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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DESENVOLVIMENTO REGIONALEVENTO: Audiência Pública N°: 1552/05 DATA: 06/10/2005INÍCIO: 10h29min TÉRMINO: 12h25min DURAÇÃO: 01h56minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h56min PÁGINAS: 37 QUARTOS: 24
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Secretário-Executivo da Comissão Interministerial paraRecursos do Mar do Ministério da Marinha.
SUMÁRIO: Debate sobre o Programa Antártico Brasileiro.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Havendo número regimental, declaro aberta a
presente reunião de audiência pública promovida pela Comissão da Amazônia, Integração Nacional e
Desenvolvimento Regional em atendimento ao Requerimento nº 57, de 2005, de autoria dos Deputados Ann
Pontes e Asdrubal Bentes, a qual tem por objetivo discutir o Programa Antártico Brasileiro.
Cumprimento todos os presentes, em especial o contra-almirante José
Eduardo Borges de Souza, Secretário-Executivo da Comissão Interministerial para
Recursos do Mar, da Marinha do Brasil, que gentilmente atendeu ao nosso convite e
está aqui hoje.
Eu convido o contra-almirante José Eduardo para tomar assento à Mesa.
(Pausa.)A lista de inscrições para os debates já se encontra sobre a mesa. O
Parlamentar que desejar fazer questionamentos deverá nela registrar o seu nome.
Esclareço ao senhor expositor e aos Srs. Parlamentares que a reunião está
sendo gravada, para posterior transcrição. Por esse motivo, solicito que durante a
exposição falem ao microfone.
Informo que o nosso convidado não poderá ser aparteado no decorrer da sua
exposição. Somente após encerrada a exposição, os Deputados poderão fazer suas
perguntas, tendo cada um o prazo de 3 minutos. O expositor terá igual tempo para
responder, facultadas a réplica e a tréplica, pelo mesmo prazo.
Concedo a palavra ao contra-almirante José Eduardo Borges de Souza,
Secretário-Executivo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar, da
Marinha do Brasil.
O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Muito obrigado.
Em primeiro lugar, agradeço a presença a todos. É uma honra para a
Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar vir a esta Casa expor
suas idéias.
É um prazer ver a Deputada Maninha, conhecedora do nosso Programa
Antártico.
(Segue-se exibição de imagens.)Esta exposição tem o propósito de esclarecer o que acontece com um dos
programas brasileiros a cargo da Comissão Interministerial para Recursos do Mar,
coordenada pelo comandante da Marinha, na sua função de autoridade marítima.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
O programa, conforme V.Exas. podem ver no slide inicial, é uma explosão de
coisas boas. O Programa Antártico Brasileiro é um grande avanço na ciência e na
pesquisa brasileiras. É um pedaço do Brasil que dá certo, entre tantos outros que
conhecemos.
Nesta apresentação seguirei o seguinte sumário: falarei ligeiramente sobre a
Comissão Interministerial para Recursos do Mar, quando tratarei do seu nascimento,
do que representa e da moldura jurídica do Programa Antártico Brasileiro. Depois
falarei sobre o programa propriamente dito. Por fim, farei uma ligeira conclusão.
A Comissão Interministerial para Recursos do Mar foi criada por um decreto
presidencial de 1974, quando o País sentiu a necessidade de ter um organismo que
cuidasse especificamente dos assuntos ligados aos recursos do mar.
Percebeu-se, então, a importância de ter alguém que fizesse a convergência
desses assuntos e coordenasse a discussão da matéria. Naturalmente, a
coordenação coube à Marinha pela capacidade que ela tem de dar apoio logístico
no mar.
O comandante da Marinha é hoje a autoridade marítima da CIRM, composta
de 12 Ministérios e mais 3 instituições: a Casa Civil, a própria Marinha do Brasil e a
Secretaria Especial de Pesca da Presidência da República.
A CIRM trabalha com vários programas, entre os quais o Programa de
Levantamento da Plataforma Continental, coordenado pelo Ministério das Relações
Exteriores; tem também uma subcomissão para o Programa Setorial de Recursos
do Mar, também coordenada pela Marinha; o Gerenciamento Costeiro; o Grupo
Executivo de Gerenciamento Costeiro. Além disso, qualquer outro assunto
relacionado com os recursos do mar são tratados em grupos de trabalho, o que é
feito para evitar que a Comissão se torne maior do que o necessário.
Dentro dessas subcomissões está a Subcomissão para o Programa Antártico
Brasileiro, coordenada pela Marinha do Brasil.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Podemos dizer que os membros principais e os grandes colaboradores, sem
os quais o programa não existiria, são o Ministério da Ciência e Tecnologia, o
Ministério do Meio Ambiente, o Ministério de Minas e Energia e o Ministério das
Relações Exteriores.
O MCT define a linha científica; o Ministério do Meio Ambiente avalia os
impactos ambientais das ações propostas; o Ministério de Minas e Energia contribui
com o combustível indispensável para os trabalhos das Comissões; e o Ministério
das Relações Exteriores nos apóia no âmbito internacional, nas oportunidades em
que é tratado o assunto Antártica, continente que não tem propriedade.
A moldura jurídica do PROANTAR está montada da seguinte maneira. O
Tratado da Antártica talvez seja o documento público internacional de maior
relevância e de maior sucesso nos dias de hoje. Isso porque evitou que as
pretensões territorialistas se tornassem um entrave ou causassem problemas de
beligerância no sul da América do Sul. Além disso, ordenou a ocupação, a
exploração e a explotação do último continente do Planeta; deu aos
países-membros a possibilidade de executar pesquisas de relevância. O tratado
proíbe o uso, no continente, da energia nuclear. Por meio do Protocolo de Madri,
promove ainda a preservação do meio ambiente.
O continente antártico, por si só, representa o último bastião de preservação
existente hoje. Tudo o que lá existe é totalmente preservado. Todos os que lá
trabalham têm o firme propósito de preservar. E essa preservação é normatizada e
regulada pelo Protocolo de Madri.
No Brasil, foi elaborada a Política Antártica Brasileira, a qual define a utilidade
da Antártica para o Brasil, qual a vantagem de estarmos lá, o que devemos fazer
com ela e o que, na condição de um dos países de maior interesse na região,
podemos utilizar do continente.
Consoante com essa mentalidade nasceu o Programa Antártico Brasileiro,
que tem a característica de, dentro das limitações do País, promover a coordenação
de esforços que permita a realização de pesquisas — a pesquisa na Antártica é o
nosso principal objetivo.
O Programa Antártico Brasileiro tem o seguinte histórico: nós aderimos ao
Tratado da Antártica em 1975. Na condição de membros aderentes, a única coisa
CÂMARA DOS DEPUTADOS
que fizemos foi dizer que estávamos de acordo com conteúdo do tratado.
O tratado foi elaborado por 12 países e depois foi aberto à comunidade
internacional, que começou a aderir a ele, reconhecendo o seu valor para a
humanidade, uma vez que ele determina que só devem ser praticadas na região
ações relativas à pesquisa para a paz mundial.
A partir de 1982, após a definição da Política Antártica Brasileira e a perfeita
delineação do Programa Antártico Brasileiro, nós passamos a pensar em como
entrar no continente, como estabelecer uma base na Antártica e como realizar
pesquisas na região.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Em 1984 começamos a montar a nossa estação. E vejam V.Exas.: como não
existe propriedade da terra no continente, nós pudemos escolher qualquer lugar
para montar a estação. Utilizamos, então, uma antiga estação inglesa que era
utilizada para caça de baleias, um trabalho logístico de desbravadores. Podemos
chamar de bandeirantes da Antártica aqueles que lá chegaram em primeiro lugar,
com meios não adaptados à região, ao clima inóspito da região, aqueles que
chegaram à Antártica, instalaram os primeiros 8 módulos da nossa estação. E daí
começamos um trabalho que hoje, com 21 anos, é de extremo sucesso,
reconhecido internacionalmente em todos os fóruns em que trabalhamos com as
nossas pesquisas.
Em 1983, foram realizadas as expedições do Almirante Câmara, Barão de
Tefé e do Prof. Besnard, e o Brasil foi admitido como membro consultivo do tratado.
Essa admissão foi um ganho político e de relações exteriores inigualáveis
para o País, tendo em vista que, como membro consultivo, o Brasil tem o direito e o
poder de sentar-se às mesas de negociações para decidir o que se vai fazer desse
continente no futuro. Somente 26 países têm esse poder; somente 26 países são
tratados como membro consultivo. E todos os anos, nas reuniões consultivas, onde
todas as decisões são tomadas por consenso absoluto, o que dá condição de
igualdade a todos os países, nós participamos e influenciamos diretamente nos
rumos que serão tomados com relação àquele continente que tem cerca de 80% de
reserva de água doce do mundo, que é, com certeza absoluta, a riqueza do nosso
futuro.
Aí está, então, a instalação inicial da base. Eram contêineres. Oito
contêineres foram colocados na estação e, a partir deles, começamos a fazer o
nosso trabalho de pesquisa. Nessa época a estação era guarnecida apenas 32 dias
por ano, devido ao desconhecimento do ambiente em que nós iríamos trabalhar e
também à falta de possibilidade de logística para apoiar essa pesquisa.
Em 1986, na Operação Antártica IV, iniciamos a ocupação permanente da
estação e, a partir daí até hoje, nós guarnecemos a estação durante todo o ano.
Essa estação recebe em média 120 pesquisadores por ano, que realizam trabalhos
nas mais diversas áreas. A estação está colocada na península antártica. Os
senhores podem ver, ela não está exatamente no continente, mas no local em que a
CÂMARA DOS DEPUTADOS
grande maioria dos países possuem estação, exatamente porque nesse local as
condições não são tão ruins quanto no interior do continente. E em virtude do
trabalho realizado, nós hoje temos a estação que é considerada como modelo na
gestão ambiental da região. Todos os cuidados que o Brasil toma na proteção do
meio ambiente fizeram com que o conjunto de ações se transformasse em um
elemento de repercussão internacional favorável ao País, como preservador do
meio ambiente.
Existem pretensões territoriais na Antártica que estão, pelo tratado — e todos
aqueles que têm pretensões territoriais assinaram o tratado —, congeladas. E o
tratado proíbe também que qualquer outro membro aderente venha a solicitar
alguma pretensão territorialista.
