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1 DELAÇÃO PREMIADA À BRASILEIRA: ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADOS À CONSTITUCIONALIDADE E À ETICIDADE Lenilson Silva de Azevedo 1 RESUMO: O presente trabalho trata da delação premiada, instituto utilizado amplamente em nações estrangeiras como Itália, Espanha e nos países anglo-saxões, cuja finalidade primordial é de reforço na investigação e prova da criminalidade associativa, organizada e econômico-financeira. O padrão brasileiro de negociação na delação premiada faz com que o acusado devolva pequena parcela dos valores fruto da conduta criminosa, entregue alguns envolvidos, fique em prisão domiciliar durante bom tempo, excluindo parentes e amigos das malhas da operação. O foco, então, longe de punir, é recuperar, muito parcialmente, os recursos apropriados, evitando, com todo o cuidado, que sejam os colaboradores inseridos na prisão depois de “arrependidos”. Eis aqui a delação premiada à brasileira. O instituto da delação premiada está previsto no ordenamento jurídico brasileiro em diversas leis, principalmente na Lei n. 12.850/2013. Mas, a “delação à brasileira” tem se constituído em um emaranhado de possibilidades, em que a prática está dando as coordenadas do que deveria ser previsto em lei. Nesse sentido, questões controvertidas relacionadas ao instituto têm refletido não só na esfera jurídica, mas também no campo da ética, provocando reações por parte de parcela dos juristas e de setores da política. Pergunta-se: como é possível a fixação de uma pena de 12 anos sem prévio processo? Como determinar um regime de cumprimento desta pena como sendo o de prisão domiciliar, quando isso jamais foi contemplado no sistema jurídico brasileiro? É possível se manter um acusado preso preventivamente como forma de extrair dele uma colaboração premiada, algo que pode violar os direitos fundamentais previstos na Constituição? Prender para colaborar ou colaborar para não ser preso? Há limites legais para se obter a delação premiada? Como uma lei pode incentivar a prática da “premiação ao traidor”? São controvérsias relacionadas ao instituto, com reflexos constitucionais e éticos. Palavras-chave: Delação Premiada; Crime Organizado; Constitucionalidade; ética. ABSTRACT The present work deals with the awarding of an award, an institute widely used in foreign nations such as Italy, Spain and the Anglo-Saxon countries, whose primary purpose is to reinforce the investigation and proof of associative, organized and economic-financial crime. The Brazilian standard of negotiation in the awarding of the accusation causes the defendant to return a small portion of the amounts resulting from the criminal conduct, delivered by some involved, to be kept under house arrest for a long time, excluding relatives and friends of the operation. The focus, then, far from punishing, is to recover, very partially, the appropriate resources, carefully avoiding that the employees are inserted in the prison after "repent". Here is the award to the Brazilian. The institute of the prize-giving is provided for in the Brazilian legal system in several laws, mainly in Law no. 12,850 / 2013. But the "Brazilian demarcation" has become a tangle of possibilities, in which practice is giving the coordinates of what should be predicted in law. In this sense, controversial issues related to the institute have reflected not only in the legal sphere, but also in the field of ethics, provoking reactions on the part of jurists and policy sectors. Question: How is it possible to fix a 12-year sentence without prior process? How to determine a regime of compliance with this penalty as the one of house arrest, when this was never contemplated in the Brazilian legal system? Is it possible to keep a defendant in custody as a means of extracting from him an award- winning collaboration, something that may violate the fundamental rights provided for in the Constitution? Arrest to collaborate or collaborate not to be arrested? Are there legal limits to obtaining the award? How can a law encourage the practice of "rewarding the traitor"? They are controversies related to the institute, with constitutional and ethical reflexes. Keywords: Awarded Giving; Organized crime; Constitutionality; ethic SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. ASPECTOS IMPORTANTES DO INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA; 2.1 CONCEITO; 2.2. PREVISÃO LEGAL; 2.3. NATUREZA JURÍDICA; 3. (IN)COMPATIBILIZAÇÃO CONSTITUCIONAL DA DELEÇÃO PREMIADA. 4. A QUESTÃO ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA; 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros. 1 Concluinte do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte CERES.

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DELAÇÃO PREMIADA À BRASILEIRA: ALGUMAS QUESTÕES

RELACIONADOS À CONSTITUCIONALIDADE E À ETICIDADE Lenilson Silva de Azevedo1

RESUMO:

O presente trabalho trata da delação premiada, instituto utilizado amplamente em nações estrangeiras como Itália,

Espanha e nos países anglo-saxões, cuja finalidade primordial é de reforço na investigação e prova da

criminalidade associativa, organizada e econômico-financeira. O padrão brasileiro de negociação na delação

premiada faz com que o acusado devolva pequena parcela dos valores fruto da conduta criminosa, entregue alguns

envolvidos, fique em prisão domiciliar durante bom tempo, excluindo parentes e amigos das malhas da operação.

O foco, então, longe de punir, é recuperar, muito parcialmente, os recursos apropriados, evitando, com todo o

cuidado, que sejam os colaboradores inseridos na prisão depois de “arrependidos”. Eis aqui a delação premiada à

brasileira. O instituto da delação premiada está previsto no ordenamento jurídico brasileiro em diversas leis,

principalmente na Lei n. 12.850/2013. Mas, a “delação à brasileira” tem se constituído em um emaranhado de

possibilidades, em que a prática está dando as coordenadas do que deveria ser previsto em lei. Nesse sentido,

questões controvertidas relacionadas ao instituto têm refletido não só na esfera jurídica, mas também no campo da

ética, provocando reações por parte de parcela dos juristas e de setores da política. Pergunta-se: como é possível a

fixação de uma pena de 12 anos sem prévio processo? Como determinar um regime de cumprimento desta pena

como sendo o de prisão domiciliar, quando isso jamais foi contemplado no sistema jurídico brasileiro? É possível

se manter um acusado preso preventivamente como forma de extrair dele uma colaboração premiada, algo que

pode violar os direitos fundamentais previstos na Constituição? Prender para colaborar ou colaborar para não ser

preso? Há limites legais para se obter a delação premiada? Como uma lei pode incentivar a prática da “premiação

ao traidor”? São controvérsias relacionadas ao instituto, com reflexos constitucionais e éticos.

