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DESEMPENHO ECONÔMICO E O NÍVEL EDUCACIONAL DA PRODUÇÃO FAMILIAR RURAL NA AMAZÔNIA UM ESTUDO A PARTIR DAS FAMÍLIAS RURAIS ACREANAS

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[Trabalho 1103 ] APRESENTAÇÃO ORAL

RAIMUNDO CLÁUDIO GOMES MACIEL; TIAGO DE OLIVEIRA LOIOLA; FRANCISCO DIÉTIMA DA SILVA BEZERRA.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE, RIO BRANCO - AC - BRASIL; SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, INDÚSTRIA, COMÉRCIO, SERVIÇOS, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA, RIO BRANCO - AC - BRASIL.

DESEMPENHO ECONÔMICO E O NÍVEL EDUCACIONAL DA PRODUÇÃO FAMILIAR RURAL NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO A PARTIR DAS FAMÍLIAS

RURAIS ACREANAS

ECONOMIC PERFORMANCE AND EDUCATIONAL LEVEL OF FAMILY FARM IN THE AMAZON REGION: A CASE STUDY FROM RURAL FAMILIES OF ACRE,

BRAZIL

Grupo de pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade

RESUMOA educação apresenta-se atualmente como um mecanismo essencial para se alcançar uma sociedade mais justa, com eqüidade e justiça social, influenciando diretamente o nível de vida da população, sobretudo das famílias assentadas no meio rural. Nesse sentido, objetiva-se no presente trabalho analisar a relação entre os níveis de educação e o desempenho econômico das famílias rurais do Acre. Utiliza-se a metodologia do projeto de pesquisa Análise Socioeconômica dos Sistemas de Produção Familiar no Estado do Acre (ASPF), desenvolvido pelo Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA), da Universidade Federal do Acre (UFAC), a partir de indicadores de resultado econômico, como renda bruta, índice de eficiência econômica, entre outros. Os resultados indicam que no Vale do Acre a escolaridade relaciona-se positivamente no desempenho econômico das famílias estudadas, diferentemente do Vale do Juruá, em que o desempenho econômico tem menor relação com a escolaridade das famílias e é mais fortemente condicionado por fatores estruturais e de mercado.

Palavras-chave: Desempenho econômico. Educação. Agricultura familiar. Amazônia. Acre.

ABSTRACT

Education presents itself today as an essential mechanism for achieving a fairer society with equity and social justice, influencing directly the standard of living of the population, especially the families settled in rural areas. The aim of this paper is to analyze the

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relationship between education levels and economic performance of rural households in Acre. It uses the methodology of the research project Socioeconomic Analysis of Production Systems Family in Acre (ASPF), developed by the Centre for Applied Social and Legal Sciences (CCJSA) at the Federal University of Acre (UFAC), based on indicators economic output as gross income, index of economic efficiency, among others. The results indicate that in the Acre Valley schooling relates positively to the economic performance of the families studied, unlike the Juruá Valley, where economic performance has less relation to the education of families and is more strongly influenced by structural factors and market.

Keywords: Economic performance. Education. Family farm. Amazon Region. Acre.

1. INTRODUÇÃO

Conforme Silva (2004), o modelo de desenvolvimento implementado no Brasil, baseado no latifúndio e na predominância da produção extrativista e agrícola voltada para a exportação, contribuiu significativamente para a formação de uma sociedade totalmente desigual no tocante à educação. Isso se dava pelo fato de que nessa formação social a educação ficava condicionada somente à grande elite agrária, não se demandando para tanto, uma qualificação da força de trabalho das camadas populares por parte das elites.

No entanto, segundo Nogueira e García (2009),a partir da década de 1990, a educação do campo tem avançado substancialmente devido, principalmente, às reivindicações das famílias trabalhadoras no campo para a construção de escolas nos acampamentos de luta pela terra e assentamentos rurais de reforma agrária, tendo em vista o reconhecimento da influência desempenhada pela educação na qualidade de vida das pessoas, afetando positivamente o nível de produtividade e renda do trabalho no meio rural.

Diante disso, objetiva-se no presente trabalho analisar o impacto da educação na renda das famílias rurais das regiões dos Vales do Acre e Juruá no Estado do Acre. O problema que norteou a pesquisa foi: será que o nível de escolaridade influencia o desempenho econômico das famílias nas regiões estudadas?

Trabalhou-se com a hipótese de que o nível de escolaridade influencia positivamente no desempenho econômico das famílias nas duas regiões estudadas, contribuindo para a obtenção de rendimentos monetários mais estáveis.

Assim, torna-se importante estudar a influência da educação no meio rural do Acre, uma vez que os resultados encontrados poderão ser utilizados pelos gestores formuladores de políticas governamentais na implementação de uma política agrícola mais efetiva no estado.

A pesquisa encontra-se estruturada da seguinte forma: no primeiro tópico são apresentados aspectos introdutórios a respeito do tema estudado. No segundo são apresentadas algumas considerações acerca da desigualdade de renda e educacional no meio rural. Posteriormente são apresentadas algumas das características da agricultura familiar na Amazônia e no Acre. Logo em seguida são apresentados os procedimentos metodológicos dessa pesquisa, que no caso particular será utilizada a metodologia do projeto Análise Socioeconômica dos Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre (ASPF), que utiliza medidas e indicadores de resultado econômico que avaliam a evolução do desempenho econômico da produção familiar. Já no terceiro são mostrados os resultados e discussões da pesquisa. E por fim, serão descritas as conclusões na parte final.

