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Thiago Calin
DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE JUNTAS EM
EPDM AUTO-LUBRIFICADAS PARA RADIADORES DE
RESFRIAMENTO, EM TECNOLOGIA MECÂNICA, PARA
VEÍCULOS DE PASSEIO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, para
obtenção do título de Mestre em
Engenharia Automotiva (Mestrado
Profissionalizante).
São Paulo
2008
ii
Thiago Calin
DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE JUNTAS EM
EPDM AUTO-LUBRIFICADAS PARA RADIADORES DE
RESFRIAMENTO, EM TECNOLOGIA MECÂNICA, PARA
VEÍCULOS DE PASSEIO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, para
obtenção do título de Mestre em
Engenharia Automotiva (Mestrado
Profissionalizante).
Área de Concentração:
Engenharia Automotiva
Orientador:
Flávio Augusto Sanzovo Fiorelli
São Paulo
2008
iii
(VERSO FOLHA DE ROSTO – EM BRANCO)
FICHA CATALOGRÁFICA
Calin, Thiago
Desenvolvimento e aplicação de juntas em EPDM auto-lubrificadas para radiadores de resfriamento, em tecnologia mecânica, para veículos de passeio / T. Calin. – São Paulo, 2008. 114 p.
Trabalho de conclusão de curso (Mestrado
Profissionalizante em Engenharia Automotiva) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
1. Lubrificação 2. Montagem do produto (Redução; custos)
3.Indústria automobilística 4.Linha de montagem (Processos) 5.Inovações tecnológicas I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. II. t.
iv
Aos meus pais, Cesário e Márcia,
pela dedicação e valores morais transmitidos,
além da compreensão e apoio sempre ilimitados.
À minha esposa, Marcela,pelo incentivo e amor.
Ao meu filho, Matheus, pelo carinho.
v
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. Flávio Augusto Sanzovo Fiorelli, que com
sua liderança, grande conhecimento e suporte constantes, foi fundamental no
desenvolvimento e sucesso deste projeto.
A todos do Laboratório, Engenharia de Métodos e Processo, Engenharia
da Qualidade da Valeo Térmico Motor do Brasil.
Ao parceiro Hutchinson do Brasil, às equipes do Laboratório,
Desenvolvimento e Qualidade, pelo empenho para a conclusão e sucesso
deste trabalho.
E a todos que colaboraram, direta ou indiretamente, na execução deste.
vi
(VERSO AGRADECIMENTOS – EM BRANCO)
“Saber não basta, devemos aplicar.
Desejar não basta, devemos fazer”.
Goethe (1749-1832)
vii
RESUMO
Com o aumento na produção de veículos automotores para atender aos
mercados locais e globais, notadamente os do segmento de entrada (A/B), e a
busca cada vez maior dos consumidores por automóveis que apresentem
melhor custo-benefício, as melhorias técnicas no processo produtivo são
essenciais à manutenção da competitividade para os fabricantes de autopeças.
No processo de montagem de radiadores de resfriamento veicular, do tipo
mecânico (fixação dos tubos às aletas por expansão), a lubricidade das juntas
é um aspecto importante para uma montagem dos diversos componentes que
garanta a adequada estanqueidade do conjunto. Nesse contexto, o objetivo do
presente trabalho é validar a utilização em produção seriada de juntas em
EPDM auto-lubrificada na montagem de radiadores de tecnologia mecânica,
substituindo juntas pós-lubrificadas atualmente em uso. Como esta substituição
resultará em redução no custo de fabricação tanto da junta quanto dos
radiadores, o desenvolvimento tecnológico contou com a colaboração do
fornecedor na formulação e processamento do composto auto-lubrificante.
Além dos aspectos técnicos ligados às propriedades físico-químicas deste
composto e ao fenômeno migratório do aditivo de deslizamento à superfície da
junta, foram analisados o comportamento dimensional, realizados testes de
validação da junta auto-lubrificada na linha de montagem de radiadores para
avaliação de indicadores de rejeitos da linha de montagem, e levantados os
valores de força de inserção na interface da junta para quantificar a redução da
força de atrito pela migração do lubrificante à superfície do EPDM. O resultado
do trabalho demonstrou a viabilidade técnico-comercial (com retorno do
investimento em 1 ano) na utilização do composto auto-lubrificado, pela
redução de custo direto na compra do componente junta, redução de rejeitos
de linha na montagem do radiador e determinação de um critério quantitativo
para controle da condição de lubrificação da junta, até então feito subjetiva.
Palavras-chave: Radiadores de resfriamento veiculares. Juntas. EPDM auto-
lubrificado.
viii
ABSTRACT
The increase of the vehicle production to supply local and global
markets, mainly segments A/B, and consumer searching even more for
products which represent a better cost-benefit ratio, makes the technical
improvements in the production process essential to competitiveness
maintenance among auto parts manufacturers. In the cooling radiators
assembly process, mechanical type (tubes and thins are mechanically
expanded) the lubrication of gaskets is a relevant issue for the proper assembly
of all components to assure a final product leakage proof.As this project will
result directly in cost reduction of radiator manufacturing, the technological
development of the gasket occurred with the support of supplier designer, for
compound formulation and processing of the self lubricated gasket. Besides
technical issues related to the physical-chemical properties of the compound
and surface migratory phenomenon of the slip agent, both dimensional behavior
and assembly performance of the gasket in the radiator assembly line were
done in order to validate the proposal and check the reduction of non-
conformous radiators after autolub gaskets introduction. The insertion forces
values were raised at the gasket interface to quantify how friction reduces
during the time by the migration of the slip agent on the surface of the EPDM.
The results of this paper demonstrates technical-commercial feasibility (a
year payback return) during the auto lubricated compound use, by the direct
cost reduction on the gasket purchasing process and rejects decrease on the
radiator assembly line. Also the lubrication property had an objectively quality
control test method developed instead of the subjective way done so far.
Keywords: Engine cooling radiators. Gaskets. Self-lubricated EPDM.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1. Balanço energético de um motor de combustão interna (Nomoto, 2006).................................9 Figura 2.2. Componentes do sistema de arrefecimento de um veículo de passeio (Nomoto, 2006) ..........10 Figura 2.3. Grupo moto-ventilador: visão de conjunto e vista explodida.................................................11 Figura 2.4. Bomba d’água: exemplos e vista em corte ...........................................................................12 Figura 2.5. Radiador .............................................................................................................................13 Figura 2.6. Vaso de expansão................................................................................................................14 Figura 2.7. Termostato..........................................................................................................................14 Figura 2.8. Radiador de tecnologia mecânica (Nomoto, 2006) ...............................................................16 Figura 2.9. Radiador brasado (Nomoto, 2006).......................................................................................16 Figura 2.10. Componentes básicos de um radiador de tecnologia mecânica............................................17 Figura 2.11. Tubos em alumínio utilizados em radiadores......................................................................18 Figura 2.12. Detalhe de uma aleta em alumínio .....................................................................................19 Figura 2.13. Caixa do radiador de tecnologia mecânica: vista lateral e inferior .......................................20 Figura 2.14. Exemplos de coletores (à esquerda) e detalhes de um coletor para tubos cilíndricos (vistas
inferior e superior).......................................................................................................................21 Figura 2.15. Exemplo de junta em EPDM; nos detalhes, vista inferior (esquerda) e superior (direita) .....21 Figura 3.1. Distribuição de agente de deslizamento no produto fundido (acima) e migração para superfície
no produto formado (Wypych, 2005) ...........................................................................................31 Figura 3.2. Processo atual de fabricação da junta em EPDM..................................................................34 Figura 3.3. Misturador “Banbury”.........................................................................................................36 Figura 3.4. Extrusora de mantas em EPDM...........................................................................................36 Figura 3.5. Máquina e molde de injeção da junta, durante a extração por robô........................................37 Figura 3.6. Autoclave ...........................................................................................................................39 Figura 3.7. Lubrificação: (a) tambor de aplicação da solução de silicone e (b) componentes sobre a grelha
para remoção de excesso..............................................................................................................40 Figura 3.8. Processo proposto de fabricação da junta em EPDM com aditivo de deslizamento agregado ao
composto.....................................................................................................................................43 Figura 4.1. Célula de montagem em “U” de radiadores de tecnologia mecânica .....................................45 Figura 4.2. Processo de montagem do radiador de tecnologia mecânica .................................................46 Figura 4.3. Operação de montagem manual da junta no coletor: (a) alinhamento entre os componentes; (b)
pressão manual para encaixe das golas nos furos do coletor; (c) vista do conjunto montado ..........47 Figura 4.4. Prensa de transferência do subconjunto junta-coletor à colméia e expansão dos tubos (no
detalhe, colméia com os tubos ainda não expandidos)...................................................................48
x
Figura 4.5. Conjunto junta-coletor-colméia após a operação de transferência, com os tubos expandidos e
as extremidades rebordeadas........................................................................................................48 Figura 4.6. Operador inserindo o conjunto junta-coletor ao berço superior .............................................49 Figura 4.7. Dispositivo de teste de baixa pressão: (a) dispositivo livre; (b) radiador em teste ..................50 Figura 4.8. Prensa de cravação das caixas do radiador ...........................................................................52 Figura 4.9. Operação de cravação: (a) radiador semi-acababado, sem cravação das caixas laterais (dentes
do coletor perpendiculares à junta); (b) radiador com a caixa cravada (dentes dobrados a 90º sobre a
caixa) ..........................................................................................................................................52 Figura 4.10. Teste de estanqueidade a alta pressão.................................................................................53 Figura 4.11. Junta cortada.....................................................................................................................55 Figura 4.12. Falhas no processo de montagem do radiador: à esquerda, tubo maior; à direita, tubo menor.
...................................................................................................................................................56 Figura 4.13. Junta levantada..................................................................................................................57 Figura 4.14. Junta ensacada ..................................................................................................................58 Figura 4.15. Célula para retrabalho de juntas com lubrificação insuficiente............................................59 Figura 4.16. Produção mensal de radiadores de tecnologia mecânica .....................................................60 Figura 4.17. Índice de mensal de ocorrência de falhas nas linhas de montagem de radiadores de tecnologia
mecânica .....................................................................................................................................61 Figura 4.18. Custos mensais médios associados às falhas ocorridas .......................................................61 Figura 5.1. Fluxograma do processo de introdução da junta auto-lubrificada na produção de radiadores de
tecnologia mecânica. ...................................................................................................................64 Figura 5.2. Posicionamento do subconjunto junta/coletor na prensa de transferência ..............................73 Figura 5.3. Detalhe do varão superior de encaixe do subconjunto junta/coletor na prensa de transferência
...................................................................................................................................................74
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1. Resultados dos testes físico-químicos de pré-validação do composto. ..................................67 Tabela 5.2. Parâmetros do teste de montagem com a junta auto-lubrificada............................................71 Tabela 5.3. Tabela comparativa das principais juntas e redução de gastos ..............................................87
xii
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
ASTM American Society for Testing and Materials
BRDS Banned, Restricted and Declarable Substances
CKD Completely knocked down
EPDM Etileno Propileno Dieno Copolímero
FTIR Fourier transform infrared
IMDS International Material Data System
MTBF Mean Time Between Failures
PEAD Polietileno de alta densidade
PEBD Polietileno de baixa densidade
phr parts per hundred resin
PP Polipropileno
ppm Partes por milhão
SBR Poliestireno butadieno
xiii
SUMÁRIO
RESUMO..........................................................................................................................................VII
ABSTRACT.................................................................................................................................... VIII
LISTA DE FIGURAS........................................................................................................................ IX
LISTA DE TABELAS ....................................................................................................................... XI
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS..........................................................................................XII
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................1
1.1. OBJETIVOS E MÉTODOS DO TRABALHO ......................................................................5 1.2. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO.....................................................................................6
2. O SISTEMA DE ARREFECIMENTO PARA MOTORES DE CICLO OTTO .............................8
2.1. COMPONENTES DO SISTEMA ................................................................................................10 2.1.1. Grupo moto-ventilador (GMV) ...........................................................................................10 2.1.2. Líquido de arrefecimento ...................................................................................................11 2.1.3. Bomba d’água ...................................................................................................................12 2.1.4. Radiadores ........................................................................................................................12 2.1.5. Vaso de expansão...............................................................................................................13 2.1.6. Termostato.........................................................................................................................14
2.2. RADIADORES DE RESFRIAMENTO DE TECNOLOGIA MECÂNICA ..............................................15 2.2.1. Componentes do radiador ..................................................................................................17 2.2.1.1. Tubos..............................................................................................................................17
2.2.1.2. Aletas..................................................................................................................................... 18 2.2.1.3. Caixas.................................................................................................................................... 19 2.2.1.4. Coletores ............................................................................................................................... 20 2.2.1.5. Juntas de vedação................................................................................................................ 20
3. O PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE JUNTAS DE VEDAÇÃO DE RADIADORES DE
TECNOLOGIA MECÂNICA ............................................................................................................24
3.1. MATERIAIS UTILIZADOS .............................................................................................................24 3.2. ADITIVAÇÃO DE ELASTÔMEROS: AGENTES DE DESLIZAMENTO......................................................28 3.3. LUBRIFICAÇÃO PARA PROCESSO DE MONTAGEM (CRITÉRIO SUBJETIVO) ........................................32
xiv
3.4 FLUXO DE FABRICAÇÃO DAS JUNTAS DE VEDAÇÃO........................................................................33 3.4.1. Fluxo atual: fabricação com lubrificação por pós-siliconização .........................................33 3.4.2 Fluxo proposto: fabricação com aditivação.........................................................................41
4 O PROCESSO DE MONTAGEM DE RADIADORES DE TECNOLOGIA MECÂNICA...........44
4.1. LINHA DE MONTAGEM ................................................................................................................44 4.2. O PROCESSO DE MONTAGEM .......................................................................................................45
4.2.1. Montagem manual da junta no coletor................................................................................46 4.2.2. Transferência dos conjuntos junta-coletor à colméia e expansão dos tubos .........................47 4.2.3. Teste de estanqueidade a baixa pressão (vácuo) .................................................................49 4.2.4. Cravação das caixas laterais..............................................................................................51 4.2.5. Teste de estanqueidade a alta pressão ................................................................................51 4.2.6. Embalagem do produto acabado ........................................................................................53
4.3. MODOS DE FALHA NA MONTAGEM DE RADIADORES DE TECNOLOGIA MECÂNICA ...........................54 4.3.1. Junta cortada.....................................................................................................................55 4.3.2. Variação dimensional / geométrica dos tubos.....................................................................56 4.3.3. Junta levantada..................................................................................................................57 4.3.4. Junta ensacada ..................................................................................................................58 4.3.5. Retrabalho das juntas ........................................................................................................58
4.4 HISTÓRICO DE QUALIDADE E ÍNDICES DE REJEITO DA JUNTA PÓS-LUBRIFICADA ..............................60
5. INTRODUÇÃO DE JUNTA AUTO-LUBRIFICADA NA PRODUÇÃO DE RADIADORES DE
TECNOLOGIA MECÂNICA ............................................................................................................63
5.1. FLUXOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO ........................................................................................63 5.2. VALIDAÇÃO DO COMPOSTO DA JUNTA .........................................................................................64 5.3 VALIDAÇÃO DIMENSIONAL DAS JUNTAS .......................................................................................68 5.4 VALIDAÇÃO DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DO RADIADOR............................................................69 5.5. ESTUDO DO COMPORTAMENTO MIGRATÓRIO DO ADITIVO DE DESLIZAMENTO DA JUNTA.................76
5.5.1. Metodologia adotada .........................................................................................................77 5.5.2 Resultados obtidos ..............................................................................................................80
5.6. AVALIAÇÃO DO IMPACTO ECONÔMICO DA INTRODUÇÃO DA JUNTA AUTO-LUBRIFICADA .........84
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................................................89
7. REFERÊNCIAS..............................................................................................................................95
1
1. INTRODUÇÃO
No momento em que a indústria automotiva inicia seu segundo século,
uma confluência de inovações tecnológicas está levando a modificações
fundamentais na estrutura industrial, dinâmica competitiva e arquitetura de
produto.
Os avanços nos processos de desenvolvimento de produto tornaram-se
ainda mais significantes, com ciclos cada vez menores em função da adoção
da engenharia simultânea pelas empresas.
A terceirização de parte do sistema fabril, por meio da transferência da
produção e da responsabilidade no desenvolvimento de componentes pelos
fabricantes de veículos para seus fornecedores, foi intensa durante a década
de 1990. Essa migração intensiva combinou-se com desenvolvimento
modulares, ou co-designs, fazendo a cadeia de suprimentos ser radicalmente
remodelada.
