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O objetivo principal desta obra é tratar a aprendizagem de uma forma ampla: sua relação com a escola, a família e o aluno. A obra conta ainda como é o professor no contexto da escola inclusiva – reflexões sobre sua formação e suas implicações na aquisição do conhecimento, por meio de sua identidade profissional, seu conhecimento sobre o desenvolvimento organizacional e gestão escolar. O leitor entenderá melhor a relação do processo ensino e aprendizagem e como a aquisição de novas possibilidades de reconstrução permanente afetam sua prática pedagógica.
Citation preview
DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO
ESPECIAL – A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO
DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO
ESPECIAL – A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO
5Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial IIApresentação
Apresentação
Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva
a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga
o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.
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Cengage Learning criou este produto voltado para os anseios de quem busca
informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.
Com esses ideais em mente nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning,
com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.
Em cada título é possível encontrar uma abordagem abrangente de temas,
associada a uma leitura agradável e organizada, o que visa facilitar o aprendizado
e a memorização de cada disciplina.
A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a
interação com o assunto tratado.
Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos
Atenção, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e Para saber mais, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e
curiosidades bem bacanas, que aprofundam a apreensão do assunto, além de
recursos ilustrativos que permitem a associação de cada ponto a ser estudado.
Ao clicar nas palavras-chave em negrito, o leitor será levado ao Glossário, para
obteracessoàdefiniçãodapalavra.Paravoltaraotexto,nopontoemqueparou,
o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.
Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance
doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.
Boa leitura!
7Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial IIPrefácio
Prefácio
Sabemos que o processo de desenvolvimento e de aprendizagem das pessoas
portadoras de necessidades especiais foi tortuoso ao longo do tempo, em razão das
dificuldadesrelacionadasaoacessoeinclusão.
Lutasforamtravadasemuitosesuportouparaquealgumavançofosseidentificado.
Apesar de haver ainda muito o que aprimorar, podemos dizer que a sociedade
evoluiunaoutorgadedireitosegarantiasàspessoasportadorasdedeficiência.
A adaptação para a otimização das conquistas ainda está em curso. No setor da
educação,porexemplo,fala-sesobreaprofissionalizaçãoespecíficadosdocentes
e de ambientes devidamente preparados, que facilitem a aprendizagem dos
indivíduos pertencentes a este grupo.
A disciplina Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial visa
apresentar uma abordagem didática para tratar da questão.
Na Unidade 1, vamos explorar um pouco sobre a participação da família e estudar
assuntos como a definição dessa instituição, da relação escola-família e das
famílias de estudantes público-alvo da educação especial.
Por meio da Unidade 2, vamos falar um pouco sobre o papel do professor, o seu
perfilnocontextodaescolainclusivaeoconceitodeeducaçãoinclusiva.
Já na Unidade 3, vamos tratar sobre um tema importante: a formação do professor.
Um debate interessante sobre a formação do docente na atuação da educação
inclusiva.
Porfim,naUnidade4,aabordagemsevoltaparaaprofissãodocenteeasuarelação
com o processo de ensino-aprendizagem e a aquisição de novas possibilidades de
reconstrução da prática pedagógica.
Bons estudos.
9Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
UNIDADE 1APRENDIZAGEM E A RELAÇÃO ESCOLA, FAMÍLIA E ALUNO
Capítulo 1 Introdução, 10
Capítulo 2Definiçãodefamília,11
Capítulo 3 A relação escola-família, 15
Capítulo 4 Famílias de estudantes público-alvo da educação especial e a relação com a escola, 20
Capítulo 5 Conclusão, 24
Glossário, 26
10 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
1. Introdução
Para iniciarmos os estudos sobre Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação
Especial, vamos pensar em uma tríade bastante importante e que está intimamente
relacionada à escola: trata-se da relação escola, família e aluno.