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2. DESIGUALDADE DE RENDA E EDUCACIONAL NO MEIO RURAL

No Brasil, tem-se observado nas últimas décadas, a permanência de um quadro histórico de alta desigualdade de renda, que tem como característica uma grande proporção da renda total apropriada por uma pequena parcela da população que se encontra no topo da distribuição. E essa desigualdade se acentua ainda mais em detrimento da heterogeneidade educacional existente no país, sobretudo no meio rural. (NEY, 2006).

Pode-se afirmar que as disparidades de rendimentos causadas pela educação advêm, notadamente, das diferenças existentes entre os indivíduos quanto aos seus atributos produtivos, geradas principalmente no período da infância e da adolescência, fase em que se acumula capital humano. Sabe-se que, quando uma população é analfabeta ou tem pouca escolaridade, a qualidade da força de trabalho geralmente é baixa e homogênea. Por outro lado, quando a população se encontra em um patamar educacional muito elevado e grande parte da população apresenta avançado nível de escolaridade, há uma baixa heterogeneidade educacional e, por conseguinte, tende a existir pouca disparidade de renda, visto que o universo populacional apresenta um aperfeiçoamento ou qualificação de suas competências e habilidades a serem utilizadas no desenvolvimento das atividades. (NEY, 2006).

Nesse sentido, nota-se, portanto, que o baixo nível de escolaridade influencia significamente o crescimento das atividades não-agrícolas, principalmente das mais produtivas e dinâmicas de modo que não há uma qualificação da força de trabalho, implicando em alta desigualdade de renda no país. Essa situação torna-se ainda mais preocupante pelo fato de o nível de investimento em capital humano depender das condições econômicas da população. Ora, se apenas uma pequena parcela da população detém o maior nível de renda, enquanto a grande maioria dispõe de poucos recursos econômicos, como esses últimos irão investir na educação para que tenham um maior nível de qualificação?

De acordo com Ney (2006, p.16) essa situação torna-se preocupante, pois:

À medida que a disponibilidade de recursos familiares é fundamental na determinação do nível de escolaridade e da qualidade do aprendizado, jovens e crianças, quem tem pais com baixo nível de escolaridade e rendimento, possuem grandes chances de se tornarem adultos com baixo desempenho educacional. E considerando que a educação é um dos principais fatores responsáveis pela determinação da renda no país, observa-se uma situação na qual prevalece a desigualdade de oportunidade e, por conseguinte, a transmissão intergeracional da pobreza.

Tudo isso contribui para que “a educação brasileira seja caracterizada por uma distribuição etária da escolaridade em que grande parte da população possui reduzida escolaridade ou é analfabeta, enquanto a outra parcela possui o ensino secundário ou encontre-se na universidade”. (BARROS et al, 2002 apud NEY, 2006, p. 13).

Diante disso, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA, 1998 apud PASSADOR, 2006) afirma que o risco que uma pessoa corre em ficar fora do mercado de trabalho varia de acordo com o nível de escolaridade. De acordo com a pesquisa, um trabalhador com o 2º grau incompleto corre cinco vezes mais risco de está desempregado que outro com formação universitária, em que o salário cresce proporcionalmente a cada ano

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estudado, além de incrementar as necessidades do mercado em rápida transformação, de modo que as tecnologias são incorporadas a cada instante, exigindo uma adequação da população a essa nova realidade exigida pelo mercado.

Cabe destacar que o nível de desigualdade educacional no país não envolve apenas o nível de escolaridade, mais também a qualidade do aprendizado. De acordo com Speyer (1983 apud NOGUEIRA; GARCÍA, 2009, p. 05) “a baixa qualidade do ensino, sobretudo no meio rural, está associada na maioria das vezes, ao fato de serem adotadas nesses territórios, práticas educacionais distintas da realidade vivida nessas localidades, o que tem se tornado em um obstáculo para o desenvolvimento do campesinato”. Nas palavras de Rego (2006 apud NOGUEIRA; GARCÍA, 2009, p. 05) “a concepção norteadora da educação do campo, apresenta, muitas vezes, uma concepção curricular e de trabalho escolar que nega a existência dos trabalhadores do campo, em função de uma visão que considera o modelo de educação a ser abordado, a partir dos moldes do modo de vida da cidade”.

A esse respeito, Reis (2004 apud NOGUEIRA; GARCÍA, 2009, p. 05) pondera que:

Quando a escola é pensada e levada para o mundo rural, não se busca nem se pensa numa abordagem que possa levar em conta como ponto de partida a própria realidade rural, para que, a partir, desta, se desenvolva uma educação mais comprometida e vinculada com a vida e as lutas do povo do campo.

Neste contexto, os estudos de Ferreira, Lanjouw e Neri (2000apud NEY, 2006) confirmam a necessidade de haver uma adequação educacional à realidade vivida no ambiente rural, bem como de se investir de forma contínua e emergencial na educação da população rural, pois é nele onde se concentram mais de 40% da população pobre do país. Além disso, o acesso ao ensino no campo é muito mais precário do que nas cidades, o que deve restringir ainda mais o nível de investimento em capital humano pelas famílias de baixa renda. Ademais, a educação é um determinante importante do ingresso das pessoas nas ocupações não-agrícolas, principalmente nas mais bem remuneradas, o que torna a garantia do acesso dos mais pobres ao ensino algo fundamental, diminuindo assim, as desigualdades sociais.

