econômica do Brasil; Antonio
Candido estudou A Formação da Literatura Brasileira.
O Brasil, a economia brasileira e a literatura brasileira, tanto quanto a cidade e o urbano nas
suas metamorfoses são fenômenos complexos o que justifica a perspectiva de método aqui
adotada, relativa ao movimento próprio da formação social. No preceito formativo segundo o qual se deve começar colhendo um problema por sua feição
local, está claramente pressuposta a convicção de que se pode alcançar a real universalidade
do problema em questão (por isso mesmo sempre determinada) mediante o aprofundamento
das sugestões locais, que são parte da evolução (mundial) do conjunto. 1
Para que a pesquisa, sob enfoque e sob as premissas da Geografia Crítica tenha curso, se
torna necessário incorporar uma noção de tempo que permita verificar como na dialética do
mundo (movimento, oposição, contradições e conflitos) se explicitam os objetos da análise
geográfica, independentemente da escala geográfica. Portanto, trata-se de centrar o
pensamento no objeto a partir de uma atitude teórica. Neste plano estão situadas concepções
1 ARANTES, P. Eduardo. 1977 “Providências de um Crítico Literário na Periferia do Capitalismo” São Paulo:
ed. Paz e Terra; 1997; p37.
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de ciência, concepções de mundo e de sociedade. Fundamento que o conhecimento sob
qualquer hipótese não pode abolir, mesmo quando procura ignorar.
Metrópole como objeto teórico
Quando pensamos sobre a metrópole é importante, de partida, discerni-la como um objeto
para além da idéia de caos e nesse sentido confrontar discursos e idéias com as práticas
correspondentes. Pode-se observar então que o caos aparente obedece a princípios lógicos.
Aliás, que é o cruzamento de diferentes lógicas: as lógicas dos agentes que produzem espaçoem relação às próprias lógicas do espaço às quais podem até ser contraditórias entre si.
A problemática urbana que envolve toda sociedade tem a metrópole por centro, a qual
sintetiza um feixe de questões que a primeira vista não se apresentam como interdependentes
criando a ilusão de que é possível discutir, discernir e tratar do conjunto por partes. As
dificuldades são grandes, mormente quando o foco da análise coloca em discussão segmentos
dos processos de atualização tecnológica (modernização técnica e social). Obviamente, não
se trata de invalidar o estudo e o conhecimento das partes, a questão é a de garantir a perspectiva do todo como momento e circunstância da produção e reprodução da sociedade,
numa formação que totalizou o tempo e o espaço como valor. Ou, como riqueza que circula
segundo as regras lógicas e sistêmicas do capital; na atualidade cada vez mais internacional e
financeira, conhecida por capital global.
A metrópole contemporânea é a síntese mais complexa da conexão espaço-tempo. Constitui-
se num objeto privilegiado exatamente porque, nela, o tempo tem um fundamento social
resultante do processo de divisão do trabalho e da generalização da economia de trocas. Na
metrópole contemporânea à lógica (sistêmica) e a dialética (movimento/conflito) reúnem os
elementos que qualificam o presente e que indicam o movimento da formação, o qual pode
ser compreendido através de certas linhas (evolutivas) mais ou menos consistentes que
demarcam a especificidade de processos urbanos particulares. Em outros termos, como foi e
como tem sido desencadeada a urbanização entre nós. Seus impasses e contradições.
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É possível intuir que a metrópole seja mais do que as funções que abriga porque mesmosendo o lugar por excelência da concentração e domínio das trocas de mercadorias e negócios
há nela, residualmente, uma tessitura fina de acúmulos históricos guardados de outras épocas
como ambiências de vida que em confronto com a lógica geral do valor insistem em
permanecer.
Coloca-se, portanto, o problema de saber qual é a base genética da metrópole, afinal é nela
que estão seus fundamentos, é de lá que certas continuidades atravessam os diferentes tempos
e espaços sociais. Disto deriva nossa única pressuposição, a qual consiste em admitir que a gênese da
metrópole, com a funcionalidade/desfuncionalidade que a caracteriza, só pode ser
compreendida nas metamorfoses da cidade porque, em primeiro lugar não existe ruptura
absoluta entre o antes e o agora, assim como não existe também continuidades ou
descontinuidades absolutas. É das entranhas da cidade que se vai formando a metrópole num
processo marcado por continuidades e descontinuidades relativas.
Na cidade histórica, aquela que precedeu a industrialização, ainda claramente se podia
perceber a dupla determinação que incide e explica o fenômeno cidade: de um lado a cidade
como lugar do encontro, ai subentendido o lugar da festa, da reunião e, por outro lado o lugar
do negócio.
Nesse sentido o caminho do pensamento precisa partir da gênese. A cidade histórica pode ser
um ponto de partida no estudo dos aspectos genéticos da metrópole com vistas a elucidar o
processo de metropolização como uma dimensão importante do processo geral de
urbanização da sociedade.
Trata-se de estudá-la analiticamente pelo problema colhido para discernir e apreender o
movimento de sua formação, supostamente situado nas metamorfoses da cidade, no decurso
do tempo histórico; é necessário proceder à análise dos conteúdos do urbano, correspondam
estes conteúdos às estruturas formais (objetos técnicos) do espaço ou a momentos e
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circunstâncias de vida, o que quer dizer, o plano da existência imediata de sujeitos concretos
nesta sociedade de classes.
A urbanização atual é um ponto de chegada de um processo que configurou as metrópoles
mundiais, as quais, de um ponto de vista geográfico, têm sido estudadas, muitas vezes, a
partir da forma, da função e das estruturas, conforme seu desempenho no território nacional e
no espaço mundial. Mas, por um outro ângulo de visão, considerando que a sociedade urbana,
tal como se apresenta neste início do século, suscita indagações sobre o devir, se justifica
assim o estudo genético da metrópole como fenômeno histórico-geográfico, político e social.
Portanto, a cidade considerada na sua historicidade, se constitui numa categoria de objeto
capaz sintetizar os complexos processos implicados nas metamorfoses do emprego do tempo.
Pois, como já mencionado, no seu fundamento há disposição total do tempo dos citadinos
como tempo de festa que comportou negócios, tal como foram as feiras ao longo da História.
No entanto o processo histórico mostra que os negócios venceram e subjugaram o caráter e a
natureza da festa na cidade.Tanto que facilmente pode-se constatar como os estudos sobre a cidade, de um ponto de vista
do saber geográfico da modernidade, tem sido uma discussão do uso do tempo com a
constatação da aceleração nas formas de emprego do tempo.
