17
1 Desenvolvimento de Competências Gerais sob a Ótica dos Alunos da Área da Saúde Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS) Eixo II – Indicadores e Instrumentos de autoavaliação Estelina Souto do Nascimento 1 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Antônia Maria da Rocha Montenegro 2 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Elisete de Assis Rebello Leite Ribeiro 3 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Isabel Cristina Correia dos Passos 4 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Marisaura dos Santos Cardoso 5 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) Resumo Nos últimos anos, no Brasil, as mudanças ocorridas nas áreas da educação e da educação superior trouxeram significativas transformações para a formação acadêmica e profissional. A ênfase na formação, baseada no desenvolvimento de competências e habilidades, tem induzido a adequação dos currículos a esta nova realidade que se apresenta. Na área de formação da saúde, estes também têm sido os elementos norteadores dos diversos cursos superiores. Considerando essa realidade, este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos alunos sobre a abordagem das disciplinas da área da saúde no que tange às práticas pedagógicas, às competências do profissional da área de saúde que, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais, são exercidas em contexto de prática social. Os sujeitos do estudo foram os alunos dos cursos da área da saúde de uma Instituição de Educação Superior, que responderam um questionário eletrônico. Foi feita uma amostra geral para os cursos, com um nível de confiabilidade de 95% e margem de erro de 1,9%. O resultado foi construído em cinco partes, sendo elas caracterização dos alunos da área da saúde; políticas públicas e atuação profissional; contribuições do estágio; atividades práticas; e competência. No presente texto é apresentado parte dos resultados da avaliação, relatando os dados advindos das respostas dos alunos dos cursos da área da saúde de modo global nos aspectos ligados às atividades práticas; contribuições do estágio; e competência. Além disso, são apresentados, de forma sintética, o perfil dos alunos participantes da avaliação. A presente avaliação vai além de capturar a visão do aluno sobre práticas desenvolvidas, busca as condições de ensino, bem como as diversas questões que envolvem as atividades acadêmicas. O propósito, principalmente, é colocar em pauta questionamentos sobre a produção de significados, a pertinência social, a relevância teórica, científica e ética dos conhecimentos, das práticas e das competências previstas. Tudo isto com vistas à cidadania, à saúde da população e às prioridades da sociedade. Vale ressaltar que a avaliação tem servido para balizar o desenvolvimento do processo 1 Coordenadora da Comissão de Avaliação Institucional; Doutora em Educação; Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem da PUC Minas. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas. 2 Coordenadora da CPA da PUC Minas; Doutora em Ciências Sociais; Professora Adjunta IV do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas 3 Docente “ad hoc” da CPA da PUC Minas; Mestre em Tratamento da Informação Espacial pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Professora Assistente IV. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas 4 Analista da CPA da PUC Minas; Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas; Especialista em Gerenciamento de Projetos. 5 Analista da CPA da PUC Minas; Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas; Especialista em Serviço Social pela UnB e em Seguridade Social pelo IEC – PUC Minas. Conselheira Tesoureira do Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais.

(Desenvolvimento de competências gerais sob a ótica dos ...download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/... · 1 Desenvolvimento de Competências Gerais sob a

  • Upload
    vanmien

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

Desenvolvimento de Competências Gerais sob a Ótica dos Alunos da Área da

Saúde

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC MINAS)

Eixo II – Indicadores e Instrumentos de autoavaliação

Estelina Souto do Nascimento1 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Antônia Maria da Rocha Montenegro2 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Elisete de Assis Rebello Leite Ribeiro3 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Isabel Cristina Correia dos Passos4 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Marisaura dos Santos Cardoso5 (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais)

Resumo

Nos últimos anos, no Brasil, as mudanças ocorridas nas áreas da educação e da educação superior trouxeram significativas transformações para a formação acadêmica e profissional. A ênfase na formação, baseada no desenvolvimento de competências e habilidades, tem induzido a adequação dos currículos a esta nova realidade que se apresenta. Na área de formação da saúde, estes também têm sido os elementos norteadores dos diversos cursos superiores. Considerando essa realidade, este estudo tem como objetivo analisar a percepção dos alunos sobre a abordagem das disciplinas da área da saúde no que tange às práticas pedagógicas, às competências do profissional da área de saúde que, em conformidade com as Diretrizes Curriculares Nacionais, são exercidas em contexto de prática social. Os sujeitos do estudo foram os alunos dos cursos da área da saúde de uma Instituição de Educação Superior, que responderam um questionário eletrônico. Foi feita uma amostra geral para os cursos, com um nível de confiabilidade de 95% e margem de erro de 1,9%. O resultado foi construído em cinco partes, sendo elas caracterização dos alunos da área da saúde; políticas públicas e atuação profissional; contribuições do estágio; atividades práticas; e competência. No presente texto é apresentado parte dos resultados da avaliação, relatando os dados advindos das respostas dos alunos dos cursos da área da saúde de modo global nos aspectos ligados às atividades práticas; contribuições do estágio; e competência. Além disso, são apresentados, de forma sintética, o perfil dos alunos participantes da avaliação. A presente avaliação vai além de capturar a visão do aluno sobre práticas desenvolvidas, busca as condições de ensino, bem como as diversas questões que envolvem as atividades acadêmicas. O propósito, principalmente, é colocar em pauta questionamentos sobre a produção de significados, a pertinência social, a relevância teórica, científica e ética dos conhecimentos, das práticas e das competências previstas. Tudo isto com vistas à cidadania, à saúde da população e às prioridades da sociedade. Vale ressaltar que a avaliação tem servido para balizar o desenvolvimento do processo

1 Coordenadora da Comissão de Avaliação Institucional; Doutora em Educação; Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem da PUC Minas. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas. 2 Coordenadora da CPA da PUC Minas; Doutora em Ciências Sociais; Professora Adjunta IV do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas 3 Docente “ad hoc” da CPA da PUC Minas; Mestre em Tratamento da Informação Espacial pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Professora Assistente IV. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas 4 Analista da CPA da PUC Minas; Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas; Especialista em Gerenciamento de Projetos. 5 Analista da CPA da PUC Minas; Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Avaliação da PUC Minas; Especialista em Serviço Social pela UnB e em Seguridade Social pelo IEC – PUC Minas. Conselheira Tesoureira do Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais.

