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Dedicatória ____________________________________________________________________ À Eva Ao Fernando Aos meus pais Aos meus avós

DedicatóriaA Palavra dita e a Palavra escrita. Encontros e Desencontros. ... Para além desta preocupação, e visto o corpus que constituímos reportar-se a duas cronologias (períodos

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  • Dedicatória

    ____________________________________________________________________

    À Eva

    Ao Fernando

    Aos meus pais

    Aos meus avós

  • Agradecimentos

    ____________________________________________________________________

    AGRADECIMENTOS

    A terminar esta tese, sentimos necessidade de destacar pessoas e organismos

    que contribuíram para que a mesma se concluísse.

    Antes de mais, um forte agradecimento à minha família e em especial à

    minha filha Eva, que, desde o nascimento, viu as atenções repartidas entre si e esta

    tese. Agradeço-lhe toda a ternura que me encorajou a continuar quando forças e

    motivação fraquejavam; ao meu marido, por ser o meu “porto seguro”, mesmo em

    momentos de tempestade; aos meus pais, por todas as palavras de incentivo e

    encorajamento, e por me terem ensinado valores como a perseverança, a persistência

    e a dedicação; aos meus avós, pelos elogios que transformam as netas em especiais.

    A Deus por me feito nascer nesta família que percebeu a minha ausência.

    Às Prof.ªs Doutoras Maria Helena Saianda e Maria do Céu Fonseca devo, de

    forma mais complexa do que o aqui expresso, o tempo disponibilizado, os

    conhecimentos transmitidos, a compreensão e estímulo nos momentos certos, a

    exigência a que tentámos sempre corresponder e a liberdade de pensamento e acção.

    Deixamos um agradecimento sentido à Prof.ª Doutora Maria Aldina Marques

    pela atenção ao nosso contacto via e-mail e pela generosidade da oferta de obra que

    foi neste trabalho mais do que referência bibliográfica.

    Agradecemos à Assembleia da República, na pessoa do Dr. José Diogo

    (Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual), a ajuda e material disponibilizado, que

    permitiu, afinal, constituir o corpus deste trabalho.

    Agradecemos ao Ministério da Educação e Ciência a licença sabática

    concedida.

    Por fim, agradecemos à Universidade de Évora, através do Instituto de

    Investigação e Formação Avançada (IIFA), as condições de trabalho proporcionadas,

    nomeadamente a concessão de semestres adicionais para a conclusão da tese.

    Agradecemos o facto destas pessoas e instituições fazerem, de alguma forma

    e para sempre, parte da nossa vida.

  • A Palavra dita e a Palavra escrita. Encontros e Desencontros. Resumo

    ____________________________________________________________________

    iii

    RESUMO

    Apresentamos neste trabalho um estudo sobre o discurso oral realmente

    verbalizado durante debates parlamentares na Assembleia da República (doravante

    AR) e respectiva publicação no Diário da Assembleia da República. Os debates

    agora objecto de análise linguística dizem respeito à discussão ocorrida entre 1996-

    1998 e 2005-2007 sobre a realização do referendo à despenalização da interrupção

    voluntária da gravidez (doravante IVG).

    No direito à informação sobre a vida e a dinâmica da Democracia Portuguesa,

    é expectável que aquela publicação (em versão papel e on-line) seja o espelho de

    tudo o que é dito nos debates parlamentares, em cumprimento do serviço público que

    cabe à AR.

    Conscientes de que entre a enunciação e a sua fixação escrita os deputados

    têm a possibilidade de efectuar duas revisões à forma do seu discurso e de que o

    transcritor interpreta este mesmo discurso aproximando-o às regras da escrita,

    procuramos agora verificar se são incluídas alterações estruturais que comprometam

    o conteúdo e o significado daquilo que foi realmente dito.

    Para além desta preocupação, e visto o corpus que constituímos reportar-se a

    duas cronologias (períodos de 1996-1998 e de 2005-2007), estabelecemos uma

    comparação a dois níveis: por um lado, entre os discursos de cada partido realizados

    em 1996-1998 e em 2005-2007 e, por outro lado, entre os discursos dos vários

    partidos com representação parlamentar, individualmente, (PEOV, PCP, PS, PSD e

    CDS-PP) nos referidos períodos de tempo, a nível do léxico e da sintaxe, para

    aferirmos das eventuais diferenças linguísticas que separam os dois momentos do

    debate em estudo.

    Fazemos notar que analisaremos os dois sub-corpora, respeitantes a cada um

    dos diferentes tipos de registo: oral e escrito, constituindo ambos o corpus de que

    nos ocuparemos. Numa perspectiva contrastiva, procuramos saber se também em

    relação ao discurso parlamentar é possível afirmar que falar de oralidade e de escrita

    é falar de dois sistemas com características próprias, que se pautam por diferentes

    regras, ou se, pelo contrário, este discurso revela um carácter tão formal,

    estereotipado e eloquente, que entre ambos não se identificarão diferenças

    significativas.

  • The spoken Word and the written Word. Matches and Mismatches. Abstract

    ____________________________________________________________________

    iv

    ABSTRACT

    This dissertation focuses on the linguistic analysis of both the speeches

    delivered by Members of the Assembly of the Portuguese Republic during the

    parliamentary debates held on the referendum to decriminalise the voluntary

    termination of pregnancy, in two time periods: 1996-1998 and 2005-2007, and of

    their written versions published in the Official Gazette (Diário da Asssembleia da

    República).

    Due to the right to information on the life and the dynamics of the Portuguese

    Democracy, the Official Gazette (published in printed form and on-line) is expected

    to provide a fully comprehensive account of matters discussed and a verbatim report

    of parliamentary debates, in compliance with the Assembly’s values and aims.

    However, given the fact that between the enunciation and its written transcript each

    Member is allowed to review their speech twice and being aware that the official

    transcriptionists interpret that same speech adjusting it to the rules of writing, the

    analysis undertaken first aims at verifying if the written reports include any structural

    changes that may affect both the content and the meaning of what was actually said.

    Furthermore, and considering the two abovementioned chronologies that

    underpin the corpus under analysis, a two-level lexical and syntactic comparison was

    made: on the one hand, between the speeches delivered by members of each political

    party in 1996-1998 and in 2005-2007; on the other hand, between the speeches made

    by each party individually (EPG, LB, CPP, SP, SDP and SDC-PP) in those same

    periods of time, in order to assess any linguistic differences that might have occurred.

    The corpus is, therefore, constituted by two sub-corpora: one comprising the

    speeches delivered; another comprising their respective written versions. The

    contrastive analysis performed also serves the purpose of determining whether in

    relation to parliamentary discourse the two systems considered – oral and written –

    keep their own characteristics, or whether, on the contrary, the oral discourse is so

    formal, stereotyped and eloquent in nature that no significant differences between

    them will be identified.

  • Índice Geral

    ____________________________________________________________________

    v

    ÍNDICE GERAL

    Página

    Dedicatória -----------------------------------------------------------------------------

    Agradecimentos -----------------------------------------------------------------------

    Resumo ---------------------------------------------------------------------------------

    Abstract ---------------------------------------------------------------------------------

    Índice Geral ----------------------------------------------------------------------------

    Índices:

    - de Gráficos ------------------------------------------------------------------------

    - de Tabelas -------------------------------------------------------------------------

    - de abreviaturas -------------------------------------------------------------------

    Nota prévia -----------------------------------------------------------------------------

    Introdução ------------------------------------------------------------------------------

    Parte I – Apresentação do corpus ---------------------------------------------------

    1. O Corpus ---------------------------------------------------------------------- 1.1. Breve enquadramento histórico-político 1996-1998/2005-2007--

    1.1.1. Representação partidária 1996-1998 e 2005-2007 --------- 1.2. Aspectos iniciais --------------------------------------------------------

    1.2.1. Temática --------------------------------------------------------- 1.2.2. Caracterização do corpus -------------------------------------- 1.2.3. Representatividade ----------------------------------------------

    1.2.4. Homogeneidade -------------------------------------------------

    1.3. Recolha do corpus ------------------------------------------------------

    1.3.1. A língua oral e a língua escrita ---------------------------------

    1.3.2. Leitura do oral ----------------------------------------------------

    1.3.3. Audição e Transcrição - o tempo entre os dois processos---

    1.3.4. Compreensão do oral através do material sonoro ------------

    1.4. Representação gráfica do oral -----------------------------------------

    1.4.1. Constrangimentos na transcrição -------------------------------

    1.4.2. Transcrição ortográfica ------------------------------------------

    1.4.3. Pontuação ----------------------------------------------------------

    1.4.4. Convenções de transcrição --------------------------------------

    1.4.4.1. T1 e T3 -------------------------------------------------------

    1.4.4.2. T2 e T4 -------------------------------------------------------

    1.5. Interacção no Parlamento ----------------------------------------------

    1.5.1. O discurso político -----------------------------------------------

    1.5.2. O locutor e o alocutário ------------------------------------------

    1.5.3. Organização da actividade discursiva -------------------------

    1.6. Aspectos sintácticos e discursivos ------------------------------------

    1.6.1. Conceitos teóricos: frase, enunciado, texto, discurso--------

    1.7. Metodologia aplicada ao tratamento do corpus ---------------------

    1.7.1. Considerações iniciais -------------------------------------------

    1.7.2. Constituição do corpus ------------------------------------------

    1.7.2.1. Preparação do corpus -------------------------------------

    1.7.2.2. Codificação -------------------------------------------------

    1.7.2.3. Informatização ---------------------------------------------

    1.7.2.4. Lematização ------------------------------------------------

    1.7.2.5. Contagens ---------------------------------------------------

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  • Índice Geral

    ____________________________________________________________________

    vi

    Parte II – Estudo comparativo -------------------------------------------------------

