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Projeto de Formatura II Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica. Aluno: Gustavo da Cruz Talon Curso de Gestão Ambiental Orientador: Prof Dr. Gerardo Kuntschik

Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

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A partir de imagens Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) é possível construir Modelos Numéricos de Terreno e, a partir desses dados, identificar os limites de bacias hidrográficas, bem como a rede de drenagem. Neste projeto demonstra-se a delimitação da rede de drenagem da bacia hidrográfica que abastece a Represa Jundiaí, localizada no município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, utilizando essas imagens. Mediante a utilização do software SPRING 5.0, realizou-se o processamento das imagens SRTM para a região da bacia hidrográfica e gerou-se o Modelo Numérico de Terreno que possibilitou a delimitação da drenagem e da bacia hidrográfica utilizando essa metodologia inovadora do ponto de vista da origem dos dados. Os resultados foram comparados com a cartografia existente do local. Após uma análise da eficiência e eficácia alcançadas com essa nova tecnologia, foi elaborada a caracterização da bacia hidrográfica, tendo como base os dados obtidos anteriormente, e o levantamento dos principais problemas, causas, conseqüências e possíveis medidas mitigadoras, para servirem como base na elaboração do plano de manejo da micro-bacia hidrográfica da represa Jundiaí.

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Projeto de Formatura II

Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua

utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de

bacia hidrográfica.

Aluno: Gustavo da Cruz Talon

Curso de Gestão Ambiental

Orientador: Prof Dr. Gerardo Kuntschik

Junho de 2011

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Projeto de Formatura II

Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua

utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de

bacia hidrográfica.

Projeto que tem como

finalidade cumprir os créditos

da disciplina ACH1088 -

Projeto de Formatura II, do

curso de bacharelado em

Gestão Ambiental

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Junho de 2011

Resumo

A partir de imagens Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) é possível

construir Modelos Numéricos de Terreno e, a partir desses dados, identificar os limites

de bacias hidrográficas, bem como a rede de drenagem. Neste projeto demonstra-se a

delimitação da rede de drenagem da bacia hidrográfica que abastece a Represa Jundiaí,

localizada no município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, utilizando essas

imagens. Mediante a utilização do software SPRING 5.0, realizou-se o processamento

das imagens SRTM para a região da bacia hidrográfica e gerou-se o Modelo Numérico

de Terreno que possibilitou a delimitação da drenagem e da bacia hidrográfica

utilizando essa metodologia inovadora do ponto de vista da origem dos dados. Os

resultados foram comparados com a cartografia existente do local. Após uma análise da

eficiência e eficácia alcançadas com essa nova tecnologia, foi elaborada a caracterização

da bacia hidrográfica, tendo como base os dados obtidos anteriormente, e o

levantamento dos principais problemas, causas, conseqüências e possíveis medidas

mitigadoras, para servirem como base na elaboração do plano de manejo da micro-bacia

hidrográfica da represa Jundiaí.

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1. Introdução

As redes de drenagem indicam, em uma área, o caminho preferencial da água e

auxiliam na determinação de bacias hidrográficas e na sua melhor forma de manejo

[ROSIM apud K2]. Os métodos tradicionais para a definição de drenagem como a

observação de campo, a fotointerpretação ou por curvas de nível não são precisos [K2].

Atualmente, com a utilização de Modelos Numéricos de Terreno (MNT) é possível

delimitar essas áreas com maior precisão, o que auxilia no manejo adequado das

mesmas para a preservação dos corpos hídricos em especial aqueles destinados aos

sistemas de abastecimento.

O Sistema Produtor Alto Tietê (SPAT) é composto pelos reservatórios: Ponte

Nova no município de Salesópolis, Jundiaí em Mogi das Cruzes, Taiaçupeba na divisa

de Mogi das Cruzes e Suzano, Biritiba em Biritiba - Mirim e Paraitinga em Salesópolis.

As represas são formadas por afluentes do Rio Tietê e formam um sistema em cascata,

no qual os reservatórios são interligados através de sistemas de túneis e canais. O

sistema é operado pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

(SABESP) e foi criado há aproximadamente 60 anos, visando aumentar a captação de

água para abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e evitar

enchentes do Rio Tietê. Atualmente, o sistema fornece 10 m³/s de água bruta para a

Estação de Tratamento de Águas da SABESP em Taiaçupeba [DAEE]. 

A ocupação urbana vem avançando em direção ao Sistema Produtor Alto Tietê,

o que gera riscos altíssimos de poluição e contaminação dos mananciais que lá se

encontram. A expansão desordenada da população, sobretudo de baixa renda, para as

zonas periféricas gera uma série de problemas sociais e ambientais. A falta de infra-

estrutura adequada termina por gerar diversos danos ambientais decorrentes da

ocupação de áreas de proteção a mananciais e das várzeas, como é o caso do

reservatório Jundiaí [SILVA e PORTO, 2003]. Exemplos da expansão desordenada,

conjunta à falta de políticas públicas eficientes, não faltam na RMSP para demonstrar

como isso pode ser danoso aos mananciais, à população e aos cofres públicos.

Um dos problemas principais relativos à proteção de mananciais, sobretudo na

RMSP, está relacionado ao disciplinamento do uso e ocupação do solo. Somente um

sistema integrado de gestão entre os órgãos municipais, estaduais e federais,

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conjuntamente aos órgãos responsáveis pelos recursos hídricos, comitês e agencias de

bacia e sociedade civil, pode trazer soluções a este problema [SILVA e PORTO, 2003].

Para o professor Pedro Jacobi [2011], é exatamente essa inserção da sociedade

civil em processos decisórios na gestão da água, buscando uma política abrangente, que

representa o maior desafio. De acordo com o professor, a governança da água é um

meio que propõe a “real ligação entre as demandas sociais e sua interlocução ao nível

governamental” [JACOBI,2011].

O conceito de governança pode ser entendido como sendo um:

“[...] conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar com a dimensão participativa e plural da sociedade, o que implica expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de administração do jogo de interesses. As novas condições internacionais e a complexidade crescente da ordem social pressupõem um estado dotado de maior flexibilidade, capaz de descentralizar funções, transferir responsabilidades e alargar, em lugar de restringir, o universo dos atores participantes, sem abrir mão dos instrumentos de controle e supervisão” [DINIZ,1997 apud FRACALANZA & CAMPOS, 2010].

É buscando esse nível de inter-relações que o manejo de recursos hídricos,

sobretudo nas áreas de mananciais e reservatórios para abastecimento urbano deve ser

pensado.

Neste trabalho utiliza-se o conceito de redes de drenagem que, segundo

Chorowicz et. al [1992], são obtidas por observação de campo, fotointerpretação ou

extração direta a partir de mapas topográficos, ou indiretamente por meio de curvas de

nível [K2].

Segundo Martins [2007], o estudo da rede de drenagem e das bacias

hidrográficas é importante para a compreensão de vários processos ativos na

esculturação da paisagem terrestre e a configuração da rede de drenagem reflete a

estruturação geológica e a evolução morfogenética regional.

O conceito de bacia hidrográfica utilizado nessa pesquisa foi definido por

Borsato & Martoni [2004] como sendo uma “área limitada por um divisor de águas, que

a separa das bacias adjacentes e que serve de captação natural da água de precipitação

através de superfícies vertentes. Por meio de uma rede de drenagem, formada por cursos

d’água, ela faz convergir o escoamento para a seção de exutório, seu único ponto de

saída”. Dessa forma, seria lógico que olhassem para esse território como sendo uma

área integrada, e assim deveria ser sua gestão.

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A bacia hidrográfica se mostra como o local de interação entre meio físico,

biótico, social, econômico e cultural [YASSUDA, 1993], sendo de imensa necessidade

relacionar todos esses fatores para uma gestão eficaz e efetiva. Devido essa capacidade

de integração relacionada à bacia hidrográfica como unidade territorial, mostra-se de

grande importância levar esse modelo em consideração, não apenas na gestão de

recursos hídricos, mas também em diversas outras áreas, buscando, cada vez mais, uma

maior integração.

As bacias hidrográficas foram definidas como unidade territorial na gestão de

recursos hídricos do país, buscando uma gestão integrada e descentralizada dos usos

múltiplos da água. Foi instituída como tal para a implementação da Política Nacional de

Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, propondo uma

política participativa e enfatizando a prática de planejamento do uso e conservação dos

recursos hídricos, determinando a elaboração de planos de bacia hidrográfica e de um

plano nacional consolidado [JACOBI]. A determinação por utilizar os limites das bacias

hidrográficas como unidade territorial na gestão, deve-se pelo fato de esse tipo de

delimitação permitir uma abordagem integrada necessária na gestão de recursos

hídricos.

