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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE AGRICULTURA E POLÍTICA RURALEVENTO: Seminário N°: 1227/03 DATA: 26/08/2003INÍCIO: 11h47min TÉRMINO: 14h12min DURAÇÃO: 02h24minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h24min PÁGINAS: 50 QUARTOS: 29
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
CLAYTON CAMPANHOLA – Presidente da Empresa Brasilei ra de Pesquisa Agropecuária –EMBRAPA.JOSÉ AMAURI DIMARZIO – Secretário-Executivo do Mini stério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento.PAULO AFONSO BRACARENSE – Representante do Ministro de Estado da Ciência eTecnologia, Roberto Amaral.FRANCISCO FERRER BEZERRA – Chefe-Geral da EMBRAPA Agroindústria.AURINO ALVES SIMPLÍCIO – Representante da Unidade E MBRAPA Caprinos.MARIA PINHEIRO FERNANDES CORREA – Chefe-Geral da Un idade EMBRAPA Meio-Norte.PAULO ROBERTO COELHO LOPES – Chefe-Geral da EMBRAPA Semi-Árido.MÁRIO AUGUSTO PINTO DA CUNHA – Chefe-Geral da EMBRA PA Mandioca e Fruticultura.LAFAYETTE FRANCO SOBRAL – Chefe-Geral da Unidade EM BRAPA Tabuleiros Costeiros.ELEUSIO CURVELO FREIRE – Chefe-Geral da Unidade EMB RAPA Algodão.
SUMÁRIO: Homenagem aos 30 anos da EMBRAPA. Seminári o EMBRAPA no Nordeste: ascadeias produtivas e geração de emprego e renda.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
1
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Declaro abertos os
trabalhos da Comissão de Agricultura e Política Rural.
Esta reunião é destinada a homenagem os 30 anos da EMBRAPA.
Vamos dar início ao seminário EMBRAPA no Nordeste: as cadeias produtivas
e geração de emprego e renda.
Esta homenagem aos 30 anos da EMBRAPA foi solicitada pelo Deputado
Waldemir Moka, do PMDB de Mato Grosso do Sul, em conjunto com a Bancada do
Nordeste, coordenada por mim.
Convido para tomar assento à mesa o Deputado Marcelo Castro, aqui
representando o Presidente da Comissão, o Deputado Waldemir Moka. Já está à
mesa o Dr. Paulo Bracarense, representante do Sr. Ministro da Ciência e
Tecnologia; o Dr. Amauri Dimarzio, Secretário-Executivo do Ministério da Agricultura,
como também o Dr. Clayton Campanhola, Presidente da EMBRAPA, nossa
homenageada,
Passo a palavra ao Deputado Marcelo Castro, que, em nome do Presidente
da Comissão, dará as boas-vindas aos participantes deste seminário. Esta foi a
maneira que a bancada do Nordeste encontrou para homenagear os 7 Centros de
Pesquisas que a EMBRAPA mantém no Nordeste.
Há poucos momentos, com a presença do ilustre Presidente desta Casa, o
Deputado João Paulo Cunha, e de diversos Parlamentares nordestinos, uma
exposição sobre o evento. Na oportunidade, foi feita uma rápida apresentação dos
produtos ali expostos, como também das tecnologias desenvolvidas por essa grande
companhia brasileira, a EMBRAPA.
Com a palavra, portanto, o Deputado Marcelo Castro.
O SR. DEPUTADO MARCELO CASTRO - Sr. Presidente, na qualidade de
substituto eventual do Presidente da Comissão, o Deputado Waldemir Moka, que,
por questões superiores, não pôde comparecer, quero dar as boas-vindas aos
representantes da EMBRAPA Nordeste.
A EMBRAPA é a principal referência de pesquisa no Brasil. Na Comissão de
Agricultura, todos os anos, procuramos, de uma maneira ou de outra, consignar
recursos no Orçamento da União para ajudar o trabalho da EMBRAPA. E o Brasil
agradece.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Hoje, nosso País é um dos maiores produtores de soja do mundo e, neste
ano, foi o maior exportador de soja do planeta. E isso, sem dúvida alguma, devemos
ao trabalho que a EMBRAPA realizou, porque todos sabem que o Cerrado brasileiro
praticamente não tinha nenhuma utilidade, e, hoje, o Centro-Oeste é a região que
mais cresce em matéria de produção agrícola no País, graças ao trabalho
desenvolvido pela EMBRAPA.
Na Região do Nordeste, principalmente nos Estados do Ceará e do Piauí, os
agricultores, em especial os agricultores familiares, têm no cajueiro-anão precoce —
pesquisa desenvolvida pela EMBRAPA — a sua principal fonte de renda.
Estivemos, na semana passada, com o Ministro Roberto Rodrigues no Piauí e
visitamos vários municípios produtoras de caju. Na ocasião, eu disse ao Ministro —
e a Sra. Maria Pinheiro, representante da EMBRAPA no Piauí e aqui presente, pode
me desmentir se eu não estiver falando a verdade: “Ministro, o programa mais
importante do Presidente Lula é o Fome Zero, programa de uma sensibilidade e de
uma dimensão humanas muito significativo. Mas eu digo para V.Exa.: no Piauí, o
agricultor que tiver apenas 2 hectares de caju ou 20 colméias e disser que está
passando fome, de duas, uma: ou ele é um grande preguiçoso ou ele é um grande
mentiroso. Só isso daí já lhe dará renda suficiente não para não passar fome, para
viver com a cabeça erguida e com dignidade”.
Esses são alguns trabalhos entre os inúmeros que devemos à EMBRAPA.
Por isso, estamos fazendo este seminário em homenagem aos grandes e
bons serviços que a EMBRAPA prestou, está prestando e com certeza prestará ao
Brasil. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Como, pelo protocolo, eu
tinha que falar sobre o evento e já o fiz, vamos agora aos trabalhos, que estão um
pouco atrasados.
Esta reunião se prolongará até às13h, 13h30min ou, no máximo, às 14h,
porque nesse horário os Governadores do Nordeste se reunirão, no Auditório do
Anexo IV, com a bancada do Nordeste. Portanto, nosso limite será 14h. Não haverá
pausa para o almoço.
Passo a palavra ao Sr. Clayton Campanhola, Presidente da EMBRAPA, a
homenageada. Como idealizador deste evento, sinto-me muito feliz pela participação
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de todos, principalmente dos cientistas e técnicos da EMBRAPA e dos
Parlamentares e assessores desta Casa.
Em relação à cultura do caju, o trabalho da EMBRAPA toca muito a minha
terra, o Ceará, e m tido um avanço muito grande nesse setor — o Estado saiu de
uma produtividade de 200 quilos por hectare para 800 a mil quilos. No que se refere
à criação de caprinos e de ovinos, o Centro que funciona no Ceará também
importante desenvolvimento seja quanto à cadeia produtiva, com melhoramento
genético, seja quanto a pastagens.
O mesmo se diga no combate à desertificação, tudo isso voltado para a
agricultura familiar, com objetivo de aumentar a renda da população, como disse o
Deputado Marcelo Castro.
Não posso deixar de também ressaltar o trabalho imenso dessa empresa no
campo da irrigação em Petrolina e Juazeiro, onde existe forte agronegócio instalado
em virtude das ações desenvolvidas pela EMBRAPA.
O Centro Meio Norte, no Piauí, com a agricultura familiar, a apicultura e outras
atividades, tem sido também um exemplo para aquela região.
Igualmente, não posso deixar de me referir ao Centro Mandioca e Fruticultura
de Cruz das Almas, com a possibilidade, inclusive, de fazermos o pão crioulo, com a
adição da fécula da mandioca na farinha de trigo. Além de possibilitar a substituição
da importação de farinha de trigo, fazendo com que o Brasil aumente seu superávit
na balança comercial, o aproveitamento da mandioca dará uma conotação toda
especial aos programas de merenda escolar e de combate à fome do Governo
Federal.
Quero ainda destacar o Centro de Pesquisa de Aracaju, que tem trabalhado
na cultura do coco e em outras atividades. Há pouco, eu conversava com Secretário-
Executivo do Ministério da Agricultura, Dr. José Amauri Dimarzio, sobre a Portaria nº
70. Há uma grande preocupação com a importação de coco ralado, porque isso
ocasiona prejuízos à indústria instalada no Nordeste. Isso também pode funcionar
em relação a qualquer outro produto, como a castanha de caju, mas o que nos
preocupa hoje é a questão do coco ralado. Temos de examinar isso. Aliás, Sr.
Secretário, se puder, no pouco tempo que vai ficar conosco, por afazeres
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profissionais inerentes ao cargo que ocupa, gostaria que nos passasse mais
informações sobre essa questão.
Sem mais delongas, passo a palavra ao Presidente da EMBRAPA, Clayton
Campanhola, para sua intervenção. Em seguida, entraremos na programação do
seminário.
Cada Centro terá 20 minutos para a apresentação do seu trabalho, enfocando
principalmente o que está gerando de renda e emprego as pesquisas realizadas
pela EMBRAPA.
O SR. CLAYTON CAMPANHOLA - Caro Deputado Roberto Pessoa,
Coordenador da Bancada do Nordeste da Câmara dos Deputados; caro Amauri
Dimarzio, Secretário-Executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento; caro Paulo Bracarense, representante do Ministério da Ciência e
Tecnologia; Deputado Marcelo Castro; meus companheiro da Diretoria, Mariza e
Gustavo; meus colegas e companheiros chefes das unidades descentralizadas da
EMBRAPA; demais autoridades, senhoras e senhores, constitui um prazer muito
grande a oportunidade de vir a esta Casa apresentar os resultados obtidos na
Região Nordeste, onde temos 7 unidades da EMBRAPA. Em termos quantitativos, é
uma região bastante representativa.
Temos gerado muitas informações e resultados relevantes, os quais muitas
vezes não têm sido adotados pelo setor produtivo, principalmente pelos agricultores
familiares, em razão das políticas praticadas nos últimos anos.
É uma grande oportunidade não só apresentar o que a EMBRAPA tem
gerado, mas também oferecer informações, de modo que a agricultura familiar e o
setor produtivo possam ser tratados de maneira diferenciada.
Temos afirmado incessantemente que a Região Nordeste é prioridade muito
forte da EMBRAPA, principalmente nas áreas onde há problema de oferta de
alimentos, onde a empresa pode, por intermédio do desenvolvimento da agricultura
familiar, trabalhar mais efetivamente a questão da segurança alimentar,
especificamente na fase mais estruturante do programa de combate à fome.
Na verdade, estão presentes todos os chefes das 7 unidades da EMBRAPA
da Região Nordeste. Cada um vai fazer sua apresentação. Trabalhamos em equipe,
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e quem na verdade move a máquina da empresa e gera resultados não somos nós,
de Brasília, nem a sede da empresa, mas, sim, as unidades descentralizadas.
Fizemos questão de trazer cada um deles, para que eles mesmos sejam os
portadores dos resultados gerados — inclusive eles têm informações mais
detalhadas sobre as tecnologias e conhecimentos acumulados ao longo dos 30 anos
da EMBRAPA.
Passo a palavra, então, ao Dr. Francisco Ferrrer Bezerra, Chefe da Embrapa
Agroindústria Tropical; em seguida, falará o Sr. Aurino Simplício, Chefe da Embrapa
Caprinos; após, a Sra. Maria Pinheiro Correa, Chefe da Embrapa Meio Norte;
depois, o Sr. Paulo Roberto Coelho Soares, Chefe da Embrapa Semi-Árido, em
Petrolina; na seqüência, o Sr. Mário Augusto Pinto da Cunha, Chefe da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas, na Bahia; depois, o Sr. Lafayette
Franco Sobral, Chefe da Embrapa Tabuleiros Costeiros, localizado em Aracaju, e
finalmente, mas não menos importante, o Sr. Eleusio Curvelo Freire, Chefe da
Embrapa Algodão.
Eu agradeço muito a oportunidade, Sr. Deputado, de vir a esta Casa prestar
contas à sociedade sobre o que a EMBRAPA tem gerado na Região Nordeste.
Gostaria de antecipadamente pedir desculpas, porque às 12h15min terei de
me retirar, porque farei uma viagem ao Rio para assinar um convênio com o BNDES
e a PETROBRAS sobre a questão dos biocombustíveis, pois a EMBRAPA tem
grande participação na expansão de fronteira agrícola das culturas oleaginosas.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Agradeço ao Dr. Clayton
Campanhola, Presidente da EMBRAPA, as palavras.
Será fundamental o convênio que ele assinará no Rio de Janeiro sobre a
questão do biodiesel, inclusive quanto ao uso da mamona. No meu modo de ver, a
instituição do programa de biodiesel será a maior reforma agrária que o Governo
Lula poderá fazer. Mas tem de haver a garantia de que a PETROBRAS comprará o
produto; senão, vamos incentivar o produtor a plantar e ele não vai ter a quem
vender.
Na minha fala, esqueci-me de comentar rapidamente a respeito da EMBRAPA
Algodão, de Campina Grande. Tenho próxima relação com a instituição, e quero
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enaltecer o trabalho que desenvolveu no sentido de aumentar a produtividade do
algodão herbáceo, com o MH, e de outras variedades, e da cultura do algodão em
cores. Inclusive, lá existem 3 mil hectares plantados de algodão colorido, o que dá
uma renda bem maior à agricultura familiar.
Concedo a palavra ao Dr. José Amauri Dimarzio, Secretário0Executivo do
Ministério da Agricultura, para as considerações sobre este momento em que a
bancada do Nordeste homenageia os 30 anos da EMBRAPA e para responder à
minha indagação sobre coco ralado.
O SR. JOSÉ AMAURI DIMARZIO - Caro amigo Deputado Roberto Pessoa;
Deputado Marcelo Castro; Dr. Paulo Bracarense, do Ministério da Ciência e
Tecnologia; caro amigo Clayton Campanhola, senhoras e senhores, colegas da
EMBRAPA/ Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, permitam-me, já
que sou Presidente do Conselho de Administração da EMBRAPA, venho da
iniciativa privada e também sou agrônomo, empresário — e o melhoramento
genético sempre foi a minha vida —, neste momento, agradecer a homenagem
prestada à EMBRAPA pela bancada do Nordeste. Esse reconhecimento para todos
nós é muito importante, principalmente para o Brasil.