    1. Estudo lexical ----------------------------------------------------------------------

    1.1. As classes lexicais / gramaticais -------------------------------------------

    1.1.1. As 10 Mais ----------------------------------------------------------- 1.1.1.1.T1 e T2 -----------------------------------------------------------

    1.1.1.2. T3 e T4 ----------------------------------------------------------

    1.1.1.3.1996-1998 vs 2005-2007 --------------------------------------

    1.1.2. Substantivos ---------------------------------------------------------- 1.1.2.1.T1 e T2 -----------------------------------------------------------

    1.1.2.2. T3 e T4 ----------------------------------------------------------

    1.1.2.3. 1996-1998 vs 2005-2007 --------------------------------------

    1.1.3. Verbos ---------------------------------------------------------------- 1.1.3.1.T1 e T2 -----------------------------------------------------------

    1.1.3.2. T3 e T4 ----------------------------------------------------------

    1.1.3.3. 1996-1998 vs 2005-2007 --------------------------------------

    1.1.4. Adjectivos --------------------------------------------------------- 1.1.4.1.T1 e T2 -----------------------------------------------------------

    1.1.4.2. T3 e T4 ----------------------------------------------------------

    1.1.4.3. 1996-1998 vs 2005-2007 --------------------------------------

    1.1.5. Advérbios ------------------------------------------------------------- 1.1.5.1.T1 e T2 -----------------------------------------------------------

    1.1.5.2. T3 e T4 ----------------------------------------------------------

    1.1.5.3. 1996-1998 vs 2005-2007 --------------------------------------

    1.1.6. Pronomes ------------------------------------------------------------- 1.1.6.1.T1 e T2------------------------------------------------------------

    1.1.6.2. T3 e T4-----------------------------------------------------------

    1.1.6.3. 1996-1998 vs 2005-2007---------------------------------------

    1.2. Síntese da comparação entre transcrições e partidos------------------

    2. Estudo sintáctico -------------------------------------------------------------------

    2.1 Reflexão sobre a ordem dos constituintes no enunciado português----

    2.1.1. Enunciados declarativos----------------------------------------------

    2.1.2. Enunciados interrogativos--------------------------------------------

    2.1.3. Enunciados imperativos----------------------------------------------

    2.1.4. Enunciados com orações intercaladas------------------------------

    2.1.5. Enunciados com orações gerundivas--------------------------------

    2.1.6. Breve percurso contrastivo com outras línguas--------------------

    2.1.6.1. Inglês---------------------------------------------------------

    2.1.6.2. Alemão-------------------------------------------------------

    2.2. Características do sujeito sintáctico----------------------------------------

    2.2.1. A posição do sujeito no enunciado oral português----------------

    2.2.1.1. Colocação pré-verbal--------------------------------------

    2.2.1.2. Colocação pós-verbal--------------------------------------

    2.2.2. Presença e ausência do sujeito lexical no corpus------------------

    2.2.3. Estruturas equativas---------------------------------------------------

    2.3. O Objecto Directo------------------------------------------------------------

    2.3.1. Comportamento do objecto directo---------------------------------

    2.4. Aspectos de concordância sintáctica---------------------------------------

    2.4.1. Concordância entre nominativo (sujeito) e verbo-----------------

    2.4.2. Concordância entre sujeito e predicativo---------------------------

    2.4.3. Concordância entre objecto directo e predicativo-----------------

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    354

    354

    369

    372

  • Índice Geral

    ____________________________________________________________________

    vii

    2.5.Fenómenos de regência preposicional--------------------------------------

    2.5.1 Breve percurso contrastivo com outras línguas (inglês e

    alemão) ---------------------------------------------------------------

    2.5.2. Uso de preposições----------------------------------------------------

    2.6. Processos discursivos de referenciação da palavra----------------------

    2.6.1. Expressões idiomáticas-----------------------------------------------

    2.6.2. Legitimação da palavra-----------------------------------------------

    2.6.3. Léxico da luta partidária----------------------------------------------

    Considerações finais-------------------------------------------------------------------

    Bibliografia -----------------------------------------------------------------------------

    Anexos

    Volume 1

    Volume 2

    376

    379

    382

    400

    400

    414

    418

    427

    435

  • Índice de Gráficos

    ____________________________________________________________________

    viii

    ÍNDICE DE GRÁFICOS

    Página

    Gráfico 1 – Distribuição dos Deputados (1996-1998) -------------------

    Gráfico 2 – Distribuição dos Deputados (2005-2007) -------------------

    Gráfico 3 – Distribuição dos Deputados nos dois períodos -------------

    Gráfico 4 – Distribuição dos substantivos pelo número de partidos ---

    Gráfico 5 – Gama de frequências -------------------------------------------

    Gráfico 6 – Distribuição de substantivos pelo número de partidos -----

    Gráfico 7 – Gama de frequências -------------------------------------------

    Gráfico 8 – Distribuição de verbos pelo número de partidos ------------

    Gráfico 9 – Gama de frequências -------------------------------------------

    Gráfico 10 – Distribuição de verbos pelo número de partidos ----------

    Gráfico 11 – Gama de frequências ------------------------------------------

    Gráfico 12 – Distribuição de adjectivos pelo número de partidos-----

    Gráfico 13 – Gama de frequências ------------------------------------------

    Gráfico 14 – Distribuição de adjectivos pelo número de partidos-------

    Gráfico 15 – Gama de frequências ------------------------------------------

    Gráfico 16 – Distribuição de advérbios pelo número de partidos-------

    Gráfico 17 – Gama de frequências------------------------------------------

    Gráfico 18 – Distribuição de advérbios pelo número de partidos-------

    Gráfico 19 – Gama de frequências------------------------------------------

    Gráfico 20 – Distribuição de pronomes pelo número de partidos-------

    Gráfico 21 – Gama de frequências------------------------------------------

    Gráfico 22 – Distribuição de pronomes pelo número de partidos-------

    Gráfico 23 – Gama de frequências------------------------------------------

    Gráfico 24 – Posição do sujeito em T1-------------------------------------

    Gráfico 25 – Posição do sujeito em T2 -------------------------------------

    Gráfico 26 – Posição do sujeito em T3-------------------------------------

    Gráfico 27 – Posição do sujeito em T4-------------------------------------

    Gráfico 28 – Ocorrência do pronome pessoal de 1ª pessoa do singular

    em T1 e T2 --------------------------------------------------------

    Gráfico 29 – Ocorrência do pronome pessoal de 1ª pessoa do singular

    em T3 e T4--------------------------------------------------------

    Gráfico 30 – Sujeito em posição pós-verbal (T1 e T2)-------------------

    Gráfico 31 – Sujeito em posição pós-verbal (T3 e T4)-------------------

    Gráfico 32 – Presença do sujeito lexical no total do corpus (T1, T2,

    T3, T4)-----------------------------------------------------------

    Gráfico 33 – Ausência do sujeito lexical no total do corpus (T1, T2,

    T3, T4)-----------------------------------------------------------

    Gráfico 34 – O Sujeito em T1------------------------------------------------

    Gráfico 35 – O Sujeito em T2------------------------------------------------

    Gráfico 36 – O Sujeito em T3------------------------------------------------

    Gráfico 37 – O Sujeito em T4------------------------------------------------

    Gráfico 38 – Colocação do OD ----------------------------------------------

    29

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    347

  • Índice de Tabelas

    ____________________________________________________________________

    ix

    ÍNDICE DE TABELAS

    Página

    Tabela 1 –

    Tabela 2 –

    Tabela 3 –

    Tabela 4 –

    Tabela 5 –

    Tabela 6 –

    Tabela 7 –

    Tabela 8 –

    Tabela 9 –

    Tabela 10 –

    Tabela 11 –

    Tabela 12 –

    Tabela 13 –

    Tabela 14 –

    Tabela 15 –

    Tabela 16 –

    Tabela 17 –

    Tabela 18 –

    Tabela 19 –

    Tabela 20 –

    Tabela 21 –

    Tabela 22 –

    Tabela 23 –

    Tabela 24 –

    Tabela 25 –

    Tabela 26 –

    Tabela 27 –

    Tabela 28 –

    Tabela 29 –

    Tabela 30 –

    Tabela 31 –

    Tabela 32 –

    Tabela 33 –

    Tabela 34 –

    Tabela 35 –

    Tabela 36 –

    Tabela 37 –

    Tabela 38 –

    Deputados que intervieram nos debates ---------------------

    Deputados presentes nos dois momentos ------------------- Convenções de transcrição utilizadas nos discursos que

    transcrevemos ----------------------------------------------------

    Sinais de pontuação com o mesmo valor entoacional em

    todas as transcrições--------------------------------------------

    Convenções de transcrição com valor entoacional

    diferente entre as transcrições--------------------------------

    Sinal de pontuação com valor entoacional específico nos

    discursos que transcrevemos----------------------------------

    Sinais de pontuação com valor entoacional específico na

    transcrição oficial da AR--------------------------------------

    Convenções utilizadas nos discursos que transcrevemos-

    Convenções utilizadas na transcrição oficial da AR-------

    Documentos criados a partir da lematização----------------

    Organização das unidades lexicais /gramaticais por

    transcrições------------------------------------------------------

    Organização das unidades lexicais /gramaticais por

    partidos ----------------------------------------------------------

    Substantivos actualizados pelos 5 partidos -----------------

    As 20 frequências mais elevadas em T1 e T2 --------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Substantivos actualizados pelos 6 partidos -----------------