Surge desta maneira um novo modelo de organização da cadeia
industrial, baseado no repasse de atividades antes desenvolvidas pelas
montadoras a seus fornecedores, nascendo concomitantemente uma nova
forma de gerenciamento da cadeia de suprimentos, que pressupõe a
organização das empresas da cadeia em rede por meio da existência de
cooperação e coordenação, o “comakership” (Christopher, 2007).
O “comakership” é uma das formas mais desenvolvidas de acordo entre
clientes e fornecedores, baseada numa visão sistêmica e integradora da cadeia
de suprimentos, abordando estratégias, políticas e aspectos operacionais
relacionados à questão da qualidade, escolha e avaliação de fornecedores e
logística que promovem a competitividade global da cadeia. Segundo Merli
(1994), o “comakership” é uma relação evoluída entre cliente e fornecedor, e é
considerado um fator prioritário na estratégia industrial”.
2
No entanto, esta relação só é duradoura se custo e qualidade são
mantidos, e o constante aumento de custo das matérias-primas, bem como
contratos de fornecimento com cláusulas de reduções de custo anuais
impostas pela quase totalidade dos fabricantes de automóveis pressionam os
fornecedores a investirem continuamente no aprimoramento de técnicas e
processos produtivos com o intuito de reduzir custos operacionais, aumentar os
níveis de produtividade e reduzir falhas no processo.
Na manufatura, melhorias incrementais que levem a reduções de custo
são fonte de vantagem competitiva para estabelecimento destas parcerias.
Estas reduções de custo têm sido o principal foco dos sistemistas e
montadoras, pressionados ainda pela queda de barreiras comerciais, aumento
de competição global e negociação de contratos corporativos.
Os sistemistas, particularmente, são forçados a melhorar seu
desempenho inovando produtos e aumentando a eficiência de seus processos
produtivos. Os ganhos em produtividade advindos desse processo de melhoria
contínua, em troca, aumentam a competitividade e geram vantagens
sustentáveis, com produtos de maior valor agregado e custo inferior (Acker,
2007). Esse processo encoraja os sistemistas a desenvolverem as habilidades
que necessitam para competir, introduzindo inovações em produto e processo
e adotando inovações de outros segmentos ou mesmo concorrentes. Esse
processo pode ser ilustrado em 4 etapas, exemplificando a dinâmica de
mercado (cf. Baily et al., 2005):
1. efeitos do mercado: a competição gera mudanças nas fatias de mercado
e nas margens de lucros, como conseqüência da combinação entre
preço e valor agregado que estão sendo oferecidos aos consumidores e
da relação preço/custo dos sistemistas;
2. construção de habilidades: os sistemistas respondem aos desafios de
mercado e redução em suas margens construindo novas habilidades,
introduzindo inovações próprias em produtos e processos ou adotando
inovações desenvolvidas e compartilhadas por outros;
3
3. oferta de produto e custos: as habilidades desenvolvidas pelos
sistemistas são combinadas de forma a produzir uma gama de veículos
com determinado grupo de características sob um custo particular. As
inovações em processos melhoram custos com eficiência, enquanto que
as inovações em produtos promovem a habilidade para construir e
melhorar novos modelos. Os dois tipos de inovação acabam por
influenciar a qualidade do veículo;
4. preços e posição competitiva: os sistemistas estabelecem preços
baseados na demanda de veículos, propostas de valores, estrutura de
custo, bem como preço e disponibilidade de marcas concorrentes. O
sucesso nas vendas de veículos depende diretamente da melhor relação
custo / benefício ofertada pelo mercado.
É neste contexto de necessidade de redução de custo, aumento do valor
agregado e qualidade percebida por meio de melhoria técnica de produto e
processo, que o desenvolvimento e aplicação de uma junta em EPDM auto-
lubrificada na montagem de radiadores de tecnologia mecânica será abordado
nesse trabalho.
As juntas auto-lubrificadas apresentam uma inovação ao processo de
montagem do conjunto radiador e ao seu próprio processo produtivo, neste
último pela eliminação de pós lubrificação da junta acabada através da inclusão
de agente deslizante à massa do produto, no estágio inicial de produção. Já
para seu uso final, a montagem do radiador, a junta possui característica auto-
lubrificante crescente com o tempo, e não permanece mais suscetível às
intempéries de tempo, com a evaporação da solução a base de silicone, o que
impossibilitaria a utilização da mesma. O desenvolvimento da junta auto-
lubrificada, em parceria com o fornecedor desta família de produto, buscou
inicialmente a redução do custo do radiador, através da validação técnica da
massa do composto de EPDM aditivado e da utilização desta nova junta na
linha de produção seriada de montagem de radiadores.
4
A característica de lubrificação da junta é necessária durante o processo
de montagem do radiador, para que ela possa ser facilmente posicionada nos
dispositivos de montagem, e para que os tubos de alumínio possam ser
adequadamente inseridos através das denominadas golas (furos cilíndricos).
Se a lubrificação da junta não for adequada (junta “seca”), a montagem fica
dificultada e pode-se gerar peças não-conformes pelo aparecimento de defeitos
de montagem do tipo “junta ensacada” ou “golas cortadas”, que serão
detalhados nos capítulos seguintes.
Na condição atual (junta pós-lubrificada), o processo de lubrificação do
componente se dá pela imersão completa de determinada quantidade de juntas
já vulcanizadas em uma solução de óleo de silicone, com posterior
centrifugação para remoção do excesso de lubrificante. O processo é manual,
e não considera variações de temperatura e umidade relativa. Nas épocas mais
quentes e/ou secas nota-se um aumento na quantidade de peças não-
conformes na montagem do radiador, devido à volatilização do silicone
superficial, o que implica em um retrabalho do lote a ser utilizado, com
conseqüente perda de produtividade.
Utilizando-se os conceitos de engenharia e análise de valor, em um
desenvolvimento co-participativo (sistemista e fornecedor), identificou-se que
poderia ser realizada uma melhoria no produto, tanto em termos do processo
produtivo da junta quanto da montagem do radiador, por meio da eliminação do
processo pós-siliconização e inclusão de aditivo de deslizamento na etapa de
composição da massa utilizada para a produção do componente.
A produção de uma junta auto-lubrificada garantirá uma condição de
montabilidade adequada independentemente das condições climáticas, uma
vez que o lubrificante estará incorporado ao material da junta e não se
volatilizará. Além disso, o aditivo tende a migrar do interior do EPDM para a
superfície do componente, o que fará com que característica de lubrificação
superficial melhore com o passar do tempo. A validação do composto (matéria-
prima) e da aplicação seriada da junta auto-lubrificada no processo de
montagem permitirá a preconização dessa tecnologia para todos os radiadores
de tecnologia mecânica do fabricante.
5
1.1. OBJETIVOS E MÉTODOS DO TRABALHO
Em função do exposto, esse trabalho tem por objetivo:
• a validação do uso de juntas auto-lubrificadas na produção seriada
de radiadores de resfriamento de tecnologia mecânica;
• a verificação do comportamento de migração do agente lubrificante
na superfície do componente;
• a definição de critérios objetivos para controle da condição de
lubrificação da junta no fornecedor e no recebimento.
Para atingir esses objetivos, foram inicialmente realizados testes de
validação do composto de EPDM sugerido pelo fornecedor, em consonância
aos requisitos normatizados pelo fabricante de radiador, por meio de corpos de
prova enviados para laboratório na França, acreditado pelo sistemista (cliente).
A seguir, foi produzido um lote inicial de juntas auto-lubrificadas com o
composto validado, que passou por um procedimento de validação dimensional
e foi posteriormente utilizado para uma jornada de plena cadência em 300
conjuntos de radiadores para avaliação da utilização em série e confiabilidade
(rejeitos de linha nos testes de estanqueidade).
Do mesmo lote de juntas auto-lubrificadas utilizadas na jornada de plena
cadência, 30 amostras foram separadas para utilização na verificação do
comportamento migratório do agente lubrificante, por meio da medição da força
de inserção na região das golas (interface) com o passar do tempo. A partir
desse estudo foi definido um procedimento de verificação objetiva da condição
de lubrificação da junta, a ser utilizado tanto pelo fornecedor quanto pelo
sistemista, na liberação do lote fabricado e inspeção de recebimento,
respectivamente.
6
Finalizando o desenvolvimento, procedeu-se a uma avaliação da
redução de custo na produção de radiadores de tecnologia mecânica em
função da utilização do novo tipo de junta.
1.2. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
O capítulo 2 apresenta uma breve introdução sobre o sistema de
arrefecimento do motor de combustão interna de ciclo Otto utilizado em
veículos de passeio. É apresentada uma descrição de cada um dos principais
componentes do sistema, com ênfase no radiador de resfriamento de
tecnologia mecânica, amplamente utilizado em veículos de passeio com
propulsores até 1.600 cm3.
As diversas peças utilizadas na fabricação do radiador são também
apresentadas no capítulo 2, com destaque para a junta de vedação, de forma a
fornecer ao leitor uma base teórica para compreensão da sua função e
interfaces de montagem, visando facilitar o entendimento dos ganhos obtidos
com a introdução de uma tecnologia auto-lubrificante na fabricação da junta.
A seguir é apresentada, no capítulo 3, uma revisão sobre a fabricação
de juntas em EPDM e discutidos aspectos ligados à aplicação de aditivos de
deslizamento (“slip agents”) em substituição à lubrificação superficial pós-
vulcanização, a partir de onde todo o estudo será desenvolvido até a validação
final do produto (junta auto-lubrificada) para uso seriado.
Esse capítulo apresenta também o processo corrente de fabricação da
junta pós-lubrificada e as alterações propostas visando a fabricação de uma
junta auto-lubrificada, demonstrando os ganhos a serem obtidos nas etapas da
produção da junta. Ao final do capítulo discute-se o critério subjetivo
atualmente utilizado para detectar não-conformidades na lubrificação das
juntas, e as dificuldades de controle associadas à falta de um padrão
quantitativo para essa avaliação.
7
O capítulo 4 descreve as diversas operações que compõem o processo
de montagem do radiador de tecnologia mecânica, indicando em quais delas a
lubrificação da junta é relevante e os efeitos sentidos na linha pela ausência ou
insuficiência da mesma. O histórico dos rejeitos de linha apresentado quantifica
a relevância desta característica da junta, detalhando os principais mecanismos
de falha, causas-raiz associadas e seus efeitos para o produto.
No capítulo 5 são apresentadas as etapas do desenvolvimento e
aplicação da junta em produção seriada, desde o processo de desenvolvimento
do composto em parceria com o fornecedor da junta até a validação na linha de
montagem de radiadores. São apresentados os resultados de uma jornada de
plena cadência para validação do uso da junta com a nova tecnologia na linha
de produção seriada do radiador, comparando-se resultados de desempenho
da nova junta com a junta pós-lubrificada atualmente em uso.
O capítulo 5 apresenta ainda os resultados do estudo realizado para
quantificar a lubrificação superficial das juntas por meio da força de inserção de
um punção no interior das golas, simulando-se assim a interface real de
montagem, a partir dos quais foi possível estabelecer um critério quantitativo
para controle na liberação do lote no início da montagem dos radiadores. Por
fim, o capítulo 5 apresenta uma avaliação da redução de custos obtida com a
utilização da junta de EPDM com composto auto-lubrificado em substituição ao
pós-lubrificado.
8
2. O SISTEMA DE
ARREFECIMENTO PARA
MOTORES DE CICLO OTTO
A otimização dos sistemas de arrefecimento em veículos é um aspecto
importante no processo de tornar os motores de combustão interna
compatíveis com os requisitos cada vez mais severos de emissões de gases e
consumo de combustível. Além da otimização da durabilidade e confiabilidade
do sistema, a engenharia automotiva busca reduzir o custo de produtos com
desempenhos cada vez melhores e passíveis de reciclagem, adequados às
normativas de substâncias banidas, restritas e declaráveis, preconizadas pela
Europa e que se tornaram requisito imposto pelas montadoras a seus
sistemistas em todos os continentes, principalmente a partir do início desta
década.
Embora os motores à combustão interna tenham evoluído muito,
principalmente após a década de 1980 pelo aumento da eletrônica embarcada,
a eficiência energética de um motor ciclo Otto moderno ainda varia na faixa de
20 a 25% (Moran & Shapiro, 2007), para taxas de compressão de 8:1 e 10:1,
respectivamente.
Assim, a maior parte da energia gerada pela queima do combustível é
convertida em calor (cerca de 70%), ficando o sistema de arrefecimento do
motor responsável pelo controle da temperatura dos fluidos e componentes
mecânicos, evitando danos por superaquecimento, como mostrado na Figura
2.1.
9
Figura 2.1. Balanço energético de um motor de combustão interna
(Nomoto, 2006)
Também são funções do sistema de arrefecimento:
• propiciar rápido aquecimento da câmara de combustão até a
temperatura nominal de operação, durante partidas a frio;
• controlar a temperatura do sistema para otimizar a combustão;
• reduzir emissões.
O arrefecimento a água é a configuração padrão atualmente utilizada em
carros de passeio e veículos pesados. Na verdade, o termo “arrefecimento a
água” não é o mais adequado, uma vez que, em lugar da água pura, os
sistemas de arrefecimento trabalham com uma mistura de água destilada, um
anticongelante (geralmente etilenoglicol) e inibidores de corrosão específicos
para uma dada aplicação. A adição de uma concentração de anticongelante de
30 a 50% (cf. Bosch, 2007) permite ainda elevar o ponto de ebulição da mistura
e obter temperaturas operacionais de até 120º C em uma pressão de 1,4 bar
em carros de passeio.
10
2.1. Componentes do Sistema
Os principais componentes do sistema de arrefecimento de veículos de
passeio estão representados na Figura 2.2, e são descrito nos itens a seguir.
Figura 2.2. Componentes do sistema de arrefecimento
de um veículo de passeio (Nomoto, 2006)
2.1.1. Grupo moto-ventilador (GMV)
Conjunto formado por um motor elétrico de corrente contínua, um
defletor de ar e um ventilador (Figura 2.3). Tem a função de propiciar taxas
adequadas de resfriamento do fluído de arrefecimento quando a pressão
dinâmica é baixa ou o fluxo de ar insuficiente, condições estas encontradas em
veículos em baixa velocidade ou parados. O conjunto gera um fluxo de ar
forçado de ar através da colméia do trocador de calor (radiador), aumentado a
eficiência de troca térmica devido à convecção forçada.
11
Figura 2.3. Grupo moto-ventilador: visão de conjunto e vista explodida
Os ventiladores utilizados no GMV de carros de passeio são
normalmente de plástico, moldados por injeção em uma única peça, com
potências de acionamento de até 30 kW, também utilizados em veículos
comerciais.
Dependendo do veículo e das condições operacionais, o fluxo de ar não
assistido (aquele devido à movimentação do veículo) fornece condições
adequadas de arrefecimento por até 95% do tempo de operação do motor.
Assim, um sistema de controle do ventilador é importante para economizar
energia e assim contribuir diretamente para a eficiência energética do veículo.
O sistema de controle mais simples atualmente em uso é do tipo
“liga/desliga”. Existem também sistemas de controle mais sofisticados (que
podem ser do tipo multiestágio ou contínuo) que ajustam a velocidade do
ventilador à necessidade de arrefecimento, permitindo um maior controle e um
menor consumo de potência elétrica. Qualquer que seja o sistema, ele trabalha
com o sinal de um sensor de temperatura colocado junto ao radiador do
sistema de arrefecimento.
2.1.2. Líquido de arrefecimento
Fluido composto de água destilada, etilenoglicol e aditivos inibidores de
corrosão. Este composto escoa pelas galerias do bloco do motor, prevenindo o
12
superaquecimento e mantendo a integridade mecânica do motor. Transferem o
calor produzido pelo motor para o radiador, que o dissipa. O líquido deve
apresentar alta capacidade térmica, baixa viscosidade, baixo custo e ser
quimicamente inerte, não ocasionando corrosão ao sistema de arrefecimento.
2.1.3. Bomba d’água
Tem por função pressurizar o sistema e transferir ao líquido de
arrefecimento a energia necessária para circulação pelo sistema. A Figura 2.4
mostra alguns tipos de bombas e um diagrama esquemático de uma bomba
d’água padrão.
Figura 2.4. Bomba d’água: exemplos e vista em corte
2.1.4. Radiadores
Trocadores de calor ar-fluido de arrefecimento, compostos de tubos e
aletas, geralmente confeccionados em alumínio para veículos de passeio
(Figura 2.5). Têm por objetivo rejeitar para o meio externo o calor liberado no
13
motor, mantendo assim a temperatura do fluido de arrefecimento abaixo de um
valor máximo permissível sob determinadas condições operacionais.
No caso de veículos com possibilidade de aquecimento do habitáculo, o
sistema de arrefecimento conta com dois radiadores: um principal para
resfriamento do motor, e um secundário para aquecimento do ar insuflado no
habitáculo.
