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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO ESPECIAL - PL 2401/03 - BIOSSEGURANÇA EVENTO: Audiência Pública N°: 2119/03 DATA: 27/11/2003 INÍCIO: 10h46min TÉRMINO: 13h38min DURAÇÃO: 02h52min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h51min PÁGINAS: 56 QUARTOS: 35 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO BENAMI BACALTCHUK - Chefe-Geral da EMBRAPA Trigo SUMÁRIO: Discussão sobre o Projeto de Lei nº 2.401, de 2003, referente à biossegurança. OBSERVAÇÕES Há intervenções inaudíveis. Há orador não identificado.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Será às 9h30min. A pauta de hoje prevê a presença dos Srs. Antônio Carlos

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO ESPECIAL - PL 2401/03 - BIOSSEGURANÇAEVENTO: Audiência Pública N°: 2119/03 DATA: 27/11/2003INÍCIO: 10h46min TÉRMINO: 13h38min DURAÇÃO: 02h52minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h51min PÁGINAS: 56 QUARTOS: 35

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

BENAMI BACALTCHUK - Chefe-Geral da EMBRAPA Trigo

SUMÁRIO: Discussão sobre o Projeto de Lei nº 2.401, de 2003, referente à biossegurança.

OBSERVAÇÕES

Há intervenções inaudíveis.Há orador não identificado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Declaro abertos os

trabalhos da quinta reunião da Comissão Especial destinada a proferir parecer ao

Projeto de Lei nº 2.401/03, do Poder Executivo, que estabelece normas de

segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam Organismos

Geneticamente Modificados — OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de

Biossegurança — CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de

Biossegurança — CTNBio, dispõe sobre a política nacional de biossegurança e dá

outras providências.

Encontram-se sobre as bancadas cópias da ata da quarta reunião, realizada

em 25 de novembro. Pergunto se há necessidade de leitura dela.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GONÇALVES - Não há necessidade, Sr.

Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Atendendo a requerimento

verbal do Deputado Fernando Gonçalves, dispensamos a leitura da ata e a

colocamos em discussão. (Pausa.)

Não havendo quem queira discuti-la, em votação.

Os Srs. Deputados que forem pela aprovação permaneçam como se

encontram. (Pausa.)

Aprovada por unanimidade.

Comunico aos Srs. Parlamentares membros desta Comissão que amanhã

teremos uma visita ao Centro Nacional de Pesquisa em Recursos Genéticos e

Biotecnologia — CENARGEN, da EMBRAPA. Nessa oportunidade, contaremos com

a presença do Ministro da Agricultura, Sr. Roberto Rodrigues. Será de grande

importância conhecermos o desenvolvimento científico que temos graças à

EMBRAPA e contarmos com o Sr. Ministro da Agricultura, que gentilmente se fará

presente, recepcionando os membros desta Comissão.

(Intervenção inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Será às 9h30min.

A pauta de hoje prevê a presença dos Srs. Antônio Carlos Campos de

Carvalho e Benami Bacaltchuk, os 2 palestrantes convidados para esta manhã. Na

parte da tarde, às 14h30min, contaremos com os Srs. Avílio Franco, Franco Lajolo e

Mohamed Habib.

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Em virtude de compromissos assumidos anteriormente, os professores

Ricardo Brentani, do Instituto Ludwig, e Mayana Zatz, da Universidade de São

Paulo, comunicaram a impossibilidade de comparecerem a esta audiência pública.

Para melhor andamento dos trabalhos e aproveitamento das palestras,

ouviremos agora o Dr. Benami Bacaltchuk, da EMBRAPA, a quem convidamos para

tomar assento à mesa.

Esclareço que o senhor, como palestrante, disporá de 20 minutos. Se

necessário, poderemos prorrogar por 10 minutos sua palestra.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Agradeço muito o convite. Esclareço que

meu nome não é tão complicado assim. É Benami Bacaltchuk. Se fosse João da

Silva, talvez não fosse ouvido. Portanto, esse nome é estratégico.

Bom, senhores, estamos num momento extremamente importante da história

do nosso País, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento. Gostaria que

as preocupações que estamos tendo hoje fossem parte da nossa própria história e

que não tivéssemos cometido tantos erros no processo de crescer e chegar aonde

chegamos. Mas, com todos esses aspectos, somos parte de uma sociedade

estabilizada, competitiva, que de fato está sobrevivendo e preocupando o resto do

mundo. Nosso País está se transformando num exemplo de desenvolvimento, de

competitividade, o que nos coloca numa posição de avaliar qual é o futuro e a que

de fato nos estamos submetendo neste momento.

Gostaria de estar na Comissão discutindo não sobre biotecnologia, mas sobre

trigo, porque temos a grande glória de ser um país exportador de trigo. Gostaria que

estivéssemos também discutindo o quanto avançamos nos 30 anos de existência da

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, baseados na habilidade do seu corpo

de cientistas, baseados numa estrutura de recepção de extensionistas e produtores,

que nos deram uma resposta tão grande.

Os senhores que vivem no cerrado devem perceber o que significa, de fato,

evolução tecnológica, desenvolvimento tecnológico. Mais do que tudo, os senhores

devem perceber que nosso País está fazendo investimento em preservação

ambiental como nunca, baseado na tecnologia desenvolvida.

Gostaria que tivéssemos tido essa reunião em 1909, quando cientistas

poloneses sentiram que não era possível produzir trigo na Polônia e desenvolveram

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uma planta transformada, um híbrido, chamado triticale, quando se misturaram

genes de trigo com genes de centeio, na busca de adaptação da planta ao

ambiente. Gostaria que estivéssemos reunidos talvez há algumas dezenas de

milhares de anos, quando uma gramínea do gênero aegilops cruzou com outra do

gênero tritici, assim como gostaria que estivéssemos presentes quando uma planta

chamada teocinto cruzou com outra espécie e se criaram o trigo e o milho, que são

os nossos 2 exemplos.

A espécie trigo é a combinação de pelo menos 7 espécies diferentes de forma

natural. O que obtivemos com isso? Aberrações genéticas? Transformações

incontroláveis?

Gostaria que os senhores acompanhassem o que temos feito com essa

ciência chamada biotecnologia, porque queremos estabelecer um pouco mais de

cuidado no seu uso.

Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, o Japão ficou numa situação

difícil. Havia necessidade de trigo, e não havia capacidade de produzir o volume

necessário para suas necessidades. Qual era o problema do trigo japonês? Ele era

extremamente alto e altamente produtivo. Conseqüentemente, um desastre: espigas

pesadas, plantas frágeis. Não conseguiríamos resolver o problema. O que a ciência

fez? Cruzou trigo com arroz. O arroz tinha uma boa tolerância ao acamamento, tinha

uma altura mais baixa. Qual foi a conseqüência desse cruzamento feito pelos

japoneses, que gerou as plantas Norin 10 e Norin 11, que geraram os trigos

americanos e a revolução verde, que todos criticam sem saber do ponto positivo que

representou ao transformar um país inviável como a Índia em auto-suficiente e

exportador de trigo? O que obtivemos nisso? Uma planta de trigo mais baixa, mais

produtiva. Foi a grande revolução da triticultura do mundo. Todos os senhores estão

comendo trigo proveniente desse cruzamento.

Onde estávamos discutindo quando precisávamos tornar o trigo — e o trigo

brasileiro mais do que nenhum — resistente à doença que nos fez praticamente

perder a produção, que foi a ferrugem do colmo, em 1950, 1960? A minha primeira

visão de trigo como indivíduo pensante, ou seja, com 5 ou 6 anos, com capacidade

de memória, foi na propriedade do meu pai, quando ele me mostrou o quanto

estávamos perdendo naquele ano, porque o trigo, em lugar de estar verde ou

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começando a amarelar estava preto. Como resolvemos isso? Com uma

transformação genética. Cruzamos trigo com centeio.

Para atender à necessidade de informação da TV Câmara, sou Chefe-Geral

da EMBRAPA Trigo.

Continuando, conseguimos resolver o problema: não existem mais resquícios

de ferrugem do colmo no Brasil.

Temos um programa de melhoramento de trigo, que leva pelo menos 14 anos

para oferecer uma variedade. Também pegamos essa ferramenta da biotecnologia,

cuja segurança precisamos garantir, e criamos mecanismos. Hoje, estamos

acelerando, por meio de 2 procedimentos — cultura de tecidos e multiplicação de

espécies interespecíficas ou diferentes —, o processo de obtenção de cultivares.

Pelo sistema de haplóides e duplo haplóides, um processo de manipulação genética,

estamos pondo cultivares de trigo no mercado pelo menos 5 anos antes. Em média,

em 9 anos, temos um cultivar no mercado. Levávamos pelo menos 15 anos para

obter o mesmo resultado.

Todo esse conhecimento ligado à biotecnologia também está sendo usado no

sentido de termos certeza de que aquela característica que estamos buscando será

encontrada.

Estamos usando marcadores moleculares, processo que nos vai permitir

identificar se um gene desejado está presente. E com uma vantagem: se esse gene

estiver na primeira geração, é possível plantar a mesma semente, não se precisa

perdê-la, como perderíamos por outros métodos de identificação. Ou seja, estamos

conseguindo obter no primeiro ano o que precisaríamos de 5 gerações para obter no

campo.

Tudo isso é o somatório das coisas que nós precisamos criar, com segurança.

Nenhum material genético vai ao campo, nenhum material genético chega ao

produtor sem passar primeiro por um processo de avaliação intelectual, ou seja, do

que temos em termos de conhecimento disponível, e, segundo, por laboratórios. E

os nossos laboratórios são submetidos a todas as regras de biossegurança que a lei

brasileira exige. Não temos transformação genética no ar ou em qualquer outra

parte.

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Outro aspecto importante é que todo o nosso trabalho é testado, retestado e

validado antes de ir ao produtor, dentro de todas essas características de

biossegurança ou de segurança necessárias.

O fato é, senhores, que com essas ferramentas estamos ganhando tempo. Na

verdade, por termos conseguido acelerar o conhecimento para a triticultura, o Brasil

pode até ser auto-suficiente, porque exporta, o que é o primeiro passo para criar um

mercado alternativo para a auto-suficiência.

Gostaria que os senhores, ao estabelecerem leis, o fizessem pensando na

sustentabilidade. Trata-se de um conceito fundamental para o futuro da humanidade.

Só que eu gostaria que os senhores entendessem esse conceito de forma objetiva.

Muitas pessoas definem sustentabilidade como algo que represente renda.

Sim, sustentabilidade também exige renda. Outras pessoas dizem que

sustentabilidade é algo ambientalmente seguro. Sim, sustentabilidade prevê

preservação ambiental, prevê que não tenhamos nenhum risco conhecido pelo fato

de estarmos introduzindo um novo conhecimento ou uma nova tecnologia no

sistema produtivo.

Mas a sustentabilidade também tem outro fator fundamental, que é um fator

social, ou seja, a manutenção da comunidade rural dentro do processo produtivo, ou

dentro dos sistemas em que as cadeias produtivas se envolvem. Ou seja, que se

consiga manter o emprego no campo, que se consiga manter o emprego na

comunidade para a transformação e o aproveitamento da sazonalidade da

mão-de-obra disponível.

E ainda existe outro fator fundamental a ser observado: a exeqüibilidade. Por

favor, senhores, não transformem em inexeqüível um sistema que nos vai dar a

garantia de sermos competitivos. Não estamos brigando no discurso da

biotecnologia e da biossegurança pela proteção do nosso País. Estamos destruindo

nossa capacidade competitiva. Por meio da inovação do conhecimento, podemos

ser de fato parte do mercado internacional.

Quando discutimos soja transgênica, e alguém está preocupado com o que

ela pode causar para o ambiente e para o indivíduo, acho que os senhores deveriam

preocupar-se com um negócio de 20 milhões de hectares que representa 2 bilhões

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de dólares de herbicidas. E não estamos discutindo segurança nesse processo,

apenas estamos trocando quem vai controlar nosso futuro.

Agradeço a oportunidade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradecemos ao Sr.

Benami Bacaltchuk a exposição.

Perguntamos se já se encontra no plenário o Sr. Antônio Carlos Campos de

Carvalho.

Como não se encontra, passaremos a palavra ao nobre Relator, Deputado

Aldo Rebelo.

O SR. DEPUTADO ALDO REBELO - Sr. Presidente, vou deixar minhas

perguntas para a fase final, pois gostaria de ouvir primeiro o questionamento dos

companheiros e companheiras Parlamentares.

Agradeço ao pesquisador da EMBRAPA, que trouxe importante contribuição

ao nosso debate.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Queremos esclarecer aos

Srs. Parlamentares inscritos para interpelar o expositor que poderão fazê-lo

estritamente sobre o assunto da exposição, pelo prazo de 3 minutos, tendo o

interpelado igual tempo para responder, facultadas a réplica e a tréplica pelo mesmo

prazo, vedado ao orador interpelar qualquer dos presentes.

Como primeiro inscrito, tem a palavra o Deputado Leonardo Vilela.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, Deputado Silas

Brasileiro; Sr. Relator, Deputado Aldo Rebelo; Sr. Benami, que conhecemos de

longa data, a quem cumprimento; Srs. e Sras. Parlamentares, gostaria de fazer uma

constatação: a EMBRAPA Trigo tem grandes serviços prestados ao País.

No período de 1999 a 2001, quando Secretário de Agricultura de Goiás, tive a

oportunidade de estabelecer uma parceria com a EMBRAPA Trigo, comandada pelo

Sr. Benami, a qual foi responsável por uma revolução na agricultura brasileira:

tornou o Centro-Oeste do Brasil produtor de trigo e com perspectivas excepcionais

para o futuro. Produzimos um trigo de altíssima qualidade, extremamente viável do

ponto de vista econômico e que consolida uma cadeia importante do agronegócio.

O plantio de trigo no Distrito Federal e em Goiás viabilizou os moinhos de

trigo do Centro-Oeste brasileiro, que teriam fechado suas portas por falta de

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competitividade com os moinhos de trigo próximos ao litoral brasileiro e à Região

Sul, a grande produtora do grão, causando o desemprego de milhares de pessoas,

prejudicando famílias em Goiás e no Distrito Federal, reduzindo a atividade

econômica, enfim, causando transtornos sociais e econômicos de toda ordem.

Graças à pesquisa da EMBRAPA, que desmitificou a crença de que trigo só

dava no sul do País, por ser cultura de clima temperado. Hoje, abrimos uma grande

fronteira no Centro-Oeste brasileiro. Dentro de muito pouco tempo, Sr. Benami,

veremos o Centro-Oeste como exportador de trigo para o resto do País.

Quando iniciamos nosso programa, Goiás produzia 10 mil toneladas de trigo.

Hoje, estamos encerrando uma colheita de mais de 90 mil toneladas, próxima a 100

mil toneladas de trigo, graças ao trabalho da ciência e a políticas públicas

adequadas e pertinentes. Não gastamos dinheiro com isso, houve apenas vontade

política e políticas públicas adequadas.

Fiz essa introdução, Sr. Presidente, para dizer que a EMBRAPA é uma das

grandes responsáveis pelo desempenho absolutamente fantástico do agronegócio

brasileiro. Se hoje temos um superávit de 20 bilhões de dólares na balança

comercial e o agronegócio como único setor da economia brasileira a apresentar

indicadores positivos, muito, muito mesmo, se deve à pesquisa da EMBRAPA.

E quando essa empresa, que tem um potencial muito grande de

desenvolvimento de biotecnologia, nos diz que estão cerceando a pesquisa no

Brasil, que estamos perdendo oportunidades de patentear genes que nos vão dar

uma posição de liderança na corrida biotecnológica; quando vemos que a

EMBRAPA está sem recursos para custear a pesquisa, sem o apoio político para

desempenhar seu papel, ficamos extremamente preocupados.

