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Depoimento foi para a Operação Skala Crime: volta a valer trabalho insalubre para gestante Pág. 5 “A privatização da Eletrobrás é um crime de lesa-pátria”, diz Ildo Sauer Yunes confirma à PF que Temer sabia de entrega da propina “Pacote” foi entregue por Funaro a pedido do ministro Padilha m depoimento à Polícia Federal, José Yunes decla- rou que “detalhou” para Temer a visita de Lúcio Funaro ao seu escritório, para levar R$ 1 milhão, que era parte de uma pro- pina da Odebrecht. Essa propina fora acertada pelo próprio Temer, em reunião no Palácio do Jaburu. A pedido de Eliseu Padilha, segundo Yu- nes, ele recebeu “um envelope grosso” de Funaro, notório escroque que era operador da cúpula do PMDB. Diz Yunes que “falou para Michel Temer que ficou estarrecido com a tal figura delinquencial”, que era Funaro. Página 3 25 e 26 de Abril de 2018 ANO XXVIII - Nº 3.626 Cientistas lançam manifesto por um Brasil soberano, socialmente justo e sem corrupção Para Gilmar, juiz, polícia e MP são ameaça pior do que os corruptos O ministro Gilmar Mendes, do STF, voltou a atacar a Lava Jato, especialmente o Ministé- rio Público, os juízes e a polícia como sendo “a maior ameaça à democracia no Brasil”. Pág. 3 Joesley conta à polícia que deu R$ 110 milhões a Aécio em 2014 O dono da JBS, Joesley Batista, confessou à PF ter passado R$ 110 milhões para Aécio Neves, senador e ex-pre- sidente do PSDB, na campa- nha de 2014, e entregou à po- lícia planilha com os fatos. P. 3 Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL Bolsonaro copia PT e defende a continuação do foro privilegiado Em entrevista, o deputado Jair Bolsonaro veio em socor- ro à tese dos petistas de que o foro privilegiado não deve ser mexido. Manter o foro como está é a esperança dos corrup- tos para não cairem nas mãos do juiz Sérgio Moro. Página 3 Levante na Nicarágua revoga os cortes nas aposentadorias Os cortes nas aposenta- dorias dos nicaraguenses foram revogados após um levante, com barricadas nas ruas, que se alastrou pelo país durante uma semana. A “reforma da previdência” feita pelo governo Ortega por decreto, foi uma exigência do FMI. A violenta repressão ocorrida provocou a morte de 30 pessoas. Página 6 “É preciso resistir. Todos os agentes públicos, especial- mente os candidatos a presi- dente da República, devem denunciar isso”, afirmou à Hora do Povo, o professor Ildo Sauer, vice-diretor do Insti- tuto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Temer já enca- minhou ao Congresso projeto privatizando a Eletrobrás, cujos ativos somam R$ 170,5 bilhões, admitindo obter ape- nas R$ 12 bilhões. Página 2 “Acreditamos ser nossa obrigação oferecer uma alternativa à sociedade brasileira que ajude o país a construir uma trajetória soberana a partir do esfor- ço e de recursos próprios, beneficiando seu povo e não compactuando com a corrupção”, afirma o mani- festo do grupo “Cientistas Engajados”, que decidiu entrar para valer nas elei- ções de 2018. Página 4 Bioantropólogo Walter Neves, o pai da “Luzia” Rio: Cabral vira réu pela 23ª vez Dessa vez, o ex-governa- dor do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) virou réu por desvio de recursos no sistema penitenciário do Estado. P. 4 AFP Daniel Teixeira - Estadão Agência Brasil Temer e o ministro Eliseu Padilha estão enrolados e arrolados na Operação Lava Jato

Depoimento foi para a Operação Skala Yunes confirma à PF ... · a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país passou de 2,76% para 2,75%. O PIB é a soma de

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Depoimento foi para a Operação Skala

Crime: volta a valer trabalho insalubre para gestantePág. 5

“A privatização da Eletrobrás é um crime de lesa-pátria”, diz Ildo Sauer

Yunes confirma à PF que Temer sabia de entrega da propina“Pacote” foi entregue por Funaro a pedido do ministro Padilha

m depoimento à Polícia Federal, José Yunes decla-rou que “detalhou” para Temer a visita de Lúcio Funaro ao seu escritório, para levar R$ 1 milhão, que era parte de uma pro-pina da Odebrecht. Essa propina fora acertada

pelo próprio Temer, em reunião

no Palácio do Jaburu. A pedido de Eliseu Padilha, segundo Yu-nes, ele recebeu “um envelope grosso” de Funaro, notório escroque que era operador da cúpula do PMDB. Diz Yunes que “falou para Michel Temer que ficou estarrecido com a tal figura delinquencial”, que era Funaro. Página 3

25 e 26 de Abril de 2018ANO XXVIII - Nº 3.626

Cientistas lançam manifesto por um Brasil soberano, socialmente justo e sem corrupção

Para Gilmar, juiz, polícia e MP são ameaça pior do que os corruptos

O ministro Gilmar Mendes, do STF, voltou a atacar a Lava Jato, especialmente o Ministé-rio Público, os juízes e a polícia como sendo “a maior ameaça à democracia no Brasil”. Pág. 3

Joesley conta à polícia que deu R$ 110 milhões a Aécio em 2014

O dono da JBS, Joesley Batista, confessou à PF ter passado R$ 110 milhões para Aécio Neves, senador e ex-pre-sidente do PSDB, na campa-nha de 2014, e entregou à po-lícia planilha com os fatos. P. 3

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

Bolsonaro copiaPT e defende a continuação do foro privilegiado

Em entrevista, o deputado Jair Bolsonaro veio em socor-ro à tese dos petistas de que o foro privilegiado não deve ser mexido. Manter o foro como está é a esperança dos corrup-tos para não cairem nas mãos do juiz Sérgio Moro. Página 3

Levante na Nicarágua revoga os cortes nas aposentadorias

Os cortes nas aposenta-dorias dos nicaraguenses foram revogados após um

levante, com barricadas nas ruas, que se alastrou pelo país durante uma semana.

A “reforma da previdência” feita pelo governo Ortega por decreto, foi uma exigência do

FMI. A violenta repressão ocorrida provocou a morte de 30 pessoas. Página 6

“É preciso resistir. Todos os agentes públicos, especial-mente os candidatos a presi-dente da República, devem denunciar isso”, afirmou à Hora do Povo, o professor Ildo Sauer, vice-diretor do Insti-tuto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Temer já enca-minhou ao Congresso projeto privatizando a Eletrobrás, cujos ativos somam R$ 170,5 bilhões, admitindo obter ape-nas R$ 12 bilhões. Página 2

“Acreditamos ser nossa obrigação oferecer uma alternativa à sociedade brasileira que ajude o país a construir uma trajetória soberana a partir do esfor-ço e de recursos próprios, beneficiando seu povo e não compactuando com a corrupção”, afirma o mani-festo do grupo “Cientistas Engajados”, que decidiu entrar para valer nas elei-ções de 2018. Página 4

Bioantropólogo Walter Neves, o pai da “Luzia”

Rio: Cabral vira réu pela 23ª vez

Dessa vez, o ex-governa-dor do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) virou réu por desvio de recursos no sistema penitenciário do Estado. P. 4

AFP

Daniel Teixeira - Estadão

Agência Brasil

Temer e o ministro Eliseu Padilha estão enrolados e arrolados na Operação Lava Jato

Page 2: Depoimento foi para a Operação Skala Yunes confirma à PF ... · a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país passou de 2,76% para 2,75%. O PIB é a soma de

2 POLÍTICA/ECONOMIA 25 E 26 DE ABRIL DE 2018HP

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Ildo Sauer denuncia usurpadores e repudia a entrega da Eletrobrás

“O grande golpe contra a Eletrobrás se deu com a MP 579. Toda a energia foi vendida à custa da geração e manutenção das quatro grandes empresas do Grupo Eletrobrás, o seu coração estratégico: Eletronorte, Furnas, Chesf e Eletrosul”, afirma o vice-diretor do Instituto de Energia da USP

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a Caged: criação de emprego com carteira continua no fundo do poço

Focus reduz previsão para o PIB pela quarta vez seguida

Parente promete a “investidores” que vai privatizar quatro refinarias

Comércio varejista de São Paulo encerra 3,7 mil empregos formais

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Os representantes do mercado financeiro ouvi-dos pelo Banco Central (BC) para a elaboração do boletim semanal Focus re-baixaram pela quarta vez consecutiva a previsão de crescimento da economia para 2018.

No relatório divulgado nesta segunda-feira (23), a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país passou de 2,76% para 2,75%. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é usado como me-didor da evolução da eco-nomia. Após os tombos de 3,5% em 2015 e de 3,5% em 2016, o PIB do Brasil encerrou 2017 com uma

O comércio varejista paulista fechou o pri-meiro bimestre de 2018 com um saldo negativo de 23,7 mil empregos formais, Segundo a Fe-deração do Comércio de Bens, Serviços e Tu-rismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

Em fevereiro, foram 5,8 mil vagas a menos no setor. As lojas de vestu-ário, tecidos e calçados foram as que mais de-mitiram no acumulado dos dois primeiros meses deste ano, 13,6 mil va-gas. Em seguida, vêm os supermercados, com 10,4 mil.

Segundo Jaime Vas-concellos, assessor eco-nômico da entidade, “no geral, o dado mostra que

A criação de emprego com carteira assinada con-tinua muito abaixo do nú-mero de empregos gerados antes da recessão econô-mica do governo Dilma/Temer. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, en-quanto o saldo de geração de vagas formais no país foi de 303.535 mil vagas nos pri-meiros três meses de 2014, o saldo do primeiro trimes-tre de 2018 foi de apenas 195.161 mil – concentrado

no setor de serviços.O governo chamou de

recuperação o saldo posi-tivo do primeiro trimestre de 2018, mas nem de perto o resultado repõe o desas-tre que foi a perda de 2 mi-lhões, 882 mil e 379 vagas no acumulado dos anos de 2015, 2016 e 2017.

Além da comparação constrangedora, a geração de vagas de janeiro a março de 2018 se concentrou no efeito sazonal (típico para o período) das contrata-ções do setor de ensino

por conta do início do ano letivo. Os dados de mar-ço – os mais recentes do Caged - mostram um saldo positivo de 56.151 postos de trabalho com carteira assinada, sendo que 18.590 mil desses são do setor de serviços de ensino e 18.816 mil são da extraordinária criação de postos no setor de serviços imobiliários. Enquanto isso a indústria gerou apenas 10.450 mil vagas, a construção civil 7.428 e o comércio fechou 5.878 mil vagas.

variação positiva de 1% - nem de perto o suficien-te para repor as perdas anteriores e muito menos um sinal de recuperação consistente da economia, como diz o governo.

O boletim Focus, apesar dos reajustes seguidos para baixo, revela um oti-mismo pouco fundamenta-do do mercado financeiro para com a realidade do país - ainda em plena re-cessão. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que funciona como uma es-pécie de “prévia do PIB”, a economia sofreu retração de 0,6% em janeiro e teve variação praticamente nula, de 0,1% em fevereiro

deste ano. Nesse ritmo, um PIB positivo em 2018 é uma realidade impensável.

“Os resultados tanto de janeiro como de fevereiro mostram que o ano come-çou com o pé esquerdo”, avaliou o Instituto de Es-tudos para o Desenvolvi-mento Econômico (IEDI), registrando que setores importantes da economia, como a indústria e os ser-viços, tiveram quedas em janeiro e praticamente não saíram do lugar em fevereiro. “Como os resul-tados foram todos muito próximos de zero, não é exagero afirmar que o qua-dro econômico geral em fevereiro foi de paralisia”, comenta o instituto.

o empresário ainda não tem condições ou con-fiança para investir em mão de obra”.

Os dados do IBGE divulgados no início do ano aponta que a ativida-de econômica continua estagnada no fundo do poço: o varejo teve queda de 0,2%, em fevereiro ante janeiro deste ano. No setor de serviços, os dados também não foram nada animadores, queda de 1,8% nos dois primeiros meses do ano.

Já a produção indus-trial ficou em pratica-mente zero no mês de fevereiro, uma variação de 0,2% em comparação com o mês anterior. Em janeiro, o setor ficou ne-gativo em -2,2%.

“A privatização da Ele-trobrás é crime de le-sa-pátria. É preciso

resistir. Todos os agentes públicos, especialmente os candidatos a presiden-te da República, devem denunciar isso e os cúm-plices do governo devem ser repudiados”, afirmou à Hora do Povo, o professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Am-biente (IEE) da USP.

O professor Sauer es-clareceu que “a Eletrobrás vem sendo sucateada há muito tempo. O governo usurpador, de maneira de-sesperada e com os ratos já abandonando o navio, quer dilapidar ainda mais o que foi construído com o suor do povo brasileiro”.

A privatização da Ele-trobrás foi anunciada pelo governo Temer em agosto de 2017. Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o valor patrimonial da Compa-nhia é de R$ 46,2 bilhões e o total de ativos soma R$ 170,5 bilhões. Contudo, o próprio governo diz que espera obter tão somente R$ 12 bilhões com a pri-vatização da empresa, o que demonstra o tamanho do crime que Temer quer perpetrar conta o país. Atualmente, a Eletrobrás é responsável por um terço da geração de ener-gia do país. O governo já encaminhou o projeto de privatização da Eletrobás (PL 9463/18) ao Congres-so Nacional.

De acordo com Sauer, os recursos hídricos estão sob controle público na maioria dos países e citou como exemplos os Estados Unidos, Canadá e países nórdicos. No Brasil, o uso público das águas foi es-tabelecido em 1934, com o Código de Águas, entre outras coisas, porque “a energia hidráulica exige medidas que facilitem e garantam seu aproveita-mento racional” e para permitir “ao poder público controlar e incentivar o aproveitamento industrial das águas”.

Sauer ressaltou que os males causados à Eletro-brás tiveram início no go-verno Fernando Henrique e foram aprofundados nos governos Lula e Dilma: “Ao invés de recuperar a Ele-trobrás, Lula da Silva e [a Sra.] Rousseff aprofunda-ram a instrumentalização da Eletrobrás por partidos políticos. O grande golpe contra a Eletrobrás se deu com a Medida Provisória

579 [no governo Dilma], que expropriou todo o ex-cedente econômico da em-presa. Toda a energia foi vendida à custa da geração e manutenção das qua-tro grandes empresas do Grupo Eletrobrás, o seu coração estratégico, que são a Eletronorte, Furnas, Chesf e Eletrosul”.

Ele destacou a impor-tância do uso racional da água, mediante controle público, para a produção de energia elétrica, na-vegação, saneamento e irrigação, particularmente das bacias Amazônica, do Tocantins-Araguaia, Para-ná e São Francisco.

DISTRIBUIDORASO professor da USP

condenou a proposta de privatização das distribui-doras estaduais, que foram federalizadas, a um preço simbólico de R$ 50 mil: “As distribuidoras estaduais foram assumidas pela Ele-trobrás com o objetivo de posterior privatização. É parte da agenda neoliberal de privatizar primeiro as distribuidoras e depois as geradoras”.

“As distribuidoras esta-duais foram objeto de ocu-pação político-partidária por coronéis locais. Esse ‘grande’ presidente da Eletrobrás [Wilson Ferrei-ra Junior] foi privatizador em São Paulo. Mas, com toda sua ‘experiência’ na administração tucana e na CPFL [privatizada], não soube sanear as distribui-doras”, frisou Sauer, acres-centando que “é possível o saneamento técnico e financeiro das distribui-doras. A primeira coisa a ser feita é tirar os entre-guistas que estão em suas direções”.

