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Desenho da Personalidade da Personagem: Uma Investigação Multidisciplinar Natália de Souza Brondani

Desenho da Personalidade da Personagem: Uma Investigação Multidisciplinar

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UFSM Desenho Industrial - Programação Visual TCC2

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Desenho da Personalidade da Personagem:Uma Investigação Multidisciplinar

Natália de Souza Brondani

Por

Natália de Souza Brondani

Orientador: Prof. Dr. Carlos Gustavo Martins Hoelzel

Monografia apresentada ao Curso de Desenho industrial,Habilitação em Programação Visual,

da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS),referente à Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II.

Desenho da Personalidade da Personagem:Uma Investigação Multidisciplinar

Brondani, Natália de Souza 1988.Desenho da Personalidade da Personagem:

Uma Investigação Multidisciplinar – Santa Maria, RS: Desenho Industrial – Programação Visual, 2012

25p: Il. – (Trabalho de Conclusão de Curso –Desenho Industrial, Habilitação em Programação Visual,

Universidade Federal de Santa Maria).

1. Personagem 2. Personalidade 3.Desenho 4. Psicologia 5. Comunicação não verbal 6. História

© 2012Todos os direitos autorais reservados a Natália de Souza Brondani.A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser

com autorização por escrito do autor.

Endereço: Av. Oy Pavão da Silva, n. 485, Bairro Camobi, Santa Maria, RS, 97110-560

Fone (0xx)55 99766354; E-mail: [email protected]

FICHA CATALOGRÁFICA

Desenho da Personalidade da Personagem:Uma Investigação Multidisciplinar

Elaborada porNatália de Souza Brondani

Carlos Gustavo Martins Hoelzel, Dr(Orientador)

Adriana Dal Forno, Ms(UFSM)

Rondon Martim Souza de Castro, Dr(UFSM)

como requisito parcial para obtenção do grau deBacharel em Desenho Industrial

A comissão examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

Universidade Federal de Santa MariaCentro de Artes e Letras

Curso de Desenho Industrial – Programação Visual

Santa Maria, março de 2012

COMISSÂO EXAMINADORA:

RESUMO

Neste trabalho, a partir de alguns elementos tidos como essenciais para criação da personagem complexa, tem-se como objetivo prin-cipal o desenho de uma personagem mais individualizada; isso com embasamento teórico nas áreas da psicologia da personalidade e da comunicação não-verbal. Objetiva-se também, por meio do estudo da representação da personagem na literatura, no teatro e no cinema, descobrir alguns elementos responsáveis por cativar o público. Como resultado obteve-se a contrução gráfico visual de personagens coe-rentes com as tipologias estudadas. Sendo possível identificar a possibilidade de relacionar expressões corporais às características psicológicas.

Palavras-chaves: personagem, personalidade, desenho, psicologia, comunicação não-verbal, história

MonografiaCurso de Desenho Industrial – Programação Visual

Universidade Federal de Santa Maria

Desenho da Personalidade da Personagem:Uma Investigação Multidisciplinar

AUTOR: NATÁLIA DE SOUZA BRONDANIORIENTADOR: CARLOS GUSTAVO MARTINS HOELZEL

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 16 de março de 2012.

ABSTRACT

In this article, from some elements considered essentials to create a complex character, it has as main objective the design of a more indi-vidualized character. This, with theoretical knowledge in the areas of personality psychology and nonverbal communication. It also aims, through the study of the character representation in literature, theater and film, to discover elements which captivate audience. As a result it was obtained the graphic-visual character construction consistent with the types studied. Beside being able to identify the possibility of bodily expressions relate to psychological characteristics.

Keywords: character, personality, design, psychology, nonverbal communication, story

MonographCourse of Industrial Design – Graphic Design

Federal University of Santa Maria

Character Personality Design:A Multidisciplinary Research

AUTHOR: NATÁLIA DE SOUZA BRONDANISUPERVISOR: Carlos Gustavo Martins Hoelzel

Date and Place of the Defense: Santa Maria, march 16, 2012.

2 Personagem2.1 História

2.2 Psicologia

2.2.1 O pensamento extrovertido2.2.2 O pensamento introvertido2.2.3 O sentimento extrovertido2.2.4 O sentimento introvertido2.2.5 O sensação extrovertido2.2.6 O sensação introvertido2.2.7 O intuição extrovertido2.2.8 O intuição introvertido

1 Introdução e problematização1.1 Justificativa1.2 Delimitação1.3 Metodologia

ResumoAbstractSumário

8910

1216

20

34

40

17

22

36

42

46

18

28

38

44

49

Cap. 1

Cap. 2

SUMáRIO

2.3.1 Corpo2.3.2 Roupas2.3.3 Rosto

2.3.4 Sorriso2.3.5 Olhar2.3.6 Fala

2.3.7 Postura2.3.8 Ritmo2.3.9 Gestos

2.3.10 Espaço pessoal

Considerações finaisBibliografia

2.3 Comunicação 51

53

57

54

58

62

68

7374

56

61

65

70

Cap. 3

75Apêndice

Por muito tempo achei inexplicável como ocorria emocionar--me com uma animação e gostar tanto de uma determinada personagem. Na maioria das vezes, uma cena nem tinha sido construída com a pretensão de ser emocionante, e eu reparava isso pela reação das outras pessoas, porém, de alguma forma ela me tocava. Naquele momento, nada mais iria desviar minha atenção da tela, só podia ser uma espécie de magia que me prendia às ações da personagem.

A definição de personagem no dicionário Houaiss (2001, p. 566) é: “1 pessoa notável 2 papel representado por um ator ou atriz de teatro ou filme 3 cada uma das figuras humanas que participa das obras de ficção 4 figura humana representada nas obras de arte”. Porém, a personagem pode ser mais que somente pessoa, ela pode ser qualquer coisa: um animal, um objeto, até um ser imaterial. Desde que sejam atribuídas a ela características humanas e com isso certa dose de personalidade.

Assim como há vários tipos de pessoas, cada uma com um jeito particular, vontades próprias, características físicas únicas, há uma coisa que todas desejam igualmente, a felicidade. Agora, como cada uma age diante desta meta, não depende somente da sua genética, mas principalmente do meio em que cresceu ou está crescendo. Em meio a aspirações de longo prazo e desejos mais repentinos buscamos estar com pessoas que nos apoiem, nos passem algum tipo de força, concordem conosco ou ainda melhor, busquem seus objetivos pelas mesmas manei-ras que nós. Supõe-se que quando alguma personagem atua de tal modo que faz nos enxergamos nela, aí vai estar estabelecida a identificação. E quanto mais forte essa identificação, obvia-mente por mais tempo esse laço irá durar, e muito provavel-mente nos lembraremos da obra pela vida toda.

INTRODUçãO E PROBLEMATIZAçãO

1

13

Basta pensar em algum filme de animação, peça de teatro, histó-ria em quadrinhos que seja seu favorito. É provável que alguma personagem seja a responsável por isso. Seu comportamento, suas atitudes, sua aparência física, seus desejos, seus medos, etc. Ou vão dizer muito a respeito do que você é, acredita e faz ou do que gostaria de ser, acreditar e fazer. Portanto, a persona-gem não está apenas representando a criação do autor, ela está ali representando várias pessoas, milhares ou até milhões delas.

A personagem, então, pode pertencer aos quadrinhos, aos jogos, à animação etc. Somos suscetíveis a sermos sensibili-zados pelas imagens onde quer que elas estejam. Ainda mais quando se aproximam de nossas características e experiências. Assim, elas têm um valor maior para nós, pois reparamos que não estamos sozinhos.

O designer quando cria algo de que se sente orgulhoso deseja mostrar seu trabalho aos outros, e espera que quem os veja compreenda e seja tocado de forma próxima ao que ele pla-nejou no princípio. Transpondo esse pensamento para a per-sonagem, essa tentativa de comunicar para então sensibilizar significa: que toda personagem precisa carregar uma men-sagem e expressá-la de alguma forma a fim de sensibilizar o espectador. Por isso é importante entender um pouco sobre como as pessoas são e “funcionam”, para assim utilizar esse conhecimento na expressão da personagem.

Nossa personalidade é expressa e outras características conhe-cidas no momento em que nos relacionamos com as coisas e principalmente com as pessoas. Estamos sempre sendo afeta-dos por algo, reagindo a estímulos externos. Deve haver algum motivo por nos vestirmos desse jeito, por sermos mais tímidos ou mais espontâneos em determinadas situações, por gesticu-larmos assim e por desejarmos, ou não, alguma coisa. Portanto, não há como criar uma boa personagem estando ela isolada. E por mais que seja desconhecida a coisa por qual ela é afetada, ela está sendo afetada. Portanto, além da personagem em si e todas as coisas que a envolvem, como sua estrutura física, sua psicologia, como se comunica, seus objetivos, sua vida etc. Há também a mensagem, a história, a coisa pela qual a faz reagir.

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A personagem, não existe fora, concretamente, do que se está sendo mostrado, o espectador só terá a oportunidade de conhecê-la quando ela se expressar, por isso, todas as esco-lhas na hora da criação e desenvolvimento da obra influenciam no conhecimento da personagem pelo público e consequen-temente na sua provável identificação com ela. Este trecho do livro A personagem de Ficção de Antonio Candido se refere às personagens literárias, mas pode muito bem ser comparado com personagens que necessitam de caracterização visual:

“O autor pode realçar aspectos essenciais pela seleção dos aspectos que apresenta, dando às personagens um caráter mais nítido do que a observação da realidade costuma sugerir, levando-as ademais, através de situações mais decisivas e significativas do que costuma ocorrer na vida. Precisamente pela limitação das orações, as personagens tem maior coerência do que as pessoas reais (e mesmo quando incoerentes mostram pelo menos nisso coerência), maior exemplaridade (mesmo quando banais; pense-se na banalidade exemplar de certas personagens de Tchecov ou Ionesco); maior significação; e, paradoxalmente, também maior riqueza – não por serem mais ricas do que as pessoas reais, e sim em virtude da concentração, seleção, densidade e estilização do contexto imaginário, que reúne os fios dispersos e esfarrapados da realidade num padrão firme e consistente. Antes de tudo, porém, a ficção é o único lugar

– em termos epistemológicos - em que os seres humanos se tornam transparentes à nossa visão, por se tratar de seres puramente intencionais sem referência a seres autônomos; de seres totalmente projetados por orações.” Candido (2007, p. 35)

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As pessoas são complexas, e para entendê-las é preciso muitas vezes imaginar-se na situação da outra, tentar se por em seu lugar, ou comparar a situações pelas quais tenhamos passado que sejam semelhantes à dela. Mas de fato, não conseguimos sentir igualmente ao outro ou ter conhecimento realmente de como a outra pessoa sente. Com a personagem isso é diferente. Quando todos os sinais indicam que ela está a se sentir de uma maneira, o espectador irá entender realmente como aquela personagem se sente. Ele estará emprestando à personagem parte de seus sentimentos e de sua vivência e preenchendo-a com vida. Por isso, cabe ao designer fazer com que o público compreenda a situação da personagem atribuindo significados às suas atitudes.

Existem elementos que compõem a personagem e a sua histó-ria, relações entre eles existem e são indispensáveis para tornar sua expressão mais rica em significado. E quais seriam esses ele-mentos? Os elementos que serão vistos nos capítulos seguintes foram agrupados em áreas que comporiam a personagem em um contexto: História, Psicologia e Comunicação.

