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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/065/2017; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. A Entidade Reguladora da Saúde (doravante abreviadamente ERS) tomou conhecimento de uma reclamação subscrita por E.R., visando a atuação Centro Hospitalar de São João, E.P.E. (doravante abreviadamente CHSJ), entidade prestadora de cuidados de saúde, inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (doravante abreviadamente SRER) da ERS sob o n.º 20296. 2. Na referida reclamação recebida em 22 de abril de 2016, e à qual foi atribuída o número REC/22215/2016, é alegada, em suma, a retenção de um objeto estranho compressa - no abdómen da utente, após realização de duas cirurgias no CHSJ. 3. Para uma averiguação preliminar dos factos enunciados pela reclamante, e ao abrigo das atribuições e competências da ERS, procedeu-se à abertura do processo de avaliação registado sob o número n.º AV/083/2017.

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE … · Em 21 de Setembro de 2013 fui submetida a uma laparotomia exploradora, com identificação de hemorragia com ponto de partida na parede abdominal;

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1 Mod.016_01

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes

às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e

social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/065/2017;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (doravante abreviadamente ERS) tomou

conhecimento de uma reclamação subscrita por E.R., visando a atuação Centro

Hospitalar de São João, E.P.E. (doravante abreviadamente CHSJ), entidade

prestadora de cuidados de saúde, inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos

Regulados (doravante abreviadamente SRER) da ERS sob o n.º 20296.

2. Na referida reclamação recebida em 22 de abril de 2016, e à qual foi atribuída o

número REC/22215/2016, é alegada, em suma, a retenção de um objeto estranho –

compressa - no abdómen da utente, após realização de duas cirurgias no CHSJ.

3. Para uma averiguação preliminar dos factos enunciados pela reclamante, e ao abrigo

das atribuições e competências da ERS, procedeu-se à abertura do processo de

avaliação registado sob o número n.º AV/083/2017.

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4. No entanto, face aos elementos recolhidos no referido processo de avaliação e

atendendo à necessidade de uma averiguação mais aprofundada dos factos relatados,

ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o respetivo Conselho de

Administração deliberou, por despacho de 12 de outubro de 2017, proceder à abertura

do presente processo de inquérito, registado internamente sob o n.º ERS/065/2017,

com o intuito de avaliar se, no caso concreto, foi garantido o integral respeito pelos

direitos e interesses legítimos da utente, nomeadamente, o direito a cuidados

adequados e tecnicamente mais corretos, conforme o estabelecido no artigo 4.º da Lei

n.º 15/2014, de 21 de março, assim se assegurando a incumbência da ERS de zelar

pela qualidade e segurança dos cuidados de saúde prestados.

I.2. Diligências

5. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se as seguintes

diligências instrutórias:

(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa à inscrição do Centro Hospitalar de São

João, E.P.E. (CHSJ), constatando-se que o mesmo é um estabelecimento

prestador de cuidados de saúde registado no SRER da ERS;

(ii) Pedido de elementos enviado ao CHSJ em 7 de setembro de 2017, e análise da

resposta endereçada à ERS, datada de 2 de outubro de 2017;

(iii) Notificação de abertura de processo de inquérito e pedido de elementos

adicional enviado ao CHSJ em 16 de outubro de 2017, e análise da resposta

endereçada à ERS, datada de 24 de novembro de 2017;

(iv) Notificação de abertura de processo de inquérito e pedido de elementos

enviado à reclamante em 16 de outubro de 2017, e análise da resposta

endereçada à ERS, datada de 6 de dezembro de 2017;

(v) Pedido de relatório de apreciação clínica a perito médico consultor da ERS a 7

de dezembro de 2017, e análise do respetivo parecer.

II. DOS FACTOS

6. Concretamente, cumpre destacar os seguintes factos alegados pela reclamante, na

missiva dirigida ao Presidente do Conselho de Administração do CHSJ:

“[…]

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Venho pela presente dar conhecimento a V. Exa. e em conformidade com o relatório

de alta do Serviço de Cirurgia Geral desse hospital datado de 24 de Setembro de

2013, […], do seguinte:

1. Em 20 de Setembro de 2013 fui internada no Serviço de Cirurgia Geral para realizar

uma colecistectomia laparoscópica;

2. No pós operatório fui acometida por um hemoperitoneu com registo de Hb mínima

de 7.1;

3. Em 21 de Setembro de 2013 fui submetida a uma laparotomia exploradora, com

identificação de hemorragia com ponto de partida na parede abdominal;

Mais informo, que no pós operatório vi-me confrontada com uma infecção complicada

na cicatriz, que tive de dirimir e que provavelmente ocasionou a presente hérnia

abdominal de que sofro.

Estando com problemas na minha anca foi-me prescrito um Raio X e uma

Ressonância Magnética (Doc. 2) para avaliação de um possível problema na anca. Ao

realizar o RX, o técnico detectou um objeto estranho no meu abdómen, não tendo por

isso sido possível realizar a Ressonância Magnética prescrita. Assim e para avaliar a

natureza, forma e dimensão do objeto encontrado, realizei TAC abdominal em 29 de

Fevereiro de 2016, cujo relatório e CD junto em anexo (Doc. 3).

Perante tais circunstâncias, altamente lesivas quer em termos físicos quer em termos

psicológicos e patrimoniais, não posso deixar de pedir responsabilidades a esse

Centro Hospitalar […]”.

7. Em anexo à sua reclamação, a exponente juntou cópia do Relatório da TAC

Abdominal (zona pélvica), datada de 29 de fevereiro de 2016, de onde consta, no que

para os presentes autos importa relevar, o seguinte:

“[…]

Paciente referenciada para avaliação de corpo estranho de densidade metálica

projectado na cavidade abdominal em Rx prévio.

[…]

No flanco esquerdo, situado na goteira parieto-cólica, adjacente à face anterior do

cólon descendente, observa-se uma estrutura de morfologia fusiforme […], exibindo no

seu interior uma estrutura tuboliforme de densidade elevada, aparentemente metálica,

[…] no seu conjunto traduzindo processo inflamatório de tipo reacção de corpo

estranho, secundária ao material metálico provavelmente de ponta de cateter

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atendendo aos antecedentes cirúrgicos da paciente, não se definindo bolhas gasosas

no seio desta coleção que sugiram processo infeccioso (abcesso). […]”.

