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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL EVENTO: Audiência Pública N°: 1552/05 DATA: 06/10/2005 INÍCIO: 10h29min TÉRMINO: 12h25min DURAÇÃO: 01h56min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h56min PÁGINAS: 37 QUARTOS: 24 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Secretário-Executivo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar do Ministério da Marinha. SUMÁRIO: Debate sobre o Programa Antártico Brasileiro. OBSERVAÇÕES Houve exibição de imagens.

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · os quais o programa não existiria, são o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério do Meio Ambiente, o Ministério

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 1552/05 DATA: 06/10/2005INÍCIO: 10h29min TÉRMINO: 12h25min DURAÇÃO: 01h56minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h56min PÁGINAS: 37 QUARTOS: 24

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Secretário-Executivo da Comissão Interministerial paraRecursos do Mar do Ministério da Marinha.

SUMÁRIO: Debate sobre o Programa Antártico Brasileiro.

OBSERVAÇÕES

Houve exibição de imagens.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Havendo número regimental, declaro aberta a

presente reunião de audiência pública promovida pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e

Desenvolvimento Regional em atendimento ao Requerimento nº 57, de 2005, de autoria dos Deputados Ann

Pontes e Asdrubal Bentes, a qual tem por objetivo discutir o Programa Antártico Brasileiro.

Cumprimento todos os presentes, em especial o contra-almirante José

Eduardo Borges de Souza, Secretário-Executivo da Comissão Interministerial para

Recursos do Mar, da Marinha do Brasil, que gentilmente atendeu ao nosso convite e

está aqui hoje.

Eu convido o contra-almirante José Eduardo para tomar assento à Mesa.

(Pausa.)A lista de inscrições para os debates já se encontra sobre a mesa. O

Parlamentar que desejar fazer questionamentos deverá nela registrar o seu nome.

Esclareço ao senhor expositor e aos Srs. Parlamentares que a reunião está

sendo gravada, para posterior transcrição. Por esse motivo, solicito que durante a

exposição falem ao microfone.

Informo que o nosso convidado não poderá ser aparteado no decorrer da sua

exposição. Somente após encerrada a exposição, os Deputados poderão fazer suas

perguntas, tendo cada um o prazo de 3 minutos. O expositor terá igual tempo para

responder, facultadas a réplica e a tréplica, pelo mesmo prazo.

Concedo a palavra ao contra-almirante José Eduardo Borges de Souza,

Secretário-Executivo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar, da

Marinha do Brasil.

O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Muito obrigado.

Em primeiro lugar, agradeço a presença a todos. É uma honra para a

Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar vir a esta Casa expor

suas idéias.

É um prazer ver a Deputada Maninha, conhecedora do nosso Programa

Antártico.

(Segue-se exibição de imagens.)Esta exposição tem o propósito de esclarecer o que acontece com um dos

programas brasileiros a cargo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar,

coordenada pelo comandante da Marinha, na sua função de autoridade marítima.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

O programa, conforme V.Exas. podem ver no slide inicial, é uma explosão de

coisas boas. O Programa Antártico Brasileiro é um grande avanço na ciência e na

pesquisa brasileiras. É um pedaço do Brasil que dá certo, entre tantos outros que

conhecemos.

Nesta apresentação seguirei o seguinte sumário: falarei ligeiramente sobre a

Comissão Interministerial para Recursos do Mar, quando tratarei do seu nascimento,

do que representa e da moldura jurídica do Programa Antártico Brasileiro. Depois

falarei sobre o programa propriamente dito. Por fim, farei uma ligeira conclusão.

A Comissão Interministerial para Recursos do Mar foi criada por um decreto

presidencial de 1974, quando o País sentiu a necessidade de ter um organismo que

cuidasse especificamente dos assuntos ligados aos recursos do mar.

Percebeu-se, então, a importância de ter alguém que fizesse a convergência

desses assuntos e coordenasse a discussão da matéria. Naturalmente, a

coordenação coube à Marinha pela capacidade que ela tem de dar apoio logístico

no mar.

O comandante da Marinha é hoje a autoridade marítima da CIRM, composta

de 12 Ministérios e mais 3 instituições: a Casa Civil, a própria Marinha do Brasil e a

Secretaria Especial de Pesca da Presidência da República.

A CIRM trabalha com vários programas, entre os quais o Programa de

Levantamento da Plataforma Continental, coordenado pelo Ministério das Relações

Exteriores; tem também uma subcomissão para o Programa Setorial de Recursos

do Mar, também coordenada pela Marinha; o Gerenciamento Costeiro; o Grupo

Executivo de Gerenciamento Costeiro. Além disso, qualquer outro assunto

relacionado com os recursos do mar são tratados em grupos de trabalho, o que é

feito para evitar que a Comissão se torne maior do que o necessário.

Dentro dessas subcomissões está a Subcomissão para o Programa Antártico

Brasileiro, coordenada pela Marinha do Brasil.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Podemos dizer que os membros principais e os grandes colaboradores, sem

os quais o programa não existiria, são o Ministério da Ciência e Tecnologia, o

Ministério do Meio Ambiente, o Ministério de Minas e Energia e o Ministério das

Relações Exteriores.

O MCT define a linha científica; o Ministério do Meio Ambiente avalia os

impactos ambientais das ações propostas; o Ministério de Minas e Energia contribui

com o combustível indispensável para os trabalhos das Comissões; e o Ministério

das Relações Exteriores nos apóia no âmbito internacional, nas oportunidades em

que é tratado o assunto Antártica, continente que não tem propriedade.

A moldura jurídica do PROANTAR está montada da seguinte maneira. O

Tratado da Antártica talvez seja o documento público internacional de maior

relevância e de maior sucesso nos dias de hoje. Isso porque evitou que as

pretensões territorialistas se tornassem um entrave ou causassem problemas de

beligerância no sul da América do Sul. Além disso, ordenou a ocupação, a

exploração e a explotação do último continente do Planeta; deu aos

países-membros a possibilidade de executar pesquisas de relevância. O tratado

proíbe o uso, no continente, da energia nuclear. Por meio do Protocolo de Madri,

promove ainda a preservação do meio ambiente.

O continente antártico, por si só, representa o último bastião de preservação

existente hoje. Tudo o que lá existe é totalmente preservado. Todos os que lá

trabalham têm o firme propósito de preservar. E essa preservação é normatizada e

regulada pelo Protocolo de Madri.

No Brasil, foi elaborada a Política Antártica Brasileira, a qual define a utilidade

da Antártica para o Brasil, qual a vantagem de estarmos lá, o que devemos fazer

com ela e o que, na condição de um dos países de maior interesse na região,

podemos utilizar do continente.

Consoante com essa mentalidade nasceu o Programa Antártico Brasileiro,

que tem a característica de, dentro das limitações do País, promover a coordenação

de esforços que permita a realização de pesquisas — a pesquisa na Antártica é o

nosso principal objetivo.

O Programa Antártico Brasileiro tem o seguinte histórico: nós aderimos ao

Tratado da Antártica em 1975. Na condição de membros aderentes, a única coisa

CÂMARA DOS DEPUTADOS

que fizemos foi dizer que estávamos de acordo com conteúdo do tratado.

O tratado foi elaborado por 12 países e depois foi aberto à comunidade

internacional, que começou a aderir a ele, reconhecendo o seu valor para a

humanidade, uma vez que ele determina que só devem ser praticadas na região

ações relativas à pesquisa para a paz mundial.

A partir de 1982, após a definição da Política Antártica Brasileira e a perfeita

delineação do Programa Antártico Brasileiro, nós passamos a pensar em como

entrar no continente, como estabelecer uma base na Antártica e como realizar

pesquisas na região.

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Em 1984 começamos a montar a nossa estação. E vejam V.Exas.: como não

existe propriedade da terra no continente, nós pudemos escolher qualquer lugar

para montar a estação. Utilizamos, então, uma antiga estação inglesa que era

utilizada para caça de baleias, um trabalho logístico de desbravadores. Podemos

chamar de bandeirantes da Antártica aqueles que lá chegaram em primeiro lugar,

com meios não adaptados à região, ao clima inóspito da região, aqueles que

chegaram à Antártica, instalaram os primeiros 8 módulos da nossa estação. E daí

começamos um trabalho que hoje, com 21 anos, é de extremo sucesso,

reconhecido internacionalmente em todos os fóruns em que trabalhamos com as

nossas pesquisas.

Em 1983, foram realizadas as expedições do Almirante Câmara, Barão de

Tefé e do Prof. Besnard, e o Brasil foi admitido como membro consultivo do tratado.

Essa admissão foi um ganho político e de relações exteriores inigualáveis

para o País, tendo em vista que, como membro consultivo, o Brasil tem o direito e o

poder de sentar-se às mesas de negociações para decidir o que se vai fazer desse

continente no futuro. Somente 26 países têm esse poder; somente 26 países são

tratados como membro consultivo. E todos os anos, nas reuniões consultivas, onde

todas as decisões são tomadas por consenso absoluto, o que dá condição de

igualdade a todos os países, nós participamos e influenciamos diretamente nos

rumos que serão tomados com relação àquele continente que tem cerca de 80% de

reserva de água doce do mundo, que é, com certeza absoluta, a riqueza do nosso

futuro.

Aí está, então, a instalação inicial da base. Eram contêineres. Oito

contêineres foram colocados na estação e, a partir deles, começamos a fazer o

nosso trabalho de pesquisa. Nessa época a estação era guarnecida apenas 32 dias

por ano, devido ao desconhecimento do ambiente em que nós iríamos trabalhar e

também à falta de possibilidade de logística para apoiar essa pesquisa.

Em 1986, na Operação Antártica IV, iniciamos a ocupação permanente da

estação e, a partir daí até hoje, nós guarnecemos a estação durante todo o ano.

Essa estação recebe em média 120 pesquisadores por ano, que realizam trabalhos

nas mais diversas áreas. A estação está colocada na península antártica. Os

senhores podem ver, ela não está exatamente no continente, mas no local em que a

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grande maioria dos países possuem estação, exatamente porque nesse local as

condições não são tão ruins quanto no interior do continente. E em virtude do

trabalho realizado, nós hoje temos a estação que é considerada como modelo na

gestão ambiental da região. Todos os cuidados que o Brasil toma na proteção do

meio ambiente fizeram com que o conjunto de ações se transformasse em um

elemento de repercussão internacional favorável ao País, como preservador do

meio ambiente.