Mas trata-se da personagem construída para que meio? O tra-balho não tem uma mídia específica como foco, como televisão ou impressos, por exemplo, e sim a personagem em si.

De forma geral objetiva-se estudar e gerar uma discussão a cerca dos elementos históricos, psicológicos e visuais que par-ticipam na base da construção de uma personagem. Mais espe-cificamente intensiona-se reconhecer o que é necessário para a personagem cativar e causar interesse no indivíduo; como fazê-lo se identificar com a personagem e o que acrescentar à expressão da personagem a fim de torná-la convincente.

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JUSTIFICATIVA1.1

A expressão da personagem e as emoções que ela é capaz de despertar nas pessoas são temas que me encantam desde criança, não posso ignorar a parte sentimental que me faz querer me aprofundar nos assuntos. E escrever sobre isso é uma oportunidade de unir e compartilhar os conhecimentos adquiridos e os a serem estudados.

Penso que a essência de uma boa personagem está no fato de ela ser peculiar e verdadeira. Peculiar, no sentido de ser única, de ter seus gestos e frases tão próprios, por exemplo, que per-mitam pessoas reproduzi-los a fim de se referir à personagem. Verdadeira, seria ser convincente e cativante a ponto de o público acreditar que ela existe.

Busca-se então acrescentar conhecimentos de outras áreas a fim de se aplicar ao desenho. Estudar e contribuir para que alguns assuntos sejam levados em consideração e utilizados de maneira que enriqueça a personagem é bastante motivador.

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DELIMITAção1.2

A personagem é composta por sua psicologia e por como a expressa ao reagir a um estímulo. A compreensão de sua per-sonalidade depende de como ela se expressa enquanto que o como ela vai se expressar depende de sua personalidade. Um depende do outro para que o todo seja coerente a seu modo. Junto a esses dois aspectos há ainda a história, o que ela irá contar ao espectador. Portanto, este trabalho foi dividido em três partes principais que relacionam-se entre si: História, Psi-cologia e Comunicação.

Um caminho para a tentativa de alcance dos objetivos foi o de buscar conhecimento tanto em áreas da arte como da ciência, como: a literatura, o teatro, a psicologia, entre outras.

A respeito dos principais livros utilizados, A Personagem de Ficção de Antonio Candido foi uma referência para um melhor entendimento sobre a personagem na literatura, no teatro e no cinema. Em Construindo a Personagem de Constantin Stanis-lavski, famoso teatrólogo russo, pode-se conhecer o processo de criação da personagem pelo ator, para o palco. Além de ter como referência o livro de Frank Thomas e Ollie Johnston, The Illusion of Life, livro que mostra, entre outros assuntos, como Walt Disney e seus animadores, na prática, resolviam proble-mas e buscavam melhorar a atuação das personagens em suas animações. No lado da ciência, entre as teorias da personali-dade dos psicanalistas: Sigmund Freud, Wilhelm Reich e Carl. G. Jung, estudadas no livro de Alberto Reis e Lúcia Magalhães (Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung), decidiu-se por abordar a teoria de Jung, Seu pensamento foi mais bem estudado em seu livro Tipos Psicológicos. Em Comunicação Não-verbal de Flora Davis teve-se a maior parte do embasa-mento sobre a linguagem do corpo e por conseguinte, aplica-ção na comunicação e cultura da personagem.

Esses foram os livros e autores que mais contribuíram para a construção de meu pensamento sobre a expressão da perso-nagem. Viu-se nessas áreas uma oportunidade de fazer uma ponte com o design da personagem, pois são áreas que tem o ser humano como objeto de estudo. E o que é a criação da per-sonagem senão a criação de um ser semelhante a nós?

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METODOLOGIA1.3

Primeiro contato com a ideia de personagem. Geralmente tido através de uma imagem mental mais um desejo de concretizá-la. A partir disso propõe-se um objetivo geral.Nesta fase utiliza-se palavras, rabiscos para exteriorizar a ideia de personagem.

Motivaçãoinicial

Busca de referências teóricas e visuais. Conhecimento sobre o tema, através de leituras e imagens, bem como a compreensão de seus signos visuais. Ocorrendo a análise e seleção dos elementos.

Pesquisa

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito do tema da monografia e como guia para o desenho projetual foram adap-tadas ao trabalho as etapas do processo criativo, propostas por Luiz Vidal Negreiro Gomes (2004) no livro Criatividade: projeto, desenho, produto.

Foram reconhecidas sete fases na criação e desenvolvimento das personagens, algumas delas acontecendo simultanea-mente e não linearmente.

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Criação e descrição de como a personagem é interiormente. Ressaltando principais características.

Criação da maneira da personagem se expressar ao comunicar-se com outras, ao reagir a algum estímulo.

Cria-se uma situação levando em conta os elementos causadores de interesse.

Através de um modelo para a realização da pose e da expressão do rosto, esboça-se, e então desenha e finaliza-se a ilustração.

Por meio do desenho tenta-se criar alternativas para então definir as formas da personagem e sua caracterização, tendo em mente a análise da pesquisa, o tipo de personalidade escolhida e os elementos de sua comunicação.

Esquenta-mento

Psicologia Comuni-cação

História

Com-posição

PERSONAGEM2

“É possível retratar em cena uma personagem em termos gerais: um mercador, um soldado, um aristocrata, um camponês, etc. Para a observação superficial de uma série de categorias em que as pessoas foram outrora divididas não é difícil elaborar maneirismos remarcáveis e tipos de postura. Por exemplo, o soldado profissional em geral se mantém rigidamente ereto, marcha em vez de andar como uma pessoa normal, mexe com os ombros para exibir as dragonas, bate os calcanhares para fazer tinir as esporas, fala em voz alta, aos arrancos, por força do hábito. [...] Tudo isto são clichês generalizados, visando representar personagens. São tirados da vida real, existem de fato, mas não contém a essência de uma personagem, não são individualizados. Outros

A personagem é uma extensão de nós. Tanto para o espectador que se identifica quanto para o criador que a gerou. Por mais que não pareça existir ligação alguma entre a aparência ou jeito da personagem e de seu criador, elas existem. A personagem é uma parte de nossas emoções e de nosso conhecimento.

Constantin Stanislavski, renomado teatrólogo russo, em um capítulo de seu livro A Construção da Personagem, retrata uma turma de atores com a tarefa de criarem uma personagem a partir de algumas vestimentas escolhidas, e então apresenta-rem ao seu professor. À medida que os alunos apresentavam o professor então esclarecia o que diferenciava um bom ator de outro não tão bom assim. Uma de suas explicações pode ser lida na citação:

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artistas, dotados de poderes de observação mais aguçados, são capazes de escolher subdivisões nas categorias gerais de figuras de estoque. Podem estabelecer distinções de regimento de guardas, entre a infantaria e a cavalaria; conhecem soldados, oficiais, generais. [...] Emprestam aos representantes desses vários grupos traços que lhes são característicos. [...] Na terceira categoria de atores característicos vamos encontrar um censo de observação ainda mais acentuado e pormenorizado, temos agora um soldado com um nome, [...] e feições que não se repetem em nenhum outro soldado.” Stanislaviski (2000, p. 49-50)

2. Storyboard é um termo inglês usado para nomear pranchas com informações essenciais e ilustrações organizados em sequência para a pré-visualização e conseguinte desenvolvimento de uma animação. “Numa pauta para storyboard, em geral, encontramos a seguinte informação: título da produção, número do episódio e da sequência, número do plano, tempo de duração de cada plano, tamanho de campo que se filmará, número de cenário que lhe corresponde e também se o dito plano tem continuidade de acção com algum plano anterior ou posterior. Encontramos também uma breve descrição de cada cena e o diálogo que as personagens mantêm. (CÀMARA, 2005, p.28)

1. Concept art é o conceito visual ou estilo visual que é gerado a partir de alternativas, para uma animação, jogo, etc. São ilustrações de personagens e cenários, não necessariamente empregando a tecnologia que irá ser aplicada, mas que mostram uma ideia de como os elementos serão vistos em sua conclusão.

Esse trecho gradativamente nos leva até uma personagem mais individualizada, e expõe as diferenças entre uma personagem clichê e outra mais profunda. Gostaria com os estudos poder sugerir uma capacidade de observação mais aguçada e mais consciente por parte do desenhista, assim como entender mais como o ser humano é, onde mais detalhes pudessem ser per-cebidos e então acrescentados ao desenho da personagem.

Trataremos somente da personagem, não ela em concept art1, ou em um storyboard2, por exemplo, mas é por meio do desenho que iremos conhecê-la e ilustrar o assunto. Então pro-põe-se o desenho e a descrição das características da persona-gem na hora de seu desenvolvimento.

Como explicado anteriormente, o assunto foi dividido em três partes: história, psicologia e comunicação. Psicologia e comu-nicação compõem o interior e o exterior da personagem res-pectivamente e, com a história (a primeira a ser abordada nesse trabalho), ela passa algo para o espectador. Dentro de cada um deles serão abordados elementos, que assim serão chamados no decorrer do trabalho.

Personagem

História

Psicologia

Comunicação

No contexto desse trabalho história é o que a personagem tem a expressar de maneira que o espectador compreenda. Nesse caso, não se trata de um textual, mas de um desenho que tem algo a dizer.

As personagens contam sua história por meio de suas roupas, seus corpos, suas atitudes, suas emoções que irão ser expres-sas por meio de palavras, de objetos concretos, de atores, do desenho etc. Tudo na personagem conta uma história, por isso todos os elementos precisam ter um propósito.

A partir de um estudo da representação da personagem na lite-ratura, no teatro e no cinema, tenta-se então descobrir alguns elementos responsáveis por cativar o interesse do público e despertar emoções.

Na literatura, a personagem, assim como os demais elemen-tos da narrativa, é composta por palavras. Palavras que irão despertar imagens na mente do leitor. Por mais que o escritor esteja limitando a visualização e compreensão da personagem pelas suas palavras, ele pode sugerir seu nível de complexidade a partir da organização de suas orações. Cada pessoa que ler a obra imaginará a personagem diferentemente, de acordo com o que sabe sobre o assunto e sobre o que compõe a persona-gem, ou seja, o leitor estará criando, até onde pode, parte da história também. Talvez esse seja um motivo para um livro ser capaz de tornar-se cada vez mais rico e interessante à medida que o tempo passa e ele é lido novamente, pois a pessoa terá aumentado seu repertório de conhecimento e conseguirá enxergar mais diante das palavras.

Essa liberdade de imaginação diante de uma história já é um pouco mais reduzida no teatro. As personagens já terão forma humana, já estarão caracterizadas. Se a peça tiver cenário ele conterá objetos, e tudo isso já terá sido imaginado pelo diretor

Personagem

HistóriaPsicologia

2.1

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e pelos atores, portanto parte do que o espectador poderia imaginar já lhe é dado. No entanto, o teatro se utiliza de muitas metáforas, mímicas, sinais que permitem ao público ainda ima-ginar e participar do espetáculo. E aí também, cada um imagi-nará diferentemente aquilo que lhe foi proposto imaginar pelo diretor ou pelos atores, e completará aquela ação. Essa neces-sidade do público em imaginar para então compreender a obra exige atenção e interesse por parte do mesmo. E o papel do ator seria o de construir uma personagem tão cativante que no palco ela conseguisse conquistar esse interesse do público e consequentemente sua atenção.