Palavras-chave: Delação Premiada; Crime Organizado; Constitucionalidade; ética.

ABSTRACT

The present work deals with the awarding of an award, an institute widely used in foreign nations such as Italy,

Spain and the Anglo-Saxon countries, whose primary purpose is to reinforce the investigation and proof of

associative, organized and economic-financial crime. The Brazilian standard of negotiation in the awarding of

the accusation causes the defendant to return a small portion of the amounts resulting from the criminal conduct,

delivered by some involved, to be kept under house arrest for a long time, excluding relatives and friends of the

operation. The focus, then, far from punishing, is to recover, very partially, the appropriate resources, carefully

avoiding that the employees are inserted in the prison after "repent". Here is the award to the Brazilian. The

institute of the prize-giving is provided for in the Brazilian legal system in several laws, mainly in Law no. 12,850

/ 2013. But the "Brazilian demarcation" has become a tangle of possibilities, in which practice is giving the

coordinates of what should be predicted in law. In this sense, controversial issues related to the institute have

reflected not only in the legal sphere, but also in the field of ethics, provoking reactions on the part of jurists and

policy sectors. Question: How is it possible to fix a 12-year sentence without prior process? How to determine a

regime of compliance with this penalty as the one of house arrest, when this was never contemplated in the

Brazilian legal system? Is it possible to keep a defendant in custody as a means of extracting from him an award-

winning collaboration, something that may violate the fundamental rights provided for in the Constitution? Arrest

to collaborate or collaborate not to be arrested? Are there legal limits to obtaining the award? How can a law

encourage the practice of "rewarding the traitor"? They are controversies related to the institute, with

constitutional and ethical reflexes.

Keywords: Awarded Giving; Organized crime; Constitutionality; ethic

SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO; 2. ASPECTOS IMPORTANTES DO INSTITUTO DA

DELAÇÃO PREMIADA; 2.1 CONCEITO; 2.2. PREVISÃO LEGAL; 2.3. NATUREZA

JURÍDICA; 3. (IN)COMPATIBILIZAÇÃO CONSTITUCIONAL DA DELEÇÃO

PREMIADA. 4. A QUESTÃO ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA; 5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito

parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros. 1 Concluinte do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CERES.

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1. INTRODUÇÃO

Por que nenhuma condenação penal pode ser proferida se for fundamentada

unicamente em depoimento prestado em delação premiada, mesmo que diversos delatores

façam a mesma acusação? Porque a delação premiada é um instrumento de obtenção de prova,

e não meio de prova. Esta é uma das afirmações que se pode extrair da decisão do ministro do

Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, na Petição n. 5.700-DF2.

A decisão já apontou limites à delação premiada. Trata-se de instrumento de obtenção

de prova, e não meio de prova. Porque se assim fosse, o Estado estaria incentivando falsas

denúncias feitas sob o pretexto de colaborar com a Justiça, o que geraria erros judiciários e

condenações de pessoas inocentes.

Portanto, a delação premiada é um instrumento de obtenção de prova pelo qual o réu,

figurando como co-autor de crime, acorda pela colaboração em investigação delatando os

demais integrantes da organização criminosa, em troca de benefícios previstos em legislação

extravagante, como a redução de pena, por exemplo (FARIAS, 2009, p. 135/158).

Na atualidade, o tema é dos mais recorrentes no meio jurídico, sendo constantemente

objeto de preocupação e notícias, tendo em vista a quantidade de investigações penais de grande

repercussão nas quais se menciona a utilização da delação premiada como instrumento de

apuração de delitos associativos.

No Brasil, muitos afirmam que a delação (ou colaboração) premiada é um instituto que

surgiu com a finalidade de atenuar as dificuldades e ineficiência do Estado no combate à

criminalidade organizada, especialmente no que se refere aos crimes praticados em concurso

de agentes, possibilitando o oferecimento de resposta à sociedade, que clama pelo combate à

criminalidade. Diversas leis extravagantes3 tratam do instituto da delação premiada, objeto do

presente trabalho, de modo que não há lei específica que trate do tema. Somente no ano de

2013, com a entrada em vigor da Lei n. 12.850/13, que dispõe sobre organizações criminosas,

é que se vê um detalhamento mais profundo sobre tal.

2 Cf. Decisão de Celso de Mello traz manual completo sobre delação. Disponível em:

<http://www.conjur.com.br/2015-out-14/delacao-justifica-investigação>. Acesso em: 06 nov. 2016. 3 Cf. Decreto-lei n. 2.848/40 (Código Penal); Lei n. 8.072/90; Lei n. 8.137/90; Lei n. 8.884/94; Lei n. 9.034/95;

Lei n. 9.080/95; Lei n. 9.269/96; Lei n. 9.613/98; Lei n. 9.807/99; Lei n. 10.149/00; Lei n. 11.343/06; Lei n.

12.529/11; Lei n. 12.683/12.

3

O padrão brasileiro de negociação na delação premiada faz com que o acusado devolva

pequena parcela dos valores fruto da conduta criminosa, entregue alguns envolvidos, fique em

prisão domiciliar durante bom tempo, excluindo parentes e amigos das malhas da operação.

Prender para colaborar ou colaborar para não ser preso, parece a tônica do modelo

“Moro” de processo penal. O acusador fica com a faca, o queijo e todas as cartas para negociar.

Não aceita a negociação, segue-se instrução processual e decisão condenatória com pena alta4.

Iniciando no regime fechado.

Eis, portanto, alguns dos traços caracterizadores da delação premiada à brasileira. O

foco, então, longe de punir, é recuperar, muito parcialmente, os recursos apropriados, evitando,

com todo o cuidado, que sejam os colaboradores inseridos na prisão depois de “arrependidos”.

Embora previsto no ordenamento jurídico brasileiro em diversas leis, a “delação à

brasileira” tem se constituído em um emaranhado de possibilidades, em que a prática está dando

as coordenadas do que deveria ser previsto em lei. Isto tem trazido preocupações e provocado

reações por parte de parcela da doutrina. Nesse sentido, questões controvertidas têm surgido

relacionadas ao instituto que merecem reflexão não só na esfera do jurídico, mas também no

campo da ética.