Pior ainda é quando algumas pessoas questionam a capacidade técnico-

científica dos pesquisadores da EMBRAPA. Ora, se começarmos a questionar a

probidade, a responsabilidade e o conhecimento desses cientistas, podemos fechar

a EMBRAPA, instituição mantida com o imposto que nós, cidadãos brasileiros,

pagamos. Portanto, isso me deixa extremamente preocupado.

Gostaria de perguntar ao Sr. Benami se o Brasil não está perdendo uma

oportunidade ímpar de se colocar na dianteira da corrida biotecnológica,

patenteando genes que outros países estão pesquisando, que outros países

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poderão patentear à nossa frente, gerando a possibilidade de, no futuro, pagarmos

royalties sobre o desenvolvimento científico de outros países, em vez de

aproveitarmos esses royalties.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Deputado, agradeço-lhe as observações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Por gentileza, vamos fazer

um bloco, para depois o senhor responder a todos.

Antes de passar a palavra ao próximo orador inscrito, o Deputado Francisco

Turra, gostaríamos de registrar, com muita satisfação, que nossa Comissão é muito

rica. Temos como Relator o Líder do Governo, Deputado Aldo Rebelo. Agora, na

Mesa, cobrindo temporariamente a ausência do Relator, temos o Vice-Líder Beto

Albuquerque. Portanto, ficamos muito felizes e damos boas-vindas ao nosso Vice-

Líder, que se encontra à Mesa conosco.

O próximo orador é o nosso ex-Ministro Deputado Francisco Turra.

O SR. DEPUTADO FRANCISCO TURRA - Caro Presidente Silas Brasileiro,

Deputado Beto Albuquerque, nosso ilustre convidado, Sr. Benami. Em primeiro

lugar, gostei da sua objetividade, mostrando, acima de tudo, que não estamos

criando um mundo novo, porque já os fenícios e os antigos egípcios viveram, quem

sabe, o mesmo drama que nós, mas não fazendo do fato um drama, e sim o

encarando com normalidade.

Triticale está aí porque ninguém questionou o fato de termos 7 espécies

formando o trigo que hoje chega à nossa mesa e ao nosso pão — 7 espécies

cruzadas.

Sr. Benami, gostaria de ressaltar, em primeiro lugar, minha admiração pelo

trabalho maravilhoso de pesquisa da EMBRAPA. Visitei todas as unidades — a sua,

nem se fala, porque é a minha. Fui ver, por exemplo, em experimentos em Minas

Gerais, o que se faz com a semente do milho para que ele seja resistente à seca e à

umidade. Se não houvesse esse avanço da pesquisa, certamente estaríamos

atrasados tanto na cultura de milho, quanto na de trigo.

Viajando com o Presidente da Índia, fiquei espantado quando ele me disse:

“Chegamos hoje à auto-suficiência em trigo, num clima adverso; quem nos deu essa

oportunidade foi a pesquisa, e a riqueza da Índia é a pesquisa”. A EMBRAPA tem

convênios com vários países do mundo para avançar na pesquisa.

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Gostaria de registrar que contei com a gentileza do Deputado Darcísio

Perondi, que me cedeu espaço, porque em seguida tenho outro compromisso.

Gostaria, Sr. Benami, que V.Sa. abordasse, de forma muito clara, uma

questão que intriga a todos. A EMBRAPA trabalha preocupada com a saúde,

efetivamente preocupada com o meio ambiente na pesquisa?

Gostaria que V.Sa. deixasse muito claro para todos qual a filosofia da

EMBRAPA na manipulação da pesquisa. E mais: com que países a EMBRAPA tem

convênios? Que países vêm sorver a capacidade de inteligência da EMBRAPA, uma

das empresas mais conceituadas no mundo, não apenas no Brasil?

Às vezes, temos visto afirmações no sentido de que há problemas com a

transgenia. Alguns dizem: “Ouvi dizer que morreu uma borboleta, um passarinho,

que diminuiu a água”. São afirmações assim tão infundadas, tão jogadas a esmo,

que chegam até a criar clima de constrangimento.

A minha pergunta é: a biotecnologia se antepõe à agricultura orgânica? A

biotecnologia não é hoje também usada na agricultura convencional? São perguntas

que eu gostaria que V.Sa. respondesse da forma mais clara e objetiva possível,

como fez o seu pronunciamento, aliás.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradecemos ao Deputado

Francisco Turra.

O próximo orador inscrito é nosso Primeiro Vice-Presidente, Deputado

Darcísio Perondi.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Parabéns, Dr. Benami, pelo

trabalho extraordinário que V.Sa. e toda a sua equipe de cientistas realiza em

benefício do Brasil, na EMBRAPA de Passo Fundo, estação modelo. V.Sa.

corporifica a inteligência, a criatividade e a persistência do pesquisador, do cientista

brasileiro, nos últimos 30 anos.

Sou um brasileiro muito orgulhoso pela pesquisa que os nossos cientistas

realizam pelo Brasil, não só na EMBRAPA, mas na CODETEC, Fundação do Mato

Grosso, Universidade de São Paulo, Universidade de Viçosa e tantos outros centros

de pesquisa.

Sabemos que lentamente o Brasil começa a olhar para um projeto de

pesquisa, criado nos últimos 2 anos, que já sofria antes e sofre agora cortes na área

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de recursos para pesquisa. E a EMBRAPA sofre também. Então, repito aqui: sinto-

me profundamente orgulhoso dos cientistas brasileiros, que V.Sa. aqui representa.

Fiquei emocionado quando V.Sa. falou do trigo, na década de 1950. Eu era

criança e meu pai quebrou em 1956, 1958 e 1959, porque acreditou no trigo que

começava, mas sua plantação pegou a ferrugem. Hoje, V.Sa. é um desbravador,

graças a quem chegamos à auto-suficiência, mas não só no trigo.

No que diz respeito à nossa transgenia, à nossa engenharia vegetal, gostaria

que V.Sa. fosse objetivo em relação ao seguinte: a engenharia genética piora o solo

com mais ou menos veneno? Ela degrada nosso solo? A agricultura, por si só, é

atividade degradadora. A biotecnologia diminui a degradação do solo pela

agricultura, ou aumentar a erosão, a degradação do solo? Em relação à fauna, ela

piora ou melhora, por meio do uso da biotecnologia? O uso do glifosato na

transgenia da soja beneficia a produção de trigo ou não? A engenharia genética é

imprescindível ou não, para garantir nossa competitividade no mercado

internacional? A biotecnologia pode ajudar nosso pequeno agricultor?

Última pergunta: V.Sa. concorda com o método de avaliação de risco adotado

pela CTNBio, o método caso a caso? V.Sa. concorda que os cientistas da CTNBio

devem ter o mesmo valor de decisão do funcionário de Governo, de uma ONG ou de

uma empresa que faz parte da CTNBio?

Reafirmo meu orgulho e patriotismo com o trabalho dos senhores, apesar de

todas as dificuldades de pesquisa, não só deste mas também do outro Governo.

Vejo que a política da EMBRAPA é a da agricultura familiar, pequena, sem a visão

maior. Talvez o Presidente da EMBRAPA precise viajar à China e à Índia para ver

isso.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Peço que sejam retiradas

das notas taquigráficas com referências à EMBRAPA.

Lembramos que esta audiência está sendo transmitida ao vivo pela TV

Câmara.

Com a palavra o próximo orador inscrito, Deputado Onyx Lorenzoni.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Sr. Presidente, não entendi sua

observação.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Entendemos que foi

agressiva a referência feita à EMBRAPA.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Não, eu só fiz elogio à

EMBRAPA. Faço aqui uma ode à EMBRAPA, mas entendo sua observação.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Muito obrigado.

O SR. DEPUTADO ONYX LORENZONI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, público que nos assiste neste momento, primeiro, quero somar-me no

reconhecimento à qualidade técnica, principalmente à análise objetiva feita pelo Dr.

Benami.

O Brasil ainda tem 90 milhões de hectares a serem conquistados. Segundo

alguns estudos, podem somar-se a isso mais 100 milhões de hectares retirados dos

220 milhões de pastagens nativas ou cultivadas, o que estabelece para o País, que

produz em culturas anuais algo ao redor de 44 milhões de hectares, a maior fronteira

agrícola do mundo.

Evidentemente, em um país continental como o Brasil, e a isso se referiu o

Deputado Leonardo Vilela, temos os microclimas regionais. Lembro-me de várias

ações da nossa EMBRAPA com vistas a adaptar cultivares de acordo com as

características regionais, em busca da melhoria na eficiência produtiva.

Eu gostaria que V.Sa. nos relatasse as pesquisas de que tem conhecimento,

sejam elas feitas pelo Centro de Pesquisa da EMBRAPA de Passo Fundo ou por

outras unidades, que caminham no sentido do ineditismo, da construção de patentes

nacionais que possam depois originar royalties para o Brasil, pela aplicação da

nossa biotecnologia e pela capacidade criativa da nossa ciência.

Gostaria também que V.Sa. relatasse pesquisas sobre variedades ou

experimentos de adaptações microrregionais exatamente para atender à demanda

de um país que contém muitos outros países. V.Sa. falou sobre a Hungria. Cabem

diversas Hungrias dentro do Brasil, cada uma com características topográficas e

climáticas absolutamente diversas. Nossa diversidade é muito grande.

Depois, gostaria de breve avaliação sobre o eixo desse Projeto de

Biossegurança, que, no meu entendimento, mistura ciência com política. É uma má

mistura, porque coloca a política com prevalência sobre a ciência. As experiências

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que conheço, e seguramente V.Sa., não foram as melhores. O depoimento de V.Sa.

como pesquisador é valioso e importante.

Por fim, gostaria de saber sua opinião sobre a formatação atual da CTNBio. A

atual formatação atende aos requisitos da sua explanação em relação à

sustentabilidade e à salvaguarda dos interesses brasileiros? Caso entenda que

precisa ser modificada, que sugestão V.Sa. agregaria, para que o Relator e a

Comissão possam estudá-la? Se aprovado o projeto original — e tenho certeza de

que esta Comissão vai aperfeiçoá-lo e de que o Plenário da Câmara dos Deputados

vai aprová-lo —, como V.Sa. analisa a possibilidade de haver, acima da CTNBio, um

conselho de biossegurança, não formado por cientistas, que daria a última palavra

se a CTNBio considerasse que o projeto de pesquisa é adequado ao País? Qual o

reflexo de uma organização como essa no dia-a-dia da ciência, usando afirmação

sua, de que os instrumentos da biociência têm sido apropriados pela ciência

brasileira para diminuir o tempo de obtenção de cultivares ou de qualquer produto

em que se utilize a engenharia genética para o seu desenvolvimento?

Concluindo, Sr. Presidente, agradeço à Comissão o espaço aberto a esse

extraordinário cientista que tantas contribuições deu ao Brasil, Dr. Benami, a quem

parabenizo pelo trabalho desenvolvido.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Temos 8 Srs.

Parlamentares inscritos. Consulto ao Relator ad hoc, ou temporário, se poderíamos

fazer dois blocos para que sejam respondidas as perguntas dos 4 primeiros, depois

faríamos outro bloco. (Pausa.)

Com a concordância do nobre Relator, passamos a palavra ao Dr. Benami

para que responda aos 4 primeiros oradores que já se manifestaram.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Agradeço aos Srs. Deputados que tanto

elogiaram o esforço da instituição EMBRAPA. Realmente, mesmo ela sendo parte

do processo, é um orgulho ser brasileiro, especialmente se participante de instituição

como a EMBRAPA, que nos coloca entre os países mais competitivos do mundo. E

não é um esforço individual, devemos reconhecer o esforço dos nossos Legislativos,

dos nossos empresários e organizações sociais.

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Inicio minha intervenção com os comentários do Deputado Leonardo Vilela,

com quem tive o prazer de negociar, há cerca de 5 anos, quando era Secretário de

Agricultura do Goiás. S.Exa. fez algo que talvez devêssemos ter feito há muito

tempo no País: primeiro, o Estado colocou-se em posição de ajudar e de não

atrapalhar; de não restringir, mas de criar as relações necessárias para o que

aconteceu.

A produção de trigo em Goiás é resultado do esforço do sistema produtivo, da

organização dos produtores, tanto os patronais quanto os sindicatos dos

trabalhadores rurais. Houve também o apoio do sistema industrial, do sistema de

transformação, que não se restringiu à primeira geração, ou seja, à indústria de

farinha; houve grande esforço da indústria de massas, biscoito e panificação. Acima

de tudo, houve o apoio de toda a estrutura do Governo do Estado com a decisão de

criar mecanismo que tornasse viável ao Estado não ser mero importador de um

alimento básico.

Graças a esse comportamento, em 3 anos aumentamos praticamente em 10

vezes a triticultura no Estado de Goiás. E é isso o que devíamos esperar de

Governos: mecanismos de facilitação.

Deputado, esse é o caminho que esperávamos que a legislação nos

oferecesse. Isso praticamente responde ao argumento final do Deputado Onyx

Lorenzoni. Precisamos que a legislação seja facilitadora e que não crie mecanismos

de dúvida. É muito difícil para um indivíduo como eu, que trabalha com ciência e

tecnologia, principalmente com transferência de conhecimento, ter de esperar,

depois que um grupo de especialistas tomou posição — perdoem-me V.Exas. —,

que um grupo de políticos decida se é conveniente ou não. Quem vai decidir a

conveniência, na verdade, é o próprio usuário. Ninguém obriga ninguém a usar

qualquer coisa. Então, não atrasem esses processos, senhores. A sociedade tem

capacidade de decidir.

Temos feito um esforço muito grande para colocar no mercado milhos

varietais. Por que o pequeno produtor escolhe o híbrido? Por que produz mais ou

por que ele está sendo impingido por alguém a usar o que não quer? Senhores,

ninguém usa o que não quer. Então, por favor, não atrasem mais com uma

legislação que irá demorar muito para que as coisas aconteçam.

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Não podemos criar comissão de 26 pessoas, mesmo com a seriedade do

assunto. Isso inviabiliza. É muita gente para discutir o mesmo assunto. O cientista

tem responsabilidade, tem moral, tem história. Dentro desse conceito, estamos com

um grupo de muitas diferenças de conhecimento e há interesses não claros nessa

diversidade.

Os cientistas trabalham pelo conhecimento e para o conhecimento. Hoje, o

cientista brasileiro está conscientizado de que tem de trabalhar para o

desenvolvimento e para o bem deste País, tenho convicção disso.

Não quero parecer vítima, mas fui preso porque representava um risco para a

revolução. O que eu era? Um sujeito entusiasmado que achava que tinha de dizer

só a verdade. A razão por que me botaram um dia na cadeia para ouvir gritos foi

simplesmente porque eu poderia ser um risco, dizer coisas não convenientes. Isso

não me fez um revolucionário que tentou matar pessoas, roubar para criar uma

revolução diferenciada. Não. Fez-me acreditar, mais do que nunca, que merecemos

a credibilidade e a liberdade de fazer muito bem.

Este País preocupa as grandes nações pela nossa capacidade de executar,

de disponibilizar. O entusiasmo, a criatividade e a habilidade do cientista brasileiro

em trabalhar sobre as condições adversas de equipamentos, de estrutura ou até de

fluxos de recursos têm nos permitido realmente causar inveja ao mundo, e não está

escrito na história do Brasil um erro causado pelos nossos cientistas.

Temos de usar, sim, essa tecnologia, porque não é tecnologia restritiva. Sim,

ela tem de ser feita com decisões rápidas e conscientes de pessoas que realmente

conheçam ciência e as suas conseqüências, e o cientista brasileiro tem essa

capacidade.