A família desempenha papel importante no desenvolvimento da aprendizagem
dos estudantes. Pesquisas realizadas indicam que algumas dificuldades que
estudantes enfrentam, como atraso na aprendizagem de alguns conteúdos, podem
ter ligação com as relações parentais e a escola. Muitos acreditam que os pais ou
responsáveisnãotêmresponsabilidadeoucondiçõesdeauxiliarosfilhos,ouque
a intervenção deles não auxilia na aprendizagem, o que não é verdade.
Além disso, é importante pensar que alguns problemas, como chegar atrasado na
escola, excesso de faltas etc., nem sempre são contratempos somente da criança,
mas podem também estar relacionadas a família, o que acaba por interferir na
aprendizagem do aluno.
Buscaglia(1997)afirmaqueafamíliatemumpapelmuitoimportantenadefinição
e formação da personalidade, na moral e na evolução social, estando intimamente
ligada ao desenvolvimento da personalidade e do comportamento humano.
P ARA SABER MAIS! Você já parou para pensar em quem é a família dos seus estudantes? Qual seria a importância da relação entre escola, aluno e família? E
quanto à família de uma criança com deficiência? E de uma criança com transtornos globais do desenvolvimento (TGD) ou altas habilidades ou superdotação? Qual seria a importância de conhecer a família desse estudante? Quais implicações isso traria para o desenvolvimento da aprendizagem? Faça uma pesquisa na internet e reflita sobre as
respostas a estas perguntas.
Ao longo deste conteúdo vamos, igualmente, desenvolver essas e algumas outras
reflexões.
família
aprendizagem
alunoescola
11Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
2.Definiçãodefamília
Observe as imagens a seguir:
O que essas imagens têm em comum? E o que difere entre elas?
Todas ilustram famílias.
Apartirdessasfiguras,comoépossíveldefinir“família”?
Afamílianuclear,“tradicional”,compostaporpai,mãeefilhosaindaéummodelo
bastante encontrado. De acordo com Martins e Szymanski (2004), esse modelo,
em grande parte das sociedades industrializadas, caracteriza-se pela atribuição de
papéis a cada um dos membros: aos homens cabe prover o sustento; as mulheres
seincumbemdosafazeresdomésticosedaeducaçãodosfilhos;eosfilhosdevem
obedecer aos pais. Assim, outros costumes se deram em decorrência desse modelo
de família:
• mudanças no hábito alimentar;
• inserção da mulher no mercado de trabalho;
• ida das crianças para a escola, creches ou outros tipos de instituições mais
precocemente.
Contudo, o conceito de família não pode tomar esse modelo como base, visto que
outrasestruturastambémpodemserdefinidascomofamília,conformeilustram
asfiguras.
12 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
Atualmente, as relações são diferentes de como eram há algum tempo, o que
implicaconfiguraçõesdefamíliaquenãosãocaracterísticasdoperfiltradicional,
ouseja,compostaporpai,mãeefilhos.Ainda,taisrelaçõesvariamdefamília
para família e envolvem outras diferenças, tais como estrutura, variação de
localidade, região, classe econômica, entre outros fatores.
Ainda nessa perspectiva, Szymanski (2002, apud MELCHIORI; RODRIGUES; MAIA,
2014)defineque,paraserconsiderada“família”,nãoénecessárioaplicaros“laços
desangue”comocritério.Afamíliapodesercaracterizadacomoumconjuntode
pessoas que convivem e cuidam mutuamente dos membros desse grupo.
Melchiori, Rodrigues e Maia (2014) pontuam ainda que, independentemente da
configuração,afamíliaéessencialparaoserhumano.Assim,asautoras,aocitar
Szymanski (2002 apud MELCHIORI; RODRIGUES; MAIA, 2014), destacam alguns
tipos de família:
• famílianuclearcomfilhosbiológicos;
• família extensa, com várias gerações;
• família adotiva;
• casalheterossexualsemfilhos;
• família monoparental;
• famíliadecasalhomossexual(comousemfilhos);
• família reconstituída depois de divórcio;
• pessoas que vivem juntas, sem laços legais, independentemente de parentesco,
mas com cuidados mútuos entre os membros.
Há também a família simultânea, que acontece quando uma pessoa mantém mais
de uma família.
