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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 047.3.51.O DATA: 11/04/01 TURNO: Vespertino TIPO SESSÃO: Ordinária - CD LOCAL: Plenário Principal - CD HORA INÍCIO: 14h HORA TÉRMINO: 19h21min DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR(A) PARA REVISÃO Hora Fase Orador Dt. Devol. 16:38 GE PAES LANDIM Observação: O discurso do Deputado Paes Landim acima citado será incluído como CPA em sessão posterior.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA REVISÃO E REDAÇÃO … · mulher, o negro, possam ... 2000, a Paraíba teve uma safra de 106.000 toneladas de milho. ... A CONAB/Paraíba dispõe da

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIAREVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 047.3.51.O

DATA: 11/04/01

TURNO: Vespertino

TIPO SESSÃO: Ordinária - CD

LOCAL: Plenário Principal - CD

HORA INÍCIO: 14h

HORA TÉRMINO: 19h21min

DISCURSOS RETIRADOS PELO ORADOR(A) PARA REVISÃO

Hora Fase Orador Dt. Devol.

16:38 GE PAES LANDIM

Observação: O discurso do Deputado Paes Landim

acima citado será incluído como CPA em sessão

posterior.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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I - ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Havendo número regimental,

declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos

trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II - LEITURA DA ATA

O SR. MARÇAL FILHO, servindo como 2° Secretário, procede à leitura da ata

da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Passa-se à leitura do expediente.

O SR. ................................................................................................., servindo

como 1º Secretário, procede à leitura do seguinte

III – EXPEDIENTE

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Finda a leitura do expediente,

passa-se ao

IV - PEQUENO EXPEDIENTE

Concedo a palavra ao Sr. Deputado Mauro Benevides.

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O SR. MAURO BENEVIDES (PMDB-CE. Pronuncia o seguinte discurso.) –

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, durante a sessão de ontem, após discurso

que proferi, enaltecendo o transcurso do 275º aniversário da cidade de Fortaleza e

pondo em relevo a gestão do Prefeito Juraci Magalhães, veio a esta tribuna, no

período destinado às Comunicações Parlamentares, o Deputado Inácio Arruda, do

PCdoB, para fazer críticas, reconhecidamente infundadas, à atual administração de

nossa cidade, num desabafo que teve por inspiração, certamente, os resultados

eleitorais de outubro de 2000, que o desfavoreceram no confronto inquestionável

das urnas, entre ambos, porque situado num patamar de mais de 75 mil sufrágios de

diferença.

A vitória de Juraci, num testemunho de seus méritos comprovados de

administrador clarividente, deve ter acarretado um ressábio incontido no espírito de

seu competidor, a ponto de trazê-lo a este plenário para o enfoque de questões que

melhor se comportariam no âmbito de atribuições da Câmara Municipal fortalezense.

Numerosos têm sido os Parlamentares de outros Estados que, demandando

nossa metrópole, proclamam a excelência do crescimento que ali está sendo

operacionalizado, graças à visão do atual chefe da Edilidade, direcionada para o

progresso urbanístico ordenado, capaz de propiciar bem-estar social aos nossos 2

milhões e 100 mil habitantes.

O estilo descentralizado de administrar fê-lo respeitado por todos os

segmentos da comunidade, especialmente porque, através das Secretarias

Regionais, procura inspirar-se a fim de que as decisões governamentais guardem

perfeita sintonia com o que, efetivamente, anseiam os nossos munícipes.

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No dia 2 de abril, no Hotel Esplanada, Juraci Magalhães promoveu uma

avaliação dos primeiros três meses de atuação, modernizando diretrizes até agora

postas em prática, para que ainda melhor se ajustem aos interesses de uma cidade

que se expande e necessita, por isso, utilizar métodos compatíveis com projetos

realísticos, de conteúdo eminentemente popular.

Em meio às deliberações já assentadas, emerge a criação dos Conselhos de

Cidadania, por sugestão da Vice-Prefeita Isabel Lopes, ensejando a que as minorias

mais vulneráveis, como as crianças, os adolescentes, os idosos, os deficientes, a

mulher, o negro, possam influir também nas definições de programas voltados

fundamentalmente para os mais carentes, a fim de que se reduzam, em nossa urbe,

os índices de exclusão, registrados de modo acentuado no Nordeste brasileiro.

Uma recente decisão do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), de

inspiração marcadamente política — aqui mencionada pelo Líder do PCdoB, sobre

percentuais de aplicações de dotações pertinentes à educação — foi contestada

pelo Poder Municipal, com argumentos convincentes que naturalmente haverão de

determinar uma revisão do decisório despropositado, a fim de que fique mais uma

vez realçada a postura acertada, proficiente e correta com que Magalhães vem-se

portando à frente dos destinos municipais.

O PMDB regional, aliás, em nota oficial hoje divulgada, solidariza-se com o

Prefeito diante da iníqua manifestação daquela Corte.

Se não fosse de seriedade e dinamismo a imagem de Juraci Magalhães,

certamente o eleitorado esclarecido de nossa Capital não o haveria reconduzido ao

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elevado posto que ocupa, por soberana decisão, que se não pode contestar em

razão da legitimidade de que se revestiu.

Os 100 dias da presente administração de Fortaleza são motivo de júbilo e

reconhecimento, que merecem — isto sim — o registro na tribuna desta Casa, que

entendi de fazê-lo em nome da nossa bancada.

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O SR. ARMANDO ABÍLIO (Bloco/PSDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.)

– Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a Região Nordeste sempre enfrentou

problemas na agricultura, seja por questões naturais, como falta de chuva, seja por

questões externas, como a falta de incentivos por parte do Governo Federal que

possibilitem o crescimento da nossa região e o seu desenvolvimento equânime em

relação aos outros Estados.

A CONAB da Paraíba tem desenvolvido um trabalho frente a pequenos

produtores de relevante importância no setor de abastecimento.

No ano de 2000, através do Programa Venda no Balcão, a CONAB da

Paraíba atendeu a cerca de 5.267 pequenos produtores rurais no fornecimento de

milho, totalizando um volume da ordem de 8 mil toneladas do cereal. Até o mês de

dezembro o milho foi negociado ao preço de R$13,50 a saca de 60 kg.

No presente ano de 2001, a CONAB não disponibilizou estoques de milho

para atender aos pequenos produtores através do programa Venda no Balcão. Com

a falta do cereal no Estado, o preço do produto subiu para R$18,00/21,00 a saca de

60 kg, e os pequenos produtores paraibanos atribuem os altos preços do milho, nos

mercados de João Pessoa, Campina Grande, Patos, Sousa e Cajazeiras, à falta de

oferta do produto pela CONAB.

Segundo os dados da pesquisa produzida pela própria CONAB, no ano de

2000, a Paraíba teve uma safra de 106.000 toneladas de milho. As estimativas para

o ano de 2001, situam-se abaixo dos volumes produzidos no ano de 2000. A

situação é grave para os pequenos produtores criadores, quando se observa que

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apenas os setores de avicultura e suinocultura do Estado consomem anualmente em

torno de 220 mil toneladas de milho.

Como se sabe, os pequenos produtores, que não são agregados às

empresas distribuidoras, recorrem à CONAB para adquirir o cereal por preço mais

acessível. Os grandes produtores adquirem o milho diretamente nas bolsas de

mercadorias a preços subsidiados, hoje, girando em torno de R$12,00 a saca de 60

quilos.

Frente à perspectiva de inviabilidade de atividade produtiva dos pequenos

criadores de aves e suínos, já na iminência de parar suas atividades em decorrência

dos elevados preços do milho no mercado paraibano, faz-se urgente a necessidade

de determinação pelo Governo Federal, no sentido de autorizar a remoção de milho

para o Estado da Paraíba, visando atender aos pequenos produtores através do

programa Venda no Balcão.

A CONAB/Paraíba dispõe da mais moderna rede de armazenagem do Estado

e encontra-se aparelhada de técnicos e infra-estrutura para atender às demandas do

mercado paraibano.

Muito obrigado.

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O SR. CONFÚCIO MOURA (PMDB-RO. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna tratar de tema que está na

ordem do dia da imprensa nacional: os escândalos da SUDAM.

A Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia assim como a

SUDENE são instituições idealizadas por Celso Furtado. No final da década de 50,

este grande economista, renomado no mundo inteiro, criou e projetou essas

instituições, responsáveis por combater desigualdades regionais no Brasil.

Não resta dúvida de que ao longo de mais de 35 anos de existência as duas

prestaram relevantes serviços e promoveram em determinadas áreas comprovado

desenvolvimento econômico.

Sr. Presidente, como sou da Amazônia, represento o Estado de Rondônia,

vou deixar de lado a SUDENE e me concentrar na SUDAM. Desde que cheguei a

esta Casa, em 1995, não me canso de vir a esta tribuna, semanalmente, falar da

SUDAM. Nas Comissões e audiências públicas, alertei o País, preventivamente,

para a situação caótica hoje estampada no cenário nacional, principalmente acerca

da concentração.

Como se explica entidade desse porte não dispor de projeto de

desenvolvimento da nossa região em 35 anos ou mais? Se se perguntar de que

precisa Rondônia, a SUDAM não sabe. Não há escritório da Superintendência em

Rondônia, nem no Acre, nem em Roraima; só em Mato Grosso e no Pará. Assim

não é possível!

Apesar de termos falado, reclamado e advertido, aconteceu o que aconteceu.

A atual situação, fizeram por merecer. E o pior é que a questão está apenas numa

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ponta. Certamente piores dias virão. Isso virou escandaloso cartel em todo o País.

Virou brincadeira! E os indicadores da Amazônia estão lá. A não ser o esforço

isolado dos Governadores e Prefeitos da região, em promoção individual, através de

projetos próprios, ciscando aqui e ali, para que os Estados continuem de pé.

A SUDAM, como entidade responsável por esse desenvolvimento

harmonioso, que procura combater as desigualdades regionais, piorou a situação:

acabou criando desigualdades na região. Determinadas regiões da Amazônia se

tornaram, como eles mesmos dizem lá, a Califórnia brasileira, muito ricas, enquanto

outras são muito pobres.

Por tudo isso, Sr. Presidente, é que venho aqui hoje dizer que a SUDAM vai

mudar de nome. Vai se chamar Agência de Desenvolvimento da Amazônia e

continuará a ter dívida muito grande, de décadas, com os Estados de Rondônia,

Acre, Amazonas e Roraima. E eu continuarei cobrando essa velha dívida.

Na semana passada, estive com o Ministro Fernando Bezerra. Disse a S.Exa.

que a nova SUDAM, que terá outro nome, terá de acertar primeiro as contas com os

empresários e industriais da nossa região, dividindo os recursos do FINAM

igualitariamente, pelo menos 50% para os Estados, e o restante por demanda.

E desta tribuna, instrumento do Parlamentar, continuaremos alertando o povo

brasileiro sobre os desserviços prestados por esse órgão de desenvolvimento à

nossa região.

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O SR. XICO GRAZIANO (Bloco/PSDB-SP. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há cerca de três anos, o Governo brasileiro, por

meio de medida provisória, propôs a esta Casa um programa muito importante: o

Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária —

RECOOP. Consubstanciado na Medida Provisória nº 1.898, o programa visava

atender a um conjunto de entidades cooperativas na agropecuária, responsáveis por

quase 30% de nossa produção agrícola. Tal conjunto é constituído de 1.400

cooperativas agropecuárias que existem no Brasil desde o começo da década.

Essas cooperativas se interessaram pelo programa e foram buscar os

recursos por intermédio do financiamento do Banco do Brasil. Quatrocentos e trinta

e nove cooperativas foram enquadradas e 322 projetos aprovados para receber os

recursos do RECOOP. Não tem sido fácil a negociação das cooperativas

agropecuárias com o Banco do Brasil, com outros órgãos financeiros privados e com

os bancos privados dentro da linha do RECOOP. Todos nós, Parlamentares ligados

à agropecuária, temos acompanhado a verdadeira luta, quase uma saga, de tantas

cooperativas que, apesar de credenciadas para receber os recursos, passam por

todo o processo de negociação, de oferecimento de garantias e assim por diante.

De qualquer forma, o último balanço que o Banco do Brasil ofereceu ao

RECOOP, na semana passada, mostra que já foram deferidos 1 bilhão e 70 milhões

de reais para cooperativas agropecuárias que representam, na verdade, perto de

50% do recurso disponível de 2,1 bilhões de reais. O RECOOP está saindo do papel

muito mais lerdo do que gostaríamos, mas o fato é que as cooperativas, aos poucos,

começam a ser atendidas. Eu, modesto representante do Estado de São Paulo

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nesta Casa, quero saudar as cooperativas que conseguiram aprovar seus projetos,

como as de Marília, Tupã, Franca, Descalvado, Parapuã e Osvaldo Cruz,

excepcionais cooperativas que precisavam desses recursos para dar um salto de

qualidade, equacionar suas dívidas, e de recursos novos para capital de giro e

investimentos.

Quase vencido o prazo de implementação do RECOOP, o que precisamos —

este é o grande desafio da Frente Parlamentar da Agricultura nesta Casa — é

aprovar a nova lei do cooperativismo, que há 12 anos tramita na Câmara. A Frente

Parlamentar, em entendimento com setores do Governo, está trabalhando por uma

alternativa aos vários projetos de leis que estão sendo relatados neste momento no

Senado.

Gostaríamos muito de ver aprovada, ainda neste semestre, a nova lei do

cooperativismo, que terá um ponto fundamental para todos nós, cooperativistas: a

necessidade de regulamentação do que está sendo chamado de autogestão

cooperativa. As cooperativas precisam ter um sistema melhor acabado, desenhado

e fiscalizado sobre seu próprio funcionamento.

Hoje, há um fantasma rondando o cooperativismo brasileiro, que são as falsas

cooperativas, principalmente as de trabalhadores. Empresários disfarçam seus

empregados como se fossem cooperativas, fingindo que são o que não são. De tal

forma que precisamos, na nova lei do cooperativismo, equacionar o que estamos

chamando de selo de qualidade das cooperativas.

Terça-feira que vem a Organização das Cooperativas Brasileiras inaugurará

sua nova sede. Queremos crer que, nesta Casa, juntamente com o setor

cooperativista brasileiro, teremos uma nova sede, uma nova lei e um reforço

fundamental para o cooperativismo brasileiro.

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O SR. JUQUINHA (Bloco/PSDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os dados preliminares do Censo 2000,

divulgados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE,

mostram tendência de estabilização do processo migratório para os grandes centros

urbanos. Apesar de a pesquisa constatar que 81,2% dos brasileiros ainda moram

nas cidades, as duas maiores Capitais brasileiras — São Paulo e Rio de Janeiro —

foram as que apresentaram as menores taxas de crescimento populacional na

década de 90.

Ao contrário do que aconteceu no passado, quando as duas Capitais

lideravam a atração das correntes migratórias, hoje esse crescimento é inferior a

1%. O número de habitantes da Capital paulista aumentou 0,85% ao ano na última

década; a população do Rio de Janeiro cresceu 0,73%.

Esses índices ficaram abaixo da média apurada nos demais Estados, o que

mostra que os Municípios do interior desses Estados foram os principais

responsáveis pelo crescimento da população. Em dezesseis Estados, a maioria

localizada no Norte e no Nordeste, aconteceu o oposto. As Capitais tiveram

crescimento demográfico acima das médias estaduais.

Segundo o IBGE, essas mudanças demográficas podem ser resultado do

processo de descentralização das atividades econômicas, embora persistam as

migrações interestaduais e os grandes centros urbanos ainda estejam

superpovoados. O importante é que os dados do IBGE reforçam a tese que tenho

defendido nesta Casa sobre a necessidade de interiorização do desenvolvimento,

particularmente para as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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Evidentemente, além de estancar o processo migratório, é fundamental a sua

reversão, através de políticas de desenvolvimento que estimulem a volta para o

campo, principalmente das pessoas que não encontram melhores perspectivas de

sobrevivência digna nas cidades. Isso pode ser feito por meio do fortalecimento do

Programa Nacional de Reforma Agrária ou de políticas industriais que priorizem os

investimentos nas pequenas e médias cidades.

Embora a cidade de São Paulo tenha crescido moderadamente na última

década, essa expansão acabou absorvida pelos médios e pequenos Municípios,

agravando o quadro social da periferia dessas cidades diante da falta de infra-

estrutura urbana adequada. Com isso, os problemas sociais dos grandes centros

urbanos estão sendo transferidos para as médias cidades, particularmente das

Regiões Sul e Sudeste, o que se torna da mesma forma contraproducente.

Um exemplo é o Estado do Rio de Janeiro. Nos anos 90, a taxa de

crescimento demográfico do Estado do Rio foi de 1,3% ao ano contra 1,15% na

década anterior. Os técnicos do IBGE atribuem esse crescimento da população

fluminense à expansão econômica, principalmente com o boom petrolífero na Bacia

de Campos, no norte do Estado, onde estão situados os Municípios que mais

cresceram na última década. Outras seis cidades expandiram-se em razão do

turismo, enquanto duas outras foram impulsionadas pela indústria automobilística.

Outro dado positivo do Censo 2000 foi a queda nos índices de expansão

demográfica do País. Embora a população brasileira tenha chegado a 169,5 milhões

de habitantes, a taxa de expansão demográfica ficou em 1,6% ao ano contra 1,9%

na década de 80.

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Como se vê, o agravamento dos problemas sociais nos grandes centros

urbanos, particularmente em relação à violência e à falta de moradias dignas e de

saneamento básico, torna cada vez mais premente a necessidade de reversão do

processo migratório no País.

Por isso, quando defendo a interiorização do desenvolvimento ou maior

prioridade às Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, não o faço por puro

bairrismo, mas por entender que a solução para o futuro do País está na valorização

do campo e no fortalecimento das pequenas comunidades. Por isso, insisto na

necessidade de nova política industrial voltada para esse objetivo ou a melhor

utilização dos instrumentos de que o Governo dispõe para esse mister: o Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Banco do Brasil, o Banco do

Nordeste, o Banco da Amazônia e a Caixa Econômica Federal.

Muito obrigado.

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O SR. NILTON CAPIXABA (Bloco/PTB-RO. Pronuncia o seguinte discurso.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, muito embora um pouco tardiamente, não

posso deixar de manifestar-me sobre o encontro “Amazônia, Século XXI”, que nos

dias 27, 28 e 29 de março fez na Câmara dos Deputados um balanço das políticas

públicas executadas, até o momento, e fez propostas para aperfeiçoá-las nos seus

aspectos econômicos, ambientais e sociais.

O encontro foi patrocinado e promovido pela Comissão da Amazônia e de

Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados, Centro de Desenvolvimento

Sustentável da Universidade de Brasília, Greenpeace, Grupo de Trabalho

Amazônico — GTA, Instituto Socioambiental — ISA e Secretaria de Coordenação da

Amazônia do Ministério do Meio Ambiente.

O encontro “Amazônia, Século XXI” foi presidido inicialmente pelo Deputado

Evandro Milhomen, do Bloco Parlamentar PSB/PCdoB do Amapá, anteriormente seu

Presidente, depois substituído pelo Deputado Eurípedes Miranda, do PDT de

Rondônia, eleito novo Presidente da Comissão da Amazônia. Compondo a Mesa

dos trabalhos, figuraram a Secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério do

Meio Ambiente, Mary Allegretti, o Deputado Paulo Rocha, do PT do Pará, 3º

Secretário da Mesa da Câmara dos Deputados, o Vice-Governador e Secretário de

Agricultura, Produção e do Desenvolvimento Econômico e Social — SEAPES, Dr.

Miguel de Souza, e pelo cientista Aziz Nacib Ab’Saber, da Universidade de São

Paulo, que proferiu a conferência magna.

Na conferência magna proferida pelo geomorfólogo Aziz Nacib Ab’Saber, o

cientista de São Paulo demonstrou claramente o compromisso de sua

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infância/adolescência com a natureza. Desde cedo Aziz Nacib Ab’Saber,

nacionalista ferrenho, demonstrou ser um estudioso preocupado em descrever, em

tom romântico e rico em detalhes, o espaço geográfico do Brasil, como se estivesse

lendo as linhas da própria mão.

Assim foi a conferência do Prof. Aziz Nacib Ab’Saber, uma descrição

circunstanciada, minuciosa, altamente preocupada com a situação dos recursos

naturais, do ambiente, da riqueza dos recursos genéticos da Amazônia. Ele estava

muito mais preocupado ainda com a sorte dos amazônidas, das populações pobres

da rica natureza amazônica. Tudo baseado na larga experiência de um estudioso da

Amazônia desde os idos de 1953.

Outros dois conferencistas que citaram a destruição das florestas, através da

agricultura migratória, do "derruba e queima", e se referiram aos sistemas

agroflorestais foram o Embaixador José Fernandes Lopes, do Itamaraty, sediado em

Manaus, e o Dr. Luis Carlos da Costa Monteiro, da ASICA (Carajás). Mas nos dois

senti a indispensável necessidade de ampliar a discussão e trazer exemplos

concretos sobre a agricultura migratória e a tecnologia dos sistemas agroflorestais.

O conferencista que mais se aproximou da conceituação dos sistemas

agroflorestais foi o Prof. Aziz Nacib Ab’Saber, quando descreveu o RECA —

Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado, de Nova Califórnia, Ponta do

Abunã, em Rondônia.

A agricultura migratória é um sistema tradicional de agricultura que vem

sendo praticado, por séculos, em extensas áreas dos trópicos úmidos. A agricultura

migratória continua nos dias atuais um uso dominante de terras posto em prática em

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cerca de 30% dos solos agricultáveis do mundo e proporciona a subsistência para

uma população estimada em 250 milhões de habitantes — as populações mais

pobres do planeta.

Algumas estimativas indicam que cerca de 18% do aquecimento global da

terra é resultado das derrubadas e queimadas de florestas tropicais, que estão

ocorrendo a uma taxa de 14 milhões de hectares de florestas primárias por ano.

Depois do desmatamento, a matéria orgânica do solo pode agir como uma fonte

adicional de dióxido de carbono na atmosfera.

A maior parte dos desmatamentos está ocorrendo, nos dias atuais, na

América tropical e na Ásia tropical, que contribuíram com 40% e 37%,

respectivamente, das emissões de carbono resultantes dos desmatamentos de

1990. A África tropical fica com o terceiro lugar, com 23% das emissões.

A agricultura migratória é de marca semelhante em suas práticas por todo o

mundo. Pequenas áreas de florestas são derrubadas com machados, foices e

motosserras durante o período de poucas chuvas. No final do período chuvoso são

queimadas, antes que um novo período de chuvas recomece. Sem se fazer a

remoção dos restos vegetais, são plantados cultivos como o milho, o arroz, o feijão,

a mandioca, o inhame e a banana. O intercultivo é muito comum; o controle de ervas

invasoras é habitual e feito manualmente. Depois da segunda e da terceira colheitas,

as áreas cultivadas são abandonadas, para uma rápida rebrotação, e formarão as

novas áreas de capoeiras.

O período de pousio entre os cultivos pode demorar de dez a vinte anos, até

que se volte a um novo período de plantios. Recentes aumentos no crescimento das

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populações, bem como com as migrações, fizeram grandes pressões nos

fazendeiros e colonos para aumentarem a produtividade dos recursos limitados de

suas terras, aumentando a extensão do período de cultivo e encurtando o período

de descanso das terras.

Na medida em que o período de descanso para o uso da vegetação

secundária é encurtado, a fertilidade dos solos é diminuída, e declina mais ainda.

Para diminuir os danos causados pela agricultura migratória, que é a

agricultura do "derruba e queima", onde imperam os ingredientes do machado, foice,

motosserra e caixa de fósforos, a ciência agronômica criou os sistemas

agroflorestais, que têm sido apontados como uma das alternativas

econômico-ecológicas viáveis de produção agrícola para as regiões de florestas

tropicais.

Os sistemas agroflorestais constituem o tipo de uso do solo que mais se

aproxima da estrutura dinâmica da vegetação natural, podendo substituí-la, com

certa eficiência, na função ecofisiológica da manutenção do equilíbrio ecológico nos

trópicos úmidos. A experiência na condução de sistemas agroflorestais está

disseminada através de todo o mundo tropical, não somente quanto à

experimentação, mas também quanto a agricultores. A sociedade já conta com um

expressivo acervo de informações técnicas e econômicas, por mais de vinte anos.

Em Rondônia a EMBRAPA já acumula experiência desde 1977, em Ouro Preto do

Oeste.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mesmo assim, ao descrever o RECA

— Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado, o Prof. Aziz não entrou em

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detalhes práticos desse projeto, a respeito de como estavam as unidades florestais

implantadas. Informações de minha assessoria levam-me a ampliar a descrição dos

sistemas agroflorestais do RECA.

O estrato superior do sistema agroflorestal do projeto RECA, a

castanha-do-pará, foi plantado por meio de sementes comuns, e não foram

enxertadas no local definitivo. Como resultado, as castanheiras, apesar dos mais de

onze anos, estão ali sem produção, não gerando renda.

O sistema de plantio das pupunheiras empregado, inicialmente, deu

preferência ao plantio em distâncias largas (5 metros x 6 metros), indicando que a

utilização da palmeira seria para a produção de frutos. Quando começaram a obter

as primeiras frutificações, em 1996, viram-se a braços com um problema insolúvel:

vender uma produção de 800 toneladas de cachos de pupunha, tendo sido

comercializados apenas cem toneladas em Porto Velho e Rio Branco.

Rapidamente a administração do RECA passou a adensar o plantio para

distâncias mais curtas, usando entre linhas os mesmos seis metros e dentro das

linhas uma distância de um metro e meio. Passou o RECA a se fixar na produção de

palmito de pupunheira, para o qual existe um mercado aberto, em franco

crescimento, até para a exportação. O RECA já está aparelhado com instalações de

uma fábrica para a embalagem do palmito de pupunha e câmara de refrigeração.

A única espécie que assegurava, e vem assegurando, ganhos para o projeto

RECA é o plantio de cupuaçu para extração da polpa e aproveitamento das

sementes para a extração de gorduras destinadas à fabricação de cosméticos.

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Uma dificuldade importante é a falta de energia elétrica na comunidade de

Nova Califórnia, isolada entre Porto Velho, Rondônia, e Rio Branco, Acre, o que vem

obrigando o RECA a manter um custoso grupo diesel para a geração de energia

para os equipamentos — despolpadeiras, câmaras de frigorificação, etc.

Todas as manifestações que colhi durante algumas sessões das quais

participei levaram-me a fazer proposta formal ao Ministério do Meio Ambiente, ao

Ministério da Agricultura e do Abastecimento e ao Ministério do Desenvolvimento

Agrário, a implantação de Distritos Agroflorestais na Amazônia. Os Distritos

Agroflorestais funcionariam como um instrumento de geração, divulgação e

multiplicação dos conhecimentos sobre os sistemas agroflorestais. A eles caberia

tornar os sistemas agroflorestais mais visíveis, um instrumento a mais para tornar a

utilização das florestas mais sustentável, como sugeriu o Prof. Aziz Nacib Ab’Saber.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a implantação de um Distrito

Agroflorestal é uma proposta em que se poderiam conciliar, a uma só vez, projetos

de pesquisa e ações concretas nas áreas de agricultura familiar, manejo de recursos

naturais e gestão do negócio agrícola. O Distrito Agroflorestal seria uma área

selecionada de floresta tropical da Amazônia, ocupada por um Projeto de

Assentamento de Parceleiros do INCRA — Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária, assentados em lotes de aproximadamente cinqüenta hectares, em

solos típicos da Amazônia, ou seja, latossolos vermelhos-amarelos, em solos

pobres.

Nessa colonização seriam instalados, nos lotes dos colonos que quisessem

participar, uma vez motivados, os SAFs — Sistemas Agroflorestais, ou parcelas de

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agricultura multiestrata. Essa área poderia ser, por exemplo, no Projeto Cujubim, do

INCRA, no Estado de Rondônia, situado no Município do mesmo nome, que dista

cinqüenta quilômetros da sede do Município de Ariquemes e duzentos quilômetros

de Porto Velho, por estrada asfaltada.

O Projeto Cujubim foi criado em julho de 1984 e integrou a Fase III do

POLONOROESTE, apoiado por financiamento do Banco Mundial. Tinha

originalmente uma área de 204.291 hectares, nos quais se planejava assentar 4 mil

famílias. Face a estudos pedológicos realizados depois, em razão da gleba ser

constituída por solos ácidos, de baixa fertilidade natural, e de possuir algumas áreas

com relevo fortemente ondulado, recomendou-se o não-assentamento das 4 mil

famílias, e ficou o Projeto Cujubim reduzido a 504 famílias já assentadas, nas

melhores porções de solos.

No Projeto Cujubim, o tamanho dos lotes é de cerca de cinqüenta hectares;

assim estaria claramente definido que o público alvo é da agricultura familiar, com

todas as suas características e problemáticas a estudar, apoiar e promover.

Com a inserção dos SAFs — Sistemas Agroflorestais, estaria definido o

manejo de recursos naturais. A revisão de literatura indica que a natureza da

tecnologia dos SAFs é adequada para remediar e atenuar os problemas de áreas de

abertura de fronteiras agrícolas, com a agricultura migratória e todas as suas

conseqüências indesejáveis. A revisão de literatura diz ainda que para cada hectare

de sistema agroflorestal plantado se poderão poupar da destruição uns cinco

hectares de florestas.

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Os Sistemas Agroflorestais seriam criados por equipes multidisciplinares e

interinstitucionais, da EMBRAPA, do INPA, do Museu Goeldi, de universidades, das

EMATERs, das Secretarias de Agricultura e de organizações não-governamentais

existentes na área. Incluiriam também sindicatos, associações de produtores e/ou

cooperativas da área.

Os Sistemas Agroflorestais incluiriam espécies arbóreas (madeiráveis,

frutíferas ou latescentes), palmeiras (pupunha, açaí), espécies de menor porte

(cupuaçuzeiro, guaranazeiro, cacaueiro, pimenta-do-reino) e espécies alimentares,

em alley-cropping.

O tamanho de uma dada área plantada em sistema agroflorestal seria

definido pela capacidade da força de trabalho do conjunto familiar, e deveria ter

como objetivo, meta, promover um nível de renda de x vezes o salário mínimo, ao

lado de praticar uma agricultura sustentável.

Seria indispensável o monitoramento, o registro técnico (biológico,

agronômico) e socioeconômico do projeto de forma a acompanhar as modificações

causadas na microbiologia dos solos, a competição no espaço radicular, a

competição, a disputa pela água disponível, mormente nos períodos secos.

Não se deveriam colocar num mesmo sistema agroflorestal espécies

altamente demandadoras de mão-de-obra para um mesmo período de cultivo.

Cuidar da distribuição das tarefas de manutenção das áreas (limpas de chão,

controle integrado de pragas e doenças), das colheitas e do beneficiamento do

produto é um exercício que requer talento. Deve ser bem equilibrada a distribuição

das tarefas.

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A gestão do negócio agrícola estaria contemplada com o controle de todas as

etapas do negócio agrícola, registro das despesas em efetivo (dando valor à

mão-de-obra familiar), quantidades de insumos empregados, etc. Todas as entradas

obtidas com a comercialização dos produtos agroflorestais in natura ou

transformados seriam apropriadas.

A determinação dos ingressos líquidos da família é importante para aferir o

alcance da ascensão socioeconômica, o ganho em salários mínimos. Não basta que

a floresta esteja sendo preservada, que as áreas de agroflorestas proporcionem

maior proteção, sustentabilidade e razoáveis ganhos financeiros. É importante que

as famílias cresçam nos seus padrões de renda e de bem-estar familiar.

É importante que desde o início se coloque como condição indispensável a

organização dos produtores; primeiro em grupos informais, ou grupos de vizinhança;

depois em associações de produtores; e finalmente em cooperativas. Esse enfoque

é indispensável, porque, via de regra, nos assentamentos do INCRA, os produtores

estão sozinhos na hora mais importante de suas vidas: na hora da comercialização

dos seus produtos.

Esta organização servirá para viabilizar os processos de agroindustrialização

e todos os esforços comunitários: atenção aos problemas de saúde, da educação

dos seus associados e suas famílias e do lazer. Não sendo assim, os colonos

participantes do Distrito Agroflorestal estarão nas mesmas condições que a dos

colonos monocultores, individualistas, sujeitos à exploração dos intermediários, dos

caminhoneiros e empobrecidos, migrando ao final de um período, sob a atratividade

das “luzes da cidade”, ainda que seja de Ariquemes, e deixando o campo

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empobrecido com milhares de hectares de capoeiras, que é o que vem ocorrendo

em Rondônia e na Amazônia.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ao fazer a proposta que apresentei,

estou confiante em que os Ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura e do

Abastecimento e do Desenvolvimento Agrário, em produtiva parceria com as

Secretarias especializadas do meu Estado, acolherão a proposta, visto que está

contemplada na listagem das prioridades da agenda positiva para o Estado de

Rondônia, ao descrever as medidas para o desenvolvimento agropecuário, ou seja,

estabelecer como metas prioritárias a viabilização de sistemas agroflorestais, o

aproveitamento de áreas desmatadas e a recuperação de áreas degradadas.

Na expectativa de que seja acolhida a proposta que faço, cumprimento

respeitosamente os Srs. Ministros do Meio Ambiente, Dr. José Sarney Filho, da

Agricultura e do Abastecimento, Dr. Marcus Vinícius Pratini de Moraes, e do

Desenvolvimento Agrário, Dr. Raul Belens Jungmann Pinto, ao lado do Exmo. Sr.

Governador de Rondônia, Dr. José de Abreu Bianco.

Muito obrigado.

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O SR. NELSON PELLEGRINO (PT-BA. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, inicialmente, gostaria de manifestar minha

solidariedade aos serventuários do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em

greve há 32 dias. Na última segunda-feira, tive oportunidade de participar de uma

assembléia da categoria, que reafirmou a paralisação diante da intransigência do

tribunal em negociar solução para atendimento de seus justos direitos. A

paralisação, sem dúvida nenhuma, traz prejuízos à população, mas esses não

podem ser imputados aos serventuários, que há mais de 30 dias vêm tentando

negociar uma saída para o problema.

Diante da insensibilidade dos burocratas do tribunal, que insistem inclusive

em não transformar em salários gratificações que já deveriam ter sido

transformadas, aposentados e servidores são prejudicados. A última tabela

apresentada opera redução nos salários dos servidores. Medidas que estão sendo

aprovadas nesta Casa reduzirão taxas e implicarão redução de incentivos e nos

salários dos servidores.

Espero que o Presidente do Tribunal de Justiça negocie com a categoria e

resolva o problema, porque os jurisdicionados precisam da prestação da Justiça, e

os serventuários são necessários. Se a Justiça não está funcionando, a culpa não é

dos servidores, mas do tribunal, que não está tendo sensibilidade e capacidade para

resolver o problema. Nossa solidariedade aos serventuários da Justiça do Estado da

Bahia.

Registro também, Sr. Presidente, mais uma vez, nosso repúdio à atitude do

Prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, que, numa ação ilegal, enviou projeto de

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lei à Câmara Municipal, reduzindo o número de integrantes do Conselho Municipal

de Saúde de 32 para 16.

A indicação de membros da comunidade foi manipulada, e o Presidente do

Conselho, Pe. André, da Pastoral Carcerária, destituído. Fez imposição à Secretária

Municipal de Saúde, Aldely Rocha Dias, e aprovou as contas que foram reprovadas

na gestão da Secretária anterior.

Examinando as contas, o conselho tinha rejeitado a manobra que mutilou o

órgão e destituiu o Presidente. O Prefeito então empossou a Secretária na

Presidência do Conselho Municipal de Saúde, que aprovou as contas da Prefeitura.

As reuniões do conselho, agora, são realizadas com a presença da Polícia Militar e

com seguranças fortemente armados na instituição para impedir participação da

sociedade. É a forma como o Prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy, trata a

saúde no Município. Não há saúde pública em Salvador, nem rede hospitalar que

funcione. Medidas como essas chancelam política injusta de saúde que o Prefeito

implementa no Município, beneficiando apenas donos de clínicas e de hospitais

particulares que visam ao lucro e o colocam acima do interesse da população.

Não poderia deixar de registar, para concluir, Sr. Presidente, que o Sr. Nigel

Rodley, Relator Especial da ONU que investiga a tortura no mundo, divulga hoje seu

relatório acerca da violência no Brasil. O relatório, que contém 349 denúncias,

aponta que a tortura no Brasil é cultural e amplamente praticada: no momento da

prisão, nas cadeias públicas, nos presídios, nos centros de internamento de

menores. Além disso revela que as autoridades deste País não têm ação de

combate à tortura. Há leis que tipificam a tortura no Brasil, mas infelizmente o Poder

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Judiciário, o Ministério Público e as polícias não as aplicam. E a impunidade serve

como regra nesse sentido.

O relatório conclui-se com 31 recomendações. As principais são: primeiro, a

necessidade de manifestação clara das autoridades brasileiras no sentido de dizer

que não tolerarão mais a tortura no País; segundo, a invalidação de depoimentos

que obtidos sem a presença do magistrado; terceiro, limite de permanência de

presos nas delegacias fixado em, no máximo, 24 horas — é o que chamam de

delegacias limpas —; quarto, afastamento imediato de todas as autoridades

acusadas de tortura e sua punição; por último, criação de uma Comissão Executiva,

juntamente com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, com

o Ministério da Justiça e com participação de entidades da sociedade civil, para

monitorar essas recomendações.

A federalização dos crimes praticados contra os direitos humanos e a

reformulação do CDDPH são medidas necessárias e fundamentais para combate à

tortura no País.

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O SR. PEDRO CHAVES – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Tem V.Exa. a palavra.

O SR. PEDRO CHAVES (PMDB-GO. Pela ordem. Sem revisão do orador.) –

Sr. Presidente, estaremos encaminhando ofício ao Sr. Ministro dos Transportes,

Eliseu Padilha, solicitando liberação dos recursos aprovados no Orçamento Geral da

União de 2001 para a duplicação da BR-020, trecho Brasília–Formosa, rodovia

importantíssima não só para o nordeste de Goiás, mas também para o Distrito

Federal e o Entorno.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Está feito o registro de V.Exa.

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A SRA. TELMA DE SOUZA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem V.Exa. a palavra.

A SRA. TELMA DE SOUZA (PT-SP. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) –

Sr. Presidente, estarei enviando aos Ministros do Trabalho e da Defesa

requerimento de informações sobre o Fundo de Amparo ao Trabalhador,

particularmente no que se refere à questão portuária. Estarei encaminhando também

à CPI de Roubos de Cargas dossiê que me foi entregue a respeito de roubo de

combustível no Porto de Santos.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Agradeço a V.Exa. o registro.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Concedo a palavra ao Deputado

Francisco Rodrigues.

O SR. FRANCISCO RODRIGUES (Bloco/PFL-RR. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o Governo Federal está

estudando a possibilidade de impor racionamento de energia elétrica a determinadas

regiões brasileiras, devido ao baixo nível de água nas principais barragens. Essa

decisão está sendo creditada à escassez de chuvas.

O problema da falta de energia, que se vem agravando sobremaneira, não

deve ser atribuído, porém, unicamente à falta de chuvas regulares nem a uma

espécie de punição dos céus, como se aqui estivéssemos a reviver uma das pragas

bíblicas lançadas sobre o antigo Egito.

A falta de energia deve ser creditada, em grande parte, à falta de visão de

setores responsáveis pela condução da política energética do País, os quais não

souberam tomar as providências exigidas no momento necessário, optando por

esperar dias melhores, como se fatos tão graves pudessem ser solucionados do dia

para a noite ou da noite para o dia.

Colocou-se o setor energético brasileiro a reboque de decisões da área

econômica. Na manipulação fria dos números, decidiu-se por não efetuar

investimentos indispensáveis, priorizando-se a política de submissão ao FMI, pela

qual todos os recursos financeiros disponíveis são encaminhados para a engorda do

seu caixa.

Como resultado, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já se anunciam

apagões e inevitável racionamento, impondo-se sérias restrições a nosso

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desenvolvimento econômico. Isso num instante em que o País necessita crescer

para gerar empregos suficientes para seus milhões de desempregados, que

vagueiam pelas ruas e não têm sequer o que comer.

Não será a privatização do setor energético a solução para o impasse, porque

entregar o controle dos nossos rios a grupos estrangeiros é política que merece, no

mínimo, reflexão aprofundada com a participação de toda a sociedade brasileira.

Em Roraima, Estado que tenho a honra de representar nesta Casa, o

Governador Neudo Campos teve a felicidade de enxergar bem longe o alvorecer

dessa crise no setor energético. Naquela Unidade Federativa, que parece se

encontrar, permanentemente, esquecida de tudo e de todos, as providências

tomadas expressam bem a dimensão administrativa de S.Exa. o Governador.

Apesar do combate de grupos oposicionistas insensíveis, o Governador

Neudo Campos levou adiante suas preocupações e tratou de viabilizar a compra de

energia elétrica produzida na hidrelétrica de Guri, na vizinha Venezuela,.

Assim sendo, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, já se encontra

praticamente instalado com toda a fiação e pronto para funcionar o posteamento que

vem desde a fronteira com a Venezuela, no Município de Pacaraima, estendendo-se

até alcançar Boa Vista, Capital de Roraima.

Tivesse o Governador Neudo Campos cedido às pressões contrárias, e elas

são enormes e com grande poder de opressão, Roraima iria ainda enfrentar

problemas mais graves do que os já existentes, com a paralisação absoluta de sua

economia, tornando-a sem peso e sem expressão.

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Hoje, o linhão de Guri já é uma realidade. Ele ficará como marco de uma

administração voltada à defesa dos interesses da população roraimense. Quando a

energia chegar a Roraima, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os que agora

combatem o Governador certamente estarão a postos, como arautos de um novo

mundo, embora conscientes de sua luta inglória.

Se cada um de nossos administradores tivesse adotado essa mesma política

de realização, certamente o País não estaria atravessando tão preocupante crise, e

não estaríamos agora olhando para os céus e aguardando sinais de chuva sem

admitir os erros cometidos.

É preciso que os homens públicos deste País tenham a humildade de

reconhecer suas falhas, reformulando práticas e conceitos, para que não insistam

em velhos vícios.

O setor energético brasileiro precisa de investimento e de visão pública para a

realização de programas que beneficiem a população e construam o futuro pelo qual

a Nação anseia.

Muito obrigado.

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O SR. EULER MORAIS (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os recentes episódios nos presídios de São

Paulo nos convencem da necessidade urgente de medidas efetivas para reestruturar

todo o sistema carcerário brasileiro. As condições para reabilitação e reinserção

social dos presidiários são praticamente inexistentes.

O modelo meramente punitivo não produziu resultados, apenas armou

bombas-relógio. A ausência do Estado estimulou o crime organizado a controlar os

presídios e definir regras e normas paralelas de funcionamento que acabam

envolvendo funcionários e policiais com salários muito baixos.

Este cenário, no entanto, não pode induzir a opinião pública a responsabilizar

exclusivamente o Estado e as injustiças sociais pela criminalidade. A impunidade

tem constituído, ao longo das últimas décadas, um componente importante do

crescimento do crime organizado.

