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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS – DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS _____________________________________________________________ ANDREI OLAK ALVES EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E TENDÊNCIAS A METROPOLIZAÇÃO Londrina 2005

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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS – DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

_____________________________________________________________

ANDREI OLAK ALVES

EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E TENDÊNCIAS A

METROPOLIZAÇÃO

Londrina 2005

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ANDREI OLAK ALVES

EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E TENDÊNCIAS A METROPOLIZAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientadora: Profa. Dra. Mirian Vizintim

Fernandes Barros

__________________________________________________________________

Londrina 2005

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ANDREI OLAK ALVES

EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E TENDÊNCIAS A METROPOLIZAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado, em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Dra. Mirian Vizintim Fernandes Barros Universidade Estadual de Londrina

________________________________________ Profa. Dra. Yoshiya Nakagawara Ferreira

Universidade Estadual de Londrina

________________________________________ Profa. Dra. Rosely Sampaio Archela Universidade Estadual de Londrina

Londrina,____ de dezembro de 2005

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i

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer

outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.”

1 Coríntios 10:31

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ii

AGRADECIMENTOS

• Ao Rei dos reis, Senhor dos senhores; ao único Deus todo poderoso; Àquele que deu a

Sua vida por amor de mim; ao seu Santo Espírito; Àquele a quem dedico todo meu

amor e meu ser; seja dada honra, glória e louvor para todo sempre. Amém!

• Aos meus pais e a toda minha família. Pelas orações, ensinos, apoio e dedicação em

minha vida espiritual e material. Amo vocês!

• A profa. amiga Dra. Rosely Sampaio Archela, que me ofereceu a primeira confiança

dentro do Departamento de Geociências, indicando-me como bolsista de

Geoprocessamento. A profa. amiga Dra. Mirian Vizintim Fernandes Barros, pelo

companheirismo e confiança dada a minha pessoa concedendo a bolsa do CNPq por 2

anos e pelas orientações. Ao prof. amigo Dr. Omar Neto Fernandes Barros, pelas

orientações junto à profa. Miran. A profa. amiga Dra. Yoshiya Nakagawara Ferreira,

pelo apoio e confiança com bolsa neste curso de Bacharelado. Ao prof. amigo Ms.

Osvaldo Coelho Pereira Neto, pela amizade e confiança concedida neste ano de 2005.

Sou grato a todos vocês! Jamais serão esquecidos!

• A todos os parentes, irmãos em Cristo e amigos, presentes nas horas de dificuldades e

de alegrias.

• A todas as pessoas que contribuíram para meu aprendizado pessoal e acadêmico.

• A todos os colegas do curso de Geografia, turma de 2004, e do Departamento de

Geociências da Universidade Estadual de Londrina.

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ALVES, Andrei Olak. Expansão urbana de Londrina e tendências a metropolização.

2005. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia) – Universidade Estadual

de Londrina, Londrina.

RESUMO

Este trabalho tem como intuito analisar o crescimento e a expansão urbana da cidade de

Londrina-PR, na busca de indicar tendências à sua metropolização. Os dados para a realização

da pesquisa foram obtidos junto ao banco de dados do Grupo IMAP&P (Imagem, Paisagem e

Personagens), do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, e de

fontes e bibliografias diversas relacionadas ao tema. A cidade de Londrina teve sua gênese em

1929 e sua emancipação em 1934. Sua expansão urbana foi rápida e dinâmica, e já no início

da década de 1940 os limites de sua planta original foram superados. Em 6 décadas, a cidade

programada para 20 mil habitantes atingiu mais de 400 mil e, atualmente, sua população

chega a quase 500 mil. Isso significa um rápido crescimento em todos os setores, desde infra-

estrutura básica até a introdução de institutos de tecnologia de ponta, além do surgimento de

problemas sociais e ambientais. Desta forma, Londrina tornou-se uma capital regional,

atendendo com sua infra-estrutura, comércio e serviços, as diversas cidades de seu entorno, o

que lhe rendeu uma Lei estadual específica instituindo a Região Metropolitana de Londrina

(RML), que atualmente possui mais de 700 mil habitantes. Dentre os diversos fatores que

tendem a concretização de Londrina como metrópole estão o crescimento da infra-estrutura,

os projetos de expansão e de busca de novos investimentos e a tendência de formação de um

pólo de ciência e tecnologia, com a existência de diversas unidades de pesquisa e de ensino

superior. De fato, o surgimento destas novas tendências direciona-a a uma busca por novos

planejamentos com o objetivo de um desenvolvimento sustentável, dando a sua população a

melhoria na qualidade ambiental e de vida.

Palavras-chave: Londrina-PR; Crescimento Urbano; Tendências de Desenvolvimento;

Metropolização.

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iv

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES................................................................................................ 1

LISTA DE TABELAS......................................................................................................... 2

LISTA DE GRÁFICOS....................................................................................................... 3

INTRODUÇÃO................................................................................................................... 4

1.URBANIZAÇÃO E METROPOLIZAÇÃO: BASES TEÓRICAS................................. 5

1.1. Urbanização mundial e brasileira: o surgimento das metrópoles............................. 6

1.2. As metrópoles brasileiras na legislação................................................................... 10

2. ORIGEM E EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E SURGIMENTO DE SUA

REGIÃO METROPOLITANA............................................................................................

13

2.1. Londrina: origem e crescimento.............................................................................. 13

2.2. Características da expansão urbana de Londrina..................................................... 17

2.3. Uso do solo de Londrina.......................................................................................... 24

2.4. População, renda e escolaridade.............................................................................. 27

2.5. Principais eixos........................................................................................................ 34

2.6. Surgimento da Região Metropolitana...................................................................... 36

3. TENDÊNCIAS À METROPOLIZAÇÃO....................................................................... 42

3.1. Alguns fatores de abrangência regional................................................................... 42

3.1.1. Transportes e vias de acesso da RML............................................................ 43

3.1.2. Educação e Ensino Superior.......................................................................... 47

3.1.3. Saúde pública e privada................................................................................. 49

3.1.4. Ciência, tecnologia e inovação....................................................................... 50

3.1.5. Economia: Indústria, comércio e serviços..................................................... 51

3.1.6. Alguns problemas ambientais decorrentes do processo de metropolização

de Londrina....................................................................................................

55

3.2. Tendências a metropolização................................................................................... 57

CONSIDERAÇÕES............................................................................................................. 64

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 66

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Planta Original da Cidade de Londrina, projetada em 1932........................... 15

Figura 2 – Expansão de Londrina por Loteamento até 2000........................................... 18

Figura 3 – Limite de Área Construída de Londrina até 1987 e ampliação dos Limites

de 1993, 2001 e 2003......................................................................................

22

Figura 4 – Mapa de Uso do Solo de 2000, da Área Urbana de Londrina........................ 26

Figura 5 – Espacialização da População de Londrina por Setor Censitário do IBGE..... 28

Figura 6 – Pessoas Responsáveis por Domicílios Particulares Permanentes com

Rendimento de até 3 Salários Mínimos em %................................................

29

Figura 7 – Rendimento Mensal Acumulado de Londrina e Pessoas Responsáveis por

Domicílios Particulares Permanentes com Rendimento acima de 20

Salários Mínimos em %..................................................................................

29

Figura 8 – Espacialização das Escolas Estaduais de Londrina........................................ 31

Figura 9 – Espacialização das Escolas Municipais de Londrina...................................... 31

Figura 10 – Espacialização das Escolas Particulares de Londrina..................................... 32

Figura 11 – Porcentagem de Analfabetos em Londrina..................................................... 32

Figura 12 – Representação de Londrina através do Imaginário de Alguns Entrevistados. 34

Figura 13 – Áreas de maior Índice de Poluição Visual em Londrina................................ 35

Figura 14 – Região Metropolitana de Londrina................................................................. 38

Figura 15 – Principais Rodovias de acesso de Londrina à Região Metropolitana............. 44

Figura 16 – Principais Vias Internas de Londrina.............................................................. 45

Figura 17 – Influência de Londrina pelo Transporte Coletivo através da “Viação Garcia

S/A”...............................................................................................................

46

Figura 18 – Número de Pessoas com Nível Fundamental para cada Pessoa de Nível

Superior, distribuídas por Setor Censitário do IBGE.....................................

48

Figura 19 – Degradação do Ambiente Urbano em Londrina............................................. 56

Figura 20 – Organização Urbana de Londrina................................................................... 57

Figura 21 – Local de Implantação do Anel do Emprego................................................... 59

Figura 22 – Exemplo de Flexibilização de Zoneamento.................................................... 60

Figura 23 – Exemplo de Estrutura Macroviária................................................................. 61

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Expansão Urbana de Londrina através de Loteamentos, por Décadas........... 20

Tabela 2 – Área Construída em Km²................................................................................ 21

Tabela 3 – Tipos de Uso do Solo da Área Construída de Londrina em 2000.................. 27

Tabela 4 – População Residente segundo os Municípios da Região Metropolitana de

Londrina - 1970 a 1980..................................................................................

39

Tabela 5 – População Residente segundo os Municípios da Região Metropolitana de

Londrina – 1991 a 2000..................................................................................

39

Tabela 6 – Hospitais de Londrina – 2002........................................................................ 49

.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Representação da Expansão Urbana de Londrina através de Loteamentos,

por Décadas.................................................................................................

20

Gráfico 2 – Representação de aumento da Área Construída em Km²............................. 21

Gráfico 3 – Crescimento Populacional da RML.............................................................. 40

Gráfico 4 – Aumento da População Urbana e Redução da População Rural da RML.... 40

Gráfico 5 – Representação do Número de Indústrias Instaladas em Londrina entre o

período de 1980 e 2004................................................................................

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INTRODUÇÃO

As grandes cidades conhecidas mundialmente têm características próprias de

desenvolvimento. Essas megacidades, que podem ser consideradas como centros industriais

ou tecnológicos, ou centros de produção de serviços, ou também centros de comércio ou de

produção turística e cultural, são chamadas metrópoles. Apesar da existência dessas imensas

cidades no decorrer de toda história da humanidade, as metrópoles atuais começaram a surgir

no contexto histórico do desenvolvimento do sistema capitalista, na medida em que ocorreu o

avanço da revolução industrial e a aglomeração de populações em um único espaço com

objetivo estritamente específico: a produção em larga escala e a extração da mais valia.

As metrópoles brasileiras tiveram seu crescimento no decorrer do processo

histórico do país e também acabaram por concentrar características econômicas, sociais e

culturais de grande abrangência nacional e até mesmo internacional; entretanto, o

reconhecimento oficial metropolitano se deu apenas na década de 1960, com a elaboração de

lei específica.

Em uma fase mais recente da urbanização brasileira, a partir do século XX,

começaram a surgir novas cidades pequenas e médias, destinadas a acolher não somente a

população brasileira, mas aos imigrantes que trabalhavam em busca de uma porção de terra.

Várias foram às companhias internacionais que trabalharam com a venda de terra nos mais

diversos estados brasileiros. A Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) merece

destaque no contexto paranaense, pela criação de diversas cidades com características iniciais

agrícolas. A cidade de Londrina surge neste contexto mas, ao contrário de outras cidades

vizinhas, perdeu sua característica agrícola como principal atividade econômica. Com um

crescimento urbano “absurdo” – 71 anos de emancipação e aproximadamente 500 mil

habitantes, a cidade passou a ser referência regional do norte paranaense, suprindo, através do

seu comércio e serviços, diversas cidades de sua região, o que rendeu ao município uma lei

estadual criando sua Região Metropolitana.

Baseado nesta influência regional exercida por Londrina, sentiu-se a

necessidade de um estudo com objetivo principal de analisar a expansão urbana em seu

contexto histórico e indicar tendências de sua efetiva metropolização. Desta forma, a pesquisa

não evidenciou toda revisão de literatura necessária aos estudos de urbanização e

metropolização, mas apenas a síntese teórica necessária ao estudo proposto.

Assim sendo, o presente trabalho foi dividido nos capítulos: Urbanização e

Metropolização: bases teóricas; Londrina: Origem e Expansão Urbana de Londrina e

Surgimento de sua Região Metropolitana; e Tendências a Metropolização.

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1.URBANIZAÇÃO E METROPOLIZAÇÃO: BASES TEÓRICAS

O estudo metropolitano não é recente e pode abranger diversas áreas do

conhecimento científico. De fato, as múltiplas considerações demonstram até mesmo algumas

divergências de opiniões sobre o fenômeno metropolitano. Entretanto, para entender

essencialmente o que são as metrópoles atualmente e quais foram os passos para a formação

destas, tanto ao nível nacional como internacional, é necessário analisar alguns conceitos que

apresentam uma mesma linha de pensamento, ou seja, conceitos que buscam uma

similaridade com as metrópoles brasileiras e com a realidade do presente estudo.

Segundo Castells (1999, p. 434), as metrópoles são megacidades que se

comportam como uma rede, ou seja, cidades globais que se comportam como centros de

dinamismo econômico, tecnológico e social em seus países, e em escala global, como centros

de inovação cultural e política.

Mumford (1965, p. 711), define metrópoles como

um ponto de foco das atividades que, pela primeira vez, estão pondo todas as

tribos da espécie humana numa esfera comum de cooperação e intercâmbio.

Aquilo que Henry James disse a respeito de Londres pode-se igualmente

dizer a respeito de suas grandes rivais: é o maior agregado de vida humana, o

mais completo compêndio do mundo. A raça humana ali se acha mais bem

representada do que em qualquer outro lugar. Sua nova missão é passar as

unidades urbanas menores os recursos culturais que trazem a unidade e a

cooperação mundial.

De acordo com Guimarães (2004, p.1), as regiões metropolitanas, que podem

ser denominadas como Megacidades, “apresentam-se, fundamentalmente, como grandes

conurbações urbanas, provocadas pela expansão territorial de municípios vizinhos e,

principalmente, pela comunicação econômico-social entre as cidades, o que gera questões de

ordem comum.”

Barreiros (2001, p.7), procura eleger algumas das principais características das

metrópoles atuais, além do dinamismo econômicos, social e cultural, que são:

- cidades grandes, extensas e populosas com boa infra-estrutura;

- boa estrutura de circulação e transportes de bens e pessoas;

- centros políticos importantes;

- grandes centros de transações comerciais e financeiras;

- centro de serviços especializados de abrangência nacional;

- sede de empresas transnacionais;

- proximidade e fácil interligação com áreas produtivas;

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- boa qualidade urbana oferecendo padrões similares às outras cidades;

- localização geográfica estratégica, com proximidade e grandes portos e

aeroportos;

- integração ao capitalismo internacional;

- integração aos sistemas intra-regionais de cidades;

- integração aos sistemas internacionais de infra-estrutura de informação.

