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Agravo de Instrumento n. 2014.016531-6, de Itajaí Agravante : Unimed Litoral Cooperativa de Trabalho Médico Ltda Advogado : Dr. Augusto Garcez Duarte (20589/SC) Agravado : Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen Advogada : Dra. Débora Teixeira dos Reis Homrich (21746/SC) Relator: Des. Subst. Luiz Zanelato DECISÃO I – Unimed Litoral Cooperativa de Trabalho Médico Ltda interpôs agravo de instrumento de decisão de fls. 226/228, proferida nos autos da ação revisional de contrato n. 033140025726, movida por Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em curso no Juízo da 3ª Vara Cível da comarca de Itajaí, que deferiu o pedido de tutela antecipada formulado pelas ora agravadas. Requer concessão, liminarmente, de efeito suspensivo e, por fim, o provimento do recurso para reforma da decisão agravada. II – Por presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, dele se conhece. III - Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de efeito suspensivo fundado nos arts. 527, III, e 558, caput, ambos do CPC. Da interpretação conjugada desses dispositivos extrai-se que a concessão de efeito suspensivo ao agravo de instrumento condiciona-se ao preenchimento de dois requisitos: relevância da motivação (as razões devem ser plausíveis, com fundada possibilidade de acolhimento do recurso pela câmara competente) e possibilidade de lesão grave e de difícil reparação até o julgamento pelo órgão colegiado decorrente do cumprimento da decisão agravada. No caso em análise, o magistrado de primeiro grau concedeu a antecipação dos efeitos da tutela pretendida pelas ora recorridas, nos seguintes termos: [...] A ausência de aplicação de reajustes em patamares justos causa impacto no resultado operacional da requerente e também em seu fluxo de caixa, desequilibrando suas contas e causando severo prejuízo, podendo inclusive impedir as condições necessárias para atender aos usuários do hospital a ponto de por em risco a continuidade de seu funcionamento. A demora na prestação da tutela pode também causar danos à coletividade,

Decisão Negando Liminar - Agravo de Instrumento Nº 2014.016531-6

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DECISÃO QUE NEGA LIMINAR EM AGRAVO DE INSTRUMENTO

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  • Agravo de Instrumento n. 2014.016531-6, de ItajaAgravante : Unimed Litoral Cooperativa de Trabalho Mdico LtdaAdvogado : Dr. Augusto Garcez Duarte (20589/SC)Agravado : Instituto das Pequenas Missionrias de Maria Imaculada Hospital eMaternidade Marieta Konder BornhausenAdvogada : Dra. Dbora Teixeira dos Reis Homrich (21746/SC)Relator: Des. Subst. Luiz Zanelato

    DECISOI Unimed Litoral Cooperativa de Trabalho Mdico Ltda interps

    agravo de instrumento de deciso de fls. 226/228, proferida nos autos da aorevisional de contrato n. 033140025726, movida por Instituto das PequenasMissionrias de Maria Imaculada Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen,em curso no Juzo da 3 Vara Cvel da comarca de Itaja, que deferiu o pedido detutela antecipada formulado pelas ora agravadas.

    Requer concesso, liminarmente, de efeito suspensivo e, por fim, oprovimento do recurso para reforma da deciso agravada.

    II Por presentes os requisitos de admissibilidade do recurso, dele seconhece.

    III - Cuida-se de agravo de instrumento, com pedido de efeitosuspensivo fundado nos arts. 527, III, e 558, caput, ambos do CPC.

    Da interpretao conjugada desses dispositivos extrai-se que aconcesso de efeito suspensivo ao agravo de instrumento condiciona-se aopreenchimento de dois requisitos: relevncia da motivao (as razes devem serplausveis, com fundada possibilidade de acolhimento do recurso pela cmaracompetente) e possibilidade de leso grave e de difcil reparao at o julgamentopelo rgo colegiado decorrente do cumprimento da deciso agravada.