Como os senhores podem notar, essas pretensões, que são baseadas na
projeção territorial no continente antártico, se sobrepõem. Isso significa que
fatalmente haverá conflitos de interesses, o que poderia levar inclusive a conflitos
armados. Assim, a título de mero exemplo, podemos dizer que o conflito das
Malvinas, a defesa que a Inglaterra fez por aquelas ilhas, nada mais representa do
que a garantia daquele território, que lhe permita manter suas pretensões
territorialistas na Antártica, porque daquela ilha ela faz a projeção e obtém essa
regiãozinha que se sobrepõe àquilo que a Argentina e o Chile querem e um
pedacinho do que a Noruega quer.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Hoje temos 26 países com estações no continente, mas são 81 estações. A
nossa não é nem a menor nem a maior, é aquela que está dimensionada
exatamente para as nossas necessidades. Mas para estarmos na Antártica temos
várias parcerias, sem as quais seriam impossível realizar o Programa Antártico. Nós
temos o Ministério de Minas e Energia, que por meio da PETROBRAS nos fornece
cerca de 5 milhões de litros de óleo combustível por ano. Nós temos o Ministério do
Meio Ambiente, que além de custear pesquisas faz a avaliação do impacto no meio
ambiente daquilo que foi definido como pesquisa de interesse para o País. O
Ministério da Ciência e Tecnologia, também com o CNPq, além de pagar as bolsas
para aqueles que vão fazer pesquisas, também faz editais para possibilitar a
apresentação de pesquisas pelos nossos cientistas e paga as diárias do pessoal. A
Força Aérea Brasileira participa com 7 vôos anuais. Este ano e o ano que vem vai
participar com 8 vôos. Esses vôos antárticos são fundamentais, não somente no
verão, para o transporte do pessoal que colocamos na base chilena de Eduardo Frei
e daí transportamos para a base brasileira, mas também na época do inverno.
Esses vôos são os responsáveis pelo abastecimento da base — no inverno a única
maneira de se chegar à base é por avião — de cargas, mantimentos e remédios
para os pesquisadores que lá passam o ano inteiro. E temos também a estação
ESANTAR, convênio com a FURG — Fundação Universidade Federal do Rio
Grande. E na ESANTAR nós temos guardados todo o material que utilizamos na
Antártica. Todos aqueles que vão à Antártica passam pela FURG para receber o
seu material. Essa convivência com a universidade faz com que ela se aproxime
mais, e a comunidade científica fique mais próxima do nosso Projeto Antártico.
Além disso, temos ainda o Clube Alpino Paulista, responsável pelo
adestramento do pessoal que vai realizar tarefas de pesquisas afastadas da
estação. A importância é tão grande que, como exemplo, vou dizer aos senhores
que nos últimos 2 meses morreram 2 pesquisadores chilenos que caíram numa
fenda e 3 pesquisadores argentinos. Só nos últimos 2 meses! E nos últimos 21 anos
em que estamos na Antártica, o grande acidente que tivemos foi relativo à saúde de
um dos componentes do grupo básico. Nós nunca tivemos um acidente com os
pesquisadores, devido ao alto grau de importância que damos à segurança
daqueles que vão lá trabalhar.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Existem 2 segmentos grandes no PROANTAR. O segmento da logística tem
como base a ESANTAR, o navio de apoio oceanográfico Ari Rongel, as aeronaves
que vão embarcadas nesse navio e as aeronaves da FAB, além de termos um
centro de treinamento para a Antártica em Marambaia. Tendo em vista que o nosso
País não possui condições climáticas próximas às da Antártica, nós resolvemos pelo
menos fazer o treinamento em um lugar bonito. Então o pessoal é treinado a cerca
de 35/38 graus centígrados e depois eles atuam com esse conhecimento, na
Antártica, que trabalha também com 35 graus, só que negativos. Mas até hoje isso
tem funcionado, tem dado certo, e nós não temos tido nenhum tipo de acidente.
Gostaria de chamar a atenção para o fato de o segmento logístico ter 2
vertentes: a de infra-estrutura de apoio e a manutenção daquilo que temos. É bom
fazer essa separação porque a infra-estrutura de apoio é que possibilita os cientistas
trabalharem e a manutenção é o que preserva todo o material que nós temos de
levar para a Antártica e o material que já está na Antártica.
O outro segmento vem pelo Ministério do Meio Ambiente, pelo CNPq e cai na
área científica, que também tem responsabilidade na infra-estrutura de apoio direto
à pesquisa, com a obtenção de equipamentos necessários para que os
pesquisadores possam realizar as suas tarefas; e há também o trabalho de
avaliação do mérito científico das pesquisas lá executadas. Também são cobrados
desses pesquisadores, desses doutores que lá estão, os resultados para aplicação
direta no nosso País. Esses resultados são fundamentais.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Nós hoje trabalhamos com 120 pesquisadores, com 20 projetos por missão
anual. Trabalhamos na área de oceanografia física, química, biológica, climatologia,
meteorologia, estudo das aves, arquitetura, geologia e atmosfera. Eu poderia
chamar atenção para o fato de que, em todas essas áreas, os resultados
conseguidos têm aplicação imediata no País. Basta lembrar que o Brasil depende
do clima, visto que é extremamente agrícola; necessita de previsão meteorológica
de altíssimo nível, precisa conhecer o clima da Antártica, saber o que lá ocorre, e
que influência ele traz para o nosso País. Isso é fundamental. Além disso, a
climatologia desenvolve também um trabalho de avaliação global do impacto que a
Antártica causa. Esse trabalho é tão relevante para a humanidade que o Ano Polar
Internacional, que ocorrerá em 2007/2008, escolheu como um dos seus 2 temas
principais o trabalho desenvolvido pelo Brasil na área de climatologia: a repercussão
global do clima da Antártica no clima global.
O Ano Polar Internacional, que vai visar a uma cooperação científica entre os
países, só tem paralelo nos Anos Geofísicos Internacionais e nos Anos Polares
Internacionais anteriormente realizados. As pesquisas realizadas são
compartilhadas. Os pesquisadores podem participar de projetos de outros países.
Nós podemos receber gente de outros países. Esse intercâmbio dá nova dimensão
à pesquisa, aumenta o conhecimento, traz outros conhecimentos para o País. A
internalização desse conhecimento melhora os resultados que nós entregamos à
população.
A presença de grande número de navios de apoio aos pesquisadores vai
fazer com que as pesquisas tenham uma fase de aceleração. A projeção dos países
participantes perante a comunidade científica internacional significa que,
participando, o Brasil está dentro do contexto internacional. Se não participar, está
alijado do processo.
Que tipo de produtos gerados são do nosso interesse? Nós podemos dizer
que a influência e o comportamento das correntes marinhas antárticas. A corrente
marinha antártica é responsável por trazer nutrientes para a nossa costa. Sem
esses nutrientes não há pesca. Existe o mito de que o Brasil, com 8.550 mil
quilômetros de litoral, tem peixe em abundância. Isso não é verdade. O pescado só
existe onde existe comida. E é da Antártica que vem a comida dos peixes do
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hemisfério sul.
Além disso, a convergência antártica dos 3 mares faz com que o fenômeno
da ressurgência, que também ocorre no Brasil, possa ser estudado em maior
profundidade e, com isso, trazer conhecimento de modo a que o aproveitemos para
trazer vantagens para as populações existentes nessas regiões e para o
desenvolvimento de algumas indústrias.
O acompanhamento da camada de ozônio, uma preocupação mundial, é pela
nossa Estação Antártica há vários anos, com resultados positivos publicados em
revistas internacionais, que dão credibilidade à pesquisa brasileira e conhecimento
ao Brasil daquilo que ele necessita para vir a se proteger dos efeitos nocivos que,
por exemplo, a camada de ozônio sendo reduzida, poderia trazer.
Levantamento da existência de recursos minerais e hidrocarbonetos.
O hidrocarboneto é uma riqueza em extinção. Existem subsídios da
existência de mais de 170 tipos de minerais diferentes na Antártica. A explotação
disso está proibida até 2041, tendo em vista que em 1991 foi feito pelo Tratado da
Antártica, um break, uma proibição da explotação de recursos minerais da Antártica,
que não fossem para a pesquisa científica. E os hidrocarbonetos que existem na
região — essa é uma matéria controversa —, alguns pesquisadores garantem que
poderão sustentar o planeta por mais de 2 séculos.
A influência do clima antártico no Brasil.
Senhores, conhecer o nosso clima, saber aquilo que está sendo executado
na Antártica ou o que está tendo repercussão no nosso País vai fazer com que
tenhamos melhor previsão do tempo e isso vai dar ao nosso agricultor mais
capacidade de conhecer a época de plantação e de colheita. Para nós isso é
extremamente importante, assim como o acompanhamento das mudanças
climáticas globais, como já mencionei.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Por último, as pesquisas na área da biodiversidade marinha e o prestígio
internacional que todos esses produtos geram para o País. Os nossos
pesquisadores — eu tive a oportunidade de ver isso in loco em várias reuniões
internacionais — são muito respeitados, suas opiniões são extremamente acatadas.
Eles são ouvidos naquilo que de mais importante está se desenvolvendo em
pesquisa na Antártica.
Esta foi a parte bonita, que nos mostra a importância do programa para o
País. Trata-se de um programa estratégico, de Estado, não é da Marinha nem do
MCT. Não está limitado a um período temporal. Vamos ficar lá por mais de 200
anos, desde que continuemos realizando as relevantes pesquisas que temos feito
até agora.
Vamos falar então sobre o problema dos recursos. Temos como fonte de
recursos a dotação específica no Orçamento Geral da União, que vem atrelado ao
orçamento da Marinha. Então, tudo aquilo que acontece de ruim com o orçamento
da Marinha, e isso vem acontecendo há vários anos, reflete no Programa Antártico
Brasileiro, como o caso do contingenciamento. Temos dotação específica do Fundo
Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de outros fundos
especiais, que dão aos órgãos que tratam da pesquisa, da proteção ao meio
ambiente, a verba necessária para que eles possam realizar seus projetos. E há
financiamento de entidades e instituições financeiras públicas ou privadas, nacionais
ou estrangeiras, o que não vem ocorrendo nos últimos 30 anos, embora estejamos
lá só há 21 anos. Então, esse pedacinho aqui não acontece.