Quando se pensa na gestão de recursos hídricos, deve-se pensar num sistema

baseado na tríade descentralização, participação e integração, e a partir disso elaborar

um sistema visando à qualidade e quantidade das águas por meio de ações que

promovam os usos múltiplos dos recursos hídricos [JACOBI, 2011]. Essa decisão

culminou na delimitação de Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos, cujos

órgãos consultivos e deliberativos de gerenciamento são denominados Comitês de

Bacias Hidrográficas. De certa forma a decisão, expressa na Política Nacional de

Recursos Hídricos, em adotar a bacia hidrográfica como unidade regional de

planejamento e gerenciamento das águas, foi pensando nessa tríade, descentralizando o

poder de decisão, incentivando a participação de todos atores envolvidos e buscando a

maio integração possível. Mas ainda assim isso se mostra um desafio enorme, e não

significa que esteja funcionando.

 A bacia hidrográfica como unidade geográfica é ideal para se caracterizar,

diagnosticar, avaliar e planejar o uso dos recursos. Uma das formas de se concretizar a

necessidade de conservação dos recursos hídricos e a disseminação de informações

sobre as características da água, sua disponibilidade e fragilidade é com a realização do

manejo integrado de bacias hidrográficas (MIBH) [(EMBRAPA, 2003]. Cada bacia

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hidrográfica possui características diferentes, e é a partir delas que se determina qual o

tipo de bacia, sua aptidão, potencial, limitações e problemas. Sendo assim, é essencial

que se desenvolva a caracterização da bacia hidrográfica, que de acordo com Faustino,

(1996) inclui levantamento das condições físicas, climáticas e topográficas da área,

inventário e situação dos recursos naturais, condições sócio-econômicas e culturais da

população e identificação dos organismos públicos e privados do sistema institucional

que desenvolvam ações na bacia.

Faustino (1996), mostra em seu trabalho o avanço no conceito de manejo de

bacia hidrográfica, e por fim o conceitua como sendo “uma ciência ou arte que trata da

gestão para se conseguir o uso apropriado dos recursos naturais em função da

intervenção humana e suas necessidades, proporcionando ao mesmo tempo a

sustentabilidade, a qualidade de vida, o desenvolvimento e o equilíbrio do meio

ambiente”. Nota-se a necessidade de integração entre as diversas áreas do conhecimento

para um planejamento efetivo para a bacia em questão.

Mais especificamente, o plano de manejo integrado de bacias hidrográficas, é

uma proposta para atender os usos múltiplos dos recursos naturais, respeitando a

capacidade suporte dos ecossistemas envolvidos e suas aptidões. Buscando assim a

prevenção, correção e mitigação de prováveis impactos ambientais indesejáveis sob o

ponto de vista econômico, social e ecológico [SOUZA e FERNANDES, 2000]. Nesse

caso, uma matriz lógica deve ser elaborada, levantando os problemas existentes na

bacia, suas causas, conseqüências e soluções, que juntamente com a caracterização da

área servem de apoio ao plano de manejo integrado de bacia hidrográfica.

Pelo fato da área de estudo se tratar do entorno de um reservatório para

abastecimento humano, o estudo da rede de drenagem a partir da geração de um modelo

numérico de terreno por imagens SRTM e a comparação dos resultados com a

delimitação atual da bacia permitirá fazer inferências quanto à modificação dos limites

do reservatório e da rede de drenagem da bacia. Esta informação pode ser importante no

planejamento do uso e ocupação do solo visando o não assoreamento e redução do

tamanho do reservatório. Dessa forma, o passo fundamental para se pensar no manejo

da bacia referente ao reservatório Jundiaí, é extrair a sua rede de drenagem e delimitar

os divisores de água que a formam. Para esse trabalho, pretende-se testar e utilizar

métodos automáticos de delimitação de bacias hidrográficas.

Atualmente existem dois grandes conjuntos de dados topográficos obtidos

mediante sistemas orbitais, que cobrem uma grande parte da superfície terrestre: Shuttle

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Radar Topography Mission - SRTM: Missão Topográfica por Radar do Ônibus Espacial

(NASA, 2010), gerados pela Agência Espacial Norte Americana, NASA, e

disponibilizadas no Brasil pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). O outro conjunto de

informações disponíveis foi gerado a partir de imagens do sensor Advanced Spaceborne

Thermal Emission and Reflection Radiometer – ASTER, desenvolvido pela Agência

Espacial Japonesa JAXA e que se encontra a bordo do satélite TERRA [JAXA, 2010].

A missão SRTM ocorreu em fevereiro de 2000 e teve como objetivo adquirir

dados de altimetria, em uma escala quase global, a partir de radares para a geração da

mais completa base de dados de alta resolução digital topográfica da Terra. Embora as

imagens geradas tenham uma resolução original de 30 metros, as imagens referentes à

America do Sul foram disponibilizadas pela NASA em resolução de 90 metros.

Posteriormente as imagens do Brasil foram tratadas e disponibilizadas pela EMBRAPA

e pelo INPE com resolução de 30 metros [K2][NASA], porem, os processamentos

executados pelo INPE e pela EMBRAPA não conseguiram fornecer como produtos

imagens que atingissem a precisão dos dados originais gerados pela NASA.

As imagens geradas a partir do sensor ASTER foram obtidas e divulgadas com

resolução de 30 x 30 metros, entretanto no Brasil elas sejam pouco conhecidas e

utilizadas.

O primeiro objetivo geral desse trabalho é delimitar o caminho preferencial da

drenagem dentro da bacia hidrográfica da Represa Jundiaí, localizada no município de

Mogi das Cruzes, a partir da utilização de imagens do conjunto de dados topográficos

obtidos mediante o sistema orbital SRTM. Além disso, pretende-se realizar a

comparação da bacia gerada automaticamente com a cartografia utilizada atualmente

pela SABESP, e inferir sobre a possibilidade de sua utilização como uma eficaz

ferramenta de gestão ambiental.

O segundo objetivo trata-se de, uma vez confirmada a eficiência e eficácia na

utilização da metodologia como uma importante ferramenta, utilizar, alem de outros, os

dados obtidos para elaborar a caracterização sócio-ambiental da bacia hidrográfica.

Alem disso, pretende-se caracterizar a área da micro-bacia a partir dos dados obtidos

anteriormente, levantando os principais problemas existentes no local, suas causas,

conseqüências e possíveis soluções. Ambos dados levantados poderão ser utilizados

para o manejo integrado da bacia hidrográfica, buscando o uso racional dos recursos ali

existentes.

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O primeiro objetivo geral desse projeto foi alvo de uma pesquisa de iniciação

científica em 2010, desenvolvida pelo mesmo autor e orientador, a qual buscou

determinar, a partir da utilização de dados SRTM, os limites da bacia hidrográfica da

represa Jundiaí automaticamente. Alem disso, analisou a eficácia e eficiência da

utilização da metodologia como uma ferramenta de gestão. A partir dos resultados dessa

pesquisa, que se mostrou bastante favorável à utilização dessa metodologia inovadora,

foi dada continuidade à pesquisa, demonstrando uma utilização pratica da ferramenta

aplicada à gestão ambiental, que nesse caso se encerra na gestão de recursos hídricos.

Os resultados da primeira fase dessa pesquisa foram publicados no XV Simpósio

Brasileiro de Sensoriamento Remoto em Curitiba, em abril de 2011.

Outros trabalhos relacionando as diferentes formas de extração automáticas de

bacia já foram realizados. Mantelli et al [2011] comparou as diferenças dos limites

obtidos pelas imagens SRTM já trabalhas, entre as originais da NASA e imagens

ASTER. O autor também aponta outras possibilidades de utilização da ferramenta na

gestão ambiental.

O software escolhido para o desenvolvimento do trabalho é o SPRING versão

5.0 e, posteriormente, versão 5.1, desenvolvido pelo INPE e de distribuição gratuita.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) entre as

aplicações deste formato de imagem estão programas de manejo de bacias hidrográficas,

os estudos de conservação de solos para identificar e evitar erosões e há também a

possibilidade de corrigir possíveis erros de traçados de curvas de nível desenvolvidas

através de instrumentos óticos.

2. Metodologia

Para atingir o primeiro objetivo geral do trabalho, que consta em testar a

utilização de imagens SRTM como base para determinar os limites da bacia

hidrográfica em questão automaticamente, fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre as

principais aplicações gerais de imagens SRTM, em especial para a delimitação de

bacias hidrográficas. Além de uma pesquisa exploratória sobre as imagens SRTM

referentes à Represa Judiaí, bem como seu georreferenciamento.

Nesta pesquisa verificou-se a dificuldade de acesso às imagens da base de dados

da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) para a área em questão,

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as quais não estavam disponíveis de imediato, entretanto foi possível acessá-las

posteriormente. Desse modo as imagens utilizadas neste trabalho são as disponibilizadas

tanto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) como pela EMBRAPA.

As imagens obtidas para o projeto foram trabalhadas utilizando o programa

SPRING em suas versões 5.0 e 5.1. Além desse, utilizou-se o software IDRISI Andes

para a delimitação automática da bacia hidrográfica a partir da rede de drenagem da área

de estudo (obtida com o software SPRING com base na imagem SRTM).