2

educativo e para indicar caminhos de transformação e de fortalecimento de estratégias e de políticas coerentes com objetivos sociais. Palavras-chave: Avaliação Institucional. Competências profissionais. Formação em Saúde.

Introdução

A avaliação institucional é fundamental para aprimorar as atividades desenvolvidas na Universidade e com ela a instituição de ensino pode melhor conduzir a missão institucional. O processo de avaliação das Instituições de Educação Superior (IES) foi regulamentado em 2004, pela Lei 10.861 (BRASIL, 2004), que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e determinou a constituição de Comissão Própria de Avaliação (CPA). Esta na PUC Minas recebeu a denominação de Comissão Permanente de Avaliação (CPA). A autoavaliação institucional na PUC Minas é um instrumento importante, sendo entendida e conduzida como atividade rotineira de apoio e orientação na tomada de decisão tanto no que se refere aos processos quanto aos produtos. A autoavaliação institucional está fundamentalmente ancorada no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e no Projeto Pedagógico Institucional (PPI). A missão institucional é resultado das diversas atividades levadas avante pelos cursos em consonância com os órgãos superiores da Instituição.

Com base na experiência da Comissão Permanente de Avaliação (CPA), uma nova proposta de autoavaliação institucional, denominada de encarte da área da saúde, foi colocada em prática. Nesta está contida uma avaliação de processos e resultados, na perspectiva de um projeto piloto, na busca de resultados por área de conhecimento e entendimentos específicos nas diversas áreas, antecipando-se a novas propostas que seriam lançadas para toda a instituição. O presente estudo é parte deste projeto.

Vale ressaltar que a complexidade envolvida na atuação do profissional da área da saúde abrange elementos inerentes à gerência, assistência e atividades de cunho investigativo e educativo nos serviços de saúde, o que demanda comprometimento do egresso com a realidade concreta da prática nos serviços de saúde.

A formação do egresso da área da saúde, além dos conhecimentos específicos para a atuação profissional abrange fundamentação geral que subsidia o fazer quotidiano na identificação de situações e resolução de problemas fundamentados nas políticas públicas, com ética e responsabilidade social. Igualmente, vale ressaltar que no exercício da atividade é necessário que o profissional demonstre autonomia na tomada de decisões, bem como tenha perfil profissional que responda pelos próprios atos e tenha condições de responsabilizar-se pelas opções feitas e pelos efeitos da sua intervenção profissional. Ademais, é necessário que seja capaz de analisar e avaliar criticamente o contexto de prática e a própria atuação, bem como é imprescindível que o egresso seja cooperativo com os demais profissionais e também com a população e seja capaz de preocupar-se com a própria formação ao longo dos tempos e com a preparação de outros profissionais e com a educação das pessoas.

Os Projetos Pedagógicos dos Cursos, fundamentados nas Diretrizes Curriculares Nacionais apontam para o desenvolvimento de competências, a busca de oportunidades de articulação teoria e prática e no modo como são construídos os conhecimentos, as habilidades, os saberes e as competências. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a percepção dos alunos da área da saúde da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, relativa ao desenvolvimento de competências gerais. Os objetivos específicos são caracterizar os alunos dos cursos da área da saúde; aferir as principais

3

contribuições do estágio obrigatório para o desempenho profissional e as atividades práticas relativas a indissociabilidade teoria e prática; aprendizagem significativa, análise crítico reflexiva e às dimensões ética e cidadania; aferir o grau de aquisição de competências gerais abordadas no curso.

Importa aqui o exame de pistas concernentes aos alunos e à formação deles no que tange às práticas pedagógicas, às competências do profissional de saúde exercida em contexto de prática social. O entendimento é que o conhecimento gerado poderá possibilitar modificação gradativa do ensino com alteração de indicadores e de qualidade de prestação do serviço, com vistas ao alcance de metas estabelecidas nos ordenamentos do Ministério da Educação e dos parâmetros instituídos pela PUC Minas, assegurando ensino de qualidade e transformação progressiva da qualidade de atendimento de saúde à população. Os resultados relativos a referida avaliação trazem a perspectiva de melhorias para a Universidade. A troca de informações inerentes a todo o processo, bem como a apresentação dos resultados, pode proporcionar aprimoramento e continuidade do trabalho que vem sendo desenvolvido na CPA da PUC Minas.

Diante das mudanças do sistema educacional proceder à análise da formação em saúde é questão central. Dirigentes, docentes funcionários, pessoal de serviço, discentes precisam trazer contribuições da experiência de cada um e dinamismo das várias equipes. O propósito é a busca da melhoria da qualidade com vistas à eficácia, responsabilidade social e à efetividade acadêmica e social nos cursos da área da saúde da PUC Minas. Desse modo, é fundamental que a Instituição desenvolva a sua gestão relativa aos processos de ensino aprendizagem com base em informações, advindas de processo de avaliação, cada vez mais específicas e que, em última instância, os resultados provenientes desse processo de avaliação da educação superior sirvam como mecanismos para subsidiar e enriquecer o planejamento da Instituição, fomentando a construção de políticas internas de desenvolvimento de oferta de um ensino superior de qualidade, além de subsidiar a transformação de atendimento a saúde da população.

No Brasil, a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação adotou orientação geral para as Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação, buscando substituir orientação advinda da fixação dos currículos mínimos dos cursos de graduação, válidos para todo o País. O parecer do CNE/CES 67/2003 (BRASIL, 3003), que trata do referencial para as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação, traz como um dos princípios para as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação a busca de uma sólida formação geral, necessária para que o futuro egresso possa encarar os desafios do exercício profissional e de produção do conhecimento de forma sempre renovada.