Está havendo agora participação muito forte de algumas empresas
brasileiras. Dou como exemplo a Telemar, que está instalando este ano um sistema
de comunicação brasileiro na Antártica. Por falta de recursos, utilizávamos
comunicações chilenas até este ano, o que é um absurdo para um país totalmente
desenvolvido em telecomunicações na América do Sul utilizar esse setor de outro
país. E mesmo assim não tivemos recursos para fazê-lo. Precisamos que a Telemar
venha graciosamente fazer a instalação desse sistema. Esse é apenas um dos
exemplos. Temos outros com a Caixa Econômica Federal, que está realizando a
instalação de um novo sistema de esgoto e por aí vai, dependendo do esforço que
fazemos junto ao empresariado.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
O orçamento para a logística do Programa Antártico Brasileiro, já com valores
reduzidos a reais, em 1990 era da ordem de 8 milhões. Em 1994 aconteceu algo
semelhante ao que está acontecendo agora, e as manchetes dos jornais diziam que
o Programa Antártico iria parar por falta de recursos. E começou haver brutal queda
no orçamento.
Em 2005 os senhores estão vendo o orçamento um pouco mais elevado, mas
isso foi decorrente de emendas Parlamentares para favorecer a Marinha no
Antártico. O comandante da Marinha, reconhecendo a estratégica importância do
programa, adiantou o dinheiro das emendas Parlamentares, que não se
concretizaram em recursos ao final do ano. Isso significa que o comandante da
Marinha retirou dinheiro da atividade-fim, promessa que ele fez à Nação brasileira
de aprestamento dos meios navais para colocar em um programa de Estado. Isso
não poderá se repetir. E a previsão de verba para 2006, na faixa de 2 milhões de
reais, será incapaz de dar continuidade ao Programa Antártico em sua plenitude, o
que é temerário, uma vez que vamos ter de começar a preparar a parcial paralisia
do programa ou, no futuro, sua total paralisia.
Com essa redução deixamos de fazer muitas coisas no que diz respeito à
logística, à infra-estrutura de apoio e à manutenção. O que temos hoje? Todo nosso
material está degradado, são péssimas as condições de habitabilidade, estamos
perdendo a capacidade de controlar o esgoto produzido na Antártica, não temos
condições de controlar a incineração do lixo, de dar ao pesquisador mais condições.
E isso vai fazer com que percamos espaço na comunidade científica internacional,
na própria estação e no navio que realiza o apoio.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
O mesmo processo de redução de verbas ocorre na área científica. Vejam os
senhores que estamos trabalhando com soluços, que dependem muito do esforço
pessoal daqueles que trabalham nos órgãos de financiamento da pesquisa. Esses
soluços dão uma incerteza ao pesquisador da possibilidade de continuar a pesquisa
no ano seguinte. Isso é péssimo para a pesquisa. Ele não tem idéia se no outro ano
vai poder desenvolver o trabalho dele. E hoje teremos um soluço negativo porque a
previsão que temos de bolsas no CNPq e do custeio, capital e das pesquisas do
MMA está reduzida a uma quantidade de dinheiro muito pequena, o que obriga o
corte em projetos de pesquisa. Porém, temos um edital do CNPq que nos coloca 1
milhão e 640 mil, que vão proporcionar uma melhora naquilo a ser realizado em
2006.
Para resolver isso, não temos alternativa a não ser corrigir os defeitos
anteriores e os déficits criados nos anos anteriores, como está discriminado nesta
planilha. Percebam os senhores que são coisas básicas, como abastecimento,
roupas especiais, treinamento pré-Antártico, que garante a segurança das pessoas,
manutenção do sistema de telefonia, um programa de revitalização da estrutura da
estação, manutenção da lancha de pesquisa, que praticamente não se consegue
operar hoje, modernização de equipamentos, etc.
Então, afirmo que preciso de 10 milhões de reais para fazer a tarefa que me
compete e recuperar aquilo que foi perdido nos últimos anos.
Depois disso, para 2007 e 2008, já avaliamos em 8,5 milhões de reais a
quantia necessária de recursos para que continuemos a recuperação, que não pode
ser feita de uma só vez. Lá, só conseguimos trabalhar durante o verão. No inverno,
ninguém consegue trabalhar fora da estação. Daí a divisão orçamentária em 10
milhões para 2006; 8,5 milhões para 2007; 8,5 milhões para 2008 e, a partir de
2009, voltaríamos à situação de normalidade e ficaríamos com o custo de 6 milhões
para manter a estação e a condição de membros consultivos do tratado. E, ao
chegarmos a 2041, cairá a situação de exploração do continente e poderemos
explotá-lo, e devemos estar lá em condições de fazer isso. Se perdermos a estação,
vamos ficar do lado de cá olhando outros países explorarem essas riquezas e esses
conhecimentos.
A situação atual da estação, para que os senhores tenham uma pequena
CÂMARA DOS DEPUTADOS
idéia, é de corrosão de piso e corrosão de tanques de óleo combustível. Um
derrame de óleo combustível vai me dar um prejuízo de 1 milhão de uma moeda
chamada SDR, que dá na faixa de 3 milhões de dólares. Nós assinamos o tratado,
temos um acordo internacional e, se causarmos um acidente ecológico dessa
natureza, vamos pagar esse prejuízo.
Temos corrosão nos pisos do heliponto. Se eu perco o heliponto, não consigo
transportar mais ninguém para lá, a não ser de barco. As condições meteorológicas
na Antártica mudam de meia em meia hora. Não sabemos se o vento, que está
agora em zero, daqui a 15 minutos poderá estar a 160 quilômetros por hora. Então,
preciso de aeronaves, preciso de apoio, preciso resgatar alguém com problema de
saúde grave. Aí a situação do piso do heliponto.
Deterioração do sistema de amortecimento.
O vento faz tremer a estação e esse sistema de amortecimento é
fundamental para evitar que um módulo destes saia voando ou coisa parecida.
Infiltrações internas.
A estação é de madeira e está completamente infiltrada. A corrosão nas
esquadrias faz com que entre o frio e as condições de habitabilidade da estação
caem de maneira degradante.
Desgaste do revestimento dos pisos internos. O carro de encalhe que nos
utiliza a lancha para trabalhar está avariado. A lancha que faz as pesquisas na área
da Baía do Almirantado está avariada. As motos de neve que levam os
pesquisadores a outras áreas para realizar pesquisas estão avariadas. As roupas
especiais, compradas nos Estados Unidos, estão rasgadas. As luvas especiais, que
permitem que eles sobrevivam realizando pesquisas, estão deterioradas. Tudo isso
é dinheiro.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Mais ainda: o sistema de tratamento de esgoto está nestas condições; o
sistema de proteção de incêndio, o sistema de incineração e o sistema de
comunicações que, graças a Deus, a Telemar vai resolver este ano.
Ainda este ano, ocorreu um afundamento de piso do banheiro do Centro de
Processamento de Dados e dos pisos da Biblioteca e dos camarotes 14 e 15.
Cortamos o orçamento, não pudemos fazer a manutenção que deveríamos, por isso
está havendo a degradação. Estamos perdendo a nossa estação. Ou tomamos uma
atitude para recuperá-la, ou vamos perdê-la. Sem ela não há Membro Consultivo do
Tratado da Antártica, não há como lutar por direitos, riquezas para a Nação
brasileira e futuras gerações.
Qual a nossa prospectiva? Mantida a atual situação, não havendo nenhuma
ação diferente a fim de captar recursos para este programa, passaremos a correr
riscos indesejáveis quanto à segurança do pessoal. Eu, enquanto for Secretário da
SECIRM, não arrisco a vida de um pesquisador, que leva 40 anos para ser
construída. Constrói-se uma estação em 2 anos, um pesquisador, em 40. Se houver
risco para todo o pessoal, prefiro paralisar o programa. Não quero perder um
cientista.
E a integridade do navio? Quando vamos para a Antártica, não dispomos de
postos de gasolina, oficina mecânica nem de estaleiro para fazer reparos. Nos
últimos anos, fazemos reparo apenas nos sistemas vitais do navio. Os demais
sistemas não estão sendo reparados. Isso faz com que diminua a vida útil do navio.
Não existe planejamento para sua substituição. Sem o Ari Rongel não há Programa
Antártico Brasileiro. Está incluído naqueles 8,5 milhões a recuperação de sistemas
do navio e da própria estação, conforme situação aqui demonstrada.
Com reflexos negativos para a imagem que o Brasil projeta por sua atuação
naquele continente, não nos restando alternativa, contra a nossa vontade, chorando
lágrimas de sangue, depois de 22 anos de trabalho de brasileiros que foram para
aquela região inóspita e levantaram essa égide para o País, vamos ter de reduzir o
programa e, talvez, até paralisá-lo totalmente.
Isto significa regressar a 1940. E tenho certeza de que este não é o desejo de
ninguém. Deve ser estabelecido um processo orçamentário que garanta a
continuidade de recursos. Não podemos mais trabalhar no sentido de um dia termos
CÂMARA DOS DEPUTADOS
recursos porque alguém conseguiu; temos de dele dispor porque estão previstos no
PPA e serão liberados, a fim de garantir a continuidade dos programas.
As soluções que visualizamos passam por alguns aspectos bastante
interessantes.
Em primeiro lugar, deixar de atrelar o reforço de orçamento do PROANTAR
ao orçamento da Marinha. Como todos sabemos, o orçamento das Forças Armadas
são contingenciados. No momento em que o orçamento do PROANTAR vem
atrelado ao orçamento da Marinha e recebe o contingenciamento, o comandante da
Marinha, por mais importância que atribua ao Programa Antártico Brasileiro, não
pode esquecer que tem como obrigação o aprestamento dos meios navais, tem que
dispor de uma Marinha para defesa da soberania, para cumprir aquilo que
determina a Constituição. E o PROANTAR não é uma atividade-fim da Marinha.
Então, recai sobre ele maior parcela de contingenciamento. Por isso, temos de
desatrelar este reforço orçamentário do orçamento naval.
Há duas linhas de ação, uma emergencial, conforme situação que acabei de
demonstrar, outra definitiva.
