41
CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICA EVENTO: Reunião Ordinária N°: 2178/03 DATA: 03/12/03 INÍCIO: 14h51min TÉRMINO: 16h52min DURAÇÃO: 02h01min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h01min PÁGINAS: 40 QUARTOS: 25 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO SUMÁRIO: Votação do anteprojeto de lei sobre listas preordenadas, financiamento de campanhas, coligações e federações partidárias. OBSERVAÇÕES Há intervenção inaudível; Há oradores não identificados.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE ... · Por isso, a meu ver, precisamos aprovar o parecer do Relator. A matéria ... Precisamos ter a coragem de dar um

Embed Size (px)

Citation preview

CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICAEVENTO: Reunião Ordinária N°: 2178/03 DATA: 03/12/03INÍCIO: 14h51min TÉRMINO: 16h52min DURAÇÃO: 02h01minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h01min PÁGINAS: 40 QUARTOS: 25

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

SUMÁRIO: Votação do anteprojeto de lei sobre listas preordenadas, financiamento decampanhas, coligações e federações partidárias.

OBSERVAÇÕES

Há intervenção inaudível;Há oradores não identificados.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

1

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Havendo número

regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião.

Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída cópia da ata da 25ª reunião

ordinária desta Comissão Especial, realizada no último dia 2 de dezembro.

Consulto o Plenário sobre se há necessidade da leitura da mesma.

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS SANTOS - Peço dispensa da leitura da

ata, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Dispensada a leitura

da ata a pedido do Deputado Luiz Carlos Santos.

Em discussão a ata.

Não havendo quem queira discuti-la, em votação.

Os Deputados que a aprovam, permaneçam como estão. (Pausa.)

Está aprovada a ata.

A presente reunião foi convocada com o objetivo de se proceder à votação do

anteprojeto de lei sobre listas preordenadas, financiamento de campanha,

coligações e federações partidárias.

Finalizada a discussão na reunião de ontem, passamos à votação da matéria.

Está encerrado o prazo de apresentação de destaques.

Em votação o anteprojeto de lei, ressalvados os destaques.

Antes do encaminhamento, informo que houve um pedido dos Srs. Deputados

para, em vez de 2 encaminharem a favor e 2 contra, que ouvíssemos 3 contra e 3 a

favor. É anti-regimental, mas, se houver a concordância do Plenário, poderei atender

a essa reivindicação. Se houver uma única discordância, porém, darei a palavra a

apenas 2 Srs. Deputados.

Quem estiver de acordo em ouvirmos 3 oradores favoráveis e 3 contrários à

proposta, além do Relator, permaneça como está. (Pausa.)

Aprovado.

Para encaminhar a favor da matéria, concedo a palavra ao Deputado Luiz

Sérgio, por 5 minutos.

O SR. DEPUTADO LUIZ SÉRGIO - Sr. Presidente, primeiro, quero ressaltar

que vários documentos sobre o nosso trabalho estão sendo distribuídos nos

corredores da Casa, nas Comissões e nos plenários. Muitos deles frisam que se

trata da reforma política do Governo Lula.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

2

É preciso deixar claro para a Comissão que esta não é uma reforma política

do Governo Lula, mas a reforma política que vem sendo construída por todos os

partidos desta Casa. Vale dizer inclusive que o Relator da proposta de reforma

política, o Deputado Ronaldo Caiado, é de um partido da Oposição e nem por isso

vai fazer a reforma política da Oposição ou do PFL, porque a reforma é para todos

os partidos.

Efetivamente, todos nós, incluindo a imprensa que cobre os nossos trabalhos,

precisamos verificar o trâmite da matéria. Estamos há praticamente 6 meses

debatendo o tema, de forma pública, aberta, democrática — e várias audiências

públicas foram feitas. Se setores da sociedade ou da imprensa buscaram não dar

importância àquilo que vinha sendo debatido aqui, os membros da Comissão o

fizeram e buscaram construir juntos o relatório que vamos apreciar agora.

É preciso frisar também para aqueles que se opõem ao financiamento público

de campanha que o financiamento privado é pai e mãe de todo o processo de

corrupção que estamos vendo evidenciado neste País e que precisamos superar

para a construção de uma nova fase, como reclama a sociedade. Isso, porém, só

será possível com a adoção do financiamento público de campanha.

Nas campanhas políticas todos dizem ser preciso interromper a influência

cada vez maior do poder econômico sobre aqueles que aqui estão eleitos, o que só

será possível se tivermos financiamento público de campanha.

Em muitas Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas não

assistimos apenas à presença do poder econômico, é pior: assistimos ao

financiamento de bancadas partidárias pelo crime organizado. E isso, sim, é algo

que coloca em risco a democracia e a representatividade da população em uma

Casa Legislativa, órgão de fundamental importância para o regime democrático que

buscamos consolidar.

Todos afirmam alto e bom som ser preciso fortalecer os partidos políticos,

porque, sem partido político, não há democracia e a democracia precisa ser

aperfeiçoada e consolidada neste País.

A pior reforma, Sr. Presidente, é não fazer reforma alguma, é manter tudo

como está. E manter tudo como está é manter as críticas que todos os

Parlamentares têm feito ao longo dos últimos anos contra a situação estabelecida.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

3

Então, Sr. Presidente, no que se refere a esta Comissão Especial, acredito

que há a compreensão dos Parlamentares no sentido de que chegamos a algo que

reflete o pensamentos da maioria.

Por isso, a meu ver, precisamos aprovar o parecer do Relator. A matéria

ainda vai para a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, onde ensejará

amplo debate e a realização de novas audiências públicas. Os Parlamentares que

aqui trabalharam ao longo de quase 6 meses não podem ver desmerecido o mérito

de todos, dos que são a favor e dos que são contra. Precisamos fortalecer a

democracia. E isso se faz aperfeiçoando a legislação. A legislação eleitoral do nosso

País é ultrapassada. Precisamos ter a coragem de dar um passo à frente no sentido

da sua modificação.

Por isso, estando ausentes os membros efetivos do PT, na condição de

suplente, defendo a aprovação do parecer e antecipo que votarei com o Relator.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra, para

falar contrariamente à matéria, o Deputado João Fontes. Não estando S.Exa.

presente, concedo a palavra ao Deputado Philemon Rodrigues.

O SR. DEPUTADO PHILEMON RODRIGUES - Sr. Presidente, o projeto da

reforma política nos traz certa inquietação porque isola do processo o mais

importante, o eleitor, o cidadão, que dele não mais participará de maneira aberta e

voluntária.

Primeiro, considero a proposta inconstitucional; segundo, Sr. Presidente, a

proposta nos traz uma série de contradições — e vou citar apenas uma. Na

regulamentação da transição, está sendo jogado para o último lugar o Parlamentar

que se tenha transferido para outro partido e que tenha tido, na sua coligação ou no

seu partido, quantidade de votos pequena. Os interessados em entrar na lista em

primeiro e segundo lugar, ao descobrirem que aquele candidato que há mais tempo

se transferiu para outro partido tem menos votos, vão se filiar a esse partido para

ficar nos primeiros lugares na lista fechada.

Ora, haverá uma correria de candidatos de um partido para outro, em busca

de melhor lugar na lista.

Depois, a lista fechada vai propiciar o aumento da prática de corrupção pelos

donos dos partidos, os caciques, aqueles que têm o domínio do seu partido e,

especialmente, muito dinheiro para comprar delegados, convencionais — foi o que

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

4

aconteceu no meu Estado. O maior líder partidário do Estado confinou em um hotel

do Rio Grande do Norte os convencionais de seu partido e, no dia da convenção,

mandou buscar um a um de avião, diretamente do hotel para o local da votação.

Todos comprados a peso de ouro para votar nele. Esse fato demonstra que a

corrupção vai aumentar de maneira cruel.

Sr. Presidente, nessa proposta de reforma política foi esquecido um dos

pontos mais importantes: o voto facultativo. Precisávamos ter tido a coragem de

inserir o voto facultativo. Veríamos, então, por este Brasil afora Deputados Federais

sendo eleitos com 500, 800, 1.100 votos, porque o povo não mais votaria. Faltou

coragem, portanto, para colocar na proposta da reforma o voto facultativo.

Há ainda a impossibilidade de renovação na Câmara, porque os primeiros da

lista são os que já estão exercendo os seus mandatos nas Casas Legislativas. Não

haverá oportunidade para novos políticos. Por conseguinte, um candidato

capacitado, um advogado, um médico, pronto para exercer o seu mandato, sequer

se animará a concorrer, porque de antemão sabe que não terá chance, uma vez que

os seus eleitores não vão votar nele, mas na lista, no partido.

Então, Sr. Presidente, não haverá renovação nesta Casa, porque virão

sempre aqueles que já estão aqui. Não temo a lista fechada. Tenho coragem de

enfrentar a lista fechada até em uma eleição com voto facultativo. Não tenho medo,

mas é um tremendo casuísmo suprimir do eleitor a liberdade de escolher o seu

representante.

De maneira que sou contra o parecer — e vou votar contra por convicção.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra, para

falar favoravelmente à matéria, o Deputado Renildo Calheiros, do PCdoB.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, o tema da

reforma política está em debate no Congresso Nacional há muitos anos. E esta Casa

sempre teve grande dificuldade em chegar a uma conclusão porque a matéria é

evidentemente muito polêmica.

Participo deste debate já há alguns anos. Sempre acreditei que precisávamos

de uma reforma política que não restringisse a democracia em nosso País. Era, na

minha maneira de ver, grande desafio realizar uma reforma sem restringir as

liberdades políticas.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

5

Temos procurado fazer com que a legislação não regulamente em excesso o

nosso sistema político, porque a democracia brasileira é ainda muito jovem, está em

desenvolvimento. Uma regulamentação excessiva pode impedir ou inibir que o País

encontre o seu caminho sem copiar modelos, mas desenvolvendo a sua democracia

a partir da própria cultura e características.

O relatório apresentado em forma de anteprojeto pelo Deputado Ronaldo

Caiado, na minha maneira de ver, dá grande contribuição a essa mudança que

precisamos implementar no sistema político, principalmente no sistema eleitoral.

O Deputado Ronaldo Caiado teve a capacidade de, ouvindo muito, entender

quais são os principais problemas do nosso sistema e apresentar propostas para

tentar resolvê-los.