A demonstração a que assistimos no hall de entrada dá uma pequena idéia
do grande valor do dessa empresa, a maior de pesquisa tropical do mundo, para
nós, brasileiros. Acompanho o desenvolvimento da EMBRAPA desde o seu
nascimento. Tive a oportunidade de participar de vários workshops para a
construção deste momento que vivemos.
Como gestor no Ministério da Agricultura, nesses quase 8 meses que tenho
acompanhado a implementação de uma gestão empresarial, quero deixar um alerta
ao Congresso Nacional para a necessidade de, ao votar o Orçamento do próximo
anos, entender que o agronegócio não pode ter um orçamento contingenciado,
como é o da EMBRAPA. Sofremos muito com essa dificuldade. Ao final do ano,
vemos que dispomos dos recursos planejados, mas que são todos liberados fora de
hora, o que prejudica muito o desenvolvimento da pesquisa e qualquer negócio ou
atividade sazonal.
Como ex-Ministro da Agricultura, Deputado Francisco Turra, V.Exa. sabe que
o orçamento dessa Pasta tem de ser sazonal. Há meses em que demandamos
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maior volume de recursos e outros em que demandamos menos. Como dizemos na
iniciativa privada, esse fluxo de caixa tem de ser observado.
Duas áreas vitais para o País foram muito prejudicadas este ano: em primeiro
lugar, a pesquisa da EMBRAPA; em segundo, a defesa agropecuária. Mesmo nas
piores circunstâncias, esses 2 setores não podem ser contingenciados.
Deputado Roberto Pessoa, mais importante do que o coco ralado é não
ralarmos a pesquisa e a defesa agropecuária. Tenho muito orgulho de batalharmos
juntos e de apoiarmos o trabalho da EMBRAPA.
Com o apoio do Presidente Clayton Campanhola, vamos instalar algo que vai
contribuir muito para o desenvolvimento do Nordeste como um todo, o Agroshow do
Semi-árido, localizado na Estação Experimental da EMBRAPA em Petrolina.
(Palmas.)
Observando o desenvolvimento do agronegócio brasileiro nos últimos 10
anos, percebemos 2 fatores muito importantes: o crescimento do plantio direto na
palha, com uma resposta da produtividade a cada ano; e o agroshow como evento
que difunde tecnologia. O agroshow teve início em Ribeirão Preto, 10 anos atrás,
com a presença de 10 mil pessoas; este ano tivemos a presença de 150 mil
pessoas. Nesses eventos, são apresentadas as tecnologias e as dinâmicas. Ao
semi-árido vamos levar toda a biblioteca tecnológica da EMBRAPA.
Existem dezenas de tecnologias baratas, sem limitação, que não estão
chegando aos produtores e agricultores familiares. Queremos incentivar a indústria
de mecanização. Portanto, vamos mostrar como vive o homem no campo no semi-
árido e vamos aplicar várias tecnologias para mostrar onde ele pode chegar. Além
disso, na outra parte da fazenda, haverá tecnologias mais avançadas, que é o sonho
dele.
Portanto, peço o apoio da bancada do Nordeste para a realização desse
evento. Estamos trabalhando arduamente. Não vai ser fácil, porque não estamos
objetivando o lucro — nosso maior lucro vai ser o lucro social. Vamos fazer a
inclusão dos produtores do semi-árido nordestino, esse é um legado que
pessoalmente queremos deixar.
Com relação ao coco ralado, esse foi um assunto muito debatido. Existia uma
legislação que proibia a entrada sob a justificativa de limitação de pragas, mas, na
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verdade, o assunto técnico invalidava essa postura. Os importadores sempre
entravam com mandado de segurança e importavam normalmente, o que gerava
grande ônus para o País. A cada mandado de segurança, eram demandados
advogados, documentos, custos, mas, na prática, nada se resolvia. Então, a questão
ficou mais no plano psicológico do que no real. Estamos atentos — e sempre
abertos ao diálogo — para evitar que isso prejudique o setor.
Parabenizo os técnicos da EMBRAPA. Vamos todos continuar nessa
vibração, porque assim iremos muito longe.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Com a palavra o Dr. Paulo
Bracarense, representante do Ministro Roberto Amaral.
O SR. PAULO AFONSO BRACARENSE - Deputado Roberto Pessoa, trago o
abraço pessoal do Ministro Roberto Amaral, extensivo ao Deputado Marcelo Castro,
ao Dr. Amauri Dimarzio e ao Dr. Clayton Campanhola, a quem hoje conheço
pessoalmente mas já há muito tempo o Ministério da Ciência e Tecnologia tem na
EMBRAPA um dos seus principais parceiros.
Estivemos recentemente com o Dr. Francisco Bezerra e visitamos outra
unidades da EMBRAPA no Nordeste. E o Ministro Roberto Amaral, não só por sua
origem cearense, mas também por sua visão acerca da necessidade de o País
desconcentrar os investimentos em ciência e tecnologia, nos determinou, como
Assessor para Ações Regionais, que junto ao FINEP e ao CNPq fizéssemos todos
os esforços possíveis para cumprir a legislação que designa, pelo menos, 30% dos
investimentos em ciência e tecnologia para as Regiões Norte, Nordeste e Centro-
Oeste.
Ainda não alcançamos, com os fundos setoriais, metade do valor pretendido,
mas temos trabalhado com o Ministro e sua equipe no sentido de reforçar essas
aplicações, em particular nos programas tecnológicos de arranjos produtivos locais,
de agricultura familiar e de tecnologias apropriadas. E não se pode deixar de pensar
em tecnologias apropriadas e desenvolvimento de tecnologias próprias para as
regiões, em especial para o semi-árido, onde o Ministro tem trabalhado na
organização de um grande instituto que consiga congregar todos os institutos de
pesquisa e universidades do Nordeste — e, com certeza, a EMBRAPA terá papel
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fundamental de liderança na organização desse instituto — , sem o conhecimento
adquirido pela EMBRAPA ao longo de sua existência.
Portanto, Sr. Deputado, eu saúdo os representantes da EMBRAPA na pessoa
do Dr. Clayton Campanhola e desejo muito sucesso a este seminário.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Antes de passar a palavra
ao primeiro expositor, registro a presença do Deputado Francisco Turra, PP do Rio
Grande do Sul, ex-Ministro de Estado que também estabeleceu forte parceria com a
EMBRAPA, do Deputado Moacir Micheletto, PMDB do Paraná, e do Deputado
Leônidas Cristino, PPS do Ceará.
Concedo a palavra ao Dr. Francisco Ferrer Bezerra, Chefe da Embrapa
Agroindústria Tropical.
Em razão do nosso atraso, o tempo de cada expositor passou a ser 15
minutos, uma vez que às 14h, impreterivelmente, temos de encerrar esta sessão.
O Dr. José Amauri está viajando agora para Montevidéu. Agradeço, em nome
de todos os nordestinos e em nome da EMBRAPA, a sua presença.
O SR. FRANCISCO FERRER BEZERRA - Bom-dia a todos.
Cumprimento os Srs. Deputados na pessoa do Deputado Roberto Pessoa, os
colegas da EMBRAPA, os Chefes dos Centros e as senhoras e senhores presentes.
(Segue-se exibição de imagens.)
Trago para este plenário informações a respeito da agroindústria tropical com
vistas a agregação de valor e ao desenvolvimento sustentável da nossa agricultura.
Aqui é um Nordeste dinâmico, como estamos chamando. Esse aqui é o Vale
do São Francisco, com pólo de fruticultura, pólo de grãos, pólo de turismo, pólos
industriais e serviços modernos, e o pólo Carajás.
Esse slide nos induz à concentração preconizada pela instituição da nova
SUDENE e que estaria dentro desse contexto de agronegócio: soja, caju, flores,
carcinicultura, apicultura, carnaúba, vinicultura, laticínio, sisal, cacau,
ornamentagem, agronegócio que tem crescido assustadoramente, principalmente no
Ceará, e pólo médico.
A cultura do camarão também tem desenvolvido no Ceará, no Rio Grande do
Norte e no Piauí.
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Então, nossa base desses arranjos produtivos é onde propomos a parte de
processamento de tecnologia e de geração de tecnologia, a que muito dos Centros
farão referência no que diz respeito à parte agrícola e à parte pecuária.
Isso aqui é uma informação do Centro de Pesquisa em Agroindústria Tropical,
localizado em Fortaleza, Estado do Ceará.
Aí a agroindústria com conceito amplo. Nessa proposta de trabalho, estamos
prevendo agregação de valor, orientação para o consumidor final, ambiente
institucional e organização, o que afeta diretamente o sistema de agronegócio na
Região Nordeste.
O Centro de Pesquisa tem a missão de gerar tecnologia e transferência de
conhecimentos em benefício da sociedade.
Aqui estabelecemos os focos. O foco castanha de caju, o foco bebida,
conserva, frutas.
Aqui exemplo com caju e flores ornamentais.
São os 5 focos que o nosso Centro prevê no desenvolvimento desses
agronegócios. Posteriormente, vamos falar sobre eles.
Temos um intercâmbio científico que praticamente envolve todos os Estados
brasileiros, com ênfase no Nordeste: Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás, Espírito Santo, Paraná, Amazonas, Roraima, Acre e Pará.
E, na parte internacional, com referência à de troca de conhecimento e até de
consultoria externa, com esses países: Inglaterra, Estados Unidos, França, Itália,
Espanha, Portugal, Peru, Colômbia, Costa do Marfim. Os países da África e da
América Central são os que mais demandam a tecnologia desse Centro no que diz
respeito a caju.
Qual a rede que temos de amparo de laboratório? Temos água, solo e
processos agroindustriais. Aqui, Deputado Roberto Pessoa, está o coco. Estamos
fazendo um trabalho com a União Européia tendo como base a Áustria, onde está se
fazendo uma integração para a água de coco ser introduzida nos 15 países da
comunidade européia.
Recentemente, fizemos visita a Alagoas, Sergipe, Ceará, e fechamos com
uma discussão de que participaram EMBRAPA, Ministério da Agricultura, Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
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Fisiologia e tecnologia pós-colheita. Entomologia.
Aí são mais 5 laboratórios: fitopatologia, análise sensorial, cultura de decido,
no auxílio tanto à parte de pesquisas quanto a produção de mudas, bioprocesso e
microbiologia de alimentos.
Qual a competência instalada que tem esse Centro? Tem a parte de
melhoramento vegetal, propagação vegetal, sistema de produção, manejo de
irrigação, zoneamento da ação climática, entomologia e fitopatologia, fisiologia
vegetal, pós-colheita, tecnologia de alimentos, processos agroindustriais,
embalagem e conservação, economia e transferência de tecnologia.
Qual o efetivo de pessoal? Temos 70 pesquisadores, dos quais 31 são
doutorados e 38 estão na parte de doutoramento. Temos apoio à pesquisa, 102
empregados. Estagiários e bolsistas, principalmente oriundos dos CEFETs e das
universidades, tanto do Ceará, a UNIFOR, quanto das Universidades do Piauí, da
Paraíba e do Rio Grande do Norte, totalizando um total de 347 empregados. Dos
estagiários e bolsistas, 62 não têm carteira assinada. São bolsistas do CNPq, do
FINEP, de outras instituições das próprias universidades e dos CEFETs.
Demandas agregadas. Embrapa Agroindústria Tropical. A visão.
É agregável o valor à matéria-prima para o consumo de mesa e para o
consumo industrial. Os senhores viram há pouco, no stand instalado no hall desta
Casa, em relação ao caju, a parte do consumo de mesa.
Desenvolvimento de equipamentos e processos. Aprimorar a competitividade
do agronegócio do caju e toda a cadeia produtiva; implementar programas e formar
multiplicadores para orientar os agentes produtivos sobre normas e regulamentos do
processo de produção agrícola e social e subsidiar a formulação de políticas
públicas.
Aqui vem o FNE e algumas ações da EMBRAPA. Não é missão dela, mas ela
dá apoio à parte de subsídio, à formação das políticas preconizadas pelos Governos
Estaduais e Municipais.
Agregação de valor e adequação da matéria-prima.
Qual o portfolio tecnológico que temos dentro desse tema? Temos
conservação de recurso genético, identificação de propagação de material genético,
micropropagação de ananás — o ananas lucidus, que é um abacaxi ornamental —,
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a determinação do ponto de colheita, o desenvolvimento de variedades híbridas, a
adequação do sistema de produção de pimenta, manuais técnicos.
Todos essas tecnologias estão sendo aplicadas em escala ou pontualmente,
cabendo política do Estado ou do município multiplicar isso como forma de fortalecer
o agronegócio naquela região, naquele município ou naquele Estado.
Um exemplo desse trabalho é o abacaxi ornamental, cujo fator crítico de
sucesso era o volume de produção e a padronização do material genético. Já existe
trabalho a respeito, inclusive com o apoio do SEBRAE e do Banco do Nordeste, que
têm sido um aliado nosso no que diz respeito à multiplicação dessa tecnologia — a
EMBRAPA através do PATME
Outro tipo de resultado são equipamentos, processos, produtos
agroindustriais.
Há uma macroestrutura da água de coco verde, que já está funcionando em
Paraipaba. Estamos dando assistência a Quissamã, no Rio de Janeiro, a Itapuã, na
Bahia, e a empresas do Pará que desejam envasar água para o consumo da
comunidade. Nesse caso, em vez de transferirmos o coco, estamos transferindo a
água de coco para garrafas PET ou para caixas Tetra Pak.
Bebidas fermentadas e frutos. Os senhores podem ver que está compatível
com aqueles 5 focos que apresentamos.
Obtenção de pigmentos naturais para uso industrial. Um dos problemas que
temos hoje diz respeito a pigmentos artificiais como aditivo nos produtos distribuídos
nas redes de supermecados.
