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Demogra a médica Estudo mostra desigualdade no país CFM mapeia postos de trabalho e aponta acesso desigual entre pacientes do setor público e privado. Págs. 6 e 7 ANO XXVI • Nº 202• NOVEMBRO/2011 Ensino médico: exame do MEC conrma quadro crítico. Pág. 9 Prossionais querem valorização da área Pág. 10 Urgências e emergências Família e Comunidade Ato em Brasília Conselhos e Câmara avaliam serviços Pág. 4 Lideranças defendem regulamentação da EC 29 Pág. 3

Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

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Page 1: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

Demografi a médicaEstudo mostra desigualdade no paísCFM mapeia postos de trabalho e aponta acesso desigual entre pacientes do setor público e privado. Págs. 6 e 7

ANO XXV • Nº 191 • DEZEMBRO/2010ANO XXVI • Nº 202• NOVEMBRO/2011

Ensino médico: exame do MEC confi rma quadro crítico. Pág. 9

Profi ssionais querem valorização da área

Pág. 10

Urgências e emergências Família e ComunidadeAto em Brasília

Conselhos e Câmara avaliam serviços

Pág. 4

Lideranças defendem regulamentação da EC 29

Pág. 3

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MEDICINA CONSELHO FEDERAL - Dez./2009

EDITORIAL

A demografi a médica

Desiré Carlos CallegariDiretor executivo do jornal Medicina

A divulgação dos re-sultados da pesquisa “De-mografi a médica no Brasil: dados gerais e descrições de desigualdades” inaugu-ra nova etapa na estratégia implementada pelos conse-lhos de medicina em prol da valorização da catego-ria que representam e da defesa de uma assistência em saúde efi ciente e quali-fi cada nos setores público e privado.

O estudo – fruto de mais uma parceria entre o Con-selho Federal de Medicina (CFM) e o Conselho Re-gional de Medicina do Esta-do de São Paulo (Cremesp) – cumpre desafi o inédito e ousado. Apresenta argu-mentos técnicos e científi cos que respondem matemati-camente à equivocada tese de que basta aumentar o número de médicos no país para eliminar os problemas de acesso ao atendimento – de Norte a Sul.

Mais que isso: o relató-rio, apresentado em parte nesta edição e na íntegra no site do CFM (www.cfm.org.br), expõe as fragilida-des relacionadas ao traba-lho médico, das quais signi-fi cativo número decorre da falta de investimentos em saúde, da ausência de in-fraestrutura adequada e de políticas públicas efi cazes.

Esperamos que as con-clusões apresentadas sejam entendidas pela sociedade e pelos gestores – do Siste-ma Único de Saúde (SUS)e das operadoras do setor suplementar – como um diagnóstico sufi ciente para orientar a tomada de deci-sões que benefi ciará a to-dos. É tempo de rever dis-cursos simplistas e admitir a complexidade de um proble-ma incompatível com o mo-mento atual da nação, cujo governo alardeia sucessivos avanços econômicos, mas ainda titubeia na ampliação das políticas públicas na área social.

Também nesta edição 202 do jornal Medicina, o leitor poderá acompanhar parte do trabalho desen-volvido pelo CFM e pelos CRMs. Cientes da relevân-cia estratégica da 14ª Con-ferência Nacional de Saúde, realizada em Brasília, essas entidades acompanharão os debates, mas não esque-cerão de voltar o olhar para o que ocorre nos hospitais e nos ambulatórios.

A participação nas ações de fi scalização em conjunto com os parlamen-tares da Comissão de Di-reitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é prova disso. Ela agregou à luta em defesa do SUS

novo ingrediente. Nas visi-tas já realizadas na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, a constatação dos velhos e variáveis problemas conhe-cidos dos médicos da rede pública reforça os argumen-tos da crise na assistência.

Enfi m, nas nossas pá-ginas, confi rmamos que nosso radar está conecta-do e pronto a oferecer aos leitores informações sobre estes temas e outros tão importantes quanto, como a luta para assegurar rigor ao processo de validação de diplomas médicos obtidos no exterior; a má qualidade do ensino médico brasileiro; e os desafi os da Estratégia Saúde da Família (ESF).

Este giro sobre temas tão pertinentes para o exer-cício da medicina tem con-tribuído para fazer com que cada médico perceba que os novos e esperados tempos virão. Contudo, a chegada deste período de valoriza-ção de nossa profi ssão de-penderá, antes, da mobili-zação de cada um dos 371 mil profi ssionais em ativi-dade. Somente conscientes e informados poderemos buscar as mudanças que tanto almejamos.

Conselheiros titulares

Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aloísio Tibiriçá

Miranda (Rio de Janeiro), Antônio Gonçalves Pinheiro

(Pará), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos

Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad

(Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba),

Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Edevard José de

Araújo (AMB), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti

(Alagoas), Frederico Henrique de Melo (Tocantins),

Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista

e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von

Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão

(Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio

Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia

Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo

(Rondônia), Júlio Rufi no Torres (Amazonas), Luiz

Nódgi Nogueira Filho (Piauí), Maria das Graças Creão

Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira

(Roraima), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto

Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos

Silva (Rio Grande do Norte)

Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Aldemir

Humberto Soares (AMB), Alberto Carvalho de

Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel

(Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de

Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira

Rizzo (Mato Grosso do Sul), André Longo Araújo de

Melo (Pernambuco), Antônio Celso Koehler Ayub

(Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa

(Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia),

Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando

Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto

Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo),

Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio

Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth

Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro),

Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi

Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato

(Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba),

Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato

Françoso Filho (São Paulo), Waldir Araújo Cardoso

(Pará), Wilton Mendes da Silva (Piauí)

Conselheiros suplentes

Mudanças de en de re ço de vem ser co mu ni cadas di re ta men te ao CFM

Os ar ti gos as si na dos são de in tei ra res pon sa bi li da de dos au to res, não re pre sen-tan do, ne ces sa ria men te, a opi nião do CFM

Os artigos enviados ao conselho editorial para avaliação devem ter,

em média, 4.100 caracteres

Diretoria

Presidente:1º vice-presidente:2º vice-presidente:3º vice-presidente:

Secretário-geral:1º secretário:2º secretário:

Tesoureiro:2º tesoureiro:

Corregedor:Vice-corregedor:

Roberto Luiz d’ Avila

Carlos Vital Tavares Corrêa Lima

Aloísio Tibiriçá Miranda

Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti

Henrique Batista e Silva

Desiré Carlos Callegari

Gerson Zafalon Martins

José Hiran da Silva Gallo

Frederico Henrique de Melo

José Fernando Maia Vinagre

José Albertino Souza

Diretor-executivo:Editor:

Editora-executiva:Redação:

Copidesque e revisor:Secretária:

Apoio:Fotos:

Impressão:

Projeto gráfi coe diagramação:

Tiragem desta edição:Jornalista responsável:

Desiré Carlos Callegari

Paulo Henrique de Souza

Vevila Junqueira

Ana Isabel de Aquino Corrêa

Nathália Siqueira

Thiago de Sousa Brandão

Napoleão Marcos de Aquino

Amanda Ferreira

Amilton Itacaramby

Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF

Gráfi ca e Editora Posigraf S.A.

Lavínia Design e Publicidade

350.000 exemplares

Paulo Henrique de Souza

RP GO-0008609

Publicação ofi cial doConselho Federal de Medicina

SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231

http://www.portalmedico.org.br • e- mail: jor [email protected]

Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda,

Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari,

Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro,

Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila

Conselho editorial

A chegada

deste período

de valorização

de nossa

profi ssão

dependerá,

antes, da

mobilização

de cada um

dos 371 mil

profi ssionais

em atividade

Querem culpar a medicina pela incompe-

tência política de uma má gestão. Então,

devemos responder no mesmo timbre!

Não permitiremos revalidações arbitrá-

rias de diplomas. Não permitiremos novos

cursos de medicina enquanto não forem

regularizados os existentes. Exigimos a

criação de novas vagas de residência mé-

dica e a aprovação imediata do Plano de

Carreira dos Médicos.

Rodrigo Roberto SchuwrnamAluno do 5º ano de [email protected]

Gostaria de saber o que o CFM tem

feito quanto à entrada de médicos for-

mados no exterior, mais precisamente

na América Latina? Sei que não pode-

mos generalizar, mas tenho vergonha

ao ver uma instituição de ensino pú-

blica facilitando a atuação desses indi-

víduos no país, sem ao menos realizar

prova para revalidação, propondo ape-

nas complementação de carga horária...

Rafael Zago BragaCRM-MG 51284

[email protected]

A situação é preocupante com respei-

to ao ensino médico no país. Em Belo

Horizonte, Minas Gerais, há uns 10

anos abriram cinco faculdades de me-

dicina. Como não se formam profes-

sores de uma hora para outra, é certo

que esses alunos não estão recebendo

formação adequada. Eu, que sou médi-

ca, receio ficar doente e acabar caindo

nas mãos desses profissionais.

Clarissa Horta VieiraCRM-MG 23.283

Divulgação de e-mail não autorizada

* Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo

Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected]

Resposta do CFM: O Conselho Federal de Medicina compartilha essas preocupações e tem tomado providências para qualifi car o ensino médico

no país e garantir mecanismos justos e criteriosos para a revalidação dos diplomas obtidos no exterior. As ações implementadas incluem, inclusive,

a denúncia de abusos e irregularidades. Este tema estará na pauta do II Fórum de Ensino Médico, com cobertura completa na próxima edição.

Page 3: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

3POLÍTICA E SAÚDE

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

Médicos marcaram

presença no Ato em

Defesa do SUS durante a

abertura da 14ª Conferência

Nacional de Saúde, evento

que aconteceu de 30 de no-

vembro a 4 de dezembro, em

Brasília (DF).

A categoria defendeu a

regulamentação da Emen-

da Constitucional 29, que

tramita no Senado Federal

e obriga a União gastar o

equivalente a 10% de suas

receitas correntes brutas

com a saúde.

Durante a conferência,

o Conselho Federal de Me-

dicina (CFM) distribuiu o

documento “SUS igual para

todos: agenda estratégica

para a saúde no Brasil”. O

material, com tiragem de 10

mil exemplares, resulta de

parceria com a Associação

Brasileira de Pós-Graduação

em Saúde Coletiva (Abras-

co), Centro Brasileiro de

Estudos de Saúde (Cebes),

Conselho Nacional de Se-

cretarias Municipais de

Saúde (Conasems), Socie-

dade Brasileira de Medicina

de Família e Comunidade

(SBMFC) e outras entidades.