De fato, segundo os conceitos apresentados pelos citados autores, pode-se

afirmar que as metrópoles são cidades que possuem uma grande estrutura física e grande

concentração populacional – em sua maioria superior a um milhão de habitantes, além de

serem centros sócio-econômicos, políticos e culturais e de possuírem área de abrangência

regional e ou nacional. A região metropolitana (em muitos casos ainda dependente da

metrópole), possui uma característica predominantemente regional, mas também pode ser

representada através da economia e da cultura, reproduzindo assim, as características da

metrópole.

1.1. Urbanização mundial e brasileira: o surgimento das metrópoles

A medida em que surgem as primeiras cidades, uma estrutura social mais

completa e organizada começa a ser desenvolvida juntamente com os avanços das técnicas

agrícolas e da domesticação dos animais. Esta estrutura social, no momento em que atinge

uma complexidade ainda maior, com uma acentuada divisão social do trabalho, cria condições

para o aumento da própria população, como também do avanço das atividades ditas urbanas.

O fortalecimento político e militar, aliado a diversos outros fatores, fizeram

surgir os grandes impérios. Segundo Spósito (1988, p. 21), a importância dos impérios se dá,

em primeiro lugar, “porque eles tiveram um papel fundamental no aumento do número de

cidades”, em segundo lugar, “porque através de sua ampliação, sobretudo no caso romano, a

urbanização estendeu-se pela Europa”, e, “porque a acentuação da divisão social do trabalho e

da complexidade da organização política necessária à sustentação do império promoveu por

um lado à ampliação dos papéis urbanos, e por outro, o aumento do relacionamento entre as

cidades”.

De fato, enquanto os grandes impérios se consolidavam, o aumento da

população e da urbanização crescia rapidamente, ocasionando, assim, o início das chamadas

metrópoles.

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A revolução industrial ocorrida em fins do século XVIII, gerou uma grande

repercussão ao nível local, primeiramente, e a nível mundial; repercussão esta que pode ser

observada através de mudanças de ordem social, política e econômica.

A revolução agrícola, o desenvolvimento nos meios de transporte, a pressão

demográfica e o desenvolvimento da indústria pesada aliada às invenções, fizeram com que o

mercado se ampliasse a nível regional, nacional e até internacional. Isso

significou o fim da cidade como sistema institucional e funcional quase

autônomo e provocou, de forma definitiva, a constituição de redes urbanas,

dada a ampliação crescente da articulação entre os lugares. (SPÓSITO,

1988, p. 53)

Do final do século XVII até a II Guerra Mundial (século XX) a indústria se

aperfeiçoou, o mundo conheceu novos modelos industriais, tecnológicos e científicos. Esta

repercussão mundial apresentou como conseqüência o maior fortalecimento do sistema

capitalista, possibilitando o surgimento e o aumento das grandes corporações e empresas

multinacionais, vistos a partir de meados do século XX, o que também contribuiu para o

crescimento da urbanização e das metrópoles.

As metrópoles, tanto no Brasil como no mundo, surgiu atrelada aos diversos

fatores de ordem social, econômica, política e geográfica; e isso ocorre devido a uma

maturidade tecnológica cada vez maior do sistema capitalista, e de sua fixação como principal

sistema dominante:

As metrópoles do Terceiro Mundo são, ao mesmo tempo, conseqüência da

mundialização, como cristalização, em certos pontos do território, de uma

nova lógica, correspondente ao novo momento histórico, e que, ao mesmo

tempo, é lógica econômica, política, social e geográfica. (SANTOS, 1990,

p. 13)

A urbanização brasileira também vem sendo acompanhada de um processo de

metropolização. De acordo com Grostein (2001), este processo de urbanização brasileiro

acarretou no surgimento de 12 regiões metropolitanas e de 37 aglomerações urbanas não-

metropolitanas, os quais concentram 47% da população do país.

Essa urbanização ocorreu principalmente no século XX e se intensificou após

os anos de 1950, como resultado de um acirrado êxodo rural. Entre 1960 e 1970, ocorreu a

inversão quanto ao lugar de residência da população brasileira, da zona rural para a urbana,

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consolidada em 1980 (BARROS, 1998). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), em 2005, de um total de mais de 184 milhões de habitantes, a população

urbana brasileira era superior a 80%. Este aumento da população urbana e a expansão

industrial atuaram como peças-chave no surgimento das metrópoles no Brasil.

As cidades brasileiras, antes de se converterem nos principais centros

industriais, já possuíam um grau de urbanização anterior ao surgimento das primeiras

fábricas. Na primeira metade do século XIX, juntamente com um sistema de transportes ainda

deficiente, o desenvolvimento da técnica (que é impulsionadora da expansão industrial) era

dificultado pelo regime escravista; além disso, no campo predominava o latifúndio, e o

número populacional era baixo, com pouco mais de 3 milhões de habitantes (pois sem o

surgimento de um certo número de trabalhadores livres e assalariados, não era possível o

desenvolvimento das relações capitalistas). Mas mesmo entre estas limitações havia um

mercado interno restrito e fragmentado que, posteriormente, foi integrado ao mercado

mundial (HARDIMAN e LEONARDI, 1991).

É certo que houve, neste período, a implantação de diversas indústrias, mas

muitas dessas primeiras fábricas eram pequenas e desapareceram no próprio decorrer do

século XIX. “As verdadeiras fábricas modernas, empregando maquinaria importada e

operário livre, começaram a se estabelecer na década de 1840 [...]. Somente em 1869 o vapor

foi utilizado pela primeira vez com êxito, na província de São Paulo, no ramo têxtil [...]”

(HARDIMAN e LEONARDI, 1991, p. 31, 27), e é a partir de 1885, que as indústrias

aparecem em número cada vez maior.

Com a expansão cafeeira e um primeiro surto de industrialização, tem-se, a

partir de 1889, o início de um acentuado nível da divisão social do trabalho. A produtividade

nas atividades agrícolas cafeeiras e as novas variedades de café aqui desenvolvidas, além do

maquinário ligado ao seu beneficiamento, ganhavam destaque no comércio mundial podendo

competir com outras áreas produtoras, o que gerou um processo de acumulação de capital

pelos fazendeiros, provocando uma formação industrial caracterizada pela implantação de

indústrias produtoras de bens de consumo não duráveis.

Segundo Santos e Silveira (2001, p. 34), nesse período, “as maiores cidades

formaram-se no litoral ou nos seus arredores [...]. As metrópoles coloniais eram igualmente

portos, ao passo que na região interior mais próxima, centros intermediários se formavam

[...].”

A partir de 1930 a indústria brasileira encontra espaço no mercado

internacional:

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na medida em que a acumulação industrial passou a contribuir de maneira

mais efetiva para a expansão do mercado brasileiro, encontrou um espaço

maior para se ampliar ante as burguesias imperialistas, dado o deslocamento

do mercado mundial ocorrido com a crise de 1929. (HARDIMAN;

LEONARDI, 1991, p. 52)

Este período de 1930 a 1945, vivido sob o governo Vargas, constituiu um

momento fundamental da história econômica brasileira, pois nele foram estabelecidas as bases

para o desenvolvimento das décadas seguintes. Neste contexto se dá, o surgimento da

indústria pesada, essencial para o desenvolvimento (HARDIMAN e LEONARDI, 1991).

A década de 1940, foi marcada pela transição entre o período de época colonial

pré-mecânica e a verdadeira integração nacional. É nessa conjuntura histórica que se

estabelece uma rede brasileira de cidades, juntamente com uma hierarquia nacional, com o

aparelhamento dos portos, a construção de estradas de ferro e o telégrafo, que permitiram às

cidades beneficiárias aumentar o seu comando sobre o espaço regional. (SANTOS;

SILVEIRA, 2001).

Além destes requisitos básicos necessários à formação das metrópoles e do

desenvolvimento do país, o incremento demográfico teve como conseqüência não somente o

aumento dos efetivos em cada região, mas também a redistribuição da população. Essa

redistribuição manifestou-se por um novo equilíbrio demográfico regional e um abandono do

campo, com o aumento do número das cidades e de sua população (SANTOS e SILVEIRA,

2001).

Entre 1940 e 1980, a população brasileira quase triplica. A partir de 1960 e

principalmente 1970, a urbanização brasileira passa por uma nova mudança. Além da

modernização e ampliação dos transportes, com tendências à construção de estradas de

rodagem e rodovias de primeira ordem, o capitalismo se expande no campo, aumentando e

modificando a relação entre trabalho e capital, gerando um movimento grande de migrações

rural-urbanas como também urbano-urbanas. (SANTOS, 1988)

De fato, o aumento do processo de urbanização ocorrido desde meados do

século XX, teve como conseqüência a ampliação das as metrópoles brasileiras e possibilidade

do surgimento de outras novas metrópoles e/ou cidades que evidenciam o início do processo

de metropolização.

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1.2. As metrópoles brasileiras na legislação

A ausência de menção específica sobre as cidades ou outros tipos de

urbanização na legislação brasileira foi predominante até a carta de 1969, e evidenciou,

durante algum tempo, o fato de que embora o Brasil fosse um país urbano, sua legislação não

o reconhecia como tal.

Desde a independência do Brasil até sua redemocratização após o período

autoritário de 1964-82, o país teve oito diplomas constitucionais; e destes, o único que deu

tratamento específico ao urbano foi a Constituição Imperial de 1824. Do primeiro texto

constitucional republicano (1891) até o de 1969, ficou ausente a procedência detalhada das

competências concernentes à cidade, optando por formulações de que ao município ficasse

assegurada sua autonomia de acordo com seu peculiar interesse (HOTZ, 2000).

As Cartas de 1934 a 1946 mantêm o conceito do “peculiar interesse” local,

acrescentando à formulação geral destas cláusulas como: “a organização dos

serviços de sua competência” (Carta de 1934, Art. 13, Inc. III); “a

organização dos serviços públicos de caráter local” (Carta de 1937, Art. 26,

Inc. III); “(...) Administração própria, no que concerne ao seu peculiar

interesse e, especialmente (...) à organização dos serviços públicos locais”

(Carta de 1946, Art. 28, Inc. Al. b). (HOTZ, 2000, p. 91)

É na Carta de 1967 e em sua Emenda de 1969, que se encontra o

reconhecimento do fenômeno urbano correspondente a uma superestrutura urbana (Região

Metropolitana). Com o texto praticamente idêntico ao da Carta de 1967, a de 1969 apresenta

em seu Art. 164 o enunciado: “A União, mediante lei complementar, poderá, para a realização

de serviços comuns, estabelecer regiões metropolitanas, constituídas por municípios que,

independente de sua vinculação administrativa, façam parte da mesma comunidade sócio-

econômica”.

As primeiras nove regiões metropolitanas criadas foram São Paulo, Belém,

Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador; e o

formato de gestão destas foram estabelecidos através de diplomas constitucionais que

comportaram dois conselhos: um Deliberativo e outro Consultivo.

Esse formato de gestão centralizador reduzia a autonomia municipal e,

conseqüentemente, não representava as realidades políticas regionais “pela dependência da

criação das unidades por meio de lei complementar federal e pela hegemonia dos executivos

estaduais na gestão.” (HOTZ, 2000, p. 92)

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De fato, mesmo antes da criação da base jurídica referente às regiões

metropolitanas, já existiam experiências de gestão própria administrativa relativa aos estados.

Isso contribuiu para a formação de grupos responsáveis em gerir adequadamente o

desenvolvimento metropolitano.

Segundo Guimarães (2004), no estado de São Paulo foi criado em 1967 o

Grupo Executivo da Grande São Paulo (GEGRAM); em Porto Alegre foi criado o Grupo

executivo da Região Metropolitana (GERM) por volta de 1970; em Belém foi estabelecida

uma sociedade de economia mista com fins de gerir o sistema metropolitano; em Salvador e

Belo Horizonte foi instituído um Conselho sob iniciativa dos governos Estaduais; no Rio de

Janeiro foi criado, pelo Governo Federal, o Grupo de Estudos da Área Metropolitana

(GERMET).

Esses grupos responsáveis em gerir as regiões metropolitanas expressaram o

próprio reconhecimento de que ficaria a cargo dos governos estaduais a responsabilidade do

adequado planejamento regional.

A maioria das experiências envolvendo a organização das questões

metropolitanas nascia sob o âmbito de legislações já existentes, anteriores à

Constituição de 1967 e à edição da Lei Complementar n. 14 de 1973 e

expressavam, também, um reconhecimento, por parte das Administrações

Públicas Estaduais, de que a gestão das áreas metropolitanas caberia aos

Governos Estaduais, que passaram a montar modalidades específicas de

administrações setoriais metropolitanas, de acordo com as peculiaridades

regionais de suas demandas e com o capital organizacional de que

dispunham. (GUIMARÃES, 2004, p.15)

A problemática administrativa legislativa das regiões metropolitanas recebeu

mais atenção com a Constituição Federal de 1988, que deu aos municípios a posição

integrante do pacto federativo, podendo então se organizar por meio de Carta Própria, a Lei

Orgânica Municipal, sem a necessidade da outorga do Estado federado, mas sim pelo

Legislativo local. O novo texto constitucional de 1988 fez, também, com que o Estado

federado criasse, por meio de lei complementar, as unidades regionais (Art. 25, § 3), além de

formalizar categorias de organização urbanas e micro-regiões (HOTZ, 2000).

Desta forma, as regiões metropolitanas que eram criadas apenas por Leis

Complementares Federais, puderam ser instituídas por Leis Complementares Estaduais.

Coube aos Estados, portanto, adequarem suas Constituições para atender à nova competência

disposta na Carta Federal, abrangendo em suas disposições os critérios e elementos

norteadores da instituição das Regiões Metropolitanas. Foi necessário aprovar Lei

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Complementar Estadual que atribua às Regiões Metropolitanas criadas por Leis Federais, tal

condição administrativa (GUIMARÃES, 2004).

Por fim, as Constituições Estaduais agora essenciais à organização regional,

passam a ser promulgada. A constituição paulista de 1989, por exemplo, incluiu em seu texto

todo o Capítulo II da Constituição Federal de 1988, e criou uma Lei Complementar n° 760, de

01 de agosto de 1994, que visava o “fazer regional”, ou seja, teve por objetivo regulamentar a

divisão regional no Estado de São Paulo (HOTZ, 2000).

Basicamente, a legislação metropolitana brasileira surgiu tardiamente. A

legalização da gestão das regiões metropolitanas pelos próprios Estados regionais e locais não

apenas eram necessárias, como já estavam sendo efetivadas na prática, e a autonomia dada

pela Constituição de 1988, serviu como base para a criação de novas regiões metropolitanas

no Brasil, como a Região Metropolitana da Baixada Santista (1996), a Região Metropolitana

de Campinas (2000), e a própria Região Metropolitana de Londrina (1998).