Aproveitamento industrial do resíduo do coco verde. Com esse projeto,
estamos concorrendo hoje no Banco Mundial. Foram apresentados 2.721 projetos e
foram eleitos 186 em âmbito nacional. Entre esses 186, um é do nosso Centro. Esse
projeto vê a parte social com barraqueiros e catadores de casca de coco verde.
Aqui é um processo já em domínio: as minifábricas de processamento de
castanha. Estamos fazendo agora um trabalho que envolve o Piauí, o Ceará, o Rio
Grande Norte e, posteriormente, o Maranhão, Pernambuco e Bahia.
Esse projeto está sendo financiado pela Fundação Banco do Brasil. A
EMBRAPA é a gestora tecnológica desse processo e o SEBRAE é responsável pela
parte de organização e administração. As Secretaria de Agriculturas, as federações
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e os outros órgãos vinculados à agricultura estão comprando esse projeto, que teve
a doação de 1 milhão de reais por parte da Telemar. Mas a visão completa dele,
para 2 anos, tem a previsão de 4,5 bilhões de reais, e a administração financeira
será feita diretamente pela Fundação Banco do Brasil.
Competitividade do agronegócio caju. O que relatamos como ponto
importante para esse agronegócio? Clone de cajueiro-anão precoce. Hoje, eu diria,
sem medo de errar, que o agronegócio caju divide-se em antes do clone e depois do
clone. Esses clones, em número de 8, já estão disponíveis no mercado. Hoje, já se
está fazendo a renovação e a expansão dos pomares com esses clones no Piauí, no
Rio Grande do Norte, no Ceará e na Bahia. O Dr. João Leão não está presente, mas
quero informar que já estamos abrindo no oeste baiano a atividade com o caju.
Festirrigação, substituição de copa — outra atividade feita e, caju —, controle
de pragas e doenças e aproveitamento do pedúnculo, um dos calos que temos, pois
hoje perdemos 90% do pedúnculo produzido. Na semana passada, no Piauí, o
Ministro, acompanhado do Governador do Estado, do Secretário de Agricultura e do
Deputado Marcelo Castro, inaugurou uma fábrica em Santo Antônio de Lisboa para
aproveitamento do pedúnculo. Outras fábricas também estão sendo trabalhadas
tanto no Rio Grande do Norte, a SEVAP, como também no Ceará. São pequenas
fábricas, além de outras grandes, como a Jandaia, a Da Fruta e a Maguary.
Os equipamentos de minifábricas, como os senhores viram naquela parte
fazem parte do projeto social que temos: agroindústria familiar, boas práticas de
fabricação de amêndoa e de pedúnculo, proteína unicelular, ações de transferência
de tecnologia e participação da plataforma caju. Mais adiante, vou dar um exemplo
de como anda esse processo regional.
A cajuína também já é um processo financiado pelo SEBRAE, por intermédio
do PATME. Nós a estamos padronizando com os materiais desses clones,
principalmente aqueles que têm o maior grau Brix, como é o caso do CCP 76, que
tem entre 10 a 12 graus Brix.
Aqui é o PATME, um trabalho do SEBRAE. O fator crítico é a padronização
da matéria-prima do pedúnculo, cujos valores de tanino, que são adstringentes, na
verdade são mais baixos nesse clone produzido pela EMBRAPA.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Capacitação de multiplicadores. Isso aqui é uma norma que a EMBRAPA tem
adotado no seus Centros de Pesquisas, porque ela não tem capacidade de...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Dr. Ferrer, peço-lhe que
observe o tempo, porque já vai...
O SR. FRANCISCO FERRER BEZERRA - Ainda faltam quantos minutos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Dois minutos.
O SR. FRANCISCO FERRER BEZERRA - Minha fala tem 10 minutos e
V.Exa. me concedeu 15.
Tratamento de pós-colheita, padrões de identidade e qualidade de queijo.
Esse slide mostra como é feita a produção de queijo e manteiga da terra,
manteiga de garrafa, atividade que está dando um trabalho para gente na parte de
consumo in natura. Estamos trabalhando em 2 queijarias: uma no Rio Grande do
Norte, como padrão, e outra no Ceará.
A formulação de políticas. Como eu falei, é o FNE, o PPA, a FAO, o COB, a
zona livre de moscas, que é um programa forte do Ministério da Agricultura.
Um exemplo disso é a padronização de polpa, que fizemos com o apoio do
SEBRAE. O fator crítico é a parte de padrões de qualidade, com a contaminação da
linha industrial. Esse é um dos grandes problemas para as minifábricas de polpa da
Região Nordeste.
Por último, Deputado Roberto Pessoa, eu gostaria de trazer a seguinte
mensagem para V.Exas., para os colegas e para os demais participantes: a parte da
plataforma caju se está desenhando para funcionar de 2004 a 2007. Traçamos um
cenário para a Região Nordeste de 100 mil hectares, para os quais prevemos a
produção de 80 mil toneladas castanha, exatamente a média de produtividade a que
se referiu o Deputado Marcelo Castro — 800 quilos por hectare —, redundando 16
mil toneladas de ACC e 16 mil toneladas de castanha de caju.
Esses 100 mil hectares serão responsáveis pela metade do que hoje é
produzido pelos 650 mil hectares do Nordeste. Temos 650 mil hectares de caju
plantados no Nordeste. Com apenas 100 mil hectares e com o pacote tecnológico da
EMBRAPA, vamos produzir metade. Hoje, só a atividade castanha dá para a Região
Nordeste algo em torno de 150 milhões de dólares. Varia entre 120 a 150 milhões,
dependendo do mercado internacional.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Agora, fizemos um cenário com a base no aproveitamento de 30% pedúnculo,
do qual se aproveita a parte de mesa — os senhores viram lá no stand —, a parte de
sucos e bebidas — também viram alguma coisa de cajuína e de refrigerante de caju
—, a parte de doce e a parte de cristalizado, que representam 7%; e a ração animal,
um trabalho que estamos desenvolvendo com a Universidade Federal do Ceará e
com a empresa de pesquisa do Rio Grande do Norte.
Esse cenário já foi apresentado ao Ministro Roberto Rodrigues, com a
presença de 2 Deputados da bancada do caju, inclusive o Dr. Marcelo Castro. E está
sendo programada uma proposta para a Região Nordeste que será apresentada ao
Ministro Ciro Gomes. Isso é muito importante para o fortalecimento do agronegócio
caju. Esse produto, em plena seca, está empregando gente. Qual é a fruta que em
plena seca emprega gente, inclusive com sustentação da agricultura familiar e em
grande escala de produção?
Sr. Deputado, concluo minha fala em exatos 14 minutos, 30 segundos e 2
décimos.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Vamos fazer uma
pequena interrupção, o que deveria ter sido feita no começo desta reunião.
A bancada tem como costume homenagear a personalidade que participa da
reunião com uma imagem de Padre Cícero, o Patrono da Bancada do Nordeste.
Peço ao Deputado Leônidas Cristino para fazer a entrega da imagem ao
Presidente da EMBRAPA, Dr. Clayton Campanhola. Como ele não está presente,
nós a entregaremos à Sra. Mariza Barbosa, Diretora da EMBRAPA.
Com a palavra o Dr. Aurino Alves Simplício, da unidade EMBRAPA Caprinos,
que também dispõe de 15 minutos.
O SR. AURINO ALVES SIMPLÍCIO - Bom-dia a todos.
Peço permissão para fazer referência ao Deputado Nélio Dias, Presidente da
Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos, com sede no Ceará, presente no
plenário. É um prazer reencontrá-lo, Nélio.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Deputado Nélio, seja
bem-vindo. V.Exa. é um batalhador pelo segmento.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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O SR. AURINO ALVES SIMPLÍCIO - O tempo é extremamente limitado, mas
tentaremos mostrar aos senhores e as senhoras um pouco do agronegócio da
caprino-ovinocultura.
(Segue-se exibição de imagens.)
A unidade nasceu em 1975 e nossa abrangência é o território brasileiro. Não
é simples estar no Ceará e ocupar o Brasil. Nosso quadro é de apenas 150
membros, com 40 pesquisadores e a nossa missão é trabalhar soluções
tecnológicas para o desenvolvimento. Este é o Brasil da caprino-ovinocultura, tendo
o Nordeste a primazia de concentrar 94% da população caprina e 55% da população
ovina.
Hoje, a caprino-ovincultura é atividade de todo o País, com crescimento
extremamente forte nas Regiões Centro-Oeste, Norte e Sul.
Aqui a população caprina e ovina por Estados na Região Nordeste, cujos
líderes são Bahia, Piauí, Pernambuco e Ceará.
O foco da cadeia produtiva da caprino-ovinocultura é o consumidor final,
porque, em resumo, se tivermos juízo e os pés no chão, hoje quem manda no
negócio é o cliente e não quem está produzindo, ou o fornecedor do insumo, ou o
transformador do produto. Chamo a atenção dos senhores para as inúmeras
possibilidades que temos de produção com caprinos e ovinos, desde leite e seus
derivados até o uso de urina no controle de pragas na horticultura. Trabalhar com
caprino-ovinocultura, na nossa visão, é trabalhar mercado, seja ele real ou potencial,
entendendo que esse mercado tem de estar focado em função de objetivos claros,
metas e estratégias bem concebidas, visando ao retorno econômico e social da
atividade e ao respeito às condições do ambiente.
Aqui estão alguns pontos extremamente importantes, se nós quisermos dar
valor, avançar na caprino-ovinocultura, entendendo que a relação custo/benefício
das nossas atividades deve ser um parâmetro básico. Por exemplo, o leite de cabra,
mostrando o quanto é rico, quando comparado com outros leites, desde a espécie
humana até a eqüina. Em proteína, por exemplo, a caprino-ovinocultura leiteira tem
uma vantagem fantástica: em gordura, o leite de ovino se destaca; em lactose;
cinzas e água mais ou menos se eqüivalem. Obviamente que o leite de cabra tem
caraterísticas fantásticas no que tange à fácil digestão, tamanho dos glóbulos de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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gordura, tamanho da cadeia dos ácidos graxos e uma melhor tolerância pela
ausência de substâncias que causam alergia.
Aqui nós temos algumas indústrias da espécie no Brasil, desde o Rio Grande
do Norte até Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo, que já adquirem leite de
cabra. E aqui está o destino desse leite de cabra.
São 6 tipos de carne: ovino lanado, ovino deslanado, bovino, suíno, caprino e
frango. Observem o quanto a carne caprina se assemelha à carne do frango no que
tange a calorias, gordura, gordura saturada, proteína e ferro. Certamente, num
mundo em que todos querem ser magros e morrer tardiamente, devemos caminhar
em direção ao incentivo do consumo de carne de caprinos. Isso pode ser um grande
instrumento de marketing. E temos aqui um destaque à carne dos nossos ovinos
deslanados no que tange à gordura, apenas 2,2 gramas, se comparada com 8
gramas de gordura saturada no caso do ovino lanado.
Aqui nós temos a estrutura agroindustrial instalada no Nordeste.
Lembro aos Srs. Deputados que muitas vezes se discute a instalação de
indústrias sem se considerar realmente se elas estão devidamente localizadas.
Observem que o nível de utilização das nossas indústrias é extremamente baixo.
Certamente, isso se deve também à questão da logística de localização dessas
indústrias para beneficiar caprinos e ovinos, no que tange ao abate.
Vejam o senhores e aqui está uma das grandes razões, se fizermos uma
relação, por exemplo do ano 2000, entre a quantidade de abate oficial no País e a
quantidade de pele comprada, temos que 97% de todos os abates de caprinos e
ovinos no Nordeste do Brasil acontecem na clandestinidade.
Senhores, aqui está o principal desafio da caprino-ovinocultura: organizar as
cadeias produtivas. Nada adianta fazer, se não enfrentarmos essa questão.
Aqui nós temos um crescente na importação de ovinos, de 1992 a 2000.
Observem que eram 119 toneladas importadas e passaram para 6 mil toneladas. Em
1992, importamos 163 toneladas de carcaça de burrego e depois 278, e de carcaça
de adulto de 2 mil toneladas para 8 mil toneladas.
O Brasil é um país comprador de ovino. Na prática, não produzimos a carne
de ovino que consumimos. Pior: importamos carne de animal adulto, isto é, carne
que não é de tão boa qualidade quanto a do burrego.
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Aqui a relação de consumo per capita e o preço. Observem que temos em
azul o preço e em vermelho o consumo. Nós temos um alto consumo de carne
bovina e, obviamente, o preço é lá embaixo, quando se observa o ovino, por
exemplo, tem-se um baixíssimo consumo e, conseqüentemente, o preço maior. Essa
é uma relação normal em qualquer situação de negócio. Nós precisamos reverter
esse quadro a fim de popularizar mais o consumo dessa carne.
Isso aqui é o que temos de exportação e importação. O saldo comercial
brasileiro em milhões de dólares de peles de ovinos e caprinos. Observem que no
caso temos um déficit negativo, isto é, estamos comprando mais peles do que
vendendo, quando deveríamos estar vendendo mais peles do que comprando. Uma
das razões disso também é que o Brasil, infelizmente, exporta pele na condição de
fresca ou de wet blue, e na realidade compra pele semi-acabada ou acabada. Então,
vende-se uma pele por 3 dólares para comprar outra por 22 dólares.
Aqui vai na mesma linha, só que pele caprina. Observem também que
estamos em déficit e o raciocínio é exatamente o mesmo. Nós precisamos produzir.
Para os senhores terem idéia, uma das razões dessa necessidade é que de 100
peles que chegam à agroindústria brasileira apenas 60% delas são aproveitadas. Os
40% restantes vão para o lixo devido a diversas razões.
Temos aqui o parque industrial. Algumas unidades instaladas no Nordeste
para beneficiamento de peles. Observem que todas funcionam com 50% ou menos,
exceto uma em Parnaíba, que tem 75% da sua capacidade de utilização ocupada.
Todo o resto vem abaixo.
Observem que a pele de caprinos e ovinos é o produto que mais suporta valor
agregado. No caso do caprino, uma pele de 2,9 em estado in natura, quando
beneficiada, manufaturada, vale 21 dólares. Então, é um produto que suporta muito
o valor agregado.
