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DESAFIO À LÓGICA - Instituto Brasileiro de Ética ... · representante da Nike no Brasil e um dos assessores do Grupo de Proteção à Marca - BPG. "Em meados de 2002, ... estimula

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POLíTICAo APEGOAOS CARGOS

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Imitaçõesbaratas

Centro de um dos principais pólos calçadistasdo País,a mineira NovaSerrana leva a fama de capital do calçado de grife falsificado

FLAvIO VI~GAS. DE NOVA SERRANA

Ocombate à fabricação e ao comércio

de produtosfalsificados,os chamados

produtos piratas, tem mobilizadocada vez mais autoridades e representantes

dos diversos segmentos da sociedade civil.

O movimento se intensificou a partir do

início da década, quando começou a ficar

mais evidente a gravidade do problema, queafeta a economia e os empregos, gera crimi-

nalidade e inibe investimentos, provocandoem muitos a sensação de que ser honesto e

correto equivale a "pagar mico".

Desde então houve progresso emvárias frentes, a ponto de este ano oBrasil ter sido removido da Priority

Watch List (Lista de Vigilância Priori-

tária) do United States Trade Repre-

sentative (USTR), órgão responsável

pelo comércio exterior dos Estados

Unidos, para uma classificação maisbranda, entre países onde o problemanão é tão severo. Porém, cada vez mais

nota-se que o progresso observado na

esfera federal, especialmente após a

criação do Conselho Nacional de Com-bate à Pirataria (CNCP) em 2004, não

teve contrapartida na grande maioria

dos estados e municípios, onde ainda

é preciso avançar muito."Apirataria, na proporção que existe

no Brasil, não tem um, dois ou três res-

ponsáveis. Somos todos coniventes com

essasituação- consumidores, empresá-

rios, profissionais liberais e autoridadesdos três Poderes", afirma o empresário

Alexandre Cruz, presidente executivo doFórum Nacional de Combate à Pirataria

e à Ilegalidade (FNCP), entidade que

reúne representantes de vários setoresda economia. Segundo ele, a pirataria

cresceu a passos largos com o começo da

abertura do mercado às importações, no

governo Collor.Logosurgiram centros de

produção em escala industrial de CDs,DVDs,medicamentos, tênis, confecções,

softwares, óculos, bebidas e brinquedos,

que até hoje estão em atividade.É o caso de Nova Serrana, município

de pouco mais de 50 mil habitantes a

115quilômetros de Belo Horizonte, nocentro-oeste de Minas Gerais. A cidade

orgulha-se do título de "Capital Nacional

do Calçado Esportivo", de que produzmais da metade do total do País. Ali

está o terceiro maior pólo calçadista do

Brasil, com 854 fábricas que em 2006

produziram 73 milhões de pares decalçados e faturaram aproximadamenteR$ 600 milhões. Dados do Sindicato

Intermunicipal da Indústria do Calçadode Nova Serrana (Sindinova) mostram

que a maior parte da produção local

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Produtos idênticos

Acidadeéconhecida pela

imitaçãode marcasfamosasdesde

o início dos anos 90. "Apartir de2000 as atividades de contrafação de

marcas ficaram mais graves, passando

de cópias grosseiras para a falsificação

de produtos idênticos aos originais",

conta o advogado Luiz Cláudio Garé,sócio do escritório Garé &Ortiz Amaral,

representante da Nike no Brasil e umdos assessores do Grupo de Proteçãoà Marca - BPG. "Em meados de 2002,

com o aumento de apreensões de tênis

piratas procedentes da China, cresce-ram as encomendas para as fábricas deNova Serrana", lembra Garé. Em 2003,

a Justiça paulista mandou fechar setedelas na cidade mineira por falsificaçãode tênis da marca Mizuno.

,

TtNIS DA MARCANISKE:TÃO FALSOCOMO UMANOTADE R$ 3,00

Seestiverna moda, algumas indústrias

de Nova Serrana investem, também, na

produção de tênis pirata. "Por um preçobem menor, às vezes 1/5 do valor do

original, pode-se comprar um par dosmodelos mais badalados", afirma um

empresário que atuava no setor e prefere

manter-se anônimo. Apesar de a prática

estar restrita a uma minoria de fabricantes,

o empresário salienta que a produção de

tênis falsificados é de amplo conhecimento

Fonte: Policia Rodoviária Federal

Recordes de apreensões

Produto Medida 2004

CDs/DVDs unidade 451 mil

Cigarros pacote 733 mil

Eletrônicos unidade 57 mil

Medicamentos caixa O

2005 2006

2 milhôes 5,4 milhões

1,3 milhão 1,7 milhão

160 mil 220 mil

120 mil 198 mil

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l~r~.f1 _.FÁBRICADECALÇADOSDENOVASERRANAANTES(A ESQ.)E DEPOIS(AOCENTRO)DE UMA APREENSÃODE MILHARESDEPARESDETENISFALSIFICADOSDAS MARCASMIZUNO EOLYMPIKUS;EO DELEGADOFIALHO,QUEJÁ FOIAMEAÇADO

na cidadee na região, onde funcionaumArranjo Produtivo Local (APL)com11municípios constituído em 2002, do

qual Nova Serrana faz parte.Júnior César da Silva,vice-presidente

do Sindinova e sócio-proprietário de uma

fábrica de calçados de porte médio, reco-

nhece que o problema existe e contribui

negativamente para a imagem de NovaSerrana nomercado,condenando a prática.

