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61 Ling. Acadêmica, Batatais, v. 7, n. 3, p. 61-84, jan./jun. 2017 Desenho técnico, a espinha dorsal do produto Gustavo de Souza J. SOBRINHO 1 Wellington Luis CINEL 2 Eduardo Augusto P. de OLIVEIRA 3 Diego Fernandes SILVA 4 Thiago Francisco MALAGUTTI 5 Resumo: O presente artigo mostra a importância do desenho técnico e as suas relações com o ser humano, bem como o seu desenvolvimento e a sua evolução no decorrer da história. Aborda também a sua forte relação com a engenharia. De forma técnica, mostra projeções bidimensionais e tridimensionais, e normatiza- ção para os princípios básicos, como vistas a observar padrões, cortes e dimen- sionamentos. Trata, ainda, da trajetória e da evolução dos softwares Computer Aided Design (CAD) e das formas como as empresas desenvolvem os mesmos. Tendo em vista a grande demanda por cursos na área da engenharia, essa obra mostra o quanto é importante o entendimento do desenho técnico para a forma- ção do engenheiro porque este é a identidade de fabricação do produto, devido a esse fato, o engenheiro deve dominar essa área de forma segura. Esse trabalho tem por objetivo demonstrar, de uma forma básica, os pontos necessários para o começo do aprendizado do desenho técnico. No decorrer da presente pesquisa, o leitor passará a perceber a necessidade das informações técnicas para o ingresso nessa área. Palavras-chave: Desenho. Softwares. Vistas. Técnico. 1 Gustavo de Souza J. Sobrinho. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>. 2 Wellington Luis Cinel. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>. 3 Eduardo Augusto P. de Oliveira. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>. 4 Diego Fernandes Silva. Mestrando em Administração das Organizações pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Tem MBA em Engenharia e Inovação pelo Centro Universitário Uniseb. Atualmente é Professor, Tutor e Auxiliar de Coordenação do curso de Engenharia de Produção no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 5 Thiago Francisco Malagutti. Mestre em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Coordenador dos Cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Engenharia de Produção do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

Desenho técnico, a espinha dorsal do produto...desenho será utilizado por técnicos que executarão ou acompanha-rão a execução do projeto, seguindo rigorosamente as informações

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Ling. Acadêmica, Batatais, v. 7, n. 3, p. 61-84, jan./jun. 2017

Desenho técnico, a espinha dorsal do produto

Gustavo de Souza J. SOBRINHO1 Wellington Luis CINEL2

Eduardo Augusto P. de OLIVEIRA3 Diego Fernandes SILVA4

Thiago Francisco MALAGUTTI 5

Resumo: O presente artigo mostra a importância do desenho técnico e as suas relações com o ser humano, bem como o seu desenvolvimento e a sua evolução no decorrer da história. Aborda também a sua forte relação com a engenharia. De forma técnica, mostra projeções bidimensionais e tridimensionais, e normatiza-ção para os princípios básicos, como vistas a observar padrões, cortes e dimen-sionamentos. Trata, ainda, da trajetória e da evolução dos softwares Computer Aided Design (CAD) e das formas como as empresas desenvolvem os mesmos. Tendo em vista a grande demanda por cursos na área da engenharia, essa obra mostra o quanto é importante o entendimento do desenho técnico para a forma-ção do engenheiro porque este é a identidade de fabricação do produto, devido a esse fato, o engenheiro deve dominar essa área de forma segura. Esse trabalho tem por objetivo demonstrar, de uma forma básica, os pontos necessários para o começo do aprendizado do desenho técnico. No decorrer da presente pesquisa, o leitor passará a perceber a necessidade das informações técnicas para o ingresso nessa área.

Palavras-chave: Desenho. Softwares. Vistas. Técnico.

1 Gustavo de Souza J. Sobrinho. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>.2 Wellington Luis Cinel. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>.3 Eduardo Augusto P. de Oliveira. Graduando em Engenharia de Produção pelo Claretiano – Centro Universitário E-mail: <[email protected]>.4 Diego Fernandes Silva. Mestrando em Administração das Organizações pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Tem MBA em Engenharia e Inovação pelo Centro Universitário Uniseb. Atualmente é Professor, Tutor e Auxiliar de Coordenação do curso de Engenharia de Produção no Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.5 Thiago Francisco Malagutti. Mestre em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda (CUML). Coordenador dos Cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Engenharia de Produção do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