É verdade que a Geografia clássica mesmo separando aquilo que vinha da natureza daquilo
que vinha da história e da cultura, identificava uma sucessão temporal de formas de
apropriação da natureza estudando a evolução das técnicas. O que sugere que mesmo
inconscientemente manejava a categoria do tempo. Até porque não há possibilidade de
estudar espaço, espacialidade dos objetos ou das relações, à margem do tempo. O uso do
espaço é sempre uma forma de emprego do tempo.
De um ponto de vista teórico-metodológico estamos diante da lógica e da dialética. O espaço,
na sua dimensão objetiva, tem historicidade (aliás, como tudo que tem existência objetiva) ele
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é acúmulo de tempos. A lógica pára o tempo, discerne conteúdos, descreve formas. O
pensamento dialético encontra as contradições e os conflitos que indicam o movimento nosentido do devir; opera sob a premissa de que não existe um sistema acabado, mas existe um
esforço no sentido da sistematização, no sentido da coerência e da coesão a partir das relações
de produção. Logo, existindo também as contradições, os sistemas estruturam-se e se
desestruturam, tornando a dialética da coesão e conflito, o enigma através do qual se pode
discutir a metamorfose da cidade em metrópole como circunstância do processo de
urbanização.
No confronto da ordem urbana, emanado do Estado, com a desordem da generalização da
economia das trocas vê-se que, por certo, não tem mais sentido indagar sobre os fundamentos
da cidade e seu devir histórico, afinal a metrópole é já a autodestruição da cidade.
Disto decorre que é necessário considerar a urbanização como um processo total que abrange
diferentes escalas o qual, por sua natureza, desencadeia forças de mobilização em direção às
cidades, fazendo desvanecer a oposição cidade campo. É essencial compreender os aspectosestruturais desse processo embora seja necessário ultrapassá-los. Ou seja, compreender
quando a agricultura foi se tornando um ramo da indústria com a formação dos grandes
complexos industriais, quando a população camponesa enraizada de diferentes maneiras nas
diversas regiões do Brasil, começou a integrar o fluxo massivo de migrantes em direção às
frentes de expansão do capital, onde estava o emprego e o salário, principalmente localizado
nas grandes cidades. E, sobretudo aceitar o fato inexorável de que a concentração urbana
corresponde à concentração da riqueza, a tal ponto, que a cidade ou aquilo que dela resta
serve mais do que nunca à formação de capital, isto é à formação, à realização e à
distribuição de mais valia.
Ao longo da História a cidade dependeu do uso que se fazia dela tanto que a forma
propriamente da cidade sempre refletiu a forma de sua ordem social. Por isso somente a
análise dos conteúdos permite compreender a urbanização. Assim, estudando analiticamente
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as cidades vê-se como surgem as metrópoles, as quais avassaladoramente se erguem de modo
irreversível, como fenômeno de grande magnitude, abrigo das grandes massas com asinsondáveis periferias que proliferam à escala do planeta. Tanto que a pobreza urbana tornou-
se o problema mais importante e politicamente explosivo deste século. 2
Trata-se de um fenômeno que na sua generalidade, assume escala planetária, tendendo a
apresentar certa homogeneidade relativamente às carências pelas quais transparece a pobreza.
As diferenças correspondem aos atributos originais que têm por fundamento a matriz cultural
de cada povo. Haja vista a concentração urbana e os signos da pobreza que ocorrem porcontinentes inteiros; a cada ano 25 milhões de indivíduos passam morar em favelas, é a
abrangência ampla do diagnóstico que permite indagar sobre suas determinações. Conforme o
diagnóstico de Mike Davis.
Trata-se de pretender compreender e de alcançar alguma explicação dessa voraz
problemática, estudando o movimento da formação.
Antes mesmo de prosseguir nesta construção, aceitando que este fenômeno assusta pela
quantidade, é necessário assegurar o entendimento de que se trata de contingentes
demográficos que são residuais aos processos de colonização tais como, por exemplo, a
África toda, partes expressivas da América Latina e da Ásia. Estas populações que foram
objeto de expropriações de todo tipo, hoje são identificadas como população sobrante,
relativamente ao desenvolvimento das forças produtivas, nucleares no movimento da
formação social capitalista. É bem verdade que o trabalho como aposta do capital para seu
desenvolvimento jamais chegou ser uma condição absoluta de mercadoria e que, por conta do
progresso técnico, (desenvolvimento das forças produtivas materiais) o próprio capital no seu
movimento de reprodução secreta, mais e mais, excedentes.
2 DAVIS, Mike. Planeta Favela, Boitempo Editorial. São Paulo, 2006
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Assusta a progressão negativa de direitos que os processos desta natureza desencadeiam, pois
em face da vigência das políticas neoliberais que implicam na redução do gasto público, privatizações de serviço público e ampla reestruturação produtiva, este quadro está sendo
enormemente agravado.
A urbanização hoje espelha uma forte segregação espacial. Nas gigantescas periferias vão se
formando os enclaves urbanos como territórios de uso de população de maior renda, em
certos casos, de renda alta. Vê-se também que uso público do espaço encolhe e que os velhos
centros são objeto de estratégias de valorização com as quais se pretende salvar a cidade. Jáas áreas pobres, crescendo meio de qualquer jeito, formam a periferia onde ficam depositados
os pobres.
Restos da cidade permanecem retidos na trama do tecido urbano que resulta do crescimento
das compactas periferias e subsistem em fragmentos dispersos. A cidade histórica, aquela que
estava destinada a abrigar tais processos, está hoje praticamente diluída e aos pedaços, mas
assim mesmo retida no tecido de urbanização contínua que é a metrópole. Guarda aindaalgumas propriedades de centro em função dos seus acúmulos, afinal, ali nasceram e foram
edificadas as instituições da cidade: o fórum, os palácios, a catedral, a universidade, a
imprensa, os boulevards.
A cidade não é nenhum ente metafísico, é uma prática, uma apropriação situada entre o real e
o possível, por isso geradora de tantas utopias. Utopias que atravessaram toda história do
ocidente, germinadas nos valores e nos sentidos de cada época.
A hipótese de trabalho que pode ser perseguida é de que a cidade, enquanto forma histórica
apresenta nos seus estádios de desenvolvimento, correspondência com as peculiaridades da
formação social em geral (formação social capitalista), mas também da formação específica.
