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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DE RIBEIRÃO PRETO
Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões múltiplas
A/O/A em etapa única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico
derivado do óleo de rícino
Jacqueline Moreira de Morais
Ribeirão Preto
2008
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS DE RIBEIRÃO PRETO
Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões múltiplas
A/O/A em etapa única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico
derivado do óleo de rícino
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas para obtenção do título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração: Medicamentos e Cosméticos.
Orientada: Jacqueline Moreira de Morais Orientador: Prof. Dr. Pedro A. Rocha Filho
Ribeirão Preto
2008
“AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO OU PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE - O AUTOR”
FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central do Campus Administrativo
de Ribeirão Preto – USP
MORAIS, Jacqueline Moreira Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões múltiplas
A/O/A em etapa única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico derivado do óleo de rícino. Ribeirão Preto, 2008.
231 p. : il. ; 30cm
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, USP
Área de Concentração: Medicamentos e Cosméticos Orientador: ROCHA-FILHO, Pedro Alves
1. emulsão múltipla. 2. nanoemulsão. 3. emulsificação em etapa única. 4
óleo de canola. 5. tensoativo não iônico derivado do óleo de rícino. 6. fenômenos de superfície. 7. inversão de fases.
Folha de Aprovação
Jacqueline Moreira de Morais
Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões múltiplas A/O/A em etapa
única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico derivado do óleo de rícino
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas para obtenção do título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração: Medicamentos e Cosméticos. Orientador: Prof. Dr. Pedro Alves da Rocha-Filho
Aprovada em: ____/____/____
Banca Examinadora Prof. (a) Dr. (a):________________________________________________________
Instituição:____________________________Assinatura:_______________________
Prof. (a) Dr. (a):________________________________________________________
Instituição:____________________________Assinatura:_______________________
Prof. (a) Dr. (a):________________________________________________________
Instituição:____________________________Assinatura:_______________________
Prof. (a) Dr. (a):________________________________________________________
Instituição:____________________________Assinatura:_______________________
Prof. (a) Dr. (a):________________________________________________________
Instituição:____________________________Assinatura:_______________________
Trabalho realizado no Departamento de
Ciências Farmacêuticas da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, Laboratório de
Tecnologia de Cosméticos.
Apoio Financeiro
Capes
“Daqui a alguns anos você estará mais
arrependido pelas coisas que não fez do que
pelas que fez. Então solte as amarras.
Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento
em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra.”
Mark Twain
Dedico este trabalho aos meus pais, Idair e
Norma, que com estímulo, apoio moral e
financeiro, dedicação e abnegação me
impulsionaram a seguir em frente, sempre.
Agradecimentos
À Deus, que através de sua imensa misericórdia e amor me permitiu chegar até aqui.
Ao Prof. Dr. Pedro Alves da Rocha-Filho pela orientação, dedicação e humanidade com as
quais divide seus conhecimentos, sempre abrindo as portas ao diálogo e a busca pelo bem
comum.
À Profa. Dra. Diane J. Burgess, uma mãe escocesa em terras norte-americanas. Que além de
ciência, me ensinou o valor da amizade e da humildade diante de extraordinárias conquistas
profissionais.
Ao meu namorado, Rodrigo, que com amor e abnegação, apoiou incondicionalmente cada uma
das minhas decisões, me incentivando nos momentos de desânimo.
Às minhas irmãs, Sabrina e Eveline Rachel que nunca duvidaram do meu potencial, muitas
vezes acreditando em mim em momentos em que eu mesma duvidava.
Aos amigos e colegas de laboratório Bárbara, Bianca, Cínthia, Daniela, Fernanda, Gabriela,
Gilsane, Kauê, Maria Fernanda, Mateus, Mônica, Orlando, Raquel, Samara e Tatiani por
dividir conhecimento e amizade, ciência e futilidades, lágrimas e risos, sem dúvida, novos
irmãos para toda uma vida.
Aos amigos e colegas do laboratório Interfacial Phenomena e Dissolution da University of
Connecticut, Archana, Charu, Ellen, Jeremy, Mamta, Tuncer, Upkar e Xiaoming pela acolhida
calorosa, cobertor certeiro para suportar o frio da Nova Inglaterra.
Às minhas irmãs de coração, Adriane, Ana Cristina, Fernanda e Luciana, que dividindo as
saudades de casa, as dificuldades do dia a dia me ensinaram que família vai muito além de laços
de sangue.
Aos meus amigos Flávio, Fábio, Cláudia Adriane, Cristiane, Claudinha, Rafaela, Viviane, Ana
Paula, Alexandre, Ivar, Silvana, Denise e Warley pelo apoio e companheirismo.
À Profa. Dra. Juliana Maldonado Marchetti pelas valiosas contribuições durante o exame de
qualificação.
Ao Prof. Dr. Osvaldo de Freitas pela disponibilização de equipamento para caracterização
microscópica de sistemas dispersos.
Aos funcionários e amigos da FCFRP pelo suporte e apoio. Em especial aos funcionários
Eduardo Bortolin, José Maria, Cenzi, Seu Antônio e Toninho pela pronta ajuda durante o
desenvolvimento deste trabalho.
À funcionária Izabel Cristina pela disponibilidade em me auxiliar com as medidas de
Espectrofotometria no Infra-Vermelho.
À Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo pela
oportunidade de fazer parte de um centro de excelência e referência.
À School of Pharmacy da University of Connecticut pelo apoio incondincional à minha
pesquisa, suportes financeiro e intelectual.
À Coordenação de Apoio de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela concessão de bolsa de
doutorado e doutorado sanduíche, viabilizando minha dedicação exclusiva a esta pesquisa.
Meus sinceros agradecimentos!