    No caso em anlise, o magistrado de primeiro grau concedeu aantecipao dos efeitos da tutela pretendida pelas ora recorridas, nos seguintestermos:

    [...] A ausncia de aplicao de reajustes em patamares justos causa impactono resultado operacional da requerente e tambm em seu fluxo de caixa,desequilibrando suas contas e causando severo prejuzo, podendo inclusive impediras condies necessrias para atender aos usurios do hospital a ponto de por emrisco a continuidade de seu funcionamento.

    A demora na prestao da tutela pode tambm causar danos coletividade,

  • eis que os pacientes precisam de atendimento de qualidade, os fornecedoresprecisam de seu pagamento e os funcionrios do hospital precisam de seu emprego.

    E a medida reversvel, pois eventual prejuzo pode ser ressarcido requeridamediante descontos em pagamentos futuros realizados em favor da requerente, pelaremunerao dos servios objeto do contrato firmado entre as partes.

    Entretanto, quanto ao pedido de pagamento das diferenas havidas nos anosanteriores, por no contar com o requisito do perigo de dano irreparvel ou de difcilreparao, ser objeto de apreciao por ocasio da sentena.

    Ante o exposto, DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de antecipao de tutela edetermino que a parte requerida faa o reajuste dos valores de "dirias" e "taxas desala" com base nos ndices acumulados desde a celebrao da avena, autorizadosanualmente pela ANS, subtrados os percentuais de reajuste j aplicados pelarequerida, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de multa diria no valor de R$1.000,00 (um mil reais). (fls. 226-228)

    Inconformada com tal deciso, que considera equivocada, a agravanteUNIMED sustenta, em sntese, que a aplicao automtica da integralidade do ndiceda ANS aos valores de remunerao dos prestadores conveniados importa emevidente desequilbrio econmico da r/agravante, porquanto no possui ocrescimento da receita dos planos de sade compatveis ao ndice da ANS, aplicvelto somente a 25,06% de sua carteira de clientes.

    Por isso, postula a parcial reforma da deciso agravada para que adeterminao de reajuste imediato das dirias e taxas de sala seja com base em 30%dos ndices acumulados autorizados anualmente pela ANS, subtrados os percentuaisj aplicados.

    A princpio, cabe ponderar que, para o caso concreto, a concesso datutela antecipada recursal pressupe necessariamente a presena concomitante deprova inequvoca bastante para convencer o julgador da verossimilhana da alegaodo autor, e o receio de dano irreparvel ou de difcil reparao (art. 273, caput, e inc.I, c/c 558, caput, ambos do CPC).

    No tocante prova inequvoca e verossimilhana das alegaes,oportuno evocar a lio de Cndido Rangel Dinamarco:

    O art. 273 condiciona a antecipao da tutela existncia de prova inequvocasuficiente para que o juiz 'se convena da verossimilhana da alegao'. A dar pesoao sentido literal do texto, seria difcil interpret-lo satisfatoriamente porque provainequvoca prova to robusta que no permite equvocos ou dvidas, infundindo noesprito do juiz o sentimento de certeza e no mera verossimilhana. Convencer-seda verossimilhana, ao contrrio, no poderia significar mais do que imbuir-se dosentimento de que a realidade ftica pode ser como a descreve o autor.

    Aproximadas as duas locues formalmente contraditrias contidas no art. 273do Cdigo de Processo Civil (prova inequvoca e convencer-se da verossimilhana),chega-se ao conceito de probabilidade, portador de maior segurana do que a meraverossimilhana. Probabilidade a situao decorrente da preponderncia dosmotivos convergentes aceitao de determinada proposio, sobre os motivosdivergentes. As afirmativas pesando mais sobre o esprito da pessoa, o fato provvel; pesando mais as negativas, ele improvvel (Malatesta). A probabilidade,assim conceituada, menos que a certeza, porque l os motivos divergentes no

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  • ficam afastados mas somente suplantados; e mais que a credibilidade, ouverossimilhana, pela qual na mente do observador os motivos convergentes e osdivergentes comparecem em situao de equivalncia e, se o esprito no se animaa afirmar, tambm no ousa negar. O grau dessa probabilidade ser apreciado pelojuiz, prudentemente e atento gravidade da medida a conceder. A exigncia daprova inequvoca significa que a mera aparncia no basta e que a verossimilhanaexigida mais do que o fumus boni juris exigido para a tutela cautelar. (A reforma docdigo de processo civil, Malheiros, 1996, 3 ed., p. 145).