Ou seja, na cidade sempre esteve reunido o universal e o singular.
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Tanto que o processo de concentração, implicado nas transformações urbanas, está calcado
no aprofundamento crescente da divisão do trabalho e na difusão do dinheiro como mediadorfundamental das relações e, por tais acúmulos, a estrutura normativa do direito e as estruturas
materiais (edificações) passam não comportar a magnitude do urbano em processo de
concentração. A quantidade vence a qualidade e a partir de certo e mais ou menos preciso
ponto, a autodestruição da cidade torna-se evidente. Estamos assim em condições de pensar a
metrópole como o reino da quantidade: grandes números, sociedade de massas, grandes
espetáculos, grandes orçamentos, estádios superlotados...; como o reino do valor de troca.
Então, admitindo-se que a metrópole seja, além do mais, uma acumulação desigual de tempos
(diferentes temporalidades históricas inscritas no espaço urbano) temos que estabelecer
raciocínios que nos permitam manejar esse objeto com objetivo de explorar o possível, sob a
ótica do processo de formação da sociedade urbana.
Pode-se propor a desvendar essas inscrições estabelecendo as grandes linhas que têm
orientado o desenvolvimento desta formação social localizando, nessa superfície deurbanização contínua que é a metrópole, os produtos e as obras da urbanização explicada pela
industrialização. O que equivale a uma abordagem clássica.
Quando a urbanização é explicada pela industrialização: Tem-se a formação do operariado
em correspondência com a estruturação dos mercados urbanos de produtos, de trabalho, de
moradia, do abastecimento urbano e da estruturação do espaço da cidade com seus bairros.
Associação de moradia e trabalho marcou as primeiras fases da industrialização e as
migrações cidade campo forneceram um fundamento econômico para a indústria em
desenvolvimento.
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Nesse contexto as elites agrárias promoveram a acumulação mercantil nas cidades e
gradativamente cederam lugar para elites modernas ligadas a indústria e aos serviços públicos, como necessidade do processo de industrialização.
Deterioração, ondas de valorização
Muitas das edificações da fase de industrialização de São Paulo, por exemplo, permanecemfixadas na textura do espaço urbano. São agora identificadas como os velhos bairros
industriais em plena fase de desindustrialização. (escombros ao longo das ferrovias, em todo
mundo, zonas portuárias formam zonas de desinvestimento). Configura-se a favela, sendo
visível a metamorfose das formas.
Neste ponto do processo que corresponde a esta contemporaneidade a urbanização já não se
explica pela industrialização; imperativos tecnológicos que visam adequar a funcionalmente o
espaço urbano às necessidades gerais da urbanização e que implicam uma economia políticado espaço, garantem a reprodução social.
Nos anos oitenta, sob a insígnia das políticas neoliberais, avança um processo de
desregulamentação do trabalho e a equação que preside esse processo desde sempre, que
consiste em: capital fabril, mão de obra barata e em quantidade, valorização dos terrenos
urbanos, tornou-se sem solução.
A formação da periferia foi, portanto, um fenômeno correlato primeiro à fase do
industrialismo, na perspectiva do desenvolvimento. Agora, o seu espraiamento,
caracterizando o fenômeno da periurbanização parece corresponder melhor uma urbanização
sem indústria, mas também sem cidade.
A cidade na História constitui um dos capítulos mais interessantes para refletir sobre o
processo humanização numa perspectiva antropológica porque os grupos humanos se juntam,
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produzem materialmente objetos, coisas. Inscrevem-se no território, produzem espaço e
obras, reproduzem-se enquanto espécie e, há milênios, criam formas de concentração espacialas quais, originalmente, pareciam corresponder ao caráter gregário da espécie. É o que se vê
nos clássicos, Lewis Munford e Foustel de Coulanges. Mas, já não é disto que se trata a
concentração urbana industrial e depois de serviços qualificados obedece a lógica econômica
desse processo.
A Geografia ocupou-se amplamente em discutir o papel da cidade no processo de
organização do espaço. Desde os estudos de Walter Cristaller a centralidade da cidade emrelação ao espaço circundante fora definida segundo níveis e hierarquias espaciais que
correspondiam à dinâmica do mercado de bens e serviços. Nos seus desdobramentos tais
estudos chegaram, pelos seus mais expressivos resultados, a pensar a cidade e sua região. O
que, de certa forma, parece corresponder melhor ao capitalismo concorrencial do que às
formas especiais resultantes deste capitalismo global, com características financeiras
dominantes. Conseqüentemente, na atualidade o mais adequado parece ser o raciocínio que
não despreza a característica difusa da urbanização tal como se apresenta. Ou seja, como umfenômeno capaz de configurar grandes extensões de urbanização contínua, com centralidades
diversas e em geral móveis. Essas grandes extensões como são as periferias das metrópoles e
grandes cidades dos paises pobres, formam extensas regiões urbanas. O modo de vida urbano
corresponde a esta fase do desenvolvimento do capitalismo enquanto formação social global
e parece ser a característica ou o atributo mais determinante dessas regiões.
O cotidiano admitido como expressão das formas de emprego do tempo estruturalmente
relacionadas aos impulsos técnicos, políticos e econômicos da modernidade é o cadinho do
modo de vida urbano. Pode ser estudado a partir da prática de espaço que lhe corresponde,
(espaço banal em Milton Santos) porque contém e abriga as dimensões e os níveis desta
formação ao realizar-se como modo de vida ou como cultura capitalista. Tanto que as
oposições de classe estruturalmente configuradas projetam-se territorialmente espelhando
esse processo.
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Relativamente às regiões urbanas não se coloca a questão do centro e da centralidade, masrelativamente à cidade sim, desde que ainda exista uma centelha daquilo que tem sido a
cidade na história. Por isso tem sentido discutir, sob o ângulo do movimento da formação, a
cidade enquanto fenômeno histórico, político e social.
Vendo a cidade mais de perto
A pergunta que precede todo e qualquer raciocínio sobre a cidade indaga sobre a sua lógica.Afinal qual seria a lógica essencial no fenômeno cidade. Em seguida, de um ponto de vista do
método, teríamos que abordar a historicidade da cidade, por não negligenciar que a cidade
mesma, embora guardando uma perspectiva antropológica de análise, tornou-se também um
fenômeno Histórico já que espelha os conteúdos próprios do movimento da formação social
na qual se insere.
A cidade (histórica) foi sendo arruinada pela prevalência do exercício de uma política declasse que opunha proprietários e não proprietários de meios de produção e de terras, que a
tornava um lugar das estratégias e em confrontos que têm perpassado a sociedade inteira.