Sr. Presidente, na defesa do projeto, vou destacar alguns desses pontos. Um

dos mais importantes é o financiamento público de campanha. Precisamos, com

muita ênfase, combater a corrupção em nosso País. E as campanhas eleitorais

constituem exatamente a janela para a corrupção — janela precisa ser fechada,

bloqueada. Precisamos de um sistema político mais sadio, de eleições mais sadias.

O financiamento público vai equilibrar essa disputa, oferecer condições

mínimas aos partidos e coibir os excessos. E o processo vai sair mais barato para o

contribuinte. O interesse público será preservado com o financiamento público de

campanha, ao contrário do que alguns argumentam. Aliás, dizem o contrário por não

conhecerem como as eleições são feitas no Brasil. Talvez conheçam, mas não

pretendem expor isso publicamente ou no plenário da Comissão. O financiamento

público é uma grande conquista para a democracia e vem no sentido de preservar o

interesse público.

O outro ponto é a lista. É uma matéria polêmica que eu e meu partido

debatemos muito. No começo dos trabalhos desta Comissão fiz várias críticas à

proposta da lista, embora nela reconhecesse méritos também. Mas, depois de

analisar todas as questões e as circunstâncias políticas do nosso País, creio que a

lista é também uma conquista, um avanço.

É verdade que a lista não resolve todos os problemas do nosso sistema

eleitoral, mas não traz nenhuma maldade nova e resolve várias questões. Ela ajuda

a termos um processo que fortaleça os partidos políticos. O Brasil não tem história

de partidos políticos fortes, não tem cultura partidária, como outras nações da

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

6

América do Sul e da Europa. Aqui, os partidos ainda carecem de consistência e de

visão programática para que sejam vistos assim também pela sociedade, pela

população, pelo cidadão, pelo eleitor.

Portanto, a lista induz à cultura partidária, ao fortalecimento dos partidos, e é

isso que precisamos. O Brasil nunca teve partidos fortes e o nosso sistema eleitoral

não permite que os partidos se fortaleçam, porque incentiva o individualismo,

incentiva o candidato em uma perspectiva individual e não representando um

projeto, um programa, um partido.

Por isso, não concordo com a afirmação de que a lista vai introduzir o

caciquismo no Brasil. Ele já existe. A lista é um instrumento que vai nos ajudar a

enfrentá-lo. Teremos êxito nesta questão? Só o futuro responderá. Mas, ao menos, a

lista vai ajudar a cultura partidária e o fortalecimento dos partidos, o que já é um

passo para enfrentarmos o problema.

O parecer de V.Exa. faz importante modificação na cláusula de barreira,

contra a qual sempre lutei muito. Sou contra qualquer cláusula de barreira,

principalmente uma de 5%, porque ela é restritiva. Isso é colocado, vamos dizer

assim, em uma visão autoritária de alguns grandes partidos e não tem nenhum

sentido na democracia que estamos procurando construir no Brasil.

Tenho perguntado sempre, como exemplo, que mal faz a presença do Partido

Verde na Câmara dos Deputados. É o Partido Verde que atrapalha o processo

legislativo? É o Partido Verde que faz com que as matérias mais importantes não

sejam votadas nesta Casa? Pelo contrário, o Partido Verde traz brilhantismo para

esta Casa. É a representação de importante segmento da sociedade brasileira, o

qual está presente em outras partes do mundo, em nada prejudicando a democracia;

ao contrário, sua presença no Parlamento demonstra que há um mínimo de

democracia no Brasil. Cito o Partido Verde, mas como poderia mencionar outros.

Então, Sr. Presidente, essa alteração que o Relator traz, reduzindo a cláusula

de barreira, é uma medida que, na minha maneira de ver, só acrescenta do ponto de

vista democrático.

A alteração na cláusula de barreira procura fazer a reforma política sem

restringir as liberdades políticas. Sou contrário até mesmo à de 2%, mas

compreendo as circunstâncias em que elas estão postas no relatório, o qual

considero importante e relevante conquista.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

7

O Relator também teve a preocupação de, no projeto, fazer modificações no

chamado critério de preenchimento das sobras das eleições. Embora jovem, Sr.

Presidente, sou do tempo em que havia apenas dois partidos políticos no Brasil.

Naquela época, quando o eleitor manifestava o interesse de votar em branco,

alguém o alertava para que não votasse em branco, porque o voto iria para o

Governo. É claro que isso não era verdade. Mas era a maneira de fazer com que o

cidadão entendesse que o voto em branco acaba beneficiando os grandes partidos,

porque dificulta a situação para os pequenos uma vez que o quociente fica muito

alto. Os brancos eram contados para se chegar ao quociente que, repito, ficava alto.

Os partidos não alcançavam o quociente, e as sobras eram divididas entre os

partidos grandes. Essa era a tradução prática que o cidadão fazia.

A modificação feita pelo Deputado Ronaldo Caiado merece registro. É uma

decisão histórica que esta Comissão tomará e uma das medidas mais democráticas

do anteprojeto apresentado.

Há outros pontos no projeto que gostaria de destacar, mas o tempo não

permite.

Discordo de algumas questões contidas no projeto, como, por exemplo, a

proibição das coligações. Essa medida não cabe, é restritiva e não é necessária; só

faz a coligação quem quer, ninguém é obrigado a fazê-la. Mas é errado esse

instrumento desaparecer da nossa legislação eleitoral, e ainda vou lutar por isso. No

entanto, tal fato não nega a importância e o mérito do projeto que é uma grande

conquista da democracia brasileira.

Por isso, Sr. Presidente, a minha posição pessoal e a do PCdoB é a de votar

favoravelmente ao anteprojeto apresentado pelo Deputado Ronaldo Caiado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Renildo Calheiros.

Para falar contra, concedo a palavra ao Deputado João Paulo, do PL.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO - Sr. Presidente, os notórios equívocos da

legislação eleitoral vêm viabilizando, ao longo dos anos, enormes distorções — disso

todos sabemos. Contudo, precisamos votar uma reforma política e eleitoral para

melhorar a situação, não para piorá-la.

A partir dos exames que fiz dessa proposta, percebo que ela piora muito a

nossa legislação. E por que piora? Porque, num primeiro momento, no que concerne

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

8

à lista partidária ou fechada, é inconstitucional por não respeitar a cláusula pétrea

prevista no art. 60 da Constituição Federal, que diz que não podemos ter voto

indireto. Ou seja, qualquer proposta que suprima o voto direto será tida como

inconstitucional. Não consigo superar esse entendimento, caro Presidente.

O financiamento público de campanha, no primeiro momento, vai aumentar a

carga tributária. Esse dinheiro vai sair de algum lugar. Aqueles que defendem o

financiamento público e não privado o fazem sob o argumento de que, após as

eleições, o eleito costuma dar a contrapartida, devolver com dinheiro público aquilo

que recebeu na sua campanha. Com efeito, precisamos otimizar a nossa legislação

para punir políticos que praticam esse tipo de gesto imoral, que fazem concessões

com o Erário àqueles que os ajudaram em sua campanha. Isso é o que devemos

proibir.

Agora, se mesmo assim, proibida a reciprocidade, eles desejarem continuar

fazendo doações — tenho ouvido isso aqui várias vezes, todos os dias — seremos

obrigados a exigir do Ministério Público maior fiscalização. A legislação a esse

respeito não precisa ser otimizada, nem melhorada, porque ela já é bastante

rigorosa, precisa ser cumprida.

A reforma foi proposta para fortalecer os partidos. Tenho dito que não

compartilho dessa tese de que os partidos devem ser fortalecidos. O cidadão é que

precisa ser fortalecido, até para reverenciar um outro dispositivo constitucional que

diz: "todo poder emana do povo".

Então, se todo poder emana do povo, por que vamos estabelecer um

intermediário, que é o partido, arrebatando, confiscando e usurpando os poderes

que são do povo, tirando-lhe a prerrogativa de escolha direta dos seus candidatos?

Sr. Presidente, se essa reforma passar do jeito que está, estaremos dizendo ao

eleitor que, a partir de agora, ele não poderá eleger seu candidato diretamente, que

ele votará no partido; que, num segundo momento, ele passará a pagar as contas

das campanhas políticas, e, num terceiro momento, que os Parlamentares já eleitos

e que se encontram nos seus postos, em Brasília e nas Assembléias Legislativas,

vão prorrogar os seus mandatos de maneira oblíqua, nos termos da proposta. Isso

porque, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, está a proposta da

formação da lista, observando-se a votação obtida pelos Parlamentares na eleição

de 2002, se outra não for a deliberação do órgão competente do partido. Quer dizer,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

9

o partido que está buscando força jamais deixará de observar essa primeira

sinalização.

Por conseguinte, Sr. Presidente, eu, que sou o mais presente Parlamentar

nesta Comissão, segundo levantamento feito pelo Relator, Deputado Ronaldo

Caiado, a quem agradeço por essa e por tantas outras coisas mais, analisei a fundo

a proposta com a qual não posso concordar. Até gostaria de votar a favor de alguns

itens, mas, no pacote, voto contra e não abro mão dessa posição.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o

Deputado Paulo Delgado, que falará favoravelmente à matéria.

O SR. DEPUTADO PAULO DELGADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, primeiro, nunca devemos analisar proposta de reforma política, esta ou

qualquer outra que já houve no Congresso Nacional nos últimos anos, a partir de

fundamento negativo.

Ao longo da história, o Brasil vem diminuindo as restrições à participação dos

cidadãos na política, e não as aumentando. Esta reforma política é a mais corajosa

desde 1935, porque vai corrigir o principal equívoco da legislação eleitoral brasileira,

que começou a se consolidar em 1935 e tem se tornado um valor, a ponto de os que

defendem a legislação atual considerarem o erro um valor. Na verdade, o erro é de

mais de 50 anos, é um defeito que ficou caracterizado como valor. E qual é esse

grande defeito? O voto proporcional, que é um voto indireto, não é inconstitucional.

Todos são votados e poucos são escolhidos. O eleitor não sabe que está votando

num negro e elegendo um branco; não sabe que está votando num homem e

elegendo uma mulher; não sabe que está votando num católico e elegendo um

evangélico ou um muçulmano. O voto proporcional é uma lista aberta em que o

eleitor escolhe majoritariamente o seu candidato, ou seja, é uma fraude ao eleitor,

porque a lista aberta com o voto uninominal majoritário, da forma como está, dá ao

eleitor a ilusão de poder, mas na verdade esse poder não se concretiza no momento

da apuração. Isso é tão claro — aqui deve haver vítimas desse sistema —, que nem

sempre o mais votado é eleito nesse pervertido sistema que tem mais de 50 anos.

