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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICAEVENTO: Reunião Ordinária N°: 0635/03 DATA: 28/05/03INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 17h07min DURAÇÃO: 01h53minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h52min PÁGINAS: 35 QUARTOS: 23REVISÃO: Tatiana, Veiga, ZilfaSUPERVISÃO: Luci, Maria Luíza, YokoCONCATENAÇÃO: Yoko
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
SUMÁRIO: Discussão e votação do anteprojeto de lei de filiação partidária. Deliberação derequerimentos para realização de audiências públicas. Debate sobre financiamento decampanhas eleitorais.
OBSERVAÇÕES
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03
1
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da Comissão Especial de Reforma Política.
Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 10ª reunião
ordinária desta Comissão Especial, realizada no dia 21 de maio. Indago ao Plenário
se há necessidade de sua leitura.
O SR. DEPUTADO ALMEIDA DE JESUS - Sr. Presidente, peço a dispensa
da leitura da ata, por ter sido distribuída cópia a todos os Srs. Parlamentares.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado.
Dispensada a leitura da ata, a pedido do Deputado Almeida de Jesus.
Em discussão. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação.
Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada.
Esta Comissão recebeu correspondência do Grupo de Trabalho Parlamento
Brasileiro: 180 Anos de História comunicando a realização do Seminário A Reforma
Política, no período de 3 a 5 de junho, no Auditório Nereu Ramos. Assim sendo, na
próxima semana, a Comissão estará muito envolvida com esse seminário. Como é
nossa a decisão de realizar ou não reunião na semana que vem, indago ao Plenário
se, em virtude desse seminário, ela deve ou não ocorrer.
Evidentemente, não quero abrir debate algum sobre essa questão. Agradeço
se os Srs. Deputados puderem se manifestar de forma bem concisa. Estou
realmente apresentando o fato para que o Plenário se manifeste. Inclusive, participo
de uma das mesas desse seminário. A maioria dos Srs. Deputados também estará
participando. Gostaria de saber se mantemos ou não a reunião de quarta-feira
próxima, no horário das 14h30min.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, eu
voto “não” e sugiro a V.Exa. que faça votação simbólica.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, entendo que o
seminário tem amplitude e abrangência bem maiores do que a reunião, embora
saiba que ela será brilhante, em função da participação dos colegas. Talvez ali nós
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recolhamos alguns dados que poderão ser preciosos para o trabalho a ser elaborado
por esta Comissão Especial.
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, quem está
promovendo o seminário?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - É o Grupo de Trabalho
Parlamento Brasileiro: 180 Anos de História.
Evidentemente, deverá haver concordância do Plenário e do Relator. Preciso
da manifestação do Relator, porque trabalhamos aqui levando em consideração o
princípio do consenso.
Esse seminário tem como tema a reforma política. Vai haver mesa de debates
nos dias 4 e 5. Logicamente, haverá debate no dia 4, quarta-feira — se não me
engano, na parte da tarde. Se mantivermos nossa reunião, o seminário na parte da
tarde ficará esvaziado. Inclusive, das 15h às 19h, o Presidente da Mesa será o
Senador Hélio Costa.
Os temas e os devidos expositores são, respectivamente: O PT e a Unidade
Partidária como Problema, Alan Lacerda; Regras eleitorais e lealdades partidárias,
André Marenco; As possibilidades da democracia intrapartidária, Rachel Meneghello,
da UNICAMP; As experiências democráticas brasileiras, Fernando Limongi. Os
comentaristas são: Fabiano Santos e Márcio Silva. Será no período da nossa
reunião.
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, quero me
manifestar a favor da suspensão da reunião, para prestigiarmos o seminário. Creio
que será um momento importante para a discussão do tema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Esse seminário terá
abertura na terça-feira, com as presenças dos Presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, Deputado João Paulo Cunha e Senador José
Sarney; dos Deputados Chico Alencar e Bonifácio de Andrada; e dos Senadores
Hélio Costa e Romeu Tuma. A Mesa Redonda da manhã de terça-feira será
presidida pelo Deputado Bonifácio de Andrada e a da tarde, pelo Deputado Roberto
Freire. A Mesa Redonda da manhã de quarta-feira será presidida por mim e a da
tarde, pelo Senador Hélio Costa.
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O Grupo de Trabalho Parlamento Brasileiro: 180 Anos de História foi
encarregado de organizar as solenidades e toda a história dos 180 anos do
Parlamento brasileiro.
Peço ao Relator, bem como ao Plenário — este, por votação simbólica —,
que se manifestem, já que me foi feito esse pedido. Realmente, gostaria de saber a
posição do eminente Relator.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, não só concordo com o cancelamento da reunião, como também
entendo que esse seminário nos dará subsídios importantes para elaboração dos
textos das matérias que priorizamos: financiamento público de campanhas, listas
fechadas, final das coligações nas eleições proporcionais, federação de partidos.
Tenho certeza de que esse seminário vai nos enriquecer muito, pois teremos
oportunidade de ouvir Parlamentares dos diversos partidos políticos, inclusive
Senadores — muitos deles estarão presentes. Nesse sentido, considero o evento
importante não só como ação complementar, mas também porque irá dar subsídios
a esta Comissão. Estou, portanto, de acordo.
Peço, contudo, que nos próximos 15 dias, diante do cancelamento da reunião
da próxima quarta-feira, se houver entendimento quanto às sugestões, que as
encaminhemos aos gabinetes dos Parlamentares. Dessa forma, na próxima reunião,
daqui a 15 dias, os Parlamentares que compõem esta Comissão já terão
apresentado propostas sobre a melhor maneira de discutir os temas da reforma
política, por mim anteriormente citados.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Sras. e Srs.
Deputados, trata-se de votação simbólica.
Os Srs. Deputados que estiverem de acordo com a suspensão da reunião da
próxima quarta-feira, a fim de fortalecer a organização do seminário, permaneçam
como se encontram. (Pausa.)
Por unanimidade, está suspensa a reunião de quarta-feira.
Vou colocar em votação os requerimentos de audiência pública apresentados
à Mesa já há algum tempo. Na próxima reunião, marcaremos audiência com os
convidados dos requerimentos que forem aprovados.
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Antes, porém, concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado João Alfredo.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, gostaria de insistir
quanto à presença do Prof. Paulo Bonavides. Foi o primeiro requerimento aprovado.
Sei que há um problema de agenda.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João
Alfredo, tenho o maior respeito pelo Prof. Paulo Bonavides, mas S.Sa. está com
dificuldades em sua agenda. Soube disso quando ele telefonou ontem para um
amigo meu — eu estava jantando na casa desse amigo. Fiquei sabendo que o seu
nome provavelmente será indicado para a Academia Brasileira de Letras, e já conta
com o meu apoio. O fato é que o Prof. Bonavides está com a agenda muito
apertada. Estabelecemos, contudo, alguns contatos no sentido de averiguar a
possibilidade de sua vinda a esta Comissão, já que S.Sa. tem prioridade, pelo
conhecimento que tem da matéria.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Não há ainda perspectiva?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Já fizemos contato e
S.Sa. ficou de responder. Estou adiantando a V.Exa. que o professor está em
processo de mobilização. Parece que está avaliando a possibilidade de ser
candidato à Academia, e já tem o meu apoio.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, permita-me dizer
ao Deputado João Alfredo que a Fundação Paulo Bonavides está promovendo, entre
os dias 10 e 13 de junho, em Fortaleza, seminário para comemorar o transcurso,
este ano, do 15º aniversário da Carta Cidadã.
Então, se a própria Fundação Paulo Bonavides patrocina evento como esse,
é evidente que haja envolvimento por parte do professor, inclusive sua palavra
autorizada como cientista político. Esse deve ser mais um motivo pelo qual
poderíamos dilatar um pouco mais o prazo da convocação, com a anuência do
requerente.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Vou colocar em
votação os requerimentos. Evidentemente, vamos aprovar os requerimentos
independentemente das agendas.
Requerimento do Deputado Mário Assad Júnior, que solicita seja convidado
para audiência pública o Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República.
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Na ausência do autor do requerimento, passo a palavra ao nobre Relator.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Quanto à solicitação do Deputado
Mário Assad Júnior, acredito que a presença do Ministro José Dirceu nesta
Comissão será positiva. S.Exa. esteve participando do Instituto Cidadania, mais
precisamente do trabalho sobre reforma política apresentado a esta Comissão.
Sabemos da independência do Legislativo, mas sejamos claros: a ação do
Executivo de estimular o debate da reforma política, dando a ela o espaço que tanto
temos reclamado, é importante. Nesse sentido, a presença do Ministro-Chefe da
Casa Civil nesta Comissão não só será extremamente positiva como abrirá, na
mídia, espaço para debatermos o assunto, o que não temos conseguido, apesar de
todos os nossos esforços.
Tratando-se de iniciativa desta Casa — não podemos cobrar isso do Governo
—, se contarmos com o apoio da Casa Civil, certamente a tramitação se dará com
maior empenho, tanto no âmbito da Comissão quanto no âmbito do plenário.
Sou, portanto, favorável à vinda do Ministro-Chefe da Casa Civil, Deputado
José Dirceu.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo oradores
inscritos, coloco em votação o requerimento.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovado.
