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DEPARTAMENTO DE NEUROCIÊNCIAS E CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO, FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO, UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO
DANIEL BARBOSA DE ALMEIDA PRADO
Efeitos de doses repetidas do nitroprussiato de sódio ou do canabidiol no período de maturação cerebral em um modelo animal de esquizofrenia
Ribeirão Preto 2020
DANIEL BARBOSA DE ALMEIDA PRADO
Efeitos de doses repetidas do nitroprussiato de sódio ou do canabidiol no período de maturação cerebral em um modelo animal de esquizofrenia
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências Médicas na área de concentração de Neurologia. Orientador: Prof. Dr. Jaime Eduardo Cecílio Hallak
Ribeirão Preto 2020
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Almeida Prado, Daniel
Efeitos de doses repetidas do nitroprussiato de sódio ou do canabidiol no período de maturação cerebral em um modelo animal de esquizofrenia, 2020.
158f.: il.
Tese de Doutorado, apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Área de concentração: Neurologia.
Orientador: Prof. Dr. Jaime Eduardo Cecílio Hallak
1. Esquizofrenia. 2. Nitroprussiato de Sódio. 3. Canabidiol. 4. Cetamina. 5. Neurodesenvolvimento. 6. Maturação Cerebral. 7. Modelo Animal de Esquizofrenia.
Ficha Catalográfica
DANIEL BARBOSA DE ALMEIDA PRADO
Efeitos de doses repetidas do nitroprussiato de sódio ou do canabidiol no período de maturação cerebral em um modelo animal de esquizofrenia
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências Médicas na área de concentração de Neurologia.
Aprovado em:
Banca Examinadora
_________________________________________________________________ Prof. Dr. Jaime Eduardo Cecílio Hallak ___________________________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. ___________________________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. ___________________________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. ___________________________________________________________________ Examinador: Prof. Dr.
Dedico minha tese de doutorado, talvez um dos meus maiores feitos acadêmicos em vida, integralmente, a minha amada esposa Camila, e a meus queridos filhos Augusto e Gustavo. Muito obrigado pela compreensão de tantas e tantas noites distantes, entendendo o significado de um bem maior.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de
Financiamento 001.
Sou eternamente grato ao Prof. Dr. Jaime Eduardo Cecílio Hallak, meu
querido orientador, exemplo de pessoa ética, honesta e humana. Gratidão, a meu
ver não se resume a palavras ou frases, mas sim as experiências emocionais que
vivemos em momentos importantes da nossa existência, e em todos esses, a
presença dele quando não física, mas emocional, esteve sempre presente.
Sinto-me muito honrado e feliz, por ter sido inicialmente acolhido em nossa
Universidade pelo amável Prof. Dr. Antônio Waldo Zuardi e, por esse motivo, o
agradeço profundamente. Mesmo que atualmente distante fisicamente dele, sinto-
me muito próximo emocionalmente, lembrando diariamente com apreço de toda a
ternura e carinho que recebi dele no início de minha trajetória acadêmica.
Jamais esqueceria a amizade verdadeira e sincera do Prof. Dr. José
Alexandre de Souza Crippa, profissional íntegro, dedicado e, literalmente, um
exemplo a ser seguido. Essas características únicas me fazem sentir grande
gratidão e enorme apreço a sua pessoa e a seus ensinamentos.
Em especial, agradeço ao Prof. Dr. João Paulo Machado de Souza, amigo
querido que sempre agiu com a presteza e a cumplicidade que apenas amizades
fraternas e verdadeiras possuem.
A Dra. Ludmyla Kandratavicius, meu mais sincero agradecimento, seu
sorriso e carinho, características marcantes da sua personalidade são cativantes, e
denotam o maior exemplo do que é ter boa vontade e senso de trabalho em equipe.
Por fim, agradeço a Isabella Caroline da Silva Dias por toda sua presteza e
afinco durante fases importantes de todo o desenvolvimento deste projeto.
O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas, é o que formula as verdadeiras perguntas.
Claude Lévi-Strauss
ALMEIDA PRADO, D. Efeitos de doses repetidas do nitroprussiato de sódio ou do canabidiol no período de maturação cerebral em um modelo animal de esquizofrenia. 158f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2020.
RESUMO
Introdução: a esquizofrenia é um transtorno mental crônico e agressivo que afeta aproximadamente 1% da população mundial. Trata-se de uma síndrome clínica com diversas dimensões psicopatológicas, disruptivas, as quais desequilibram várias características clínicas naturais do ser humano, e que não possui cura. Esse distúrbio também pode ser compreendido como um transtorno neurodesenvolvimental, o que implica dizer que esse estaria associado a determinadas fases do desenvolvimento do cérebro humano. Evidências atuais provenientes de estudos sobre o tratamento do quadro, de trabalhos post mortem, de investigações de neuroimagem e de modelos animais experimentais, demonstram que essas alterações estariam relacionadas à interação de diversos mecanismos fisiopatológicos como, por exemplo, a desregulação dopaminérgica, o distúrbio glutamatérgico e o desequilíbrio do sistema dos receptores endocanabinoides. É sabido também que determinadas drogas, ainda sob investigação, poderiam interagir com esses sistemas através de mecanismos ainda desconhecidos, porém com propriedades terapêuticas e até mesmo, possivelmente, profiláticas. Trata-se do canabidiol (CBD), do nitroprussiato de sódio (NPS) e da associação de ambas. Objetivos: o principal objetivo do presente estudo foi o de testar os efeitos de doses repetidas de NPS e de CBD, isoladamente e em associação, durante o processo de maturação cerebral de ratos Wistar, observando especificamente a possibilidade de eventual ausência do aparecimento de um quadro schizophrenia like, previamente induzido através da administração de cetamina (CET). Secundariamente, o modelo animal de psicose com CET utilizado neste projeto foi avaliado quanto a sua eficácia e viabilidade e, por fim, eventuais influências de gênero na análise dos resultados encontrados foram sistematicamente discutidas. Métodos: foram utilizados cento e vinte e oito ratos Wistar machos e fêmeas, divididos em dezesseis grupos específicos, aleatoriamente randomizados e com doze dias de idade na época do início do protocolo experimental. Esses animais foram previamente tratados com CBD, NPS e com a associação entre ambas as drogas durante vinte e um dias consecutivos ao longo de seu amadurecimento cerebral. Após dez dias de intervalo, os roedores foram expostos por cinco dias consecutivos ao modelo animal de esquizofrenia induzido por CET e, então, os testes comportamentais de campo aberto, preferência por sacarose e reconhecimento de objetos foram realizados. Resultados: tanto NPS quanto CBD, bem como a associação entre ambas as substâncias puderam, após o término do estudo, ser consideradas substâncias aparentemente efetivas na prevenção de sintomas característicos da esquizofrenia. Esses dados foram constatados por meio dos resultados apresentados após a tarefa comportamental de campo aberto, na qual a maior parte dos grupos do estudo teve a capacidade de atenuar sintomas psicóticos positivos produzidos, através da diminuição das distâncias totais percorridas pelos animais do grupo que foram, previamente ao teste, estimuladas por CET. Os desfechos descritos também podem ser comprovados pelos resultados dos testes de reconhecimento de objetos, pois as mesmas drogas pareceram ser
extremamente efetivas em prevenir sintomas psicóticos da dimensão cognitiva da esquizofrenia, sendo responsáveis por aumentar o tempo de exploração de um objeto novo em detrimento a um já conhecido, posteriormente aos efeitos de piora cognitiva induzida pela CET no teste. Conclusão: os dados apresentados neste trabalho proporcionam, pela primeira vez na literatura, indícios claros de efetividade e segurança quanto ao uso preventivo de NPS, CBD e da associação de ambas as substâncias, quanto ao desenvolvimento da esquizofrenia.
Palavras-chave: Esquizofrenia. Nitroprussiato de sódio. Canabidiol. Cetamina. Neurodesenvolvimento. Maturação cerebral. Modelo animal de esquizofrenia.
ALMEIDA PRADO, D. Effects of repeated doses of sodium nitroprusside or cannabidiol on the brain maturation period in an animal model of schizophrenia. 158f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2020.
ABSTRACT
Introduction: schizophrenia is a chronic and aggressive mental disorder that affects approximately 1% of the world's population. It is a clinical syndrome with several disruptive psychopathological dimensions, which may unbalance many natural clinical characteristics of the human being, and has no cure. This illness may also be understood as a neurodevelopmental disorder, and can be noted it is associated with certain phases of human brain development. Current evidence originated from studies on treatment of this condition, post mortem work, neuroimaging investigations and experimental animal models demonstrate that these changes are related to the interaction of several pathophysiological mechanisms, such as: dopamine dysregulation; glutamate disbalance and imbalance of the endocannabinoid receptor system. It is also known that certain drugs, currently under investigation, could interact with these systems through mechanisms still unknown, however, consisting of therapeutic and possibly prophylactic properties. These drugs are cannabidiol (CBD), sodium nitroprusside (SNP) and an association of both. Objectives: the main objective of the present study was to test the effects of repeated doses of SNP and CBD, used alone and in association between them, during the brain maturation process of Wistar rats, specifically observing the possible absence of a clinical condition of schizophrenia, in which has been previously induced by ketamine (KET) administration. Secondly, the animal model of schizophrenia induced by KET administration used in this project was evaluated according to its efficacy and viability, and after all, any gender influences in the analysis of the results were systematically discussed. Methods: one hundred and twenty eight male and female Wistar rats were chosen for this experiment and they were divided into sixteen specific groups, arbitrarily randomized and twelve days old at the time of beginning of the experimental protocol. These animals were previously treated with CBD, SNP and also with the association between both drugs for twenty-one consecutive days throughout their brain maturation. After the interval of ten days, the animals were exposed for five consecutive days to the animal model of KET-induced schizophrenia and then open field test for behavior, as well as sucrose preference and object recognition tests were performed. Results: both SNP and CBD, as well as the association between both drugs could, after the end of the study, be considered apparently effective in the prevention of characteristic symptoms of schizophrenia. These data were verified through the results presented after the open field test for behavior, in which most of the study groups had the ability to reduce the positive psychotic symptoms produced by diminishing the total distances traveled by the rats from the group that were stimulated by KET, before performing the test. The outcomes presented in this study may also be proved by the results of the object recognition tests, seeing that the same drugs seemed to be extremely effective in preventing psychotic symptoms of the cognitive dimension of schizophrenia and these drugs were responsible for increasing the new object exploration time to the detriment of another object already known after the negative effects of KET-induced cognitive impairment on the test. Conclusion: for the first time, the data presented in
this paper provide indicated clearly the effectiveness and safety on the preventive use of SNP, CBD and the association of both drugs concerning the development of schizophrenia.
Keywords: Schizophrenia. Sodium nitroprusside. Cannabidiol. Ketamine. Neurodevelopment. Brain maturation. Animal model of schizophrenia.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Os reguladores já conhecidos e alvos potenciais para medicamentos das sinapses de receptores NMDA incluiriam o sitio de coagonistas de glicina na subunidade NR1, serina racemase, D-aminoácido oxidase, o ativador de D-aminoácido oxidase e o sítio da recaptação de D-serina. Aspartato e glutamato seriam agonistas; glicina e D-serina seriam coagonistas de receptores NMDA. O bloqueio de magnésio seria liberado pela despolarização. PCP seria um bloqueador de canal. D-serina seria sintetizada pela serina racemase da L-serina. D-serina estaria localizada em neurônios e células da glia, seria captado através da GlyT-1 e metabolizado para Serina pelo sítio de recaptação da D-serina. D-serina seria metabolizada pela D-aminoácido oxidase dentro da hidroxipiruvato. A degradação seria inibida pelo benzoato. O ambiente do ativador de D-aminoácido oxidase como ativador ou inibidor ainda seria incerto. Glicina seria captada pela Glyt-1 e metabolizada em L-serina pelo sistema de clivagem de glicina. Sarcosina inibiria a captação de glicina através da Glyt-1 ....................................................................................................... 32
Figura 2 – Representação gráfica da fotografia e da estrutura molecular do nitroprussiato de sódio. a) fotografia molecular do nitroprussiato de sódio, em que os átomos estão representados pelas esferas através de códigos convencionais por cores, em que: carbono (cinza), oxigênio (vermelho), nitrogênio (azul claro), sódio (azul escuro) e ferro (laranja) (imagem ilustrativa obtida em https://pixels.com/featured/3-sodium-nitroprusside-drug-molecule-molekuul.html. b) estrutura molecular do nitroprussiato de sódio extraído da bula do medicamento Nitropress® (Sodium Nitroprusside Injection), do laboratório Valeant Pharmaceuticals North America LLC .................................................................................. 36
Figura 3 – O modelo neurodesenvolvimental da esquizofrenia. a) O desenvolvimento cortical normal envolveria proliferação, migração, arborização (formação de circuitos) e mielinização, sendo os dois primeiros processos ocorrendo predominantemente durante o período pré-natal e os outros dois contínuos ao longo das duas décadas iniciais da vida. Os efeitos associados da poda da arborização neuronal e da deposição de mielina explicariam a redução progressiva do volume de substância cinzenta observada em estudos longitudinais de neuroimagem. Além dessas reduções globais observadas, alterações locais seriam muito mais complexas. Dados de cérebros humanos e não humanos indicariam aumento de sinapses inibitórias e diminuição de sinapses excitatórias ocorrendo no córtex pré-frontal de adolescentes e de adultos jovens, durante o período dos pródromos e início de psicose. b) A trajetória do desenvolvimento da esquizofrenia em crianças poderia incluir uma formação reduzida de vias inibitórias e poda excessiva de vias excitatórias, levando a um balanço excitatório-inibitório anormal no córtex pré-frontal. Mielinização reduzida também alteraria a conectividade. Embora dados atuais apoiem cada um desses possíveis mecanismos neurodesenvolvimentais para a esquizofrenia, nenhum foi provado como causador da síndrome. Detecção de alterações
neurodesenvolvimentais prodrômicas poderiam permitir intervenções precoces com potencial prevenção de psicose ...................................... 46
Figura 4 – Esquema didático dos diferentes grupos experimentais do estudo. Solução Salina (SAL); Glicose a 5% (GLI); Cetamina (CET); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD) .................................. 50
Figura 5 – Desenho experimental da sequência de eventos de todas as etapas da pesquisa. Dias do nascimento (N); Intraperitoneal (IP); Glicose a 5% (GLI); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Solução Salina (SAL); Cetamina (CET) ........................................................................... 50
Figura 6 – a) Arena convencional utilizada na realização do teste de “Campo Aberto”, para a avaliação da atividade locomotora. b) Exemplo de quantificação da atividade locomotora de um rato que recebeu injeção de cetamina (30mg/kg) através do programa “Open Source 6.1” (Insight®, Ribeirão Preto, Brasil). c) Exemplificação da proporção de tempo gasto nas bordas e no centro da arena, baseado no perfil de trajetória de cada animal estimado pelo programa “Image J®” ........................................... 54
Figura 7 – Exemplo de jaula habitualmente utilizada na realização do teste de “Preferência por Sacarose”, para a avaliação de anedonia nos animais do estudo. a) Exemplo de um recipiente utilizado no teste, especificamente adaptado para a ingestão das soluções de água deionizada e açucarada. b) Jaula característica, já montada, com os recipientes prontos para o recebimento dos animais .............................. 55
Figura 8 – a) Desenho do esquema didático para o protocolo do teste de “Reconhecimento de Objetos”. (Imagem ilustrativa obtida do acervo digital do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP da USP). b) Imagem ilustrativa de um aparato contendo um objeto em forma de tubo (cor roxa), outro em forma de bola (cor vermelha) e um terceiro em forma de cone (cor verde), utilizado para a realização do teste de “Reconhecimento de Objetos” ............................ 57
Figura 9 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 6,191; p < 0,002), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET) * (Resultado Estatisticamente Significativo). ............................................. 61
Figura 10 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 21,41; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo). ............................................. 62
Figura 11 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 6,314; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo). ............................................................... 63
Figura 12 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 24,04; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo). ............................................................... 64
Figura 13 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 9,451; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos, após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .... 65
Figura 14 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 19,02; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .... 66
Figura 15 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 2,824; p < 0,054), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET) .......................................................................... 67
Figura 16 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 1,856; p < 0,157), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de campo aberto: atividade
locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET) .......................................................................... 68
Figura 17 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 5,211; p < 0,004), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos, após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................ 69
Figura 18 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 2,714; p < 0,058), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................ 70
Figura 19 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 1,540; p < 0,223), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET) .................................. 71
Figura 20 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 0,295; p < 0,828), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET) .................................. 72
Figura 21 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 6,530; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .... 73
Figura 22 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 8,597; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .... 74
Figura 23 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 2,773; p < 0,055), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET) ....................................................................................................... 75
Figura 24 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 7,317; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................ 76
Figura 25 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 4,077; p < 0,014), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................................................ 77
Figura 26 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 4,371; p < 0,011), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05) realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................................................ 78
Figura 27 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,30] = 7,655; p = 0,000), no teste de 24 h (F [3,30] = 0,270; p = 0,845), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas
foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................ 79
Figura 28 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,32] = 3,739; p = 0,020), no teste de 24 h (F [3,32] = 7,371; p = 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ................................ 80
Figura 29 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,36] = 9,992; p < 0,000), no teste de 24 h (F [3,36] = 0,720; p = 0,546), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .............................................. 81
Figura 30 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,36] = 3,461; p = 0,026), no teste de 24 h (F [3,36] = 8,419; p = 0,000) e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) .............................................. 82
Figura 31 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,32] = 5,961; p = 0,002), no teste de 24 h (F [3,32] = 0,718; p = 0,548), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ............................................................................................ 83
Figura 32 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,30] = 6,230; p = 0,002), no teste de 24 h (F [3,30] = 13,280; p < 0,000), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza);
GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo) ............................................................................................ 84
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
EUA Estados Unidos da América
SNC Sistema nervoso central
OMS Organização Mundial de Saúde
PET Tomografia por emissão de pósitrons (positron emission
tomography)
SPECT Tomografia por emissão de fóton único (single photon emission
computed tomography)
D2 Dopamina 2
PCP Fenciclidina (phencyclidine)
CET Cetamina
NMDA N-metil-D-aspartato
AMPA Ácido α-amino-3-hidroxi-5-metilisoxazol-4-propiônico
GlyT-1 Transportador de glicina 1 (glycine transporter-1)
DSM-IV Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais - 4a
edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders -
4th Edition)
SANS Escala de Avaliação de Sintomas Negativos (Scale for the
Assessment of Negative Symptoms)
NMDA-ON-GMPc N-metil-D-aspartato-Óxido-Nítrico-Monofosfato-cíclico-de-
Guanosina (N-methyl-D-aspartate-Nitric-Oxide-cyclic-
Guanosine-Monophosphate)
ON Óxido nítrico
GMPc Monofosfato cíclico de guanosina (cyclic-Guanosine-
Monophosphate)
NOS Óxido Nítrico Sintetase
AMPc Monofosfato cíclico de adenosina (cyclic-Adenosine-
Monophosphate)
PANSS Escala de avaliação das síndromes positiva e negativa para
esquizofrenia
RNA Ácido ribonucleico (ribonucleic acid)
NPS Nitroprussiato de sódio
SER Sistema dos receptores endocanabinóides
CBD Canabidiol
CB1 Canabinóide do tipo 1
CB2 Canabinóide do tipo 2
THC ∆9-tetrahidrocanabinol
2-AG 2-araquidonoilglicerol
AHAG Amido hidrolase de ácidos graxos
GABA Ácido gama-aminobutírico
TRPV Transitório potencial do tipo valinóide
QI Quociente intelectual
UHR Ultra alto risco (ultra high risk)
SHR Ratos hipertensivos espontaneamente (spontaneously
hypertensive rats)
BPRS Escala breve de avaliação psiquiátrica (brief psychiatric rating
scale)
DSM-V Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais - 5a
edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders -
5th Edition)
MATRICS Measurement and Treatment Research to Improve Cognition in
Schizophrenia
NIMH National Institute of Mental Health
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 21 1.1 ESQUIZOFRENIA ....................................................................................... 21 1.1.1 Aspectos clínico-fenomenológicos ......................................................... 21 1.1.2 Neurobiologia geral ................................................................................... 23 1.1.3 Fisiopatologia do modelo dopaminérgico .............................................. 24 1.1.4 Fisiopatologia do modelo glutamatérgico .............................................. 27 1.1.5 O sistema N-metil-D-aspartato-Óxido-Nítrico-Monofosfato-cíclico-de-
Guanosina .................................................................................................. 33 1.1.6 Nitroprussiato de sódio ............................................................................ 35 1.1.7 Fisiopatologia do modelo endocanabinoide .......................................... 38 1.1.8 Canabidiol .................................................................................................. 41 1.1.9 A hipótese neurodesenvolvimental na esquizofrenia ............................ 43
2 OBJETIVOS ................................................................................................ 48
3 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... 49 3.1 ANIMAIS ...................................................................................................... 49 3.2 DESENHO EXPERIMENTAL ...................................................................... 49 3.3 PROTOCOLO DAS ETAPAS DO DESENHO EXPERIMENTAL
REALIZADO NOS RATOS .......................................................................... 51 3.4 MODELO ANIMAL DE ESQUIZOFRENIA .................................................. 52 3.5 PROTOCOLOS DE TESTES COMPORTAMENTAIS REALIZADOS ......... 53 3.5.1 Teste de campo aberto: atividade locomotora e proporção de tempo
no centro da arena .................................................................................... 53 3.5.2 Teste de preferência por sacarose .......................................................... 54 3.5.3 Teste de reconhecimento de objetos ...................................................... 56 3.6 PROCESSAMENTO DO TECIDO CEREBRAL .......................................... 57 3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS ........................................... 58
4 RESULTADOS ............................................................................................ 60 4.1 EXPERIMENTO DO TESTE DE CAMPO ABERTO: ATIVIDADE
LOCOMOTORA ........................................................................................... 60 4.1.1 Distância total percorrida ......................................................................... 60 4.1.1.1 Grupo de ratos machos - NPS .................................................................... 60 4.1.1.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS ..................................................................... 61 4.1.1.3 Grupos de ratos machos - CBD .................................................................. 62 4.1.1.4 Grupos de ratos fêmeas - CBD ................................................................... 63 4.1.1.5 Grupos de ratos machos - NPS/CBD .......................................................... 64 4.1.1.6 Grupos de ratos fêmeas - NPS/CBD ........................................................... 65 4.1.2 Proporção de tempo no centro da arena ................................................ 66 4.1.2.1 Grupo de ratos machos - NPS .................................................................... 66 4.1.2.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS ..................................................................... 67 4.1.2.3 Grupo de ratos machos - CBD .................................................................... 68 4.1.2.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD ..................................................................... 69 4.1.2.5 Grupo de ratos machos - NPS/CBD ............................................................ 70
4.1.2.6 Grupo de ratos fêmeas - NPS/CBD ............................................................. 71 4.2 EXPERIMENTO DO TESTE DE PREFERÊNCIA POR SACAROSE ......... 72 4.2.1 Grupo de ratos machos - NPS .................................................................. 72 4.2.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS ................................................................... 73 4.2.3 Grupo de ratos machos - CBD ................................................................. 74 4.2.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD .................................................................. 75 4.2.5 Grupo de ratos machos - NPS/CBD ......................................................... 76 4.2.6 Grupo de ratos fêmeas - NPS/CBD .......................................................... 77 4.3 RESULTADOS DO TESTE DE RECONHECIMENTO DE OBJETOS ........ 78 4.3.1 Grupos de ratos machos - NPS ................................................................ 78 4.3.2 Grupos de ratos fêmeas - NPS ................................................................. 79 4.3.3 Grupo de ratos machos - CBD ................................................................. 80 4.3.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD .................................................................. 81 4.3.5 Grupos de ratos machos - NPS/CBD ....................................................... 82 4.3.6 Grupos de ratos fêmeas NPS/CBD .......................................................... 83
5 DISCUSSÃO ............................................................................................... 85 5.1 MODELO DO DESENHO EXPERIMENTAL ............................................... 85 5.2 CAMPO ABERTO ........................................................................................ 88 5.2.1 Distância total percorrida ......................................................................... 89 5.2.2 Proporção de tempo gasto no centro da arena .................................... 103 5.3 PREFERÊNCIA POR SACAROSE ........................................................... 107 5.4 RECONHECIMENTO DE OBJETOS ........................................................ 115
6 CONCLUSÃO ........................................................................................... 128
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 131
ANEXO A – FOLHA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA ........................... 158
21
1 INTRODUÇÃO
1.1 ESQUIZOFRENIA
1.1.1 Aspectos clínico-fenomenológicos
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico e extremamente agressivo
que afeta aproximadamente 1% da população mundial adulta (SHAO et al., 2019).
Trata-se de uma síndrome clínica com diversas dimensões psicopatológicas,
disruptivas, as quais desequilibram várias características clínicas naturais do ser
humano, e que não possui cura (VAN OS; KAPUR, 2009).
Infelizmente, apesar de as estratégias farmacológicas atuais empregadas no
tratamento deste transtorno evidenciar alguns resultados positivos, melhores em
sintomas positivos e piores em sintomas negativos, cognitivos, afetivos e
desorganizados, ainda estão longe de serem considerados tratamentos
verdadeiramente eficazes (MARDER et al., 2019). Por esse motivo, esses
medicamentos, os quais são denominados como antipsicóticos, vêm sendo
extremamente criticados pela opinião pública, por pacientes e até mesmo por
médicos renomados, os quais são céticos em afirmar que, na verdade, essas
substâncias possuiriam muito mais efeitos colaterais e baixa eficácia do que
resultados (LEUCHT et al., 2017).
Esse distúrbio também pode ser compreendido como um transtorno
neurodesenvolvimental, o que implica dizer que esse estaria associado a
determinadas fases do desenvolvimento do cérebro humano. Esse conceito foi
introduzido na literatura científica mundial por Weinberger, em 1986, o qual explica
que atualmente vários estudos genéticos, epigenéticos e de neuroimagem,
evidenciam que o neurodesenvolvimento do período pré-natal seria um período
crítico para a expressão do risco do início do transtorno (WEINBERGER, 2017).
Esses estudos de expressão genética seriam consistentes em evidenciar que os
genes implicados à esquizofrenia mostrariam expressão relativamente maior durante
o período fetal, do que durante o período pós-natal (BLOOMFIELD et al., 2016).
Epidemiologicamente se trataria de um transtorno com alto risco hereditário
para o seu desenvolvimento, o qual estaria principalmente evidenciado por estudos
epidemiológicos realizados em gêmeos monozigóticos e dizigóticos (HILKER et al.,
22
2018). Corroborando Hilker et al. (2018), vale ressaltar que dos últimos cinco
estudos mais recentes realizados em gêmeos até o ano de 2017, a taxa de
concordância para gêmeos monozigóticos seria de 41 a 65% e de 0 a 28% para
gêmeos dizigóticos (CARDNO; GOTTESMAN, 2000). Entretanto, há de se
considerar que esses estudos possuiriam diversos vieses metodológicos porque
esses definem ter ou não ter o diagnóstico de esquizofrenia no momento da
realização da pesquisa e, por conseguinte, uma grande parcela de sujeitos ainda
estaria sob alto risco de desenvolver o transtorno por um grande período de tempo,
mesmo após o término do estudo (HILKER et al., 2018).
Atualmente, existem várias abordagens que tentam classificar a
esquizofrenia no intuito de melhor compreendê-la, e uma das mais aceitas seria a
abordagem dimensional, introduzida na literatura por Crow (1980), o qual postulou
nessa época os tão célebres sintomas positivos e negativos do transtorno. Essa
hipótese foi aperfeiçoada por Liddle (1987), que adicionou a esse constructo o
conceito da desorganização, e que finalmente foi sistematizada por Lindenmayer em
1994, o qual definiu um novo modelo dimensional mais amplo chamado, na língua
nativa do autor, de “A new five factor model of schizophrenia”, que adicionava aos
conceitos prévios, a dimensão cognitiva e a afetiva do transtorno (LINDENMAYER;
BERNSTEIN-HYMAN; GROCHOWSKI, 1994).
Economicamente, em termos de gastos em saúde pública mundial, um
estudo realizado por Wu e colaboradores no ano de 2005 descreveu que a
esquizofrenia gerou, aproximadamente, custos ao redor de 62,7 bilhões de dólares,
em 2002, nos Estados Unidos da América (EUA), e desses 22,7 bilhões através de
custos diretos, 7,6 bilhões em custos diretos não médicos e 32,4 bilhões em custos
indiretos, sendo que o maior componente dos custos indiretos gerados seria a perda
de produtividade no trabalho (WU et al., 2005). Desse modo, se pode inferir que
esse transtorno mental geraria altíssimo grau de incapacidade funcional, pois
contaria com aproximadamente 1,1% de todas as causas de incapacidade funcional
ajustada pelos anos de vida e 2,8% de todos os anos vividos com incapacidade
(DALTIO; MARI; FERRAZ, 2011).
No Brasil, poucos são os estudos que se propuseram a explorar o tema,
desses, cabe citar o de Leitão e colegas, os quais através de um trabalho
retrospectivo realizado em 2006, concluíram após estudar o impacto dos custos
médico-hospitalares diretos nos serviços de saúde pública no Estado de São Paulo,
23
que os gastos diretos da esquizofrenia no país foram da ordem aproximada de 191
milhões de dólares em 1998, responsáveis por 2,2% de todos os gastos em saúde
pública do país (LEITÃO et al., 2006).
