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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICAEVENTO: Audiência Pública N°: 0264/03 DATA: 09/04/03INÍCIO: 14h56min TÉRMINO: 17h31min DURAÇÃO: 02h35minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h36min PÁGINAS: 45 QUARTOS: 31REVISÃO: Antonio Morgado, Luciene Fleury, Maria Teresa, Veiga, Víctor, WaldecíriaSUPERVISÃO: Ana Maria, Cláudia Luiza, J. CarlosCONCATENAÇÃO: Neusinha
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOFRANCISCO DE OLIVEIRA – Professor de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Letras eCiências Humanas da USP e Coordenador do Projeto de Reforma Política do InstitutoCidadaniaPAULO VANNUCHI – Cientista Político e Diretor do Instituto CidadaniaFÁBIO KERCHE – Mestre em Ciência Política e ex-Secretário Acadêmico do Projeto deReforma Política do Instituto Cidadania
SUMÁRIO: Apresentação, por representantes do Instituto Cidadania, do livro Reforma Política:Estudos e Propostas. Debate acerca da fidelidade partidária, do financiamento público decampanhas e do voto obrigatório.
OBSERVAÇÕESHá intervenções inaudíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 0264/03 Data: 09/04/03
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Havendo número para
abertura dos trabalhos, convido para compor a Mesa o Dr. Francisco de Oliveira,
professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Letras e Ciências
Humanas da USP, Coordenador do Projeto de Reforma Política do Instituto
Cidadania; o Dr. Paulo Vannuchi, cientista político e Diretor do Instituto Cidadania; e
o Dr. Fábio Kerche, Mestre em Ciência Política e ex-Secretário Acadêmico do
Projeto de Reforma Política do Instituto Cidadania.
Esclareço ao Plenário que iniciamos hoje a fase de audiência pública e que a
Deputada Luiza Erundina apresentou requerimento para que o Instituto Cidadania
apresentasse as propostas depois da realização de três seminários.
Gostaria de solicitar, quebrando o Regimento, à Deputada Luiza Erundina que
faça a apresentação política dos nossos convidados, porque eu fiz apenas a
apresentação técnica.
A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA – Sr. Presidente, colegas
Parlamentares, quero dizer que a idéia desta audiência pública com os Srs.
Francisco de Oliveira e Paulo Vannuchi, do Instituto Cidadania, vem atender a uma
necessidade percebida nos debates nas quatro reuniões desta Comissão Especial
de Reforma Política. Percebemos que precisávamos ter uma compreensão mais
global, mais estrutural da proposta de reforma, na qual pudéssemos apreciar, refletir
e votar as questões mais específicas, do ponto de vista das legislações eleitoral e
partidária.
Para grande parcela de membros desta Comissão há a necessidade e o
interesse de que a reforma política aponte na direção de se repensar o Estado
brasileiro, sua natureza, sua estrutura e seu papel nos novos tempos, a composição
dos entes federativos, a distribuição de poder e de competência. Temos consciência
da preciosa contribuição que os senhores nos trarão, para que possamos avançar
na compreensão dessas questões de ordem mais global.
Evidentemente, o Prof. Francisco de Oliveira não precisa de apresentação —
e eu sou suspeita para apresentá-lo. Primeiro, porque é nordestino como eu, e sua
fama, seu prestígio, sua liderança intelectual surgiram há décadas no Nordeste, na
SUDENE, e vieram para cá até os dias de hoje, em que o professor é uma
referência para quem quer pensar seriamente este País. Com certeza, mais do que
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seu conhecimento, sua sabedoria, sua vivência e seu fantástico patrimônio
intelectual, ele nos deixa gratificados somente com a sua presença.
Também sou suspeita para apresentar o Paulo Vannuchi, companheiro de
luta, de militância, de sofrimento e de alegria no Partido dos Trabalhadores durante
17 anos — o tempo que fiquei no Partido. Sei do seu valor e também do seu
compromisso político e intelectual. Ele faz parte da história de luta e de resistência
democrática no País. Teve um irmão vítima da ditadura militar. Por tudo isso e,
sobretudo, pelo acúmulo de conhecimento, de pesquisa e de estudos que tem feito,
juntamente com Francisco de Oliveira e outros companheiros, realmente ele nos dá
a certeza do acerto do convite a esses dois companheiros como representantes do
Instituto Cidadania.
Para esta Comissão, sem dúvida alguma, é um grande presente S.Sas. terem
aceito o nosso convite. Vamos tentar assimilar e incorporar suas propostas ao
esforço de construção que estamos fazendo na Comissão.
Desculpem-me por não apresentar o outro convidado. Lamentavelmente, não
tenho informações sobre a sua pessoa. Mas agradeço-lhe a presença nesta reunião.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Eu já o tinha
anunciado. Trata-se do Dr. Fábio Kerche, Mestre em Ciência Política e Secretário
Acadêmico do Projeto de Reforma do Instituto Cidadania.
Antes de passar a palavra ao Prof. Francisco de Oliveira, quero dizer da
satisfação de poder oferecer, como Presidente, ao Relator essa contribuição. O
nosso eminente Relator vai receber hoje um conjunto de estudos, cujos autores
tomo a liberdade de citar: Fábio Wanderley Reis, Estudo Panorâmico sobre
Questões Envolvidas em uma Reforma Política; Wanderley Guilherme dos Santos,
Francisco de Oliveira, Helgio Trindade, Fábio Konder Comparato, sobre as relações
entre os Poderes; Maria Victória Benevides, sobre o sistema da democracia
participativa; Chico Whitaker, Limites e Alternativas para Iniciativa Popular de Lei;
Jairo Nicolau, As Principais Propostas de Reforma Política que Têm Sido
Apresentadas no Brasil; Fernando Limonge e Argelina Figueiredo, Tratamento
Exaustivo da Utilização de Medidas Provisórias desde 1988; Fernando Abrucio,
sobre a questão federativa; Otávio Soares Dulci, sobre sistema partidário brasileiro;
Carlos Ranulfo Melo, sobre a migração e a fidelidade partidária; Renato Janine
Ribeiro, Voto Obrigatório, Voto Facultativo; Rachel Meneguello, Dados sobre a
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Opinião dos Eleitores Brasileiros a Respeito de Vários Itens da Reforma Política;
Celina Souza, David Samuels, sobre financiamento de campanha; Gustavo Venturi,
sobre pesquisas eleitorais; Joffre Neto, sobre Legislativo Municipal; Francisco de
Oliveira, Maria Célia Paoli, Cibele Saliba Rezek, sobre Orçamento Participativo.
Os Seminários foram em número de três, realizados em São Paulo, Rio de
Janeiro e Porto Alegre. Penso que vale a pena uma reflexão sobre um dos
parágrafos do encaminhamento, porque traduz o sentimento do trabalho ofertado:
“No conjunto, vale como a rica fonte de dados,
números, informações e reflexões para contribuir no
trabalho que os legisladores têm pela frente. Não se trata
de uma proposta estruturada, visto que na convicção do
então Coordenador do Instituto Cidadania, hoje
Presidente da República, somente no Legislativo é
possível desenvolver debates e costurar os consensos,
que são necessários à viabilização das reformas políticas
que despontam como desejáveis ao aperfeiçoamento de
nossa instituição democrática.”
Em meu nome, na condição de Presidente, e em nome da Comissão, e em
nome do Presidente da Câmara dos Deputados, agradeço ao Instituto Cidadania
pela intenção de fazer um pré-lançamento desse trabalho — uma vez que a Editora
Fundação Perseu Abramo vai lançá-lo em maio —, e a deferência a esta Comissão.
Antes de ouvirmos o Prof. Francisco de Oliveira, concedo a palavra ao
eminente Relator.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, Srs. Convidados, Prof. Francisco de Oliveira, Dr. Paulo Vannuchi, Dr.
Fábio Kerche, a todos boa tarde.
Em primeiro lugar, cumprimento a Deputada Luiza Erundina por apresentar o
requerimento a esta Comissão, contendo os dados que o Presidente acaba de
enfocar. Essa associação de pensadores que compõem o Instituto Cidadania
debruçou-se no trabalho durante vários anos e, com suas experiências e estudos,
vão ofertar a esta Comissão um trabalho extenso. Sem dúvida nenhuma, o Relator,
assim como todos os membros desta Comissão, teremos acesso a esse trabalho
publicado e tiraremos dele as reflexões, os resultados das pesquisas para
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transformá-los em projetos de lei, a fim de melhorar essa relação político-partidária,
conforme dissertou a Deputada Luiza Erundina, entre a estrutura federativa do País
e assuntos outros que devemos tratar nesta Comissão.
Agradeço a todos pelo trabalho ofertado a esta Comissão. Tenho certeza de
que sobre os temas agendados, sobre os passos que já demos até este momento
tomaremos a liberdade de consultá-los, via telefone, sobre matérias as quais esta
Comissão necessite buscar mais subsídios.
Hoje pela manhã o Presidente e eu fizemos parte de uma reunião do
Conselho Federal de Medicina, em que discutimos a reforma política. Esperamos
que os membros da Comissão possam levar a discussão da reforma política a todos
os encontros e debates.
A mídia tem enfocado apenas as reformas tributária e da Previdência, e
estamos mostrando que, se não evoluirmos na reforma política, não conseguiremos
aprová-la nem preencher o Legislativo brasileiro, seja federal, estadual ou municipal,
com pessoas qualificadas que debatam o assunto, tenham ética na prática política,
preparo para os debates e realmente estejam compromissadas com a participação
política, não com aquela visão que, muitas vezes, querem nos impingir, de
Parlamentares restritos a alguns colégios eleitorais, fazendo acertos ou conchavos.
Pelo contrário, há Parlamentares com propostas, idéias consistentes, pessoas que
sabem debater assuntos nacionais.
O Presidente foi extremamente feliz na reunião de hoje quando disse — o que
é uma grande verdade — que os temas nacionais não estão sendo debatidos nesta
Casa com consistência. Existe quase uma pulverização da ação dos Parlamentares
no Congresso Nacional. Na corrida para levar benefícios a um Município ou uma
ação, muitas vezes vê-se o Parlamentar aqui apenas com a função de ir atrás de
verba orçamentária ou destinar atendimento ao Município, quase um trabalho social
no seu distrito eleitoral, sem se preocupar com temas maiores, sem discutir assuntos
nacionais que, sem dúvida, interferirão na vida de cada um de nós brasileiros. Na
verdade, nós estamos aqui também para discutir assuntos como o álcool, a saúde, a
educação, o MERCOSUL e outros da organização nacional e internacional, bem
como a relação dos Poderes e outros assuntos maiores.
Enfim, acredito que nossos professores vão expor uma longa matéria.
Infelizmente, o tempo é restrito para que nos tragam todas as experiências. Mas
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peço aos nossos pares que mostrem cada vez mais a importância desta Comissão
Especial da Reforma Política.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Estamos chegando à
conclusão de que o Instituto Cidadania é também um dos responsáveis pela queda
do Risco Brasil e do dólar!
Passo a palavra ao Prof. Francisco de Oliveira.
O SR. FRANCISCO DE OLIVEIRA – Agradeço a esta Comissão, em especial
ao Presidente, Deputado Alexandre Cardoso, ao Deputado Ronaldo Caiado, Relator,
e, particularmente, à minha conterrânea, Deputada Luiza Erundina, pelo convite para
comparecer a esta audiência pública.
Esse trabalho foi arquitetado em primeiro lugar porque a reforma política é
sempre a mais falada e nunca implementada. Então, resolveu-se dirigir as atenções
para um conjunto de estudos que subsidiassem o Congresso Nacional, não mais do
que isso, até porque, entendemos todos, acadêmicos e políticos, que política nunca
é uma questão unívoca, digamos — felizmente não é. Política é sempre plural:
várias opiniões e pontos de vista podem convergir ou divergir. Isso é salutar, e não
deve de ser lamentado.
Portanto, não se poderia pensar em um conjunto de propostas de reformas
políticas fechadas em si, mesmo porque isso não se compadece exatamente com o
caráter democrático do Estado brasileiro e dos anseios da sociedade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Professor, um
momento, por favor. Peço a gentileza de convidar para compor a Mesa o nosso
Presidente, Deputado João Paulo Cunha.
O SR. FRANCISCO DE OLIVEIRA – Muito obrigado.