Requerimento nº 4, do Deputado Devanir Ribeiro, do Partido dos
Trabalhadores, que solicita seja convidado para audiência pública o Presidente
Nacional do Partido dos Trabalhadores, Sr. José Genoíno.
Algum Parlamentar aceita defender o requerimento?
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, gostaria de defender o
requerimento. Antes, contudo, faço um adendo: acho que seria interessante ampliar
o requerimento no sentido de trazermos todos os Presidentes de partidos e, assim,
conhecermos a posição de cada um dos partidos políticos nesta Casa
representados. Poderíamos fazer o debate dividindo os partidos em grupos de 3 ou
4. Num primeiro momento, PT, PFL, PMDB, PSDB; num segundo momento, PSB,
PCdoB etc. Poderíamos, assim, compor um painel do pensamento partidário.
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Como membro do PT, evidentemente quero que o Presidente de meu partido
venha a esta Comissão, mas entendo importante para o debate que também os
Presidentes dos demais partidos venham expor suas propostas em relação à
reforma política.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João
Alfredo, como já disse, sou amplamente favorável a essa idéia, mas,
regimentalmente, é necessário o requerimento.
Inclusive, em vez de o Deputado Antônio Carlos Magalhães Neto convidar o
Presidente do seu partido, Senador Jorge Bornhausen, solicitou a presença do
Senador Marco Maciel. Parece-me que o ex-Deputado José Genoíno não só é
Presidente do partido, mas também estudioso do assunto. E há Presidentes que
delegam a matéria a algumas pessoas. O Deputado Devanir Ribeiro, por exemplo, é
do Partido dos Trabalhadores, e S.Exa. pode convidar o PT. Se o PCdoB quiser
convidar o companheiro Renato, é uma pessoa que muito pode contribuir.
Estou aberto a sugestões, mas tenho de seguir o requerimento e não posso
ampliá-lo. Se algum dos Srs. Deputados quiser sugerir um representante de seu
partido, a Mesa se compromete a pôr o requerimento imediatamente em votação.
Concedo a palavra ao Relator, que falará sobre o convite feito ao ex-
Deputado, companheiro José Genoíno, Presidente do Partido dos Trabalhadores.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, sabemos do
conhecimento do ex-Deputado José Genoíno em relação às matérias da reforma
política. Estamos favoráveis ao convite.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais
quem queira usar a palavra, está em votação o requerimento.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)
Aprovado o requerimento.
O SR. DEPUTADO AFFONSO CAMARGO - Sr. Presidente, sugiro que, se
não houver qualquer constrangimento, os Srs. José Genoíno e José Dirceu venham
juntos, porque é praticamente a mesma fala. Quero poupar reuniões. É só uma
idéia.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Meu companheiro e
ex-Ministro, a solicitação de V.Exa. será atendida. Vamos tentar organizar a pauta
para que possamos avançar.
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Requerimento do Sr. Lincoln Portela, que requer a realização de reunião de
audiência pública com a participação do Prof. David Fleischer, da Universidade de
Brasília.
Concedo a palavra ao autor do requerimento. (Pausa.) Não estando presente,
concedo a palavra ao eminente Relator.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, não tenho contato
direto com esse professor, nem conhecimento específico do trabalho desenvolvido
por ele. S.Sa. viria debater e prestar esclarecimentos aos membros desta Comissão
sobre o voto distrital e a experiência americana. Acredito que todas as experiências
sejam positivas e não vejo nenhuma dificuldade em continuarmos aprovando os
requerimentos para que essas informações sejam trazidas à Comissão.
Meu parecer é favorável.
Como disse o Deputado Affonso Camargo, pergunto ao Presidente e ao
Relator se haveria possibilidade, depois de os requerimentos serem aprovados, de
trazer à Comissão, na mesma data, 2 ou 3 palestrantes, sem que haja sobrecarga,
para que não prolonguemos essas convocações, fazendo com que perdurem por 2
ou 3 meses, o que inviabiliza a discussão da reforma política antes do mês de
setembro.
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Concedo a palavra à
Deputada Almerinda de Carvalho.
A SRA. DEPUTADA ALMERINDA DE CARVALHO - Sr. Presidente, segundo
o programa do seminário, o Dr. David Fleischer irá fazer sua exposição no último dia.
Embora o autor do requerimento não esteja presente, pergunto se não podemos
trocar o convidado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Aprovaremos os
requerimentos de forma regimental.
A SRA. DEPUTADA ALMERINDA DE CARVALHO - Sr. Presidente, pouparia
o expositor de comparecer à reunião de audiência pública e ao seminário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputada, vou,
regimentalmente, aprovar o requerimento. Conversarei não só com o Relator, mas
também com o autor do requerimento. Caso as pessoas se sintam atendidas com a
exposição do Dr. David Fleischer, aprovaremos o requerimento.
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Não havendo mais quem queira fazer uso da palavra, está em votação o
requerimento.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovado.
Requerimento do Deputado Lincoln Portela, que requer realização de reunião
de audiência pública com a participação do Sr. Ministro Nelson Jobim, do Tribunal
Superior Eleitoral.
Como o Deputado Lincoln Portela não está presente, concedo a palavra ao
Relator.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, no caso específico
desse requerimento, sabemos o quanto é importante a participação do Ministro do
Tribunal Superior Eleitoral, Dr. Nelson Jobim, não só em decorrência de sua vivência
nesta Casa, pois é ex-Parlamentar, como também por ter-se debruçado sobre o
assunto e ser hoje reconhecido como uma das maiores autoridades em termos de
legislação eleitoral. Realmente, a convocação de S.Exa. em muito enriquecerá esta
Comissão, pois as informações trazidas pelo Ministro poderão nos auxiliar na
elaboração de nossos projetos. Nesse sentido, sou favorável à aprovação do
requerimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais
quem queira usar a palavra, coloco em votação o Requerimento nº 8.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovado.
Por fim, há o requerimento de autoria do Deputado Antônio Carlos Magalhães
Neto, que solicita seja convidado para reunião de audiência pública o Senador
Marco Maciel.
Não estando presente o nosso companheiro Antônio Carlos Magalhães Neto,
concedo a palavra ao Relator.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, defendo a
aprovação desse requerimento não só por causa da vida parlamentar do Senador
Marco Maciel e dos vários artigos que escreveu a respeito da reforma política, como
também porque o PFL identificou vários temas e, por isso, criou Comissões
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temáticas para debater os assuntos do momento, como as reformas apresentadas.
E coube exatamente ao Senador Marco Maciel presidir a Comissão Temática do
PFL encarregada de estudar a reforma política.
Concordo com o Presidente quando diz que, às vezes, no partido, não é o
Presidente que deve ser convocado, pois pode haver outras pessoas ligadas a
determinado tema que possuem maior conhecimento. É exatamente esse o caso
específico do PFL. Todos nós sabemos do conhecimento do Senador Jorge
Bornhausen, mas o Senador Marco Maciel, que ocupa a Presidência dessa
Comissão Temática, tem maior afinidade com o tema. Por isso e por causa dos
vários trabalhos de autoria do nobre Senador, sou favorável à aprovação desse
requerimento.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, ofereço meu apoio
à convocação do Senador Marco Maciel. Ao longo do tempo, S.Exa. tem-se
mostrado um estudioso dessa temática, não apenas no âmbito do seu partido, pelo
qual foi incumbido de examinar esse assunto, mas em sucessivos debates na
tribuna do Senado Federal e nas páginas da imprensa brasileira.
Como convivi com S.Exa. por alguns anos, na outra Casa do Parlamento,
posso oferecer meu testemunho de que reputo valioso o seu depoimento sobre
inúmeros aspectos da legislação partidária, que o Senador conhece não apenas em
virtude de sua vivência pessoal, mas também por ser um estudioso da reforma
política em nosso País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado Mauro Benevides.
Não havendo mais quem queira usar a palavra, em votação o requerimento.
Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovado.
Deputado Mauro Benevides, regimentalmente, não posso colocar hoje em
votação o requerimento apresentado por V.Exa. De acordo com o Regimento
Interno, esse requerimento deveria ser colocado em votação de forma extrapauta,
mas me comprometo a, na próxima reunião, colocar em votação o requerimento que
V.Exa. apresentou à Mesa.
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O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, por causa do
adiamento de nossa reunião, que deveria ser realizada na próxima quarta-feira,
pensei que a apresentação do meu requerimento pudesse ter a conotação de
atempadamente procedido. Eu não quis subverter a tradição desta Comissão, mas
considerei o fato de que não vamos nos reunir na próxima quarta-feira. Queria
apenas colaborar para que a celeridade se processasse. E apresentei esse
requerimento ainda mais porque o que estou propondo é exatamente a ilação
extraída do que se disse a respeito da vinda do Presidente do partido ou de alguém
que o representasse formalmente. Em síntese, esse foi o objetivo do lacônico
requerimento encaminhado a V.Exa., Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Mauro
Benevides, tenho certeza de que o requerimento apresentado por V.Exa. tem
exatamente esse objetivo. Mas, nas duas reuniões passadas, a Mesa desta
Comissão solicitou que todos os requerimentos tivessem cobertura regimental.
