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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICA EVENTO: Reunião Ordinária N°: 0635/03 DATA: 28/05/03 INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 17h07min DURAÇÃO: 01h53min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h52min PÁGINAS: 35 QUARTOS: 23 REVISÃO: Tatiana, Veiga, Zilfa SUPERVISÃO: Luci, Maria Luíza, Yoko CONCATENAÇÃO: Yoko DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO SUMÁRIO: Discussão e votação do anteprojeto de lei de filiação partidária. Deliberação de requerimentos para realização de audiências públicas. Debate sobre financiamento de campanhas eleitorais. OBSERVAÇÕES

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · apresentado propostas sobre a melhor maneira de discutir os temas da reforma política, por mim anteriormente citados. Era

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICAEVENTO: Reunião Ordinária N°: 0635/03 DATA: 28/05/03INÍCIO: 15h14min TÉRMINO: 17h07min DURAÇÃO: 01h53minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h52min PÁGINAS: 35 QUARTOS: 23REVISÃO: Tatiana, Veiga, ZilfaSUPERVISÃO: Luci, Maria Luíza, YokoCONCATENAÇÃO: Yoko

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

SUMÁRIO: Discussão e votação do anteprojeto de lei de filiação partidária. Deliberação derequerimentos para realização de audiências públicas. Debate sobre financiamento decampanhas eleitorais.

OBSERVAÇÕES

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Havendo número

regimental, declaro abertos os trabalhos da Comissão Especial de Reforma Política.

Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 10ª reunião

ordinária desta Comissão Especial, realizada no dia 21 de maio. Indago ao Plenário

se há necessidade de sua leitura.

O SR. DEPUTADO ALMEIDA DE JESUS - Sr. Presidente, peço a dispensa

da leitura da ata, por ter sido distribuída cópia a todos os Srs. Parlamentares.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado.

Dispensada a leitura da ata, a pedido do Deputado Almeida de Jesus.

Em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, coloco-a em votação.

Os Srs. Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovada.

Esta Comissão recebeu correspondência do Grupo de Trabalho Parlamento

Brasileiro: 180 Anos de História comunicando a realização do Seminário A Reforma

Política, no período de 3 a 5 de junho, no Auditório Nereu Ramos. Assim sendo, na

próxima semana, a Comissão estará muito envolvida com esse seminário. Como é

nossa a decisão de realizar ou não reunião na semana que vem, indago ao Plenário

se, em virtude desse seminário, ela deve ou não ocorrer.

Evidentemente, não quero abrir debate algum sobre essa questão. Agradeço

se os Srs. Deputados puderem se manifestar de forma bem concisa. Estou

realmente apresentando o fato para que o Plenário se manifeste. Inclusive, participo

de uma das mesas desse seminário. A maioria dos Srs. Deputados também estará

participando. Gostaria de saber se mantemos ou não a reunião de quarta-feira

próxima, no horário das 14h30min.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, eu

voto “não” e sugiro a V.Exa. que faça votação simbólica.

O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, entendo que o

seminário tem amplitude e abrangência bem maiores do que a reunião, embora

saiba que ela será brilhante, em função da participação dos colegas. Talvez ali nós

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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recolhamos alguns dados que poderão ser preciosos para o trabalho a ser elaborado

por esta Comissão Especial.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, quem está

promovendo o seminário?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - É o Grupo de Trabalho

Parlamento Brasileiro: 180 Anos de História.

Evidentemente, deverá haver concordância do Plenário e do Relator. Preciso

da manifestação do Relator, porque trabalhamos aqui levando em consideração o

princípio do consenso.

Esse seminário tem como tema a reforma política. Vai haver mesa de debates

nos dias 4 e 5. Logicamente, haverá debate no dia 4, quarta-feira — se não me

engano, na parte da tarde. Se mantivermos nossa reunião, o seminário na parte da

tarde ficará esvaziado. Inclusive, das 15h às 19h, o Presidente da Mesa será o

Senador Hélio Costa.

Os temas e os devidos expositores são, respectivamente: O PT e a Unidade

Partidária como Problema, Alan Lacerda; Regras eleitorais e lealdades partidárias,

André Marenco; As possibilidades da democracia intrapartidária, Rachel Meneghello,

da UNICAMP; As experiências democráticas brasileiras, Fernando Limongi. Os

comentaristas são: Fabiano Santos e Márcio Silva. Será no período da nossa

reunião.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, quero me

manifestar a favor da suspensão da reunião, para prestigiarmos o seminário. Creio

que será um momento importante para a discussão do tema.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Esse seminário terá

abertura na terça-feira, com as presenças dos Presidentes da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal, Deputado João Paulo Cunha e Senador José

Sarney; dos Deputados Chico Alencar e Bonifácio de Andrada; e dos Senadores

Hélio Costa e Romeu Tuma. A Mesa Redonda da manhã de terça-feira será

presidida pelo Deputado Bonifácio de Andrada e a da tarde, pelo Deputado Roberto

Freire. A Mesa Redonda da manhã de quarta-feira será presidida por mim e a da

tarde, pelo Senador Hélio Costa.

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O Grupo de Trabalho Parlamento Brasileiro: 180 Anos de História foi

encarregado de organizar as solenidades e toda a história dos 180 anos do

Parlamento brasileiro.

Peço ao Relator, bem como ao Plenário — este, por votação simbólica —,

que se manifestem, já que me foi feito esse pedido. Realmente, gostaria de saber a

posição do eminente Relator.

Obrigado.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, não só concordo com o cancelamento da reunião, como também

entendo que esse seminário nos dará subsídios importantes para elaboração dos

textos das matérias que priorizamos: financiamento público de campanhas, listas

fechadas, final das coligações nas eleições proporcionais, federação de partidos.

Tenho certeza de que esse seminário vai nos enriquecer muito, pois teremos

oportunidade de ouvir Parlamentares dos diversos partidos políticos, inclusive

Senadores — muitos deles estarão presentes. Nesse sentido, considero o evento

importante não só como ação complementar, mas também porque irá dar subsídios

a esta Comissão. Estou, portanto, de acordo.

Peço, contudo, que nos próximos 15 dias, diante do cancelamento da reunião

da próxima quarta-feira, se houver entendimento quanto às sugestões, que as

encaminhemos aos gabinetes dos Parlamentares. Dessa forma, na próxima reunião,

daqui a 15 dias, os Parlamentares que compõem esta Comissão já terão

apresentado propostas sobre a melhor maneira de discutir os temas da reforma

política, por mim anteriormente citados.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Sras. e Srs.

Deputados, trata-se de votação simbólica.

Os Srs. Deputados que estiverem de acordo com a suspensão da reunião da

próxima quarta-feira, a fim de fortalecer a organização do seminário, permaneçam

como se encontram. (Pausa.)

Por unanimidade, está suspensa a reunião de quarta-feira.

Vou colocar em votação os requerimentos de audiência pública apresentados

à Mesa já há algum tempo. Na próxima reunião, marcaremos audiência com os

convidados dos requerimentos que forem aprovados.

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Antes, porém, concedo a palavra, pela ordem, ao Deputado João Alfredo.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, gostaria de insistir

quanto à presença do Prof. Paulo Bonavides. Foi o primeiro requerimento aprovado.

Sei que há um problema de agenda.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João

Alfredo, tenho o maior respeito pelo Prof. Paulo Bonavides, mas S.Sa. está com

dificuldades em sua agenda. Soube disso quando ele telefonou ontem para um

amigo meu — eu estava jantando na casa desse amigo. Fiquei sabendo que o seu

nome provavelmente será indicado para a Academia Brasileira de Letras, e já conta

com o meu apoio. O fato é que o Prof. Bonavides está com a agenda muito

apertada. Estabelecemos, contudo, alguns contatos no sentido de averiguar a

possibilidade de sua vinda a esta Comissão, já que S.Sa. tem prioridade, pelo

conhecimento que tem da matéria.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Não há ainda perspectiva?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Já fizemos contato e

S.Sa. ficou de responder. Estou adiantando a V.Exa. que o professor está em

processo de mobilização. Parece que está avaliando a possibilidade de ser

candidato à Academia, e já tem o meu apoio.

O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, permita-me dizer

ao Deputado João Alfredo que a Fundação Paulo Bonavides está promovendo, entre

os dias 10 e 13 de junho, em Fortaleza, seminário para comemorar o transcurso,

este ano, do 15º aniversário da Carta Cidadã.

Então, se a própria Fundação Paulo Bonavides patrocina evento como esse,

é evidente que haja envolvimento por parte do professor, inclusive sua palavra

autorizada como cientista político. Esse deve ser mais um motivo pelo qual

poderíamos dilatar um pouco mais o prazo da convocação, com a anuência do

requerente.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Vou colocar em

votação os requerimentos. Evidentemente, vamos aprovar os requerimentos

independentemente das agendas.

Requerimento do Deputado Mário Assad Júnior, que solicita seja convidado

para audiência pública o Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República.

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Na ausência do autor do requerimento, passo a palavra ao nobre Relator.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Quanto à solicitação do Deputado

Mário Assad Júnior, acredito que a presença do Ministro José Dirceu nesta

Comissão será positiva. S.Exa. esteve participando do Instituto Cidadania, mais

precisamente do trabalho sobre reforma política apresentado a esta Comissão.

