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CIÊNCIA L A B O -R .LX T Ó R[ O ~': MUNDO - •.. - ~.. _-~~ --~...:::~~ Entre o bem e o mal Um papel especial pode es- tar reservado aos gatos nos estudos sobre a síndrome respiratória aguda severa (Sars), forma atípica de pneumonia identificada em fevereiro que matou 800 pessoas em mais de 30 paí- ses. Para alguns pesquisa- dores, os felinos represen- tariam o melhor modelo animal para estudo da do- ença - os atuais testes, com macacos, são caros, e ainda não se conseguiu infectar camundongos com o vírus da Sars. Para outros, os ga- tos seriam os transmissores da doença ao homem (Na- ture, 5 de junho). A suspei- ta se baseia na descoberta de que felinos de um con- domínio de Hong-Kong, onde 100 moradores con- traíram a pneumonia, eram portadores do tal vírus se- melhante ao da Sars. Gatos: aliados ou inimigos na luta contra a Sars? • A árdua batalha para contar genes "Desconfio de que não co- nheçamos o número certo de genes em nenhum organismo, e menos ainda no homem", desabafou Phil Green, espe- cialista em bioinformática da Universidade de Washington, Estados Unidos, durante um encontro realizado em maio no Laboratório de Cold Spring Harbor, Estado de Nova York (Nature, 5 de junho). "Acho que nunca teremos um núme- ro final", disse [ean Weissen- bach, diretor do centro francês de seqüenciamento Genosco- pe, outro participante da reu- nião. Entre as causas que difi- cultam o estabelecimento de uma contagem definitiva, os pesquisadores destacaram a ainda baixa confiabilidade dos programas de computador encarregados de identificar e contar os genes de um geno- ma. Em alguns casos, os soft- wares erram para menos: não conseguem prever a existên- cia de genes muito peque- nos, que se encontram es- condidos no meio de genes maiores. "Nenhum programa de computador jamais conse- guirá pegar esses genes", afir- mou Gerald Rubin, da Uni- versidade da Califórnia em Berkeley. Em outros, erram para mais: contabilizam duas ou mais vezes a presença de um gene no genoma, confun- dindo as cópias de um gene com o seu original. 24 . AGOSTO DE 2003 PESQUISA FAPESP 90 • Deprimidos e mal tratados Dois dados preocupantes vie- ram à tona ao fim de um es- tudo com 9 mil norte-ameri- canos com mais de 18 anos, publicado na edição de 17 de junho do The [ournal of the American Medical Association (Iama). Pouco mais da meta- de das pessoas com depressão - 52% dos doentes - procura um profissional de saúde em busca de auxílio para seu pro- blema. Se esse resultado não parece muito animador, o que dizer de outra constatação do trabalho? Menos da metade dos pacientes que recorreram aos serviços de um psiquiatra segue o tratamento da forma como foi prescrita pelo mé- dico. Segundo o estudo, so- mente 47% dos doentes que se consultaram com um espe- cialista seguem as recomenda- ções clínicas: quatro visitas ao médico durante o prazo de um mês ou oito sessões de psico- terapia de pelo menos 30 mi- nutos antes de iniciar o uso de antidepressivos ou estabili- zadores de humor. • A polêmica faxina no Davi Venceu a modernidade. Sem passar por uma faxina pesada desde 1843, a estátua de Davi, uma das obras-primas de Mi- chelangelo, começará a ser limpa em setembro com um preparado à base de água des- tiladada - e não por um anti- go método de restauração a seco, como defendiam alguns restauradores. A decisão to- mada pelas autoridades ita- lianas põe fim, salvo alguma reviravolta de última hora, a

Deprimidos e Entre obemeomal maltratadosrevistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2003/08/tecnociência... · (Sars), forma atípica de pneumonia identificada em fevereiro que

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• CIÊNCIA

L A B O -R .LX T Ó R [ O ~ ': M U N D O- •.. - ~.._-~~--~...:::~~

Entre o bem e o malUm papel especial pode es-tar reservado aos gatos nosestudos sobre a síndromerespiratória aguda severa(Sars), forma atípica depneumonia identificada emfevereiro que matou 800pessoas em mais de 30 paí-ses. Para alguns pesquisa-dores, os felinos represen-tariam o melhor modeloanimal para estudo da do-ença - os atuais testes, commacacos, são caros, e aindanão se conseguiu infectarcamundongos com o vírusda Sars. Para outros, os ga-tos seriam os transmissoresda doença ao homem (Na-ture, 5 de junho). A suspei-ta se baseia na descobertade que felinos de um con-domínio de Hong-Kong,onde 100 moradores con-traíram a pneumonia, eramportadores do tal vírus se-melhante ao da Sars. •

Gatos: aliados ou inimigosna luta contra a Sars?