Em tudo o que adquirimos materialmente no decorrer de nos-sa vida, com vistas a satisfazer as nossas necessidades, entende-se que existiu, por trás desse bem, uma ideia que fosse capaz de aten-der alguém que, certamente, necessitava daquilo. Dessa ideia, foi feito um projeto e, desse projeto, foi feita uma representação que proporcionaria um entendimento adequado para confecção desse bem. Essa representação se chama desenho técnico. Comumente, no dia a dia, veem-se os mais variados produtos fabricados na nos-sa atualidade e, em cada produto que encontramos, é certo que há um projeto e os seus respectivos desenhos técnicos, os quais repre-sentam as formas de fabricação dos componentes desse produto. Sem muitos detalhes, percebe-se a importância do desenho técni-co não somente nas empresas, mas também na vida cotidiana. Por exemplo, a impressora que fez a impressão desse artigo, quantos componentes diferenciados existem nesse equipamento? As roupas que usamos: as partes de cada peça, sem dúvida, foram desenhadas com as medidas certas para serem costuradas. Dessa forma, fica claro que o desenho técnico é de suma importância para as empre-sas. Com base nisso, pode-se afirmar que o estudo sobre o desenho técnico, o seu entendimento e a sua aplicação contribuem para o desenvolvimento da humanidade.

O presente estudo pretende mostrar a importância do desenho técnico, o qual é, pode-se dizer, a identidade do produto, ou seja, é a principal forma de representar um objeto com todas as informações necessárias para a sua confecção. Para isso, esse trabalho explana, de forma rápida, os conceitos básicos de representação de vistas, as normas principais necessárias envolvidas e os softwares Computer Aided Design (CAD), usados para auxiliar no projeto.

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2. DESENVOLVIMENTO

A trajetória do desenho técnico

Segundo Severino (2014), na era primitiva, o desenho era a única forma de comunicação que os homens tinham entre si. A humanidade se comunicava e representava as suas ideias a partir de desenhos pintados ou riscados nas paredes das cavernas: eram desenhados objetos, armas e seres reais. Dessa maneira, tais formas de representação passaram adiante imagens quase reais dos hábitos e dos costumes dos homens primitivos. Esses desenhos, até os dias de hoje, podem ser encontrados em plena conservação em algumas partes do mundo. Com esse fato, temos a certeza de que o desenho se fez importante na vida dos homens primitivos (informação ver-bal). Podem ser vistos, na Figura 1, alguns desses desenhos:

Figura 1. Pinturas do período Neolítico.

Fonte: Sites (2017).

Severino (2014) afirma ainda que, além dos exemplos citados no parágrafo acima, pinturas e quadros de artistas, como Picasso, Leonardo Da Vinci, Michelangelo e outros, são representações ar-tísticas que também transmitem algumas mensagens, as quais po-dem ter sentidos variados e interpretações particulares, dependendo de quem as observa. Essas imagens artísticas não deixam de ser formas de representação em desenho, porém, não disponibilizam

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informações técnicas ou dados para que possa ser construído um objeto ou uma obra de arquitetura, por exemplo.

Segundo Marques (2015, p. 2), por volta do século XVII, no período do Renascimento, foram registrados os primeiros desenhos em forma de planta, elevação e cortes no tratado da arquitetura que houve naquele período. Nesses mesmos desenhos registrados, fo-ram observados os conceitos de escala em redução, por meio dos quais era possível transportar a planta para uma folha de papel. Nessa mesma época, o arquiteto e escultor italiano Filippo Brune-lleschi desenvolveu o método da perspectiva, que foi um grande passo na construção dos desenhos arquitetônicos, pois possibilitou a execução e a interpretação dos projetos.

Apesar dos registros feitos no período do Renascimento, Ri-beiro et al. (2013, p. 2) afirmam que os desenhos em planta e ele-vação mais antigos se encontram fisicamente na Biblioteca do Vati-cano. Foram elaborados pelo engenheiro militar italiano e arquiteto Giuliano da Sangallo, no ano de 1490. Ainda no século XVII, Gas-par Monge, um matemático francês muito habilidoso com dese-nhos, deu origem à Geometria Descritiva, que basicamente é a rela-ção de dois planos para uma projeção tridimensional.

Conforme Silva (2014, p. 12, grifo do autor):[...] a geometria descritiva é a representação de objetos tridimensionais (3D), por meio de desenhos técnicos, bi-dimensionais (2D). Nela são utilizados dois planos de pro-jeção (horizontal e vertical) perpendiculares entre si. As projetantes atingem esses planos perpendicularmente e são denominadas projeção ortogonal.

