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ASSUNTO: De moto pelas Américas Reservados os Direitos do Autor: www.Rituais.com Autor: Wilton de Almeida ([email protected]) 07-09-05 Pág. 1 De Moto pelas Américas Cabra das montanhas – esses belos animais das montanhas geladas do Alasca foram o primeiro motivo para que eu partisse nesta viagem. Norte do Canadá. Após exaustivo planejamento para estudo e elaboração do roteiro, parti rumo a um antigo sonho: percorrer as três Américas, desde o Círculo Polar Ártico no Alasca até São Paulo, onde vivo, tudo de motocicleta. Escolhi a cidade de Los Angeles - Califórnia - para o início desta aventura. A fenda do Grand Cannyon nos lembra a dimensão do Grande Criador. EUA. De lá fui a Las Vegas, depois ao árido Vale da Morte. Este nome se deve ao fato de este local estar a 70 metros abaixo do nível do mar e mesmo assim não ter água. Nas montanhas Rochosas o cenário vai variando entre o belo e o incrível com tamanha velocidade que por muitas vezes nem a neve caindo me atrapalhava. Já no Canadá, percorri os parques de Banff e Jasper. São aproximadamente 290 Km de pura natureza em uma das rodovias mais belas do planeta. Ao norte da cidade de Jasper iniciou-se um dos momentos mais esperados da viagem: o encontro com ursos em seu habitat natural. O risco de fotografar animais Um dos momentos aonde o frio se confundia com a alegria de continuar seguindo em frente rumo ao Alasca.

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De Moto pelas Américas Cabra dasmontanhas –esses belosanimais dasmontanhasgeladas doAlasca foram oprimeiro motivopara que eupartisse nestaviagem. Nortedo Canadá.

Após exaustivo planejamento para estudo e elaboração do roteiro, parti rumoa um antigo sonho: percorrer as três Américas, desde o Círculo Polar Árticono Alasca até São Paulo, onde vivo, tudo de motocicleta. Escolhi a cidade deLos Angeles - Califórnia - para o início desta aventura.

A fenda do Grand Cannyon nos lembra a dimensão doGrande Criador. EUA.

De lá fui a Las Vegas, depois ao áridoVale da Morte. Este nome se deve aofato de este local estar a 70 metrosabaixo do nível do mar e mesmo assimnão ter água. Nas montanhas Rochosaso cenário vai variando entre o belo e oincrível com tamanha velocidade quepor muitas vezes nem a neve caindome atrapalhava.

Já no Canadá, percorri os parques deBanff e Jasper. Sãoaproximadamente 290 Km de puranatureza em uma das rodovias maisbelas do planeta. Ao norte da cidadede Jasper iniciou-se um dosmomentos mais esperados daviagem: o encontro com ursos emseu habitat natural.

O risco de fotografar animais Um dos momentos aonde o frio se confundia com a alegria decontinuar seguindo em frente rumo ao Alasca.

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Depois de tanto sonhar fotografá-lo em seuhabitat natural, lá estava ele. Jasper – Canadá.

selvagens é sempre um item que devemoslevar em consideração, porém com cautela euma dose de sorte, foi possível conseguirrealizar estas fotografias.

Na medida em que eu rumava ao norte, aoAlasca, os dias iam ficando mais frios e maislongos.

Em determinado dia, próximo a cidade deIskut, já passava das 22:30 hs quandopercebi que o dia não ia embora e resolviparar para dormir. A partir da parte norte daprovíncia de Yukon as estradaspavimentadas acabaram e o cascalho soltopassou a ser uma constante durante oslongos dias. Pouco mais de 22:30 horas e o dia claro. Estava

enfim me aproximando do Alasca.

Ao total foram 3200 Km (entre ida e volta) de estradas ruins, em conserto ouem abandono total. A Alaska Highway é o único meio possível, por terra, dese chegar ou sair do Alasca e no inverno, que lá é demasiado rigoroso, aneve se encarrega de destruir a pavimentação da rodovia.

Esta faixa levei para fazer uma homenagem ao meu pai.Quando entreguei a foto ele ficou em silêncio e, apósaproximadamente 30 segundos, falou somente “Bacana...”.Neste momento, entre lágrimas, nos abraçamos. CírculoPolar Ártico – Alasca.

Chegar ao Alasca foi uma emoção àparte. Após cruzar o Círculo PolarÁrtico, virando a bússola, o destinoestava distante: São Paulo - Brasil.Não sem antes atravessar as regiõesda América Central e do Sul,sobretudo com a preocupação deencontrar os guerrilheiros emalgumas partes.