Pergunta-se: como a fixação de uma pena de 12 anos sem prévio processo? Como

determinar um regime de cumprimento desta pena como sendo o de prisão domiciliar, quando

isso jamais foi contemplado no sistema jurídico brasileiro? Como é possível se manter um

acusado preso preventivamente como forma de extrair dele uma colaboração premiada, algo

que pode violar os direitos fundamentais previstos na Constituição? Há limites legais para se

obter a delação premiada? Como um incentivo dado por lei para a prática da “premiação ao

traidor”? São controvérsias relacionadas ao instituto, com reflexos constitucionais e éticos que

serão aqui tratadas.

O artigo está estruturado da seguinte forma: de início, faz-se uma breve demonstração

dos aspectos relevantes do instituto da delação premiada, incluindo o conceito, a base legal e a

natureza jurídica. Em seguida, aborda-se a constitucionalidade da delação premiada trazendo

uma rápida reflexão, discussão presente na doutrina, sobrevindo importantes controvérsias

também entre os juristas constitucionalistas, sob a discussão de sua aplicação em face aos

direitos e garantias fundamentais.

4 Sobretudo os limites penais da delação premiada, confira “Delação premiada: com a faca, o queijo e o dinheiro

nas mãos”. Autores: Aury Lopes Jr. e Alexandre Morais da Rosa. Disponível em: <

http://www.conjur.com.br/2016mar25/limitepenaldelacaopremiadafacaqueijodinheiromaos?imprimir=1>. Acesso

em: 11 nov. 2016.

4

De igual modo, far-se-á importante reflexão acerca da eticidade do instituto, visto que

existe também grande preocupação de parte da doutrina com o direito premial, pois estar-se-ia

diante de um instrumento que premiaria um criminoso, que além de figurar como co-partícipe,

praticaria a vingança contra seus pares, para a obtenção de vantagens.

2. ASPECTOS IMPORTANTES DO INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA

A investigação penal é um incontornável dever jurídico do Estado, e a devida resposta

do poder público à notícia de um crime, mesmo que ela venha de depoimento de colaboração

com a justiça.

O Estado, diante da crescente criminalidade organizada, busca meios para conte-la,

sobretudo pleiteando a efetividade dos meios e instrumentos garantidores da conduta ética,

premissa do bem-estar social. Diante da constante onda de atentados e subvenções à ordem

social, e a flagrante dificuldade das instituições em darem efetividade às leis vigentes, é que

surge a chamada delação premiada.

Nesse item, demonstraremos o conceito, o marco legal e a natureza jurídica do instituto

da delação premiada.

2.1. CONCEITO

Inicialmente, na busca por uma definição propriamente dita, consiste a delação

premiada no criminoso que, de modo voluntário, assume sua culpa pela conduta delituosa

perante a autoridade judiciária ou policial, ao mesmo tempo em que delata os seus comparsas,

no intuito de obter benefícios, tais como perdão judicial, redução de pena, etc. Nesse sentido é

que Damásio de Jesus (2016) a define como “(...) aquela [delação] incentivada pelo legislador,

que premia o delator, concedendo-lhe benefícios (...)”.

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De modo mais técnico-conceitual, a delação premiada é espécie do Direito Premial,

uma técnica especial de investigação por meio da qual o coautor e/ou partícipe da infração

penal, além de confessar seu envolvimento no fato delituoso, fornece aos órgãos responsáveis

pela persecução penal informações objetivamente eficazes para a consecução de um dos

objetivos previstos em lei, recebendo, em contrapartida, determinado prêmio legal.

Como se vê, é fundamental que haja efetividade na colaboração, isto é, as informações

devem ser sobremaneira relevantes para que possam ensejar os benefícios legais. Referida

relevância tem relação com tudo aquilo que a autoridade policial e/ou o Ministério Público não

poderiam atingir pelos meios pertinentes à sua atuação. As informações devem, logicamente,

levar a autoridade ao conhecimento dos demais integrantes da prática delituosa.

Pertinente também referenciar a definição proposta por Fernando Capez (2011, p.

417):

Delação ou chamamento do corréu é a atribuição da prática do crime a terceiro, feita

pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator também confesse a sua

participação. Tem o valor de prova testemunhal na parte referente à imputação e

admite reperguntas por parte do delator.

Outro requisito importante neste sentido é que tal colaboração, segundo disposição

legal, deve ser voluntária. Voluntariedade aqui não se confunde com espontaneidade, enfatize-

se. O ato, quando espontâneo, surge da própria pessoa, de modo natural, sem qualquer

influência externa. Por outro lado, quando se fala em ato voluntário, é aquele praticado sem

nenhum tipo de coação, um ato da vontade da pessoa, mas podendo ter sido proposto por outra

(influência externa). Assim, a delação premiada deve ser voluntária, podendo não surgir do

próprio colaborador, quando em caso de proposta feita pelo Ministério Público ou pelo delegado

de polícia.

Sobre a colaboração do delator, Nucci (1999, p. 213) comenta que

Quando se realiza o interrogatório de um co-réu e este, além de admitir a prática do

fato criminoso da qual está sendo acusado, vai além e envolve outra pessoa,

atribuindo-lhe algum tipo de conduta criminosa, referente à mesma imputação, ocorre

a delação.

Como se vê, há a necessidade de o acusado atribuir sim a conduta delituosa a outra

pessoa, participação no ato, para que o tipo se configure. Cabe destacar que referido instituto

surgiu diante das dificuldades enfrentadas quando da punição de crimes praticados em

concurso de agentes, bem como o avanço na sofisticação de organizações criminosas. Assim,

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o Estado busca suprir a ineficiência de alguns de seus institutos legais, premiando o delator

em vista do célere andamento da investigação criminal, ao mesmo tempo em que busca dar

efetividade à persecução penal.

Não se pode olvidar que a delação premiada deve ser utilizada como exceção, isto é,

sua aplicação se dá somente nos crimes em que figure para o delator interesse processual direto.