Existem pretensões territoriais na Antártica que estão, pelo tratado — e todos

aqueles que têm pretensões territoriais assinaram o tratado —, congeladas. E o

tratado proíbe também que qualquer outro membro aderente venha a solicitar

alguma pretensão territorialista.

Como os senhores podem notar, essas pretensões, que são baseadas na

projeção territorial no continente antártico, se sobrepõem. Isso significa que

fatalmente haverá conflitos de interesses, o que poderia levar inclusive a conflitos

armados. Assim, a título de mero exemplo, podemos dizer que o conflito das

Malvinas, a defesa que a Inglaterra fez por aquelas ilhas, nada mais representa do

que a garantia daquele território, que lhe permita manter suas pretensões

territorialistas na Antártica, porque daquela ilha ela faz a projeção e obtém essa

regiãozinha que se sobrepõe àquilo que a Argentina e o Chile querem e um

pedacinho do que a Noruega quer.

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Hoje temos 26 países com estações no continente, mas são 81 estações. A

nossa não é nem a menor nem a maior, é aquela que está dimensionada

exatamente para as nossas necessidades. Mas para estarmos na Antártica temos

várias parcerias, sem as quais seriam impossível realizar o Programa Antártico. Nós

temos o Ministério de Minas e Energia, que por meio da PETROBRAS nos fornece

cerca de 5 milhões de litros de óleo combustível por ano. Nós temos o Ministério do

Meio Ambiente, que além de custear pesquisas faz a avaliação do impacto no meio

ambiente daquilo que foi definido como pesquisa de interesse para o País. O

Ministério da Ciência e Tecnologia, também com o CNPq, além de pagar as bolsas

para aqueles que vão fazer pesquisas, também faz editais para possibilitar a

apresentação de pesquisas pelos nossos cientistas e paga as diárias do pessoal. A

Força Aérea Brasileira participa com 7 vôos anuais. Este ano e o ano que vem vai

participar com 8 vôos. Esses vôos antárticos são fundamentais, não somente no

verão, para o transporte do pessoal que colocamos na base chilena de Eduardo Frei

e daí transportamos para a base brasileira, mas também na época do inverno.

Esses vôos são os responsáveis pelo abastecimento da base — no inverno a única

maneira de se chegar à base é por avião — de cargas, mantimentos e remédios

para os pesquisadores que lá passam o ano inteiro. E temos também a estação

ESANTAR, convênio com a FURG — Fundação Universidade Federal do Rio

Grande. E na ESANTAR nós temos guardados todo o material que utilizamos na

Antártica. Todos aqueles que vão à Antártica passam pela FURG para receber o

seu material. Essa convivência com a universidade faz com que ela se aproxime

mais, e a comunidade científica fique mais próxima do nosso Projeto Antártico.

Além disso, temos ainda o Clube Alpino Paulista, responsável pelo

adestramento do pessoal que vai realizar tarefas de pesquisas afastadas da

estação. A importância é tão grande que, como exemplo, vou dizer aos senhores

que nos últimos 2 meses morreram 2 pesquisadores chilenos que caíram numa

fenda e 3 pesquisadores argentinos. Só nos últimos 2 meses! E nos últimos 21 anos

em que estamos na Antártica, o grande acidente que tivemos foi relativo à saúde de

um dos componentes do grupo básico. Nós nunca tivemos um acidente com os

pesquisadores, devido ao alto grau de importância que damos à segurança

daqueles que vão lá trabalhar.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Existem 2 segmentos grandes no PROANTAR. O segmento da logística tem

como base a ESANTAR, o navio de apoio oceanográfico Ari Rongel, as aeronaves

que vão embarcadas nesse navio e as aeronaves da FAB, além de termos um

centro de treinamento para a Antártica em Marambaia. Tendo em vista que o nosso

País não possui condições climáticas próximas às da Antártica, nós resolvemos pelo

menos fazer o treinamento em um lugar bonito. Então o pessoal é treinado a cerca

de 35/38 graus centígrados e depois eles atuam com esse conhecimento, na

Antártica, que trabalha também com 35 graus, só que negativos. Mas até hoje isso

tem funcionado, tem dado certo, e nós não temos tido nenhum tipo de acidente.

Gostaria de chamar a atenção para o fato de o segmento logístico ter 2

vertentes: a de infra-estrutura de apoio e a manutenção daquilo que temos. É bom

fazer essa separação porque a infra-estrutura de apoio é que possibilita os cientistas

trabalharem e a manutenção é o que preserva todo o material que nós temos de

levar para a Antártica e o material que já está na Antártica.

O outro segmento vem pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo CNPq e cai na

área científica, que também tem responsabilidade na infra-estrutura de apoio direto

à pesquisa, com a obtenção de equipamentos necessários para que os

pesquisadores possam realizar as suas tarefas; e há também o trabalho de

avaliação do mérito científico das pesquisas lá executadas. Também são cobrados

desses pesquisadores, desses doutores que lá estão, os resultados para aplicação

direta no nosso País. Esses resultados são fundamentais.

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Nós hoje trabalhamos com 120 pesquisadores, com 20 projetos por missão

anual. Trabalhamos na área de oceanografia física, química, biológica, climatologia,

meteorologia, estudo das aves, arquitetura, geologia e atmosfera. Eu poderia

chamar atenção para o fato de que, em todas essas áreas, os resultados

conseguidos têm aplicação imediata no País. Basta lembrar que o Brasil depende

do clima, visto que é extremamente agrícola; necessita de previsão meteorológica

de altíssimo nível, precisa conhecer o clima da Antártica, saber o que lá ocorre, e

que influência ele traz para o nosso País. Isso é fundamental. Além disso, a

climatologia desenvolve também um trabalho de avaliação global do impacto que a

Antártica causa. Esse trabalho é tão relevante para a humanidade que o Ano Polar

Internacional, que ocorrerá em 2007/2008, escolheu como um dos seus 2 temas

principais o trabalho desenvolvido pelo Brasil na área de climatologia: a repercussão

global do clima da Antártica no clima global.

O Ano Polar Internacional, que vai visar a uma cooperação científica entre os

países, só tem paralelo nos Anos Geofísicos Internacionais e nos Anos Polares

Internacionais anteriormente realizados. As pesquisas realizadas são

compartilhadas. Os pesquisadores podem participar de projetos de outros países.

Nós podemos receber gente de outros países. Esse intercâmbio dá nova dimensão

à pesquisa, aumenta o conhecimento, traz outros conhecimentos para o País. A

internalização desse conhecimento melhora os resultados que nós entregamos à

população.

A presença de grande número de navios de apoio aos pesquisadores vai

fazer com que as pesquisas tenham uma fase de aceleração. A projeção dos países

participantes perante a comunidade científica internacional significa que,

participando, o Brasil está dentro do contexto internacional. Se não participar, está

alijado do processo.

Que tipo de produtos gerados são do nosso interesse? Nós podemos dizer

que a influência e o comportamento das correntes marinhas antárticas. A corrente

marinha antártica é responsável por trazer nutrientes para a nossa costa. Sem

esses nutrientes não há pesca. Existe o mito de que o Brasil, com 8.550 mil

quilômetros de litoral, tem peixe em abundância. Isso não é verdade. O pescado só

existe onde existe comida. E é da Antártica que vem a comida dos peixes do

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hemisfério sul.

Além disso, a convergência antártica dos 3 mares faz com que o fenômeno

da ressurgência, que também ocorre no Brasil, possa ser estudado em maior

profundidade e, com isso, trazer conhecimento de modo a que o aproveitemos para

trazer vantagens para as populações existentes nessas regiões e para o

desenvolvimento de algumas indústrias.

O acompanhamento da camada de ozônio, uma preocupação mundial, é pela

nossa Estação Antártica há vários anos, com resultados positivos publicados em

revistas internacionais, que dão credibilidade à pesquisa brasileira e conhecimento

ao Brasil daquilo que ele necessita para vir a se proteger dos efeitos nocivos que,

por exemplo, a camada de ozônio sendo reduzida, poderia trazer.

Levantamento da existência de recursos minerais e hidrocarbonetos.

O hidrocarboneto é uma riqueza em extinção. Existem subsídios da

existência de mais de 170 tipos de minerais diferentes na Antártica. A explotação

disso está proibida até 2041, tendo em vista que em 1991 foi feito pelo Tratado da

Antártica, um break, uma proibição da explotação de recursos minerais da Antártica,

que não fossem para a pesquisa científica. E os hidrocarbonetos que existem na

região — essa é uma matéria controversa —, alguns pesquisadores garantem que

poderão sustentar o planeta por mais de 2 séculos.

A influência do clima antártico no Brasil.

Senhores, conhecer o nosso clima, saber aquilo que está sendo executado

na Antártica ou o que está tendo repercussão no nosso País vai fazer com que

tenhamos melhor previsão do tempo e isso vai dar ao nosso agricultor mais

capacidade de conhecer a época de plantação e de colheita. Para nós isso é

extremamente importante, assim como o acompanhamento das mudanças

climáticas globais, como já mencionei.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Por último, as pesquisas na área da biodiversidade marinha e o prestígio

internacional que todos esses produtos geram para o País. Os nossos

pesquisadores — eu tive a oportunidade de ver isso in loco em várias reuniões

internacionais — são muito respeitados, suas opiniões são extremamente acatadas.

Eles são ouvidos naquilo que de mais importante está se desenvolvendo em

pesquisa na Antártica.

Esta foi a parte bonita, que nos mostra a importância do programa para o

País. Trata-se de um programa estratégico, de Estado, não é da Marinha nem do

MCT. Não está limitado a um período temporal. Vamos ficar lá por mais de 200

anos, desde que continuemos realizando as relevantes pesquisas que temos feito

até agora.

