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Desafio Cruzado: Do desconforto inicial à confiança e antecipação a ensinar Educação Física Relatório de Estágio Profissional Relatório de estágio apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro) Orientadora: Professora Doutora Zélia Matos Pedro Filipe Pereira Gomes Porto, Setembro de 2018

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Desafio Cruzado:

Do desconforto inicial à confiança e antecipação a ensinar Educação Física

Relatório de Estágio Profissional

Relatório de estágio apresentado à Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto com vista

à obtenção do 2º ciclo de estudos conducente

ao grau de Mestre em Ensino da Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário

(Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e o

Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro)

Orientadora: Professora Doutora Zélia Matos

Pedro Filipe Pereira Gomes

Porto, Setembro de 2018

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II

Ficha de Catalogação

Gomes, P. (2018). Desafio Cruzado: Do desconforto inicial à confiança e

antecipação a ensinar Educação Física. Porto: P. Gomes. Relatório de Estágio

Profissional para obtenção de grau de Mestre em Ensino de Educação Física

nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto.

Palavras-chave: Estágio Profissional; Educação Física; Processo Ensino-

Aprendizagem Necessidades Educativas Especiais; Teste Sociométrico;

Crosstraining;

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III

Agradecimentos

A limitação de espaço para a redação de um simples texto é ingrata e de

certa forma injusta e incompleta para agradecer a todos aqueles que me

acompanharam e me ajudaram de forma direta ou indireta a cumprir todos os

meus objetivos quer no estágio profissional quer na redação deste relatório que

de certa forma marca o um dos últimos momentos de aprendizagem na minha

formação inicial, assim, deixo aqui explícito um profundo e sentido

agradecimento.

À Professora Doutora Zélia Matos um profundo agradecimento pela

excelente orientação que me proporcionou na elaboração do presente

documento e por todos as partilhas e ensinamentos que claramente me

tornaram mais rico e me aproximaram ainda mais do sucesso.

À Professora Manuela Machado pela orientação, dedicação e brio, e

apoio incondicional que permitiram a existência contínua de estímulos que me

fizeram elevar os meus conhecimentos permitindo assim maximizar a vontade

de querer saber, de superar as minhas dificuldades fazendo-me tornar

diariamente melhor.

Aos meus colegas de núcleo de estágio Margarida Silva e Miguel

Ferreira por me terem acompanhado nesta jornada nomeadamente na partilha

de sucessos, frustrações, ideias, estímulos e métodos de trabalho.

À minha Família, em especial aos meus Pais e ao meu Irmão por

acreditarem e terem sempre uma palavra de apreço que de certa forma

contribuiu para a minha formação integra fora do contexto académico.

A todos um enorme e sincero obrigado!

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IV

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V

Índice geral

Agradecimentos ................................................................................................ III

Índice geral ......................................................................................................... V

Índice de Figuras ............................................................................................... IX

Resumo ............................................................................................................. XI

Abstract ........................................................................................................... XIII

Lista de Abreviaturas ....................................................................................... XV

1. Introdução ...................................................................................................... 3

2. Enquadramento biográfico ............................................................................. 9

2.1 Importância do estágio na formação inicial de professores ...................... 9

2.2 Expectativas em relação ao estágio Profissional .................................... 12

2.3 Educação Física ...................................................................................... 14

2.3.1 Legitimação da Educação Física ................................................ 14

2.3.2 Educação Física a disciplina que eu acolhi, a disciplina que me

acolheu… .......................................................................................... 17

3. Enquadramentos da Prática Profissional ..................................................... 27

3.1 A escola enquanto motor do desenvolvimento das sociedades - Escola

Básica e Secundária D. Dinis ........................................................................ 27

3.2 A minha turma de 10º Ano… ................................................................... 30

3.2.1 A pequena (Grande) particularidade da minha turma ................. 34

3.2.1.1 Caracterizar os dois alunos com NEE ................................. 35

3.2.2 Ilações sobre a turma ................................................................. 36

4. Realização da prática profissional ................................................................ 43

4.1 Organização e gestão do ensino e da aprendizagem ............................. 44

4.1.1 Conceção ................................................................................... 44

4.1.2 Planeamento............................................................................... 46

4.1.2.1 Planeamento Anual ............................................................. 50

4.1.2.2 Planeamento Unidade Temática ......................................... 53

4.1.2.3 Plano de aula ....................................................................... 56

4.1.3 Modelos de ensino ...................................................................... 59

4.1.3.1 Modelo de Instrução Direta (MID) ........................................ 61

4.1.3.2 Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo (MAPJ) .......... 62

4.1.3.3 Modelo de competência nos jogos de invasão .................... 64

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VI

4.1.4 Gestão da aula ........................................................................... 68

4.1.4.1 Gestão tempo de aula ......................................................... 68

4.1.4.2 Melhoria da instrução .......................................................... 70

4.1.5 Avaliação .................................................................................... 73

4.1.6 Inclusão dos alunos com Necessidades Educativas Especiais .. 78

4.1.7 Observação aulas colegas núcleo de estágio............................. 82

4.2 Participação na escola e relações com a comunidade ........................... 91

4.2.1 Corta Mato Escolar ..................................................................... 91

4.2.2 Desporto Escolar - Crosstraining ................................................ 93

4.2.3 “Escola Ativa”- Semana do agrupamento ................................... 95

4.2.4 “Open Day” ................................................................................. 96

4.2.5 Reuniões .................................................................................... 98

4.3 Desenvolvimento Profissional ............................................................... 101

4.4 Estudo investigação - Análise sociométrica da turma ........................... 103

4.4.1 Resumo .................................................................................... 103

4.4.2 Contextualização ...................................................................... 103

4.4.3 Enquadramento teórico ............................................................ 105

4.4.3.1 Dinâmicas de grupo ........................................................... 105

4.4.3.2 Educação como ato social ................................................. 106

4.4.4 Teste Sociométrico e de Perceção Sociométrica ..................... 108

4.4.5 Objetivos ................................................................................... 110

4.4.5.1 Objetivo Geral .................................................................... 110

4.4.5.2 Objetivos Específicos ........................................................ 110

4.4.6 Metodologia .............................................................................. 110

4.4.6.1 Participantes ...................................................................... 110

4.4.6.2 Instrumento de recolha de dados – Teste Sociométrico e de

Perceção Sociométrica ..................................................................... 111

4.4.7 Resultados ................................................................................ 111

4.4.7.1 Teste Sociométrico Preferências ....................................... 112

4.4.7.2 Teste Sociométrico Rejeições ........................................... 113

4.4.7.3 Teste de Perceção Sociométrica Preferências .................. 114

4.4.7.4 Teste perceção sociométrica rejeições ............................. 115

4.4.7.5 Distribuição dos indivíduos pelos índices sociométricos ... 116

4.4.8 Discussão resultados ................................................................ 117

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VII

4.4.9 Conclusões ............................................................................... 122

4.4.10 Limitações da avaliação sociométrica .................................... 125

4.4.11 Referências Bibliográficas .................................................... 127

6. Referências Bibliográficas .......................................................................... 135

Anexos .......................................................................................................... XVII

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IX

Índice de Figuras

Figura 1 – Caracterização da turma – Motivação EF ....................................... 31

Figura 2 - Caracterização da turma - Prática desportiva regular ...................... 32

Figura 3 - Caracterização da turma - Modalidades Preferidas ......................... 33

Figura 4 – Mapa de distribuição de matérias.................................................... 51

Figura 5 – Planeamento Anual Turma 10º ....................................................... 52

Figura 6 – Imagem ilustrativa do movimento “Remada no TRX” ...................... 72

Figura 7 – Ficha de Observação Andebol ........................................................ 77

Figura 8 – Gráfico Observação ........................................................................ 87

Figura 9 - Matriz sociométrica Preferências ................................................... 112

Figura 10 - Sociograma em círculo Preferências ........................................... 112

Figura 11 - Matriz sociométrica Rejeições...................................................... 113

Figura 12 - Sociograma em círculo Rejeições ................................................ 113

Figura 13 Matriz perceção de escolhas .......................................................... 114

Figura 14 - Sociograma de perceção de escolhas ......................................... 114

Figura 15 - Matriz perceção rejeições ............................................................ 115

Figura 16 - Sociograma de perceção rejeições ............................................. 115

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XI

Resumo

O presente documento assume uma dupla função: ao que se pretende assumir

como um relato na primeira pessoa sobre todo o processo de estágio

profissional do curso de formação de professores, pretende-se, igualmente

assumir como uma última ferramenta geradora de aprendizagens para o autor,

futuro docente de Educação Física. Reporta-se a uma experiência pessoal e

nele serão evidenciadas as principais dificuldades, frustrações sentidas e

sucessos alcançados no decurso do processo de estágio profissional em

Educação Física, realizado numa escola pública. O presente relatório de

estágio divide-se em cinco grandes partes: a primeira parte onde será realizada

a apresentação dos principais aspetos do documento, uma segunda parte mais

direcionada para a justificação da disciplina de Educação Física nos planos

curriculares, a caracterização do estágio profissional e a sua importância para o

estudante estagiário, seguidamente, na segunda parte apresenta-se a

caracterização do contexto de atuação do estudante estagiário entendido como

um elemento altamente influenciador de toda a experiência. A terceira parte do

relatório reporta-se a todas as experiências práticas vividas no contexto de

atuação, nomeadamente tudo o que se relaciona com a condução do processo

ensino-aprendizagem (conceção, planeamento, realização e avaliação) bem

como todas as atividades desenvolvidas fora da componente letiva e que

igualmente contribuíram para a formação enquanto docente. Será igualmente

nesta parte do relatório que serão apresentados os resultados relativos ao

estudo sociométrico da turma, elaborado pelo estudante estagiário, e que se

revelou como uma excelente ferramenta para conhecimento do grupo e

consequente melhoria do processo ensino-aprendizagem. Por fim, serão

tecidas algumas considerações finais sobre todas as experiências vividas bem

como perspetivas de desenvolvimento profissional e construção da identidade

própria enquanto docente.

Palavras-chave: Estágio Profissional; Educação Física; Processo Ensino-

Aprendizagem Necessidades Educativas Especiais; Teste Sociométrico;

Crosstraining;

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XIII

Abstract

The following report entails two purposes: whilst contending to be a first-person

account of the entire student teaching process, it is equally intended to serve as a

lattermost tool capable of forming insights and knowledge for the author as a

future teacher of PE (Physical Education).

The document exerts a description of a personal experience – it accounts the main

hardships, frustrations and accomplishments achieved in the course of a

professional practicum in PE carried out in a public educational institution.

The practicum report will be apportioned in five major parts: The first part entails

the display of the introduction of the document’s main aspects.

The second part, farther directed to the necessity of PE as a subject in the

curricular plans, will ensemble the portrayal and characterization of the

professional student teaching and its importance for the intern, followed by the

description of the context of action as a highly influential element of the totality of

the experience. The third part of this report will refer to all practical experiences in

the context of the practicum, purposely everything that helped convey the

teaching-learning process (conceptualization, planning, accomplishment and

evaluation) as well as all the activities that were developed beyond the mandatory

curriculum that inevitably contributed to my development as a future teacher.

It will also be in this part of the report that the results of the sociometric study of

the class, prepared by the trainee student, will be presented. This study has

proven to be an excellent tool for the cognizance of the group and the consequent

improvement of the teaching-learning process.

This will be followed by final considerations concerning all the experiences that I

went through as well as my perspective on my professional development and the

construction of my identity as a teacher.

Keywords: Student Teaching; PE; Teaching-Learning Process; Special

Educational Needs; Sociometric Test; Crosstraining;

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XV

Lista de Abreviaturas

ALT – Academic Learning Time

EBSDD - Escola Básica e Secundária D. Dinis

EE – Estudante Estagiário

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

GCST – Ginásio Clube de Santo Tirso

MAPJ – Modelo de abordagem progressiva ao jogo

MED – Modelo de Educação Desportiva

MID – Modelo de instrução direta

NE – Núcleo de estágio

NEE – Necessidades Educativas Especiais

PC – Professora Cooperante

PEA – Processo Ensino-Aprendizagem

PEE - Projeto Educativo de Escola

PES – Prática de Ensino Supervisionada

PFI – Projeto de Formação Individual

TGFU – Teaching Games for Understanding

UC – Unidade Curricular

UT – Unidade Temática

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1

1 - Introdução

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2

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3

1. Introdução

O presente relatório visa o relato da minha experiência pessoal no decurso

do estágio profissional (EP). Este é tido por mim como um documento formal,

pessoal e como um último momento de aprendizagem na finalização da

formação inicial no 2º ciclo em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico

e Secundário.

Com este documento pretendo espelhar todas as vivências durante a Prática

de Ensino Supervisionada (PES), demonstrar como convoquei todos os

saberes e conhecimentos para dar respostas às várias situações levantadas no

decurso da mesma.

Este é mais uma vez marcado pelo processo reflexivo, a reflexão sobre a

reflexão que espelha claramente a necessidade de análise constante ao que foi

vivido e refletido, e que marcaram a construção da minha identidade

profissional enquanto Professor de Educação Física.

Recorrendo à narração dos vários desafios, exigências, sucessos e frustrações

ocorridos ao longo do ano letivo procurarei demonstrar como decorreu a

integração no mundo profissional da docência transparecendo assim as

principais aprendizagens adquiridas ao longo deste complexo processo que é o

estágio profissional.

As Normas Orientadoras do Estágio Profissional orientam esta prática de

ensino supervisionada de modo a que haja uma “integração no exercício da

vida profissional de forma progressiva e orientada, em contexto real,

desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos futuros

docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos desafios

e exigências da profissão.”

Através desta PES, e em estreita relação com o Núcleo de Estágio (NE),

pretendeu-se a convocação de conhecimentos adquiridos ao longo da

formação inicial de modo a dar resposta aos vários cenários e situações-

problema levantados “num contexto balizado pelas condições gerais do

sistema educativo, pelas condições locais das situações de educação e pelas

condições mais próximas da relação educativa”, procurando assim o

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4

desenvolvimento profissional em várias áreas e domínios do profissional da

docência.

Assim, a unidade curricular (UC) Estágio Profissional é composta pela prática

de ensino supervisionada e pelo respetivo documento que relata o

desenvolvimento desta, o relatório de estágio profissional. Esta UC é uma

unidade integrante do 2º Ciclo de Estudos em Ensino da Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário da Faculdade de Desporto da Universidade do

Porto (FADEUP), a sua estrutura e funcionamento consideram “os princípios

decorrentes das orientações legais constantes do Decreto-lei nº 43/2007 de 22

de fevereiro e o Decreto-Lei n.º 79/2014 de 14 de maio.”

O presente relatório encontra-se dividido em 5 grandes capítulos.

Uma primeira parte onde é realizado um enquadramento biográfico onde são

salientados por mim os aspetos que contribuíram pelo ingresso na área da

docência e na docência da disciplina de Educação Física. Numa fase inicial do

documento poderão igualmente ser encontradas justificações antropológicas da

Educação Física que certamente a justificam e lhe dão o crédito que ela

merece, numa fase em que cada vez mais se caminha no sentido contrário e

onde esta é cada vez mais vista como o “parente pobre” do currículo.

Posteriormente serão salientados aspetos práticos da importância do estágio

profissional na conclusão da minha formação inicial e no início da criação da

minha identidade profissional enquanto professor.

Na terceira parte do presente documento pode ser encontrada, uma breve

caracterização e análise do macro meio e posteriormente ao micro meio onde

atuei, nomeadamente à escola e à turma que ficou à minha responsabilidade

no decurso desta etapa.

A quarta parte é aquela que representa a maior fração deste documento, esta

reporta-se ao processo de reflexão sobre a reflexão de toda a minha prática de

ensino supervisionada. Aqui será feita uma análise A posteriori de tudo aquilo

que foi planeado, realizado e posteriormente avaliado ao longo de todo o ano

letivo, serão espelhadas as minhas dificuldades, frustrações e sucessos e

como é que estes foram ou não ultrapassados. Esta parte está claramente

dividida em três grandes áreas de desempenho que compõem a PES, são elas:

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5

• Área 1: Organização e gestão do ensino e da aprendizagem, uma área

destinada à conceção, planificação, realização e avaliação do ensino.

• Área 2: Participação na escola e relações com a comunidade, área onde

se evidenciam as atividades não letivas desenvolvidas ao longo do ano

letivo e que procuram um contributo para a integração na comunidade

escolar.

• Área 3: Desenvolvimento profissional, área que se reporta à construção

do eu-profissional, nomeadamente na criação de uma identidade

profissional, aberta à inovação e com capacidade de integração num

grupo social carregado de especificidade como é o caso de um corpo

docente.

A última parte do relatório será destinada às considerações finais e ao balanço

sobre todas as experiências por mim vividas ao longo dos últimos 10 meses.

Com este documento procuro através de uma escrita simplista e sincera,

transparecer ao leitor todas os sentimentos e experiências por mim vivenciadas

no exercício daquilo que sempre considerei, a profissão de sonho. Procurei

através deste documento proporcionar uma fácil leitura de algo que certamente

me tornou melhor, mais competente e que me proporcionou um dos últimos

momentos de aprendizagem no presente mestrado.

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2 - Enquadramento biográfico

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9

2. Enquadramento biográfico

Antes de iniciar a leitura e análise do meu percurso ao longo deste últimos

meses, será de todo importante conhecer a personagem principal e aquele que

o guiará no conhecimento desta última etapa da formação inicial. A 3 de Maio

de 1994, nasceu mais um individuo com um gosto particular por desafios e com

um gosto muito próprio pela superação pessoal e pela luta pela sua crença. A

prática desportiva sempre fez parte das suas rotinas mas aquilo que mais o

cativava, sempre foi a vontade de tornar os outros melhores, tal qual como

fazia todos os dias consigo próprio. E que melhor forma haverá para isso que

ser Professor de Educação Física? Sim, aliar o gosto por desafios com a

vontade de tornar os outros melhores e fornecendo-lhes bases para os tornar

mais competentes, a única resposta seria no final de contas ser Professor de

Educação Física.

Primeiro, porque a sua matéria de trabalho é o desporto, uma das minhas

paixões e segundo porque se se gosta de desafios, o futuro é certamente ser

Professor de Educação Física. Como não poderia deixar de ser, se a profissão

é por si só carregada de desafios, o caminho para lá chegar é igualmente

desafiante. No secundário ingressei no Curso Tecnológico de Desporto, ou

seja, desde cedo comecei a traçar o meu caminho com vista a chegar aquilo

que hoje aqui relato. Terminada esta primeira etapa conclui a licenciatura em

Ciências do Desporto na Escola Superior de Educação do Porto, ingressando

posteriormente no presente mestrado que me conduziu a esta etapa final

(Estágio Profissional), e bem mais desafiante que todas as anteriores e que

certamente merecerá especial apreço por tudo aquilo que contribuiu para me

tornar mais competente no exercício da docência.

2.1 Importância do estágio na formação inicial de professores

O Estágio Profissional (EP) constitui-se como uma “peça fundamental da

estrutura formal de socialização inicial na profissão”, é um processo no qual os

estudantes-estagiários passam por uma experiência “mais interna, mais ativa e

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mais autónoma”, ou seja, o Estudante Estagiário (EE) é colocado perante

desafios distintos dos colocados nos primeiros anos de formação ainda que

este processo se caracterize como “gradual e refletido” (Queirós, 2014a).

O presente estágio assume uma dupla característica que o torna único.

No mesmo espaço temporal o estudante estagiário é chamado a assumir o

papel de professor, ainda que supervisionado por um Professor Cooperante

(PC), e de estudante. Num determinado momento fui responsável por ensinar

mas, nesse mesmo momento, estava a recolher novas informações, estava a

aprender, estava a construir a minha interpretação das exigências da profissão,

o meu caminho enquanto Professor de Educação Física.

Dada a originalidade do desafio do EP este ano letivo foi encarado como

um dos mais importantes para a construção da minha identidade enquanto

Professor de Educação Física,. Foi o ano em que encarei a entrada neste

estágio como a verdadeira entrada no Mundo do trabalho “é igualmente um

período importante na história profissional do professor determinando inclusivé

o seu futuro e a sua relação com o trabalho” Tardif (2002) citado por Queirós

(2014a). Um ano caracterizado pelo desenvolvimento de novas aprendizagens,

de novo conhecimento onde a formação inicial sofre um impulso decisivo

(Queirós, 2014a), dando um sentido acrescido aos anos anteriores da minha

formação, marcados pela aquisição de conhecimentos, que foram

transformados, foram adequados às exigências contextuais e concretas da

prática (Queirós & Batista, 2013).

E esta é a verdadeira natureza de ser Professor, ou seja, a competência para

ensinar a matéria da nossa disciplina transmitindo esses conhecimentos aos

nossos alunos, a competência pedagógico didática exige entre outros aspetos

a capacidade de aplicar o conhecimento de uma determinada forma que não é

aplicável a outra realidade, de uma forma não generalizável.

Ao contrário de outras profissões para se ser professor existe a

obrigatoriedade de se ser aluno e de se ser confrontado com múltiplas

aprendizagens, múltiplas representações sobre a profissão e múltiplos

indivíduos que inevitavelmente terão elevada preponderância na formação das

nossas crenças e de conceções. É inevitável que todos os professores, antes

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11

de o serem já tenham em si formadas crenças e pré-conceções que terão

influência sobre a compreensão das exigências da profissão, para que estas

não sejam transformadas acriticamente muito contribui o EP.

O EP ao permitir um dos primeiros exercícios profissionais, permite que em

ambiente de aprendizagem supervisionada “que essas conceções sejam

revistas e adquiram significado nas relações com os demais atores e no

confronto com as delimitações do contexto institucional” (Queirós, 2014 citando

Ambrosetti, Almeida & caiu, 2012, cit. por Pata, 2012).

O EP assume-se como de elevada importância pois este marca o

profissional da Educação Física como uma das principais etapas na construção

da sua profissão, contudo esta não deixa de ser um marco na sua formação

inicial. Ser professor implica uma aprendizagem diária mesmo após a

conclusão da formação inicial, tal como afirma Queirós (2014a) “a

aprendizagem da docência não se inicia com o ingresso na profissão, é um

processo construído ao longo da vida…”

Assim o EP assume-se como essencial para a complementaridade entre

a ação teórica e prática. Tal como afirma Queirós & Batista (2013, p. 42)

citando Carreiro da Costa (2002) a formação inicial de um professor de

Educação Física deve garantir que este sabe “pôr as suas competências em

ação em qualquer situação”, ou seja, um profissional que seja “capaz de refletir

na e sobre a ação, de dominar qualquer situação nova. Alguém que apresente

capacidade de adaptação, eficácia, expertise, capacidade de resposta e de

ajustamento ao solicitado, ao contexto e aos problemas complexos que

enfrenta na sua atividade.”

Estas aprendizagens práticas, esta aprendizagem através da

experiência não pode ser vista como algo simples, pois tal como refere Schon

(1991) citando por Queirós & Batista (2013) “aprender com a experiência não é

simples, não é fácil, nem necessariamente enriquecedor”.

As experiências por si só podem não ter grande valor, contudo estas garantem

outro sentido se a elas estiverem associados o ato e o processo reflexivo

garantindo assim o sentido positivo das experiências, constituindo-se também

como uma ferramenta essencial para o futuro do professor de Educação Física.

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Tendo esta prática profissional características muito próprias, o ato

reflexivo (Reflection-in-action; reflection-on-action; reflection on reflection-on-

action; Schon, 1991) é essencial para “preparar o futuro professor para atuar,

em cada situação, de acordo com as exigências especificas do contexto”.

(Queirós & Batista, 2013) citando (Schon, 1991).

O ano de estágio, o último ano da formação inicial de professores

assume-se, igualmente, como de elevada importância para criar profissionais

capazes de legitimar a sua própria profissão e a sua própria área perante a

sociedade. Assim tal como refere Queirós & Batista (2013) o estágio

profissional é essencial enquanto espaço de formação, que contribui de forma

determinante para a reconfiguração da área, ou seja, assume-se como

essencial para esta mudança de paradigma de descrédito que paira sobre a

nossa disciplina.

2.2 Expectativas em relação ao estágio Profissional

Como não poderia deixar de ser, o longo percurso até chegar à fase do EP,

inevitavelmente foi pautado por elevadas expetativas e reflexões sobre o que

seria este tão aguardado momento da minha formação. Sendo este relatório

um documento pessoal sobre todas as experiencias vividas, faz todo o sentido

que, nesta fase final de balanço me debruce sobre as expetativas levantadas

ainda numa fase precoce do estágio profissional.

Tal como refleti no Projeto de Formação Individual (PFI), assumi desde logo

que, um processo de estágio com esta duração e com esta complexidade

inevitavelmente teria um grande impacto na minha formação, quer do ponto de

vista profissional, quer do ponto de vista pessoal.

Logo no início do EP senti o peso da pré-conceções construídas durante o

percurso de aluno numa escola pública. O facto de todos professores já terem

sido alunos aumentaram as expectativas em relação ao que viria a acontecer.

Contudo este facto elevou os meus índices de exaltação, pois o facto de ser

conhecedor da realidade escola, fez-me também perceber que muita desta

realidade não era factualmente conhecida, ou seja, conhecia a realidade

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enquanto aluno, contudo o conhecer a realidade enquanto professor assumia

outro tipo de proporções e responsabilidades.

Tal como referi no PFI, este seria um ano em que teria que invocar

conhecimentos adquiridos nos anos anteriores para afirmar o sucesso na

função docente. Este seria o ano em que teria de ser capaz de dar respostas

concretas ao Ser Professor, o que é Ser Professor de Educação Física dentro

de um contexto de elevada complexidade como é a escola com os seus alunos.

Também residiam em mim muitas e elevadas expectativas em relação

ao contacto social quer com a comunidade educativa (Docentes; Discentes;

Assistentes operacionais) quer com o Núcleo de estágio (Professora

Cooperante; Professora Orientadora; Estudantes Estagiários) relações essas

que merecem especial destaque pois assumiram-se como chave para a

obtenção do sucesso individual e coletivo.

De uma forma resumida estas, expectativas poderiam convergir numa

única palavra que poderia perfeitamente ser colocada no cerne do estágio

profissional, “convocar-me” e “transformar-me” no sentido da competência

docente.

Este seria um ano onde era essencial convocar os vários saberes práticos e os

vários saberes teóricos adquiridos durante os anos transatos de formação,

contudo e como refere Bento (1995, p. 49) “nenhuma forma de vida, seja teoria,

seja prática é pensável se renunciar à reflexão”.

Assim sendo, o ato reflexivo assumiu-se como chave para a construção

do Ser Professor, pois esta confrontação constante entre o “eu professor” com

as exigências da competência docente, permitiu-me diariamente construir

novas aprendizagens que efetivamente me tornaram mais competente e mais

eficaz na minha missão educativa.

Ter parado para pensar quais eram as expectativas em relação ao EP

logo no início do processo fizeram-me pensar naquilo que queria construir

durante o decorrer desta etapa. Assim, neste presente relatório procurarei fazer

um confronto constante entre as minhas expetativas e aquilo que realmente se

concretizou, de modo a exaltar o que de mais enriquecedor o estágio

profissional trouxe, para a minha formação enquanto professor.

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2.3 Educação Física

2.3.1 Legitimação da Educação Física

Antes de um qualquer discurso sobre a prática pedagógica torna-se

essencial que nos debrucemos, sobre a disciplina que leciono, que me acolheu

e que eu próprio acolhi, bem como tudo aquilo que a legitima no currículo

escolar. Faz todo o sentido que seja feita uma breve análise e contextualização

da Educação Física, enquanto disciplina curricular, sendo posteriormente feita

uma análise à minha pessoa dentro desta mesma área bem como ao complexo

processo que foi o processo de estágio profissional.