Dessa forma, a educação apresenta-se como um mecanismo essencial para se alcançar uma sociedade mais justa, com eqüidade e justiça social, sendo considerada uma variável fundamental para o desenvolvimento do assentamento, como também para a melhoria de vida da população assentada. (NOGUEIRA; GARCÍA, 2009).

Para tanto, deve se encarada como um direito fundamental e uma responsabilidade social que os governantes de todos os países devem assumir junto a sua população, pois a escola básica, pública e gratuita continua sendo o espaço privilegiado para a aquisição de competências e habilidades fundamentais ao exercício da cidadania. (SILVA, 2004, p. 09).

Não obstante, apesar do reconhecimento de sua importância ainda há no Brasil uma carência bastante acentuada de investimentos na área da educação, o que acaba se refletindo em uma alta taxa de analfabetismo, e na baixa qualidade do ensino universitário e da educação básica. Essa situação torna-se ainda mais preocupante no meio rural, onde a permanência de uma pessoa em sala de aula está muito abaixo do esperado, o que influencia negativamente na renda dos assentados. (PASSADOR, 2006). E essa situação está relacionada ao fato de que há a necessidade cada vez mais precoce dos membros familiares contribuírem

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para o aumento da renda familiar, através de um trabalho remunerado, a fim de minimizar a situação de precariedade econômica em que vivem as famílias. Outro ponto a se destacar é a falta de estabelecimentos de ensino nas localidades rurais, o que contribui para que muitos jovens encerrem cada vez mais cedo sua vida escolar, tendo em vista as dificuldades enfrentadas no deslocamento para outras localidades ou até mesmo para dar prosseguimento aos estudos na cidade. (CASTRO, 1999).

Neste sentido, torna-se relevante que políticas governamentais sejam implementadas com o intuito de fortalecer o sistema educacional brasileiro, sobretudo no meio rural, pois a educação no campo assume um importante papel para o desenvolvimento das comunidades rurais, sendo através de sua ação-construção educativa que as comunidades escolares do campo buscam uma maior integração social, cultural e econômica além de ser um veículo difusor de conhecimento e saberes sociais. (RAMOS, et al, 2008).

3. CARACTERÍSTICAS DA AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA E NO ACRE

A agricultura familiar no Brasil, diferentemente do que ocorreu em outros países como Estados Unidos e Japão, sempre foi um setor marginalizado ficando em segundo plano nas políticas de investimentos do governo. Nas palavras de Costa, Rimkus e Reydon (2008) tal situação foi verificada pelo fato de que o governo brasileiro sempre esteve preocupado somente com a produção de bens destinados às exportações por apresentarem uma maior rentabilidade, ficando seus incentivos em termos de crédito, pesquisa e demais políticas governamentais restritas a grandes e médios produtores patronais ligados ao setor exportador.

Nesse sentido, Guanziroli et al. (2009, p.15) demonstra que “os países capitalistas que ostentam os melhores indicadores de desenvolvimento humano são justamente aqueles que adotaram a estratégia de desenvolvimento baseado na atividade familiar e não na patronal como ocorrera no Brasil, onde a gestão e o trabalho foram dissociados provocando uma imensa desigualdade social”.

Mesmo com todo processo de modernização conservador que ocorrera no Brasil, a agricultura familiar desempenha papel primordial na geração de renda e emprego na Amazônia, sendo caracterizada pela presença de pequenos estabelecimentos rurais. Pode-se se atribuir o forte desempenho dessa atividade ao fato de que na agricultura familiar o trabalho e a gestão estão fortemente centralizados no detentor dos meios de produção – o agricultor familiar -, sem que haja uma separação entre gestão e trabalho como normalmente ocorre na agricultura patronal, implicando em maiores rendimentos produtivos por área agrícola uma vez que os trabalhadores sentem-se estimulados a garantirem o melhor desempenho possível da sua produção. (MACIEL et al, 2010; MACIEL; LIMA JUNIOR, 2011).

Segundo Lima e Wilkinson (2002) isso contribui para que cerca de 85% das propriedades rurais no Brasil, totalizando um universo de 13,8 milhões de pessoas, sejam pertencentes a grupos familiares, o que demonstra forte peso desse setor no meio rural, sendo o principal responsável pela produção de alimentos no país. Além disso, Maciel e Lima Junior (2011) asseguram que “a agricultura familiar cria oportunidades de trabalho local, reduz o êxodo rural, diversifica os sistemas de produção, possibilita uma atividade econômica em maior harmonia com o meio ambiente e contribui para o desenvolvimento dos municípios”.

Apesar do reconhecimento da importância desempenhada pela agricultura familiar na diminuição das desigualdades sociais, a produção familiar na Amazônia e no Acre encontra

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dificuldades em seu desenvolvimento em detrimento da ausência de tecnologias e técnicas modernas adequadas à região que sejam capazes de aumentar a eficiência econômica da produção. Assim, torna-se importante que haja mudanças no quadro institucional da produção, pois:

Para se manter nos patamares atuais, tendo como referência seus mercados tradicionais, a agricultura familiar precisa adaptar-se às novas exigências de eficiência e qualidade. Para ter acesso a mercados mais promissores, os agricultores precisam combinar a competência herdada das gerações precedentes com novos conhecimentos e novas práticas. (LIMA e WILKINSON, 2002, p. 10).