Sabemos da independência do Legislativo, mas sejamos claros: a ação do

Executivo de estimular o debate da reforma política, dando a ela o espaço que tanto

temos reclamado, é importante. Nesse sentido, a presença do Ministro-Chefe da

Casa Civil nesta Comissão não só será extremamente positiva como abrirá, na

mídia, espaço para debatermos o assunto, o que não temos conseguido, apesar de

todos os nossos esforços.

Tratando-se de iniciativa desta Casa — não podemos cobrar isso do Governo

—, se contarmos com o apoio da Casa Civil, certamente a tramitação se dará com

maior empenho, tanto no âmbito da Comissão quanto no âmbito do plenário.

Sou, portanto, favorável à vinda do Ministro-Chefe da Casa Civil, Deputado

José Dirceu.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo oradores

inscritos, coloco em votação o requerimento.

Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovado.

Requerimento nº 4, do Deputado Devanir Ribeiro, do Partido dos

Trabalhadores, que solicita seja convidado para audiência pública o Presidente

Nacional do Partido dos Trabalhadores, Sr. José Genoíno.

Algum Parlamentar aceita defender o requerimento?

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, gostaria de defender o

requerimento. Antes, contudo, faço um adendo: acho que seria interessante ampliar

o requerimento no sentido de trazermos todos os Presidentes de partidos e, assim,

conhecermos a posição de cada um dos partidos políticos nesta Casa

representados. Poderíamos fazer o debate dividindo os partidos em grupos de 3 ou

4. Num primeiro momento, PT, PFL, PMDB, PSDB; num segundo momento, PSB,

PCdoB etc. Poderíamos, assim, compor um painel do pensamento partidário.

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Como membro do PT, evidentemente quero que o Presidente de meu partido

venha a esta Comissão, mas entendo importante para o debate que também os

Presidentes dos demais partidos venham expor suas propostas em relação à

reforma política.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João

Alfredo, como já disse, sou amplamente favorável a essa idéia, mas,

regimentalmente, é necessário o requerimento.

Inclusive, em vez de o Deputado Antônio Carlos Magalhães Neto convidar o

Presidente do seu partido, Senador Jorge Bornhausen, solicitou a presença do

Senador Marco Maciel. Parece-me que o ex-Deputado José Genoíno não só é

Presidente do partido, mas também estudioso do assunto. E há Presidentes que

delegam a matéria a algumas pessoas. O Deputado Devanir Ribeiro, por exemplo, é

do Partido dos Trabalhadores, e S.Exa. pode convidar o PT. Se o PCdoB quiser

convidar o companheiro Renato, é uma pessoa que muito pode contribuir.

Estou aberto a sugestões, mas tenho de seguir o requerimento e não posso

ampliá-lo. Se algum dos Srs. Deputados quiser sugerir um representante de seu

partido, a Mesa se compromete a pôr o requerimento imediatamente em votação.

Concedo a palavra ao Relator, que falará sobre o convite feito ao ex-

Deputado, companheiro José Genoíno, Presidente do Partido dos Trabalhadores.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, sabemos do

conhecimento do ex-Deputado José Genoíno em relação às matérias da reforma

política. Estamos favoráveis ao convite.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais

quem queira usar a palavra, está em votação o requerimento.

Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)

Aprovado o requerimento.

O SR. DEPUTADO AFFONSO CAMARGO - Sr. Presidente, sugiro que, se

não houver qualquer constrangimento, os Srs. José Genoíno e José Dirceu venham

juntos, porque é praticamente a mesma fala. Quero poupar reuniões. É só uma

idéia.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Meu companheiro e

ex-Ministro, a solicitação de V.Exa. será atendida. Vamos tentar organizar a pauta

para que possamos avançar.

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Requerimento do Sr. Lincoln Portela, que requer a realização de reunião de

audiência pública com a participação do Prof. David Fleischer, da Universidade de

Brasília.

Concedo a palavra ao autor do requerimento. (Pausa.) Não estando presente,

concedo a palavra ao eminente Relator.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, não tenho contato

direto com esse professor, nem conhecimento específico do trabalho desenvolvido

por ele. S.Sa. viria debater e prestar esclarecimentos aos membros desta Comissão

sobre o voto distrital e a experiência americana. Acredito que todas as experiências

sejam positivas e não vejo nenhuma dificuldade em continuarmos aprovando os

requerimentos para que essas informações sejam trazidas à Comissão.

Meu parecer é favorável.

Como disse o Deputado Affonso Camargo, pergunto ao Presidente e ao

Relator se haveria possibilidade, depois de os requerimentos serem aprovados, de

trazer à Comissão, na mesma data, 2 ou 3 palestrantes, sem que haja sobrecarga,

para que não prolonguemos essas convocações, fazendo com que perdurem por 2

ou 3 meses, o que inviabiliza a discussão da reforma política antes do mês de

setembro.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Concedo a palavra à

Deputada Almerinda de Carvalho.

A SRA. DEPUTADA ALMERINDA DE CARVALHO - Sr. Presidente, segundo

o programa do seminário, o Dr. David Fleischer irá fazer sua exposição no último dia.

Embora o autor do requerimento não esteja presente, pergunto se não podemos

trocar o convidado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Aprovaremos os

requerimentos de forma regimental.

A SRA. DEPUTADA ALMERINDA DE CARVALHO - Sr. Presidente, pouparia

o expositor de comparecer à reunião de audiência pública e ao seminário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputada, vou,

regimentalmente, aprovar o requerimento. Conversarei não só com o Relator, mas

também com o autor do requerimento. Caso as pessoas se sintam atendidas com a

exposição do Dr. David Fleischer, aprovaremos o requerimento.

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Não havendo mais quem queira fazer uso da palavra, está em votação o

requerimento.

Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovado.

Requerimento do Deputado Lincoln Portela, que requer realização de reunião

de audiência pública com a participação do Sr. Ministro Nelson Jobim, do Tribunal

Superior Eleitoral.

Como o Deputado Lincoln Portela não está presente, concedo a palavra ao

Relator.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, no caso específico

desse requerimento, sabemos o quanto é importante a participação do Ministro do

Tribunal Superior Eleitoral, Dr. Nelson Jobim, não só em decorrência de sua vivência

nesta Casa, pois é ex-Parlamentar, como também por ter-se debruçado sobre o

assunto e ser hoje reconhecido como uma das maiores autoridades em termos de

legislação eleitoral. Realmente, a convocação de S.Exa. em muito enriquecerá esta

Comissão, pois as informações trazidas pelo Ministro poderão nos auxiliar na

elaboração de nossos projetos. Nesse sentido, sou favorável à aprovação do

requerimento.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais

quem queira usar a palavra, coloco em votação o Requerimento nº 8.

Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovado.

Por fim, há o requerimento de autoria do Deputado Antônio Carlos Magalhães

Neto, que solicita seja convidado para reunião de audiência pública o Senador

Marco Maciel.

Não estando presente o nosso companheiro Antônio Carlos Magalhães Neto,

concedo a palavra ao Relator.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, defendo a

aprovação desse requerimento não só por causa da vida parlamentar do Senador

Marco Maciel e dos vários artigos que escreveu a respeito da reforma política, como

também porque o PFL identificou vários temas e, por isso, criou Comissões

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temáticas para debater os assuntos do momento, como as reformas apresentadas.

E coube exatamente ao Senador Marco Maciel presidir a Comissão Temática do

PFL encarregada de estudar a reforma política.

Concordo com o Presidente quando diz que, às vezes, no partido, não é o

Presidente que deve ser convocado, pois pode haver outras pessoas ligadas a

determinado tema que possuem maior conhecimento. É exatamente esse o caso

específico do PFL. Todos nós sabemos do conhecimento do Senador Jorge

Bornhausen, mas o Senador Marco Maciel, que ocupa a Presidência dessa

Comissão Temática, tem maior afinidade com o tema. Por isso e por causa dos

vários trabalhos de autoria do nobre Senador, sou favorável à aprovação desse

requerimento.

O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, ofereço meu apoio

à convocação do Senador Marco Maciel. Ao longo do tempo, S.Exa. tem-se

mostrado um estudioso dessa temática, não apenas no âmbito do seu partido, pelo

qual foi incumbido de examinar esse assunto, mas em sucessivos debates na

tribuna do Senado Federal e nas páginas da imprensa brasileira.

Como convivi com S.Exa. por alguns anos, na outra Casa do Parlamento,

posso oferecer meu testemunho de que reputo valioso o seu depoimento sobre

inúmeros aspectos da legislação partidária, que o Senador conhece não apenas em

virtude de sua vivência pessoal, mas também por ser um estudioso da reforma

política em nosso País.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Mauro Benevides.

Não havendo mais quem queira usar a palavra, em votação o requerimento.

Os Srs. Deputados que o aprovam permaneçam como se encontram.

(Pausa.)

Aprovado.

Deputado Mauro Benevides, regimentalmente, não posso colocar hoje em

votação o requerimento apresentado por V.Exa. De acordo com o Regimento

Interno, esse requerimento deveria ser colocado em votação de forma extrapauta,

mas me comprometo a, na próxima reunião, colocar em votação o requerimento que

V.Exa. apresentou à Mesa.