O sindicato estima que entre 2% e 3% do

total de calçadosesportivosproduzidos nacidade são falsos - algo em tomo de 1,2

milhão de pares por ano. "Masa imprensa

prefere destacar isso em detrimento dos9'110ou 98% de produção séria, com in-

vestimentos em tecnologia, treinamento,

melhoriade produtos, geraçãode emprego

e renda, e pagamento de encargos sociais

e impostos", reclama.Segundo Silva, o Sindinova apóia e

estimula a criação de marcas própriase firma convênios com as principais

entidades do setor e instituições go-vernamentais, como a Abicalçados

(Associação Brasileira das Indústrias de

Calçados), o Sebrae, a Fiemg (Federaçãodas Indústrias de Minas Gerais), o Sesi,

o Senai, a Apex (Agência de Promoção

de Exportações e Investimentos) e o

IBTEC (Instituto Brasileiro de Tecno-

logia do Sistema Couro-Calçadista). Ele

lista ainda diversas ações de incentivo

à modernização e à melhoria da gestão

para elevar a participação das empresasde Nova Serrana no mercado nacional

e ampliar as exportações, que em 2006

alcançaram US$ 5,34 milhões para 28

países - a maior parte para a Argentina(65%) e China (20%).

Cidade-pirataSão iniciativas positivas, mas que

não conseguirameliminar a fabricação

e produtos falsificados de Nova Serrana,

apresentada num Globo Repórter emsetembrode 2005 comocidade-pirata,título que não agradou a comunidade

local. Com o agravante de existirem em-

presários reincidentes, já conhecidos dasautoridades e dos advogados de grandesmarcas, como os do escritório David do

Nascimento Advogados Associados, que

desde 2006 representa a Adidas no País

em questões de propriedade industrial."Este ano fomos quatro vezes à

Nova Serrana acompanhar apreensões

de cerca de 65 mil produtos falsifi-

PrejuízonacertaPesquisarealizadapelaAssociaçãoNacionalparaGarantiados DireitosIntelectuais

(Angardi)comprovaque apiratariade produtos em apenastrêssetores- roupas,tênis ebrinquedos- privao Paísde pelomenosR$18,6bilhõesanuaisem

arrecadaçãode impostos.EstudodaOrganizaçãoparaa

Cooperaçãoe DesenvolvimentoEconômicopublicadono iníciodejunho apontaque a piratariamovimentapelo menosUS$200bilhõespor ano no mundo.AChina,segundoaOCDE,é o maiorfabricantede produtosfalsificados.ParaWolfgang Hubner,um dosautores do estudo, a situaçãono Brasilvem melhorando,

cadosAdidas,entre tênis acabadose semi-acabados,em seisfábricasedoiscaminhões.E três empresassãoreincidentes", contam os advogadosIgor Araújo e Wellington de Oliveira,que trabalham no escritório. Na maisrecente operação, realizada no dia 24de maio, os policiais da DelegaciadeFalsificaçõesde BeloHorizonte,amparados por ordem judicial ecoma presença de oficiais de Jus-tiça, apreenderam perto de 38 milprodutos Adidas falsos em quatrofábricas. Em novembro de 2006,

mas o País deve fortalecer

a implementação das leisrecentemente aprovadas paracombater a pirataria. Sem

a aplicação efetiva dessas

medidas, é possível que o Brasilretorne, no curto prazo, à listados países-problema, segundoa Internationallntellectual

Property Association(Associação Internacional daPropriedade Intelectual).

SilVA, DO SINDINOVA:IMPRENSA sO DESTACA

FAlSIFICAÇOES

outra operação já havia resultado naapreensão de mais 4 mil itens.

No entanto, outros números indicam

que não apenas a falsificação não foi coi-bida, como alguns de seus praticantes se

mostram dispostosa desafiaras autoridades

e ameaçar policiais. O delegado NelsonFialho,titular da Delegaciade Falsificações

de Belo Horizonte, cita como exemplo os

proprietários da Indústria

e Comércio de CalçadosKatrina. "Este ano, ao

realizarmos uma operação

de busca e apreensão emcaminhões, na estrada, a

esposa do proprietário,

que seguia à frente dos

veículos para escoltar a

carga, ao perceber a nossa

presença jogou o carrona contramão, contra as

viaturas". Emoutra operação, o delegado

conta que o dono da fábrica ameaçou os

policiais. "Ele afirmou que estávamos

contribuindo para o desemprego na ci-

dade, e que iria aos jornais, às 1Vs e às

rádios para denunciar isso. O empresá-

rio também deu queixa à Corregedoria,

alegando que não tínhamos mandadosjudiciais", lembra Fialho.