Com o software SPRING, a partir da imagem SRTM do local, foi feita,

inicialmente, a delimitação da área de estudo, e em seguida a elaboração de um modelo

numérico de terreno para a bacia. A partir disso gerou-se a rede de drenagem da área,

também utilizando o software SPRING, e em seguida, utilizou-se o IDRISI Andes para

a delimitação automática da bacia a partir da rede de drenagem obtida anteriormente.

Além dos limites gerados automaticamente pelo IDRISI Andes, para efeitos

comparativos utilizou-se o software SPRING para a delimitação manual da bacia a

partir de curvas de nível obtidas com a imagem SRTM. Por fim, os resultados foram

comparados com a cartografia dos limites da bacia atualmente utilizada pela SABESP.

A Figura 1 apresenta uma imagem óptica de alta resolução do Google Earth com

a área de estudo, e sua localização no mapa:

Figura 1: Área de estudo e sua localização espacial no Estado de São Paulo.

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O primeiro objetivo geral do trabalho foi atingido durante um ano de pesquisa,

que esse mesmo autor realizou, no decorrer do ano de 2010, e foi publicado no XV

Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto em abril de 2011 em Curitiba.

Para se atingir o segundo objetivo geral do trabalho, visando à caracterização da

área de estudo, foi necessário: levantar dados referentes às condições físicas, climáticas

e topográficas do local, o que se foi feito através de pesquisas a órgão oficiais, pesquisas

a campo, laudos técnicos e artigos científicos; inventariar e determinar a situação dos

recursos naturais, o que foi feito, principalmente, com visitas ao local de estudo;

determinar as condições sócio-econômicas e culturais da população, dados alcançados

através de consultas a órgãos públicos, como prefeituras e censos demográficos e visitas

ao local e; identificar os organismos públicos e privados que atuam na bacia, os quais

foram identificados a partir de consultas bibliográficas e à órgãos públicos, alem de

visita e entrevistas informais na área da represa.

Em seguida, foram levantados os principais problemas existentes na bacia, suas

causas, conseqüências e possíveis soluções, através de uma visita ao local de estudo no

inicio de maio de 2011, pesquisas em órgãos oficiais, entrevistas informais com a

população local e pesquisas bibliográficas. E assim, levantar os principais problemas da

região, pesquisar suas causas e conseqüências, que são imprescindíveis na elaboração de

um plano de manejo.

3. Local de estudo

A represa Jundiaí é um dos reservatórios que compõe o Sistema Produtor Alto

Tiete. Toda a captação de água do Sistema ocorre na ETA Taiaçupeba, responsável pelo

fornecimento de água a 3,5 milhões de pessoas atualmente. Em um estudo realizado

pela SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), foi previsto

um grande aumento na demanda de água pela população nos próximos anos. De acordo

com o estudo, se hoje todo o Sistema Integrado da Região Metropolitana produz 68 m³/s

de água, estima-se que, em 2025 será necessário produzir no mínimo 80,8 m³/s para

suprir à demanda da população [CAB SPAT].

Devido a essa crescente demanda, o Plano Diretor de Abastecimento de Água da

Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) recomendou a ampliação da Estação de

Tratamento de Água Taiaçupeba, que passará a fornecer água para 5 milhões de

habitantes, de acordo com a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de

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SP [2011]. Da mesma forma, todo o Sistema Produtor do Alto Tietê será ampliado, hoje

contribuindo com 10 m³/s passará a contribuir com 15 m³/s com sua ampliação, o que

representará 22% de toda água captada na RMSP, passando a ser o segundo maior

Sistema Produtor depois do da Cantareira [SABESP]. A seguir (Figura 2) encontra-se a

dinâmica de funcionamento do Sistema Alto Tiete.

Figura 2 – Dinâmica de funcionamento do Sistema Alto Tietê

Para que esse aumento no fornecimento se concretize, é necessário manter e

garantir a sanidade de todos os reservatórios envolvidos. E para isso, um plano de

manejo integrado é de imensa necessidade. É importante então, que se conheça as

características de cada reservatório, para que seja possível entende-los de forma

integrada e garantir o pleno funcionamento dos Sistemas Produtores da RMSP.

A represa Jundiaí, integrante do Sistema Produtor Alto Tietê, passou a ser

utilizada no mesmo ano da inauguração da ETA Taiaçupeba em 1992 [CAB SPAT].

Abaixo se encontram dados técnicos referentes à represa Jundiaí que foram extraídos do

portal do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) e

Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (SSRH).

RESERVATÓRIO JUNDIAÍ

Volume Armazenado 79,5%

Área de Drenagem 116 km²

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Área inundada 17.42 km²

Volume útil 60x106 m³

Vazão regularizada 2.10 m³/s

Fonte: site

DAEE e SSRH

TABELA 1– Dados técnicos referente ao reservatório Jundiaí

A represa encontra-se inserida integralmente em Mogi da Cruzes, que é um

município da RMSP e faz parte do conhecido "Cinturão Verde", distribuindo sua

produção de hortifrutigranjeiros para toda Região Metropolitana de São Paulo e também

Rio de Janeiro. De acordo com o ultimo censo demográfico sua população é de 387.779

habitantes, e possui densidade demográfica de 543,65 hab/Km² [IBGE,2010]. O fato de

o município não possuir grande densidade demográfica, em parte é explicada pela

grande quantidade de estabelecimentos agropecuários existentes. Ainda com base no

censo de 2010 do IBGE, Mogi das Cruzes possui em torno de 15 mil estabelecimentos

agropecuários, ocupando cerca de 20 mil hectares da área do município. Ou seja, dos

quase 713 Km² que possui, aproximadamente 200 Km² do município, em torno de 28%

do território, é destinado à produção agropecuária [IBGE, 2010].

Devido a grande disponibilidade de água e características favoráveis, muitos

desses estabelecimentos se encontram nas margens das represas do município. Grande

parte do entorno da Represa do rio Jundiaí, é composto por atividades agrícolas,

silviculturas e pequenas áreas residenciais. A discrição do entorno da represa será feito

com detalhamento no item a seguir.

Apesar de o reservatório Jundiaí se encontrar integralmente no município de

Mogi das Cruzes, o que facilitaria sua gestão, o mesmo situa-se entre quatro distritos,

cada um com sua sede administrativa. É exatamente por esse motivo que a gestão das

bacias é feita independente de sua localização territorial, tendo a bacia hidrográfica

como unidade de gestão, já discutido anteriormente. De qualquer forma, o reservatório

encontra-se entre o distrito de Biritiba Ussu a leste, Taiaçupebe a sudoeste, Jundiapeba a

oeste e Braz Cubas ao norte. Na figura (Fig.3) a seguir encontra-se o território de Mogi

das Cruzes dividido em seus distritos e, destaca-se a localização espacial do reservatório

Jundiaí no território do município (centro sul).

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FIGURA 3 – Divisão territorial de Mogi das Cruzes

Como nota-se na imagem a seguir (Fig. 4), grande parte do município de Mogi das

Cruzes, inclusive toda a área de estudo, é classificada como Área de Preservação e

Recuperação de Mananciais (APRM), As APRMs foram criadas pela Lei de Proteção

das Bacias Hidrográficas dos Mananciais de Interesse Regional do Estado de São Paulo

(Lei Estadual 9.866/97). De acordo com a Política Estadual de Recursos Hídricos (LEI

n. 7.663/91), as APMRs se enquadram nas Unidades de Gerenciamento de Recursos

Hídricos (UGRHI), e são definidas como “uma ou mais sub-bacias hidrográficas de

interesse regional para abastecimento público” [LEI n. 7.663/91]. A micro-bacia do

reservatório de Jundiaí, assim como todo o município de Mogi das Cruzes faz parte da

UGRHI 6 [SIGRH].

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FIGURA 4 – Mapa das Áreas de Mananciais da Região Metropolitana do Estado

de São Paulo

4. Delimitação automática da micro-bacia do reservatório Jundiaí

A realização de um Plano de Manejo eficiente para qualquer bacia hidrográfica

demanda uma série de conhecimentos e materiais a respeito do local. Para essa

pesquisa, que tem como alvo de estudo o reservatório Jundiaí, é de extrema importância

que inicialmente se determine os limites da micro-bacia que contem o reservatório. Essa

micro-bacia será a unidade de gestão utilizada como base para qualquer política publica

no local. Entretanto, mesmo que pensada separadamente, é importante ressaltar que

todas essas micro-bacias formam uma mesma sub-bacia, e com isso sempre se deve

pensar na integração entre as políticas.

Muitas são as formas de se extrair os limites de uma bacia como citado

anteriormente, porém o que se propõe nessa pesquisa é a delimitação automática da

Bacia, para se utilizar como base para a elaboração do Plano de Manejo e,

consequentemente, da elaboração de políticas públicas para o reservatório Jundiaí. Para

tanto, para se determinar os limites da micro-bacia da Represa Jundiaí, utilizou-se como

base imagens SRTM.