1.1.2 Neurobiologia geral
De acordo com pesquisas recentes, é fato que inerente ao mecanismo
fisiopatológico deste transtorno, ao passo em que o paciente portador de
esquizofrenia desenvolve um quadro de psicose franca, os mecanismos
neurobiológicos envolvidos com a gênese do quadro já estariam ativos há muitos
anos (KAHN; SOMMER, 2015).
Vários achados neurobiológicos corroboram essa afirmação como, por
exemplo, a informação de que ao tempo do diagnóstico inicial, pacientes portadores
de esquizofrenia possuiriam volume intracraniano médio diminuído, quando
comparado com controles saudáveis. Esses resultados, amplamente extraídos
através de uma extensa metanálise realizada por Haijma e colaboradores, em 2013,
revelam uma possível diferença consistente na diminuição do volume intracraniano
de pacientes portadores de esquizofrenia de início recente e crônica e de pacientes
virgens de medicamentos (HAIJMA et al., 2013).
Estudos realizados em fases prodrômicas da esquizofrenia também vêm
fornecendo subsídios para que se compreenda a esquizofrenia como um transtorno
que se inicia em fases mais precoces do desenvolvimento humano. Entende-se por
fase prodrômica da esquizofrenia aquela em que o indivíduo antes de apresentar o
transtorno, especificamente, apresentaria danos cognitivos leves, alterações de
humor, de ansiedade, de sintomas psicóticos sutis, além de declínio social e
ocupacional (FUSAR-POLI et al., 2012). Nesse sentido, uma recente revisão
sistemática realizada em pacientes em fase prodrômica sugere que os volumes das
áreas temporal e frontal desses sujeitos estariam diminuídos, porém nem tanto como
quando no início do quadro psicótico franco (WOOD et al., 2013). Outro estudo,
porém, realizado com ênfase na substância branca da região frontal, evidenciou uma
possível redução progressiva na integridade das fibras brancas dessa região,
especificamente, naqueles pacientes que mais tarde desenvolveriam o transtorno
propriamente dito (KARLSGODT et al., 2009).
24
No intuito de tentar entender as causas das alterações cerebrais existentes,
em todas as etapas da esquizofrenia, se torna necessário compreender esse
transtorno dentro de um contexto multifatorial. Contexto esse cujas evidências atuais
provêm de estudos sobre o tratamento do quadro, de trabalhos post mortem, de
investigações de neuroimagem, bem como de modelos animais experimentais. Mais
importante ainda seria compreender a integração dessas evidências de maneira
inter-relacionada e sistematizada. Assim, esses resultados demonstram que essas
alterações estariam relacionadas à interação de diversos mecanismos
fisiopatológicos, como por exemplo, a desregulação dopaminérgica, o distúrbio
glutamatérgico, o aumento de processos cerebrais inflamatórios, entre outras
(KAHN; SOMMER, 2015).
Complementando o conhecimento descrito acima sobre esses circuitos
cerebrais anômalos, que estariam relacionados à esquizofrenia, Hallak e
colaboradores realizaram um estudo sobre os efeitos do canabidiol em um modelo
animal de esquizofrenia e introduziram na literatura o conceito de que,
provavelmente, o sistema cerebral dos canabinoides também estaria inter-
relacionado com ambos os sistemas dopaminérgico e glutamatérgico (HALLAK et
al., 2011).
1.1.3 Fisiopatologia do modelo dopaminérgico
O primeiro modelo neurobiológico proposto para a etiopatogenia da
esquizofrenia foi o modelo dopaminérgico, no qual teoricamente os sintomas do
transtorno seriam provenientes de uma hiperatividade desse neurotransmissor em
determinas áreas cerebrais. Denominada, posteriormente, de “A hipótese
dopaminérgica na esquizofrenia” se acredita que essa tenha sido arquitetada através
da contribuição do conhecimento de vários pesquisadores, os quais possuíam
diversas linhas diferentes de trabalho, porém que se relacionavam entre si em um
mesmo objetivo, descobrir os sistemas neuronais dopaminérgicos que estariam por
trás do transtorno (HOWES et al., 2012).
Essa hipótese, inicialmente introduzida na literatura por Carlsson e colegas,
em 1957 (CARLSSON; LINDQVIST; MAGNUSSON, 1957), e que foi, genialmente,
sistematizada por Snyder em 1973, através da publicação de um artigo, cujo título na
língua nativa do autor foi denominado de “Amphetamine psychosis: A "model"
25
schizophrenia mediated by catecholamines” (SNYDER, 1973), acabou se tornando
na época o modelo neurobiológico mais bem estudado e validado cientificamente,
sendo aceito como crucial na compreensão da gênese da doença1. Essa teoria
proporcionou uma explicação simples, porém consistente a respeito das causas do
transtorno, como pôde ser observado através de inúmeras evidências científicas
provenientes de trabalhos de diversos autores, como por exemplo, por meio dos
estudos de Kety (1965), o qual também acreditava que a psicose por anfetaminas
poderia ser encarada como um modelo biológico para a esquizofrenia.
Outras contribuições históricas e não menos importantes vieram de Carlsson
e Lindqvist (1963), que sugeriram que as fenotiazinas agiriam bloqueando os
receptores de dopamina. Não obstante, também as ideias do próprio Snyder (1972)
já sugeriam que a psicose por anfetaminas deveria ser mediada pela dopamina e
seus receptores específicos.
Como descrito acima, todos esses achados e tantos outros mais levaram
Snyder, em 1973, a postular determinada hipótese na qual a esquizofrenia seria
mediada pelo aumento da atividade dopaminérgica e de seus respectivos receptores
em regiões cerebrais específicas. Entretanto, esse modelo neurobiológico não era
suficiente para responder, com clareza, todas as perguntas sobre a fisiopatologia
real do transtorno, levando a conclusão final de que a hipótese da dopamina na
esquizofrenia seria muito mais uma teoria viável para a explicação da gênese do
transtorno, do que um modelo neurobiológico estrito propriamente útil (SNYDER,
1973).
Mais recentemente, corroborando as ideias de Carlsson e Snyder, um
extenso artigo de revisão realizado por Lieberman e colegas, em 1987, evidenciou
vários estudos que demonstravam que a administração de anfetamina e de outras
substâncias psicoativas, como: a cocaína e a efedrina, que pareciam aumentar as
concentrações extracelulares de dopamina, induzindo sintomas psicóticos
semelhantes aos observados na esquizofrenia (LIEBERMAN; KANE; ALVIR, 1987).
Esses agentes faziam parte de um grupo de substâncias classificadas como
psicoestimulantes e que, por definição, seriam drogas que estimulariam o sistema
1 Apesar do termo doença, por muito tempo, não ter sido aceito para a definição de uma entidade psiquiátrica, pois segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o termo doença só deveria ser utilizado para patologias que pudessem ser mensuradas e diagnosticadas através de exames complementares, o autor se reserva ao direito de, em algumas situações, utilizar o termo doença, pois inúmeras são as evidências científicas atuais que demonstram que a esquizofrenia seria uma síndrome clínica de etiologia orgânica, mas que infelizmente ainda não possui um marcador biológico adequado que a defina como tal.
26
nervoso central (SNC) e simpático, através de efeitos agonistas da
neurotransmissão catecolaminérgica (MOORE, 1977). Essas substâncias agiriam,
predominantemente, por meio da liberação de aminas biogênicas nos sítios de
armazenamento de terminais nervosos pré-sinápticos, além de bloquearem a sua
recaptação (FERRIS; TANG; MAXWELL, 1972). A administração aguda dessas
drogas produziria vários sintomas característicos que eram encontrados na
esquizofrenia, tais como: agitação psicomotora, euforia, insônia, anorexia entre
outras alterações da sensopercepção e comportamento (GROVES; REBEC, 1976).
Voltando para década de 1970, pesquisadores também tentavam entender o
motivo pelo qual alguns pacientes apresentavam excelente resposta aos
medicamentos antipsicóticos, enquanto que outros respondiam inadequadamente ou
até mesmo não demonstravam nenhum resultado para a ação desses agentes
(ANDREWS, 2003). Desse modo, ao passo em que os estudos sobre dopamina e
esquizofrenia foram se desenvolvendo, outra importante linha de pesquisa
desenvolvida sobre a validade do modelo dopaminérgico na esquizofrenia tentava
demonstrar resultados mais claros sobre a eficácia clínica dos antipsicóticos
(HOWES; MCCUTCHEON; STONE, 2015).
Na linha desses resultados, diversas pesquisas descreveram que,
possivelmente, o potencial de ação terapêutico desses agentes estaria diretamente
relacionado com a sua afinidade pelos receptores de dopamina, que estariam
aumentados e localizados mais especificamente no estriado (OWEN et al., 1978).
Por conseguinte, descobriu-se que a eficácia clínica do tratamento da esquizofrenia
estaria relacionada com anormalidades específicas na densidade de receptores de
dopamina nessa região, mas não na densidade de moléculas transportadoras de
dopamina (MACKAY et al., 1982; PEARCE et al., 1990).
Apesar de todos esses estudos descritos acima, com toda essa gama de
evidências a respeito da associação de dopamina e de esquizofrenia, os quais
contribuíram de maneira exponencial para o conhecimento acerca dos mecanismos
neuronais envolvidos com a gênese do transtorno, há de se ressaltar uma série de
limitações na interpretação dessas informações (HOWES; MCCUTCHEON; STONE,
2015). Portanto, segundo Howes, Mccutcheon e Stone (2015), bem como outros
pesquisadores da época, percebeu-se que substâncias, como as anfetaminas e a
reserpina, também interagiriam com outras monoaminas cerebrais e não somente
com a dopamina, além também do fato de que não havia uma informação clara a
27
respeito do locus das anormalidades dopaminérgicas encontradas no cérebro in vivo
(DAVIS et al., 1991).
Desde aquela época então, o conhecimento sobre as várias regiões
anatômicas cerebrais, que estariam relacionadas com a esquizofrenia, era
proveniente em sua maioria de estudos realizados em cérebros post mortem.
Mesmo assim, atualmente, exames mais modernos de neuroimagem (TRZESNIAK
et al., 2011) realizados, por exemplo, através de tomografia por emissão de
pósitrons (PET) e tomografia por emissão de photon único (SPECT) entre outros
vêm corroborando aqueles resultados prévios descritos acima, evidenciados por
análises post mortem (KIM; HOWES; KAPUR, 2013).
Entre essas diversas anormalidades anatômicas cerebrais já relacionadas
com a fisiopatologia da esquizofrenia, chama a atenção aquelas que estariam
relacionadas ao antagonismo de receptores de dopamina 2 (D2), alvo de ação da
maior parte dos antipsicóticos desenvolvidos naquela época. É o caso, por exemplo,
dos terminais dos neurônios dopaminérgicos localizados no estriado de pacientes
portadores desse transtorno (KAPUR et al., 1996). Outra área anatômica que estaria
intimamente relacionada com a doença e que também hoje em dia pesquisas vêm
demonstrando relação clara com o transtorno seria o tálamo mediodorsal. Essa
estrutura se conecta, fortemente, com o córtex pré-frontal, e através de estudos de
neuroimagem funcional parece possuir ativação nitidamente diminuída em pacientes
portadores de esquizofrenia durante tarefas cognitivas (SIGURDSSON, 2016).
Com todas essas evidências descritas acima, em síntese, pode-se afirmar
que a hipótese dopaminérgica na esquizofrenia não elucida o mecanismo preciso da
fisiopatologia do transtorno e, desse modo, pesquisadores tentam desde aquela
época a duras penas encontrar novos modelos neurobiológicos, que expliquem de
maneira mais convincente a gênese da doença.
1.1.4 Fisiopatologia do modelo glutamatérgico
Na década de 1960, concomitantemente ao início das pesquisas sobre a
neurotransmissão dopaminérgica na esquizofrenia, pesquisadores começaram a
estudar o papel de outro neurotransmissor, o glutamato, na gênese do transtorno
(YANG; TSAI, 2017). A ideia de se estudar a neurotransmissão glutamatérgica na
esquizofrenia se inicia, então, pela observação de médicos especialistas a usuários
28
de fenciclidina (PCP), também conhecida como a droga de abuso angel dust, e de
cetamina (CET), pois esses indivíduos desenvolviam um quadro esquizofrenia-like
bem característico ao encontrado na própria doença (OLNEY et al., 1999). Essa
síndrome cursava além apenas dos sintomas positivos e negativos que a psicose
por anfetaminas provocava, com os mesmos sinais e sintomas que afetam todas as
dimensões psicopatológicas do transtorno, ou seja, as dimensões: positiva, negativa,
desorganizada, cognitiva e afetiva (MORRIS; COCHRAN; PRATT, 2005). Após anos
de estudo, descobriu-se que isso ocorria porque substâncias como a PCP e a
própria CET antagonizavam receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), produzindo
psicose (FROHLICH; VAN HORN, 2014).
O primeiro relato do uso de antagonistas glutamatérgicos como um modelo
farmacológico para a esquizofrenia ocorreu em 1962 e foi realizado por Luby e
pesquisadores. Esses autores escreveram, nessa época, um artigo original no qual
testaram a viabilidade de vários modelos experimentais de psicose, como por
exemplo, a privação de sono, o isolamento sensorial e o do uso de drogas
psicotomiméticas e introduziram, desse modo, o conceito de que drogas como a
PCP poderiam induzir a uma gama de sinais e de sintomas que provocariam um
quadro clínico de sintomatologia muito parecida com o da esquizofrenia (LUBY et al.,
1962). A substância utilizada foi o Sernyl®, [1-(1-phenylcyclohexyl)] monohidrocloro
de piperidina, um agente pré-anestésico e tranquilizante que foi patenteado em 1952
pelo laboratório Parke-Davis® (MION, 2017).
Durante vários anos, após esses primeiros relatos de Luby e colegas, era
sabido que tais agentes antagonistas glutamatérgicos causavam um quadro
esquizofrenia-like nos indivíduos que eram usuários dessas substâncias, porém
ninguém sabia ao certo o modo ou mais precisamente os mecanismos cerebrais
responsáveis por esse fenômeno. Até que no ano de 1995, Olney e Farber
publicaram o primeiro artigo científico explicando tecnicamente sobre a então
denominada “Hipótese glutamatérgica na esquizofrenia”, através da observação de
que agentes antagonistas de receptores NMDA poderiam provocar déficits
característicos dessa doença em humanos (OLNEY; FARBER, 1995). Esses dois
pesquisadores descreveram que uma possível disfunção de receptores
glutamatérgicos poderia explicar a fisiopatologia do transtorno, corroborando
achados prévios de Kim e colaborares na década de 1980, os quais introduziram os
29
conceitos iniciais a respeito do modelo glutamatérgico na esquizofrenia (KIM et al.,
1980).
Dando maior ênfase e atenção a esses novos conceitos em relação à
esquizofrenia, Deakin e Simpson, em 1997, sistematizaram esses resultados citados
acima, descrevendo que determinados receptores glutamatérgicos ionotrópicos, que
são essenciais para a plasticidade neuronal, estariam relacionados com a
hipoatividade de receptores do tipo NMDA e, assim, poderiam estar envolvidos com
a gênese da doença (DEAKIN; SIMPSON, 1997).
Alguns agentes antagonistas glutamatérgicos distintos, como por exemplo, a
PCP, a CET com seus isômeros S (+) ou R (-) vêm sendo utilizados como possíveis
modelos farmacológicos viáveis para a indução de quadros esquizofrenia-like em
humanos e em animais durante todos esses anos. Atualmente, após um extenso
artigo de revisão realizado em 2014 por Frohlich e Van Horn, essas opções
farmacológicas distintas foram corroboradas por esses autores como modelos
farmacológicos viáveis, que ainda se estenderam em definir que a CET seria o
modelo farmacológico mais adequado e seguro de indução a um quadro
esquizofrenia-like, através do antagonismo dos receptores NMDA (FROHLICH; VAN
HORN, 2014).
A respeito do mecanismo da neurotransmissão na hipótese glutamatérgica
da esquizofrenia, é importante mencionar que o glutamato parece ser o aminoácido
mais abundante encontrado no cérebro de mamíferos (LODGE, 2009). Esse
neurotransmissor possuiria dois tipos de receptores, os metabotrópicos e os
ionotrópicos, os quais de acordo com estudos recentes seriam possíveis de afirmar
que as maiores evidências do envolvimento desses receptores glutamatérgicos na
esquizofrenia ocorreriam pelos receptores ionotrópicos, que poderiam ser
subdivididos em NMDA, e não-NMDA, ou seja, ácido α-amino-3-hidroxi-5-
metilisoxazol-4-propiônico (AMPA) e kainato (KALIA; KALIA; SALTER, 2008). Tanto
os receptores NMDA, como os não-NMDA fariam parte da neurotransmissão
glutamatérgica, entretanto os receptores NMDA estariam mais bem associados à
fisiopatologia da esquizofrenia, de acordo com vários estudos prévios que tentaram
evidenciar que o bloqueio desses, através da PCP, provocaria esquizofrenia (LIN;
LANE; TSAI, 2012).
Mais especificamente então, os estudos atuais sobre a hipótese da
neurotransmissão glutamatérgica na esquizofrenia demonstram que os receptores
30
NMDA devem ser regulados ou até mesmo controlados por estruturas classificadas
como agonistas, coagonistas, além de uma série de moléculas como as poliaminas,
o zinco, o magnésio, a própria PCP e, também, a CET (BLISS; COLLINGRIDGE,
1993). Esses receptores NMDA também seriam constituídos por subunidades
denominadas NR1, NR2 ou NR3 e juntos comporiam canais de receptores
heterométricos, ou seja, de diferentes tamanhos e com características
farmacológicas distintas (LAURIE; SEEBURG, 1994). Essas estruturas possuiriam
características únicas, que além de se ligarem ao glutamato e até mesmo ao
aspartato, também se conectariam a determinados sítios coagonistas separados,
específicos para ligantes endógenos como a D-serina, glicina e D-alanina. A
conexão com esses sítios coagonistas separados poderia aumentar a frequência da
abertura desses supostos canais iônicos, que seriam ativados por agonistas de
receptores NMDA, facilitando a transmissão excitatória no cérebro (JOHNSON;
ASCHER, 1987). Na verdade, a ativação desses ligantes como a D-serina, glicina e
D-alanina, junto com o glutamato, seria necessária para a abertura de outros canais
iônicos de receptores NMDA, porém dessa vez outro tipo de canal conhecido como
ionóforo, ou seja, que seria solúvel em lipídeos (CHESSELL et al., 1991).
Desses ligantes descritos acima, a D-alanina seria o ligante menos
importante na neurotransmissão excitatória do neocórtex e, por esse motivo, a maior
parte dos estudos atuais se concentra em estudar a ligação da D-serina e da glicina
nos sítios de receptores NMDA de D-serina e de glicina (LIN; LANE; TSAI, 2012).
Dentro desse contexto, essas substâncias seriam imprescindíveis para a
neurotransmissão glutamatérgica, uma vez que essas aumentariam a eficácia da
comunicação entre os neurônios glutamatérgicos, pois ao recrutarem receptores
ionóforos aumentariam a duração e a frequência da abertura dos canais iônicos,
promovendo turnover de receptores NMDA (FADDA et al., 1988; NONG et al., 2003).
É sabido também que a conexão de D-serina nos receptores NMDA, principalmente,
da subunidade NR1, se ligaria mais fortemente aos receptores NMDA do que a
glicina e, por conseguinte, outro dado importante seria que as sinapses de D-serina
e de glicina nos receptores NMDA da subunidade NR1, não estariam totalmente
saturados em regiões como o córtex pré-frontal, hipocampo e tálamo, sugerindo que
agonistas de D-serina e glicina seriam capazes de melhorar a neurotransmissão de
receptores NMDA (LABRIE; RODER, 2010).
31
A partir do conhecimento mais profundo dos receptores NMDA ionotrópicos,
como explicado anteriormente, diversos centros de pesquisa tentaram realizar vários
tipos diferentes de tratamentos, visando sempre resultados efetivos e consistentes
nos sintomas da esquizofrenia, através do agonismo desses receptores ionotrópicos.
Em 2013, Papanastasiou e seus colegas, através de um artigo de revisão, referiram
que a maioria dos fármacos em desenvolvimento, nessa linha de pesquisa, agiria
como agonistas nos sítios de glicina B ou visariam aumentar as concentrações
sinápticas de glicina através da inibição do transportador de glicina 1 (GlyT1)
(PAPANASTASIOU; STONE; SHERGILL, 2013). Esses fármacos em questão
seriam a D-alanina, a D-serina, a glicina (agonistas de glicina), a D-cicloserina
(agonista parcial de glicina), a N-acetilcisteína (precursor da glutationa e modulador
de receptores NMDA) e a sarcosina (inibidor endógeno de GlyT-1).
A figura abaixo (ver figura 1) reproduz uma espécie de representação gráfica
mais detalhada do circuito das sinapses dos receptores NMDA (LIN; LANE; TSAI,
2012).
32
Figura 1 – Os reguladores já conhecidos e alvos potenciais para medicamentos das sinapses de receptores NMDA incluiriam o sitio de coagonistas de glicina na subunidade NR1, serina racemase,
D-aminoácido oxidase, o ativador de D-aminoácido oxidase e o sítio da recaptação de D-serina. Aspartato e glutamato seriam agonistas; glicina e D-serina seriam coagonistas de receptores NMDA. O bloqueio de magnésio seria liberado pela despolarização. PCP seria um bloqueador de canal. D-
serina seria sintetizada pela serina racemase da L-serina. D-serina estaria localizada em neurônios e células da glia, seria captado através da GlyT-1 e metabolizado para Serina pelo sítio de recaptação
da D-serina. D-serina seria metabolizada pela D-aminoácido oxidase dentro da hidroxipiruvato. A degradação seria inibida pelo benzoato. O ambiente do ativador de D-aminoácido oxidase como
ativador ou inibidor ainda seria incerto. Glicina seria captada pela Glyt-1 e metabolizada em L-serina pelo sistema de clivagem de glicina. Sarcosina inibiria a captação de glicina através da Glyt-1
Fonte: Adaptado de Lin, Lane e Tsai (2012).
Vários estudos realizados nos sítios de glicina, embora com amostras
pequenas, mostraram alguns indícios de resultados no tratamento de sintomas
positivos, negativos e cognitivos da esquizofrenia (JAVITT et al., 1999; JAVITT et al.,
2001; JAVITT, 2008). Apesar do pequeno tamanho desses testes, seus resultados
aparentemente encorajadores estimularam o interesse das empresas farmacêuticas
em desenvolver drogas visando ativação dos receptores de glicina. Entretanto, após
vários ensaios clínicos desenvolvidos se percebeu que essas drogas não seriam
realmente efetivas para o tratamento da esquizofrenia, como demonstra, por
exemplo, Buchanan e colaboradores, os quais escreveram um artigo concluindo que
as drogas citadas acima e até mesmo outras com mecanismos de ação similares
não evidenciaram nenhum resultado consistente na melhora de sintomas da
esquizofrenia (BUCHANAN et al., 2007).
33
O estudo de Buchanan et al. (2007) foi um dos mais bem elaborados sobre o
tema até o momento, e consistiu de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego,
realizado nos EUA e em Israel, com as drogas glicina, D-cicloserina e placebo para o
tratamento de sintomas negativos e cognitivos da esquizofrenia. Foram selecionados
157 participantes, que preencheram os critérios do “Manual Diagnóstico e Estatístico
das Doenças Mentais - 4a edição” (DSM-IV) para esquizofrenia e, especificamente,
para os sintomas negativos da doença, de moderados a graves (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). Através da “Escala de Avaliação de Sintomas
Negativos” (SANS), uma escala para acesso aos sintomas negativos da
esquizofrenia e, também, através de uma bateria de testes cognitivos, os grupos
acima descritos foram comparados, não sendo encontrada nenhuma diferença
estatística entre esses. Esses resultados então sugeriram que nem glicina e nem D-
cicloserina seriam agentes terapêuticos efetivos para o tratamento da esquizofrenia
(BUCHANAN et al., 2007).
Dessa maneira, estudar outras medicações, com diferentes mecanismos de
ação, que pudessem produzir alterações benéficas no sistema glutamatérgico de
pacientes portadores de esquizofrenia se tornou o foco de pesquisadores que se
aprofundaram nessa linha de pesquisa. E, por conseguinte, outra abordagem de
medicamentos, ou melhor ainda, uma outra teoria que visava resolver o problema do
antagonismo glutamatérgico na esquizofrenia e, cujo mecanismo de ação não teria
como objetivo principal os sítios de glicina, seria a do sistema conhecido como N-
metil-D-aspartato-Óxido-Nítrico-Monofosfato-cíclico-de-Guanosina (NMDA-ON-
GMPc).
1.1.5 O sistema N-metil-D-aspartato-Óxido-Nítrico-Monofosfato-cíclico-de-Guanosina
Por meio de evidências recentes de várias outras anormalidades no circuito
glutamatérgico, Miüller e Schwarz (2007) descreveram que as alterações de
neurotransmissão glutamatérgica encontradas nessa doença poderiam estar
relacionadas ao sistema descrito acima, ou seja, ao circuito NMDA-ON-GMPc. Na
mesma linha de evidências, diversos outros estudos corroboraram Miüller e Schwarz
(2007), referindo que na esquizofrenia haveria uma diminuição considerável de
metabólitos de óxido nítrico (ON) e de monofosfato cíclico de guanosina (GMPc)
34
(RAMIREZ et al., 2004). Entre esses estudos é conhecido o trabalho, por exemplo,
em 2004, de Nakano e colaboradores, que descreveram uma provável associação
entre sintomas negativos da esquizofrenia e diminuição de níveis plasmáticos de
metabolitos de ON (NAKANO et al., 2010). Outro artigo prévio, que corroborou os
mesmos achados descritos pela equipe de Nakano, foi escrito por Gattaz e colegas
em 1983, no qual esses autores já descreviam provável diminuição de GMPc em
pacientes portadores de esquizofrenia (GATTAZ et al., 1983).
Portanto, no intuito de se compreender mais adequadamente o sistema
NMDA-ON-GMPc descrito anteriormente se torna necessário conhecer o sistema do
ON no cérebro de humanos. O ON é um gás gerado pela conversão da L-arginina
em L-citrulina pela enzima ON sintetase (ONS) (BREDT; SNYDER, 1992).
Existiriam, basicamente, três formas de ONS, a ONS neuronal, a induzível e a
endotelial (BERNSTEIN et al., 2005). No cérebro humano, então, o ON seria
responsável pela ligação e consequente ativação do receptor guanilato ciclase
solúvel, que aumentaria a síntese do segundo mensageiro, ou seja, do GMPc, que
por sua vez ativaria as quinases dependentes de GMPc em células alvo
(RUSSWURM; KOESLING, 2004; HOBBS; IGNARRO, 1996). O ON também se
conectaria aos receptores NMDA através da ONS neuronal, aumentando a produção
de ON endógeno ao redor das sinapses NMDA, ativando seus receptores e,
consequentemente, aumentando a atividade da neurotransmissão mediada por
glutamato (BRENMAN; BREDT, 1997).
Explicando mais detalhadamente ainda o que ocorre nesse sistema se pode
afirmar que a ativação glutamatérgica de receptores NMDA permitiria influxo de
cálcio para dentro da célula, que por sua vez se ligaria a calmodulina, que é uma
proteína que possui alta afinidade com as moléculas de cálcio, produzindo
monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) e GMPc, estimulando a ONS neuronal a
produzir mais ON (MAYER; HEMMENS, 1997). Por sua vez, esse novo ON gerado
estimularia a enzima guanilato ciclase solúvel, aumentando mais uma vez as
concentrações de GMPc, o qual possuiria o papel de poder modular a atividade de
proteínas quinases, a translação de ácido ribonucleico (RNA) mensageiro e a
síntese de produtos derivados dos genes (BERNSTEIN et al., 2005; AKYOL et al.,
2004). Todo esse mecanismo, então, melhoraria a reposta glutamatérgica do
cérebro humano (OLIVEIRA et al., 2015).
35
Desse modo seria coerente inferir que drogas que pudessem agir na
resposta glutamatérgica, através do circuito NMDA-ON-GMPc, poderia melhorar
sintomas da esquizofrenia. Entretanto, pesquisas recentes realizadas por meio de
agonistas de receptores NMDA via ON para o tratamento da esquizofrenia vêm
demonstrando resultados inconsistentes, possivelmente, devido ao rápido
desenvolvimento de tolerância desses compostos, secundariamente a um processo
de dessensibilização de receptores NMDA (TUOMINEN; TIIHONEN; WAHLBECK,
2005).
No intuito de tentar resolver esse problema de dessensibilização de
receptores NMDA, Bujas-Bobanovic e sua equipe encontraram evidências científicas
importantes em que acreditam terem conseguido evitar esse problema de
dessensibilização e tolerância (BUJAS-BOBANOVIC et al., 2000). Esses
investigadores, através de um artigo publicado no ano de 2000, demonstraram que
com a infusão de nitroprussiato de sódio (NPS), um potente doador de ON, eles
conseguiram, aparentemente, abolir o comportamento psychosis like e a expressão
cerebral do proto-oncogene c-fos em ratos, que foram induzidos com PCP.
Infelizmente, o mecanismo exato pelo qual o NPS produziria seus efeitos em animais
tratados com a PCP ainda não está claro, mesmo já se conhecendo que além da
produção de ON no cérebro e aumento da produção de GMPc, o NPS parece
modular as atividades dos receptores NMDA (HOYT et al., 1992; MANZONI et al.,
1992).
