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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 2.905/97 - ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS EVENTO: Audiência pública N°: 625/01 DATA: 26/6/2001 INÍCIO: 14:20 TÉRMINO: 17:45 DURAÇÃO: 3:25 TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3:29 PÁGINAS: 87 QUARTOS: 42 REVISÃO: SUPERVISÃO: ANA MARIA, JOEL, MARIA LUÍZA, NEUSINHA CONCATENAÇÃO: JOEL DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO GLACI ZANCAN - Presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência — SBPC. RUBENS NODARI - Professor da Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Procurador da República no Estado de Pernambuco. BRÁULIO DE SOUZA DIAS - Diretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente. SÍLVIO VALLE - Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz — FIOCRUZ. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — EMBRAPA. SUMÁRIO: Debate acerca do Projeto de Lei nº 2.905, de 1997, concernente a alimentos geneticamente modificados. OBSERVAÇÕES Houve apresentação de transparências. Há intervenções ininteligíveis. Há intervenções inaudíveis. Há orador não identificado.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · Minha primeira solicitação à Casa é que esta se assessore de juristas competentes para a consolidação do volume de projetos

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 2.905/97 - ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOSEVENTO: Audiência pública N°: 625/01 DATA: 26/6/2001INÍCIO: 14:20 TÉRMINO: 17:45 DURAÇÃO: 3:25TEMPO DE GRAVAÇÃO: 3:29 PÁGINAS: 87 QUARTOS: 42REVISÃO:SUPERVISÃO: ANA MARIA, JOEL, MARIA LUÍZA, NEUSINHACONCATENAÇÃO: JOEL

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOGLACI ZANCAN - Presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência — SBPC.RUBENS NODARI - Professor da Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC.MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Procurador da República no Estado de Pernambuco.BRÁULIO DE SOUZA DIAS - Diretor do Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade,do Ministério do Meio Ambiente.SÍLVIO VALLE - Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz — FIOCRUZ.ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Pesquisador da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária — EMBRAPA.

SUMÁRIO: Debate acerca do Projeto de Lei nº 2.905, de 1997, concernente a alimentosgeneticamente modificados.

OBSERVAÇÕESHouve apresentação de transparências.Há intervenções ininteligíveis.Há intervenções inaudíveis.Há orador não identificado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2.905/97 - Alimentos Geneticamente ModidificadosNúmero: 000625/01 Data: 26/06/01

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Declaro abertos os

trabalhos da presente reunião.

Tendo em vista a distribuição antecipada das cópias das atas das 3ª e 4ª

Reuniões aos membros presentes, consulto o Plenário sobre a necessidade da sua

leitura. (Pausa.)

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Sr. Presidente, solicito a dispensa

da leitura.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Dispensada a

leitura das atas, a pedido do Deputado Darcísio Perondi, coloco-as em discussão.

(Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-las, coloco-as em votação.

Os Deputados que as aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)

Aprovadas.

Peço à secretária que distribua a sinopse das correspondências recebidas e

expedidas aos membros da Comissão e que faça constar em ata.

Ordem do Dia.

Esta reunião destina-se a ouvir, em audiência pública, a Sra. Glaci Zancan,

Presidente da SBPC; Dr. Rubens Nodari, Professor da Universidade Federal de

Santa Catarina; Dr. Marcos Antônio da Silva Costa, Procurador da República no

Estado de Pernambuco; Dr. Sílvio Valle, Pesquisador Titular da FIOCRUZ; Dr. Elibio

Leopoldo Rech Filho, Pesquisador da EMBRAPA. Convido todos a comporem a

Mesa.

Esclareço que cada expositor disporá de até quinze minutos e, nesse

intervalo de tempo, não pode ser aparteado. Terminadas as exposições, serão

iniciados os debates e os Srs. Deputados interessados em interpelar deverão

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inscrever-se junto à secretaria, podendo dispor de três minutos para fazer a

interpelação e os expositores terão igual prazo para responder, facultada a réplica e

a tréplica pelo mesmo prazo.

Convido ainda o Prof. Bráulio de Souza Dias, Diretor do Programa Nacional

de Conservação da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente, para compor a

Mesa.

A seqüência de exposição obedecerá à ordem de chamada pela Mesa.

Com a palavra, portanto, a primeira expositora, Dra. Glaci Zancan, Presidente

da SBPC.

A SRA. GLACI ZANCAN - Sr. Presidente, Srs. Deputados, meus colegas de

Mesa, eu gostaria de contar um pouco da história. Em 1989, a comunidade

científica, preocupada com a tecnologia de DNA recombinante, levou ao então

Senador Marco Maciel a proposta de regulamentação da tecnologia de DNA

recombinante que permitia e permite a construção de organismos geneticamente

modificados.

Durante cinco anos, este Congresso, na Câmara e no Senado, discutiu essa

regulamentação. Hoje temos a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995. Esta lei,

discutida amplamente por esta Casa, originária da FIOCRUZ e da EMBRAPA

fundamentalmente, foi vetada em dois artigos, o que tornou a sua aplicação

comprometida.

Mais tarde, essa lei deveria ter criado a Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança. Pois bem, ela foi criada, inclusive trabalhamos no processo de

regulamentação, de tal maneira que começou a operar um sistema de regulação ou

controle dos organismos geneticamente modificados.

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No decorrer desses cinco anos, entre a lei e o momento de hoje, a ciência

cresceu, o avanço do desenvolvimento científico na área de organismos

geneticamente modificados é vertiginoso. Esse avanço do conhecimento fez com

que evidentemente houvesse apropriação comercial desse conhecimento, gerando

patentes e produtos, de tal maneira que, ao lado do desenvolvimento científico,

surgiu o problema econômico, que a ele está associado.

Com isso, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, que deve ser um

órgão técnico multidisciplinar, passou a fazer a liberação e autorização para

funcionamento de laboratórios de pesquisa. Estava previsto na regulamentação da

lei que a Comissão teria liberdade de decidir, quando julgasse pertinente, os ensaios

de impacto ambiental.

O que aconteceu ao longo dessa história foi, num determinado momento, que

a Comissão exorbitou das suas atribuições e dispensou o impacto ambiental para se

comercializar um primeiro produto: a soja round up ready.

Com isso, foi preciso levantar de novo aqui nesta Casa o problema de que

não tínhamos os estudos de impacto ambiental de uma planta exótica num meio

tropical, acrescida ainda de um gene exógeno.

Naquela oportunidade, em 1998, levantamos o problema e dissemos que

precisávamos de tempo para normatizar e formar o corpo de técnicos necessários

para que as vigilâncias sanitárias pudessem atuar.

Todos conhecem o resto da história: a Justiça embargou o plantio comercial e

estamos numa moratória judicial até que se cumpra a legislação da análise de

impacto ambiental.

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Eu gostaria de, nesta oportunidade, reafirmar que a ciência avança, precisa

avançar, que os campos experimentais, as casas de vegetação e os laboratórios de

pesquisa das universidades e da EMBRAPA precisam continuar trabalhando. Não

podemos ficar à margem do avanço científico e tecnológico, porque é uma forma de

exclusão do País.

Portanto, a ciência como tal, a pesquisa como tal, precisa e deve ser

garantida em qualquer circunstância, para que não sejamos mais marginalizados do

que já somos.

Por outro lado, é preciso dotar o País de instrumentos legais, normativos, de

legislação com atribuições penais para aqueles que exorbitam dos seus direitos e

que lesam o conjunto da população.

Semana passada, quando aqui estive, levei comigo um volume com as

propostas em discussão nesta Comissão. Se V.Exas. não viram, verão agora que se

trata de todos os projetos que se encontram na Casa com o mesmo tema.

Além disso, nesse meio tempo, o Governo reeditou a Medida Provisória nº

2.137, de 24 de maio de 2001, já em sua quinta edição, que cria a Comissão

Nacional de Biossegurança. O Sr. Procurador poderá falar melhor que eu, mas os

conflitos entre a lei e a medida provisória deverão criar mais problemas judiciais.

Gostaria de destacar que considero responsabilidade do Congresso Nacional

pôr ordem legal nesse conjunto de legislações conflitantes, que estão impedindo o

caminhar normal de uma tecnologia nova, que precisa ser socialmente controlada.

Todas as vezes que surgem novas tecnologias, há que se avaliar riscos e benefícios

e verificar o que é melhor. Por isso é muito importante que disponhamos dos

instrumentos necessários para fazer isso muito bem feito.

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No conjunto de propostas dos Srs. Deputados, há várias sobre rotulagem.

Destaco que a rotulagem é importante como fator próprio de pesquisa, na medida

em que permite estudos epidemiológicos da sensibilidade da população com relação

a alimentos exóticos. Devo dizer que coloco os alimentos transgênicos no mesmo

grau de equivalência que qualquer alimento exótico que se introduza na alimentação

humana, na nossa alimentação em particular.

Minha primeira solicitação à Casa é que esta se assessore de juristas

competentes para a consolidação do volume de projetos disponíveis, alguns com

boas sugestões, outros que demandam mais discussão. O importante é harmonizar

a lei, a medida provisória e todas as propostas que estão nesta mesa.

Com estas transparências pretendo mostrar a V.Exas. um resumo das

lacunas do conhecimento levantadas pela Organização de Cooperação de

Desenvolvimento Econômico em conferência feita ano passado, promovida pelos

sete países mais ricos, que reuniram 250 especialistas para discutir o assunto.

Considero muito claras as preocupação ali externadas.

Se V.Exas. lerem com cuidado, verão que diz o texto que permanece a

incerteza sobre o potencial, a longo prazo, da introdução de organismos

geneticamente modificados. Ou seja, estão aí declaradas, pelos maiores

especialistas mundiais, as dificuldades ainda existentes na área científica com

relação a todos os pontos que se poderia discutir quanto aos organismos

geneticamente modificados.

Distribuo a V.Exas. texto publicado nos Cadernos de Ciência e Tecnologia da

EMBRAPA que resume, com toda a bibliografia, aquilo que se conhecia até o final

do ano passado a respeito dos organismos geneticamente modificados, no caso

específico das plantas. Não está ainda aí incluído o caso dos animais geneticamente

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modificados, também já disponíveis, mas ainda em fase de experimentação no

mundo. Com este documento que lhes entrego, V.Exas. terão a oportunidade de

consultar e analisar a literatura sobre o assunto e, portanto, se informar melhor.

A SBPC, ano passado, por meio de seu Conselho Superior, emitiu nota formal que

dizia exatamente isso que estou dizendo, ou seja, que cabe esclarecer que a

introdução não controlada no meio ambiente de plantas geneticamente modificadas

contendo novas toxinas pode provocar desequilíbrios nos sistemas ecobiológicos do

ambiente. Nesse sentido, repito, lendo a nota: “Os órgãos de controle encarregados

da liberação para uso em larga escala dos OGM no Brasil devem exigir que as

empresas responsáveis pela operação forneçam todos os dados disponíveis sobre a

manipulação genética e análise de risco relativa ao meio ambiente”. Nesse

parágrafo, verifica-se que o ônus da prova cabe à empresa. Por outro lado,

continuamos, ainda nesse documento: “A introdução dos Organismos

Geneticamente Modificados na cadeia de produção de alimentos para uso humano

requer a divulgação, através da rotulagem de cada produto, da informação

detalhada e compreensível para que a população possa se orientar e decidir sobre

seu consumo.”

Consideramos que são três as atividades importantes: legislação, fiscalização

e educação. Sem esses três pontos não vamos poder avançar. Precisamos,

primeiro, ter leis normativas do Estado, um Governo que faça a fiscalização, e

educação para que a população possa discernir se pode ou não fazer uso dos

OGMs. Esses três pontos são base de qualquer caminhada dentro do mundo da

biologia. Não estou falando apenas das plantas geneticamente modificadas, mas

também dos animais, da clonagem dos animais e da cultura de células pluripotentes

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para a obtenção de tecidos humanos, que também já está disponível, e talvez se

encontre no âmbito dessa mesma discussão.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço à Dra.

Glaci Zancan, Presidente da SBPC.

Passo a palavra ao Prof. Rubens Nodari, da Universidade Federal de Santa

Catarina.

O SR. RUBENS NODARI - Boa tarde, Sr. Presidente, Srs. Deputados, demais

colegas que compõem a Mesa para discutir esse assunto. Estamos reunidos em

função da preocupação com os produtos oriundos de uma nova tecnologia. Talvez

as preocupações mais relevantes estejam relacionadas à saúde humana, ou seja,

vamos estar diante de uma nova proteína, de uma nova substância, na forma de

alimento principalmente, e se alguma forma de vida escapar e se disseminar no

ambiente, dificilmente teremos como capturá-la e recolhê-la.

(Apresentação de transparências.)

Gostaria de ilustrar como procedemos a uma avaliação de risco, algumas

questões relacionadas, o que já conhecemos a respeito e apresentar algumas

sugestões. Uma análise de risco na realidade é um processo mais político do que

científico, embora as informações utilizadas sejam científicas. Contudo,

estabelecemos certos padrões, certos requisitos, escolhemos comissões e

decidimos o processo pelo qual um produto é aprovado ou não. Em segundo lugar,

qualquer análise de risco tem pressuposições porque temos mais incertezas do que

certezas científicas. Ou seja, levantamos uma série de premissas, baseadas nos

quais aceitamos ou rejeitamos. Nossas incertezas em parte são decorrentes dessas

premissas. No caso da análise de risco, temos um certo conhecimento e temos

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nossas premissas. Baseados principalmente nesses dois aspectos, decidimos de

uma forma política como vamos tomar a decisão. A decisão é baseada naquilo que

podemos medir, avaliar.

Uma questão que não é necessariamente um risco em si, mas é um risco

para terceiros, que ainda não decidimos, diz respeito ao fato de esta Casa pensar,

por exemplo, se vamos liberar um produto transgênico. Normalmente nos

preocupamos mais com a segurança alimentar e ambiental, mas no caso de uma

planta, um apicultor que tenha seu mel contaminado sofrer uma sanção econômica,

ter seu produto desvalorizado, como lidar com essa situação? Quando a lei brasileira

foi feita não se pensou nessa possibilidade, que hoje é uma questão posta na mesa

de negociações. Quer dizer, é uma questão extra científica. Durante esses últimos

vinte anos, surgiram muitas questões como essa.

Outro risco, antecipado, mas ao qual não se deu muita importância à época

refere-se à possibilidade da disseminação dos genes. As plantas se cruzam e se

espalham, disseminam genes. Temos várias comprovações, inclusive o caso das

beterrabas resistentes a herbicidas. Infelizmente, terei de mostrar muitos dados de

fora porque não temos dados publicados no País, estamos ainda na fase inicial.

Esse é um outro problema.

Quando as normas foram elaboradas, não se percebeu que a tecnologia

podia vir acompanhada de algum produto, como o caso da resistência a herbicida.

Esse produto, embora não seja transgênico em si, pode causar algum impacto e,

nesse caso, como proceder? A Comissão de Biossegurança não vai analisar algo

que não é relativo ao transgênico. A lei brasileira é clara. A Comissão vai analisar o

produto que é decorrente do uso da tecnologia. Agora, o que fazer se o agricultor

utilizar um produto que vier a fazer mal? Quem vai ficar encarregado, a Agência de

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Vigilância, o Ministério da Saúde? Nosso mais famoso caso é o round up. Trabalhos

científicos recentes mostram o envolvimento desse produto na esterilidade. São

questões de saúde bastante relevantes com as quais ainda não sabemos lidar.

Vou fazer um pequeno relato de uma série de trabalhos científicos realizados

com a finalidade de avaliar impactos em determinados componentes da

biodiversidade. Primeiro, é evidente que sempre haverá certo impacto nas nossas

atividades. Segundo, temos de nos preocupar com a avaliação de riscos, porque de

fato existem. Contudo, não são uniformes, ou seja, temos de tratar caso a caso e

temos de fazer os estudos no Brasil. Não podemos transplantar os resultados de

outros países. Apenas temos que aprender a lição: se houve um problema em outro

país, temos de estudar a questão com os componentes da nossa biodiversidade. O

risco ambiental tem de ser previamente analisado antes de sua liberação comercial.

Gostaria de introduzir nessa discussão um princípio que já está contemplado

na análise de risco dos países europeus e que nosso sistema ainda não o contempla

totalmente: o Princípio da Precaução. O Princípio da Precaução ainda não é bem

definido. Todos concordam que não há uma definição clara, objetiva; também não

estabelece diretrizes sobre como agir, qual o ponto de decisão. De qualquer

maneira, gostaria de explicitar alguns pontos que talvez sejam importantes para que

possamos entender um pouco sobre a polêmica que existe entre países e grupos de

pessoas.

O Princípio da Precaução surgiu na Alemanha, nos anos 70, em função da

chuva ácida e da poluição dos rios. Queriam evitar que os males continuassem

acontecendo. Foi incorporado às leis alemãs no início dos anos 80 e em 93 já estava

presente em toda a legislação e concepção das políticas dos países europeus. Hoje

até entendemos um pouco mais a reação aos transgênicos na Europa. Na

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Convenção sobre a Diversidade Biológica — CDB, realizada no Brasil, se

estabeleceu: “Onde há ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a falta de certeza

científica não deve ser a razão para postergar medidas para prevenir a degradação

ambiental”. Ou seja, há uma antecipação ao problema. Se não o conheço, devo

esperar. A decisão é antecipatória.

Isso tem um custo. Existem muitas definições. Os componentes do princípio

seriam basicamente quatro. Primeiro, a ação preventiva deveria ser tomada antes da

prova científica. Ou seja, na dúvida esperamos a prova científica, portanto, toma-se

uma decisão. Segundo, o ônus da prova da biossegurança cabe ao proponente da

atividade e não ao poder público. Porque, até então, no nosso caso, sempre

solicitamos que o Governo faça os testes, o Ministério, a EMBRAPA, as

universidades, etc. Em princípio, já introduz uma questão.

Terceiro, na presença de evidência de dano causado pela atividade, há um

número razoável de alternativas que devem ser consideradas. Quais seriam as

outras alternativas se tenho uma proposta, uma atividade que tem esse objetivo,

esse alcance? Um exemplo bem simples: é o arroz com vitamina A; temos outras

plantas com vitamina A, coisas desse tipo. O manejo de plantas daninhas. Essa é

outra proposta. Qual seria a outra? A outra degrada tanto quanto essa? Mais ou

menos? Quais as alternativas? Isso muda um pouco a filosofia da análise de risco.