    As 20 frequências mais elevadas em T3 e T4 --------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Substantivos e ocorrências nas 4 transcrições -------------

    Substantivos mais frequentes comuns aos dois

    momentos –-----------------------------------------------------

    Substantivos mais frequentes em apenas um dos

    momentos--------------------------------------------------------

    Verbos existentes em apenas uma das transcrições -------

    Verbos actualizados pelos 5 partidos -----------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T1 e 2----------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Verbos existentes em apenas uma das transcrições (PCP)

    Verbos existentes em apenas uma das transcrições (PS) -

    Verbos e formas verbais em T1 e T2 (CDS-PP) -----------

    Verbos existentes em apenas uma das transcrições

    (CDS-PP) -------------------------------------------------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4----------------------------

    Verbos existentes em apenas uma das transcrições -------

    Verbos actualizados pelos 6 partidos -----------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T3 e T4 --------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (BE) ---------------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (PEOV)- ----------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (PCP) -------------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (PS)----------------------

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    160

    162

    164

    165

    167

  • Índice de Tabelas

    ____________________________________________________________________

    x

    Tabela 39–

    Tabela 40 –

    Tabela 41 –

    Tabela 42 –

    Tabela 43 –

    Tabela 44 –

    Tabela 45 –

    Tabela 46 –

    Tabela 47 –

    Tabela 48 –

    Tabela 49 –

    Tabela 50 –

    Tabela 51 –

    Tabela 52 –

    Tabela 53 –

    Tabela 54 –

    Tabela 55 –

    Tabela 56 –

    Tabela 57 –

    Tabela 58 –

    Tabela 59 –

    Tabela 60 –

    Tabela 61 –

    Tabela 62 –

    Tabela 63 –

    Tabela 64 –

    Tabela 65–

    Tabela 66 –

    Tabela 67 –

    Tabela 68 –

    Tabela 69 –

    Tabela 70 –

    Tabela 71 –

    Tabela 72 –

    Tabela 73 –

    Tabela 74 –

    Tabela 75 –

    Tabela 76 –

    Tabela 77 –

    Tabela 78 –

    Tabela 79 –

    Tabela 80 –

    Tabela 81 –

    Tabela 82 –

    Tabela 83–

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (PSD) -------------------

    Verbos e ocorrências em T3 e T4 (CDS-PP)---------------

    Verbos e ocorrências nas 4 transcrições --------------------

    Verbos mais frequentes comuns aos dois momentos------

    Verbos mais frequentes em apenas um dos momentos----

    Adjectivos existentes em apenas uma das transcrições---

    Adjectivos actualizados pelos 5 partidos -------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T1 e T2 --------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Adjectivos existentes em apenas uma das transcrições---

    Adjectivos actualizados pelos 6 partidos -------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T3 e T4--------------

    Gama de frequências ------------------------------------------

    Adjectivos e ocorrências nas 4 transcrições----------------

    Adjectivos mais frequentes comuns aos dois momentos-

    Adjectivos mais frequentes em apenas um dos

    momentos -------------------------------------------------------

    Advérbios existentes em apenas uma das transcrições----

    Advérbios utilizados pelos 5 partidos -----------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T1 e T2--------------

    Gama de frequências-------------------------------------------

    Advérbios existentes em apenas uma das transcrições----

    Advérbios utilizados pelos 6 partidos------------------------

    As 20 frequências mais elevadas em T3 e T4--------------

    Gama de frequências-------------------------------------------

    Advérbios e ocorrências nas 4 transcrições-----------------

    Advérbios mais frequentes comuns aos dois momentos –

    Advérbios mais frequentes em apenas um dos

    momentos--------------------------------------------------------

    Pronomes utilizados pelos 5 partidos------------------------

    As 10 frequências mais elevadas em T1 e T2--------------

    Gama de frequências-------------------------------------------

    Pronomes actualizados pelos 6 partidos---------------------

    As 10 frequências mais elevadas em T3 e T4--------------

    Gama de frequências-------------------------------------------

    Pronomes comuns aos dois momentos----------------------

    Pronomes existentes em apenas um dos momentos-------

    Pronomes mais frequentes comuns aos dois momentos---

    Pronomes mais frequentes em apenas um dos momentos

    Diferenças percentuais do número de ocorrências entre

    T1-T2 e T3-T4--------------------------------------------------

    Média final de variação por classes lexicais / gramaticais

    em T1-T2 e T3-T4---------------------------------------------

    Total de palavras analisadas----------------------------------

    Presença de sujeitos lexicalmente expandidos-----------

    Ocorrência do pronome pessoal de 1ª pessoa---------------

    Ocorrências do sujeito em posição pré-verbal e posição

    pós-verbal em T1, T2, T3, T4---------------------------------

    Presença do sujeito lexical (T1, T2, T3, T4)----------------

    Ausência do sujeito lexical (T1, T2, T3, T4)---------------

    169

    171

    173

    173

    173

    175

    176

    182

    184

    193

    194

    199

    200

    214

    214

    214

    216

    217

    220

    221

    231

    231

    236

    237

    248

    249

    249

    251

    255

    257

    267

    270

    271

    284

    284

    285

    285

    286

    288

    289

    322

    326

    330

    334

    335

  • Índice de Abreviaturas

    ____________________________________________________________________

    xi

    ÍNDICE DE ABREVIATURAS

    AB Acácio Barreiros

    ACM Ana Catarina Mendonça

    AD Ana Drago

    Adj. Adjectivos

    Adv. Advérbios

    AF António Filipe

    AM Alberto Martins

    AMs. Ana Manso

    AR Assembleia da República

    AS Almeida Santos

    BCDS-PP Bancada CDS-PP

    BE Bloco de Esquerda

    BPCP Bancada do PCP

    BPSD Bancada PSD

    CDS-PP Centro Democrático Social - Partido Popular

    CJ Correia de Jesus

    DRAA Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual

    fr / Frq frequência

    IVG Interrupção voluntária da gravidez

    JF Jorge Ferreira

    JM José Magalhães

    JRA João Rui de Almeida

    l linha

    LF Luís Fazenda

    ll linhas

    M Mesa

    MG Marques Guedes

    MJ Marques Júnior

    MJNP Maria José Nogueira Pinto

    NM Nuno Melo

    OD Objecto directo

    Ord. Ordem

    OS Odete Santos

    OT Octávio Teixeira

    p página

    PCP Partido Comunista Português

    PEOV Partido Ecologista Os Verdes

    pp páginas

  • Índice de Abreviaturas

    ____________________________________________________________________

    xii

    PR Pedro Roseta

    Pron. Pronomes

    PS Partido Socialista

    PSD Partido Social Democrata

    SF Sónia Fertuzinhos

    Subst. Substantivos

    T1 Discursos de 1996-1998 que transcrevemos

    T2 Discursos de 1996-1998 que constituem a transcrição oficial da

    Assembleia da República

    T3 Discursos de 2005-2007 que transcrevemos

    T4 Discursos de 2005-2007 que constituem a transcrição oficial da

    Assembleia da República

    TC Telmo Correia

    (vb) voz baixa

    Verb. Verbos

    VJ Vera Jardim

  • Nota prévia

    ____________________________________________________________________

    xiii

    NOTA PRÉVIA

    Ao longo da elaboração do trabalho que aqui apresentamos, surgiram algumas

    questões que nos parecem importantes.

    Tratando-se de uma pesquisa feita num corpus composto por discursos de

    diferentes forças políticas (apresentado no Volume 1 de Anexos), parece-nos

    pertinente, antes de mais, reforçar o pendor apartidário e imparcial que procurámos

    conferir ao tratamento do tema escolhido, isto é, a realização do referendo à

    despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Assumimos o interesse pelo

    tema desde o primeiro momento em que se tornou matéria de discussão na AR, não

    só pelas emoções, sentimentos e afectos que desperta, mas também pela luta de

    argumentos e de convicções a que conduz. Nem por isso, porém, deixámos de

    acautelar o necessário distanciamento científico.

    Com o objectivo de realizar uma análise o mais global possível, decidimos

    incluir todos os discursos proferidos na AR, no âmbito da temática já apresentada.

    Como pretendemos desenvolver um estudo contrastivo entre os discursos publicados

    no Diário da Assembleia da República e os discursos realmente verbalizados,

    transcrevemo-los da forma que mais aproximada nos pareceu da realidade.

    Assumimos o nosso respeito pelos transcritores da AR e por todos os

    envolvidos na publicação do Diário da Assembleia da República, agora on-line. O

    trabalho de cariz contrastivo que aqui se desenvolve não pretende levantar uma

    problemática em torno do tema, embora seja seu objectivo verificar, mas saber se,

    independentemente dos constrangimentos e das restrições formais a que a publicação

    de um texto obriga, não há alteração nas enunciações verdadeiramente realizadas no

    Plenário, ao nível do léxico, da sintaxe, do valor semântico, da expressividade.

    Ressalvamos que utilizamos o termo variação sem implicações de outra

    ordem que não seja percentual, ficando afastadas quaisquer implicações estatísticas.