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................................... i
ABSTRACT ................................................................................................................................... ii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... iii
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. vi
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1
2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................ 5
2.1. Emulsões ................................................................................................................................................ 6
2.2. Caracterização Físico-Química de Emulsões ......................................................................................... 8
2.2.1. Tensão Superficial/Interfacial ............................................................................................................. 8
2.2.2. Reologia ............................................................................................................................................ 11
2.2.2.1. Reologia de Fluxo ou Não-linear (Volume) ................................................................................... 12
2.2.2.2. Reologia Oscilatória/Dinâmica ou Linear (Superfície) .................................................................. 13
2.2.3. Isotermas de Langmuir ...................................................................................................................... 16
2.3. Estabilidade Físico-Química de Emulsões ........................................................................................... 18
2.4. Emulsificação - Processos de Inversão de Fases .................................................................................. 24
2.5. Nanoemulsões ...................................................................................................................................... 30
2.6. Emulsões múltiplas............................................................................................................................... 32
2.6.1. Definição .......................................................................................................................................... 32
2.6.2. Aplicações ......................................................................................................................................... 33
2.6.3. Estabilidade ...................................................................................................................................... 35
2.6.4. Mecanismos de Liberação ................................................................................................................. 39
2.6.5. Métodos de Obtenção ........................................................................................................................ 42
3. OBJETIVOS ............................................................................................................................ 45
4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 47
4.1. Material ................................................................................................................................................ 48
4.1.1. Fase oleosa. ....................................................................................................................................... 48
4.1.2. Tensoativos. ....................................................................................................................................... 48
4.1.3. Fase aquosa. ...................................................................................................................................... 50
4.1.4. Aditivos. ............................................................................................................................................ 51
4.2. Métodos. ............................................................................................................................................... 53
4.2.1. Preparo da Emulsão Simples O/A ..................................................................................................... 53
4.2.2. Caracterização Físico-Química da Emulsão Simples O/A ................................................................ 53
4.2.2.1. Determinação do Valor de pH ........................................................................................................ 53
4.2.2.2. Determinação da Temperatura de Inversão de Fases ..................................................................... 54
4.2.2.3. Influência da Adição de Tensoativos e Eletrólitos à Emulsão Simples.......................................... 54
4.2.2.4. Determinação do Potencial Zeta e Distribuição Granulométrica ................................................... 54
4.2.3. Teste de Estabilidade da Emulsão Simples O/A ............................................................................... 55
4.2.3.1. Teste Preliminar de Estabilidade .................................................................................................... 55
4.2.3.1.1. Estresse Térmico ......................................................................................................................... 55
4.2.3.1.2. Centrifugação .............................................................................................................................. 54
4.2.4. Testes de Estabilidade Acelerada ...................................................................................................... 56
4.3. Preparo da Emulsão Múltipla A/O/A ................................................................................................... 56
4.3.1. Análise de Variáveis da Composição dos Sistemas Múltiplos Propostos ......................................... 57
4.3.1.1. Influência da Temperatura .............................................................................................................. 57
4.3.1.1.1. Emulsificação a Frio .................................................................................................................... 57
4.3.1.1.2. Emulsificação com Aquecimento de Fases ................................................................................. 57
4.3.1.1.3. Emulsificação com Aquecimento de Fases e Resfriamento sob Temperatura Controlada ......... 58
4.3.1.2. Influência da Ordem de Adição das Fases Aquosa, Oleosa e dos Tensoativos .............................. 58
4.3.1.3. Influência da Velocidade e Tempo de Agitação ............................................................................. 58
4.3.2. Análise de Variáveis do Processo de Obtenção dos Sistemas Múltiplos Propostos .......................... 59
4.3.2.1. Influência do Emprego de Matérias-primas de Diferentes Fornecedores ...................................... 59
4.3.2.2. Influência do Tipo de Fase Oleosa ................................................................................................. 59
4.3.2.3. Influência de Diferentes Frações Volumétricas de Fase Aquosa para Razão Fixa
Óleo/Tensoativo .......................................................................................................................................... 60
4.3.2.4. Influência do Valor de EHL da Emulsão ....................................................................................... 60
4.3.2.5. Influência da Variação da Razão Fase Aquosa/Fase Oleosa para cada Valor de EHL .................. 61
4.3.2.6. Determinação da Região de Obtenção de Emulsões Múltiplas através do Diagrama Ternário
(Diagrama de Fases) ................................................................................................................................... 62
4.4. Mapa de Inversão de Fases ................................................................................................................... 65
4.5. Caracterização Físico-química dos Tensoativos Empregados para Obtenção do Sistema Múltiplo .... 65
4.5.1. Determinação do Ponto de Turvação (cloud point) ........................................................................... 65
4.5.2. Determinação da Tensão Superficial/Interfacial ............................................................................... 66
4.5.2.1. Método da Gota Pendente .............................................................................................................. 66
4.5.2.2. Método da Placa de Wilhelmy ....................................................................................................... 67
4.5.3. Determinação da Concentração Micelar Crítica (CMC) ................................................................... 68
4.5.4. Determinação da Reologia de Fluxo (Volume) ................................................................................. 68
4.5.5. Determinação da Reologia Dinâmica/Oscilatória (Superfície) ......................................................... 69
4.5.6. Isotermas de Langmuir ...................................................................................................................... 71
4.6. Caracterização Físico-química da Emulsão Múltipla A/O/A ............................................................... 72
4.6.1. Análise Macroscópica ....................................................................................................................... 72
4.6.2. Análise Microscópica ........................................................................................................................ 72
4.6.3. Quantificação e Distribuição Granulométrica ................................................................................... 72
4.6.4. Determinação do Valor do pH .......................................................................................................... 73
4.6.5. Determinação da Condutividade Elétrica .......................................................................................... 73
4.6.6. Determinação do Potencial Zeta ........................................................................................................ 73
4.6.7. Determinação da Viscosidade ........................................................................................................... 73
4.6.8. Influência da Adição de Polímeros e Sólidos Finamente Divididos ................................................. 74
4.6.9. Determinação do Perfil Reológico .................................................................................................... 74
4.6.10. Identificação de Grupos Funcionais de Moléculas dos Tensoativos na Fase Oleosa da Emulsão .. 74
4.7. Teste Preliminar de Estabilidade da Emulsão Múltipla A/O/A ............................................................ 75