Na área da saúde é proposta a formação geral e específica dos egressos/profissionais com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com indicação das competências comuns gerais para esse perfil de formação contemporânea dentro de referenciais nacionais e internacionais de qualidade. Desta forma, as Diretrizes Curriculares são unânimes, quando privilegiam significativas porções da formação geral, especialmente associadas às competências gerais o conceito de saúde e os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) que são elementos fundamentais a serem enfatizados nessa articulação. As competências gerais propostas são atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento, educação permanente.

Ademais, é necessário acrescentar a essa síntese de orientações, outras competências e habilidades, propostas nas Diretrizes Curriculares e exigidas no Exame Nacional de Avaliação do Desempenho dos Estudantes (ENADE), que também compõem a formação geral do futuro profissional: atuação ética, com responsabilidade

4

social, para a construção de uma sociedade includente e solidária; raciocínio lógico e análise crítica, resolução de problemas no âmbito de atuação da área da saúde; atuação em equipes multidisciplinares. Tais pressupostos orientadores apontam para as necessidades e prioridades formativas a serem atendidas e consequentemente a ser avaliadas.

Vale ressaltar que essas orientações referentes às competências gerais possuem aspectos até certo ponto particulares. Dentre essas é preciso contemplar temas globais e, notadamente, reflexões sobre a realidade brasileira, tais como políticas públicas concernentes à área da saúde; desigualdades econômicas e sociais; movimentos sociais e cidadanias.

5

Metodologia

Este relatório é uma síntese da avaliação realizada pela CPA da PUC Minas com participação dos alunos relativa aos cursos da área da saúde. Essa participação envolve o fornecimento de informações por meio de instrumentos, com a finalidade de coletar dados.

Fazem parte deste relatório, além do curso de Serviço Social, os cursos da área da saúde existentes na PUC Minas nos diversos Campi do Estado de Minas Gerais. Foram eles Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia. A seleção se deu em função da realização das provas do ENADE para esses cursos conforme a Portaria Normativa nº. 5, de 22 de fevereiro de 2010 (BRASIL, 2010):

Serão avaliados pelo Enade 2010 os cursos que conferem diploma de bacharel das áreas de Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Zootecnia; e os cursos que conferem diploma de tecnólogo em Agroindústria, Agronegócios, Gestão Hospitalar, Gestão Ambiental e Radiologia.

O trabalho foi realizado com uma amostra geral para os cursos a partir de uma amostra aleatória de 1706 respondentes da área da saúde, com nível de confiabilidade de 95% e margem de erro de 1,9%. Foi desenvolvido em uma sequência de acordo com as fases apresentadas a seguir. Fase inicial, composta por leitura, análise e reflexão sobre a legislação pertinente e estabelecimento de dimensões e indicadores. Fase de consulta, com busca de informação com os coordenadores dos cursos sobre questões a serem incluídas no questionário. Fase de decisão, com definição de funções, fluxo e responsabilidade da equipe e decisão do corpus da avaliação, dimensão e forma de análise e elaboração do questionário. Fase de teste piloto, realização de análise da compreensão e pertinência das questões propostas, visando a aferir qualidade, legibilidade, inteligibilidade, tempo de resposta do instrumento. Fase de coleta, com aplicação do questionário via internet, por meio do Sistema de Gestão Acadêmica (SGA). A fim de garantir o sigilo e a confidencialidade das informações foram adotadas estratégias que não permitiam a identificação dos respondentes. A amostra foi produzida por sorteio aleatório feito pela Gestão de Tecnologia da Informação (GTI), tendo sido utilizado apenas os códigos dos alunos, que, posteriormente, foram transformados em um novo número para dificultar a identificação. Os instrumentos foram disponibilizados automaticamente pelo sistema da PUC Minas nas referidas plataformas, a partir da alimentação desse com a listagem dos códigos dos respondentes. Fase de sensibilização, ocorrida a partir da constatação do baixo número de respondentes, realizada por meio dos sistemas de comunicação da Instituição e pela presença dos professores e funcionários da comissão técnica de avaliação em reuniões com os Pró-reitores, Chefes de Institutos e Coordenadores e sensibilização realizada diretamente como os alunos no sentido de que respondessem o questionário. Fase de análise, com elaboração dos resultados e análise a partir de pistas advindas, notadamente, de fundamentos do pensamento e propostas de autores como Freire, Perrenoud e Le Boterf, entre outros.

6

Resultados e discussões

Diante de necessidades ligadas principalmente à competitividade, produtividade, qualidade e inovação do sistema produtivo o debate sobre as competências abrangeu a educação e também a área da saúde. Pode-se dizer que, atualmente, a formação profissional, prioritariamente, tem por propósito o desenvolvimento de competências. No trabalho com competências certos saberes são mobilizados em situações específicas nas quais decisões são tomadas e problemas resolvidos. Este estudo privilegia o entendimento de pistas concernentes à ótica dos alunos relativa a abordagem das disciplinas no que tange à sua formação levando em consideração diversos elementos. A análise não tem como propósito fazer uma avaliação geral de cada curso da instituição ou analisar o texto do Projeto Pedagógico dos Cursos, o que implicaria envolver aspectos específicos de cada um. No presente texto é mostrado parte dos resultados da avaliação, relatando os dados advindos das respostas dos alunos dos cursos da área da saúde de modo global nos aspectos ligados as atividades práticas; contribuições do estágio; e competência. Igualmente, são apresentados, de forma sintética, o perfil dos alunos participantes da avaliação. Caracterização dos alunos da área da saúde

O perfil com as características dos respondentes da área da saúde dos cursos de graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais não diferem dos estudantes universitários brasileiros em geral. É um conjunto dominado por 80,80% de alunas. Trata-se de uma tendência, já observada de aumento da presença de mulheres na Universidade. “Há, hoje, cerca de meio milhão de mulheres a mais do que homens nos campi do Brasil” (RISTOFF, 2006). Neste estudo, há predomínio de jovens com 56,59 % de alunos na faixa etária entre 20 e 24 anos. A presença do sexo feminino e de estudantes até 24 anos é dominante. Este é um fato que ocorre em cursos da área da saúde conforme afirmação do autor:

Chama a atenção o fato de mais mulheres do que homens ingressarem na universidade na faixa etária apropriada (18 a 24 anos). [...] Os cursos mais procurados pelos homens são relativos a engenharia, tecnologia, indústria e computação; pelas mulheres, são relativos a serviços e educação para a saúde e para a sociedade (secretariado, psicologia, nutrição, enfermagem, serviço social, pedagogia). Essa tendência se mantém nos mestrados, doutorados e na própria docência da educação superior (RISTOFF, 2006).