A formação dessas novas Regiões Metropolitanas deu uma nova dinâmica às

grandes cidades, fazendo com que ocorra um avanço significativo até mesmo nos próprios

investimentos estatais. Londrina, com a criação de sua Região Metropolitana, adquiriu

importantes investimentos e tem se consolidado como uma “metrópole de pequeno porte”, ou

seja, uma capital regional. É necessário, portanto, a análise de origem, crescimento e

tendências da cidade, para que se possa identificar o que ela representa para o contexto

regional do Paraná e para sua Região Metropolitana.

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2. ORIGEM E EXPANSÃO URBANA DE LONDRINA E SURGIMENTO DE SUA

REGIÃO METROPOLITANA

2.1. Londrina: Origem e crescimento

A cidade de Londrina surge em 1929, período em que o país passava por

profundas transformações tanto ao nível de comércio internacional como de reorganização de

sua indústria nacional, além da busca de interiorização do país, mesmo em pequena escala.

No Estado do Paraná, ocorria à ocupação do norte, que se iniciou com a

expansão cafeeira a partir de uma frente pioneira que buscava novas fronteiras para a

produção agrícola. Essa ocupação se dá, assim, através da comercialização de terras feita por

grupos estrangeiros (LINARDI, 1995).

Londrina teve sua gênese em 1929, localizada sobre um espigão a oeste do rio

Tibaji e teve sua emancipação em 1934. A sua fundação decorreu mediante mudanças de

planos pré-estabelecidos pela CNTP (Companhia de Terras Norte do Paraná), que

inicialmente utilizaria suas terras no norte do Paraná para produção algodoeira, visando

exportação para Inglaterra. Tal não aconteceu, estendeu-se prioridade à venda das terras em

pequenos lotes, possibilitando uma colonização mais rápida.

Em 1910 foi fundada a estrada de ferro São Paulo-Paraná, pelo major Barbosa

Ferraz e outros fazendeiros, para estender os trilhos que iam de Ourinhos a Cambará, com o

intuito de escoar a produção agrícola da região pelo porto de Santos. A partir dos anos de

1920, o norte do Paraná passou por um processo de dinamização da ocupação através da

expansão da frente pioneira paulista, especialmente de terras localizada a oeste do Rio Tibaji.

A CTNP, que posteriormente viria a ser proprietária de uma vasta porção de

terras no estado, estava vinculada à vinda da Missão Montagu ao Brasil, em 1923, por

intermédio da empresa Suddan Cotton Plantatios Syndicate, com o objetivo de “estudar a

possibilidade de vir essa companhia inglesa a aplicar seus capitais no Brasil, de forma a obter

o algodão que importava em larga escala para suprir a florescente indústria têxtil da

Inglaterra”. (CMNP, 1975)

Load Lovatt, diretor dessa companhia inglesa, viajou pelo norte do Paraná

interessado no cultivo de algodão. Quando voltou a Londres, ele e seus sócios fundaram a

Brazil Plantations Syndicate, que posteriormente passou a se chamar Parana Plantations

Syndicate. Em 1925, a companhia adquiriu uma área de 515.000 alqueires de terra. Segundo

Arias Neto (1998, p.25), “[...] até por volta de 1928, os interesses da CTNP estavam ligados a

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instalação de uma plantation algodoeira”, sendo descartadas outras hipóteses de investimentos

e obtenção de lucro.

Entretanto, a companhia investira muitos recursos na compra da terra, e a renda

era insuficiente para a continuidade do plano da produção de algodão. Desta forma, era

preciso recuperar o capital investido, onde a solução encontrada foi o parcelamento e venda

da terra. Outro fator importante refere-se ao fato de que, com a crise de 1929, muitos grandes

proprietários entraram em falência ou ficaram com dívidas; assim, os pequenos e médios

proprietários (que haviam engariado recursos com o tempo) estavam em melhores condições

de adquirirem uma porção de terra. Desta forma, as terras foram vendidas em pequenos lotes,

garantido o lucro da CTNP. Além disso, a grande circulação de pessoas por conseqüência da

venda de muitos lotes, tornavam a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná num

empreendimento próspero.

Assim sendo, a Companhia de Terras Norte do Paraná adquiriu, em 1928, a

Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná. A Paraná Plantation Syndicate, foi subdividida em

duas companhias, a CTNP e a Cia Ferroviaria adquirindo papéis diferentes daqueles

planejados inicialmente. De acordo com Wachowicz (1967, p.162), a CTNP “[...] tinha por

finalidade lotear e revender as [...] terras devolutas adquiridas do Estado”. E cabia a

Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná “[...] continuar os trilhos de Cambará até o local do

loteamento[...]”.

Havia alguns requisitos básicos para que a CTNP conseguisse vender os lotes;

o primeiro era a estrada que ligaria até o local do loteamento; o segundo seria a construção de

uma cidade, onde estariam presentes os comerciantes que venderiam equipamentos e

produtos. O primeiro já estava sendo obtido com a compra da Companhia Ferroviária, o

segundo estaria por ser realizado.

Finalmente, começa a caminhada para a implantação da cidade de Londrina,

que inicialmente foi denominada Patrimônio Três Bocas. Na tarde do dia 21 de agosto de

1929, a equipe da CTNP encarregada de encontrar as terras da companhia na mata virgem,

chega ao marco inicial da cidade de Londrina, o marco zero (localizando no início da Av.

Theodoro Vitorreli). George Craig Smith, integrante da equipe, relata a chegada até o marco

inicial (CMNP, 1975, p.66): “[...] chegamos à tarde na divisa das terras da Companhia, onde o

engenheiro Alexandre Raxgulaeff, orgulhosamente, fincou o primeiro marco de madeira e

disse: chegamos. Aqui começam as terras da Companhia de Terras Norte do Paraná”. Neste

dia começaram a levantar os dois primeiros ranchos, e a primeira construção de Londrina, em

1929, foi o hotel da Companhia.

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A ocupação do município de Londrina se deu, predominantemente, por

migrantes de outros estados brasileiros e imigrantes estrangeiros que, acumulando dinheiro

com culturas intercalares ao cultivo de café, principalmente de fazendas de São Paulo,

conseguiam dar entrada para a compra da terra, para se tornarem proprietários, tornando o

principal mercado consumidor para a Companhia de Terras.

À medida que diminuía a atividade cafeeira paulista por conseqüência da crise

de 1929, grande quantidade de fazendeiros e colonos saíam de suas terras procurando terras

férteis e baratas, contribuindo para a intensa migração ao norte do Paraná.

A cidade, que teve sua planta pré-estabelecida, anterior ao ato de fundação não

pode se manter com apenas 20 mil habitantes. Com o passar dos anos atingiu um grande

crescimento muito além do esperado pela Companhia. A importância política e econômica

adquirida pela cidade fez com que a partir do início da década de 1940, os limites da planta

original fossem superados com o surgimento de novas casas e maior comércio, e a fundação

de novas vilas além dos limites originais da planta (figura 1).

Figura 1 – Planta Original da Cidade de Londrina, projetada em 1932

Fonte: YAMAKI, Humberto, 2003.

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Londrina teve as primeiras construções localizadas no cruzamento da Av.

Paraná com a Marechal Deodoro. Ao norte da Marechal Deodoro formou-se o Heimtal ao

norte e ao sul o hotel da CTNP. A cidade continuou seu crescimento na Av. Paraná até a praça

W. Davids e, mais tarde, por esta mesma avenida até a saída da cidade sentido oeste. Em

seguida avança seu processo de urbanização entre a Av. Paraná até a estrada de ferro.

Expande-se primeiramente ao norte da estação ferroviária ocupando trechos não construídos

desta estação até a Av. Paraná para finalmente começar a ocupação do sul da estação

(PRANDINI, 1954).

Prandini (1954) destaca que a transformação da cidade em sede municipal em

1934, e a chegada do primeiro trem, contribuíram para acelerar o crescimento urbano. De

acordo com a autora, os lotes que envolviam a cidade tiveram grande valorização e em 1947,

já havia 53 novas vilas, o que constituiu um problema urbanístico, pois estas não seguiram o

plano urbanístico inicial.

Em 1947, a cidade contava com 3.709 edifícios, passando a 6.214 em 1950. Foi

na década de 1950 que Londrina apresentou uma representativa expansão, e esta não foi

resultado direto apenas do café, por ser sua capital mundial, mas também se incluíam gêneros

alimentícios e matérias-primas diversas, e pela pequena produção mercantil que permitiu à

cidade sua grande projeção (FRESCA, 2002).

A década de 1960 marca o início de um processo de transformações que

englobariam não somente Londrina, mas todo o norte do Paraná, devido a uma política de

erradicação da cafeicultura liderada pelo Grupo Executivo de Erradicação do Café – GERCA,

por conseqüência dos problemas climatológicos e econômicos. Além disso, houve a

introdução de novas culturas como a soja e o trigo, a diminuição da área de produção de

gêneros alimentícios e a introdução e expansão de novas formas de comercialização da

produção através das cooperativas. Paralelamente a estes fatores, houve um grande aumento

da população urbana, a inversão em termos de distribuição urbana e rural.

As décadas seguintes apresentaram uma maior expansão físico-territorial e de

sua população, bem como o crescimento econômico. Esse crescimento será melhor analisado

através das características de expansão da cidade, abordada no próximo capítulo.

Entretanto, é importante salientar, que toda a expansão urbana de Londrina foi

rápida e dinâmica. Em 6 décadas, a cidade programada para 20 mil habitantes atingiu mais de

400 mil e, atualmente, sua população chega a quase 500 mil. Isso significa um rápido avanço

em todos os setores, desde infra-estrutura básica como a vinda de industrias de tecnologia de

ponta, além de diferenças sociais e ambientais.

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17

2.2. Características da Expansão Urbana de Londrina

A cidade de Londrina, bem como a formação de sua Região Metropolitana,

estão diretamente ligados às características do processo de expansão físico-territorial e de sua

população. Esse aumento desenfreado ocorrido em um curto intervalo de tempo ampliou

algumas condições precárias e desencadeou diversos problemas urbanos que, em parte,

reproduzem as dificuldades encontradas nas grandes metrópoles brasileiras. Assim, faz-se

necessário entender a dinâmica que, atualmente, conduz a cidade num ritmo de crescimento

não tão grande quanto o ocorrido nas décadas de 1960 e 1970, mas que acarreta em maiores

iniciativas de planejamento e gestão dos problemas sócio-econômicos e ambientais.

Essa dinâmica, que traduzimos como a forma de organização e de estruturação

da cidade num contexto de relações sociais e econômicas, será estudada através de algumas

análises como: o processo de expansão, o uso do solo, configuração sócio-econômica e

localização de principais eixos comerciais e viários.

A expansão além dos limites da planta original projetada pela CTNP foi

superada logo na primeira década de existência do município de Londrina. Esse surpreendente

aumento fez que com que chácaras do entorno fossem “desocupadas” para dar lugar à

construção de casas.

Os primeiros loteamentos não possuíam planejamentos do poder público

municipal evidenciando uma organização espacial, ocorrendo assim, de forma desordenada ao

redor do atual centro-histórico, como demonstrado na figura 2. Na década de 1950, Londrina

passa a ser a capital mundial do café e seu aumento se torna ainda mais expressivo,

recobrindo quase todo entorno desse centro e se estendendo nas direções noroeste e sudeste. A

ampliação para a região noroeste é explicada pela existência da Avenida Tiradentes, que dá

acesso direto à cidade de Cambé, e o aumento em direção sudeste é explicado pela grande

utilização do aeroporto, devido ao seu tráfego intenso, localizado na Avenida Santos Dumont.

As décadas de 1960 e 1970 foram as mais representativas quanto ao número de

loteamentos, 47,82% do total; esses números significam mais de 40 km² de área. Só na década

de 70 foram anexados 127 loteamentos, e a característica de entorno do centro-histórico foi

aos poucos sendo substituída por um espaço urbano irregular e desconcentrado, gerando

grande quantidade de vazios urbanos.

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Figura 2 – Expansão de Londrina por Loteamento até 2000.

Fonte: Elaborado com base em: Banco de Dados SIG-Londrina

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

Obs.: * Dados obtidos até 1990 foram retirados da Prefeitura Municipal.

Os referentes a 2000, foram obtidos a partir de estudos de

Sensoriamento Remoto

*

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19

Em 1970 a população urbana representava 68,41% e em 1980 esta percentagem

cresce para 85,46%. A década de 1970 é marcada principalmente pela atuação do poder

público local com a implantação de diversos conjuntos habitacionais, que continuou a ser

realizada na década 1980, que é marcada por um salto quantitativo e qualitativo na expansão

urbana da cidade devido ao crescimento demográfico por processo migratório imposto pela

seqüência das transformações agropecuárias, mas é marcada também pela formação de

número significativo de favelas.

Nos anos de 1980, a implantação de loteamentos foi de pouca expressividade,

devido a intervenção do poder público.

Nos anos 1990 ocorre uma expansão físico-territorial intensificada por

conjuntos habitacionais, por loteamentos implantados pela iniciativa privada e pelo aumento

do número de plantas industriais. Desde meados dos anos 1990 até a atualidade, é marcante a

atuação imobiliária no que diz respeito à grande quantidade de condomínios exclusivos, de

vários tipos e gêneros, demonstrando novas tendências e, em muitos casos, reproduzindo a

auto-segregação residencial (FRESCA, 2002). É importante salientar também, o

preenchimento dos vazios urbanos existentes entre o centro e o extremo norte da cidade, pois

a população residente dá uma dinâmica maior para a região, consolidando até mesmo o sub-

centro da Avenida Saul Elkind.

De acordo com Barros (2004, p. 73)

O perímetro urbano foi estendido por uma decisão municipal de 20 de

Julho de 1998, facilitando o crescimento para o norte e sobretudo

para o sul, onde uma grande superfície agrícola foi incluída no

perímetro construtível. A cidade pode assim prosseguir uma

impressionante expansão, que fê-lo de passar de algumas ruas do

núcleo central a um conjunto de 125 Km

2

, ou seja mais que a cidade

de Paris, sobretudo a partir dos anos 1970, quando a crise do café

provocou um êxodo rural acelerado e o loteamento de vastas parcelas.

A partir de 2000, aumentam as tendências de implantação de condomínios

horizontais de alto e médio padrão. Atualmente, diversos são os condomínios encontrados em

toda cidade, mas os do centro-sul têm-se destacado; os principais são: Royal Golf Residence,

Royal Park Residence, Royal Forest Residence, Alpha Ville e Sun Lake.

A tabela 1 e o gráfico 1 apresentam, em dados, o aumento dos loteamentos por

décadas.

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Tabela 1 - Expansão Urbana de Londrina através de Loteamentos, por Décadas

Ano Área em Km2

1940 6,43

1950 8,36

1960 16,15

1970 28,70

1980 8,40

1990 18,13

A partir de 2000 * 7,61

Fonte: Elaborado com base em: Banco de Dados SIG-Londrina

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

* Dados obtidos até 1990 foram retirados da Prefeitura Municipal.