4.8.Estudos Premilinares da Liberação do Ativo Modelo (Cafeína Anidra) in vitro .................................. 75
4.8.1. Sistema Cromatográfico .................................................................................................................... 75
4.8.2. Determinação do Coeficiente de Partição da Cafeína Anidra .......................................................... 76
4.8.3. Determinação da Porcentagem de Cafeína Anidra presente na Fase Dispersa da Emulsão Múltipla
A/O/A .......................................................................................................................................................... 77
4.8.4. Estudos de Liberação do Ativo Modelo (Cafeína) a partir das Emulsões Múltiplas A/O/A ............. 77
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 79
5.1. Caracterização Físico-química da Emulsão Simples ............................................................................ 80
5.1.1. Teste de Estabilidade da Emulsão Simples ....................................................................................... 81
5.1.2. Determinação da Temperatura de Inversão de Fases ........................................................................ 85
5.1.3. Avaliação da Influência da Adição de Eletrólitos (Sais e Tensoativos Ionizáveis) ......................... 86
5.2. Desenvolvimento da Emulsão Múltipla ............................................................................................... 94
5.2.1. Análise de Variações da Composição dos Sistemas Dispersos Propostos ........................................ 96
5.2.1.1. Influência da Temperatura no Processo de Obtenção da Emulsão Múltipla .................................. 96
5.2.1.2. Influência da Ordem de Adição dos Tensoativos e das Fases Aquosa e Oleosa ............................ 98
5.2.1.3. Influência da Velocidade e Tempo de Agitação ............................................................................. 99
5.2.2. Análise de Variações do Processo de Obtenção dos Sistemas Dispersos Propostos ....................... 100
5.2.2.1. Influência de Matérias-Primas de Diferentes Procedências ......................................................... 100
5.2.2.2. Influência de Diferentes Tipos de Fase Oleosa ............................................................................ 101
5.2.2.3. Influência de Diferentes Frações Volumétricas de Fase Aquosa em Razão Fixa entre Fase
Oleosa e Tensoativos (p/p) ........................................................................................................................ 102
5.2.2.4. Influência do Valor EHL da Emulsão (Screening do EHL) ......................................................... 103
5.2.2.5. Influência de Variações na Fração Volumétrica Fase Aquosa/Fase Oleosa para cada Valor de
EHL na Obtenção da Emulsão Múltipla .................................................................................................... 105
5.2.2.6. Aplicação do Diagrama Ternário na Otimização da Obtenção de Glóbulos Múltiplos ............... 113
5.3. Mapa de Inversão de Fases ................................................................................................................. 119
5.4. Caracterização Físico-química dos Tensoativos ................................................................................ 120
5.4.1. Determinação do Ponto de Turvação (cloud point) ......................................................................... 120
5.4.2. Determinação da Tensão Superficial/Interfacial ............................................................................. 121
5.4.3. Determinação da Concentração Micelar Crítica (CMC) ................................................................. 127
5.4.4. Determinação da Reologia de Fluxo (Volume) ............................................................................... 128
5.4.5. Determinação da Reologia Dinâmica/Oscilatória (Superfície) ....................................................... 130
5.4.6. Determinação das Isotermas de Langmuir ...................................................................................... 139
5.5. Caracterização Físico-química da Emulsão Múltipla A/O/A ............................................................. 142
5.5.1. Análise Macroscópica ..................................................................................................................... 142
5.5.2. Análise Microscópica ...................................................................................................................... 143
5.5.3. Quantificação e Distribuição Granulométrica ................................................................................. 148
5.5.4. Determinação dos Valores de pH e Condutividade Elétrica ........................................................... 151
5.5.5. Determinação dos Valores de Potencial Zeta .................................................................................. 151
5.5.6. Determinação da Viscosidade Relativa em Relação à Água ........................................................... 152
5.5.7. Influência da Adição de Polímeros e Sólidos Finamente Divididos ............................................... 153
5.5.8. Determinação do Perfil Reológico .................................................................................................. 156
5.5.9. Identificação de Grupos Funcionais de Moléculas dos Tensoativos na Fase Oleosa da Emulsão .. 158
5.6. Testes Preliminares de Estabilidade da Emulsão Múltipla A/O/A ..................................................... 159
5.7. Estudos Preliminares da Liberação do Ativo Modelo (Cafeína Anidra) a partir da Emulsão Múltipla
A/O/A ........................................................................................................................................................ 161
5.7.1. Sistema Cromatográfico .................................................................................................................. 161
5.7.2. Determinação do Coeficiente de Partição do Ativo Modelo. .......................................................... 162
5.7.3. Determinação da Porcentagem de Cafeína na fase Dispersa da Emulsão Múltipla A/O/A. ........... 163
5.7.4. Liberação do Ativo Modelo a partir da Emulsão Múltipla A/O/A .................................................. 164
5.8. Obtenção de emulsões múltiplas A/O/A em etapa única ................................................................... 165
6. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 171
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 175
8. APÊNDICES .......................................................................................................................... 195
i
RESUMO MORAIS, J. M. Desenvolvimento e avaliação do processo de obtenção de emulsões múltiplas A/O/A em etapa única empregando óleo de canola e tensoativo não iônico derivado do óleo de rícino. 2008. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2008. As emulsões múltiplas mostram-se como veículos promissores em várias áreas das ciências cosmética e farmacêutica. O estudo dos métodos de obtenção de emulsões múltiplas é necessário para elucidar seus aspectos físico-químicos, viabilizando sua aplicação tecnológica. O objetivo da pesquisa foi desenvolver e caracterizar os aspectos físico-químicos do processo de emulsificação em etapa única, das emulsões múltiplas A/O/A obtidas e dos tensoativos empregados. Testes preliminares de estabilidade e avaliação do seu perfil de liberação (cafeína) foram realizados. Nanoemulsões foram inicialmente obtidas pela metodologia proposta, resultado de processo de emulsificação por inversão de fases. Suas características físico-químicas foram determinadas (valores de pH, potencial zeta e granulometria) e a influência de aditivos avaliada. Para o desenvolvimento da emulsão múltipla foram realizadas análises qualitativas e quantitativas das variáveis relevantes à composição (tipo de fase oleosa, de tensoativo hidrofílico, valor de EHL, emprego de diagrama ternário) e ao método de emulsificação (temperatura de aquecimento das fases e de emulsificação, ordem de adição e velocidade de agitação). Os estudos das propriedades físico-químicas dos tensoativos e do filme interfacial formado (cloud point, tensão superficial, CMC, reologia interfacial, reologia de fluxo e isotermas de Langmuir) foram primordiais para compreensão dos fenômenos envolvidos e relevantes ao processo de emulsificação proposto. As emulsões múltiplas foram caracterizadas quanto aos aspectos macro e microscópico, granulometria, valores de pH, potencial zeta, viscosidade relativa, perfil reológico e influência da adição de macromoléculas. A temperatura de manipulação e de emulsificação (78±2⁰C) foram parâmetros fundamentais para obtenção destes sistemas em etapa única. Seus aspectos macro e microscópico foram extremamente dependentes da temperatura de emulsificação. Os resultados indicam glóbulos múltiplos consideravelmente menores do que os relatados pela literatura. Foi possível observar, no intervalo de temperatura considerado crítico para o processo, valores de tensão superficial/interfacial mínimos. Os resultados de elasticidade superficial sugerem que o comportamento das moléculas de tensoativos, em associação ou não, foi marcadamente influenciado pela temperatura e que o aumento do número de moléculas do tensoativo hidrofólico na superfície foi desfavorável as interações intramoleculares. A isoterma para os tensoativos em associação e em função da temperatura exibiu marcante inflexão para a faixa de temperatura crítica. Este comportamento indica uma dramática alteração na microestrutura do filme interfacial. O processo de encapsulação foi considerado eficiente. Os resultados obtidos indicam que, no atual estágio de desenvolvimento, não foi possível definir um perfil de liberação para a emulsão múltipla em análise. O método de emulsificação escolhido permitiu a obtenção de sistema múltiplo em etapa única, determinado pelas características físico-químicas dos tensoativos empregados, em especial do tensoativo hidrofílico derivado do óleo de rícino e do processo proposto. A formação de emulsões múltiplas anormais não ocasionais ou momentâneas sugere uma combinação dos processos de inversão de fases transicional, influência do emprego de tensoativos não-iônicos etoxilados, e catastrófica, influência da razão entre o volume da fase dispersa e dispersante. As emulsões múltiplas obtidas apresentaram difícil reprodutibilidade microestrutural; entretanto podem ser consideradas estáveis frente às metodologias de avaliação e análise empregadas. Palavras-chave: emulsão múltipla, nanoemulsão, emulsificação em etapa única, óleo de canola, tensoativo não iônico derivado do óleo de rícino, fenômenos de superfície, inversão de fases.