VALDO ALBUQUERQUE

Sauer: “crime de lesa-pátria”

Dando continuidade ao desmonte da Petro-brás, o feitor de Temer à frente da estatal, Pe-dro Parente, informou que pretende vender as refinarias Abreu e Lima (Rnest), em Per-nambuco, Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, Alberto Pasqualini (Re-fap), no Rio Grande do Sul, e Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Para-ná, até 2019. O anúncio foi feito em evento com “investidores” de óleo e gás na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janei-ro, na quinta-feira (19).

Em comunicado in-terno direcionado aos funcionários, a diretoria da companhia informou que o também faz parte do desmonte o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

"Sendo aprovado na Diretoria Executiva e no Conselho de Admi-nistração, a gente espera colocar na rua imediata-mente, de acordo com o processo aprovado pelo TCU [Tribunal de Con-tas da União]", disse Parente.

O Brasil conta hoje com 17 refinarias, das quais a Petrobras é dona de 13 unidades, que res-

pondem por 98% do pe-tróleo refinado no Bra-sil, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A venda das refinarias vai agravar o problema da defasagem da capa-cidade de produção de derivados de petróleo. Em reportagem do jor-nal o Estado de S.Paulo, a Plural, entidade que reúne as grandes distri-buidoras de combustí-veis, inclusive a BR Dis-tribuidora, estimou que é necessário “construir quatro novas refinarias para cobrir o déficit de 800 mil barris por dia de gasolina e óleo diesel no mercado brasileiro em 2030”.

Ou seja, em um mo-mento em que é evidente a defasagem de refino de petróleo, o governo quer vender quatro refinarias, num claro incentivo à redução da capacidade de produção de refino, estimulando a impor-tação de derivados por agentes privados, nacio-nais e internacionais, e comprometendo o abas-tecimento do país.

A proposta de Parente é repassar 60% do con-trole acionário dessas refinarias para o setor

privado – leia-se mul-tinacionais -, incluindo os ativos logísticos das refinarias (dutos e termi-nais) administrados pela Transpetro. Conforme o Ministério de Minas e Energia, elas represen-tam 33% da produção de derivados no país.

Para a Petrobrás, “A busca de parcerias na área de refino foi apro-vada no Planejamento Estratégico da Petrobras e no Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2017-2021, reforçada no PNG 2018- 2022, conforme indicado na estratégia de ‘reduzir o risco da Petro-bras, agregando valor na atuação em E&P, Refino, Transporte, Logística, Distribuição e Comer-cialização por meio de parcerias e desinvesti-mentos’”. Por desinvesti-mentos e parcerias, leia-se privatização e aliança com as multinacionais do cartel internacional do petróleo.

A última refinaria construída foi a Abreu e Lima (RNEST), inaugu-rada em 2014, 34 anos depois da última refina-ria. O governo cancelou a construção das refinarias previstas para o Mara-nhão e Ceará.

“Temer tem pressa em privatizar a Eletrobrás antes que seja preso”

Deputado Alessandro Molon:

A defesa da privatização da Eletrobrás pelo presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, terça-feira (17), na audiência pública promovi-da pela comissão especial da Câmara dos De-putados - que analisa o projeto lei que autoriza a “desestatização” da empresa – foi rechaçada pela maioria dos deputados presentes.

Em sua intervenção, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) defendeu a Eletrobrás e des-montou a farsa do governo Temer que diz que o objetivo é “capitalizar” a companhia.

“Não é capitalização. É privatização!”, afirmou o deputado. “Vamos falar a verdade. Vamos parar de falar eufemismos porque o nome verdadeiro não é aceito pela população brasileira. A população brasileira, que é dona da Eletrobrás, é contra a privatização da em-presa e o que se quer aqui é privatizar. Pode se dourar a pílula, se colocar embrulho bonito, mas trata-se de privatização. Não se trata da nova Eletrobrás, se trata da Eletrobrás privada, é isso que se quer”, completou.

Ao dirigir-se ao presidente da Eletrobrás, presente na audiência, Molon enfatizou: “o senhor, presidente Wilson, chegou na empresa há dois anos. A empresa existe há 56 anos. O senhor não vai vender, não vai fazer com ela o que o senhor fez com a CPFL [Companhia Paulista de Força e Luz]. Aqui tem Congresso Nacional, aqui tem Câmara dos Deputados e tem Senado. Nós não permitiremos que isso aconteça, porque nós queremos ter o direito de desenhar uma estratégia de desenvolvi-mento nacional do Brasil”, disse o deputado, se referindo à privatização da companhia de São Paulo.

E continuou. “O senhor citou exemplos do exterior, mas não disse os países que têm a suas plantas basicamente em cima de hidro-eletricidade, nenhum deles tem essas usinas sob controle privado. Pode pegar os 10 maiores exemplos, mas o senhor não disse. Por que o Brasil vai ser o único país do mundo que vai entregar o controle de uma planta que é basicamente hidroelétrica para uma empresa privada? Isso não existe, nem nos países que o senhor citou”.

“O senhor fez uma apresentação que basi-camente diz o seguinte: a foto da empresa é linda, ou seja, trata-se de uma grande empresa, mais aí veio a MP 579 e desorganizou as con-tas da empresa, logo, a solução é vendê-la? O senhor percebe que esse raciocínio não fecha? O problema não está na empresa. Tem alguma regulação errada no setor? Vamos discuti-la, não vender a empresa. Essa não é uma saída”, enfatizou o deputado.

“Aliás, eu fico me perguntando: como é que alguém assume a presidência de uma empresa e depois de dois anos vem diante do povo bra-sileiro dizer: “olha, a empresa é ótima, mas a única solução é vendê-la”. O que isso está dizendo da sua capacidade, da sua competência como gestor? O senhor está dizendo, no fundo, que o senhor não consegue geri-la”.

“Então é melhor o senhor dizer: ‘eu não quero ser mais presidente da empresa, porque entendo que não consigo dar conta dela’, mas não, vai vender um patrimônio de 56 anos. Não é razoável que se faça isso, muito menos num governo que corre contra o tempo para entregar mais do que se pode antes que ele termine e que seu chefe vá para a cadeia. A pressa é essa. É vender o patrimônio do povo brasileiro antes que os membros do governo sejam presos, porque serão presos. Sairão do governo e irão para a cadeia”.

“Mas eles têm pressa em acabar com o pa-trimônio nacional e, talvez, auferir os maiores lucros ilicitamente com a venda do patrimônio nacional. Não digo isso a respeito do senhor, não tenho dados para isso, mas posso dizer a respeito do seu chefe, que foi quem o colocou na presidência da Eletrobrás, isso é o que eles querem”, afirmou o deputado Molon.

Audiência na Câmara dos Deputados

Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) do Grupo Eletrobrás

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3POLÍTICA/ECONOMIA25 E 26 DE ABRIL DE 2018 HP

José Yunes revela que ‘detalhou’ entrega de propina para Temer

O advogado disse em depoimento à Polícia Federal que detalhou a Temer pedido de Eliseu Padilha para ele receber encomenda do doleiro Lúcio Funaro, o operador do PMDB

CNBB condena voto em corruptos e em quem prega reformas antipovo

José Yunes, assessor e amigo de Temer, diz que detalhou tudo

Silvério Temer insulta Tiradentes na TV

Z. Fraissat/Folhapress

D. Sérgio da Rocha, presidente da CNBB

Notas fiscais provam que Aécio recebeu mesada de R$ 50 mil de Joesley Batista

Diretor jurídico da JBS conta como Temer e seu bando tentaram silenciar operador de propina

Gilmar Mendes volta a atacar juízes e procuradores da Lava Jato porque punem corruptos

Divulgação/CNBB

Elevador sumido reaparece no triplex de Lula

Em mensagem lida por dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador (BA) e Pri-maz do Brasil, a 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil recomendou aos católicos que “nas eleições, não se deve abrir mão de princípios éticos e de dispositivos legais, como o valor e a im-portância do voto, embora este não esgote o exercício da cidadania; o compromisso de acompanhar os eleitos e participar efetiva-mente da construção de um país justo, ético e igualitário; a lisura do processo eleitoral, fazendo valer as leis que o regem, particu-larmente, a Lei 9840/1999 de combate à corrupção eleitoral mediante a compra de votos e o uso da máquina administrativa, e a Lei 135/2010, conhecida como ‘Lei da Ficha Limpa’, que torna inelegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado”.

A mensagem dos bispos brasileiros, intitulada “Eleições 2018: Compromisso e Esperança”, considera:

“É fundamental, portanto, conhecer e avaliar as propostas e a vida dos candida-tos, procurando identificar com clareza os interesses subjacentes a cada candidatura. A campanha eleitoral torna-se, assim, opor-tunidade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir. Não merecem ser eleitos ou re-eleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade. São igualmente reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras vantagens.

“As eleições são ocasião para os eleitores avaliarem os candidatos, sobretudo, os que já exercem mandatos, aprovando os que hon-raram o exercício da política e reprovando os que se deixaram corromper pelo poder político e econômico.

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O que parecia impos-sível aconteceu. Silvério do Reis, o traíra-mor da Pátria, escapou das pro-fundezas de seu túmulo, vestiu um terno e invadiu os televisores brasileiros, na noite da sexta-feira (21), para falar de Tira-dentes. É verdade que todos perceberam tratar--se de um defunto. Mas a aparição do vendilhão da Pátria do Temer fa-lando de independência e liberdade, revela que o abestado não tem o menor senso de ridículo. Assim como uma outra figura, já presa por corrupção, Temer também tentou tirar uma casquinha no prestígio inabalável do alferes de Minas.

Nem todos sabem, mas Silvério dos Reis, depois da traição a Tiradentes e à Inconfidência, e após ser remunerado por sua traição, não teve mais sossego na vida. O povo o infernizou em todos os lu-gares por onde passou. Só faltaram as faixas: “Fora Silvério!”. Assim como Temer, o traíra de Vila Rica achou que poderia se vender a troco de mi-galhas aos açambarcado-res, esquartejar o Brasil, entregar nossas riquezas, massacrar a população e ter uma vida tranquila e

sossegada. Enganaram--se os dois. Ninguém trai o povo e vende o Brasil impunemente. Temer, assim como Silvério, não pode nem andar em paz nas ruas do país, sem levar um ovo, uma toma-tada, ou outras formas de protesto. O traidor mineiro vivia reclamando ao vice-rei da hostilização popular que sofria.

O governo está lite-ralmente tentando fatiar e leiloar o Brasil. Está entregando campos de pe-tróleo que foram descober-tos pela Petrobrás, com a nossa tecnologia e o nosso dinheiro. E não é a qual-quer um que ele está se oferecendo. Exxon Mobil, Shell e outros monstren-gos do cartel ávidos pelo petróleo alheio. Temer quer vender a Embraer, empresa nacional produ-tora de aviões para a nor-te-americana Boeing. A Boeing já disse que o que a interessa no negócio são os técnicos brasileiros, para substituir os da Boeing, que “estão velhos”. Ou seja, vai fechar a Embraer e roubar nossos cérebros. Os bandidos do Planalto estão dizendo que se não entregarem a Eletrobrás para os cartéis estran-geiros, vai haver apagão novamente. Assim como

agora, Silvério também achava que os portugueses “administravam melhor” os negócios no Brasil.

Foi essa múmia que in-vadiu os lares brasileiros nesta sexta para falar em liberdade e independên-cia. Disse que Tiradentes foi condenado e morto por defender o Brasil. Não acha nada disso, mas insinuou que ele próprio também estaria sendo perseguido. Ele, Temer, está mesmo sendo perse-guido pela Polícia Federal. Só não foi condenado e preso por corrupção, roubo e lavagem, de dinheiro, por conta da excrescência que é o foro privilegiado. Não fosse este instrumento pró--impunidade, ele já estaria na cadeia. Quis se fazer de vítima. Como se o repúdio de 97% da população con-tra o seu governo tivesse alguma coisa a ver com a perseguição à luta de Tira-dentes. É muita estultice.

Lula também disse a mesma coisa alguns dias antes de começar a cumprir sua pena. Preso por corrupção, o ex-presi-dente quis comparar a seu processo e sua prisão a do alferes. Nada mais distan-te uma coisa da outra.

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SÉRGIO CRUZ

Na terça-feira, dia 17, Sérgio Andrade, sócio do grupo empre-sarial e da empreiteira Andrade Gutierrez, em depoimento na Polícia Federal (PF), confessou que sua empresa assi-nou um contrato-fan-tasma de R$ 35 milhões com uma empresa de um amigo de Aécio Ne-ves, Alexandre Accioly, para repassar recursos ao então presidente nacional do PSDB.

Na quinta-feira, dia 19, Joesley Batista con-fessou à PF ter passado R$ 110 milhões para Aécio Neves, na campa-nha eleitoral de 2014. O capo da JBS entregou à polícia uma planilha com as propinas, notas fiscais e recibos que provam a passagem da propina para Aécio. Em troca, Aécio prometeu, se eleito presidente, a continuar

o favorecimento à JBS, iniciado pelo PT.

Joesley declarou, também, que, entre 2015 e 2017, passou R$ 50 mil por mês ao então presidente nacional do PSDB. Esse dinheiro foi pedido por Aécio a Joesley Batista e foi transferido através da Rádio Arco Íris, de que Aécio era sócio.

Batista apresentou 16 notas fiscais em que a JBS pagou por “ser-viços de publicidade” à Rádio Arco Íris, como patrocínio do programa radiofônico “Jornal da Manhã”. O valor total dessas notas fiscais é de R$ 864 mil.

Assim como Lula, Aécio se disse “per-seguido” e que deseja ter um julgamento im-parcial.

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Bolsonaro defende foro que protege corruptos

A colaboração premiada de Francisco Assis e Silva, diretor ju-rídico do grupo J&F, dono da JBS, revela o envolvimento de Michel Temer, do ministro Eliseu Padi-lha (Casa Civil) e do ex-ministro Geddel Vieira Lima na tentativa de comprar o silêncio de Lúcio Funaro, operador do PMDB em esquemas de corrupção.

Ele relatou que Geddel, atual-

mente preso no Complexo Peni-tenciário da Papuda, em Brasília, lhe perguntou se “Joesley estava cuidando do passarinho”. O dire-tor jurídico contou que o peeme-debista também teria informado que “Eliseu Padilha havia sido destacado pelo presidente Michel Temer para cuidar desse assunto”.

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Advogando pela im-punidade, o ministro Gilmar Mendes, do Su-premo Tribunal Fede-ral (STF), atacou o Ju-diciário, especialmente o Ministério Público Federal e os juízes da Lava Jato. Para ele, “a maior ameaça à demo-cracia no Brasil” não são os corruptos e sim as “corporações, como a polícia, o Ministério Público e agrupamen-tos de juízes”.

Segundo Gilmar, pri-sões provisórias alonga-das ou o que chamou de detenções para forçar delações premiadas são práticas abusivas da Operação Lava Jato e criariam um efeito negativo no sistema. Novamente, leitor, para ele, o problema não é a chaga da corrupção, mas a punição a ela.

“Isso passa a ter um efeito lá embaixo, em todos os locais. Tanto é que agora você tem o ‘Moro do Rio de Janei-ro’, o ‘Moro do Panta-nal’, o ‘Moro do não sei o diabo’. Vai ter Moro assim, né?”, disse, re-

ferindo ao juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Fe-deral de Curitiba.