Além desses tipos de família, a sua caracterização é influenciada por outras
variáveis, como os laços legais, dependência ou independência econômica, entre
outras. Assim, há uma diversidade de fatores que podem distinguir a formação da
família e que podem ser a realidade dos estudantes.
Levando-se em conta a pesquisa realizada com crianças internas na Fundação
Casa, em estado de abandono, Martins e Szymanski (2004) analisaram a concep-
ção que essas crianças têm de família. Com a observação que as pesquisadoras
realizaram no desenvolvimento da pesquisa, constataram que, nas brincadeiras
de faz de conta, as crianças apresentaram o modelo de família nuclear, apontando
papéisdepai,mãe,filhoserotinaorganizada,mesmonãosendoessaarealidade
de vida delas. As autoras ainda realçam que, mesmo advindas de famílias con-turbadas e, muitas vezes, convivendo com pessoas que não têm nenhum grau de
13Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
parentesco ou aspectos consanguí-neos, essas crianças apresentaram,
em suas brincadeiras, uma família
harmoniosa.
Porfim,MartinseSzymanski(2004)
concluem que esse modelo de famí-
lia que as crianças trouxeram em
suas representações é o modelo
veiculado pela mídia, desde dese-
nhos animados até novelas, pro-
pagandas na televisão, outdoors,
revistas etc. Assim, pode-se dizer
que o padrão de família “margari-
na”,da família feliz,compostapor
pai,mãeefilhos,compapéisbem
delineados, é marcante na socieda-
de atual, mesmo que existam ou-
tras estruturas familiares e nem
todos tenham essa família, que,
conforme já vimos, pode se consti-
tuir de diversas formas.
É importante ter em vista que a fa-
míliainfluenciaodesenvolvimentoeaaprendizagemdosestudantes,eotrabalho
em parceria com a escola pode ser positivo para esse desenvolvimento.
Bronfenbrenner propõe um modelo ecológico de desenvolvimento humano,
em que um novo olhar é dado à pessoa em desenvolvimento. Esse modelo é
chamado de bioecológico e considera a interação entre organismo e ambiente,
bem como as características biopsicológicas da pessoa em desenvolvimento.
Assim, Bronfenbrenner apresenta quatro aspectos desse modelo que estão
interligados e estes são: pessoa, processo, contexto e tempo.
O aspecto pessoa está relacionado basicamente às mudanças que acontecem na
vida do indivíduo em desenvolvimento. Por sua vez, o aspecto processo diz respeito
às interações e relações dos papéis e atividades da pessoa em desenvolvimento. O
aspecto contexto se refere ao local onde acontecem os processos desenvolvedores
e ao local em que a pessoa em desenvolvimento está inserida. Finalmente, o
aspecto tempo está relacionado à questão do desenvolvimento histórico. Tais
acontecimentospodemter influênciadiretanodesenvolvimentodeumapessoa.
Por exemplo, fatos que acontecem na família, como mudanças, nascimento de
uma criança, divórcio, entre outros, afetam o desenvolvimento do indivíduo.
14 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
De acordo com Bronfenbrenner, as ações que acontecem na família, como o brincar
com as crianças, interagir com outras crianças da família e praticar exercícios
são exemplos de atitudes que envolvem processos proximais e que interferem no
desenvolvimento humano. Além disso, as práticas educativas que ocorrem na
família podem favorecer positivamente o desenvolvimento da criança (MARTINS;
SZYMANSKI, 2004b). Em um estudo realizado por Martins e Szymanski (2004b),
as pesquisadoras constataram que as relações entre o ambientes onde as famílias
estão presentes, como creches e escolas, interferem-se mutuamente. Esses locais
fazempartedeumsistema,definidoporBronfenbrennercomomacrossistema,e
queacabamporinfluenciarnodesenvolvimentohumano.