• A árdua batalhapara contar genes

"Desconfio de que não co-nheçamos o número certo degenes em nenhum organismo,e menos ainda no homem",desabafou Phil Green, espe-cialista em bioinformática daUniversidade de Washington,Estados Unidos, durante umencontro realizado em maiono Laboratório de Cold SpringHarbor, Estado de Nova York(Nature, 5 de junho). "Acho

que nunca teremos um núme-ro final", disse [ean Weissen-bach, diretor do centro francêsde seqüenciamento Genosco-pe, outro participante da reu-nião. Entre as causas que difi-cultam o estabelecimento deuma contagem definitiva, ospesquisadores destacaram aainda baixa confiabilidade dosprogramas de computadorencarregados de identificar econtar os genes de um geno-ma. Em alguns casos, os soft-wares erram para menos: não

conseguem prever a existên-cia de genes muito peque-nos, que se encontram es-condidos no meio de genesmaiores. "Nenhum programade computador jamais conse-guirá pegar esses genes", afir-mou Gerald Rubin, da Uni-versidade da Califórnia emBerkeley. Em outros, errampara mais: contabilizam duasou mais vezes a presença deum gene no genoma, confun-dindo as cópias de um genecom o seu original. •

24 . AGOSTO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 90

• Deprimidos emal tratados

Dois dados preocupantes vie-ram à tona ao fim de um es-tudo com 9 mil norte-ameri-canos com mais de 18 anos,publicado na edição de 17 dejunho do The [ournal of theAmerican Medical Association(Iama). Pouco mais da meta-de das pessoas com depressão- 52% dos doentes - procuraum profissional de saúde embusca de auxílio para seu pro-blema. Se esse resultado nãoparece muito animador, o quedizer de outra constatação dotrabalho? Menos da metadedos pacientes que recorreramaos serviços de um psiquiatrasegue o tratamento da formacomo foi prescrita pelo mé-dico. Segundo o estudo, so-mente 47% dos doentes quese consultaram com um espe-cialista seguem as recomenda-ções clínicas: quatro visitas aomédico durante o prazo de ummês ou oito sessões de psico-terapia de pelo menos 30 mi-nutos antes de iniciar o uso deantidepressivos ou estabili-zadores de humor. •

• A polêmica faxinano Davi

Venceu a modernidade. Sempassar por uma faxina pesadadesde 1843, a estátua de Davi,uma das obras-primas de Mi-chelangelo, começará a serlimpa em setembro com umpreparado à base de água des-tiladada - e não por um anti-go método de restauração aseco, como defendiam algunsrestauradores. A decisão to-mada pelas autoridades ita-lianas põe fim, salvo algumareviravolta de última hora, a

o gigante deM ichelangelo:opção pelouso de águadestiladana limpezada estátua

um acalorado debate que jáse arrastava por onze anos.Não havia consenso a respei-to da melhor maneira de apa-gar os efeitos da passagem dotempo sobre o gigante nu,de 4 metros e meio de alturae quase 500 anos de vida, es-culpido em mármore Carra-ra. A opção pelo método maistecnológico era defendida porFranca Falletti, diretora daGalleria dell'Accademia, em

Florença, museu que abriga aestátua. A decisão desagra-dou a alguns restauradores,entre os quais a italiana Ag-nese Parronchi, que havia si-do escalada pelo museu pararealizar a faxina em Davi eera defensora de uma velhatécnica de limpeza a seco,com o auxílio de escovas ma-cias e pedaços de um tipo decouro muito macio (cha-mais). Agnese, que em abril

renunciou ao seu posto nomuseu, acredita que a adoçãodo método molhado podedanificar o Davi, que faz 500anos em 2004. •

• O Sol vistobem de perto

Em 14 de junho de 2002, emsua missão científica de estréia,as lentes do telescópio Vault,do Laboratório de PesquisaNaval dos Estados Unidos,produziram um feito e tanto.Conseguiram captar as ima-gens mais próximas do Sol já