Vamos falar então sobre o problema dos recursos. Temos como fonte de

recursos a dotação específica no Orçamento Geral da União, que vem atrelado ao

orçamento da Marinha. Então, tudo aquilo que acontece de ruim com o orçamento

da Marinha, e isso vem acontecendo há vários anos, reflete no Programa Antártico

Brasileiro, como o caso do contingenciamento. Temos dotação específica do Fundo

Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de outros fundos

especiais, que dão aos órgãos que tratam da pesquisa, da proteção ao meio

ambiente, a verba necessária para que eles possam realizar seus projetos. E há

financiamento de entidades e instituições financeiras públicas ou privadas, nacionais

ou estrangeiras, o que não vem ocorrendo nos últimos 30 anos, embora estejamos

lá só há 21 anos. Então, esse pedacinho aqui não acontece.

Está havendo agora participação muito forte de algumas empresas

brasileiras. Dou como exemplo a Telemar, que está instalando este ano um sistema

de comunicação brasileiro na Antártica. Por falta de recursos, utilizávamos

comunicações chilenas até este ano, o que é um absurdo para um país totalmente

desenvolvido em telecomunicações na América do Sul utilizar esse setor de outro

país. E mesmo assim não tivemos recursos para fazê-lo. Precisamos que a Telemar

venha graciosamente fazer a instalação desse sistema. Esse é apenas um dos

exemplos. Temos outros com a Caixa Econômica Federal, que está realizando a

instalação de um novo sistema de esgoto e por aí vai, dependendo do esforço que

fazemos junto ao empresariado.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

O orçamento para a logística do Programa Antártico Brasileiro, já com valores

reduzidos a reais, em 1990 era da ordem de 8 milhões. Em 1994 aconteceu algo

semelhante ao que está acontecendo agora, e as manchetes dos jornais diziam que

o Programa Antártico iria parar por falta de recursos. E começou haver brutal queda

no orçamento.

Em 2005 os senhores estão vendo o orçamento um pouco mais elevado, mas

isso foi decorrente de emendas Parlamentares para favorecer a Marinha no

Antártico. O comandante da Marinha, reconhecendo a estratégica importância do

programa, adiantou o dinheiro das emendas Parlamentares, que não se

concretizaram em recursos ao final do ano. Isso significa que o comandante da

Marinha retirou dinheiro da atividade-fim, promessa que ele fez à Nação brasileira

de aprestamento dos meios navais para colocar em um programa de Estado. Isso

não poderá se repetir. E a previsão de verba para 2006, na faixa de 2 milhões de

reais, será incapaz de dar continuidade ao Programa Antártico em sua plenitude, o

que é temerário, uma vez que vamos ter de começar a preparar a parcial paralisia

do programa ou, no futuro, sua total paralisia.

Com essa redução deixamos de fazer muitas coisas no que diz respeito à

logística, à infra-estrutura de apoio e à manutenção. O que temos hoje? Todo nosso

material está degradado, são péssimas as condições de habitabilidade, estamos

perdendo a capacidade de controlar o esgoto produzido na Antártica, não temos

condições de controlar a incineração do lixo, de dar ao pesquisador mais condições.

E isso vai fazer com que percamos espaço na comunidade científica internacional,

na própria estação e no navio que realiza o apoio.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

O mesmo processo de redução de verbas ocorre na área científica. Vejam os

senhores que estamos trabalhando com soluços, que dependem muito do esforço

pessoal daqueles que trabalham nos órgãos de financiamento da pesquisa. Esses

soluços dão uma incerteza ao pesquisador da possibilidade de continuar a pesquisa

no ano seguinte. Isso é péssimo para a pesquisa. Ele não tem idéia se no outro ano

vai poder desenvolver o trabalho dele. E hoje teremos um soluço negativo porque a

previsão que temos de bolsas no CNPq e do custeio, capital e das pesquisas do

MMA está reduzida a uma quantidade de dinheiro muito pequena, o que obriga o

corte em projetos de pesquisa. Porém, temos um edital do CNPq que nos coloca 1

milhão e 640 mil, que vão proporcionar uma melhora naquilo a ser realizado em

2006.

Para resolver isso, não temos alternativa a não ser corrigir os defeitos

anteriores e os déficits criados nos anos anteriores, como está discriminado nesta

planilha. Percebam os senhores que são coisas básicas, como abastecimento,

roupas especiais, treinamento pré-Antártico, que garante a segurança das pessoas,

manutenção do sistema de telefonia, um programa de revitalização da estrutura da

estação, manutenção da lancha de pesquisa, que praticamente não se consegue

operar hoje, modernização de equipamentos, etc.

Então, afirmo que preciso de 10 milhões de reais para fazer a tarefa que me

compete e recuperar aquilo que foi perdido nos últimos anos.

Depois disso, para 2007 e 2008, já avaliamos em 8,5 milhões de reais a

quantia necessária de recursos para que continuemos a recuperação, que não pode

ser feita de uma só vez. Lá, só conseguimos trabalhar durante o verão. No inverno,

ninguém consegue trabalhar fora da estação. Daí a divisão orçamentária em 10

milhões para 2006; 8,5 milhões para 2007; 8,5 milhões para 2008 e, a partir de

2009, voltaríamos à situação de normalidade e ficaríamos com o custo de 6 milhões

para manter a estação e a condição de membros consultivos do tratado. E, ao

chegarmos a 2041, cairá a situação de exploração do continente e poderemos

explotá-lo, e devemos estar lá em condições de fazer isso. Se perdermos a estação,

vamos ficar do lado de cá olhando outros países explorarem essas riquezas e esses

conhecimentos.

A situação atual da estação, para que os senhores tenham uma pequena

CÂMARA DOS DEPUTADOS

idéia, é de corrosão de piso e corrosão de tanques de óleo combustível. Um

derrame de óleo combustível vai me dar um prejuízo de 1 milhão de uma moeda

chamada SDR, que dá na faixa de 3 milhões de dólares. Nós assinamos o tratado,

temos um acordo internacional e, se causarmos um acidente ecológico dessa

natureza, vamos pagar esse prejuízo.

Temos corrosão nos pisos do heliponto. Se eu perco o heliponto, não consigo

transportar mais ninguém para lá, a não ser de barco. As condições meteorológicas

na Antártica mudam de meia em meia hora. Não sabemos se o vento, que está

agora em zero, daqui a 15 minutos poderá estar a 160 quilômetros por hora. Então,

preciso de aeronaves, preciso de apoio, preciso resgatar alguém com problema de

saúde grave. Aí a situação do piso do heliponto.

Deterioração do sistema de amortecimento.

O vento faz tremer a estação e esse sistema de amortecimento é

fundamental para evitar que um módulo destes saia voando ou coisa parecida.

Infiltrações internas.

A estação é de madeira e está completamente infiltrada. A corrosão nas

esquadrias faz com que entre o frio e as condições de habitabilidade da estação

caem de maneira degradante.

Desgaste do revestimento dos pisos internos. O carro de encalhe que nos

utiliza a lancha para trabalhar está avariado. A lancha que faz as pesquisas na área

da Baía do Almirantado está avariada. As motos de neve que levam os

pesquisadores a outras áreas para realizar pesquisas estão avariadas. As roupas

especiais, compradas nos Estados Unidos, estão rasgadas. As luvas especiais, que

permitem que eles sobrevivam realizando pesquisas, estão deterioradas. Tudo isso

é dinheiro.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Mais ainda: o sistema de tratamento de esgoto está nestas condições; o

sistema de proteção de incêndio, o sistema de incineração e o sistema de

comunicações que, graças a Deus, a Telemar vai resolver este ano.

Ainda este ano, ocorreu um afundamento de piso do banheiro do Centro de

Processamento de Dados e dos pisos da Biblioteca e dos camarotes 14 e 15.

Cortamos o orçamento, não pudemos fazer a manutenção que deveríamos, por isso

está havendo a degradação. Estamos perdendo a nossa estação. Ou tomamos uma

atitude para recuperá-la, ou vamos perdê-la. Sem ela não há Membro Consultivo do

Tratado da Antártica, não há como lutar por direitos, riquezas para a Nação

brasileira e futuras gerações.

Qual a nossa prospectiva? Mantida a atual situação, não havendo nenhuma

ação diferente a fim de captar recursos para este programa, passaremos a correr

riscos indesejáveis quanto à segurança do pessoal. Eu, enquanto for Secretário da

SECIRM, não arrisco a vida de um pesquisador, que leva 40 anos para ser

construída. Constrói-se uma estação em 2 anos, um pesquisador, em 40. Se houver

risco para todo o pessoal, prefiro paralisar o programa. Não quero perder um

cientista.

E a integridade do navio? Quando vamos para a Antártica, não dispomos de

postos de gasolina, oficina mecânica nem de estaleiro para fazer reparos. Nos

últimos anos, fazemos reparo apenas nos sistemas vitais do navio. Os demais

sistemas não estão sendo reparados. Isso faz com que diminua a vida útil do navio.

Não existe planejamento para sua substituição. Sem o Ari Rongel não há Programa

Antártico Brasileiro. Está incluído naqueles 8,5 milhões a recuperação de sistemas

do navio e da própria estação, conforme situação aqui demonstrada.

Com reflexos negativos para a imagem que o Brasil projeta por sua atuação

naquele continente, não nos restando alternativa, contra a nossa vontade, chorando

lágrimas de sangue, depois de 22 anos de trabalho de brasileiros que foram para

aquela região inóspita e levantaram essa égide para o País, vamos ter de reduzir o

programa e, talvez, até paralisá-lo totalmente.

Isto significa regressar a 1940. E tenho certeza de que este não é o desejo de

ninguém. Deve ser estabelecido um processo orçamentário que garanta a

continuidade de recursos. Não podemos mais trabalhar no sentido de um dia termos

CÂMARA DOS DEPUTADOS

recursos porque alguém conseguiu; temos de dele dispor porque estão previstos no

PPA e serão liberados, a fim de garantir a continuidade dos programas.

As soluções que visualizamos passam por alguns aspectos bastante

interessantes.

Em primeiro lugar, deixar de atrelar o reforço de orçamento do PROANTAR

ao orçamento da Marinha. Como todos sabemos, o orçamento das Forças Armadas

são contingenciados. No momento em que o orçamento do PROANTAR vem

atrelado ao orçamento da Marinha e recebe o contingenciamento, o comandante da

Marinha, por mais importância que atribua ao Programa Antártico Brasileiro, não

pode esquecer que tem como obrigação o aprestamento dos meios navais, tem que

dispor de uma Marinha para defesa da soberania, para cumprir aquilo que

determina a Constituição. E o PROANTAR não é uma atividade-fim da Marinha.