Mas a ruína da cidade foi acontecendo também pelo descompasso que foi sendo estabelecido
entre a estrutura normativa (direito), como monopólio de classe e as demandas sociais,
revelando enorme incapacidade de mobilizar convenientemente os interesses do bem comum
que na cidade chama-se cidadania. Por que não lembrar que a justiça se pretende cega, porém
é feita e operada por homens, no interior de uma sociedade de classes.
No capitalismo a reprodução sempre ampliada da riqueza é também reprodução dos
fundamentos desiguais dessa sociedade.
É dessa desigualdade fundamental que resulta a segregação sócio espacial porque está na
base da cidade capitalista e se aprofunda desmesuradamente quando as estruturas formais da
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de decidir no urbano e de outro porque mesmo quando esse poder já não existe enquanto tal,
as estruturas fixadas permanecem em contradição com as novas possibilidades técnicas ou políticas de uso do espaço urbano.
A cidade é um fenômeno trans-histórico, amplamente redefinido no movimento desta
formação social que, por seus atributos de origem, reunia, espontaneamente, as formas
originárias de capital: economia pecuniária e trabalho. A indústria ao alojar-se na cidade
desencadeou seus próprios processos e acabaria por redefinir o sentido da cidade na história
ao concentrar as funções destinadas à reprodução sempre ampliada da riqueza como capital.
Os fundamentos desiguais sob os quais se ergue a sociedade capitalista e que opõem
estruturalmente o capital e o trabalho, só poderiam gerar uma desigualdade nas formas de
apropriação e uso dos espaços urbanos. Logo, no território distingue-se uma divisão técnica
do espaço (funções produtivas) que é acompanhada por uma divisão social que corresponde
aos usos do espaço, os quais aparecem imediatamente como não produtivos por destinarem-
se às habitações, ao uso público como são as praças, os jardins, os espaços do jogo entreoutros.
Em suma, as modalidades de uso do espaço urbano obedecem tanto aos ditames das
particularidades dos lugares (as propriedades do sítio urbano) como às formas históricas do
processo social na modernidade. Disto decorre que as localizações intra-urbanas tendem a
corresponder aos ditames do valor de troca e que os preços traduzem o uso social possível
modulado a partir do uso comercial das diferentes localizações intra-urbana.
Concentrar o capital e o trabalho formalmente (gerando contratos) e realmente (veiculando
salários/meios de vida) tem sido a atribuição fundamental da cidade moderna. Mas, para
tanto, articula-se por dentro do que é propriamente a cidade uma estrutura jurídica, política e
institucional da sociedade que promove a aderência necessária às suas diversas partes mesmo
que perpassadas por contradições. De modo que as leis da cidade e a busca por cidadania
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tornam-se um tema necessário. E, enquanto valor de uso para o capital, a cidade no todo e por
partes insere-se no turbilhão da modernidade como núcleo que potencializa o valor de troca.
Mas a cidade é também um produto pelos feitos e pelas obras que reúne. Produto das
sucessivas gerações. Enquanto tal tem sido um valor de uso para sociedade, pois, nela foi
gestada a sociabilidade mais alta porque é geneticamente o lugar da política. Acontece que
este produto tornou-se produtivo exatamente numa complexa dialética que esvazia o uso
social da cidade na mesma medida que certos produtos e certas obras, já então
descontextualizadas, começam a ser expressos em valor econômico, a ter preço, sob ascontingências do avassalador movimento da modernidade.
Numa ligeira retrospectiva cabe lembrar que a cidade sempre esteve identificada com formas
do exercício de poder. Tanto nos impérios autocráticos da antiguidade como nas democracias
liberais das Américas (Angel Rama).
Em plena modernidade, no continente americano, a cidade chegou ser realização de elites
liberais sendo também obra e promessa de um mundo melhor para toda sociedade. Osmonumentos e as obras das cidades faziam veicular para a sociedade inteira imagens do
mundo que se por um lado escondiam muitas das mazelas de dominação, (por exemplo, o que
fora a dominação indígena), por outro lado puderam também aparecer como promessas de um
mundo melhor. O ideário liberal alimentou um imaginário de mais liberdade através da
imprensa, dos princípios da escola pública, do voto universal, das artes..., ainda que não tenha
anulado os pressupostos das desigualdades fundamentais que opunham proprietários e
expropriados. Mas a concentração urbana induzida pela industrialização durante todo o
século vinte produziu fenômenos conexos em diferentes escalas em função da mobilidade
territorial do trabalho (internacional-nacional-interregional-intraregional).
No entanto, o processo do capital apresentou um caráter virtuoso ao retirar do isolamento
população camponesa, para reuni-la nas cidades e assim potencializar as forças, as
capacidades que reunia, tanto que a cidade chegou ser um universo carregado de positividade.
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A formação da classe operária, por exemplo, inaugura uma fase importante na história da
cidade, ela era o novo. As pesquisas sobre imigração estrangeira, sobre o proletariado deS.Paulo, sobre os bairros industriais o demonstram.
Henri Lefebvre deu ênfase a essa positividade assinalando o caráter civilizatório do capital
industrial: “a introdução do maquinismo transformou a existência dos tecelões, arruinando as
famílias que viviam honesta e laboriosamente no campo, nas proximidades das cidades, mas
afastadas delas. Essa gente vigorosa e bem estabelecida raramente sabia ler, menos ainda
escrever; iam à igreja, não faziam política, nem conspiravam, não pensavam, tinham prazernos exercícios físicos, escutavam a leitura da bíblia...” eles pareciam muito humanos e o
eram, num certo sentido. E, no entanto, não seriam já simples máquinas a serviço da
aristocracia? A revolução industrial reduziu completamente os operários ao papel de
máquinas, “arrancando-lhes os últimos vestígios da atividade independente”, mas
compelindo-os a “desempenhar seu papel de homens.” Na França a política, na In glaterra a
indústria, empurraram para o turbilhão da história as classes mergulhadas na apatia. (Cf.
Lefebvre, Henri. A cidade do Capital. 2
a.
ed. Rio de Janeiro: DP&, 2001 p10-11)
No entanto, o caráter civilizatório do capital não pode encobrir nem anular suas contradições
já então admitidas como negatividades inerentes ao seu próprio processo.