Inicialmente, foi necessária a extração da rede de drenagem da região. Para a

extração de redes de drenagens, os Modelos Digitais de Terreno (MNT), derivados de

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imagens SRTM, se mostram bastantes úteis. Sendo assim, a partir de dados SRTM, foi

gerado um MNT da área de estudo. Na Figura 5 é apresentado o Modelo Numérico de

Terreno da área que drena para o reservatório, a qual foi utilizada como base para o

restante dessa primeira pesquisa.

Figura 5: Imagem SRTM da área de estudo no software SPRING 5.1

A partir do modelo numérico de terreno acima, também utilizando o software

SPRING, gerou-se a delimitação da rede de drenagem da área de estudo, sendo possível

notar o caminho preferencial que a água percorre no solo. Com a rede de drenagem

gerada, torna-se possível a delimitação da bacia hidrográfica manual ou

automaticamente. Na figura 6 encontra-se a rede de drenagem gerada utilizando o

software SPRING 5.1.

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Figura 6: Rede de drenagem gerada pelo SPRING 5.1.

Com a rede de drenagem gerada, utilizou-se o software IDRISI Andes para a

delimitação automática da bacia hidrográfica na qual a represa Jundiaí está contida. Na

figura 7 apresenta-se o resultado da geração automática da bacia, em verde, sobre a rede

de drenagem gerada anteriormente, em branco.

Figura 7: Bacia gerada automaticamente pelo IDRISI sobre rede de drenagem.

Para efeitos de comparação, utilizando o modelo numérico de terreno

apresentado anteriormente, utilizou-se o SPRING para a geração de curvas de nível com

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eqüidistância de 30 metros. Com as isolinhas foi possível a delimitação manual da bacia

hidrográfica que contem a represa Jundiaí, traçando a delimitação manualmente pelos

divisores de água da bacia. Na figura 8 mostra-se o resultado dessa delimitação manual,

em amarelo, feita a partir das curvas de nível do local e sobreposta à rede de drenagem

gerada anteriormente.

Figura 8: Delimitação manual da bacia hidrográfica feita a partir das curvas de

nível, obtidas com SPRING, sobreposta à rede de drenagem gerada anteriormente.

Teve-se como base de comparação a cartografia da área utilizada pela SABESP,

que conta com a bacia hidrográfica do local obtida a partir de observação de campo, a

qual foi cedida pela SABESP para esta pesquisa. O arquivo vetorial, contendo os limites

da bacia cedido pela SABESP foi importada para o SPRING, em vermelho, e

sobreposta à rede de drenagem do local, o resultado encontra-se na figura 9, a seguir.

Page 19: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 9: Delimitação da bacia hidrográfica, cedida pela SABESP, sobreposta à

rede de drenagem.

Sendo assim, teve-se como resultado a rede de drenagem gerada a partir de

dados SRTM e três delimitações diferentes de bacias hidrográficas que foram

comparadas entre si para atingir às finalidades do projeto. Uma delas foi cedida pela

SABESP, outra foi gerada manualmente a partir de curvas de nível do local derivadas

de imagens SRTM e, por fim, outra delimitação feita automaticamente a partir da rede

de drenagem obtida anteriormente.

4.1 Análises dos resultados

Utilizando imagens SRTM foi gerado, com o software SPRING, um plano de

informação representando a rede de drenagem do local, o qual foi necessário para a

delimitação automática da bacia hidrográfica com o software IDRISI. A bacia gerada,

em verde, foi sobreposta àquela fornecida pela SABESP, em vermelho, como mostra a

figura 10 a seguir:

Page 20: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 10: Limites da bacia gerados automaticamente, em verde, sobreposta aos

limites da bacia cedidos pela SABESP, em vermelho, e a rede de drenagem obtida.

Para analisar os resultados, devem-se levar em conta as limitações existentes nas

imagens SRTM utilizadas, as quais sofreram diversas transformações. Lembrando que

as mesmas foram obtidas pela NASA com a resolução de 30 x 30 metros, porém

disponibilizadas com a resolução de 90 x 90 metros. No Brasil foram transformados

pelo INPE e EMBRAPA para uma resolução de 30 x 30 metros, entretanto a qualidade

das imagens não é igual às originais obtidas pela NASA.

Ao analisar apenas a bacia hidrográfica cedida pela SABESP, em vermelho,

sobreposta à rede de drenagem gerada a partir da imagem SRTM, notam-se duas

grandes falhas. A primeira no canto superior esquerdo, quando a bacia cruza os drenos

de forma inapropriada e a segunda no centro da imagem na parte de baixo, quando a

delimitação não obedece à drenagem do local. Outros erros menores aparecem, mas não

seriam relevantes a ponto de prejudicar a gestão do local. Pode ser que tenha havido

alguma dificuldade, pela SABESP, na coleta de dados no local para a delimitação da

bacia.

Quando comparada com a bacia gerada automaticamente pelo IDRISI Andes,

em verde, percebe-se que a maior diferença foi exatamente nessas duas grandes falhas

encontradas anteriormente e, inclusive há, também a correção de outros pequenos erros.

Nota-se que no canto superior esquerdo, na bacia gerada automaticamente, ainda existe

um pequeno erro, muito menos relevante do que o encontrado na bacia em vermelho e

Page 21: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

que, provavelmente, não prejudicaria de modo significativo a gestão da área. Dessa

mesma forma, na região central na parte de baixo, o erro foi completamente corrigido.

Para mais uma comparação e comprovação, optou-se por delimitar a bacia

hidrográfica da área de um modo mais tradicional, utilizando curvas de nível. As

isolinhas foram geradas com uma eqüidistância de 30 metros a partir da imagem SRTM,

e teve como resultado uma terceira delimitação, em amarelo, a qual foi comparada com

as demais. Na figura 11 a seguir encontra-se a sobreposição das três bacias e a rede de

drenagem.

Figura 11: Sobreposição dos três limites da bacia obtidas e a rede de drenagem

do local: linha vermelha, bacia utilizada pela SABESP; linha verde, bacia gerada

automaticamente pelo IDRISI e; linha amarela, bacia gerada manualmente a partir de

curvas de nível.

Com essa sobreposição, observa-se que a bacia gerada manualmente a partir de

curvas de nível se assemelha muito com a gerada automaticamente pelo IDRISI, a não

ser por um pequeno erro no canto superior esquerdo, o que não causaria grandes

problemas. Isso permite especular que os limites da bacia gerados automaticamente

Page 22: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

parecem ter ficado mais fieis à realidade do que os limites da bacia fornecidos pela

SABESP.

5. Caracterização da micro-bacia do reservatório Jundiaí

Uma vez que a eficiência do método tenha sido comprovada, utilizaram-se as

informações e imagens geradas automaticamente através da utilização de Sistema de

Informação Geográfica (SIG), como base para a realização do diagnóstico sócio-

ambiental do entorno da represa. Essa é apenas uma das possibilidades de se utilizar a

ferramenta testada anteriormente, sendo de grande relevância para diversas áreas do

conhecimento científico. A seguir encontra-se uma figura (Fig. 12) gerada pela

sobreposição de dos limites obtidos automaticamente na etapa anterior com uma

imagem de alta resolução obtida com o software Google Earth, a qual foi determinante

na hora do levantamento de dados acerca do local.

Figura 12 – Sobreposição dos limites da bacia obtidos automaticamente com

imagem do Google Earth.

Os dados apresentados nesse item serão os, que de acordo com Tucci & Mendes

[2006], são necessários para a realização da caracterização de uma bacia hidrográfica.

Ainda em acordo com os autores, as fontes de dados pesquisadas, para dados

secundários, foram banco de dados oficias, universidades, centros de pesquisa,

Page 23: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

organizações não governamentais, entre outros. Alem disso, serão apresentados também

os dados levantados em visita ao local.

5.1 Caracterização do meio físico

Geologia e geomorfologia

A geologia da micro-bacia é bastante diversificada. Na sua porção ao Sul, uma

grande parte da represa encontra-se sobre rochas granitóides foliadas ou alteradas,

formadas por granito-gnaisse porfiroplástico, gnaisse granítico e biotita

predominantemente milonítico. O restante dela econtra-se sobre: depósitos aluviais,

com predominância de material areno-argiloso; formação Resende, que é um sistema de

leque associados à planície aluvial de rios entrelaçados; micaxisto com metaquartzito e

metassiltito subordinado; rochas predominantemente gnáissicas e; quartzitos com

ocorrência de metassiltito e xisto.

O conhecimento da geologia do local se mostra importante, uma vez que é uma das

principais componentes que determinam o tipo de solo que existirá no local. Alem de

passar a ser conhecido se as rochas possuem características para serem fraturadas ou

porosas, abrigar aqüíferos, lençóis freáticos, etc.

A seguir encontra-se o mapa geológico da Região Metropolitana de São Paulo (Fig.

13), com destaque para a área do reservatório Jundiaí, em Mogi das Cruzes.

Figura 13 – Mapa geológico da RMSP, com destaque para a represa Jundiaí.