Então, recai sobre ele maior parcela de contingenciamento. Por isso, temos de

desatrelar este reforço orçamentário do orçamento naval.

Há duas linhas de ação, uma emergencial, conforme situação que acabei de

demonstrar, outra definitiva.

Como ação emergencial propomos destaque de crédito a curto prazo. E tem

de ser destaque de crédito, tem de vir do Orçamento da União, separado dos

orçamentos dados atualmente: os 10 milhões e os 8,5 milhões, nesses 2 anos.

Por iniciativa do comandante da Marinha, o Ministério da Defesa tem

conhecimento desses valores e da atual situação do nosso programa. Para que

servirá esse dinheiro? Para revitalizar a estação, trazê-la de volta à

operacionalidade; recuperar o Navio de Apoio Oceanográfico Ari Rongel, fazendo

com que tenha sua vida útil estendida, a fim de garantir a continuidade do programa;

permitir o apoio de infra-estrutura de pesquisa, os laboratórios estão em péssimas

condições; fazer a manutenção normal da estação, que consome aqueles 6 milhões;

e a partir de 2009 manter os 6 milhões para a vida natural do programa na área de

logística.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Há ainda a linha de ação definitiva — idéia aprovada pelo Ministro da Ciência

e Tecnologia, mas que precisa de apoio político para sua realização —, qual seja, a

criação de fundo setorial para os recursos do mar, abrangendo tudo aquilo que faz a

CIRM, por parcelas dos fundos já existentes, porque não podemos criar outro

imposto para sustentar o PROANTAR. Devemos reconhecer as ações dos fundos

setoriais existentes favoráveis a esse tipo de pesquisa, retirar parte do dinheiro a

eles destinados e montar esse novo fundo setorial. Por exemplo, poderíamos contar

com parcela do fundo setorial aquaviário, do fundo setorial mineral, entre outros.

Posso afirmar aos senhores que todos os programas da CIRM podem ser

levados a cabo dentro da potencialidade do País.

O valor não ultrapassa 25 milhões de reais por ano, dentro do estabelecido

para o País, competindo com a inserção social, com o desenvolvimento sustentável,

com outras obras de grande importância. Se temos ações para os programas da

CIRM em cada fundo, queremos pegar uma parcela do dinheiro, criar um fundo

setorial, cujo comitê gestor seria formado por esses órgãos atuantes, quais sejam,

Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Meio Ambiente, CNPq, a CIRM e a

Marinha do Brasil, representando o Ministério da Defesa, para dizer em que seria

gasto o dinheiro, seguindo as linhas de ação de pesquisa dadas pelo MCT,

seguindo aquilo que o MMA diz que deve ser protegido em termos de meio

ambiente e proporcionando apoio logístico necessário para que tudo possa ser

realizado.

Senhores, não existe país soberano sem pesquisa. Vou repetir: não existe

país soberano sem pesquisa. A dependência tecnológica faz com que o país seja

refém daqueles que desenvolvem pesquisa. O Programa Antártico Brasileiro deve

ser considerado um instrumento de projeção da nossa imagem no cenário mundial e

de demonstração à comunidade internacional, sobre o firme interesse do País

naquele continente. Isso garante nossa participação no processo de discussão

sobre o futuro da região, que vai trazer benefícios diretos ao País, não apenas

emprego, mas também conhecimento para melhorar a situação brasileira,

colaborando com todas as linhas de ação governamental fartamente distribuídas em

todos os PAs, como é o caso da inserção social, no que diz respeito à pesca e a

outros assuntos, como também no caso do desenvolvimento sustentável, no que diz

CÂMARA DOS DEPUTADOS

respeito à climatologia, à pesca e tantos outros temas.

Agradeço a todos a atenção.

Muito obrigado. (Palmas.)A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Agradeço ao

contra-almirante José Eduardo Borges de Souza a sua brilhante exposição. Ficamos

sensibilizados com a situação da nossa base na Antártica.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Registro a presença do comandante Vasques, da Assessoria Parlamentar do

Ministério da Marinha; do comandante Jorge Faria Franco Júnior, Coordenador do

5ª Vôo Antártico neste ano; do Dr. Jefferson Cardia Simões, cientista, glaciólogo,

professor da Universidade do Rio Grande do Sul e integrante do Comitê Nacional de

Pesquisas Antárticas do Ministério da Ciência e Tecnologia; dos oficiais da Marinha

do Brasil; dos integrantes da SECIRM; do capitão-de-mar-e-guerra José Eduardo

Martins Pinto; do capitão-de-fragata José Renato; capitão-de-fragata Dário Pereira

Paes Filho; do capitão-de-corveta José Faria Franco; do capitão-de-corveta Carlos

Frederico Freitas; e do capitão-de-mar-e-guerra José Antônio Teixeira, além dos

assessores parlamentares aqui presentes.

Agradeço também a presença aos Parlamentares integrantes desta

Comissão ou não, Zequinha Marinho, Lupércio Ramos, Vieira Reis, Maninha, Nilson

Mourão, Luiz Sérgio, Josué Bengston, Natan Donadon.

Encerrada a exposição, peço ao Deputado Lupércio Ramos, do Amazonas,

que me substitua na Presidência, para que eu possa falar em nome dos autores do

requerimento para a realização desta reunião.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Com a palavra a nossa

eminente Presidenta, Deputada Maria Helena, que fará a saudação ao

contra-almirante José Eduardo pela extraordinária exposição feita sobre assunto de

grande importância para o nosso País, motivo de orgulho e de tristeza por vermos

não só esse programa, mas a própria Marinha se debatendo com a falta de recursos

e o visível sucateamento de patrimônios essenciais para o País.A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Sr. Presidente, em nome da

Deputada Ann Pontes, autora do requerimento que motivou esta audiência pública,

agradeço a presença e a exposição ao contra-almirante José Eduardo, Secretário

da SECIRM, que veio aqui nos falar sobre o Programa Antártico Brasileiro,

desenvolvido na Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz.

Sabemos que por meio do PROANTAR o Brasil tem desenvolvido pesquisas

científicas de grande importância, que o trabalho produzido a partir dessas

pesquisas propicia o reconhecimento do País como parte consultiva do Tratado da

Antártica.

Ressalto a importância da presença brasileira naquela região, não só pelas

CÂMARA DOS DEPUTADOS

pesquisas que o Brasil vem realizando, mas também por estar afirmando nossa

posição estratégica na região.

Nossa base, como o contra-almirante José Eduardo nos disse, está situada

naquele ambiente distante, inóspito, ainda que de uma natureza imensamente bela,

mas nossas instalações já estão deterioradas. Lá, nossa equipe, composta por

pesquisadores, cientistas, militares, demonstra patriotismo e espírito público. As

pessoas passam meses isoladas, alguns até anos. Elas realmente são o

testemunho da nossa capacidade de enfrentar dificuldades e vencê-las com

dedicação e profissionalismo. Muitos Parlamentares desta Comissão, alguns aqui

presentes, já tiveram a oportunidade de testemunhar isso.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Em nome da ciência e da participação efetiva do Brasil, esses homens e

essas mulheres cientistas e militares da Marinha dedicam-se ao estudo de uma

região cujo papel, no futuro da nossa civilização, será muito importante, pelas

incalculáveis reservas que temos lá, de minerais, biológicas e de água doce, como

V.Sa. disse. Esse trabalho, nas condições climáticas globais de hoje, é o alvo

principal das nossas pesquisas científicas. Portanto, é preciso que o Governo

brasileiro dê mais atenção a esse programa.

Somos 1 dos 45 signatários do Tratado de Madri, 1 dos 27 membros do seu

Conselho Consultivo, 1 dos 19 que lá instalaram suas bases. E temos

responsabilidade com essa posição que já conquistamos. Nós Parlamentares temos

responsabilidade com essa posição que o Brasil conquistou. E cumprir com essa

responsabilidade significa não negligenciarmos, por exemplo, a destinação dos

recursos necessários não apenas para manter aquela base na região, mas também

expandir o PROANTAR.

Não é possível que o Brasil continue desenvolvendo essas pesquisas e

mantendo lá brasileiros nessas condições que V.Sa. acabou de nos mostrar e que

tivemos a oportunidade de constatar no último mês de maio. Os laboratórios e

equipamentos estão obsoletos, sem condições de modernização, em função do

minguado orçamento destinado ao PROANTAR.

O senhor disse bem que estamos perdendo nossa estação. Infelizmente,

essa é uma realidade. A grandeza desse programa, sua importância científica e

mesmo geopolítica não pode ficar submetida a uma avareza orçamentária. Nós aqui

estamos falando de recursos ínfimos. Não se trata de um grande aporte de

recursos. Pior: além de ínfimos, eles ainda são contingenciados.

Por essa razão, entendo de grande importância a realização desta audiência

pública, para que possamos, no momento em que vamos definir o Orçamento para

o ano que vem, contemplar com o que é efetivamente necessário esse programa,

de enorme importância para o Brasil.

Agradeço a presença a V.Sa., para fazer contato com Parlamentares que já

estiveram lá e outros que ainda não estiveram, mas que têm grande interesse na

continuidade dessas pesquisas.

Muito obrigada.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Antes de passar a

Presidência à Deputada Maria Helena, registro a presença do pesquisador Jefferson

Cardias Simões, que, além de pesquisador do projeto, ainda é um entusiasta pelo

programa. Registro ainda a presença da Senadora Heloísa Helena, que deve unir-se

a esta Comissão, de alma e coração, para ajudar a salvar esse belo programa

brasileiro.

Convido a Deputada Maria Helena a reassumir a Presidência dos trabalhos.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Agradeço a presença à

Senadora Heloísa Helena.

Concedo a palavra à Deputada Maninha.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

A SRA. DEPUTADA MANINHA - Bom dia, contra-almirante José Eduardo.

Sou uma das privilegiadas que foram ao PROANTAR, à nossa base, e mesmo

antes de ter ido já estava convencida da importância principalmente daquilo a que o

senhor acaba de se referir: um país que não investe em educação e pesquisas está

fadado a não crescer, a não ter desenvolvimento. Portanto, fico muito sentida

quando, todos os anos, realizamos audiências em nossas Comissões para que o

programa possa ser exposto e para convencer Parlamentares a lutar no Orçamento

por emendas individuais e coletivas de Comissões para garantir recursos para um

programa que considero um dos mais importantes para nosso País.