É possível ver os dois planos perpendiculares entre si na Fi-gura 2 a seguir:

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Figura 2. Geometria descritiva.

Fonte: Silva (2014, p. 12).

As projeções em 2D de Gaspar Monge, segundo Ribeiro et al. (2013, p. 02), resumem-se em dois planos e três vistas: plano horizontal e plano vertical, vista frontal, vista superior e vista la-teral esquerda, mostrando, com mais detalhes, as faces do objeto e as informações básicas, como altura, comprimento, largura e pro-fundidade. Pode-se dizer que o conceito de Desenho Técnico sur-giu através do sistema de projeções ortogonais criado por Gaspard Monge, que também ficou conhecido como “método de Monge” ou geometria “mongeana”.

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Figura 3. Vistas ortogonais.

Fonte: Silva (2014, p. 34).

Marques (2015, p. 2) destaca que, a partir de então, o desenho técnico passou a ser utilizado na arquitetura e na mecânica para a projeção de objetos, estruturas, componentes de produtos e obras civis. Porém, a linguagem usada era bastante variada, determinada particularmente pelos próprios desenhistas, o que certamente gera-va bastante dificuldade para o entendimento por outras pessoas, por exemplo, para os executores dos projetos. A utilidade do desenho técnico nas áreas da engenharia e da arquitetura veio a ser tão am-pla que se gerou uma demanda pela normatização da linguagem do desenho técnico, a fim de melhorar a comunicação entre engenhei-ros, projetistas, desenhistas e interpretadores dos desenhos.

Nas palavras de Silva (2014, p. 100):[...] Por volta do século XIX, dadas as necessidades pro-vocadas pela Revolução Industrial, a geometria descritiva precisou ser normatizada para que a comunicação fluísse corretamente. Desde sua criação, o desenho técnico tor-nou-se cada vez mais preciso e normatizado pelas asso-ciações de normas e técnicas de cada nação. No Brasil, a regulamentação é dada pela Associação Brasileira de Nor-mas Técnicas (ABNT).

Segundo Ribeiro et al. (2011, p. 4), a padronização do de-senho técnico veio para transformá-lo em uma linguagem gráfica

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universal, resultado de uma força-tarefa realizada pelos interessa-dos em estabelecer procedimentos técnicos para estreitar e regular a relação entre produtores, consumidores, engenheiros, empreiteiros e clientes. Cada país tem as suas normas relacionadas ao desenho técnico, com abrangência em todo território. Como afirma Silva (2014, p. 100), no Brasil, as normas são editadas e reguladas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O conheci-mento acerca das técnicas e das normas do desenho técnico é tido, hoje, como fundamental para a formação de engenheiros, arquite-tos, topógrafos, tecnólogos e técnicos. Fica a cargo de engenheiros, arquitetos ou profissionais capacitados a elaboração de todos os cálculos do projeto e do “croqui” (desenho feito à mão que ser-ve como rascunho para a elaboração do desenho técnico), o qual, posteriormente, é redesenhado por um técnico desenhista, sendo executado na prancheta com papel e lápis ou através de softwares de computador. Assim, o desenho é elaborado de acordo com as normas técnicas, contendo todas as informações necessárias para o seu claro entendimento e para a realização do projeto. Por fim, o desenho será utilizado por técnicos que executarão ou acompanha-rão a execução do projeto, seguindo rigorosamente as informações contidas no desenho.

Segundo Ribeiro et al. (2011, p. 3), o desenho, por sua vez, tem uma forte relação com a engenharia, levando em conta que, nessa área, necessita-se de fazer cálculos complexos, estudos eco-nômicos, definições de materiais, etc. Na maioria dos casos, essas informações estão contidas no próprio desenho, tendo em vista a otimização e a boa interpretação do projeto. Todo esse processo de desenvolvimento complexo da engenharia está intimamente ligado à expressão gráfica, uma vez que o desenho em si não é usado so-mente para “mostrar” o projeto, mas sim para apresentar os resulta-dos da engenharia de forma gráfica, o que, muitas vezes, substitui cálculos complicados. Dessa forma, o estudo e a boa compreen-são do desenho técnico são inquestionáveis na área de engenharia. Todo o exercício e o aprendizado, nessa área, dependerão de uma forma ou de outra do desenho técnico.

Sobre isso, Ribeiro et al. (2013, p. 2) atestam que:

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[...] o desenho técnico ainda é imprescindível na formação de engenheiros de qualquer área, pois, além do aspecto de linguagem gráfica, que permite que as ideias concebidas por alguém sejam executadas por terceiros, o estudo do desenho técnico desenvolve o raciocínio, o senso de rigor geométrico, o espírito de iniciativa e de organização.