Então, apesar de eu entender as intenções do requerimento de V.Exa., não posso
colocá-lo em votação. Entretanto, comprometo-me a publicá-lo na próxima Ordem do
Dia e a colocá-lo em votação. Tenho absoluta certeza de que, como seu
requerimento é muito amplo, teremos condições de ter a presença desses
Presidentes durante algumas reuniões.
Aprovados os requerimentos, o próximo item diz respeito ao debate e votação
do anteprojeto de lei sobre filiação partidária. Esse anteprojeto já foi distribuído aos
Srs. Deputados. Inclusive, recebi a informação de que essa matéria havia sido
votada como um todo, mas ela havia sido votada apenas parcialmente. Esse projeto
sintetiza todo o entendimento que firmamos, apesar de alguns Srs. Deputados já
terem manifestado discordância em relação a ele.
Estão abertas as inscrições para os Srs. Deputados que queiram usar a
palavra no debate do anteprojeto que o eminente Relator, mais uma vez,
apresentará à Comissão.
Tem a palavra o Relator, Deputado Ronaldo Caiado, que nos informará a
respeito da redação final do anteprojeto em questão.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, no início dos trabalhos desta Comissão, debatemos a agenda por
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várias reuniões. Aprovada a agenda, decidimos que iniciaríamos a discussão da
reforma política pela reforma eleitoral.
Foram colocadas em votação as prioridades que seriam dadas. Decidimos
que o primeiro tema a ser debatido seria exatamente o da fidelidade partidária.
Como é do conhecimento de todos, se fôssemos alterar o atual texto para buscar
novamente aquele que determina a perda de mandato, caso seja ferida a fidelidade
partidária, teríamos de caminhar para uma proposta de emenda à Constituição. Esta
Comissão decidiu que não deixaríamos de avaliar essa hipótese, mas que
priorizaríamos as leis ordinárias, para que pudéssemos, com um quorum de maioria
simples, aprovar o texto tanto na Comissão como no plenário.
Foram 2 os pontos levantados e passíveis de serem trazidos a debate nesta
Comissão. O primeiro deles refere-se ao tempo nas rádios e televisões. De acordo
com a atual legislação, esse tempo é vinculado ao número de Parlamentares no dia
da posse. A Comissão entendeu que essa data deveria ser fixada no dia do
resultado das eleições. Dessa forma, poderíamos diminuir a migração que existe no
período entre o resultado das eleições e o dia 1º de fevereiro. Sem dúvida alguma,
quando perdem algum membro, os partidos que elegeram os Parlamentares perdem
também segundos importantes e ficam prejudicados. Aliás, esse foi o motivo que
levou o meu partido a entrar com medida judicial no Supremo Tribunal Federal
solicitando o ressarcimento dos prejuízos que teve no momento em que o
Parlamentar migrou para outro partido, entre o período da eleição e o dia 1º de
fevereiro.
O segundo ponto refere-se especificamente ao tempo de filiação no partido.
Esse projeto foi aprovado no Senado Federal e tramita na Casa há algum tempo. O
texto aprovado no Senado determina o tempo de 4 anos para a segunda filiação
partidária. O assunto foi longamente debatido nesta Comissão. Chegamos ao
entendimento de que o prazo não deveria ser de 4 anos na segunda filiação, mas,
sim, de 2. Nessa mesma reunião, o Deputado Fernando Ferro indagou ao Plenário
sobre a possibilidade, já que são matérias similares, de incluir na lei o impedimento
de que Prefeitos concorram a eleições em outros Municípios, beneficiando-se da
estrutura que têm em seus próprios e, dessa maneira, causando disputa desleal.
Essa sugestão se deu porque existem Prefeitos que se beneficiam de uma estrutura
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maior e, no terceiro ano de seus mandatos, transferem o domicílio eleitoral para um
Município limítrofe, onde se candidatam ao cargo.
Naquele momento, houve o consentimento da Comissão para que se
buscasse um texto que incluísse o assunto. Trabalhamos com essa possibilidade,
mas nossa Assessoria Legislativa nos mostrou que não podíamos incluí-lo na
mesma proposta da lei ordinária, pois se trata de legislação complementar, referente
à inelegibilidade, e, por isso, o impedimento de Prefeitos que querem ser candidatos
em Municípios limítrofes do mesmo Estado deveria ser tratado em outro projeto de
lei.
Com isso, retornamos ao acordo anterior. Ou seja, mantivemos, no projeto de
lei ordinária inicial, a discussão sobre o tempo de filiação — a primeira, 1 ano, a
segunda, 2. Quanto ao tempo em rádio e televisão, ele deve ser contado de acordo
com o resultado das eleições.
É exatamente esse o teor do texto que todos os Srs. Deputados têm em
mãos. Estas são as alterações que fizemos:
“Art. 1º Esta lei altera a Lei nº 9.504, de 30 de
setembro de 1997, dispondo sobre prazos de filiação
partidária e de domicílio eleitoral para os candidatos a
cargos eletivos.
Art. 2º O art. 9º da Lei nº 9.504, de 30 de setembro
de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:
‘Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato
deverá estar com a filiação deferida pelo partido no prazo
mínimo de:
I - um ano antes do pleito, em se tratando de sua
primeira filiação partidária;
II - dois anos antes do pleito, quando se tenha
filiado a outro partido anteriormente.
Parágrafo único. Sendo o partido objeto de fusão,
incorporação a outro ou extinção, ou na hipótese de o
candidato vir a participar da fundação de novo partido,
dentro dos prazos previstos nos incisos I e II,
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considerar-se-á, para os efeitos deste artigo, a data da
filiação partidária imediatamente antecedente.’
Art. 3º É acrescentado o seguinte art. 9º-A à Lei nº
9.504, de 30 de setembro de 1997:
‘Art. 9º-A. Para concorrer às eleições, o candidato
deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva
circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do
pleito.’
Art. 4º O § 3º do art. 47 da Lei nº 9.504, de 30 de
setembro de 1997, passa a vigorar com a seguinte
redação:
‘Art. 47....................................................................
§ 3º Para efeito do disposto neste artigo, o número
de representantes de cada partido na Câmara dos
Deputados será aquele obtido na última eleição geral para
a Câmara dos Deputados.’
Art. 5º É revogado o art. 18 da Lei nº 9.096, de 19
de setembro de 1995.
Art. 6º Esta lei entrará em vigor a partir de 1º de
janeiro de 2005.”
Sr. Presidente, são o texto e as explicações que devo apresentar ao Plenário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Entendo que a matéria
tinha o consenso da ampla maioria.
Passo a palavra ao Deputado João Paulo Gomes da Silva.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, caro
Relator, companheiras e companheiros da Comissão Especial de Reforma Política,
quando a matéria foi trazida à Comissão, fiz sobre ela algumas ponderações —
desde a ementa até o último artigo.
A ementa tratava de fidelidade partidária, que, como todos sabemos, é
matéria consagrada ao partido: cada um tem autonomia para introduzi-la e
regulamentá-la. Convenhamos, poucos sabem o que é. Temos ouvido da população
e dos famosos cientistas políticos que fidelidade ou infidelidade partidária se refere à
troca de partido: um político se elege por determinado partido e troca de legenda.
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Já realizamos alguns debates que nos mostraram, de maneira clara, que
infidelidade partidária não é troca de partido. Traçamos paralelo entre relação
partidária e casamento e chegamos à conclusão de que marido que deixa mulher ou
mulher que deixa marido não são necessariamente infiéis. Em processo judicial,
infiel é quem trai o cônjuge e não aquele que o deixa. Da mesma forma, deixar o
partido não caracteriza infidelidade. O que a caracterizaria seria votar ou proceder
contra a orientação do partido, consignada em seus estatutos, cartas e
compromissos perante a sociedade.
Sr. Presidente, com as ponderações que fiz sobre a ementa e o art. 1º, plena
e prontamente acatadas pela Mesa, a expressão “fidelidade partidária” foi retirada do
texto. Agora, de minha parte, resta ponderar com relação aos arts. 2º e 3º.
O art. 2º propõe vinculação mínima de 2 anos ao partido, antes das próximas
eleições. Temos ouvido dizer que disposições dessa ordem tentam fortalecer os
partidos e que não há democracia forte sem partido forte. Tenho percebido
exatamente o contrário: principalmente ao longo dos últimos anos, os partidos têm
exercitado uma tirania e uma ditadura que não se coadunam com o que dispõe a
Constituição Federal, que, em seu art. 1º, assevera que todo poder emana do povo,
e não do partido, e em seu nome é exercido.
Conseqüentemente, não concordo com o discurso, muito presente na boca
dos cientistas políticos, de que o mandato pertence ao partido e não ao Parlamentar
ou ao Chefe do Executivo. Subseqüentemente, quem defende o fortalecimento do
partido para fortalecer a democracia transita na contramão. Devemos fortalecer a
instituição “povo”, a quem pertence, efetivamente, o mandato.
Sr. Presidente, não são poucos os presidentes de partido que,
desconhecendo o que estabelecem as propostas de suas agremiações, fazem
pressões pouco éticas sobre Parlamentares, exigindo que se comportem de tais ou
quais maneiras, prejudicando aquilo que o partido estatui em benefício dele,
Presidente. As instituições brasileiras são presidencialistas. A sociedade se
manifestou nesse sentido no plebiscito realizado há algum tempo. A grande maioria
votou pelo sistema presidencialista.