Creio que todos nós que estivemos presentes lá sabemos de sua

importância. Mas este Congresso Nacional tem de se convencer, de forma coletiva,

de que temos de mudar essa metodologia e caminhar por essa trilha que o senhor

acaba de mencionar, para garantir, de fato, recursos perenes, para que o programa

possa sobreviver.

Não poderei ficar aqui até o término da audiência, mas quero deixar à sua

disposição e à disposição do Ministério da Defesa e da Marinha meu propósito de

lutar para que não haja contingenciamento e que se defina, de uma vez por todas,

recursos perenes para o programa.

Estamos aqui, o Deputado Nilson Mourão, Vice-Presidente da Comissão de

Relações Exteriores, e eu para discutir também na Comissão como nos portaremos

neste ano para garantir recursos e para que eles não sejam contingenciados. Não

adianta disponibilizar os recursos, e quando chegarmos próximo ao final do ano,

eles não serem liberados.

Portanto, o senhor pode contar conosco. Sou uma soldada orientada pela

Marinha para lutar nessa ação. Tenho certeza de que o senhor tem hoje aqui um

reforço muito maior. O senhor tem 3 mulheres convencidas — tenho certeza de que

a Senadora Heloísa Helena, assim como a Deputada Maria Helena e eu estaremos

à disposição para trazer mais recursos para o programa.

O convencimento sobre a importância do programa não é mais necessário. Já

estamos convencidos dela há muito tempo. Precisamos agora convencer o Governo

a aportar recursos não apenas para que ele seja efetivo, para que possa ser

mantido. Lamento profundamente que nossa estação tenha chegado à atual

CÂMARA DOS DEPUTADOS

condição. Não é possível que não consigamos garantir recursos neste ano.

Conte conosco. Tenho certeza de que o Deputado Nilson Mourão, comigo, na

Comissão de Relações Exteriores, vai brigar não só pela emenda de Comissão, mas

por essa trilha que o senhor acaba de nos apontar.

Deixo aqui minha disposição e meu abraço.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Obrigada, Deputada

Maninha.

Também registro a presença do Deputado Maurício Rebelo, do Tocantins, a

quem agradeço a presença.

Com a palavra o Deputado Nilson Mourão.

O SR. DEPUTADO NILSON MOURÃO - Querida Presidenta Deputada Maria

Helena, cumprimento V.Exa. e manifesto minha alegria de participar desta

audiência. Vejo com muita alegria as iniciativas desta Comissão, tão dinâmica,

tendo à frente essa querida Deputada.

Contra-almirante, é um prazer poder, como Vice-Presidente da Comissão de

Relações Exteriores e suplente desta Comissão, participar desta audiência. Sou da

região amazônica, do Acre, mas estou aqui com grande honra.

Tive a oportunidade de participar de algumas missões, visitando programas

que têm à frente comandantes militares. Visitei Aramar, que desenvolve o programa

de submarinos; tive a oportunidade de visitar um programa que as Forças Armadas

desenvolvem no Calha Norte.

Todos esses programas que estão sendo desenvolvidos, além do Programa

Antártico, que pude ver pela primeira vez na sua exposição, de fato, não são das

forças militares, nem de um Governo. São do povo brasileiro, do Estado brasileiro.

Desenvolvem pesquisas, muitas vezes programas estratégicos e sociais de grande

importância.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Cumprimento, portanto, o senhor, que está à frente do Programa Antártico

Brasileiro, e externo minha alegria de ver o trabalho que está lá desempenhando.

Desde já, coloco-me à disposição do senhor e daqueles que desenvolvem

esse programa para darmos suporte orçamentário, a fim de que o mesmo possa ser

idealizado.

Os programas militares normalmente são estratégicos e, por isso, têm

expressivos custos, mas precisam ser mantidos. O senhor disse claramente que

para o próximo ano serão necessários recursos da ordem de 10 milhões de reais,

mas estão previstos apenas 2 milhões de reais.

Certamente, o Governo Lula e o Ministro estão comprometidos com essas

áreas. Não sei se conseguiremos atingir o ponto ideal, mas faremos de tudo para

dar continuidade ao programa. O senhor pode estar certo de que poderá contar não

só com a Comissão de Meio Ambiente, mas também com a de Relações Exteriores

e a de Ciência e Tecnologia.

Ao encerrar, ficaria feliz e honrado se pudesse integrar a comissão de

Parlamentares que visitará a Antártica para defender com mais garra e entusiasmo

o Programa Antártico Brasileiro.

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Com a palavra o Deputado

Zico Bronzeado, do Acre.O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sra. Presidenta, contra-almirante

José Eduardo, Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs. Senadores, para nós, do Acre,

esta palestra é fundamental. Muito nos preocupamos com as florestas, com os rios,

com a biodiversidade, mas, ao mesmo tempo, devemos também nos lembrar da

Antártica, onde vem sendo desenvolvido importante programa, o qual devemos

tomar conhecimento.

Defendemos a Amazônia e temos a obrigação também de defender a nossa

Pátria com o programa que vem sendo desenvolvido na Antártica. Assim como disse

o Deputado Nilson Mourão, conhecemos algumas áreas onde as Forças Armadas

operam, como por exemplo a da Amazônia.

Tenho curiosidade de conhecer o Programa Antártico Brasileiro, mas como a

viagem é com data marcada, talvez não possa ir por compromissos de agenda. Mas

CÂMARA DOS DEPUTADOS

todos os Deputados desta Comissão deveriam conhecer in loco o trabalho que vem

sendo desenvolvido.

Para que eu possa defender com ênfase o PROANTAR nos Ministérios

competentes, é necessário pisar na Antártica, a fim de ter fundamentos para

apresentar ao Governo. Faço parte da base de apoio do Governo Lula, sou do

Partido dos Trabalhadores, e tenho grande interesse em falar a S.Exa. sobre a

importância desse belíssimo programa. Não podemos nos omitir. Há 25 anos o

Programa Antártico Brasileiro vem sendo desenvolvido, ou seja, não foi da noite

para o dia.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Deixo, portanto, meus cumprimentos ao contra-almirante José Eduardo. A

partir de agora seremos defensores assíduos desse programa. Desde já, coloco-me

à disposição da Comissão e de V.Sa. para quaisquer reivindicações que se fizerem

necessárias.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Passarei a palavra ao

expositor para suas considerações.

Em seguida, faremos um bloco de 3 Parlamentares, dando a palavra

inicialmente à Senadora Heloísa Helena.

Com a palavra o contra-almirante José Eduardo Borges de Souza.

O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Muito obrigado.

Sr. Presidente, inicialmente, agradeço a todos a presença.

Comentarei o que particularmente considerei o mais importante. Ao ver as

mulheres sentadas à frente, passei a ter dimensão diferente de como os

Parlamentares podem encarar o Programa Antártico Brasileiro. Nutro grande

admiração pela Senadora Heloísa Helena, sem dizer se concordo ou não com a

posição de S.Exa., mas a parabenizo pela garra, força e disposição. O mais

importante é como defende o seu ponto de vista, e se esse estiver aliado à defesa

do Programa Antártico Brasileiro, para nós será fantástico e fundamental também

contar com a sua colaboração juntamente com as Deputadas Maninha e Maria

Helena.

Alguns Parlamentares aqui são da área da Amazônia, e a Antártica fica no

pólo sul. Para entendermos um pouco qual a relação entre as duas regiões,

explicarei o fenômeno da friagem, que é proveniente da Antártica. Como

reconhecê-lo, saber quando ele ocorre, preparar a população, saber o que acontece

nesse período, quais suas repercussões, como se proteger dele ou como

aproveitá-lo, tudo é resultado de pesquisa na Antártica.

O povo brasileiro vai do Rio Grande do Sul até o Acre, passando lá por cima.

E vejam bem: hoje, a nossa pesca é escassa e não temos o hábito de comer

pescado, o resultado das pesquisas na Antártica fazem melhorar as condições de

conhecimento — estou evitando usar a terminologia dos cientistas, até porque não

sou cientista e levei pelo menos 8 meses para me habituar com 4 ou 5 palavras —,

mas coisas como, por exemplo, o saber da biomassa, estabelecer o período de

CÂMARA DOS DEPUTADOS

defesa, proteger essa riqueza para fazer com que o povo brasileiro possa usufruir

dela eternamente e não venhamos a destruí-lo com a caça predatória é importante.

Tudo isso tem a ver com a pesquisa realizada na Antártica.

Outro detalhe importante que se deve frisar diz respeito aos pesquisadores

que vão à Antártica por dedicação. É incrível alguém ir para aquela região, que é

muito linda — o Deputado já esteve lá —, durante 30, 40 minutos, 1 hora. Mas ficar

durante vários dias, ter de suportar temperaturas de 35 graus negativos, com ventos

de 180 quilômetros de por hora, sair para fazer pesquisas e correr determinados

riscos e ganhar apenas 50 reais por dia, só mesmo com dedicação. Isso é aquilo

que os pesquisadores e nós temos de melhor, e o que temos de melhor é o fato de

sermos brasileiros e vermos esses exemplos, nos espelharmos neles e virmos aqui

com a mesma emoção e o mesmo ímpeto tentar defender o trabalho deles que

resultará em prol do nosso povo e defenderá uma riqueza para o nosso futuro. Não

é algo para amanhã, mas para as novas gerações.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Reserva de água doce, reservas minerais, sejam lá quais tipos de reserva

existem no extremo do planeta, que até hoje não estão confirmadas, que os

pesquisadores discutem e brigam, não me importo. Mas, na condição de brasileiro,

de potência sul-americana, faço questão de estar dentro do processo. Seria terrível

para o Brasil ver outro país — sem desmerecimento algum — com menor

capacidade, com menor potencial, com menor quantidade de pesquisadores, estar

dentro do processo e ficarmos dele alijados por ridícula quantidade de dinheiro.

Agora está em 10 milhões de reais porque deixamos chegar a esse ponto. Nós

somos os responsáveis por isso.

Temos de trabalhar, não podemos perder o ímpeto e temos de correr para

conseguir solução que dê continuidade ao programa. Chega de soluço. Não adianta

mais ficar trabalhando e pensando que talvez o ano que vem ou o outro iremos

encontrar uma solução. Isso não funciona.