O ministro alegou ainda que “não foi posi-tivo” o efeito das decla-rações do Comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, na véspera do julgamento pelo STF do pedido de Habe-as Corpus preventivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gilmar Mendes votou a favor de conceder o HC para evitar a prisão, o que lhe rendeu elogios entre petistas.

O deputado Wadih Damous (PT/RJ), por exemplo, aparece em ví-deo que circula nas redes sociais se referindo ao ministro como “aliado”, sem saber que estava sendo filmado. “Ontem estive com o Gilmar para levar as denúncias do Tacla Durán (advoga-do acusado de lavar di-nheiro de empreiteiras). O Gilmar hoje é nosso aliado, amanhã volta a ser o nosso inimigo, mas hoje ele é nosso aliado. E nós somos aliados dele”, disse.

Veja o leitor o que aconteceu nos últimos dias: depois que o Mo-vimento dos Sem-teto (MTST) invadiu o triplex que a OAS reservou – e reformou – para Lula, a Internet foi subitamente tomada por uma grande descoberta: tudo foi uma farsa do Moro, que inven-tou um elevador privativo no triplex e até comprou a cozinha do apartamen-to, em uma empresa de Curitiba, somente para incriminar Lula.

Um site lulista, papa-gueado sem limites, pu-blicou: “Vídeo de ocupa-ção do MTST no triplex atribuído ao ex-presiden-te Lula prova que a OAS não fez nenhuma reforma no local e que elevador privativo não foi colocado no imóvel do Guarujá”.

E, mais abaixo: “Além de ficar provado que não houve reforma e nem elevador, descobre-se hoje que as empresas que de-ram as notas fiscais fal-sas da tal reforma são de Curitiba, terra de Moro e Dallagnol. Fica difícil acreditar que em 2010 a OAS, uma construtora com sede em São Paulo, contrataria empresas de Curitiba para fazer uma reforma em um apar-tamento no Guarujá. Mas torna-se impossível acreditar nisso quando

sabe-se que a reforma nunca aconteceu, ou seja, são notas fiscais frias.”

Pelo visto, se a cozi-nha e o quarto do triplex tivessem sido mobiliados com aparelhos e móveis fabricados na China, esse pessoal iria descobrir que o Moro fez um acordo com o camarada Xi Jin-ping para pegar umas notas fiscais, certamente redigidas em mandarim.

Não se trata, aqui, apenas de pobre coitados ou imbecis anônimos. Por exemplo, a depu-tada Erika Kokay (PT--DF) escreveu o seguinte, em uma “rede social”: “A ocupação do MTST no Triplex q atribuem ao Lula desmascarou a fraude. Lula já tinha des-montado a farsa em seu depoimento ao falar sobre o ‘elevador privativo’. Claro que a grande mídia nunca pensou em ir lá conferir o imóvel. Sempre apresentavam imagens externas #LulaLivreJá”.

O fato de que as fotos do apartamento – inclu-sive do elevador – estão no processo, nem mexeu com esses idiotas.

Do mesmo modo, que as notas fiscais da empre-sa Kitchens, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, tenham aparecido até na TV – e que a venda, assim como

o endereço de entrega, te-nha sido confirmada pela empresa e pelos funcio-nários da empresa – não parece importar a esses elementos.

Também não importa a eles que o interior do triplex tenha sido filmado exaustivamente, até pelo site de notícias UOL, inclusive o elevador que, supostamente, não exis-tiria (cf. https://youtu.be/ysSzYVgdqrc).

Aliás, por que foi que nenhum advogado de Lula se referiu a isso durante todo o julga-mento (os dois) de Lula? Evidentemente, porque é mentira. Se não bas-tassem as provas que já mencionamos, o elevador - e não somente o eleva-dor - aparece em um dos vídeos realizados pelo próprio MTST, durante a invasão do triplex.

Difícil é descobrir o que é pior no entorno lulista: se a falta de es-crúpulos em mentir para o povo - ou a total e abso-luta imbecilidade.

Seja como for, uma coisa é verdade: o pior tipo de puxa-saco é, de longe, aquele que puxa o saco do PT.

Por quê? Porque ser puxa-saco de puxa-saco é pior do que ser apenas puxa-saco.

C.L.

Em depoimento à Polícia Federal, José Yunes, amigo de Temer, declarou que, após receber a visita

de Lúcio Funaro - que, a pedido de Eliseu Padilha, levou R$ 1 milhão de reais, de uma propina da Odebrecht, ao seu escritório - relatou o fato a Temer.

“... detalhou para Michel Temer sobre o tal pedido, alguns dias depois; falou para Michel Temer que ficou estarrecido com a tal ‘figura delinquencial’, após tomar conhecimento através do Google sobre envolvimento em escândalos por Lúcio Funaro” (cf. SR/PF/SP, AC N° 4.381, Termo de Declarações de José Yunes, 31/03/2018, p. 2).

Funaro já era conhecido publicamente, como escroque, desde a época do chamado “mensalão”. É muito difícil achar que Yunes não sabia de quem se tratava. Porém, mais difícil ainda era achar que Funaro fosse portador de algo lícito. Não era para coisas dentro da lei que a cúpula do PMDB – ou seja lá quem fosse – empregava os serviços de Funaro.

Q u a n d o a p r o p i n a d a Odebrecht a Temer, e sua trupe, apareceu (nos depoimentos de Cláudio Melo Filho, diretor da Odebrecht, e do próprio Marcelo Odebrecht), foi Yunes quem, em fevereiro de 2017, revelou o aparecimento de Lúcio Funaro em seu escritório, e nos seguintes termos:

“Na verdade, eu fui um ‘mula’ involuntário. Por quê? O Padilha em 2014 pediu se poderia uma pessoa entregar um documento no meu escritório que uma outra pessoa iria pegar. Falei: ‘sem problema nenhum’. Foi o que ocorreu. Agora, quem levou o documento, é o tal de Lúcio Funaro. Eu não o conhecia. Ele deixou lá o envelope e falou: ‘uma outra pessoa vai falar no nome do Lúcio e vai pegar o documento’. Uma pessoa foi no escritório e pegou o documento, que era um envelope, né? Essa é a realidade dos fatos”.

A realidade dos fatos é que dá-se o nome de “mula” ao sujeito que transporta drogas para traficantes, sobretudo em viagens internacionais.

Ninguém acha que é “mula” - ou é chamado de “mula” - quando o objeto transportado é algo lícito.

O “mula” é sempre alguém que transporta um objeto ou substância ilegal, ilícita.

Yunes sabe disso muito bem – além de advogado e professor de Direito, é um homem de vasta experiência e vida pública.

Portanto, quando relatou a Temer a visita de Funaro, ele sabia do que se tratava. E Temer também sabia do que se tratava.

A questão, naturalmente, é: por que Padilha combinou com Yunes – que não era seu amigo, mas de Temer – para que recebesse o dinheiro, através de Funaro?

Para quem era esse dinheiro?Não é muito difícil descobrir

tal coisa – era através de “amigos” que Temer recebia as propinas. Os mais próximos eram, exatamente, Yunes e Batista Lima.

José Yunes não é uma pessoa estúpida, muito ao contrário. Mas é um sujeito peculiar.

Preso no último dia 28, na Operação Skala, ele depôs, no dia seguinte, na Polícia Federal (PF). A Operação Skala investiga, a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), a quadrilha de Temer.

Nesse depoimento, Yunes disse que não sabia de nada. Absolutamente nada. Por pouco não negou que conhecesse Temer – mas aí, também, já era demais.

Ironia à parte, em depoimento anterior à PF, ele se esquecera de algumas transações: a venda de um imóvel para Temer, a sociedade com Temer em outro

imóvel, uma casa que vendeu para Marcela Temer, mais a venda, também para Temer, de “dois escritórios, uma casa e o andar de um prédio em áreas nobres de São Paulo, entre os anos de 2000 e 2010”.

O s p o l i c i a i s , a g o r a , sabiam dessas transações, e, evidentemente, perguntaram por que, no depoimento anterior, não havia informado sobre elas.

Yu n e s r e s p o n d e u q u e “somente lhe foi perguntado sobre transações para Michel Te m e r e n q u a n t o p e s s o a física, assim como não lhe foi questionado sobre familiares”.

Fora isso, ele disse que é amigo de Temer há 50 anos, mas não é amigo dos amigos de Temer – nem de Padilha, com quem “tinha um relacionamento amistoso em consideração ao Presidente da República”.

No entanto, aceitou receber a encomenda levada por Lúcio Funaro, por um pedido de Padilha.

Yunes é ou foi sócio de Temer numa incorporadora, mas não conhece os negócios de Temer.

A s s i m f o i o p r i m e i r o depoimento de Yunes, depois de preso.

Dois dias depois, ainda preso, Yunes foi, outra vez, ouvido pela PF.

Aparentemente, a prisão fez mais bem à sua memória que um saco inteiro com pílulas de Memoriol. É verdade que ela foi devidamente estimulada pelas perguntas do delegado Cleyber Lopes, que dirigiu o i n t e r r o g a t ó r i o , e d o s procuradores Luana Macedo e Hebert Mesquita.

Disse Yunes que “em 2014 recebeu um telefonema de Eliseu Padilha lhe perguntando se poderia receber um documento em seu escritório, tendo recebido tal pessoa que se apresentou como Lúcio Bolonha Funaro, tendo recebido o documento.

“... não sabia do que se tratava o documento, pois não abriu o envelope; nesta ocasião, cerca de 40 minutos após, uma pessoa compareceu em seu escritório para ret irar o documento entregue por Lúcio, sendo que sua secretária Shirley entregou;”

O que há de inverossímil nesse relato é tudo, exceto que Funaro entregou R$ 1 milhão de reais – parte da propina negociada por Temer com Marcelo Odebrecht – no escritório de Yunes.

Disse também Yunes que “não sabe dizer por que Funaro possuía o seu número de telefone na agenda de seu celular”.

Perguntado sobre por que Joesley Batista, da JBS, e Rocha Loures, o carrega-mala de Temer, em conversa gravada pela PF, se referiram a ele como receptador de “propinas para repassar a políticos no PMDB”, disse Yunes que “acredita que Joesley tentava criar fatos de modo a implicar o presidente Temer, pois a sua ligação com o presidente é notória”.

Tão notória que Temer, depois de ouvir o relato “detalhado” de Yunes, não fez nada. Padilha continuou no círculo de Temer – hoje é ministro, quase em pânico pelo fim, inevitável, de seu “foro privilegiado”. Yunes, que no passado verberava contra a corrupção de Paulo Maluf, não rompeu com Temer por causa disso. E Funaro continuou operando para Temer e a cúpula do PMDB – até que foi preso pela Operação Lava Jato.

Por fim, disse Yunes que transferiu sua incorporadora, agora chamada Yuny, para seus filhos. Assim, “ficou sabendo pela imprensa notícias de que a Yuny havia firmado contrato e feito transferências de recursos para as empresas de Adir Assad, investigado e preso na Lava Jato. Seus filhos não comentaram o caso com o declarante, pois são muitos discretos”.

CARLOS LOPES

Em entrevista na inau-guração do programa do-minical do jornalista Luis Datena, o deputado Jair Bolsonaro defendeu a ma-nutenção do foro privilegia-do para políticos. Segundo ele, sem o foro privilegiado, os políticos “vão ser julga-dos na primeira instância e levarão 30 anos para chegar até a última instância, que é o Supremo”. Até lá, eles es-tarão mortos, argumentou.

Resta saber por que esses políticos – inclusive o deputado Bolsonaro – jamais querem abrir mão do foro privilegiado, se é tão melhor assim, para

eles, serem julgados como qualquer mortal brasileiro.

Bolsonaro se diz, por outro lado, a favor de que a execução da pena comece depois da condenação por uma segunda instância da Justiça.

Evidentemente, e sobre-tudo num momento em que a oligarquia política está imer-sa em um esgoto corrupto, isso não é suficiente para que o país se livre dessa desgraça.

Bolsonaro - da mesma forma que Lula e o PT, que ele diz odiar tanto - está de-fendendo, com a cobertura do foro privilegiado, a im-punidade dos ladrões que

assaltam o povo brasileiro.Até agora a Operação

Lava Jato, em Curitiba, condenou 123 corruptos. Todos, evidentemente, sem foro privilegiado. A Lava Jato não conseguiu agarrar, apesar das provas contra eles, Temer, Aécio, Renan, Jucá, Gleisi, Padilha, Mo-reira Franco, e mais algu-mas dezenas ou centenas de ladrões que se refugiam atrás do foro privilegiado.

Aliás, é por isso que ele é um privilégio – se seus deten-tores tivessem que enfrentar o juiz Moro e seus colegas, a situação seria diferente.

S. C.

Page 4: Depoimento foi para a Operação Skala Yunes confirma à PF ... · a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do país passou de 2,76% para 2,75%. O PIB é a soma de

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 25 E 26 DE ABRIL DE 2018

“Ciência terá defensores dentro do Parlamento”, diz manifesto

Desde os primórdios, o desenvolvimento de tecnologias nos permite transformar o meio em

que vivemos para ampliar a pro-dutividade do trabalho humano, cujos resultados devem ser apro-priados também por aqueles que participam da produção.

No Brasil, temos ainda 13 mi-lhões de pessoas passando fome e 52 milhões vivendo abaixo da linha da pobreza. Contudo, não existe motivo objetivo para isso acontecer em nosso país. Nosso território dispõe de todas as riquezas naturais para permitir o bem estar da nossa população. Não há nenhuma limitação de ordem material para que isso aconteça. O obstáculo é a ausên-cia de um projeto nacional que desenvolva o país e distribua seus frutos de forma justa. O exemplo de outros países mostra que esse é um caminho que só pode ser trilhado de forma soberana. Esta deveria ser a essência da luta política atual no Brasil.

Frente à grave crise econômi-ca, social e moral que atravessa o país, acreditamos ser nossa obri-gação oferecer uma alternativa à sociedade brasileira que ajude o país a construir uma trajetória soberana a partir do esforço e de recursos próprios, beneficiando seu povo e não compactuando com a corrupção.

O movimento dos Cientistas Engajados surgiu de um grupo de pesquisadores que propõe que a comunidade científica tenha um maior protagonismo nos destinos do país. É um movimento políti-co que tem por objetivo colocar cientistas no Congresso Nacional e nas assembleias estaduais. No Estado de São Paulo, nosso pré-candidato para Deputado Federal é Walter Neves e, para Deputada Estadual, é Mariana Moura, ambos pelo Partido Pátria Livre. Estimulamos cientistas de todos os estados da federação a disputarem uma cadeira no Parlamento para que, junto com os poucos intelectuais que ali já estão, possamos construir uma Bancada do Conhecimento.

Reconhecemos o importante papel da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia de Ciências do Estado de São Pau-lo (ACIESP) enquanto entidades que pressionam o Parlamento e o Executivo. Infelizmente, este tem sido um diálogo absoluta-mente frustrado. É preciso que a Ciência tenha defensores também dentro do próprio Parlamento, acompanhando o andamento das propostas e intervindo no debate nos momentos em que ele se dá. A junção do Ministério da Ciên-cia, da Tecnologia e da Inovação com as Telecomunicações, por exemplo, deixou órfão o Sistema Nacional de C&T. É necessário retomar o MCTI colocando-o para trabalhar em conjunto com as pastas do Desenvolvimento e do Planejamento porque acredi-tamos que, para transformar a ciência no motor do desenvolvi-mento, é necessário que ela esteja incluída no projeto de país.