Isso configura o fato de que o desenvolvimento de novas habilidades, principalmente técnicas, ser um dos principais desafios – se não o maior – dos agricultores familiares rurais.

Conhecimentos herdados e adquiridos ainda são elementos valiosos, tanto na área produtiva como nos circuitos de comercialização. Por outro lado, novos conhecimentos passam a ser uma precondição para a permanência da agricultura familiar mesmo em mercados tradicionais e muito mais no caso da busca de novas formas de inserção econômica. (LIMA e WILKINSON, 2002, p.10).

Não obstante, Maciel e Lima Junior (2011) alertam para a complexidade enfrentada para se incorporar progresso tecnológico à floresta, diferentemente do que ocorre no setor industrial, principalmente em decorrência da dificuldade que se encontra para modificar o arranjo institucional, como também em detrimento da carência de recursos humanos e financeiros etc. Essa afirmação é corroborada por Maciel (2003), uma vez que seus estudos evidenciaram que durante a trajetória tecnológica do extrativismo vegetal da borracha, num período em torno de um século, apenas duas inovações relevantes ocorreram no processo produtivo: a primeira, com a substituição da machadinha, utilizada no corte da seringueira, pela faca jebong, disseminada nos seringais de cultivos asiáticos; a segunda, pela substituição do processo de defumação da borracha pela coagulação do látex a partir de um ácido, natural ou químico.

Dessa forma, a produção agrícola na Amazônia contando apenas com o uso intensivo de mão-de-obra familiar, uso insignificante de insumos modernos e baixa eficiência econômica da produção que é destinada ao autoconsumo, e uma parcela ao mercado, é considerada como uma produção tradicional e rudimentar desenvolvida principalmente por unidades familiares descapitalizadas sem nenhum tipo de incentivo e apoio governamental. Rêgo (1996 apud SOUZA, 2008, p. 23) observa a necessidade de “os pequenos agricultores familiares investirem no emprego de insumos de qualidade na produção, bem como na aquisição de máquinas que venham a contribuir para uma maior produtividade e retorno monetário de seus sacrifícios no campo”.

Esses desafios, por sua vez, levam ao setor da ciência e tecnologia a necessidade de buscar alternativas tecnológicas, ou melhor, inovações, adaptadas às escalas e possibilidades da produção de pequeno porte, além de estratégias capazes de promover o desenvolvimento local sustentado por meio do conhecimento necessário para a viabilização de processos de gestão, de organização da produção e de promoção da diferenciação de produtos, com o

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intuito de criar oportunidades de inserção competitivas aos produtores rurais de economia familiar. (MEDEIROS et al, 2002 apud MACIEL; LIMA JUNIOR, 2011).

Todas as questões levantadas a respeito dos entraves enfrentados pelos produtores acabam resultando em baixos rendimentos apresentados pela agricultura familiar, corroborando os estudos de Ney e Hoffmann (2003) que afirmam que o ganho médio do setor primário é menor do que nos demais setores, sendo fundamental conhecer as características da desigualdade de renda na agricultura e os efeitos dos mecanismos responsáveis por sua distribuição, para que se possa discutir melhor o desenvolvimento de políticas favoráveis a uma eqüidade maior nessa atividade.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Objeto de Estudo

O presente estudo tem como objeto a produção familiar rural, sendo que a presente análise consiste em mensurar o impacto da educação na renda das famílias rurais do Vale do Juruá/Acre.

O Acre é um dos 27 estados do Brasil, com extensão territorial de 152.581,38 Km 2 e formado por 22 municípios. Desde 1999 está politicamente divido em cinco microrregiões, que são Alto Acre, Baixo Acre, Purus, Tarauacá/Envira e Juruá; e duas mesorregiões: Vale do Acre e Vale do Juruá (IBGE, 2010).

A mesorregião do Vale do Acre é formada por 14 municípios, distribuída entre as regionais do Alto Acre, Baixo Acre e Purus, sendo eles: Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus, Bujari, Sena Madureira, Acrelândia, Capixaba, Plácido de Castro, Porto Acre, Senador Guiomard, Assis Brasil, Epitaciolândia, Rio Branco, Brasiléia e Xapuri.

O Vale do Juruáé formado pelas regionais do Juruá e Tarauacá/Envira, agregando oito municípios, quais sejam: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Rodrigues Alves, Feijó, Jordão e Tarauacá.

4.2. METODOLOGIA

Para fazer a avaliação socioeconômica da produção familiar rural no estado do Acre, trabalha-se com uma metodologia adequada e específica a cada tipo de produção, sendo consolidada na última década, no bojo do projeto “Análise Socioeconômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre”, denominado de ASPF.1

O projeto ASPF realizou um primeiro diagnóstico sobre a produção familiar no período de 1996/1997, no Vale do Acre, e entre 1999/2001, no Vale do Juruá. Atualmente, se está em amplo processo de disseminação e, claro, publicação dos resultados da reaplicação da pesquisa nas duas regiões pesquisadas, referentes aos períodos de 2005/2006 (Vale do Acre) e 2006/2007 (Vale do Juruá).