A estrela em ação:atividade intensana camada mais

baixa da atmosfera

obtidas por qualquer artefatode observação. Só divulgadasem julho deste ano, as 21 fo-tos feitas pelo Vault - quecapta a luz ultravioleta emi-tida num comprimento deonda chamado Lyman-alpha- apresentam uma resoluçãocerca de três vezes superioresàs melhores imagens obtidasdo Sol a partir do espaço. Aslentes do Vault, lançado aoespaço a bordo de um fogueteda Nasa, podem tlagrar por-ções do Sol que se estendempor áreas tão pequenas quan-to 240 quilômetros. As fotosmostraram um inesperadonível de atividade na camadamais baixa da atmosfera solar,a cromosfera, entre a superfí-

cie visível do Sol (troposfera)e a carona, a camada mais ex-terna. As imagens devem aju-dar a entender como funcionao Sol, que não é um corpo só-lido, mas sim uma bola degás, basicamente hidrogênioe hélio. Com cerca de 10 milquilômetros de espessura, acromosfera é uma região de

transição em termos de tem-peratura. Nela, o calor passade 6.000° C para 20.000° C.Na carona, as temperaturassão ainda maiores, atingindoaté 1 milhão de graus Celsius.Entender a atividade do Solé importante para a huma-nidade. Explosões solares po-dem afetar o funcionamentode satélites e danificar os siste-mas de navegação, comuni-cação e energia. •

PESQUISA FAPESP 90 • AGOSTO DE 2003 • 25

Poderia ser mais fácil tra-tar quem chega ao pron-to-socorro picado por co-bra, escorpião ou aranha.Testes criados pela equipedo biólogo Carlos ChávezOlórtegui, da Universida-de Federal de Minas Ge-rais (UFMG), permitemidentificar de modo preci-so a espécie do animal e aquantidade de veneno in-jetada, informações im-portantes para a adminis-tração do soro correto e nadose mais adequada. Maisrápidos que os métodosde diagnóstico atuais -fundamentados no reco-nhecimento de sinais clí-nicos (como suor intenso,náuseas e vômitos), quepodem levar horas paraaparecer -, os testes pode-riam ser realizados em

Testes diferenciam venenos

cerca de uma hora comapenas alguns mililitrosde sangue. Feitos com rea-gentes nacionais e peque-nas placas importadas com96 furinhos, os testes de-vem sair por menos deR$ 10 cada, estima Chá-vez. Com financiamentoda Fundação de Amparoà Pesquisa de Minas Ge-rais (Fapemig), ele iniciouhá poucos meses a produ-ção em escala piloto de umdos exames, capaz de dis-tinguir entre a picada de

Sem erro:exame identificao veneno de[araraca (acima),cascavel ou coral

duas aranhas, a aranha-marrom (Loxosceles sp.) ea aranha-armadeira (Pho-neutria sp.), e a do maisletal escorpião, o amarelo(Tityus serrulatus), cujoveneno pode matar por pa-rada respiratória ou cardía-ca. Chávez começou a de-senvolver os exames há oitoanos, quando ainda estavana Fundação 'Ezequiel Dias,um centro de produção desoros e vacinas em MinasGerais, após constatar quehavia uma relação direta

entre a concentração de ve-neno no sangue e a gravi-dade dos sintomas. Nessetempo, fez também outrosdois exames: um deles -capaz de discernir entre apicada da cobra surucucu(Lachesis muta) e a da ja-raraca-de-rabo-branco(Bothrops atrox), que cau-sam reações semelhantes- poderia ser útil espe-cialmente na Amazônia,onde essas duas serpentesrespondem por 98% daspicadas. O outro identificao veneno da picada de trêscobras comuns nas regiõesSudeste e Centro-Oeste: acascavel (Crotalus spp.), ajararaca (Bothrops spp.) ea coral verdadeira (Micru-rus spp.). Chávez pretendeagora reduzir o tempo dostestes de uma hora para 20minutos. •

• Infecções ligadas àesquistossomose

Uma notícia nada anima-dora: os 10 milhões de pes-soas que têm as formas maisgraves da esquistossomose,doença causada pelo vermeSchistosoma mansoni, possi-velmente correm risco maiorde contrair outras infecções,causadas por bactérias (co-mo hanseníase e tuberculo-se), protozoários (toxoplas-mose e leishmaniose) ou vírus

