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DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESPECIAL – A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO

Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

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O objetivo principal desta obra é tratar a aprendizagem de uma forma ampla: sua relação com a escola, a família e o aluno. A obra conta ainda como é o professor no contexto da escola inclusiva – reflexões sobre sua formação e suas implicações na aquisição do conhecimento, por meio de sua identidade profissional, seu conhecimento sobre o desenvolvimento organizacional e gestão escolar. O leitor entenderá melhor a relação do processo ensino e aprendizagem e como a aquisição de novas possibilidades de reconstrução permanente afetam sua prática pedagógica.

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DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO

ESPECIAL – A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO

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DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO

ESPECIAL – A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO

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5Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial IIApresentação

Apresentação

Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva

a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga

o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor, a

Cengage Learning criou este produto voltado para os anseios de quem busca

informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

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Em cada título é possível encontrar uma abordagem abrangente de temas,

associada a uma leitura agradável e organizada, o que visa facilitar o aprendizado

e a memorização de cada disciplina.

A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a

interação com o assunto tratado.

Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos

Atenção, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e Para saber mais, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e

curiosidades bem bacanas, que aprofundam a apreensão do assunto, além de

recursos ilustrativos que permitem a associação de cada ponto a ser estudado.

Ao clicar nas palavras-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para

obteracessoàdefiniçãodapalavra.Paravoltaraotexto,nopontoemqueparou,

o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.

Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance

doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

Page 4: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno
Page 5: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

7Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial IIPrefácio

Prefácio

Sabemos que o processo de desenvolvimento e de aprendizagem das pessoas

portadoras de necessidades especiais foi tortuoso ao longo do tempo, em razão das

dificuldadesrelacionadasaoacessoeinclusão.

Lutasforamtravadasemuitosesuportouparaquealgumavançofosseidentificado.

Apesar de haver ainda muito o que aprimorar, podemos dizer que a sociedade

evoluiunaoutorgadedireitosegarantiasàspessoasportadorasdedeficiência.

A adaptação para a otimização das conquistas ainda está em curso. No setor da

educação,porexemplo,fala-sesobreaprofissionalizaçãoespecíficadosdocentes

e de ambientes devidamente preparados, que facilitem a aprendizagem dos

indivíduos pertencentes a este grupo.

A disciplina Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial visa

apresentar uma abordagem didática para tratar da questão.

Na Unidade 1, vamos explorar um pouco sobre a participação da família e estudar

assuntos como a definição dessa instituição, da relação escola-família e das

famílias de estudantes público-alvo da educação especial.

Por meio da Unidade 2, vamos falar um pouco sobre o papel do professor, o seu

perfilnocontextodaescolainclusivaeoconceitodeeducaçãoinclusiva.

Já na Unidade 3, vamos tratar sobre um tema importante: a formação do professor.

Um debate interessante sobre a formação do docente na atuação da educação

inclusiva.

Porfim,naUnidade4,aabordagemsevoltaparaaprofissãodocenteeasuarelação

com o processo de ensino-aprendizagem e a aquisição de novas possibilidades de

reconstrução da prática pedagógica.

Bons estudos.

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Page 7: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

9Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

UNIDADE 1APRENDIZAGEM E A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO

Capítulo 1 Introdução, 10

Capítulo 2Definiçãodefamília,11

Capítulo 3 A relação escola-família, 15

Capítulo 4 Famílias de estudantes público-alvo da educação especial e a relação com a escola, 20

Capítulo 5 Conclusão, 24

Glossário, 26

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10 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

1. Introdução

Para iniciarmos os estudos sobre Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação

Especial, vamos pensar em uma tríade bastante importante e que está intimamente

relacionada à escola: trata-se da relação escola, família e aluno.

A família desempenha papel importante no desenvolvimento da aprendizagem

dos estudantes. Pesquisas realizadas indicam que algumas dificuldades que

estudantes enfrentam, como atraso na aprendizagem de alguns conteúdos, podem

ter ligação com as relações parentais e a escola. Muitos acreditam que os pais ou

responsáveisnãotêmresponsabilidadeoucondiçõesdeauxiliarosfilhos,ouque

a intervenção deles não auxilia na aprendizagem, o que não é verdade.