No que se refere à questão ligada ao trabalho, pela resposta dos alunos no questionário, observa-se que 65,31%) dos respondentes não exercem atividade remunerada e 37,97% do contingente dos respondentes cursa a graduação entre três a cinco semestres e 42,00% está matriculado em quatro a seis disciplinas.

Pode-se entender a predominância do sexo feminino, de pessoas jovens e que não trabalham como ligada a uma fase de início da fase adulta com certa indecisão quanto ao que fazer ou mesmo dificuldade de ingressar no mundo do trabalho tanto pela falta de oportunidade quanto pelo fato dos jovens serem considerados dependentes das famílias, sendo ainda considerados, muitas vezes, não aptos para tomar decisões e assumir responsabilidades, notadamente no que se refere ao quotidiano do trabalho. Atividades práticas

O desenvolvimento de competências na formação dos profissionais da área da saúde ocorre, prioritariamente, a partir de experiências em situações de prática, em que a sistematização teórica é articulada com as situações de intervenção na realidade, sendo intermediadas por posicionamentos crítico reflexivo com consistência e coerência teórico conceitual. Nesse sentido, a formação do profissional precisa assegurar a indissociabilidade teoria-prática que ocorre em todos os momentos da formação e, principalmente, nos estágios curriculares obrigatórios, por meio de outras práticas, em

7

sala de aula e nas atividades complementares. A problematização no contexto da prática pedagógica é importante na formação do profissional crítico e reflexivo, sendo necessária a atuação profissional em todos os âmbitos e principalmente no Sistema Único de Saúde, com ênfase nos cursos de graduação da área da saúde segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais

Na percepção relativa às atividades práticas foram consideradas aulas práticas, estágios obrigatórios, laboratórios, visitas técnicas e outras atividades práticas desenvolvidas no curso. O gráfico 1 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionada pelo curso, relativa ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo com enfoque para a transformação das práticas. Gráfico 1 - Distribuição percentual dos respondentes de todos os cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelo curso relativa a desenvolvimento intelectual e profissional autônomo com enfoque para a transformação das práticas. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

É possível observar a unanimidade entre os respondentes concentrando maior percentual, entre todos os cursos, na opção bom (44,31%).

O gráfico 2 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionada pelos cursos da área da saúde, relativa ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo, considerando o enfrentamento de problemas concretos e relevantes que impulsionaram a busca de alternativas de mudança Gráfico 2 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa a desenvolvimento intelectual e profissional autônomo considerando o enfrentamento de problemas concretos e relevantes que impulsionaram a busca de alternativas de mudança. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

0

10

20

30

40

50

17,41

44,31

21,98

5,391,47

5,39 4,04

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

Não se aplica - Cursei poucas

disciplinasNão se aplica ao meu curso

0

10

20

30

40

50

18,46

46,13

21,04

4,572,46

4,632,7

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

Não se aplica - Cursei poucas

disciplinas

8

Pode-se observar no gráfico 2 que nas práticas realizadas no curso, relativa ainda ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo, considerando o enfrentamento de problemas concretos e relevantes que impulsionaram a busca de alternativas de mudança, 46,13% dos respondentes avaliam como bom, 21,04% como razoável e 18,46% como excelente.

Já o gráfico 3 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionada pelos cursos da área da saúde no que se refere ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo com enfoque nas práticas realizadas no curso que estimulam ação crítica, investigativa e reconstrutiva da realidade e do conhecimento. Gráfico 3 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa a desenvolvimento intelectual e profissional autônomo considerando o estímulo a ação crítica, investigativa e reconstrutiva da realidade e do conhecimento. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

Pode-se observar no gráfico 3 que nas práticas realizadas no curso, relativa ainda ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo, considerando o estimulo a ação crítica, investigativa e reconstrutiva da realidade e do conhecimento, 48,07% dos respondentes avaliam como bom, 17,06% como razoável e 23,04 como excelente.

O gráfico 4 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionadas pelos cursos da área da saúde, considera a indissociabilidade teoria-prática com enfoque dado às disciplinas de modo a proporcionar a incorporação de elementos novos às teorias. Gráfico 4 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa a indissociabilidade teoria-prática. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

No gráfico 4 é visível, sob a ótica dos respondentes, que nos cursos da área da saúde tem havido a incorporação, às práticas realizadas, de elementos novos advindos da teoria, uma vez que 48,59% dos respondentes avaliam como bom, 20,22% como excelente 18,11% como razoável a indissociabilidade teoria- prática.

O gráfico 5 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionadas pelos cursos da área da saúde no que diz respeito à experiência anterior,

0

10

20

30

40

50

23,04

48,07

17,06

3,93 1,76 3,87 2,29

Excelente-As atividades ocorrem

sempreBom-As atividades ocorrem

frequentementeRazoável-As atividades ocorrem as

vezesRuim-As atividades ocorrem

poucas vezesPéssimo-As atividades nunca

ocorrem

0

20

40

60

20,22

48,59

18,11

5,161,7 3,81 2,4

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

9

levando em consideração a experiência dos alunos no enfrentamento dos problemas propostos. Gráfico 5 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa experiência anterior. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

Pode-se observar no gráfico 5 que nas práticas realizadas no curso 45,96% dos respondentes avaliam como bom, 20,05% como razoável e 17,70 como excelente o fato das disciplinas do curso levarem em consideração, no enfrentamento de problemas, a experiência anterior do aluno. Vale lembrar que esse é um dos aspectos que favorece o desenvolvimento da aprendizagem significativa.