Trata-se de um conjun-

to de diretrizes nas áreas de

saúde, meio ambiente, cres-

cimento econômico e de-

senvolvimento social; acesso

a serviços de saúde, investi-

mentos; institucionalização e

gestão do sistema de serviços

de saúde; e complexo econô-

mico e industrial da saúde.

No evento, o CFM tam-

bém fi rmou sua postura con-

trária às terceirizações no

SUS, que ameaçam os princí-

pios fundamentais delineados

na 8ª Conferência Nacional

(1986). Para a entidade, a má

gestão administrativa – parti-

cularmente no que se refere

aos seus recursos humanos,

caracterizada por ampla pre-

carização das relações de

trabalho, baixos salários e fal-

ta de qualifi cação profi ssional

– pode comprometer ainda

mais o sistema.

O conselheiro suplente

Alceu Pimentel aponta que,

segundo dados de 2006, dos

2 milhões de trabalhadores

na área, 800 mil estão em

condição precária (40% do

total): “Esperamos que a

conferência possa contribuir

para ‘humanizar’ os traba-

lhadores do sistema”.

Além de Pimentel, partici-

param das atividades o 2º vi-

ce-presidente Aloísio Tibiriçá

e o diretor Frederico de Melo,

além da conselheira suplente

Glória Tereza Lopes.

3

Roberto Luiz d’Avila

PALAVRA DO PRESIDENTE

Médicos participam de ato público pela saúde

Conferência Nacional de Saúde

Duas mil pessoas mobilizaram-se, em Brasília, pela regulamentação da Emenda Constitucional 29 Os médicos brasileiros passaram a ser apontados

como culpados pelo estrangulamento da assis-

tência oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

De repente, a abertura de novas escolas médicas e o

aumento do número de vagas nas já em funcionamen-

to ganharam defesa feroz de setores da gestão. O pro-

cesso de revalidação dos diplomas de Medicina obtidos

em outros países – por brasileiros ou não – passou a

ser pintado com tons dramáticos e a produzir mártires.

Mitos ou verdades? Afi nal, o que há por trás de

cada uma dessas afi rmações que, vez por outra, sal-

tam aos nossos olhos nas manchetes dos jornais ou

aparecem furtivamente nos debates organizados no

Congresso Nacional? Com certeza, podemos afi rmar

que nada existe de real nessas hipóteses, pois os que

realmente entendem do funcionamento do setor saúde

sabem que nos movemos sobre terreno nada favorável

à simplifi cação dos fatos.

A pesquisa Demografi a médica no Brasil chega em

boa hora para nos ajudar a responder a esses e outros

questionamentos, pelo menos em parte. Feito com ri-

gor e critério metodológico, o estudo põe por terra es-

ses argumentos e, em seu lugar, planta a semente da

dúvida. Isso exigirá dos médicos, dos gestores e da so-

ciedade o necessário discernimento para entender, no

diagnóstico apresentado, pistas para o tratamento fu-

turo a ser prescrito.

A síntese das conclusões pode ser resumida em

uma única palavra que afl ige a população: desigual-

dade. No exercício da medicina, esse termo traduz o

peso da balança que faz a diferença entre a saúde e a

doença, a vida e a morte. E mais: se contrapõe à pro-

messa constitucional de tratar a todos como se fossem

um, garantindo-lhes os direitos previstos em lei.

Sem o enfrentamento da desigualdade, a socie-

dade assistirá a permanência da má distribuição

dos médicos pelo território nacional, continuará a

ver o setor público da saúde encolhido diante das

demandas populacionais e testemunhará a manu-

tenção da crise que tem colocado em risco a sobre-

vivência do SUS.

Os médicos brasileiros não podem ser tratados

como bodes expiatórios de gargalos que assolam,

especialmente, as urgências e emergências da rede

pública. Também podemos refutar com veemência

a matemática intuitiva que prega o aumento de

profissionais como o caminho mais fácil de levar

atendimento às áreas remotas. Muito menos po-

demos aceitar a transformação da revalidação do

diploma estrangeiro de Medicina numa trinchei-

ra que privilegie este ou aquele, sem considerar o

que realmente importa: a qualidade do atendimen-

to oferecido.

Bem-vindos ao mundo real, no qual problemas e

soluções exigem raciocínio complexo, que considere

distintas possibilidades. Agir de outra forma é des-

respeitar o cidadão, demonstrando mais apreço às

questões ideológicas ou partidárias que aos interesses

coletivos. Os mitos não podem determinar políticas

públicas. Cabe às verdades atestadas cientifi camente

e à vivência de cada brasileiro apontar o norte para

onde seguir. Somente assim teremos, hoje, o tão so-

nhado país do futuro.

O quadro crônico de

subfinanciamento do SUS

foi apontado, pelos princi-

pais especialistas do país,

como o principal entrave

para que a população brasi-

leira possa ter acesso a um

serviço de saúde razoável.

Reunidos no seminário

“Impasses e Alternativas

para o Financiamento do

SUS Universal”, eles de-

monstraram que o Brasil

gasta 11 vezes mais com o

pagamento de juros, amor-

tizações e refinanciamento

da dívida pública do que em

saúde pública.

Aloísio Tibiriçá, 2° vice-

presidente do CFM, avalia

que os números revelam

as distorções: “Enquanto

os investimentos destina-

dos pelo governo federal

ao setor de saúde pública

– para o atendimento de

toda a população brasileira

(mais de 190 milhões, se-

gundo o IBGE) – não pas-

saram de R$ 72 bilhões, os

planos de saúde privados

faturaram praticamente a

mesma coisa para atender

menos de um quarto desse

número de pessoas: 46 mi-

lhões (segundo estimativas

da ANS)”.

Os deputados federais

Pepe Vargas (PT-RS) e Sa-

raiva Felipe (PMDB-MG)

apontaram como urgente a

identificação de fontes para

o financiamento do SUS.

Para Vargas, a regulação

da EC 29 ajudará a supe-

rar esse quadro. Segundo

Felipe, entre as propostas

que regulamentam a área,

a apresentada pelo sena-

dor Tião Viana (PT-AC),

que propõe 10% da recei-

ta líquida da União para o

setor, é bem-vinda: “Se-

riam R$ 37 bilhões a mais

por ano, impedindo o des-

manche nacional do SUS”.

O evento foi promovi-

do no dia 4 de novembro

pela Abrasco, CFM e Uni-

versidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ). Dos

debates também partici-

param o presidente da Fio-

cruz, Paulo Gadelha, e o

economista Luiz Gonzaga

Belluzzo, da Universida-

de Estadual de Campinas

(Unicamp), e diversos ou-

tros especialistas.

Subfi nanciamento é desafi o para o sistema

Engajamento: CFM marcou presença e pediu recursos para o setor

Page 4: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

4 POLÍTICA E SAÚDE

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

Demora no atendimento,

internação nos corre-

dores, falta de médicos. Este

quadro é a realidade de quase

todas as emergências públicas

do país. A precariedade da

atenção à saúde é um dos mo-

tivos que levam a Comissão de

Direitos Humanos e Minorias

(CDHM) da Câmara dos De-

putados a percorrer hospitais

de emergência em nove capi-

tais do país.

A indicação dos hospitais

teve participação da Comissão

de Urgência e Emergência do

Conselho Federal de Medicina

(CFM). Três estados já foram

fi scalizados: Rio de Janeiro,

São Paulo e Bahia. As outras

seis visitas estão previstas para

o início de 2012. As ações estão

sendo feitas em parceria com a

Comissão Nacional Pró-SUS

– AMB, CFM e Fenam –,

Ministério Público Federal, Or-

dem dos Advogados do Brasil

(OAB) e outras entidades.

De acordo com o deputado

federal Arnaldo Jordy (PPS-

PA), a situação constatada é

mais grave do que se esperava.

“Pelo que vimos, podemos pe-

dir a abertura de uma CPI”, ex-

plicou. Após as vistorias, a co-

missão se reunirá para discutir

quais medidas serão tomadas.

O Hospital Arthur Sa-

boya, na capital paulista, foi vis-

toriado em 19 de setembro pe-

los deputados e representantes

do CFM e do Conselho Regio-

nal de Medicina do Estado de

São Paulo (Cremesp). No Rio

de Janeiro, em 20 de setembro,

a comissão esteve no Hospital

Municipal Souza Aguiar, consi-

derado uma das maiores emer-

gências da América Latina. No

dia 18 de novembro foi a vez do

Hospital Geral Roberto Santos

(HGRS), em Salvador (BA).

Nos três casos, problemas

de superlotação foram cons-

tatados. Também fi caram

evidentes a falta de qualidade

de atendimento, bem como o

número reduzido de proce-

dimentos realizados e leitos.

Outro problema recorrente é

a quantidade insufi ciente de

profi ssionais disponíveis.

Uma das situações mais gra-

ves foi encontrada no Hospital

Municipal Souza Aguiar (RJ):

na sala amarela, 35 pacientes,

homens e mulheres, dividiam um

espaço planejado para 14, com

quatro casos confi rmados de

tuberculose e um caso

suspeito de meningite sem

qualquer isolamento.

O deputado Domingos

Dutra (PT-MA) relatou, ain-

da, problemas relacionados a

regimes diferenciados de con-

tratação de pessoal. “Cons-

tatamos que há uma terceiri-

zação dos serviços de saúde,

criando confl itos, uma vez

que os médicos contratados

por associações ganham três

vezes mais do que o médico

estatutário da rede pública”.

Para o coordenador da

Comissão Nacional Pró-

-SUS, conselheiro federal

Aloísio Tibiriçá, a iniciativa

é fundamental para gerar

um debate sobre a humani-

zação do atendimento em

âmbito nacional. “A falta de

leitos e de médicos é crônica

em todo o país e quem so-

fre as consequências deste

descaso é a população. Pro-

pomos um novo enfoque so-

bre esta crise permanente e

faremos os desdobramentos

necessários ”, ressaltou.

Direitos humanos são violadosConselhos e CDHM da Câmara dos Deputados avaliam realidade de urgências e emergências de capitais brasileiras

Caos: visita ao Hospital Geral Roberto Santos (BA) expõe fragilidade

Fiscalização nas emergências

Odor de fezes, urina e secre-

ções. No mesmo lugar, um mor-

to dividia espaço com pacientes

acomodados no chão da unidade

à espera de atendimento. Este

triste retrato não é novidade na

saúde pública brasileira, mas para

o Conselho Federal de Medicina

(CFM) a situação dos hospitais de

Rondônia é gravíssima.