No cinema reduz-se a frequência em que temos que utilizar nossa imaginação, pois o nível de detalhamento do cenário e das personagens são maiores. Acrescenta-se ainda mais uma forma de narrar, com o movimento da câmera pode-se narrar pelas imagens. Devido à riqueza de informação percebemos muitas coisas pelo inconsciente. Por mais que no cinema quase tudo tenha que ser criado por quem está fazendo o filme, o fato de a imaginação ser uma responsável por prender a atenção do público não muda.

Então, a literatura é o meio onde, supostamente, a imagina-ção do público é mais requisitada. Seria esse o motivo de nesse meio a personagem ser mais profunda ou de perdurar por mais tempo?

“A perspectiva histórica nos permite assegurar que as personagens de origem literária e teatral são capazes de viver séculos e de integrar-se definitivamente numa dada cultura. Dom Quixote, Hamlet e Fausto participam da cultura do ocidente como Napoleão. Quem ousaria afirmar que no fim do século XXI Carlito, ou qualquer outra personagem de origem cinematográfica com mais de cem anos, estaria como Lenin, integrada na cultura do tempo?” Candido (2007, p. 117)

Personagem

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Talvez sim. A personagem ganha vida diante da imaginação do leitor, sendo a personagem ideal para aquela narrativa. Não há o que criticar de sua roupa, de sua maquiagem, como muitas vezes fazemos com os filmes, pois a personagem vai ter a roupa e a maquiagem perfeita para aquele papel porque nós a imaginamos assim, enquanto e depois que digerimos as pala-vras daquele texto.

O que podemos pegar da literatura afim de enriquecer a per-sonagem no desenho seria a mente do próprio indivíduo. E ao aplicar isso ao desenho seria como dar índícios para que o próprio imaginasse o que vem a seguir ou o que veio antes a partir daquele flash único. Como se ficasse por um tempo imerso naquele contexto e quando terminasse sua interação, tivesse vontade de voltar e ver para imaginar outra vez.

Do teatro o que poderíamos pegar? Peculiaridade é um atri-buto que os atores buscam com frequência para assim captar o interesse do público. E umas das formas de consegui-la é exagerando em alguns elementos da personagem, ou seja, em algumas características.

O exagero, quando bem utilizado, pode enfatizar certos ele-mentos que facilitem a compreensão das principais caracterís-ticas da personagem pelo espectador. O exagero também pode fazer com que não se encontre outro ser igual a personagem, por não ser anatomicamente possível. Isso contribui para que a personagem seja inconfundível e inesquecível, sendo possível esses exageros servirem para se referir a ela em uma conversa.

Do cinema, em especial o de animação, podemos falar da vida que a personagem ganha através do movimento. Uma insinu-ação de movimento em uma ilustração induz a algumas pos-sibilidades, as quais o espectador imaginará. Pois deduz-se que veio de uma sequência de atos, como na história em qua-drinhos, onde poses chave são desenhadas em cada quadro fazendo com que o leitor imagine a ação entre cada pose. O movimento, assim, favorece à imersão do espectador no desenho por um determinado momento instigando-o a adivi-nhar o que vem pela frente ou de onde aquilo veio.

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A imaginação é ativada por assim dizer quando algo falta na his-tória, mas é insinuado. No momento em que algo é insinuado para o espectador ele entrará com sua imaginação para preen-cher o vazio. A insinuação de movimento produz imaginação, o exagero também, vendo a característica exagerada imagina-mos como a personagem é e agiria. O indivíduo, em ambos os casos, estará emprestando parte de si à personagem e então se identificando com ela.

Junto à imaginação, ao movimento e ao exagero há outros três tópicos que seriam igualmente importantes para a persona-gem: contexto, mensagem e emoção.

O contexto envolve o que está fora da personagem, é o uni-verso onde acontece sua vida, ou seja, o ambiente em que ela vive, se é em uma tribo indígena, numa companhia de circo ou em um colégio interno, por exemplo; em que tempo, se há milhares de anos atrás, há alguns anos ou na contemporanei-dade; com quais pessoas convive, sua família, colegas de tra-balho, melhores amigos, por exemplo.

Uma pessoa poderia ser praticamente outra se simplesmente ao invés de nascer em um lugar do mundo, nascesse em outro. Mesmo portando os mesmos genes, suas características físicas, psicológicas, assim como sua cultura poderiam ser extremamente diferentes. O meio em que se vive diz muito sobre quem se é.

Sem esse contexto, portanto, a personagem ficaria perdida no tempo e no espaço e como todos seus elementos precisam ter um propósito, como caracterizar a personagem sem mesmo saber em que tempo ela vive? Além de que perdería-se também a respeito de sua psicologia e sua comunicação, pois as pessoas não agem nem pensam igualmente as de um tempo atrás.

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“Brecht, com efeito, reformulou a relação autor-personagem em termos originais, tornando-a a questão capital da dramaturgia moderna. O seu intuito era o de instituir um teatro político, atuante, que não permanecesse neutro perante uma realidade econômica e social que se deve transformar e não descrever. Um teatro que incite à ação e não à contemplação.” Candido (2007, p.75)

A personagem pode ser um grande meio de expressão das ideias, inclinações e inquietações de seu criador, pois as pessoas geralmente tem alguma coisa a dizer. Pode ser algo relativamente simples, como por exemplo, expressar seu gosto por música erudita através de uma personagem musicista que toca um instrumento concentradamente; ou pode ser algo mais complexo como questionar ou criticar o sistema de educação no país por meio de uma personagem professora amigável que educa a partir de seu novo e revolucionário método de ensino. Estes dois exemplos constituem a mensagem da história.

Para que o espectador entenda o que se quer dizer, é preciso escolher cuidadosamente como a personagem se expressará naquele instante para que seu significado não se perca, pois o ser humano dificilmente perde muito tempo tentando decifrar uma mensagem, a não ser que tenha gosto por isso. E quando não compreendemos é comum não gostarmos dessa coisa e nem sermos influenciados por ela. É claro que depende da rea-lidade do público que irá apreciar, mas não é sobre isso que me refiro, e sim sobre as pessoas conseguirem captar o propósito da personagem em um instante. Contexto, mensagem, exagero, movimento são todos elemen-tos da História de uma cena da personagem, assim como as emoções que esses elementos podem despertar nas pessoas. As emoções a serem despertadas dependerão de muitas coisas em relação ao indivíduo, como: relevância da coisa para ele, gosto pessoal, sua bagagem de conhecimento, suas lembran-ças etc.

27

Difícil prever que emoção uma cena causará no público, pois além da própria personagem dependerá também de como a cena será apresentada, da composição cênica, das planifica-ções conforme o ângulo e conforme o enquadramento, cores, dos estilos de acabamento do desenho, porém esses são assuntos técnicos que não serão abordados neste trabalho, pois compeliria abordar sobre cenário também. Portanto, fica-remos somente com a personagem, pois todos esses elemen-tos que foram abordados (imaginação, exagero, movimento, contexto e mensagem) são passíveis de despertar emoções. Explicando que em nenhum momento quis-se reduzir os meios de qual foram retirados esses elementos a apenas uma de suas características.

E o que acarretaria ao designer tendo pelo menos em mente a existência desses elementos? Acarretaria na criação de uma personagem mais viva, ou seja, mais convincente em relação à sua existência e também mais complexa. Porque ela depende de uma história para se comunicar com o espectador e assim fazê-lo interagir ou então ela não significará muito para ele.

Veremos então, nos demais capítulos, a tentativa desses ele-mentos estarem presentes junto à expressão da personagem. Agora que temos consciência que a História é capaz de dar vida às personagens, a próxima fase é criá-las.

Personagem

HistóriaImaginação

Exagero

Movimento

Contexto

Mensagem

Emoção

Psicologia

Comunicação

O primeiro elemento a ser abordado que compõe a personagem propriamente dita é chamada aqui Psicologia da personagem.

A Psicologia engloba tudo o que a personagem é interiormente, como: sua personalidade, o que pensa em relação a si própria e aos outros, seus desejos, objetivos, medos, problemas etc. Não gostaria de criar uma lista, pois a personagem não se limita a encontrar respostas para essas palavras. Melhor seria tornar-se o psicólogo de sua própria criação e então dialogar com ela, fazer-lhe perguntas, para então tentar achar algumas respostas e escolher a mais apropriada.

Um caminho que facilita encontrar as perguntas e as respostas é justamente checar o contexto em que a personagem vive, o contexto sobre o qual foi falado no capítulo anterior (História). Ele se relaciona não só com a psicologia, mas também com a Comunicação que será tratada no capítulos posterior.

A ligação entre as respostas podem tornar a personagem mais convincente, mais real do que somente listar seus medos, seus objetivos e assim por diante. Por exemplo:

Nesse simples parágrafo é possível identificar o contexto da personagem que é o circo. Nota-se também que tudo o que foi falado diz respeito a Brandon ter medo de andar de perna de pau, são essas as ligações a que me referi anteriormente.

Brandon Fingal tinha medo de andar de perna de pau,

isso era um problema para ele, pois foi esse o papel

que deram-lhe ao entrar para o circo. Desejava ser

um domador de elefantes, porém esse papel já tinha

uma dona, então seu objetivo tornou-se superar o

medo e ser um ótimo perna de pau.

PersonagemHistória

PsicologiaComunicação

2.2

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“A força das grandes personagens vem do fato de que o sentimento que temos da sua complexidade é máximo, mas isso, devido à unidade, à simplificação estrutural que o romancista lhe deu. Graças aos elementos de caracterização (isto é, os elementos que o romancista utiliza para descrever e definir a personagem, de maneira a que ela possa dar a impressão de vida, configurando-se ante ao leitor), graças a tais recursos, o romancista é capaz de dar a impressão de um ser ilimitado, contraditório, infinito na sua riqueza; mas nós apreendemos, sobrevoamos essa riqueza, temos a personagem como um todo coeso ante a nossa imaginação. Portanto, a compreensão que nos vem do romance, sendo estabelecida de uma vez por todas, é muito mais precisa do que a que nos vem da existência. Daí podemos dizer que a personagem é mais lógica, embora não mais simples, do que o ser vivo.” Candido (2007, p .59)

A citação do livro a Personagem de Ficção de Antonio Candido refere-se à personagem literária, no entanto seria o mesmo com o desenho. O desenho da personagem estaria limitado a linhas, planos, volumes, porém a soma de todas essas formas seria maior que o próprio desenho, ainda mais se este conti-vesse uma história, algum sentido para o indivíduo. E a soma seria maior a medida que a individualização da personagem também fosse. Essa complexidade psicológica da personagem viria à tona quando criássemos as maneiras como ela encara seus problemas.

Muitas vezes não compreendemos como ou por que uma pessoa pensa daquele jeito ou de outro. Os seres humanos são complexos, são distintos e não só por passarem por expe-riências diferentes, mas por cada um encontrar uma melhor maneira de lidar com o exterior.

30

Partindo dessa lógica viu-se na psicologia de Carl Gustav Jung uma oportunidade de conhecer os tipos psicológicos existen-tes e um caminho para tornar a personagem mais complexa, capaz de causar maior identificação do público com a mesma, tentando aplicar ao desenho interpretações próprias a partir das características que Jung determinou para cada tipo de personalidade.