8. Em resposta à referida reclamação, o prestador remeteu à exponente, em 11 de abril

de 2016, os seguintes esclarecimentos:

“[…]

Segundo acaba de informar o Dr. L.G. a situação clínica está resolvida, pedindo este

Centro Hospitalar desculpa pelos incómodos que lhe terá causado a compressa

involuntariamente deixada no seu abdómen. […]”.

9. Nessa senda, foi enviado um pedido de elementos ao CHSJ, por ofício datado de 7 de

setembro de 2017, concretamente solicitando:

“[…]

1. Se pronunciem, de forma fundamentada e circunstanciada, sobre a situação

descrita na aludida reclamação, se possível acompanhada dos respetivos elementos

documentais;

2. Descrição de todas as etapas percorridas pela utente E.R., desde a sua admissão

até à realização das aludidas cirurgias, com indicação de data, hora e profissional

responsável pela sua operacionalização, por nome, categoria profissional, funções e

serviço em que o mesmo se integra, acompanhada do respetivo suporte documental;

3. Indicação, no caso concreto, do tipo de intervenção cirúrgica em questão, com a

prestação de quaisquer esclarecimentos que reportem necessários;

4. Indicação dos regulamentos, normas ou protocolos existentes em matéria de

Qualidade de procedimentos cirúrgicos, acompanhado do respetivo suporte

documental;

5. Informação, em especial, sobre o tipo de procedimentos de verificação do material

cirúrgico que são realizados, em conformidade com as orientações da OMS e da DGS,

previstas na Norma de Orientação n.º 02/2013, de 12 de fevereiro de 2013, de que faz

parte integrante a Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica, o Índice de Apgar

Cirúrgico, bem como o Manual de Implementação da Lista de Verificação de

Segurança Cirúrgica da OMS e as Orientações da OMS para a Cirurgia Segura 2009;

6. Informação sobre se foi feita contagem de compressas no fim da intervenção

cirúrgica, bem como indicação do profissional responsável pela contagem de

compressas;

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7. Indicação de medidas corretivas adotadas em ordem a evitar situações

semelhantes à reportada na reclamação supra citada, acompanhado do respetivo

suporte documental;

8. Se pronunciem sobre a instauração de processo de averiguação interno para

apuramento dos factos ocorridos, bem como das conclusões já alcançadas

acompanhadas do respetivo suporte documental;

9. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados

necessários e relevantes à análise do caso concreto. […]”.

10. Por comunicação eletrónica rececionada pela ERS em 2 de outubro de 2017, veio o

CHSJ remeter os esclarecimentos prestados pelo Dr. L.G., médico responsável pelo

tratamento da utente E.R., de onde cumpre destacar o seguinte:

“[…]

i. A utente em epígrafe recorreu à consulta externa de Cirurgia Geral desta

Unidade de Patologia Hepatobiliopancreática e Esplénica em 13 de Maio de

2013, a pedido da consulta externa de Medicina Interna desta Unidade

Hospitalar.

ii. Diagnosticada litíase vesicular sintomática foi, após os procedimentos habituais,

inscrita para a cirurgia de colecistectomia laparoscópica.

iii. Assinou, de acordo com as normas em vigor no nosso hospital, o

consentimento livre e esclarecido para o ato médico em questão. (documento

anexo 1)

iv. A operacionalização das etapas percorridas pela utente desde a sua admissão

até à realização das aludidas cirurgias foram efectuadas essencialmente pelos

profissionais L.G., Consultor de Cirurgia, a exercer funções no Serviço de

Cirurgia Geral e A.G., Interno do Internato Complementar de Cirurgia Geral a

exercer funções no Serviço de Cirurgia Geral.

v. Foi submetida no dia 20 de Setembro de 2013 a cirurgia de colecistectomia

laparoscópica que, segundo consta no relato operatório, decorreu sem

intercorrências. Naquele relato não há referência ao uso durante a cirurgia de

qualquer tipo de cateter ou dreno, metálico ou não. (documento anexo 2)

vi. Consultada a Listagem de Consumos por Doente, registo obrigatório efectuado

pré-operatoriamente e onde constam todos os itens usados naquele episódio

cirúrgico, não se verificou o consumo ou uso de qualquer tipo de dreno, cateter

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ou mesmo fio de fixação que eventualmente seria usado para o efeito.

(documento anexo 3)

vii. Consultado o Registo de Enfermagem correspondente a este procedimento

cirúrgico, foi verificada a contagem como correcta no fim da cirurgia de

compressas grames, pequenas, bolas de preparação, instrumental e corto-

perfurantes. (documento anexo 4)

viii. Consultados os registos médicos e de enfermagem no pós-operatório não há

registo da existência de dreno abdominal, o que seria obrigatório, dada a

relevância clínica, aquando da existência daquele, da definição de

características e volume de drenagem.

ix. No dia 21 de Setembro de 2013, após o diagnóstico de hemoperitoneu pós-

operatório a utente foi submetida a relaparoscopia e laparotomia exploradora

pelas 20.50 horas no Bloco Operatório do Serviço de Urgência. Consta no

registo operatório desta cirurgia que se verificou existir hemoperitoneu de

quantidade moderada com coágulos, tendo sido identificado o orifício do trocar

umbilical com[o] origem provável da hemorragia. (documento anexo 5)

x. A doente assinou, de acordo com as normas em vigor no nosso hospital,

previamente à cirurgia, o consentimento livre e esclarecido para o ato médico

em questão. (documento anexo 6)

xi. Não existe referência no relato desta acto operatório à utilização de qualquer

tipo de cateter ou dreno, metálico ou não. Não existe referência à colocação de

dreno durante o encerramento da parede abdominal. Finalmente, segundo está

registado no relato cirúrgico, a contagem das compressas utilizadas foi

efectuada no fim da cirurgia foi dada como correcta. (documento anexo 7)

xii. Consultad[o] também o registo da Listagem de Consumos por Doente,

correspondente a este episódio cirúrgico, não se verificou a utilização de

qualquer tipo de dreno, cateter ou mesmo fio de fixação que eventualmente

poderia ser usado para o efeito. (documento anexo 8)

xiii. Consultado o Registo do Enfermeiro Circulante correspondente a este

procedimento cirúrgico, foi verificada a contagem dada como correcta no fim da

cirurgia de compressas, instrumentos e electrocautério monopolar. (documento

anexo 8)

xiv. Consultado no SClínico o Registo de Cirurgia Segura, procedimento que visa a

verificação da segurança cirúrgica do episódio em questão, pode-se ler que foi

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verificada antes de a doente sair da sala a contagem correcta de instrumentos,

compressas e corto perfurantes. (documento anexo 9)

xv. A não utilização de drenos nesta segunda intervenção pode também ser

confirmada nos registos clínicos e de enfermagem pós-operatórios.