No dia 8 de novembro, a di-

retoria executiva do CFM, acom-

panhada de representantes das

entidades médicas locais (conselho

regional de medicina, sindicato

médico do estado e Associação

Médica de Rondônia), visitou os

hospitais Doutor Ary Pinheiro

(Hospital de Base) e o pronto-

socorro João Paulo II, em Porto

Velho, para avaliar as condições

da assistência pública em saúde no

estado. “Em fevereiro visitamos

esses mesmos hospitais e, infeliz-

mente, a situação piorou”, avaliou

o presidente do CFM, Roberto

Luiz d’Avila.

“É certamente o pior hospital

do país. Cobriram o morto com

um lençol quando passamos. É

um ambiente realmente de guer-

ra. Não se pode avaliar de outra

maneira a total insensibilidade do

poder público em permitir que as

pessoas sejam tratadas daquela

forma”, retrata o tesoureiro José

Hiran Gallo, que representa o

estado no CFM. A entidade vai

denunciar a situação do sistema

público de saúde de Rondônia a

organismos internacionais e à Co-

missão dos Direitos Humanos da

Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB) e da Câmara Federal.

Descaso – A situação local é

tão grave que o CFM levou ao Mi-

nistério da Saúde as informações

com imagens dos hospitais. Carlos

Vital, 1º vice-presidente do CFM,

também mostrou decepção ante o

quadro por ele classifi cado como

“desumano”, sobretudo o encon-

trado no João Paulo II. “Permane-

ce a situação, eu diria, inaceitável

em termos de assistência à saúde

pública. Há carência, não só de

recursos humanos, mas de espaço

físico e de materiais. Em síntese,

não há como se compreender

um atendimento de emergência

naquelas circunstâncias. Perma-

nece o status quo de incapacidade

de atendimento de emergência”.

A visita do CFM decorreu

de solicitação do Conselho Re-

gional de Medicina do Estado

de Rondônia (Cremero). A ex-

pectativa, segundo informou

a presidente Maria do Carmo

Demasi Wanssa, é de que o go-

verno reabra o diálogo com as

entidades médicas em busca de

uma resposta para o problema

da saúde. “A resolução passa por

um processo de determinação

política”, acentua.

Situação está pior, avalia CFM

Saúde pública de Rondônia

João Paulo II: CFM informou situação “desumana” ao Ministério da Saúde

FISCALIZAÇÃO DE FÉRIAS NO RS

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) fez dez visitas de fiscalização da Operação Veraneio – Férias com Saúde. A ação dá continuidade à inicia-tiva criada no ano passado para fiscalizar o trabalho médico e as condições de atendimento nas estradas, clínicas e hospitais do litoral gaúcho. A diretoria do conselho avaliará o relatório produzido pela equipe de fiscalização e determinará as medi-das a serem tomadas.

MÉDICOS DO PIAUÍ PARAM POR CINCO DIAS

Os médicos vinculados à Secretaria de Estado da Saúde do Piauí decidiram, por unanimidade, paralisar as atividades por cinco dias – de 28 de novembro a 2 de dezembro. De acordo com o conselheiro federal Luiz Nódgi Nogueira Filho, que representa o estado no CFM, diversas mobilizações estão sendo feitas pelos médicos no sentido de chamar a atenção das autoridades para a precariedade dos serviços, a necessidade de reajuste salarial e de cumprimento das leis que tratam da progressão da carreira e insalubridade. Manifestações foram feitas em frente ao Hos-pital Getúlio Vargas, à Maternidade Dona Evangelina Rosa, ao Hospital Areolino de Abreu e ao Hospital Infantil Lucídio Portela.

EM MG, ATENDIMENTO SUSPENSO POR 24HPor falta de condições, os médicos das quatro unida-

des de atendimento imediato de Betim (MG) paralisaram os atendimentos por 24 horas – a partir de 7h do dia 30 de novembro até 7h de 1º de dezembro. Atualmente, es-sas unidades funcionam de forma precária, superlotadas, com vários buracos nas escalas por falta de médicos, com estrutura inadequada, falta de equipamentos e medica-mentos. A categoria ainda está exposta ao risco de furtos, agressões e condições mínimas de segurança.

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Page 5: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

5POLÍTICA E SAÚDE

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

As operadoras de pla-

nos de saúde devem

se reunir com a Agência

Nacional de Saúde Su-

plementar (ANS) e com

representantes da cate-

goria médica para buscar

resolver a demanda dos

médicos por reajuste de

honorários. A proposta foi

apontada pelos senadores

durante audiência pública

da Comissão de Assuntos

Sociais (CAS), no dia 22

de novembro, que discutiu

o assunto.

Vários parlamentares

presentes fizeram comen-

tários sobre as condições

dos médicos. O senador

Paulo Davim (PV-RN) in-

formou que nos últimos

dez anos as operadoras

reajustaram as mensalida-

des dos planos de saúde

em cerca de 160%, en-

quanto os honorários dos

médicos, no período, au-

mentaram cerca de 40%.

Na avaliação do senador,

o sistema suplementar de

saúde é “importante e es-

tratégico”, haja vista que o

Estado não tem condições

de atender a toda a deman-

da de saúde do país. Por

sua vez, o senador Moza-

rildo Cavalcanti (PTB-RR)

informou que os valores

configuram “mercantiliza-

ção” da saúde.

As entidades médicas

foram representadas na

audiência por lideranças

do CFM, AMB e Fe-

nam. “Até agora não foi

possível um acordo que

contemplasse verdadei-

ramente nossas reivindi-

cações com os planos de

saúde. Por isso, a catego-

ria vem se movimentando

e realizou as paralisações

de 7 de abril e 21 de se-

tembro”, disse o secretá-

rio de saúde suplementar

da Fenam, Márcio Costa

Bichara.

O Conselho Federal

de Medicina (CFM) foi

representado pela presi-

dente do Conselho Re-

gional de Medicina do

Estado do Rio de Janeiro

(Cremerj), Márcia Rosa

Araújo, e a ANS, por seu

diretor presidente, Maurí-

cio Ceschin.

Em audiência pública, senadores defendem que médicos, operadoras e ANS resolvam demanda por reajuste

Saúde suplementar

CAS apoia aumento nos honorários

A proposta de criação

de um Conselho Nacio-

nal de Saúde Suplementar

vem sendo monitorada

pelo Conselho Federal

de Medicina (CFM), por

meio de sua Comissão

de Saúde Suplementar

(Comsu). A ideia é oriun-

da dos trabalhos da Sub-

comissão Especial Desti-

nada a Avaliar o Sistema

de Saúde Complementar,

vinculada à Comissão de

Seguridade Social e Famí-

lia (CSSF) da Câmara dos

Deputados.

No texto sob análise,

o relator da subcomis-

são, deputado Mandet-

ta (DEM-MS), propôs

a criação de um Conse-

lho Nacional de Saúde

Suplementar, com par-

ticipação dos segmen-

tos formadores do setor

(governo, prestadores de

serviço, profi ssionais de

saúde, operadoras) – es-

paço onde possam ser

mediados confl itos e pac-

tuados avanços.

O CFM quer contri-

buir para que esta comis-

são venha a ter um papel

importante e isento, tra-

zendo benefícios para a

saúde suplementar e, so-

bretudo, para a socieda-

de. Para tanto, quer ter o

balizamento dos estados

e promete acompanhar o

projeto com o senso críti-

co necessário.

De acordo com o rela-

tor da subcomissão, “o sis-

tema de saúde suplemen-

tar projeta um cenário de

extrema concentração de

poder fi nanceiro e barga-

nha por parte das grandes

operadoras”. O objetivo

do conselho nacional se-

ria, portanto, cumprir o

papel de uma mesa nacio-

nal de negociação onde

a mediação de confl itos

possa ser empreendida,

com competência para

defi nir diretrizes e contro-

lar a execução da política

no setor de saúde suple-

mentar – com as decisões

homologadas pela Direto-

ria Colegiada da ANS.

A proposta alteraria

as Leis 9.656/98 (sobre os

planos e seguros privados

de assistência à saúde) e

9.961/00 (que cria a Agên-

cia Nacional de Saúde

Suplementar), elaborando

a competência, a com-

posição e a organização

do Conselho Nacional de

Saúde Suplementar, um

órgão colegiado, integran-

te da estrutura regimental

do Ministério da Saúde,

de caráter permanente e

deliberativo.

Deputados propõem Conselho Nacional

O conselheiro federal

suplente no CFM e vice-

corregedor do Conselho Re-

gional de Medicina do Esta-

do de Pernambuco (Creme-

pe), André Longo Araújo de

Melo, teve seu nome aprova-

do para exercer o cargo de di-

retor da Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS).

A sabatina, no dia 30 de

novembro, foi feita pela Co-

missão de Assuntos Sociais

(CAS) do Senado Federal,

com arguição pública do

indicado e votação em

escrutínio secreto.

Para a apreciação no Se-

nado, o nome do conselheiro

foi encaminhado pela presi-

dente Dilma Rousseff, com

publicação no Diário Ofi cial

da União em 17 de novembro.

Saiba mais – Após a

sabatina, a escolha deve ser

também referendada pelo

plenário do Senado. Longo

deve ingressar na diretoria

colegiada da agência, com-

posta por até cinco diretores

com mandatos não coin-

cidentes de três anos, com

possibilidade de prorrogação

por mais três.

Conselheiro é indicado para diretoria da ANS

Cenário ruim: parlamentares mostraram-se solidários aos médicos

Agê

ncia

Sen

ado

A troca de experiências

com especialistas e o apri-

moramento do trabalho

das assessorias de impren-

sa das entidades médicas

foram o ponto alto do III

Encontro de Comunicação

das Entidades Médicas –

organizado pela Federação

Nacional dos Médicos (Fe-

nam) e Conselho Federal

de Medicina (CFM), com

o apoio do Sindicato dos

Médicos do Estado de San-

ta Catarina (Simesc). O

encontro aconteceu na pri-

meira semana de outubro,

em Florianópolis (SC).

Um dos temas deba-

tidos foi a importância

de maior integração das

entidades médicas nas

ações nacionais de comu-

nicação. Exemplos desse

tipo de parceria ocorreram

durante as mobilizações

nacionais este ano. Nes-

tas ações, as assessorias

de imprensa das três en-

tidades (CFM, Fenam e

Associação Médica Bra-

sileira) organizaram um

planejamento onde as ta-

refas foram divididas.

O resultado foi a am-

pla cobertura pela impren-

sa, inclusive nos veículos

nacionais de referência –

como os jornais O Globo,

Correio Braziliense, O

Estado de S. Paulo e Fo-

lha de S. Paulo; e os sites

R7, G1, Veja e Uol, além

de cobertura regional. Por

exemplo, a repercussão

das paralisações na saú-

de suplementar (em 7 de

abril e 21 de setembro)

geraram, juntas, cerca de

1.000 reportagens em 155

veículos de comunicação

das mídias impressa e

online. Nesta conta, não

aparecem as inserções em

rádio e TV.