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Atravessei o México pela região mais histórica na tentativa de saber umpouco mais sobre o país que, ao brasileiro, se faz por demais acolhedor.Cidades como Zacatecas, Chiuahua, Guadalupe, entre outras, não podiamestar fora de meu roteiro. Na cidade do México, o caos urbano fez-melembrar a superpopulação de minha cidade. Visitei as ruínas de Teotihuacán,a cidade dos deuses, onde, segundo a lenda, o ano era composto de 360 diase mais 5 dias sagrados. As crianças nascidas nos 5 dias sagrados teriam ahonra de, após 5 ou 6 anos, serem sacrificadas e oferecidas ao deus sol paraque o mesmo não parasse de brilhar e continuasse dando vida aos homens.

Quase no Estado de Chiapas, o mais pobre do país, um frentista de posto degasolina alertou-me: "Brasileiro, você é louco? Aqui eles atiram de verdade,depois é que perguntam alguma coisa. Vá por outro caminho se desejacontinuar vivo...".

Na Guatemala fui conhecer as ruínas de Tikal, um exemplo de preservaçãoda civilização Maia. Depois El Salvador e Honduras. Muitos haviam faladodos riscos destes países da América Central, mas foi ali que encontrei umdos povos mais hospitaleiros e acolhedores de todo o percurso. Algumaspassagens ficaram gravadas para sempre em minha memória como gentesimples e boa.

Um dos momentos mais tensos destaviagem aconteceu na Nicarágua, onde fuiabordado por guerrilheiros.

O pior foi que eu estava em um trecho derodovia onde há mais de 40 minutos eu nãovia nenhuma alma viva. A solidão fezdaquele momento terrível. Depois dealguns minutos sendo só observado, nomais perfeito silêncio, o que aumentavameu medo, um deles perguntou de onde euera.

A fronteira mais difícil de um país aonde encontreiguerrilheiros que, amistosamente, permitiramminha passagem. Nicarágua.

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Foi minha salvação já que, quando respondi "brasileiro", ele logo falou deRomário, Bebeto, Ronaldo, Futebol e Carnaval. Graças a Deus. Depois quesaí dali, ou seja, fui liberado, minhas pernas começaram a tremeramolecidas.

No Panamá visitei o complexo do Canal de Panamá, que faz a ligação entreos oceanos Atlântico e Pacifico. Diante de tão grandiosa obra, obra esta feitaa custa de muitas vidas, chego a pensar em como há força para melhorarmosa condição de vida no planeta. Em Colón um pouco de música, cerveja e omodo caribenho de viver. Colômbia é um país de incontáveis belezas.Zipaquirá, a catedral de sal é uma visita imperdível para quem vai a Bogotá.

Ao sul da Colômbia uma obra magnífica apoiada em um vale.Catedral de Las Lajas. Ipiales.

Mais ao sul, próximo a Ipiales, umadas igrejas mais impressionantes quejá vi, senão por seu tamanho, maspela ousadia de sua construção, jáque foi literalmente apoiada nas duasparedes de um vale. Trata-se daCatedral de Las Lajas.

Equador foi outro país que eupoderia classificar como dos maishospitaleiros.

Na cidade de Quito passa a linha do Equador, que divide o planeta em doishemisférios: norte e sul. Ali conheci o senhor Humberto Vera, historiadorque já esteve em todos os monumentos à linha do Equador, em todo oplaneta. Aliás foi ele o responsável pela construção do monumento queexiste em Quito. Foram várias horas de bom bate papo e troca deinformações e experiências.

Em Quevedo não posso deixar de citar a hospitalidade do povo, além domelhor hotel de todo percurso, o hotel Internacional que, por apenas 22dólares, oferece piscina olímpica, quarto enorme, banheira grande,

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restaurante, bar, boate, garagem, tudo que um grande hotel pode oferecer.

No Peru o agente da aduana disseque só daria permissão para que eupermanecesse no país durante setedias. Depois de eu pedir um poucomais ele respondeu: "-Vocês nosmeteram sete e por isso agorasomente darei sete dias..." e sorriu.Foi aí que percebi que ele estava sereferindo a uma partida que tinhaocorrido alguns dias antes, quanto oBrasil derrotou o Peru por 7x0. Nofinal ele me deu 90 dias de visto.

A beleza e a solidão de um dos desertos mais secos do planeta.Deserto de Sechura – Peru.

4800 metros de altitude, 10º C abaixo de zero no único pontode hospedagem que conseguimos naquele dia. Cordilheirados Andes – Peru.

Subindo a cordilheira, desdeArequipa, a temperatura variou de40º C até 0º C em apenas quatrohoras e meia. Mais tarde, nestemesmo dia, a temperatura chegou a -10º C, o que fez um total de 50 grausde variação. Ufa, haja frio... Nestanoite a solução foi dormir na casa deuma família andina de origemquéchua.