No momento atual é incomportável que um qualquer profissional da área

utilize um discurso leviano e sem argumentos em detrimento de uma forte

fundamentação que realmente coloque a nossa disciplina ao mesmo nível ou

mesmo acima das demais. É muito importante que da identidade profissional

de um professor de Educação Física faça parte um conhecimento profundo da

justificação da EF enquanto espaço de educação e formação dos alunos.

O recurso a argumentos do senso comum descredibilizam o nosso

próprio discurso, o professor de Educação Física com o conhecimento

profundo da importância da sua disciplina deve recorrer a argumentos que

realmente coloquem uma pedra sobre a questão, um discurso que realmente

demonstre a importância da disciplina.

Se fizermos uma análise cuidada às disciplinas que percorrem os vários

ciclos de ensino facilmente nos apercebemos da presença e da importância da

EF nos vários currículos ao longo da escolaridade obrigatória. “… em Portugal,

atualmente, a educação física figura como área curricular obrigatória ao longo

de todos os anos de escolaridade básica e secundária…”(Graça, 2014, p. 94).

Apesar deste facto, resultado do muito que se avançou no

reconhecimento social da EF, esta depara-se com um cenário de uma

marginalização onde a não importância pela disciplina ainda se mantém “a EF

como disciplina do currículo na escola está longe de ter um estatuto

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semelhante ao das outras disciplinas, nomeadamente das disciplinas que se

orientam para a educação intelectual dos alunos” (Matos, 2014, p. 158) .

Contudo, cabe-nos a nós Profissionais da Educação Física oferecer o

contributo inequívoco para que esta tendência seja invertida e, para isso, a

nossa resiliência tem que partir de uma robusta argumentação “… a Educação

Física carece da palavra certa e convincente de quem por ela interceda para a

ajudar, de quem por ela fale para a justificar, de quem por ela aja para a

defender.” (Graça, 2014, p. 109).

O processo de evolução do ser humano tem intrinsecamente ligado a si

o movimento. Como referem Grupe & Kruger (1994) quando no reportamos ao

desporto e ao movimento devemo-nos reportar igualmente a uma abordagem

antropológica do ser humano e à compreensão da sua espécie dado que tudo

aquilo que somos hoje dependeu do movimento, porém, nos dias que correm

cada vez menos o ser humano sabe lidar com o seu corpo. A pergunta que se

coloca é: Que melhor forma tem a escola para transmitir conhecimentos aos

alunos e simultaneamente ajudar-lhes a compreender e a trabalhar a sua

génese (Culto pelo corpo e movimento)?

“A Educação Física reporta-se à corporalidade, contudo esta está

igualmente ligada aos aspetos intelectuais, emocionais e sociais da pessoa”

(Grupe & Kruger, 1994, p. 18), ou seja, a disciplina não desenvolve só as

destrezas motoras dos alunos, desenvolve igualmente outros aspetos

intrínsecos ao ser humano. As mais variadas interações entre os professores e

os alunos no ambiente ensino-aprendizagem ditarão o resultado final de um

processo de aprendizagem, não unicamente ligado ao conteúdo mas também

ao processo de socialização (Cultiva o espirito de equipa e trabalho de grupo),

ajuda-os a adquirir hábitos de cumprimento de regras e normas associadas aos

mais variados desportos, é igualmente um dos melhores meios para promover

a liderança, solidariedade e criatividade (nas várias modalidades lecionadas há

sempre mais que uma forma de atingir o mesmo objetivo).

Com todos estes argumentos a favor da disciplina o que mais a pode

legitimar é a ação prática junto da comunidade escolar, não é só manter estes

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argumentos guardados na bagagem sem fazer uso deles e sem recorrer a eles

para sustentar o nosso trabalho.

O Professor deve mostrar que a Educação Física tem um papel chave

no currículo e para isso é essencial desenvolver de forma planeada e

sustentada as capacidades motoras e cognitivas humanas num clima de

socialização constante.

Tal como refere Matos (2014) citando Bento (1995) e Meinberg (1990)

“nunca é demais repetir que não basta existir exercitação corporal para que

existam efeitos de natureza formativa”, ou seja, a atividade motora por si só

não é sinónimo de educação e formação. Com isto devemos desmontar o

paradigma que cada vez mais paira sobre a Educação Física, a ideia de recreio

supervisionado, onde a única preocupação é exclusivamente que exista

atividade motora ainda que desprovida de aprendizagens.

Esta ideia de que a ação corporal por si só resolve todos os problemas

da disciplina paira unicamente na cabeça daqueles que consideram que a

disciplina tem um papel único e essencial de combate à saúde. Esquecendo-se

assim que este não é o objetivo específico da disciplina mas sim um objetivo

geral da escola “a educação para a saúde será um objetivo transdisciplinar da

escola, para o qual a EF concorre com a sua quota-parte que por ser muito

específica e única, pode sugerir uma importância dominante.” (Matos, 2014).

A educação física assume-se como “específica e única” pelo seu

conteúdo ser eminentemente prático, ou seja, promove uma educação através

do Desporto, ou seja, “é um processo educativo onde o desporto é utilizado

como um instrumento” (Matos, 2014).

Assim, podemos verificar que o valor da disciplina de Educação Física

deve ser elevado pelo facto de o seu conteúdo permitir uma formação

humanista do aluno pois promove melhoria dos padrões educativos gerais, tem

um papel muito importante de estilos de vila saudável e na “criação de

responsabilidade social, no desenvolvimento da criatividade, confiança,

autoestima, desenvolvimento de skills chave para a vida” (Matos, 2014).

O conteúdo da educação física, o desporto, “torna-se educativo quando

coloca obstáculos, tarefas e exigências, quando obriga a observar regras e ao

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relacionamento com o outro, quando apela ao rendimento de cada um, quando

permite a cada um conhecer-se às suas possibilidades (Matos, 2014 citando

Bento, 1995 2000).

O ato de educação através do desporto distingue-se dos demais pelas

suas imensas possibilidades, nomeadamente possibilidades ao nível do

desenvolvimento “Somático, motor, sensorial, emocional, motivacional, social e

cognitivo” (Matos, 2014).

Em suma, a disciplina de educação física distingue-se das demais pelo

fato de esta promover um desenvolvimento holístico do individuo.

As experiências desportivo-motoras são a base para a construção das várias

aprendizagens nos vários domínios que a disciplina oferece. Assim a

argumentação que legitima a disciplina, não pode ser leviana, e recair única e

exclusivamente sobre questões ligadas à saúde, pois tal como fica

demonstrado esse é um objetivo da escola compartilhado com a educação

física.

2.3.2 Educação Física a disciplina que eu acolhi, a disciplina

que me acolheu…

A paixão pelo desporto talvez tenha sido aquilo que me trouxe para o

que hoje aqui apresento também o facto de gostar de aprender sempre me

motivou a procurar inspirar o mesmo gosto nos outros, daí a decisão de querer

ser Professor. “Os professores consideravam as suas funções como algo que

precisava de ser feito, um imperativo moral impulsionado por um grande

sentido de dever condicional” Queirós (2014b) citando o estudo elaborado por

Margolis e Deuel (2009). Será que eu próprio sabia o que era ser Professor?

Será que eu próprio sabia o que era Educar?

Iniciando esta reflexão pela segunda questão e olhando para o sentido

restrito da palavra Educação (“ação que decorre entre, pelo menos, duas

pessoas em que ambas se transformam, Educador e Educando, sendo que

existe uma diferença de competência entre estes dois intervenientes que deve

procurar ser ultrapassada pela ação intencional do educador, de uma ação que

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vise sempre objetivos de um acontecimento de transmissão”), posso afirmar

que era neste o meu propósito que eu intuía o que seria ser Professor.

“O fundamento da educabilidade está naquilo que verdadeiramente distingue a

espécie humana de outras espécies” (Monteiro, 2017, p. 73).

Tal como refere Savater (1997, p. 23) citando Greene, “ser humano é também

um dever”, “nós humanos já nascemos sendo-o, mas só o seremos

completamente, depois” Savater (1997, p. 23). O ser humano distingue-se das

restantes espécies por ser um ser inacabado, por ser um ser que necessita de

mais alguma coisa para se tornar completo (Savater, 1997), e é aqui que

importa refletir sobre o conceito de Neotenia.

Segundo o mesmo autor, Neotenia pode ser definida como “plasticidade ou

disponibilidade juvenil (os pedagogos falam de educabilidade), mas implica

também um conjunto de relações necessárias com outros seres humanos”

(Savater, 1997, p. 25), ou seja as possibilidades do homem estão altamente

dependentes das relações que este estabelece com os seus semelhantes

(Savater, 1997).

A educabilidade característica do ser humano permitirá que este se torne num

ser completo, “por meio de estímulos de dor ou prazer, tudo na sociedade

humana tem uma intenção pedagógica” (Savater, 1997).

Outra característica única do ser humano que lhe permite esta educabilidade é

aquilo que Savater (1997) classifica como a “constatação da ignorância”, ou

seja, o homem não só sabe o que sabe mas debruça-se igualmente sobre

aquilo que não sabe e que tem necessidade de corrigir.

Cabanas (2002), apresenta uma esquematização das mais importantes das

antionomias da educação:

Representantes Rousseu,

Montessori

Comenio,

Pestalozzi

Kant,

Durkheim

Postulado inicial

A criança é um

ser

Bom

Capaz de tudo

Ativo

Espontâneo

Com aspetos

positivos e

negativos

Capaz de algo

Parcialmente

Mau

Impotente

Passivo

Inerte

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ativo

Necessita de

algum estímulo

A educação é: Crescimento

Deixar fazer

Educere

Ajuda

Cuidado

Complere

Implantação

Condução

Educare

O educador é

como um:

Jardineiro Regulador de

tráfego

Escultor

Como podemos perceber diferentes filósofos e pedagogos têm diferentes

pontos de vista sobre a educação, apresentando assim diferentes teses. Duas

destas teses são opostas, sendo que a outra destaca-se por ser intermédia às

duas anteriores, existindo aqui uma posição de equilíbrio (Cabanas, 2002).

A primeira aponta para uma educação mais livre do educador para com a

criança (deixar fazer), a terceira é completamente oposto porque assenta sobre

ideias que rejeitam totalmente a liberdade, uma tese onde o educador é visto

como um escultor que esculpe a criança à sua imagem.

Das três a que merece especial destaque é a tese intermédia, aquela que

absorve um pouco das duas anteriores, é aquela que parte do principio que as

crianças têm aspetos positivos e negativos e que necessitam de algum

estimulo para o seu desenvolvimento. Ou seja, aqui o educador assume um

papel de regulador de tráfego, do ponto de vista que este é o regulador dos

estímulos fornecidos à criança garantindo que estes são os melhores para o

seu desenvolvimento.

O processo educativo pode também caracterizar-se como formal ou

informal dependendo da fonte que visa a transformação do homem. (Savater,

1997). Tal como refere Hannoun (1975) se o processo de influência for

exercido “pelos pais ou por parte de um qualquer adulto disposto a dar lições

este denomina-se de informal, contudo, se este for efetuado por uma pessoa

ou grupo de pessoas socialmente designadas para isso este denomina-se de

formal” (Savater, 1997, p. 27).

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Assim, o processo educativo formal exercido por um Professor implica

mais que do este ato de transmissão entre um emissor e um recetor “a função

de ensinar já não é hoje definível pela simples passagem de saber” (Roldão,

2007). Nos dias que correm a ação do Professor não se pode restringir à

transmissão de conhecimento. Quando o acesso à informação era limitado os

desafios colocados à Escola circunscreviam-se à função de instrução e não à

sua função educativa e formativa. Nos dias que correm a função docente deve

principalmente prender-se a tarefas que permitam realizar o processo E/A,

concebendo a sua missão de formação/educação de alunos emancipados,

autónomos e capazes de produzir o seu próprio conhecimento.

As sociedades atuais caracterizam-se pela abundância informacional,

assumindo o Professor um papel chave na filtragem do conteúdo informativo,

de modo a permitir que os alunos participem ativamente na sua própria

formação

Verifica-se que a minha conceção prévia sobre a profissão docente

estava assente sobre premissas pouco esclarecidas, tendo em conta a

sociedade e o tempo em que vivemos (ser professor não se esgota no

exercício de transmitir a matéria da disciplina). Assim coloca-se-me a questão

concreta: mas, afinal, o que é ser Professor? E o que é que caracteriza um

professor competente?

Tal como fui verificando no decurso do mestrado, ser professor vai

muito para além da transmissão de saberes e de conhecimentos, e isso ainda

mais se exaltou durante todo este processo de estágio profissional “Há um

esquema em voga, sobre as grandes competências que deve possuir o

professor: «saber», «saber-fazer», «saber-ser»…há uma outra essencial

«saber fazer-ser»” (Patrício, 1998, pp. 5-6).

Pude, assim, verificar que a minha ação enquanto professor tinha

obrigatoriamente que ser uma ação centrada no aluno, nas suas necessidades

e potencialidades, ação que podemos chamar, de forma resumida, mais

humanista, ou seja, uma ação que privilegie o desenvolvimento dos meus

alunos em todas as suas dimensões humanas, não me prendendo única e

exclusivamente aos saberes técnicos ligados à disciplina que leciono – a

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Educação Física. Ser professor é ser muito mais que um transmissor de

saberes feitos e essa crença acarreta benefícios claros na ação educativa, pois

ser professor é ser um agente de mudança que contribua para uma educação

de qualidade.

Assim sendo, faz todo o sentido que me debruce sobre os principais

critérios que caracterizam o profissionalismo e as ligações que se estabelecem

com a profissão, sempre sob a premissa de que estes são promotores de

sucesso na profissão docente. O primeiro critério sobre o qual me irei centrar é

a competência docente, critério essencial para que se obtenha sucesso

enquanto agente do processo educativo.

Um professor competente é aquele que com um determinado corpo de

conhecimentos, consegue adaptá-los a uma determinada realidade de uma

forma não generalizável e que, por isso obtém sucesso.

Aqui a competência docente está intimamente ligada com a capacidade do

professor olhar e refletir sobre o meio onde está inserido como um meio

específico, distinto de outras realidades, obtendo, assim, sucesso através da

modificação e ajuste desse corpo de conhecimento aquela realidade concreta.

Na competência docente incluem-se as capacidades, habilidades,

conhecimentos e hábitos.

“A competência profissional do professor define-se pela sua capacidade

para criar, organizar ou modificar as condições de aprendizagem com a

intenção de facilitar o desenvolvimento de processos de aprendizagem

significativas e enriquecedoras nos alunos” (Alonso, 1998, p. 5).

Assim, podemos verificar que dominar o corpo de conhecimento por si

só não é sinónimo de sucesso, é essencial possuir outras aptidões para se dar

sentido a esse mesmo conhecimento na realidade concreta onde o docente

está inserido.

Tal como Alonso (1998), também Nóvoa (2009) levanta algumas características

que considera essenciais para a competência docente na sociedade

contemporânea, sendo a primeira delas o conhecimento sobre o conteúdo.

Sendo o Professor um agente de mudança, este deve ter aliado a si o

conhecimento para provocar essas mesmas mudanças nos seus alunos.

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(Nóvoa, 2009) citando Alain (1986) refere que mais importante que conhecer

aqueles que se instruem é essencial conhecer bem aquilo que se pretende

ensinar.

A segunda característica que este mesmo autor levanta é a Cultura

Profissional, a necessidade de pertença a um grupo e a necessidade de

aprendizagem com esses mesmos elementos do grupo, relevando igualmente

a importância do desenvolvimento de trabalho de equipa.

Nóvoa (2009) destaca igualmente a necessidade de o professor ter tato

pedagógico, que se traduz nas capacidades de comunicação, relacionamento,

capacidade de respeito que se assumem como essenciais para provocar a

mudança no aluno. Esta mesma capacidade deve ser vista como algo

intrínseco ao próprio docente, ou seja, algo mais pessoal.

A última característica apresentada por este autor está relacionada com

o compromisso social que o professor deve assumir, aceitando a premissa que

ele próprio é realmente um agente de mudança da sociedade e que deve ser

promotor de inclusão e diversidade social, não se limitando única e

exclusivamente ao espaço escolar (Nóvoa, 2009).

A autonomia profissional, é um critério merece de igual forma destaque,

porque a capacidade de análise e reflexão sobre o meio onde está inserido

está diretamente ligado com a aplicação prática das decisões tomadas. Assim

podemos verificar que esta análise reflexiva e a posterior decisão são

processos individuais inerentes a cada docente.

Esta “é entendida como a capacidade para tomar e pôr em prática decisões

responsáveis, o que implica a liberdade para escolher de forma criteriosa e

fundamentada entre as alternativas possíveis numa determinada

situação”(Alonso, 1998, p. 6).

Estando todos os critérios do profissionalismo docente interligados, a

pertença a um grupo profissional e a sua respetiva identidade não deixam de

merecer especial destaque. É essencial que o sucesso do docente passe pelos

vários grupos onde este está inserido, tais como grupo dos profissionais de

educação, associações, sindicatos, etc. “Trata-se agora de alargar este

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conceito à autonomia profissional enquanto grupo ocupacional o que vai além

das fronteiras da instituição escolar” (Alonso, 1998, p. 7).

Tal como referi anteriormente ser professor implica aceitar a premissa

que nós próprios somos agentes de mudança de indivíduos e

consequentemente agentes de mudança da própria sociedade. Sendo nós

agentes de mudança, também nós enquanto docentes devemos estar

suscetíveis à mudança, “quer mudanças sociais, quer tecnológicas” (Alonso,

1998).

Considerando que a sociedade atual é uma sociedade onde a

quantidade informativa abunda, uma sociedade em constante evolução será

expectável que o profissional de educação consiga acompanhar a bom ritmo

estas alterações.

O objetivo do docente é preparar as pessoas para uma sociedade em

constante mudança, é preparar os indivíduos para conseguirem dar resposta a

situações-problema que ainda não existem, daí a necessidade de criar

indivíduos com capacidade para produzir pensamentos emancipados.

Assim sendo o próprio professor tem que estar suscetível a esta renovação

para uma melhoria profissional constante.

Como ficou aqui evidenciado, ser professor implica mais do que o

simples ato de transmissão de conhecimentos e isso foi aquilo que mais me

marcou durante o processo de estágio. Ser um professor profissional e

competente acarreta uma série de dimensões (Conhecimento, cultura

profissional, tato pedagógico, trabalho em equipa, compromisso social (Nóvoa,

2009)) que devem ser desenvolvidas como forma de otimizar o seu exercício.

Assim, posso claramente afirmar que o estágio profissional serviu ainda

mais para desmascarar algumas crenças e algumas pré-conceções

desenvolvidas em etapas precoces da minha formação no que podemos

chamar socialização antecipatória.

Esta socialização antecipatória que, inevitavelmente marca a formação

docente, colocavam-me a ver o “Ser Professor” e o “Professor competente” de

uma ótica diferente daquela que vejo agora, e de que dei o testemunho nos

parágrafos anteriores.

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3 - Enquadramento da Prática

Profissional

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3. Enquadramentos da Prática Profissional

3.1 A escola enquanto motor do desenvolvimento das sociedades -

Escola Básica e Secundária D. Dinis

“A educação é um dos principais motores do desenvolvimento social e

económico das sociedades” (Cristo, 2013, p. 13), assim sendo a escola

assume-se igualmente como um meio de transformação das sociedades, como

um meio de preparação dos jovens para desafios e problemas do seu futuro. À

nascença o homem caracteriza-se por ser um ser inacabado, é a educação e a

formação que lhe dão forma.

A instituição escola, teve uma necessidade imperiosa de evoluir, por forma

a não caminhar atrás da sociedade, mas sim para ser ela a preparar os seus

alunos de forma a que estes sejam agentes de mudança da sociedade dotados

de aprendizagens que permitam dar resposta a problemas e desafios que

ainda não surgiram, ou seja, criação de alunos autónomos, emancipados e

com espirito crítico.

A escola que me acolheu para a realização do meu EP, a Escola Básica e

Secundária D. Dinis (EBSDD), compartilha os valores, finalidades e visão

apresentados pelo documento público libertado em 2017 de seu nome “Perfil

dos alunos à saída da escolaridade obrigatória” onde são referidas as

características que se pretende que um aluno tenha quando termina o seu

percurso escolar.

Assim sendo, a Escola Básica e Secundária D. Dinis pretende dotar os seus

alunos de “saberes e valores que promovam uma sociedade justa”, pretende

desenvolver nos seus alunos uma cultura científica que sustentem as suas

tomadas de decisão no mundo onde estão inseridos. Pretende garantir que

todos os alunos participam no seu processo de formação, pretende educar no

século XXI, ou seja, ambiciona que os seus formandos sejam capazes de se

adaptar a novos contextos que vão surgindo nas suas vidas e os desafios que

se lhe colocam. Tal como referem no seu Projeto Educativo de Escola “o aluno

é inegavelmente o núcleo de todo o trabalho desenvolvido.”

De uma forma resumida, é uma escola que se rege pelos princípios da

Aprendizagem, Base Humanista, Saber, Inclusão, Coerência e Flexibilidade,

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Adaptabilidade e Ousadia, Sustentabilidade e Estabilidade, pretende “ser no

sector da Educação uma opção de referência para o sucesso dos jovens”.

A escola EBSDD pretende que os seus alunos sejam capazes de “lidar com

a mudança, que estejam munidos de múltiplas literacias que permitam analisar

e avaliar a realidade”. É também promotora da autonomia e responsabilidade,

promotora do pensamento crítico, sendo a dignidade humana igualmente um

dos aspetos visados durante a formação escolar.

Como podemos analisar na literatura e tal como acontece na EBSDD esta

constitui-se como uma instituição que visa preparar e educar os jovens para a

sociedade onde estes serão inseridos, tendo como base para essa educação e

preparação as características específicas de cada contexto. “Através da

educação o “ser individual” transforma-se em “ser social” (Filloux, J., 2010).

Assim sendo, a escola. “…Constitui-se como um contexto diversificado

de desenvolvimento e aprendizagem…” (Dessen, M & Polonia, A. 2007), ou

seja, é um espaço que agrupa uma grande diversidade de conhecimentos

atividades, de regras e de valores. (Dessen, M. & Polonia, A., 2007 citando

Mahoney, 2002).

Dessen e Polonia (2007) citando Oliveira (2002) afirmam que se trata

igualmente de um ambiente multisocial que promove a construção de laços

afetivos e respetiva preparação para a sociedade.

Nunca é demais tomar consciência da importância do contexto onde estive

inserido pois este teve profunda influência sobre a minha prática e

inevitavelmente sobre as aprendizagens no decurso do presente estágio

profissional.

A EBSDD é parte integrante do Agrupamento de Escolas D. Dinis que

por sua vez está sediado no concelho de Santo Tirso e pertence ao distrito do

Porto, integrando a Área Metropolitana do Porto.

O início desta instituição escolar remonta ao ano de 1932, sendo que ao

longo dos anos foi passando por várias transformações até se encontrar como

a conhecemos hoje. É de destacar que recentemente foi submetida a um

projeto de modernização de modo a requalificar a construção já existente

garantindo assim melhores condições de conforto, segurança e acessibilidade.

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Desta requalificação há que destacar vários espaços que foram

modernizados nomeadamente o pavilhão desportivo, a sala de ginástica. Foi

também requalificado o campo de jogos exterior bem como todos os balneários

e vestiários.

No que toca à comunidade escolar é de relevar o forte contacto entre

encarregados de educação e professores que trabalham simbioticamente para

a implementação de projetos enriquecedores para a formação dos alunos.

A EBSDD é composta por 1166 alunos (38 NEE), estando estes

distribuídos pelo 2º, 3º Ciclo, Ensino Secundário e Ensino Profissional, num

total de 46 turmas. O 2º Ciclo tem 298 alunos (11 Turmas), o 3º Ciclo tem 387

alunos (15 turmas), o Ensino Secundário tem 342 alunos (15 turmas) e o

Ensino Profissional tem 139 alunos (5 turmas). Atualmente exercem a profissão

docente 183 Professores. Relativamente ao pessoal não docente a escola é

composta por 49 elementos de entre os quais assistentes e respetivo

coordenador técnico e assistentes operacionais.

Os vários alunos provêm de vários pontos do concelho de Santo Tirso, e

inclusive fora do concelho. Dentro da população estudantil existem

variadíssimos estatutos socioeconómicos, alunos de diferentes etnias, alunos

com Necessidades Educativas Especiais situação que faz com que haja uma

grande diversificação da comunidade escolar, destacando-se assim como uma

escola promotora da inclusão.

Filloux, J. (2010) citando Durkheim (1955) afirma que a escola enquanto

instituição não é passível de acontecer de uma forma isolada, mas sim como

tendo uma estreita relação com as outras instituições. Como pude perceber a

EBSDD é uma escola com uma forte ligação à comunidade que a rodeia, no

que à EF diz especificamente respeito, e é de destacar a relação que

estabelece com instituições, como é o caso do Ginásio Clube de Santo Tirso.

Esta ligação permite à Escola proporcionar aos alunos uma experiência

educativa alargada, dado que esta parceria permite que os seus alunos

usufruam das instalações desportivas deste clube, nomeadamente o seu

pavilhão, os seus campos de ténis e a sua piscina.

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Todos estes aspetos inevitavelmente marcaram a minha prática docente

no decorrer do estágio profissional, pois a escola EBSDD para além, das

excelentes condições a nível de instalações, partilha de valores, princípios e de

uma visão que permitem a clara formação integral aos alunos que recebe,

situação que vai de todo ao encontro daquilo que acredito.

É uma instituição que tal como eu pretende essencialmente dotar os

jovens de uma preparação social, cultural, cognitiva e física para que estes

consigam dar as devidas respostas que lhes vão sendo solicitadas no seu

futuro.

3.2 A minha turma de 10º Ano…

O processo ensino-aprendizagem está bem longe de ser um processo

simplista. Contextualizar a ação do professor passa não só pelo conhecimento

de cada aluno, aspeto determinante para que se possa individualizar o ensino,

mas também pela caracterização da turma enquanto grupo, cuja dinâmica

interfere no desempenho de cada um.

Para se atender a esta necessidade é essencial o Professor ter efetivamente

em conta o aluno, a personalidade do aluno em formação, e por isso, entender

a turma como uma soma de partes, ou seja, entender os alunos como

indivíduos (pessoas) distintos com necessidades distintas, devendo ao máximo

evitar-se ao máximo “respostas uniformes independentemente das pessoas,

das condições locais e das circunstâncias” (Machado, 2010). A

contextualização da ação do professor é uma exigência da sua atividade, que

se há-de traduzir, entre outros aspetos, na criação de condições para

individualizar o ensino, ainda que dentro dos constrangimentos provocados

pelo tamanho das turmas ou pela carga horária insuficiente da sua disciplina.

Para conceber o PEA (processo ensino-aprendizagem) de modo

contextualizado é preciso ter um conhecimento individual dos alunos. Para este

efeito o Grupo de Educação Física e Desporto Escolar da EBSDD elaborou um

questionário que foi aplicado à turma à qual lecionei durante o ano letivo e que

permitiu recolher informação detalhada para uma caracterização alargada.

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1 1

2

6

2

5

2 5 7 8 9 10

Alu

no

s

Grau de Motivação 0-10

Motivação

Gráfico 1: Caracterização da turma Figura 1 – Caracterização da turma – Motivação EF

A referida turma do 10º ano do Curso Cientifico-Humanístico de Línguas

e Humanidades, era constituída por 19 alunos, 8 do sexo masculino e 11 do

sexo feminino com idade média 14,9 anos.

Estando esta turma em início de ciclo, o ensino secundário, era

expectável que não houvesse grandes ligações dentro do grupo-turma. Esta

expectativa veio a verificar-se, potencializada pelo facto da maior parte dos

alunos provir de escolas distintas do concelho de Santo Tirso, aumentando

ainda mais heterogeneidade dentro do grupo.

Como verifiquei no decurso do ano letivo, os alunos apresentavam

conhecimentos distintos, experiências distintas, níveis distintos, sendo que o

facto de provirem de escolas distintas teve igualmente um forte impacto nesta

situação.