A importância de si-

nergia no trabalho em co-

municação foi abordada

em vários momentos do

encontro. O presidente do

CFM, Roberto d’Avila,

apontou a necessidade

de as entidades juntarem

forças. O conselheiro

Desiré Carlos Callegari

(1º secretário do CFM e

diretor de Comunicação)

diz que a convergência

dos discursos deve pas-

sar por um entendimento

prévio. “As alianças de-

vem permitir o fortaleci-

mento das ações que são

comuns, respeitando a

individualidade de cada

entidade”, ressaltou.

Dirigentes defendem integração

Encontro de comunicação

Page 6: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

PLENÁRIO E COMISSÕES 6

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

O Brasil é um país marcado

pela desigualdade no que

se refere ao acesso à assistên-

cia médica. Uma conjunção de

fatores – como a ausência de

políticas públicas efetivas e in-

vestimentos insufi cientes – tem

contribuído para que a popu-

lação médica brasileira, apesar

de apresentar curva constante

de crescimento, permaneça mal

distribuída pelo território nacio-

nal (veja gráfi co abaixo), com

vinculação cada vez maior jun-

to aos serviços prestados por

planos de saúde e menos afeita

ao trabalho na rede do Sistema

Único de Saúde (SUS).

Estas são algumas das con-

clusões da pesquisa “Demo-

grafi a médica no Brasil: dados

gerais e descrições de desi-

gualdades” – uma parceria do

Conselho Federal de Medicina

(CFM) com o Conselho Regio-

nal de Medicina do Estado de

São Paulo (Cremesp). O estudo

– coordenado pelo pesquisador

Mario Scheffer – traça o perfi l

desse segmento e desnuda as

tendências que apontam dis-

torções que afetam todo o país.

“Numa nação onde são

anunciados avanços econômicos

e o combate à pobreza toma ares

de programa de governo, torna-

se imperioso que a saúde ocupe

o centro da cena. Para tanto, te-

mos reiterado a necessidade de

mais recursos e o estabelecimen-

to de políticas públicas justas para

o médico e todos os profi ssionais

da área”, ressalta o presidente do

CFM, Roberto Luiz d’Avila.

O trabalho inédito foi apre-

sentado na abertura do II Fórum

de Ensino Médico (dia 1º de de-

zembro – veja cobertura completa

na próxima edição) e responde

cientifi camente a questões-cha-

ve para o futuro da medicina no

Brasil. Disponível no site www.

cfm.org.br, será encaminhado a

lideranças do movimento médico,

parlamentares, gestores e espe-

cialistas em ensino. Também será

entregue aos ministros da Edu-

cação, Fernando Haddad, e da

Saúde, Alexandre Padilha.

“Tendo em vista o debate

atual sobre a necessidade de médi-

cos, nosso compromisso é produzir

um conhecimento sistemático,

objetivo e preciso sobre a demo-

grafi a médica brasileira. A publica-

ção coincide com o surgimento de

propostas do governo federal e do

Poder Legislativo para o enfrenta-

mento da escassez, provimento e

fi xação de médicos em áreas desas-

sistidas”, salientou o presidente do

Cremesp, Renato Azevedo Junior.

Levantamento do CFM/Cremesp pontua os principais desafi os para o trabalho médico no Brasil

Demografi a médica

Estudo confi rma assistência desigual

Atualmente, o Brasil conta

com uma razão de 1,95 médico

por grupo de 1.000 habitantes.

Contudo, esse índice fl utua nas

diferentes regiões. O Sudeste,

com 2,61 médicos por 1.000

habitantes, tem concentração

2,6 vezes maior que o Norte

(0,98). O resultado do Sul (2,03)

fi ca bem próximo do alcança-

do pelo Centro-Oeste (1,99).

Ambos têm quase o dobro da

concentração de médicos por

habitantes do Nordeste (1,19).

Quando se considera por

unidade da Federação, no topo

do ranking fi ca o Distrito Federal

(4,02 médicos por 1.000 habi-

tantes). Na outra ponta, estão

estados do Norte (Amapá e

Pará) e Nordeste (Maranhão)

com menos de um médico por

1.000 habitantes, índices com-

paráveis aos países africanos.

Postos de trabalho – O

levantamento elaborado pelos

conselhos de medicina propõe

o parâmetro “posto de trabalho

médico ocupado” como com-

plemento ao critério “médico

registrado”. Esta abordagem

tem como objetivo superar a

simples divisão da população

médica pela geral, passando

a considerar a realidade da

distribuição. Por este cálculo

proposto, a razão de médicos

disponíveis para o atendimen-

to da população é quase duas

vezes maior do que quando se

considera a razão de médicos

por habitantes.

O número de postos ocu-

pados por médicos em estabe-

lecimentos de saúde chega a

636.017, enquanto o país tem

371.788 profi ssionais registrados

nos CRMs. Assim, o número

de postos ocupados por médico

é de 3,33 por 1.000 habitantes.

As informações sobre postos

de trabalho médico ocupados

no Brasil compõem a base de

dados da pesquisa Assistência

Médico-Sanitária (AMS), do

IBGE, de caráter censitário.

O uso desse parâmetro

apresenta algumas diferenças

entre as unidades federativas

quando comparado com os

dados de médicos registra-

dos (veja mais na página 7).

Nas capitais, o fenômeno da

desigualdade se acirra ainda

mais: com relação aos postos

de trabalho ocupados, contam

com 5,89 postos por 1.000

habitantes, contra 3,33 no

conjunto do país.

Posto de trabalho deve ser considerado

CONFIRA OS DESTAQUES DA PESQUISA

Predominância de mulheres• Há tendência a uma maior presença de mulheres.

Em 2009, pela primeira vez, entraram no mercado mais mulheres que homens.

• Em 2011, dos 48.569 médicos com 29 anos ou menos, 53,31% são mulheres e 46,69% são homens.

• Nas faixas mais avançadas, o cenário permanece predominantemente masculino.

Médicos jovens• O grupo de médicos de até 39 anos representa

42,5% do total de profissionais na ativa.• A pirâmide etária do médico em atividade no

Brasil mostra uma grande concentração, tantode homens como mulheres, na base (24 a 40 anos).

Reserva crescente• O número de médicos que deixam a atividade

é inferior ao dos que ingressam. Essa diferença mantém a tendência de crescimento do grupo.

• O resultado será uma reserva de médicos crescente, especialmente nos centros mais procurados, o que pode acirrar as desigualdadesem termos de distribuição de profissionais.

Abertura de escolas• O país tem um total de 185 escolas médicas.

Nos últimos doze anos, foram criadas 87 novas escolas – 71,23% delas, privadas.

• Nessa última década, o número de médicos subiu 21,3%, e deverá crescer mais, porque pelo menos um terço das escolas abertas nesse período ainda não formaram suas turmas.

O estudo divulgado

mostra que, em outubro de

2011, os conselhos de medi-

cina registravam a existência

de 371.788 médicos em ati-

vidade no Brasil. O número

confi rma uma tendência de

crescimento exponencial da

categoria que já perdura há

40 anos. De 1970 – quando

havia 58.994 médicos – até

o momento, o número de

médicos teve um salto de

530%. O percentual é mais

que cinco vezes maior que o

do crescimento da popula-

ção, que em cinco décadas

aumentou 104,8%.

A perspectiva atual é de

manutenção dessa curva as-

cendente. Enquanto a taxa

de crescimento populacio-

nal reduz sua velocidade, a

abertura de escolas médicas

e de vagas em cursos exis-

tentes vive um novo boom.

A estimativa é de cerca de

16.800 novos profi ssionais

injetados anualmente no

mercado de trabalho a partir

de 2011.

De acordo com o estu-

do apresentado, de 1940 a

1970, enquanto a popula-

ção cresceu 126,2%, o nú-

mero de médicos passou de

20.745 para 58.994 (au-

mento de 184,4%). Nos 30

anos seguintes, o total de

médicos chegou a 291.926

(salto de 394,8%), contra

um crescimento populacio-

nal de 82,3%. Na última

década, o efetivo de mé-

dicos chegou a 364.757

(alta de 21,3%), enquanto

o aumento populacional foi

de 12,3%.

Brasil tem quase 400 mil médicos

Distribuição de médicos registrados por 1.000 habitantes, segundo grandes regiões – Brasil, 2011

Fonte: CFM; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011

Page 7: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

PLENÁRIO E COMISSÕES 7

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

Demografi a médica

Os usuários do Sistema

Único de Saúde (SUS)

contam com quatro vezes me-

nos médicos que os usuários

do setor privado para atender

suas necessidades de assistên-

cia. O cálculo levou em consi-

deração que o total de postos

de trabalho médico ocupados,

disponíveis para a clientela dos

planos de saúde, em números

absolutos, é 26% maior que o

número dos postos em estabe-

lecimentos públicos.

Quando se considera a di-

mensão da população que de-

pende exclusivamente do SUS

(3,25 vezes maior que a dos pla-

nos), constata-se que a clientela

da saúde privada conta com 3,9

vezes mais postos de trabalho

médico disponíveis que os usuá-

rios da rede pública.

Ao mapear postos de trabalho

ocupados por médicos nos esta-

belecimentos de saúde públicos e

privados, estamos diante de uma

demografi a médica ainda mais ex-

cludente que a verifi cada nas desi-

gualdades regionais. No conjunto

do país, são 46.634.678 usuários

de planos de saúde, segundo dados

de 2011 da Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS).

A pesquisa AMS-IBGE, por

sua vez, contou 354.536 postos

de trabalho médico em estabele-

cimentos privados que, em tese,

prestam serviços às operadoras

de planos de saúde. Isso signifi -

ca que para cada 1.000 usuários

de planos no país, há 7,60 pos-

tos de trabalho médico ocupa-

dos. Esse índice salta de 3,17 no

Amazonas – estado com pior

colocação – para entre 12 e 15

postos ocupados por 1.000 usu-

ários privados, em estados como

Sergipe, Piauí, Acre e Bahia, e no

Distrito Federal.

Setor público – Esse índi-

ce cai para 1,95 quando se faz a

razão entre postos ocupados nos

estabelecimentos públicos – que

são 281.481 – e a população que

depende exclusivamente do SUS

(144.098.016 habitantes). Para o

IBGE, são considerados postos

de trabalho com vínculos públicos

aqueles mantidos com estabele-

cimentos que recebem recursos

do governo, quer eles instituições

públicas, da administração direta

ou que prestam serviços ao SUS

– no caso de serviços particulares

e fi lantrópicos conveniados.