Além disso, é importante pensar que alguns problemas, como chegar atrasado na

escola, excesso de faltas etc., nem sempre são contratempos somente da criança,

mas podem também estar relacionadas a família, o que acaba por interferir na

aprendizagem do aluno.

Buscaglia(1997)afirmaqueafamíliatemumpapelmuitoimportantenadefinição

e formação da personalidade, na moral e na evolução social, estando intimamente

ligada ao desenvolvimento da personalidade e do comportamento humano.

P ARA SABER MAIS! Você já parou para pensar em quem é a família dos seus estudantes? Qual seria a importância da relação entre escola, aluno e família? E

quanto à família de uma criança com deficiência? E de uma criança com transtornos globais do desenvolvimento (TGD) ou altas habilidades ou superdotação? Qual seria a importância de conhecer a família desse estudante? Quais implicações isso traria para o desenvolvimento da aprendizagem? Faça uma pesquisa na internet e reflita sobre as

respostas a estas perguntas.

Ao longo deste conteúdo vamos, igualmente, desenvolver essas e algumas outras

reflexões.

família

aprendizagem

alunoescola

Page 9: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

11Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

2.Definiçãodefamília

Observe as imagens a seguir:

O que essas imagens têm em comum? E o que difere entre elas?

Todas ilustram famílias.

Apartirdessasfiguras,comoépossíveldefinir“família”?

Afamílianuclear,“tradicional”,compostaporpai,mãeefilhosaindaéummodelo

bastante encontrado. De acordo com Martins e Szymanski (2004), esse modelo,

em grande parte das sociedades industrializadas, caracteriza-se pela atribuição de

papéis a cada um dos membros: aos homens cabe prover o sustento; as mulheres

seincumbemdosafazeresdomésticosedaeducaçãodosfilhos;eosfilhosdevem

obedecer aos pais. Assim, outros costumes se deram em decorrência desse modelo

de família:

• mudanças no hábito alimentar;

• inserção da mulher no mercado de trabalho;

• ida das crianças para a escola, creches ou outros tipos de instituições mais

precocemente.

Contudo, o conceito de família não pode tomar esse modelo como base, visto que

outrasestruturastambémpodemserdefinidascomofamília,conformeilustram

asfiguras.

Page 10: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

12 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

Atualmente, as relações são diferentes de como eram há algum tempo, o que

implicaconfiguraçõesdefamíliaquenãosãocaracterísticasdoperfiltradicional,

ouseja,compostaporpai,mãeefilhos.Ainda,taisrelaçõesvariamdefamília

para família e envolvem outras diferenças, tais como estrutura, variação de

localidade, região, classe econômica, entre outros fatores.

Ainda nessa perspectiva, Szymanski (2002, apud MELCHIORI; RODRIGUES; MAIA,

2014)defineque,paraserconsiderada“família”,nãoénecessárioaplicaros“laços

desangue”comocritério.Afamíliapodesercaracterizadacomoumconjuntode

pessoas que convivem e cuidam mutuamente dos membros desse grupo.

Melchiori, Rodrigues e Maia (2014) pontuam ainda que, independentemente da

configuração,afamíliaéessencialparaoserhumano.Assim,asautoras,aocitar

Szymanski (2002 apud MELCHIORI; RODRIGUES; MAIA, 2014), destacam alguns

tipos de família:

• famílianuclearcomfilhosbiológicos;

• família extensa, com várias gerações;

• família adotiva;

• casalheterossexualsemfilhos;

• família monoparental;

• famíliadecasalhomossexual(comousemfilhos);

• família reconstituída depois de divórcio;

• pessoas que vivem juntas, sem laços legais, independentemente de parentesco,

mas com cuidados mútuos entre os membros.

Há também a família simultânea, que acontece quando uma pessoa mantém mais

de uma família.