(hepatite), segundo estudo depesquisadores pernarnbu-canos publicado na Infectionand Immunity. Por um mo-tivo ainda desconhecido, osistema imunológico dessesindivíduos deixa de funcio-nar como deveria. FredericoAbath e Silvia Montenegro,da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz) em Recife, em con-junto com a UniversidadeFederal de Pernambuco e osInstitutos Nacionais de Saúde(NIH), dos Estados Unidos,

26 • AGOSTO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 90

examinaram o sangue de 32pessoas contaminadas e cons-tataram: quanto maior a gra-vidade da doença, menor aprodução de interferon gama,molécula que ativa as célulasde defesa do organismo. "Osresultados estão de acordocom o que observamos nodia-a-dia", comenta Abath."Agora estamos planejandoestudos epidemiológicos paraavaliar se a propensão a de-senvolver outras doençasrealmente existe." •

• Mudança no climafavorece florestas

O aumento da temperatura,mudanças nos regimes dechuvas tropicais e a elevaçãodos índices de gás carbônicona atmosfera parecem provo-car um crescimento da vege-tação na Amazônia e em ou-tras regiões do mundo nasúltimas duas décadas, des-matamentos à parte. Emuma nova interpretação dasinformações climáticas e ob-

e

,-il1

D-

servações de satélites feitasentre 1982 e 1999, pesquisa-dores norte-americanos ma-pearam o crescimento da ve-getação no planeta e viramque a produtividade dasplantas cresceu em média 6%e que a região amazônica res-ponde por 40% desse cresci-mento global (SciDev, 6 dejunho). Esses saltos de cres-cimento da vegetação costu-mam ser atribuídos ao au-mento do dióxido de carbonona atmosfera, mas os autoresdo estudo sugerem que umaumento na radiação solar,devido à diminuição das nu-vens, é a causa principal,sendo menor a contribuiçãodo gás carbônico, dos ferti-lizantes e do reflorestamento.Ainda não é possível dizer seesses efeitos se devem a mu-danças de curto ou longoprazo, já que o estudo abrangeapenas um aspecto das com-plexas respostas do planeta àmudança climática. •

• Mulheres se viciamem menos tempo

Afinal, as mulheres são mes-mo o sexo frágil? Se o assun-to for relacionado ao bingoe a outros jogos eletrônicos,como o videopôquer e o ca-ça-níqueis, a resposta pare-ce ser sim. Embora tenhamcontato inicial com o jogomais tarde, entre 35 e 40anos, elas se tornam depen-dentes mais rapidamenteque os homens, que normal-mente começam entre 20 e25 anos a desafiar a sorte comassiduidade. Em um estudocom 78 mulheres e 78 ho-mens atendidos no Ambu-latório do Jogo Patológico eOutros Impulsos (Arnjo), daUniversidade de São Paulo(USP), a psiquiatra Silva Sa-boia Martins constatou queas mulheres ficam depen-dentes de dois a sete anos

Menos nuvens e mais calor: matas tropicais crescem mais

após começarem a jogar, jánum estágio em que a diver-são tornou-se um problema.Já os homens se transformamem apostadores compulsivos- ou jogadores patológicos,como classificam os médi-cos - em muito mais tempo,de dez a 20 anos. Silvia atri-bui essa vulnerabilidade fe-

minina ao fato de as mulheresjogarem mais por escapismo,procurando fugir de proble-mas, aliviar a ansiedade e adepressão ou compensar aperda de seus papéis sociais,como a saída dos filhos decasa. Outra razão é que asmulheres têm maior prefe-rência que os homens por

o perigoeletrônico:escapismofacilitao vício

jogos eletrônicos, os que maisviciam. De acordo com esseestudo, as mulheres apresen-tam maior dificuldade queos homens para abandonaras apostas. ''As mulheres sóbuscam ajuda mais cedo por-que se viciam no jogo maisrápido do que homens", diza pesquisadora. Quando oprazer se transforma em ví-cio, tanto os homens quantoas mulheres não conseguemmais parar de jogar, perdemdinheiro e começam a passarcheques sem fundos ou mes-mo a roubar para se manterna mesa de apostas. As jo-gadoras compulsivas levam,em média, 7,5 anos para pro-curar tratamento, enquantoos homens - que estabele-cem com o vício uma relaçãosocial, jogam com várias pes-soas, em busca de ação - sórecorrem à ajuda após 18,5anos. "Conhecer as diferen-ças de comportamento en-tre os homens e as mulheresé crucial para que se ado-tem formas mais eficazes deprevenir e de tratar os joga-dores patológicos", comentaSilvia, que segue para o pós-doutoramento na Universi-dade Iohns Hopkins, Esta-dos Unidos. •