Os referentes a 2000, foram obtidos a partir de estudos de

Sensoriamento Remoto

Km²

0

5

10

15

20

25

30

35

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Loteamentos em Km²

Média de expansão por loteamentos

Gráfico 1 – Representação da Expansão Urbana de Londrina

através de Loteamentos, por Décadas

Fonte: Elaborado com base em: Banco de Dados SIG-Londrina

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

A média de crescimento dos loteamentos é um pouco mais de 13 km² por

década. Entretanto, esse crescimento ocorreu de forma bastante irregular, como apresentado

no gráfico 1. Durante os anos 1940 até 1970 o crescimento foi acelerado, ocorrendo uma

grande queda na década de 1980 representando uma ruptura desse avanço. Entretanto, esse

decréscimo não significa a estagnação e o não aumento populacional. A partir da análise dos

censos de 1980 e 1991, nota-se que a população urbana de Londrina cresceu, na década de 80,

em mais de 100 mil; assim, o baixo número de loteamentos neste período traduz-se em

poucos investimentos no setor pela especulação imobiliária e pelo aumento do número de

construções verticais.

É importante notar, também, que os dados referentes à década 2000 não podem

ser computados como os das demais décadas, visto que ainda faltam 5 anos para o término do

período; mas a tendência é que o número destes continue a crescer.

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Na figura 3, é apresentado dado referente a expansão do perímetro da área

construída, evidenciando o acelerado crescimento da malha urbana. A área urbana cresceu, de

1987 a 2004, aproximadamente 40,9%, conforme a tabela 2 e o gráfico 2.

Tabela 2 – Área Construída em Km²

Ano Área em Km2

1987 69,82

1993 76,54

2001 93,55

2003 98,39

Fonte: Elaborado com base em: Banco de Dados SIG-Londrina

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

Km²

0

20

40

60

80

100

120

1987 1993 2001 2004

área em km²

Gráfico 2 – Representação do aumento de Área Construída em Km²

Fonte: Elaborado com base em: Banco de Dados SIG-Londrina

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

As principais áreas de crescimento entre 1987 a 2003 foram a região norte, em

primeiro lugar, e a leste. A região norte se expandiu em grande parte na década de 1970 com a

criação dos Cinco Conjuntos (área formada por 10 conjuntos habitacionais: Newton

Guimarães, Sebastião M César, Luiz de Sá, Aquiles Guimarães, Parigot de Souza I e II,

Semiramis I e II e Vivi Xavier I e II), inicialmente destinado à população de baixa renda, mas

que adquiriu, com o decorrer dos anos, características de uma população de médio padrão de

vida. Entretanto, durante anos foi afetada com a presença do já citado vazio urbano. Esse

vazio ainda não foi totalmente preenchido, mas percebe-se que nos limites de 1993 e 2001, a

área construída engloba grande parte dele. No limite de 2003 apenas o extremo norte foi

ampliado por construções.

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Figura 3 – Limite de Área Construída de Londrina até 1987 e ampliação dos

Limites de 1993, 2001 e 2003

Fonte: Banco de Dados Atlas Digital Urbano Ambiental de Londrina.

Grupo IMAP&P – Dpto Geociências – UEL.

A região extremo-oeste teve uma expansão um pouco mais recente (vista

principalmente no perímetro de área construída de 2001) e é conhecida pelo avanço do

processo de conurbação entre as cidades de Londrina e de Cambé. À sudoeste tem-se uma

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ocupação ainda mais recente do que no norte e extremo-oeste, e predominam os já

mencionados condomínios horizontais de alto padrão.

A região leste (extremo leste) caracteriza-se pela ocupação de uma população

de classe média a baixa, e foi principalmente ocupada até 1993. Mas ocorre a ampliação

gradativa até os anos de 2001 e 2003.

A expansão físico-territorial da cidade de Londrina, não ocorreu de forma

homogênea no tempo e no espaço; no entanto, isso não significa que tenha ocorrido sem

nenhum tipo de planejamento. O próprio projeto e a construção dos Lagos Igapó e a

reestruturação do centro histórico na década de 1980, foram sinais desses planos de melhorias

da cidade. Mesmo que esse planejamento não tenha ocorrido da forma mais adequada, é

importante o fato de existir, no contexto histórico, estas iniciativas e tentativas pelo estado

local.

Dentre os trabalhos de planejamento em Londrina é importante ressaltar o

papel das leis de gestão. A criação do Plano Diretor e da Lei Orgânica do Município foi

importante para o melhor crescimento da cidade, como o exemplo da Lei Orgânica n° 33 de

27 de dezembro de 2000, que teve como principais objetivos do Art. 4°:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – promover o bem de todos os munícipes, sem preconceitos de origem,

raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação;

III – promover o desenvolvimento municipal de modo a assegurar a

qualidade de vida de sua população e a integração urbano-rural;

IV – erradicar a pobreza, o analfabetismo e a marginalização, e reduzir as

demais desigualdades sociais;

V – garantir, no âmbito de sua competência, a efetividade dos direitos e

garantias fundamentais da pessoa humana e dos direitos sociais

previstos na Constituição Federal.

Além desta organização de gestão através das leis municipais; vários são os

trabalhos relevantes sobre a cidade que contribuíram para o planejamento, dentre estes, se

encontram aqueles que começaram a ser desenvolvidos com os SIGs – Sistemas de

Informação Geográfica. Em uma definição geral, o SIG pode ser entendido como qualquer

conjunto de procedimentos, manuais ou auxiliados por computador, utilizados para armazenar

ou manipular dados geograficamente georreferenciados (ARONOFF, 1995).

Os SIGs podem ser utilizados para o planejamento urbano e na tentativa de

buscar melhores formas para a solução dos problemas já existentes. Um exemplo concreto

com SIG para Londrina foi apresentado em 1998 como Tese de Doutorado (BARROS, 1998).

Neste, foram analisados dados convencionais em forma de cartografia temática, onde as

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variáveis utilizadas foram: uso do solo (destacando os atributos formadores da cidade, a

estruturação urbana e os espaços livres), densidade demográfica e de construção,

verticalização, expansão urbana e aspectos naturais do sítio urbano (declividade e

hispsometria) na definição das áreas de preservação. Este trabalho gerou produtos analíticos

em uma primeira fase e de síntese posteriormente, e foram importantes para o estudo da

cidade (BARROS, 2001).

Outros trabalhos de planejamentos com a tecnologia SIG em Londrina foram

os iniciados pela própria prefeitura. Segundo Pereira Neto e Lima (2001), datam de 1993 as

primeiras atividades de órgãos vinculadas a esse respeito, mas de fato, somente entre os anos

de 1997 e 1999 é que se destacou as atividades desenvolvidas com essa geotecnologia.

As principais atividades desenvolvidas pelos órgãos municipais são:

[...] mapeamento da rede elétrica; zoneamento agrícola de diversas culturas;

atividades ligadas ao saneamento; análise ambiental; monitoramento de

florestas; mapeamento de casos de doenças e delimitação de programas de

saúde; atualizações cartográficas; construção da base cartográfica da área

urbana da cidade. Esta última atividade está sendo desenvolvida em conjunto

com 4 instituições da cidade, revelando um fator de integração de dados

bastante positiva. (PEREIRA NETO; LIMA, 2001, p. 228)

Além destes, está em andamento o Atlas Urbano Ambiental de Londrina,

elaborado pelo Grupo IMAP&P do Departamento de Geociências da Universidade Estadual

de Londrina e por pesquisadores da Universidade de São Paulo, com a contribuição de alunos

que integram numa mesma base de dados, produtos elaborados a partir de dados do censo

demográfico e de sensoriamento remoto.

Os trabalhos já realizados apresentam tipos de planejamento para o adequado

crescimento da cidade de Londrina. Alguns destes são apresentados a seguir, objetivando

compreender o processo de metropolização da cidade.

2.3. Uso do solo de Londrina

Em 2000, foi desenvolvido pelo grupo IMAP&P – Imagens, Paisagens e

Personagens, do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, um

Mapa de Uso do Solo do perímetro urbano cidade. Esta carta foi realizada através de dados de

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Sensoriamento Remoto e de trabalhos de campo, e sua atualização para o ano de 2003 ainda

está em processo de finalização.

Através deste mapa de uso (figura 4), é possível reconhecer a organização

espacial de Londrina. A zona residencial, que começou com o centro-histórico, abrange quase

todo o centro do perímetro urbano e está mesclada de áreas com uso especial. Na região norte

predomina a classe residencial, mas ainda intercalada com vazios urbanos, além das

atividades agropastoris, ao extremo norte. À noroeste e nordeste encontra-se grande parte das

indústrias, mas ainda com pouca expressividade com relação à área ocupada por elas. Para o

mercado nacional e internacional encontram-se, na cidade, indústrias importantes como a

Atlas Schindler e a Dixietoga.

A região sul de toda área urbana é compreendida, com maior expressividade,

pela atividade agospastoril, com classe residencial a sudeste onde predomina a população de

média e baixa renda, com favelas ao extremo sudeste.

A região leste ainda apresenta quantidades consideráveis de vazios urbanos,

mas predominam as classes residencial e agropastoril; tem-se a presença de favelas e parte

dos bairros são de baixo padrão.

A região oeste já está sendo afetada pelo processo de conurbação com a cidade

de Cambé, e as áreas de expansão são praticamente inexistentes nessa direção. Destaca-se a

quantidade de classe de uso especial, como a Universidade Estadual de Londrina. A sudoeste

encontra-se, ainda com grande expressividade, as classes agropastoril e de vazios urbanos, em

menor escala, com conjuntos e condomínios residenciais de alto padrão, assim, com baixa

população.

A tabela 3 mostra em números como está distribuído esse uso do solo. Em uma

visão mais ampla, a principal expressividade é das classes: agropastoril, residencial, ruas e

vazios urbanos.

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Figura 4 – Mapa de Uso do Solo de 2000, da Área Urbana de Londrina

Fonte: Banco de Dados Atlas Digital Urbano Ambiental de Londrina.

Disponível em: <http://www.uel.br/atlasambiental/usodosolo.gif>

Organização: Grupo IMAP&P.

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Tabela 3 – Tipos de Uso do Solo da Área Construída de Londrina em 2000

Classes km2 %

Total 245,54 100,00

Agropastoril 120,07 48,90

Residencial 36,17 14,73

Ruas 15,70 6,39

Vazio urbano 15,14 6,17

Fundo de vale sem vegetação 14,98 6,10

Uso misto 9,80 3,99

Fundo de vale com vegetação 9,37 3,82

Uso especial 7,17 2,92

Indústria ou comércio 4,48 1,82

Parque ou reserva 3,03 1,23

Uso público 2,36 0,96

Unidade de Conservação 1,63 0,66

Ferrovia 1,41 0,57

Lago 1,10 0,45

Praça urbanizada 1,01 0,41

Praça não urbanizada 0,70 0,29

Parque 0,69 0,28

Favela 0,57 0,23

Jardim público 0,11 0,04

Fonte: <http://mappemonde.mgm.fr/num1/articles/art04106.html>

2.4. População, Renda e Escolaridade

A figura 5 apresenta a espacialização das pessoas que residem em Londrina,

por setor censitário do IBGE.

Segundo Zanatta (2004), os aspectos clássicos da distribuição ainda se

encontram presentes na cidade, ou seja, um centro mais rico e uma periferia com problemas

sociais e econômicos mais graves. Apesar da densidade populacional variar por toda a cidade,

as periferias e o centro apresentam maior contingente, e mesmo assim com grandes

diferenciações. No centro (setor 33) a densidade atinge 30.060 hab/Km², já na zona Norte

(setor 381) a densidade é de apenas 25,4 hab/Km², isso mostra como a divisão espacial da

cidade ainda é irregular.

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Figura 5 – Espacialização da População de Londrina por Setor Censitário do IBGE

É justamente nessas periferias que reside a população com menor renda e de

baixo nível de vida, figuras 6 e 7. Principalmente no extremo sul, extremo oeste e ao leste,

onde se tem grande quantidade de pessoas em um espaço pequeno; concentram-se aí algumas

favelas da cidade, como a do João Turquino e a da Bratac.

A figura 6 demonstra a porcentagem de pessoas responsáveis pelos domicílios

particulares permanentes com até 3 salários mínimos. As cores mais fortes mostram que 55%

a 85% desta população de pessoas responsáveis por domicílios, vive com uma renda mínima

para o sustento da família. É interessante analisar que a espacialização destes dados é de zero

a três salários, ou seja, esta porcentagem apresenta uma maior renda de três salários, mas

ocorrendo a presença de rendas menores, às vezes quase nulas. Já a figura 7 representa a

localização da maior concentração do rendimento mensal acumulado da população e, os

círculos proporcionais, apresentam as pessoas responsáveis pelos domicílios com rendimento

maior de 20 salários mínimos. Ao contrário da população de baixa renda, o centro e centro-

sul-sudoeste concentram o maior índice de nível de vida, com setores apresentando até 238

pessoas com mais de 20 salários mínimos.

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Figura 6 – Pessoas Responsáveis por Domicílios Particulares Permanentes com Rendimento

de até 3 Salários Mínimos em %

Figura 7 – Rendimento Mensal Acumulado de Londrina e Pessoas Responsáveis por

Domicílios Particulares Permanentes com Rendimento acima de 20 Salários Mínimos em %

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O contraste entre as duas cartas é evidente e revela os grandes contrastes da

população londrinense. Essa população que reside nas periferias, em grande parte vive de

forma precária, com maiores dificuldades até mesmo para o sustento da família. Além disso,

as periferias de um modo geral, com exceção da sudoeste (onde se encontram os principais

condomínios horizontais), apresentam maiores problemas como os de saneamento, falta de

segurança e de serviços básicos, como médicos e hospitalares.

Já a população do centro e centro-sul-sudoeste vive uma realidade totalmente

diferente. A área ao longo da Avenida Juscelino Kubitscheck foi, no processo histórico,

previamente destinado a população de alto padrão. Isso fez com que houvesse uma grande

valorização no local e a tendência com o aumento da população foi uma verticalização de alto

padrão.

Além desta verticalização de alto padrão no centro-sudoeste, surgiram os

grandes condomínios horizontais na região, como já citado, aumentando a valorização dessa

área e ampliando os processos de segregação sócio-espacial.

Atrelado a esse processo de distribuição e diferenciação sócio-econômica da

população londrinense, encontram as taxas de alfabetização e a espacialização das escolas

estaduais, municipais e particulares.