Figura 2.5. Radiador
2.1.5. Vaso de expansão
Reservatório termoinjetado ou soprado em polipropileno com tampa
valvulada (Figura 2.6). Fornece um canal de escapamento para os gases
pressurizados e para o eventual vapor gerado, evitando assim que ocorra
cavitação na admissão da bomba d’água. Seu volume deve ser grande o
suficiente para absorver a expansão térmica do líquido de arrefecimento,
durante o aquecimento do motor do veículo e acúmulo de pressão, e evitar a
ebulição do líquido de arrefecimento quando o motor quente é desligado. Sua
posição deve corresponder ao ponto mais alto do sistema de arrefecimento,
para assegurar que os gases e o vapor sejam removidos adequadamente.
14
Figura 2.6. Vaso de expansão
2.1.6. Termostato
Elemento de controle do sistema, com a finalidade de manter a
temperatura dentro de uma faixa adequada (Figura 2.7). Em partidas a frio,
permanece fechado, bloqueando a saída do radiador, de forma que o fluido de
arrefecimento recircule pelo motor e se aqueça rapidamente. Quando a
temperatura do fluido atinge a faixa entre 82°C e 91°C, o termostato começa a
abrir, permitindo que o fluido escoe pelo radiador. Entre 93°C e 103°C, o
termostato encontra-se totalmente aberto.
Figura 2.7. Termostato
15
2.2. Radiadores de Resfriamento de Tecnologia Mecânica
Como já destacado anteriormente, qualquer que seja a condição
operacional do motor e a do meio externo, o radiador deve garantir a adequada
rejeição do calor do motor para o meio externo. O tamanho e a capacidade de
arrefecimento de um radiador para uma aplicação específica podem ser
determinados a partir de equações de balanço e correlações de transferência
de calor e perda de pressão.
Os núcleos dos radiadores nos veículos de passeio atuais são
fabricados quase que exclusivamente em alumínio por questões de peso e
custo, e esse material está cada vez mais sendo também utilizado em
radiadores para uma grande variedade de veículos comerciais e caminhões no
mundo todo. Existem duas configurações básicas (ou “tecnologias”) de
montagem dos radiadores:
• radiadores unidos ou montados mecanicamente (“tecnologia
mecânica”).
• radiadores soldados (ou brasados);
Quando o radiador é montado mecanicamente, a grade de arrefecimento
é formada pelas aletas estampadas, montadas em torno de tubos redondos,
ovais ou ovais chatos. As aletas, fixadas nos tubos por interferência mecânica,
são corrugadas e/ou entalhadas nos ângulos retos na direção do fluxo de ar
(Figura 2.8). Essa configuração apresenta um menor custo de fabricação e
uma menor eficiência, sendo por isso geralmente utilizada para aplicações com
motores menos potentes (1.000 cm3 a 1.600 cm3) ou quando há uma maior
disponibilidade de espaço no compartimento do motor.
Nos radiadores brasados (Figura 2.9), os tubos, aletas e coletores em
alumínio têm em sua superfície um elemento fusível denominado “clad”, uma
liga de alumínio que se funde numa temperatura menor que a temperatura de
fusão do alumínio do núcleo dos componentes. Os subconjuntos ou núcleos de
aletas, tubos e coletores são mantidos organizados sobre um berço de
brasagem, e colocados em fornos especiais para fusão do “clad”. Desta forma,
16
diferentemente dos radiadores de tecnologia mecânica, onde os tubos fixam-se
às aletas por expansão mecânica, nos radiadores brasados a fixação é feita
por meio da solda de “clad” entre as superfícies de contato, como mostrado no
detalhe da Figura 2.9. O radiador brasado apresenta um desempenho térmico
superior ao mecânico de mesma dimensão, sendo utilizado em veículos com
motorização acima dos 1.600 cm3. O custo de fabricação de um radiador
brasado é superior ao mecânico, sendo justificado em utilizações onde o
espaço disponível no compartimento do motor é limitado.
Figura 2.8. Radiador de tecnologia mecânica (Nomoto, 2006)
Figura 2.9. Radiador brasado (Nomoto, 2006)
17
2.2.1. Componentes do radiador
Os radiadores de resfriamento de tecnologia de montagem mecânica
são constituídos por cinco elementos, mostrados na Figura 2.10: tubos, caixas,
coletores, juntas e aletas. Os próximos itens apresentam as principais
características de cada um desses elementos.
Figura 2.10. Componentes básicos de um radiador de tecnologia mecânica.
2.2.1.1. Tubos
Os tubos utilizados na montagem de radiadores de tecnologia mecânica
são confeccionados em alumínio por extrusão ou trefilação, podendo ser
cilíndricos ou ovais, dependendo do projeto do radiador. Devem resistir à
corrosão “branca”, ocasionada pela oxidação do fluído de arrefecimento
durante a vida útil do radiador, e suportar as variações de temperatura e
pressão de operação. Durante o processo de montagem sofrem deformação de
seu diâmetro interno com o intuito de fixá-los nas aletas, originando um
subconjunto denominado núcleo do radiador ou “core”. Após a fixação por
interferência nas aletas, devem suportar vibração e choques de partículas e
18
detritos contidos no ar, quando o veículo se encontra em movimento, sem se
romperem. A Figura 2.11 mostra alguns tubos utilizados na montagem de
radiadores.
Figura 2.11. Tubos em alumínio utilizados em radiadores
2.2.1.2. Aletas
São confeccionadas por estampagem em alumínio. Como mostrado na
Figura 2.12, contam com janelas e furos para intensificação da transferência de
calor. A geometria dessas janelas e furos é um compromisso entre a
minimização da perda de carga e a maximização da transferência de calor. A
transferência de calor entre o tubo e a aleta ocorre por condução e entre a
aleta e o ar por convecção (cf. Moran & Shapiro, 2007).
Os principais parâmetros a serem definidos para esse elemento,
levando-se em conta a vazão de ar que deve passar pelo radiador, são: a
largura e a espessura, o passo das aletas e o número de persianas.
19
Tipicamente, nas aplicações em radiadores mecânicos, a espessura da bobina
de alumínio, anteriormente ao processo de estampagem, é da ordem de 0,065
a 0,075mm.
Figura 2.12. Detalhe de uma aleta em alumínio
2.2.1.3. Caixas
As caixas, mostradas na Figura 2.13, têm por função fazer o fechamento
do percurso do líquido refrigerante nas entradas e saídas dos tubos. São
produzidas, por injeção termoplástica, em poliamidas de engenharia reforçadas
com fibras de vidro. Além da fibra, as resinas utilizadas na produção das caixas
são termoestabilizadas para suportarem as variações de temperatura
encontradas nas diversas condições climáticas e de utilização do veículo, e
contém componentes anti-degradantes, ou resistentes à glicólise, com o intuito
de resistir às reações químicas oriundas da oxidação do fluido de arrefecimento
e da poliamida da caixa. A maior parte das caixas, além da função de
fechamento, também são responsáveis por fixar o radiador ao veículo e fixar o
condensador do sistema de climatização veicular (quando presente). Devem
suportar, assim como os tubos, as vibrações advindas da operação do veículo.
20
Figura 2.13. Caixa do radiador de tecnologia mecânica: vista lateral e inferior
2.2.1.4. Coletores
Elementos que atuam como grampo de união entre as caixas e o núcleo
do radiador. São confeccionados em alumínio estampado e fixados por
interferência aos tubos do núcleo do radiador. A seguir são colocadas as juntas
de vedação em EPDM, e por meio de um processo de cravação os dentes do
coletor são dobrados por sobre as caixas, pressionando-as contra as juntas,
conferindo ao conjunto radiador integração dos componentes e estanqueidade.
A Figura 2.14 apresenta alguns coletores, bem como os detalhes dos encaixes
de um coletor para tubos cilíndricos e dos dentes para fixação da caixa.
2.2.1.5. Juntas de vedação
As juntas de vedação, mostradas na Figura 2.15, são manufaturadas em
EPDM (etileno propileno dieno copolímero) e são responsáveis pela vedação
entre caixas, tubos e coletores nos radiadores de tecnologia mecânica. Além
dos radiadores de resfriamento, juntas em EPDM são utilizadas nos radiadores
de aquecimento com a mesma função de vedação. Devem suportar
temperaturas de operação entre -35ºC e 150ºC.
21
Figura 2.14. Exemplos de coletores (à esquerda) e detalhes de um coletor para
tubos cilíndricos (vistas inferior e superior)
Figura 2.15. Exemplo de junta em EPDM; nos detalhes,
vista inferior (esquerda) e superior (direita)
Assim como os demais componentes automotivos, o material da junta
não deve conter nenhuma das substâncias restritas ou banidas contidas na
lista BRDS (“Banned, Restricted and Declarable Substances”) do IMDS1
1 No IMDS, todos materiais utilizados pelos fabricantes de veículos automotores são mantidos
e arquivados. Somente desta maneira é possível aos fabricantes de autopeças atenderem aos
requisitos impostos pelas montadoras, padrões internacionais, leis e regulamentações.
22
(“International Material Data System”). Podem ser injetadas ou conformadas a
quente, e vulcanizadas por cura com peróxido. Para a aplicação em veículos
devem estar completamente vulcanizadas e livres de imperfeições e falhas de
material. Dentre suas propriedades mecânicas, as mais relevantes para esse
tipo de aplicação são a dureza (verificada tanto no componente recém
produzido quanto em condições de envelhecimento para análise de
confiabilidade), a resistência ao elongamento, a mínima deformação
permanente (DPC) e a resistência à corrosão.
Além das propriedades físico-químicas, as juntas de vedação utilizadas
na produção de radiadores de resfriamento de tecnologia mecânica devem
apresentar, no momento da montagem (inserção dos tubos e assentamento
nos coletores), uma certa lubrificação de sua superfície para reduzir o atrito
ocasionado entre as superfícies do EPDM e do alumínio. Esta propriedade de
lubrificação é considerada satisfatória, do ponto de vista operacional, quando
não se observam dificuldades na montagem entre as interfaces e problemas
como juntas levantadas ou golas cortadas, que causam reprovações dos
conjuntos durante testes de estanqueidade. Os tipos de falhas causados pela
falta de lubrificação ou lubrificação insuficiente (junta “seca”) serão detalhadas
posteriormente nesse trabalho.
Atualmente, a lubrificação da junta em EPDM vulcanizado é obtida por
meio de um processo de pós-lubrificação da junta, no qual ela é imersa em um
banho de silicone e posteriormente centrifugada para remoção do excesso de
lubrificante. O banho de silicone, depois de algum tempo de uso, deve ser
descartado de forma adequada, sem causar impactos adversos no meio
ambiente.
Apesar de relevante para o processo de montagem, os critérios de
avaliação dessa condição de lubrificação da junta ainda são subjetivos, tanto
em seu controle pelo fornecedor do componente quanto no processo de
fabricação do radiador. Apenas determina-se, por meio de análise visual e táctil
daqueles que possuem conhecimento empírico deste atributo, se o
componente está conforme ou ruim.
23
Como destacado anteriormente, os objetivos desse trabalho são
desenvolver e validar uma junta em que a lubrificação passe a ser adicionada à
massa (composto) do produto em substituição à imersão, gerando ganhos em
termos de custo, qualidade do produto e impacto no meio ambiente. Além
disso, serão definidos parâmetros quantitativos para avaliação da condição de
lubrificação da junta.
24
3. O PROCESSO DE
FABRICAÇÃO DE JUNTAS DE
VEDAÇÃO DE RADIADORES DE
TECNOLOGIA MECÂNICA
3.1. Materiais Utilizados
As borrachas sintéticas mais utilizadas atualmente, tanto para
aplicações especiais como uso em geral, são as borrachas de propileno-etileno
e elastômeros (também denominados EPDM e EPM). As vendas alcançaram
1,2 milhões de toneladas em 2005, após sua introdução comercial no início de
década de 60 (Karpeles & Grossi, 2006).
A tecnologia de polimerização e catalisação empregada desde o início
da década de 1990 possibilita aos polímeros atender a requisitos específicos e
a processos rigorosos, resultando em um material versátil e com ampla
utilização em guarnições e vedações de veículos, paletas de vidros, radiadores,
mangueiras de uso em geral, correias e isolação elétrica, entre outras
aplicações.
Com exceção de aplicações específicas, como o revestimento de fios e
cabos, as borrachas de EPDM (terpolímero de etileno propileno dieno,
conforme designação ASTM) são o principal tipo de borracha sintética utilizada
na indústria pois apresentam:
25
• boa resistência ao ozônio e às intempéries;
• boa resistência à degradação térmica;
• boa deformação permanente;
• flexibilidade a baixas temperaturas;
• boa resistência à degradação química;
• baixo peso específico;
• aceitação de altos níveis de cargas de preenchimento;
• rápido ciclo de mistura;
• boas características de extrusão;
• boas propriedades elétricas;
• baixa permeabilidade à água;
• baixo custo.
Além disso, as borrachas de EPDM oferecem alta resistência a ácidos,
álcalis e soluções aquecidas de detergentes, e apresentam boa resistência aos
solventes oxigenados, fluidos hidráulicos e gorduras animais. No entanto, têm
resistência limitada e hidrocarbonetos como tolueno e gasolina.
A resiliência do EPDM é menor que a da borracha natural e equivale
aproximadamente à do SBR (poliestireno butadieno) (Modulus, 2006). Contudo,
o EPDM apresenta boa porcentagem de resiliência em baixa temperatura. O
baixo peso específico do polímero e as propriedades físicas adequadas mesmo
quando sujeito a altos níveis de carga de preenchimento (“fillers”), possibilita ao
fabricante a obtenção de compostos altamente econômicos.
Todas estas propriedades, associadas aos baixos custo da matéria-
prima e de fabricação, fazem com que o EPDM seja amplamente utilizado nos
sistemas de arrefecimento veiculares, em anéis tipo “o-ring” e juntas de
vedação de radiadores.
Determinadas propriedades do EPDM podem ser melhoradas por meio
da agregação de aditivos à borracha durante o processo de fabricação. Por
exemplo, uma maior resistência ao envelhecimento sob temperaturas de até
26
130°C pode ser obtida com a adição de um acelerador à base de enxofre, e
para temperaturas de até 160°C por meio de cura à base de compostos de
peróxido. A resistência à compressão (“compression set”) é melhorada,
particularmente sob temperaturas elevadas, se enxofre ou peróxido são
utilizados durante a cura. A junta em EPDM que é objeto deste trabalho sofre
processo de cura por peróxido em função das exigências impostas pelas
normas internas das montadoras para validação de vedações do sistema de
arrefecimento. Esse tipo de acelerador é mais efetivo e apresenta estado de
cura superior aos do enxofre ou óxido metálico também utilizados.
Os polímeros de EPDM respondem bem a cargas de preenchimento e
plastificantes, o que torna esses compostos economicamente atrativos, uma
vez que as cargas de preenchimento têm custo menor que o custo do EPDM.
Podem apresentar elevadas tensões de ruptura e alongamento, excelente
resistência à abrasão e ao óleo, assim como baixa inflamabilidade.
Na composição de uma borracha são normalmente encontrados:
• elastômero: matéria-prima base para fabricação do EPDM. No caso
deste trabalho, o EPDM utilizado é do tipo não resistente a óleo;
• ativadores: têm a função de aumentar a velocidade de vulcanização
do composto, reduzindo assim tempo de vulcanização necessário;
• plastificantes: têm por função catalisar a quebra das moléculas do
elastômero, facilitando sua mastigação e a incorporação de cargas,
reduzindo a geração de calor na mistura. Sua atuação deve ocorrer
apenas na fase inicial da mistura, após a adição das cargas e do
agente de cura. Uma atuação mais longa irá influir negativamente
nas propriedades mecânicas do vulcanizado. É importante destacar
que a incorporação dos aditivos ao elastômero é impraticável sem a
plastificação. São normalmente utilizadas concentrações da ordem
de 0,10 a 2,00 phr (“parts per hundred resin” ou porcentagem de
resina em base mássica);
• retardantes: atuam no sentido de retardar o início da vulcanização, a
fim de evitar problemas de pré-vulcanização em compostos muito
27
acelerados. Utilizam-se concentrações de 0,10 a 0,50 phr, conforme
a necessidade do processo;
• antioxidantes/antiozonizantes: a reatividade dos grupos insaturados
existentes nas moléculas da maioria dos elastômeros possibilita a
vulcanização com o enxofre, porém os tornam sensíveis ao ataque
por oxigênio, ozônio e outras substâncias oxidantes. Os
antioxidantes/antiozonizantes atuam retardando a ação destes
elementos oxidantes, prolongando a vida útil dos vulcanizados. O
antidegradante, seja contra oxigênio ou ozônio, atua no sentido de
interromper a formação de radicais livres. Utilizam-se concentrações
de 0,3 a 3,0 phr;
• carga: componente utilizado para diversas finalidades como ajuste
das propriedades físicas, redução de custos, melhoria no
processamento, aumento da dureza, redução do inchamento em
solventes e óleos. Diversas substâncias são utilizadas como carga,
dentre as quais se pode citar o óxido de alumínio, os sulfatos de
bário ou de cálcio, os carbonato de cálcio natural ou de magnésio,
talco, cortiça, flocos de algodão, fibra de vidro, celulose, negro de
fumo, as quais podem ser utilizadas nas mais variadas proporções;
• auxiliares de processo: ao contrário dos plastificantes, que atuam
diretamente sobre a cadeia polimérica, os auxiliares de processo,
normalmente derivados dos ácidos graxos, reduzem a viscosidade
dos compostos que os contém, sem provocar ruptura da cadeia
molecular;
• dissecante: tem por objetivo absorver a umidade proveniente
principalmente de cargas minerais. A concentração típica no
composto é de 10 phr, a 65º C;
• agente de vulcanização/reticulação: promove ligações cruzadas
entre as macro moléculas dos elastômeros. Pode ser à base de
enxofre (vulcanização) ou peróxido (reticulação), sendo que este
último propicia uma maior estabilidade, resistência a altas
28
temperaturas e baixa deformação permanente por compressão
(DPC). Assim, a utilização de peróxido é preconizada por todos os
sistemistas e montadoras para a fabricação de juntas de vedação de
radiadores de resfriamento;
• aceleradores de vulcanização: catalisam a ação do agente de
vulcanização/reticulação, reduzindo o tempo de transformação das
propriedades plásticas da borracha em propriedades elásticas.