Dentro da linha de pensamento do Deputado Turra, nada vai para o campo

sem a convicção de que é seguro para o ambiente. Nada vai para o campo sem a

convicção de que é seguro para a saúde. Nem é o trabalho exclusivo da EMBRAPA,

é o trabalho exclusivo de um somatório de Ministérios que têm essa função:

Ministério da Agricultura, com a parte de biossegurança, de sanidade; Ministério da

Saúde, com os problemas de saúde humana; Ministério do Meio Ambiente com

saúde ambiental.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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Não colocamos coisas inconseqüentemente no mercado. Elas passam por

todo um processo de avaliação e temos, pelo menos, 8 unidades dentro de um

programa de biossegurança da EMBRAPA que, infelizmente, não está cumprindo

sua missão porque não tem fluxo orçamentário para executar essas tarefas.

O Deputado Francisco Turra questionou o que representaria a biotecnologia

em relação ao orgânico, à alternativa, à agricultura familiar. Senhores, não dêem

tanto valor às habilidades da biotecnologia — é uma mera ferramenta, é um

processo. Ela não criará um produto chamado biotecnológico. Aliás, trabalhamos

com produtos biotecnologicamente modificados desde que o homem começou a

fazer seleções genéticas em razão da fruta mais doce ou da raiz mais tenra. Já

trabalhamos com esse conceito básico de ciência.

Em hipótese alguma é restrição ao orgânico. Em hipótese alguma é restrição

à agricultura convencional ou alternativa. Aliás, temos uma situação muito bem

abordada pelo Deputado Onyx Lorenzoni quando se referiu aos 90 milhões de

hectares. Há espaço para todos, senhores.

Este é um País que se pode dar o luxo de separar uma área para o interesse

do orgânico. Tem cliente? Se houver cliente e preço, se houver alguém que dê

vantagem econômica para aquele indivíduo que faz o esforço de produzir, haverá

mercado

Aliás, nossa sociedade tem percepção interessante. Parece-nos, quando

ouvimos as reclamações, que vêm e nascem em refrigerador. Alguém acorda às 5h

para alimentar vacas e depois tirar o leite. Alguém vai buscar esse leite e processá-

lo. Há um esforço; são opções. Temos de encontrar formas de remunerá-los.

Se tivéssemos valores diferenciados compensadores, talvez pudéssemos nos

contentar em não buscar soluções que a biotecnologia pode fazer de forma fácil,

como a não presença de uma doença.

V.Exa. se preocupou com nossa capacidade expansionista. Vou falar sobre

nosso potencial verticalizador. Meu sonho é que nos próximos 20 anos não

precisássemos agregar área, deveríamos garantir que não precisaríamos mais da

Mata Atlântica para plantar mamão, que tem um belo mercado lá fora, mas o vírus

da mancha anelar está inviabilizando. Vamos usar o velho método que criou a

agricultura na nossa história, slash and burn, corta e queima. Queremos plantar

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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mamão nas regiões tropicais brasileiras e não ter vírus só em terra nova,

descansada. Gente, simples manipulação genética criará uma planta que não vai

mais nos exigir destruir a Mata Atlântica.

Temos potencial de verticalização de 2 mil quilos de trigo no Cerrado,

Deputado Leonardo Vilela; o trigo de sequeiro dessa região pode produzir 8 mil

quilos, porque temos exemplo de trigo produzindo sem irrigação essa quantidade em

condições similares. O que falta? Talvez um gene de desenvolvimento radicular sob

condições de stress para buscar água mais embaixo. Quem sabe o nosso problema

de Bruzone, que nos tem preocupado e estamos sem resposta dentro da genética

convencional? Não gostaria de usar pura e simplesmente um fungicida cujos efeitos

no futuro não conhecemos. Sabemos, no entanto, que ele segura o Bruzone, não o

suficiente para o sonho de transformar o Brasil realmente em grande exportador.

Aliás, o Deputado Onyx Lorenzoni foi muito feliz quando disse que é a única

fronteira do mundo. Senhores, daqui a 30 anos, no nosso espaço de vida, espero

não estragar a festa antes disso, vamos ter praticamente 9 bilhões de pessoas no

planeta. Isso significa 50% mais alimentos. Se continuarmos com a visão de

aumento de oferta de alimentos pela expansão da fronteira, haverá um desastre

ambiental.

Meu discurso é: acelerem esses processos legais e nos permitam fazer o que

sabemos fazer com eficiência e com responsabilidade.

O Deputado Darcísio Perondi fez diversas perguntas que creio já as respondi.

Não tenho dúvida de que a biotecnologia, respondendo novamente aos

Deputado Francisco Turra e Darcísio Perondi, realmente vai atender a todos os

extratos de produto do produtor — ela não é restritiva.

A pergunta que deixei para o fim, que acho a mais importante de todas, é:

temos tecnologia para patentear? Temos tecnologia para nos transformar num país

competitivo? Temos tecnologia para vender também e a tecnologia que temos de ter

a propriedade para dar gratuitamente, para garantir que este País seja competitivo,

para que não precisemos realmente depender de coisas que temos de fato

habilidade de fazê-lo. Portanto, temos sim.

Temos hoje um trabalho maravilhoso sobre o trigo com resistência à

gibberella, biotecnologia, transgenia. E mais, Deputado: não vamos tirar essa

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característica de uma outra espécie, vamos tirar do próprio trigo. A resistência está

lá, ela não consegue se expressar. Vamos tentar mudá-la de posição para que ela

de fato se expresse.

Esse trabalho está em andamento, e o fazemos com auxílio do Instituto

Internacional de Melhoramento de milho e trigo, no México. Estamos lá por uma

simples razão: não há lei que nos permita fazer na velocidade que a sociedade

brasileira precisa. Infelizmente, o México virou um caos também, portanto,

precisamos encontrar uma solução para trabalhar aqui, não temos mobilidade para

ficar viajando e buscando essas informações. Além disso, vamos dividir uma

característica que poucos países têm: trigo resistente à toxidez do alumínio,

característica típica dos solos brasileiros, principalmente do cerrado.

Aliás, podemos fazer um bem para países que, de fato, precisam da nossa

ajuda, como os países africanos, que têm fome e não têm condições de desenvolver

tecnologia, porque não têm ambiente para isso. Temos ambiente para isso. E mais,

temos a característica do trigo brasileiro.

Obrigado, senhores.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, peço a palavra

para réplica.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Dr. Benami, no início das minhas

palavras comentei que o exemplo fantástico do desenvolvimento da triticultura em

Goiás — do qual V.Exa. foi um protagonista importantíssimo, inclusive, tivemos a

oportunidade de realizar este trabalho juntos —, se deveu à vontade política. O

Governo fez a sua parte, criou cenário favorável para o setor privado a fim de que

pudesse desenvolver a cadeia que está gerando emprego, impostos e crescimento

econômico. Essa é a minha visão de Governo. As políticas públicas devem ser

facilitadoras e não complicadoras.

Diante disso, pergunto a V.Sa. o seguinte: hoje, para se fazer pesquisa em

biotecnologia, é fácil tirar as licenças? Existe ambiente favorável, facilitador? Caso a

resposta não seja positiva, o que pode ser feito e qual a contribuição que esta

Comissão poderia dar ao projeto de lei que estamos discutindo, para não trazer

empecilhos ao desenvolvimento da ciência no Brasil?

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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O SR. DEPUTADO ONYX LORENZONI - Sr. Presidente, peço a palavra para

uma réplica, apenas a fim de aduzir a observação feita pelo Deputado Leonardo

Vilela.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO ONYX LORENZONI - Dr. Benami, eu havia questionado

qual seria sua visão sobre a existência dessa Comissão de Biossegurança que

estaria em patamar superior à CTNBio, exatamente pela preocupação que tenho —

e gostaria de ouvi-lo, na qualidade de pesquisador — e como esta Comissão poderia

atuar como obstáculo a mais para a pesquisa brasileira, retardando a velocidade que

a pesquisa deve ter para poder responder no campo.

Gostaria que V.Sa. explicasse um pouco mais essa experiência com o

México, que considero reveladora da criatividade do cientista brasileiro em busca de

soluções para o País, mesmo que tenha de sair para pesquisar fora do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Peço ao Dr. Benami que

seja sucinto, pois temos outros oradores inscritos, que devem ter a mesma

oportunidade de participar.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Apresento a V.Exa. 2 pontos relacionados:

precisamos de velocidade e que não haja fatores restritivos. Se quisermos fazer um

teste, temos de nos submeter a uma solicitação, e não estão vindo respostas,

autorizações à Comissão de Biossegurança, ao Ministério da Agricultura, ao

Ministério de Meio Ambiente, ao Ministério da Saúde. Tudo isso tem de ser parte do

processo de questionamento.

Darei a V.Exa. o motivo da minha preocupação. Existe hoje no Brasil — darei

um chute, e terei dificuldade de me responsabilizar pelo chute —, material

transgênico ilegalmente introduzido no País, em soja, que representa,

provavelmente, 5 milhões de hectares de área cultivada, ou seja, um quarto de toda

a soja que este País plantará.

Não existe nada que impeça isso, inclusive, as 2 medidas provisórias

viabilizaram o cultivo. O material genético da EMBRAPA, material brasileiro, tem

gene da Monsanto — e usarei essa expressão para não deixar dúvida —, repito,

material genético da EMBRAPA com gene Monsanto, COODETEC, com gene

Monsanto. Senhores, COODETEC é uma empresa do sistema cooperativo do

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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Paraná, mas o material da Monsanto não vai para o mercado, porque não está

autorizada a multiplicar semente. Temos gramas de sementes no campo e quilos de

sementes em armazéns. O ano que vem, quando, se por acaso, uma lei nos

permitir, o que vamos plantar, senhores? Material contrabandeado da Argentina,

sem as características de adaptação que desejamos, sem controle sanitário e sem

indústria que viabilize agregação de conhecimento, agregação de valor ao processo

produtivo, que é a nossa indústria de semente. O Brasil se caracteriza por ter uma

estrutura de sementes invejável.

Deputado, quero que V.Exa. me perdoe por dizer o seguinte: muitos dos

senhores não são suficientemente capazes para tomar decisões que contrariem

decisão da CTNBio.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço ao nobre

Deputado Beto Albuquerque pela cobertura que deu ao nosso Relator.

Esclareço que nós, Parlamentares, somos os responsáveis pelas leis.

Compete-nos legislar e saber o que é melhor para o nosso povo. Por essa razão,

somos escolhidos. Então, o juízo final pertence a nós, Parlamentares, como

representantes do povo que somos.

Estamos ouvindo a comunidade científica, os expositores, os palestrantes,

porque precisamos de esclarecimentos, o que é muito importante, mas a

responsabilidade é nossa, não vamos transferi-la, mas assumi-la. Por isso fazemos

audiências públicas, para melhor esclarecimento e maior conhecimento.

Convidamos para tomar assento à Mesa o Dr. Antônio Carlos Campos de

Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que acaba de chegar a esta

Comissão e, posteriormente, fará sua exposição.

Concedo a palavra à nobre Deputada Luci Choinacki.

A SRA. DEPUTADA LUCI CHOINACKI - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, a minha pergunta será para o Sr. Pesquisador. Primeiro, quero ouvir a

opinião de S.Sa.., que é homem letrado, estudado, um pesquisador, que tem

conhecimento — provou aqui — da lei aprovada da CTNBio, que não obriga o

licenciamento.

Se a CTNBio não obrigava o licenciamento, por que a pesquisa foi tão lenta?

Será que o Governo passado não teve preocupação de investir em pesquisa e nas

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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universidades? Se a lei não atravancava nada, era livre, por que houve tantos

problemas?

Segundo, parece-me que o projeto do Governo Lula, que tenho em mãos,

estabelece:

“que o Conselho Nacional de Biossegurança,

vinculado à Presidência da República, se constitui em

órgão de assessoramento superior do Presidente para

formulação e implementação da Política Nacional de

Biossegurança, competindo-lhe fixar princípios e diretrizes

para a ação administrativa dos órgãos e entidades

federais com competência sobre a matéria e apreciar —

se entender necessário —, em última e definitiva

instância, quanto aos aspectos da conveniência e

oportunidade, os pedidos de autorização para atividades

que envolvem a construção de cultivo, produção,

manipulação, transporte, transferência, comercialização,

importação, exportação, armazenamento, liberação, sobre

esses produtos de OGMs e seus derivados.”

O projeto, conforme minha modesta leitura, justamente por não ser

especialista, a exemplo de V.Sa., não diz que esse Conselho Nacional vai avaliar a

pesquisa científica, apenas dará diretrizes para sua aplicação, viabilidade econômica

nas áreas agrícola, de saúde, do meio ambiente e nos interesses do País, segundo

a filosofia do Governo.

Segundo o projeto enviado à Câmara — não sei como V.Sa. faz a leitura

desse texto — cabe aos membros titulares da CTNBio, cidadãos brasileiros com

competência técnica, com notório saber científico e destacada atividade profissional,

preferencialmente nas áreas de biologia molecular, biologia, ecologia, bioética,

genética, saúde pública, segurança, etc., fazer parte da CTNBio.

Significa, primeiro, que esse projeto reconhece a importância científica. V.Sa.

reconhece a importância de se ter um conselho que defina a aplicação desse

conhecimento científico? Na sua opinião, isso é importante? Os cientistas podem

definir? A política não pode definir onde será aplicado como ciência?

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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O Presidente desta Comissão, Deputado Silas Brasileiro, disse que nós,

políticos, é que temos de decidir. Baseada nessas palavras, indago o seguinte: pelo

que V.Sa. expôs antes senti certa dúvida com relação a isso. Haveria outra posição

que a ciência não precisaria definir política na sua aplicação? Aqui não diz que esse

conselho avaliará o seu conteúdo. Pelo menos foi o que entendi que está escrito

neste projeto do nosso Governo enviado para a Câmara.

É importante esclarecermos os pontos, para que não restem dúvidas, que

surgem quando não estão definidas no papel. No entanto, elas estão muito bem

escritas tanto neste documento do Conselho como no documento da CTNBio, o que,

para mim, é importante.

Lembro que o nosso Governo, que tem grande preocupação com a pesquisa,

está investindo, sim, porque a EMBRAPA é órgão importante, deve ter pesquisa

pública, e que seja acessível não só aos setores de grandes negócios, mas às 4 mil

pequenas propriedades abandonadas, que precisam entrar no processo de inclusão,

de desenvolvimento, de pesquisa.

Nosso Governo se preocupa com o futuro deste País, pensa na soberania,

não na dependência tecnológica, não nas sementes pirateadas, mas que possamos,

enfim, organizar um processo no Brasil, porque um País que não tem conhecimento,

que não tem soberania, fica dependente de uma Monsanto, de uma empresa

multinacional que, a seu bel-prazer, vai definir como devemos produzir.

Além da exportação, temos de nos preocupar com a cesta básica do povo

brasileiro. A agricultura familiar produz 80% dela. Para o nosso Governo, essa,

realmente, é uma das grandes preocupações.

Como V.Sa. vê essas questões e como reconhece esse projeto do Governo?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradecemos à nobre

Deputada Luci Choinacki.

Com a palavra o nobre Deputado Dr. Francisco Gonçalves.

O SR. DEPUTADO DR. FRANCISCO GONÇALVES - Sr. Presidente, Sr.

Relator, parabenizo o cientista Dr. Benami pela brilhante exposição. Tenho a maior

confiança nos cientistas brasileiros. A CTNBio é órgão composto por 26 pessoas

denominadas notáveis, e essa confiança deve ser repassada à sociedade brasileira.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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É claro que temos vários conselhos que vão avaliar. Não estou de acordo

com esses vários conselhos, porque burocratizará. Não teremos velocidade — como

V.Sa. expressou — para decisões mais rápidas, no sentido de pleitear que a nossa

agricultura seja privilegiada.