Além desses tipos de família, a sua caracterização é influenciada por outras

variáveis, como os laços legais, dependência ou independência econômica, entre

outras. Assim, há uma diversidade de fatores que podem distinguir a formação da

família e que podem ser a realidade dos estudantes.

Levando-se em conta a pesquisa realizada com crianças internas na Fundação

Casa, em estado de abandono, Martins e Szymanski (2004) analisaram a concep-

ção que essas crianças têm de família. Com a observação que as pesquisadoras

realizaram no desenvolvimento da pesquisa, constataram que, nas brincadeiras

de faz de conta, as crianças apresentaram o modelo de família nuclear, apontando

papéisdepai,mãe,filhoserotinaorganizada,mesmonãosendoessaarealidade

de vida delas. As autoras ainda realçam que, mesmo advindas de famílias con-turbadas e, muitas vezes, convivendo com pessoas que não têm nenhum grau de

Page 11: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

13Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

parentesco ou aspectos consanguí-neos, essas crianças apresentaram,

em suas brincadeiras, uma família

harmoniosa.

Porfim,MartinseSzymanski(2004)

concluem que esse modelo de famí-

lia que as crianças trouxeram em

suas representações é o modelo

veiculado pela mídia, desde dese-

nhos animados até novelas, pro-

pagandas na televisão, outdoors,

revistas etc. Assim, pode-se dizer

que o padrão de família “margari-

na”,da família feliz,compostapor

pai,mãeefilhos,compapéisbem

delineados, é marcante na socieda-

de atual, mesmo que existam ou-

tras estruturas familiares e nem

todos tenham essa família, que,

conforme já vimos, pode se consti-

tuir de diversas formas.

É importante ter em vista que a fa-

míliainfluenciaodesenvolvimentoeaaprendizagemdosestudantes,eotrabalho

em parceria com a escola pode ser positivo para esse desenvolvimento.

Bronfenbrenner propõe um modelo ecológico de desenvolvimento humano,

em que um novo olhar é dado à pessoa em desenvolvimento. Esse modelo é

chamado de bioecológico e considera a interação entre organismo e ambiente,

bem como as características biopsicológicas da pessoa em desenvolvimento.

Assim, Bronfenbrenner apresenta quatro aspectos desse modelo que estão

interligados e estes são: pessoa, processo, contexto e tempo.

O aspecto pessoa está relacionado basicamente às mudanças que acontecem na

vida do indivíduo em desenvolvimento. Por sua vez, o aspecto processo diz respeito

às interações e relações dos papéis e atividades da pessoa em desenvolvimento. O

aspecto contexto se refere ao local onde acontecem os processos desenvolvedores

e ao local em que a pessoa em desenvolvimento está inserida. Finalmente, o

aspecto tempo está relacionado à questão do desenvolvimento histórico. Tais

acontecimentospodemter influênciadiretanodesenvolvimentodeumapessoa.

Por exemplo, fatos que acontecem na família, como mudanças, nascimento de

uma criança, divórcio, entre outros, afetam o desenvolvimento do indivíduo.

Page 12: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

14 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

De acordo com Bronfenbrenner, as ações que acontecem na família, como o brincar

com as crianças, interagir com outras crianças da família e praticar exercícios

são exemplos de atitudes que envolvem processos proximais e que interferem no

desenvolvimento humano. Além disso, as práticas educativas que ocorrem na

família podem favorecer positivamente o desenvolvimento da criança (MARTINS;

SZYMANSKI, 2004b). Em um estudo realizado por Martins e Szymanski (2004b),

as pesquisadoras constataram que as relações entre o ambientes onde as famílias

estão presentes, como creches e escolas, interferem-se mutuamente. Esses locais

fazempartedeumsistema,definidoporBronfenbrennercomomacrossistema,e

queacabamporinfluenciarnodesenvolvimentohumano.