1.1.6 Nitroprussiato de sódio
Dessa maneira, seria interessante conhecer de maneira mais ampla o que
realmente seria a molécula NPS e, consequentemente, quais seriam os seus efeitos
no cérebro humano. O NPS, como já descrito, seria um importante doador de ON, o
qual foi descoberto ao final de 1800 (LOCKWOOD et al., 2010) e passou a uso
clínico a partir de 1929 para o tratamento da hipertensão arterial severa e, também,
para indução de hipotensão em cirurgias para redução da perda sanguínea
intraoperatória (JOHNSON, 1929). Atualmente, é comercializado através de
administração endovenosa, e possui uso restrito em função do acúmulo de
ferrocianida após múltiplas dosagens (MARIK; VARON et al., 2007). Possui molécula
ativa igual ao do desenho abaixo (ver figura 2), a qual é composta de uma molécula
36
de ferro ferroso e de cinco moléculas de cianeto, além de um grupo nitrosil
(MULLICA; TIPPIN; SAPPENFIELD, 1991).
Figura 2 – Representação gráfica da fotografia e da estrutura molecular do nitroprussiato de sódio. a) fotografia molecular do nitroprussiato de sódio, em que os átomos estão representados pelas esferas através de códigos convencionais por cores, em que: carbono (cinza), oxigênio (vermelho), nitrogênio
(azul claro), sódio (azul escuro) e ferro (laranja) (imagem ilustrativa obtida em https://pixels.com/featured/3-sodium-nitroprusside-drug-molecule-molekuul.html). b) estrutura molecular do nitroprussiato de sódio extraído da bula do medicamento Nitropress® (Sodium
Nitroprusside Injection), do laboratório Bausch Health Americas, Inc.
Fonte: Adaptado de Dailymed (2016).
No corpo humano, o NPS interagiria com a oxihemoglobina no sangue,
produzindo metahemoglobina enquanto liberaria cianeto e ON. Depois disso,
gerando toda a cascata de eventos descrita acima, em que resumidamente o ON
ativaria a guanilato ciclase solúvel, a qual aumentaria a produção de GMPc,
modulando a ação de proteínas quinases (LOCKWOOD et al., 2010). Em posse do
conhecimento mencionado nos últimos parágrafos se pode afirmar que as
observações pré-clínicas descritas levaram ao desenvolvimento de uma hipótese de
pesquisa na qual o NPS poderia melhorar sintomas de pacientes portadores de
esquizofrenia.
Baseado nessas pesquisas prévias, o grupo de pesquisa da FMRP da USP,
responsável pela referida tese de doutorado em questão, e chefiado pelo Professor
Jaime Hallak, publicou um artigo científico original, no “American Journal of
Psychiatry”, no ano de 2013, no qual se testou, de maneira inédita, a efetividade do
NPS quanto ao tratamento de sintomas de pacientes portadores de esquizofrenia
(HALLAK et al., 2013). Os resultados foram surpreendentes, porque se pode
observar uma aparente melhora rápida dos sintomas da doença, após apenas uma
37
infusão da substância. Mais interessante foi a descoberta de que mesmo após uma
única administração endovenosa rápida de quatro horas de NPS, essa parece ter
sido suficiente para que os efeitos de melhora clínica permanecessem por até quatro
semanas. Desse modo, após o término do estudo, talvez, a principal questão a ser
respondida foi: como o NPS, que possui meia vida de eliminação tão pequena,
poderia ter produzido um efeito tão duradouro no tratamento dos sintomas do
transtorno? Ainda não se pode responder a essa pergunta com clareza e, portanto,
novos estudos deverão tentar respondê-la com mais propriedade. Entretanto, o
aparente efeito terapêutico tão duradouro encontrado no estudo proporcionou aos
pesquisadores, envolvidos com esse trabalho, formular uma nova hipótese de
pesquisa na qual o NPS poderia possuir propriedades terapêuticas preventivas em
referência aos sintomas da esquizofrenia, uma vez que apenas uma única dosagem
da substância parece ter proporcionado resultados estendidos de aproximadamente
trinta dias.
Corroborando a hipótese descrita acima, Oliveira et al. (2015) elaboraram
um estudo em que se avaliou o uso do NPS administrado em tempos distintos (12h,
1 dia, 2 dias e 1 semana) em um modelo animal de esquizofrenia usando a CET
como indutor de um quadro schizophrenia like. Os resultados surpreendentes
tiveram como conclusão que a administração de NPS até uma semana antes da
CET, aparentemente, parece ter prevenido o aparecimento dos sintomas da doença
em ratos.
Desse modo, os resultados provenientes da equipe de Hallak et al. (2013),
associados aos do estudo de Oliveira et al. (2015), forneceram evidências científicas
de que o NPS poderia provocar efeitos preventivos e duradouros em sintomas
psicóticos nos organismos tratados previamente com essas substâncias. Assim,
nasce a ideia de se estudar a possibilidade de prevenir os sintomas da esquizofrenia
através do uso prévio do NPS, sendo esse um dos principais objetivos da tese de
doutorado em questão.
Ainda, segundo Hallak et al. (2011), provavelmente, deva existir algum tipo
de interação específica de um outro sistema de neurotransmissão com o sistema
glutamatérgico descrito acima, e se trata do sistema dos receptores
endocanabinoides (SRE). Esse autor, juntamente com seus colegas, descreve que
estudar os efeitos do canabidiol (CBD), um canabinoide presente na planta
Cannabis sativa, através de modelos animais de psicose com CET, poderia melhorar
38
o conhecimento científico sobre a inter-relação entre os sistemas glutamatérgico e
endocanabinoide, além de guiar estudos posteriores sobre a possível farmacoterapia
do CBD para o tratamento da esquizofrenia (HALLAK et al., 2011).
1.1.7 Fisiopatologia do modelo endocanabinoide
O SRE no cérebro humano parece consistir de um mecanismo
neuromodulatório complexo que possuiria um papel importante no desenvolvimento
maturacional do SNC, na plasticidade sináptica e na resposta neurológica aos
insultos endógenos e ambientais (JIANG et al., 2010; GAO et al., 2010). O SRE seria
composto, basicamente, de receptores canabinoides, de canabinoides endógenos
(endocanabinoides), e de enzimas responsáveis pela síntese e degradação dos
endocanabinoides (LU; MACKIE, 2016).
Atualmente, acredita-se que os dois principais tipos de receptores
canabinoides no organismo humano seriam o receptor canabinoide do tipo 1 (CB1) e
o receptor canabinoide do tipo 2 (CB2) (HOWLETT et al., 2002). Os receptores CB1
seriam as estruturas mais abundantes no organismo humano e estariam localizados,
principalmente, no SNC e periférico, mais especificamente, em regiões cerebrais
como hipocampo, córtex, gânglios da base, cerebelo e medula espinhal. Já os
receptores CB2 seriam encontrados também no sistema nervoso periférico, além do
sistema imunológico (ZUARDI et al., 2012). Outros tipos de receptores canabinoides,
que também estariam intimamente relacionados a esse sistema, seriam o receptor
transitório potencial e o receptor ativado por proliferadores de peroxissomas
(O’SULLIVAN, 2007).
Nesse sistema, acoplado aos receptores canabinoides, de maneira geral,
existiriam estruturas conhecidas como endocanabinoides, que seriam lipídeos
endógenos, os quais possuiriam a capacidade de interagir com o comportamento de
maneira parecida aos efeitos produzidos pelo componente psicoativo da Cannabis
sativa, conhecido como ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) (LU; MACKIE, 2016). A
primeira descrição na literatura a respeito dos endocanabinoides presentes no
cérebro humano, que também são conhecidos como ligantes endógenos de
receptores canabinoides, versou sobre a descoberta da anandamida (araquidonoil
etanolamida) e da 2-AG (2-araquidonoilglicerol), ambas realizadas na década de
1990 (DEVANE; AXELROD, 1994; MECHOULAM et al., 1995). Gonsiorek e
39
colaboradores testaram a eficácia específica dos endocanabinoides 2-AG e
evidenciaram que esse tipo de ligante endógeno aparentemente seria um agonista
altamente eficaz de CB1 e de CB2 (GONSIOREK et al., 2000). Em contrapartida, a
anandamida, outro tipo de lipídeo endógeno vinculado aos receptores canabinoides
e já descrito acima, também foi amplamente testado por outro grupo de pesquisa
que encontrou resultados em que havia sido possível inferir que esse parece ser um
agonista completo de receptores CB1 e parcial de CB2 (LUK et al., 2004). Desse
modo, em circuitos neuronais em que os níveis funcionais de receptores
canabinoides são deficitários, bem como em sistemas em que esses receptores não
apresentam potência necessária para estimular, de maneira adequada, trajetos
neuronais, a anandamida poderia antagonizar os efeitos dos agonistas mais eficazes
já conhecidos na literatura (MACKIE; DEVANE; HILLE, 1993).
Em suma, o SRE então seria formado de receptores canabinoides, e
associados a esses receptores, os endocanabinoides propriamente ditos, além de
determinadas enzimas que atuariam em sua biossíntese, como por exemplo, a
lipase diacilglicerol, bem como outras que atuariam em sua degradação e, dessa
vez, por esse mecanismo se teria a lipase monoacilglicerol e a amido hidrolase de
ácidos graxos (AHAG) (GUPTA et al., 2014).
A ideia de se estudar o SRE na esquizofrenia surgiu por meio da observação
de usuários de Cannabis que, eventualmente, em algum momento de suas vidas
desenvolviam um quadro de psicose franca (SMIT; BOLIER; CUIJPERS, 2004).
Observações descritas de acordo com o alto número de usuários dessa substância,
levando a Cannabis a poder ser considerada como a droga ilícita mais utilizada na
sociedade, sendo que a maioria de seus usuários a experimentou pela primeira vez
ainda na adolescência (ZUARDI, 2006). É sabido também que existe altíssima
associação entre uso dessa substância e o desenvolvimento de esquizofrenia,
principalmente, quando utilizada durante a adolescência e a vida de adulto jovem,
entretanto, apenas indivíduos que seriam vulneráveis geneticamente a essa
substância é que desenvolveriam a doença (DONOGHUE et al., 2014).
Teoricamente, os adolescentes estariam mais suscetíveis à ação de longo termo da
Cannabis, porque nesse período os seus cérebros ainda estariam em uma fase de
neurodesenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis a esses insultos ambientais
(MURRAY et al., 2017).
40
Complementando as informações descritas acima, atualmente, é sabido que
o consumo de Cannabis poderia induzir sintomas psicóticos em indivíduos normais e
também poderia facilitar a predisposição ao desenvolvimento de esquizofrenia em
pessoas vulneráveis geneticamente (ZUARDI et al., 2012).
O THC, que seria o principal constituinte da Cannabis, aparentemente deve
ser o maior responsável pelos efeitos psicotomiméticos dessa planta e foi isolado,
inicialmente, por Gaoni e Mechoulam na década de 1960 (GAONI; MECHOULAM,
1964). Estudos realizados com administração aguda de THC parecem evidenciar
que esse canabinoide exógeno exerceria sua ação cerebral atuando como um
potente agonista de receptores CB1, se ligando e, consequentemente,
hiperestimulando esses receptores (D’SOUZA et al., 2012). O THC, então, exerceria
certo tipo de influência ainda a ser investigada corretamente a respeito da liberação
de neurotransmissores já sabidamente envolvidos com a patofisiologia da
esquizofrenia, como a dopamina e o glutamato (MOUSLECH; VALLA, 2009;
MATYAS et al., 2006). Vários estudos longitudinais realizados nas últimas décadas
dão suporte a esse modelo fisiopatológico para a esquizofrenia, ou seja, o modelo
dos receptores endocanabinoides (ZUARDI et al., 2011). Essa hipótese de pesquisa
ganhou força após várias comprovações científicas provenientes de estudos de
neuroimagem (WONG et al., 2010) e post mortem (DEAN et al., 2001), em que foi
possível acreditar que uma aparente hiperatividade do SRE estaria relacionada ao
desenvolvimento da esquizofrenia.
Dando seguimento à hipótese do SRE na esquizofrenia, é importante
mencionar que outros canabinoides, porém dessa vez os endógenos também
estariam relacionados ao desenvolvimento da doença. É o caso, por exemplo, da
Anandamida, a qual estaria aumentada na esquizofrenia, o que pode ser
comprovado por meio de vários estudos, os quais demonstraram que no líquor e no
plasma, esse endocanabinoide estaria aumentado nos quadros agudos do
transtorno, em pacientes que nunca usaram antipsicóticos e em pacientes em
primeiro episódio, quando comparado com controles saudáveis (GIUFFRIDA et al.,
2004). Entretanto, em indivíduos em estágios prodrômicos, níveis aumentados de
anandamida estariam associados ao menor risco de conversão para a esquizofrenia,
sugerindo que o aumento de anandamida deveria ser apenas compensatório, diante
do contexto descrito (KOETHE et al., 2009).
41
Atualmente, os níveis séricos de anandamida vêm sendo reconhecidos
como parte de um grupo de novos tratamentos potenciais para a esquizofrenia. O
antagonismo de receptores CB1, os quais diminuiriam os níveis de anandamida,
demonstram indícios de excelentes resultados na diminuição dos níveis de
ansiedade, porém com respostas inconsistentes como agente antipsicótico (GUPTA
et al., 2014). Assim, alternativamente, estudos sobre novas drogas, cujo foco de
ação seria a potencialização dos níveis endógenos de anandamida, estariam
evidenciando resultados excelentes, principalmente, em sintomas psicóticos em
fases iniciais da esquizofrenia e, também, em modelos animais da doença
(TZAVARA et al., 2006; ROSER; VOLLENWEIDER; KAWOHL, 2010). A
anandamida, por si só, possui baixa biodisponibilidade, porém existem drogas, como
o CBD e outras mais, que reduziriam sua desativação via inibição da AHAG,
bloqueando sua recaptação dentro do neurônio (FOWLER, 2006). Por exemplo, em
um estudo de 42 pacientes em fase aguda da esquizofrenia, o CBD mostrou eficácia
comparada a amisulpirida para sintomas positivos e negativos da doença, porém
com melhor tolerabilidade. De qualquer maneira, a melhora desses sintomas estaria
correlacionada ao aumento da anandamida, sugerindo que o CBD poderia mediar
seu efeito via inibição de AHAG (LEWEKE et al., 2012).
1.1.8 Canabidiol
O CBD seria o maior constituinte não psicotomimético da planta Cannabis
sativa e seus eventuais efeitos terapêuticos estão sendo estudados pelos seus
benefícios farmacológicos já bem estabelecidos em função da ausência, já
devidamente esclarecida, dos efeitos psicotomiméticos do THC (ZUARDI et al.,
1982). O CBD produziria um perfil dose-dependente complexo de efeitos
farmacológicos como consequência aos vários mecanismos de ação como, por
exemplo, o antagonismo não competitivo de receptores CB1, o agonismo inverso de
receptores CB2, o bloqueio da captação da anandamida e a inibição da hidrólise
enzimática do mesmo endocanabinoide (PERTWEE, 2008).
Desse modo, então, uma vez que o CBD, entre outras ações, além de
bloquear a captação, inibiria a hidrólise enzimática de anandamida, seria
interessante entender qual seria o resultado bioquímico dessas ações no SNC. Para
responder a essa questão se deve lembrar, como já descrito acima, que a
42
anandamida seria um ligante endógeno dos receptores CB1 e CB2, sintetizada sob
demanda e liberada nas sinapses em que ativaria receptores CB1 com muito mais
afinidade do que ativaria receptores CB2, indiretamente diminuindo a liberação de
alguns neurotransmissores como glutamato, dopamina e ácido gama-aminobutírico
(GABA). A anandamida também seria um importante agonista do receptor transitório
potencial do tipo valinoide (TRPV), facilitando assim ainda mais, a liberação do
neurotransmissor glutamato em determinadas regiões cerebrais (ALMEIDA et al.,
2014).
Estudos recentes também vêm evidenciando que o CBD seria um agonista
da atividade de receptores serotoninérgicos 5-HT1A e diminuiria a captação de
adenosina [3H] e estimularia os receptores TPV. Evidências científicas, em trabalhos
animais, descrevem que o CBD provocaria seus efeitos por meio de uma curva
dose-resposta ainda a ser desvendada, que estaria relacionada a determinadas
dosagens específicas com consequentes respostas, as quais incluiriam efeitos
ansiolíticos, antieméticos, neuroprotetores, anti-inflamatórios e sedativos (HALLAK et
al., 2011). Já em humanos, esses mesmos estudos, como já foi mencionado,
referem que o THC produziria vários sinais e sintomas que estariam associados com
a esquizofrenia (D’SOUZA et al., 2004), enquanto que o CBD apresentaria apenas
alguns efeitos comportamentais e de sedação em altas dosagens (ZUARDI;
GUIMARÃES; MOREIRA, 1993). Entretanto, diversos trabalhos atuais vêm
demonstrando o CBD como uma possiblidade inovadora para o tratamento da
esquizofrenia. Zuardi e colaboradores referem que encontraram evidências
preliminares nas quais o CBD pareceu ter potencializado a ação antipsicótica de
drogas já bem estabelecidas para o tratamento da esquizofrenia (ZUARDI et al.,
2006). Esse mesmo grupo de pesquisa, através de uma extensa revisão bibliográfica
realizada em 2012, é unânime em afirmar que seus resultados demonstram que
através de estudos pré-clínicos e clínicos, claramente, seria possível afirmar que o
CBD pareceu ser capaz de melhorar sintomas psicóticos em dosagens que não
comprometeriam o funcionamento motor dos pacientes, embora o mecanismo exato
pelo qual o CBD exerceria esses efeitos ainda é incerto (ZUARDI et al., 2012).
Dentro desse contexto, no intuito de melhor elucidar esse tema se deve
voltar ao conceito da esquizofrenia como um transtorno do neurodesenvolvimento,
como mencionado no texto acima, e mais importante ainda, de que maneira os
sistemas dopaminérgico, glutamatérgico e endocanabinoide se inter-relacionariam e,
43
eventualmente, influenciariam o neurodesenvolvimento dos pacientes portadores de
esquizofrenia.
1.1.9 A hipótese neurodesenvolvimental na esquizofrenia
A esquizofrenia, atualmente, deve ser encarada como um transtorno
neurodesenvolvimental, ou seja, uma doença que afetaria o cérebro dos humanos
durante os processos do desenvolvimento maturacional do encéfalo. Como definem
Mueser e McGurk (2004), um transtorno cujo resultado clínico seria, provavelmente,
proveniente da interação entre fatores genéticos e ambientais.
Dentro de um panorama histórico, desde a década de 1980, vários
pesquisadores contribuíram para a denominação desse termo
neurodesenvolvimental. Vale ressaltar que os primeiros e mais importantes, por
conseguirem sistematizar os constructos que ajudaram a definir esse conceito, foram
Feinberg (1982), Weinberger (1987) e Murray et al. (1991). Sendo Weinberger o
primeiro autor a propor, formalmente, a tão conhecida atualmente “Hipótese
neurodesenvolvimental para a esquizofrenia”. Na linha desse raciocínio,
principalmente nessa época, em que essa hipótese foi criada, essa possuía muito
mais um caráter teórico do que uma formulação cientificamente comprovada através
de marcadores biológicos. Ao longo da história dessa hipótese, outros estudiosos do
tema, não menos importantes para o estudo desse conceito, que também
acreditavam nessa doença como um transtorno neuroevolutivo e que corroboraram
os pesquisadores citados acima, foram Lewis e Levitt (2002), Pilowsky, Kerwin e
Murray (1993) e Waddington (1993).
Proporcionando embasamento científico a essa teoria, Cardno e seus
colegas encontraram evidências que sugeriram que entre parentes em primeiro grau
de paciente portadores de esquizofrenia, a chance de uma pessoa desenvolver a
doença seria da ordem de 10%, enquanto que entre gêmeos monozigóticos o risco
passaria para 44% (CARDNO et al., 1999). Entretanto, esses autores
complementam interpretando os dados de seus resultados, inferindo que se a
esquizofrenia fosse uma doença estritamente genética, gêmeos monozigóticos
teriam concordância para o desenvolvimento do transtorno próximo a 100%.
Seguindo as mesmas ideias desses estudos, Andreasen refere que baseado nesses
conceitos poderia se inferir que a esquizofrenia deveria ser encarada como uma
44
doença multifatorial, a qual envolveria diversos genes e, muito provavelmente, genes
diferentes em indivíduos distintos, além de parecer possuir grandes influências do
meio ambiente (ANDREASEN, 1999).
De maneira teórica, vale ressaltar que é sabido que a psicose franca se
iniciaria tipicamente ao final da adolescência ou no começo da vida adulta, por volta
de 18 a 25 anos, época na qual algumas estruturas cerebrais, como por exemplo, o
córtex pré-frontal ainda estariam em pleno desenvolvimento (INSEL, 2010). Apesar
da psicose franca se iniciar nessa idade, vários estudos atuais vêm demonstrando
que alterações cerebrais e genéticas em pacientes portadores de esquizofrenia
apresentariam manifestações muito mais precoces (MURRAY et al., 2017).
Desse modo, segundo esses pesquisadores e alguns outros, a alteração
mais crítica ocorreria durante os estágios finais do desenvolvimento cerebral,
quando o cérebro realizaria uma revisão de suas conexões sinápticas e apresentaria
seu crescimento final por volta dos 20 anos (MURRAY et al., 1991). Essas teorias
ficaram conhecidas por mielinização, poda sináptica e o estabelecimento de
conexões corticocorticais (WEINBERGER, 1987; FEINBERG, 1982; RANDALL,
1983). Diversos outros artigos corroboraram essas informações como, por exemplo,
outro estudo de Andreasen, o qual refere que a substância ectópica, a qual seria
formada por um agrupamento de neurônios, que não chegariam ao seu destino
adequado durante o processo de migração neuronal para o córtex, seria mais
frequente em pacientes portadores de esquizofrenia do que em pessoas saudáveis
(ANDREASEN et al., 1999). Outro estudo seria o realizado por Crow, no qual ele
postula que uma anomalia do desenvolvimento neuronal seria a assimetria cerebral,
e que esta poderia ser uma aresta do desenvolvimento neocortical e que o
alargamento ventricular tipicamente encontrado em pacientes com esquizofrenia
seria secundária a essa, produzindo a doença (CROW,1997).
No que diz respeito aos descritos gatilhos ambientais, é importante
compreender que esses pródromos, ou seja, esses precursores citados acima
seriam sutis e não específicos, porém consistentes em demonstrar que a psicose
não se iniciaria em um cérebro saudável, mas sim em um cérebro que já possuiria
algum grau de comprometimento (WOODBERRY; GIULIANOL SEIDMAN, 2008).
Essa afirmação se torna evidente, por exemplo, através de uma grande coorte
realizada na Dinamarca com um follow-up de 45 anos, a qual evidenciou que adultos
portadores de esquizofrenia possuiriam história positiva para atraso nos processos
45
de maturação neuronal, previamente ao desenvolvimento de psicose franca
(SORENSEN et al., 2010). Os dados provenientes desse estudo também são
importantes por corroborar outros trabalhos prévios, que evidenciaram que o
quociente intelectual (QI) de crianças, as quais mais tarde desenvolveriam a doença,
estaria reduzido quando comparado com controles saudáveis (REICHENBERG et
al., 2010). Esses fatores ambientais mencionados acima, também estariam
relacionados aos eventos pré e perinatais, como por exemplo, má nutrição materna,
infecções no segundo trimestre de gestação, distócias perinatais e exposição a
citosinas, as quais consequentemente também aumentariam o risco do
desenvolvimento de esquizofrenia (BROWN; DERKITS, 2010).
Assim, o modelo que se aplicaria mais adequadamente ao
neurodesenvolvimental seria aquele no qual haveria algum tipo de insulto precoce
pré, peri e/ou pós-natal, um longo período latente ao longo da maturação cerebral,
até o início da psicose franca no final da adolescência ou começo da vida adulta.
Corroborando essa teoria, segundo Insel, uma possibilidade seria que algum tipo de
insulto neuronal precoce no período inicial da vida, o qual não se manifestaria até
um período mais tardio do neurodesenvolvimento, começasse a provocar alterações
de funcionamento bioquímico na neurotransmissão dos circuitos envolvidos com a
doença (INSEL, 2010). Logicamente, em um ambiente no qual alterações biológicas
compensatórias nesse processo de maturação neuronal ocorrem em organismos
saudáveis e que seriam responsáveis por evitar a doença, não fossem suficientes
para poder compensar essas lesões precoces iniciadas em períodos mais iniciais do
desenvolvimento do cérebro.
Todo esse mecanismo, sistematizado por Insel (2010), foi previamente
descrito na literatura, por Thompson e Levitt, os quais denominaram esse processo
de “alostase do desenvolvimento” (THOMPSON; LEVITT, 2010). Corroborando a
ideia central dessa teoria, outra possibilidade seria que algum tipo de lesão no
processo de neurodesenvolvimento influenciaria determinado tipo de circuito ou
processo cerebral. Por exemplo, o ajuste fino de sinapses inibitórias e excitatórias no
córtex pré-frontal, as quais só dariam efeitos sutis nessa fase passassem a provocar
alterações biológicas específicas quando uma espécie de balanço ou regulação
mais precisa fosse necessário existir e que em função da doença não existisse. Por
conseguinte, esse mecanismo no final da adolescência seria responsável por
desencadear a doença propriamente dita (AYHAN et al., 2011). A figura abaixo (ver
46
figura 3) ilustra a hipótese atual do modelo neurodesenvolvimental e as eventuais
alterações cerebrais, que ocorreriam durante esse processo.
Figura 3 – O modelo neurodesenvolvimental da esquizofrenia. a) O desenvolvimento cortical normal envolveria proliferação, migração, arborização (formação de circuitos) e mielinização, sendo os dois
primeiros processos ocorrendo predominantemente durante o período pré-natal e os outros dois contínuos ao longo das duas décadas iniciais da vida. Os efeitos associados da poda da arborização
neuronal e da deposição de mielina explicariam a redução progressiva do volume de substância cinzenta observada em estudos longitudinais de neuroimagem. Além dessas reduções globais
observadas, alterações locais seriam muito mais complexas. Dados de cérebros humanos e não humanos indicariam aumento de sinapses inibitórias e diminuição de sinapses excitatórias ocorrendo no córtex pré-frontal de adolescentes e de adultos jovens, durante o período dos pródromos e início
de psicose. b) A trajetória do desenvolvimento da esquizofrenia em crianças poderia incluir uma formação reduzida de vias inibitórias e poda excessiva de vias excitatórias, levando a um balanço
excitatório-inibitório anormal no córtex pré-frontal. Mielinização reduzida também alteraria a conectividade. Embora dados atuais apoiem cada um desses possíveis mecanismos
neurodesenvolvimentais para a esquizofrenia, nenhum foi provado como causador da síndrome. Detecção de alterações neurodesenvolvimentais prodrômicas poderiam permitir intervenções
precoces com potencial prevenção de psicose
Fonte: Adaptado de Insel (2010).
De acordo com esses conceitos, os quais evidenciariam a esquizofrenia
como uma doença que possuiria origem no processo do neurodesenvolvimento
humano, seria muito interessante descobrir quais seriam os eventuais efeitos que
determinadas substâncias poderiam exercer durante esses processos do
desenvolvimento humano. Pontualmente, então, substâncias já evidentemente
47
comprovadas pelo menos como possuidores de indícios de resultados no tratamento
da esquizofrenia como, por exemplo, as que teriam a capacidade de interagir com os
receptores NMDA nesse processo, eventualmente, poderiam trazer mais
conhecimento acerca do desenvolvimento maturacional do cérebro humano. Não
obstante, a ideia do grupo de trabalho da referida tese de doutorado em questão
seria a de realizar um estudo através de um modelo animal de esquizofrenia, na qual
o NPS, o qual já foi descrito como sendo um potente doador de ON, fosse utilizado
durante o processo inicial da maturação cerebral de ratos, como uma espécie de
tentativa de técnica imunizatória, a qual teria o objetivo de evitar o aparecimento da
doença através da indução da mesma pelo uso da CET.
Dando mais embasamento científico ao referido estudo, é importante
mencionar que, segundo pesquisas recentes, outra maneira de poder entender, de
forma mais complexa, o sistema dos receptores NMDA, o qual também já possuiria
mecanismo de neurotransmissão inter-relacionado ao sistema dopaminérgico
descrito na literatura, seria estudar o papel dos receptores endocanabinoides no
cérebro através do uso do CBD (HALLAK et al., 2011). Portanto, no mesmo modelo
animal de esquizofrenia induzido por CET e descrito acima, outro ponto chave da
ideia do departamento científico do mesmo grupo, também seria o da associação do
uso do CBD isoladamente, e em associação ao NPS nesse mesmo estudo.
48
2 OBJETIVOS
O objetivo principal do presente estudo foi o de testar os efeitos de doses
repetidas de NPS e de CBD isoladamente e em associação, durante o processo de
maturação cerebral de ratos, observando especificamente a possibilidade de
eventual ausência do aparecimento de um quadro esquizofrenia like, previamente
induzido através da administração de CET.
Secundariamente, o modelo animal de psicose com CET utilizado nesse
projeto foi avaliado quanto a sua eficácia e viabilidade, e por fim, eventuais
influências de gênero na análise dos resultados encontrados foram sistematicamente
discutidas.