É indispensável que um sistema carcerário mais eficiente e humanizado e

políticas de distribuição de renda sejam combinados a medidas legais efetivas para

coibir a impunidade e a reincidência. Neste sentido apresentei em fevereiro projeto

de lei que proíbe a concessão de benefícios a presidiários com mais de duas

condenações.

O objetivo é estabelecer diferenças legais claras para os presidiários de bom

comportamento e os reincidentes. Recentemente tivemos um exemplo, em Brasília,

de um presidiário que, condenado a quase cem anos de prisão, foi beneficiado com

um indulto e, logo após ser liberado, roubou um carro e assassinou brutalmente um

casal.

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As distorções sociais precisam ser corrigidas, o sistema prisional,

reestruturado, mas a sociedade não pode tornar-se refém de criminosos,

comprovadamente reincidentes.

Creio que a proposta pode enfrentar críticas de alguns setores, mas quero

alertar que o objetivo não é tornar mais rigorosa a pena, mas simplesmente evitar

que os benefícios legais sejam concedidos de forma aleatória. É preciso um controle

cuidadoso para que os benefícios não se tornem uma arma contra a sociedade, de

cujo convívio esses criminosos foram retirados justamente por oferecerem risco ao

cidadão honesto.

Não quero também gerar polêmica com as entidades de defesa de direitos

humanos, pois a divisão maniqueísta que tem marcado o debate sobre o sistema

penitenciário brasileiro não tem contribuído para modificar o cenário.

É preciso que o resgate da justiça social e da eficiência dos presídios seja

combinado com ações para combater a impunidade, demonstrando ao criminoso e a

toda a sociedade que valores devem reger o convívio humano.

Muito obrigado.

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O SR. IVAN PAIXÃO (Bloco/PPS-SE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, compareço hoje a esta tribuna para repercutir

importante alerta que nos chega através de reportagem publicada, semana passada,

no jornal O Estado de S. Paulo, abordando as conclusões de um estudo realizado

pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES. Esse

estudo prevê imediato agravamento do déficit da balança comercial do setor

eletrônico.

Para se ter idéia, senhoras e senhores, da relevância desse setor em nossa

economia, basta atentar para o fato de que o complexo eletrônico, que abarca, entre

outros itens, a indústria de informática, telecomunicações e eletrônicos de consumo,

como televisores, videocassetes e aparelhos de som, tem muito mais peso na nossa

balança comercial do que o petróleo e seus derivados.

Uma comparação que ilustra a reportagem mostra que, no ano passado, o

déficit comercial do petróleo e seus derivados foi de US$4,8 bilhões, enquanto que o

complexo eletrônico registrou, em igual período, saldo negativo de US$6,4 bilhões

de dólares. Análise da evolução nos últimos cinco anos aponta que, enquanto o

déficit do primeiro segmento cresceu apenas US$74 milhões entre os anos de 1996

e 2000, o do segundo, ou seja, do setor de eletrônica, aumentou em US$1,7 bilhão

em nosso País.

A advertência do próprio BNDES, Sr. Presidente, vem acompanhada do

indicador de uma única saída, de acordo com os técnicos: o Brasil precisa definir,

com a máxima urgência, política de desenvolvimento para o setor e atrair

investidores estrangeiros, grandes fabricantes globais de componentes, capazes de

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montar no País uma base exportadora, para que possamos reduzir o crescente

déficit da nossa balança comercial. Atrevo-me a acrescentar uma alternativa: fazer

valer o talento brasileiro e incentivar o desenvolvimento da indústria eletrônica

nacional, como fez o Japão antes da II Guerra, ao enviar seus estudantes para as

universidades e bibliotecas da Alemanha, então detentora importante da tecnologia

de foto, áudio e vídeo, além, claro, da indústria de máquinas e motores. Quem hoje

fabrica os mais competitivos produtos de todos estes segmentos que não o Japão?

O estudo denominado “Componentes Eletrônicos: Perspectiva para o Brasil"

preconiza ação governamental articulada e consistente, que permita ao País deter o

ciclo completo de fabricação de produtos eletrônicos, e não apenas a montagem

final dos bens, como acontece hoje.

O próprio coordenador do referido estudo, o Sr. Paulo Roberto Melo, deixa

bem claro que a tendência do déficit é de agravamento, tendo em vista a falta de

política industrial para o setor de componentes eletrônicos, ao passo que o Brasil

tem política bastante clara de auto-suficiência na produção de petróleo e de

incentivo à exportação de derivados. E os números preliminares dos dois primeiros

meses do ano mostrados pelo Estadão confirmam explicitamente essa tendência:

as importações de circuitos integrados foram de US$261 milhões no período,

comparadas a US$212 milhões de janeiro a fevereiro de 1999. A prosseguir neste

ritmo, prevê Paulo Roberto Melo, até dezembro o Brasil terá despendido com

importações de circuitos cerca de US$2,1 bilhões, com praticamente nenhuma

contrapartida em exportação.

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O nó do complexo eletrônico na avaliação do BNDES reside justamente na

produção local de componentes. "Apesar de os maiores fabricantes mundiais de

equipamentos terem unidades fabris no País, a indústria brasileira é direcionada

quase que exclusivamente para a montagem final. Não temos conseguido atrair os

outros elos da cadeia produtiva", afirma o coordenador do estudo.

Na avaliação dele, Sr. Presidente, o motivo é a inexistência de ações

governamentais agressivas que favoreçam a instalação local de fábricas e

componentes e esta inexplicável inércia que tem feito o Brasil perder a corrida até

para países de muito menor atração econômica. É o caso citado na própria

reportagem: semana passada, por exemplo, a franco-italiana ST anunciou

investimentos de US$320 milhões na construção de uma fábrica de semicondutores

em Marrocos.

Detentor de mão-de-obra comprovadamente eficiente no setor

eletroeletrônico, necessitando reverter o quadro de desemprego e estancar a

sangria de divisas, o Brasil não pode esperar. Cabe ao Ministério do

Desenvolvimento, Industria e Comércio deslanchar o processo iniciado semanas

atrás e identificar potenciais fabricantes que poderiam vir a se instalar no País, uma

vez que, a curtíssimo prazo, o advento de novas tecnologias como as bandas C, D e

E da telefonia celular e a TV digital estarão a exigir investimentos de milhares de

dólares em equipamentos.

Sr. Presidente, a matéria do jornal O Estado de S. Paulo demonstra que há

grande problema em nossa balança comercial, globalmente deficitária. Estamos

importando mais e exportando menos. É preciso que esse nó seja desatado,

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principalmente no setor eletrônico, uma vez que as próprias licitações e a introdução

das novas tecnologias a que me referi demandarão consumo e compra mais

acentuados, e o Brasil comprará mais.

Urge que o Governo brasileiro se preocupe com essa questão, porque esse

dado de que o déficit da balança comercial do setor eletroeletrônico é muito maior do

que o constatado no setor petrolífero e derivados deixou-me sobremaneira

impressionado.

Portanto, fica registrada minha preocupação, como membro do Partido

Popular Socialista. Espero que o BNDES procure uma política mais agressiva, a fim

de que traga fabricantes estrangeiros e incentive nossas pesquisas nas

universidades, para que possamos desenvolver tecnologias e grandes empresas de

fabricantes e não sermos meros receptores de componentes eletroeletrônicos para

aqui fazer montagem.

Muito obrigado.

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O SR. CARLITO MERSS (PT-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo a tribuna desta Casa para informar

recebimento de expediente encaminhado pelo Coordenador do Fórum dos Prefeitos

do PT de Santa Catarina, Prefeito Jailson Lima, da cidade de Rio do Sul; pela

Deputada Estadual Ideli Salvatti, Líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa

do Estado de Santa Catarina; e pelo Secretário de Assuntos Institucionais do PT de

Santa Catarina, Claudinei do Nascimento.

Nesse expediente, que solicitamos a transcrição nos Anais desta Casa e a

devida divulgação pelos seus órgãos de comunicação, é apresentada uma proposta,

originalmente elaborada pela UNAFISCO, de ampliação de doações voluntárias aos

Conselhos Municipais e Estaduais da Criança e do Adolescente. Através da doação

de até 6% do imposto devido da pessoa física e de até 1% da pessoa jurídica, as

ações do Conselho poderão ter aumento significativo nas suas fontes de

financiamento, ampliando razoavelmente o alcance do seu trabalho social.

Nesse sentido, parabenizamos a iniciativa do PT catarinense e da UNAFISCO

e nos somamos à divulgação da campanha e à tarefa de agregar novos

contribuintes para essa meritória tarefa social. Acreditamos que todas as Prefeituras

possam desenvolver essa campanha, que já foi, inclusive, apresentada em reunião

do Fórum Parlamentar Catarinense, com cerca de 120 Municípios presentes, na IV

Marcha Municipalista, e teve excelente acolhida pelos gestores públicos.

EXPEDIENTE A QUE SE REFERE O ORADOR

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Assembléia Legislativa do EstadoGabinete da Deputada Ideli Salvatti – Liderança do PTOf. circular nº 012/01 Florianópolis, 02 de abril de 2001.

AosPrefeitos, Vice Prefeitos, Vereadores, DeputadosMembros dos DMs, CPs e filiados do PT

O Imposto de Renda pode financiar oConselho de Infância e Adolescência

A pessoa física pode doar 6% do imposto devido e a pessoajurídica 1%. Desta forma, as ações do Conselho da Criança e do Adolescentepodem ter um financiamento significativo.

O dinheiro fica aqui em Santa Catarina, o doador decide aaplicação de parte do Imposto e pode fiscalizar a aplicação.

A doação pode ser feita ao Conselho do seu município ou dequalquer outro município de Santa Catarina.

Esta é uma campanha nacional desencadeada pelaUNAFISCO - Sindicato dos Auditores da Receita Federal.

O PT/SC aderiu à campanha. As prefeituras que o PTadministra ou participa da administração podem e devem fazer campanhas paradivulgar o incentivo junto aos empresários, à população e aos petistas.

Os petistas devem dar o exemplo, fazendo a doação, que podeser, inclusive para os municípios onde o PT governa.

O Prefeito Jailson Lima - Rio do Sul, que é o coordenador doFórum dos Prefeitos do PT, a Deputada Ideli, líder do PT na AL e representantes daUNAFISCO, tiveram audiência com a FIESC para ações conjuntas nesta campanha.O PT quer, também, que o governo do Estado assuma a tarefa de divulgar acampanha de forma institucional.

COMO PROCEDER1. O que é?.

Leis e normas hoje vigentes permitem uma doação aos Conselhos dasCrianças e do Adolescente (estadual ou municipais). A importância doada édeduzida do imposto de renda apurado, sendo 6% do imposto apurado para aspessoas físicas e de 1 % para as pessoas jurídicas tributadas pelo Lucro Real.2. Procedimento

Para doar o contribuinte deverá depositar o valor na conta bancária do FundoEstadual ou Municipal da Criança e do Adolescente e depois solicitar a emissão derecibo pelo próprio Fundo. Este valor retorna ao contribuinte no próximo período,pois, na verdade, é uma antecipação do imposto.

3. Como validar a campanha do imposto.Procurar o Conselho da Criança e do Adolescente do Município e ver se está

constituído. Provavelmente estará, pois é obrigatória a sua instalação. O Conselhodeverá ter CNPJ próprio (antigo CGC) e uma conta bancária. Não é obrigatória a

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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doação ser para o município em que o contribuinte reside. Ele pode doar paraqualquer Conselho Municipal, legalmente instalado, ou ao Conselho Estadual.Procurar gente que possa dar assessoria aos contribuintes de como proceder:contadores, advogados, etc... Propagandear esta Campanha para que seja dedomínio de toda a sociedade.

4. Assessoria EstadualA assessoria contábil do PT, realizada pelo Escritório Contábil Legal Fisco

Consultoria Ltda., coloca-se à disposição dos Diretórios Municipais do PT, dosVereadores, dos Deputados e dos Prefeitos Petistas para esclarecimentos, palestrase manuscritos para impulsionar esta Campanha nos municípios do Estado (e-mail:[email protected] - fone: (48) 324.0635 c/ Mescolotto).A UNAFISCO também tem um site para consulta - www.unafisco.org.br.Vamos aproveitar o mês de Abril, quando as pessoas estão preocupadas com o IRpara deslanchar a campanha.

Jailson Lima – Coordenador do Fórum de Prefeitos do PTIdeli Salvatti – Líder da BancadaClaudinei do Nascimento – Secretário de Assuntos Institucionais do PT

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O SR. PEDRO FERNANDES (Bloco/PFL-MA. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, faço um apelo ao Ministro dos

Transportes e ao Diretor-Geral do DNER para que dêem uma atenção maior ao 15º

Distrito DNER-MA, a fim de que este possa atender às demandas, que são muitas,

nas estradas federais do Maranhão.

A BR-316, entre os Municípios de Nova Olinda e Santa Luzia do Paruá, já

teve o seu trânsito interrompido. Chove muito na região. A BR-135 precisa de tapa-

buraco urgente e a 222 ameaça cortar em vários trechos. É uma calamidade.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, parabenizo a atleta maranhense

Tailane Jansen que representou o Brasil no Campeonato Multinações de Natação

para Juventude disputado em Varsóvia, na Polônia.

Tailane ganhou a medalha de prata na prova de 50 metros livres e a

medalha de ouro por equipe no revezamento 4x100 metros, juntamente com as

atletas Fernanda Ramos, Larissa Cieslak e Joana Maranhão.

Sr. Presidente está na hora de a Empresa de Correios e Telégrafos, a

grande patrocinadora da natação brasileira, olhar com carinho essa brilhante atleta

maranhense.

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O SR. BABÁ (PT-PA. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, estão em Brasília os chamados mata-mosquitos do Rio de Janeiro. São

cerca de 5.772 guardas demitidos pelo Ministério da Saúde. Hoje o Rio de Janeiro é

o segundo Estado em incidência de dengue, com 9.886 casos registrados só no ano

de 2000. Isso é muito grave. Houve uma insensibilidade total do Ministro José Serra,

que, ao tomar essa decisão, não se preocupou com a população do Rio de Janeiro.

Os companheiros estão no Supremo Tribunal Federal tentando reverter o quadro.

Queremos, portanto, apresentar nossa solidariedade a esses companheiros.

Quero também aqui abordar a situação da SUDAM, pegando o gancho do

Deputado Confúcio Moura, que abordou um problema real. Os Estados de

Rondônia, Acre e Roraima levaram muito pouco do dinheiro remetido para a

SUDAM, não do dinheiro aplicado no Estado do Pará, Mato Grosso ou Amazonas.

Houve uma disparidade muito grande. Rondônia, se não estou enganado, levou

apenas 2% do orçamento da SUDAM. Isso é um absurdo!

Queria me solidarizar com esses Estados e dizer que o nosso nem por isso

enriqueceu com a verba da SUDAM. Muito pelo contrário. Todas as denúncias que

estão aparecendo mostram claramente que esse dinheiro foi desviado para

enriquecimento ilícito de um determinado número de empresários e em torno de

10% dos funcionários da SUDAM. Temos de ressaltar que a maioria dos

funcionários da SUDAM são pessoas honestas. Estão desesperadas com essa

proposta de acabar com a SUDAM e estão lutando por seus empregos.

Aproveito a oportunidade para dizer que a Casa arquivou meu pedido de

urgência para a CPI da SUDAM. Vamos continuar lutando pela implantação dessa

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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CPI, porque não adianta simplesmente justificar que o Governo está fazendo as

suas investigações. Muito mais razão o Governo teria se obtivesse o apoio da

Câmara dos Deputados para se fazer essa investigação aqui dentro. Por isso as 242

assinaturas devem continuar valendo. Vamos continuar lutando para que — e

deveria ser até unanimidade nesta Casa — se instale uma CPI para investigar a

SUDAM, porque envolve Parlamentares tanto do Senado quanto da Câmara e

principalmente o roubo vergonhoso de cerca de 2 bilhões de reais.

Esses processos não são de agora. Em nosso Estado há muitos anos temos

denunciado. Jornalistas, como Lúcio Flávio Pinto, vêm denunciando esse processo

da SUDAM. Há cerca de 15 anos ou pouco menos, tocaram fogo em todo o setor de

informática da SUDAM para queimar o passado. Daquele tempo para cá, já existe

outro tanto de desvios de verbas públicas.

Srs. Deputados, a nós, da Amazônia, interessa que esta Casa faça uma

investigação completa, para que órgãos como o Ministério Público Federal, a Polícia

Federal, enfim, os órgãos que estão fazendo a investigação somem-se a esta CPI.

A bancada do Partido dos Trabalhadores vai continuar a sua luta para

implantar essa CPI. Não acreditamos que isso será evitado por uma brecha

regimental. Dezesseis Deputados assinaram, dentre os quais o atual Ministro da

Previdência e Assistência Social, Sr. Roberto Brant, além de outros Secretários de

Estado e Prefeitos dos mais variados partidos. Todos os partidos desta Casa

assinaram a CPI da SUDAM.

Portanto, o mais coerente para a Mesa Diretora e para o Colégio de Líderes é

serem coerentes dentro desse contexto. O que se pretende não é atingir “a” ou “b”,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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um Senador, um Deputado ou quem quer que seja, mas fazer com que esta Casa

tenha oportunidade de ir fundo na investigação de um dos maiores roubos que já

aconteceu na história deste País. Mais de dez tribunais do Estado de São Paulo

estão envolvidos.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta Casa precisa ser ágil e dar uma

resposta concreta à sociedade, principalmente aos trabalhadores da região

amazônica. Não nos podemos tornar reféns dos ladrões que roubaram a SUDAM.

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O SR. HAROLDO BEZERRA (Bloco/PSDB-PA. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o povo amazonense, seus dirigentes, as

lideranças sindicais e mesmo o povo brasileiro não aceitam de forma alguma os

desvios de recursos destinados à SUDAM.

Na qualidade de amazônida, nascido no Estado do Pará, criado nas

barrancas do Tocantins, afirmo que meu povo não aceita de modo algum que, como

disse o Deputado Babá, meia dúzia de pessoas, um grupo de políticos e alguns

funcionários públicos façam uso da estrutura da SUDAM e desviem recursos que

deveriam ser aplicados no efetivo desenvolvimento da Amazônia. Repudiamos

aqueles que usam a SUDAM para o desvio de verbas públicas. Assinei o

requerimento de CPI que foi arquivado e assinarei o novo requerimento que está em

andamento, para que possamos apurar essas irregularidades.

Não aceitamos que a SUDAM seja simplesmente extinta, que os incentivos

fiscais para a Amazônia sejam postos de lado e que se coloquem obstáculos para

que ocorra a verdadeira integração da nossa região. Deverão existir tratamentos

diferenciados para regiões desiguais, como a área atendida pela SUDAM e o

Nordeste brasileiro.

Sou membro da Comissão da Amazônia. Na próxima semana o Ministro

Fernando Bezerra estará nesta Casa. Em declarações à imprensa, S.Exa. afirmou

que será criada nova agência para o desenvolvimento da nossa região, uma vez que

os poucos recursos que conseguimos serviram para a geração de emprego e renda.

Não podemos temer os problemas, devemos enfrentá-los. A corrupção é

inaceitável e abominável. Os culpados devem ser punidos com rigor. O caso da

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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SUDAM deve servir de exemplo para o Brasil. Nosso País está mudando e não

aceita o desvio e a malversação das verbas públicas, que deverão ser aplicadas em

favor do trabalhador.

Nesse novo modelo de desenvolvimento, a nova agência para a Amazônia

deverá oferecer recurso a todos que dele necessitem. Novas diretrizes deverão ser

estabelecidas para que o pequeno produtor tenha acesso aos financiamentos

agrícolas.

Na condição de cidadão da Amazônia, quero que sejam apuradas as

irregularidades na SUDAM. Esta Casa está se pronunciando a favor de CPI para

apurar o caso. Não aceitamos simplesmente a extinção da estrutura da SUDAM

apenas porque alguns de seus trabalhadores, cerca de 10%, usaram-na para o

desvio de verbas públicas.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é indiscutível que a corrupção

constitui prática abominável que, sem dúvida, deve ser repudiada e combatida com

todo o rigor, em qualquer nível ou instância de Governo, em face dos graves

malefícios que provoca, principalmente às classes menos favorecidas da população,

que se vêem privadas dos recursos públicos destinados ao atendimento de suas

necessidades sociais básicas. Entretanto, não compactuamos com a idéia que adota

como solução inevitável a pura e simples extinção da instituição afetada por

determinada distorção no desempenho de suas atividades.

Se um problema foi identificado, corrija-se o problema, com a devida e justa

punição dos envolvidos. Não pode a instituição como um todo, com os objetivos de

promoção do desenvolvimento regional a que se propõe, pagar indevidamente pelos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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erros políticos e administrativos provocados por um grupo de pessoas

inescrupulosas, facilmente identificáveis, conforme insistentemente denunciam os

meios jornalísticos de comunicação.

Chamo a atenção desta Casa para este tema, pois acreditamos que as

instituições e os instrumentos utilizados pela União para a promoção do

desenvolvimento regional, particularmente da Amazônia e do Nordeste, podem e

devem ser modernizados e, com mecanismos adequados, deixar para o lixo da

história os desvios cometidos. Mas não podemos prescindir de uma política

específica de incentivos da União para a Amazônia brasileira, viabilizada através da

SUDAM ou outra instituição qualquer, reestruturada, fortalecida e realmente

comprometida com o atendimento das necessidades do homem amazônico, de tal

maneira que, efetivamente, possa contribuir para a diminuição das desigualdades

regionais e a promoção do desenvolvimento equânime e socialmente justo de um

país que preserve a riqueza de sua diversidade econômica, ecológica e cultural.

Não podemos também, por outro lado, perpetuar um pacto que legitime e

consolide uma ou outra forma de vários brasis, que atualmente conhecemos, e que

são indelevelmente marcados por significativas diferenças sociais e regionais.

Uma política específica de desenvolvimento para a Amazônia, concebida pelo

Governo Federal, viabilizada a partir de uma instituição centralizadora e

coordenadora de todas as ações intergovernamentais nos seus diversos níveis, fez-

se necessária para a busca da reversão historicamente determinada de um quadro

cuja resultante da estrutura produtiva caracterizava-se como de baixa produtividade,

extrema pobreza e ausência de infra-estrutura.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Daí considerarmos, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, que a política de

incentivos fiscais para a Amazônia contribuiu, decisivamente, para que a região

fosse integrada em parte ao mercado nacional e desse os primeiros passos para a

superação de sua condição de mera fornecedora de produtos primários de baixo

valor agregado e baixo nível de renda.

Entendemos ainda que a política de incentivos federais para a nossa região

seja, não apenas de direito, mas de fato, instrumento de desenvolvimento capaz de

diminuir as desigualdades regionais, construindo um só Brasil.

Temos que estar sempre alertas e vigilantes com a nossa soberania. Em

fóruns nacionais e internacionais muito se tem questionado a respeito da soberania

brasileira sobre a Amazônia. Tais argumentações, por si só, demonstram o muito

que ainda precisa ser feito. Fortalecer a Amazônia, integrando-a definitivamente a

um Brasil desenvolvido é garantir a soberania nacional.

No entanto, é também inquestionável a constatação da necessidade de

aperfeiçoamento de todo um aparato institucional responsável pelo planejamento do

seu desenvolvimento. É inegável que a política de incentivos federais foi e é

fundamental para promover os empreendimentos na Amazônia, constituindo uma

das primeiras iniciativas para que a geração de emprego e da renda regional não

ficasse quase que exclusivamente sob a responsabilidade dos Governos, como

antes ocorria. Hoje a Amazônia possui um número cada vez maior de empresários

compromissados com o desenvolvimento da região, gerando renda, emprego e

impostos através de suas empresas. Isto tem permitido que os Governos regionais,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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tanto em nível estadual como municipal apresentem, em muitos casos, desempenho

fiscal cada vez melhor.

A propósito, o Governo do meu Estado, o Pará, sob o comando do

Governador Almir Gabriel, está entre aqueles que, no conjunto dos Estados da

Federação, apresenta um dos melhores desempenhos de gerenciamento fiscal,

apesar de todas as dificuldades para a ampliação de sua base tributária. Mas sem o

apoio da política de incentivos da União ficaria ainda mais difícil de frutificarem os

muitos empreendimentos de maior poder multiplicador da renda e do emprego de

que necessitamos para ampliar e diversificar a base produtiva estadual e dos

Municípios quer do Estado do Pará, quer da Amazônia como um todo.

Sr. Presidente, o Senador Carlos Wilson disse da tribuna do Senado que “a

corrupção tem que ser combatida com rigor, mas para isso não é preciso extinguir a

instituição”. Se temos maus administradores na gerência, não significa que toda a

estrutura de uma instituição precise ser desfeita, pois o corpo administrativo é

composto de excelentes profissionais. Às palavras do Senador acrescentaria que:

em qualquer instituição, seja qual for o nome ou sua forma, tem que haver

mecanismos transparentes de administração pública e dirigentes comprometidos

com o bem público.

Acreditamos que o Governo Federal conhece a importância da permanência

de sua política de incentivos para a Amazônia. Mas, além disto, é importante para

que se desenvolvam as soluções para o necessário aperfeiçoamento desta política

que tais incentivos passem por um debate com as lideranças da região, com as

instituições dos setores produtivos, com as Assembléias Legislativas dos Estados e

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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com o Congresso Nacional. No caso particular do meu Estado, é preciso que tais

incentivos sejam discutidos com sindicatos patronais e de trabalhadores, com

instituições como FIEPA, FECOMÉRCIO, FACIAPA e FCDL.

Algumas idéias já foram apresentadas, como as do próprio Ministro da

Integração Regional, Fernando Bezerra, que propôs que em vez de serem

compostos com 18% do Imposto de Renda devido pelas empresas interessadas em

investir nas duas regiões, os fundos seriam formados de modo compulsório, com

uma parcela do Imposto de Renda arrecadado pela União em todo o País. De

qualquer forma é melhor que a utilização da regra estabelecida no art. 9º da Lei nº

8.167, de 1991.

Disse o Ministro que a diferença é que o FINOR e o FINAM deixariam de ser

fundos que dependeriam da opção das empresas de investir na região e passariam

a ser patrimônio da União, que teria liberdade de aplicar os recursos nos projetos

prioritários para as regiões. Precisamos debater e conhecer melhor a proposta.

Segundo o Ministro, uma das principais vantagens desse modelo seria que

“sem a corretagem secaria uma das principais fontes de desvios”. O Ministro

acrescentou que outra importante vantagem seria a criação de “um processo de

realização dos fundos”. Tendo em vista que as ações das empresas beneficiadas

passariam a ser de prioridade da União “que poderá vendê-las no mercado e

recompor o fundo”, nos moldes do BNDSPAR, que opera com o Fundo de Amparo

ao Trabalhador — FAT.

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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não podemos ficar só na crítica ou no

temor pelo pior, portanto vamos propor ouvindo e discutindo com os setores

produtivos da Amazônia e do Nordeste.

Temos que inserir a programação regional em capítulo prioritário da

programação nacional. É necessário que se implemente a modernização dos

procedimentos gerenciais, de forma que a sistemática dos projetos e dos benefícios

se faça de acordo com as práticas modernas da gestão de negócios. Também é

necessária a imediata operacionalização dos processos de colaboração financeira

considerados regulares, a fim de que não sofram solução de continuidade. É preciso

definição dos processos normais de isenção ou redução do Imposto de Renda no

nível de Superintendência, como recomenda o TCU.

Não podemos permitir que o povo amazônico e o povo nordestino fiquem

prejudicados. O Governo Federal criou e instalou neste País a Corregedoria-Geral

da União, nomeando a Dra. Anadyr de Mendonça Rodrigues. Um de seus primeiros

trabalhos foi iniciar a apuração das denúncias de corrupção na SUDAM.

Esta Casa propõe uma CPI para apurar a corrupção da SUDAM. Somos a

favor, pois de uma forma ou de outra, ou as duas juntas, é preciso que se apurem os

fatos e sejam punidos os culpados.

Não podemos simplesmente fechar, implodir, extinguir a SUDAM sem criar

uma verdadeira agência de desenvolvimento para a Amazônia. Temos que nos unir

em busca de uma solução que traga ferramentas de desenvolvimento para a nossa

região. É nossa responsabilidade a luta por uma só Nação, por um só Brasil com

justiça social.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Sr. Presidente, espero que esse meu discurso seja enviado às pessoas, às

instituições e aos órgãos da nossa região, levando nossa revolta contra a corrupção.

Volto a dizer: não aceito que a SUDAM seja simplesmente extinta.

Muito obrigado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. SILAS CÂMARA (Bloco/PTB-AM. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a reforma tributária está morta e sepultada.

Esse infausto acontecimento tem até data conhecida: 1º de agosto de 2000, pois foi

justamente nesse dia que a Mesa desta Casa recebeu a proposta de reforma

tributária do Ministério da Fazenda. Reunidos, logo em seguida, nosso Presidente e

os Líderes dos partidos representados na Câmara dos Deputados decidiram que a

matéria não poderia ser votada, tendo em vista a inequívoca impossibilidade de

chegarem a bom termo as negociações entre os Poderes Legislativo e Executivo

para adotar um sistema tributário que atenda às expectativas do País.

A Câmara dos Deputados, através de Comissão Especial, discutiu a reforma

tributária desde 1995, quando recebeu a primeira proposta do Poder Executivo. Em

março deste ano, a proposta foi encaminhada ao Plenário, enchendo de esperanças

todos aqueles que almejam transformar a tributação numa alavanca para o

desenvolvimento e para a geração de empregos. O que se viu, então? Viu-se o

Ministério da Fazenda, que até esse momento se havia mantido alheio ao debate,

assestar baterias contra a proposta em tramitação nesta Casa, batendo forte

justamente em seus pontos mais louváveis, naqueles que viriam proporcionar a

desoneração das exportações e da produção interna e igualar a tributação dos

produtos importados à dos fabricados internamente.

Hoje, como todos sabem, os produtos nacionais, graças a uma insana

tributação em cascata em sua produção e comercialização, são mais onerados que

os importados. Pode parecer um despropósito afirmar-se que alguém seja contra

corrigir essas distorções, ainda mais se for acrescentado que esse alguém atende

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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pelo nome de Ministro da Fazenda. Mas é isso, infelizmente, o que acontece, e, a

bem da verdade, diga-se que o fato não é negado. Apenas argumenta-se que o País

tem compromissos internacionais embasados na receita da tributação em cascata e

que qualquer possível redução de receita deve ser combatida em nome desses

compromissos. O argumento não é dos melhores. Não se pode dizer, a priori, que a

transformação de tributo em cascata em tributo não cumulativo trará como

conseqüência, inexoravelmente, a redução da receita. Ao menos duas variáveis

importantes deveriam ser incluídas na discussão: o desenvolvimento econômico

proporcionado pela nova forma de cobrança, por conseguinte a elevação da receita,

e as alíquotas a serem utilizadas. Nada disso, no entanto, foi discutido ou sequer

mencionado pelo Ministério da Fazenda, que se mostrou intransigente e fechado a

qualquer entendimento.

As lideranças desta Casa devem ser apoiadas. Se é verdade que não se

consegue aprovar uma emenda à Constituição, no Congresso Nacional, contra os

desejos do Poder Executivo, também, por outro lado, não se pode subscrever e

apoiar o posicionamento do Poder Executivo, retrógrado e contrário ao interesse

nacional. A retirada de pauta da discussão da reforma tributária merece, portanto,

elogios.

Sr. Presidente, como representante do Estado do Amazonas e, por

conseguinte, da Amazônia Legal e da Região Norte, tenho, ainda, especial motivo

para me abalar com a retirada da proposta da mesa das discussões.

A Comissão Especial, atenta aos problemas regionais de repercussão

nacional, deu à Zona Franca de Manaus e às áreas de livre comércio um tratamento

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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especial, o que demonstra grande conhecimento da realidade nacional. A proteção à

Zona Franca de Manaus vigorará, pela Constituição de 1988, até 2013. Mas já se

prevê que após 2004 os investimentos praticamente cessarão, pois seus prazos de

maturação e retorno impedirão um atrativo rendimento para o capital investido. E,

mais grave ainda, espera-se até que comece a ocorrer, pela mesma época, o início

de um processo de desmobilização do parque industrial lá instalado. Esses fatos, ao

mesmo tempo previsíveis e preocupantes, suscitam algumas considerações que

devem inquietar os habitantes daquela região e, principalmente, os governantes

responsáveis pela continuidade do desenvolvimento econômico, lento e progressivo,

de uma das áreas mais pobres deste País.

Que projeto alternativo, elaborado pelo Poder Público, substituirá os

investimentos privados existentes na Zona Franca de Manaus, após 2013? Quem

neste plenário já ouviu falar que o Governo Federal se tenha preocupado com o

assunto e tenha determinado o início desses estudos? Algumas providências já

deveriam estar sendo tomadas para estudar a preservação da atividade econômica

para os 2 milhões e 700 mil habitantes do Estado do Amazonas e, também,

mensurar as conseqüências do desmantelamento industrial da Zona Franca para os

4 milhões e 560 mil habitantes da Amazônia Ocidental.

Neste ponto não podemos deixar de tecer elogios à Comissão Especial desta

Casa que previu o desastre econômico e social que se aproxima da Região Norte e

propôs medidas concretas para dar mais tempo ao Poder Executivo para estudar

soluções e colocá-las em prática. As medidas propostas pelos nobres colegas, no

entanto, foram inteiramente ignoradas pelo Ministério da Fazenda, que, em sua

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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proposta, demonstrou total insensibilidade para o trato de questão da maior

importância para a economia e a população amazônica.

Suspender a discussão da reforma tributária não é, certamente, uma solução

para os problemas do caótico quadro tributário brasileiro. Essa medida representa,

assim esperamos todos, uma necessária e oportuna retirada estratégica da matéria

do foco dos refletores. Por isso teve o nosso apoio. Mas não podemos relegar a

matéria ao esquecimento. A tributação é um instrumento auxiliar importante para se

conseguir o desenvolvimento uniforme do País. Não devemos esquecer-nos de que

a desigualdade social provocada pela desigualdade econômica é uma forma atroz

de violência contra os mais pobres. Esperamos, pois, ver em breve o reinício da

discussão. Esta Casa tem muito a contribuir para o debate e certamente não se

esquivará de sua obrigação. Deverá, também, tomar a iniciativa, pois ninguém

conhece melhor as necessidades do País e está melhor aparelhado para conduzir a

discussão.

Sr. Presidente, peço a V.Exa. que autorize a divulgação deste

pronunciamento nos órgãos de comunicação da Casa. Afinal, trata-se de tema

extremamente relevante. Toda a população brasileira anseia pela tão aguardada

reforma tributária. A esperança é de que o Governo Federal dê atenção a esse

clamor do povo amazônida.

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O SR. MARÇAL FILHO (PMDB-MS. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, comento hoje desta tribuna editorial da revista

Veja, baseado num estudo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística — IBGE, divulgado na semana passada. Apresenta a revista dados

positivos em relação ao nosso País, mostra que, de 1992 a 1999, a expectativa de

vida, a escolaridade, a mortalidade infantil e quase todos os outros indicadores

sociais do País melhoraram. Infelizmente, não aconteceu o mesmo com a

distribuição de renda. Os 10% mais ricos, que detinham 45,8% da renda nacional,

passaram a possuir 47,4%.

A constatação do novo estudo do IBGE mostra o quanto essa distorção é

resistente. Ela não se alterou nem com o crescimento da renda dos pobres, pois os

ricos se distanciaram ainda mais. Não se alterou com os efeitos distributivos da

estabilização da moeda e o fim da inflação, trazidos pelo Plano Real, o qual, a

própria Veja reconhece, foi um dos processos mais desconcentradores de renda do

capitalismo.

Infelizmente, a despeito de tudo que o Governo Federal fez para melhorar

esse quadro, a distribuição de renda não se alterou, devido a diversas razões, entre

elas as culturais, que vêm desde os tempos da escravidão, como a falta de

planejamento. Enfim, são raízes profundas que remontam ao início do nosso País.

Esse quadro não se alterou e até se agravou. E só vai ser modificado com um

investimento maior na educação.

Acrescenta a revista Veja que a Coréia do Sul, o Japão e a Itália investiram

maciçamente em educação, o que deu resultados mais duradouros, mesmo que a

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longo prazo. Isso prova mais uma vez aquilo que se diz a todo instante, o que se

tornou um chavão: a educação é o investimento primeiro de um país, é a prioridade

das prioridades.

O Brasil já avançou em educação, fazendo com que constitucionalmente

aplicássemos recursos específicos para essa área. Hoje, infelizmente, há recursos

ainda mal administrados em determinados pontos do País. Não há como se fazer

um controle dos recursos educacionais. Denúncias estão vindo à tona com relação a

esses recursos, à forma como estão sendo aplicados. Isso ocorre devido ao

tamanho de nosso País e à falta de consciência de muitos administradores, que não

atentaram para isso. A partir do momento em que todo o dinheiro for investido em

educação, a vida de todas as pessoas que habitam o Brasil melhorará.

Na área de assistência social, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero

enaltecer o trabalho da Secretaria de Assistência Social do Ministério da Previdência

e Assistência Social, por intermédio do Sr. Marco Aurélio, que vem desenvolvendo

excelente trabalho.

Conseguimos direcionar recursos da área de assistência social especialmente

para o meu Município, Dourados, em Mato Grosso do Sul, criando um centro de

geração de renda, de vital importância, trazendo novas alternativas para que as

pessoas possam trabalhar, auferir lucros, ter sua fonte de renda e buscar meios para

sua sobrevivência e para o sustento seu e de suas famílias. Esse centro de geração

de renda vai ser implantado este ano com recursos da Secretaria de Assistência

Social do Ministério da Previdência.

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Podemos destacar o Programa Sentinela, que vai permitir que os menores de

rua sejam abrigados em locais adequados. Um programa permanente que

funcionará 24 horas por dia, muito importante para as crianças da minha cidade.

Temos também recursos que vão ser alocados para a construção de abrigos

para mulheres vítimas de violência.

Esse projeto é muito importante. Infelizmente, há muitos casos de mulheres

agredidas por seus próprios companheiros. As estatísticas demonstram que elas

sofrem mais com a violência doméstica. Às vezes, vão aos órgãos de segurança

registrar queixa; contudo, quando retornam a casa, sofrem nova violência, já que

não têm para onde ir até que seja instaurado o inquérito policial, formalizada a

denúncia e julgado o autor da violência.

Então, a finalidade dos abrigos é justamente acolher essas mulheres, que ali

ficariam durante esse período, até que a Justiça aja de forma dura contra esses

covardes. Lamentavelmente, essa é uma situação muito comum em todo o País,

mas a construção de abrigos viria contemplar as mulheres.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

EDITORIAL A QUE SE REFERE O ORADOR

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Inserir editorial Marçal Filho

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O SR. SÉRGIO NOVAIS (Bloco/PSB-CE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero informar à Casa que daqui a pouco a

Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior dará início a uma ação de

fiscalização na Companhia Energética do Ceará — COELCE.

A COELCE, estatal até 2 de abril de 1998, empresa exemplar do Estado do

Ceará, com índice de cobertura de energia considerável, tem escritório montado

para atendimento comercial e operacional em todos os 184 Municípios do Estado. A

partir de sua privatização, em abril de 1998, houve gravíssimos problemas. A média

de mortes no período anterior à privatização era de 1,2 por ano; agora é de oito por

ano.

Nesses últimos três anos, aconteceram 24 mortes: vinte por acidente de

trabalho — choque elétrico, até acidente de moto, que é muito utilizada — e quatro

suicídios, devido à tensão interna. Cabe lembrar que a empresa demitiu 1.400

funcionários nos últimos três anos. E um processo de terceirização avassalador

levou trabalhadores sem nenhuma qualificação a trabalhar com energia elétrica, com

redes de baixa e alta tensão que chegam a 69 mil volts. Ora, o fato de trabalhadores

desqualificados trabalharem com energia elétrica não poderia ter nenhuma outra

conseqüência senão número de mortes nesse patamar. A terceirização toma conta

de tudo, desde o call center até a atividade-fim do eletricista. Hoje são mais de 2 mil

trabalhadores. A situação é gravíssima, morreram 24 trabalhadores.

Essa terceirização tem forte impacto na prestação de serviços. Setenta por

cento dos Municípios do Ceará estão sem postos de atendimento ao público na área

operacional. Se falta energia na cidade de Santana do Acaraú, é preciso ligar para o

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call center em Fortaleza, que se comunica com Sobral, porque aquele Município

fica a quarenta quilômetros de Sobral. Daí é enviada uma equipe a Santana do

Acaraú. Portanto, gastam-se horas e horas no atendimento à sociedade, ao

consumidor que paga tarifas altíssimas — outro dado importante.

O reajuste leva em consideração o IGP-M — 23% em dois anos. Haverá outro

no final do mês de abril, e a previsão é de algo em torno de 10%. É de

aproximadamente 35% o reajuste em três anos.

Existe um dado importante que informo aos Srs. Deputados: no Ceará, mais

de 60 mil consumidores rurais foram arbitrariamente integrados pela Companhia na

categoria urbana, o que levou ao conseqüente aumento de tarifa, que em muitos

casos chegou a 300%.

Hoje, na reunião a respeito da proposta de fiscalização e controle (PFC), às

15h, faremos uma grande mesa-redonda, com a participação do Presidente da

COELCE, que é espanhol, de Procuradores da República, de Procuradores do

Trabalho e de representantes da ANEEL, da Agência Reguladora de Serviços

Públicos Delegados do Ceará — ARCE e do sindicato dos eletricitários.

Nosso primeiro objetivo é evitar mais mortes na Companhia. Não é possível

que a empresa espanhola ENDESA, um dos maiores grupos de energia do mundo,

continue a matar trabalhadores. O segundo objetivo será sustar as demissões. Não

podem ser demitidos nossos eletricitários, que ganham em torno de 1.500 reais, que

têm padrão razoável de vida, e contratados trabalhadores com 200, 300 reais na

carteira, os quais deverão trabalhar loucamente para alcançar 600, 700 reais.

Portanto, esses são os objetivos iniciais dessa reunião sobre a PFC.

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Com certeza alcançaremos melhor qualidade de serviço, outro objetivo nosso,

para que o Estado possa ter qualidade de energia elétrica para o trabalhador rural,

para o empresário rural e para todas as cidades cearenses. Vamos assegurar o

padrão de energia historicamente conseguido pelos cearenses com a feitura da

COELCE estatal.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. FEU ROSA (Bloco/PSDB-ES.) – Sr. Presidente, solicito a V.Exa. a

inserção nos Anais da Casa de importantes artigos publicados dia 28 de março, no

jornal O Estado de S.Paulo.

Diz uma manchete: "Plano de termoelétricas a gás não saiu do papel".