Quarto, para que a tomada de decisão seja precacionária, ela deve ser aberta,

transparente, democrática e ter envolvido a participação das partes. Esse é o ponto

talvez mais complicado de como poderíamos fazer isso. É um desafio para nós.

Essa decisão do princípio da precaução tem custos. Neste sentido, uma proposta de

pesquisadores de vários países discutindo, pela facilidade da Internet, chegaram a

um cenário para a discussão. Para outras pessoas refletirem também. Como

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poderíamos fazer uma avaliação de risco levando-se em conta o princípio da

precaução? Então, temos aqui um quadro que mostra os impactos dos OGMs em

diferentes escalas e, também, em diferentes áreas, se são diretos e indiretos.

Conhece-se muito bem hoje nos laboratórios uma planta, os biólogos moleculares

têm ferramentas poderosas e podemos conhecer muito a respeito do ponto de vista

bioquímico e genético de uma planta. Mas à medida que essa planta sai do

laboratório e vai para uma parcela, vai para uma propriedade e vai para uma região,

a nossa capacidade de análise já não é tão clara e tão objetiva. E não temos tantas

ferramentas disponíveis para avaliar todos os riscos. Os riscos pequenos são aqui,

mas à medida que vêm para nós os riscos aumentam, os benefícios também

aumentam na mesma linha.

Por outro lado, pensamos normalmente na agricultura — e aqui eu gostaria de

restringir essa discussão — aos produtos agrícolas para a alimentação. Vamos

deixar de lado os da saúde que não cabem aqui. Do ponto de vista da agricultura é

simples, mas quando se analisa do ponto de vista ecológico a situação é mais

complicada, mais complexa, é mesmo multidisciplinar. Às vezes temos biólogos

moleculares sentados numa mesa com ecologistas. Na realidade, estão falando das

mesmas diferentes faces de análise de riscos.

Temos uma legislação ambiental que exige que façamos um estudo de

impacto ambiental nessas duas áreas aqui assinaladas. Temos as leis de

biossegurança que também têm uma parte aqui. Então, eu gostaria de deixar essa

proposta.

Só tenho mais duas transparências, mas acho que já gastei o meu tempo.

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Nesse contexto, novas perguntas ou muitas de ordem diferente poderíamos

fazer. Hoje perguntamos o quanto é seguro, qual é o nível de risco que podemos

aceitar, quanto podemos assimilar, ou seja, tolerar. Se avançarmos mais para o lado

do princípio da precaução, podemos fazer as seguintes perguntas: quanta

contaminação poderia ser evitada? Quais são as alternativas para essa atividade?

Qual a necessidade e a pertinência?

Finalmente, gostaria de mostrar aqui os desafios que temos de enfrentar

como sociedade e principalmente capitaneados pelo Congresso Nacional. A política

nacional de biossegurança aparece, o Congresso Nacional já determinou isso em

1995, para CTNBio. Ela foi incluída depois num decreto regulamentador e até hoje

não temos política nacional de biossegurança, que talvez explique em parte porque

temos tantas confusões. Ou seja, se temos uma norma ou uma diretriz, fica mais

fácil depois a comissão tomar decisões. Segundo, a composição da CTNBio, do

ponto de vista do princípio da precaução, poderia ter mais membros da sociedade,

pois que os consumidores acabarão sendo beneficiados ou prejudicados ou

beneficiados e prejudicados.

A articulação com os agentes de vigilância dos Ministérios da Saúde, da

Agricultura e Meio Ambiente poderia resolver os problemas que não estão previstos

para os OGMs diretamente e, também, para implementar a política como um todo.

Depois o Prof. Sílvio vai falar, mas está faltando normas para um monte de coisas,

como fiscalização, rotulagem, etc. Algumas delas estão sendo feitas. Devemos fazer

no País a investigação científica de riscos e benefícios, pois usamos dados de

outros países, já que não temos os nossos. Não temos disponibilidades de

sementes para estudar, a não ser os órgãos que desenvolvem suas próprias

sementes. A prospecção de genes e tecnologias autóctones está sendo feita. Acho

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que o Elibio vai falar sobre isso. O treinamento e a capacitação constituem um outro

problema. Finalmente há uma discussão um pouco mais ampla, porque na realidade

os produtos desta tecnologia são bem amplos. Atinge não somente a questão

científica, mas econômica, social, ética, de benefícios, da saúde, em todo mundo.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradecemos ao

Prof. Rubens Nodari a exposição.

Antes de o Dr. Marco Antônio da Silva Costa, Procurador da República no

Estado de Pernambuco, iniciar a sua exposição, quero registrar que o nosso Relator,

Deputado Confúcio Moura, já está aqui, chegou logo em seguida ao início da

exposição da Presidente da SBPC, mas, até por uma questão de dificuldade de

acomodação à mesa, está participando da reunião no plenário.

Com a palavra o Dr. Marco Antônio da Silva Costa.

O SR. MARCO ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Exmo. Sr. Presidente,

Deputado Carlos Alberto Rosado, na pessoa de quem saúdo os demais integrantes

da Mesa, Sras. e Srs. Deputados, demais presentes, boa tarde. Agradeço à Câmara

dos Deputados o convite para participar desta audiência pública de grande

relevância.

Falar de transgênico é falar sempre de uma perspectiva bastante ampla, que

envolve múltiplos setores da vida humana. Do ponto de vista econômico, hoje se

pode falar que o século XXI será o século da biotecnologia e da informática. Estudos

recentes falam que o valor econômico da biotecnologia chega a ser três vezes o PIB

anual mundial. Muitos dos produtos transgênicos frutos da biotecnologia são

produtos que estão sendo comercializados e cujos preços são bem mais altos do

que produtos que tradicionalmente mobilizaram a economia normal, como o

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petróleo, por exemplo. No caso do Brasil, temos uma perspectiva bastante grande

no novo contexto. O Brasil detém vários estudos científicos em torno de 20% a 23%

da biodiversidade do mundo, podendo-se dizer que nessa nova ordem econômica

há uma perspectiva de se utilizarem os recursos adequados. Se houver uma política

adequada de biossegurança e de aproveitamento de recursos da biodiversidade, os

países ricos em biodiversidade, que na maior parte são países do hemisfério sul,

países que não estão ainda em fase de desenvolvimento, poderão até mesmo

constituir uma OPEP biotecnológica.

É certo que se os recursos se encontram nesses países, também a tecnologia

para exploração da biodiversidade mundial é dominada pelos países já

desenvolvidos. E hoje há uma concentração bastante grande nesse setor. Hoje, as

empresas que lidam com biotecnologia não mais trabalham em agricultura, em

remédios e em outros setores da atividade econômica. Há uma junção, porque os

avanços da ciência indicam que haverá uma confluência de pesquisas em

desenvolver organismos geneticamente modificados que veiculem vacinas. Do ponto

de vista econômico, é um setor extremamente pesado. Há também, dentro dessa

perspectiva econômica, dois blocos bastante nítidos nessa situação. Um bloco

comandado pelos Estados Unidos, de um lado, e um bloco comandado pela

Comunidade Européia, de outro. O bloco dos Estados Unidos é marcado pela

utilização maciça de biotecnologia, por uma agricultura que, em larga escala, utiliza

biotecnologia. E há uma política marcadamente evidente de fazer valer esse modelo

para outros países, inclusive o Brasil. Em relação à perspectiva da Comunidade

Européia, até mesmo por uma tradição maior em relação ao homem do campo, uma

questão cultural, a questão do mal da vaca louca acabou provocando certa

desconfiança e reviravolta no compasso e na velocidade de implantação dessa nova

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tecnologia no campo, na produção e na comercialização. Tanto é que está sendo

gestada pela Comunidade Européia uma agência, uma autoridade de alimentação

que vai trabalhar justamente a questão da segurança alimentar. E quando se fala em

segurança alimentar e agricultura, normalmente o que causa preocupação é se a

produção da agricultura vai acompanhar o desenvolvimento da população. Mas há

uma outra perspectiva também no que se refere à segurança alimentar, no sentido

de que os produtos gerados por uma nova tecnologia possam ser utilizados sem

riscos pelas pessoas que vão consumi-los. Para defender a implantação de uma

forma mais rápida e sem as precauções necessárias da biotecnologia argumentam-

se que sem essa tecnologia não haverá alimento suficiente para toda a humanidade,

quando os dados estatísticos existentes atualmente falam que a produção agrícola

no mundo dá para alimentar totalmente a humanidade. O que há é um problema de

distribuição.

Além dessa perspectiva econômica que envolve múltiplos interesses tanto de

organizações transnacionais quanto de países e blocos econômicos, temos também

a perspectiva científica. A ciência sempre vai buscar novos caminhos, vai sempre se

encaminhar por abrir fronteiras do conhecimento que são úteis para enfrentar

situações que até mesmo ainda não existiram. Do ponto de vista da tecnologia, é

preciso que não se abandone a pesquisa, é preciso que se fomente essa pesquisa.

É claro que essa ciência precisa também ter um comprometimento ético e jurídico

com a proteção do meio ambiente, dos seres humanos e da vida em geral.

Pode-se dizer que qualquer atividade humana hoje produz impacto ambiental

e que boa parte da população mundial não tem acesso a todos os bens necessários

à sobrevivência, mas tem esse direito e nós temos o compromisso ético — e aqui no

Brasil isso é bastante evidente — de tentar desenvolver o País. Desenvolver um

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país, desenvolver a humanidade significa maior pressão sobre os recursos naturais.

E para que isso seja feito de forma equilibrada é preciso planejamento. Pensar a

longo prazo é um imperativo para a sobrevivência humana. Não pensar apenas na

situação imediata, não pensar apenas no caso concreto, mas, sim, numa política

mais ampla — ainda que tenha uma perspectiva negativa de evitar uma utilização,

de protelar a introdução de uma tecnologia a fim de que sejam estabelecidos novos

estudos — para que no futuro se possa obter um resultado positivo.

Muito do que está ocorrendo hoje em relação ao racionamento de energia é

fruto justamente da falta de planejamento. O aspecto simbólico dessa questão que

se apresenta atualmente no País é bastante importante. Traz à tona a necessidade

de planejamento, sobretudo diante da idéia existente no Brasil de uma terra de

recursos infinitos que possam ser utilizados de qualquer forma, sem preocupação

com a reposição, porque a própria natureza cuidará dela. No Brasil de quinze anos

atrás falar em racionamento de energia seria impensável. Nunca se pensaria que

esse seria um problema para o brasileiro. Isso revela que é preciso estabelecer uma

política para planejar a introdução de novas tecnologias, planejar o uso adequado do

meio ambiente.

Vejamos um pequeno resumo da questão jurídica sobre transgênicos. Foi

editada uma bela legislação sobre biossegurança e um decreto regulamentando

essa legislação. Um dispositivo desse decreto vai permitir à Comissão Técnica

Nacional de Biossegurança que, em casos concretos, no exame de pedidos de

liberação de recursos transgênicos, ela possa não exigir estudos de impacto

ambiental. Ora, isso é flagrantemente inconstitucional e está sendo submetido à

Justiça por organizações não-governamentais, como a Greenpeace, e o Ministério

Público Federal, com uma participação bastante forte na questão, na 6ª Vara da

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Justiça Federal em Pernambuco. A decisão que virá não impede o desenvolvimento

da Ciência, concretiza a Constituição e pode ressalvar a proteção ambiental da

seguinte maneira. A CTNBio, antes de realizar qualquer liberação, de emitir qualquer

parecer técnico conclusivo sobre biossegurança de algum produto, deve realizar um

estudo de impacto ambiental, porque não se pode dizer, quem analisa o artigo da

Constituição, que a atividade de transgênicos não envolva risco e que não possa ser

potencialmente causadora de dano. Se não podemos afirmar isso, neste caso, não

há como não exigir um estudo de impacto ambiental.

E aqui o interessante é que justamente quem tem o dever de efetivar a

Constituição — na verdade todos temos esse dever; refiro-me ao dever executivo de

concretizar a Constituição — vai-se albergar ao lado de uma empresa e defender

que esse decreto pode mais que a Constituição, quando o papel dos órgãos

ambientais do Governo Federal, da CTNBio, do Ministério da Ciência e Tecnologia,

do Ministério do Meio Ambiente era justamente dizer o seguinte: “Nós estamos

vinculados pela Constituição e não podemos permitir que isso ocorra. Vamos revisar

o decreto. A CTNBio exigirá das empresas que queiram utilizar essa tecnologia

estudo de impacto ambiental”.

O grande problema do estudo de impacto ambiental é que ele tem um caráter

de publicidade. E muitas das questões de biossegurança envolvem segredo

comercial. Essa talvez seja uma das razões de resistência por parte das empresas.

A CTNBio estava impedida por medida judicial de emitir esse parecer técnico

conclusivo. No ano passado, 38 mil toneladas de milho oriundas da Argentina

chegaram em Recife. Por representação da Greenpeace foi noticiado ao Ministério

Público Federal que a Argentina utiliza notoriamente produtos transgênicos em sua

produção agrícola, conforme constava até da página do próprio Ministério da Ciência

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e Tecnologia. Entramos com uma medida judicial para que o milho argentino ficasse

retido e se confirmasse se era, ou não, transgênico. Confirmada a natureza

transgênica, que o milho fosse devolvido àquele país. A liminar foi concedida em

primeira instância. Mais uma vez, com base na alegada escassez de produção de

milho na região nordestina, a União, em vez de executar uma política de

biossegurança, vai defender o interesse de um empresa; quer dizer, a Cargill, que

era a importadora, não vai gastar um centavo com advogado, e a Advocacia Geral

da União vai entrar com a suspensão da segurança no TRF, porque, dias antes, a

CTNBio emitirá um parecer, requerido pelo Ministério da Agricultura, para liberação

do milho. E num estudo apressado vai considerar que o milho com BT, o bacilo

turingensis, afim de agrotóxico, seja liberado. O parecer vai ser declarado nulo pela

Justiça Federal, em Brasília, porque contrário à sentença judicial. A CTNBio não

poderia fazer aquilo. Apesar disso, o que ocorre? A Advocacia Geral da União vai

entrar com duas suspensões de segurança, uma da liminar em Pernambuco, outra

da liminar em Brasília, da decisão que anulou o parecer. O TRF da 5ª Região,

considerando a questão da ordem pública, do abastecimento, entenderá que deve

ser cassada a liminar que impedia a entrada das 38 mil toneladas de milho, e o TRF

da 1ª Região entenderá que não vai ser possível. O caso foi para o STJ, que, sem

entrar no mérito da questão, limitou-se ao conflito de competência dizendo o

seguinte: “Vou escolher provisoriamente que juiz vai decidir a questão urgente”. E

escolheu, num critério discricionário, o juiz de Pernambuco. Se escolheu o juiz de

Pernambuco, prevaleceu a decisão do TRF da 5ª Região, e o milho foi liberado.

O fato é que durante todo o ano passado vários carregamentos de milho

entraram no Nordeste, foram consumidos por nós, nordestinos em Pernambuco, e

possivelmente também por populações de outros Estados, em total desacordo com

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a política de biossegurança. E o pior, com o patrocínio de órgãos que têm o dever

constitucional de executar essa política. Como o milho entrou e foi consumido, não

havia mais o que ser devolvido. Então, entramos com um requerimento de extinção

do feito na Primeira Instância. O feito foi extinto. Assim sendo, o conflito de

competência submetido ao STJ também deixou de existir. O certo é que hoje só

sobrevive a decisão da 6ª Vara da Justiça Federal, que proíbe a CTNBio antes de

realizar estudo de impacto ambiental.

Ao longo desse tempo, quer dizer, desde 1997, o Governo Federal vem se

batendo com essa questão. Se ela chegar ao Supremo — eu posso estar enganado,

mas já a analisei —, ele vai dizer que é preciso realizar o estudo de impacto

ambiental, e vai se perder mais cinco anos nisso.

A meu ver, está claro que a questão do Brasil não é de legislação, nem de

conhecimento científico; a questão do Brasil é executar suas leis, e aqui a CTNBio

tem um problema. O assunto é muito grave. O pior de tudo é que qualquer

conseqüência negativa só vai aparecer eventualmente daqui a vinte ou trinta anos, e

pode atingir uma massa enorme de pessoas. O problema é muito sério. É preciso ter

um órgão independente.

Vários órgãos reguladores que cuidam, por exemplo, de eletricidade, de

petróleo, são agências independentes. Por que uma agência dessa natureza, que

trata de uma questão fundamental, da sobrevivência humana, não tem sua

independência também? Por que não há uma maior participação da comunidade

científica na indicação dos membros? Por que a maior parte dos integrantes da

comissão estão vinculados a órgãos governamentais? Isso tolhe a independência do

órgão para enfrentar a questão, porque os interesses são muitos, os interesses

econômicos são grandes.

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Hoje, em relação ao consumo, nenhum produto pode ser colocado no

mercado em desacordo com a decisão judicial. Nada pode entrar no mercado. Em

Recife, denunciamos a pessoa jurídica Cargill por ter importado milho sem

autorização, com base no art. 40 da Lei de Crimes Ambientais. O processo criminal

está em andamento. No Brasil, a única possibilidade de se processar uma pessoa

jurídica é, no momento, por crime ambiental, e o fato é que outras empresas que

possam estar nessa situação também poderão enfrentar processo criminal.

Para encerrar, creio que seria interessante imbricar o projeto relativo ao

consumo com a legislação de biossegurança. A conceituação de biossegurança

pode ser encontrada na Lei de Biossegurança. Além disso, é importante pensar em

estabelecer critérios de identificação do responsável técnico. Para ser colocado no

comércio o produto, depende de autorização prévia. Embora esteja previsto na Lei

de Biossegurança, isso não surtiu efeito. Talvez aqui se possa dar ênfase a essa

questão.

Agradeço a todos a atenção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradecemos ao

Dr. Marcos Costa e passamos a palavra ao Dr. Bráulio de Souza Dias, Diretor do

Programa Nacional de Conservação da Biodiversidade, do Ministério do Meio

Ambiente.