São incontáveis as intervenções que os partidos fazem nos seus diretórios,
nas suas comissões provisórias regionais, promovendo desequilíbrio, revogando
decisões já tomadas e compromissos formatados. E ainda querem fortalecer os
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partidos. O instituto da candidatura nata não existe mais. Essa já é ameaça muito
grande sobre quem tem mandato, pouco importa de que partido seja.
Presenciamos intervenções dolorosas em eleições recentes. Candidatos
ungidos pelas convenções regionais foram arrebatados, perderam suas
candidaturas por processo traumático de intervenção da Executiva Nacional de
vários partidos. E querem fortalecer ainda mais os partidos. Ontem, na CCJ, vários
nomes foram tirados por se manifestarem contrários a duas reformas de origem do
Executivo que tramitam na Casa.
Sr. Presidente, fico à vontade para fazer essas ponderações por várias
razões. Primeira, tenho 4 pleitos por um partido e um por outro. Só busquei nova
opção partidária quando meu partido se extinguiu. Estou confortavelmente instalado
no PL.
Segunda, vou votar favoravelmente às duas propostas do Governo que
tramitam na CCJ. Mas não aceito presenciar, de maneira pacífica, o fato de
Parlamentares serem arrancados de Comissões, contra sua própria vontade, porque
externaram posição que não é exatamente contra, e que pode, no limite, ser. Qual o
problema? A Constituição Federal, art. 53, estabelece o princípio da inviolabilidade
de quem tem mandato: “Os Deputados e Senadores são invioláveis por suas
opiniões, palavras e votos”.
Antes de votar e apenas por externar opiniões ligeiras, foram arrancados das
Comissões. E onde está a Constituição Federal? E fala-se ainda em fortalecer os
partidos para robustecer a democracia. Os partidos estão na contramão da
democracia.
O voto vinculado — saudosa memória para muitos — é entulho do
autoritarismo que se tentou resgatar nos últimos anos para as últimas eleições,
dando não apenas os votos, mas os candidatos, o que é pior. No cenário de voto
vinculado sabe-se para que lado o partido vai chutar e todos guardam aquela
orientação. O partido, por força das coligações, é obrigado a veicular candidatura
majoritária com a qual nem concorda, caso contrário, pode ter cassação da sua
candidatura não por infidelidade partidária, mas por infidelidade à coligação, que
nem previsão tem na lei.
Sr. Presidente, não gostaria de aprovar o disposto no art. 2º, lembrando que
ele também estabelece agressão ao princípio constitucional da isonomia. Se
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estamos todos nivelados sob a condição de candidatos, todos temos de observar os
mesmos prazos. Senão, teremos de instituir prazos diferenciados para as mulheres,
o que é justo, pois precisam participar do processo político de maneira mais
expressiva; para os negros, com os quais a sociedade brasileira tem uma dívida
histórica; para os deficientes físicos e visuais, para os idosos etc.
Entendo que isso fere o princípio da isonomia. Alguém me socorreu na
reunião passada e disse que os prazos já são diferenciados para militares, membros
da Magistratura, Conselheiros dos Tribunais de Contas e membros do Ministério
Público, porque não lhes permitimos filiação partidária.
O que fez a Justiça Eleitoral? Tentou corrigir nossa falha, mas instituiu
privilégios incabíveis e insustentáveis, legislando em causa própria. Essa não é
atribuição da Justiça, do Poder Judiciário, da Justiça Eleitoral. Legislou em causa
própria e instituiu prazos generosos para os membros do Judiciário. Por que essas
categorias não podem ter filiação partidária? Gostaria de aprovar legislação que a
permitisse, sob pena de conviver com esses privilégios.
Uma medida que, num primeiro momento, retiraria parcela expressiva do
direito de cidadania dessas categorias, acabou se transformando em privilégio,
porque podem se filiar e se candidatar apenas a partir da convenção, o que também
fere o princípio da isonomia. O Tribunal acabou legislando em causa própria e
afrontando a Constituição Federal.
Caro Presidente, não tenho grande preocupação com o que dispõe o art. 3º.
Já me expressei a respeito da questão e não vou fazer dela um cavalo de batalha.
Diferentemente de cercear, impedir ou punir Prefeitos e demais políticos que se
candidatem nessas circunstâncias, gostaria de homenageá-los, porque quem
expirou seu mandato, é candidato em outro Município e ganha é muito bom.
Nosso Relator, disse há pouco que, nessas circunstâncias, o candidato
poderia se beneficiar da máquina administrativa e, assim, concorreria ao pleito em
situação de desigualdade com os demais. Não faço desse ponto, repito, um cavalo
de batalha. Não tenho dificuldade de, no limite, votar favoravelmente, mas com as
ressalvas que já fiz. Pessoalmente, gostaria de condecorar e homenagear aquele
que, neste pleito, era de Minas Gerais, saiu candidato pela Paraíba e ganhou:
Deputado Philemon Rodrigues.
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Sr. Presidente, são as análises que faço. Pela elegância com que V.Exa. e o
Relator têm se conduzido, peço autorização para trabalhar 24 horas a proposta do
art. 2º. Não partilho do entendimento a que chegou esta Comissão e vou trabalhar
contra ele, porque entendo que fere a democracia e a Constituição.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o
Relator, para um esclarecimento.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Deputado João Paulo Gomes da
Silva, no texto do projeto hoje sob análise não consta o impedimento à candidatura
dos Prefeitos. Para isso, teria de ser elaborado projeto de lei complementar. O artigo
sobre o resultado das eleições diz respeito ao tempo em rádio e televisão, que está
dentro do meu projeto. Em relação à proposta apresentada pelo Deputado Fernando
Ferro, ela será considerada numa outra oportunidade, por ser matéria para projeto
de lei complementar e que não pode ser incluída no projeto de lei ordinária.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, nobre
Relator.
O SR. DEPUTADO AFFONSO CAMARGO - Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
O Presidente João Paulo Cunha, disse que iniciaria a Ordem do Dia às 16h. A
qualquer momento, estaremos impedidos de votar. Não sei se seria mais prático
continuar discutindo mais amplamente a matéria e deixar a votação para a próxima
reunião ou permitir àqueles que são contra o parecer do Relator que se manifestem
e, depois, passar à votação.
O Deputado João Paulo Gomes da Silva exerceu seu legítimo direito de
opinar a favor da democracia popular e da candidatura avulsa. É um dos sistemas
possíveis. Estamos atuando na democracia partidária, com cociente eleitoral.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Meu caro Affonso
Camargo, infelizmente fui condescendente com meu parceiro e amigo João Paulo
Gomes da Silva, permitindo que S.Exa. extrapolasse o tempo. Mas não posso
permitir que aconteça novamente, assim como não posso impedir as inscrições.
Apelo aos Srs. Deputados no sentido de que sejam mais pragmáticos nos
seus pronunciamentos, a fim de que votemos a matéria, já que há quase um
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consenso. A divergência era em relação a 1 ou 3 anos. Surgiu o acordo de 2 anos.
Por isso, afirmei que havia concordância.
Com a palavra o Deputado João Alfredo.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
V.Exa. vai seguir o Regimento Interno com relação ao tempo ou vai
administrá-lo segundo sua benevolência?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João
Almeida, o Regimento determina 15 minutos. Este Plenário acordou em fixá-lo em 3
minutos, e tive a benevolência de passar por cima do acordo. O tempo é de 15
minutos. Mas, se todos, com a sobreposição de tarefas que temos na Casa,
usarmos esse tempo, a matéria só será votada na próxima reunião. O acordo foi
feito aqui e está valendo. Posso não dar 3 minutos, mas 5. Só que o acordado é o
que está valendo.
Deputado João Alfredo, V.Exa. tem 3 minutos, com a benevolência de mais 2,
chegando a 5.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, temos de ser mais
objetivos no debate.
Lamento que esta reforma não tenha tido o prestígio das demais. Mas
queremos que tenha e, para isso, é necessário romper com a autolimitação que nós
mesmos nos impusemos de não propor mudanças na Constituição. Temos de
avançar. Essa reforma precisa ir mais longe. O Deputado Ronaldo Caiado deve se
lembrar de que tenho reiterado essa posição desde o início dos trabalhos.
Com a permissão do Deputado João Paulo Gomes da Silva, quero contraditar
os argumentos de S.Exa.. Fidelidade partidária é interna e externa. Interna, como
bem disse o colega, do ponto de vista do cumprimento das decisões partidárias, e
externa porque vivemos num sistema de eleição proporcional. Poucos Deputados
nesta Casa se elegeram com seus próprios votos — pouquíssimos. Na sua
amplíssima maioria, foram eleitos pelo coeficiente partidário.
Não é verdade que o mandato pertence unicamente aos eleitores ou ao
Parlamentar. Pertence aos eleitores, evidentemente, porque é o povo, em última
análise, o detentor do poder, que o transfere, através do voto, aos seus
representantes. Pertence também ao Parlamentar uma vez que, durante 4 anos, ele
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é responsável pelos seus atos, votos e conduta. Mas também pertence ao partido
político.