ii
SUMMARY MORAIS, J. M. Development and evaluation of the production process of multiple emulsions W/O/W by one step employing canola oil and derivative castor oil non ionic surfactant. 2008. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2008. Multiple emulsions are potential vehicles not only for the cosmetic science, but also for the pharmaceutical science. Study the manufacture process of multiple emulsions is a useful tool for understanding their physical-chemistry aspects and making their technological application practicable as well. The goals of this research were to development and characterize the physical chemistry features of the emulsification process by one step, the W/O/W multiple emulsions produced and the surfactants employed. Preliminary stability tests and evaluation of the release profile (caffeine) were carried out. Initially, nano-emulsions were produced by the proposed methodology, resulting from phase inversion emulsification process. Their physical chemistry aspects (pH and zeta potential values and size distribution) and electrolytes addition influence were evaluated. In order to develop the multiple emulsions, noteworthy qualitative and quantitative variables related to the composition (oil phase and hydrophilic surfactant types, HLB values, phase diagram) and to emulsification process (heating and emulsification temperatures, addition order and agitation speed) were analyzed. Analyses of the physical chemistry aspects of the surfactants in solution and their interfacial film (cloud point, surface tension, CMC, interfacial and flux rheology, and Langmuir isotherms) were essential in order to understand the phenomena related to proposed emulsification process. Multiple emulsion analyses (macroscopic, microscopic, size distribution, pH and zeta potential values, relative viscosity, rheological profile and macromolecule addition influence) were carried out. Production and emulsification temperatures (78±2⁰C) were fundamental parameters in order to obtain multiple droplets by one step. Their macro and microscopic aspects were completely conditioned by the emulsification temperature. The sizes of the multiple droplets obtained were significantly smaller than those reported in the literature. For the critical temperature range, the minimum surface tension values were reached. Surface elasticity results suggest that the behavior of the surfactant molecules, in association or not, was fundamentally influenced by the temperature. Increasing surfactant molecule moieties on the surface, the intra molecular interactions were misplaced. The Langmuir isotherm as a function of the temperature demonstrated distinctive behavior for the critical temperature range, where the transition phase into solid state and soon afterwards some collapse could be observed. This phenomenon indicated some dramatic alteration of the surface film microstructure. The encapsulation process was regarded as efficient. The release profile studies demonstrated that the dispersed system in analysis was not ready yet for this research stage. The proposed emulsification process was able to produce multiple droplets by one step; moreover this result presented direct influence of the surfactant physical chemistry features, particularly the hydrophilic one, castor oil derivate, and of the methodology employed. The abnormal, non-occasional and non-transitory, multiple emulsion formation suggest a combination of transitional (ethoxylated non ionic surfactant influence), and catastrophic (dispersed/dispersant ratio influence) phase inversion processes. The obtained multiple emulsions presents microstructure aspects were not easily reproducible; however those were regarded stable for the analysis methodology employed. Key-words: multiple emulsions, nano emulsions, one step emulsification, canola oil, derivative castor oil non ionic surfactant, surface phenomena, phase inversion.
iii
Lista de Figuras
Figura 1 - Desequilíbrio das forças de coesão de um líquido na superfície entre líquido e ar (HIEMENZ;
RAJAGOPALAN, 1997)............................................................................................................................... 9
Figura 2 - Mapa de transição de fases, fração volumétrica das fases aquosa e oleosa versus a diferença
de afinidade do par de tensoativos(BROOKS; RICHMOND, 1991; BROOKS; RICHMOND; ZERFA,
1998; SALAGER et al., 2000, 2004) .......................................................................................................... 29
Figura 3 - Morfologia dos glóbulos múltiplos, segundo Florence e Whitehill (1982) ............................... 33
Figura 4 - Estrutura molecular de Span80®
(www.sigmaaldrich.com/catalog/search/ProductDetail/SIGMA/S6760) .................................................... 48
Figura 5 - Estrutura molecular do óxido de etileno, para o CremophorRH40® n=40 (aproximadamente)
(MEYER; WAIDELICH; FRAHM, 2002 e CROY; KWON, 2005) .......................................................... 49
Figura 6 - Estrutura molecular do óleo de rícino (MEYER; WAIDELICH; FRAHM, 2002 e e CROY;
KWON, 2005) ............................................................................................................................................ 49
Figura 7 - Estrutura molecular do Triton X100®, n=9,5 (aproximadamente)
(www.sigmaaldrich.com/catalog/ProductDetail/SIAL/P1754) ................................................................... 50
Figura 8 - Estrutura molecular do Tween 80®, w+x+y+z=20
(www.sigmaaldrich.com/catalog/ProductDetail/SIAL/X100) .................................................................... 50
Figura 9 - Representação do diagrama ternário .......................................................................................... 62
Figura 10 - Esquema do método de medida de tensão superficial/interfacial utilizando a placa de
Wilhelmy ..................................................................................................................................................... 68
Figura 11 - Esquema do mecanismo de funcionamento do reômetro de superfície, empregando o
método do anel oscilatório de superfície (Camtel® Ltd., 2000) .................................................................. 70
Figura 12 - Resultados de valores de pH (a), potencial zeta em mV (b) e tamanho dos glóbulos em nm
(c) após o teste de estabilidade acelerada (média e desvio padrão, n = 3) .................................................. 85
Figura 13 - Resultados de potencial zeta (mV): (a) tensoativos, (b) sais/cátions (c) sais/anions nas
concentrações de 0,1, 0,5 e 1,0 % (exceto para o tensoativo anfotérico que foi usado também a 0,25%).
Resultados foram obtidos 48 horas após a adição (média e desvio padrão, n = 3) ..................................... 88
Figura 14 - Resultados de granulometria (nm): (a) tensoativos, (b) sais/cátions (c) sais/anions nas
concentrações de 0,1, 0,5 e 1,0 % (exceto para o tensoativo anfotérico que foi usado também a 0,25%).