Esse fato caracteriza que o preço do gás que está sendo oferecido à iniciativa

privada é muito alto e inviável, e, por essa razão, ninguém quer investir em

termoelétrica a gás. E o Brasil está sujeito, dentro de pouco tempo, a sofrer vultosos

e desgastantes racionamentos de energia.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Está feito o registro de V.Exa.

ARTIGOS A QUE SE REFERE O ORADOR

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Inserir matérias Feu Rosa

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O SR. MARCONDES GADELHA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. MARCONDES GADELHA (Bloco/PFL-PB. Pela ordem. Sem revisão

do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os jornais publicam hoje o

Relatório da Organização das Nações Unidas – ONU sobre tortura de presos no

Brasil. É o documento mais dramático já produzido por uma agência internacional a

respeito de direitos humanos neste País. Nele está dito que o Brasil pratica a cultura

da brutalidade. Inacreditável e horrorizante são os adjetivos usados.

Eu não sei o que é mais humilhante: se vermos o País submetido à

exprobração internacional, situado nessa lista nefanda de torturadores, ou tomarmos

conhecimento desse fato através das agências internacionais.

Mas, Sr. Presidente, não foi por falta de empenho desta Casa.

Há várias semanas, encontra-se na Mesa pedido, que conta com a assinatura

de 171 Deputados, para que este Plenário seja transformado em Comissão Geral a

fim de que se possa discutir a violência, a tortura e o desrespeito aos direitos

humanos. No requerimento foi solicitada a presença do Ministro José Gregori, do Sr.

Presidente da OAB, dos dois Secretários de São Paulo designados para o assunto.

Nosso pedido, Sr. Presidente, é para que seja marcada, o mais rápido

possível, uma data para esta sessão.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Está feito o registro, nobre

Deputado Marcondes Gadelha.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Concedo a palavra ao nobre

Deputado Augusto Nardes.

O SR. AUGUSTO NARDES (PPB-RS. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é uma satisfação para mim poder trazer

importante informação a esta Casa.

Por meio da Frente Parlamentar da Pequena Empresa, temos defendido os

pequenos empresários como forma de gerar empregos e distribuir renda. Neste

momento, o desemprego é o grande problema no contexto mundial.

A situação no planeta é dramática: 1 bilhão de desempregados, muitos dos

quais no Brasil. Portanto, o maior desafio do agente político e do cidadão que pensa

na humanidade é gerar empregos. Esse desafio tem de ser superado pela

criatividade e capacidade de trabalhar com competência, fortalecendo alguns

segmentos fundamentais para a sociedade brasileira, entre os quais o dos pequenos

empresários, responsáveis pela geração de empregos de 70% da sociedade

brasileira.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, foi lançado no dia 12 do mês passado

o Programa Brasil Empreendedor, na sua segunda fase, pelo Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O Ministro Alcides Tápias

desenvolve um belíssimo trabalho nessa área, juntamente com o SEBRAE. E por

intermédio do Sr. Sérgio Moreira foi lançado programa de crédito orientado para

novos empreendedores, iniciativa destinada a criar pequenas e microempresas

viáveis pela capacitação e acesso ao crédito.

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Para quem e como serão liberados esses recursos? Eles serão liberados, no

valor de até 50 mil reais, para os micro e pequenos empresários, com prazo de 84

meses e carência bastante acentuada, de dezoito meses.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, acredito que o Programa Brasil

Empreendedor, Fase II, vai na direção correta de fortalecer a pequena propriedade,

para que ela possa competir nesse mundo globalizado em que estamos vivendo,

onde as grandes empresas destacam-se no mercado internacional em detrimento

das pequenas. O fortalecimento da pequena empresa visa, acima de tudo, a dar

condições de distribuir melhor a renda em nosso País, um dos maiores gargalos da

sociedade brasileira. Esse gargalo da má distribuição de renda tem de ser superado

no Brasil, e a forma de superá-lo é fortalecer a pequena empresa.

Nesse aspecto, o Programa Brasil Empreendedor tem que ser melhor

fiscalizado. Esses benefícios que estão sendo anunciados realmente têm de chegar

ao pequeno empresário, a fim de que se faça justiça social mais abrangente em

nosso País.

Entendo que esse programa é de grande valia para esta Nação. Nós, da

Frente Parlamentar da Pequena Empresa, estaremos fiscalizando. Somos os olhos

da população. Temos que estar presentes e fazer esse acompanhamento.

É preciso deixar claro também que o Governo Fernando Henrique tem

apresentado propostas interessantes nessa área. Esperamos que elas não façam

parte apenas de um discurso, que realmente aconteçam na prática. Isso é

fundamental.

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Desejamos que seja bem executado o Brasil Empreendedor, na sua segunda

fase, porque se trata de um programa importante para a sociedade como um todo.

Lembro ainda que nós, da Frente Parlamentar, conseguimos aprovar a Lei do

SIMPLES, o REFIS, além de avanços importantes no Estatuto da Microempresa e

da Empresa de Pequeno Porte que beneficiaram todo o País. A esperança é de que

esse programa não fique apenas no papel, deve ser efetivado.

Por último, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, anuncio que vou pedir

informações ao SEBRAE e solicitar ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior que essas informações realmente cheguem a todos os Municípios

e sejam repassadas às agências bancárias, a fim de que se efetive esse programa.

Era o que tinha a dizer.

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A SRA. ANA CORSO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem V.Exa. a palavra.

A SRA. ANA CORSO (PT-RS. Pela ordem. Pronuncia o seguinte discurso.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados em nota intitulada “OAB gaúcha pede CPI

com urgência!” e veiculada pelos jornais Zero Hora, Correio do Povo, Jornal do

Comércio e Correio Braziliense, o Conselho Seccional da OAB do Rio Grande do

Sul exortou publicamente Deputados e Senadores a assinarem a CPI da Corrupção.

Passo a ler a nota em comento, a fim de que conste dos Anais desta Casa:

O Conselho Seccional da OAB do Rio Grande do

Sul, atento às suas finalidades institucionais, na defesa da

Constituição e do Estado democrático de direito, vem

exortar publicamente os senhores deputados e senadores

a que aprovem e instalem, com a máxima urgência, a

Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os

graves indícios de corrupção que pairam sobre o Poder

Executivo. Por conta de denúncias bem menores, o

Judiciário já foi alvo de uma CPI, que ao final se mostrou

extremamente útil, pela apuração de ilícitos cometidos por

algumas autoridades daquele Poder e por despertar a

Nação brasileira para o inadiável debate sobre o

aprimoramento da Justiça brasileira.

A criação de uma Corregedoria, no âmbito do

Governo, é insuficiente para realizar a profunda revisão

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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ética reclamada pela sociedade. A investigação não pode

ser feita por subordinados do próprio chefe do Executivo.

Trata-se de dever indeclinável do Poder Legislativo que

tem a missão constitucional de fiscalizar os atos do

Governo. O país, que atravessa grave crise social, não

pode ficar à mercê de um Congresso paralisado por

manobras de gabinete.

A CPI é hoje uma exigência que se impõe pela

vontade do povo brasileiro!

Porto Alegre, 09 de abril de 2001.

Valmir Batista

Presidente do Conselho Seccional da OAB do RS

Com efeito, Sr. Presidente, também a CNBB, recentemente, enviou nota aos

Parlamentares exigindo a CPI da Corrupção.

Entreguei hoje ao Líder da minha bancada, o Deputado Walter Pinheiro, uma

lista com 2.058 assinaturas de cidadãos e cidadãs de Caxias do Sul, pedindo a

instalação da CPI.

Pessoalmente, desejo reiterar que esta Casa não pode seguir fazendo

ouvidos moucos ao clamor das ruas. Como encarar o povo brasileiro, quando as

manchetes de todos os jornais falam de desvios da ordem de 1,7 bilhão de reais na

SUDAM?

Um bilhão e setecentos milhões de reais, Sr. Presidente?! E as crianças

brasileiras morrendo de fome e se prostituindo pelas ruas do nosso País!

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Segundo os jornais, o próprio Ministro Fernando Bezerra abandonou a defesa

incondicional do Presidente do Senado no caso das fraudes na SUDAM. De acordo

com o Ministro, cabe ao próprio Jader se defender das acusações de envolvimento

com as referidas fraudes.

O interventor federal na SUDAM, José Diogo Cyrillo, diz pelos jornais que os

desvios superam os já anunciados.

Francamente! Com que cara os Parlamentares vão enfrentar suas bases lá

nos seus Estados de origem?

Com todo o respeito à pessoa da Exma. Sra. Corregedora-Geral da União, os

Parlamentares da base do Governo vão dizer aos eleitores que a Dra. Anadyr de

Mendonça Rodrigues vai substituí-los em sua função? Sim, porque a orientação do

Palácio do Planalto aos líderes governistas no Congresso é enterrar a CPI da

SUDAM, que, se sair, pode ensejar a CPI da Corrupção.

Sras. e Srs. Parlamentares, de enterro em enterro, é a credibilidade do

Congresso Nacional que se sepulta. De barganha em barganha, é a democracia

brasileira que agoniza. E, de negociata em negociata, não é apenas a P-36 que

submerge, mas a própria Nação, agredida e violentada por suas próprias

instituições.

Que os homens e mulheres de bem do nosso País se insurjam contra esse

deplorável, contra esse lastimável e putrefato estado de coisas!

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigada.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Dando continuidade ao Pequeno

Expediente, concedo a palavra ao nobre Deputado Fernando Ferro, que dispõe de

três minutos.

O SR. FERNANDO FERRO (PT-PE. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, tomamos conhecimento ontem de um relatório

da ONU sobre a existência de tortura de forma generalizada em nosso País. O mais

preocupante de tudo isso é que houve uma certa conivência de parcela da

população com esses procedimentos lastimáveis.

Temos em mão, Sr. Presidente, denúncia do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra, que, na ocupação recente da Usina Aliança, na Mata Norte do

Estado de Pernambuco, apreendeu nos escritórios daquele estabelecimento farto

material utilizado na tortura e morte de trabalhadores rurais. Estamos aqui com

algumas fotografias que lá foram encontradas e que mostram a prática da tortura e

até de assassinato de trabalhadores rurais, promovidos por latifundiários. São eles

que, historicamente, têm imprimido violências sem precedentes contra trabalhadores

rurais, negando-lhes direitos trabalhistas e sociais e, pior do que isso, tirando-lhes a

vida.

Essa ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e a

imprensa registrou a depredação de patrimônio daquela usina, escondeu, na

verdade, o pavio da revolta dos trabalhadores, acumulada secularmente, a violência

que provoca violência.

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Não somos defensores da dilapidação de patrimônio público, mas fica difícil

para alguém que encontrou a foto de um irmão chacinado nas dependências

daquela usina assistir àquilo calado.

A Usina Aliança, do Grupo Pessoa de Melo, um dos poderosos grupos

usineiros de Pernambuco, que tem uma dívida de mais de 500 milhões, passivos

trabalhista e financeiro com diversas instituições oficiais, estava para ser

efetivamente desapropriada pelo INCRA.

Contudo, conseguiu, na Justiça Federal, em Pernambuco, uma liminar para

impedir o cumprimento da ação de desapropriação. Isso vem demonstrar claramente

que a Justiça tem que ficar atenta a esse tipo de realidade, que acontece muito em

nossa região.

Aquela usina não tem mais função social, não produz desde 1996. Dever-se-

ia dar outra destinação a ela, porque não pertence mais a essa família de usineiros,

que a faliu, porque manipulou recursos públicos de forma incompetente e não teve

capacidade de continuar à frente daquele empreendimento.

Naquela ação desesperada dos trabalhadores sem terra, foi encontrado o

retrato de um trabalhador rural assassinado no dia 25 de maio de 1964, de quem a

família não sabia o destino. Trata-se de mais um desaparecido político, assassinado

durante a ditadura militar, e só agora a família teve acesso ao corpo. Está sendo

instaurado inquérito. Vamos acompanhar o processo e, com a Comissão de Direitos

Humanos, cobrar providências junto à Justiça contra os donos da empresa. Eu

mesmo, quando lá estive, vi instrumentos de tortura, cortantes e palmatórias.

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Também foi encontrado vasto armamento na usina, utilizado para exterminar

trabalhadores rurais.

Portanto, essa investigação deve chegar a termo, sob pena de ficarmos

coniventes com esses métodos de violência e tortura, promovidos pelo latifúndio

incompetente e ladrão, que roubou cofres públicos e, mais que isso, tirou vidas

humanas e pensava que iria ficar eternamente impune. Finalmente, a verdade chega

à tona com a denúncia dos sem-terra que ocuparam aquela usina.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) – Obrigado a V.Exa.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Concedo a palavra ao nobre

Deputado B. Sá para uma Comunicação de Liderança, pelo Bloco Parlamentar

PSDB/PTB, pelo prazo de dez minutos.

O SR. B. SÁ (Bloco/PSDB-PI. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, vou sair um pouco desses tons exacerbados e

vou falar um pouco sobre Gaia. Os ufólogos e a NASA, apesar de todos os

instrumentos que têm utilizado em todo o mundo nos observatórios astronômicos,

não conseguiram ainda identificar sinal de vida inteligente em outro planeta além da

Terra.

De fato, estamos orbitando em torno da estrela Sol, que é tão-somente uma,

das 100 bilhões que existem na nossa galáxia, a Via-Láctea. Este planeta Terra, nos

últimos 500 milhões de anos, desde a Era Paleozóica até a Mesozóica, sofreu seis

cataclismos violentíssimos, que lhe acarretaram mudanças climáticas extremamente

rápidas, fazendo com que desaparecessem diversas espécies animais e vegetais, e

fossem surgindo outras.

O último desses grandes cataclismos, o sexto, teria acontecido há 65 milhões

de anos, quando uma chuva de meteoritos impactou a Terra na altura do Mar das

Antilhas, do Mar do Caribe, próximo à Península de Yucatã, no México. Disso

resultou, como já consabido através de estudos geológicos e paleontológicos, a

extinção dos dinossauros.

Sr. Presidente, faço todas essas observações exordiais para chamar a

atenção para o próximo cataclismo que está em evolução, afetando mortalmente o

planeta Terra e violentando a biosfera. Desta vez, diferentemente dos demais, que

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foram sempre fenômenos naturais, é provocado pela ação antrópica sobre a Terra.

A agressão ao meio ambiente tem evoluído, sobretudo nos últimos dois séculos,

quando os hidrocarbonetos residuais fósseis — o petróleo e, logo depois, o carvão,

o gás natural — e a multiplicidade de sua aplicação na indústria, nas máquinas de

um modo geral foram descobertos.

Todos têm contribuem de forma paulatina, cada vez mais intensa e rápida,

para aumentar a concentração de gases de difícil dispersão na atmosfera terrestre,

provocando o efeito estufa, que tem sido objeto principal de todas as conferências

sobre clima e meio ambiente no mundo, principalmente depois que as Nações

Unidas patrocinaram a Eco-92, sediada no Rio de Janeiro.

Em 1997, 186 nações do mundo inteiro assinaram um protocolo mediante o

qual, a partir daquele ano, começariam a ser desenvolvidas ações para reduzir a

emissão dos gases provocadores do efeito estufa. Esse protocolo, que ficou

conhecido como Protocolo de Kyoto, teria sua aplicação máxima entre os anos 2008

e 2012, quando se pretenderia conseguir a redução de pelo menos 55% da emissão

desses gases na fase da Terra.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, todos sabemos, já pelos resultados

que se vêem nos dias atuais, das alterações edafoclimáticas provocadas pelas

perturbações meteorológicas. Todos sabemos do prolongado efeito de secas, das

ações deletérias desenvolvidas e provocadas pelas chuvas torrenciais, as

inundações, e aquilo que se prevê de modo catastrófico como resultado do efeito

estufa para os próximos 100 anos, o degelo das calotas polares. Prevê-se a

ascensão de 90 centímetros a um metro das águas oceânicas, o que vai incomodar,

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seguramente, 70% da população terrestre, que se acumulam hoje nas proximidades

dos oceanos.

A tudo isso se tem chamado a atenção nos últimos dias, porque, do alto de

sua ação imperial, insensata e prepotente, o Presidente dos Estados Unidos,

George W. Bush, resolveu não cumprir o que está estabelecido no Protocolo de

Kyoto. Isto é grave para todos os países do mundo, principalmente para aqueles que

não são grandes responsáveis pela emissão de gases provocadores do efeito

estufa. Só os Estados Unidos respondem por 25% de toda a emissão de dióxido de

carbono na face da Terra a cada ano. E essa ação prepotente e insensata do

governo americano mereceu a pronta reação de dezenas de países do mundo,

inclusive da nossa Casa, na pessoa do Presidente Aécio Neves. Mas precisa ser

ainda mais repercutida, reverberada e trazida à luz para a plena consciência dos que

estão hodiernamente na face da Terra, mesmo porque é preciso acabar com essa

loucura, com a insensatez de achar que a vida na Terra se resume à existência dos

nossos dias.

Não! Quem aqui nos colocou, quem nos deu o dom da vida, quem

divinamente nos mostrou os caminhos da povoação deste planeta sabe, como todos

sabemos conscientemente, que somos apenas passageiros desse trem fabuloso

que existe nesta galáxia. Somos responsáveis não só pelas gerações que virão mais

adiante, mas também por aquela que daqui a pouco vai sofrer mais intensamente: a

dos nossos filhos e netos.

Portanto, Sr. Presidente, ficam aqui essas observações e esse chamamento.

Mais um que é feito desta tribuna contra essa atitude inconseqüente e insana

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perpetrada pela maior nação do planeta, que tem de voltar atrás e assumir de vez

aquilo que está estabelecido no Protocolo de Kyoto, pelo bem de toda a

humanidade, dos atuais habitantes da Terra e, sobretudo, dos pósteros.

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Concedo a palavra ao Deputado

Edinho Bez.

O SR. EDINHO BEZ (PMDB-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, desde o dia 3 de abril, a Caixa Econômica

Federal se tornou a patrocinadora oficial do atletismo brasileiro.

Em um ano, a Caixa vai investir 1,5 milhão de reais nas modalidades do

atletismo. Do total investido, 526 mil reais serão destinados diretamente a atletas e

treinadores selecionados pela Confederação Brasileira de Atletismo — CBAt a partir

de critérios técnicos. Trata-se de uma ajuda de custo mensal que irá beneficiar 72

desportistas, entre jovens talentos e atletas de alto nível.

De acordo com o contrato, até o final do ano a Caixa será a patrocinadora

oficial exclusiva das seleções brasileiras de atletismo. No mesmo período, a

empresa patrocinará os diversos eventos do calendário desportivo nacional. Entre

eles, estão os campeonatos brasileiros de juvenis e de menores, Troféu Brasil de

Atletismo, Grand Prix Internacional de Atletismo e campeonatos sul-americanos de

adultos e de milha de rua. Também está previsto o apoio à realização dos

campeonatos oficiais das federações estaduais de atletismo.

Somam-se a essas iniciativas o Programa Nacional Caixa de Jovens Talentos

e o Programa Caixa de Apoio a Atletas de Alto Nível, considerados essenciais na

formação e valorização dos desportistas. São esses programas que prevêem o

repasse mensal de recursos a atletas e treinadores, por intermédio da CBAt,

responsável pela seleção dos contemplados.

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O Programa Nacional Caixa de Jovens Talentos está diretamente voltado

para a conquista de títulos, por meio do treinamento e avaliação periódica de

cinqüenta atletas. A ajuda de custo a ser recebida por eles varia de 200 a 400 reais

por mês e será determinada pelo índice técnico de cada um. Ou seja, aqueles com

melhor índice recebem mais. Já seus treinadores irão dividir um total de 3,6 mil reais

mensais.

O Programa Caixa de Apoio a Atletas de Alto Nível, por sua vez, prevê ajuda

de custo a 22 integrantes do grupo de elite do atletismo brasileiro. O valor mensal

varia de mil a 2,5 mil reais, também de acordo com o índice técnico alcançado por

cada um deles. O total destinado aos treinadores será de 6 mil reais por mês.

Sr. Presidente, essas iniciativas devem ser enaltecidas, haja vista o pouco

incentivo dado pelo Governo Federal ao atletismo nacional, pois sabemos que temos

um grande potencial de atletas, que, por falta de ajuda, não se destacam.

Neste meu pronunciamento, parabenizo a Caixa Econômica Federal, na

pessoa de seu Presidente, Sr. Emílio Carazzai, e aproveito para pedir ao Governo

Federal um maior incentivo aos desportistas brasileiros.

Por último, Sr. Presidente, peço a V.Exa. que este discurso seja amplamente

divulgado pelos órgãos de comunicação da Casa.

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer.

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O SR. JOSÉ PIMENTEL (PT-CE. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente,

Sras. e Srs. Deputados, nesses primeiros cem dias do ano de 2001, no Estado do

Ceará, já tivemos 29 assaltos a bancos e a carros pagadores. Este é hoje o negócio

que mais cresce no Estado. A situação é tão assustadora, que chegamos a ter três

assaltos por dia.

Essas quadrilhas atuam no Estado como se fosse algo regular. A ousadia é

tamanha que, na última segunda-feira, dia 9, eles fecharam, no centro de Fortaleza,

duas ruas, seis quarteirões, e assaltaram, num único ato, cinco carros-fortes.

Metralharam o centro da cidade, os veículos, as portas dos bancos, e a Polícia não

consegue localizar ninguém. Esta é a grande dúvida.

Na quinta-feira anterior, na cidade de Iguatu, a quadrilha seqüestrou 36

pessoas, mulheres e parentes de funcionários do Banco do Brasil, da agência de

Iguatu. Uma criança de 10 meses de idade foi envolvida com explosivos para

convencer o pai a fornecer a senha do cofre do banco aos bandidos, que

ameaçavam explodir os artefatos.

Como o Estado consegue ter 29 assaltos em cem dias? Retirando-se o

carnaval, os demais feriados, os finais de semana, dá mais ou menos um assalto a

banco a cada dois dias.

Essas pessoas não são de outro planeta, são todas brasileiras. Por que a

Polícia não os identifica?

O segundo negócio que mais cresce no Estado do Ceará é a lavagem do

dinheiro do narcotráfico. Esse fato foi comprovado pela CPI do Narcotráfico. Quando

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analisamos os assaltos a bancos, vemos que guardam estreita relação com a

lavagem do dinheiro do narcotráfico em Fortaleza.

Perguntamos: onde está o Governo do Estado, que não age? Onde se

encontra o nosso aparelho policial, que não identifica os autores de tantos assaltos?

Num único dia, cinco carros-fortes foram assaltados no centro da cidade. Numa

operação que se fez no centro da cidade, balas voaram para todos os lados,

metralhou-se porta de banco, mas, no dia seguinte, constatamos que ninguém foi

preso. Isso é inaceitável.

Sr. Presidente, chegou a hora de efetivamente combatermos o crime

organizado neste País.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Peço um pouco de paciência à

primeira oradora inscrita para o Grande Expediente, a nobre colega Vanessa

Grazziotin. Dentro de mais alguns minutos S.Exa. assomará à tribuna, com a

competência que lhe é peculiar.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Concedo a palavra ao Deputado

Pedro Eugênio, que disporá de três minutos para seu pronunciamento.

O SR. PEDRO EUGÊNIO (Bloco/PPS-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mais uma vez venho à tribuna para falar da

SUDENE, órgão de desenvolvimento do Nordeste tão caro para todos que, como

V.Exa. que ora preside a sessão, somos do Nordeste e compromissados com as

coisas da nossa terra.

A SUDENE desempenhou, com certeza, importantíssimo papel no

desenvolvimento de nossa região. Os dados estão aí para indicar que houve

geração de emprego, diminuição de alarmantes índices de analfabetismo e

mortalidade infantil, crescimento do emprego industrial e da base industrial e dos

impostos a ela relacionados. Em tudo isso há o toque e a história dos programas

desenvolvidos pela SUDENE, em particular dos programas de incentivo do FINOR.

Desvios ocorreram no passado, como foi constatado pela CPI do FINOR, que nesta

Casa examina a questão e estabelece procedimentos que serão objeto de

proposições retificadoras.

Mas os problemas da SUDENE nem de longe têm alguma correlação com o

que acontece no norte do País, onde os desvios transformaram-se em regra e os

procedimentos corretos, em exceção, se é que ainda os há. Na SUDENE, órgão de

desenvolvimento da nossa região nordestina, ainda podemos pontuar os desvios,

combatê-los e mantê-la como autarquia, em defesa do desenvolvimento do

Nordeste.

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Entretanto, Sr. Presidente, a morte da SUDENE já foi anunciada. A Lei nº

9.532, ao tratar dos órgãos de desenvolvimento regional — e a SUDENE se inclui

nesse rol —, estabelece que em 2013 não haverá mais política desenvolvimentista

baseada em fundos de desenvolvimento, como o FINOR. Temos de nos insurgir

contra essa morte anunciada, erroneamente aprovada por esta Casa em 1997, e

principalmente contra a decisão do Sr. Ministro de extinguir a SUDENE e criar algo

novo. Não precisamos acabar com o que existe e criar algo novo. Precisamos, sim,

reformular a SUDENE e transformá-la num órgão mais dinâmico.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, queremos discutir tal projeto, que até

agora não apareceu. Precisamos conhecê-lo, para que esta Casa participe da

reformulação de que a SUDENE necessita, sem extingui-la.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. JORGE ALBERTO (PMDB-SE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na tarde de ontem, tive de falar muito

rapidamente a respeito da SUDAM, ao hipotecar solidariedade ao Ministro Fernando

Bezerra, por sua conduta moral. De certa forma, volto a abordar o assunto ao saber

que o requerimento de urgência urgentíssima foi arquivado pela Presidência da

Casa, na forma regimental, para manifestar meu desagrado e repúdio a todos esses

desvios de verbas de que diariamente tomamos conhecimento quando abrimos os

jornais para ler as últimas notícias. É desvio de verbas na SUDENE, no TRT, na

SUDAM, no INSS, enfim, por todos os lados.

Isso nos revolta porque estamos com os Orçamentos de 1999 e de 2001

pendentes, e não só as emendas individuais de Parlamentares, mas as emendas de

bancada, as emendas extra-orçamentárias e recursos da saúde. Agora, estamos

brigando para que, no Orçamento da União para 2001, a saúde não venha a perder

os recursos garantidos constitucionalmente, o que nos deixaria profundamente

revoltados.

Mais ainda, Sr. Presidente: quando procuramos os Ministérios, é uma luta

conseguir audiência com os Srs. Ministros. Há pompa exagerada na maioria deles.

Quando conseguimos, o que ouvimos é que não há dinheiro. Mas há dinheiro para

ser desviado de forma vergonhosa.

Por isso, venho a esta tribuna para manifestar meu repúdio a todos esses

fatos, da mesma forma que manifestei na tarde de ontem minha solidariedade ao

Ministro Fernando Bezerra, meu correligionário de partido e cidadão de bem. Quero

ver, sim, todos esses desvios rigorosamente apurados, e não só os detectados pela

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CPI do FINOR, no que diz respeito à SUDENE, mas também os que agora estão

sendo detectados na SUDAM. Que os moleques que participaram dessa farra com o

dinheiro público sejam devidamente punidos e colocados na cadeia. Essa é a

esperança que temos, eu e todo o povo brasileiro, que queremos ver a moralidade

instaurada no País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. REGIS CAVALCANTE (Bloco/PPS-AL. Pronuncia o seguinte discurso.)

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, morreu Tabita Miranda, D. Bita. E morreu

exatamente no dia 25 de março, quando o Partido Comunista Brasileiro, seu glorioso

partido, completava 79 anos de idade.

O grande poeta Ferreira Gullar, quando o mesmo PCB completava 60 anos,

escreveu em um de seus belos poemas que era impossível escrever a história do

Brasil durante aqueles sessenta anos sem citar por várias vezes o nome do nosso

partido. E D. Bita é dessas personagens que dão inteira razão ao poeta Gullar: é

impossível contar a história das lutas populares que travamos em Alagoas sem

colocar em relevo a bravura, o destemor e a ternura de D. Bita. Seus dois filhos já

mortos, o filho Anivaldo Miranda, atual Presidente do Partido Popular Socialista em

Alagoas — PPS, o herdeiro natural das glórias do Partidão —, e agora seus netos,

aí estão todos para confirmar o que dizemos.

Cada um de nós pode, em seu Estado, em sua cidade, tirar da lembrança um

militante que deu tudo de si para levar aos humilhados e ofendidos, aos que

estavam impedidos de falar, pela repressão ou pelo medo, uma palavra que, além

de carinhosa, era de estímulo e de empolgação, como que para levar a certeza a

cada um de que atrás de nuvem que nos cobre de sombra o sol brilha com todo

fulgor e de que, portanto, é necessário seguir lutando, para que sejamos dignos

dessa luz e desse calor.

D. Bita, Sr. Presidente, agora ocupa um lugar nesse espaço de onde

arrancamos nossas mais profundas memórias, a memória de lutas contra a

opressão e o arbítrio, as lutas que, nos subterrâneos da liberdade, travamos em

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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defesa dessa mesma liberdade por que tanto temos batalhado. Parece-nos que era

dela que Malraux falava, quando dizia: “E era uma mulher. Não um homem

qualquer. Outra coisa...”

A morte, que Manuel Bandeira chamava de indesejável de todos, os funerais,

essas solenidades todas podem, erroneamente, dar-nos uma sensação de fim, de

que tudo acabou. Não! Em hipótese alguma isto pode acontecer com D. Bita. Nem

ela o admitiria. Ao contrário, seu exemplo único de dedicação a uma causa, certa de

que nossa cidadania se irá fortalecendo ao ritmo mesmo dessas batalhas, tudo isso

nos terá de servir de exemplo e, mais que exemplo, de impulso para seguir lutando.

D. Bita gostava de citar o poeta Thiago de Mello. E agora, ao recordá-la,

percebo que aprendeu, com profundidade, a lição que nos ensinou o grande poeta

amazonense:

Como sou pouco e sei pouco

faço o pouco que me cabe

dando tudo o que me resta.

Essa é a nossa homenagem à D. Bita.

Muito obrigado pela atenção.

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O SR. NILMÁRIO MIRANDA (PT-MG. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há poucos dias o Governo anunciou o

lançamento do Programa Brasil Legal. Serão aplicados 700 milhões de reais em

favelas de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, com o objetivo de regularizar e

urbanizar essas áreas.

As três cidades apresentam sérios problemas urbanos, como a alta

concentração de favelas. Nada mais justo terem sido escolhidas. Mas chama-nos a

atenção o fato de apenas as três terem sido selecionadas, se há outras com igual

problema.

O jornal Estado de Minas de hoje noticia: “FHC fecha os olhos para as

favelas de Belo Horizonte”. Aliás, Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que esta matéria,

bem como a intitulada “Raio x da miséria”, seja publicada nos Anais da Casa.

Assim como Recife, Belo Horizonte apresenta imensa concentração de

favelas, com meio milhão de pessoas ali vivendo. A taxa de crescimento da Capital

mineira é de 0,5% ao ano, enquanto as favelas crescem 4% ao ano. O que esse

dado indica? Que a classe média e os trabalhadores estão abandonando os bairros

para morar nas favelas, em virtude da degradação das condições de vida do nosso

povo na década de 90, dessa absurda concentração de renda já registrada pelo

IBGE. No entanto, Belo Horizonte, com tudo isso, com 16% de desemprego, fruto do

modelo neoliberal, dessa brutal concentração de renda que aconteceu ao longo de

toda a década, foi excluída, bem como Recife e várias outras regiões

metropolitanas.

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Estou protestando contra essa situação e pedindo à bancada mineira, ao

Presidente da Casa, Deputado Aécio Neves, e a todos os Deputados do País que

questionem o critério que orienta o Programa Brasil Legal. Qual o critério de inclusão

ou de exclusão? Se há favelas em todas as regiões metropolitanas, por que

selecionar três, que efetivamente têm necessidade de investimentos federais, e

excluir outras? Se não tivermos uma explicação técnica e ponderada, nossa

suposição é de que há discriminação política entre Estados, há um critério

eleitoreiro, não técnico. O critério nesse caso é a necessidade do nosso povo. Os

critérios são outros, não são transparentes.

Dessa forma, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, deixo meu protesto e

peço ao Presidente Fernando Henrique Cardoso e ao Secretário Ovídio de Ângelis

que procedam a uma revisão e incluam as regiões metropolitanas que têm favelas

em situação igual à de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador e façam um programa

equânime, segundo as necessidades do nosso povo e não segundo critérios

eleitoreiros.

MATÉRIAS A QUE SE REFERE O ORADOR

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Inserir matérias Nilmário Miranda

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O SR. DAMIÃO FELICIANO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DAMIÃO FELICIANO (PMDB-PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente, nos próximos dias, discursarei da tribuna desta Casa para fazer

questionamentos sobre o dinheiro da Nação que está indo pelo ralo ou que está

sendo aplicado de maneira inadequada.

Veja bem, Sr. Presidente: 1 bilhão de reais da Nação estão evaporando. Com

essa quantia seria possível comprar 66 milhões de cestas básicas.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Concedo a palavra ao nobre

Deputado André Benassi.

O SR. ANDRÉ BENASSI (Bloco/PSDB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, esta Casa deverá, finalmente, aprovar os

projetos de lei que dispõem sobre o Regime de Previdência Complementar e a

relação entre as respectivas entidades públicas com a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, suas autarquias, fundações e sociedades de economia

mista. São os PLCs nºs 8 e 10, de 1999, emendados pelo Senado Federal e que

tratam de matérias relativas à reforma da Previdência.

As mudanças na previdência social no Brasil inserem-se entre as mais

importantes reformas estruturais em curso no País, sendo fator primordial à

reorganização das contas públicas e ao reequilíbrio orçamentário, com as quais se

criam as condições adequadas para a retomada do desenvolvimento nacional.

Sr. Presidente, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, as

novas regras previdenciárias nela contidas provocaram forte impacto sobre as

contas públicas brasileiras, antecipando a falência do modelo de repartição simples,

no que se refere à previdência dos trabalhadores do setor privado, e promovendo o

agravamento do déficit do setor público, em face da criação do Regime Jurídico

Único para os servidores, pelo qual milhares de empregados que contribuíam para o

regime geral e que se aposentariam pelas regras do INSS passassem, subitamente,

a se aposentar com proventos integrais lançados à conta da União, dos Estados e

dos Municípios.

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Em 1988, por exemplo, o INSS arrecadara 30,79 bilhões de reais, tendo pago,

em benefícios previdenciários, a quantia de 17,83 bilhões de reais, portanto,

registrando saldo positivo de 12,96 bilhões de reais — em valores de 1998. Até

1994, ainda se verificava equilíbrio entre receita e despesa, mas, após 1995,

iniciou-se o processo deficitário, que, em 1998, já se caracterizava por uma crise

profunda do sistema, quando os gastos superaram as receitas em 6,75 bilhões de

reais.

Enquanto a arrecadação crescera 51,8% nesse período de dez anos, as

despesas com benefícios aumentaram em 200%.

Já tramitava, no Congresso Nacional, a PEC encaminhada pelo Presidente

Fernando Henrique objetivando reestruturar a Previdência e conter o déficit do setor,

que aumentava sistematicamente.

Em dezembro de 1998, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 20,

instituiu-se a necessidade de vinculação entre contribuição e benefício, o que,

associado a outras medidas, garantiu equilíbrio financeiro e atuarial do fluxo do

sistema, embora o estoque de benefícios mantidos pela Previdência continuasse a

crescer a taxas superiores ao crescimento da base de contribuintes.

As contas da Previdência Social passaram, então, a experimentar sensível

melhora com a implantação das novas regras previdenciárias e em decorrência do

aumento do emprego formal e das receitas do INSS, desde meados do ano

passado.

A arrecadação do Regime Geral da Previdência Social, que compreende os

trabalhadores do setor privado, alcançou 4,62 bilhões de reais em janeiro último,

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superando em 17% os 3,95 bilhões de reais obtidos no mesmo mês do ano

passado. Na comparação do mesmo período, o déficit diminuiu 16,4%, caindo de

726 milhões de reais para 641 milhões de reais. Esse foi o resultado líquido devido

principalmente ao aumento do número de empregos na economia formal, pois mais

657 mil trabalhadores passaram a contribuir para o INSS, entre janeiro de 2000 e

janeiro de 2001.

Outros fatores que contribuíram para a redução do déficit foram o crescimento

dos pagamentos feitos por empresas vinculadas ao Programa de Recuperação

Fiscal — REFIS, que atingiram 41 milhões de reais; os depósitos judiciais de 71

milhões de reais, feitos por pessoas jurídicas que têm demandas contra a

Previdência Social; e a arrecadação do programa simplificado de pagamentos de

impostos (SIMPLES), que propiciou o ingresso de 231 milhões de reais, 10,9% a

mais do que em janeiro de 2000.

Houve, portanto, Sr. Presidente, um avanço considerável desde 1997, quando

cerca de 56% da população ocupada não contribuía para nenhum tipo de

previdência. Estes dados ressaltam, entre outros fatores, a importância e a

dimensão do mercado informal no País, bem como a necessidade de uma revisão

na estrutura tributária e um aperfeiçoamento na legislação trabalhista, visando ao

aumento dos incentivos à regularização dessas atividades informais.

Mas se as mudanças até aqui adotadas estancaram o processo crônico de

déficits crescentes diagnosticados no sistema previdenciário brasileiro, ainda não

equacionaram definitivamente o nível de gasto já estabelecido. O déficit anual do

INSS, entre 1999 e 2000, diminuiu de 1% para 0,9%, em relação ao Produto Interno

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Bruto — PIB. Entre janeiro de 2000 e janeiro de 2001, houve uma nova queda, de

0,88% para 0,70% do PIB, segundo dados oficiais, o que confirma a redução da taxa

de crescimento do déficit, mas não uma reversão da sua tendência. Tudo indica que

o desequilíbrio deverá continuar diminuindo nos próximos meses, mas não se deve

esquecer que os problemas de longo prazo, principalmente aqueles relacionados

aos servidores públicos, estão longe de uma solução.

Cabe repetir: não obstante os efeitos positivos do crescimento da atividade

econômica e do emprego, as atuais contas do INSS revelam que as mudanças já

realizadas não bastam para assegurar o equilíbrio futuro do sistema previdenciário,

que, no ano passado, arrecadou 55,72 bilhões de reais, contra um gasto de 65,79

bilhões de reais — 6,15% do PIB — mais do que o volume despendido pela União

com pessoal e encargos, cujo percentual, em relação ao PIB, foi de 5,2%, no mesmo

período.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os dados que ora registro nos Anais

da Casa demonstram claramente que toda a legislação até agora aprovada, embora

constitua um grande avanço, representa apenas o início de um processo de

mudanças pautado pela necessidade de correlação entre contribuição e benefícios,

associada ao aumento na transparência das contas.

Tornam-se indispensáveis a completa adequação do sistema previdenciário

ao novo perfil demográfico da população brasileira e o combate aos privilégios, à

sonegação e à fraude, para que todos os trabalhadores brasileiros possam desfrutar

dos direitos perante a Previdência Social.

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Assim sendo, cabe a esta Casa aprovar os projetos de lei complementar, que

se encontram na pauta, dispondo sobre a regulamentação da previdência

complementar, como também outras proposições que contribuam para se efetivar a

conclusão da reforma da Previdência, essa grande conquista da Nação graças à

firme determinação do Governo do Presidente Fernando Henrique.

Muito obrigado.

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O SR. WELLINGTON DIAS (PT-PI. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Sras. e Srs. Deputados, venho hoje a esta tribuna para registrar fato da maior

importância que ocorreu na Capital do meu Estado, Teresina.

É com muita alegria que registramos o fato de o Vereador Odaly Medeiros,

do nosso partido, o PT, ter apresentado projeto de lei na Câmara Municipal de

Teresina propondo a regulamentação, a concessão e o funcionamento das rádios

comunitárias pela Prefeitura Municipal de Teresina. Nosso Parlamentar municipal

baseou-se no art. 30, inciso I, da Constituição Federal, que determina que assuntos

de interesse local são de competência do Município.

Sr. Presidente, sabemos das dificuldades que esta Casa tem em examinar

todos do processos de concessão de rádios comunitárias que estão tramitando. São

quase 6 mil processos, que poderiam perfeitamente estar sob exame dos

Municípios. É isso que propõe o projeto defendido pelo Vereador Odaly Medeiros em

nosso Estado, o Piauí. Ele salienta ainda o fato de já haver decisões judiciais em

Minas Gerais, onde a Justiça Federal manifesta-se favoravelmente à

regulamentação das rádios comunitárias pelos Municípios.

É importante ressaltar que as rádios poderiam ser reguladas por lei

municipal e que a idéia do Vereador é a criação de conselhos municipais com

participação de vários órgãos da municipalidade, bem como entidades organizadas,

como, por exemplo, a associação das rádios comunitárias do Piauí. Como se vê,

não se pretende a ausência de regulação, mas tão-somente delegar poderes aos

Municípios para que cumpram a sua função constitucional, qual seja legislar sobre

os assuntos de interesse local. É com muita alegria que registramos a existência em

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nosso Estado de cerca de quatrocentas rádios comunitárias, sendo que deste

número 48 estão localizadas em Teresina.

Para aqueles que desconhecem o assunto, Sras. e Srs. Deputados, as

rádios comunitárias prestam um importante serviço nas comunidades onde atuam. A

rádio comunitária é o único veículo em que a comunidade faz e é notícia. É nela que

se pratica (ou se pode praticar) a democratização dos meios de comunicação.

Embora saibamos que nem sempre todas as emissoras cumprem com

compromissos éticos, a busca deve ser essa, a da ética, a do serviço à comunidade

onde atua, à inserção de elementos culturais da comunidade. A legislação, inclusive,

permite o aperfeiçoamento das emissoras através da intervenção da sociedade. É

isso o que nós defendemos, é assim que vemos uma verdadeira rádio comunitária.

Na verdade, Sr. Presidente, a meta maior do nosso partido é a

democratização dos meios de comunicação. Esta utopia buscada pelo PT

representa o anseio de uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Não

podemos negar que o modelo de comunicação que temos hoje no Brasil é

incompatível com a democracia. Na verdade, temos um projeto de democracia, não

uma democracia real, onde os meios de comunicação, a serviço das elites e dos

poderosos, estabelecem as regras, as leis, para que elas se mantenham no poder.

As rádios comunitárias, em busca de constante aperfeiçoamento, podem ser uma

pequena fresta de luz nessa selva onde o povo não tem vez, onde a política de

comunicação é ditada pelos poderosos.

Não se faz um país justo com alguns poucos ditando o que os brasileiros

devem saber, o que devem comer, o que devem vestir, o que devem consumir como

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produtos culturais. A outorga de concessões é feita pelo Estado, portanto, pela

União, em última análise, pela sociedade. Portanto, é um direito dessa mesma

sociedade estabelecer controle sobre os meios de comunicação. Entretanto, todas

as vezes que se tenta algum tipo de controle, não faltam vozes alegando que se

trata de censura, com o fim de escamotear a verdade dos fatos. A verdade é que a

postura de controle é legítima diante do imenso poder concedido pelo Estado a

empresários privados.