Em outro estudo realizado por Szymanski (2006), a pesquisadora observou que

alguns fatores, tais como a baixa escolaridade, especialmente presente nas famílias

debaixarenda,influenciamnaspráticaseducativascomosfilhosenasrelações

familiares. Atrelado a isso, está o fato de esses pais adotarem práticas de cunho

violentocomseusfilhos,oqueinfluencianodesenvolvimentosocial,cognitivoe

afetivo dessas crianças.

Assim, é possível constatar que a família tem grande participação na questão do

desenvolvimento humano e formação da criança como sujeito, tendo em vista os

aspectos do desenvolvimento cognitivo, social, emocional e afetivo. Ainda, a família

influenciaesofreinfluênciadeoutrasinstâncias,comoaescolaeasrelaçõestravadas

em seu ambiente. É importante, portanto, para o desenvolvimento da criança, que

famíliaeescoladialoguem,sejamparceiras,afimdepromoverodesenvolvimentode

crianças e adolescentes e corroborar a aprendizagem desses estudantes.

Page 13: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

15Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

Nessa perspectiva, na próxima seção, vamos refletir sobre a relação escola-

família. É importante ter em vista que a escola absorve estudantes provenientes

de diferentes famílias, com estruturas, organizações e relações diferenciadas entre

si, relacionadas à formação do estudante. Se na minha sala de aula há 30 alunos,

é preciso ter consciência de que essas crianças são provenientes de famílias

diferentes, com práticas educativas e relações afetivas diversas, o que não pode

ser“dissipado”naescola.

3. A relação escola-família

Antes de iniciar este tópico, convém indagar: você já se perguntou sobre essa

relação, entre a escola e a família? Qual o impacto de uma boa relação entre a

escola e a família na aprendizagem do aluno? E se o aluno for público-alvo da educação especial? O que é necessário considerar?

A relação escola-família tem sido

bastante discutida no cenário bra-

sileiro, tanto no sistema escolar, em

si, quanto no meio acadêmico. Tais

estudos se fazem necessários, pois,

conforme pontuam Montandon e

Perrenoud (1987), a escola está

presente na vida cotidiana de cada

família, seja de forma mais presen-

te ou mais tímida. Assim, tendo em

vista que as famílias diferem, como

jápontuado,taisrelaçõestambémsãodiferentes,sendoinfluenciadasporfatores

comoclassesocial,númerodefilhos,ocupaçãodospais,estrutura,entreoutros.

Nos dias de hoje, tem-se constatado a necessidade de estabelecer um diálogo entre

a família e a escola, já que elas podem trabalhar juntas para que a aprendizagem

dosalunos,portadoresounãodedeficiência,sedesenvolva,sendopúblico-alvo

da educação especial ou não.

Aconfiguração,aestruturaearelaçãodaescolacomafamíliamudaramcomo

tempo; hoje, a escola acaba se responsabilizando pela formação do estudante em

sua totalidade, pois alguns valores que poderiam ser trabalhados pela família são

transferidas para o âmbito escolar.

Faz-se necessário um trabalho de colaboração e cooperação entre a escola e a

família,afimdeseatingiroobjetivomaior,queépromoverodesenvolvimento

do estudante. Embora existam diferenças entre os objetivos de cada uma dessas

instituições, as duas devem trabalhar de forma complementar, visto que ambas

influenciamavidaeodesenvolvimentodascrianças.

Page 14: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

16 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

É importante conhecer as diferentes estruturas familiares, pois a escola

absorve alunos oriundos de famílias com formações completamente diferentes;

se em uma sala de aula há x alunos, existem ali x famílias diferentes, com

peculiaridades e características próprias. Às vezes, a estrutura até pode ser

igual, em termos de formação, mas as relações entre os membros dessa família

são únicas. Vale retomar a definição de família proposta por Szymanski (2002)

como um grupo de pessoas que vivem juntas, tendo cuidado mútuo uns com os

outros, por razões afetivas.

A parceria escola-família é importante para

que os estudantes se desenvolvam, visto

que ambas as instituições não são isoladas,

mas, sim, há influência de uma sobre a

outra. As relações existentes na escola

acabam refletindo na família e vice-versa.