É fundamental tal entendimento, visto que acaso haja grande abrangência sobre outros crimes,

figurando o delator como mero informante, acabaria por tornar a atividade investigativa do

Estado bem mais simples ou mesmo suscitaria menos o interesse em investigar. Ora, se assim

fosse, a simples prisão do delator e a exigência na denúncia dos comparsas na infração delituosa

da qual fora partícipe seria suficiente para a consecução das informações desejadas.

2.2. PREVISÃO LEGAL

No Brasil, na legislação, a “delação premiada” já aparece no século XVII, período

colonial, no âmbito das Ordenações Filipinas (1603-1867). Em 1830, fora revogada pelo

Código Criminal do Império. E somente no ano de 1990, é que novamente figura na legislação

pátria, com a instituição da Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) a qual prevê a concessão

de benefícios ao delator (GAZZOLA, 2009, p. 150-152).

Como se vê, não havia previsão de colaboração premiada no Código Penal Brasileiro

de 1941, ano do início de sua vigência. A Lei 8.072/90 incluiu no Código Penal o §4º ao art.

159, o qual estabeleceu referido instituto para o crime de extorsão mediante sequestro, senão

vejamos:

Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo: "Art. 159.

[...] § 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-lo à

autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a

dois terços."

A mesma previsão traz essa lei, em relação ao crime de quadrilha ou bando, para os

crimes hediondos, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, ou terrorismo. Veja-

se a transcrição do artigo em comento:

Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal,

quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o

associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu

desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

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O legislador, como se vê, deu o mesmo tratamento rigoroso dado aos crimes hediondos

em relação aos crimes de tráfico de drogas, terrorismo e tortura. Não obstante a gravidade de

tais crimes, o co-partícipe terá a remissão em caso de colaboração para o efetivo

desmantelamento do bando ou quadrilha.

A Lei 9.034/95, Lei do Crime Organizado, estabeleceu a colaboração premiada para

os crimes praticados por meio de organizações criminosas. A previsão do benefício para o

colaborador é elencada em seu art. 6º, conforme segue:

Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um

a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de

infrações penais e sua autoria.

Aqui se vê expressa menção ao caráter espontâneo da colaboração, conforme já

abordado supra.

A lei dos crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo

(Lei 8.137/90), foi alterada pela Lei 9.080/95, para estabelecer a delação premiada para os

crimes previstos na mesma:

Art. 2º Ao art. 16 da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, é acrescentado o

seguinte parágrafo único: "Art. 16. [...]

Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-

autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à

autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um

a dois terços."

A mesma lei 9.080/95 trouxe alterações também para a lei dos crimes contra o Sistema

Financeiro Nacional (Lei nº 7.492/86), trazendo a colaboração premiada para os delitos nela

previstos.

Art. 1º Ao art. 25 da Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986, é acrescentado o seguinte

parágrafo: "Art. 25. [...] § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha

ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à

autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um

a dois terços." [grifo nosso] Um ano após, a Lei 9269/96 alterou as regra do Código

Penal Brasileiro para modificar o instituto da delação premiada prevista no §4º do art.

15910. Art. 1º O § 4° do art. 159 do Código Penal passa a vigorar com a seguinte

redação: "Art. 159. [...] § 4° Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o

denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida

de um a dois terços."

No ano de 1998, com o advento da Lei nº 9.613/98, observa-se a dilatação da

abrangência da colaboração premiada, para um crime que se tornara comum, mas de difícil

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consecução de informações para sua elucidação: lavagem de dinheiro. A seguir, a transcrição

do Parágrafo 5º do Artigo 1º deste dispositivo:

Art. 1º [...] § 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida

em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva

de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as

autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais

e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

O advento da Lei de Proteção a Testemunhas, Lei nº 9.807/99, estendeu o benefício da

delação premiada a todos os tipos penais, sem se colocar qualquer exceção, numa flagrante

busca pela “padronização” das diversas regras deste instituto. Cabe frisar que parte da doutrina

defende que a Lei em questão fora direcionada ao tipo penal previsto no art. 159 do Código

Penal, qual seja, o crime de extorsão mediante sequestro. Por outro lado, tem se posicionado a

doutrina majoritária no sentido de que sua aplicação passou, com referida lei, a ser geral,

irrestrita, pois não há no dispositivo legal especificação de qualquer tipo. Veja-se o art. 13 do

dispositivo leal em comento:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão

judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,

tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal,

desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores

ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade

física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do

beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato

criminoso. Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a

investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou

partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou

parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois

terços.

Pela redação do mencionado art. 13, tudo indica que a lei teve em mira o delito de

extorsão mediante sequestro, previsto no art. 159 do Código Penal, uma vez que todos os seus

incisos a ele se parecem amoldar. Contudo, vozes abalizadas em nossa doutrina já se levantaram

no sentido de afirmar que, na verdade, a lei não limitou a sua aplicação ao crime de extorsão

mediante sequestro, podendo o perdão judicial ser concedido não somente nesta, mas em

qualquer outra infração penal, cujos requisitos elencados pelo art. 13 da Lei nº 9.807/99 possam

ser preenchidos.

Alteração demasiadamente importante ocorreu também através da Lei nº 10.149/00,

pela qual se alterou as regras da delação premiada para os crimes previstos na lei nº 8.137/86

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(crimes contra a ordem tributária, econômica, e contra as relações de consumo), e na lei nº

8.884/94 (crimes contra a ordem econômica). Por meio das mudanças deste dispositivo legal,

passou-se a vislumbrar a possibilidade de a União celebrar o Acordo de Leniência, que se faz

como espécie de colaboração premiada:

Art. 2º A Lei no 8.884, de 1994, passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos: [...]

"Art. 35-B. A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar acordo de leniência,

com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de um a dois

terços da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas

que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente

com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: I -

a identificação dos demais co-autores da infração; e II - a obtenção de informações e

documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação. [...]” Art. 35-

C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de

novembro de 1990, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei,

determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da

denúncia. Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se

automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo."

Em 2004, a promulgação d’A Convenção de Palermo, nome dado à Convenção das

Nações Unidas contra o crime organizado transnacional, assinada em 2000 e aprovada pelo

Congresso Nacional em 2003, juntou ao ordenamento jurídico pátrio regras internacionais

concernentes à colaboração premiada:

Artigo 26 [...] 2. Cada Estado Parte poderá considerar a possibilidade, nos casos

pertinentes, de reduzir a pena de que é passível um arguido que coopere de forma

substancial na investigação ou no julgamento dos autores de uma infração prevista na

presente Convenção.