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ITECNOLOGIA

• L I N H A ~,_E PRÓ D U ç Ã O M U N DO

Assento inteligente "entrega" terroristaA crescente preocupaçãocom segurança nos vôos co-merciais levou o laboratóriobritânico Qinetiq, em Hamp-shire, a trabalhar no desen-volvimento de um assentode avião capaz de avisar opiloto de que o passageirocom um comportamentoexcessivamente nervoso po-de ser um potencial terroris-ta (NewScientist, 14 de ju-nho). Se o projeto der certo,esse banco com seus sen-sores ocultos, ligados a ummonitor na cabine, além dedetectar possíveis terroristasou seqüestradores, tem tudo

• Pequenos tubos emsilício e carbono

Pesquisadores da Universida-de da Califórnia, em Berkeley,descobriram um novo meiode produzir nanofios de silí-cio e nanotubos de carbonono interior das microestrutu-ras em temperatura ambiente(Applied Physics Letters, 24 dejunho). Esses nanomateriaissão filamentos ultramicros-cópicos que prometem re-volucionar a ciência nano-tecnológica, permitindo afabricação de aparelhos quevão de ultra-sensíveis detec-tores de vírus no organismohumano a sofisticados sen-sores óptico-eletrônicos. Oprocesso de produção é feitoa temperaturas que variamde 6000 C a 1.0000 C. Emuma pastilha de silício de 1centímetro quadrado cober-ta com fina camada metálicaprovoca-se uma reação quí-

para, quem sabe, propiciarum controle discreto dospassageiros. Na cabine, porexemplo, uma luz se acen-

deria no painel quando umpassageiro estivesse sentadohá muito tempo na mesmaposição, com o risco de ter

mica, gerando bilhões de pre-cipitações de nanotubos ounanofios. A etapa mais difícilé manipulá-los e montá-losem uma placa de circuito ele-trônico. Esse desafio foi ven-cido com a criação dos na-no materiais diretamente noscircuitos das placas. E o pro-blema passou a ser outro:como produzi-los a altastemperaturas sem danificar

sensíveis componentes mi-croeletrônicos a uma distân-cia de um décimo da espes-sura de um fio de cabelo."Como na resistência deuma torradeira", respondeOngi Englander, coordena-dor da pesquisa. "A correntepassa por dentro do compo-nente para gerar calor:' Diri-gindo a corrente para os lo-cais em que queriam criar os

Corrente elétrica dirigida para produzir nanotubos

56 • AGOSTO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 90

uma trombose, alertando aequipe de vôo. Já o saraco-teio além da conta poderiaacionar outra luz - e os co-missários ficariam de olhopara avaliar se essa ansieda-de significa apenas medo deavião ou algo mais perigoso.No futuro, a combinaçãodos sensores com um soft-ware de análise da tempera-tura do corpo ou umidadeda pele poderá até fazer essejulgamento pela tripulação.O assento inteligente fazparte de uma série de proje-tos para melhorar o atendi-mento ao passageiro. •

nanotubos ou nanofios, ospesquisadores conseguiramaquecer uma área a 7000 C,enquanto ao redor tudo semantinha em confortáveis250 C. •

• Conversão dehidrogênio no carro

A HydrogenSource - joint-venture entre empresas dosgrupos Shell e United Tech-nologies - anunciou nosEstados Unidos a invençãode um processador, tambémchamado de reformador, pa-ra converter gasolina em hi-drogênio dentro do próprioveículo. O sistema, que temcapacidade para alimentarcélulas a combustível de 50quilowatts do tipo PEM, siglado nome inglês para mem-brana para a troca de pró-tons, foi projetado para pro-cessar 78 litros de gasolinae acomoda-se facilmente ao