As figuras 8 a 11 demonstram, em parte, a situação de escolaridade. As escolas

estaduais estão distribuídas por toda a cidade, mas as maiores e mais reconhecidas pelo ensino

de qualidade se localizam preferencialmente no centro e em seu entorno. Isso faz com que

diversos alunos sofram pela necessidade de “migrar” das periferias para o centro, com gastos

que muitas vezes não são suportados pelos pais, ocasionando faltas e desistências. Já as

municipais, que atendem apenas o ensino fundamental de 1° a 4° série, se localizam

predominantemente nas periferias. Essa má distribuição das escolas estaduais e municipais faz

com que a população de baixa renda fique desprovida de um ensino de qualidade e, em grande

parte, é “obrigada” a estudar apenas a primeira fase do ensino fundamental, justamente pela

falta de escolas de ensino médio nestes locais. Mesmo com os CAICs, que se encontram um

na Zona Sul e outro na Zona Norte e que possuem maior estrutura física para suportar maior

quantidade de alunos, não dão conta do números de estudantes que necessitam de

escolarização.

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Figura 8 – Espacialização das Escolas Estaduais de Londrina

Fonte: Alves, 2004.

Figura 9 – Espacialização das Escolas Municipais de Londrina

Fonte: Alves, 2004.

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Figura 10 Espacialização das Escolas Particulares de Londrina

Fonte: Alves, 2004.

Figura 11 – Porcentagem de Analfabetos em Londrina

Fonte: Zanatta, 2004.

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Alia-se a este fato a grande quantidade de alunos que vêm dos distritos do

município de Londrina, como Warta, Lerrovile, Ferrovile, para estudar na cidade, dificultando

ainda mais o processo de ensino. O problema não está vinculado apenas à falta de salas de

aula, mas também de material didático e de infra-estrutura escolar, como carteiras,

computadores, etc.

A figura 10 exibe a localização das escolas particulares. Grande parte destas

escolas possui um ensino de qualidade e são destinadas a atender a população que tem

condições financeiras para oferecer um ensino de qualidade para os filhos. Desta forma,

localizam-se onde há a maior concentração de renda. Apesar de algumas escolas particulares

apresentarem um ensino de qualidade não muito satisfatório, é pouco discutida a qualidade

entre as estaduais e particulares, dando “créditos” para aquelas que possuem um custo para o

ensino.

A porcentagem de analfabetos nas regiões onde há maior escolaridade e melhor

nível de vida é quase nula (figura 11) e, seguindo a tendência, é grande nas regiões

periféricas.

Na área de educação o Censo apontou que o analfabetismo em pessoas de

mais de 15 anos é de 12,9% de acordo com matéria divulgada na Folha de

São Paulo, em Londrina o mapa da educação, assim como a maioria dos

outros dados, apresentou contrastes marcantes. O número de incidência e a

frequência de responsáveis pelo domicílio sem nenhum curso foi

extremamente alta, e não apenas nos pontos críticos já conhecidos. Esse

índice tem indicações por toda a cidade, sua concentração se dá nas áreas

mais pobres porém mesmo na área central se encontram alguns casos. O

números sobre analfabetismo em Londrina também foram melhores que a

média nacional, mas ainda sim preocupantes, com alguns setores chegando

a índices de quase 30% e a maioria das áreas periféricas com uma taxa de

no mínimo 7% de analfabetos (ZANATTA, 2004, p. 3).

Essa configuração mostra a realidade de muitas outras cidades do Brasil; uma

população pobre vivendo nas periferias e a mais rica residindo em locais privilegiados. Além

disso, Londrina revela também algumas tendências das grandes metrópoles, como a formação

de condomínios horizontais de alto padrão justamente em periferias pré-selecionadas.

O mapeamento destes dados sócio-econômicos e de escolaridade tem sido

importantes nos estudos de planejamento, possibilitando analisar onde se concentram os

principais problemas urbanos.

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2.5. Principais eixos

Cunha (2005), em sua tese de doutorado intitulada “A Metrópole de Papel: a

representação ‘Londrina Metrópole’ na institucionalização da Região Metropolitana de

Londrina”, apresenta uma carta de representação da cidade de Londrina elaborada a partir dos

pontos mais lembrados em entrevistas (figura 12).

Essa carta pode representar os principais eixos viários e de comércio da cidade,

que são principalmente o centro e as principais avenidas como a Juscelino Kubitschek,

Higienópolis, Maringá, Tiradentes, Duque de Caxias, PR-445, BR 369, dentre outras. Outra

carta que pode ser utilizada como comparativo é a elaborada por Alves (2004), identificando

os principais eixos de poluição visual (figura 13).

Figura 12 – Representação de Londrina através do Imaginário de Alguns Entrevistados

Fonte: Cunha, 2005.

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Figura 13 – Áreas de maior Índice de Poluição Visual em Londrina.

De fato, a maior quantidade de poluição visual (segundo o autor, traduzida

como: panfletos promocionais, outdoors, enfeites em estabelecimentos, alteração paisagística

e apelo à imagem) se encontra nos principais eixos viários da cidade, de maior circulação.

Esses locais ficam no imaginário da população local, as vezes pelo simples fato de serem

locais de passagem para o serviço ou por apresentarem marcantes momentos na vivência de

cada cidadão.

Os locais mais representativos de comércio são o centro e o shopping Catuaí, o

maior da região. Destacam-se entre esse comércio as ruas especializadas, como a Rua

Araguaia (auto peças), Guaporé (serviços automotivos e auto peças), a avenida Bandeiras e

Souza Naves (serviços médicos e hospitalares), a parte central da avenida Duque de Caxias

(venda de móveis e utensílios usados), dentre outras de menor expressividade.

Destaca-se também, nesta análise, a atual tendência de implantação de

universidades na rodovia PR-445, que dá acesso a Curitiba. Tem-se, no decorrer da rodovia,

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três centros universitários: Universidade Estadual de Londrina, Universidade Norte do Paraná

e Faculdade Metropolitana.

Esses principais eixos são importantes no processo de organização e de

prestação de serviços para a população vizinha, no sentido de ampliar a busca pelas ruas e

pelos locais pré-estabelecidos para determinado tipo de comércio.

2.6. Surgimento da Região Metropolitana

Esse rápido crescimento de Londrina, sua organização e sua abrangência

regional proporcionaram ao município o surgimento de sua região metropolitana. Pela

legislação federal, Londrina ainda não é uma metrópole. Entretanto, a partir do momento em

que se cria uma Lei Estadual e uma Lei Municipal reconhecendo sua região metropolitana,

subentende-se a metrópole londrinense.

De fato, a cidade tem uma abrangência regional que a faz tornar uma capital

regional. Entretanto, suas características de crescimento da malha urbana e populacional, bem

como o rápido avanço nos mais diversos setores da economia, além da ampliação de sua

infra-estrutura e da prestação de serviços às cidades vizinhas, de menor porte, faz com que a

cidade adquira algumas características comuns às das metrópoles brasileiras.

Assim, a cidade possui elementos marcantes como alta concentração

populacional, problemas urbanos e sócio-ambientais, necessidade de ampliação de infra-

estrutura, de prestação de serviços, aumento do setor informal da economia, ampliação dos

sub-centros, formação mais acentuada da cultura local, independência econômica, aumento da

industrialização, dentre outros. Além de apresentar, também, tendências recentes das grandes

metrópoles como a ampliação de condomínios em periferias ou locais pré-selecionados.

É nesta perspectiva que a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná decreta

e sanciona a Lei Complementar n° 81 de 17 de junho de 1998, publicada do Diário Oficial n°

5272; na qual fica instituída, na forma do art. 25, § 3º, da Constituição Federal e art. 21 da

Constituição Estadual, a Região Metropolitana de Londrina, constituída pelos municípios de

Londrina, Cambé, Jataizinho, Ibiporã, Rolândia e Tamarana.

Segundo a presente Lei, a Região Metropolitana de Londrina possui um

Conselho Deliberativo e um Conselho Consultivo. O Conselho Deliberativo foi constituído de

de 5 (cinco) membros de reconhecida capacidade técnica ou administrativa, nomeados pelo

Governador do Estado, sendo um deles dentre os nomes que figurem em lista tríplice feita

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pelo Prefeito de Londrina e outro mediante indicação dos demais municípios integrantes da

Região Metropolitana. O Conselho Consultivo compôs-se de um representante de cada

município integrante da Região Metropolitana e de 3 (três) representantes da sociedade civil

sob a direção do Presidente do Conselho Deliberativo.

De acordo com os Artigos 3° e 4° desta Lei, compete ao Compete ao Conselho

Deliberativo: I - promover a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado da Região

Metropolitana e a programação dos serviços comuns; II - coordenar a execução de programas

e projetos de interesse da Região Metropolitana, objetivando-lhes, sempre que possível, a

unificação quanto aos serviços comuns. Compete ao Conselho Consultivo: I - opinar, por

solicitação do Conselho Deliberativo, sobre questões de interesse da Região Metropolitana; II

- sugerir ao Conselho Deliberativo a elaboração de planos regionais e a adoção de

providências relativas à execução dos serviços comuns.

No Artigo 5° ficam estabelecidos, de interesse metropolitano, serviços comuns

aos municípios que integram a região, como: I - planejamento integrado do desenvolvimento

econômico e social; II - saneamento básico, notadamente abastecimento de água, rede de

esgoto e serviço de limpeza pública; III - uso do solo metropolitano; IV - transportes e sistema

viário; V - aproveitamento dos recursos hídricos e controle da poluição ambiental.

No dia 10 de julho de 2000 foi sancionada outra Lei Complementar de n° 87,

publicada do Diário Oficial n° 5780 de 10 de julho de 2000. Essa Lei acrescenta, a Região

Metropolitana de Londrina, o município de Bela Vista do Paraíso.

Em 05 de junho de 2002 a Lei Complementar n° 91, publicada no Diário

Oficial n° 6244 em 06 de junho de 2002, dá nova redação ao Art. 1° da Lei Complementar n°

81 de 17 de junho de 1998, incluindo a Região Metropolitana o município de Sertanópolis.

A câmara municipal de Londrina aprovou, também, em 30 de dezembro de

1998, a Lei n° 7.632, que dá nova redação ao artigo 16 da Lei nº 7.482, de 20 de julho de

1998, que instituiu o Plano Diretor do Município de Londrina. Segundo este artigo, o

Município de Londrina deverá desenvolver planejamento integrado com os municípios que

compõem a Região Metropolitana de Londrina, mediante as seguintes diretrizes: I. articulação

técnica e administrativa das ações físico-territoriais e socioeconômicas; II. preservação e

recuperação ambiental em conjunto com os municípios vizinhos; III. melhoria da infra-

estrutura instalada e do potencial econômico-social; IV. gestão integrada dos sistemas de

saúde, educação, transporte, segurança e cultura; V. resolução da definição demarcatória dos

limites dos municípios que compõem a Região Metropolitana de Londrina.

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Segundo Defreitas (2005), a Região Metropolitana de Londrina (RML) passa a

existir de fato com sua inserção no orçamento do Estado do Paraná, através de uma rubrica

específica. Assim sendo, a comunidade regional pode contar com a existência de atuante força

político-econômica em Londrina, com poder de influência tanto no âmbito estadual quanto

federal para a obtenção de recursos financeiros. Estes recursos deverão estruturar a integração

regional, sem polarizar as ações de infra-estrutura e serviços, compatibilizando a cidade-pólo

com sua função potencializadora do desenvolvimento integrado regional.

Ainda de acordo com Defreitas, o dinamismo do crescimento de Londrina, com

suas forças políticas, empresariais, educacionais, tecnológicas e sociais, unidas em

colaboração com as lideranças metropolitanas, reforçará o desenvolvimento sustentável do

Norte do Paraná. Desta forma, com equilíbrio econômico e social da RML, apoiado na

capacitação da gestão pública do território metropolitano com eficiência e a indispensável

participação democrática da comunidade regional, “caminharemos para o progresso,

enfrentando os desafios deste século, que prioriza a competitividade e a qualidade de vida”

(2005, p. 1).

Na figura 14 está representada a RML de Londrina. As tabelas e gráficos que

seguem demonstram a evolução e o crescimento dessa região desde 1970 até 2000.

Figura 14 - Região Metropolitana de Londrina.

Fonte: Séc.Municipal do Planejamento, Londrina, 2005.

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Tabela 4 - População Residente segundo os Municípios da Região Metropolitana de Londrina

- 1970 a 1980

1970 1980 Municípios

Total Urbana % Rural % Total Urbana % Rural %

Bela Vista do Paraíso 18.097 9.176 50,70 8.921 49,30 14.998 11.279 75,20 3.719 24,80

Cambe 35.621 13.510 37,93 22.111 62,07 53.856 44.803 83,19 9.053 16,81

Ibiporã. 27.193 12.999 47,80 14.194 52,20 27.624 20.064 72,63 7.560 27,37

Jataizinho 10.826 4.239 39,16 6.587 60,84 9.558 6.646 69,53 2.912 30,47

Londrina 228.101 163.528 71,69 64.573 28,31 301.711 266.940 88,48 34.771 11,52

Rolândia 47.964 20.845 43,46 27.119 56,54 41.452 26.968 65,06 14.484 34,94

Sertanópolis (1) 21.877 5.887 26,91 15.990 73,09 16.480 7.970 48,36 8.510 51,64

Tamarana (2) (12.525) (2.081) (16,61) (10.444) (83,39) (8.921) (3.148) (35,29) (5.773) (64,71)

Região Metropolitana de Londrina 389.679 230.184 59,07 159.495 40,93 465.679 384.670 82,60 81.009 17,40

Fonte: IPPUL, 2005. Adaptado de IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados do Universo).

(1) Incluído na RML, através da Lei Complementar nº 91, de 05/06/2002.

(2) Os dados referentes aos anos 1970 a 1991, encontram-se incluídos em Londrina, devido ao município ser Distrito, na

época.

Tabela 5 - População Residente segundo os Municípios da Região Metropolitana de Londrina

– 1991 a 2000

1991 2000 Municípios

Total Urbana % Rural % Total Urbana % Rural %

Bela Vista do Paraíso 15.098 13.070 86,57 2.028 13,43 15 031 13 860 92,21 1 171 7,79

Cambé 73.842 66.817 90,49 7.025 9,51 88 186 81 942 92,92 6 244 7,08

Ibiporã. 35.168 30.728 87,37 4.440 12,63 42 153 39 141 92,85 3 012 7,15

Jataizinho 10.428 8.390 80,46 2.038 19,54 11 327 10 317 91,08 1 010 8,92

Londrina 390.100 366.676 94,00 23.424 6,00 447 065 433 369 96,94 13 696 3,06

Rolândia 43.776 35.276 80,58 8.500 19,42 49 410 44 650 90,37 4 760 9,63

Sertanópolis (1) 14.291 9.998 69,96 4.293 30,04 15 147 12 609 83,24 2 538 16,76

Tamarana (2) (8.756) (4.201) (47,98) (4.555) (52,02) 9 713 4 719 48,58 4 994 51,42

Região Metropolitana de Londrina 582.703 530.955 78,31 51.748 7,63 678 032 640 607 94,48 37 425 5,52

Fonte: IPPUL, 2005. Adaptado de IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados do Universo).