O gráfico 6 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionada pelos cursos da área da saúde, relativa a análise critica da realidade com enfoque em problemas enfrentados no quotidiano do trabalho Gráfico 6 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa a análise critica da realidade. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

Pode-se observar no gráfico 6 que as práticas realizadas no curso têm por fundamento as atividades do quotidiano, uma vez que os respondentes, em grande parte, fizeram opção por bom, (47,95%) e excelente. (22,68%). A opção razoável obteve 17,58 e os demais percentuais trazem resultados bem pequenos.

O gráfico 7 apresenta a avaliação dos respondentes quanto às atividades práticas proporcionada pelos cursos da área da saúde, relativa a ética e cidadania com enfoque nas dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores orientados para a cidadania.

0

10

20

30

40

50

17,7

45,96

20,05

5,862,75 4,45 3,22

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

0

10

20

30

40

50

22,68

47,95

17,58

3,75 1,82 4,22 1,99

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

Não se aplica - Cursei poucas disciplinas

Não se aplica ao meu curso

10

Gráfico 7 - Distribuição percentual dos respondentes dos cursos, segundo avaliação das atividades práticas proporcionada pelos cursos relativa à ética e cidadania. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

Pode-se observar no gráfico 7 que nas práticas realizadas no curso, relativa à ética e cidadania, os respondentes avaliam como bom com 45,43%, excelente com 27,61% e razoável com 15,30%. Entende-se pelos resultados obtidos que durante o processo ensino aprendizagem, dos cursos da área da saúde, o aluno da PUC Minas parece incorporar e compartilhar ações que levam em consideração referenciais do bem comum, apontando maneiras de atuação que parecem aproximar o profissional e os clientes em situação de sujeitos e cidadãos.

O entendimento dos resultados alcançados parece indicar que os cursos vêm proporcionando e/ou estimulando o desenvolvimento de potencialidades que possibilitará condições e meios aos futuros profissionais para a reflexão crítica, atuação autônoma com ética e cidadania e com vistas a processos de transformação pessoal e da realidade.

A recorrência relativa à escolha prioritariamente pela opção bom nas respostas às diversas questões abordadas no questionário aplicado e relativas às atividades práticas, e apresentadas nos vários gráficos apresentados levam a inferir, mesmo sem analisar o Projeto Pedagógico, que os cursos têm atendido ao que é proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Nesse sentido, as opções selecionadas pelos respondentes instigam a ressaltar os pontos abordados nas atividades práticas.

Um primeiro ponto refere-se ao desenvolvimento intelectual e profissional autônomo com enfoque para a transformação das práticas; busca de alternativas para produzir transformação na realidade; enfrentamento de problemas concretos e relevantes que impulsionam a busca de alternativas de mudança; estímulo à ação crítica, investigativa e reconstrutiva do conhecimento. Paulo Freire contribuiu para reflexão do homem e seu compromisso com a sociedade. Freire (1979) enfatiza a inserção do homem na realidade e aponta como imprescindível a análise e reflexão a partir da realidade, isto é, é preciso partir de experiências com o mundo no qual o aluno está inserido, apropriando-se dessa realidade de modo crítico. Essa análise, reflexão e crítica propiciam um caráter de transformação. Os dados da avaliação realizada com os alunos apontam para a direção da transformação da prática.

O ponto seguinte refere-se à indissociabilidade teoria-prática, considerando que as práticas realizadas nas disciplinas permitem a incorporação de elementos novos às teorias, realização de intervenção fundamentada no rigor científico, na reflexão teórica e na conduta ética, associação entre teoria e prática na busca de construção conjunta de estratégias que respondam aos problemas detectados. “Ação e reflexão e ação se dão simultaneamente” (FREIRE, 1983, p.149) Essa afirmação é esclarecedora para se considerar a indissociabilidade teoria prática na formação do aluno da área da saúde da PUC Minas.

0

10

20

30

40

50

27,61

45,43

15,3

3,63 1,52 3,69 2,81

Excelente

Bom

Razoável

Ruim

Péssimo

Não se aplica - Cursei poucas disciplinas

Não se aplica ao meu curso

11

Em terceiro lugar, a experiência anterior do aluno é levada em consideração no enfrentamento dos problemas propostos. O pensamento de Freire (1979) serve como orientação para o processo de formação ao dizer que é preciso dialogar e escutar o educando. Esse princípio supõe respeitar o saber do outro e reconhecer a identidade cultural dele.

Um quarto aspecto diz respeito à análise critica da realidade considerando que as práticas dos cursos são fundamentadas em problemas enfrentados no quotidiano do trabalho. O processo ensino aprendizagem, necessariamente, é permeado pela reflexão sobre o homem, sobre a situação e ambiente concreto em que vive, bem como envolve análise das experiências de vida do discente (FREIRE, 1976, 1979). Freire (1996), ao fazer referência ao conhecimento dos alunos, é enfático em dizer que é imprescindivel que o educador leve em consideração as condições de existência dos discentes e as experiências já vividas por eles. Segundo o autor, o processo ensino aprendizagem deve levar o educando a uma tomada de consciência e atitude crítica para haver mudança da realidade. Uma ação de transformação da realidade é inseparável do ato de conhecer e das situações concretas.

Finalmente, ética e cidadania considerando que as práticas dos cursos são fundamentadas em dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no aluno atitudes e valores.

Vale destacar que as práticas de um curso têm relação direta com o desenvolvimento do aluno com vistas à prática profissional que, segundo Le Boterf (2005), é o conjunto de ações e decisões levadas avante por uma pessoa de modo a dar conta de uma situação: realizar uma atividade apresentada, fazer face a um acontecimento, realizar um projeto, resolver um problema. Não há dúvida, também, que a qualidade da prática profissional tem ligação direta com a competência que é capacidade de agir e reagir de modo pertinente em situações específicas de trabalho – atividade a realizar, problemas a resolver, acontecimentos aos quais é preciso dar resposta (LE BOTERF, 2006).