49
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 ANIMAIS
Para a realização do estudo foram utilizados 128 ratos Wistar machos e
fêmeas, divididos em 16 grupos específicos, descritos abaixo, com 12 dias de idade
na época do início do protocolo experimental, pesando em média de 30g nesse
mesmo período e acompanhados de suas respectivas mães em função do fato de
serem muito jovens. Optou-se por esse número de animais, pois de acordo com o
procedimento experimental de Keilhoff e colaboradores, oito animais tratados com
CET e oito animais tratados com salina fisiológica seriam suficientes para
observação inequívoca de diferenças comportamentais e neuropatológicas entre os
grupos do estudo (KEILHOFF et al., 2004).
Todos os animais do estudo foram provenientes do Biotério Central da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo
(USP). Considerando previamente a taxa de mortalidade dos ratos, após a injeção
das drogas, se estimou uma necessidade adicional de 30% dos animais previstos,
sendo então solicitado esse número sobressalente de animais ao Biotério Central.
Estes animais foram mantidos em caixas de polipropileno (40 x 33 x 18 cm)
contendo raspas de madeira (maravalha) sobre o assoalho. Durante todo o período
dos experimentos, os animais ficaram alojados em biotério com temperatura
controlada em 25 ± 2ºC e, foram submetidos ao ciclo de 12 horas de claro e 12
horas de escuro com luzes acesas às 7h. Os ratos tiveram livre acesso à comida e
água.
Todos os procedimentos foram realizados de acordo com as normas
previstas pelo Conselho Nacional de Controle em Experimentação Animal
(CONCEA), além de serem submetidos à avaliação prévia pela Comissão de Ética
no Uso de Animais (CEUA) da FMRP da USP (CEUA 62/2016, Anexo A).
3.2 DESENHO EXPERIMENTAL
Para a realização do desenho experimental do estudo, os animais do
trabalho foram subdivididos, por finalidade didática, em grupos experimentais
segundo a figura abaixo (ver figura 4).
50
Figura 4 – Esquema didático dos diferentes grupos experimentais do estudo. Solução Salina (SAL); Glicose a 5% (GLI); Cetamina (CET); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD)
Fonte: Elaborado pelo autor.
A sequência de eventos ao longo do tempo que resume, de maneira
sistemática, o protocolo do desenho experimental do estudo pode ser visualizado em
detalhes, de acordo com a figura abaixo (ver figura 5).
Figura 5 – Desenho experimental da sequência de eventos de todas as etapas da pesquisa. Dias do nascimento (N); Intraperitoneal (IP); Glicose a 5% (GLI); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol
(CBD); Solução Salina (SAL); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Grupo 1 GLI - SAL Machos
Grupo 2 GLI - SAL Fêmeas
Grupo 3 GLI - CET Machos
Grupo 4 GLI - CET Fêmeas
Grupo 8 NPS - CET Fêmeas
Grupo 7 NPS - CET Machos
Grupo 5 NPS – SAL
Fêmeas
Grupo 5 NPS - SAL Machos
Grupo 9 CBD - SAL Machos
Grupo 10 CBD - SAL Fêmeas
Grupo 11 CBD - CET Machos
Grupo 12 CBD - CET Fêmeas
Grupo 16 NPS/CBD -
CET Fêmeas
Grupo 15 NPS/CBD -
CET Machos
Grupo 14 NPS/CBD -
SAL Fêmeas
Grupo 13 NPS/CBD -
SAL Machos
Início dos Testes ComportamentaisTeste de Campo
Aberto N51
Término dos Testes Comportamentais
Sacrifício do Animal, Dissecção Cerebral e Preparo Imunohistoquímico
Ratos N54
38º dia
Duração de 1 dia
38º dia
Duração de 3 dias
40º dia
Duração de 3 dias
37º dia
Início do Teste de Preferência por
SacaroseRatos N52
Início do Teste de Reconhecimento
de ObjetosRatos N52
Biotério CentralRetirada Animais
Injeções IP 21 dias Descanso 10 dias Injeções IP 5 dias
Laboratório PsicofarmacologiaInício Experimentos
Ratos N12
Término das Injeções IPRatos N35
Modelo Animal de Esquizofrenia
Início dos Experimentos
Ratos N46
Término das Injeções IPRatos N50
Injeções IPSAL - CET
Injeções IPGLI - NPS - CBD - NPS/CBD
1º dia 21º dia 32º dia 36º dia
Testes realizados concomitantemente no mesmo período
51
3.3 PROTOCOLO DAS ETAPAS DO DESENHO EXPERIMENTAL REALIZADO
NOS RATOS
Nos dias predefinidos em que os experimentos com os animais do estudo
foram realizados, o protocolo que segue descrito à frente foi minuciosamente
cumprido por todos os pesquisadores envolvidos com a pesquisa. O protocolo
consistiu em uma sequência de eventos em que todos os ratos dos diversos grupos
do estudo foram removidos de suas jaulas, pesados e separados, individualmente,
em uma caixa acrílica (45 x 35 x 30 cm). Os animais foram mantidos nessa área por
uma hora para que pudessem ter tempo de se adaptarem ao novo local. Durante o
ciclo de fotoperíodo com luz (entre 7h e 14h), os ratos receberam as injeções
intraperitoneais das diversas substâncias envolvidas com o estudo, ou seja, CBD,
NPS, CBD + NPS ou glicose a 5% (GLI). Imediatamente após a injeção, cada animal
foi colocado no centro de um campo aberto e, então, foi observado por trinta
minutos. Depois disso, o aparato foi limpo com solução de etanol a 5% e os ratos
alocados randomicamente de volta em suas jaulas.
De acordo com o protocolo descrito acima, os animais do grupo, que foram
submetidos ao NPS, receberam uma injeção intraperitoneal (IP) de NPS
(Nitropruss®; Cristalia), sob a apresentação de pó liofilizado que foi diluído em
solução glicosada (soro glicosado a 5%) na dosagem de 2.5 mg/kg de peso corporal.
Por se tratar de um estudo inédito, essa dosagem utilizada de NPS foi baseada em
um estudo prévio de Bujas-Bobanovic et al. (2000). As administrações de NPS foram
realizadas, diariamente, por 21 dias consecutivos, coincidentemente ao período de
maturação cerebral de ratos, seguindo o desenho experimental criado de acordo
com a experiência do grupo de pesquisa do autor do projeto.
Dando seguimento às sessões experimentais, os animais do grupo CBD
receberam injeções IP de CBD em pó, com aproximadamente 99,9% de pureza
(BSPG-Pharm, Sandwich, Reino Unido), diluído em 2% de polisorbato 80 (Tween®
80; Sigma-Aldrich, Darmstadt, Alemanha) e 98% de solução salina (cloreto de sódio
a 0,9%) na dosagem de 1 mg/kg de peso corporal. Essa dosagem foi baseada em
um estudo prévio realizado por Levin et al. (2014). Seguindo o mesmo protocolo
utilizado para o grupo NPS, as administrações de CBD também foram realizadas por
21 dias consecutivos.
52
O grupo de animais, que recebeu o CBD associado ao NPS, seguiu
estritamente o mesmo protocolo utilizado para o grupo CBD e para o grupo NPS,
isoladamente. Os ratos do grupo controle receberam apenas injeção IP de solução
glicosada a 5%, também por 21 dias consecutivos.
3.4 MODELO ANIMAL DE ESQUIZOFRENIA
A CET, como já explicado anteriormente nesta tese de doutorado, seria um
derivado do PCP que agiria como uma substância antagonista não competitiva de
receptores NMDA, a qual seria capaz, em doses subanestésicas, de induzir
sintomas positivos, negativos, e déficits cognitivos similares aos encontrados na
esquizofrenia (FROHLICH; VAN HORN, 2014). Os efeitos psicotomiméticos da CET
seriam transitórios, reversíveis e influenciados pelo tempo, dose e condições de
administração (KEILHOFF et al., 2004). Farmacologicamente, a CET possuiria o
desenho molecular do 2-(o-clorofenil)-2-(metilamino)-cicloexanona, e seria
classificada como uma arilcicloalquilamina derivada da PCP com peso molecular de
238 daltons e pKa (operação matemática que permite calcular a acidez de uma
solução) de 7,5 (OLIVEIRA et al., 2004). É comercialmente utilizada como uma
mistura racêmica de dois isômeros opticamente ativos (enantiômeros), o S(+) e o R
(-) associada aos conservantes cloreto de benzetônio e ao clorbutanol (KOHRS;
DURIEUX, 1998). Trabalhos sobre modelos animais evidenciaram que a S (+) CET
possui aproximadamente quatro vezes mais afinidade para receptores NMDA do que
a R (-) CET, e por esse motivo foi droga escolhida para os testes com os animais
(PFENNINGER et al., 2002).
Dessa maneira, após 31 dias do início das injeções IP das substâncias
(CBD, NPS, CBD + NPS e GLI) utilizadas no estudo e descritas acima, ou seja,
quando os ratos atingiram 46 dias de idade, o protocolo de indução do modelo
animal de esquizofrenia descrito no parágrafo acima foi realizado. Assim, todos os
ratos dos diversos grupos do estudo foram, mais uma vez, removidos de suas jaulas,
pesados e novamente separados, individualmente, em uma caixa acrílica (45 x 35 x
30 cm). Eles também ficaram nessa área por uma hora para poderem ter tempo de
se adaptarem aquele novo local. Durante o ciclo de fotoperíodo com luz (entre 7h e
14h), os ratos receberam as injeções de CET. Imediatamente após as injeções, cada
animal foi colocado no centro de um campo aberto e, então, foi observado por 30
53
minutos. Depois disso, o aparato foi limpo com solução de etanol a 5% e os ratos
alocados randomicamente.
Foram injetadas nos animais, doses diárias de 30 mg/kg de peso corporal de
cloridrato de CET (Ketamin®; Cristalia) dissolvidos em 100 ml de veículo estéril, por
via IP durante cinco dias consecutivos. Essa dosagem foi baseada em um estudo
prévio realizado por Nunes et al. (2012). Os animais do grupo controle receberam
também por via IP, solução salina (cloreto de sódio 0,9%) na dosagem de 10 ml/kg
de peso corporal também no respectivo tempo de cinco dias consecutivos.
3.5 PROTOCOLOS DE TESTES COMPORTAMENTAIS REALIZADOS
3.5.1 Teste de campo aberto: atividade locomotora e proporção de tempo no centro da arena
O aparato utilizado no estudo para a realização do teste de “Campo Aberto”
consistiu em uma arena quadrada (46 x 46 cm), com piso branco e delimitada por
paredes transparentes provenientes da empresa Insight® (Insight®, Ribeirão Preto,
Brasil) (Ver figura 6). Esse equipamento possui sensores de movimento
infravermelhos, que registram a locomoção, que pode ser compreendida pela
distância e velocidade média, além de atividades não ambulatórias, ou seja,
levantamento, que consiste em movimentos ascendentes ou com as patas dianteiras
em contato com a parede ou independente. Os valores obtidos como resultados do
teste foram calculados em blocos de quatro minutos ou no tempo total de registro de
vinte minutos através do software da mesma empresa, denominado de “Open
Source 6.01” (Insight®, Ribeirão Preto, Brasil). A velocidade também foi medida e
produziu resultados semelhantes (dados não mostrados) como aqueles encontrados
para a distância. Ao término de cada teste, a arena foi devidamente limpa com água
após cada animal ser submetido ao experimento. Determinadas mudanças nos
padrões de locomoção em campo aberto, como hiperatividade (aumento da
atividade locomotora vertical e horizontal) são comumente interpretadas como
comportamentos psicóticos (SCHIORRING, 1979).
Por outro lado, medidas de comportamento de ansiedade incluem a
proporção relativa de trajetória usada para explorar os quadrantes do centro, em
relação àqueles localizados adjacentes às paredes da arena (BATH et al., 2012;
54
SESTAKOVA et al., 2013). A arena de campo aberto foi dividida por linhas pretas em
64 quadrados de 5,75 × 5,75 cm. Os 16 quadrados centrais foram definidos como
zona central e os 48 quadrados laterais como zona de borda. A proporção de tempo
gasto nas bordas e centro do campo aberto foi estimada pelo programa “Image J®”,
baseado no perfil de trajetória de cada animal. Os sintomas de ansiedade têm sido
há muito tempo definidos como uma característica central da esquizofrenia desde
sua caracterização (TANDON; NASRALLAH; KESHAVAN, 2009). Os ratos foram
colocados, inicialmente, no centro da arena e testados apenas uma vez na tarefa de
campo aberto.
Figura 6 – a) Arena convencional utilizada na realização do teste de “Campo Aberto”, para a avaliação da atividade locomotora. b) Exemplo de quantificação da atividade locomotora de um rato
que recebeu injeção de cetamina (30mg/kg) através do programa “Open Source 6.1” (Insight®, Ribeirão Preto, Brasil). c) Exemplificação da proporção de tempo gasto nas bordas e no centro da
arena, baseado no perfil de trajetória de cada animal estimado pelo programa “Image J®”
Fonte: Acervo digital do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da
FMRP da USP.
3.5.2 Teste de preferência por sacarose
O teste de preferência por sacarose foi realizado por todos os animais dos
grupos do estudo, seguindo estritamente o protocolo descrito a seguir: inicialmente,
cada animal foi colocado em uma jaula específica (Ver figura 7) por 72 horas, com
livre acesso a comida e com duas garrafas de água idênticas, que foram
randomicamente inseridas na jaula e substituídas a cada 24 horas. Uma garrafa
A
B
C
55
conteve 250 ml de água deionizada e a outra 250 ml também de água deionizada,
porém a 1% de sucrose (Synth®, Diadema, Brasil).
O volume final de cada garrafa foi medido ao término das 24 horas, durante
três dias consecutivos. A ingestão total dos fluidos ingeridos nas 72 horas foi
analisada entre os diferentes grupos do estudo, por meio do teste de Kruskal-Wallis.
Assim, a preferência por sucrose foi calculada através da proporção da ingestão de
sucrose em comparação ao total de fluido ingerido e seus valores convertidos em
porcentagem. Importante mencionar que um dos principais objetivos da realização
do teste foi o de observar o quanto os animais se desinteressam pela solução
açucarada, de certa forma, o quanto eles se tornaram anedônicos. É sabido que a
Anedonia seria um importante sintoma depressivo, que poderia ser reconhecido em
ratos que perderam a preferência por líquidos adocicados em comparação a água
deionizada comum (MAZARATI et al., 2007). Na esquizofrenia, a anedonia é
reconhecida como um importante sintoma que faria parte da dimensão afetiva do
transtorno (TANDON; NASRALLAH; KESHAVAN, 2009).
Figura 7 – Exemplo de jaula habitualmente utilizada na realização do teste de “Preferência por Sacarose”, para a avaliação de anedonia nos animais do estudo. a) Exemplo de um recipiente
utilizado no teste, especificamente adaptado para a ingestão das soluções de água deionizada e açucarada. b) Jaula característica, já montada, com os recipientes prontos para o recebimento dos
animais
Fonte: Adaptado de Eagle et al. (2015).
56
3.5.3 Teste de reconhecimento de objetos
O teste de “Reconhecimento de Objetos” permite que o animal gaste o maior
tempo necessário explorando um objeto novo do que um objeto familiar e neste
estudo foi realizado de acordo com os procedimentos descritos por Wiescholleck e
Manahan-Vaughan (2012). Esse comportamento típico do animal permite a análise
da memória declarativa de roedores (ENNAUCER; DELACOUR, 1988). No dia
seguinte, após o término do teste de “Campo Aberto”, os animais foram habituados
durante 20 minutos a uma caixa de madeira com 46 cm de diâmetro e 24 cm de
largura para a livre exploração do aparato utilizado no teste, na ausência de objetos.
Após 24 horas da habituação, os animais foram colocados novamente na mesma
caixa, com dois objetos idênticos: A e A (cubos mágicos) para a livre exploração
deles por cinco minutos. Os objetos ficaram fixados nos cantos direito e esquerdo
com fitas adesivas e sempre limpos com álcool 30° após a realização de cada teste.
Para o comportamento exploratório foi definido: cheirar ou tocar os objetos
com o focinho e com as patas anteriores. Desse modo, o paradigma experimental
consistiu em uma fase de aquisição, ou seja, treino, e teste propriamente dito,
separados por um intervalo de trinta minutos. Nesse caso, após o intervalo de
descanso, o animal foi recolocado na caixa com o objeto familiar A e um objeto novo
B (tubo) com o tempo de cinco minutos para a nova exploração do ambiente. No dia
seguinte, após mais 24 horas do último teste, o animal foi recolocado mais uma vez
na caixa com o mesmo objeto familiar A e outro objeto distinto C (cone) com o
mesmo tempo de cinco minutos para explorar novamente o ambiente. O tempo
gasto explorando cada objeto (familiar ou novo) foi registrado em vídeo e
quantificado manualmente. O índice de reconhecimento foi calculado como
porcentagem do tempo de exploração do objeto novo em relação ao tempo total de
exploração para ambos os objetos. Esse índice foi utilizado para a comparação entre
os grupos experimentais do estudo.
A tarefa de reconhecimento de um objeto novo seria sensível (prejudicada)
aos distúrbios provocados por antagonistas de receptores NMDA, no caso a CET,
apresentando altos valores preditivos já validados cientificamente, além de ser útil
para a avaliação da disfunção cognitiva em modelos de esquizofrenia (NEIL et al.,
2010).
57
Figura 8 – a) Desenho do esquema didático para o protocolo do teste de “Reconhecimento de Objetos”. (Imagem ilustrativa obtida do acervo digital do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP da USP). b) Imagem ilustrativa de um aparato contendo um objeto em forma de tubo (cor roxa), outro em forma de bola (cor vermelha) e um terceiro em forma de cone (cor
verde), utilizado para a realização do teste de “Reconhecimento de Objetos”
Fonte: Adaptado de NCBC (2019).
3.6 PROCESSAMENTO DO TECIDO CEREBRAL
No quarto dia, após os testes comportamentais, os animais foram
profundamente anestesiados com tiopental sódico (30 mg/kg IP). A perfusão foi
realizada via intracardíaca. Com o auxílio de uma agulha foi puncionado o ventrículo
esquerdo do animal, em seguida, foi realizada uma incisão no átrio direito que
permitiu a saída dos líquidos. Após a incisão no átrio direito foi infundida uma
solução salina tamponada 0,9% no volume de 100 ml. A seguir uma solução de
sulfeto de sódio 0,1% (150 a 200 ml) em salina tamponada foi infundida, seguida por
paraformaldeído tamponado 4% (150 a 200 ml). Após a perfusão, o cérebro foi
removido da caixa óssea, com o auxílio de uma goiva, e colocado em solução de
paraformaldeído tamponado a 4% por 4 horas. A seguir, os cérebros foram
desidratados. A desidratação visa extração de água e sua substituição por um
solvente orgânico adequado e, posterior inclusão em parafina.
A
B
58
O tecido foi sucessivamente colocado em uma série de soluções com
concentrações crescentes de álcool, iniciando com álcool 70% até álcool absoluto.
Após esse passo, o tecido foi diafanizado em xilol e incluído em parafina. Os blocos
em parafina foram cortados de forma seriada em fatias de 8 μm de espessura,
sendo as fatias montadas em lâminas gelatinizadas. Após a secagem, as lâminas
foram escorridas em estufa a 60°C por duas horas e armazenadas para posterior
realização da Imunohistoquímica de nNOS. Este protocolo já́ foi padronizado pelo
“Laboratório de Investigação em Epilepsia” – HC-FMRP/USP.
3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS
O desenho estatístico utilizado nesta tese de doutorado foi constituído por
variáveis contínuas paramétricas, assim, se tornou necessário uma avaliação
específica a respeito da normalidade da amostra em questão. Portanto, para a
avaliação dessas variáveis contínuas foram utilizados os testes de Kolgomorov-
Smirnov e de Shapiro-Wilk, com o intuito de se testar a normalidade das amostras
do estudo. Desse modo, variáveis contínuas normalmente distribuídas foram
analisadas no estudo, através da realização de análises de variância (ANOVA) de
uma via. Complementarmente, em alguns poucos testes isolados, variáveis não-
paramétricas foram avaliadas através do teste de Kruskal-Wallis.
Dando sequência para a descrição dos métodos estatísticos utilizados,
posteriormente a realização dessas ANOVAs, o teste de Brown-Forsythe foi
conduzido, tendo como propósito avaliar se as amostras das ANOVAs realizadas
possuíam variâncias iguais, fato que proporcionou a validade do teste F, o qual
também foi realizado.
Assim, com o teste de Brown-Forsythe devidamente confirmado se partiu
para a realização do teste de Bartlett, o qual teve a mesma finalidade de avaliação
da homocedasticidade da amostra descrita acima, ou seja, da homogeneidade de
variâncias.
Após o término das ANOVAs, as quais identificaram se existia ou não
diferenças entre os grupos, foram realizados os testes post hoc, por meio do método
de múltiplas comparações, que por sua vez se denomina de teste de Newman-
Keuls, que teve o objetivo de apontar as reais diferenças encontradas entre os
níveis.
59
Em todos os testes foi fixado em 0,05 ou 5% (alfa < 0,05), o nível para
rejeição da hipótese de nulidade. Para a realização desses testes foi utilizado o
programa “GraphPad Prism® 8 versão 8.1.2” (GraphPad® Software, San Diego,
EUA).
60
4 RESULTADOS
4.1 EXPERIMENTO DO TESTE DE CAMPO ABERTO: ATIVIDADE
LOCOMOTORA
4.1.1 Distância total percorrida
4.1.1.1 Grupo de ratos machos - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,31] = 6,191; p < 0,002) (ver figura 9). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL e do que o grupo
NPS-SAL, mas não quando comparado com o grupo NPS-CET. As demais
comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
61
Figura 9 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 6,191; p < 0,002), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do
estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET) * (Resultado
Estatisticamente Significativo).
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.1.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 21,410; p < 0,001) (ver figura 10). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL, do que grupo NPS-
SAL e, também, do que o grupo NPS-CET. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tânc
ia P
erco
rrid
a (c
m)
Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS-SAL N=9
NPS-CET N=8
* *
62
Figura 10 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 21,410; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de
campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do
estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado
Estatisticamente Significativo).
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.1.3 Grupos de ratos machos - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,36] = 6,314; p < 0,001) (ver figura 11). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL e do que o grupo
CBD-SAL, mas não quando comparado com o grupo CBD-CET.
Estes resultados evidenciaram também que os animais do grupo CBD-CET
apresentaram maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL e do
que o grupo CBD-SAL. As demais comparações entre os grupos não apresentaram
outras diferenças significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tânc
ia P
erco
rrid
a (c
m)
Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS-SAL N=8
NPS-CET N=8
* **
63
Figura 11 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 6,314; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do
estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo).
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.1.4 Grupos de ratos fêmeas - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,37] = 24,040; p < 0,001) (ver figura 12). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL, do que o grupo CBD-
SAL e, também, do que o grupo CBD-CET. Estes resultados evidenciaram também
que os animais do grupo CBD-CET apresentaram maiores distâncias totais
percorridas do que o grupo GLI-SAL e do que o grupo CBD-SAL. As demais
comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tânc
ia P
erco
rrid
a (c
m)
Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
CBD-SAL N=10
CBD-CET N=12
* **
*
64
Figura 12 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 24,040; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de
campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do
estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo).
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.1.5 Grupos de ratos machos - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 9,451; p < 0,001) (ver figura 13). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL, do que grupo
NPS/CBD-SAL e, também, do que o grupo NPS/CBD-CET. Estes resultados
evidenciaram também que os animais do grupo NPS/CBD-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL. As demais
comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tânc
ia P
erco
rrid
a (c
m)
Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
CBD-SAL N=12
CBD-CET N=9
** *
**
65
Figura 13 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 9,451; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos, após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.1.6 Grupos de ratos fêmeas - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,30] = 19,020; p < 0,001) (ver figura 14). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores distâncias totais percorridas do que o grupo GLI-SAL, do que grupo
NPS/CBD-SAL e, também, do que o grupo NPS/CBD-CET. O estudo evidenciou
também que os animais do grupo NPS/CBD-CET apresentaram maiores distâncias
totais percorridas do que o grupo GLI-SAL e do que o grupo NPS/CBD-SAL. As
demais comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças
significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tân
cia
Per
corr
ida
(cm
)Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS/CBD-SAL N=9
NPS/CBD-CET N=9
***
*
66
Figura 14 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 19,020; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - distância total percorrida. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2 Proporção de tempo no centro da arena
4.1.2.1 Grupo de ratos machos - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,31] = 2,824; p < 0,054) (ver figura 15). Entretanto, o teste post hoc de
Newman-Keuls (p < 0,05) demonstrou que essas diferenças estatísticas encontradas
não eram, verdadeiramente, significativas. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5000
10000
15000
20000
Grupos
Dis
tân
cia
Perc
orr
ida (
cm
)Distância Total Percorrida
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS/CBD-SAL N=8
NPS/CBD-CET N=6
****
*
67
Figura 15 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 2,824; p < 0,054), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a
5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 1,856; p < 0,157) (ver figura 16). Entretanto, o teste post hoc de
Newman-Keuls (p < 0,05) demonstrou que essas diferenças estatísticas encontradas
não eram, verdadeiramente, significativas. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS-SAL N=9
NPS-CET N=8
(%)
68
Figura 16 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 1,856; p < 0,157), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de
campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a
5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2.3 Grupo de ratos machos - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,36] = 5,211; p < 0,004) (ver figura 17). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo CBD-SAL apresentaram
maiores proporções de tempo gasto no centro da arena do que o grupo GLI-SAL, do
que grupo GLI-CET e, também, do que o grupo CBD-CET. As demais comparações
entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS-SAL N=8
NPS-CET N=8
(%)
69
Figura 17 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 5,211; p < 0,004), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos, após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,37] = 2,714; p < 0,058) (ver figura 18). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo CBD-SAL apresentaram
maiores proporções de tempo gasto no centro da arena do que o grupo GLI-SAL. As
demais comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças
significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
CBD-SAL N=10
CBD-CET N=12
***
(%)
70
Figura 18 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 2,714; p < 0,058), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2.5 Grupo de ratos machos - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 1,540; p < 0,223) (ver figura 19). Entretanto, o teste post hoc de
Newman-Keuls (p < 0,05) demonstrou que essas diferenças estatísticas encontradas
não eram, verdadeiramente, significativas. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
CBD-SAL N=12
CBD-CET N=9*
(%)
71
Figura 19 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 1,540; p < 0,223), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.1.2.6 Grupo de ratos fêmeas - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,30] = 0,295; p < 0,828) (ver figura 20). Entretanto, o teste post hoc de
Newman-Keuls (p < 0,05) demonstrou que essas diferenças estatísticas encontradas
não eram, verdadeiramente, significativas. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS/CBD-SAL N=9
NPS/CBD-CET N=9
(%)
72
Figura 20 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 0,295; p < 0,828), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de campo aberto: atividade locomotora - proporção de tempo no centro da arena. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2 EXPERIMENTO DO TESTE DE PREFERÊNCIA POR SACAROSE
4.2.1 Grupo de ratos machos - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,31] = 6,530; p < 0,001) (ver figura 21). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-SAL apresentaram
maiores ingestões de sacarose do que o grupo GLI-CET, do que o grupo NPS-SAL
e, também, do que o grupo NPS-CET. As demais comparações entre os grupos não
apresentaram outras diferenças significativas.
0
5
10
15
20
Grupos
Pro
po
rção
no
Cen
tro
Proporção de Tempo no Centro da Arena
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS/CBD-SAL N=8
NPS/CBD-CET N=6
(%)
73
Figura 21 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,31] = 6,530; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.2 Grupo de ratos fêmeas - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 8,597; p < 0,001) (ver figura 22). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-SAL apresentaram
maiores ingestões de sacarose do que o grupo NPS-SAL e do que o grupo NPS-
CET. Os resultados evidenciaram também que os animais do grupo GLI-CET
apresentaram maiores ingestões de sacarose do que o grupo NPS-SAL e do que o
grupo NPS-CET. As demais comparações entre os grupos não apresentaram outras
diferenças significativas.
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Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS-SAL N=9
NPS-CET N=8
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Figura 22 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 8,597; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de
preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.3 Grupo de ratos machos - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,36] = 2,773; p < 0,055) (ver figura 23). Entretanto, o teste post hoc de
Newman-Keuls (p < 0,05) demonstrou que essas diferenças estatísticas encontradas
não eram, verdadeiramente, significativas. As demais comparações entre os grupos
não apresentaram outras diferenças significativas.
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Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS-SAL N=8
NPS-CET N=8
****
75
Figura 23 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,36] = 2,773; p < 0,055), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,37] = 7,317; p < 0,001) (ver figura 24). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-SAL apresentaram
maiores ingestões de sacarose do que o grupo CBD-CET. Os resultados
evidenciaram também que animais do grupo GLI-CET apresentaram maiores
ingestões de sacarose do que o grupo CBD-SAL e do que o grupo CBD-CET. As
demais comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças
significativas.
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Grupos
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Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
CBD-SAL N=10
CBD-CET N=12
76
Figura 24 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,37] = 7,317; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos fêmeas após o teste comportamental de
preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); CBD-SAL (vinho); CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.5 Grupo de ratos machos - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,32] = 4,077; p < 0,014) (ver figura 25). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-SAL apresentaram
maiores ingestões de sacarose do que o grupo GLI-CET e do que o grupo
NPS/CBD-CET. As demais comparações entre os grupos não apresentaram outras
diferenças significativas.