Em outro estudo realizado por Szymanski (2006), a pesquisadora observou que
alguns fatores, tais como a baixa escolaridade, especialmente presente nas famílias
debaixarenda,influenciamnaspráticaseducativascomosfilhosenasrelações
familiares. Atrelado a isso, está o fato de esses pais adotarem práticas de cunho
violentocomseusfilhos,oqueinfluencianodesenvolvimentosocial,cognitivoe
afetivo dessas crianças.
Assim, é possível constatar que a família tem grande participação na questão do
desenvolvimento humano e formação da criança como sujeito, tendo em vista os
aspectos do desenvolvimento cognitivo, social, emocional e afetivo. Ainda, a família
influenciaesofreinfluênciadeoutrasinstâncias,comoaescolaeasrelaçõestravadas
em seu ambiente. É importante, portanto, para o desenvolvimento da criança, que
famíliaeescoladialoguem,sejamparceiras,afimdepromoverodesenvolvimentode
crianças e adolescentes e corroborar a aprendizagem desses estudantes.
15Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
Nessa perspectiva, na próxima seção, vamos refletir sobre a relação escola-
família. É importante ter em vista que a escola absorve estudantes provenientes
de diferentes famílias, com estruturas, organizações e relações diferenciadas entre
si, relacionadas à formação do estudante. Se na minha sala de aula há 30 alunos,
é preciso ter consciência de que essas crianças são provenientes de famílias
diferentes, com práticas educativas e relações afetivas diversas, o que não pode
ser“dissipado”naescola.
3. A relação escola-família
Antes de iniciar este tópico, convém indagar: você já se perguntou sobre essa
relação, entre a escola e a família? Qual o impacto de uma boa relação entre a
escola e a família na aprendizagem do aluno? E se o aluno for público-alvo da educação especial? O que é necessário considerar?
A relação escola-família tem sido
bastante discutida no cenário bra-
sileiro, tanto no sistema escolar, em
si, quanto no meio acadêmico. Tais
estudos se fazem necessários, pois,
conforme pontuam Montandon e
Perrenoud (1987), a escola está
presente na vida cotidiana de cada
família, seja de forma mais presen-
te ou mais tímida. Assim, tendo em
vista que as famílias diferem, como
jápontuado,taisrelaçõestambémsãodiferentes,sendoinfluenciadasporfatores
comoclassesocial,númerodefilhos,ocupaçãodospais,estrutura,entreoutros.
Nos dias de hoje, tem-se constatado a necessidade de estabelecer um diálogo entre
a família e a escola, já que elas podem trabalhar juntas para que a aprendizagem
dosalunos,portadoresounãodedeficiência,sedesenvolva,sendopúblico-alvo
da educação especial ou não.
Aconfiguração,aestruturaearelaçãodaescolacomafamíliamudaramcomo
tempo; hoje, a escola acaba se responsabilizando pela formação do estudante em
sua totalidade, pois alguns valores que poderiam ser trabalhados pela família são
transferidas para o âmbito escolar.
Faz-se necessário um trabalho de colaboração e cooperação entre a escola e a
família,afimdeseatingiroobjetivomaior,queépromoverodesenvolvimento
do estudante. Embora existam diferenças entre os objetivos de cada uma dessas
instituições, as duas devem trabalhar de forma complementar, visto que ambas
influenciamavidaeodesenvolvimentodascrianças.
16 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
É importante conhecer as diferentes estruturas familiares, pois a escola
absorve alunos oriundos de famílias com formações completamente diferentes;
se em uma sala de aula há x alunos, existem ali x famílias diferentes, com
peculiaridades e características próprias. Às vezes, a estrutura até pode ser
igual, em termos de formação, mas as relações entre os membros dessa família
são únicas. Vale retomar a definição de família proposta por Szymanski (2002)
como um grupo de pessoas que vivem juntas, tendo cuidado mútuo uns com os
outros, por razões afetivas.
A parceria escola-família é importante para
que os estudantes se desenvolvam, visto
que ambas as instituições não são isoladas,
mas, sim, há influência de uma sobre a
outra. As relações existentes na escola
acabam refletindo na família e vice-versa.