Já no ano de 2006, foi a vez da Lei nº 11.343/06 (Lei de Tóxicos), estabelecer a delação

premiada para os crimes nela previstos. Veja-se o art. 41:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação

policial e o processo criminal na identificação dos demais coautores ou partícipes do

crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação,

terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Nesse processo evolutivo em que referido instituto ganha cada vez mais espaço no

ordenamento jurídico pátrio, no ano de 2011, a Lei nº 12.529/11 alterou as regras acerca do

Acordo de Leniência, expressos nas leis n° 8.137/90 e 8.884/94, conforme segue:

Art. 86. O CADE, por intermédio da Superintendência-Geral, poderá celebrar acordo

de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução

de 1 (um) a 2/3 (dois terços) da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com

pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde

que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que

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dessa colaboração resulte: I - a identificação dos demais envolvidos na infração; e II

- a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou

sob investigação.

A Lei de lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613/98), sofreu algumas alterações no ano de

2012, e nessas incluem-se mudanças também na delação premiada, conforme exemplo:

Art. 2º A Lei no 9.613, de 3 de março de 1998, passa a vigorar com as seguintes

alterações: “Art. 1º[...] § 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser

cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la

ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor

ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando

esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos

autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto

do crime.

Mas foi em 2013 que a delação premiada foi tratada de modo mais profundo e

analítico. Isso ocorreu com a edição da nova lei de organização criminosa (Lei nº 12.850/13):

Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de

outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I - colaboração

premiada.

Referido dispositivo legal trouxe as maiores inovações acerca da delação premiada. A

lei prevê, assim, a colaboração premiada como um dos meios de obtenção de prova. Uma seção

dedica-se somente a delimita-la. O artigo 4 traz o perdão judicial e a redução ou substituição de

pena para quem haja colaborado efetiva e voluntariamente com as investigações e com o

processo criminal; e logo depois vem um rol de resultados alternativos que devem ocorrer para

que algum desses benefícios seja concedido.

Os diplomas anteriores trazem benefícios que se resumem a redução de pena e perdão

judicial. Já com a nova lei de crime organizado, tem-se a previsão do benefício da substituição

de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Trata-se de uma pena com caráter

ressocializador, pois em lugar do perdão judicial simplesmente, tem-se a pena em questão.

Como se vê, há diversidade de legislações esparsas que tratam da colaboração

premiada. Do mesmo modo, variado é o regramento trazido por cada lei.

2.3. NATUREZA JURÍDICA

11

Como já tratado, a delação premiada é um acordo pelo qual o acusado recebe

benefícios em troca das informações relevantes prestadas ao parquet. Dentre os referidos

benefícios podem ocorrer a substituição, redução ou isenção da pena, ou regime penitenciário

menos gravoso, conforme a legislação pertinente.

No tocante à sua natureza jurídica, existe importante discussão doutrinária. Tanto a

doutrina quanto a jurisprudência veem a delação premiada como um possível meio de prova,

entendendo, desse modo, que só se perfaz o valor probatório no momento em que o acusado

imputar a alguém a prática de um crime tipificado como tal, ao mesmo tempo em que confessa

sua co-participação.

Assim, o caso concreto é que delimitará a natureza jurídica do instituto em questão,

para então figurar causa de diminuição de pena ou de extinção de punibilidade, conforme art.

13 da Lei 9.807/99, in verbis:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão

judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,

tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal,

desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do

beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato

criminoso.

Apesar de sua possível condição de meio de prova para instrução processual, esta não

se configura de forma absoluta contra o delatado, figurando como indicador de materialidade e

autoria do crime, devendo haver outras provas que corroborem com a versão apresentada pelo

delator. Isso se faz para evitar que o delator consiga, de qualquer modo, os benefícios, como

atribuir o cometimento de delito a um inocente, por exemplo.

Na busca pela delimitação da natureza jurídica do instituto, importante a análise das

posições doutrinárias a esse respeito. Bittar (2011, p. 35) enfatiza a dificuldade em definir a

natureza jurídica da delação premiada, pois a própria lei que estabelece o regramento para a

concessão dos benefícios não é clara quanto às outras características relevantes para a sua

aplicação. Segundo tal entendimento, o legislador usou diversas expressões para tratar da

delação nas várias legislações, o que, em um primeiro momento, dificulta ainda mais a

ubiquação sistemática.

Já para Mendroni (2002, p. 47), seguindo de igual modo outros doutrinadores, a

delação é variação do princípio da legalidade, e tem sua natureza jurídica decorrente do

consenso entre as partes acerca do destino e a imputação determinada ao acusado.

12

Há que se refletir que a falta de legislação mais específica acerca do instituto dificulta

a delimitação de sua natureza jurídica, além dos muitos dispositivos que preveem a delação na

legislação pátria.

Referido instituto constante do ordenamento jurídico brasileiro, suscita diversas

discussões acerca de sua constitucionalidade, concernentes aos princípios norteadores do

devido processo legal. Do mesmo modo, há quem se posicione pela prática se fazer como uma

condenação à ética, um incentivo que a lei dá à traição, premiando quem pratica atos escusos

de modo duplo.

3. (IN) COMPATIBILIDADE CONSTITUCIONAL DA DELAÇÃO PREMIADA

A análise da constitucionalidade da delação premiada se faz fundamental, no afã de se

verificar, no âmbito do direito constitucional processual, sua adequação dentro do ordenamento

jurídico pátrio, sobretudo no tocante aos direitos e garantias fundamentais. Neste sentido, reflete

duas correntes de pensamento que podem ser assim denominadas: a da valorização da pessoa

humana e a do interesse do Estado.

As dúvidas que pairam sobre a constitucionalidade do instituto da delação premiada,

devem ser analisadas no intuito de se proceder a uma melhor reflexão sobre o tema. Alguns

juristas entendem que a delação premiada fere os direitos e garantias fundamentais,

concernentes aos princípios norteadores do devido processo legal. Junte-se aí a própria

moralidade pública, que também pode ser violada.