A senhora preparou um frango ensopado e muito mate de coca, o que valeupara dar uma esquentadinha. O mate de coca é utilizado para equilibrar aspressões interna e externa no corpo e para melhorar o mal estar provocadopelo soroche (o mal das alturas), que assola quem se aventura em grandesaltitudes. O quarto, único disponível, não fechava a porta direito, além de terum buraco enorme no teto, o que fazia o vento entrar e sair durante todanoite. O lado bom foi poder olhar a noite andina dos 4.500 metros dealtitude, bem pertinho das estrelas, mesmo pensando que o frio pudesse mevencer. Creio ter sido a noite mais longa de minha vida.

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Vale Sagrado dos Incas. Peru.

Macchu Picchu e o Vale Sagrado dosIncas merece um capítulo a parte emvirtude da história que esconde-se pordetrás de cada uma daquelas pedras. Valedizer que a importância das ruínas deMacchu Picchu se deve ao fato de estamanter-se 80% ainda preservada.

Em suas vestes típicas andinas esta pequena índia quéchua posa para uma foto.

De volta à estrada, Puno e o LagoTiticaca, o mais alto lago navegáveldo planeta, onde pequenasembarcações de junco, os Totora,cruzam as águas rumo às ilhas do Sole da Lua. Na Bolívia, a capitalfolclórica das Américas, estradasdifíceis foram uma constante. Casebres do altiplano andino. Peru.

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Logo de cara um atoleiro de areia apresentava algumas bifurcações que, casofosse escolhido o lado errado, só depois de uns 200 ou 250 metros, dava paraperceber devido a presença de uma barreira de mata à frente. E toca a voltartudo no areião. La Paz é uma cidade linda, rodeada por picos nevados cujomaior é o Ilimani. Ali consegui comer algo tão típico em Sampa e tão difícilnesta viagem, um Hot Dog.

Ponto mais alto da rodovia que cruza a cordilheira na Bolívia.

É, parece esquisito, mas as coisasmais simples podem nos provocarsaudades. Em Santa Cruz de LaSierra, a opção foi o Trem daMorte. Mal sabia eu que ao descerem Roboré no dia seguinte, levariamais dois dias para percorrersomente 75 Km, devido a umatoleiro intenso de areia chamadofesh-fesh. É o lado boliviano denosso pantanal.

No primeiro dia, após 32 Km, cheguei a Águas Calientes. Como o próprionome sugere, ali passa um rio de água quente onde as pessoas entram para sebanhar e relaxar. O dono de uma casa tinha acabado de abater um boi eaproveitei para fazer uma boa e barata refeição. Ali fiquei no hotel maisnatural de todo o percurso, ou seja, fiquei tão próximo da natureza quantoqualquer pessoa pode, ou sonha, ficar. Em outras palavras, parei amotocicleta e dormi ao lado dela.

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No lado boliviano os arenais chegam a ter até 70 cm de profundidadee se chamam fesh-fesh. Bolívia.

No dia seguinte rodei 45 Km atéum povoado de nome Naranjo,sempre enfrentando o tal dofesh-fesh. A chuva veio e aúnica saída era esperar um novotrem que viria somente no outrodia. Dormi na estação próximo àmoto. O senhor Juan, quecuidava do local, acabou mearranjando uma rede e dissepara que eu dormisse dentro da

estação e que ele a deixaria aberta para o caso de eu querer sair durante anoite. Neste momento eu pensei comigo: "Mas sair para aonde?"

Peguei o trem e vim agarrado emuma coluna de ferro até Yacuse, deonde parti rumo a Corumbá, já noBrasil. De Corumbá (MS) até SãoPaulo foram 1500 Km de quaserelaxamento, com boas estradas epouco trânsito. Só próximo a SãoPaulo é que a quantidade de veículosaumentou. Em casa havia uma placaonde eu pude ler: "Welcome backfrom Alaska".

Tucano. Pantanal matogrossense – Brasil.

Exausto mas cheio de histórias na bagagem, percebi mais uma vez que vivervale a pena. A festa varou a madrugada."

NOTA: O livro "Uma Aventura às Três Américas" pode ser encontradona Livraria Cultura, Fnac, Nobel, entre outras.

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No litoral brasileiro, cenários belos e encantadores. Praia de CanoaQuebrada – Ceará – Brasil.

Inicio da Rodovia Transamazônica – aqui ocomeço de um sonho que se realizaria porcompleto no ano de 2005. Paraíba – Brasil.

Do Autor de…

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