Nesse contexto de dificuldade de estabelecer um modelo democrático de

comunicações em nosso País, a iniciativa de nosso Vereador Odaly, em Teresina,

deve ser aplaudida, pois as rádios comunitárias podem perfeitamente suprir parte da

necessidade de informação, cultura e entretenimento de nossa sociedade.

Sr. Presidente, registro audiência que vamos ter com o Vice-Presidente,

quando pediremos a S.Exa. apoio para fecharmos acordo dos trabalhadores da

Caixa Econômica Federal.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.

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O SR. RENILDO LEAL – Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. RENILDO LEAL (Bloco/PTB-PA. Pela ordem. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente, passo à Mesa projeto de resolução para criar o Grupo Parlamentar

Brasil–Panamá, pela importância estratégica daquele país, que é corredor da

exportação brasileira.

Esperamos que possa haver maior interação entre os Parlamentares, a fim de

desenvolver-se intercâmbio entre os dois países.

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Tem a palavra a nobre Deputada

Maria Abadia.

A SRA. MARIA ABADIA (Bloco/PSDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em meio a tantas denúncias, a tantas brigas

partidárias nesta Casa, sinto-me no dever, como Vice-Líder do PSDB, de ocupar

esta tribuna para registrar minha solidariedade, meu apoio ao Presidente Fernando

Henrique e para falar ao povo brasileiro, ao povo de Brasília sobre as providências e

os programas que estão sendo implantados pelo nosso Presidente.

Toda a sociedade brasileira clama por providências para o combate à

violência, ao crime organizado, ao tráfico de drogas. É neste momento que o

Presidente, atendendo ao clamor popular, consolida ações através do Programa

Nacional de Segurança Pública.

Nesta terça-feira, em Formosa, Goiás, localizada no Entorno de Brasília, o

Presidente Fernando Henrique e o Ministro da Justiça, José Gregori, entregaram

590 viaturas adquiridas com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para

vinte Municípios de Goiás e do Entorno, entre eles Águas Lindas, Cristalina, Novo

Gama, Valparaíso, Santo Antônio do Descoberto, locais conhecidos nacionalmente

pelo alto índice de criminalidade.

Presentes à solenidade os Governadores de Goiás, Marconi Perillo, e do

Distrito Federal, Joaquim Roriz.

Quero registrar também o empenho e o compromisso do Governador Roriz no

combate à marginalidade e ao crime no Distrito Federal e no Entorno. Durante o

"Governo Itinerante", por uma semana, em Ceilândia, S.Exa. entregou à Polícia Civil

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e à Polícia Militar viaturas para melhoria da segurança em Ceilândia, cidade também

conhecida como violenta. E, numa única noite, foram presos em Ceilândia 41

marginais de alta periculosidade, portando armas pesadas.

Convênios foram assinados entre os dois Governantes, de Goiás e do Distrito

Federal, para que, numa ação conjunta, o crime e a marginalidade sejam

combatidos de forma eficaz e eficiente no Distrito Federal, no Entorno e nos

Municípios mais violentos, garantindo a tão almejada paz em nossas cidades.

São o Governo Federal agindo com determinação e coragem e os

Governadores do Distrito Federal e de Goiás adiantando na aplicação de ações

concretas, num esforço e compromisso nunca vistos.

Muito obrigada.

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O SR. FERNANDO GONÇALVES (Bloco/PTB-RJ. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, recentemente, estive em

audiência com o Ministro dos Transportes, levando justa reivindicação das

populações dos Municípios de Japeri e Queimados, na Baixada Fluminense, qual

seja a construção de um viaduto que permita adequado acesso à Via Dutra e,

conseqüentemente, à Capital e a outras localidades do Grande Rio.

Queimados e Japeri, Sr. Presidente, são Municípios bastante populosos. O

primeiro possui 100 mil habitantes, dos quais 60 mil se encontram no Distrito de

Engenheiro Pedreira. Queimados conta com uma população de aproximadamente

110 mil pessoas. São localidades cuja economia depende fundamentalmente de

melhores condições de infra-estrutura na área industrial, o que pressupõe,

obviamente, obras no setor de transporte que venham facilitar o escoamento da

produção e o intercâmbio comercial.

Referida obra do viaduto de acesso constitui uma obrigação da

concessionária Nova Dutra, com a qual fiz gestões a respeito da grande

necessidade de atendimento, obtendo de sua direção o compromisso de que sua

realização irá ocorrer nos exercícios de 2003 e 2004.

Evidentemente que tal resposta da Nova Dutra não foi satisfatória diante dos

argumentos por mim apresentados, em nome daquelas comunidades, e uma vez

que se trata de um período muito longo para a definição de obra que considero

urgente. É importante considerar, Sr. Presidente, que muitos problemas ocorrem

diariamente para as populações de Japeri e de Queimados, por falta do mencionado

viaduto. São transtornos muito grandes, por exemplo, para um deslocamento de

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urgência, em caso de doença; são atropelamentos que acontecem, por falta de

segurança na travessia de pedestres naquela movimentada rodovia.

Estou insistindo junto ao Ministério dos Transportes por uma solução a curto

prazo, pois embora tivesse recebido a promessa do Ministro Eliseu Padilha de que

iria fazer gestões junto à Nova Dutra visando agilizar o processo de realização, até o

momento não se concretizou referido compromisso.

Daí o presente registro sobre essa luta que mantenho permanentemente, em

favor de Japeri e Mesquita, pela realização de tão justa reivindicação de ordem

econômica e social e para o desenvolvimento dessas duas importantes

comunidades da Baixada Fluminense.

Os distritos industriais que se instalam em Japeri e Mesquita só irão

consolidar-se e representar um grande benefício para toda a região quando

realmente se realizar o projeto do viaduto, na altura do extinto Posto/Restaurante Zé

do Pipo, em Engenheiro Pedreira.

Era o que tinha a dizer.

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O SR. ARY KARA (PPB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a mulher brasileira vem assumindo,

gradativamente, papel de grande relevância na sociedade de nosso País. Em todos

os setores da vida nacional, essas verdadeiras guerreiras têm-se destacado pela

pujança, pela graça e, sobretudo, pela competência com que exercem os seus mais

variados afazeres.

É deveras agradável observarmos a maneira zelosa com que as mulheres

desempenham suas múltiplas atividades, encarando as mais variadas tarefas com

invejável senso de responsabilidade, demonstrando a competência de quem quer

ocupar, de fato e de direito, o seu espaço na sociedade.

Nas escolas, no comércio, na indústria, no campo, nas profissões liberais, em

suma, onde quer que estejam desenvolvendo suas tarefas, elas atuam com

desenvoltura, deixando-nos entrever a sua ferrenha vontade de vencer,

independentemente das adversidades, que são muitas, em um país onde sobreviver

já se tornou uma verdadeira arte do improviso.

Além de tudo, ainda tendo que se haver com os compromissos domésticos,

que não são fáceis de ser levados a termo, como cuidar da casa, acompanhar os

deveres escolares dos filhos, preparar a comida, etc., as mulheres suplantam com

galhardia as dificuldades dessa jornada dupla.

Por tudo isso, queremos neste momento cumprimentar e nos congratular

com todas as mulheres brasileiras, pelo transcurso, no próximo dia 30 de abril, do

Dia Nacional da Mulher. Parabéns a você, mulher, mãe, dona de casa, estudante,

trabalhadora, pela sua luta e pelas suas conquistas sociais, no sentido de que

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tenhamos uma sociedade mais justa e mais igualitária, em que direitos e deveres

sejam iguais para todos, independentemente de sexo, cor, idade, religião.

Parabéns, mulher brasileira!

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O SR. LUIZ BITTENCOURT (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há poucos dias, ocupando a tribuna, tratei

da questão do reflorestamento, e, particularmente, abordei o fato de que Goiás ainda

possui em cerca de 20% de sua área cobertura nativa, porém mal distribuída. Faço

referência, na tarde de hoje, ao Programa Nacional de Florestas, que, lançado pelo

Ministério do Meio Ambiente em outubro do ano passado, gerou expectativa de

expansão significativa da base florestal existente no País, o que implicará maior

disponibilidade de matéria-prima para as indústrias e para exportação.

A meta é de que o plantio anual de florestas pule dos atuais 170 mil hectares

para 630 mil hectares. O engenheiro florestal Eduardo Freitas Machado,

coordenador técnico do programa, afirma que, entre outras coisas, está sendo

negociada com os agentes financeiros a adequação de recursos já disponibilizados

para o incremento dos reflorestamentos. Outro trabalho seria estimular as parcerias

entre empresas que utilizam a matéria-prima madeira e os pequenos produtores

rurais, que teriam garantia de mercado para os plantios que realizassem. Os

investimentos no setor são muito importantes, uma vez que a atividade responde por

cerca de 5% do PIB brasileiro e por 8% das exportações nacionais. Além disso, gera

cerca de 1,6 milhão de empregos diretos, 5,6 milhões de empregos indiretos e uma

receita anual de R$20 bilhões, recolhendo o setor, somente de impostos,

anualmente, aos cofres públicos, mais de R$3 bilhões.

Quero referir também que, recentemente, foi anunciado que na região goiana

da Chapada dos Veadeiros seria implantado mais um corredor ecológico brasileiro, o

quarto entre os já em andamento (a saber, Araguaia—Bananal, Guaporé—Itenez e

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Pantanal). É verdade que o WWF, uma das maiores organizações ambientalistas do

mundo, divulgou estudo mostrando que o cerrado brasileiro — 23% do território

nacional — já tem 80% de sua área ocupada por atividades humanas; apenas 20%

estariam ainda preservados, e, desses 20%, uma fração mínima de 0,85% estaria

em unidades de conservação. Essa estimativa é até otimista, pois já em 1997 o

Ministério da Ciência e Tecnologia, junto com o Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais, publicava outro estudo, afirmando, com base em imagens de 1993 do

satélite Landsat, que só 17% da área total do cerrado não apresentavam qualquer

espécie de atividade humana, 58% estavam "fortemente antropizados" e 25%

"antropizados".

Chamo a atenção para esses dois problemas relevantes do Brasil, o do

reflorestamento e o do cerrado, lembrando que o WWF, depois de descrever os

impactos, sugere:

1) adoção de melhores práticas agropecuárias;

2) manejo sustentável dos recursos naturais;

3) ampliação do total de áreas protegidas;

4) criação de linhas de financiamento adequadas;

5) adoção e aprovação do zoneamento ecológico-econômico em nível

estadual; 6) implantação das reservas da biosfera do cerrado e do Pantanal.

O ambientalista Washington Novaes insiste em dizer que passa da hora de

cada um assumir, no cerrado e fora dele, os custos ambientais que a

atividade humana gera, pois sem isso todas as políticas continuarão a

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esconder informações essenciais, o que costuma levar à injustiça e/ou ao

malogro.

O Estado de Goiás tem muito a fazer, principalmente no campo do

zoneamento ecológico-econômico, atuando na expansão da fronteira agrícola no

cerrado.

Passo a tratar de outro assunto, Sr. Presidente.

A cidade de Goiás é candidata ao título de Patrimônio Histórico da

Humanidade, e a legislação ambiental determina que toda atividade econômica que

possa causar danos ao patrimônio cultural, principalmente quando há intervenção no

solo, seja acompanhada por uma equipe de arqueólogos. As escavações na antiga

Vila Boa tiveram início em julho do ano passado, quando a Companhia Energética

de Goiás, a Saneamento de Goiás S.A. e a Brasil Telecom iniciaram os trabalhos de

modificação e ampliação de suas redes no respectivo sítio urbano. Descobriu-se

então que os moradores da cidade de Goiás guardam um vasto tesouro escondido

embaixo das ruas, um tesouro que se compõe de cerca de 54 mil porcelanas,

cerâmicas, talheres e uma série de outros objetos, ou de fragmentos deles,

produzidos nos séculos XVIII e XIX.

As escavações foram iniciadas para a instalação das redes subterrâneas de

esgoto, telefonia e energia elétrica, e o conjunto de objetos encontrados é o

resultado preliminar de uma pesquisa feita sobre esses materiais, que traz

conclusões reveladoras sobre a história cultural, econômica, social e tecnológica de

Goiás. As arqueólogas Gislaine Valério de Lemos e Hellen Batista Carvalho

procuram objetos que possam ter sido fabricados ou utilizados pelas gerações que

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vêm ocupando Goiás desde 1750. Quando algum material é detectado, as obras são

interrompidas, a fim de que se faça a coleta da amostra para análise. A partir de

detalhes como o desenho contido nos pedaços de louças e porcelanas, o local onde

essas peças foram fabricadas e a quantidade de fragmentos desse tipo encontrados

numa mesma área, as arqueólogas constataram que, ao contrário do que muitos

historiadores acreditam, Goiás não foi tomada pela decadência material e pelo

isolamento cultural no final do ciclo da mineração. O número expressivo de peças de

porcelana inglesa, francesa e portuguesa do século XIX mostra que as famílias que

viveram ali fizeram questão de estar em contato com o que havia de mais caro e

refinado na Europa, assim como ocorria na Corte Imperial, no Rio de Janeiro.

A descoberta desse raro sítio urbano na antiga capital do Estado de Goiás foi

assunto de uma reportagem publicada em O Popular pela jornalista Fabrícia Hamu,

que obteve acesso com exclusividade ao conjunto de objetos encontrados,

sobretudo os localizados nas escavações da Casa de Fundição de Ouro. É curioso

ressaltar que, entre os vestígios, existe a base de um pequeno recipiente, uma

espécie de tigela de faiança chinesa do século XVIII, objeto do qual só há dois

outros exemplares iguais, um em São Paulo, outro na Bahia; são raridades que as

famílias importavam para garantir o respectivo status social. Quem analisou essa

peça foi a arqueóloga Maria Lúcia Pardi, da 14ª Superintendência Regional do

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ela estudou também

fragmentos de cerâmica de 200 anos encontrados em ruas mais pobres,

demonstrando que esse material, fabricado na região, foi assimilado por todas as

classes sociais dos séculos XVIII e XIX.

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Também chamaram a atenção das arqueólogas Hellen Batista Carvalho e

Gislaine Valério de Lima as estruturas fabricadas a partir da pedra-sabão e utilizadas

para a construção de redes de encanamento de água no início do século XIX. Os

canos aproveitavam o declive do terreno e levavam a água da área mais alta para a

parte mais baixa da cidade, um sistema engenhoso e interessante, nunca visto em

séculos passados, e tão viável e eficiente que a Companhia de Saneamento Básico

de Goiás decidiu aproveitar o caminho já trilhado e instalar seus canos ao lado

desse sistema de pedra-sabão. Essa é, sem dúvida, uma prova de que a sociedade

da época era extremamente inteligente e criativa, capaz de produzir soluções

regionais para um problema mundial, segundo avalia a arqueóloga Maria Lúcia

Pardi, que ressalta ainda a preocupação demonstrada pela população com a

higiene, típica do século XIX, tempo em que havia muitas epidemias e pestes. Havia

então grande interesse na qualidade da água e da comida, e a sociedade passou a

investir mais nos cuidados corporais. Nesse sentido, a mesma criatividade usada

para a fabricação do encanamento era utilizada para a fabricação de escovas de

dente, produzidas a partir de ossos polidos.

Outra constatação importante das arqueólogas é a de que o sítio, isto é, a

porção de território que contém vestígios de passagem, uso e ocupação humana em

determinada época, vai muito além do Centro Histórico. O interesse em preservar

esse patrimônio da antiga Vila Boa está sendo redobrado porque se trata, sem

dúvida, de um sítio muito raro no Brasil, pois praticamente não há outra cidade cuja

ocupação tenha o tamanho estratégico para ser pesquisada — nem muito grande,

nem muito pequena — e ainda esteja tão preservada como Goiás.

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É de se louvar, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o trabalho que, na

cidade de Goiás, vêm realizando as arqueólogas Gislaine Valério de Lima, Hellen

Batista Carvalho e Maria Lúcia Pardi, sobretudo neste momento em que a UNESCO

se prepara para, na Finlândia, em junho próximo, examinar os requisitos exigidos

para que a cidade de Goiás seja proclamada Patrimônio Histórico e Cultural da

Humanidade. O referido organismo da ONU já recebeu toda a documentação

necessária para adotar a decisão final, e aceitou oficialmente a candidatura da

antiga Vila Boa, de fato um dos mais importantes sítios arqueológicos urbanos do

Hemisfério Sul, uma cidade que, inquestionavelmente, merece o título que vem

pleiteando, sob o aplauso e a expectativa de toda a população do meu Estado natal.

Sr. Presidente, muito consternado e lamentando profundamente, venho à

tribuna também para comunicar o falecimento, em Goiás, do engenheiro Manoel

Demóstenes Barbo Siqueira, um homem público que prestou ao meu Estado bons e

assinalados serviços, deixando às gerações futuras um legado de extrema devoção

aos interesses do povo. Ele faleceu no Hospital Samaritano de Goiânia aos 91 anos

de idade, vítima de problemas cardiorrespiratórios, e foi sepultado no Cemitério

Jardim das Palmeiras, depois de um velório ao qual compareceram políticos,

empresários, autoridades civis e pessoas de todas as camadas sociais, além de

amigos e companheiros de atividades profissionais.

O extinto foi um político de atuação muito intensa na vida pública de Goiás.

Deputado estadual, projetou-se na Assembléia Legislativa como um orador de

grandes recursos tribunícios, um Parlamentar de rara habilidade no debate de

assuntos relativos ao desenvolvimento econômico e ao progresso social do Estado,

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de raciocínio ágil e sólida formação cultural. Diplomou-se em Engenharia Civil e

Minas pela Escola de Ouro Preto, foi presidente da UDN e pertenceu ao grupo de

técnicos que organizou e instalou as Centrais Elétricas de Goiás, tornando-se mais

tarde um dos diretores da empresa. Exerceu o cargo de Prefeito de Anápolis e fez

uma administração progressista e modernizante, realizando obras de vulto no

perímetro urbano e na zona rural.

Pessoa estimada em Goiânia, era casado com Elsa de Castro Barbo e tinha

seis filhos, um dos quais já falecido. Militando na política, participou de memoráveis

campanhas eleitorais, exerceu importantes cargos na administração estadual,

especializou-se no estudo de problemas técnicos e científicos ligados à informática e

à eletrônica, foi dirigente de órgãos influentes da iniciativa privada e uma voz

altíssima em defesa dos interesses goianos junto aos conselhos da República.

Representou Goiás em diversos congressos internacionais de sua área de Minas e

Engenharia Civil, foi conferencista em simpósios universitários e por várias vezes

ocupou a cátedra do ensino superior em nossa comunidade acadêmica.

O engenheiro Manoel Demóstenes Barbo Siqueira fez parte de uma brilhante

geração de políticos goianos entre os quais estão nomeados homens públicos, como

Alfredo Nasser, Senador e Ministro da Justiça, José Fleury, médico e Deputado

federal, Camargo Júnior, Joaquim Gilberto, Guimarães Lima, Gerson de Castro

Costa e Benedicto Vaz, os dois últimos Deputados que honraram esta Câmara

Federal como lídimos porta-vozes de Goiás, o primeiro deles autor do projeto de

criação da Universidade Federal do meu Estado, intelectual respeitado pelos

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círculos culturais e Parlamentar de bastante relevo nesta Casa do Congresso

Nacional.

Além do mais, cabe lembrar que foi o engenheiro Manoel Demóstenes Barbo

de Siqueira um entusiasta da mudança do Distrito Federal para Brasília, tendo

colaborado com o Presidente Juscelino Kubitschek e o Governador José Ludovico

de Almeida nos primeiros episódios da localização da sede do governo no Planalto

Central. Sobre o assunto, escreveu um livro que é considerado hoje um valioso

documentário histórico, bastante ilustrativo para quantos queiram conhecer todos os

lances da luta mudancista. Esse livro também é um repositório de estudos sobre as

características da região de Brasília, eis que apresenta, em linguagem simples e ao

mesmo tempo técnica, aspectos da geografia, da geologia, da ecologia e do meio

ambiente do sítio onde está a nova Capital da República.

Falo com pesar, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, sobre a morte do

engenheiro Manoel Demóstenes Barbo de Siqueira, que foi um notabilíssimo goiano,

cuja vida esteve diuturnamente a serviço do meu Estado natal. Político, homem de

empresa, técnico de profundos conhecimentos na sua área de atuação profissional,

diligente em suas iniciativas, talentoso, convicto democrata e defensor das

liberdades civis, ele deixou uma história de vida que as novas gerações certamente

saberão louvar e respeitar. Assim, faço consignar nos Anais da Casa minha

consternação pelo desaparecimento desse ilustre goiano de tradicional família, que

já tem o seu nome inscrito nas páginas dos livros nos quais figuram os mais insignes

expoentes que honraram e dignificaram meu Estado e o Brasil.

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Sr. Presidente, aproveito ainda esta fala para comunicar que a Universidade

Federal de Goiás, com base em um curso de extensão, está lançando um livro e um

vídeo sobre Direitos Humanos com o objetivo de mudar o cenário de violência e

desrespeito às liberdades e garantias individuais no Brasil.

Sabe-se que crianças e adolescentes, negros, mulheres, homossexuais,

travestis, idosos e portadores de necessidades especiais formam a maioria da

população, mas, contraditoriamente, são denominados "minorias", porque são

cidadãos cujos direitos humanos são ignorados. A UFG, pensando nessa triste

realidade, deu origem ao curso de extensão sobre Direitos Humanos e Cidadania,

uma iniciativa que visa mudar o quadro de constante violação às garantias

individuais consagradas pela Constituição. O livro e o vídeo são produtos das

reflexões feitas pelos professores e alunos do curso de Direitos Humanos, tendo

sido o respectivo material financiado pela UNESCO para ser distribuído à

comunidade acadêmica e a instituições culturais. O prefácio do livro é assinado pelo

ex-Deputado Pedro Wilson Guimarães, atual Prefeito de Goiânia, Parlamentar que,

na Sessão Legislativa do ano 2000, presidiu com muito brilho, nesta Casa, a

Comissão de Direitos Humanos.

Conforme a Pró-Reitora de Extensão e Cultura da UFG, professora Ana Luiza

Lima Sousa, o programa nasceu diante da necessidade da comunidade acadêmica

de discutir o tema com maior profundidade. Além disso, o projeto reuniu o trabalho

de diversos órgãos da Universidade que já realizavam atividades, estudos e

pesquisas na área de Direitos Humanos, como o Museu Antropológico, as

Faculdades de Medicina e de Direito, a Rádio Universitária e o Núcleo de Estudos

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da Criança e do Adolescente. Considerou-se também a obrigação da Universidade

de se colocar à disposição da sociedade para consolidar uma cultura de direitos

humanos.

O curso, que é aberto à comunidade em geral, pretende formar alunos

comprometidos com a implementação de uma cultura de defesa dos direitos

humanos em suas áreas de atuação. O programa, ligado à Pró-Reitoria de Extensão

de Cultura, funciona no Museu Antropológico da UFG. No ano passado teve a

duração de 60 horas e atendeu a 60 alunos. Para este ano de 2001 está prevista a

reedição do curso, mas os critérios de seleção não estão ainda definidos, embora já

tenha sido estabelecido que, na distribuição das vagas, será contemplado um

representante de cada organização não-governamental.

Cumpre ressaltar que, em cada módulo do curso, serão feitos estudos

específicos sobre os direitos humanos e sua contextualização histórica, além da

análise das garantias dos direitos na legislação brasileira, incluindo instrumentos

práticos, de fácil acesso para a população. Inclui-se, do mesmo modo, o debate

sobre a veiculação da violência e da violação dos direitos humanos pelos meios de

comunicação. Também a questão racial será objeto de debate, sobretudo no Brasil,

em particular a atividade registrada com os movimentos negros de todo o mundo. A

cidadania de homossexuais e travestis em nosso País, bem como o preconceito e a

dificuldade da sociedade de reconhecer os atributos humanos desses grupos,

constituirão temas de relevância na respetiva programação.

Palestras especiais serão proferidas, na discussão do preconceito e da

discriminação contra a mulher e de como essa temática é tratada pela mídia. Consta

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ainda do programa a problemática da marginalização, da exclusão e da violência

contra crianças e adolescentes, e a linha de estudo sobre os idosos, com enfoque

especial para a destruição da imagem da velhice. Nesse particular, ocupa destaque

a projeção do idoso como cidadão pleno de direitos que devem ser respeitados em

quaisquer circunstâncias.

Congratulo-me com a Universidade Federal de Goiás por essa iniciativa, sem

dúvida da maior relevância para a conscientização quanto aos direitos humanos e

para a exigência do respeito às garantias individuais enunciadas em dispositivos da

Constituição Federal. É um assunto que pode e deve sempre figurar nos programas

do ensino universitário, e talvez até nas escolas de ensino médio, pois a dignidade

da pessoa humana, inalienável nos seus direitos, é uma constante da democracia,

firmada na lei, na justiça e no Estado de Direito.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer nesta oportunidade.

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O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PSDB-PR. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o aniversário de uma cidade deveria ser sempre

uma festa para seus filhos, pela alegria da cidadania bem vivida e bem

compartilhada. Uma cidade que é verdadeiramente a casa do cidadão, da cidadã, de

todos, enfim, sem nenhuma discriminação, merece esse título de "cidade", e pode

festejar.

O aniversário de Curitiba conduz-nos a uma reflexão sobre o momento que

vivemos.

Nossas grandes cidades caminham, e rapidamente, rumo à desumanização,

com episódios até de embrutecimento, de massacre da cidadania, de condução das

pessoas ao desespero e ao medo, à perda do gosto pela vida, que perde também,

em qualidade, em leveza e em equilíbrio.

Os noticiários colocam diante dos nossos olhos, todos os dias, as cenas

dessa tragédia que se apresenta, quantitativamente, mais grave do que uma guerra

declarada. Uma guerra surda, não declarada, mas evidente, destrói mais vidas e é

mais maléfica que aquela declarada, com tempo marcado para terminar.

Que objetivo tem essa guerra das nossas cidades?

E não quero limitar o conflito aos fatos violentos e criminosos que já

configuram o absurdo. Quero estendê-lo à marginalização de imensas legiões de

pessoas que sobrevivem nos centros urbanos, tendo como chão a própria rua ou um

barraco às margens da cidade, sem as mínimas condições de vida com dignidade.

Maior e mais cruel o fato quando atinge nossas crianças. A exclusão tem ainda

outras muitas formas igualmente graves, a manchar a fronte de nossas cidades: a

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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tragédia do desemprego e do subemprego, a via sacra em busca de uma atenção à

saúde, de uma oportunidade de educação e de lazer sadio e possível.

Quando concluímos que é na cidade que vive a pessoa, ou que é na cidade

que ela sobrevive ou, às vezes, vai morrendo devagar, todo dia um pouco, devemos

concluir também que o País deve dar às suas cidades todas as condições para que

elas possam cumprir com esse seu papel sagrado — ou então o País estará contra

o seu povo, desconsiderando a dignidade humana e o sentimento de Pátria.

Para nós, delegados de nossas cidades para criar os instrumentos legais

para que elas possam assumir tudo aquilo que delas se espera, o desafio é sempre

imenso e deve estar sempre presente em todas as nossas decisões. O princípio é o

de que o homem está ligado à sua terra, pisa o chão de sua cidade e só ali poderá

realizar-se como pessoa e retribuir à coletividade positivamente. Caso não possa

atingir isso, degrada-se o ser e, em revolta, agride os outros e destrói a cidade.

Curitiba, a cidade sorriso, tão decantada pelos seus jardins, suas flores,

suas belezas, seus monumentos, seus parques, suas avenidas e seu transporte, é,

sim, uma cidade que busca construir aquele ideal de cidade acolhedora e justa,

humana e ecologicamente correta. Muitos de seus filhos, e já há muitos anos, vêm

ajudando a construir esse modelo. Mas ela não está livre do ataque de todos os

problemas mencionados e presentes em todas as cidades grandes e médias, e já

também nas pequenas.

Construir a cidade significa não esquecer detalhe algum e priorizar aquelas

condições que dão base para que o cidadão possa qualificar-se para uma

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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verdadeira cidadania e participação co-responsável e solidária: educação, saúde,

trabalho, moradia e lazer.

Como cidadão curitibano, eu quero desejar à minha cidade, no dia de seu

aniversário, que ela seja sempre uma cidade humanizada e humanizada, que ela

seja sempre acolhedora dos irmãos brasileiros e de todo o mundo, que ela difundia

justiça e solidariedade, que ela aprofunde sempre mais a política do bem comum e

ajude seu povo a crescer cultural e politicamente, que ela possa vencer, sempre e

mais, todas as discriminações; enfim, desejo que Curitiba possa ajudar este País a

ser, como a cidade, um lugar de cidadãos felizes.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. VICENTE CAROPRESO (Bloco/PSDB-SC. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, as lideranças catarinenses

aguardam com grande expectativa a audiência da bancada de Santa Catarina no

Congresso Nacional, do Governador Esperidião Amin e do Vice-Governador Paulo

Bauer com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, marcada para a próxima

terça-feira.

O tema principal do encontro é o contingenciamento de verbas no Orçamento

da União, que prejudica consideravelmente os investimentos do nosso Estado. Essa

é uma questão que está mobilizando todos os catarinenses. Entre os projetos

prejudicados estão os relativos às Rodovias BR-470 e BR-280, fundamentais para o

desenvolvimento das regiões que atravessam.

A BR-280, em particular, Srs. Parlamentares, é objeto de preocupação das

principais lideranças da minha região. Foram vários os esforços já feitos para a

duplicação daquela estrada federal, prevista no Plano Plurianual 2001-2003 graças a

emenda de minha autoria, aprovada no ano passado. É necessário, porém, incluí-la

no Orçamento da União e agilizar o início das obras. A cada dia a situação fica mais

difícil. São inúmeros os casos de acidentes graves, com mortes, sem falar nos

problemas causados pelo grande afluxo de veículos e no reflexo sobre a vida

econômica da região, tendo em vista as dificuldades para o transporte de cargas e

para o acesso ao Porto de São Francisco.

Estamos confiantes de que o Presidente Fernando Henrique Cardoso estará

sensível aos anseios da população catarinense, que sempre contribuiu efetivamente

para o desenvolvimento do País.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Aliás, sensibilidade não tem faltado ao Governo Federal, acusado

injustamente pela Oposição de não fazer investimentos na área social. Afinal, para

que servem a Bolsa-Escola, a merenda escolar, o FUNDEF, o PROEP e o Programa

de Saúde da Família, entre outras iniciativas desenvolvidas nos últimos anos pelo

Governo Fernando Henrique? Será que a Oposição imaginava que todos os

problemas acabariam no Brasil em seis anos?

O Brasil e o meu Estado, Santa Catarina, têm dado bons exemplos de

desenvolvimento, tanto na área econômica quanto na social. E é dever de todo

socialdemocrata, como eu, conciliar esses dois crescimentos. Mas não existem

milagres.

Estou convicto de que estamos no caminho certo, na busca incansável da

justiça social e da estabilidade política e econômica de nosso País. E é nesse clima,

não eufórico, mas realista, que aproveito a oportunidade para desejar a todos os

Parlamentares e aos funcionários da Casa uma feliz Páscoa.

Era o que tinha a dizer.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Salatiel Carvalho) - Passa-se ao

V - GRANDE EXPEDIENTE

Concedo a palavra à Sra. Deputada Vanessa Grazziotin, do Bloco

Parlamentar PSB/PCdoB.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB-AM. Sem revisão da

oradora.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Deputados, companheiros e companheiras,

volto a esta tribuna para falar de assunto que tem sido alvo de pronunciamentos da

maioria dos Parlamentares que se têm manifestado nos últimos dias ou nos últimos

meses no plenário deste Poder.

Venho mais uma vez falar sobre os problemas da SUDAM, que, infelizmente,

vem se revelando um mar de lama de corrupção, fraude e desvio de recursos

públicos.

Foi preciso uma briga entre dois Senadores da República para que o assunto

voltasse a ser alvo de grandes debates, de ações e de investigações.

Nenhuma das denúncias feitas nesses meses é nova, não sob o ponto de

vista do projeto em si ou do empreendimento denunciado, mas quanto à forma e ao

verdadeiro conteúdo de como ocorrem os desvios dos recursos da SUDAM.

No dia 19 de março passado ocupei esta tribuna, também no Grande

Expediente, e fiz severas críticas ao relatório do Grupo Especial de Trabalho criado

pelo Ministério da Integração Nacional em dezembro de 2000. Esse Grupo Especial

de Trabalho deveria apurar as irregularidades ocorridas na SUDAM.

Na ocasião, Sr. Presidente, já afirmávamos que o relatório não apontava

nenhuma novidade substancial — nenhuma —, pois muitas irregularidades estavam

sendo detectadas pelo Tribunal de Contas da União desde 1994. Através desse

relatório, divulgado no início de março pelo Ministro Fernando Bezerra, a autarquia

publicou que o rombo chegava a 108 milhões de reais. Dos 548 projetos ativos da

autarquia, 29 foram classificados como irregulares.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Os fatos que ocorreram posteriormente à divulgação desse relatório estão

demonstrando que nossa análise estava correta. Esta semana, depois da publicação

da revista Veja, o Ministro veio a público e disse que o rombo supera 1 bilhão de

reais, é exatamente de 1 bilhão, 773 milhões de reais, que seriam recursos

desviados por aproximadamente 159 empresas nos últimos seis anos. Está claro

que, além de esse relatório da SUDAM divulgado no início de março não apurar nem

10% das denúncias que envolvem desvios dos recursos do FINAM, muitos dos

empreendimentos investigados foram abonados por esse grupo de trabalho.

Entretanto, uma grande parte daqueles que foram abonados contém profundas e

graves irregularidades.

Esse fato, Sr. Presidente, torna-se ainda mais grave em decorrência do que

publicou a revista Veja. Diz um trecho da matéria que as fitas da Polícia Federal

mostram que fiscais da SUDAM encarregados de fiscalizações, que apareciam mais

tarde no relatório do Ministro, foram subornados.

Vejam, fiscais encaminhados para fazer uma apuração de denúncia, segundo

a revista Veja, foram subornados. Isso ocorreu há menos de um mês.

Portanto, Sr. Presidente, estamos diante de um caso extremamente grave,

que, em nossa opinião, merece deste Poder uma tomada de posição imediata. O

mínimo que o Poder Legislativo tem de fazer é instalar imediatamente a CPI da

SUDAM.

O Governo, esta semana, movido, mais uma vez, por reportagens que saem

na imprensa — no caso, a reportagem da revista Veja —, através do Ministro

Fernando Bezerra, convocou uma entrevista coletiva para anunciar o

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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estabelecimento de medidas para o cancelamento de 35 projetos da SUDAM, que

envolvem recursos de aproximadamente 600 milhões de reais. Entres esses projetos

estão duas empresas, a Agroindustrial Manacapuru e a Cia. Amazonense,

denunciadas pela CPI da Grilagem de Terras da Amazônia ao Ministro. Pelas

medidas que S.Exa. anunciou à imprensa, tudo se encaminha para que esses 35

projetos sejam cancelados. Entretanto, no relatório do dia 7 de março, que foi

divulgado pela imprensa, desses 35 projetos, 29 já faziam parte. Ou seja, seis novos

projetos apenas foram incluídos. Se levarmos em consideração que dois foram

encaminhados pela CPI da Grilagem, o Ministério apurou somente quatro projetos a

mais que continham irregularidades.

E o que mais nos entristece, Sr. Presidente, é que, entre essa relação dos 39

projetos que estão sendo encaminhados para o seu cancelamento, não constam

alguns que são emblemáticos e que a imprensa toda já divulgou alguns meses atrás.

Vou citar alguns. Um deles é o Hotel Maksoud Plaza. No caso desse hotel, foi feita

uma nova auditoria pela SUDAM, porque a solicitamos no mês de janeiro. Até agora,

a SUDAM não divulgou o resultado da auditoria feita num empreendimento que tem

mais de dez anos e que ainda não saiu das fundações. E mais, nem consta na

relação daqueles que, possivelmente, poderão vir a ser cancelados.

Outro empreendimento é o World Trade Center, localizado na cidade de

Manaus, o qual consumiu da SUDAM 15 milhões de reais, mas não tem uma viga

sequer construída.

Esse empreendimento não consta de relação alguma que a SUDAM e o

Ministério vêm divulgando nos últimos anos, como também não consta um

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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empreendimento chamado SR Produtos Hospitalares, que, aliás, já entrou em

falência, já passou para a mão de novos proprietários, e a SUDAM só ficou sabendo

quase um ano depois de o fato ter acontecido.

Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mais uma vez, não houve

nenhuma novidade no anúncio do Ministro Fernando Bezerra, que foi obrigado a

explicar ao País, isto sim, o envolvimento do seu ex-Secretário-Executivo, Sr.

Benivaldo Alves de Azevedo, com a máfia que se apropriou de aproximadamente

360 milhões de reais, segundo a reportagem da revista Veja. Essa máfia tem como

um de seus comandantes o Sr. Geraldo Pinto da Silva, que ajudou na sua criação e

conseguiu a aprovação de dezenas de projetos junto à SUDAM, projetos que

ultrapassam os 360 milhões de reais.

Sr. Presidente, quero repetir aqui a minha opinião, e do meu partido, o

PCdoB, de que o Governo Fernando Henrique Cardoso sempre foi omisso diante

dessas denúncias. E a prova disso está no relatório de 1994 do Tribunal de Contas

da União. O TCU, desde essa data, vem apresentando inúmeros relatórios e

votando inúmeras decisões que apontam, como disse no início, essas

irregularidades.

Quem assistiu ao jornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, hoje pela manhã viu

a matéria. E a Rede Globo só se referiu a um dos relatórios, salvo engano, de 1996.

Não há nenhuma novidade. Esses desvios, essas irregularidades, essa verdadeira

corrupção em que se transformou a SUDAM é de conhecimento do Governo há

anos, mas, infelizmente, ele não vem fazendo absolutamente nada.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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A partir de agora, Sr. Presidente, passo a ler algumas irregularidades

detectadas no Relatório de Auditoria Operacional FINAM/SUDAM/BASA — 1994,

realizada pelo TCU, diga-se de passagem, a pedido da Comissão de Finanças e

Tributação da Câmara dos Deputados. Trata-se do Processo TC 005.708/94 e DC

610/96.

Vamos ver uma das irregularidades que foi detectada numa auditoria iniciada

em 1994 e a decisão aprovada em 1996: o uso de dois pesos e duas medidas na

hora da análise e aprovação dos projetos que vão ao Conselho Deliberativo da

SUDAM, o CONDEL. A grande maioria passa por um prazo de 112 a 242 dias para

serem analisados, mas, inexplicavelmente, alguns outros projetos são aprovados

como num passo de mágica. Um exemplo é um projeto chamado Tricom, que

recebeu recursos da SUDAM para ser instalado em Manaus e está com seus

incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus cancelados, hoje é um dos poucos

projetos cancelados pela SUDAM. Esse projeto, de propriedade do Senador Jorge

Bornhausen, foi aprovado em dois dias. O projeto Cosmos Componentes S.A., do

ex-Senador José Eduardo Andrade Vieira, foi aprovado em seis dias. Está instalado

na cidade de Manaus. Parece que, recentemente, ainda recebia recursos do

Sistema FINAM.

Sr. Presidente, será que não podemos fazer um paralelo entre a celeridade

desses projetos e vários projetos fraudados e aprovados irregularmente que estão

sendo denunciados hoje? Será que grande parte desses projetos não foi aprovada

em um, dois, três, cinco dias ou uma semana por uma única força, que é a força do

poder político daqueles que participam dos projetos?

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Outra irregularidade detectada pelo TCU: a possibilidade, já naquela época,

de os projetos estarem sendo superfaturados.

Outro problema grave é quanto ao empobrecimento do papel do Conselho

Deliberativo da SUDAM. O CONDEL, que deveria analisar os projetos com cuidado

e critério técnico, não fazia nada. A pauta ia pronta e era aprovada rapidamente no

CONDEL.

Outro ponto era a longa permanência dos projetos no Sistema FINAM. Os

projetos ficavam dez, vinte anos dentro do Sistema FINAM e SUDAM.

Outro problema era a ineficácia das ações de ressarcimento dos recursos

malbaratados. Aliás, a SUDAM e o Ministério devem-nos resposta a um

requerimento de informação sobre quanto de recursos públicos já foi recuperado

pelo Ministério e pela SUDAM em relação a esses empreendimentos cancelados por

irregularidades.

Outra questão era a inoperância da Comissão Permanente de Apuração, que,

na realidade, nunca funcionou.

Outro problema era a concessão indiscriminada de isenção e redução do

Imposto de Renda.

E aqui abro um parêntese para falar mais desse assunto. Foi constatada a

completa ausência de controle quanto à concessão e fiscalização das empresas

beneficiadas com a redução ou isenção do Imposto de Renda.

Então, vamos a alguns dados. Do ano de 1969, quando foi criada a SUDAM,

até julho de 1994 — isso quem relatou foi o TCU —, foram aprovados mais de 3.600

pedidos de isenção ou redução de Imposto de Renda pela autarquia. E em todo

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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esse período não houve nenhuma fiscalização nas empresas para checar o

cumprimento das condições estabelecidas. O que levou, obviamente, grande parte

das empresas, acobertadas pela inoperância ou, quem sabe, pela conivência da

administração pública, a praticar a sonegação oficiosa, por estarem descumprindo

— vamos ver mais adiante — as exigências legais e os objetivos do sistema de

incentivos fiscais.

Mais um problema detectado pelo TCU: o total descumprimento da legislação

que determina que, na apresentação dos projetos, sejam perfeitamente identificados

os acionistas das empresas interessadas. Ora, estamos diante de outro fato grave,

que o Tribunal relatou e esta Casa teve conhecimento à época, mas infelizmente

nada foi feito. O Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso tinha

conhecimento, mas nada fez para punir, para barrar, para não permitir que

irregularidades tão graves como essas continuassem a ocorrer. Refiro-me, Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, à participação de alguns Senadores e

Deputados em projetos incentivados. Nem assim, nem mesmo a Casa tendo tomado

conhecimento, foi tomada qualquer providência para coibir essa prática.

O art. 54, inciso II, da Constituição proíbe participação de Parlamentares em

empresas que gozem de benefícios públicos. No entanto, isso foi detectado em

muitos projetos do ex-Senador José Eduardo Andrade Vieira, que receberam

incentivo enquanto ele ainda era Parlamentar; do ex-Senador Gilberto Miranda, que

infelizmente envergonha meu Estado e que durante alguns anos representou o

Amazonas no Senado Federal sem nunca ter recebido voto de um amazonense

sequer, porque só esteve naquela Casa para usufruir de forma incorreta dos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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benefícios da Zona Franca — enquanto Senador, suas empresas recebiam dinheiro

da SUDAM e ficava por isso mesmo; do Senador Jorge Bornhausen, que também

recebeu recursos.