Eu, que sou da área médica, quero saber qual a vantagem de as entidades

que debatem conservar o nome de “melhoristas” de sementes e transgênicos? Qual

a diferenciação básica entre o aperfeiçoamento genético através de sementes

denominadas “melhoristas” e as híbridas?

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço ao Deputado Dr.

Francisco Gonçalves pela participação.

Com a palavra ao nobre Deputado Orlando Desconsi.

O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Sr. Presidente; Sras. e Srs.

Deputados; senhor debatedor; autoridades presentes, hoje, muitos dos que falam a

favor da EMBRAPA, da pesquisa, apoiaram ontem a política de privatização, de

Estado mínimo e do sucateamento da estrutura pública que permite, exatamente, a

pesquisa séria, qualificada, e que pode dar, dentro da previsão do interesse da

soberania de um país, a melhor política para que os homens públicos tomem essa

decisão, a partir da evolução, do trabalho da ciência e da pesquisa.

Não há dúvida de que a pesquisa deve ser estimulada. Percebe-se a vontade

política de todos nós e do atual Governo na ampliação dos recursos para a pesquisa

no Brasil, ainda muito insuficientes, muito aquém do que idealizamos. Mas, sem

dúvida, há sinalização de um esforço, ao menos dentro das possibilidades, de que

se caminhe na lógica, de que se busque, a partir dos nossos instrumentos legais e

técnicos, o aprimoramento tecnológico.

A atual proposta de lei, encaminhada ao Congresso Nacional, no art. 3º, § 3º,

determina que o Poder Público adote tratamento simplificado às atividades de

pesquisa, no que tange ao licenciamento, o que não há hoje na atual previsão legal.

O projeto de biossegurança traz no seu conteúdo a possibilidade de relatório

ambiental prévio ou simplificado.

Como V.Sa. identifica nessa proposta da legislação essa questão, uma vez

que muitas perguntas formuladas enfocavam a lei atual? O processo burocrático,

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moroso, é da lei atual. A proposta que está na Casa busca traduzir exatamente essa

preocupação, sem abrir mão da segurança necessária, mas permite um processo

mais célere com o objetivo proposto.

Dos genes transgênicos de que dispõe hoje para pesquisa, quais são, efetivamente,

os da EMBRAPA? Quantos são em parceria com empresas multinacionais? Desses

que são com empresas multinacionais, quais são as cláusulas e a autonomia que a

EMBRAPA dispõe, inclusive com a Monsanto, que tem cláusulas sigilosas que

impedem a divulgação. A de 1997 — de cuja cópia disponho — prevê cláusula de

confiabilidade e impede a publicação das pesquisas. A EMBRAPA tem alguma

pesquisa com referência à saúde e ao meio ambiente? Ou a pesquisa da EMBRAPA

se atém à adaptação das sementes ao gene de acordo como o nosso território e a

biodiversidade?

Quero saber se o pesquisador tem idéia — uma vez que ele disse que

devemos nos ater ao mercado — de quais países, preferencialmente, desejam

comprar produto transgênico no Brasil, se eles pagam mais por esse produto e

quanto custarão os royaties dessas tecnologias ao cidadão.

Quando foi aprovada a Lei de Cultivares, o Brasil pagava, em 1996, 300

milhões de dólares em royalties para os Estados Unidos. Em 2002, pagamos 3

bilhões de dólares. Se 3 bilhões de dólares fossem reais, esse valor significaria

praticamente a metade da capacidade de investimento previsto no Orçamento deste

ano em nosso País. Três bilhões de dólares ultrapassam nossa meta em termos de

investimento que hoje é de 7 bilhões de reais. Ou seja, é um dinheiro líquido que sai

do País para os Estados Unidos. Quero saber o que o pesquisador pensa a respeito

da situação do consumidor hoje, que acaba consumindo produtos sem saber o que

efetivamente ele contém.

Em relação à rotulagem, temos uma lei infelizmente não cumprida. O Brasil

tem uma grande extensão de área com realidades diferentes. Cito o exemplo do Rio

Grande do Sul e da soja. Não há armazém, porto, estrada, duplicidade de trator e

colheitadeira. Portanto, aquele que deseja optar pelo convencional, pelo orgânico,

dentro dessa lógica, está sujeito efetivamente a ter o seu produto contaminado.

Temos de nos preocupar com essa questão para que efetivamente possamos

assegurar o direito à liberdade da opção pelo convencional, pelo orgânico e pela

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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proposta de lei, permitindo também o transgênico. Considero que o projeto de lei,

que levou 9 meses para ser debatido no Governo, ocasião em que foram levantados

todos os aspectos na sua essência, traduz uma legislação moderna que permite a

valorização científica. A meu ver, 26 cientistas não são um número grande. Entendo

que, em decorrência da dimensão continental do País, 3 ou 4 cientistas não podem

tomar decisões estratégicas, porque os cientistas, que merecem todo nosso louvor,

já desenvolveram tecnologias boas e más para a humanidade.

O Conselho de Ministros, que vai decidir conveniência e oportunidade, é

absolutamente necessário, porque, em função de os cientistas terem inventado a

bomba atômica, o uso dela ou não é uma decisão política. Nesse sentido, é preciso

ter sabedoria para determinar se uma decisão política pode ser boa ou ruim. A

ciência estuda e desenvolve uma nova tecnologia e merece louvor por isso. Agora, a

procedência do seu uso ou não tem de ser decidida de acordo com princípios

políticos, porque está em jogo, muitas vezes, a soberania do nosso País, a

soberania alimentar, e o cientista pode se ater ao desenvolvimento da ciência.

Portanto, minha discordância em relação ao que foi exposto é por considerar

que o político tem de envolver essas questões a partir do conhecimento científico

explicitado e defendido. O Conselho de Ministros no Brasil vai decidir a oportunidade

e a conveniência e não a técnica — se é conveniente ao País ou não. E todos os 26

cientistas serão de notório saber científico, identificados na área prevista no projeto.

Portanto, não haverá amadores no Conselho. Se há divergência na comunidade

científica, porque não há unanimidade sobre o assunto hoje nem no Brasil nem no

mundo, por que não 26 integrantes? Por que não a realização de debate com mais

pessoas, a fim de permitir uma melhor decisão, mesmo que seja proveniente do

debate que vai ocorrer na CTNBio?

Agora, não pode haver uma reunião da CTNBio, em que se aprovou a

utilização de transgênico no Brasil sem quorum, em ata publicada em jornais de

circulação nacional. Do meu ponto de vista, espero que se expresse uma seriedade

relativa. Por isso a publicidade das decisões e das discussões são necessárias, para

que a sociedade possa ter um controle mais amplo sobre decisões estratégicas,

como essas que podem ser adotadas.

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Ao conduzir minha intervenção para o final, gostaria de saber a opinião de

V.Sa. sobre essa tecnologia que está em curso, embora não esteja em uso — talvez

não traduza a palavra correta, mas creio que serei compreendido. Trata-se das

sementes estéreis, a semente que se planta, colhe, mas não reproduz, não está em

uso comercial, mas sabemos que já está desenvolvida e patenteada. O Brasil nesta

lei deve adotar algum mecanismo que impeça o País de no futuro ficar suscetível a

esse tipo de situação.

Por hora, seria isso.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradecemos ao Deputado

Orlando Desconsi a participação.

Registramos com satisfação a presença no Plenário do Líder do PFL,

Deputado José Carlos Aleluia, a quem concedemos a palavra neste instante.

O SR. DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA - Sr. Presidente, agradeço

muito a V.Exa. a generosidade. Evidentemente, esta Comissão se reveste da maior

importância para o País. Saúdo o Líder do Governo, Deputado Aldo Rebelo, por ter

evocado para si a Relatoria, ou seja, usa-se a máxima de que quando o pênalti é de

decisão de campeonato, quem deve cobrar é o Presidente do clube. No caso, o

Governo utilizou essa máxima. Saúdo o Deputado Aldo Rebelo por esta atitude. Em

que pese nossas divergências de caráter ideológico, tenho grande esperança e

confiança de que, sendo um homem de formação política sólida e um estadista de

fato, possa encarar essa questão sem levar em conta bruxarias e sem ter medo da

ciência pós-moderna. Os que têm medo da ciência moderna, Dr. Benami, são os

mesmos que tiveram, no passado, medo de Francis Bacon, quando implantou as

bases da ciência moderna. Esse debate trata basicamente disso.

Não me vou alongar muito, mas gostaria de dizer que o PFL — diria que por

consenso, porque não fiz votação e, por isso, não digo por unanimidade, já que

nesse particular temos discutido com os pós-comunistas do PPS — tem uma

posição de prestígio à ciência, de apoio à comunidade científica. Portanto, divirjo

profundamente do discurso do Deputado que me antecedeu, na medida em que

S.Exa. diz que Ministros não são amadores. Os Ministros são basicamente

amadores, porque a política é do amor e o Ministro é escolhido com base no amor

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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político e partidário, os cientistas não são amadores, porque são escolhidos com

base na formação acadêmica e científica.

Portanto, a palavra final deve caber aos cientistas. Essa é a posição do PFL. Tenho

confiança em que o Brasil também caminhe nessa direção.

Não podemos criar clima desfavorável ao desenvolvimento nacional. Não

podemos resolver questões científicas com vetos políticos. Essa é a grande

preocupação: temos de resolver questões científicas com visão científica, não com

vetos políticos.

Portanto, essa a palavra de incentivo que trago ao Presidente Silas Brasileiro,

agradecendo a oportunidade ao Relator, ao Vice-Presidente Darcísio Perondi,

homem que conhece a situação do Brasil real, do Brasil político.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço ao Líder do PFL

a participação.

Concedo a palavra ao próximo orador inscrito, Deputado Murilo Zauith.

O SR. DEPUTADO MURILO ZAUITH - Sr. Presidente, Sras. e Srs.

Deputados, parabenizo o Dr. Benami pela excelente exposição, que nos trouxe mais

aprendizado. Penso também que o CTNBio deve ter a palavra final sobre o projeto

de desenvolvimento da biossegurança, lei que estamos discutindo nesta Casa. Se o

País ainda não possui uma lei, julgo que a culpa é tanto do Poder Legislativo quanto

dos Poderes Executivo e Judiciário, que ainda não conseguiram chegar a um

consenso a respeito da Lei de Biossegurança.

Sou do Estado do Mato Grosso do Sul e tenho muito contato com a

EMBRAPA. Sei o quanto essa empresa foi importante para alcançarmos essas

metas de exportação da diversidade das nossas sementes em cada região do País,

principalmente grãos e soja.

Quando o Governo edita medida provisória para regulamentar o plantio de

soja, é porque se trata de um negócio de bilhões de dólares, com empresas

multinacionais querendo entrar no País com seus produtos e vender suas sementes.

No momento em que tivermos uma lei de biossegurança, a EMBRAPA, por exemplo,

de Londrina e de Dourados, cujos produtores desenvolvem sementes, terá acesso à

semente geneticamente modificada como tem, hoje, à semente desenvolvida no

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 2401/03 - BiossegurançaNúmero: 2119/03 Data: 27/11/2003

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País? Ou alguma empresa multinacional deterá o know-how dessa semente? Isso

acontece atualmente com o milho. Quase 90% do milho plantado no País é híbrido e

está nas mãos de multinacionais. Poucas empresas brasileiras detêm, hoje, a venda

de milho híbrido no País. Será que isso vai acontecer também com a soja ou vamos

ser detentores dessa tecnologia e teremos a soja em cada região? As empresas

locais desenvolverão essa semente em todas as regiões do País como desenvolvem

hoje normalmente em parceria com a EMBRAPA?

Falamos muito em exportação para o produtor rural, mas, na verdade, hoje, o

grande negócio está nas mãos das multinacionais. Todos os venenos aplicados nas

lavouras são de multinacionais; as multinacionais detêm o controle do milho. Será

que a soja também vai ficar nas mãos das multinacionais ou a EMBRAPA vai

espalhar todo esse processo?

V.Sa. falou também sobre o trigo. No caso, temos a ‘safrinha’, e nossa grande

safrinha é o milho, porque a região ainda não encontrou um trigo favoravelmente

econômico. Por quê? Será que até hoje falta política governamental no País para

encontrá-lo? A semente do trigo ainda não se adaptou ao clima? V.Sa. falou também

do alumínio que existe em alto nível na terra de lá. Por que o Brasil não é

auto-suficiente em trigo?

Eram essas as perguntas que gostaria de fazer a V.Sa., a quem agradeço a

presença.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - No segundo bloco,

ouviremos os Deputados Íris Simões e Beto Albuquerque. No último, os Deputados

Edson Duarte, Pompeo de Mattos, Vanessa Grazziotin e Adão Pretto.

Concedo a palavra ao nobre Deputado Íris Simões.

O SR. DEPUTADO IRIS SIMÕES - Sr. Presidente, serei breve, até porque já

estou satisfeito com as perguntas feitas ao Dr. Benami, e não desejo ser

redundante. E ainda vamos ouvir o Dr. Antonio Carlos Campos de Carvalho.

Contudo, gostaria de fazer um comentário. Recebemos esse projeto de lei,

mas o Congresso retrata toda a população brasileira, conseqüentemente, somos

cientistas, médicos, tudo de uma vez só. Temos a responsabilidade de ouvir homens

capacitados e, com nossa experiência parlamentar, produzir leis e aperfeiçoar

exatamente o conhecimento que estamos buscando, não apenas nas audiências

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públicas, mas também nos Estados. Sou do Paraná, Estado que ultimamente

ganhou um Governador que é cientista formado há poucos meses. V.Exa. deve ter

acompanhado a notícia. E S.Exa. é muito inteligente, é impressionante!

Quero apenas ouvir do nobre Dr. Benami as respostas às perguntas já

formuladas, pois não desejo ser redundante. Temos a grande responsabilidade de

colher informações do conhecimento de V.Sas. para aperfeiçoar esse projeto de lei,

a fim de que proporcione tecnologia avançada e segurança ao povo brasileiro.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Concedo a palavra ao

último orador inscrito do segundo bloco, o Vice-Líder de Governo, Deputado Beto

Albuquerque.

O SR. DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE - Cumprimento o Sr. Presidente,

Deputado Silas Brasileiro, o Sr. Relator e Líder do Governo, Deputado Aldo Rebelo.

Saúdo o Dr. Benami Bacaltchuk, cujo trabalho conheço e cuja competência atesto,

até porque pude conviver com o amigo no comando da EMBRAPA de Passo Fundo,

minha adorável terra natal. Realmente sei do trabalho competente que V.Sas. se

esforçam para realizar e que efetivamente realizam.

Serei bastante objetivo porque a pauta tem de se debruçar em cima da

proposta de lei do Governo e presumo que esse seja o eixo dos nossos debates.

Em primeiro lugar, quero saber a opinião de V.Sa. a respeito do § 3º do art. 3º

do projeto de lei. O Governo dá clara demonstração de que não está querendo, ao

contrário do que algumas vozes insinuam, complicar a política de decisão de

biotecnologia ou de biossegurança, na medida em que nesse parágrafo, Dr. Benami,

diz claramente, sem prejuízo da aplicação das regras de biossegurança previstas

nessa lei: “O Poder Público adotará tratamento simplificado às atividades de

pesquisa, respeitando a finalidade da atividade, o tipo e a classe do risco do

organismo geneticamente modificado, conforme disposto em regulamento”.

Sendo assim, quero ouvir a opinião de V.Sa. sobre esse item objetivo que

deixa muito claro, inclusive, na flexibilização, na facilitação, na simplificação das

atividades de pesquisa.