“Todo meu plano tipológico consiste, meramente, numa espécie de orientação. Existe um fator, a introversão: existe outro fator, a extroversão. A classificação de indivíduos nada significa. Trata-se apenas de um instrumento, ou aquilo a que chamo ‘psicologia prática’, usada, por exemplo, para explicar o marido a uma esposa ou vice-versa.” (Evans) Reis (2010, p. 156)

Como Jung explica, todo seu plano tipológico serve para causar o entendimento nas pessoas de que certos fatores existem, porém sua finalidade não é o de classificá-las, até porque a personalidade nunca se dá por acabada, está sempre se modi-ficando. Aqui o foco também não é o de classificar e sim o de utilizar sua psicologia para criação de uma personagem indivi-dualizada, coerente com seu tipo de personalidade, porém não óbvia. Tornando-a mais convincente, mas não mais previsível.

Os livros mais utilizados para a compreensão do assunto foram As Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung de Reis, Magalhães e Gonçalves; e Tipos psicológicos de Carl Gustav Jung. A teoria de Jung foi a escolhida por melhor se adecuar à proposta do trabalho.

Segundo Jung, os seres humanos no geral distiguem-se por se dividirem entre extrovertidos e introvertidos. O extrover-tido direciona seu interesse ao objeto, é mais influenciável pelo mesmo e mais passível de mudar a si próprio em detrimento deste. Enquanto que para o introvertido o sujeito é superior ao objeto, deixando-o em plano secundário, busca mudar o exte-rior a partir de suas ideias subjetivas. Sujeito é o indivíduo com toda sua subjetividade e objeto é o que se encontra fora dele.

Psicologia da personalidade

31

Então, a frase do extrovertido seria: “Internalizar todo o externo e modelar todo o interno”. E consequentemente a frase do introvertido seria: “Exteriorizar todo o interior e modelar todo o exterior.” Jung (2009, p.101)

Naturalmente todas as pessoas possuem essas duas atitudes, porém a frequência de uma delas determinará o tipo da pessoa, se ela será ou extrovertida ou introvertida.

Junto a esses tipos há quatro funções, são elas: pensamento, sentimento, sensação e intuição.

“Cada pessoa tende a reagir mais comumente com a função que se tornou mais desenvolvida. Esta função predominante caracteriza então um hábito de reação, e constitui o tipo da pessoa. A questão de como esse tipo é formado, ou seja, por que determinada pessoa tem uma disposição extrovertida com pensamento predominante, por exemplo, e não outra, é complexa. Jung admite um conjunto de influências internas e externas: a herança genética, as influências familiares e culturais, as experiências por que cada um foi passando etc., tudo isso vai determinando o modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo.” Reis (2010, p. 155-156)

Extrovertido

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

Introvertido

32

A função de determinada pessoa seria então a maneira com que ela melhor se adaptou, que melhor foi recompensada durante sua vida. Logo, a maioria de suas atitudes serão guiadas por essa forma de interpretar o mundo. As pessoas possuem as quatro funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição, como podem ser tanto extrovertidas como introvertidas, o fato é que uma função na grande maioria das vezes será bem mais desen-volvida que as restantes enquanto outra será subdesenvolvida.

O pensamento é a função que esclarece, julga, classifica, discri-mina um objeto de outro, excluindo seu valor afetivo, guiando-

-se por critérios lógicos, objetivos e impessoais.O sentimento também faz uma estimativa sobre o objeto, e também um julgamento, porém não exclui seu valor afetivo diante do objeto, mas ressalta-o.

Essas duas funções, segundo Jung, são opostas. Sendo uma delas a mais desenvolvida em um indivíduo, consequente-mente a outra seria a função que a pessoa teria maior dificul-dade em compreender e consequentemente de expressar.

A sensação é a função que percebe os objetos que nos cercam e, por meio de nossos sentidos, informa sobre suas características.A intuição percebe diferentemente, ela percebe o passado e o futuro de um objeto, sua história, seu curso de desenvolvi-mento, que de alguma forma, está contida nas características do objeto, no momento da observação. Geralmente vindo em forma de “palpites”, “pressentimentos” ou “inspirações”.

Essas duas funções também são opostas, de acordo com Jung, e acontece o mesmo que com o pensamento e sentimento. No momento em que uma é a mais desenvolvida no indivíduo, ou seja, uma que ele utiliza com mais frequência, por ter-se melhor adaptado a ela durante sua vida, por exemplo, a sensa-ção, a intuição será a sua função mais arcaica e a que ele terá maior dificuldade em utilizar.

Antes de saber mais sobre cada função pergunta-se como isso ajudaria a criar uma personagem mais complexa e capaz de causar a identificação e como aplicar ao desenho.

33

Toda a personagem é um reflexo humano, até quando não se trata de um ser humano, como os animais, plantas, objetos, eles irão em algum nível sofrer a personificação, onde irão ter atitudes ou pensamentos ou caracterização que lembrem uma pessoa. Então, quanto mais soubermos sobre o ser humano mais poderemos acrescentar às nossas criações.

Aplicaria-se a teoria psicológica ao desenho no momento em que criássemos características de toda ordem à personagem, como: maneira de pensar, de sentir, de socializar, de sonhar, de lidar com seus problemas etc, transpondo-se isso a seus atos e seus gestos e transmitindo por meio de uma história, base-ando-se nesse novo conhecimento adquirido. Uma vez tendo em mente as oito funções podemos segui-las à risca ou mis-turá-las ou inventar novas possibilidades.

Lendo sobre o assunto, muitas vezes lembramos de alguém que conhecemos e daí associamos o jeito da pessoa à função psicológica, o que pode ajudarnos a vizualizar melhor o tipo. Talvez, se ao aplicarmos as qualidades de determinada pessoa à personagem e mostrássemos a ela, fosse provável esta se identificar mais com essa personagem do que com outras baseadas em outros tipos.

A seguir, todas as citações foram retiradas do livro Tipos Psico-lógicos de C.G. Jung. (p. 327-381)

34 “Este tipo outorga não só a sí mesmo, mas também

aos circunstantes, a força decisiva da realidade obje-

tiva, ou seja, de sua fórmula intelectual com orienta-

ção objetiva.”

“Segundo essa fórmula mede-se o bem e o mal,

determina-se o belo e o feio. Certo é tudo que condiz

com esta fórmula; errado, o que a contradiz; e for-

tuito o que transcorre indiferente ao seu lado. Pare-

cendo corresponder ao sentido do mundo, torna-se

também a lei do mundo que deve realizar-se sempre

e em toda a parte, tanto no individual como no geral.”

“A moral do tipo pensamento extrovertido proíbe

tolerar exceções. Seu ideal tem que ser realizado,

custe o que custar, pois, a seu ver, é a mais pura for-

mulação da realidade objetiva e, portanto, tem que

ser a verdade aceita em geral, indispensável à salva-

ção da humanidade.”

“Tudo o que, por sua própria natureza, pareça contra-

ditar esta fórmula é imperfeição, falha acidental que

deve ser eliminada na primeira ocasião ou, se não for

possível, deve ser considerado doentio.”

O Pensamento extrovertido

Sanjeya Baya é a domadora de elefantes e quem comanda o Circo Sem Rumo. Não tem muita paciência e não faz questão de ser gentil com seus próximos e ainda menos com quem não conhece. Seu elefante,

Balagun, frequentemente sofre por causa da

insensibilidade de sua dona.

Suas ordens e opiniões devem prevalecer e permanecer incontestáveis, pois elas sempre são o melhor a fazer e em sua opinião vai ser o melhor para todos. Aqueles que por algum motivo, justo que seja, a contestam, estão querendo roubar o seu lugar.

Isso se passa em sua cabeça a todo instante,

é o seu maior medo, por isso, em sua concepção, precisa ser fria, e manter a ordem

no Circo.

35“Salvadores voluntários e guardiães dos

costumes parecem, repentinamente, pre-

cisar eles próprios de salvação ou parecem

comprometidos. A intensão salvadora

facilmente os leva ao emprego de meios

que produzem exatamente aquilo que se

deseja evitar.”

“Toda novidade que já não esteja contida

na fórmula é olhada através de um véu

de ódio inconsciente e devidamente

condenada.“

“Se a fórmula for ampla o suficiente, pode este tipo ter um

papel relevante na vida social como reformador, propaga-

dor de inovações importantes. Quanto mais rígida a fórmula,

porém, mais ele será um resmungão, sofista e crítico auto jus-

tificado que deseja comprimir a si e aos outros num esquema.”

“Dado o fato de que jamais houve e jamais haverá fórmula inte-

lectual capaz de abranger em si e expressar satisfatoriamente a

plenitude da vida e de suas possibilidades, surge uma inibição,

uma exclusão de outras formas e atividades importantes da

vida. Em primeiro lugar, serão abrangidas e sujeitas à opressão,

neste tipo, todas as formas de vida que dependem do senti-

mento, como, por exemplo, as atividades estéticas, o paladar,

o senso artístico, o cultivo da amizade etc.”

O novo significa, ameaça, por isso seu desejo

é que sempre seja como foi, qualquer um que

sair de seus moldes é advertido com ameaças.

De acordo com Sanjeya quase todas as coisas que houve são problemas a serem resolvidos rapidamente, e sem pensar muito no próximo.É capaz de fazer o que ela mesmo julga inapropriado para que tudo volte a seus conformes.

É daquelas que resmungam boa parte do tempo em que estão acordados e até dormindo é capaz de fazer o mesmo.

Sua maneira de andar é imponente e fala aos gritos, como se isso fosse esclarecer o entedimento de suas ordens.

Não é de muitos amigos, até Balogun, que desde

pequeno fora criado por ela, nutre os mais

diversos sentimentos que põe em dúvida a

relação de confiança entre os dois. Porém, possui

um tremendo medo de sua domadora e não é

corajoso o suficiente para mudar a situação.

36 “Procura o aprofundamento e não a ampliação de

horizontes. Por causa desse fundamento é que se

distingue de modo acentuado e evidente do seu

paralelo extrovertido.”

“Podem existir cortesia, amabilidade, afabilidade, mas

frequentes vezes com o gosto esquisito de certa

ansiedade que trai a intenção secreta de desarmar

o adversário.”

“Dificilmente sairá em campo para conseguir adesão

de alguém, principalmente se for alguém de influên-

cia. E, quando o faz, é tã odesajeitado que produz o

efeito oposto.”

“Pelo fato de remoer ao máximo seus problemas,

acaba complicando-se com todo o tipo de escrúpu-

los. Por mais clara que lhe seja a estrutura interna

de seus pensamentos, não lhe é claro como e onde

devem entrar no mundo real..”

“Só consegue aceitar com dificuldade que algo, que

para ele é claro, não o seja para todos os outros.”

“Facilmente é vítima de mulheres ambiciosas que

sabem aproveitar de sua falta de crítica em relação

ao objeto, ou se torna um celibatário misantropo

com alma infantil.”

O Pensamento introvertido

Amino André é o bobo malabarista do Circo. Gosta de saber das coisas, de ler e se aprofundar nos assuntos, porém quando é convidado a falar o que sabe ele simplesmente não consegue ser claro e gagueja a todo instante.

Mas também não faz muita questão de mudar. Em sua cabeça, os outros é que são por demais superficiais e não dotados de inteligência suficiente para compreender seu mundo e suas opiniões.

Seu medo é que as pessoas ao seu redor continuem “ignorantes para sempre”. É visto de fora como alguém que tem teorias absurdas e não vai lá muito bem da cabeça.