Os dados apontam que, sob a ótica dos respondentes, os cursos da área da saúde estão proporcionando formação de profissionais aptos para a inserção no campo de trabalho com possibilidade de promoção de mudanças no campo das ciências e da tecnologia da área da saúde e no âmbito político, econômico e cultural. Pode-se entender que tudo isto é resultado do comprometimento dos cursos relativo às orientações e diretrizes da Instituição bem como da legislação em vigor, especialmente as orientações advindas das Diretrizes Curriculares Nacionais. Em conformidade com a avaliação dos discentes, é possível dizer que a PUC Minas, na área da saúde, está promovendo uma sólida formação básica e uma formação profissional fundamentada na indissociabilidade teórica-prática, de modo a preparar profissionais para a mudança, adaptáveis às situações advindas da realidade. Contribuições do estágio obrigatório

Complementando o item apresentado, os respondentes foram estimulados a fazer três escolhas entre várias alternativas sobre a contribuição do estágio obrigatório. O gráfico 8 mostra as opções dos alunos dos cursos da área da saúde.

12

Gráfico 8 - Síntese da distribuição percentual de respondentes de todos os cursos, segundo a contribuição do estágio obrigatório. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Legenda: 1 Aperfeiçoamento técnico profissional. 2 Desenvolvimento de trabalho em equipe. 3 Relação entre teoria e prática 4 Conhecimento de setores da Política Pública. 5Conhecimento do mercado de trabalho. 6 Aproximação com o fazer profissional. 7 Conhecimento de setores de saúde. 8 Contato com profissionais da área. 9 Reafirmação da escolha profissional feita. 10 Percepção da necessidade de contínuo estudo. 11 Aproximação com a realidade social e de saúde da população12. Aprendizagem de novos métodos de trabalho. 13 Conhecimento das demandas sociais. 14 Não realizou estágio obrigatório. 15 Nenhuma das opções. Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

O gráfico 8 permite uma visualização conjunta das contribuições do estágio pela ótica dos respondentes. Destacam-se no gráfico duas contribuições, aperfeiçoamento técnico profissional e relação entre teoria e prática, como as mais importantes sob a ótica dos alunos. Além disso, é possível visualizar certa uniformidade na escolha das demais opções, o que possibilita dizer que a contribuição delas, relativas ao estágio obrigatório, tem peso semelhante na ótica dos respondentes.

O egresso dos cursos da área da saúde, consideradas as especificidades do âmbito de atuação de cada um, tem como propósito desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto no nível individual quanto coletivo, sendo oportuna a realização de prática integrada com o sistema de saúde. No exercício profissional é compatível com a ação de cada um analisar as situações encontradas, pensar criticamente, buscar soluções para os problemas detectados, associando a tudo isto qualidade no atendimento e observação dos princípios da ética e da bioética. O estágio curricular obrigatório tem faces variadas nos diversos cursos, mas em todos eles representa o momento da formação em que é propiciado ao aluno formas de vivenciar a prática profissional em diferentes campos de atuação principalmente nas perspectivas da prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da gestão, entre outras. Competências gerais

Nesta parte do trabalho busca-se aferir, segundo a ótica dos respondentes o grau de aquisição de competências gerais abordadas das disciplinas dos cursos da área da saúde da PUC Minas. Le Boterf (1994) apud Perrenoud (1998) aproxima competência de “saber-mobilisar” uma vez que apenas possuir conhecimento ou capacidade não significa ser competente. Conhecer técnicas e regras específicas de atendimento a uma pessoa na saúde ou na doença, por exemplo, não significa ser capaz de atendê-la no momento de uma demanda de assistência. É necessário saber mobilizar, em situações de trabalho, conhecimentos e capacidades de modo pertinente e no momento certo. Aplicar

13

o que se sabe em um contexto específico é revelador da aquisição da competência e esta se realiza na ação, em situação de atenção à saúde de uma pessoa, por exemplo.

O gráfico 9 apresenta a distribuição das respostas dos alunos dos diversos cursos da área da saúde da PUC Minas, segundo a avaliação deles, no que diz respeito às competências desenvolvidas nas disciplinas. Gráfico 9 - Distribuição percentual dos respondentes, segundo avaliação das competências desenvolvidas nas disciplinas dos cursos. Área da saúde da PUC Minas – Segundo semestre de 2010

Fonte: CPA – PUC Minas, (2010).

Observa-se que os respondentes de todos os cursos da área da saúde consideram a opção excelente e bom no desenvolvimento de todas as competências gerais avaliadas: trabalho em grupo, iniciativa e responsabilidade, comunicação, atuação profissional, educação permanente, administração e gestão de recursos diversos, atuação interdisciplinar, tomada de tomada de decisão e liderança.

Os resultados conduzem à reflexão sobre alguns aspectos referentes, notadamente, à competência e tantos outros elementos que perpassam o processo ensino aprendizagem, uma vez que nos últimos anos, no Brasil, a noção de competência tem indicado uma reestruturação geral da educação incluindo a área da saúde. Pode-se dizer que a formação profissional prioritariamente tem por propósito o desenvolvimento de competências. No trabalho com competências, certos saberes são mobilizados em situações específicas nas quais decisões são tomadas e problemas resolvidos.

Perrenoud (1998) afirma que, concreta ou abstrata, comum ou especializada, de fácil ou difícil acesso, uma competência permite confrontar de modo regular e adequado um conjunto de tarefas e situações, com utilização de noções, conhecimentos, informações, procedimentos, métodos, técnicas ou também de outras competências mais específicas.

Para Perrenoud (1998) a transferência de conhecimento não é automática: ela é adquirida pelo exercício de uma prática reflexiva, em situações que permitem mobilizar saberes, de fazer combinações entre eles, de inventar estratégias a partir de recursos não contidos nos saberes originais. Diz ainda, que a mobilização ocorre em situações complexas que obrigam o aprendiz a se colocar problemas antes de resolvê-los, a recuperar conhecimentos pertinentes, a reorganizá-los em função da situação, a extrapolar ou preencher os vazios existentes.

É ainda Perrenoud (1998) que afirma não ser possível trabalhar todas as competências a serem formadas. Desse modo, pode-se dizer que não importa a área, é preciso decidir as competências prioritárias a serem desenvolvidas.