Na nossa visão, pele não pode ser vista como subproduto, e sim como
produto de primeira linha. Com o ovino, uma pele de 3,5 dólar num estado in natura
sai por 25,5 dólares. É preciso prestar atenção nisso. Precisamos interferir
fortemente nos sistemas de produção e deixar de pensar que vamos criar caprinos,
porque a vegetação nativa do Nordeste os mantém. Essa é uma falsa verdade.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Aqui um trabalho feito sobre o que acontece com as peles dentro do curtume
em Parnaíba. Analisamos peles com zero defeito e com muitos defeitos; estado 5.
Observem que nenhum curtume compra pele seca; todos eles preferem salgada.
Uma das razões é que na hora em que se compra pele salgada já de cara se
descartam 2 defeitos, ressecamento e ardimento. Observem que as nossas peles,
independente de secas ou salgadas, têm um número excessivo de defeitos.
E pasmem, senhores, porque aqui temos 4 fontes primárias desses defeitos:
a linfadenite caseosa, que é uma doença, uma bacteriose; o fato de a caatinga ter
muitos espinhos e de os animais serem criados nessa caatinga e abatidos em idade
tardia; o uso excessivo do arame farpado, e o homem, que procede o abate e a
esfola.
Vejam como essa pele fica. Não serve absolutamente para nada.
Aqui temos a distribuição da quantidade média de peles beneficiadas, mas
gostaríamos de chamar a atenção para os dados por região. O Maranhão
praticamente não beneficia nada. Temos aqui o Piauí. E aqui temos os empregos
gerados por essas indústrias de beneficiamento de pele. Lamentavelmente o
microfone está cobrindo o número total, do qual não me lembro. Mas aqui está
exatamente o número de empregos. Por exemplo, no Piauí, no Curtume Cobrasil,
temos 320 empregos e, no Europa, 100 empregos.
O que queremos em relação à pele é isso: pessoas bonitas, vestindo e
calçando produtos finos.
Esses são produtos derivados da pele de caprino e ovino. Esse é o nosso
foco, é o que queremos. Dependemos fundamentalmente da organização da cadeia
produtiva, da educação do homem e da mudança do sistema de produção. Temos
que deixar de pensar que, explorando caprino e ovino na caatinga bruta do
Nordeste, do semi-árido brasileiro, que representa 56% da região, iremos resolver a
questão da caprino-ovinocultura de corte.
No que se refere a esterco, hoje os perímetros irrigados do Nordeste são
carentes de esterco. O Secretário de Agricultura de Sobral disse que estava
comprando 1 quilo de esterco a 22 centavos de real. Se compramos 1 quilo de
esterco por 22 centavos de real e 1 litro de leite de vaca por 32, não dá para
pensarmos que esterco é subproduto. Ele passa a ser produto, sim.
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Conseqüentemente, tem que ser bem tratado. Ele é rico em nitrogênio, fósforo e
potássio. Muitas vezes estamos comprando nitrogênio, fósforo e potássio, o famoso
NPK, para adubar um solo que nem mesmo sabemos se é para ser de nitrogênio,
fósforo e potássio, porque não temos uma análise de solo.
Aqui estão, na nossa visão, os grandes desafios: primeiro, organizar a
unidade produtiva à luz do agronegócio — isto é, não importa o tamanho do negócio,
o que importa é a conduta do homem, é o cérebro, é ele pensar como
empreendedor, é pensar como homem de negócio de fato; administrar a unidade
produtiva de forma empresarial; transformar o perfil do caprino-ovinocultor — mesmo
que ele esteja na agricultura familiar, deve estar inserido diretamente no negócio;
qualificar a mão-de-obra, o que é um desafio fantástico, do qual certamente a
EMBRAPA por si só não pode dar conta; mudar e/ou criar hábitos culturais na
população.
Até pouco tempo pensava-se em consumir queijo de leite de cabra, fazendo a
importação da França. Só que esquecemos que brasileiros não têm hábito de comer
queijo fedido, como os franceses. Brasileiro consome leite de cabra, um queijo com
outro sabor, outro cheiro, a exemplo desse que os senhores consumiram hoje aqui.
Continuando, temos ainda que nos preocupar com a melhoria do nível de
escolaridade das pessoas e aferir competitividade ao setor, por intermédio de
produtividade, qualidade do produto, preço do produto compatível com o mercado,
disponibilidade do produto a nível do consumidor e constância na oferta.
A sustentabilidade da caprino-ovinocultura, em nossa visão, passa pelos
seguintes fatores: organização e gestão da cadeia produtiva, em sintonia com o
agronegócio; estabelecimento de políticas públicas voltadas para o incentivo à
produção e à produtividade; consolidação de parcerias entre os diferentes
segmentos das respectivas cadeias produtivas; implementação de barreiras,
principalmente sanitárias, mas também tributárias, para a importação de produtos
derivados da caprino-ovinocultura; qualificação e implementação do uso de
mão-de-obra especializada para prestar assistência técnica aos
caprino-ovinocultores; implementação de programas de assistência técnica, pública
e privada, como subsídio ao crescimento do setor, ao aumento da produção e da
produtividade e incentivo à permanência do homem no campo; desenvolvimento de
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tecnologias que contribuam efetivamente para a sustentabilidade
econômico-ambiente-social do setor em estreita relação com as particularidades das
5 principais regiões geográficas.
Muitas vezes somos levados a pensar que o que se faz no Nordeste deve ser
feito também no Rio Grande do Sul ou vice-versa, mas isso, em pecuária, não é
verdadeiro. Pode valer para algumas culturas agrícolas, mas não no caso de
animais.
Outros fatores são: implementação de programas sustentáveis de exploração
e de controle da produção nas unidades produtivas; implementação de programas
que objetivem a melhoria da qualidade e favoreçam o marketing dos produtos
derivados da caprino-ovinocultura; implantar de forma sistemática e adequada aos
interesses dos produtores das agroindústrias e às condições de cada região;
regulamentação e incentivo público à fabricação de equipamentos compatíveis com
a exploração das espécies caprina e ovina e estabelecimento de políticas de crédito
diferenciadas por categoria de produtores, regiões geográficas e atividade
econômica, bem como revisão das tributações impostas ao agronegócio da
caprino-ovinocultura.
Essas são algumas tecnologias em sanidade caprina e ovina: exploração de
caprinos leiteiros; exploração de leiteiros também na linha de transformação;
caprinos-ovinos de corte.
Só para terem idéia, em 1 hectare de capim irrigado podemos terminar 60
cordeiros, num ciclo de produção de 84 dias.
Essas são as máquinas de fazer carne.
Quanto à reprodução, temos hoje em Sobral os primeiros cabritos do Brasil
nascidos de bipartição de embrião. Quer dizer, de 1 embrião fazemos nascer 2
cabritos. Temos o domínio disso.
Pastagem nativa; produtos e serviços que trabalhamos; e aqui como nos
encontrar.
Senhores, dentro do tempo previsto.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Marcelo Castro) - Obrigado, Aurino.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Concedo a palavra à Dra. Maria Pinheiro Fernandes Correa, Chefe-Geral da
Unidade da EMBRAPA Meio/Norte.
Com muito prazer, o Deputado Roberto Pessoa vai assumir a presidência dos
trabalhos.
Pergunto à direção da EMBRAPA se é possível obter esse material das 7
unidades no site da EMBRAPA ou se dispõe desse material agora. Podem também
enviar por e-mail para os Deputados da Comissão e para outros Deputados, como
eu, que não sou membro. Queria que fosse endereçado ao Deputado Leônidas
Cristino todo esse material que já foi e que ainda será exposto aqui.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Deputado Marcelo Castro,
pelo motivo de a EMBRAPA Centro/Norte funcionar no Piauí, em homenagem ao
Estado, eu presido esta sessão.
A SRA. MARIA PINHEIRO FERNANDES CORREA - Bom-dia a todos.
Procuramos trabalhar o tema proposto: Alternativas Tecnológicas para
Melhorias das Cadeias Produtivas e Geração de Emprego e Fluxo de Renda.
(Segue-se exibição de imagens.)
Gerenciamos a EMBRAPA Meio/Norte, que, para quem não conhece, fica
exatamente entre a Amazônia e o Nordeste. É uma região que se caracteriza por
uma biodiversidade fantástica.
Aqui destacamos alguns ecossistemas predominantes. O cerrado
compreende 21 milhões de hectares. O Piauí tem quase a metade do Estado, cerca
de 152 mil quilômetros quadrados de caatinga.
Nós pegamos uma parte da pré-Amazônia e temos o segundo litoral do País,
com quase 640 quilômetros. Então, esses são os 4 principais ecossistemas.
É uma região típica de transição. Daí essa riqueza em termos de
biodiversidade. A nossa unidade da EMBRAPA tem essa cara, e não podia ser
diferente. Nós trabalhamos também com diversidade de produtos.
A missão da EMBRAPA Meio/Norte é trabalhar a questão do agronegócio, em
termos de geração, adaptação e a parte de transferência e conhecimento de
tecnologia.
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Escolhemos 2 temas, dado à exiguidade do tempo. Optamos em trazer um
modelo que estamos trabalhando há quase 4 anos, no que tange à agricultura
familiar e apicultura.
O enfoque é exatamente mostrar alternativas tecnológicas e de qualificação
dos produtores e multiplicadores, no sentido de gerar fluxo de renda.
A agricultura familiar é altamente diversificada, daí a possibilidade de se ter
fluxo de renda, e não focar somente numa atividade, gerar um salário a partir de
apenas uma atividade.
Há ainda a questão da diversificação alimentar (produção de alimentos) e
redução de risco.
Todos sabemos que a agricultura é uma atividade de risco. Então, esse é um
modelo, uma metodologia de agricultura familiar. A despeito de o modelo ter sido
gerado numa região de transição, ele é aplicável a qualquer ecossistema e
adaptável de acordo com a realidade de cada local. É um exercício que se fez para
integrar, partindo da premissa de que a tecnologia por si só não resolve o problema.
Têm de vir juntos todos os outros benefícios em termos de infra-estrutura.
É um trabalho tipicamente de parceria, que envolve parceria com a Prefeitura
— temos a presença aqui do Dr. Alfredo Nunes, Prefeito do município onde estamos
desenvolvendo esse trabalho e que tem dado toda a cobertura —, com o Banco do
Nordeste e com os demais segmentos. Inclusive o CNPq financiou parte desse
trabalho.
Temos aqui a unidade modelo, onde a EMBRAPA atua junto com outros
segmentos e faz a sua transferência de tecnologia e capacitação. E as unidades que
chamamos de periféricas ou satélites, são de produtores que pertencem a essa
associação. O trabalho é feito em comunidades organizadas. Eles optam por
determinadas atividades. Ora eles trabalham de forma coletiva, ora de forma isolada,
mas sempre pertencendo àquela comunidade.
Por exemplo, se queremos beneficiar a mandioca, não vamos ter uma
unidade de beneficiamento isolada, mas na unidade que pertence às comunidades.
Essa comunidade tem 22 hectares e foi feito um trabalho com 25 famílias. Temos
toda a infra-estrutura para uma unidade de beneficiamento da mandioca, com água
para atender coletivamente, e assim por diante.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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Fizemos inicialmente um diagnóstico para conhecer os indicadores sociais,
ambientais e econômicos. A agricultura que predominava era a itinerante, aquela
que vai desmatando, colocando fogo, passa 2, 3 anos em um local e depois vai para
outro, espera a área recuperar-se — “recuperar”, entre aspas, porque da forma
como fazem, nunca volta ao normal. Não tinham tecnologia nenhuma, o arroz era
quase que nativo, o feijão está plantado aqui no meio, vê-se os pés de milho, sem
nada, com baixa produtividade. Mal dava para a subsistência. Não tinha agregação
nenhuma de valor nem renda.
Não temos nada fantástico, excepcional. São tecnologias simples, de fácil
acesso, que melhoram as variedades. Hoje discutimos com eles as populações de
plantas, a arrumação da plantação, o combate, como fazer as capinas, utilizar o uso
de tração animal. Agora ainda existe a preocupação com a agregação de valor, no
caso típico da mandioca, produzindo farinha e fécula de qualidade, cuidando da
questão de embalagem, fazendo com que eles possam tanto ter o alimento, como
também vender, agregando o valor para ter melhor preço e ter uma fonte de renda.
Isso é dentro daquela unidade modelo, daquela estrela que mostramos.
Pegamos variedades melhores de mandioca. Por exemplo, a produtividade deles era
de mil seiscentos e poucos quilos de raiz. Hoje, eles estão colhendo 20 toneladas
por hectare, com variedade e mudando o espaçamento.
O feijão-caupi é outra cultura importante. Eles colhiam 50 quilos. Hoje, os
consorciados estão colhendo cerca de 400 quilos. No caso do feijão solteiro,
novecentos, mil quilos por hectare.
Aqui temos a mandioca e o arroz. Eles colhiam aproximadamente 800 quilos
de arroz. Atualmente chegam a colher 3 mil quilos. Destaco também a venda no
mercado do arroz agulhinha, agregando valor.
Com relação à mandioca, eles vendiam o quilo a 8 centavos, não agregando
valor nenhum. O que se fez? Além do aumento da produtividade, buscou-se a
qualidade do produto. Produzia-se uma farinha de péssima qualidade que não dava
para competir com a comercializada no Piauí, que vinha do Pará e do Paraná. Hoje,
eles estão competindo e vendendo a farinha. Sexta-feira passada, tive notícia de
que eles estão guardando a farinha já produzida para obter melhor preço em razão
da existência de grande demanda. Portanto, eles estão procedendo à armazenagem
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Agricultura e Política RuralNúmero: 1227/03 Data: 26/08/2003
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do produto. E aqui eles vendem o pacotinho. A farinha era produzida a granel e
misturada com goma. Hoje, eles têm uma máquina que faz os pacotinhos,
caminhando para o selo da comunidade, que é o que desejamos.
No que diz respeito ao sistema de produção de caprinos, vale lembrar que
eles já os criavam. Quais foram as modificações que fizemos? Trata-se de um
sistema tradicional, convencional.