Quero ainda dizer que o problema do Brasil, a meu juízo, sinceramente não

está numa lei mais simplificada ou na ausência de uma lei ou na flexibilização.

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Acredito que, neste momento, uma lei mais branda só vai beneficiar quem detém o

monopólio da política de sementes no mundo. Se quisermos algo bem brando, sem

maiores esforços, sem complexidade, vamos apenas passar o recibo para aqueles

que dominam o mercado de sementes continuarem dominando-o. É a minha visão,

inicialmente. Penso que temos de ter um pouco de cautela quando avaliamos essa

situação.

Dr. Benami, não gosto muito da mistura que se faz historicamente entre

política de biossegurança e política de biotecnologia. Inclusive considero um erro o

mesmo órgão querer opinar, decidir e formatar as políticas para os 2 assuntos, o que

talvez tenha criado no País o maior imbróglio, indecifrável até hoje. Quem faz

biossegurança não pode querer fazer propagação de biotecnologia. Quem tem de

fazer isso é quem está fazendo a política de biotecnologia. Penso que os temas têm

de ser distinguidos, não sei se separados.

Este projeto estabelece as normas da política nacional de biossegurança e

cria o Conselho Nacional de Biossegurança.

Precisamos avançar na política nacional de biotecnologia. Se acreditarmos

que podemos fazer a mesma coisa nos 2 assuntos, vamos continuar com esse

debate às vezes ideologizado — uso essa palavra —, que é muito ruim. Isso ocorre

hoje porque a prática de biotecnologia no Brasil infelizmente vem seguida do

protagonismo de fora para dentro. Isso de fato causa perplexidade.

Tenho insistido — tenho falado muito com o Líder do Governo e Relator da

matéria — em que precisamos criar, a exemplo do que fizemos na década de 50,

uma empresa brasileira que seja incubadora pública de biotecnologia. Se não

tivéssemos criado a PETROBRAS na década de 50, hoje não seríamos nada nessa

área. Apostamos na PETROBRAS como empresa pública de direito privado e hoje

somos até auto-suficientes na prospecção de petróleo, com todos os cuidados e

políticas necessárias nessa área.

O Brasil neste momento tem a EMBRAPA, que desenvolve pesquisa numa

área. Mas estou falando de biotecnologia, que vai da agricultura à medicina. Bom,

posso dizer que a EMBRAPA não faz determinada pesquisa. Mas quem vai

propugnar biotecnologia na área médica, por exemplo? O debate está muito restrito

à agricultura.

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Estou falando de biotecnologia, a revolução da humanidade em todas as

áreas. Por isso creio que misturar o debate de biossegurança com o de

biotecnologia é perigoso. Acreditar que quem normatiza biossegurança já sabe tudo

sobre biotecnologia ou tem de fazer a mesma coisa é um fato complicador.

Creio que o Governo está correto quando cria uma proposta de

biossegurança. E biossegurança é ter segurança, não é fazer nada aos atropelos —

perdoem-me a sinceridade.

A grande arte da política é tomar decisões. Quem decide quem será o

Presidente da República é a sociedade. E o Presidente da República toma suas

decisões por meio da decisão majoritária do Congresso Nacional, composto de

homens e mulheres eleitos pela vontade da população.

Sabemos que muitos pesquisadores não têm independência para decidir,

porque muitas vezes as pesquisas envolvem projetos financiados por empresas

privadas. Que independência teriam, por exemplo, alguns pesquisadores que,

mesmo vinculados a universidades ou a órgãos públicos, têm muitos dos seus

projetos historicamente patrocinados por empresas privadas?

Portanto, não dá para dizer que pesquisador é imune à política. Quando

tomamos decisões, ninguém é imune à política. Precisamos saber que não apenas o

Deputado tem parcialidade ou imparcialidade. Pesquisador também não tem

necessariamente essa independência. Temos que mediar as coisas.

Dr. Benami, espero que possamos mudar o que, infelizmente, existe no País.

E essa é uma tarefa do nosso Governo. O financiamento do desenvolvimento da

pesquisa precisa ser essencialmente público, a fim de que o pesquisador, para fazer

produção científica, não tenha de manter um contrato bilateral com a empresa a ou a

para defender o interesse tal. Isso acontece no Brasil.

Não estou condenando essa situação, apenas estou entrando na seara da

independência, Presidente Silas Brasileiro. Quando falamos em independência,

queremos alguém 100% comprometido com o público para poder tomar esse tipo de

decisão.

Até solicito ao nobre pesquisador e amigo Dr. Benami que nos forneça uma

visão sobre essa idéia de criar ou não uma empresa pública brasileira de

biotecnologia. Estamos ficando para trás por isto: o debate às vezes é cercado de

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ideologias porque sempre estamos correndo atrás do que vem de fora para dentro

na área de biotecnologia.

(Intervenção inaudível.)

O SR. DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE - Socorre-me aqui o nobre

companheiro e me diz que o que estamos discutindo é agrobiotecnologia.

Quero ver o País discutindo biotecnologia em todos os sentidos. Se hoje

estamos enredados ao tema que envolve a soja, isso é detalhe no oceano da

biotecnologia. Como vamos agregar isso, considerando, por exemplo, os 8 grandes

ecossistemas que temos no País? Para cada um deles — o amazônico, o da região

do cerrados, o do Pantanal, o do meio norte, o da região das florestas estacionais, o

da região dos pinheirais, o do extremo sul e o das áreas costeiras — poderão se

prospectar ou não políticas de biotecnologia. Como vamos fazer isso, se hoje não

temos uma política organizada, centrada e planejada?

Então, sinto-me instigado, a partir do movimento que o Governo Lula faz.

Infelizmente, no passado, nada foi feito objetivando deixar claras e separadas as

coisas. Começamos pela biossegurança, como política geral, que servirá a todas as

biotecnologias, não apenas à agrobiotecnologia.

Esse é o ponto inicial para que, logo em seguida, meu caro Relator, tenhamos

a definição clara, inequívoca, inquestionável de uma ampla e profunda política de

biotecnologia para o País, que vá da agricultura à medicina, respeitadas exatamente

essas peculiaridades.

Era a contribuição que gostaria de dar, cumprimentando mais uma vez o

amigo pelo trabalho que realiza com muita proficiência.

O SR. DEPUTADO IRIS SIMÕES - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO IRIS SIMÕES - Sr. Presidente, está presente hoje aqui o

Dr. Benami, mas também há convidados da ANVISA e da FIOCRUZ. É claro,

Deputado Beto Albuquerque, que o representante da EMBRAPA vai tratar

exatamente da corrente em que ele trabalha. Na seqüência, com a colaboração da

FIOCRUZ e da ANVISA, devemos nos direcionar exatamente para a área de saúde.

O nosso plano de trabalho é exatamente esse.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Encerramos, então, o

segundo bloco.

Pedimos ao Dr. Benami que seja o mais breve possível, porque há ainda 4

oradores para o último bloco: os Deputados Edson Duarte, Pompeo de Mattos,

Vanessa Grazziotin e Adão Pretto.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Agradeço a V.Exas. a forma como

enxergam a EMBRAPA, empresa em que trabalho, e o respeito que aparentemente

atribuem ao cientista.

Tenho de ser rápido. Vou tentar responder de forma objetiva os pontos iguais.

Vou responder à Deputada Luci Choinacki e ao Deputado Orlando Desconsi,

que conheço do nosso Estado.

Aliás, devo começar com uma explicação ao Presidente. Não quis dizer que

V.Exas. não são capacitados. Acho que V.Exas. devem fazer políticas que

antecipem as decisões que serão tomadas depois. Na minha percepção, não temos

de ter um conselho de Ministros que vai dizer aquilo que já está aprovado pelo

conselho de cientistas, se é viável politicamente ou não. Por quê? Porque os nossos

planos de desenvolvimento deveriam prever isso. Para isso existe o PPA, para isso

há políticas nas diversas áreas. E essas políticas deveriam antecipar aquilo que vai

ser fiscalizado depois.

Quero dizer a V.Exas. que há na lei um ponto positivo: finalmente a CTNBio

terá poder de decisão. O que contesto na lei é a parcialidade da decisão. A

Comissão terá liberdade para dizer “não”, mas não terá direito de fazer uma

confirmação, de dizer “sim”.

Gostaria de antecipar que não deveríamos executar pesquisas que não

fossem de interesse do País.

Vou concentrar mais a minha preocupação em algumas das posições que

tanto o Deputado Desconsi quanto a Deputada Luci me apresentaram.

Estamos pagando royalties aos outros porque estamos sendo impedidos de

nos apropriar do conhecimento que temos. Estamos discutindo como se toda a

transgenia fosse um material com gene RR.

Senhores, por mais que eu admire a vantagem da diminuição do esforço que

esse gene está colocando nas mãos dos produtores — só diminuição de esforço,

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não faz outra coisa, pois tem vida curta, não significa quase nada num processo de

desenvolvimento e produção —, em pouco tempo, podem ter certeza, haverá outros

produtos com a mesma função. Só que enquanto discutimos o que deve ou não ser

feito, a liberação ou não do gene RR, paralelamente a essa lei que temos de votar,

que é ampla, não há dúvida nenhuma, não estamos conseguindo desenvolver mais

nada.

Deputado, estamos pagando muito mais royalties por produtos químicos do

que pagamos por sementes. E mais, teremos como propriedade da sociedade

brasileira a semente que desenvolvemos, como os genes de que somos

proprietários.

Temos genes de resistência a doenças brasileiras. Temos genes de

qualidade do óleo de soja brasileiro, genes de qualidade de proteína de trigo

brasileiro, não precisaremos pagar por ele.

A pergunta do Deputado Murilo Zauith complementa esse aspecto quando

questiona qual a vantagem para uma empresa de melhoramento ter transgenia ou

não? Uma empresa de melhoramento pretende colocar no mercado uma planta com

fator diferencial. Não quero criar uma planta resistente ao herbicida, mas uma planta

nutricional, com valor agregado, que produza mais, que se adapte a uma amplitude

maior de território. Então, há certas características que não obtemos pelo

cruzamento convencional. Se não tivéssemos o conhecimento da transgenia, talvez

não estivéssemos procurando por essa solução e talvez encontrássemos a solução

no químico, numa adubação mais pesada. Temos grande potencial na busca dessas

características não disponível, não demonstrável na própria planta, que sabemos

que outras espécies têm. Um dos principais fatores limitantes da produção de

mamão em nível mundial é a doença denominada mancha anelar, causada pelo

vírus da mancha anelar do mamoeiro. Não vamos pagar para ninguém por isso, ele

é nosso. Temos a qualidade protéica do feijão. Estamos preocupadas por que

algumas pessoas têm problema de alergia a metionina e estamos tendo certas

restrições à liberação desse produto; é a nossa castanha-do-pará, problema

identificado por nós, cientistas da EMBRAPA.

Conforme bem disse o Deputado Beto, também sonho com a nossa

auto-suficiência, em sermos autônomos para não sofrermos as restrições — não sei

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as palavras jurídicas para isso —, os contingenciamentos. Temos químicos para

fazer essas pesquisas.

Deputados, nem por tudo que fazemos ficamos devendo algo para alguma

multinacional. Pelo contrário, poucos cientistas tem algum comprometimento no

sentido de que, se não fizer algo, a multinacional vai contestar. Não, o nosso produto

é nosso e vamos produzir produtos brasileiros. Não confundam a transgenia com

algumas resistências a herbicidas.

A quem interessa uma planta resistente a vírus? A quem interessa uma planta

que se adapta melhor aos solos ácidos? Eu sei a quem não interessa. Não interessa

àqueles que serão prejudicados pela nossa competitividade, pelas nossas

habilidades produtivas, que é o que de melhor este País tem: um povo produtor.

Gostaria que V.Exas. enxergassem que precisamos de velocidade, que

estabelecessem quais as diretrizes deste País na ciência para que não tenhamos

que colocar à prova, a posteriori, um esforço que foi pago pelo próprio Estado. Não

nos deixem trabalhar naquilo que não é legal. Encontrem um consenso para o nosso

esforço físico e financeiro naquilo que é conveniente para o País. E isso, sim, eu

cobro como uma atribuição, responsabilidade e dever de V.Exas.

Não sei se vou ser capaz de responder a todas as perguntas, mas, em

decorrência da pressa, posteriormente responderei a outras perguntas.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Com a palavra o Deputado

Orlando Desconsi.

O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Sr. Presidente, não me senti

contemplado com a resposta sobre segregação, sobre sementes estéreis. Gostaria

que elas fossem respondidas, e a idéia de custo dos royalties talvez não tenha sido

bem trabalhada.

Aproveito a oportunidade para registrar que concordo com o Deputado que

fez dura menção aos insumos, porque praticamente todos são de multinacionais.

Esse é um debate que temos realizar, para tratar do modelo agrícola de

desenvolvimento do País, hoje calcado pelos insumos controlados por

multinacionais. O esforço do agricultor, seja ele pequeno, médio, seja grande, acaba

ficando reduzido e a margem sendo canalizada para outros setores. Há vários

exemplos nessa direção. Esse debate é duro, sério e temos de promovê-lo.

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Digo que quem controla água e semente, na minha humilde opinião, tem

condição de controlar o mundo. Por isso o debate não é simplista, é polêmico. É

importante que aflorem todas as opiniões, porque a decisão final terá efeito para o

futuro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Com a palavra a Deputada

Luci Choinacki.

A SRA. DEPUTADA LUCI CHOINACKI - Sr. Presidente, se lermos parte do

projeto, por exemplo, que diz que compete fixar princípios e diretrizes para que não

se faça pesquisas que não serão aplicadas, vemos a preocupação do Governo. O

conselho vai fazer com que se criem princípios e diretrizes para produção dessa

ciência, da tecnologia de que precisamos diante das necessidades do Brasil.

O projeto do Governo está muito claro no que diz respeito a essa

preocupação, que hoje não existe — V.Sa. tem razão —, hoje está uma bagunça.

Mas o projeto deixa muito claras as diretrizes e os princípios que vão nortear a

biotecnologia, a produção científica.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Sr. Benami Bacaltchuk, por

gentileza.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Sr. Presidente, Srs. Deputados, gostaria

que isso fosse encerrado no a priori não no a posteriori, que este conselho fizesse

esse papel a priori, não a posteriori, porque se trata de resultado, Deputada,

aprovado pelo Conselho de Biossegurança.

Gostaria de abordar outro ponto extremamente importante em que V.Exa. foi

muito enfática. Estamos muito preocupados com o que a pesquisa vai fazer e não

estamos discutindo nem fazendo nada com a extensão, que não existe mais, com o

apoio ao produtor, que não existe.

Temos de nos preocupar em dar ênfase à execução. Não vamos ter uma evolução

da agricultura alternativa, se não tivermos uma extensão com conhecimento par

apoiar esse processo. Podemos ter muita ciência guardada para alternativa, para

orgânica, para biodinâmica. Aliás, dizem que a EMBRAPA possui pouca informação

para o pequeno agricultor. Não é verdade. Temos muitas informações, o que não

temos são os multiplicadores. E isso é fundamental para este País.

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(Não identificado) - Sr. Presidente, faço um parêntese nessa parte. Na

Comissão de Agricultura, essa preocupação teve eco e, por unanimidade, todos os

partidos apoiaram recursos para assistência técnica, extensão rural no País. O

Ministério do Desenvolvimento agrário acabou de elaborar um plano nacional de

assistência técnica para tentar reconstruir o que foi destruído dentro da visão de

Estado mínimo, a que fiz referência no início da minha fala.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Quanto ao gene terminator, ele era um

conceito, não um produto. Também concordo com V.Exa.: não deve existir uma

besteira dessas. Agora, gostaria de ter terminator para evitar a giberela em trigo,

gostaria de ter uma maneira de evitar que uma semente contaminada se

multiplicasse. Mas V.Sa. tem razão. Apenas um detalhe: ele é meramente um

conceito.