xvi. A evolução clínica da utente foi favorável tendo tido alta em 25 de Setembro de

2013.

xvii. Na nota de alta pode-se ler vigilância clínica, cuidados de penso e retirar

material de sutura atempadamente. A doente foi orientada para a consulta

externa de Cirurgia Geral.

xviii. Após este episódio de alta não há mais registos no processo clínico da área da

Cirurgia Geral até março de 2016.

xix. Consultamos inclusivamente o registo de enfermagem da consulta externa de

Cirurgia Geral do Centro Hospitalar de São João onde não consta a vinda da

utente para efectuar qualquer cuidado de penso da incisão operatória.

xx. A utente faltou à consulta de pós-operatório, agendada para 29 de novembro de

2013.

xxi. Na sua exposição, a doente informa que teve no pós-operatório uma “infecção

complicada da cicatriz”.

xxii. Não temos conhecimento do evento referido no ponto anterior e

desconhecemos o modo e onde foi tratado, que tipo de manipulação

farmacológica foi efectuada e se foi usado, como é habitual, no tratamento da

“infecção complicada da cicatriz” algum tipo de drenagem ou dreno para a

dirimir.

xxiii. Compreendendo a preocupação da utente no que concerne aos achados

descritos no método de imagem que efectuou em 29/2/2016, e estando, esta

Unidade do Serviço Cirurgia Geral do Centro Hospitalar de São João, à

disposição da utente no sentido de esclarecer e apurar completamente os

eventos que se sucederam e orientá-la do ponto de vista clínico e terapêutico, a

utente foi contactada para comparecer numa Consulta Externa de Cirurgia

Geral para proceder ao melhor esclarecimento e clarificação da situação clínica

e sua orientação.

xxiv. A doente compareceu à consulta no dia 11/3/2016 onde foi totalmente

esclarecida a situação e explicada a disponibilidade para a resolução do

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problema. Constatou-se também que a doente padecia de uma hérnia Incisional

peri-umbilical.

xxv. Foi assim proposto à doente o tratamento da hérnia Incisional peri-umbilical e a

extracção no mesmo tempo operatório, por laparoscopia do alegado corpo

estranho intra-abdominal.

xxvi. A doente aceitou o tratamento proposto.

xxvii. Assinou, de acordo com as normas em vigor no nosso hospital, o

consentimento livre e esclarecido para o ato médico em questão.

xxviii. A cirurgia decorreu no dia 15/3/201[6], tendo sido extraído o corpo estranho em

questão por endo-saco e pelo orifício de tratamento da hérnia Incisional peri-

umbilical, que constatamos ser uma compressa de 20x 15cm com marcador

radioopaco. A cirurgia terminou com a hérnia incisional peri-umbilical.

(documento anexo 1[0])

xxix. A doente teve alta sem complicações no dia 17/3/2016.

xxx. Foi observada na Consulta Externa pela última vez no dia 6/5/2016

encontrando-se bem, sem sintomas e com exame físico normal.”.

11. Em anexo à referida resposta ao pedido de elementos da ERS, o prestador juntou aos

autos os seguintes documentos:

(i) Declaração de consentimento livre e esclarecido para atos médicos de 20 de

setembro de 2013;

(ii) Relato Cirúrgico de 20 de setembro de 2013;

(iii) Listagem de Consumos por Doente de 20 de setembro de 2013;

(iv) Registo de Enfermagem de 20 de setembro de 2013;

(v) Relato Cirúrgico de 21 de setembro de 2013;

(vi) Declaração de consentimento livre e esclarecido para atos médicos de 21 de

setembro de 2013;

(vii) Registo de Enfermagem de 21 de setembro de 2013;

(viii) Listagem de Consumos por Doente de 21 de setembro de 2013;

(ix) Registo de Cirurgia Segura de 21 de setembro de 2013;

(x) Relato Cirúrgico de 15 de março de 2016.

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12. Nessa sequência, foi enviado um pedido de elementos à utente E.R., por ofício datado

de 16 de outubro de 2017, concretamente solicitando:

“[…]

1. Informação, detalhada e pormenorizada, sobre todas as intervenções cirúrgicas a

que foi sujeita, com indicação da(s) data(s) e do(s) prestador(es) de cuidados de

saúde em causa;

2. Envio de elementos clínicos relativos à infeção que refere ter sofrido e ao respetivo

tratamento, por forma a habilitar o perito médico consultado pela ERS com os

elementos essenciais para elaboração do seu relatório de apreciação clínica. […]”.

13. Paralelamente, foi também enviado um pedido de elementos adicional ao CHSJ, por

ofício datado de 16 de outubro de 2017, concretamente solicitando:

“[…]

1. A fim de compaginar a informação inicialmente prestada por V. Exas. à reclamante

de que “[…] a situação clínica está resolvida, pedindo este Centro Hospitalar desculpa

pelos incómodos que lhe terá causado a compressa involuntariamente deixada no seu

abdómen”, com os respetivos registos da cirurgia e a posterior indicação de “[…] que

foi verificada antes de a doente sair da sala a contagem correcta de instrumentos,

compressas e corto perfurantes”, informem sobre o elemento profissional responsável

pela contagem de compressas, com indicação de nome, categoria profissional,

funções e serviço em que o mesmo se integra, acompanhada do respetivo suporte

documental;

2. Indicação dos procedimentos e/ou normas em vigor no CHSJ, especificamente

orientadas para a regulação do procedimento cirúrgico, na sua vertente de qualidade e

segurança, em conformidade com as orientações da OMS e da DGS, previstas na

Norma de Orientação n.º 02/2013, de 12 de fevereiro de 2013;

3. Informação sobre a instauração de processo de averiguação interno para

apuramento dos factos ocorridos, com envio de todos os elementos recolhidos até ao

momento;

4. Indicação das medidas corretivas adotadas em ordem a evitar situações

semelhantes à reportada na reclamação em análise;

5. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados

necessários e relevantes à análise do caso concreto. […]”.

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14. Nessa sequência, por comunicação eletrónica de 24 de novembro de 2017, veio o

CHSJ responder ao pedido de elementos da ERS, para tal informando do seguinte:

“[…]

1. De acordo com os procedimentos em vigor no CHSJ, e consultado o Sr. Director do

Bloco Operatório Central do Centro Hospitalar de São João, relativos à vertente de

conformidade e segurança informo:

2. Existe uma verificação de conformidade e segurança à entrada do Bloco operatório

(impresso anexo). A responsabilidade desta verificação é do enfermeiro que acolhe os

doentes à entrada do Bloco Operatório.