Como ação emergencial propomos destaque de crédito a curto prazo. E tem
de ser destaque de crédito, tem de vir do Orçamento da União, separado dos
orçamentos dados atualmente: os 10 milhões e os 8,5 milhões, nesses 2 anos.
Por iniciativa do comandante da Marinha, o Ministério da Defesa tem
conhecimento desses valores e da atual situação do nosso programa. Para que
servirá esse dinheiro? Para revitalizar a estação, trazê-la de volta à
operacionalidade; recuperar o Navio de Apoio Oceanográfico Ari Rongel, fazendo
com que tenha sua vida útil estendida, a fim de garantir a continuidade do programa;
permitir o apoio de infra-estrutura de pesquisa, os laboratórios estão em péssimas
condições; fazer a manutenção normal da estação, que consome aqueles 6 milhões;
e a partir de 2009 manter os 6 milhões para a vida natural do programa na área de
logística.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Há ainda a linha de ação definitiva — idéia aprovada pelo Ministro da Ciência
e Tecnologia, mas que precisa de apoio político para sua realização —, qual seja, a
criação de fundo setorial para os recursos do mar, abrangendo tudo aquilo que faz a
CIRM, por parcelas dos fundos já existentes, porque não podemos criar outro
imposto para sustentar o PROANTAR. Devemos reconhecer as ações dos fundos
setoriais existentes favoráveis a esse tipo de pesquisa, retirar parte do dinheiro a
eles destinados e montar esse novo fundo setorial. Por exemplo, poderíamos contar
com parcela do fundo setorial aquaviário, do fundo setorial mineral, entre outros.
Posso afirmar aos senhores que todos os programas da CIRM podem ser
levados a cabo dentro da potencialidade do País.
O valor não ultrapassa 25 milhões de reais por ano, dentro do estabelecido
para o País, competindo com a inserção social, com o desenvolvimento sustentável,
com outras obras de grande importância. Se temos ações para os programas da
CIRM em cada fundo, queremos pegar uma parcela do dinheiro, criar um fundo
setorial, cujo comitê gestor seria formado por esses órgãos atuantes, quais sejam,
Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Meio Ambiente, CNPq, a CIRM e a
Marinha do Brasil, representando o Ministério da Defesa, para dizer em que seria
gasto o dinheiro, seguindo as linhas de ação de pesquisa dadas pelo MCT,
seguindo aquilo que o MMA diz que deve ser protegido em termos de meio
ambiente e proporcionando apoio logístico necessário para que tudo possa ser
realizado.
Senhores, não existe país soberano sem pesquisa. Vou repetir: não existe
país soberano sem pesquisa. A dependência tecnológica faz com que o país seja
refém daqueles que desenvolvem pesquisa. O Programa Antártico Brasileiro deve
ser considerado um instrumento de projeção da nossa imagem no cenário mundial e
de demonstração à comunidade internacional, sobre o firme interesse do País
naquele continente. Isso garante nossa participação no processo de discussão
sobre o futuro da região, que vai trazer benefícios diretos ao País, não apenas
emprego, mas também conhecimento para melhorar a situação brasileira,
colaborando com todas as linhas de ação governamental fartamente distribuídas em
todos os PAs, como é o caso da inserção social, no que diz respeito à pesca e a
outros assuntos, como também no caso do desenvolvimento sustentável, no que diz
CÂMARA DOS DEPUTADOS
respeito à climatologia, à pesca e tantos outros temas.
Agradeço a todos a atenção.
Muito obrigado. (Palmas.)A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Agradeço ao
contra-almirante José Eduardo Borges de Souza a sua brilhante exposição. Ficamos
sensibilizados com a situação da nossa base na Antártica.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Registro a presença do comandante Vasques, da Assessoria Parlamentar do
Ministério da Marinha; do comandante Jorge Faria Franco Júnior, Coordenador do
5ª Vôo Antártico neste ano; do Dr. Jefferson Cardia Simões, cientista, glaciólogo,
professor da Universidade do Rio Grande do Sul e integrante do Comitê Nacional de
Pesquisas Antárticas do Ministério da Ciência e Tecnologia; dos oficiais da Marinha
do Brasil; dos integrantes da SECIRM; do capitão-de-mar-e-guerra José Eduardo
Martins Pinto; do capitão-de-fragata José Renato; capitão-de-fragata Dário Pereira
Paes Filho; do capitão-de-corveta José Faria Franco; do capitão-de-corveta Carlos
Frederico Freitas; e do capitão-de-mar-e-guerra José Antônio Teixeira, além dos
assessores parlamentares aqui presentes.
Agradeço também a presença aos Parlamentares integrantes desta
Comissão ou não, Zequinha Marinho, Lupércio Ramos, Vieira Reis, Maninha, Nilson
Mourão, Luiz Sérgio, Josué Bengston, Natan Donadon.
Encerrada a exposição, peço ao Deputado Lupércio Ramos, do Amazonas,
que me substitua na Presidência, para que eu possa falar em nome dos autores do
requerimento para a realização desta reunião.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Com a palavra a nossa
eminente Presidenta, Deputada Maria Helena, que fará a saudação ao
contra-almirante José Eduardo pela extraordinária exposição feita sobre assunto de
grande importância para o nosso País, motivo de orgulho e de tristeza por vermos
não só esse programa, mas a própria Marinha se debatendo com a falta de recursos
e o visível sucateamento de patrimônios essenciais para o País.A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Sr. Presidente, em nome da
Deputada Ann Pontes, autora do requerimento que motivou esta audiência pública,
agradeço a presença e a exposição ao contra-almirante José Eduardo, Secretário
da SECIRM, que veio aqui nos falar sobre o Programa Antártico Brasileiro,
desenvolvido na Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz.
Sabemos que por meio do PROANTAR o Brasil tem desenvolvido pesquisas
científicas de grande importância, que o trabalho produzido a partir dessas
pesquisas propicia o reconhecimento do País como parte consultiva do Tratado da
Antártica.
Ressalto a importância da presença brasileira naquela região, não só pelas
CÂMARA DOS DEPUTADOS
pesquisas que o Brasil vem realizando, mas também por estar afirmando nossa
posição estratégica na região.
Nossa base, como o contra-almirante José Eduardo nos disse, está situada
naquele ambiente distante, inóspito, ainda que de uma natureza imensamente bela,
mas nossas instalações já estão deterioradas. Lá, nossa equipe, composta por
pesquisadores, cientistas, militares, demonstra patriotismo e espírito público. As
pessoas passam meses isoladas, alguns até anos. Elas realmente são o
testemunho da nossa capacidade de enfrentar dificuldades e vencê-las com
dedicação e profissionalismo. Muitos Parlamentares desta Comissão, alguns aqui
presentes, já tiveram a oportunidade de testemunhar isso.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Em nome da ciência e da participação efetiva do Brasil, esses homens e
essas mulheres cientistas e militares da Marinha dedicam-se ao estudo de uma
região cujo papel, no futuro da nossa civilização, será muito importante, pelas
incalculáveis reservas que temos lá, de minerais, biológicas e de água doce, como
V.Sa. disse. Esse trabalho, nas condições climáticas globais de hoje, é o alvo
principal das nossas pesquisas científicas. Portanto, é preciso que o Governo
brasileiro dê mais atenção a esse programa.
Somos 1 dos 45 signatários do Tratado de Madri, 1 dos 27 membros do seu
Conselho Consultivo, 1 dos 19 que lá instalaram suas bases. E temos
responsabilidade com essa posição que já conquistamos. Nós Parlamentares temos
responsabilidade com essa posição que o Brasil conquistou. E cumprir com essa
responsabilidade significa não negligenciarmos, por exemplo, a destinação dos
recursos necessários não apenas para manter aquela base na região, mas também
expandir o PROANTAR.
Não é possível que o Brasil continue desenvolvendo essas pesquisas e
mantendo lá brasileiros nessas condições que V.Sa. acabou de nos mostrar e que
tivemos a oportunidade de constatar no último mês de maio. Os laboratórios e
equipamentos estão obsoletos, sem condições de modernização, em função do
minguado orçamento destinado ao PROANTAR.
O senhor disse bem que estamos perdendo nossa estação. Infelizmente,
essa é uma realidade. A grandeza desse programa, sua importância científica e
mesmo geopolítica não pode ficar submetida a uma avareza orçamentária. Nós aqui
estamos falando de recursos ínfimos. Não se trata de um grande aporte de
recursos. Pior: além de ínfimos, eles ainda são contingenciados.
Por essa razão, entendo de grande importância a realização desta audiência
pública, para que possamos, no momento em que vamos definir o Orçamento para
o ano que vem, contemplar com o que é efetivamente necessário esse programa,
de enorme importância para o Brasil.
Agradeço a presença a V.Sa., para fazer contato com Parlamentares que já
estiveram lá e outros que ainda não estiveram, mas que têm grande interesse na
continuidade dessas pesquisas.
Muito obrigada.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Antes de passar a
Presidência à Deputada Maria Helena, registro a presença do pesquisador Jefferson
Cardias Simões, que, além de pesquisador do projeto, ainda é um entusiasta pelo
programa. Registro ainda a presença da Senadora Heloísa Helena, que deve unir-se
a esta Comissão, de alma e coração, para ajudar a salvar esse belo programa
brasileiro.
Convido a Deputada Maria Helena a reassumir a Presidência dos trabalhos.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Agradeço a presença à
Senadora Heloísa Helena.
Concedo a palavra à Deputada Maninha.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
A SRA. DEPUTADA MANINHA - Bom dia, contra-almirante José Eduardo.
Sou uma das privilegiadas que foram ao PROANTAR, à nossa base, e mesmo
antes de ter ido já estava convencida da importância principalmente daquilo a que o
senhor acaba de se referir: um país que não investe em educação e pesquisas está
fadado a não crescer, a não ter desenvolvimento. Portanto, fico muito sentida
quando, todos os anos, realizamos audiências em nossas Comissões para que o
programa possa ser exposto e para convencer Parlamentares a lutar no Orçamento
por emendas individuais e coletivas de Comissões para garantir recursos para um
programa que considero um dos mais importantes para nosso País.