Além disso, a família pode ser considerada
um elemento que tem forte influência na
questão da obtenção de resultados na escola
e também nas relacionadas ao comportamento (BHERING; SIRAJ-BLATCHFORD,
1999). A família é considerada como um elemento importante que está relacionado
ao desenvolvimento e ao sucesso escolar, visto que é o primeiro grupo em que o
indivíduo é inserido (FIAMENGUI JUNIOR; MESSA, 2007).
Nesse sentido, é importante que se estabeleça a parceria entre ambas as institui-
ções. Szymanski (2011) esclarece que a escola, assim como a família, desempenha
um papel fundamental na formação do indivíduo enquanto futuro cidadão, pre-
parando esse estudante para estar inserido na sociedade, exercendo seus deveres
e direitos. A autora ainda ressalta que essas duas instituições são os primeiros
espelhos e primeiros mundos com os quais temos contato; aprendemos tanto na
escola, quanto na família, comportamentos que são socialmente aceitos, posturas
etc. Porém, o ensino dos conteúdos relacionados às áreas do saber, como Mate-
mática, Ciências etc. é de responsabilidade da escola. Szymanski (2011) esclarece
que tanto a escola como a família precisam acolher essa criança e passar respeito,
confiançaeamor.Contudo,nemsempreasfamíliasconseguem,tendoemvista
as inter-relações que acontecem em seu âmbito (por razões econômicas, sociais,
emocionais etc.).
A escola pode ser o local onde as crianças têm acesso a um ambiente diferente do
familiar, que muitas vezes tem problemas. A escola permite que esses estudantes
tenham acesso a relações interpessoais humanas, estáveis e amorosas
(SZYMANSKI, 2011), visto que a ação educativa de ambas as instituições é
diferente–tantoem“conteúdos”quantonosmétodosutilizados,nasrelaçõese
nos laços entre as pessoas.
17Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
Szymanski (2011) afirma que as estratégias de socialização familiar, por sua
vez, dependem da classe social a que a família pertence, visto que tais práticas
podem ser complementares àquelas praticadas na escola ou não, auxiliando e
corroborando o processo de ensino e aprendizagem. Por exemplo, pode ser prática
em algumas famílias estimular a leitura, fomentar a alfabetização, incentivar a
prática de atividades físicas, entre outras atividades.
A autora, citando Bouchard (1988), pontua que além das diferenças nas estruturas,
há também diferença no modelo educativo, que pode se dar de três formas: racional,
humanista ou simbiosinérgico.
A forma racional é aquele modelo em que os pais decidem pelos filhos; são
geralmente autoritários e fazem uso da submissão e da ordem.
No modelo humanista, os pais não são autoritários; eles dão à criança o direito
de escolha, de decisão. Conforme Szymanski (2011) pontua, nesse modelo
educativo, a família reconhece as potencialidades e habilidades das crianças e as
estimula, encoraja.
Osimbiosinérgicoéummodelocaracterizadoporexistiruma“cogestão”,sendo
osmembrosda família (pais efilhos) parceiros.Aqui, pais efilhos reconhecem
seus erros; as crianças são educadas de forma a ter consciência do que as ações
realizadasgeram;paisefilhostrocamexperiências,vivências,emoções.
Szymanski ressalta que esses modelos não são puros; ou seja, um desses modelos
educativos pode predominar, mas coexistir como os outros. Assim, uma família pode
ter o modelo humanista como predominante, mas com traços do simbiosinérgico
ou do racional.
Outro ponto para o qual ela chama a atenção é que esses modelos não estão
presentes somente na instituição família; estão também na instituição escola,
no que se refere ao tratamento que a escola dá aos pais ou responsáveis pelos
alunos, quanto à abertura e possibilidades de participação da vida escolar e das
atividades inerentes a essa instituição. Nesse sentido, a escola também pode ter
como predominante o modelo educativo racional, humanista ou simbiosinérgico.