Mesmo assim é necessário assinalar que a cidade na história, muito antes de ser premissa ao
desenvolvimento do valor de troca e mesmo já como condição e meio de reprodução do valor
de troca, tem sido um lugar de expressão subjetiva das práticas e por isso permitiu a formação
de um ethos de vida social que moldou a ordem distante, fosse da Igreja ou do Estado, dos
sindicatos com a ordem próxima, ali onde estavam os trabalhadores enquanto moradores com
suas famílias, de modo a formar seqüências históricas significativas tanto no plano da vida
imediata dos sujeitos como no da ação política em sentido amplo.
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A indústria, ao alojar-se na cidade, desencadeou seus próprios processos e nesse sentido
redefiniu o sentido da cidade na história. Passou a atribuir-lhe novas funções, estas, já entãoderivadas da produção e da reprodução capitalista da sociedade.
Foi por isso que, em conexão com os processos alojados na cidade, no século vinte a
população mundial tornou-se predominantemente urbana; que o valor de troca da cidade se
tornou imperativo, um absoluto em toda e qualquer latitude.
A cidade enquanto valor de troca para o capital
Enquanto premissa histórica para o desenvolvimento do capitalismo a cidade é apenas o lugar
do encontro do trabalho com o capital. Capital personificado na pessoa do capitalista e
trabalho personificado na pessoa do trabalhador. Mas imediatamente a cidade integra os
circuitos reprodutivos da riqueza. A circulação ex-ante, a reunião dos elementos que se
combinam como capital tanto quanto a circulação ex-post dos produtos, se faz na cidade. A
cidade é o lugar que concentra a produção de mais valia, mas é, sobretudo, o lugar darepartição da mais valia enquanto sobreproduto social, este que se divide em juros, lucro e
renda da terra.
A generalização de uma economia de trocas, sempre a partir da cidade, implica reconhecer
que implicou em transformações na cidade, tanto quanto houve mudanças qualitativas na
sujeição do trabalho ao capital. E, gradativamente, tanto nas estruturas como nas conjunturas
do urbano, enquanto âmbito da vida social foi se configurando uma lógica geral que
dominando os resultados da história acabou por traduzir as diversas capacidades de trabalho
da sociedade como uma força abstrata que se antepõe a cada um e a todos como força
estranha. Como riqueza abstrata e impessoal. Porque, a produção capitalista de produtos
como mercadorias e a forma do trabalho como trabalho assalariado, estão absolutizadas. O
processo de trabalho em geral já é resultado de trabalho concreto, individual,
qualitativamente definido em trabalho abstrato, socialmente necessário, só quantitativamente
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definido e só assim representável na forma autônoma do dinheiro. Em suma, redução do
trabalho qualificado em trabalho abstrato simples.
Todas as atividades (médicos, advogados, professores) caem sob a alçada das leis que
regulam o preço do trabalho assalariado. Somente as forças produtivas sociais do trabalho
(assim socializado), estão à altura de empregar no processo direto de produção, os produtos
do desenvolvimento humano. A aplicação da ciência ao processo imediato de produção
aparece como força produtiva do capital.
Em O Capital (crítica da economia política) foi analisada essa extraordinária distinção eidentificada como sendo o especificamente capitalista. E assim o é porque todos os elementos
do capital (trabalho-espaço-natureza) estão em fase de reprodução, sendo que a vida urbana
implica em racionalizar todos os elementos e momentos dos quais se nutre, porque, de há
muito superou a coleta.
Trata-se de compreender que à própria formação social como totalidade, coloca-se a questão
de reproduzir o valor. Nesta etapa, o capital não recolhe na cidade livremente (tem quecomprar, tem que realizar o valor de troca de seus pressupostos) os elementos de que
necessita para seu próprio processo. Tem que valorizar o valor. Os circuitos capitalistas,
necessariamente, internalizam mercadorias para as quais se constituíram diferentes e diversos
mercados. Isto vale tanto para as matérias primas, para os objetos de trabalho, para os
instrumentos de trabalho, como para o trabalho propriamente. Mas vale, sobretudo, para o
espaço, designação que na Geografia quer dizer inserção territorial das práticas. O espaço não
é um nível prático inerte. Ao contrário, capta e potencializa o processo social. No sentido do
valor capta positivamente o processo social quando valoriza (permite estabelecer e alterar
preços) localizações intra-urbanas. Há, portanto, uma dimensão absoluta no espaço que,
paradoxalmente, só se realiza em termos relativos. Por isso que em David Harvey o espaço é,
também, relacional.
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O espaço e o valor de troca dos lugares
O valor de troca dos lugares é expresso no mercado de terras e de bens imóveis. E, a
propriedade territorial é a categoria teórica pela qual é possível investigá-lo.
Também a dimensão espacial do processo social do capital foi objeto de reflexão em O
Capital, uma Contribuição à Crítica da Economia Política.
Nessa obra a teoria da renda da terra, a partir da economia política clássica, teve seus
desdobramentos sobre a teoria do capital.
Não obstante o esforço de muitos pesquisadores para integrá-la à teoria do capital, depois de bom par de anos (30-40) lê-se em David Harvey, por exemplo, que a teoria da renda é uma
teoria da distribuição. Que, na verdade, o que conta é que se formou um imponente mercado
onde atuam diferentes agentes que acabam por dar forma à urbanização contemporânea.
Vale considerar com mais detalhes estas observações críticas, afinal a propriedade territorial
chega ao mercado, tem preço através do qual há capitalização da renda. Configura-se logo a
questão de saber como um direito, em princípio uma estrutura jurídica configurada, insere-secomo uma categoria econômica do capitalismo se, em princípio, nada tem a ver com os
fundamentos do mesmo. Estamos vendo que neste sistema a reprodução ampliada está
edificada sobre as relações do capital e do trabalho. E que, no entanto, é capaz de internalizar
riqueza em caráter virtual (especulação) pela via da propriedade territorial, porque
desencadeia mecanismos de valorização do espaço.
A valorização do espaço é o tema que nos aproxima, por outro ângulo, do problema da cidade
e do urbano. Isto porque a renda é a forma econômica da propriedade. E valendo-nos ainda de
David Harvey, veja-se: a circulação do capital em busca de renda atua na coordenação e na
produção da mais valia; a renda carrega algum tipo de produção; a renda do solo é a forma na
qual se realiza e se valoriza a propriedade territorial. A terra mercadoria gera renda, para
depois eventualmente gerar juros, mesmo sob a prevalência do capital na forma financeira.