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O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, por causa do

adiamento de nossa reunião, que deveria ser realizada na próxima quarta-feira,

pensei que a apresentação do meu requerimento pudesse ter a conotação de

atempadamente procedido. Eu não quis subverter a tradição desta Comissão, mas

considerei o fato de que não vamos nos reunir na próxima quarta-feira. Queria

apenas colaborar para que a celeridade se processasse. E apresentei esse

requerimento ainda mais porque o que estou propondo é exatamente a ilação

extraída do que se disse a respeito da vinda do Presidente do partido ou de alguém

que o representasse formalmente. Em síntese, esse foi o objetivo do lacônico

requerimento encaminhado a V.Exa., Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Mauro

Benevides, tenho certeza de que o requerimento apresentado por V.Exa. tem

exatamente esse objetivo. Mas, nas duas reuniões passadas, a Mesa desta

Comissão solicitou que todos os requerimentos tivessem cobertura regimental.

Então, apesar de eu entender as intenções do requerimento de V.Exa., não posso

colocá-lo em votação. Entretanto, comprometo-me a publicá-lo na próxima Ordem do

Dia e a colocá-lo em votação. Tenho absoluta certeza de que, como seu

requerimento é muito amplo, teremos condições de ter a presença desses

Presidentes durante algumas reuniões.

Aprovados os requerimentos, o próximo item diz respeito ao debate e votação

do anteprojeto de lei sobre filiação partidária. Esse anteprojeto já foi distribuído aos

Srs. Deputados. Inclusive, recebi a informação de que essa matéria havia sido

votada como um todo, mas ela havia sido votada apenas parcialmente. Esse projeto

sintetiza todo o entendimento que firmamos, apesar de alguns Srs. Deputados já

terem manifestado discordância em relação a ele.

Estão abertas as inscrições para os Srs. Deputados que queiram usar a

palavra no debate do anteprojeto que o eminente Relator, mais uma vez,

apresentará à Comissão.

Tem a palavra o Relator, Deputado Ronaldo Caiado, que nos informará a

respeito da redação final do anteprojeto em questão.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Parlamentares, no início dos trabalhos desta Comissão, debatemos a agenda por

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várias reuniões. Aprovada a agenda, decidimos que iniciaríamos a discussão da

reforma política pela reforma eleitoral.

Foram colocadas em votação as prioridades que seriam dadas. Decidimos

que o primeiro tema a ser debatido seria exatamente o da fidelidade partidária.

Como é do conhecimento de todos, se fôssemos alterar o atual texto para buscar

novamente aquele que determina a perda de mandato, caso seja ferida a fidelidade

partidária, teríamos de caminhar para uma proposta de emenda à Constituição. Esta

Comissão decidiu que não deixaríamos de avaliar essa hipótese, mas que

priorizaríamos as leis ordinárias, para que pudéssemos, com um quorum de maioria

simples, aprovar o texto tanto na Comissão como no plenário.

Foram 2 os pontos levantados e passíveis de serem trazidos a debate nesta

Comissão. O primeiro deles refere-se ao tempo nas rádios e televisões. De acordo

com a atual legislação, esse tempo é vinculado ao número de Parlamentares no dia

da posse. A Comissão entendeu que essa data deveria ser fixada no dia do

resultado das eleições. Dessa forma, poderíamos diminuir a migração que existe no

período entre o resultado das eleições e o dia 1º de fevereiro. Sem dúvida alguma,

quando perdem algum membro, os partidos que elegeram os Parlamentares perdem

também segundos importantes e ficam prejudicados. Aliás, esse foi o motivo que

levou o meu partido a entrar com medida judicial no Supremo Tribunal Federal

solicitando o ressarcimento dos prejuízos que teve no momento em que o

Parlamentar migrou para outro partido, entre o período da eleição e o dia 1º de

fevereiro.

O segundo ponto refere-se especificamente ao tempo de filiação no partido.

Esse projeto foi aprovado no Senado Federal e tramita na Casa há algum tempo. O

texto aprovado no Senado determina o tempo de 4 anos para a segunda filiação

partidária. O assunto foi longamente debatido nesta Comissão. Chegamos ao

entendimento de que o prazo não deveria ser de 4 anos na segunda filiação, mas,

sim, de 2. Nessa mesma reunião, o Deputado Fernando Ferro indagou ao Plenário

sobre a possibilidade, já que são matérias similares, de incluir na lei o impedimento

de que Prefeitos concorram a eleições em outros Municípios, beneficiando-se da

estrutura que têm em seus próprios e, dessa maneira, causando disputa desleal.

Essa sugestão se deu porque existem Prefeitos que se beneficiam de uma estrutura

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maior e, no terceiro ano de seus mandatos, transferem o domicílio eleitoral para um

Município limítrofe, onde se candidatam ao cargo.

Naquele momento, houve o consentimento da Comissão para que se

buscasse um texto que incluísse o assunto. Trabalhamos com essa possibilidade,

mas nossa Assessoria Legislativa nos mostrou que não podíamos incluí-lo na

mesma proposta da lei ordinária, pois se trata de legislação complementar, referente

à inelegibilidade, e, por isso, o impedimento de Prefeitos que querem ser candidatos

em Municípios limítrofes do mesmo Estado deveria ser tratado em outro projeto de

lei.

Com isso, retornamos ao acordo anterior. Ou seja, mantivemos, no projeto de

lei ordinária inicial, a discussão sobre o tempo de filiação — a primeira, 1 ano, a

segunda, 2. Quanto ao tempo em rádio e televisão, ele deve ser contado de acordo

com o resultado das eleições.

É exatamente esse o teor do texto que todos os Srs. Deputados têm em

mãos. Estas são as alterações que fizemos:

“Art. 1º Esta lei altera a Lei nº 9.504, de 30 de

setembro de 1997, dispondo sobre prazos de filiação

partidária e de domicílio eleitoral para os candidatos a

cargos eletivos.

Art. 2º O art. 9º da Lei nº 9.504, de 30 de setembro

de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação:

‘Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato

deverá estar com a filiação deferida pelo partido no prazo

mínimo de:

I - um ano antes do pleito, em se tratando de sua

primeira filiação partidária;

II - dois anos antes do pleito, quando se tenha

filiado a outro partido anteriormente.

Parágrafo único. Sendo o partido objeto de fusão,

incorporação a outro ou extinção, ou na hipótese de o

candidato vir a participar da fundação de novo partido,

dentro dos prazos previstos nos incisos I e II,

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considerar-se-á, para os efeitos deste artigo, a data da

filiação partidária imediatamente antecedente.’

Art. 3º É acrescentado o seguinte art. 9º-A à Lei nº

9.504, de 30 de setembro de 1997:

‘Art. 9º-A. Para concorrer às eleições, o candidato

deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva

circunscrição pelo prazo de, pelo menos, um ano antes do

pleito.’

Art. 4º O § 3º do art. 47 da Lei nº 9.504, de 30 de

setembro de 1997, passa a vigorar com a seguinte

redação:

‘Art. 47....................................................................

§ 3º Para efeito do disposto neste artigo, o número

de representantes de cada partido na Câmara dos

Deputados será aquele obtido na última eleição geral para

a Câmara dos Deputados.’

Art. 5º É revogado o art. 18 da Lei nº 9.096, de 19

de setembro de 1995.

Art. 6º Esta lei entrará em vigor a partir de 1º de

janeiro de 2005.”

Sr. Presidente, são o texto e as explicações que devo apresentar ao Plenário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Entendo que a matéria

tinha o consenso da ampla maioria.

Passo a palavra ao Deputado João Paulo Gomes da Silva.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, caro

Relator, companheiras e companheiros da Comissão Especial de Reforma Política,

quando a matéria foi trazida à Comissão, fiz sobre ela algumas ponderações —

desde a ementa até o último artigo.

A ementa tratava de fidelidade partidária, que, como todos sabemos, é

matéria consagrada ao partido: cada um tem autonomia para introduzi-la e

regulamentá-la. Convenhamos, poucos sabem o que é. Temos ouvido da população

e dos famosos cientistas políticos que fidelidade ou infidelidade partidária se refere à

troca de partido: um político se elege por determinado partido e troca de legenda.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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Já realizamos alguns debates que nos mostraram, de maneira clara, que

infidelidade partidária não é troca de partido. Traçamos paralelo entre relação

partidária e casamento e chegamos à conclusão de que marido que deixa mulher ou

mulher que deixa marido não são necessariamente infiéis. Em processo judicial,

infiel é quem trai o cônjuge e não aquele que o deixa. Da mesma forma, deixar o

partido não caracteriza infidelidade. O que a caracterizaria seria votar ou proceder

contra a orientação do partido, consignada em seus estatutos, cartas e

compromissos perante a sociedade.

Sr. Presidente, com as ponderações que fiz sobre a ementa e o art. 1º, plena

e prontamente acatadas pela Mesa, a expressão “fidelidade partidária” foi retirada do

texto. Agora, de minha parte, resta ponderar com relação aos arts. 2º e 3º.

O art. 2º propõe vinculação mínima de 2 anos ao partido, antes das próximas

eleições. Temos ouvido dizer que disposições dessa ordem tentam fortalecer os

partidos e que não há democracia forte sem partido forte. Tenho percebido

exatamente o contrário: principalmente ao longo dos últimos anos, os partidos têm

exercitado uma tirania e uma ditadura que não se coadunam com o que dispõe a

Constituição Federal, que, em seu art. 1º, assevera que todo poder emana do povo,

e não do partido, e em seu nome é exercido.

Conseqüentemente, não concordo com o discurso, muito presente na boca

dos cientistas políticos, de que o mandato pertence ao partido e não ao Parlamentar

ou ao Chefe do Executivo. Subseqüentemente, quem defende o fortalecimento do

partido para fortalecer a democracia transita na contramão. Devemos fortalecer a

instituição “povo”, a quem pertence, efetivamente, o mandato.