Além disso, a família pode ser considerada

um elemento que tem forte influência na

questão da obtenção de resultados na escola

e também nas relacionadas ao comportamento (BHERING; SIRAJ-BLATCHFORD,

1999). A família é considerada como um elemento importante que está relacionado

ao desenvolvimento e ao sucesso escolar, visto que é o primeiro grupo em que o

indivíduo é inserido (FIAMENGUI JUNIOR; MESSA, 2007).

Nesse sentido, é importante que se estabeleça a parceria entre ambas as institui-

ções. Szymanski (2011) esclarece que a escola, assim como a família, desempenha

um papel fundamental na formação do indivíduo enquanto futuro cidadão, pre-

parando esse estudante para estar inserido na sociedade, exercendo seus deveres

e direitos. A autora ainda ressalta que essas duas instituições são os primeiros

espelhos e primeiros mundos com os quais temos contato; aprendemos tanto na

escola, quanto na família, comportamentos que são socialmente aceitos, posturas

etc. Porém, o ensino dos conteúdos relacionados às áreas do saber, como Mate-

mática, Ciências etc. é de responsabilidade da escola. Szymanski (2011) esclarece

que tanto a escola como a família precisam acolher essa criança e passar respeito,

confiançaeamor.Contudo,nemsempreasfamíliasconseguem,tendoemvista

as inter-relações que acontecem em seu âmbito (por razões econômicas, sociais,

emocionais etc.).

A escola pode ser o local onde as crianças têm acesso a um ambiente diferente do

familiar, que muitas vezes tem problemas. A escola permite que esses estudantes

tenham acesso a relações interpessoais humanas, estáveis e amorosas

(SZYMANSKI, 2011), visto que a ação educativa de ambas as instituições é

diferente–tantoem“conteúdos”quantonosmétodosutilizados,nasrelaçõese

nos laços entre as pessoas.

Page 15: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

17Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

Szymanski (2011) afirma que as estratégias de socialização familiar, por sua

vez, dependem da classe social a que a família pertence, visto que tais práticas

podem ser complementares àquelas praticadas na escola ou não, auxiliando e

corroborando o processo de ensino e aprendizagem. Por exemplo, pode ser prática

em algumas famílias estimular a leitura, fomentar a alfabetização, incentivar a

prática de atividades físicas, entre outras atividades.

A autora, citando Bouchard (1988), pontua que além das diferenças nas estruturas,

há também diferença no modelo educativo, que pode se dar de três formas: racional,

humanista ou simbiosinérgico.

A forma racional é aquele modelo em que os pais decidem pelos filhos; são

geralmente autoritários e fazem uso da submissão e da ordem.

No modelo humanista, os pais não são autoritários; eles dão à criança o direito

de escolha, de decisão. Conforme Szymanski (2011) pontua, nesse modelo

educativo, a família reconhece as potencialidades e habilidades das crianças e as

estimula, encoraja.

Osimbiosinérgicoéummodelocaracterizadoporexistiruma“cogestão”,sendo

osmembrosda família (pais efilhos) parceiros.Aqui, pais efilhos reconhecem

seus erros; as crianças são educadas de forma a ter consciência do que as ações

realizadasgeram;paisefilhostrocamexperiências,vivências,emoções.

Szymanski ressalta que esses modelos não são puros; ou seja, um desses modelos

educativos pode predominar, mas coexistir como os outros. Assim, uma família pode

ter o modelo humanista como predominante, mas com traços do simbiosinérgico

ou do racional.

Outro ponto para o qual ela chama a atenção é que esses modelos não estão

presentes somente na instituição família; estão também na instituição escola,

no que se refere ao tratamento que a escola dá aos pais ou responsáveis pelos

alunos, quanto à abertura e possibilidades de participação da vida escolar e das

atividades inerentes a essa instituição. Nesse sentido, a escola também pode ter

como predominante o modelo educativo racional, humanista ou simbiosinérgico.