Como disse a Deputada Maninha, devemos conseguir recursos

orçamentários, desde que estejam desatrelados do Orçamento da Marinha. Se for

jogado no Orçamento da Marinha, estarei ao lado do meu comandante de Força

para que ele invista o dinheiro para aprestamento dos nossos meios navais, nossa

precípua tarefa. Deve existir ação específica para o Programa Antártico Brasileiro.

Deve-se investir dinheiro no programa para obter tais resultados. Cabe ao MCT

cobrar tais resultados, estabelecer as linhas de pesquisa, ao MMA estabelecer a

proteção e à Marinha dar o necessário apoio logístico e permitir que isso seja

idealizado.

Ressalto que a estação está acabando, que o navio está acabando e que, se

não tivermos recursos, iremos parar o período de invernada, o que reduz em muito

as nossas pesquisas. Se paralisarmos em 1 ano, 2 anos o programa, não adianta

depois olhar para a parede ou ajoelhar no milho, porque teremos jogado fora o

esforço de 22 anos de trabalho de brasileiros desprendidos que foram para aquela

região e montaram o que temos lá hoje. É nossa responsabilidade preservar isso.

Os nossos antecessores foram os responsáveis por essa obra. Por isso temos a

obrigação de passar para aqueles que nos sucederem, as futuras gerações, algo de

útil. Devemos deixar de ficar preocupados com o passado, olhar para o futuro e dar

condições de os planos serem implementados.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Estou muito satisfeito com a presença dos senhores. Tenho no coração a

imagem de que não vamos deixar morrer o Programa Antártico Brasileiro.

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Passo a palavra à

Senadora Heloísa Helena.A SRA. SENADORA HELOÍSA HELENA - Em primeiro lugar, saúdo a

Deputada Maria Helena, os Srs. Parlamentares e todos os que compõem a

Comissão da Amazônia. É uma alegria ver o Contra-Almirante José Eduardo

participar desta audiência e contribuir para o debate.

Ressalto ainda que a assessoria parlamentar da Marinha é muito eficaz,

porque eu não tive conhecimento desta audiência, mas coincidentemente estava

participando de outra reunião na sala em frente, discutindo outro tema igualmente

importante para a soberania nacional, o petróleo. Eles me avisaram sobre esta

audiência, e fiz questão de vir participar.

Desejo dar o meu testemunho. Já visitei a Antártica no período — se é que se

pode estabelecer hierarquia em relação a ambiente inóspito — mais frio do ano.

Aliás, alguns até dizem ser o período em que nem os pingüins lá ficam porque têm

mais juízo do que nós. Quem quiser ver os pingüins deve ir até lá em outra época do

ano.

Como o Contra-Almirante disse, é um lugar muito bonito e especial. O azul

melancólico do mar congelado é completamente diferente do mar que estamos

acostumados a ver. O imenso silêncio branco é algo maravilhoso. Para quem está lá

é muito difícil viver o dia-a-dia, e já o foi mais ainda quando os pesquisadores e

militares sequer podiam se comunicar com suas famílias via Internet ou de qualquer

outro modo.

Na missão de que fiz parte, tivemos de esperar 3 dias para ver se o tempo

melhorava para poder pousar na Antártica. O clima não ajuda. Os ventos são muito

fortes, e tivemos até um problema com o trem de pouso do nosso resistente avião

Hércules.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

A primeira vez que vi aquele imenso bloco branco de gelo no mar —

lembrei-me até de quando estudei matemática e havia a velha polêmica de

Pitágoras, se há 500 anos antes de Cristo existia massa de terra embaixo para

controlar o continente do norte — incrustado no azul melancólico do mar,

completamente diferente, foi uma emoção muito grande. Não conseguimos pousar.

Tentamos por 3 dias, e, finalmente, conseguimos pousar.

Não é uma coisa fácil, é muito difícil, muito. Para os militares e pesquisadores

que lá estão, não é fácil. É um projeto muito difícil de ser viabilizado, até porque o

tratado da Antártida não estabeleceu estruturas permanentes, e isso ficou sob a

responsabilidade, ou à mercê da responsabilidade, que poderia não existir, das

chamadas partes contratantes, que eram os países. Ou seja, acabou-se deixando

para a responsabilidade, ou não, dos países que lá estão.

As pesquisas lá desenvolvidas são muito interessantes, como a sobre

doenças crônicas degenerativas. Muitas dessas pesquisas poderão auxiliar na cura

e tratamento de doenças gravíssimas, como o câncer. Também dão conta da

conservação dos recursos vivos marinhos; do monitoramento das focas, da

discussão sobre a extração mineral na região. Então, são projetos muito importantes

que lá estão sendo desenvolvidos de uma forma muito resistente, especialmente

pela Marinha e pelos pesquisadores de várias instituições públicas espalhadas pelo

Brasil que disponibilizam seus quadros técnicos.

Sinto-me na obrigação e já tive a oportunidade de apresentar emendas ao

Orçamento, em nossas emendas individuais, para o projeto, mas, como o

Contra-Almirante José Eduardo disse há pouco, não é justo. O Parlamentar

apresenta uma emenda ao Orçamento, e o Governo pode fazer de conta que libera,

enquanto esvazia o Orçamento próprio da Marinha. Então, do mesmo jeito que não

resolve o problema nós apresentarmos emendas e o Governo — qualquer Governo

— não executá-las, também não resolve ele acabar executando apenas no caso dos

Parlamentares que são da sua base de sustentação.

Eu estava aqui brincando com os Parlamentares e disse que os homens

estão muito fracos na foto, porque acabou que as 3 Parlamentares é que foram

citadas pelo Contra-Almirante José Eduardo. (Risos.)O projeto tem muito mais do que o meu respeito e a minha solidariedade:

CÂMARA DOS DEPUTADOS

pode contar com o meu empenho, o da Deputada Maria Helena e de todos os

Deputados desta Comissão. Naquilo que entenderem que podemos ajudar no

Senado, como na articulação com vários outros Senadores, tem o nosso total

empenho, e proponho que façamos exatamente isso.

Eu fiquei triste quando cheguei lá e vi a resistência das pessoas. Para que

pudéssemos chegar à base brasileira, tivemos que pedir emprestado o helicóptero

da base chilena.

Sei que em pesquisa, ciência, tecnologia, nas Forças Armadas, naquelas

políticas que são a razão de existir do Estado brasileiro, que são justamente aquelas

que não podem ser disponibilizadas por outros, terceirizadas ou qualquer outro

nome que se queira dar, aquilo que é da essência do aparelho de Estado, a sua

razão de existir, não podemos tratar com contingenciamento; com tudo isso que de

racionalidade nada tem, nem de lógica de administração pública nem de

razoabilidade.

Parabéns ao Vice-Presidente que estava conduzindo o trabalho e a todos os

Parlamentares que fazem parte desta Comissão. De uma forma muito especial dou

meus parabéns à Marinha, à Aeronáutica e a todos os pesquisadores que integram

o PROANTAR.

Não vou poder ficar mais tempo porque tenho uma agenda na Comissão

Parlamentar de Inquérito, mas me senti na obrigação, e o faço com alegria, de estar

aqui e dar um brevíssimo testemunho, insignificante, tendo em vista a grandeza

desse projeto e do compromisso social, da responsabilidade dos militares e dos

pesquisadores que fazem parte do PROANTAR.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Sra. Presidenta, muito obrigada a V.Exa. por me dar a possibilidade de

prestar este brevíssimo testemunho.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Senadora Heloísa Helena,

a participação de V.Exa. é da maior importância e por isso nós agradecemos.

Sabemos do seu compromisso com o PROANTAR e, por esse motivo, no dia 28 de

setembro, encaminhamos um convite a V.Exa. para participar desta audiência

pública, convite esse recebido por sua assessoria. Acho que por uma falha de

comunicação somente hoje V.Exa. tomou conhecimento desta reunião.A SRA. SENADORA HELOÍSA HELENA - Mas a sua assessoria foi

implacável. Junto com a assessoria da Maria, foram implacáveis. (Risos.)A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Mais uma vez

agradecemos a V.Exa. a presença.O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Senadora, em primeiro

lugar, parabéns pelo seu conhecimento no que diz respeito às pesquisas, assunto

que não mencionei aqui.

Realmente, o enfoque dado às pesquisas não é de se alcançar objetivos a

curto prazo, mas a médio e longo prazo. Muitas coisas estão sendo trazidas para

dentro dos nossos centros de pesquisa e universidades e vão auxiliar, e muito, em

coisas como o tratamento de doenças crônicas do coração, o estudo das aves que

conseguem mergulhar, os radicais livre. Quer dizer, são detalhes técnicos que não

nos interessam aqui, mas, no conjunto, formam o arcabouço, o fundamento para

que essas pesquisas sejam realizadas.

Senadora, só uma coisa: o helicóptero não é emprestado; são 1.800 dólares

por hora de vôo. Mas acontece que não há dinheiro que pague a nossa certeza

absoluta de que há um Parlamentar lá conhecendo, vivenciando, tendo essa

experiência. Dessa forma, V.Exa. vai poder lutar por aquilo sobre o que

conversamos agora a respeito do Orçamento.

Foram apresentadas emendas parlamentares no valor de 7 milhões este ano,

que saíram exatamente de onde V.Exa. mencionou: do fardamento, da alimentação,

da manutenção dos navios da Marinha. Então, não há como o Comandante da

Marinha tirar o dinheiro do compromisso que ele tem com a Nação brasileira e

colocar em programa de responsabilidade do Estado. Não há como fazer isso.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Nos restaram 3 milhões. Dos 10 que deveriam vir, chegaram 3 milhões, mas

à custa de sangue, suor e lágrimas, porque também temos que dar esse tipo de

contribuição. Nós iniciamos a revitalização da Operação Antártica, mas com a cara e

a coragem, porque ela vai custar 8 milhões, e só temos 2 milhões e 700 mil. Como

se vai terminar de pagar, eu não sei. Teremos de encontrar uma solução, porque

começou, e tinha que começar. Teremos o Ano Polar Internacional em 2007 e 2008

e temos que estar com a estação pronta, do contrário não participaremos do

processo de interação com os demais países nessas pesquisas e vamos perder

muito daquilo que já obtivemos, a relevância do trabalho que é lá realizado. Seria

uma demonstração de incapacidade e uma irresponsabilidade jogar esse trabalho

fora.