3. Em todas as intervenções é realizada e registada em suporte digital a checklist de

segurança e determinação de Apgar cirúrgico preconizados na norma DGS nº 2/2013.

A responsabilidade de tais procedimentos cabe ao enfermeiro circulante.

4. De acordo com o documento em anexo, em vigor desde 21/2/014, que descreve o

procedimento de contagem de compressas, tampões e algodões a responsabilidade

da contagem das compressas utilizadas no ato cirúrgico no bloco operatório é do

enfermeiro circulante e instrumentista.

5. Solicitei às direcções de enfermagem dos Blocos Operatórios em questão, o nome,

categoria profissional, funções e Serviço em que se integram dos Enfermeiros

presentes na Sala de Operações aquando da execução das cirurgias em questão.

6. Foi efetuado por mim averiguação para apuramento dos fatos ocorridos.

Desconheço instauração de processo formal de averiguação interno. […]”.

15. Em anexo a tais esclarecimentos, juntou o CHSJ cópia do procedimento de

“Contagem de compressas, tampões e algodões”, datado de 21 de fevereiro de 2014;

SClínico com indicação das equipas, médica e de enfermagem, presentes nas

cirurgias em questão; bem como cópia do “Registo de Ocorrência de Sala”, de dia 21

de setembro de 2013.

16. Por sua vez, por comunicação eletrónica de 4 de dezembro de 2017, veio a utente

E.R. informar do seguinte:

“[…]

1) As únicas intervenções cirúrgicas a que fui submetida, foram todas elas, efetuadas

no Hospital de S. João do Porto, nas seguintes datas:

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Data Tipo de intervenção

20-09-2013 Cirurgia efetuada para retirada da vesícula

21-09-2013 Cirurgia efetuada devido a complicações no pós-operatório

(hemorragia interna na parede abdominal)

15-03-2016 Cirurgia efetuada para retirada de material cirúrgico detetado

no abdómen e reparação de hérnia incisional da parede

abdominal (consequências decorrentes de cirurgia anterior)

2) Envio em anexo – Anexos 1 e 2 –, a informação clínica sobre os cuidados

prestados no Centro de Saúde de Vila Nova de Gaia, referentes ao período entre

2013 e 2016.

Mais informo que, a resposta do Hospital de S. João do Porto (Abril de 2016), à

reclamação por mim apresentada (Março de 2016), foi “… a situação clinica está

resolvida, pedindo este Centro Hospitalar desculpa, pelos incómodos que lhe terá

causado a compressa involuntariamente deixada no seu abdómen.” (conforme

Anexos 3 e 4).

Assim e em virtude do supra exposto, não consigo perceber como é que o Hospital

de S. João do Porto, responde atualmente a V. Exas, que “Consultado (…) o

Registo de Cirurgia Segura (…) pode-se ler que foi verificada antes de a doente sair

da sala, a contagem correta de instrumentos, compressas e corto perfurantes.”.

Em complemento à informação que já disponibilizei, remeto em anexo os relatórios

de Alta Hospitalar (Anexos 5 e 6). […]”.

17. Tendo em conta a necessidade de avaliação técnica dos factos em presença, em 7 de

dezembro de 2017, foi solicitado parecer a perito médico consultado pela ERS, cujas

conclusões, em suma, se reconduzem a:

“[…]

Trata-se de doente submetida a colecistectomia laparoscópica por litíase vesicular

sintomática. O pós-operatório foi complicado por hemoperitoneu que condicionou a

necessidade de laparoscopia com conversão para laparotomia com identificação de

provável foco de hemorragia (já não activa) em porta umbilical e com quantidade de

sangue não determinada intra-abdominal. A doente terá tido alta, sofrendo de infecção

da ferida operatória, tratada no Centro de Saúde, e hérnia incisional como sequela.

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Não terá sofrido mais intervenções cirúrgicas abdominais, tendo posteriormente,

realizado RX abdominal que identificou provável corpo estranho intra-abdominal,

comprovado por TAC.

Foi submetida a laparoscopia diagnostica com remoção de corpo estranho

(Compressa de 20*15 cm com identificador radio-opaco) e correcção de eventração.”.

18. Concluindo, em suma, o perito consultado pela ERS que:

“[…]

A situação descrita corresponde a uma intervenção cirúrgica que complicou com

hemorragia por porta de entrada de trocar de laparoscopia, o que, embora raro, é uma

complicação descrita, devida ao facto de a referida porta ser uma zona cega. Aliás, tal

pode ser comprovado pela necessidade de conversão para laparotomia aquando da

reintervenção para identificar a fonte de hemorragia.

Igualmente a laparotomia para “limpeza” do sangue abdominal deve ter necessitado

de alguma quantidade de compressas que são utilizadas, a par com aspirador, para a

referida limpeza. Terá sido nesta fase que a mesma deve ter sido introduzida no

abdómen sendo relativamente fácil que a mesma se tenha confundido com as vísceras

abdominais. Aliás, é devido a essa potencial confusão que é necessário efectuar a

contagem de compressas e corto-perfurantes no fim das intervenções.

De acordo com a norma de procedimento da Instituição, esta contagem é da

responsabilidade de dois enfermeiros, pelo que apenas se pode concluir que a mesma

contagem ou não foi feita (apesar dos registos expressarem o contrário) ou então que

dois elementos da equipa se enganaram, em simultâneo, na referida contagem.

Esta situação configura, na minha opinião, uma quebra grave das normas de

segurança do doente.”.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

19. De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 4.º e no n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, a ERS

tem por missão a regulação, a supervisão e a promoção e defesa da concorrência,

respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privado, público,

cooperativo e social, e, em concreto, à atividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde;

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20. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica.

21. Consequentemente, o Centro Hospitalar de São João, E.P.E. é um estabelecimento

prestador de cuidados de saúde, inscrito no SRER da ERS sob o n.º 20296.

22. As atribuições da ERS, de acordo com o n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS

compreendem “a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, no que respeita […entre outros] [ao] “cumprimento

dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento”, “[à] garantia dos direitos

relativos ao acesso aos cuidados de saúde”, e “[à] prestação de cuidados de saúde de

qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes”.