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Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
CBD-SAL N=12
CBD-CET N=9
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Figura 25 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,32] = 4,077; p < 0,014), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado entre os grupos de ratos machos após o teste comportamental
de preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.2.6 Grupo de ratos fêmeas - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (F [3,30] = 4,371; p < 0,011) (ver figura 26). O teste post hoc de Newman-
Keuls (p < 0,05) demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram
maiores ingestões de sacarose do que o grupo NPS/CBD-CET. As demais
comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
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Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS/CBD-SAL N=9
NPS/CBD-CET N=9
**
78
Figura 26 – Representação gráfica da ANOVA (F [3,30] = 4,371; p < 0,011), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05) realizado entre os grupos de ratos fêmeas, após o teste comportamental de
preferência por sacarose. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET
(azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3 RESULTADOS DO TESTE DE RECONHECIMENTO DE OBJETOS
4.3.1 Grupos de ratos machos - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,30] = 7,655; p = 0,001) houve diferenças
estatisticamente significativas para o fator tratamento, mas não no teste de 24 h (F
[3,30] = 0,270; p = 0,845) (ver figura 27). O teste post hoc de Newman-Keuls (p <
0,05), no teste de 30 min, demonstrou que os animais do grupo GLI-CET
apresentaram menores tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo
GLI-SAL, do que o grupo NPS-SAL e, também, do que o grupo NPS-CET. As
demais comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças
significativas.
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Grupos
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%)
Teste de Preferência por Sacarose
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS/CBD-SAL N=8
NPS/CBD-CET N=6
*
79
Figura 27 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,30] = 7,655; p = 0,001), no teste de 24 h (F [3,30] = 0,270; p = 0,845), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a
5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3.2 Grupos de ratos fêmeas - NPS
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,32] = 3,739; p = 0,020) e no teste de 24 h (F
[3,32] = 7,371; p = 0,001) houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (ver figura 28). O teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), no teste de
30 min, demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram menores
tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo GLI-SAL e do que o grupo
NPS-SAL. Já o teste de 24h evidenciou que os animais do grupo GLI-CET
apresentaram menores tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo
GLI-SAL. As demais comparações entre os grupos não apresentaram outras
diferenças significativas.
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Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
NPS-SAL N=8
NPS-CET N=8*
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Figura 28 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,32] = 3,739; p = 0,020), no teste de 24 h (F [3,32] = 7,371; p = 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a
5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3.3 Grupo de ratos machos - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,36] = 9,992; p < 0,001) houve diferenças
estatisticamente significativas para o fator tratamento, mas não no teste de 24 h (F
[3,36] = 0,720; p = 0,546) (ver figura 29). O teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05)
demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram menores tempos de
exploração de um objeto novo do que o grupo GLI-SAL, do que o grupo CBD-SAL e,
também, do que o grupo CBD-CET. As demais comparações entre os grupos não
apresentaram outras diferenças significativas.
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Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS-SAL N=8
NPS-CET N=8*
**
81
Figura 29 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,36] = 9,992; p < 0,001), no teste de 24 h (F [3,36] = 0,720; p = 0,546), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3.4 Grupo de ratos fêmeas - CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,36] = 3,461; p = 0,026) e no teste de 24h (F
[3,36] = 8,419; p = 0,001) houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (ver figura 30). O teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), no teste de
30 min, demonstrou que os animais do grupo GLI-SAL apresentaram maiores
tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo GLI-CET e do que o grupo
CBD-CET. Já o teste de 24h evidenciou que os animais do grupo GLI-SAL
apresentaram maiores tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo
GLI-CET, do que o grupo CBD-SAL e do que o grupo CBD-CET. As demais
comparações entre os grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
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Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
CBD-SAL N=10
CBD-CET N=12*
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Figura 30 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,36] = 3,461; p = 0,026), no teste de 24 h (F [3,36] = 8,419; p = 0,001) e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); CBD-SAL (vinho); NPS-CET (verde). Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente
Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3.5 Grupos de ratos machos - NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,32] = 5,961; p = 0,002) houve diferenças
estatisticamente significativas para o fator tratamento, mas não no teste de 24h (F
[3,32] = 0,718; p = 0,548) (ver figura 31). O teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05)
demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram menores tempos de
exploração de um objeto novo do que o grupo GLI-SAL, do que o grupo NPS/CBD-
SAL e, também, do que o grupo NPS/CBD-CET. As demais comparações entre os
grupos não apresentaram outras diferenças significativas.
30 min 24 h-50
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Tempo de Realização do TesteTem
po d
e E
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raçã
o do
Obj
eto
Nov
o (%
)
Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
CBD-SAL N=12
CBD-CET N=8*
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Figura 31 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,32] = 5,961; p = 0,002), no teste de 24 h (F [3,32] = 0,718; p = 0,548), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos machos após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.3.6 Grupos de ratos fêmeas NPS/CBD
Os resultados da ANOVA de uma via realizada no grupo descrito acima
evidenciaram que no teste de 30 min (F [3,30] = 6,230; p = 0,002) e no teste de 24h (F
[3,30] = 13,280; p < 0,001) houve diferenças estatisticamente significativas para o fator
tratamento (ver figura 32). O teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), no teste de
30 min, demonstrou que os animais do grupo GLI-CET apresentaram menores
tempos de exploração de um objeto novo do que o grupo GLI-SAL, do que o grupo
NPS/CBD-SAL e do que o grupo NPS/CBD-CET. Já o teste de 24h evidenciou que
os animais do grupo GLI-CET apresentaram menores tempos de exploração de um
objeto novo do que o grupo GLI-SAL, do que o grupo NPS/CBD-SAL e do que o
grupo NPS/CBD-CET. As demais comparações entre os grupos não apresentaram
outras diferenças significativas.
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Tempo de Realização do TesteTem
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Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=8
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NPS/CBD-CET N=9*
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Figura 32 – Representação gráfica da ANOVA no teste de 30 min (F [3,30] = 6,230; p = 0,002), no teste de 24 h (F [3,30] = 13,280; p < 0,001), e do teste post hoc de Newman-Keuls (p < 0,05), realizado
entre os grupos de ratos fêmeas após o teste de reconhecimento de objetos. As barras coloridas foram reconstruídas pelas médias e erro padrão dos resultados, e representam os respectivos grupos do estudo, em que: GLI-SAL (cinza); GLI-CET (azul); NPS/CBD-SAL (vinho); NPS/CBD-CET (verde).
Glicose a 5% (GLI); Solução Salina (SAL); Nitroprussiato de Sódio (NPS); Canabidiol (CBD); Cetamina (CET). * (Resultado Estatisticamente Significativo)
Fonte: Elaborado pelo autor.
30 min 24 h-50
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Tempo de Realização do TesteTem
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do
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%)
Teste de Reconhecimento de Objetos
GLI-SAL N=10
GLI-CET N=10
NPS/CBD-SAL N=8
NPS/CBD-CET N=6*
**
***
85
5 DISCUSSÃO
5.1 MODELO DO DESENHO EXPERIMENTAL
Didaticamente se torna imprescindível argumentar que para uma
compreensão mais abrangente sobre a discussão desta tese de doutorado, por parte
do leitor, devem ser levadas em consideração as características únicas, pelo menos
até o momento, acerca do desenho experimental do estudo neste proposto. De
forma inédita, os resultados dos testes comportamentais realizados no trabalho em
questão necessitam ser compreendidos, de maneira mais ampla, levando-se em
consideração uma explicação mais detalhada sobre um tópico de suma importância
para a elaboração deste projeto e arduamente discutido quando da criação do
desenho experimental do estudo. Trata-se da cronicidade do uso das injeções IP de
CET no modelo animal de esquizofrenia aqui apresentado e de seus respectivos
aspectos técnicos, os quais serão discutidos a seguir.
O modelo crônico de uso de CET em roedores, escolhido através do
desenho experimental desta tese de doutorado, já foi detalhadamente discutido por
Chatterjee e colaboradores, sendo definido como um modelo altamente superior ao
modelo agudo de CET, uma vez que ratos, que foram expostos ao modelo crônico,
apresentaram um padrão de hiperatividade (correspondente aos sintomas positivos
da esquizofrenia) e de aumento de passividade no teste de natação forçada
(correspondente aos sintomas negativos da esquizofrenia) persistentes até 10 dias
após a retirada da droga (CHATTERJEE et al., 2011). Acredita-se que o mecanismo
neurobiológico envolvido neste processo de efeitos comportamentais induzidos pela
CET esteja relacionado, pelo menos parcialmente, ao bloqueio dos receptores
NMDA localizados em neurônios gabaérgicos de regiões cerebrais límbicas e
subcorticais, e que essa ação inibitória esteja associada a um aumento de atividade
neuronal com consequente liberação excessiva de dopamina e de glutamato em
determinadas regiões estriatais límbicas (DUNCAN et al., 1998; MOGHADDAM et
al., 1997; LORRAIN et al., 2003; NAKAO et al., 2003).
Em contrapartida, habitualmente, os testes comportamentais que foram
escolhidos neste estudo, no caso o de campo aberto, o de preferência por sacarose
e o de reconhecimento de objetos são realizados por meio de dosagens
farmacológicas de CET únicas e isoladas. O que significa informar que, na imensa
86
maioria das vezes, no que tange ao modelo animal de esquizofrenia induzido por
antagonistas NMDA, os estudos científicos atuais são realizados em roedores por
meio de aplicações IP na vigência imediata de dose única do princípio farmacológico
escolhido para o experimento. Esse fato proporciona para a grande maioria dos
experimentos já realizados sobre o tema, a possibilidade de um importante viés
metodológico que poderia mascarar os resultados já encontrados sobre o assunto.
Noda e colaboradores já em 1995, através de um estudo realizado sob uso de PCP
em roedores, descreveram os benefícios do uso crônico dessa substância em
detrimento ao uso agudo, nesse caso, em um modelo animal de esquizofrenia com
ênfase na dimensão negativa da doença testada por meio do teste de natação
forçada (NODA et al., 1995).
Poucos são os estudos que utilizaram antagonistas glutamatérgicos como a
CET ou a PCP durante mais de um dia, como no modelo experimental aqui
proposto, no qual foram utilizadas injeções IP de 30mg/kg de CET, diariamente por
cinco dias consecutivos. Em conformidade ao modelo farmacológico descrito nesta
tese de doutorado, Ram e colaboradores desenharam um estudo em modelo animal
com o intuito de que fosse compreendido o nível de vulnerabilidade a doenças
psiquiátricas como a esquizofrenia, através da tentativa da estimulação de
alterações do sistema glutamatérgico de roedores, através do uso de CET e de
estresse crônico induzido. Para isso, utilizaram no período pós-natal dos animais
injeções IP de 30mg/kg de CET, associada ou não ao estresse crônico induzido e
descobriram que a atividade locomotora dos animais que foram submetidos a CET e
a CET + estresse crônico induzido, estava aumentada em relação aos seus
respectivos grupos controle (RAM; RAPHAELI; AVITAL, 2013).
Keilhoff e colaboradores, em um dos seus trabalhos, também utilizaram um
modelo animal de esquizofrenia de cinco dias de doses repetidas do mesmo
antagonista glutamatérgico. Nesse estudo, os pesquisadores demonstraram através
da indução crônica de psicose pela CET, que as injeções repetidas desse
anestésico induziram a alterações significativas nos sistemas nitrérgicos e
gabaérgicos, os quais remeteram as mesmas alterações encontradas em estudos
post morten realizados em cérebros de pacientes portadores de esquizofrenia
(KEILHOFF et al., 2004).
De acordo com o conhecimento do autor desta tese, na literatura atual,
apenas esses dois artigos descritos no parágrafo acima, mais o estudo de Chatterjee
87
et al. (2011) utilizaram modelos animais de esquizofrenia que envolveram dosagens
repetidas de CET em seus trabalhos. Desse modo, por motivos óbvios, porém
empíricos se pode assumir ou pelo menos levar em consideração que os resultados
de tantos dias consecutivos de uso de CET poderiam proporcionar uma tendência
de dificultar ainda mais a reversão de qualquer quadro psicótico ora induzido por
essa droga, bem como também, eventualmente, até mesmo dificultar a remissão
desses sintomas através do uso de drogas como o haloperidol e a clozapina, que
sabidamente possuem a condição de reverter esses sintomas nos modelos
tradicionais agudos de CET já propostos e evidentemente testados (ENOMOTO;
NODA; NABESHIMA, 2007).
Infelizmente, como descrito anteriormente não existem muitos estudos já
realizados até o momento sobre este tema, ou seja, que compararam o modelo
animal tradicional agudo de esquizofrenia induzido por dosagem única de CET, com
o modelo aqui referenciado que utilizou, de forma crônica, cinco dias consecutivos
de CET para indução à psicose. Todavia, o único artigo já realizado sobre o tema, já
descrito em parágrafos acima foi escrito em 2011 por Chatterjee e colaboradores, os
quais compararam sistematicamente os efeitos da administração crônica versus
administração aguda de CET em roedores. Nesse artigo, segundo os autores, em
função de falta de estudos que apropriadamente avaliem os modelos animais atuais
de psicose, a pesquisa em esquizofrenia nesse tema poderia estar sendo feita sob
grandes limitações metodológicas (CHATTERJEE et al., 2011).
Desse modo, esses autores elaboraram um estudo que pôde examinar os
diferentes tipos de fenótipos gerados pelo uso da CET, através de dosagens
diferentes, de tempos de tratamento diversos e de níveis de abstinência gerados. Os
resultados evidenciaram que o tratamento agudo de CET na dose de 100 mg/kg via
IP induziu os roedores à hiperlocomoção, sintomas esses classificados como
positivos, porém não induziu a sintomas negativos através dos testes
comportamentais utilizados na pesquisa. De maneira contrária, a administração
crônica por dez dias de CET, além de produzir sintomas positivos de hiperatividade,
também promoveu períodos de imobilidade durante o teste de natação forçada, o
que corresponderia a algum tipo de sintoma psicótico negativo, e ambos os
resultados persistiram mesmo após dez dias da interrupção da droga. Concluem que
o tratamento crônico de CET, em modelos animais de esquizofrenia, possuiria a
capacidade de produzir maiores alterações nos sistemas de neurotransmissores
88
envolvidos com a doença, além de uma maior variedade de anormalidades em
diversos domínios comportamentais.
5.2 CAMPO ABERTO
O século XX ficou conhecido como um período áureo para o
desenvolvimento de testes comportamentais, os quais contribuíram para o
desenvolvimento e inovação na pesquisa animal. Muitos desses testes continuam
sendo utilizados, atualmente, em diversas áreas do conhecimento técnico-científico,
como por exemplo, na área da biotecnologia, neuropsicofarmacologia, psicobiologia,
entre outras mais. Entre esses testes comportamentais, o de campo aberto parece
ter se estabelecido como o método de pesquisa animal mais frequentemente
utilizado na comunidade científica (SESTAKOVA et al., 2013).
Este método foi publicado, inicialmente, por Hall e Ballachey (1932), porém
apenas em 1969, Broadhurst o descreveu sistematicamente com características
instrumentais padronizadas e confiáveis que serviram consistentemente para o
desenvolvimento dos estudos em animais (BROADHURST, 1969). O teste de campo
aberto permite uma avaliação de diversos parâmetros sobre o comportamento motor
dos ratos, como por exemplo, locomoção, atividade vertical, exploração, avaliação
de risco, tomada de decisão, entre outros (LIEBSCH et al., 1998).
Um cuidado adicional que o autor deste estudo teve na elaboração do
padrão das avaliações comportamentais aqui realizadas foi o de encontrar medidas
de avaliação de atividade motora que realmente pudessem fornecer dados
consistentes a respeito da resposta que os animais do estudo apresentariam, tendo
como foco principal a busca por um modelo que mais se aproximasse das alterações
motoras encontradas em pacientes portadores de esquizofrenia. Portanto, durante a
elaboração do desenho experimental utilizado e descrito neste trabalho de
doutorado, a escolha específica dos testes comportamentais motores aqui definidos,
no caso a distância total percorrida e a proporção de tempo gasto no centro da
arena, se deve ao fato de que esses testes possibilitam, talvez, a melhor forma de
análise sobre alguns dos parâmetros mais importantes para a avaliação motora dos
modelos animais de esquizofrenia existentes até o momento, sendo esses os testes
comportamentais de atividade motora mais utilizados nos artigos sobre psicose e
modelos animais de esquizofrenia.
89
É sabido na literatura que ratos estimulados por antagonistas
glutamatérgicos como a PCP e a própria CET, droga de escolha para a indução do
modelo animal de esquizofrenia nesta tese, produzem uma série de alterações
comportamentais que mimetizam os sintomas da esquizofrenia em humanos. Essas
anormalidades incluem diversas manifestações comportamentais que podem ser
subdivididas, basicamente, em cinco dimensões, sendo essas: hiperlocomoção,
estereotipias, deficiências no processamento de informações, danos em funções
cognitivas (memória de trabalho e atenção) e prejuízos na interação social (LIPSKA;
WEINBERGER, 2000).
Desse modo, torna-se natural pensar que a hiperlocomoção em ratos deva
ser encarada como um indicativo de uma condição hiperdopaminérgica provocada
pelo sistema mesolímbico, bem como que possa estar correlacionada,
principalmente, com os sintomas positivos da esquizofrenia (MCCULLOUGH;
SALAMONE, 1992). Reiterando essa condição descrita em ratos que cursa com
atividade locomotora aumentada, resta complementar que não apenas as drogas
antagonistas glutamatérgicas possuiriam a capacidade de induzir a essas
manifestações comportamentais. Os agentes farmacológicos classificados como
psicoestimulantes como, por exemplo, a anfetamina e a metanfetamina também
teriam a condição de exercer hiperestimulação dopaminérgica, sendo também
identificados como substâncias eventualmente indutoras de comportamentos
schizophrenia like (WEDZONY et al., 2005; ABEKAWAK et al., 2007).
De qualquer maneira, a escolha da droga responsável pela indução aos
sintomas psicóticos neste estudo, no caso a CET, foi escolhida pelo fato de diversos
estudos atualmente atestarem que os melhores e mais seguros modelos animais de
esquizofrenia existentes até o momento são aqueles realizados através do uso de
agentes antagonistas glutamatérgicos (TORU; KURUMAJI; ISHIMARU, 1994;
STEINPREIS, 1996; THORNBERG; SAKLAD, 1996; MOGHADDAM; ADAMS, 1998).
5.2.1 Distância total percorrida
Corroborando as informações citadas acima, os resultados dos testes de
distância total percorrida evidenciaram que todos os grupos de animais, que foram
expostos a CET, apresentaram maiores índices de hiperlocomoção, quando
comparados com os grupos que foram induzidos ao modelo animal de esquizofrenia
90
com SAL. Torna-se evidente, de acordo com os resultados destes testes, que o
modelo animal de psicose aqui proposto pôde ser considerado efetivo para a
indução de esquizofrenia nos animais. Atesta-se essa efetividade, uma vez que a
CET se mostrou extremamente eficaz em induzir manifestações comportamentais
que cursaram, principalmente, com hiperlocomoção, corroborando vários outros
estudos já realizados na literatura, como por exemplo, o de Bujas-Bobanovic e
colaboradores, os quais também referiram presença de estereotipias e ataxia nos
seus resultados, além do aumento da atividade locomotora (BUJAS-BOBANOVIC et
al., 2000; KANDRATAVICIUS et al., 2015; SAMPAIO et al., 2018).
Tendo em mente que o objetivo principal desta tese de doutorado foi o de
avaliar os efeitos eventualmente protetores do NPS, do CBD e da associação de
ambos no período de maturação cerebral de ratos Wistar se torna importante dizer
que o grupo de ratos machos, que foi previamente tratado com injeções
intraperitoneais de NPS, não apresentou diferenças estatisticamente significativas na
redução das distâncias totais percorridas pelos animais, quando comparado com os
roedores que foram previamente tratados com GLI. Em outras palavras, isso
significa afirmar que o NPS não pareceu atenuar os efeitos de hiperlocomoção
característicos da estimulação desses animais, que foram previamente induzidos por
CET nesse grupo. Deve-se lembrar de que a ideia inicial do uso do NPS como um
agente, eventualmente protetor, para o desenvolvimento de esquizofrenia partiu de
um estudo publicado em 2013, por Hallak et al. (2013).
O estudo de Hallak et al. (2013) provocou o início de um novo paradigma de
pesquisa na área da esquizofrenia em que, de maneira geral, o ON teria a
capacidade de tratar sintomas provenientes dessa doença, de acordo com sua
eventual ação moduladora de receptores NMDA. No entanto, além de se mostrar
efetivo para o tratamento da esquizofrenia, esse trabalho evidenciou que uma única
aplicação desse potente doador de ON, no caso o NPS, pareceu exercer um efeito
protetor ou preventivo no desenvolvimento da doença, pois seus resultados
benéficos perduraram por trinta dias após a aplicação da droga, mesmo sendo essa
uma substância possuidora de uma meia vida de eliminação bem curta de apenas
quatro horas. Alguns outros estudos publicados posteriormente corroboraram os
resultados encontrados pela equipe de Hallak et al. (2013), alguns desses,
realizados em modelos animais de esquizofrenia, bem como outros realizados em
humanos portadores da doença. No que tange aos estudos animais, Issy e
91
colaboradores, em 2014, descreveram que o aumento de ON gerado pelo NPS,
melhorou consideravelmente os déficits de PPI, normalmente encontrados em ratos
expostos aos modelos animais de esquizofrenia (ISSY et al., 2014). Não menos
importante, Trevlopoulou e colegas também referiram que o NPS foi capaz, em um
modelo animal de psicose realizado em roedores, de atenuar os déficits de
reconhecimento de memória e de isolamento social, típicos do resultado do uso de
CET nesses animais (TREVLOPOULOU; TOUZLATZI; PITSIKAS, 2016). Outros
estudos clínicos, dessa vez realizados em humanos, também confirmaram a
hipótese de Hallak et al. (2013), sendo o caso do estudo de Oliveira e
colaboradores, os quais avaliaram a eficácia do NPS nos déficits cognitivos da
esquizofrenia e encontraram que essa substância pareceu ter sido efetiva em
melhorar as funções executivas desses pacientes, que foram testados através dos
testes mnemônicos de Stroop e N-back (OLIVEIRA et al., 2015).
Esse mesmo pesquisador, através de outro estudo, refere que o NPS
também pareceu ser efetivo, de algum modo ainda a ser investigado, em atuar como
agente potencializador de drogas antipsicóticas, no caso do estudo, de clozapina
(OLIVEIRA et al., 2014). Em contrapartida, alguns outros estudos clínicos que
tentaram corroborar a efetividade do NPS, no tratamento da esquizofrenia,
encontraram resultados discrepantes aos de Hallak et al. (2013), atestando
formalmente que de acordo com seus resultados, o NPS não foi efetivo em melhorar
sintomas da esquizofrenia, bem como não se mostrou competente em atuar como
agente potencializador de drogas antipsicóticas (STONE et al., 2016; WANG et al.,
2018; WANG et al., 2019). Assim, apenas estudos futuros, mais bem delineados
metodologicamente, poderão responder a essa lacuna científica ainda não
claramente desvendada.
Entrando mais especificamente no universo da psicofarmacologia básica, a
ideia do grupo de Hallak et al. (2013) foi a seguinte: uma vez que a teoria
dopaminérgica não consegue explicar adequadamente a fisiopatologia da
esquizofrenia, novas evidências tentam encontrar outros mecanismos envolvidos
com a gênese desse transtorno. Entre essas se destaca a desregulação do circuito
conhecido como NMDA-ON-GMPc (já descrito na introdução desta tese) (MIULLER;
SCHWARZ, 2007), que inclusive já possui várias evidências clínicas claras que
corroboram essa ideia, na qual indivíduos portadores de esquizofrenia
apresentariam alterações em vários níveis desse circuito (LIN; LANE; TSAI, 2012).
92
Esse defeito também pode ser identificado em estudos que comprovam que
pacientes portadores de esquizofrenia apresentam diminuição nos metabolitos do
ON (RAMIREZ et al., 2004; LEE; KIM, 2008; NAKANO et al., 2010) e de GMPc
(GATTAZ et al., 1983), quando comparados com sujeitos normais. Na linha dessas
evidências, estudos em roedores que foram submetidos a inibição farmacológica e
genética da síntese e transmissão do glutamato e do ON, evidenciaram que esses
animais passaram a desenvolver comportamento psychosis like após tais
intervenções (BIRD et al., 2001; BUJAS-BOBANOVIC et al., 2000; NELSON et al.,
1995).
Dando sequência a ideia de Hallak et al. (2013), Bujas-Bobanovic et al.
(2000) referem que o NPS foi capaz de abolir completamente os efeitos
comportamentais da expressão de c-fos induzida pela PCP. Infelizmente, o
mecanismo exato pelo qual o NPS exerce seus efeitos permanece incerto,
entretanto, possivelmente, além de aumentar os níveis de ON e de GMPc no
cérebro, essa substância deve provocar algum tipo de modulação nos receptores
NMDA ainda a ser desvendada (HOYT et al., 1992; MANZONI et al., 1992). Essas
observações pré-clínicas levaram o grupo de Hallak et al. (2013) a acreditar que o
NPS poderia melhorar sintomas da esquizofrenia, sendo essa a explicação por trás
da realização do estudo de 2013. Esse mesmo trabalho, desse modo, demonstrou a
eficácia do NPS, bem como de alguma maneira ainda a ser descoberta, a
possibilidade da atenuação, ou até mesmo de certo modo, da prevenção do
aparecimento da esquizofrenia.
Ainda, sobre os resultados dos testes comportamentais de distância total
percorrida, a mesma ausência de resposta pode ser descrita quanto ao uso do CBD
nas fases iniciais do período do neurodesenvolvimento de animais, pois nesse grupo
de ratos machos não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas,
quando da comparação realizada com os animais que foram previamente expostos
ao uso de GLI. Isso corresponde a dizer que o CBD, aparentemente, não foi capaz
de diminuir as distâncias totais percorridas pelos animais no grupo.
A teoria por trás do uso do CBD, no período de maturação cerebral de ratos,
destoa da que foi descrita nos parágrafos acima para o NPS. O primeiro estudo a
introduzir na literatura o conceito de um eventual efeito protetor ou preventivo do uso
do CBD na esquizofrenia foi realizado por Crippa et al. (2015). Esse estudo de
revisão marcou uma nova era na compreensão da esquizofrenia como uma doença,
93
que poderia ser de algum modo ainda a ser investigado, prevenida através do uso
do CBD. Segundo esses autores, pacientes sob Ultra Alto Risco (UHR) para o
desenvolvimento de psicose, termo esse criado para denominar indivíduos que
apresentariam, em alguns casos, até mais de 50% de chance de desenvolver
esquizofrenia ao longo da vida (MILLER et al., 2002), se beneficiariam sobremaneira
de intervenções psicofarmacológicas preventivas realizadas por antipsicóticos,
diminuindo o risco de transição para psicose entre 37 a 45% (MIYAMOTO et al.,
2012; MCGORRY et al., 2013).
Antes de tudo, então, seria importante entender através de evidências
científicas recentes, se o CBD, o qual possui seu princípio ativo extraído da planta
Cannabis sativa poderia, realmente, melhorar sintomas psicóticos característicos de
pacientes portadores de esquizofrenia.
Como já mencionado na introdução desta tese de doutorado, é sabido
atualmente que o THC, o principal constituinte da Cannabis seria capaz de induzir
sintomas psicóticos em indivíduos vulneráveis geneticamente (ZUARDI et al., 2012;
HASAN et al., 2019). Sintomas esses que pareceram serem antagonizados através
de uma eventual interação farmacológica com o próprio CBD, como demonstra o
estudo de Zuardi e colaboradores já na década de 1980 (ZUARDI et al., 1982).
Vários outros estudos realizados através do uso do CBD, tanto em animais como em
humanos, corroboram esses resultados, evidenciando uma visível atenuação dos
sintomas psicóticos induzidos pelo THC, provocando uma série de melhoras clínicas,
caracterizadas, por exemplo, através de atenuação do isolamento social típico da
esquizofrenia, do embotamento afetivo, da anedonia, entre outros sintomas
dimensionais da doença (LEWEKE et al., 2000; MALONE; JONGEJAN; TAYLOR,
2009; LEWEKE et al., 2012).
Diversos outros trabalhos realizados em vários tipos distintos de modelos
animais de esquizofrenia, também demonstraram o potencial de eficácia do CBD no
controle de sintomas psicóticos (ZUARDI et al., 2012; RENARD et al., 2017;
MCGUIRE et al., 2018). Entretanto, muitos outros estudos com resultados
divergentes também foram conduzidos e vários desses, aparentemente, não
encontraram resultados consistentes a respeito dos efeitos antipsicóticos do CBD
(LONG et al., 2010; MIYAMOTO et al., 2012; ALMEIDA et al., 2013). Todavia,
através de uma análise metodológica mais detalhada desses trabalhos, é possível
94
identificar que o uso crônico da administração do CBD parece ser a chave para a
busca de resultados mais consistentes nesses transtornos (CRIPPA et al., 2015).
A própria equipe de Crippa et al. (2015) também elaborou um outro estudo,
no qual a administração crônica de CBD pareceu ser eficaz contra as manifestações
comportamentais induzidas por diferentes modelos animais de esquizofrenia
(PERES et al., 2016). Nesse estudo, o tratamento com CBD de longo prazo,
preventivamente, não permitiu que ratos adolescentes desenvolvessem
hiperlocomoção, defeitos no teste de PPI, além de déficits no teste de
condicionamento ao medo, em uma linhagem de ratos hipertensos
espontaneamente (SHR). Esse foi, provavelmente, o primeiro estudo científico capaz
de demonstrar que o CBD, aparentemente, apresentou efeitos potencialmente
atenuantes e preventivos contra o desenvolvimento da esquizofrenia.