(1) Incluído na RML, através da Lei Complementar nº 91, de 05/06/2002.

(2) Os dados referentes aos anos 1970 a 1991, encontram-se incluídos em Londrina, devido ao município ser Distrito, na

época.

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40

0

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

1970 1980 1991 2000

Crescimento Populacional da RML

Gráfico 3 - Crescimento Populacional da RML

Fonte: Elaborado com base em IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados do Universo).

Os dados das tabelas 4 e 5 e os gráficos 3 e 4, que representam a RML,

destacam um crescimento bem representativo da população em 40 anos, cerca de 74%, com

maior contribuição para o município de Londrina. Desta forma, a gestão e o planejamento da

região tem expressiva importância tanto no que diz respeito as políticas públicas de ampliação

de bem feitorias físicas, como ampliação de serviços hospitalares, melhor integração entre as

cidades, quanto à questão sócio-econômica da população.

O gráfico 4 aponta para o fato da diminuição da população rural em detrimento

da urbana. Essa inversão, ocorrida na década de 1960, acentua-se a partir de 1970, período em

que se tem políticas para a erradicação do café e a expulsão de camponeses com o aumento da

modernização agrícola, além das geadas que devastaram parte das lavouras.

0

1 0 0.0 0 0

2 0 0.0 0 0

3 0 0.0 0 0

4 0 0.0 0 0

5 0 0.0 0 0

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1970 1980 1991 2000

P opulaç ão Urbana P opulaç ão Rura l

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2 0 0 .0 0 0

3 0 0 .0 0 0

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6 0 0 .0 0 0

7 0 0 .0 0 0

1970 1980 1991 2000

P opulaç ão Urbana P opulaç ão Rural

Gráfico 4 – Aumento da População Urbana e redução da População Rural da RML

Fonte: Elaborado com base em IBGE, Censos Demográficos 1970, 1980, 1991 e 2000 (dados do Universo).

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41

Cabe ressaltar, que esse crescimento populacional na área urbana priorizou um

maior desenvolvimento para Londrina, à medida que as cidades de pequeno porte de seu

entorno utilizaram-se e continuam utilizando sua infra-estrutura e seus mais diversos serviços

para satisfazerem suas “necessidades emergenciais”, como hospitais, escolas, dentre outros.

Entretanto, todos os municípios tiveram o decréscimo da população rural e um

aumento da urbanização, mesmo que suas características econômicas ainda sejam

predominantemente rurais.

É importante ressaltar também que, antes mesmo da formação da Região

Metropolitana em 1998, houve tentativa de implantação da Metrópole Linear Norte do Paraná

– METRONOR. A idéia da METRONOR era lançar as bases para um processo de

desenvolvimento sustentado para o norte do Paraná, a partir do eixo Londrina-Maringá;

entendendo que esse elemento era estruturador de todo o desenvolvimento da região norte do

Paraná (SOCORRO, 2002, apud. CUNHA, 2005).

O projeto iniciou-se em 1977, adquiriu importância até mesmo nacional e

internacional, mas desgastou-se devido à sucessivos problemas políticos. Em 1987 os jornal

Folha de Londrina trazia o título de uma matéria como “Metronor, projeto falido”. Contudo, o

projeto foi importante para a representação de uma metrópole da região, necessário para a

elaboração da Região Metropolitana de Londrina (CUNHA, 2005).

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3. TENDÊNCIAS À METROPOLIZAÇÃO

A formação da Região Metropolitana de Londrina fez com que ocorresse o

início de um processo que já vinha sendo discutido por muitos estudiosos desde a década de

1970, que é a metropolização da cidade. Esse “sonho”, que teve início com o projeto

METRONOR, nunca foi esquecido pelo fato de o município apresentar altíssimas taxas de

crescimento.

Esse crescimento “absurdo” visto no capítulo anterior – quase 500 mil

habitantes em apenas três gerações urbanas (71 anos de emancipação e 76 de instalação da

cidade); acaba por apresentar algumas das tendências encontradas nas grandes cidades do

país.

Entendemos por tendência, nessa abordagem, as novas características

adquiridas no contexto do espaço urbano físico ou sócio-econômico, a partir das grandes

mudanças ocorridas nos avanços industriais, tecnológicos e científicos no contexto da

produção capitalista, refletida das mais diversas maneiras dentro de um determinado espaço

urbano.

Assim sendo, é necessário discutir como se encontra a cidade de Londrina no

contexto regional, ou seja, porque atualmente a cidade é considerada uma capital regional e,

desta forma, discutir as tendências.

3.1. Alguns fatores de abrangência regional

Londrina tem sido apresentada com um pólo de desenvolvimento regional e é a

terceira cidade do sul do Brasil em população, perdendo apenas para Porto Alegre e Curitiba.

Mesmo com os diversos problemas ambientais e sócio-econômicos, também encontrados nas

demais grandes cidades brasileiras, a cidade passa a oferecer infra-estrutura e serviços que

fazem com que tenha influência direta sobre um mercado consumidor de mais de 700 mil

pessoas, residentes em sua região metropolitana.

Os dados que serão apresentados a seguir, referentes a essa abrangência de

Londrina, a saber: transportes e vias de acesso; educação; saúde pública e privada; ciência,

tecnologia e inovação; economia: indústria, comércio e serviços e degradação do ambiente

urbano; tem como fonte principal os “Cadernos Setoriais”, organizados pela Companhia de

Desenvolvimento de Londrina (Codel, 2004), distribuídos em 2004 pelo jornal “Jornal de

Londrina” em parceria com as diversas empresas, secretarias e institutos, ligados às

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informações pertinentes, e servirão de base para as próximas análises e para as considerações

finais.

3.1.1. Transportes e vias de acesso da RML

Apesar de apresentar alguns problemas, a estrutura de transportes em Londrina

ainda se encontra em um fator privilegiado quando comparado com outros setores. Os

principais sistemas viários que ligam a outros municípios e estados são a Rodovia Melo

Peixoto (BR-369), que faz ligação com cidades de São Paulo e Santos, por Ourinhos, no

interior de São Paulo, onde se encontra com a BR-374; e a Rodovia Celso Garcia Cid, que

liga Londrina a Mauá, e dá acesso a BR-376 (pelas BR-369 e PR-151) que liga a Curitiba.

Essas rodovias fazem com que a população de alguns municípios do entorno transitem pela

cidade para ter acesso a estes locais mais distantes.

As vias internas de acesso estão ligadas por rodovia asfaltada da sede do

Município a todas as sedes dos Distritos Administrativos. Estas estradas facilitam o

escoamento da produção do setor primário da região e são conservadas pela administração

municipal.

A figura 15 demonstra as principais rodovias de acesso de Londrina e da

Região Metropolitana. Essas principais vias são utilizadas para o transporte coletivo da linha

“Metropolitana”, onde os ônibus de linha fazem o trajeto de algumas cidades (também

abrangendo cidades que não pertencem a RML) com um custo bem inferior aos de passeio,

transportando grande quantidade de pessoas que diariamente trabalham na cidade.

Essa inovação da linha Metropolitana foi importante para dar maior dinâmica

ao ritmo de transporte entre as cidades, pois aumentou a circulação da população e,

conseqüentemente, a frota de veículos coletivos.

É importante ressaltar que a área de serviços de auto-peças e automotivos, além

da própria comercialização de veículos, estão diretamente e indiretamente ligados à questão

do transporte e têm apresentado uma abrangência significativa para a região, a medida que as

ruas e micro-regiões especializadas (adotamos o termo “micro-regiões especializadas” para

aquelas que possuem mais de uma rua de prestação de serviços ou comércios específicos)

facilitam o acesso aos serviços e comércio de automóveis de modo geral.

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Figura 15 – Principais Rodovias de acesso de Londrina à Região Metropolitana

O transporte coletivo interno tem sido utilizado diariamente por

aproximadamente 133 mil passageiros, com uma frota de 315 ônibus com uma ocupação

média de 40,5 passageiros por carro e com média das viagens de 25 minutos entre os bairros e

o centro. Os ônibus apresentam-se em bom estados de conservação pela obrigatoriedade da

troca da frota no período de 10 anos. Tanto a população de Londrina como de toda a região

utilizam-se destes serviços. O Terminal Central de Passageiros Urbanos permite a integração

física do sistema, o que possibilita o deslocamento do usuário para qualquer ponto da cidade

com o pagamento de uma única passagem.

Entretanto, além de algumas destas vantagens, existem alguns problemas como

super lotação em horários de pico, falta de calendário dos horários e dias exatos (ocorrendo

alterações em dias especiais sem o adequado aviso prévio), além de alto custo para o

transporte intra-urbano. Esses problemas são refletidos diretamente na vida da população que

uso diariamente o transporte.

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Na figura 16, estão representadas as principais avenidas de Londrina. O

destaque é para as Avenidas Celso Garcia Cid, Tiradentes, Brasília, Saul Elkind, antos

Dumont, Dez de Dezembro e Duque de Caxias, por onde trafegam grande parte dos veículos

de transporte coletivo.

Figura 16 – Principais Vias Internas de Londrina

Uma das características adquiridas pelo transporte em Londrina é a iluminação

e a conservação das principais vias de acesso. Esses serviços municipais foram inclusos no

Anexo 6 da lei orçamentária participativa do município para o exercício de 2004, de n°

4.320/64. Como função da Secretarias de Obras e Pavimentação, são intitulados partes do

anexo a “Expansão e Melhoria da Rede de Iluminação Pública” e a “Conservação e

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Pavimentação Asfáltica de Vias Urbanas”. De fato, a conservação e a ampliação da

iluminação viária tem sido cumprida, melhorando a qualidade viária.

Através do Terminal Rodoviário, cerca de 2.400 a 2.500 pessoas embarcam e

desembarcam todos os dias por meio de 141 ônibus de embarque e 143 de desembarque, em

média. Segundo dados do Detran, a frota de carros pequenos era, em 2002, de 171.929

veículos, ou seja, 1,35 veículo por domicílio particular permanente (com 127.701 domicílios

particulares permanentes, em 2002), e a cada dia tem-se ampliado mais a quantidade de

veículos.

A figura 17 demonstra a rota da frota de todos os ônibus da empresa “Viação

Garcia S/A”, a maior em atuação em Londrina e região. A partir desta rota é possível

identificar a área de influência da cidade que ultrapassa a região metropolitana atingindo um

raio de mais de 210 quilômetros. Isto é explicado pela utilização de forma direta ou indireta

dos serviços prestados pela cidade.

Figura 17 – Influência de Londrina pelo Transporte Coletivo através da “Viação Garcia S/A”.

Fonte: Website <www.viacaogarcia.com.br>

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Além do transporte viário, o aéreo também tem grande importância pra região

e, em 2002, o movimento de passageiros domésticos foi de 538.882, com uma média de vôos

domésticos de 11.404 pousos e 11.402 decolagens, sendo que a maioria é para São Paulo,

demonstrando então a influência desta capital em Londrina.

O transporte ferroviário atende apenas a movimentação de carga e está

interligado ao Porto de Paranaguá (PR) e ao Porto de São Francisco do Sul (SC).

3.1.2. Educação e Ensino Superior

Apesar dos problemas já mencionados sobre a localização das escolas estaduais

e municipais e suas conseqüências na estrutura educacional, Londrina tem apresentado um

salto expressivo na educação. Em 1991 a taxa de analfabetismo entre a população de 25 anos

de idade era de 14,1%, caindo para 8,5% em 2000. A porcentagem da população adulta com

menos de quatro anos de estudo em 1991 era de 33,9% e em 2000 foi para 23,7%

(LONDRINA..., 2004).

A área da educação foi a que mais contribuiu para o Índice de

Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M, 2003), com participação de 45,1%, enquanto a

longevidade e a renda participaram cada um com 27,4%. Desta forma, no período de 1991-

2000, este índice cresceu 7,57%. Se o município mantiver esta taxa de crescimento levará 4,5

anos para atingir o índice de Curitiba (melhor índice do Paraná) e 13 anos para atingir o índice

de São Caetano do Sul (SP) – o município com melhor IDH-M do Brasil (LONDRINA...,

2004).

O grande problema no setor educacional é a falta de vagas em muitas escolas e

a falta de escolas em muitas periferias, principalmente da zona norte e sul. A quantidade de

alunos, tanto da região metropolitana quanto dos próprios distritos, fazem com que a cidade

tenha a necessidade de maiores investimentos no setor.

É necessário enfatizar que um dos fatores de maior expressividade de Londrina

sobre sua região é o ensino superior. Londrina possui um total de 13 instituições de ensino

superior, sendo as principais: Universidade Estadual de Londrina, Universidade Norte do

Paraná, Universidade Filadélfia, Metropolitana IESB e PUC-PR. Estas instituições atraem e

atendem uma população não apenas regional, mas até mesmo interestadual e nacional.

A localização estratégica destas instituições citadas confirmam a influência

sobre as cidades vizinhas, facilitando o acesso das Vans e Ônibus que transportam centenas de

estudantes todos os dias. Com exceção da PUC, que se encontra na Av. Tirandentes, dando

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acesso direto a Cambé, elas se localizam na Rodovia Celso Garcia Cid, que dá acesso a

Sertanópoles e Bela Vista, e por meio da BR-359, dá acesso a Rolândia, Arapongas,

Apucarana, dentre outras.

Esta expressividade tem ampliado a abrangência de Londrina sob o ponto de

vista de ensino universitário. Contudo, a população da cidade de um modo geral ainda tem um

certo déficit de curso superior. A figura 18 apresenta o número de pessoas com nível

fundamental para cada uma de nível superior, distribuídas por setor censitário do IBGE. A

tendência é a mesma com relação à renda e a escolaridade de nível fundamental e médio. As

regiões mais “ricas” são aquelas que apresentam uma pessoa com ensino superior para cada

uma de ensino fundamental, ou seja, principalmente na região central, centro-sul-sudeste e

centro-oeste, a cada duas pessoas uma possui curso superior.

A excelente média nessa região é discrepante quando comparada com algumas

periferias, que chegam a apresentar até 284 pessoas de nível fundamental para 1 de curso

superior. Principalmente os setores leste e norte apresentam uma média de 50 a 100 pessoas

de nível fundamental para cada 1 de curso superior, uma média não tão ruim quando

comparada com outras diversas cidades do Brasil.

Figura 18 - Número de Pessoas com Nível Fundamental para cada Pessoa de Nível Superior,

distribuídas por Setor Censitário do IBGE

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Esta breve análise mostra que apesar de um percentual da população estar

desprovida de curso universitário, em média, a cidade como um todo apresenta uma

população de nível superior bem distribuída. Entretanto, o papel das instituições privadas

favorecem a população de média a alta renda.