Senhores, para que eu não seja expulso da Marinha e para que a outra

mulher que defende muito o PROANTAR, que está lá em casa, não me expulse

também, eu peço: consigam o orçamento, porque não tenho outra saída.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Contra-Almirante José

Eduardo, em entrevista que concedi à TV Câmara, fui questionada sobre quanto

precisa o PROANTAR por ano. Baseada no que nos informou o cientista e

pesquisador Prof. Jefferson, informei que precisaria, em média, de 25 milhões.

Então, esses 8 milhões necessários para a recuperação, V.Sa. tem toda a razão,

são ínfimos.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Hoje, citaria como exemplo uma obra na Capital do Estado que represento,

uma obra de infra-estrutura urbana, que é a cobertura de um camelódromo: ela

custa 6 milhões de reais, e a recuperação da nossa base Comandante Ferraz custa

8 milhões. Quer dizer, é uma brincadeira não se conseguir esse recurso.

Com a palavra o Deputado Lupércio Ramos.

O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Eminente Presidenta Maria Helena,

demais colegas Parlamentares, o Contra-Almirante José Eduardo, além da bela aula

que nos fez entender um pouco o que é a Antártica e o que ela significa para nós,

deu-nos aula também de cidadania, a fim de que se possamos lutar por algo

fundamental para o nosso País.

Fiquei numa encruzilhada. Aqui na Comissão da Amazônia, onde sou

membro titular, imaginei que aprenderia muito sobre a Antártica, conheceria mais

profundamente o que se faz lá, a pesquisa, o avanço científico, e saberia da

importância de tudo isso para o nosso futuro e para o futuro dos nossos filhos. Em

contrapartida, na Comissão de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da

qual sou membro suplente, está presente o Presidente do Banco Central, Ministro

Henrique Meirelles, que presta contas acerca dessa instituição. Então, eu teria que

fazer uma opção: vir aqui para aprender ou ficar lá para tentar entender o que está

acontecendo com a economia do País.

Como é que nós, brasileiros, vamos nos posicionar? De um lado, ouvimos

dizer que o Brasil vai pagar este ano 180 bilhões só de juros. De outro, temos um

programa extraordinário, importantíssimo para o nosso futuro, que carece de 8

milhões de reais para se manter, e nós não temos.

Fico impressionado como é que nós, Parlamentares, temos de pegar nossas

emendas. Em qualquer outro País sério a emenda do Parlamentar não seria para

aquelas funções fundamentais e básicas do Estado: educação, saúde e segurança.

E vejo ainda que o Contra-Almirante está preocupado com o fato de as nossas

emendas irem para a Marinha e ela ter de utilizá-las em funções essenciais, o que

pode até prejudicar o programa da Antártica.

Srs. Deputados, precisamos refletir profundamente sobre esse quadro que

estamos vivendo e reavaliar o nosso papel neste País.

Há 3 semanas estive num navio de guerra no Amazonas que

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tradicionalmente faz o seu serviço precípuo, que é o de guardar a nossa soberania,

mas que também atende a comunidades ribeirinhas desprovidas de saúde, de

atendimento odontológico etc. A viagem nos serviu não só para ver melhor como a

Marinha atende à população, mas também para avaliar como o seu navio está em

estado caótico. E a Marinha não tem a menor condição de repor sequer uma peça

num dos motores que geram energia.

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Por outro lado, segundo já pesquisei, o Ministério da Ciência e Tecnologia

dispõe de 14 fundos. Sozinho, o Ministério da Ciência e Tecnologia dispõe de 14

Fundos. Pelo que se ouve dizer, os recursos desses fundos não são

contingenciados, coisa que não acredito. Estamos impossibilitados de aumentar

impostos neste País, porque já pagamos a maior carga tributária do mundo. Nós,

brasileiros, pagamos uma das maiores cargas tributárias do mundo, repito. E

estamos impossibilitados de criar mais taxas, tributos etc., porque nem o povo nem

as empresas suportam mais. Temos de descobrir uma forma de fazer com que um

programa como esse tenha dotação própria para sua manutenção. O caminho é o

Ministério da Ciência e Tecnologia. Que não faça como lá na Amazônia,

Contra-Almirante. Hoje estamos vivendo uma das maiores secas dos últimos 60

anos. Nos últimos 60 anos, os rios do Estado do Amazonas não secaram tanto

como este ano. Inúmeras comunidades e Municípios estão completamente isolados.

Digo isso porque a SUFRAMA tem um fundo para manutenção da pesquisa, da

ciência e do conhecimento daquela região, para que se possa investir mais e para

melhorar a qualidade de vida, mas o Fundo está contingenciado. São 400 milhões

de reais contingenciados, e a população no maior desespero, sem perspectiva de

qualidade de vida. Alguma coisa está errada. Temos de dizer algo em relação a

isso. Vamos eternamente nos dedicar a trabalhar pelo País para pagar juros?

Apenas isso? O Brasil não tem alternativa.

Ao deixar para os senhores essa reflexão, quero apenas fazer 2 perguntas,

eminente Contra-Almirante. Como poderíamos melhorar e ampliar o programa

PROANTAR dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia? Qual a proposta? Que

proposta os senhores apresentam para nós, Parlamentares? Sou suplente, mas

sempre estou presente na Comissão Mista de Orçamento. Quero colocar-me à

disposição na hora que formos discutir — aliás, já estamos discutindo o assunto — o

Orçamento para o próximo ano. Para aprender um pouquinho mais, além de

conhecer a miséria e a ciência, qual o nível das pesquisas do nosso programa em

comparação com os dos outros países que fazem parte do acordo na Antártica?

O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Prezado Deputado Lupércio

Ramos, agradeço a V.Exa. a exposição. Vou diretamente às 2 perguntas. Talvez

tenha de dar algum outro tipo de explicação. Veja bem, o problema que eu

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apresentei está basicamente relacionado com área de logística, que tem

participação da Marinha e dos demais Ministérios, porém uma participação

obrigatoriamente mais tímida, que deveria se refletir na infra-estrutura de apoio

direto às pesquisas.

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O Ministério de Ciência e Tecnologia hoje contribui com o pagamento das

diárias, com bolsas para os pesquisadores e com a verba que ele atribui nos editais

para selecionar as pesquisas que serão realizadas no PROANTAR. Tenho, porém

dificuldades técnicas para dizer se ele a está fazendo tudo isso num nível adequado

ou não.

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O número de pesquisas realizadas na Antártica é em função da

disponibilidade de recursos, da sua eficácia no que diz respeito ao meio ambiente e

das possibilidades logísticas. Se estou com minhas possibilidades logísticas

restringidas, estou limitando o Ministério da Ciência e Tecnologia em investir mais

em outras pesquisas, porque não vou conseguir levar o pesquisador, não vou

conseguir apoiá-lo. Esse é um aspecto. Não tenho conhecimento de causa para

dizer se para o PROANTAR, dentro do MCT, no que se refere à pesquisa, se

alguma coisa pode ser feita de melhor ou não. O que posso dizer — e é a idéia que

temos — é que, dos 14 Fundos existentes no MCT, vários têm ações ligadas a

recursos do mar. Entre essas ações, discutidas por comitês gestores, que não têm

— agora inverte-se — o conhecimento das necessidades logísticas, nada vem para

a logística. Às vezes, por ação individual de um ou outro elemento, de um ou outro

Ministério, chega algum dinheiro para a logística que apóia a pesquisa. Então, a

proposta, como V.Exa. bem disse — e como brasileiro não quero ver imposto

aumentado também —, não é buscar outras fontes de recursos, mas utilizar aquilo

que já existe nas ações previstas nesses fundos e retirar dessas ações parcelas de

dinheiro que venham a compor outro fundo que será gerenciado pelas mesmas

pessoas. Mas que possa vir também a apoiar os programas e dar a eles a

continuidade necessária, para não apenas tranqüilizar o pesquisador, mas também

recuperar a capacidade logística que o País está perdendo para apoio às pesquisas.

Para melhorar o PROANTAR, eu diria que temos de estudar esse assunto junto com

aqueles que dominam os fundos. Esse assunto já foi apresentado ao Ministro da

Ciência e Tecnologia, a um dos Secretários, a notícia foi bem recebida, mas essa é

uma ação de médio a longo prazo. A criação de um fundo, como V.Exa. bem sabe,

depende de decreto presidencial, de convencimento e de perda de poder daqueles

que dominam os fundos, que hoje estão com essas verbas orçamentárias. Nossa

problemática hoje é emergencial. Estou perdendo a estação, o navio. Preciso de

dinheiro para reverter essa situação a partir de já. Preciso desse dinheiro para

consertar o navio naquilo que lhe é vital, garantir sua vida útil e a manutenção da

Estação Antártica Comandante Ferraz naquele volume de recursos que eu lancei na

planilha: 10 milhões em 2006 e 8,5 milhões em 2007 e 2008. Daí termos uma

solução mais definitiva para, a partir de 2009, com aquela verba de 6 milhões de

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reais, realizarmos o trabalho de manutenção, de forma a não deixar ocorrer aquilo

que aconteceu no passado recente, ou seja, a deterioração daquilo que foi

implantado com o sacrifício de 22 anos de trabalho e de recursos. Essa é a situação

no que diz respeito ao PROANTAR. Com relação ao seu segundo questionamento,

ou seja, de qual o nível das pesquisas brasileiras em comparação com a de outros

países, eu diria a V.Exa. que é assustadoramente alto. Eu digo assustadoramente

porque a sua qualidade gera para nós o compromisso de mantê-las, tendo em vista

os excelentes resultados que os nosso pesquisadores têm obtido em todas as

áreas, com repercussões internacionais extremamente positivas.

Conforme mencionei, um dos temas escolhidos para o grande evento

científico da década, o Ano Polar Internacional — que se realizará de 2007 a 2008 e

do qual o Brasil só poderá participar ativamente se tiver apoio logístico e verba para

a pesquisa e para os pesquisadores —, é algo em que o Brasil já trabalha há 4

anos.