Sua dificuldade em se expressar e ser sociável

afasta os demais. Às vezes ele se sente um bobo

por não conseguir ser agradável.

37“Como professor tem pouca influência

pessoal, já que desconhece a mentalidade

de seus alunos. [...] É péssimo profes-

sor, pois, ao ensinar, começa a especular

sobre a matéria a ser ensinada e não se

preocupa em expor a matéria.”

“Jamais tentará pressionar alguém em favor

de suas convicções, mas partirá venenosa

e pessoalmente contra qualquer crítica,

por mais justa.”

“Muitas vezes é desajeitado no seu comportamento externo,

terrivelmente ansioso para fugir de ser notado, ou desligado

completamente, de uma ingenuidade infantil.”

“É considerado por muitos como pessoa sem consideração e

autoritária. Quanto melhor for conhecido, mais favorável se

torna o julgamento e os mais próximos valorizam ao máximo

sua intimidade. Para os mais distantes, ele parece rebarbativo,

esquivo e orgulhoso, e também amargurado devido a seus

preconceitos negativos quanto à sociedade.”

Gostaria que as pessoas pensassem que nem

ele, mas isso é muito difícil para elas e não

vale a pena o esforço para ajudá-las.

Se abala por causa de seu jeito engraçado de andar

e por não conseguir se comunicar facilmente. Mas

esses pensamentos nunca são compartilhados com

o próximo. É ele com ele mesmo.

É realmente muito bom com seus malabarismos, sonha em ser reconhecido um dia como um grande artista, que possui habilidade sobrehumana. Mas não reconhecem seus esforços e na sua opinião, esse Circo está falido pela falta de vontade de seus colegas.

38

“Os sentimentos estão em sintonia com as situações

objetivas e com os valores aceitos em geral.”

“O homem “adequado” é o amado e não outro qual-

quer; ele é adequado não por corresponder plena-

mente à natureza subjetiva e secreta da mulher - na

maioria dos casos ela nem sabe disso - mas porque

satisfaz todas as expectativas razoáveis por sua

posição, idade, posses, tamanho e respeitabilidade

de sua família.”

“Essas mulheres são boas companheiras do homem e

boas mães enquanto seu marido ou filhos possuem

a constituição psíquica convencional.”

“Se a importância do objeto alcançar um grau ainda

mais elevado [...] tem-se a impressão de que a perso-

nalidade se dissolve completamente no sentimento

ocasional.”

O Sentimento extrovertido

Jina Betsy é a trapezista e contorcionista.

Aparentemente se dá bem com todos, mas

pelas costas, e minutos depois, é capaz de

dizer exatamente o contrário à outra pessoa,

Se adapta facilmete a qualquer situação, mas

dificilmente possui uma opinião própria, o

certo e o melhor é o que a maioria diz.

39

“Mas como na vida há um revezamento constante de situa-

ções que produzem estados sentimentais bem diversos e até

mesmo contrastantes entre si, a personalidade também se dis-

solve em igual número de sentimentos diferentes.”

“Basta a situação mudar um pouco para logo trazer à tona uma

avaliação totalmente diferente do mesmo objeto.”

“O pensamento inconsciente chega à superfí-

cie na forma de ideias obsessivas, cujo caráter

geral é sempre negativo e depreciativo. Por

isso, em mulheres desse tipo, há momentos

em que as piores ideias se voltam para aqueles

objetos mais queridos pelo sentimento.”

Tem medo de não estar de acordo com o seu tempo. Sua subjetividade é desprezada, o que importa é sua imagem, e a preserva dizendo para os outras coisas que eles mesmo gostam.

Para os outros, Jina parece ser uma menina

ideal bem comportada, apesar de mimada. Mas

quando um sentimento ruim lhe encontra

desconta nos mais próximos, como se

estivesse descontrolada e realmente está.

Mas depois que acaba seu momento de fúria

incontrolável, logo ela age como se nada

tivesse acontecido e os outros fazem o mesmo.

Jina não tem grandes sonhos, só deseja ser o centro das atenções da conversa. Sua voz aguda às vezes dói aos ouvidos dos demais,

Precisa estar sempre “bem produzida” com o cabelo bem feito e rosto impecável, bem como Fifi, que não escaba do estilo de sua dona.

Possui uma furão de estimação chamada Fifi,

é o nome mais criativo que conseguiu dar.

Fifi a acompanha sempre e participa de seus

números de contorcionismo e de trapézio.

40

“Ainda que exista constante disposição para uma

coexistência pacífica e harmoniosa, não há para com

o objeto estranho nenhuma amabilidade, nenhum

encontro aconchegante, mas apenas indiferença,

frieza e distância.”A relação com o objeto é mantida,

o quanto possível, num meio-termo calmo e seguro

do sentimento, sendo energicamente afastada a

paixão e sua falta de medida. Por isso a expressão do

sentimento continua pobre e o objeto sente conti-

nuamente sua subvalorização, quando dela se torna

consciente.”

“São, na maior parte das vezes, quietas, pouco soci-

áveis, incompreensíveis, muitas vezes se escondem

atrás de máscaras infantis ou banais, e muitas vezes

também são de temperamento melancólico. Não

brilham e não aparecem em público.”

“Em suas manifestações guardam discrição harmô-

nica, uma agradável calma, um paralelismo sim-

pático que não pretende motivar, impressionar,

persuadir ou mudar o outro.”

O Sentimento introvertido

Anice Mabelle significa graciosa, e é como essa moça é. Mímica do Circo Sem Rumo seus gestos delicados são um traço característico.

Anice é tímida e não é de muitas palavras, não gosta de estar com a multidão, possui poucos amigos mas os aprecia. Brandon é com quem melhor conversa e é seu melhor amigo. O sentimento é recíproco, porém, na opinião dele, ela é constantemente fria e mantém distância maior que o normal, que para Anice é o confortável.

É um enigma para os demais, pois não diz muito a seu respeito aos que lhe puxam conversa. Escolhe as pessoas que gosta, e as que não gosta espalha fofocas maldosas a seu respeito.Se uma pessoa lhe é agradável, e a outra não, é assim que tem de ser para os demais também.

Gostaria, assim como seu amigo Brendon que

a dona do Circo não fosse Sangeya, pois ela

está sempre a gritar e ordenar coisas chatas

a se fazer.

É uma menina inteligente, sensível e não muito influenciável, e tampouco é boa em influenciar os outros. Embora consiga sentir o que estão sentindo no momento, mas sem demonstrar um sinal.

41

“Como esse tipo parece sempre frio e reservado, um julga-

mento superficial lhe nega facilmente qualquer sentimento.

Isso, porém, é falso porque os sentimentos não são extensivos

mas intensivos. Desenvolvem-se na profundeza.”

“Para fora e para o olhar cego do extrovertido esta compaixão

parece fria porque não faz nada que dê na vista, e um julga-

mento extrovertido não crê em forças invisíveis.”

“A consciência começa a sentir “o que os

outros pensam””. Naturalmente os outros

pensam toda sorte de vulgaridades, pla-

nejam o mal, instigam e fazem intrigas

secretas etc. A isto o sujeito tem que se

antecipar e ele mesmo começa preven-

tivamente a intrigar, desconfiar, sondar e

combinar. É assaltado por boatos, e esfor-

ços inauditos precisam ser feitos para

tornar, sempre que possível, uma inferiori-

dade ameaçadora em superioridade.”

42 “Não há tipo humano que possa igualar-se em rea-

lismo ao tipo sensação extrovertido.”

“Seu senso objetivo dos fatos é extraordinariamente

desenvolvido.”

“Acumula em sua vida experiências reais sobre

objetos concretos e, quanto mais pronunciado seu

tipo, menos uso faz de sua experiência.”

“Em absoluto, não é pessoa desagradável. Ao contrá-

rio, te, muitas vezes, uma disposição alegre e vivaz

ao prazer, às vezes é bom companheiro e esteta

refinado.”

“O que vem de dentro parece-lhe mórbido e suspeito.

Quando pensa e sente, reduz sempre tudo a funda-

mentos objetivos, isto é, a influências que provêm

do objeto, sem importar-se que haja grave violação

lógica.”

“Seu ideal é a realidade e é cioso desse relaciona-

mento. Não alimenta um ideal de ideias e, por isso,

também nenhum motivo para comportar-se como

estranho diante da realidade atual.”

O Sensação extrovertido

Yuri Zaruiska é o músico e monociclista. Para

ele não há nada como a sensação que a boa

música proporciona.

Yuri simplesmente não consegue ficar só ou sem fazer muitas coisas a todo instante. É muito ativo e se dá bem com todos do Circo, pois consegue ser realmente agradável, faz amigos facilmente.

Em sua opinião possui bom gosto e é bastante vaidoso. Mesmo que esteja sempre rodeado de pessoas não é expansivo ou exagerado.

43“Isto se traduz em todas as manifestações exteriores. Veste-

-se bem, de acordo com as circunstâncias; come-se bem e

bebe-se bem com ele e fica-se a vontade ou, ao menos, se

entende que seu gosto refinado pode colocar certas exigên-

cias aos que o rodeiam. Consegue, inclusive, provar que vale a

pena fazer algum sacrifício por amor ao estilo.”

“Num plano inferior, este tipo é a pessoa da realidade palpável,

sem queda para a reflexão ou desejo de dominar. Seu cons-

tante motivo é sensualizar o objeto, ter sensações e gozar ao

máximo.”

“No entanto, quanto mais predominar a

sensação, a ponto de o sujeito sensuali-

zante desaparecer atrás dela, mais desa-

gradável se torna este tipo. Transforma-se

em uma pessoa grosseira em busca do

prazer ou num esteta refinado e sem

escrúpulos. [...] Em casos mais graves,

desenvolvem-se fobias de toda espécie e,

sobretudo, sintomas de obsessão.

Gosta de experimentar novas sensações e ultrapassar alguns limites. Não possui grandes medos ou inquietações, menos quando começa a conversar com si próprio, desse forma sente-se sozinho e tenta evitar.

É um rapaz que não perde tempo julgando ou analisando fatos ou pessoas, simplesmente aproveita o instante. Por isso n’ao idealiza algo ou se arrepende. Consegue tornar algo ruim em bom mudando seu ponto de vista e expressa isso muito bem.

Em sua opinião, os problemas est’ao no jeito

como os demais enxergam as coisas, fazendo

tudo que é novo parecer um problema.

44 “Mas quando a influência do objeto não consegue

penetrar totalmente, encontra uma neutralidade

benevolente, sinal de pouca participação, que

sempre se esforça por apaziguar e acomodar. O que

está muito baixo é elevado um pouco, o que está

muito elevado é rebaixado, o entusiasmo é atenu-

ado, o extravagante é freado, o inusitado é colocado

dentro da fórmula “correta”, tudo para manter a

influência do objeto nos devidos limites.”

“Vista de fora, parece que a influência do objeto

não penetra no sujeito. Esta impressão é exata na

medida em que um conteúdo subjetivo, nascido do

inconsciente, se interpõe e intercepta a influência

do objeto. Esta interposição pode ser tão brusca que

até parece estar o indivíduo se defendendo contra

a influência do objeto. [...] Disso resulta, de um lado,

para o objeto, o sentimento de cabal desvalorização.”

O Sensação Introvertido

Geronzio é o palhaço do Circo Sem Rumo. É bastante próximo de Sangeya, já que estão juntos desde o começo tentando seduzir uma platéia. Não é coisa que fazem com facilidade. Geronzio não é de muita palhaçada.