O aumento de instituições privadas em Londrina busca o mercado consumidor

não apenas municipal, mas de toda região metropolitana, confirmando a tendência do

crescimento no setor.

3.1.3. Saúde Pública e Privada

O setor de saúde pública é um dos mais abranges e utilizados pela população

da região metropolitana. Londrina conta com um total de 15 hospitais distribuídos da seguinte

forma:

Tabela 6 – Hospitais de Londrina - 2002

Rede Hospitalar n°

Hospitais Privados 7

Público Municipal 1

Públicos Estaduais 2

Hospital Universitário 1

Hospitais Filantrópicos 4

Total de Hospitais 15

Total geral dos leitos 1.450

Destinados ao SUS 1.035

Leitos de UTI 82

Leitos de UTI Neonatal 27

Fonte: Codel, Cadernos Setoriais – Saúde pública e privada, 2004.

De fato, os principais hospitais da região são: Hospital Universitário Regional

Norte do Paraná, Hospital Evangélico de Londrina e a Irmandade Santa Casa de Londrina. Os

outros possuem funções mais específicas (como o Instituto do Câncer) ou tem pouca

expressividade. Entretanto, esses grandes hospitais estão sobrecarregados e muitas vezes

lotados. Exemplo desta situação é o Hospital Universitário, que tem perdido a cada ano as

características de hospital-escola para atender um maior número de pessoas com maior

rapidez, piorando tanto o aprendizado dos alunos quanto o atendimento não satisfatório à

população.

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50

Alguns dados fornecidos pela Receita Federal mostram que o setor da saúde foi

o 16° maior contribuinte da receita tributária (LONDRINA..., 2004). Os investimentos tanto

no setor privado quanto público tem sido constantes, mas não de forma necessária. As novas

instalações do Hemocentro Regional de Londrina e da Hemodinâmica recebeu investimento

na ordem de R$ 9,9 milhões; contudo, Londrina carece de um novo hospital e de

investimentos mais efetivos para melhorar os existentes.

A cidade tem recebido, nos últimos anos, uma sobrecarga de população

enferma com a falta de hospitais nas menores cidades da região. Esta situação é prejudicial a

população local, pois devido a concorrência acabam por ter um atendimento de pior

qualidade.

As demais cidades da RML precisam diversificar seu verdadeiro espaço no

cenário econômico estadual para que a área de saúde cresça com maior eficiência.

3.1.4. Ciência , tecnologia e inovação

A cidade tem apresentado um conjunto de entidades, públicas e privadas,

voltadas para o setor de ciência, tecnologia e inovação. Atualmente, possui 13 instituições de

ensino superior e dois institutos de pesquisa; são mais de 1.400 pesquisadores com 71% com

titulo de mestre ou doutor, que articulam cerca de 240 grupos de pesquisa reconhecidos pelo

Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq).

Como suporte a essas instituições, outras entidades atuam no sentido de

articular ações conjuntas com o setor produtivo, para transformar conhecimento em inovação

e aumentar a competitividade regional. O poder público municipal tem buscado criar

condições normativas e estruturais de suporte à inovação, e para isto criou uma Comissão

Permanente de Ciência e Tecnologia na Câmara Municipal. Neste contexto, foi também

implantada estrutura de incentivo a inovação como o Parque Tecnológico de Londrina e

Região “Francisco Sciarra” e o Instituto de Pesos e Medidas do Paraná (Ipem-PR).

As principais instituições são:

• Universidade Estadual de Londrina (UEL): vinculada à Secretaria

de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti); com

41 cursos de graduação, 32 de pós-graduação stricto sensu e 82 de

pós-graduação lato sensu; conta também com 173 grupos de

pesquisa cadastrados no Sistema Lattes (MCT/CNPq);

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• Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR): vinculado à Secretaria

de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), cuja sede,

em Londrina, coordena toda a atividade de pesquisa agropecuária

da Seab. Tem cerca de 145 técnicos de nível superior, dos quais

38% com doutorado e 45% com mestrado;

• Embrapa/Soja: A empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,

em sua unidade em Londrina, conta com 70 pesquisadores com

26% de mestre e 74% de doutores, e dispõe de diversos

laboratórios de pesquisa com forte atuação junto ao setor

produtivo.

Além destas, Londrina conta com outras entidades de ensino, algumas já

citadas: Universidade Norte do Paraná (Unopar); Universidade Filadélfia de Londrina

(Unifil); Faculdade Norte Paranaense (Uninorte); Pontifícia Universidade Católica do Paraná

(PUC/PR); Metropolitana/IESB; Faculdade Integrado; Instituto Superior Mãe de Deus;

Faculdade Teológica Sul-Americana (FTSA); Faculdade de Teologia (SBL); Seminário

Teológico Reverendo Antônio Godoy Sobrinho (STAGS), BB&G Sociedade de Ensino;

Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV).

As demais instituições de ensino superior da sua região de influência somam mais 8 centros,

dentre públicos e privados.

A busca da ciência e tecnologia é essencial para o desenvolvimento de uma

região, as pesquisas em universidades e em empresas privadas ou públicas são importantes

pra esse desenvolvimento. A tendência de crescimento nessa perspectiva é grande para o

município, visto que têm se tornado o “centro regional” de instalações de instituições de

ensino superior.

3.1.5. Economia: indústria, comércio e serviços

A economia de Londrina começou a ser estruturada nas bases agrícolas –

atualmente a soja, o milho, o trigo e o café são os destaques do município, que ainda produz

algodão, rami e seda. Eqüidistantes dos portos de Paranaguá e Santos, na rota para Foz do

Iguaçu e com acesso aos países do Cone Sul, Londrina também ocupa posição estratégica

como centro comercial de serviços. O seu distrito industrial abriga empresas do setor

mecânico e elétrico, de material de transportes, vestuário e bebidas.

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A Região Metropolitana de Londrina, inserida no orçamento do Estado, por

meio de rubrica específica, fortalece sua atuação político-econômica, podendo proporcionar a

obtenção de recursos com intuito de ajudar na integração regional. Assim, Londrina poderá

investir com maior intensidade em seu crescimento social, econômico e industrial,

potencializando o desenvolvimento regional.

O Emprego Informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais),

divulgadas pelo Ministério do Trabalho, atestam que foram criados, em 2002, perto de 1,2

milhão de empregos formais no país, o que representou aumento de 4,2% em relação a 2001.

O Paraná participou com a geração de 68 mil empregos formais. Londrina e região em

pregam atualmente cerca de 122.600 pessoas, segundo os números do Ministério do Trabalho.

Com uma População Economicamente Ativa de 200 mil habitantes, é possível

constatar, pelo nível de emprego, a tendência de crescimento em alguns setores da cidade

como infra-estrutura e abertura de mercados da indústria de transformação, construção civil,

comunicações, tecnologia e prestação de serviços.

Segundo informações da coordenação da Agência do Trabalhador (Sine-PR),

entre janeiro e abril de 2003, a indústria de transformação (produtos alimentícios, vestuário,

calçados etc.) foi a que mais buscou trabalhadores no mercado.

De acordo com informações do Departamento Nacional de Registro do

Comercio (DNRC), em 2002, o Sul do Brasil constituiu formalmente 98.374 empresas. O

Paraná responde a 36% deste número, o que faz o Estado a segunda maior concentração de

investidores presentes na região Sul. Londrina vem despertando interesse de empresários e

empreendedores dos mais diversos setores da economia. Isso pode ser melhor avaliado por

meio das informações disponibilizadas pela Companhia de Desenvolvimento de Londrina

(Codel), especialmente no que diz respeito à política de atração de empresas para a cidade,

incluindo os benefícios como locação ou doação de imóveis. Esta política de incentivo para

atração de novos investimentos nos diferentes ramos da atividade econômica contempla,

dentre outras coisas, benefícios tributários relativo ao IPTU, doação de áreas de terras,

fornecimento de infra-estrutura, existência de distrito industrial e programas de geração de

trabalho e renda.

Alves (2004), em seu trabalho de Especialização em Análise Ambiental em

Ciências da Terra intitulado “Poluição Visual como Apelo ao Consumo: Estudo de Caso

Aplicado a Cidade de Londrina-PR”, apresentou o crescimento das indústrias em Londrina e

como aumentaram as tendências ao consumo.

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53

Segundo o autor, os primeiros estabelecimentos industriais surgiram em 1950,

período em que a região se estruturava economicamente tendo por base a monocultura de

café. Devido a sua posição geográfica, a cidade se beneficiou na distribuição de mercadorias

para o interior do estado, passando a atuar como centro coletor e auxiliador da distribuição de

produtos da região, dentre eles também produtos industrializados. Neste momento, surge a

formação de um embrião industrial na cidade e as industrias se vão se instalando próximo às

primeiras casas de comércio e residências, entre a estrada de ferro e avenida Paraná.

Em seu processo de industrialização, Londrina tem apresentado uma

urbanização com aumento significativo de indústrias de pequeno, médio e grande porte.

Segundo dados do Departamento de Tecnologia e Informação (DTI) da Prefeitura Municipal

de Londrina (2004), as indústrias, que em 1980 representavam um total de 2.126, em 2000

passaram a ser de 3.485 estabelecimentos; já em maio de 2004 estes números passam a ser de

4.248. Isto demonstra que as industrias cresceram 63,9% (1.359) entre 1980 e 2000; e 21,9%

(763) entre janeiro de 2000 a maio de 2004. Quando comparado os 24 anos, de 1980 a 2004,

nota-se que as indústrias de Londrina cresceram 99,8%, percentual mais do que significativo

para uma cidade que possui apenas 71 anos de emancipação.

O crescimento industrial de Londrina foi gradativo de 1980 a 1986, quando

houve uma queda neste crescimento, que permaneceu estável até 1993. Entre 1993 e 1995

houve um grande aumento de estabelecimentos industriais, período em que o governo

substitui a moeda brasileira cruzeiro pelo real (1994), e onde se verificou um certo avanço

econômico no país. De 1995 a 2000, o crescimento continuou estável, seguido de outro

grande crescimento de 2000 a 2003 no número de indústrias instaladas (gráfico 5).

87

114

177

218

12 10 16 13 21 22

4630

3727

46

31

51

46

131 143

162 165

149

250

118

0

50

100

150

200

250

300

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

Número de Indústrias Instaladas

Gráfico 5: Representação do Número de Indústrias Instaladas em Londrina

entre o período de 1980 e 2004 *

Fonte: ALVES, Sander Olak. Poluição visual como apelo ao consumo [...], 2004.

OBS.: * O número de indústrias do ano de 2004 refere-se ao período de janeiro a maio.

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54

Além do significativo número de indústrias, a cidade apresentava em 2000 um

total de 14.372 estabelecimentos comerciais e 13.612 estabelecimentos de serviços (DTI,

PML, 2004), atestando ser um importante pólo comercial do norte do Paraná. Segundo dados

da Fecomércio 2004, tanto o comércio varejista como o atacadista da Região Metropolitana

de Londrina apresentaram uma evolução positiva 2003, em comparação a 2002. Na Região

Metropolitana, no que se refere às compras no atacado, houve, no período, um crescimento

expressivo de 12,18%, mostrando a expectativa dos empresários de ampliarem suas vendas.

Em termos de vendas verificou-se uma expansão de 6,25% em 2003, e o comércio comprou

cerca de 5,20%, o que significou outro aumento na expectativa de venda. Em 2004, a

perspectiva de emprego no comércio aumentou em 8,39%, principalmente nos ramos de

vestuário e materiais de construção (LONDRINA, 2004).

Para uma cidade de aproximadamente 500 mil habitantes, esse aumento no

setor de indústrias, estabelecimentos comerciais e de serviços, mostram a tendência de um

consumo cada vez maior:

As tendências de consumo são caracterizadas pelos novos produtos

disponíveis no mercado e são repassadas à população através da

propaganda. Quando a cidade adquire uma determinada produção

econômica, de modo que as tendências consumistas vindas das grandes

metrópoles chegam rapidamente ao mercado consumidor, o giro econômico

passa a ser mais intenso e a cidade passa a adquirir novas características

traduzidas em um aumento industrial e comercial, ocorrendo aumento

significativo em todos os setores urbanos e conseqüentemente o

crescimento da cidade (ALVES, 2004, p.24)

Essa tendência representa um mercado cada vez mais crescente não apenas na

Região Metropolitana de Londrina, como também em toda região de influência indireta, e até

mesmo nacional. Esse aumento gradativo retrata, também, a busca pelo desenvolvimento por

meio de ações dos setores públicos ou privados, além de atestar o modo capitalista consumista

da população brasileira que investe de forma significativa em bens não duráveis.

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3.1.6. Alguns problemas ambientais decorrentes do processo de metropolização

de Londrina

Além das tendências de crescimento e expansão dos diversos setores sócio-

econômicos, é importante ressaltar também a tendência da degradação do ambiente urbano de

maneira geral. Essa degradação não é traduzida apenas pela remoção das áreas “verdes”, mas

também pelo aumento da poluição física, visual e sonora, pelas diversas condições precárias

da população, pelo vandalismo e pela falta de segurança, enfim, fatores que afetam direta ou

indiretamente a população e que diminuem a qualidade de vida.

A remoção do “verde” das cidades, em sua etapa inicial de crescimento era, há

algumas décadas, um fator primordial para o dito “desenvolvimento”. Isso fez com muitas

cidades fossem afetadas por um desconforto ambiental, pela falta de um micro-clima que

possibilitasse uma melhor qualidade de vida.

A remoção de matas ciliares e a ocupação irregular de fundos de vale são

marcantes dessa degradação, a tendência de canalização dos córregos nas grandes cidades tem

aumentando em grande escala. Londrina possui 21,36 Km

2

de unidades de conservação

permanente nos fundos de vale, dos quais de 25,4% são ocupados ilegalmente, porque não são

consagrados à nenhuma utilização conforme com o Código Florestal (BARROS, et al., 2004).

Segundo Mendonça e Barros (2002, p. 69), a maioria dos fundos de vale

estudados em Londrina (em trabalho do mapeamento da vegetação de fundo de vale),

encontram-se desprovidos de vegetação com fisionomia vegetal florestal ou mesmo arbórea

ou capoeira; assim, as faixas marginais que acompanham os cursos d’água estão constituídas

em sua maior parte de vegetação rasteira. Além disso, a autora constatou que a “Área de

Preservação Permanente” muitas vezes não é respeitada e em muitos casos apresenta

atividades agrícolas ou ocupação urbana.