23. Com efeito, são objetivos da ERS, nos termos das alíneas a), c) e d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, “assegurar o cumprimento dos requisitos do exercício da atividade

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde”; “garantir os direitos e

interesses legítimos dos utentes” e “zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

24. No que toca à alínea a) do artigo 10.º dos Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 11.º

do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “assegurar o cumprimento

dos requisitos legais e regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde e sancionar o seu incumprimento”.

25. Já no que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea c) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de garantia dos direitos e legítimos interesses dos utentes, a alínea

a) do artigo 13.º do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “apreciar as

queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento dado pelos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas”.

26. Finalmente, e a propósito do objetivo consagrado na alínea d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 14.º do mesmo diploma prescreve que

compete à ERS “garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

27. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, consubstanciado, designadamente, no dever de zelar pela

aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis, e ainda mediante a

emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências

individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas

14 Mod.016_01

com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de

conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e

interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados – dos direitos e interesses

legítimos dos utentes

28. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da

prestação, dos recursos humanos, do equipamento disponível e das instalações, está

presente no setor da prestação de cuidados de saúde de uma forma mais acentuada

do que em qualquer outra área.

29. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os

serviços sejam prestados em condições que não lesem o interesse nem violem os

direitos dos utentes.

30. Efetivamente, a qualidade tem sido considerada como um elemento diferenciador no

processo de atendimento das expectativas de clientes e utentes dos serviços de

saúde.

31. Particularmente, a assimetria de informação que se verifica entre prestadores e

consumidores reduz a capacidade de escolha dos últimos, não lhes sendo fácil avaliar

a qualidade e adequação do espaço físico, nem a qualidade dos recursos humanos e

da prestação a que se submetem quando procuram cuidados de saúde.

32. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde

encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda

mais premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios

adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.

33. Sempre e em qualquer situação, toda a pessoa tem o direito a ser respeitada na sua

dignidade, sobretudo quando está inferiorizada, fragilizada ou perturbada pela doença.

34. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde,

devem ser considerados seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não

clínico.

35. No que ao risco clínico diz respeito, as causas mais frequentes de lesões radicam no

uso de medicamentos, nas infeções e nas complicações peri operatórias.

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36. Estes eventos adversos, em grande parte evitáveis, são passíveis de provocar danos

na pessoa doente, sendo certo que os custos sociais e privados neles implicados são

de tal importância, que as principais organizações de saúde, como a OMS,

incrementaram planos de ação para a prevenção e um controlo mais eficaz sobre os

acontecimentos danosos associados aos cuidados e procedimentos de saúde

prestados.

37. Os utentes dos serviços de saúde têm direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz

respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados;

38. Gozando, por isso, do direito de exigir aos prestadores de cuidados de saúde o

cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos

científicos e técnicos aplicáveis.

39. Sempre e em qualquer situação, toda a pessoa tem o direito a ser respeitada na sua

dignidade, sobretudo quando está inferiorizada, fragilizada ou perturbada pela doença.

40. A este respeito, encontra-se reconhecido na LBS, mais concretamente na sua alínea c)

da Base XIV, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito”.

41. Norma que é melhor desenvolvida e concretizada no artigo 4.º ("Adequação da

prestação dos cuidados de saúde”) da Lei n.º 15/2014, de 21 de março, segundo o

qual “O utente dos serviços de saúde tem direito a receber, com prontidão ou num

período de tempo considerado clinicamente aceitável, consoante os casos, os

cuidados de saúde de que necessita” (n.º 1).

42. Tendo o utente, bem assim, “(…) direito à prestação dos cuidados de saúde mais

adequados e tecnicamente mais corretos” (n.º 2).

43. Estipulando, ainda, o n.º 3 que “Os cuidados de saúde devem ser prestados

humanamente e com respeito pelo utente”.

44. Quanto ao direito do utente ser tratado com prontidão, o mesmo encontra-se

diretamente relacionado com o respeito pelo tempo do paciente1, segundo o qual deve

ser garantido o direito do utente a receber o tratamento necessário dentro de um

rápido e predeterminado período de tempo, em todas as fases do tratamento.

1 Vd. o ponto 7 da “Carta Europeia dos Direitos dos Utentes”.

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45. Aliás, o Comité Económico e Social Europeu (CESE), no seu Parecer sobre “Os

direitos do paciente”, refere que o “reconhecimento do tempo dedicado à consulta, à

escuta da pessoa e à explicação do diagnóstico e do tratamento, tanto no quadro da

medicina praticada fora como dentro dos hospitais, faz parte do respeito das pessoas

[sendo que esse] investimento em tempo permite reforçar a aliança terapêutica e

ganhar tempo para outros fins [até porque] prestar cuidados também é dedicar tempo”.

46. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios

adequados e com correção técnica, está a referir-se à utilização, pelos prestadores de

cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais corretas e que

melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

47. Ou seja, deve ser reconhecido ao utente o direito a ser diagnosticado e tratado à luz

das técnicas mais atualizadas, e cuja efetividade se encontre cientificamente

comprovada, sendo, porém, obvio que tal direito, como os demais consagrados na

LBS, terá sempre como limite os recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis

– cfr. n.º 2 da Base I da LBS.

48. Por outro lado, quando, na alínea c) da Base XIV da LBS, se afirma que os utentes

devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente

do dever de os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde atenderem e

tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio

estruturante da República Portuguesa.

49. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde devem ter redobrado cuidado em respeitar as

pessoas particularmente frágeis em razão de doença ou deficiência.

50. Efetivamente, sendo o direito de respeito do utente de cuidados de saúde um direito

ínsito à dignidade humana, o mesmo manifesta-se através da imposição de tal dever a

todos os profissionais de saúde envolvidos no processo de prestação de cuidados, o

qual compreende, ainda, a obrigação de os estabelecimentos prestadores de cuidados

de saúde possuírem instalações e equipamentos que proporcionem o conforto e o

bem-estar exigidos pela situação de fragilidade em que o utente se encontra.

III.3 Da Norma de Orientação n.º 02/2013, de fevereiro de 2013, da Direção-Geral da

Saúde (DGS), atualizada em 25 de junho de 2013

51. A Norma de Orientação n.º 02/2013 da DGS estabelece o seguinte:

“I – NORMA

17 Mod.016_01

1. A implementação do projeto “Cirurgia Segura, Salva Vidas” de acordo com o manual

“Orientações da OMS para a cirurgia segura 2009” publicado no sítio desta Direção-

Geral é obrigatório em todos os blocos operatórios do Serviço Nacional de Saúde e

das entidades com ele contratadas, sendo considerado o padrão mínimo de qualidade

clinica.

