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Pesca Brasil l 66 Edificação »Por: Janaína Quitério l Fotos: Fernando de Santis [email protected]

"De cidade enferma à estância turística"

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Matéria publicada na Revista Pesca Brasil 21, em julho de 2009. (Txt sem aplicação da Nova Ortografia): “Suíça brasileira” pelo seu clima incomparável e pela topografia de montanha; natureza inspiradora de artistas plásticos, poetas e escritores; construções encantadoras. Várias são as facetas que fazem de Campos do Jordão um dos destinos mais glamorosos do país

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Edificação »Por: Janaína Quitério l Fotos: Fernando de Santis [email protected]

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“Suíça brasileira” pelo seu clima incomparável e pela topografia de montanha; natureza inspiradora de artistas plásticos, poetas e escritores; construções encantadoras. Várias são as facetas que fazem de Campos do Jordão um dos destinos mais glamourosos do país

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Noite na Vila de Capivari — centro turístico

da cidade

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Quem passeia pelas avenidas de Campos do Jordão — compondo com os pés o ruído do “cróc” ao pisar nas folhas caídas dos plátanos — não poderia imaginar que

outrora a cidade teve a reputação de “cidade enferma”. É que até 1940 Campos do Jordão era destino de cura para enfermos de tuberculose, que para lá iam tentar curar-se com o clima da montanha. A imagem era de má índole: “Mulher grávida era le-vada para dar à luz em outro município, para que o filho não nascesse cidadão jordanense. Visitantes chegavam à cidade com os vidros fechados, porque tinham medo de respirar o ar”, conta o escritor Pedro Paulo Filho, que tem vários livros publicados sobre a história da estância. Segundo ele, nin-guém revelava que nascera em Campos do Jordão. “Hoje, mudou diametralmente a imagem da estação de cura da tu-berculose para estância de turismo. Antigamente, provocava pavor. Hoje, provoca louvor”, compara o escritor. Campos do Jordão está no alto da Serra da Manti-queira, a 1700 metros de altitude, relativamente próximo de três grandes capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. As baixas temperaturas do clima tempe-rado de altitude é o fascínio da cidade e movimenta o turis-mo — sua principal economia. A paisagem, a topografia, o verde, as araucárias, as flores silvestres, os cenários, tudo isso arquitetou uma cultura do frio — saborosa em gastro-nomia, requintada em cultura (é lá que acontece o maior evento de música erudita da América Latina) e aconchegan-te nas construções. “Campos do Jordão é uma mulher bonita por quem você se apaixona perdidamente à primeira vista”, inspira-se Pedro Paulo Filho.

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Os plátanos vieram para Campos do

Jordão importados da Argentina em 1954. Desde en-

tão, se proliferaram pelas alamedas da

cidade

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Rotulada como “Suíça brasileira” devido a seu clima — comparado ao da cidade de Davos [leia

na seção de Meio ambiente] —, Campos do Jordão ain-da agregou o aspecto paisagístico de montanhas à semelhança com as cidades alpinas. Isso contribuiu para que a arquitetura acompanhasse essa inspira-ção. “Nós temos alguns vales, maravilhosos, para os quais você olha e diz: ‘poxa vida, estou na Suí-ça’. Assim, ao pensar em construir, dedica-se a uma arquitetura de montanha, com características que venham dos Alpes”, explica o arquiteto jordanense José Roberto Damas Cintra. Figuras indispensáveis no cenário charmo-so da cidade, as edificações jordanenses em geral têm telhados agudos e janelinhas de madeira, sob as quais se encachoeiram flores nas jardineiras. “Tudo é bem simples, sem sofisticação maior”, caracteri-za Damas Cintra. “O que se pode notar é que em Campos o pessoal curte muito os telhados. Embora não tenhamos neve, aproveita-se o sótão, onde nor-

malmente é o lugar mais gostoso da casa por ser quentinho”, completa. Ainda que o traço marcante das construções atuais advenha dos Alpes, a arquitetura de Campos do Jordão é bastante diversificada. Na verdade, ela foi se transformando à medida que a sua vocação histórica se modificava. À época dos primeiros des-bravadores, que atravessavam a região em direção a Minas Gerais, no Ciclo do Ouro (1703 a 1874), a in-fluência era da arquitetura portuguesa. No ciclo sub-seqüente, denominado Ciclo da Cura (1874-1940), também: “A partir de 1908, quando alguns imigran-tes portugueses vieram para cá, inclusive da minha família — que veio para ajudar a estruturar a Estrada de Ferro Campos do Jordão —, eles trouxeram com eles uma maneira de construir à moda portuguesa. Então, as casinhas da estrada de ferro, os primeiros sanatórios, tudo guarda uma característica da arqui-tetura européia, mais puxada para a portuguesa”, interpreta Damas Cintra.

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No Morro do Elefante, visão de vários telhadinhos, uns diferentes dos outros

O arquiteto José Roberto Damas Cintra

apresenta uma foto tirada do Morro do Elefante, em 1929

Residência no alto do CapivariVilla Mazzaropi (antigo hotel villa Inglesa)

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Janelas com muitas flores, típicas da arquitetura suíça

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Como chegar

Distante 167 Km de São Paulo e 355 Km do Rio de Janeiro, as principais rodovias de acesso são: SP-123 (Floriano Rodrigues Pinheiro) e SP-050 (Monteiro Lo-bato). Outra opção é pela Estrada de Ferro Campos do Jordão, com partida da cidade Pindamonhangaba-SP e parada em Santo Antфnio do Pinhal-SP. O per-curso de 47 quilфmetros leva três horas.

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Já a partir dos anos de 1940 (Ciclo do Turismo), houve uma imigração muito grande dos alemães, que ini-ciaram a construção dos grandes hotéis da cidade. A época da cura da tuberculose foi sendo deixada para trás, pois a doença já não precisava mais ser tratada em sanatórios. Obras importantes como o Cassino Grande Hotel, o Pa-lácio Boa Vista e o Auditório Cláudio Santoro foram edifi-cadas, e pessoas ilustres iniciaram a construção de casas de veraneio. Assim, as edificações foram ganhando novas formas. Hoje, há uma mistura de tendências — e é isso que caracteriza o “estilo” jordanense de construir. “Nós temos uma arquitetura muito diversificada aqui. Não há construção igual à outra. Há desde uma arquitetura suíça pura até uma casa mais moderna, com estilo de montanha, mas puxando para o urbano. A característica marcante são os telhados, dos mais diversos materiais, desde o sapé até uma telha metálica. E isso é o que dá certa movimentação da paisagem da cidade. É uma atração turística”, finaliza o arquiteto.