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O preço da terra é expressão do valor, da riqueza que circula pela sociedade com variações de
situação. A modulação desses preços nas cidades (talvez sob capitalismo concorrencial),como mostrou insistentemente os americanos obedecia a critérios locacionais que faziam dos
centros das cidades os lugares de maiores rendas. Assim os preços caiam do centro em
direção ao entorno das cidades. As áreas de comércio e serviços centrais pagavam sempre as
maiores rendas; o uso residencial da terra pagava menos e por último os terrenos mais baratos
eram os de uso industrial. A hipótese que suporta tais raciocínios é de uma planície
isomórfica, o que talvez tivesse sentido quando ainda o capitalismo não era uma estrutura de
organização. Saber como se conforma uma estrutura de preços da terra, agora, exige outrosraciocínios. Seguir o caminho dos agentes, forças sociais que atuam no urbano, entendendo-
se o urbano como a produção cabal deste modo de produção em processo, parece ser o
caminho adequado. 3
A diferenciação interna do espaço da cidade em função de atributos locacionais, derivados de
fenômenos naturais ou histórico-geográficos, traduzidas como qualidades específicas,
integram a reprodução do capital proporcionando capitalização ou descapitalizaçãodiferencial. Sobre tais princípios pode-se tanto elaborar as estratégias de ganho pela via da
capitalização, como simplesmente, estratégias de sobrevivência.
A concentração sócio espacial (do capital, do trabalho) e o aprofundamento crescente na
divisão social do trabalho levou à urbanização a sociedade e configurou a forma da
metrópole. Esta que é uma superfície de urbanização contínua por quilômetros e quilômetros,
que reúne grandes números os quais formam a massa de população urbana. A metrópole
3A bibliografia sobre o assunto é bastante ampla; dentre elas indico algumas contribuições significativas:Alonso, William “Location and Land Use”- Haward University Press, Cambridge, Massachutts – 1968Granelle, Jean Jacques- “Espace Urbain et Prix du Sol” – Sirey Recherches Economiques- Paris 1968Mayer, René-“Prix de sol et Prix du Temp.”Ministère de la Construction -Paris 1965Alquier, François-“Contribution à l´Etude de la Rente Foncière Urbaine” – Espace et Société n.2- ParisLojkine,Jean“Y-a-t-il une Rente Foncière Urbaine?”Espace et Société n.2 - Paris.Centre National de laRecherche Scientifique “L´Analise Interdisciplinaire de la Croissance Urbaine” – 1972 - Paris
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apresenta uma estrutura policêntrica que foi sendo mais ou menos lentamente configurada,
pois sintetizava nos seus processos os elementos da história pregressa, mas já por umarigorosa e precisa quantificação. A metrópole move-se sob o primado do valor de troca. Tudo
tem preço. Tudo se compra e tudo se vende e o tempo é dinheiro.
À medida que a cidade foi sendo invadida pelo valor de troca e este acabou por ser a medida
de todas as coisas, gerava a anticidade a qual damos o nome de metrópole.
Transformações qualitativas importantes alcançaram nos modos de vida e foram produzidas
formas espaciais inusitadas se comparadas às fases iniciais da indústria. Primeiro a
urbanização avassaladora se espraiou e não apenas nas cidades do terceiro mundo, mas como
fenômeno global. Depois, por força da reestruturação produtiva (anos 80) veio a
desconcentração da indústria. Do que restou, escombros de estruturas industriais de um
passado recente, no espaço da antiga cidade.
A perda da mono centralidade da cidade, as tecnologias do cotidiano como, por exemplo, o
automóvel e as novas estruturas de comércio no abastecimento urbano, entre outras
transformações, produzem uma espacialidade muito complexa. A pobreza e riqueza vêem-se
mutuamente no espaço urbano. E não se trata de uma pobreza ou riqueza qualquer, pois estão
elas sendo construídas, aprofundadas, em meio a dramas sem fim como se pode ver na
extrema violência generalizada. Como a pobreza e a riqueza revelam-se com violência,
comportam estratégias de uns e de outros seja nas favelas ou na “cidade de muros”,
eufemismo para especificar os territórios exclusivos formados por condomínios fechados que
circundam as grandes cidades em toda América Latina. A urbanização contemporânea produz
uma paisagem inusitada, resultante da metamorfose da forma da cidade na história.
Pode-se observar um movimento de múltiplas entradas porque as forças sociais passaram
disputar posições estratégicas. De um lado, a retirada do Estado de muitas de suas funções
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sociais impulsionou a ordem do livre mercado e gerou a forma contratual das parcerias
público-privado. Privatizações com gestão privatista de bens públicos é a fórmula que segeneraliza, a partir das políticas neoliberais. Por outro lado, a sociedade inteira está sendo
recortada por interesses particularistas que clamam pelo meio ambientes, por um retorno a
natureza (idílico) como se algum dia isso tivesse existido. As Ongs, numa visão bastante
geral, pretendem-se como entidades capazes de articular as mobilizações e interesses da
sociedade, acima dos partidos e das religiões, mas por volta de questões que supostamente
são desta época e que dizem respeito às novas raridades, tal como a água.
Tem lugar certa mobilização social com inúmeras bandeiras dentre as quais se inclui a coleta
e a reciclagem de materiais. De modo que as periferias, formadas por uma imensa superfície
de pobres urbanos, vão sendo articuladas aos objetivos dos programas e projetos destinados a
conectar logicamente, a retirada do estado de funções pautadas em programas neoliberais.
Por outro lado, os programas de requalificação urbana, devotados aos espaços centrais das
cidades, parecem ser a tentativa de recolher os fragmentos do que resta de um botim. A precoce deterioração das formas de uso do espaço que parecem estar em correspondência
com o custo de oportunidade do capital das diferentes localizações intra-urbana acaba por
justificar uma nova rodada de políticas de espaço de caráter intervencionista que produz a
museificação dos velhos centros. Não se trata de iniciativas ingênuas nelas estão empenhados
o Estado, profissionais liberais, bancos de investimentos, empresários. Se produzir espaço
sempre foi uma forma de formar capital, nestas condições trata-se de reproduzi-lo. São as
reestruturações do espaço medidas, calculadas segundo a lógica interna do processo que
necessariamente tem que valorizar o valor. 4
4 Na reprodução social a dialética opera com a contradição, nela os termos se confrontam e se negam até àsuperação. A contradição percorre um tempo, tem duração, Quando se trata de oposições apenas formaisestamos num mesmo tempo e a lógica formal cumpre seu papel na descrição que, então se torna necessária.