Qual Estado brasileiro não tem um político mais votado que não foi eleito? Qual

Município brasileiro não tem um Vereador mais votado que não foi eleito, levando o

povo a suspeitar do sistema? Se a demagogia tomar conta da explicação do

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

10

resultado eleitoral, ou se o juiz for um leviano, ele pode levar o povo a se indispor

com o sistema eleitoral e com o sistema democrático, a imaginar que está sendo

fraudado à luz do dia.

O voto proporcional com a escolha uninominal é uma escolha majoritária

dentro do sistema proporcional. Não colaborou para a consolidação dos partidos no

Brasil, individualizou a representação, criou o antagonismo e o egoísmo entre

membros de uma mesma opinião. Quem são os nossos maiores adversários numa

campanha política, se não os membros dos nossos próprios partidos? Isso nos leva

à distritalização, sem consciência, do sistema eleitoral, mesmo com o voto universal,

porque cada um busca um canto, um nicho de mercado eleitoral para se eleger e se

proteger dentro do sistema proporcional. Por isso nascem os radialistas, os

sindicalistas — eu cheguei a esta Casa como sindicalista, dentro de um nicho

sindical dos anos 80 —, os pastores, os padres, todas as categorias profissionais

atrás de nichos do mercado eleitoral, para, na lista uninominal do voto proporcional,

buscar, majoritariamente, empolgar o eleitor, e trair o desejo da maioria.

Ora, essa situação tem 50 anos, e está sendo corrigida. Estamos fazendo

uma conjuração, uma revolução no sentido democrático da palavra. Por quê?

Porque a representação não esgota a democracia, e todos sabem, como diz o nosso

querido Norberto Bobbio, que está com quase 100 anos, que “tudo é política, mas a

política não é tudo”. É preciso dizer claramente o que queremos com o sistema

democrático, e o sistema democrático não é como o mar, que parece não ter limite.

O sistema democrático tem limite, e, se não tivesse, a liberdade poderia se tornar

uma liberalidade excessiva. Nós perdemos a noção do que é ser tolerante. O

sistema democrático é um sistema tolerante com a minoria e tem de ser respeitoso

com a maioria. Maiorias consolidadas pelo sistema eleitoral têm de produzir

Governos estáveis. Os Governos brasileiros são instáveis desde quando o sistema

proporcional frauda a maioria eleitoral e permite essa ambigüidade do sistema de

representação, em que não se sabe se dentro de um partido foi eleito um partido ou

um nome que se infiltrou para aquela eleição e na próxima passará para outro, em

busca de uma lista em que seu voto majoritário fique mais evidente.

Para ser tolerante é preciso saber o que é intolerável, e é intolerável não

estabelecer limites no sistema democrático. Essa vertigem de querer ser livre sem

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

11

responsabilidades, esse excesso de direitos sem compromissos coletivos priva os

indivíduos de respeitar a vontade coletiva.

Por tudo isso, Sr. Presidente, com todo o respeito pelos críticos à lista e ao

financiamento público de campanha, posso dizer que o horror à lista contém, na

verdade, boa dose de fascínio pela própria lista. Trata-se, a rigor, de uma admiração

às avessas: todos os que são contrários à lista na verdade temem não estar na lista

majoritária, não acreditam na organização partidária, acham que partido é coisa para

ser criada e descriada, fundada e desfundada, que são organizações conjunturais.

Toda sociedade que se apoiou sobre partidos desse tipo não se tornou estável, e só

pode haver financiamento público se houver organização partidária de caráter

coletivo, voto majoritário dentro da lista fechada apresentada pelo partido.

A única exceção que eu gostaria de ver contemplada pelo Relator é a

possibilidade de haver candidatos avulsos de caráter nacional, personalidades

como, por exemplo, D. Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, um cantor, o

técnico do Cruzeiro de Belo Horizonte, enfim, personagens que num determinado

momento da história empolgam a opinião pública nacional — não distrital. Essas

personalidades poderiam assumir representação parlamentar. Essa a exceção que

imagino possível e que existe no sistema político de um ou outro país.

Merece todo o louvor o relatório e o trabalho desta Comissão. Meu voto é,

portanto, favorável.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o último

orador que falará contra a matéria, Deputado Lincoln Portela.

O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e

Srs. Deputados, meus parabéns à Comissão pelo trabalho realizado.

Valendo-me do linguajar religioso, tão propalado, vou repetir o que já disse

hoje ao Relator: o Deputado Ronaldo Caiado foi um grande missionário nesta Casa,

pois procurou todos os partidos no desempenho de seu trabalho. Meus parabéns.

Agradeço ao nobre Presidente a paciência que teve com todos, sobretudo

comigo.

Estive presente em todas as reuniões desta Comissão e continuo assustado

com a fantasia do financiamento público de campanha. Nada mais fantasioso para

iludir as pessoas aqui presentes e todo o povo brasileiro do que essa história de

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

12

financiamento público de campanha, que não passa de mais uma forma de tirar

dinheiro do bolso do povo.

Diz o art. 39, sobre o fundo partidário, que, ressalvado o disposto no art. 31,

partido político ou federação pode receber doações de pessoas físicas e jurídicas

para a constituição de seus fundos, sendo vedado usá-las no financiamento de

campanhas eleitorais e na propaganda doutrinária e política, exceto no segundo

semestre dos anos em que houver eleição, no alistamento etc. etc. Essa história de

que o financiamento público de campanha vai inibir a corrupção, como acreditam

tantos Deputados, é história da carochinha. A corrupção entra pelo fundo partidário,

e, para a constituição do fundo, continuamos recebendo dinheiro de pessoas físicas

e jurídicas, dinheiro que só não pode ser usado no segundo semestre do ano em

que houver eleição. Ou seja, vai haver campanha eleitoral patrocinada por dinheiro

de pessoas físicas e jurídicas durante 3 anos e meio, ou eu não sei ler.

Assim, financiamento público de campanha com fundo partidário da forma

como está previsto é uma grande fantasia, porque o dinheiro será doado até 6

meses antes da eleição. Essa história não me convence, sinto muito. A vivência

política mostra que é assim — sei disso muito bem.

Outro ponto é que a lista partidária, da forma como está proposta, significa,

para mim, a instalação de uma ditadura. Devemos fortalecer os partidos sem

enfraquecer o eleitor. A ditadura partidária vai acontecer, e não será a instalação do

caciquismo — não concordo com isso —, mas o seu fortalecimento. Servirá para que

nossos filhos e nossos apadrinhados possam ser os primeiros da lista. Nós teremos

o controle dos partidos.

Eu tive 125 mil votos e estaria muito bem colocado no meu partido ou no

partido do qual saí. Eu não teria problema, mas de onde surgirão as novas

lideranças? Quem vai querer ser o décimo da lista, a não ser, talvez, membros de

partidos tremendamente ideológicos, como o PCdoB ainda é? A grande dificuldade

da lista é a impossibilidade de formação de novas lideranças.

Além do mais, não posso ser favorável à federação de partidos — o que até é

uma boa idéia —, porque sou contra a coligação de partidos. Discordando de

colegas que concordam em parte comigo, eu acho que se quisermos fortalecer os

partidos devemos acabar com as coligações. Aí, sim, os partidos terão de trabalhar

ideologicamente, e não fisiologicamente, na época das eleições. Queremos partidos

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

13

fortes? Acabemos com as coligações. Queremos partidos ideológicos? Acabemos

com as coligações. E federação de partidos é coligação travestida, não há outro

nome. Federação de partido é mudança de rótulo do que, na essência, é coligação.

Meu voto é contrário ao relatório do nobre Deputado Ronaldo Caiado, que

trabalhou com competência, seguindo seu fundamento ideológico.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para falar a favor, tem

a palavra o Relator, Deputado Ronaldo Caiado.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Parlamentares, quero antes de mais nada cumprimentar as secretárias e a

assessoria desta Comissão. Saúdo os companheiros e amigos Cintra, Míriam, Kátia,

Ana Lúcia, Gleice, enfim, todos aqueles que contribuíram comigo e com os demais

37 membros desta Comissão para chegarmos a este importante momento, que

ficará marcado na história do Parlamento brasileiro.

Os que me antecederam testemunharam que esta reforma política vem sendo

debatida há várias Legislaturas. Muitos não acreditavam que esta Comissão

pudesse chegar aonde chegou. Tivemos a humildade de aqui ouvir em audiências

públicas sociólogos, professores, cientistas políticos, Parlamentares. Ouvimos todas

as tendências da sociedade. Caminhamos pelo Brasil, fizemos audiências públicas e

conseguimos aglutinar num mesmo anteprojeto de lei todos aqueles itens que eram

debatidos de maneira estanque ou fatiada. Alcançamos um entendimento para o

financiamento público e exclusivo de campanha — como muito bem explicaram aqui

os Deputados Renildo Calheiros e Paulo Delgado —, o que todos desejamos para

democratizar o processo eleitoral em nosso País.

Hoje, a condição de inelegibilidade não é daquele que está respondendo

processo, porque este consegue bons advogados e é capaz de sair candidato em

várias eleições. A inelegibilidade atinge o cidadão de classe mais baixa em termos

de poder aquisitivo, aquele que não tem condições de arcar com uma campanha

eleitoral e é excluído do processo. A lista dará oportunidade para as pessoas

preparadas, permitirá aos cidadãos dedicados à prática política ingressar no partido,

participar da lista, ir ao palanque, debater e se firmar como liderança. A lista

moralizará o processo eleitoral, isto sim.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

14

Sabemos muito bem que hoje o custo de uma eleição no Brasil se assemelha

ao de uma eleição nos Estados Unidos: mais de 3 bilhões de dólares. O que isso

significa? Significa que o que custeia a eleição não é apenas o dinheiro dos

candidatos. Ficou claro quando ouvimos o delegado de Polícia Federal responsável

pelo narcotráfico que, depois da Colômbia, é no Brasil que as organizações

criminosas do narcotráfico, do tráfico de armas, do roubo de carga, dos gafanhotos e

tantas outras estão financiando as eleições. É isso o que desgasta e desestimula a

prática política.