Mas vejam o que concluíram os auditores do TCU à época: que a isenção

total ou parcial do Imposto de Renda, assim como a concessão dos incentivos

fiscais do FINAM, tem clara natureza contratual. Por essa razão, nem Deputados,

nem Senadores, empresários, poderiam obter para suas empresas esses favores

fiscais, pois aplica-se a eles, repito, o art. 54, inciso II, da Constituição Federal. A

decisão dos auditores, cujo relatório foi levado ao Tribunal de Contas, foi no sentido

de que fosse informado o Congresso Nacional, para adoção das medidas previstas.

Sr. Presidente, foram os auditores que escreveram e assinaram que fosse

informado o Congresso Nacional, para adoção das medidas previstas no art. 55.

Vejam V.Exas. o que diz o art. 55 da Constituição Federal sobre o que acabo de

relatar.

Essa relação — citei apenas alguns nomes, embora existam muitos mais —

foi fruto apenas de amostra dos exercícios auditados entre 1988 e 1993. O próprio

TCU detectara descumprimento de decisão de 1990. Posteriormente, o que

aconteceu? Parece que tudo acontece neste País. O TCU reiterou, em outra decisão

de 1993, que Parlamentares não poderiam fazer parte de projetos, porém, admitiu —

vejam, senhores, o que admitiu o TCU — o prosseguimento dos projetos aprovados

e iniciados antes da deliberação de 1990, desde que tivessem desenvolvimento

regular. Ou seja, decisão contraditória ao que os auditores sugeriram.

Concedo aparte ao nobre Deputado Rubens Bueno.

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O Sr. Rubens Bueno – Deputada Vanessa Grazziotin, primeiro, quero afirmar

o respeito que a bancada do PPS tem por V.Exa. Segundo, queremos homenageá-

la pela coragem que sempre demonstrou em seus pronunciamentos e pela firmeza

com que apresenta as teses em defesa da Amazônia e do interesse público. V.Exa.

expõe, com muita propriedade e autoridade, projetos da SUDAM. Jornais, revistas, a

grande imprensa, este Parlamento, V.Exa. estão a denunciar tanta arbitrariedade e

irregularidade, transformando o País em grande varal de corrupção e relações entre

Poder Executivo, Poder Legislativo e projetos que tratam de dinheiro público. Em

vez de a política visar ao interesse público, estamos vendo a política como negócio

particular. Infelizmente, é o que está acontecendo. Lembro os jornalistas da revista

Veja que investigaram e denunciaram, no último fim de semana, quase quinhentos

contratos, no valor de 2 bilhões de reais, dinheiro público que desapareceu da

SUDAM: Alexandre Oltramari e Ana d’Angelo. Infelizmente, não conseguimos

instalar a CPI da Corrupção, por açodamento de alguns Parlamentares em busca do

refletor ou da luz fácil. Temos de fazer, com serenidade e firmeza, o Parlamento

funcionar em sua missão: fazer leis para melhorar a convivência com nosso povo e

fiscalizar os atos do Poder Executivo. Temos de lutar em torno disso para que as

prerrogativas desta Casa sejam cumpridas.

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Agradeço a V.Exa., Deputado Rubens

Bueno, Líder do PPS, o aparte, que só engrandece nosso pronunciamento.

Infelizmente, as denúncias divulgadas pela imprensa diariamente ainda não estão

concluídas, porque, a cada projeto que se investiga, a cada projeto que se procura

conhecer, percebe-se rombo ainda maior do que o outro.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O Sr. Rubens Bueno – Porque não se pune ninguém, Deputada.

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Este é o objetivo do meu pronunciamento:

mostrar que não há novidade alguma nas denúncias e que o Presidente Fernando

Henrique Cardoso, que fica com a face ruborizada quando toma conhecimento de

alguma denúncia, sabe de tudo isso muito mais do que nós. O Tribunal de Contas

publicou no Diário Oficial — está lá para quem quiser ver — e vem publicando

desde 1994 auditorias que apontam a raiz das irregularidades.

Qual o cerne da matéria da revista Veja? Os escritórios. O que o Tribunal de

Contas vem falando sobre escritórios encarregados de elaborar projetos a serem

submetidos à análise da SUDAM? As auditorias do Tribunal de Contas não

detectaram a existência dos escritórios de corretagem para captação de recursos do

FINAM, mas o TCU, desde aquela época, já identificava — vejam a gravidade —

servidores e ex-servidores da SUDAM como sócios ou empregados de empresas de

consultorias e firmas de elaboração de projetos, caracterizando advocacia

administrativa e alguns casos de corrupção passiva.

Será que o Ministro concordaria em mandar para esta Casa relação dos

servidores punidos nos últimos dez anos? Qual o tamanho da lista? São dois, cinco,

dez, vinte? Ou nenhum? É preciso tomar conhecimento desses fatos.

O Sr. Wellington Dias – Concede-me V.Exa. um aparte?

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Ouço V.Exa. com prazer.

O Sr. Wellington Dias – Agradeço, Deputada. Fico feliz com o

pronunciamento de V.Exa. A cada dia a imprensa mostra a necessidade de uma CPI

da Corrupção nesta Casa. Por conta desse vazio no cumprimento do papel do

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Legislativo, vivemos essa situação em que a imprensa é que faz o papel de

investigador. Só que não gera as conseqüências que o poder popular dá ao

Parlamentar: o poder de investigar, encaminhar e garantir condições de punição.

Parabenizo V.Exa. pelo discurso e gostaria de dizer que continuamos trabalhando,

se for o caso, pela CPI da SUDAM, mas o ideal é que tenhamos a CPI da

Corrupção. Muito obrigado.

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Agradeço o aparte de V.Exa., Deputado

Wellington Dias.

Gostaria de comentar o último relatório. O objetivo era comentar o relatório do

TCU e aquele que o Ministro divulgou recentemente. Além de eu não ter tempo, na

prática também seria uma repetição, porque não há nenhuma novidade no que o

Ministro divulgou, apenas mudam os nomes.

O último relatório do Ministério da Integração Nacional diz que é preciso

investigar as possíveis irregularidades ocorridas na gestão do ex-Superintendente

José Artur Guedes Tourinho. Ora, será que só houve problemas na gestão dele?

O Governo vem dizendo, publicamente, que está enfrentando essas

denúncias de corrupção. Como todos sabemos, o Governo criou uma Corregedoria

e nomeou Corregedora a Sra. Anadyr de Mendonça Rodrigues, que tem dito tanta

coisa pela imprensa que mais parece Ministro de uma Pasta do que uma

Corregedora nomeada para investigar. Vejam o que disse a Sra. Anadyr e que foi

publicado no jornal O Globo, no último dia 8: “Existe uma onda de denuncismo e a

corrupção não é tão grande como a sociedade imagina”. Disse ainda que “a hipótese

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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de um Ministro ser responsável por irregularidades é muito remota, muito

improvável”.

Ora, o Presidente Fernando Henrique Cardoso colocou a Dra. Anadyr no

lugar errado. Ela não está lá para investigar e, pelo que vem dizendo à imprensa,

está lá para abonar a conduta de Ministros.

Concedo aparte ao Deputado Babá.

O Sr. Babá – Deputada Vanessa Grazziotin, é justamente para abordar

rapidamente a situação de grandes projetos que não estão sendo discutidos no meio

desse processo. Chamo a atenção de um deles, o da POLITROL da Amazônia, de

652 milhões, para produção de brinquedos mecanizados na Amazônia. Os

proprietários dessa firma são a Trol, o Banco Safra de Investimentos e a Cia. Souza

Cruz, Indústria e Comércio. Este processo foi condenado, sua situação está

insanável. Grandes empresas estão envolvidas, e por isso a CPI da SUDAM é

necessária.

A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN – Agradeço o aparte, Deputado Babá.

Sr. Presidente, gostaria de solicitar que meu pronunciamento seja

considerado na íntegra, uma vez que não consegui ler nem a metade e ainda há

outros relatórios.

DISCURSO ESCRITO ENCAMINHADO À MESA

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A SRA. VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB-AM. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, volto a esta tribuna para falar

sobre a SUDAM, que de promotora do desenvolvimento na região amazônica vem

se revelando, infelizmente, um mar de lama de corrupção, fraude e desvio dos

recursos públicos.

Foi preciso uma briga entre dois Senadores da República, cada um a seu

tempo ocupante de cargos muito importantes no País, num embate que encheu de

vergonha a Nação, com ataques públicos, acusações de corrupção, num verdadeiro

campeonato de improbidade que beirou as raias da imoralidade, para que o Governo

Federal, ainda que de forma tímida, mostrasse serviço e tomasse atitudes,

investigando as fraudes e a corrupção na SUDAM.

No dia 19 de março passado, ocupei esta tribuna, também no Grande

Expediente, quando fiz severas críticas ao relatório do Grupo Especial de Trabalho

criado pelo Ministério da Integração Nacional, em dezembro de 2000, para apurar

irregularidades na SUDAM.

Já na ocasião, afirmávamos que o relatório não apontava quase nenhuma

novidade substancial, pois muitas irregularidades já haviam sido detectadas desde

1994 pelo Tribunal de Contas da União.

Através desse relatório, a autarquia divulgou que o rombo chegava a 108

milhões de reais. Dos 548 empreendimentos ativos da SUDAM, o grupo havia

analisado apenas 95 projetos e concluiu que destes 29 eram irregulares.

Os fatos estão demonstrando que nossa análise estava correta. Agora, o

Ministro diz que o rombo chega a 1,773 bilhão de reais, recursos desviados por

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aproximadamente 159 empresas nos últimos seis anos. Ou seja, está claro que,

além de este relatório da SUDAM não apurar nem 10% das denúncias que envolvem

desvios de recursos do FINAM (Fundo de Investimento da Amazônia), muitos dos

empreendimentos investigados foram abonados pelo Grupo de Trabalho, entretanto,

grande parte deles contém profundas e graves irregularidades.

Vejamos o que diz matéria da revista Veja desta semana: “...as fitas da

Polícia Federal mostram que fiscais da SUDAM, encarregados de fiscalizações que

apareciam mais tarde no relatório do Ministro, foram subornados...” Estamos, Sr.

Presidente, diante de um caso extremamente grave, que merece deste Poder uma

tomada de posição imediata, e o melhor caminho a meu ver seria a instalação

imediata da CPI.

O Governo, desta vez movido pela reportagem da revista Veja, através do

Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, convocou uma entrevista

coletiva para anunciar o estabelecimento de medidas para o cancelamento de 35

projetos da SUDAM, que envolvem recursos da ordem de 600 milhões de reais.

Desses, as denúncias envolvendo os Projetos Agroindustrial Manacapuru e Cia.

Amazonense, que desviaram cerca de 25 milhões de reais, foram entregues por nós

ao Ministro, através da CPI da Grilagem, e é bom lembrar ainda que, dos 35

projetos, 29 já constavam da lista dos projetos em fase de cancelamento desde o dia

7 de março.

Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mais uma vez não houve

novidades no anúncio do Ministro, que foi obrigado a explicar ao País o

envolvimento de seu ex-Secretário-Executivo do Ministério, Benivaldo Alves de

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Azevedo, com a máfia que se apropriou de 360 milhões da SUDAM e estava

planejando chegar a 1,5 bilhão de reais. Essa máfia, que tem como um dos

comandantes o Sr. Geraldo Pinto da Silva, criou, elaborou e conseguiu a aprovação

de dezenas de projetos, cujos recursos liberados pela SUDAM nos últimos anos

ultrapassa a casa dos 360 milhões de reais.

Como temos afirmado com freqüência, quero repetir nossa opinião de que o

Governo FHC sempre foi omisso diante dessas denúncias. A prova disso é que

desde 1994 o TCU vem apresentando relatórios que apontam as fraudes e

recomendam ações concretas contra os fraudadores, mas esse esquema criminoso

prosseguiu.

A SUDAM e o Sistema FINAM foram objeto de quatro auditorias operacionais

realizadas pelo Tribunal de Contas da União: 1994 (decisão de 1996), 1995 (cuja

decisão foi aprovada em 1999), 1997 e 2000.

Relatório de Auditoria Operacional FINAM/SUDAM/BASA — 1994 (Processo

TC 005.708/94 e DC 610/96). Em 1994, o TCU, atendendo a solicitação da

Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, realizou uma

auditoria operacional na SUDAM/BASA.

Com base na auditoria operacional do TCU de 1994, destacamos alguns

pontos:

1º) A remuneração da SUDAM que deveria ser utilizada nas áreas de análise

e fiscalização dos recursos públicos foi desviada dessas finalidades.

2º) A SUDAM inexplicavelmente usava dois pesos e duas medidas na análise

para a aprovação dos projetos, o que levou a ausência dos critérios objetivos,

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tornando a instituição vulnerável ao tráfico de influência, o que resultou na

aprovação indiscriminada de projetos, nem sempre prioritários para a região, e

também em pressões para o favorecimento de determinadas empresas. Em 1993, o

tempo médio de aprovação de cartas-consultas e projetos era 112 e 242 dias.

Chamou a atenção dos auditores a rapidez da tramitação de algumas cartas-

consultas e projetos como:

- Goes Cohabita Construções S.A., de propriedade ex-Deputado Federal

Joaci Góes (PSDB/BA), com carta-consulta aprovada em um dia;

- Tricom, do Senador Jorge Bornhausen (PFL/SC), em dois dias;

- Universal Componentes S.A., do ex-Senador Gilberto Miranda, em seis dias;

- Ebal S.A., do ex-Governador Hélio Gueiros, em cinco dias;

- Cosmos Componentes S.A., do ex-Senador José Eduardo Andrade Vieira,

em seis dias;

- Norplast S.A., que teve a carta aprovada no mesmo dia (30.08.88).

Será que não podemos fazer um paralelo entre a celeridade desses projetos e

vários projetos fraudados e aprovados irregularmente que estão sendo denunciados

hoje? Não foi este o modus operandi de vários deles, identificados nas últimas

auditorias?

3º) Os auditores do TCU já levantaram a “possibilidade” de os projetos

aprovados pela SUDAM apresentarem valores superfaturados, visto que o Sistema

apresenta limitações e é sujeito a incorreções. As brechas são máquinas e

equipamentos não existentes na lista de referência da SUDAM e a falta de uma

análise criteriosa sobre a mão-de-obra e os quantitativos apresentados nos projetos.

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4º) Outro problema grave é quanto ao empobrecimento do papel do Conselho

Deliberativo da SUDAM. O CONDEL abandonou o papel inicial de formulador e

indutor da política de desenvolvimento da região, tornando-se aprovador de projetos,

sem discussão política ou técnica sobre a necessidade deles.

5º) Longa permanência dos projetos no Sistema FINAM. Das 279 empresas

que obtiveram o certificado de implantação, de 1988 a 1994, 129 estavam no FINAM

há mais de dez anos e 56 há mais de vinte anos.

6º) Outro problema era a ineficácia das ações de ressarcimento dos recurso

malbaratados.

7º) Inoperância da Comissão Permanente de Apuração — CPA da SUDAM.

8º) Concessão Indiscriminada de isenção/redução do Imposto de Renda.

Se o incentivo fiscal tem como objetivo o desenvolvimento da região

amazônica e a redução das desigualdades regionais, deveria observar o princípio

fundamental da seletividade. Além disso, são fundamentais os instrumentos de

controle e avaliação dos resultados obtidos em termos de desenvolvimento da

região, inexistentes na SUDAM. Foi constatada a ausência de controle na

concessão e fiscalização das empresas beneficiadas com redução/isenção do IR.

Vamos aos dados: desde 1969 até julho de 1994, foram aprovados 3.669

pedidos de isenção/redução de IR pela autarquia. Em todo esse período não houve

nenhuma fiscalização nas empresas para checar o cumprimento das condições

estabelecidas. Isso acarreta que grande parte dessas empresas, acobertadas pela

inoperância ou conivência da administração pública, praticam a sonegação oficiosa,

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já que podem estar descumprindo as exigências legais e os objetivos do sistema de

incentivos fiscais.

9º) Mais um problema detectado pelo TCU nos seus relatórios foi o total

descumprimento da legislação que determina que na apresentação dos projetos

sejam perfeitamente identificados os acionistas das empresas interessadas,

inclusive os controladores.

Mas, Sr. Presidente, o Governo FHC e a maioria do Congresso também já

tinham conhecimento da participação e envolvimento de alguns Senadores e

Deputados em projetos, e nem assim foi tomada nenhuma providência para coibir

essa prática.

O art. 54, inciso II, da Constituição proíbe que Parlamentares desde a posse

sejam proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor

decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público ou que nela exerça

função remunerada. Mas, Sr. Presidente, como constatou o próprio TCU (Processo

TC 005.708/94 e DC 610/96) essa era uma prática corrente. Vejamos alguns

exemplos:

Parlamentar Projeto beneficiado

Senador José Eduardo de Andrade

Vieira (PTB–PR)

- BAMERINDUS AGROPASTORIL E IND.

S.A.

- BAMERINDUS RORAIMA S.A.

- CAUMÉ AGROPASTORIL S.A.

- COMPANHIA AGRÍCOLA DO ACARÁ S.A.

- COSMOS COMPONENTES S.A.

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- IBREL — IND. DE RELÓGIOS S.A.

- INJEPLAST S.A.

- MARABÁ AGROPASTORIL S.A.

- MURUPU AGROPASTORIL S.A

Senador Gilberto Miranda Batista (AM) - MITSUCAR — IND. DA AMAZÔNIA S.A.

- MULTIDATA — ELETRÔNICA IND. COM.

S.A.

- PCI — COMPONENTES DA AMAZÔNIA

S.A.

- VIDEOSOM DO AMAZONAS S.A.

Senador Jorge Konder Bornhausen (SC) - TRICOM — TRIUNFO COMPONENTES

S.A.

Senador Onofre Quinan (GO) - AGROPECUÁRIA TRÊS PODERES S.A.

Deputado Ricardo Fiúza (PFL–PE) - AGROPECUÁRIA RIO MEARIM S.A.

Deputado Osório Adriano Filho (PFL/PE) - CIA AGROPASTORIL MATA DA CHUVA

S.A.

- FAZENDA BOI BRANCO S.A.

- PARAGEM HOTÉIS RODOV. E TURISMO

S.A.

- TAQUARIL AGROPECUÁRIA S.A.

Deputado Hilário Miranda Coimbra (PA) - FAZENDA PRANGABA S.A.

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Sra. Inês Miranda Coimbra - LAN — LINHAS AMAZÔNICAS DE

NAVEGAÇÃO S.A.

Deputado José Múcio Monteiro

(PFL/PE)

- DESTILARIA GAMELEIRA S.A.

Deputado Manoel Antonio Rodrigues

(MT)

Em sociedade com o ex-Governador

José Garcia Neto (MT)

- HOTÉIS GLOBAL S.A.

Empresas beneficiadas com isenção/redução do Imposto de Renda devido —

Decreto-Lei 756.

Senador Gilberto Miranda Batista (AM) - BVE COMPONENTES LTDA.

- VIDEOSOM DO AMAZONAS S.A.

- PCI-TODA MONITORES LTDA.

- PCI COMPONENTES DA AMAZÔNIA S.A.

- PROFAX AMAZÔNIA LTDA.

- PARAGON–IND.ELETR. DO AMAZONAS

LTDA.

- MITSUCAR – IND. DA AMAZÔNIA S.A.

Os auditores concluem que a isenção total ou parcial do IR, assim como a

concessão dos incentivos fiscais do FINAM, tem clara natureza contratual, e por

essa razão os Deputados e Senadores, empresários, não poderiam obter para suas

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empresas esses favores fiscais, aplicando-se a eles a vedação do art. 54, inciso II,

alínea “a”, da Constituição Federal, recomendando, entre outras medidas, informar

ao Congresso Nacional, para a adoção das medidas previstas no art. 55 da

Constituição Federal, sobre a relação dos Parlamentares que eram sócios ou

diretores de empresas beneficiadas com recursos de incentivos fiscais do FINAM, ou

com isenção parcial ou total do Imposto de Renda devido.

A relação citada foi fruto de uma amostra dos exercícios auditados — 1988 a

1993 — e já demonstrou o descumprimento da determinação do TCU contida na

decisão de 24 de outubro de 1990.

Posteriormente, o TCU reiterou, em decisão de 1993, determinação anterior,

admitindo-se, porém, o prosseguimento dos projetos aprovados e iniciados antes da

mencionada deliberação (do TCU) de 24 de outubro de 1990, desde que viessem

tendo desenvolvimento regular.

Resta saber se uma fiscalização e investigação mais profunda e eficaz não

encontrará novos e velhos projetos burlando a vedação aos Parlamentares.

10º) Os trabalhos da auditoria não confirmaram a existência de escritórios de

corretagem para captação de recursos do FINAM, mas identificaram servidores e ex-

servidores da SUDAM como sócios ou empregados de empresas de consultoria e

firmas de elaboração de projetos, caracterizando advocacia administrativa e alguns

casos de corrupção passiva.

11º) Indícios de irregularidades na liberação de recursos do FINAM:

- Presença de projetos com liberação de recursos num percentual muito

superior à correspondente contrapartida de realização física.

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Por fim, relatamos aqui um resumo das determinações contidas na Decisão nº

610/96 — TCU.

Determinar à SUDAM que:

1 - identifique de forma precisa e completa os acionistas dos projetos a serem

beneficiados com recursos do FINAM;

2 - instaure processo administrativo disciplinar com o objetivo de apurar a

participação de servidores ativos da SUDAM como procuradores ou sócios de

escritórios de representação de empresas incentivadas pelo FINAM;

3 - proceda, sob pena de responsabilidade solidária, a uma intensa

fiscalização dos projetos incentivados, notadamente aqueles citados no Relatório da

Auditoria, para apurar evidências de desvios de recursos, priorizando os casos em

que o percentual de recursos recebidos for superior ao fisicamente realizado;

4 - adote providências, no prazo de trinta dias, com vistas à apuração dos

fatos, identificação dos responsáveis e quantificação do dano causado, instaurando

as tomadas de contas especiais para todos os processos relativos a cancelamento

dos projetos que tramitam na Comissão Permanente de Apuração;

5 - adote rigorosa observância da ordem cronológica de entrada das cartas-

consultas dos projetos submetidos à apreciação e análise do DAI–SUDAM;

6 - proceda a uma revisão criteriosa e detalhada de todos os projetos

paralisados ou com acentuado atraso de implantação, para identificar causas e

apurar responsabilidades;

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7 - proceda a um controle efetivo dos valores concernentes à renúncia de

receitas decorrente da concessão do benefício de isenção parcial ou total do

imposto de renda;

8 - aperfeiçoe os mecanismos de controle existentes para a aprovação dos

projetos a serem incentivados com recursos do FINAM de forma a evitar o seu

superfaturamento, tendo em vista as limitações da tabela de preços utilizada como

referência pela SUDAM;

Recomendar à SUDAM que:

1 - fixe os limites máximos de participação dos recursos do FINAM em cada

projeto a ser aprovado, levando em conta as características próprias de cada setor,

evitando a concentração de recursos em grandes projetos.

Relatório de Auditoria Operacional FINAM/SUDAM/BASA — 1995, decisão de

1999 (Processo 008.881/1995-2 e Decisão 104/1999 TCU — Plenário).

Em 1995, o TCU realizou mais uma auditoria complementar à realizada em

1994, objetivando apurar a regularidade, a economicidade, a eficiência e a

efetividade das operações realizadas pelo FINAM nos exercícios de 1994 a 1996,

bem como responder a solicitação e questionário encaminhado pela Comissão de

Fiscalização e Controle do Senado Federal.

Principais irregularidades e impropriedades constatadas:

1. não definição, em ato normativo, do perfil funcional dos servidores

responsáveis pela análise, avaliação, coordenação e orientação dos pleitos

constantes das cartas-consultas e projetos que requeiram o apoio financeiro do

FINAM;

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2. Ilegalidade do § 3º do art. 42 da Resolução CONDEL/SUDAM nº 7.077/91,

bem como da Resolução CONDEL/SUDAM nº 7.480, por permitirem a alteração do

controle acionário das empresas incentivadas, com base no art. 9º da Lei 8.167/91,

após aprovação do projeto, em desacordo com o disposto no § 6º do art. 9º da

supracitada lei;

3. As autorizações para liberação de recursos do FINAM a 97 empresas

beneficiárias do art. 9º da Lei nº 8.167/91, cujas opções referentes ao ano calendário

de 1992 não foram acatadas pela SRF, bem como as treze empresas cujas opções

foram parcialmente acatadas pela SRF (anexo I);

UFIR R$ (dez/2000)

1. IBM – Brasil Ltda. 17.761.067,94 18.899.552,40

2. Banco Itaú S/A 9.381.966,69 9.983.350,75

3. Unisys Eletrônica Ltda. 4.965.034,65 5.283.293,37

4. Cia. Bras. Petróleo Ipiranga 4.312.559,58 4.588.994,65

5. BANESPA S/A Corretora de

Câmbio e Títulos 4.040.340,21 4.299.326,02

Subtotal 40.460.960,07 43.054.526,19

Total geral (97 empresas) 66.479.939,01 70.741.333,63

4. Não adoção de providências para o cancelamento imediato de 98 projetos

(posição de julho de 1996) que não optaram pela sistemática da Lei 8.167/91 ou

pela conclusão do projeto por meio de outras fontes, conforme art. 22 desta lei e o

art. 26, § 2º, do Decreto 101/91 c/c o Decreto 853/93;

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5. Presença de 28 projetos no Sistema FINAM que receberam percentuais

elevados de recursos sem a correspondente contrapartida de realização física,

evidenciando irregularidades;

6. Falta de comunicação ao Ministério Público da União, pela Procuradoria

Autárquica, para promoção das ações penais e civis cabíveis, da relação das

empresa incentivadas pelo FINAM que deixaram de aplicar ou aplicaram os recursos

em desacordo com o estatuído, conforme a Lei 8.137/90 (art. 2º, IV, e 8º e parágrafo

único);

7. Problemas detectados em relação à SUDAM e ao BASA:

1) divergência evidenciada entre os valores autorizados pela SUDAM

(US$1.537.447.757,69) para aplicação nos projetos do FINAM e os valores

efetivamente liberados pelo BASA (US$2.772.982.000,00) no período de 1975 a

1996 (junho);

Recomendação dos auditores, considerando a persistência da divergência

propõe-se ao TCU:

- Determinar às SCI dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda que

promovam a instauração da competente Tomada de Contas Especial junto à

SUDAM e ao BASA, respectivamente, no sentido de apurar as divergências entre os

valores autorizados e efetivamente liberados e as responsabilidades por eventuais

liberações de recursos sem a anuência do agente administrador, contrariando a

legislação.

Decisão do TCU (104/99).

1. Determinar à SUDAM que:

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1.1 - Dê cumprimento ao disposto no art. 1º da Portaria SUDAM nº 16.188/83,

procedendo à fiscalização de todos os processos em implantação no Sistema

FINAM, pelo menos uma vez no ano, bem como fiscalize todas as empresa

aprovadas à luz do Decreto-Lei 1.376/74 que optaram por concluir seus

empreendimentos com outras fontes de recursos, após o advento da Lei nº 8.167/91,

conforme prescreve a Portaria SDR 202/91, c/c o parágrafo único do art. 96 da

Resolução 7.077/91 — CONDEL;

1.2 - Assegure a destinação dos recursos auferidos com a administração do

FINAM ao disposto no art. 20, inciso III, da Lei 8.167/91;

1.3 - Proceda ao imediato cancelamento dos projetos que não optaram pela

sistemática da Lei 8.167/91 ou pela conclusão do empreendimento por outras fontes

de recursos;

1.4 - Encaminhe, regularmente, ao Ministério Público da União relação das

empresas incentivadas pelo FINAM que deixarem de aplicar ou aplicaram os

recursos indevidamente, com vistas à promoção das ações penais e civis cabíveis,

conforme a Lei 8.137, de 1990.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mesmo depois de tantas decisões de

auditorias, eu não posso deixar de fazer algumas considerações sobre o relatório do

Grupo Especial de Trabalho instituído pelo Ministério da Integração em dezembro do

ano passado.

No âmbito da SUDAM, o Grupo propõe (no seu item 1.2.a) o afastamento

sumário de alguns servidores, exatamente sete, que, ocupando cargos de confiança,

são responsáveis pelas fraudes apuradas.

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Essa decisão deve ser analisada juntamente com outras resoluções que

podem ser agrupadas nos itens que apresentarei a seguir, para, à luz de uma leitura

mais atenta do relatório, fazer uma avaliação do seu alcance.

1.2.g) instauração de processos administrativos disciplinares para apuração

das seguintes ocorrências:

g.1) possíveis irregularidades ocorridas na gestão do ex-Superintendente

José Arthur Guedes Tourinho;

g.2) fatos relacionados com o Convênio nº 064/98, entre a SUDAM e

Comissão de Turismo Integrada da Amazônia;

g.3, g.4 e g.5.) apurar a possível responsabilidade de servidores envolvidos

nas irregularidades apontadas no Relatório de Auditoria de Gestão do FINAM,

exercício de 1999, elaborado pela Secretaria Federal de Controle Interno do

Ministério da Fazenda, relativas a uma lista de onze empreendimentos com apoio

financeiro do FINAM:

Quanto aos servidores envolvidos nas fiscalizações e auditorias, que

atestaram, muitas vezes com veemência, a regularidade desses e de outros

projetos, é inegável a necessidade de apuração rigorosa para identificar e punir os

responsáveis. Mas a apuração não pode limitar-se à responsabilização dos

servidores, tem que desvendar a teia da corrupção e fraude que pode envolver

empresários, servidores e superiores na autarquia e Ministérios, Parlamentares e

chefes políticos.

O que chama a atenção de um leitor atento do relatório é que numerosos

empreendimentos, dos 95 auditados, estão envolvidos em grande número de

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irregularidades constatadas pelos auditores, como: notas fiscais e contratos com

evidências de fraude; contratação de controladoras para prestar serviço com

documentos forjados para comprovar contrapartida nos empreendimentos; índices

de implantação de projetos menores que o percentual de recursos liberados, e

tantas outras, que qualquer observador leigo poderia identificar, que contrariam

flagrantemente a legislação do FINAM/SUDAM. No entanto, não foram objeto de

pedido imediato de cancelamento pelo Grupo de Trabalho. Foram tratados como

casos a estudar, a aclarar, a observar, postergando a apuração das irregularidades.

As indicações do relatório quanto às normas de procedimentos relativas ao

controle dos incentivos do FINAM e à isenção/redução do IR, à análise e

acompanhamento dos projetos beneficiados com recursos do FINAM e à fixação de

exigências a serem cumpridas pelas empresas, não apresentam nada de novo. São

medidas contidas na legislação do setor, assim como nas determinações anteriores

do TCU, e que não foram cumpridas pela administração pública.

Chama a atenção também o fato de o relatório do Grupo Especial de Trabalho

apontar três escritórios de consultoria, procuradores de empreendimentos, com

fortes indícios de participação nas fraudes levantadas envolvendo documentos

fiscais falsos, contratos de fornecimento de bens e serviços forjados e atos

constitutivos de empresas beneficiárias de legitimidade duvidosa, sem, em nenhum

momento, referir-se ao Sr Geraldo Pinto da Silva, que obteve notoriedade com a

divulgação das fitas pela reportagem da revista Veja. Exatamente o procurador e o

escritório de consultoria com fortes indícios de ligação com o ex-Secretário-Geral do

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Ministério da Integração Nacional e com o Senador Jader Barbalho. Só esse fato já

coloca sob suspeita todo o trabalho dessa auditoria.

Se levarmos em conta que do total dos empreendimentos do Sr. Pinto da

Silva somente seis foram auditados pelo Grupo Especial de Trabalho e apenas um

foi considerado irregular, fica ainda mais evidente a parcialidade e precariedade

dessa auditoria.

Minha preocupação em fazer esses relatos é mostrar que os problemas foram

detectados desde o início deste Governo e não houve nenhuma determinação para

apurar as irregularidades. É bom lembrar que, nas oportunidades em que o Governo

justificou suas ações, fez movido por pressão da opinião pública. No primeiro caso,

houve a necessidade de dar respostas à sociedade sobre as denúncias de

corrupção na autarquia feita por ACM. No segundo, para tentar minimizar o impacto

das denúncias freqüentemente veiculadas pela imprensa e agora pela revista Veja .

Comparando as decisões anteriores do TCU com as conclusões às quais o

Grupo Especial de Trabalho do Ministério da Integração chegou, podemos observar

que muitas delas são idênticas àquelas e hoje são apresentadas pelo Governo como

novidades absolutas.

Tudo isso vai demonstrar que a corrupção, a improbidade administrativa, os

atos lesivos ao patrimônio público relativos à SUDAM não se limitam a uma ou duas

máfias envolvendo alguns empresários e servidores públicos. Tem raízes mais

profundas e precisam ser amplamente investigados, para se apurar a

responsabilidade em todos os níveis, desde aqueles que se beneficiaram

diretamente com as fraudes e com o desvio dos recursos públicos até os

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responsáveis solidários, por omissão, complacência ou conivência, na Presidência

da República, no Ministério da Integração, nos Ministério responsáveis pela

Autarquia e na Superintendência da SUDAM.

A criação da Corregedoria-Geral da União também é mais uma cortina de

fumaça nesse esquema. Como nasceu para abafar a instalação da CPI da

Corrupção, a Corregedoria muito pouco pode avançar no mar de lama que atinge

vários setores deste Governo. As opiniões da própria Corregedora-Geral da União,

Sra. Anadyr de Mendonça Rodrigues, refletem o que digo. Diante de todas as

denúncias envolvendo o Governo, a Corregedora afirmou ao jornal O Globo, na

editoria "O País", página 3, do último domingo (08.04.2001), que “existe uma onda

de denuncismo e que a corrupção não é tão grande como a sociedade imagina”.

Na mesma entrevista, a Sra. Anadyr demonstra a sua total parcialidade

perante o Governo. Para quem veio com o objetivo de apurar a corrupção dentro das

esferas governamentais, ela diz que “a hipótese de um Ministro ser responsável por

irregularidades é muito remota, muito improvável”. São declarações mais adequadas

para um porta-voz, e não para quem tem status de Ministro de Estado com “poderes

para apurar corrupção”.

Nesse sentido, Sr. Presidente, não existe outro caminho para de fato apurar

as irregularidades na SUDAM senão o da CPI. Muitos Parlamentares já estão

convictos disso. Mas, para que possamos dar uma resposta rápida à sociedade,

será necessário conseguirmos as 257 assinaturas ao pedido de urgência para a

instalação da CPI.

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O Congresso já está débito com a Nação por até o momento não ter aprovado

a instalação da CPI da Corrupção. O momento é oportuno para que nós possamos

mostrar ao País que a Câmara não ficará omissa nesse processo.

Durante o discurso da Sra. Vanessa Grazziotin, o

Sr. Salatiel Carvalho, 2º Suplente de Secretário, deixa a

cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Marçal

Filho, § 2º do artigo 18 do Regimento interno.

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O SR. JAIME MARTINS - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. JAIME MARTINS (Bloco/PFL-MG. Pela ordem. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, a febre amarela silvestre, que

recentemente mobilizou autoridades de saúde, Prefeitos e a população do centro-

oeste de Minas, está definitivamente sob controle, mas seus efeitos perversos se

fazem ainda sentir na economia da região.

O alarde inicial ante as primeiras notícias da epidemia, devido mais à

desinformação que ao conhecimento efetivo dos riscos, acabou provocando uma

retração dos clientes habituais de nossas fábricas, sobretudo em Divinópolis, onde

cerca de 1.000 empresas de confecção enfrentam dificuldades inesperadas. Se

antes da turbulência chegavam à cidade de 30 a 40 ônibus de compradores ávidos

pelos produtos de alta qualidade e baixo preço, hoje temos menos de 10% desse

número. O desemprego é, portanto, mais uma ameaça — essa, real — sobre nossa

população.

É por isso, Srs. Deputados, que venho pedir sua atenção para fatos e dados

que não podem continuar escondidos pelo sensacionalismo ou pela abordagem

ligeira do problema.

Em primeiro lugar, é preciso conhecer o inimigo. A febre amarela é uma

doença viral e tem origem silvestre. É nas matas, não nas cidades, que o vírus

circula, principalmente entre os macacos, e pode ser transmitido ao homem pela

picada do mosquito Haemagogus.

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O temor é a urbanização da febre amarela. Nas cidades, o vírus pode ser

transmitido de uma pessoa doente para outras pela picada do mosquito Aedes

aegypti, o mesmo que espalha a dengue. Por isso é tão importante reforçar o

combate aos focos do inseto, que prolifera em água parada e limpa.

Em Minas, as regiões norte, noroeste, centro-oeste, sudoeste, o Triângulo

Mineiro e o Alto Paranaíba são áreas consideradas de risco para a doença.

Ocorre que o desmatamento, interferindo no hábitat dos macacos

hospedeiros do vírus, está na raiz da ameaça da urbanização da doença, o que não

acontece desde 1942 no Brasil. A região centro-oeste de Minas, onde apareceu o

foco atual da febre amarela silvestre, fica no cerrado, um dos biomas mais

ameaçados no planeta.

Como a doença não é erradicável, já que há permanente circulação do vírus

nas florestas, a vacina é a forma correta de prevenção, e vale por dez anos. Os

centros de saúde estão sempre abastecidos com o imunizante, e basta a quem

planeja viajar para áreas onde há focos da febre amarela silvestre vacinar-se pelo

menos dez dias antes de embarcar. É o tempo necessário para que a vacina

estimule as defesas do organismo.

Agora que conhecemos o inimigo e as formas de combatê-lo, vejamos o que

se passou no centro-oeste de Minas. Uma região com 55 Municípios e 1 milhão, 350

mil habitantes, que tem em Divinópolis o pólo de suas atividades econômicas, teve

apenas 25 casos confirmados da doença, com 18 óbitos. Mas, ressalte-se, nenhum

caso em Divinópolis! O próprio Ministro da Saúde, José Serra, constatou esse fato,

quando visitou a região para se inteirar in loco do problema.

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A cidade, com 184.000 habitantes, verdadeira capital do centro-oeste mineiro,

próspera e com ótima infra-estrutura, recebeu os doentes que lhe foram

encaminhados das áreas rurais de outros Municípios e deles cuidou com o desvelo e

a alta capacitação de suas equipes médicas. Isso bastou para que ficasse também

com o ônus, a pecha de um perigo inexistente.

O risco de contrair febre amarela em Divinópolis é o mesmo de a contrair em

Brasília, ou Belo Horizonte, ou São Paulo: é o risco de um viajante, contaminado em

uma área de floresta, passar a doença adiante pelo vetor conhecido, o mosquito

Aedes aegypti. Mas isso não foi devidamente realçado, e o temor da doença —

infundado, como vemos — afastou os turistas e compradores, que são a vida, a

seiva de nossa economia.

O impacto imediato dá-se na área social, como bem lembrou o Dr. Afonso

Gonzaga, Presidente da Associação Comercial de Divinópolis, pois 15 mil empregos

diretos e 50 mil indiretos são gerados na cidade somente pelas empresas de

confecção. Mas há também o impacto entre os próprios clientes, em outros Estados,

prejudicados em seu ganha-pão pela falta de informação serena e completa, a

informação responsável que se faz necessária nesses momentos.

Ainda no último sábado, nossa cidade sediou um encontro de Secretários de

Saúde do Estado e daqueles Municípios, e de técnicos da FUNASA, para uma

avaliação final do problema. Conforme o Dr. Leopoldo Greco Rodrigues dos Santos,

Secretário de Saúde de Divinópolis, a vacinação preventiva está concluída em todos

os Municípios, com praticamente 100% de cobertura, e nenhum caso novo foi

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registrado; mantém-se um dispositivo de vigilância apenas até após a Semana

Santa.

Portanto, Sras. e Srs. Deputados, e também fiéis parceiros comerciais de

Divinópolis, nossa cidade, assim como nossa região, está preparada para receber a

todos em perfeita segurança e com o carinho de sempre. Agradecemos a todos os

que nos ajudaram a vencer essa luta — autoridades, profissionais da área de saúde

e nossa população. Vencemos a tormenta e continuamos atentos, para não haver

sobressaltos. A hora é de voltar a atenção para o trabalho e para o futuro. A

tempestade passou e Divinópolis espera a todos de braços abertos.

E, para que este esclarecimento tenha a repercussão que merece, estou

requerendo sua inserção no noticioso A Voz do Brasil e nos demais meios de

divulgação dos trabalhos desta Casa, como o Jornal da Câmara e a nossa TV

Câmara.

Muito obrigado.

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O SR. MARCOS CINTRA - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. MARCOS CINTRA (Bloco/PFL-SP. Pela ordem. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, quero apenas comunicar que dei entrada a duas

proposições: uma proposta de emenda à Constituição, com o objetivo de incluir as

armas de fogo entre os produtos cuja propaganda se sujeita a restrições legais, e

uma emenda ao projeto relativo ao FGTS — esse malfadado projeto do Governo —,

na qual apresento uma alternativa para discussão.

Peço a V.Exa. que este pronunciamento seja divulgado pelos órgãos de

comunicação da Casa.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Concedo a palavra ao Deputado Rubens

Bueno, do Bloco Parlamentar PPS/PDT. S.Exa. disporá de vinte e cinco minutos.

O SR. RUBENS BUENO (Bloco/PPS-PR. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, o IBGE vem de nos oferecer a “Síntese de

Indicadores Sociais 2000”, com dados colhidos de 1992 a 1999, ou seja,

praticamente toda a última década do século que acabou de passar.

Esse autêntico extrato social do Brasil está a exigir uma análise mais cuidada,

para que não nos percamos em meio do foguetório com que se comemoram os

dados positivos nem nos embaracemos com um reducionismo pessimista, que pode

levar-nos a encontrar naquele documento apenas o que não foi feito ainda, ou nunca

foi feito.

Mas uns dados e outros são, de per si, relevantes. A mortalidade infantil, por

exemplo, decresceu de 44 para 35 mortes em cada mil nascimentos. A taxa de

analfabetismo para a população com mais de 15 anos caiu também, de 17% para

13%. O índice de escolaridade média cresceu quase 20%, e a expectativa média de

vida, que era, no princípio da década, de 66 anos, é agora de 68 anos. Cresceu a

renda média da população, com o que, impossível negar, os que eram muito pobres

ficaram menos pobres. Um jornal brasiliense apressou-se em exibir, eufórico, em

sua primeira página, a foto de um casal que, com renda de 900 reais, possui

televisão, videocassete, microondas e aparelho de som, como símbolo desses

resultados positivos detectados pelo IBGE dentro da sociedade brasileira.

Impossível deixar de reconhecer esses avanços. Do meado da década para

cá, o Brasil conseguiu domar a inflação, estabilizar a moeda e, de alguma forma, a

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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economia. Mas não conseguiu, em uma polegada sequer, reduzir a distância que

separa a população mais rica (10% do total) da mais pobre (40% do total),

ampliando, em muito, o fosso que define essa terrível desigualdade.