Normas e princípios básicos do desenho técnico

De acordo com Ribeiro et al. (2013, p. 4), o desenho trouxe a necessidade da padronização para uma melhor relação entre os en-volvidos. Foi no século XIX, em meio ao grande desenvolvimento industrial, que esse fato ocorreu. Para conhecer a padronização do desenho técnico é necessário compreender as normas de represen-tação. As características do layout e as dimensões dos desenhos são definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Segundo Silva (2014, p. 30), tal norma recomenda o uso dos padrões A0, A1, A2, A3 e A4, sendo a legenda sempre situada no canto inferior direito da folha, na qual constarão alguns dados, como número, título, data, conteúdo e o nome do profissional, A folha pode ser utilizada tanto na posição vertical como na horizon-tal. Podemos destacar as principais normas brasileiras acerca do desenho técnico:

• NBR 10647 – é a norma geral do desenho técnico;• NBR 10068 – dispõe acerca do layout e das dimensões da

ficha de desenho;• NBR 10582 – padroniza a apresentação da folha;• NBR 13142 – padroniza o dobramento de cópias;• NBR 8402 – estabelece os caracteres para a escrita em de-

senhos técnicos;• NBR 8403 – define os tipos de linhas.A norma principal e que define a diferença entre os tipos de

desenhos é a NBR 10647. Também é a primeira norma que é en-sinada em cursos técnicos de desenho e em algumas instituições. Segundo Ribeiro et al. (2013, p. 3, grifos do autor):

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O desenho técnico é dividido em dois grandes grupos:

Desenhos não projetivos: na maioria dos casos, correspon-dem a desenhos resultantes dos cálculos algébricos; eles compreendem os desenhos de gráficos, diagramas, esque-mas, ábacos, fluxogramas, organogramas etc.

Desenhos projetivos: são resultantes de projeções do objeto em um ou mais planos de projeção e correspondem às vistas ortográficas e às perspectivas.

Novamente, Silva (2014, p. 32) afirma que a caligrafia téc-nica, por exemplo, encontra-se estabelecida na NBR 8402, sendo responsável por determinar os caracteres dos desenhos, como a al-tura das letras e a distância entre as linhas, bem como estabelecer quais os tipos de linhas que podem ou não serem utilizados, tudo isso com vistas à obtenção de um desenho legível.

Entende-se, pela conceituação do desenho técnico mostra-da até aqui, que os desenhos técnicos projetivos são, por sua vez, aplainados em níveis de baixa e de alta complexidade. Por esse motivo, fica claro que, para elaborar os desenhos, o desenhista, pro-jetista ou engenheiro deve ter experiência técnica suficiente para transmitir o que a peça, o conjunto, a planta ou o sistema precisa de informações para ser elaborado. Essa experiência técnica é adqui-rida por meio de cursos técnicos que abordam todo o leque de in-formações para essa disciplina. O primeiro ponto a ser considerado para o aprendizado do desenho técnico é a visão espacial. De acor-do com Ribeiro et al. (2013, p. 2), a visão espacial é a capacidade de visualizar mentalmente formas espaciais tridimensionais a partir de figuras planas sem, realmente, ver a figura, ou seja, o processo abrange as ações de imaginar e de projetar, na mente, aquilo que será colocado no papel.

Sobre isso, Ribeiro et al. (2013, p. 2) apontam que:[...] fechando os olhos pode-se visualizar a forma espacial de um corpo, de um tijolo, de um determinado carro etc. Ou seja, a visão espacial permite a percepção (o entendi-mento) de formas espaciais, sem ver fisicamente os obje-tos. [...] essa habilidade pode ser desenvolvida com trei-namento sistematizado e com exercícios progressivos em termos de complexidade de formas geométricas.

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Percebe-se que a visão espacial é de suma importância para o aprendizado do desenho técnico. Como a visão espacial consisten-te na imaginação do desenhista, na sequência, vem o conjunto de projeções básicas que, por sua vez, possui vistas específicas para elaboração do desenho técnico. Silva (2014, p. 39) ressalta que o conjunto é formado por três vistas principais: vista frontal, vista superior e vista lateral, que são as chamadas vistas ortogonais. Caso estas não sejam suficientes para uma visão completa da forma do objeto, podemos aumentar o número de vistas para seis. De forma técnica, é possível ver, na Figura 4, as três principais vistas e, na Figura 5, as seis vistas:

Figura 4. Três vistas padrão.