O quadro de penúria e de-

sigualdade é ainda maior em es-

tados como Maranhão e Pará,

que contam com menos de um

posto de trabalho médico ocupa-

do por 1.000 habitantes/SUS. Em

Roraima, a razão é de 2,13 pos-

tos ocupados por 1.000 usuários/

SUS. No Rio Grande do Norte

(1,89), Amazonas (1,88), Per-

nambuco e Paraíba (1,77) exis-

tem mais postos por habitantes

que em Santa Catarina (1,71),

Paraná (1,63) e Rio Grande

do Sul (1,57).

SUS conta com menos médicosPacientes da saúde privada contam com 3,9 vezes mais postos de trabalho médico ocupados que os da rede pública

A desigualdade na distribuição

dos postos de trabalho entre os

setores público e privado se acirra

nas capitais, onde a razão de posto

de trabalho médico ocupado em

estabelecimentos privados é de

7,81 por 1.000 habitantes usuários

de planos, mais que duas vezes o

índice encontrado entre médicos

e usuários do SUS (4,30 médicos

por 1.000 habitantes).

É no universo dos planos de

saúde, tanto nas capitais como

nos estados, que se observa as

maiores distorções na demografi a

médica. A razão da maior “densi-

dade médica privada” em estados

economicamente pobres pode ser

explicada pela presença frágil do

Estado. E pelos bolsões de riqueza

e concentração de renda (onde es-

tão os clientes de planos de saúde),

o que acentua a desigualdade na

distribuição de médicos.

Indicador IDPP – Para lidar

com as diferenças na oferta de

médicos entre usuários do SUS

e os clientes de planos de saúde,

o estudo do CFM desenvolveu o

Indicador de Desigualdade Públi-

co/Privado (IDPP). Trata-se da

razão entre posto de trabalho mé-

dico ocupado em estabelecimento

privado por 1.000 habitantes sobre

a razão posto de trabalho médico

ocupado em estabelecimento pú-

blico por 1.000 habitantes.

Quando o resultado for me-

nor que 1 signifi ca que há mais

postos de trabalho médico ocu-

pados no setor público propor-

cionalmente a seus usuários que

no segmento privado, em relação

a seus benefi ciários. Se for igual a

1 indica que a relação é a mesma.

Se o indicador for maior que 1

signifi ca que existem mais pos-

tos ocupados no setor privado,

sempre em relação à população

coberta (confi ra, abaixo, os esta-

dos com maior desigualdade).

Desnível público-privado se acentua nas capitais

Profi ssionais buscamsetor privado

A população médica

brasileira busca cada vez

mais atuar no setor privado

ao invés do serviço público.

A conclusão do levanta-

mento realizado pelos con-

selhos de medicina levou

em consideração dados de

três anos distintos – 2002,

2005 e 2009, – para os

quais há informações dis-

poníveis sobre postos de

trabalho médico ocupados

(série histórica da pesquisa

AMS-IBGE).

Nos anos selecionados,

o número de médicos em

geral cresceu 14,8%. Foi de

305.934 médicos, em 2002,

para 330.381, em 2005, e

359.254, em 2009. Mas ao

analisar, nos mesmos anos,

o crescimento dos postos de

trabalho médico ocupados,

observa-se uma evolução

diferenciada nos setores

público (72.156 postos a

mais) e privado (98.350

postos). A diferença a fa-

vor do privado é potencial-

mente maior, considerando

o tamanho das populações

cobertas pelo SUS e pelos

planos privados.

Além da distribuição

injusta de médicos, são

inúmeras as desigualdades

geradas por uma estru-

tura de fi nanciamento e

de oferta de serviços que

privilegia o privado no sis-

tema de saúde brasileiro.

Nos países com sistemas

de saúde universais con-

solidados, mais de 65%

dos gastos com saúde

são públicos, a exemplo

do Reino Unido (83,6%),

França (76,7%), Alema-

nha (75,7%), Espanha

(72,1%), Portugal (69,9%)

e Canadá (68,7%). No

Brasil, o total de gastos

públicos atinge apenas

45,7% do total destinado

à saúde, situação agrava-

da pelo subfi nanciamento

crônico e pela não regu-

lamentação da Emenda

Constitucional 29.

Postos de trabalho médico ocupados nos setores público e privado, segundo grandes regiões – Brasil, 2011

Indicador de desigualdade público/privado segundo as capitais - Brasil, 2011 (os seis maiores indicadores)

Fonte: IBGE (ANS)/AMS; Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011.

* Razão posto de trabalho médico ocupado em estabelecimento privados/habitante usuário de planos e seguros de saúde (1.000 habitantes);** Razão posto de trabalho médico ocupado em estabelecimento de saúde pública/habitante usuário do “SUS” (1.000 habitantes);*** Indicador de desigualdade público privado - Razão*/Razão**”

Fonte: Pesquisa Demografia Médica no Brasil, 2011.

Page 8: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

PLENÁRIO E COMISSÕES 8

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

O Superior Tribunal de

Justiça (STJ) reafi r-

mou sua jurisprudência no

sentido de não ser cabível

atribuir toda a responsabili-

dade solidária ao cirurgião-

chefe por tudo o que ocorre

na sala de cirurgia.

A decisão – relativa a

ação de indenização por da-

nos materiais e morais por

erro do anestesista durante

cirurgia plástica – afastou a

responsabilidade solidária do

cirurgião-chefe, “especial-

mente quando comprovado,

como no caso, que as com-

plicações foram motivadas

por erro exclusivo do anes-

tesista, em relação às quais

não competia ao cirurgião

intervir”.

Considerações – Mi-

guel Kfouri Neto, presidente

do Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná e autor

do livro Responsabilidade ci-

vil do médico, avalia que as

especialidades de cirurgia

plástica e anestesiologia de-

mandam especial atenção

quando o assunto é a res-

ponsabilidade civil do médi-

co. “Em ambas, a repercus-

são de eventuais insucessos

revela-se intensa”, explica,

salientando que há alguns

quadros de difícil análise,

pois as competências do ci-

rurgião e do anestesista se

interferem e se sobrepõem.

Em sua mais recente obra

Responsabilidade civil dos

hospitais, Kfouri esclarece

que, quando o anestesiolo-

gista atua em equipe, a di-

visão do trabalho é horizon-

tal, não há subordinação ou

sujeição hierárquica ao ci-

rurgião. Somente em casos

excepcionais poderá haver

responsabilidade solidária do

cirurgião-chefe por culpa do

anestesiologista. Exemplifi -

ca-se com a realização de ci-

rurgia sem que o anestesista

disponha de medicação ou

aparelho cuja falta exponha

o paciente a risco.

Embora existam regras

consideradas elementares a

serem seguidas a fi m de que

os profi ssionais possam pre-

servar sua responsabilidade

– cuja violação pressupõe

atos positivos de imperícia,

negligência, imprudência e

até torpeza –, haverá casos

em que a urgência da in-

tervenção e o concurso de

outras circunstâncias não

permitam a observância ri-

gorosa desses princípios.

“Só o exame do caso con-

creto indicará as conclusões

apropriadas”, avalia Kfouri.

STJ trata de responsabilidade civilHá quadros de difícil análise, pois as competências desses especialistas se interferem e se sobrepõem

Cirurgia plástica e anestesiologia

Giro médico

Antimicrobianos – Foi adiada a publicação do cronogra-

ma de escrituração eletrônica de medicamentos antimicro-

bianos pela Anvisa, previsto para ocorrer em 1º de novem-

bro. Permanece a obrigatoriedade de retenção da receita.

Mais informações: http://bit.ly/vtZMvb.

Residentes – A Associação Nacional dos Médicos Resi-

dentes (ANMR) está realizando um cadastro de médicos

residentes brasileiros. O objetivo da entidade é se aproxi-

mar de seus representados. Para participar, basta acessar

https://bitly.com/sZqgHw.

Confemel – A XIV Assembleia Geral Ordinária da Con-

federação Médica Latino-Americana e do Caribe (Confe-

mel), realizada de 21 a 25 de novembro, no Panamá, con-

tou com a presença do CFM e a participação de países

como Venezuela, Argentina, Peru, Panamá, Costa Rica,

Uruguai, Honduras e Guatemala.

Psiquiatria – O presidente do CFM, Roberto d’Avila, o 3º

vice-presidente, Emmanuel Fortes, e o conselheiro Rubens

dos Santos Silva participaram do XXIX Congresso Brasileiro

de Psiquiatria, ocorrido no período de 2 a 5 de novembro, no

Rio de Janeiro. Veja mais: http://bit.ly/uvNhVc.

Conduta antiética – O Conselho Regional de Medicina

do Estado de São Paulo (Cremesp) identifi cou 18 empresas

funerárias que atuam em 95 cidades comercializando cartões

de descontos em consultas médicas. O CFM considera a

conduta antiética. Foram notifi cados 575 médicos e 100 es-

tabelecimentos de saúde. Segundo o presidente do Cremesp,

Renato Azevedo Júnior, a ação educativa já surtiu efeito.

Assistência jurídica – O Conselho Regional de Medici-

na do Rio Grande do Norte e a OAB/RN assinaram con-

vênio que permitirá assistência jurídica integral aos médicos

que não apresentarem defesa prévia perante os processos

ético-profi ssionais. O convênio vai permitir a nomeação de

defensor dativo, com assistência totalmente gratuita.

O CFM ingressou

com ação civil pública

contra a Portaria 85/07

da Secretaria de Saúde

do Município de Fortale-

za (CE), que normatiza a

consulta de enfermagem,

admitindo que enfermeiros

realizem a prescrição de

medicamentos.

Para o Conselho Federal,

não há dúvidas de que a por-

taria “é ilegal, especialmente

porque amplia indevidamente

atribuições dos enfermeiros”

– os documentos que ratifi -

cam essa afi rmação podem

ser acessados em www.jfdf.

jus.br, inserindo o n° do pro-

cesso 566950820114013400.

Ainda de acordo com o

CFM, o objetivo da ação

é preservar e resguardar

a sociedade, impedindo

a prática de atos ilegais

(emissão de diagnóstico

de doenças, prescrição de

medicamentos e requisi-

ção de exames por pessoas

não habilitadas).

CFM quer impedir prescrição indevida

Defesa da medicina

A necessidade de eleição

do diretor clínico, pelo corpo

clínico, é um procedimento

legal e justo, referendado pelo

Poder Judiciário. A 1ª Vara

Federal de Sorocaba publicou

sentença em favor do corpo

clínico de hospital em Cer-

quilho, São Paulo, a esse res-

peito. Estava em discussão a

obrigatoriedade ou não de se

seguir a orientação do CFM

de eleição do diretor clínico

pelo corpo clínico da própria

instituição hospitalar.