, osramo c,) seveis

reiint-dos

ech-nosição

bém, pa-1 hi-.priotemntare 50siglaiem-pró-pro-ilina:e ao

chassi de um carro. Outranovidade é que leva menosde quatro segundos em tem-peratura ambiente para pro-duzir hidrogênio de qualida-de - o que antes não ocorriaem menos de 30 segundos."Estamos dando um grandepasso para tornar os veículosa célula de combustível umaopção compacta e de rápidofuncionamento, o que, atépouco tempo atrás, pareciaimpossível", comemora PhilSnaith, presidente da Hydro-genSource. Um processador abordo permitirá, por exem-plo, uma passagem mais sua-ve da atual infra-estrutura dedistribuição de gasolina parao regime de hidrogênio. •

• Emissões de energiado tungstênio

Cientistas dos LaboratóriosSandia em Albuquerque, noEstado norte-americano doNovo México, conseguirammostrar que filamentos aque-cidos de uma estrutura mi-croscópica e reticulada detungstênio irradiam maisenergia de comprimento deonda próxima do infraver-melho do que filamentos fei-tos do mesmo elemento, massólido. Na prática, isso podesignificar uma nova e maispotente fonte de energia paracarros elétricos, equipamen-

tos eletrônicos em barcos egeradores industriais. Ou mais:como o comprimento de on-da próximo ao infraverme-lho é a região mais perto daluz visível, no futuro os cris-tais fotônicos (como tambémsão conhecidas asestruturas mi-croscópicas detungstênio) po-derão substituircom vantagem osmétodos de ilu-minação atuais.Chegou-se a pen-sar que a desco-berta desbanca-va a teoria deMax Planck -um dos precur-sores da físicamoderna, que, noinício do século, calculou aquantidade máxima de ener-gia passível de ser emitida porum corpo sólido. Quando oscientistas aqueceram a es-trutura reticulada de tungs-tênio a 1.250° C, a energia ir-radiada foi três vezes maiorque a prevista por Planck.Mas o físico Shawn Lin, queconduziu a experiência, nãocrê que a lei de Planck foiquebrada, mas modificada."Comparar a emissão de ener-gia de um sólido com a deuma estrutura reticulada écomo comparar um gatocom um supergato." •

Parque Tecnológico em Itaipu

Disco com maisde mil fi lamentosde cristais fotônicos:energia e luz

vai se formar com a atua-ção do pessoal da Itaipu,empresários, professorese alunos, criando empre-sas e tecnologias", diz So-tuyo. Durante três anosserão investidos cerca deUS$ 10 milhões pela ltai-pu Binacional na infra-estrutura e construção delaboratórios. A primeirafase será inaugurada emoutubro de 2004. Outraação da empresa foi aadoção de um programapara combater o assorea-mento do lago, reunindo28 municípios da zona deinfluência da Bacia Hi-drográfica do Paraná. Sãomais de 1.500 rios, córre-gos e nascentes que tra-zem toneladas de sedi-mentos para o lago. "Alémde conscientizar a popu-lação, vamos incentivarprogramas de agriculturaorgânica, reflorestamen-to da mata ciliar, entreoutros projetos", afirmaNelton Friedrich, coorde-nador do programa. •

Ao lado da usina, um pólo de inovação

O uso do hidrogênio nageração de energia elétri-ca é um dos objetivos donovo Parque Tecnológicode ltaipu (PTI), que estáem construção às mar-gens do lago da usina hi-drelétrica instalada no rioParaná. "Queremos de-senvolver tecnologia paragerar e armazenar hi-drogênio para células acombustível, nas horas danoite, domingos e feria-dos em que o consumoda energia elétrica geradapela usina é baixo", dizIuan Carlos Sotuyo, coor-denador do PTI. No par-que vai ser instalada umaincubadora de empresasde tecnologia integradaà Universidade Estadualdo Oeste do Paraná (Uni-oeste) - que possui cam-pus em cidades da regiãoe terá um ao lado de Itai-pu - para as áreas de soft-ware, engenharia elétrica,engenharia mecânica emeio ambiente. "Vamosincentivar a sinergia que

PESQUISA FAPESP 90 • AGOSTO DE 2003 • 57

Laser para a indústria de plásticoso laser ganhou nova funçãono meio industrial. Ele éusado pela empresa Laser-Tools, de São Paulo, paradesenhar eletrodos de cobreem três dimensões que vãoservir para gravar por ele-troerosão peças de aço usa-das nas máquinas injetorasde plástico. Essas máquinaspreenchem o molde de açocom plástico para a repro-dução das peças. A novatécnica substitui a panto-grafia, um processo mecâ-nico e lento de gravação queusa fresas e brocas para de-senhar os moldes e os ele-trodos. O laser é dez vezesmais veloz e faz peças commais detalhes e precisão. Osprimeiros trabalhos foramfeitos para a Fiat, por meioda Mecanel, na confecçãoda coroa de louros que for-