A arquitetura pensada para os trabalhos da Comissão do Instituto Cidadania
repousa sobre dois pilares. Primeiro, um conjunto de especialistas dos mais
renomados no Brasil. A lista que o Deputado Alexandre Cardoso citou inclui alguns
dos mais conceituados cientistas políticos brasileiros, de várias regiões e
universidades. O outro pilar seria constituído de Parlamentares do Congresso
Nacional que aliassem à reflexão acadêmica a larga experiência que o Parlamento
tem acumulado sobre as questões da reforma política. E assim constituiu-se uma
comissão, uma espécie de dobradinha: um Deputado fazendo par com um professor
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universitário, para, juntos, produzirem estudos, propostas, relatórios sobre as
questões chaves escolhidas. Isso caminhou muito bem, até que as eleições
aceleraram os corações e catapultaram as atividades dos Deputados para aquilo
que é essencial numa democracia: as próprias eleições. E o grupo acadêmico
continuou a fazer seu trabalho. Essa arquitetura deu muito certo, e certamente suas
reflexões vão ser passadas e repassadas no Congresso Nacional.
Faziam parte dessa Comissão o Deputado João Paulo Cunha, Paulo
Vannuchi, André Singer, Porta-Voz da Presidência da República, Fábio Kerche,
Francisco Whitaker, Maria Victória Benevides, Professora da Universidade de São
Paulo, e eu, Francisco de Oliveira. Durante alguns meses, foram realizados três
seminários, no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, onde se discutiram, com
maior abertura, diversos assuntos com a presença de personalidades políticas. E
estes acadêmicos e políticos que aqui subscrevem estudos — deve ser dito — não
foram escolhidos pela sua cor partidária, mas por sua competência e por
representarem o amplo espectro político brasileiro. Isso foi feito exatamente com o
objetivo de se obter dessa experiência subsídios para uma nova reflexão.
A Comissão norteou-se por alguns princípios que deveriam informar
propostas de reforma política. O primeiro princípio é o de alcançar a maior inclusão
dos cidadãos na política, entendida exatamente como o lugar e o espaço onde se
constroem e se decidem os destinos nacionais; o segundo, melhorar a
representatividade das representações populares; o terceiro, alcançar maior
transparência na política; o quarto ponto, vigiar o caráter democrático das
competições políticas; o quinto, melhorar os instrumentos de controle do cidadão
sobre a política e as instituições representativas; sexto, abrir a política para maior
participação ativa dos cidadãos; por último, combater a corrupção e o abuso do
poder econômico nas eleições.
Tais princípios enfeixaram-se nos cinco pontos abordados nessas propostas
de reforma política. Os cinco pontos escolhidos visam a discussões, reflexões e
proposições sobre os sistemas eleitoral e partidário, o financiamento público das
campanhas, o controle das representações e, finalmente, sobre um tema que não é
tão novo quanto parece, uma vez que a Constituição brasileira já o acolhe: as novas
formas de democracia participativa.
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Esses foram os princípios e os pontos que orientaram os estudos de reforma
política para oferecimento de subsídios. Trata-se exatamente de um conjunto de
reflexões que procura ajudar no trabalho de repensar os problemas e o
aperfeiçoamento das instituições políticas brasileiras.
Vou trazer mais algumas informações, exatamente para provocar, em nossa
interlocução, o debate sobre as várias questões.
O trabalho da Profa. Maria Victória Benevides, resumindo muito, tenta discutir
as formas que a própria Constituição de 1988 já abriu para a participação popular,
mais direta e ativa; ou seja, fazer com que os cidadãos não sejam chamados apenas
de dois ou de quatro em quatro anos, mas constantemente, sem que se pretenda
chegar ao sonho impossível e totalitário de se fazer política o tempo todo. Mas que
sejam convocados de forma mais ativa para se pronunciarem sobre questões
fundamentais, como os plebiscitos, os referendos, as iniciativas populares, e uma
nova forma que está emergindo em várias cidades brasileiras, o chamado
orçamento participativo, forma privilegiada de introduzir o cidadão no conhecimento
daquilo que é o coração do Estado moderno — o seu orçamento.
As reflexões da Profa. Maria Victória ajudam no sentido de mapear essas
questões nas experiências mundial e brasileira.
O Prof. Fábio Konder Comparato, da Faculdade de Direito da USP, trabalhou
as questões relativas ao controle das representações, na perspectiva da
democratização, apoiando-se já nos princípios constitucionais brasileiros, na
experiência mundial e nos sistemas democráticos, no sentido de como o soberano
se auto-impõe aos controles que a sociedade pode acionar a cada momento. Não é
soberano aquele que decide sozinho, mas aquele que convoca a sociedade para
suas decisões.
O Prof. Helgio Trindade, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, disse
que a democracia social tem os maiores requisitos e, portanto, como a democracia
representativa deve acolher as novas formas da democracia social no Brasil e no
mundo, tentando avançar além dos limites que nos são fixados pela própria
Constituição; isto é, introduzir o Estado social, moderno, de forma mais aderente às
regras de normatividade da democracia representativa.
O Prof. Wanderley Guilherme dos Santos, do Instituto Universitário de
Pesquisa do Rio de Janeiro, trabalhou o tema da universalização da democracia,
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ressaltando algo que parece problemático, e sempre uma surpresa, o caráter
universalizador que a democracia no Brasil está ganhando. Talvez o Brasil tenha o
eleitorado de maior e contínua expansão no mundo, cerca de 116 milhões de
eleitores, só comparável ao colégio eleitoral da Índia e dos Estados Unidos.
Provavelmente, nós sejamos o terceiro maior colégio eleitoral do mundo. Nós,
brasileiros, que sempre choramos as nossas mágoas, podemos nos surpreender
com isso, mas penso que os Srs. Deputados não se surpreendem, uma vez que
recebem votação popular.
O Prof. Wanderley Guilherme dos Santos também ressalta que o instituto do
voto obrigatório parece tão contraditório, que suscita opiniões de que talvez o
cidadão devesse ser livre para não votar. Ele explicará porque o voto obrigatório foi
um fator de democratização decisivo, de ampliação da escolha eleitoral. Trabalhou
com indicadores das eleições realizadas entre 1946 e 2000, a fim de mostrar como
se ampliaram o colégio e a oferta eleitorais, medidos pelo número de candidatos que
disputaram vagas nas Assembléias Legislativas e na Câmara Federal.
Para espanto de muitos céticos do vigor da democracia brasileira, as Regiões
Sudeste e Centro-Oeste acusaram, desde 1945, crescimento da oferta de
candidatos por cadeira na escala de um para dez. Ou seja, o Sudeste brasileiro
passou de um candidato por cadeira, o que praticamente era um monopólio, para
cerca de quinze candidatos. No Centro-Oeste a situação foi mais ou menos idêntica;
no Nordeste, região considerada de pouca competitividade eleitoral, o indicador
multiplicou-se por seis, a exemplo do Norte.
Em outras palavras, o Prof. Wanderley Guilherme dos Santos mostra-nos
como o voto obrigatório tem sido, na verdade, poderoso fator de democratização e
de abertura do leque político brasileiro.
O Prof. Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais,
também renomado cientista político, ensaiou uma reflexão geral sobre a reforma
política e sobre as tensões entre a estabilidade e a instabilidade políticas, entre
eficiência e representatividade democrática, enfim, sobre um conjunto de questões
cotidianas, ponderando, talvez peculiarmente, com a sua experiência mineira,
usando aquilo que chama de “decantação tancrediana”, ou seja, o fato de que a
política e as instituições nacionais precisam de tempo para amadurecerem e
lograrem seus melhores frutos. Isso talvez possa ser traduzido no velho mote
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popular que diz: “devagar com o andor, que o santo é de barro”. Ou seja, é preciso
cuidar de democracia, deixá-la experimentar e crescer e não entrar numa espécie de
reformismo avassalador e incessante, sem que as instituições políticas sejam
provadas pelo próprio exercício da soberania popular.
Era este o resumo que eu queria apresentar-lhes antes de iniciarmos o
debate.
Muito obrigado, Sr. Presidente, Sr. Relator, pelo tempo a mim concedido.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Antes de conceder a
palavra ao Dr. Paulo Vannuchi, passo a palavra ao Deputado João Paulo Cunha,
Presidente da Câmara dos Deputados, agradecendo a V.Exa. a presença na
Comissão Especial da Reforma Política.
Sr. Presidente João Paulo Cunha, esta Comissão já começou a dar frutos.
Votamos a primeira proposta, e o eminente Relator já colhe as assinaturas dos
Líderes para, após a semana Santa, através de requerimento de urgência, submetê-
la à apreciação do Plenário da Casa.
Tem V.Exa. a palavra.
O SR. PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS (João Paulo Cunha)
– Sr. Presidente da Comissão Especial da Reforma Política, Deputado Alexandre
Cardoso, Sr. Relator, Deputado Ronaldo Caiado, Prof. Francisco de Oliveira, a quem
muito admiro por emitir boas opiniões sobre variados assuntos, inclusive sobre o
Banco Central, caro amigo Paulo Vannuchi, Prof. Fábio Kerche, Sras. e Srs.
Deputados, fiz questão de comparecer à apresentação deste trabalho sobre reforma
política, cujo formato lembra a Bíblia, que o Instituto Cidadania oferece à Câmara
dos Deputados.
Participei de parte considerável da elaboração do projeto e dei modesta
colaboração. Considero positivo a Comissão ouvir os representantes do Instituto
Cidadania e receber esta contribuição que, tenho certeza, ajudará Deputados e
Deputadas a conformar opinião sobre os mais diversos temas. Evidentemente,
torna-se difícil conformar maiorias, afinal V.Exas. têm opinião própria sobre cada
assunto. Não é simples ter unidade sobre os mais diversos temas relacionados à
reforma política. Somente com debate é que podemos chegar a determinado ponto.
E é isso o que a Comissão está fazendo.
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Sinto-me satisfeito ouvir o Presidente Alexandre Cardoso dizer que já há uma
proposta, sugerida por esta Comissão, a ser apreciada pelo Plenário. Realmente, é
muito positivo. E tenho certeza de que esta Comissão produzirá muito mais. O Brasil
carece de reforma política. É evidente que há desconforto, de nossa parte e da
sociedade, em conviver com uma situação insegura nesse setor; o resultado da
eleição não se traduz na distribuição do tempo na TV ou nos meios de comunicação
da Casa, e que o que prevalece muitas vezes é a posse, em detrimento do resultado
eleitoral. Seria positivo caminharmos no sentido de respeitar o que a urna produz.
Exatamente o resultado eleitoral deveria ser o guia para o estabelecimento da
divisão do espaço de cada partido na Casa. Vamos discutir esse assunto, o sistema
eleitoral, o voto facultativo, entre outros.
O Prof. Francisco de Oliveira, na sua explanação inicial, traz um dado
interessante: a defesa do voto obrigatório feita pelo Prof. Wanderley Guilherme dos
Santos. E se sustenta em uma tese progressista: o voto obrigatório incluiu os
cidadãos no sistema eleitoral. É uma tese admirável que, certamente, fará com que
a Comissão Especial e a Casa façam debate qualificado sobre o tema e tantos
outros que a reforma política traz à luz.
Por derradeiro, parabenizo todos os integrantes desta Comissão,
especialmente os Deputados Alexandre Cardoso e Ronaldo Caiado, que
recentemente ofereceram um café da manhã aos presidentes dos partidos, para
colher opiniões e pontos de vista diversos sobre os temas aqui abordados.
Certamente saberão conduzir esse trabalho para um bom porto, que seja a definição
daquilo que é melhor para consolidar os nossos sistemas político e partidário.
Parabenizo os membros do Instituto Cidadania e o Dr. Paulo Vannuchi, que
fizeram um trabalho muito importante para o Brasil. Dentre tantos trabalhos
realizados pela entidade, mais um é oferecido à sociedade brasileira.
Parabenizo também os membros desta Comissão Especial pelo belíssimo
trabalho que fazem. Espero que a Casa consiga dar uma resposta à sociedade,
evidentemente aquilo que for possível e o que representar o conjunto de nossas
opiniões, para melhorar a representação e a condução política e partidária.
Um abraço a todos do Instituto Cidadania, ao Prof. Francisco de Oliveira e
aos membros da Comissão.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Sr. Presidente, antes
de sua retirada, recebo oficialmente do Instituto Cidadania este trabalho, que se
incorporará ao acervo e será disponibilizado ao eminente Relator, Deputado
Ronaldo Caiado. (Palmas.)
Após as palavras do Prof. Francisco de Oliveira e a saudação do Presidente
João Paulo Cunha, tenho o prazer de conceder a palavra ao Prof. Paulo Vannuchi,
Coordenador do Instituto Cidadania.