Sr. Presidente, não são poucos os presidentes de partido que,

desconhecendo o que estabelecem as propostas de suas agremiações, fazem

pressões pouco éticas sobre Parlamentares, exigindo que se comportem de tais ou

quais maneiras, prejudicando aquilo que o partido estatui em benefício dele,

Presidente. As instituições brasileiras são presidencialistas. A sociedade se

manifestou nesse sentido no plebiscito realizado há algum tempo. A grande maioria

votou pelo sistema presidencialista.

São incontáveis as intervenções que os partidos fazem nos seus diretórios,

nas suas comissões provisórias regionais, promovendo desequilíbrio, revogando

decisões já tomadas e compromissos formatados. E ainda querem fortalecer os

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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partidos. O instituto da candidatura nata não existe mais. Essa já é ameaça muito

grande sobre quem tem mandato, pouco importa de que partido seja.

Presenciamos intervenções dolorosas em eleições recentes. Candidatos

ungidos pelas convenções regionais foram arrebatados, perderam suas

candidaturas por processo traumático de intervenção da Executiva Nacional de

vários partidos. E querem fortalecer ainda mais os partidos. Ontem, na CCJ, vários

nomes foram tirados por se manifestarem contrários a duas reformas de origem do

Executivo que tramitam na Casa.

Sr. Presidente, fico à vontade para fazer essas ponderações por várias

razões. Primeira, tenho 4 pleitos por um partido e um por outro. Só busquei nova

opção partidária quando meu partido se extinguiu. Estou confortavelmente instalado

no PL.

Segunda, vou votar favoravelmente às duas propostas do Governo que

tramitam na CCJ. Mas não aceito presenciar, de maneira pacífica, o fato de

Parlamentares serem arrancados de Comissões, contra sua própria vontade, porque

externaram posição que não é exatamente contra, e que pode, no limite, ser. Qual o

problema? A Constituição Federal, art. 53, estabelece o princípio da inviolabilidade

de quem tem mandato: “Os Deputados e Senadores são invioláveis por suas

opiniões, palavras e votos”.

Antes de votar e apenas por externar opiniões ligeiras, foram arrancados das

Comissões. E onde está a Constituição Federal? E fala-se ainda em fortalecer os

partidos para robustecer a democracia. Os partidos estão na contramão da

democracia.

O voto vinculado — saudosa memória para muitos — é entulho do

autoritarismo que se tentou resgatar nos últimos anos para as últimas eleições,

dando não apenas os votos, mas os candidatos, o que é pior. No cenário de voto

vinculado sabe-se para que lado o partido vai chutar e todos guardam aquela

orientação. O partido, por força das coligações, é obrigado a veicular candidatura

majoritária com a qual nem concorda, caso contrário, pode ter cassação da sua

candidatura não por infidelidade partidária, mas por infidelidade à coligação, que

nem previsão tem na lei.

Sr. Presidente, não gostaria de aprovar o disposto no art. 2º, lembrando que

ele também estabelece agressão ao princípio constitucional da isonomia. Se

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estamos todos nivelados sob a condição de candidatos, todos temos de observar os

mesmos prazos. Senão, teremos de instituir prazos diferenciados para as mulheres,

o que é justo, pois precisam participar do processo político de maneira mais

expressiva; para os negros, com os quais a sociedade brasileira tem uma dívida

histórica; para os deficientes físicos e visuais, para os idosos etc.

Entendo que isso fere o princípio da isonomia. Alguém me socorreu na

reunião passada e disse que os prazos já são diferenciados para militares, membros

da Magistratura, Conselheiros dos Tribunais de Contas e membros do Ministério

Público, porque não lhes permitimos filiação partidária.

O que fez a Justiça Eleitoral? Tentou corrigir nossa falha, mas instituiu

privilégios incabíveis e insustentáveis, legislando em causa própria. Essa não é

atribuição da Justiça, do Poder Judiciário, da Justiça Eleitoral. Legislou em causa

própria e instituiu prazos generosos para os membros do Judiciário. Por que essas

categorias não podem ter filiação partidária? Gostaria de aprovar legislação que a

permitisse, sob pena de conviver com esses privilégios.

Uma medida que, num primeiro momento, retiraria parcela expressiva do

direito de cidadania dessas categorias, acabou se transformando em privilégio,

porque podem se filiar e se candidatar apenas a partir da convenção, o que também

fere o princípio da isonomia. O Tribunal acabou legislando em causa própria e

afrontando a Constituição Federal.

Caro Presidente, não tenho grande preocupação com o que dispõe o art. 3º.

Já me expressei a respeito da questão e não vou fazer dela um cavalo de batalha.

Diferentemente de cercear, impedir ou punir Prefeitos e demais políticos que se

candidatem nessas circunstâncias, gostaria de homenageá-los, porque quem

expirou seu mandato, é candidato em outro Município e ganha é muito bom.

Nosso Relator, disse há pouco que, nessas circunstâncias, o candidato

poderia se beneficiar da máquina administrativa e, assim, concorreria ao pleito em

situação de desigualdade com os demais. Não faço desse ponto, repito, um cavalo

de batalha. Não tenho dificuldade de, no limite, votar favoravelmente, mas com as

ressalvas que já fiz. Pessoalmente, gostaria de condecorar e homenagear aquele

que, neste pleito, era de Minas Gerais, saiu candidato pela Paraíba e ganhou:

Deputado Philemon Rodrigues.

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Sr. Presidente, são as análises que faço. Pela elegância com que V.Exa. e o

Relator têm se conduzido, peço autorização para trabalhar 24 horas a proposta do

art. 2º. Não partilho do entendimento a que chegou esta Comissão e vou trabalhar

contra ele, porque entendo que fere a democracia e a Constituição.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o

Relator, para um esclarecimento.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Deputado João Paulo Gomes da

Silva, no texto do projeto hoje sob análise não consta o impedimento à candidatura

dos Prefeitos. Para isso, teria de ser elaborado projeto de lei complementar. O artigo

sobre o resultado das eleições diz respeito ao tempo em rádio e televisão, que está

dentro do meu projeto. Em relação à proposta apresentada pelo Deputado Fernando

Ferro, ela será considerada numa outra oportunidade, por ser matéria para projeto

de lei complementar e que não pode ser incluída no projeto de lei ordinária.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, nobre

Relator.

O SR. DEPUTADO AFFONSO CAMARGO - Sr. Presidente, peço a palavra

pela ordem.

O Presidente João Paulo Cunha, disse que iniciaria a Ordem do Dia às 16h. A

qualquer momento, estaremos impedidos de votar. Não sei se seria mais prático

continuar discutindo mais amplamente a matéria e deixar a votação para a próxima

reunião ou permitir àqueles que são contra o parecer do Relator que se manifestem

e, depois, passar à votação.

O Deputado João Paulo Gomes da Silva exerceu seu legítimo direito de

opinar a favor da democracia popular e da candidatura avulsa. É um dos sistemas

possíveis. Estamos atuando na democracia partidária, com cociente eleitoral.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Meu caro Affonso

Camargo, infelizmente fui condescendente com meu parceiro e amigo João Paulo

Gomes da Silva, permitindo que S.Exa. extrapolasse o tempo. Mas não posso

permitir que aconteça novamente, assim como não posso impedir as inscrições.

Apelo aos Srs. Deputados no sentido de que sejam mais pragmáticos nos

seus pronunciamentos, a fim de que votemos a matéria, já que há quase um

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consenso. A divergência era em relação a 1 ou 3 anos. Surgiu o acordo de 2 anos.

Por isso, afirmei que havia concordância.

Com a palavra o Deputado João Alfredo.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

V.Exa. vai seguir o Regimento Interno com relação ao tempo ou vai

administrá-lo segundo sua benevolência?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João

Almeida, o Regimento determina 15 minutos. Este Plenário acordou em fixá-lo em 3

minutos, e tive a benevolência de passar por cima do acordo. O tempo é de 15

minutos. Mas, se todos, com a sobreposição de tarefas que temos na Casa,

usarmos esse tempo, a matéria só será votada na próxima reunião. O acordo foi

feito aqui e está valendo. Posso não dar 3 minutos, mas 5. Só que o acordado é o

que está valendo.

Deputado João Alfredo, V.Exa. tem 3 minutos, com a benevolência de mais 2,

chegando a 5.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALFREDO - Sr. Presidente, temos de ser mais

objetivos no debate.

Lamento que esta reforma não tenha tido o prestígio das demais. Mas

queremos que tenha e, para isso, é necessário romper com a autolimitação que nós

mesmos nos impusemos de não propor mudanças na Constituição. Temos de

avançar. Essa reforma precisa ir mais longe. O Deputado Ronaldo Caiado deve se

lembrar de que tenho reiterado essa posição desde o início dos trabalhos.

Com a permissão do Deputado João Paulo Gomes da Silva, quero contraditar

os argumentos de S.Exa.. Fidelidade partidária é interna e externa. Interna, como

bem disse o colega, do ponto de vista do cumprimento das decisões partidárias, e

externa porque vivemos num sistema de eleição proporcional. Poucos Deputados

nesta Casa se elegeram com seus próprios votos — pouquíssimos. Na sua

amplíssima maioria, foram eleitos pelo coeficiente partidário.