O SR. BRÁULIO DE SOUZA DIAS - Boa tarde a todos. Sr. Presidente,

demais membros da Mesa, Srs. Deputados, demais participantes desta sessão de

audiência pública, agradeço o convite ao Ministério do Meio Ambiente para estar

presente a este debate.

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A questão específica de rotulagem de alimentos que contenham derivados de

produtos transgênicos não é competência específica da área ambiental, mas o tema

como um todo, obviamente, afeta as competências do Ministério do Meio Ambiente.

Vou tecer, então, alguns comentários.

A responsabilidade e a preocupação do Ministério do Meio Ambiente é com

os eventuais riscos do uso de organismos transgênicos e derivados ao meio

ambiente. Conforme exemplificou o Prof. Nodari, esse risco refere-se mais ao

próprio OGM, ao próprio organismo geneticamente modificado vivo, porque ele

contém um gene alterado e a nossa preocupação é que esse organismo escape do

meio ambiente, saia do controle quando do seu plantio, seu cultivo, transformando-

se, eventualmente, em uma erva daninha, em uma praga. Esta é a maior

preocupação. Outro risco que nos preocupa é a possibilidade desse gene ser

transferido para outros organismos via polinização ou outros mecanismos, ocorrer

alguma contaminação genética que possa causar algum efeito ambiental.

Obviamente, preocupa-nos também o possível impacto da introdução de

genes que configuram para a produção de substâncias tóxicas, para a proteção das

plantas contra pragas e doenças. A nossa preocupação é do possível risco de essas

toxinas se acumularem no meio ambiente, no solo, na água e causarem risco aos

demais organismos vivos.

Com relação a derivados, a preocupação com o meio ambiente é mais

restrita, principalmente, a situações de derivados que contenham toxinas que

possam levar à contaminação ambiental.

A nossa grande preocupação, como se sabe, é a enorme riqueza em

biodiversidade do País. Temos dados recentes de um estudo, contratado pelo

Ministério do Meio Ambiente, que é o primeiro levantamento do tamanho da

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biodiversidade brasileira. Tais dados mostram que temos cerca de 200 mil espécies

já descritas pela ciência no País, incluindo plantas, animais e microorganismo. Um

quarto dessas 200 mil espécies descritas corresponde a plantas. No entanto, o

estudo mostra que o número total de espécies que realmente existem no País é

muito superior a isso. E esse número é estimado em, pelo menos, 2 milhões de

espécies. Isso mostra, então, o grau de desconhecimento que temos com relação a

nossa biodiversidade. Quer dizer, conhecemos menos de 10% desta biodiversidade.

A biodiversidade nos preocupa como um grande patrimônio a ser protegido,

mas, ao mesmo tempo, como uma grande oportunidade que o País tem que saber

utilizar na promoção do desenvolvimento sustentável, na melhoria de qualidade de

vida, principalmente em regiões como a Amazônia, que tem grandes áreas de

fronteira com riqueza de biodiversidade. Esperamos que o País saiba promover o

uso com um melhor aproveitamento dessa biodiversidade e não a sua destruição.

O Ministério do Meio Ambiente trabalha essa questão dos transgênicos

participando de todas as discussões da CTNBio. O Ministério do Meio Ambiente

também criou uma Comissão Interna de Aconselhamento em biossegurança, com

participação de representantes das diferentes Secretarias do Ministério, bem como

do IBAMA, do Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e através

do grupo de trabalho que foi criado no CONAMA para propor uma minuta de

resolução para disciplinar o licenciamento ambiental e a elaboração de Estudos de

Impacto Ambiental, EIA-RIMA, no caso de atividades ou empreendimentos que

envolvam organismos transgênicos.

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A necessidade dessa resolução é trazer maior clareza para todos os

interessados, tanto dentro do Governo quanto junto aos laboratórios e empresas

interessadas no desenvolvimento dessa tecnologia e ao público em geral.

Esse grupo de trabalho está em pleno andamento. Muitas sessões já foram

realizadas. Acredito que estamos caminhando agora para uma convergência, temos

lá representantes de todos os setores do Governo, representantes do setor de

biotecnologia, representantes de ONGs, do setor acadêmico, das Confederações da

Agricultura e da Indústria. Então, estamos com os atores-chaves participando da

discussão.

Acredito que vamos conseguir chegar a bom termo, a uma proposta

consensual que atenda as preocupações sem obstáculos ao desenvolvimento das

pesquisas nessa área, mas com o controle ambiental necessário.

Obviamente, temos preocupação com a responsabilidade social das

empresas de biotecnologia. Como a biotecnologia é uma usuária da biodiversidade,

esperamos cada vez mais da indústria uma ação pró-ativa de parceria na

conservação dessa biodiversidade. Por outro lado, isso nos leva a uma discussão,

que no momento está no âmbito da ONU, sobre o acesso aos produtos de

biotecnologia. Está aí a grande discussão com relação ao acesso das drogas de

combate a AIDS. Esse é um bom exemplo dessa temática que certamente vai atingir

a área de alimentos, porque os alimentos têm um componente social muito grande.

Na medida em que tivermos alimentos derivados da biotecnologia, a questão do

acesso à tecnologia, aos produtos, inclusive para responder a demandas na área de

segurança alimentar, passa a ser um componente importante dos debates.

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Chamo a atenção para um componente deste debate, que é o Protocolo de

Cartagena, protocolo internacional que foi negociado na área de biossegurança. O

Brasil ainda não assinou esse protocolo, e o Ministério do Meio Ambiente defende a

sua assinatura e ratificação. Ninguém está cem por cento satisfeito com esse

protocolo, mas foi o melhor possível obtido nas negociações internacionais. Ele

regulamenta toda a transferência e o comércio de produtos transgênicos,

transfronteiriços, entre países. Portanto, é um componente importante, um

complemento importante à legislação nacional. E ele traz conseqüências também

para a atuação da CTNBio e outros órgãos que trabalham com transgênicos em

âmbito nacional.

Então, é importante que o Brasil assine logo e ratifique a sua adesão a esse

protocolo, fazendo os ajustes necessários para que possamos atuar de forma

consciente.

Quanto ao princípio da precaução, para o qual o Prof. Nodari chamou a

atenção, devo esclarecer que o Ministério do Meio Ambiente sempre o defendeu,

apesar de nem sempre ser bem entendido. Muitos entendem que o princípio da

precaução é apenas um estorvo para o desenvolvimento. O nosso entendimento é

de que não se trata disso, ele é um complemento importante para assegurar que o

desenvolvimento seja feito, sim, de forma sustentável e que evite acidentes em que

não haja possibilidade de reversão.

O importante é criar uma experiência interna de como administrar este

princípio da precaução. A legislação brasileira já internalizou isto — mesmo o

princípio tendo sido acordado na Rio 92, como o Princípio XV — na sua

Constituição. A Constituição já adere a este espírito ao fazer exigência de Estudos

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de Impacto Ambiental. A própria Lei nº 6.938, que é a Lei da Política Nacional de

Meio Ambiente, de 1981, já antecipava também esse princípio da precaução.

Então, já temos alguma experiência, no Brasil, desta internalização. E a Lei

de Biossegurança nada mais é do que uma resposta dentro deste princípio da

precaução. Porque se não houvesse essa precaução no que diz respeito aos

transgênicos não teríamos uma Lei de Biossegurança e não teríamos uma CTNBio.

Quer dizer, a CTNBio está aí justamente para avançar na direção de nos dar a

tranqüilidade necessária.

Tivemos esses desentendimentos com relação à exigência de EIA-RIMA e

esperamos que tudo se resolva com alguns avanços no âmbito da medida

provisória, embora reconhecendo que esse não seja o instrumento adequado, mas,

no momento, foi o que permitiu entendimento entre os vários setores do Governo

competentes para solucionar a questão. Entendemos que é uma decisão da área

ambiental exigir EIA-RIMA como um instrumento para o licenciamento ambiental.

Esperamos que na conversão da medida provisória esses problemas se ajustem.

Com relação aos projetos especificamente de rotulagem, o Ministério do Meio

Ambiente, de maneira geral, apoia a idéia de rotulagem de produtos transgênicos no

País. Entendemos que existem desafios de ordem logística e tecnológica para

operacionalizar esse assunto da implementação de rotulagem dos produtos

transgênicos. A preocupação na área ambiental é não com a rotulagem dos

produtos para o consumidor, mais afeita à área do Ministério da Saúde e Ministério

da Justiça. A nossa preocupação é rotulagem de cargas no transporte, para evitar

possível escape de material transgênico. Esse é o tipo de preocupação que a área

do meio ambiente tem.

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A regulamentação de rotulagem de produtos precisa ser discutida. Há

preocupação legítima de setores da sociedade no que se refere aos produtos

transgênicos. Mas, por outro lado, é uma tecnologia que pode trazer soluções para

vários aspectos da sociedade. Os alimentos brasileiros freqüentemente são

contaminados com resíduos de toxinas e o exemplo mais conhecido é a aflatoxina

do amendoim, problema originado pelo armazenamento em más condições,

umidade. Esse é um problema seriíssimo de saúde no Brasil.

Se pudermos trabalhar o problema de melhor rotulagem de produtos

alimentícios, observando não só a questão transgênica, mas a de outros

contaminantes, seria, na minha opinião, uma abordagem interessante, um avanço.

O termo alimento transgênico proposto nesse projeto de lei não corresponde

àquilo que estamos discutindo. Seria necessário pensar num termo mais correto,

posto que são alimentos que podem conter componentes derivados de organismos

transgênicos e não que o alimento em si seja transgênico.

Gostaria de manifestar também a visão do Ministério do Meio Ambiente

contrária à idéia de moratória para se trabalhar com transgênicos. Apoiamos a idéia

de se trabalhar caso a caso. O País precisa ganhar experiência, tanto administrativa

quanto de gestão, de análise de risco e de pesquisa. Quer dizer, a pesquisa não

pode parar e cada transgênico é diferente e oferece riscos diferentes.

A posição do Ministério do Meio Ambiente nesse sentido é clara. Achamos

que uma moratória geral não vai prestar um serviço ao País, mas causar um

desestímulo à pesquisa e aos avanços na legislação no que se refere à gestão e

fiscalização. Quando a moratória terminar, vamos estar na mesma situação que

começamos ou até pior. Defendemos, sim, a necessidade de enfrentar os desafios

dos transgênicos e concordamos com de melhor esforço para a pesquisa, para a

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capacitação de técnicos em fiscalização, a fim de que o País tenha melhores

condições de enfrentar esse desafio.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - A Mesa agradece a

exposição ao Dr. Bráulio de Souza Dias.

Concedo a palavra ao Dr. Sílvio Valle, pesquisador da FIOCRUZ.

O SR. SÍLVIO VALLE - Boa tarde a todos. Sr. Presidente, inicialmente,

agradeço o convite para participar de mais um debate nesta Comissão sobre este

tema. Já tive oportunidade de aqui estar outras vezes.

Falarei sobre o princípio da precaução, já abordado por vários colegas.

Na minha palestra, vale o princípio da precaução, porque falo em meu nome e

não no da Fundação Oswaldo Cruz. Trata-se de tema polêmico e objeto de reflexão

aos nossos pesquisadores e aos alunos que passam pelos nossos cursos.

Gostaria de registrar que este tema é de vital importância para a Fundação

Oswaldo Cruz. Estamos com nossos laboratórios na FIOCRUZ e o Instituto Nacional

de Controle de Qualidade em Saúde — INCQS, com pessoal treinado, gente

capacitada para começar a fazer a identificação dos chamados “alimentos oriundos

de produtos transgênicos”. A FIOCRUZ só poderá dar respostas quando a

sociedade definir as normas de rotulagem. A FIOCRUZ não cria normas de

rotulagem, mas tem técnicos para estabelecer o que está escrito no rótulo, garantir

para a sociedade o que está escrito no rótulo. O nosso laboratório está capacitado a

começar a trabalhar, contudo, precisamos ter as normas de rotulagem, tema que

abordarei nesta minha pequena intervenção.

(Apresentação de transparências.)

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Quando foi sancionada a Lei de Engenharia Genética, tive oportunidade de

falar, um outro Procurador no Rio de Janeiro também fez menção ao fato, e matéria

publicada no jornal O Globo, de 7 de janeiro de 1995, afirmava: “Mutilaram a lei”.

O Congresso tem uma função importante: elaborar leis. A Lei nº 8.974,

relativa à engenharia genética, foi mutilada. As mesmas pessoas que propuseram o

veto a uma lei do Congresso Nacional, cinco anos depois, voltam com medida

provisória. Portanto, a medida provisória traz os vetos de cinco atrás. Legislar

solitariamente é muito complicado. Estamos numa moratória no País no setor de

engenharia genética: moratória para plantio comercial e, de uns três meses para cá,

moratória para experimento também — a CTNBio não está autorizando experimento.

O que é biotecnologia e biossegurança. Esses dois temas têm causado

confusão na sociedade. O Dicionário Aurélio já definiu na sua nova edição o que é

uma coisa e o que é outra. Biotecnologias são as vantagens da tecnologia: a soja

tem que resistir ao herbicida, a vacina contra a hepatite B tem que funcionar, mesmo

que recombinante. Já aplicamos nesta sociedade há mais de quinze anos uma

vacina produzida por engenharia genética. Mas o que o Congresso Nacional tem

que discutir, com relação à rotulagem, é biossegurança, são os efeitos adversos

dessa maravilhosa tecnologia. Falar que a tecnologia é maravilhosa é importante,

mas rotulagem, segurança alimentar, é discutir eminentemente efeito adverso. E não

tem outra saída. Discutir a segurança desse alimento e monitorar, fazer uma

vigilância desses produtos quando eles estiverem no mercado.

Um panorama do Brasil.

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Hoje, temos essa área de transgênico experimental no Brasil, lidera milho,

depois soja, algodão. Esse é o mapa do Brasil transgênico, do ponto de vista

experimental, são as grandes commodities que estão plantadas.

Nesse período todo tenho uma observação a fazer: primeiro, 90% da

liberação experimental de transgênicos no Brasil não estão testando questões de

biossegurança e, sim, de qualidade agronômica. Isso não está no contexto da Lei de

Biossegurança. A lei é de biossegurança e estão só testando qualidade agronômica

— 90%, posso afirmar. E o que é mais grave, estão aqui dados do Ministério da

Agricultura: numa rápida fiscalização do Ministério da Agricultura, os seus fiscais, de

posse dos mapas que as empresas fornecem para a CTNBio, não conseguem

localizar os experimentos. O controle, diria, é muito baixo: em 60% dos ensaios não

é possível precisar a localização. Então, é pesquisa sem controle, porque não sabe

onde estão plantados os transgênicos. São dados do Ministério da Agricultura, é

processo copiado da próprio CTNBio.

Com relação à rotulagem, não vou abordar a questão ambiental, porque o

objeto dos projetos de leis, que tive oportunidade de observar, falam de segurança

alimentar e de rotulagem.

Sempre vem à tona a questão dos Estados Unidos. E vou dar exemplos

concretos desse país. Essa entrevista foi dada, está na home page da CTNBio do

responsável pela área de transgênico no FDA, principal agência americana e modelo

de liberalidade de transgênicos.

Há cerca de quatro anos, os Estados Unidos utilizam a soja transgênica. Qual

o mecanismo de regulação utilizada pela agência controladora, uma vez que a soja

não é rotulada? A soja está no mercado desde 1996 e, em relação ao

monitoramento, é difícil avaliar se houve problema. Não há como saber se haverá

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conseqüência anos depois, porque não está rotulada, simplesmente. Não tem

rotulagem. Não é que nos Estados Unidos não tenham norma de rotulagem, só

rotulam se o gene introduzido na planta for de origem de uma planta que tenha

capacidade alergênica. Por exemplo, se introduzir um gene de amendoim, de soja

num outro vegetal, ele faz a rotulagem. Em junho de 2001, o milho transgênico BT

Cry9c foi liberado nos Estados Unidos para consumo na área de animais e

processamento. Esse milho, por algum erro no processo de distribuição, de

segregação, foi parar na alimentação humana e houve um grande recall nos

Estados Unidos para recolher produtos desse milho transgênico, o Cry9c. Qual foi o

problema? Não era rotulado. Como se detectou? Em alguns produtos que era

possível detectar essa proteína recombinante, esse produto foi levado ao laboratório

e foi diagnosticado: “esse produto está contaminado com o milho transgênico e não

poderia estar sendo consumindo pela população devido a capacidade alergênica

dessa proteína, o potencial alergênico.” Fiz aqui um resumo dessa investigação pelo

CDC, órgão de saúde pública. Primeiro, nossa análise só foi projetada para

descobrir os anticorpos IGE, que reagiram contra essa proteína Cry9c, não foi

utilizado um soro-controle humano e também é possível que pessoas com alergias

alimentares não produzam esse anticorpo para o alergênico específico. Estou

abordando essas questões, porque no resumo do teste do CDC, ele fala: “quanto à

dificuldade de investigação, destaco a importância de avaliar potencial alergênico,

de avaliar a capacidade que esse transgênico tem de sensibilizar a população.” E

mais do que isso, nesse estudo, o CDC mostra que a necessidade da rotulagem é o

imperativo da saúde pública, para que se possa liberar com todos os testes que a

ciência afirma ser seguro e, depois de liberado, rotulo para fazer o quê? O

acompanhamento desse produto, se tiver problemas, começo a fazer correções,

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porque nada é 100% seguro, como fazemos com medicamento. Na verdade, libera-

se o medicamento e ele tem um rótulo, um lote, posso acompanhá-lo no processo

de utilização. Quando se fala também que nos Estados Unidos está tudo liberado, a

grande política na área de biotecnologia de rotulagem daquele país hoje é a

publicidade, questão da comunicação, de alergenicidade, dos efeitos adversos.

Isso está na ordem do dia do Governo americano. Então, esse discurso de

copiar os americanos, se acharem que copiar os americanos é ter uma norma de

rotulagem que não vai rotular, nós estaremos copiando os americanos de dez anos

atrás, e não copiando os americanos de cinco anos na frente.

Isso aqui está em inglês e está no site do Governo americano. E, com relação

à publicação, a possuo em papel.