A tecnologia introduzida é simples e de fácil acesso: melhoria das instalações,
manejo reprodutivo e manejo sanitário. Antes, o desfrute era menos de 15%; hoje,
nós já conseguimos mais de 30%. Morriam muitos. O Governo do Estado, a partir
desse trabalho, apresentou um projeto ao Ministro da Agricultura, que esteve lá na
semana passada. O projeto preconiza uma meta de desfrute de 40%, que é possível
obter em pouco tempo.
Vemos aqui a melhoria das instalações. Os senhores podem ver que não há
nada sofisticado. O material do local é utilizado para a redução dos custos. Temos o
manejo reprodutivo melhorando a qualidade dos reprodutores e das matrizes.
Partiu-se de uma raça sem definição, CDR, mas a seleção é feita para ter uma raça
mista. Eles também não tinham costume de tomar leite. Hoje, as crianças já estão
tomando leite de cabra, e eles estão vendendo os animais sem agregar valor. É
outra fonte de renda bem melhor, com desfrute em torno de 40%.
Há outra questão interessante. No Nordeste, como os pequenos produtores
criam as galinhas? Soltas, com os porcos, etc. Vimos que isso aqui era, vamos dizer
assim, uma especialidade. Hoje, no Nordeste, principalmente no que diz respeito ao
turismo, o pessoal não quer comer coisa diferente das especialidades, das coisas da
terra, como o capote, a galinha caipira, o porco caboclo, no qual vamos começar a
investir. Tivemos essa visão e resolvemos investir na galinha, começando a fazer o
que fizemos com os caprinos.
Começamos a trabalhar as instalações com divisão: cria, de 1 a 30 dias;
recria, de 31 a 60 dias. Com 120 dias, a galinha está pronta para ir para o mercado
com quase 2 quilos, no caso, partindo de 1 reprodutor e 12 matrizes. Esse é o nosso
kit, o lote.
No que se refere à alimentação alternativa, aproveitamos o feijão guandu —
ou seja, tudo que se produz, é em sistema integrado —, a folha da mandioca, as
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raízes e seus subprodutos, a casca, a crueira, o farelo de arroz, os restos de
hortaliças e as pastagens. Estamos entrando, agora, com fruticultura no próprio
quintal, fazendo um pomar caseiro para que também possa ser utilizado.
Os senhores estão vendo que as galinhas eram soltas, e as instalações
bastante rústicas. Temos aqui uma telinha. Quando se usa a tela, o custo de toda
essa estrutura fica em torno de 500 reais, porque eles aproveitam tudo do local.
Quando é só com ripa, fica em torno de 300 reais.
No caso dos caprinos, fica em torno de 800 reais a estrutura do aprisco.
Trabalhando todos esses sistemas, nós temos esse fluxo de renda, o que é
mais importante. Ao longo do ano, tem-se tudo isso em função dessa diversificação.
O sistema de cultivo agrícola tem uma renda anual de 4.561. Eles chegam a
ter uma renda mensal de 380. Sistema de produção de galinha caipira, em torno de
257. Então, os produtores estão vendendo cerca de 10 galinhas por semana a 6
reais, 7 reais. Então, só dessa venda ele já tem um salário.
Sistema de produção de caprinos, como eu disse, está dando menor valor em
função de que eles ainda não estão agregando. Já começam a falar na questão de
frigorífico, de aproveitar a pele. Então, vai-se caminhar para isso logo,
principalmente, se esse projeto, que prevê a instalação de 3 frigoríficos em 3 regiões
do Estado, for aprovado pelo Ministério da Agricultura. Então, isso já é algo muito
importante e vai dar suporte a essas populações.
Não é difícil criar e gerar renda, fluxo de renda. É uma questão de se ter os
conhecimentos, as tecnologias, qualificar as pessoas, prepará-las para isso. Alguns
deles já receberam financiamento para as instalações de criação de galinha caipira,
o que é inédito. O Banco do Nordeste, o PRONAF B, financiou as instalações que
eles já estão utilizando.
Outro tema foi a questão da apicultura. O Deputado Marcelo Castro tem sido
um defensor da apicultura, tem dado todo o apoio e defendido a nossa unidade para
ser um centro de referência em apicultura. A EMBRAPA está caminhando para isso,
investindo nisso. Vamos ter um laboratório de qualidade para dar respaldo às
exportações.
Hoje, o mel do Piauí é considerado o melhor do Brasil por causa das
características em termos tanto de vantagens comparativas quanto de vantagens
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competitivas. A região oferece uma flora riquíssima, principalmente o mel da flora da
caatinga, que é uma vegetação de desenvolvimento.
Do ponto de vista ambiental, nas outras atividades é preciso desmatar, tirar a
flora, mas a apicultura e melipolicultura (que são as abelhas nativas) precisam de
flora. É necessário preservá-la para se ter o mel.
A EMBRAPA Meio/Norte, com um projeto financiado pelo CNPq, fez a
primeira cadeia produtiva no Piauí, onde temos aspectos tecnológicos, econômicos,
sociais e ambientais.
Aqui o retrato da apicultura, identificação dos gargalos, que culminou com a
orientação em projetos e ações.
Do ponto de vista dos gargalos tecnológicos, técnicas de manejo e extração
de mel inadequado. Gargalos não tecnológicos, deficiência nos sistemas de
organização e gestão. Isso é realmente muito complicado. A grande maioria são
pequenos apicultores, Deputado Marcelo Castro, o que implica baixa produtividade e
qualidade do mel. Hoje, esse problema já está diferente. Há dificuldades também na
comercialização.
Conseqüência dos gargalos tecnológicos: produtividade do mel em torno de
18 quilos, no Rio Grande no Norte; no Piauí, 27 quilos.
No caso de Alagoas, recentemente, foi feita a cadeia produtiva, que também
foi feita no Rio Grande do Norte.
As abelhas vão embora se não tiver alimento na época de entressafra, de
seca. Então, faz-se a enxameação.
Taxa de enxameação: em Alagoas, 55; no Rio Grande do Norte, 47; e no
Piauí, 38. Por quê? Porque a plantação de caju está aumentando e o caju é uma
forma de evitar a enxameação. Por isso o casamento perfeito: abelha e caju.
Gargalhos tecnológicos: agente financeiro; falta de informação; elaboração e
análise de projetos mal dimensionados (no caso de organização de estrutura); alta
porcentagem de sócio não ativo; entrega do mel a atravessador — esse é um
grande problema.
Insumos: colmeias e equipamentos fora do padrão; empresas não treinam
seus funcionários e não realizam o controle de qualidade.
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Capacitação: os apicultores não participam de cursos de gestão e não há
organização administrativa.
Ações para solução: mapeamento da flora apícola (aí são projetos a partir
desse diagnóstico); alimentação alternativa na entressafra (para não deixar haver
enxameação); manejo da colmeia; qualidade do mel (aí um laboratório que está
sendo instalado com recurso da FINEP), e melhoramento genético.
Ações para solução dos gargalos: Projeto Adoçando a Vida com Mel;
capacitação de produtores e formação de multiplicadores; fundação de amparo à
pesquisa do Estado (CNPq e EMBRAPA); projeto de capacitação dos apicultores
(Piauí, FEAP, FIDA e MERCOSUL estão investindo; quase 250 apicultores estão
recebendo esse treinamento), e estruturação da Federação Apícola, que agora está
sendo fortalecida.
Projeto de P&D, FINEP: arranjo produtivo; atualização tecnológica;
laboratório; controle de qualidade (que vai dar respaldo às exportações);
desenvolvimento e tecnologia para instalação e manejo de colmeia; Projeto
PRODETAB; desenvolvimento de tecnologia para o agronegócio apícola no
Nordeste (Piauí, Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo).
Então, já saímos da fronteira do Meio/Norte, Dr. Marcelo.
Aqui é para dar idéia da rentabilidade, pois nos foi solicitada informação sobre
geração de emprego e renda.
Se se cria 100 colmeias, pode-se ter uma renda anual líquida de 5.203 reais;
350 colmeias, em torno de 20.703 reais; mil colmeias, 62.708 reais.
A apicultura é uma atividade altamente rentável e, o mais importante, pode
ser agregada a outras. Por exemplo, um produtor que tem 30 colmeias precisa ir lá
somente 6 vezes por mês e ter um salário de, no mínimo, 240 reais.
Aqui são os Estados onde a EMBRAPA está atuando: Ceará, Bahia, Minas
Gerais, Mato Grosso...
Esses são os arranjos produtivos locais, onde já se fez estudo de cadeia
produtiva do mel — Piauí, Rio Grande do Norte e Alagoas. Estudos de cadeias
produtivas em execução: cacinicultura, no Piauí, temos um diagnóstico prévio;
caranguejo, no Piauí e Maranhão; mandioca, no Maranhão (mandioca e fruticultura);
feijão-caupi (previsto no programa de segurança alimentar); mandioca, no Piauí, via
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SEBRAE (que está representada neste seminário); mel, no Maranhão (com a
cooperação do SEBRAE e do Governo do Estado; sexta-feira formalizamos um
convênio).
Para terminar, uma paisagem paradisíaca, linda, do Piauí: nosso mangue e o
Delta do Parnaíba.
Era essa a nossa apresentação.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - A Sra. Ana Maria Pinheiro
cumpriu exatamente o tempo a ela destinado.
Por ser a Chefe-Geral da EMBRAPA Meio/Norte e por ser mulher teve uma
deferência especial, 5 minutos a mais que os outros. (Risos.)
Com a palavra o Dr. Paulo Roberto Coelho Lopes, Chefe-Geral da EMBRAPA
Semi-Árido.
Talvez um dos maiores centros de pesquisa da EMBRAPA Semi-Árido seja o
de Petrolina.
A Bancada do Nordeste terá uma audiência às 14h com os Governadores
para discutir a reforma tributária. Por isso, peço a todos compreensão quanto ao
tempo.
O SR. PAULO ROBERTO COELHO LOPES - Boa-tarde.
Serei breve.
(Segue-se exibição de imagens.)
A Região Nordeste brasileira apresenta uma área de 1 milhão e 600 mil
quilômetros quadrados, uma população de 44,8 milhões de habitantes e é
caracterizada por todos esses aspectos: grande diversidade agroecológica e
socioeconômica; apresentação de áreas úmidas e semi-úmidas, áridas e
semi-áridas; precipitações bastante variáveis, que vão de 2 mil milímetros até 256
milímetros.
Tem-se a idéia de que a Região Nordeste é o agreste, o sertão e a zona da
mata. Mas em trabalho feito pela EMBRAPA, foram identificadas mais de 100
condições totalmente diferentes de clima, solo e vegetação, o que caracteriza essa
região como bastante diversificada.
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O trópico semi-árido brasileiro abrange uma área de 1 milhão de quilômetros
quadrados, mais de 1.100 municípios, é caracterizado pelos solos de baixa
fertilidade e rasos. A vegetação típica que predomina na região semi-árida brasileira
é a caatinga e ocorre uma precipitação que equivale a mais de 700 bilhões de
metros cúbicos de água. Apesar de ser um volume considerável de água, não temos
estruturas suficientes para armazenar a água de chuva que ocorre nessa região.
O sistema de produção é o tradicional de agricultura e pecuária.
A EMBRAPA Semi-Árido, localizada em Petrolina, tem como missão viabilizar
soluções para o desenvolvimento sustentável do agronegócio do semi-árido, por
meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias em
benefício da sociedade.
Essa é a nossa condição, da caatinga, no período de chuva, em que temos
uma vegetação exuberante e um extrato herbáceo bastante rico para os animais.
Na época seca, a paisagem é essa: não há sequer uma folha seca.
A população lança mão dos mais extremos recursos, como a utilização do
mandacaru, a queima dos seus espinhos, para sustentar os animais no período
seco.
Há alguns limitantes da atividade agropecuária no semi-árido brasileiro: a
desfavorabilidade ambiental, que influencia muito no sistema produtivo, que, por sua
vez, também é influenciado pela superfície agrícola útil; baixo nível tecnológico e
gerencial da população; precário acesso ao crédito e outros serviços de apoio.
Com isso, temos elevados níveis de perdas, potenciais e reais no sistema de
produção da Região Nordeste. Parte dessa produção, com elevados níveis de
perda, é tirada para o autoconsumo. Então, ao final, temos uma oferta limitada e
irregular de produtos com baixa qualidade e, conseqüentemente, baixos valores de
comercialização.
Atrelado a uma comercialização atomizada, uma forte intermediação e pouco
poder de barganha, temos um mercado insatisfeito, e a produção da região não
atende as demandas.
Temos também muitas vantagens competitivas e algumas vantagens
comparativas em relação a outras regiões do País, o que confere à região
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semi-árida brasileira um potencial muito grande para a produção e exportação de
alguns produtos.
Somos o único semi-árido tropical do mundo: temperatura média estável de
mais de 20 graus, entre 24 e 25 graus, e produções ininterruptas, o que nos dá
condições de produzir mangas, uvas e outros produtos durante todos os meses do
ano; mais de duas safras por ano; baixa incidência de doenças, devido ao clima;
grande proximidade dos mercados compradores; abundância de mão-de-obra; baixo
valor da terra, o que permite altos investimentos; água disponível, com qualidade e
disponibilidade, o que permite a irrigação.
Com isso, temos hoje na região mais de 110 mil hectares irrigados, em torno
de 1 milhão de hectares passíveis de serem irrigados, uma insolação de mais de 3
mil horas por ano, uma temperatura média de 26 graus centígrados, uma umidade
relativa muito baixa, em torno de 50%, e uma precipitação média de 400 milímetros
anuais.
Por isso, temos condições de viabilizar o agronegócio tanto da agricultura
irrigada como da agropecuária, independente de chuva.
Como exemplo, vamos mostrar a sustentabilidade das cadeias produtivas de
manga e uva, que vêm gerando muitas divisas para o País e para a região
semi-árida brasileira.
Temos, hoje, 16 mil hectares de plantação de manga na região do Submédio
São Francisco, com a produção de mais de 270 mil toneladas da fruta, e 8,5 mil
hectares de plantação de uva, com a produção de mais de 240 mil toneladas.
