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112 www.backstage.com.br REPORTAGEM De volta às origens De volta às origens U m dia, em Belo Horizonte, quando ainda era um meni- no, Pascoal Meirelles comprou e levou para casa um dis- co de jazz. O disco era do baterista norte-americano Art Blakey com o seu grupo, os Jazz Messengers. Inspirado pelo esti- lo, o garoto de BH aprendeu a tocar bateria e ouviu outros instrumentistas, inclusive os brasileiros que fizeram a escola da nova música brasileira da época, a bossa-nova e o sambajazz. “Ouvi outros bateristas do jazz, como Evin Jones e Tony Williams, e da música brasileira, como Dom Um Romão e Edson Machado”, comenta Pascoal. No entanto, durante seus mais de 40 anos de carreira comemorados no início de 2006, o baterista nunca deixou de ter vontade de fazer um trabalho nos moldes do Jazz Messengers na música brasileira. Foi então que Pascoal montou o seu sexteto. “A sonoridade dos Jazz Messengers era, geralmente, com três sopros. Ou era trompete, sax alto e sax te- nor, ou era trombone, sax alto e tenor, ou trombone, trumpete e tenor. Fiquei com essa sonoridade na cabeça a minha vida toda. Pensei em fazer, para a música brasileira, uma formação assim. Então, em 1997, saiu o primeiro CD do sexteto”. Este disco era o Forró Brabo, com a mais pura música instrumental brasileira. Pascoal Meirelles em homenagem a Art Blakey Miguel Sá [email protected] O CD Tributo a Art Blakey é uma homenagem do baterista, compositor e arranjador a um dos músicos que mais o inspirou . No repertório, standards que eram executados pelos Jazz Messengers. Os arranjos são todos de Pascoal Meirelles “A sonoridade dos Jazz Messengers era, geralmente, com três sopros. Fiquei com ela na cabeça a minha vida toda. Pensei em fazer, para a música brasileira, uma formação assim ”

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REPORTAGEM

De volta às origensDe volta às origens

Um dia, em Belo Horizonte, quando ainda era um meni-no, Pascoal Meirelles comprou e levou para casa um dis-co de jazz. O disco era do baterista norte-americano Art

Blakey com o seu grupo, os Jazz Messengers. Inspirado pelo esti-lo, o garoto de BH aprendeu a tocar bateria e ouviu outrosinstrumentistas, inclusive os brasileiros que fizeram a escola danova música brasileira da época, a bossa-nova e o sambajazz.“Ouvi outros bateristas do jazz, como Evin Jones e TonyWilliams, e da música brasileira, como Dom Um Romão e EdsonMachado”, comenta Pascoal. No entanto, durante seus mais de40 anos de carreira comemorados no início de 2006, o baterista

nunca deixou de ter vontade de fazer um trabalho nos moldesdo Jazz Messengers na música brasileira. Foi então que Pascoalmontou o seu sexteto. “A sonoridade dos Jazz Messengers era,geralmente, com três sopros. Ou era trompete, sax alto e sax te-nor, ou era trombone, sax alto e tenor, ou trombone, trumpete etenor. Fiquei com essa sonoridade na cabeça a minha vida toda.Pensei em fazer, para a música brasileira, uma formação assim.Então, em 1997, saiu o primeiro CD do sexteto”. Este disco era oForró Brabo, com a mais pura música instrumental brasileira.

Pascoal Meirellesem homenagem a Art Blakey

Miguel Sá[email protected]

O CD Tributo a Art Blakey é uma homenagem do baterista, compositor earranjador a um dos músicos que mais o inspirou . No repertório,standards que eram executados pelos Jazz Messengers. Os arranjos sãotodos de Pascoal Meirelles

“A sonoridade dos Jazz Messengers era,geralmente, com três sopros. Fiquei

com ela na cabeça a minha vida toda.Pensei em fazer, para a música

brasileira, uma formação assim ”

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REPORTAGEM

Em 2002, a partir de um convite feitopelo falecido produtor musical PaulinhoAlbuquerque, Pascoal e seu sextetomontaram um tributo a Art Blakey paraapresentações de jazz no Centro Culturaldo Banco do Brasil, no Rio de Janeiro. Osshows foram muito bem sucedidos, comcasa cheia de quarta a sábado. As grava-ções feitas durante os shows acabaramgerando a idéia de um CD em homena-gem a Art Blakey. Idéia, que ficou guar-dada até 2005, quando Pascoal Meirelles(bateria), Sérgio Barrozo (baixo acústico),

Dario Galante (piano e teclados), DanielGarcia (sax tenor), Jessé Sadoc (trum-pete) e Idriss Bodrioua (sax alto) foram aoestúdio Barrozo Neto gravar, em três diasde sessões, standards tocados por ArtBlakey e os Jazz Messengers.

