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Imitaçõesbaratas
Centro de um dos principais pólos calçadistasdo País,a mineira NovaSerrana leva a fama de capital do calçado de grife falsificado
FLAvIO VI~GAS. DE NOVA SERRANA
Ocombate à fabricação e ao comércio
de produtosfalsificados,os chamados
produtos piratas, tem mobilizadocada vez mais autoridades e representantes
dos diversos segmentos da sociedade civil.
O movimento se intensificou a partir do
início da década, quando começou a ficar
mais evidente a gravidade do problema, queafeta a economia e os empregos, gera crimi-
nalidade e inibe investimentos, provocandoem muitos a sensação de que ser honesto e
correto equivale a "pagar mico".
Desde então houve progresso emvárias frentes, a ponto de este ano oBrasil ter sido removido da Priority
Watch List (Lista de Vigilância Priori-
tária) do United States Trade Repre-
sentative (USTR), órgão responsável
pelo comércio exterior dos Estados
Unidos, para uma classificação maisbranda, entre países onde o problemanão é tão severo. Porém, cada vez mais
nota-se que o progresso observado na
esfera federal, especialmente após a
criação do Conselho Nacional de Com-bate à Pirataria (CNCP) em 2004, não
teve contrapartida na grande maioria
dos estados e municípios, onde ainda
é preciso avançar muito."Apirataria, na proporção que existe
no Brasil, não tem um, dois ou três res-
ponsáveis. Somos todos coniventes com
essasituação- consumidores, empresá-
rios, profissionais liberais e autoridadesdos três Poderes", afirma o empresário
Alexandre Cruz, presidente executivo doFórum Nacional de Combate à Pirataria
e à Ilegalidade (FNCP), entidade que
reúne representantes de vários setoresda economia. Segundo ele, a pirataria
cresceu a passos largos com o começo da
abertura do mercado às importações, no
governo Collor.Logosurgiram centros de
produção em escala industrial de CDs,DVDs,medicamentos, tênis, confecções,
softwares, óculos, bebidas e brinquedos,
que até hoje estão em atividade.É o caso de Nova Serrana, município
de pouco mais de 50 mil habitantes a
115quilômetros de Belo Horizonte, nocentro-oeste de Minas Gerais. A cidade
orgulha-se do título de "Capital Nacional
do Calçado Esportivo", de que produzmais da metade do total do País. Ali
está o terceiro maior pólo calçadista do
Brasil, com 854 fábricas que em 2006
produziram 73 milhões de pares decalçados e faturaram aproximadamenteR$ 600 milhões. Dados do Sindicato
Intermunicipal da Indústria do Calçadode Nova Serrana (Sindinova) mostram
que a maior parte da produção local
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Produtos idênticos
Acidadeéconhecida pela
imitaçãode marcasfamosasdesde
o início dos anos 90. "Apartir de2000 as atividades de contrafação de
marcas ficaram mais graves, passando
de cópias grosseiras para a falsificação
de produtos idênticos aos originais",
conta o advogado Luiz Cláudio Garé,sócio do escritório Garé &Ortiz Amaral,
representante da Nike no Brasil e umdos assessores do Grupo de Proteçãoà Marca - BPG. "Em meados de 2002,
com o aumento de apreensões de tênis
piratas procedentes da China, cresce-ram as encomendas para as fábricas deNova Serrana", lembra Garé. Em 2003,
a Justiça paulista mandou fechar setedelas na cidade mineira por falsificaçãode tênis da marca Mizuno.
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TtNIS DA MARCANISKE:TÃO FALSOCOMO UMANOTADE R$ 3,00
Seestiverna moda, algumas indústrias
de Nova Serrana investem, também, na
produção de tênis pirata. "Por um preçobem menor, às vezes 1/5 do valor do
original, pode-se comprar um par dosmodelos mais badalados", afirma um
empresário que atuava no setor e prefere
manter-se anônimo. Apesar de a prática
estar restrita a uma minoria de fabricantes,
o empresário salienta que a produção de
tênis falsificados é de amplo conhecimento
Fonte: Policia Rodoviária Federal
Recordes de apreensões
Produto Medida 2004
CDs/DVDs unidade 451 mil
Cigarros pacote 733 mil
Eletrônicos unidade 57 mil
Medicamentos caixa O
2005 2006
2 milhôes 5,4 milhões
1,3 milhão 1,7 milhão
160 mil 220 mil
120 mil 198 mil
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l~r~.f1 _.FÁBRICADECALÇADOSDENOVASERRANAANTES(A ESQ.)E DEPOIS(AOCENTRO)DE UMA APREENSÃODE MILHARESDEPARESDETENISFALSIFICADOSDAS MARCASMIZUNO EOLYMPIKUS;EO DELEGADOFIALHO,QUEJÁ FOIAMEAÇADO
na cidadee na região, onde funcionaumArranjo Produtivo Local (APL)com11municípios constituído em 2002, do
qual Nova Serrana faz parte.Júnior César da Silva,vice-presidente
do Sindinova e sócio-proprietário de uma
fábrica de calçados de porte médio, reco-
nhece que o problema existe e contribui
negativamente para a imagem de NovaSerrana nomercado,condenando a prática.