O que viabilizou a produção de frutas na região semi-árida brasileira? As
tecnologias que a EMBRAPA vem trabalhando por meio de seus centros de
pesquisa, que estão dando suporte tecnológico capaz de viabilizar essas atividades.
Por exemplo, fazemos a indução floral da mangueira, um trabalho desenvolvido pela
EMBRAPA que permite a produção de mangas durante todos os meses do ano.
Atrelado à questão da indução floral, há o uso de inibidores químicos de
crescimento. Com isso, produzimos mangas e uvas todos os meses do ano no Vale
do São Francisco.
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A qualidade das mangas e das uvas produzidas na região é excelente. Os
mercados internacionais têm cada vez mais demandado os produtos do Vale do São
Francisco e da Região Nordeste.
As uvas finas de mesa também têm alcançado destaque especial. No ano
passado, uma caixa de 4,5 quilos de uva sem sementes produzida na região foi
vendida por até 25 euros. Isso dá idéia do potencial que tem a região para a
produção e a exportação de frutas.
A fruticultura é uma atividade que gera muitos empregos. Apresenta também
uma possibilidade muito grande de geração de renda. Há distribuição da renda de
maneira eqüitativa. Ela fortalece a renda familiar. São atividades que podem ser
desenvolvidas tanto pelos grandes produtores quanto por pequenos produtores.
Hoje, no Vale, já observamos a formação de uma classe média rural. Os pequenos
produtores vêm tendo destaque muito grande, o que é um ganho muito importante
para a região.
Então, um produtor que saiu do sequeiro, que trabalhava com cabras e tinha
uma renda líquida de menos de 1 salário mínimo, tem hoje uma renda de mil a 10
mil reais por mês. Está ocorrendo a formação de uma classe média bem estruturada.
A interiorização do desenvolvimento dessa atividade em bases sustentáveis,
o impacto da fruticultura e a geração de divisas para o País e para a região estão
sendo muito significativos.
Atualmente, a cultura da manga gera 1,5 emprego por hectare, e a da uva, 5
empregos. Faço uma comparação com outras culturas. Por exemplo, 5 mil hectares
de soja geram 100 empregos, enquanto que 5 mil hectares de uva geram 25 mil
empregos. Então, é uma atividade que tem um alto poder de geração de emprego e
renda.
Para se gerar 1 emprego na fruticultura, são investidos 6 mil dólares; na
indústria química, 200 mil dólares; na indústria automotiva, 91 mil dólares. Como se
pode ver, é uma atividade que tem um baixo investimento para a geração de
emprego, comparando-se com outras atividades e considerando-se a rentabilidade.
No caso específico da exportação de mangas que vem ocorrendo na região
desde 1997, o Vale do São Francisco, em 2002, produziu 93 mil toneladas de
manga, que geraram 45 milhões de dólares de receita. Noventa por cento da manga
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exportada do Brasil foi do Vale do São Francisco. Ano a ano, a produção e a
exportação de manga na região vêm aumentando.
No caso da uva, 95% da uva exportada hoje no País sai do Vale do São
Francisco. Em termos de geração de divisas, 96% da participação desse produto é
do Vale do São Francisco.
Isso dá idéia de como vem evoluindo a questão da produção e da exportação
de frutas no Vale do São Francisco, mostra que vem crescendo quase que em
progressão geométrica. São produtos que vêm tendo importância muito grande nas
pautas de exportação, e a tendência é aumentar. Ano passado, como eu falei, 1
caixa de uvas foi vendida a 25 euros. Nós tínhamos apenas 800 hectares de uva
sem sementes; este ano, já temos mais de 2.500. A projeção é de que daqui a 5
anos tenhamos mais de 6 mil hectares de uva sem sementes no Vale do São
Francisco.
Dando maior suporte ao programa de fruticultura da região, a EMBRAPA e o
Ministério da Agricultura estão conduzindo o programa de produção integrada de
frutas no Vale do São Francisco, em que o CNPq dá apoio decisivo. Esse programa
tem uma série de vantagens competitivas e vem aumentando cada vez mais a
qualidade e a demanda pelas frutas do Vale.
Por meio desse sistema, é possível produzir frutas com maior qualidade,
frutas mais saudáveis (já reduzimos em mais de 70% o uso de agrotóxicos na
cultura da manga com o sistema de manejo integrado de pragas e doenças);
aumentar a competitividade e a credibilidade das frutas brasileiras, porque com isso
vamos obter um selo de certificação de qualidade; reduzir os riscos de contaminação
ambiental, considerando que é um programa que tem um enfoque ambiental muito
elevado e que os mercados europeus, principalmente hoje, têm uma demanda muito
grande com relação a isso; conquistar novos mercados, potencializar as exportações
e propiciar, com isso, maior rentabilidade aos produtores.
Já está tudo consolidado quanto ao programa de produção integrada. As
mangas exportadas do Vale do São Francisco e do Brasil terão esse selo de
qualidade, com reconhecimento internacional, do INMETRO.
O mesmo acontece em relação à uva.
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No que se refere à convivência com a seca, temos uma série de trabalhos. A
EMBRAPA Semi-Árido atualmente trabalha com mais de 40 produtos, no caso das
culturas com que lidamos e as atividades de pecuária. Vou dar um exemplo: a
sustentabilidade da pequena produção de leite. Fazemos esse trabalho na estação
experimental que temos em Sergipe, no semi-árido sergipano.
A bacia leiteira no sertão sergipano vem evoluindo ano a ano. Em 1973, o
sistema de produção utilizado era o tradicional, a policultura — milho, feijão,
algodão, gado, pequenos ruminantes.
De 1975 a 1980, houve um grande incentivo governamental: financiamento,
melhoria de infra-estrutura, produção de forragens, recursos hídricos. Toda uma
infra-estrutura potencializou a pecuária leiteira.
Em 1983, houve uma grande seca no Estado, com fortes impactos ambientais
e socioeconômicos. Com isso, a pecuária teve um destaque maior e um avanço
maior. Em decorrência de a lavoura do algodão também ter decaído, ocorreu
expansão das pastagens cultivadas de capim buffel, crescimento dos plantios de
leguminosas, para incrementar a oferta de alimentos para os animais, e grande
aumento das pequenas fábricas de queijo no semi-árido sergipano.
Após 1993, houve significativa mudança, incorporação de maiores tecnologias
em silagem, fenação, manejo de rebanho, manejo da ordenha. Para que os
senhores tenham uma idéia, só nessa questão de manejo da ordenha, no semi-árido
de Sergipe, em mais de 90% do leite produzido havia altos índices de coliformes
fecais. Com a simples adoção desse sistema, que custa para cada produtor o
equivalente ao valor de 1 bezerro, reduzimos para menos de 5% esse índice. Isso
vale para as propriedades que vêm utilizando esse sistema.
Tendências da cadeia produtiva do leite no semi-árido sergipano: redução do
número de produtores médios e grandes, devido a custos, escala insuficiente,
mão-de-obra assalariada; grande aumento da produção familiar de leite,
utilizando-se animais mestiços de baixo custo de produção.
Grande segredo e grande avanço desse sistema de produção de leite
utilizado pela EMBRAPA em Sergipe devem-se à utilização de plantas da caatinga,
reduzindo ao máximo a compra de ração. Com isso, viabiliza-se a questão do preço
do leite — um mais baixos que temos hoje no Brasil — e maior renda ao produtor.
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Há um aumento do número de pequenos laticínios e uma crescente participação dos
supermercados, tanto no que se refere ao leite quanto aos produtos que saem dos
laticínios.
Realizamos um trabalho junto com uma instituição francesa, o CIRAD.
Fizemos todo o estudo da cadeia produtiva do leite na região semi-árida sergipana e
propiciamos a melhoria das pequenas fábricas de queijo. Com isso, os pequenos
produtores, hoje, já estão conseguindo colocar os seus produtos nos supermercados
e melhorar muito a renda, bem como a qualidade desses produtos.
A pecuária de leite na agricultura familiar. O leite é um produto âncora na
agricultura familiar e nos assentamentos. A EMBRAPA Semi-Árido, desde a sua
criação, vem trabalhando muito a tecnologia de convivência com a seca. Trata-se de
um centro que sempre teve grande identidade com a agricultura familiar.
Praticamente, as atividades tanto da agricultura de sequeiro quanto da agricultura
irrigada têm o enfoque da agricultura familiar e servem para atender aos 2 públicos.
A pecuária leiteira também proporciona um fluxo de caixa estável, com baixo
risco na exploração, elevada liquidez do capital imobilizado em animais e reduzido
custo de produção. Portanto, é uma atividade que tem muito a ver com a agricultura
familiar e os assentamentos.
Os fundamentos do sistema que nós utilizamos em Nossa Senhora da Glória:
infra-estrutura agrosilvopastoril assentada em espécies adaptadas à região
semi-árida, como capim buffel e urocloa, leucena, gliricídia, palma forrageira, nim,
sabiá, e estamos agora com um projeto de produção de cabrito, de ovino orgânico
na região semi-árida sergipana e de leite orgânico; diversidade temporal e espacial
dos subsistemas cultivados, com grande utilização da área e alternância do sistema
de produção do sistema pecuário; uso de animais geneticamente compatíveis com o
ambiente, não há animais com altos índices de produtividade, mas, sim, animais
compatíveis com a região; manejo que assegura o bem-estar do animal; práticas de
conservação de forrageira, que aumenta a potencialidade de alimentação dos
animais; reciclagem dos resíduos vegetais na alimentação animal e dos resíduos
animais na melhoria do sistema de produção de forragem; uso de métodos naturais
de controle fitossanitário e zootécnico, utilizando-se alho no controle de verminoses,
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nim e recomposição do componente arbóreo. Grande parte das plantas utilizadas
para alimentação animal servem para favorecer o reflorestamento da localidade.
Por fim, o papel das fábricas de queijo na região. São mais de 30 fábricas só
no semi-árido de Sergipe. São mais de 2 mil litros de leite trabalhados por dia em
cada uma dessas minifábricas. São mais de 60 mil litros de leite por dia. Oitenta por
cento da produção regional é utilizada nessas fábricas de queijo. Há geração de
mais 150 postos de trabalho diretos e movimentação bruta de mais de 540 mil reais
por dia. A suinocultura tem-se desenvolvido muito, utilizando os subprodutos do
leite. Outra grande vantagem; o pagamento é feito semanalmente. Então, o produtor
tem liquidez, tem capital de giro para trabalhar.
Era isso que tínhamos a apresentar. Se necessitarem quaisquer outras
informações sobre os produtos com que trabalhamos, podem acessar o site da
EMBRAPA Semi-Árido. Os dados estão lá disponíveis.
Obrigado a todos pela atenção. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Roberto Pessoa) - Concedo a palavra ao
próximo conferencista, Dr. Mário Augusto Pinto da Cunha, Chefe-Geral da Unidade
EMBRAPA Mandioca e Fruticultura, que falará sobre o tema As cadeias produtivas
de mandioca e frutas e a geração de empregos e renda.
O SR. MÁRIO AUGUSTO PINTO DA CUNHA - Bom dia a todos.
Srs. Deputados, senhoras e senhores, colegas da EMBRAPA, sou um dos
últimos apresentadores. Na realidade, eu sempre imaginei como faria esta
apresentação. Procurei dar certa dinâmica, de forma a mostrar como poderemos
melhorar o que já existe em termos de mandioca e frutas com relação a geração de
emprego e renda.
(Segue-se exibição de imagens.)
No caso da cadeia da mandioca, há outras cadeias, a da farinha, a da raiz de
mesa, etc. No programa de combate à fome, um dos programas prioritários para o
atual Governo, vemos que existe toda uma possibilidade de melhoria das condições
daqueles que produzem mandioca no Nordeste, a começar pela produtividade
média, de 11 toneladas por hectare. Temos tecnologia para chegar tranqüilamente a
20 toneladas ou até mais, alcançando a produtividade obtida em outros Estados,
como Paraná e Mato Grosso do Sul.
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Esse é um programa mundial em que vamos trabalhar visando a obter
variedades de mandioca com maiores teores de vitamina A, ferro e zinco. Só com
isso vamos dar condições peculiares para que se tenha uma melhor renda e se
participe da melhoria da cadeia produtiva. Hoje, já temos variedades ricas em
licopeno, em caroteno naturalmente, mas vamos trabalhar ainda mais essas
variedades, inclusive quando usadas na produção de fécula para o pão.
Essa é uma área colhida de mandioca de 1,6 milhão. Vimos que o Nordeste é
responsável por quase um terço da produção de mandioca no Brasil, mas tem
pequena participação na exportação. Temos algumas oportunidades de exportar
produtos de mandioca.
Temos fecularias nesses Estados. Pode-se ver um número significativo de
empregos, tanto diretos quanto indiretos. Precisamos levar isso para o Nordeste.
Precisamos levar para o Nordeste fecularias que possam dar uma segurança a
quem produz, naturalmente com uma escala maior do que a que temos hoje no
Brasil, de 250 toneladas/raiz/dia. Na Tailândia, por exemplo, a escala é de 800
toneladas/raiz/dia.
Aqui vemos que existe uma ampla possibilidade de melhoria, em geração de
emprego e renda, para quem produz mandioca. Os senhores podem ver que, nos
Estados mais desenvolvidos, o uso de farinha é muito menor do que nos Estados do
Nordeste. A tendência é, naturalmente, com aumento e melhor distribuição da renda,
a diminuição do uso de farinha e o aumento do consumo de outros produtos. Mas
isso dá uma idéia interessante de como se pode melhorar. Cito como exemplo mais
fécula para a produção de pão principalmente nos Estados do Nordeste.
Aqui se mostra para onde vai a produção brasileira. A alimentação animal
ainda é a maior participação. No caso da alimentação humana, diretamente. E
outros usos nós poderemos melhorar. Uma perda significativa, de 10%. Na
exportação, muito pouco. Poderemos ter uma atuação forte para melhorar a
exportação. Vejam que o consumo de mandioca chega a ser de quase 1 quilo por
dia em alguns países. Brasil, 17 quilos. Norte e Nordeste, 65 quilos. Tem
representação significativa na alimentação das pessoas.