Em humanos, a eficácia clínica do CBD também foi devidamente testada e,
pode-se afirmar que o primeiro relato de caso de um paciente tratado com CBD para
a esquizofrenia foi o caso de uma paciente feminina que não tolerava o uso de
drogas antipsicóticas e que foi tratada com CBD por quatro semanas, apresentando
uma diferença significativa na pontuação da escala breve de avaliação psiquiátrica
(BPRS) (ZUARDI et al., 1995). Outro estudo importante que atestou a eficácia clínica
do CBD foi um ensaio clínico, duplo-cego, controlado, que comparou os efeitos do
CBD e da amisulpirida em 42 pacientes com esquizofrenia durante quatro semanas
(LEWEKE et al., 2012). Ambos os tratamentos reduziram os sintomas psicóticos sem
diferenças significativas entre esses, porém com o grupo CBD apresentando menos
efeitos colaterais. Vários outros estudos recentes vêm sendo conduzidos com
excelentes resultados, evidenciando, sistematicamente, as propriedades
antipsicóticas do CBD, associados a um perfil de efeitos colaterais extremamente
inferiores, quando comparado com os antipsicóticos tradicionais (LEWEKE et al.,
2016).
O CBD produziria seus efeitos através de um mecanismo que ainda não está
claramente evidenciado, mas que provavelmente deva interferir com uma série de
sistemas de neurotransmissores, através de diversas vias específicas. Basicamente,
a inibição da recaptação e do metabolismo da anandamida devem estar
relacionados com as propriedades antipsicóticas do CBD (ZUARDI et al., 2012;
ROHLEDER et al., 2016; PACHER; KOGAN; MECHOULAM, 2019). Na verdade, os
níveis séricos de anandamida possuiriam uma correlação inversa entre a presença
95
de esquizofrenia e a vigência de sintomas psicóticos, em um tipo de mecanismo de
feedback ainda a ser investigado (GIUFFRIDA et al., 2004). Por exemplo, pacientes
em estados prodrômicos de psicose possuiriam maiores níveis de anandamida no
líquor do que pessoas saudáveis, entretanto altos níveis de anandamida estariam
associados a um atraso no desenvolvimento de psicose franca (MINICHINO et al.,
2019). Não se esquecendo de que a melhora clínica visualizada em pacientes com
esquizofrenia, que utilizaram CBD, estaria relacionada a altos níveis de anandamida
no líquor (KOETHE; HOYER; LEWEKE, 2009).
O CBD seria sintetizado sob demanda, nos neurônios pós-sinápticos, se
comportaria ativando terminais pré-sinápticos e regulando negativamente a liberação
de neurotransmissores, no caso GABA e glutamato (MOUSLECH; VALLA, 2009).
Outras ações do CBD ainda poderiam estar relacionadas com um aumento da
neurogênese em ratos adultos (WOLF et al., 2010; FOGAÇA et al., 2018), com
melhora da neuroplasticidade cerebral em humanos (SAGREDO et al., 2018), a
eventual interação com receptores 5HT1A e TRPV do tipo 1, e até mesmo a outros
efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios (ZUARDI, 2008; CAMPOS;
GUIMARÃES, 2008; MULLER; MORALES; REGGIO, 2018). Essas evidências
clínicas sobre o uso do CBD tanto como droga antipsicótica, tanto como que um
agente possuidor de capacidades preventivas no tratamento da esquizofrenia,
descritas e sistematizadas pela equipe de Crippa et al. (2015), também
impulsionaram a ideia do desenho experimental do estudo desta tese de doutorado,
fornecendo evidências adicionais para que, eventualmente, o uso dessa substância
nos períodos iniciais do neurodesenvolvimento humano poderia atenuar ou até
mesmo evitar o aparecimento de esquizofrenia.
Outra análise foi realizada no teste de campo aberto com ênfase na
distância total percorrida, dessa vez com a aplicação de injeções IP provenientes da
associação entre o NPS e o CBD também em um grupo de ratos machos.
Diferentemente do esperado, pois de acordo com os resultados do uso prévio do
NPS e do CBD isoladamente, que não provocaram resultados significativos nos
grupos descritos acima, a associação dessas duas substâncias proporcionou que os
ratos expostos a essas apresentassem menores distâncias totais percorridas que os
animais do grupo que foram tratados com GLI. Isso implica em informar que de
acordo com esses resultados é possível afirmar que o uso associado do NPS e do
CBD foi capaz, ineditamente, de atenuar e/ou, até mesmo prevenir, os efeitos
96
psicóticos induzidos pela CET. Desse modo, surge a pergunta: por que o uso isolado
do CBD e do NPS não apresentou resultados significativos para a diminuição das
distâncias totais percorridas, enquanto que o uso associado de ambas as
substâncias, apresentou? Para responder a essa pergunta se torna necessário
compreender a relação existente, ainda a ser desvendada, entre o sistema
glutamatérgico e o sistema dos receptores endocanabinoides.
Como já descrito nesta tese de doutorado, várias regiões cerebrais vêm
sendo relacionadas com a gênese da esquizofrenia (PAKKENBERG; SCHEEL-
KRUGER; KRISTIANSEN, 2009). Pode-se citar, por exemplo, a área tegmental
ventral (GIORDANO et al., 2018), o nucleus accumbens (PEREZ; LODGE, 2018), o
pálido ventral (TARCIJONAS et al., 2019), o núcleo talâmico mediodorsal
(BUCHMANN et al., 2014) e o córtex pré-frontal (HOFTMAN; DATTA; LEWIS, 2017).
Nessas áreas descritas, mais especificamente naquelas com maior afinidade a
receptores dopaminérgicos como, por exemplo, o nucleus accumbens, estudos em
modelos animais de roedores e em humanos evidenciam que uma resposta de
hipersensibilidade a receptores dopaminérgicos induziria, através de uma espécie de
mecanismo de feedback, ainda a ser desvendado, a uma inibição focal de neurônios
gabaérgicos, com consequente redução da liberação gabaérgica proveniente de
terminais nervosos individualizados no pálido ventral (KOOB; SWEDLOW, 1988;
HUBERT; MANVICH; KUHAR, 2010).
O nucleus accumbens é constituído, em sua grande maioria, por mais de
95% de neurônios gabaérgicos espinhosos médios, os quais são inibidos pela
ativação de receptores com alta afinidade para D2 (GELDWERT, et al., 2006;
BRADY; O’DONNELL, 2004). Essas estruturas celulares possuem, entre outras
propriedades, a função de enviar projeções inibitórias gabaérgicas para o pálido
ventral (KOOB; SWEDLOW, 1988; JONES; MOGENSON, 1980). Dessa maneira, a
liberação de dopamina no nucleus accumbens, realizada pelas projeções neuronais
provenientes da área tegmental ventral, poderia reduzir a inibição de neurônios
gabaérgicos do pálido ventral, resultando em um aumento da atividade do tálamo
médio dorsal pálido (KALIVAS; CHURCHILL; ROMANIDES, 1999). Esse fenômeno
resultaria em uma diminuição do input glutamatérgico dessa região para o córtex
pré-frontal, provocando danos na atividade locomotora e na memória de trabalho.
Em teoria, os endocanabinoides poderiam regularizar esse sistema de
acordo com o mecanismo já descrito em parágrafos acima, basicamente, regulando
97
a liberação de neurotransmissores, como GABA e glutamato (ZUARDI et al., 2012).
Nos gânglios da base, os receptores CB1 estariam localizados em maior quantidade
nos terminais axonais gabaérgicos, do que nos neurônios glutamatérgicos (MATYAS
et al., 2006) e, portanto, um aumento nos níveis séricos de anandamida induzidos
pelo CBD poderia atenuar a liberação de receptores GABA nos neurônios do pálido
ventral, restaurando o funcionamento normal desse sistema nos pacientes
portadores de esquizofrenia (ZUARDI et al., 2012).
Nessa linha de evidências seria plausível pensar que em relação aos
resultados encontrados na diminuição das distâncias totais percorridas pelos
roedores quando da associação do NPS e do CBD, de algum modo ainda a ser
conhecido, o eventual efeito sinérgico observado proveniente da associação dessas
substâncias, parece ter sido superior ao uso isolado de ambas as drogas na
prevenção do desenvolvimento de sintomas esquizofrenia like.
Em referência quanto às análises dos grupos de ratos fêmeas no quesito
distância total percorrida, antes de mais nada, é importante referenciar que da
mesma maneira que o grupo dos ratos machos, todos os animais do grupo, que
foram expostos a CET, apresentaram maiores distâncias totais percorridas do que
os animais que foram induzidos com SAL. Dessa maneira, atesta-se, de acordo com
esse padrão de resposta, que a CET foi viavelmente eficaz em produzir aumento de
atividade locomotora nos animais do gênero feminino que participaram do estudo.
Da mesma forma que os resultados encontrados no grupo dos ratos machos, o
estudo de Bujas-Bubanovic et al. (2000) corrobora esses resultados, mais uma vez
posicionando a CET como droga efetiva para o modelo animal de esquizofrenia
escolhido no estudo aqui apresentado.
De qualquer maneira, é possível observar que mesmo sem análise
estatística específica sobre uma eventual influência de gênero nos resultados
obtidos se percebe um padrão de resposta significativamente maior dos efeitos
psicóticos da CET nos grupos compostos por ratos fêmeas, pois nesses grupos, as
distâncias totais percorridas pelos animais foram bem maiores do que as
encontradas nos grupos dos ratos machos. Esse padrão de resultado encontrado,
empírico, porém nítido, naturalmente implica ao estudo uma importante limitação
técnica, uma vez que nenhum estudo estatístico específico foi realizado no que
tange a influência do gênero nesses resultados.
98
O mesmo padrão idêntico de resultado foi descrito, atualmente, por Pacheco
e colaboradores, os quais atestaram em um artigo publicado em 2019, que ratos
fêmeas pré-púberes apresentaram um padrão de sintomas psicóticos altamente
superiores aos ratos machos, quando testados através de testes comportamentais
de interação social, campo aberto e de PPI (PACHECO et al., 2019). Esses
pesquisadores concluem que se respeitando a influência de gênero dos efeitos da
CET em roedores, ratos Wistar pré-púberes são um excelente modelo animal atual
de indução aos comportamentos schizophrenia like.
Essas diferenças descritas acima a respeito dos resultados do uso da CET e
de uma eventual influência de gênero nos desfechos encontrados já foram
percebidas e devidamente descritas através de alguns trabalhos prévios realizados.
Talvez, o primeiro artigo que tenha sido publicado sobre uma possível influência do
gênero quanto ao efeito da CET, tenha sido publicado por Winters et al. (1986).
Nesse estudo, os pesquisadores envolvidos buscavam melhor elucidação a respeito
de eventuais fatores adversos que pudessem influenciar as ações da CET, e
corroborando os resultados descritos acima nesta tese encontraram que,
aparentemente, o grupo de ratos fêmeas mostrou ser muito mais sensível aos
efeitos da CET do que os machos. Para tal, testaram a eficácia da CET para
analgesia e catalepsia, observando as suas interações com gênero e clima. Ao
término do estudo foi possível afirmar que ratos machos, diferentemente das
fêmeas, não manifestaram analgesia em doses menores do que aquelas
necessárias para induzir catatonia. Concluíram, relatando que as profundas
diferenças de gênero encontradas no estudo a respeito dos efeitos da CET, colocam
o gênero como uma variável que necessita ser amplamente estudada em relação ao
uso de determinado anestésico.
Na linha oposta desses resultados, Lecointre e colaboradores estudaram os
efeitos da administração pós-natal de CET em ratos de ambos os gêneros, mais
especificamente aos 2, 5 e 10 dias de vida, comparando posteriormente os
resultados encontrados através de testes comportamentais de atividade locomotora
aos 51 e 55 dias de vida dos animais (LECOINTRE et al., 2014). Os resultados
observados evidenciaram que a maioria dos animais do gênero masculino
apresentou aumento da atividade locomotora horizontal, em detrimento as fêmeas
que não apresentaram determinado comportamento. Os autores concluem com
observações de que o estrogênio, hormônio mais abundante no gênero feminino,
99
poderia ser um fator de proteção ao desenvolvimento de um quadro de esquizofrenia
like, mas que determinado resultado ainda precisaria ser amplamente estudado.
Outro artigo, publicado em 2004, por Lees e colaboradores, também
corrobora essa possível influência de gênero à eficácia da CET. Os autores
discorrem que o impacto da influência de gênero na psicopatologia, no prognóstico,
na resposta funcional e clínica, bem como nas intervenções psicofarmacológicas da
esquizofrenia, já está muito bem documentado, e concluem inferindo que seria
possível, que essa influência de gênero poderia estar, de algum modo ainda a ser
investigado, intimamente relacionada aos níveis de estrogênio característicos do
organismo feminino (LEES et al., 2004).
Corroborando essas evidências, Borella e colaboradores avaliaram a
influência do ciclo do estrógeno e do gênero no comportamento de ratos adultos
tratados com CET no período neonatal (BORELLA et al., 2015). Encontraram
alterações circunstanciais de déficits no teste de PPI e na memória de trabalho
espacial em ratos machos e em fêmeas diestrus (período de baixo nível de
estrogênio), mas não em ratos fêmeas proestrus (período de alto nível de estradiol).
Desse modo, colocando o estrogênio como um hormônio potencialmente protetor do
desenvolvimento de quadros psychosis like.
Assim, como outra limitação importante implicada ao estudo aqui
apresentado, dessa vez sobre os resultados encontrados no grupo de ratos fêmeas
descritos acima nesta tese de doutorado, não foram feitas avaliações das diferentes
fases do ciclo do estrogênio dos animais de gênero feminino que participaram do
trabalho. Essa mesma limitação se aplicaria ao estudo de Lecointre et al. (2014)
descrito acima, que não encontrou aumento da atividade locomotora horizontal em
ratos fêmeas, mas sim nos machos, pois seria possível, por exemplo, que esses
ratos fêmeas estivessem em proestrus.
Retornando aos resultados dos testes de distância total percorrida entre os
grupos de ratos fêmeas se percebe um nítido padrão diferente de resposta sobre os
achados do estudo, em referência quanto aos dados obtidos pelos grupos dos ratos
machos. Dando seguimento aos resultados obtidos, o primeiro grupo de comparação
composto de ratos fêmeas e que foi exposto ao NPS, em fases precoces do
amadurecimento cerebral, apresentaram menores distâncias totais percorridas em
comparação ao grupo que foi submetido ao uso da GLI. Dado esse, o qual significa
100
dizer que nesse grupo, o NPS pareceu ser efetivo em prevenir o comportamento
schizophrenia like induzido pela CET.
Oliveira e colaboradores, em 2015, elaboraram um estudo tentando avaliar a
eficácia do uso do NPS em um modelo animal de roedores, que utilizou CET, sem
definição de gênero (OLIVEIRA et al., 2015). Os animais foram filmados na arena de
campo aberto por 30 min e, depois, analisados estatisticamente, observando-se a
atividade deambulatória e eventuais estereotipias encontradas. Os resultados, que
corroboraram os resultados encontrados nesta tese de doutorado, evidenciaram que
o NPS preveniu a emergência de hiperatividade induzida pela CET, quando
administrado até uma semana antes do uso desse anestésico. Há de se ressaltar
que o estudo de Oliveira et al. (2015) não realizou intervenções preventivas com
NPS em fases precoces do amadurecimento cerebral como no projeto de doutorado
aqui referido.
Vários outros estudos vêm sendo realizados em modelos animais de psicose
e em pacientes portadores de esquizofrenia no intuito de se testar a real eficácia do
NPS, seja essa droga utilizada sob a forma de tratamento antipsicótico in loco
apresentando resultados positivos (TREVLOPOULOU; TOUZLATZI; PITSIKAS,
2016; TITULAER et al., 2019) e também negativos (STONE et al., 2016;
HURTUBISE et al., 2017; WANG et al., 2018; WANG et al., 2019), ou utilizada em
estudos de caráter preventivo, também com desfechos positivos e promissores
(DIANA et al., 2018).
De maneira complementar, o grupo de ratos fêmeas, que utilizou o CBD no
período de maturação cerebral, quando comparado com o grupo que recebeu
injeções IP de GLI, também apresentou menores distâncias totais percorridas com
diferenças estatisticamente significativas, devidamente comprovadas pela análise
estatística proposta pelo estudo. Pode-se afirmar, então, que o CBD foi,
aparentemente, eficaz em atenuar e/ou prevenir o comportamento de
hiperlocomoção induzido pelo uso da CET, provavelmente, através do mesmo
mecanismo de ação descrito para os efeitos do CBD no grupo dos ratos machos.
Por fim, outro aspecto analisado no grupo foi o da associação do NPS com o
CBD, através de injeções IP desses agentes também no mesmo período inicial do
neurodesenvolvimento, quando comparado com o uso da GLI. Os resultados mais
uma vez evidenciaram diferenças significativas demonstradas por menores
distâncias totais percorridas no grupo que foi exposto a associação do NPS e do
101
CBD, demonstrando que a interação dessas duas substâncias também pareceu
enfraquecer o quadro psicótico de hiperlocomoção induzido pela CET.
Esse é o primeiro estudo realizado sobre o assunto, de acordo com o
conhecimento do grupo de pesquisa responsável pela elaboração deste trabalho, a
respeito do uso dessas determinadas substâncias (NPS e CBD) no período de
maturação cerebral de roedores. Portanto, não existem outros trabalhos já
realizados na literatura que possam corroborar ou discordar dos resultados aqui
encontrados. De qualquer maneira, uma breve discussão sobre a influência do
gênero na esquizofrenia, de acordo com os resultados encontrados, se faz
necessária.
Os resultados obtidos através dos testes de atividade locomotora, no que
tange a distância total percorrida, descritos nos parágrafos acima, evidenciaram de
maneira geral que os ratos fêmeas apresentaram mais sintomas psicóticos do que
os ratos machos quando da estimulação realizada pelas injeções intraperitoneais de
CET. Observação essa já descrita nesta tese e que foi corroborada por Winters e
colaboradores em 1986, os quais descreveram que ratos fêmeas realmente seriam
mais susceptíveis aos efeitos psicóticos da CET (WINTERS et al., 1986).
Nesse caso, naturalmente, uma vez que os ratos fêmeas estimulados por
CET estavam mais psicóticos do que os ratos machos, seria esperado,
empiricamente, é claro, que esses respondessem de maneira menos eficaz aos
tratamentos preventivos realizados com NPS e/ou CBD em detrimento aos ratos
machos, se algum tipo de eficácia preventiva dessas substâncias, porventura, fosse
constatada. É sabido na literatura que a intensidade do quadro psicótico, a qual o
paciente está acometido, sendo inversamente proporcional ao nível do resultado
terapêutico encontrado. Por exemplo, quanto mais grave é o quadro psicótico que o
paciente está acometido, mais difícil seria sua resposta farmacológica, chegando ao
ponto de indivíduos em fases prodrômicas de psicose serem os mais beneficiados
pelos tratamentos antipsicóticos atuais (ALBERT; WEIBELL, 2019; CHAN et al.,
2019). No entanto, os resultados encontrados nesta tese de doutorado foram
opostos aos descritos acima, pois os ratos fêmeas mais gravemente acometidos
pela psicose responderam de maneira superior aos ratos machos, menos
acometidos de sintomas.
Dessa maneira surge a pergunta: por que esse fenômeno distinto ocorreu?
Inadvertidamente, a superioridade de resposta de prevenção à psicose encontrada
102
neste trabalho de doutorado e, por conseguinte, atribuída ao NPS e ao CBD no
grupo dos ratos fêmeas se apresenta em conformidade com o melhor nível de
prognóstico encontrado ao longo da vida em pacientes portadores de esquizofrenia
do gênero feminino, quando comparado com homens portadores da doença
(SEEMAN, 2012).
Atualmente, em termos de saúde pública, é sabido que de maneira geral as
mulheres portadoras de esquizofrenia apresentam melhor prognóstico do que os
homens e isso se deve, principalmente, a alguns dados epidemiológicos listados a
seguir: principalmente, nos 10-15 anos iniciais da doença, a esquizofrenia em
mulheres interrompe a vida com menos frequência do que nos homens, mulheres
conseguem voltar ao trabalho, se casar e cuidar de seus filhos muito mais
frequentemente que os pacientes do gênero masculino, as mulheres continuam a
manter suas amizades e vínculos parentais, além de aderirem melhor aos
tratamentos farmacológicos, em muito mais casos do que seus pares do sexo oposto
(GALDERISI et al., 2012).
Dando seguimento aos dados atuais sobre a influência do gênero na
esquizofrenia, os quais corroboram os resultados comportamentais aqui nesta tese
descritos, é importante ressaltar também, que embora as mulheres portadoras de
psicose apresentem maiores perfis sistêmicos de efeitos colaterais em referência ao
uso de medicamentos antipsicóticos, elas também apresentam maiores índices de
resposta terapêutica aos tratamentos antipsicóticos, porventura propostos, com
dosagens diárias muito menores do que aquelas necessárias para que os homens
respondam ao tratamento (SMITH, 2010).
Concluindo, as evidências científicas contemporâneas a respeito da
prevalência da esquizofrenia ao longo da vida, na maior parte do mundo, demonstra
que valores quantitativos idênticos são encontrados tanto entre homens quanto em
mulheres portadoras do transtorno, entretanto, a incidência é maior em homens em
uma proporção de 1.4:1 (MCGRATH et al., 2008), além do que, os homens
apresentam uma tendência em terem mais sintomas negativos e cognitivos do que
as mulheres, enquanto que mulheres apresentam mais sintomas afetivos. Dentro
desse contexto, os episódios psicóticos nas mulheres possuem uma tendência a
serem mais breves e com melhor resolução do que em homens (CASTAGNINI;
BERRIOS, 2009).
103
Mesmo com todos esses dados epidemiológicos obtidos de trabalhos
realizados em humanos, os quais corroboram os resultados encontrados nesta tese,
a pergunta feita acima, no começo do parágrafo, continua sem resposta. Ainda que
a hipótese mais provável para a influência de gênero na esquizofrenia, bem como
nos resultados aqui encontrados repouse em uma eventual ação protetora do
estrogênio, essa não responde por completo, o que de fato é responsável pela
influência de gênero nessa doença e, portanto, ela deve ser vista muito mais como
uma teoria possível, do que como um modelo conclusivo de influência e
consequente proteção.
5.2.2 Proporção de tempo gasto no centro da arena
Os maiores indicadores já estabelecidos de comportamento emocional em
roedores durante o teste de campo aberto, para alguns autores, seria a ambulação e
a defecação (LISTER, 1990). Esse modelo comportamental vem sendo proposto
como referência à resposta ao medo apresentada pelo animal, ou mais
especificamente, ao comportamento ansioso do roedor, através da exposição a um
ambiente novo e potencialmente perigoso para os animais (GENTSCH et al., 1987).
Nesse caso, os principais parâmetros que se alterariam durante a realização do
teste seriam o aumento da defecação, concomitante a diminuição da ambulação,
especialmente, na zona central do teste (BERNATOVA et al., 2011).
Por esse motivo, a proporção de tempo gasto no centro da arena foi
utilizada, neste trabalho de doutorado, com o objetivo principal de avaliação
pormenorizada do comportamento ansioso dos animais do estudo (KUNIISHI et al.,
2017). Resta a ressalva de que o objetivo principal do autor desta tese, durante o
trabalho de campo, foi o de avaliar a possibilidade da atenuação e/ou prevenção do
quadro schizophrenia like induzido pela CET, e não propriamente dito sobre a
resposta das drogas escolhidas a um transtorno de ansiedade propriamente dito.
Mesmo assim, segundo vários pesquisadores, a avaliação de
comportamentos anxiety like gerados por estimulações artificiais realizadas através
dos testes comportamentais, como os citados acima, poderiam ser encarados como
indícios de sintomas psicóticos, pois sintomas de ansiedade têm sido há muito
tempo definidos como uma característica central da esquizofrenia desde a sua
104
caracterização (TANDON; NASRALLAH; KESHAVAN, 2009; KARPOV et al., 2016;
HOWELLS; KINGDON; BALDWIN, 2017).
Desse modo, apesar de ser considerado um importante teste para a
avaliação de indícios de comportamentos psicóticos em roedores (SEGAL-GAVISH
et al., 2017), o teste de proporção de tempo gasto, no centro da arena, deve ser
encarado muito mais como um teste de avaliação do nível de ansiedade de
determinadas espécies de animais (CALISKAN et al., 2019), do que de avaliação
específica de um comportamento schizophrenia like propriamente dito.
Dando sequência a interpretação dos resultados encontrados neste tipo de
tarefa comportamental, antes de mais nada, como primeiro parâmetro a ser
analisado e de suma importância para a validade do modelo animal aqui proposto,
os resultados das porcentagens de tempo gasto no centro da arena obtidos pelos
animais do estudo, não evidenciaram que os roedores, que foram estimulados por
CET, apresentaram menores índices de tempo perdido no centro da arena, quando
comparados com os grupos que foram induzidos ao modelo animal de esquizofrenia
com SAL. Torna-se notório, então, de acordo com os resultados destes testes, que o
modelo animal de psicose aqui proposto não pôde ser considerado efetivo para a
indução de sintomas schizophrenia like nos animais.
Essa falta de efetividade para o modelo não corrobora a grande maioria dos
trabalhos já realizados na literatura, os quais atestam que a CET seria efetiva para
causar diminuição do tempo gasto no centro da arena, quando utilizado em roedores
e testadas através da tarefa comportamental de proporção de tempo gasto no centro
da arena (LIEBSCH et al., 1998; SESTAKOVA et al., 2013).
Retornando aos objetivos principais desta tese de doutorado, que consistiu
na avaliação dos efeitos eventualmente protetores do NPS, do CBD e da associação
de ambos no período de maturação cerebral de ratos Wistar, em detrimento a
quadros psicóticos ora induzidos por CET, se torna importante dizer que nenhuma
comparação estatística realizada durante os testes de proporção de tempo gasto no
centro da arena apresentou diferenças estatisticamente significativas no aumento da
proporção do tempo gasto no centro da arena, possibilitando um eventual efeito
preventivo para psicose, por parte dos agentes utilizados na pesquisa. Em outras
palavras, isso significa afirmar que tanto NPS, CBD e a associação de ambas as
drogas não pareceu atenuar os efeitos da diminuição da proporção do tempo gasto
105
no centro da arena, característicos da estimulação por CET que os animais do
estudo foram submetidos.
Voltando ao conceito de que este teste avalia muito mais os
comportamentos anxiety like, do que schizophrenia like, resta apresentação da
informação de que apenas dois resultados estatisticamente significativos foram
encontrados após as comparações realizadas entre os animais durante esse tipo de
tarefa comportamental. Trata-se dos resultados provenientes das comparações
realizadas entre os grupos de ratos machos e fêmeas, que foram expostos
previamente ao CBD no período de maturação cerebral.
Nesses grupos, foi possível verificar que o CBD, aparentemente, foi capaz
de diminuir os níveis de ansiedade de alguns animais. Esse dado deve ser
interpretado, através da observação da comparação dos ratos, que foram
previamente expostos a GLI, no período de maturação cerebral, com os ratos que
foram expostos ao CBD durante o mesmo período, e ambos posteriormente
induzidos ao comportamento schizophrenia like por SAL, ou seja, por placebo.
Nesse grupo foi possível a constatação de que o CBD diminuiu de maneira
significativa os níveis basais de ansiedade, naturalmente encontrados em animais
durante a realização desses tipos de testes comportamentais, que visam indução de
um quadro anxiety like.
De maneira inédita se torna possível acreditar que, desse modo, o CBD teria
a capacidade de atenuar ou de até mesmo prevenir o nível basal de ansiedade que
existe instintivamente nesses animais. Na literatura atual não existem estudos até o
momento realizados sobre essa nova possibilidade de eventuais características
preventivas do CBD para quadros de ansiedade, que pudessem corroborar os
resultados encontrados neste trabalho.
Nessa linha de evidências, o uso do CBD para o tratamento da ansiedade na
literatura científica remete aos dois primeiros estudos que investigaram a
possibilidade dos efeitos ansiolíticos do CBD em ratos, os quais evidenciaram
resultados distintos. Silveira Filho e Tufik, utilizando o teste de conflito e de
supressão de ingestão de comida por medo não encontraram efeitos ansiolíticos do
CBD em doses acima de 100 mg/kg (SILVEIRA FILHO; TUFIK, 1981). De maneira
contrária, Zuardi e Karniol demonstraram que o CBD (10mg/kg) diminuiu a resposta
emocional condicionada, previamente induzida por THC (2mg/kg) (ZUARDI;
KARNIOL, 1983).
106
Posteriormente a esses estudos, durante muitos anos, vários outros deram
suporte a hipótese das propriedades ansiolíticas do CBD em diversos modelos
animais distintos (CRIPPA; ZUARDI; HALLAK, 2010; ELSAID; KLOIBER; LE FOLL,
2019). Entretanto, alguns desses estudos demonstraram que os resultados
encontrados sobre o CBD possuiriam um padrão de curva invertida em “U”. O que
implica em dizer que doses baixas de CBD, por exemplo, aumentariam a atividade
exploratória nos braços abertos do teste de labirinto, ou seja, um efeito típico de
drogas ansiolíticas, enquanto que altas doses resultariam em um retorno dos
resultados ao padrão inicial do teste, ou seja, sem resposta (GUIMARÃES et al.,
1990; MOREIRA; GUIMARÃES, 2005). De qualquer maneira, essas propriedades
ansiolíticas do CBD não pareciam estar relacionadas à mediação através de
receptores benzodiazepínicos, mas sim a interação desse canabinoide com
receptores 5HT1A, produzindo os efeitos ansiolíticos observados (CRIPPA; ZUARDI;
HALLAK, 2010).