Temos de acabar com essa farra. Não existe democracia sem fortalecimento
de partidos. No Brasil, vota-se no candidato e no partido: no primeiro, porque a lista
é aberta; no segundo, porque não há candidato avulso, como bem lembrou o
Deputado Affonso Camargo. É preciso criar algumas amarras. Pessoalmente, acho
que a legislação deveria ser mais dura e deveria perder o mandato quem mudasse
de partido, porque é infidelidade ao eleitor, ao partido que o acolheu e às propostas
que defendeu em campanha. O que se encontrou aqui foi a mediação do prazo de 2
anos.
Finalmente, Deputado João Paulo, permita-me mais uma discordância, com
todo respeito a V.Exa. A inviolabilidade de que trata o art. 53 da Constituição é civil e
penal. Na verdade, sucede o instituto da imunidade parlamentar, modificado por esta
Casa. Podemos até criticar, do ponto de vista do mérito, que um partido afaste um
Parlamentar de uma Comissão, mas cabe a ele fazê-lo. Se ele definir nas suas
instâncias o fechamento de questão, é assunto de economia interna. O que V.Exa.
prega é praticamente a atuação parlamentar sem compromisso partidário, o que só
se adequaria ao Brasil, repetindo o que disse o Deputado Affonso Camargo, se aqui
prevíssemos candidaturas e Parlamentares avulsos.
Acho que é uma proposta tímida, porque não toca em perda de mandato,
para o que teria de se alterar a Constituição, o que acertamos não fazer. Mas ela dá
um mínimo, vamos dizer, de moralidade política à filiação partidária e ao
fortalecimento dos partidos. Um Parlamentar, portanto, teria a oportunidade, no meio
do seu mandato, de fazer a troca. Não como vemos hoje: elege-se por um partido,
toma posse por outro e, no meio do mandato, ainda se transveste várias vezes. Com
isso, acredito que ninguém ganhe: nem o Parlamentar, nem os partidos políticos,
nem a democracia.
Portanto, defendo o projeto de lei da Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o
Deputado Bispo Rodrigues, a quem lembro do nosso acordo dos 3 minutos, com a
tolerância de 2.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, lamento divergir, mas meu partido não concorda com esse acordo. São
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posições que, estamos vendo, mudam diariamente. Meu partido era a favor de o
Parlamentar diplomado pode mudar de 2 em 2 anos, mas não de ser obrigado a
mudar de partido 2 anos antes, se quiser concorrer na próxima eleição.
Por quê? Estamos vendo um caso — mais claro impossível — no País. Os
partidos mudam suas posições, inclusive aquelas defendidas durante a campanha
eleitoral no rádio, na televisão, no palanque. E, quando ganham a eleição, fazem
aquilo que não prometeram.
Pergunto: como fica o filiado a esse partido que quer concorrer, mas já não
concorda mais com a posição partidária? Como ele pode mudar de partido, para um
que se assemelhe mais à sua convicção política? Estamos vendo isso aqui e agora.
Não estou dizendo que esteja certo ou errado, mas é o que está acontecendo. Eu
também defendia a reforma da Previdência, mas vou votá-la de maneira diferente. A
verdade é esta. Temos de ser claros.
Por que uma pessoa que se filiou ao meu partido não tem o direito de dizer
que ele a atraiu com determinada postura, que agora mudou, e que ela quer
deixá-lo? Quer dizer que o partido pode mudar e contrariar tudo o que disse, mas o
eleitor, não, tem de ficar preso 2 anos no cabresto?
Meu partido entende que não foi este o acordo que fizemos: 2 anos antes do
pleito, quando já se tenha filiado a outro partido anteriormente. Isso deveria se
aplicar ao Parlamentar diplomado. Com isso eu concordaria. Por quê? Porque o
cidadão que é Vereador ou Deputado, por exemplo, tem maior esclarecimento
político, recebe informações diárias, vive no meio e sabe as mudanças que estão
ocorrendo. Mas o filiado, não, vai ser pego de surpresa. Então, não concordo.
Essa reforma política interessa aos Presidentes de partidos que os dominam,
entre os quais me incluo, mas devemos observar o que acontece no País. Meu
partido, o PL, mudou, está defendendo muitos pontos que no passado não defendia.
O cidadão que está no meu partido e quer concorrer depois pode dizer: “É isso o
que vou querer? Não é a esse partido que me filiei. O partido a que me filiei foi
embora, acabou, mudou. Quero sair dele”. E já não pode: tem de se eleger e ficar
amarrado a um partido com cuja ideologia não concorda.
Concordo em que o Parlamentar fique 2 anos, mas não o filiado comum. Peço
ao nobre Relator que analise nosso pedido. Isso é muito importante. As pessoas lá
fora não têm a mesma compreensão das que vivem no meio político. Sabemos para
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onde os partidos estão indo, mas o filiado comum, não. Portanto, solicito a S.Exa.
que os 2 anos estabelecidos para a mudança de partido se apliquem só para quem
tiver diploma político.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Nobres colegas,
criamos uma norma para o encerramento das inscrições.
Os Deputados José Divino e Luiz Couto pediram a palavra e poderão usá-la
por 3 minutos.
Antes, o Deputado Lincoln Portela...
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, peço a palavra para
questão de ordem.
Insisto em que, se os procedimentos regimentais não forem seguidos pela
Mesa, isso nos desorientará. Não tenho o hábito de me inscrever antecipadamente.
Faço-o no momento em que algum assunto me provoca a vontade de falar.
O Regimento determina por quanto tempo se dá a inscrição. V.Exa. não pode
ficar dizendo: “Vou fazer a inscrição até tal hora...” ou “Já estabeleci...” Se anunciar
que vai manter a inscrição durante a fala dos 3 primeiros oradores, tudo bem. Mas,
decidindo na hora, complica nossa vida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João
Almeida, V.Exa. está coberto de razão. Tenho mantido um processo de
entendimento, e é com ele que temos avançado. Podemos fixar que as inscrições
serão encerradas até a explanação do quarto expositor. Chegamos ao consenso
daqueles 3 minutos, com prazo máximo de 5. Vou conversar com alguns dos Srs.
Deputados e, já na próxima reunião, fixaremos regra para as inscrições.
Hoje estão inscritos os Deputados José Divino e Luiz Couto, e já tem
garantida a palavra o Deputado Lincoln Portela.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, perdoe-me, mas insisto
na questão de ordem.
V.Exa. pode estabelecer, por acordo, um procedimento que todos aceitamos
ou, então, deve seguir o Regimento Interno. Mas não pode conversar com alguns
Deputados e resolver o que vai fazer aqui, conforme acabou de dizer: “Vou
conversar com alguns Deputados, e vamos estabelecer aqui...” Ou seguimos o
Regimento Interno ou criamos procedimento especial acordado com o Plenário.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João
Almeida, quando me dispus a conversar com alguns dos Srs. Deputados, é que
procuramos fazer um entendimento e propô-lo ao Plenário. Em hora nenhuma tomei
por princípio discriminar ninguém . Cheguei aos 3 minutos após consultar alguns
Deputados. Não tenho nenhum problema em atender às questões regimentais. É
importante que busquemos o consenso.
Na próxima reunião, vamos apresentar proposta para fixar a ordem das
inscrições — a quarta ou a terceira —, e o Plenário vai deliberar.
Para uma questão de ordem, tem a palavra o Deputado Bispo Rodrigues.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sr. Presidente, primeiro, ressalto a
forma democrática ímpar e exemplar com que V.Exa. tem dirigido os trabalhos.
Segundo, gostaria que V.Exa. me informasse o que diz o Regimento Interno
sobre a solicitação da palavra.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não entendi bem a
pergunta. É sobre o número de inscrições?
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Não, sobre os 3 minutos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O Parlamentar tem 15
minutos. Realizamos acordo, unanimemente aprovado, de 3 minutos, com a
condescendência da Mesa de mais 2. O limite passa para 5. Como estava no início
do debate, o Deputado João Paulo falou durante 10 minutos. Mas posso usar o que
foi acordado com o Plenário: 3 minutos mais 2.
Vou dar a palavra ao Deputado Lincoln Portela para falar pelo tempo
acordado de 3 minutos mais 2.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Ainda não acabei minha questão
de ordem, Sr. Presidente. V.Exa. me desculpe.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, V.Exa. nem
a apresentou como questão de ordem.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Quero saber se essa votação
informal tem poder para derrubar o direito de o Deputado falar 15 minutos, uma vez
que o Regimento foi votado, acredito, no Plenário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, a votação
informal não derruba o Regimento. O que derruba o Regimento são os
compromissos que temos assumido no plenário.
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O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Então, o Deputado que quiser falar
os 15 minutos, pode?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu coloquei em
votação o tempo de 3 minutos, o que foi aprovado por todos os Srs. Deputados, com
a condescendência de mais 2. Espero que a regra não seja mudada de acordo com
esse ou aquele interesse. Ao colocarmos a matéria em votação — houve aqui uma
posição consensual —, sabia-se que as pessoas poderiam usar os 15 minutos, até
como obstrução. Houve entendimento nesse sentido. Logicamente, se alguém
quiser utilizar os 15 minutos como questão de ordem estará amparada pelo
Regimento, mas não está amparada pelo acordo que foi votado na Comissão. Estou
expondo isso de forma clara porque, no início dos trabalhos da Comissão, buscamos
o entendimento consensual. Sou submetido, como Presidente, ao Regimento.