    Pretendendo-se atestar tudo aquilo que afirmamos, apresentamos um número

    considerável de exemplos inseridos em Tabelas para uma leitura mais fácil, facto que

    contribuiu para o elevado número de páginas do nosso trabalho. A agravar esta

    realidade, comum, aliás, aos trabalhos deste tipo, a combinação das duas ferramentas

    informáticas que usámos para o efeito – processamento de texto e folha de cálculo –

    também condicionou fortemente a paginação e está na origem de vários espaços em

    branco que não pudemos eliminar.

  • Nota prévia

    ____________________________________________________________________

    xiv

    Uma última observação sobre questões formais. Para não sobrecarregar o

    rodapé de notas bibliográficas, adoptámos no corpo do trabalho o sistema abreviado

    de referência bibliográfica (com indicação de data da obra consultada e página

    citada), que condicionou a apresentação de uma bibliografia final organizada por

    ordem alfabética.

    E por último quereríamos assumir os nossos erros… apesar do empenho que

    pusemos na realização deste trabalho.

  • Lorsque le lexique de la complémentation verbale se

    met à peser trop lourd, c'est que le fait de

    construction s'estompe derrière une formule qu'on

    doit prendre en son entier, comme une citation, en

    la considérant hors de la syntaxe, au même titre

    qu'un grand mot lexical. Blanche-Benveniste

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -16-

    INTRODUÇÃO

    Embora o Plenário da AR não seja um lugar frequentado pela grande maioria

    dos portugueses, a verdade é que todos têm o direito e o dever de saber o que aí se

    passa. Porque assim é e porque normalmente os debates não têm, como ficou dito,

    muitos espectadores presenciais, decidiu-se disponibilizar essa informação através do

    Diário da Assembleia da República. Por isso também mais tarde foi criado um canal

    de televisão que permite seguir em tempo real as discussões no Parlamento,

    acompanhando-se assim o progresso trazido pelo tempo e as tecnologias que o

    mesmo tempo tem posto ao dispor do Homem.

    Quando decidimos empreender o trabalho que agora apresentamos já os dois

    meios de divulgação tinham sido criados. Excluímos, no entanto, este último porque

    não oferece, julgamos, as condições necessárias para o tipo de estudo que queríamos

    empreender.

    Com efeito, foi desde o início nosso propósito verificar se o que era dito na

    AR chegava inalterado ao destinatário: o povo português. Para isso e por isso

    considerámos a palavra escrita o meio adequado para efectuar a análise contrastiva

    susceptível de dar resposta às dúvidas que desde logo nos assaltaram.

    Tratando-se de interacções verbais à partida discordantes – os diferentes

    partidos e respectivos representantes têm normalmente posições diferentes e até

    mesmo opostas – foi nossa intenção verificar até que ponto essa natureza conflitual

    influenciaria ou não a representação escrita das trocas verbais havidas no hemiciclo

    e, assim, poder dar resposta à pergunta inicial. Sabíamos que os leitores adquirem

    hábitos de leitura ao longo da vida dos quais dificilmente se desprendem. Sabíamos

    também que, por isso, a representação escrita do oral, para ser lido, implicaria,

    diríamos, uma quase obediência às regras da escrita. Mas não sabíamos até que ponto

    era difícil essa representação.

    Sabíamos, por outro lado, que era condição sine qua non da abertura ao

    grande público, a manutenção do sentido inicial. Mas sabíamos também que os

    deputados têm o direito de corrigir por duas vezes – eis uma primeira sujeição às

    “leis” da escrita – o texto produzido pelos transcritores, desde que não seja

    modificado o sentido do que foi efectivamente dito durante a discussão. Interrogámo-

    nos também assim sobre o resultado dessa dupla intervenção sobre o discurso

    produzido, ainda que seja um direito de que alguns prescindem.

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -17-

    Quisemos então confrontar os dois pontos de vista que em nós coexistem: o

    estatuto que a nossa condição humana nos deu – ser parte de um povo – e o estatuto

    que fomos adquirindo ao longo da vida – o interesse pela investigação sobre a língua.

    E isso, sabendo embora que o olhar crítico do linguista não deve ser influenciado

    pelas posições assumidas enquanto cidadão, pois a análise linguística do discurso

    político exige-se neutra e, naturalmente, não influenciada por “paixões humanas”.

    Aquelas que, enquanto parte de um povo, não deixamos de ter. Aquelas, no entanto,

    que esperamos ter esquecido ao longo do trabalho que empreendemos.

    Resolvidas as questões iniciais sobre o modo como conduziríamos a nossa

    investigação, e tendo embora consciência dos condicionalismos que presidem à

    publicação do Diário da Assembleia da República, decidimos que esta seria uma das

    fontes a considerar na análise que agora apresentamos. Decidimos, igualmente, que

    nos competiria realizar uma actividade imprescindível à consecução desse trabalho: a

    transcrição dos documentos orais disponibilizados pelo Gabinete competente da

    mesma Assembleia. Só deste modo poderíamos estabelecer comparações, pois por

    um lado já existia um texto escrito e, por outro, estávamos conscientes de que para

    analisar o oral – fugaz – tem necessariamente de se passar para o escrito, só ele

    perene.

    É óbvio que também estávamos conscientes das dificuldades que pressupõe

    um trabalho deste tipo e que passam muito pelo estatuto normal de “ouvinte”… Mas

    também devemos confessar que não pressupúnhamos as dificuldades reais que

    tivemos de ultrapassar, considerando, sobretudo, que a língua usada é a materna. De

    facto, o que não nos custou a compreender enquanto ouvinte comum, custou-nos

    muito a compreender para representar por escrito.

    Muitas, muitas horas foram gastas nesse trabalho de audições múltiplas e

    direccionadas. Muitas e muitas horas foram necessárias para manter uma fidelidade

    ao oral que nos permitisse com segurança afirmar a nossa fidelidade ao dito. Muitas e

    muitas horas foram também gastas no esforço de representar de forma aceitável um

    “dito” para ser lido por leitores normais.

    Muitas dúvidas tiveram de ser resolvidas e ultrapassadas.

    Muitos conhecimentos adquirimos por essa via…

    Foi assim, e após a realização deste trabalho extremamente moroso e de

    paciência, diríamos, que nos foi possível estabelecer as comparações pretendidas

    para dar resposta à questão inicial que aqui reproduzimos:

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -18-

    Será que o discurso real é transcrito para os leitores com fidelidade e

    total objectividade?!

    É óbvio que não pretendemos pôr em dúvida a competência dos transcritores

    oficiais da AR, como já se referiu. Mas também é óbvio que esses transcritores, não

    sendo linguistas, poderão não se dar conta de alguns efeitos de sentido produzidos

    por alterações introduzidas no discurso inicial.

    E é óbvio, ainda, que o estatuto de “transcritor oficial” não os liberta da

    condição humana…

    Assim, a presente investigação, se é produto de todos estes condicionalismos,

    é também, e sobretudo, resultado de um exigente trabalho de análise de um corpus

    no qual considerámos dois sub-corpora para comparação: o discurso oral transcrito

    na AR e o mesmo discurso oral que transcrevemos.

    É produto também de um exercício moroso e exigente de lematização e de

    análise, que exigiu, ele também, muito tempo e – porque não dizê-lo? – muita

    paciência, porque, embora tenhamos recorrido a diversas ferramentas informáticas, a

    verdade é que a lematização foi feita manualmente (muito embora saibamos que já

    existem lematizadores para o português) tal como algumas das análises que exigiram

    grande minúcia e atenção. Com efeito, qualquer distracção significava recomeçar

    contagens e análises.

    O presente estudo centra-se, pois, essencialmente em duas abordagens que se

    complementam: léxico e sintaxe, como antevê Blanche-Benveniste na epígrafe

    supra. Falar de palavras, de alteração de palavras, de substituição de palavras, de

    corte de palavras significa, obviamente, falar de reestruturações sintácticas. É assim

    impensável tratar estas duas áreas de forma independente, sem estabelecer

    correlações entre ambas, uma vez que se condicionam mutuamente. Relembramos,

    porém, que nem sempre estas duas áreas seguiram por caminhos paralelos. Foi

    sobretudo na segunda metade do século XX, pela mão de Chomsky e da teoria das

    dependências contextuais que a complementaridade se desencadeou. Embora se

    começasse a ponderar a inserção lexical tendo em conta o contexto, a sintaxe

    manteve a centralidade, cabendo a Gruber (1965) e Fillmore (1968) a ideia de que o

    significado lexical se relaciona de algum modo com a sintaxe. Possa este trabalho

    contribuir para exemplificar tal complementaridade!

    Foi, com efeito, elaborado a partir de um corpus constituído por todos os

    discursos proferidos no âmbito de um tema que, entre vários, escolhemos: a

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -19-

    discussão sobre a realização do referendo à despenalização da IVG. Por duas vezes,

    como sabemos, essa discussão aconteceu: em 1998 e em 2007.

    O resultado obtido foi, como também não desconhecemos, oposto. Não

    sendo propriamente o resultado final – recusa ou aceitação – que nos motivou, não

    podemos, contudo, negar que este foi mais um factor que estimulou a nossa pesquisa.

    Na verdade, se o que estava em causa era a mesma temática, quisemos saber se teria

    sido o condicionalismo sociopolítico das épocas em que ocorreu a ditar resultados

    diametralmente opostos, ou se o “calor” da discussão teria, ele também, tido alguma

    influência sobre o resultado da votação no plenário. Na verdade, uma década

    decorrera entre ambas. As instâncias governamentais do país haviam mudado e

    tratava-se de cumprir, no segundo momento da discussão, uma promessa eleitoral. É

    óbvio que não foi nossa intenção analisar factos deste teor, mas não podemos

    esquecer que eles deram origem a situações de comunicação específicas e a

    produções discursivas bem marcadas.