Resultados foram obtidos 48 horas após a adição, (média e desvio padrão, n = 3) ................................... 93
Figura15 - Fotomicrografias das primeiras emulsões múltiplas obtidas. (a) aumento de 200X; (b)
aumento de 400X ........................................................................................................................................ 95
Figura 16 - Diagrama ternário com áreas especificadas de acordo com os aspectos macro e
microscópico dos sistemas dispersos obtidos. Glóbulos múltiplos foram formados no vértice inferior
esquerdo e região subjacente .................................................................................................................... 114
iv
Figura 17 - Mapa de inversão de fases (valores de EHL x razão volumétrica A/O) para amostras
analisadas microscopicamente imediatamente após (a) e 24 horas após o preparo (b) ............................ 119
Figura 18 - Curvas de tensão superficial ou tensão interfacial líquido-ar: (a) tensoativo hidrofílico
hidrogenado e etoxilado 40EO (CremophorRH400®) e (b) tensoativo hidrofílico não hidrogenado e
etoxilado 40EO (Surfom/UltroilR400®) ................................................................................................... 122
Figura 19 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola em função do aumento
da temperatura (em ⁰C) ............................................................................................................................. 123
Figura 20 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de Span80®
(concentração de 24,2p/p%) em função do aumento (1) e diminuição da temperatura (2) (em ⁰C) ......... 124
Figura 21 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de
CremophorRH40® (concentração de 25,8p/p%) em função do aumento (1) e diminuição da temperatura
(2) (em ⁰C) ................................................................................................................................................ 124
Figura 22 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) de solução aquosa de CremophorRH40®
em função do aumento da temperatura (em ⁰C), concentração 25,8p/p% ............................................... 125
Figura 23 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de Span80 e
CremophorRH40® (concentrações de 2,42 e 2,58p/p%, respectivamente) em função da temperatura
(em⁰C) ....................................................................................................................................................... 126
Figura 24 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) de óleo de canola acrescido de
CremophorRH 40 e Span80 (concentração de 25,8 e 24,2% p/p%, respectivamente) em função do
aumento da temperatura, aquecimento rápido (1) e aquecimento lento (2) .............................................. 126
Figura 25 - Curvas de concentração micelar crítica (CMC): (a) tensoativo hidrofílico hidrogenado e
etoxilado 40EO (CremophorRH400®) e (b) tensoativo hidrofílico não hidrogenado e etoxilado 40EO
(SurfomR400®) .......................................................................................................................................... 127
Figura 26 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de solução aquosa de CremophorRH40®
(concentração de 25,8p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C) .......................................... 129
Figura 27 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de CremophorRH40®
(concentração de 25,8p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C) ......................................... 129
Figura 28 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de Span80®
(concentração de 24,2p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C) .......................................... 130
Figura 29 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de CremophorRH40® e
Span80® (concentração de 25,8 e 24,2p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C) ................ 130
Figura 30 - Caracterização da elasticidade superficial (em mN/m) de soluções aquosas de
CremophorRH40® em função de diferentes concentrações (25±2⁰C) ...................................................... 135
Figura 31 - Caracterização da viscosidade dinâmica(em mN) de soluções aquosas de CremophorRH40®
em função de diferentes concentrações (25±2⁰C) ..................................................................................... 135
v
Figura 32 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5µm de
CremophorRH40®, Span80® e CremophorRH40® + Span80® em metanol (25±2⁰C) .............................. 140
Figura 33 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5µm de
CremophorRH40® + Span80®+Cafeína em metanol (25±2⁰C) ................................................................. 140
Figura 34 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5 µm de
CremophorRH 40® + Span80® em metanol em função da temperatura .................................................... 141
Figura 35 - Amostras 60, 66 e 70 do diagrama ternário analisadas após 24 horas, 7 e 30 dias do preparo.
Apenas as melhores resoluções foram selecionadas ................................................................................. 146
Figura 36 - Fotomicrografias de amostras 66 obtidas 24 horas após o preparo (1) (78±1⁰C) (TM = 2,48)
e (2) (79±1⁰C) (TM = 1,54). TM = tamanho médio em µm. Aumento de 400x ....................................... 147
Figura 37 - Distribuição granulométrica das amostras 60 (1), 66 (2) e 70 (3) em µm. Amostras
caracterizadas 24 horas após o preparo ..................................................................................................... 150
Figura 38 – Reograma (tensão de cisalhamento x taxa de cisalhamento) das amostras 60, 66 e 70
obtidas a partir do diagrama ternário. ........................................................................................................ 157
Figura 39 - Cromatograma da cafeína anidra (6,43 minutos). Condições cromatográficas: coluna
Symetric C8 (3,5µm), fase móvel: solução aquosa de acetato de sódio, acetonitrila e tetraidorfurano
(95,5:2,5:2,0), fluxo de 2,9mL/min, e comprimento de onda ajustado para 273nm ................................. 161
Figura 40 - Representação gráfica da curva de calibração da cafeína na faixa de concentração de 0 a
100µg/mL. Equação da reta: y=40,61-7,107. Coeficiente de correla;áo linear (r)=1,0), n=3 ................... 162
Figura 41 - Mapa de transição de fases (composição x diferença de afinidade do tensoativo DAT),
indicando onde ocorre a formação de emulsões normais, anormais e quando estão na região Winsor I e II
(BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al., 2000, 2004) .............................................. 168
vi
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Concentrações em % (p/p) dos componentes das formulações (1 a 11) e razão final ............... 60
Tabela 2 - Concentração em % (p/p) de tensoativo lipofílico e hidrofílico utilizado para obtenção do
EHL da emulsão .......................................................................................................................................... 61
Tabela 3 - Concentração em % (p/p) dos volumes das fases aquosa e fase oleosa para diferentes
sistemas dispersos obtidos ........................................................................................................................... 61
Tabela 4 - Concentrações dos componentes da emulsão para cada amostra .............................................. 63
Tabela 5 - Amostras preparadas para determinação da tensão superficial em função da temperatura ....... 67
Tabela 6 - Amostras preparadas para determinação do perfil reológico em função da temperatura .......... 69
Tabela 7 - Amostras preparadas para determinação da reologia superficial em função do tempo ............. 71
Tabela 8 - Amostras preparadas para determinação da reologia interfacial em função do tempo ............ 71
Tabela 9 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos antes e após o teste de
estresse térmico (média e desvio padrão, n = 3) .......................................................................................... 81
Tabela 10- Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos após o teste de
estabilidade acelerada (média e desvio padrão, n = 3) ................................................................................ 82
Tabela 11 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho de glóbulos para amostras sem
aditivos, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3) ............................................................... 86
Tabela 12 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos após adição de
tensoativos, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3) ......................................................... 87
Tabela 13 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanhos após adição de cátions, 48 horas
após o preparo (média e desvio padrão, n = 3) ............................................................................................ 88
Tabela 14 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanhos com adição de ânions, 48 horas
após o preparo (média e desvio padrão, n = 3) ............................................................................................ 89
Tabela 15 - Formulação base e/ou inicial escolhida para desenvolvimento da emulsão múltipla, valor de
EHL de 9,3 .................................................................................................................................................. 95
Tabela 16 - Razão final entre tensoativos (p/p), fase oleosa e fase aquosa e possível formação de
glóbulos múltiplos ..................................................................................................................................... 103
Tabela 17 - Análise macro e microscópica das amostras formuladas com diferentes valores de EHL .... 105
Tabela 18 - Formulações com valor de EHL 7,3; análise do aspecto macro e microscópico das amostras
logo após o preparo ................................................................................................................................... 107