E essa disparidade tem raízes. No início da década de 30, o País podia ser

considerado uma imensa fazenda, com mais de 70% da população vivendo no e do

campo. Cinqüenta anos depois, em 1980, já éramos uma grande civilização

industrial, e, no entanto, essa riqueza assim produzida não encontrava o vetor de

distribuição mais equânime, pois que, de 30 a 50, essas desigualdades sociais

somente se fizeram mais profundas. De 1950 a 1980, o País cresceu a uma média

de 7% ao ano, um dado relevante, mas que, infelizmente, não se traduziu também

em uma distribuição de riqueza mais justa, mais humana.

Dizia-se, naqueles anos de desenvolvimento marcante, que era necessário

fazer o bolo crescer para depois dividi-lo. Dizia-se também que um crescimento

assim acelerado gerava descontroles e a impossibilidade de equacionar, em bons

termos, a questão da distribuição de renda. Entendíamos então, como agora, que a

estabilidade tão sonhada, o fim da inflação desabrida, tudo isso, afinal, iria levar-nos

não ao paraíso, o que seria sonhar em demasia, mas a um estágio civilizatório em

que tais desigualdades não se apresentassem assim de forma tão cruel.

A tendência de melhora dos índices sociais é planetária. E por quê? O Sr.

Camdessus, até recentemente dirigente do Fundo Monetário Internacional, foi

taxativo ao dizer que a sociedade estava enfrentando uma ameaça sistêmica — a

fome. Por isso, esses tantos organismos internacionais, milhares de organizações

não-governamentais, governos e mesmo empresários locais foram adotando

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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medidas para que essa ameaça não se transformasse em conflito aberto entre os

que vivem para comer e os que só comem quando sobra.

A urbanização acelerada, que não é um fenômeno exclusivamente brasileiro,

passou a exigir providências também aceleradas para que, em prazo de tempo

demasiadamente curto, fosse possível a convivência pelo menos civilizada entre

milhões e milhões de rurícolas que deixam o campo e de qualquer maneira — e

sempre de maneira indigente — alojam-se nos grandes centros urbanos. Extinto

aquele grande isolamento, aquele grande distanciamento a que estão sujeitas, por

óbvio, as populações rurais no grande centro conseguem, ainda que precariamente,

escola para os meninos, abrigo para os velhos e mesmo algum trabalho, ainda que

informal, ainda que à base de salários medíocres.

No Brasil, sirvam-nos de exemplo Estados como Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, Paraná, Minas Gerais, Pará, Ceará e Bahia, que já tinham criado seu

Fundo de Desenvolvimento Urbano, que lhes permitia acesso a empréstimos do

BNDES e agora funciona como uma espécie de janela financeira para obtenção de

verbas federais e/ou internacionais. Ora, outras janelas desse tipo podem ser

encontradas e abertas, permitindo a aplicação de recursos oficiais no atendimento

de um público a cada dia mais carente, nesses amontoados subumanos que são as

favelas existentes na periferia das grandes metrópoles.

E não é só. A cada instante tomamos conhecimento de uma ou outra iniciativa

adotada pelas mais simples municipalidades, localizadas nas áreas que o saudoso

Tancredo Neves costumava chamar de grotões. São medidas criativas, salvadoras,

que ajudam, de alguma forma, a resolver problemas locais emergentes e de solução

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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urgente, antes que se busque aquele auxílio do cofre estadual ou do cofre federal,

sempre demorado, sempre condicionado, sempre sujeito a injunções que, no mais

das vezes, nada têm a ver com o social.

Observe-se a exibição do jovem casal ao lado dos seus eletrodomésticos

novos. A conclusão primeira a que se pode chegar é de que, afinal, têm o de que

necessitam. Mas pode-se, do mesmo passo, perguntar: a vida de um cidadão, com

sua família, reduz-se apenas a casa e comida? E a educação, a cultura? E o lazer, a

saúde, a previdência? Pois essas são as questões que as desigualdades sociais não

permitem sejam resolvidas. Sequer, no mais das vezes, equacionadas. Daí se pode

chegar à dedução lógica de que fica mais fácil combater a pobreza que essas

desigualdades sociais. E isso porque qualquer economista que em seus estudos

acadêmicos se tenha debruçado sobre esses desníveis, dentro mesmo de cada

sociedade, deve ter percebido, de logo, que tais condições amesquinhantes não

encontram solução em qualquer equação econométrica, mas sim e exclusivamente

na ação política voltada para sua solução. E é isso que macula a biografia de nossa

elite dirigente, política e econômica, pelos anos tantos de nossa história mais

recente.

Ouço com prazer o nobre Deputado Regis Cavalcante.

O Sr. Regis Cavalcante - Nobre Deputado Rubens Bueno, parabenizo V.Exa.

pela análise dos indicadores apresentados pelo IBGE. Imagine — e isso motivou-me

a permanecer em plenário e fazer o aparte — o que pensam aqueles brasileiros que

ocupam os rincões deste grande País, vendo a divulgação da realidade tão perversa

que nos cerca, principalmente nos últimos seis anos, nos últimos governos! Vemos,

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ao mesmo tempo, a mídia nacional noticiar que o Senador tal levou tantos milhões

de um banco, que um outro fez transações no aeroporto de um Estado diferente,

que irregularidades tomaram conta do dinheiro público no País, que o Presidente da

República telefona para as Lideranças que lhe dão sustentação no Congresso

Nacional a fim de impedir a fiscalização profunda dos recursos públicos que

deveriam estar sendo aplicados na área social, em benefício da criança, do

adolescente, do jovem e do idoso, e não estão sendo. Por que não? Verificamos que

cortes de recursos são feitos a cada ano na área da assistência social. É o resultado

perverso desse modelo econômico centrado exatamente na prática de excluir a

maioria dos brasileiros do bem-estar social. Em muito boa hora V.Exa. faz essa

análise. Orgulho-me muito de fazer parte do partido do qual V.Exa. é Líder. V.Exa.

mostra ao País inteiro a farsa deste Governo que se diz preocupado com a área

social, que vai às redes de televisão, por intermédio do seu partido, e alega que é o

que mais se preocupa com as questões sociais brasileiras. Que contradição! Estão

aí os números reveladores do caos que estamos atravessando. É necessário

rediscutir esse modelo econômico. O Governo deve ter capacidade de fazer

autocrítica, e não colocar panos mornos sobre a realidade das irregularidades que

estão acontecendo e precisam ser investigadas, e não impedir a instalação da

Comissão Parlamentar de Inquérito. É preciso, sim, ter ousadia para enfrentar os

números que aí estão, a perversidade da exclusão social, e colocar o País em outro

patamar no novo milênio, sem exclusão, sem desigualdade, sem violência, um novo

País para todos os brasileiros. Parabéns, Deputado Rubens Bueno.

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O SR. RUBENS BUENO - Agradeço a V.Exa., Deputado Regis Cavalcante, o

aparte. Lembro aos nobres pares que nossa preocupação, como partido de

oposição, é com os números publicados pelo IBGE, preocupação que o aparte de

V.Exa. consolida e corrobora.

Ouço com prazer o Deputado Clementino Coelho.

O Sr. Clementino Coelho - Deputado Rubens Bueno, parabenizo-o também

pelo tema, dada a propriedade e a oportunidade. Nós que vivemos no Nordeste e

visitamos a periferia, o interior, quando nos deparamos, na semana passada, com as

manchetes de todos os jornais tecendo loas à melhora de vida do brasileiro,

pensamos que estávamos em outro País. Mas, no contato direto o povo, vemos que

a desigualdade e a carência ainda são enormes. Um grande articulista do jornal

Folha de S.Paulo, ao comentar o assunto, disse que o Governo estava

proclamando justamente uma vitória de Pirro. É uma questão de marketing, porque,

no mundo ocidental e civilizado, depois que inventaram o antibiótico, a vacina e a

água clorada, os níveis sociais teriam de melhorar. A melhora é compulsória. Só

que, em nosso País, é conservadora, morosa, e está matando a unidade nacional.

Um pernambucano, um homem do povo, hoje, para ter os mesmos direitos de

cidadania de um paulista, precisará de 46 anos para consegui-la, se a política

regional ou de desenvolvimento que este Governo está consolidando continuar

nesse ritmo. Não podemos esperar que mais gerações surjam para unificarmos a

cidadania no País. Faço coro, mais uma vez, aproveitando o brilhante

pronunciamento de V.Exa., para dizer que o grande problema do País são as

políticas de desenvolvimento regional. Elas são ultrapassadas, anacrônicas,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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fracassadas, corrompidas. Se não envidarmos esforços — Congresso Nacional,

Poder Executivo, Nação e sociedade — para discutir mecanismos modernos de

políticas de desenvolvimento regional, com status de política nacional, não

resolveremos o quadro de desequilíbrio social. Onde está assentada a desigualdade

social? Nos bolsões de pobreza, na periferia, nas regiões subdesenvolvidas. Até no

Paraná e em São Paulo, Estados estruturados, o desequilíbrio social, se formos

comparar, está justamente nas regiões menos desenvolvidas e com infra-estrutura

inferior. Para implementar uma política social de estruturação, não de

assistencialismo, novas políticas de desenvolvimento regional têm de ser

implantadas. E que sirva de modelo para o País, para esta Casa e para os

Parlamentares o que vem sendo feito no Mercado Comum Europeu, o que foi feito

em Portugal, na Espanha, na Grécia, na Irlanda e na Alemanha Oriental, e em vinte

anos deu resultados. Hoje, todos são cidadãos de Primeiro Mundo nesses países.

Todos têm renda per capita e oportunidade de emprego. Todos esses países

oferecem infra-estrutura aos seus cidadãos, seja física, seja de educação; enfim, a

cidadania ali é una, indivisível. Não existem dois cidadãos, duas regiões, duas

Europas. Há hoje uma só, com o Mercado Comum Europeu. Que consigamos, em

face de todos esses fatos, desmascarar o quadro aqui existente. O assistencialismo,

o fisiologismo e a política de curto prazo não resolverão o grave problema brasileiro:

a falta de política competente e eficaz.

O SR. RUBENS BUENO - Agradeço a V.Exa. o aparte.

Quero, de público, falar da preocupação que o Deputado Clementino Coelho

tem tido, na direção do PPS e na bancada do partido, quando expressa claramente,

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como fez agora, suas idéias em defesa das regiões mais empobrecidas, no sentido

de torná-las mais produtivas, geradoras de emprego e renda, para que tenhamos um

País mais decente e não nos envergonhemos tanto com pesquisas como a que o

IBGE acaba de divulgar.

O Sr. Pedro Eugênio - Concede-me V.Exa. um aparte?

O SR. RUBENS BUENO -Com todo o prazer, Deputado.

O Sr. Pedro Eugênio - Deputado Rubens Bueno, V.Exa. tem toda a condição

de vir à tribuna para falar, em seu nome pessoal e no de nosso partido, das mazelas

que nos infelicitam, estampadas em dados da pesquisa do IBGE. Tem V.Exa.

autoridade para fazê-lo, por sua história e pelo papel que sempre desempenhou em

defesa do equilíbrio e da igualdade. Tem também V.Exa. autoridade, pois fala em

nome do nosso partido, que prega profunda transformação do modelo de

desenvolvimento econômico. É totalmente diferente da proposta do atual Governo,

que durante seis anos simplesmente administrou financeiramente a relação do País

com seus credores, o que elegeu como prioridade. Se observarmos a execução

financeira do Orçamento da União nos últimos seis anos, verificaremos que o

percentual executado do Orçamento enviado pelo Executivo e aprovado por esta

Casa é absolutamente ridículo. São investimentos em saúde, educação,

saneamento básico, infra-estrutura básica. O Governo, já antevendo as eleições,

começa a lançar programas que pretendem resgatar carências sociais graves. Além

de torcer para que o Governo finalmente invista alguma coisa nessas áreas, temos

todo o direito de dizer em alto e bom som o que disse ao Presidente, em Sergipe, o

Deputado Federal Ivan Paixão, nosso companheiro: que tudo aquilo que estava

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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sendo anunciado era nada mais do que o pagamento uma dívida que há muito já

devia ter sido paga. Não se trata de nenhum favor, nem deveria servir de moeda de

troca eleitoreira. Nobre Deputado Rubens Bueno, seu pronunciamento é muito

oportuno. V.Exa. tem toda a autoridade para fazê-lo, pois é de um partido que

levanta a bandeira da transformação e da superação das desigualdades no nosso

País. Parabéns.

O SR. RUBENS BUENO - Muito obrigado, nobre Deputado Pedro Eugênio,

Primeiro Vice-Líder da bancada do PPS. Suas palavras engrandecem meu

pronunciamento e transmitem os motivos de sua luta e da de todo o PPS nesta Casa

e em todo o País.

Prossigo, Sr. Presidente. Referimo-nos à história mais recente porque não

aceitamos que se transforme tudo em teorias sociológicas que apontam para o

colonialismo e o escravismo, nossas raízes históricas e econômicas mais

perceptíveis, como razões maiores para as condições de vida, hoje, de nosso povo.

Planos tivemos muitos. A industrialização acelerada, a substituição de

importações, o crescimento com endividamento externo, a interiorização da Capital

como deslanchamento de novo e promissor processo civilizatório, os acordos com o

FMI e a banca internacional. Nada está dando certo. É a comprovação mais simples

que nos surge. Em alguns anos, tínhamos a dívida externa como vilã da história.

Ela, embora esteja, de alguma forma, menos feroz, só fez crescer no período. A

dívida interna seria outro vilão que nos ameaçava a todo instante e que, somada à

externa, impedia uma melhor política de distribuição de renda. Nosso comércio

internacional, hoje considerado o "abre-te, sésamo" para o novo avanço econômico,

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começou a fazer água nos últimos dois anos, mas, apesar de deficitário, cresce em

volume e em troca de moedas fortes. Tudo isso, diga-se com destaque, foi feito à

base de uma política de forte redução de um sem-número de conquistas sociais dos

assalariados.

Alega-se, e com alguma razão, que nossa economia dá portentosa exibição

de pujança, despertando, por isso mesmo, o interesse dos grandes investidores.

Entretanto, se formos examinar o que de fato ocorre, os capitais que estão entrando

vieram na esteira das privatizações e na compra de patrimônio, mas não para a

construção de novas fábricas, não para a geração de mais e mais empregos, não

para a ampliação das pesquisas tecnológicas. Daí que nossa dependência continua

a mesma, quando não ampliada. E, com ela, essa perversa distribuição de renda

que não conseguimos vencer.

Este "conseguimos" é uma expressão pouco acertada. O povo, o povo que

trabalha e que produz essas riquezas imensas — somos uma das dez maiores

economias do mundo —, o povo não enfrenta, ele sofre essa diferenciação

amesquinhante, quase impotente, diante de arrumações políticas e financeiras que

se fazem fora de seu alcance e mesmo conhecimento, ficando, como disse Rui

Barbosa do cidadão que assistia à proclamação da República, simplesmente

abestalhado.

Mas não são apenas nossas raízes históricas que definem um quadro assim

tão pouco promissor. Seria, alegam outros, o fruto da ação rapinante de um

capitalismo selvagem. Mas a selvageria, ao que nos é dado entender, não é

qualidade que se adicione ao capitalismo, vez que, a rigor, é atributo inerente a ele

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mesmo. No mundo do capital, a prevalência é a da lei do mercado e, portanto, a lei

do mais forte, que é a da selva. Mas em países estritamente capitalistas, como

França, Itália, Suécia, Dinamarca e uns tantos mais, essa distribuição de renda não

enfrenta tantos e tais percalços. Temos exemplos bem significativos. No Brasil, a

renda mensal de quem está entre os 10% mais ricos é de 3 mil e 500 reais. A de

quem está entre os 60% mais pobres é de 220 reais: uma é mais de 15 vezes a

outra!

Em outro levantamento, também emblemático, vamos encontrar o tempo que

os 20% mais pobres precisam trabalhar para igualar a renda dos 20% mais ricos.

Enquanto Espanha esse prazo é de 4 meses, no Brasil é de 2 anos e 8 meses,

numa posição que nos deixa inferiorizados, somente na América Latina, frente à

Guatemala, ao Chile, à Venezuela, à Colômbia e ao México.

Essas desigualdades de rendas, que se convertem, por inteiro e por via de

conseqüência, em desigualdades sociais, aqui, em nossa terra, ainda exibem

significativos hiatos regionais, de gênero e de cor. Nada mais correto. A mortalidade

infantil no Rio Grande do Sul é praticamente a metade da encontrada em Alagoas;

as mulheres, ainda que gabaritadas, continuam a ter salários menos representativos

que os homens, e os negros, que carregam mais densamente a herança escravista,

continuam compondo o maior contingente entre os pobres e os excluídos.

Comprovação do que dissemos anteriormente — que parece mais fácil

combater a pobreza que as desigualdades sociais — está na política que vem de ser

adotada pelo Governo, com a criação de um Fundo de Combate à Pobreza. Está

mais que óbvio que um partido que se propõe socialista e popular não pode, em

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qualquer instância, condenar de pronto qualquer ação oficial que busque, de alguma

forma, minorar os efeitos dessa pobreza endêmica que afeta o País. Mas não se

pode deixar de afirmar que essas políticas compensatórias, notadamente às

vésperas de um grande ano eleitoral, nada têm de profundo nem de decisivo para

alcançar seu objetivo máximo: o fim da pobreza num país.

Isso, bem entendido, somente se conseguirá à base de políticas institucionais

que ofereçam, de forma universal, melhor qualificação para os milhões de pessoas

que, a cada ano, adentram o mercado de trabalho nacional, de uma política de

saúde capaz de vencer a exclusão, de firmes e perenes programas de prevenção,

sempre a custos menores que os de tratamento médico-hospitalar mais complexo;

de uma política que aplique recursos no saneamento básico, motivo maior para

essas epidemias que brotam País afora, provocando mortes, internamentos e o

mais; enfim, de um rol de políticos que não se atenha ao episódio conjuntural, mas

sim ao que é permanente.

Três milhões de famílias com filhos até 7 anos de idade tentam sobreviver

com menos de meio salário mínimo por mês. Menos de 90 reais, Sr. Presidente,

quando a cesta básica, apenas a cesta básica mais barata, já beira os 200 reais.

Esse universo, esses quase 10 milhões de seres constituem, sem dúvida, o mais

acabado quadro da exclusão e da falência de políticas públicas no setor.

Não combater essas desigualdades sociais, que são, queremos insistir, em

seus diversos aspectos, desigualdades regionais de gênero e também de cor, não

buscar uma política efetiva de melhor distribuição de renda, que possa pelo menos

retirar o Brasil de posição assim tão amesquinhante como a que ocupamos no

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ranking mundial, seria o mesmo que permitir a disseminação, Brasil afora, de uma

endemia capaz de, por si só, corroer todos os avanços obtidos na área social que

foram tão bem revelados pelos dados fornecidos na pesquisa do IBGE.

Quisemos mostrar que períodos de fausto e de recessão de nossa economia,

tempos de inflação desvairada e, agora, de estabilidade demorada, nada disso

representou, pelo menos em seus aspectos positivos, qualquer avanço para a

sociedade brasileira como um todo. O povo, impossível negar, cumpriu sua

obrigação. Abandonou a grande fazenda que éramos nos primeiros anos da década

de 30. Inchou as cidades, criando autênticas megalópoles que, hoje, são outro

grande problema para qualquer administrador público. Mas, antes e sobretudo,

produziu e segue produzindo uma das maiores economias do planeta, que é a

nossa, gerando riquezas e lucros de vulto, sem que, no entanto, esse mesmo povo

possa ter auferido um mínimo desses imensos ganhos.

Doutrinas liberais que informam políticas de governos liberais tiveram seu

auge e sobretudo sua razão de ser no século XVII e, em parte, no século seguinte,

quando a atroz atuação da nobreza impedia, como um arrocho sufocante, que se

desenvolvessem economias latentemente possantes, que se multiplicassem por

muito as trocas comerciais entre nações, ducados e principados.

Hoje, desnecessário dizer, é outro o mundo, são outras as exigências sociais.

Recorrer ao mercado, admitir que sua mão invisível possa segurar uma varinha de

condão capaz de produzir as transformações necessárias é um exagero retórico,

para não dizer que é o supra-sumo do conservadorismo.

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Tem que agir aqui, com toda a visibilidade, a mão do Estado, capaz de traçar

uma política consensual que defina, desde já, as formas eficazes de se chegar a

uma distribuição de renda mais humana, mais socialmente justificável. E há de

começar agora, porque, daqui a dez anos, o IBGE estará preparando-nos nova

síntese de índices sociais. E será absolutamente trágico se, em meio deles,

encontramos os mesmos resultados que encontramos hoje.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Concedo a palavra ao nobre Deputado

Confúcio Moura para uma Comunicação de Liderança, pelo PMDB.

S.Exa. dispõe de oito minutos.

O SR. CONFÚCIO MOURA (PMDB-RO. Como Líder. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, volto à tribuna para abordar tema que li hoje no

jornal Correio Braziliense.

Nessa interessante matéria jornalística, o Secretário de Acompanhamento

Econômico do Ministério da Fazenda, Cláudio Considera, afirma ser possível o

Governo subsidiar remédios para os pobres. Ao sinalizar a possibilidade de pôr em

prática efetiva política de medicamentos para o Brasil, o Governo demonstra a

intenção de captar recursos de várias fontes orçamentárias e destinar

aproximadamente 2 bilhões de reais para a produção de remédios básicos para a

pobreza brasileira.

Sr. Presidente, sou médico por formação. Muitas vezes, no interior, ao

prescrever medicamentos para pacientes, alguns perguntavam: “E o remédio,

doutor?” Respondia: “Está na receita.” “Mas, doutor, não posso comprar o remédio.

Não tenho o dinheiro”. Eu dizia, então, que infelizmente nada podia fazer e

aconselhava-os a procurar a Prefeitura, ou recorrer a amigos.

Muitos são doentes crônicos. Grande número deles sofre de hipertensão

arterial, de doenças do coração, apresenta problemas de reumatismo, de epilepsia

etc.

Os pacientes crônicos têm de ser cadastrados num banco de dados .

Deveriam receber um cartão como os de crédito e, com ele, ir ao Banco do Brasil,

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inseri-lo na máquina, digitar uma senha e retirar sua bolsa de medicamentos. A

quantia será suficiente para comprar o remédio a que são obrigados usar

diariamente a fim de controlar a doença.

Os Governos estaduais e municipais devem verificar quais as doenças de

maior incidência, mais prevalecentes em cada lugar. A partir daí podem criar uma

lista de quarenta a sessenta medicamentos básicos e distribuí-los aos pacientes que

não dispõem de recursos. Se eles não tomam os remédios, a doença agrava-se,

voltam aos hospitais e, aí, o tratamento é bem mais dispendioso para o Governo.

Essas farmácias básicas não são difíceis de serem formadas. Basta que se

tenha o levantamento estatístico das doenças registradas e que os médicos

receitem remédios genéricos. Medicamentos sem marca são mais baratos. Nesse

caso, a população mais pobre terá mais chance de comprá-los e as Prefeituras, de

distribuí-los.

Não tenho observado, nos Municípios do interior, preocupação dos

Secretários Municipais de elaborar esse minimo minimorum, essa lista básica dos

remédios necessários ao atendimento de significativa parcela da população

brasileira.

Em Rondônia, ao contrário, tenho observado de corpo presente e pelas

denúncias publicadas nos jornais a situação complexa e caótica em que se encontra

o sistema de saúde local — o que não é muito diferente do resto do País. Os

hospitais sob a direção do Estado estão numa situação de penúria extrema. O

Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina denunciam todo dia a falta de

segurança para que o médico possa exercer sua profissão sem expor o paciente a

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riscos. O doente chega grave e sai pior. Os que estão fraturados esperam de vinte a

trinta dias para serem atendidos; os que sofreram acidente vascular cerebral ficam

jogados pelos corredores à espera de atendimento.

Esse quadro demonstra a distância entre o Poder e o povo, o Poder e os

oprimidos, e as igualdades e as diferenças. Isso tudo expõe, com imensa nitidez, o

que sofrem os brasileiros que não têm garantido o cumprimento de preceito

constitucional previsto no art. 196, segundo o qual a saúde é direito fundamental de

todo cidadão brasileiro.

Precisamos ser mais coerentes na administração da saúde. Em Rondônia, no

ano passado, o Governador do Estado demitiu 10 mil funcionários, entre os quais

médicos, enfermeiros, auxiliares, farmacêuticos, fisioterapeutas e professores. Hoje,

está contratando rapidinho médicos de cooperativas do Rio de Janeiro, deixando os

nossos desempregados. Que insensatez! Que falta de ajuste, de conveniência nas

demissões! Errou o Sr. Governador. Aliás, S.Exa. já assumiu que levou o serviço de

saúde ao sucateamento, degradou a estrutura existente naquele momento, já que

hoje fica mais cara sua reconstrução. Foi um passo político em falso. Como é difícil

aceitar uma atitude política prejudicial ao povo.

Dessa forma, Sr. Presidente, com esperança, desejo louvar o Governo

brasileiro, na expectativa de que efetivamente coloque à disposição dos pobres o

cartão medicamento com que possam acessar qualquer agência bancária, qualquer

caixa eletrônico, sacar o dinheiro e pagar o medicamento básico cadastrado.

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Discurso do Sr. Deputado PAES LANDIM que,

entregue à revisão do orador, será posteriormente

publicado.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Concedo a palavra ao nobre Deputado

Luciano Castro, para uma Comunicação de Liderança, pelo Bloco PFL/PST, por

quatro minutos.

S.Exa. dividirá seu tempo com o Deputado Ney Lopes.

O SR. LUCIANO CASTRO (Bloco/PFL-RR. Como Líder. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, venho à tribuna registrar o

verdadeiro abandono em que se encontram os produtores rurais do Estado de

Roraima.

Não há como aceitar que o Governo do Estado, ao cabo de quase oito anos

de mandato, tendo manuseado uma arrecadação de 2 bilhões e 750 milhões de

dólares, deixe o produtor rural de Roraima no grau de abandono em que hoje se

encontra, sem crédito, sem semente e, o pior, sem estrada vicinal.

Inicia-se agora no Estado o período das chuvas, e avizinha-se o caos. O

produtor não poderá escoar sua produção e todo o esforço do plantio será jogado

fora.

Por isso, Sr. Presidente, registro aqui a minha indignação, o meu repúdio à

ação do Governo do Estado, pela falta de apoio ao produtor rural roraimense.

Conclamo todos os políticos do Estado a buscar juntos recursos federais para

socorrer nossos produtores rurais.

Na segunda-feira, em Mucajaí, iniciaremos o asfaltamento da principal vicinal

do Município, tão importante para aquela região do Apiaú. Essa iniciativa é a

demonstração cabal de que nós, Parlamentares federais, temos condições de fazer

aquilo que o Governo do Estado não tem feito até agora.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Concedo a palavra ao nobre Deputado

Ney Lopes, para uma Comunicação de Liderança, pelo Partido da Frente Liberal.

S.Exa. dispõe de quatro minutos.

O SR. NEY LOPES (Bloco/PFL-RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) -

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, quero registrar um fato da maior importância

para as relações internacionais do Brasil: a chegada a Brasília do Presidente da

China, Sr. Jiang Zemin, nesta tarde, para manter entendimentos com o Governo

brasileiro.

A China mantém há algum tempo com o Brasil uma cooperação mútua que a

cada dia se sedimenta e se cristaliza. A China, do ponto de vista estratégico, é

fundamental para o Brasil. Por exemplo, a China lançou em seu território um satélite

construído com tecnologia brasileira. Estudos que estão sendo realizados permitirão

o lançamento de um segundo satélite, com aporte tecnológico recíproco.

A cooperação entre China e Brasil estende-se às áreas de biotecnologia e

informática, dois pontos da maior importância para o processo de globalização. A

biotecnologia, já se chegou a dizer, é a marca do século XXI. A biotecnologia poderá

contribuir para a elevação dos níveis de progresso, renda e qualidade de vida das

pessoas. Desnecessário o comentário sobre a informática, porque ela hoje abrange

todas as áreas de conhecimento científico no mundo.

Justamente nesses setores de biotecnologia e informática, a China mantém

estreita relação de cooperação, de troca e de interação tecnológica com o Governo

brasileiro. O Presidente da China, Jiang Zemin, que chegou a Brasília há poucos

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instantes, traz consigo a marca da continuidade desse diálogo saudável entre o

Brasil e a nação chinesa.

Portanto, aproveito esta oportunidade para saudar o povo chinês, na pessoa

do seu Presidente, que merece o nosso respeito, pelo desenvolvimento que tem

proporcionado à China, seguindo um modelo atípico, com condições especialíssimas

— a China adota, sob o ponto de vista político, uma filosofia que se contrapõe à sua

ação econômica, mas que vem dando bons resultados.

Sr. Presidente, voltarei a ocupar a tribuna no Grande Expediente para fazer

uma análise sobre a Cúpula das Américas, que se realizará no Canadá nos

próximos dias.

Muito obrigado.

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O SR. WILSON SANTOS - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. WILSON SANTOS (PMDB-MT. Pela ordem. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, preciso dividir com os nobres

pares minha apreensão diante das negociações e discussões em torno da criação

da ALCA e da inserção, nela, do Brasil e do MERCOSUL.

Qual é, Sr. Presidente, Srs. Deputados, a real posição do Brasil na ALCA?

Qual o papel do MERCOSUL nessa negociação? Não se sabe! Vemos os países do

MERCOSUL — Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — e seus associados, Chile e

Bolívia, em total desagregação. Divergem nos acordos sobre metas fiscais, livre

comércio, convergência monetária, dentre outros.

O Brasil, por necessitar de um cronograma dilatado, com tempo suficiente

para reforçar sua competitividade e fortalecer o MERCOSUL, não defende a

antecipação da ALCA para 2003, como propõem os EUA, a menos que os temas

substanciais, que interessam ao Brasil (apenas), estejam na mesa de negociações,

como o fim das barreiras que afetam 60% das exportações brasileiras e mudanças

na lei antidumping dos Estados Unidos, que atingem as exportações de aço do

Brasil. Ou seja, o Brasil negocia isoladamente os seus interesses.

Parece, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que os demais países não estão

muito interessados na preservação do MERCOSUL, e caiu por terra a tão defendida

negociação em bloco do MERCOSUL com a ALCA. A Argentina, com seu novo

plano para estabilizar a economia, atropela o MERCOSUL. Chile e Colômbia já

estão procurando acesso especial ao mercado americano, assim como os países da

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América Central. O México está pressionando pelo aprofundamento do NAFTA, e o

Paraguai luta pela preservação da democracia, sob firme ação do Brasil, em

conjunto com os Estados Unidos. Ou seja, cada País segue os seus próprios e

principais interesses.

Para o Brasil, a ALCA é importante. É sinônimo de desenvolvimento. É a

inclusão de todos os seus setores da economia e da indústria no mundo globalizado

e no mercado aberto e livre. Mas o MERCOSUL também é importante, Sr.

Presidente. Representa a integração, a porta de entrada, a pedra fundamental de

todo e qualquer acordo de livre comércio do hemisfério. Parece-me, no entanto,

estar muito difícil o Brasil conseguir essa integração de interesses e ações. Assim,

parte sozinho para a ALCA. Negocia isoladamente com os EUA, mas faz parte de

um "MERCOSUL".

Ora, Sr. Presidente, é hora de o Brasil se definir! Ou assume uma posição de

país isolado na ALCA, ou busca alternativas efetivas de fortalecimento para o

MERCOSUL e então passa a negociar em globo.

Um fato chamou-me a atenção, Sr. Presidente, e leva-me a julgar que o

Brasil, de certa forma, está sendo visto isoladamente pelos americanos. Um

documento intitulado "Política dos Estados Unidos em relação ao Brasil", enviado ao

Presidente George Bush, logo após a sua posse, por um grupo de empresários e

estudiosos americanos denominado "Força-Tarefa Independente do Brasil", aponta o

Brasil como o agente de maior importância, juntamente com os Estados Unidos, na

sustentação da reforma econômica e da democracia, na promoção do livre comércio

e dos mercados abertos, com papel determinante na expansão da Área de Livre

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Comércio da América do Norte até a América do Sul, e parceiro ideal para ações

nas áreas de segurança, política e comércio.

Sr. Presidente, o Brasil precisa acordar e conscientizar-se de que,

isoladamente, representa mais da metade, em população e PIB, da América do Sul,

possui grande mercado de consumo e parque industrial avançado, em que a adesão

à novas tecnologias é crescente, e é o maior país da América Latina e líder do

MERCOSUL. A posição do Brasil é favorável. Está em total condição de negociar e

de impor exigências. Não seria o momento de agir com mais firmeza? Se o

MERCOSUL é importante, por que não se criar um grupo-tarefa, a exemplo dos

americanos, para concluir sobre as reais possibilidades e sobre a inserção, ou não,

do Brasil no âmbito da ALCA?

Algo precisa ser feito. Medidas efetivas devem ser tomadas no sentido de

preservar a democracia e os interesses econômicos, políticos, tecnológicos e sociais

dos brasileiros. O Brasil precisa definir-se. É necessária uma definição clara sobre

qual é o papel do Brasil nessa negociação.

Devemos ampliar as discussões com relação à ALCA para que não sejamos

apanhados de surpresa. É importante que o Congresso Nacional e o Governo se

debrucem sobre este que é um tema da maior importância para o futuro do Brasil e

de toda a América Latina.

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O SR. CORIOLANO SALES - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. CORIOLANO SALES (PMDB-BA. Pela ordem. Pronuncia o seguinte

discurso.) - Sr. Presidente, Sras. Srs. Deputados, a imprensa tem noticiado que o

número de inadimplentes junto à rede comercial de todo o País tem crescido de

forma assustadora. Somente no primeiro trimestre deste ano, o volume de cheques

devolvidos aumentou em mais de 100%, tomando-se por base o mesmo tempo

decorrido no ano 2000.

O crescimento das vendas a prazo, a expansão do crédito e o “estímulo ao

consumo” por parte do comércio têm sido apontados como os principais

responsáveis pelo aumento do índice de inadimplência, denominado, ainda, como

“calote” por alguns veículos de comunicação.

Tenho refletido a respeito do assunto e não comungo com a opinião daqueles

que julgam os inadimplentes como “caloteiros” ou irresponsáveis. Pois um dos

significados da palavra “calotear” no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira é “contrair dívida sem intenção ou possibilidade

de pagar”.

Não acredito que ao assumir o compromisso o consumidor, em sua grande

maioria, o faça com o intuito de não honrar com a obrigação. O que ocorre, no meu

ponto de vista, é que a massa populacional não tem conseguido arcar com as

altíssimas taxas de juros, que variam de 10% a 12%. Vale lembrar quão exorbitantes

são os juros dos cartões de crédito, das financeiras e dos cheques especiais.

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É obrigação do Governo adotar medidas urgentes para a redução significativa

das taxas de juros, para que o consumidor de baixa renda não seja oprimido e

esmagado pelos altos juros, ficando sem condições de saldar os seus débitos e,

além de tudo, sendo tachado de trambiqueiro.

Sr. Presidente, solicito a V.Exa. que dê a devida divulgação ao

pronunciamento nos órgãos de comunicação da Casa.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) - Concedo a palavra ao nobre Deputado

Agnelo Queiroz, para uma Comunicação de Liderança, pelo Bloco PSB/PCdoB.

O SR. AGNELO QUEIROZ (Bloco/PCdoB-DF. Como Líder. Sem revisão do

orador.) – Sr. Presidente, quero, em nome do Bloco PSB/PCdoB e da Frente

Parlamentar em Defesa do Brasil, manifestar nosso protesto contra a demissão, pelo

Ministro Celso Lafer, do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães do Instituto de

Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty, por manifestar ponto de vista

divergente ao que sustenta o Governo brasileiro sobre a ALCA.

É evidente que todos nós, nacionalistas, que defendemos os interesses da

Pátria, estamos muito preocupados com esse comportamento do Governo Fernando

Henrique Cardoso, que vem utilizando o método da mordaça, da coação, inclusive

para impedir manifestações legítimas sobre questão polêmica que diz respeito ao

interesse nacional. As opiniões têm de ser, no mínimo, respeitadas. A demissão, em

razão da manifestação de opinião, de um embaixador extremamente competente,

reconhecido por sua capacidade, por seu vasto conhecimento, sobretudo pela

defesa intransigente dos interesses nacionais, estarrece os homens de bem e

merece o mais veemente repúdio.

Queríamos que o Presidente da República tivesse comportamento ativo frente

à corrupção que tem campeado de forma tão brutal no seu Governo. Mas ele faz

como o avestruz: esconde-se, e não toma nenhuma posição, como no caso do

DNER, em que foi comprovado o envolvimento direto dos chefes e do próprio

Ministro dos Transportes no esquema de pagamento de precatórios. Agora, está aí a

denúncia de que o desvio de recursos na SUDAM já chegam a 360 milhões de reais,

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mas o Presidente não toma providências. Apenas anuncia que vai fazê-lo, para dar

satisfação à sociedade. No entanto, quando um patriota dá uma opinião — não quer

dizer que o Governo tenha de acatá-la —, é demitido. Na verdade, é o mesmo

comportamento que o Presidente tem tido em relação aos Procuradores, querendo

colocar-lhes uma mordaça.

Quero lamentar o fato e dizer que somos solidários ao Embaixador Samuel

Pinheiro Guimarães. Vamos querer explicações do Ministro das Relações Exteriores.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Marçal Filho) – Dando seqüência ao Grande

Expediente, concedo a palavra ao Deputado Nilson Mourão, do PT.

S.Exa. dispõe de até 25 minutos na tribuna.

O SR. NILSON MOURÃO (PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, mais uma vez vem à tona o debate acerca da

SUDAM. Depois das denúncias de ACM, agora é o próprio Ministro da Integração

Nacional, Fernando Bezerra, que admite publicamente o mar de lama que se

instalou na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, ao apresentar o

relatório do grupo especial criado para investigar irregularidades na autarquia, que,

após as primeiras análises, apontou o desvio de R$108,6 milhões, em 29 dos 95

projetos analisados, o que corresponde a 30% do total avaliado. O relatório apontou

40 funcionários como possíveis responsáveis pelas irregularidades. Dois ex-

Superintendentes — José Artur Guedes Tourinho e Maurício Vasconcelos —

aparecem citados como responsáveis pela aprovação de projetos e liberação de

recursos para empresas irregulares ou ilegais. Segundo o jornal Folha de S.Paulo,

os dois foram indicados para o cargo pelo Senador Jader Barbalho.

A revista Época noticiou a ligação de Jader com o empresário José Soares

Sobrinho, beneficiado com verbas da SUDAM para executar projetos sobre os quais

pesa a suspeita de irregularidade. Segundo a revista, o empresário é amigo de

infância de Jader e sua família têm doze empresas que receberam verbas da

SUDAM. Muitos desses empreendimentos não saíram do papel. Em outros, há

indícios da participação de “laranjas”. Funcionários de empresas da família, no Pará,

aparecem como responsáveis por projetos executados em Tocantins, por exemplo.

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Dos 29 projetos com irregularidades detectadas nas primeiras investigações

feitas pelo Ministério da Integração Nacional, 2 chamaram a atenção dos técnicos.

Um deles foi o empreendimento USIMAR, de São Luís, no Estado do Maranhão,

destinado à produção de ferro gusa. O projeto recebeu R$44,1 milhões do FINAM e

suas verbas foram aprovadas e liberadas em tempo recorde pela SUDAM.

Orçado em R$1,3 bilhão, o projeto foi encaminhado à Superintendência no dia

20 de setembro de 1999 e aprovado pelo então Superintendente José Artur Guedes

Tourinho no dia 24 de setembro de 1999. O próprio Ministro Bezerra estranhou a

pressa na aprovação da carta-consulta, de valor tão expressivo, em apenas 4 dias.

Parte dos recursos, R$22,1 milhões, foi liberada em 5 de janeiro de 2000, e o

restante, R$22 milhões, em 27 de março de 2000.

Outro caso alarmante é o da empresa TUNASA, também do Pará, uma das

apontadas por ACM como irregulares, que recebeu R$3 milhões para a construção

de três barcos pesqueiros. Um barco — o Tunasa 1 — custou R$1,6 milhão,

conforme nota fiscal apresentada no dia 7 de março de 2000. Realizada a auditoria

pelo Ministério, na cidade de Curuçá, Estado do Pará, descobriu-se que o barco

havia sido construído em 1985, ou seja, 15 anos antes. O barco já existia, só que

com outro nome, que era Delmar Norte – X.

Com base nos resultados das primeiras investigações, o Ministro da

Integração Nacional declarou que a emissão de notas "frias" é uma das fraudes mais

comuns usadas no desvio de recursos de projetos incentivados pela SUDAM. Até

aquele momento, somente 95 projetos tinham sido avaliados. Desse total de R$108

milhões não constam, por exemplo, 100 milhões repassados ao empresário Osmar

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Borges, do Mato Grosso, cujas empresas estão sendo investigadas pelo Ministério

Público, e irregularidades já foram constatadas pela Secretaria Federal de Controle

Interno do Ministério da Fazenda.

Os jornais de todo o País noticiam que o rombo da SUDAM já atinge R$1

bilhão e 770 milhões, dez vezes mais que o valor desviado do TRT de São Paulo,

que foi de R$169 milhões. Esse valor cresce todos os dias, como uma Mega Sena

acumulada. Há menos de duas semanas o desvio constatado no órgão era de

R$370 milhões, e os técnicos que estão investigando os projetos estimavam que

pudesse chegar a R$500 milhões. Hoje, as estimativas indicam que, após a análise

dos 548 projetos sob a tutela da autarquia, o valor do rombo poderá chegar

facilmente a R$2 bilhões.

É muito dinheiro para um país que não pode dar aumento aos servidores

públicos, que não pode oferecer salário mínimo digno aos milhões de trabalhadores

que dele dependem para o sustento de suas famílias. Dois bilhões é dinheiro demais

para um país que sacrifica sua população com impostos pesados e que se recusa a

fazer a reforma tributária. O desvio de 2 bilhões está sendo constatado numa única

autarquia que deveria ser investigada pela CPI da Corrupção. E todos os outros

setores sobre os quais pesam denúncias feitas pela imprensa nestes seis anos do

Governo FHC e especialmente nos últimos meses? A quanto chegará o número do

mar de lama que tomou conta do Governo Federal?

Respostas a essas perguntas só a CPI poderá dar. Somente uma

investigação aprofundada feita por CPI Mista poderá apurar onde foi parar todo esse

dinheiro. O Congresso Nacional está devendo essa resposta ao povo brasileiro.Em

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função das irregularidades, o Governo tomou duas providências: a primeira foi o

afastamento de toda a diretoria da SUDAM, para apuração das denúncias; a

segunda foi anunciar oficialmente a intenção de extinguir essa autarquia federal. É

espantoso como o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso toma

decisão dessa natureza sem estabelecer nenhum debate com a população da região

amazônica. Governadores, Prefeitos, Deputados Federais, movimentos sociais,

ninguém foi ouvido. Mais uma vez, tomam-se decisões à revelia do povo, numa

demonstração de autoritarismo sem precedentes.