Em humanos também foram conduzidos vários estudos sobre os potenciais
efeitos ansiolíticos do uso do CBD, e a grande maioria desses evidenciando de
maneira clara as propriedades ansiolíticas do uso do CBD (MILLAR et al., 2019).
Chama atenção, um estudo publicado recentemente pela equipe de Crippa e
colaboradores no qual foi realizada uma investigação sob a forma de ensaio clínico
sobre as propriedades ansiolíticas do CBD e suas correlações com os mecanismos
neurais envolvidos com esse fenômeno (CRIPPA et al., 2009). Os resultados,
surpreendentes, evidenciaram que comparativamente ao placebo, uma única
dosagem oral de CBD foi suficiente para diminuir subjetivamente os níveis de
ansiedade relatados durante os testes do estudo, sem causar nenhum tipo de
sedação nos indivíduos envolvidos com a pesquisa. Esses resultados foram
associados com diminuição da atividade do giro parahipocampal, do hipocampo, e
do giro temporal esquerdo, bem como com o aumento da atividade do córtex
cingulado posterior esquerdo.
Dessa maneira, esses resultados demonstram que as propriedades
modulatórias do CBD, na ativação das áreas límbicas e paralímbicas descritas, são
consistentes com o mesmo padrão das propriedades encontradas em drogas
ansiolíticas utilizadas em pacientes portadores de transtornos psiquiátricos e em
voluntários saudáveis, sugerindo que o CBD deva possuir ações ansiolíticas
107
similares em quadros de ansiedade patológica (TRZESNIAK; ARAUJO; CRIPPA,
2008; FERRARI et al., 2008).
Como conclusão, resta a descrição que de acordo com os resultados
encontrados nesta tese de doutorado se torna viável um novo paradigma de
pesquisa, ainda a ser evidentemente comprovado e testado, a respeito da
possibilidade de se prevenir, ou de pelo menos atenuar, determinados transtornos
ansiosos, através de estimulações preventivas realizadas através do uso do CBD em
períodos de maturação cerebral.
5.3 PREFERÊNCIA POR SACAROSE
O teste de preferência por sacarose descrito, sistematicamente, na seção de
materiais e métodos desta tese de doutorado, resumidamente, proporciona a
avaliação da porcentagem de preferência da ingestão de solução aquosa adocicada,
em detrimento a uma solução aquosa simples (LIU et al., 2018). Acredita-se, de
acordo com a literatura atual, que este teste seja útil tanto para a avaliação de um
eventual comportamento depressivo, característico de um transtorno de humor, bem
como para a avaliação de um comportamento negativo, próprio de um quadro
psicótico como a esquizofrenia (PELIZZA; FERRARI, 2009). De qualquer maneira,
tanto para a avaliação de depressão, como para a avaliação de um quadro psicótico,
o comportamento a ser avaliado pelo teste é a anedonia.
Anedonia é definida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças
Mentais - 5a edição (DSM-V) como uma diminuição do interesse ou do prazer em
resposta a um estímulo que foi previamente percebido como recompensador
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Pode também ser
compreendida como o resultado de um déficit na motivação de receber uma
recompensa e, dessa vez, por esse mecanismo se torna conhecida como anedonia
motivacional (TREADWAY; ZALD, 2013; SZCZYPINSKI; GOLA, 2018). Fato que
implicaria em dizer em relação ao teste realizado neste projeto que animais
saudáveis, os quais experimentam algum tipo de solução açucarada, sentem um
grande prazer como recompensa e, consequentemente, passam a dar preferência à
ingestão de determinada solução, no intuito de que continuem sentindo cada vez
mais prazer pela recompensa, ora produzida pela solução adocicada.
108
De acordo com os resultados provenientes dos testes realizados, neste
trabalho de doutorado, é importante ressaltar mais uma vez que, primeiramente,
para que os testes realizados possuam peso estatístico considerável, uma análise
“pura” sobre a eficácia do modelo animal de esquizofrenia com CET no grupo deve,
necessariamente, apresentar resultados positivos. No caso, esta análise deve ser
realizada de acordo com a avaliação dos resultados provenientes das comparações
estatísticas feitas entre grupos GLI-SAL versus GLI-CET, no qual para que o teste
seja considerado positivo, o grupo GLI-CET deve, inadvertidamente, apresentar
níveis de preferência por sacarose menores do que o grupo GLI-SAL.
Mediante determinada explicação se torna possível a constatação de que
nem todos os grupos, que foram estimulados por CET, durante os testes de
preferência por sacarose, apresentaram menores porcentagens de ingestão de
solução açucarada, quando da comparação com os grupos que foram submetidos
ao modelo animal de psicose com SAL. Torna-se claro, desse modo, que a CET não
se mostrou perfeitamente eficaz, nesse tipo de teste comportamental, em induzir
manifestações comportamentais que evidenciaram diminuição da ingestão de
sacarose, diferentemente, por exemplo, do estudo de Kandratavicius e
colaboradores, os quais encontraram que a preferência por sacarose diminuiu,
consideravelmente, durante as primeiras 48h, após estimulação de dosagem única
de CET na dosagem de 30 mg/kg (KANDRATAVICIUS et al., 2015).
De maneira inédita, ainda sobre o desfecho da eficácia do modelo animal de
esquizofrenia induzido por CET nesta tese de doutorado, o que também pôde ser
constatado nesta análise foi uma possível influência de gênero quanto ao efeito da
CET nos testes citados acima, pois mesmo sem análise estatística específica a
respeito do sexo, sendo facilmente observável que nos grupos dos ratos fêmeas,
especificamente, nos testes realizados entre os grupos GLI-SAL versus GLI-CET
como explicado acima, nenhuma diferença estatística foi encontrada. Diferentemente
dos resultados provenientes dos grupos dos ratos machos, também GLI-SAL versus
GLI-CET, em que a CET se mostrou efetiva em induzir a diminuição da ingestão de
solução açucarada em praticamente todos os grupos, no caso os expostos ao NPS e
a associação de NPS com CBD, mas não ao grupo exposto ao CBD isoladamente.
Desse modo, de algum modo ainda a ser estudado, possivelmente, algo não
permitiu que efeitos psicóticos plenos provenientes da CET ocorressem nos ratos
fêmeas.
109
Já foi citado nesta tese de doutorado que as diferenças de gênero
encontradas em ratos, que foram expostos a CET, podem estar relacionadas a um
eventual efeito protetor do estrogênio. Corroborando essa afirmação, Lecointre e
colaboradores afirmam que de acordo com suas análises realizadas através de
estimulações por CET, em períodos pós-natais de ratos de ambos os gêneros, os
seus resultados indicam uma nítida influência de gênero na resposta desenvolvida
por esses animais (LECOINTRE et al., 2014). Esses roedores foram testados antes
e após a sua maturidade sexual, ou seja, antes e depois de apresentarem eventuais
altas taxas de estrogênio, através de testes comportamentais distintos, e as
diferenças encontradas levam, sistematicamente, a uma possível influência de
gênero, na qual os ratos machos apresentariam quadros psicóticos mais agressivos
do que as fêmeas.
Na mesma linha de resultados, Borella e colaboradores terminam por
informar, através de seus estudos, que tamanha seria a influência de gênero,
quando da administração de CET em ratos, que os estudos realizados sobre o tema
deveriam especificar em que faixa etária do ciclo do estrogênio, os animais
pertencentes ao estudo estariam, ou seja, se as fêmeas estariam em diestrus ou em
proestrus, e finalizam por colocar o estrogênio como um hormônio potencialmente
protetor do desenvolvimento de quadros schizophrenia like (BORELLA et al., 2015).
Retornando ao conceito de que o objetivo principal desta tese de doutorado
foi o de avaliar a possibilidade de uma eventual ação preventiva do NPS, do CBD e
da associação de ambos, no período do neurodesenvolvimento de ratos Wistar,
torna-se imprescindível referir que o grupo de ratos machos que foi previamente
exposto a injeções IP de NPS, não apresentou resultados estatisticamente
significativos quanto ao aumento da porcentagem da preferência de sacarose,
quando comparado com os animais que foram previamente expostos a GLI. Em
outras palavras, isso significa afirmar que o NPS não pareceu atenuar os efeitos da
diminuição da ingestão por sacarose, característicos da estimulação por CET que os
animais do grupo foram, posteriormente, induzidos.
Segundo o conhecimento do autor desta tese, nenhum artigo científico até o
momento tentou entender a possibilidade de efeitos atenuantes ou preventivos do
NPS no período de maturação cerebral de ratos, através do teste de preferência por
sacarose, apenas um artigo se propôs a tentar entender o efeito imediato do NPS e
da CET, em um modelo animal de esquizofrenia, através do referido teste. Trata-se
110
de um artigo de Kandratavicius e colaboradores em que pela necessidade urgente
de melhores respostas farmacológicas para o tratamento da esquizofrenia, esses
pesquisadores tentaram descobrir se o NPS, o trinitrato de glicerina e o azul de
metileno poderiam melhorar sintomas da esquizofrenia induzidos pela CET
(KANDRATAVICIUS et al., 2015). Para isso, avaliaram o valor terapêutico dessas
substâncias através de alguns testes comportamentais, que incluíram o teste de
preferência por sacarose, de campo aberto e de reconhecimento de objetos.
Concluíram que o NPS seria uma droga promissora para o tratamento da
esquizofrenia e que as alterações comportamentais induzidas pela CET dependem
de uma janela temporal de administração. Por exemplo, neste trabalho de
Kandratavicius et al. (2015), em referência ao teste de sacarose, os pesquisadores
puderam afirmar, que o modelo agudo de CET utilizado, não seria o melhor método
a ser utilizado em modelos animais de esquizofrenia, pois a CET poderia agir como
droga antidepressiva e ansiolítica.
Diversos são os estudos na literatura atual que colocam a CET, quando
administrada em doses subanestésicas, como um promissor agente antidepressivo,
o qual proporcionaria um início de ação imediato, sendo também muito bem indicado
como um excelente agente contra ideação suicida (WILKINSON et al., 2018;
ZANOS; GOULD, 2018). Vários estudos pré-clínicos e clínicos vêm demonstrando
há muito tempo que os receptores NMDA, classe de receptores glutamatérgicos já
evidentemente descritos, nesta tese de doutorado, possuem íntima relação com a
fisiopatologia da depressão maior e que o mecanismo de ação de drogas derivadas
de antagonistas glutamatérgicos possuiriam propriedades farmacológicas capazes
de melhorar sintomas depressivos (SKOLNICK; POPIK; TRULLAS, 2009;
DEUTSCHENBAUR et al., 2016; GERHARD; WOHLEB; DUMAN, 2016).
Essas informações citadas acima são imprescindíveis de se levar em
consideração, uma vez que essas explicam um dos principais motivos para que o
modelo proposto de indução de psicose e, escolhido nesta tese de doutorado, fosse
um modelo crônico de indução a CET de cinco dias consecutivos, e não agudo de
um dia, assunto esse que já foi amplamente debatido no início da discussão desta
tese (KEILHOFF et al., 2004; CHATTERJEE et al., 2011; RAM; RAPHAELI; AVITAL,
2013).
Outro ponto a ser analisado, a respeito dos resultados desse grupo de ratos
machos é sobre outro importante dado encontrado quando da exposição ao NPS no
111
período de neurodesenvolvimento. Ocorre que diferentemente do esperado pelo
autor deste projeto de doutorado, ao invés de um efeito preventivo por parte do NPS,
percebe-se através da comparação entre os grupos de GLI-SAL versus NPS-SAL,
que o NPS, aparentemente, diminuiu mais ainda a ingestão de solução açucarada
após indução com CET. Fato esse, o qual significa dizer que de algum modo ainda a
ser compreendido, o NPS, nesse grupo de comparação, proporcionou que os ratos
expostos a essa substância, aparentemente, se tornassem mais anedônicos. De
modo que surge uma nova questão: por que esse fenômeno inédito aconteceu?
Infelizmente, ainda não existe resposta coerente para essa questão e, desse modo,
é possível afirmar que apenas estudos futuros poderão investigar e explicar todas as
facetas envolvidas sobre o uso do NPS em períodos precoces do
neurodesenvolvimento.
O único estudo existente na literatura científica atual a abordar aspectos
relacionados a este tema, ou seja, que trata dos efeitos do NPS, porém não em
sintomas de anedonia propriamente ditos, mas sim no tratamento da depressão de
maneira geral foi realizado por Vogt et al. (2015). Nesse estudo, os pesquisadores
envolvidos com o projeto referem que a CET seria uma excelente alternativa de
droga antidepressiva, a qual possuiria um início de ação extremamente rápido,
porém que teria seu uso dificultado pelos possíveis efeitos colaterais psicóticos que
essa pode proporcionar (BERMAN et al., 2000). Como já foi exaustivamente
explicado nesta tese de doutorado, estudos recentes sugerem que o NPS teria a
capacidade de prevenir sintomas psicóticos em roedores, ora induzidos por CET ou
por outros agentes antagonistas NMDA (BUJAS-BOBANOVICI et al., 2000;
OLIVEIRA, et al., 2015), bem como possuiria a condição de tratar quadros psicóticos
em humanos (HALLAK et al., 2013).
Partindo desse pressuposto, Vogt e sua equipe avaliaram os efeitos do uso
do NPS em relação às ações antidepressivas da CET, e encontraram que o NPS
não alterou os efeitos antidepressivos desse anestésico durante o teste de natação
forçada em roedores (VOGT et al., 2015). Dado esse importante, pois durante os
testes de preferência por sacarose realizados no grupo de ratos machos descritos
acima, o NPS pareceu piorar os efeitos anedônicos dos roedores, o que entre outros
aspectos pode ser encarado também como piora de um eventual quadro depressivo.
Os mesmos autores ainda referem que durante a pesquisa, o NPS por si só, não
causou nenhuma alteração no teste de natação forçada ou no teste de campo
112
aberto, e sugerem que deva haver, indiretamente, algum tipo de envolvimento do
sistema nitrérgico, ainda a ser investigado, na correlação entre os efeitos
antidepressivos e psicotomiméticos da CET.
Dando sequência aos resultados dos testes comportamentais realizados, o
mesmo padrão de resultado negativo pode ser descrito quanto ao uso do CBD nas
fases iniciais do período do neurodesenvolvimento dos animais, pois ainda nesse
mesmo grupo de ratos machos não foram encontradas diferenças significativas no
mesmo quesito de preferência por sacarose, quando da comparação realizada com
animais que foram previamente expostos ao uso de GLI. Isso corresponde a
informar que o CBD, preventivamente, pareceu não ser capaz de aumentar a
preferência por sacarose pelos animais no grupo. Nenhum estudo até o momento se
propôs a tentar entender os efeitos do CBD em um modelo animal de esquizofrenia
agudo, bem como o de exposição crônica de cinco dias à CET como o utilizado
nesta tese de doutorado, através do teste comportamental de preferência por
sacarose.
O único estudo na literatura que tentou decifrar a questão da preferência por
soluções adocicadas do CBD, não o fez em relação à esquizofrenia. Sofia e
Knobloch elaboraram um estudo avaliando os efeitos da preferência por sacarose
pelo THC, pelo CBD e pelo canabinol, comparando-os com os efeitos anorexígenos
da anfetamina (SOFIA; KNOBLOCH, 1976). Descobriram que tanto, canabinol, THC
e CBD apresentaram propriedades claras de aumento da preferência por ingestão
de solução açucarada.
Por fim, ainda em referência aos grupos de ratos machos estudados, mais
uma análise foi realizada no teste de preferência por sacarose, dessa vez com a
aplicação de injeções IP provenientes da associação entre o NPS e o CBD. Mais
uma vez, em conformidade com os resultados provenientes dos outros grupos de
ratos machos, nenhum resultado estatisticamente significativo de real interesse para
o trabalho aqui realizado foi encontrado. Desse modo, a associação dessas duas
substâncias não proporcionou que os ratos expostos a essas apresentassem
maiores ingestões de sacarose que os animais do grupo, que foram tratados com
GLI. Isso implica em afirmar que de acordo com esses resultados é possível afirmar
que o uso associado do NPS e do CBD não foi capaz, ineditamente, de atenuar e/ou
prevenir os efeitos psicóticos induzidos pela CET.
113
Quanto aos resultados dos testes de preferência por sacarose entre os
grupos de ratos fêmeas se percebe um nítido padrão similar de resposta sobre os
achados do estudo, em referência quanto aos dados obtidos pelos grupos dos ratos
machos. Dando seguimento aos resultados obtidos, o primeiro grupo de comparação
composto de ratos fêmeas e que foram expostas ao NPS em fases precoces do
amadurecimento cerebral, não apresentaram maiores taxas de preferência por
sacarose, em comparação ao grupo que foi submetido ao uso da GLI. Dado esse, o
qual significa que, nesse grupo, o NPS pareceu não ser efetivo em prevenir o
comportamento esquizofrenia like induzido pela CET.
Mais especificamente, ainda, e da mesma maneira que no grupo do NPS
nos ratos machos se percebe que o NPS, então, além de não aumentar a ingestão
de solução açucarada, proporcionou um aparente efeito reverso, pois a preferência
por sacarose aparentemente diminuiu mais ainda com o uso dessa substância.
Como citado anteriormente, apenas o estudo de Vogt e colaboradores se
propuseram a estudar os efeitos do NPS na depressão maior e relataram resultados
na linha oposta dos encontrados aqui nesta tese (VOGT et al., 2015).
De maneira complementar, o grupo de ratos fêmeas, que utilizou o CBD no
período de maturação cerebral, quando comparado com o grupo de GLI, também
não apresentou maiores taxas de preferência por sacarose. Pode-se afirmar que o
CBD, aparentemente, não foi eficaz em atenuar e/ou prevenir o comportamento de
diminuição de ingestão de solução açucarada induzido pelo uso da CET. Mais uma
vez se percebe que o CBD, além de não aumentar a ingestão de solução açucarada,
proporcionou um aparente efeito reverso, pois a preferência por sacarose
aparentemente diminuiu mais ainda com o uso dessa substância. Isso significa, mais
uma vez, uma influência do gênero nos resultados encontrados, pois os ratos
fêmeas apresentaram piores respostas ao efeito do CBD após indução com CET, do
que os machos. Resta a informação que também não existem estudos já publicados
sobre o tema na literatura atual para que eventuais comparações pudessem ser
realizadas e discutidas com os resultados aqui obtidos.
Outro aspecto analisado no grupo foi o da associação do NPS com o CBD,
por meio de injeções IP desses agentes também no mesmo período inicial do
neurodesenvolvimento, quando comparado com o uso da GLI. Os resultados, mais
uma vez, evidenciaram diferenças significativas demonstradas por menores taxas de
preferência por sacarose no grupo que foi exposto a essa associação de drogas,
114
demonstrando que a interação dessas duas substâncias também não pareceu
enfraquecer o quadro psicótico de preferência por sacarose induzido pela CET.
Reforça o conceito dos dados encontrados, de que além de não aumentar as taxas
de ingestão de sacarose, o resultado também foi reverso, colocando essas
substâncias como agentes que pioraram o quadro psicótico induzido por CET
quando da exposição a associação do NPS e do CBD.
Este é o primeiro estudo realizado sobre o assunto, de acordo com o
conhecimento do grupo de pesquisa responsável pela elaboração deste trabalho, a
respeito do uso de determinadas substâncias (NPS e CBD) no período de maturação
cerebral de roedores. Portanto, não existem outros trabalhos já realizados na
literatura que possam corroborar ou discordar dos resultados aqui encontrados.
É possível também de se observar, em conformidade com os resultados dos
testes comportamentais de preferência por sacarose, que em todos os grupos de
ratos fêmeas, sob o efeito tanto de NPS, quanto de CBD, bem como de NPS e CBD
em associação, e apenas no grupo de NPS dos ratos machos, que além dessas
substâncias não apresentarem efeitos protetores e/ou preventivos ao
desenvolvimento de esquizofrenia, fica mais uma vez clara, de forma empírica, a
influência do gênero nestes resultados. De novo, essa visível influência de sexo não
apenas quanto ao efeito da resposta da CET no gênero, bem como nos resultados
comportamentais encontrados aparece como um fator preponderante de evidências
que necessitam ser mais bem compreendidas por estudos futuros, mediante os
dados obtidos pela realização deste trabalho. Portanto, mais uma vez se torna
necessário que novas linhas de pesquisa, inclusive de caráter preventivo, tenham
como foco principal, qual seria o verdadeiro papel do gênero na esquizofrenia.
Além da influência do gênero, outra alternativa que tenta responder por que
os resultados aqui encontrados, aparentemente, pioraram o quadro psicótico ora
induzido pela CET na maior parte dos grupos, pode estar relacionada com a
neurotransmissão dopaminérgica. De acordo com estudos animais, a anedonia
motivacional vem sendo associada com danos na transmissão dopaminérgica
mesolímbica (SCHEGGI et al., 2018; SCHEGGI et al., 2016; SCHEGGI et al., 2015;
TREADWAY; ZALD, 2013), e essa consequente depleção de dopamina levaria a um
comportamento seletivo de mínimo, ou até mesmo de ausência completa, de
interesse em direção à recompensa, em detrimento aos grandes esforços por
115
recompensa característicos de sistemas de neurotransmissão dopaminérgicos
saudáveis (SALAMONE et al., 2007).
Scheggi e colaboradores, através de um paradigma de anedonia
motivacional induzida por estresse realizado em ratos, demonstraram que essa
condição estaria associada a uma resposta dopaminérgica embotada do nucleus
accumbens, quando da estimulação através de uma recompensa natural, no caso a
sacarose e, também, a um aumento adaptativo nos sítios de ligação dos receptores
de dopamina D1 (SCHEGGI et al., 2002). Entretanto, apenas os animais que
previamente demonstraram elevação da resposta dopaminérgica após a ingestão de
sacarose é que exibiram uma forte motivação em procurar a recompensa de acordo
com o protocolo que foi utilizado na pesquisa (MARCHEZE et al., 2013). Essa
resposta a dopamina descrita foi avaliada no estudo através dos níveis
extraneuronais de dopamina e associadas com a sinalização de receptores
dependentes de D1, medidos através da fosforilação dependente de PKA do resíduo
de dopamina Th34 e pela fosfoproteina DARPP-32 regulada por AMPc (SCHEGGI et
al., 2013).
Essa seria outra limitação importante no trabalho de doutorado aqui
apresentado, pois uma vez que o circuito dopaminérgico dos animais induzidos por
CET, no teste de preferência de sacarose, não foi devidamente testado através de
marcadores neuronais dopaminérgicos, não é possível saber se os animais que
participaram da pesquisa apresentaram elevação de resposta a dopamina após a
ingestão da solução açucarada. A única maneira de responder corretamente a essa
questão seria se previamente ao início do projeto, uma linhagem de animais tivesse
seu tônus dopaminérgico, por exemplo, do nucleus accumbens, avaliado por
marcadores neuronais dopaminérgicos e, desse modo, avaliado comparativamente a
seu grupo controle específico.
5.4 RECONHECIMENTO DE OBJETOS
Além de a esquizofrenia proporcionar uma grande gama de sintomas
conhecidos como positivos e negativos, como já citado anteriormente, é fato que
essa também produz danos extremamente significativos em domínios cognitivos
diversos, os quais geram respostas funcionais profundamente negativas
(GOLDMAN-RAKIC, 1994; OWENS; JOHNSTONE, 2006). Assim, mesmo com uma
116
necessidade emergencial de novos tratamentos para esses domínios cognitivos
afetados, atualmente, é possível afirmar que ainda nenhum tratamento específico
para os danos cognitivos da esquizofrenia foi aprovado para uso em humanos
(LYON; SAKSIDA; BUSSEY, 2012).
No intuito de tentar resolver essa questão, um projeto denominado
Measurement and Treatment Research to Improve Cognition in Schizophrenia
(MATRICS) (MARDER; FENTON; YOUENS, 2004; NUECHTERLEIN et al., 2008),
criado pelo National Institute of Mental Health (NIMH), principal agência norte-
americana para a pesquisa de transtornos mentais (PLAKUN, 2017), descobriu e
classificou sete domínios cognitivos anormais nos pacientes portadores de
esquizofrenia. De acordo com esse projeto, MATRICS, o processo para a
descoberta de novas drogas voltadas para o tratamento da dimensão cognitiva na
esquizofrenia depende, principalmente, de testes comportamentais realizados em
modelos animais de roedores, que apresentem deficiências em domínios cognitivos
diversos (LYON; SAKSIDA; BUSSEY, 2012).
Young e colaboradores elaboraram uma revisão sistemática, em 2009,
descrevendo os principais testes realizados em modelos animais de esquizofrenia
em roedores, voltados para a dimensão cognitiva da doença, e elegeram o teste de
reconhecimento de objetos, como um dos mais utilizados nas pesquisas dessa área
até o momento (YOUNG et al., 2009). Esse teste, também conhecido como tarefa
comportamental de memória declarativa, consiste na tendência natural de que
roedores possuem de explorarem um objeto novo, mais intensamente do que a um
objeto familiar, e usa esse tipo de comportamento espontâneo como um parâmetro
de memória para outro previamente apresentado e, portanto, agora, familiar
(RIEDEL; BLOKLAND, 2015). Em conformidade com o teste, é sabido que primatas
e roedores apresentam preferência espontânea pela exploração de um objeto novo,
em detrimento a um objeto já familiar, e esse tipo de tendência inata pode ser
utilizada para testar a memória de um item já encontrado previamente, sem a
necessidade de uma recompensa adicional ou de treinamento prolongado da
amostra (LYON; SAKSIDA; BUSSEY, 2012).
O primeiro artigo a descrever a tarefa de reconhecimento de objetos foi
escrito por Ennaceur e Delacour, em 1988, no qual descreveram como os ratos que
previamente foram permitidos a explorar duas cópias idênticas de um mesmo objeto,
em uma determinada arena, se comportavam quando esses eram recolocados na
117
mesma arena 24h depois, e que então passavam a preferir explorar um objeto novo
recém inserido no mesmo local, em detrimento a cópia idêntica do objeto antigo
(ENNACEUR; DELACOUR, 1988).
Desde então, diversos artigos vêm utilizando a tarefa de reconhecimento de
objetos ou de memória declarativa em estudos de modelos de animais específicos
de roedores, porém com algumas variações metodológicas específicas e, talvez, por
esse motivo, com resultados bem diversificados, e até certo ponto, questionáveis.
Para tentar resolver esse tipo eventual de viés metodológico, Leger e colaboradores
em 2013 publicaram um artigo na revista Nature Protocols, no qual tentaram criar
uma espécie de padronização nos protocolos de realização da tarefa de
reconhecimento de objetos (LEGER et al., 2013). Mesmo assim, o teste ainda
apresenta várias adaptações metodológicas, sendo realizado por diversas maneiras
diferentes, de acordo com o conhecimento de determinado grupo de estudo
específico, responsável pela pesquisa em questão. Por esse motivo se torna
imprescindível explicar que o teste ora realizado nesta tese de doutorado foi
desenhado de acordo com os procedimentos descritos por Wiescholleck e Manahan-
Vaughan (2012).
Não menos importante, é a informação de que o teste de reconhecimento de
objetos utilizado nesse projeto, avaliou a memória declarativa dos roedores entre os
tempos de 30 min e de 24 h. No entanto, Sutcliffe e colaboradores, em 2007,
postularam que roedores são capazes de fazer a discriminação entre objetos
familiares e novos quando o intervalo entre os ensaios ocorre entre 3 min e 1 a 3 hs,
mas não quando esse período ultrapassa 24 h (SUTCLIFFE et al., 2007). Por esse
motivo, os resultados e suas consequentes discussões aqui realizadas, possuem
como foco principal os desfechos dos testes na marcação de 30 min, e não na de 24
h, pelos óbvios motivos descritos acima.
Quanto aos testes comportamentais realizados durante a tarefa de memória
declarativa nesta tese de doutorado se torna importante, mais uma vez, uma
discussão a respeito dos efeitos psicóticos da CET no modelo animal de
esquizofrenia aqui apresentado. O conceito em questão, novamente, seria para a
validação plena do modelo animal schizophrenia like utilizado, a CET deveria ser
capaz de induzir sintomas psicóticos em todos os grupos que foram expostos a
essa, obviamente naqueles sem os eventuais “tratamentos preventivos” ora
realizados no período de maturação cerebral dos animais do estudo.
118
Didaticamente seria esperado que as comparações estatísticas realizadas
entre os grupos GLI-SAL versus GLI-CET apresentassem diferenças estatísticas
significativas, confirmadas por seus respectivos testes post hoc. Nesse caso, de
acordo com os resultados dos testes de 30 min é possível afirmar, com clareza, que
todos os testes de memória declarativa realizados entre esses grupos se mostraram
com resultados positivos, posicionando o modelo animal de esquizofrenia aqui
proposto como extremamente válido para todas as outras comparações estatísticas
realizadas durante os testes aplicados nos outros grupos do estudo.