Compreendemos que a produ-ção científica tem três patamares. No primeiro nível, está a ciência exploratória, em que se obtém uma quantidade significativa de dados em todos os campos; no se-gundo nível, está a pesquisa para a resolução de problemas específi-cos; e, em um terceiro nível, mais nobre, se produz teoria. Quando se produz teoria, contagia-se todo o mundo científico com esse novo pensamento. A ciência brasileira, no geral, é excelente no primeiro nível. Produz uma quantidade excepcional de dados de qualida-de, mas é tímida nos outros dois níveis. O resultado disso é que somos exportadores de dados. Os países que possuem uma base epistemológica mais avançada produzem os outros dois níveis de pesquisa e nós importamos soluções e teorias.

Hoje, cerca de 85% dos gastos em pesquisa e desenvolvimento do mundo estão concentrados em seis países: Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido, França e Japão. Por isso, essas nações recebem anualmente bilhões de dólares em royalties e licenças de uso. Do outro lado, pa-

íses como o Brasil, que participam apenas marginalmente na ciência de ponta, pagam pelo uso dessas tecnologias. Nos últimos 20 anos, apesar de ter incrementado de forma significativa a produção de artigos científicos, o Brasil aumentou a transferência de recursos sob a forma de royalties, licenças de uso e da importação de bens de alta tecnologia. Para se ter uma ideia, os EUA recebem anualmente em torno de US$ 100 bilhões por royalties e licenças de uso e o Brasil paga cerca de US$ 20 bilhões.

Nós não podemos continuar investindo só 1% do PIB em Ciência e Tecnologia, enquanto países como a Coreia do Sul, por exemplo, investem quase 4%. Pre-cisamos evoluir, gradativamente, para, no mínimo, 3,5%. O proble-ma é como atingir esse patamar.

No ano de 2016, as 500 maio-res empresas brasileiras fatu-raram juntas US$ 809 bilhões. Entre elas, as maiores são bancos e empresas extrativistas. Se essas empresas investissem 1% do seu faturamento em projetos de pes-quisa e desenvolvimento, como as companhias de energia elétrica são obrigadas a fazer, teríamos US$ 8 bilhões aplicados no setor. Sabemos que o maior volume de recursos em ciência e tecnologia no mundo é aplicado pelos Esta-dos nacionais em ciência básica. No Brasil, não é diferente, mas, para transformar a ciência explo-ratória feita nas universidades e nos institutos de pesquisa em produtos, é necessário investir também em inovação.

Do ponto de vista do Estado, é preciso encarar ciência como parte de um projeto de nação e proibir o contingenciamento dos investimentos no setor. Em 2017, o contingenciamento retirou 44% dos recursos orçamentários do MCTIC. O resultado final é que o repasse para C&T feito no ano passado no âmbito do ministério representou cerca de 25% do realizado no ano de 2010. Desde 2013, o investimento brasileiro em ciência e tecnologia vem cain-do vertiginosamente. Isso colocou uma grande parte dos empreendi-mentos científicos nacionais sob o risco de descontinuidade.

Precisamos discutir investi-mento em ciência com a seriedade que o tema exige. É preciso desbu-rocratizar, em todos os níveis, os processos de compra, importação e manutenção de equipamentos de pesquisa, assim como investir na produção desses equipamentos den-tro do país. É necessário falar sobre a “constitucionalização” do repasse de recursos para as fundações de amparo à pesquisa e universidades estaduais; a vinculação de parte dos recursos dos royalties de petróleo e gás para projetos de P&D; o des-contingenciamento dos recursos da FINEP; garantir repasses suficien-tes para o bom funcionamento dos hospitais universitários; e garantir financeiramente a permanência do Brasil em grandes experimentos internacionais.

Neste momento de enterro simbólico de uma alternativa que já se frustrou, nasce outra. Os cientistas têm que descer do salto alto para que não fiquem de um lado e a população de outro; por um motivo simples: é o povo que paga a pesquisa no Brasil. Nós precisamos ter uma relação mais próxima com a população.

Precisamos de cientistas no Parlamento!

Assinam este documento:

Walter NevesIldo Luís SauerTércio AmbrizziAdolpho José MelfiColombo Celso Gaeta TassinariNilson Araújo de SouzaMarcos Egydio da SilvaMichel Michaelovitch de MahiquesClóvis do Rego Monteiro NetoAlexandre Ferreira RamosMariana Nunes de Moura SouzaLuisa Maria Nunes de Moura e SilvaSérgio CruzTariana Brocardo Machado

Cabral torna-se réu pela 23ª vez

“Acreditamos ser nossa obrigação oferecer uma alternativa à sociedade brasileira que ajude o país a construir uma trajetória soberana a partir do esforço e de recursos próprios, beneficiando seu povo e não compactuando com a corrupção”, destaca o grupo “Cientistas Engajados”, em seu manifesto de lançamento e defesa da candidaturas para as eleições de 2018. Segundo o grupo, que reúne cientistas como Walter Neves, o pai de “Luzia”, e Ildo Sauer, “é preciso que a Ciência tenha defensores também dentro do pró-prio Parlamento, acompanhando o andamento das propostas e intervindo no debate nos momentos em que ele se dá.

Abaixo publicamos a íntegra do manifesto:

70 pessoas foram mortas em 2017

Um dos maiores cineastas do país, faleceu aos 89 anos

Nelson Pereira dos Santos é enterrado no Rio

Antropólogo Walter Neves será o candidato do grupo a deputado federal

CPT: Brasil teve o maior número de assassinatos no campo desde 2003

A Justiça Federal do Rio de Janei-ro aceitou a denúncia do Ministério Público Federal, apresentada a partir da Operação Pão Nosso, que apurou o desvio de recursos no sistema pe-nitenciário do estado, e tornou o ex--governador, Sérgio Cabral (PMDB) réu pela 23ª vez.

De acordo com a juíza da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, Caroline Fi-gueiredo, “há fortes indícios de autoria e materialidade para os delitos em questão, estando minimamente deli-neadas as condutas caracterizadoras dos crimes que, em tese, teriam sido cometidos pelos denunciados, o que se afere do teor da documentação produ-zida, razão pela qual considero haver justa causa para o prosseguimento da ação penal”.

O ex-governador é acusado de receber ao menos R$ 1 milhão do secretário da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP), César Rubens Monteiro de Carvalho. Além de Cabral e Rubens, são acusados outros 24 investigados, por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Segundo a denúncia aceita por Ca-roline Figueiredo, Marcos Vinicius Lips seria um dos operadores finan-ceiros de Rubens e ‘o responsável por levar a propina da SEAP para o núcleo central da organização criminosa, ou seja, aquele liderado por Sérgio Cabral’.

A juíza destaca ainda o parecer do MPF destacando que “tem sido demonstrado na sequência de ações penais ajuizadas em face de SÉRGIO CABRAL e demais integrantes de sua organização criminosa, o grupo valeu--se da posição ocupada no governo do Estado do Rio de Janeiro para cobrar propina em contratos firmados pelas mais variadas áreas da Administra-ção, enriquecendo-se com o dinheiro proveniente da corrupção. Todos esses valores angariados ilicitamente abas-teciam e retroalimentavam a organiza-ção criminosa.”.

Ainda segundo o MPF, “em sede de colaboração premiada, CARLOS MIRANDA, principal operador fi-nanceiro de SÉRGIO CABRAL e responsável pela contabilidade de todos os recolhimentos de propina, narrou que a organização criminosa recebeu vantagens indevidas de contratos fir-mados pela SEAP, havendo um acordo com CÉSAR RUBENS MONTEIRO DE CARVALHO, Secretário de Admi-nistração Penitenciária à época, para o pagamento da propina”.

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“Cientistas Engajados” defende candidatura de Walter Neves nas eleições de 2018. “É preciso encarar ciência como parte do projeto de nação”

Defensoria contesta a manutenção de prisão sem flagrante em operação no Rio de Janeiro

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro contestou a manutenção da prisão de pessoas sem antecedentes e sem flagrante após a ope-ração da Polícia Civil numa festa em Santa Cruz, zona oeste da capital.

De acordo com a Defen-soria, um documento da Po-lícia Civil informa que 139 dos 159 homens que foram presos durante um show de uma rádio no dia 6 de abril, acusados de integrar uma organização miliciana, pela Operação Medusa, na verdade não eram alvo de nenhuma investigação, nem tinham até então contra si quaisquer acusações.

Segundo a Defensoria, a informação está em um documento entregue pela Polícia Civil à desembar-gadora Giselda Leitão, res-ponsável por avaliar, no último dia dez, os pedidos de habeas corpus dos 159 pesos na operação de com-bate à milícia.

Não há inquéritos poli-ciais em andamento nem há, até agora, registros de anotações policiais a respei-to de participação em grupo criminoso, “especialmente em milícia, ou correlatas”, disse a Defensoria. Essa in-formação foi encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela Defen-soria Pública, que aguarda

decisão da corte sobre habeas corpus impetrado em favor de um dos presos.

Ao juiz da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, outro pedido de liberdade foi apresentado, em nome de 40 presos repre-sentados pela instituição. Todos são primários, como o artista Pablo Dias Bessa Martins, que integra uma companhia de circo na Suécia.

Nascido e criado na favela do Aço, na zona oeste do Rio, controlada por milicianos, Pablo sempre foi atlético. Gostava de futebol e chegou a passar em testes para o Flamengo, mas seu pai não pôde bancar as passagens de ônibus diárias para a Gávea, onde fica a sede do clube.

Hoje trabalha como acro-bata e malabarista na Up Leon, companhia circense que envia artistas brasilei-ros para apresentações na Europa. Quando foi preso, estava de férias no Rio, com passagem comprada para a Suécia, onde está em tempo-rada no parque Gröna Lund, em Estocolmo.

Depois de 14 dias a polícia o liberou. Até o momento Pablo é o único, os outros 158 seguem presos. “No caso de Pablo, o fator que o dife-rencia de todos os outros é a comprovação documental de que passa a maior parte de sua vida, atualmente, fora do país. Com isso, resta demons-

trado a fragilidade dos laços que mantém em sua terra natal, especialmente o su-posto envolvimento em ati-vidade criminosa”, concluiu o juiz que determinou sua soltura, Eduardo Marques Hablitschek.

O coordenador de de-fesa criminal da Defen-soria, Emanuel Queiroz, afirma que prender uma pessoa sem indicar qual foi a conduta criminosa dela é ilegal. “A pessoa tem que saber por que está presa. Ninguém pode ser preso simplesmente por estar em uma festa. Se você entrar no site da banda de pagode que se apresentou, ela convida para o evento. Era um even-to público com cobrança de ingresso”, disse.

No dia 9, um grupo de defensores foi ao presídio de Gericinó, onde entrevis-tou 41 presos. “Todos eles eram primários e de bons antecedentes. A maioria esmagadora fornecendo contato das famílias e infor-mando que tem vínculo de emprego formal, alguns com carteira de trabalho assina-da há 15 ou 20 anos. Isso nos assustou. Nós vimos gari, pequenos comercian-tes, motorista de ônibus, cozinheiro, empacotador de supermercado (presos)”, afirmou o coordenador de defesa criminal.

Kroton anuncia a compra da Somos EducaçãoCom baixa qualidade

de ensino e mensalidades extorsivas, a Kroton Edu-cacional fechou a compra do controle da Somos Edu-cação, da Tarpon Gestora de Recursos, por R$ 4,566 bilhões, segundo informa-ram as empresas nesta segunda-feira (23).

Controlada por fun-dos especulativos estran-geiros, como a Advent International (EUA), e o JP Morgan (EUA), a Kroton se tornou a maior empresa no segmento do ensino superior no Bra-sil, depois de comprar diversas universidades país a fora.

A compra da Somos Educação é a segunda aquisição da Kroton no segmento de educação básica em menos de um

mês. No início de abril, a empresa anunciou a compra do Centro Educa-cional Leonardo Da Vinci, em Vitória (ES), por valor não revelado, e disse que previa mais duas aquisi-ções no segmento até o fim do ano

Os atuais negócios de educação básica da Kro-ton englobam também os sistemas de ensino Rede Pitágoras, Rede Educação e Valores (RCE), Rede Cristã de Educação, e o Colégio Pitágoras de Belo Horizonte.

A Somos é dona do An-glo, da escola de idiomas Red Balloon e das editoras Ática, Scipione e Saraiva. Juntos, os grupos devem atender 37 mil alunos em escolas próprias e 25 mil alunos de curso de idio-

mas. A Kroton estima que, com a aquisição, a fatia de sua receita que vem de educação básica vai aumentar de 3% para 28%.

A operação de compra da Somos está sujeita ain-da a determinadas condi-ções, inclusive a aprovação pelo Conselho Administra-tivo de Defesa Econômica (Cade), que reprovou a aquisição da Estácio pela Kroton no ano passado, mas aprovou diversas ou-tras aquisições do grupo.

A Kroton obteve um lucro líquido de R$ 2,24 bilhões em 2017. O resul-tado é 12,9% maior em comparação com 2016, quando a empresa re-gistrou lucro de R$ 1,97 bilhão, enquanto sucateia a qualidade de ensino por onde chega.

Comissão Pastoral da Terra (CPT) pu-blicou seu estudo anual sobre assassinatos em conflitos no campo no Brasil em 2017, e o resultado foi o maior desde 2003, com 70 assassinatos. De 2004 a 2014 a média de mortes por conflito no campo foi de 36, mas nos últimos três anos houve uma escalada na violência e o número dobrou.

O relatório foi divulgado no último dia 16, e a CPT também denunciou ataques hackers que sofreu no último ano, “pro-vavelmente dentro do processo de crimi-nalização contra as organizações sociais que tem se intensificado, e que acabou im-possibilitando a conclusão e o lançamento nessa data [17 de abril, Dia Internacional da Luta Camponesa] de seu relatório anual, o ‘Conflitos no Campo Brasil’”.

Entre as mortes ocorridas em 2017, estão quatro massacres ocorridos nos estados da Bahia, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Dos 70 assassinatos em 2017, 28 ocorreram em massacres, o que cor-responde a 40% do total.

A Pastoral ainda mantém suspeita de um quinto massacre no Amazonas, o de in-dígenas isolados, conhecidos como “índios flecheiros”, do Vale do Javari, entre julho e agosto de 2017. Seriam, pelas denúncias, mais de 10 vítimas. Contudo, já que o Mi-nistério Público Federal no Amazonas e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), não chegaram a um consenso, e “diante das poucas informações a que a CPT teve acesso, por se tratar de povos isolados, o caso não foi inserido na listagem por ora apresentada” destacou a entidade.

O estado do Pará lidera o ranking de 2017 com 21 pessoas assassinadas em 2017, sendo 10 no Massacre de Pau D’Arco, seguido pelo estado de Rondônia, com 17, e pela Bahia, com 10 assassinatos.

A CPT ressalta, porém, que o número casos que acontecem no país é muito maior. “A publicação da CPT é apenas uma amostra dos conflitos no Brasil”, lembra a Pastoral.

N o ú l t i m o s á b a d o (21), morreu Nelson Pereira dos Santos, o cineasta consi-derado um dos precursores do movimento do Cinema Novo. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio e faleceu de falência múltipla dos órgãos.

Nascido em São Paulo, em 22 de outubro de 1928, Nelson Pereira dos Santos foi diretor, produtor, roteirista, montador, ator e professor. Ele ocupava a sétima cadeira da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 2006 e foi o primeiro cineasta bra-sileiro a se tornar membro da ABL.

Entre as inúmeras obras importantes do autor se des-tacam seu primeiro longa, Rio 40 Graus (1955), onde ele compõe um painel social do Rio, evidenciando a estrutura de classes e dá protagonismo

aos oprimidos. Este foi o pri-meiro de uma trilogia sobre a cidade que o cineasta adotou.