Fonte: Silva (2014, p. 39).

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Figura 5. Seis vistas.

Fonte: Silva (2014, p. 39).

O desenho técnico precisa representar o objeto com precisão, razão pela qual não importa o número de vistas que foram utiliza-das, devendo-se evitar o uso de arestas ocultas, além de observar as suas dimensões quanto à altura, largura e profundidade. Essa arte chamada desenho técnico possui outra técnica nomeada de vistas secionais ou “vistas de corte”, a partir das quais o objeto é realmen-te “cortado”, apresentando detalhes internos, não visíveis, razão pela qual são utilizados cortes que dividem o objeto principal em duas partes. Dentro das vistas de corte e das vistas secionais estão alguns tipos diferenciados de corte. Silva (2014, p. 45-50) faz a diferença entre as vistas nas Figuras 6, 7, 8, 9, e 10, a seguir.

O Corte Pleno ou Total é aquele que atravessa todo o objeto e possui apenas um plano, conforme pode visualizado na Figura 6:

Figura 6. Corte total.

Fonte: Silva (2014, p. 46).

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Os Cortes com Desvio são aqueles que possuem dois ou mais planos de corte e se subdividem em dois tipos. O primeiro deles é o Corte com desvio paralelo, onde ocorre um desvio plano de corte em uma angulação qualquer, seguida de um novo desvio do plano de corte que anula a angulação anterior, direcionando ambos os pla-nos para um sentido qualquer, em paralelo, cortam todo o objeto, como pode ser observado na Figura 7:

Figura 7. Corte com desvio paralelo.

Fonte: Silva (2014, p. 47).

Um segundo tipo de Corte com desvio é o concorrente, que ocorre quando um plano de corte é realizado em uma angulação qualquer, criando um desvio, como pode ser observado na Figura 8:

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Figura 8. Corte com desvio concorrente.

Fonte: Silva (2014, p. 48).

O Meio-corte é aplicado apenas na representação de parte de um objeto, cortando-o em sua totalidade, como pode ser observado na Figura 9:

Figura 9. Meio-corte.

Fonte: Silva (2014, p. 49).

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O Corte parcial é utilizado para representar uma pequena par-te do objeto, sem que o corte não travessa totalmente o objeto se di-ferenciando do meio-corte. Ele pode ser visualizado na Figura 10:

Figura 10. Corte parcial.

Fonte: Silva (2014, p. 50).

É importante destacar a diferenciação entre a seção e o cor-te. Na seção, é possível enxergar apenas a parte que foi atingida pelo corte. Já no corte, é possível ver além do plano do corte. Silva (2014, p. 60) salienta que, além das vistas ortogonais e secionais, há as chamadas vistas auxiliares, que são utilizadas para represen-tar superfícies inclinadas e perpendiculares, ou seja, localizam-se em posições diferentes das vistas principais e, por isso, precisam ter o seu sentido indicado por uma seta designada por uma letra, como está ilustrado na Figura 11:

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Figura 11. Vista auxiliar.

Fonte: Silva (2014, p. 60).

Também temos a chamada axonometria ortogonal, que cons-titui um sistema de projeção cilíndrica dividida em perspectiva ca-valeira e perspectiva ortogonal. Na perspectiva cavaleira, as proje-ções são formadas pelo ângulo de 90º. Na perspectiva axométrica, é possível a formação de outros ângulos. Segundo Silva (2014, p. 60-61), a projeção axométrica, em razão da possibilidade de criação de diversas variedades de ângulos entre os raios projetantes, tam-bém pode ser classificada como perspectiva isomérica, dimétrica e trimétrica. A perspectiva isométrica é a mais utilizada no desenho técnico, contudo, pode apresentar distorções visuais. Ao contrário da dimétrica, que apresenta uma perspectiva mais próxima do ob-jeto real. Já na trimétrica, os ângulos podem variar de acordo com as projeções.

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Finalizada a apresentação da sequência de normas principais acerca do desenho técnico, a seguir, serão mostradas a escala e o dimensionamento, elementos estes que definem as dimensões para a fabricação do objeto e a representações em várias grandezas, se-gundo Ribeiro et al. (2013, p. 76):

O desenho técnico é usado para representação de máqui-nas, equipamentos, prédios, e até unidades inteiras de pro-cessos industriais, mas nem sempre é possível representá--los em verdadeiras grandezas. Para viabilizar a execução dos desenhos, os objetos grandes precisam ser representa-dos com suas dimensões reduzidas, enquanto os objetos, ou detalhes, muito pequenos necessitam de uma represen-tação ampliada.