Outro termo que também está nos projetos de lei é a chamada equivalência

substancial, que foi muito tempo apresentada por setores da comunidade científica

como uma norma para determinar a segurança de produtos transgênicos. Eu não

estou nem entrando no mérito científico do termo, porque equivalência substancial

não é um conceito científico, é um conceito econômico. Segundo o “Dicionário

Jurídico De Plácido e Silva”, as coisas que são equivalentes são diferentes. Elas se

equivalem do ponto de vista de valores, mas são diametralmente opostas. Então,

falar que um vegetal transgênico é substancialmente equivalente ao convencional

não se aplica do ponto de vista da ciência.

Com relação ao panorama internacional, também os Srs. Deputados vão

sempre observar que é citado o Codex Alimentarius, que alega tomar suas decisões

com fundamentos científicos. Na prática, esse órgão internacional sofre profundas

influências econômicas e políticas, as quais prejudicam a definição das normas de

rotulagem. Hoje, no Brasil, as normas de rotulagem de transgênicos estão

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emperradas por questões econômicas e políticas, não por questões técnicas. As

questões técnicas não são nem muito difíceis de resolver, a meu ver.

E aí tenho algumas propostas com relação a motivos para se rotular um

transgênico. Tenho necessidade de saber e direito de saber. Necessidade de saber

é uma perspectiva de saúde. Leva em consideração os aspectos de saúde pública,

nos quais se incluem a segurança alimentar e a vigilância do produto. Esse direito, a

sociedade deve exigir das empresas e do Estado. A rotulagem plena é um

componente fundamental para acompanhar os transgênicos e seus derivados.

Vamos discutir isso. E o direito de saber também está previsto na lei brasileira. O

direito de saber está ligado ao Código de Defesa do Consumidor; está intimamente

relacionado ao direito do consumidor: “Eu não quero consumir transgênico, porque

eu não gosto da tecnologia”. Ou, então: “Por questões religiosas, eu não vou

consumir o transgênico”. Ou, ainda: “Porque inseriram um gene de animal numa

planta e eu sou vegetariano”. Isso está relacionado ao Código de Defesa do

Consumidor. São dois princípios importantes com relação à rotulagem: necessidade

de saber e direito de saber.

Continuo analisando essa questão da equivalência substancial. A

equivalência substancial é um conceito que, além de não ter base científica, não

garante a diferenciação entre os alimentos convencionais — falei alimento, mas são

plantas ou animais — e os transgênicos.

A proposta da norma brasileira que foi apresentada em audiência pública,

que eu vou explicitar aqui, entre outras questões, exclui da rotulagem os alimentos

cujo material genético (DNA) e a proteína (recombinante) tenham sido destruídos ou

não estejam presentes.

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Então, ela é de uma limitação muito grande do ponto de vista da rotulagem

principalmente de produtos. E o requisito utilizado para se rotular, segundo essa

proposta que foi apresentada em audiência pública, é estar presente essa proteína.

Segundo fontes do Governo, a rotulagem é obrigatória com percentuais acima de

1%, 3% ou 5% do DNA ou da proteína. No entanto, Srs. Deputados, devemos

considerar que, baseado nesses percentuais, esse é um conceito agronômico e

econômico da capacidade dos setores produtivos do agronegócio garantirem a

segregação.

Esse é conceito de trash hold. Ele não é um conceito de saúde pública, não

é um conceito que envolve direito do consumidor. Ele envolve simplesmente a

capacidade que têm as estruturas de fazer essa segregação.

Eu poderia até dizer também, em relação a uma análise de segurança dos

transgênicos, que a sociedade pergunta se os transgênicos fazem mal. É sempre

essa a pergunta que é feita. Mas temos que fazer outras perguntas, e acho que o

projeto tem que contemplá-las também. Quando transformei uma planta

convencional numa transgênica, ela manteve suas características nutricionais? É

uma pergunta importante, porque posso fazer uma planta transgênica, mas ela

perdeu o quê? Características nutricionais. Também é preciso garantir essas

características nutricionais, que devem ser uma preocupação dos órgãos de saúde

pública que fazem essa análise. As referências estão todas aqui.

Foi mencionada aqui também a questão de falta de dados científicos. É

notório que não temos dados científicos sobre segurança de tais alimentos.

Está aqui, na “Revista de Saúde Pública”, maio/junho de 2000, o número de

testes sobre riscos à saúde de alimentos transgênicos. Estudo experimental,

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praticamente, não temos nenhum. Os dados estão na literatura internacional, estão

na base de dados do Medline e do Toxline, de 1980 a 2000.

Vou colocar esta transparência. Foi dado o exemplo de plantas, e tenho que

trazer o exemplo de animais. Estamos diante de um salmão transgênico e de um

salmão controle. É um exemplo típico, que tem que ser muito estudado do ponto de

vista de impacto ambiental. Diga-se de partida que esse trabalho está sendo feito

pelo Ministério do Meio Ambiente. Trata-se até de um trabalho importante, que já

deveria ter começado. Mas esse é um dos Ministérios que já começaram a trabalhar

essa questão. Mas não é só a questão de segurança ambiental que tenho que ver

nesse exemplo do peixe, mas também a questão da segurança alimentar. Tenho

que fazer o quê? Todos os estudos para ver a viabilidade, se ele não tem nenhum

efeito pleiotrópico, se esse peixe mantém as características, se não aumentou a

capacidade de proteína alergênica do peixe, que é um dos efeitos pleiotrópicos, por

exemplo, que há nesse peixe. Então, todos esses aspectos de segurança alimentar

têm que ser levados em consideração.

Falo muito rapidamente da norma brasileira. Nos bastidores, talvez já

saibamos qual a norma que poderá surgir, mas hoje, oficialmente, o que temos é isto

aqui: a norma brasileira para rotular alimentos transgênicos, ou alimentos derivados

de plantas e animais transgênicos, exclui aditivos e não inclui a questão da

rotulagem dos produtos não manufaturados. Quer dizer, produtos in natura não

estão na norma. Então, isso precisa ficar claro, porque quando se pensa uma

legislação é preciso pensar uma legislação abrangente com relação a esse tipo de

rotulagem. E se vamos rotular é porque há algum objetivo: informar e acompanhar o

consumo desse produto. E, do ponto de vista do risco biológico, os alimentos

processados, com certeza, podem ter um risco menor do que os consumidos in

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natura, do ponto de vista até de alergenicidade, porque nos processados eu posso

até nem ter nem o ADN e nem a proteína. Então, tenho, talvez, até um risco menor.

O grande desafio para uma Comissão como esta é definir o que é derivado

de OGM. O OGM, em si, está definido na Lei de Biossegurança: Organismo

Geneticamente Modificado. Entendo que ele está lá vivo e viável. Agora, se a

legislação não definiu o que é um derivado de OGM, fiz um ensaio de definição ali.

Depois de definir o que é um derivado de OGM, observem a complexidade

que existe para se fazer uma rotulagem. Há desde o grupo “a” ao “e”. No grupo “a”,

há uma substância, uma enzima, que é utilizada para produzir o queijo, por exemplo.

Então, há uma bactéria transgênica que produz uma enzima. Esta enzima é

purificada, eu a coloco em contato com o leite, ela coagula o leite; eu faço o queijo e

depois jogo a enzima fora. No meu produto final, tenho o queijo, que teve

participação de uma enzima produzida por um transgênico, uma enzima

recombinante. Há um nível de relação com o transgênico aí. Eu poderia, talvez,

considerar esse queijo um derivado de OGM? No grupo “b”, haveria substâncias

como o óleo, por exemplo, o óleo da soja. Vou à prateleira do supermercado. Se não

tiver uma preservação da identidade que garanta que aquele óleo foi produzido a

partir de soja transgênica, não tenho como identificar se ele é transgênico hoje. Por

quê? Ali não há nem a proteína e nem o DNA. Trata-se de um outro tipo de derivado

de OGM. Depois, vou para o grupo “c”: uma cerveja que foi produzida por uma

levedura recombinante, na qual a levedura só fermentou e, depois, tenho a cerveja.

Não tenho a levedura, mas tenho todo o processamento. A levedura só entrou para

fermentar, e meu produto final é uma cerveja. A cerveja seria um derivado de OGM?

Esta é mais uma pergunta. Aumentei a complexidade. Depois há o grupo “d”. Nesse

caso, eu vou, por exemplo, comer um tomate transgênico. Nesse caso, eu estou

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comendo o próprio transgênico. Estou comendo a proteína, o DNA, ou soja, ou

milho. Fala-se, por exemplo, do milho transgênico nos Estados Unidos. Noventa por

cento do milho transgênico americano vão para o processamento e para a ração

animal. “Ah!, não tem impacto nenhum na saúde pública”. Ninguém está consumindo

o milho transgênico, o milho em si, pois o hábito alimentar lá não é esse. Depois, eu

poderia ir para o grupo “e”: a dona de casa vai ao supermercado e compra um

iogurte natural cujo lactobacilo seja transgênico. Nesse caso, bebe-se o próprio

transgênico.

Não estou dizendo que existe mais ou menos risco. Estou dizendo que há um

dégradé de definições de derivados de OGM que precisam ser analisados e

considerados. Se não definirmos o que a sociedade e o que a comunidade científica

entendem por derivado de OGM, é um projeto de lei inócuo. Desculpem-me, Srs.

Deputados, porque não vejo... Vamos criar uma confusão maior do que a que está

instalada aí.

Minhas transparências acabaram e meu tempo também, não é, Deputado?

Concluindo, tenho algumas observações com relação à questão que é

apresentada hoje pela dona de casa. Estava num programa de rádio, no Rio,

semana passada. Uma ouvinte ligou para a rádio, querendo saber sobre o alimento

transgênico. Dizem que já há uma série de alimentos nas prateleiras dos

supermercados hoje no Brasil. O alimento está proibido, mas já está no mercado:

batata, leite e uma série de produtos. A pergunta é a seguinte: “Como é que eu

posso fazer para saber se o produto é transgênico?” Infelizmente, hoje no Brasil não

tem como saber. Por quê? Porque não temos uma norma. “Mas não tem nenhuma

maneira, professor?” Tem, ligar para o 0800 da empresa e perguntar se o produto

tem milho ou soja, principalmente. É ligar para saber se tem. Aí, ligou uma outra

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pessoa querendo saber o que faria em relação a uma criança que não iria mais

receber o leite materno, que seria substituído por um leite desses que estão no

mercado. O que ela faria? Recomendei procurar um pediatra. Aí, vai começar a

haver lobbies junto ao Governo e ao Ministério da Saúde, para apressar a norma de

rotulagem. Quando se começa a perguntar aos pediatras, eles têm mais lobbies e

vão pressionar os órgãos do Governo, para que tenhamos uma norma de rotulagem.

Gostaria de agradecer o convite. Quanto à rotulagem, é preciso esclarecer

para a sociedade o conceito que esta Casa determinou para criar o projeto. Se for

por trash hold, que isso fique claro para a sociedade. “A nossa rotulagem vai ser

baseada no princípio do agronegócio.” “Não, nós baseamos a rotulagem no princípio

da saúde pública, no Código de Defesa do Consumidor.” Isso vai ser benéfico até

para a biotecnologia. Por quê? Para poder acompanhar o produto e dar mais

credibilidade à biotecnologia vegetal. A biotecnologia vegetal está precisando de

credibilidade junto à sociedade.

Há mais de quinze anos, inoculamos uma proteína recombinante, a vacina

contra a hepatite B, nessa sociedade. Aí falam: “Bom, da vacina contra a hepatite B

ninguém reclama, e reclama da coitada da soja e do milho?!” Bom, todo o lote de

vacina contra a hepatite B que chega ao Brasil passa pelos laboratórios, para ser

feito um controle de qualidade. É rotulada que é recombinante — a vacina não é

transgênica, é recombinante. Então, a informação é fundamental. Enquanto ficarmos

escamoteando que não é preciso rotular, que está tudo certo e que devemos

acreditar na ciência, porque ela é soberana, nem tudo que é cientificamente correto

é socialmente justo e até economicamente aceitável. Temos um limite entre a

ciência e o que a sociedade precisa.

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Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agrademos ao Prof.

Sílvio Valle.

Com a palavra o Dr. Elibio Leopoldo Rech Filho, pesquisador da EMBRAPA.

O SR. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Em nome da EMBRAPA, gostaria

de agradecer o convite a S.Exa. o Sr. Deputado Carlos Alberto Rosado.

Srs. Deputados presentes, senhoras e senhores, membros da Mesa, vou

apresentar algumas transparências, procurando situar toda essa nossa discussão

em etapas, desde a sua origem até a questão de segurança alimentar e,

eventualmente, rotulagem, que, sem dúvida, é uma questão que, a nível prático, tem

dificultado bastante seu exercício.

Vou procurar ser breve. Antes de mais nada, devemos ter em mente que a

sustentabilidade do nosso planeta é baseada — e vai ser cada vez mais — em

conhecimento e tecnologia como a única opção viável de desenvolvimento, por uma

série de razões.

Em face disso, todo e qualquer produto que seja desenvolvido e

potencialmente seja disponibilizado para nossa sociedade deverá envolver um ciclo,

principalmente em relação à segurança alimentar e ambiental, antes que esse

produto chegue ao mercado.

Toda essa discussão em torno dessa tecnologia é de extrema importância,

não somente pela tecnologia per se, mas tenho quase certeza de que servirá como

modelo social de exercício de interesses do que vai ser disponibilizado e como vai

ser disponibilizado para nossa sociedade. Ou seja, estamos procurando

regulamentar cada vez mais, tanto por parte do Estado quanto por demandas por

parte da opinião pública, todo um produto que é originado através de uma tecnologia

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recente. Será extremamente interessante que isso seja expandido, extrapolado, para

todo e qualquer produto que venha a chegar ao mercado. Isso vai ser um modelo

bastante interessante.

Nesse ciclo, que não está necessariamente envolvendo neste momento a

rotulagem, é de extrema importância que tenhamos plena consciência de que

qualquer produto ou processo que venha a chegar e ser apresentado e

disponibilizado para a nossa sociedade esteja imbuído tanto da propriedade, ou

seja, de quem tem a propriedade desse produto — e nesse caso especificamente do

Brasil não só dos nossos processos e patentes desenvolvidos, como da nossa

biodiversidade, como vai ser explorada em benefício social — e, particularmente, a

segurança desse produto, antes que ele possa vislumbrar chegar ao mercado.

Uma vez que essas etapas sejam cumpridas, caso necessário — as etapas

de propriedade intelectual nem sempre vão ser necessárias —, uma vez que sejam

concluídas todas as análises de segurança alimentar e ambiental, parte-se para

outra etapa, a de comercialização e de como isso vai ser informado.

Agora, do ponto de vista de desenvolvimento tecnológico e participação do

Estado, tanto na sua fiscalização como na parte de disponibilização do produto, é de

extrema importância que o produto tenha segurança. É claro que a simples

rotulagem não dá garantia de segurança, que vai estar imbuída nos processos

necessários ao desenvolvimento dos produtos. Pode-se desenvolver um produto

ruim, rotulá-lo e eventualmente esse produto ser consumido por conta da rotulagem.

A rotulagem, vista desse aspecto, não tem uma contribuição efetiva social. O fato de

saber que se está consumindo um produto de OGM não necessariamente nos dá

garantia de que ele seja seguro. Portanto, sem dúvida, devemos nos concentrar na

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segurança alimentar e ambiental — e as derivadas — de todo e qualquer produto

que chega ao nosso mercado.

Vou dar alguns exemplos que estão sendo desenvolvidos no País pela

EMBRAPA. Antes, vou falar rapidamente de que mercados estamos tratando

quando falamos da tecnologia DNA recombinante. Estamos tratando não só do

mercado agrícola, mas estamos tratando praticamente de todos os mercados,

porque essa tecnologia deverá possibilitar o desenvolvimento de processos e

ferramentas que podem ser utilizados em diferentes mercados, expandindo não

somente mercados agrícolas, que é o que hoje temos praticamente disponível,

excetuando as vacinas recombinantes. Estas são, sem dúvida, até hoje, os

exemplos de maior sucesso da utilização dessa tecnologia para a nossa sociedade.

(Apresentação de transparências.)

O SR. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Vou dar um exemplo. Desculpem,

a transparência não está muito nítida. Aqui os senhores podem ver uma soja

transgênica, tolerante a herbicida, que foi desenvolvida pela EMBRAPA, e uma soja

não transgênica. Ela contém o gene de uma planta. A idéia do desenvolvimento

desse projeto é a disponibilização para o produtor de opções a transgênicos, que

eventualmente vão chegar ao mercado, seja pela EMBRAPA ou não. A EMBRAPA

tem disponibilizado e tem sido uma peça importante no desenvolvimento e

estabelecimento do Brasil como segundo produtor mundial de soja e poderá em

breve ser o primeiro produtor. Este é um caso específico de uma característica que

está ligada diretamente ao produtor. A idéia dessa planta é reduzir custo de

produção, e dígitos unitários nesse complexo produção de soja representam bilhões

de dólares para o nosso sistema. Não estamos tratando necessariamente, nesse

caso específico, de uma soja que contenha um óleo modificado, que vá possibilitar

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que a dona de casa possa fazer a fritura sem saturar o óleo durante mais tempo,

nem estamos falando de uma soja que eventualmente vai produzir um medicamento.

Estamos tratando de um mercado específico ligado à redução de custo de produção

do produtor de soja, que vai possibilitar, sem dúvida, uma manutenção de

competitividade no mercado mundial e viabilizar que o Brasil seja, em breve, talvez o

primeiro produtor mundial de soja.

A EMBRAPA está desenvolvendo também um feijão, que é uma cultura

social, uma cultura não commodity. Existe um vírus que chega a destruir 95% da

produção de feijão em nosso País, que é feita principalmente pelos pequenos

produtores. A possibilidade de disponibilizar um feijão resistente a esse vírus para o

pequeno produtor é, provavelmente, o maior projeto a nível mundial em termos de

engenharia genética que atinge o social. Não existe outro projeto social no plano

mundial que eu conheça com tal amplitude de aplicação, porque esse vírus ataca

em todo o Brasil e parte da América Latina.