Não é verdade que o mandato pertence unicamente aos eleitores ou ao

Parlamentar. Pertence aos eleitores, evidentemente, porque é o povo, em última

análise, o detentor do poder, que o transfere, através do voto, aos seus

representantes. Pertence também ao Parlamentar uma vez que, durante 4 anos, ele

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é responsável pelos seus atos, votos e conduta. Mas também pertence ao partido

político.

Temos de acabar com essa farra. Não existe democracia sem fortalecimento

de partidos. No Brasil, vota-se no candidato e no partido: no primeiro, porque a lista

é aberta; no segundo, porque não há candidato avulso, como bem lembrou o

Deputado Affonso Camargo. É preciso criar algumas amarras. Pessoalmente, acho

que a legislação deveria ser mais dura e deveria perder o mandato quem mudasse

de partido, porque é infidelidade ao eleitor, ao partido que o acolheu e às propostas

que defendeu em campanha. O que se encontrou aqui foi a mediação do prazo de 2

anos.

Finalmente, Deputado João Paulo, permita-me mais uma discordância, com

todo respeito a V.Exa. A inviolabilidade de que trata o art. 53 da Constituição é civil e

penal. Na verdade, sucede o instituto da imunidade parlamentar, modificado por esta

Casa. Podemos até criticar, do ponto de vista do mérito, que um partido afaste um

Parlamentar de uma Comissão, mas cabe a ele fazê-lo. Se ele definir nas suas

instâncias o fechamento de questão, é assunto de economia interna. O que V.Exa.

prega é praticamente a atuação parlamentar sem compromisso partidário, o que só

se adequaria ao Brasil, repetindo o que disse o Deputado Affonso Camargo, se aqui

prevíssemos candidaturas e Parlamentares avulsos.

Acho que é uma proposta tímida, porque não toca em perda de mandato,

para o que teria de se alterar a Constituição, o que acertamos não fazer. Mas ela dá

um mínimo, vamos dizer, de moralidade política à filiação partidária e ao

fortalecimento dos partidos. Um Parlamentar, portanto, teria a oportunidade, no meio

do seu mandato, de fazer a troca. Não como vemos hoje: elege-se por um partido,

toma posse por outro e, no meio do mandato, ainda se transveste várias vezes. Com

isso, acredito que ninguém ganhe: nem o Parlamentar, nem os partidos políticos,

nem a democracia.

Portanto, defendo o projeto de lei da Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o

Deputado Bispo Rodrigues, a quem lembro do nosso acordo dos 3 minutos, com a

tolerância de 2.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, lamento divergir, mas meu partido não concorda com esse acordo. São

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posições que, estamos vendo, mudam diariamente. Meu partido era a favor de o

Parlamentar diplomado pode mudar de 2 em 2 anos, mas não de ser obrigado a

mudar de partido 2 anos antes, se quiser concorrer na próxima eleição.

Por quê? Estamos vendo um caso — mais claro impossível — no País. Os

partidos mudam suas posições, inclusive aquelas defendidas durante a campanha

eleitoral no rádio, na televisão, no palanque. E, quando ganham a eleição, fazem

aquilo que não prometeram.

Pergunto: como fica o filiado a esse partido que quer concorrer, mas já não

concorda mais com a posição partidária? Como ele pode mudar de partido, para um

que se assemelhe mais à sua convicção política? Estamos vendo isso aqui e agora.

Não estou dizendo que esteja certo ou errado, mas é o que está acontecendo. Eu

também defendia a reforma da Previdência, mas vou votá-la de maneira diferente. A

verdade é esta. Temos de ser claros.

Por que uma pessoa que se filiou ao meu partido não tem o direito de dizer

que ele a atraiu com determinada postura, que agora mudou, e que ela quer

deixá-lo? Quer dizer que o partido pode mudar e contrariar tudo o que disse, mas o

eleitor, não, tem de ficar preso 2 anos no cabresto?

Meu partido entende que não foi este o acordo que fizemos: 2 anos antes do

pleito, quando já se tenha filiado a outro partido anteriormente. Isso deveria se

aplicar ao Parlamentar diplomado. Com isso eu concordaria. Por quê? Porque o

cidadão que é Vereador ou Deputado, por exemplo, tem maior esclarecimento

político, recebe informações diárias, vive no meio e sabe as mudanças que estão

ocorrendo. Mas o filiado, não, vai ser pego de surpresa. Então, não concordo.

Essa reforma política interessa aos Presidentes de partidos que os dominam,

entre os quais me incluo, mas devemos observar o que acontece no País. Meu

partido, o PL, mudou, está defendendo muitos pontos que no passado não defendia.

O cidadão que está no meu partido e quer concorrer depois pode dizer: “É isso o

que vou querer? Não é a esse partido que me filiei. O partido a que me filiei foi

embora, acabou, mudou. Quero sair dele”. E já não pode: tem de se eleger e ficar

amarrado a um partido com cuja ideologia não concorda.

Concordo em que o Parlamentar fique 2 anos, mas não o filiado comum. Peço

ao nobre Relator que analise nosso pedido. Isso é muito importante. As pessoas lá

fora não têm a mesma compreensão das que vivem no meio político. Sabemos para

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onde os partidos estão indo, mas o filiado comum, não. Portanto, solicito a S.Exa.

que os 2 anos estabelecidos para a mudança de partido se apliquem só para quem

tiver diploma político.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Nobres colegas,

criamos uma norma para o encerramento das inscrições.

Os Deputados José Divino e Luiz Couto pediram a palavra e poderão usá-la

por 3 minutos.

Antes, o Deputado Lincoln Portela...

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, peço a palavra para

questão de ordem.

Insisto em que, se os procedimentos regimentais não forem seguidos pela

Mesa, isso nos desorientará. Não tenho o hábito de me inscrever antecipadamente.

Faço-o no momento em que algum assunto me provoca a vontade de falar.

O Regimento determina por quanto tempo se dá a inscrição. V.Exa. não pode

ficar dizendo: “Vou fazer a inscrição até tal hora...” ou “Já estabeleci...” Se anunciar

que vai manter a inscrição durante a fala dos 3 primeiros oradores, tudo bem. Mas,

decidindo na hora, complica nossa vida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João

Almeida, V.Exa. está coberto de razão. Tenho mantido um processo de

entendimento, e é com ele que temos avançado. Podemos fixar que as inscrições

serão encerradas até a explanação do quarto expositor. Chegamos ao consenso

daqueles 3 minutos, com prazo máximo de 5. Vou conversar com alguns dos Srs.

Deputados e, já na próxima reunião, fixaremos regra para as inscrições.

Hoje estão inscritos os Deputados José Divino e Luiz Couto, e já tem

garantida a palavra o Deputado Lincoln Portela.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, perdoe-me, mas insisto

na questão de ordem.

V.Exa. pode estabelecer, por acordo, um procedimento que todos aceitamos

ou, então, deve seguir o Regimento Interno. Mas não pode conversar com alguns

Deputados e resolver o que vai fazer aqui, conforme acabou de dizer: “Vou

conversar com alguns Deputados, e vamos estabelecer aqui...” Ou seguimos o

Regimento Interno ou criamos procedimento especial acordado com o Plenário.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado João

Almeida, quando me dispus a conversar com alguns dos Srs. Deputados, é que

procuramos fazer um entendimento e propô-lo ao Plenário. Em hora nenhuma tomei

por princípio discriminar ninguém . Cheguei aos 3 minutos após consultar alguns

Deputados. Não tenho nenhum problema em atender às questões regimentais. É

importante que busquemos o consenso.

Na próxima reunião, vamos apresentar proposta para fixar a ordem das

inscrições — a quarta ou a terceira —, e o Plenário vai deliberar.

Para uma questão de ordem, tem a palavra o Deputado Bispo Rodrigues.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sr. Presidente, primeiro, ressalto a

forma democrática ímpar e exemplar com que V.Exa. tem dirigido os trabalhos.

Segundo, gostaria que V.Exa. me informasse o que diz o Regimento Interno

sobre a solicitação da palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não entendi bem a

pergunta. É sobre o número de inscrições?

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Não, sobre os 3 minutos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O Parlamentar tem 15

minutos. Realizamos acordo, unanimemente aprovado, de 3 minutos, com a

condescendência da Mesa de mais 2. O limite passa para 5. Como estava no início

do debate, o Deputado João Paulo falou durante 10 minutos. Mas posso usar o que

foi acordado com o Plenário: 3 minutos mais 2.

Vou dar a palavra ao Deputado Lincoln Portela para falar pelo tempo

acordado de 3 minutos mais 2.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Ainda não acabei minha questão

de ordem, Sr. Presidente. V.Exa. me desculpe.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, V.Exa. nem

a apresentou como questão de ordem.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Quero saber se essa votação

informal tem poder para derrubar o direito de o Deputado falar 15 minutos, uma vez

que o Regimento foi votado, acredito, no Plenário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, a votação

informal não derruba o Regimento. O que derruba o Regimento são os

compromissos que temos assumido no plenário.

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O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Então, o Deputado que quiser falar

os 15 minutos, pode?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu coloquei em

votação o tempo de 3 minutos, o que foi aprovado por todos os Srs. Deputados, com

a condescendência de mais 2. Espero que a regra não seja mudada de acordo com

esse ou aquele interesse. Ao colocarmos a matéria em votação — houve aqui uma

posição consensual —, sabia-se que as pessoas poderiam usar os 15 minutos, até

como obstrução. Houve entendimento nesse sentido. Logicamente, se alguém

quiser utilizar os 15 minutos como questão de ordem estará amparada pelo

Regimento, mas não está amparada pelo acordo que foi votado na Comissão. Estou

expondo isso de forma clara porque, no início dos trabalhos da Comissão, buscamos

o entendimento consensual. Sou submetido, como Presidente, ao Regimento.