Eu não teria a pretensão de dizer que o tema foi escolhido porque o Brasil

realiza essa pesquisa, mas o fato é que o Brasil trabalha há 4 anos nele, o que

mostra a relevância da pesquisa lá realizada.

O desenvolvimento tecnológico nos permite avançar; a restrição orçamentária

nos freia; retira apoio logístico. E com isso nós vamos marcando passo. Ou melhor,

o Brasil vai marcando passo, porque os nossos pesquisadores não; eles são

chamados para as comissões internacionais e estão atuando em várias delas como

convidados para realizar o trabalho que deveria ser feito com a nossa verba, a

nosso favor, com benefícios diretos para o nosso País.

Respondendo objetivamente, nossa pesquisa está no melhor nível. Ela é

reconhecida internacionalmente. Mas está migrando para outros lugares porque não

há como suportar o desconhecimento do que vai acontecer no ano que vem. E aí

como continuar a pesquisa? Como fazer com que isso venha a trazer benefício para

a humanidade?

Digo isso porque, conforme V.Exa. sabe — há alguns pesquisadores aqui

presentes, os quais podem confirmar o que estou dizendo —, o pesquisador não

pensa apenas no bairro, na região, no Estado, no País dele; ele pensa na

humanidade. Ele tem uma visão mais ampla. E quando obtém em outros fóruns o

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que é necessário para o seu trabalho, ele migra para eles, não por não ser

nacionalista, mas por ser humanitário. Ele vai lá usar o seu conhecimento para

proporcionar maiores benefícios para todo o conjunto de pessoas.

Portanto, a resposta é: nós estamos no top de linha no que diz respeito à

pesquisa na Antártica.O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Sra. Presidenta, concede-me

V.Exa. um minuto para concluir?A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Pois não, Deputado

Lupércio Ramos.O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Desejo apenas deixar uma

sugestão, nobre Presidenta, a V.Exa. e aos colegas Parlamentares.

V.Exa. poderia solicitar de nossa assessoria técnica um estudo com relação à

possibilidade de incluirmos o PROANTAR num dos seguintes fundos que vou citar e

que têm recursos próprios — em alguns casos os recursos não são sequer

contingenciados. Para isso, basta que nós apresentemos um projeto de lei.

Existem vários fundos. No Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo,

há o Fundo para o Setor Aeronáutico, o Fundo Setorial de Agronegócio, o Fundo

Setorial da Amazônia, o Fundo Setorial do Transporte Aquaviário, o Fundo Setorial

de Biotecnologia, o Fundo Setorial de Energia, o Fundo Setorial Espacial, o Fundo

Setorial de Recursos Hídricos, o Fundo de Infra-Estrutura, o Fundo Setorial Mineral.

Já existem vários fundos, os quais têm recursos próprios. Dessa forma, por meio da

mobilização da Comissão da Amazônia ou de um grupo de Parlamentares, talvez

possamos incluir o PROANTAR em algum desses fundos, a fim de que possa ter

recursos permanentes e não-contingenciados.

É esta a minha proposta.

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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Eu agradeço a sugestão de

V.Exa., Deputado Lupércio Ramos. Passarei essa consulta à assessoria, a fim de

que ela possa nos orientar em qual dos fundos se adequaria melhor a inclusão

desse programa.

Registro a presença do Diretor Geral da Câmara dos Deputados, Dr. Sérgio

de Almeida, nesta audiência pública.

Concedo a palavra ao Deputado Natan Donadon.

O SR. DEPUTADO NATAN DONADON - Sra. Presidenta, Deputada Maria

Helena; Sr. Contra-Almirante; Dr. Sérgio, Diretor Geral da Câmara dos Deputados;

Deputado Lupércio Ramos; demais convidados aqui presentes, boa tarde a todos.

Sr. Contra-Almirante, é uma satisfação e um prazer conhecê-lo. É a primeira

vez que eu estou ouvindo falar sobre o PROANTAR. Assumi em janeiro o mandato

e estou aqui para somar, para ajudar. Somente agora estou tendo a oportunidade

de ouvir sobre esse assunto tão importante e tão antigo, mas para mim tão recente,

tão novo.

Parabenizo o Contra-Almirante pela palestra e pelas informações trazidas a

esta audiência em busca dessa mobilização, dessa conscientização, de apoio. S.Sa.

busca parceiros para viabilizar as pesquisas e tantas outras coisas que estão

inseridas nesse macroprojeto.

Eu imagino haja muito a ser descoberto a esse respeito, como o próprio

Contra-Almirante disse; descobertas de suma importância para a Nação, para a

humanidade, as quais estão emperradas e que precisam do nosso apoio, da nossa

agilização, para que possamos ter acesso a essas grandiosidades, essas riquezas,

tanto para a saúde da humanidade quanto para outros aspectos.

Eu me coloco à disposição de V.Sa., Contra-Almirante, para me juntar a

V.Sa. na luta por esse fim. Comprometo-me a ajudá-lo aqui na Comissão da

Amazônia, na Câmara dos Deputados. Coloco-me à disposição de V.Sa. para

ajudar nesse projeto, que é de interesse nosso, da nossa Nação, da humanidade, e,

acima de tudo, de interesse de cada brasileiro.

Parabenizo V.Exa., nobre Presidenta desta Comissão, por esta audiência e

me coloco à disposição para ajudar.

Muito obrigado.

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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Muito obrigada, Deputado

Natan Donadon, pelas palavras de incentivo.

Contra-Almirante José Eduardo, quando fomos convidadas para ir à Antártica

conhecer esse programa e a nossa Estação Comandante Ferraz, nós nos sentimos

muito honradas e lisonjeadas por termos sido escolhidas, mas, ao mesmo tempo,

sabíamos da nossa responsabilidade. Todas as vezes que viajamos numa missão

oficial, sabemos que temos a obrigação, o dever, de, tomando conhecimento dos

problemas — no caso do PROANTAR, dos problemas que esse programa enfrenta

—, tomar providências. Nós sabíamos que essa nossa viagem, essa nossa

representação da Câmara dos Deputados, naquele momento demandaria uma série

de providências.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

Foi por isso que a Deputada Ann Pontes e eu, tão logo chegamos,

convidamos o Prof. Jefferson Cardia para vir a esta Comissão a fim de expor a

todos os Parlamentares — não só os da Comissão, mas todos aqueles que ainda

não conheciam esse programa PROANTAR e a Estação Brasileira Comandante

Ferraz — todos os problemas que o programa está enfrentando.

Nós sabíamos que teríamos que nos aprofundar muito mais no significado do

programa e conscientizar também todos, especialmente os Parlamentares desta

Comissão, da necessidade de defendermos o PROANTAR dentro do Congresso

Nacional, especialmente neste momento em que vamos preparar o Orçamento para

2006.

Agora fui informada pela assessoria de que nós podemos, de forma

emergencial, encaminhar ao Poder Executivo toda a demanda do PROANTAR para

que, por meio de uma medida provisória, o Governo possa atender à sua

necessidade.

Por isso, vou solicitar o apoio da Comissão da Amazônia, bem como de

outros Parlamentares que não integram esta Comissão, mas estão sensibilizados

com o problema, para que possamos cobrar do Poder Executivo atitudes a esse

respeito. Vou solicitar até mesmo o apoio do Presidente desta Casa, para que, por

meio de uma medida provisória, possamos de forma emergencial salvar esse

programa tão importante para o Brasil.

Contra-Almirante, eu pergunto a V.Sa. se ainda deseja fazer alguma

observação.

O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Prezada Deputada Maria

Helena, Srs. Deputados presentes, demais amigos, agradeço muitíssimo a

oportunidade de estar aqui, pois me é extremamente grato falar sobre o programa.

Nós estamos em situação realmente difícil. Eu não sou o arauto do

Apocalipse, mas tenho a consciência de que, ou nós tomamos algumas decisões

agora, ou vamos perder todo um passado.

Todas as iniciativas são extremamente bem-vindas. A SECIRM, que é a

Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar, está totalmente à

disposição de V.Exas. para prestar qualquer tipo de apoio na redação, no preparo,

no fornecimento de dados, na conversa, na discussão do tema, de modo a facilitar o

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trabalho que V.Exa. está se dispondo a realizar.

Caso o seu trabalho venha a ter resultado positivo, V.Exa. fique certa de que

nós conseguiremos inverter o processo de degradação de uma das iniciativas que

dá certo no nosso País. E nós não estamos em tempos de voltar atrás ou deixar

acontecer coisas erradas; estamos em tempos de vislumbrar o futuro, fazer boas

coisas novas para o futuro e garantir as boas que foram feitas no passado e que é

nossa responsabilidade levar adiante.

Eu agradeço muitíssimo a V.Exa. esta oportunidade e me coloco, junto com a

minha assessoria, à disposição para aquilo que for necessário no auxílio da tarefa

que V.Exa. pretende realizar.

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Nós sabemos que

podemos contar com a ajuda da assessoria da Marinha, da SECIRM, bem como da

assessoria parlamentar, que sempre, com tanta presteza, nos auxiliou em tudo o

que precisamos, inclusive na organização desta audiência pública.

Antes de encerrar, quero ler um documento que me foi encaminhado pelo

representante do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos, organização social

vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia:

“O Centro de Gestão de Estudos

Estratégicos reconhece a grande importância para o

Brasil da presença brasileira na Antártica por intermédio

do PROANTAR, seja pelos aspectos políticos,

estratégicos, científicos ou econômicos, e reconhece

especialmente a carência de recursos financeiros, que

tem causado sérios prejuízos a todos os segmentos do

PROANTAR, e mesmo inviabilizado o seu trabalho.

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Em face dessa constatação, o CGEE apóia

todos os esforços e iniciativas da Secretaria da CIRM no

sentido de prover recursos adequados e regulares que

garantam o desenvolvimento consistente desse

importantíssimo programa de Estado.

Atenciosamente,

Antônio José Teixeira

Representante do CGEE.”

Nós agradecemos o encaminhamento desse documento.

Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião. Antes, porém,

convido todos os Srs. Deputados para a reunião de audiência pública destinada a

tratar do impacto das queimadas na Amazônia, a ser realizada às 10h do dia 19 de

outubro, quarta-feira próxima, no plenário 14 do Anexo II desta Casa.

Está encerrada a presente reunião.