• Máquina reconheceparedes e objetos

Um robô que funciona deforma autônoma, com capa-cidade para explorar e pro-duzir mapas de ambientesdesconhecidos, chamou aatenção de uma empresa queprospecta novas tecnologiaspara a agência espacial norte-americana, a Nasa. Detalhe: orobô é americano, mas o pro-grama de software responsá-vel pela sua autonomia foidesenvolvido por pesquisa-dores do Instituto de Infor-mática da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul(UFRGS). "Não importa se oambiente é grande ou peque-no. Ele consegue detectar se éinterno ou externo e se adap-tar", relata Paulo Engel, coor-

Coroa de louros e manopla de cobre: para gravar o molde

ma o logotipo da empresa.Para a General Motors foifeito um eletrodo para aprodução da manopla docâmbio. Outro uso do laseré gravar diretamente nosmoldes para inserir inscri-ções nas paredes de utensí-lios de plástico, como damarca Ziplock e peças da

denador do projeto, que temainda a participação de umprofessor do Instituto de Fí-sica e de dois alunos de dou-torado. "Primeiro tínhamospensado em utilizar o robôautônomo 'apenas em am-bientes inóspitos, como emsituações de resgate em in-cêndios ou em lugares conta-minados. Mas ele tem váriasoutras aplicações, porqueconsegue saber onde tem pa-rede, objetos", diz Engel. Umartigo publicado em uma re-vista internacional sobre sis-temas robóticos resultou emum contato da empresa nor-te-americana em busca denovidades que pudessem in-teressar à Nasa. O acordo sónão foi fechado porquedepende de acertos buro-cráticos. •

58 • AGOSTO DE 2003 • PESQUISA FAPESP 90

Pial Legrand utilizadas emconectores elétricos. A La-serTools continua, dessaforma, a inovar. Fundadaem 1999 por pesquisadoresdo Instituto de PesquisasEnergéticas e Nucleares(Ipen), a empresa instalou-se no Centro Incubadorde Empresas Tecnológicas

• Técnica para avaliarhidratação capilar

Antes de lançar uma nova li-nha de produtos para trata-

(Cietec) na Cidade Univer-sitária. Com o financiamen-to do Programa de InovaçãoTecnológica em PequenasEmpresas (PIPE) (veja Pes-quisa FAPESP n° 50), a La-serTools implementou -com equipamentos e téc-nicas desenvolvidos na em-presa - estampagens me-tálicas de alta precisão,gravações de logo marcas,além de produção de pai-néis de auto-rádios. Em2002, com faturamento deR$ 1 milhão, saiu da incu-badora. "Lançamos técnicascopiadas por empresas quecompraram equipamentose agora são nossas concor-rentes", diz o físico SperoPenha Morato, um dos só-cios fundadores da empre-sa. "Mas continuamos nafrente, sempre inovando." •

mento de cabelos à base deágua-de-coco e algas mari-nhas, há três meses no mer-cado, a empresa paranaenseO Boticário estabeleceu umaparceria com o Laboratóriode Eletroquímica e Cerâmica(Liec), da Universidade Fede-ral de São Carlos (UFSCar)."Procuramos o laboratórionão só para estudar a formu-lação, mas também a com-provação da eficácia dosprodutos", conta RichardSchwarzer, gerente de pes-quisa e desenvolvimento daempresa. Ele ressalta que al-guns atributos são muitocomplicados para se compro-var, especialmente a hidrata-ção. "O consumidor atribuihidratação ao condiciona-mento do cabelo, mas essapropriedade só pode ser

comprovada tecnicamente seo produto proporcionar ab-sorção de água à estrutura ca-pilar." Os pesquisadores de-senvolveram metodologiasnovas, fruto de associação detécnicas, para verificação doefeito de determinadas subs-tâncias. "Nosso papel foi ana-lisar quanto esse novo xampuhidratava os fios", diz o coor-denador da pesquisa, ElsonLongo, do Liec, que pertenceao Centro Multidisciplinarpara o Desenvolvimento deMateriais Cerâmicos. Foramaplicados dois métodos asso-ciados para verificar como asmoléculas de água interagemcom a superfície do cabelo."Pela microscopia eletrô-nica de varredura pudemosanalisar o grau de desidrata-ção do fio e pela análise mo-lecular medimos a quanti-dade de água, avaliando ahidratação das fibras capila-res", conta Longo. O projetodurou um ano. •