Assim, para a consecução dos objetivos da pesquisa, buscou-se trabalhar a metodologia a partir de indicadores e índices socioeconômicos que, por um lado, levem em consideração as peculiaridades da região de estudo e, por outro, sirvam como parâmetros para relacionar as diversas regiões e determinadas formas de organização produtiva dos produtos comercializados, comparando-as entre si e indicando as prioridades de atuação para um

1 Cf. http://aspf.wordpress.com/

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efetivo desenvolvimento socioeconômico sustentável. Portanto, segue uma descrição sucinta da metodologia de pesquisa.

A escolha das áreas geográficas a serem estudadas pelo projeto obedece a critérios tais como, divisão político-administrativa, abrangência do maior número possível de municípios (os mais populosos, em particular), acessibilidade, existência de projetos de assentamentos humanos relevantes – Reservas Extrativistas (RESEX), Projetos de Assentamentos Agroextrativistas (PAE), Projetos de Assentamentos Dirigidos (PAD), Projetos de Colonização (PC) –, e presença representativa dos três sistemas de produção familiar rural típicos da região (agricultura, extrativismo e agrofloresta).

O levantamento das informações foi realizado por amostragem. A amostra foi definida a partir de três etapas:

Estratificação da área de acordo com nível de desenvolvimento (alto, médio ou baixo), tendo como referência os critérios relativos aos volumes de produção, facilidade e qualidade de acesso, disponibilidade de infraestrutura e assistência técnica, além do grau de organização comunitária.

Sorteio de metade dos conglomerados das áreas de estudo – ramais, no caso de áreas agrícolas, e, os seringais, no caso de áreas extrativistas –, tendo em vista a representatividade dentro de cada estrato definido. Por fim, dentro de cada conglomerado sorteado, foi realizada uma amostragem aleatória simples, sorteando-se 10% das unidades de produção, que seriam o objeto de estudo.

Assim, a amostra pesquisada no Vale do Acre foi de 310 produtores em 11 municípios (Sena Madureira, Acrelândia, Capixaba, Plácido de Castro, Porto Acre, Senador Guiomard, Assis Brasil, Epitaciolândia, Rio Branco, Brasiléia e Xapuri). No Vale do Juruá, a amostra pesquisada foi de 158 produtores em 06 municípios (Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Rodrigues Alves, Feijó e Tarauacá).

Utilizou-se como referência para o levantamento das informações, o calendário agrícola da região, definido conjuntamente com as próprias comunidades estudadas, que se refere ao período de maio de um ano a abril do ano seguinte, englobando o conjunto de atividades econômicas produtivas das famílias.

No projeto ASPF foram construídos vários indicadores para a avaliação econômica da produção familiar rural no Acre, que vão desde os tradicionais até os que somente se aplicam à produção familiar rural. Para tanto, trabalha-se com medidas de resultado econômico, que são indicadores/índices que, dados os custos de produção, permitem medir o desempenho econômico do sistema de produção.

Os principais indicadores econômicos são sucintamente descritos a seguir:

1) Renda Bruta (RB) - indicador de escala de produção.

RB=∑i=1

n

Qi∗Pi

Sendo:RB = renda brutaQ = quantidade do produto comercializada no mercadoP = preço unitário ao produtori = produto comercializado no mercado (i = 1, 2, ... , n)

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2) Renda Bruta Total (RBT) - resultado do somatório da Renda Bruta (RB) da produção com a renda oriunda das transferências de renda e do assalariamento fora da UPF. RBT=RB+RT+RASendo:

RB = renda bruta; RT = renda das transferências monetárias (municipal, estadual e federal)

RA = renda de assalariamento fora da UPF

3) Margem Bruta Familiar (MBF) - valor monetário disponível para a família.MBF=RB−CV (Cftf )Sendo:MBF = Margem Bruta FamiliarRB = Renda BrutaCV = Custo VariávelCftf = Custo da força de trabalho familiar

4) Autoconsumo (AC) – Bem produzido e consumido pela própria família.

AC=∑i=1

n

Qbcpi∗Pi

Sendo:AC = Autoconsumo;Qbcp = Quantidade do bem de autoconsumo produzidoP = preço unitário do bem de autoconsumo produzidoi = itens de bens de autoconsumo produzidos (i = 1, 2, ... , n)

5) Índice de Eficiência Econômica (IEE) - indicador de benefício/custoIEE=RB /CTSendo:IEE = Índice de Eficiência EconômicaRB = Renda BrutaCT = Custo Total

IEE > 1, a situação é de lucroIEE < 1, a situação é de prejuízoIEE = 1, a situação é de equilíbrio

6) MBF/Qh/d - índice de remuneração da mão de obra familiar que demonstra a produtividade do trabalho.Sendo:MBF = Margem Bruta Familiar;Qh/d = quantidade de força de trabalho familiar utilizada no ciclo produtivo da linha de exploração;

7) Nível de Vida - o valor que determina o padrão de vida da famíliNV =( MBF+AC +Cjicc )−AA

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Sendo:Cjicc = juros imputados ao capital circulante

8) MBF/RB – valor que a unidade de produção tornará disponível para a família por cada unidade de valor produzido.