ATENÇÃO! Nas escolas, os traços desses modelos são: Racional: são as escolas mais fechadas, que tomam as decisões por si só,
sem levar em consideração a opinião dos pais ou responsáveis pelos alunos e comunidade;
Humanista: as famílias podem participar das decisões da escola; há empatia entre as duas instituições – família e escola;
Simbiosinérgica: nesse modelo, as escolas reconhecem e valorizam as famílias; há uma relação de interdependência entre ambas.
18 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
Assim, é possível pensar que, se uma família possui um modelo educativo
predominante e a escola outro, diferente, podem haver entraves entre pais ou
responsáveiseaescola.Osentraveseconflitosentreasduasinstituiçõespodem
ser originados das diferenças de modelo predominante, valores que possuem,
classe social, entre outros fatores que podem interferir nessa relação.
É importante realçar que famílias de classes sociais mais altas, que têm a
possibilidadedeescolha,podemdecidiremmanterounãoosfilhosemumaescola
cujo modelo educativo seja diferente daquele predominante na família. Porém, isso
não é possível para famílias de classes sociais mais baixas (SZYMANSKI, 2011).
No caso dos professores, é muito importante que conheçam esses modelos, visto
que na sala de aula, há x alunos, provenientes de x famílias diferentes. Assim, é
relevante que conheçam tanto os modelos nos quais a escola pauta a sua visão
e forma de tomar decisões quanto os da família, já que saber lidar com as visões
diferentes pode vir a corroborar o processo de ensino e aprendizagem das crianças
eadolescentesmatriculadosnaescola,afimdeminimizarofracassoeoinsucesso
escolar. Nesse sentido, antes de fazer prejulgamentos de que a criança não aprende
ou não se desenvolve por ter a família desestruturada, ou por ter pais autoritários,
ou por outros motivos, é preciso conhecer as formas de organização dessa família
eomodeloeducativoadotado,afimdebuscarosmelhoresmeiosdefirmaruma
parceria entre ambas as instituições.
Afirmarqueoinsucessooufracassoescolardeumestudanteécausadopelaforma
comoessafamíliaseestruturanemsempreécorreto;ofator“estruturafamiliar”
pode não ser o determinante do fracasso e da indisciplina. Além disso, se a família
age de forma violenta com a escola, é preciso perceber e reconhecer que as crianças
apenas agem da forma como são tratadas (com violência, por exemplo). No que se
refereaoacompanhamentodosfilhos,nemsempreéfeito“deperto”pelasfamílias,
visto que os pais e responsáveis podem ter várias horas do dia ocupadas no traba-
lho, ou ainda, a baixa escolaridade. Szymanski (2011), com base em várias pesqui-
sasnaárea,constatouquealgumasfamíliasdebaixarendaveemo“estudo”como
sinônimo de aprender a ler e a escrever para se inserir no mercado de trabalho.
Muitos também não compreendem prazos dados pela escola, como matrícula, rece-
bimento de material didático etc. Ainda, essas famílias, às vezes, podem não ser tão
presentes na escola pelo fato de as reuniões pedagógicas, reuniões de pais e mestres
acontecerem no mesmo período que seu expediente.
A participação das famílias corrobora o processo de ensino e aprendizagem dos
estudantes;contudo,énecessáriotraçarestratégiasafimdetrazeressasfamílias
para a escola e permitir que ambas as instituições sejam parceiras. Da parte da
escola, é importante que esta não veja a instituição família com preconceito, ou
que faça julgamentos prévios. É preciso estudar, pesquisar e tentar adequar a
19Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
melhor forma de trazer e aproximar essa família para a escola. Ainda, é preciso
educaro“olhar”dafamíliaperanteaescola,colocandoa importânciadesta,da
necessidade do cumprimento de prazos e também dos aspectos burocráticos. Por
exemplo,seoalunoseatrasaparachegaràescola,afamíliadevesernotificadae
um trabalho de conscientização da importância de cumprir os horários realizado.
O respeito entre ambas instituições (escola e família) deve ser criado, de forma a
garantir a parceria e corroborar a aprendizagem.
