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dera os fatores que alte- - Revista Pesquisa Fapesp · 2015. 4. 29. · dera os fatores que alte-ram as características do clima e influenciam o bem-estar das pessoas, como o tipo

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dera os fatores que alte-ram as características doclima e influenciam obem-estar das pessoas,como o tipo de constru-ção predominante (maisou menos casas, prédiosou favelas) e a intensida-de do trânsito, já que atemperatura pode subircom o calor emitido pe-los carros e a poluição. Oresultado é um mosaicoque ganha homogenei-dade nos extremos da ci-dade, por causa da proxi-midade com as serras daCantareira, ao norte, e a doMar, ao sul. Há tambémuma certa uniformidadenos bairros que crrcundamo Centro, num arco quecomeça na Barra Funda,na Zona Oeste, passa porLimão e Santana, na Nor-te, avança até Penha e VilaMatilde, na Leste, e termi-na no Sacomã, na ZonaSul da cidade. Há varia-ções de temperatura den-tro dos próprios bairros,em ruas ou praças, razãopela qual esses climas tam-bém podem ser chama-dos de microclimas. Mas

o mosaico se embaralha, com diferençasmais acentuadas de temperatura, nasporções das regiões Oeste e Sul próxi-mas ao Centro (veja mapa).

Uma das principais causas de ta-manha variação é o desmatamento, as-sociado a loteamentos clandestinos efavelas que se disseminam nos extre-mos da cidde. Aos danos da devastação,de acordo com o estudo coordenadopelo geógrafo José Roberto Tarifa,soma-se inicialmente o impacto provo-cado pela impermeabilização do solo:São Paulo tem hoje 60 mil quilômetrosde ruas asfaltadas, que retêm calor eassim tornam a cidade mais quente.Há também uma forte influência dacirculação diária dos 3 milhões de car-ros na cidade. Além de gerar calor coma queima de combustíveis, que corres-ponde a um décimo da energia que a ci-dade recebe do Sol, os veículos lançamao ar 2,6 milhões de toneladas de polu-entes por ano, segundo a Companhiade Saneamento Básico do Estado de

Avenida São João, centrode São Paulo: luz do Sol

não chega ao solo por causado excesso de prédios

te o dia e geladeiras à noite.O põe-e-tira de agasalho - e,claro, a propagação de habi-tações precárias, nas quais vi-vem 12% dos 10 milhões demoradores da capital- é con-seqüência do crescimento de-sordenado da metrópole, agoraesmiuçado com a publicaçãoeste mês do Atlas Ambientaldo Município de São Paulo,projeto conduzido pelas secre-tarias municipais do Verde edo Meio Ambiente e do Pla-nejamento, com apoio do Bio-ta-FAPESP, programa de levan-tamento da flora e da faunapaulistas. O Atlas, cujos pri-meiros resultados foram anun-ciados em dezembro de 2000(veja Pesquisa FAPESP n° 60),já se encontra na internet(http://atlasambiental.prefei-tura.sp.gov.br). O projeto depesquisa que o fundamentou"é resultado de uma parceriaparadigmática entre o poderpúblico municipal e o sistemade pesquisa do Estado de SãoPaulo", comenta José Fernando Perez,diretor científico da FAPESP, no prefá-cio do livro. "O sucesso desse empre-endimento deve nos remeter a uma re-flexão sobre o potencial dessa relaçãopossível e necessária, mas ainda tãopouco explorada."

O Atlas mostra como se distribuemos 200 quilômetros quadrados que ain-da restam de vegetação intacta no mu-nicípio, o equivalente a 13% do seu ter-ritório (1.512 quilômetros quadrados).Ao longo de seus quase 450 anos, a se-rem completados no início de 2004, aconstrução de casas, prédios e indústriaspôs abaixo 87% da vegetação nativa dacapital paulista. De acordo com esse es-tudo, coordenado pela geóloga HarmiTakiya, subprefeita da Moóca, a cidadeperdeu um quinto de sua vegetação na-tural entre 1990 e 2000. Hoje as árvoresse concentram nos 39 parques estadu-ais e municipais e em poucos bairros -Jardins, Pinheiros e Morumbi, na ZonaOeste, e Moema, na parte da Zona Sul

mais próxima ao Centro. Mas à medi-da que se segue rumo a Capão Redon-do e Jardim Ângela, no miolo da ZonaSul, o braço mais longo da cidade, acerca de 20 quilômetros do Centro, asárvores escasseiam. Ganha espaço umapaisagem horizontal absolutamente ur-bana, com prédios esparsos e impressi-onantes conjuntos de casas precárias -e a temperatura sobe, lentamente. Embairros mais próximos da serra do Mar,como Marsilac, por causa da proximi-dade com a reserva de Capivari-Mo-nos, a temperatura é bem mais baixa,oscilando ao redor dos 23° Celsius.

Mosaico de microclimas - Em uma dasvertentes de trabalho do Atlas, umaequipe da Universidade de São Paulo(USP) descobriu que, em conseqüênciadas distintas formas de ocupação doespaço urbano, a cidade apresenta 77climas diferentes - vistos em umaconcepção mais ampla, que, além datemperatura e da umidade do ar, consi-

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Variação detemperatura (Oe)_ 31-33

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27 - 31

27 - 30

27 - 29

_ 26-29

_ 25-29

_ 24-28

_ 23-26Obs.: Medição feitaàs 10h do dia 3 de setembro de 1999.Foram consideradasapenas as 14 categorias básicasde microclimas, semas variações internas decada uma delas.