A situação da SUDAM pode e deve ser debatida pelos interessados, para se

buscarem novos caminhos. De fato, ao longo dos anos a SUDAM foi se

transformando num escudo para financiar projetos que só devastaram a região,

criando mais desemprego e miséria, apesar de sua diretoria ter sido alertada

permanentemente sobre o equívoco. Portanto, o mar de lama que hoje vem à tona

não é nenhuma novidade. Já foi denunciado há muitos anos. A função da SUDAM

na região amazônica é a de financiar pequenas empresas e agricultores familiares,

esses, sim, geradores de emprego, renda e progresso social.

O tráfico de influências e a corrupção instalada na SUDAM devem ser

investigados profundamente e os culpados punidos com os rigores da lei. Mas não

podemos, jamais, aceitar o raciocínio do Governo Federal de que o problema se

resolverá com a extinção da instituição. É o mesmo que matar a vaca para acabar

com o carrapato. Se o Governo decidir por esse caminho e tomá-lo como regra,

passando a extinguir toda autarquia em que encontrar corrupção, em pouco tempo o

Governo brasileiro não contará com nenhuma estrutura administrativa.

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Apoiaremos, sim, as mudanças na SUDAM que partam de discussões com as

lideranças da região. Temos muito a contribuir nesse processo.

Sabemos da importância da instituição para o desenvolvimento da Amazônia,

financiando iniciativas que geram emprego e renda para nossa população tão

isolada e tão carente. Temos o que dizer para fazer a SUDAM cumprir de fato a sua

função. Basta que o Governo nos escute.

Sr. Presidente, lamento profundamente a decisão da Mesa Diretora da

Câmara dos Deputados de mandar arquivar o pedido de instalação da CPI

apresentado pelo Deputado Babá.

Iremos recolher novas assinaturas e deveremos fazer ver a esta Casa a

importância da instalação dessa CPI. Somente uma CPI poderá investigar todo o

mar de lama existente na SUDAM e ter as condições necessárias para expor essa

situação à luz do dia, apontar os caminhos corretos e punir os culpados.

A situação da SUDAM mostra o caminho certo para que o Governo Fernando

Henrique Cardoso compreenda a importância de uma CPI no plano nacional. É

provável que o Governo tenha medo de que a CPI chegue à sua própria mesa. Mas

quem não deve, não teme. Se o Governo Fernando Henrique nada tem a temer, não

deve temer a CPI do Congresso Nacional, uma CPI Mista como deseja o povo

brasileiro.

Era o que tinha a dizer.

Durante o discurso do Sr. Nilson Mourão, assumem

sucessivamente a Presidência os Srs. Gastão Vieira, Ney

Lopes e Haroldo Lima, § 2º do artigo 18 do Regimento

Interno.

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O SR. PRESIDENTE (Haroldo Lima) - Concedo a palavra ao Deputado Ney

Lopes, do Bloco PFL/PST-RN.

S.Exa. dispõe de 25 minutos.

O SR. NEY LOPES (Bloco/PFL-RN. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Sras. e Srs. Deputados, venho a esta tribuna falar de assunto que diz respeito

diretamente ao futuro do nosso País e, por extensão, ao desenvolvimento da

América Latina.

Refiro-me à realização no Canadá, no final da próxima semana, da Cúpula

das Américas, ocasião em que os Presidentes de República dos países das

Américas, acompanhados de representantes do Legislativo de cada nação,

discutirão ações econômicas, sociais e políticas para essa região, principalmente

questões relativas a um assunto muito próximo ao Brasil, a ALCA — Área de Livre

Comércio das Américas.

Tive a honra, Sr. Presidente, de receber convite do Exmo. Sr. Presidente da

República, Fernando Henrique Cardoso, e do Presidente desta Casa, Deputado

Aécio Neves, para integrar a comitiva oficial que irá ao Canadá acompanhar essas

gestões, que terão, com certeza, forte projeção na economia nacional. Infelizmente,

não poderei aceitar o convite porque justamente nessa semana se realizará o

casamento de um filho e terei de permanecer no Brasil.

Os temas a serem discutidos nessa Cúpula polarizam aqueles que desejam

acompanhar, com profundidade, o futuro da América Latina. Atualmente sou

Presidente alterno do Parlamento Latino-Americano, que congrega 23 países das

Américas e do Caribe.

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Tive oportunidade, Sr. Presidente, há 2 anos, numa conferência conjunta da

América Latina com o Parlamento europeu, de apresentar trabalho denominado “Os

Efeitos da Globalização sobre o Desenvolvimento Latino-Americano”. Nesse

trabalho, também publicado em espanhol, comentei, juntamente com debatedores

europeus, os efeitos da globalização em nossa região e em nosso continente.

E a posição que emerge do debate do Parlamento Latino-Americano,

coerente com a posição do Governo brasileiro, é a de que qualquer ação ou gestão

que diga respeito à formação de um bloco econômico do qual participem Estados

Unidos, Canadá e também México, que hoje já têm um acordo sub-regional, o

NAFTA, depende de muitos fatores e não pode decorrer de atitude impensada que

traga dificuldades não apenas para nós, mas também para os próprios parceiros

norte-americanos.

Não se trata, Sr. Presidente, de desconhecer esse fenômeno irreversível: a

globalização. Não. Ela existe e temos de analisar essas ações sob a ótica da

conveniência nacional, porque, afinal de contas, uma integração maior, uma parceria

maior entre os povos só tem sentido à medida que dessas ações resultem melhorias

sobretudo na qualidade de vida dos povos.

O Governo brasileiro, tendo à frente o Sr. Presidente da República, Fernando

Henrique Cardoso, e também o Ministro Celso Lafer, das Relações Exteriores, tem

tido posição muito firme, coerente e decidida nos debates sobre à Área de Livre

Comércio das Américas — ALCA.

Recentemente o Presidente da República visitou o Presidente recém-

empossado dos Estados Unidos, George W. Bush, e teve a altivez de deixar muito

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claro que qualquer decisão sobre tema tão complexo como este dependerá, no

mínimo, de discussões pormenorizadas, que vão se prolongar até 2005.

Isto define muito bem o perfil do Brasil, que não é um país que tenha, pela

voz do seu Presidente, pela lucidez da nossa política externa, o propósito de se

isolar do mundo. O Brasil não quer aparar o sol com a peneira, negar os movimentos

integracionistas, negar as tendências globalizantes. Não. Entretanto, por outro lado,

para aderir a ações como esta, que encerra uma paridade tarifária econômica para

ativar comércio entre desiguais, é preciso refletir, e de tal maneira que, da decisão

tomada, a sociedade tenha retorno, possa auferir benefícios e melhoria de qualidade

de vida.

Vejo, Sr. Presidente, por exemplo, o risco de uma integração ou uma

vinculação impensada a um programa como o da ALCA num fenômeno que

recentemente debati nesta Casa, na área de telecomunicações. Trouxe ao Plenário

denúncia, recente, contra uma empresa de televisão por assinatura que opera

através de DTH. Pois bem. Essa empresa chamada DIRECTV se negara a divulgar

o sinal da TV Câmara na sua grade de programação, e o fez por meio de carta

escrita em inglês, condicionando a inclusão da TV Câmara na sua programação à

assinatura de um contrato que essa empresa, a Galaxy Latino-Americana, enviou

também em inglês, tendo como foro eleito para dirimir controvérsias o do Estado da

Califórnia.

Ora, Sr. Presidente, este é um fato da maior gravidade. Fiz nesta Casa a

denúncia e estou aprofundando-me na matéria. Após a Semana Santa,

encaminharei pormenorizado requerimento de informações à Mesa e à Comissão de

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Comunicações, hoje dirigida pelo lúcido companheiro Deputado Cesar Bandeira, que

considera prioritário esses assuntos, para que o Ministério das Comunicações

detalhe por que foi dada permissão a uma empresa genuinamente internacional, ao

que se sabe, como a que assumiu o controle da DIRECTV, que originariamente era

do Grupo Abril. Por que essa empresa distribui o sinal e opera o satélite, e não se

digna sequer a colocar o satélite no território latino-americano ou mesmo no Brasil?

Captamos as imagens de uma parte do satélite destinado aos Estados Unidos e à

Europa.

Repito, Sr. Presidente: este é um fato muito grave, por mais que se diga ser

decorrente do processo de globalização, de integração. Não sou contra que essa ou

outras empresas, mesmo com capital estrangeiro, nos limites que a lei permite,

venham a operar no Brasil. A posição do meu partido e a minha posição pessoal,

esta Casa conhece.

Por exemplo, no caso da divulgação televisiva, é preciso preservar a índole

nacional, a cultura nacional. Como é possível o telespectador por assinatura do

Brasil ficar sujeito a programas em outros idiomas, legendados, até com monopólios

de produção de filmes fora do País?

É preciso que o Brasil, mesmo integrado numa ação de cooperação e de

parceria em telecomunicações, preserve o que é nacional. Quer operar no Brasil?

Invista num satélite especial para o Brasil, invista nos nossos atores, nos nossos

artistas, nos nossos escritores, faça programações nacionais, a exemplo de alguns

grupos nacionais.

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Isso não quer dizer isolamento do mundo, mas cópia do que, por exemplo,

fazem os Estados Unidos em seu território. Duvido, Sr. Presidente, que uma

empresa que fosse transmitir programas televisivos relativos à cultura latino-

americana ou africana tivesse a permissão do Governo americano para tanto.

Poderia ter se parte da programação dissesse respeito à cultura, às relações sociais,

aos interesses daquele país.

Dei o exemplo de tema que me preocupa e que venho estudando, inclusive à

luz da legislação, até porque esse sistema de TV por assinatura, através da tecla

DTH, que é a captação por satélite, não está muito bem regulamentada por lei no

Brasil. A TV a cabo e a MMDS, sim. Talvez por isso existam essas lacunas ou essas

brechas na legislação.

Não tenho nenhum desejo de me colocar contra a presença de capitais

estrangeiros associados ao capital brasileiro. Chamo, porém, a atenção da Casa

para a necessidade de preservação, no caso da televisão também, como em outras

áreas, do perfil cultural do País, dos traços nacionais. Afinal de contas, não há

instrumento mais persuasivo de convencimento do que a televisão. E, como tal, os

sinais que chegam às residências nacionais devem passar por uma filtragem. E a

filtragem maior é o compromisso com as tradições, com a cultura, com a literatura,

com os usos, com os costumes nacionais. De outra forma, estaríamos colaborando

para uma deformação do perfil sociocultural do nosso País.

Mas, Sr. Presidente, voltando ao tema da reunião da Cúpula das Américas,

que envolve essas questões de cooperação, com certeza a ALCA vai entrar em

discussão. Quando do debate com o Parlamento Europeu defendi, junto com

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colegas Parlamentares europeus, o ponto de vista de que, aceita a conveniência da

integração latino-americana, cabe indagar se esse processo deveria ou não incluir

os Estados Unidos já numa etapa inicial.

Defensores dessa estratégia apontam a formação da ALCA como instrumento

para sua consecução. De acordo com essa visão, os países latino-americanos

beneficiar-se-iam do acesso desimpedido ao mercado americano, bem como do

barateamento das importações de lá provenientes.

Na verdade, Sr. Presidente, uma integração imediata entre América Latina e

Estados Unidos exige, como disse, muita cautela, sobretudo no que se refere à

questão tarifária. Como é possível igualar ou isentar tarifas entre unidades

econômicas ou agentes econômicos desiguais, tanto no aporte de investimentos,

que é fundamental, quanto sobretudo na detenção da tecnologia?

Na hora em que existir igualdade desse tipo, será, com certeza, a sentença

da dependência decretada de forma inexorável para o futuro.

Com certeza, a um país como os Estados Unidos, que tem com o Brasil

relações amistosas, cordiais e saudáveis, não interessará essa dependência. Daí

por que é absolutamente fundamental que se estabeleça um diálogo aberto entre

povos que fazem da liberdade do comércio um instrumento de trabalho.

Ouço, com muito prazer, a Deputada Luiza Erundina.

A Sra. Luiza Erundina – Nobre Deputado, desejo associar-me às suas

preocupações e destacar a importância do debate que V.Exa. estimula com seu

pronunciamento, que vai fundo na análise da questão da integração dos mercados

americanos, a qual, sem dúvida alguma, terá imprevisível impacto na economia e na

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vida dos países que dele farão parte. Esse assunto não pode ficar apenas no âmbito

do Congresso Nacional ou mesmo do Poder Executivo. Certamente, deve repercutir

na sociedade brasileira e nos meios de comunicação de massa. Que ela seja

também amplamente debatida pela sociedade, porque trará conseqüências

incalculáveis, poderá gerar efeitos mais perversos do que aqueles que estão

ocorrendo na vida do povo brasileiro, na vida dos povos dessa região emergente,

obrigada a se integrar a esses mercados sem o devido cuidado, sem as ressalvas,

absolutamente indispensáveis para preservar seus interesses e sua autonomia.

Parabenizo V.Exa. por estimular esse debate.

O SR. NEY LOPES – Agradeço o aparte à eminente Deputada Luiza

Erundina, que enriquece, com sua visão, minhas despretensiosas reflexões sobre

tema tão empolgante como este.

Sr. Presidente, poder-se-ia certamente indagar se é necessária tanta cautela

com o acesso do Brasil, como de outros países, mas falemos somente do Brasil, a

esse movimento econômico-comercial. O que fazer a curto prazo? Será que vamos

ficar de braços cruzados? Será que estou pregando que o País se isole em nome da

prudência, fique refletindo e não faça nada?

Não, Sr. Presidente. O Brasil tem a solução para a América Latina, porque

aqui já foi adotada. Nossa Carta Magna, no art. 4º, parágrafo único, é uma das

poucas Constituições da América Latina que tratam do tema da integração. Dispõe a

Constituição:

A República Federativa do Brasil buscará a

integração econômica, política, social e cultural dos povos

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da América Latina, visando à formação de uma

comunidade latino-americana de nações.

Veja bem, Sr. Presidente, integração econômica, mas também política, social

e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade

latino-americana de nações.

No trabalho apresentado perante o PARLATINO e o Parlamento Europeu,

deixei muito clara a luta do Parlamento Latino-Americano, a começar pelo saudoso

Deputado Franco Montoro, que a ela dedicou parte de sua vida, pela criação da

comunidade latino-americana de nações. Antes de qualquer movimento de natureza

isolada, no caso comercial ou econômico, integrar a América Latina. Essa é a tarefa

que nós, Parlamentares brasileiros, temos à nossa frente, no sentido do

convencimento dos Parlamentares de outros países do continente.

Já existe avanço, Sr. Presidente. O Grupo do Rio criou, em 1995, um grupo

técnico de trabalho para apresentar proposta de Ata de Intenção Constitutiva da

Comunidade Latino-Americana de Nações.

Esse trabalho vem sendo realizado e foi encaminhado aos Chanceleres do

Grupo do Rio. Participo desse grupo técnico de trabalho como representante do

Brasil, designado pelo Parlamento Latino-Americano. O grupo técnico avançou. Já

há esboço de ata constitutiva, com adesão de vários países através do Poder

Legislativo — fundamental será a adesão do Poder Executivo no futuro —, visando à

formação da Comunidade Latino-Americana de Nações.

Vamos seguir o exemplo da Europa, quando começou seu movimento

integracionista, no início da década de 50, com a Comunidade Européia do Carvão e

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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do Aço. Sua primeira preocupação não foi com o Parlamento Europeu, mas com a

Comunidade Européia, que depois evoluiu para o estágio atual, em que até moeda

comum já vigora, embora esse processo tenha demandado muito tempo, mais de 50

anos.

Se começarmos pelo interesse imediato do comércio ou da economia, vamos

deixar de lado aqueles traços que a Constituição recomenda: políticos, culturais,

socioculturais, diria, básicos para uma integração duradoura. A Comunidade Latino-

Americana de Nações é o caminho, Sr. Presidente.

Tive oportunidade de conversar sobre o assunto com o Presidente Fernando

Henrique Cardoso. S.Exa. é entusiasta da idéia. Queira Deus que agora, no Canadá,

o Brasil não se pronuncie no sentido de se opor à discussão sobre a ALCA.

Ninguém aqui é contra a ALCA, o MERCOSUL, o NAFTA. Esses movimentos de

regionalização econômica ocorrem não só na América Latina, mas na Europa,

exemplo maior, e na Ásia também, com tendência muito expressiva. Não vamos de

encontro a uma tendência mundial. A ALCA demanda tempo e reflexão para sua

constituição, mas a Comunidade Latino Americana de Nações, não.

Exorto, sem ser pretensioso, os Estados Unidos a aceitarem e estimularem a

criação de uma Comunidade Latino-Americana de Nações, sem prejuízo de acordos

comerciais pontuais, em casos concretos. Para fazer acordo, por exemplo, com os

Estados Unidos, temos de acabar com as restrições à nossa laranja, aço, celulose e

calçado, sob pena de ser rua de mão única, o que não leva a nada, a não ser a

colisões inesperadas.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Portanto, a Comunidade Latina Americana de Nações seria — deixo isso

como conclusão objetiva das minhas considerações nesta tarde — o caminho para a

integração das Américas, incluindo os Estados Unidos. Afinal de contas, naquele

país a comunidade hispânica é superior a 50 milhões de pessoas, o que justifica

interação conosco em todos os níveis, uma vez que lá também existem traços da

nossa cultura. Mas essa ação deveria começar pelo que recomenda nossa

Constituição: integração ampla, total e irrestrita, política e econômica, mas também

social e sobretudo cultural.

Desde que os Presidentes reunidos no Canadá caminhem para criar a

Comunidade Latino-Americana de Nações, terá sido dado o primeiro passo firme,

decisivo, para que as Américas, incluindo os Estados Unidos, comecem a discutir

suas origens e seu futuro, sem prejuízo, repito, até de acordos comerciais ou

econômicos pontuais, sem ser abrangentes ou genéricos, mas nos casos em que,

num debate consensual, bilateral ou em bloco, sejam abordados interesses das

partes contratantes ou envolvidas.

Lutemos, portanto, Sr. Presidente, pela Comunidade Latino-Americana de

Nações. A ALCA é colocar, como se diz num jargão popular do Nordeste, o carro na

frente dos bois. Temos de nos preocupar em definir a unidade da América Latina em

todos os planos, como me referi, para depois, então, a América Latina ou as

Américas, em bloco, decidirem acordos multilaterais que envolvam trocas e

parcerias de natureza comercial e econômica.

Isso, sim, preservará nossa imagem, nosso perfil, nosso futuro e evitará

suspeita de dominação. Não é possível nenhuma ação coletiva entre povos se existir

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risco de dominação. Acho que isso não interessa nem aos Estados Unidos, uma vez

que seus dirigentes e sua cultura são essencialmente de preservação da liberdade e

da democracia.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Haroldo Lima) - Concedo a palavra à Sra. Deputada

Luiza Erundina, do Bloco PSB/PCdoB, do Estado de São Paulo.

S.Exa. dispõe de 25 minutos.

A SRA. LUIZA ERUNDINA (Bloco/PSB-SP. Sem revisão da oradora.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, caros telespectadores, ocupo a tribuna para

chamar a atenção de V.Exas. e da sociedade paulistana e brasileira como um todo a

respeito de matéria publicada na última edição da revista ISTOÉ sob o título “TCM

faz a festa”.

A matéria traz à opinião pública realidade estarrecedora sobre a organização

e o funcionamento do Tribunal de Contas do Município de São Paulo e os desvios lá

existentes. A revista se fundamenta em dados incontestáveis, uma vez que

fornecidos pelo próprio Tribunal de Contas do Município de São Paulo, por meio de

CPI da Câmara Municipal de São Paulo destinada a apurar desvios, irregularidades

e abusos praticados naquele tribunal contra o interesse público e o povo de São

Paulo.

Dentre outros dados da matéria, chamo a atenção da Casa para salários

milionários, nepotismo e barganha política, rotina no tribunal investigado pela CPI da

Câmara Municipal.

O orçamento do TCM este ano é de 91,5 milhões de reais — uma importância

fabulosa que onera os cofres públicos municipais, já tão esvaziados pela fantástica

dívida deixada pelas duas últimas gestões da cidade que chega a 18,5 bilhões de

reais. Sem dúvida nenhuma, um orçamento de 91,5 milhões para manter um órgão

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auxiliar do Legislativo e de controle do Executivo Municipal é algo que precisa ser

revisto e corrigido quanto aos excessos.

Aquele Tribunal dispõe de 850 funcionários. Desses, 656 são da ativa,

inclusive os 5 Conselheiros que respondem pela coordenação e a direção desse

órgão de fiscalização. Existem ali, segundo dados colhidos pela CPI, funcionários

fantasmas, gratificações e aposentadorias forjadas, comprovados por documentos

do próprio TCM. Além disso, Sr. Presidente, existem naquela Casa gratificações que

aumentam o salário dos funcionários, em alguns casos, em mais de 10 vezes.

Alguns deles são os maiores vencimentos do quadro de funcionários do Município

de São Paulo. A estranha Gratificação Especial de Assessoramento, que deveria

beneficiar exclusivamente os procuradores municipais, de forma indevida, ilegal, foi

estendida a funcionários daquele Tribunal mediante resolução aprovada pela

Câmara Municipal em 1996, quando estava à frente do Executivo municipal o Sr.

Paulo Maluf.

A relação desse Prefeito com o Tribunal de Contas do Município, em toda a

história político-administrativa da cidade, vem se dando de forma absolutamente

eleitoreira, com o uso político do Tribunal a favor dos interesses do seu grupo

político, que deixou uma herança perversa para a Capital paulista, que terá de

administrá-la por muitas décadas até regularizar a situação financeira municipal.

Para ilustrar o abuso, o quadro estarrecedor, vou citar o caso de uma técnica

do TCM cujo salário-base é 1 mil e 560 reais, mas que recebeu, em outubro de

2000, mais 9 mil e 700 reais como resultado da Gratificação Especial de

Assessoramento. Outros servidores recebem no seu contracheque a quantia bruta

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de 29 mil e 100 reais; outros, 12 mil e 400 reais. Esses são, ilustrativamente,

salários que constam da folha de pagamento daquele Tribunal de Contas, quando a

própria Prefeita da cidade, seguindo norma constitucional, percebe salário que não

vai além de 6 mil reais. Mas um órgão técnico do Legislativo municipal paga salários

absurdos como esses que estamos denunciando, o que requer de todos nós um

posicionamento e medidas enérgicas para corrigir tais distorções.

A propósito disso, Sr. Presidente, tramitam nesta Casa várias propostas de

emendas constitucionais de alterações seja na estrutura, seja na forma de admitir os

conselheiros, no modo de funcionamento dos Tribunais de Contas e dos Conselhos

de Contas Municipais. Não me refiro apenas aos dos Estados de São Paulo e Rio de

Janeiro, mas também aos tais Conselhos de Contas que existem em outros Estados

e vivem repletos de irregularidades e distorções, além do ônus financeiro que

representam para os cofres públicos e, certamente, para os interesses sociais da

população desses Municípios.

Várias dessas propostas de emendas em tramitação nesta Casa estão

aguardando a constituição das Comissões Especiais para serem apreciadas. Uma

delas, de minha autoria, apresentada em 1999, propõe a extinção dos Tribunais de

Contas dos Municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo, e também dos Conselhos

Municipais e dos Conselhos de Contas que existem em outros Estados.

E qual o argumento que fundamenta nossa proposta? Nos termos da

Constituição Federal, o controle externo do Executivo e do Legislativo nos

Municípios poderá e deverá ser competência específica, precípua dos Tribunais de

Contas estaduais. Ou seja, se um Tribunal de Contas do Estado, a exemplo do de

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São Paulo, responde pelo controle das contas de 645 Municípios daquele Estado,

não haveria dificuldade alguma de também assumir o controle e a fiscalização das

contas públicas do Executivo e do Legislativo desses outros Municípios. Isso

representaria enorme economia para os cofres públicos e moralização do serviço

público, pela correção dos abusos e desvios que ocorrem, da forma de constituição

desses Tribunais, da maneira como eles funcionam e do não-cumprimento, nos

termos legais, das atribuições que lhes competem como meros órgãos auxiliares do

Poder Legislativo.

Em alguns casos, eles extrapolam suas competências e chegam a interferir

na autonomia dos Municípios, criando dificuldades ao atendimento das funções

constitucionais destes, porque se avocam indevidamente o direito de estabelecer

normas e parâmetros aos Executivos municipais, numa afronta à autonomia da

esfera local de poder.

A CPI em desenvolvimento na Câmara Municipal de São Paulo sobre aquele

Tribunal de Contas revela, por depoimentos de funcionários daquele órgão, que,

durante a gestão 1989/1992 — a gestão pela qual respondemos, como Prefeita

daquela cidade —, havia a orientação do Presidente, dos Conselheiros daquele

Tribunal para que pusessem lupa na averiguação das contas da nossa

Administração, procurassem pêlo em ovo (essa foi a expressão usada no

depoimento dos funcionários), num claro propósito de prejudicar o encaminhamento

das ações do Governo.

Em contrapartida, também por revelação de depoentes junto à CPI, pareceres

técnicos desfavoráveis às contas referentes às gestões do Governo Paulo Maluf e

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Celso Pitta não eram assim considerados pelos Conselheiros, uma vez que havia

favorecimento político, troca de favores e outros interesses entre aquele órgão e

gestões que passaram por aquela cidade.

Sr. Presidente, esta Casa não pode ficar indiferente ao tomar conhecimento

de dados estarrecedores publicados na revista ISTOÉ. Não podemos ficar assistindo

pura e simplesmente a todos esses fatos, ou tomarmos apenas conhecimento de

denúncias. Temos de fazer o que é de nossa competência, nos limites de nossas

possibilidades, a médio prazo — o trâmite de matérias nesta Casa é lento —, e

trazermos a plenário debate sobre a extinção desses tribunais ou a correção de

distorções e graves desvios de recursos públicos. A sociedade brasileira aguarda

resposta desta Casa a esse respeito. Não estou falando apenas em dados que me

chegam por meio da imprensa, particularmente por intermédio da revista, até porque

já sabia de alguns fatos e procurei levá-los a público, mas sem a devida eficácia.

Espero agora, a partir de grave matéria que essa conceituada revista traz a

conhecimento das sociedades paulistana e brasileira, que medidas eficazes sejam

tomadas para corrigir essas distorções.

Sr. Presidente, permito-me inclusive abordar fatos que ocorreram comigo,

quando Vereadora na Capital de São Paulo, na década de 80, e aquele Tribunal. Na

qualidade de Líder de bancada na Câmara Municipal de São Paulo, ao visitar o TCM

para conhecer os meios e recursos de que poderíamos dispor, cumprindo ação

fiscalizadora enquanto membros do Poder Legislativo municipal, fui recebida pelo

seu Presidente. E, ao sair de lá, ele me ofereceu cargos. Pediu-me que indicasse

pessoas da minha bancada para exercer cargos, numa clara tentativa de cooptação,

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o que deve ser praxe entre conselheiros daquele Tribunal e alguns membros do

Legislativo municipal, além do Executivo, que historicamente faz nomeação de

pessoas para exercer determinados cargos, certamente os mais bem remunerados

do Legislativo paulistano.

Há mais, Sr. Presidente. Outro fato que presenciei, quando Prefeita de São

Paulo, foi de um conselheiro, que ainda lá permanece, ter sido eleito pelo Legislativo

municipal com seu próprio voto. Ele decidiu a eleição na Comissão de Justiça que o

indicou para o cargo de membro do Conselho de Tribunal de Contas.

Ora, Sr. Presidente, que isenção pode ter um conselheiro vindo do Legislativo

de forma irregular, fraudulenta, tendo sido o próprio voto responsável pela indicação

sua para compor o Conselho do Tribunal de Contas?

São fatos e mais fatos e, houvesse tempo, poderíamos relatá-los todos para

mostrar que essa realidade vem de longo tempo.

O Tribunal de Contas, hoje com mais de 30 anos, já contava 20 anos à época

de minha gestão. Até então, nunca rejeitara contas de qualquer Governo, mas as

minhas foram reiteradamente rejeitadas e submetidas ao Legislativo municipal.

Certamente foi dado à minha gestão tratamento bastante discriminatório, bem

diferente da parcialidade com que aquele Tribunal se comporta em relação a

governos ligados politicamente a seus membros.

Ainda hoje conselheiros estão vinculados a alguns partidos que são base de

sustentação e de apoio a governantes cujas contas, fiscalizadas e controladas por

aquele Tribunal, não recebem o mesmo tratamento de isenção.

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Por tudo isso, Sr. Presidente, estimulamos o debate da questão nesta Casa

não apenas em relação ao Tribunal de Contas do Município de São Paulo, do Rio de

Janeiro, mas de todos os Tribunais de Contas e Conselhos de Contas estaduais.

Eles são desnecessários. São um ônus a mais sobre as finanças públicas. São

desnecessários porque as suas competências, funções e tarefas podem

perfeitamente, e com vantagem inclusive, ser absorvidas pelos Tribunais de Contas

que existem em todas as Unidades da Federação.

Sr. Presidente, nossa proposta de emenda à Constituição recebeu parecer

pela inconstitucionalidade na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação.

Elaboramos recurso para submeter o parecer ao Plenário da Casa, contra-

argumentando em relação aos fundamentos pela inadmissibilidade da matéria. O

pior é que o parecer pela inadmissibilidade é terminativo. Não há possibilidade de a

matéria tramitar na Comissão Especial designada para apreciação da proposta e vir

a plenário para amplo debate democrático, profundo e capaz de aperfeiçoá-la. Só

assim teríamos instrumento legal para um problema cuja solução há muito a

sociedade espera e nada acontece. Há décadas esses fatos se acumulam, vêm a

público, ao conhecimento da sociedade. E não há vontade política dessas

instituições para corrigir as distorções.

Espero que o impacto da matéria da revista ISTOÉ está provocando na

opinião pública — e desejo que o mesmo ocorra em relação ao Congresso Nacional

como um todo — consiga fazer com que medidas concretas e efetivas sejam

tomadas quanto à extinção de órgãos absolutamente desnecessários.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Não estou pregando nem defendendo extinção do controle externo dos

Executivos e Legislativos municipais. Pelo contrário, defendo seu aperfeiçoamento e

o aumento da sua eficácia. Não podemos conviver com existência de órgãos que, ao

invés de garantir o controle e fiscalização efetivos e eficazes, como prevê a

Constituição Federal, sobre contas públicas dos Municípios, sirvam para acobertar

desvios, irregularidades e corrupção. Não me venham dizer que aquele tribunal não

detectou o fato se tivesse tido o mesmo cuidado, a mesma acuidade e rigor quando

agiu em relação às minhas contas.

Se tivessem tido o mesmo rigor em relação às contas do Governo Maluf e do

Governo Pitta, certamente esse Tribunal teria detectado muitos daqueles casos de

corrupção, como as propinas dos fiscais e os desvios de verbas de precatórios

aplicados em outras finalidades que não as previstas na Constituição e na lei. Quem

sabe, teria sido prevenida muita improbidade, corrupção e desmando,

comprovadamente verificados através de CPI da Câmara Municipal que levou à

cassação do mandato de Vereadores e de um Deputado Estadual. Quando esses

fatos foram apurados, esse Vereador já era Deputado Estadual e teve seu mandato

cassado. Hoje, temos um Vereador preso, além de outros cassados.

O Tribunal de Contas nada viu, nada percebeu, nada detectou, nada

fiscalizou e nada controlou. Se esse Tribunal não serve sequer para prevenir

eventuais desvios, casos de corrupção e improbidade administrativa, para que

serve, então, e por que custa tão caro ao Erário municipal? Não é possível admitir a

existência desse órgão diante dessa realidade crua, perversa, dessas distorções

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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fantásticas que estamos todos a comprovar e conhecer através de mecanismos

absolutamente inquestionáveis como uma CPI na Câmara Municipal de São Paulo.

Sr. Presidente, nobres colegas Parlamentares, telespectadores, diante disso,

espero que comecemos, a partir de agora, uma ação efetiva na apreciação, no

encaminhamento e na votação das matérias que tramitam na Casa a propósito da

extinção ou pelo menos modificação, de modo a corrigir esses desvios e distorções

que ocorrem nos Tribunais de Contas e nos Conselhos de Contas Municipais.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Durante o discurso da Sra. Luiza Erundina,

assumem sucessivamente a Presidência os Srs. Ney

Lopes e Gastão Vieira, § 2º do artigo 18 do Regimento

Interno.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Concedo a palavra ao Deputado

Fernando Ferro, que disporá de 25 minutos para o seu pronunciamento.

O SR. FERNANDO FERRO (PT-PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Sras. e Srs. Deputados, ocupo esta tribuna neste período de Grande Expediente

para discorrer sobre assunto que vai interferir em nossas vidas nos próximos dias.

Trata-se do previsível e já anunciado programa de cortes de energia que o Governo

terá de fazer por conta da crise energética.

O Governo tem anunciado que, graças aos baixos índices de chuva nas

Regiões Sudeste e Centro-Oeste, particularmente, necessitaremos de racionamento

e racionalização do uso da energia. Isso é verdade, em parte.

Essa crise no fornecimento de eletricidade para o País é anunciada e

conhecida por todos que atuam no setor. No mês de junho do ano passado, numa

audiência pública na Comissão de Minas e Energia, realizamos seminário cujo título

era: “O Colapso Energético — Alternativas Brasileiras”. Naquele seminário,

especialistas do setor elétrico, empresários, membros da burocracia do Governo no

setor elétrico, Parlamentares, sindicalistas e consumidores puderam travar um

debate em que já se vislumbrava a possibilidade de restrições no fornecimento de

energia, inclusive alertando o Governo sobre as dificuldades que enfrentaríamos a

seguir. O Governo não deu atenção a isso e afirmou que éramos alarmistas, que

essa situação não existia. O Presidente da República, através dos meios de

comunicação, afirmou que não havia riscos de fornecimento de energia, o

Presidente da ELETROBRÁS, à época, idem, assim como dirigentes de várias

empresas.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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A realidade desmente todos neste momento. Estamos assistindo aos

preparativos para o racionamento de energia, particularmente nas regiões Nordeste

e Sudeste, onde o quadro hoje é muito grave. Tudo indica que não escaparemos do

racionamento de energia.

Esse racionamento tem a ver com uma questão séria, que foi exatamente a

falta de política do Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso para o setor elétrico.

Desde que assumiu o Governo, em 1995, Fernando Henrique cortou praticamente

50% do investimento na expansão, numa ação irresponsável, porque acreditava

que, com a privatização do setor elétrico, viriam capitais para investir nessa área.

Nesse sentido, foram privatizados mais de 80% da distribuição do setor elétrico

brasileiro e cerca de 20% do parque gerador elétrico do País. Os investimentos não

vieram, até porque a iniciativa privada, nessa área, investe nos ativos para ter

retorno imediato. Ela não tem nem teve a intenção de investir na expansão do

sistema elétrico brasileiro.

Estamos, portanto, diante da crise, que tem como principal responsável a

chamada política de reestruturação do setor elétrico brasileiro empreendida pelo Sr.

Fernando Henrique Cardoso, através do Ministério de Minas e Energia, que

propiciou o surgimento de várias entidades e instituições hoje responsáveis pela

política do setor elétrico brasileiro. Foram criadas o Operador Nacional do Sistema

— ONS, a Agência Nacional de Energia Elétrica — ANEEL e o Mercado Atacadista

de Energia — MAE, que era anunciado como a bolsa de valores do setor elétrico,

aquele espaço onde se iria comprar energia elétrica no mercado disponibilizado pela

competição e pela concorrência que se estabeleceria com a privatização do setor.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O setor elétrico, principalmente o brasileiro, cuja capacidade é 95% de origem

hídrica e depende basicamente do regime das águas, é eminentemente

monopolista. Portanto, não pode ser tratado como uma commodity qualquer, como

algo de que dispomos a qualquer momento. Deve haver planejamento,

gerenciamento dos recursos hídricos e planejamento enérgico para garantir a

sinergia entre o regime das chuvas nas diversas regiões do País que compõem o

sistema nacional interligado.

Essa realidade é de desconhecimento da burocracia financeira do País que

conduziu o processo de privatização que desmontou a inteligência do setor elétrico

brasileiro. Está aí o resultado da crise. Culpamos o Governo por essa atitude de

imprevidência em relação ao setor elétrico e de ser o responsável direto por esta

situação dramática que iremos enfrentar nos próximos dias.

Segundo o cenário da crise que se estabeleceu, o consumidor será

penalizado com corte de energia. O Governo já anuncia, dentre outras medidas para

reduzir o consumo de energia, o aumento da tarifa de energia elétrica. Esse é um

procedimento que vai penalizar ainda mais o consumidor brasileiro de energia. É

bom lembrar que, por exemplo, na Região Nordeste, mais de 85% dos

consumidores de energia elétrica consomem menos de 100 quilowatts/hora per

capita, consumo de uma geladeira numa residência humilde, que não vai ter como

reduzir o consumo de energia.

Se o Governo tivesse responsabilidade com a coisa pública, em primeiro

lugar, teria a coragem de dizer a público a extensão dessa crise. Esta crise de

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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fornecimento de energia elétrica não vai se cingir apenas ao ano de 2001; vai

ocorrer em 2001 e em 2002.

O Governo tem de ser obrigatoriamente transparente, jogar limpo e aberto

com a população e dizer: “Estamos diante de grave ameaça: a do não-suprimento

de energia”. É questão elementar de qualquer Governo sério garantir o apoio da

população na sua política de racionamento, de corte e de redução de consumo. Se o

cidadão comum não tiver consciência da gravidade do quadro de fornecimento de

energia não vai ter responsabilidade para contribuir com o racionamento de energia

elétrica.

Estamos diante de um anunciado cenário de crise. Para se ter idéia,

Deputado Darcísio Perondi, pelos estudos feitos do regime das águas e do volume

dos reservatórios da Região Nordeste, há possibilidade de, no fim do mês de abril,

termos o reservatório de Sobradinho, que é o mais importante das usinas do

Sistema Paulo Afonso, com menos de 30% da água. Isso significa que, a continuar

esta situação, se terá de cortar praticamente 25% da carga dos consumidores do

Nordeste. Por isso tem-se de fazer o racionamento, tem de haver política de

racionalização e política coletiva de corte de fornecimento aos consumidores.

Na Região Sudeste, esse corte recentemente anunciado, com dados

incompletos do Governo, pode atingir algo em torno de 15%. O que significa esse

corte para a Região Nordeste? Apagar cidades como Recife, Salvador e Fortaleza.

Isso é de uma brutalidade, de uma monstruosidade que não tem tamanho. O

Governo, contudo, está escondendo isso do povo brasileiro.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Nossa região passou em 1997 por um racionamento de energia, que até hoje

influi no seu crescimento. Afinal, houve perda de capacidade de investimento, de

industrialização, de atividade econômica por conta da falta de energia. E o Governo

tem metas econômicas a cumprir. Pode o País crescer e se desenvolver se não tem

energia elétrica? Não, porque não investiu na expansão do sistema elétrico.

O Governo tem dinheiro, Sr. Presidente. Ontem o Presidente da

ELETROBRÁS, o Sr. Firmino Sampaio, na troca de cargos, anunciou que só aquela

empresa dispõe de 3 bilhões em caixa para investir na expansão do sistema. Então

ela tem recursos para fazer esse investimento. E por que não o fez? A

irresponsabilidade deixa o País à mercê de grave crise no setor elétrico brasileiro.

Ouço com prazer o aparte do Deputado Darcísio Perondi.

O Sr. Darcísio Perondi - Cumprimento-o, Deputado Fernando Ferro, pelo

pronunciamento. V.Exa. demonstra preocupação com o sistema energético

brasileiro. Quanto mais energia mais desenvolvimento e mais emprego.

Cumprimento-o também pelo conhecimento da matéria. Mas quero fazer uma

pequena observação. O Governo Fernando Henrique Cardoso não comanda São

Pedro, não comanda as chuvas, meu caro Deputado. Se tivesse chovido como

choveu em outros anos não haveria essa ameaça. Este Governo está enfrentando a

política energética. A agência, assim como os Ministros da área, têm trabalhado

como nunca para enfrentar a questão. Fico contente também por ver um brilhante

Deputado de Oposição, do Partido dos Trabalhadores — cujos filiados sempre

afirmaram que este País estava parado, que não havia política de desenvolvimento,

que o desemprego estava aumentando — preocupado porque o desenvolvimento

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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está aumentando e pode faltar energia, culpando o Governo pelo outro lado.

Deputado Fernando Ferro, meus cumprimentos pelo seu interesse e pelo

reconhecimento de que poderá, sim, faltar energia elétrica porque o País está

crescendo. Vamos torcer para que São Pedro mande muita chuva. Lembro que os

investimentos externos e internos na área do sistema elétrico poderiam até ser

maiores se o seu partido não tivesse posição — que respeito — tão radical, tão firme

contra a privatização. É fundamental investimentos cada vez maiores na área de

energia porque este País vai continuar a crescer como nunca e vou vê-lo mais vezes

fazendo discursos em plenário, até reconhecendo isso. Muito obrigado.

O SR. FERNANDO FERRO - Muito obrigado, Deputado Darcísio Perondi.

Permita-me um esclarecimento que se faz necessário talvez por V.Exa. não

conhecer o setor ou não ser da área: o problema não é de chuva. Tenho comigo

dados do Governo que apontam que caiu mais chuva no mês de dezembro do que

nos anteriores. O problema foi desinvestimento na geração. Até porque o sistema

brasileiro é hídrico e tem barragens, o que permite o acúmulo de água e a

programação, ao longo do tempo, da sua distribuição.

O problema não é a falta de chuva, mas, sim, de investimento na geração.

Faltou fazer usina. De 1994 até 2000, o Governo Fernando Henrique, que

historicamente investia 13 bilhões de reais por ano na construção de

empreendimentos elétricos, passou a investir apenas 6 bilhões. Então, desinvestiu.

Isso é o resultado, é a imprevidência, é a incapacidade, porque acreditava que o

capital privado iria investir.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Lamentavelmente, V.Exa. está falando de assunto que não conhece. Até

porque, Deputado Darcísio Perondi, 2001 não é o ano das piores chuvas, não. O

problema vai agravar-se a partir de agora, porque entrará o período seco. Mas ele

estava dentro das expectativas de todos os levantamentos, dos gráficos do ONS e

do Governo. Era por isso que Fernando Henrique Cardoso dizia em outubro do ano

passado que não ia faltar água. Só que S.Exa. se esqueceu de um detalhe: houve

um crescimento de 5% no consumo, que não foi acompanhado pelo crescimento na

expansão do setor. E o resultado é que o nosso setor elétrico perdeu a capacidade

de investimento. Não houve planejamento. Afinal, a maioria das empresas foi

desmanchada.

O GCPS — Grupo Coordenador de Planejamento do Sistema —, que fazia

parte das grandes empresas estatais, foi desfeito porque se criou o ONS, um ente

privado que hoje coordena o sistema elétrico nacional. E esse ONS não teve a

capacidade de planejar e prever essa situação. É por isso que estamos assim.