Espero que o que foi acordado não seja comprometido hoje.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, peço

a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, está

sendo colocada em votação, agora, na CCJ, proposta da reforma tributária. Quero

saber se V.Exa. dispõe de instrumentos que permitam aos membros da CCJ que

aqui se encontram, como eu, ir até à Comissão votar e voltar para participar desta

Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não há nenhum

problema. Sou membro da CCJ. V.Exa. pode ir lá votar e retornar a esta Comissão.

Tem a palavra o Deputado Lincoln Portela.

O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Sr. Presidente, nós, que

acompanhamos os tempos da ditadura militar, lamentavelmente, estamos

observando que esta Casa, ou pelo menos parte dela, ainda guarda muitos

resquícios da ditadura militar. Por exemplo, vemos a questão da cláusula de barreira

de 5% totalmente inspirada na ditadura militar. A cláusula de barreira de 5% foi

inspirada na ditadura militar, e nós a reeditamos nesta Casa. Lembro-me de que

partidos como o PTB, PDT e o PT não alcançaram a cláusula de barreira e foram

prejudicados. Tivemos, assim, a restauração da democracia retardada por causa de

coisas como essa.

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Tenho séria preocupação ao ver nesta Casa a tendência de falarmos em

fortalecimento dos partidos. O que é fortalecimento do partido? O que é fortalecer o

partido e fortalecer o eleitor? Qual a diferença? À medida que damos superdimensão

a esse fortalecimento partidário corremos sério risco de tirarmos a força e as opções

dos eleitores.

A Constituição é bem clara na questão da livre formação dos partidos, sem

essas cláusulas de barreira. Fico preocupado quando vejo votarmos aqui

financiamento público de campanhas com lista fechada. Como vai ser isso? E

aqueles que não vão participar da lista fechada, mas, sim, do financiamento público

de campanha? É preciso observarmos esses pontos.

Quanto ao fortalecimento de partido, na minha avaliação, estamos criando

verdadeiros mostrengos, sem uma reforma partidária. Serão os presidentes de

partido que estarão contribuindo para que a jovem democracia brasileira fique

emperrada e volte à ditadura militar.

Se fortalecermos 5 ou 6 partidos, amanhã, eles sentirão necessidade de se

fortalecerem mais, e vamos voltar aos tempos do MDB e da ARENA. Vamos ver

partidos como o PCdoB, como o Partido Verde indo para o espaço.

Vejo agora a questão da fidelidade partidária. Atualmente, o Brasil é o único

país do mundo que está se atrevendo a ter fidelidade partidária, à exceção da China,

com o Partido Comunista. Certamente, lá, deve haver fidelidade partidária nesses

níveis.

Fico preocupado com o que estamos discutindo. Até gostei de ouvir o nobre

Deputado dizer que hoje temos a certeza ou a convicção de que o mandato pertence

aos eleitores, aos Parlamentares e aos partidos. Tenho ouvido muitos

Parlamentares dizerem aqui que o mandato pertence ao partido. Ora, o mandato

que pertence ao partido é o do Parlamentar que foi votado apenas na legenda do

partido. Isso não existe. Então, quem vota, quem escolhe a legenda do partido votou

no partido. Quem escolhe votar individualmente num candidato votou no candidato.

A minha preocupação, Sr. Presidente, a título de desabafo, é que esta Casa

venha a impor, da maneira como as coisas estão sendo conduzidas por alguns

Parlamentares, uma ditadura nos partidos, uma lei eleitoral que vai arrebentar com

os partidos emergentes. Volto a dizer que, se essa lei existisse há 8, 10 anos, da

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forma que está sendo apresentada, o Partido dos Trabalhadores não teria chegado

ao poder, não teríamos como Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lamento, profundamente, a forma como as coisas estão sendo enfocadas.

Espero que tenhamos capacidade de perceber o que é fortalecimento de partido e o

que é enfraquecimento do eleitor. Na minha avaliação, o eleitor está sendo

enfraquecido e não fortalecido.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o nobre

Deputado José Divino.

O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

quero trazer à memória do Presidente — do Rio de Janeiro como eu, nasci em

Campos, terra do Governador Garotinho — que hoje há um problema político com o

Prefeito de Campos.

Se esse projeto for votado da forma como está, estarão cassando o sonho e o

direito de 70% dos Vereadores de concorrerem à reeleição, que são do partido de

V.Exa, e de tantos outros agentes públicos nomeados em cargos do Município de

Campos.

Isso deve estar ocorrendo em todo o território nacional. A imprensa tem

divulgado que a Governadora Rosinha está prestes a deixar o PSB e vir para o meu

partido, o PMDB, no qual milito há mais de 20 anos. Pergunto: é justo, é

ponderável, é democrático cassar o direito político de filiação? Na verdade, isso é a

reedição de uma ditadura modernizada, com outro nome. Sou contra. O cidadão

comum, que não tem mandato eletivo, não se pode submeter a uma legislação que

o impede de se filiar a um partido político no prazo estabelecido pela legislação.

Mudar a legislação não avança em absolutamente nada, vai apenas privilegiar

as oligarquias que dominam e escravizam o País desde a Proclamação da

República. Essa é a grande verdade. Existem pontos que devem ser discutidos.

Acredito que todos aqui são democratas e não estão aqui para cassar os sonhos de

quem almeja estar na Câmara Municipal, na Prefeitura ou em qualquer Parlamento.

Peço aos demais colegas que não façamos isso. Não vamos reeditar uma

nova ditadura. Meu partido foi o precursor da redemocratização do País. Se o Lula

chegou onde está foi porque lhe foi dada essa oportunidade democrática.

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Acredito que há centenas de milhares de pessoas fazendo política séria no e

que não pertencem a essas oligarquias que escravizam nosso povo. Foi um grande

avanço as questões democráticas dos partidos, do pluralismo. Não podemos cassar

esse legítimo direito.

Sou contra o prazo de 2 anos. Penso que tem de permanecer da forma como

está na legislação. Seria absurdo tirarmos o direito legítimo dos cidadãos. Gostaria

de saber como se explica a alguém que está engajado numa luta da disputa eleitoral

que não poderá participar de uma eleição porque o grupo político saiu, brigou,

separou. Como vai ficar essa situação por causa de uma lei casuística, absurda?

Sou contrário. Solicito aos demais companheiros que votem contra.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, peço a palavra para

fazer um esclarecimento ao Parlamentar que acaba de usar a palavra. O art. 6° diz

que essa lei entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 2005, portanto, não

cassará nenhum Parlamentar que tenha feito a mudança nesse período.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado José Divino,

V.Exa. fez referência diretamente a mim. Deputado, ninguém lutou mais do que eu,

nesta Casa, contra a contribuição de inativos. Meu partido fez uma votação na

Executiva e fechou questão quanto a essa matéria.

Não há outro caminho para se fortalecerem os partidos a não ser pela

manifestação partidária. Formulei questão de ordem na Comissão de Constituição e

Justiça e de Redação. Tenho manifestações e trabalhos escritos sobre a matéria.

Entendo ser fundamental o respeito às decisões partidárias, o que não me impede

de manter minha posição. Tenho de atender à votação orientada pelo meu partido.

Está aqui a Deputada Luiza Erundina, que sabe que sou contundente

defensor da inconstitucionalidade desta matéria, porém tenho de me submeter à

decisão partidária, o que não me impede de manifestar, exceto quando o faço em

nome do partido. Vou continuar dizendo que a matéria é inconstitucional e fere os

direitos adquiridos. Mas na manifestação do partido, se não nos organizamos nele

realmente perde o sentido. Estou me manifestando porque V.Exa. fez referência

direta ao Partido Socialista Brasileiro e a mim. Ninguém faz oposição mais

contundente a esta matéria do que eu. Mas sou daqueles que acha que a questão

tem de ser submetida à maioria partidária.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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Só estou abordando o assunto porque foi feita referência à Presidência e eu

me achei no direito de expor minha posição. Não vou deixar de achar que é

inconstitucional. Posso até, na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação,

pedir minha substituição. O partido não vai substituir ninguém. Trata-se de uma

posição do partido. Mas eu não me sinto na obrigação de ir lá e votar. Posso pedir a

minha suplência que vote. Considero a matéria inconstitucional. Vou me ajustar às

decisões do meu partido.

Esta é a minha posição. Estou dando explicações, na condição de Presidente,

porque fui provocado por V.Exa.

O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, mais uma questão: a

idade. Vamos fazer uma comparação: um jovem não está numa idade....

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado José Divino,

se permitir sua manifestação, vou ser obrigado a entrar num debate. Quando da sua

declaração de voto, permito-lhe usar a palavra. Eu me manifestei até indevidamente.

Mas como fui provocado, na condição de Presidente, pela habilidade de V.Exa. de

conhecer questões regionais, eu me senti na obrigação de dizer a minha opinião

sobre essa questão.

Com a palavra o Deputado Luiz Couto.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Para que possa ser votado, eu retiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não havendo mais

Deputados inscritos, vou submeter a matéria à votação.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Para encaminhar a votação, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem a palavra o

Deputado Bispo Rodrigues.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - De quantos minutos disponho, Sr.

Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Cinco minutos.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Não achamos demasiadas as discussões, faz parte do processo legislativo. Há

algum tempo, eu fazia um discurso no plenário, dizendo que às vezes esta Casa faz

leis como se faz pão na padaria e, por isso, depois temos que enviar outros projetos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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de leis para corrigir as imperfeições. Isso tem acontecido muito, nesta Casa, por falta

de debates.

Se não me engano, V.Exa. mesmo teria dito que acredita que essa lei é

inconstitucional ou estaria citando um exemplo?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu acho que é

inconstitucional a cobrança de inativos.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sim, perfeito.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Considero essa

posição inconstitucional, mas como é decisão do meu partido, submeto-me a ela.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Na justificativa do projeto, fala-se

em acabar ou diminuir a migração de políticos para outros partidos e diz-se que esse

fato não encontra paralelo em nenhuma outra democracia.

Quem conhece esta Casa sabe que a migração partidária não se dá nos

últimos 2 anos de mandato e que ela não se dá também, na maioria das vezes, por

questões ideológicas. Lembro-me de que o meu partido, na Legislatura passada,

começou com 12 Deputados. Na primeira semana, não sei por que argumentos, o

Palácio conversou com 7 Deputados e estes mudaram de partido. Nenhum foi para

a Oposição. Todos passaram para o Governo. Na Oposição, só ficou o PL, com 5

Deputados. A maioria das mutações ou mudanças partidárias se processam nos 2

primeiros anos. Este projeto, do jeito que está, é inócuo para acabar com essa

mudança. Quem faz a mudança partidária é o Palácio, o poder, que tem milhões de

argumentos para mudar os candidatos. O Parlamentar é eleito de um lado e muda

por causa dos cargos. Esta lei não vai adiantar, exceto para aquele cidadão que

quer ser candidato a Prefeito. Este não vai poder mudar de partido amanhã porque

ele precisa estar filiado 2 anos antes.

Portanto, entendo que este projeto não contempla o que se queria. O meu

partido tinha proposto os 2 anos iniciais. É nesse período que podemos impedir essa

mutação partidária, com raras exceções, para partidos governistas. A maioria dos

Parlamentares que mudam, dificilmente, vão para partido de oposição. Podemos

contar nos dedos esses casos. Ocorrendo a mudança de partido nos 2 anos depois

— a porta já foi aberta, a galinha já saiu do galinheiro, a raposa já entrou —, o

sujeito já viu quais eram os melhores cargos para ele, já mudou de partido. No

entanto, quem faz a mudança acontecer é o Governo do Estado, é o Prefeito e,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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logicamente, o Palácio do Planalto. Aliás, é este quem promove as grandes

mudanças.

Eu, pelo menos, não fui eleito para enganar a mim mesmo. Estou dizendo a

verdade e todos sabem disso. Se fizermos um estudo sobre as mudanças

partidárias, verificaremos que 80% delas se processam nos 2 primeiros anos para

atender à conveniência de os governantes terem maioria e de os Deputados ou

Vereadores participarem das benesses do poder. Portanto, essa mudança não

resolve o problema. Ela resolve, sim, o problema de grandes partidos que querem

acabar com a prática de tirar um Deputado aqui, outro ali. Todos sabem que o

Parlamentar que quer mudar de casa só o faz nos 2 primeiros anos de mandato.

Depois, ele só muda por problemas de brigas internas ou insatisfações que

normalmente se resolvem nos 2 primeiros anos. Por isso, vou votar contrário ao

projeto e pedir verificação também.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para falar a favor, com

a palavra o Deputado João Almeida. Dois Parlamentares falarão contra e 2 a favor.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, meus caros

companheiros e companheiras, penso que travamos uma discussão até

interessante. O fulcro do debate foi entre aqueles que acreditam nos partidos, na

democracia participativa via partidos, e aqueles que defendem a candidatura avulsa.

Talvez fosse apropriado apresentar proposta de candidaturas avulsas. Para estas,

em outro sistema eleitoral, muitos dos argumentos que ouvimos aqui são

plenamente válidos. Para o sistema representativo que a nossa Constituição estatui,

os argumentos não têm validade porque são completamente fora de foco.

Desculpem-me os ilustres companheiros que tão bem argumentaram.

De outro modo, eu, que sofri as agruras da ditadura, que fui condenado a um

ano e meio de cadeia e tive de pagar quase um ano por isso, fico muito chateado

quando ouço alguém dizer que essa nefasta ditadura está sendo prática nossa.

Quem não viveu aqueles tempos, quem não sabe o que foi aquilo, pode dizer

qualquer blasfêmia sobre essa questão. Mas dizer que o sistema que está se

querendo construir aqui é um sistema perto do que se fez na ditadura, tenham dó.

Isso é não conhecer os fatos históricos. Nem todos tiveram a infelicidade de viver

tão intensamente aquela época. Não se pode dizer que cláusula de barreira é coisa

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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da ditadura. O país que mais se preocupa com democracia no mundo hoje, que tem

as fundações mais vigorosas defendendo e pregando democracia pelo mundo

inteiro, é a Alemanha. Lá, o quociente eleitoral ou a cláusula de barreira é muito

mais drástica do que a existente no Brasil. Na Alemanha, a questão é eleitoral.

Quem não atinge o quociente, não se elege. Portanto, não dá para estabelecer uma

discussão nesses termos.

Nós, o PSDB, temos analisado toda essa situação. Devemos até fazer uma

revisão da nossa posição. Não tínhamos mais interesse em votar áreas isoladas,

porque sentimos que não vale à pena. Se a reforma política se restringir a isso, será

melhor não fazê-la. Esperávamos que o projeto viesse estruturado com aqueles

conteúdos. Defendíamos até a agregação deste e daqueles. Quem sabe possamos

fazê-lo em outra etapa no plenário.

Dado o esforço do ilustre Relator e de toda a discussão aqui feita, votaremos

favoravelmente à proposta apresentada, adiantando, desde logo, que esta será a

última que votamos fatiada. Veja V.Exa. que, quando falamos em limitação do tempo

de televisão, precisamos tratar de outro capítulo, que é a divisão do tempo televisivo

entre os partidos. Se tiramos de um partido a possibilidade de usar esse acréscimo,

por mudança de Deputado, estaremos facilitando a formação das coligações, pois

um partido ou uma coligação pode ter um tempo enorme em detrimento de outros.

Especialmente nas eleições municipais que vamos enfrentar agora, isso faz

extraordinária diferença, desequilibrando completamente o jogo. Portanto, mexer

numa pedra implica mexer em outra. Por isso, preferimos votar em conjunto.

De todo modo, em homenagem ao trabalho feito pelo ilustre Relator, vamos

votar favoravelmente ao projeto e também porque o conteúdo está de acordo com o

que pensamos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para falar contra, com

a palavra o Deputado João Paulo Gomes da Silva.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Caro Presidente,

com relação ao que eu disse sobre o entulho da ditadura e do autoritarismo, registro

que, infelizmente, vivi as agruras da ditadura militar na condição de líder estudantil.

Pode não parecer, mas me formei em Direito no ano de 1974. Fui líder estudantil,

presidente de DCE. Portanto, experimentei o auge da repressão.

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Lutei pela redemocratização do Brasil, lutei pelo resgate do voto direto como

direito, como voto facultativo e não como voto obrigatório como aí está. Estamos

amargando voto obrigatório. Vou defender — já disse desde o primeiro dia que

tomei assento nesta cadeira — o voto facultativo.

Com relação ao entulho do autoritarismo a que me referi, não via o dos

militares, mas um saudosismo vindo de ex-Parlamentares desta Casa que

vincularam não o voto, mas o candidato nas malhas da verticalização, que foi

expressa no entendimento do Superior Tribunal Eleitoral.

Sr. Presidente, além dessa verticalização que devemos combater, já ouvi o

Relator se manifestar contrariamente a ela. Não podemos aprovar o que está

exposto nessa proposta em debate. Percebo muito claramente que essa proposta

interessa apenas aos presidentes dos partidos, não a nós que somos presididos. E

não convém, acima de tudo, à democracia e à Constituição, o Parlamentar, uma vez

aprovado esse lapso de 2 anos, ficar numa situação difícil. Imaginem, se nós já

estivéssemos dentro do calendário desses 2 anos, o que poderia suceder a esses

Parlamentares a quem foram assacados na Comissão de Constituição e Justiça a

expressão de alguma dificuldade em votar contrariamente às 2 propostas que aí

estão.

Eu não tenho dificuldades. Vou votar favoravelmente na CCJ. Vou apresentar

proposta de modificação em Plenário. Tenho proposta, nesta Casa, para otimizar a

imagem da atividade política perante a opinião pública e a sociedade. Gostaria que a

Comissão avocasse projeto de minha autoria, que visa impedir o cidadão, que tiver

concorrido a uma eleição no Executivo e perdido no 1º turno, de ocupar o cargo de

Secretário ou Ministro daquele que vier a vencer as eleições. O povo não aceita

isso, soa muito mal aos olhos do povo. Vou votar favorável às 2 propostas na CCJ.

Existem propostas minhas nesta Casa, que eu gostaria que a Presidência

avocasse. Uma delas — vou passar às mãos de V.Exa. agora — propõe a

liberação da boca-de-urna a 200 metros dos postos de votação.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o

Deputado Roberto Freire, como Líder.