O SR. PAULO VANNUCHI – Agradeço aos Deputados Alexandre Cardoso e
Ronaldo Caiado e, especialmente, à Deputada Luiza Erundina pelas exageradas
palavras de carinho.
É com muita emoção que participo dos trabalhos de uma Comissão que, para
mim, conforme recordou a Deputada Luiza Erundina, tem muito de festa
democrática, seguindo a linha das brincadeiras aqui feitas.
Há aqui companheiros conhecidos, veteranos das experiências de prisão
política, de exílio, a exemplo do Deputado Aloysio Nunes Ferreira, que para nós é o
pai da Gabi, nossa colega da USP.
Prof. Francisco de Oliveira, vou falar um pouco do Instituto Cidadania.
Distribuirei aos Srs. Deputados um trabalho que será lançado daqui a um mês, em
forma de livro. Peço a V.Exas. que sejam reservados quanto a esse trabalho, para
garantirmos o impacto do seu lançamento.
Sou assessor do Presidente Lula há vinte anos. Estamos juntos desde o
começo nessa experiência do Instituto Cidadania. E esse projeto, como disse o Prof.
Francisco de Oliveira, é diferente dos demais já realizados pelo Instituto, que nasceu
com o objetivo de fomentar discussões suprapartidárias para a elaboração de
projetos de políticas públicas. De lá saíram algumas propostas conhecidas, como o
Programa Fome Zero, Segurança Pública para o Brasil, Projeto Moradia e muitos
outros.
Na discussão da reforma política, o nosso grande coordenador, hoje
Presidente da República, recomendou que não fizéssemos apenas uma proposta,
mas um estudo. Trabalhamos desesperadamente durante uma semana para
finalizar a edição, corremos contra o relógio. Peço a V.Exas. que nos perdoem
alguns erros cometidos na pressa de oferecer-lhes este estudo antes das votações.
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Não há qualquer direcionamento. Mesmo o financiamento público de
campanha, ponto consensual entre debatedores de seminários, foi incluído no
estudo. Mas quem quiser localizará também argumentos contrários. Não houve uma
busca. Decidimos que, se íamos falar do financiamento público de campanha,
devíamos encontrar um especialista favorável que ressaltasse os aspectos
favoráveis e desfavoráveis.
Trata-se de um depósito de idéias, dados e sugestões; as propostas estão
embutidas. Os Deputados saberão localizar as propostas.
No plano de divisão dos trabalhos, realizada em três, o lote maior ficou com
Fábio Kerche, nosso secretário acadêmico, Doutor em Ciências Políticas, que na
próxima sexta-feira defenderá na USP sua tese de doutorado, cujo tema é “O Papel
do Ministério Público e o Controle Democrático”.
Gostaria de falar só mais um pouco do trabalho da Profa. Maria Victória
Benevides, espécie de âncora do nosso trabalho. Estaria presente a esta reunião,
mas ontem caiu de cama com uma forte gripe e cancelou a viagem. É, certamente, a
maior autoridade brasileira no tema democracia participativa.
Ela começa seu trabalho tentando desfazer o mito da contraposição entre a
democracia direta e a democracia representativa, esta consolidada. Toda a
discussão em torno da chamada democracia participativa diz respeito à busca de
elementos, na participação popular, de aperfeiçoamento, valorização e elevação da
qualidade da representação. Retoma o tema da soberania popular como fundamento
maior da democracia; lembra o art. 3º da nossa Carta Magna, para dizer quais são
os objetivos, tarefas e deveres primordiais do Estado brasileiro. Quando começa a
atualizar a discussão, parte da idéia de que não se trata apenas dos temas já
introduzidos no debate de 1987 e 1988: referendo, plebiscito, iniciativa popular.
O debate tem que incorporar hoje a questão da televisão, ou seja, discutir
democracia é discutir espaço público; discutir televisão é discutir espaço público,
espaço de divulgação da informação, de formação de opinião. É preciso discutir o
tema no momento que o Congresso Nacional considerar adequado, incorporando as
regras da representação, geralmente concebidas muito tempo antes dessa inovação
histórica, e a modificação estrutural que a existência da televisão e do rádio vai
introduzindo, o marketing político, para atualizar nossas regras.
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Ela fala em direito de antena, ou teledemocracia, faz um apanhado das
experiências de países que já têm essa metodologia para se começar a pensar em
introduzir algo semelhante aqui.
Quando fala das formas de democracia direta, de participação popular, não
limitada ao espaço de quatro em quatro anos, intervalo das eleições, retoma a
questão doutrinária sobre referendo, plebiscito, casos para um e para outro, discute
a iniciativa popular, incorpora o tema orçamento participativo e fecha com a
educação para a cidadania, que hoje várias redes trabalham no Brasil. A idéia de
uma participação popular crescente na decisão política requer educação, que se dá
no próprio processo político; educação não formal, mas também educação formal,
aperfeiçoamentos dos vários currículos do sistema público de educação, do
Ministério, etc., para que se prepare melhor o eleitor ou o futuro eleitor para votar,
para exercer a cidadania plenamente.
Também lembra a valorização dos conselhos, incluindo os avanços já
alcançados, inclusive em Conselhos Gestores, em Conselhos de Representantes de
vários Municípios. E a Comissão de Legislação Participativa, criada em 2001 por
iniciativa do Deputado Aécio Neves.
Vou falar rapidamente sobre o trabalho de Chico Whitaker, ex-Vereador de
São Paulo, exilado político por muitos anos e hoje Secretário-Executivo da
Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB.
A partir do tema geral, democracia participativa, faz a recapitulação da
iniciativa popular de lei. Desde o primeiro momento da Constituinte, da coleta de
assinaturas, da plenária pró-participação popular, até o balanço, um tanto quanto
melancólico e pessimista, de apenas duas iniciativas populares conseguirem tramitar
nesta Casa, uma só aprovada até hoje, transformada na Lei nº 9.840, da Comissão
de Combate à Corrupção Eleitoral.
Também levanta problemas, solicita à Casa que estude aperfeiçoamentos.
Lembra o projeto da Deputada Luiza Erundina sobre redução do percentual de 1%
de assinaturas, por conhecer a experiência de coletar um milhão de assinaturas de
cidadãos que não andam com o título de eleitor.
Além dessa idéia, faz sugestões no sentido de serem utilizadas urnas
eletrônicas autorizadas e cedidas pelo TSE para a região, o que resolveria o
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problema da autenticidade. Apresenta também a idéia de delimitação de temas pelo
Congresso Nacional, a fim de se evitar a banalização da iniciativa popular.
Trabalho do filósofo político Renato Janine Ribeiro, da USP, é a anteposição
do voto obrigatório ao voto facultativo. É um ensaio bastante livre, coloquial, que, no
fundo, aborda tema clássico da teoria política, um tanto complexo: a anteposição do
conceito de liberdade liberal ao de liberdade democrática.
José Guilherme Merchior discute magistralmente liberalismo novo e antigo e
afirma que o conceito liberal de liberdade é muito mais propriamente assentado na
alma do liberalismo, na proteção do indivíduo frente ao Estado, ao passo que a idéia
de liberdade democrática tenderia mais para a associação comunitária.
No fundo, a discussão sobre voto facultativo e voto obrigatório reflete as duas
concepções. E Renato Janine Ribeiro sustenta que o voto obrigatório é o que mais
propende num país como o Brasil, para reforçar a participação de todos os cidadãos.
Claro que também faz ponderações sobre os argumentos contrários.
A cientista política Raquel Meneguello, da UNICAMP, analisa algumas
pesquisas recentes de opinião pública sobre reforma política. Trata-se de perguntas
ao cidadão, na rua e em seu domicílio, sobre como vê os partidos, a fidelidade
partidária, a coligação, a própria idéia de reforma política. Vale a pena ler com
atenção.
O trabalho de um cientista político e Vereador do PT em Taubaté foi
incorporado ao estudo porque pareceu ao Dr. Fábio Konder Comparato e à Profa.
Maria Victória Benevides sugestão muito interessante para os senhores legisladores,
tendo em vista que apresenta a idéia do Legislativo no Município.
O Prof. Fábio Wanderley Reis, no seu trabalho, usa a expressão reformas
políticas, no plural. Talvez haja outras para os próximos anos. Faz um belo estudo
sobre como o Vereador é reconhecido pelo conterrâneo como autoridade, como
alguém que pode conseguir um hospital, uma ambulância, asfalto para essa ou
aquela estrada, e como isso cria necessária dependência em relação ao Executivo e
desequilibra a desejável relação entre os Poderes. Como é do PT, o professor
encerra com 13 sugestões de aperfeiçoamento nessa área.
Sobre os temas dos seminários resumidos neste livro não vou ter tempo de
falar, nem de submeter aos convidados a famosa revisão. Portanto, qualquer
barbeiragem é responsabilidade nossa.
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O primeiro seminário foi realizado em 22 de abril de 2002, na USP, na famosa
Faculdade de Filosofia, situada na Rua Maria Antônia. A abertura foi feita pelo
Presidente Lula e por Francisco de Oliveira. De manhã, o tema foi o financiamento
público de campanha. Falaram, dentre outros, o cientista político do IUPERJ Jairo
Nicolau, um dos grandes especialistas da área, com o maior número de publicações
recentes sobre o tema, que tem um trabalho próprio neste livro, ao qual Fábio
Kerche fará referência; o Senador Roberto Requião, hoje Governador do Paraná; o
empresário Ricardo Young, Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos
de Responsabilidade Social; e o Deputado João Paulo Cunha, Presidente desta
Casa, que acaba de nos honrar com a sua presença. À tarde, foram abordados os
seguintes temas: voto distrital e voto proporcional em anteposição e coligações
proporcionais. Os convidados foram o cientista político Fernando Limongi, professor
da USP e Presidente do CEBRAP, que todos conhecem por ser um dos
especialistas que mais tem publicado artigos sobre o assunto; o Ministro Costa Leite,
ex-Presidente do Superior Tribunal de Justiça, então no PSB; e o Dr. Fábio Konder
Comparato.
No seminário do Rio de Janeiro, realizado no IUPERJ, discutiu-se a relação
entre os Poderes com o então Deputado Federal Milton Temer e o cientista político
Luiz Verneck Viana. Faltou, embora tivesse prometido ao Deputado João Paulo
Cunha que compareceria, o Prefeito César Maia. À tarde foi debatida a questão da
Federação pelo Deputado Jorge Bittar, pelo Prof. Maurício Barreira, da Fundação
Getúlio Vargas, e pelo Prof. Wanderley Guilherme dos Santos, do IUPERJ.
No terceiro e último seminário, realizado em Porto Alegre no mês de junho,
falaram sobre partidos políticos e controles democráticos os ex-Prefeitos Tarso
Genro e Raul Pont, o Deputado Fernando Coruja, do PDT de Santa Catarina, e o
cientista político André Marinho. À tarde, o tema discutido foi democracia
participativa. O debate começou com a Profa. Maria Victória Benevides, depois
falaram o Deputado Estadual Bernardo de Souza, do PPS do Rio Grande do Sul, ex-
Prefeito de Pelotas, onde houve a experiência embrionária do orçamento
participativo, o especialista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luciano
Fedozzi e o ex-Governador Olívio Dutra.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Agradeço ao Prof.
Paulo Vannuchi e passo imediatamente a palavra ao Prof. Fábio Kerche. Ao fim da
sua explanação, as inscrições serão encerradas.
Tem V.Sa. a palavra.
O SR. FÁBIO KERCHE – Sr. Presidente, Deputado Alexandre Cardoso, Sr.
Relator, Ronaldo Caiado, Sras. e Srs. Deputados, devo confessar o meu desconforto
em falar para V.Exas. Costumo falar para alunos, o que é um pouco mais fácil.
Vou tentar ser breve e claro. Vou falar rapidamente sobre alguns papers
apresentados neste livro. Comentarei, inicialmente, o artigo do Prof. Jairo Nicolau,
da IUPERJ, intitulado “Reforma da Representação Proporcional do Brasil”. Nele, o
professor diz não haver uma reforma política boa ou má, em abstrato. Ela é boa ou
má se atinge os objetivos tentados anteriormente. Se o objetivo, por exemplo, é
diminuir o número de partidos, há certos instrumentos; se é aumentar a
proporcionalidade, há outros.
O Prof. David Samuels, da Faculdade de Ciência Política da Universidade de
Minnesota, em seu artigo “Financiamentos de Campanha e Eleição no Brasil” usa
dados do Tribunal Superior Eleitoral, prestação de contas de campanhas, para fazer
a análise da questão e chega a conclusões muito interessantes. Por exemplo: que
as campanhas brasileiras são muito caras mesmo quando comparadas com as dos
Estados Unidos. No final do artigo, discute as vantagens e desvantagens do
financiamento público de campanha. Em princípio, ele acha o ponto interessante,
mas lembra que devemos tomar certos cuidados, porque somente o financiamento
público não impede o chamada caixa dois das campanhas.