Na sentença, o juízo fe-

deral de Sorocaba deixou

claro que o diretor clínico

tem por função a supervisão

da prática médica, a fim de

fazer cumprir os preceitos

éticos da profissão, sendo re-

presentante do corpo clínico,

e não da instituição. Deve

possuir autonomia para o de-

sempenho de sua função, o

que se mostra coerente com

a necessidade de eleição, na

medida em que a nomeação

pela diretoria, se verificada a

existência de conflito de in-

teresses entre esta e o corpo

clínico, macularia a impar-

cialidade necessária à repre-

sentação dos interesses da

classe médica.

Segundo o 3º vice-presi-

dente do CFM, conselheiro

Emmanuel Fortes, a decisão

reforça as diretrizes da enti-

dade para o assunto. O art. 4º

da Resolução CFM 1.342/91

determina que “o diretor clí-

nico será eleito pelo corpo

clínico, sendo-lhe assegurada

total autonomia no desempe-

nho de suas atribuições”. O

documento também lista as

atribuições do diretor clíni-

co, entre as quais está dirigir

e coordenar o corpo clínico

da instituição, supervisionar

a execução das atividades

de assistência médica e zelar

pelo cumprimento do regi-

mento interno.

Fortes explica que, de ma-

neira diferente, o diretor técni-

co, este sim, pode ser indicado

pela administração do hospital.

Entre suas atribuições estão

as de zelar pelo cumprimento

das disposições legais e regu-

lamentares, assegurar condi-

ções dignas de trabalho e os

meios indispensáveis à prática

médica, e garantir o pleno e

autônomo funcionamento das

comissões de ética médica.

Escolha para o cargo deve ser por eleição

Diretor clínico

Conduta: violação de regras elementares pressupõe culpa médica

Elz

a Fi

úza

- A

Br

Page 9: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

PLENÁRIO E COMISSÕES 9

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

9

Dos 677 inscritos no Revali-

da 2011, Exame Nacional de Re-

validação de Diplomas Médicos

Expedidos por Instituições de

Educação Superior Estrangeiras,

65 médicos poderão revalidar o

seu diploma no Brasil.

Este ano, o percentual dos

considerados aptos subiu para

12,13% dos que fi zeram as pro-

vas escritas (no ano passado,

quando foi aplicado o projeto-

piloto, eram apenas 0,71% dos

candidatos). “Esse resultado

está dentro de um parâmetro

razoavelmente compatível

com uma avaliação criteriosa

baseada em provas cognitivas,

de competências e habilidades,

resultante de esforços das enti-

dades médicas para a elaboração

desse projeto que hoje é lei”,

avalia o 1º vice-presidente do

CFM, Carlos Vital.

Sobre o amadurecimento

do processo de implantação do

Revalida no Brasil, o conselheiro

avalia, no entanto, que a propos-

ta “precisa ser revigorada com

a revisão da permissão ainda

oferecida a escolas médicas de

fazerem a revalidação dos di-

plomas de médicos formados

no exterior sem participação no

Revalida. Tal fato traz uma série

de difi culdades para que se tenha

segurança na avaliação desses

egressos de escolas fora do país”.

Entre os aprovados estão

31 brasileiros, seis colombia-

nos, seis argentinos e qua-

tro bolivianos, além de três

peruanos, três cubanos, três

equatorianos, três venezuela-

nos e dois nicaraguenses. Tam-

bém estão aptos a ingressar no

país candidatos da Alemanha,

Cabo Verde, França e Repú-

blica Dominicana (um de cada

país). O CFM continuará

acompanhando o desenvolvi-

mento do modelo proposto.

Ensino médico

O Conselho Federal de Me-

dicina (CFM) considera um

alerta as medidas cautelares que

suspenderam 514 vagas de 16

cursos de Medicina que tiveram

nota 1 ou 2 no Conceito Prelimi-

nar de Curso (CPC), do Ministé-

rio da Educação.

Para o CFM, o resultado do

CPC é consequência da abertura

indiscriminada de novos cursos de

Medicina em território nacional

(veja box ao lado). “Ao fazer este

alerta, ressaltamos que a situação

atual do ensino médico não condiz

com as preocupações humanitá-

rias e sociais pertinentes à saúde e

à medicina”, manifesta a entidade,

em nota aprovada no dia 18 de

novembro pela plenária e encami-

nhada ao Ministério da Educação.

Ainda de acordo com o Con-

selho Federal, o quadro descorti-

nado pelo conceito aponta a pre-

valência de interesses econômicos

e políticos sobre a preocupação

legítima com a qualidade da for-

mação de futuros médicos.

O documento, referendado

pelo corpo de conselheiros, con-

sidera oportuna a decisão de o

MEC supervisionar o ensino ofe-

recido por algumas escolas médi-

cas, o que implicará, de imediato,

no corte de 514 vagas em cur-

sos com notas ruins. “Por outro

lado, fi camos preocupados com

o anúncio do próprio MEC de

abertura de outras 320 vagas em

algumas escolas, o que, no míni-

mo, indica que alunos e professo-

res destas instituições terão que

dividir os parcos recursos que têm,

fragilizando ainda mais as condi-

ções de ensino”, manifesta a nota.

Desdobramentos – As insti-

tuições responderão a processo de

supervisão e terão prazo de doze

meses para cumprir o termo de

saneamento de defi ciências. A res-

tituição das vagas fi cará condicio-

nada à verifi cação do cumprimento

das medidas de supervisão. Caso

as exigências de qualidade não se-

jam atendidas, poderá ser aberto

processo administrativo para en-

cerramento da oferta dos cursos.

Exame comprova criseMais de 20 instituições tiraram notas baixas em conceito do MEC e nenhuma das avaliadas conseguiu atingir o nível máximo

Revalida

Coordenadores de cursos de

Medicina e reitores de institui-

ções de ensino superior recebe-

rão dos conselhos regionais de

medicina um ofício solicitando

que o setor responsável dessas

instituições passe a expedir os

novos diplomas com a expressão

“Diploma de médico”.

A iniciativa tem como obje-

tivo esclarecer recentes questio-

namentos quanto à regularidade

da denominação “Bacharel em

Medicina”, disposta em diplomas

expedidos por algumas faculda-

des e universidades de Medicina.

O documento, assinado pelo

presidente do CFM, Roberto

Luiz d’Avila, esclarece: “Apesar

de a Portaria 33/78 do MEC/

DAU não fazer nenhuma restri-

ção quanto à utilização do termo

‘bacharel’, acreditamos que o uso

do termo ‘diploma de médico’ é

uma forma de fazer prevalecer

a tradição e de evitar embates

jurídicos desnecessários”.

Diploma de médico

Uso do termo atende tradição

Resultados atingem parâmetrosUFPB adota processo após denúncia

A Universidade Federal

da Paraíba (UFPB) decidiu

adotar o processo Revalida

para convalidar os diplo-

mas de médicos formados

no exterior. A medida foi

tomada após denúncias do

Conselho Regional de Me-

dicina da Paraíba (CRM-

PB) ao Ministério Públi-

co Federal (MPF) sobre o

mecanismo de validação da

UFPB, considerado falho

para avaliar a qualifi cação

e a habilidade dos profi ssio-

nais formados em institui-

ções estrangeiras.

Com a decisão da

UFPB, a documentação

dos 563 médicos formados

no exterior e que se inscre-

veram para o processo de

revalidação da universidade

este ano será analisada e, a

seguir, será divulgada uma

relação dos convocados

para participar do exame

Revalida, o que para o pre-

sidente do CRM-PB, João

Medeiros, é uma forma

adequada de avaliar se os

médicos tiveram formação

de qualidade, com provas

escritas – objetivas e dis-

cursivas – e provas de habi-

lidades clínicas.

Segundo Medeiros, a

universidade havia ado-

tado, no ano passado,

apenas a equiparação da

grade curricular para re-

validação de diplomas.

“Aqueles que apresen-

tassem um currículo com

até 85% de equivalência

com a UFPB fi cavam dis-

pensados das outras eta-

pas. Mas acredito que

desta forma não é pos-

sível avaliar se o médi-

co teve uma boa forma-

ção, se passou por aulas

práticas, entre outras aferi-

ções”, avalia.

Ainda em seu enten-

dimento, após a adoção,

pela UFPB, do modelo

de equiparação da grade

curricular, o número de

inscritos neste processo

subiu consideravelmente,

em função da facilidade

do mecanismo. “Para se

ter uma ideia, este ano o

exame nacional Revalida

recebeu 677 inscrições em

todo o país. Destes, apenas

65 foram aprovados. Já

a UFPB teve 563 inscri-

tos”, comenta. (O texto é

do CRM-PB, com edição

do CFM).

Confira os principais números Número de universidades com corte de vagas por estado

Maranhão 1

Minas Gerais 8

Mato Grosso 1

Rio de Janeiro 1

Rondônia 2

São Paulo 1

Tocantins 1Fonte: Diário Oficial da União nº 220, de 17/11/11, Seção 1, Págs. 14 a 60

Notas dos cursos de medicina brasileiros

Cursos de excelência nenhum

Conceito 4 34 cursos

Conceito 3 (mínimo para funcionar)

83 cursos

Conceitos 2 ou 1 (insuficiente) 23 cursosFonte: Diário Oficial da União nº 220, de 17/11/11, Seção 1, Págs. 14 a 60

Escolas médicas criadas nos últimos anos (total no país: 185)

Ano Públicas Privadas Total Privados (%)

2000 3 2 5 40%

2001 4 4 8 50%

2002 4 6 10 60%

2003 1 7 8 87,50%

2004 2 11 13 84,62%

2005 0 10 10 100%

2006 0 6 6 100%

2007 3 9 12 75%

2008 0 2 2 100%

2009 3 0 3 0%

2010 4 1 5 20%

2011 1 5 6 83,33%

Total 25 63 88 71,59%Fonte: www.escolasmedicas.com.br (dados de novembro de 2011)

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PLENÁRIO E COMISSÕES 10

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

Os médicos estão preo-

cupados com os inú-

meros problemas que afetam

o exercício da medicina e a

qualidade da assistência. “A

Saúde da Família tem que

ser repensada. Precisamos

dar a resposta que a saúde

deste país precisa”, ressaltou

o coordenador da Câmara

Técnica de Medicina de Fa-

mília e Comunidade do Con-

selho Federal de Medicina

(CFM), Celso Murad (veja

entrevista completa abaixo).

O assunto foi tema de

debate durante o II Fórum

de Medicina de Família e

Comunidade do CFM e I

Encontro das Câmaras Téc-

nicas de Medicina de Família

e Comunidade. Os eventos

aconteceram simultanea-

mente no dia 25 de novem-

bro, em Brasília (DF).