Outro destaque é Vidas Secas (1963), adaptação de Graciliano Ramos, uma das obras mais importantes do cinema nacional. O filme pro-jetou o Cinema Novo interna-cionalmente, mostrando que no Brasil se fazia um cinema original, crítico e de alta

qualidade. Onde a história da família de retirantes da seca comoveu o mundo.

Nelson mostrava nas telas seu amor pelo Brasil no que ele tem de melhor, sempre com um olhar crítico às suas mazelas, como a injustiça so-cial e a indiferença das elites. Nelson traduziu esse pensa-mento em um cinema inteli-gente, simples e elegante.

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5GERAL25 E 26 DE ABRIL DE 2018 HP

A Medida Provisó-ria 808, editada com o intuito de atenuar os pontos

mais cruéis da “reforma trabalhista” que entrou em vigor em novembro do ano passado, caducou nesta segunda-feira, 23. Com isso, a regulamen-tação acerca do trabalho intermitente, de gestantes e lactantes, da jornada de 12x36, indenização por dano moral, dentre outros pontos voltam a valer in-tegralmente, permitindo os maiores absurdos.

Para o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), juiz Guilherme Feliciano, “a caducidade da MP por de-curso de prazo representa claro descaso para com a preservação do patrimônio jurídico social legado pela Constituição Federal de 1988 e confirma o epílogo funesto do processo de desconstrução do Estado Social que segue cami-nhando, agora com braços abertos para a própria tese do ‘enxugamento’ da Justiça do Trabalho, que já volta a ser entoado por parte da grande mídia. O cidadão deve estar alerta para isto”, observa.

À época da votação do projeto de lei, quando toda a população se mobilizou em duas greves gerais e manifestações em Brasí-lia, algumas centrais pre-feriram “negociar” com o governo, desmobilizando a revolta popular contra o projeto em troca dessa “MP”, que apenas ameni-zaria a reforma. Nem isso foi garantido.

“A reforma trabalhista, piorada com a caducidade da MP 808/2017, atinge direitos básicos do traba-lhador, como a indispo-nibilidade absoluta dos direitos sociais fundamen-tais do art. 7º da Consti-tuição - exceção feita às questões de jornada, de irredutibilidade salarial e de turnos ininterruptos - e o direito pleno e irrenunci-ável a um meio ambiente do trabalho equilibrado”, aponta Feliciano.

Dentre os principais pontos que a MP alterava estão o trabalho de gestan-tes e lactantes em locais insalubres: a medida pre-via que só poderiam tra-balhar nestas condições as gestantes e lactantes que quisessem e, para tanto, apresentassem laudo de médico de sua confiança que o permitisse. Agora volta a ficar a cargo do médico do patrão o laudo para que a trabalhadora permaneça exercendo ati-vidade insalubre durante a amamentação ou gravidez.

Outro ponto que a refor-ma atenuava, e cuja versão original está em completa discordância com a Cons-

tituição, é a indenização por danos morais, que volta a ser calculada com base no salário do traba-lhador ofendido. Ou seja, cria-se assim uma discri-minação dos trabalhadores por nível de renda, como se o dano pela afronta à sua dignidade pudesse ser mensurado pelo seu salário.

Sem a medida, cai tam-bém a quarentena de um ano e meio para que em-pregadores possam trocar contratos regulares por intermitentes (sem jor-nada fixa estabelecida, quando o trabalhador re-cebe por hora trabalhada sem qualquer garantia de que haverá um mínimo de horas por mês).

Também deixa de ser obrigatória a necessidade de acordo ou convenção coletiva para estabelecer a jornada conhecida como “12 por 36”, quando o empregado trabalha 12 horas num dia e descansa pelas próximas 36 horas: a Lei 13.467/17 permite a prática mediante acordo individual escrito.

Para a Anamatra, tam-bém agrava-se ainda mais o cenário de insegurança jurídica inaugurado pela reforma: “Muito se tem falado sobre a redução do número de ações trabalhis-tas após a reforma, como se aí houvesse um grande ganho; mas pouco se fala a respeito das razões desta redução. O acesso à Justiça foi tolhido com a edição da lei, notadamente em virtu-de da gratuidade judiciária fictícia que passou a prever - ponto que foi, inclusive, questionado no Supremo Tribunal Federal pela pró-pria Procuradoria-Geral da República, estando pau-tado para o início de maio -, aliada ao novo regime de sucumbência honorá-ria. Muitos trabalhadores agora temem procurar a Justiça do Trabalho por variados motivos, entre eles o temor de sair com dívidas e, por outro lado, o medo do desemprego, em um mercado de traba-lho que se torna cada vez mais precário”, explica Feliciano.

O magistrado também denunciou a forma como a MP foi concebida, com tra-mitação em tempo recorde do respectivo no PL 6.787 na Câmara dos Deputados e depois no Senado da Re-pública, já sob a promessa do Governo de que as in-constitucionalidades e os excessos seriam corrigidos via vetos e/ou medida pro-visória. “Entretanto, não houve vetos quaisquer e a MP editada pela Presi-dência da República, no apagar das luzes de 2017, agora serve apenas como argumento para que o Go-verno diga que ‘cumpriu a sua parte’”, critica.

Florianópolis: sob manifestação e repressão, vereadores aprovam privatização da saúde e creches

Servidores reagem à ameaça do governo de congelar os salários: “É inconstitucional”

Trabalho intermitente e mulheres gestantes eram pontos tratados na MP

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Es-tado (Fonacate), Rudinei Marques, declarou em entrevista ao HP que o anúncio feito pelo governo neste final de semana, de barrar o reajuste salarial previsto para os servidores públicos federais em 2019, “não tem justificativa”.

O dirigente condenou a tentativa do governo, de adiamento do reajuste de servidores de 2019 para 2020 para o cumprimento do teto de gastos, confor-me informou o ministro do Planejamento, Esteves Colnago, no sábado (21). Segundo o ministro, a meta é “economizar” R$ 5 bilhões com a medida.

“A idéia deles é eco-nomizar com os servi-dores enquanto ofere-cem renúncias fiscais milionárias. Como eles querem economizar 5 bi-lhões enquanto perdoam o pagamento de mais de 200 milhões?”, denunciou Rudinei, citando estudo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional), que aponto que, em 2017, foram editadas ao menos três MPs com benefícios fiscais que resultarão, até 2020, em renúncias de re-ceitas de R$ 256 bilhões.

A última tentativa de governo de barrar o rea-juste - a Medida Provisó-ria (MP) 805/2017, edita-da em outubro passado e que pretendia adiar para 1º de janeiro de 2019 os

reajustes deste ano, e ele-vava a contribuição pre-videnciária dos servidores de 11% para 14% - perdeu a validade no último dia 10. Sendo assim, a MP 805 teve 120 dias para ser convertida em lei, ou seja, para ser votada na Câma-ra e no Senado, o que não ocorreu. Ao contrário, a medida foi barrada no Su-premo Tribunal Federal por inconstitucionalidade.

“O governo já havia ten-tado adiar o reajuste dos servidores através da MP 805 e ela foi considerada inconstitucional por que o reajuste já havia sido con-cedido e votado, mediante lei, além de propor uma alíquota progressiva que não foi fundamentada em nenhum caráter técnico”.

O principal motivo ale-gado pelo governo para querer assaltar os salários dos servidores públicos federais é o “teto de gas-tos”, instituído através da PEC 241, que institui um teto de gastos para todo e qualquer investi-mento público. Segundo a PEC, reajustes devem apenas repor a inflação do ano anterior, por 20 anos (ao mesmo tempo a PEC deixa o orçamento para o pagamento de juros sem qualquer limite).

Ainda assim, Marques aponta que “a própria emenda assegura a ma-nutenção de acordos assi-nados previamente. Então essa não pode ser a jus-tificativa”. Para além do teto de gastos, o líder dos funcionários aponta que

“o governo havia feito a proposta e sancionado em 2015. É um reajuste dividido em três anos. Na época, a situação do país estava igual a de agora, então não é possível que de repente o reajuste te-nha se tornado inviável, mesmo porque o paga-mento de juros não vai tirar ninguém da crise”.

Rudinei ainda aponta que se trata de “uma completa ignorância da jurisprudência do STF” a tentativa de reverter um reajuste já acordado e assinado, além de consi-derar que “o governo está de enrolação: estão que-rendo enganar a opinião pública como se fosse para resolver alguma coisa, quando na verdade eles já haviam anunciado no ano passado que queriam economizar R$ 5,3 bilhões - como é possível que vão economizar o mesmo va-lor se a segunda parcela do reajuste, deste ano, foi paga por que a MP foi barrada”, questionou.

A Seara Alimentos, empresa do grupo JBS Foods, foi condenada em R$ 3 milhões em danos morais coletivos por prati-car terceirização ilegal de atividade-fim, conforme decisão da Vara do Traba-lho de Amparo.

De acordo com a ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Cam-pinas, a Seara utilizou mão de obra interposta para a realização de aba-tes de frango e a empresa subcontratada, a Inspeção de Alimentos Halal, que fornece a mão de obra ao frigorífico, terá de pagar

indenização de R$ 300 mil pela irregularidade.

Além da ilegalidade na terceirização da ativida-de-fim - abate de aves, es-sencial ao funcionamento do negócio, portanto, de responsabilidade exclusi-va da Seara -, foram colhi-das provas que apontam para a precarização das condições de trabalho dos terceirizados, entre elas, a ocorrência de jornada excessiva, falta de paga-mento de horas extras e adicional de insalubrida-de, alojamentos fora das normas legais e até casos de assédio moral.

A sentença condena a Seara a efetuar o registro de todos os trabalhadores que atuam no setor de abate de aves, “primor-dialmente os empregados da sangria”, deixando de utilizar contrato de prestação de serviços terceirizados para esta atividade na unidade de Amparo, sob pena de multa diária de R$ 50 mil por trabalhador en-contrado em situação irregular, com reversão ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ou outra destinação social indicada pelo MPT.

PMs reprimem ato de manifestantes

Governo volta a tentar suspender reajustes do funcionalismo até 2020

Para Anamatra, caducidade da MP 808 traz enormes prejuízos aos trabalhadores

Fim de semana com Brasileirão e conquista do futebol feminino

Os vereadores de Florianópolis aprova-ram no último sábado, 21, sob manifestação e protestos de milhares de manifestantes, o projeto de lei (17.484/2018) que permite que unidades de saúde e de creches municipais sejam repassadas à administração privada por meio das chamadas Organizações Sociais (OS). Enquanto o projeto era votado, policiais militares reprimiam a manifestação, dentro e fora da Câmara dos Vereadores.

Cerca de seis mil pessoas estavam nas por-tas da Câmara contra o projeto, denominado “Creche e Saúde Já”, enquanto somente 60 pu-deram entrar no edifício. A repressão começou no exato momento em que a votação iniciou.

A sessão foi bastante conturbada, com 16 votos favoráveis e 6 contrários. Dentro da Câmara, a PM e a Guarda Municipal (GMF) fecharam manifestantes, assessores e a im-prensa dentro de uma sala após jogarem spray de pimenta. Dezenas de pessoas passaram mal por conta do efeito do gás.

Os servidores públicos de Florianópolis estão em greve desde o dia 11 pela retirada do “Projeto das OS”, com uma adesão de 70%, dei-xando somente os serviços emergenciais. Para o Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Pú-blico Municipal de Florianópolis (Sintrasem), a prefeitura de Gean Loureiro (MDB) tem utilizado todas as suas forças para derrubar a resistência dos trabalhadores, como forçar a aplicação de uma multa por dia de greve para os dirigentes do Sindicato.

Para Renê Munaro, presidente do Sintra-sem, “mesmo sob forte repressão policial a categoria permaneceu firme e continua deci-dida a dar sequência na luta contra as O.S. Na próxima segunda vamos decidir juntos a continuidade dessa luta, que é em defesa do ser-viço público e que já ultrapassou as fronteiras da nossa categoria e aglutina sindicatos, mo-vimentos populares e juventude da cidade de Florianópolis e de Santa Catarina ”, afirmou.

Seara-JBS é condenada em R$ 3 milhões por terceirização ilegal e precarização do trabalho

O Corinthians foi à “República de Curitiba” e sapecou 4 a 0 no Paraná sem dó nem piedade. Rodriguinho (sempre ele), Sidcley (golaço), Clay-son e Gabriel passaram a régua para o Timão, que assumiu a liderança do Brasileirão.

Antes do jogo, a torcida do Paraná fez uma bela festa, com direito à fumaça tricolor, foguetório, bandeiras de mastro e muita cantoria. Mas, foi só. Depois dessa fugaz festa, a casa caiu. Mateus Vital assumiu o lado esquerdo do Timão e foi por ali que saiu os dois primeiros gols paulistas, com Rodrigui-nho e Sidcley, que enfileirou a zaga paranaense, em apenas dois minutos. Abatida, restou à equipe de Rogério Micale, medalha de Ouro na Rio 2016, se resignar e levar mais dois.

Em Porto Alegre, Grêmio e Atlético-PR ficaram no zero a zero, com as duas equipes mantendo-se no G-6 (grupo classificatório à Libertadores). A equipe de Renato Gaúcho foi melhor no primeiro tempo. Na segunda etapa, o time de Fernando Diniz equilibrou as ações, mas sofreu um revés com a expulsão do volante Camacho. O Tricolor gaúcho não soube aproveitar a vantagem.

Em jogo que marcou a aposentadoria do goleiro Júlio César, o Flamengo bateu o América-MG por 2 a 0, no Maracanã, gols de Henrique Dourado, o Ceifador. Mais que uma atuação festiva, o goleirão do Mengão teve uma firme atuação, segurando o B.O lá atrás, com pelo menos duas defesas difíceis, para gáudio da torcida rubro-negra.

Futebol feminino – No estádio La Portada, no Chile, o Brasil venceu a Colômbia por 3 a 0 e conquistou a Copa América de futebol feminino, gols da zagueira Mônica e da meia Formiga. Uma campanha irretocável, com sete vitórias em sete partidas. Com isso, a equipe comandada por Vadão se classificou à Copa do Mundo de 2019, na França, e aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

Vôlei feminino – Contando com grandes atua-ções da levantadora Claudinha, da ponta-passadora Fernanda Garay e da oposta norte-americana Ni-cole Fawcett, o Praia Clube, de Uberlândia, passou o trator (3 x 0 no jogo normal e 25 x 18 no Super Set) sobre a equipe do Sesc/RJ e levantou pela primeira vez o caneco da Superliga Feminina de Vôlei. Pela primeira vez, a Superliga foi decidida em um set extra de 25 pontos (Super Set). No jogo de ida, no Rio, o Sesc/Rj havia vencido por 3 a 1. Na volta, em Uberlândia, deu Praia (3 a 0). Aí a partida foi para o Super Set, com vitória da equipe de Uberlândia por 25 a 18. O jogo marcou também a aposentadoria da espetacular líbero Fabi (Sesc/RJ e Seleção Brasileira), duas medalhas de ouro e uma de bronze olímpicas.

O número de demis-sões por “comum acor-do”, método criado pela reforma trabalhista, no qual o trabalhador não recebe seguro desempre-go e o empregador paga metade da multa sobre o saldo do FGTS, subiu de 11.118 em fevereiro para 13.522 em março, segun-do dados do Ministério do Trabalho.