Page 24: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

A área de estudo está situada na sub-região “Cabeceiras” da bacia hidrográfica Alto

Tietê, a qual abrange toda a bacia a montante da barragem da penha. Essa sub-região

está localizada, com base no Mapeamento Geomorfológico do Estado de São Paulo

[apud COMITE DA BACIA HIDROGRÁFICA ALTO TIETE, 2009], na Unidades de

Relevo Regional denominada Planalto Paulistano/Alto Tietê, que com outras três

unidades constituem a Bacia Hidrográfica do Alto Tiete.

A Unidade Planalto Paulistano/Alto Tietê tem ocorrência predominante na bacia e

integra o compartimento denominado Planalto Atlântico, pertencente à Unidade

Morfoestrutural Cinturão Orogênico do Atlântico [COMITE DA BACIA

HIDROGRÁFICA ALTO TIETE, 2009]. O Planalto Paulistano é condicionado a áreas

de constituição cristalina e caracteriza-se pela dominância de formas de relevo

suavizadas e serras localizadas, em cotas altimétricas variando entre 715 a 900 metros.

Este planalto compreende uma área de 500 km2 [HATAE, 2005].

Na sub-região cabeceiras, os sedimentos aluviais existentes constituem amplas

várzeas, tanto do Rio Tietê, como de diversos de seus tributários, destacando o conjunto

Taiaçupeba/Jundiaí, próximo da área de estudo [COMITE DA BACIA

HIDROGRÁFICA ALTO TIETE, 2009].

Em termos estruturais ressalta-se, a orientação das diversas lineações ocorrentes,

ressaltando-se importantes falhamentos transcorrentes abrangendo esta Sub-Região em

toda sua extensão. Entretanto, de acordo com o Plano da Bacia Hidrográfica Alto Tietê

[2009], não há nenhuma falha relevante nas proximidades da cidade de Mogi das

Cruzes.

A Unidade Planalto Paulistano/Alto Tietê possui declividades médias entre 10% e

20%, com altimetria predominantes entre 800 e 1000 metros. O padrão da drenagem

existente é do tipo dendrítico, comumente controlada pelos lineamentos estruturais das

rochas. Destaca-se a presença de três serras que atingem altitudes compreendidas entre

1.000 e 1.150 metros: Itapeti, em Mogi das Cruzes, Cantareira e Itaqui [COMITE DA

BACIA HIDROGRÁFICA ALTO TIETE, 2009].

O mapa topográfico utilizado na caracterização, também foi gerado

automaticamente, utilizando dados SRTM e o software SPRING. O mapa já foi

apresentado na figura 8.

Page 25: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Caracterização do solo

Na Unidade Planalto Paulistano/Alto Tietê, tendo em vista os litotipos geradores,

em que predominam xistos, migmatitos e granitos, os solos são do tipo podzólico

Vermelho-Amarelo e Cambissolos [COMITE DA BACIA HIDROGRÁFICA ALTO

TIETE, 2009].

De acordo com o Mapa de Solos do Estado de São Paulo [OLIVEIRA, 1999 apud

SARRAIPA, 2003], a região de estudo, compreendida pela micro-bacia do reservatório

Jundiaí, possuí, basicamente, dois tipos de solos. Ao norte da bacia há a predominância

de argissolos, enquanto ao sul da represa, encontrasse cambissolos. De acordo com

Sarraipa [2003], toda a área compreendida pelo reservatório em estudo está sobre solos

bastante rasos. Nas figuras a seguir serão apresentados o Mapa de Solos do e o Mapa de

profundidade dos solos do Estado de São Paulo (Fig 14 e 15, respectivamente).

Figura 14 – Mapa de Solos do Estado de São Paulo

Page 26: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 15 – Mapa da profundidade dos solos no estado de São Paulo

De acordo com o Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê [2009], a unidade

morfológica, em que a Represa Jundiaí se insere, está atualmente sob a ação de

“processos erosivos generalizados de denudação, que se caracteriza pela configuração

de morros médios e altos de topos convexos, com altimetria predominantemente

compreendida entre 800 e 1.000m”.

Como pode ser visto no mapa da figura 16 a seguir, toda a região da micro-bacia

inserida no distrito de biritiba ussu, a leste da represa, bem como a porção ao sul do

reservatório, apresenta alta susceptibilidade a erosão nos solos e subsuperficiais (rochas

cristalinas). O restante da área da micro-bacia é classificada como sendo de baixa

susceptibilidade a erosão. Em visita ao local notou-se que a maior parte dos

empreendimentos, lavouras, residências e comercio se encontram na zona definida

como sendo a de maior susceptibilidade a erosão.

Page 27: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 16 – Mapa de susceptibilidade a erosão do estado de São Paulo, com

destaque para a área da micro-bacia da Represa Jundiaí.

Áreas de sensibilidade ambiental

Nas proximidades à represa Jundiaí encontra-se o Parque Estadual da Serra do Mar

(Decreto Estadual n°10.251/77 alterado pelo Decreto n°13.313/79) e a Estação

Ecológica de Itapeti (Decreto Estadual 26.890/87), que se encontra dentro do município

de Mogi das Cruzes. De acordo com o Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê

[2009], a Estação Ecológica citada, abriga matas secundárias de Floresta Ombrófila

Densa e outros ambientes já antropizados, e está sob a responsabilidade do Instituto

Florestal. Entretanto, tanto o PE da Serra do Mar, com 315 mil ha, quanto a EE de

Itapeti, com 89,47ha, se encontram bastante afastadas da represa Jundiaí, não

apresentando relação direta com a mesma [SIGRH, 2000].

Apesar disso, toda a micro-bacia que compreende a represa de Jundiaí é

caracterizada como Área de Proteção e Recuperação de Mananciais. A Lei 9.866/97

propõe a criação de áreas de intervenção específicas para cada uma das APRMs que

serão estabelecidas pelas Leis específicas. No entanto ainda não há Lei específica para

determinar quais serão as Áreas de Restrição à Ocupação, as Áreas de Ocupação

Dirigida e as Áreas de Recuperação Ambiental da área em questão. Na figura 17 abaixo

se encontram as áreas de relevante interesse ecológico do município de Mogi das

Cruzes e pode-se perceber que todo limite da micro-bacia em estudo encontra-se dentro

da APRM, o que garante a necessidade de maior atenção ao uso do solo dentro da bacia.

Page 28: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 17 – Áreas de sensibilidade ambiental do município de Mogi das Cruzes.

Cobertura vegetal

Foram realizadas pesquisas e visita ao local para levantar a cobertura vegetal

existente. Hoje ainda se encontra uma grande área de mata remanescente no local,

ocupando principalmente as áreas com maior declividade (pouco interessantes a

agricultura) e não as margens da represa como se esperava. Foi obtido um mapa,

apresenta na figura (Fig. 18) a seguir, que faz parte do banco de dados espaciais da

bacia do Alto Tietê do Laboratório de informática Geológica (LIG) do Instituto de

Geociências da USP. O mapa traz o índice de vegetação normalizado (NDVI) para o

ano de 1999. O índice foi obtido através do processamento digital de uma imagem de

satélite LANDSAT de 1997, e revela a cobertura vegetal existente no local.

Page 29: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Em contra partida foi levantado um mapa disponibilizado pelo Instituto Sócio

Ambiental [ISA], que traz a cobertura vegetal do local para o ano de 2006 (Fig. 19) Na

comparação de ambos, notou-se uma redução significativa, devido ao pequeno espaço

de tempo, na vegetação de toda a RMSP, inclusive na micro-bacia do reservatório

Jundiaí.

Em visita ao local, apesar da constatação da existência dos remanescentes

levantados, notou-se a falta de proteção a ambientes sensíveis e importantes, como nas

margens dos córregos e nascentes à montante da represa.

Alem de remanescentes de mata nativa, existem áreas com silvicultura, com

algumas plantações de eucaliptos pela região. Sobretudo ao sul da micro-bacia.

Figura 18 – NDVI da RMSP para o ano de 1999

Figura 19 – Cobertura Vegetal da RMSP – 2006

Page 30: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

5.2 Caracterização socioeconômica

Uso e ocupação do solo

O município de Mogi das Cruzes, como um todo, apresenta a agricultura como

sendo uma das principais atividades econômicas desenvolvidas. A micro-bacia do

reservatório Jundiaí não é diferente, grande parte do seu entorno é composto por

domicílios que praticam a agricultura. Aparentemente trata-se de um local com diversos

pequenos produtores, que se beneficiam com o solo do local e o fácil acesso a água para

a produção de hortaliças e frutas diversas, com destaque para o caqui, nêspera e outras.

A figura 20 a seguir apresenta o mapa de uso e ocupação do solo referente ao ano de

2009, apresentado pelo Comitê de Bacias Alto Tietê no Plano de Bacia Alto Tiete

[2009], que serviu como base para a visita a campo. Outra figura foi elaborada (Fig. 21),

tendo como base uma imagem de alta resolução obtida no software Google Earth, a

partir dos dados levantados durante a visita a campo e traz outras informações da micro-

bacia.

Alem da grande quantidade de empreendimentos voltados a produção de hortaliças e

frutas, outra atividade que chamou a atenção na região foi a existência de mineradoras.