Na superação o que é superado é abolido, suprimido – apenas num certo sentido; porque, em outro sentido, osuperado não deixa de existir, não recai no puro e simples nada; ao contrário, o superado é elevado a um nívelsuperior. E isso porque ele serviu de etapa, de mediação para a obtenção de “resultado” superior; certamente, a
etapa atravessada não existe em si mesma, isoladamente, como ocorria num estágio anterior; mas persiste no
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Estamos em condições de pensar que a cidade deu guarida às formas originárias do capital, pois reunia o trabalho, comportava uma economia pecuniária, abrigava os sujeitos sociais do
trabalho e do capital e, como premissa ao seu próprio processo, definia pelo contrato as
formas civis da propriedade; mas a cidade estava ela própria sujeita a transformar-se pelos
seus acúmulos. Desencadeou-se tal metamorfose que alcançou e manifestou-se ao nível da
vida imediata dos sujeitos envolvidos. Ali, então, a lógica da reprodução desta sociedade foi
configurando os sistemas parciais, articulando-os às exigências da própria reprodução da
sociedade enquanto sistema.
A família, o clube, a vizinhança, a religião, os princípios de civilidade transformados em
práticas espaciais, por exemplo, apesar de todas as limitações que apresentaram, foram
universos de interação social, com um lugar bem determinado na vida urbana durante várias e
sucessivas gerações. Quando se fala em memória urbana geralmente se está referindo às
conjunções dessa fase da história urbana. Estas entidades com suas práticas correspondentes
eram perfeitamente aderentes ao substrato social ao qual pertenciam, mas como eramrecortadas pelo do mundo do trabalho, ficaram sujeitas aos seus efeitos até o ponto de serem
configurados como críticos. 5
resultado, através de sua negação. Assim, a criança continua no adulto, não tal qual era não “enquanto criança”;mas na lembrança e na memória de um adulto, em seu caráter, pode-se encontrar – superadas- a criança e a vida
de criança. (Lefebvre, Henri. Lógica Formal e Lógica Dialética 2 a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1979, p.230-231 )
5Juan José Campanella, cineasta argentino, no filme de 2003 “Luna de Avelaneda” (título original) ou Clube da
Lua (título em português), deu expressão estética ao lugar histórico e geográfico que tiveram os bairrosoperários e as associações operárias com a formação de seus clubes, nas primeiras fases da industrialização naArgentina. Analiticamente abordou a formação, portanto a estruturação e a desestruturação, do modo de vidaligado a um espaço e a um tempo da urbanização.Com esse trabalho contribuiu para o esclarecimento dos efeitos que a industrialização de um lado, e adesindustrialização, por outro lado, produziu no processo urbano.
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O cinema tanto quanto a literatura, de um modo geral, mesmo sem o perceber ou sem ter
estabelecido esse propósito específico, põem em evidência a metamorfose da cidade no cursodo desenvolvimento do capitalismo enquanto formação social. 6
A lógica do mundo do trabalho impõe sujeição da vida urbana porque implica mobilidade
horizontal e vertical do próprio trabalho, sempre em ritmo crescente. No interior das unidades
de produção trata-se do aprofundamento da divisão do trabalho, da padronização das
habilidades e dos saberes, mas no território trata-se do deslocamento incessante da força de
trabalho e mesmo daqueles contingentes que foram se tornando supérfluos, que são ossobrantes. Não convém esquecer que no território inscreve-se a propriedade territorial para a
qual existe um valor econômico correspondente e que existe o Direito, este que guarda e
expressa o lado civil do valor. Trata-se em suma de uma mobilidade contingente, pois que há
de ser enfrentado o processo de valorização do espaço. Nesse sentido a luta por um lugar é
incessante e pode ser sempre reposta.
Para além da generalidade que este raciocínio comporta está a ação dos contra poderes que seorganizam já como recortados e como produto da reprodução das relações de produção em
escala ampliada. Integrando-os estão os sistemas parciais que exigem direitos como, por
exemplo, a família já recortada em crianças, adolescentes e idosos, além das mulheres que se
organizam na reivindicação de direitos e de reconhecimento social amplos.
6 Tia Júlia e o Escrevinhador de Vargas Lhosa foi ambientado em Lima quando a rádio difusão chegava a cadacasa e as novelas de rádio tinham uma função importante de mediação social, numa sociedade em processo demodernização, pelos anos cinqüenta.São contribuições importantes que nos ajudam pensar sobre o lugar social da cidade, com suas metamorfoses, esobre os modos de vida no processo de reprodução da sociedade.
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Pensando a Geografia
Portanto, o urbano é o mundo que nos é dado viver. A socialização capitalista do trabalho
estendeu-se da fábrica para o conjunto da sociedade através do dinheiro como vínculo social.
O que afirma os princípios da concorrência e do individualismo. É possível prescindir do
outro, da pessoa, de qualquer relação quando o dinheiro, de simples mediador das relações,
levantou-se como sujeito que alimenta /produz a coisificação e o fetiche das coisas do
mundo.
Aceitando as premissas de que há um movimento da formação o conhecimento não deveriaabdicar de buscar a contradição e o conflito, mesmo em se tratando de uma realidade que
soma graus de complexidade. A lógica da mercadoria pode fornecer um caminho. Pois é disto
que se trata já que o valor de troca domina o mundo e que agora o domina em segundo grau.
Quer dizer que é necessário valorizar o valor.
Só para ilustrar, parece que na atualidade os produtos, os objetos e coisas são acompanhados
de discursos que lhes atribui significados mais e mais sobrepostos. Mas como oconhecimento não pode ficar prezo ao discurso que flutua sobre as práticas ainda que dele se
valha, o enigma exige fazer o caminho contrário: encontrar as práticas para desfazer as
ilusões, a partir das premissas que a reflexão teórica permite construir.
Creio que o capital como forma da riqueza social no seu movimento subsume o espaço,
portanto toda riqueza da sociedade tem atributos do espaço e a forma como a riqueza é
metamorfoseada aparece na espacialidade que gera. Por isso não deveríamos confundir a
cidade com a metrópole. O ponto de ruptura entre uma coisa e outra não saberia precisar, nem
sei mesmo se seria possível porque há uma desigualdade imanente entre atividades e setores.
De todo modo como conjunto e como resultado, a partir de certo ponto fica bem evidente que
a metrópole (anticidade) é a síntese contraditória da cidade.