Para o perfeito entendimento da proporcionalidade entre a es-cala real e escala utilizada no desenho, as reduções e as ampliações estão normalizadas a fim de respeitar uma razão constante entre as dimensões. Segundo Ribeiro et al. (2013, p. 75), é chamada de escala do desenho a razão existente entre as dimensões do desenho e as dimensões reais do objeto. O fato de o desenho técnico ser uma linguagem gráfica, a ordem da razão jamais pode ser invertida, con-forme Ribeiro et al. (2013, p. 77):

Para facilitar a interpretação da relação entre o desenho e o tamanho real do objeto, pelo menos um dos lados da razão terá valor unitário, o que resulta nas seguintes pos-siblidades:

• 1 : 1 para desenhos em tamanho natural – escala natu-ral;

• 1 : n > 1 para desenhos reduzidos – escala de redução;

• n > 1: 1 para desenhos ampliados – escala de ampliação.

[...] a indicação é feita na legenda dos desenhos utilizando a palavra escalas seguida dos valores da razão correspon-dente. Quando, em uma mesma folha, houver desenhos com escalas diferentes daquela indicada na legenda, exis-tira abaixo dos respectivos desenhos a identificação das escalas utilizadas.

Para um melhor entendimento das razões das dimensões, se-guem, abaixo, as normas da ABNT:

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Figura 12. Escalas para desenho técnico.

Fonte: Ribeiro et al. (2013, p. 76).

Somente a escala não é suficiente para mostrar de forma com-pleta todas as dimensões do desenho. Para mostrar essas informa-ções, existe o dimensionamento que, basicamente, nada mais é do que a representação das medidas para a fabricação. As cotas tam-bém são normalizadas pela ABNT. Entende-se o rigor da normali-zação, pois as cotas definem as dimensões de fabricação do objeto. De acordo com Ribeiro et al. (2013, p. 77), o desenho possui carac-terísticas geométricas, como tamanho, posições de furos, rebaixos, ângulos, diâmetros e muito mais. Essas são as características que definem a forma espacial do objeto.

Segundo Ribeiro et al. (2013, p. 77):As dimensões são definidas por meio de cotas, constituí-das de: linhas de chamada, linhas de cota, setas e o valor numérico em uma determinada unidade de medida. [...] as cotas trazem todas as dimensões necessárias para a cons-trução do objeto desenhado e devem ser colocadas uma única vez em qualquer uma das vistas que compõem o de-senho e no local que representa mais claramente o elemen-to que está sendo cotado.

Ainda de acordo com Ribeiro et al. (2013, p. 77), não é ne-cessário cotar o mesmo elemento mais de uma vez. A posição ou a localização deve ser cotada somente uma vez, evitando cotas des-necessárias e, consequentemente, a poluição visual do desenho, conforme a Figura abaixo:

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Figura 13. Cotas.

Fonte: Ribeiro et al. (2013, p. 76).

Projetos e desenhos auxiliados por softwares

Segundo Render (2014), por muito tempo, desde quando surgiu o desenho técnico, uma das maiores dificuldades era a produtividade, ou seja, os desenhos eram relativamente trabalhosos de serem confeccionados. Assim, quanto mais complexo era o projeto, mais dificuldade o profissional tinha em confeccionar o desenho, o que demandava um certo tempo. Antes do surgimento dos softwares, os desenhos eram feitos na prancheta, com lapiseiras, esquadros, transferidores de graus, compassos, escalímetros, réguas “T” e curvas francesas. Em alguns casos, dependendo da escala, a folha era fixada no chão e o desenho era feito por vários desenhistas deitados em cima da mesma. Na década de 50, surgiram os primeiros protótipos de máquinas para auxiliar nos projetos de sistemas e redes elétricas, pouco depois, essas máquinas passaram a ser chamadas, pelo cientista da computação Douglas Taylor Ross, de softwares CADs, que significa, em inglês, Computer Aided Design (desenho auxiliado por computador).

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De acordo com Render (2014), na década de 60, as empresas aeronáuticas, automobilísticas e eletroeletrônicas começaram a usar, com mais frequência, os softwares CAD, mesmo tendo um custo elevado, pois eram softwares de extrema importância para a elaboração de projetos e desenhos. Sobre um dos primeiros softwares CAD, precursores para os demais, Render (2014, [n.p.]) afirma que “[...] um dos programas CADs, que foi base para os outros, foi o UNISURF, desenvolvido pelo engenheiro francês Pierre Bézier, da fabricante de carros Renault”.