Tabela 19 - Formulações com valor de EHL 7,3; análise do aspecto macro e microscópico das amostras
24 horas após o preparo ............................................................................................................................. 107
Tabela 20 - Formulações com valor de EHL 9,3; análise do aspecto macro e microscópico das amostras
logo após o preparo ................................................................................................................................... 108
vii
Tabela 21 - Formulações com valor de EHL 9,3; análise do aspecto macro e microscópico das amostras
24 horas após o preparo ............................................................................................................................. 108
Tabela 22 - Formulações com valor de EHL 10,2; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras logo após o preparo .................................................................................................................... 109
Tabela 23 - Formulações com valor de EHL 10,2; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 horas após o preparo .............................................................................................................. 109
Tabela 24 - Formulações com valor de EHL 10,4; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras logo após o preparo .................................................................................................................... 110
Tabela 25 - Formulações com valor de EHL 10,4; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 horas após o preparo .............................................................................................................. 110
Tabela 26 - Formulações com valor de EHL 11,6; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 logo após o preparo ............................................................................................................... 111
Tabela 27 - Formulações com valor de EHL 11,6; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 horas após o preparo .............................................................................................................. 111
Tabela 28 - Formulações com valor de EHL 12,7; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 logo após o preparo ............................................................................................................... 112
Tabela 29 - Formulações com valor de EHL 12,7; análise do aspecto macro e microscópico das
amostras 24 horas após o preparo .............................................................................................................. 112
Tabela 30 - Análise macro e microscópica das formulações 1 a 36 obtidas a partir do diagrama ternário,
logo após o preparo e 24 horas após o preparo ......................................................................................... 115
Tabela 31 - Análise macro e microscópica das formulações 37 a 70 obtidas a partir do diagrama
ternário, logo após o preparo e 24 horas após o preparo ........................................................................... 116
Tabela 32 - Análise macro e microscópica das formulações obtidas a partir do diagrama ternário, 30
dias após o preparo .................................................................................................................................... 118
Tabela 33 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola em
diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3........................................... 132
Tabela 34 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola
acrescido de Span80 (24,2p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio
padrão, n = 3 .............................................................................................................................................. 131
Tabela 35 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola
acrescido de CremophorRH40 (25,8p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e
desvio padrão, n = 3 .................................................................................................................................. 132
Tabela 36 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola
acrescido de Span80 e CremophorRH40 (24,2 e 25,8p/p%, respectivamente) em diferentes temperaturas,
em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3 .................................................................................. 133
viii
Tabela 37 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície da água acrescida de
CremophorRH40, TritonX 100 e Tween80 (25,8p/p%), em diferentes temperaturas, em função do
tempo. Média e desvio padrão, n = 3 ........................................................................................................ 136
Tabela 38 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola em
diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600
segundos .................................................................................................................................................... 137
Tabela 39 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola
acrescido de Span80 (24,2p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos
(média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos ................................................................................ 138
Tabela 40 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola
acrescido de CremophorRH 40 (25,8p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores
obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos ................................................................... 138
Tabela 41 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola
acrescido de Span 80 e CremophorRH 40 em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores
obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos ................................................................... 138
Tabela 42 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água acrescida de
CremophorRH40/óleo de canola acrescido de Span80, em diferentes temperaturas, em função do tempo.
Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos ...................................................... 138
Tabela 43 - Análise da distribuição granulométrica de formulações obtidas a partir do diagrama ternário,
48 horas, 7 e 30 dias após o preparo .......................................................................................................... 149
Tabela 44 - Distribuição granulométrica (média e desvio padrão, n = 3) das formulações 60, 66 e 70
obtidas a partir do diagrama ternário (78±2⁰C) ......................................................................................... 149
Tabela 45 - Análise da estabilidade eletrostática das formulações 60, 66 e 70 obtidas a partir do
diagrama ternário, 48 horas (2 dias) e 240 horas (10 dias) após o preparo ............................................... 152
Tabela 46 - Análise microscópica da formulação 60 obtida a partir do diagrama ternário acrescida de
polímeros, em três períodos distintos ........................................................................................................ 155
Tabela 47 - Análise da estabilidade macroscópica das formulações 60, 66 e 70 obtidas a partir do
diagrama ternário, 48 horas após o preparo ............................................................................................... 160
Tabela 48 - Análise da estabilidade macroscópica das formulações 60, 66 e 70 obtidas a partir do
diagrama ternário, 48 horas após o preparo .............................................................................................. 160
INTRODUÇÃO
Introdução 2
1. INTRODUÇÃO
Emulsões são amplamente empregadas como veículos pela indústria cosmética e
farmacêutica. Estes sistemas permitem o transporte de ativos e/ou fármacos lipofílicos e
hidrofílicos em uma mesma formulação e dependendo de suas características microestruturais
possibilitam um perfil sustentado de liberação do ativo e/ou fármaco encapsulado. A
possibilidade de se controlar aspectos sensoriais e organolépticos permite adequá-las às
necessidades e às exigências da via de administração pretendida para tal emulsão, o que é
extremamente importante para o formulador cosmético e/ou farmacêutico que deseje produzir
veículos eficazes, eficientes e que concomitantemente sejam aprovados pelo consumidor e/ou
paciente.
Os estudos e avanços no conhecimento dos mecanismos envolvidos na obtenção e
estabilidade de sistemas dispersos, entre estes as emulsões, têm viabilizado o desenvolvimento
de sistemas cada vez mais complexos, como por exemplo, emulsões múltiplas e de sistemas
estáveis como nanoemulsões. Outro aspecto importante é o avanço das técnicas de avaliação e
análise que predizem com maior precisão a estabilidade em longo prazo destas emulsões,
exigência que qualquer produto cosmético e/ou farmacêutico deve possuir para ser
comercializado. Conhecimentos mais amplos da microestrutura da emulsão e de como
relacioná-los à estabilidade do produto cosmético vem corroborar com estes avanços teóricos e
tecnológicos (MARTI-MESTRES; NIELLOUD, 2002).
As nanoemulsões e emulsões múltiplas mostram-se promissoras em várias áreas das
ciências cosmética e farmacêutica. No entanto, para viabilizar sua utilização como veículo, é
necessário que fatores envolvidos no processo de obtenção e na estabilidade do sistema em
dispersão sejam criteriosamente estudados.
Introdução 3
As nanoemulsões apresentam vantagens desejáveis à aplicação cosmética, como
considerável estabilidade físico-química e sensorial agradável. O tamanho dos glóbulos em
dispersão pode apresentar maior facilidade em alcançar o substrato desejado para ação
cosmética: o estrato córneo e a epiderme (TADROS et al., 2004b).
O estudo dos métodos de obtenção de nanoemulsões e em especial de emulsões
múltiplas em etapa única, para os quais muitos aspectos continuam pouco esclarecidos, é
necessário tanto para elucidação de aspectos físico-químicos destes sistemas, quanto à
viabilização tecnológica, que vai ao encontro das necessidades e anseios das indústrias em
questão (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998).