PatentesInovações financiadas pelo Núcleo de Patenteamento e Licenciamento

de Tecnologia (Nuplitec) da FAPESP. Contato: [email protected]

Título: Candidatos Vacinaispara LeptospiraInventores: Ana Lucia Ta-bet Oller do Nascimento, co-ordenadora, e mais 35 pes-quisadoresTitularidade: Instituto Bu-tantan/FAPESP

• Adesão entremadeira e plástico

Mistura de materiais deorigem vegetal, como fi-bras ou pó de madeira, epolímeros termoplásticos,como poliésteres e náilons,resultou em um produtoque não absorve água epossui resistência mecâni-ca semelhante à do concre-to. Como, em geral, a fibralignocelulósica (da madei-ra e das plantas) e os po-límeros são dois materiaisincompatíveis, é precisoutilizar uma substância in-termediária para que elesse transformem em umúnico material. Mas, nocaso desse compósito de-senvolvido no Instituto deFísica de São Carlos, daUniversidade de São Paulo(USP), essa etapa não énecessária, porque o polí-mero escolhido tem na suaestrutura radicais seme-lhantes aos da madeira.

Nova técnica reduz carga sobre valas subterrâneas

• Tubulações maispróximas do solo

Processo desenvolvido noDepartamento de Geotec-nia da Escola de Engenha-ria de São Carlos, da Uni-versidade de São Paulo,utiliza materiais geossinté-ticos - produtos à base depoliéster ou polipropileno,formados por mantas dealta resistência - sobre asvalas subterrâneas, criandoum espaço vazio onde sãoinstaladas as tubulações. Aredução da carga sobre ostubos', proporcionada poressa técnica chamada Geo-vala, permite instalaçõesmais próximas da superfí-cie. O uso é indicado tantopara áreas de abastecimen-to de água e esgoto e coletade águas pluviais como emcondutos enterrados degrandes dimensões utiliza-dos em substituição de pe-quenas pontes.

Inventor: Benedito de Sou-za BuenoTitularidade: USP/FAPESP

• Proteínas candidatas acombater a leptospirose

Pesquisadores de váriasinstituições brasileiras queparticipam do projeto ge-noma da Leptospira in-terrogans escolheram 24genes e suas respectivasproteínas, obtidos entre osmais de 200 clonados davariedade Copenhageni dabactéria, como candidatospara o desenvolvimento devacinas contra a leptospi-rose humana e de kits maiseficientes para diagnosticara doença. O principal hos-pedeiro do Copenhageni,responsável pela maioriados registros da doença noBrasil, é o rato de esgoto.Em testes preliminares fei-tos em laboratório, essesgenes e proteínas apresen-taram reação positiva como soro de pacientes diag-nosticados com a doençaou de ratos imunizadospela bactéria.

• Amazônia ganhacentro de tecnologia

A Philips do Brasil vai insta-lar em Manaus um centro depesquisa e desenvolvimentoem parceria com a EscolaSuperior de Tecnologia daUniversidade do Estado doAmazonas e a Escola Politéc-nica da Universidade de SãoPaulo. O Laboratório Philipsda Amazônia será forma-do por diversas células comprojetos na área de tecnolo-gia digital de equipamen-tos eletroeletrônicos. Inicial-mente, as pesquisas estarãoconcentradas em dois nú-cleos. O primeiro terá comofoco o desenvolvimento deferramentas e soluções paratelevisão digital interativa. Osegundo é um projeto globaljá em andamento, que visa aintegrar tecnologia de celu-lares e TV digital. •

Título: Material Compósi-to: Termoplástico, Fibra Ve-getal e ou PÓde Madeira eCerâmicaInventores: Milton Fer-reira de Souza, WashingtonLuiz Esteves Magalhães,José Augusto MarcondesAgnelliTitularidade: USP/FAPESP

Título: Geovala- Uma Solu-ção Técnica para ReduzirTensões Verticais em Tubu-lações Enterradas

PESQUISA FAPESP 90 • AGOSTO DE 2003 • 59