Como já referi o questionário aplicado permitiu-me conhecer e identificar

alguns aspetos importantes sobre os alunos da turma, pelo que passarei a

apresentar algumas informações recolhidas, que foram relevantes para o

decurso do PEA e que são igualmente relevantes para o meu percurso, que

aqui relato.

Motivação para a disciplina de Educação Física

Para além dos dados pessoais recolhidos sobre os alunos, o

questionário aplicado permitiu igualmente recolher algumas informações

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10

8

Prática Desportiva Regular

Sim Não

Gráfico 2: Caracterização da turma

Figura 2 - Caracterização da turma - Prática desportiva regular

específicas para o PEA na disciplina de Educação Física. Um exemplo disso é

a informação acima apresentada sobre o grau de motivação dos alunos para a

disciplina, utilizando-se uma escala de 0 a 10, foi solicitado aos alunos que

representassem o seu grau de motivação para a disciplina.

Com esta informação pude, ainda numa fase precoce do ano letivo

perceber o grau de afiliação dos meus alunos para com a disciplina que

leciono. Isto permitiu-me começar desde logo a definir estratégias para

conseguir um grupo coeso e com elevada ligação à Educação Física. Assim, e

como se veio a demonstrar a turma na sua grande maioria apresentou uma

excelente motivação e disponibilidade para as várias aprendizagens na

disciplina.

“ (…) houve um grande empenhamento por parte dos alunos, todos

conseguiram cumprir corretamente o seu papel quando foram colocados nas

várias funções (executante, contador de repetições ou cronometrista), o que

demonstrou compromisso e brio por tudo aquilo que estava a ser realizado. Se

toda esta organização for mantida com a maior das certezas que estes alunos

terão um ano letivo repleto de aprendizagens e de evoluções.” Reflexão nº15

No que concerne às experiências e práticas desportivas fora do contexto

escola foi evidenciado que unicamente metade da turma tinha hábitos

regulares de prática desportiva, contudo já todos haviam tido experiências

desportivas, sendo essas muito diversificadas.

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6

1 1

6

1

2

1 1 1

Modalidades Preferidas

Figura 3 - Caracterização da turma - Modalidades Preferidas

Um outro aspeto que foi igualmente alvo de análise no presente

questionário foi o número de horas que os alunos passavam sentados, ou seja,

o número de horas que se mantinham em posições mais sedentárias e onde o

seu gasto calórico era reduzido.

Como se pode verificar pelos resultados obtidos, em média cada aluno estava

sentado 7 horas por dia, o que aliado ao facto de não manterem um hábito de

prática regular, fez-me desde logo prever que a prestação dos alunos na minha

disciplina seria negativamente afetada por estes comportamentos sedentários.

Com estes dois factos percebi desde logo que teria que ter uma

intervenção forte, com um discurso e práticas altamente persuasivas para

combater tais problemáticas que cada vez mais afetam a nossa sociedade e

que afetavam igualmente este grupo.

(…) “estava a lutar contra o paradigma da sociedade atual, ou seja, uma

luta contra uma sociedade sedentária e sem vontade de mudar.

Mantive um discurso coerente e de crença, um discurso de alguém que

acredita que SIM! Podemos combater a inatividade e vamos conseguir atingir

esse objetivo com a turma do 10º ano” Reflexão nº7.

Em suma, apesar de esta ficha conter alguns dados que para o contexto

da disciplina de educação física não são tão importantes, é de relevar aqueles

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que me ajudaram na construção do planeamento e na atuação pedagógico-

didática. Nomeadamente, a motivação dos alunos que serviu desde logo para

antecipar o grau de afiliação e de empenho dos alunos para com a disciplina,

as modalidades preferidas, bem como a prática desportiva fora do contexto

escolar.

Informações relativas ao historial clinico dos alunos permitiram-me desde logo

perceber que doenças poderiam afetar a prestação dos alunos nas aulas. Este

facto obrigou-me a um estudo suplementar de modo a iniciar desde logo o ano

letivo munido de ferramentas, que permitissem a estes alunos tirar o máximo

partido das várias situações de aprendizagem sem que o seu problema os

afetassem negativamente no seu desempenho na disciplina de educação

física.

3.2.1 A pequena (Grande) particularidade da minha turma

Cada turma é uma turma e nós professores temos que trabalhar com

base nesse facto, mas há turmas que têm particularidades que a tornam mais

únicas do que as restantes, e a minha era um desses casos. Na primeira

reunião de conselho de turma fiquei desde logo a saber que havia a

possibilidade de vir a ser professor de uma turma com alunos com

Necessidades Educativas Especiais (NEE). No início não escondo que foi um

choque para mim, não me sentia preparado para conceber em termos práticos

a integração de dois alunos com necessidades completamente distintas das

dos seus pares, estava claramente num estado de desconforto inicial.

“Toda esta situação suscitou em mim uma certa inquietação, pois todos

os dias se ouvem grandes discursos sobre a necessidade de integração, de

igualdade e de ensino individualizado. Porém, esta busca incessante e cega

por estes três princípios de organização social acabam por resultar no oposto.

Como Professor Estagiário e como alguém que se está a iniciar como

Profissional da Educação Física, acho extremamente difícil conseguir-se

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proporcionar um ensino individualizado e integrado a alunos tão heterogéneos

e com tamanhas necessidades de intervenção.” Reflexão nº3

O que é certo é que na hora de distribuir as turmas pelos estudantes

estagiários, eu e os dois colegas do Núcleo de Estágio, saiu-me a “fava”!, Sim,

seria eu o professor responsável pela turma com os alunos com NEE. A partir

desse mesmo momento senti que teria que agarrar aquele desafio e torná-lo

numa das minhas “medalhas” do estágio profissional, tinha que aproveitar este

facto para desenvolver ainda mais aprendizagens quer a nível profissional quer

a nível pessoal e engrandecer esta etapa com que culmina a minha formação

inicial.

3.2.1.1 Caracterizar os dois alunos com NEE

Dos alunos com NEE a aluna AP tinha trissomia 21 e o aluno DM tinha

défice cognitivo acentuado e apresentava algumas desordens a nível motor.

“Pessoas com deficiências intelectuais têm diversas habilidades e

potencialidades e os educadores devem estar preparados para aceitar essa

diversidade” (Fegan, 2010, p. 152)

“Os termos atraso mental, défice cognitivo e deficiência mental usam-se

para identificação de um défice de rendimento e de capacidade de demonstrar

uma conduta social e intelectual apropriada para a idade” (Cunha & Santos,

2007, p. 27). Fegan (2010) cita a Associação Americana de Deficiência Mental

para definir deficiência mental como um atraso que afeta o funcionamento

intelectual geral sendo normalmente acompanhado por défices no

comportamento adaptativo manifestado durante o período de desenvolvimento,

que tem repercussões negativas e afeta o desempenho educacional de uma

criança. “De uma forma geral, a criança e o jovem com défice cognitivo revelam

dificuldades de abstração, transferência e generalização”. (Cunha & Santos,

2007, p. 30)

“Na área da linguagem, a criança e o jovem com Trissomia 21

apresentam dificuldades ao nível da fala, da expressão, da compreensão, da

síntese e da organização do pensamento” (Cunha & Santos, 2007, p. 30).

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Desde logo percebi que a forma que tinha que utilizar para cativar estes alunos

para os vários momentos da aula tinha obrigatoriamente que ser distintas

dadas estas grandes limitações.

“Eles revelam-se menos concentrados e com grande propensão para o

cansaço e a fadiga (…) é habitual ver a criança e o jovem com Trissomia 21

alhear-se das tarefas, apesar do interesse em aprender” (Cunha & Santos,

2007, p. 30).

Tal como é a descrito na literatura especializada sobre estas crianças,

apesar das limitações regra geral as mesmas revelam grande vontade em

aprender “O cérebro da criança e do jovem com Trissomia 21 está sempre a

amadurecer e o interesse pelo conhecimento é grande, embora não saibam

como o adquirir” (Cunha & Santos, 2007). Contudo o desenvolvimento das

mesmas está altamente dependente dos estímulos, das estratégias

desenvolvidas para dar às crianças condições que permitam a diminuição do

impacto da deficiência no seu processo de desenvolvimento.

E este foi o grande desafio que se me colocou, ou seja, quais seriam as

melhores estratégias que permitiam a estas crianças uma integração com a

turma e que igualmente promovessem o seu desenvolvimento pessoal.

3.2.2 Ilações sobre a turma

Se o ensino sempre se pode considerar um grande desafio para o

professor, a diversidade social cada vez mais presente nas escolas não pode

ser ignorada como um fator preponderante para a atuação docente.

Tal como refere Bento (1999) é exigente para o docente atender a existência

de uma grande diversidade sociocultural dos alunos. Contudo, este facto não é

só um motivo de preocupações e trabalhos acrescidos para o professor,

condutor do PEA, contribui igualmente de forma positiva para aumentar as

oportunidades de desenvolvimento e crescimento dos alunos, na medida em

que, pedagogicamente aproveitado, cria um ambiente mais rico, mais diverso

onde a convergência e a partilha de diferenças contribuem para a

aprendizagem de valores como a tolerância, a aceitação do outro, enfim, para o

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crescimento dos alunos na sua dimensão pessoal e enquanto pessoas

socialmente responsáveis.

Com isto um dos meus pontos de partida do ano letivo foi a análise

cuidada da turma, partindo da premissa de que toda a informação recolhida

seria de todo pertinente para a minha atuação não só na condução do PEA

formal, mas também em todas as funções não letivas e interações informais

com os alunos.

Tal como referi anteriormente as informações que se destacaram para

esta mesma caracterização foram aquelas que mais estavam ligadas à

disciplina que leciono. Um dos primeiros factos que se destacou foi a

circunstância de a maioria dos elementos da turma serem do género feminino,

sendo de destacar ainda que estes eram os mesmos elementos que

apresentavam menores índices de motivação para as aulas de Educação

Física. “Pesquisas revelam que os grupos normalmente mais segregados são

as raparigas (…) (Mesquita & Rosado, 2009 citando Ennis, 1999; Evans et al.

1997; Hastie 1998).

Esta situação obviamente colocou-me em alerta pois este alunos são aqueles

que necessitam de uma intervenção mais cuidada por parte do Professor de

forma a que este garanta que os índices de motivação para com a disciplina

aumente de forma a garantir o sucesso dos mesmos.

Mesquita & Rosado (2009) referem que há uma necessidade de se criar

diferenças de oportunidade para grupos com características diferentes, sendo

que só assim é que o professor maximiza as hipóteses de sucesso com os

seus alunos. Desde início do ano letivo que tive especial cuidado na formação

de grupos de modo a garantir que os alunos mais motivados conseguissem

passar esse sentimento para os seus pares menos motivados.

Como observei nas primeiras aulas que esta desmotivação era fruto do

confronto constante com o insucesso, a criação estratégica de grupos de

trabalho assumiu-se como uma forma eficaz para garantir uma elevada taxa de

sucesso na execução das tarefas propostas e, assim, motivar estes alunos. Ou

seja, ao garantir que estes tinham relativo sucesso nas tarefas conseguia

aproximá-los mais do gosto pela disciplina, porque a competência numa

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determinada área tem um elevado impacto no gosto que se tem por ela. Isto

tem implicações para o PEA, nomeadamente nas formas de organizar os

alunos, formas que devem favorecer o tempo passado nas tarefas, de modo a

aumentar o tempo potencial de aprendizagem. “A inclusão de alunos menos

dotados, com piores níveis de prestação motora, por exemplo, exige a criação

de condições que permitam a prática acrescida (...) mais encorajamento e

atenção individualizada, quer pelo próprio professor, quer por tutores que

podem ser outros colegas ou os próprios grupos de trabalho” (Mesquita &

Rosado, 2009) (…) “a formação de equipas nesta situação de aprendizagem foi

feita de uma forma cuidadosa e criteriosa para que numa mesma equipa

houvessem alunos mais e menos capazes do género masculino e feminino”

Reflexão nº9.

No que reporta ao desempenho escolar dos alunos, numa fase inicial do

ano letivo não havia muitas informações sobre estes, pois a maior parte

advinha de outras escolas. Contudo, e tal como fui percebendo em conversas

com outros professores da turma, estes alunos apresentaram uma grande

dificuldade na adaptação à exigência, responsabilidade e características deste

novo grau de ensino, o ensino secundário.

Essa situação inevitavelmente teve repercussões ao longo do ano letivo,

contudo, este iniciar de ciclo deixou-me alerta para a necessidade de ser mais

incisivo com os alunos na busca dos objetivos traçados, pois efetivamente foi

demonstrado que a turma tinha pouca autonomia. “(…) dos quatro grupos

formados unicamente três recolheram a informação solicitada, sendo que um

deles veio a revelar falta de empenho nesta recolha, situação que ficou refletida

na qualidade e pertinência da informação apresentada”. Reflexão nº39

Como fui percebendo, no decorrer do ano letivo, a presente turma foi-me

constantemente apresentando novos desafios e novas dificuldades que me

obrigaram a estudo mais aprofundado sobre os alunos como membros

pertencentes a um grupo com dinâmicas que se influenciam mutuamente.

Com isto e como será apresentado mais à frente no presente relatório, foi

realizado um estudo sociométrico sobre a turma que me permitiu retirar mais

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ilações sobre o grupo, nomeadamente sobre a inclusão dos alunos com NEE e

sobre os grupos dominantes dentro do seio da turma.

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4 - Realização da Prática

Profissional

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4. Realização da prática profissional

Nos últimos anos têm-se intensificado os debates sobre políticas de

educação, sobre a profissão docente e a formação de professores. A partir de

meados de 1960 em Portugal começou-se a verificar que a educação exercia

um papel essencial no desenvolvimento da sociedade “A educação é um dos

principais motores do desenvolvimento social e económico das sociedades”

(Cristo, 2013, p. 13).

Com a esta necessidade incessante de se criar um Portugal literato, houve a

necessidade de se trazer para o ensino “uma massa de indivíduos sem as

necessárias habilitações académicas e pedagógicas, criando desequilíbrios

estruturais extremamente graves” (Nóvoa, 1992).

Contudo os anos que se seguiram marcaram um novo desígnio na educação

em Portugal e em especial na formação docente, dando-se especial

importância à formação inicial de professores e à sua formação contínua. Tal

como refere Nóvoa (1992) atualmente a formação de professores deve

estimular uma perspetiva critica e reflexiva e que forneça ao docente meios

para um pensamento autónomo e emancipado e que facilite a autoformação e

desenvolvimento próprio.

A formação de professores não pode ser resumida a um acúmulo de saberes,

conhecimentos e técnicas pois essas mesmas aprendizagens carecem de um

contexto de aplicação para ganharem sentido. Bento (1995 p.59) cintado

Bernett (1989) refere que “Quando se reflete acerca da formação do professor

de educação física deve estar sempre presente um entendimento muito claro

da natureza, da essência e dos contornos da sua profissão. Este entendimento

precisa de ser constantemente atualizado, dado que o perfil profissional é uma

variável condicionada pela situação, uma norma referenciada a um tempo

concreto, às suas condições e circunstâncias”.

Podemos, assim, verificar que cada vez mais há uma maior exigência na

formação docente e isto acontece porque efetivamente esta profissão tem

vindo a sofrer alterações ao longo dos anos tal como ficou demonstrado nos

parágrafos anteriores.

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Hoje ser professor não basta ser possuidor de um conjunto de

conhecimentos, hoje ser professor acarreta novas funções nomeadamente

funções administrativas e gestão escolar, orientação escolar e profissional.

Cada vez mais se verifica que a profissão docente é complexa e está

altamente dependente do contexto onde esta se insere, dependente dos

conhecimentos adquiridos ao longo do seu trajeto de formação e percursos e

projetos próprios que ajudam na construção de uma identidade profissional.

(Nóvoa, 1992).

A formação de um professor não se constrói através de uma

acumulação de saberes, “mas sim através de um trabalho de reflexividade

crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade

pessoal, assim é importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da

experiência” (Nóvoa, 1992).

No presente capítulo pretendo ilustrar a forma como fiz uso dos saberes

adquiridos ao longo da minha formação, como fiz uso da identidade pessoal

para conseguir dar resposta às várias áreas contempladas no decurso do

estágio profissional. Mas acima de tudo, pretendo demonstrar as competências

pessoais e profissionais por mim desenvolvidas, demonstrando igualmente as

dificuldades e problemas, assumindo uma postura reflexiva sobre as minhas

práticas assentando num vaivém constante entre a teoria e a prática.

4.1 Organização e gestão do ensino e da aprendizagem

4.1.1 Conceção

Nesta primeira área de intervenção pretendeu-se essencialmente que eu

enquanto estudante estagiário fosse capaz de “construir uma estratégia de

intervenção, orientada por objetivos pedagógicos, que respeitasse o

conhecimento válido no ensino da Educação Física e conduzisse com eficácia

pedagógica o processo de educação e formação do aluno na aula de Educação

Física” (Normas EP, 2017-2018). Nesta área (Área 1) estão presentes aspetos

fulcrais da presente prática de ensino supervisionada (PES), nomeadamente a

conceção, o planeamento, a realização e avaliação.

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Dia 5 de Setembro de 2017, dia em que tudo começou, foi o dia em que

não só tive o primeiro contacto com o núcleo de estágio (Professora

Cooperante e restantes colegas estudantes estagiários) a que pertenci e que

me acompanhou nesta etapa, mas também tive o primeiro contacto com o

restante corpo docente da Escola Básica e Secundária D. Dinis.

Todavia, aquilo que mais me marcou neste dia foi a reunião com a

direção escolar, momento esse onde foram vincadas informações sobre o tipo

de comunidade educativa, que a presente direção pretende criar. Desde logo

comecei a absorver informações e a enquadrá-las no meu entendimento

acerca das finalidades da educação, sobre o tipo de alunos que a escola

pretende formar, quais os princípios e valores que tinham que ser seguidos e

quais as finalidades que se pretendem atingir (…) “foi um dia pautado pela

minha capacidade de absorção de conhecimentos. Um dia em que procurei

essencialmente reter o máximo de informação possível pois esta muito

provavelmente será muito útil num futuro bem próximo.” Reflexão nº1.

Considerei desde logo este momento importante pois, como professor,

tive que ter a capacidade imediata de adaptação ao contexto cultural e social

da escola e dos alunos, por forma a desde logo planear o ano letivo de modo a

dar resposta a estas necessidades pedagógico-didáticas resultantes das

dinâmica organizacionais deste estabelecimento de ensino.

Como me fui apercebendo a EBSDD e os respetivos grupos disciplinares têm

uma organização própria com regulamentos e organização específicas das

suas disciplinas, ou seja, também para a EF existe um conjunto de documentos

(Regulamento e funcionamento da disciplina de EF; Planificação da disciplina e

Matriz Curricular; Mapa de distribuição de matérias; Critérios de avaliação

gerais e Específicos da disciplina de EF; Roulement de instalações

desportivas) que auxiliam os professores de EF, à imagem do que acontece

nos outros grupos disciplinares, a uniformizar as suas práticas. Nomeadamente

no que toca ao planeamento, realização e mesmo avaliação. Como membro

integrante do Grupo de Educação Física e Desporto Escolar tive desde logo a

necessidade de ser conhecedor destas informações de modo a garantir que as

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46

minhas práticas fossem congruentes com as normas impostas

institucionalmente.

Desde logo tive a necessidade de convocar conhecimentos adquiridos ao longo

da minha formação de modo a dar significado a tais informações, começando

assim a obter respostas para dúvidas por mim na altura levantadas (…) “este

conjunto de informações retidas serviram igualmente para responder e

preencher alguns espaços vazios na minha cabeça e dar respostas a uma

imensidão de dúvidas que marcam o início do presente processo” Reflexão

nº1.

A primeira semana ficou igualmente marcada pelo conjunto de reuniões

de conselhos de turma e pela atribuição de turmas. Como todos os horários

das turmas disponíveis eram compatíveis para os membros do núcleo de

estágio, não havia à partida nenhum critério que nos fizesse optar por uma

turma em detrimento de outra, então deixamos que a sorte definisse o nosso

destino. Assim o núcleo tomou a decisão de que não havia nada melhor que

um belo de um sorteio para definir o nosso futuro nesta grande e complexa

jornada, e assim foi! Após este momento fiquei conhecedor da turma com a

qual partilharia esta experiência, sendo esta a base de grande parte daquilo

que vou aqui relatar. Toda a minha prática será relatada tendo como ponto de

partida estas reuniões e definições que marcaram este início do processo,

cruzando assim por todas as etapas que compuseram o estágio, desde a

planificação, passando pela realização até à avaliação.

Tudo aquilo que se assumiu como relevante para o término desta minha

formação inicial será aqui relatado, tendo sempre por base as vivências

práticas e as exaltações e problemas com que fui confrontado.

4.1.2 Planeamento

Antes de qualquer tipo de realização é essencial para o sucesso docente

que se passe por uma exaustiva fase de planeamento onde se considerem

todas as variáveis que exercem influência sobre o processo ensino-

aprendizagem. “Uma melhor qualidade de ensino pressupõe um nível mais

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elevado do seu planeamento e preparação” (Bento, 2003, p. 16). Com o

presente ponto pretendo relevar toda a importância que o planeamento

assumiu durante todo o processo de estágio evidenciando as dificuldades que

senti e que superei nos seus vários níveis (Planeamento Anual; Planeamento

da Unidade Temática (UT); Plano de aula).

Segundo Bento (2003, p. 15), o planeamento assume-se determinante

na condução e regulação dos processos de formação e educação:

• Na orientação do processo de aprendizagem;

• Na apropriação de conhecimentos e habilidades, na formação e

desenvolvimento de capacidades;

• Na ativação do comportamento de aprendizagem;

• Na formação consciente e racional dos traços característicos da

personalidade.

O domínio sobre o conteúdo a lecionar por si só pode não garantir

sucesso ao professor, sendo assim essencial que este desenvolva a

capacidade de planeamento nos vários níveis, considerando todas as variáveis

que influenciarão o seu trajeto “Os trabalhos de planeamento do Professor de

Educação Física relacionam a direção essencial das exigências e conteúdos

programáticos com a situação pedagógica concreta” (Bento, 2003, p. 57).

Assim esta complexa tarefa exige do professor um conhecimento e

consideração sobre as indicações programáticas (objetivos, tarefas e

conteúdos), sobre as condições locais, nomeadamente pessoais, materiais e

temporais sobretudo sobre a situação da sua turma. (Bento, 2003). Posso

assim afirmar que o planeamento faz a conjugação de todas estas variáveis

conferindo sentido ao processo ensino aprendizagem.

Tal como refere Rink (1993) o planeamento da disciplina de Educação

Física ocorre a três níveis. Num nível mais amplo os professores planeiam as

matérias para todo um ano, no nível seguinte este planeamento anual é

dividido em unidades temáticas, posteriormente estas mesmas são divididas no

planeamento de aulas sendo esta a unidade menor do planeamento docente.

(Rink, 1993). “Deve-se igualmente destacar que todos estes planeamentos

estão entre si interligados” (Rink, 1993, p. 210).

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Para início de toda esta exaustiva planificação foi essencial iniciar esta

tarefa pela análise da documentação fornecida pelo Grupo de Educação Física

e Desporto Escolar, ou seja, o mapa de distribuição de matérias onde nele

estava enunciadas a matérias a ensinar ao 10º ano, análise ao roulement de

instalações desportivas e posteriormente análise aos programas nacionais de

educação física. Toda a planificação que eu realizei teve por base esta

documentação que regula a disciplina a nível interno, sendo posteriormente

alvo de consulta os programas de educação física que regulam a disciplina a

nível nacional.

Como refere (Bento, 2003) “a programação e direção dos fatores e

momentos essenciais e decisivos, fundamentais e orientadores, com os meios

e formas ajustadas, requerem dois níveis:

• O nível das indicações gerais e centrais;

• O nível das indicações locais, relativas a cada situação, específicas e

particulares”

Como pude perceber as indicações gerais e centrais, como é o caso dos

programas nacionais de educação física encontram-se no centro do processo

de planificação, contudo estes perdem sentido se estes não forem adequados

ao contexto (local, escola, turma, alunos) onde serão aplicados “apesar das

particularidades de ambos os níveis e da variedade dos documentos de

programação, a relação entre estes deve ser evidente” (Bento, 2003).

O nível das indicações centrais é um importante ponto de partida para o

docente, contudo rapidamente percebi que estas careciam de uma adequação

à realidade onde seriam aplicadas, um exemplo claro disso foi o facto de ter

que adequar os conteúdos exigidos no programa nacional à realidade da turma

à qual lecionava. Como fui percebendo ao longo do ano letivo a turma não

tinha disponibilidade motora para cumprir os requisitos exigidos pelo programa,

carecendo assim de uma adaptação para a sua realidade motora e com

objetivos e critérios de sucesso realmente concretizáveis.

Tal como referi no ponto da conceção tudo se iniciou com a minha

procura pela uniformidade com o restante Grupo de Educação Física e

Desporto Escolar, toda a documentação fornecida assumiu um papel

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fundamental em toda a planificação sendo esta posteriormente contextualizada

à minha realidade concreta (turma de 10ºano). O conhecimento sobre os meus

alunos e o conhecimento sobre estas diretrizes centrais e locais foram o ponto

de partida para conceber os três níveis de planeamento que sustentaram a

obtenção dos meus objetivos ao longo de todo o ano letivo.

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50

4.1.2.1 Planeamento Anual

De todas as fases do planeamento esta pode-se considerar a mais

global, ou seja, aquela que se encontra a um nível “Macro”. “É um plano de

perspetiva global que procura situar e concretizar o programa de ensino no

local e nas pessoas envolvidas” (Bento, 2003, p. 59). Como o próprio nome

indica é um plano onde não são contemplados grandes pormenores e que se

desenrola ao longo de todo o ano letivo, contudo estes comportam igualmente

a análise, balanços e reflexões a longo prazo (Bento, 2003).

Este planeamento assume-se como importante por forma a que as ações do

professor nas aulas não sejam descontínuas e desprovidas de sistematicidade.

Bento (2003) refere igualmente que a elaboração do planeamento anual é o

primeiro passo para a preparação do ensino, fornecendo assim ao docente um

“plano exequível, didaticamente exato e rigoroso, que oriente para o essencial

e que tenha na sua base indicações programáticas e análises da situação na

turma e na escola”.

Sendo este um planeamento que permite pautar o ritmo do ano letivo,

esta foi uma das primeiras tarefas elaboradas no decurso do estágio

profissional. Contudo este planeamento não foi realizado seguindo a sequência

lógica de tarefas para a sua elaboração, ou seja, tivemos um papel mais

passivo nesta elaboração pois muitas das decisões a tomar já estavam

previamente definidas pelo Grupo de Educação Física e Desporto Escolar.

Bento (2003) apresenta uma sequência e resumo de tarefas para a correta

elaboração deste planeamento:

1. Trabalhos preparatórios;

2. Determinação e concretização dos objetivos anuais;

3. Distribuição e ordenamento de horas e matérias;

4. Coordenação das tarefas de formação e educação;

5. Indicação de controlos para avaliação do nível de formação e educação

alcançado;

6. Marcação de pontos altos do ano letivo;

7. Trabalhos finais;

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Figura 4 – Mapa de distribuição de matérias

Tal como já referi anteriormente o Grupo no início do ano letivo forneceu a

todos os docentes um mapa de distribuição de matérias (Figura 4) onde nele

estavam referidas as várias matérias a lecionar e a respetiva carga horária

(Unidades letivas), bem como um Roulement de instalações desportivas. Com

este conjunto de informações coube-me a mim fazer a distribuição das

matérias a lecionar pelas várias aulas dos vários períodos atendendo sempre a

disponibilidade das instalações desportivas.