Propiciam uma cura mais rápida e alta eficiência de “crosslinking” ou
ligações cruzadas. São solúveis no elastômero e eficientes sob
diversas temperaturas de vulcanização, não interferindo em
propriedades como o envelhecimento e adesão;
• agente de expansão: utilizados no composto para expansão
volumétrica do produto final, que ocorre pela liberação de gases do
agente de expansão e conseqüente formação de porosidades;
• odorante: confere ao vulcanizado um odor agradável ou mascara o
seu cheiro. Geralmente são utilizados quando os elastômeros
destinam-se à fabricação de componentes do habitáculo dos
veículos.
3.2. Aditivação de elastômeros: agentes de deslizamento
Além da matéria-prima base e de todos os componentes listados
anteriormente, na composição das massas de elastômero podem ainda ser
utilizados aditivos para atuar como antibloqueadores, aditivos de soltura e de
deslizamento.
O termo deslizamento significa movimentar-se escorregando, e no
contexto desse trabalho implica que o agente deslizante aplicado ao composto
deve reduzir o coeficiente de atrito do material com o intuito de reduzir/eliminar
falhas de montagem dos radiadores.
29
Os agentes de deslizamento podem ser utilizados tanto no processo de
fabricação, durante a homogeneização da mistura, ou pode ser aplicado
posteriormente ao produto acabado.
Esta propriedade de deslizamento é o fator principal desse trabalho. No
atual processo de montagem dos radiadores mecânicos, a condição de
deslizamento da junta em EPDM durante a montagem é essencial para que o
produto final (radiador) apresente uma de suas principais propriedades: a
estanqueidade. Uma condição de deslizamento inadequada da junta no
processo de fabricação do radiador causa:
• elevados esforços manuais para o operador;
• um alto índice de rejeição apontado pelos testes de estanqueidade,
tanto a baixa quanto a alta pressão;
• queda significativa na produtividade do posto de montagem.
Assim, como já mencionado, com esse trabalho pretende-se avaliar a
incorporação dos aditivos de deslizamento na composição dos elastômeros
para juntas de vedação, eliminando o processo atual de pós siliconização da
junta já em seu estado curado, dando origem assim a um produto com
propriedade auto-lubrificante. O acréscimo do aditivo de deslizamento à massa
do composto permitirá:
• reduzir o número de operações do processo de fabricação da junta
no fornecedor, eliminando o processo de pós-siliconização e o
descarte do silicone utilizado nesse processo;
• fabricar uma junta que apresente estabilidade na sua condição de
deslizamento (lubrificação superficial);
• reduzir o retrabalho da junta com solução a base de silicone durante
épocas de baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas;
• aumentar a confiabilidade do processo de montagem do radiador,
reduzindo os índices de rejeição por vazamento causados por
defeitos de montagem advindos da lubrificação inadequada da junta.
30
A natureza e morfologia do polímero utilizado, bem como a sua
cristalinidade, são as variáveis mais relevantes para definição do tipo de aditivo
a ser utilizado. O comportamento do deslizamento de produtos em plástico
depende do tipo de polímero. As moléculas de deslizamento difundem-se
principalmente através das regiões amorfas de uma poliolefina, e assim a
migração é mais lenta quanto maior for a cristalinidade das resinas, como
polietileno de alta densidade (PEAD) e polipropileno (PP).
Os agentes de deslizamento, para desempenhar adequadamente sua
função, devem estar presentes na superfície do elastômero, e portanto devem
migrar pelo material até atingir essa camada. Como pode ser visto na Figura
3.1, durante a mistura com o polímero fundido o agente de deslizamento é
absorvido pelas regiões amorfas, onde permanece enquanto o composto
permanecer fundido. Durante o resfriamento, o aditivo de deslizamento migra
para a superfície do polímero numa taxa de migração que depende da
diferença entre as energias polares, de superfície do polímero e do aditivo, bem
como da estrutura química da matriz formada pelo elastômero e aditivo.
Ainda na Figura 3.1 pode-se observar primeiramente a formação de uma
monocamada na superfície do polímero, seguida da deposição de camadas
subseqüentes à medida que novas moléculas do agente de deslizamento
alcançam a superfície do elastômero.
Deve-se destacar que o processo de migração começa com o início do
resfriamento, e continua ocorrendo por algum tempo após a vulcanização do
elastômero. Por exemplo, um estudo realizado por espectrofotometria tipo XPS
(Focquet, 1995) mostrou que a concentração superficial de um aditivo à base
de oleamida era crescente por 30 dias, após o que se tornava constante. Já
para um outro aditivo à base de estereamida, a concentração na superfície
após esse período era 3 vezes menor do que a de oleamida.
O arranjo das moléculas do agente de deslizamento na superfície não é
caótico, mas possui uma estrutura que resulta da afinidade dos dois elementos
estruturais contidos no agente de deslizamento: um grupo amida e cadeias de
hidrocarbonetos. As cadeias de hidrocarbonetos possuem alta afinidade com o
EPDM, pois possuem propriedades muito similares. Por isso, as cadeias de
31
hidrocarbonetos na primeira camada são dispostas sobre a superfície do
polímero com os grupos de amida faceando o ar. À medida que novas
moléculas cheguem até a superfície, a próxima camada será orientada de tal
forma que grupos funcionais similares fiquem em contato. Assim, no caso da
segunda camada o grupo de amida ficará em contato com aquele da primeira
camada, e assim ocorrerá sucessivamente para as novas camadas formadas.
Figura 3.1. Distribuição de agente de deslizamento no produto fundido (acima)
e migração para superfície no produto formado (Wypych, 2005)
Um estudo de Janokar et al. (2004) mostra que o coeficiente de atrito
não é reduzido até que uma camada dupla se forme na superfície, pois na
primeira camada a energia necessária para a quebra de ligações é
relativamente baixa, e por isso é fácil romper a camada lubrificante. Com a
32
formação da segunda camada, em função do arranjo das moléculas, esta
desliza por sobre a primeira (amida com amida), dificultando o rompimento da
camada lubrificante e produzindo assim as propriedades de deslizamento
esperadas.
Amidas de diferentes pesos moleculares podem ser utilizadas como
agentes de deslizamento. A oleamida foi o primeiro agente de deslizamento
empregado, e permanece sendo utilizada com PEBD (polietileno de baixa
densidade) (Plastemart, 2007), . Contudo, por ser mais volátil, a oleamida vem
sendo lentamente substituída pela erucamida que, por ser termicamente mais
estável, apresenta um melhor desempenho a altas temperaturas (Mori et al.,
2003).
Em função desses aspectos, nesse trabalho foi utilizado um aditivo de
deslizamento a base de erucamida, por apresentar melhor estabilidade de
concentração na superfície do EPDM à temperatura ambiente, o que reduz as
perdas por evaporação, que é a principal causa de juntas “secas”, problema
observado durante a produção de radiadores, principalmente em dias de baixa
umidade relativa e altas temperaturas.
3.3. Lubrificação para processo de montagem (critério
subjetivo)
Como comentado anteriormente, as juntas de vedação em radiadores de
tecnologia mecânica devem apresentar característica de deslizamento para
atender à montagem de seus componentes em regiões de interface. Esta
característica lubrificante é necessária apenas durante a montagem do
conjunto radiador, sendo irrelevante durante a vida útil do produto.
A falta ou excesso de lubrificante ocasiona diversos problemas, entre
eles alto índice de rejeito nos testes de estanqueidade. Embora possa parecer
uma falha na definição pela engenharia, a condição de lubrificação atualmente
é somente sugerida no desenho, e validada com o fabricante em testes
33
empíricos na linha de montagem do radiador. Não há especificação objetiva,
quantificada através de uma unidade de medida, que estabeleça valores
nominais e tolerância para controle do fornecedor.
Devido ao alto índice de problemas de qualidade ocasionados pela
lubrificação insuficiente do componente, os fornecedores passaram a trabalhar
com uma porcentagem maior de silicone em solução para aumentar a
confiabilidade do componente em caso de evaporação do lubrificante para
atmosfera durante o período de estocagem, principalmente em dias quentes e
secos. Contudo, também aqui nenhum critério objetivo foi aplicado.
Na linha de montagem, a falta de lubrificação das juntas é constatada no
momento das montagens manuais das mesmas às suas interfaces, a partir do
maior esforço físico despendido pelos operadores na realização dessa
operação. Quando isso ocorre, há um retrabalho da junta (nova imersão em
silicone) para continuidade da produção, e o fornecedor acionado para uma
ação de contenção.
Assim, além da proposta de modificação no processo de fabricação das
juntas, outro objetivo do trabalho é a construção de um dispositivo a ser
montado numa máquina de teste de compressão. Esse dispositivo será
utilizado para estabelecer critérios objetivos para a característica de
deslizamento das juntas e para controle desse parâmetro no processo de
recebimento do componente. O projeto, montagem e validação desse
dispositivo será tratado posteriormente no presente trabalho.
3.4 Fluxo de fabricação das juntas de vedação
3.4.1. Fluxo atual: fabricação com lubrificação por pós-siliconização
A seqüência atual do processo de fabricação da junta em EPDM, com
pós-lubrificação por solução aquosa de silicone a 10% em volume está
representado no diagrama de fluxo de processo da Figura 3.2, onde está
34
indicado, em destaque (û), os processos que serão melhorados e/ou
eliminados com a inclusão do agente de deslizamento ao composto, em
substituição à pós-lubrificação.
Figura 3.2. Processo atual de fabricação da junta em EPDM
As diversas etapas do processo mostradas na Figura 3.2 são:
1. Recebimento (OP 1): as matérias-primas (EPDM e demais
componentes da junta) são recebidas, inspecionadas e mantidas em
local apropriado, seco e ventilado, e com iluminação adequada. Os
lotes liberados para produção são identificados para garantir fluxo
PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai), e assim evitar
35
estocagem prolongada e vencimento da validade dos compostos. O
material liberado é estocado o mais próximo o possível da pesagem,
para evitar transporte desnecessário.
2. Ordem de fabricação: nessa etapa informa-se à equipe de produção
qual o composto a ser produzido, a quantidade e formulação, bem
como o lote de cada matéria-prima a ser utilizada para efeito de
rastreabilidade. Para cada ordem de fabricação, existe um número
específico, que será transferido e mantido até a expedição do
produto acabado, também para rastreabilidade.
3. Pesagem (OP 2): com a ordem de fabricação em mãos e a
formulação indicada, inicia-se a quantificação das matérias-primas
utilizadas no composto. Na pesagem “fina”, de maior precisão,
separa-se a quantidade de ativadores, antioxidantes, aceleradores,
vulcanizantes, retardadores e aditivos. Na pesagem “grosseira”, as
cargas e os plastificantes. Este processo é crítico, pois qualquer
variação ou erro operacional implicará no refugo do lote ou
influenciará nas propriedades físico-químicas da junta, com
conseqüente redução da vida útil do radiador.
4. Mistura (OP 3): nessa etapa de fabricação, todos os componentes
do composto serão misturados, para homogeneização, durante
cerca de 3 a 4 minutos, numa temperatura de 120 a 140º C. Esta
mistura usualmente ocorre em um misturador do tipo “Banbury”,
mostrado na Figura 3.3. O “Banbury” apresenta saída inferior para
liberação do composto homogêneo para a extrusão e pré-formagem
a próxima operação do processo;
5. Extrusão e pré-formagem (OP 4): o composto misturado deixa o
“Banbury” e segue para a extrusora, que produzirá mantas do EPDM
não vulcanizado de cerca de 5 milímetros de espessura (Figura 3.4).
As mantas são posteriormente fatiadas em tiras com largura
aproximada de 50 milímetros (pré-formagem), as quais serão
acondicionadas em contentores plásticos limpos, identificados e
36
datados, para posterior inspeção e utilização nas máquinas injetoras
(Figura 3.5);
Figura 3.3. Misturador “Banbury”
Figura 3.4. Extrusora de mantas em EPDM
37
Figura 3.5. Máquina e molde de injeção da junta, durante a extração por robô
6. Inspeção do composto final: nessa etapa é feita uma avaliação da
plasticidade, reometria e pegajosidade (propriedade de adesão do
composto contra si próprio e em outros materiais) a fim de assegurar
que o composto apresenta-se homogêneo e processável dentro dos
parâmetros pré-estabelecidos para a injeção. A reometria é um método
utilizado para determinar as características de processamento e
vulcanização (tempo de pré-vulcanização e tempo ótimo de
vulcanização) de um composto à base de elastômero. O equipamento
utilizado (reômetro) consiste essencialmente de 2 pratos aquecidos a
uma temperatura de 200ºC. Estes discos oscilam com movimento
senoidal e contêm entre si uma amostra do elastômero de 30 mm de
diâmetro por 12,5 mm de espessura, fornecendo um registro do torque
em função do tempo. O número de plasticidade está relacionado com as
propriedades de escoamento e componente elásticos, útil para prever as
características de processabilidade, tais como facilidade de moldagem e
variação dimensional após extrusão ou injeção. A plasticidade qualifica o
material indicando seu grau de degradação. Este parâmetro é avaliado
através da espessura em [mm[, multiplicada por 100, de uma amostra
38
cilíndrica de 2 cm3 e aproximadamente 1 cm de altura, após ter sido
submetida a uma força de compressão de 49 [N], a tempo e
temperaturas determinados. Quanto maior a espessura, menor a
plasticidade do material, e maior a dificuldade na processabilidade do
composto. Os métodos mais utilizados na verificação da plasticidade são
o plastômetro Willians de placas paralelas e o viscosímetro Mooney
(este último determina a viscosidade do polímero, puro e da composição
não vulcanizada, em função da resistência oferecida ao cisalhamento.
Quanto menor a viscosidade, maior a plasticidade da composição A
reometria fornece o tempo ótimo de vulcanização (conhecido como T90)
e indica a segurança do processo. Este método consiste essencialmente
de dois pratos, que são aquecidos a temperatura de até 200º C, e um
registro de torque x tempo. Um disco biônico executa um movimento de
oscilação senoidal, com freqüência de 10 ou 100 com. A amplitude de
oscilação do disco é de 1, 3 e 5 graus, medindo a resistência da
composição à deformação. A amostra avaliada deve ter 30 [mm] de
diâmetro e 12,5 [mm] de espessura e isenta de bolhas de ar. O gráfico
reométrico fornece o tempo de pré-vulcanização (Scorch) T2, que é o
tempo necessário para se aumentar o torque mínimo de 2 [lb.in], quando
se usa o arco ± 3º. Esse tempo indica a segurança do processamento. O
tempo ótimo de vulcanização T90 é o tempo necessário para se atingir
90% do torque máximo.
7. Injeção (OP 5): o material preparado em tiras e aprovado na inspeção é
transportado para a máquina injetora, que contém o molde de injeção
correspondente à junta da ordem de fabricação. Os moldes de injeção
possuem geralmente oito cavidades. Nesse processo, em função da
elevação da temperatura do composto para fusão das tiras de material
plástico, inicia-se o processo de vulcanização do EPDM, numa
temperatura média de injeção de 187ºC. No processo de injeção, a
extração da junta do molde é feita por robô, ficando o operador
responsável pela retirada dos galhos de injeção, inspeção visual e
39
dimensional, rebarbação (se aplicável), e acondicionamento adequado
da junta.