No caso do mamão, a EMBRAPA desenvolveu mamão transgênico resistente

a outro vírus. Esse é outro exemplo interessante. Os senhores sabem que o mamão,

em função desse vírus, tem sido uma cultura migratória em nosso País, muito

associada a regiões perto da Mata Atlântica e com conseqüente depredação da

nossa biodiversidade. É de interesse que possamos manter o produtor de mamão,

que também é um pequeno produtor — a produção de mamão não é uma

commodity, ela é exercitada por pequenos produtores em nosso País — na área

em que está plantando, sem fazer do mamão uma cultura migratória, depredando a

biodiversidade. Ou seja, esse é um outro exemplo de um projeto social e seu

impacto.

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Estou mostrando essas diferentes características para que os senhores

possam entender. Aqui é só a estrutura de uma molécula do hormônio de

crescimento humano. É um hormônio que está disponível, um hormônio

recombinante. Os senhores sabem que hoje, felizmente, somos proibidos de

produzir hormônio de crescimento da forma medieval, que era isolado de cadáveres

e de hipófise. Chegamos a matar várias pessoas de doenças neuropatogênicas.

Atualmente o hormônio de crescimento é um hormônio recombinante, produzido em

bactéria ou em células animais e está disponível em nosso mercado a um custo

bastante elevado.

(Intervenção ininteligível.)

O SR. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - O DNA recombinante é o que

denominamos de uma tecnologia que deu origem ao conhecimento da seqüência de

um genoma, que nos possibilita o que chamamos fazer a engenharia genética. É

uma tecnologia que nos possibilita manipular seqüências que estão associadas a

genes e que vão corresponder a algumas características.

Isso aqui é basicamente uma seqüência de DNA, que chamamos de

plasmídios. Aqui dentro, cada uma dessas colorações tem uma função. Aqui nós

poderíamos, por exemplo, dizer que é um gene de um antibiótico, que vamos

colocar essa seqüência dentro de uma planta e a planta vai passar a carregar, além

de todas suas características, essa característica a mais. Então, é uma característica

adicional. Como mencionei anteriormente, pode estar associada à resistência a uma

doença, a um hormônio, a uma vacina.

Como mencionei também, temos, na EMBRAPA, soja produzindo hormônio

de crescimento humano. Qual é a idéia desse projeto e como isso vai ser tratado?

Certamente vamos precisar de uma legislação completamente distinta, porque é a

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migração da planta, atualmente ligada à agricultura, para um mercado

completamente distinto, que é o mercado farmacêutico. Então, qual é a idéia de

produzir hormônio de crescimento humano em planta e outras proteínas

recombinantes de interesse farmacêutico? Basicamente, redução de custo de

produção e produção em larga escala, procurando, num futuro, viabilizar a

disponibilização desses produtos a uma maior camada da população, porque

atualmente a utilização do hormônio de crescimento por uma grande camada da

população é inviável devido a seu custo.

Nesse contexto, uma vez que temos os produtos ou potenciais produtos

transgênicos ou recombinantes, ou produtos da engenharia genética, é de

fundamental e imperativa importância que seja executada a questão da segurança

alimentar e ambiental. Desde muitos anos, desde que o primeiro produto chegou nos

Estados Unidos, em 1995, por volta do início da década de 90, o FDA requereu,

sim, por parte da empresa produtora do primeiro transgênico, algumas análises. É

claro que todas as análises e questões em relação a legislações têm de ser

dinâmicas. À medida que a ciência evolui, começamos a conhecer mais e,

certamente, a ficar mais exigentes em relação a protocolos anteriores. Não tenho

nenhuma dúvida de que um produto atual, que tenha o interesse de chegar ao

mercado, vá sofrer análises extremamente mais rígidas do que foi executado há

cinco ou seis anos pelo primeiro produto que chegou ao mercado.

Nesse contexto, vou falar para os senhores rapidamente, não vou entrar em

detalhes, do protocolo existente e do custo esperado de uma análise de segurança

alimentar e ambiental, que está em torno de 1 milhão e meio a 2 milhões e meio de

reais, mas pode ser mais, dependendo da característica, dependendo do produto, da

dificuldade e do nível da proteína que será utilizada. O mais importante: como isso

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vai ser feito? Quem te dá a garantia de que o laboratório que fará essa análise é um

laboratório que pode emitir um laudo? Isso é uma outra questão. No Brasil, estamos

tentando implementar, e a EMBRAPA tem estado extremamente envolvida e

preocupada com a segurança alimentar e ambiental e tem estado envolvida também

com o estabelecimento de uma competência no Brasil, abrangendo unidades da

EMBRAPA e de outras instituições para o desenvolvimento de uma competência

nacional para realizar a análise de segurança alimentar e ambiental que tem de

estar em consonância com ISO. Como os senhores sabem, ISO é um padrão

internacional de análise que os laboratórios têm de cumprir e, uma vez que o

cumpra, já pode começar a conduzir essas análises no Brasil. Atualmente temos um

ou dois laboratórios que realizam uma ou duas das análises que vou expor para os

senhores agora. Ou seja, ainda não temos a competência instalada no País para

realizar aqui, não a competência científica para realizar, mas toda a competência

envolvida com o ISO. Laboratórios com ISO 23.000, provavelmente temos um ou

dois, em São Paulo, que realizam uma ou duas análises. Não estou falando da

competência técnica, porque temos a competência técnica instalada para

efetivamente desenvolver essa plataforma.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Peço ao Dr. Elibio

que conclua, pois o tempo de quinze minutos já foi ultrapassado.

O SR. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Só mais um minuto, Sr.

Presidente. São necessárias todas as informações: os nomes; quem fez;

característica da planta — são protocolos exercitados e que envolvem análises

moleculares e de localização dessa inserção e tudo o mais —; quantos genes de

interesse foram colocados dentro dessa planta; as diferenças existentes na

reprodução, na disseminação e sobrevivência — protocolos que são seguidos

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atualmente —; a análise sobre a estabilidade dessa proteína que foi introduzida na

planta; a análise de alergenicidade nesse contexto, que foi muito explorada pelos

apresentadores anteriormente. Surgiu recentemente, num volume deste mês da

Nature, um novo protocolo, proposto para estudar a alergenicidade. Então, o que foi

feito no ano passado, e os dados do ano passado provavelmente já evoluíram muito

e existe um novo protocolo publicado este mês na revista Nature, que certamente

está disponível para todos. Continuando: a comparação com as proteínas

desconhecidas, alergênicas ou não alergênicas, estudos em gado, em peixes, em

aves e, finalmente, estudos de toxidez, envolvendo carcinogenicidade e

mutagenicidade.

Era o que tinha a expor, enfatizando que o complexo que envolve não só a

produção do transgênico como a segurança alimentar, envolvendo esse protocolo

básico e suas derivações, que devem ser extrapoladas para cada produto, é de

fundamental importância, antes que ele seja disponibilizado para comercialização,

rotulado ou não rotulado.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao Dr.

Elibio Rech Filho.

Antes de passar aos debates, gostaria de dizer que encerramos o prazo de

recebimento de requerimentos para que novos convidados venham à Comissão

apresentar suas idéias a respeito do assunto que estamos estudando. Há alguns

requerimentos, como o que foi apresentado por membros do PT, com mais de 32

nomes. Pedi ao Deputado Fernando Ferro e houve uma redução significativa nesses

nomes. Quero aproveitar, antes de iniciarmos os debates, num intervalo de tempo

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muito pequeno, e colocar em discussão e em votação os requerimentos que tenho

em mãos.

Nem sobre todos os requerimentos a Comissão teve condições de conversar,

discutir e negociar com os Deputados uma redução nos nomes. Vamos apresentar

os requerimentos da forma que chegaram à Comissão, mas depois ainda vamos

reduzir um pouco esses nomes, senão nossa Comissão se estenderá muito nesse

trabalho de apresentação de sugestões e análises do tema.

O primeiro é do Deputado Fernando Ferro, que convida Silvana Jacob, da

Fundação Oswaldo Cruz; Volnei Garrafa, do Instituto de Ciências de Saúde da

Universidade de Brasília; Jean Mark von der Weid, da Articulação Nacional de

Projetos de Tecnologias Alternativas; Dr. David Hathaway, Consultores de Projetos

sobre Genética e Biodiversidade; Dra. Gisela Alencar; Dr. João Pedro Stedile;

Manoel dos Santos, Presidente da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura;

Jeremy Rifkin, pesquisador e autor de livros, e a Dra. Mariana Pinheiro Machado

Paoli, da Greenpeace. Portanto, são nove nomes.

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - Sr. Presidente, eu queria levantar

uma questão de procedimento. Fica impossível aprovarmos e, depois,

desaprovarmos. Na medida em que aprovarmos o convite às pessoas, como, depois

de votado pelo Plenário e aprovado, podemos desconvidar uma pessoa que foi

indicada através de um requerimento? Compreendo o desejo de V.Exa. de agilizar e,

portanto, de não travar o desdobramento dos trabalhos, mas esse procedimento,

lamentavelmente, vai ficar muito esquisito, porque a pessoa vai se julgar no direito

de, tendo sido aprovado o convite, vir aqui. Peço que negociemos melhor isso antes

de aprovar os nomes, porque, uma vez aprovados, vai ficar muito esquisito

desconvidarmos quem já foi convidado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Na verdade, o

requerimento tem 32 nomes, e já negociamos para que fosse reduzido para os nove

nomes que apresentamos.

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - Isso eu compreendo. Só vejo como

anti-regimental e até difícil votarmos e desconvidarmos as pessoas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Concordo com

V.Exa. e vou retirar de pauta a discussão de todos os requerimentos. Já temos a

nossa audiência do início de agosto pronta, com aqueles requerimentos que

aprovamos anteriormente. Vamos aguardar, então, uma reunião interna da

Comissão, uma reunião ordinária, na qual possamos discutir isso de forma mais

clara.

Estávamos tentando colocar na pauta da reunião de hoje porque tem sido

difícil estabelecermos quorum necessário para deliberar sobre esse assunto, e hoje

o temos. Espero, no entanto, que no início de agosto, depois do recesso, tenhamos

esse quorum para deliberarmos a respeito dos requerimentos. Sob essas

condições, passamos direto aos debates.

Está com a palavra o nosso Relator.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Uma questão de ordem. Não sei

se é uma proposta herética. Ouvi tantos nomes, não sei quem são. O Deputado que

propõe não pode trazer um minicurrículo? Posso trazer o do vendedor de alface pura

da minha cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul, porque eu como a alface

pura que ele vende, trabalho aqui e se aprova.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Não há

necessidade de apresentação de currículo, Deputado Darcísio Perondi.

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O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Não?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Mas quem

apresentou o requerimento pode defendê-lo, discuti-lo e votá-lo. Está certo?

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Isso é possível.

Estamos, portanto, no período destinado à discussão.

Com a palavra o Relator, Deputado Confúcio Moura.

O SR. DEPUTADO CONFÚCIO MOURA - Sr. Presidente, Dra. Glaci Zancan,

demais convidados, anotei várias perguntas para fazer, mas, tendo em vista que a

Casa está cheia e a Comissão, prestigiada, devo, como Relator, fazer o mínimo de

perguntas possível.

Confesso a todos que aprendi muito nesta audiência pública. O tema é

emocionante, novo, realmente ficamos impressionados com sua complexidade.

Temos pontos de vista muito interessantes, desde a análise simplista do lado

comercial, por exemplo. Inclusive, hoje cedo, no debate com o ilustre Deputado

Carlos Alberto Rosado, li um texto, um parágrafo de um relatório da Federação da

Agricultura do Paraná, que diz o seguinte:

O que nos interessa é o mercado. O que o nosso

produtor rural produz tem que ter mercado, tem que

proporcionar renda a ele e sua família. E este é o ponto

central de nossa posição.

Com isso, podemos observar como os pontos de vista mudam.

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Quero somente agradecer a presença de todos. Vou declinar de fazer

perguntas a quaisquer dos ilustres palestrantes e deixar que os demais Deputados

as façam. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradecendo ao

nosso Relator, Deputado Confúcio Moura, passo a palavra ao segundo debatedor,

Deputado Saulo Pedrosa.

O SR. DEPUTADO SAULO PEDROSA - Sr. Presidente, Srs. Deputados,

senhores palestrantes, assistência neste plenário, nesses dois anos em que

debatemos a questão de transgênicos, na minha ótica, foi o debate mais profícuo e

importante a que já assisti aqui. Inclusive, já convoquei audiência pública com

técnicos para ouvir as questões que me interessavam relacionadas a biossegurança

e consumo animal. Em nenhuma delas obtive os dados e as informações

atualizadas que conseguimos ouvir nesta reunião.

Entendo que essa discussão leva em conta várias questões, sobretudo, na

análise que faço atualmente, o lucro. A explosão demográfica que se projeta nesses

quinze a vinte anos levará à escassez de alimentos. Nessa oferta ambiental,

sabemos que poucos países detém ainda terra suficiente para satisfazer a demanda

alimentar no mundo e que isso se concentra mais na América do Sul e na África, a

qual, por questões tribais, torna difícil o estabelecimento de empresas. O problema

vem exatamente para a América do Sul, principalmente para o Brasil. E as empresas

que têm essa visão global de produção de alimentos estão detendo o controle da

semente e do defensivo agrícola e querem instalar-se aqui, com os produtos

transgênicos, trazendo de fora também as informações científicas que não são

produzidas no nosso País.

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Por outro lado, como foi abordado em relação à biossegurança e ao consumo

animal e humano, os produtos derivados de produtos transgênicos, dos

recombinantes, deveriam ser tratados com mais segurança, como os medicamentos,

porque eles também produzem vacinas, antibióticos e alimentos.

A minha preocupação no início desses dois anos de discussão é a de que a

CTNBio liberou uma série de experimentos levando em conta que não havia indícios

de que poderiam causar problema no consumo humano e animal. Existe uma série

de indícios. O Prof. Sílvio Valle lançou várias perguntas, o que nos deixou ainda

mais preocupados do que antes.

Portanto, lastimo que esta audiência pública tenha sido ampla para os

conferencistas e que não tenha dado tempo para aprofundar o debate, por já

estarmos indo para o plenário.

Certa ocasião, procurei a Organização Mundial da Saúde para ter uma

posição oficial a respeito do consumo dos produtos transgênicos por animais e seres

humanos, e até hoje não tive resposta. Em conversa informal, a Profa. Glaci nos

indicou uma literatura farta e uma série de questionamentos ligados especialmente à

questão alergênica no consumo animal e humano desses produtos.

Portanto, entendemos da maior importância esta audiência pública, pois o que

nos trouxeram foi essencial para que façamos um juízo de valor na hora de redigir e

modificar projeto de lei tão relevante para o nosso País.

Fiquei bastante preocupado ao ouvir também que, apesar de estar proibida a

produção em escala de produtos transgênicos, no Brasil isso está sendo quase que

uma infestação, uma epidemia de plantas.

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Preocuparam-me bastante as afirmações do Procurador da República quando

ressaltou um paradoxo no que diz respeito a gestão política. Apesar de haver leis

que os proíbem, o Governo facilita a produção e a comercialização de produtos

transgênicos no nosso País.

Não tenho perguntas a fazer, só essas observações. Agradeço e louvo a

presença de tão ilustres pessoas nesta Comissão.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado,

Deputado Saulo Pedrosa.

Com a palavra, para debater, o Deputado Fetter Júnior.

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - Sr. Presidente, ilustres expositores,

ouvi com muita atenção o que nos foi apresentado e estou tentando me situar num

tema que é altamente complexo.

Estudei Agronomia, na década de 70, e estou na política há muito tempo.

Então, sou um agrônomo não muito atualizado. Mas, quando estudei Agronomia,

estávamos no meio de uma revolução verde, em que se buscava desenvolver uma

série de técnicas capazes de revogar as teorias de Malthus de que a população

crescia muito mais do que a quantidade de alimentos.

Naquele período, em relação a diversos produtos, conseguiu-se uma nova

tecnologia que permitiu que o mundo produzisse alimentos suficientes para atender

esse crescimento populacional. Hoje verificamos que a tecnologia desenvolvida

naquela época foi bastante agressora do meio ambiente, seja na forma do cultivo,

seja pelo grande uso de agroquímicos, ou agrotóxicos, como são chamados.

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Agora estamos diante de uma nova revolução tecnológica — vamos dizer

assim —, em que se buscam exatamente tecnologias que agridem menos o meio

ambiente. Por exemplo, o plantio direto na palha, que é a tentativa de não mexer

tanto no solo e protegê-lo da erosão, para que não seja carregado para os rios. Em

segundo lugar, que se usem menos agroquímicos.

No caso da soja, que foi muito comentada, existe a tentativa de evitar o uso

maior e o plantio na palha junto com a biotecnologia, permitindo reduzir

sensivelmente tanto a agressão ao solo quanto o uso de agroquímicos.

Num primeiro momento, como agrônomo desatualizado, mas interessado

nessas questões, tenho que saudar como extremamente positiva essa tecnologia.

Se agride menos o meio ambiente e usa menos agroquímicos, parece-me que é um

passo extremamente positivo.

Não discordo da preocupação aqui manifestada, mas lembro que esses

produtos agrícolas de que estamos falando, como soja, milho, trigo, arroz, não são

consumidos in natura, mas normalmente processados, cozidos, enfim, recebem

todo um tratamento químico.

Vejo que há muito menos preocupação com alguns casos — não sou médico

e não quero me meter na seara alheia — aqui abordados, como a vacina da

hepatite, a insulina, que são de aplicação direta no homem. Fico meio confuso

quando temos tanta precaução com produtos que vão ser processados e analisados

quanto a sua toxidez, etc. e tal, e nem tanta com os que se injetam direto no corpo

humano, como a insulina e a vacina.

Parece-me que, no caso da agricultura, estamos num limite meio perigoso.

Como agrônomo, produtor rural e Parlamentar, estou interessado em que a

agricultura brasileira tenha condições de produzir melhor, com maior rentabilidade,

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com condições de agredir menos o meio ambiente, e oferecer melhor capacidade de

sobrevivência ao homem do campo, que vem sendo sistematicamente expulso da

produção.

O Brasil ficou muito paranóico com essa questão dos produtos transgênicos.

Parece-me que estamos experimentando uma espécie de moratória, de um lado, na

produção comercial e, do outro, de uns meses para cá, na experimentação. Essa

atitude é um desserviço a este País. Ou seja, se queremos estar atualizados

tecnologicamente nessa nova revolução tecnológica que se avizinha — e estou

tentando entendê-la — e proibimos a pesquisa e a atualização tecnológica do País,

estamos nos posicionando meio como inquisidores.