9) Termo de Intercâmbio – é a relação entre o valor dos bens de consumo comprados e o valor total da produção.

TI=Vbcc /RBSendo:TI = termo de intercâmbio;Vbcc = valor dos bens de consumo comprados;RB = renda bruta total.

10) Linha de Dependência do Mercado (LDM) - valores gastos com bens e serviços de consumo no mercado.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 – Níveis de Escolaridade da produção familiar rural no Acre

De acordo com a figura 1, grande parte das crianças entre 7 a 12 anos no Vale do Acre permanece assiduamente na escola, cursando o ensino fundamental de 1ª a 4ª. Entretanto, há que se destacar a grande defasagem escolar dos jovens dessa região, visto que 40% dessa população apresenta nível fundamental incompleto, sendo que deveria ser nessa faixa etária onde o nível de escolaridade deveria ser mais alto, pois é justamente nessa fase em que se acumula capital humano. Essa situação acaba se refletindo em uma discrepância escolar na faixa etária idosa, a partir dos 65 anos, onde se verifica que 64,52% dessa população são analfabeto e analfabeto funcional, ou seja, sabem somente assinar o próprio nome.

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Crianças Jovens Adultos Idosos0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Ensino superior completo

Ensino superior incompleto

Ensino médio completo

Ensino médio incompleto

Fundamental completo

Fundamental incompleto (5ª a 8ª série)

Fundamental incompleto (1ª a 4ª série)

Analfabeto funcional

Analfabeto

Figura 1 - Educação Formal por faixa etária, Vale do Acre, 2005/2006, Acre – Brasil

Fonte: Maciel (2011).

Ademais, vale salientar que existe um déficit educacional bastante acentuado na região do Vale do Acre, de modo que, aproximadamente 20% da população da faixa etária adulto é analfabeta e 60% ainda não concluiu a 4ª série do ensino fundamental.

Já em relação ao Vale do Juruá, constata-se um grande número de crianças na faixa etária de 7 a 12 anos frequentando a escola. Observa-se ainda, que 40% dos jovens tem presença escolar, mesmo havendo uma relevante discrepância escolar, pois a maioria dos jovens deveria estar cursando o ensino médio. (ver figura 2).

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Infantil Jovens Adultos Idosos0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%18%

44%

14%

2%

Ensino superior completo

Ensino superior incompleto

Ensino médio completo

Ensino médio incompleto

Fundamental completo

Fundamental incompleto (5ª a 8ª série)

Fundamental incompleto (1ª a 4ª série)

Analfabeto funcional

Analfabeto

Figura 2 - Educação formal por faixa etária, Vale do Juruá, 2006-2007, Acre – Brasil

Fonte: Maciel (2011).

Apesar disso, há que se destacar uma presença bastante significativa de adultos analfabetos, representando cerca de 28% desta população. Pode-se afirmar que o analfabetismo nessa região é decorrente das dificuldades enfrentadas pela população em frequentar um estabelecimento de ensino em virtude das distâncias que separaram a população rural das escolas, impedindo um aumento da escolaridade das famílias que moram na zona rural. Isso se torna recorrente pelo fato de que na maioria das vezes nas localidades rurais não existe escolas suficientes ou compatíveis com o nível de escolaridade alcançado pelos jovens e crianças, tendo como possível opção o deslocamento para outras localidades ou até mesmo para os centros urbanos, quando a família dispõe de condições para tanto, o que não é o caso para muitas delas.

De acordo com a Figura 3, que apresenta os níveis de escolaridade dos chefes de famílias no Vale do Acre e Vale do Juruá, nota-se que a maior parte dos proprietários das unidades produtivas nessas regiões é composta por analfabetos totais (analfabeto + analfabeto funcional) ou apresentam ensino fundamental incompleto, especialmente com ensino das primeiras quatro séries iniciais, cabendo destacar que o Juruá se sobressai como a região onde um pouco mais da metade dos chefes de famílias são analfabetos, significando que os trabalhadores dessa localidade se dedicam a atividades que não exigem um elevado nível de escolaridade para a sua realização.

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Figura 3 - Níveis de Escolaridade do chefe de família no Vale do Acre e Vale do Juruá no período 2006/2007, Acre, Brasil

Obs.: AT - Analfabeto Total; EFI – Fundamental Incompleto Total; EFC – Fundamental Completo; EM_D+ - Escolaridade a partir do ensino médio.Fonte: ASPF (2012)

Assim, corroborando os estudos de Ney (2006) pode-se afirmar que o investimento em educação torna-se premente de forma que contribui para o aumento do nível de produtividade e renda do trabalho, pois embora o efeito do capital humano na desigualdade de renda agrícola seja menor do que do capital físico, um crescimento substancial da escolaridade média dos agricultores é condição importante para que sua renda média possa subir e se aproximar da dos demais setores de atividade, sendo justamente o que será analisado na próxima seção do presente trabalho.

5.2 Desempenho Econômico por nível de escolaridade da produção familiar rural no Vale do Acre e Vale do Juruá

Para se verificar a relação existente entre o desempenho econômico das famílias e o nível de escolaridade dos proprietários das unidades de produção familiar dos Vales do Acre e Juruá, fazendo-se um comparativo entre as duas regiões, serão utilizadas medidas de desempenho econômico que são índices que permitem medir a performance dos indicadores de produção das unidades produtivas.