Duas pedreiras funcionam próximo a represa. Apesar de uma delas estar localizada alem

do divisor de água da micro-bacia, pode trazer preocupações pela sua proximidade. A

segunda esta localizada exatamente sobre o divisor de água da micro-bacia, ao longo da

rodovia Mogi/Bertioga. Ambos empreendimentos estão demonstrado na figura (Fig. 21)

a seguir.

Page 31: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

FIGURA 20 – Mapa de Uso e ocupação do solo de 2009

Figura 21 – Imagem com dados de uso e ocupação do solo elaborada através de

visita ao local.

Page 32: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 22 - Área de extração de eucalipto

Figura 23 – Área de agricultura na beira da represa

Figura 24 – Propriedade nas margens da represa, com acesso limitado

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Figura 25 – Margem do reservatório com cobertura vegetal densa. Moradores locais

pescam na represa.

Figura 27 – Hortaliças nas margens da represa.

Page 34: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 28 – Ponte entre margens de braço da represa.

Figura 29 – Antiga estrada municipal

Figura 30 – Estação do DAEE na margem da represa.

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Atividades turísticas ligado a recursos hídricos

Em visita ao local e em pesquisas a órgãos oficiais, constatou-se que o local não

representa um grande pólo de atração turística. A prática mais comum no local,

inclusive registrado em fotografia durante a visita, é a pesca. Em diversos pontos ao

redor da represa de Jundiaí, registrou-se moradores dos arredores pescando. Em

entrevista com um grupo deles, foi informado que a atividade se intensifica muito

durante os finais de semana, atraindo pessoas de diversos locais. Em uma região da

represa, onde há formação de um tipo de “praia”, há a concentração de comércios, como

bares e lanchonetes na beira da estrada que margeia a represa.

Infra estrutura de saneamento ambiental

O sistema de abastecimento de água de Mogi das Cruzes é misto. Parte da água é

captada, tratada e distribuída pelo Serviço Municipal de Água e Esgoto (SEMAE) e o

restante é adquirido da SABEPS. O SEMAE trata cerca de 650 litros de água por

segundo e adquire mais 500 litros por segundo da SABESP, o que compreende o

beneficiamento de 97,5% da população, com aproximadamente 90 mil ligações

domiciliares [SEMAE].

A maior parte da micro-bacia da represa Jundiaí está situada nos distritos de Biritiba

Ussú e Taiaçupeba, sendo que ambos distritos não são interligados a rede de

distribuição da SEMAE. Entretanto a Autarquia é responsável também pelo

abastecimento de bairros e distritos distantes, que não são atendidos pela rede

canalizada, por meio de poços artesianos, como é o caso do distrito de Biritiba Ussú.

Por sua vez, a disponibilização do acesso a água tratada ao distrito de Taiaçupeba é feita

a partir da água adquirida da Sabesp [SEMAE].

A coleta e tratamento de esgoto da cidade também são de responsabilidade da

SEMAE. Em consulta ao mesmo órgão, até 2001, em apenas 82% dos domicílios o

esgoto era coletado, e menos de 1% disso era tratado. Até o final de 2008, em virtude de

um alargamento da rede em aproximadamente 15 mil metros, como informou o órgão,

passou-se a coletar o esgoto em 92% dos domicílios e tratar 72% dele. Informou-se

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ainda, que até o final de 2009 devem ter chego a uma marca de 92% de esgoto tratado

[SEMAE].

Não há ainda dados trabalhados com informações do Censo do IBGE de 2010 para a

área da represa Jundiaí especificamente. Entretanto, serão apresentados os dados

disponíveis no portal do Sistema Integrado de Gestão Ambiental (SIGAM) da Secretaria

do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, referentes ao censo de 2000, com o intuito

de se estabelecer um parâmetro para o local.

De acordo com o portal da Prefeitura de Mogi das Cruzes, a coleta de lixo

(reciclável e não reciclável), é de responsabilidade da empresa STRALU (Sistema

Transparente de Limpeza Urbana). Em consulta ah própria empresa, foi informado que

todos os distritos que contêm parte da represa Jundiaí, são servidos de serviço de coleta

regular de resíduos urbanos. Entretanto o serviço de coleta de resíduos recicláveis não

atende as áreas próximas ao reservatório [Portal STRALU]. Ainda de acordo com a

Prefeitura do município, desde 2009 quando o aterro Pajoan, pra onde eram destinados

os resíduos de Mogi das Cruzes, foi interditado pela CETESB, os resíduos passaram a

ser destinados ao aterro Santa Isabel.

Como já dito, serão apresentados dados referentes ao ano de 2000, especificamente

para os distritos onde a represa de Jundiaí está inserida.

Figura 30 – Porcentagem de adequação da forma de esgotamento sanitário de domicílios

particulares permanentes

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Condições gerais de saúde, educação e renda.

De acordo com o ultimo censo do IBGE [2010], a cidade de Mogi das Cruzes possui

140 estabelecimentos de saúde, sendo 36 públicos e 104 privados. Em levantamento

realizado, constatou-se a existência de um posto de saúde no distrito de Taiaçupeba e

outro em Biritiba Ussu. Em contrapartida com o que foi informado a respeito do

saneamento básico pela SEMAE, ainda em consulta aos dados do IBGE, levantou-se

que em 2005 8% dos óbitos foram de origem infecciosa e parasitaria o que está bastante

vinculado com a qualidade de saneamento básico disponível. Em 2009, os óbitos

relacionados a doenças infecciosas e parasitarias chegaram a 12%, apontando um

significativo aumento. Entretanto para se afirmar quais as reais causas desse aumento,

seria necessária uma pesquisa bem mais aprofundada, que não é objeto dessa pesquisa.

De acordo com os dados do SIGAM para o Censo de 2000 do IBGE, a taxa de

analfabetismo da população com mais de 15 anos que residem na micro-bacia do

reservatório Jundiaí, varia de 13% a 15% (a mais baixa do município), a leste da represa

(distrito de Biritiba Ussú); enquanto a oeste (Taiaçupeba e outros), varia de 11% a 13%.

Em ambos distritos os níveis são os mais baixos encontrados no município.

A distribuição de renda segue os mesmos índices apresentados. De acordo com os

dados do SIGAM, a oeste da represa, no distrito do Taiaçupeba de 74 a 80% dos

domicílios permanentes possuem renda de até 5 salários mínimos. Já a leste da represa,

no distrito de Biritiba Ussú, o valor para o indicador é de 80 a 86% dos domicílios que

possuem renda de até 5 salários mínimos.

Articulação político-institucional e social na bacia

Apesar da grande importância do reservatório Jundiaí para o abastecimento da

Região Metropolitana de São Paulo, há poucos esforços voltados especificamente a ele.

Entretanto, em relação ao Sistema Produtor Alto Tiete existe uma serie de articulações

ocorrendo para se garantir o desenvolvimento adequado da região. Apesar de ainda não

existir a Lei especifica para o reservatório, ou mesmo da sub-região cabeceiras, como já

existe pra Billings e Guarapiranga, existem grandes esforços tanto do próprio Comitê da

Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, como da Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do

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Alto Tiete que buscam o levantamento de todos os dados e elaboração de políticas

eficientes e eficazes para a região.

Também existe um trabalho exaustivo realizado por organizações não

governamentais para se garantir a proteção dos recursos naturais, sobretudo nas áreas de

proteção a mananciais como é o caso da micro-bacia do reservatório Jundiaí. Uma das

mais atuantes na região é o Instituto Socioambiental (ISA), que desenvolve a campanha

“De olho nos mananciais”, promovendo discussões entre diversos atores e

disponibilizando uma serie de dados referentes a todos reservatórios da RMSP.

Não foi levantada nenhuma existência de associações de moradores ou sociedade

civil que atue na proteção dos recursos naturais da micro-bacia do reservatório Jundiaí

especificamente. Observou-se a existência de associações de bairro, tanto no distrito de

Taiaçupeba, como no distrito de Biritiba Ussu, porem não se voltam a tratar de assuntos

ligados ao uso dos recursos hídrico. Entretanto representam um importante ator a ser

articulado para garantir o desenvolvimento adequado nas áreas da represa.

Os pequenos produtores do distrito de Biritiba Ussu, alguns deles localizados

dentro das limitações da micro-bacia do reservatório, compõe a Associação Cultural

Agrícola de Biritiba-Ussu (ACABU), que também representam um importante ator a ser

integrado nas discussões e tomadas de decisões, acerca dos usos múltiplos da água e

desenvolvimento futuro do local.

5.3 Caracterização dos recursos hídricos e do ecossistema aquático

Caracterização física da bacia

Como visto no quadro abaixo, a área de drenagem, ou seja, a micro-bacia do

reservatório Jundiaí possui 116 km² e inunda uma área de 17.42 km². Essas

características da a bacia um volume útil de 60x106 m³, o terceiro maior do Sistema

Alto Tietê. Em pesquisas no local, levantou-se que há a interesses em aumentar esse

volume útil subindo o nível da represa. Porem devido a ocupação do local, a

possibilidade de aumentar a disponibilidade de água para o sistema se torna um

problema.