O SR. DEPUTADO ROBERTO FREIRE - E garanto que não vou falar sobre

Ciro Gomes, até porque é de profundo autoritarismo alguém achar que pode criar

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0635/03 Data: 28/05/03

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restrições apenas porque não é do seu agrado o fato de que o cidadão que perdeu a

disputa eleitoral possa se integrar ao Governo.

Eu posso continuar achando que não deve; posso achar que deve. Esta deve

ser uma livre escolha da cidadania e, mais ainda, da autoridade que ganhou a

eleição. Aliás, é sobre essa questão que eu gostaria de falar. Todo o debate sobre

reforma política partidária no Brasil tem um viés profundamente autoritário. Todos os

países democráticos que conheço tratam a questão de partido político como um

direito de cidadania. Alguns não tratam nem da lei e da questão do partido político,

mas como um direito de livre organização, livre expressão, como qualquer outra

entidade. Não cabe ao Estado tutelar. Portanto, não cabe ao Estado regular aquilo

que é organização da cidadania para formar ou conformar o Estado. Qualquer

decisão nossa, por maioria, está tutelando e definindo aquilo que é da cidadania e

não do Estado, tanto é que não somos pessoas de direito público. Temos esse

paradoxo. Somos pessoas de direito privado público. Um paradoxo no Direito,

porque é direito de cidadania e não do Estado, mas aqui a visão — e não é de hoje

— não é só resquício da ditadura, embora muito desse projeto seja resquício do

entulho autoritário da ditadura. Mas essa visão contra a plena liberdade de

organização é histórica no Brasil, infelizmente.

Aqui se acaba e se cria partido por decreto e acha-se que isso é democrático.

Aliás, quem está falando teve experiência de ser o único partido, mesmo todos

querendo extinguir, que sobreviveu, o Partido Comunista Brasileiro.

Portanto, temos, na nossa história, o que é essa expressão de partido como

de cidadania e não de Estado. Esse projeto tem um grave problema quando trata do

da filiação. Não vamos nem tratar da ampliação do prazo; vamos tratar do tradicional

de 1 ano. Agora em 2003, no dia em que for definido 2004 como o da eleição, 1 ano

antes encerra-se o prazo para que a cidadania brasileira decida se quer ou não

participar. Na prática, isso significa que — não temos mais do que 6 milhões, vamos

colocar bem para cima, 10 milhões de brasileiros filiados a partidos políticos —

aproximadamente 90 milhões de brasileiros, e não é nada em ação, não tem

referência alguma à ditadura, cassados 1 ano antes não irão participar da eleição.

Pouco importa o que aconteça com o Brasil durante esse período. Pouco importa o

surgimento de lideranças, movimentos sociais, não importa impeachment. Se

mantivermos as instituições tal como estamos querendo, há 1’’ ano reservou-se o

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mercado da disputa eleitoral de ser votado apenas para nós que estávamos no

processo ou alguns iniciados, porque a maioria da cidadania hoje não está

preocupada com a eleição municipal de 2004 ou qualquer eleição 1 ano antes, mas

ela já está impedida.

Essa idéia da filiação não é um instituto do Direito Público brasileiro Eleitoral,

é criação da ditadura. O prazo de filiação era algo que relacionava o cidadão ou a

cidadã com o partido político e tinha um prazo apenas para o registro eleitoral. Aqui

se faz uma tutela para exatamente excluir a cidadania de um processo.

Evidentemente, num processo eleitoral, quando se chama para decisão, aparecem

lideranças que não estavam filiadas a partido algum. É o medo do novo. É a

tentativa de ficar com o establishment, com o status quo, com o conservadorismo,

com o que existe.

Vou mais adiante. Não adianta alguém aqui dizer, até porque já se passou

tanto tempo, estamos vendo tantos jovens aí, que o problema não é de quem viveu

a ditadura, mas de saber quais foram as instituições que a ditadura criou para

garantir uma ditadura sui generis, como era a brasileira, que mantinha o Congresso

aberto. E este, de vez em quando e periodicamente, fazia eleição, permitia que

houvesse partidos políticos, 2, claro. Imaginou-se que um era do “sim” e o outro, do

“sim, senhor”. O do “sim”, depois, virou o do “não”, mas a idéia era de controle.

Sabem como surgiu esse preceito que muitos pensam ser democrático? A

democracia é da soberania popular. A democracia é a cidadania, não é o Estado,

não é este Congresso definindo uma lei. Por exemplo, que só pode ser candidato

um cidadão brasileiro num determinado Município, no domicílio eleitoral. Quem criou

isso? Quem inventou essa história — e aí, Deputado João Almeida, companheiro

que eu sei que lutou porque lutou conosco naquela época, no velho Partidão — do

domicílio foi a ditadura para impedir candidatura do marechal Henrique Teixeira Lott

a Governador do Estado da Guanabara. Na eleição de 1965, um ano depois do

Golpe Militar, com o lançamento de Teixeira Lott, inventaram o domicílio eleitoral,

porque o título eleitoral de Lott não era da Guanabara, e, sim, de Petrópolis. Depois

inventaram outro. Aí surgiu o célebre termo casuísmo que, em toda eleição,

inventava-se. Inventaram depois, para impedir Hélio Almeida, porque não podia,

quem tinha sido Ministro de Governo deposto, ser candidato a coisa alguma.

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Vamos nos lembrar dessas coisas para saber que isso não é nenhuma

grande instituição democrática. Isso surgiu como casuísmo, exatamente para

impedir aqueles que foram derrotados pelo golpe de se articularem em torno de uma

candidatura lótica. O Marechal Henrique Teixeira Lott era um militar respeitador da

democracia, que até golpe para garantir a democracia deu, em 1955. É bom ter

professor de história aqui. É bom não nos esquecermos disso.

Este projeto é antidemocrático. Nas sociedades democráticas, a cidadania é

livre para ingressar, permanecer, sair. Não me estou querendo imiscuir na economia

interna de nenhum partido. Mas quero que cada um, conscientemente, lembre o que

está ocorrendo com o PT.

O que é justo? E cada um pode pensar, não precisa dizer. Um partido usar

um instrumento que sempre foi nosso — aliás, não quero resgate, até porque

deixamos lá atrás o centralismo democrático —, de uma direção mais justa e

correta? E o PPS reconhece que é correta a posição que o Governo Lula está

assumindo em relação às reformas. Mas é justo impor essa posição e em nome

dela expulsar? É correto exigir fidelidade, expulsando? Essa posição significa

impedir prosseguimento de uma luta política de uma cidadã ou cidadão. Quanto a

isso, só quem pode dizer é a soberania popular.

No fundo, toda essa discussão da reforma política tem uma idéia de reserva

de mercado, e daí a grande dificuldade. Teve alguém que até brincou hoje, do

Senado veio a proposta de 4 anos, porque lá são 8 anos de mandato; aqui baixaram

para 2, porque são 4 anos. Ou seja, essa coisa fica vinculada a interesses concretos

e não ao interesse da liberdade e da democracia, ao que é melhor para nós. Daí a

dificuldade de se aprovar projetos como este, não apenas este, mas qualquer

projeto na órbita político-eleitoral, porque nós somos diretamente os interessados.

Direções partidárias, quando aqui se tem de olhar para o cidadão que não está aqui

e que precisa participar e tem que ter instituições cada vez mais livres, amplas,

abertas, pluralistas, permanentemente acessível e não limitada, restrita, como aqui

se pretende fazer, esta proposta não é democrática.

O PPS — não voto aqui, mas voto em plenário — votará contra. Na época da

ditadura, fui autor de um projeto, o primeiro que tratava de financiamento público de

campanha. Esta é uma proposta democrática, uma excelente reforma política que se

faz num país.

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A discussão é legítima, democrática, de regime eleitoral, se pode ser distrital,

se pode ser proporcional ou distrital majoritário, misto. Quero dizer que defendo o

proporcional. Pessoalmente, o partido está aberto à discussão, porque é o melhor

sistema, o que provoca menor perda de voto. Esse sistema permite que a

democracia brasileira se expresse também por intermédio da Minoria e não só da

Maioria.

Este Congresso se torna mais digno — e quero dizer em alto e bom som —

quando permite, por exemplo, que o PV se faça presente com 5 Parlamentares. É a

expressão de um espectro político, ideológico existente na sociedade. Como o

PRONA, tão criticado, mas recebeu o voto da cidadania e que aqui tem a sua

representação, respeitada, o PT começou com apenas 3 Parlamentares.

Isso não é democrático. Imagino que o Governo Lula não está apenas

querendo trazer justiça social, maior igualdade, distribuir renda, mas também

aprofundar a democracia. Um projeto como este vai contra o projeto do Governo

Lula. O PPS vota contra. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Srs. Deputados, o

Presidente da Casa anuncia a Ordem do Dia e acaba de informar que as nossas

deliberações não poderão ser acobertadas pelo Regimento. Nós estamos impedidos

de submeter esta Comissão a qualquer tipo de deliberação. Não tenho como

submeter a matéria à deliberação.

A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem V.Exa. a palavra.

A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - Eu cheguei atrasada em razão de

outras tarefas e tomei conhecimento da proposta do seminário.

Indago a V.Exa. se os membros desta Comissão também devem se inscrever

no seminário.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputada, nós

dispensamos a reunião da semana que vem a fim de que os membros se inscrevam

para participar do seminário.

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos, antes

convocando reunião para o dia 11, às 14h30min, no Plenário 12.

Está encerrada a reunião.