Na região do Vale do Juruá, segundo a figura 4, percebe-se de forma geral, entre os 93% (ver figura 3) dos chefes de famílias, quanto maior o nível de escolaridade maior foi o nível de renda auferida pela população. Cabe observar que a parcela de produtores com o nível educacional mais elevado dessa regional, que apresentou menores rendas brutas geradas, provavelmente trabalharam menos nas atividades produtivas, visto que alguns destes atuam como professores, agentes de saúde etc., na comunidade.

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Não obstante, levando-se em comparação com o salário mínimo vigente no Brasil em 20122 nota-se que todos os produtores dessa região, independentemente do nível educacional, apresentam desempenho econômico abaixo desse valor, tido como o mínimo necessário para atender às necessidades vitais básicas como moradia, alimentação, educação, saúde, vestuário, higiene, etc.

Infere-se a partir desses dados, que na região do Vale do Juruá a educação desempenha pouca ou nenhuma influência no desempenho econômico das famílias, sendo que outras variáveis como infraestrutura, acesso ao mercado (ausência de demanda), tecnologia, acesso a crédito etc., são determinantes para explicarem em grande parte o desempenho das famílias no processo produtivo.

Geral AT EFI EFC EM_D+0.00

100.00200.00300.00400.00500.00600.00700.00800.00900.00

1,000.001,100.001,200.001,300.001,400.001,500.001,600.00

RB RBTMBF LDMACNVSM

R$/M

ês

Figura 4 - Desempenho Econômico por nível de escolaridade da produção familiar rural, Vale do Juruá, 2006-2007, Acre – Brasil

Obs.: Valores medianos por UPF, atualizados pelo INPC Março de 2012. AT – Analfabeto Total; EFI – Fundamental Incompleto Total; EFC – Fundamental Completo; EM_D+ - Escolaridade a partir do ensino médio.Fonte: ASPF (2012)

Outro ponto a se destacar, na figura 4, refere-se a linha de dependência do mercado (LDM) dessa região. Percebe-se que esse indicador, independentemente do nível de escolaridade, encontra-se totalmente superior aos demais indicadores, sobretudo da renda bruta gerada. Isso demonstra uma situação de dificuldade de viabilização das unidades produtivas, nas quais de forma geral não se alcançou uma renda suficientemente necessária para custear as despesas no mercado.

Os baixos rendimentos levam as famílias a buscarem outros rendimentos fora da unidade produtiva. Por um lado, tem-se as transferências governamentais que se tornam primordiais para a manutenção das famílias, auxiliando no aumento dos rendimentos 2 O salário mínimo vigente no Brasil em 2012 é de R$ 622,00.

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recebidos, como se pode perceber, na figura 4, a Renda Bruta Total (RBT), cujo resultado eleva os rendimentos próximo ao salário mínimo mensal.

Conforme a figura 5, alternativa aos baixos rendimentos produtivos, o assalariamento fora da unidade produtiva apresenta-se como válvula de escape para os produtores de forma geral, pois verifica-se que a diária de R$ 30,00 paga por um dia de trabalho nessa região é totalmente superior aos retornos obtidos com o desenvolvimento da produção dentro da unidade produtiva, independentemente no nível de escolaridade da familiar. Contudo, dada às características da região, a oferta de trabalho é pequena em virtude do contingente de pessoas dispostas a assalariar-se.

Geral AT EFI EFC EM_D+0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

MBF/Qh/dDiária regional

Figura 5 - Análise da relação MBF/Qh/d e o nível educacional, Vale do Juruá, 2006-2007, Acre – Brasil

Obs.: Valores medianos por UPF, atualizados pelo INPC Março de 2012. AT – Analfabeto Total; EFI – Fundamental Incompleto Total; EFC – Fundamental Completo; EM_D+ - Escolaridade a partir do ensino médio.Fonte: ASPF (2012)

Diferentemente do Vale do Juruá, no Vale do Acre a educação influencia positiva e significativamente no desempenho econômico das famílias. Nessa região, conforme figura 6, todos os indicadores encontram-se acima do salário vigente no país, significando uma situação favorável para as famílias que se encontram no meio rural desenvolvendo a atividade da produção familiar.

Apesar disso, comparando-se o nível de escolaridade com o desempenho econômico, de acordo com a figura 6, percebe-se uma queda bastante significativa a partir do ensino fundamental completo (EFC). Essa situação deve-se ao fato de que quando a população tem o

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ensino médio completo saem em busca de outras oportunidades que possam remunerar cada vez melhor sua força-de-trabalho como, por exemplo, fazer uma faculdade ou outro tipo de qualificação profissional. Além disso, a queda apresentada pelos chefes de famílias que têm escolaridade a partir do Ensino médio em diante (EM_D+) pode ser explicada pelo fato de que, partir do instante que os indivíduos alcançam maiores níveis de escolaridade grande parte não permanecem na propriedade rural atrelada à produção, buscando assim, assalariamento fora da unidade produtiva, como por exemplo, ser um professor rural.