  Característica dos reservatórios

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DATA

Área de

Drenagem

(km²)

Área

inundada

(km²)

Volume

útil (m³)

Ponte Nova 1972 320 28.07 296x106

Paraitinga 2006 184 6.43 35x106

Biritiba 2006 75 9.24 34.40x106

Jundiaí 1992 116 17.42 60x106

Taiaçupeba 1976 224 19.36 87.90x106

FONTE: http://www2.mananciais.org.br/site/mananciais_rmsp/altotiete

Tabela 2 – Informações técnicas dos reservatórios do Alto Tiete – cabeceiras

Características hidrológicas

De acordo com o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a

Agricultura (CEPAGARI) da Unicamp, o município de Mogi das Cruzes possui clima

Cwa, que, como estabelece a classificação climática de Koeppen, de acordo com a

EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) representa o clima

subtropical de inverno seco (com temperaturas inferiores a 18ºC) e verão quente (com

temperaturas superiores a 22ºC). [CEPAGARI-UNICAMP][EMBRAPA].

Ainda em pesquisa ao mesmo órgão da Unicamp, determinou-se que a cidade possui

índice pluviométrico médio anual em torno de 1400 mm, e temperatura media de 20ºC.

É importante estar ciente das condições climáticas e pluviométricas, por exemplo a água

pode servir como meio de dispersão para contaminantes no solo, lençóis freáticos e

reservatórios para o abastecimento urbano.

Alem do abastecimento de água na região se basear nos reservatórios, existe ainda a

possibilidade da extração de água subterrânea. A micro-bacia do reservatório Jundiaí,

esta sobre dois aqüíferos, o Aquífero Cristalino e o Aquífero São Paulo. Como mostrado

anteriormente, devido a geologia do local, encontra-se tanto rochas cristalinas, como

sedimentos arenosos e argilosos depositados em ambientes fluviais e lacustres [SMA,

2008].

De acordo com os dados da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo

[SMA, 2008], o Aquífero Cristalino é formados pelas rochas mais antigas da cidade, e

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devido ao tipo de rocha em que se encontra é do tipo fraturado. Apesar da boa qualidade

da água, ele se estende e é coberto por outros aqüíferos, atingindo grandes

profundidades, o que inviabiliza sua plena utilização.

Já o Aquífero São Paulo é de formação recente e esta bem mais acessível. Ele se

estende por 1000 km2 e abrange parte dos municípios mais populosos do Estado, como

São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes, entre outros. Os

dados da Secretaria do Meio Ambiente do Estado, apontam as vazões recomendadas,

em geral, são inferiores a 2,8 litros/segundo por poço. Em algumas porções onde

predominam sedimentos arenosos, as vazões podem chegar a 11 litros/segundo, o que

não é o caso da micro-bacia do reservatório. As águas são, de modo geral, adequadas ao

consumo humano e para diversos usos [SMA, 2008]

A seguir encontra-se uma figura que aponta a vulnerabilidade para os aquíferos à

contaminação da RMSP. O mapa faz parte do banco de dados espaciais da bacia do Alto

Tietê do Laboratório de informática Geológica (LIG) do Instituto de Geociências da

USP. Apesar de datar de 1999 mostra-se bastante interessante, e certamente deveria

fazer parte integrante das tomadas de decisões no âmbito de políticas publicas.

De acordo com o mapa da figura 31, a região da represa apresenta, em sua maior

parte, baixa/média vulnerabilidade, com exceção dos corpos d’água, que apresentam

alta vulnerabilidade. O importante destacar da figura, é que na região entre dois braços

da represa, onde a vulnerabilidade é definida como sendo media/alta, hoje se encontra

um loteamento de alto padrão, com diversas casas com piscinas na beira da represa. Isso

mostra que apesar de esforços, não existe integração entre as esferas tomadoras de

decisão e falta de fiscalização.

Figura 32 – Vulnerabilidade natural dos aqüíferos a contaminação.

Page 41: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Na figura 33 a seguir encontra-se o mapa de risco a inundação do local, e através do

mesmo notou-se que a micro-bacia da represa Jundiaí, é compreendida como possuindo

baixo risco, com exceção de um pequeno trecho que contem algumas das nascentes

contribuintes da bacia e representa uma área de planície e baixa declividade, como

aponta a figura 8, anteriormente, e comprovado em visita ao local.

Figura 33 – Mapa de risco a inundação da RMSP.

Qualidade do reservatório

A maioria dos dados referentes a qualidade da água no reservatório, que se

encontram disponíveis, são defasados. Durante a pesquisa constatou-se que até poucos

anos atrás o reservatório Jundiaí sempre foi classificado como de qualidade boa,

entretanto fontes mais recentes apontam que houve uma piora na sua qualidade.

A figura 34 a seguir, mostra as condições da qualidade de água nos reservatórios da

sub-região cabeceiras obtidos através do SIGAM. A represa Jundiaí encontra-se no

centro sul da imagem, classificada em verde, apontando boa qualidade da água.

Page 42: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 34 – Qualidades das águas no reservatório da sub-região cabeceiras.

Em outro mapa obtido no banco de dados do LIG da USP para o ano de 1999, é

apontado o índice de proteção a vida aquática, e mais uma vez fica claro que não havia

preocupação com o tema na época citada. A seguir encontra-se a figura 36 que traz o

mapa com o índice de proteção a vida aquática (IVA) nos reservatórios da RMSP. A

represa, localizada no centro/direita da Figura X, é calssificada como ruim.

Page 43: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Figura 36 – Índice de Qualidade de Proteção a Vida Aquática.

Em dados apresentados no Relatório de Avaliação Ambiental dos Componentes do

Programa Mananciais de 2009, disponível na Secretaria de   Saneamento   e Recursos

Hídricos do Estado de São Paulo, observou-se os elevados valores obtidos para o Índice

de Estado Trófico – IET, revelando a ocorrência da eutrofização nas águas dos rios

Baixo Cotia, Biritiba e dos reservatórios Guarapiranga, Braço Taquacetuba, do

reservatório Billings, Rio Grande, Jundiaí e Taiaçupeba.

Uso dos recursos hídricos

A maior parte da utilização do reservatório Jundiaí, se concentra no abastecimento

urbano. Como já explanado, o potencial turístico da região não é desenvolvido e

explorado, apesar de ser utilizado como área de lazer para moradores da região e área de

pesca para as pessoas do local.

Alem da captação para tratamento e, posterior, distribuição à população, também há

a captação direta de água pelos hortifrutigranjeiros para a irrigação de lavouras.

6. Possíveis relações causas e efeitos

Nesse item será apresentada a análise acerca dos dados levantas da micro-bacia,

elencando os principais problemas existentes na região, buscando as causas,

conseqüências e possíveis soluções para os mesmos.

A micro-bacia possui basicamente dois tipos de solo, um com gênese sedimentar e

outro com gênese de rochas magmáticas cristalinas. Os solos, como visto anteriormente,

são rasos o que facilita o acesso às rochas brutas. A condição de existir rochas

cristalinas sob uma fina camada de solo garante as condições perfeitas para a mineração,

o que provavelmente, foi o fator que levou a existência de duas pedreiras próximas a

represa, e que podem afetar drasticamente a qualidade ambiental do local.

Alem disso, solos com gênese em rochas magmáticas como é o caso, normalmente

são ricos em nutrientes e apresentam as características fundamentais para a agricultura.

Da mesma forma, os solos sedimentares formados por depósitos aluviais, existentes no

local, também são férteis, normalmente, possuindo boa aptidão agrícola. Essas

Page 44: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

condicionantes, aliadas a topografia do local, que possui pouca declividade em sua

maioria, alto índice pluviométrico e temperatura amena o ano todo formam o cenário

ideal para a agricultura.

Todas essas características poderiam ser utilizadas de forma consciente, de modo

que o uso de agrotóxicos (fertilizantes e biocidas) se desse da forma mais racionalmente

possível. Entretanto, não foi o que ocorreu na maior parte dos empreendimentos. O que

ocorre é a utilização extensiva do solo, com base em agrotóxicos para garantir melhor

produtividade e se manter competitivo no mercado.

Hoje, o surgimento e crescimento da certificação ambiental para produtos orgânicos,

biodinâmicos, e outros, é um grande incentivo e um poderoso instrumento para garantir

a competitividade no mercado para aqueles que adotam práticas sustentáveis. No local

já existem produtores que optaram por seguir os moldes de produção exigidos pelas

certificações e atingir um novo público crescente. Entretanto sabe-se também, que o

próprio fato de se certificar, devido o grande custo envolvido, exclui muitos pequenos

produtores, que não veem outra saída se não utilizar ainda mais agrotóxico e explorar

ainda mais o solo. Como saída a isso surgem as certificações participativas, a qual ainda

falta bastante incentivo do governo.