8. Autoclave (OP 6): as juntas, em seu estado de vulcanização
intermediário, são transportadas para autoclaves (estufas pressurizadas)
para conclusão do processo de vulcanização, permanecendo no interior
destes equipamentos de 5 a 8 minutos, numa condição de 8,0 bar de
pressão e 180ºC de temperatura (Figura 3.6). Após o processo de
autoclave, as juntas apresentam-se na condição dimensional final, e
suas propriedades físico-químicas estão definidas. Antes de seguirem
para a operação de lubrificação, as juntas passam por uma inspeção
dimensional e visual;
Figura 3.6. Autoclave
9. Lubrificação (OP 7): nesta etapa, as juntas completamente vulcanizadas
são imersas em solução aquosa com 10% de óleo de silicone em
volume para lubrificação superficial, necessária para propiciar uma
condição adequada de deslizamento para a montagem do radiador,
mencionada no capítulo 2 deste trabalho. Após a imersão são
transportadas manualmente para uma grelha, que eliminará o excesso
da solução nas peças (Figura 3.7);
40
10. Embalagem e expedição (OP 8): com a ordem de fabricação atendida e
produto acabado de acordo com especificações do cliente, as juntas são
embaladas e expedidas para o cliente.
(a) (b)
Figura 3.7. Lubrificação: (a) tambor de aplicação da solução de silicone
e (b) componentes sobre a grelha para remoção de excesso
A etapa de pós-lubrificação atualmente em uso gera um custo adicional
na operação em função dos seguintes aspectos:
• utilização de água e óleo de silicone;
• utilização de mão-de-obra;
• transporte intermediário da junta em processo;
• descarte da solução contaminada por empresas especializadas;
• necessidade de limpeza freqüente das embalagens de transporte
devido ao acúmulo de silicone e poeira.
Outro problema verificado no processo atual é que as variações
climáticas (umidade e temperatura) fazem com que parte do silicone evapore
ao longo do tempo. Quando da aplicação da junta na montagem do radiador,
caso a quantidade de silicone na superfície da junta atinja níveis insuficientes,
torna-se necessário um retrabalho, com nova aplicação de silicone sobre as
juntas, num processo manual e com controle somente visual, o que acaba por
representar um custo adicional ao processo de montagem do radiador.
41
Além disso, o excesso deste silicone após o retrabalho também gera
custos adicionais a esse processo de montagem pelo aumento na freqüência
de parada de máquinas para limpeza, principalmente no teste de baixa
pressão, onde o vácuo arrasta para dentro do equipamento de teste o excesso
de lubrificante.
A evaporação do silicone, em maior ou menor grau durante as estações
do ano, leva ainda os fornecedores da junta a utilizarem, permanentemente,
uma grande quantidade de silicone em solução durante todo o ano, como
forma de garantir a qualidade do produto. Esta situação é observada desde
1998, quando definiu-se a necessidade de aplicação superficial de solução de
óleo de silicone a 5% em todas as juntas.
Devido a reincidências de condição de lubrificação insuficiente na
superfície da junta, particularmente em períodos específicos do ano onde
observa-se baixo teor de umidade (inferiores a 45%) e altas temperaturas
(acima de 25º C), elevou-se a concentração da solução para 10% em volume,
com conseqüente aumento de custo de fabricação do componente.
Esta esta ação reduziu os problemas da junta “seca”, porém gerou
novos modos de falha apareceram ao processo, como excesso de silicone e
embalagens contaminadas, dentre outros, e houve o já comentado aumento na
freqüência de manutenção de equipamentos.
3.4.2 Fluxo proposto: fabricação com aditivação
Aliando-se a necessidade de redução de custo de fabricação da junta
com os efeitos de retrabalho e variação na condição de lubrificação, observa-se
que a agregação de erucamida como aditivo de deslizamento ao EPDM na
operação de mistura dos componentes pode se tornar uma forma efetiva de se
obter redução de custos e melhoria na qualidade do componente, bem como
uma maior confiabilidade no processo de montagem dos radiadores.
42
A Figura 3.8 apresenta o diagrama modificado do processo de
fabricação da junta. A operação OP 7 (lubrificação) é eliminada, e o aditivo de
deslizamento (a erucamida) é adicionado ao composto durante a mistura (OP
3).
Com a modificação proposta, pretende-se obter as seguintes melhorias
no processo:
• redução no custo de fabricação do componente;
• eliminação da operação de lubrificação, com conseqüente
eliminação do uso do óleo de silicone e do posterior descarte
adequado da solução contaminada;
• redução na freqüência de limpeza das embalagens de produto final.
Em contrapartida, a adição da erucamida implica em um aumento de
custo na matéria-prima e numa uma operação adicional de controle de
recebimento e pesagem da erucamida no processo de recebimento e
composição. Além disso, haverá uma redução na contração do produto final, o
que fará com que os valores dimensionais tendam às tolerâncias máximas, o
que pode tornar necessária uma revisão dos parâmetros de injeção
(temperatura de injeção e tempo de resfriamento), bem como num reprojeto do
molde de injeção.
Por fim, será necessário que se realizem novos processos de validação
do composto (conforme normas do cliente), validação da junta para aplicação
seriada, e por fim um novo processo de validação do radiador com a nova
junta, de acordo com requisitos específicos de cada montadora.
43
Figura 3.8. Processo proposto de fabricação da junta em EPDM
com aditivo de deslizamento agregado ao composto
44
4 O PROCESSO
DE MONTAGEM
DE RADIADORES DE
TECNOLOGIA MECÂNICA
4.1. Linha de montagem
Os radiadores de tecnologia mecânica, como sua própria descrição
indica, são fabricados a partir da interferência mecânica entre aletas e tubos,
os quais são expandidos durante a transferência do coletor e junta à colméia,
pela ação de varetas inseridas no interior dos tubos.
Cada uma das oito células de montagem desse tipo de radiador da
empresa fabricante de radiadores onde esse estudo foi desenvolvido é disposta
em “U”, com dois operadores podendo atuar simultaneamente em uma mesma
célula (Figura 4.1). A configuração em “U” está atrelada ao conceito de
manufatura enxuta (“lean manufacturing”), evitando desperdícios com
movimentação desnecessária durante o processo produtivo. Além disso:
• o formato em “U” propicia um fluxo de produção de uma peça por
vez (“one-piece flow”), já que cada operador atua em uma única
45
peça por vez, evitando-se assim gargalos e auxiliando na
organização dos postos;
• cada operador executa a montagem de um radiador do início ao fim,
conhecendo assim todas as etapas do processo e modos de falha
associados;
• os operadores movimentam-se durante toda a jornada do trabalho,
evitando-se fadiga por permanência prolongada numa mesma
posição;
• propicia uma maior autonomia dos operadores na resolução de
problemas de montagem e de qualidade, capacitando-os à
proposição de melhorias, já que conhecem o processo completo de
montagem do radiador.
Figura 4.1. Célula de montagem em “U” de radiadores de tecnologia mecânica
4.2. O processo de montagem
A Figura 4.2 apresenta esquematicamente as seis operações do
processo de montagem de um radiador de tecnologia mecânica:
1. montagem manual da junta no coletor;
46
2. transferência dos conjuntos junta-coletor à colméia e expansão dos
tubos;
3. teste de estanqueidade de baixa pressão (vácuo);
4. cravação das caixas laterais;
5. teste de estanqueidade de alta pressão;
6. embalagem do produto acabado
Figura 4.2. Processo de montagem do radiador de tecnologia mecânica
4.2.1. Montagem manual da junta no coletor
Esta é a primeira operação na célula de montagem. Consiste em
encaixar manualmente todas as golas das juntas nos furos do coletor,
resultando em um conjunto que será utilizado na operação seguinte de
transferência à colméia e expansão dos tubos (Figura 4.3).
Nesta operação, o operador retira uma junta e um coletor das
embalagens dispostas à sua frente e alinha manualmente as golas da junta aos
furos do coletor. A seguir o operador posiciona as duas peças sobre um berço
de aço e pressiona uma contra a outra, de forma que as golas fiquem
encaixadas e a superfície da junta fique em contato com a superfície do coletor.
47
A lubrificação das juntas tem um efeito direto no encaixe das golas nos
furos dos coletores. Quanto menor a lubrificação, maior será o esforço do
operador, o que acarreta em aumento do tempo de ciclo produtivo, retrabalho e
fadiga do operador. Além da lubrificação, a dureza das juntas é outro fator que
influencia essa operação, sendo esta dureza controlada em todas as etapas de
fabricação da junta e no processo de recebimento no fabricante do radiador.
(a) (b) (c)
Figura 4.3. Operação de montagem manual da junta no coletor:
(a) alinhamento entre os componentes; (b) pressão manual para encaixe das
golas nos furos do coletor; (c) vista do conjunto montado
4.2.2. Transferência dos conjuntos junta-coletor à colméia e
expansão dos tubos
Nesta etapa duas unidades do subconjunto da operação anterior são
posicionados manualmente nos berços superior e inferior da prensa de
transferência, permanecendo nos locais por interferência entre a extremidade
dos pinos de expansão e a borracha da junta. Uma colméia é posicionada no
centro da prensa, de forma que os tubos encontram-se separados porém
concêntricos às golas das juntas, como mostrado na Figura 4.4.
48
A prensa de transferência é acionada e um conjunto de hastes
localizadas na parte superior da prensa avança pelo interior dos tubos,
expandindo-os e fixando-os por interferência nas aletas, coletores e juntas,
formando assim um novo conjunto mostrado na Figura 4.5.
Figura 4.4. Prensa de transferência do subconjunto junta-coletor à colméia e
expansão dos tubos (no detalhe, colméia com os tubos ainda não expandidos)
Figura 4.5. Conjunto junta-coletor-colméia após a operação de transferência,
com os tubos expandidos e as extremidades rebordeadas
49
A Figura 4.6 mostra o operador inserindo o conjunto junta-coletor no
berço superior da prensa de transferência. Nesta operação de alimentação da
prensa o operador deve garantir que, após inseridas nos berços, a peças
permaneçam fixas e paralelas. Pode-se observar que existem dois problemas
ergonômicos nessa etapa: abdução dos braços e esforço sobre-ombros (cf.
Marchese & Piancastelli, 2002) na colocação do coletor e junta na berço
superior da prensa, o qual também apresenta relação direta com a dureza e
lubrificação da junta, sendo o principal responsável por afastamentos por
distúrbios ósteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) e por lesões de
esforço repetitivo (LER) nas linhas de produção do radiador mecânico.
Figura 4.6. Operador inserindo o conjunto junta-coletor ao berço superior
4.2.3. Teste de estanqueidade a baixa pressão (vácuo)
Após a transferência das juntas-coletores às extremidades da colméia e
expansão dos tubos, é realizado um teste de estanqueidade a baixa pressão,
que tem por objetivo detectar irregularidades nas interfaces entre tubos, golas
das juntas e coletores causadas pela operação de transferência e expansão. O
dispositivo de teste fecha as extremidades do radiador semi-acabado por meio
50
do avanço de bocais retangulares em aço (Figura 4.7a), pressionados contra a
superfície da junta para garantir estanqueidade durante a operação (Figura
4.7b).
(a) (b)
Figura 4.7. Dispositivo de teste de baixa pressão:
(a) dispositivo livre; (b) radiador em teste
A falta da estanqueidade do radiador pode ocorrer tanto em condições
de alta quanto de baixa pressão, sendo portanto necessária a realização desse
teste para revelar falhas que ocorram somente nesta condição no veículo. Os
testes de estanqueidade a baixa e alta pressão equivalem respectivamente à
condição operacional de despressurização e pressurização do sistema de
arrefecimento. Na despressurização, as interfaces sofrem pressão externa,
devendo o conjunto resistir à entrada de ar no sistema, enquanto que na
pressurização o conjunto deve evitar vazamento de fluido. Na maioria dos
veículos de passeio, a tampa valvulada do bocal de alimentação de água do
sistema fechado atua nas duas condições, equalizando a pressão.
51
A operação de transferência e expansão é a mais crítica da montagem,
e por isso o teste de baixa pressão detecta mais peças não-conformes na linha
que o teste de alta pressão. As não-conformidades que levam às rejeições nos
testes de baixa e alta são apresentadas posteriormente nesse capítulo.
4.2.4. Cravação das caixas laterais
Após o teste de baixa pressão do radiador semi-acabado, as peças
aprovadas seguem para outra prensa, que fará a cravação do par de caixas
plásticas de fechamento do radiador ao conjunto juntas-coletores-colméia.
A prensa (Figura 4.8) atua sobre o conjunto e cunhas dobram os dentes
dos coletores em 90º sobre as caixas, que ficam permanentemente
pressionadas contra as juntas de borracha, fornecendo assim estanqueidade
ao conjunto final. Variações na altura dos dentes dos coletores, variação no
avanço das cunhas e da altura das juntas são os principais fatores para peças
não-conformes detectadas no teste de alta pressão (Figura 4.9).
4.2.5. Teste de estanqueidade a alta pressão
Após a cravação das caixas, o radiador passa pelo teste de
estanqueidade a alta pressão para verificar se o processo de cravação foi feito
de forma correta. O dispositivo de teste (Figura 4.10b) veda o bocal de saída e
pressuriza gradualmente o radiador pelo bocal de entrada, seguindo uma curva
de enchimento pré-definida no controlador lógico programável do dispositivo
(Figura 4.10a) até uma pressão de 3,0 bar. O radiador é considerado aprovado
no teste se a perda de pressão for inferior a 0,02 bar após 30 segundos de
teste. Como comentado anteriormente, a quantidade de peças rejeitadas nesse
teste é normalmente menor que no teste de baixa pressão.
52
Figura 4.8. Prensa de cravação das caixas do radiador
(a) (b)
Figura 4.9. Operação de cravação: (a) radiador semi-acababado, sem
cravação das caixas laterais (dentes do coletor perpendiculares à junta);
(b) radiador com a caixa cravada (dentes dobrados a 90º sobre a caixa)
53
(a) (b)
Figura 4.10. Teste de estanqueidade a alta pressão
4.2.6. Embalagem do produto acabado
O radiador acabado, testado e aprovado recebe uma etiqueta com
código de barras com as informações básicas do produto (número de
referência, cliente, rastreabilidade). Os radiadores podem ser enviados para o
cliente final, ou ainda para uma outra linha de montagem, que incorporará o
radiador a um módulo de arrefecimento composto por um eletro-ventilador,
defletor de ar, reservatório de expansão, condensador (para veículos com ar-
condicionado), comutador de velocidades e chicote elétrico.
O cliente final pode ser tanto a montadora, que utilizará o radiador (ou o
módulo) em sua linha de fabricação ou os exportará em conjuntos CKD
(“completely knocked down”), ou ainda a divisão do fabricante de radiadores
responsável pelo mercado de reposição, que fará a distribuição às
concessionárias e ao varejo.
54
Quando seguem para clientes, os produtos são acondicionados em
embalagens retornáveis do tipo aramado metálico. Já para o mercado de
reposição, as embalagens são de papelão do tipo “one-way”.
Apesar de não ser objeto desse trabalho, é importante destacar que o
estudo adequado das embalagens para transporte é fundamental para que o
produto chegue de forma adequada seu destino final, sem deformações ou
danos que comprometam seu desempenho e confiabilidade. Por exemplo,
Veiga (2005) discute o projeto e avaliação do desempenho das embalagens no
transporte marítimo de conjuntos CKD.
4.3. Modos de falha na montagem de radiadores de tecnologia
mecânica
Os principais modos de falha que ocorrem na montagem de radiadores
de tecnologia mecânica, caracterizados por uma rejeição em um dos testes de
estanqueidade (alta pressão e vácuo) são listados a seguir, classificados em
função da causa a qual eles podem ser associados:
• falhas associadas a dimensões ou propriedades do material;
− variações dimensionais dos componentes de interface, tais como
diâmetro das golas das juntas, diâmetro do tubos, diâmetro
interno dos furos e altura dos dentes do coletor;
− variação dimensional no comprimento dos tubos;
− variação na dureza dos tubos e rompimento durante a expansão
das extremidades;
− juntas com falha de injeção;
• falhas associadas ao processo de transferência e expansão;
− rebarbas nas extremidades dos tubos;
− variações no processo de expansão dos tubos, durante a
transferência do coletor mais junta na colméia;
− juntas com golas cortadas;
55
− contaminação por cavacos de alumínio e agentes externos;
• falhas associadas à condição de lubrificação da junta
− juntas levantadas;
− juntas ensacadas.
A seguir alguns dos modos de falha listados são apresentados em
detalhe, particularmente os associados à condição de lubrificação da junta.