Para esta distribuição foi igualmente importante atender às condições

meteorológicas características de algumas estações do ano (e.g. como sabia

que o correto ensino da modalidade de Andebol dependia das instalações

exteriores, decidi lecionar esta modalidade no terceiro período, altura do ano

em que a probabilidade de chuva é menor) bem como à distribuição racional da

carga horária das várias matérias.

Na elaboração deste planeamento foram igualmente tidos em conta a

“marcação de pontos altos do ano letivo” (Bento, 2003, p. 70), ou seja, para

além de se considerarem os fatores acima citados para a distribuição de

matérias foram igualmente considerados as festividades (semana da escola),

competições escolares (Corta-Mato interno e distrital; Torneio de Voleibol;

Atividades Crosstraining) bem como momentos de avaliação formais

(apresentação e entrega de trabalhos; realização de testes teóricos).

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“A reunião desta semana ficou marcada pela definição de datas

importantes para o nosso Planeamento Anual (definição de datas de testes

teóricos, entrega e apresentação dos trabalhos teóricos), ou seja, com esta

definição conjunta cada elemento do núcleo já pode projetar o presente ano

letivo tendo em consideração as decisões tomadas em grupo”. Reflexão

Semanal nº5.

Tal como é demonstrado na literatura a elaboração do planeamento

anual é essencial para o sucesso docente e tal como refere Rink (1993) as

razões são óbvias, ou seja, as experiências de aprendizagem podem ser

sequenciadas e continuadas estabelecendo-se assim os programas e as

prioridades para o nível seguinte de planeamento (Unidade Temática).

Contudo, no início do ano letivo persistia a questão na minha cabeça “Porquê

planear para daqui a 6 meses se até lá tanta coisa pode acontecer?”, (…) “no

início do ano letivo honestamente não considerava a criação deste plano

essencial, na minha cabeça uma planificação a nível do período seria

suficiente, até porque não conseguíamos prever aquilo que aconteceria num

espaço temporal tão distante.” Reflexão semanal nº 5 .

Figura 5 – Planeamento Anual Turma 10º

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Após a conclusão deste plano rapidamente cheguei à resposta que tanto

que procurava. Este planeamento é a base de tudo, é a base da Unidade

Temática e a base que sustenta aquilo que fazemos aula a aula. (…) “nos dias

que correm e após perceber a importância de tal planeamento, não consigo

criar um planeamento de uma Unidade Temática, ou planeamento de aula sem

antes consultar este documento. Agora sim! Agora faz sentido! Este

planeamento é a base de trabalho de todo o ano letivo, o documento que

inicialmente considerei “irrelevante”, revela-se hoje talvez o documento mais

importante, o documento sobre o qual deriva tudo o que faço no meu dia-a-dia

na escola”. Reflexão Semanal nº5

A construção do planeamento por si só deu-me a resposta que tanto

procurava, e quanto mais tempo de ensino acumulava mais importância

atribuía à redação deste documento. Este permitiu-me pensar o ensino de uma

forma contínua seguindo toda uma lógica que buscava a obtenção dos

objetivos traçados trabalhando numa máxima de busca incessante pelo

sucesso escolar dos meus alunos.

4.1.2.2 Planeamento Unidade Temática

Considerando a unidade temática como o nível intermédio de

planeamento, podemos considerar que este se encontra num patamar “Meso”,

ou seja, é aquele que estabelece ligação entre o planeamento anual e o plano

de aula. “Constituem-se como unidades fundamentais e integrais do processo

pedagógico e apresentam aos professores e alunos etapas claras e bem

distintas de ensino e aprendizagem” (Bento, 2003, p. 75).

Vickers (1990) por sua vez refere que a unidade temática se constitui como

uma série de aulas sequenciadas para a apresentação de um programa

abrangente de conteúdos.

Após a definição da distribuição de matérias pelos três períodos do ano

letivo chegou então a fase de planeamento das unidades temáticas a aplicar. A

construção destas UT´s tiveram por base o modelo apresentado por Vickers

(1990), o Modelo de Estrutura do Conhecimento.

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Este modelo sugere que se estruture o conhecimento através de três grandes

fases “a fase de análise, a fase de tomada de decisões e por último a fase de

aplicação” (Vickers, 1990).

A primeira reporta-se à análise e estruturação do conhecimento relativo à

matéria a ensinar, à análise dos estudantes bem como do meio envolvente

(Vickers, 1990). Relativamente à fase de tomada de decisões é essencial

determinar a extensão e sequência de conteúdos, definir objetivos, configurar a

avaliação e por último desenhar as progressões de ensino. A última fase

reporta-se à aplicação prática de todos os conhecimentos (Vickers, 1990).

Como pude verificar com a análise à literatura o planeamento da UT já

se encontra num nível mais profundo de especificidade, assim deve ser

considerado que “os objetivos da unidade só podem ser alcançados

gradualmente, requerendo por isso uma planificação bem inter-relacionada de

todo o processo.” (Bento, 2003). Assim esta não se deve reportar unicamente

para a matéria, estas devem privilegiar o desenvolvimento integral do aluno,

abarcando assim as várias categorias transdisciplinares nomeadamente a

Cultura Desportiva, Habilidades Motoras, Conceitos Psicossociais e Conceitos

Fisiológicos.

Desde o início do ano letivo procurei sempre dar resposta a esta

necessidade de desenvolvimento integral dos alunos, assim todo o

planeamento das unidades temáticas aplicadas comportaram um planeamento

cuidado de todas as categorias transdisciplinares.

De todas as unidades temáticas planeadas ao longo do ano letivo destaco duas

de modalidades coletivas, primeiro pela fase de estágio em que ambas foram

construídas (Voleibol a primeira a ser planeada e Andebol a última) e segundo

pelo modelo de ensino aplicado.

Em ambas as modalidades utilizei modelo de ensino onde o foco foi a

resolução dos problemas táticos do jogo apresentados pelos alunos, colocando

assim estes no centro do processo de ensino. Na modalidade de Voleibol foi

utilizado o modelo de abordagem progressiva ao jogo enquanto no Andebol

utilizei o modelo de competência nos jogos de invasão. Tal como referi

anteriormente estes modelos têm a semelhança de se centrarem em

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problemas maioritariamente táticos, contudo a construção de ambas as UT’s foi

bastante diferente.

Uma das chaves para a correta construção de uma unidade temática reside no

conhecimento sobre o conteúdo, sobre os alunos e sobre o meio envolvente,

contudo no início do ano letivo o conhecimento que tinha sobre as reais

capacidades dos alunos não era muito, situação que me dificultou na correta

definição dos objetivos para a unidade.

“(…) havia planeado uma Unidade Temática cujo objetivo final era que a

turma conseguisse realizar corretamente situação de jogo 2x2 com tudo o que

isso implica. Contudo a evolução da turma veio a revelar-se ser melhor do que

expectável e rapidamente percebi que esta Unidade Temática tinha que ser

reajustada e claramente defini um patamar mais alto, sendo este patamar a

realização de jogo 3x3, ou seja, a etapa de jogo seguinte.

Este foi o grande erro cometido na construção desta UT, ou seja, um

erro de julgamento das reais capacidades dos alunos. Porém rapidamente

percebi que conseguiria atingir um patamar superior aquele inicialmente

delineado e redirecionei os objetivos de aprendizagem para patamares mais

ambiciosos.” Reflexão UT Voleibol

A comparação entre estas duas unidades temáticas contruídas no

decurso do estágio faz todo o sentido para demonstrar a grande evolução em

tarefas ligadas ao planeamento, mas serve igualmente para demonstrar que

um conhecimento mais profundo sobre a realidade de atuação facilita imenso

esta construção. Na UT de Andebol estes problemas revelados inicialmente

não se evidenciaram principalmente porque a tarefa de planeamento já havia

sido refinada mas muito por causa do conhecimento das capacidades dos

alunos. Este conjunto acumulado de informações permitiu-me criar um

planeamento mais sustentado e mais ajustado à realidade da turma, algo que

não aconteceu no início do ano letivo, daí a necessidade de reformulação.

Bento (2003) refere que o planeamento visa essencialmente permitir “a

estabilização, modificação ou reestruturação de relações, sendo assim, sempre

um instrumento de ação”. Como pude perceber esta dificuldade evidenciada

por mim na construção da minha primeira Unidade Temática só foi passível de

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ser ultrapassada e corrigida pelo facto de o planeamento se assumir como algo

mutável e não estanque no tempo.

O planeamento foi realmente passível de ser alterado sem que houvessem

implicações negativas nas aprendizagens dos alunos, daí este ser um

instrumento essencial para o professor “Apesar desta dificuldade o

planeamento foi alterado e serviu a sua função, ou seja, este foi passível de ser

alterado e continuou a dar suporte para sustentar aquilo que almejava”

Reflexão UT Voleibol.

O planeamento das unidades temáticas revelaram-se como um

excelente instrumento de auxílio e um excelente guião para o processo ensino

aprendizagem das respetivas modalidades. Como a construção do

planeamento anual esteve dependente de uma rotatividade de instalações

desportivas, a aplicação das várias unidades temáticas não decorreram de uma

forma consecutiva, ou seja, havia uma alternância constante de espaço e de

modalidade de aula para aula. “As unidades podem ser ensinadas em períodos

de aula sequenciais ou em dias alternados” (Rink, 1993).

Com esta alternância constante as várias UT assumiram-se como chave para o

sucesso no processo ensino aprendizagem na medida em que estas me

guiaram (permitiram orientar o processo ensino aprendizagem; permitiram a

definição de estratégias e de objetivos para os alunos) durante todo o ensino

das modalidades sendo esta a base para a construção do plano de aula

(terceiro nível de planeamento).

4.1.2.3 Plano de aula

No terceiro nível de planeamento, ou seja, a nível “Micro” encontra-se o

planeamento da aula. “Cada aula fornece um contributo totalmente específico,

apenas a ela pertencente, para a solução das tarefas de uma unidade temática,

do programa anual, e do programa de toda a escolaridade.” (Bento, 2003, p.

102).

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57

Todo o planeamento elaborado nos dois níveis anteriores servem

essencialmente de base e suporte a este momento, sendo este o ponto de

convergência entre o pensamento e a ação do docente (Bento, 2003).

O planeamento da aula deve fazer jus à unidade temática procurando assim

servir como um guião para atingir os objetivos definidos nesta e no nível mais

alargado do planeamento, ou seja, o planeamento anual. “O plano de aula é

um guia para o processo de instrução, para uma única aula, sendo este

baseado nos objetivos no planeamento das unidades anteriores” (Rink, 1993,

p. 212).

Uma boa concretização deste planeamento é sempre difícil de alcançar

e requer do docente o acúmulo de experiência e um grande conhecimento

sobre a sua realidade de atuação. “Um bom plano de aula é difícil de ser

escrito, porque quanto mais específicos estes se tornam no que reporta à

atuação do professor maior é a dificuldade de planeamento” (Rink, 1993, p.

212).

Uma das primeiras tarefas realizadas com o núcleo de estágio foi a

escolha do modelo de plano a adotar para o ano letivo, deste momento é

igualmente importante relevar as várias aprendizagens desenvolvidas no que

reporta à correta conceção deste tipo de documento.

A pouca experiência que tinha de lecionar aulas, reportava-se

essencialmente à prática pedagógica do ano anterior, contudo esta prática

como não se caracterizava por ser algo tão sistematizado como o passado ano

letivo, não havia a necessidade do plano de aula incorporar objetivos para as

quatro categorias transdisciplinares (Cultura desportiva, habilidades motoras,

conceitos psicossociais e conceitos fisiológicos).

A experiência de programar a aula para todas estas categorias não era muita,

assim esta assumiu-se como uma das primeiras grandes necessidades de

adaptação. Se o meu objetivo inicial buscava o desenvolvimento integral dos

alunos, este planeamento não se podia centrar única e exclusivamente nas

habilidades motoras, caso contrário estaria a ir contra aquilo que pretendia

alcançar.

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Rink (1993) e Bento (2003) apontam que a planificação de uma aula de

Educação Física se deve dividir em três grandes momentos: a parte inicial, a

parte principal e a parte final. Rink (1993) releva a importância destas três

fases pois acredita que estas permitem dar uma estrutura e significado às

experiências de aprendizagem.

Segundo estes dois autores a parte inicial da aula assume-se como

importante para a preparação fisiológica e psicológicas dos estudantes para a

função principal da aula. No que reporta a parte principal da aula segundo

Bento (2003, p. 158) “é nesta parte que o professor tem a tarefa de realizar os

objetivos e de transmitir os conteúdos propriamente ditos da nossa disciplina.”

Relativamente à parte que fecha a aula este é o momento que deve ser

utilizado para criar condições favoráveis ao alunos para as aulas que se

sucedem (retorno à calma), Rink (1993) destaca ainda a importância deste

momento para verificar o que foi aprendido preparando desde já as

aprendizagens da próxima aula.

Este modelo de aula apresentado por estes dois autores foi aquele que

foi por mim adotado e aquele que melhor me ajudou a concretizar os meus

objetivos.

“A fase inicial da aula tem sido marcada pelo tratamento dos registos de

assiduidade bem como a explicação daquilo que se vai suceder, ou seja, tenho

realizado uma breve preleção onde sumario os vários momentos da aula. A

meu ver é essencial que os alunos comecem desde inicio a prepararem-se

para aquilo que vai ser exigido deles, procurando desde o início da aula

predispor os alunos não só a nível físico, mas também a nível cognitivo para as

tarefas que se vão seguir.” Reflexão nº10

“No final desta tarefa procedemos ao habitual retorno à calma, aproveitando

esse momento da aula para tecer algumas considerações sobre todo o trabalho

realizado, sobre o comportamento e empenhamento geral da turma, este

espaço foi também utilizado para o esclarecimento de dúvidas sobre os

conteúdos da aula.” Reflexão nº12

Uma das maiores dificuldades com que me debati na fase inicial do

processo de estágio esteve diretamente ligada com a individualidade do

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planeamento e do ensino. Nos primórdios do ano letivo senti imensas

dificuldades em planear as aulas de acordo com as individualidades da turma e

as suas respetivas necessidades, ou seja, levou algum tempo para que

começasse a considerar a turma como um grupo com características e

necessidades distintas. “A cada dia que passa maior é o conhecimento que nós

professores temos sobre os alunos e assim cada vez menos vemos a turma

como um grupo impessoal, mas sim como um grupo com características

próprias que as distingue das demais.” Reflexão semanal nº8

Após a superação desta dificuldade inicial comecei a perceber que este era o

melhor caminho a seguir para conseguir ensinar aquilo que pretendia aos meus

alunos, atendendo assim às suas capacidades e necessidades. “O ensino

individualizado envolve o desenho de planeamentos individuais que

considerem as capacidades e necessidades dos estudantes” (Vickers, 1990, p.

167).

Com todas estas superações e aprendizagens ao longo do ano letivo fui

percebendo que uma boa capacidade de planeamento está intimamente ligada

com o sucesso docente, e o planeamento da aula não é exceção. Quanto mais

sustentada for esta planificação maiores são as probabilidades de se cumprir

os objetivos para ela determinados não deixando por explorar muitas das

potencialidades educativas e formativas da disciplina (Bento, 2003).

Em suma, o planeamento assume-se como um dos principais aliados e

uma das principais ferramentas para o sucesso docente. O correto

planeamento e encadeamento dos vários níveis permitirão ao professor um

ensino continuado e sistemático, aumentando assim a probabilidade de

sucesso no processo ensino aprendizagem e na obtenção das metas a

alcançar com os seus alunos.

4.1.3 Modelos de ensino

Um dos principais dilemas com que os professores se debatem estão

intimamente ligados à forma que estes utilizam para conseguir ensinar os seus

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alunos. Este dilema existe porque os seus discentes têm características

distintas, experiências distintas e rimos de aprendizagem igualmente

diferenciados. “As estratégias de ensino devem ser adequadas a um ambiente

de ensino para um grupo. A questão que se coloca é que os grupos não

aprendem como indivíduos singulares” (Rink, 1993, pp. 166-167).

Segundo Rink (1993) isto significa que o ensino a um grupo deve ser adequado

de modo a facilitar a aprendizagem aos indivíduos que dele fazem parte.

Mesquita & Graça (2011) referem que não existe um modelo de

instrução que se adeque a todos os ambientes de aprendizagem, assim faz

todo o sentido que se considere os alunos, o conteúdo e o meio envolvente

como as bases para esta tomada de decisão. Assim deve haver “um

compromisso entre extensão do conteúdo-alvo, experiências do aluno,

motivação e auto-pecepção da competência constitui uma questão que o

professor deve colocar antes de delinear o processo de instrução” (Mesquita &

Graça, 2011).

Considerando todos estes fatores, no planeamento do ensino dos vários

conteúdos ao longo do ano letivo, a minha atuação procurou ser sempre

congruente com o meio de aplicação, ou seja, a tomada de decisão em relação

ao modelo de ensino foi sempre sustentada pelo conhecimento dos alunos em

relação ao conteúdo, pelo meu conhecimento e disponibilidade face à matéria a

ensinar e pelo espaço e material disponível para o ensino.

No decurso do estágio fiz a utilização de três grandes modelos, o

Modelo de Instrução Direta, o Modelo de abordagem progressiva ao jogo e o

Modelo de competência nos jogos de invasão. Estas escolhas recaíram sobre

estes modelos pois considerei que estes seriam aqueles que permitiriam aos

alunos ter condições mais favoráveis para as suas aprendizagens. “Entre

modelos mais centrados na direção do agente de ensino e modelos que

concedem mais espaço à descoberta e à iniciativa dos praticantes, há que

encontrar um justo equilíbrio entre as necessidades de direção e apoio e as

necessidades de exercitação da autonomia” (Mesquita & Graça, 2011, p. 39).

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61

4.1.3.1 Modelo de Instrução Direta (MID)

A turma ao qual lecionei durante o decurso do estágio profissional era

uma turma com poucas experiências motoras e com algumas dificuldades

sendo isso mais evidenciado em modalidades individuais (Ginástica e

Badminton).

“A presente turma revela muitas dificuldades na modalidade tendo inclusive

muito poucas vivências na ginástica, ou seja, encontram-se ainda num nível

muito introdutório” Justificação UT Ginástica.

“(…) os alunos da presente turma revelam um enorme desconhecimento sobre

a modalidade, quer a nível de regulamentação e gestos técnicos (…)”

Justificação UT Badminton.

Assim o ensino destas modalidades teve por base um modelo de instrução

direta, um modelo onde o professor se assume como o foco da condução do

processo ensino aprendizagem. “Na educação física, a instrução direta implica

que o professor tenha total controlo sobre o que é que os alunos vão aprender

e como vão aprender” (Rink, 1993, p. 165).

Esta decisão foi tomada pois tal como fica explicito nas justificações das UT

acima citadas, os alunos evidenciavam muitas dificuldades nestas

modalidades, assim a grande preocupação centrou-se em que os alunos

começassem a dominar os conteúdos mais básicos sendo eu o condutor desse

processo. “Os professores escolhem uma instrução mais direta quando é

importante para os alunos dominarem os conteúdos mais básicos” (Rink, 1993,

p. 166).

Como o ensino destas duas modalidades foram mais centradas no

professor, eu próprio fiquei responsável pelos conteúdos a ensinar, pela

revisão da matéria aprendida, pela monitorização elevada da atividade motora

dos alunos e avaliação e correção sistemática dos alunos em referência aos

objetivos traçados. Dado o contexto a utilização deste modelo de instrução

veio-se a revelar como uma escolha acertada, os alunos tinham uma grande

aliteracia no que toca a estas duas modalidades por isso a condução do

processo ensino-aprendizagem teve que ser realizada por mim de modo a

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62

garantir que as experiências superficiais vivenciadas pelos alunos (Reflexão

nº12) passassem a ser aprendizagens mais sustentadas.

Como ficou evidenciado no final da aplicação das UT e respetivo modelo

de ensino as aprendizagens dos alunos foram muito significativas.

“No final da UT os alunos já foram capazes de produzir situações de jogo

altamente técnicas e orientadas para a conquista do ponto (noção de

oposição). Praticamente todos os alunos conseguiram obter um domínio

técnico sobre todos os batimentos demonstrando inclusive uma boa leitura de

jogo e aplicação do batimento mais adequado às características do volante e

ao posicionamento do adversário no terreno de jogo.” Reflexão UT Badminton

(…) “ficou demonstrado que com trabalho e treino se podem superar

dificuldades que à partida já damos como adquiridas. Foi notório o brio que os

alunos tiveram nas suas sequências, ficando igualmente evidenciado que todos

os alunos atenderam aos aspetos sobre os quais me debati durante todo o

período, destacando-se assim as grandes aprendizagens e grandes evoluções

do período.” Reflexão nº44

4.1.3.2 Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo

(MAPJ)

Este modelo de instrução foi utilizado por mim para o ensino da

modalidade de Voleibol, este tem como principal característica o facto de o

ensino da técnica ser subordinado ao ensino da tática. Tal como ficou

evidenciado na avaliação diagnóstica desta modalidade, os alunos

apresentavam grandes dificuldades na organização de jogo e apesar de haver

uma certa intencionalidade na conquista do ponto este acontecia mais pelo

demérito defensivo. “Denotou-se claramente que os alunos têm um domínio

rudimentar das habilidades técnicas e apesar de terem intencionalidade em

pontuar (noção de oposição), o jogo caracteriza-se por ser bastante

desorganizado.” Justificação UT Voleibol

A escolha recaiu sobre este modelo pela sua “valência pedagógica ser

concretizada pela criação de oportunidades de práticas equitativas para todos

os praticantes, no sentido de minimizar a exclusão dos menos dotados”

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(Mesquita & Graça, 2015). Como ficou claro para mim desde as primeiras aulas

a turma evidenciava níveis muitos heterogéneos, por isso a escolha do modelo

recaiu muito sobre esta necessidade de corresponder às características do

grupo. Para além disso este modelo apresenta-se dividido em quatro grandes

etapas de ensino que me permitiram contextualizar de uma forma mais real os

problemas e necessidades evidenciados pela turma, permitindo assim definir

um nível a alcançar com as aprendizagens proporcionadas. “As formas

modificadas de jogo (1x1;2x2;3x3;4x4) até ao 6x6 são abordadas no decurso

de 4 etapas de aprendizagem. A estrutura formal e funcional do jogo suporta as

opções didáticas na determinação da sequência de abordagem das formas

modificadas (…)” (Mesquita & Graça, 2015, pp. 40-41). “(…) ficou claro que os

alunos apresentam características subjacentes à 2ª etapa, adotando-se para

isso nesta UT uma estrutura de jogo 2x2 para resolver estes problemas

identificados” Justificação UT Voleibol

O modelo de abordagem progressiva ao jogo fundamenta-se em três

grandes modelos (modelo de educação desportiva; modelo de ensino do jogo

para a compreensão e o modelo desenvolvimental das tarefas e do jogo). Este

modelo serviu também a necessidade de ensinar a modalidade de voleibol

tendo o jogo no centro do processo, tal como eu acredito sempre que possível

as aprendizagens de uma modalidade devem ser realizadas o mais próximo do

contexto de aplicação possível “a sua contextualização no jogo é implementada

desde os primeiros momentos de vivência da modalidade” (Mesquita & Graça,

2015, p. 41).

O que mais define se a escolha do modelo de instrução foi a mais

acertada são os resultados que conseguimos obter com o mesmo, ou seja, as

aprendizagens que proporcionamos. Na aplicação do MAPJ denotei um grande

desenvolvimento da cultura desportiva referente à modalidade de Voleibol. As

aprendizagens integradas e aliadas ao contexto de jogo permitiram fazer uma

visita constante áquilo que acontece no jogo formal situação que se veio a

mostrar altamente benéfica para o desenvolvimento da literacia desportiva.

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64

“(…) sendo esta a última aula de voleibol, esta foi excelente do ponto de vista

organizacional denotando-se que os alunos absorveram muito do que transmiti

ao longo da Unidade Temática” Reflexão nº31.

4.1.3.3 Modelo de competência nos jogos de invasão

O modelo de competência nos jogos de invasão caracteriza-se por ser

um modelo hibrido que conjuga o modelo de educação desportiva (MED) com o

modelo de ensino de jogos para a compreensão (TGFU) (Mesquita & Graça,

2015). A escolha recaiu sobre este modelo para o ensino da modalidade de

andebol por este conseguir mais uma vez colocar o jogo no centro do processo

de ensino, mais uma vez reforço a minha crença de que esta deve ser a base

do ensino sempre que o contexto assim o permita.

A segunda grande razão é que este modelo partilha características com o

Modelo de educação desportiva, tendo por base as épocas desportivas,

competições formais e a filiação. Como fui verificando ao longo do ano letivo a

minha turma de 10º respondia com elevados índices de motivação e

empenhamento a situações de competição, daí a escolha recair sobre um

modelo que coloca a competição formal como um dos pontos de chave para as

aprendizagens.

“Tal como vim a verificar esta vertente competitiva do treino funcional fez com

que os alunos estivessem altamente empenhados para bater a pontuação dos

seus colegas. Após verificar este efeito positivo na turma, com a maior das

certezas que esta será mais uma excelente estratégia a repetir na aula de

Educação Física, com isto mais uma vez se pode verificar que esta turma se

regula muito por momentos competitivos” Reflexão nº57

Este modelo comporta ainda a necessidade de os alunos serem mais

autónomos para a realização de algumas tarefas, assim a escolha deste para a

modalidade de andebol aconteceu numa fase específica do ano letivo, ou seja,

no terceiro período, fase em que já havia um elevado conhecimento sobre os

alunos o que facilitou toda a organização e a atribuição de maiores

responsabilidades e tarefas de acordo com os vários níveis.

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“Do ponto de vista do Professor, tenho sentido relativo à vontade na aplicação

do modelo, mas acredito que esta foi a melhor altura do ano letivo para fazer a

aplicação do mesmo. Sinto que o treino dentro das equipas têm que ser mais

individualizado, ou seja, cada equipa revela dificuldades diferentes, muitas das

vezes as equipas têm número de alunos diferentes devido a ausência de

elementos e isto faz com que eu tenha constantemente que ter na manga

alguma adaptação que traga para a aula sucesso.” Reflexão nº55

Como este modelo recebe uma elevada influência do TGFU este tem na

sua base a importância decisiva de se escolher uma forma modificada de jogo

que vá ao encontro das reais capacidades dos alunos. Este modelo destaca os

problemas reais em ambientes de jogo, sendo que as habilidades técnicas são

introduzidas pela importância que assumem na fase de jogo sendo sempre

subordinadas à “compreensão do seu uso tático no jogo e à tomada de

decisão” (Mesquita & Graça, 2015, p. 35).

Tal como já havia referido este modelo retira do Modelo de Educação

Desportiva a “vinculação cultural das formas básicas de jogo e o conceito

essencial do jogo de referência, valoriza a criação de um contexto desportivo

autêntico, o treino, a competição, o fair play, o caracter festivo, a equidade e

inclusão” (Mesquita & Graça, 2015, p. 35).

Este modelo de instrução caracteriza-se por o professor desempenhar

um papel fundamental no diagnóstico das dificuldades dos alunos, no garantir o

foco dos alunos nos objetivos de aprendizagem e de apoio ativo aos esforços

de aprendizagem (Mesquita & Graça, 2015).

O modelo de competência nos jogos de invasão releva três ideias chave que

derivam do “aprender a jogar jogando”

1. Aprender a jogar no contexto de uma forma de jogo mais simples que o

jogo formal;

2. Aprender jogando, mas beneficiando de uma instrução ativa do

professor e não somente da exploração livre do jogo;

3. Apenas jogando não basta, porque o jogo não dispensa a exercitação,

pelo que também se aprender a jogar exercitando as estruturas parciais

e os elementos do jogo.