O Prof. Fernando Limongi e a Sra. Argelina Figueiredo — talvez os dois
cientistas políticos mais citados no Brasil —, no artigo “Medidas Provisórias”
enfatizam que a medida provisória representa, na verdade, uma delegação do Poder
Legislação para o Poder Executivo, mas não abdicação. Os autores argumentam
que há interesse do Legislativo de que as medidas provisórias sejam um instrumento
de criação legislativa.
O Prof. Fernando Abrucio, da PUC de São Paulo e da Fundação Getúlio
Vargas, no seu artigo “Reforma Política e Federalismo” cita o histórico da Federação
no Brasil e no mundo e toca em dois pontos interessantes, relativos à reforma
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política, que destaco: o papel do Senado e a questão da Federação; a
desproporcionalidade da representação dos Estados.
A Profa. Celina Souza, da Universidade Federal da Bahia, no seu artigo
“Políticas Públicas e Orçamentos Públicos” faz o histórico da diminuição do peso
individual na construção dos orçamentos, demonstrando que, depois da CPI do
Orçamento, o caráter individualista das propostas orçamentárias se transformou; e
faz um estudo sobre o Orçamento Participativo, ou seja, como fazê-lo em âmbito
federal e local, as novas experiências e projetos mais coletivos de elaboração do
Orçamento.
O Dr. Gustavo Venturi, Cientista Político da USP, ex-Diretor do Datafolha, em
seu artigo “Opinião Pública, Legislação Eleitoral e Democracia” discute as pesquisas
eleitorais e a liberdade de divulgação, que não deve ser confundida com ausência
de regulamentação. Ele defende que as pesquisas sejam amplamente divulgadas,
mas que os instrumentos de controle em relação à metodologia e a quem financia
sejam reforçados, a fim de que o cidadão tenha condições de escolher melhor os
seus representantes.
O Prof. Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais, em
seu artigo “Migração Partidária na Câmara dos Deputados” apresenta um dado que
V.Exas. devem conhecer: de 1985 a 2001 houve 1.035 migrações partidárias entre
os Deputados Federais.
(Intervenção inaudível.)
O SR. FÁBIO KERCHE – Não. Deputados Federais.
O artigo é muito interessante, Deputado, porque mostra as diferenças
partidárias, como e quantas vezes ocorre a migração, e que, além de mudar a
relação de forças internas na Câmara, o fato prejudica ou arranha a imagem da
própria Casa. Ao final, propõe a discussão do assunto.
Por fim, o artigo o Prof. Otávio Dulci, da Universidade Federal de Minas
Gerais, sobre os partidos políticos no Brasil. Segundo sua análise, a legislação
brasileira é rígida quanto ao direito de um partido à representação, à cláusula de
exclusão, ao quociente eleitoral, mas muito permissivo quanto ao funcionamento dos
partidos. Ele propõe também um debate sobre a eventual reforma do sistema
partidário brasileiro e mapeia a história partidária brasileira.
Vou finalizar, porque acho mais interessante o debate.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Antes de passar a
palavra aos eminentes Deputados, quero registrar que o Relator fará as suas
observações ao final do debate.
Os Srs. Deputados já têm a ata da última reunião.
Regimentalmente, pergunto ao Plenário se há necessidade da sua leitura.
O SR. DEPUTADO MARCOS ABRAMO – Solicito a dispensa da leitura, Sr.
Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Dispensada a leitura
da ata.
Em discussão. (Pausa.)
Não havendo quem queria discutir, passa-se à votação.
Os Deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovada.
Srs. Deputados, quero registrar o que me disse um jornalista: “Deputado, a
primeira reforma a ser encaminhada para a Casa acabou sendo a reforma política”.
Entendo que essa foi a grande contribuição que o Instituto Cidadania deu a esta
Comissão e a esta Casa. A entidade merece abrir os debates desta reunião de
audiência pública.
Agradeço, em meu nome e em nome do Relator, à Deputada Luíza Erundina
por ter feito o requerimento de realização desta reunião.
Passarei a palavra aos Srs. Deputados, antes solicitando que, por haver
grande número de inscritos, seja respeitado o tempo de três minutos.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Sr. Presidente, não consegui entender
com quem e onde deveria fazer a inscrição.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Querem se inscrever
os Deputados João Almeida, Renildo Calheiros, Chico Alencar, Colombo e Nilton
Baiano. (Pausa.)
Estão encerradas as inscrições.
Com a palavra a nobre Deputada Luiza Erundina.
A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA – Sr. Presidente, colegas
Parlamentares, caros expositores desta reunião de audiência pública, como já se
previa, a contribuição dada aqui é suficiente para debatermos todos os temas
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relativos a uma verdadeira reforma política, tendo como base particularidades e
concepções acerca da questão e visando dar consistência ao trabalho.
Graças à forma de apresentação, bastante instigante, mesmo durante a
Semana Santa muitas pessoas provavelmente vão se deliciar com esse trabalho.
No pouco tempo que tenho não pretendo me referir à exposição dos três
convidados, até porque não domino suficientemente bem o assunto para discutir
questões pontuais. Sinto-me, entretanto, tentada a abordar algumas questões não
necessariamente ligadas ao que foi apresentado, mas que têm sido objeto de
discussão e de preocupação não só desta, mas também de outras Comissões de
que temos participado.
Ontem houve um ciclo de debates, promovido pela bancada do Partido
Socialista Brasileiro, sobre o Sistema Financeiro. Vamos realizar vários debates
sobre os diferentes temas das reformas em curso na Casa. Por que estou falando
nisso? Porque, quando tratávamos da reforma do Sistema Financeiro houve a
necessidade de definirmos que Estado queremos, de que Estado precisamos e
quais reformas precisam ser feitas. Houve quem perguntasse: “Autonomia do Banco
Central em relação a quê?” Portanto, trata-se de elaboração muito mais estrutural e
não simplesmente de abordar esse ponto específico.
V.Sas. conseguem ver relação entre a reforma política e as demais reformas
em discussão na Casa — previdenciária, tributária, agrária e do Poder Judiciário?
V.Sas. vêm relação entre a abordagem da reforma política e dos outros temas em
curso na Casa?
Outra questão sobre a qual queria falar é a cláusula de barreira. Fala-se muito
que o Brasil tem muitos partidos, pequenos, médios e grandes. Surge, então, a
denúncia de legendas de aluguel, enfim, de deformação que existe ou se imagina
existir. Pergunto: como o Instituto Cidadania analisa o tema no trabalho
apresentado, tendo em vista o atual número de partidos e sua identidade político-
ideológica?
A democracia está no centro do debate da reforma política. Em certo sentido,
avançamos em relação ao que está previsto na Constituição de 1988, sobretudo em
relação aos mecanismos de participação da sociedade civil organizada. Cito os
conselhos paritários, as audiências públicas e outros mecanismos das três esferas
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de Poder que têm sido exercitados de forma incipiente, mas são muito importantes
para a democracia participativa.
Na Câmara, a Comissão de Legislação Participativa, criada há pouco mais de
um ano, tem muita receptividade na sociedade civil organizada. Com um ano e meio
de funcionamento, foram apresentadas mais de cem sugestões de projetos de lei,
vários deles aprovados nesta e em outras Comissões de mérito. Um deles foi
aprovado pelo Plenário da Câmara. Há, portanto, uma dinâmica muito mais ágil do
que aquela que se origina da iniciativa de um Parlamentar. Muitas vezes
apresentamos projeto de lei, e depois de um ou dois mandatos ainda não
conseguimos aprová-lo nesta Casa, muito menos no Senado, para vê-lo sancionado
pelo Presidente da República. Esse mecanismo, mesmo com pouco tempo de
funcionamento, já demonstra a sua eficácia e o interesse da sociedade civil
organizada de se apropriar desse espaço de participação democrática.
Chamo a atenção de V.Exas. para o fato de que há um embrião de
Orçamento Participativo, iniciativa da Comissão de Legislação Participativa. Do
Orçamento de 2002 constaram recursos no limite de quase 40 milhões de reais. É
muito pouco em relação a um orçamento de bilhões de reais, mas foram incluídos e
aprovados na Comissão Mista de Orçamento por sugestão de entidades da
sociedade civil, por intermédio da Comissão de Legislação Participativa. Portanto,
seria o embrião do Orçamento Participativo, processo no qual a sociedade civil
organizada propõe e vê aprovados recursos para programas e atividades de
organizações de âmbito nacional.
Peço a V.Sas. que teçam mais considerações a respeito disso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – A Presidência vai
conceder a palavra a três Srs. Deputados, para depois passá-la aos membros da
Mesa.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – É natural que V.Exa. tenha sido
condescendente com a Deputada Luiza Erundina, autora do requerimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Sim, a Deputada Luiza
Erundina é a autora do requerimento.
Peço aos Srs. Deputados que respeitem o prazo de três minutos, para que
todos possam falar.
Com a palavra o Deputado José Divino.
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O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO – Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs.
Deputados, membros da Mesa, o País vive uma falsa democracia. Minha
preocupação é no sentido de que esta Comissão faça uma reforma não para a
sociedade, mas para atender aos interesses de partidos políticos, de caciques
políticos e das elites. Neste País o voto é obrigatório, mas o Deputado eleito vota da
forma que quiser, e isso não é democracia.
Penso que um país que não dá liberdade a seu povo para votar com a sua
consciência, que impõe o voto obrigatório, não é democrático. É como se a classe
política brasileira dissesse que o povo brasileiro não tem capacidade,
responsabilidade e consciência do seu dever. Não concordo com o voto obrigatório.
É evidente que vai crescer o número de inscritos. Para dirigirmos um carro,
precisamos de habilitação; é obrigatório fazer a declaração do Imposto de Renda
para aumentar o número de declarantes — essa é uma tese furada.
Qual é o pensamento do Instituto Cidadania a respeito do financiamento
público de campanha em um país onde a educação e o planejamento familiar não
são prioridade?
No meu Estado, o Rio de Janeiro, há dois meses o funcionalismo público está
em greve. Quanto à lista e à idéia de que vai ser um balcão de negócios, se
aprovada, será melhor negócio abrir os partidos na Bolsa de Valores, porque o
primeiro da lista vai ter o mesmo valor do passe de Ronaldinho.
Eram essas as minhas considerações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Obrigado, Deputado
José Divino.
Com a palavra o Deputado Lincoln Portela.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, Sr. Relator, Dr. Francisco de Oliveira, Dr. Paulo Vannuchi, Dr. Fábio
Kerche, hoje estou me sentindo pobre — desculpem-me a comparação, toda a
analogia por si mesma é imperfeita —, financeiramente pobre, a exemplo daquele
que vai à casa do rico e vê uma mesa muito bem posta, um jantar com muitas
iguarias, fica inibido e come pouco.
Lamentavelmente nosso tempo acaba sendo escasso para ouvi-los e, talvez
até individualmente, um tema fosse debatido por vez.
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Tenho grande prazer em estar aqui. Sinto-me enriquecido. Sei que vou fazer
bom uso deste trabalho, percebe-se, muito bem elaborado pelo Instituto Cidadania.
Mas deixo apenas minha palavra. Gostaria de alimentar-me um pouco mais com
aquilo que os senhores têm a nos oferecer.
A Deputada Luiza Erundina fala de cláusulas de barreira, que, dependendo de
como são usadas, para mim acabam sendo um instituto da ditadura, talvez menos
rigorosas, levando-se em conta que as legendas de aluguel não se devem ao
tamanho dos partidos.
Quando os gregos iam para as praças encenar e colocavam máscaras,
diziam que era hipocrisia. O partido ser pequeno não significa que seja de aluguel.
Todos sabemos quanto custa uma eleição, tanto dos grandes quanto dos pequenos,
e o tipo de negociação e acordos feitos, tanto com os pequenos quanto com os
grandes.
Concluindo, quanto a voto facultativo, de 1946 para 2000, a oferta eleitoral no
Sudeste cresceu 1,10%, também por causa da proliferação dos partidos, o que é
inteiramente constitucional. As mulheres também entraram na vida política. Estou
resumindo em linguagem telegráfica minha manifestação para não ultrapassar o
tempo. De 1970 para 2003, 32 anos, o Brasil cresceu em 80 milhões de brasileiros,
houve explosão demográfica.