4.3.1. Junta cortada
O modo de falha por junta cortada é caracterizado por um corte,
geralmente na região da gola, tendo como efeito a falta de estanqueidade do
conjunto, tanto nos testes a baixa como a alta pressão (Figura 4.11). A
ocorrência deste defeito na junta deve-se, principalmente, ao seu processo de
fabricação, quando da utilização da fustela (dispositivo de corte para remoção
de rebarbas no interior da junta). Quando a junta não é devidamente
posicionada na matriz de corte, as golas ficam fora de posição e sofrem corte
indevido pelo punção.
Figura 4.11. Junta cortada
56
Outra causa para essa falha é a presença de rebarba nas extremidades
dos tubos, originadas de um corte de baixa qualidade após a trefilação. As
rebarbas riscam ou cortam as golas quando o tubo é inserido através delas,
também acarretando na perda de estanqueidade.
4.3.2. Variação dimensional / geométrica dos tubos
Quando os tubos de alumínio apresentam variações dimensionais e
geométricas além das tolerâncias especificadas ocorre uma grande incidência
de defeitos no processo de montagem do radiador, como mostrado na Figura
4.12. São exemplos comuns destas variações: comprimento total do tubo maior
ou menor que o especificado, diâmetro interno incorreto, ovalização das
extremidades (nas regiões de corte).
Figura 4.12. Falhas no processo de montagem do radiador: à esquerda, tubo
maior; à direita, tubo menor.
57
4.3.3. Junta levantada
A lubrificação insuficiente das juntas aumenta a força de atrito em todas
as interfaces, notadamente na passagem dos tubos durante a etapa de
transferência e expansão. Esse aumento do atrito tende a desencostar a junta
do coletor, e quanto menor a lubrificação maior será este efeito.
Em situações extremas, parte da junta é completamente desencostada
do coletor, ficando a base da gola na região de rebordeamento, o que acarreta
em perda de estanqueidade do produto e rejeição, sem possibilidade de
retrabalho.
Esse modo de falha é denominado “junta levantada”, e é caracterizado
por ondulações percebidas visualmente na junta após a transferência, e
quando a base das golas permanecem sobre a região de rebordeamento, como
mostrado na Figura 4.13. Esse modo de falha, associado à condição de
lubrificação da junta, é o principal responsável pelos rejeitos de linha.
Figura 4.13. Junta levantada
58
4.3.4. Junta ensacada
Nesse modo de falha, a falta de lubrificação faz com que o atrito na
transferência seja tal que a gola acabe dobrando sobre si própria, e dessa
forma o material da gola não envolve todo o perímetro do tubo e do coletor
onde faz contato, como mostrado na Figura 4.14. Essa falha é detectada
imediatamente no teste de estanqueidade em baixa pressão.
Figura 4.14. Junta ensacada
4.3.5. Retrabalho das juntas
O retrabalho na lubrificação das juntas, notadamente observado nos
meses de maio a julho devido à baixa umidade relativa do ar, ocorre quando é
observado pelo operador do posto de montagem do radiador dificuldade na
transferência manual da junta ao coletor e deste subconjunto aos berços da
59
prensa de transferência e expansão. Durante essa operação manual, o
operador verifica que é necessário um esforço maior para que todas as golas
sejam inseridas nos furos dos coletores. Da mesma forma, o operador sente
um aumento dos esforços na abdução dos braços e sobre-ombros durante o
posicionamento da junta/coletor na prensa de transferência, principalmente no
berço superior.
Além desse critério subjetivo, quando são observadas mais de 3
reprovações consecutivas nos testes de estanqueidade, procede-se
imediatamente a uma análise das peças não-conformes. Caso seja verificada a
ocorrência de modos de falha por junta levantada ou ensacada, é disparado um
processo de retrabalho (lubrificação manual) das juntas, realizado numa
estação de trabalho mostrada na Figura 4.15. Além disso, o departamento da
qualidade de fornecedores é acionado para tratativas junto ao fornecedor para
substituição do lote não–conforme.
É importante ressaltar que, apesar do aspecto quantitativo associado ao
número de ocorrências, a detecção da falta ou insuficiência de lubrificação é
feita primordialmente de maneira subjetiva, a partir do conhecimento empírico
dos operadores mais antigos, sem a utilização de um fator quantificável e
lógico para controle e verificação da efetiva condição de lubrificação.
Figura 4.15. Célula para retrabalho de juntas com lubrificação insuficiente.
60
4.4 Histórico de qualidade e índices de rejeito da junta pós-
lubrificada
A Figura 4.16 apresenta os históricos de produção dos radiadores de
tecnologia mecânica nos anos de 2006 e 2007, enquanto que a Figura 4.17 e a
Figura 4.18 apresentam respectivamente os índices de reprovação (em partes
por milhão) e os custos associados a essas reprovações para os mesmos
períodos.
A partir desses dados, levantados para radiadores produzidos com as
juntas fabricadas pelo fluxo atual descrito no capítulo 3 (com eventual
retrabalho de lubrificação quando necessário), verifica-se que em média 0,4%
dos radiadores produzidos são reprovados nos testes de estanqueidade (alta
pressão e vácuo). As peças reprovadas no teste de estanqueidade são
enviadas para área de retrabalho/análise, para localização do ponto com
problema de vazamento.
Figura 4.16. Produção mensal de radiadores de tecnologia mecânica
61
Figura 4.17. Índice de mensal de ocorrência de falhas nas linhas de montagem
de radiadores de tecnologia mecânica
Figura 4.18. Custos mensais médios associados às falhas ocorridas
62
Os históricos de reprovações anteriores a 2008 não apontam qual das
causas citadas anteriormente foi responsável pela falha. Assim, do estudo dos
dados de produção e ocorrência de falhas das 8 células de montagem de
radiadores de tecnologia mecânica no período considerado, não foi possível
avaliar objetivamente a quantidade de não-conformidades associadas a juntas
com lubrificação insuficiente.
Contudo, é possível verificar na Figura 4.17 que entre os meses de maio
a julho ocorreu um aumento em 0,2 ponto percentual na quantidade média de
rejeitos dos radiadores produzidos nas mesmas linhas de produção, com a
média mensal de ocorrências subindo para 0,6%. O período do ano em
questão é aquele que apresenta baixos índices de umidade relativa do ar (entre
20 e 48% em média para a região de Itatiba-SP, conforme dados do INPE), e é
o período de maior incidência de reclamações sobre lubrificação insuficiente
dos componentes junto aos fornecedores de juntas. Além disso, a Figura 4.17
mostra que os menores índices de falhas ocorrem nos meses mais úmidos do
ano (outubro a fevereiro).
Assim, para efeito de análise considera-se que esse aumento de 0,2%
na quantidade de rejeitos está associado à questão de lubrificação da junta, e
esse valor será utilizado para uma comparação quantitativa da melhoria obtida
com a modificação proposta no processo de fabricação das juntas de vedação.
Para tanto, os testes com as juntas auto-lubrificadas foram realizados e
concluídos durante o mês de maio de 2008, para que as condições de contorno
fossem equivalentes (época do ano e meios de produção, entre outros).
63
5. INTRODUÇÃO DE
JUNTA AUTO-LUBRIFICADA NA
PRODUÇÃO DE RADIADORES DE
TECNOLOGIA MECÂNICA
Conforme destacado anteriormente, os objetivos do presente trabalho
são o desenvolvimento de uma junta auto-lubrificada, sua introdução no
processo produtivo de um fabricante nacional de radiadores de tecnologia
mecânica, e a definição de um parâmetro quantitativo para avaliação da
condição de lubrificação da junta. O presente capítulo apresenta os principais
resultados desse processo.
5.1. Fluxograma de desenvolvimento
O fluxograma da Figura 5.1 apresenta as atividades de desenvolvimento
da junta auto-lubrificada, desde a validação do composto até a aprovação final
pelos clientes do fabricante de radiadores. Serão apresentados neste trabalho
os resultados das seguintes etapas (destacadas na Figura 5.1), que são
consideradas críticas para o desenvolvimento da aplicação proposta:
64
1. validação do composto pela matriz do fabricante do radiador;
4. validação dimensional;
5. validação do processo de fabricação do radiador com a junta proposta;
11. estudo do comportamento migratório do aditivo de deslizamento na
junta.
As demais etapas do fluxograma são procedimentos padronizados do
fabricante de radiadores para o lançamento de novos produtos.
Figura 5.1. Fluxograma do processo de introdução da junta auto-lubrificada na
produção de radiadores de tecnologia mecânica.
5.2. Validação do composto da junta
Após o trabalho de acompanhamentos do desenvolvedores/fabricantes
da junta durante o processo de formulação do novo composto e avaliação dos
65
dados preliminares da migração do aditivo de deslizamento, o processo de
desenvolvimento iniciou-se com a validação desse novo composto para
utilização na fabricação de juntas de radiadores de tecnologia mecânica. Para
tanto, corpos de prova foram produzidos com a nova matéria-prima para testes
preliminares internos pelos desenvolvedores e pelo cliente (fabricante dos
radiadores no Brasil).
A seguir o material foi enviado para testes de validação na matriz do
fabricante de radiadores, localizada na França, responsável pela pré-validação
de todas as matérias-primas e compostos utilizados pelas diversas unidades da
divisão no mundo. Como o composto utilizado nesse desenvolvimento é
inovador e afeta a 100% dos clientes da divisão do Brasil, a aprovação pelo
laboratório físico-químico da matriz é requisito para a continuidade do projeto.
A pré-validação (assim chamada por que os resultados dizem respeito
somente ao composto) ocorre em corpos de prova produzidos pelo fabricante
da junta, enviados à matriz juntamente com resultados dos testes preliminares
realizados no Brasil e em laboratório acreditado dos desenvolvedores (também
localizado na França). De posse de todos estes dados, a matriz repete os
ensaios e realiza um estudo comparativo entre os dados do fornecedor, do
laboratório acreditado e de seus próprios testes.
Estando esses três relatórios conformes com as preconizações da
norma do fabricante de radiador, e não existindo discrepâncias significativas
entre os resultados dos três laboratórios, a pré-validação é considerada
positiva e a etapa encerrada.
Essa etapa do desenvolvimento foi realizada para três diferentes
desenvolvedores. Dois desses desenvolvedores não obtiveram sucesso na pré-
validação do composto, sendo reprovados em testes após envelhecimento,
feitos na matriz do fabricante de radiadores. Como nenhum dos dois
reapresentou amostras melhoradas para teste, eles foram eliminados do
processo, permanecendo apenas um fornecedor no desenvolvimento do item.
A Tabela 5.1 apresenta os requisitos a serem atendidos pelo composto,
segundo norma específica do fabricante de radiador. Os requisitos de
resistividade transversal e densidade de corrente entre o alumínio e a borracha
66
não foram verificados pois foram incluídos numa revisão da norma realizada
posteriormente ao envio das amostras para os testes na França, e por isso
foram derrogados de comum acordo. Além disso, na pré-validação não se
avaliou o comportamento migratório do aditivo de deslizamento.
A Tabela 5.1 apresenta os seguintes resultados dos testes físico-
químicos:
• composto auto-lubrificado testado pelo fornecedor da junta no Brasil
(coluna “Auto-lub. Brasil”);
• material pós-lubrificado (uso corrente) testado pelo fornecedor da
junta no Brasil (coluna “Pós-lub. Brasil”);
• composto auto-lubrificado testado pela matriz do fabricante do
radiador na França (coluna “Auto-lub. Verrière”);
• composto auto-lubrificado testado pelo fabricante da junta na França
(coluna “Auto-lub. Gamaches”).
Os valores da Tabela 5.1, referentes ao composto auto-lubrificado
apresentado pelo terceiro desenvolvedor indicaram a conformidade em todos
os requisitos prescritos pela norma do fabricante de radiador. Além disso, em
alguns aspectos o desempenho do composto auto-lubrificado foi superior ao do
composto atual pós-siliconado, demonstrando que o conceito do composto foi
desenvolvido com sucesso e o processo poderia seguir para a próxima etapa:
validação dimensional da junta com o composto proposto.
68
5.3 Validação dimensional das juntas
A próxima etapa do processo de introdução das juntas auto-lubrificadas
no processo produtivo analisada nesse trabalho foi a validação dimensional das
juntas produzidas a partir do composto de EPDM com o aditivo de
deslizamento aprovado. Para a viabilização comercial deste projeto deverão
ser substituídos 06 modelos de juntas utilizadas na fabricação de radiadores de
tecnologia mecânica, representando 80% do volume total de juntas compradas
pela divisão no Brasil, e que por isso serão considerados para o cálculo da
redução de custo.
Para realização da validação dimensional foi inicialmente selecionado
um desses modelos (referenciado por junta “A”) em função da criticidade de
sua montagem, uma vez que, por ser a junta de maior comprimento e número
de golas, era a que apresentava o maior número de não-conformidades
associadas à condição de lubrificação inadequada. Além disso, essa é também
a junta de maior utilização, com uma previsão de consumo de 544.000
unidades em 2008.
Os resultados da validação dimensional indicaram que a introdução do
aditivo de deslizamento reduziu a contração dessa junta após a injeção. Para a
referência “A” observou-se que o respectivo molde de injeção apresentava o
comprimento total das cavidades na máxima tolerância de projeto. Este fator
combinado com o efeito da redução na contração da peça pelo acréscimo do
aditivo resultou em juntas com uma variação (aumento) no comprimento total
de mais de 2,0 mm, acima do valor máximo especificado.
Segundo o fornecedor, foram feitas tentativas de ajustar os parâmetros
de processo de injeção para compensar este efeito, que contudo mostraram-se
infrutíferas, o que acabou por inviabilizar a realização das etapas posteriores,
particularmente os testes de montagem, com a junta “A”. Contudo, as
informações acerca do comportamento do novo composto durante a injeção
ficaram registrados pelo fornecedor, e serão orientativos para construção de
novos moldes no futuro.
69
Assim, como alternativa para continuidade do processo, foram
realizados estudos de validação dimensional para a junta “B”, a de segundo
maior volume de utilização (consumo previsto de 361.000 unidades para 2008),
porém de comprimento e número de golas menor (40 furos e comprimento total
de 367,7 mm contra 44 furos e comprimento total de 404,7 mm da junta “A”).
O relatório de validação dimensional da junta auto-lubrificada de
referência “B” , realizado em uma peça por cavidade do molde de injeção,
mostra conformidade com as cotas do desenho. Além disso, essas dimensões
foram comparadas aos resultados dimensionais da junta pós-lubrificada de uso
corrente, sem discrepâncias relevantes.
Assim, o composto e a junta auto-lubrificada de referência “B” foram
considerados validados, tanto pelo fornecedor da junta quanto pelo fabricante
do radiador, em termos físico-químicos e dimensionais. Além disso, foi mantido
inalterado o tempo de ciclo de produção da junta em todos os processos do
fluxo de fabricação (exceto a pós-lubrificação, eliminada com a melhoria), o que
permitiu a manutenção do custo dos processos iniciais, não havendo
necessidade de revisão de preços devido a compensações com aumento de
ciclos.
5.4 Validação do processo de fabricação do radiador
Uma vez efetuada a validação dimensional, o fornecedor da junta
produziu um lote inicial de trezentos e quinze pares de juntas da referência “B”
(produzidos a partir de um molde de injeção com 8 cavidades), que foram
utilizados para as duas etapas seguintes do processo (teste de montagem de
radiadores e levantamento das forças de inserção). Como o desempenho
(lubrificação) das juntas melhora com o tempo pela migração do lubrificante na
superfície (como evidenciado em estudos preliminares realizados pelo
fornecedor da junta), o lote utilizado para o teste de montagem foi produzido no
dia anterior ao da montagem, para que o aditivo estivesse em seu estágio
70
inicial de migração e a característica de lubrificação da junta fosse a menor
possível (e conseqüentemente mais crítica para ocorrência de falhas
associadas a essa característica).
Assim, para essa etapa do processo um aspecto importante foi a
coordenação da logística do fabricante do radiador com a do fornecedor de
junta, pois uma vez que a condição da junta recém-produzida era requisito para
a validação não poderia haver atrasos de entrega e de início de produção dos
radiadores. Além disso, as seguintes condições de contorno foram
estabelecidas e cumpridas para garantir o comparativo entre juntas auto e pós-
lubrificadas:
• as juntas auto e pós-lubrificadas utilizadas para a produção total da
ordem de fabricação (OF) deveriam ser obrigatoriamente do mesmo
fornecedor, lote e molde de injeção pois, devido ao “split” do
fornecimento de juntas contemplado no sistema de MRP da
empresa, a junta de referência “B” pós-lubrificada poderia ser
fornecida por três fornecedores distintos;
• os lotes dos demais componentes utilizados na fabricação do
radiador não poderiam ser substituídos até o término da OF, para
evitar variações dimensionais nesses outros componentes;
• a variação de dureza “shore” A entre lotes de juntas auto e pós-
lubrificadas não poderia ser superior a 5%, mesmo que os valores
estivessem dentro da especificação de projeto, pois variações acima
desse limite poderiam facilitar ou dificultar algumas das operações
manuais da linha de montagem;
• os operadores da célula de montagem deveriam apresentar um
tempo de experiência superior a 2 anos na montagem;
• no mínimo 90% da ordem de fabricação (OF) deveriam ser
concluídos pelo turno inicial, contemplando ambos os tipos de
juntas;
71
• no caso da ocorrência de eventos não previstos ou rupturas, o
processo de validação de montagem deveria ser abortado e
reprogramado.