    Assim, a ausncia de qualquer dos requisitos acima delineadosimpossibilita a concesso da antecipao dos efeitos da tutela recursal, ou seja, aindaque esteja evidenciado o receio de dano irreparvel ou de difcil reparao, hnecessidade de prova robusta e concreta, de modo a convencer o magistrado daquase certeza do alegado direito da parte.

    Em anlise perfunctria dos autos, denota-se que no se evidenciaplausibilidade no direito invocado pela agravante em suas razes recursais, que notrouxe qualquer elemento de prova tendente a demonstrar a veracidade de suasalegaes.

    Pelo contrrio, a recorrente sustenta que a clusula 24 do contrato, quetrata do reajuste, em seu pargrafo segundo, prev que "as partes comprometem-seem iniciar as negociaes no perodo compreendido entre os 90 (noventa) diasanteriores data de aniversrio do contrato, sendo que em caso de trmino desteperodo sem que haja acordo quanto fixao de ndice de reajuste, fica a(o)CONTRATADA(O) obrigada a aplicar automaticamente o reajuste de 30% (trinta porcento) do ltimo ndice de reajuste expressamente autorizado pela ANS".

    Ocorre que, em exame detalhado do contrato de fls. 88/111, constata-seque no houve tal pactuao conforme alega a UNIMED, tendo em vista que aclusula 24 prev to somente que "os valores das dirias e taxas de salasconstantes do Anexo 1, podero ser ajustadas anualmente por livre negociao entreas partes em percentual no superior ao autorizado pela ANS (Agncia Nacional deSade Suplementar) para os reajustes das contraprestaes pecunirias dos planosprivados de assistncia suplementar sade da CONTRATANTE" (fl. 108).

    Considerando teor do que fora contratado entre as partes, a alegaoda agravante de que a medida judicial imposta causar desequilbrio econmicocontratual no possui amparo jurdico, porquanto as partes, na celebrao docontrato, j estabeleceram o limite do percentual de reajuste que exatamente aqueleautorizado pela ANS.

    Pelo contrrio, o desequilbrio contratual se revela inverso, caracterizadopela negativa da agravante, durante os ltimos anos, de reajustar os ndices referenteao valor das contraprestaes pelos servios efetivamente prestados pelo hospitalagravado. Logo, a prpria recorrente quem deu causa para o valor do reajusteacumulado ser, neste momento, no podendo se valer desse argumento para seimiscuir da obrigao contratual pactuada.

    Nesse contexto ftico e jurdico, no se visualiza plausibilidade nafundamentao recursal (fumus boni juris) e, por sua vez, o suposto dano provenientedo cumprimento da deciso recorrida, no obstante sua aparncia de realidade, no

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  • se apresenta contra o direito, mas sim consequncia dele, deste modo no restandoconfigurados, na espcie, os pressupostos exigidos no art. 558, caput, do CPC, semque a deciso de primeiro grau no pode ser sustada.

    Por oportuno, observa-se que, nesta fase incipiente do procedimentorecursal, em que a cognio apenas sumria, a anlise d-se de forma perfunctria,de modo a verificar eventual desacerto da deciso recorrida, pois o exameaprofundado do mrito recursal fica reservado ao rgo Colegiado, j com a respostae os elementos de prova da parte agravada.

    IV Ante o exposto, por ausentes os requisitos previstos no art. 558caput, do CPC, indefiro o pedido de efeito suspensivo ao agravo, mantendo a decisoimpugnada at o julgamento definitivo da Cmara competente.

    Comunique-se ao juzo de origem.Cumpra-se o disposto no art. 527, V, do CPC.Redistribua-se (art. 12, 4, do Ato Regimental n.41/2000).Publique-se. Intimem-se.

    Florianpolis, 10 de abril de 2014.

    Luiz ZanelatoRELATOR

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