Jamais o voto obrigatório incluirá o coração do cidadão livre. O voto
obrigatório cresce não por causa da inclusão social, mas da inclusão obrigatória e do
crescimento democrático. É preciso que uma análise seja bem feita. Para mim,
democracia completa é aquela em que as pessoas têm liberdade para querer votar
ou não.
Deixo apenas essa observação e não uma pergunta, para dar minha
contribuição.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso ) – Passo a palavra ao
Prof. Francisco de Oliveira, pelo tempo de três minutos. S.Sa. responderá as
questões a ele direcionadas. Depois ouviremos os Profs. Paulo Vannuchi e Fábio
Kerche.
O SR. FRANCISCO DE OLIVEIRA – Guimarães Rosa, que escrevia livros
quilométricos, dizia que não tinha tempo para ser sintético.
Vou ater-me a duas questões, que saíram de várias intervenções.
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Quanto à obrigatoriedade, que parece contradição com democracia, o estudo
da Cidadania não tem posição alguma. Isso não é recuar da linha de batalha.
Entendemos que estamos numa sociedade plural, complexa, que não é redutível a
qualquer esquema. Qualquer esforço da Ciência Política para reduzi-la a qualquer
esquema rema contra a maré e desrespeita a complexidade dessa sociedade.
O estudo da Cidadania oferece um conjunto de sugestões. Nenhuma delas é
demonstrável positivamente. Não existe isso em Ciência Política nem em quase
nenhum assunto da sociedade. Não se demonstra uma coisa contra outra. São
opções e escolhas que estão à disposição dos cidadãos e dos seus representantes.
Há consenso formado pela experiência, pela formação, de que o voto
obrigatório, por exemplo, no Brasil, é democratizante. Evidentemente, questiona-se:
é democrático obrigar? Trata-se de uma sociedade de desiguais — é preciso não
esquecer isso —, apesar de complexa, na qual uns têm mais chances do que outros.
O voto obrigatório — os Deputados sabem disso muito mais do que eu — não
significa que ninguém pode deixar de votar. Pode. Só que o cidadão tem obrigações
no sentido de que a direitos correspondem deveres. É esse o dilema entre voto
obrigatório e voto facultativo. Se ele for funcionário público e não votar, terá de pagar
multa para continuar recebendo seu salário. Essa não é uma decisão dele, mas
deste Congresso Nacional.
Há consenso majoritário que não fecha a questão de que voto obrigatório é
mais democrático do que, aparentemente, voto facultativo. Algumas experiências
recentes vão nesse sentido.
A França, por exemplo, em 2002, confiou na faculdade de votar de seu povo e
quase se assustou com a eleição de um político de extrema direita, racista, que
pretendia excluir os imigrantes do corpo político do país. Atemorizou-se porque
confiou no voto facultativo. Mas a experiência está demonstrando que não é bem
assim.
A sociedade norte-americana, o segundo maior colégio eleitoral do mundo —
só perde para a Índia — e a maior potência do planeta, tem seu presidente eleito por
25% dos cidadãos.
Será que todos têm consciência de que estão abrindo mão de um direito
fundamental? Não há direito mais fundamental, entre todos os direitos humanos,
senão o de fazer política, porque nele o cidadão tem o direito de intervir no seu
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Estado, de mudar o rumo das coisas, de escolher outros representantes. Essa é
uma posição de consenso, mas tampouco fechada.
A cláusula de barreira não é consensual. A posição da maior parte dos
estudiosos de Ciência Política diz que pode ser perigosa do ponto de vista de fazer
surgir novas opções no espectro político de uma sociedade.
É dito que o sistema brasileiro é muito permissivo, muito aberto. Mas os
estudos que os senhores encontrarão neste repositório, que, se deve ser lido como
bíblia, como alguém sugeriu, são no sentido de sua riqueza, diversidade de pontos
de vista, e não no de rigidez nem de dogma. Isso todos sabemos, fomos criados
nessa tradição. Não há escritor ainda que tenha conseguido superá-la em sua
riqueza, diversidade e pluralidade.
Em relação à cláusula de barreira, a experiência sugere que é preciso não
enrijecer muito, para não evitar o aparecimento de novas opções. Nosso momento é
ilustrativo a esse respeito. Se tivesse havido cláusula de barreira em 1980, não
teríamos o Presidente que temos. Foi preciso um sistema aberto e capaz de aceitar
inovações.
Não há nada taxativo nem unidirecional neste estudo.
É só o que tenho a dizer.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Muito obrigado, Prof.
Francisco de Oliveira.
Para a complementação dos quesitos apresentados, passo a palavra aos
Profs. Paulo Vannuchi e, depois, Fábio Kerche.
O SR. PAULO VANNUCHI – Deputada Luiza Erundina, sobre a ordem das
reformas, não tivemos a chance de discuti-la para a apresentação do trabalho. Com
o tempo apertado que temos para responder, preferiria deixar a questão para uma
próxima vez.
Na conversa pessoal que tive com o Presidente Lula, na semana passada,
ficou claro que reforma política é atribuição, competência do Poder Legislativo. Não
se trata de o Poder Executivo estar propondo, discutindo outros dois ou três
encaminhamentos. Foi reafirmada a importância da reforma política como parte da
mudança que se pretende desenvolver no Brasil.
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É essa a mesma importância da democracia participativa da sua fala. Há
alguns estudos valorizando muito a experiência do orçamento participativo — já há
número significativo de Prefeituras de vários partidos que o realizam. Não existe
mais diferença: Oposição, Direita ou não. Foi aprovado como recomendação da
Conferência de Istambul, em 1996, e recomendado em relatórios do Banco Mundial
como prática saudável.
A questão que apareceu à reflexão é que era discussão de orçamento
participativo no âmbito municipal, e os analistas demonstraram consciência da
complexidade.
O texto da Profa. Maria Vitória fala de seu diálogo com o Prof. Fábio
Comparato. Ela dizia: “Eu, muito descrente a respeito da possibilidade de se pensar
um orçamento participativo de nível federal...” E o Prof. Comparato respondeu com o
argumento de que o orçamento é constituído de três peças: o PPA, a Lei de
Diretrizes e a Lei de Orçamento. Nas duas primeiras é possível estudar, pensar,
imaginar alguma maneira de que, na discussão das duas primeiras, haja
possibilidade de consulta.
A questão da lista envolve também polêmica clara, que compete menos a nós
chegarmos aqui com posição, agora com o Deputado José Divino, a favor ou contra.
Registro que também nesse calhamaço vão aparecer argumentos no seguinte
sentido: a lista fortalece os partidos. É verdade, e o Prof. Limonge desenvolve isso
bem não no texto que trata de medidas provisórias, mas em sua fala no seminário
da USP, quando diz: “O problema é que se pode criar a chamada partitocracia”. Isso
levou a Itália a um plebiscito, cujo resultado foi contrário ao financiamento público de
campanha. Naquele período, houve muito medo de fortalecer excessivamente o
poder das máquinas partidárias e esvaziar o poder do eleitor cidadão, agente
fundamental da vida política.
Por último, Deputado Lincoln Portela, reforço a idéia do um por vez. Nesse
sentido, deixo a sugestão de que, na programação da Comissão — nem digo que
seríamos os três —, a partir do estudo, fossem convocados esses especialistas,
pessoas que já trabalharam nesse ramo. Faríamos um esforço concentrado, num
único dia, para ouvir vários deles em um seminário. Realmente valeria muito a pena.
Seria o momento de entrar no debate técnico. O especialista vem aqui e diz: “Olha,
fiz uma pesquisa, durante um ano, sobre isso, tenho essa opinião...”
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Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Prof. Fábio Kerche,
V.Sa. quer fazer alguma observação?
O SR. FÁBIO KERCHE – Apenas um rápido comentário, Sr. Presidente.
Primeiramente, em relação à pergunta da nobre Deputada quanto à cláusula
de barreira. Acho que o quociente eleitoral acaba funcionando um pouco como isso.
Em segundo lugar, no futuro livro há diferentes posições em relação ao
número de partidos. Alguns dizem que o número é excessivo; outros, não.
Como disse no começo, não há nenhuma reforma política neutra. A reforma
política parte de um diagnóstico. Se o diagnóstico for no sentido de que há um
número excessivo de partidos, uma série de instrumentos poderão ser adotados.
Por exemplo, algo limitado, na mudança do sistema eleitoral: se se mudar
para majoritário, a escolha de Deputados, para o chamado voto distrital, tende-se a
reduzir o número de partidos; se se proibir coligações, tende-se a diminuir partidos;
ou se suficiente, o voto proporcional garante o maior número de partidos etc.
Estou querendo dizer que existem instrumentos tanto para diminuir o número
de partidos como para aumentar. Politicamente, a discussão está em avaliar se o
número de partidos no Brasil é excessivo. Primeiro, temos de fazer esta discussão: é
excessivo? Prejudica ou não a governabilidade? Prejudica ou não a negociação aqui
dentro? Se for excessivo, há instrumentos para diminuir o número de partidos? Caso
contrário, existem outros instrumentos?
É isso que o livro apresenta. Não há um ponto fechado no diagnóstico, nem
nas sugestões; há um debate mapeando alternativas.
Em relação ao financiamento público, Deputado José Divino, a avaliação de
vários autores é que ele, em princípio, democratiza a disputa eleitoral porque
permite outros candidatos participarem do processo eleitoral. Porém, todos
ressaltam que é preciso, primeiro, debater amplamente com a sociedade e
convencê-la de que vale a pena retirar dinheiro do Orçamento para financiar
políticos, talvez tentando quebrar a ligação entre o financiador e aquele que recebe
o financiamento. Todos ressaltam que, caso seja adotado, é preciso reforçar os
instrumentos de controle desses gastos, via TSE e TREs, com prestação constante
de contas não só após o final da eleição, mas durante todo o processo eleitoral.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Muito obrigado.
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A Mesa passa a palavra ao Deputado João Paulo Gomes da Silva, do PL de
Minas Gerais — parece-me que o Deputado Bonifácio de Andrada declinou porque
tem um compromisso —, depois aos Deputados Nilton Baiano e João Almeida.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA – Sr. Presidente,
nobre Relator, senhores convidados, penitencio-me pelo fato de não ter tido
oportunidade de ler o documento que recebemos agora, aliado ao fato de os
senhores todos terem sido muito reticentes em suas explanações, o que acaba
prejudicando bastante a realização do evento.
Contudo, o pouco que pude perceber me deixou bastante assustado. E, se
bem entendi, o Instituto de Cidadania, a despeito de não ter posição firmada, por
exemplo, sobre o voto obrigatório ou facultativo, detectei certa apologia ao sistema
atual do voto obrigatório. É de se lamentar que não tenha posição, pois tenho
percebido e dito sempre que, se o processo eleitoral pretende ser um instrumento da
democracia, o voto não pode continuar sendo obrigatório. Há uma contradição
intransponível nisso. Não há como explicar que a eleição, sendo obrigatória, integra
o processo democrático.
Percebo que isso serve para aumentar a ojeriza e a distância que a
população, sobretudo os mais humildes, guarda em relação à eleição e à atividade
política, que é tão nobre, de maneira geral.
O fato de termos 116 milhões de eleitores, a meu juízo, não nos autoriza
comemorar e dizer que são eleitores incluídos, que são cidadãos, até porque um
Título de Eleitor não retira ninguém da exclusão, absolutamente ninguém. E a
realidade nos mostra isso de maneira irrebatível.
O exemplo da França, a meu juízo, não deve ser aplicado ao Brasil porque
aqui, muito provavelmente, aconteceria o contrário. Percebo um receio muito grande
dos partidos que fazem política na freqüência de centro-direita de concordar com o
voto facultativo exatamente pelo poder de mobilização popular dos partidos que
fazem política na freqüência de centro-esquerda. Entendo que o efeito poderia ser
contrário daquele ocorrido na França.
Em relação ao financiamento público de campanha, não quero acreditar que
exista entre nós alguém que aceite que esse financiamento possa elidir ou reduzir o
emprego de recursos particulares, quer seja nas malhas e nas vias de doação, quer
seja nos recursos próprios de uma campanha política. Digo isso porque nossas
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instituições são todas muito precárias, e não teríamos instrumentos para fiscalizar e
coibir esse comportamento.
Não dá para acreditar que entre nós, nesta Casa, há alguém que entenda que
o financiamento público possa prestar-se a outra finalidade além de desacreditar a
atividade política.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA – Não posso aceitar, sem
meu veemente protesto, afirmação que desqualifica minha atividade parlamentar.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA – Solicito ao nobre
Presidente que mantenha minha palavra. Não estou pedindo ao nobre Deputado
para concordar comigo.