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Ai então no absoluto domínio do tempo sobre o espaço, por um estranho paradoxo, as
estratégias espaciais servem à continuidade da estrutura reprodutiva do capital. Através doespaço redefine-se o uso do tempo.
Para ilustrar estes pensamentos, mesmo negligenciando parte do conjunto de argumentos
apresentados, recorro ao senso comum e até ao filósofo, para mostrar como o problema está
delineado; estou então tentada a afirmar que quando nos referimos a cidade cada um sabe
mais ou menos o que quer dizer, mas o interlocutor pode não saber exatamente o que está
sendo dito.
Wittegnstein atinou para isso dizendo que existem palavras muito poderosas e fortes para asquais mesmo quando os conteúdos que lhes corresponde já não existem, elas, as palavras,
continuam na linguagem através dos tempos e que, talvez, esse seja o caso da palavra cidade.7
A Geografia aplicada e a metrópole
Por um longo período estudos das hierarquias urbanas explicavam cada metrópole de per si,
como cidade primaz, como cabeça de uma rede de cidades no âmbito dos estados nacionais.Esse conhecimento, supostamente, destinava-se a instrumentalizar a ação do Estado na
formulação de políticas públicas de cunho territorial. O desencontro entre as formas
espaciais, resultado da ação prática dos inúmeros agentes, e as prescrições normativas
relativas aos territórios e sua gestão impossibilitaram a gestão pública, durante décadas,
assumirem as metrópoles tais como eram. A base territorial do exercício da administração
pública continuava sendo o município. (movimento municipalista/eleições). Vários
organismos de administração pública foram sucessivamente criados para atuarem sob uma
base metropolitana. (pode-se mencionar a criação das regiões metropolitanas-1974).
Por volta dos anos oitenta, face aos fenômenos conhecidos por globalização, as grandes
metrópoles mundiais (Nova York, Tókio, Londres...) ficaram no centro dos problemas
7 Arantes, Paulo E. O ponto de mutação no projeto Habermas (1997).
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gerados pela concentração do poder econômico e das decisões das grandes empresas
mundiais nos seus territórios de atuação. A Geografia e os geógrafos foram assumindo comonecessário manejar categorias e conceitos de outra natureza para compreender os fenômenos
da distribuição de cidades, do grau de concentração e de dispersão das atividades, do poder e
do dinheiro pelo território. Constatou-se então que era necessário incorporar o mando e o
comando; revelou-se que a dispersão de atividades pelo território (a periurbanização)
corresponde à concentração e centralização de decisões e que as novas tecnologias da
informação favorecem a tal reestruturação.
A mobilidade territorial do capital, os organismos internacionais de gestão financeira (Fundo
Monetário Internacional e Banco Mundial) junto com a crise da dívida do Terceiro Mundo,
acabaram por produzir uma reestruturação nas economias nacionais.
Transforma-se a Geografia urbana. Os modelos de distribuição continuam como
especulações, ora mais ora menos pertinentes. Mas a questão é de compreender que o ajuste
estrutural por que passaram as economias nacionais, por imposição do FMI, impulsiona areprodução da pobreza.
Financiamentos diretos às administrações municipais interessam às agências internacionais.
Hoje, com a defesa da autonomia dos municípios para firmar contratos, Ongs e prefeituras
promovem uma ligação direta dos governos locais com o nível internacional do capital
financeiro. Por mais estranho que possa parecer política vira contas a prestar e a pagar, taxas
de juros e assim por diante.
As redes locais de segurança desaparecem, agricultores pobres ficam cada vez mais
vulneráveis a qualquer choque exógeno: seca, inflação, aumento dos juros (dívidas). Os
incêndios, agora muito comuns, em regiões de agricultura camponesa indicam a
impossibilidade do trabalho coletivo que secularmente serviu ao controle de situações dessa
natureza e que consistia em bater o mato.
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As novas técnicas de comunicação e de informação favoreceram as implantações mais
dispersas dos centros de atividades das empresas e mesmo de localização residencial. Aconcentração física de empresas comporta certa dispersão, por isso a questão da localização e
da distribuição espacial de atividades é diferente do que foi nas fases anteriores quando se
desencadeava a industrialização.
As funções de pólo da economia mundializada definem centros na economia mundial e não
implicam mais em concentração física.
Fala-se até que a dispersão de atividades seria uma nova revolução urbana que anuncia o fimda grande cidade da época industrial e o nascimento de metápolis (Françoise Ascher). Ai sim,
a peri-urbanização estaria substituindo o crescimento denso e contínuo no entorno das
metrópoles por uma extensão sobre os territórios desconcentrados, descontínuos,
heterogêneos e multipolarizados sem limites precisos entre a cidade e o campo. Numa visão
nada otimista a configuração da metápolis pode levar a formação de verdadeiros guetos no
interior das regiões metropolitanas e o agravamento das segregações sócio espaciais.
Aceitando que essa seja uma tendência geral dos processos urbanos, as condições que o
sistema opera têm necessariamente a ver com o contexto no qual se insere. Em paises como o
nosso onde reina nas nossas cidades a pobreza da maioria o futuro da cidade e do urbano está
muito incerto.
Como pesquisar a metamorfose da cidade em metrópole?
Pelos fios de continuidade que atravessaram tempos históricos e sociais e que por vezes
permaneceram retidos na trama desta urbanização avassaladora.
Por que pesquisar? A abordagem histórico-genética, tal como está sendo aqui
preconizada, permite vislumbrar o movimento da formação, o que é a mesma coisa do
que pensar o devir. Em conseqüência e sob bases reais, o pensamento alça vôos mais
seguros.
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Bibliografia
ASCHER, Françoise. Métapolis ou L´avenir des Villes.Editions Odile Jacob-Paris, 1995.
ARANTES,Paulo. Providências de um Crítico Literário na Periferia do Capitalismo. In:
Sentido da Formação. Arantes,Paulo E. /Arantes,Otília Beatriz F. ed.Paz e Terra/Rio de
Janeiro 1997.
CARRIL,Lourdes. Quilombo,Favela e Periferia. Ed. Annablume/São Paulo 2006.
LEFEBVRE,Henri. La Pensée Marxiste et la Ville. Casterman/Paris 1972 2ª.édition/MARX, Karl. Capitulo VI Inédito de O CAPITAL: Resultados do Processo de Produção
Imediata. Ed.Moraes.São Paulo s/d
DAVIS, Mike. Planeta Favela. Boitempo Editorial, São Paulo/ 2006