Ao mesmo tempo que aumentam as demissões, cresce a contratação do chamado “trabalho in-termitente”, modalidade também criada pela re-forma trabalhista, que aprofunda a precarização do trabalho, e que, na prática, acaba com o salá-rio mínimo, uma vez que o contratado não tem sa-lário mínimo fixo, e nem

jornada pré-definida, sem que haja assim a menor garantia de continuidade e estabilidade no empre-go. Segundo os dados, esse tipo de contrato de trabalho cresceu 3.199 em março.

O trabalho intermiten-te havia sido alterado com a MP 808, que perdeu a validade nesta segunda-feira, 23 (ver matéria nesta página). Com a MP, uma empresa não podia demitir um trabalhador com contrato normal e recontratá-lo imediata-mente como intermitente em tempo menos do que 18 meses, por exemplo. Com a derrubada da MP, a empresa poderá demi-tir os funcionários e, em seguida, recontratá-los como intermitentes.

Demissões por “acordo” entre patrão e empregado crescem após reforma

Pres. Rudinei Marques

ANA CAMPOS

HP ESPORTESVALDO ALBUQUERQUE

Brasil leva o troféu da Copa América

Para juízes, sem MP o pior da reforma trabalhista volta a valer

Betina Humeres/Diário Catarinense

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INTERNACIONAL 25 E 26 DE ABRIL DE 2018HP

Nicarágua: rebelião popular derruba ataque à Previdência

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Terra

Chilenos marcham contra descaso a aposentados

Zyuganov: “Vitórias de Lênin na construção do socialismo inspiram milhões em todo o mundo”

Natalie Portman recusa-se a receber prêmio concedido por israelenses em repúdio ao massacre de palestinos

Natalie Portman

Capa do livro de Leonardo

Decreto baixado pelo presidente Ortega, que incluia a cobrança de 5% aos aposentados foi revogado após uma semana de protestos

Cartaz da jovem é repúdio à submissão do governo aos ditames do FMI

Chilenos exigem de Piñera o fim da Previdência privada de Pinochet“Só alienados se põem a serviços dos amos”

Paraguai: Frente Guasu faz chapa com neoliberais e concede vitória à situação

Livro sobre luta pela libertação dos camponeses de Curuguaty será lançado nesta sexta, em SP

Mais novo livro do jorna-lista Leonardo Wexell Severo, “Curuguaty, o combate para-guaio por Terra, Justiça e Li-berdade” (Editora Papiro, 100 páginas, R$ 20) será lançado na próxima sexta-feira (27) de abril, a partir das 18h30, na livraria Martins Fontes da avenida Paulista.

Em parceria com o Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), a obra mostra como em um acampamento de trabalhadores rurais em Curuguaty, no Paraguai, foram mortos 11 camponeses e seis policiais por franco-atiradores no dia 15 de junho de 2012. O “enfrentamento” envolveu 324 policiais, tropas de elite trei-nadas pela CIA e pelo exército dos Estados Unidos fortemente armadas com fuzis, bombas de gás, cavalos e até helicóptero. Do outro lado, menos de 60 sem-terra, metade deles mulheres, crianças e idosos.

Passados quase seis anos, de-nuncia Leonardo, temos quatro camponeses (Rubén Villalba, Néstor Castro, Luís Olmedo e Arnaldo Quintana) condena-dos a até 35 anos de prisão por “homicídio doloso”, “associação criminosa” e “invasão de imóvel alheio”, crimes que não comete-

ram. “Os mortos foram alveja-dos por armas de grosso calibre, que não foram encontradas com os sem-terra; a associação era uma organização, prevista em lei pelo próprio governo para reivindicar o local; e a terra em litígio é pública. Portanto, o livro se dedica a desmontar uma farsa grotesca”, afirma o autor. Com base em montanhas de documentos e depoimentos de testemunhas a que teve acesso como Observador Internacional do caso Curuguaty, no Tribunal de Sentenças de Assunção, Severo sustenta que “os cam-poneses não são culpados de nada, mas sim vítimas de um sangrento confronto armado

por franco-atiradores com as digitais dos EUA”. A chacina, observa, “serviu de justificativa para afastarem o presidente Fernando Lugo uma semana depois a aprofundarem o retro-cesso no país vizinho”.

“Como Observador Inter-nacional do caso, presente nos momentos extremamente ten-sos e ricos dos enfrentamentos, o autor expõe e denuncia, com profundo conhecimento de cau-sa, as inúmeras irregularidades e ilegalidades do processo”, de-clara Guillermina Kanonnikoff, membro do Movimento de So-lidariedade aos camponeses de Curuguaty, ex-presa política da ditadura de Alfredo Stroessner. Para Guillermina, que tem uma longa folha de serviços prestados à luta pelos direitos humanos, “mais do que uma soma de reportagens colhidas no calor dos acontecimentos, Leonardo relata, de forma didática e direta, a comovente história de amor e abnegação dos camponeses de Curuguaty em sua incansável luta pela reforma agrária”. Para além de um livro, sublinha, “temos a convicção de que esta é uma conclamação à solidarie-dade, que fortalecerá não só a caminhada pela libertação dos nossos presos políticos, como pela integração de nossos países e povos”.

“A juventude é a antítese do imperialismo”, afirma Evo

“A juventude é a an-títese do imperialismo. Somente aqueles que têm a consciência políti-ca e ideológica alienada podem estar a serviço dos seus amos”, afirmou o presidente Evo Mo-rales, em sua saudação ao VI Congresso das Ju-ventudes do Movimento Ao Socialismo (MAS), sábado, em Tarija.

Diante de cerca de 1.500 participantes, o presidente sublinhou que “os jovens que amam a paz não podem apoiar o império que ama a guerra, os jovens que protegem a nature-za não podem ser parte da lógica destrutiva do capitalismo e do império que não tem escrúpulos em destruir o meio am-biente”. Segundo Evo, os povos vivem sendo castigados pelo domínio imperial desde a for-mação do capitalismo, impulsionado pela con-quista e a colonização dos territórios, numa lógica em que impera o assalto aos recursos naturais dos povos e a lei do mais forte.

Neste mundo domi-nado pelo capital e pelo império, assinalou o pre-sidente, não há espaço para a juventude, por-que é um sistema que não permite a igualdade, uma vez que os jovens são reduzidos à “maté-ria-prima” à disposição de interesses mesqui-nhos. Evo enfatizou que a juventude deve ser anti-imperialista “por-que o imperialismo é um sistema sustentado na ideologia da superio-ridade política, econômi-ca, moral, ideológica e militar, sendo sua razão suprema a hegemonia do planeta”.

O mandatário reite-rou sua confiança nos jovens, pois considera que é mais difícil que os mais velhos mudem de mentalidade - muitas vezes colonial e conser-vadora – e manifestou seu sonho de unidade, depositando sua espe-rança nos mais novos para garantir a aplica-ção de uma agenda pro-gressista, em sintonia com a necessidade dos bolivianos.

A homenagem a Lênin lotou a Praça Vermelha

Com milhares de pessoas nas ruas das principais cida-des do país durante

mais de uma semana, o pre-sidente da Nicarágua, Da-niel Ortega, se viu forçado a anunciar, no domingo (22), a revogação da reforma previdenciária que a partir do 1º de julho aumentaria a contribuição de traba-lhadores e empregadores e reduziria as pensões dos aposentados.

A violenta repressão aos protestos provocou a morte de 30 pessoas, segundo o jornal local La Prensa.

O recuo do governo foi divulgado depois que a des-tacada poeta e escritora, Gioconda Belli, que enfren-tou a ditadura de Somoza e integrou a direção da Fren-te Sandinista de Libertação Nacional, exigiu ao governo que "devolva a liberdade e a democracia", e detenha a repressão contra o povo, os jovens que protestam no país contra o atentado aos seus direitos.

Ortega busca justificar as mudanças dizendo que é para evitar a quebra do Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS), situação que, na realidade, é fruto da privatização par-cial do Instituto.

Segundo a reforma apre-sentada atendendo a reco-mendação do Fundo Mone-tário Internacional (FMI), os trabalhadores, que con-tribuem com 6,25% de seu salário, agora entregariam 7%; enquanto que os idosos, que poderiam se aposentar com 80% de seu salário base, não poderão aspirar a mais do que 70%. E ainda mais, os aposentados seriam obriga-dos a fazer uma contribuição de 5% de sua pensão para o seguro saúde, o que fez com que essa medida ficasse co-nhecida pelo nome de “coti-zação perpetua”, pois teriam que pagá-la até morrer.

Pelas medidas apre-sentadas por Ortega, os empregadores, por sua parte, passariam de pagar 19% para 21%, indo num crescendo até alcançar 22,5%, em 2020. Embora a idade de aposentadoria, pela proposta de Ortega, não subiria de 60 a 65 anos como propôs o FMI, os trabalhadores deverão se aposentar mais tardiamen-te se quiserem completar as contribuições e alcançar uma pensão melhor.

Milhares de pessoas rechaçaram as medidas neoliberais e foram violen-tamente reprimidas pela policia. Jornalistas inde-pendentes denunciaram agressões, detenções tem-porárias e o roubo de seus equipamentos, enquanto o governo suspendeu as transmissões de quatro canais de televisão inde-pendentes.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos assi-nalou que confirmou com as famílias das vítimas a morte de 24 pessoas nos protestos, e o jornal La Prensa publicou que tem evidências de 30 falecidos.

Entre as vítimas há es-tudantes e trabalhadores que iniciaram o movimento, policiais e simpatizantes do governo –acusados de atacar os manifestantes – e o jornalista Miguel Ángel Gahona, que morreu no sábado de um disparo en-quanto transmitia por Face-book um enfrentamento en-tre manifestantes e policiais na cidade de Bluefields.

A catedral de Manágua foi tomada por manifestan-tes e realizou-se uma missa pelos falecidos. A Universi-dade Politécnica também foi ocupada, assim como muitas escolas, informou a agência Reuters.

Antes de revogar as me-didas de corte nas aposen-tadorias, ao contrário do que afirma agora, que as manifestações mostram que o decreto “não tem viabilidade”, Ortega tentou desgastar as manifestações, declarando que os protestos não seriam fruto da revolta espontânea da população, mas alentados por políticos críticos de seu governo, que receberiam financiamento de setores extremistas dos Estados Unidos.

Líderes políticos adverti-ram que o descontentamen-to da população vai além da reforma previdenciária, e apontam para a necessi-dade de uma mudança nos dirigentes do país.

"Aqui não há mais saída a não ser convocar eleições livres e transparentes para evitar que haja um custo maior para a população", disse a presidente da oposi-tora Frente Ampla pela De-mocracia, Violeta Granera, cujo movimento foi excluído das eleições de 2016, quan-do Ortega foi reeleito.

SUSANA SANTOS

O recém eleito presiden-te do Chile, Sebastián Piñe-ra, enfrenta as primeiras manifestações populares. No domingo, 22, além dos milhares que tomaram as ruas centrais de Santiago, houve mais 27 concentra-ções por todo o país pelo fim do sistema privado de aposentadorias.

O presidente da organi-zação No+AFP (chega de Administradoras de Fundos de Pensões), Luis Mesina, afirmou que a participação popular superou as expec-tativas. "As pessoas estão muito indignadas porque desde o governo passado [de Michele Bchelet] e agora com este governo, temos recebido apenas desdém, demagogia e mentiras; nada de concreto. As aposen-tadorias seguem caindo e essa é a razão fundamental porque esse movimento se-gue com tal participação”,

destacou. Esta mobiliza-ção foi convocada assim que o governo de Piñera anunciou uma reforma no sistema de previdência.

O sistema de AFPs foi criado durante a ditadura de Pinochet e serve para manter cheios os bolsos dos donos das administra-doras que manejam ativos de 170 bilhões de dólares resultado das contribui-ções recolhidas a traba-lhadores.

As aposentadorias são determinadas por varia-ções de mercado uma vez que os fundos ‘administra-dos’ aplicam no mercado financeiro e daí suposta-mente tiram os recursos para pagar as pensões. O resultado é uma queda nos pagamentos e uma insegurança repassada aos aposentados que leva os chilenos de todas as idades a se unirem para combater.

No domingo, 22 de abril, aos 148 anos do nascimen-to de Vladimir Ilich Lênin, fundador do primeiro Estado socialista do mundo, milhares de pessoas, membros do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), trabalhadores, jovens simpatizantes de suas ideias e conquistas levaram flores ao seu Mausoléu, na Praça Vermelha, de Moscou.

"A riqueza do legado de Lê-nin, a experiência prática de VIadimir Ilich são hoje podero-sas armas do nosso partido, dos comunistas e lutadores do mun-do inteiro. As ideias de Lenin continuam a inspirar milhões de pessoas em todo o planeta. O capitalismo - decadente, em cujo ventre se produzem guerra, fome e pobreza - é tão agressivo

e ganancioso como dantes. É por isso que Lenin é extremamente contemporâneo. Não como um monumento, um dogma con-gelado, mas um companheiro fiel que caminha conosco e nos ajuda na luta pela revolução e pelo socialismo.

“Felicito vocês pelo 148º aniversário do nascimento de Lenin, queridos companheiros! Desejo-lhes perseverança, fé em

nossas próprias forças e convic-ção na vitória do socialismo!", afirmou Gennady Zyuganov, presidente do PCFR.

Além da capital, nas principais cidades da Rús-sia, a exemplo de São Pe-tersburgo, Novosibirsk, Samara, Kazan, entre ou-tras, foram realizados atos em homenagem ao líder da Revolução de Outubro.

Em solidariedade aos pales-tinos, a atriz israelense, Natalie Portman, recusou o prêmio Gênesis, concedido anualmente a “judeus que se destacaram”.

Natalie, uma das mais afa-madas atrizes de Hollywood, nasceu em Israel, migrou com seus pais aos quatro anos de idade para os EUA. Ela já foi agraciada com um Oscar de Melhor Atriz em 2011 pela atuação em Cisne Negro e mais duas vezes indicada ao prêmio (filmes Jackie e Closer).

No dia 19, declinou do con-vite para o prêmio de US$ 1 milhão concedido pela Gênesis, pois “não pode em sã consciên-cia participar de qualquer even-to público em Israel”, diante de “acontecimentos perturbado-res ocorridos recentemente”.

Nas últimas semanas, 30 palestinos morreram e cerca de 1.500 ficaram feridos em um massacre na fronteira da Faixa de Gaza com Israel. Ela acres-centou que aceitar o prêmio

“diante do sofrimento e maus tratos impostos aos outros con-tradiz os meus valores judaicos”.

A atriz declarou ainda que não pode “permitir que um ato seu seja visto como endosso à política de Netanyahu”.

Apesar de deixar claro que “não retira o apoio a Israel”, mas que sua rejeição se refere ao sofrimento imposto aos pa-lestinos, e que “é exatamente por se importar com Israel que se levanta contra a violência, corrupção, desigualdade e abuso de poder”, direitistas no governo e no parlamento israelense

investiram contra ela.“Ela é uma atriz, mas não

merece nenhuma honraria do Estado de Israel”, declarou o deputado Oren Hazan, que acrescentou: “Liguei para o ministro do Interior Arieh Deri pedindo que rescinda sua cidadania israelense”.

Diante do desespero de seu crescente isolamento interna-cional, os chefes do apartheid israelense, que já proíbem o retorno dos palestinos expul-sos na limpeza étnica de 1948, agora querem restringir a cida-dania também a judeus que não comungam com suas atrocida-des contra os palestinos.

Mas a liderança do partido Kulanu (Todos Nós), Rachel Azaria, declarou que “a recusa de Natalie Portman deve servir de sinal de alerta. Ela, que nun-ca negou sua condição de judia e israelense, expressa muitas vozes que se erguem na comu-nidade judaica americana”.