Mas, como muito bem disse o Deputado Paulo Delgado, precisamos de

mecanismos claros nesse processo, para que amanhã ninguém venha dizer que o

dinheiro público foi usado indevidamente. Por isso acolhemos a proposta do PDT de

criação de uma comissão que trabalhará paralelamente à Justiça Eleitoral, a fim de

avaliar os gastos de campanha. Saberemos limitar os recursos de cada partido.

Cada partido terá de prestar contas 45 dias antes da primeira data das eleições e no

décimo dia após as eleições. Tudo isso é uma maneira de viabilizar o financiamento

de campanha. A lista é preordenada.

Aqueles que disseram que estão até sentidos de não poder votar a favor do

relatório porque não querem a proliferação do caciquismo estão enganados. O que

fomentou, o que criou, o que estimulou, o que fez grassar o caciquismo neste País

foi o sistema eleitoral vigente. Se queremos um antídoto, uma vacina para combater

tal prática, temos de implantar a lista preordenada. Cada político vai participar do

dia-a-dia do partido, vai disputar diretórios, vai atuar nas convenções, vai mostrar o

trabalho realizado e a competência diante dos companheiros, para deles merecer a

credibilidade de compor a lista. Essas situações foram muito bem explicadas pelo

Deputado Renildo Calheiros.

Aproveito para enaltecer o trabalho, a dedicação, a credibilidade e o empenho

do Presidente desta Comissão, que costurou — sim, a palavra é esta — o apoio de

vários partidos. Não fizemos nada mais do que o merecido, pois compomos partidos

ideológicos respeitados e reconhecidos em âmbito nacional.

Buscamos mudar o Código Eleitoral. Desde 1965, os partidos que não

atingiam o quociente eleitoral não podiam sequer participar das sobras de votos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

15

Ampliamos, sim, as condições para que os partidos pequenos pudessem

continuar existindo neste País, dando-lhes 15% do que é angariado com o fundo de

financiamento de campanha.

Criamos a estrutura da federação de partidos, uma maneira de aglutinar os

partidos para superar a cláusula de barreira. Se em 2006 subsistisse a cláusula de

barreira de 5% mais 2% em 9 Estados, apenas 7 partidos sobreviveriam. Pergunto

aos senhores: quem iria continuar num partido que não tem chance de superar a

cláusula de barreira? Teríamos a maior migração já vista para os grandes partidos

deste País. Tivemos a coragem de alterar isso tudo.

Nessas discussões buscamos não só o estímulo, mas a coragem desta

mulher guerreira, emblema da Comissão, a quem presto homenagem especial, com

certeza acompanhado de todos os meus pares: a Deputada Luiza Erundina

(palmas), que desde o primeiro dia levantou bandeiras, implantou modificações no

relatório, buscou para a mulher uma maior participação no tempo de rádio e

televisão — serão 20 minutos no horário gratuito — e lutou pela destinação de 30%

da verba para institutos e fundações de estudo político, para que as mulheres

possam levar adiante a sua posição política.

Essas mudanças são significativas para a transição entre lista aberta e lista

fechada. Estamos dispostos a ouvir sugestões. Os críticos não apresentaram

alternativa. É importante deixar claro que o sistema atual exauriu-se, é tecido roto,

que não adianta tentar remendar, suturar. O que existe são vícios e distorções que

cada vez mais diminuem e dificultam a credibilidade do político.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, peço a todos os presentes que

dêem a este relatório a oportunidade de ser aprovado. Mantenhamos o compromisso

que tínhamos com os Líderes de fazer um acordo de procedimentos para que este

projeto vá rapidamente ao plenário. Depois de votada a reforma tributária e a

reforma da Previdência, vamos votar esta que é, sem dúvida nenhuma, iniciativa da

Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Congresso Nacional. Queremos

mudar para melhor, sim, moralizando e democratizando o processo eleitoral

brasileiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Era o que tinha a dizer.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

16

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Vou conceder a

palavra para orientação de bancada, por 1 minuto. A Comissão vai oferecer este

projeto à Casa deixando clara a importância da independência do Poder Legislativo.

Não houve nesta Comissão nenhuma interferência do Governo, nenhuma vontade

do Presidente da República, apesar de sabermos que S.Exa. defende a maioria

destas propostas. Esta é uma reforma produzida pelo Poder Legislativo; não é do

PT, não é do PFL, não é do PSB, não é do PL, não é do PMDB. É do Poder

Legislativo, e isso tem de estar claro. O Governo que venceu as eleições não

interferiu nem para que ela andasse nem para que ela não andasse.

Registro meus agradecimentos à assessoria e aos Deputados. Se, em

determinados momentos, houve rusgas, elas são parte do embate político. O que

está claro é que o Poder Legislativo, através desta Comissão, vai produzir uma

reforma política.

De resto, agradeço aos Srs. Deputados o entendimento e o bom

relacionamento. Tratamos de matéria que não fez parte da pauta da imprensa, mas

nem por isso nosso quorum foi prejudicado. É muito comum, quando a mídia toma

conta de determinado assunto, o quorum ser contemplado. Quando isso acontece,

todos os Srs. Deputados comparecem às reuniões. Estamos de parabéns, porque

todas as reuniões que realizamos tiveram quorum qualificado. Agradeço, em meu

nome e em nome da Presidência, à assessoria e às Sras. e Srs. Deputados, em

especial ao Relator, que soube como ninguém buscar um entendimento amplo e

produziu o relatório de acordo com o que foi possível. Senhoras e senhores, muito

obrigado.

Vou passar à orientação de bancada.

Como vota o PV, Deputado Jovino Cândido?

O SR. DEPUTADO JOVINO CÂNDIDO - Sr. Presidente, 1 minuto é pouco.

Em nome do Partido Verde, devo dizer que estamos felizes com este avanço. Todos

sabemos o que financia eleição neste País: a contribuição partidária, a tevê, o lixo,

as empresas de ônibus, as empreiteiras, os Três Poderes, a Saúde, o FAT, a

merenda escolar etc.

Fui Prefeito de uma cidade de mais de 1 milhão de habitantes e sei o que

financia esse sistema que condenou gerações e gerações. Estamos dando um salto,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

17

talvez no escuro, como dizem alguns Deputados do meu partido — Wanderley,

Edson, Marcelo, Leonardo —, que temem a reforma por causa do partido.

Fui vítima, no ano passado, em plena campanha eleitoral, de um processo de

expulsão. Fizemos um enfrentamento interno democrático. Prefiro dar este salto no

escuro, se é que os meus colegas estão com a razão. Este salto é importante para o

nosso País.

Hoje, o que custaria uma eleição transparente, séria e responsável? Talvez

1,2 bilhão, aí incluído o valor do tempo de televisão, o fundo partidário e o

financiamento público. Por que continuaríamos gastando 4 ou 5 bilhões de dólares,

que são os números apurados nas últimas 2 campanhas, de 1994 e 1998? Cinco

bilhões de dólares! Todos sabemos o que significa hoje majorar a tarifa de uma

empresa de ônibus. O que está por trás de todo esse lixo, de toda essa podridão?

As pessoas contrárias à reforma lá em Guarulhos, Sr. Presidente, são as que têm

programa de rádio e jornais, por isso aparecem o tempo todo na mídia. Estão

acobertando a miséria e condenando gerações.

O Partido Verde orienta o voto a favor do relatório.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Jovino Cândido.

Com a palavra, para orientar a bancada do PCdoB, o Deputado Inácio Arruda.

O SR. DEPUTADO INÁCIO ARRUDA - Sr. Presidente, primeiro eu quero

registrar uma vez mais o trabalho destacado de V.Exa. e do Relator da matéria, que

escutaram todas as agremiações, todos os partidos. Nosso partido foi ouvido

seguidas vezes antes que se alcançasse este acordo político amplo.

A mudança que considero mais importante é o financiamento público de

campanha.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Inácio

Arruda, com licença. Preciso pedir silêncio ao Plenário e à assistência. Há um

Deputado orientando sua bancada.

Muito obrigado.

O SR. DEPUTADO INÁCIO ARRUDA - O financiamento público de

campanha é, para o nosso partido, Sr. Presidente, fundamental. O custo é menor

para o País. Enganam-se aqueles que argumentam e fazem panfletagem pelo Brasil

afora pregando que o dinheiro público vai ser usado para financiar as campanhas.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

18

Sr. Presidente, o dinheiro público já é usado, e sobejamente, sem nenhum controle,

para financiar campanhas políticas. Precisamos garantir que isso seja feito

diretamente, sob o exame criterioso do Poder Público, da fiscalização pública.

Em segundo lugar, a lista partidária é importante para fortalecer os partidos

políticos no Brasil. Em tudo quanto é canto do País nós falamos em fortalecer os

partidos. Se queremos fortalecê-los, é preciso que tenham controle amplo da disputa

político-eleitoral, e isso se dá com a lista partidária. Haverá um momento em que a

lista partidária e o financiamento público, que são básicos, fundamentais, não

estarão associados a nenhum tipo de discriminação, que haveria, por exemplo, com

a existência de cláusulas de impedimento, de cláusulas de barreira — estamos

buscando num acordo puxar para baixo essa cláusula. No futuro devemos zerar

essas cláusulas, que impedem algumas representações políticas de ter assento no

Congresso Nacional.

Há um terceiro aspecto importante que merece ser ressaltado. Falamos de

financiamento público e de lista partidária. Agora, precisamos levantar a questão das

chamadas sobras, que permitem a ascensão de outras legendas. Zerar as cláusulas

de barreira facilitaria o acesso de várias agremiações que hoje estão fora do

Parlamento brasileiro. Há poucos dias perguntou aqui o Deputado Aloysio Nunes

Ferreira que problema uma agremiação de 1 ou 2 Deputados causa à República, ao

País. Nenhum problema, apenas democratiza, abre a palavra, o espaço político para

que todos tenham voz no Parlamento.

Sr. Presidente, neste momento breve que V.Exa. concede aos partidos para

encaminhar a votação, o PCdoB encaminha o voto favorável. Ampliam-se os

espaços democráticos no Brasil. Continuaremos a ampliá-los mais e mais. Estamos

dando um passo importante neste momento. O PCdoB quer consagrar a alteração

feita neste Plenário. Portanto, nosso voto é favorável ao acordo a que se chegou na

Comissão, tão bem encaminhado pelo companheiro Renildo Calheiros, do PCdoB.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Inácio Arruda.