Neste sentido, oportuna a formulação de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho5:

Um dos exemplos mais acabados da referida denegação diz com a delação premiada.

Inconstitucional desde a medula, a sua prática, dentro de um sistema processual penal

de matriz inquisitória ofende 1º) o devido processo legal; 2º) a inderrogabilidade da

jurisdição; 3º) a moralidade pública; 4º) a ampla defesa e o contraditório e 5º) a

proibição às provas ilícitas. Só isso, então, já seria suficiente para que se não legislasse

a respeito e, se assim não fosse, que se não aplicasse.

5 Cf. COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Delação Premiada: posição contrária. In: CARTA FORENSE.

São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/delacao-premiada-posicao-

contraria/13613>. Acesso em: 25 out. 2016.

13

Segundo tal posicionamento, estando a delação premiada ancorada na ideia de

ineficiência do Estado, corre-se o risco de funcionar como um “sistema de trocas”, em que o

Estado oferece o benefício ao delator, ambos no interesse de se atingir o desfecho do processo

em questão.

Por isso aqueles que questionam a constitucionalidade do instituto em análise apontam

para a sua não aplicação, discutindo, desse modo, a veracidade das informações prestadas pelo

delator.

Tasse (2006, p. 270) também contribui com tal discussão, aduzindo, quanto à

constitucionalidade processual criminal, na delação premiada:

(...) se de um lado há a ideia de trazer um indivíduo acusado de um crime a atuar como

auxiliar da justiça na punição de seus co-autores, por outro lado há um ataque aos

princípios fundamentais sobre os quais se estrutura o Estado Democrático de Direito.

Nesse diapasão é que Helder Silva Santos coloca que a delação premiada importa em

um paradoxo jurídico que se manifesta de diversas formas, como no desvirtuamento dos fins

do direito penal, no enfraquecimento do poder normativo da lei e na ruptura do que se entende

por ordenamento jurídico. Junte-se a isso também questões de natureza axiológica. Para

Santos,6

A pena, justamente por ser um mero acessório para o resguardo de bens jurídicos mais

valiosos, não pode valer-se de qualquer pretexto para impor ao infrator restrição que

extrapole os limites definidos implicitamente pela constituição por conta de sua

natureza democrática.

No Brasil, a Constituição e as leis pertinentes regulam a legitimidade da atuação da

Polícia, do Ministério Público e do Judiciário. Qualquer que seja a ação que extrapole os limites

constitucionais e legais não devem ser tolerados, sendo vedados quaisquer procedimentos e/ou

medidas fora da ordem jurídica. Neste sentido é que sustentam que a delação premiada deve ser

eficazmente regulada, para que se garanta a sua legalidade, tanto em relação aos seus

procedimentos quanto à segurança jurídica oferecida a delator e delatado (s), para que a

validade dos acordos encontre êxito.

É faculdade do Direito Penal a proteção de bens jurídicos fundamentais à vida em

sociedade. Sob a égide das garantias do art. 5º da Constituição Federal, não pode o Estado bater

de frente com valores caros à própria dignidade humana, não encontrando lastro o instituto da

6 Cf. SANTOS, Helder Silva. A delação premiada e sua (in)compatibilidade com o ordenamento jurídico

pátrio. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/10244/a-delacao-premiada-e-sua-in-compatibilidadecom-o-

ordenamento-juridico-patrio/2>. Acesso em: 30 out. 2016.

14

delação premiada, visto que estimularia a inserção de elementos nocivos no ordenamento

jurídico, como a desconfiança e o individualismo, sob o estímulo da traição.

Por outro lado, a corrente doutrinária que defende o instituto da delação premiada (que

é majoritária em sintonia com a maior parte da jurisprudência), sustenta que não há

inconstitucionalidade, na medida em que não há violação sobre os direitos fundamentais do

delator, visto que o mesmo age pela sua própria vontade e tem liberdade de escolha, não

havendo emprego de violência que o obrigue a proceder desse modo. Como já visto, é

fundamental, para a efetividade da delação premiada, a voluntariedade e/ou espontaneidade do

delator. Conforme leciona Costa7,

(…) O criminoso não é obrigado a negociar. É um ato de iniciativa pessoal dele. As

leis que tratam do favor premial colocam essa característica indispensável para que a

delação seja premiada: a voluntariedade e/ou espontaneidade do agente (...) Mesmo

sugerido por terceiros, respeita-se a liberdade de escolha do indivíduo e a decisão

última é dele. Em se delatando, receberá seu prêmio, se tornar efetivo Jus Persequendi

do Estado.

O art. 1º, inciso III, da CF/88, unifica os direitos e garantias fundamentais, atinentes

ao princípio da dignidade humana, figurando este como valor moral que é inerente à pessoa

humana, suscitando o respeito das outras pessoas. Limitar tais direitos só seria tolerável em

casos excepcionais. Assim, cabe ao Estado garantir a liberdade pessoal, o livre arbítrio, usando

menos a força para fazer cumprir as leis e fazer valer as penas, legitimando suas instituições

jurídicas.

O indivíduo que faz a opção pela delação premiada, o faz de modo voluntário e

espontâneo, na certeza de que receberá a pena pelo crime que cometeu, mas que esta será

reduzida, ao mesmo tempo em que contribui pelo bem da sociedade, uma forma de compensar

os males causados por ele e pelo grupo criminoso, seus cúmplices. Daí a legitimidade do

instituto da delação premiada, do ponto de vista constitucional, elemento que contribui de modo

significativo com a função precípua do Estado em fazer cumprir suas leis, especificamente no

combate ao crime organizado.

Nesse prisma, constata-se o quão ético é o Direito Penal, na medida em que faz o seu

papel de pacificação social responsabilizando, por meio da delação premiada, criminosos de

alto escalão, que dificilmente o seriam pelas demais ferramentas legais que o Estado dispõe.

7 Cf. COSTA, Marcos Dangelo da. Delação Premiada. Disponível em:

<http://www.conteudojuridico.com.br/monografiatcc-tese,delacao-premiada,22109.html>. Acesso em: 31 out.

2016.