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Esta UT deve ser por mim destacada porque este modelo teve um

excelente efeito nas aprendizagens dos alunos, nomeadamente aprendizagens

motoras, sociais e aprendizagens mais ligadas à cultura desportiva da

modalidade de andebol. Os alunos começaram a mostrar maiores índices de

empenhamento e responsabilidade, quer no cumprimento das tarefas

atribuídas quer na filiação (presença de equipamentos, capitães, condições que

promoveram o desenvolvimento do sentimento de pertença a um grupo) (…)

destaco igualmente desta aula o brio que os alunos começam a ter nos

equipamentos das respetivas equipas, hoje todas as equipas vieram vestidas a

rigor, já todas têm definido o seu nome e o respetivo capitão. Tenho denotado

que os alunos se encontram mais empenhados nas situações de aprendizagem

pois eles percebem que têm necessidade de evoluir para serem melhores nos

momentos competitivos e posteriormente saírem vencedores da presente

época desportiva.” Reflexão nº52

Para além da presença da época desportiva, da filiação, das

competições formais, festividade, e evento culminante, procurei também incluir

nas aulas de andebol outros papéis ligados à modalidade. Por exemplo

enquanto duas equipas estavam em competição a outra era responsável pela

arbitragem e pela observação e registos estatísticos. A tarefa de observação e

registo colocou os alunos a verem e a entenderem o jogo de uma outra

perspetiva, ou seja, estes procuravam identificar comportamentos desejados e

não desejados e com essa análise acabavam por retirar ilações importantes

para a sua própria participação no jogo. “Com uma ficha elaborada por mim, foi

solicitado aos alunos que procurassem identificar comportamentos favoráveis e

não favoráveis à obtenção do objetivo do jogo (nº de vezes que realiza passe e

desmarcação; realiza marcação individual; nº remates baliza). Com esta tarefa

denotei que os alunos começaram a ter outra capacidade de observar o jogo e

a identificar comportamentos desejados e não desejados, esta situação

permitiu aos alunos encararem o jogo com outros olhos, ou seja, olhos de

quem claramente sabe que comportamentos é que deve ter para obter sucesso

em situação de jogo.” Reflexão nº 55.

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No que reporta às aprendizagens dos alunos, tal como já referi

anteriormente considero que a utilização deste modelo de instrução foi um

sucesso, principalmente ao nível das aprendizagens sociais. Sendo esta uma

turma que se caracterizava pela presença de alunos com NEE, o meu sucesso

enquanto professor dependia muito da integração destes alunos porém creio

que este modelo foi uma mais-valia para essa integração. “Mais uma vez ficou

demonstrado a grande integração do DP na sua equipa, os Blacks contaram

com a sua presença no seio do grupo e mais uma vez todos se aliaram como

um só na busca pela vitória.” Reflexão nº 53.

A utilização do modelo de competência nos jogos de invasão permitiu-

me aproveitar todas as potencialidades dos dois modelos (MED; TGFU) que

nele se conjugam para conseguir maximizar as aprendizagens com os meus

alunos. Tal como referido anteriormente por Rink (1993) as estratégias e

modelos de ensino devem ser adequadas ao contexto de aplicação, por isso, a

escolha deste modelo foi acertada pelo facto de conseguir dar solução a

múltiplas necessidades presentes nesta turma. Tal como já era por mim

conhecido esta turma carecia de uma intervenção forte no que reporta ao

capítulo de integração dos alunos com NEE, carecia de uma abordagem da

modalidade mais ligada ao jogo pois os alunos evidenciavam aliteracia

desportiva no que reporta ao Andebol. Este grupo carecia igualmente de um

ensino cuja competição assumisse um papel importante pois tal como os

alunos me foram evidenciado a competição era um excelente combustível para

as suas aprendizagens.

Atendendo a todas estas necessidades posso afirmar que este modelo de

instrução assentou na turma que nem uma luva, ficando isso evidenciado pelo

sucesso obtido na modalidade.

Em suma, a escolha do modelo de ensino a utilizar é um dos aspetos

mais importantes para a obtenção do sucesso nos objetivos traçados. Contudo,

a escolha deste deve ir ao encontro das necessidades de aprendizagem dos

alunos, ou seja, o ponto de partida deve ser sempre aquilo que os alunos mais

necessitam, sendo posteriormente importante a seleção do modelo que melhor

serve o propósito em questão. Siedentop & Tannehill (2000, p. 281) “O ensino

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torna-se mais eficaz quando os professores adaptam os modelos de instrução

ao contexto onde estes serão aplicados”.

4.1.4 Gestão da aula

4.1.4.1 Gestão tempo de aula

São imensas as quantidades de vezes que assistimos a discursos que

recaem constantemente sobre a falta de tempo para o ensino de conteúdos na

aula de Educação Física. Assim, este tema assume especial pertinência pois

uma das maiores lutas que tive no presente ano letivo foi efetivamente

rentabilizar o tempo de aula de modo a proporcionar mais aprendizagens aos

meus alunos. “Os alunos que passam mais tempo em prática num nível

apropriado nas aulas de Educação Física aprendem mais comparativamente

aos seus pares que não o fazem. Isto é definido como ao Academic Learning

Time (ALT)” (Rink, 1993, p. 41).

Contudo e tal como refere Rink (1993) investigações têm sugerido que

os professores tendem a desperdiçar tempo de aula em tarefas de organização

e gestão, ou seja, a maior parte do tempo os alunos não estão envolvidos em

qualquer atividade referente aos objetivos da aula.

Numa fase precoce do ano letivo esta foi uma das minhas maiores

preocupações, ou seja, desde cedo procurei adotar estratégias que me

permitissem ser mais efetivo no tempo que tinha disponível. Sendo a

organização da aula uma das principais razões para estes gastos de tempo,

uma das estratégias por mim utilizadas foi a utilização do quadro. Assim, a

utilização deste instrumento facilitava toda a aula pois aqui era descrita toda a

organização da mesma permitindo assim a consulta dos alunos sempre que

estes os achassem necessário. “Para facilitar as tarefas aos alunos e não me

preocupar em despender tempo na organização dos alunos, escrevi no quadro

o sistema de rotações com as várias transições que os alunos tinham que

cumprir” Reflexão nº19. Com isto despendia menos tempo em organizar a

turma pois tal como refere Sarmento (2004) “Sempre que se diminui o tempo

em que se fala com os praticantes, o tempo gasto a dispor e a transportar

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materiais ou tempo despendido a mudar de atividades, aumenta-se o tempo de

prática efetiva.”

Para combater esta necessidade de aumentar o tempo de prática

comecei igualmente a promover uma maior envolvência dos alunos nas tarefas

de gestão e organização da aula. “atribuí a responsabilidade de montagem das

estações e dos equipamentos aos vários grupos de trabalho, com isto consegui

poupar tempo de aula nestas tarefas organizativas, e consegui que os alunos

tivessem participação ativa na construção da aula, libertando-me a mim para

outras funções” Reflexão nº20. Tal como refere Sarmento (2004) uma das

melhores formas de gestão da aula é utilizar os alunos como agentes de ensino

delegando-lhe assim algumas tarefas, permitindo assim que haja uma maior

liberdade para o docente.

Depois da aplicação das estratégias acima citadas tive necessidade de

fazer delas rotinas, rotinas essas que tornaram as aulas mais eficientes e que

realmente me permitiram otimizar o tempo de aula. “as rotinas permitem aos

praticantes conhecer os procedimentos a adotar na diversidade de situações

de ensino, aumentando o dinamismo da sessão e reduzindo significativamente

os episódios e os tempos de gestão” (Rosado & Ferreira, 2011, p. 189).

“(…) já se vão inteirando do processo, começando a perceber as rotinas que

lhes são exigidas e que permitem o bom funcionamento da aula” Reflexão nº9

“A estrutura da aula tem sido mantida, o que ajuda bastante na organização da

turma, pois os alunos automaticamente já vão identificando os vários

momentos da aula e quais as necessidades de cada um” Reflexão nº11

“A turma tem cada vez mais vindo a revelar-se responsável e autónoma ao

ponto de serem eles próprios a construírem a aula de acordo com as rotinas

previamente estabelecidas” Reflexão nº23.

Como refere Siedentop & Tannehill (2000) a eficácia na gestão da aula de

educação física não acontece por acaso. “O tempo despendido com o

estabelecimento de regras e rotinas é um tempo bem investido” (Siedentop &

Tannehill, 2000, p. 61)

Em suma, numa fase que claramente a disciplina de Educação Física

carece de maior tempo de letivo faz todo o sentido que haja uma otimização

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dos recursos temporais de modo a promover um maior desenvolvimento do

aluno quando dentro do espaço de aula. Desde cedo esta foi uma das minha

maiores preocupações pois sempre tive a crença que a melhoria deste aspeto

acarretaria uma melhoria do eu professor e acarretaria a melhoria da aula e

consequentemente das aprendizagens proporcionadas aos alunos. “O tempo

de atividade tem sido uma das maiores preocupações para os professores pois

há uma relação direta entre a prática e aprendizagem” (Rink, 1993).

4.1.4.2 Melhoria da instrução

Um outro problema que afetava diretamente o anterior estava ligado com

o ato de transmissão de informação aos alunos, ou seja, o processo de

instrução. Numa fase inicial senti alguma dificuldade em que os meus alunos

me entendessem, tal como referi a turma sofria de uma grande aliteracia

desportiva facto que inevitavelmente teve repercussões durante as aulas.

Como Professor sempre senti necessidade de recorrer a um discurso e a uma

terminologia adequada à disciplina que leciono contudo, com o tempo fui

percebendo que nem sempre conseguia atingir o objetivo que almejava.

Rink (1993) refere que a informação de um professor é clara quando o aluno

responde a uma tarefa com a exata e mesma intenção do professor, ou seja,

esta é uma resposta do aluno que demonstra claramente a compreensão da

informação.

Um correto ato de transmissão de informação aos alunos assume uma elevada

preponderância na aula pelo que este determinará grande parte do sucesso

dos alunos na tarefa e permitirá ao professor fazer igualmente um uso eficiente

do tempo. Tal como refere Rink (1993) muitas vezes o foco de atenção do

aluno não é mantido porque os professores usam 5 minutos para fazer o que

poderia ser feito em 1 minuto, ou seja, há um exagero no discurso verbal em

vez de se optar por uma abordagem mais prática.

Com esta falta de eficiência houve necessidade de recorrer a outras

ferramentas para melhorar o processo de instrução e de transmissão de

informação. Assim com a ajuda da Professora Cooperante (PC) e com o

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recurso à bibliografia procurei desde logo solucionar um problema que poderia

afetar as aprendizagens dos alunos.

Uma das primeiras estratégias utilizadas foi fazer uso da demonstração

“Nesta tarefa foram os alunos responsáveis pelas demonstrações (…)

permitindo assim que eu ficasse liberto para transmitir verbalmente algumas

informações que seriam também elas fundamentais para o sucesso” Reflexão

nº22.

Esta estratégia começou desde logo a ter efeitos bastante positivos, ou seja, o

facto de utilizar uma demonstração permitiu complementar a informação verbal

com uma informação visual, providenciando assim ao aluno duas fontes de

informação “(…) todos os alunos compreenderam as dinâmicas do circuito,

situação que permitiu que houvesse grandes índices de empenhamento na

tarefa, havendo assim pouco tempo de transição, aumentando assim o tempo

dedicado a tarefas práticas” Reflexão nº 22. Tal como refere Rink (1993, p. 86)

outra das vantagens da demostração reside no facto de o professor conseguir

focar a atenção dos alunos nos aspetos mais críticos da performance,

permitindo assim aumentar a qualidade da informação transmitida.

Rosado & Mesquita (2011, p. 96) referem que o “uso de diferentes

estratégias instrucionais, nomeadamente na apresentação das tarefas motoras,

em conformidade com a natureza específica das habilidades de aprendizagem

e o nível de desempenho dos praticantes revela-se particularmente eficaz.”

A segunda estratégia utilizada para averiguar a qualidade da mensagem foi

fazer uso do questionamento para compreender o grau de compreensão dos

alunos relativamente aos aspetos mais críticos do conteúdo “(…) procurei

através do questionamento saber o grau de conhecimento e de compreensão

dos alunos relativamente a estes conteúdos” Reflexão nº29. “No processo

ensino aprendizagem, a otimização dos momentos de instrução passa pela

utilização regular do questionamento” (Rosado & Mesquita, 2011).

É essencial para o professor averiguar se os seus alunos realmente

entenderam a informação transmitida, sendo o questionamento a melhor forma

para essa confirmação.

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A última estratégia utilizada por mim para a melhoria do processo de

instrução passou pela utilização de outros meios complementares à informação

verbal, nomeadamente a utilização de esquemas no quadro e imagens

ilustrativas do pretendido. Esta estratégia permitiu otimizar o momento de

instrução e por consequência melhorar a gestão do tempo de aula oferecendo

ao aluno uma imagem clara daquilo que era pretendido. “Para facilitar a

compreensão dos alunos relativamente aos movimentos a executar foram

utilizadas imagens que ilustravam as componentes críticas a ter em conta, esta

estratégia permitiu ter uma instrução verbal mais breve mas mais completa”

Reflexão nº 57

Figura 6 – Imagem ilustrativa do movimento “Remada no TRX”

Partir do princípio que a nossa instrução foi clara e que não suscitamos

dúvidas com o nosso discurso é um erro que não pode ser cometido. “Muitos

professores presumem que os seus estudantes entendem o conteúdo

transmitido depois se este ser explicado apenas uma vez” (Rink, 1993, p. 84).

Contudo, tal como eu verifiquei e tal como ficou explicito com os relatos da

minha ação prática uma melhoria do processo de instrução claramente

acarretou uma melhoria das aprendizagens dos alunos e da melhoria da gestão

do tempo de aula.

Em suma, o ato de instrução tem uma ligação muito forte com a correta

gestão do tempo de aula. Uma comunicação efetiva permitirá rentabilizar o

tempo de aula, pois o tempo despendido nesta tarefa será menor e o grau de

compreensão por parte dos alunos pelo contrário será maior. Como refere

Siedentop & Tannehill (2000) uma comunicação eficaz irá garantir que os

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alunos compreendam as informações transmitidas de modo a iniciar as tarefas

conforme o que foi descrito, iniciando assim a atividade motora que visamos.

4.1.5 Avaliação

“Avaliar é o processo de recolha de informações para fazer um

julgamento sobre os processos e produtos resultantes da instrução” (Rink,

1993, p. 227).

Cada vez é maior a discussão em torno da avaliação em Educação Física

sobre as proporções que esta assume para o aluno, contudo Rink (1993) é

clara no que toca à legitimação desta no seio da nossa disciplina. Segundo

esta autora são vários os propósitos:

• Fornecer aos alunos informações importantes sobre o seu progresso;

• Fornecer ao professor um julgamento sobre a efetividade do ato

educativo;

• Fornecer ao professor informações sobre o progresso dos alunos

relativamente aos objetivos definidos, permitindo que a instrução seja

ajustada;

• Avaliar o currículo ou o programa;

• Posicionar os alunos num grupo instrucional apropriado;

• Fornecer ao docente informações objetivas sobre o progresso dos

alunos em relação às classificações propostas.

É notório e claro para qualquer professor que o ensino está direcionado para a

realização de objetivos e para alcançar resultados (Bento, 2003), assim a

avaliação assume-se como uma ferramenta essencial para o sucesso do ato

educativo, pois esta permite aferir o grau de obtenção das etapas delineadas

pelo planeamento.

A avaliação revela-se assim importante pelas informações que fornecem quer

ao professor quer ao aluno e que sustentam todas as tomadas de decisão.

Como se verifica as vantagens da avaliação são inúmeras e por isso o

processo de avaliação assumiu igualmente um papel muito preponderante

durante o decorrer do estágio. A avaliação foi para mim uma importante aliada

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pois esta serviu como guia para o cumprimento das várias etapas planeadas,

permitindo assim que todo o trabalho fosse “focado e responsável” (Rink, 1993,

p. 227).

Apesar das normais dificuldades iniciais, com a experiência e com a ajuda da

PC esta necessidade de avaliar em momentos formais foi se tornando cada vez

mais fácil. Contudo, na minha opinião estes momentos de avaliação formais

tornaram-se mais facilitados pelo desenvolvimento da capacidade de

observação, pela experiência, mas principalmente pelo desenvolvimento da

capacidade de avaliar aula a aula, ou seja, avaliar de uma forma contínua ao

longo do processo.

O processo de avaliação aula a aula é essencial para sustentar todo o

processo ensino-aprendizagem, até pelo que refere Bento (2003, pp. 189-190)

“é errado renunciar completamente a atividades de reflexão (pós-aula), dado

que os resultados desta desaguam na preparação da futura aula”. A avaliação

contínua é uma das bases para o reajustamento na planificação de aulas

futuras sendo esta guiada pelos objetivos e pelo processo com os resultados

alcançados, ou seja, procura-se verificar se os objetivos definidos para os

alunos foram realmente alcançados (Bento, 2003).

Como meio de recolha de informação e de averiguação este processo de

reflexão pós-aula assumiu-se como chave para a condução do PEA dos alunos

ao longo das várias unidades temáticas. “(…) os alunos SM e TS revelaram

elevados níveis de empenho e de sucesso atendendo às dificuldades que

demonstram na ginástica” Reflexão nº20

“Findadas estas duas tarefas onde claramente a equipa dos Cinzentos revelou

maiores índices de empenhamento e de sucesso” Reflexão nº54

Todo este processo de avaliação contínua permitiu uma coleta de

informações sobre os alunos que serviram como base de sustentação para os

momentos formais de avaliação, facilitando assim esta realização.

Ao longo do ano letivo recorri a diferentes tipos de avaliação, a avaliação

diagnóstica, formativa e sumativa para sustentar todo o trabalho de

planeamento dentro das várias modalidades lecionadas. Todas estas serviram

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o seu propósito e foram claramente minhas aliadas na busca dos objetivos

traçados para os alunos.

Assim importa relevar as características de cada uma delas e de que

forma é que estas me ajudaram a alcançar aquilo que pretendia.

A avaliação formativa caracteriza-se por ser aquela que fornece mais

informações ao professor sobre a obtenção dos objetivos delineados, servindo

igualmente como uma excelente forma de motivação para os alunos na medida

em que permite ao aluno entender as suas capacidades e fragilidades na

obtenção dos objetivos pessoais de aprendizagem (Rink, 1993).

Este tipo de avaliação permitiu-me recolher informações importantes sobre a

efetividade dos meus atos educativos. Como se caracterizou por acontecer no

meio das UT permitiram-me sempre ajustar os objetivos definidos perante

aquilo que os alunos já haviam ou não alcançado. “Esta avaliação permitiu-me

retirar mais informações sobre a capacidade de jogo dos alunos, sendo que

permitiu igualmente perceber quais destes estão mais aptos para integrarem

uma situação de jogo 3x3 já no início do próximo período letivo.” Reflexão nº25

Relativamente à avaliação sumativa na disciplina de Educação Física

geralmente esta ocorre no final de uma unidade temática ou no final do ano

letivo (Rink, 1993). Esta avaliação assume-se como importante pois permite

recolher informações sobre o que é que o aluno aprendeu em relação aos

objetivos estabelecidos pelo professor ou em relação aos outros alunos da

turma (Rink, 1993). A avaliação sumativa pode então acontecer estabelecendo-

se o comparativo das aprendizagens de uns estudantes para outros, tornando-

se assim numa avaliação referenciada à norma, ou então uma avaliação

referenciada ao critério quando este comparativo é realizado com os objetivos

de aprendizagem estabelecidos pelo docente (Rink, 1993).

Este tipo de avaliação assume-se como importante no PEA pois serve

de base à classificação tendo também um papel chave na avaliação do próprio

processo instrução.

No decurso do estágio profissional obviamente recorri a momentos

formais e informais de avaliação para recolher informações pertinentes sobre

todos os domínios que sustentam a disciplina de Educação Física,

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nomeadamente o domínio motor, cognitivo e social. Como não poderia deixar

de ser, um planeamento que define objetivos para as várias categorias

transdisciplinares tem que avaliar o grau de sucesso de obtenção desses

mesmos objetivos nas categorias anteriormente destacadas. Assim, durante o

ano letivo foram realizados vários momentos de avaliação formais e informais

que permitiram recolher informações sobre as aprendizagens dos alunos nos

vários domínios “várias informações sobre os produtos e processos da

instrução podem ser recolhidos através de meios formais e informais” (Rink,

1993, p. 228).

“Sendo esta uma aula maioritariamente direcionada para um momento de

avaliação formal, recorri a situações de aprendizagem (sequências de

batimentos e situação de jogo 1x1) familiares que colocassem claramente em

evidência os potenciais e as dificuldades dos alunos nos vários conteúdos que

estava a avaliar.” Reflexão nº46

“No início do presente período foi proposto aos alunos que realizassem um

trabalho de pesquisa teórica sobre a temática “Importância da aptidão física no

sucesso escolar”, então hoje foi o dia escolhido para que estes apresentassem

aos colegas e aos Professores as informações recolhidas desde então.”

Reflexão nº39.

Ao longo do ano letivo também fui utilizando os alunos como auxiliares para

este processo de avaliação, ou seja, recorrendo a fichas de observação foi

solicitado aos alunos que observassem e avaliassem os comportamentos dos

colegas. Estes momentos aconteciam quando todos os alunos não podiam

estar em tarefa ou quando os alunos estavam dispensados das situações de

aprendizagem práticas. Tal como refere Rink (1993) as folhas de classificação

são uma forma excelente forma de recolha de informação preciosa para a

avaliação. “Com uma ficha elaborada por mim, foi solicitado aos alunos que

procurassem identificar comportamentos favoráveis e não favoráveis à

obtenção do objetivo do jogo (nº de vezes que realiza passe e desmarcação;

realiza marcação individual; nº remates baliza) ” Reflexão nº55

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Figura 7 – Ficha de Observação Andebol

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4.1.6 Inclusão dos alunos com Necessidades Educativas

Especiais

Como já havia referido já em capítulos anteriores do presente REP, a

turma à qual lecionei aulas no passado ano letivo tinha uma característica que

a distinguia ainda mais das demais, nela estavam presentes dois alunos com

necessidades educativas especiais. “A educação especial decorre agora pelas

mesmas vias que a educação regular. A escola da discriminação deu lugar à

escola da integração; a escola da homogeneidade deu lugar à escola da

diversidade” (Bautista & al., 1997, p. 9).

Apesar de hoje considerar que este foi um facto que certamente muito

contribuiu para a minha aprendizagem, não deixou de ser aquele que mais me

desafiou ao longo do estágio profissional.

Tal como qualquer processo, a inclusão (educação de alunos com

deficiências no sistema regular de ensino (Winnick, 2010)) destes alunos na

turma não pode ser considerada linear, estes alunos apresentavam

características muito próprias e mutáveis que facilmente influenciavam o seu

comportamento diário.

Numa fase inicial do estágio as dificuldades para integrar estes alunos

foram imensas. As dificuldades de gestão e controlo do grande grupo

impossibilitavam que o foco da atenção fossem viradas para o DM e a AP.

Porém, e com a ajuda da PC estes alunos foram gradualmente introduzidos

nas várias situações de aprendizagem juntamente com a restante turma, ainda

que mesmo assim esta introdução não tenha sido de todo fácil. “(…) pela

primeira vez desde o início do ano letivo tive a minha responsabilidade para

além da restante turma a AP e o DM (…) O início mostrou-se promissor, os

alunos foram realizando os vários exercícios, com mais dificuldade que os

restantes, mas com algumas adaptações a maior parte das tarefas foram

sendo cumpridas. Contudo, o problema adveio quando estes alunos se

mostraram relutantes em fazer aquilo que lhes era pedido.

A certa altura da aula, a AP não conseguia realizar a tarefa que lhe era

exigida, após várias insistências e tentativas de ajuda, não consegui que ela

acatasse aquilo que lhe estava a ser pedido. Apesar de perceber que seria

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uma tarefa muito complicada para a aluna e após várias adaptações, as

minhas tentativas esbarravam num muro de frustrações, a AP decidiu saltar no

trampolim não permitindo que os seus colegas executassem a tarefa de

aprendizagem planeada.

Este foi o momento que necessitei do apoio da minha Professora Cooperante,

senti que se não fosse aquela ajuda, tudo o que estava planeada seria

hipotecado por aquele comportamento” Reflexão semanal nº6

Apesar das dificuldades iniciais rapidamente percebi que o planeamento

da aula tinha que ser mais cuidado. O sucesso de integração destes alunos

dependia de uma cuidada seleção das tarefas e formação dos grupos de

trabalho, ou seja, seria essencial privilegiar tarefas que promovessem o

contacto social entre todos e que fossem passiveis de ser adaptadas às

necessidades motoras destes alunos.

“A inclusão do DM e da AM obriga-me a ter um planeamento ainda mais

cuidado. O critério de formação de grupos torna as escolhas mais restritas,

primeiro porque estes devem ser colocados numa equipa onde os seus

companheiros revelem um bom nível de jogo para equilibrar as situações de

aprendizagem e segundo porque esses mesmos companheiros de equipa têm

que revelar responsabilidade e sensibilidade para trabalhar com colegas que

revelam estas dificuldades. Assim sendo, e devido à minha preparação prévia,

já havia estudado alguns alunos que revelam estas características e que

poderiam exercer essas funções sem qualquer entrave ao decorrer da aula.”

Reflexão nº36

Segundo Winnick (2010) a capacidade de adaptação é essencial para o

sucesso docente no trabalho com estes alunos, este autor sugere que a

adaptação está diretamente relacionada com toda e qualquer modificação

realizada de modo a ir ao encontro das necessidades dos seus alunos.

Durante o EP houve uma necessidade imperiosa de melhorar as minhas

capacidades de adaptação por forma a atingir as aprendizagens que sempre

privilegiamos e vimos como essenciais para estes alunos, nomeadamente

aprendizagens sociais tendo por base a excelente ferramenta que é o desporto.

Para Winnick (2010) a Educação Física deve enfatizar para os alunos com

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NEE um programa ativo em alternativa a um plano sedentário, este deve ser

planeado a igualmente alcançar objetivos de atividade física atendendo às

características e necessidades individuais dos alunos.

“Esta necessidade de inclusão está claramente a ajudar-me a refinar a tarefa

de planeamento pois cada aula é diferente das demais, e cada aula tem que de

ser planeada ao pormenor para atender às necessidades da turma,

necessidades do DM e necessidades da AP. Quer o DM quer a AP têm

constantemente comportamentos que não são de todo previsíveis, situação

que me obriga igualmente a ter capacidade de adaptação” Reflexão nº45

Ainda que por vezes esbarrando em algumas frustrações comecei a

insistir nesta necessidade de contacto social entre todos os alunos e por isso

comecei a ter por base a fase preparatória da aula para visar este mesmo

objetivo.

Assim, no início de cada aula decidi aplicar um jogo de caracter mais lúdico,

com tarefas motoras mais simples e que exigissem uma interação entre os

alunos para o bom sucesso da tarefa. Esta foi a estratégia por mim adotada

para iniciar este processo de inclusão.

A presente escolha veio a revelar-se um sucesso, os alunos mostraram

elevados níveis de empenho pois estes sempre corresponderam de uma forma

bastante positiva a situações de aprendizagem competitivas. Dado o cariz mais

básico destas tarefas o sucesso e o potencial dos alunos com NEE foi também

ele exacerbado de tal maneira que, apesar das diferenças, os seus pares

começaram a reconhecer competência nestes dois alunos Com isto denotou-se

que estes começaram a vê-los de uma outra forma e começaram desde logo a

considera-los como importantes elementos da turma.