Creio que todos nós que estivemos presentes lá sabemos de sua
importância. Mas este Congresso Nacional tem de se convencer, de forma coletiva,
de que temos de mudar essa metodologia e caminhar por essa trilha que o senhor
acaba de mencionar, para garantir, de fato, recursos perenes, para que o programa
possa sobreviver.
Não poderei ficar aqui até o término da audiência, mas quero deixar à sua
disposição e à disposição do Ministério da Defesa e da Marinha meu propósito de
lutar para que não haja contingenciamento e que se defina, de uma vez por todas,
recursos perenes para o programa.
Estamos aqui, o Deputado Nilson Mourão, Vice-Presidente da Comissão de
Relações Exteriores, e eu para discutir também na Comissão como nos portaremos
neste ano para garantir recursos e para que eles não sejam contingenciados. Não
adianta disponibilizar os recursos, e quando chegarmos próximo ao final do ano,
eles não serem liberados.
Portanto, o senhor pode contar conosco. Sou uma soldada orientada pela
Marinha para lutar nessa ação. Tenho certeza de que o senhor tem hoje aqui um
reforço muito maior. O senhor tem 3 mulheres convencidas — tenho certeza de que
a Senadora Heloísa Helena, assim como a Deputada Maria Helena e eu estaremos
à disposição para trazer mais recursos para o programa.
O convencimento sobre a importância do programa não é mais necessário. Já
estamos convencidos dela há muito tempo. Precisamos agora convencer o Governo
a aportar recursos não apenas para que ele seja efetivo, para que possa ser
mantido. Lamento profundamente que nossa estação tenha chegado à atual
CÂMARA DOS DEPUTADOS
condição. Não é possível que não consigamos garantir recursos neste ano.
Conte conosco. Tenho certeza de que o Deputado Nilson Mourão, comigo, na
Comissão de Relações Exteriores, vai brigar não só pela emenda de Comissão, mas
por essa trilha que o senhor acaba de nos apontar.
Deixo aqui minha disposição e meu abraço.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Obrigada, Deputada
Maninha.
Também registro a presença do Deputado Maurício Rebelo, do Tocantins, a
quem agradeço a presença.
Com a palavra o Deputado Nilson Mourão.
O SR. DEPUTADO NILSON MOURÃO - Querida Presidenta Deputada Maria
Helena, cumprimento V.Exa. e manifesto minha alegria de participar desta
audiência. Vejo com muita alegria as iniciativas desta Comissão, tão dinâmica,
tendo à frente essa querida Deputada.
Contra-almirante, é um prazer poder, como Vice-Presidente da Comissão de
Relações Exteriores e suplente desta Comissão, participar desta audiência. Sou da
região amazônica, do Acre, mas estou aqui com grande honra.
Tive a oportunidade de participar de algumas missões, visitando programas
que têm à frente comandantes militares. Visitei Aramar, que desenvolve o programa
de submarinos; tive a oportunidade de visitar um programa que as Forças Armadas
desenvolvem no Calha Norte.
Todos esses programas que estão sendo desenvolvidos, além do Programa
Antártico, que pude ver pela primeira vez na sua exposição, de fato, não são das
forças militares, nem de um Governo. São do povo brasileiro, do Estado brasileiro.
Desenvolvem pesquisas, muitas vezes programas estratégicos e sociais de grande
importância.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Cumprimento, portanto, o senhor, que está à frente do Programa Antártico
Brasileiro, e externo minha alegria de ver o trabalho que está lá desempenhando.
Desde já, coloco-me à disposição do senhor e daqueles que desenvolvem
esse programa para darmos suporte orçamentário, a fim de que o mesmo possa ser
idealizado.
Os programas militares normalmente são estratégicos e, por isso, têm
expressivos custos, mas precisam ser mantidos. O senhor disse claramente que
para o próximo ano serão necessários recursos da ordem de 10 milhões de reais,
mas estão previstos apenas 2 milhões de reais.
Certamente, o Governo Lula e o Ministro estão comprometidos com essas
áreas. Não sei se conseguiremos atingir o ponto ideal, mas faremos de tudo para
dar continuidade ao programa. O senhor pode estar certo de que poderá contar não
só com a Comissão de Meio Ambiente, mas também com a de Relações Exteriores
e a de Ciência e Tecnologia.
Ao encerrar, ficaria feliz e honrado se pudesse integrar a comissão de
Parlamentares que visitará a Antártica para defender com mais garra e entusiasmo
o Programa Antártico Brasileiro.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Com a palavra o Deputado
Zico Bronzeado, do Acre.O SR. DEPUTADO ZICO BRONZEADO - Sra. Presidenta, contra-almirante
José Eduardo, Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs. Senadores, para nós, do Acre,
esta palestra é fundamental. Muito nos preocupamos com as florestas, com os rios,
com a biodiversidade, mas, ao mesmo tempo, devemos também nos lembrar da
Antártica, onde vem sendo desenvolvido importante programa, o qual devemos
tomar conhecimento.
Defendemos a Amazônia e temos a obrigação também de defender a nossa
Pátria com o programa que vem sendo desenvolvido na Antártica. Assim como disse
o Deputado Nilson Mourão, conhecemos algumas áreas onde as Forças Armadas
operam, como por exemplo a da Amazônia.
Tenho curiosidade de conhecer o Programa Antártico Brasileiro, mas como a
viagem é com data marcada, talvez não possa ir por compromissos de agenda. Mas
CÂMARA DOS DEPUTADOS
todos os Deputados desta Comissão deveriam conhecer in loco o trabalho que vem
sendo desenvolvido.
Para que eu possa defender com ênfase o PROANTAR nos Ministérios
competentes, é necessário pisar na Antártica, a fim de ter fundamentos para
apresentar ao Governo. Faço parte da base de apoio do Governo Lula, sou do
Partido dos Trabalhadores, e tenho grande interesse em falar a S.Exa. sobre a
importância desse belíssimo programa. Não podemos nos omitir. Há 25 anos o
Programa Antártico Brasileiro vem sendo desenvolvido, ou seja, não foi da noite
para o dia.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Deixo, portanto, meus cumprimentos ao contra-almirante José Eduardo. A
partir de agora seremos defensores assíduos desse programa. Desde já, coloco-me
à disposição da Comissão e de V.Sa. para quaisquer reivindicações que se fizerem
necessárias.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Lupércio Ramos) - Passarei a palavra ao
expositor para suas considerações.
Em seguida, faremos um bloco de 3 Parlamentares, dando a palavra
inicialmente à Senadora Heloísa Helena.
Com a palavra o contra-almirante José Eduardo Borges de Souza.
O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Muito obrigado.
Sr. Presidente, inicialmente, agradeço a todos a presença.
Comentarei o que particularmente considerei o mais importante. Ao ver as
mulheres sentadas à frente, passei a ter dimensão diferente de como os
Parlamentares podem encarar o Programa Antártico Brasileiro. Nutro grande
admiração pela Senadora Heloísa Helena, sem dizer se concordo ou não com a
posição de S.Exa., mas a parabenizo pela garra, força e disposição. O mais
importante é como defende o seu ponto de vista, e se esse estiver aliado à defesa
do Programa Antártico Brasileiro, para nós será fantástico e fundamental também
contar com a sua colaboração juntamente com as Deputadas Maninha e Maria
Helena.
Alguns Parlamentares aqui são da área da Amazônia, e a Antártica fica no
pólo sul. Para entendermos um pouco qual a relação entre as duas regiões,
explicarei o fenômeno da friagem, que é proveniente da Antártica. Como
reconhecê-lo, saber quando ele ocorre, preparar a população, saber o que acontece
nesse período, quais suas repercussões, como se proteger dele ou como
aproveitá-lo, tudo é resultado de pesquisa na Antártica.
O povo brasileiro vai do Rio Grande do Sul até o Acre, passando lá por cima.
E vejam bem: hoje, a nossa pesca é escassa e não temos o hábito de comer
pescado, o resultado das pesquisas na Antártica fazem melhorar as condições de
conhecimento — estou evitando usar a terminologia dos cientistas, até porque não
sou cientista e levei pelo menos 8 meses para me habituar com 4 ou 5 palavras —,
mas coisas como, por exemplo, o saber da biomassa, estabelecer o período de
CÂMARA DOS DEPUTADOS
defesa, proteger essa riqueza para fazer com que o povo brasileiro possa usufruir
dela eternamente e não venhamos a destruí-lo com a caça predatória é importante.
Tudo isso tem a ver com a pesquisa realizada na Antártica.
Outro detalhe importante que se deve frisar diz respeito aos pesquisadores
que vão à Antártica por dedicação. É incrível alguém ir para aquela região, que é
muito linda — o Deputado já esteve lá —, durante 30, 40 minutos, 1 hora. Mas ficar
durante vários dias, ter de suportar temperaturas de 35 graus negativos, com ventos
de 180 quilômetros de por hora, sair para fazer pesquisas e correr determinados
riscos e ganhar apenas 50 reais por dia, só mesmo com dedicação. Isso é aquilo
que os pesquisadores e nós temos de melhor, e o que temos de melhor é o fato de
sermos brasileiros e vermos esses exemplos, nos espelharmos neles e virmos aqui
com a mesma emoção e o mesmo ímpeto tentar defender o trabalho deles que
resultará em prol do nosso povo e defenderá uma riqueza para o nosso futuro. Não
é algo para amanhã, mas para as novas gerações.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Reserva de água doce, reservas minerais, sejam lá quais tipos de reserva
existem no extremo do planeta, que até hoje não estão confirmadas, que os
pesquisadores discutem e brigam, não me importo. Mas, na condição de brasileiro,
de potência sul-americana, faço questão de estar dentro do processo. Seria terrível
para o Brasil ver outro país — sem desmerecimento algum — com menor
capacidade, com menor potencial, com menor quantidade de pesquisadores, estar
dentro do processo e ficarmos dele alijados por ridícula quantidade de dinheiro.
Agora está em 10 milhões de reais porque deixamos chegar a esse ponto. Nós
somos os responsáveis por isso.
Temos de trabalhar, não podemos perder o ímpeto e temos de correr para
conseguir solução que dê continuidade ao programa. Chega de soluço. Não adianta
mais ficar trabalhando e pensando que talvez o ano que vem ou o outro iremos
encontrar uma solução. Isso não funciona.