O SR. DEPUTADO PHILEMON RODRIGUES - Pela ordem, Sr. Presidente.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

19

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Vou dar a palavra a

V.Exa., Deputado Philemon, mas já lhe disse que pela ordem não existe. Tem

V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO PHILEMON RODRIGUES - Quero fazer uma solicitação à

Presidência. Como os Deputados que vão encaminhar não obedecem ao tempo

determinado pela Presidência, eu sugeriria que a Presidência aumentasse de

antemão esse prazo, para deixá-los mais à vontade. Ninguém respeita o tempo de 1

minuto.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Estou dando 1 minuto,

e a liberalidade deixa a orientação ir até 2 minutos.

Com a palavra o Deputado Neiva Moreira, do PDT.

O SR. DEPUTADO NEIVA MOREIRA - Sr. Presidente, o PDT vota a favor do

relatório, com a consciência de que esta lei não atinge todos os objetivos do

processo eleitoral democrático. Vamos precisar de outras no futuro.

O financiamento do Poder Público e a fidelidade, por exemplo, são vitais para

a sobrevivência democrática dos partidos.

Ouvi aqui muita discussão sobre a lista. Sr. Presidente, passei muitos anos

fora do Brasil, não por gosto, como sabe V.Exa. Oito anos eu passei no Uruguai, um

país onde a lista democrática é típica da democracia lá implantada. Durante anos e

anos eles aprimoraram o processo democrático. Sou membro honorário do Partido

Socialista Uruguaio. As últimas eleições que vi lá foram típicas. Muitos líderes

importantes, muitas figuras destacadas do partido se apresentavam para estar à

frente da lista. Os membros mais de esquerda apresentaram o nome de um

jornalista dos mais brilhantes e combativos do Uruguai, Guillermo Chiflet.

Enfrentando todas as dificuldades, ele foi um dos primeiros da lista. Posso dizer a

V.Exas. que estamos no início de um processo que ainda teremos de aprimorar.

Fato é que a lista é uma conquista democrática muito importante.

Quero felicitar todos aqueles que estão enriquecendo o debate de temas tão

importantes para o futuro democrático deste País e concitá-los a lutar para que as

deficiências desta lei sejam no futuro corrigidas.

Devo assinalar, Sr. Presidente, que alguns Deputados do PDT já se haviam

comprometido contra determinados aspectos do projeto. O partido vai respeitar suas

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

20

posições, mas ainda vai tentar esclarecê-los sobre a importância desta grande

conquista.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Neiva Moreira.

Para falar pelo Partido Socialista Brasileiro, concedo a palavra à Deputada

Luiza Erundina.

A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - Sr. Presidente, Sr. Relator, colegas

Parlamentares, demais presentes, antes de mais nada, quero agradecer ao Relator,

Deputado Ronaldo Caiado, as referências a mim feitas. Meu empenho nesta tarefa

se deveu em grande medida à forma como a Presidência e o Relator encaminharam

este trabalho durante todos esses meses. Em poucas experiências que vivi nesta

Casa, no mandato anterior e neste, tive oportunidade de assistir a processo tão

democrático e tão amplamente participativo. A participação não se deu apenas no

âmbito da Comissão, mas nas inúmeras audiências públicas aqui realizadas, nas

conversas pessoais do Relator e do Presidente com cada Deputado que tinha

alguma objeção a fazer, com cada partido que levantava algum senão a esta

proposta. Estamos diante de um fruto da flexibilidade, da abertura que V.Exas.

adotaram no encaminhamento dos trabalhos, motivando não só a mim, mas

provavelmente muitos a dar o melhor para que chegássemos a este resultado

extraordinário.

No início dos trabalhos, a grande polêmica era quanto aos limites da reforma,

se ela seria ampla ou restritiva. Em experiências anteriores, a abordagem deste

tema se fazia numa dimensão mais ampla, mas acabava não havendo o resultado

prático que se avaliava ser esperado pela sociedade. Assim, decidiu-se que, num

primeiro momento, trataríamos pontualmente de questões que pudessem

aperfeiçoar o processo político-eleitoral, mas sem excluir, no momento imediato, a

discussão de temas mais estruturais, que implicam emendas à Constituição.

Estávamos convencidos de que era possível aperfeiçoar o processo político,

eleitoral e partidário com uma legislação ordinária de tramitação mais fácil. Essa já

seria não uma resposta à sociedade, mas a certeza de que não estamos propondo

só o fortalecimento de partidos. Esta proposta não se reduz ao argumento, já

suficientemente forte para justificá-la, de que contribuirá para fortalecer os partidos

políticos. Não há democracia forte sem partidos fortes, e a proposta vai além disso,

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

21

porque reestrutura o sistema político-eleitoral, ou seja, é uma reforma estrutural. Não

se pode pensar nesses pontos isoladamente, aprovando um ou outro, porque eles

guardam entre si uma lógica, uma coerência interna, uma concepção que aponta na

direção de uma mudança de cultura política a partir da aprovação desta matéria.

É evidente que a reforma política não se dará apenas com a aprovação de

uma lei, mas com a aplicação dessa lei no cotidiano da prática política. Com certeza,

isso vai fortalecer não apenas os partidos, mas também a democracia.

Tive a oportunidade de discutir com a direção nacional do meu partido e com

a sua bancada nesta Casa. Hoje tenho absoluta certeza de que esta proposta

contempla aquilo que imaginamos deva ser o processo, o sistema político em nosso

País, que pode, eventualmente, de imediato, prejudicar-me individualmente, um ou

outro, mas certamente significará um lucro no futuro. Estamos investindo no futuro,

não em soluções imediatistas.

Estou absolutamente gratificada com o resultado deste esforço. Tenho

certeza de que a maioria dos nossos companheiros vai aprovar esta matéria e

defendê-la nas outras Comissões e no plenário. Teremos, ao mesmo tempo, de

exercer nossa função pedagógica de ajudar o povo a entender aquilo que é

importante para a sociedade.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Para orientar a

bancada do PL, concedo a palavra ao Deputado Bispo Rodrigues.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Sr. Presidente, o PL sempre se

posicionou a favor da reforma política, mas não propriamente desta que está sendo

votada.

Tenho em minhas mãos uma lista dos países que fizeram a verdadeira

reforma política, aquela que deveria ser aprovada no Brasil. Ela começa com o voto

facultativo. Vou ler para V.Exas. o nome dos países do G-8 onde o voto é facultativo:

Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Rússia, Reino Unido, Japão.

Será à toa que todos o adotam?

A verdadeira reforma política no Brasil deveria começar pelo voto facultativo.

Por que obrigamos o cidadão brasileiro a votar? Alguns parecem fugir da cruz

quando ouvem falar em voto facultativo. Ninguém quer falar nisso.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

22

Ontem, a jornalista Dora Kramer escreveu em sua coluna no Estadão e no

Jornal do Brasil algo interessante:

“A alguém já ocorreu perguntar ao cidadão e a

cidadã brasileiros natos, maiores de idade, portanto

obrigatoriamente eleitores, se a eles interessa financiar

campanhas eleitorais? Afinal, com a regra passariam a

contribuir. A ninguém também ocorreu perguntar ao

eleitor, obviamente, uma explicação simples, direta e

convincente sobre o significado da proposta: se ele está

interessado em alterar a sua forma de votar. São

assuntos que não entram na reforma porque são

desconfortáveis aos políticos e põem o eleitor na primeira

pessoa do plural”.

Ora, os senhores vejam que o voto facultativo é praticado na África do Sul, na

Áustria, no Canadá, na Holanda, na Islândia, em Israel, na Suécia, na Suíça, todos

estes países que vão muito bem, obrigado. É à toa que isso acontece? Só o Brasil

continua nesse anacronismo, nesse atraso de obrigar o cidadão a votar. Na hora em

que implantássemos o voto facultativo, teríamos, nós, políticos, de mostrar ao

cidadão que merecemos que ele saia da sua casa, gaste dinheiro e enfrente uma fila

para nos eleger. A verdadeira reforma política deveria começar pelo voto facultativo,

mas ninguém que falar nisso.

Outro casuísmo da reforma: 80% da verba será dividida entre os partidos e

federações proporcionalmente ao número de representantes que elegeram na última

eleição geral para a Câmara dos Deputados. Ora, todos sabemos que o PFL perdeu

mais de 20 Deputados e pelo caminho terá perdido mais de 30; já o PL cresceu de

26 para 44 Deputados. Mas vamos fazer campanha como se tivéssemos 20

Deputados, e o PFL como se tivesse 80. Essa divisão não está correta e tem de ser

discutida.

Outro ponto. Toda a lista partidária é cassada se o Presidente do partido ou o

tesoureiro errarem na prestação de contas. Ora, o cidadão que é o trigésimo da lista

nem conhece o contador do partido, mas, se ele errar, o candidato tem seu registro

cassado. Tudo isso temos de levar para a CCJ, para ser examinado por um Relator

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

23

isento, que não esteja apaixonado pela matéria. Todos que vieram compor esta

Comissão têm opinião formada. Todo mundo aqui sabe o que faz.

Alguém se preocupou com o segmento evangélico. Não se preocupe, não,

Deputado. Eu sei que V.Exa. não tem preconceito. Mas quem tem 30 milhões de

adeptos não tem problema para montar uma lista.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Não estou falando com V.Exa.,

não, estou falando com outro Deputado. Não existe esse problema, mesmo porque a

questão não é religiosa.

(Não identificado) - O outro por acaso serei eu, Deputado?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, gostaria que

V.Exa. concluísse.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - É quem tocou no assunto

evangélico. Eu não nominei ninguém, por favor.

(Não identificado) - Mas apontou o dedo, Excelência.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Conclua, Deputado

Bispo Rodrigues.

O SR. DEPUTADO BISPO RODRIGUES - Na lista partidária não há mistério.

É só lançar candidato a Presidente e a Governador que todo partido cumpre a lista.

Fazer a lista não é problema nenhum. Vamos fazer a lista? Vamos. O PL tem José

Alencar, que pode ser um excelente candidato a Presidente. Temos potencial para

lançar candidato a Governador em todos os Estados. A lista não é problema

nenhum, absolutamente nenhum. A aliança se dá em segundo turno, e a gente faz a

lista tranqüilamente, com o pé nas costas. É só lançar candidato a Presidente e a

Governador. Isso não é mistério.

Nosso partido apoiaria o relatório se fosse incluído o voto facultativo, esta sim

a verdadeira reforma política, que este País e este Plenário não querem. Os

caciques fogem do voto facultativo como o diabo foge da cruz.