15

No tocante à discussão acerca do direito do acusado acerca das garantias

constitucionais do devido processo legal, contraditório e da ampla defesa, há que se entender

que o direito de liberdade daquele que está preso, por exemplo, se perfaz quando se possibilita

a sua delação, um importante meio de defesa.

Ao Ministério Público cabe o estabelecimento do acordo com o delator, cabendo ao

juiz, posteriormente, conceder o prêmio ou não, estando clara aí a constitucionalidade do

instituto, atribuindo-se ao magistrado a análise da fidelidade das informações prestadas às

exigências legais, em vista da eficácia da delação.

Outra reflexão pertinente na discussão que ora se estabelece diz respeito ao princípio

da proporcionalidade, pelo qual se exige que a gravidade da pena seja proporcional à gravidade

do delito. Há que se ponderar se o perdão judicial ou diminuição da pena do delator, partícipe

do mesmo fato delituoso, tem o mesmo grau de culpabilidade dos demais criminosos

envolvidos, isto é, se não geraria uma desigualdade injusta entre os pares. Deve o juiz que

aplicar as penas baseado na equidade e na proporcionalidade.

Mas há que este princípio recai diretamente no da individualização das penas, presente

na cominação destas na legislação e na avaliação do operador do Direito quando da aplicação

e execução das penas, estabelecendo sanção capaz de reprovar o crime praticado, ao mesmo

tempo em que previne a nova ocorrência de delitos.

Em relação ao custo-benefício da delação premiada, pode-se afirmar que dá-se o

prêmio punitivo por uma cooperação eficaz com a autoridade, pouco importando o móvel real

do colaborador, de quem não se exige nenhuma postura moral, mas antes, uma atitude

eticamente condenável. Na equação “custo-benefício”, só se valora as vantagens que possam

advir para o Estado com a cessação da atividade criminosa ou com a captura de outros

delinquentes, e não se atribui relevância alguma aos reflexos que o custo possa representar a

todo o sistema legal enquanto construído com base na dignidade da pessoa humana.

Assim, o magistrado, para embasar sua decisão, verificará o devido cumprimento de

todos os princípios norteadores já referidos supra, com o fim maior de se atingir um processo

justo e garantir o Estado Democrático de Direito. Os princípios constitucionais constantes do

ordenamento jurídico brasileiro devem nortear o depoimento, para que este figure como meio

lícito de prova. Caso contrário, esta será nula.

Por tudo o que já fora elencado, percebe-se a importância a referido instituto dada pela

legislação pátria para a elucidação de crimes. Conforme repisa Azevedo (1999, p.5),

16

Oportuna, portanto, a legislação brasileira, que se põe na linha de frente da política

criminal orientada de um lado na proteção dos direitos da vítima e de outro no âmbito

da efetividade da persecução penal na prevenção e repressão de graves formas

delituosas, cujo deslinde depende, e em muito, da efetiva colaboração da vítima, do

destemor das testemunhas e, também, da eficaz e eficiente colaboração dos co-autores

e partícipes. (...) O perdão judicial e a diminuição da pena previstos na nova legislação

embebem-se de eticidade, não se constituindo num desprestígio ao direito punitivo,

nem numa barganha sombria do Estado com o criminoso para a busca e soluções

fáceis para a investigação penal e para o processo penal à custa e sacrifício de

princípios morais.

Ante o exposto, é possível verificar a prevalência da delação premiada quando da

análise de sua constitucionalidade dentro do ordenamento jurídico brasileiro. Guiado pela

consecução da valorização dos direitos humanos, o Estado Social é aquele que promove o bem

comum, conforme preleciona o art. 193 da CF/88. A delação premiada contribui de modo

fundamental para tal, no momento em que atinge provas que por outros meios legais não

surgiriam, cabais para desmantelar associações de grupos criminosos, e assim combater de igual

modo a impunidade, um grande clamor da sociedade contemporânea.

Portanto, como demonstrado, duas correntes dão o tom dessa discussão: a da

valorização da pessoa humana e o interesse do Estado. Os argumentos de ambas giram em torno

da paradoxal situação em que o Estado, ao mesmo tempo em que exerce autoridade em relação

ao combate à criminalidade, praticaria, com o delator, gesto de benevolência para com um

potencial criminoso, daí ser sustentada sua possível (in) constitucionalidade.

4. A QUESTÃO ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA

A discussão acerca da ética na delação premiada tem tomado conta de constantes

debates, sobretudo na contemporaneidade, em que a dinâmica das mídias sociais em noticiar os

fatos insufla argumentos sobre sua avaliação em consonância com o ordenamento jurídico

brasileiro.

A polêmica que se estabelece gira em torno de duas vertentes: a que considera a

delação premiada um instituto jurídico que contribui com as autoridades para o combate ao

crime; e a que o considera como um incentivo que é dado pela lei para a prática da traição,

obtendo, ainda por cima, um prêmio por ter praticado crime duplamente. Poderia possuir, assim,

a delação, um caráter de traição, caracterizado pela quebra da confiança outrora existente entre

17

o delator e o delatado, atitude reprovada pela sociedade, imoral. Dessa forma, estaria a delação

assumindo um sentido pejorativo, podendo figurar como vingança, maldade.

Na vida em sociedade, a moral se configura como o conjunto de normas que regulam

as relações entre os indivíduos, e a ética, nesse cenário, estabelece parâmetros para as melhores

ações, dignas da aceitabilidade perante seus semelhantes.

Beccaria (2008, p. 67-68) já se reportava ao caráter imoral da traição, defendendo que

tal comportamento deveria ser afastado da sociedade, criticando, inclusive leis que a

incentivassem, conforme segue:

As nações somente serão felizes quando a moral sã estiver intimamente ligada à

política. Contudo, leis que dão prêmio à traição, que ateiam entre os cidadãos uma

guerra clandestina, que fazem nascer suspeitas recíprocas, sempre se oporão a essa

união tão necessária da política e da moral; união que propiciaria aos homens

segurança e paz, que lhes diminuiria a miséria e que traria aos países mais prolongados

intervalos de tranqüilidade [sic] e concórdia do que aqueles que até o presente

desfrutaram.