ATENÇÃO! Nas escolas, os traços desses modelos são: Racional: são as escolas mais fechadas, que tomam as decisões por si só,

sem levar em consideração a opinião dos pais ou responsáveis pelos alunos e comunidade;

Humanista: as famílias podem participar das decisões da escola; há empatia entre as duas instituições – família e escola;

Simbiosinérgica: nesse modelo, as escolas reconhecem e valorizam as famílias; há uma relação de interdependência entre ambas.

Page 16: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

18 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

Assim, é possível pensar que, se uma família possui um modelo educativo

predominante e a escola outro, diferente, podem haver entraves entre pais ou

responsáveiseaescola.Osentraveseconflitosentreasduasinstituiçõespodem

ser originados das diferenças de modelo predominante, valores que possuem,

classe social, entre outros fatores que podem interferir nessa relação.

É importante realçar que famílias de classes sociais mais altas, que têm a

possibilidadedeescolha,podemdecidiremmanterounãoosfilhosemumaescola

cujo modelo educativo seja diferente daquele predominante na família. Porém, isso

não é possível para famílias de classes sociais mais baixas (SZYMANSKI, 2011).

No caso dos professores, é muito importante que conheçam esses modelos, visto

que na sala de aula, há x alunos, provenientes de x famílias diferentes. Assim, é

relevante que conheçam tanto os modelos nos quais a escola pauta a sua visão

e forma de tomar decisões quanto os da família, já que saber lidar com as visões

diferentes pode vir a corroborar o processo de ensino e aprendizagem das crianças

eadolescentesmatriculadosnaescola,afimdeminimizarofracassoeoinsucesso

escolar. Nesse sentido, antes de fazer prejulgamentos de que a criança não aprende

ou não se desenvolve por ter a família desestruturada, ou por ter pais autoritários,

ou por outros motivos, é preciso conhecer as formas de organização dessa família

eomodeloeducativoadotado,afimdebuscarosmelhoresmeiosdefirmaruma

parceria entre ambas as instituições.

Afirmarqueoinsucessooufracassoescolardeumestudanteécausadopelaforma

comoessafamíliaseestruturanemsempreécorreto;ofator“estruturafamiliar”

pode não ser o determinante do fracasso e da indisciplina. Além disso, se a família

age de forma violenta com a escola, é preciso perceber e reconhecer que as crianças

apenas agem da forma como são tratadas (com violência, por exemplo). No que se

refereaoacompanhamentodosfilhos,nemsempreéfeito“deperto”pelasfamílias,

visto que os pais e responsáveis podem ter várias horas do dia ocupadas no traba-

lho, ou ainda, a baixa escolaridade. Szymanski (2011), com base em várias pesqui-

sasnaárea,constatouquealgumasfamíliasdebaixarendaveemo“estudo”como

sinônimo de aprender a ler e a escrever para se inserir no mercado de trabalho.

Muitos também não compreendem prazos dados pela escola, como matrícula, rece-

bimento de material didático etc. Ainda, essas famílias, às vezes, podem não ser tão

presentes na escola pelo fato de as reuniões pedagógicas, reuniões de pais e mestres

acontecerem no mesmo período que seu expediente.

A participação das famílias corrobora o processo de ensino e aprendizagem dos

estudantes;contudo,énecessáriotraçarestratégiasafimdetrazeressasfamílias

para a escola e permitir que ambas as instituições sejam parceiras. Da parte da

escola, é importante que esta não veja a instituição família com preconceito, ou

que faça julgamentos prévios. É preciso estudar, pesquisar e tentar adequar a

Page 17: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

19Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

melhor forma de trazer e aproximar essa família para a escola. Ainda, é preciso

educaro“olhar”dafamíliaperanteaescola,colocandoa importânciadesta,da

necessidade do cumprimento de prazos e também dos aspectos burocráticos. Por

exemplo,seoalunoseatrasaparachegaràescola,afamíliadevesernotificadae

um trabalho de conscientização da importância de cumprir os horários realizado.

O respeito entre ambas instituições (escola e família) deve ser criado, de forma a

garantir a parceria e corroborar a aprendizagem.