Com a aplicação sistemática deste tipo de situações de aprendizagens

fui verificando que cada vez mais se estreitavam as relações entre todas as

partes e cada vez mais estes alunos se mostravam como aptos para

integrarem as várias situações de aprendizagem ainda que de uma forma

sempre adaptada. “(…) destaco desta aula a elevada entreajuda que os vários

alunos vão demonstrando uns pelos outros e em especial pelos alunos com

NEE, cada vez mais denoto que estes alunos estão integrados e cada vez mais

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se evidencia o esforço da restante turma em ajudar estes alunos a superarem

as suas próprias dificuldades” Reflexão nº 35

Com o decorrer do EP a minha sensibilidade e capacidade de

observação foi melhorando, facto que me ajudou a retirar algumas ilações

sobre estes alunos e que muito me ajudaram na construção e na realização

das aulas. Foi notório com o correr das aulas que ambos os alunos se

relacionavam e tendiam a procurar contacto social com colegas do mesmo

género, assim o aluno DM desenvolveu um maior relacionamento com os

rapazes da turma e o mesmo aconteceu com a aluna AP relativamente às

raparigas. Este facto ajudou-me na formação dos grupos de um modo que

consegui manter todos os alunos motivados na realização das tarefas sem

nunca colocar em causa a inclusão social e o afastamento de alunos. “Denoto

que a aluna tende a participar nas atividades de uma forma mais ativa quando

colocada com colegas do mesmo género (…)” Reflexão nº37.

No que reporta à aluna foi igualmente notório que o estado de espirito

com que esta se apresentava no início da aula teria grande influência sobre a

participação nas várias situações de aprendizagem apresentadas. Este facto

trouxe para as aulas ainda mais incertezas pois diariamente foi uma incógnita a

forma a aluna se iria apresentar na aula, sendo que esta resposta só era obtida

através da observação do comportamento da aluna nos primeiros momentos

dentro do espaço da aula. “se em reflexões anteriores já referi que a aluna

estava mais flexível para realizar as tarefas propostas, hoje foi um dos dias que

aconteceu o oposto (…) sempre que procurei que a AP integrasse as tarefas

da aula de uma forma ativa, contudo hoje a AP revelou uma resistência

tremenda, que nem eu próprio a fui capaz a mover. A aluna tende a dizer que

“não sabe” e resistindo assim à participação nas várias situações de

aprendizagem” Reflexão nº40.

Tal como fui transparecendo no presente ponto do REP a inclusão

destes alunos não foi nem de perto nem de longe um processo linear, dadas as

suas especiais características o processo foi pautado por alguns avanços e

recuos.

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No que reporta à inclusão do aluno DM esta foi mais facilitada

comparativamente à da aluna AP, este desde cedo começou a procurar a

companhia dos colegas de turma situação que facilitou todo o processo. O

único entrave colocado surgiu unicamente quando o aluno se começou a

demonstrar demasiado confortável com os colegas, situação que despoletou

nele alguns comportamentos desviantes que colocaram em causa a sua

posição e a dos colegas. “No que toca à participação do DM na aula, este está

cada vez mais confortável situação que em si é bastante positiva, contudo

acaba por arrastar alguns efeitos negativos. Com esta maior inclusão e maior à

vontade com os colegas, o DM começa a revelar cada vez mais

comportamentos inadequados para uma aula de Educação Física. Tende a ter

comportamentos desviantes e tende a ser agressivo para com alguns colegas

de turma, situação que acaba por não ser a ideal pois com esta situação os

colegas inevitavelmente acabarão por o rejeitar.” Reflexão nº38

Após a ocorrência deste tipo de comportamentos sempre procurei fazer ver ao

aluno que aquilo poderia colocar em causa a sua própria posição perante os

colegas, situação que não era de todo benéfica para a sua inclusão.

Em suma, tal como procurei descrever esta foi um dos maiores desafios

encontrados por mim no passado estágio profissional. Com a ajuda da PC esta

dificuldades foram desvanecendo, porém novos desafios se colocaram

diariamente dada a imprevisibilidade de comportamentos por parte destes

alunos. Com o decorrer do tempo fui verificando que as estratégias

selecionadas e aplicadas começaram a surtir os efeitos pretendidos e passo a

passo os alunos começaram a ser incluídos pela turma e a serem aceites como

membros ativos e participativos sendo também eles elementos influenciadores

que me conduziram a mim e aos restantes alunos a múltiplas e variadas

aprendizagens.

4.1.7 Observação aulas colegas núcleo de estágio

O processo de observação das aulas dos colegas do núcleo de estágio

foi sem dúvida uma das principais ferramentas que contribuíram para o meu

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desenvolvimento profissional. “A observação e o registo de comportamentos

pode assumir aspetos de ordem diversa na análise dos comportamentos em

sala de aula, no treino desportivo ou mesmo em situações quotidianas de

natureza social ou profissional”. (Sarmento, 2004, pp. 223-224) Estas

observações permitiram-me identificar alguns problemas e frustrações

característicos do exercício da profissão, colocando-me a refletir sobre

possíveis soluções para os contornar, tendo sempre em vista a melhoria da

minha competência profissional e consequentemente do processo ensino

aprendizagem.

A observação e a posterior reflexão de todas as aulas dos meus colegas de

núcleo de estágio contribuíram para o enriquecimento de todo o meu percurso

do EP. O facto de observar um acidente crítico e refletir sobre o porquê desse

acontecimento e possíveis soluções para o evitar ou contornar, forneceram-me

bagagem suficiente para que na minha prática este não acontecesse ou então

tivesse soluções válidas de atuação que permitissem garantir a eficiência do

processo ensino-aprendizagem sem que este fosse comprometido.

“(…) a necessidade de alterar (o planeado) e como, se o comportamento do

praticante assim o exigir, já requer um orientação que inclui aspetos vivenciais

das relações humanas que só o conhecimento prático o proporciona”

(Sarmento, 2004)

“(…) o meu colega de estágio aplicou na sua turma a sua planificação da aula,

e podemos observar que aquilo que estava inicialmente planeado não foi muito

desfasado da realidade aplicada (…) Há a salientar como problema a falta de

definição do espaço, ou seja, os alunos algumas vezes corriam e realizaram

situações de aprendizagem em zonas de risco (por trás da baliza) colocando

em causa a sua própria integridade física. Estes erros cometidos na primeira

aula, não foram cometidos nas aulas do dia seguinte, porque já estávamos

alertados para tal problema e já com soluções válidas para o evitar.” Reflexão

nº8.

Para além da observação dos acidentes críticos foram também

realizadas observações sistemáticas que permitiram a análise a aspetos mais

concretos tais como a gestão do tempo de aula, comportamento do professor e

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avaliação do ciclo de feedback. Com estas observações pretendeu-se

essencialmente um confronto com o trabalho realizado (a aula lecionada) de

forma a promover a modificação de comportamentos pedagógico didáticos

visando a sua melhoria (Sarmento, 2004).

Para as observações sistemáticas foram utilizados os sistemas de observação:

• Análise do tempo de aula (versão adaptada por Carreiro da Costa, 1988

ao sistema de Piéron) “Este sistema tem por objetivo estudar a utilização

que é feita do tempo de aula, na sua distribuição por diferentes

atividades e tarefas” (Sarmento, 2004).

• Sistema de observação do comportamento do Professor (sistema de

Piéron) “Este sistema tem por objetivo estudar o comportamento dos

professores, permitindo traçar um perfil das suas características mais

frequentes.” (Sarmento, 2004).

• Ciclo de Feedback Este sistema teve como principal objetivo avaliar se

professor fechava o ciclo de feedback, ou seja, se observava um

comportamento do aluno, emitia um feedback sobre este e mantinha-se

interessado na nova execução do aluno, sendo que posteriormente

intervinha de novo emitindo um novo feedback sobre este segundo

comportamento;

Estes sistemas de observações permitiram para além da recolha de informação

qualitativa, uma avaliação quantitativa pois todos os dados recolhidos foram

posteriormente tratado estatisticamente por forma a facilitar a sua análise.

Cada membro do núcleo procedia à observação da aula do colega, analisava

os dados e posteriormente discutiam-se os resultados e procedia-se à reflexão

sobre formas de melhorar atuação docente nos vários momentos visando a

melhoria de todo o processo ensino-aprendizagem. Ainda neste capítulo

podem ser encontradas algumas observações por mim realizadas e que

ajudaram os meus colegas de núcleo a melhorarem a sua atuação.

Apesar de todo o trabalho implícito no processo de observação e

reflexão de todas as aulas do núcleo de estágio, este foi demonstrando as suas

mais-valias no decurso de EP. A vivência, ainda que de forma indireta, de

todas os problemas, frustrações e sucessos das aulas dos meus companheiros

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de núcleo forneceram-me certamente o triplo da experiência daquela que teria

caso só estivesse presente nas aulas que eu próprio tinha que lecionar.

Por vezes estes eram confrontados com situações às quais não conseguiam

dar a resposta mais favorável. A observação desses momentos e a posterior

reflexão ajudaram-me a obter soluções viáveis que foram por mim utilizadas

quando confrontado com o mesmo problema.

Em suma, para um professor em início de atividade como foi o nosso

caso durante o estágio profissional é essencial obter informações e dados

concretos sobre as suas práticas com vista à melhoria de tudo o que fuja à

eficácia e eficiência do processo ensino aprendizagem. Como refere Siedentop

& Tannehill (2000) é essencial que as experiências de ensino práticas sejam

supervisionadas e observadas por forma a fornecimento de dados e feedbacks

ao professor em formação. Assim, foi notório que estas observações

forneceram-me informações pertinentes que me ajudaram a identificar lacunas

na minha atuação, fornecendo-me igualmente estratégias e formas de atuação

que permitiram dar as respostas mais eficientes aos problemas que se foram

levantando.

Exemplo de observação realizada a uma aula de um colega do

núcleo de estágio: Observação do comportamento do Professor

Um dos princípios mais importantes para o sucesso do Professor de

Educação Física passa pela eficácia deste “os professores eficazes criam um

bom ambiente para a aprendizagem” (Mesquita & Graça, 2011 cintado Rink,

1996).

Então para que este ambiente de aprendizagem seja exacerbado é

importante atender aos comportamentos que o Professor vai tendo durante o

processo-ensino aprendizagem, promovendo assim um bom funcionamento da

disciplina Educação Física “Assegurar um bom funcionamento do sistema de

gestão é cuidar eficazmente dos problemas de disciplina e da ordem na aula,

garantir a cooperação dos alunos e manter o fluxo de atividades da aula, ao

longo do tempo.” (Mesquita & Graça, 2011).

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A presente observação centrou-se nisso mesmo, durante a aula

lecionada pelo Professor-estagiário Miguel Ferreira, foi feita a observação de

todos os comportamentos que este tinha durante intervalos de 10 segundos.

Esta observação tem por objetivo estudar o comportamento dos

professores, permitindo traçar um perfil das suas características mais

frequentes (Sarmento, P., 2004).

O sistema de observação utilizado teve como base o “Sistema de

Observação do Comportamento do Professor (S.O.P.) (Piéron, 1988).

No sistema de observação utilizado foram definidas 8 categorias onde se

encaixariam o comportamento do Professor durante a presente aula. Duas

ligadas à dimensão instrução (Instrução da tarefa e Feedbacks), duas ligadas à

dimensão interação (afetividade positiva e afetividade negativa), uma ligada à

dimensão organização (organização), duas ligadas à dimensão controlo

(observação e atenção às intervenções verbais dos alunos), e por último uma

categoria denominada de Outros comportamentos, utilizada quando nenhum

comportamento do professor se encaixa nas categorias anteriormente

referidas.

O presente sistema foi adaptado sendo que a duração dos intervalos

tinha uma duração compreendida de 10 segundos, sendo que o sistema de

Observação (S.O.P.) de Piéron (1988) e apresentado por Sarmento (2004), é

aplicado em intervalos de 5 segundos.

Após ser definido que sistema de observação seria utilizado, procedeu-

se então para a observação. Utilizando um método de observação direta e com

o auxílio de um cronómetro foram registados os comportamentos que o

Professor-Estagiário tinha a cada 10 segundos de aula.

Seguidamente procedeu-se então para a análise estatística do material

recolhido, ou seja, iniciou-se um processo de atribuição de significado aos

dados acabados de recolher. Os vários intervalos de 10 segundos foram

somados e posteriormente convertidos para a unidades de tempo minutos.

Esses dados foram igualmente representados graficamente como podemos

observar no gráfico a seguir apresentado (Gráfico 1).

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Categoria Duração

(seg.)

Duração (Min.) Percentual (%)

Instrução 1500’’ 25’ 38%

Feedback 240’’ 4’ 6%

Organização 700’’ 11’40’’ 18%

Afetividade Positiva 30’’ 30’’ 1%

Afetividade Negativa 40’’ 40’’ 1%

Intervenções Verbais do

Aluno

110’’ 1’50’’ 3%

Observação 1260’’ 21’ 32%

Outros Comportamentos 20’’ 20’’ 1%

Instrução38%

Feedback6%Organização

18%

Afetividade Positiva1%

Afetividade Negativa1%

Intervenções Verbais Aluno

3%

Observação32%

Outros Comportamentos

1%

Comportamento do Professor

Instrução Feedback Organização

Afetividade Positiva Afetividade Negativa Intervenções Verbais Aluno

Observação Outros Comportamentos

Figura 8 – Gráfico Observação

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Análise aos dados recolhidos

A aula observada foi lecionada pelo Professor-Estagiário em Novembro

de 2017, à turma 10º ano, esta foi a aula nº 1 e 2 de atletismo dum total de 6. .

A presente aula teve a duração total de 65 minutos e decorreu no

Pavilhão da Escola Básica e Secundária D. Dinis. Para esta aula a turma teve

disponível 2/3 do pavilhão.

Procedendo agora a uma análise dos dados recolhidos e

estatisticamente tratados como podemos ver no gráfico anteriormente

apresentado, podemos aferir que a distribuição do foco da atenção do

Professor durante toda a aula poderia ter sido melhor gerido.

A categoria de tempo no qual o professor despendeu mais tempo foi na

instrução (38% do tempo de aula), tal qual como foi denotado em observações

anteriores o Professor continua a não ter um bom planeamento dos seus

momentos de instrução, sendo que tende a prolongar-se no seu discurso.

Contudo e fazendo uma comparação com o anterior momento de

observação, o Professor já fez a introdução da demonstração, situação que lhe

permitiu ganhar algum tempo, contudo seria interessante ter um discurso verbal

mais incisivo, com recurso a palavras-chave, ou seja, um discurso mais sucinto

e que capte uma maior dos alunos.

A segunda categoria que se destacou com mais tempo foi a observação

com cerca de 32% do tempo de aula, ou seja, 21 minutos. Denotou-se que o

professor tende a ser muito observador nas tarefas em que os seus alunos

estão envolvidos, contudo a intervenção deste sobre o que os alunos fazem

tende a ser reduzido, ou seja, o Professor tende a observar muito os seus

alunos contudo há muito pouca emissão de feedback (6% ou seja,

aproximadamente 4 minutos).

Como é referido na literatura estas duas categorias têm uma elevada

interligação “O feedback resulta de uma competência de tomada de decisões

oportunas com base numa seleção e num processamento da informação

pertinente recolhida durante a observação…” (Rosado & Mesquita, 2011).

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Outra categoria que mais se destacou pela negativa foi o demasiado

tempo despendido em questões organizacionais, aproximadamente 12

minutos.

Na presente aula houve na maior parte do tempo duas tarefas a decorrerem ao

mesmo tempo, uma avaliação do teste isolado do Fitschool e uma tarefa ligada

ao Voleibol.

O objetivo do Professor-Estagiário era avaliar os alunos ao longo da

tarefa de Voleibol, ou seja, os alunos estavam envolvidos na tarefa do Voleibol

e de seguida seriam avaliados no teste isolado, regressando posteriormente à

tarefa do Voleibol. Contudo, o Professor-Estagiário não conseguiu implementar

um sistema de rotação que permitisse que os alunos realizassem estas duas

tarefas sem o Professor intervir nas questões organizativas.

Isto levou a que o Professor tivesse constantemente a trocar alunos dos

variados campos, para irem realizar a tarefa sujeita a avaliação, o Professor

andava constantemente a deslocar-se pelo espaço de aula, mas com o intuito

de trocar os alunos de função. Isto originou a que o foco deste não fosse

correção dos alunos nas tarefas, mas sim as questões de organização de toda

a aula.

Para melhorar estas questões será importante o Professor planificar

todos os aspetos organizacionais da aula com vista a ter que minimizar as suas

intervenções sobre a organização dedicando-se mais a aspetos diretamente

ligados aos objetivos da aula. De relevar igualmente nesta observação, a

pouca afetividade positiva demonstrada pelo Professor-Estagiário. Esta

afetividade é um dos fatores que mais influencia tem sobre os comportamentos

dos alunos e sobre a obtenção de um bom clima social no espaço de aula. “ É

necessário compreender e encarar o ambiente racional, na sala de aula, como

determinado por diversas variáveis, entre os quais sobressai a afetividade e,

em particular, a perceção do ambiente afetivo existente”. (Rosado & Ferreira,

2011). Devemos encarar o ambiente da aula Educação Física onde se

privilegiam comportamento intrínsecos ao ser humano, sendo que a afetividade

é um deles e quando bem gerido pode maximizar o sucesso dos nossos

alunos.

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Considerações Finais

A presente observação focou-se essencialmente no comportamento do

Professor, isto permite que sejam identificadas lacunas, problemas e

debilidades no processo de lecionação. Após identificados estes problemas

será de todo importante intervir rapidamente com possíveis soluções que visem

a melhoria o processo ensino-aprendizagem, sendo os nossos alunos os

principais beneficiários desta ação.

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4.2 Participação na escola e relações com a comunidade

O presente capítulo é referente a todas as atividades do estágio

profissional realizadas fora da componente letiva e que visassem a minha

aproximação e relação com a comunidade escolar. Segundo as Normas

Orientadoras do Estágio Profissional 2017/2018 estas atividades devem

“contribuir para um conhecimento do meio regional e local tendo em vista um

melhor conhecimento das condições locais da relação educativa e a exploração

da ligação entre a escola e o meio.”

Mais que nunca o papel do professor não se deve cingir aquilo que

acontece dentro do espaço da aula, o professor deve ser um membro ativo da

comunidade educativa na “(re)construção, no desenvolvimento e na reflexão do

Projeto Educativo de Escola e nos projetos disciplinares e transdisciplinares”.

Só com uma simbiose entre todos os membros da comunidade

educativa é que se exponenciarão as possibilidades de sucesso e se

concretizarão objetivos que tornarão a escola como um espaço de

aprendizagens múltiplas quer dentro, quer fora do espaço de aula.

4.2.1 Corta Mato Escolar

Uma das atividades que mais marcam o percurso escolar dos alunos e

que é por muitos lembrados como um dos pontos mais altos do ano letivo é

sem dúvida o Corta Mato Escolar. No passado ano letivo e tal como é norma

na EBSDD e na maior parte das escolas do território nacional realizou-se o

Corta Mato Escolar.

No início do ano letivo aquando da elaboração do Projeto Anual de Atividades o

Grupo de Educação Física e Desporto Escolar definiu que esta atividade se

realizaria no dia 22 de Novembro e assim foi.

Como membro integrante do Grupo de Educação Física e Desporto

Escolar também eu tive um papel ativo no desenrolar desta atividade. Numa

primeira fase como membro dinamizador da atividade para os alunos com

quem contactava diariamente procurando demonstrar a importância da

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participação em atividades deste cariz. Numa segunda fase como responsável

pelo controlo de todos os participantes na chegada à meta.

Relativamente ao decorrer da atividade, apesar de ser um dia marcado

por fracas condições meteorológicas, houve bastante adesão por parte dos

alunos, nomeadamente dos escalões etários mais baixos. “(…) um dos factos

mais marcantes da presente atividade foi a pouca afluência de alunos do

Ensino Secundário, tal como é cada vez mais referido na literatura os hábitos

de prática de atividade física tendem a diminuir à medida que a idade

aumenta.” Reflexão semanal nº12.

Como se verificou o número de participantes inscritos em escalões superiores

aos 16 anos foi muito reduzido, havendo inclusive a necessidade de se

fundirem provas, nomeadamente do escalão etário Juvenil e Júnior, sendo este

dado ainda mais significativo nas provas femininas, com uma participação

muito inferior aquilo que era expectável.

Tal como foi alvo de reflexão, este é um claro indicador de que não está

a ser feito um bom trabalho de fomentação de hábitos desportivos em faixas

etárias mais baixas. “(…) se a promoção for corretamente efetuada, se se

incutir nos jovens o gosto intrínseco pela prática de atividade física aumenta-se

imenso a probabilidade que em idades mais altas sejam estes a procurar a

prática desportiva porque efetivamente reconhecem os benefícios desta.”

Reflexão semanal nº12.

Apesar deste reparo tudo na prova decorreu dentro da normalidade e

assim se conseguiram apurar os melhores classificados para a prova a

decorrer a nível concelhio e posteriormente a nível distrital.

Na prova que decorreu em Santo Tirso (Corta Mato Concelhio) não tive

qualquer participação, contudo tive um papel ativo na prova que decorreu no

Parque da Cidade do Porto e que ficou marcada pela competição entre os

melhores atletas do distrito do Porto.

No dia 26 de Janeiro fomos destacados para acompanhar os melhores

alunos da nossa escola para participar nesta melhor prova que seleciona os

melhores dos melhores a nível distrital “(…) foi claramente um momento de

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festa, um momento de consagração daqueles alunos que fazem do desporto a

sua rotina.” Reflexão semana nº19.

Mais uma vez nesta competição tive a responsabilidade de acompanhar os

alunos até à linha de partida e posteriormente recebe-los na linha de chegada

garantindo assim que nenhum problema acontecia no meio daquela mega

organização.

Esta foi a minha primeira experiência numa prova de Corta-Mato que não

interno, assim tudo para mim foi novo e foi notória e surpreendente a grande

organização e o brio que houve na promoção do gosto pela prática desportiva e

em especial pela corrida, quer nas provas normais quer nas provas

organizadas para os alunos com necessidades educativas especiais.

“Denotava-se na expressão dos alunos que a participação na festa do Desporto

Escolar foi motivo de orgulho.

Desta competição destaco igualmente a prova adaptada para os alunos com

Necessidades Educativas Especiais, acho que este foi mais um grande

momento de inclusão, um momento que claramente marca a vida destes

alunos que também eles partilham o gosto pela prática desportiva.” Reflexão

semana nº19

4.2.2 Desporto Escolar - Crosstraining

Uma das componentes do passado estágio profissional esteve

diretamente ligado com a minha participação no Desporto Escolar. Devido às

excelentes instalações e equipamentos que a escola apresenta, a EBSDD

consegue fornecer aos seus alunos um leque alargado de experiências e

modalidades distintas das tradicionais. Este facto permite com que a prática

desportiva consiga chegar a alunos com preferências variadas e distintas

aumentando-se assim o número de praticantes. A EBSDD oferece aos seus

alunos a possibilidade de prática de modalidades como Ginástica, Voleibol,

Ténis, Andebol, Natação e Badminton.

Com a entrada nesta escola desde logo percebi que esta tinha materiais,

equipamentos e instalações distintas das ditas escolas tradicionais, pela

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primeira vez conheci uma escola com equipamentos ligados ao mundo do

Fitness, mais especificamente ligados à modalidade de Crosstraining. Desde

logo esta situação despertou em mim um elevado interesse pois sempre me

confessei um aficionado pelo treino funcional e pelo Crosstraining tendo

inclusive formações complementares que me permitem a lecionação deste tipo

de modalidade.

Durante todo o ano letivo sempre tive um papel muito ativo na

divulgação desta modalidade que cada vez mais está em voga e que pode

facilmente ser adaptada à escola, produzindo também ela resultados

excecionais com a metodologia que apresenta.

Ao longo do ano letivo fiz questão de divulgar esta modalidade nas aulas

de Educação Física criando inclusive vários momentos onde esta recebeu

especial destaque. Sendo esta uma escola que faz questão de mostrar

abertura a todos os elementos da comunidade escolar, no decorrer do ano

letivo foram realizados vários eventos (Semana da Escola; Open Day) de cariz

desportivo, dando eu o meu contributo através da lecionação de aulas que

tinham por base esta metodologia de treino.

Apesar de já ter experiência como treinador nesta modalidade este ano

letivo não deixou de ser bastante enriquecedor pois o tipo de população com a

qual estou habituado a trabalhar encontra-se uma faixa etária bastante

superior, logo os desafios colocados foram distintos pois as capacidades dos

atletas e o contexto também eles eram distintos.

A presença desta modalidade na oferta aos alunos foi de todo

surpreendente e ainda mais quando a oferta é completa com Desportos

Coletivos como o Andebol e o Voleibol e Desportos Individuais como é o caso

da Ginástica, Natação, Ténis e Badminton. Como é facilmente percetível a

oferta é extremamente variada merecendo ainda especial destaque pelo facto

de serem modalidades cuja prática em clubes não tende a ser fácil pela

inexistência dos mesmos.

Com toda esta oferta facilmente percebemos o porquê de ser uma escola cujo

desporto tem muita tradição. É de louvar tudo aquilo que esta faz para

aumentar os níveis de atividade física dos seus alunos e promoção de estilos

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de vida saudáveis numa altura cuja tendência para o movimento tem vindo

claramente a diminuir.

4.2.3 “Escola Ativa”- Semana do agrupamento

A EBSDD tem ao longo dos últimos anos procurado implementar um

projeto cujo nome, é desde logo sugestivo para aquilo que este visa, o projeto

“Escola Ativa”. Este projeto visa essencialmente educar e inspirar a

comunidade educativa para o combate à inatividade física e a autonomia na

prática da atividade.

Ao longo do ano letivo a escola procurou desenvolver várias atividades

que fossem ao encontro da missão deste projeto, sendo uma delas a semana

do agrupamento. Nesta semana o núcleo de estágio juntamente com o grupo

de Educação Física e Desporto Escolar foram responsáveis pela organização

de várias atividades que tinham por base a prática desportiva.

Nesta semana foram organizadas atividades tais como aulas de Pilates,

aulas de Hidroginástica e várias competições, nomeadamente de jogos

desportivos coletivos como o Basquetebol e Andebol para alunos do 2º e 3º

ciclo e Voleibol destinado aos alunos do Ensino Secundário.

O núcleo de estágio apesar de contribuir com alguma ajuda nas atividades

anteriormente referidas teve um papel mais ativo na organização de uma mega

aula de Crosstraining.

Esta aula realizada durante uma manhã contou com a participação de

mais de 50 alunos de todos os ciclos de ensino. O núcleo de estágio ficou

responsável pela organização do espaço, seleção e apresentação e

monitorização de todos exercícios a todos os participantes, garantindo assim

que o objetivo da atividade era cumprido sem nunca comprometer a integridade

física daqueles que mais uma vez procuravam ser ativos na busca de um estilo

de vida mais saudável.

Na minha opinião esta atividade foi um sucesso, houve uma grande

adesão por parte dos alunos e isso mais se evidenciou na atividade que ficou à

nossa responsabilidade, sendo inclusive aquela que teve o maior número de

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participantes. Será importante destacar que as atividades que obtiveram maior

sucesso e maior adesão foram aquelas cuja prática não é tão rotineira nas

escolas, ou seja, atividades como Pilates, Hidroginástica e Crosstraining.

Isto demonstra mais uma vez que a aposta em atividades diferentes daquelas

que os alunos normalmente praticam na aula de Educação Física têm tudo

para ser bem sucedidas, mais uma vez ficou demonstrado que estas atividades

abrem claramente os horizontes aos alunos para novas práticas desportivas

que no final de contas permitirão que estes sejam igualmente ativos tal qual

como se pretende.

4.2.4 “Open Day”

O “open day” é atividade que maior destaque recebe dentro do projeto

“Escola Ativa” e tal como tem acontecido nos últimos anos esta foi organizada

pelo núcleo de estágio. Esta atividade diferencia-se das anteriores por ser

completamente aberta a toda a comunidade educativa, nomeadamente alunos

e respetivos encarregados de educação e familiares, professores e

funcionários. “Com este dia pretendemos essencialmente reforçar os laços

dentro da comunidade escolar. Será um dia em que os pais e encarregados de

educação terão a oportunidade de conhecer de mais perto a realidade que

acolhe os seus educandos, tendo por base um leque muito alargado de

experiências que vise a mudança de comportamentos e que leve a aquisição

dos chamados comportamentos de saúde (aumento dos índices de AFD, uma

melhor alimentação ” Reflexão semanal nº25.