Como disse a Deputada Maninha, devemos conseguir recursos
orçamentários, desde que estejam desatrelados do Orçamento da Marinha. Se for
jogado no Orçamento da Marinha, estarei ao lado do meu comandante de Força
para que ele invista o dinheiro para aprestamento dos nossos meios navais, nossa
precípua tarefa. Deve existir ação específica para o Programa Antártico Brasileiro.
Deve-se investir dinheiro no programa para obter tais resultados. Cabe ao MCT
cobrar tais resultados, estabelecer as linhas de pesquisa, ao MMA estabelecer a
proteção e à Marinha dar o necessário apoio logístico e permitir que isso seja
idealizado.
Ressalto que a estação está acabando, que o navio está acabando e que, se
não tivermos recursos, iremos parar o período de invernada, o que reduz em muito
as nossas pesquisas. Se paralisarmos em 1 ano, 2 anos o programa, não adianta
depois olhar para a parede ou ajoelhar no milho, porque teremos jogado fora o
esforço de 22 anos de trabalho de brasileiros desprendidos que foram para aquela
região e montaram o que temos lá hoje. É nossa responsabilidade preservar isso.
Os nossos antecessores foram os responsáveis por essa obra. Por isso temos a
obrigação de passar para aqueles que nos sucederem, as futuras gerações, algo de
útil. Devemos deixar de ficar preocupados com o passado, olhar para o futuro e dar
condições de os planos serem implementados.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Estou muito satisfeito com a presença dos senhores. Tenho no coração a
imagem de que não vamos deixar morrer o Programa Antártico Brasileiro.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Passo a palavra à
Senadora Heloísa Helena.A SRA. SENADORA HELOÍSA HELENA - Em primeiro lugar, saúdo a
Deputada Maria Helena, os Srs. Parlamentares e todos os que compõem a
Comissão da Amazônia. É uma alegria ver o Contra-Almirante José Eduardo
participar desta audiência e contribuir para o debate.
Ressalto ainda que a assessoria parlamentar da Marinha é muito eficaz,
porque eu não tive conhecimento desta audiência, mas coincidentemente estava
participando de outra reunião na sala em frente, discutindo outro tema igualmente
importante para a soberania nacional, o petróleo. Eles me avisaram sobre esta
audiência, e fiz questão de vir participar.
Desejo dar o meu testemunho. Já visitei a Antártica no período — se é que se
pode estabelecer hierarquia em relação a ambiente inóspito — mais frio do ano.
Aliás, alguns até dizem ser o período em que nem os pingüins lá ficam porque têm
mais juízo do que nós. Quem quiser ver os pingüins deve ir até lá em outra época do
ano.
Como o Contra-Almirante disse, é um lugar muito bonito e especial. O azul
melancólico do mar congelado é completamente diferente do mar que estamos
acostumados a ver. O imenso silêncio branco é algo maravilhoso. Para quem está lá
é muito difícil viver o dia-a-dia, e já o foi mais ainda quando os pesquisadores e
militares sequer podiam se comunicar com suas famílias via Internet ou de qualquer
outro modo.
Na missão de que fiz parte, tivemos de esperar 3 dias para ver se o tempo
melhorava para poder pousar na Antártica. O clima não ajuda. Os ventos são muito
fortes, e tivemos até um problema com o trem de pouso do nosso resistente avião
Hércules.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
A primeira vez que vi aquele imenso bloco branco de gelo no mar —
lembrei-me até de quando estudei matemática e havia a velha polêmica de
Pitágoras, se há 500 anos antes de Cristo existia massa de terra embaixo para
controlar o continente do norte — incrustado no azul melancólico do mar,
completamente diferente, foi uma emoção muito grande. Não conseguimos pousar.
Tentamos por 3 dias, e, finalmente, conseguimos pousar.
Não é uma coisa fácil, é muito difícil, muito. Para os militares e pesquisadores
que lá estão, não é fácil. É um projeto muito difícil de ser viabilizado, até porque o
tratado da Antártida não estabeleceu estruturas permanentes, e isso ficou sob a
responsabilidade, ou à mercê da responsabilidade, que poderia não existir, das
chamadas partes contratantes, que eram os países. Ou seja, acabou-se deixando
para a responsabilidade, ou não, dos países que lá estão.
As pesquisas lá desenvolvidas são muito interessantes, como a sobre
doenças crônicas degenerativas. Muitas dessas pesquisas poderão auxiliar na cura
e tratamento de doenças gravíssimas, como o câncer. Também dão conta da
conservação dos recursos vivos marinhos; do monitoramento das focas, da
discussão sobre a extração mineral na região. Então, são projetos muito importantes
que lá estão sendo desenvolvidos de uma forma muito resistente, especialmente
pela Marinha e pelos pesquisadores de várias instituições públicas espalhadas pelo
Brasil que disponibilizam seus quadros técnicos.
Sinto-me na obrigação e já tive a oportunidade de apresentar emendas ao
Orçamento, em nossas emendas individuais, para o projeto, mas, como o
Contra-Almirante José Eduardo disse há pouco, não é justo. O Parlamentar
apresenta uma emenda ao Orçamento, e o Governo pode fazer de conta que libera,
enquanto esvazia o Orçamento próprio da Marinha. Então, do mesmo jeito que não
resolve o problema nós apresentarmos emendas e o Governo — qualquer Governo
— não executá-las, também não resolve ele acabar executando apenas no caso dos
Parlamentares que são da sua base de sustentação.
Eu estava aqui brincando com os Parlamentares e disse que os homens
estão muito fracos na foto, porque acabou que as 3 Parlamentares é que foram
citadas pelo Contra-Almirante José Eduardo. (Risos.)O projeto tem muito mais do que o meu respeito e a minha solidariedade:
CÂMARA DOS DEPUTADOS
pode contar com o meu empenho, o da Deputada Maria Helena e de todos os
Deputados desta Comissão. Naquilo que entenderem que podemos ajudar no
Senado, como na articulação com vários outros Senadores, tem o nosso total
empenho, e proponho que façamos exatamente isso.
Eu fiquei triste quando cheguei lá e vi a resistência das pessoas. Para que
pudéssemos chegar à base brasileira, tivemos que pedir emprestado o helicóptero
da base chilena.
Sei que em pesquisa, ciência, tecnologia, nas Forças Armadas, naquelas
políticas que são a razão de existir do Estado brasileiro, que são justamente aquelas
que não podem ser disponibilizadas por outros, terceirizadas ou qualquer outro
nome que se queira dar, aquilo que é da essência do aparelho de Estado, a sua
razão de existir, não podemos tratar com contingenciamento; com tudo isso que de
racionalidade nada tem, nem de lógica de administração pública nem de
razoabilidade.
Parabéns ao Vice-Presidente que estava conduzindo o trabalho e a todos os
Parlamentares que fazem parte desta Comissão. De uma forma muito especial dou
meus parabéns à Marinha, à Aeronáutica e a todos os pesquisadores que integram
o PROANTAR.
Não vou poder ficar mais tempo porque tenho uma agenda na Comissão
Parlamentar de Inquérito, mas me senti na obrigação, e o faço com alegria, de estar
aqui e dar um brevíssimo testemunho, insignificante, tendo em vista a grandeza
desse projeto e do compromisso social, da responsabilidade dos militares e dos
pesquisadores que fazem parte do PROANTAR.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Sra. Presidenta, muito obrigada a V.Exa. por me dar a possibilidade de
prestar este brevíssimo testemunho.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Senadora Heloísa Helena,
a participação de V.Exa. é da maior importância e por isso nós agradecemos.
Sabemos do seu compromisso com o PROANTAR e, por esse motivo, no dia 28 de
setembro, encaminhamos um convite a V.Exa. para participar desta audiência
pública, convite esse recebido por sua assessoria. Acho que por uma falha de
comunicação somente hoje V.Exa. tomou conhecimento desta reunião.A SRA. SENADORA HELOÍSA HELENA - Mas a sua assessoria foi
implacável. Junto com a assessoria da Maria, foram implacáveis. (Risos.)A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Mais uma vez
agradecemos a V.Exa. a presença.O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Senadora, em primeiro
lugar, parabéns pelo seu conhecimento no que diz respeito às pesquisas, assunto
que não mencionei aqui.
Realmente, o enfoque dado às pesquisas não é de se alcançar objetivos a
curto prazo, mas a médio e longo prazo. Muitas coisas estão sendo trazidas para
dentro dos nossos centros de pesquisa e universidades e vão auxiliar, e muito, em
coisas como o tratamento de doenças crônicas do coração, o estudo das aves que
conseguem mergulhar, os radicais livre. Quer dizer, são detalhes técnicos que não
nos interessam aqui, mas, no conjunto, formam o arcabouço, o fundamento para
que essas pesquisas sejam realizadas.
Senadora, só uma coisa: o helicóptero não é emprestado; são 1.800 dólares
por hora de vôo. Mas acontece que não há dinheiro que pague a nossa certeza
absoluta de que há um Parlamentar lá conhecendo, vivenciando, tendo essa
experiência. Dessa forma, V.Exa. vai poder lutar por aquilo sobre o que
conversamos agora a respeito do Orçamento.
Foram apresentadas emendas parlamentares no valor de 7 milhões este ano,
que saíram exatamente de onde V.Exa. mencionou: do fardamento, da alimentação,
da manutenção dos navios da Marinha. Então, não há como o Comandante da
Marinha tirar o dinheiro do compromisso que ele tem com a Nação brasileira e
colocar em programa de responsabilidade do Estado. Não há como fazer isso.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Nos restaram 3 milhões. Dos 10 que deveriam vir, chegaram 3 milhões, mas
à custa de sangue, suor e lágrimas, porque também temos que dar esse tipo de
contribuição. Nós iniciamos a revitalização da Operação Antártica, mas com a cara e
a coragem, porque ela vai custar 8 milhões, e só temos 2 milhões e 700 mil. Como
se vai terminar de pagar, eu não sei. Teremos de encontrar uma solução, porque
começou, e tinha que começar. Teremos o Ano Polar Internacional em 2007 e 2008
e temos que estar com a estação pronta, do contrário não participaremos do
processo de interação com os demais países nessas pesquisas e vamos perder
muito daquilo que já obtivemos, a relevância do trabalho que é lá realizado. Seria
uma demonstração de incapacidade e uma irresponsabilidade jogar esse trabalho
fora.