Ainda na mesma década, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveu o software Sketchpad, o qual alavancou os CADs. Esse software possibilitava ao desenhista escrever na tela do monitor com uma caneta. Nas décadas de 70 e 80, os CADs começaram a ter aplicações e modelagens em 3D, mais precisamente no ano de 1977, por meio do trabalho do engenheiro aeronáutico Francis Bernard. Na sequência, surgiu a empresa francesa Dassault Systèmes e, posteriormente, no ano de 1982, a empresa Autodesk, duas corporações que são concorrentes até os dias de hoje.

Conforme Render (2014, [n.p.]):Foi também na década de 80 que surgiram os primeiros computadores pessoais, desenvolvidos pela IBM. Com este avanço, várias empresas começaram a tomar provei-to para criar softwares CAD para PCs. Para alavancar as vendas, a Dassault e a IBM fecharam um acordo de vendas mútuas de produtos, o que foi muito rentável para as duas empresas.

Render (2014) afirma que, com o aumento da tecnologia nes-sa época, surgiram várias firmas além da Dassault Systèmes e da Autodesk, empresas como a Adra Systems (CADRA 2D CAD), a Bentley Systems (com a implementação para PC do Intergraph’s IGDS CAD), a Micro-Control Systems (CADKEY), a Unigraphics (NX Unigraphics) e muitas outras. Porém, muitas não obtiveram muito sucesso devido à sua relevância no mercado ser relativamen-te baixa, tendo em vista as líderes Dassault Systèmes e Autodesk. Com o grande avanço tecnológico dos computadores e dos siste-mas operacionais, as empresas começaram a lançar cada vez mais

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softwares CADs compatíveis com os sistemas, isso fez com que o mercado dos softwares se expandisse.

No entanto, foi uma empresa que contribuiu mais para essa expansão na época: a Parametric Technology que, no final da década de 80, lançou o Pro/Engineer, atualmente conhecido como PTC Creo. Esse software trouxe uma evolução na modelagem em 3D baseada em recursos (features) e um grande aproveitamento na construção de sólidos paramétricos. Na década de 90, houve um grande aumento na venda de softwares CADs devido a uma grande necessidade de automatização na indústria aeronáutica, o que gerou, automaticamente, uma grande disputa entre as empresas desenvolvedoras. Na época, as empresas concorrentes eram a Dassault Systèmes, a Parametric Technology, a Unigraphics e a Autodesk.

Conforme Render (2014, [n.p.]):[...] ao final da década de 90, com o avanço da Internet, começaram a surgir os primeiros softwares CADs que funcionavam online, possibilitando a visualização de pro-jetos através dos navegadores. A empresa líder nessa nova tecnologia foi a Dassault Systèmes, que aproveitou os co-nhecimentos obtidos pela integração de programas CAD na rede da Boeing durante a produção do Boeing 777. Para a Autodesk, apenas em 2000 foi lançada a primeira versão do AutoCAD para a internet.

Segundo o site Render (2014), na mesma década, as empresas de softwares CADs que não acompanhavam o desenvolvimento da tecnologia e que, por isso, não ganharam força no mercado, foram desaparecendo. Desde então, ficaram na disputa as empresas Dassault Systèmes e a Autodesk, as quais são líderes no mercado até os dias de hoje. Porém, existem empresas menores que desenvolvem softwares similares. No final da década de 90, a Dassault Systèmes começou a comprar várias empresas desenvolvedoras de softwares CADs, e a Autodesk ganhou força nesse mercado, lançando novos produtos. A Dassault comprou empresas, como a SolidWorks (1993) e a Deneb Robotics (1985). A Autodesk lançou o Inventor (1999), o qual, futuramente, iria concorrer com o SolidWorks.

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Quando se fala em softwares CADs, para quem tem conheci-mento no assunto, logo são imaginados o SolidWorks e o Autocad. Verdadeiramente, esses são os softwares mais usados pelas empre-sas, tendo em vista a facilidade e a versatilidade de uso na hora de elaborar um projeto.

O SolidWorks possui recursos de modelagem em 3D, monta-gens, simulações e criação do desenho a partir da peça 3D. Além disso, possibilita a visualização do projeto por dentro e por fora, cortando a peça nos planos X,Y e Z, recurso que ajuda em possíveis correções do projeto.

O Autocad, por sua vez, possibilita a confecção do desenho em 2D, porém, nos dias atuais, o SolidWorks já vem substituindo--o, mas existem muitas empresas que ainda usam o AutoCad para desenhos planificados, como, por exemplo, plantas baixas ou dese-nhos de chapas dobradas.