De acordo com Bhering e Siraj-Blatchford (1999), um pesquisador (Epstein) criou
um diagrama que representa a relação escola-família. Este diagrama é composto
por três forças: A, B e C. Família e escola podem, juntas, atuar em prol do
desenvolvimento dos estudantes.
A força A está relacionada à faixa etária e à série em que a criança se encontra.
A força B, por sua vez, está ligada às questões da contribuição dos pais. Já a
forçaC,temrelaçãocomosprofessoresesuasfilosofias,vivências,experiênciase
métodos. Tais forças são, para o autor, consideradas interdependentes.
Além dos modelos educativos já pontuados, os pais podem se envolver com a escola
de cinco formas diferentes (BRANDT, 1989; BHERING; SIRAJ-BLATCHFORD,
1999), que podem ir desde a garantia de segurança e saúde, perpassando pelo
voluntarismo dos pais em relação à escola; do envolvimento dos pais frente às
questões de rendimento escolar, até as questões de tomada de decisões, como
participação em associações de pais e mestres, por exemplo.
É possível concluir, a partir das pesquisas realizadas na área, que a participação
dos pais ou responsáveis na vida escolar dos filhos émuito importante para o
desenvolvimento deles; tal participação pode se dar no comparecimento às
reuniões, atendendo às comunicações de ambas as instituições, acompanhamento
dos deveres e participação nas atividades da escola, bem como decisões. Porém,
conforme foi pontuado anteriormente, há vários outros fatores que interferem nessa
relação. Carvalho (2004) esclarece que essa relação depende tanto do consenso
deambasasinstituiçõessobrefilosofiaecurrículo,objetivosepráticasescolares
quanto da satisfação ou insatisfação dos pais frente ao rendimento escolar dos
filhos.Carvalhoafirmaqueéumarelaçãopermeadaporconflitosetensões,visto
que, ao mesmo tempo que se almeja que os pais participem, professores podem
não gostar quando essa relação adentra o trabalho pedagógico ou a atividade
profissionaldeles;ainda,há famíliasqueparticipammaisqueoutras.Assim,é
precisofomentaressarelaçãodeparticipação,afimdepropiciarodesenvolvimento
da aprendizagem dos estudantes matriculados na escola (CARVALHO, 2004;
OLIVEIRA, 2010).
E nas relações entre famílias e estudantes público-alvo da educação especial?
Vamos discutir essas relações no próximo item.
20 Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Especial II
4. Famílias de estudantes público-alvo da educação es-pecial e a relação com a escola
De acordo com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), esses estudantes são aqueles com:
• Deficiências;
• Transtornos globais do desenvolvimento;
• Altas habilidades ou superdotação.
É importante termos sempre em mente quem são esses alunos, visto que iremos
discutir a relação entre a família desses estudantes e a escola em que estudam.
A chegada de uma criança muda a roti-
na e o cotidiano da família, podendo gerar
mudanças na estrutura familiar como um
todo. Alguns autores, como Brandt, defi-
nem que, para a família nuclear, o nasci-
mento de uma criança tem consequências
profundas no sistema familiar, desde mu-
danças na rotina até emoções, sentimentos
etc. Essa mudança para a parentalidade
tem relação com a mudança de identida-
de de marido e mulher para pai e mãe. Há
alteração também em relação aos outros
membros da família (pais se tornam avós;
irmãos, tios etc.). Além disso, há ligação en-
tre a personalidade da criança e a relação
dos pais. Por exemplo, as atitudes que os
pais ou responsáveis tomam no âmbito fa-
miliar podem gerar percepções diversas nas
crianças, tornando, muitas vezes, crianças
da mesma família diferentes entre si.
Essa chegada de uma nova criança à famí-
lia pode ser planejada ou não, e pesquisa-
dores esclarecem que os filhos podem ser
planejados, de acordo com o cotidiano dos pais, ou não, gerados devido a crises
no casal, para substituir alguma expectativa ou outros motivos (FIAMENGHI JU-
NIOR; MESSA, 2007; GLAT, 1997; SÁ; RABINOVICH, 2006).