Estes resultados podem ser corroborados por um número pequeno de
estudos que se propuseram a estudar os efeitos da CET na tarefa de
reconhecimento de objetos. Por exemplo, Pitsikas e colaboradores, em 2008,
demonstraram que a administração aguda de CET 1 - 3 mg/kg provocou danos
consistentes na performance do teste de reconhecimento de objetos em ratos Wistar
(PITSIKAS; BOULTADAKIS; SAKELLARIDIS, 2008). Nesse estudo, a CET foi
utilizada antes e logo após o período de aquisição de memória, seguido de um
período de intervalo de 1 h. Esses resultados evidenciaram que além dos danos na
performance do teste, a CET pareceu influenciar tanto as fases de aquisição e de
armazenamento de memória, bem como a fase de evocação mnêmica.
Outro estudo realizado durante a tarefa de memória declarativa, não menos
importante, utilizou dosagens bem maiores de CET nos testes, nesse caso, similar
às dosagens utilizadas aqui nesta tese de doutorado, ou seja, 30 mg/kg. Trata-se de
um estudo realizado por Chan e colegas, no qual os pesquisadores também
encontraram danos significativos neste tipo de tarefa comportamental de domínio
cognitivo, porém que foram revertidas após o uso intraventricular de um agonista
seletivo conhecido por mGluR5 (CHAN et al., 2008).
Outro ponto importante a ser discutido, ainda em referência sobre o uso de
CET na tarefa de reconhecimento de objetos realizados aqui neste trabalho, é o da
influência do gênero quanto ao uso desse agente anestésico nos animais do estudo.
Desse modo, é notório que os animais machos dos testes comportamentais de 30
min apresentaram maiores níveis de dano cognitivo em comparação com as fêmeas,
quando da exposição ao modelo animal de esquizofrenia induzido por CET.
Interessante, é que quando se observa a tarefa comportamental na marcação de 24
h todos os grupos dos ratos fêmeas pioraram da função cognitiva, enquanto que os
machos foram capazes de reverter por completo o dano cognitivo induzido pela CET.
119
Mesmo, sendo essa uma observação empírica, pois infelizmente não foi
realizada uma análise estatística específica sobre os efeitos da influência de gênero
no modelo, esse dado é facilmente observável através dos resultados dos testes. Na
linha dessas evidências Grayson e Neil, em 2004, demonstraram que a
administração aguda de PCP, nas dosagens de 1.5 - 2 mg/kg em ratos fêmeas,
induziram a danos robustos e seletivos na fase de retenção de memória do
paradigma de reconhecimento de objetos, pois após 1 min de intervalo durante o
teste, os ratos foram incapazes de demonstrar preferência por um objeto novo, em
detrimento a um familiar (GRAYSON; NEIL, 2004). O interessante desses
resultados, e que corrobora o que foi encontrado nesta tese de doutorado durante o
teste de 30 min, foi que esse efeito pôde ser prevenido pela administração de
benzoato de estradiol na dose 5 - 10 μg/kg em 24 h, anteriormente a administração
aguda da PCP, evidenciando, mais uma vez, que a interação com esteroides
gonadais poderia prevenir um quadro schizophrenia like (SUTCLIFFE et al., 2008).
De acordo com a proposta do autor desta tese de doutorado, ou seja, de
testar a possibilidade de se prevenir o aparecimento da esquizofrenia, algo parecido
como uma espécie rudimentar de algum tipo de vacina que possa ser desenvolvida
no futuro, através de injeções IP de NPS, CBD e da associação de ambas nas fases
mais precoces do desenvolvimento cerebral de roedores, uma discussão sobre os
resultados da ação dessas substâncias no teste de reconhecimento de objetos se
torna de suma importância.
Assim, o primeiro paradigma de resultado apresentado, encontrado neste
tipo de teste comportamental, foi o dos efeitos do NPS no grupo de ratos Wistar
machos durante o teste de 30 min. Esses resultados levam ao entendimento de que
essa substância mostrou ser extremamente efetiva em reverter os efeitos de piora
cognitiva induzida pela CET, pois quando se comparou o grupo que foi submetido ao
NPS nas fases precoces do amadurecimento cerebral, com o grupo que foi
submetido a GLI, o NPS pareceu ser efetivo em aumentar a preferência do animal
em explorar um objeto novo, em detrimento a um objeto já familiar, o que significa
que tanto o armazenamento quanto a evocação de memória de curto prazo,
praticamente não apresentaram déficits. Complementando esses resultados neste
mesmo grupo, durante o teste de 24 h se pode afirmar que houve plena recuperação
do dano cognitivo previamente gerado pela CET.
120
Em conformidade a esses resultados durante o ensaio de 30 min, ou seja,
de eventuais efeitos preventivos do NPS quanto ao desenvolvimento de
esquizofrenia, já descritos em capítulos acima, Hallak e colegas evidenciaram, em
2015, a partir de um estudo prévio, que apenas uma única infusão de NPS em
humanos foi capaz de reverter sintomas de esquizofrenia durante trinta dias
(HALLAK et al., 2013). Esse trabalho foi o ponto de partida para um novo paradigma
de pesquisa, em que tentaram testar se o NPS também poderia prevenir os sintomas
da mesma doença em ratos (OLIVEIRA et al., 2015). Vale ressaltar que esses
resultados confirmam exatamente os dados encontrados aqui neste estudo de
doutorado em questão, porém no caso do trabalho de Oliveira et al. (2015), apenas
testes comportamentais de campo aberto foram realizados, mas não os de memória
declarativa como o descrito neste texto.
Outro estudo que encontrou resultados parecidos foi o de Diana e
colaboradores, que em 2018 também testou se o NPS possuiria propriedades
preventivas quanto ao desenvolvimento de esquizofrenia (DIANA et al., 2018).
Nesse caso, esses pesquisadores, utilizando uma linhagem de ratos hipertensos
(sabidamente um modelo animal de esquizofrenia já validado cientificamente),
encontraram que um tratamento preventivo de longo prazo com NPS, no caso entre
30 e 60 dias posteriormente ao período pós-natal, foi efetivo em evitar
hiperlocomoção, diminuição da interação social e prejuízos no condicionamento
contextual ao medo. Como pode ser visto também, este estudo de Diana e
colaboradores não utilizou testes de memória declarativa, como o descrito aqui nesta
tese.
Pitsikas em 2015, também realizou um estudo em modelo animal de
esquizofrenia com roedores através de CET, no qual testaram a efetividade do NPS
no modelo através de testes comportamentais, inclusive, de memória declarativa. Os
resultados também inéditos evidenciaram que o NPS possibilitou a reversão do
quadro schizophrenia like ora induzido pela CET, mensurados através da ausência
de déficits de armazenamento e evocação nos testes de reconhecimento de
memória de curto prazo (PITSIKAS, 2015; TREVLOPOULOU; TOUZLATZI;
PITSIKAS, 2016).
Através dessas evidências, os resultados aqui encontrados a respeito do uso
preventivo do NPS, no período de neurodesenvolvimento de roedores, posicionam
esta tese de doutorado como a primeira a encontrar o resultado de que o NPS
121
pareceu ser efetivo em prevenir um quadro psychosis like, através da avaliação do
domínio cognitivo desta doença, avaliado pelo teste de reconhecimento de objetos.
Ainda sobre os resultados do teste comportamental de reconhecimento de
objetos, o mesmo padrão de resposta positiva pôde ser constatado, porém dessa
vez em referência ao uso do CBD em fases precoces do neurodesenvolvimento de
roedores, pois nesse mesmo grupo de ratos machos foram encontradas diferenças
estatisticamente significavas no padrão de resultado de memória declarativa de 30
min, quando da comparação realizada com animais que foram previamente expostos
ao uso de GLI no lugar de CBD. Mais uma vez, durante o teste de 24 h os animais
do grupo se recuperaram totalmente do dano cognitivo ora provocado pelo uso
prévio da CET.
Isso significa que o CBD ao ser utilizado preventivamente pareceu ser
extremamente capaz em reverter o efeito psicótico da CET durante o teste de 30
min, aumentando o tempo gasto pelo animal em explorar um objeto novo.
Corroborando esses resultados, Peres e colaboradores, em 2018, testaram o uso do
CBD durante o período pré-adolescente de uma linhagem de ratos hipertensos e
encontraram que essa substância foi capaz de prevenir anormalidades
comportamentais em um modelo animal de esquizofrenia (PERES et al., 2018).
Esses pesquisadores relatam que o uso preventivo do CBD evitou a hiperlocomoção
dessa linhagem de ratos (aferida pelo teste de campo aberto), os déficits comumente
encontrados nesses animais no teste de PPI, bem como os prejuízos normalmente
encontrados sobre a tarefa de condicionamento contextual ao medo. A mesma
equipe de Peres e colaboradores, em 2016, já havia descrito os efeitos
aparentemente preventivos do CBD, porém daquela vez em um modelo animal de
esquizofrenia, que utilizou um tipo específico de ativação imunológica pré-natal
baseada no ácido policitidílico em ratas prenhas (PERES et al., 2016). Nesse
estudo, apenas a hiperlocomoção, testada através do teste de campo aberto foi
avaliada, com resultados preventivos surpreendentes.
De acordo com esses dados, os resultados aqui encontrados colocam esta
tese de doutorado como a primeira a descobrir que o CBD possuiria um efeito
potencial de prevenir e/ou atenuar os danos de memória declarativa encontrados
nos modelos animais de esquizofrenia.
Por fim, a última sequência de testes comportamentais na tarefa de
reconhecimento de objetos realizada em ratos machos, utilizou a aplicação de
122
injeções IP da associação entre o NPS e o CBD, proporcionando uma análise de
resultados compatíveis com desfechos positivos. Desse modo, mais uma vez, em
conformidade com os resultados encontrados nos outros grupos de ratos machos, o
uso dessas substâncias durante o teste de 30 min se mostrou, aparentemente,
efetivo em prevenir o comportamento psychosis like, ora induzido pela CET. No
caso, os resultados estatisticamente significativos encontrados dão embasamento
científico claro para que esses agentes sejam considerados como capazes de
aumentar o tempo gasto pelo animal explorando um objeto novo, ou seja, um
comportamento típico que roedores, naturalmente, possuem em condições de saúde
normais. Durante a tarefa de 24h os resultados evidenciaram, novamente, que todos
os animais do grupo reverteram totalmente do dano cognitivo induzido por CET.
A interação entre os sistemas glutamatérgico e endocanabinoide já foi
discutida na literatura através de um extenso artigo de revisão escrito por Sánchez-
Blázquez, Rodríguez-Muñhoz e Garzón (2014). Basicamente, a teoria que esses
autores acreditam estar por trás da relação entre esses sistemas seria que o sistema
endocanabinoide estaria amplamente difundido ao longo do SNC e que seus
receptores CB1 possuiriam um papel crucial na prevenção da neurotoxicidade
(PATRICIO-MARTINEZ et al., 2019), causada pela ativação dos receptores NMDA.
Na verdade, seria a própria atividade dos receptores NMDA que forneceria as
demandas necessárias dos canabinoides endógenos utilizados para controlar seus
canais de cálcio (LIU et al., 2009). Portanto, o grande papel fisiológico desse sistema
seria de manter as atividades dos receptores NMDA dentro de limites seguros,
protegendo as células neurais da excitotoxidade.
Dessa maneira, os canabinoides poderiam ser capazes de controlar diversas
disfunções neurais relacionadas a essa condição como, por exemplo, a
superativação de receptores NMDA, entre outras. Nessa revisão, os pesquisadores
acreditam que alguns canabinoides poderiam provocar psicose através do mesmo
mecanismo comum de neuroproteção citado acima, ou seja, através da redução da
atividade de receptores NMDA (SÁNCHEZ-BLÁZQUEZ; RODRÍGUEZ-MUÑHOZ;
GARZÓN, 2014). Complementam explicando que os canabinoides produziriam
esses efeitos por meio da redução da liberação pré-sináptica de glutamato ou
interferindo com os receptores pós-sinápticos em suas vias sinalizadoras de
regulação. A eficácia desse sistema requereria que o sistema endocanabinoide
aplicasse sua influência negativa de maneira proporcional à força de sinalização dos
123
receptores NMDA (MAYA-LÓPEZ et al., 2017). Portanto, esses canabinoides que
agiriam no momento errado ou que exerceriam algum tipo de influência inadequada
em seus receptores poderiam causar hipofunção de receptores NMDA.
Outro artigo inédito, que estudou a relação entre os dois sistemas, foi escrito
por Katona e colaboradores, em 2006, no qual os pesquisadores estudaram a
composição molecular do sistema endocanabinoide nas sinapses glutamatérgicas,
usando para isso dois tipos de sondas marcadores de RNA, conhecidas por
riboprobes (KATONA et al., 2006). Como resultado, afirmaram que a organização
espacial do sistema endocanabinoide, que envolveria uma enzima sintética pós-
sináptica conhecida como DGL-a, bem como o receptor pré-sináptico CB1
forneceriam evidências anatômicas diretas para a visão de que o 2-AG seria uma
molécula de sinalização retrógrada em sinapses glutamatérgicas no SNC.
A respeito das análises estatísticas do grupo de ratos fêmeas durante o teste
de memória declarativa, é válida a informação de que do mesmo modo que os
resultados encontrados no grupo dos ratos machos, todos os animais fêmeas, os
quais foram submetidos ao uso da CET como droga indutora de psicose,
desenvolveram menores índices de preferência por exploração de um objeto novo
durante o teste de 30 min, em detrimento a um já habituado, quando comparados
com os animais que foram induzidos com placebo, no caso SAL.
Por esse motivo, novamente se confere a esse tipo de padrão de resultado,
que a exposição ao antagonista glutamatérgico foi adequadamente eficaz em
produzir diminuição do tempo gasto explorando um objeto novo, nesses animais de
gênero feminino. Um outro dado não menos importante é que durante o teste de 24
h, diferentemente dos grupos de roedores machos, todos os grupos de animais
fêmeas expostas a CET pioraram do dano cognitivo induzido por essa droga
anestésica em níveis mais agressivos do que aqueles mensurados pelo teste de 30
min.
Corroborando esses resultados encontrados, Neil e colaboradores, em 2010,
elaboraram um estudo de revisão sobre diferentes tipos de modelos animais de
esquizofrenia, com ênfase no domínio cognitivo em que drogas antagonistas
glutamatérgicas possuiriam a propensão em produzir (NEIL et al., 2010).
Descreveram como resultado principal que o uso agudo de CET foi consistente em
evidenciar déficits importantes, tanto em memória de curto, quanto de longo prazo,
tanto em estudos animais, quanto em estudos realizados em humanos.
124
Resta lembrar que esse tipo de resultado, nesta tese de doutorado
apresentado, bem como o nítido padrão menos agressivo de efeito psicótico da CET
nos ratos fêmeas durante o teste de 30 min e sua consequente influência de gênero,
já foi discutido no início da discussão do teste de reconhecimento de objetos no
grupo de ratos machos (GRAYSON ; NEIL, 2004; SUTCLIFFE et al., 2008).
Por sua vez, quanto aos desfechos provenientes dos testes de memória
declarativa entre os grupos de ratos fêmeas de maneira geral, é notório, um claro e
evidente perfil muito parecido de resultados, quando da comparação com os dados
obtidos pelos grupos de ratos machos, porém com peculiaridades únicas descritas a
seguir. Desse modo, o primeiro grupo de análise comparativa que havia sido
composto de ratos fêmeas, os quais foram submetidos ao NPS durante as fases
iniciais do neurodesenvolvimento de roedores, apresentaram menores porcentagens
de tempo gasto explorando um objeto novo durante ambos testes de 30 min e 24 h,
quando comparados com o grupo que havia sido exposto ao uso de GLI. Esse
desfecho evidencia que nesse grupo de comparação, o NPS, aparentemente, não foi
efetivo em prevenir e/ou atenuar, o comportamento schizophrenia like induzido pela
CET.
Sequencialmente, outras análises estatísticas foram realizadas nesse grupo
de ratos fêmeas, com o intuito de elucidação dos resultados encontrados durante o
teste comportamental de memória declarativa de 30 min e de 24 h e, desse modo,
os animais que utilizaram o CBD no período de maturação cerebral, quando
comparado com os animais que foram expostos a GLI, no mesmo período,
apresentaram um padrão de resultados completamente idêntico dos encontrados no
grupo de ratos fêmeas que foram expostas ao NPS. Esses animais apresentaram
menores índices de tempo gasto explorando um objeto novo, tornando-os um grupo
de resultado com porcentagens de preferência por exploração de um objeto novo
muito parecidos com um objeto já habituado. Por esse motivo, aparentemente seria
possível afirmar que o CBD não foi eficaz em atenuar e/ou prevenir o
comportamento psicótico induzido pela CET.
No entanto, o teste de memória declarativa utilizado nesta tese de doutorado
e descrito no desenho experimental do estudo aqui proposto como citado
anteriormente, reavalia os animais após 24 h da realização dos testes iniciais, e até
então a maior parte dos animais do estudo descritos até aqui, retornaram as suas
condições basais prévias de saúde, ou seja, saudáveis após essa avaliação de 24 h.
125
De maneira mais clara, por exemplo, a maior parte dos animais machos que
apresentaram quadros de psicose franca extremamente agressivos após uso de
CET e que foram expostos a GLI, no período de maturação cerebral, ou seja, ao
placebo, remitiram completamente a ausência de déficits cognitivos aferidos pelo
teste de memória declarativa de 24 h. Vale ressaltar, sendo facilmente observável
que desses animais que não remitiram as suas condições basais de saúde, todos
eram do gênero feminino, e por esse motivo esses resultados proporcionam mais
uma vez dados sobre a teoria, já descrita nesse trabalho, de alguma influência de
gênero nos resultados encontrados.
Esses animais descritos no paragrafo acima, os quais não remitiram de seus
sintomas psicóticos após o teste de 24 h, ou seja, os roedores dos grupos de ratos
fêmeas expostas ao NPS e ao CBD, além de não remitiram após 24 horas de teste,
pelo contrário, pioraram ainda mais de seus domínios cognitivos, produzindo menos
porcentagem de tempo gasto explorando um objeto novo do que quando realizaram
a primeira fase do teste. Por esse motivo, a questão que surge seria: o que pode ter
acontecido com esses animais? Além da explicação de gênero descrita acima, uma
vez que nenhum outro tipo de grupo de animais machos apresentou um declínio
cognitivo progressivo em nível tão crítico, e mais importante, sem remissão até o
período de seu sacrifício, uma outra explicação plausível para esse ocorrido seria de
que, eventualmente, essas ninhadas de roedores possam ter sofrido algum tipo de
acometimento patológico, que infelizmente não havia sido observado antes do início
dos testes comportamentais.
Como ilustração, é sabido que algumas drogas utilizadas nesse projeto, por
exemplo, NPS e CET podem ser toxicas se usadas em excesso. O NPS possui a
possibilidade, se usado em demasia, de causar intoxicação por cianeto, fato que
explicaria a piora cognitiva no grupo NPS, mas não no grupo CBD. Na verdade, a
explicação por trás desse fenômeno consiste no conhecimento de que o
metabolismo do NPS produz como resultado cianeto e tiocianeto e, desse modo,
sempre que se usa NPS na pratica clínica é necessário considerar que doses altas e
prolongadas dessa substancia poderiam causar um tipo de intoxicação que cursa
com cefaleia, ansiedade, agitação, confusão mental, letargia, convulsão e coma
(LINAKIS; LACOUTURE; WOOLF, 1991; MOFFETT; PRICE, 2008). Complementa-
se a esse raciocínio a informação de que, tanto NPS quanto CBD, bem como CET
são substâncias totalmente seguras para uso, se usadas dentro dos rígidos critérios
126
técnicos adotados nesta tese de doutorado (ZUARDI et al., 2012; HAMMER et al.,
2015; WAN et al., 2015).
Outro aspecto analisado neste grupo de ratos fêmeas foi o da associação de
NPS e de CBD, através de injeções IP dessas drogas, na mesma fase inicial do
neurodesenvolvimento de roedores, quando comparado com o uso de GLI no
mesmo período. Os resultados novamente aqui atestados vão na linha oposta dos
achados descritos acima e dão ênfase ao efeito atenuante e preventivo dessas
substâncias em produzir maiores tempos gastos explorando um objeto novo, quando
comparado a um objeto já conhecido pelo animal. É possível afirmar que a
associação de NPS e CBD no teste de 30 min, aparentemente, foi eficaz em prevenir
o comportamento psychosis like induzido pela CET.
Ineditamente, torna-se intrigante a constatação que os ratos fêmeas
expostos isoladamente ao NPS e também ao CBD não apresentaram resultados
positivos a prevenção de psicose, enquanto que o uso associado de NPS com CBD,
evidenciaram efeitos protetivos. Como já descrito anteriormente, a resposta a essa
constatação reside em um eventual efeito sinérgico de potencialização entre os
sistemas endocanabinóide e glutamatérgico (HALLAK et al., 2011).
Outro resultado importantíssimo foi que durante a avaliação de 24 h, esse
grupo de ratos fêmeas, os quais utilizaram a associação de NPS e de CBD também
apresentou um efeito preventivo ao desenvolvimento de psicose. Por esse motivo,
ou seja, de resultados positivos tanto no teste de 30 min quanto no de 24 h, se pode
afirmar que este foi o único grupo do estudo a apresentar efeitos preventivos mais
prolongados e duradouros quanto a um quadro schizophrenia like. Fato esse que
poderia ser explicado devido a algum tipo de efeito sinérgico de aumento de
potência, ainda a ser estudado entre ambas as drogas e caracterizado por maiores
níveis de proteção encontrados.
Mais uma vez, de acordo com o conhecimento do grupo de pesquisa
responsável pela elaboração desta tese, este é o primeiro estudo realizado sobre o
uso preventivo da associação de NPS e de CBD, no período de maturação cerebral
de roedores, testados através do teste comportamental de memória declarativa.
Portanto, não existem outros trabalhos já realizados na literatura que possam
corroborar ou discordar dos resultados aqui encontrados.
O artigo que mais se aproxima do desenho experimental aqui utilizado,
realizado por meio da tarefa de memória declarativa, porém que não utilizou essas
127
substâncias (NPS e CBD), mas apenas o NPS, e que também não o utilizou em um
período de neurodesenvolvimento, foi o de Kandratavicius et al. (2015). Nesse
estudo, como já descrito acima, os pesquisadores referem que após um tratamento
terapêutico e não preventivo de NPS realizado em roedores, que essa droga foi
capaz de recuperar a memória de longo prazo, porém interessantemente o NPS
também foi capaz de induzir déficits nos testes de memória de curto prazo nos
animais do grupo controle. Eles reiteram que outros estudos realizados com outros
tipos de doadores de ON, como por exemplo, o S-nitroso-N-acetilpenicilamina, na
memória de trabalho espacial, não evidenciou efeitos similares em controles animais
(YAMADA et al., 1996).
Em outro artigo realizado neste mesmo tema, uma substância doadora de
ON diferente foi utilizada, dessa vez a molsidomina, além também do próprio NPS,
com outro tipo de metodologia de teste de reconhecimento de objetos, porém
também sem nenhum tipo de resultado efetivo (GOURGIOTIS et al., 2012). Vale
ressaltar que neste estudo foram utilizadas dosagens cinco vezes menores de NPS
que no estudo de Kandratavicius et al. (2015).
128
6 CONCLUSÃO
A premissa básica para que todos os paradigmas experimentais propostos
nesta tese de doutorado pudessem ser conduzidos e avaliados, de maneira clara e
objetiva, residiu no sucesso do desenho experimental de indução de psicose aqui
proposto. Portanto, de acordo com os resultados ora apresentados se pode afirmar
com clareza que, de maneira geral, esse modelo experimental utilizado, o qual
consistiu no uso crônico de 30mg/kg de CET durante cinco dias consecutivos se
mostrou extremamente efetivo em produzir sintomas psicóticos característicos das
diversas dimensões psicopatológicas da esquizofrenia. Dessa maneira, podendo ser
utilizado com segurança e sem riscos de vieses metodológicos oriundos da falta de
validação desse modelo, por outros pesquisadores em estudos futuros de modelos
animais schizophrenia like.
A CET, durante o teste de campo aberto, foi capaz de produzir
hiperlocomoção nos roedores, principalmente, nas fêmeas e em menor monta nos
machos, mas não foi nitidamente efetiva em produzir menores tempos permanecidos
dentro do centro da arena. Já no teste de preferência por sacarose, o mesmo agente
anestésico também foi efetivo em diminuir a ingestão de bebida açucarada, porém
esse efeito foi visível apenas nos animais de gênero masculino. Por fim, durante o
teste de reconhecimento de objetos, a CET foi capaz de diminuir o tempo de
exploração de um objeto novo, porém mais uma vez esse efeito foi muito maior nos
roedores do sexo masculino. É possível, então, através destes resultados afirmar
que a CET possui a propensão de exercer seus efeitos psicóticos em maior grau em
roedores do gênero masculino e que o mecanismo exato, pelo qual esse processo
ocorre, precisa ainda ser estudado coerentemente, apesar de possivelmente haver
uma influência do estrogênio nesse processo.
Tanto NPS quanto CBD, bem como a associação entre NPS e CBD
puderam após o término do estudo ser consideradas, de maneira geral, substâncias
com sérios indícios de efetividade na atenuação e/ou até mesmo na prevenção de
sintomas característicos da esquizofrenia. Essa afirmação pode ser constatada
através dos resultados apresentados após a tarefa comportamental de campo
aberto, mais especificamente, durante os testes de hiperlocomoção, nos quais a
maior parte dos grupos do estudo, apresentaram resultados apontando que essas
substâncias, aparentemente, tiveram a capacidade de atenuar os sintomas
129
psicóticos positivos produzidos, através da diminuição das distâncias totais
percorridas pelos animais do grupo que foram, previamente ao teste, estimuladas
por CET. Chama a atenção, após observação minuciosa dos desfechos do teste de
atividade locomotora, que esses resultados foram proeminentemente mais visíveis
nos animais de gênero feminino. Surpreendentemente, esses grupos de ratos
fêmeas, que também foram os mais gravemente acometidos por sintomas psicóticos
positivos oriundos da CET responderam de maneira mais eficaz aos efeitos
preventivos, tanto de NPS quanto de CBD, e também da associação de ambos,
corroborando estudos atuais, os quais atestam que mulheres portadoras de
esquizofrenia apresentam um melhor prognóstico ao longo da vida, por algum tipo
de mecanismo que ainda precisa ser investigado e que, provavelmente, esteja
relacionado aos níveis de estrogênio presentes nesses organismos.
Outro ponto importante desses resultados é o fato de que a associação do
NPS com o CBD pareceu ter gerado alguma espécie de efeito sinérgico de
potencialização, visualizada por melhores performances no teste, e por um
mecanismo ainda a ser investigado, mas que provavelmente envolva algum tipo de
interação entre os sistemas glutamatérgico e dos receptores endocanabinoides.
Na tarefa comportamental de proporção de tempo no centro da arena, o
NPS, o CBD e a associação de ambas as drogas não se mostraram efetivas em
aumentar o tempo gasto pelo animal no centro da arena, porém esse tipo de tarefa
comportamental deve ser encarado muito mais como um teste de avaliação do nível
de ansiedade de determinadas espécies de animais, do que de avaliação específica
de um comportamento schizophrenia like propriamente dito. De qualquer maneira,
durante a realização deste teste, outro achado inédito ocorreu. Trata-se da
possibilidade da prevenção de comportamentos anxiety like através do uso isolado
do CBD preventivamente, pois essa substância se mostrou efetiva em aumentar o
tempo gasto pelos animais no centro da arena. Desse modo, cria-se um novo
paradigma de pesquisa, ainda a ser evidentemente comprovado e testado, a
respeito da possibilidade de se prevenir, ou de pelo menos atenuar, determinados
transtornos ansiosos, através de estimulações preventivas realizadas por meio do
uso do CBD em períodos de maturação cerebral.
Quanto aos resultados do NPS, do CBD e da associação de ambas, no teste
comportamental de preferência por sacarose se pode afirmar que essas drogas não
se mostraram efetivas em prevenir o comportamento schizophrenia like induzido por
130
CET. Entretanto, interessantemente, essas substâncias foram, de maneira geral,
responsáveis pela piora da ingestão de sacarose, principalmente, nos animais do
gênero feminino, dando mais uma vez a ideia de algum tipo de influência de gênero
que precisa ser mais bem investigada futuramente. Essa piora na ingestão de
sacarose pode estar relacionada a algum tipo de mecanismo de neurotransmissão
cerebral, ainda desconhecido, no qual essas drogas possam estar inter-relacionadas
e possuírem a capacidade de exercer tais efeitos acima descritos. Infelizmente, não
existem estudos sobre este tema até o momento, porém é sabido, por exemplo, que
a CET também é um potente agente antidepressivo, e uma vez que o NPS
apresenta propriedades farmacológicas de uma possível espécie de reversão dos
efeitos desse agente anestésico, seria perfeitamente viável de interrogar se
eventualmente o NPS poderia ter provocado algum tipo de quadro depressivo, que
ainda não estaria muito bem elucidado na literatura científica atual.
Finalizando, durante o último teste realizado neste trabalho de doutorado, ou
seja, a tarefa comportamental de memória declarativa, tanto NPS quanto CBD, bem
como a associação entre ambas pareceram ser extremamente efetivas em prevenir
sintomas psicóticos da dimensão cognitiva da esquizofrenia, sendo responsáveis por
aumentar o tempo de exploração de um objeto novo em detrimento a um já
conhecido, posteriormente aos efeitos de piora cognitiva induzida pela CET no teste.
Vale ressaltar também, mais uma vez, uma possível influencia de gênero nos
resultados encontrados principalmente nos testes de 24hs, bem como algum tipo
ainda a ser estudado de efeito sinérgico de potencialização entre os sistemas
endocanabinóide e glutamatérgico.
131
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