O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA – O que não aceito é
ofensa ao autor de uma iniciativa parlamentar. Sou um dos autores do projeto de lei
de financiamento público de campanha e não aceito esse tipo de desqualificação do
meu trabalho. Respeito a opinião de V.Exa., mas não aceito...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Vou pedir ao
Plenário...
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA – Não concedi aparte
ao nobre colega, caro Presidente, e tenho humildade suficiente para pedir
desculpas, porque sequer sabia que S.Exa. era autor de projeto dessa natureza que
tramita na Casa. O nobre colega não tem de concordar comigo e também não quero
que perca a oportunidade de se manifestar. Acho que o debate é democrático. Estou
falando aqui em meu nome e no de outras pessoas que represento. Tenho o direito
de falar. Se V.Exa. puder manter minha palavra, Sr. Presidente, gostaria...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Deputado João Paulo
Gomes da Silva, tem V.Exa. a palavra como orador inscrito.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA – Obrigado, caro
Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Não posso impedir
protestos nem questões de ordem porque fogem ao meu controle. Evidentemente,
manterei a palavra sempre que puder, de acordo com o Regimento.
Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA – Muito obrigado,
Presidente.
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Receba o nobre ex-Ministro meu pedido de desculpas. Não sabia que V.Exa.
era autor de uma proposta dessa natureza. Vim aqui combater idéias, não quero
agredir nem vilipendiar o nome ou as propostas de ninguém.
Prossigo. Colocaríamos sobre o eleitor aquela sensação de que estaria
pagando aos políticos não apenas depois de sua eleição e de sua posse. O simples
fato de registrar uma candidatura já colocaria o eleitor na obrigação de pagar, de
atribuir certa importância financeira ao eleitor.
Não consigo ver contribuição alguma nisso, nobre Presidente, e sabemos
bem que no cenário atual, a menos que haja uma mudança tão radical, que não
percebo, o sistema de listas, por exemplo, poderia ser um instrumento que criaria um
campo fértil para se aplicar tal sistemática, mas tal lista, com a atual Constituição, é
impossível, porque temos o sufrágio direto e secreto garantido nela, e o partido
seria, portanto, no sistema de lista, um atravessador desse voto direto, o que não é
possível.
Por fim, nobre Presidente, o orçamento participativo. Vivi isso muito
objetivamente e acho que esbarraremos na conceituação. A idéia é boa. Agora, a
aplicação tem experimentado muitos tropeços. Temo, por exemplo, que o orçamento
participativo torne-se um instrumento de manipulação política ideológica, como tem
sido feito, porque se consagram apenas parcos recursos financeiros à comunidade
carente, faz-se uma disputa, um cabo-de-guerra e, evidentemente, a discussão fica
entre um hospital e uma clínica médica, um hospital e um posto de saúde ou uma
escola e um posto de saúde, quando todos são importantes e necessários, enquanto
nas outras faixas, tanto do eleitorado quanto do orçamento, não há nenhuma
interatividade entre a sociedade e a administração pública.
Portanto, a democracia participativa é uma boa idéia, mas precisa ser muito
bem lapidada. Acho que o Instituto de Cidadania pode fazer isso e ofertar
contribuição muito melhor.
Não sei se fiz exatamente uma pergunta. Acho que trouxe um pouco dos
meus questionamentos a respeito dos problemas apresentados e prometo ler
bastante o importante instrumento que recebi da Mesa.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS – Sr. Presidente, peço a palavra
pela ordem.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Deputado Renildo
Calheiros, tenho dito que pela ordem é concessão da Mesa, porque se o Deputado
pede pela ordem, vai falar...
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS – Não, Sr. Presidente, serei
breve.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS – Estou preocupado, Sr.
Presidente, porque hoje a Ordem do Dia será pesada e daqui a pouco esta reunião
terá de ser suspensa.
Minha sugestão é a seguinte: se não for muito grande a lista de inscritos,
solicito a V.Exa. que, ao passar a palavra a todos os inscritos, limite o tempo de
cada um em três minutos e, finalmente, que os expositores respondam apenas as
questões que considerem mais importantes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Se o Plenário estiver
de acordo, aceitarei a sugestão. Sou um escravo do Plenário e do Regimento.
Concedo a palavra ao nobre Deputado Nilton Baiano.
Só vou pedir aos Parlamentares que sejam bem rápidos, pois fui
condescendente com o Deputado João Paulo Gomes da Silva e gostaria de não sê-
lo mais.
Desculpe-me, Deputado. Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO NILTON BAIANO – Não o desculpo, aplaudo V.Exa. pela
decisão.
Infelizmente cheguei atrasado e não pude ouvir a palestra do Prof. Francisco
de Oliveira. Entendo que o voto obrigatório não é uma ira e que a população não
queira votar. Na minha opinião, os políticos é que têm de ser mudados, quando não
responderem aos anseios da população; e, além de não responderem, ainda
aparecem na mídia envolvidos em irregularidades em diversos setores. Isso, no meu
modo de entender, é que cria na população a ira contra os políticos, e o cidadão
deixa de querer votar.
Temos de modificar a postura política para responder aos anseios da
população.
Quero fazer uma pergunta ao Dr. Fábio Kerche sobre financiamento público,
porque também faço voz a alguns Parlamentares que falaram antes de mim. A meu
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ver, esse debate deveria ser diferente e mais longo. Na Mesa há pessoas com
grande capacidade até para nos orientar nas próximas votações.
Sou a favor do financiamento público. É a minha opinião. Não quero, com
essa afirmação, agredir ninguém, mas o financiamento público diminuiria, sim,
desvios. As empresas não querem ter caixa dois, principalmente as mais
organizadas, pois caixa dois é coisa de trambiqueiro, de pessoas que vivem
envolvidas em alguns rolos. Empresa que não tem caixa dois e que, às vezes,
deseja fazer doações a políticos sente-se contrariada. Pior, no momento em que
houver lei regulamentando a situação, ela não vai querer doar mais nada para
ninguém, não vai mais financiar campanhas. Então, na minha visão, o financiamento
público é importante e diminui, sim, certos desvios.
O Dr. Fábio Kerche fez menção à organização da Justiça. Na sua opinião,
não deveríamos organizar melhor os partidos para que eles possam tomar conta
também da área financeira?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Muito obrigado,
Deputado Nilton Baiano.
Com a palavra o Deputado João Almeida, do PSDB da Bahia.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, quero também saudar os membros do Instituto de Cidadania e dizer que
estou muito feliz, pois agora tenho minha via-sacra para a Semana Santa — lembro
apenas que há dezoito estações aqui e na via-sacra são quatorze. Vou ter que
eliminar quatro.
Cheguei a ser sondado pelo Deputado João Paulo para participar de um
debate exatamente sobre coligações partidárias e financiamento público de
campanha, depois o evento não foi confirmado. Recebemos aqui contribuição muito
valiosa, que vai nos ajudar muito a refletir e a formar nossas opiniões sobre a
reforma política.
Vou falar apenas sobre dois pontos: financiamento público e campanha. Hoje,
o grosso, o essencial e o educativo da campanha política é financiado pelo Poder
Público — rádio e televisão, os dez e os vinte minutos, as inserções o ano todo. Não
é de graça; é pago pelo Erário e custa muito dinheiro. O que o financiamento privado
banca é a deseducação, a compra do voto, o showmício e a esbórnia. Falta muito
pouco dinheiro para se ter uma eleição decente e competitiva, com condições de
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participação num patamar de equilíbrio para realizar nossas eleições. O grosso do
custo da campanha, o essencial da campanha hoje é financiado pelo Erário. Se
baixarmos o custo, tiraremos do sistema de campanha a doação, o brinde e o
benefício pessoal. A campanha vai ficar muito barata. Então, o complemento
necessário é muito pouco dinheiro. Só para esclarecer meu ponto de vista.
Outro ponto é a cláusula de desempenho etc. Ao examinar isso, temos de
pesquisar nossa legislação e o que se pratica lá fora. Os senhores sabem que são
coisas completamente diferentes. O que está em vigor no Brasil é diferente do que
há na Alemanha e em outros países. O conceito é completamente diverso.
Enfim, Sr. Presidente, não quero alongar-me, pois esses temas serão
discutidos oportunamente.
Quero parabenizar o Instituto de Cidadania e agradecer o envio de
instrumento tão valioso para nossos trabalhos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Muito obrigado,
Deputado João Almeida.
Com a palavra o Deputado Renildo Calheiros.
O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS – Sr. Presidente, Sr. Relator,
Sras. e Srs. Deputados, em primeiro lugar, quero parabenizar o Instituto de
Cidadania pelo importante trabalho produzido. Também quero dizer que, ao
contrário do Deputado João Almeida, vou precisar lê-lo até o São João. Pelo volume
de texto que há aqui, acho que para a Semana Santa não vou dar conta. (Risos.)
Para respeitar o prazo de três minutos, estabelecido pelo Presidente para
nossa intervenção, vou mencionar telegraficamente algumas questões
Durante muitos anos, no Brasil, tivemos o bipartidarismo. Inicialmente, o MDB
e a ARENA; depois o PMDB e o PDS. Em seguida, surgiram mais três partidos: o
PTB — se não me falha a memória —, o PDT e o PT. Mas durante muitos anos, no
período do regime militar, era o sistema bipartidário. Não sei se por um erro de
formação, foi o momento em que comecei a participar um pouco da vida política
brasileira, mas fiquei com isso na cabeça.
Sempre associei a restrição à liberdade de organização partidária; sempre
associei impedimentos ao funcionamento parlamentar a medidas não democráticas,
mas ligadas a um regime autoritário, a um regime de exceção.
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Na época da ditadura militar, além do bipartidarismo, existia também a
fidelidade partidária, fixada em lei. Houve até um caso famoso, com um Deputado do
Sul — se não me engano, do Estado do Paraná, do MDB — que fez discurso da
tribuna da Câmara dos Deputados saudando o Ato Institucional nº 5. O Diretório
Nacional do MDB se reuniu e o expulsou, pois achou aquela atitude uma agressão
ao que o MDB defendia à época. O Deputado entrou com ação na Justiça e recebeu
decisão favorável. Então, mediante sentença concedida pelo Poder Judiciário, voltou
para o MDB, de onde havia sido expulso e com o qual politicamente não tinha
nenhuma afinidade naquele momento. Digo isso porque, a meu ver, fidelidade
partidária é uma necessidade, mas deve ser objeto de lei, objeto do estatuto dos
partidos políticos.
Esta é a minha questão: o exame da fidelidade partidária deve ser transferido
para o âmbito do Poder Judiciário ou deve ser matéria afeta aos partidos? Muitas
vezes, as pessoas querem resolver questões nos partidos sem assumir a decisão
como uma posição do partido, querem que a lei resolva um problema político que
não estão querendo enfrentar. Levanto essa questão também para reflexão.
Gostei muito quando o Dr. Francisco de Oliveira, citando o Dr. Fábio
Wanderley Reis, disse que é necessário tempo para que as instituições se
consolidem. Penso dessa maneira, sou um otimista com relação à vitalidade da
democracia brasileira. Acho que o Brasil, com poucos anos de democracia, da
metade da década de 80 para cá, vem dando, vamos dizer assim, algumas lições a
outros países. No Brasil, tem-se eleição para Presidente da República num dia e já
na madrugada seguinte sabemos quem foi eleito, sem contestações, sem denúncias
de fraude sequer em todo o País.
A democracia brasileira elegeu um ex-líder sindical. Ele havia sido preso no
início da década de 80 porque o regime de então o acusava de atentar contra a Lei
de Segurança Nacional. Hoje é o Presidente da República, legitimamente eleito pelo
povo brasileiro. A democracia no Brasil já produziu uma CPI para investigar o Poder
Judiciário. Com muitas limitações, não foi muito longe, é verdade, mas o fez. A
democracia brasileira produziu processos que culminaram com a cassação de
Deputados. A democracia brasileira já afastou, por meio de impeachment, um
Presidente da República sem ter, hora nenhuma, colocado em risco, vamos dizer
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assim, para usar uma expressão mais compreensiva, a legalidade democrática ou,
em algum momento, agredido nossa Constituição.
Penso que nossa democracia é jovem e vejo com muita preocupação certo
esforço em alguns setores do Congresso Nacional e fora dele também de se querer
regulamentar demais as coisas no Brasil. Sou contra regulamentação excessiva. O
Brasil precisa experimentar sua democracia, sem procurar copiar modelos de outros
países. Isso não dá certo, nunca deu certo em lugar nenhum, muito menos em um
país como o Brasil.