O diretor do Departa-

mento de Atenção Bási-

ca do Ministério da Saúde

(DAB/MS), Hêider Pinto,

apresentou um conjunto de

estratégias políticas com o

“compromisso de ampliar a

saúde básica do país”. Ele

defendeu a importância de

ações de provimento e fi xa-

ção do médico. “Queremos

garantir o benefício destes

médicos e estimular as equi-

pes. Temos que empreender

todas as medidas possíveis

para garantir a qualidade da

assistência”, destacou.

O presidente da Fede-

ração Nacional dos Médi-

cos (Fenam), Cid Carva-

lhaes, cobrou a garantia de

efi ciência de acompanha-

mento deste pessoal com

treinamento adequado. “Pre-

cisamos de algo consistente.

Não deve haver precarização

do trabalho em nenhum mo-

mento”, defendeu.

O grupo salientou a

necessidade de ampliação

da residência médica, a im-

plantação de um Plano de

Cargos, Carreiras e Venci-

mentos (PCCV), a criação

da carreira de Estado, a ga-

rantia de educação médica

continuada e a extinção de

contratos precários.

Medicina de Família e Comunidade

Médicos traçam propostas para o setorDurante fórum em Brasília, lideranças e profi ssionais que atuam na atenção básica pediram o fi m da precarização

Políticas: participantes querem que especialidade seja valorizada

Num país continental, com enormes problemas na área da saúde, o investimento na prevenção é uma saída defendida pelo conselheiro Celso Murad, representante do Espírito Santo no CFM. Coordenador da Câmara Técnica de Saúde da Família e Comunidade, nesta entrevista ele revela sua aposta nesta estratégia, inclusive para a formação dos futuros médicos.

Jornal Medicina – É impor-tante fortalecer a Estratégia Saúde da Família?Celso Murad – Considero fundamental. Em termos de atenção básica, ela tem uma abrangência muito impor-tante por fazer a interme-diação entre as necessidades da comunidade assistida e a atenção hospitalar. Na mi-nha opinião, é um dos pro-gramas mais importantes da assistência à saúde no país.

JM – E quais são os princi-pais problemas que afetam essa prática?CM – Um dos que mais

chama a atenção é o fato de que, em inúmeros mu-nicípios, as equipes de Saúde da Família estão incompletas e os contratos de trabalho, por serem pre-cários, não as fi delizam às comunidades, tornando-as transitórias, muitas vezes dependentes dos interesses políticos locais. Em alguns estados e municípios, o in-gresso para as equipes já ocorre por meio de concur-so, o que tem gerado bons resultados. Outro proble-ma é a ausência de um plano de carreira para as equipes. É necessário ofe-

recer aos profi ssionais que apostam nesta estratégia condições de enxergar seu horizonte de vida. Sem isso, o médico, o enfermei-ro, o dentista permanecem sem perspectivas de futuro e, ao receberem proposta melhor, deixam seus pos-tos.

JM – Qual é o papel do médico dentro da ESF?CM – Não vejo como uma equipe de Saúde da Fa-mília possa existir sem o médico. É ele que dará as diretrizes científi ca e téc-nica para o tipo de assis-tência oferecida; decidirá sobre os encaminhamen-tos necessários, para onde e como os pacientes serão referenciados para servi-ços de maior complexida-de; defi nirá as prioridades em saúde na comunidade.

Ele não é melhor ou pior; é apenas o profi ssional mais qualifi cado tecnica-mente para exercer esse papel.

JM – E essa posição preci-sa ser fortalecida?CM – Em alguns casos, o espaço não tem sido res-peitado. Há equipes que atuam sem a presença do médico. Isso é uma dis-torção, onde quem perde é a sociedade. Mas o que reconforta é que essas si-tuações acontecem em número cada vez menor, pois já existe a conscien-tização do gestor público com relação à formação das equipes.

JM – O que a aposta no Saúde da Família, na atenção básica, traz para os jovens médicos?

CM – A ESF ensina – de maneira muito mais rá-pida – o recém-formado a ser médico de fato, a ter exata noção do pa-pel social cumprido pela Medicina. Eles também aprendem o valor da in-teração com outras equi-pes e outros profi ssionais dentro de sua própria equipe. Isso signifi ca con-viver com ideias diferen-tes, experiências diferen-tes, técnicas diferentes. Além disso, conhecerão pacientes. Neste conta-to, descobrirão culturas diferentes, costumes di-ferentes, formas de agir diferentes. Tudo isso os fará tirar benefício dessa relação entre desiguais para chegar a resulta-dos iguais, reconhecen-do nos assistidos sujeitos de direitos.

“Não vejo como uma equipe de Saúde da Família possa existir sem o médico”

Entrevista Celso Murad

PRÓXIMOS EVENTOS NO JORNAL

Divulgação de assuntos médicos, ensino e fiscalização são temas de eventos realizados pelo CFM no final de novem-bro e início de dezembro. No dia 30 de novembro, o Conselho promove o Fórum da Codame, para discutir temas como es-tratégias de divulgação de assuntos médicos.

No mês de dezembro, estão previstos os fóruns de Ensino Médico, nos dias 1 e 2, e o de Fiscalização, no dia 14. Confira na próxima edição do jornal MedicinaMedicina a cobertura completa.

As consequências da fal-

ta de exigência do título de

especialista na Estratégia de

Medicina de Família foram

levantadas pelo diretor de ti-

tulação da Sociedade Brasi-

leira de Medicina de Família

e Comunidade (SBMFC),

Emílio Rosetti. “Há prejuízo

considerável para o paciente:

médicos menos preparados”.

Do total de vagas em

residência médica no país,

somente 7% são para a

Medicina de Família e Co-

munidade. Este percentual

é considerado, pelo diretor

de graduação da SBMFC,

Thiago Trindade, um proble-

ma a ser encarado: “Nossos

desafi os são expandir, ocupar

e qualifi car as residências”.

O coordenador do De-

partamento de Educação

Permanente da SBMFC, Eno

Castro, destacou o papel das

teleconsultorias e apresentou

uma pesquisa que revela: de

um universo de 226 médicos,

71% as utilizaram como meio

para diagnóstico. Destes, 84%

consideraram que resolveram a

questão e evitou-se referência

em 44% dos casos.

Especialização é essencial

Page 11: Demografi a médica Estudo mostra desigualdade no país · cursos de medicina enquanto não forem regularizados os existentes. Exigimos a criação de novas vagas de residência

JORNAL MEDICINA - NOV/2011

11ÉTICA MÉDICA

“Não há que existir incom-

patibilidades entre a fé e a

razão, entre a crença e o co-

nhecimento científi co no ensino,

nem no exercício da profi ssão

médica, desde que respeitados

os princípios básicos irrefutáveis

da boa prática médica”. Esta é

a recomendação do Conselho

Federal de Medicina (CFM) –

expressa no Parecer 2/11 – quan-

do o assunto é a religiosidade

dos médicos.

O conselheiro federal Júlio

Rufi no Torres, relator do docu-

mento, destaca que o CFM é

uma entidade laica, mas que, na

perspectiva dos direitos huma-

nos, reconhece a espiritualidade

como direito cultural garantido.

Torres alerta que é fundamental

adotar sempre práticas pruden-

tes e reconhecidas: “Conside-

rando-se que a medicina apoia-

se em parâmetros científi cos,

é importante delinear os limi-

tes do reconhecimento desses

fatores subjetivos e se ater ao

conhecimento comprovado”,

recomenda.

Novas interfaces – A re-

ligiosidade assume papel impor-

tante para a maioria dos médicos

brasileiros. O livro O médico e o

seu trabalho, publicado em 2004

pelo CFM, aponta que, entre os

valores humanos que guiam a

vida dos médicos que atuam no

Brasil, a religiosidade foi consi-

derada “extremamente impor-

tante”, “muito importante” ou

“mais ou menos importante”

por 82,6% dos 8.980 entrevis-

tados. Apenas para 17,4% deles

a religiosidade aparece como

“pouco importante”, “não im-

portante” ou “decididamente

não importante”.

“A tendência da medicina

hoje é olhar o ser na sua integra-

lidade, com o reconhecimento

de que ele não é só razão; é

emoção, convicção e a dimen-

são da espiritualidade assume

importante papel nesse cenário”,

avalia Márcio Fabri, doutor em

Teologia pela Pontifícia Uni-

versidade Gregoriana (Roma)

e vice-presidente da Sociedade

Brasileira de Bioética.

Entendimento – O

Conselho Regional de Medi-

cina do Estado de São Paulo

(Cremesp) também publicou

um parecer – 80.135/10 – sobre

o tema, uma produção coleti-

va multidisciplinar da entidade,

elaborada pela Câmara Técnica

de Bioética.

O relator do documento,

conselheiro Reinaldo Ayer de

Oliveira, cita a bioeticista Elma

Zoboli, segundo a qual a relação

médico-paciente pressupõe “dois

iguais em situações distintas, que

em um encontro intersubjetivo

têm a corresponsabilidade de

construir o cuidado, trocando

fatos, emoções, sentimentos,

crenças, enfi m, muito mais que

apenas os dados dos sinais, sin-

tomas e resultados de exames”.

“Temos discutido no âmbi-

to da medicina – ou da saúde,

mais amplamente – questões

relacionadas ao envolvimento

entre paciente e médico nessa

ambiência de espiritualidade.

Acreditamos que esse envol-

vimento tem trazido resultados

positivos no sentido de uma me-

lhoria nessa relação, não só do

ponto de vista do tratamento

como, fundamentalmente, no

caráter humanitário”, explica

Oliveira, destacando que nesse

percurso o profi ssional precisa

estar atento para “não ser in-

vasivo à autonomia do paciente

sobre suas convicções e para

evitar uma doutrinação”.

NA FASE TERMINAL, VONTADE DO PACIENTE SERÁ CONSIDERADA

Os dilemas éticos que surgem nas decisões no final da vida são complexos, carregados de emo-ções para familiares e profissio-nais de saúde e merecem desta-ques nos capítulos de discussões bioéticas em todo o mundo. Aceitar a morte como processo natural da vida, por mais difícil seja, pode evitar dores ainda maiores. “Na fase terminal de enfermidades graves e incurá-veis é permitido ao médico limi-tar ou suspender procedimentos

e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência integral, res-peitada a vontade do paciente ou de seu representante legal”. Este texto pertence à Resolução CFM 1.805/06, que permite a prática da ortotanásia.O Conselho ainda estuda uma resolução sobre testamento vital, o que contemplaria as diretivas

antecipadas da vontade. Este instrumento, existente em países como Espanha e Holanda, permi-te ao paciente deixar registrado, por exemplo, que em caso de agravamento de seu quadro de saúde não quer ser mantido vivo com a ajuda de aparelhos, nem ser submetido a procedimentos invasivos ou dolorosos. “Pensa-mos que em poucos anos o país estará evoluindo para o respeito integral à vontade do paciente”, concluiu d’Avila.