Espero que o que foi acordado não seja comprometido hoje.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, peço
a palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, está
sendo colocada em votação, agora, na CCJ, proposta da reforma tributária. Quero
saber se V.Exa. dispõe de instrumentos que permitam aos membros da CCJ que
aqui se encontram, como eu, ir até à Comissão votar e voltar para participar desta
Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não há nenhum
problema. Sou membro da CCJ. V.Exa. pode ir lá votar e retornar a esta Comissão.
Tem a palavra o Deputado Lincoln Portela.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Sr. Presidente, nós, que
acompanhamos os tempos da ditadura militar, lamentavelmente, estamos
observando que esta Casa, ou pelo menos parte dela, ainda guarda muitos
resquícios da ditadura militar. Por exemplo, vemos a questão da cláusula de barreira
de 5% totalmente inspirada na ditadura militar. A cláusula de barreira de 5% foi
inspirada na ditadura militar, e nós a reeditamos nesta Casa. Lembro-me de que
partidos como o PTB, PDT e o PT não alcançaram a cláusula de barreira e foram
prejudicados. Tivemos, assim, a restauração da democracia retardada por causa de
coisas como essa.
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Tenho séria preocupação ao ver nesta Casa a tendência de falarmos em
fortalecimento dos partidos. O que é fortalecimento do partido? O que é fortalecer o
partido e fortalecer o eleitor? Qual a diferença? À medida que damos superdimensão
a esse fortalecimento partidário corremos sério risco de tirarmos a força e as opções
dos eleitores.
A Constituição é bem clara na questão da livre formação dos partidos, sem
essas cláusulas de barreira. Fico preocupado quando vejo votarmos aqui
financiamento público de campanhas com lista fechada. Como vai ser isso? E
aqueles que não vão participar da lista fechada, mas, sim, do financiamento público
de campanha? É preciso observarmos esses pontos.
Quanto ao fortalecimento de partido, na minha avaliação, estamos criando
verdadeiros mostrengos, sem uma reforma partidária. Serão os presidentes de
partido que estarão contribuindo para que a jovem democracia brasileira fique
emperrada e volte à ditadura militar.
Se fortalecermos 5 ou 6 partidos, amanhã, eles sentirão necessidade de se
fortalecerem mais, e vamos voltar aos tempos do MDB e da ARENA. Vamos ver
partidos como o PCdoB, como o Partido Verde indo para o espaço.
Vejo agora a questão da fidelidade partidária. Atualmente, o Brasil é o único
país do mundo que está se atrevendo a ter fidelidade partidária, à exceção da China,
com o Partido Comunista. Certamente, lá, deve haver fidelidade partidária nesses
níveis.
Fico preocupado com o que estamos discutindo. Até gostei de ouvir o nobre
Deputado dizer que hoje temos a certeza ou a convicção de que o mandato pertence
aos eleitores, aos Parlamentares e aos partidos. Tenho ouvido muitos
Parlamentares dizerem aqui que o mandato pertence ao partido. Ora, o mandato
que pertence ao partido é o do Parlamentar que foi votado apenas na legenda do
partido. Isso não existe. Então, quem vota, quem escolhe a legenda do partido votou
no partido. Quem escolhe votar individualmente num candidato votou no candidato.
A minha preocupação, Sr. Presidente, a título de desabafo, é que esta Casa
venha a impor, da maneira como as coisas estão sendo conduzidas por alguns
Parlamentares, uma ditadura nos partidos, uma lei eleitoral que vai arrebentar com
os partidos emergentes. Volto a dizer que, se essa lei existisse há 8, 10 anos, da
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forma que está sendo apresentada, o Partido dos Trabalhadores não teria chegado
ao poder, não teríamos como Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lamento, profundamente, a forma como as coisas estão sendo enfocadas.
Espero que tenhamos capacidade de perceber o que é fortalecimento de partido e o
que é enfraquecimento do eleitor. Na minha avaliação, o eleitor está sendo
enfraquecido e não fortalecido.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o nobre
Deputado José Divino.
O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
quero trazer à memória do Presidente — do Rio de Janeiro como eu, nasci em
Campos, terra do Governador Garotinho — que hoje há um problema político com o
Prefeito de Campos.
Se esse projeto for votado da forma como está, estarão cassando o sonho e o
direito de 70% dos Vereadores de concorrerem à reeleição, que são do partido de
V.Exa, e de tantos outros agentes públicos nomeados em cargos do Município de
Campos.
Isso deve estar ocorrendo em todo o território nacional. A imprensa tem
divulgado que a Governadora Rosinha está prestes a deixar o PSB e vir para o meu
partido, o PMDB, no qual milito há mais de 20 anos. Pergunto: é justo, é
ponderável, é democrático cassar o direito político de filiação? Na verdade, isso é a
reedição de uma ditadura modernizada, com outro nome. Sou contra. O cidadão
comum, que não tem mandato eletivo, não se pode submeter a uma legislação que
o impede de se filiar a um partido político no prazo estabelecido pela legislação.
Mudar a legislação não avança em absolutamente nada, vai apenas privilegiar
as oligarquias que dominam e escravizam o País desde a Proclamação da
República. Essa é a grande verdade. Existem pontos que devem ser discutidos.
Acredito que todos aqui são democratas e não estão aqui para cassar os sonhos de
quem almeja estar na Câmara Municipal, na Prefeitura ou em qualquer Parlamento.
Peço aos demais colegas que não façamos isso. Não vamos reeditar uma
nova ditadura. Meu partido foi o precursor da redemocratização do País. Se o Lula
chegou onde está foi porque lhe foi dada essa oportunidade democrática.
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Acredito que há centenas de milhares de pessoas fazendo política séria no e
que não pertencem a essas oligarquias que escravizam nosso povo. Foi um grande
avanço as questões democráticas dos partidos, do pluralismo. Não podemos cassar
esse legítimo direito.
Sou contra o prazo de 2 anos. Penso que tem de permanecer da forma como
está na legislação. Seria absurdo tirarmos o direito legítimo dos cidadãos. Gostaria
de saber como se explica a alguém que está engajado numa luta da disputa eleitoral
que não poderá participar de uma eleição porque o grupo político saiu, brigou,
separou. Como vai ficar essa situação por causa de uma lei casuística, absurda?
Sou contrário. Solicito aos demais companheiros que votem contra.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, peço a palavra para
fazer um esclarecimento ao Parlamentar que acaba de usar a palavra. O art. 6° diz
que essa lei entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 2005, portanto, não
cassará nenhum Parlamentar que tenha feito a mudança nesse período.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado José Divino,
V.Exa. fez referência diretamente a mim. Deputado, ninguém lutou mais do que eu,
nesta Casa, contra a contribuição de inativos. Meu partido fez uma votação na
Executiva e fechou questão quanto a essa matéria.
Não há outro caminho para se fortalecerem os partidos a não ser pela
manifestação partidária. Formulei questão de ordem na Comissão de Constituição e
Justiça e de Redação. Tenho manifestações e trabalhos escritos sobre a matéria.
Entendo ser fundamental o respeito às decisões partidárias, o que não me impede
de manter minha posição. Tenho de atender à votação orientada pelo meu partido.
Está aqui a Deputada Luiza Erundina, que sabe que sou contundente
defensor da inconstitucionalidade desta matéria, porém tenho de me submeter à
decisão partidária, o que não me impede de manifestar, exceto quando o faço em
nome do partido. Vou continuar dizendo que a matéria é inconstitucional e fere os
direitos adquiridos. Mas na manifestação do partido, se não nos organizamos nele
realmente perde o sentido. Estou me manifestando porque V.Exa. fez referência
direta ao Partido Socialista Brasileiro e a mim. Ninguém faz oposição mais
contundente a esta matéria do que eu. Mas sou daqueles que acha que a questão
tem de ser submetida à maioria partidária.
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Só estou abordando o assunto porque foi feita referência à Presidência e eu
me achei no direito de expor minha posição. Não vou deixar de achar que é
inconstitucional. Posso até, na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação,
pedir minha substituição. O partido não vai substituir ninguém. Trata-se de uma
posição do partido. Mas eu não me sinto na obrigação de ir lá e votar. Posso pedir a
minha suplência que vote. Considero a matéria inconstitucional. Vou me ajustar às
decisões do meu partido.
Esta é a minha posição. Estou dando explicações, na condição de Presidente,
porque fui provocado por V.Exa.
O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, mais uma questão: a
idade. Vamos fazer uma comparação: um jovem não está numa idade....
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado José Divino,
se permitir sua manifestação, vou ser obrigado a entrar num debate. Quando da sua
declaração de voto, permito-lhe usar a palavra. Eu me manifestei até indevidamente.
Mas como fui provocado, na condição de Presidente, pela habilidade de V.Exa. de
conhecer questões regionais, eu me senti na obrigação de dizer a minha opinião
sobre essa questão.
Com a palavra o Deputado Luiz Couto.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Para que possa ser votado, eu retiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais
Deputados inscritos, vou submeter a matéria à votação.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Para encaminhar a votação, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o
Deputado Bispo Rodrigues.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - De quantos minutos disponho, Sr.
Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Cinco minutos.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Muito obrigado, Sr. Presidente.
Não achamos demasiadas as discussões, faz parte do processo legislativo. Há
algum tempo, eu fazia um discurso no plenário, dizendo que às vezes esta Casa faz
leis como se faz pão na padaria e, por isso, depois temos que enviar outros projetos
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de leis para corrigir as imperfeições. Isso tem acontecido muito, nesta Casa, por falta
de debates.