Outro efeito ambiental que pode ser ligado à própria construção da cidade é a

impermeabilização do solo. Barros (2004), elaborou uma carta de degradação ambiental de

Londrina baseada no grau de impermeabilização do solo (figura 19). Os lugares onde a

capacidade de infiltração é muito baixa correspondem aos setores urbanos: residencial,

industrial, utilização mista, utilização pública, comércios e ruas. Os lugares de infiltração

ligeiramente maior são os setores de expansão urbana. Os locais de infiltração média são os

vazios urbanos e os loteamentos. As regiões de utilização agrícola, vegetação baixa, fundo de

vale sem vegetação, de áreas não urbana, de jardins públicos e espaços verdes ligados à rede

rodoviária, têm uma elevada capacidade de infiltração.

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Figura 19 – Degradação do Ambiente Urbano em Londrina

Fonte: BARROS et al., 2004. Disponível em: <http://mappemonde.mgm.fr/num1/articles/art04106.html>

Conforme mostra a figura 19, a degradação urbana aumenta em classes de

20%. O cálculo feito sobre os bairros claramente urbanos (160,5 Km

2

) mostra um aumento

sensível dos setores atingidos entre 1987 e 2000:

a. em 1987, os setores onde a degradação do ambiente era muito fraca

(menos de 20%) cobriam 87 Km

2

; em 2000 tinham-se reduzido à 38

Km

2

;

b. níveis à degradação forte e muito forte (60 à 100%) que duplicaram

mais, passando de 19,3 Km

2

à 41,5 Km

2

;

c. muito a forte degradação (10% da superfície) situa-se no centro e as

suas abordagens;

d. os sectores do norte, noroeste e sueste da cidade sofreram mais fortes as

degradações, nordeste e sudoeste mais fraco. (BARROS, et al., 2004,

p.3)

De fato, a degradação do ambiente urbano é mais intensa nas grandes cidades

e, infelizmente, o um aumento significativo da população e do ambiente construído é, ao

mesmo tempo, resultado de uma maior degradação. Para amenizar o impacto é necessário a

atuação direta de políticas de planejamento e de gestão, priorizando as áreas de preservação e

buscando formas para a melhoria da qualidade de vida da população. Um fator bastante

importante é que o planejamento urbano muitas vezes não acompanha o ritmo de crescimento,

e os espaços urbanos são cada vez mais contrastantes, gerando áreas de pobreza e outras

luxuosas.

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3.2. Tendências à Metropolização

Os fatores analisados com relação à importância que Londrina exerce sobre sua

Região Metropolitana, ressaltam a tendência de crescimento do processo de metropolização.

A atual característica econômica do município se diferencia daquela que o fez reconhecido

nacionalmente, ou seja, perdeu sua característica econômica essencialmente agrícola para uma

economia mais diversificada, com base na produção industrial de comércio e serviços.

O acelerado ritmo de crescimento das décadas de 1960 e 1970 perdeu força;

mas por outro lado, foi agregada a cidade elementos típicos de cidades metropolitanas.

Entretanto, o adequado crescimento econômico necessita de estruturas firmes de planejamento

e gestão, na busca de inovações e tecnologia para que a cidade volte ser destaque no sul do

Brasil.

Com relação à tendência de crescimento urbano, conforme mostra a figura 20,

duas são as direções, as regiões noroeste e sudoeste.

A primeira, com tendência a bairros populosos, dando continuidade ao

processo iniciado com conjuntos habitacionais populares, também possui áreas para a

instalação de indústrias e implantação do projeto do “Anel do Emprego”. A região sudoeste,

com características predominantemente agrícolas, está sendo alterada para buscar uma

estrutura residencial, principalmente de condomínios horizontais, além da ampliação de

instituições de ensino superior.

Figura 20 – Organização Urbana de Londrina

Fonte: Barros, et al., 2004. Website <http://mappemonde.mgm.fr/num1/articles/art04106.html>

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De fato, a expansão não ocorrerá apenas nestes locais, mas considerando as

características adquiridas e os planejamentos privados e estatais, são regiões mais adequadas

para futuros investimentos, além de apresentar maior e melhor área para a expansão.

A Criação do Anel do Emprego é importante para a retomada de um

crescimento mais expressivo da cidade, na busca do desenvolvimento e de novos

investimentos do setor privado. Baseia-se em um projeto que integra o sistema viário com

questões socioeconômicas, onde sua execução envolve o poder público, iniciativa privada e a

participação da comunidade. A implantação de infra-estrutura e equipamentos são fatores de

competência dos empresários e empreendedores, para possíveis investimentos de localização

das suas empresas. A execução da infra-estrutura viária, barracões industriais, incubadoras,

centros de formação de mão-de-obra e outros equipamentos, formarão apoio aos

empreendedores na execução de seus projetos, aliados a incentivos financeiros e fiscais

municipal, estadual e federal (figura 21). Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento

Urbano de Londrina (2005), existe um esforço por parte da administração municipal em

reduzir a desigualdade existente no espaço urbano, aproveitando todos os potenciais possíveis

na geração de emprego, como meta a ser alcançada na sustentabilidade do desenvolvimento

de Londrina.

A localização do emprego próximo ao trabalhador é uma situação ideal,

onde o custo do transporte e tempo de percurso é aproveitado para sua

melhoria de vida, situação também desejada pelo empregador. Ao setor

produtivo é importante sua localização em vias de grande tráfego, como

indicador comercial e facilidade no transporte de carga e de passageiros

(IPPUL..., 2005, p. 1).

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Figura 21 – Local de Implantação do Anel do Emprego

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina

<http://www.londrina.pr.gov.br/ippul/aneldoemprego/>

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Esse projeto conta, também, com a flexibilização do zoneamento e a

estruturação macroviária. Com esta flexibilização (figura 22) será possível proporcionar maior

dinâmica na implantação do capital e na geração de emprego, na busca de um

desenvolvimento com sustentabilidade ambiental pelos controles dos impactos locais. O

controle dos impactos locais, possibilita essa flexibilização quanto ao uso na localização da

atividade. Essa proposta, num primeiro momento, será restrita a área do Anel do Emprego,

com objetivo de incentivos ao setor produtivo que venha gerar emprego e ocupar áreas

periféricas de baixa taxa de ocupação (IPPUL..., 2005).

Figura 22 – Exemplo de Flexibilização de Zoneamento

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina

<http://www.londrina.pr.gov.br/ippul/aneldoemprego/>

A figura 23 exemplifica a estruturação macroviária, que possíbilitará

estabelecer uma adequação com o anel interligando várias regiões da cidade. A partir da

malha inicial, a estruturação viária principal formou-se pelo prolongamento das principais

vias existentes, com a implantação de novos loteamentos. As primeiras intervenções do

sistema viário iniciaram-se com a proposta de um anel pela a avenida JK; depois a execução

da avenida Maringá, a rodovia BR 369 e a avenida 10 de Dezembro (Ibid, 2005).

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Figura 23 – Exemplo de Estrutura Macroviária

Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina

<http://www.londrina.pr.gov.br/ippul/aneldoemprego/>

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O projeto do Anel do Emprego e conseqüentemente a flexibilização do

zoneamento e a estrutura macroviária, “impedirá”, por medida, que o crescimento continuo da

cidade leve à uma excessiva aglomeração urbana, observada nas grandes metrópoles, com a

perda da qualidade de vida e a sustentabilidade.

Além destes projetos de planejamento para adequação viária e geração de

empregos em Londrina, a presença de ativos tecnológicos significativos e de empresas com

interesse em inovações é uma das pré-condições e indispensáveis ao desenvolvimento da

região. Entretanto, faz-se necessário a presença de políticas públicas de suporte aos setores de

inovação e tecnologia, que são questões consideradas desde a implantação da Lei Orgânica, a

qual possui um capítulo destinado ao tema.

Mais recentemente, o projeto de implantação do Parque Tecnológico de

Londrina e Região Francisco Sciarra, tem sido um importante passo na consolidação de

Londrina como cidade inovadora. O empreendimento, formulado inicialmente no âmbito do

Programa Londrina Tecnópolis, da Adatec, obteve recursos da Finep para a gestão de sua

implantação e foi inserido no plano de trabalho da Companhia de Desenvolvimento de

Londrina (Codel), responsável pela implementação de políticas públicas municipais para o

setor da ciência, tecnologia e informação. O parque, que representa investimentos físicos da

ordem de R$ 5,2 milhões, conseguiu atrair, em 2004, a implantação de sua primeira âncora

tecnológica, representada por dois laboratórios metrológicos do Ipem nas áreas

têxtil/confecções e química (LONDRINA..., 2004).

Ao lado disso, outros centros de apoio tecnológico estão sendo articulados

com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e Instituto de Tecnologia para o

Desenvolvimento (Lactec) para se estabelecerem no Parque, dedicados as áreas como

alimentos funcionais, biotecnologia, eletroeletrônica e tecnologia da informação. Outro ativo

tecnológico importante para o apoio às empresas é a Incubadora Tecnológica Internacional da

UEL (Intuel), que em 2004 já havia graduado duas empresas para o mercado externo. Essa

tendência ao desenvolvimento tecnológico e científico é marcante em Londrina. Entre 2002 e

2003, só o CNPq fez suporte superior e R$ 3 milhões na cidade, além de outras entidades

como o Finep que em apenas dois editais em 2001 foram contempladas propostas de mais de

R$ 800 mil do IAPAR e R$ 600 mil da UEL (LONDRINA...., 2004).

As perspectivas para o aumento dos setores de ciência, tecnologia e inovação

da região de Londrina são positivas. O ensino superior está em fase de expansão e a presença

do parque tecnológico atrai empresas de base tecnológica.

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A tendência no setor comercial é vista a partir da revitalização do centro, da

realização de campanhas e da capitalização de profissionais através do desenvolvimento de

treinamentos, palestras e seminários, da ampliação do Projeto Empreender com criação de 14

núcleos setoriais (Ibid, 2004). Tem-se também, a idéia do fortalecimento dos núcleos

comerciais nos bairros, incentivando a criação de novos pontos e tirando a concentração de

comércio do centro da cidade, confirmando a tendência da criação de sub-centros e de

“independência” das micro-regiões com relação ao comércio.

Em contraposição a tendência de crescimento e evolução da cidade de

Londrina, tem-se a sua “perda de influência”, a qual tem ameaçado o crescimento previsto. A

inversão do processo econômico de um município da atividade agrícola para um novo ramo

de industrialização e tecnologia, comercial e de serviços, aliado com a falta de investimentos,

fez com que o município perdesse parte de sua expressividade.

A cidade ainda é a terceira do sul do país, mas sua influência no nível estadual

e interestadual tem enfrentado concorrentes, como é o caso da cidade de Maringá, no Paraná.

O risco de perder a liderança regional de influência não é imediato, mas dados como o do

Índice de Desenvolvimento Humano indica que Londrina se encontra em 10° lugar no Paraná,

enquanto Curitiba está em 1°, Pato Branco em 3° e Maringá em 6° lugar (ATLAS..., 2005).

Assim, a cidade carece de novos investimentos para não perder esta grande expressividade

conquistada em poucas décadas.

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CONSIDERAÇÕES

O crescimento e a expansão urbana de Londrina foi rápida e dinâmica. Em

apenas três gerações o município passou a atender, com sua infra-estrutura, comércio e

serviços, às diversas cidades de seu entorno, o que lhe rendeu uma Lei estadual específica

instituindo a Região Metropolitana de Londrina (RML).

A Região Metropolitana de Londrina possui aproximadamente 730 mil

habitantes distribuídos pelas cidades de Londrina, Tamarana, Rolândia, Cambé, Ibiporã,

Jataizinho, Sertanópolis e Bela Vista do Paraíso. Estas cidades são interligadas com Londrina

através de rodovias e são beneficiadas por uma linha específica de transporte coletivo, a linha

“Metropolitana”, criada para facilitar e diminuir o custo do tráfego da população entre as

cidades. Além disso, estas usufruem diretamente do comércio e serviços prestados por

Londrina, sendo os principais: médicos e hospitalares e ensino superior.

A dinâmica do crescimento da cidade pode ser observada através do processo

de expansão, do uso do solo, da configuração sócio-econômica e de educação e através da

localização de principais eixos comerciais e viários. Foram analisadas também algumas

características de abrangência regional como: transporte e vias de acesso da RML, educação e

ensino superior, saúde pública e privada, ciência tecnologia e inovação, economia: indústria,

comércio e serviços, e degradação do ambiente urbano.

Dentre os diversos fatores que tendem a concretização de Londrina como

metrópole estão o crescimento da infra-estrutura, os projetos de expansão e de busca de novos

investimentos e a tendência de formação de um pólo de ciência e tecnologia, com a existência

de diversas unidades de pesquisa e de ensino superior.

De fato, em contraposição com a tendência de crescimento e evolução do

município, também pode ser visto outra tendência de “perda de influência”. A cidade é a

terceira do sul do Brasil com razoável liderança sobre as demais “concorrentes”, como

Maringá. Entretanto, a necessidade de encontrar um novo “caminho” para retomar o

crescimento é claramente percebida pelos diversos planos de desenvolvimento elaborado pelo

poder municipal, porém, sem um viés claro de expansão econômica. A busca de novos

investimentos tem diminuído nos últimos anos, apesar da ampliação de novos mercados como

o de ensino superior e do aumento da população e a da área construída, o “boom” do

crescimento econômico se estabilizou.

Considerando a conceituação de Barreiros (2001, p 7), citado na página 5, os

critérios apresentados distanciam-na de ser uma metrópole por ainda não apresentar alguns

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fatores bem definidos como centro de transações financeiras e internacionais, centro de

serviços especializados de abrangência nacional e boa estrutura de circulação e transporte de

bens e pessoas. As principais indústrias da cidade têm sua sede financeira em São Paulo ou

outra capital. A especialização dos serviços possuem um caráter regional, além da circulação

ainda não ter a estrutura suficiente para uma metrópole.

A produção de um importante centro político, de integração aos sistemas

internacionais de infra-estrutura de informação, podem apresentar uma abrangência regional e até

mesmo inter-regional, mas ainda deficitária no contexto metropolitano.

O município apresenta indústrias de expressividade internacional, empresas de

serviços com grande importância no cenário nacional, bem como centros tecnológicos

capazes e reconhecidos em todo território, entretanto, são em número reduzidos. Os setores de

planejamento têm de ser cada vez mais eficazes para não adquirir apenas os problemas

metropolitanos, mas sim o planejamento metropolitano.

Entretanto, suas as características urbanísticas reproduzem uma metrópole, ou

seja, os problemas urbanos, os conflitos sociais e econômicos, as características de comércio e

serviço, as tendências de novos empreendimentos imobiliários como condomínios horizontais

de médio e alto padrão nas periferias, a presença cada vez mais presente dos sub-centros,

traduzem de fato a cidade de Londrina como uma pequena metrópole.

Londrina precisa encontrar seu novo caminho do desenvolvimento, para que

possa prosseguir com o avanço ao desenvolvimento e à metropolização, deixando de ser

apenas uma capital regional de influência e passar a atuar ativamente do cenário nacional com

um desenvolvimento sustentável.

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