A Tabela 5.2 apresenta os parâmetros da Jornada de Plena Cadência
(JPC) de validação de montagem em série do radiador, sendo que do total de
680 radiadores produzidos, 300 utilizaram juntas auto-lubrificadas.
Tabela 5.2. Parâmetros do teste de montagem com a junta auto-lubrificada.
As principais observações realizadas durante o teste de montagem
foram:
• Operação de transferência manual da junta ao coletor (OP 01)
− Os dois operadores afirmaram que a utilização da junta auto-
lubrificada facilitou a transferência ao coletor. Para confirmar
essa percepção de ambos, durante a validação de montagem
algumas juntas pós-lubrificadas foram reinseridas ao processo,
sem conhecimento deles, para efeito de teste. Essas juntas
72
foram imediatamente identificadas, durante a operação, como
estando mais difíceis para inserção. Imediatamente após a
constatação, as juntas pós-lubrificadas "cobaias" eram
descartadas. Ao total, 10 unidades pós-lubrificadas foram
inseridas à montagem, sendo todas identificadas pelos
operadores.
− A dureza das juntas auto e pós-lubrificadas foi verificada para
eliminar este fator como sendo responsável pela maior facilidade
da inserção da junta no coletor. Foram verificadas três amostras
de cada tipo, e para todas encontrou-se um valor de dureza de
62 shore A.
• Operação de transferência e expansão da colméia ao subconjunto
junta/coletor (OP 02)
− Nesta operação os operadores sentiram uma maior dificuldade
no posicionamento da junta/coletor aos berços da prensa de
transferência, principalmente no berço superior, para os
subconjuntos montados com a junta auto-lubrificada (Figura 5.2).
Essa dificuldade estava associada ao incremento do esforço
manual no posicionamento, principalmente pelo esforço sobre-
ombros. Apesar do maior esforço, contudo, nenhuma não-
conformidade foi observada durante a montagem.
73
Figura 5.2. Posicionamento do subconjunto junta/coletor
na prensa de transferência
− A fim de minimizar o problema ergonômico, foi proposto ao
supervisor de linha a confecção de 2 jogos de varões (o jogo de
varões superior é indicado pelas setas da figura 5.3, que
realizam a expansão até a metade do comprimento dos tubos
através do diâmetro secundário, assim como o jogo de varões
inferior, que complementa a expansão da metade inferior), com
as extremidades das pontas com alívio de massa (diâmetro
primário), para reduzir a força de atrito, apresentado na figura
5.4. Como estas pontas têm por função somente a retenção do
conjunto junta/coletor durante a transferência, não sendo o
responsável pela expansão dos tubos, o alívio de massa não
teria qualquer conseqüência na expansão dos tubos. A figura
5.3, além de apresentar os varões em detalhe, evidencia na
montagem do radiador um problema de qualidade devido a um
tubo maior (circulado na figura), originado da falha de
posicionamento durante o corte após a operação de trefilação.
74
Figura 5.3. Detalhe do varão superior de encaixe do subconjunto
junta/coletor na prensa de transferência
Figura 5.4. Proposta do varão com alívio de massa
• Teste de estanqueidade em baixa pressão (OP 03)
- Não foram observadas anomalias com as peças durante a
validação com a junta auto-lubrificada. Nenhuma peça foi
reprovada nesse teste e nenhuma junta apresentou indícios de
levantamento ou ensacamento na inspeção visual realizada
pelos operadores nos dois lados dos radiadores montados.
• Cravação dos coletores (OP 04)
- nesta operação não ocorreu nenhuma reprovação de peças para
as juntas auto-lubrificadas.
• Teste de estanqueidade em alta pressão (OP 05)
- nenhum dos 300 radiadores montados no processo de validação
foi reprovado no teste final de estanqueidade.
75
Após a conclusão da montagem dos trezentos radiadores com juntas
auto-lubrificadas, a célula de montagem continuou produzindo radiadores. Do
radiador 301 ao 680 daquela OF, o lote de juntas auto-lubrificadas foi
substituído por um lote de juntas pós-lubrificadas. Todos os lotes dos demais
componentes (colméias, coletores, caixas) permaneceram os mesmos, para
isolar-se quaisquer variações de material e dimensional oriunda da troca de
lote. Todos os postos de trabalho tiveram as superfícies de contato com o
lubrificante limpas com um pano embebido em álcool isopropílico. Todos os
parâmetros de processo e cadência foram mantidos iguais aos utilizados na
validação. Os dois operadores do turno analisado montaram 600 peças no
total, sendo 300 com junta auto-lubrificada e 300 com pós-lubrificada. O turno
seguinte, que encerrou a produção da OF de 680 unidades, não foi
acompanhado diretamente.
A Tabela 5. apresenta a comparação dos resultados dos testes de
estanqueidade para as diferentes juntas. Como mencionado anteriormente,
nenhum radiador montado com junta auto-lubrificada foi rejeitado nos testes de
estanqueidade. Já para as juntas pós-lubrificadas ocorreram quatro
reprovações. As peças reprovadas foram, na ordem da primeira à 680ª, as
peças de no. 388, 395, 471 e 635. Esse acompanhamento foi realizado com o
intuito de caracterizar que as peças falhadas foram independentes do turno e
dos operadores, não estando também relacionadas com a troca de lote da
junta.
Conclui-se assim que as falhas, ao ocorrerem no processo de fabricação
sob controle somente para o lote de juntas pós-lubrificadas, estão relacionadas
com a condição de lubrificação da junta, e que a auto-lubrificação da junta
melhora o processo de montagem do radiador.
76
Tabela 5.3. Resultados dos testes de estanqueidade durante a validação do
processo de fabricação do radiador
Tipo de junta Auto-lubrificada
(lote 1JT038B)
Pós-lubrificada
(lote 1JT038B)
Quantidade de radiadores
produzidos 300 380
Quantidade reprovada no
teste de baixa pressão 0 3
Quantidade reprovada no
teste de alta pressão 0 1
Total de reprovações 0 4
Falhas (PPM) 0 5882
5.5. Estudo do comportamento migratório do aditivo de
deslizamento da junta
A última etapa do processo de introdução de juntas auto-lubrificadas na
produção de radiadores de tecnologia mecânica, antes da aprovação final
pelos clientes (montadoras), foi o estudo quantitativo do comportamento
migratório do aditivo de deslizamento da junta. A importância dessa
quantificação na validação final da junta reside no fato de que esses
componentes possuem um tempo de produção, transporte e estoque. Na
situação atual de aquecimento do setor automotivo brasileiro e constante
crescimento no volume de produção de toda a cadeia, este espaço de tempo
tende a não superar 7 dias úteis no caso de itens para o mercado interno.
Como pode ser verificado no item anterior, a validação da utilização da
junta auto-lubrificada do processo de fabricação do radiador apresentou
77
resultados satisfatórios. Porém, baseando-se nos históricos de não-
conformidades da junta pós-lubrificada, seria um equívoco assumir-se o
processo de introdução encerrado a partir dos resultados obtidos com juntas
produzidas há apenas dois dias.
No caso da junta pós-lubrificada, quanto mais próxima a sua utilização
da data de produção, menor é a volatilização da solução de silicone superficial
e a conseqüente redução na condição de lubrificação. A orientação geral para
o prazo de utilização destas juntas é de até 15 dias a partir de sua produção,
pois após este período uma nova aplicação de lubrificação à superfície será
necessária antes do uso, principalmente nas épocas mais secas do ano. Já
para a junta auto-lubrificada, espera-se que ela apresente um comportamento
inverso, com a condição de lubrificação melhorando com o passar do tempo.
Assim, o objetivo principal do estudo de migração foi o de quantificar a
condição lubrificação da junta. Uma vez estabelecida uma curva de
comportamento da condição de lubrificação de junta em função do tempo de
fabricação, os valores obtidos poderão ser sugeridos à engenharia de produto
para preconização na especificação de lubrificação do componente,
estabelecendo-se assim um parâmetro de controle objetivo para avaliação da
qualidade do componente, tanto por parte do fabricante da junta, quanto na
inspeção de recebimento do fabricante de radiadores.
5.5.1. Metodologia adotada
Uma forma de avaliar a migração do aditivo erucamida no EPDM,
conforme sugerido por Wypych (2005), é a utilização de micro-espectroscopia
“synchroton” baseada em FTIR (“Fourier transform infrared”), que fornece a
concentração do aditivo na superfície do substrato com o passar do tempo.
Wypych (2005) indica que, para uma concentração de 0,2% de erucamida no
EPDM mantido a 30º C, são necessários cerca de 30 dias para que o aditivo
ocupe 100% da superfície do substrato.
78
Uma forma alternativa para avaliação da migração mais simples e
barata, e portanto com maior efeito prático para este trabalho, é a quantificação
da força de inserção de um punção no interior de uma a gola da junta. Além
disso, considerando-se a composição exata do composto desenvolvido pelo
fabricante da junta é segredo industrial, e que é possível com o tempo que
ocorra troca de fornecedores em função de critérios comerciais e/ou técnicos,
uma análise que seja desvinculada de informações sobre a porcentagem do
aditivo é importante para o fabricante dos radiadores, e o método de
quantificação da força de inserção atende a esse requisito, pois analisa
objetivamente uma característica da junta efetivamente fabricada, na forma a
ser utilizada na montagem dos radiadores.
Em função desses aspectos optou-se pelo desenvolvimento de um
dispositivo mecânico para medição da força de inserção de um punção na gola
da junta, a ser acoplado a uma máquina de compressão equipada com
dinamômetro eletrônico e sistema de gravação de pico, mostrada na Figura 5..
Para o presente estudo, em função das intensidades das forças envolvidas, foi
utilizada uma célula de carga do tipo “strain gage” com fundo de escala de 1,0
[kN] e resolução de 0,01 [N].
Figura 5.5. Máquina de compressão e célula de carga
79
A Figura 5. apresenta o dispositivo mecânico, composto de punção,
porta matriz e matriz confeccionados em aço carbono temperado. O diâmetro
do punção foi fixado em 7,03 mm, que corresponde ao diâmetro externo
máximo de especificação do tubo de alumínio no momento da inserção. A
matriz apresenta uma geometria idêntica à da gola da junta, mostrada na
Figura 5., para que o alojamento seja adequado, não permitindo folgas ou
interferência no diâmetro interno das golas.
(b)
(a)
(c)
Figura 5.6. Dispositivo mecânico para quantificação da força de inserção:
(a) conjunto montado; (b) porta-matriz e matriz; (c) porta-punção e punção.
Figura 5.7. Corte da junta (em preto) alojada à matriz (em azul),
mostrando o ajuste das geometrias.
80
5.5.2 Resultados obtidos
Para o levantamento dos dados experimentais, foram utilizadas 30
juntas do mesmo lote utilizado para a validação do processo de montagem.
Essas juntas foram selecionadas de forma a que correspondesse sempre à
mesma cavidade do molde de injeção, a fim de eliminar variações decorrentes
de diferenças dimensionais relacionadas às cavidades do molde.
As juntas selecionadas foram identificadas de 01 a 30 e foram testadas
seqüencialmente, uma por dia, a partir do segundo dia após a fabricação da
junta. Assim, cada junta testada possuía um dia de fabricação a mais que a
amostra anterior. Desta forma, a primeira junta testada tinha 2 dias de
fabricação, a segunda junta 3 dias, e assim sucessivamente até a 30ª junta,
com 32 dias de fabricação. A primeira junta testada, particularmente,
apresentava uma maior relevância para o estudo, pois o resultado obtido para
ela indicava a condição das juntas utilizadas na validação de montagem.
Dessa forma, considerando que a validação da montagem foi
satisfatória, uma vez que não ocorreram falhas nos testes de estanqueidade,
foi possível concluir que o composto da junta, na formulação proposta pelo
fabricante, atende aos requisitos de lubrificação e montabilidade da linha de
produção mesmo na pior condição de lubrificação superficial, e que o valor
obtido para a força de inserção dessa junta pode ser adotado como valor
preliminar máximo de especificação de desse parâmetro.
Figura 5.8. Desenho da junta de referência “B”, indicando a gola utilizada para
as medições da força de inserção em cada uma das amostras.
81
Realizou-se uma única medição da força de inserção por amostra,
sempre para a mesma gola, indicada na Figura 5., utilizando-se uma
velocidade de avanço do punção de 300 mm/min. A medição foi realizada
sempre no mesmo horário (14:00h), com tolerância de até 30 minutos, inclusive
nos finais de semana. Após cada medida, os componentes do dispositivo eram
limpos com pano seco e álcool etílico para remoção do lubrificante residual.
A Tabela 5.. apresenta os resultados obtidos nos testes realizados para
as juntas auto-lubrificadas, bem como os resultados de testes comparativos
obtidos para um lote de trinta juntas pós-lubrificadas, também do mesmo lote
utilizado na validação do processo de montagem dos radiadores. Já a Figura 5.
apresenta a evolução da força de inserção ao longo dos trinta dias de
realização dos testes.
Como podem ser verificado, os resultados dos testes confirmaram as
tendências de aumento da força de inserção para as juntas pós-lubrificadas e
de redução dessa força para as juntas auto-lubrificadas à medida que ocorre o
envelhecimento do lote de juntas.
Os valores obtidos para as três primeiras amostras da junta auto-
lubrificada, próximos entre si, e a repentina queda a partir da amostra 4 (da
ordem de 19% em relação à amostra 3) indicam que ocorreu a formação do
filme de múltiplas camadas do aditivo de deslizamento na superfície do
substrato, conforme apresentado por Wypych (2005), o que o que reduz a força
de atrito pois as moléculas de erucamida passam a mover-se entre si e não
mais com a superfície do EPDM.
Dessa forma, para as juntas auto-lubrificadas produzidas com o
composto utilizado no presente desenvolvimento, os 3 primeiros dias são
necessários para formação do filme multicamadas, e seria recomendável
aguardar esse período antes de utilizar-se essas juntas no processo produtivo.
Esse prazo é coincidente com o período mínimo para entrega de juntas pelo
fornecedor no fabricante de radiador após solicitação, representando a
condição logística mais crítica.
82
Tabela 5.4. Força de inserção para as juntas auto e pós-lubrificadas testadas
Tipo de Junta
Auto-lubrificada (lote 1JT038B)
Pós-lubrificada (lote 1JT038B)
Dia Amostra Força (N) Amostra Força (N)
01 A01 8,3 A01 4,0 02 A02 8,2 A02 4,1 03 A03 8,2 A03 4,1 04 A04 6,7 A04 3,9 05 A05 6,6 A05 4,2 06 A06 6,6 A06 4,6 07 A07 6,5 A07 4,8 08 A08 6,3 A08 5,4 09 A09 6,1 A09 5,7 10 A10 5,9 A10 6,3 11 A11 5,7 A11 6,9 12 A12 5,6 A12 7,3 13 A13 5,1 A13 7,8 14 A14 5,1 A14 8,5 15 A15 5,1 A15 8,7 16 A16 5,0 A16 9,6 17 A17 5,0 A17 10,7 18 A18 5,0 A18 10,9 19 A19 4,9 A19 11,1 20 A20 4,9 A20 11,5 21 A21 4,8 A21 11,3 22 A22 4,6 A22 12,0 23 A23 4,6 A23 11,7 24 A24 4,6 A24 11,8 25 A25 4,5 A25 12,0 26 A26 4,3 A26 11,9 27 A27 4,1 A27 12,6 28 A28 4,0 A28 12,9 29 A29 4,0 A29 13,1 30 A30 3,9 A30 13,6
83
Figura 5.9. Evolução da força de inserção para as juntas auto e pós-lubrificada
ao longo do período de testes.
Ainda em relação à tendência de evolução da força de inserção para as
juntas auto e pós-lubrificadas, verifica-se que a partir da quarta amostra a
redução da força de inserção para a junta auto-lubrificada apresenta um
comportamento linear, enquanto que a junta pós-lubrificada apresenta uma
tendência de aumento linear até o décimo quinto dia, e a partir dessa data as
variações passam a serem aleatórias, provavelmente ligadas à condição
climática no dia do teste. As curvas de evolução da força de inserção se
cruzam por volta do nono dia de envelhecimento, situação em que as juntas
pós e auto-lubrificadas apresentam valores similares de força de inserção.