    Acresce o facto de que uma década decorrera entre ambas as discussões e que

    esse espaço de tempo teria introduzido alterações no espaço político português e

    susceptível de ter influenciado a expressão de ideologias. A unidade temática

    mantivera-se. À recusa sucedera a aceitação, o que, de certo modo poderia induzir o

    facto de ter havido alguma modificação na produção discursiva dos deputados.

    Foram estas também algumas das dúvidas a que procurámos dar resposta com a

    pesquisa em causa.

    Privilegiámos, assim, a manutenção de uma unidade temática, pois julgámos

    também que só desta forma se poderia estabelecer uma comparação clara e

    inequívoca.

    O estudo que apresentamos está dividido em duas grandes partes: a primeira

    constituída pela apresentação do corpus, seguida de um estudo comparativo que

    constitui a segunda parte da exposição.

    Na primeira parte, organizámos a informação em sete pontos, nos quais

    pretendemos dar a conhecer não só o corpus que foi constituído para a nossa análise,

    mas também a forma como foi constituído. No primeiro ponto, descrevemos

    sumariamente o contexto histórico-político dos dois períodos de debate (1996-1998 e

    2005-2007), bem como as circunstâncias em que os dois referendos se realizaram e

    que ditaram resultados diferentes. Nos seis pontos que se seguem, centramos a

    atenção no corpus propriamente dito, partindo da sua apresentação, passando pelos

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -20-

    constrangimentos inerentes à fixação escrita de um discurso inicialmente oral, até à

    exposição da metodologia aplicada ao seu tratamento. Neste segundo ponto,

    identificamos os discursos que constituem o corpus sobre o qual baseámos o nosso

    estudo, o qual pretendemos que fosse o mais representativo e homogéneo possível,

    para que as conclusões extraídas pudessem ser generalizadas. No terceiro ponto em

    desenvolvimento, problematizamos a co-existência e a complementaridade neste

    estudo de dois sistemas que servem propósitos diferentes e que se regem por regras,

    também elas, diferentes: a língua escrita e a língua falada. Embora possa parecer

    paradoxal, reconhecemos e partilhamos a opinião dos linguistas que afirmam não se

    poder estudar o oral sem que se passe pela sua representação escrita, opondo-se

    assim a fugacidade ao que realmente permanece. No quarto ponto problematizamos

    os constrangimentos sentidos durante o processo de transcrição; e visto no corpus

    que considerámos existirem transcrições realizadas por pessoas diferentes – por um

    lado, nós, e por outro, os transcritores ao serviço da AR – comparámos os critérios

    seguidos por uns e por outros quanto aos recursos normais da ortografia, da

    pontuação, assim como das convenções de transcrição seguidas pelos transcritores.

    No quinto ponto, debruçamo-nos sobre questões inerentes à própria tipologia de

    discurso que analisamos – o discurso político – mais concretamente, o discurso

    parlamentar, assim como sobre os interlocutores, condicionados muitas vezes pelo

    formalismo inerente ao Parlamento. A distribuição equativa dos tempos de

    intervenção, o controlo de atitudes, a contenção verbal exigida são aspectos formais

    assegurados pelo moderador do debate – o Presidente da AR – que, assim o cremos,

    tem fortes incidências sobre o processo dialógico aí actualizado. Por fim, terminámos

    a primeira parte apresentando a metodologia aplicada ao tratamento do corpus quer

    na dimensão lexicométrica, quer na sintáctica.

    Na segunda parte, desenvolvemos o estudo comparativo entre as várias

    transcrições do corpus constituído, considerando em primeiro lugar a abordagem

    lexical e, em segundo, a sintáctica.

    Em ambas estabelecemos a comparação entre as transcrições dos dois

    momentos de debates (T1 e T2, por um lado, T3 e T4, por outro), tendo em atenção

    sobretudo a frequência das “dez mais” – lemas com maior número de ocorrências em

    cada transcrição.

    Analisámos igualmente a frequência dos lemas das palavras plenas –

    substantivos, verbos, adjectivos, advérbios. Procuramos identificar os casos em que

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -21-

    os valores não são coincidentes, os contextos em que isso sucede e explicar as

    alterações operacionalizadas pelo transcritor da AR na passagem dos discursos orais

    à escrita. E porque os pronomes dizem muita acerca dos interlocutores, decidimos

    também não os esquecer no estudo em causa, embora não façam parte das palavras

    acima mencionadas.

    Na abordagem sintáctica, que constitui o segundo ponto da Parte II, a

    observação centrou-se em cada um dos partidos individualmente e nas intervenções

    realizadas nos dois períodos de debate. Da mesma maneira que no estudo lexical,

    todos os aspectos foram considerados numa perspectiva comparativa (entre a nossa

    transcrição e a da AR), analisando-se também aqui o que aproxima e afasta duas

    sintaxes – a da língua falada e a da escrita –, que, constituindo o mesmo sistema,

    apresentam marcas de estruturação específica. Porque o sistema da língua é o

    mesmo, todos os aspectos sintácticos analisados, visando identificar princípios de

    funcionamento da língua falada, foram deliberadamente objecto de prévia

    contextualização na tradição gramatical portuguesa, incluindo-se por vezes um breve

    percurso contrastivo com a tradição gramatical de outras línguas (nomeadamente,

    inglês e alemão).

    Como é sabido, nos trabalhos sintácticos do grupo de trabalho do Projecto

    NURC (“Norma Urbana Culta”), que analisa a variedade culta do português falado

    no Brasil, observa-se uma predominância de estudos sobre a sintaxe de adjuntos ou

    termos não essenciais da oração (cf., por exemplo, artigos de Castilho 2002), com

    discussão deste conceito e terminologia tradicionais. Outras foram as nossas

    escolhas. Ao invés desses chamados termos não essenciais, centrámo-nos nos demais

    elementos da frase / oração, aqui incluindo, quer o também chamado essencial, isto é,

    o sujeito, quer o actante objecto directo (doravante OD), segundo terminologia da

    gramática de valências.

    A posição deste sujeito e complemento, o preenchimento de tais espaços

    sintácticos, a vinculação de SN a uma categoria vazia ou a um elemento pronominal

    foram aqui considerados qualitativa e quantitativamente relevantes ao nível do

    confronto entre a nossa transcrição e a publicada no Diário da Assembleia da

    República. A análise destes dados sintácticos foi extensiva a estruturas de

    subordinação, razão por que foram incluídas na análise construções de subordinação

    relativa (com pronome em função de sujeito ou objecto) e de subordinação

    substantiva (no desempenho das mesmas funções). A atestação algo recorrente das

  • Introdução

    ____________________________________________________________________

    -22-

    chamadas construções de relativa cortadora, onde a ausência de preposição é cada

    vez mais frequente na interacção informal, levou-nos igualmente a analisar o

    fenómeno preposicional noutros casos de regência. Regimes preposicionais de

    verbos, substantivos e adjectivos usados na oralidade são frequentemente

    sancionados pelos transcritores ao serviço da AR.

    Interessou-nos ainda o fenómeno da concordância sintáctica pelo que tem de

    normativo, tanto quanto de casuístico, que escapa à regulamentação. De facto, a ideia

    de caos que a pragmática das pausas, repetições, hesitações, truncamentos (entre

    outros fenómenos) trouxe para a língua falada até meados do século passado, aplica-

    se em certa medida – se nos é permitida a mesma imagem – à conformidade em

    pessoa e número entre o sujeito e o núcleo predicativo, dois constituintes muitas

    vezes, ora em concordância não padrão, ora em concordância com variação na

    gramática normativa. Procurou-se identificar alguns destes casos.

    Assumimos aqui a opção por um eclectismo em termos de fundamentação e

    enquadramento teórico, que escapa ao modelo de filiação numa só escola teórica.

    Tanto quanto plural foi o nosso percurso académico, assim a análise linguística

    apresentada neste trabalho segue uma direcção em que se cruzam algumas propostas

    de diferentes linhas do funcionalismo linguístico (de André Martinet e Simon C.

    Dik), do paradigma formal chomskyano e da análise do discurso.

    É com alguma tristeza que reconhecemos não ser possível apresentar todos os

    materiais que foram alvo de análise, nem todos as matérias que poderiam ter sido

    desenvolvidos acerca desta temática. Sem prejuízo de rigor e de um tratamento de

    dados minucioso e pormenorizado, assumimos que, pelo facto de chegarmos a um

    número de páginas que consideramos razoável, parámos a nossa análise, sabendo, de

    antemão, que “muito ficou por dizer”. Tendo duas áreas principais de análise, como

    já se disse – o léxico, alvo de análise semio-linguística com base em dados de

    carácter lexicométrico, e a sintaxe – potenciadoras de uma ampla variedade de

    abordagens e um corpus com alguma extensão, sabíamos que, à partida, teríamos de

    realizar uma selecção dos assuntos mais pertinentes a serem tratados e assim o

    fizemos.

    Para concluir, um último esclarecimento relativamente à metodologia: todas

    as atestações apresentadas ao longo do trabalho vêm referenciadas com o número de

    página(s) e linha(s) que remetem para o corpus do Volume 1 de Anexos.