O sindicato estima que entre 2% e 3% do
total de calçadosesportivosproduzidos nacidade são falsos - algo em tomo de 1,2
milhão de pares por ano. "Masa imprensa
prefere destacar isso em detrimento dos9'110ou 98% de produção séria, com in-
vestimentos em tecnologia, treinamento,
melhoriade produtos, geraçãode emprego
e renda, e pagamento de encargos sociais
e impostos", reclama.Segundo Silva, o Sindinova apóia e
estimula a criação de marcas própriase firma convênios com as principais
entidades do setor e instituições go-vernamentais, como a Abicalçados
(Associação Brasileira das Indústrias de
Calçados), o Sebrae, a Fiemg (Federaçãodas Indústrias de Minas Gerais), o Sesi,
o Senai, a Apex (Agência de Promoção
de Exportações e Investimentos) e o
IBTEC (Instituto Brasileiro de Tecno-
logia do Sistema Couro-Calçadista). Ele
lista ainda diversas ações de incentivo
à modernização e à melhoria da gestão
para elevar a participação das empresasde Nova Serrana no mercado nacional
e ampliar as exportações, que em 2006
alcançaram US$ 5,34 milhões para 28
países - a maior parte para a Argentina(65%) e China (20%).
Cidade-pirataSão iniciativas positivas, mas que
não conseguirameliminar a fabricação
e produtos falsificados de Nova Serrana,
apresentada num Globo Repórter emsetembrode 2005 comocidade-pirata,título que não agradou a comunidade
local. Com o agravante de existirem em-
presários reincidentes, já conhecidos dasautoridades e dos advogados de grandesmarcas, como os do escritório David do
Nascimento Advogados Associados, que
desde 2006 representa a Adidas no País
em questões de propriedade industrial."Este ano fomos quatro vezes à
Nova Serrana acompanhar apreensões
de cerca de 65 mil produtos falsifi-
PrejuízonacertaPesquisarealizadapelaAssociaçãoNacionalparaGarantiados DireitosIntelectuais
(Angardi)comprovaque apiratariade produtos em apenastrêssetores- roupas,tênis ebrinquedos- privao Paísde pelomenosR$18,6bilhõesanuaisem
arrecadaçãode impostos.EstudodaOrganizaçãoparaa
Cooperaçãoe DesenvolvimentoEconômicopublicadono iníciodejunho apontaque a piratariamovimentapelo menosUS$200bilhõespor ano no mundo.AChina,segundoaOCDE,é o maiorfabricantede produtosfalsificados.ParaWolfgang Hubner,um dosautores do estudo, a situaçãono Brasilvem melhorando,
cadosAdidas,entre tênis acabadose semi-acabados,em seisfábricasedoiscaminhões.E três empresassãoreincidentes", contam os advogadosIgor Araújo e Wellington de Oliveira,que trabalham no escritório. Na maisrecente operação, realizada no dia 24de maio, os policiais da DelegaciadeFalsificaçõesde BeloHorizonte,amparados por ordem judicial ecoma presença de oficiais de Jus-tiça, apreenderam perto de 38 milprodutos Adidas falsos em quatrofábricas. Em novembro de 2006,
mas o País deve fortalecer
a implementação das leisrecentemente aprovadas paracombater a pirataria. Sem
a aplicação efetiva dessas
medidas, é possível que o Brasilretorne, no curto prazo, à listados países-problema, segundoa Internationallntellectual
Property Association(Associação Internacional daPropriedade Intelectual).
SilVA, DO SINDINOVA:IMPRENSA sO DESTACA
FAlSIFICAÇOES
outra operação já havia resultado naapreensão de mais 4 mil itens.
No entanto, outros números indicam
que não apenas a falsificação não foi coi-bida, como alguns de seus praticantes se
mostram dispostosa desafiaras autoridades
e ameaçar policiais. O delegado NelsonFialho,titular da Delegaciade Falsificações
de Belo Horizonte, cita como exemplo os
proprietários da Indústria
e Comércio de CalçadosKatrina. "Este ano, ao
realizarmos uma operação
de busca e apreensão emcaminhões, na estrada, a
esposa do proprietário,
que seguia à frente dos
veículos para escoltar a
carga, ao perceber a nossa
presença jogou o carrona contramão, contra as
viaturas". Emoutra operação, o delegado
conta que o dono da fábrica ameaçou os
policiais. "Ele afirmou que estávamos
contribuindo para o desemprego na ci-
dade, e que iria aos jornais, às 1Vs e às
rádios para denunciar isso. O empresá-
rio também deu queixa à Corregedoria,
alegando que não tínhamos mandadosjudiciais", lembra Fialho.