Sr. Presidente, vamos encaminhar o voto contra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

24

Peço aos Srs. Deputados um minuto de atenção para que os oradores

possam usar com mais objetividade o tempo de que dispõem para orientar as

bancadas.

Com a palavra o Deputado Roberto Magalhães, do PTB.

O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - Sr. Presidente, não me

considero melhor do que ninguém nesta Comissão. Talvez eu só tenha mais do que

a maioria, que é mais jovem, um pouco de experiência. Tenho a impressão de que

nesta hora não falo apenas como Deputado, mas também como advogado do eleitor

brasileiro.

Tem-se falado muito em fortalecimento dos partidos, em economia e redução

dos gastos das eleições, mas ninguém disse ainda se o povo brasileiro vai ser

ouvido sobre a reforma que se pretende fazer.

(Não identificado) - Sr. Presidente, aqui atrás não estou conseguindo ouvir o

discurso do Deputado. Será que V.Exa. poderia pedir silêncio ao Plenário, por favor?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu queria que não só o

Plenário, mas principalmente a assistência fizesse o maior silêncio possível, por

gentileza. A sala está cheia.

Está com a palavra o Deputado Roberto Magalhães.

O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - As Constituições

republicanas brasileiras, sobretudo a partir de 1946, com pequenas nuanças de

redação, afirmam e reafirmam que todo poder emana do povo, tese de Sieyès na

Convenção Francesa da Revolução de 1789. Quando se entendia que o poder

político era divino, e por isso a monarquia absoluta era legitimada, surgiu a tese de

que a soberania popular era do povo. É essa soberania popular que impera ainda

hoje em todos os países, sobretudo nos de Primeiro Mundo.

Esposei o entendimento de que nós, simples Deputados e Senadores, que

não somos titulares da soberania, mas apenas representantes do povo — ele é o

titular —, não poderíamos votar uma lei ordinária que restringe e mutila o direito de

voto sem audiência do povo.

Apresentei emenda propondo parágrafo ao art. 8º, para estabelecer, como

todo mundo aprovou na Comissão de Constituição e Justiça e no Plenário, para dar

eficácia à lista fechada. Por que não ouvir o titular da soberania, que hoje tem 2

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

25

votos e amanhã vai ter só um? O cidadão hoje opta entre o voto no candidato e o

voto na legenda, e vai perder o primeiro.

Diz-se aqui que todo País desenvolvido tem lista fechada. Isso não é verdade.

Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Canadá adotam o voto distrital.

Como minha emenda foi rejeitada, considero, Sr. Presidente, que o projeto

está contaminado de inconstitucionalidade — esta é uma opinião pessoal, que o

partido apoiou —, porque estamos legislando sobre a soberania popular sem

audiência. Citei 2 juristas, porque não sou aprendiz de feiticeiro nem me considero

dono da verdade. Não vou fazer toda a citação, porque o tempo se escoa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, estou sendo

condescendente, mas já estamos começando a ficar premidos pelo tempo.

O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - Já esgotei os 2 minutos?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Já esgotou 3, mas vou

conceder-lhe mais um.

O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - Vou terminar fazendo as

citações. Primeiro, a do ilustre cearense Paulo Bonavides:

“Daqui pode-se inferir que toda matéria

constitucional vinculada a interesse da soberania popular,

e como tal se devem entender os da própria soberania

nacional, somente poderá ser legislada, válida

constitucionalmente, se submetida a plebiscito, referendo

ou iniciativa popular”.

O outro jurista é Adrian Sgarbi, mais jovem. Ele diz:

“Em suma, quando a lei ou projeto de lei tiver por

conteúdo a soberania popular, nos termos do art. 1º,

parágrafo único, do art. 14, caput, da Constituição da

República, o referendo será obrigatório, ou seja, sua

realização decorre ex lege. Nos demais casos, a

realização do referendo será facultativa, configurando

referendo facultativo. No último caso, pode ser autorizado

ou não pelo Congresso Nacional”.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

26

Sr. Presidente, enquanto não se der no projeto oportunidade ao povo

brasileiro de manifestar sua concordância ou discordância, eu serei, infelizmente,

contra a proposta do ilustre Relator.

É esse o encaminhamento para o meu partido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado.

Como vota o Partido Progressista?

O SR. DEPUTADO NILTON BAIANO - Vou me manter no tempo que todos

estão usando, 3 ou 4 minutos.

Sr. Presidente, quero, antes de mais nada, parabenizar o Relator pelo

trabalho realizado durante estes meses. Entretanto, este projeto não é democrático.

Hoje se diz que existe um sistema de corrupção das empresas em relação aos

Parlamentares. Ora, só se corrompe quem quer ser corrompido. Este processo não

é democrático, porque vamos continuar tendo Deputado que se elege por um partido

num dia e, antes mesmo de ser diplomado, já muda de agremiação. Este processo

não é democrático porque vamos continuar obrigando o povo a votar. E também não

é democrático, Sr. Presidente, porque o País em que vivemos, onde a Polícia

Federal está entrando em greve porque não tem recursos para abastecer suas

viaturas, vai gastar cerca de 800 milhões de reais para fazer campanha eleitoral. A

corrupção eleitoral acontece, repito, com quem quer ser corrompido.

Sr. Presidente, estamos vivemos uma situação muito difícil no Brasil. Temos

problemas na Saúde e na Segurança. Como é que vamos gastar quase 800 milhões

de reais numa campanha política sem a aprovação do povo, como diz o Jornal do

Brasil no artigo há pouco citado?

Este projeto não é democrático.

Dizem que há candidatos que têm votação imensa, mas não se elegem. A

situação vai ser ainda pior, porque candidatos que nunca tiveram votos, e jamais

teriam, se estiverem na lista em primeiro lugar poderão ser eleitos sem um único

voto. Muitos vão aprovar este projeto pensando que por terem recebido o maior

número de votos no Estado serão os primeiros da lista.

Eu poderia me valer dessa tese, porque fui o Deputado mais votado do meu

partido e no Estado. Entretanto, acho injusta a mudança. Além do mais, o art. 6º das

Disposições Transitórias diz que a lista vai obedecer à deliberação do órgão

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

27

competente, que no caso é a convenção. Então, aqueles que acham que serão os

primeiros da lista estão enganados.

O PP vota “não”, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado.

Tem a palavra o Deputado Osmar Serraglio, pelo PMDB.

O SR. DEPUTADO PEDRO HENRY - Sr. Presidente, V.Exa. me concede a

palavra como Líder?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO PEDRO HENRY - Muito obrigado.

Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e Srs. Parlamentares, fiz questão de

acompanhar de perto este debate preliminar que antecede os momentos da votação

de tão importante alteração na legislação eleitoral brasileira pela relevância do tema

por si só e também porque quero dizer a esta Comissão que o Partido Progressista,

que tenho a honra de liderar no Congresso Nacional, atendendo a solicitação do Sr.

Presidente desta Comissão, convocou a bancada para um debate com a presença

do ilustre Relator. Este assunto foi amplamente debatido por todos os Parlamentares

do nosso partido.

O Deputado Nilton Baiano acabou de fazer o encaminhamento do PP,

contrariamente ao relatório. Não há nada de pessoal na nossa decisão. Fiz questão

de estar aqui para ressaltar que, embora o relatório apresentado contenha alguns

pontos extremamente positivos e que contribuem para o aperfeiçoamento da

legislação brasileira, na nossa opinião ele também traz algumas alterações que não

estão sendo feitas no tempo adequado nem na forma adequada.

Como a votação do relatório é global e como entendemos que não podemos

subscrever as alterações na sua totalidade, nossa posição de hoje será contrária à

aprovação do parecer. Digo isso para que fique registrada nos Anais da Casa a

nossa posição e possamos, nas instâncias vindouras, defender com legitimidade as

modificações que queremos implementar.

Está evidente para nós, do Partido Progressista, que a maioria dos partidos

políticos que já se manifestaram e que se manifestarão a seguir estão apoiando a

forma do relatório apresentado. Está claro que o relatório será aprovado hoje.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

28

Fazemos questão de registrar a nossa posição para manter a independência de

defender modificações nas instâncias vindouras.

Era a explicação que eu tinha a fazer. Enalteço o trabalho de todos que se

dedicaram profundamente, durante tantas e tantas reuniões, a produzir o material

que está sendo analisado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, muito

obrigado. V.Exa. tem cada vez mais a admiração de todos os seus pares, pela

postura ética com que se conduz nesta Casa.

Com a palavra o Deputado Osmar Serraglio, pelo PMDB.

O SR. DEPUTADO OSMAR SERRAGLIO - Sr. Presidente, o PMDB quer, em

primeiro lugar, parabenizar o trabalho desenvolvido pelo eminente Relator e a

inteligente condução dos trabalhos feita por V.Exa. O PMDB caminha de mãos

dadas para a construção de um novo tempo na política.

São necessárias as modificações. Estamos convencidos de que não

representam tudo o que queríamos, mas sabemos que esta é a reforma possível,

viável, praticável.

Temos algumas ressalvas a fazer, tal como fez agora há pouco o eminente

Líder do Partido Progressista.

Discussões internas nos conduzem a esse tipo de reflexão. Muitos

ingressaram no PMDB e, pela disposição, embora transitória, necessariamente se

colocarão nas listas, a despeito da possível votação que obtiverem. Para se ter uma

idéia, até o mais votado do partido acaba sendo prejudicado quanto à sua posição

na lista.

O PMDB — e falo do Rio de Janeiro — terá dificuldades na elaboração dessa

seqüência e na condução desse trabalho, embora magnificamente elaborado.

Entendemos ser necessário repensar a elaboração dessa primeira lista, ainda que

seja dependente da convenção e que possa se modificar. A despeito desta ressalva

— e também em razão da preocupação momentânea, pela época em que vivemos

—, falar-se em aportar recursos é muito bom e democrático, pois é preciso dar

oportunidade àqueles que não têm recursos para que realmente tenham acesso aos

cargos eletivos, mas imaginarmos a possibilidade de dispêndios tão elevados de

recursos públicos deixará a população, de certa forma, impressionada com a

proposta que estamos elaborando.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

29

As mudanças necessárias exigem sempre que se enfrente esse tipo de

dificuldades e que se tomem decisões.