É nesse sentido que se argumenta acerca da falta de fundamento ético na delação

premiada. Damásio de Jesus (1994, p. 5), diz que tal ação "não é pedagógica, porque ensina

que trair traz benefícios". Segundo tal entendimento, estaria o Estado se valendo da traição de

um criminoso como meio de investigação, o que violaria a Constituição, no momento em que

figurasse como prova ilícita.

Não obstante tal posicionamento, tem-se que a delação premiada se perfaz como prova

complementar, a partir da qual se torna possível a consecução de novas provas, que darão

sustentáculo aos fatos trazidos pelo delator. Sendo assim, não há que se falar em sentença

condenatória fundamentada somente nas suas declarações, pois conforme redação do §16 da

Lei 12.850/2013: “Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas

declarações de agente colaborador”.

Convém comentar ainda que as partes podem retratar-se da proposta, momento em que

as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não podem ser utilizadas

exclusivamente em seu desfavor. Assim, é possível que das provas produzidas a partir da

colaboração surja efeito penal somente para o colaborador, resguardando seu direito ao

contraditório.

Como já referido, para que a colaboração premiada seja efetiva, deve estar presente a

voluntariedade, sempre estando assegurado também a participação de seu defensor, conforme

determina o § 15 da Lei 12.850/2013, in verbis: “Em todos os atos de negociação, confirmação

e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor”. Daí conclui-

18

se que, presentes o requisito da voluntariedade e também a exigibilidade de assistência técnica

jurídica, aí está presente o princípio da ampla defesa.

Qualquer que seja a afronta à ordem pública e ao Estado Democrático de Direito, está-

se diante de situação eminente de interesse coletivo. Assim, a resolução de crimes, bem como

a persecução às organizações criminosas devem figurar como pressuposto para a consecução

do bem-estar social. Nesse contexto, a delação premiada não estaria afrontando qualquer direito

fundamental, já que, também, não é absoluto. Afinal de contas, o Estado pode relativiza-lo em

caso de interesse público. É isso que se coloca no art. 29 da Declaração dos Direitos do Homem

das Nações Unidas, conforme segue:

toda pessoa tem deveres com a comunidade, posto que somente nela pode-se

desenvolver livre e plenamente sua personalidade. No exercício de seus direitos e no

desfrute de suas liberdades todas as pessoas estarão sujeitas às limitações

estabelecidas pela lei com a única finalidade de assegurar o respeito dos direitos e

liberdades dos demais, e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública

e do bem-estar de uma sociedade democrática.

Assim, a crítica que figura acerca da não eticidade do instituto da delação premiada

não se sustenta, pois todo sujeito deve entender que o crime deve ser denunciado. Isso deve ser

adotado como obrigação do cidadão. Delatando-se a ação criminosa, será possível punir os

criminosos, prevenindo a prática de outros crimes, e contribuindo com o bem comum.

O que se deve promover, quando das críticas, é uma profunda reflexão sobre o sentido

de uma possível “ética do mundo do crime”, frente ao verdadeiro propósito do direito premial,

qual seja o combate à criminalidade. A sociedade, nesse sentido, deve perseguir os valores

morais para o seu próprio bem, para que impere a paz, e não para favorecer a impunidade de

organizações criminosas.

A traição do delator aos “companheiros” não parece, sobremaneira, ser atitude ética,

sobretudo quando se perquirir os reais motivos que motivaram tal comportamento, que pode

significar desde o seu arrependimento até a própria vontade de colaborar com a justiça, ou

mesmo interesses escusos. Jamais se saberá ao certo o que é subjetivo ao delator. No entanto,

feitas as ponderações e complementos para a efetivação desse meio de prova, não parece

apropriado o entendimento de que se premia um traidor. Afinal, talvez conviver com o crime

é que é antiético e imoral.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

19

O instituto da delação premiada surgiu como instrumento capaz de suprir possível

deficiência do Estado no combate à criminalidade. A medida legal, prevista no ordenamento

jurídico pátrio, se notabiliza por possibilitar vantagens processuais para o réu que, fazendo parte

de associação criminosa, ofereça informações relevantes que levem aos demais integrantes e

elementos, para assim atingir a consecução da verdade real dos fatos.

Existem controvérsias no tocante à constitucionalidade deste instituto. A parcela da

doutrina pátria que se posiciona contrariamente, o faz sob o argumento de que esta viola

princípios constitucionais, a exemplo dos direitos e garantias fundamentais, do devido processo

legal, da inafastabilidade da jurisdição. No entanto, tais argumentos são contestados, na medida

em que a colaboração do delator se perfaz como ato voluntário, sem qualquer imposição do

Estado. Junte-se a isso o fato de a legislação ser taxativa no sentido de só se aplicar tal meio

auxiliar de prova somente quando se tratar de matéria de interesse público.

Assim, sendo meio de prova auxiliar, a ação estatal perante esse instituto fará caminhar

a investigação criminal para o objetivo pretendido, tendo o delator a garantia de assistência

jurídica e ampla defesa. Todas essas ações atinentes à celeridade processual e ao tempo razoável

do processo, passando-se pela análise rigorosa do juiz, aí assegurando-se também a ampla

defesa, o contraditório e aplicação da jurisdição, comprovando-se sua constitucionalidade.

Diversos autores, ao conceituarem a delação premiada, sustentam que este instituto

se perfaz como uma recompensa ao delator dada pelo Estado, que em troca apresenta

informações que auxiliem a persecução penal, suscitando, em parte da doutrina, o

posicionamento pela sua não eticidade. A suspeita em torno da moralidade da “premiação ao

traidor” cai por terra pois, não obstante seu possível conteúdo imoral, fica patente sua

constitucionalidade, por ter como elemento norteador um bem maior, qual seja o interesse

coletivo, a manutenção do Estado Social e o Estado democrático de direito.

A eficiência penal se completa com este instituto, perfazendo-se eficaz instrumento de

obtenção de prova, no combate à criminalidade organizada. Sendo a criminalidade fenômeno

que vem cada vez mais se tornando complexo, espera-se do Estado prover de meios capazes

de conte-lo de modo efetivo, inovando o sistema penal, sobretudo no tocante à eficácia da

delação premiada no ordenamento jurídico brasileiro.

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