NATHANIEL BRAIA

O candidato governista à presidência do Paraguai pelo Partido Colorado (AN-R-PC), Mario Abdo Benítez (46), venceu a eleição de domingo com 46,44% dos votos contra 42,74% do oposicionista Efrain Alegre, do Partido Liberal Ra-dical Auténtico (PLRA) em composição com a Frente Guasu, do ex-presidente Fernando Lugo.

A unidade “Frankestein” da Frente Guasu com o PLRA, que tinha a vice-pre-sidência no governo Lugo e votou pelo seu impeachment em 2012 foi apontada por inúmeros setores como uma das causas da derrota.

Ao todo, foram às urnas pouco mais de 2,59 milhões dos 4,2 milhões de elei-tores, totalizando uma elevada absten-ção de 38%. Outros 71,8 mil eleitores votaram nulo e 62,05 mil votaram em branco, somando mais 5,15% dos votos. Os resultados foram anunciados no site da Justiça Eleitoral do Paraguai, que contabiliza até o momento 99,67% das mesas eleitorais.

No Senado, o Partido Colorado, do presidente Horacio Cartes, caiu de 19 para 17 cadeiras; enquanto o PLRA aumentou de 12 para 13 senadores e a Frente Guasu subiu de cinco para seis. As demais vagas foram compostas pelo Partido Patria Querida (PPQ), 3; Haga-mos, 2; Partido Democrático Progressis-ta, 2; Movimiento Cruzada Nacional, 1; e Partido Unace, 1. Além do presidente e dos senadores, foram eleitos governa-dores, deputados federais e os deputados do Mercosul.

Benítez é conhecido pelos vínculos de sua família com a ditadura de Alfredo Stroessner, que governou o país com mão de ferro durante 35 anos (1954-1989), período em que assassinou mais de 400 pessoas e torturou outras 20 mil, conforme dados do relatório da Comissão da Verdade e Justiça, publicado em 2008. Dos 448 in-vestigados pelos crimes da ditadura, ape-nas oito foram processados pela Justiça.

O pai de Mario Abdo Benítez, que herdou o mesmo nome, era o secretário particular e principal dirigente da for-ça política de Stroessner, denominada “quarteto de ouro”. Ele morreu em 2013, sem responder por qualquer das acusa-ções por corrupção e deixou uma fortuna ao filho, ampliada com base na operação de duas construtoras da família, especia-lizadas em fornecer serviços ao Estado.

Durante parte da ditadura, Marito Abdo foi enviado pelo pai aos EUA para estudar, onde concluiu o ensino médio e se formou em marketing político, retor-nando ao Paraguai no fim da ditadura para se alistar nas Forças Armadas. Entrou para o Partido Colorado em 2005, sendo nomeado vice-presidente da sigla e posteriormente eleito senador.

Há 70 anos, desde 1947, os colorados dominam o país, com apenas uma exce-ção, em 2008, quando Lugo foi eleito, sendo deposto em 2012 após um “con-fronto” provocado por franco-atiradores em Curuguaty. GABRIEL CRUZ

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INTERNACIONAL25 E 26 DE ABRIL DE 2018 HP

Garoto sírio relata como foi a encenação do ‘ataque químico’

ANTONIO PIMENTA

No alto, Hassan Diab no “vídeo de Douma”, acima, com o pai e um repórter

Rumo à Cúpula intercoreana: líderes do Norte e do Sul instalam telefone direto

7

Porta-voz russa Zakharova: “achamos em Guta cloro da Alemanha e granadas da Inglaterra”

Seul: manifestantes apoiam reunião de Moon e Kim

Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria da Rússia

Estudantes americanos realizam dia nacional de manifestações contra as chacinas nas escolas

Sauditas explodem casamento e matam 57 civis no Iêmen em 2 dias

Milhares de es-tudantes, de 2.500 escolas americanas, organizaram uma manifestação nacio-nal contra a violência nas escolas, na sexta-feira (20). A data foi escolhida em memó-ria ao 19º aniversário do massacre da escola secundária de Colum-bine, no Colorado, onde dois estudantes mataram 12 colegas e um professor antes de se suicidarem.

Em Washington DC, centenas de jo-vens denunciaram a “Associação Nacional do Rifle” (RNA), em referência ao lobby das armas, que bus-ca impedir qualquer restrição ao porte de armas de fogo, princi-palmente fuzis. Nesse sentido, durante o ato na capital, a estudan-te Briana, da escola técnica secundária do Brooklyn, afirmou que “os políticos sim-plesmente ficam em silêncio enquanto as pessoas estão morren-do”. Sobre o problema estrutural da violên-cia nos EUA, a jovem disse que “não sabe dizer ao certo o quão violento o resto do o país é”, mas considera haver “algo de errado em nossa cultura”.

Para o estudan-te Triston, da esco-la secundária Har-vest, de Manhattan, as armas são usadas principalmente para “causar danos e não para proteção”. Para ele, há um profundo mal-estar na socieda-de americana devido à pobreza e a falta de oportunidades. “Nos-so país está tão que-brado que não ajuda às pessoas que pre-cisam. Temos acesso mais fácil às armas do que às nossas ne-cessidades básicas. Além do que, existem problemas de pobre-za e opressão. Você também pode ver a polícia atirando em crianças inocentes”, completou o garoto.

Por sua vez, o jo-vem Khalilah, da es-cola secundária de Beacon, em Nova Ior-que, comparou a vio-lência dentro dos EUA a política belicista de seu país. “Durante todos os dias de nossas vidas estivemos em guerra. No Iraque, Afeganistão, Síria, Lí-bia, Iêmen e Palestina, a dor das vítimas de Parkland e Columbi-ne é sentida todos os dias. Isso é obra das bombas e armas pagas pelos EUA”.

Manifestantes em Seul apoiaram a cúpula da recon-ciliação coreana, que reunirá na próxima sexta-feira (27) o líder da Coreia Popular, Kim Jong Un, e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, em Panmunjon, enquanto Seul anunciou a instalação de uma linha direta entre os palácios de governo em Pyon-gyang e Seul.

Nos últimos dias, vários passos foram dados para favo-recer o clima de aproximação e boas perspectivas “entre nós coreanos” – como assinalou o líder Kim em sua conclamação de Ano Novo. Kim Jong Un anunciou no sábado a sus-pensão dos testes nucleares e de mísseis, assim como o fechamento da área de provas atômicas. A decisão foi sauda-da por Seul, que a considerou um “avanço significativo para a desnuclearização da penín-sula coreana”. Nação milenar, a Coreia se encontra divida pela presença das tropas dos EUA que já dura 73 anos, e tenta abrir caminho para a reunificação pacifica.

Nos EUA, foi confirmada pelo próprio presidente Do-nald Trump a visita sigilosa do diretor-geral da CIA, Mike Pompeo, para tratativas so-bre inédita cúpula a Coreia Popular e os EUA, que afaste a ameaça de guerra e coloque sobre a mesa a discussão da assinatura de acordo final de paz que substitua o armistício

em vigor desde 1953. “Como já comprovamos

a efetividade das armas nucleares, não precisamos mais realizar testes nucle-ares ou mísseis balísticos intercontinentais”, afir-mou Kim. Ele convocou o Partido do Trabalho e toda a nação a “se concentrar agora no desenvolvimento da economia socialista”.

A força de dissuasão nu-clear da Coreia Popular só foi criada, sob enormes es-forços e sacrifícios do povo coreano, devido à decisão do então governo W. Bush de ameaçar o país com um “ataque nuclear preventi-vo”, fazendo letra-morta das garantias do Tratado de Não-proliferação.

A próxima cúpula inter-coreana e o desenvolvimento positivo para a possível ci-meira Kim-Trump expres-sam a vitória da política, pleiteada pela Rússia e Chi-na, de “duplo congelamento, com o fim dos testes pelo norte, e suspensão no sul das manobras militares dos EUA no sul”, para permitir negociações sem pré-condi-ções, no lugar das ameaças de guerra nuclear e mais sanções. As manobras EUA-Seul de abril foram as mais modestas em muitos anos. Moscou e Pequim sauda-ram a decisão tomada por Pyongyang de suspensão dos testes. Por sua vez Trump classificou o anúncio de Kim como “uma ótima notícia”.

A OPAQ confir-mou que uma equipe de inspetores colheu amostras no sábado (21) no local do alega-do ataque químico em Douma – que vem sen-do apontado por Mos-cou e Damasco como encenação. As amos-tras serão enviadas ao laboratório da OPAQ na Holanda e, dali para análise nos la-boratórios designados pelo órgão da ONU de monitoramento de armas químicas.

A equipe da OPAQ está na Síria a pe-dido oficial dos go-vernos sírio e rus-so. Anteriormente, a visita havia sido adiada devido a “fal-ta de segurança”. A Rússia havia protes-tado contra a demo-ra, considerando-a “inaceitável” e que os militares russos esta-cionados em Douma nos termos do acordo de rendição dos jiha-distas tinham como

Inspetores da OPAQ visitam Douma e colhem amostras

proporcionar toda a proteção necessária.

A chancelaria russa manifestou preocupa-ção sobre a intenção, da direção da OPAQ, de visitar menos locais e entrevistar menos testemunhas. “Pla-nos que apenas de-monstram a falta de disposição em escla-recer outra provocação encenada com uso de substâncias quími-cas”, o que serviu de pretexto para o ataque de mísseis desencade-ado por Washington e vassalos.

Contrariamente ao que vinha sendo alegado por Washing-ton, a OPAQ declarou expressamente que o atraso de seus inspe-tores em Douma não se devia a Moscou ou Damasco. Conforme o chanceler Sergei Lavrov, a Rússia tem “provas de sobra” de que o ataque em Dou-ma foi encenado por Londres.

A porta-voz da chance-laria russa, Maria Zakha-rova, denunciou que tropas sírias encontraram nas áreas libertadas de Guta oriental “containers com cloro, da Alemanha, e gra-nadas de gás produzidas – por favor prestem atenção - na cidade de Salisbury, na Inglaterra”.

Foi em Salisbury, cidade que fica a 10 km do labo-ratório de guerra química inglês de Porton Dow, que o governo May cometeu a pro-vocação do “ataque de arma químico em solo britânico”.

E no “vídeo do ataque químico em Douma” os

Capacetes Brancos – “par-cialmente financiados pelo Foreign Office (chancela-

ria inglesa) segundo Robert Fisk – alardeou-se que o su-posto veneno era gás cloro.

Um atentado suicida do Estado Islâmico deixou mais de 50 civis mortos e 112 fe-ridos, xiitas em sua maioria, no último domingo, em um cartório eleitoral de Cabul, capital do Afeganistão. Os corpos ficaram carbonizados junto a carros incendiados, e o edifício de dois andares foi parcialmente destruído.

Conforme o Ministério da Saúde, ao menos 21 mulheres

Atentado suicida do EI deixa mais de 50 mortos em Cabule cinco crianças foram mor-tos, enquanto 47 mulheres e 16 crianças ficaram feridas. O atentado ocorreu pela manhã no bairro de maioria xiita a oeste da capital, Sasht e Barshi, atacado constan-temente por milicianos do Estado Islâmico desde 2016.

“Agora sabemos que o governo é incapaz de nos proteger”, gritou um ho-mem, condenando o presi-

dente-fantoche Ashraf Ghani, antes que o canal Tolo News interrompesse a transmissão. “Morte ao governo”, grita-va a multidão ao seu redor, exibindo cédulas eleitorais ensanguentadas. As eleições legislativas foram anunciadas para 20 de outubro.

Outros ataques atribuídos à oposição Talibã tiveram como alvo cartórios eleitorais do interior na última semana.

Um dos principais personagens do “vídeo do ‘ataque químico’ de Dou-

ma” – o menino visto sendo intensamente aspergido de água no hospital – foi mostrado em reportagem de uma emissora russa e depois na RT-Árabe, a quem relatou como tudo se deu naquele 7 de abril. A suposta “vítima” cuja face correu mundo é Hassan Diab, de 11 anos.

“Nós estávamos em um porão. Mamãe me disse que não havia nada para comer e que comeríamos amanhã. Ouvimos gritos na rua de “vão para o hospital”. “Fui imediatamente levado escada acima no hospital e eles começaram a jogar água em mim”, acrescen-tou o menino. Hassan mos-trou aos jornalistas russos aonde foi feita a gravação.

“Os médicos começaram a nos filmar, eles estavam jogando e fazendo vídeos”, contou Hassan. “Depois fo-mos colocados em camas ao lado de outras pessoas”. O correspondente russo que o achou, Yevgeny Poddubny, revelou como o menino foi induzido a participar da encenação. “A criança não tinha nada para comer, ele recebeu arroz, tâmaras e biscoitos para essa sessão”.

Hassan percorreu o hos-pital ao lado de uma repór-ter da RT-Árabe. Ele sabia onde estavam as mangueiras usadas para jogar água nas “vítimas”, a conduziu até o andar superior onde ficam as camas e para onde foi levado após ser encharcado de água.

Também o pai de Hassan confirmou que não houve ataque químico algum, as-sim que soube que os filhos estavam no hospital e correu para lá. Ele relatou que se surpreendeu ao ver a esposa e os filhos quando chegou ali. “Perguntei o que havia acontecido e por que os olhos de meu filho estavam ver-melhos. Soube que estavam assim por causa da água. Estava frio, podia ter ficado doente, estava sem roupa”.

Quando decidiu levar o filho, foi-lhe dito pelos ati-vistas que “ainda precisa-vam” dele, “mas o levei as-sim mesmo”. “Logo, junto com um colega, vi o vídeo, que me fez rir”, acrescen-tou. A reportagem mostrou Hassan e o pai juntos.

O relato do menino Has-san confirma declarações já

feitas por médicos que es-tavam no hospital de Dou-ma no momento em que a encenação ocorreu, como Mirwan Jaber, que disse ja-mais haver tratado algum paciente exposto a agente químico, assim como seus colegas de profissão.

Sobre o dia 7, Jaber lem-brou que “muitas pessoas invadiram o hospital, mas não eram nossos funcioná-rios e não acho que fossem médicos absolutamente. Eles começaram a gritar algo sobre um ataque quí-mico jogando água e tudo isso foi filmado”, e o pâni-co se instalou. Ele acres-centou que os médicos se aproximaram das pessoas que haviam sido ensopadas de água, e que estas não tinham qualquer sinal de armas químicas.

Conforme o médico, sintomas indicando que uma pessoa foi afetada por agente de guerra química incluem queimaduras ou feridas na pele e olhos, bem como tosse, dor no peito, tontura, náusea, sonolên-cia, defecação e urinação involuntária, acne, rashes e pupilas severamente es-treitadas. “Os participan-tes do vídeo encenado não tinham esses sintomas”. Ele chamou a atenção para que o uso de armas quí-micas tipicamente leva à morte de animais e insetos na zona de matança, onde também as árvores e a grama murcham.

O embaixador da Rússia junto ao Conselho de Se-gurança da ONU, Vassily Nebenzia, já anunciou que irá exibir no CS as reporta-gens feitas com o menino, e também com seu pai, e que demonstram que tudo não passou de uma encenação para dar pretexto às po-tências ocidentais manter a guerra em aberto na Síria.

Sob o pretexto do ata-que químico de Douma, os governos Trump e seus vassalos Macron e May violaram a Carta da ONU e a lei internacional, e inclusive a jurisprudência de Nuremberg que o “su-premo crime que condensa todos os demais é a guerra de agressão a uma nação soberana”. Pela Carta da ONU, apenas é legal ataque em caso de legítima defesa ou expressa permissão do Conselho de Segurança.