Isso é o que se projeta para a mandioca em 2005. Atualmente ela é produzida
em todo o mundo. O Brasil é o segundo produtor mundial.
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Aqui se vê que a distribuição no mundo é um pouco diferente da do Brasil. A
alimentação humana é a principal, e a animal é a segunda. A tendência é aumentar
a produção de fécula, devido às possibilidades de utilização, principalmente na
fabricação do pão.
A Tailândia é o terceiro produtor, compete com o Brasil. Nós temos plenas
condições no Nordeste de fabricar raspas e entrar no mercado externo. A fécula já é
uma realidade. Como eu falei, precisamos ter fecularias no Nordeste. No caso de
mandioca para mesa, vejam que a Costa Rica não tem produção significativa, mas é
quem exporta. Temos condições de melhorar a nossa atuação relativamente à
cadeia produtiva também no caso da exportação.
Aqui, alguns dados sobre exportação do Brasil. Vejam que, em relação a
mandioca, vai principalmente para os brasileiros que estão no Japão. Poderemos,
como eu falei, trabalhar muito sobre isso. Agora, temos de investir muito em
marketing. O Brasil ainda é muito tímido no mercado externo e, com isso, dificulta a
apresentação dos nossos produtos.
A farinha é um produto inelástico. E cito a fécula, que deve aumentar, e essa
possibilidade de salgadinhos. Então, tudo isso, para a cadeia produtiva, é muito
importante. É necessário que tenhamos conhecimento. E nós temos as tecnologias
para que a Região Nordeste produza muito mais, sem aumentar a área. Eu imagino
que poderemos trabalhar com a mesma área, aumentando a produtividade.
No caso da fruticultura, vejam que é uma cadeia geral para frutas. Ela é um
pouco mais complexa, e a pesquisa agrícola é um dos elos dessa cadeia.
Esses dados são importantes para percebermos as possibilidades que temos
no Brasil e no mundo no caso da fruticultura. Paulo Roberto já apresentou alguns
dados. Então, vou abordar isso rapidamente. Mas é interessante que se veja o
quanto esse negócio representa no mundo: 23 bilhões, e o crescimento é de 1 bilhão
por ano. A nossa participação ainda é muito pequena em se tratando de frutas
frescas. No caso do suco de laranja, o mercado já está mais consolidado e
historicamente representa muito.
Se considerarmos frutas frescas, secas e processadas, temos um mercado de
fruticultura. Esses são os dados, mas eu imagino que seja muito mais. Isso não é
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irrigado. Eu acredito que temos uma área muito maior, principalmente para a
produção que nós temos, de 43 milhões de toneladas.
Esse quadro, que Paulo Roberto já apresentou, compara soja, milho, algodão,
frutas, café e pecuária relativamente à criação de empregos. São produtos nos quais
temos que investir mais, para que mais empregos sejam gerados.
No caso da fruticultura, também poderemos utilizar isso no combate à fome,
porque não são produtos de grandes plantios, com vantagens grandes para a
alimentação.
Pólos frutíferos no Brasil temos cadastrados cerca de 30, muitos no Nordeste.
Representam oportunidades de emprego e de melhoria de renda.
O agronegócio da fruticultura já muda um pouco, porque é muito maior do que
aquele que vimos para a mandioca. Cito a exportação, no momento, de frutas
frescas. O suco faz parte de outro mercado, que exporta muito mais.
Vemos aí as áreas em que houve a colheita.
O cenário geral é esse. Há um aumento da concorrência, e, naturalmente, os
preços decrescem, e as exigências são crescentes. Lucratividade decrescente,
dificuldade de acesso a mercados. Nós temos, então, de nos organizar.
Isto me parece que vale também para a mandioca: organização dos
produtores, aumento de produtividade, com as tecnologias que temos, adequação e
diferenciação do produto e conquista de novos mercados. Nesse caso, precisamos
investir muito em marketing, mostrando lá fora o que existe aqui.
Esses dados são importantes porque mostram que temos ainda muito para
avançar.
Isso indica a ociosidade das indústrias que processam, das agroindústrias.
Temos uma capacidade ociosa de 51,1%. Poderemos trabalhar bem esse dado,
para aumentar a utilização dessas agroindústrias e, conseqüentemente, o número
de empregos e melhorar a renda.
Vê-se nesse eslaide um dado interessante. Apesar de o nosso País ser o
terceiro maior produtor de frutas, temos um consumo per capita de apenas 47,9
quilos. É preciso aumentar isso. Assim vamos dinamizar ainda mais o setor, tanto
internamente quanto externamente.
Nessa imagem vemos as frutas mais exportadas.
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É mostrada agora a nossa participação no mercado internacional e uma
projeção para 2010. Vamos praticamente dobrar nossa exportação, o que ainda é
muito pouco, tendo em vista que outros países com muito menos condições do que
o nosso exportam muito mais do que o Brasil.
Quero mostrar isso porque não é só a pesquisa que vai resolver o problema
do Brasil, principalmente o da Região Nordeste. Temos uma logística que dificulta
muito a veiculação de produtos. Em nossa região vivem aproximadamente 30% da
população do Brasil, e participamos apenas com 16% do Produto Interno Bruto.
Temos que mudar essa realidade.
Um dado importante é que o CNPq tem aplicado, tradicionalmente, 70% de
seus recursos no Sul e no Sudeste, restando para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste
apenas 30%, fruto de condições que não favorecem a aplicação de recursos em
ciência e tecnologia. O Brasil aplica 0,8% do PIB em ciência e tecnologia. São
recursos irrisórios, principalmente se considerarmos que a Coréia aplica 2,8% do
PIB. A Coréia que é um país muito menor do que o Brasil, mas com um PIB
equivalente ao brasileiro.
Outra coisa é que temos de nos preocupar com as barreiras internacionais,
principalmente aquelas relativas a doenças. Para isso, temos variedades e materiais
que são resistentes.
Muito obrigado.
Desculpem-me a pressa. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Marcelo Castro) - Com a palavra o Dr.
Lafayette Franco Sobral, Chefe-Geral da Unidade EMBRAPA Tabuleiros Costeiros.
O SR. LAFAYETTE FRANCO SOBRAL - Agradecemos à Comissão de
Agricultura da Câmara Federal esta oportunidade.
Nossa unidade está localizada em Aracaju. Somos 48 pesquisadores — 17
doutores, 31 mestres, e, dos 31, 6 estão fazendo doutorado. Além do trabalho com o
coco, que vou mostrar aqui, temos um programa muito forte de melhoramento de
milho, exposto aqui também, cujo principal objetivo é reduzir o ciclo para diminuir a
probabilidade de perda — exemplo disso é o Assum Preto. Temos também um
trabalho com ovinocultura e com o ecossistema dos Tabuleiros Costeiros, que é
importante para o Nordeste, onde quase 50% da população vive na zona costeira.
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(Segue-se exibição de imagens.)
Esse trabalho com o coco que estou mostrando é feito por apenas de 20% a
25% da força de trabalho do centro. O tema é Contribuição da EMBRAPA Tabuleiros
Costeiros para a cadeia produtiva do coco e seus efeitos na geração de emprego e
renda, como nos foi encomendado.
Nesse eslaide vemos a cadeia produtiva do coco. Um sem-número de
empregos são criados, no caso, em decorrência de produção, implantação, tratos
culturais, colheita, fertilizantes, defensivos, produção de mudas, mão-de-obra para
carrego e descarrego. Tudo isso gera empregos. E muitos desses empregos são
difíceis de quantificar, porque estão localizados justamente na economia informal,
aquela economia em que a carteira não é assinada. Mas, realmente, gera um
grande número de empregos.
Vemos agora o fluxograma de comercialização do coco verde. Mostra-se o
destino do coco, que sai do produtor e pode ir a atacadistas, indústrias
processadoras, pequenos comerciantes, supermercados, CEASAs.
Esse o número de pessoas necessárias para carregar um caminhão de coco.
Uma grande quantidade de empregos é gerada.
Esse é um ponto de venda de coco, e um pequeno atacadista de Aracaju já
recebeu o produto de outro comerciante, quer dizer, já se criou mais um emprego na
cadeia.
Aqui vemos outro ponto de venda de coco, um comerciante menor, que
comprou o produto de outro comerciante.
Esse é um vendedor ambulante — é outra forma de emprego.
Vemos agora outro ponto, mais sofisticado, com maior valor agregado, em
zona residencial de classe média alta. Também nesse caso são gerados empregos.
Essa é outra forma de geração de emprego na cadeia produtiva do coco
verde. É algo mais elaborado, por meio do sistema de coco gelado, o que é
encontrado em alguns pontos do País.
Estou fazendo a exposição de maneira rápida, devido ao tempo.
Nessa imagem, a questão do coco seco. Essa cadeia gera um sem-número
de empregos. Estão aí envolvidos o pequeno intermediário, o atacadista, o varejista,
a indústria artesanal, o consumidor final.
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Mostramos para onde vai o coco seco. Trinta e cinco por cento do coco seco
vai para os mercados do Sudeste e do Centro-Oeste; 35%, para a agroindústria
nordestina, e 30%, para consumo in natura no Nordeste.
Serão apresentados alguns eslaides que nos mostram mais detalhes sobre
essa cadeia.
Primeiro, um caminhão de coco sendo descarregado — não vou mencionar
aqui os empregos gerados pela indústria da fibra e pela indústria do coco ralado e
do leite de coco, empregos formais, que podem ser classificados. Vemos um
pequeno comerciante de coco, com um pequeno moinho, máquina por meio da qual
pode produzir coco ralado na hora, em sua barraca.
Aqui, outro ramo de atividade que gera muitos empregos informais: o do
artesanato do coco. O coco realmente gera esse tipo de emprego, por meio do
artesanato.
Qual é o objetivo desta apresentação? Como a EMBRAPA Tabuleiros
Costeiros contribui para essa cadeia produtiva, para que ela tenha sucesso?
Melhoramento genético. Hibridação. Há previsão de, nos próximos 2 anos,
lançarmos alguns híbridos. Os senhores sabem que há 3 variedades de coqueiro: o
gigante, o anão e o híbrido. Cruza-se o coqueiro gigante com o coqueiro anão, que
dá o híbrido, que adquire a precocidade e a produtividade do coqueiro anão e a
rusticidade do coqueiro gigante. Lançaremos nos próximos anos híbridos, como eu
já disse. Esses eslaides mostram a hibridação, a emasculação e a cobertura da
eflorescência, para evitar contaminação.
Vemos agora produção de híbridos adaptados à condição do Brasil.
O sistema alternativo de produção de mudas. O sistema tradicional era feito
em sacos plásticos. O custo era muito alto, e era preciso esperar 1 ano para se
produzir a muda.
Lá no centro desenvolveu-se sistema alternativo, de baixo custo, para o
pequeno produtor. A muda vai para o campo num prazo de 4 a 6 meses, com 4
folhas, e há boa performance.
Aí está o sistema. Antigamente, era o germinadouro. O que fizemos?
Simplesmente, afastou-se o coco no germinadouro, ele não passa mais para o
viveiro, vai diretamente para o campo. Foi reduzido à metade o tempo de formação
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de muda. Foi provado, por meio de experimento, que a muda com 4 folhas resiste
bem e pode ser plantada.
Manejo da irrigação. Há 5 anos surgiu o coqueiro anão irrigado,
principalmente no Platô de Neópolis. Estávamos despreparados, todo o
conhecimento foi gerado para a cultura de sequeiro. Mas veio o Programa Avança
Brasil, que financiou a pesquisa. Assim, estamos gerando alguns conhecimentos,
principalmente no Platô de Neópolis; em Paraipaba, em Giqui, em convênio com a
EMPARN; em Petrolina, com a CPATSA, com a rede de experimentos de manejo da
irrigação.
Aqui, o manejo da irrigação por meio do controle de umidade no solo. Esse é
um coqueiro no Platô de Neópolis.
Vemos agora um estudo de métodos de irrigação localizada em coqueiro.
Estudou-se a microaspersão, o gotejamento superficial e o subsuperficial.
Vemos nessa imagem 3 coqueiros submetidos aos 3 tratamentos, no Platô de
Neópolis.
Vê-se agora algo interessantíssimo. Mudou-se o sistema de irrigação, e o
sistema radicular do coqueiro aprofundou-se no gotejamento superficial e
subsuperficial, neste mais ainda. Isso tem influência muito grande na absorção de
nutrientes e na própria longevidade e produtividade da planta.
Outro assunto que tem sido objeto de nosso estudo é a determinação de
necessidade de adubação pela análise foliar. Trata-se de assunto dominado no caso
das outras culturas, mas exige trabalho de campo.
A análise foliar começa no campo com a coleta da folha. Vai para análise. E
não é só isso. Para se sair daqui, para se dar esse passo, é preciso ter um suporte
de experimento de campo, gerando essas curvas, que são chamadas de curvas de
calibração. Isso é feito em experimento de campo. Agora, estamos fazendo isso com
fertirrigação em áreas de produtores. Quer dizer, os produtores cooperam, mantêm
o coqueiro. Isso está sendo feito em Petrolina, no Platô, em Giqui e Paraipaba, no
Ceará.
Apresentei isso apenas para dar um exemplo. Temos outros experimentos de
manejo de irrigação.
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Outra contribuição importante que o centro dá à cadeia produtiva do coco é o
controle biológico de pragas do coqueiro, principalmente depois do coqueiro anão. A
aplicação de defensivos agrícolas, sobretudo aqueles residuais, causam muitos
problemas relativamente ao coqueiro anão, porque se bebe a água. O coco é
colhido a 6 meses, bebe-se a água, e aqueles sistêmicos causam muitos problemas.
Por isso se está investindo muito no controle biológico de praga de coqueiro.
Esse é o Rhynchophorus palmarum, a broca-do-olho parasitada por um
fungo. Já estamos desenvolvendo técnicas em laboratório para dar tempo de
prateleira a esse fungo, a fim de que possa ser transportado.