Os valores de força de inserção medidos para as amostras 27 a 30 das
juntas auto-lubrificadas podem indicar uma saturação da superfície do material
pelo aditivo lubrificante. Para essas amostras foi verificada uma redução de
apenas 5% (0,2 N) na força de inserção nos últimos quatro dias de teste.
Devido ao planejamento do projeto, que não se estendeu além dos 30
dias sugeridos, não foi possível confirmar essa tendência, ficando assim a
sugestão de estender esse período em desenvolvimentos futuros.
Por fim, os resultados quantitativos obtidos para a junta pós-lubrificada
são consistentes com valores empíricos adotados pelo fabricante dos
84
radiadores. Por exemplo, o prazo sugerido para utilização de um lote de juntas
pós-lubrificadas era de até 15 dias após sua data de fabricação. Analisando-se
as curvas de evolução, verifica-se que a força de inserção para as juntas pós-
lubrificadas nessa condição (8,7 N), aproxima-se dos valores máximos
(condição crítica) encontrados para as primeiras amostras da junta auto-
lubrificada (8,2 a 8,3 N). Isso ainda reforça a consideração de um valor de força
nessa faixa como parâmetro quantitativo para aceitação das juntas no processo
de fabricação do fornecedor e/ou no recebimento pelo fabricante de radiadores.
5.6. Avaliação do impacto econômico da introdução da junta
auto-lubrificada
A introdução da junta auto-lubrificada no processo de fabricação de
radiadores de tecnologia mecânica proporciona redução de diversos custos do
processo, além de uma potencial redução dos números de rejeitos de linha
como demonstrado anteriormente. A primeira redução é direta, pois está
associada à redução do preço do componente (junta) comprado, conforme
discutido no Capítulo 3. Além disso, é ainda esperada uma redução dos
retornos de radiadores em garantia por perda de estanqueidade do conjunto,
cuja evolução só poderá ser observada após 12 meses do início da utilização
da junta auto-lubrificada em linha.
Um outro aspecto importante é a redução dos impactos ambientais de
toda a cadeia de suprimento, a saber:
• redução nos descartes de solução de silicone utilizada pelo
fabricante da junta;
• redução de descarte de material contaminado e embalagens de
retrabalho no fabricante do radiador.
Concluindo a análise desenvolvida no presente trabalho, procedeu-se a
uma avaliação preliminar do potencial de redução dos custos diretos de
85
fabricação e custos por rejeição das peças em linha. Esse potencial foi avaliado
em base anualizada, considerando o volume de compras dos diversos modelos
de junta (seis referências de juntas, que representam 80% do volume total de
compras), bem como que a redução dos custos de não-qualidade será avaliada
com base na eliminação do aumento de 0,2% na quantidade de rejeitos nos
meses mais secos do ano, o qual foi associado à questão de lubrificação da
junta, conforme discutido no item 4.4.
Em função dos problemas verificados durante etapa de validação
dimensional da junta, considerou-se como custo de implementação do novo
processo a confecção de novos ferramentais (seis novos moldes, um para cada
modelo de junta utilizada; esses moldes tipicamente apresentam uma vida útil
de 5 anos, com intervenções inferiores a 15% do valor de uma nova ferramenta
no período para manutenção).
Não foram considerados os custos associados a variações no custo de
matéria-prima, ferramental, custos de depreciação de equipamentos e de
variações nos volumes de produção, pois são similares àqueles que ocorreriam
para o processo convencional atualmente em uso. Além disso, em um primeiro
momento essa análise não considerou os custos de desenvolvimento de
aplicação para cada referência de junta, dos testes de validação e do processo
de homologação das novas juntas junto aos clientes, pois são variáveis e
calculados de acordo com requisitos específicos de cada cliente, estimados em
até 1% do valor da redução encontrada para cada referência de radiador
envolvida. Nem todos os clientes possuem preconizações para o sistema de
arrefecimento, permanecendo, nestes casos, os parâmetros do fabricante do
radiador como referência.
A Tabela 5.3 apresenta os principais resultados da avaliação realizada.
Para cada uma das referências de junta consideradas (A a F) é apresentado o
volume percentual de compra (dentro do pacote de 80% do volume total de
compras) de cada referência de junta para o ano de 2008, juntamente com o
“split” de fornecimento de cada um dos três fornecedores. O custo atual da
junta pós-lubrificada e o custo previsto para a nova junta auto-lubrificada são
86
apresentados em termos relativos devido à confidencialidade comercial
imposta pelo fabricante do radiador.
São também apresentados os potenciais de redução dos custos diretos
e os investimentos em ferramental necessários para implementação da nova
junta. É importante frisar que nesse último aspecto a análise é conservativa,
pois infere, a partir dos problemas verificados na validação dimensional da
junta “A”, que todos os seis moldes atualmente em uso deverão ser
substituídos. Este investimento poderá ser reduzido se a validação das juntas
“C” a “F” indicar que os respectivos moldes atuais podem produzir juntas com o
composto auto-lubrificado mantendo as condições dimensionais e geométricas
da peça após injeção, como ocorreu inicialmente para a junta “B”.
A Figura 5. apresenta o potencial de redução dos custos diretos em
termos percentuais para cada uma das referências de junta consideradas, e a
Figura 5. apresenta o fluxo de caixa do processo de introdução do uso da junta
auto-lubrificada, considerando o período de vida útil de 05 anos para cada
ferramenta e os volumes de utilização previstos para 2008.
A partir dos valores apresentados, verifica-se que a previsão de redução
anual é da ordem de R$ 538.000,00, com um investimento inicial de R$
434.000,00 em ferramental no primeiro ano (06 moldes de injeção, um para
cada uma das seis referências de junta). Dessa forma, considerando “payback”
simples, o prazo de retorno de investimento é da ordem de 10 meses. É
importante destacar também que a maior parte da redução prevista é devida à
redução nos custos da junta propriamente dita. A redução do índice de rejeito
de linha da montagem do radiador representa financeiramente 6,4% da
redução de custo total.
Esses resultados econômicos, aliados aos demais aspectos técnicos
expostos ao longo do trabalho, reforçam a viabilidade da introdução da junta
auto-lubrificada no processo de produção de radiadores de tecnologia
mecânica do fabricante de radiadores.
87
A B C D E F
Tabela 5.3. Tabela comparativa das principais juntas e redução de gastos
Referência de Junta
Volume de utilização para 2008
(%)
Custo atual
Custo previsto
Potencial de
Redução (mil R$)
Investimento em
ferramental (mil R$)
A 23,90 1,0000 0,8780 70 35,00
B 22,72 1,0000 0,6429 192 127,00
C 21,47 1,0000 0,9524 41 35,00
D 18,79 1,0000 0,8288 96 55,00
E 10,41 1,0000 0,6792 108 127,00
F 2,72 1,0000 0,7447 31 55,00
Totais 100 1,0000 0,8071 538 434
Figura 5.10. Potencial de redução por referência de junta
com a utilização do composto auto-lubrificado
88
Figura 5.11. Fluxo de caixa com o uso da junta auto-lubrificada, para vida útil
de 05 anos para cada ferramenta, conforme volume previsto para 2008
89
6 CONCLUSÕES E
RECOMENDAÇÕES
Este trabalho apresentou o processo de desenvolvimento, validação e
introdução de juntas em EPDM auto-lubrificadas na fabricação de radiadores
de tecnologia mecânica para veículos de passeio. O composto da junta
recebeu em sua formulação um aditivo de deslizamento à base de erucamida,
capaz de migrar através do EPDM até a superfície da junta e criar uma camada
lubrificante, de maneira a proporcionar a lubrificação adequada e necessária
durante a introdução dos tubos de alumínio na montagem do radiador.
A lubrificação adequada da junta é, essencial para redução da força de
atrito na passagem dos tubos no interior de suas golas. Uma lubrificação
insuficiente pode ocasionar deformações permanentes durante a montagem
dos radiadores de tecnologia mecânica que levam à perda de estanqueidade,
com refugos de linha e potenciais retornos de peças de campo.
As juntas pós-lubrificadas atualmente em uso pelo fabricante de
radiadores apresentam um comportamento lubrificante decrescente com o
passar do tempo por conta da evaporação da solução de silicone aplicada em
sua superfície no processo de fabricação. Quanto menor a umidade do ar e
maior a temperatura, este efeito é mais sentido pela linha de fabricação do
radiador. Nessas condições climáticas os operadores observam dificuldades no
processo de montagem, levando-os a retrabalhar a junta com silicone para
recuperar parte da sua característica de lubrificação.
90
Além disso, foi verificado que nos meses de abril a agosto, quando a
umidade relativa do ar apresenta os menores níveis durante o ano, que o
índice de rejeito das linhas de radiadores mecânicos por vazamento é maior,
sendo a maior parte desses rejeitos causados por não-conformidades
associadas à lubrificação insuficiente da junta e dificuldade de montagem na
linha. Esses aspectos, conforme apontado no Capítulo 1 do presente trabalho,
motivaram o desenvolvimento de uma junta auto-lubrificada como forma de
reduzir os problemas apontados
O capítulo 2 apresentou aspectos do funcionamento de um sistema de
arrefecimento fechado, convencional, utilizando amplamente em veículos de
passeio com propulsores até 1.600 cc. Dentre os diversos componentes do
sistema de arrefecimento, destacou-se o radiador de tecnologia mecânica, foco
do trabalho, e se detalhou o seu conceito de montagem e partes principais.
Este capítulo forneceu ao leitor uma base teórica para entendimento das
interfaces de montagem e função da junta, visando facilitar o entendimento dos
ganhos obtidos com a introdução de uma tecnologia auto-lubrificante na
fabricação da junta.
Esse componente do radiador, e os aspectos relevantes da sua
tecnologia de fabricação, particularmente a aditivação com amida e seu efeito
migratório na superfície foram apresentados no capítulo 3. Esse capítulo
destaca os aspectos teóricos do fenômeno migratório do aditivo de
deslizamento através do EPDM em direção da superfície, conforme relatado
por Wypych (2005).
O capítulo 3 apresenta também o processo corrente de fabricação da
junta pós-lubrificada e as alterações propostas visando a fabricação de uma
junta auto-lubrificada, demonstrando os ganhos a serem obtidos nas etapas da
produção da junta. Ao final do capítulo comenta-se sobre o critério subjetivo
atualmente utilizado para detectar não-conformidades na lubrificação das
juntas, e as dificuldades de controle associadas à falta de um padrão
quantitativo para essa avaliação.
O capítulo 4 descreve as diversas operações que compõem o processo
de montagem do radiador de tecnologia mecânica, indicando em quais delas a
91
lubrificação da junta é relevante e os efeitos sentidos na linha pela ausência ou
insuficiência da mesma. O histórico dos rejeitos de linha quantifica a relevância
desta característica da junta, detalhando-se os principais mecanismos de falha,
causas-raiz associadas e seus efeitos para o produto. Retrabalhos de
lubrificação da junta são possíveis, porém oneram o fabricante do radiador com
um processo adicional e perda de cadência de produção.
O capítulo 5 descreve as etapas do desenvolvimento e aplicação da
junta em produção seriada, desde o processo de desenvolvimento do
composto em parceria com o fornecedor da junta até a validação na linha de
montagem de radiadores.
Nesse desenvolvimento, uma etapa importante foi a realização de uma
jornada de plena cadência para validação do uso da junta com a nova
tecnologia na linha de produção seriada do radiador, comparando-se
resultados de desempenho da nova junta com a junta pós-lubrificada
atualmente em uso. Produziu-se um lote de 680 radiadores, dos quais
trezentos com as novas juntas e os restantes com a junta atual. Nenhum dos
radiadores produzidos com a junta auto-lubrificada apresentaram problemas de
vazamento, enquanto que houve 4 reprovações nos testes de estanqueidade
em unidades produzidas junta pós-lubrificada. É importante destacar que os
680 radiadores foram produzidos seqüencialmente, sem troca de lote dos
demais componentes utilizados. Foram tomados cuidados adicionais durante a
montagem para isolar causas especiais do processo.
O capítulo 5 apresenta ainda os resultados do estudo realizado para
quantificar a lubrificação superficial das juntas por meio da força de inserção de
um punção no interior das golas, simulando-se assim a interface real de
montagem. Esta avaliação ocorreu durante um período de 30 dias. A cada dia
uma amostra de um lote de juntas auto e pós-lubrificadas era testada, sempre
no mesmo ponto da junta. Essas juntas foram todas produzidas em um mesmo
dia, de forma que a cada teste as amostras testadas eram um dia mais velhas.
Os valores para força de inserção da junta caíram de 8,3 para 3,9 N no
decorrer de 30 dias, comprovando o efeito migratório do aditivo de
deslizamento no EPDM sugerido por Wypych (2005). Nos 3 primeiros dias,
92
observou-se estagnação dos valores de força de inserção, devido à formação
das múltiplas camadas do aditivo na superfície da junta, levando à uma queda
dos valores a partir do momento que o lubrificante passasse a deslizar entre si
e não entre si e o EPDM.
Já para a junta pós-lubrificada, observa-se que os valores força de
inserção sobem de 4 para 13,6 N. A partir do 14º dia de fabricação da junta, o
qual considerado a partir da experiência acumulada como limite máximo para
utilização das juntas em estoque sem retrabalho de lubrificação, verifica-se que
a força de atrito permanece aumentando, impossibilitando sua utilização no
processo de fabricação sem o retrabalho.
Um resultado importante a ser destacado é que, na comparação com os
valores da força de inserção para a junta pós-lubrificada, verificou-se que o
valor dessa força para a auto-lubrificada no primeiro dia (pior condição de
lubrificação para essa junta) equivale àquele do 14º dia da junta pós-
lubrificada. É importante destacar também que mesmo na condição de maior
valor de força de inserção (1º dia após a fabricação), a montagem do lote de
radiadores ocorreu sem rejeitos de linha, e assim essa força de inserção pode
ser preconizada como limite máximo de especificação para controle na
liberação do lote no início da montagem dos radiadores.
Com a utilização da junta de EPDM com composto auto-lubrificado em
substituição ao pós-lubrificado, estimou-se uma redução de custos anual da
ordem de R$ 538.000,00, suficientes para amortizar os investimentos em novos
ferramentais da ordem de R$ 434.000,00 que poderão ser necessários,
particularmente para as juntas de maior volume de produção. Em termos de
qualidade do produto , espera-se manter o índice de rejeitos dos testes de
estanqueidade de linha estáveis no decorrer do ano, eliminando-se os
aumentos de nos níveis de rejeição observados nos meses mais secos do ano.
Além disso, o MTBF da linha de montagem deverá ser reduzido pelo fato das
juntas trabalharem sem o excesso de lubrificante superficial, e espera-se que
ocorra uma redução nos retornos em garantia de radiadores por perda de
estanqueidade.
93
Desta forma, é possível verificar a junta auto-lubrificada proposta neste
trabalho apresenta-se conforme para utilização em série, com perecibilidade
(perda da lubrificação) aceitável durante os 30 dias de fabricação avaliados
neste estudo. Além da avaliação da redução do custo na fabricação do radiador
e melhoria do processo, o trabalho fornece dados para preconização objetiva
de valores para controle da lubrificação da junta. Esses valores podem ser
incorporados ao desenho de produto, ao plano de controle de produção da
junta e de recebimento do fabricante do radiador, bem como no controle para
liberação do lote de juntas pouco antes da utilização da produção, eliminando-
se o critério subjetivo atualmente em uso.
A experiência adquirida ao longo do desenvolvimento do presente
trabalho permite indicar como recomendações para futuros trabalhos de
pesquisa e desenvolvimento:
• um estudo mais aprofundado da migração do aditivo de
deslizamento até a superfície do EPDM em temperaturas mais altas,
uma vez que a presente avaliação foi realizada em ambiente com
temperatura e umidade controladas;
• uma extensão do período de observação da força de inserção da
junta, para constatação do prazo de saturação do lubrificante na
superfície e de eventual perda futura da lubrificação, visando a
determinação do tempo máximo de estocagem (perecibilidade) da
junta auto-lubrificada;
• a realização de um estudo de MSA (“measurement system
analysis”), para o dispositivo de verificação de força de inserção
proposto, para quantificar as variações do sistema de medição
(linearidade, tendência, repetitividade, reprodutibilidade);
• a reavaliação do MTBF da linha de montagem, particularmente dos
equipamentos de teste de estanqueidade da linha, em função da
eliminação do excesso de lubrificante na superfície da junta;
• o estudo do efeito do diâmetro das golas na força de inserção;
94
• realização de medições da força de inserção em mais de uma gola
da junta para avaliação da dispersão dos valores encontrados entre
golas da mesma junta e as mesmas golas de juntas distintas;
• o acompanhamento dos retornos de garantia de campo, de
radiadores com a junta auto-lubrificada, estabelecendo-se assim
uma nova correlação de confiabilidade do radiador.
95
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