Geralmente, há expectativas sobre o nascimento de uma criança: pensa-se no
sexodobebê,emcomoseráfisicamente,característicasdapersonalidade,enfim.
21Unidade 1 – Aprendizagem e a relação escola, família e aluno
É comum fantasiar sobre essa criança que está por vir, havendo já alterações na
rotina, pensando-se em como garantir os cuidados a essa criança. No caso de
umacriançacomdeficiência,pesquisadorespontuamqueháumconfrontocom
a expectativa dos pais, sendo essa situação, para a família, muitas vezes uma
surpresa implicandomudanças de planos, alteração de rotina e de significado
dessa parentalidade antes imaginadadeuma forma e, agora,modificada, visto
queapresençadeumacriançacomdeficiênciademandacuidadoseorganização
para que suas necessidades sejam atendidas. Esse processo não é igual para todas
as famílias; algumas aceitam em menos tempo, outras, podem levar vários anos.
Glat (1997) ressaltaque,aodescobrirqueacriançapossuialgumadeficiência,
instaura-se na família uma crise, devido a essas mudanças de planos e, ainda,
os sentimentos podem ser polarizados (euforia/depressão, aceitação/rejeição etc.)
(GLAT, 1997).
Aosaberqueumacriançacomdeficiênciaestáporvir,a famíliapodevivenciar
algumas fases: a negação, a adaptação e a aceitação. A negação consiste, como o
próprio nome já diz, em não aceitar, em negar a condição dada pelo diagnóstico.
Nessa fase, a família não se encontra preparada para receber essa criança com
deficiência.Apóssuperaresseperíodo,passampelafasechamadadeadaptação.
Essemomentoconsisteembuscarcaminhosparaentenderadeficiência,buscando
apoiodeprofissionaisedeoutrasfamílias.Afasesubsequenteéachamadafase
deaceitação,emqueafamíliaaceitaadeficiênciaetemumavisãomaisrealistade
suas limitações e potencialidades. Observa-se que muitas famílias ainda mantêm
uma postura de proteção exacerbada em relação a essas crianças (BATISTA;
FRANÇA, 2007).
Vários pesquisadores realizaram estudos tendo em vista a presença de uma criança
com deficiência na família. Há vários aspectos decorrentes dessas pesquisas,
tanto positivos quanto negativos. Alguns constataram que essas crianças não
apresentam comportamentos vistos como “problemas”, como vício em drogas
e gravidez na adolescência; contudo, desencadeiam na família preocupações
quanto a cuidados médicos e complicações de saúde. O relacionamento com
irmãoscomdeficiêncianemsempreépautadonadeficiência;estapodeficarem
segundo plano, dependendo da forma como são as relações entre os membros
dessa família. Além disso, os outros membros da família podem desenvolver a
maturidade, a responsabilidade, o sentimento de cuidado em relação ao outro,
entre outras características. No caso de famílias com crianças com autismo, irmãos
podem apresentar mais comprometimento na qualidade de vida, se comparados a
irmãos de crianças que apresentam problemas na fala. Alguns autores pontuam
a necessidade de acompanhamento com profissionais como psicólogos, visto
que pode ser uma experiência tida como conflitiva (HANSON, 2003; LOBATO;
FAUST; SPIRITO, 1988; CATE; LOOTS, 2000; MARCIANO; SCHEUER, 2005
O objetivo principal desta obra é tratar a aprendizagem de uma forma ampla: sua relação com a escola, a família e o aluno. A obra conta ainda comoéoprofessornocontextodaescolainclusiva–reflexõessobresuaformação e suas implicações na aquisição do conhecimento, por meio desua identidadeprofissional,seuconhecimentosobreodesenvolvi-mento organizacional e gestão escolar.
O leitor entenderá melhor a relação do processo ensino e aprendizagem e como a aquisição de novas possibilidades de reconstrução permanen-te afetam sua prática pedagógica.
DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO ESPECIAL – – A RELAÇÃO ESCOLA,
FAMÍLIA E ALUNO