Como se fosse confidente de Sangeya, da sua

maneira tenta ver o que está acontecendo

entre os integrantes do Circo, se algo não é

lá muito favorável entrega os “rebeldes” à dona.

Com a mesma tranquilidade que viu ele entrega.

Não sabe seu sobrenome e não tem interesse

em descobrir sobre seu passado

45“Este tipo dificilmente está aberto à compreensão objetiva e

também, na maioria dos casos, não compreende a si próprio.”

“Via de regra o indivíduo se contenta com um fechamento em

si mesmo e com a banalidade do mundo real que ele, porém,

trata inconscientemente de forma arcaica.”

Parece não se impressionar com nada e

com nada se abalar. Isto pode ser irritante

para os demais, já que suas emoções e

intensões são meio que ignoradas por eles.

Geronzio não carrega laços afetivos e da mesma maneira que está no Circo pode sair sem nada a perder.

Mesmo que seu humor seja inabalável, e isso muitas vezes seja interpretado de uma forma negativa, consegue também ser alguém legal com o próximo, algumas vezes.

46

“O intuitivo nunca está lá onde se encontram valores

reais, aceitos em geral, mas sempre lá onde se

encontram possibilidades. Tem faro aguçado para o

embrionário e para o que promete o futuro. Nunca

se encontra em situações estáveis, duradouras e

bem fundadas, de validade aceita por todos, mas

limitada. Está sempre à procura de novas possibi-

lidades e, por isso, está ameaçado a sufocar-se nas

situações estáveis.”

“Enquanto houver uma possibilidade, o intuitivo está

fixo nela com força fatídica. Parece até que sua vida

começa na nova situação. Tem-se a impressão, e ele

mesmo a compartilha, de que atingiu a virada defi-

nitiva em sua vida e que, de agora em diante, já não

poderá pensar e sentir outra coisa. Por mais razo-

ável e proveitoso que seja, e mesmo que todos os

argumentos terrenos falem a favor da estabilidade,

nada o impedirá de, um dia, considerar como prisão

a mesma situação que lhe pareceu outrora liberta-

ção e solução, e agir de acordo. Não há razão ou

sentimento que o detenham ou o façam retroceder

diante de nova possibilidade, ainda que contrária às

suas convicções anteriores.”

O Intuição extrovertido

Ana Malova é a mágica e muito esperta. Consegue fazer coisas desaparecerem ou trocarem de dono num passe de mágica. É a integrante mais nova do Circo e entrou com uma certa hesitação de Sangeya, mas eles precisavam de um mágico e não podiam pagar muito por alguém já conhecido e admirado.

Ana é ótima em seus truques e decidiu entrar para o Circo Sem Rumo depois de suas tentativas fracassadas nos demais. E nada melhor para ela que um Circo nômade, pois não consegue ficar muito tempo no mesmo lugar, nem mesmo fazendo a mesma coisa.

47

“A moralidade do intuitivo não se pauta pelo intelecto e nem

pelo sentimento; ele tem sua própria moral, isto é, a fidelidade

à sua impressão e a voluntária submissão à sua força. A con-

sideração pelo bem-estar dos outros é pequena. O bem-estar

físico deles, tanto quanto ao seu próprio é improcedente.

Também não respeita as convicções e costumes de seus

semelhantes, a ponto de ser taxado muitas vezes de aventu-

reiro inescrupuloso. Como sua intuição se ocupa de objetos

externos e persegue possibilidades externas, volta-se de pre-

ferência para profissões onde possa desenvolver suas múlti-

plas capacidades ao máximo.”

“É o amparo natural de todas as minorias que

prometem ter futuro. Quando orientado mais

para pessoas do que para as coisas, conse-

gue pressentir naquelas certas capacidades

e possibilidades e, assim, “fazer” pessoas.

Ninguém como ele sabe dar coragem a seus

companheiros ou incutir-lhes entusiasmo

para uma nova causa, mesmo que depois de

amanhã os abandone. Quanto mais forte sua

intuição, tanto mais o sujeito se confunde

com a possibilidade vislumbrada. Ele a vivi-

fica, ele a apresenta de modo visível e com

ardor convincente, ele a incorpora por assim

dizer. Não é encenação, é destino.”

É aventureira e não se intimida, está sempre pronta a se arriscar, o risco para ela, às vezes, vale mais que o próprio resultado. Não liga nada para moda e suas roupas nem sempre estão bem cuidas ou limpas...

Convence as pessoas muito facilmente, nem sempre dizendo cem por cento a verdade, e é dotada de uma energia que prende a atenção dos outros.

Tem medo da mesmice, se entendia

rapidamente. Está sempre a querer

algo desconhecido. Seus problemas a

atormentam a todo momento, já que há os

que descobrem suas mentiras. Diria que

está sempre com problemas.

Tira suas próprias conclusões a respeito de tudo, mesmo que pareçam contradizerem entre si. Não se importa com o que os outros vão pensar ou o que julgam certo. Não há regras bem definidas em seu modo de viver.

48

“Quando alcança o primado, a natureza peculiar da

intuição introvertida cria também um tipo especial,

isto é, o sonhador e visionário místico, por um lado,

e o fantasista e o artista por outro. Via de regra, o

intuitivo pára na percepção; seu maior problema é a

percepção e - se for um artista produtivo - dar forma

à sua percepção. O fantasista, porém, contenta-se

com a contemplação pela qual se deixa formar, isto

é, determinar. O aprofundamento da intuição leva

naturalmente o indivíduo a um grande afastamento

da realidade palpável, de modo a tornar-se um

completo enigma até mesmo para as pessoas mais

chegadas. Se for artista, apresentará sua arte coisas

extraordinárias, estranhas ao mundo, reluzente em

todas as cores, ao mesmo tempo importantes e

banais, belas e grotescas, sublimes e ridículas. Não

sendo artista, é muitas vezes um gênio incompreen-

dido, um estróina, uma espécie de sábio meio louco,

personagem típico de romances “psicológicos”.”

O Intuição introvertido

Brandon Fingal é o perna de pau. Ainda está aprendendo, pois queria entrar para o circo não importasse o que fizesse, pois adora essa arte.

É um menino sonhador, idealizador, que está sempre no mundo das núvens imaginando seu próprio mundo perfeito e seu circo perfeito.

Quando crescer queria ser o chefe do Sem Rumo, assim, todos seriam felizes. Desenha seus planos com mais frequência que pratica a perna de pau. Isso já faz Sanjeya estar sempre no seu pé.

Tem sua amiga Anice a quem desabafa todos os seus problemas. Não entende por que as pessoas não mudam e nem ao menos se indignam com a realidade.

49

“O problema moral surge quando o intuitivo se coloca em

relacionamento com sua visão, quando não mais se contenta

com a simples contemplação e sua valorização e configuração

estéticas, mas chega a se perguntar: o que significa isto para

mim e para o mundo? O que resulta disso para mim e para o

mundo em termos de dever e tarefa?

Outra é a atitude do intuitivo moral. Preocupa-se com o signi-

ficado de sua visão, e não se interessa tanto pelas possibilida-

des estéticas ulteriores dela, mas pelos possíveis efeitos morais

que provêm do significado de seu conteúdo.“

Consegue enxergar as soluções para os problemas, porém quando as exterioriza, não lhe dão tanta importância, pois é apenas um garotinho revoltado com o mundo a sua volta.

Balagun é seu amigo também e segundo Brandon é o único que o entende.

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Foram criadas oito personagens de circo sendo cada uma caracterizada por uma função específica, resultando na cons-trução da psicologia de cada uma das personagens.

Tendo como base uma teoria da personalidade podemos cons-truir personagens mais individualizadas, como Stanislavski sugeriu, na citação do início do capítulo Personagem (p.11). É provável, que o indivíduo que apreciar em maior intensidade uma das personagens do Circo Sem Rumo, tenha mais carac-terísticas em comum com essa personagem e consequente-mente com seu tipo.

A seguir, um outro elemento constituinte da personagem irá ser apresentado, onde será visto como as pessoas comunicam-se por meio do corpo.

Personagem

História

Psicologia

Extrovertido

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

Introvertido

Comunicação

Personagem

Psicologia

Com a psicologia da personagem construímos seu interior e sua personalidade, podemos imaginá-la reagindo a situações dentro de um contexto, inclusive pondo-a em uma história. O que será visto a seguir diz respeito à expressão propriamente dita da personagem. Ela comunica-se com espectador por meio de seu corpo, então é nele onde vamos encontrar uma maneira de expressar sua psicologia que acabamos de criar.

O campo a ser abordado aqui é o da comunicação não verbal, uma ciência recente estudada por psicólogos, psiquiatras, antropólogos, sociólogos e etologistas.

“Examinemos o simples ato de andar: erguer alternadamente cada pé, levando-o para frente e colocando-o no chão. Isso pode nos indicar coisas surpreendentes. O homem que habitualmente bate os calcanhares com força enquanto caminha, dá-nos a impressão de ser decidido. Se ele tiver um passo ligeiro, pode parecer impaciente ou agressivo, mas se com a mesma determinação ele anda ainda mais devagar, de um modo compassado, podemos estar diante de alguém paciente e perseverante. Uma pessoa que ande com um jeito menos confiante - como que atravessando um gramado e tentando não estragar a grama - dá-nos a impressão de insegurança. Pode haver outras variações, uma vez que o movimento da perna tem início nos quadris. Mexer demais os quadris pode dar a impressão de elegância, mas se, ao mesmo tempo, produzir uma leve rotação nessa área, a pessoa poderá ser descontraída e tranquila. Com um pouco mais de balanço, um pouco mais de ênfase e uma silhueta de violão, eis aí o tipo de andar que faz um homem virar a cabeça. Davis (1979, p. 158)

Personagem

Psicologia Comunicação

2.3

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A citação pode ser um exemplo do que podemos perceber até nos mais simples atos e, assim deduzirmos como uma pessoa é. Somos capazes de reconhecer ou imitar um amigo pelo jeito de andar, de falar, pelos seus gestos que lhe são caracte-rísticos. Cada um de nós possui características e maneirismos próprios fazendo-nos ser únicos, e dizendo muito sobre nossa personalidade.

“Os antropólogos observaram que os movimentos do corpo não são casuais, mas que são tão legíveis como uma linguagem. Edward Sapir observou: “Reagimos ao gesto com extrema atenção e poder-se-ia dizer que o fazemos segundo um elaborado código que não está escrito em lugar nenhum, que ninguém conhece, mas que todos compreendem.” Davis (1979, p. 19)

Como observado, os movimentos do corpo não são casuais, têm um motivo para acontecerem e um significado para as pessoas. Não há uma gramática onde estipule que determinado gesto signifique tal coisa, no entanto, percebemos e os com-preendemos dentro daquele contexto.

A maior parte de nossa comunicação é não verbal. Dotar a per-sonagem com movimentos característicos é acrescentar vida e expressão à ela.

Os objetivos desse capítulo, portanto, são: a partir do estudo da comunicação não verbal conseguir acrescentar à expressão corporal da personagem e torná-la mais convincente.