"
Negócioda ChinaA partir de 2006, a Puma também
decidiu intensificar o trabalho de com-
bate à pirataria no Brasil. A vigilância
da empresa é mais intensa nos portos
e pólos calçadistas. "No ano passado,
apreendemos, numa única operação
com a Receita Federal no porto de Itajaí,
em Santa Catarina, um carregamentoo proveniente da Chinacom
~ 1,5 tonelada de pares de
~ tênis",contao advogado-10~ José Carlos Dias, sócio
o; do escritório Di Blasi,Parente, Vaz e Dias &Associados, contratado
pela empresa alemã para
implementar as ações
contra falsificações. "Ointeresse em Minas Ge-
rais, no momento, vem
do fato de a região de Nova Serrana ser
um reconhecido pólo de fabricação de
produtos Puma (principalmente tênis) e
devido à proximidade de Belo Horizonte
e Contagem e à localização estratégica
para distribuir os produtos em outrascidades do Sudeste e Sul do País", escla-
rece o representante da Puma. Ele não
revelaonúmerodeitensapreendidos,
de produtos falsificadose oscomerciantes não se arrisca-
riam tanto", argumenta.Por enquanto, em Nova
Serrana e Belo Horizonte
há vendedores que nãodemonstram qualquer preo-cupação em oferecer tênisAdidas e Puma falsos porR$ 50 o par. E, para con-quistar o cliente indeciso,informam sem-cerimônia:
"O original custa bem maiscaro, em torno de R$ 350,dependendo do modelo."
Questionado sobre o procedimento,um vendedor do Shopping Oiapoque,na capital mineira, respondeu: "Seem Brasília pode, por que aqui nãopode?", referindo-se às constantesfalcatruas praticadas por políticose autoridades.
Na avaliaçãodo presidente da Abi-calçados,ElcioJacometti,énecessáriaaação forte da leipara inibir a produção e a
venda de calçados piratas. "Émuito dificil
eliminarapirataria,maspodemosreduzi-Ia bastante. Isso écasode polícia",diz.Porém,para a polícia realizar a buscae apreensão de produtos falsificados,
PANORAMA DA CIDADE: NOVA SERRANA t ÕCENTRO DE UM APL DE CALÇADOS
mas garante que a fiscalizaçãovempro-porcionando bons resultados. "Nas áreasonde a Puma atua, constatamos uma
diminuição significativa na comercia-
lização de produtos falsificados. Hoje,
os comerciantes pensam duas ou três
vezes antes de oferecer esses produtos",afirma Dias.
Para coibir a ação dos falsificadores,Júnior César da Silva, do Sindinova,defende a criação e aplicação de umalegislação mais rigorosa, com multaspesadas, prisão dos infratores e blo-queio dos bens dos empresários piratas.
"Com isso, acredito que os fabricantes
Informal,quasecriminosoParaAndréFrancoMontoroFilho,presidentedo InstitutoBrasileirode ttica Concorrencial(ETCO),
a informalidadeestáapoucospassosdacriminalidade,poisnamedidaemqueempresáriosinsistemnessaprática,éapenasquestãodetempoparaqueingressememoutrasesferasdo mundodo crime,noqualprevaleceo supostoganhofácil,emquenãosepagaimpostos,mastampoucosepodeexigirqualidade.
opresidentedoETCOobservaqueváriosfatores,amaioriaestruturais,
contribuemparaincentivarainformalidadeea ilegalidadenoPaís.Aelevadacargatributária,amágestãodosrecursospúblicos,osbaixossalários,o reduzido
investimentodosgovernosemsaúde,educação,habitaçãoesaneamento,eospéssimosexemplosproporcionadosporpolíticoseautoridadeslevamo cidadão
- eo empresário- aumestadodedescrençageneralizada.
é necessário cumprir determinadosprocedimentos. A empresa titular damarca precisa ingressar com medidacautelar, na qual solicita uma liminar(mandado de busca e apreensão). Efeti-
vada a apreensão, os titulares das marcas
entram com ações na esfera cívele, numa
segunda etapa, no âmbito criminal- fal-
sificaçãoé crime previsto na Lei9.279, de
Propriedade Industrial.
Embora sejacrimefederal,a legislação
pertinente aos direitos de propriedade
industrial não permite que o titular demarcassoliciteo fechamentodas atividades
comerciaisdasfábricasque falsificamseus
produtos. "No entanto, o Poder Judiciá-
rio pode determinar que tais indústriassejam proibidas de fabricar, distribuir e
comercializar os produtos piratas, sob
pena de pagamento de multa diária",
observam os advogados da Adidas. _
MONTORO.DO ETCO: PROBLEMAS
ESTRUTURAIS LEVAM À ILEGALIDADE
Criadoem 2003,o ETCOé uma
organizaçãosemfins lucrativoscujo objetivo é promoveramelhoriado ambientede
negóciospormeiodeprincípioséticosdeconcorrência
empresarial,alémdeestimularaçõesde combateàevasãofiscal,à informalidade,à falsificaçãodeprodutoseaocontrabando.
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