Proibir a pesquisa é algo que me parece absolutamente equivocado. Temos

que ter regras, segurança, controle — sem dúvida —, mas proibir a pesquisa,

queimar experimentos, como vi ocorrendo no Rio Grande do Sul, é algo que me

parece atrasado, equivocado, anticientífico, contrário ao progresso e que traz

problemas para o desenvolvimento deste País.

Quero que as entidades que trabalham com isso no Brasil, especificamente a

EMBRAPA, que está aqui representada, tenham condições de se manter atualizadas

com aquilo que ocorre no mundo.

É claro que temos que ter os cuidados. Fala-se muito em danos potenciais.

Concordo com que se tem de avaliar quais são esses danos. Temos que observar a

segurança alimentar e ambiental.

Vou ler com carinho tudo o que foi distribuído aqui e outras coisas mais que

tenho procurado. Mas não consigo ainda ver esse risco tão grande que está sendo

levantado para a espécie humana. Desconheço. Já participei de alguns debates, já li

alguma coisa sobre isso e desconheço exemplos concretos de riscos efetivos.

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Ficamos falando de risco potencial, de que temos que ter cuidado, de

biossegurança. Tudo bem. Mas qual o caso que temos de risco efetivo, reportado na

bibliografia, que nos mostra que o homem foi afetado?

Precisamos ter muito cuidado com essas observações, tendo em vista que

podemos condenar a produção primária brasileira ao atraso, à falta de

competitividade, à inviabilização, num momento em que o País tem condições de ser

um grande produtor de alimentos para o mundo. Hoje, estamos com a perspectiva

de assumir um papel crucial na alimentação mundial.

Gostaria que essas observações fossem avaliadas. Sr. Presidente, estamos

falando de riscos potenciais e há produtos sendo comercializados nas mais diversas

áreas. Citei o caso de vacina, que não deixa de ser uma agressão. Não vejo

preocupação tão grande nesses casos. Já quanto ao produto que será processado,

avaliado, que terá exame de toxicidade, de biodigestão e tudo mais, há uma

preocupação fantástica. Será que nesse caso não estamos indo contra uma

tecnologia nova que, na verdade, agride menos o meio ambiente? Ela conserva

muito mais o solo com o plantio na palha; ela usa quantidade muito menor de

agroquímicos. Será que não estamos indo contra algo que permite ao Brasil ser

competitivo economicamente, em termos agrícolas?

Desejaria que me dissessem se estou errado e por que estou errado. É

justamente diante de expositores qualificados como os que estão à minha frente que

gostaria de expor tais preocupações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao

Deputado Fetter Júnior.

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O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Tem V.Exa. a

palavra.

O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, gostaria de participar

ativamente deste debate, até porque levantamos essa preocupação e conseguimos

fazer algumas discussões a respeito. Contudo, devido à votação da LDO — sou

membro titular da Comissão Mista de Orçamento —, estou impossibilitado de

participar.

Não sou engenheiro agrônomo, nem da década de 70, mas tenho um trabalho

nessa área. Consegui, logo no início do mandato, fazer um debate, nacional

inclusive, numa rede de televisão a respeito dessa questão.

Então, faço este registro em que comunico à Comissão as razões da minha

ausência. Peço licença para sair, porque nossa bancada tem algumas discussões a

fazer no que diz respeito à votação da LDO e a créditos suplementares.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao

Deputado João Grandão, que trouxe a elegância para o plenário da nossa

Comissão. Muito obrigado.

Com a palavra o Deputado Darcísio Perondi.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Sr. Presidente, este é o Brasil, o

Brasil que tem que valorizar sua auto-estima. Vi hoje um grupo de cientistas, e

todos, parece-me, de órgãos públicos. Isso mostra que nos últimos dez anos, no

máximo, recuperou-se o investimento em ciência. Não me junto aos cavaleiros do

apocalipse que dizem que não se investe em ciência. Este é o Brasil que não

investia, mas que agora está cada vez mais investindo em ciência.

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Aprendi muito hoje e vou ler mais a respeito do tema. Sou médico, e médico

de criança.

Quanto aos transgênicos, temos que atentar para a questão da agricultura. O

Deputado Fetter Júnior, o Deputado Confúcio Moura e o Relator disseram muito

bem: temos de observar, sim, os agronegócios. O País tem que aumentar essa

riqueza, e o maior número de desempregados está na agricultura.

Então, cuidado, cientistas, Greenpeaces da vida e outros, Ministério Público e

outros. Cuidado! São agentes do desemprego, o Ministério Público, de repente.

Ouvi a observação do doutor da EMBRAPA quanto ao feijão. O feijão e o

mamão são sociais, geram emprego na pequena propriedade.

Temos que cuidar do meio ambiente. Mas pôr água, fazer estrada, plantar,

abrir fronteiras, tudo isso mexe com o meio ambiente, não mexe, doutor? Mexe.

Tenho lido na imprensa quase todos os artigos contrários. Mexer com o meio

ambiente é uma epidemia. Vamos tentar buscar o equilíbrio.

As explanações que ouvi hoje dos senhores vão ajudar também a equilibrar o

meu posicionamento. Mas o outro lado também precisa fazer isso.

Quanto ao consumidor, Dr. Sílvio — quem sou eu para fazer uma

contraposição ao Dr. Sílvio —, fiquei feliz em vê-lo falar. Se o senhor fornecer-me

material, vou fazer a leitura.

Sou de uma região agrícola, sou pediatra há dezessete anos e Deputado há

seis anos. Por força da política, deixei minha profissão, de que tanto gosto. Ao longo

desses dezessete anos, ouvi e vi pais de clientes meus intoxicados por veneno, e

como! Crianças intoxicadas por veneno, e como! De uns anos para cá — tenho

conversado com meus colegas, continuo ligado ao maior hospital da cidade —,

diminuiu o número de intoxicados.

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No Brasil, a questão do comércio do veneno mexe com 2 bilhões e meio de

dólares. Será que o transgênico — soja, feijão, mamão, tomate, milho, de que o

doutor de Pernambuco não gosta — não está salvando crianças, não está salvando

gente? Será que não é preciso buscar mais equilíbrio, nessa linha? Não sei.

Assisti a um pouco das explanações do doutor da EMBRAPA — aí vai uma

crítica a alguns que falaram — e do doutor da área de meio ambiente. Milhares e

milhares de brasileiros morreram por veneno. Transgênico é um caminho para

reduzir o número de mortes.

Alergia? Sou pediatra, e a alergia é um dos maiores problemas da

humanidade. Não mata, mas o caso é sério. E o veneno não é sério? Hoje o custo

da lavoura é enorme? É muito sério, sim, o custo da lavoura, e apenas dois dos

senhores levantaram isso.

Joana d’Arc, Copérnico, Darwin. Os senhores leram. Lembro daquele filme

em que livros eram queimados. Não era o “1984”, de George Orwell. Cuidado!

Dispara a ciência lá fora e nós podemos patinar. Apesar disso, repito, parabéns,

cientistas brasileiros. Na área de biotecnologia estamos talvez entre os dez ou

quinze países do mundo em estudos. E isso não é de cinco, seis anos para cá.

Vamos ter cuidado, muito cuidado, e não politizar. Eu, como político, preciso

estudar mais; eu, como médico, preciso estudar mais, mas muitos altos funcionários

do Ministério Público precisam estudar também.

Por isso uma Comissão como esta é muito boa para aprendermos. Aprendi

com os senhores. Minha posição é no sentido de buscar o equilíbrio. Todos temos

que tentar buscar o equilíbrio, o que ouvi pouco aqui. Estou maravilhado com o

conhecimento dos senhores, mas só ouvi a defesa do outro lado por parte de dois

cientistas.

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Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao

Deputado Darcísio Perondi.

Com a palavra o Deputado Silas Brasileiro.

O SR. DEPUTADO SILAS BRASILEIRO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Parlamentares, ilustres convidados, senhores assessores, vemos a divergência que

existe sobre o assunto na comunidade científica. Essa é a nossa primeira

preocupação.

Sem dúvida, respeitamos sobremaneira os conhecimentos da comunidade

científica, mas, às vezes, conversamos com vinte cientistas que têm uma opinião e

conversamos com um cientista que tem outra opinião. Em muitos casos, temos que

partir para a maioria. Seria realmente muito agradável se existisse uma

convergência dentro da própria comunidade científica.

A segunda refere-se à questão da moratória. É interessante, há um processo

em desenvolvimento e de repente propõe-se abruptamente interrompê-lo,

estabelecer um período em que o Brasil mais uma vez vai perder, como perdeu na

era dos computadores. Estamos vivendo num mundo globalizado, no mundo da

evolução, do progresso e repentinamente se oferece a exame uma moratória. Isso é

muito inquietante.

Preocupa-me sobremaneira também, diferentemente do nosso colega

Deputado Saulo Pedrosa, a maneira de ver. É interessante como a sociedade vê.

Por isso estamos aqui representando várias comunidades e isso é muito importante,

porque esta é a Casa da democracia.

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Ouvi com muita clareza as observações do representante da área de meio

ambiente e do da EMBRAPA. Sem emoção, exatamente com a razão. Isso nos

trouxe substancial contribuição.

Causou preocupação a questão do Recife. Meu Deus! Se temos que

alimentar nossas aves, nossos suínos, os nossos animais, e a única forma de

alimentá-los é com o produto que encontramos no mercado, que é transgênico,

vamos deixá-los morrer? Quer dizer, é a questão do bom senso, do equilíbrio. Isso

nos preocupa sobremaneira, mas muito mesmo, Sr. Presidente. O bom senso tem

que predominar em qualquer circunstância, sem dúvida nenhuma.

Vou citar o exemplo da Argentina. Na era dos transgênicos, a Argentina

quadruplicou sua produção e exporta tudo o que produz. Agora, o Brasil prepara

uma lei de patentes, uma lei de biossegurança; debatemos por dois anos a Lei de

Cultivares, preparamos o caminho para as empresas investirem em pesquisa no

Brasil, e de repente puxamos o tapete? Que Brasil é esse, que mensagem

passamos para os investidores no nosso País, que estão aqui para desenvolver

tecnologia e gerar emprego e renda para o nosso produtor? Isso causa muita

inquietação, Sr. Presidente.

Muitas vezes, o ser humano tem medo do desconhecido, é normal. Quando

tem medo do desconhecido, ele fala “não”, é muito mais fácil. Temos que ter

coragem para enfrentar, sim, esta nova era, esta fase de evolução. Precisamos fazer

nossas pesquisas, valorizar nossos cientistas, nossa comunidade científica, mas

temos que dar as respostas a nós mesmos. Não podemos dizer “não” de forma

nenhuma.

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Então, deixo registradas essas ponderações. Não vou alongar-me, porque

tenho uma audiência no Palácio agora, mas quero sugerir, Sr. Presidente, que na

próxima audiência pública fossem convidados quatro expositores, para termos mais

tempo para debater. A parte rica é exatamente o debate. Às vezes temos de sair e

não ficamos tão bem informados.

Com relação à rotulagem, sou totalmente favorável a ela, sempre fui, sempre

a defendi. Tenho que saber o que estou consumindo. É algo normal a informação ao

consumidor. É muito importante.

Por fim, ressalto que temos de sair do emocional e partir para a razão, vendo

realmente o País como deve ser, que tem que caminhar nesse contexto mundial da

globalização. Seremos competitivos, sim, se conseguirmos essa evolução. Não

podemos ficar a reboque dos demais países. É interessante, o Brasil pode pôr na

vitrine o transgênico, o orgânico, o convencional, pois temos solo para isso. Basta

usar rótulo e pronto, assim estará disponível para quem quiser comprar. Trata-se de

questão muito fácil de resolver.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Muito obrigado,

Deputado Silas Brasileiro.

Com a palavra o nobre Deputado Alberto Fraga.

O SR. DEPUTADO ALBERTO FRAGA - Sr. Presidente, na verdade, quase

tudo já foi exposto. Eu, entretanto, não sei em quem confiar.

Hoje de manhã, realizamos uma audiência muito boa. Chegamos aqui e

encontramos cientistas discutindo estes fatos — a ênfase com que discutiam a favor

era a mesma com que discutiam contra.

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Externo o meu contentamento com a exposição feita pelo representante da

EMBRAPA. Essa é uma instituição que tem contribuído significativamente para o

País com as suas pesquisas, e eu me interessei profundamente pelo assunto.

É evidente que a opinião de cada cientista é sempre muito importante para

nós, mas não posso deixar de falar acerca do milho de Pernambuco. Não há

explicação para aquilo de que tivemos conhecimento. Se se trata de assunto tão

problemático e discutível no meio científico, imagina quando há interferência do

Poder Judiciário, que, taxativamente, adota posição administrativa que se sobrepõe

a decisões de natureza técnica. Não faz sentido, é uma brincadeira.

Na verdade, devemos perguntar como seriam alimentados frangos, vacas e

outros animais, se já está mais que comprovado que a ingestão pelo animal não traz

nenhum tipo de conseqüência nociva para o ser humano.

Preocupo-me também com outra situação, sem, no entanto, querer

desqualificar os fatos ou criar polêmicas. Eu assisti à bela exposição do

representante da FIOCRUZ, mas percebi que os seus fundamentos são muito

vagos, quando da entrevista do Dr. Jim Maryasnki. Suas palavras foram muito

vagas. Ele disse simplesmente que utiliza soja transgênica há quatro anos. Se

houver rotulação, esse problema desaparece.

Há algo que nos aflige. Eu não tenho nenhuma intenção partidária, acho que

esta interferência não deve existir — tal como manifestou o Deputado Silas

Brasileiro. Alguns detalhes têm de ser discutidos com razão e não com emoção.

Temos a clara percepção de que este assunto se transformou em política partidária.

Quando vejo um Greenpeace assumir o que é bom para o nosso País, eu já fico

preocupado. Assim como quando alguns cientistas, cuja origem eu nem conheço,

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defendem certos pontos de vista de forma mascarada, eu também fico muito

preocupado.

Estas audiências públicas são realizadas exatamente para dirimir as dúvidas

que pairam na cabeça dos Parlamentares. O nosso Relator vai ter de ser muito

paciente — para ele não será difícil, é prática peculiar dos confucionistas a

paciência. Vai precisar ouvir muito para não cometer nenhuma injustiça nem contra

o povo brasileiro, contra o País, nem contra o desenvolvimento em si.

É evidente que não estaríamos defendendo algo caso não estivéssemos

certos de que é nocivo para o consumo humano. Ninguém, em sã consciência, faria

algo assim! O porém é que até agora não se apresentou nada. Hoje eu fiz uma

pergunta que dizia respeito às borboletas, as tão alegadas borboletas. Como é

mesmo o nome? Monarcas. Eu recebi uma explicação maravilhosa, sem emoção,

que me convenceu e que não tem nada a ver com o que foi dito uma vez aqui no

plenário. São essas observações que precisam ser feitas, de forma transparente,

para que não paire dúvida nenhuma.

Sr. Presidente, na verdade, eu não tenho uma pergunta específica a fazer.

Estou muito satisfeito com o que ouvi, mesmo em relação ao que foi dito contra e ao

que foi dito a favor. Este é um importante debate. Eu me preocupo, sim, com a

ingerência e a interferência das ONGs em nosso País. Quanto aos depoimentos,

acho que foram plausíveis.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Muito obrigado,

Deputado Alberto Fraga.

Com a palavra o nobre Deputado Clovis Volpi.

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O SR. DEPUTADO CLOVIS VOLPI - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,

estamos nos reunindo para votar uma lei que vai impor as condições para a

comercialização de alimentos geneticamente modificados.

É claro que nos depararemos no plenário com alguns até frustrados, pois um

é biólogo, outro é médico, mas ninguém é efetivamente ligado à ciência do

tratamento dos transgênicos. Nós precisamos de subsídios para elaborar uma lei

que, na pior das hipóteses, permita ao País ter o controle desses alimentos para que

sejam consumidos em condições eficazes, independentemente de pareceres

favoráveis ou contrários.

Eu não percebi em nenhum dos palestrantes a tendência a ser favoráveis ou

contrários — todos, no meu ponto de vista, manifestaram-se acerca da necessidade

de se avaliar a questão dos transgênicos, o que foi fundamental para nós nesta

reunião, à exceção do Procurador da República Dr. Marcos Antônio, que tomou uma

decisão calcado nas leis que tinha em mão, naquele momento, para fazer suas

análises.

É muito importante que essas ponderações constem no nosso relatório. Neste

País, temos leis, mas não controlamos, por exemplo, os aterros sanitários. Não

controlamos o tratamento de efluentes metálicos das empresas, o que é muito pior

do que o que estamos tratando. Reitere-se que, na maioria das vezes, quem não faz

o controle é o próprio organismo do Estado.

Minha maior preocupação está na formatação das leis. Elas têm espaços,

para todos delas fazerem uso, em cada um dos Estados ou Municípios, ou até

mesmo na União, para que a iniciativa privada sempre prevaleça, até mesmo sobre

a condição do ser humano. Diante de tantas preocupações, deparamos com mais

uma: eu não sei, não tenho como avaliar se os transgênicos serão uma boa opção

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ou não para a saúde pública. É preciso que confiemos nos cientistas que estão

trabalhando.

Lembro-me de uma vez em que eu disse ao doutor, em outra exposição, que

eu acreditava em cientistas, seja do governo ou não. Tenho de acreditar no cientista.

Aquele que está trabalhando no governo, ou na iniciativa privada, ou em outro

organismo, tem de estar imbuído do princípio da ciência; do contrário, não vale nada

o juramento que ele fez no ato da formatura. Trata-se do princípio da ciência. Eu

acredito nas informações prestadas pelos cientistas.

Como o número de expositores nesta reunião é muito grande para fazermos

uma avaliação, poderá haver muitos conflitos. Eu solicito ao Presidente que faça a

revisão dos nomes, porque acho que haverá mais conflitos que soluções, para, ao

final, chegarmos à redação de uma lei que contemple a população — isso é

fundamental.

É importante que não haja falha dos órgãos criados pelo Governo para emitir

opiniões ou pareceres, para que a Justiça interfira menos — penso que ela não

pretende interferir; para ela, quanto menos interferência, melhor. Assim, teremos

uma lei mais adequada.