"

Negócioda ChinaA partir de 2006, a Puma também

decidiu intensificar o trabalho de com-

bate à pirataria no Brasil. A vigilância

da empresa é mais intensa nos portos

e pólos calçadistas. "No ano passado,

apreendemos, numa única operação

com a Receita Federal no porto de Itajaí,

em Santa Catarina, um carregamentoo proveniente da Chinacom

~ 1,5 tonelada de pares de

~ tênis",contao advogado-10~ José Carlos Dias, sócio

o; do escritório Di Blasi,Parente, Vaz e Dias &Associados, contratado

pela empresa alemã para

implementar as ações

contra falsificações. "Ointeresse em Minas Ge-

rais, no momento, vem

do fato de a região de Nova Serrana ser

um reconhecido pólo de fabricação de

produtos Puma (principalmente tênis) e

devido à proximidade de Belo Horizonte

e Contagem e à localização estratégica

para distribuir os produtos em outrascidades do Sudeste e Sul do País", escla-

rece o representante da Puma. Ele não

revelaonúmerodeitensapreendidos,

de produtos falsificadose oscomerciantes não se arrisca-

riam tanto", argumenta.Por enquanto, em Nova

Serrana e Belo Horizonte

há vendedores que nãodemonstram qualquer preo-cupação em oferecer tênisAdidas e Puma falsos porR$ 50 o par. E, para con-quistar o cliente indeciso,informam sem-cerimônia:

"O original custa bem maiscaro, em torno de R$ 350,dependendo do modelo."

Questionado sobre o procedimento,um vendedor do Shopping Oiapoque,na capital mineira, respondeu: "Seem Brasília pode, por que aqui nãopode?", referindo-se às constantesfalcatruas praticadas por políticose autoridades.

Na avaliaçãodo presidente da Abi-calçados,ElcioJacometti,énecessáriaaação forte da leipara inibir a produção e a

venda de calçados piratas. "Émuito dificil

eliminarapirataria,maspodemosreduzi-Ia bastante. Isso écasode polícia",diz.Porém,para a polícia realizar a buscae apreensão de produtos falsificados,

PANORAMA DA CIDADE: NOVA SERRANA t ÕCENTRO DE UM APL DE CALÇADOS

mas garante que a fiscalizaçãovempro-porcionando bons resultados. "Nas áreasonde a Puma atua, constatamos uma

diminuição significativa na comercia-

lização de produtos falsificados. Hoje,

os comerciantes pensam duas ou três

vezes antes de oferecer esses produtos",afirma Dias.

Para coibir a ação dos falsificadores,Júnior César da Silva, do Sindinova,defende a criação e aplicação de umalegislação mais rigorosa, com multaspesadas, prisão dos infratores e blo-queio dos bens dos empresários piratas.

"Com isso, acredito que os fabricantes

Informal,quasecriminosoParaAndréFrancoMontoroFilho,presidentedo InstitutoBrasileirode ttica Concorrencial(ETCO),

a informalidadeestáapoucospassosdacriminalidade,poisnamedidaemqueempresáriosinsistemnessaprática,éapenasquestãodetempoparaqueingressememoutrasesferasdo mundodo crime,noqualprevaleceo supostoganhofácil,emquenãosepagaimpostos,mastampoucosepodeexigirqualidade.

opresidentedoETCOobservaqueváriosfatores,amaioriaestruturais,

contribuemparaincentivarainformalidadeea ilegalidadenoPaís.Aelevadacargatributária,amágestãodosrecursospúblicos,osbaixossalários,o reduzido

investimentodosgovernosemsaúde,educação,habitaçãoesaneamento,eospéssimosexemplosproporcionadosporpolíticoseautoridadeslevamo cidadão

- eo empresário- aumestadodedescrençageneralizada.

é necessário cumprir determinadosprocedimentos. A empresa titular damarca precisa ingressar com medidacautelar, na qual solicita uma liminar(mandado de busca e apreensão). Efeti-

vada a apreensão, os titulares das marcas

entram com ações na esfera cívele, numa

segunda etapa, no âmbito criminal- fal-

sificaçãoé crime previsto na Lei9.279, de

Propriedade Industrial.

Embora sejacrimefederal,a legislação

pertinente aos direitos de propriedade

industrial não permite que o titular demarcassoliciteo fechamentodas atividades

comerciaisdasfábricasque falsificamseus

produtos. "No entanto, o Poder Judiciá-

rio pode determinar que tais indústriassejam proibidas de fabricar, distribuir e

comercializar os produtos piratas, sob

pena de pagamento de multa diária",

observam os advogados da Adidas. _

MONTORO.DO ETCO: PROBLEMAS

ESTRUTURAIS LEVAM À ILEGALIDADE

Criadoem 2003,o ETCOé uma

organizaçãosemfins lucrativoscujo objetivo é promoveramelhoriado ambientede

negóciospormeiodeprincípioséticosdeconcorrência

empresarial,alémdeestimularaçõesde combateàevasãofiscal,à informalidade,à falsificaçãodeprodutoseaocontrabando.