  • PARTE I

    APRESENTAÇÃO DO CORPUS

    1. O CORPUS

  • I have always felt that a politician is to be judged

    by the animosities he excites among his

    opponents.

    Winston Churchill

    http://www.quotationspage.com/quote/27663.htmlhttp://www.quotationspage.com/quote/27663.htmlhttp://www.quotationspage.com/quote/27663.html

  • Breve enquadramento histórico-político 1996-1998/2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -25-

    1.1. BREVE ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-POLÍTICO 1996-1998 /

    2005-2007

    Abordar, julgar e manifestar uma opinião sobre a IVG não se mostrou tarefa

    fácil para a sociedade portuguesa. Enraizados em valores e crenças de gerações

    seculares e confrontados com um problema de ordem moral, os Portugueses foram

    chamados a referendar em dois momentos diferentes –28 de Junho de 1998 e 11 de

    Fevereiro de 2007 – a mesma pergunta, a saber: «Concorda com a despenalização da

    Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada por opção da mulher nas

    primeiras 10 semanas em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».

    Embora separados por quase nove anos e pese embora maior mobilização da

    sociedade durante a campanha para o segundo referendo, a verdade é que ambos

    ficaram marcados por uma taxa de absentismo acima dos 50% (mais elevada em

    1998 do que em 2007).

    Em ambos os referentes, era governo o PS. No entanto, foram diferentes as

    posições que assumiu nos dois momentos de decisão. Em 1998, com o então

    Primeiro-ministro António Guterres, o PS manifestou a sua discordância

    relativamente à despenalização da doravante IVG por influência provável de valores

    católicos e morais do seu Secretário-Geral. Já em 2007, sob a liderança de José

    Sócrates, o PS defendeu sem quaisquer reservas quer a realização do referendo, quer

    a IVG.

    Nem todos os partidos mantiveram as posições assumidas relativamente à

    viabilidade de realização dos dois referendos. Ao contrário do Partido Socialista, que

    se empenhou sempre na realização do referendo nos dois momentos de discussão e

    do CDS, que, pelo contrário, sempre se opôs, todos os restantes partidos alteraram a

    sua posição. O PSD manifestou-se contra a realização do referendo em 1998, mas

    absteve-se em 2007; o PCP e o PEOV defenderam a sua realização em 1998, mas

    rejeitaram-na em 20071. Este volte-face dos partidos de esquerda teve como principal

    alvo o partido do Governo, que, perante a conjuntura de maioria política existente,

    não assumiu a responsabilidade de alterar a lei vigente e resolver a curto prazo o

    flagelo social. Não sendo tal possível em 1998, quando o PS não detinha maioria

    absoluta, em 2007 a realidade era outra, na medida em que tinha legitimidade para

    aprovar directamente a despenalização da IVG, sem submeter a proposta a referendo,

    1 Relativamente ao BE, não é possível comparar as decisões tomadas nos dois momentos pelo facto de

    ainda não estar constituído em 1998.

  • Breve enquadramento histórico-político 1996-1998/2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -26-

    cenário que o PS porém sempre recusou por constituir promessa eleitoral do seu

    programa.

    Durante numerosas sessões plenárias, foram esgrimidos argumentos a favor e

    contra o referendo e a despenalização da IVG. Para uns, a lei existente era suficiente

    e salvaguardava as situações em que a IVG era possível a pedido da mulher,

    nomeadamente até às dezasseis semanas em caso de violação ou crime sexual, até às

    vinte e quatro semanas em caso de malformação do feto e, ainda, em qualquer

    momento em caso de risco para a grávida ou no caso de fetos inviáveis2. Para outros,

    a mesma lei era obsoleta, iníqua e incapaz de defender o direito de autodeterminação

    da mulher para com o seu próprio corpo. Interromper a gravidez era um direito que

    assistia à mulher, fosse qual fosse a razão que a levasse a tal.

    Colocada a tónica num ou noutro aspecto da problemática em questão,

    dependendo da facção política, é curioso identificar os argumentos em que cada uma

    destas facções apostou para tentar não só convencer o Outro – o eleitorado –, mas

    também desconstruir o discurso do Outro – adversário político. Assim, de forma

    muito breve, reconhecemos que os partidários do “sim” argumentavam que só a

    despenalização da IVG poderia pôr termo ao aborto clandestino, flagelo maior da

    saúde pública. Sendo acompanhada num quadro hospitalar, a mulher teria acesso a

    aconselhamento médico e a informação sobre métodos contraceptivos. Além disso, a

    nova lei não iria aumentar o número de interrupções voluntárias da gravidez nem

    obrigar nenhuma mulher a abortar. Por outro lado, os partidários do “não”

    contrapunham que a vida humana deve ser protegida desde a concepção, sendo pois

    o aborto uma forma de discriminação contra o feto. Considerando que a lei vigente já

    protegia as mulheres, permitindo o aborto nos casos de risco para a saúde da mãe, de

    malformação do feto e violação, a despenalização mais não faria do que aumentar a

    prática do aborto, alegadamente prejudicial à saúde física e psíquica da mulher e com

    custos evidentes a suportar pelos contribuintes.

    2 Até 1984, independentemente da razão alegada, o aborto em Portugal era proibido. A lei 6/84 veio permitir a IVG nos casos de perigo de vida para a mulher, de perigo de lesão grave e duradoura para

    a saúde física e psíquica da mulher, quando existisse malformação fetal ou quando a gravidez

    resultasse de uma violação. Em 1997, a legislação foi alterada, tendo sido alargado o prazo em

    situações de malformação fetal e de crime de violação, actualmente designado por “crime contra a

    liberdade e autodeterminação sexual da mulher”, donde resultou a lei 90/97. Foi esta última que

    sofreu alteração depois do referendo. Actualmente, a lei vigente é a 16/2007.

  • Representação partidária 1996-1998 e 2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -27-

    Depois de os Portugueses resistirem à alteração da lei 90/97, em 1998, e

    mesmo não havendo votos suficientes para tornar o referendo vinculativo, em 2007 o

    Parlamento aprovou por larga maioria a legalização – por opção da mulher – da IVG

    nas primeiras dez semanas e em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.

    1.1.1. REPRESENTAÇÃO PARTIDÁRIA 1996-1998 E 2005-2007

    A grande diferença entre os períodos de tempo aqui estudados, em termos de

    representação partidária, é o acréscimo de um partido em 2005-2007, o Bloco de

    Esquerda3. De entre os deputados eleitos nos sufrágios de 1995 e de 2005,

    respectivamente, apresentamos na Tabela 1 os que foram alvo da nossa atenção,

    agrupados por partidos, por serem os que proferiram os discursos analisados.

    Leg

    isla

    tura

    PARTIDOS

    Bloco de

    Esquerda

    (BE)

    Partido

    Ecologista Os

    Verdes

    (PEOV)

    Partido

    Comunista

    Português

    (PCP)

    Partido

    Socialista

    (PS)

    Partido Social

    Democrata

    (PSD)

    Centro

    Democrático

    Social –

    Partido

    Popular

    (CDS-PP)

    Dis

    curso

    s 1

    99

    6-1

    99

    8

    · Bancada de

    Os Verdes

    · Bancada do

    PCP

    ·Acácio

    Barreiros

    ·Bancada do

    PSD

    · Bancada do

    CDS-PP

    · Heloísa

    Apolónia

    ·Bernardino

    Soares

    · António

    Braga

    ·Carlos

    Encarnação

    · Cruz

    Abecassis

    · Isabel de

    Castro

    ·Luísa

    Mesquita

    · Alberto

    Martins

    ·Correia de

    Jesus

    · Jorge

    Ferreira

    · Luís Sá · Bancada do

    PS

    ·Francisco

    Torres

    · Maria José

    Nogueira

    Pinto

    · Odete Santos ·Cláudio

    Monteiro

    ·Guilherme

    Silva

    · Nuno

    Correia da

    Silva

    ·Octávio

    Teixeira

    ·Carlos

    Zorrinho

    ·João Amaral

    · Elisa

    Damião

    ·Maria do Céu

    Ramos

    · Eurico de

    Figueiredo

    ·Marques

    Guedes

    ·Helena

    Roseta

    ·Pedro Roseta

    ·José Alberto

    Marques

    ·José

    Barradas

    3 O primeiro conjunto de debates foi realizado entre 1996 e 1998, quando o BE ainda não tinha

    representatividade no Plenário. O partido foi constituído em 1999.