2. Em todas as cirurgias deve proceder-se ao registo da utilização da “Lista de

Verificação da Segurança Cirúrgica” e do Apgar Cirúrgico nos sistemas de informação

locais, que tenham interface com a Plataforma de Dados da Saúde (PDS) ou

diretamente na própria PDS.

3. Todas as organizações hospitalares devem, no final de cada semestre, enviar ao

Departamento da Qualidade na Saúde, a monitorização do nível de implementação do

projeto, de acordo com formulário, disponível no sítio desta Direção-Geral.

4. A presente Norma revoga a Circular Normativa nº Nº. 16/DQS/DQCO, de

22/06/2010.

II – CRITÉRIOS

A. A Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica e o Índice de Apgar Cirúrgico

(ANEXOS I e II), bem como o Manual de Implementação da Lista de Verificação de

Segurança Cirúrgica da OMS e as Orientações da OMS para a Cirurgia Segura 2009,

disponibilizados no sítio da DGS (www.dgs.pt), fazem parte integrante desta Norma, e

devem ser considerados como referenciais para a implementação do projeto “Cirurgia

Segura, Salva Vidas”.

B. A implementação do projeto “Cirurgia Segura, Salva Vidas” deve ter em conta o

desenvolvimento de estratégias de dinamização e melhoria do trabalho em equipa,

com uma ênfase primordial na comunicação interprofissional, das equipes cirúrgicas.

C. Todas as organizações hospitalares, através da sua estrutura de garantia e

monitorização da Qualidade, devem garantir a adequada implementação do projeto de

acordo com a Orientação nº 030/2011 de 31/08/2011, bem como a realização de

auditorias internas de acompanhamento e avaliação.

[…]

IV - FUNDAMENTAÇÃO

O crescente volume anual de cirurgias fez emergir a necessidade de se acautelar a

segurança cirúrgica. Constatou-se, pela experiência de outros projetos relacionados

com a sobrevivência materna e neonatal, que a implementação de estratégias simples

18 Mod.016_01

de monitorização de indicadores chave melhorava significativamente os resultados

finais de saúde com a consequente redução de desperdício de recursos.

São premissas fundamentais do projeto “Cirurgia Segura, Salva Vidas” que:

1. A utilização da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica, sendo simples e

aplicável em qualquer contexto, não acrescenta custos, melhora a segurança cirúrgica

e evita mortes e complicações, permitindo a medição do impacto da utilização de

instrumentos de gestão de risco na qualidade dos resultados dos procedimentos

cirúrgicos.

2. O quadro de procedimentos estabelecido para os cuidados seguros perioperatórios

em hospitais, envolve uma sequência de atividades de rotina, cada uma com riscos

específicos que podem ser atenuados: avaliação pré-operatória de doentes,

preparação da intervenção cirúrgica e planeamento dos cuidados pós-operatórios

adequados.

3. O Índice de Apgar Cirúrgico calculado após o 3.º momento previsto na Lista de

Verificação, a ser assegurado pelo equipe cirúrgica, permite dar feedback imediato e

objetivo aos prestadores de cuidados sobre a condição do doente nesse exato

momento, em termos de risco de complicações pós-operatórias imediatas, podendo

conduzir a uma melhor gestão de meios para os fins previstos, dando ainda

informação sobre mortalidade esperada até ao 30º dia de pós-operatório.

4. O estímulo à melhor prática clínica, pela implementação operacional de estratégias

de gestão de risco, deve ser incentivado, como forma de melhorar a qualidade global

dos cuidados de saúde e reduzir desperdícios no sistema, causados por eventos

adversos evitáveis.

5. A adesão, bloco a bloco, permite a cada profissional, equipa, serviço, instituição e

serviços centrais do Ministério da Saúde, a obtenção de estatísticas cirúrgicas, as

quais se revestem de uma importância fundamental para a melhoria das práticas

cirúrgicas e para a segurança do doente.”.

52. Quanto à Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica, da autoria da Organização

Mundial da Saúde (OMS) e adotada pela DGS na Norma de Orientação acabada de

citar, a mesma consiste no seguinte:

19 Mod.016_01

III.4. Análise da situação concreta

53. Analisados os factos apurados no decurso dos presentes autos, constata-se que está

em causa a necessidade de averiguar se, no caso concreto, a conduta do prestador se

revelou apta à garantia dos direitos e legítimos interesses da utente E.R., no que

respeita à qualidade e segurança nos cuidados de saúde que lhe foram prestados.

54. E, dos factos trazidos ao conhecimento da ERS, resulta, desde logo, que à utente E.R.

– que havia sido submetida a duas intervenções cirúrgicas no CHSJ – após realização

de Raio X foi detetado um “[…] corpo estranho [no abdómen…] provavelmente de

ponta de cateter atendendo aos antecedentes cirúrgicos da paciente […]”.

55. Sendo que, inicialmente, o próprio prestador, em resposta à reclamação apresentada

pela utente, reconhece que “[…] a situação clínica está resolvida, pedindo este Centro

Hospitalar desculpa pelos incómodos que lhe terá causado a compressa

involuntariamente deixada no seu abdómen”;

20 Mod.016_01

56. No entanto, já em sede de instrução dos presentes autos, o prestador refere que

“Consultado no SClínico o Registo de Cirurgia Segura […] pode-se ler que foi

verificada antes de a doente sair da sala a contagem correcta de instrumentos,

compressas e corto perfurantes.”.

57. Acresce que, de acordo com as informações prestadas nos autos pela reclamante, em

resposta ao pedido de elementos dirigido pela ERS, a mesma refere que “As únicas

intervenções cirúrgicas a que fui submetida, foram todas elas, efetuadas no Hospital

de S. João do Porto”.

58. Sendo que, de acordo com as informações prestadas pelo CHSJ, a utente:

i. “Foi submetida no dia 20 de Setembro de 2013 a cirurgia de colecistectomia

laparoscópica […]”;

ii. “No dia 21 de Setembro de 2013, após o diagnóstico de hemoperitoneu pós-

operatório a utente foi submetida a relaparoscopia e laparotomia exploradora

pelas 20.50 horas no Bloco Operatório do Serviço de Urgência. […]”;

iii. Mais, foi submetida a “cirurgia […] no dia 15/3/201[6], tendo sido extraído o

corpo estranho em questão por endo-saco e pelo orifício de tratamento da

hérnia Incisional peri-umbilical, que constatamos ser uma compressa de 20x

15cm com marcador radioopaco.”.