Considerando seu potencial de liberação sustentada, as emulsões múltiplas podem ser
veículos de escolha para administração tópica de ativos e/ou fármacos que necessitem de
contato prolongado com a pele, diminuindo assim, a freqüência de aplicações do produto pelo
consumidor, o que sem dúvida amplia a aceitação por parte do consumidor e/ou paciente da
posologia prescrita. Além disso, a viabilidade do sistema múltiplo em estudo pode ser
justificada pelo seu potencial emprego em disfunções e/ou patologias cutâneas que necessitem
de tratamento profilático e/ou prolongado (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FOX, 1986;
DAVIS; WALKER, 1987; BENICHOU; ASERIN; GARTI, 2004; VASILJEVIC; VULETA;
PRIMORAC, 2005).
A aplicação de emulsões múltiplas pelas ciências cosmética, farmacêutica e química em
geral tem suas limitações no que diz respeito a dificuldades em caracterizar e elucidar os
parâmetros envolvidos em sua estabilidade e seus mecanismos de liberação e de obtenção (em
especial em etapa única) (LAUGEL et al., 1998a e b; SCHUELER; ROMANOWSKI, 1998).
Assim, a viabilidade do emprego das emulsões múltiplas como veículo para liberação
sustentada depende do desenvolvimento de formulações adequadas ao uso pretendido,
empregando-se óleos e emulsificantes que produzam características adequadas de estabilidade e
Introdução 4
possuam baixa toxicidade para aplicações cosméticas e farmacêuticas, além de processos de
manipulação comercialmente viáveis (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FOX, 1986; DAVIS;
WALKER, 1987; BENICHOU; ASERIN; GARTI, 2004; VASILJEVIC; VULETA;
PRIMORAC, 2005).
O emprego de óleos e de agentes tensoativos de origem vegetal garantem ao formulador
o desenvolvimento de produtos seguros e compatíveis com a pele (KUNIEDA et al., 1996), e ao
consumidor, o uso de produtos de origem natural, o que sem dúvida, é um interessante apelo
mercadológico.
É necessário que novos ativos cosméticos ou fármacos com funções preventivas e/ou
curativas para a pele sejam avaliados, porém é indispensável o desenvolvimento concomitante
das ciências relacionadas à produção e à avaliação de seus possíveis veículos, onde o papel
primordial das emulsões não pode ser negligenciado.
É fundamental que cosméticos de tratamento sejam desenvolvidos e seu uso viabilizado.
Porém, para que estes possam ser comercializados, constantemente melhorados, parâmetros
como mecanismos de obtenção, estabilidade e perfil de liberação dos ativos devem ser
elucidados. Exigindo-se assim da ciência cosmética, não só a descoberta de novos ativos, bem
como o aprimoramento das técnicas de preparo, da farmacotecnia dos sistemas emulsionados
que veiculam esses ativos (SCHUELER; ROMANOWSKI, 1998).
O objetivo geral da pesquisa foi desenvolver emulsões múltiplas A/O/A, elucidando as
variáveis relevantes à formulação e ao processo de emulsificação em etapa única, caracterizar
os aspectos físico-químicos das emulsões múltiplas A/O/A obtidas e dos tensoativos
empregados, e realizar testes preliminares de estabilidade e do perfil de liberação de um ativo
modelo (cafeína).
REVISÃO DA LITERATURA
Revisão da Literatura 6
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Emulsões
Emulsões são sistemas heterogêneos, termodinamicamente instáveis, definidos como a
mistura íntima de dois líquidos imiscíveis, um dos quais está disperso no outro na forma de
glóbulos (BECHER; SCHICK, 1987; FRIBERG; HILTON; GOLDSMITH, 1987; FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON, 1988; MYERS, 1988; LOCHHEAD, 1994; SILVA; SOARES, 1996;
BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SCHUELER; ROMANOWSKI, 1998; HOLMBERG
et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002). Entretanto, para que possam ser aplicadas às mais
diversas áreas como cosmética, farmacêutica e química em geral, as emulsões devem apresentar
um período definido e pré-determinado de estabilidade físico-química, sendo este dependente
das aplicações pretendidas (BECHER; SCHICK, 1987; SCHULLER; ROMANOWSKI, 1998;
ATTWOOD, 2005).
De acordo com a hidrofilia ou lipofilia da fase dispersante, estes sistemas classificam-se
em óleo em água (O/A) ou água em óleo (A/O). As emulsões, em geral são compostas por três
fases: fase aquosa, fase oleosa e fase emulsificante (BECHER; SCHICK, 1987; PINHO;
STORPIRTIS, 1998; SCHULLER; ROMANOWSKI, 1998; MORRISON; ROSS, 2002). As
propriedades físico-químicas destas fases influenciam o processo de obtenção, o
comportamento de fases, o tipo e a estabilidade do sistema em dispersão (BOUCHAMA et al.,
2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003).
Emulsões são sistemas estabilizados cineticamente pela adição de agentes tensoativos
capazes de diminuir a tensão interfacial do sistema e de formar um filme interfacial com
propriedades estéricas e eletrostáticas em torno dos glóbulos da fase interna (FRIBERG;
HILTON; GOLDSMITH, 1987; LOCHHEAD, 1994; JEONG; OH; KIM, 2001; HOLMBERG
Revisão da Literatura 7
et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002; CAPEK, 2004). Os agentes tensoativos ou
emulsificantes são moléculas com características anfifílicas que se adsorvem na interface entre
a fase dispersa e a dispersante durante o processo de emulsificação, e podem prontamente
prevenir fenômenos de instabilidade, e conseqüentemente uma possível separação de fases
(LOCHHEAD, 1994; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SCHULLER;
ROMANOWSKI, 1998).
As principais etapas e/ou mecanismos de processos de instabilidade observados em
emulsões podem ser assim descritos: floculação, cremeação, coalescência, maturação de
Ostwald (Ostwald ripening) e inversão de fases (LOCHHEAD, 1994; SCHULLER;
ROMANOWSKI, 1998).
Floculação pode ser definida como uma adesão mútua entre os glóbulos da fase
dispersa, formando uma rede tridimensional. Entretanto, os glóbulos permanecem com sua
estrutura interfacial inalterada e uma simples agitação pode reverter o processo. O processo de
cremeação ocorrerá inevitavelmente quando existe diferença de densidades entre a fase dispersa
e dispersante da emulsão, ocorrendo separação entre estas em resposta à ação da gravidade. Se a
fase dispersa é menos densa do que a fase dispersante, então os glóbulos da emulsão formarão
um creme na região superior da amostra, o inverso ocorre quando a fase dispersa é mais densa
do que a fase dispersante. Coalesência, um processo irreverssível, ocorre quando dois glóbulos
alcançam proximidade suficiente, têm a estrutura de suas interfaces comprometidas e perdem
sua individualidade, tornando-se um único glóbulo (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON,
1988; LOCHHEAD, 1994; SCHULLER; ROMANOWSKI, 1998; MORRISON; ROSS, 2002).
Maturação de Ostwald (Ostwald rippening) e inversão de fases e serão considerados adiante,
itens 2.4. e 2.5. respectivamente.