Se não me engano, V.Exa. mesmo teria dito que acredita que essa lei é
inconstitucional ou estaria citando um exemplo?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu acho que é
inconstitucional a cobrança de inativos.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sim, perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Considero essa
posição inconstitucional, mas como é decisão do meu partido, submeto-me a ela.
O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Na justificativa do projeto, fala-se
em acabar ou diminuir a migração de políticos para outros partidos e diz-se que esse
fato não encontra paralelo em nenhuma outra democracia.
Quem conhece esta Casa sabe que a migração partidária não se dá nos
últimos 2 anos de mandato e que ela não se dá também, na maioria das vezes, por
questões ideológicas. Lembro-me de que o meu partido, na Legislatura passada,
começou com 12 Deputados. Na primeira semana, não sei por que argumentos, o
Palácio conversou com 7 Deputados e estes mudaram de partido. Nenhum foi para
a Oposição. Todos passaram para o Governo. Na Oposição, só ficou o PL, com 5
Deputados. A maioria das mutações ou mudanças partidárias se processam nos 2
primeiros anos. Este projeto, do jeito que está, é inócuo para acabar com essa
mudança. Quem faz a mudança partidária é o Palácio, o poder, que tem milhões de
argumentos para mudar os candidatos. O Parlamentar é eleito de um lado e muda
por causa dos cargos. Esta lei não vai adiantar, exceto para aquele cidadão que
quer ser candidato a Prefeito. Este não vai poder mudar de partido amanhã porque
ele precisa estar filiado 2 anos antes.
Portanto, entendo que este projeto não contempla o que se queria. O meu
partido tinha proposto os 2 anos iniciais. É nesse período que podemos impedir essa
mutação partidária, com raras exceções, para partidos governistas. A maioria dos
Parlamentares que mudam, dificilmente, vão para partido de oposição. Podemos
contar nos dedos esses casos. Ocorrendo a mudança de partido nos 2 anos depois
— a porta já foi aberta, a galinha já saiu do galinheiro, a raposa já entrou —, o
sujeito já viu quais eram os melhores cargos para ele, já mudou de partido. No
entanto, quem faz a mudança acontecer é o Governo do Estado, é o Prefeito e,
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logicamente, o Palácio do Planalto. Aliás, é este quem promove as grandes
mudanças.
Eu, pelo menos, não fui eleito para enganar a mim mesmo. Estou dizendo a
verdade e todos sabem disso. Se fizermos um estudo sobre as mudanças
partidárias, verificaremos que 80% delas se processam nos 2 primeiros anos para
atender à conveniência de os governantes terem maioria e de os Deputados ou
Vereadores participarem das benesses do poder. Portanto, essa mudança não
resolve o problema. Ela resolve, sim, o problema de grandes partidos que querem
acabar com a prática de tirar um Deputado aqui, outro ali. Todos sabem que o
Parlamentar que quer mudar de casa só o faz nos 2 primeiros anos de mandato.
Depois, ele só muda por problemas de brigas internas ou insatisfações que
normalmente se resolvem nos 2 primeiros anos. Por isso, vou votar contrário ao
projeto e pedir verificação também.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para falar a favor, com
a palavra o Deputado João Almeida. Dois Parlamentares falarão contra e 2 a favor.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, meus caros
companheiros e companheiras, penso que travamos uma discussão até
interessante. O fulcro do debate foi entre aqueles que acreditam nos partidos, na
democracia participativa via partidos, e aqueles que defendem a candidatura avulsa.
Talvez fosse apropriado apresentar proposta de candidaturas avulsas. Para estas,
em outro sistema eleitoral, muitos dos argumentos que ouvimos aqui são
plenamente válidos. Para o sistema representativo que a nossa Constituição estatui,
os argumentos não têm validade porque são completamente fora de foco.
Desculpem-me os ilustres companheiros que tão bem argumentaram.
De outro modo, eu, que sofri as agruras da ditadura, que fui condenado a um
ano e meio de cadeia e tive de pagar quase um ano por isso, fico muito chateado
quando ouço alguém dizer que essa nefasta ditadura está sendo prática nossa.
Quem não viveu aqueles tempos, quem não sabe o que foi aquilo, pode dizer
qualquer blasfêmia sobre essa questão. Mas dizer que o sistema que está se
querendo construir aqui é um sistema perto do que se fez na ditadura, tenham dó.
Isso é não conhecer os fatos históricos. Nem todos tiveram a infelicidade de viver
tão intensamente aquela época. Não se pode dizer que cláusula de barreira é coisa
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da ditadura. O país que mais se preocupa com democracia no mundo hoje, que tem
as fundações mais vigorosas defendendo e pregando democracia pelo mundo
inteiro, é a Alemanha. Lá, o quociente eleitoral ou a cláusula de barreira é muito
mais drástica do que a existente no Brasil. Na Alemanha, a questão é eleitoral.
Quem não atinge o quociente, não se elege. Portanto, não dá para estabelecer uma
discussão nesses termos.
Nós, o PSDB, temos analisado toda essa situação. Devemos até fazer uma
revisão da nossa posição. Não tínhamos mais interesse em votar áreas isoladas,
porque sentimos que não vale à pena. Se a reforma política se restringir a isso, será
melhor não fazê-la. Esperávamos que o projeto viesse estruturado com aqueles
conteúdos. Defendíamos até a agregação deste e daqueles. Quem sabe possamos
fazê-lo em outra etapa no plenário.
Dado o esforço do ilustre Relator e de toda a discussão aqui feita, votaremos
favoravelmente à proposta apresentada, adiantando, desde logo, que esta será a
última que votamos fatiada. Veja V.Exa. que, quando falamos em limitação do tempo
de televisão, precisamos tratar de outro capítulo, que é a divisão do tempo televisivo
entre os partidos. Se tiramos de um partido a possibilidade de usar esse acréscimo,
por mudança de Deputado, estaremos facilitando a formação das coligações, pois
um partido ou uma coligação pode ter um tempo enorme em detrimento de outros.
Especialmente nas eleições municipais que vamos enfrentar agora, isso faz
extraordinária diferença, desequilibrando completamente o jogo. Portanto, mexer
numa pedra implica mexer em outra. Por isso, preferimos votar em conjunto.
De todo modo, em homenagem ao trabalho feito pelo ilustre Relator, vamos
votar favoravelmente ao projeto e também porque o conteúdo está de acordo com o
que pensamos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para falar contra, com
a palavra o Deputado João Paulo Gomes da Silva.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Caro Presidente,
com relação ao que eu disse sobre o entulho da ditadura e do autoritarismo, registro
que, infelizmente, vivi as agruras da ditadura militar na condição de líder estudantil.
Pode não parecer, mas me formei em Direito no ano de 1974. Fui líder estudantil,
presidente de DCE. Portanto, experimentei o auge da repressão.
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Lutei pela redemocratização do Brasil, lutei pelo resgate do voto direto como
direito, como voto facultativo e não como voto obrigatório como aí está. Estamos
amargando voto obrigatório. Vou defender — já disse desde o primeiro dia que
tomei assento nesta cadeira — o voto facultativo.
Com relação ao entulho do autoritarismo a que me referi, não via o dos
militares, mas um saudosismo vindo de ex-Parlamentares desta Casa que
vincularam não o voto, mas o candidato nas malhas da verticalização, que foi
expressa no entendimento do Superior Tribunal Eleitoral.
Sr. Presidente, além dessa verticalização que devemos combater, já ouvi o
Relator se manifestar contrariamente a ela. Não podemos aprovar o que está
exposto nessa proposta em debate. Percebo muito claramente que essa proposta
interessa apenas aos presidentes dos partidos, não a nós que somos presididos. E
não convém, acima de tudo, à democracia e à Constituição, o Parlamentar, uma vez
aprovado esse lapso de 2 anos, ficar numa situação difícil. Imaginem, se nós já
estivéssemos dentro do calendário desses 2 anos, o que poderia suceder a esses
Parlamentares a quem foram assacados na Comissão de Constituição e Justiça a
expressão de alguma dificuldade em votar contrariamente às 2 propostas que aí
estão.
Eu não tenho dificuldades. Vou votar favoravelmente na CCJ. Vou apresentar
proposta de modificação em Plenário. Tenho proposta, nesta Casa, para otimizar a
imagem da atividade política perante a opinião pública e a sociedade. Gostaria que a
Comissão avocasse projeto de minha autoria, que visa impedir o cidadão, que tiver
concorrido a uma eleição no Executivo e perdido no 1º turno, de ocupar o cargo de
Secretário ou Ministro daquele que vier a vencer as eleições. O povo não aceita
isso, soa muito mal aos olhos do povo. Vou votar favorável às 2 propostas na CCJ.
Existem propostas minhas nesta Casa, que eu gostaria que a Presidência
avocasse. Uma delas — vou passar às mãos de V.Exa. agora — propõe a
liberação da boca-de-urna a 200 metros dos postos de votação.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o
Deputado Roberto Freire, como Líder.
O SR. DEPUTADO ROBERTO FREIRE - E garanto que não vou falar sobre
Ciro Gomes, até porque é de profundo autoritarismo alguém achar que pode criar
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restrições apenas porque não é do seu agrado o fato de que o cidadão que perdeu a
disputa eleitoral possa se integrar ao Governo.