Com uma análise aprofundada dos índices sociais e econômicos do local, nota-se

que é uma das regiões mais desprovidas de serviços do município. A maioria dos

moradores é de baixa renda, não são providos de saneamento adequado, muitos são

analfabetos e possuem difícil acesso a saúde. São características que só dificultam a

gestão de recursos hídricos no local. Deve-se então prever uma política, que integre o

desenvolvimento dessa área aliada a conservação e proteção dos recursos hídricos

existentes.

Primeiramente, por se tratar de Área de Proteção a Manancial, esta sob a vigência da

Lei especifica. Entretanto a não implementação da Lei na região traz grande problemas,

enfraquecendo o sistema político e possibilitando o crescimento desordenado sobre a

bacia do reservatório Jundiaí. Dessa forma, é essencial o cumprimento da legislação

vigente para zonear e ordenar a ocupação da bacia.

Os principais problemas destacados durante a pesquisa foi a grande concentração de

empreendimentos agrícolas que utilizam agrotóxicos de forma massiva; desproteção do

solo ao longo das margens da represa e de seus contribuintes; atividades de mineração

no entorno; desmatamento acelerado; falta de saneamento básico e lançamento de

Page 45: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

esgoto in natura na represa; baixos índices socioeconômicos na região; pouca atuação

da sociedade civil.

De acordo com o Instituto socioambiental (ISA), pode-se dizer que a principal e

mais preocupante ameaça existente na bacia do reservatório Jundiaí, é a grande carga de

nutrientes depositada na represa, derivado de agrotóxicos. O instituto alerta que isso tem

como conseqüência um intenso desenvolvimento de cianobactérias, que potencialmente

podem produzir toxinas, e contaminar a água. Alem disso o problema ainda fica mais

serio, uma vez que os sistemas são interligados, e há a dispersão das toxinas para outros

reservatórios. Esse pode ser um grande risco a população que vive no entorno da

represa, sendo justamente os que possuem acesso precário à saúde e baixa renda

salarial.

Como mostrado anteriormente, os valores obtidos para o Índice de Estado Trófico

do reservatório Jundiaí revelam que suas águas estão eutrofizadas. Uma das hipóteses

para esse fenômeno pode ser o lançamento dos esgotos sanitários sem tratamento, nos

córregos a montante da represa, ou mesmo na própria represa. Os esgotos são lançados

contendo elevadas concentrações de fósforo e nitrogênio amoniacal, macro-nutrientes

necessários ao desenvolvimento fitoplanctônico, e consequentemente levam a

eutrofização do corpo d'água.

As atividades agrícolas exercidas na região também devem contribuir para a

contaminação da represa e do solo. De acordo com o Relatório de avaliação Ambiental

dos Componentes do Programa mananciais de 2009, as culturas agrícolas existentes na

bacia do reservatório Jundiaí tem grande influencia na detecção de toxidade aos

organismos aquáticos nos reservatórios a jusante. O relatório pontua que os organismos

aquáticos são expostos às substancias componentes de pesticidas (metais pesados,

organocloros e organofosforados) utilizados em culturas agrícolas existentes na bacia da

represa Jundiaí. Por sua vez, esses organismos são carreados pela irrigação e

escoamento superficial das águas pluviais, fazendo com que toxicidade produzida por

essas substancias é transferida para o reservatório de Taiaçupeba.

A solução para os problemas de eutrofização, poluição da água proveniente das

atividades agrícolas e falta de saneamento básico, demanda um alto nível de

engajamento e integração social, vinculado a iniciativas governamentais e legislação

eficiente. Deve-se pregar, principalmente por se tratar de uma Área de Proteção a

Manancial, com solos bastante rasos, o uso racional de agrotóxico. Para que isso

funcione devem-se integrar técnicas modernas de agricultura e conhecimento cientifico,

Page 46: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

a serem passadas aos agricultores. A mobilização desses agricultores em forma de

associação poderia garantir e facilitar o acesso a crédito e tecnologias modernas de uso

racional do solo (disponibilizada pela EMBRAPA, por exemplo), para garantir a

integridade do sistema.

O desmatamento na área que ocorreu nos últimos anos, pode ter sido causado a

partir de pressões sobre novas áreas cultiváveis, exploração de madeira e falta de

fiscalização. A remoção da cobertura vegetal faz que o solo se torne exposto, e visto o

índice pluviométrico do local, grande parte do sedimento é escoado para o reservatório.

A remoção da vegetação é umas principais causas da erosão, que pode se tornar um

problema irreversível e com danos irreparáveis, inclusive para a atividade agrícola da

região.

Os dados mostram que o índice de desmatamento caiu dos últimos anos pra cá, mas

ainda assim é bastante preocupante. Aliado a isso, apenas uma peque área da margem da

represa esta protegida com mata, o restante é ocupado por atividades agrícolas ou

moradias, como mostrado anteriormente. Essa desproteção das margens também

contribui muito para o assoreamento da represa e o surgimento de erosão.

As atividades de mineração encontradas ao redor da represa, uma delas dentro dos

limites da bacia do reservatório Jundiaí é de imensa preocupação. Essas atividades já

são por si só muito impactantes, um planejamento de controle de impactos e redução de

riscos é imprescindível durante sua implantação, funcionamento e desligamento. Não

foi possível conseguir informações relevantes na pedreira que está dentro da bacia,

entretanto sabe-se que área que ela ocupa é bastante grande. Para a pedreira ser

implantada, uma grande quantidade de vegetação deve ser removida, e há uma enorme

movimentação de sedimento. Tudo isso pode contribuir para o assoreamento de

nascentes e córregos existente nas cotas inferiores. Para que isso não ocorra deve ser

feito o devido controle de movimentação de sedimentos, e claro, espera-se forte

fiscalização pelos órgãos competentes.

Todos os problemas elencados estão intimamente relacionados. O local necessita do

desenvolvimento de uma educação ambiental crítica, emancipatória e transformadora,

buscando a integração de todos os atores sociais atuantes na bacia. A educação

ambiental como processo da gestão ambiental é bastante difundido no Brasil e

defendido por diversos autores como José Silva Quintas [2004], por exemplo. Essa

mesma integração é buscada pelos estudiosos na área de gestão de recursos hídricos

Page 47: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

como já foi dito anteriormente, e apesar de o assunto ser os usos múltiplos da água, tudo

está relacionado.

Sendo assim, o que se espera é a descentralização da tomada de decisão, e a

participação cada vez mais ativa dos que realmente usam o recurso, ou seja, trazer para

a discussão política e decisória, os pescadores da região, agricultores, moradores,

mineradores, poder publico e outros. Um meio para se atingir e sensibilizar esses atores

sociais é a educação ambiental. Hoje é sabido sobre a relação de interdependência

existente entre todos e tudo, entretanto ainda assim as decisões são tomadas

separadamente. É para suprir isso que o plano de manejo integrado surge. Deve se

pensar no desenvolvimento integrado da bacia, propondo um local ambientalmente

equilibrado, socialmente justo e economicamente viável.

Para isso muitas são as ações, o local possui um grande potencial turístico para se

desenvolver, podendo agregar valor a terra realizando atividades de baixo impacto,

diferente da agricultura de hoje. Isso não significa que a agricultura deve se extinguir,

mas ser feita de forma planejada e com todo aparato tecnológico e, se for o caso

econômico, necessário para diminuir o impacto gerado.

7. Considerações finais

Tanto essa pesquisa, como outras já citadas, demonstraram a eficiência da utilização

de dados obtidos através de Sistema de Informação Geográfica, para a delimitação de

bacias hidrográfica, salvo algumas limitações existentes. Porem é um sistema inovador,

revolucionário e importantíssimo para se trabalhar, entre outras, as questões ambientais.

E, desde que se passou a tomar a bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão,

essa sua importância se mostrou ainda mais relevante.

A gestão de recursos hídricos é por si só um problema fundamentalmente de gestão

ambiental, em sua forma plena. Como visto, deve-se abranger todas as áreas do

conhecimento para se trabalhar com um peça fundamental do quebra cabeça, os

recursos hídricos. Demorou muito para que se chegasse na implantação da Lei que

assumia que para se tratar de uma questão em particular fosse necessário olhar para um

todo. A evolução foi lenta, e ainda está ocorrendo, como se espera.

Neste trabalho foi possível perceber a complexidade em levantar e trabalhar

relacionando dados de naturezas diversas. Muitas vezes não foi possível encontrar dados

atuais, e não havia tempo de pesquisa suficiente para levantar dados primários.

Page 48: Delimitação da rede de drenagem utilizando dados SRTM, e sua utilização como uma ferramenta de Gestão Ambiental, na gestão de bacia hidrográfica

Entretanto é isso que se espera para uma gestão de recursos hídricos eficientes. Muitas

vezes os dados até existem, na SABESP, ou SEMAE, porém por se tratarem de

empresas, nem sempre se veem na necessidade de divulgar todos dados.

Todavia, apesar das dificuldades envolvidas, a pesquisa foi bastante relevante para

demonstrar como é possível se utilizar dos dados levantados de forma integrada e

eficiente.

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