ITAPECERICADA SERRA

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Represa de Guarapiranga:com clima ameno, é um oásisem meio a regiõesde intensa urbanização

São Paulo (Cetesb) - e, quanto mais fu-maça no ar, mais calor. Adicione-se oconcreto de 4 milhões de casas e prédi-os. Resultado: a temperatura tende asubir ainda mais com a densidade deconstruções verticais - efeito conheci-do como ilhas de calor. O centro histó-rico de São Paulo é uma exceção. Adensidade de arranha-céus é tão eleva-da que surge o efeito oposto, as ilhas defrio: em muitos prédios, os andaresmais baixos não recebem a luz do Sol.

Desde que começou a estudar oclima de São Paulo há 30 anos, Tarifanão se conformava com a idéia de queambientes tão diferentes - as alame-das dos Jardins e o tapete acinzentadode casas da Zona Leste - tivessem o cli-ma homogêneo, de acordo com a vi-são clássica de físicos e meteorologis-tas. "Os estudos eram segmentados eavaliavam apenas um ou outro as-pecto, como as chuvas ou a poluição",diz Tarifa, que logo após aposentar-seda USP, em 2002, foi contratado pelaUniversidade Federal de Mato Grosso(UFMT), em Rondonópolis. "A visãoantiga não levava em consideração quea vida das pessoas em São Paulo sofre

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a influência, por exemplo, da quali-dade do ar e do conforto térmico."Segundo ele, a mudança na forma deanalisar o problema era necessária tam-bém porque há períodos do dia em queas atividades dos moradores, a exem-plo do deslocamento para o trabalho,pesam mais que o relevo para definira temperatura em uma região especí-fica em um determinado horário.

Tarifa e Gustavo Armani, outro geó-grafo do Laboratório de Climatologia eBiogeografia da USP,reuniram os estu-dos sobre o clima paulistano realizadosde 1970a 2000 e compararam os dadoscom fotos aéreas da cidade e imagensdo satélite Landsat 7. Foi a partir dessabase de dados que eleslistaram 18variá-

o PROJETO

Atlas Ambiental do Municípiode São Paulo

MODALIDADElinha Regular de Auxílioa Pesquisa/ integradoao programa BiotalFAPESP

COORDENADORHARMI TAKIYA - Secretaria do Verdee do Meio Ambiente

INVESTIMENTOR$ 148.845/00

veis relacionadas ao clima da cidade. Oclima de uma região é definido inicial-mente por oito delas,como a temperatu-ra da superfície do solo, a umidade doar e a quantidade de chuva. Os outrosdez fatores regulam essas característicasbásicas: são os chamados controles cli-máticos, como emissão de poluentes,dimensão da cobertura vegetal e densi-dade da população e de edifícios. O re-sultado final - os 77 climas apresenta-dos no livro Os Climas na Cidade de SãoPaulo - Teoria e Prática, publicado em2001 - deixa claro que essas expressõesda urbanidade são hoje mais importan-tes na definição do clima metropolitanoque o próprio relevo, um dos principaisfatores determinantes das característi-cas dos climas naturais até o início doséculo passado.

São Paulo cresceu a partir de umacolina entre os rios Tietê e Tamandua-teí, a 720 metros de altitude, sobre aqual os padres jesuítas José de Anchietae Manuel da Nóbrega criaram o Colé-gio de São Paulo de Piratininga em umaprecária cabana de madeira. Dali, osmoradores ganharam, primeiro, as ter-ras mais planas e baixas. Num segundomomento, avançaram rumo à elevaçãoconhecida pelos geógrafos como espi-gão central, a 800 metros acima do ní-vel do mar, sobre o qual hoje se assen-tam bairros como Sumaré, Cerqueira

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César, Vila Mariana e Jabaquara. O tre-cho mais alto desse corredor é a aveni-da Paulista, que até 1900 não passavade um bucólico conjunto de chácaras emansões.

Desde o começo do século passado,a população da cidade, então com 240mil habitantes, cresceu 40 vezes e hojese espalha até mesmo pelas áreas antesde difícil acesso como a serra da Canta-reira, uma muralha natural a 1.200 me-tros de altitude. "Cada vez que se alterao espaço, redefine-se o clima", lembraTarifa. Cercada ao norte pela Cantarei-ra e ao sul pela serra do Mar, a maiormetrópole brasileira se encontra emum corredor que facilita a entrada dasmassas de ar frio provenientes da An-tártica e das correntes de ar carregadasde umidade do oceano Atlântico, dis-tante apenas 45 quilômetros em linhareta - ainda hoje elementos naturaisresponsáveis pela temperatura relativa-mente amena da cidade.

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Terra sem garoa - Da época dos jesuí-tas para cá, São Paulo devorou quasetodo o verde ao redor e deixou de terapenas cinco climas, como há quinhen-tos anos, na época do descobrimento.Os cinco tipos eram variações do climaTropical, marcados por uma estaçãofria e seca, que se estende pelo outono eo inverno, e outra quente e chuvosa, du-rante a primavera e o verão, com tem-peraturas médias que variavam de 15°Celsius a 25° Celsius. De acordo comum estudo feito no Instituto de Astro-nomia, Geofísica e Ciências Atmosféri-cas da USP, a temperatura média da ci-dade subiu 1,30 Celsius nos últimos 40anos. Até os anos 60, a capital ainda erraa Terra da Garoa, por causa da chuva finae assídua que se somava a um clima maisfrio que o atual. No inverno, os paulis-tanos não dispensavam casacos grossos,luvas e cachecóis.

Tão elevada diversidade de climasnão é uma exclusividade de São Paulo.Em maior ou menor grau, existe tam-bém em metrópoles mundo afora,como a Cidade do México, Santiago, noChile, e Buenos Aires, na Argentina."Variações tão acentuadas de climassurgem quando se abdica do sonho deuma vida harmoniosa com o ambien-te", comenta Tarifa. "É um fenômenoque ocorre quando a lógica do lucropassa a determinar a forma como os es-paços devem ser ocupados." •