59. Concluindo o perito médico consultado pela ERS que “[…] a laparotomia para

“limpeza” do sangue abdominal [i.e., a 2.ª intervenção a que foi submetida a utente, a

21 de setembro de 2013] deve ter necessitado de alguma quantidade de compressas

que são utilizadas, a par com aspirador, para a referida limpeza. Terá sido nesta fase

que a mesma deve ter sido introduzida no abdómen sendo relativamente fácil que a

mesma se tenha confundido com as vísceras abdominais.”;

60. Alertando, no entanto, que é precisamente “[…] devido a essa potencial confusão que

é necessário efectuar a contagem de compressas e corto-perfurantes no fim das

intervenções.”.

61. Aqui chegados, torna-se imperioso aferir da adequação dos procedimentos de

verificação da segurança cirúrgica e avaliar se os mesmos se encontram em harmonia

com os preconizados nesta matéria pela OMS e pela DGS na sua Norma de

Orientação n.º 02/2013.

62. Sendo certo que, o prestador juntou aos autos documentos internos que corporizam

normas e procedimentos específicos de verificação de um conjunto de condições

inerentes à realização de cirurgias;

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63. Para mais referindo que “Existe uma verificação de conformidade e segurança à

entrada do Bloco operatório […]. A responsabilidade desta verificação é do enfermeiro

que acolhe os doentes à entrada do Bloco Operatório. […] Em todas as intervenções é

realizada e registada em suporte digital a checklist de segurança e determinação de

Apgar cirúrgico preconizados na norma DGS nº 2/2013. A responsabilidade de tais

procedimentos cabe ao enfermeiro circulante. […] De acordo com o documento em

anexo, em vigor desde 21/2/014, que descreve o procedimento de contagem de

compressas, tampões e algodões a responsabilidade da contagem das compressas

utilizadas no ato cirúrgico no bloco operatório é do enfermeiro circulante e

instrumentista.”.

64. Constatando-se, assim, que o prestador dispõe de procedimentos e normas

especificamente orientadas para a regulação do procedimento cirúrgico e, em

especial, para a verificação da qualidade e segurança cirúrgica;

65. E que os mesmos estão devidamente harmonizados com os adotados pela OMS e

pela DGS na Norma de Orientação n.º 02/2013.

66. No entanto, do Registo de Cirurgia Segura, de dia 21 de setembro de 2013 – junto aos

autos pelo prestador –, consta da fase/etapa cirúrgica “Sign Out (Antes do doente sair

da sala de operação)”, em coerência com a Lista de Verificação de Segurança

Cirúrgica da OMS e da DGS, o item “O Enfermeiro confirma verbalmente: […] As

contagens de instrumentos, compressas e corto-perfurantes”;

67. A esse respeito referindo o prestador que “No dia 21 de Setembro de 2013 […]

segundo está registado no relato cirúrgico, a contagem das compressas utilizadas foi

efectuada no fim da cirurgia foi dada como correcta. […] Consultado o Registo do

Enfermeiro Circulante correspondente a este procedimento cirúrgico, foi verificada a

contagem dada como correcta no fim da cirurgia de compressas, instrumentos e

electrocautério monopolar. […]”;

68. E, bem assim, que “Consultado no SClínico o Registo de Cirurgia Segura,

procedimento que visa a verificação da segurança cirúrgica do episódio em questão,

pode-se ler que foi verificada antes de a doente sair da sala a contagem correcta de

instrumentos, compressas e corto perfurantes.”;

69. O que se revela manifestamente contraditório, não só com os factos apurados nos

presentes autos, como também com as próprias alegações iniciais do prestador que,

recorde-se, remeteu à utente um pedido de “[…] desculpa pelos incómodos que lhe

terá causado a compressa involuntariamente deixada no seu abdómen”.

22 Mod.016_01

70. De tal forma que, como refere o perito médico consultado pela ERS, “[…] esta

contagem é da responsabilidade de dois enfermeiros, pelo que apenas se pode

concluir que a mesma contagem ou não foi feita (apesar dos registos expressarem o

contrário) ou então que dois elementos da equipa se enganaram, em simultâneo, na

referida contagem”;

71. O que, indubitavelmente, constitui “[…] uma quebra grave das normas de segurança

do doente” – cfr. parecer técnico junto aos autos.

72. Sendo, pois, inegável que os procedimentos de segurança cirúrgica levados a cabo in

casu pelo prestador não se revelaram aptos, nem suficientes à proteção dos direitos e

interesses legítimos da utente E.R., designadamente a prestação de cuidados de

saúde de qualidade e com segurança;

73. Incumprindo o CHSJ o seu dever primordial de garantir, a todo o momento, a

prestação de cuidados de saúde adequados e tecnicamente mais corretos, conforme o

instituído no artigo 4.º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março.

74. A este respeito, cumprindo reiterar as Orientações da OMS para Cirurgia Segura, de

2009:

“[…]

Altamente recomendado:

• A contagem sistemática de compressas, agulhas, lâminas, instrumentos cirúrgicos e

diversos itens (quaisquer outros itens utilizados durante o procedimento e com risco de

serem deixados dentro de uma cavidade do corpo) deve ser realizada quando a

cavidade peritoneal, retroperitoneal, pélvica ou torácica é aberta.

• O cirurgião deve realizar uma exploração metódica do campo operatório, antes do

encerramento duma cavidade anatómica, ou do local da cirurgia.

• A contagem deve ser feita em qualquer procedimento em cujas compressas, corto-

perfurantes, produtos diversos e instrumentos possam ficar mantidos no doente. Estas

contagens devem ser realizados pelo menos no início e no final de todos os casos

elegíveis.

• As contagens devem ser registados, com os nomes e as funções dos profissionais

que as realizam e uma declaração clara sobre se o resultado final foi correcto. Os

resultados deste registo devem ser claramente comunicados ao cirurgião. […]”.

75. Termos em que deve o prestador reforçar todos os procedimentos de verificação da

qualidade e segurança cirúrgica existentes, procedendo, permanentemente, à correta

23 Mod.016_01

e minuciosa contagem de todos os instrumentos e compressas utilizados pela equipa

cirúrgica, no início e no final de qualquer procedimento cirúrgico, a fim de impedir a

retenção inadvertida de instrumentos ou compressas em feridas cirúrgicas.

76. Pois que, recorde-se, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica o

cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas

práticas, de normas de qualidade e de segurança é, incontestavelmente, uma garantia

de um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e em tempo útil;

77. E o cumprimento de procedimentos promove uma melhor coordenação e articulação

entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na condição de

saúde dos utentes.