O PMDB reafirma seu apoio e encaminha seu voto favorável à proposição, na

certeza e na convicção de que nas instâncias subseqüentes poderemos de alguma

forma aprimorá-la, para que, de fato, essas soluções eventuais sobre as quais ainda

temos dúvida possam ser mais bem encaminhadas.

O PMDB encaminha favoravelmente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Osmar Serraglio.

Com a palavra o Deputado Luiz Carlos Santos, pelo PFL.

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS SANTOS - Sr. Presidente, Sr. Relator,

Sras. e Srs. Deputados, o PFL encaminha favoravelmente.

Vou citar nominalmente os Deputados do PFL que compõem esta Comissão e

que me deram a delegação para votar “sim”: André de Paula, Ronaldo Caiado, Vic

Pires Franco, Eduardo Sciarra, José Rocha, Marcelo Guimarães Filho e Zelinda

Novaes. O Presidente do PFL, Senador Jorge Bornhausen, também apóia esta

mudança, Sr. Presidente, assim como o Líder José Carlos Aleluia e todo o partido.

Que razões levam o PFL a agir assim? Temos consciência de que vivemos

um momento histórico excepcional no Parlamento. Todos têm esse sentimento.

Conseguiu-se irmanar discursos e dar-lhes sintonia, a exemplo do que foi aqui

externado pelos Deputados Ronaldo Caiado Luiza Erundina. O PFL, o PSDB, o

PSB, o PPS, o PDT, o PCdoB, o PV, o PT, a Oposição, o Governo, acima de

posições ideológicas, todos estão unidos. Este é um caso único. Nunca em minha

vida neste Parlamento encontrei situação igual. Já fui Líder de 2 Presidentes da

República e nunca vi sentimento como este. O que justifica isso? Todos têm

consciência de que o interesse nacional está em jogo.

Outro ponto curioso que quero ressaltar é que todos os discursos foram

favoráveis à reforma política. Alguns podem discordar da reforma tal como proposta,

mas ninguém defende o status quo. Por quê? Por uma razão simples, Sr.

Presidente: o País é ingovernável. Quem se elege para a Presidência da República,

seja Lula, seja Fernando Henrique Cardoso — de quem estive ao lado —, ninguém

pode governar este País sem formar maioria. Não há maioria estável, mas episódica

e artesanal, que tem de se compor, em cada episódio, mediante métodos não

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

30

ortodoxos, que conhecemos. Os governantes são obrigados a isso, pois os partidos

são verdadeiras ficções. Como se justifica a migração, neste ano, de 130

Deputados? Os partidos não têm identidade. Não há outra explicação. Se houver,

me dêem.

Citei e quero citar novamente o Prêmio Nobel de Economia de 1993, Douglas

North, que em entrevista à revista Veja disse que o País é ingovernável e não terá

destino enquanto não se fizerem reformas institucionais, entre elas a reforma

política.

Sr. Presidente, em nome do PFL, quero dizer que muito nos orgulha o

trabalho realizado pelo Relator, Deputado Ronaldo Caiado, que produziu

extraordinário trabalho, de forma competente e dedicada.

Não concordo com os que dizem não ter sido consultada a Nação, pois

entendo que, ainda que indiretamente, ela foi consultada, sim. Eu mesmo participei

de uma grande convocação, em São Paulo, com a presença do Deputado Ronaldo

Caiado. E a população já julgou o modelo em vigor, haja vista as pesquisas de

opinião, que demonstram ser o Parlamento a instituição menos apreciada pela

sociedade. Portanto, vamos ter de mudá-lo.

Sr. Presidente, Deputado Alexandre Cardoso, destaco ainda a competência, a

dedicação e a capacidade política de V.Exa. Quando se negociou a cláusula de

barreira, diziam que estávamos fazendo concessão. Não se fez concessão alguma.

Houve consenso e negociação, permitindo-se a sobrevivência de partidos como o

PV. Trata-se de ampliação dos direitos democráticos.

Portanto, o PFL vota “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,

Deputado Luiz Carlos Santos.

Como vota o PSDB?

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, Sr. Relator, ilustres

companheiros, o PSDB vota "sim", com a convicção de que estamos produzindo

grande trabalho para o fortalecimento da democracia. V.Exa., o ilustre Relator e toda

a Comissão estão de parabéns pelo trabalho realizado.

O Congresso Nacional, desde 1991, vem processando o tema da reforma

política. Fizemos ajustes e elaboramos leis, como a Lei dos Partidos e outras,

buscamos caminhos os mais indiretos para atingir objetivos de fidelidade partidária e

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

31

discutimos temas importantes. Não foi possível, porém, fazer em nenhum momento

o que estamos realizando agora.

O sistema eleitoral, matéria de que estamos tratando, é o coração, é o que

formata tudo o mais. Não fizemos a reforma antes, porque não havia massa crítica

para tanto. Discutimos o assunto hoje, porque a grande maioria dos políticos se

cansou de um sistema que entrou em exaustão e não dá resposta a nada mais.

Ninguém agüenta mais ver o crescimento geométrico do custo das campanhas

políticas e a dificuldade de financiá-las. O nosso sistema eleitoral é determinante

desses problemas.

A reforma política ora proposta permite, entre outros grandes resultados,

corrigir essa distorção absurda. Ela não fortalece os partidos — esse fortalecimento

é conseqüência natural, corolário —, mas a democracia. E não há democracia forte

sem partidos. Desafio qualquer um a me dizer onde há um sistema democrático forte

e estável sem partidos. Não existe. O que vemos no País é verdadeiramente a

ausência de partidos. Vamos construir um sistema de partidos fortes para fortalecer

também a democracia.

Portanto, Sr. Presidente, o PSDB vota “sim”, pelo fortalecimento da

democracia.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, Deputado

João Almeida.

Antes de passar a palavra ao próximo orador, ressalto a importância do

Deputado João Almeida no encaminhamento da reforma política, que constará na

história desta Casa. Na condição de Presidente, agradeço ao Deputado João

Almeida o trabalho de S.Exa. no encaminhamento dessas matérias, não apenas

nesta Comissão, mas em todas as Comissões desta Casa.

Com a palavra o Deputado Chico Alencar, que orientará o Partido dos

Trabalhadores.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sr. Presidente, colegas Deputados,

os 7 votos dos Deputados indicados pelo PT para participar desta Comissão — e

estamos trabalhando aqui desde o início do ano — serão favoráveis ao relatório do

Deputado Ronaldo Caiado. Primeiro, porque em nossas campanhas sempre

dissemos que é fundamental resgatar o caráter público da atividade política. E quem

votou em candidatos do nosso partido sabia disso.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

32

Segundo, o PT sempre defendeu o primado do partido e das idéias sobre os

indivíduos e as relações de clientela, que levam à crise de representação. O

Deputado Alexandre Cardoso lembra que, com os nossos méritos, virtudes e

dinheiro para a campanha, que nem sempre é farto, tivemos menos da metade dos

votos da população — e me refiro a todos nós, de qualquer legenda. Quarenta e

nove milhões de pessoas indicaram nomes para esta Casa, e esse número é menor

do que de votos recebidos pelo Presidente que ganhou as eleições.

Votamos “sim”, porque o projeto, de forma salutar, induz à fidelidade

partidária. O povo repudia a infidelidade. Não precisamos consultar a população

para ver o que pensa a respeito do troca-troca de partidos. Queremos votar os

financiamentos exclusivamente públicos das campanhas, para que se faça o

controle dos gastos, que será possível na medida em que as campanhas sejam de

fato partidárias. Queremos ver o fim das sombras de antidemocracia, que podem ser

chamadas de “anão”, “Silveirinha”, “BANESTADO”, “gafanhoto” ou “narcotráfico”.

Será que os senhores pensam que isso não tem nada a ver com campanhas

eleitorais?

Com o nosso voto “sim”, queremos dizer “não” ao abuso do poder econômico,

Sr. Presidente.

Quanto às listas preordenadas, elas deverão ser objeto de debate das

bancadas. O princípio é correto, ou seja, o voto doutrinário, politizado,

despersonalizado, não vedetizado. A discussão, que não acaba aqui, é salutar e tem

de ser resolvida rapidamente. É obrigação desta Legislatura. Se não votarmos a

matéria nesta sessão legislativa, devemos votá-la no início do ano que vem.

Como já foi dito, a proposta é originária da Câmara e é demanda da

população, que deseja a reforma política. Se realizarmos um referendo, a população

dirá que político não presta, que são todos espertos. De acordo com essa

concepção, seria melhor fechar o Parlamento. Será que não percebemos isso? A

reforma política é radicalmente democrática.

Podemos discutir, como afirmou o Deputado Paulo Delgado, a possibilidade

de um percentual de candidaturas avulsas para figuras que têm maior dimensão na

sociedade. Podemos discutir o assunto. E deve haver renovação periódica das

listas, para evitar cristalização. Não necessariamente o Deputado A ou B estará

sempre em primeiro lugar na lista do seu partido. Há países que obrigam a

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

33

renovação periódica. A Costa Rica, por exemplo, estabelece que não podem existir

mais de 3 mandatos consecutivos. Na Bélgica, o direito do voto na legenda, que é

estimulado no partido, é acompanhado pelo voto no nome, se o eleitor quiser. Sendo

muito indicado, o candidato pode mudar de posição na lista partidária. E os

defensores da democracia não devem temer, pois a proposta é democrática, boa,

saudável, progressista e avançada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Peço ao Deputado

Carlos Alberto Leréia que assuma a Secretaria, porque a Mesa deliberou o voto

nominal.

Registro a presença em plenário do Deputado Devanir Ribeiro e do

ex-Deputado e ex-Prefeito Paulo de Tarso.

Em votação o Projeto de Lei, ressalvados os destaques.

Deputado Chico Alencar. (Pausa.)

Deputado Devanir Ribeiro. (Pausa.)

Deputado Fernando Ferro. (Pausa.)

Deputado José Eduardo Cardozo.

O SR. DEPUTADO JOSÉ EDUARDO CARDOZO - Sr. Presidente, o meu

voto é “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Luiz Couto.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Paulo

Delgado.

O SR. DEPUTADO PAULO DELGADO - Sr. Presidente, “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Rubens

Otoni.

O SR. DEPUTADO RUBENS OTONI - Sr. Presidente, “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Um Deputado do PT

deixou de votar.

PFL.

Deputado André de Paula.

O SR. DEPUTADO ANDRÉ DE PAULA - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Luiz Carlos

Santos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

34

O SR. DEPUTADO LUIZ CARLOS SANTOS - Sr. Presidente, “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Marcos

Abramo.