De acordo com Bhering e Siraj-Blatchford (1999), um pesquisador (Epstein) criou

um diagrama que representa a relação escola-família. Este diagrama é composto

por três forças: A, B e C. Família e escola podem, juntas, atuar em prol do

desenvolvimento dos estudantes.

A força A está relacionada à faixa etária e à série em que a criança se encontra.

A força B, por sua vez, está ligada às questões da contribuição dos pais. Já a

forçaC,temrelaçãocomosprofessoresesuasfilosofias,vivências,experiênciase

métodos. Tais forças são, para o autor, consideradas interdependentes.

Além dos modelos educativos já pontuados, os pais podem se envolver com a escola

de cinco formas diferentes (BRANDT, 1989; BHERING; SIRAJ-BLATCHFORD,

1999), que podem ir desde a garantia de segurança e saúde, perpassando pelo

voluntarismo dos pais em relação à escola; do envolvimento dos pais frente às

questões de rendimento escolar, até as questões de tomada de decisões, como

participação em associações de pais e mestres, por exemplo.

É possível concluir, a partir das pesquisas realizadas na área, que a participação

dos pais ou responsáveis na vida escolar dos filhos émuito importante para o

desenvolvimento deles; tal participação pode se dar no comparecimento às

reuniões, atendendo às comunicações de ambas as instituições, acompanhamento

dos deveres e participação nas atividades da escola, bem como decisões. Porém,

conforme foi pontuado anteriormente, há vários outros fatores que interferem nessa

relação. Carvalho (2004) esclarece que essa relação depende tanto do consenso

deambasasinstituiçõessobrefilosofiaecurrículo,objetivosepráticasescolares

quanto da satisfação ou insatisfação dos pais frente ao rendimento escolar dos

filhos.Carvalhoafirmaqueéumarelaçãopermeadaporconflitosetensões,visto

que, ao mesmo tempo que se almeja que os pais participem, professores podem

não gostar quando essa relação adentra o trabalho pedagógico ou a atividade

profissionaldeles;ainda,há famíliasqueparticipammaisqueoutras.Assim,é

precisofomentaressarelaçãodeparticipação,afimdepropiciarodesenvolvimento

da aprendizagem dos estudantes matriculados na escola (CARVALHO, 2004;

OLIVEIRA, 2010).

E nas relações entre famílias e estudantes público-alvo da educação especial?

Vamos discutir essas relações no próximo item.

Page 18: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

20 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II

4. Famílias de estudantes público-alvo da educação es-pecial e a relação com a escola

De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), esses estudantes são aqueles com:

• Deficiências;

• Transtornos globais do desenvolvimento;

• Altas habilidades ou superdotação.

É importante termos sempre em mente quem são esses alunos, visto que iremos

discutir a relação entre a família desses estudantes e a escola em que estudam.

A chegada de uma criança muda a roti-

na e o cotidiano da família, podendo gerar

mudanças na estrutura familiar como um

todo. Alguns autores, como Brandt, defi-

nem que, para a família nuclear, o nasci-

mento de uma criança tem consequências

profundas no sistema familiar, desde mu-

danças na rotina até emoções, sentimentos

etc. Essa mudança para a parentalidade

tem relação com a mudança de identida-

de de marido e mulher para pai e mãe. Há

alteração também em relação aos outros

membros da família (pais se tornam avós;

irmãos, tios etc.). Além disso, há ligação en-

tre a personalidade da criança e a relação

dos pais. Por exemplo, as atitudes que os

pais ou responsáveis tomam no âmbito fa-

miliar podem gerar percepções diversas nas

crianças, tornando, muitas vezes, crianças

da mesma família diferentes entre si.

Essa chegada de uma nova criança à famí-

lia pode ser planejada ou não, e pesquisa-

dores esclarecem que os filhos podem ser

planejados, de acordo com o cotidiano dos pais, ou não, gerados devido a crises

no casal, para substituir alguma expectativa ou outros motivos (FIAMENGHI JU-

NIOR; MESSA, 2007; GLAT, 1997; SÁ; RABINOVICH, 2006).