78. Sendo certo que nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas

mais diversas áreas de intervenção, sem que se garanta, paralelamente, que os

mesmos são efetivamente aplicados, em todos os momentos e em todas as

dimensões da atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos utentes.

79. Por todo o vindo de expor, considera-se necessária a adoção da atuação regulatória

infra delineada, ao abrigo das atribuições e competências legalmente atribuídas à

ERS, com intuito de assegurar o integral respeito pelos direitos e interesses legítimos

dos utentes, nomeadamente, o direito a cuidados adequados e tecnicamente mais

corretos, conforme o estabelecido no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março, em

prol da qualidade e segurança dos cuidados de saúde prestados, dessa forma se

procurando evitar a repetição futura de situações como a verificada nos presentes

autos.

IV. DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

80. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos

termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos

Estatutos da ERS, tendo sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao projeto

de deliberação da ERS, o Centro Hospitalar de São João, E.P.E. (CHSJ) e a

reclamante E.R., ambos por ofícios datados de 2 de fevereiro de 2018.

81. Decorrido o prazo concedido para a referida pronúncia, a ERS rececionou, por ofício

datado de 22 de fevereiro de 2018, a pronúncia do prestador, concretamente alegando

o seguinte:

“[…]

24 Mod.016_01

Na sequência da receção do V/ projeto de deliberação emitido no âmbito do processo

de inquérito n.º ERS/065/2017, vimos por este meio apresentar as alegações do CHSJ

sobre o conteúdo do referido projeto de deliberação.

Sobre as conclusões exaradas nas alíneas nas alíneas i) a iii) do ponto 80 do Capítulo

IV. Decisão do documento em referência, cumpre-nos informar o seguinte:

a) A segurança da prática clinica constitui e constituirá sempre um dos objetivos

"masters" da atividade do CHSJ, tendo em vista garantir por um lado a efetividade

máxima dos outcomes assistenciais realizados, e por outro lado criar nos doentes a

confiança de uma praxis eficaz, ética e humana.

b) Apesar do risco que o ato cirúrgico necessariamente envolve, o CHSJ cumpre todo

o preceituado legal em matéria de cirurgia segura. Tal, porém, não afasta a existência

de algum erro humano associado a rotinas manuais, (como é exemplo a contagem das

compressas) por mais cuidada que essa tarefa seja assumida pelo seu responsável

direto na intervenção cirúrgica.

c) Só tal facto pode explicar a situação em apreço.

d) Deste modo, como é solicitado pela ERS o CHSJ no propósito de reforçar os

mecanismos de segurança do ato cirúrgico, desencadeou as seguintes ações a saber:

i) Revisão imediata do procedimento relacionado com a cirurgia segura de modo a

otimizar o processo, por forma a garantir no limite possível que nenhuma outra

situação idêntica aquela à que foi apurada no processo, voltará a repetir-se.

ii) Intensificar os ciclos de auditoria interna, que permita garantir no limite possível a

rastreabilidade dos procedimentos com o mesmo objetivo referido no ponto anterior.

iii) Reciclar a formação dos colaboradores no quadro da matriz de procedimentos

da cirurgia segura, evitando erros que podem resultar de práticas sucessivamente

repetidas.

Entendemos que as medidas-elencadas nos pontos i) a ii) da alínea d) serão

adequadas e suficientes para evitar a repetição da causa que deu origem a este

incidente averiguado pela ERS, afastado o perigo futuro de voltarem a verificar-se

novas ocorrências.”.

82. Faz-se, desde já, notar que todos os argumentos apresentados na pronúncia do CHSJ

foram devidamente considerados e ponderados pela ERS;

83. Ainda que dos mesmos não tenha resultado uma alteração no sentido da decisão que

a ERS ora entende emitir.

25 Mod.016_01

84. Isto porque, os argumentos aduzidos não põem em causa o quadro factual e legal

apresentado pela ERS no seu projeto de deliberação;

85. Antes pelo contrário, reforçam a necessidade de intervenção regulatória, tendo em

vista a garantia de interiorização e assunção das obrigações decorrentes das regras e

orientações a cada momento aplicáveis em matéria de segurança cirúrgica;

86. Pois que o próprio prestador admite que, só a “existência de algum erro humano […]

pode explicar a situação em apreço”;

87. O que não se compagina com a necessidade do prestador garantir, permanentemente,

a prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança, que sejam aptos à

proteção dos direitos e interesses legítimos dos utentes.

88. Por outro lado, importa notar que o CHSJ na sua pronúncia manifesta vontade de

coadunar o seu comportamento, no que respeita ao cumprimento das regras

aplicáveis em matéria de verificação da segurança cirúrgica;

89. Apresentando um conjunto de medidas que são demonstrativas da intenção de

adequação do seu comportamento ao projeto de deliberação da ERS;

90. No entanto, não apresenta ainda prova, nomeadamente documental, do seu efetivo e

integral cumprimento.

91. Assim, mantém-se a necessidade de garantir que o prestador adote os procedimentos

e medidas concretas tendentes ao cumprimento do projeto de deliberação da ERS,

devendo, para o efeito, juntar documentos comprovativos disso mesmo.

92. Pelo exposto, da aludida pronúncia não resultaram quaisquer factos capazes de

infirmar ou alterar o sentido da decisão constante do projeto de deliberação da ERS,

razão pela qual o conteúdo da mesma se deve manter na íntegra.

V. DECISÃO

93. O Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e para os efeitos do

preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos

da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, emitir uma

instrução ao Centro Hospitalar de São João, E.P.E., no sentido de:

(i) Garantir, em permanência, que na prestação de cuidados de saúde são

respeitados os direitos e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente, o

direito aos cuidados adequados e tecnicamente mais corretos, em

26 Mod.016_01

conformidade com o estabelecido no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21 de

março;

(ii) Reforçar todos os procedimentos de verificação da qualidade e segurança

cirúrgica existentes, garantindo, em permanência, a correta e minuciosa

contagem de todos os instrumentos e compressas utilizados pela equipa

cirúrgica, quer no início, quer no final de qualquer procedimento cirúrgico;

(iii) Dar cumprimento à presente instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no

prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis após a notificação da deliberação final,

dos procedimentos adotados para o efetivo cumprimento do disposto em cada

uma das alíneas supra.

94. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014,

de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de €

1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º,

19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

Porto, 8 de março de 2018.

O Conselho de Administração.