Senhores, para que eu não seja expulso da Marinha e para que a outra
mulher que defende muito o PROANTAR, que está lá em casa, não me expulse
também, eu peço: consigam o orçamento, porque não tenho outra saída.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Contra-Almirante José
Eduardo, em entrevista que concedi à TV Câmara, fui questionada sobre quanto
precisa o PROANTAR por ano. Baseada no que nos informou o cientista e
pesquisador Prof. Jefferson, informei que precisaria, em média, de 25 milhões.
Então, esses 8 milhões necessários para a recuperação, V.Sa. tem toda a razão,
são ínfimos.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Hoje, citaria como exemplo uma obra na Capital do Estado que represento,
uma obra de infra-estrutura urbana, que é a cobertura de um camelódromo: ela
custa 6 milhões de reais, e a recuperação da nossa base Comandante Ferraz custa
8 milhões. Quer dizer, é uma brincadeira não se conseguir esse recurso.
Com a palavra o Deputado Lupércio Ramos.
O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Eminente Presidenta Maria Helena,
demais colegas Parlamentares, o Contra-Almirante José Eduardo, além da bela aula
que nos fez entender um pouco o que é a Antártica e o que ela significa para nós,
deu-nos aula também de cidadania, a fim de que se possamos lutar por algo
fundamental para o nosso País.
Fiquei numa encruzilhada. Aqui na Comissão da Amazônia, onde sou
membro titular, imaginei que aprenderia muito sobre a Antártica, conheceria mais
profundamente o que se faz lá, a pesquisa, o avanço científico, e saberia da
importância de tudo isso para o nosso futuro e para o futuro dos nossos filhos. Em
contrapartida, na Comissão de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da
qual sou membro suplente, está presente o Presidente do Banco Central, Ministro
Henrique Meirelles, que presta contas acerca dessa instituição. Então, eu teria que
fazer uma opção: vir aqui para aprender ou ficar lá para tentar entender o que está
acontecendo com a economia do País.
Como é que nós, brasileiros, vamos nos posicionar? De um lado, ouvimos
dizer que o Brasil vai pagar este ano 180 bilhões só de juros. De outro, temos um
programa extraordinário, importantíssimo para o nosso futuro, que carece de 8
milhões de reais para se manter, e nós não temos.
Fico impressionado como é que nós, Parlamentares, temos de pegar nossas
emendas. Em qualquer outro País sério a emenda do Parlamentar não seria para
aquelas funções fundamentais e básicas do Estado: educação, saúde e segurança.
E vejo ainda que o Contra-Almirante está preocupado com o fato de as nossas
emendas irem para a Marinha e ela ter de utilizá-las em funções essenciais, o que
pode até prejudicar o programa da Antártica.
Srs. Deputados, precisamos refletir profundamente sobre esse quadro que
estamos vivendo e reavaliar o nosso papel neste País.
Há 3 semanas estive num navio de guerra no Amazonas que
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tradicionalmente faz o seu serviço precípuo, que é o de guardar a nossa soberania,
mas que também atende a comunidades ribeirinhas desprovidas de saúde, de
atendimento odontológico etc. A viagem nos serviu não só para ver melhor como a
Marinha atende à população, mas também para avaliar como o seu navio está em
estado caótico. E a Marinha não tem a menor condição de repor sequer uma peça
num dos motores que geram energia.
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Por outro lado, segundo já pesquisei, o Ministério da Ciência e Tecnologia
dispõe de 14 fundos. Sozinho, o Ministério da Ciência e Tecnologia dispõe de 14
Fundos. Pelo que se ouve dizer, os recursos desses fundos não são
contingenciados, coisa que não acredito. Estamos impossibilitados de aumentar
impostos neste País, porque já pagamos a maior carga tributária do mundo. Nós,
brasileiros, pagamos uma das maiores cargas tributárias do mundo, repito. E
estamos impossibilitados de criar mais taxas, tributos etc., porque nem o povo nem
as empresas suportam mais. Temos de descobrir uma forma de fazer com que um
programa como esse tenha dotação própria para sua manutenção. O caminho é o
Ministério da Ciência e Tecnologia. Que não faça como lá na Amazônia,
Contra-Almirante. Hoje estamos vivendo uma das maiores secas dos últimos 60
anos. Nos últimos 60 anos, os rios do Estado do Amazonas não secaram tanto
como este ano. Inúmeras comunidades e Municípios estão completamente isolados.
Digo isso porque a SUFRAMA tem um fundo para manutenção da pesquisa, da
ciência e do conhecimento daquela região, para que se possa investir mais e para
melhorar a qualidade de vida, mas o Fundo está contingenciado. São 400 milhões
de reais contingenciados, e a população no maior desespero, sem perspectiva de
qualidade de vida. Alguma coisa está errada. Temos de dizer algo em relação a
isso. Vamos eternamente nos dedicar a trabalhar pelo País para pagar juros?
Apenas isso? O Brasil não tem alternativa.
Ao deixar para os senhores essa reflexão, quero apenas fazer 2 perguntas,
eminente Contra-Almirante. Como poderíamos melhorar e ampliar o programa
PROANTAR dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia? Qual a proposta? Que
proposta os senhores apresentam para nós, Parlamentares? Sou suplente, mas
sempre estou presente na Comissão Mista de Orçamento. Quero colocar-me à
disposição na hora que formos discutir — aliás, já estamos discutindo o assunto — o
Orçamento para o próximo ano. Para aprender um pouquinho mais, além de
conhecer a miséria e a ciência, qual o nível das pesquisas do nosso programa em
comparação com os dos outros países que fazem parte do acordo na Antártica?
O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Prezado Deputado Lupércio
Ramos, agradeço a V.Exa. a exposição. Vou diretamente às 2 perguntas. Talvez
tenha de dar algum outro tipo de explicação. Veja bem, o problema que eu
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apresentei está basicamente relacionado com área de logística, que tem
participação da Marinha e dos demais Ministérios, porém uma participação
obrigatoriamente mais tímida, que deveria se refletir na infra-estrutura de apoio
direto às pesquisas.
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O Ministério de Ciência e Tecnologia hoje contribui com o pagamento das
diárias, com bolsas para os pesquisadores e com a verba que ele atribui nos editais
para selecionar as pesquisas que serão realizadas no PROANTAR. Tenho, porém
dificuldades técnicas para dizer se ele a está fazendo tudo isso num nível adequado
ou não.
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O número de pesquisas realizadas na Antártica é em função da
disponibilidade de recursos, da sua eficácia no que diz respeito ao meio ambiente e
das possibilidades logísticas. Se estou com minhas possibilidades logísticas
restringidas, estou limitando o Ministério da Ciência e Tecnologia em investir mais
em outras pesquisas, porque não vou conseguir levar o pesquisador, não vou
conseguir apoiá-lo. Esse é um aspecto. Não tenho conhecimento de causa para
dizer se para o PROANTAR, dentro do MCT, no que se refere à pesquisa, se
alguma coisa pode ser feita de melhor ou não. O que posso dizer — e é a idéia que
temos — é que, dos 14 Fundos existentes no MCT, vários têm ações ligadas a
recursos do mar. Entre essas ações, discutidas por comitês gestores, que não têm
— agora inverte-se — o conhecimento das necessidades logísticas, nada vem para
a logística. Às vezes, por ação individual de um ou outro elemento, de um ou outro
Ministério, chega algum dinheiro para a logística que apóia a pesquisa. Então, a
proposta, como V.Exa. bem disse — e como brasileiro não quero ver imposto
aumentado também —, não é buscar outras fontes de recursos, mas utilizar aquilo
que já existe nas ações previstas nesses fundos e retirar dessas ações parcelas de
dinheiro que venham a compor outro fundo que será gerenciado pelas mesmas
pessoas. Mas que possa vir também a apoiar os programas e dar a eles a
continuidade necessária, para não apenas tranqüilizar o pesquisador, mas também
recuperar a capacidade logística que o País está perdendo para apoio às pesquisas.
Para melhorar o PROANTAR, eu diria que temos de estudar esse assunto junto com
aqueles que dominam os fundos. Esse assunto já foi apresentado ao Ministro da
Ciência e Tecnologia, a um dos Secretários, a notícia foi bem recebida, mas essa é
uma ação de médio a longo prazo. A criação de um fundo, como V.Exa. bem sabe,
depende de decreto presidencial, de convencimento e de perda de poder daqueles
que dominam os fundos, que hoje estão com essas verbas orçamentárias. Nossa
problemática hoje é emergencial. Estou perdendo a estação, o navio. Preciso de
dinheiro para reverter essa situação a partir de já. Preciso desse dinheiro para
consertar o navio naquilo que lhe é vital, garantir sua vida útil e a manutenção da
Estação Antártica Comandante Ferraz naquele volume de recursos que eu lancei na
planilha: 10 milhões em 2006 e 8,5 milhões em 2007 e 2008. Daí termos uma
solução mais definitiva para, a partir de 2009, com aquela verba de 6 milhões de
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reais, realizarmos o trabalho de manutenção, de forma a não deixar ocorrer aquilo
que aconteceu no passado recente, ou seja, a deterioração daquilo que foi
implantado com o sacrifício de 22 anos de trabalho e de recursos. Essa é a situação
no que diz respeito ao PROANTAR. Com relação ao seu segundo questionamento,
ou seja, de qual o nível das pesquisas brasileiras em comparação com a de outros
países, eu diria a V.Exa. que é assustadoramente alto. Eu digo assustadoramente
porque a sua qualidade gera para nós o compromisso de mantê-las, tendo em vista
os excelentes resultados que os nosso pesquisadores têm obtido em todas as
áreas, com repercussões internacionais extremamente positivas.
Conforme mencionei, um dos temas escolhidos para o grande evento
científico da década, o Ano Polar Internacional — que se realizará de 2007 a 2008 e
do qual o Brasil só poderá participar ativamente se tiver apoio logístico e verba para
a pesquisa e para os pesquisadores —, é algo em que o Brasil já trabalha há 4
anos.
Eu não teria a pretensão de dizer que o tema foi escolhido porque o Brasil
realiza essa pesquisa, mas o fato é que o Brasil trabalha há 4 anos nele, o que
mostra a relevância da pesquisa lá realizada.