Até poderia dizer que acredito piamente no processo. Faço um elogio à

EMBRAPA, que já foi feito por outros Deputados. Se a EMBRAPA afirmar

publicamente que isso pode e deve ser assim, como consumidor, eu vou acreditar

nela, e até mais como legislador, porque, parece-me, tudo o que eu vi e ouvi dos

pesquisadores da EMBRAPA, até hoje, tem grande validade, assim como o que

preceitua a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

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Precisamos ter credibilidade em vocês; se não tivermos, estaremos diante de

uma lei de ninguém. Do contrário, os Líderes deveriam estar presentes aqui, porque,

no final, vamos votar o que os Líderes determinarem. Isso é pior para todos nós, já

que fizemos uma análise tão exaustiva, e depois teremos de aceitar a decisão dos

Líderes, em função de algum acordo ou de algo maior de que acabamos não tendo

conhecimento.

De qualquer forma, este processo é o mais correto e democrático que

devemos adotar: devemos ouvir. Tenho condição de chegar às minhas conclusões.

Não vou fazer nenhuma pergunta porque o número de expositores vai ser tão

grande daqui para frente que acabaremos sendo repetitivos.

Gostei das exposições. Não concordo com algumas, mas para mim é a

opinião dos senhores que vai dar o parecer final a esse projeto de lei. E fica o crédito

a todos aqueles que estão expondo seus pontos de vista aqui.

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado,

Deputado Clovis Volpi.

Com a palavra o último orador inscrito, Deputado Moacir Micheletto.

O SR. DEPUTADO MOACIR MICHELETTO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, senhores palestrantes, eu também quero me identificar. Sou originário

do campo, assim como o Deputado Fetter Júnior, e engenheiro agrônomo.

A minha interferência também não é no sentido de fazer perguntas, visto que

a matéria faz parte do currículo do curso de engenheiro agrônomo; e tenho o meu

ponto de vista, que continuo defendendo.

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Gostaria de fazer um apelo ao nosso Relator, o competente Deputado

Confúcio Moura. Tenho certeza de que S.Exa. terá de passar pelo mesmo calvário

por que passei e estou passando, até pelo fato de eu haver sido o Relator do Código

Florestal Brasileiro, tendo recebido o prêmio de “Deputado motosserra”, inclusive

com o marido da nossa querida Deputada, o Senador Jonas Pinheiro, Presidente da

Comissão. Quero deixar registrado que este é o momento de fazermos uma

reflexão.

Quanto aos transgênicos, há duas vertentes. Uma delas diz respeito ao

mercado, e isso eu não discuto. Não quero nem entrar nas ponderações. Estou de

acordo, de “a” a “y”, com o nosso competente cientista da EMBRAPA, uma das

poucas instituições de que nós, brasileiros, podemos ter orgulho. Precisamos

acreditar na nossa pesquisa. Lamentavelmente, no Brasil, acreditam em pesquisas

que vêm de fora, ou em relatórios de entidades alienígenas. Esquecem, inclusive,

que temos entidades dessa natureza. Então, estamos em total concordância, de fio

a pavio, com o que V.Exa. abordou aqui.

A outra vertente diz respeito à biossegurança. O competente Deputado

Alberto Fraga perguntou: "Quem está com a razão? Quem fala a verdade?" Eu

também faço essa mesma pergunta.

Nós temos, por exemplo, a EMBRAPA. No campo agronômico, não quero

nem discutir, os transgênicos reduzem o custo e o problema da toxidade, porque as

grandes multinacionais deixam na mão de cada produtor deste País uma bomba

atômica ou uma granada. Vendem o agrotóxico, assunto a que o médico

competente, Deputado Darcísio Perondi, do Estado do Rio Grande do Sul, já se

referiu há pouco. Temos de respeitar essas opiniões. Usaram da palavra biólogos,

agrônomos, médicos. Acho que este é o momento da reflexão e não o dos extremos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2.905/97 - Alimentos Geneticamente ModidificadosNúmero: 000625/01 Data: 26/06/01

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No Brasil há duas correntes. Uma é a corrente do poeta, que deixa as coisas

acontecerem e não toma providências. Ele está vendo que a situação é complicada

e deixa o tempo passar. Quando acorda, não há mais cura para aquele mal. Do

outro lado, temos aquele que prega o apocalipse: que tudo vai terminar, que vai

chegar o fim do mundo.

No ano passado, na Embaixada do Brasil em Paris, tivemos uma reunião de

Parlamentares brasileiros com o Embaixador e com empresários da França,

discutindo inclusive os transgênicos, a soja transgênica. Há uma grande histeria em

relação a esse assunto. Inclusive, a Ministra da Agricultura, na época — não sei se

ainda continua —, era do Partido Verde e tinha, parece-me, 30 hectares de terras

plantadas em cousa transgênica. Criou-se um aparato de histeria no País e o

Governo teve de mandar os tratores para lá e terminar com aquilo. Eles queriam

comprar de nós, brasileiros, soja orgânica, soja convencional. Dissemos que não

havia problema, porque iríamos produzir soja convencional para eles, uma vez que

não queriam soja transgênica. Indagamos sobre o preço, o quanto pagavam.

Retrucaram que o preço tinha de ser igual ao da soja transgênica. Não nos

ofereciam melhor preço.

Ora, se os ricos querem comer alimentos não transgênicos... Aqui está a

minha dúvida, até como técnico, pois sou um estudioso do assunto. Fico ligado

também na outra vertente, pelo CTNBio. Essa entidade disse que poderíamos usar

esses produtos, porque não haveria problema em relação à biossegurança, à

alimentação humana e animal. E, de repente, encontramos cientistas isolados ou

algumas entidades questionando sobre isso. Ora, se numa vertente a vertente

econômica é correta, na vertente da biossegurança não é. Tínhamos de ter de fato

estatísticas, laudos que constatassem que, de fato, os transgênicos são perigosos

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na alimentação, são perigosos para o ser humano. Vimos aqui — não vou nem

entrar no mérito — que temos aplicação direta na veia, inclusive, de produtos

modificados.

Então, quero deixar bem clara é a questão da moratória, que já discutimos.

Até acreditamos que possa existir moratória para o campo, para definir o problema

da comercialização, mas dizer que é preciso haver moratória na pesquisa é um

crime. Isso não pode acontecer, em absoluto.

Já estou encerrando, Sr. Presidente.

Sabem quem é que vai mandar no mundo daqui para frente? Quem tem a

água em uma das mãos e a biotecnologia na outra. Ninguém segura o

desenvolvimento da biotecnologia no mundo. Essa é uma realidade. Tentar fazer

com que os nossos cientistas tenham uma moratória na pesquisa é pregar o

retrocesso. Não dá para admitir isso.

Gostaria também de abordar a questão da rotulagem. Quem define o produto,

quem compra é o consumidor. Meu Deus do céu! Vamos encontrar a seguinte

situação: aqui tenho o transgênico e aqui eu não tenho. Aqui eu tenho um litro de

óleo transgênico, que custa 1 real; e aqui eu tenho um litro de óleo não transgênico,

que custa 2 reais. Quem vai decidir é o consumidor. Agora, quero saber quem está

com a razão. Onde temos dados científicos que nos mostram que, usando os

transgênicos, haverá problema de biossegurança? Essa é a dúvida.

Ao encerrar, cumprimento os meus companheiros, ilustres cientistas que aqui

estiveram, e digo que faço parte desta Comissão. Lamentavelmente, a Casa poderia

estar cheia, mas é assim mesmo, temos de fazer mil coisas ao mesmo tempo.

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Gostaria também de fazer um apelo ao nosso Relator, que deve ter bom

senso neste momento, no sentido de que apresente um relatório para o País, para

os brasileiros.

Vou voltar em outra oportunidade, Sr. Presidente, talvez em agosto. Estamos

fazendo levantamentos sobre o assunto nos Estados do Rio Grande do Sul, do

Paraná e de Santa Catarina. Os senhores não imaginam o que já temos de produtos

— principalmente soja e milho — transgênicos plantados em nosso País, em

detrimento da produção de sementes brasileiras. Isso está gerando um caos para o

produtor de sementes. Vamos ter uma audiência, amanhã, com o Ministro da

Agricultura e do Abastecimento para colocá-lo a par da situação. Não podemos levar

em consideração apenas a emoção de ser contra ou a favor. O que queremos é uma

reflexão profunda. Os cientistas, sem a ótica partidária e política, mas, sim, de Brasil,

devem orientar-nos.

Luz no campo econômico, nós já temos, não vamos nem discutir isso, porque

a EMBRAPA nos apresenta, como tantas outras empresas. Agora, no campo da

biossegurança, em relação a esse problema levantado, a essa histeria criada no

Brasil, o certo é que estamos comendo produtos transgênicos todos os dias. Esta é

a realidade.

Sr. Presidente, voltarei com um relatório sobre transgênicos plantados e

consumidos no País. E nós fazemos de conta que nada disso está acontecendo.

Esta é uma realidade. Não podemos ficar atrás dos americanos, nem da guarda

econômica européia. Os seus cientistas continuam pesquisando e avançando, e o

Brasil não pode ficar abaixo dessas potências.

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Faço um apelo ao Sr. Relator: pelo amor de Deus, não vamos aprovar uma

moratória para pesquisa! A pesquisa, no Brasil, tem de continuar, porque seria a

nossa salvação e do povo brasileiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao

Deputado Moacir Micheletto.

A rigor, nenhuma pergunta foi feita aos debatedores, mas, como houve, de

qualquer forma, alguns questionamentos não dirigidos especificamente, vou passar

a palavra a um por um, perguntando se deseja acrescentar alguma coisa ao final

desta reunião; naturalmente, entendendo que poderá haver a tréplica ao

questionamento apresentado.

Convido o Dr. Elibio Leopoldo Rech Filho, da EMBRAPA, a fazer o seu

comentário final.

O SR. ELIBIO LEOPOLDO RECH FILHO - Sr. Presidente, Srs. Deputados,

quero agradecer-lhes a oportunidade de poder estar aqui e apresentar o que temos

realizado e o que existe no mundo em relação a essa tecnologia.

Quero enfatizar, conforme foi dito pelos Srs. Deputados, que toda essa

discussão vai extrapolar muito mais o seu valor para a nossa sociedade. A partir de

hoje, acredito que iremos ser muito mais rígidos, e não somente com essa

tecnologia. Vamos assumir o papel de questionar tudo o que nos é disponibilizado,

porque sabemos que isso faz parte de todo um contexto de avanço tecnológico, que

procura, sim, disponibilizar bens para a nossa sociedade. Mas necessitamos, de um

lado, de um Estado que realmente fiscalize e mude estruturas capazes de

disponibilizar produtos seguros; e de outro lado, de uma população que faça

demandas efetivas de tudo o que é disponibilizado.

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Agradeço a V.Exas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Muito obrigado, Dr.

Elibio Leopoldo Rech Filho.

Concedo a palavra ao Dr. Sílvio Valle.

O SR. SÍLVIO VALLE - Gostaria de agradecer a V.Exas.

Em relação às vacinas aqui citadas, a de hepatite B é uma vacina

recombinante; já está há mais de quinze anos no Brasil. Todos os lotes que chegam

ao País, em que é dada entrada no nosso laboratório, na Fundação, são

controlados, lote a lote. A população pode ficar tranqüila no que se refere aos

trabalhos realizados pela Fundação.

Quanto ao princípio da precaução, peço aos senhores que reflitam sobre o

assunto. Falamos sobre a importância da rotulagem, do ponto de vista da saúde

pública, e posso dar um exemplo atualíssimo, que é a questão da vaca louca. Por

exemplo, temos pouca base científica para afirmar que com a carne bovina se

contrai a doença.

Há suspeita de cem casos por consumo de carne bovina. A probabilidade de

contrair a doença de Creutzfeldt-Jakob — não por consumo da carne — é de 1 para

1 milhão. Com essa probabilidade baixíssima, em relação à doença da vaca louca,

tivemos medidas de biossegurança preventiva até um pouco exageradas, de acordo

com meu ponto de vista, porque são cem casos suspeitos. Houve medidas

preventivas não só em relação à saúde pública na Europa, mas também no Brasil. O

Ministério da Saúde acaba de baixar uma norma que diz respeito a produtos e

consumo relacionados a uma doença que é uma hipótese científica. E não temos

nenhum caso cientificamente comprovado, hoje, em que haja relação entre o

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consumidor de carne bovina com o agente etiológico prion, específico do bovino, e

a variante de Creutzfeldt-Jakob.

Estou abordando essa questão...

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - (Intervenção ininteligível.)

O SR. SÍLVIO VALLE - Não, não. A questão da vaca louca não é...

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Não é importante a sua volta?

O SR. SÍLVIO VALLE - Não, a minha volta... Estou falando sobre o princípio

da precaução.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - A doença da vaca louca matou.

Alergia pode matar, mas não no nível epidêmico...

O SR. SÍLVIO VALLE - Deputado, nós não temos nenhum caso de doença da

vaca louca em pessoas que tenham consumido carne bovina. Não temos nenhum

caso comprovado no mundo, e o princípio da precaução médica foi estabelecido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado, Dr. Sílvio

Valle.

Concedo a palavra ao Dr. Bráulio de Souza Dias, Diretor do Programa

Nacional de Conservação da Biodiversidade.

O SR. BRÁULIO DE SOUZA DIAS - Quero agradecer-lhes a oportunidade de

participar do debate. De fato, este tema provoca uma discussão emocional. Parte da

solução do problema está na pesquisa. Não há como avançarmos neste assunto

sem uma pesquisa sólida não só em biotecnologia, que, hoje, o Brasil domina, mas

também em biossegurança — estamos começando.

Os novos protocolos que a EMBRAPA está desenvolvendo são uma mostra

de como se pode avançar na pesquisa agronômica, incluindo a preocupação de

biossegurança. Achamos isso fundamental. É fundamental, também, levar

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informação de qualidade para toda a sociedade. O tema é complexo, difícil. O

exemplo do Dr. Sílvio Valle, sobre diferentes tipos de produtos derivados e

transgênicos, exemplifica isso. Quer dizer, estamos misturando coisas diferentes no

mesmo pacote, e aí é difícil ter uma solução única para essas situações. Então, é

importante o debate técnico e a identificação de várias situações que, de fato,

justifiquem a adoção de medidas.

Quero chamar a atenção para o seguinte: a área ambiental, de forma alguma,

tem prevenção contra os transgênicos. É parte de todo um conjunto de novas

tecnologias que temos de analisar e dominar.

As medidas de precaução que defendemos são de interesse do próprio

produtor, porque, na eventualidade de termos algum acidente no Brasil envolvendo

problema ambiental ou de saúde, com consumo de transgênico, o impacto sobre a

indústria biotecnológica será devastador. Então é importante evitarmos isso a todo

custo. Acreditamos que as medidas de precaução têm de ser proporcionais ao risco.

É preciso, portanto, separar as situações e dar um tratamento adequado a cada

caso.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado, Dr.

Bráulio Dias.

Com a palavra o Dr. Marcos Antônio da Silva Costa, Procurador da República

no Estado de Pernambuco.

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - No que diz respeito à

questão dos transgênicos, observem que o projeto que está nesta Casa já parte do

pressuposto de que os transgênicos vão ser liberados. Quer dizer, o projeto não

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cuida da questão relativa à proibição — moratória ou não. Ele parte do pressuposto

de que isso já foi autorizado e de que a questão é da comercialização...

(Intervenção inaudível.)

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Não?

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - São quatorze projetos (ininteligível).

(Não identificado) - E que veda completamente.

(Intervenção inaudível.)

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Certo. É porque pedi à

Assessoria que encaminhasse o projeto que seria discutido na Comissão e que seria

restrito à (ininteligível). Nesse sentido, tudo bem. Aí realmente já não cabe.

Creio que o Deputado, mais do que ninguém, compreendeu bem o que

significa o princípio da precaução, que é justamente o seguinte: quando se trata de

assuntos sensíveis, é preciso tomar muito cuidado. Nada mais do que isso.

Em relação a um outro questionamento, quero dizer que todos os estudos

embasados nas decisões de órgãos nacionais são baseados em estudos de outros

países. Nenhum foi realizado aqui. A CTNBio só tem amparado as suas decisões

em decisões de outros órgãos. No caso do milho foi assim, e com uma série de

falhas. Tanto que já existe até questionamento judicial quanto a essa questão.

Há também um fato interessante relacionado ao milho. A Associação Avícola

de Pernambuco dirigiu uma comunicação ao Vice-Presidente, que foi transcrita

numa decisão do TRF da 1ª Região, bastante interessante.

Diz o seguinte:

Tendo em vista a legislação brasileira sobre

transgênicos, nosso canal de importação fica

impossibilitado de fornecer o milho regularmente.

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Portanto, para atender ao nosso abastecimento, seria

imprescindível que o Governo Federal fizesse a

equalização do preço do milho a ser adquirido pelos

avicultores, tomando como base o milho importado da

Argentina, cujo mecanismo já é utilizado com sucesso na

região durante vários anos. Desta forma, dará condições

de mantermos essa atividade no Nordeste, de real

importância para a economia regional, e além disso,

liberar o imposto de importação de 11% do milho de

países não membros do MERCOSUL, que no caso

teríamos novas fontes de abastecimento para atender à

avicultura do Nordeste.

Naquela situação difícil, foi essa a comunicação encaminhada ao

Vice-Presidente, e será essa comunicação que a AGU vai utilizar para fundamentar.

Então, os próprios agricultores observaram outras possibilidades para solucionar a

questão.

Sobre o agrotóxico, dizer que é uma tecnologia limpa, não é bem assim. Na

realidade, o paradigma em que foi calcada a revolução verde vai se basear na

monocultura. E a monocultura é justamente uma das maiores causas de erosão

genética, que significa o seguinte: grandes extensões de uma mesma agricultura

estão mais afetas a pragas, a sofrer danos. E o que acontece hoje com a

biotecnologia? Dizem que estão sendo criadas barreiras tecnológicas, mas o próprio

setor de biotecnologia diz que essas barreiras vão ser superadas um dia, e nós

vamos correr atrás. Quer dizer, é uma guerra constante.