0

10

20

30

40

50

60

Excelente 36,71 28,77 27,4 28,29 31,38 19,81 33,39 25,74 26,04

Boa 44,37 50,06 46,98 46,14 47,15 47,45 42,11 49,11 47,27

Razoável 10,97 12,57 13,94 14,23 11,68 17,56 14,29 14,77 14,41

Pouca 4,03 3,86 4,33 4,39 3,8 5,52 4,45 3,91 4,51

Inexistente 0,83 1,13 1,84 1,25 1,72 2,25 1,6 1,84 2,19

Não se aplica1 2,08 2,49 3,08 4,03 2,61 4,33 2,49 3,08 3,62

Não se aplica2 1,01 1,13 2,43 1,66 1,66 3,08 1,66 1,54 1,96

Trabalho em grupo

Iniciativa e responsabilidade

ComunicaçãoAtuação

prof issionalEducação

permanente

Administração e gestão de recursos

Atuação interdisciplinar

Tomada de decisão

Liderança

14

A mobilização de conhecimento está bem distante da tradicional transmissão de conhecimentos e da transferência destes em forma de simples extensão do conhecimento para situações novas. Ao mobilizar recursos em situações de tomada de decisão ou resolução de problemas, o aluno pode certamente ser chamado a mostrar os conhecimentos adquiridos, quer para convencer outras pessoas da fundamentação de uma proposta, quer para justificar-se após a ação, por exemplo, para livrar-se da suspeita de um erro. Todavia, a maior parte do tempo, os conhecimentos adquiridos não têm necessidade de ser expostos a outro, nem mesmo verbalizados pela pessoa para guiar sua ação. Na ação, fica subentendida a necessidade da análise da situação, a comparação das opções possíveis e a tomada de decisão. A educação permanente auxilia substancialmente nesse processo, uma vez que tem por fim não somente atualizar os conhecimentos dos profissionais, mas principalmente auxiliar na promoção de comportamentos e atitudes que levam em consideração progressos científicos, inovações tecnológicas e avanços terapêuticos, técnicos e de atenção à saúde de modo a promover melhora na qualidade da assistência.

Perrenoud (1999) é enfático ao dizer que no lugar de transferência de conhecimento de uma situação a outra é mais apropriado falar de mobilização. Esta lhe parece mais justa, mais dinâmica mais adequada ao papel ativo e às intenções da pessoa no processo de ensino aprendizagem atual. À noção de mobilização ele acrescenta a de recursos uma vez que uma competência mobiliza, segundo ele, recursos externos – instrumentos, materiais – e recursos internos da pessoa, como informações, saberes, esquemas, capacidades, competências específicas, mas também posturas, normas, valores e atitudes que guiam a ação. O autor conclui que o conhecimento nada resolve e é como se não existisse se a pessoa não for capaz de mobilizá-lo deliberadamente, em tempo útil.

Assim, pode-se dizer que a formação na área da saúde envolve a indissociabilidade teoria-prática, sendo necessária a formação de conhecimento teórico sólido e mobilização de recursos para agir em situação. Vale lembrar, o que está em jogo é a mobilização e utilização de saberes em que o aluno é conduzido a tomar decisões, resolver problemas em situações complexas da realidade. Sem essa associação teoria prática, que se dá em situação, por exemplo, de atenção à saúde, as competências profissionais ocorrerão de maneira incerta, ou serão construídas de forma muito lenta o que impedirá uma ação profissional eficaz.

Outro aspecto a ser considerado, refere-se ao modo como as competências são desenvolvidas. Pode-se falar de um processo ensino aprendizagem diferenciado. Mesmo se os Projetos Pedagógicos dos Cursos forem coerentemente elaborados e dentro das orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais resta a questão inerente à sua implementação e desenvolvimento.

Segundo Perrenoud (1999) uma abordagem por competência exige considerar o conhecimento como recurso a ser mobilizado; trabalhar regularmente por problema; criar ou utilizar outras formas de ensino; negociar e conduzir projetos com os alunos; adotar um planejamento flexível, improvisar; instaurar e discutir um novo contrato didático; praticar uma avaliação formativa, em situação de trabalho; utilizar um mínimo de compartimentação disciplinar. Conclui o autor, dizendo que competência não se ensina. O que pode ser ensinado são saberes que, na verdade, são recursos e, portanto, o melhor é que tais saberes sejam ensinados tendo por referência problemas em que serão tratados de modo contextualizado e não em um texto totalmente fora de sua utilização. Destaca o autor que tal contextualização deveria envolver o que se conhece sobre a construção dos conhecimentos em termos de interação, conflitos sociocognitivos, sentidos do trabalho e os conteúdos, contrato didático, métodos ativos e cooperativos. O

15

que ele propõe é que o professor seja o mediador, pois sustenta a aprendizagem na construção de dispositivos de formação, organiza situações complexas, inventa problemas e desafios, experimentações, manipulações, simulações, propõe enigmas ou projetos. Todavia, o professor não é o principal na cena e não detém a palavra, ele organiza e coloca os alunos na atuação. Ele não está no foco da cena mas é peça chave no processo ensino aprendizagem, atuando na direção do processo. Considerações finais

A avaliação realizada teve como foco averiguar, sob a ótica dos respondentes, as

possibilidades, oferecidas nas disciplinas dos cursos, de mobilização de recursos por meio de problemas concretos no quotidiano aferindo as atividades práticas relativas às oportunidades para desenvolvimento intelectual e profissional autônomo, indissociabilidade teoria e prática, aprendizagem significativa, análise crítica reflexiva e mobilização de recursos advindos das dimensões ética e cidadania, bem como a contribuição do estágio obrigatório e o alcance de competências gerais. Pelos resultados alcançados, pode-se dizer que o grau de aquisição de competências gerais abordadas no curso relativas a atuação profissional, trabalho em equipe, iniciativa, tomada de decisão, comunicação, liderança, educação permanente, planejamento e administração, foi bom oscilando em situações variadas entre excelente e razoável.