Outra ponto. Se escolhermos uma planta perene, no caso o mamão, vamos

colocar um gene para evitar que multipliquemos o nosso? Tenho impressão de que

a preocupação é relativa, ela pode ter validade, quando estamos pensando na má

intenção dos outros. Tenho minhas dúvidas. Existe uma lei que protege muito o

produtor brasileiro. A Lei de Sementes permite que o agricultor multiplique sua

própria semente, mas não permite que se faça mercado dessa semente. Isso é bom

para o próprio sistema. Até porque, Deputado, semente é o maior fator de inovação

para desenvolvimento, independentemente do nível que estamos discutindo. Sem

semente talvez não conseguíssemos resolver problemas de controle de erosão.

Estamos com um problema. Precisamos de plantas de cobertura. Quem tem

semente de qualquer uma dessas gramíneas ou leguminosas maravilhosas do

nosso País? Quem consegue um nabo forrageiro de boa qualidade? Ninguém está

produzindo isso. Precisamos de sementes para chegar a essas soluções.

Precisamos ter o poder de ter os produtos.

Não tenho medo de que as multinacionais sejam donas dos nossos produtos,

até porque patentes têm tempo limitado e, quando as inovações deixam de ter

vantagem, o primeiro que abandona a inovação é o produtor. Já colocamos muito

trigo maravilhoso no mercado. O agricultor agradeceu, e, após uns anos, trocou por

outro. Ninguém o obrigou a ir buscar semente no mercado. Ninguém obrigou o

produtor a usar milho híbrido. Essa foi uma opção deles.

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Recebemos uma visita há poucos dias de um grupo de organizações sociais

que criticaram que os milhos varietais não tinham o potencial produtivo do milho

híbrido. Gostaria que eles vissem de modo diferente. Nossos milhos varietais têm

potencial produtivo quando adotamos as práticas adequadas na época certa. Mas

não queremos fazer isso. Estamos produzindo sementes sem habilidade nas nossas

próprias casas. Não estamos colocando qualidade no mercado do produtor. Estou

falando do pequeno, que está plantando semente deteriorada, mal guardada. Isso é

fundamental. Podemos resolver isso com capacitação, Deputados, não

necessariamente com a obrigação de comprar. Não existe nada na lei que o obrigue

a comprar. Se não fosse isso, não teríamos tanto transgênico ilegal neste País.

O SR. DEPUTADO ORLANDO DESCONSI - Peço licença para um aparte.

Tivemos financiamento no Brasil que obrigava o uso de defensivos agrícolas e

usava a origem da semente, que eram sementes híbridas. Portanto, tinha

financiamento quem comprava semente híbrida das empresas que hoje são todas

multinacionais. Portanto, houve um direcionamento político dos governos passados

nessa direção. Nos Estados Unidos, embora não esteja em uso o gene terminator,

dito pela própria Monsanto, eles controlam 90% das sementes de soja. Eles cobram

royalties das pessoas. Não há condição de o agricultor ter a própria semente. Tem

que ser adquirida a cada ano a semente. Isso ainda sem o uso do terminator. Há

uma legislação sobre isso nos Estados Unidos. Quando se pensa que uma pressão

muito forte vem de lá para cá, temos que estar precavidos. Concordo com V.Sa. em

muitos aspectos, mas minha preocupação é no sentido de que nosso País não perca

a soberania e não fique refém, no futuro, de tecnologias que interessam ao lucro e à

concentração de poucas empresas e faz imposições aos agricultor, que fica sem

direito à opção.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Antes de o Dr. Benami

responder às perguntas — entendemos as preocupações do Deputado Orlando

Desconsi —, o Relator quer usar a palavra.

Passo a palavra ao Relator e, em seguida, ao nosso Líder, Deputado Sarney

Filho.

O SR. DEPUTADO ALDO REBELO - Sr. Presidente, quero cumprimentar

V.Exa., os expositores e os Deputados pelo debate que promoveram nesta manhã,

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já início da tarde. Peço licença a V.Exa., aos colegas e aos expositores para que o

Deputado Beto Albuquerque, na qualidade de Vice-Líder do Governo e integrante

desta Comissão, cumpra o papel de Relator-Adjunto para me ajudar nessa matéria.

Tenho outro compromisso relacionado com esse projeto. Nem todos vão poder ser

cumpridos dentro da Comissão. Temos de conversar e receber entidades,

instituições fora da agenda das audiências públicas.

O SR. DEPUTADO SARNEY FILHO - Sr. Presidente, pela ordem.

Nobre Relator, antes que V.Exa. se retire, peço que ouça um pouco do que

vou falar aqui, já que sou Líder do PV e não tive ainda oportunidade me pronunciar.

E não foi por culpa da Comissão. Ao contrário do que aconteceu na Comissão

constituída para tratar do assunto Mata Atlântica, quando o PV foi excluído, aqui

temos direito a uma vaga.

Antes de abordar o tema em foco — e isso é do interesse do Líder do

Governo —, quero ressaltar aqui o que acabei de falar na Comissão da Mata

Atlântica. Hoje, em Altamira, no Pará, estamos vivendo mais uma situação de

desobediência civil, prática que está se tornando comum no enfrentamento de

questões ligadas ao Governo Federal.

Foi assim, por exemplo, com a comercialização da soja Monsanto no começo

do ano — a ilegalidade tornou-se fato consumado. Primeiro, votamos uma medida

provisória que proibia o plantio, que se tornou lei, e depois votamos outra medida

provisória que permitia o plantio. Por quê? Porque mais uma vez era fato

consumado. Mais uma vez a desobediência civil triunfava sobre a democracia.

Sr. Presidente, quem acompanhou o Jornal Nacional ontem à noite tomou

conhecimento de que a Associação dos Madeireiros do Pará promoveu mobilização

para fechar a Transamazônica, ocupar as sedes do IBAMA e do INCRA e ainda

proibir que um helicóptero do IBAMA decolasse. Eles queriam, e disseram isso na

televisão, que a fiscalização do IBAMA se retirasse da região. Quer dizer, é clara a

intenção dos madeireiros de pressionar o Governo Federal. Como o Executivo

cedeu em outras ocasiões, eles esperam que dessa vez não seja diferente.

É grave a situação, Sr. Presidente. Já apresentei inclusive requerimento de

instalação de uma Comissão Externa e tenho certeza de que o Presidente da

Câmara dos Deputados, com sua sensibilidade, acolherá tal proposta. Temos de

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ajudar o Governo a tomar firme posição a esse respeito. Senão, perderá as rédeas.

E é uma pena que tudo isso se dê em torno de questões ambientais.

Sr. Presidente, é a primeira vez que o Líder do PV fala nesta Comissão.

Queremos deixar clara nossa posição. Somos a favor dos avanços tecnológicos, de

um rito especial para a pesquisa. Nesse sentido — e tive a oportunidade de dizer

pessoalmente ao Relator —, podem contar com a participação e o voto do PV. Não

gostaríamos que a discussão sobre a soja transgênica, ainda muito recente,

contaminasse o debate sobre biossegurança. Consideramos boa a proposta do

Governo — não é contra a ciência —, pois contempla o princípio da precaução com

relação a avanços científicos. Se todos os países desenvolvidos têm essa cautela,

por que o Brasil deixaria de ter?

A CTNBio é um órgão científico, do qual fazem parte, segundo a proposta do

Governo, membros dos Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura.

Tenho certeza de que — não para a pesquisa, pois defendemos que haja um rito

próprio, mas para a liberação em larga escala do plantio — não há nada de mais em

a CTNBio dar seu parecer e depois o processo de liberação correr pelos trâmites da

competência legal: o que diz respeito à segurança alimentar, no Ministério da Saúde;

à segurança ambiental, no Ministério do Meio Ambiente; e à segurança agrícola, no

Ministério da Agricultura.

Estamos contaminados pela discussão sobre a soja, que demorou 7 anos

porque a Monsanto se negou a fazer os estudos de impacto ambiental. Se tivesse

feito, isso não teria ocorrido. Mesmo assim, tenho absoluta certeza de que um

parecer da CTNBio terá quase que caráter conclusivo. No entanto, não se pode

modificar a legislação atual. Ora, se para um empreendimento ambiental ou

agropecuário é necessária a licença ambiental, por que não para o plantio de

transgênico? Isso não quer dizer que o órgão ambiental pedirá mais informações.

Portanto, Sr. Presidente, mais uma vez quero deixar claro o posicionamento

do PV. Somos a favor de um rito especial para a pesquisa e a favor da legislação,

nos termos propostos, para a liberação e o plantio em larga escala.

O SR. DEPUTADO ALDO REBELO - Sr. Presidente, creio que todos nós

celebramos não só a presença, mas também as palavras de estréia do querido e

estimado companheiro Deputado Sarney Filho nesta Comissão. E compartilho com

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as preocupações de S.Exa. O Governo do Presidente Lula está empenhado,

decidido a proteger não só o meio ambiente, mas toda a região da Amazônia. O

Deputado Sarney Filho sabe que esse é um desafio secular na história do País.

Aquela região sempre se deparou, por um lado, com a cobiça e ação interesseira de

grupos que têm objetivos que não são propriamente os do País e, por outro, com

ação que nem sempre levou em conta a preservação e a defesa do ecossistema e

da floresta na Amazônia.

Procuramos, portanto, estar vigilantes. E o Governo acompanha atento os

acontecimentos a que se referiu o estimado Deputado Sarney Filho.

Quanto à matéria em si, não cabe ao Relator, em princípio, emitir sua opinião,

mas, nesse aspecto, adianto que tenho identidade com o juízo que faz o Líder do

PV, a propósito da esfera de autonomia entre pesquisa, ciência, por um lado, e

comercialização, por outro. Creio que, com a contribuição do próprio Deputado

Sarney Filho, ex-Ministro do Meio ambiente, Parlamentar aplicado, experiente,

conhecedor da matéria, haveremos de aprová-la na Comissão, na Casa.

Agradeço ao Deputado Sarney Filho. Peço, mais uma vez, licença para

cumprir outro compromisso, mas ficará o Vice-Líder do Governo, Deputado Beto

Albuquerque.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço ao Relator de

ofício, Deputado Aldo Rebelo, a presença. Sem dúvida, nossa audiência pública está

muito prolongada, sabemos dos compromissos do nobre Líder, mas S.Exa. será

substituído com muita grandeza pelo Vice-Líder Beto Albuquerque.

Peço aos próximos oradores que sejam breves, devido ao avançado da hora.

Contaremos com a presença, às 14h30min, de outros palestrantes convidados.

O próximo orador inscrito é o Deputado Edson Duarte.

Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO EDSON DUARTE - Sr. Presidente, cumprimento toda a

Mesa. Quero tecer alguns comentários. Primeiro, devemos sempre tomar cuidado

com a tentativa tanto da simplificação da discussão, como de se confundir algumas

questões relacionadas ao tema. Uma delas diz respeito à ciência, ao papel dos

cientistas que tentam limitar a discussão ao campo científico. Inclusive, eu rebati, na

primeira sessão, quando se disse que os representantes de outras entidades da

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sociedade civil eram todos leigos. Houve clara tentativa de desqualificar

representações tão importantes e que há muito tempo têm-se dedicado à causa do

povo brasileiro e que merece, logicamente, todo o nosso respeito.

O técnico da EMBRAPA abordou o papel da Câmara dos Deputados dizendo

que a mesma não poderia criar obstáculo, dificuldade para a ciência, para a

pesquisa. Mas esse não é o papel da Câmara dos Deputados. É até contraditória a

posição do técnico. Ou seja, é contraditório quando os técnicos, os cientistas que

falam tanto em ciência se colocam contrários às regras de biossegurança, que não

solicitam outra coisa senão, exatamente, estudos e pesquisas. Portanto, parece-me

contraditório quem valoriza tanto a ciência negar exigências das regras de

biossegurança que visam exatamente à apresentação desses estudos.

Quanto ao papel da CTNBio, da ciência e dos cientistas, eu já estava

considerando matéria vencida que o que é bom para a ciência é bom para a

humanidade e ponto final. Desde que o mundo tremeu lá em Nagasaki, Hiroshima, a

ciência tem um papel importante, mas não pode ter a última palavra nem a única

também.

Precisamos levar em consideração outros fatores extremamente importantes

e que têm que ser levados ao debate, inclusive o aspecto político. Como bem disse

o Vice-Líder Beto Albuquerque, nenhum cientista está imune à política e a outros

interesses.

Ontem contamos com a presença aqui do Sr. Antônio Barreto de Castro, que

foi Presidente da CTNBio exatamente no período de 1998, quando autorizou o

primeiro plantio comercial de transgênico no Brasil, que foi a soja. S.Sa. não revelou

naquela oportunidade — e só agora tomamos conhecimento disso — que ele estava

registrando patente de transgênicos nos Estados Unidos. Então, nem todo mundo é

isento. Há duas patentes registradas em seu nome nos Estados Unidos. Aquela

liberação da CTNBio de 1998 é importante e precisamos mesmo fortalecê-la, mas

ela não pode ser a única palavra. Há outros interesses, e não apenas no campo

científico. A CTNBio é competente, mas também falha.

Lerei apenas pequeno trecho, para não deixar V.Exas. horrorizados. Trata-se

das notas taquigráficas de uma reunião ocorrida em 1998, que autorizou o plantio da

soja transgênica. Diz um trecho do diálogo:: “Isso é importante para entendermos o

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papel das instituições em nosso País — diz o Dr. Lídio Coradin —, se nós olharmos

em detalhes, legalmente, estamos sem condições. Mas não acredito que tenha que

se criar problema por causa disso”. S.Sa. está falando em relação ao quorum,

porque não havia. Depois S.Sa. diz: “Vamos fazer de conta que tinha quorum. É a

única coisa que podemos fazer agora. Ou votamos a lei pela Internet, ou fazemos de

conta que tínhamos quorum”.

O problema é sério. Quero fazer alguns questionamentos ao técnico da

EMBRAPA. Primeiro, se transgênico é seguro, é bom, tranqüilo, não há nenhum

problema, por que essa dificuldade, essa resistência às regras de biossegurança?

Porque, se não há problema, não haverá problema com as regras de biossegurança.

V.Sas falam muito que serão criadas muitas dificuldades se não agirmos

rapidamente. Ora, os senhores levam 20, 30 anos pesquisando para atender alguém

que se interessa por aquela pesquisa, mas, quando é para falar do interesse das

garantias de segurança da população, de saúde, da nossa biodiversidade, da

soberania do País, do domínio da agricultura, não podemos perder tempo. Para

mim, tudo isso é muito estranho. E vejam que a lei não cria dificuldade, o tempo

estabelecido é suficiente. Basta apresentar os estudos. Aí, faço outra pergunta: por

que há dificuldade em se apresentar os estudos? Por exemplo, em relação à

segurança da saúde da população? Já pedi a todo mundo e não consigo encontrar

resposta. Nas medidas provisórias aprovadas aqui não anexaram nem citaram,

Deputado Beto Albuquerque, um único estudo. Eu quero esses estudos.

Aí pergunto: se é tão tranqüilo, por que a resistência de organismos científicos

tão competentes como esses, a exemplo da Monsanto, que reúne tantos

profissionais qualificados para apresentação de um estudo e submissão ao

licenciamento ambiental?

Licenciamos tudo e todo mundo tem condições de se submeter ao

licenciamento. Por que esses organismos científicos não podem apresentar os

estudos, já que falam tanto que os outros não têm capacidade? Se têm, por que não

apresentam os estudos?