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“Uma das teorias mais espantosas concebidas pelos comunicólogos é a de que o próprio corpo, eventualmente comunica. E não somente por intermédio do movimento ou da posição que assume. A própria forma do corpo pode ser uma mensagem e até mesmo a maneira como os traços do rosto se organizam. Isso é uma teoria de Ray Birdwhistell que acredita na aparência física como complemento quase sempre culturalmente programado. “ Davis (1979, p. 45)

A comunicação já começa com a própria forma do corpo. O corpo não é totalmente fruto de nossa herança genética, sofre influências do ambiente, da cultura e também de nossa per-sonalidade. Segundo Birdwhistell, aparência se aprende, não nascemos com ela. Não sendo diferente com todos os demais elementos que veremos adiante. Cientistas acreditam que os integrantes de um casal acabam se parecendo um com o outro e também o dono com seu bicho de estimação. A convivência acaba fazendo com que compartilhemos jeitos parecidos de se movimentar o corpo e isso tem a ver com nossa aparência geral.

No desenho, podemos ver o corpo como uma forma inteira e também como um conjunto de várias partes (membros, tronco, cabeça, olhos, boca, mãos, cabelo...). Com esse ponto de vista podemos construir uma personagem condizente com seu tipo de personalidade criando as características de cada parte que formarão o todo ou partir do todo para então definir as partes.

As formas podem ser pontiagudas ou arredondadas, dinâmi-cas ou estáveis, rígidas ou maleáveis, sutis ou ousadas, rápidas ou lentas, fartas ou escassas etc. Nos remetendo ao perigo e à inofencividade, à diversidade e à monotonia, ao autoritário e à flexibilidade e por aí vai. Esses opostos não precisam ser exclu-dentes, mas pode haver uma hierarquia, entre eles para que não causem ambiguidade no que se quer passar.

2.3.1 Corpo

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“As pessoas sempre usam sua roupa e sua aparência para mostrar quem elas são. Antigamente, a roupa de um homem indicava seu status, sua posição na hierarquia social, enquanto que para a mulher servia também como forma de sedução. Os “hippies” usaram o mesmo método para demonstrar sua recusa em participar do jogo de status. Suas roupas refletiam o que eram e o que não eram: serviam simultaneamente como meio de reconhecimento mútuo e como o ataque sutil à sociedade que rejeitavam.” Davis (1979, p. 171)

As roupas falam sobre nós, através delas mostramos nossos gostos pessoais, no que acreditamos, a tribo a qual pertence-mos, classe social, nível cultural, de onde viemos, como nos comportamos em frente às pessoas e a diferentes situações e o que mais vier à cabeça. Na personagem a roupa pode, da mesma forma, ser um indício sobre sua personalidade. E também é um meio, assim como a forma do corpo, importante para seu reconhecimento imediato por parte do público.

2.3.2Roupas

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“Ekman começa por ensinar as expressões fundamentais e depois as mistas, nas quais uma área do rosto expressa uma emoção enquanto as demais expressam outra. Por exemplo: olhos e sobrancelhas indignadas encimando uma boca sorridente. Quase o mesmo efeito de mistura se produz quando as diferentes expressões se sucedem rapidamente. As expressões mistas acontecem quando duas emoções coexistem ou quando o hábito combina-as. Para alguém, a raiva pode estar fortemente associada ao medo, se, no caso, a raiva o assusta. Para outrem, o medo pode estar ligado à vergonha.” Davis (1979, p. 60)

2.3.3Rosto

Segundo Ekman, mais de mil expressões faciais são possíveis do ponto de vista anatômico. Podemos combinar diferentes emoções resultando assim em inúmeras expressões. O rosto é para onde as pessoas olham com mais frequência quando estão em meio a uma conversa, reagimos mais concientemente às suas expressões do que em relação às outras partes do corpo.

Há expressões mais adequadas para cada tipo de situação. Elas podem ser moderadas, como em um ambiente profissional, por exemplo, exageradas, em ambientes de descontração, dis-farçadas, em uma situação desconfortável ou suprimidas como em um pelotão de soldados. Na personagem, um certo humor pode ser criado no momento em que não respeitamos essas

chamadas “regras demonstrativas”.

As expressões podem servir como referên-cia para moldar o rosto da personagem, podemos desenhar um rosto que favo-reça o reconhecimento de uma expressão em detrimento das demais. Se a persona-gem for um tipo melancólico, por exemplo,

podemos desenhar os olhos caídos, queixo para dentro, cabeça curvada para baixo,

dando assim um tom de melancolia.

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“Os etologistas classificaram também um sorriso não social, denominando-o de sorriso simples e é o sorriso enigmático de Mona Lisa, que reflete prazer em si mesmo. Os lábios se curvam para cima, mas a boca permanece fechada. Quem sorri quando está sozinho, provavelmente sorri assim. Um sorriso frio é aquele que chega somente à boca. Mudanças sutis nos cantos exteriores dos olhos é o que complementa o calor numa expressão. Até mesmo um sorriso largo não convence, se não chegar aos olhos e se não for acompanhado por um levantamento das sobrancelhas.” Davis (1979, p.155)

2.3.4Sorriso

A citação nos mostra como alguém pode parecer falso ou ver-dadeiro. Na personagem para que um sorriso seja convincente tudo o que compõe seu rosto tem de estar sendo atingido pelo sorriso, caso a própria personagem for falsa o melhor nesse caso é os olhos não serem afetados.

Além do sorriso não social, onde somente os lábios se curvam para cima sem mostrar os dentes, há outros classificados pelos cinentistas. O sorriso mais comum é o sorriso com os lábios para cima, o qual se deixam à mostra somente os dentes supe-riores, bastante usado ao se cumprimentar. Há variações desse sorriso, por exemplo, em uma apresentação formal mostra-

-se menos os dentes, embora ainda alguns dentes estejam à mostra. Quando dois namorados se encontram, a boca já estará bastante mais aberta, mas ainda mostrando somente os dentes superiores. O sorriso aberto, onde tanto os dentes superio-res quanto inferiores são mostrados acontece em momentos de sensações agradáveis e de descontração. Por fim o sorriso de boca aberta é o que a boca encontra-se entreaberta sem os dentes aparecerem, típico das crianças e parece ser o que melhor se adapta à expressão de brincadeira.

Criar um sorriso típico para a personagem pode dá-la mais per-sonalidade. E variar a maneira como ela sorri diante de cada situação pode dar um ar de desajeitamento e embaraço.

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“Quando duas pessoas se entreolham, partilham o fato de que sentem prazer em estar juntas, ou de que estão irritadas ou sexualmente excitadas. Pode-se ler o rosto de outra pessoa sem olhá-la nos olhos, mas quando os olhares se encontram, não só sabemos como o outro está se sentindo, mas também ele sabe que nós conhecemos seu estado de espírito. De algum modo, o contato ocular nos faz sentir extremamente abertos, expostos e vulneráveis.” Davis (1979, p. 71)

2.3.5Olhar

O olhar é a porta de entrada para o interior das pessoas. Há os que não consigam mentir encarando o próximo, somos capazes de captar as emoções mais íntimas do outro olhando para sua região ocular. Com o olhar é possível transmitir atitu-des e sentimentos, logo, também expressa nossa personalidade. Uns olham mais que os outros. Os que naturalmente são mais carinhosos são capazes de olhar muito, bem como aqueles que, segundo os psicólogos, sentem mais necessidade de afeto.

No diálogo mudanças sutis na maneira como olhamos podem ser significativas. Por exemplo: se em uma conversa o ouvinte escuta com o rosto virado meio de lado, há grandes chances de não estar concordando com o que o outro diz. Por outro lado, a mesma atitude do que fala pode significar que não há segurança quanto aquilo que se está dizendo. Já, quando o falante encara seu interlocutor, isso demonstra segurança quanto aquilo que está dizendo ou que deseja saber a posição do próximo. Encarar enquanto escuta pode significar concor-dância ou, simplesmente, atenção.

Talvez o olhar seja o ponto onde mais precisamos ter cuidadoenquanto construímos a cena com a personagem. Ele não só pode desmentir toda uma expressão, como enfatizar essa expressão, ou destruir o sentido de uma situação. Por exemplo, um olhar sem direção pode dar um ar de vagueza à persona-gem e tirá-la do contexto da cena.

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“O quanto uma pessoa fala e o padrão que sua fala assume são determinantes preciosos da maneira como os demais reagem diante dela. Estudos psicológicos têm demonstrado que o mais falante num grupo detém o mais alto status e está mais apto a ser escolhido como líder. É verdade também que os outros membros do grupo lhe reservam os sentimentos mais ambivalentes. Aquele que sempre interrompe está, provavelmente, pronto para dominar. Aquele que se mete rápido na conversa sempre que haja uma oportunidade é geralmente um tipo agressivo, um cara de “arranque automático” na linguagem dos executivos.” Davis (1979, p. 119)

2.3.6Fala

A maneira como uma pessoa fala também é indício de sua per-sonalidade. Se fala aos berros, se sua voz é aguda, grave, se não se entende o que fala, se raramente abre a boca etc.

No desenho essas características serão melhor visualizadas no momento em que pensarmos na maneira como a personagem posiciona a cabeça, até onde abre a boca, como abre, sua postura geral, tudo isso podem ser sinais do tom de sua conversa.

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“Quando umas quatro pessoas ou mais se reúnem é comum surgirem vários modelos distintos de postura. Rapidamente, pode-se perceber que não se trata de coincidência: se alguém apruma o grupo, os outros participantes do grupo farão o mesmo, até que todos se tornem, novamente, congruentes. E se você ouvir o que dizem, você descobre que os que pensam do mesmo modo sobre o assunto em pauta, sentam-se também do mesmo modo.” Davis (1979, p. 99)

“A postura de um homem nos fala de seu passado. A própria conformação de seus ombros pode ser indicativa de cargas sofridas, de fúria contida ou de timidez pessoal. Em centros como o Instituto Esalen acredita-se que, eventualmente, os problemas psicológicos pessoais podem incorporar-se à estrutura do corpo. Uma mulher que atravesse um longo período de depressão pode ficar com o corpo

2.3.7Postura

Nossa postura influencia na verecidade do que estamos falando, se falarmos uma coisa enquanto nossa postura diz outra não conseguimos ser convincentes. Com a personagem funciona do mesmo jeito.

Quando a história contiver muitas personagens, pode ser difícil encontrar uma forma de organizá-la. Usando a postura podemos demonstrar o nível de interesse das personagens na conversa e ainda, das interessadas, quais estão em concor-dância entre si ou não. Como visto, quando os integrantes de um grupo concordam entre si tendem compartilhar a mesma postura. Mesma postura não significa posições exatamente nos mesmos ângulos e direções, cada um possui sua anatomia e uma característica própria de se expressar corporalmente. Mesmo partilhando as mesmas posturas, as pessoas não as fazem de maneira idêntica.

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mole e os ombros arriados sob o peso dos problemas. Talvez desapareça o motivo de sua depressão, mas a postura permanece, já que alguns músculos encolheram, outros esticaram-se e novos tecidos conjuntivos se formaram. Ela pode até continuar a se sentir deprimida porque seu corpo ainda ressente da depressão.” Davis (1979, p. 101)

Nossa personalidade vai se construindo ao longo da vida cons-tantemente, não somos mais quem éramos há alguns anos atrás, e o que passamos reflete em nossa comunicação cor-poral. Por mais que não saibamos há motivos pelos quais nos comportamos de determinado jeito. Esse nosso jeito muitas vezes diz até mais do que somos no presente. Pelo modo como nos comunicamos com o mundo podemos estar dando pistas de como fomos no passado e como seremos no futuro, sem dizer uma palavra.