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Em relação ao maior ou menor uso de agrotóxicos, um dos principais usos de

transgênicos são organismos resistentes a herbicidas. Quer dizer, pode-se utilizar

uma quantidade maior de herbicida que esses produtos. E se o veneno vem....

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - É o contrário, vão usar menos

herbicida...

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Não. Alguns são mais

resistentes.

(Intervenções simultâneas ininteligíveis.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Os senhores terão

direito à réplica. Vamos aguardar um minutinho e deixar o Procurador terminar.

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Perdi o raciocínio.

(Intervenção inaudível.)

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Há um aumento no uso de

herbicidas. Tanto que a Monsanto tinha a previsão de criar na Bahia uma fábrica do

herbicida utilizado na soja.

Se existe ou não a moratória, ela tem prejudicado os setores de biotecnologia

e agrícola. Os senhores têm de dirigir uma cobrança efetiva ao setor do Governo

Federal que cuida da política de biossegurança e de segurança agrícola. Não foi

proibida a pesquisa, não foi proibido o desenvolvimento de produtos transgênicos;

apenas foi condicionado ao estudo de impacto ambiental. Por quê? Porque esta

Casa, um dia, aprovou uma Constituição que estabelece isso como requisito.

O que adianta aprovar leis, fazer mil debates, se não conseguimos

estabelecer essas normas na prática? Há uma legislação sobre agrotóxicos que não

é executada. De quem é a culpa? De uma polícia administrativa que não se

estrutura e não cria mecanismos para combater os malefícios que atingem o setor

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agrícola, que é um setor fundamental. Boa parte do desenvolvimento brasileiro está

calcado no setor agrícola. Digamos que saia daqui um projeto de lei que

substancialmente seja uma maravilha, mas que não passe pelo plenário e venha à

tona. Houve aí uma falha de procedimento, e essa falha é mortal para esse projeto.

O que dizem é que o Governo e o Parlamento aprovam leis e depois não

querem cumpri-las. Só que os órgãos do Poder Judiciário e do Ministério Público

estão lá para fiscalizar a aplicação da lei, e não há como não fazer isso.

O SR. DEPUTADO SILAS BRASILEIRO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem, por dois minutos. Trata-se de bom senso.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Se o seu

comentário é uma réplica, vamos ter tempo para isso. É preciso...

O SR. DEPUTADO SILAS BRASILEIRO - Complementando o que o

Procurador disse, porque, se não, ficará a dúvida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Meu caro

Deputado, V.Exa. terá oportunidade...

O SR. DEPUTADO SILAS BRASILEIRO - O debate, Sr. Presidente, é para

tirar as dúvidas. Não vou questionar o Procurador na área jurídica. Na área técnica,

temos de dar essa resposta. É uma questão até...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - V.Exa. vai ter...

O SR. DEPUTADO SILAS BRASILEIRO - Um minuto, Presidente, um minuto,

para uma questão de ordem.

O Procurador falou em agricultura extensiva. Convido-o a visitar o meu

Estado do Paraná. Nós estamos na agricultura extensiva, com uso de plantio direto,

com redução de agrotóxico e ainda, veja bem, com o controle biológico, que é a

inexistência inclusive do uso de inseticidas ou de outro tipo de agrotóxico. Existe

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agricultura intensiva, temos o combate biológico. Há inclusive a pequena também.

Digo isso porque ele (ininteligível) na monocultura. Então, não é verdadeira essa

afirmação de V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Peço desculpas ao

Dr. Rubens Nodari e à Dra. Glaci Zancan, mas vou ter de dar a palavra, para a

tréplica, ao Dr. Marcos Antônio Costa.

O SR. MARCOS ANTÔNIO DA SILVA COSTA - Do ponto de vista técnico,

realmente é difícil para quem não tem conhecimento científico cuidar dessa questão.

Ela é extremamente complexa e envolve aspectos jurídicos e científicos.

Em rebate, digo que uma das conclusões da FAO, um organismo técnico da

ONU, é no sentido de que uma das maiores causas de perda de biodiversidade tem

sido a monocultura, que tem provocado uma erosão genética. Isso não sou eu que

afirmo. Quer dizer, os senhores vão ter de debater com os cientistas da FAO.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradecendo-lhes

pelo rico debate, com réplicas e tréplicas, passo a palavra agora ao Prof. Rubens

Nodari.

O SR. RUBENS NODARI - Eu também gostaria de renovar meus

agradecimentos por estar nesta Comissão. Quero dizer que já participei de mais de

sessenta debates, tenho vários trabalhos. Hoje não vi ninguém ser contra os

transgênicos. Se foi feita essa leitura, nós pedimos que os senhores deletem isso. A

idéia é exatamente fazer o papel do advogado do diabo, porque estamos tratando de

biossegurança. Aprendi com meu pai que não temos de colocar o balde para cuidar

da horta.

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A biotecnologia tem como contraponto a biossegurança. É natural que a

biossegurança questione. Quanto mais rigor a biossegurança exigir da biotecnologia,

maior segurança para todos, inclusive para as empresas. Por que a vacina da

FIOCRUZ continua existindo? Porque eles têm rigor na análise. Nós estamos

falando da mesma coisa, e acredito que ninguém seja contra. Pelo menos vou falar

em meu nome. Eu sou um crítico muito rigoroso do processo que estamos fazendo,

que pode ter alguns equívocos. Esse é o primeiro ponto.

Em segundo lugar, eu gostaria de dar alguns esclarecimentos, mas lhes peço

que não os tomem como uma réplica ou tréplica. Isso vai contribuir com o debate.

Na época em que importamos milho, apenas 9,7% do milho mundial eram

transgênicos. Havia milho não transgênico no mercado. Eu, por telefone, fui

contatado com um importador, que teve preterida a sua importação de milho, que

não era transgênico. Então, temos outros interesses. As galinhas não iam morrer de

fome por causa daquele milho da Argentina. Podem ter certeza de que existia

milho... Hoje, menos de 10% do milho mundial são transgênicos. Quer dizer, há

milho não transgênico, se for esse o caso.

Gostaria de dizer ao Deputado Darcísio Perondi que o Governador de Santa

Catarina veio a público dizer que aquele é um Estado livre de agrotóxicos. Mais

recentemente, seus porta-vozes disseram que é também livre de transgênicos. E há

cada vez mais pessoas morrendo devido aos agrotóxicos. Temos, na Universidade

Federal, um centro de toxicologia que faz a triagem das pessoas que chegam à

Capital; fora os que ficam pelo interior. O número de mortes e intoxicações é

crescente, talvez ao contrário do que acontece no Rio Grande do Sul. Mas em Santa

Catarina estamos muito preocupados.

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(Intervenção inaudível.)

O SR. RUBENS NODARI - Talvez. Os agrotóxicos realmente são

complicados.

(Intervenção inaudível.)

O SR. RUBENS NODARI - Exatamente.

O Deputado Fetter Júnior, se não me engano, falou sobre outro aspecto

importante, ou seja, que estava em dúvida em relação aos impactos no ser humano.

Quero dizer que, se S.Exa. tem dúvidas, nós temos muito mais.

Gostaria de falar do princípio que me leva — ou que levou muitos de nós — a

pedir análise. Houve um complemento alimentar liberado, o triptofano, que, por duas

hipóteses científicas — ainda não as conhecemos perfeitamente —, levou à morte

35 pessoas e deixou mais de 1.500 com seqüelas. Trata-se de um produto do DNA

recombinante. Nem falamos sobre isso, para que não digam... Para sua informação,

Deputado, existe esse caso e outros casos alergênicos, sobre os quais a Dra. Glaci

vai falar.

Podemos partir da premissa de que a maioria dos produtos não causam

danos graves à saúde e ao meio ambiente. Nosso problema é saber qual vai causar.

Certamente, um ou outro pode causar. Aí é que vem a necessidade do teste. É só

isso que estamos querendo dizer.

Quero deixar claro que, assim como os senhores têm dúvidas, nós também

temos. Então, na dúvida, por precaução, por se tratar de vida humana e de

preservação do meio ambiente, decidimos fazer o teste.

Um dia desses participei de um debate em que estava presente o

representante...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Prof. Nodari,

peço-lhe que seja um pouco mais rápido, devido ao tempo.

O SR. RUBENS NODARI - Vou concluir. Só gostaria de dizer que o

representante das indústrias, em um debate, disse que os testes já faziam parte da

programação deles.

Finalmente, quero dizer que, pela primeira vez na história, estamos fazendo

um debate público sobre a implantação ou a adoção dos produtos de uma

tecnologia. Nunca fizemos isso no passado. Nem sabemos como fazer direito.

Precisamos ter muita precaução. Isso vai aproximar os cientista da sociedade, os

cientistas dos políticos, os políticos da sociedade. Então, vamos ter um ganho muito

grande, independentemente do resultado. Talvez essa maneira de tratarmos as

coisas vai melhor, no futuro, outras decisões. Devemos olhar também por esse lado.

Mais uma vez, desculpem-me se não fui muito claro na minha exposição.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Agradeço ao Prof.

Rubens Nodari e concedo a palavra à professora, pesquisadora e Presidenta da

SBPC, Glaci Zancan.

A SRA. GLACI ZANCAN - Agradeço aos Deputados pela paciência de nos

ouvir e digo que a nossa preocupação é uma só: que a pesquisa seja feita no País.

Todos os dados que vemos são de fora. Não sabemos se vai diminuir o uso de

agrotóxicos na soja transgênica. Esse dado não está disponível, porque a soja

transgênica não está plantada. Os campos experimentais autorizados a trabalhar

têm de fornecer esses dados. Precisamos saber disso.

(Apresentação de transparências.)

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O que sei é que há algumas amostras de soja e milho — veremos na

transparência — que são transgênicas, porque no nosso laboratório a tecnologia

está disponível e é possível dizer se são ou não. Só para mostrar que isso está

disponível.

O que quero argumentar é que, na transgenia, cada caso é um caso. Para

cada caso se faz uma construção. Temos, por exemplo, Deputado Fetter Júnior, o

problema da soja castanha-do-pará, que nem foi para o mercado, porque já se

descobriu que ela era alergênica. Então, nem chegou a ir ao mercado. Em relação

ao milho BT, existe uma discussão nos Estados Unidos, porque descobriram trinta

casos de intolerância alimentar ao produto. Através de estudos e reestudos, chegou-

se à conclusão de que sete potenciais pacientes — vejam bem que é tudo em

pesquisa — alimentados com o milho BT têm alergia a ele.

O problema fundamental é o avanço do conhecimento. Nossa preocupação,

desde o começo, ao tentar organizar a legislação, é de que ela não fosse fechada,

que a lei fosse mínima e que as resoluções que normatizam pudessem acompanhar

o avanço do conhecimento, porque, do contrário, cristalizamos, proibindo, por

exemplo, sem dar chance a que a tecnologia, que avança, com diminuição do risco,

possa vir a ser usado. Nossa posição é muito clara: o que desejamos é que toda a

pesquisa seja feita no Brasil, que haja cuidado com a pesquisa nacional.

Em relação a esse teste que estou mostrando aos senhores, foi feito um

protocolo em Curitiba para determinar se a soja que estava saindo dos portos era

transgênica ou não. Foram analisados materiais de vários portos.

Esse é o milho da Argentina, o milho sérvio de que o Procurador está falando.

Ele era mesmo transgênico.

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Há tipos de soja, por exemplo, que vieram da Amazonas e não eram

transgênicas. Os testes permitem essa caracterização. Temos ciência e tecnologia.

O País está capacitado a fazer a construção da planta transgênica na EMBRAPA,

como mostrou o Sr. Elibio, e a avaliação dos riscos. O que estamos defendendo é

que a legislação deve permitir a adequação sistemática da tecnologia ao avanço do

conhecimento. Ela não pode ser engessadora do conhecimento.

Por outro lado, achamos que é preciso, sim, investir em linhas de pesquisa de

risco, embora quem tenha de fazer o ônus da prova, no caso comercial, é a empresa

que vai pedir a comercialização. Cabe à comissão técnica de biossegurança analisar

os resultados disso. Não fazer o risco, porque a medida provisória diz que a CTNBio

vai fazer o risco. Ela não tem dinheiro para fazer isso, o orçamento não permitirá. É

preciso que a lei veja isso.

Quero deixar isso bem claro e agradecer-lhes a oportunidade. Nesses dez

anos que estamos debatendo os organismos geneticamente modificados, jamais

pensei que fosse possível contar com a participação da sociedade na discussão de

assunto tão complexo e difícil. É pena que a paixão, muitas vezes, prejudique o

debate racional. É fantástico ver um povo como o nosso se interessar por um

assunto e discuti-lo.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado, Sra.

Glaci Zancan.

Com a palavra o Deputado Darcísio Perondi.

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O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Sra. Glaci, não posso ver a

sociedade que a senhora preside, o meio ativo. Pena que não possa participar dos

congressos.

A SRA. GLACI ZANCAN - V.Exa. está convidado para ir em julho, período

em que estará de férias parlamentar.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Para isso preciso ouvir o povo.

Deputado que fica em Brasília não trabalha bem, tem de ouvir o povo. Mas estou

aberto para receber material da senhora, para crescer. Como preciso crescer!

Tenho a impressão de que — sei que a senhora não quer passar essa idéia, e

o Sr. Sílvio, muito menos — transgenia seja AIDS.

A SRA. GLACI ZANCAN - Não. O que é isso?

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Está bom. Certo. Isso é

importante, porque atrasamos a questão da computação como nunca! A cura da

varíola, no século XVII... William Wathering... Atrasou quase cem anos a vacina da

varíola! Vi que agora estamos equilibrando. Não podemos ser fundamentalistas

nesta discussão. Às vezes, há cientista que está sendo fundamentalista, xiita. E ser

fundamentalista é estar num quarto sem janela. Li isso um dias desses, e cabe

nessa questão de transgenia.

Pelo amor de Deus! Tive essa impressão, mas tenho certeza de que a

senhora não quis passar isso.

A SRA. GLACI ZANCAN - Nunca, em nenhum momento.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - A senhora é brilhante e me

ganhou, mas eu li as pesquisas da EMBRAPA...

(Intervenção inaudível.)

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O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Só um pouquinho, tenha dó. Não

tem votação. Eles vieram aqui, viajaram milhares de quilômetros, e nós estamos

aqui há três horas. V.Exa. está ganhando Deputados para as próximas reuniões, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Acredito.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Nesse feriadão, li muito material

que a EMBRAPA me mandou. A EMBRAPA está pesquisando, fazendo pesquisa

brasileira, doutora, e na área — eu não sabia isso, aprendi hoje — social, que não é

de commodity, que gera emprego na pequena propriedade. Olha o tomate, a alface

que vai ser vacina, o mamão, o feijão. É pouco? Doutora, estamos crescendo. Só

que os cientistas fundamentalistas não podem trancar esse processo rico.

A SRA. GLACI ZANCAN - Mas ninguém está querendo (ininteligível).

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Não, os senhores não são, a

senhora não é. Tive essa impressão, mas acabo esta reunião sem ela. Meus

cumprimentos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Dra. Zancan, a

senhora tem um minuto para a tréplica.

A SRA. GLACI ZANCAN - Só quero dizer que em nenhum momento fomos

fundamentalistas. Apenas estamos fazendo uma discussão racional.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Encerrados os

debates, convoco reunião para o dia 7 de agosto, às 14h, para ouvirmos os Srs.

Aurélio Rios, Antonio Herman, Almir Rabelo, Hermeto Hoffman e o Deputado

Frederico Antunes.

Agradeço a todos a presença.

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Para encerrar a reunião, vou ouvir o Deputado Fetter Júnior.

O SR. DEPUTADO FETTER JÚNIOR - Sr. Presidente, o telefone está

tocando e vou desligá-lo, para não atrapalhar a minha intervenção. Talvez estejam

chamando para a votação.

Gostaria de deixar registrado o seguinte: temos de ler e procurar entender o

que dizem. Foram emitidos alguns conceitos aqui, em especial pelo Procurador, que

são um equívoco técnico e não podemos deixar passar em branco. Uma coisa é

lavoura extensiva, outra coisa... Misturaram muita coisa.

O Deputado Moacir Micheletto, do Paraná, citou apenas um exemplo, que é o

da soja. É um produto que tem lavoura extensiva, pode ser cultivado em pequena

propriedade, faz-se o controle da lagarta com bacilos moídos para ter um tipo de

controle com menor uso de agrotóxico. É uma lavoura extensiva. Não se pode

confundir lavoura extensiva com tecnologia. São duas coisas diferentes, e o seu

conceito aqui acabou prejudicando a sua observação. Pode-se fazer a lavoura

extensiva com melhor controle do uso e com redução de uso de agroquímicos.

Fazemos isso no Rio Grande do Sul há vinte anos, graças a Deus com muito

sucesso.

Sobre o fato de não haver experimentação no Brasil, conhecemos a

EMBRAPA e sabemos o que ela faz neste País. Gostaríamos que pudesse fazer

mais, que não fosse proibida a pesquisa, como alguns querem. O meu Estado, hoje,

virou uma loucura! Queima-se lavoura. Isso é uma loucura, uma maluquice que não

podemos aceitar.

Se não temos mais dados no Brasil é porque estão impedindo a pesquisa de

ser feita. Temos dados dos Estados Unidos, da Argentina, do Canadá, e realmente

em todos esses países há redução no uso de agroquímicos com a transgenia,

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porque ela é feita para isso, para que seja usado um agroquímico específico,

portanto em menor quantidade. Se ainda não conseguimos ter esse dado

cientificamente no Brasil, é sinal de que estamos errados.

Quero dizer que estamos aqui para defender o povo brasileiro. Cada um de

nós tem 50, 60, 70, 100 mil votos. Nenhum de nós é bobo. Nenhum de nós quer o

mal dos nossos eleitores. Queremos o bem do Brasil. E o bem do Brasil passa por

pesquisa feita por brasileiros, por tecnologia desenvolvida por brasileiros e não por

uma atitude radical, que pode comprometer o futuro deste País. Isso tem de ser

deixado bem claro para todos os senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Carlos Alberto Rosado) - Obrigado,

Deputado Fetter Júnior.

Agradeço a todos a presença.

Antes do encerramento, lembro que nossa próxima reunião ocorrerá no dia 7

de agosto.

Está encerrada a reunião.