Direitos humanos: CFM reconhece a espiritualidade como direito cultural

Medicina busca novas interfacesNo entendimento do CFM, fé e razão não confl itam, desde que observados os princípios éticos e da prática médica

Religiosidade

O Código de Ética Médi-

ca, revisado em 2009, reafi r-

ma alguns consensos: é dever

do médico fornecer as infor-

mações necessárias à toma-

da de decisão pelos pacientes

e respeitar sua vontade.

O presidente do CFM,

Roberto d’Avila, defende o

exercício pleno da autono-

mia. “Precisamos de uma

análise profunda e sem pre-

conceitos”, entretanto, se-

gundo ele, quando há a ris-

co de vida o médico precisa

intervir. “Depois de esgota-

das todas as possibilidades

de tratamento, o médico

precisa optar pela vida do

seu paciente. É uma condu-

ta moral necessária”.

Um dos casos mais ex-

pressivos é a recusa de alguns

procedimentos pelas Teste-

munhas de Jeová. O assunto

foi ponto de discussão duran-

te o II Congresso Brasileiro

de Direito Médico do CFM,

realizado em agosto.

Na ocasião, o presiden-

te do Conselho Executivo

da Associação de Juízes

para a Democracia (AJD),

José Henrique Torres, in-

formou que se o médico

optar por não fazer a trans-

fusão respeitando a vonta-

de do paciente e ele morrer,

o profi ssional não respon-

derá por homicídio “porque

ele não tem o dever de fa-

zer a transfusão”.

Contudo, explicou que,

em paralelo, se o médico o

fi zer para salvar a vida do

paciente também não res-

ponderá por crime. “Seria

um constrangimento legal,

mas o próprio dispositi-

vo do Código Penal traz

a ressalva de que se for

eminente o risco de vida

a intervenção médica não

é criminosa”.

Intervenção médica pode ser um dilema

Ricardo de Albuquerque

Paiva foi um dos agracia-

dos 2011 no Prêmio Per-

sonalidade Profi ssional da

Confederação Nacional

dos Trabalhadores Liberais

Universitários Regulamen-

tados (CNTU). O Con-

selho Federal de Medicina

(CFM), representado pelo 1º

vice-presidente, Carlos Vital,

participou da solenidade de

entrega, em 18 de novembro,

no auditório do Sindicato dos

Engenheiros do Estado de

São Paulo (SEESP).

Em sua primeira edição, a

premiação agraciou sete per-

sonalidades de destaque nas

áreas abrangidas pela CNTU

– economia, engenharia, far-

mácia, medicina, nutrição e

odontologia –, bem como o

profi ssional da excelência na

gestão pública. Paiva foi agra-

ciado na categoria medicina.

A premiação aconteceu

durante o I Encontro Nacio-

nal da CNTU, que discutiu

a relação da classe média

com o desenvolvimento eco-

nômico e com a democracia

brasileira. Também foi dis-

cutida e aprovada a Carta

de São Paulo e o Manifesto

da CNTU. No manifesto, as

lideranças sindicais de todo o

país apresentaram o ideário

do CNTU e suas propostas

em favor do alargamento do

desenvolvimento econômico,

social e político do país e de

melhoria da qualidade de

vida para os brasileiros.

Perfi l – Ricardo Paiva

nasceu em Fortaleza, no

Ceará, em 21 de maio de

1953. Formado pela Facul-

dade de Ciências Médicas da

Universidade de Pernambuco

(UPE), em 1979, com resi-

dência e especialização em

clínica médica e cardiologia,

Paiva se destacou, no início

da carreira, em atividades

institucionais como presiden-

te e integrante da diretoria de

diversas entidades médicas

consagradas – pernambu-

canas e nacionais. Desen-

volveu, ainda, atividades

voltadas ao bem-estar social

com o uso da arte e da cria-

tividade para empreender

transformações e superar

conjunturas desfavoráveis.

Ricardo Paiva é homenageado

Personalidade profi ssional

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JORNAL MEDICINA - NOV/2011

ÉTICA MÉDICA12

Duas novas publicações

do Conselho Federal

de Medicina estarão dispo-

níveis aos médicos a partir

de dezembro: o Manual

de orientações básicas para

prescrição médica, reedição

da obra lançada pelo Con-

selho Regional de Medici-

na do Estado da Paraíba

(CRM-PB) em 2009; e o

Manual de atendimento às

crianças e adolescentes ví-

timas de violência, editado

pela Sociedade de Pediatria

de São Paulo (SPSP).

O manual destinado

aos prescritores foi pro-

duzido pelos conselhei-

ros do regional paraiba-

no Célia Dias Madruga

e Eurípedes Mendonça

de Souza. A edição está

em harmonia com orien-

tações do Código de

Ética Médica e com

recentes resoluções da

Agência Nacional de Vigi-

lância Sanitária (Anvisa).

Indica, por exemplo, etapas

para terapêutica efetiva e

modelos de receita médica.

O Manual de atendimen-

to às crianças e adolescentes

vítimas de violência, obra

coordenada por Renata

Dejtiar Waksman e Má-

rio Hirschheimer, aborda a

negligência e a omissão do

cuidar, a síndrome de Mun-

chausen por transferência,

o roteiro de atendimento e

notifi cação dos casos, além

de aspectos éticos e legais

do atendimento às vítimas.

De acordo com o pr

sidente da SPSP, Clóvis

Constantino, o manual de

atendimento visa suprir

lacuna existente nos cur-

sos de medicina. “Tanto

as escolas médicas como

os serviços de residência

em pediatria não ofere-

cem, de modo geral, uma

formação adequada ao

tema”, aponta.

Os manuais serão en-

viados aos conselhos de

medicina e entidades mé-

dicas. O CFM também

os disponibiliza em seu

portal (www.cfm.org.br).

O interessado deve aces-

sar o menu “Comunica-

ção”, clicar em “Bibliote-

ca” e selecionar a opção

“Livros on-line”.

Publicações do CFM

Manuais orientam atividade médica

Sessenta e sete anos de

dedicação intensa à medi-

cina em atividades huma-

nitárias, científicas, do-

centes, sindicais; confiança

no ensino que o estimulou

a formar nada menos que

8.400 médicos. Este é

Antônio Jesuíno dos San-

tos Netto, que imprimiu a

sua marca como uma das

maiores expressões da me-

dicina baiana.

Nos deixou no dia 1º

de setembro último, em

vias de completar 91 anos.

Conservava uma persona-

lidade ativa, propensa a

questionar e com ousadia

para reivindicar a reno-

vação, quando esta fosse

necessária para obter me-

lhorias para a categoria e a

sociedade.

Este médico e profes-

sor, que recebe a nossa

homenagem por meio desta

seção, foi conselheiro do

Conselho Regional de Me-

dicina do Estado da Bahia

(Cremeb) por mais de 10

anos e membro – ativo,

como ele mesmo gostava

de frisar – de mais de 30

entidades das áreas de

saúde, educação, bioética,

sindicalismo, direitos hu-

manos etc.

Defendia a formação

de qualidade para médicos

e lutava contra o comércio

do ensino da medicina e

contra a abertura de cursos

norteados pelo lucro e sem

infraestrutura.

“Ao invés de abrir no-

vas escolas, nós devíamos

tomar a atitude de fechar

algumas, as chamadas

‘fabriquetas’ em nosso

jargão, fábricas de diplo-

mas”, declarou à revista

Luta Médica, do Sindicato

dos Médicos do Estado da

Bahia, em 2006. Naquele

ano, já era perceptível o

processo desproporcional

de multiplicação de escolas

médicas assistido na última

década – foram criadas, no

país, 80 novas escolas en-

tre 2000 e 2010; 60 des-

tas já estavam instaladas

em 2006.

As atividades institu-

cionais eram vistas como

desafiadoras. Revelava

simpatia ao provérbio “a

união faz a força” ao con-

clamar os colegas a aderi-

rem às lutas da categoria.

Sobre a sua atuação – e

missão – como conselhei-

ro, que envolvia promover

juízos e julgamentos, afir-

mou que “o ato de julgar

é duro”, especialmente

considerando que a “pre-

cariedade das condições de

trabalho muitas vezes está

subjacente ao chamado

erro médico”.

A Academia de Letras

da Bahia também mani-

festou pesar por sua per-

da. Consuelo Pondé de

Sena, que ocupa a cadeira

n° 28 desde 2002, decla-

rou: “Não consigo enten-

der como dr. Jesuíno se

multiplicava por mil e um

afazeres e sempre manti-

nha o ânimo para incur-

sionar em outras esferas.

Bom humor e simpatia

eram as marcas da sua

personalidade”.

Sena menciona as

várias atividades de

Jesuíno – na Santa Casa

de Misericórdia da Bahia,

no Hospital Santa Izabel

e na Escola Bahiana de

Medicina e Saúde Públi-

ca, além da Universida-

de Católica de Salvador

–, lembrando que ele foi

sempre muito ativo em re-

lação ao Cremeb, dele re-

cebendo o título de “Alto

Mérito - Grande Honra

ao Médico”.

A acadêmica ressalta

que o falecimento do mé-

dico causou comoção em

todo o Estado da Bahia e

classifica-o como um ami-

go presente e dedicado:

“Sabia ser estimado por

todos que o conheciam.

Era simples e correto a

toda prova e seu rosto

sereno transmitia a gran-

deza do seu caráter” – ra-

tificando a marca por ele

deixada na comunidade

médica baiana e brasileira

com sua atitude congre-

gadora e humanitária pe-

rante a vida e a profissão.

Personagem médico

Atendimento às crianças e adolescentes vítimas de violência e prescrição médica são temas de novos livros

“Sabia ser estimado por todos que o conheciam”

Jesuíno: se multiplicava por mil e um afazeres e sempre mantinha o ânimo

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om C

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Chico Passeata – O artigo publicado na seção Personagem Médico do jornal MedicinaMedicina 199, em homenagem ao médico, líder e poeta Chico Passeata, foi transcrito nos Anais da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. O requerimento para o registro foi feito pelo deputado estadual Fernando Hugo (PSDB-CE).

Atendimento às crianças: obra será importante instrumento para médicos

Atendimento às crianças: obra será importante instrumento para médicos