O SR. DEPUTADO MARCOS ABRAMO - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Paes

Landim. (Pausa.)

Deputado Ronaldo Caiado.

O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Vic Pires

Franco. (Pausa.)

Deixaram de votar 2 Srs. Deputados

PMDB.

Deputado Cezar Schirmer.

O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado José Divino.

O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, “não”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Marcelino

Fraga.

O SR. DEPUTADO MARCELINO FRAGA - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Osmar

Serraglio.

O SR. DEPUTADO OSMAR SERRAGLIO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Osvaldo

Biolchi. (Pausa.)

Deixou de votar um dos Srs. Deputados.

PSDB.

Deputado Affonso Camargo. (Pausa.)

Deputado Aloysio Nunes Ferreira.

O SR. DEPUTADO ALOYSIO NUNES FERREIRA - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Bonifácio de

Andrada. (Pausa.)

Deputado João Almeida.

O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - "Sim", Sr. Presidente.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

35

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputada Professora

Raquel Teixeira. (Pausa.)

Deixaram de votar 2 Srs. Deputados.

PP.

Deputado Leodegar Tiscoski.

O SR. DEPUTADO LEODEGAR TISCOSKI - Sr. Presidente, “não”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Mário

Negromonte.

O SR. DEPUTADO MÁRIO NEGROMONTE - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Nilton

Baiano.

O SR. DEPUTADO NILTON BAIANO - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - PTB.

Deputado Jackson Barreto. (Pausa.)

Deputado Philemon Rodrigues.

O SR. DEPUTADO PHILEMON RODRIGUES - Sr. Presidente, “não”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Roberto

Magalhães.

O SR. DEPUTADO ROBERTO MAGALHÃES - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deixou de votar um

dos Srs. Deputados.

PL.

Deputado Bispo Rodrigues. (Pausa.)

Deputado João Paulo Gomes da Silva.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - "Não", Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Lincoln

Portela.

O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deixou de votar um

dos Srs. Deputados.

PSB.

Deputado Alexandre Cardoso é favorável.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

36

Deputada Luiza Erundina.

A SRA. DEPUTADA LUIZA ERUNDINA - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - PPS.

Deputado Agnaldo Muniz. (Pausa.)

PDT.

Deputado Neiva Moreira.

PCdoB.

Deputado Renildo Calheiros.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - PV.

Deputado Jovino Cândido.

O SR. DEPUTADO JOVINO CÂNDIDO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Farei a chamada dos

suplentes.

PT.

Deputado Luiz Sérgio.

O SR. DEPUTADO LUIZ SÉRGIO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O PT está completo.

PFL.

Deputado Vic Pires Franco.

O SR. DEPUTADO VIC PIRES FRANCO - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Eduardo

Sciarra.

O SR. DEPUTADO EDUARDO SCIARRA - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O PFL está completo.

PMDB.

Deputado Mauro Benevides.

O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - "Sim", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - PSDB.

Deputada Thelma de Oliveira.

A SRA. DEPUTADA THELMA DE OLIVEIRA - Sr. Presidente, “sim”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Carlos

Alberto Leréia. (Pausa.)

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

37

Os 2 Deputados do PSDB votaram.

PTB.

Deputada Edna Macedo.

A SRA. DEPUTADA EDNA MACEDO - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Completou o PTB.

PL.

Deputado Almeida de Jesus.

O SR. DEPUTADO ALMEIDA DE JESUS - "Não", Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Completou o PL.

PPS.

Deputado Átila Lins. (Pausa.)

Não havendo mais Deputados a votar, passarei ao resultado.

Faltam os destaques, que colocarei em votação em seguida.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Srs. Deputados, o

anteprojeto foi aprovado por 26 votos favoráveis, 11 contrários e uma ausência.

Está aprovado o anteprojeto.

Parabéns, Deputado Ronaldo Caiado! (Palmas.)

Vamos agora votar os destaques.

Sobre a mesa o Requerimento de Destaque nº 4, da bancada do PL. Trata-se

de destaque para o inciso II do art. 24.

Para encaminhar favoravelmente à matéria, concedo a palavra ao Deputado

João Paulo Gomes da Silva.

Peço silêncio aos Srs. Deputados, porque ainda há matéria a ser deliberada.

Com a palavra o Deputado João Paulo Gomes da Silva.

(Não identificado) - Sr. Presidente, quantos destaques serão apreciados?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Dois destaques, com

votação não nominal.

Com a palavra o Deputado João Paulo Gomes da Silva.

O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, pelo

que sei, ainda existe possibilidade de esse projeto ser encaminhado diretamente ao

Plenário sem passar pela Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. Julgo

oportuno, eu que fui contra o projeto, que a Comissão, que tem tantos membros da

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

38

Comissão de Constituição Justiça, faça uma reflexão sobre esse destaque, porque

sobre ele paira flagrante inconstitucionalidade.

Veja V.Exa. que a disposição que pretendo seja decotada do texto diz o

seguinte: “Comprovada a responsabilidade do partido ou federação,

independentemente da aplicação da multa prevista do § 3º, será cassado o registro

da lista partidária — todos os nomes serão cassados, se ainda forem candidatos —

ou o diploma dos candidatos”. Caso já expedidos os diplomas, evidentemente.

Presidente, esta disposição inaugura no Direito brasileiro pena que afronta o

art. 5º, inciso XLV, da Constituição, que gostaria de ler:

"Art. 5° . ....................................................................

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do

condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a

decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,

estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até

o limite do valor do patrimônio transferido”.

Então, Sr. Presidente, se alguém do partido se descuidar, seja o tesoureiro, o

presidente ou o secretário, enfim, se alguém que receba a incumbência de fazer

captação de recursos vier a se equivocar na aplicação desses recursos, em

sobrevindo essa acusação e a comprovação de que houve qualquer tropeço, a pena

será imposta a todos da lista. Veja bem que no Direito brasileiro isso não é possível.

Se compararmos essa proposta com os princípios do Direito Penal brasileiro,

tal disposição eqüivaleria à pena de morte, pena capital.

Entendo ser essa disposição da proposta do nobre Relator irremediavelmente

inconstitucional, por isso não pode prevalecer.

É a contribuição que gostaria de dar para o aprimoramento do texto, sem

prejuízo da resistência que vou continuar a ele opondo. Votarei contrariamente à

proposta, quando submetida ao plenário, pelas razões já ditas e repetidas.

Gostaria de obter dos meus pares nesta Comissão compreensão sobre o

objeto desse destaque, para que seja retirado do texto essa infeliz e inconstitucional

disposição, que não pode prevalecer.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não há mais oradores

inscritos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

39

Trata-se de DVS. Portanto, quem votar “sim”, concorda com a manutenção do

texto; quem votar “não” concorda com a modificação do texto, portanto é favorável à

supressão da matéria.

Os Deputados favoráveis à manutenção do texto permaneçam como se

encontram. (Pausa.)

Aprovada.

O segundo DVS, de autoria do Deputado Renildo Calheiros, da Bancada do

PCdoB, tem por objetivo retirar do texto a determinação de inexistência de coligação.

Concedo a palavra ao Deputado Renildo Calheiros, para encaminhar.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, serei rápido, até

porque conheço a posição majoritária desta Comissão, contrária ao destaque que

apresento. Mas é uma luta que pretendo levar até o plenário, e quero deixar

registrada aqui a minha posição.

Na minha opinião, são necessários alguns ajustes no parecer do ilustre

Relator para melhorar o projeto, como, por exemplo, a proibição de coligações

partidárias. Ao invés de melhorar o projeto, o dispositivo traz grande prejuízo.

Sabemos que os partidos só farão coligação se todos estiverem favoráveis. Quem

não for a favor, evidentemente, não a fará. Trata-se, porém, de figura política muito

importante.

Sr. Presidente, há 10 partidos grandes no Brasil: PT, PMDB, PSDB, PFL, PP,

PTB, PL, PDT, PSB e PPS. O PCdoB é médio. Há Estados com 8 ou 9 Deputados

Federais. A proibição das coligações forçará todos os partidos a saírem sozinhos, ou

seja, de saída, alguns partidos grandes não alcançarão quociente eleitoral em vários

dos Estados da Federação que possuem número menor de Deputados. Muitas

vezes, o quadro político local comporta aliança entre esses partidos, porque estarão

juntos nas eleições para Governador e para Senadores. Mas não poderão fazer

coligação, porque a legislação proíbe.

No meu entendimento, essa proibição é descabida, porquanto retira a decisão

política da mão do partido e a coloca na legislação, elaborada fora da conjuntura em

que a eleição será disputada, distante do momento em que as alianças serão feitas.

Certa ocasião, o ilustre Relator me disse que a coligação era incompatível

com a lista. Não é. É evidente que a lista terá de ser negociada entre os partidos que

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 2178/03 Data: 03/12/03

40

participarão da coligação. E ela só acontecerá se todos quiserem, mas é uma figura

importante para resolver impasses políticos, conforme já destaquei.

Não devemos proibir a coligação, porque ela só será feita pelos partidos que

assim quiserem, repito. Admito que a coligação deva guardar coerência nacional —

é uma questão a ser discutida —, mas não que haja proibição.

Por isso apresentei o destaque, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Srs. Deputados, não

há outros oradores inscritos.

Trata-se de DVS. Portanto, quem votar “sim” concorda com a manutenção do

texto; quem votar “não” quer a modificação do texto, ou seja, é favorável à

supressão da matéria.

Os Deputados favoráveis à manutenção do texto permaneçam como se

encontram. (Pausa.)

Aprovada, com votos contrários dos Srs. Deputados Jovino Cândido, Renildo

Calheiros, Neiva Moreira, meu e Nilton Baiano.

O SR. DEPUTADO RENILDO CALHEIROS - Sr. Presidente, é possível

registrar “abstenção”?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Sim.

O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Não sou a favor nem contra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Registrada a

"abstenção" do Deputado Lincoln Portela.

O texto foi aprovado e rejeitados os destaques.

Parabenizo o Relator, a Comissão e a Assessoria pelo grande avanço.

(Palmas.)

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os nossos trabalhos de hoje,

antes convocando reunião para estabelecermos cronograma de discussões sobre o

tema “Pacto Federativo e Princípios de Defesa Nacional”.

Os Deputados serão oportunamente informados sobre a data.

Muito obrigado.

Está encerrada a reunião.