Fala V.Sa. em convicção, mas não me parece ser esse o caso. Temos que ter

a certeza científica. Ninguém é contra a biotecnologia, a pesquisa. Há unanimidade.

Todo o mundo é a favor da ciência, porém com segurança. Liberar comercialmente é

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uma coisa. Não podemos confundir liberação para pesquisa com liberação

comercial, para atender a interesses mercantilistas. Isso tem de ser colocado de

forma muito clara, para não perturbar a opinião pública. Ninguém aqui é contrário à

pesquisa.

Quanto àqueles que defendem tanto a pesquisa, tenho a dizer que já vi muita

gente falando sobre ela. No passado, contudo, ninguém levantou a voz em defesa

da EMBRAPA, das universidades públicas — a maioria sucateada —, que poderiam

estar fazendo pesquisas.

O Sr. Clayton Campanhola, Presidente da EMBRAPA, disse que não comeria

alimento transgênico, mas acrescentou que jamais puniria um pesquisador — e isso

aconteceu na administração passada — por mostrar posição contrária à empresa.

Afinal, pesquisador tem de mostrar resultado, provar de onde vem a informação. O

que V.Sa. pensa a respeito dessa declaração?

Por que há resistência em rotulagem? V.Sa. falou que o consumidor vai ter o

direito de decidir se quer ou não comer; o agricultor, se deseja ou não plantar. Essa

avaliação é muito simplista. A agricultura não funciona bem assim. A biopirataria

inviabiliza determinadas culturas e apresenta outras como única solução. Pergunto:

V.Sa. defende isso? Por que há em todos os momentos resistência de se rotular?

Toda vez que se pleiteia a aprovação de uma lei de rotulagem, há enorme

resistência.

São confusas e contraditórias as informações que nos passam. Quero

entender bem esse assunto. Estamos aqui para defender a biossegurança. Não

entra aqui a questão da transgenia. Queremos segurança para sociedade brasileira.

Não somos contra a pesquisa. Queremos modernidade etc. O discurso em torno

disso, contudo, é batido, velho. Queremos garantias. A responsabilidade de oferecer

garantias à sociedade é desta Casa e do Governo. Não apenas para a geração

atual, mas para as futuras e para a tão rica biodiversidade brasileira, que se

encontra tão ameaçada e devastada.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Concedo a palavra ao

próximo orador inscrito, Deputado Pompeo de Mattos.

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O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Sr. Presidente, sei que o tempo

de que disponho para falar é curto, mas é como dizem: o arroz, a carne, a massa e

o pão alimentam o corpo, mas a palavra alimenta a alma. É importante sairmos

daqui com a alma alimentada com as convicções do Dr. Benami, até pela sua

experiência, conhecimento e formação.

Ouvi atentamente as manifestações não apenas dos palestrantes, mas dos

diversos Parlamentares. Em certos momentos, arrepiei-me, quando comecei a

compreender o assunto. Depois de estar arrepiado e um pouco apavorado com os

questionamentos, ainda assim concluí que apesar de tudo evoluímos. No meu

Estado um grupo de sectários, por falta de informação, queimou experiências e

pesquisa. E muitos desses queimadores de pesquisa estão aqui no Congresso.

Foram ao meu Estado e atearam fogo em pesquisas científicas, inclusive com o

apoio do Governo. Então, houve uma certa evolução.

Um líder do Governo do Estado chegou a dizer que a biotecnologia, a

transgenia continha em seu bojo a hepatite B. Isso gerou enorme debate na

imprensa gaúcha — no rádio, jornal e televisão. Do outro lado, um padre disse que

os transgênicos transmitiam AIDS. Não foi esse o debate, Deputado Beto

Albuquerque? O assunto foi matéria de páginas e páginas de jornais no meu

Estado. Quando vejo o assunto sendo tratado coerentemente, ainda que por

algumas cabeças retrógradas, considero que houve uma evolução. Que bom!

A biotecnologia não pode ser confundida com ideologia. Se alguém veio a

esta reunião tratar de ideologia, está no lugar errado. Que vá tratar desse assunto

em outro canto, quem sabe dentro de seu partido. Biotecnologia é ciência, não é

religião. Imagine o padre fazendo pesquisa científica e o cientista dando sermão na

igreja. Ia dar tudo errado. Não tem fundamento.

Sempre defendi a EMBRAPA. O meu partido, o PDT, é de trabalhistas. Aliás,

foram os trabalhistas que criaram a PETROBRAS. Não li em página alguma do livro

sobre os 50 anos da PETROBRAS menção a Getúlio Vargas, o criador da

PETROBRAS. Negaram o pai da PETROBRAS. Essas mesmas pessoas que estão

sempre falando em PETROBRAS, não falam em momento algum do seu criador.

Reli o livro, achei que tinha me equivocado, mas não vi o nome de Getúlio

uma vez sequer.

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Os que sempre defendem a EMBRAPA são os primeiros a esquecer o

passado da empresa. A maioria das universidades públicas no Rio Grande do Sul

foram criadas pelo trabalhismo — por Getúlio e por Jango. É bom que se diga isso

para relembrar os que se esquecem.

A tecnologia — disso todos sabem — pode ser usada para o bem e para o

mal. Há quem diga que a bomba atômica foi para o mal, assim como há quem afirme

que ela foi feita para o bem. Eu assisti há poucos dias a um documentário histórico

sobre a bomba atômica. Dizia ele que, se não fosse ela, estaríamos brigando até

hoje. Não conseguimos entender até quando é mal e até quando é bem. A ciência

tanto produz o bem como o mal. Dentro de cada um de nós há tanto o lobo mau

quanto o bom. Depende de qual nós alimentamos. Se queremos trabalhar para o

bem, vamos usar a ciência politicamente para o bem, não vamos deixar de avançar

na ciência, de pesquisar e passarmos a ser retrógrados e atrasados.

Às vezes apelam para o extremo e dizem que isso é coisa de multinacional.

Atualmente, temos multinacionais brasileiras. A PETROBRAS é um exemplo disso.

A PETROBRAS é multinacional e é nossa. Se é multinacional nossa, pode tudo; se

é dos outros, nada pode. Não podemos simplesmente dizer que se é multinacional

não presta. Tenho de ver caso a caso minha conveniência, o equilíbrio que preciso

ter. Vão cobrar royalties? É claro que vão. Isso se usarmos o produto. Não somos,

contudo, obrigados a usá-lo. O agricultor vai plantar transgênico se quiser. Ele não é

obrigado. Planta quem quer. Isso está muito claro no meu Estado. Uns plantam e

outros se recusam a fazê-lo.

Pergunto ao Dr. Benami: uma lavoura de soja transgênica plantada ao lado

de uma convencional pode contaminá-la por meio do sistema natural de polinização

ou pelos pássaros? Aliás, disseram muito isso no meu Estado.

Da mesma forma, as sementes estéreis. Daqui a pouco a semente estéril é

uma necessidade para o bem, pois podem descobrir uma utilidade e usá-la. Se não

é, não usam. Daqui a pouco vai haver interesse na exterminação de uma semente

que contém um vírus que, para morrer, temos de matar a semente junto. Mata a

semente, encerra o ciclo ali e vem outra fase. No entanto, se quiserem usá-la para o

mal, podem fazê-lo. Depende do lobo que se alimenta. Se quiserem alimentar a

parte ruim da semente, colherão o lobo mau.

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Quanto à licença ambiental, quero fazer um questionamento ao Dr. Benami.

Existem muita informação, contra-informação e desinformação. As empresas

descobriram os transgênicos, que são usados em larga escala nos Estados Unidos.

Estive na Europa há poucos dias e pude perceber que os cientistas europeus se

penitenciam por terem perdido tempo, por não terem avançado em pesquisa. A

Europa ficou atrasada na pesquisa, porque o sectarismo impediu que ela avançasse.

Agora eles estão atrasados lá e o produto está chegando. Preocupados com a

licença ambiental, eles dizem perguntam: “Por que não fazem a licença ambiental?”

O que ocorre?

O estudo foi feito no Brasil. O que eles querem — e é essa a incompreensão

— é a licença ambiental como qualquer empreendimento que se faz na área rural.

Exemplifico. Alguém vai estabelecer uma pocilga, popularmente, em um chiqueirão

de porcos e vai criar suínos. Ele precisa da licença ambiental. É algo legítimo e

necessário para saber para onde vão os dejetos, se não vão para um córrego ou

para um rio. O agricultor sabe dos cuidados que tem de ter. Nesse caso, é preciso

licença ambiental. O que eles querem em relação aos transgênicos? Que cada

agricultor que tiver uma lavoura faça um estudo de impacto ambiental. Como o

agricultor vai fazê-lo? Isso é impossível.

E o veneno? Fico me perguntando a quem interessa a questão do veneno. Se

alguém duvidar do que estou dizendo posso lançar aqui um desafio. Na soja

convencional vai um coquetel de veneno 3 ou 4 vezes mais letal do que na soja

transgênica. Vamos colocar num copo d’água um grama de glicosato para combater

as ervas daninhas; em outro copo um diferente tipo veneno com a mesma finalidade.

Posso garantir que podemos tomar a água de um dos copos, do outro não.

Há uma diferença fundamental entre os 2. Temos de ter a clara compreensão

de que se não enfrentarmos essa questão em definitivo, hoje temos a soja; amanhã,

o milho, e, depois, nada. Temos algodão no Brasil. Eles vão patenteando esse

produto, depois nós. Eles patenteiam, e nós “pateteamos”. Ou seja, eles ganham a

patente, e nós o pateta.

O Brasil tem de acordar. Temos de tomar consciência. Não vejo problema na

rotulagem. Absolutamente não vejo.

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Para encerrar, gostaria de dizer ao Deputado Beto Albuquerque, que vamos

tratar da biossegurança. Não há, contudo, como realizá-lo se não fizermos o mesmo

com a biotecnologia. As duas coisas são casadas. Queremos a segurança do quê?

Da biotecnologia. Então temos de saber bem a definição e as expressões da

biotecnologia. Daí a biossegurança da biotecnologia e as variantes. Enfim, as duas

pesquisas são em função da vida.

Nós, políticos, sabemos de tudo um pouco. Quem falou sabe de tudo um

pouco; e eu, mesmo de um pouco, não sei tudo.

Da questão específica da biotecnologia, biossegurança, genética, transgenia,

quem sabe são os cientistas, não os políticos. Temos de nos socorrer com os

cientistas. Há leigos sem conhecimento de causa contestando cientistas. É uma

disputa desigual. Estão pensando que são formados política e acham que essa

ciência política é coisa de cientista de biotecnologia. Ciência política é algo de

cientista político. Estão confundindo as questões.

Mais uma pergunta para encerrar: De quantas variedades de soja a

EMBRAPA dispõe? Temos de tratar de biossegurança e biotecnologia, que é um

assunto mais amplo, mas, no caso específico, temos alguém da EMBRAPA ligado à

soja, ao trigo, mais à soja, que é o produto geneticamente modificado que está pelo

Brasil inteiro.

Quantas variedades de soja a EMBRAPA pode disponibilizar imediatamente

para ser plantada nos diversos Estados? Quanto à resistência, acho que essa

pergunta já foi respondida sem que fosse perguntada. Os produtos não serão

resistentes tão somente a um veneno, a um herbicida, mas a um fungo, a um tipo de

solo, a outras pragas.

Temos conhecimento de que as sementes chegam ao Brasil via

multinacionais, até para não criar a impressão de que agora vamos entregá-las às

multinacionais. Elas estão nas multinacionais. Quero a confirmação se elas

historicamente andam, transitam pelas mãos das multinacionais ou se temos

sementes genuinamente brasileiras.

Não seria o caso de aproveitarmos a transgenia, a pesquisa e a experiência

da EMBRAPA para termos uma semente com domínio de tecnologia nacional?

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Concedo a palavra à Sra.

Deputada Vanessa Grazziotin.

A SRA. DEPUTADA VANESSA GRAZZIOTIN - Sr. Presidente, gostaria de

fazer algumas rápidas observações. Em primeiro lugar, quero falar sobre os

entraves aos avanços do desenvolvimento tecnológico, às inovações.

Pesquisadores e cientistas têm enfrentado esse problema.

Não podemos, neste momento e neste debate, dizer que o problema é a

legislação ou os entraves legais. Esse é um dos fatores, não há dúvida quanto a

isso. Se há leis e mecanismos impeditivos, eles obviamente prejudicam a pesquisa.

Há, contudo, no País um problema maior: a falta de recursos, de investimentos. Até

hoje esta Nação não tem a ciência e tecnologia como prioridade. Esse é o grande

problema da EMBRAPA. O problema maior não apenas da EMBRAPA, mas de

todos os institutos de pesquisas e da universidade é a falta de recursos.

Dr. Benami, nós, Deputados, somos criticados por isso. Temos uma cota

individual de emendas. Sabe para onde vão minhas emendas individuais? Para a

universidade federal do meu Estado, para a EMBRAPA Amazônia Ocidental e para a

FIOCRUZ. Temos um escritório no Estado do Amazonas. Mandamos as emendas

para esses lugares, com o objetivo de salvar a pesquisa.

Uma conversa puxa a outra. E vou puxar uma polêmica: a da pesquisa e da

autonomia do pesquisador. Vários Deputados já entraram nessa polêmica. Qual é a

autonomia que tem o pesquisador neste País? O Deputado Beto Albuquerque

abordou bem esse aspecto. Não quero falar de forma generalizada, até para não

falar bobagens, mas em boa parte a pesquisa no País — refiro-me especialmente ao

Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, que conheço muito bem — não é

financiada com recursos públicos do Governo ou do Estado brasileiro, mas por

vários institutos, como o Smithsonian e a WWF. São eles que determinam o que

deve ser pesquisado, não é a necessidade do País ou da sociedade brasileira,

porque eles é que financiam e têm acesso às informações muito antes que nós.

Essa autonomia é muito relativa.

Ouvi o Dr. Benami dizer que considera fantástico a CTNBio ter poder

terminativo para dizer “não”, mas não ter esse mesmo poder para dizer “sim”. Essa a

sua crítica. S.Sa. falou isso de forma objetiva e clara. Todos entendemos

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perfeitamente. Penso diferente, mas não tenho opinião plenamente formada. Estou

aqui para debater o assunto, do contrário iria almoçar, porque a palavra alimenta a

alma, mas não o físico. Ou seja, estou aberta ao debate.

V.Sa. acha que a CTNBio deveria ter o poder de dizer um “sim” terminativo?

Quando fala “sim” refere-se apenas à pesquisa, ou a tudo o que diz respeito à

legislação, à produção, à comercialização ao cultivo? Essa é uma observação

genérica, ou que apenas diz respeito à pesquisa?

Faço outra pergunta: o que V.Sa. acha da composição da CTNBio? Qual sua

opinião sobre a composição determinada no projeto de lei?

Por fim, minha preocupação maior refere-se ao licenciamento dos Ministérios.

Sou favorável a isso, mas há de se fazer uma regulamentação quanto ao prazo. O

País peca muito nisso. Será que não seria uma forma de trabalharmos,

determinando alguns prazos para não permitir que o tempo passe e as coisas não

aconteçam?

Era esse meu questionamento.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço à Deputada

Vanessa Grazziotin a participação. É realmente muito importante a visão de S.Exa.:

debater a matéria para formar opinião. Esse é o motivo da realização de reuniões de

audiências públicas da Comissão.