Inicialmente esta atividade esteve agendada para o dia 17 de Março,

procurando-se assim marcar o encerramento do segundo período letivo,

contudo devido às condições meteorológicas esta teve que ser adiada para o

dia 5 de Maio, procurando assim melhores condições que exponenciassem

desde logo o sucesso da atividade.

Apesar deste adiamento, o segundo período letivo foi marcado por todo o

trabalho realizado pelo núcleo de modo nomeadamente na divulgação da

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atividade, na preparação das várias atividades desportivas e das atividades

complementares que marcaram este “Open Day”.

Esta atividade decorreu ao longo da manha do dia 5 de Maio e foi

iniciada com a receção aos alunos, familiares e encarregados de educação

com a sua credenciação e confirmação do processo de inscrição sendo

posteriormente sucedida de uma palestra.

Esta palestra teve como principal objetivo alertar todos os participantes para a

importância da prática desportiva e literacia motora como forma de combate à

inércia e ao sedentarismo que cada vez mais marca a atualidade da nossa

população.

Findado este momento todos os participantes foram encaminhados para as

instalações desportivas da escola (Pavilhão; Sala de Ginástica; Espaço

exterior) onde decorreram as restantes atividades, nomeadamente uma mega

aula de “Zumba”, uma aula de “Jump”, “Spinning”, Crosstraining, e competição

de Street Basquete e de Orientação.

Todos os participantes (40) foram divididos em vários grupos e

distribuídos pelas várias atividades que decorreram paralelamente. Findada

cada atividade todos os grupos eram redistribuídos pelos vários espaços de

modo a garantir a participação em todas as experiências apresentadas.

No reporta ao núcleo de estágio, fomos responsáveis pela montagem das

várias atividades, coordenação dos vários grupos de trabalho, lecionação da

aula de Crosstraining e divulgação do espaço por nós criado, o “Cantinho da

Nutrição” que visava a promoção de uma alimentação saudável e condizente

com a prática desportiva “Dentro do núcleo de estágio surgiu a ideia de

criarmos mais uma experiência dentro do Open Day como complemento a

todas as experiências motoras. Assim pretendemos criar uma banca onde

estarão em exposição alguns factos e mitos sobre a nutrição e que de certa

forma podem ajudar a comunidade escolar na busca de hábitos de vida

saudável” Reflexão semanal nº25. “Neste mesmo espaço para além da

comparação de alimentos saudáveis e menos saudáveis, fornecemos também

à comunidade educativa receitas alternativas e saudáveis. Tivemos igualmente

o cuidado de oferecer a todos os participantes sumos naturais com elevada

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qualidade nutritiva e água que permitiu de certa forma repor parte dos stocks

energéticos e garantir a hidratação para a prática desportiva” Reflexão semanal

nº30.

Esta atividade decorreu tal qual como planeada, apesar da adesão não

ter correspondido às expectativas inicialmente elevadas, porém deve-se

destacar desde logo o facto de estarem presentes diversas faixas etárias

demonstrando o grande potencial que este tipo de projetos pode ter no

combate à inatividade física. Este “open day” claramente conseguiu atingir o

seu propósito em demonstrar à comunidade educativa as boas práticas

presentes nesta escola e que podem e devem ser replicadas no dia-a-dia de

todos nós.

Foi notório o esforço de toda a organização em fornecer um vasto e alargado

conjunto de ferramentas que visou a promoção de comportamentos de saúde

nomeadamente no que reporta à prática desportiva e qualidade nutricional dos

alimentos.

Em suma, a organização de uma grande atividade como esta forneceu-

me ferramentas de trabalho de grupo e participação em grande projetos que

serão de todo essenciais para o meu desenvolvimento e crescimento como

Professor de Educação Física, numa fase que cada vez mais a área e a

profissão são marcadas pela necessidade de divulgação das práticas

desportivas quer dentro quer fora do contexto de sala de aula.

4.2.5 Reuniões

No decurso do presente estágio profissional foram várias e diversas as

experiências vivenciadas que fazem parte do universo do “Ser Professor”.

Como tem sido demonstrado ao longo da presente área este ano letivo esteve

muito longe de se resumir unicamente à componente letiva.

Como forma de organização de tudo que envolve esta componente letiva

ao longo do ano letivo foram sido realizadas várias reuniões cujo principal

objetivo era a tomada de decisões coletivas sobre a disciplina de Educação

Física no caso das reuniões com o Departamento de Expressões e o Grupo de

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Educação Física e Desporto Escolar e sobre a turma no caso dos conselhos de

turma.

Como sempre procurei viver uma experiência autêntica e a mais

aproximada da realidade que os professores enfrentam, a participação nestas

foram por mim encaradas como mais um momento para conhecer a profissão

que eu escolhi.

No que reporta às reuniões com o Departamento de Expressões e o

Grupo de Educação Física e Desporto Escolar estas demonstraram-se muito

ricas pelo conteúdo e discussão para as tomadas de decisão que sustentam a

organização das várias disciplinas onde a Educação Física está incluída.

Foi importante ouvir e perceber o ponto de vista de outros Professores da

mesma área, que apesar de atuarem no mesmo contexto foram diariamente

confrontados com realidades e problemas diferentes daqueles que eu próprio

enfrentei. Estes momentos permitiram fazer alguns ajustes à realidade da

nossa atuação de modo a melhorar o funcionamento da disciplina

nomeadamente no que toca à uniformização de comportamentos, regras e

melhoria funcional dos espaços e equipamentos disponíveis.

Foram também nestes momentos que se tomaram decisões no que reporta às

atividades realizadas ao longo do ano letivo e que estiveram diretamente ligada

com a promoção e prática de atividade física desportiva (Corta-Mato; Semana

Escola; Open Day).

No que reporta às reuniões com os restantes professores que

compunham o conselho de turma estas marcaram o meu estágio pela

pertinência dos assuntos abordados e pela forma como estas informações me

ajudaram em algumas tomadas de decisão na disciplina de Educação Física.

Estas assumiram-se como um momento de partilha de informações, estratégias

e conhecimentos que permitiram a todo o corpo docente melhorar a sua forma

de atuação perante estes alunos. Apesar do meu contexto de sala de aula ser

distinto, o conhecimento de alguns comportamentos dos alunos noutros

contextos permitiram-me conhece-los melhor e ajustar a minha atuação a esse

mesmo conhecimento tendo sempre por base a melhoria do processo ensino-

aprendizagem.

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Estas reuniões permitiram o contacto com o Diretor de Turma elemento

essencial para o sucesso dos alunos ou não fosse ele o veículo de ligação

entre o corpo docente e os encarregados de educação. O contacto com o

diretor de turma é importante para o sucesso docente, pois este é o elemento

que melhor conhece os alunos. Este tem acesso a informações contextuais do

aluno que claramente podem condicionar o seu sucesso no processo ensino-

aprendizagem e que devem ser tidas em conta por todo o corpo decente que

compõe o conselho de turma.

Apesar de ter tido um papel mais passivo nestes momentos, estes não

deixaram de ser enriquecedores pela quantidade informacional recolhida e que

sem dúvida me ajudaram nas tomadas de decisão. Além disso o contacto com

outros Professores permitiram-me conhecer outras formas de atuação

igualmente válidas e que sem dúvida se mostraram ferramentas importantes no

decurso do estágio profissional.

O conhecimento desta realidade docente era sem dúvida aquela que menos

informações tinha com o iniciar da passada etapa, contudo estas reuniões

mostraram ser fonte de especial conhecimento e mostraram ser essenciais

para o bom funcionamento quer da escola, quer da disciplina, quer da atividade

letiva no contexto sala de aula.

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4.3 Desenvolvimento Profissional

O EP sempre foi por mim encarado não como o fim de algo mas sim

como o início de uma nova etapa que marca a construção da minha profissão –

Professor, no contexto de atuação escola.

Um ano de constante confronto entre o alcançado e o por alcançar, um ano

onde o processo reflexivo se afirmou como um veículo condutor entre o

passado, o presente e o futuro e como uma ferramenta essencial para a

aquisição de novas aprendizagens.

O processo de reflexão permitiu-me encarar as dificuldades com

distanciamentos temporais distintos (reflexão na ação; reflexão sobre a ação;

reflexão sobre a reflexão), o que me levou a obter aprendizagens distintas e,

com certeza, marcantes. Porém, este processo reflexivo, por si só, não foi

garantia de aprendizagens, daí a necessidade que tive de o manter

estritamente conectado com uma investigação sobre a ação, socorrendo-me da

experiência daqueles que me acompanharam ao longo deste complexo

processo, a Professora Orientadora, Professora Cooperante e os meus colegas

de núcleo de estágio.

Numa profissão onde a situação de educação se assume como imprevisível a

investigação sobre a própria prática docente tornou-se imprescindível para

colmatar debilidades do Eu-Professor. Foi esta busca constante pela melhoria

e pela autossuperação que tornaram este estágio profissional rico e marcante

na aquisição de aprendizagens que, com toda a certeza me ajudaram na

condução dos alunos na busca e aquisição das suas próprias aprendizagens.

O processo de observação de aulas de outros Professores e dos

colegas de núcleo de estágio também se assumiu como uma excelente forma

de investigação para a melhoria da minha competência docente. A recolha de

estratégias de como outros profissionais lidavam e resolviam problemas

comuns aos meus forneceram-me, sem dúvida, mais ferramentas, que

conjugadas com o ato reflexivo se vieram a afirmar como efetivas na melhoria

da minha atuação. Acrescendo ainda o desenvolvimento de competências de

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observação fundamentais para qualquer professor e, por maioria de razão,

para o professor de educação física.

As ferramentas disponíveis e promotoras de melhoria e de

aprendizagem são imensas e cada vez mais diversificadas e de fácil acesso.

Porém cabe ao professor investir tempo na investigação da sua própria prática

procurando renegar o conformismo que com certeza será um entrave à

construção da sua competência e desenvolvimento profissional.

Sem dúvida que este ano me marcou como um dos mais

enriquecedores, quer a nível de aprendizagens profissionais quer ao nível de

aprendizagens pessoais. Este foi um ano de concretização um ano que marca

o início de uma profissão que sempre foi tida como um sonho a alcançar,

apesar de o cenário não ser o mais favorável para todos os profissionais da

docência.

Apesar de tudo, este ano ensinou-me a encarar os desafios com atitude

positiva e com a crença que o melhor ainda está para vir.

Um ano que me transformou ao nível do profissionalismo docente, mas que

também desenvolveu em mim sentido crítico, que é por mim visto como

essencial na busca pelo meu sucesso pessoal e que certamente me tornará

num melhor profissional.

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4.4 Estudo investigação - Análise sociométrica da turma

4.4.1 Resumo

O conhecimento dos alunos é um fator de elevada importância para a melhoria

da proficiência do processo ensino-aprendizagem. É certo que este processo

ensino aprendizagem deve atender às especificidades de cada aluno, contudo

é inegável que, cada aluno age influenciado pelo contexto próximo, pelo grupo

turma a que pertence. O teste sociométrico e de perceção sociométrica

destacam-se por serem ferramentas práticas e fidedignas para a recolha de

informações pertinentes acerca das relações entre indivíduos no seio de um

grupo. A aplicação única deste teste teve como objetivo a familiarização com a

metodologia, bem como a recolha de informações sobre o status social do

grupo. Os resultados recolhidos permitiram perceber a organização social

desta turma sendo de destacar a divisão de géneros, e em especial o claro

isolamento de dois alunos face ao restante grupo.

4.4.2 Contextualização

Todo o processo de formação de Professores é preenchido com a

aquisição de conteúdos pedagógico-didáticos essenciais para o exercício da

profissão docente. Contudo, estas aprendizagens ganham contornos mais

significativos se forem compreendidos os contextos em que se aplicam, ou

seja, dentro de uma escola que tem características próprias, com os seus

principais atores, os alunos, indivíduos esses também distintos, ou como os

designa Savater (1997), “pessoas irrepetíveis”.

Tal como foi evidenciado durante o EP e tal como tentamos vincar neste

relatório, o ensino deve atender às características individuais dos alunos,

nomeadamente às capacidades, às possibilidades e às dificuldades procurando

assim tornar o processo ensino aprendizagem mais eficaz.

Contudo cada aluno é institucionalmente agrupado, em turmas, facto esse

muito importante, ao qual o professor deve atender, pois terá uma grande

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preponderância na sua atuação pedagógico didática “O termo membros,

aplicado espontaneamente aos indivíduos que compõem um grupo, evoca a

imagem de um corpo do qual seriam as partes, ao mesmo tempo dependentes

e destacáveis; evoca, ainda, o facto de pessoas distintas poderem ter algo de

comum e constituírem um conjunto” (Maisonneuve, 1967, p. 9).

Esta necessidade da escola em agrupar os alunos torna a missão

educativa do professor mais desafiante, pois o conhecimento individual dos

alunos tem que ser contextualizado a um conhecimento grupal. Como refere

Maisonneuve (1967) os grupos não são objetos estáticos, eles nascem,

desenvolvem-se, mantêm-se ou dispersam-se, ou seja, possuem uma história.

Assim, torna-se essencial o conhecimento da sua natureza, nomeadamente a

sua organização, as interações existentes entre os seus membros, a

distribuição dos seus fins e o modo como a situação do grupo é vivida aquilo

que Maisonneuve (1967) apelida de “ser em conjunto”.

Bastin (1966) aponta para a dificuldade que os professores têm no

conhecimento dos grupos onde atuam e que de certo modo condicionam toda a

sua atuação, este processo de observação por si só fornece poucas

informações e torna-se inócuo no conhecimento das dinâmicas grupais. “A

experiência (de observação) mostrou as dificuldades com que lutam os

professores para discernir as inter-relações que unem os alunos duma classe e

descobrir as características sociais das crianças que veem todos os dias”

(Bastin, 1966, p. 12).

Como forma de melhor conhecer a turma que ficou à minha

responsabilidade durante o EP e pelo facto de este grupo ser ainda mais

distinto pela presença de alunos com NEE decidi aplicar um teste sociométrico

e de perceção sociométrica de modo a conhecer melhor as suas dinâmicas

sociais.

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4.4.3 Enquadramento teórico

4.4.3.1 Dinâmicas de grupo

Cada aluno é um aluno, cada turma é uma turma e nós Professores

temos que compreender e saber-mos adaptar-nos a esta realidade que torna a

nossa profissão desafiante a cada momento.“…o homem possui uma

individualidade única e insubstituível, também se caracteriza por traços sociais,

gregários e culturais, que o tornam distinto e o identificam” (Matos, 2014).

Assim podemos perceber que cada aluno tem traços e características que os

distinguem dos demais, tal como sugere Savater (1997) a existência de

pessoas irrepetíveis. E tal como era muitas vezes referido nas nossas reuniões

de núcleo de estágio não nada há de tão diferente como dois alunos

É cada vez mais uma certeza que a escola se caracteriza com um espaço

multisocial assim e tal como refere Cortesão (1998) a heterogeneidade

presente na turma deverá ser tida como um fator de riqueza que o professor

deve rentabilizar ao máximo e não como um obstáculo à realização de

atividades de ensino-aprendizagem. Contudo, e de forma a que o Professor

consiga tirar o máximo partido das potencialidades dos seus alunos é

determinante que este tenha um conhecimento profundo sobre os seus alunos

bem como das relações que se estabelecem entre eles.

Como refere Bastin (1966) todas as turmas têm características que as

distinguem umas das outras “existem classes vivas, entusiastas, trabalhadoras,

mais faladoras, classes distraídas, classes em conflitos incessantes, classes a

que não pode dizer-se um gracejo sem se desencadear paixões, classes

turbulentas, classes em que pode dar-se mais facilmente, às lições, um ar

amigável, classes amorfas, muito difíceis de despertar, etc” as possibilidades

são inúmeras.

Dadas as infinitas possibilidades que podem caracterizar um grupo

torna-se essencial estudar as suas dinâmicas sociais.

Segundo Maisonneuve (1967, p. 25) “dinâmica de grupo, tomada no seu

sentido mais vasto, interessa-se pelos componentes e pelos processos que

intervêm na vida dos grupos – mas singularmente dos grupos face a face, ou

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seja, aqueles em que todos os membros existem psicologicamente uns para os

outros e se encontram em situação de interdependência e de interação

potencial”.

O mesmo autor refere que um grupo não pode ser definido pela simples

proximidade dos seus membros, mas sim como “um conjunto de pessoas

independentes”. Assim este constitui-se como um organismo e não como um

agregado ou uma coleção de indivíduos.

Maisonneuve (1967, p. 20) refere que “a trama desta organização é o

campo psicológico do grupo englobando não somente os membros, de alguma

forma os suportes materiais, mas os seus fins, ações, origens e normas”, ou

seja, são desenvolvidas uma série de sistemas de tensões quer positivas quer

negativas que visam essencialmente manter e restabelecer o equilíbrio no seio

grupal.

Estes grupos podem ter origens diferentes, ou seja, uma origem

espontânea ou uma origem institucional, contudo aquele que mais assenta

sobre este nosso estudo é o segundo, ou seja, um grupo (turma) que depende

diretamente de uma organização social (escola).

Porém dentro destes grandes grupos é possível a coexistência de grupos mais

pequenos, por exemplo um grupo informal. Maisonneuve (1967) refere a

importância do estudo destes subgrupos como um duplo recurso informativo.

Destaca também que esta análise permite a recolha de um conjunto de

hipóteses e de interpretações de “caracter mais geral, suscetíveis de serem

confrontados posteriormente à escala das coletividades mais representadas.

4.4.3.2 Educação como ato social

Tal como já foi referido num dos capítulos anteriores do presente

relatório de estágio a disponibilidade juvenil e a educabilidade são essenciais

para que o homem se torne homem, uma vez que este à nascença se

caracteriza por ser um ser inacabado (Savater, 1997).

Porém a possibilidade de este se tornar homem está dependente dos outros,

os seus semelhantes (Savater, 1997), ou seja, o homem nasce inacabado e

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por isso necessita de ser influenciado para que haja a possibilidade de este

aumentar o seu nível de competência “somos antes de tudo macacos de

imitação, e é através da imitação que conseguimos ser algo mais que

macacos” (Savater, 1997, p. 26).

Sendo certo que as nossas aprendizagens dependem dos outros e que

a educação está dependente das relações sociais estabelecidas entre sujeitos,

este estudo visa essencialmente recolher mais informações sobre os processos

sociais da turma de modo a sustentar algumas decisões tomadas durante o

processo ensino-aprendizagens visando assim alargar as possibilidades e

capacidades dos alunos na melhoria das suas competências.

Como é transparecido pelos autores acima citados é incontestável que o

homem está condenado à educação (Hannoun, 1975) porém é igualmente

certo que este está dependente dos outros para o decorrer do processo

educativo. Com o decorrer da minha prática pedagógica fui percebendo que, as

relações estabelecidas entre indivíduos são muito importantes na melhoria da

competência, ou seja, as relações que se estabelecem entre Professor e aluno

e entre alunos são determinantes para a aquisição de aprendizagens.

Porém e tal como descrito em capítulos anteriores a turma a qual

lecionei tinha características muito próprias que a tornavam ainda mais

diferente das demais, nela estavam presentes dois alunos com necessidades

educativas especiais.

Com esta particularidade desde cedo percebi que a presença destes alunos

com NEE nas aulas de Educação Física poderia facilmente facilitar o ensino de

aprendizagens que vão muito mais além dos comportamentos técnico-táticos

de uma qualquer modalidade desportiva.

Contudo a dúvida que desde cedo se colocou e à qual procurei

responder com o presente trabalho foi qual o grau de integração deste alunos

no seio do grupo?

A presente turma apresentava igualmente características muito

peculiares, estes apresentavam excelentes índices de motivação,

empenhamento e trabalho em situações de aprendizagem com maior caracter

competitivo. Porém, estes momentos por vezes despoletavam no grupo

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108

algumas reações de conflito, tal como já afirmava Chaix-Ruy (1964, p. 171) “em

qualquer grupo social, em qualquer escala que o consideremos, existem linhas

de rutura, invisíveis, que só aparecerão nos momentos de tensão alta”.

Chaix-Ruy (1964) afirma ser determinante manifestar estas tensões a

tempo de forma a que o combate as mesmas seja feito de um modo mais

efetivo e que garanta um maior sucesso. Assim, e para um conhecimento mais

profundo da turma decidi aplicar um teste sociométrico que me permitiu

interpretar alguns comportamentos dos alunos, permitindo igualmente sustentar

algumas decisões no âmbito da formação de subgrupos para as diferentes

situações de aprendizagem das aulas de Educação Física.

4.4.4 Teste Sociométrico e de Perceção Sociométrica

Um teste sociométrico é um utensilio que permite a recolha de

informações sobre a vida intima dos grupos, permitindo igualmente recolher

informações valiosas como a posição social dos indivíduos bem como o papel

de cada um deles no ceio do grupo (Bastin, 1966). Consiste muito

simplesmente em pedir a cada membro de um grupo que indique as pessoas

com quem gostaria de se associar em diversas situações (Northway & Weld,

1957).

O teste sociométrico destaca-se pela sua espantosa plasticidade (Bastin,

1966). Pode perfeitamente ser utilizado para a formação de camaratas, de

equipas desportivas ou de grupos de trabalho. Este molda-se a atividades

específicas do grupo e também a atividades ditas secundárias que são

extremamente importantes para o desenvolvimento do sentimento de pertença

e do trabalho de equipa. (Bastin, 1966).

Este teste permite a recolha de informações valiosas que ajudarão e

sustentarão o trabalho realizado. Com ele é possível aferir o número de vezes

que uma criança é escolhidas pelos restantes colegas permitindo assim

descobrir o grau de aceitação desta no grupo (posição sociométrica) (Northway

& Weld, 1957).

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109

Estes resultados permitem saber quais são os melhores amigos da criança e a

origem desses mesmos amigos, ou seja, se tem um grande número de amigos

diferentes ou um pequeno número de amigos especiais.

É igualmente importante perceber a estrutura do grupo (turma) como um todo,

ou seja, com as informações recolhidas no teste sociométrico é possível

verificar se este grande grupo é constituído por subgrupos mais ou menos

fechados ou se há uma integração perfeita (Northway & Weld, 1957).

“O teste sociométrico permite mostrar se existe uma barreira entre rapazes e

raparigas, ou entre crianças de nacionalidades diferentes.” (Northway & Weld,

1957). Permite também aferir quais são as crianças que exercem as suas

escolhas para além dessas barreiras, sendo assim membros integrantes de

mais que um grupo. A descoberta dos líderes dos grupos bem como respetivos

discípulos são igualmente informações essenciais para o estudo de todas as

dinâmicas sociais criadas (Northway & Weld, 1957).

O facto de o individuo estar em constante transformação e

desenvolvimento, este teste permite unicamente determinar o comportamento

atual. Dadas estas transformações constantes a que um grupo está sujeito é

facilmente compreendido que o teste sociométrico permite discernir apenas um

momento bem preciso da vida de um grupo, daí que a interpretação dos dados

deva ser feita de uma forma prudente (Bastin, 1966).

Segundo Bastin (1966) isto acontece particularmente em grupos pouco

hierarquizados, como é o caso de grupos de crianças,

As informações recolhidas através do teste sociométrico podem

facilmente ser complementadas com as informações recolhidas através de um

teste de perceção sociométrica. Bastin (1966) refere que um homem quando

colocado num grupo age de acordo com o que julga ser a sua posição social,

assumindo assim a perceção um papel muito relevante na sua atuação.

O teste sociométrico é assim uma espécie de introversão do teste sociométrico.

“Consiste em pedir, a cada individuo, que tente adivinhar quem o escolheu e

quem o rejeitou” (Bastin, 1966).

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110

4.4.5 Objetivos

4.4.5.1 Objetivo Geral

• Compreender a metodologia de aplicação de um teste sociométrico e de

perceção sociométrica

4.4.5.2 Objetivos Específicos

• Aprender a elaborar um teste sociométrico e de perceção sociométrica;

• Conhecer as condições de aplicação;

• Aprender a elaborar uma matriz sociométrica;

• Aprender a elaborar e a interpretar os dados de um sociograma em

circulo.

4.4.6 Metodologia

4.4.6.1 Participantes

Na realização do presente estudo participaram 17 alunos (7 género

masculino e 10 género feminino) de uma turma de 10 ano da Escola Básica e

Secundária D. Dinis. Todos os alunos participaram de forma voluntária e

tiveram o direito de verem todas as suas dúvidas esclarecidas. O questionário

foi preenchido de forma individual, nas mesmas condições para todos os

participantes de forma a garantir uma maior fiabilidade dos resultados.

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111

4.4.6.2 Instrumento de recolha de dados – Teste

Sociométrico e de Perceção Sociométrica

A recolha dos dados foi realizada no dia 23 de Fevereiro de 2018

através de um questionário apresentado aos alunos dividido em duas partes, o

Teste Sociométrico e o Teste de Perceção Sociométrica, ambos compostos por

seis critérios respetivamente (três escolhas e três rejeições).

Para cada critério (situação) foi solicitado ao aluno que exercesse três

escolhas, ou seja, que indicasse três alunos com quem preferia estar em cada

uma das situações.

Posteriormente serão apresentados os resultados através de matrizes

sociométricas e sociogramas em círculo que sintetizam graficamente a forma

como se organiza este grupo.

4.4.7 Resultados

Legenda (Bastin, 1966)

Ṗ= Número de preferências recebidas;

Ṙ= Número de rejeições recebidas;

P= Número de preferências emitidas;

R= Número de rejeições emitidas;

ṕ= Número de indivíduos pelos quais o aluno se julga escolhido;

ŕ= Número de indivíduos pelos quais o aluno se julga rejeitado;

p’= Número de alunos que se julgam escolhidos pelo visado;

r’= Número de alunos que se julgam rejeitados pelo visado;

IS= Índice Sociométrico ou de posição Sociométrica;

Nº Escolhidos = Número de colegas diferentes escolhidos pelo aluno.

Nº = Número de alunos que escolhem o visado;

LSI – Limite significativo inferior

LSS – Limite significativo superior

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112

Figura 9 - Matriz sociométrica Preferências

Figura 10 - Sociograma em círculo Preferências

4.4.7.1 Teste Sociométrico Preferências

Lista de preferências recíprocas: MS-JC; JC-RP; RP-AD; SM-FF; PC-VS; PC-

BS; PC-FP; BS-FP; BS-VS; CO-DA;

Raparigas Rapazes

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113

Figura 12 - Sociograma em círculo Rejeições

4.4.7.2 Teste Sociométrico Rejeições

Lista de rejeições recíprocas: BC-AD; BC-MS; BC-RP; MS-FF; TS-MP.

Figura 11 - Matriz sociométrica Rejeições

Raparigas Rapazes

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114

4.4.7.3 Teste de Perceção Sociométrica Preferências

Figura 13 Matriz perceção de escolhas

Figura 14 - Sociograma de perceção de escolhas

Lista de seleções reciprocas: MS-JC; MS-RP; SM-FF; GB-MP.