Apenas uma pergunta ao Dr. Francisco, que passou tangenciando pelo
problema.
Cada um dos Parlamentares que estão aqui quer uma reforma política. Todos
somos presididos por um aperfeiçoamento da democracia brasileira. Não há nenhum
que deseje desrespeitar a democracia, mas cada um vê a consolidação da
democracia e seu aprimoramento de uma forma.
Na minha maneira de ver, não há problema em se ter democracia de mais;
problema há em democracia de menos. Busco mais democracia para o Brasil.
Não concordo com a opinião de alguns colegas que acham que o problema
da democracia brasileira são os pequenos partidos. Pelo contrário, o problema da
democracia brasileira está nos grandes partidos, que, a rigor, não funcionam como
partidos políticos. É só observarmos a participação dos partidos nas últimas eleições
e nas próprias votações no Congresso. Não acredito que o problema esteja no
Congresso brasileiro. Alguns dizem que há uma certa lentidão. Não concordo com
essa opinião da mídia, principalmente de que, talvez, a lentidão seja causada pelos
pequenos partidos, como PV, PRONA ou PMN. Seguramente não é.
Outro ponto. Quando os 513 Deputados são eleitos, não é distribuída uma
bomba atômica para cada um, para que possa, se quiser, destruir o plenário. Aqui se
leva em consideração o peso de cada partido, e esse peso é proporcional à
quantidade de votos que os partidos obtiveram. Quando os partidos grandes se
entendem, as matérias são aprovadas. Não é um partido pequeno que obstrui a
pauta, não é um partido pequeno que retira matérias importantes, que não foram
votadas porque ele foi contra. O partido pequeno tem peso pequeno. Nossos
problemas estão nas dificuldades criadas pelos grandes partidos. É a minha maneira
de ver.
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Para finalizar, Sr. Presidente, vou falar sobre a cláusula de barreira, que tem
como objetivo explícito enxugar o quadro partidário, diminuir o número de partidos
em atividade no Congresso Nacional, o que se convencionou chamar de
funcionamento parlamentar. Na minha maneira de ver, a cláusula de barreira,
embora exista em outros países, é um atentado à democracia. Exigir-se quadro
partidário enxuto através da cláusula de barreira é um mecanismo artificial; é exigir
da sociedade que ela negue sua própria pluralidade. Em qualquer sociedade devem
existir tantos partidos quantos ela deseje. Cabe ao povo dizer que partidos devem
crescer e que partidos não devem.
Fui Presidente da UNE e busquei apoio no Congresso para nossas causas.
Àquela época, o PT tinha cinco Deputados. Hoje tem o Presidente da República, 91
Deputados e vários Senadores. Tivesse a cláusula de barreira sido aplicada naquela
época, qual seria o resultado hoje? Havia um partido que se intitulava o maior do
Ocidente. Hoje nem existe mais.
Penso que precisamos buscar o aprimoramento da democracia. Só não
podemos regulamentar demais para não restringirmos a própria democracia, que
ainda precisa florescer no Brasil.
Solicito aos nobres expositores que façam algum comentário sobre a cláusula
de barreira, que, para mim, restringe as liberdades democráticas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – O Deputado Colombo
é o último inscrito. Após S.Exa. passarei a palavra aos senhores expositores.
Concedo a palavra ao Deputado Colombo.
O SR. DEPUTADO COLOMBO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em
certa ocasião, Deputado Distrital pelo Paraná, fui até o Presidente daquela Casa, já
falecido, pois os Deputados estavam recebendo muitas críticas da comunidade. Eu
disse: “Temos de fazer algum seminário ou debate, chamar professores, para falar
que política é importante, para resguardar a imagem do político”. Ele olhou para mim
e disse: “Meu querido Deputado, você está começando. Desde que escolhi a política
sempre fui criticado e sempre fui reeleito”. Ele me fez refletir: por que acontece esse
fenômeno?
Pude perceber que os políticos são vistos pela população por uma lupa. À
medida que cometemos qualquer deslize ou que há qualquer problema, essa
mesma lupa vai querer ver o problema.
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Podemos fazer analogia com a queda de um avião. Estatisticamente é muito
mais seguro viajar de avião. Contudo, acontecem acidentes de avião no Pará, no
Paraná, em qualquer lugar. Qualquer acidente de avião é motivo de notícia. Já o
acidente de carro, tão corriqueiro, que mata tantas pessoas, não é notícia nem de
jornais locais.
A vida do político, mais criticado ou menos criticado, é peculiar à nossa
atividade. Nossa atuação vem sendo ampliada por conta da mídia, da informação.
Quando um artista mata alguém num acidente de carro, ele é muito mais cobrado e
criticado; articulistas escrevem matérias por conta disso. Portanto, estamos inseridos
num caldo cultural que faz avaliações sobre nossa atuação. As críticas aos políticos
acontecem em todos os lugares do mundo. Mesmo sem se preocupar muito com
isso, como disse Weber, temos a chamada ética da responsabilidade, em que pese
atuarmos muito com a ética da oportunidade.
Temos que nos preocupar — refiro-me aos nossos debatedores, às pessoas
que vêm colaborar conosco, do Instituto Cidadania — não só com o período pré-
eleição como também com o pós-eleição. Parece-me que sua tese de doutoramento
vai um pouco por aí.
Na nossa cultura, será que caberia pensarmos em algumas propostas de
âmbito internacional? Já foi abordada a dificuldade de importarmos idéias.
Entretanto, no Brasil, nosso sistema cartorial e muitas outras coisas nos impuseram
isso. Cabe, então, certa reflexão. Temos que considerar nossa especificidade
cultural, por exemplo, as comparações do esquadrinhamento do pensamento
cultural do eleitor brasileiro, em que aparecem a antipatia e a simpatia versus, em
outros países mais dominantes, a idéia de partido, idéias e propostas. São esses os
esquadrinhamentos. A simpatia pode ser caracterizada por um sorriso, presentes,
compra de voto, favores de toda ordem. Então, considerando a questão cultural, em
que foi avaliada a especificidade cultural, o estilo brasileiro, a forma de ser, pergunto
aos debatedores como ficaria o controle eleitoral pós-eleição. Seria possível
pensarmos no recall, na recondução aqui no Brasil? Seria possível pensarmos no
veto popular? Alguém já avaliou se é suficiente, agradável, se pode continuar o
sistema eleitoral sendo gerido pela Justiça Eleitoral?
Então, são estas as minhas questões: recall, veto popular, questão cultural e
Justiça Eleitoral.
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Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Muito obrigado, Sr.
Deputado.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, peço a palavra pela
ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, em primeiro lugar, é
importante perceber que o orçamento participativo nem sempre foi utilizado como
manipulação política. Alguns Deputados presentes foram Prefeitos e — sabem disso
— o usaram como forma de participação efetiva da população. É importante
perceber isso. É claro que ele tem que ser modificado, melhorado, mas não
podemos desqualificar o orçamento participativo afirmando que sempre foi usado
como instrumento de manipulação política.
Em segundo lugar, é melhor trabalhar em cima da cultura política reinante do
que em cima do toma lá, dá cá, da relação familiar que manda e domina e do jeitinho
brasileiro. Nesse sentido, temos de abordar a questão...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Deputado Luiz Couto.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Pois não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – É a minha
benevolência. V.Exa. pediu pela ordem e já citou dois temas. Pela ordem é, no
máximo, para abordar um tema. Por favor, encerre suas considerações.
O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO – Concordo com que o financiamento
público tem de ser enfrentado, pois infelizmente, sabemos, as grandes organizações
criminosas, para lavar dinheiro, têm financiado campanhas. O financiamento público
é fundamental para acabarmos com essa situação na política brasileira. Sou
membro titular desta Comissão e Relator de um projeto na Comissão de Direitos
Humanos. Tenho o direito de me pronunciar.
O SR. DEPUTADO JOSÉ EDUARDO CARDOZO – Sr. Presidente, peço a
palavra pela ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO JOSÉ EDUARDO CARDOZO - V.Exa. tem sido tão
benevolente que, tenho certeza, não faltaria com a benevolência para com este
Deputado. À vista de algumas ponderações feitas, particularmente pelo nobre
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Deputado João Paulo Gomes da Silva, sobre o financiamento público de
campanhas, acredito que V.Exa., juntamente com o Sr. Relator, haverá de incluir
esse tema como um dos próximos para debate desta Comissão, uma vez que creio
não ser este o momento para uma polêmica mais aguda.
Acredito que as ponderações feitas foram fortes e da parte pelo menos dos
que defendem essa iniciativa, eu e o nobre ex-Ministro Aloysio Nunes Ferreira,
gostaríamos de ter, no plano das idéias, a possibilidade de demonstrar as razões
que obviamente nos parecem apresentar essa proposta não como algo
absolutamente razoável, mas como algo que é defensável, sustentável e que pode
em muito mudar a configuração política do País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado José Eduardo Cardozo.
Passo a palavra ao eminente Relator, Deputado Ronaldo Caiado.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares, mais uma vez agradeço aos palestrantes, que aqui tiveram a
oportunidade de fazer, de maneira sucinta, um resumo desse estudo que nos
oferecem hoje como um conjunto de sugestões em vários temas.
Não poderia perder a oportunidade, Relator que sou, de ouvir a opinião de
cada um deles em relação aos temas que definimos. Depois de longa discussão
nesta Comissão, definimos uma pauta, na qual resolvemos não incluir emendas
constitucionais, porque exigiria Comissões Especiais e também um rito totalmente
diferente, com duas votações em cada Casa e quorum diferenciado.
Assim, optamos por buscar mudanças que possam realmente atender ao
clamor da população, pelo menos alguns pontos que realmente a sociedade não
admite mais, e o primeiro item apresentado foi a fidelidade partidária. Como a
matéria exigiria uma proposta de emenda à Constituição, buscamos algumas
variantes. A primeira delas é a filiação partidária.
Foi entendimento desta Comissão que a primeira filiação deverá ser mantida
por um ano. Quanto à segunda filiação, quero ouvir a opinião dos palestrantes e dos
acadêmicos que aqui estão para saber o que pensam e quais são as sugestões do
Instituto de Cidadania em relação a isso. Deveríamos ter um prazo mais alongado,
como o do Senado, que é de quatro anos? Esse prazo deveria ser diferenciado no
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caso de um político exercer o cargo de Governador, Presidente ou Prefeito, diferente
de Vereador, Deputado Federal e Senador?
Em relação ao financiamento público, apesar de já ter sido discutido, neste
vade-mécum aqui teremos alguma orientação no sentido de saber se o ordenador
de despesas deverá ser o presidente do partido, o Ministério Público ou o Tribunal
Regional Eleitoral?
Os senhores vinculam o financiamento de campanha à lista fechada ou se
pode ter também um financiamento público de campanha com listas abertas, como
temos hoje? Alguns defendem a necessidade quase obrigatória da lista fechada,
para que o presidente do partido possa ser o ordenador e ter o compromisso e a
responsabilidade de responder por essas despesas.
Cito o terceiro tema dessa pauta, o final das coligações nas eleições
proporcionais. Esta matéria também está em discussão. Já foi aprovado um projeto
no Senado Federal, que está para ser discutido nesta Casa. Não vou citar os outros
temas, pois seríamos extremamente abrangentes aqui.
Quero ouvir as ponderações dos nossos palestrantes, que nos ofertaram um
livro que, sem dúvida nenhuma, traz argumentos e dados consistentes para
podermos, como disse muito bem o Dr. Paulo Vannuchi, baseados nessas idéias e
pesquisas, buscar sugestões e propostas para nossa reforma política.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado, Sr.
Relator.
Vou passar a palavra aos palestrantes. É importante que no final dos
comentários V.Sas. insiram suas considerações finais.
Tem a palavra o Prof. Fábio Kerche.
O SR. FÁBIO KERCHE – Sr. Presidente, há um leque enorme de perguntas e
comentários. Nossa intenção aqui não é propor, mas sim apresentar diagnósticos e
subsídios. Tenho opinião sobre uma série de coisas, mas não recebi nenhum voto.
São os Srs. Deputados que vão discutir o tema. Tentamos contribuir, ampliando o
leque comparativo de outros países e outras experiências.
Vou escolher alguns temas aqui e comentá-los rapidamente. O primeiro é o
recall, modelo existente nos Estados Unidos. Lembro, Srs. Deputados, que o recall
existe num sistema chamado distrital puro, um sistema majoritário. Num sistema
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proporcional de lista aberta, não consigo imaginar um sistema de recall eficiente.