O acidente e a morte de uma passageira no vôo 1380 da Southwest Airlines expôs a irresponsabilidade da em-presa norte-americana para com a segurança dos seus passageiros e funcionários. Só a habilidade da piloto evitou uma grande tragédia.

Acidente semelhante aconteceu com Southwest em 2016 e a Federal Avia-tion Administration (FAA), agência que regula o setor, indicou que aquele acidente revelou fadiga de material em peça do motor e que era requerido, neste caso, uma ampla vistoria nos aviões que usam o mesmo modelo de motor. Ao descuidar da orientação da FAA, pôs em risco a vida das pessoas.

Conforme já havia sido alertado, o anel projetado para conter componentes do motor e impedi-los de pene-trar em partes vulneráveis do avião, em caso de falha, vem se tornando ineficaz pelo completo desleixo com que as revisões mecânicas têm sido tratadas.

Ao fadiga do material acabou provocando a que-bra de uma peça do motor que provocou uma explo-são em pleno vôo, e lançou estilhaços para dentro do compartimento da fusela-

gem. O incidente fez com que a cabine se despressuri-zasse, o que retirou a parte superior de Jennifer Rior-dan do avião. Sua causa de morte foi identificada como traumatismo na cabeça, pescoço e tronco. Sete ou-tros passageiros receberam atendimento com ferimen-tos leves.

Segundo investigações do Conselho Nacional de Segurança no Transporte (NTSB), o vôo 1380 viajava de Nova Iorque para Dallas com 144 passageiros e cinco tripulantes, quando uma pá do motor esquerdo do Bo-eing 737-700 se separou do cubo do motor 20 minutos após a decolagem, forçando a um pouso de emergência.

O chefe do NTSB, Robert Sumwalt, afirmou que os investigadores descobriram evidências substanciais de fadiga de metal na área onde a pá do ventilador se separou do centro.

Em setembro de 2016, em “acidente” quase idêntico, um ventilador no motor esquerdo de um Boeing 737-700 da Southwest Airlines se separou durante um vôo de Nova Orleans para Orlando, jogando estilhaços para den-tro da fuselagem e provocan-do um rombo na aeronave.

Southwest não fez revisão de turbina com problema e piloto evitou tragédia

Em três ataques no fim de semana apenas, a Arábia Saudita matou pelo menos 57 civis no Iêmen – a maioria mulheres e crianças. No mais brutal desses bombardeios, uma cerimônia de casamento em Bani Qais, na pro-víncia de Hajjah, foi estraçalhada a bombas e mísseis. A noiva e ao menos outras 32 pessoas foram massacradas e mais de 55 ficaram feri-das, a maioria crianças. Moradores da região disseram à Reuters que as vitimas fatais ficaram desmembradas e completamente des-figuradas. Dessa vez Trump, May e Macron não despejaram lágrimas de crocodilo sobre as “pobres criancinhas” iemenitas.

O massacre foi condenado pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que exigiu “uma rápida, efetiva e transparente investi-gação”. No outro ataque saudita de domingo, contra uma casa na aldeia de Taiba, foi morta uma família de quatro pessoas. Um dia antes, no sábado, pelo menos 20 civis foram chacina-dos em um ataque aéreo contra um ônibus de passageiros, no distrito de Mowza, próximo da cidade de Taiz.

Os sauditas, com armas e supervisão nor-te-americana, tentam reinstalar no Iêmen um governo títere derrubado por um levante popular. França e Inglaterra faturam vendendo armas a Riad. “O Secretário-Geral, Antônio Guterres, gostaria de relembrar todas as partes de suas obrigações para com os Direitos Humanos Inter-nacionais relacionados à proteção de civis e da in-fraestrutura civil durante os conflitos armados”, reiterou o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

A rede de TV iemenita Al-Masirah disse que 33 pessoas foram mortas e 55 ficaram feridas. De acordo com a ONU, a guerra do Iêmen já ma-tou mais de 10 mil pessoas, e deixou ao menos 40 mil feridos, forçando mais de dois milhões a deixarem o país. A destruição da infraestrutura e o bloqueio de portos semearam a fome, e tor-naram doenças já extintas, como a cólera, em uma epidemia com mais de 400 mil infectados.

Suposta “vítima” mostrada no “vídeo de Douma”, Hassan Diab, de 11 anos, contou tudo. Gritavam que era gás e “vão para o hospital”, onde foi filmado. Pai: “não havia ataque químico algum”.

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ARTHUR DE FARIA

Lupicínio, o grande sambistado Sul, sua vida e sua arte - 1

ESPECIAL

Bairro da Ilhota, em Porto Alegre, onde Lupicínio Rodrigues nasceue, abaixo, o grupo Ases do Samba no navio Itaquera, rumo ao sul:

sentados, Pery Cunha, Mário Reis, Francisco Alves, Noel Rosa e Nonô

Hoje, e nas próximas edi-ções, nossos leitores poderão ler alguns capítulos do livro “Uma História da Música de Porto Alegre”, do compositor e jornalista Arthur de Faria, publicados, originalmente, no site “Sul 21”, com o título “Fe-nomenologia da Cornitude: Lupicínio Rodrigues”.

O tema desses capítulos é uma das figuras maiores da nossa cultura.

Não gostaríamos de alar-gar-nos mais nesta nota, para que o leitor não demore a encontrar, no texto, o pra-zer que sentimos ao tomar conhecimento dele.

(C.L.)

uarto entre polifô-nicos 21 irmãos, o menino nasceu em 16 de setembro, no número 97 da Tra-vessa Batista, bair-ro da Ilhota, Porto Alegre, sob o signo de virgem. Corria

o ano de 1914. O nome Lu-piscínio (com sc) foi ideia do pai, homenagem a um general que teria sido dos primeiros heróis da também nascente Primeira Guerra Mundial. Isso é o que dizem as biogra-fias oficiais de Lupi.

Mas, fala a verdade: alguém aí sabe quem é esse Lupiscínio herói de guerra? Dúvidas cho-vem às pencas com relação ao que é verdade e o que é lenda na vida do nosso personagem. Aqui não é diferente.

Também – dizem – chovia a cântaros no dia em que ele veio ao mundo.

Coincidentemente – ou não –, 60 anos depois, choveria no dia de sua morte.

Mas em 16 de setembro de 1914, pra não fugir à sua sina, a Ilhota estava inundada: a hoje extinta quase-ilha era formada pelas voltas de um arroio com justiça batizado de… Dilúvio (hoje canalizado em linha reta). A parteira teve de ser trazida de barco para atender Dona Abigail.

Habitada basicamente por negros e mulatos descenden-tes de escravos, a Ilhota era um bairro festeiro, num perfil muito semelhante, na época, ao da Cidade Baixa e da Colônia Africana (situada onde são hoje o Bom Fim e o Rio Branco). Hoje próximas, eram então arrabaldes da cidade. E, como já vimos, nesse momento, a exemplo do Rio de Janeiro, os pobres vinham sendo empurra-dos do Centro sob o pretexto de uma reforma urbana.

A Cidade Baixa e a Ilhota, em particular, eram conhecidas no início do século XX como O Reduto dos Seresteiros – e é curioso constatar que, 100 anos depois, a mesma zona retoma-ria a predileção da juventude boêmia da cidade. O que os bo-êmios e seresteiros de então to-cavam é um tema e tanto. A se confiar nas centenas de discos gravados na capital na década de 1910 (pela Casa A Electrica e pela Casa Hartlieb), o pes-soal ia de polca, choro, valsas e modinhas. Sambas, maxixes ou batucadas eram raríssimos (mas há que se fazer a ressalva de que ninguém dessa cena periférica e negra foi chamado pra essas gravações).

O que se sabe é que, um ano antes do nascimento de Lupicínio, a dupla gaúcha Os Geraldos já havia levado ao disco alguns sambas. Mas eles moravam então no Rio, e podem ter aprendido o gê-nero lá. Ou seja: não há como saber se já se fazia samba na Porto Alegre de 1914.

Mas das formações instru-mentais sim, se sabe: violões e cavaquinhos. Instrumentos tocados por vários membros da família Rodrigues: pai, tios, tias, todo mundo can-tava ou tocava.

Eram os anos em que nomes como Radamés Gnattali e Dante Santoro começavam a despontar no cenário local. Anos em que quem mandava no pedaço era o compositor, profes-sor, carnavalesco, teatrólogo e multi-instrumentista Octavio Dutra. Todo um pessoal “de bem” – não necessariamente

endinheirado, mas que orbitava num cenário muito distante do cotidiano dos Rodrigues.

Se alguém ali naquela cena quase presépica dissesse que o recém-nascido daria pra músi-ca, teria a concordância geral: todos ali davam. Mas certamen-te provocaria risos e olhares de estranheza quem sonhasse profetizar que, dali a 40 anos, esse menino pobre e negro seria apontado como um dos nomes mais significativos da história da música brasileira.

* * *Um compositor com conceito

e estética muito peculiares.* * *Noel Rosa, Orestes Barbosa

e Chico Buarque escreveram brilhantes canções sobre o descorno.

Mas ninguém soube ex-pressar como Lupicínio a mais acachapante e abjeta cornitude.

Cartola e Nelson Cavaqui-nho foram mestres do samba-canção.

Mas nenhum misturou tão bem o gênero a elementos musicais e poéticos do bolero e do tango.

Aldir Blanc soube cantar o band-aid no calcanhar ou a sur-ra dada na mulher por causa da frustração de um gol anulado. Sem medo do grotesco.

Mas nem ele teria a coragem de escrever um depoimento tão bizarro quanto o de Sozinha:

– Vivia sozinha num ranchi-nho velho feito de sopapo. Seu rádio de noite era um canto de sapo, sua cama uma esteira estendida no chão, sua refeição era um bocado de charque e fa-rinha e nem pra comer a coitada não tinha sequer um café, um pedaço de pão.

Levei pro meu sítio, troquei por cetim os seus trapos de chi-ta, e só pra marvada se ver mais bonita pus luz em seu quarto em vez de candeeiro.

E, só por dinheiro, sabe o que fez essa ingrata mulher?

Fugiu.…com o doutor que eu mes-

mo chamei e paguei pra curar os seus bicho-de-pé.

(A canção poderia terminar aí e já seria um chute na testa. Mas, como bem notou Tárik de Souza em O Som Nosso da Cada Dia, Lupicínio ainda arma uma jogada de mestre para arrematar a narrativa: troca o narrador e se coloca na pele de um novo personagem, aquele que escuta o depoimen-to. E, como cereja do bolo, ainda arremata a estória com uma rima interna de rara felicidade):

Assim me falou um pobre matuto, coitado.

Chorando em seu desespero foi me ensinando que, em todo lugar, mulher sempre é mulher: se pede uma flor e a gente lhe dá, ela exige uma estrela.

E se, por acaso, ela não obtê-la…

…se vai com o primeiro ho-mem que lhe der.

* * *Desde cedo o menino ajudou

em casa. Vendia pastéis e balas, fazia uns bicos como moleque de recados (“mandalete”, o boy

da época) e chegou até a uma fábrica de parafusos. Ainda as-sim, contava, teve uma infância feliz: por ser o primeiro filho homem, me criei como a criança mais mimada da família.

Dona Bêga lavava pra fora e Seu Francisco trabalhava na portaria da Escola de Comércio. O pai de Lupicínio crescera como agregado do desembarga-dor André da Rocha, que não só lhe pagou os estudos como ain-da conseguiu-lhe esse emprego (há quem insinue que a relação de Francisco com André teria laços sanguíneos).

Por isso, ao contrário do que acontecia com a maioria de seus vizinhos, Lupi estudou em bons colégios. Além disso, moravam numa casa simples, mas bem grande – afinal, ti-

nha de caber 21 rebentos! –, com um galpão e uma imensa parreira no fundo do quintal.

Aos 12 anos, sempre dis-traído, completou o primário fazendo música e jogando bola. Preocupado, o pai o matricula num curso profissionalizante de mecânico da Escola Paro-bé, de onde sai pra estagiar como aprendiz nas oficinas de bondes da hoje centenária em-presa de transporte Carris. O problema é que, a se acreditar nos depoimentos de contem-porâneos, aos 13 anos ele já era bom de bola, de copo, de samba, de mulher e de boemia.

E já cantava. Numa bandi-nha fuleira, apelidada Banda Furiosa, que no carnaval mu-dava de nome para Bloco do Moleza (anos depois, diria: acho

que é por isso que até hoje eu canto tão mal). Detalhe: o grupo era formado por músicos que tinham, todos, pelo menos 20 anos a mais que ele.

Perto de mais uma festa de Momo, o bloco decide que pre-cisa de uma música-tema. E lá vai estrear, aos 13 anos, o com-positor Lupicínio Rodrigues. A marchinha se chama, ora veja, Carnaval. E estamos em 1927, quando a festa da Ilhota era referência de animação e participação, bem diferente do espetáculo contido apresentado no centro da cidade.

Logo seus dotes vocais se mostram nem tão limitados assim, e o recém-adolescente é contratado como crooner do Conjunto Catão, bem mais prestigiado que a Furiosa. Foi

aí que o pai sentiu que a coisa era séria. Sua primeira e de-sesperada medida para tirá-lo dessa vida – antes que fosse tarde – foi alterar sua data de nascimento. De 15, Lupicínio pulou para 18 anos, sendo imediatamente enfiado como “voluntário” no 7° Batalhão de Caçadores do Exército.

A partir daí começa uma grande confusão entre os que se dispuseram a contar sua vida – incluindo o próprio Lupi e seu biógrafo oficial, Demos-thenes Gonzalez. Todos discordam em vários pontos com relação aos próximos cinco anos. Mas tentemos montar um quebra-cabeça de datas e fatos. Juntando as peças e eliminando algumas contra-dições, é bem possível que a ordem dos acontecimentos seja a que vem a seguir.

* * *O primeiro ato abre em

1932, com o rapazote, vestido de soldado raso, assistindo maravilhado a um show dos Azes do Samba, no Cine Theatro Imperial. Com ele, um amigão catarinense, cole-ga de quartel, chamado Rei-noldo Corrêa de Oliveira – o futuro Nuno Roland que, anos mais tarde, faria fama como cantor no Rio de Janeiro.

Os tais Azes eram ninguém menos que Noel Rosa, Francis-co Alves, Mário Reis, o pianista Nonô e o bandolinista gaúcho Pery Cunha, reunidos espe-cialmente para essa excursão ao Sul. Mesmo já decididos a seguir carreira na música, Lupi e Nuno não têm coragem de pu-xar conversa com os famosões depois do espetáculo.

Mas o destino é um bicho curioso. Horas depois, a dupla está num boteco, fazendo mú-sica com os amigos. E aí quem entra porta adentro? Isso mes-mo: os Azes do Samba.

Acabam todos confraterni-zando, e Lupicínio canta algu-mas de suas canções. É quando um deles, só quatro anos mais velho mas infinitamente mais famoso e prestigiado, decreta: Esse garoto é bom, esse garoto vai longe! Nome do cara? Noel Rosa.

Já tava de bom tamanho.Mas concordaram com ele,

imediatamente, outras duas figuras que seriam importantís-simas para o mulatinho: Mário Reis, sua maior referência vocal (Lupi: eu imitava muito o Mário Reis). E Francisco Al-ves – que, décadas mais tarde, seria o responsável pelos seus primeiros grandes sucessos.

Continua na próxima edição