“Existem aproximadamente mil posturas anatomicamente possíveis e relativamente confortáveis. Entre elas, cada cultura seleciona um certo repertório limitado. Isso é o que afirma Gordon Hewes, que estudou a postura numa escala mundial. Nós no ocidente, nos esquecemos de que há outras maneiras de se sentar e de ficar de pé, diferentes daquelas a que estamos acostumados. É impressionante saber que “pelo menos um quarto da humanidade costuma ficar de cócoras para descansar ou para trabalhar”. Boa parte das crianças fica fácil e confortavelmente nessa posição durante horas, mas em sociedades como a nossa, onde ficar de cócoras é considerado desconfortável, incômodo e grosseiro, os adultos já perderam essa capacidade. O repertório de posturas de uma cultura modela seu mobiliário e o mobiliário, por sua vez, exige certas posturas. Quando um estilo de vida está em transição, ocorre, às vezes, um desencontro entre postura e mobiliário.” Davis (1979, p. 105)

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A anatomia da personagem diz como ela pode se mexer e as posturas que consesgue confortavelmente realizar. Isso torna-a mais concreta diante do espectador, se suas dificulda-des assim forem expostas. Pode-se também, caso a persona-gem for bastante exótica na maneira de se comportar, termos a oportunidade de criar um mobiliário diferente ou um mundo novo para ela e as demais, que podem partilhar de algumas mesmas características.

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“Em questão de segundos o corpo humano dança continuamente ao compasso do próprio discurso. Sempre que há fala, a mão e os dedos se movem, a cabeça se inclina, piscam os olhos, todos os movimentos, enfim, coincidem com esse compasso. Curiosamente, esse ritmo se interrompe em caso de doença ou quando surgem danos cerebrais. Esquizofrênicos, crianças autistas, portadores do mal de Parkinson, de epilepsia branda, afásicos ou gagos estão fora de sincronia consigo mesmos. A mão esquerda pode acompanhar o ritmo do discurso enquanto que a direita está completamente defasada. Resulta disso, no filme ou na vida real, uma ligeira impressão de desajeitamento, uma sensação de que que alguma coisa no movimento dessa gente não anda lá muito bem.” Davis (1979, p. 106)

2.3.8Ritmo

Todos temos um ritmo próprio e o usamos na hora de nos expressarmos. Quando duas pessoas iniciam um diálogo sem se conhecerem, é normal uma interromper a outra ou as duas parecerem desajeitadas no começo, pois ambas não conhe-cem o ritmo da outra e estão tentando encontrar uma maneira de se ajustar. À medida que a conversa vai acontecendo elas vão tendendo achar um ritmo em comum, e nesse caso o senti-mento é de grande harmonia, sensação de que realmente está havendo comunicação recíproca, apesar da conversa poder ser inteiramente banal. Ou, pode acontecer de a conversa se tornar desconfortável por uma ter que abdicar de seu ritmo muito mais que a outra. Quando o diálogo vai chegando ao seu final, nota-se que ambas vão voltando aos seus ritmos próprios e se desligando da conversa.

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Nosso ritmo próprio dita como reagimos ao exterior. Em uma conversa, alguém pode só responder depois de uma pausa pensativa, enquanto fala o faz devagar, com longos intervalos entre as frases, enquanto outro corre para terminar o pensa-mento, tomando uma tangente própria, e termina a observa-ção tão depressa quanto começou. Imaginando esses dois tipos de indivíduos conversando, poderíamos notar o quanto isso pode afetar uma relação. Se explorássemos isso em um diálogo entre duas personagens com características opostas, o resultado poder-se-ia se tornar interessante.

“Nesses filmes, Condon já encontrou provas visíveis de como uma pessoa pode “identificar-se” com outra: o pai com o filho, o estudante com o professor, etc. O adolescente do filme mencionado anteriormente havia adquirido alguns gestos da mãe, sobretudo uma espécie de malabarismo manual que ela usava quando se sentia indecisa. Essa gestualidade se apresentava mesmo quando a mãe não estava por perto. Essa mímica inconsciente é muito comum. O indivíduo sempre incorpora um gesto, um sorriso ou uma variante de entonação de alguém a quem ele admira. Dessa forma podemos começar a demonstrar a identificação em termos comportamentais. Podemos encontrá-la na entonação e em outras qualidades vocais, assim como na movimentação corporal.” Davis (1919, p. 116)

Às vezes, depois de tempo conversando com um amigo há os que continuam a falar no ritmo do outro, ou a falar as mesmas gírias, se assemelhar em sua postura etc. Há vários níveis de identificação, estamos tratando de dez elementos que podem servir de ligação entre o público e a personagem, assim como utilizar isso entre as próprias personagens.

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“A maioria das pessoas percebe a gesticulação alheia, mas, em geral, ignora-a, não lhe atribuindo nenhum sentido. Contudo, esses gestos comunicam. Às vezes eles ajudam a esclarecer, quando a mensagem verbal não é muito clara. Em outros momentos, eles revelam, de modo involuntário, as emoções. Mãos muito apertadas ou que se deixam nervosamente são um sinal que os outros podem perceber fácil. Às vezes, também, o gesto tem uma funcionalidade tão clara que o significado torna-se inequívoco. Num dos filmes de pesquisa, uma mulher cobria os olhos toda vez que comentava algo de que se envergonhava e, quando falava sobre o relacionamento com o seu terapeuta, ela arrumava a saia.” Davis (1979, p. 83)

2.3.9Gestos

Não nos comunicamos por meio de gestos aleatórios, os gestos certos estão lá na hora certa em uma interação e ainda obe-decendo à nossa anatomia, à nossa personalidade, ao nosso ritmo.

No desenho, uma atitude pode ajudar a esclarecer uma emoção da personagem, e seus gestos terão que deixar claro como ela se sente. Nessa hora o desenhista se torna o ator, incorpo-rando a personagem e assim imaginando ou mesmo fazendo gestos que poderiam ser feitos por ela. O gesto que passar a mensagem com mais clareza será o mais apropriado.

Cada pessoa, portanto cada personagem, possui uma persona-lidade única e com isso gesticula do seu próprio jeito. Criar um gesto característico à personagem pode deixá-la mais única e peculiar. Eles têm de significar alguma coisa e ao mesmo tempo podem ser nervosos, tranquilos, elegantes, desleixados, sutis, exagerados etc. Pessoas mais simpáticas tendem a gesticular muito mais do que as que não costumam ser.

Cada cultura possui um estilo de movimentação próprio. Os italianos são expansivos, seus gestos são amplos e enérgicos, usando as duas mãos; os franceses já são mais discretos e ele-gantes; os judeus movimentam-se com as mãos próximas do rosto e antebraços próximos ao peito.

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“A noção do eu individual não se restringe aos limites da pele. Ela passeia dentro de uma espécie de bolha particular, representada pela quantidade de ar que se sente existir entre o

“eu” e o “outro”. Essa é uma verdade facilmente demonstrável quando nos aproximamos gradualmente de uma pessoa. A certa altura, o outro começa, irritado ou distraído, a se afastar.” Davis (1979, p. 91)

2.3.10Espaco pessoal

Cada um possui uma noção de seu espaço pessoal que costuma ser do tamanho de seu braço esticado. Quando alguém, que não amigo, rompe esse nosso espaço, costumamos estranhar e a tornarmos defensivos. Amigos se aproximam mais do que os conhecidos e os conhecidos mais do que os estranhos. As mulheres quando apertadas em um espaço pequeno ficam mais amigáveis e mais íntimas, e tendem a preferir o espaço menor, por outro lado, os homens, na mesma situação, tor-nam-se desconfiados e combativos.

Estudos demonstram que numa situação competitiva, duas pessoas normalmente sentam-se uma em frente à outra, ao contrário, se a situação for de cooperação elas sentam-se de lado, enquanto numa conversa comum sentam-se em ângulo reto.

Há uma escala hipotética de distâncias, criada por Hall, apro-priadas para cada tipo de relacionamento entre os norte americanos.

Distância pessoal

45 75 1,20 1,40 2,10 3,60 4

Discutir,fazer amor,conversas

íntimas

Conversa de tralbaho,assuntos pessoais

Conversa formal

Conversa solene,

discursos

Distância social Distância pública

“Foi Edward Hall, um professor de antropologia

da Universidade de Northwestern, quem

primeiro fez considerações a respeito dessa sensação

intensa de espaço pessoal e a partir desse seu trabalho

desenvolveu-se uma nova área de estudo – a

proxêmica – definida por ele como “estudo da

estruturação inconsciente do microespaço humano””

Davis (1979, p..91)

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O desenhista, geralmente, possui uma sensibilidade maior para a observação, porém, às vezes ao notar algo diferente não sabe dizer o que é ficando mais difícil de acrescentar isso ao desenho. Esses estudos psicológicos podem ajudar a esclarecer e assim observar-se conscientemente o que antes ficava a nível inconsciente. Neste capítulos aprendemos dez elementos (corpo, roupas, rosto, sorriso, olhar, fala, postura, ritmo, gestos, espaço pessoal) que a partir de agora podere-mos observá-los de um a um nas pessoas.

São dez partes que compõe toda a comunicação não verbal da personagem, que ao serem trabalhadas podem causar uma identificação maior do público por ela, em vários níveis. Ao mesmo tempo que a psicologia também ajuda.Colocando a personagem dentro de um contexto e junto com outras personagens podemos criar uma interação mais cheia de significado, com menos ambiguidades e com mais vida, sendo assim mais convincente.

Personagem

História

Psicologia

ComunicaçãoCorpo

RoupasRosto

SorrisoOlharFala

PosturaRitmo

GestosEspaço pessoal

A pesquisa que o tema deste trabalho gerou foi de grande valia. Estudou-se tanto a personagem quanto o ser humano e foi possível contextualizar as duas áreas em busca de uma perso-nagem mais complexa.

Pode-se compreender como a personagem se comporta na literatura, no teatro e no cinema e assim captar o que esses meios trazem de bom em relação à ela. Estudou-se psicologia da personalidade e comunicação não verbal a fim de aplicar esse conhecimento científico ao desenho.

Com os elementos da História foi possível encontrar manei-ras de causar o interesse no indivíduo, fazê-lo compreender a mensagem e emocioná-lo. Tendo aprendido os tipos psicoló-gicos de Jung é possível individualizar a personagem e torná-

-la mais complexa. Sabendo mais sobre como as pessoas se comunicam corporalmente pode-se tornar a personagem mais convincente e dá-la impressão de vida. Expandindo esses conhecimentos podemos usá-los na observação e analisá-los um a um nas pessoas mais claramente.

Espera-se que o trabalho contribua para despertar o interesse nas áreas e que sejam assim vistas com mais curiosidade e usadas na criação da personagem.

CONSIDERAçõES FINAIS3

Personagem

HistóriaImaginação

Exagero

Movimento

Contexto

Mensagem

Emoção

Psicologia

Extrovertido

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

PensamentoSentimentoSensaçãoIntuição

Introvertido

ComunicaçãoCorpo

RoupasRosto

SorrisoOlharFala

PosturaRitmo

GestosEspaço pessoal

74

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APêNDICE – Circo Sem Rumo

Sanjeya Baya

Balogun

Amino Andre

Jina Betsy

Fifi

Anice Mabelle

Yuri Zaruiska

Geronzio

Ana Malova

Brandon Fingal