O próximo orador inscrito é o Deputado Luis Carlos Heinze. Pergunto se

S.Exa. abre mão de sua inscrição, uma vez que já são 13h20min. Ainda ouviremos

as respostas e, naturalmente, as réplicas. Em seguida, estão inscritos mais 4

palestrantes. Portanto, se V.Exa. concordar, nobre Deputado Luis Carlos Heinze,

sua intervenção poderá ser feita no período da tarde, como primeiro orador inscrito.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Sr. Presidente, a bem da verdade

e do esclarecimento, todos estamos aqui para aprender e obter informações

corretas. Ao Brasil inteiro que nos assiste pela TV Câmara informo que a liberação

da soja transgênica para a CTNBio, em 1998, foi feita com quorum integral. Está na

ata. No momento da liberação, que aconteceu no meio da reunião, entre tantas

decisões, o quorum estava completo. O quorum estava incompleto no fim da

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reunião, quando o grupo decidia como seria comunicado à imprensa. Isso está na

ata, à disposição do Ministério de Ciência e Tecnologia.

O jornalista do jornal O Globo que veiculou a notícia está presente. Se puder,

gostaria que veiculasse a informação correta. O Brasil bateria palmas.

Quanto ao Dr. Luiz Barreto, o pai da genética vegetal no Brasil, devemos

muito a ele. Outra informação não foi transmitida corretamente. A patente é motivo

de orgulho para o Brasil, é um bem público do País e tem de ser registrada, senão

roubam. A EMBRAPA tem 186 patentes, quase 100 patentes registradas no Brasil,

mais de 80 registradas fora do País. Outra informação errada: um Deputado disse

que duas patentes estariam fora em nome desse cientista. Se o Deputado tem

documentos, que os apresente na próxima reunião, mas esta Comissão não pode,

de forma alguma, aceitar essas observações inverídicas.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Deputado Silas Brasileiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Vamos discutir o Projeto de

Lei nº 2.401.É muito importante não desviarmos do tema, porque a matéria é muito

importante para o País.

Haverá oportunidade para todos se manifestarem a respeito do Projeto de Lei

nº 2.401.

O SR. DEPUTADO EDSON DUARTE - Sr. Presidente, como se diz muito da

vantagem da ciência e da verdade dos cientistas, acho importante esta discussão.

Foi-me pedido que apresentasse um documento na próxima reunião, mas quero

fazê-lo agora. Está em minhas mãos. Trata-se do currículo do Sr. Luiz Antonio

Barreto Castro. Vou tirar uma cópia e apresentá-lo. Há o registro de patente feito

com dinheiro público, mas está registrado em nome de Sr. Luiz Antonio Barreto

Castro. Nada tenho contra a pessoa.

O SR. DEPUTADO DARCÍSIO PERONDI - Não é verdade.

O SR. DEPUTADO EDSON DUARTE - Nada contra. O Sr. Luiz Antonio tem

de pesquisar, é um cientista capacitado, tem todo o direito, mas tem patentes. Ou

seja, como disse o Deputado Beto Albuquerque, há interesses de todos os lados.

Para concluir, Sr. Presidente, quero dizer ao Deputado Pompeo de Mattos

que a autorização da taxa de resíduo da soja convencional é de 0,2. Só que para a

soja transgênica foi solicitada alteração para 10 ppm, exatamente no período de

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solicitação da sua liberação. Então, não se pode alegar que ela usa menos veneno,

que é mais ecológica, porque foram solicitados 10 ppm, enquanto a convencional é

de 0,2. Isso mostra realmente que há impactos ecológicos muito fortes.

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Mas há de se registrar o novo

cientista, porque o que ele está dizendo não tem nenhum fundamento —

desculpe-me dizer isso. Experiência de campo no meu Estado mostra que se usa

menos que a metade de veneno empregado na soja convencional na soja

transgênica. É pura desinformação.

O SR. DEPUTADO EDSON DUARTE - O estudo da ANVISA está à

disposição também do Deputado Pompeo de Mattos.

O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Sr. Presidente, peço a palavra

para uma questão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Sr. Presidente, é bom que se

esclareça para que não fiquem mentiras no ar. O companheiro está mentindo e vou

rebater a mentira sobre os dados de defensivos que está citando.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Como não se trata de

questão de ordem, não vou dar a palavra a V.Exa. Temos de respeitar nossos

colegas Parlamentares. Não vamos partir para a emoção. Vamos discutir dentro da

razão, que é muito importante. Não vamos usar palavras agressivas. A reunião está

sendo transmitida. Imaginem o que estamos passando para os que nos elegeram

para representá-los! Então, vamos manter o nível da discussão, porque isso é muito

importante, e o equilíbrio é fundamental.

Gostaria que o Sr. Benami se limitasse às perguntas feitas Teremos, no

período da tarde, o prosseguimento da reunião.

Concedo a palavra ao Sr. Benami Bacaltchuk.

O SR. BENAMI BACALTCHUK - Em relação às questões levantadas,

gostaria de frisar alguns aspectos que considero importantes. Primeiro, quero

lembrar aos senhores que os cientistas, muito antes de os senhores terem

consciência de que tinham de tomar decisões políticas, estabeleceram regras de

ciência. A ciência é estabelecida e é regida por regras de comportamento. Quando a

biotecnologia surgiu, em 1980, na Universidade da Califórnia, cientistas do mundo

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inteiro se reuniram para estabelecer normas de conduta em relação à

biossegurança. Portanto, antecipamo-nos há muito tempo.

Em segundo lugar, podemos cometer erros, mas as decisões de usar os erros

até hoje foram políticas. Não explodimos a bomba atômica, criamos um conceito.

Um político decidiu que tinha de usá-la na hora em que quis. Sinto muito. Não

gostaria de frisar isso, porque é terrível. Isso diz respeito ao comportamento do

homem. O homem vai começar a criar barreiras para o seu próprio direito de

sobreviver. Vamos morrer com menos, por falta, porque temos medo do que possa

nos acontecer.

Gostaria que não generalizassem os cientistas como envolvidos todos com

interesses. Somos seres humanos como qualquer um. Lamento que não possa

defender todos. Não tenho procuração para defender o Luiz Antonio Barreiro de

Castro, que, para mim, é um exemplo de cientista abnegado e que não está tendo

vantagem em bater boca da forma como está fazendo.

Considero importantes algumas coisas. Se transgênico é seguro por causa da

resistência, continuo dizendo que transgênico é seguro, pelo menos os transgênicos

que passaram pela criteriosa avaliação do sistema científico. Não sei o porquê da

resistência e não consigo entender a quem interessa o não-uso de uma tecnologia

da qual temos o domínio e que podemos oferecer à sociedade. “Por que a pressa?”

Deputado, desculpe, estamos indo devagar demais. O problema foi identificado e

posto em público por mim junto com a Polícia Federal em 1997. O que aconteceu?

Desobediência civil. Só isso. Ficamos simplesmente nos enrolando em um processo

e não decidíamos quem deveria decidir. Perdemos tempo só com discurso, sem

nenhuma decisão.

O máximo que fizemos foi colocar dúvidas nas pessoas que achavam que

deveríamos ter o domínio do conhecimento.

V.Exa. fez uma observação, que não posso responder como Presidente da

EMBRAPA, mas respondo pelo sentimento que tenho; não estou impedido de dizer

algo diferente do que penso. Tenho liberdade de expressão na EMBRAPA, ninguém

me prejudicou, perseguiu ou impediu. Apresentaram seu ponto de vista, mas não

disseram que eu estava proibido de me manifestar. Tenho dúvidas, porque não ouvi

alguém dizer que o que penso não representa a empresa na qual tenho orgulho de

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trabalhar e que, acima de tudo, nos dá liberdade. E essa liberdade tem fator

fundamental, Deputado: permite-nos ser criativos. Não existe nada pior para destruir

a criatividade de um homem do que impor limites em sua habilidade de sonhar.

Não sei lhe dizer o valor do royalty pago à Monsanto, porque isso é um

problema da Monsanto. Mas posso lhe garantir, o mamão com resistência ao vírus

da mancha anelar vai ter o royalty pago à EMBRAPA, não a uma multinacional. O

royalty da soja com melhor qualidade protéica e com sabor diferenciado para a

alimentação humana in natura vai ser pago à EMBRAPA, não a uma multinacional.

E o valor vai ser aquele que remunera o esforço e que diferencia quem for usar.

Quero lhe garantir algo: a apropriação de propriedade intelectual é um dever

que uma empresa como a EMBRAPA tem para não permitir que pessoas

mal-intencionadas usem nosso esforço e que nos permite doar ou cobrar para o

social, a fim de garantir que o lucro seja social; até para resolver a grande

preocupação da Deputada Vanessa Grazziotin: precisamos de recursos para

pesquisa. Infelizmente, grande parte de nossos recursos não são doações,

Deputada, são royalties, os mesmos que cobramos das multinacionais quando usam

nosso conhecimento. Temos diferenciado grupos e organizações. As pequenas

organizações de produtores têm recebido material gratuito da EMBRAPA. Em seu

Estado, V.Exa. tem um bom exemplo de todo o apoio que damos.

Portanto, peço desculpas por todas as questões apresentadas, generalizando

o comportamento, as conseqüências. Queremos pressa. Não sei se é com uma lei

complicada ou uma lei não complicada, mas começamos a nos preocupar com

segurança antes. Acreditamos que ainda temos a primazia e o direito de dizer que

temos responsabilidade, e por isso estamos fazendo bem.

O Deputado Pompeo de Mattos fez algumas perguntas sobre tipos de

resistência. Respondi mais de uma vez. Deputado, neste momento a soja que está

no mercado tem uma única característica, mas nada nos impede cientificamente de

criarmos outras. Que bom se estivéssemos criando características que não fossem

de resistência ao herbicida, ou de substituição do inseticida. Existem outros métodos

que poderiam ser utilizados. Nem todos são convenientes.

Uma vez fiz uma pergunta a um dono de bolicho em nosso Estado — essa

expressão V.Exa. conhece, refere-se a um bar que vende tudo —, na beira da

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estrada, onde havia um moinho colonial. Perguntei-lhe por que nossos moinhos

coloniais estavam fechando. Quando estava conversando com esse dono de

bolicho, entrou um indivíduo com uma garrafa de Pepsi-Cola de um litro e pediu um

litro de Gesaprim. Para quem não conhece, Gesaprim é um herbicida que se usa em

milho, para matar a folha estreita. Perguntei: “Gesaprim a granel? Desde quando se

vende isso num vasilhame fechado, protegido etc.? Aqui é encosta de morro, aqui se

planta à garrucha e se colhe a laço” — também uma expressão gaúcha —, é difícil

trabalhar numa área dessas. Ele disse que aplicavam porque tinha os pulverizadores

postais, sulfatadeiras. Eu disse: “Meu amigo, essa máquina pesa, no mínimo, 15

quilos; mais, no mínimo, 30 litros de água, são 45 quilos. Ele caminha, no total, 10

quilômetros para pulverizar Gesaprim em 1 hectare”. E ele respondeu: “O senhor

imagina o esforço que é passar 4 meses, das 7 horas da manhã às 7 horas da

noite, capinando? Ele fez uma opção”.

Ao entregarmos ao produtor opções, devemos fazê-lo com aquela

característica de minha primeira manifestação, exeqüibilidade, que permita ao

indivíduo fazer. Se não entregarmos isso, tenho dúvida de que seremos

competitivos. Sim, quem mais luta contra nossa autonomia, nosso direito de usar

inovações tecnológicas, não são os que estão de fato preocupados com a destruição

ambiental que nossos erros podem causar, mas os que perderão competitividade

com a nossa habilidade.

Antes de encerrar minha intervenção, agradeço a oportunidade que tive de

participar desta reunião a forma delicada e efusiva como V.Exas. valorizaram o

esforço da instituição na qual tenho orgulho de trabalhar. Lamento não ter

respondido a todas as questões propostas. Não creio que eu seja a pessoa capaz

para esclarecer todas as dúvidas de V.Exas.

Bom-dia a V.Exas. (Palmas.)

O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, peço a palavra pela

ordem.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Tem V.Exa. a palavra.

O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, embora V.Exa. saiba

o motivo por que não participei desta reunião, gostaria de esclarecê-lo: sou membro

titular desta Comissão, mas até agora estive na Comissão de Agricultura, na qual

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conduzi até o final, às 13h15min, audiência pública sobre agrotóxicos. Por isso

estive ausente deste debate, que me parece ter sido muito interessante. Tentarei

participar à tarde, mas não sei se poderei, uma vez que também marcada para o

período outra reunião da Comissão de Agricultura.

Considero importante este esclarecimento porque, na condição de membro

titular desta Comissão, pretendo participar de todos os debates aqui realizados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradecemos a V.Exa.,

nobre Deputado, o zelo. Sem dúvida alguma, na parte da tarde será importante a

participação de V.Exa. A reunião seria às 14h30min, mas vamos adiá-la para as

15h, a fim de que todos tenham tempo de almoçar.

Ouviremos agora a intervenção do Relator-Adjunto, que deverá interpelar o

Dr. Benami Bacaltchuk e ainda fazer suas considerações finais.

Concedo a palavra ao nobre Líder Deputado Beto Albuquerque.

O SR. DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE - Em nome do Relator, Deputado

Aldo Rebelo, agradeço a participação do Prof. Benami Bacaltchuk, pesquisador da

EMBRAPA, que muito contribuiu com o debate.

Não tenho nada a acrescentar ao que exaustivamente foi debatido.

Entretanto, Sr. Presidente, desejo ressaltar que o Deputado Aldo Rebelo terá — e

muito honrosamente fui convocado para com ele trabalhar, na condição de

Relator-Adjunto — a árdua tarefa de relatar o Projeto nº 2.401.

Gostaríamos de valorizar muito o debate sobre cada um dos termos, palavras

e expressões do projeto, por ser ele muito importante. Não é de hoje que o tema

vem sendo debatido, mas para o Relator da matéria é crucial que nossos

convidados e os Parlamentares façam minuciosa e profundamente as observações

sobre o projeto, porque é sobre ele que será proferido o Parecer e sobre ele

decidiremos em Plenário.

Fica o meu apelo, para que depois não digam: “Mas e este item do projeto, o

artigo tal, como não mudou?”. O Relator se prenderá ao projeto. Ainda que seja dito

que a biossegurança está casada com a biotecnologia, nós estamos discutindo

biossegurança e no projeto não escreveremos muito do que aqui está sendo

debatido.

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Meu apelo, portanto, é para que esmiucemos com profundidade todo o

conteúdo do Projeto de Biossegurança, que é, no mérito, o eixo que o Governo quer

propor e que, a meu ver, será a base sólida, concreta, para aprovarmos, depois do

Plano Nacional de Biossegurança, o Plano Nacional de Biotecnologia, baseado

nessa política.

Agradeço, por fim, a participação de todos e a oportunidade de me

manifestar. Logo mais estaremos novamente aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Silas Brasileiro) - Agradeço a intervenção do

nobre Relator Adjunto.

Agradeço, ainda, ao Dr. Antonio Carlos Campos de Carvalho e aos Profs.

Avílio Franco, Franco Lajolo e Mohamed Habib, que gentilmente aceitaram proferir

sua palestra à tarde.

Antes de encerrar esta reunião, por questão de justiça, desejo fazer uma

referência sobre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: não foi devido a pressões

sofridas que S.Exa. enviou para a Câmara dos Deputados as medidas provisórias

que visam acertar o plantio de soja e sua comercialização no Rio Grande do Sul. O

Presidente enviou a esta Casa o projeto e as MPs por uma questão de

responsabilidade. Tal atitude demonstrou a consciência do Governo, e temos que

deixá-la registrada. No momento oportuno, S.Exa. atendeu ao apelo dos produtores

e permitiu que comercializassem o produto que haviam colhido.

Agradecemos à TV Câmara e aos nossos telespectadores.

Sem dúvida, tivemos uma manhã e um início de tarde muito ricos.

Reabriremos os trabalhos às 15 horas e gostaríamos de contar com a presença de

todos os senhores.

Muito obrigado.

Está suspensa a reunião.