Geralmente, há expectativas sobre o nascimento de uma criança: pensa-se no

sexodobebê,emcomoseráfisicamente,característicasdapersonalidade,enfim.

Page 19: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

21Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno

É comum fantasiar sobre essa criança que está por vir, havendo já alterações na

rotina, pensando-se em como garantir os cuidados a essa criança. No caso de

umacriançacomdeficiência,pesquisadorespontuamqueháumconfrontocom

a expectativa dos pais, sendo essa situação, para a família, muitas vezes uma

surpresa implicandomudanças de planos, alteração de rotina e de significado

dessa parentalidade antes imaginadadeuma forma e, agora,modificada, visto

queapresençadeumacriançacomdeficiênciademandacuidadoseorganização

para que suas necessidades sejam atendidas. Esse processo não é igual para todas

as famílias; algumas aceitam em menos tempo, outras, podem levar vários anos.

Glat (1997) ressaltaque,aodescobrirqueacriançapossuialgumadeficiência,

instaura-se na família uma crise, devido a essas mudanças de planos e, ainda,

os sentimentos podem ser polarizados (euforia/depressão, aceitação/rejeição etc.)

(GLAT, 1997).

Aosaberqueumacriançacomdeficiênciaestáporvir,a famíliapodevivenciar

algumas fases: a negação, a adaptação e a aceitação. A negação consiste, como o

próprio nome já diz, em não aceitar, em negar a condição dada pelo diagnóstico.

Nessa fase, a família não se encontra preparada para receber essa criança com

deficiência.Apóssuperaresseperíodo,passampelafasechamadadeadaptação.

Essemomentoconsisteembuscarcaminhosparaentenderadeficiência,buscando

apoiodeprofissionaisedeoutrasfamílias.Afasesubsequenteéachamadafase

deaceitação,emqueafamíliaaceitaadeficiênciaetemumavisãomaisrealistade

suas limitações e potencialidades. Observa-se que muitas famílias ainda mantêm

uma postura de proteção exacerbada em relação a essas crianças (BATISTA;

FRANÇA, 2007).

Vários pesquisadores realizaram estudos tendo em vista a presença de uma criança

com deficiência na família. Há vários aspectos decorrentes dessas pesquisas,

tanto positivos quanto negativos. Alguns constataram que essas crianças não

apresentam comportamentos vistos como “problemas”, como vício em drogas

e gravidez na adolescência; contudo, desencadeiam na família preocupações

quanto a cuidados médicos e complicações de saúde. O relacionamento com

irmãoscomdeficiêncianemsempreépautadonadeficiência;estapodeficarem

segundo plano, dependendo da forma como são as relações entre os membros

dessa família. Além disso, os outros membros da família podem desenvolver a

maturidade, a responsabilidade, o sentimento de cuidado em relação ao outro,

entre outras características. No caso de famílias com crianças com autismo, irmãos

podem apresentar mais comprometimento na qualidade de vida, se comparados a

irmãos de crianças que apresentam problemas na fala. Alguns autores pontuam

a necessidade de acompanhamento com profissionais como psicólogos, visto

que pode ser uma experiência tida como conflitiva (HANSON, 2003; LOBATO;

FAUST; SPIRITO, 1988; CATE; LOOTS, 2000; MARCIANO; SCHEUER, 2005

Page 20: Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial - A relação Escola, Família e Aluno

O objetivo principal desta obra é tratar a aprendizagem de uma forma ampla: sua relação com a escola, a família e o aluno. A obra conta ainda comoéoprofessornocontextodaescolainclusiva–reflexõessobresuaformação e suas implicações na aquisição do conhecimento, por meio desua identidadeprofissional,seuconhecimentosobreodesenvolvi-mento organizacional e gestão escolar.

O leitor entenderá melhor a relação do processo ensino e aprendizagem e como a aquisição de novas possibilidades de reconstrução permanen-te afetam sua prática pedagógica.

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESPECIAL – – A RELAÇÃO ESCOLA,

FAMÍLIA E ALUNO