V.Exa. há de entender melhor o que estou dizendo quando lhe mostrar os

dados que hoje temos, que não se referem apenas à falta de energia, mas à

qualidade dos serviços. Os blecautes que aconteceram foram exatamente por falta

de expansão no sistema de transmissão. Se fizermos a geração e não houver a

transmissão, a energia não chega ao consumidor. O Governo, ao relaxar nessa

construção, criou um indicador perigoso, o chamado risco de déficit. Há dez anos, o

risco de déficit era de 5%. O risco de déficit é a possibilidade de o consumo não ser

atendido. Hoje esse risco para a região Nordeste é de 44%; para o Sudeste, 50%.

Isso é ameaça de blecaute, sim, diante da situação que estamos vivendo.

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O Governo anuncia agora algumas tentativas de reverter esse quadro, como,

por exemplo, a redução do consumo dos prédios públicos, o corte de ar-

condicionado. Essas são coisas menores, consumos residuais que não vão ser

problema diante do grande corte de energia que precisará ser feito. Será preciso

construir às pressas usinas térmicas para evidentemente tentar suprir essa situação.

Daqui a um ou dois anos será preciso importar mais energia de Itaipu ou da

Argentina.

O quadro que estamos vivendo é esse. Para lhe mostrar a falta de ação do

Governo nessa área e a forma como ele tratou essa questão, temos aqui uma tabela

de cobrança de tarifas. A tarifa residencial, que no começo do Governo Fernando

Henrique Cardoso custava cerca de 40 dólares por megawatt/hora, hoje está

custando aproximadamente 100 dólares. Pagamos hoje tarifa de Primeiro Mundo.

Hoje o Brasil tem altos níveis de tarifa como os cobrados em Nova Iorque,

Paris e Madri. Pagamos energia de Primeiro Mundo para ter serviço de Terceiro

Mundo. Esse trabalho está sendo feito não pela estatal, mas pela iniciativa privada,

pela Light, pelas empresas privatizadas que aumentaram a tarifa e deixaram desse

jeito. Repito: não são as empresas estatais. Essa política de destruição do parque

elétrico nacional foi promovida pela imprevidência, pela irresponsabilidade de alguns

que acreditaram que o livre mercado iria transformar a situação e criar mecanismos

para mudar essa realidade.

Ora, empresários de multinacionais entraram no País para pegar os ativos

dessas empresas. Eles não estão preocupados com a qualidade do serviço nem

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com o risco de blecaute. Eles estão ganhando muito dinheiro e enviando para suas

matrizes; estão dominando o nosso setor.

O Governo Federal deu um ligeiro recuo de ontem para hoje, quando

anunciou que não mais pretende privatizar FURNAS, o pior dos mundos. Num

cenário de racionamento anunciar que privatizaria CHESF, FURNAS e

ELETRONORTE? Como vender empresas no momento em que elas estão se

depreciando? Isso não tem lógica, a não ser na cabeça de financistas, de agiotas e

de especuladores que tratam um insumo, como energia elétrica, como instrumento

de mercado pura e simplesmente.

O próprio Presidente da Casa, Deputado Aécio Neves, teve a justeza de ser

contra a privatização de FURNAS. Por isso estamos combatendo essa ação

criminosa e irresponsável de penalizar o País com essa política de ausência

completa e de desmonte de um setor considerado de Primeiro Mundo. O sistema

elétrico brasileiro é um megassistema de Primeiro Mundo, com técnicos da maior

qualidade, com competência para concorrer em todos os lugares da Terra. Por

exemplo, fizeram hidrelétricas na China e fazem em todos os países, porque têm

competência técnica. E esse aparelho, essa estrutura está sendo desmontada por

essa política irresponsável de privatização.

Ouço com prazer o Deputado Carlos Batata.

O Sr. Carlos Batata – Deputado Fernando Ferro, não vou me deter a outros

posicionamentos, mas ao mérito da questão. A preocupação nesta noite é por

demais justa. Deve-se analisar as causas e conseqüências da chuva. É uma

questão que deve ser analisada. Essencialmente água e energia preocupam o País

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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e todo o mundo. Lá no Nordeste, em meu Estado, preocupa-me também a falta de

competência, porque outras regiões chegam a ter, na concorrência globalizada,

energia a gás. Inclusive eu disse ao Presidente da Comissão de Minas e Energia,

Deputado Antonio Cambraia, da necessidade de se fazer audiência pública para que

se possa refletir sobre a questão energética no País como um todo, mormente para

o Nordeste. Defendo dutos de gás para que se possa ter energia de qualidade e

mais barata, o que fará com que nossa indústria se torne competitiva.

O SR. FERNANDO FERRO – Obrigado, Deputado Carlos Batata. Permita-me

V.Exa. levantar o tema apresentado pelo Deputado Darcísio Perondi. Alguns do

Governo começam a dizer que essa crise foi motivada por não ter sido feita a

privatização com a devida pressa.

Ora, das cinqüenta termoelétricas previstas para serem implantadas no País,

inclusive com apoio da iniciativa privada, estamos tocando quatorze — doze pela

PETROBRAS e as outras duas pela iniciativa privada —, com fundos do BNDES, ou

seja, o Estado está investindo nas usinas térmicas. A iniciativa privada não veio,

porque não tem interesse em entrar nem correr risco nesse tipo de empreendimento.

E é um risco. É um empreendimento que dá retorno, mas sem sombra de

dúvida tem riscos. As térmicas a gás terão de ser implantadas para tentar mitigar a

crise que o País está vivendo.

Ouço com prazer o Deputado Aloizio Mercadante.

O Sr. Aloizio Mercadante – Inicialmente quero elogiar a vivência que V.Exa.

tem do setor e tem sido sempre uma voz muito firme e competente no debate da

matéria. Quero reafirmar essa intervenção basicamente destacando que o problema

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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do racionamento não se apresenta apenas pela ausência de precipitação de chuvas,

o que, de fato, está aquém da média dos últimos anos. Mas os reservatórios de

água construídos visavam atender a demanda por cinco anos. Na verdade, tem

ocorrido falta de investimento no setor, porque o Estado privatizou os ativos que

tinha e está estatizando novos investimentos, exatamente o contrário do que deveria

ter sido feito: manter os ativos, as usinas e o sistema de transmissão na mão do

Estado e privatizar novos investimentos para atrair o capital privado. E o Estado fez

o contrário. E por que não está tendo investimento? V.Exa. destacou bem isso.

Primeiro, porque o custo médio da produção de energia em uma termoelétrica é

superior ao de uma hidroelétrica. O investidor do setor privado se pergunta: “Bom,

se vou aumentar minha capacidade aumentando o custo médio de produção, e

sabendo que em 2003 o mercado vai ser livre e portanto vai aumentar a

concorrência, não vou investir”. Ele inibe o investimento e não faz o investimento

necessário. E com um segundo agravante: o fato de na termoelétrica a matéria-

prima ser dolarizada e o preço da tarifa ser em real. Por isso, o investidor, tendo o

custo dolarizado da matéria-prima e o preço final em real de um lado, e de outro,

sabendo que vai ter concorrência livre no mercado em 2003, não vai investir em

termoelétrica. Portanto, o setor não está recebendo investimento privado. E V.Exa.

destacou isso com muita propriedade. Estão reduzindo os custos, aumentando a

produtividade, a margem de lucro, as tarifas e mandando esse lucro para fora,

impedindo, assim, novos investimentos. Esse programa tem de ser completamente

revisto, pois o marco regulatório exige investimentos. E a concessão tem de ser feita

assegurando oferta de energia, porque isso comprometerá o País e inviabilizará uma

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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taxa mínima de crescimento que o Brasil precisa ter no futuro. Sem energia não há

desenvolvimento, crescimento, produção nem emprego. Deputado Fernando Ferro,

parabéns por sua intervenção, lucidez e firmeza de pensamento.

O SR. FERNANDO FERRO – Deputado Aloizio Mercadante, agradeço a

V.Exa. o aparte. É nesse cenário de crise de desabastecimento que se anuncia a

privatização da geração. E, mais do que isso, para o Nordeste se anuncia a

transposição das águas do São Francisco. Ora, se não temos água para gerar

energia, como transpor as águas do São Francisco? Quem vai assumir esse risco,

acelerar o problema de abastecimento daquela região? Temos de repensar todo o

processo de reestruturação do setor. Isso impõe a paralisação da tentativa de

privatizar essas empresas que são fundamentais para a construção nacional e para

o projeto de crescimento.

Ouço com prazer o nobre Deputado Bispo Rodrigues.

O Sr. Bispo Rodrigues – Nobre Deputado Fernando Ferro, embora o tempo

seja muito pouco, gostaria de salientar que se essa falta de energia não pode

persistir no ano que vem. Outro dia eu estava na Barra da Tijuca quando faltou

energia durante várias horas. Ao meu redor, as pessoas diziam que o País está

muito mal. Isso dá ao povo brasileiro a sensação de que o Governo não está agindo

com eficiência. O Brasil cresceu, o consumo cresceu e as coisas continuam iguais.

Basta ver este plenário: temos quatrocentas cadeiras para 513 Deputados. Falta

planejamento não apenas na área de energia, mas em quase tudo neste País. Os

hospitais e as penitenciárias estão superlotados. Falta planejamento para o

crescimento populacional e de demanda que este País está vivendo. No meu

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Estado, o Rio de Janeiro, toda hora tem pique de energia. É grande o prejuízo dos

consumidores por estragar as televisões e aparelhos de forno elétrico. A população

do meu Estado está sofrendo com isso. Vários bairros ficam horas e horas sem luz.

Quando a luz volta, volta muito forte, arrebentando todos os aparelhos. A população

não sabe a quem reclamar, porque a ANEEL e as entidades que deveriam cuidar do

setor dizem que o problema não é com eles. Como também obrigar as empresas a

pagar milhões e milhões de eletrodomésticos que são queimados nesse pique de

energia? Muito obrigado a V.Exa. e parabéns, Deputado Fernando Ferro.

O SR. FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, para concluir meu

pronunciamento, quero elencar algumas iniciativas que se fazem necessárias no

momento. Estamos aqui para criticar, mas quero fazer também algumas sugestões.

Em primeiro lugar, o Brasil tem 100 mil megawatts de energia elétrica para ser

explorado pelas hidrelétricas. É preciso devolver a capacidade de investimento das

empresas estatais, já que a iniciativa privada não investe, e construir nesses 100 mil

megawatts disponíveis nos rios do Brasil.

É necessário discutir abertamente com a população programa de

esclarecimento sobre a crise para se ter uma política de racionamento e economia

de energia.

É preciso realizar uma série de eventos na Câmara dos Deputados para dar

início à política de racionamento e de corte de energia de certas áreas, a fim de

evitar desperdício. Os Parlamentares têm de ter responsabilidade e votar iniciativas

de lei que possam ajudar no combate à crise, impedindo essa privatização, bem

como os programas que prevêem a eficiência e a eficácia do setor elétrico. E é

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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necessário que sejam quantificadas as perdas econômicas com esses cortes de

energia. As metas do Governo serão abaladas por falta de energia elétrica, e este é

um dado a que a equipe do Governo deve atentar.

Creio que o convite que fizemos na Comissão de Minas e Energia ao Sr.

Ministro de Minas e Energia e ao Presidente da ANEEL é exatamente para que

venham esclarecer a situação. Não escondam mais o jogo e digam as quantas

estamos, porque o plano de restrição de consumo apresentado pelo Governo é

insuficiente. O que se disse até agora é retórica, não enfrenta a crise, vamos ter

corte de energia mesmo. Por isso é preciso chamar a população para discutir como

cortar, qual a forma menos traumática; discutir com os consumidores industriais

formas de não penalizá-los diretamente, mas também que eles assumam parte da

responsabilidade no momento em que a população será penalizada. Além disso, é

preciso debater com a sociedade a nossa matriz energética, a necessidade de

inserir outras fontes para melhorar o consumo e a disponibilização de energia em

nosso País.

Muito obrigado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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VI - ORDEM DO DIA

O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Encerrado o Grande Expediente,

passa-se à Ordem do Dia.

Apresentação de proposições.

Os Srs. Deputados que tenham proposições a apresentar queiram fazê-lo .

APRESENTAM PROPOSIÇÕES OS SENHORES:

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Vai-se passar ao horário de

VII - COMUNICAÇÕES PARLAMENTARES

Tem a palavra o Sr. Deputado Aloizio Mercadante, pelo PT de São Paulo.

S.Exa. dispõe de dez minutos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, quero mencionar dois temas que serão absolutamente relevantes para

discussão na próxima semana. O primeiro diz respeito à reunião em Quebec — na

qual, com muita honra, estarei representando o Congresso brasileiro, junto com uma

delegação de Parlamentares —, onde estarão presentes Chefes de Estados

americanos, para mais um passo rumo à constituição da Área de Livre Comércio das

Américas.

Não vejo nesse caminho algo promissor para os interesses históricos do

Brasil. Os Estados Unidos detêm 77% do PIB da região. Somos a segunda

economia das Américas e não chegamos a 6%, depois da desvalorização do real,

em termos de Produto Interno Bruto. E somos a principal economia da América

Latina. Os outros países, incluindo México e Argentina, têm praticamente a metade

do nosso PIB. As pequenas economias da região podem encontrar na ALCA uma

alternativa para a exportação de produtos que constituem nichos muito específicos

de mercado. Em geral, são modelos primários, exportadores. O Brasil, não; o Brasil

tem uma estrutura extremamente complexa de indústrias e de serviços, uma base

produtiva que está situada entre as dez mais importantes da economia internacional.

Assim sendo, como é que vamos, num prazo de quatro anos, concorrer em

igualdade de condições com a economia americana? Vamos reduzir as barreiras

tarifárias? As barreiras tarifárias dos Estados Unidos são da ordem de 3%; as do

Brasil, de 14%.

Somos nós que vamos abrir o mercado para eles, e não o contrário. Os

mecanismos de controle que os Estados Unidos possuem de barreiras não tarifárias

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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e antidumping são extremamente eficazes para proteger o mercado interno deles,

onde não existe concorrência e são poucos os setores, como calçados, siderurgia e

suco de laranja, em que somos competitivos. Nos principais setores da economia

eles são muito mais competitivos do que o Brasil. E que dizer da indústria

automotiva? Produzimos 1 milhão e 600 mil veículos no ano passado; eles

produziram 17 milhões.

Não há como concorrer em igualdade de condições. A taxa de juros média da

economia americana é de 5% ao ano; a nossa taxa básica é de 16% hoje, e nos

últimos cinco anos a média chegou a 28%. Sr. Presidente, temos que pensar num

outro caminho para o Brasil.

Temos de liderar a integração latino-americana. Deveríamos convocar, no

Parlamento, o encontro de todos os Parlamentares do MERCOSUL, para defendê-

lo, neste momento de vulnerabilidade. O Brasil deveria receber de braços abertos a

Venezuela, que quer vir para o MERCOSUL, e ampliar esse mercado para a região

andina, disputar o Caribe, o CARICON. Quinze pequenos países poderiam participar

de uma articulação dessa natureza. Com isso, integraríamos a América Latina e

teríamos força para negociar com os Estados Unidos.

Foi o que fez a Europa, um continente muito mais desenvolvido, com uma

produção muito mais significativa. O que é o Parlamento europeu? A Corte de

Justiça? O Conselho de Ministros? Os europeus criaram um fundo de conversão

para os pequenos países que seriam atingidos pela União Européia. Portugal,

Espanha e outros países receberam por mais de quinze anos recursos a fundo

perdido para substituir setores que foram destruídos pela integração.

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Na ALCA não há fundo de conversão, não há compensação. Os americanos

não só querem a redução das nossas tarifas de importação como querem controlar

os investimentos; e querem controlar, além dos investimentos, as compras de

governo. Nosso Governo não pode mais favorecer a empresa nacional. Querem

discutir o antidumping, o setor de serviços. Querem tudo da América Latina, menos

os latino-americanos. Os latino-americanos não vão ter greencard nem visto de

entrada para trabalhar no mercado americano. Os pobres vão estar condenados a

viver no nosso território. Se não houver investimento, emprego, mercado interno,

não vamos resolver o problema social do Brasil.

Por isso o Brasil tem que ter uma atitude firme neste momento. A questão não

é adiar ou não, mesmo porque não há a menor possibilidade de aderir a essa

proposta em 2003. A questão é: a ALCA não é o caminho do Brasil.

Termino este ponto, Sr. Presidente, solidarizando-me com o diplomata e

grande pensador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-Presidente do Instituto de

Pesquisa do Itamaraty. Foi ele afastado e demitido recentemente porque teve a

coragem de vir a público e dizer aquilo que Rubens Ricupero já havia dito, que eu

mesmo escrevi e que outros intelectuais e homens públicos brasileiros têm

defendido neste momento, ou seja: que o caminho da soberania, da auto-estima do

Brasil não é curvar-se à ALCA, mas defender a integração latino-americana,

inclusive criando condições — nós, que somos um continente relativamente pobre —

para negociar em outro patamar nossos interesses, e manter a vocação de comércio

exterior do Brasil com a Europa, a Ásia e o restante da América, mas não nos

acomodarmos nessa camisa-de-força que se está desenhando em torno da ALCA.

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Por isso irei a Quebec, mas irei com a minha posição de independência, como

observador do Parlamento, com espírito crítico, para trazer novos argumentos e

estimular esse debate, para que este Congresso chame as universidades, os

sindicatos, os empresários, para discutir exatamente qual é o rumo que o Brasil deve

tomar em termos de política internacional.

Exatamente na semana que vem, Sr. Presidente, o CADE se reúne para

decidir um conflito entre a DIRECTV e a Rede Globo de Televisão. A DIRECTV já foi

Abril, mas não é mais. A DIRECTV foi vendida para um grupo americano — por

sinal, um poderoso grupo de telecomunicações dos Estados Unidos. O CADE

deverá decidir se esse grupo da DIRECTV, que é uma rede de TV fechada, terá ou

não o direito de ter acesso ao sinal de transmissão da Rede Globo na sua

programação, e o voto do Relator do CADE, parece, será favorável aos interesses

da DIRECTV, contra os da Rede Globo.

Sr. Presidente, o PT, sobretudo o PT, que tantas vezes teve graves

problemas de relacionamento com a Rede Globo de Televisão, não teria por que

subir a esta tribuna para manifestar-se claramente sobre esse tema; faço, porém,

questão de fazê-lo. Se estivéssemos discutindo aqui uma política de democratização

dos meios de comunicação para diminuir a hegemonia da Rede Globo, eu estaria

falando em favor dessa política, mas não é o caso.

A DIRECTV comprou por 220 milhões de dólares da HBO, um canal de

filmes, o direito de transmitir com exclusividade aquela programação por um período

de seis anos. Portanto, estamos pagando essa quantia para que os contribuintes

tenham acesso a esse serviço a fim de que a HBO invista em novos filmes, novos

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títulos e nova produção cultural lá nos Estados Unidos, estimulando Hollywood e a

produção cultural americana — que, aliás, é motivo de orgulho deles; basta ver as

premiações e a presença da bandeira americana, basta ver o que isso representa

hoje no mundo em termos de criar um imaginário favorável àquele país.

Agora pergunto: por que a Rede Globo de Televisão, que tem o Projac,

mantém 25 mil funcionários trabalhando na produção cultural e faz novelas da

melhor qualidade, com a maior competência, é obrigada a entregar seu sinal? Sinal,

aliás, que vem por satélite, por se tratar de rede aberta, que tem de ser

regionalizada, porque a programação dos avisos comerciais é regionalizada no

Brasil.

Por esse motivo, a ANATEL ofereceu parecer contrário aos interesses da

DIRECTV. E o CADE agora está tentando tomar uma decisão com base não sei em

qual legislação, Sr. Presidente. A Constituição é clara, em seu Capítulo V, art. 222,

quando estabelece que a propriedade dos meios de comunicação é de brasileiros

natos. Do meu ponto de vista, o canal fechado de TV a cabo é parte do sistema de

telecomunicações, é parte do sistema de radiodifusão, e deveria ter tratamento

equivalente.

Quero lembrar ao CADE e ao Governo brasileiro — que se omite nessa

questão — que os Estados Unidos só permitem a participação de capital estrangeiro

nos veículos de telecomunicações, de televisão e radiodifusão em até 25%.

Acabaram de impedir a Deutsche Telekon de comprar uma empresa de

telecomunicações nos Estados Unidos, e mantêm o controle do capital nesse setor.

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Sr. Presidente, o que está em jogo é a produção cultural nacional. Neste

processo de globalização, como diz Caetano Veloso, "a minha língua é a minha

pátria". A identidade cultural do Brasil é a razão de ser do brasileiro, é nossa forma

de vida, a forma de vida do sertanejo, do homem do norte, do sul, do sudeste, é a

forma como a nossa gente se relaciona, é a expressão daquilo de que a nossa gente

gosta, do que somos como nação, como povo, das nossas raízes culturais, da nossa

miscigenação, dessa junção dos tantos povos que a construíram. Nossa língua é o

português. Nossa produção cultural televisiva tem que ser feita em português.

Temos que valorizar nossa língua, temos que manter uma blindagem sobre a nossa

produção cultural, manter uma escala, uma produção constante para podermos

exportar nossos produtos e disputar outros mercados, para termos condições de

disputar inclusive esse mercado de 200 bilhões de dólares ao ano, o mercado da

indústria audiovisual. Como é que podemos abdicar dessa possibilidade?

Essa não é uma decisão qualquer. Vamos ver, logo na esquina da História, a

introdução da TV digital. A TV digital vai modificar totalmente o sistema de

telecomunicações das televisões, abrindo novas possibilidades. Se o Brasil não

preservar sua produção cultural, se não fomentar esse mercado de trabalho de

artistas, jornalistas, essa indústria de entretenimento, se não valorizar nossa cultura,

nossa língua, nossa forma de ser, não vamos apenas perder nosso mercado na

globalização, mas também nossa própria identidade, como nação e como povo. E

isso é absolutamente inaceitável.

Por isso a nossa intervenção, chamando a atenção do CADE para que não

tome uma decisão sem amparo legal nem constitucional, para que não tome uma

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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decisão sem uma visão estratégica desse setor, sem uma perspectiva de política de

longo prazo, sem reconhecer que a defesa da produção cultural, do produto cultural

brasileiro é condição fundamental para gerar não só emprego e renda, mas

identidade e cultura, para gerar essa auto-estima do povo brasileiro, esse orgulho de

ser brasileiro, de pertencer a este lugar e de morar neste país que se chama Brasil.

É em nome dessa perspectiva que faço hoje esta intervenção, alertando o

Governo e o CADE para que não permitam a destruição de mais uma importante

conquista nossa em termos de eficiência, de competitividade, de capacidade de

produção cultural, televisiva e artística. Esse nosso patrimônio estará diretamente

comprometido se essa decisão for tomada.

É o que tenho a dizer, Sr. Presidente.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Concedo a palavra ao Deputado

Carlos Batata, pelo Bloco PSDB/PTB, pelo tempo de dez minutos.

O SR. CARLOS BATATA (Bloco/PSDB-PE. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhores telespectadores da TV Câmara,

venho à tribuna nesta noite para fazer algumas considerações a respeito da Lei nº

1.077, de 12 de janeiro de 2001, que trata dos Fundos Constitucionais do Norte, do

Nordeste e do Centro-Oeste, e que trouxe avanços significativos, como o

estabelecimento de juros fixos.

Agora o produtor pode planejar. A partir deste ano de 2001, não haverá mais

a indexação dos financiamentos ao pequeno produtor, a não ser, obviamente, que a

inflação alcance patamares muito altos, o que não vai ocorrer. Se ocorrer, haverá a

negociação. Isso permitirá que o homem do campo utilize os 2,5 bilhões de reais

que estão retidos nos Fundos do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste, bem como

os pequenos e médios empresários do setor industrial, à taxa de 10%, com a

garantia dos juros fixos.

O que nos preocupa, Sr. Presidente, é que alguns bancos estão querendo

fazer a desindexação a partir de janeiro de 2001, quando a lei foi promulgada. O

pequeno produtor, o homem do campo, aquele que planta o milho, o feijão, a

mandioca, que cria a vaca leiteira, aquele pequeno lá do Nordeste não tem condição

de pagar os juros da indexação relativa aos anos de 2000 e 2001. Se a lei retirou a

indexação justamente porque o pequeno produtor não tem condição de pagar, como

cobrar-lhe esse engorduramento de 1999 e 2000?

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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É necessário que o Congresso altere a lei, que, embora contenha avanços,

ainda deixa o homem do campo das três regiões sem condições de saber o que de

fato engordurou seus débitos no passado. Faço, nesse sentido, um apelo a esta

Casa. A partir de 23 de abril, vamos reunir-nos em Pernambuco, nas cidades de

Águas Belas e Venturosa, no sertão, e no agreste do Vale do Ipojuca, com o objetivo

de reunir representantes do BNB, do homem do campo e do Congresso Nacional,

para que, juntos, encontremos uma saída.

Sr. Presidente, quero também levantar a questão da fonte de recursos — FAT

e BNDES. Não há como prorrogar a dívida de quem plantou milho, feijão e

mandioca. Se a cultura é a mesma, o valor é o mesmo, por que renegociar? O

dinheiro do Fundo, sejam 50%, sejam 60%, não tem mais indexação. Já os recursos

do FAT e do BNDES serão corrigidos pela TJLP, como se na mesma roça os

produtos fossem diferentes, com preços diferentes. Em que regra o homem do

campo se respaldará para honrar seus compromissos?

É necessário convencer o Conselho Curador do FAT da necessidade da

mudança. Ou, então, que consigam outra fonte de recursos para o Norte e o

Nordeste, Regiões que sofrem com as intempéries climáticas. A cada três anos, pelo

menos, ocorre uma grande seca. É necessário buscar recursos e fazer a

equalização. É impossível explicar ao homem do campo, ao agricultor, que ele

pagará taxas diferentes, uma dos recursos do Fundo Constitucional e outra dos

recursos do FAT ou do BNDES.

Gostaria que o Governo Federal e o Congresso Nacional entrassem em

entendimento e repensassem a forma de utilização dos recursos do FAT e do

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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BNDES nos financiamentos para o Nordeste, bem como retirassem a indexação dos

financiamentos relativos aos anos de 1999 e 2000, que aumenta a dívida,

prejudicando o pequeno agricultor, que é dono de um, dez, vinte hectares, tem uma

produção muito pequena e não pode pagar esses juros. Transmitirei aqui o que ouvi

de diversas pessoas em diferentes regiões do meu Estado e no Nordeste:

"Deputado, se assim for, se não for feito algo rapidamente, quem será proprietário

das pequenas propriedades é o BNB".

Ora, o BNB não está interessado em propriedade. O Banco do Nordeste tem

feito um trabalho excelente; por meio de seus agentes de desenvolvimento, tem

colocado, em Pernambuco e em outros Estados do Nordeste, dinheiro à disposição

do homem do campo. Obviamente, ele não tem culpa alguma. Cabe a nós do

Congresso, por meio de uma Comissão Mista, encontrarmos uma saída.

Verificamos que a conta é da produção. Durante o Plano Real, enquanto a

inflação se acumulou em 91%, o custo da produção chegou a 104%. E o que os

produtos subiram? Os preços de leite, milho, feijão, mandioca e algodão variaram de

11% a 44%, alguns chegando a 60%. Então, a conta não bate. É necessário que

haja amadurecimento por parte dos integrantes desta Casa para que possamos

efetivamente resolver a questão.

Sr. Presidente, a partir de agora, obviamente, os financiamentos passam a

ser pagáveis. A Lei nº 1.077, promulgada este ano pelo Governo, é uma boa lei, ao

estabelecer a não-correção para recursos tomados a partir de agora. Por meio do

PRONAF, que possui legislação própria, pode-se pagar juros de 3% a 4%, e ainda

com rebate. Pequenos, médios e miniprodutores pagam juros de 6%, e o grande

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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produtor paga juros fixos, de 10,75%. Ou seja, agora os recursos são pagáveis.

Mas, da forma como foram feitos esses financiamentos até o surgimento dessa lei,

ocorreu um engorduramento muito grande. Portanto, faço um apelo a esta Casa e

ao Governo Federal para que revejam os vetos à Lei nº 1.077, a fim de que

possamos recuperar as perdas que o Nordeste sofreu.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Concedo a palavra ao Deputado

Darcísio Perondi, para uma Comunicação de Liderança do PMDB-RS.

S.Exa. disporá de até sete minutos.

O SR. DARCÍSIO PERONDI (PMDB-RS. Como Líder. Pronuncia o seguinte

discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados:

A corrupção é o maior obstáculo para o

desenvolvimento. Ela aprofunda o fosso entre ricos e

pobres, enquanto elites vorazes saqueiam o orçamento

público. Causa distorções na concorrência, ao obrigar

empresas a desviarem importâncias cada vez maiores,

para obter novos contratos. Solapa a democracia, a

confiança no Estado, a legitimidade dos governos, a moral

pública. A experiência demonstra: a corrupção pode

debilitar toda uma sociedade.

São palavras de Wilhelm Hofmeister, Diretor do Centro de Estudos da

Fundação Konrad Adenauer no Brasil.

O Governo brasileiro tem uma agenda. Ela é baseada na conduta ética. A

conduta ética, no Estado de Direito Democrático, requer apuração e condenação de

quem errou, mas também requer reparação pública a quem já foi vítima de calúnia

ou injúria. Assim tem procedido e continuará a proceder o Governo Fernando

Henrique Cardoso, concorrendo para a apuração de desvios e punição dos

responsáveis, mas repelindo a farsa sob o falso fundamento ético.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Sr. Presidente, a Anderson Whitehouse, empresa internacional de auditoria,

que analisa o Índice de Opacidade, Índice de Corrupção, enumera 35 países. Há 6

anos, estávamos quase no topo dessa lista e, nesse último ano, passamos para o

17º lugar.

Outro organismo internacional não governamental fez um levantamento a

respeito no Brasil — esse organismo é contratado inclusive por países socialistas —,

e mostrou que nos últimos 6 anos a corrupção tem sido combatida. Existem

resultados, e eles aparecem cada vez mais, por uma razão muito simples: este

Governo está criando mecanismos para combater a corrupção. Para isso também é

fundamental termos a liberdade de imprensa. Não temos mais a ditadura. Não existe

mais a bota da ditadura, para silenciar as denúncias.

Nesta semana, Sr. Presidente, a Nação vem acompanhando, com o maior

interesse, todos os fatos ligados à verdadeira novela que se tornou a enxurrada de

denúncias que tem sido a tônica de algumas disputas particulares. Nesse cenário, o

território mais cobiçado tem sido os preciosos centímetros das manchetes dos

veículos de comunicação que, por sua vez, em sua maioria, têm prestado grandes

serviços ao processo democrático que todos nós, membros desta Casa,

defendemos com afinco.

Entretanto, não poderia deixar de notar que, na ânsia de estar sempre a um

passo à frente de seus concorrentes, de estampar o furo jornalístico, alguns desses

veículos não vêm demonstrando o esmero e o apuro pelo qual se tornaram

conhecidos, pois, em matérias carregadas de conotações de valores e expressão do

sentimento de simpatia ou antipatia de seus autores por determinadas pessoas ou

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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instituições, esqueceram-se de lições básicas do bom jornalismo: relatar os fatos de

forma imparcial e, acima de tudo, obedecer ao princípio básico da ética que, se em

alguns casos tivesse sido observada, não se teria jogado lama sobre homens

responsáveis e respeitáveis, ou induzido dúvidas sobre a lisura de atos

administrativos que objetivam a apuração e correção de graves deficiências de

operacionalização de instrumentos e instituições públicas. Gostaria de lembrar que

não se pode conduzir processos investigativos de forma irresponsável,

principalmente com prejulgamentos e generalizações cometidos por parte da

imprensa ou partidos, por denuncismo político do quanto pior, melhor.

Sr. Presidente, ao tempo em que defendo o máximo rigor da lei para aqueles

que dilapidam o Erário público, não defendo, e não defenderei, em momento algum

da minha vida, a inversão do princípio básico da lei, de que todos são inocentes até

que se prove o contrário. Esta Nação baseia-se em um Estado de Direito

Democrático e não se deve submeter à pressão de pautas de redação elaboradas

por puro denuncismo político ou inversão de princípios legais, para a construção de

manchetes.

Exemplo claro de tudo que venho expondo desta tribuna é o processo

referente à devassa que o Governo vem realizando na SUDAM e mesmo no DNER.

É incontestável, principalmente à luz dos últimos dados, que indicam descaso para

com a coisa pública por parte de ex-dirigentes e alguns funcionários daquele órgão,

que o formato do sistema de ação pública ali praticado, com o objetivo de

desenvolver a região amazônica, infelizmente demonstra completa falência.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O Ministro Fernando Bezerra nomeou um interventor, pessoa séria, de

conduta ilibada, o Procurador-Geral Dr. José Cyrillo, para a apuração dos fatos, o

que já resultou no afastamento de dois superintendentes e de cinco diretores. O

Presidente da República criou a Corregedoria-Geral da União, com o objetivo de dar

celeridade aos processos de apuração de irregularidades no âmbito do Governo

Federal, buscando a punição dos responsáveis no tempo oportuno e o

ressarcimento aos cofres públicos.

Apesar disso, não se pode jogar tudo e todos à fogueira por causa dos

pecados de alguns. A crucificação generalizada a que se tem assistido, promovida

por parte de determinados políticos e membros da imprensa, demonstra

preocupação maior com o momento presente e com os retornos que a exploração

do escândalo pode propiciar-lhes do que propriamente com a necessária reavaliação

do sistema utilizado, para que possamos evitar que tais máculas sejam repetidas no

futuro.

Nesse contexto, não poderia deixar de me pronunciar a favor do imperativo

trabalho que vem sendo realizado no âmbito do Governo que, muito mais que apurar

e impor as necessárias punições, está imbuído de tentar corrigir de forma definitiva

as brechas que o sistema possui e permitiram a construção do quadro que se

apresenta.

Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não me posso omitir de

enaltecer a determinação do Ministro da Integração Nacional, Sr. Fernando Bezerra,

homem que admiro, pelo comportamento ético que tem pautado sua vida pública,

como vem demostrando na condução do trabalho que sua Pasta está realizando

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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para apurar de forma definitiva e sob os ditames da lei todas as irregularidades não

só da SUDAM, mas do sistema em que essa Superintendência está inserida.

Tenho sido testemunha do esforço que o Ministro Fernando Bezerra vem

realizando. Suas preocupações vão muito além da apuração de desvios em um

órgão, como repetidamente tem dito. Sua Pasta está finalizando a construção de

significativas mudanças que deverão ser implementadas sob a ótica de um sólido

sistema de integração e desenvolvimento regional, reformulando e/ou criando

instrumentos e instituições, sempre com a preocupação de consolidar a defesa dos

interesses e recursos públicos que serão destinados ao crescimento e

desenvolvimento dos espaços mais carentes do nosso País.

É importante ressaltar que os fatos apontados já estão sendo apurados,

inclusive com acompanhamento do Ministério Público.

Para finalizar, Sr. Presidente, gostaria de reafirmar o apoio a toda e qualquer

iniciativa que, no sentido de apurar ou corrigir desvios na ordem natural do interesse

público, se espelhem na lisura, legalidade e responsabilidade do processo que vem

sendo conduzido pelo Ministério da Integração, apesar das injustas divagações que

alguns menos comprometidos com a verdade têm tentado materializar, com a clara

intenção de macular a figura de um dos mais éticos homens públicos deste País,

que, sob a incontestável liderança do Presidente Fernando Henrique Cardoso, vem

realizando um trabalho competente.

Neste Governo investiga-se, pune-se, põe-se na cadeia, busca-se um

trabalho determinado contra a roubalheira.

Muito obrigado.

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O SR. DAMIÃO FELICIANO - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DAMIÃO FELICIANO (PMDB-PB. Pela ordem. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente, hoje, membros da Comissão Especial de Combate ao Racismo

encontraram-se com o Embaixador Gilberto Sabóia para discutir sobre a viagem à

África do Sul.

Mostramos ao Embaixador que não concordamos com a Conferência

Nacional que deve acontecer no Rio de Janeiro, porque ela se faz depois da de

Genebra, ocasião em que apresentaremos um documento sobre a África do Sul.

Portanto, quero somente deixar clara a nossa intenção de ir de conformidade

com a nossa Comissão.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

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O SR. PRESIDENTE (Gastão Vieira) - Com a palavra o nobre Deputado

Regis Cavalcante, pelo Bloco Parlamentar PDT/PPS.

O SR. REGIS CAVALCANTE (Bloco/PPS-AL. Pronuncia o seguinte discurso.)

- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em nome do Partido Popular Socialista —

PPS, venho saudar o povo irmão da Coréia do Norte, no momento em que nossos

dois países anunciam o estabelecimento de relações diplomáticas.

É um instante histórico para a diplomacia brasileira, para a Nação, para os

povos dos dois países.

Desde o final da 2ª Guerra Mundial, e sobretudo desde que, em 1948, a

península coreana dividiu-se em dois países, daí resultando sangrenta guerra, o

Brasil não mantém liames diplomáticos com os coreanos do norte. Mas em 1959,

cedendo à pressão ianque, instalou sua embaixada em Seul, capital sul-coreana.

O não-reconhecimento da Coréia do Norte era resquício deplorável da Guerra

Fria. Por décadas seguidas, nosso País esteve alinhado — e um alinhamento, de

fato, automático — às posições extremadas da diplomacia norte-americana. Os

países, então, não se definiam por sua soberania, cultura ou história, mas sim e

lamentavelmente pelo seu alinhamento, diante da bipolaridade que tanto

amesquinhava as relações internacionais.

A decisão bilateral, Sr. Presidente, anunciada na sede da ONU, em Nova

Iorque, põe fim a essa situação quase de inferioridade do Itamaraty no campo das

relações planetárias, e é a ocasião mesma em que, por outro lado, se anuncia a

plena dissolução daqueles vínculos deletérios que impediram o Brasil, por anos a fio,

de se impor como nação soberana, senhora de suas vontades e de seu destino.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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Louvamos a decisão dos Governos do Brasil e da Coréia do Norte. Abrimos

os braços em imensa dimensão para receber de coração aquele povo amigo, de nós

afastado por circunstâncias que não decorreram, em nenhum instante, da vontade

do povo brasileiro. E, ao mesmo tempo, incitamos a diplomacia brasileira a que, em

todos os fóruns internacionais, batalhe, decididamente, para a reunificação das duas

Coréias.

Aliás, nesta oportunidade, este Parlamento está enviando uma delegação à

Coréia do Norte para que essa reunificação ocorra com a ajuda do Congresso

brasileiro, com a demonstração de vontade das Mesas da Câmara dos Deputados e

do Senado Federal, e, sobretudo, para que ela ocorra num menor espaço de tempo

possível.

Muito obrigado.

Durante o discurso do Sr. Regis Cavalcante, o Sr.

Gastão Vieira, § 2º do artigo 18 do Regimento interno,

deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr.

Damião Feliciano, § 2º do artigo 18 do Regimento interno.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 047.3.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 11/04/01 Montagem: Amanda/Yoko

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O SR. PRESIDENTE (Damião Feliciano) – Concedo a palavra ao Deputado

Gastão Vieira, que falará pelo PMDB.

S.Exa. dispõe de cinco minutos.

O SR. GASTÃO VIEIRA (PMDB-MA. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, na próxima terça-feira, dia 17, a Câmara dos

Deputados realizará sessão solene em homenagem aos 50 anos de fundação do

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Como funcionário de carreira da referida instituição e Deputado Federal, fui o

autor do requerimento que deu ensejo à homenagem.

Convido para comparecer à sessão não apenas os Parlamentares que se

ocupam das questões ligadas à educação superior, ao desenvolvimento científico e

tecnológico, mas também todos os colegas desta Casa, para que tenham uma idéia

aproximada da importância do CNPq no desenvolvimento científico e tecnológico

brasileiro e do próprio País.

Criado na década de 50, ao longo de todo esse tempo, com três linhas de

ação bem definidas — apoio ao pesquisador individual, concessão de bolsas de

estudo no País e no exterior e apoio a grupos de pesquisa —, o CNPq tem

contribuído de forma decidida e decisiva para o desenvolvimento econômico do

País.

Muitas vezes passa despercebida da sociedade a importância dessa

instituição. Figuras ilustres deste País formaram-se no exterior e concluíram pós-

graduação graças a bolsas que eram concedidas pelo CNPq. Inúmeros cientistas

conseguiram desenvolver trabalhos graças a bolsas de pesquisas concedidas pelo

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CNPq. Jovens, estudantes ainda de graduação, conseguiram dar um tom para sua

vocação científica com as bolsas de iniciação científica do CNPq. Universidades

como a Federal da Paraíba, terra de V.Exa., Sr. Presidente, que há um tempo teve

grande desenvolvimento científico, conseguiu-o graças ao decidido apoio do CNPq,

o que fez também com que o seu Reitor Lynaldo Cavalcanti acabasse Presidente do

órgão.

A homenagem, Sr. Presidente, é extremamente importante e justa. Neste

momento em que muitas vezes ficamos imaginando se a ciência e a tecnologia

brasileira não precisam de maior apoio, quando lutamos na Comissão específica

para ampliar a quantidade de bolsas que o CNPq concede a cada ano, quando o

Governo manda a esta Casa projeto sobre o Fundo de Desenvolvimento Científico,

que vamos aprovar a fim de propiciar importantíssimo apoio para o desenvolvimento

da ciência brasileira, é preciso realmente homenagear o CNPq.

Tenho certeza de que toda a comunidade científica brasileira estará presente

fisicamente a esta sessão de terça-feira, ou a acompanhará pela TV Câmara. E

muitos haverão de recordar os bons serviços prestados pelo CNPq e outros terão a

oportunidade de conhecer a estrutura, o funcionamento e o papel tão relevante que

esse órgão tem prestado, repito, ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia no

Brasil.

Portanto, como funcionário do CNPq e Deputado Federal autor do

requerimento que deu ensejo a essa sessão, sinto-me duplamente gratificado.

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Espero que esta Casa participe das homenagens ao CNPq numa exposição

que vamos realizar a partir do dia 18, no Espaço Cultural, para que um pouco dessa

história seja de conhecimento de todos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Damião Feliciano) – Gostaria de fazer minhas as

palavras de V.Exa. em relação ao CNPq. Essa homenagem engrandece não só o

meu Estado, como também o País.

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O SR. PRESIDENTE (Damião Feliciano) – Antes de encerrar esta sessão,

quero desejar a todos os Parlamentares e servidores da Casa uma feliz Semana

Santa e uma feliz Páscoa.

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VIII - ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Damião Feliciano) - Nada mais havendo a tratar, vou

encerrar a sessão.

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O SR. PRESIDENTE (Damião Feliciano) – Encerro a sessão, convocando

para segunda-feira, dia 16 de abril, às 14 horas, sessão ordinária da Câmara dos

Deputados, lembrando ainda que haverá prorrogação de sessão em memória dos

dezenove trabalhadores rurais sem terra mortos no massacre de Eldorado do

Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996.

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(Encerra-se a sessão às 19 horas e 21 minutos.)