Geral AT EFI EFC EM_D+0.00

100.00

200.00

300.00

400.00

500.00

600.00

700.00

800.00

900.00

1,000.00

1,100.00

1,200.00

1,300.00

1,400.00

1,500.00

1,600.00

RB RBTMBF LDMACNVSM

R$/M

ês

Figura 6 - Desempenho Econômico por nível de escolaridade da produção familiar rural, Vale do Acre, 2005-2006, Acre – Brasil

Obs.: Valores medianos por UPF, atualizados pelo INPC Março de 2012. AT – Analfabeto Total; EFI – Fundamental Incompleto Total; EFC – Fundamental Completo; EM_D+ - Escolaridade a partir do ensino médio.Fonte: ASPF (2012)

Dessa forma, uma melhora no nível de renda auferida pelas famílias indica que as famílias tendem a gastar mais com bens e serviços obtidos no mercado, cuja evidência pode ser expressa pela elevada linha de dependência do mercado (LDM).

Assim, os dados apresentados por essa região confirmam a importância desempenhada pela educação no desempenho das famílias. Ademais, essa relação pode ser mais bem explicitada a partir da remuneração da força de trabalho das famílias, representada pelo indicador MBF/Qh/d.

Conforme a figura 7, no Vale do Acre, o nível de remuneração da força de trabalho cresce proporcionalmente ao nível de escolaridade das famílias. Nota-se que as pessoas que

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apresentam uma escolaridade a partir do ensino fundamental incompleto apresentam uma remuneração totalmente superior aos que detêm baixo nível de escolaridade. Especificamente, cabe destacar que as famílias que têm em sua composição chefes familiares com escolaridade a partir do ensino médio, apresentam uma remuneração diária de aproximadamente R$ 90,00, ou seja, 3 vezes o valor pago pela diária na região. Dessa forma, a partir do instante que as famílias conseguem maiores níveis educacionais tendem a alcançar rendimentos monetários mais estáveis, o que contribui significativamente para a diminuição da pobreza no campo e das desigualdades sociais.

Geral AT EFI EFC EM_D+0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

90.00

100.00

MBF/Qh/dDiária regional

Figura 7 - Análise da relação MBF/Qh/d e o nível educacional, Vale do Acre, 2005-2006, Acre – Brasil

Obs.: Valores medianos por UPF, atualizados pelo INPC Março de 2012. AT – Analfabeto Total; EFI – Fundamental Incompleto Total; EFC – Fundamental Completo; EM_D+ - Escolaridade a partir do ensino médio.Fonte: ASPF (2012)

Assim, pode-se afirmar que, apesar de não ser a única variável decisiva, o nível educacional acaba por influenciar significativamente o desempenho econômico das famílias, tornando premente a implementação de políticas públicas educacionais voltadas para o acesso ao ensino no meio rural, pois esta é uma variável capaz de moldar os rumos de uma sociedade para uma situação de justiça e equidade social.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A educação apresenta-se atualmente como um mecanismo essencial para se alcançar uma sociedade mais justa, com eqüidade e justiça social, influenciando diretamente o nível de vida da população, sobretudo das famílias assentadas no meio rural

No presente trabalho buscou-se relacionar o nível de escolaridade do chefe das famílias com o desempenho econômico da produção familiar rural na região do Acre, a partir de duas grandes mesorregiões: Vale do Acre e Vale do Juruá.

No Vale do Juruá, a escolaridade exerce pouca influencia sobre o desempenho econômico das famílias, sendo que outras variáveis como infraestrutura, dificuldades de acesso ao mercado, tecnologia, acesso ao crédito, entre outros, são preponderantes para um melhor ou pior desempenho da unidade de produção.

Tal afirmação pode ser corroborada pelo fato de que a renda bruta gerada na região, de forma geral, representa a metade do salário mínimo vigente no país. Ou seja, muito aquém da satisfação das necessidades das famílias. Mas, vale notar que, mesmos com baixos rendimentos, entre a maior parte da população, quem tem ensino fundamental incompleto obteve rendimentos superiores aos analfabetos.

Diferentemente do panorama apresentado no Vale do Juruá, os resultados da pesquisa demonstraram que no Vale do Acre existe uma forte correlação entre o nível de escolaridade e o desempenho da unidade produtiva. Assim, verificou-se que os membros familiares que apresentavam ensino fundamental completo ou que tinha escolaridade a partir do ensino médio se sobressaíram em todos os indicadores de desempenho econômico mensurados na presente análise.

Mesmo assim, há que se ponderar que o melhor desempenho econômico apresentado pela a região do Vale do Acre não deve ser explicado em sua totalidade apenas pelo nível de escolaridade, uma vez que outras variáveis também desempenham papel crucial para esse desempenho favorável.

Assim, a hipótese levantada de que o nível de escolaridade interfere positivamente no desempenho das famílias no Vale do Acre e Juruá foi confirmada, mas com ponderações já que outras variáveis são importantes além da escolaridade.

Não obstante, verificou-se que há ainda muito que se fazer no sentido de se consolidar o acesso ao ensino no meio rural e, claro, um acesso ao ensino de qualidade, pois a educação não só afeta positivamente o nível de produtividade e renda do trabalho, como também uma população mais educada torna-se capaz de participar de forma mais ativa na vida social e política do Estado.

7. REFERÊNCIAS

CASTRO, Elisa Guaraná. A escolarização nos assentamentos rurais: uma caracterização comparada. Disponível em: http://r1.ufrrj.br/esa/index.php?cA=db&aI=132&vT=da&vA=17. Acesso em: 01/03/2012.

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