Eu posso continuar achando que não deve; posso achar que deve. Esta deve
ser uma livre escolha da cidadania e, mais ainda, da autoridade que ganhou a
eleição. Aliás, é sobre essa questão que eu gostaria de falar. Todo o debate sobre
reforma política partidária no Brasil tem um viés profundamente autoritário. Todos os
países democráticos que conheço tratam a questão de partido político como um
direito de cidadania. Alguns não tratam nem da lei e da questão do partido político,
mas como um direito de livre organização, livre expressão, como qualquer outra
entidade. Não cabe ao Estado tutelar. Portanto, não cabe ao Estado regular aquilo
que é organização da cidadania para formar ou conformar o Estado. Qualquer
decisão nossa, por maioria, está tutelando e definindo aquilo que é da cidadania e
não do Estado, tanto é que não somos pessoas de direito público. Temos esse
paradoxo. Somos pessoas de direito privado público. Um paradoxo no Direito,
porque é direito de cidadania e não do Estado, mas aqui a visão — e não é de hoje
— não é só resquício da ditadura, embora muito desse projeto seja resquício do
entulho autoritário da ditadura. Mas essa visão contra a plena liberdade de
organização é histórica no Brasil, infelizmente.
Aqui se acaba e se cria partido por decreto e acha-se que isso é democrático.
Aliás, quem está falando teve experiência de ser o único partido, mesmo todos
querendo extinguir, que sobreviveu, o Partido Comunista Brasileiro.
Portanto, temos, na nossa história, o que é essa expressão de partido como
de cidadania e não de Estado. Esse projeto tem um grave problema quando trata do
da filiação. Não vamos nem tratar da ampliação do prazo; vamos tratar do tradicional
de 1 ano. Agora em 2003, no dia em que for definido 2004 como o da eleição, 1 ano
antes encerra-se o prazo para que a cidadania brasileira decida se quer ou não
participar. Na prática, isso significa que — não temos mais do que 6 milhões, vamos
colocar bem para cima, 10 milhões de brasileiros filiados a partidos políticos —
aproximadamente 90 milhões de brasileiros, e não é nada em ação, não tem
referência alguma à ditadura, cassados 1 ano antes não irão participar da eleição.
Pouco importa o que aconteça com o Brasil durante esse período. Pouco importa o
surgimento de lideranças, movimentos sociais, não importa impeachment. Se
mantivermos as instituições tal como estamos querendo, há 1’’ ano reservou-se o
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mercado da disputa eleitoral de ser votado apenas para nós que estávamos no
processo ou alguns iniciados, porque a maioria da cidadania hoje não está
preocupada com a eleição municipal de 2004 ou qualquer eleição 1 ano antes, mas
ela já está impedida.
Essa idéia da filiação não é um instituto do Direito Público brasileiro Eleitoral,
é criação da ditadura. O prazo de filiação era algo que relacionava o cidadão ou a
cidadã com o partido político e tinha um prazo apenas para o registro eleitoral. Aqui
se faz uma tutela para exatamente excluir a cidadania de um processo.
Evidentemente, num processo eleitoral, quando se chama para decisão, aparecem
lideranças que não estavam filiadas a partido algum. É o medo do novo. É a
tentativa de ficar com o establishment, com o status quo, com o conservadorismo,
com o que existe.
Vou mais adiante. Não adianta alguém aqui dizer, até porque já se passou
tanto tempo, estamos vendo tantos jovens aí, que o problema não é de quem viveu
a ditadura, mas de saber quais foram as instituições que a ditadura criou para
garantir uma ditadura sui generis, como era a brasileira, que mantinha o Congresso
aberto. E este, de vez em quando e periodicamente, fazia eleição, permitia que
houvesse partidos políticos, 2, claro. Imaginou-se que um era do “sim” e o outro, do
“sim, senhor”. O do “sim”, depois, virou o do “não”, mas a idéia era de controle.
Sabem como surgiu esse preceito que muitos pensam ser democrático? A
democracia é da soberania popular. A democracia é a cidadania, não é o Estado,
não é este Congresso definindo uma lei. Por exemplo, que só pode ser candidato
um cidadão brasileiro num determinado Município, no domicílio eleitoral. Quem criou
isso? Quem inventou essa história — e aí, Deputado João Almeida, companheiro
que eu sei que lutou porque lutou conosco naquela época, no velho Partidão — do
domicílio foi a ditadura para impedir candidatura do marechal Henrique Teixeira Lott
a Governador do Estado da Guanabara. Na eleição de 1965, um ano depois do
Golpe Militar, com o lançamento de Teixeira Lott, inventaram o domicílio eleitoral,
porque o título eleitoral de Lott não era da Guanabara, e, sim, de Petrópolis. Depois
inventaram outro. Aí surgiu o célebre termo casuísmo que, em toda eleição,
inventava-se. Inventaram depois, para impedir Hélio Almeida, porque não podia,
quem tinha sido Ministro de Governo deposto, ser candidato a coisa alguma.
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Vamos nos lembrar dessas coisas para saber que isso não é nenhuma
grande instituição democrática. Isso surgiu como casuísmo, exatamente para
impedir aqueles que foram derrotados pelo golpe de se articularem em torno de uma
candidatura lótica. O Marechal Henrique Teixeira Lott era um militar respeitador da
democracia, que até golpe para garantir a democracia deu, em 1955. É bom ter
professor de história aqui. É bom não nos esquecermos disso.
Este projeto é antidemocrático. Nas sociedades democráticas, a cidadania é
livre para ingressar, permanecer, sair. Não me estou querendo imiscuir na economia
interna de nenhum partido. Mas quero que cada um, conscientemente, lembre o que
está ocorrendo com o PT.
O que é justo? E cada um pode pensar, não precisa dizer. Um partido usar
um instrumento que sempre foi nosso — aliás, não quero resgate, até porque
deixamos lá atrás o centralismo democrático —, de uma direção mais justa e
correta? E o PPS reconhece que é correta a posição que o Governo Lula está
assumindo em relação às reformas. Mas é justo impor essa posição e em nome
dela expulsar? É correto exigir fidelidade, expulsando? Essa posição significa
impedir prosseguimento de uma luta política de uma cidadã ou cidadão. Quanto a
isso, só quem pode dizer é a soberania popular.
No fundo, toda essa discussão da reforma política tem uma idéia de reserva
de mercado, e daí a grande dificuldade. Teve alguém que até brincou hoje, do
Senado veio a proposta de 4 anos, porque lá são 8 anos de mandato; aqui baixaram
para 2, porque são 4 anos. Ou seja, essa coisa fica vinculada a interesses concretos
e não ao interesse da liberdade e da democracia, ao que é melhor para nós. Daí a
dificuldade de se aprovar projetos como este, não apenas este, mas qualquer
projeto na órbita político-eleitoral, porque nós somos diretamente os interessados.
Direções partidárias, quando aqui se tem de olhar para o cidadão que não está aqui
e que precisa participar e tem que ter instituições cada vez mais livres, amplas,
abertas, pluralistas, permanentemente acessível e não limitada, restrita, como aqui
se pretende fazer, esta proposta não é democrática.
O PPS — não voto aqui, mas voto em plenário — votará contra. Na época da
ditadura, fui autor de um projeto, o primeiro que tratava de financiamento público de
campanha. Esta é uma proposta democrática, uma excelente reforma política que se
faz num país.
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A discussão é legítima, democrática, de regime eleitoral, se pode ser distrital,
se pode ser proporcional ou distrital majoritário, misto. Quero dizer que defendo o
proporcional. Pessoalmente, o partido está aberto à discussão, porque é o melhor
sistema, o que provoca menor perda de voto. Esse sistema permite que a
democracia brasileira se expresse também por intermédio da Minoria e não só da
Maioria.
Este Congresso se torna mais digno — e quero dizer em alto e bom som —
quando permite, por exemplo, que o PV se faça presente com 5 Parlamentares. É a
expressão de um espectro político, ideológico existente na sociedade. Como o
PRONA, tão criticado, mas recebeu o voto da cidadania e que aqui tem a sua
representação, respeitada, o PT começou com apenas 3 Parlamentares.
Isso não é democrático. Imagino que o Governo Lula não está apenas
querendo trazer justiça social, maior igualdade, distribuir renda, mas também
aprofundar a democracia. Um projeto como este vai contra o projeto do Governo
Lula. O PPS vota contra. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Srs. Deputados, o
Presidente da Casa anuncia a Ordem do Dia e acaba de informar que as nossas
deliberações não poderão ser acobertadas pelo Regimento. Nós estamos impedidos
de submeter esta Comissão a qualquer tipo de deliberação. Não tenho como
submeter a matéria à deliberação.
A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem V.Exa. a palavra.
A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - Eu cheguei atrasada em razão de
outras tarefas e tomei conhecimento da proposta do seminário.
Indago a V.Exa. se os membros desta Comissão também devem se inscrever
no seminário.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputada, nós
dispensamos a reunião da semana que vem a fim de que os membros se inscrevam
para participar do seminário.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos, antes
convocando reunião para o dia 11, às 14h30min, no Plenário 12.
Está encerrada a reunião.