Não há dúvida de que para o egresso da área de saúde mostrar capacidade profissional, é preciso mais que demonstrar ser possuidor de um conjunto de conhecimentos e que é capaz de recitá-los quando solicitado, é imprescindível que ele seja capaz de conectar tal conhecimento à situação a ser resolvida de modo a interpretar o quadro encontrado e estabelecer uma estratégia de ação. As situações com que o aluno se confronta no quotidiano, em geral, são diversas e afastam-se das situações “modelo” vistas na literatura pertinente e estudadas em sala de aula. Vale lembrar que, em situação de efetivo exercício profissional, o egresso depara-se com situações complexas, ocasião em que lhe é exigido, por conseguinte, exercer julgamento e se arriscar nas decisões tomadas. Desse modo, em situação de confronto com a prática profissional, o aluno é colocado em situações e problemas desconhecidos ou pouco compreendidos ou identificados, como em situações de emergência. Nessas oportunidades, muitas vezes, é preciso improvisar e a parte inerente ao risco aumenta. Nesses casos é preciso colocar em prática a reflexão sobre os conhecimentos adquiridos e tentar agir da melhor maneira possível. O aluno parece dizer neste trabalho que tem sido formado para enfrentar tais desafios.

Vale relembrar que o Projeto Pedagógico dos Cursos, não está na cena principal nesta avaliação. Todavia não há dúvida que avaliar aspectos variados envolvidos no Projeto Pedagógico de diversos cursos da área da saúde em diferentes Unidades da PUCMinas, mesmo que apenas sob a ótica dos alunos, não é tarefa simples. Esse foi um desafio colocado para a CPA, diferente daqueles enfrentados até então. Diferentes contextos requerem diferentes estratégias.

A condução das reflexões deste estudo teve como desafio fazer constante a presença de algumas competências gerais preconizadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos da área da saúde, mas centradas nos espaços escolares, na construção de saberes como recursos para a formação das referidas competências e no bojo das análises sobre a avaliação. Desse modo, pela ótica do aluno, foi possível lançar um olhar para os espaços escolares – na condição de lugares em que o processo ensino aprendizagem se realiza -, possibilitando considerar a complexidade que eles guardam e as significações que eles revelam.

16

O presente estudo privilegia o entendimento de pistas concernentes aos alunos e à formação destes, no que tange às práticas pedagógicas, às competências do profissional de saúde exercida em contexto de prática social. É importante frisar que os respondentes, oriundos de diferentes Cursos e Unidades da Pontifícia Universidade Católica, distribuídos por diferentes cidades do estado de Minas Gerais, possuem perfil bastante homogêneo e proximidade nas respostas que potencializa visões e opiniões, possibilitando inferir maior veracidade às informações.

Em suma, o propósito final e imprescindível deste estudo é de que todas as pessoas envolvidas no ensino e na aprendizagem possam entender algumas correlações e sentidos advindos dos processos da avaliação institucional levado avante com os alunos. Além disso, esse trabalho poderá trazer reflexão e gerar debate relativo às influências nos modos e formas de pensar e agir, de cada membro desse quebra cabeça que é a Instituição de Educação Superior aliada a outras Instituições, todos participantes e ocupantes de espaços escolares, postos de trabalho de maneira individual e colegiada em instâncias privadas e públicas.

Os resultados da avaliação mostram uma fatia da realidade concreta da instituição. Permite um balanço da área da saúde, possibilitando um conhecimento com mais profundidade o que traz possibilidade de reflexão sobre as responsabilidades, os problemas e potencialidades da área.

Pode-se dizer que tais resultados poderão auxiliar nas ações de planejar e estabelecer metas para melhorar a qualidade em todos os cursos nas dimensões institucionais e educativas. Em um amplo processo de reflexão e debate, os diversos componentes da comunidade acadêmica poderão colocar foco nos significados, valores científicos, sociais, éticos e humanísticos, nas competências, nos conteúdos, nas atividades, nos processos e resultados que constituem o dia a dia dos cursos da área da saúde da PUC Minas Referências BRASIL Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior. Parecer nº 67/2003. Referencial para as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação. Aprovado em 11/03/2003. BRASIL. Lei nº.10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES. Diário Oficial[ da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 72, SEÇÃO 1, p.3/4, 15 abr. 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L10.861.htm> Acesso em: 4 fev 2011. BRASIL. Portaria Normativa nº. 5, de 22 de fevereiro de 2010 Diário Oficial da União n. 82, Seção 1, p. 39, 3 maio 2010. Disponível em; <http://www.semesp.org.br/>. Acesso em: 3 mar. 2011 FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13.ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1983. Freire P. (Ação cultural para a liberdade. 2ª ed. São Paulo (SP): Paz e Terra;) 1976.

17

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa 16. ed. São Paulo: Paz e Terra. . 1996. LE BOTERF, G. De la compétence. Essai sur un attracteur étrange, Paris, Les Éditions d’organisation. 1994. LE BOTERF, Gui. Gestion des compétences: les 7 commandements pour penser juste. Formation, n. 470, p.53-55 juin 2006 LE BOTERF, Gui. La compétence professionnelle: de quoi s’agit-il? Comment l’évaluer? Faculte des Sciences de l’éducation. Université de Montreal, 6 mai 2005 PERRENOUD, Philippe. Construire des compétences, est-ce tourner le dos aux savoirs ? Faculté de psychologie et des sciences de l’éducation Université de Genève. Résonances. Mensuel de l’école valaisanne, n° 3, Dossier “ Savoirs et compétences ”, p. 3-7, nov. 1998 PERRENOUD, Philippe. L’école saisie par les compétences. Faculté de psychologie et des sciences de l’éducation Université de Genève. 1999 Intervention au colloque de l’Association des cadres scolaires du Québec “ Former des élèves compétents : la pédagogie à la croisée des chemins ”, Québec, 9-11 décembre 1998. (Repris in Bosman, C., Gerard, F.-M. et Roegiers, X. (dir.) Quel avenir pour les compétences ?, Bruxelles. De Boeck, 2000, p. 21-41) RISTOFF, Dilvo. A trajetória da mulher na educação brasileira Artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo Quarta-feira, 08 de março de 2006 Disponível em: http://portal.mec.gov.br