Aqui, vemos uma armadilha para se pegar o Rhynchophorus, que transmite o
anel-vermelho, que é letal para a cultura. Então, qual é a importância do
Rhynchophorus? Além do próprio dano que causa, ele transmite um nematóide letal
ao coqueiro, não há cura. E uma das técnicas desenvolvidas é justamente a de
coletar o inseto ao redor do plantio com armadilhas como essa, com canas,
usando-se melaço ou feromônio.
Controle biológico de doenças foliares. Temos hoje como principal doença do
coqueiro a lixa-do-coqueiro, o complexo lixa e queima, porque reduz a área foliar. A
planta realmente convive com a doença, mas essa diminui a produtividade do
coqueiro. A doença queima as folhas de baixo do coqueiro; com isso, diminui a área
fotossintética, diminui o potencial de produtividade. Estamos trabalhando não só
para entender melhor a questão dos fungos que causam esse problema, mas
também em favor de um possível controle biológico.
Aqui, vemos um fungo parasitando a lixa-do-coqueiro. Isso está sendo muito
bom em laboratório. Em campo, ainda há limitações, porque depende de ventos, de
temperatura, de umidade, de ação de fungos. Mas já está sendo alcançado algum
sucesso.
Vejam bem, além da geração do conhecimento, a sistematização da
informação é importantíssima para a cadeia produtiva. Se o indivíduo que quer
investir em coco tem à disposição um material sistematizado, organizado e ilustrado,
encontrará mais facilidades. Então, a sistematização da informação é importante.
Em 1995, vivíamos dando palestras sobre coco. Levávamos apostilas.
Sistematizamos, fizemos a primeira edição sobre a cultura do coqueiro no Brasil.
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Trata-se de livro dividido em capítulos. Cada um tem um capítulo aí dentro. Esse
livro, na segunda edição, consolidou todo o conhecimento sobre coco que
desenvolvemos até o momento.
Escrevemos agora sobre a produção integrada do coco, a exemplo da manga
e da uva. Estamos fazendo isso lá, produção integrada no Platô. Há produtores
interessados no Ceará. Já consolidamos as informações e as sistematizamos.
Práticas fitossanitárias adequadas à produção integrada do coco. Na verdade, a
rastreabilidade dos produtos vai ser muito importante na questão da exportação da
água de coco ou mesmo na questão do consumo interno, posteriormente.
Que influência essa tecnologia gerada até agora teve na cultura do coco?
Vejam que a área permaneceu a mesma, e a produtividade aumentou. Na verdade,
houve aumento de produtividade na cultura do coco. Aí está contada também a
questão do coqueiro anão.
Com isso, encerro a nossa apresentação e agradeço a atenção de todos.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Marcelo Castro) - Com a palavra o Dr.
Eleusio Curvelo Freire, Chefe-Geral da Unidade EMBRAPA Algodão, último
conferencista da tarde.
O SR. ELEUSIO CURVELO FREIRE - Boa tarde a todos. Muito obrigado pela
oportunidade de apresentar informações sobre a EMBRAPA Algodão.
Atuamos em 35 pontos no Brasil, principalmente em Mato Grosso, Goiás e no
Nordeste. Vamos nos restringir ao Nordeste, por ser o tema solicitado.
Falaremos a respeito das estratégias sobre as quais temos trabalhado e dos
resultados delas.
(Segue-se exibição de imagens.)
A maioria das estratégias foi bolada para atender às demandas. Temos
campos experimentais na Paraíba, em Campina Grande, onde está a sede, e em
Patos, Monteiro; no Ceará, em Missão Velha e Barbalha; na Bahia, em Irecê e
Barreiras. Além disso, temos 10 pontos em Mato Grosso e 10 pontos em Goiás.
Temos trabalhado com 2 estratégias. Temos a missão de trabalhar com
algodão, oleaginosas e sisal.
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Para o algodão existem 2 tipos de produção, a agricultura empresarial e a
agricultura familiar. A agricultura empresarial vem sendo trabalhada no cerrado da
Bahia, do Piauí e do Maranhão, e a agricultura familiar, em todo o semi-árido
nordestino.
Para os senhores terem uma idéia da importância da agricultura empresarial
do algodão, foram plantados no cerrado da Bahia, na safra 2003, 89,4 mil hectares.
Isso é 53% da área do Nordeste. Só que essa área produz 86,6 da produção
nordestina. Em função das produtividades obtidas nessa região, para a safra 2004,
essa área vai para 150 mil hectares. Quase que dobra a área.
Temos ações de melhoramentos, manejos, sementes, irrigação e organização
da cadeia e atuamos em 5 pontos na Bahia, em 2 pontos no Maranhão e em 2
pontos no Piauí.
Em termos de agricultura familiar para algodão, restringimos a atuação da
EMBRAPA em 4 estratégias: transferência de tecnologia, usando as UTDs, que são
escolas tipo unidades de transferência e demonstração; o projeto COEP, com
miniusinas; algodão colorido e área de pesquisa.
Em termos de agricultura familiar com outros produtos, fora o algodão, temos
trabalhado com sisal, mamona, amendoim e gergelim. Temos alguns projetos sobre
os quais vamos dar informação rápida: Novo Cariri e Massabielle, com sisal;
Melhoramento da Mamona, no Nordeste; Projeto Biodiesel; o de melhoramento de
oleaginosas no Nordeste, inclusive para qualidade nutricional; o de desenvolvimento
de produtos alimentares e suplementação protéica de populações carentes.
A cadeia produtiva do algodão no cerrado está organizada. Existe o fundo de
desenvolvimento do algodão, o FUNDEAGRO, implantado na Bahia. Deverá ser
expandido para o Maranhão e o Piauí. A EMBRAPA tem 2 cultivares sendo
plantadas pelos produtores. Relacionamos aqui só 2 tecnologias.
O Manejo Integrado de Pragas tem reduzido o custo de produção em 38%, o
que corresponde a 5% de aplicações a menos de inseticida por hectare. A
produtividade do algodão da Bahia na safra 2003 foi de 3.210 quilos — 393% acima
da média do Nordeste, no cerrado.
Essa imagem é para que todos tenham idéia de dias de campo que temos
feito na região.
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Aqui, uma das variedades da EMBRAPA. Toda variedade da EMBRAPA tem
o BRS, o nome de uma árvore. Estamos homenageando as árvores do cerrado e do
Nordeste.
Agora um exemplo para que se tenha idéia da produtividade. Essa lavoura
produziu 300 arrobas, o que corresponde a 4.500 quilos por hectare.
Em termos de agricultura familiar, temos as Unidades Técnicas de
Demonstração de Resultado, as UTDs. Trata-se de parceria com o Banco do
Nordeste. Estão sendo realizadas na Paraíba, no Ceará e no Rio Grande do Norte.
São 21 UTDs por ano. A média que estamos obtendo nessas 21 unidades é de
1.375 quilos — 112% acima da média nordestina. A média nordestina, hoje, é de
630 quilos por hectare. É a média normal do Nordeste. Nessas UTDs, atingimos
isso.
Aqui são os eventos que estão sendo feitos em termos de transferência de
tecnologia, em dias de campo. São 104 horas de dias de campo, 264 UTDs, 8
cursos para técnico e 90 cursos para produtor. Como existem muitas tecnologias
prontas, estamos trabalhando mais para transferi-las para algodão, mamona,
gergelim e sisal, a fim de que sejam adotadas.
Aqui mostramos os dias de campo. Nós sempre aproveitamos a colheita para
fazer uma demonstração de um dia de campo — Município de Mirador, Maranhão;
Quixadá, no Estado do Ceará, há menos de 1 mês; São Tomé, no Rio Grande do
Norte, também há menos de 1 mês.
Outro projeto que estamos desenvolvendo são as mini-usinas de algodão. É
uma parceria com o Comitê de Apoio a Comunidades — COEP, um programa de
geração de emprego e renda concebido por Betinho. Foram escolhidas essas
mini-usinas de algodão para serem implantadas em vários Estado do Nordeste. Nós
já temos essas usinas em Juarez Távora e São José de Piranhas, na Paraíba; em
Nova Cruz, no Rio Grande do Norte; em Água Branca, em Alagoas; em Barro, no
Ceará; e em Bezerros, em Pernambuco.
Essas mini-usinas são pagas por grandes empresas, como CHESF e
PETROBRAS. Elas geram emprego. Normalmente, a EMBRAPA acompanha essas
mini-usinas durante 2 anos. Elas têm propiciado 183% a mais de renda em relação
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ao sistema anterior e a comunidade é treinada para melhorar sua tecnologia e a
gestão do seu negócio.
Algodão colorido é uma nova cadeia produtiva, que está bastante
demonstrada ali na entrada. Ela tem gerado benefício para o produtor, para a
indústria têxtil, para o artesanato e para a confecção. Normalmente, agrega 50%
mais de renda em cada segmento. A Paraíba tornou-se especializada em algodão
colorido. Essa cadeia já está sendo expandida para Ceará, Rio Grande do Norte,
Mato Grosso e Goiás. A meta para 2002 são 300 toneladas de pluma, o que dá para
produzir 120 mil peças de roupa. Já existem as cores marrom, verde e vermelho.
Aqui mostramos a nossa primeira variedade, a BRS 200. Aqui é a BRS Verde.
Esses são produtos feitos com algodão colorido, sem nenhum corante.
Aqui são coleções de modas.
Em termos de pesquisa, continuamos sempre agregando pesquisa para o
Nordeste. Temos 3 programas de melhoramento do algodoeiro, 16 cultivares
desenvolvidas — foi citada aqui, por exemplo, a 7MH, uma variedade de mocó
híbrido —, pesquisas para convivência com o bicudo, controle biológico, controle de
pragas e doenças, manejo da cultura e a parte de transferência de tecnologia. A
cada ano, fazemos 25 dias de campo no Nordeste, 800 horas de curso e
aproximadamente 500 palestras, transferindo essas tecnologias.
Esse é um dia de campo realizado no mês passado, em Barbalha, no Ceará,
onde apresentamos uma nova variedade de algodão.
Em termos de agricultura familiar com os outros produtos, temos o chamado
Projeto Novo Cariri, uma parceria com o SEBRAE, em que implantamos 10 unidades
demonstrativas na Paraíba. São áreas relativamente grandes em que o sisal é
consorciado com plantas alimentícias e forrageiras, fortalecendo a cadeia do sisal e
de caprinos. O sisal, como planta produtora de fibra para corda, não tem mais
viabilidade econômica. Então, a idéia é usá-lo para artesanatos finos e também para
fortalecer a cadeia de caprinos.
Aqui os senhores vêem o sisal consorciado ao algodão.
Outro projeto que temos também com o sisal é o chamado Projeto
Massabielle, uma parceria com o Município de Esperança, na Paraíba, o SEBRAE e
o SENAI. Foi feito um diagnóstico dessa comunidade, cuja renda familiar é de 40
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reais mensais. É uma comunidade extremamente carente. Foram treinadas 90
mulheres. Elas usam o sisal em artesanatos finos, que estão expostos ali à frente.
Essas pessoas têm participado de exposição. Foram criados 90 empregos. O custo
do projeto foi de 30 mil reais e ele tem o potencial de ser usado em 200
comunidades pelo Nordeste. Nós o encaminhamos como uma das propostas para o
Fome Zero, para uso em área de sisal no Nordeste.
Esses são os artesanatos produzidos. Para os senhores terem idéia, o quilo
do sisal custa 70 centavos, e um artesanato desse pode ser vendido a 10 reais.
Então, é uma agregação de valor muito grande.
Esse é outro consórcio com gergelim, sisal, algodão, girassol e sorgo.
Com relação à mamona, uma planta que está muito na mídia ultimamente, a
EMBRAPA desenvolveu duas cultivares, que estão sendo plantadas no Ceará e na
Bahia. O programa de melhoramento está localizado nesses 2 Estados.
Temos este Projeto Biodiesel. Este ano já demos mais de 100 palestras sobre
o biodiesel no Nordeste. A cada 2 dias, há 1 palestra sobre o assunto. A mamona foi
escolhida como a principal lavoura para o biodiesel no Nordeste.
Temos também um programa de melhoramento de amendoim e gergelim, já
com 6 cultivares sendo plantadas na Paraíba e no Ceará. A equipe tem
desenvolvido alimentos protéicos, tem utilizado gergelim na panificação e em
biscoitos para uso em merenda escolar e naquela multimistura para populações
carentes.
Era isso o que tínhamos a apresentar.
Muito obrigado pela atenção de todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Marcelo Castro) - Com a palestra do último
orador, resta-me encerrar os trabalhos. Antes, quero agradecer a todos os que
compõem este brilhante quadro de funcionários da EMBRAPA o trabalho eficiente e
os bons resultados das pesquisas apresentadas, em benefício da agropecuária
brasileira.
Devo dizer também que hoje o dia não foi muito feliz. É uma terça-feira,
quando muitos Parlamentares ainda estão nos seus Estados, pela manhã. Muitos só
vêm ao meio-dia e à tarde. Hoje, pela manhã, houve a votação da reforma tributária
na Comissão Especial, o que ocupou o tempo da maioria dos Parlamentares, que ou
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fazem parte da Comissão ou têm interesse direto, como todos nós temos, na
aprovação da reforma; haverá uma reunião hoje às 14h, com os Governadores do
Nordeste e toda a bancada nordestina; e hoje à noite será realizada a votação da
reforma previdenciária em segundo turno.
Tudo isso, além de termos atrasado o início dos trabalhos e pegado este
horário de meio-dia, ocasionou essa assistência tão baixa. Mas tudo ficou gravado e
será de grande utilidade para a Comissão de Agricultura. Todos nós que fazemos
parte desta Comissão — somos mais de 50 Parlamentares — teremos acesso ao
material.
Antes de encerrar, convido todos para amanhã, às 10h, participarem do
Seminário Políticas para o Setor Sulcroalcooleiro e a Reestruturação do
PROALCOOL, a ser realizado nesta Comissão.
Muito obrigado a todos. (Palmas.)