  • Representação partidária 1996-1998 e 2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -28-

    ·Jorge Lacão

    ·José

    Magalhães

    ·Laurentino

    Dias

    ·Maria da

    Luz Rosinha

    ·Strecht

    Monteiro

    ·Sérgio Sousa

    Pinto

    ·Strecht

    Ribeiro

    Dis

    curso

    s 2

    00

    5-2

    00

    7

    ·Alda

    Macedo

    ·Bancada

    PEOV

    ·Bancada PCP ·Bancada PS ·Bancada PSD ·Bancada

    CDS-PP

    ·Ana Drago

    ·Francisco

    Madeira

    Lopes

    · António

    Filipe

    ·Alberto

    Martins

    · Ana Manso · Diogo Feio

    ·Bancada do

    Bloco de

    Esquerda

    · Heloísa

    Apolónia

    · Bernardino

    Soares

    · Ana

    Catarina

    Mendes

    · Luís Campos

    Ferreira

    · João

    Almeida

    ·Francisco

    Louçã

    · Odete Santos · Braga da

    Cruz

    · Zita Seabra · Mota Soares

    ·Helena Pinto

    · Maria de

    Belém

    Roseira

    · Guilherme

    Silva

    · Nuno Melo

    ·Luís

    Fazenda

    · Matilde

    Sousa Franco

    · Marques

    Guedes

    · Paulo

    Carvalho

    · Marcos

    Perestrello

    · Teresa

    Caeiro

    · Osvaldo

    Castro

    · Pedro Nuno

    Santos

    · Rosário

    Carneiro

    · Ricardo

    Rodrigues

    · Sónia

    Fertuzinhos

    · Vitalino

    Canas

    · Vera Jardim

    Tabela 1 – Deputados que intervieram nos debates

    Se compararmos os intervenientes em 1996-1998 e em 2005-2007,

    registamos um pequeno grupo comum aos dois momentos (vd. Tabela 2), facto que

    inviabiliza desde logo uma análise que tivesse por base a produção verbal dos

    deputados, individualmente ou em grupo estável. Tratando-se, no entanto, de uma

    análise duplamente comparativa, permita-se-nos o objectivo ambicioso assim

  • Representação partidária 1996-1998 e 2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -29-

    expresso, decidimos considerar como ponto de ancoragem a produção verbal dos

    partidos nos dois momentos. Não poderemos, contudo, deixar de salientar que a

    “voz” dos partidos é aqui o conjunto das vozes individuais dos seus deputados.

    Partido

    Ecologista Os

    Verdes

    (PEOV)

    Partido

    Comunista

    Português

    (PCP)

    Partido Socialista

    (PS)

    Partido Social

    Democrata

    (PSD)

    Centro

    Democrático Social

    – Partido Popular

    (CDS-PP)

    Bancada PEOV

    Heloísa Apolónia

    Bancada do PCP

    Bernardino Soares

    Odete Santos

    Bancada PS

    Alberto Martins

    Bancada PSD

    Guilherme Silva

    Marques Guedes

    Bancada do CDS-PP

    Tabela 2 – Deputados presentes nos dois momentos

    No cômputo geral, fizeram parte do nosso estudo os discursos de 81 entidades

    - deputados e bancadas parlamentares (41 no primeiro momento de debates; 40 no

    segundo). Tomámos em consideração as bancadas parlamentares dos partidos, pois

    todas elas se manifestaram pela voz de um ou de outro deputado, a favor ou contra,

    consoante o locutor ao qual tinha sido dada a palavra no momento.

    Quanto aos 81 intervenientes, a distribuição foi a seguinte: 6 do BE, 12 do

    CDS-PP, 10 do PCP, 6 do PEOV, 32 do PS e 15 do PSD distribuídos nos dois

    períodos da seguinte forma:

    12%

    15%

    7%

    44%

    22%

    CDS-PP

    PCP

    PEOV

    PS

    PSD

    Gráfico 1- Distribuição dos Deputados (1996-1998)

  • Representação partidária 1996-1998 e 2005-2007

    ____________________________________________________________________

    -30-

    15%

    17%

    10%

    8%

    35%

    15%

    BE

    CDS-PP

    PCP

    PEOV

    PS

    PSD

    Gráfico 2 – Distribuição dos Deputados (2005-2007)

    7%15%

    12%

    7%40%

    19%

    BECDS-PPPCP

    PEOVPSPSD

    Gráfico 3 – Distribuição dos Deputados nos dois períodos

    Se bem que seja significativa a diferença entre o número de deputados dos

    vários partidos, sendo notória a vantagem numérica do PS (40%) (cf. Gráfico 3), isso

    não nos parece impedir a realização de uma análise contrastiva. Julgamos ser

    exequível a prossecução dos objectivos visados, uma vez que para nós o importante

    será ir além da frequência das palavras ainda que ela seja o indicador-chave da

    análise que pretendemos efectuar.

    Mas, mais importante do que isso, será constatar a permanência das palavras

    nas diferentes transcrições. Será também atribuir sentido a essa permanência ou essa

    ausência, e ainda às eventuais modificações sofridas aquando da sua representação

    escrita. Será igualmente fazer o levantamento das divergências e interpretá-las.

  • Aspectos iniciais – Temática / Caracterização do corpus

    ____________________________________________________________________

    -31-

    1.2. ASPECTOS INICIAIS

    1.2.1. TEMÁTICA

    A partir do momento em que decidimos realizar a análise de discursos

    actualizados em contexto político, colocou-se a questão do tema a seleccionar. Uma

    vez que, sendo a AR “a assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”

    (Constituição da República Portuguesa, art.º 150, do capítulo I, do título III), bem

    como o principal forum de debate político e de fiscalização da actividade

    governamental, partimos de princípio de que qualquer escolha seria de interesse

    público e de importância no contexto social português.

    Não presidiu a esta escolha a luta política de per si, uma vez que

    pretendíamos uma reflexão linguística e, assim sendo, importaria muito mais

    observar os meios linguísticos usados pelos deputados do que o tema tratado. De

    entre diversas possibilidades, decidimos que a nossa análise incidiria sobre o

    referendo à despenalização da IVG, pela natureza humanística e social do tema,

    acrescida da abrangência e importância dos campos semânticos em causa (feto,

    mulher, aborto, morte, crenças religiosas). Este foi o cenário susceptível de motivar

    trocas verbais espontâneas (fora do institucionalmente previsto), fortemente

    condicionadas pela expressão de emoções.

    1.2.2. CARACTERIZAÇÃO DO CORPUS

    Pesou também o facto de os discursos proferidos constituírem um corpus

    suficiente vasto para estudo lexical e sintáctico. Relembramos que a matéria do

    referendo à despenalização da IVG esteve em discussão na AR por duas vezes:

    Entre 1996-1998, na VII legislatura, sob o governo do PS, cujo

    Primeiro-Ministro era o Engenheiro António Guterres.

    Entre 2005-2007, na X legislatura, também durante a governação do

    PS, com o Engenheiro José Sócrates como Primeiro-Ministro.

    Desta discussão resultou num número considerável de discursos e de

    sequências, aspecto fundamental num estudo de índole linguística (Blanche-

    Benveniste e Jeanjean 1986: 4). A opção pelo tema e pelo discurso político deixa

  • Caracterização do corpus

    ____________________________________________________________________

    -32-

    perceber, assim o cremos, a nossa intenção de escolher um corpus especializado4, na

    medida em que não se trata de um estudo representativo de todas as variedades

    pertinentes da língua, mas circunscrito a uma determinada situação de comunicação.

    Privilegiámos a unidade temática, em detrimento da variedade, por ser de

    natureza comparativa grande parte deste trabalho. Supomos que porá mais em

    evidência um dos objectivos visados que é o de comparar palavras e itens sintácticos

    específicos de uma mesma esfera temática, não parecendo, portanto, viável fazer este

    estudo comparativo em diferentes áreas temáticas. Poder-se-ão, assim, tirar

    conclusões mais pertinentes sobre a expressão linguística a que o tema deu origem, já

    que todos os discursos proferidos no seu âmbito são alvo de estudo e de transcrição.

    O estudo comparativo concretiza-se na análise de dois conjuntos de textos: os

    que foram transcritos institucionalmente pelos transcritores oficiais da AR e os que

    obtivemos após a representação gráfica das múltiplas audições que fizemos, trabalho

    árduo que nos levou muito tempo a concretizar.

    Os discursos representados graficamente pelos transcritores da AR, aqui

    analisados, são os publicados nos seguintes números do Diário da Assembleia da

    República:

    Nº 5 (VII Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 25 de Outubro de 1996 Nº 33 (VII Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 31 de Janeiro de 1997 Nº 42 (VII Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 21 de Fevereiro de 1997 Nº 51 (VII Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 14 de Março de 1997 Nº 31 (VII Legislatura, 3ª sessão legislativa), de 23 de Janeiro de 1998 Nº 36 (VII Legislatura, 3ª sessão legislativa), de 5 de Fevereiro de 1998 Nº 39 (VII Legislatura, 3ª sessão legislativa), de 12 de Fevereiro de 1998 Nº 42 (VII Legislatura, 3ª sessão legislativa), de 20 de Fevereiro de 1998 Nº 51 (VII Legislatura, 3ª sessão legislativa), de 20 de Março de 1998

    4 Retomamos a oposição de Habert et alii 1997: 144, entre corpus de référence e corpus spécialisé.

    Para o autor, «Un corpus de référence est conçu pour fournir une information en profondeur sur une

    langue. Il vise à être suffisamment étendu pour représenter toutes les variétés pertinentes du langage

    et son vocabulaire caractéristique, de manière à pouvoir servir de base à des grammaires, des

    dictionnaires et d’autres usuels fiables», ao passo que «Les corpus spécialisés sont limités à une

    situation de communication, ou à un domaine». Com base em Sinclair, Pereira (1994: 29 ss.)

    enumera vários tipos de corpora em lista muito mais alargada do que a apresentada por Habert, da

    qual constam : corpora gerais, corpora especializados, corpus principal, corpus de reserva, corpus

    «monitor», corpora paralelos e corpus comparado. Atendendo a esta subdivisão mais criteriosa,

    julgamos poder continuar a considerar o nosso corpus como especializado, pois é constituído por

    amostragens de língua seleccionadas de acordo com critérios linguísticos previamente delineados e

    que servem para caracterizar a sua homogeneidade linguística. Deste grupo fazem parte os corpora

    compostos por textos específicos de uma dada área, como por exemplo, técnicos ou científicos,

    textos infantis, entre outros.