Quer dizer, o Deputado sempre vai ter um número reduzido de votos. E se
questionarem seu mandato? A maioria da população pode não ter votado nesse
Deputado. Como fazer? É diferente de uma eleição majoritária. O princípio é
saudável, mas será complicado aplicá-lo num sistema eleitoral de lista aberta como
o nosso.
Deputado Ronaldo Caiado, com o mesmo espírito de não ter propostas
prontas e acabadas, esclareço que, em relação ao financiamento público, a lista
fechada, de certa forma, facilitaria o financiamento público. Em princípio, a lista
aberta não impede o financiamento público, desde que haja regras de distribuição
entre todos aqueles que disputam a eleição. Ficaria mais fácil com a lista fechada,
porque como a campanha é feita menos no candidato individualmente e mais no
partido, esse dinheiro poderia ser usado para promover a legenda como um todo, e
não individualmente, em cada candidato. Acho que é possível coexistirem os dois
sistemas; um não impede o outro.
Em relação às coligações proporcionais, existem dois instrumentos. Ou se
acaba com a coligação, o que talvez leve a uma diminuição do número dos partidos,
ou se permite a coligação, mas se distribuindo as cadeiras de acordo com o número
de votos que cada partido membro da coligação recebeu. Não é simplesmente
acabar ou manter; existe um meio-termo, pois a coligação às vezes pode
representar um compromisso para se governar depois. Existe um meio-termo
possível.
Só mais um ponto: financiamento público de campanha. Na verdade, não dá
para fazer isso sozinho. Deve-se reforçar. De qualquer maneira, mesmo no
financiamento público é necessário reforço. Mas a idéia é tentar, e isso foi discutido
por vários autores aqui, problematizar um pouco a relação entre aquele que financia
e o que recebe. E, segundo um dos artigos aqui, são poucas as empresas que o
fazem — geralmente são empresas familiares. Ou seja, muito pouca gente doa
dinheiro para campanha eleitoral no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos,
onde 10% dos eleitores doam dinheiro para campanha eleitoral e as empresas são
proibidas de doar dinheiro diretamente aos candidatos. Ou seja, a idéia de
financiamento público, e esse é o argumento daqueles que defendem essa tese, é
que, em princípio, pode parecer um gasto excessivo para a população, mas a médio
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prazo pode romper uma ligação entre aquele que financia e aquele que recebe, o
que é interpretado por alguns como algo que pode incentivar a corrupção, favorecer
interesses não republicanos etc. Esse debate merece ser ampliado.
Fico por aqui. A idéia, reforço, é tentar mapear um pouco o debate para que
os senhores tomem as decisões corretas a fim de aprimorar a democracia brasileira.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado, Prof.
Fábio Kerche.
Com a palavra o Prof. Paulo Vannuchi.
O SR. PAULO VANNUCHI - Muito obrigado.
Farei comentários esparsos e rápidos.
Primeiro, Deputado Colombo, chamo a atenção para a leitura do texto do
Prof. Wanderley Guilherme dos Santos, que tem abordado muito o tema da
dignidade da política. Ele registra que qualquer pesquisa para medir o prestígio dos
políticos é sempre baseada em um noticiário que diariamente repete que os políticos
não são bons, não prestam etc. Então, há necessidade de fazer essa recuperação,
pois ninguém nega que exista problema para ser resolvido. O Prof. Francisco de
Oliveira também fez uma análise muito lúcida e curta a respeito desse quadro.
Nessa rodada final, houve muita concentração no tema do voto facultativo, do
voto obrigatório e na questão do financiamento público de campanha.
Em relação ao financiamento, quero chamar a atenção para o fato de que,
além do artigo do David Samuels, no seminário de São Paulo, houve uma mesa
sobre o assunto. Nela estão registrados os argumentos do Deputado João Paulo
Cunha, aparentemente uma defesa do financiamento público por um especialista,
mas dizendo que ninguém tem ilusão de que o financiamento em si resolve o
problema. Foi lembrado aqui que já há algum financiamento público importante do
horário eleitoral, etc., e a discussão está relacionada à introdução de novos
mecanismos.
No seminário, o Deputado João Paulo Cunha fez referência ao projeto do
Deputado Aloysio Nunes Ferreira e resumiu mais ou menos as condições para isso,
além da ampla discussão na sociedade — recomendada pelo Prof. Jairo — para se
chegar à conclusão de que, eventualmente na decisão de apoiar, não se trata de
tirar dinheiro da educação e da saúde para gastar em política, mas sim de um
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investimento que, se aperfeiçoar o sistema e combater a corrupção, pode ser muito
econômico para o Estado, para o Tesouro.
Os critérios são aparelhamento de fiscalização. Como estão aparelhados hoje
os Tribunais Eleitorais, realmente é difícil, pois a prestação de contas não pode ser
feita como é hoje: após. Terá que ser mensal ou algo equivalente, para que o custo
de burla das regras pese sobre os próprios candidatos ainda na campanha, na
prestação de contas dos gastos de julho ou de agosto ou de setembro. Nesse
sentido, a discussão tem que ser de fato muito cautelosa, que perceba também os
argumentos que, me parecem, o senhor quis lembrar.
Sobre a cláusula de barreira, é importante lembrar que há na reflexão do livro
alguma recomendação no sentido de que isso existe como regra — fala-se muito da
cláusula alemã e que, no caso brasileiro, já foi incorporada com o adiamento da
vigência —, de mais uma recomendação para repensar o fato de que ela poderia
afetar uma base mais profunda da democracia na proporcionalidade, até porque se
ela é uma cláusula de 5%, é uma cláusula alta.
Em dezembro, participei de seminário com partidos socialistas, social-
democratas, em Berlim e havia lá uma realidade interessante. O antigo Partido
Comunista da Alemanha Oriental, que, daqueles partidos lá do Bloco Soviético, foi o
que fez a mais profunda modernização e participa da Prefeitura de Berlim, não
atingiu a cláusula agora — tinha 36 Deputados, caiu para dois —, numa situação em
que o Partido Verde já tinha vivido lá antes e que obriga o próprio sistema partidário
alemão, como uma cláusula de tolerância, a manter os fundos partidários por oito
anos, na presunção de dar uma chance ainda de dois processos eleitorais para
recuperar. Não é só uma eleição que resolve liminarmente a questão.
Há no texto tendência de questionar o problema das coligações proporcionais,
em que diz que, de fato, a busca de afirmação da identidade partidária é a criação
de uma simpatia de um eleitor para com um partido. Então, muitas vezes, na ampla
coligação proporcional há uma ordem de eleitos, às vezes muito diferenciada no
espectro.
(Intervenção inaudível.)
O SR. PAULO VANNUCHI – Exato, vão votar diferentemente no Congresso
Nacional. Então, há essa recomendação.
Agradeço a todos a oportunidade de estar aqui.
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Estamos à disposição no Instituto Cidadania, em São Paulo, para qualquer
convocação.
Repito, se houver interesse em prosseguir, mais do que nos chamar de volta,
o importante agora é consultar a lista dos especialistas para saber qual traria mais
contribuição para o debate.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Concedo a palavra ao
Prof. Francisco de Oliveira.
O SR. FRANCISCO DE OLIVEIRA – Serei breve.
Primeiro, quero comentar sobre o que disse a Deputada Luiza Erundina no
início do debate. O que ameaça a democracia brasileira não são nem os eleitores
nem os partidos. Há estudos, que estão nesta bíblia aqui, que vão mostrar a
consistência do voto dos eleitores e das legendas ao longo do tempo. Uma
aparência que a imprensa vende com muita facilidade é que os partidos votam
qualquer coisa de qualquer modo.
Estudos do Fernando Limonge, da Argelina Figueiredo e de um professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostram a consistência do voto dos
eleitores e das bancadas no Congresso ao longo do tempo. Eles não votam assim
tão erraticamente quanto se pensa, é muito mais consistente num sistema que
permanece com muito pouca barreira. O surpreendente é que caso como o do
Deputado do MDB, aqui relatado, que votou a favor do AI –5 não se repete ao longo
da história no Congresso Nacional. É extremamente raro.
Então, onde estão os riscos para a democracia? Não estão nem nos partidos
nem nos eleitores. O risco está no enrijecimento crescente e no afastamento dos
temas centrais da cidadania do terreno da política; nas grandes organizações
econômicas; no fato de que são retiradas da política e transferidas para um terreno
aparentemente técnico decisões que são cruciais a respeito da Nação, a respeito da
cidadania. Esta não é uma tendência só brasileira, mas mundial, contra a qual todos
os democratas estão convocados a lutar.
Automatismos que são escritos na Constituição, às vezes, com as melhores
intenções, retiram do governante o poder de governar. O automatismo mais
extremado foi dado pela Argentina. A Argentina, durante dez anos, teve como
constitucional a obrigação de manter a paridade entre o peso e o dólar, isto é, elege-
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se o presidente para ele não governar. Se o Presidente da República não pode tocar
na moeda do seu Estado, é melhor ele ir para casa, porque a moeda é o ponto
central do sistema capitalista.
O risco para a democracia vem de outra direção. Portanto, é necessário
voltar. Embora a pauta sobre a qual esta Comissão se constituiu seja limitada, como
o Deputado Ronaldo Caiado mostrou, é preciso desdobrá-la, em períodos
sucessivos, em outras discussões e em outras abordagens, para tentar uma
melhoria da democracia brasileira.
O que tentamos fazer aqui neste livro e nesta contribuição foi, com as
tendências presentes em partidos eleitores e no sistema político brasileiro, melhorar
a representatividade, a democracia.
Tudo isso é imperfeito, e as críticas surgidas são inteiramente pertinentes. É
bom desconfiar da perfeição. Ela é totalitária e retira exatamente da política e dos
políticos a decisão sobre o destino da Nação. Diz adágio de um cientista político
americano: “Ama o imperfeito e serás democrata”.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) – Professor, antes de
encerrar a reunião, quero fazer duas observações.
Primeiramente, na qualidade de Presidente, quero dizer que tenho observado
enorme qualificação na conquista das eleições majoritárias. Infelizmente, nas
eleições proporcionais tem-se passado ao largo dos debates dos temas nacionais. A
distritalização do voto tem provocado um processo de desqualificação do
Parlamento brasileiro. Digo isso porque estou acabando de fazer um trabalho sobre
a distritalização do voto que aconteceu nas últimas duas eleições para esta Casa.
Esse trabalho está sendo feito com base na enorme concentração de votos por urna
numa mesma cidade, em que se tem 70% da votação num determinado bairro ou
em dois, três ou quatro bairros.
Evidentemente, a eleição passada foi o grande exemplo disso. Este
Parlamento vai discutir, por exemplo, a reforma da Previdência e provavelmente
quase nenhum dos Srs. Parlamentares apresentou como seu programa de execução
ou o partido apresentou como programa de execução da sua base parlamentar a
não ser a proposta do Executivo, mas evidentemente o funcionamento da base
parlamentar não teve tempo na televisão ou não conseguiu chegar ao eleitor.
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E o fato mais marcante, aproveitando o custo da eleição, é que um Deputado
no Amapá custa per capita muito mais do que em São Paulo, pois no Amapá tem-se
oito Deputados com o mesmo tempo na televisão que os 70 em São Paulo. Então, a
exposição desse Parlamentar nos Estados em que as bancadas são menores
evidentemente é muito maior. Assim, o custo lá vai ser muito maior do que em São
Paulo.
Ficaram claras aqui a complexidade do tema e a necessidade de ampliarmos
esse debate. Na primeira vez que me pronunciei, na qualidade de Presidente, disse
que também não podemos discutir a complexidade da matéria e não obter resultado.
Temos aqui o exemplo do esforço que o Deputado João Almeida tem feito, parece-
me que há duas ou três Legislaturas, e evidentemente os resultados não têm sido
apresentados sequer ao Plenário.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA – Protesto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, estou
dizendo isso pelo esforço que V.Exa. tem feito e pelo esforço que temos feito aqui.
Temos que apresentar a este Plenário alguns resultados, sem prejudicar o amplo
debate que vamos travar nesta Comissão.
Na semana que vem teremos uma semana ceifada pela necessidade de os
Srs. Parlamentares lerem a bíblia apresentada a esta Casa. A Comissão vai realizar
trabalhos internos e solicitar que a próxima reunião se dê no dia 23 de abril, às
14h30min, em plenário a ser comunicado aos Srs. Parlamentares pela assessoria
Agradeço aos expositores e aos Srs. Parlamentares a presença.
Declaro encerrada a presente reunião.