O desenvolvimento tecnológico nos permite avançar; a restrição orçamentária
nos freia; retira apoio logístico. E com isso nós vamos marcando passo. Ou melhor,
o Brasil vai marcando passo, porque os nossos pesquisadores não; eles são
chamados para as comissões internacionais e estão atuando em várias delas como
convidados para realizar o trabalho que deveria ser feito com a nossa verba, a
nosso favor, com benefícios diretos para o nosso País.
Respondendo objetivamente, nossa pesquisa está no melhor nível. Ela é
reconhecida internacionalmente. Mas está migrando para outros lugares porque não
há como suportar o desconhecimento do que vai acontecer no ano que vem. E aí
como continuar a pesquisa? Como fazer com que isso venha a trazer benefício para
a humanidade?
Digo isso porque, conforme V.Exa. sabe — há alguns pesquisadores aqui
presentes, os quais podem confirmar o que estou dizendo —, o pesquisador não
pensa apenas no bairro, na região, no Estado, no País dele; ele pensa na
humanidade. Ele tem uma visão mais ampla. E quando obtém em outros fóruns o
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que é necessário para o seu trabalho, ele migra para eles, não por não ser
nacionalista, mas por ser humanitário. Ele vai lá usar o seu conhecimento para
proporcionar maiores benefícios para todo o conjunto de pessoas.
Portanto, a resposta é: nós estamos no top de linha no que diz respeito à
pesquisa na Antártica.O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Sra. Presidenta, concede-me
V.Exa. um minuto para concluir?A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Pois não, Deputado
Lupércio Ramos.O SR. DEPUTADO LUPÉRCIO RAMOS - Desejo apenas deixar uma
sugestão, nobre Presidenta, a V.Exa. e aos colegas Parlamentares.
V.Exa. poderia solicitar de nossa assessoria técnica um estudo com relação à
possibilidade de incluirmos o PROANTAR num dos seguintes fundos que vou citar e
que têm recursos próprios — em alguns casos os recursos não são sequer
contingenciados. Para isso, basta que nós apresentemos um projeto de lei.
Existem vários fundos. No Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo,
há o Fundo para o Setor Aeronáutico, o Fundo Setorial de Agronegócio, o Fundo
Setorial da Amazônia, o Fundo Setorial do Transporte Aquaviário, o Fundo Setorial
de Biotecnologia, o Fundo Setorial de Energia, o Fundo Setorial Espacial, o Fundo
Setorial de Recursos Hídricos, o Fundo de Infra-Estrutura, o Fundo Setorial Mineral.
Já existem vários fundos, os quais têm recursos próprios. Dessa forma, por meio da
mobilização da Comissão da Amazônia ou de um grupo de Parlamentares, talvez
possamos incluir o PROANTAR em algum desses fundos, a fim de que possa ter
recursos permanentes e não-contingenciados.
É esta a minha proposta.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Eu agradeço a sugestão de
V.Exa., Deputado Lupércio Ramos. Passarei essa consulta à assessoria, a fim de
que ela possa nos orientar em qual dos fundos se adequaria melhor a inclusão
desse programa.
Registro a presença do Diretor Geral da Câmara dos Deputados, Dr. Sérgio
de Almeida, nesta audiência pública.
Concedo a palavra ao Deputado Natan Donadon.
O SR. DEPUTADO NATAN DONADON - Sra. Presidenta, Deputada Maria
Helena; Sr. Contra-Almirante; Dr. Sérgio, Diretor Geral da Câmara dos Deputados;
Deputado Lupércio Ramos; demais convidados aqui presentes, boa tarde a todos.
Sr. Contra-Almirante, é uma satisfação e um prazer conhecê-lo. É a primeira
vez que eu estou ouvindo falar sobre o PROANTAR. Assumi em janeiro o mandato
e estou aqui para somar, para ajudar. Somente agora estou tendo a oportunidade
de ouvir sobre esse assunto tão importante e tão antigo, mas para mim tão recente,
tão novo.
Parabenizo o Contra-Almirante pela palestra e pelas informações trazidas a
esta audiência em busca dessa mobilização, dessa conscientização, de apoio. S.Sa.
busca parceiros para viabilizar as pesquisas e tantas outras coisas que estão
inseridas nesse macroprojeto.
Eu imagino haja muito a ser descoberto a esse respeito, como o próprio
Contra-Almirante disse; descobertas de suma importância para a Nação, para a
humanidade, as quais estão emperradas e que precisam do nosso apoio, da nossa
agilização, para que possamos ter acesso a essas grandiosidades, essas riquezas,
tanto para a saúde da humanidade quanto para outros aspectos.
Eu me coloco à disposição de V.Sa., Contra-Almirante, para me juntar a
V.Sa. na luta por esse fim. Comprometo-me a ajudá-lo aqui na Comissão da
Amazônia, na Câmara dos Deputados. Coloco-me à disposição de V.Sa. para
ajudar nesse projeto, que é de interesse nosso, da nossa Nação, da humanidade, e,
acima de tudo, de interesse de cada brasileiro.
Parabenizo V.Exa., nobre Presidenta desta Comissão, por esta audiência e
me coloco à disposição para ajudar.
Muito obrigado.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Muito obrigada, Deputado
Natan Donadon, pelas palavras de incentivo.
Contra-Almirante José Eduardo, quando fomos convidadas para ir à Antártica
conhecer esse programa e a nossa Estação Comandante Ferraz, nós nos sentimos
muito honradas e lisonjeadas por termos sido escolhidas, mas, ao mesmo tempo,
sabíamos da nossa responsabilidade. Todas as vezes que viajamos numa missão
oficial, sabemos que temos a obrigação, o dever, de, tomando conhecimento dos
problemas — no caso do PROANTAR, dos problemas que esse programa enfrenta
—, tomar providências. Nós sabíamos que essa nossa viagem, essa nossa
representação da Câmara dos Deputados, naquele momento demandaria uma série
de providências.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Foi por isso que a Deputada Ann Pontes e eu, tão logo chegamos,
convidamos o Prof. Jefferson Cardia para vir a esta Comissão a fim de expor a
todos os Parlamentares — não só os da Comissão, mas todos aqueles que ainda
não conheciam esse programa PROANTAR e a Estação Brasileira Comandante
Ferraz — todos os problemas que o programa está enfrentando.
Nós sabíamos que teríamos que nos aprofundar muito mais no significado do
programa e conscientizar também todos, especialmente os Parlamentares desta
Comissão, da necessidade de defendermos o PROANTAR dentro do Congresso
Nacional, especialmente neste momento em que vamos preparar o Orçamento para
2006.
Agora fui informada pela assessoria de que nós podemos, de forma
emergencial, encaminhar ao Poder Executivo toda a demanda do PROANTAR para
que, por meio de uma medida provisória, o Governo possa atender à sua
necessidade.
Por isso, vou solicitar o apoio da Comissão da Amazônia, bem como de
outros Parlamentares que não integram esta Comissão, mas estão sensibilizados
com o problema, para que possamos cobrar do Poder Executivo atitudes a esse
respeito. Vou solicitar até mesmo o apoio do Presidente desta Casa, para que, por
meio de uma medida provisória, possamos de forma emergencial salvar esse
programa tão importante para o Brasil.
Contra-Almirante, eu pergunto a V.Sa. se ainda deseja fazer alguma
observação.
O SR. JOSÉ EDUARDO BORGES DE SOUZA - Prezada Deputada Maria
Helena, Srs. Deputados presentes, demais amigos, agradeço muitíssimo a
oportunidade de estar aqui, pois me é extremamente grato falar sobre o programa.
Nós estamos em situação realmente difícil. Eu não sou o arauto do
Apocalipse, mas tenho a consciência de que, ou nós tomamos algumas decisões
agora, ou vamos perder todo um passado.
Todas as iniciativas são extremamente bem-vindas. A SECIRM, que é a
Secretaria da Comissão Interministerial para Recursos do Mar, está totalmente à
disposição de V.Exas. para prestar qualquer tipo de apoio na redação, no preparo,
no fornecimento de dados, na conversa, na discussão do tema, de modo a facilitar o
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trabalho que V.Exa. está se dispondo a realizar.
Caso o seu trabalho venha a ter resultado positivo, V.Exa. fique certa de que
nós conseguiremos inverter o processo de degradação de uma das iniciativas que
dá certo no nosso País. E nós não estamos em tempos de voltar atrás ou deixar
acontecer coisas erradas; estamos em tempos de vislumbrar o futuro, fazer boas
coisas novas para o futuro e garantir as boas que foram feitas no passado e que é
nossa responsabilidade levar adiante.
Eu agradeço muitíssimo a V.Exa. esta oportunidade e me coloco, junto com a
minha assessoria, à disposição para aquilo que for necessário no auxílio da tarefa
que V.Exa. pretende realizar.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Maria Helena) - Nós sabemos que
podemos contar com a ajuda da assessoria da Marinha, da SECIRM, bem como da
assessoria parlamentar, que sempre, com tanta presteza, nos auxiliou em tudo o
que precisamos, inclusive na organização desta audiência pública.
Antes de encerrar, quero ler um documento que me foi encaminhado pelo
representante do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos, organização social
vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia:
“O Centro de Gestão de Estudos
Estratégicos reconhece a grande importância para o
Brasil da presença brasileira na Antártica por intermédio
do PROANTAR, seja pelos aspectos políticos,
estratégicos, científicos ou econômicos, e reconhece
especialmente a carência de recursos financeiros, que
tem causado sérios prejuízos a todos os segmentos do
PROANTAR, e mesmo inviabilizado o seu trabalho.
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Em face dessa constatação, o CGEE apóia
todos os esforços e iniciativas da Secretaria da CIRM no
sentido de prover recursos adequados e regulares que
garantam o desenvolvimento consistente desse
importantíssimo programa de Estado.
Atenciosamente,
Antônio José Teixeira
Representante do CGEE.”
Nós agradecemos o encaminhamento desse documento.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente reunião. Antes, porém,
convido todos os Srs. Deputados para a reunião de audiência pública destinada a
tratar do impacto das queimadas na Amazônia, a ser realizada às 10h do dia 19 de
outubro, quarta-feira próxima, no plenário 14 do Anexo II desta Casa.
Está encerrada a presente reunião.