  • Caracterização do corpus

    ____________________________________________________________________

    -33-

    Nº 10 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 21 de Abril de 2005

    Nº 16 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 5 de Maio de 2005

    Nº 45 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 16 de Setembro de 2005

    Nº 48 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 23 de Setembro de 2005

    Nº 50 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 29 de Setembro de 2005

    Nº 65 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 9 de Dezembro de 2005

    Nº 14 (X Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 20 de Outubro de 2006

    Nº 58 (X Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 9 de Março de 2007

    Nº 71 (X Legislatura, 2ª sessão legislativa), de 13 de Abril de 2007

    Estas publicações dizem respeito a reuniões plenárias realizadas no dia

    imediatamente anterior ao da saída em Diário da Assembleia da República5. Por

    essa razão, os discursos que transcrevemos ocorreram nos dias

    24 de Outubro de 1996 20 de Abril de 2005

    30 de Janeiro de 1997 4 de Maio de 2005

    20 de Fevereiro de 1997 15 de Setembro de 2005

    13 de Março de 1997 22 de Setembro de 2005

    22 de Janeiro de 1998 28 de Setembro de 2005

    4 de Fevereiro de 1998 7 de Dezembro de 2005

    11 de Fevereiro de 1998 19 de Outubro de 2006

    19 de Fevereiro de 1998 8 de Março de 2007

    19 de Março de 1998 12 de Abril de 2007.

    Sem especificarmos de momento as dificuldades sentidas no momento da

    transcrição, referimos apenas que são notórias as diferenças entre a transcrição

    publicada no Diário da Assembleia da República e a que fizemos, ao nível da fixação

    gráfica do discurso oral, da apresentação – quer da interacção discursiva dos

    intervenientes, quer da dinâmica processual desenvolvida, por exemplo, no momento

    da votações dos projectos de lei – e ao nível da correcção verbal. Visto tratar-se da

    representação ortográfica de um código oral, ambas as transcrições resultam de

    interpretações do discurso inicial levadas a cabo pelos transcritores respectivos, mas

    a transcrição do Diário da Assembleia da República é objecto de alterações

    significativas, resultantes da acção de duas “instâncias de controle” (Saianda 1998:

    6), a saber:

    O transcritor da AR, não sendo linguista, corrige qualquer particularidade

    própria do discurso oral a fim de facilitar a sua interpretação. Cabe-lhe apenas

    5 Com excepção do Nº 65 (X Legislatura, 1ª sessão legislativa), de 9 de Dezembro de 2005,

    correspondente a reunião plenária de 7 de Dezembro de 2005.

  • Caracterização do corpus

    ____________________________________________________________________

    -34-

    a função de transcrever o que foi dito nas sessões plenárias e torná-lo

    perceptível ao leitor do Diário da Assembleia da República, omitindo ou

    reformulando hesitações, repetições, palavras inacabadas, a reestruturação de

    frases confusas, em suma, adaptando-o à norma escrita.

    De acordo com o artigo 1156, os próprios Deputados podem, por duas vezes,

    rever a transcrição do seu discurso e, consequentemente, alterar-lhe a forma,

    sendo-lhes, no entanto, interdita a alteração do conteúdo

    Parece-nos assim que relativamente ao texto publicado no Diário da

    Assembleia da República, estamos perante um texto com características próximas das

    do discurso escrito, uma vez que nele são evidentes correcções / alterações orientadas

    pela norma escrita estabelecida para o português.

    Não querendo incorrer em situação encomiástica, atrevemo-nos a considerar

    de alguma importância os discursos que compõem o corpus que constituímos e que

    agora são o objecto da nossa análise, uma vez que, na acepção de Maria Aldina

    Marques (2000: 16), são discursos autênticos, isto é, foram realmente verbalizados;

    funcionaram efectivamente, foram pertinentes e influenciaram a votação dos vários

    projectos de lei, apresentados aquando do debate sobre a realização ou não do

    referendo à despenalização da IVG; e, por último, evidenciam mecanismos

    linguísticos susceptíveis de estudo. Permita-se-nos reafirmar a intenção da oralidade

    inerente à análise linguística do discurso político, pese embora a consciência da

    dificuldade dessa decisão.

    De acordo com a perspectiva de Marques, é nossa intenção:

    única e exclusivamente analisar alguns dos aspectos fundamentais da

    enunciação que, a par de outras componentes, determinam o funcionamento

    e organização do discurso político, no quadro mais global do funcionamento

    da Língua Portuguesa. (Id., Ib.: 16).

    6 No artº 115 do Regimento da Assembleia da República de 1/2007, consultado no site da AR

    (www.parlamento.pt/DossiersTematicos/Documento/Reforma_Parlamento/Reg_AR_1_2007.pdf),

    em Janeiro de 2010, lê-se:

    Artigo 115.º

    Publicação na 1.ª série do Diário da República

    1 - Os actos da AR que, nos termos da lei, devam ser publicados na 1.ª série do Diário da

    República são remetidos à Imprensa Nacional pelo PAR, no mais curto prazo.

    2 - Qualquer Deputado ou grupo parlamentar pode solicitar a rectificação dos textos dos actos

    publicados no Diário da República, a qual é apreciada pelo Presidente, que, ouvida a

    Mesa, a remete à Imprensa Nacional em prazo compatível com o legalmente previsto

    para a publicação de rectificações.

    http://www.parlamento.pt/DossiersTematicos/Documento/Reforma_Parlamento/Reg_AR_1_2007.pdf

  • Representatividade

    ____________________________________________________________________

    - 35 -

    1.2.3. REPRESENTATIVIDADE

    Num estudo linguístico como o aqui desenvolvido, a constituição do corpus é

    uma tarefa fundamental para a prossecução dos objectivos a que nos propomos. Na

    verdade, e no seguimento da linha de pensamento de Guilhaumou (2002), a

    constituição do corpus não se centrou na selecção de discursos para serem analisados

    por si próprios, mas por serem representativos de um tipo específico de discurso,

    nomeadamente, o discurso político/parlamentar. Entendendo-se por representativo

    um corpus cujas conclusões podem ser generalizados a um corpus hipotético mais

    alargado, julgamos que o nosso cumpre essa função. Foi, com efeito, premissa nossa

    apresentar um corpus tão representativo quanto possível, pois só assim seria

    exequível a generalização ao discurso parlamentar, bem como ao processo de

    passagem do oral ao escrito. Tal como Bacelar do Nascimento (2003: 169) refere:

    (...) dificilmente se consegue constituir um corpus especializado de

    dimensões muito extensas pelo que, na constituição destes corpora que, em

    geral, não ultrapassam um milhão de palavras, se torna imprescindível uma

    grande exigência no que respeita à qualidade e à representatividade dos

    textos seleccionados. Só assim se poderá assegurar que sejam fiáveis os

    resultados das análises e a frequência de ocorrência dos fenómenos

    linguísticos prototípicos da língua em estudo.

    Acresce que, para além do interesse neste discurso, o nosso propósito não se

    circunscreve exclusivamente à análise do discurso político enquanto tal. Ele vai mais

    longe. Na verdade, é também nossa intenção constituir um corpus representativo das

    normas que orientam o processo de transcrição dos discursos proferidos nas sessões

    plenárias, realizado pelos transcritores oficiais da AR. Como iremos mostrar ao

    longo deste trabalho, ao contrário da transcrição que realizámos e que procurámos

    fosse o mais fiel possível ao discurso realmente oralizado nas sessões plenárias, a

    transcrição oficial afastou-se dessa fidelidade na medida em que introduziu

    alterações que foram muitas vezes correcções ao que foi dito.

  • Homogeneidade

    ____________________________________________________________________

    - 36 -

    1.2.4. HOMOGENEIDADE

    Para além de representatividade, um corpus deve ser homogéneo em diversas

    áreas, o que significa que os discursos se devem referir ao mesmo tema, devem ser

    produto de situações de comunicação idênticas, assim como darem voz a intenções

    comunicativas similares. Assim, os discursos que constituem o nosso corpus são

    todos os que foram proferidos no âmbito da discussão suscitada pela realização do

    referendo à IVG, nos dois períodos em que se fez a discussão (1996-1998 e 2005-

    2007).

    Também as situações de comunicação são idênticas, pois todos os discursos

    constituem intervenções efectuadas na AR, nas sessões plenárias que se realizaram

    com o propósito de debater o tema já mencionado, e todos os discursos apresentados

    são motivados por intenções comunicativas idênticas, como sejam, argumentar e

    fundamentar as ideologias partidárias, desconstruir as defendidas pelos alocutários

    adversários, convencer o eleitorado; intenções que não causam estranheza, ou não

    fossem estes textos proferidos em situação de debate, por natureza, um “campo de

    batalha” em que cada um defende a sua verdade para a impor ao Outro.

    Por tudo o que expusemos, julgamos ter respeitado estes dois critérios

    fundamentais à constituição de corpora.

  • Recolha do corpus - A língua oral e a língua escrita

    ____________________________________________________________________

    - 37 -

    1.3. RECOLHA DO CORPUS

    1.3.1. A LÍNGUA ORAL E A LÍNGUA ESCRITA

    Se é verdade que ao conceito de norma linguística é atribuído um papel

    essencial no estudo de uma língua, ou num determinado aspecto linguístico, parece-

    nos não ser menos verdade que a mesma importância terá de ser atribuída ao

    conceito de variação. C