Raparigas Rapazes

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115

4.4.7.4 Teste perceção sociométrica rejeições

Figura 15 - Matriz perceção rejeições

Figura 16 - Sociograma de perceção rejeições

Lista de seleções reciprocas: BC-AD; BC-MS; BC-RP

Raparigas Rapazes

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116

4.4.7.5 Distribuição dos indivíduos pelos índices

sociométricos

Distribuição dos alunos índice sociométricos

Índice

Nota abaixo do LSI (0 a 3) Notas não significativas (4

a 14) Notas acima do LSS

(≥15)

Ṗ= Número de preferências

recebidas BC= 0; TS=0; GB=3;

FF=4; SM= 8; JB=8; MS= 9; RP=10; JC=10; FP=10;

PC=10; DA=11; AD=12; CO=13; MP=13; BS=14;

VS=16

Índice Nota abaixo do LSI (0 a

2) Notas não significativas (3

a 12) Notas acima do LSS

(≥13)

Ṙ= Número de rejeições recebidas

DA=0; PC=0; VS=0 FP=3; JC=3; BS=4; RP=5;

AD=6; JB=6; MP=6; SM=8; CO=8; FF=9; GB=12;

MS=13; TS=22; BC=38;

Índice Nota abaixo do LSI (0 a

3) Notas não significativas (4

a 14) Notas acima do LSS

(≥15)

p’= Número de alunos que se

julgam escolhido pelo visado

BC=0; TS=2; PC=6; MP=6; FP=7; GB=7; JC=9; MS=9; SM=9; DA= 9;

FF=9; AD=10; JB=10; RP=10; CO=12;

BS=17; VS=17

Índice Nota abaixo do LSI (0 a

3) Notas não significativas (4

a 14) Notas acima do LSS

(≥15)

r’ = Número de alunos que se

julgam rejeitados pelo visado

VS= 0; BS=2; JC=3; FP=3; MP=3;

DA=4; PC=5; FF=6; CO=7; JB=7; AD=8; RP=8; SM=8;

GB=10; MS=15; TS=21; BC=39;

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117

O quadro apresentado sintetiza os índices sociométricos obtidos pelos

alunos nos vários testes, nomeadamente nas escolhas, rejeições, perceção de

escolhas e perceção de rejeição.

Importa referir que segundo (Northway & Weld, 1957) o Limite Significativo

Superior (LSS) e o Limite Significativo inferior são importantes para se perceber

se um aluno tende a ser um aluno popular ou um aluno mais isolado, sendo a

base para esse calculo o índice de probabilidade (P). Segundo (Northway &

Weld, 1957) P= d/n-1 (P= índice de probabilidade; d= número de respostas

dadas; n= população do grupo)

Assim, se P=9, o Limite Significativo Superior (LSS) é igual ou superior a 15 e o

Limite Significativo Inferior (LSI) é igual ou inferior a 3. Se o P=8, então o LSS é

igual ou superior a 13 e o LSI é igual ou inferior a 2.

4.4.8 Discussão resultados

Após a apresentação dos resultados recolhidos com a aplicação do teste

sociométrico, faz todo o sentido estabelecer ligações das informações obtidas

com os comportamentos que os alunos evidenciavam nas aulas.

Analisando o sociograma referente às preferências (Figura 9) podemos

facilmente perceber que há uma divisão clara entre rapazes e raparigas sendo

essa facilmente evidenciada pela reciprocidade das escolhas. Assim destacam-

se as escolhas totalmente recíprocas (quando uma criança escolhe e é

escolhida por outra em cada um dos três critérios) dos rapazes entre os alunos

MS-JC; JC-RP; RP-AD. No que reporta às raparigas também se destacam

relações entre quatro delas que escolhem e são escolhidas reciprocamente

PC-VS; PC-BS; PC-FP; BS-FP; BS-VS. Com estes dados é percetível a

existência de dois subgrupos, um subgrupo masculino e um subgrupo feminino.

Destaco ainda as escolhas feitas entre as alunas DA-CO e entre os alunos SM-

FF que apesar de não estarem evidenciados num subgrupo tal como os

anteriores relevam uma preferência clara pelo par em questão.

Para além das escolhas totalmente reciprocas podemos ainda analisar

as escolhas parcialmente reciprocas (quando uma criança escolhe e é

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escolhida uma ou duas vezes, ou seja, quando a intensidade da escolha é

inferior a 3-3), estas escolhas evidenciam as proximidades entre os alunos,

apesar de estas não terem uma intensidade máxima.

Relativamente às escolhas parcialmente reciprocas podemos verificar

que as respostas entre rapazes e raparigas já são mais comuns o que

demonstra que os dois géneros não assim tão opostos como se poderia

inicialmente evidenciar. Porém denota-se a existência de uma tendência pela

seleção de membros do mesmo género como é o caso das relações

estabelecidas entre os alunos AD-JC; AD-MS; RP-MS e as alunas CO-VS; DA-

JB; JB-MP; JB-VS.

Das informações recolhidas relativamente às escolhas há a destacar os alunos

TS e BC que não foram alvo de nenhuma escolha, ou seja, nas três escolhas

relativas aos três critérios nenhuma vez os alunos foram referidos pelos seus

pares, transparecendo desde já algum isolamento face ao grupo.

No que reporta ao índice de rejeições destacam-se dois alunos com um

elevado número de respostas a recaírem sobre eles, o aluno TS selecionado

22 vezes e a aluna BC selecionada 38 vezes. Destes dois alunos o caso que

se revela mais preocupante é o caso da aluna, pois do total de 17 alunos

inquiridos, 14 selecionaram-na nas suas rejeições. Este dado deve ainda ser

agregado ao facto de esta não ter sido vislumbrada com nenhuma preferência,

facto que releva ainda mais a possibilidade de isolamento face aos restantes

colegas da turma. O mesmo acontece com o aluno TS ainda que de uma forma

menos evidente.

Relativamente às rejeições totalmente reciprocas (alunos que se

rejeitam mutuamente com uma intensidade máxima) destacam-se as relações

entre os alunos BC-AD; BC-MS; BC-RP. Estas escolhas devem merecer

especial destaque porque a aluna BC revela uma grande rejeição para com

estes três alunos que fazem parte do mesmo subgrupo masculino referido

anteriormente (AD; JC; MS; RP).

Na turma evidenciam-se ainda as relações de rejeição reciproca entre os

alunos MS-FF e os alunos MP-TS.

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119

No que reporta às rejeições parcialmente reciprocas destacam-se as

seleções entre os alunos GB-JC; GB-TS; GB-BS; GB-FP; o aluno GB recebe

aqui especial destaque pois este aluno não se encontra integrado no subgrupo

do género masculino (inclusive tende a ser rejeitado por estes) e tende a

estabelecer as suas relações com elementos do género oposto, ou seja,

distingue-se de todo o padrão de relações da turma.

Existem ainda na turma relações parcialmente reciprocas entre os alunos TS-

CO; SM-CO; RP-FF;

Face a estes resultados quer das escolhas exercidas, quer das

rejeições, podemos facilmente perceber quais são os subgrupos existentes na

turma e quais são aqueles alunos que se encontram mais isolados face aos

restantes colegas. Este conjunto de informações revela-se de todo pertinente

pois poderá ser um importante indicador e fator para a formulação de grupos e

equipas de trabalho. Sendo certo que a nossa disciplina é altamente promotora

de contacto social, um correto aproveitamento deste fator poderá tornar o

processo ensino-aprendizagem mais eficiente aproveitando-se desde logo este

conjunto de informações que claramente podem maximizar o sucesso.

No que se reporta ao teste de perceção sociométrica merecem especial

destaque os alunos BS e VS por terem sido alvo de várias escolhas, ou seja,

17 alunos revelam achar-se escolhidos por estas duas alunas. Este facto pode

ser revelador da integração das duas alunas no seio do grupo, sendo de

destacar o facto de ambas serem referidas tanto no subgrupo feminino como

no masculino.

No sentido contrário destaca-se a aluna BC cujos resultados revelam que esta

não foi opção de escolha por parte de nenhum dos seus pares, ou seja,

nenhum dos seus colegas acha ter sido alvo de escolha por parte desta aluna.

Algo similar acontece com o aluno TS cujos resultados revelam que

unicamente o aluno SM se acha ter sido escolhido por este.

Mais uma vez destacam-se os mesmos alunos ainda que em testes diferentes,

apesar dos resultados anteriormente apresentados, será de destacar que estes

alunos têm uma perceção diferente daquela que os resultados revelam, ou

seja, o aluno TS acha-se escolhido por 5 dos seus pares e a aluna BC acha-se

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120

escolhida por 4, situação que na realidade não acontece pois estes obtiveram

resultados muito baixos nas escolhas, não sendo alvo de escolha de

preferência por parte de nenhum dos seus pares.

Com todos os dados anteriormente apresentados relativos às relações

estabelecidas entre estes dois alunos e o restante grupo é por demais evidente

que estes não se encontram integrados no grupo, sendo alvo até de algum

isolamento. Esta situação tem-se confirmado pelo facto de estes alunos

estarem muitas das vezes sozinhos em tempos fora da componente letiva.

Estes resultados confirmam a hipótese já levantada pelo conselho de turma

que destaca o possível isolamento destes dois membros face ao restante

grupo.

No que toca à perceção das preferências reciprocas destacam-se as

relações entre 4 pares MS-JC; MS-RP; GB-MP; SM-FF. Estes dados revelam

que estes alunos acham que seriam escolhidos pelos colegas nos três critérios

e que o mesmo acontece no sentido inverso da escolha. Das quatro perceções

de preferências reciprocas é de relevar o facto de unicamente duas destas não

se ter evidenciado no teste das escolhas sociométricas com uma intensidade

de 3-3, porém as outras duas revelam igualmente uma grande intensidade pelo

que as perceção dos alunos face às suas relações não diferenciou muito da

realidade das escolhas efetuadas.

Relativamente ao último teste, a perceção das rejeições, deve-se

destacar o facto de 15 dos 17 alunos se acharem rejeitados pela aluna BC e de

8 das 10 raparigas se acharem rejeitadas pelo aluno TS. Como já foi

anteriormente percebido estes alunos revelam-se como aqueles que mais

vezes foram rejeitados pelo grupo, mas deve-se destacar que estes alunos têm

plena consciência de quem os rejeita. Todos os alunos que estes acharam que

os rejeitaram, na realidade dos factos rejeitaram-nos mesmo e com uma

elevada intensidade.

Estranhamente as alunas BS, PC e VS que no teste sociométrico foram

bastantes escolhidas e poucas vezes rejeitadas, revelam achar-se rejeitadas

por 6, 5 e 5 colegas respetivamente, situação que demonstra que estas podem

não ter consciência da sua posição de popularidade face ao grupo.

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121

No que toca às perceções de rejeição reciproca destaca-se a

reciprocidade nos pares BC-AD; BC-MS; BC-RP, estes resultados revelam que

estes alunos acham que seriam rejeitados pelos colegas nos três critérios e

que o mesmo acontece no sentido inverso da escolha. Certo é que estes

alunos no teste de sociométrico se rejeitaram mutuamente o que demonstra

que realmente as suas relações não são as melhores e que todos têm

conhecimento dessa realidade.

Após a apresentação e discussão dos resultados mais importantes

retirados do presente estudo sociométrico da turma, será importante referir os

membros que se destacam como os mais integrados no grupo e que podem

ser denominados de populares, bem como aqueles que se encontram menos

integrados e que podem ser denominados de isolados.

De todo o grupo os alunos que se revelaram como os mais populares,

ou seja, aqueles que foram mais vezes escolhidos e menos vezes rejeitados

destacam-se as alunas BS, VS e CO. Destes três membros os dois primeiros

não foram surpresa para mim pois conseguem ser membros que facilmente

estabelecem relações quer no subgrupo masculino como no feminino. O facto

da aluna VS ser delegada de turma, faz com que esta necessite

obrigatoriamente de contactar com todos não se restringindo a um subgrupo

muito fechado, abrindo assim a possibilidade de ser escolha. A aluna BS

apesar de não ser delegada denotava-se como sendo muitas das vezes uma

das porta-vozes da turma facto que certamente também contribuiu para esta

posição.

Destas três alunas o destaque recai obrigatoriamente sobre a aluna CO que ao

contrário das anteriores não assumia qualquer destaque, revelando-se

inclusive nas aulas de Educação Física como uma das alunas mais

introvertidas.

Por outro lado, os alunos TS e BC revelam-se como os mais isolados, ou

seja, estes foram os alunos mais rejeitados e os menos selecionados nas

escolhas das preferências. No que toca a aluna, o conselho de turma pensa ter

chegado à raiz do problema, a mesma tinha uma personalidade bastante

vincada e completamente distinta dos seus pares, facto que esse que

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122

certamente contribuiu em muito para a obtenção destes resultados (a aluna

mais rejeitada e a menos escolhida no âmbito das preferências).

Relativamente ao aluno TS, desde cedo se denotou neste aluno uma enorme

responsabilidade acompanhada de um exímio comportamento e de uma

grande vontade de aprender. O aluno tinha admiráveis índices de

empenhamento, passando inclusive grande parte do seu tempo livre na

biblioteca a estudar, facto esse que pode ter tido influência nas escolhas e

rejeições exercidas pelos colegas. Apesar de ser uma excelente rotina, não era

um hábito dos restantes alunos, pelo que esta rotina o obrigava separar-se dos

colegas nos momentos de convívio (intervalos; horas de almoço). Sendo este

um teste que visa essencialmente avaliar as relações entre os alunos não

atendendo à sua competência no processo ensino-aprendizagem, certamente

que este isolamento contribuiu e teve forte preponderância nos resultados

obtidos pelo aluno.

4.4.9 Conclusões

Um dos principais objetivos do presente estudo foi conhecer a

metodologia de aplicação de um teste sociométrico como uma ferramenta

essencial para o conhecimento dos alunos, e das dinâmicas sociais

estabelecidas entre si e que inevitavelmente têm influência no grupo e contexto

onde estão inseridos.

Com este trabalho visei obter um conhecimento mais profundo sobre a turma

de modo a tomar decisões ajustadas e sustentadas que visassem a melhoria

do processo ensino-aprendizagem e consequentemente os alunos.

Sendo a educação um processo que se dá pela inevitável relação de

influência entre indivíduos, sendo a Educação Física uma disciplina que está

altamente dependente das relações estabelecidas dentro do grupo, considero

que a aplicação do presente estudo foi pertinente e enriquecedora.

Este estudo permitiu-me conhecer os subgrupos formados na presente turma,

as suas dinâmicas bem como os seus elementos mais e menos

influenciadores.

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123

Com estas informações o planeamento da aula tornou-se mais sustentado

nomeadamente no que reporta à formação de grupos e equipas.

Como foi percetível com os resultados anteriormente apresentados num

mesmo grupo os mesmos alunos são interpretados pelos colegas de diferentes

formas, daí a existência de subgrupos, de alunos mais integrados e de alunos

mais isolados. Com esta heterogeneidade entre alunos e entre relações cabe

ao professor saber aproveitar o conhecimento individual e grupal para

aumentar as possibilidades de sucesso dos seus alunos.

Tal como eu verifiquei este conjunto de informações permitiram-me

enquanto docente obter repostas a alguns problemas levantados, problemas

esses cuja causa aparente não era do âmbito da sociologia mas que com este

complemento fizeram na minha cabeça outro sentido facilitando assim a busca

e a aplicação da possível solução.

Após a recolha destas informações foram várias as soluções adotadas

que visavam essencialmente a integração de todos os alunos e a diminuição

dos possíveis focos de conflito que algumas vezes despoletaram durante os

momentos de competição.

Uma das primeiras soluções adotadas foi a utilização dos alunos mais

competentes e com um maior perfil de liderança na coordenação do seu

grupo/equipa de trabalho “os Grey, foram de longe a equipa que mais sucesso

teve nesta tarefa, vencendo todos os jogos em que participou, este resultado

deveu-se à liderança e trabalho desenvolvido pelo seu capitão que foi capaz de

coordenar todas as relações entre os membros da equipa de modo a otimizar a

sua performance” Reflexão nº54. O teste sociométrico permitiu-me optar pela

solução mais pertinente, permitiu que a escolha recaísse sobre alunos

influentes que não estivessem isolados ou fechados num subgrupo e que

fossem capazes de intervir sobre qualquer companheiro procurando assim a

total de integração de todos e consequentemente o sucesso nas várias

situações de aprendizagem apresentadas.

Aliando esta influência dos alunos com um maior perfil de liderança à sua

competência desportiva, consegui com que estes alunos fossem também eles

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124

intervenientes nas aprendizagens dos colegas, assumindo um papel de tutores

guiando os colegas para um maior sucesso escolar.

Um dos resultados que mais se destacam nestes tipos de testes são

obviamente os extremos, ou seja, os alunos mais integrados bem como os

mais isolados. Perante este cenário e com este conjunto de informações a

minha atuação enquanto professor teve que ser ainda mais distinta.

Assim, a minha atuação foi influenciada por este facto. Estando presente de

alunos que se encontravam numa posição mais frágil (alunos isolados do

grupo) fez todo o sentido a utilização de um discurso ainda mais assertivo e

motivador para que estes aproveitassem ainda mais as aprendizagens da

disciplina, principalmente as aprendizagens sociais que lhes permitiriam ter um

maior sucesso na relação com os seus pares.

No que reporta à aluna BC a aluna que mais se destacou pelo facto de ser

isolada relativamente ao grupo, o seu comportamento social foi sendo distinto à

medida que o tempo foi passando, denotando-se uma excelente evolução a

nível relacional com os seus pares e inclusive com os alunos com

necessidades educativas especiais, alunos aos quais se mostrou pouco

recetiva numa etapa inicial do ano letivo.

O teste sociométrico ajudou-me na construção da aula, nomeadamente

na formação de grupos e equipas na medida em que facilitou a escolha dos

seus membros de modo a maximizar a hipóteses de aprendizagem dos alunos.

Assim, ao perceber que a junção de alguns alunos poderia ser um fator para

despoletar comportamentos desviantes, ou comportamentos de conflito fez

todo o sentido atender a estes resultados para exercer uma seleção criteriosa

que contornasse estes eventuais problemas.

Em suma, este instrumento veio a revelar-se uma mais-valia na melhoria

do processo ensino aprendizagem da turma à qual lecionei aulas, este

permitiu-me obter informações muito importantes sobre as relações

estabelecidas entre os alunos, o que me permitiu atuar com um maior

conhecimento de causa.

Desde cedo percebi que o conhecimento do contexto de atuação seria

determinante para o meu sucesso enquanto Professor, mas mais determinante

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ainda se veio a revelar a necessidade de conhecer o grupo turma bem como os

seus membros.

Praticamente todos os objetivos delineados com o início do presente estudo

foram concretizados à exceção da recolha de informações sobre os alunos com

necessidades educativas especiais, revelando esta como a grande limitação do

presente teste.

4.4.10 Limitações da avaliação sociométrica

Como se pôde evidenciar o presente teste apresentou uma grande

limitação que impediu desde logo a concretização de um dos objetivo

inicialmente definidos, ou seja, verificar a integração dos alunos com

necessidades educativas especiais. Apesar da nossa vontade e com a

colaboração da Professora responsável pelo gabinete de Educação Especial,

rapidamente percebemos que era impossível para estes alunos reconhecerem

os colegas de turma ao ponto de os selecionarem nos vários critérios que o

teste apresentava. Assim sendo, a aplicação do teste não tinha condições para

apresentar resultados fidedignos e congruentes com a realidade.

O teste utilizado tal como refere Northway & Weld (1957, p. 14)

apresenta também como limitação o facto de unicamente fornecer informações

“acerca dos indivíduos e das relações entre eles no grupo que foi submetido o

teste”, ou seja, a informação recolhida não pode ser generalizada a outras

relações que o individuo tenha com outro grupos.

Northway & Weld (1957) referem igualmente que as informações

recolhidas “não nos dão indicação sobre o grau de profundidade de sentimento

que uma criança tem pela outra, embora dê uma indicação”.

Este teste dá-nos informações preciosas sobre as relações dos alunos num

determinado momento no tempo. Assim a confirmação das informações

recolhidas pode ser feita através de reaplicações do teste de modo a verificar a

consistência das relações no tempo sendo igualmente sustentadas com a

observação de comportamentos por parte do Professor no seu contexto de

atuação.

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127

4.4.11 Referências Bibliográficas

Bastin, G. (1966). As técnicas sociométricas. Paris: Livraria Morais Editora.

Chaix-Ruy. (1964). Psicologia social e sociometria. Lisboa: Coleção

enciclopédia.

Cortesão, L. (1998). O arco-íris na sala de aula? Processos de organização de

turmas: Reflexões criticas: Instituto de Inovação Educacional.

Hannoun, H. (1975). A contradição, conceito fundamental em educação. In H.

Hannoun (Ed.), Os conflitos da educação. Lisboa: Socicultor.

Maisonneuve, J. (1967). A dinâmica dos grupos. Lisboa: Livros do Brasil.

Matos, Z. (2014). Educação física na escola: Da necessidade da formação aos

objetivos e conteúdos formativos. In I. Mesquita & J. Bento (Eds.),

Professor de educação física: Fundar e dignificar a profissão (pp. 157-

188). Porto: Editora FADEUP.

Northway, M., & Weld, L. (1957). Testes sociométricos. Lisboa: Livros

Horizonte.

Savater, F. (1997). O valor de educar. Lisboa: Editorial Presença.

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5 - Conclusões

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131

5. Conclusões

E assim termina uma das etapas mais desafiantes que enfrentei até ao

momento e certamente uma das mais marcantes. Foram oito anos

consecutivos (Curso Tecnológico de Desporto; Licenciatura em Ciências do

Desporto; Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário) de trabalho para chegar a um resultado final, aquele que hoje aqui

apresento.

Um ano pautado por muitos desafios, frustrações, sucessos, mas acima de

tudo um ano de concretização carregado de prazeres. Um ano letivo onde tive

que fazer uso de múltiplos conhecimentos já adquiridos, mas acima de tudo um

ano marcado por muitas aprendizagens, quer profissionais, quer pessoais.

Fecho esta etapa com o sentimento de dever cumprido e com a certeza que

hoje sou certamente um homem mais rico.

De hoje em diante, terminada a minha formação inicial, sinto-me capaz de

continuar esta viagem pelo conhecimento sozinho mas, na bagagem levo

aprendizagens, estratégias, técnicas que certamente me serão muito úteis e

que não seriam possíveis sem esta oportunidade de aprender a ensinar com a

ajuda de profissionais mais experientes.

Recordo como essencial todo o trabalho realizado com os meus

companheiros de núcleo de estágio que igualmente me ajudaram a ser melhor

profissional e me ajudaram no desenvolvimento do sentimento de pertença e

de partilha de valores.

No que reporta ao futuro, apesar de este não se avizinhar fácil, a crença

e a busca incessável pelo conhecimento e por aquilo que acredito certamente

tornarão o meu futuro mais fácil, e certamente me ajudarão na construção de

um ainda melhor profissional. Foi esta crença e necessidade de aprendizagem

que tornaram este estágio profissional um sucesso, apesar de saber de

antemão o que me espera o futuro, numa sociedade cada vez mais pautada

pelo descrédito pela profissão docente e em particular pelos profissionais da

Educação Física.

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É esta resiliência que me torna mais capaz e que me dá a certeza de que o

melhor ainda está para vir.

Assim encerro este estágio profissional com a certeza que hoje se

encerra um dos maiores desafios que já enfrentei, mas com a certeza amanhã

se iniciará um novo.

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6 - Referências Bibliográficas

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135

6. Referências Bibliográficas

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[Versão eletrónica], disponível.

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XVII

Anexos

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XVIII

Anexo 1 - Ficha individual do aluno

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XX

Anexo 2 – Unidade Temática

Andebol (FBJ2) Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4 Aula 5 Aula 6 Aula 7 Aula 8 Aula 9 Aula 10 Aula 11 Aula 12 Aula 13 Aula 14 Aula 15 Aula 16

Hab

ilid

ades

Mo

tora

s Técn

icas

Passe Ombro

Ava

liaçã

o D

iagn

óst

ica

E E E E E E C

Ava

liaçã

o S

um

ativ

a

Even

to C

ulm

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te

Passe Picado E E E E E E C

Passe Pulso E E E E E E C

Remate Apoio E E E E C

Remate Suspensão E E E E E E E E E C

Drible Progressão E E E E E E C

Finta (1x1) I E E E E C

Posição Defensiva I E E E E E E C

Táti

cas

Penetrações I E E C

2X1 I E E C

2X2 c/Apoios I E E C

3x2 I E E C

Desmarcações I E E E E E E E E C

Defesa Individual I E E E E E E E C

(5+GR) 6X6 (5+GR) I E E E E E E E E C

Cu

ltu

ra D

esp

ort

iva

Caract. Modalidade X X X X

Regras X X X X X X X X X X

Regras Segurança X X X X X

Co

nce

ito

s

Fisi

oló

gico

s

Capacidades Condicionais (Força; Velocidade;

Resistência)

X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X

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XXI

Capacidades Coordenativas (Diferenciação Cinestésica;

Coordenação; Capacidade de Reação; Orientação Espacial)

X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X

X X X X X X X X X X

Co

nce

ito

s P

sico

sso

ciai

s Autonomia / Responsabilidade X X X X X X X X X X

Respeito X X X X X X X X X X

Empenho X X X X X X X X X X

Atenção / Concentração X X X X X X X X X X

Entreajuda / Cooperação X X X X X X X X X X

Superação X X X X X X X X X X

Fair-Play X X X X X X X X X X

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XXII

Anexo 3 – Plano de aula

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XXIII

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XIV

Anexo 4 – Critérios de avaliação Ensino Secundário EBSDD

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XV

Anexo 5 – Observações

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XVI

Anexo 6 - Cartaz Open Day

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XXVII

Anexo 7 – Teste sociométrico

Teste Sociométrico

Os resultados do presente teste são totalmente confidenciais e visam sustentar a formação e

grupos/equipas de trabalho procurando assim criar um clima social que maximize o sucesso escolar.

Assim sendo, apela-se ao máximo rigor no preenchimento dos dados, de forma a obter resultados

fidedignos e ajustados à realidade.

Deverás responder às 6 questões indicando o nome dos colegas da tua turma (primeiro/último) por

ordem decrescente de preferência.

Nome: ____________________________________________________ Data: _____________________

1. Quem convidavas para a tua festa de aniversário?

1) ______________________________

2) Quem mais? ___________________

3) E quem mais? ____________________

2. Com quem gostavas de passar o intervalo?

1) ________________________________

2) Quem mais? _____________________

3) E quem mais? ______________________

3. Se fosses numa visita de estudo quem convidavas para ir sentado ao teu lado no autocarro?

1) ________________________________

2) Quem mais? _____________________

3) E quem mais? ______________________

4. Quem não convidavas para a tua festa de aniversário?

1) ______________________________

2) Quem mais? ___________________

3) E quem mais? ____________________

5. Com quem não gostavas de passar o intervalo?

1) ________________________________

2) Quem mais? _____________________

3) E quem mais? ______________________

6. Se fosses numa visita de estudo quem não convidavas para ir sentado ao teu lado no autocarro?

1) ________________________________

2) Quem mais? _____________________

3) E quem mais? ______________________

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XXVIII

Teste de Perceção Sociométrica

7. Qual dos teus colegas pensas que te convidava para a sua festa de aniversário?

1) ______________________________

2) Quem mais? ___________________

3) E quem mais? ____________________

8. Qual dos teus colegas pensas que gostava de passar o intervalo contigo?

4) ________________________________

5) Quem mais? _____________________

6) E quem mais? ______________________

9. Se fosses numa visita de estudo qual dos teus colegas pensas que te convidaria para ires sentado ao

teu lado no autocarro?

4) ________________________________

5) Quem mais? _____________________

6) E quem mais? ______________________

10. Qual dos teus colegas pensas que não te convidaria para a sua festa de aniversário?

4) ______________________________

5) Quem mais? ___________________

6) E quem mais? ____________________

11. Qual dos teus colegas pensas que não gostava de passar o intervalo contigo?

4) ________________________________

5) Quem mais? _____________________

6) E quem mais? ______________________

12. Se fosses numa visita de estudo qual dos teus colegas pensas que não te convidaria para ires

sentado ao teu lado no autocarro?

4) ________________________________

5) Quem mais? _____________________

6) E quem mais? ______________________

Muito obrigado pela participação!!

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XXIX

Anexo 8 – Teste teórico

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XXXI

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XXXII