Homenagemsem ser “cover”Apesar de o disco ser um tributo, os ar-

ranjos não são iguais aos que eram execu-tados pelos Jazz Messengers. Todos foramfeitos por Pascoal para as apresentações no

CCBB. “Os arranjos são diferentes dosoriginais. Na Blue Moon, eu fiz umarearmonização, assim como em Close

Your Eyes. Os arranjos de Caravan eNight in Tunisia têm modificações emcima do que o Art Blakey fez. Procureidar um toque próprio ao trabalho”. E foicom este material que o Pascoal Meirelles

Sexteto partiu para o estúdio.Durante as sessões, pilotadas por Ugo

Marotta, os músicos fizeram três takes decada música. O tamanho da sala do estú-dio permitia que todos tocassem juntos.Para preservar o espírito das gravaçõesjazzísticas da época de Art, nem os me-tais tocaram isolados em uma casinha.Eram todos tocando juntos, no mesmotempo e espaço, com o técnico de somadministrando os vazamentos. “Não ti-vemos overdubs”, explica Pascoal. “Oque fizemos foi escolher o take com me-

Para preservar o espírito das gravações jazzísticas daépoca de Art, nem os metais tocaram isolados em umacasinha. Eram todos tocando juntos, no mesmo tempo

e espaço,com o técnico de som administrando osvazamentos

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Para saber mais

nos defeitos técnicos ea melhor atmosfera mu-sical. Ninguém refezsolos”. Os takes eramgravados um em segui-da do outro e tudo foigravado sem clique.

O resultado foi o Tri-buto a Art Blakey, umdisco com 10 faixas gra-vadas por alguns dos me-lhores músicos que atu-am no Brasil. Até umagravação da época doCCBB foi aproveitada.Pascoal Meirelles ficoumuito satisfeito com o re-sultado musical, princi-palmente, no que diz respeito à dinâmica.“A dinâmica do estúdio é muito controladana mixagem, nos faders. É legal se o produ-tor for bom, mas quando o músico é o res-ponsável pela dinâmica, é uma coisa muitomais orgânica. Quem está mixando nãotem muito trabalho. Neste disco pouca coi-sa foi mexida”.

Pascoal Meirelles:baterista, arranjadore compositorNo fim da década de 60, depois de

tocar em muitos bailes em Minas Gerais,Pascoal foi para o Rio de Janeiro ampliarseus horizontes musicais. Após o primei-ro trabalho com Paulo Moura, Pascoalnão parou mais de crescer na carreira.No auge da MPB, de início a meados dadécada de 70, tocou com, praticamen-te, todos os grandes artistas do gênero.De João Bosco a Edu Lobo, de Ivan Linsa Elis Regina e Gonzaguinha (comquem teve grande envolvimento profis-sional); boa parte dos grandes nomes daMPB tem pelo menos uma gravaçãocom o baterista.

Em meados da década de 70, aconteceuma grande virada. Pascoal ganhou uma

bolsa para estudar em Berklee. O períodode 4 anos nos EUA foi uma virada para oinstrumentista. Neste tempo, ele apren-deu também a ser arranjador e iniciou asatividades de composição. “Quando vocêestuda em uma universidade de música ,o seu instrumento é um detalhe. O gran-de objetivo é estudar música de uma for-ma geral. Os arranjos, as composições, ascoisas que eu faço eu devo a isso, ter estu-dado o lado teórico da música a fundo.Isso me proporcionou conhecimento parapoder compor, escrever, arranjar até paraorquestras grandes”.

Hoje, Pascoal tem um grande númerode discos lançados em seu trabalho ins-trumental, seja com o supergrupo Camade Gato, seja com o Sexteto ou nos traba-lhos que levam apenas o seu nome. Epara o ano que vem, o músico já preparaum trabalho novo com o Sexteto e convi-dados. O público, já curioso, saboreia oTributo enquanto espera este próximo.Enquanto isso, a música instrumentalbrasileira agradece.