Como foi dito, a Autodesk lançou o Inventor em 1999, um software semelhante ao SolidWorks, que, basicamente, possui os mesmos recursos. Porém, com uma interface um pouco diferente: ela é muito parecida com a do Autocad, o que possibilita um conforto maior para quem já trabalhava com ele. A escolha entre SolidWorks e Inventor depende muito do segmento da empresa, do produto, dos projetistas e dos engenheiros. Entretanto, os dois softwares são muito bons, é claro que há os prós e os contras de cada um deles, isso vai depender do usuário. Tendo em vista que o SolidWorks tem mais relevância no mercado, vamos falar um pouco sobre a sua história.

Segundo o site SolidWorks (2017), uma tecnologia CAD acessível e produtiva era a missão de Jon Hirschtick, em 1993. Fun-dador da SolidWorks, ele e a sua equipe de engenheiros desenvolve-ram o primeiro software CAD em 3D compatível com a plataforma Windows. Mas, somente no ano de 1995, foi lançada, oficialmente, a primeira versão do SolidWorks, a qual foi bem aceita pelo mer-cado e por engenheiros que, finalmente, encontraram um software para dar vida aos seus projetos. Nessa mesma década, o mais mo-derno software CAD da época chamava a atenção de todos, por

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isso, a empresa francesa Dassault Systèmes comprou o SolidWorks por US$ 310 milhões.

De acordo com SolidWorks (2017, [n.p.]):[...] hoje, a Dassault Sistèmes SolidWorks Corporation oferece um conjunto completo de ferramentas para criar, simular, publicar e gerenciar dados, otimizando a inovação e a produtividade dos recursos de engenharia. Todas es-tas soluções trabalham juntas permitindo que as empresas projetem produtos de maneira mais rápida e mais eficiente.

A Dassault Sistèmes SolidWorks Corporation busca, continu-amente, inovar e implementar a forma de uso do software, criando novas extensões, ferramentas e recursos para facilitar o desenvolvi-mento de projetos simples e complexos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando-se que o assunto do presente artigo é de caráter técnico, no decorrer de seu desenvolvimento, mais precisamente na primeira parte, foram abordados assuntos de fundamentos teóricos, mostrando, de forma clara, a evolução do desenho técnico iniciado no Renascimento, na área de arquitetura. Enfatizou-se a época em que o desenho passou a ser tratado mais tecnicamente até o auge do desenvolvimento industrial, quando foram criadas normas para a regulamentação dos desenhos técnicos. Por meio da comprovação de que o desenho contém pequenas informações que são indispen-sáveis para a confecção de um produto, e que tais informações eram passadas sem um padrão específico – gerando dúvidas e problemas de fabricação –, foram criadas normas que regulamentaram desde a posição das vistas até a forma da escrita, deixando, assim, as dis-torções e equívocos para trás.

O trabalho abordou, também, a história da tecnologia voltada para a criação dos desenhos técnicos, a qual, logo após a Segunda Guerra Mundial, cresceu de uma forma contínua, com empresas investindo em tecnologias e em engenharia cada vez mais avan-çadas direcionadas não só para a criação dos desenhos, mas para a

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criação de projetos em 3D e de simulações de diversos processos de fabricação.

REFERÊNCIAS

MARQUES, J. C. O ensino do desenho técnico e suas relações com historia da matemática, da arquitetura e a computação gráfica. 2015. Disponível em: <http://www.ufjf.br/ebrapem2015/files/2015/10/gd3_janaina_marques.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2017.

RIBEIRO, A. C.; PERES, M. P.; IZIDORO, N. Curso de desenho técnico e AutoCad. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. (Série Bibliográfica Universitária Pearson).

RENDER. A história do CAD. Disponível em: <http://blog.render.com.br/cad/a-historia-do-cad/>. Acesso em: 4 abr. 2017.

SEVERINO, D. Aula 01 - Desenho técnico - história, geometria descritiva e figuras geométricas. Canal Daniel.CAD, Youtube, 3jun. 2013. Disponível em <https://youtu.be/XSiFTNDlvgM >. Acesso em: 13 abr. 2017.

SILVA, A. S. Desenho técnico. São Paulo: Pearson Eduacation do Brasil, 2014. (Série Bibliográfica Universitária Pearson).

SOLIDWORKS.ESP. Historia de la empresa. Disponível em: <http://www.solidworks.es/sw/656_ESN_HTML.htm>. Acesso em: 6 de maio de 2017.