Os agentes tensoativos foram empiricamente classificados por Griffin de acordo com o
equilíbrio entre as regiões hidro e lipofílicas da molécula. Este equilíbrio é descrito
numericamente com um determinado valor de equilíbrio hidrofílico-lipofílico (EHL). Os
Revisão da Literatura 8
tensoativos hidrofílicos geralmente possuem valores de EHL ≥ a 7,0 e os lipofílicos ≤ a 7,0
(BECHER; SCHICK, 1987; SCHULLER; ROMANOWSKI, 1998; MORRISON; ROSS,
2002).
Os pesquisadores Becher e Schick (1987), Morrison e Ross (2002); Sajjadi et al. (2003)
e Sajjadi, Zerfa e Brooks (2003) reafirmam a contribuição do uso em conjunto de tensoativos
com características de liofilia diferentes para obtenção de emulsões consideravelmente estáveis.
Entretanto, as emulsões, de acordo com sua definição, são sistemas
termodinamicamente instáveis. Valores de tensão interfacial de emulsões estão geralmente entre
1,0 e 10,0mN.m-1; valores estes relacionados a uma grande área de superfície, o que
conseqüentemente determina valores de energia livre de formação consideravelmente positivos
(BECHER; SCHICK, 1987; HOLMBERG et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002; CAPEK,
2004).
2.2. Caracterização Físico-química de Emulsões
2.2.1. Tensão Superficial/Interfacial
A tensão superficial ocorre devido a forças de coesão assimétricas na superfície de um
líquido, água e ar, por exemplo, (Figura 1), ou na interface entre dois líquidos de polaridades
distintas, como água e óleo. As moléculas situadas no interior de um líquido são, em média,
sujeitas a forças de atração iguais em todas as direções, ao passo que as moléculas numa
superfície ou interface estão submetidas a forças de atração não equilibradas, do que resulta em
uma força em direção ao interior do líquido (SHAW, 1975; RABOCKAI, 1979; MYERS, 1988;
HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997).
Revisão da Literatura 9
A tensão superficial/interfacial é um reflexo das forças coesivas de um líquido. Por sua
vez, a energia de coesão depende das forças de dispersão, interações moleculares, em um
líquido. A força entre moléculas distintas em uma interface são desiguais e conhecidas como
forças de adesão (SHAW, 1975; MARTIN, 1993; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997;
OPAWALE; BURGESS, 1998b; HOLMBERG et al., 2003).
Figura 1 - Desequilíbrio das forças de coesão de um líquido na superfície entre líquido e ar (HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997)
Tensão superficial é definida como a força (por unidade de comprimento) que deve ser
aplicada paralelamente à uma superfície com o intuito de contrabalancear a força imposta em
direção ao interior do líquido, sua unidade é mNewton/m no sistema internacional de medidas
ou dinas/cm2 no sistema cgs. Esta definição também se aplica a tensão interfacial,
considerando-se a interface entre dois líquidos imiscíveis (RABOCKAI, 1979; MARTIN, 1993;
HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997).
Geralmente a tensão interfacial entre dois líquidos é menor do que a tensão superficial
de um destes líquidos com o ar por exemplo, porque a força de adesão que ocorre na interface
entre dois líquidos é maior do que a formada entre um líquido e um gás (SHAW, 1975;
MYERS, 1988).
Revisão da Literatura 10
A tensão superficial da maioria dos líquidos diminui com o aumento da temperatura, de
maneira quase linear (alguns metais constituem uma exceção), e se torna muito baixa nas
proximidades da temperatura crítica, onde as forças coesivas intermoleculares tendem a zero
(SHAW, 1975; MYERS, 1988; HOLMBERG et al., 2003). A formação de emulsões múltiplas
em uma etapa estaria relacionada a esta re-estruturação molecular dos tensoativos na interface
fase aquosa/oleosa durante o processo de emulsificação, em determinado intervalo (crítico) de
temperatura (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al., (2000, 2004).
As moléculas de tensoativos afetam a tensão superficial/interfacial diminuindo esta
significativamente mesmo em baixas concentrações, esta diminuição é crescente com o
aumento da concentração de tensoativos até que a concentração micelar crítica (CMC) seja
alcançada. A partir deste ponto, a adição de tensoativos não promove alterações relevantes
sobre os valores de tensão superficial (SHAW, 1975; MYERS, 1988; HOLMBERG et al.,
2003; OPAWALE; BURGESS, 1998a e 1998b).
Os valores de tensão superficial em função do tempo podem ser correlacionados com a
eficiência da formação do filme interfacial entre a fase dispersante e dispersa da emulsão.
Quanto mais rápido se atingem valores mínimos de tensão superficial, maior a velocidade de
alteração das tensões interfaciais, indicando a formação do filme interfacial, prevenindo assim,
fenômenos como coalescência ainda durante o processo de emulsificação (RABOCKAI, 1979;
BEIRD, 1997, SIMOVIC et al., 1999).
Reduções efetivas da tensão interfacial, durante o processo de emulsificação, promovem
de maneira mais eficiente à formação de glóbulos menores, resultando usualmente em emulsões
com estabilidade cinética superior (OPAWALE; BURGESS, 1998a e 1998b).
Informações sobre a tensão superficial/interfacial são fundamentais para se compreender
o processo de emulsificação e a estabilidade das emulsões e suspensões, importantes veículos
na indústria farmacêutica e cosmética (SCHUELER; ROMANOWSKI, 1998).
Revisão da Literatura 11
2.2.2. Reologia
Reologia é o estudo das propriedades de fluxo e deformação da matéria (IDSON, 1978;
BARNES, 1994; ANSEL; POPOVICH; ALLEN, 1999). Segundo Tadros, 1994 e 2004a,
análises reológicas fornecem informações quanto à estabilidade física de emulsões e podem
expressar diretamente interações como floculação, cremeação, sedimentação, coalescência,
inversão de fases e maturação de Ostwald (Ostwald ripening). Estes dois útilmos itens serão
considerados adiante, itens 2.4. e 2.5. respectivamente.
A compreensão adequada das propriedades reológicas de produtos cosméticos e/ou
farmacêuticos é essencial ao seu desenvolvimento, avaliação de sua estabilidade e desempenho.
É de grande importância para os formuladores de produtos cosméticos e/ou farmacêuticos o
desenvolvimento de metodologias que permitam a correlação entre o perfil reológico de uma
determinada formulação com a avaliação sensorial dos consumidores e/ou pacientes
(MARRIOTT, 2005; TADROS, 1994, 2004a; MORRISON; ROSS, 2002).
As características de fluxo de emulsões podem ser influenciadas pelos seguintes fatores:
viscosidade e composição química da fase externa da emulsão, fração volumétrica da fase
dispersa; distribuição granulométrica da dispersão, deformabilidade e viscosidade dos glóbulos
dispersos, reologia do filme interfacial (concentração e estrutura dos tensoativos) e a adição de
modificadores reológicos como espessantes e sólidos inertes finamente divididos (BARNES,
1993; MARRIOTT, 2003; TADROS, 1994 e 2004a; JIAO; BURGESS, 2003).
As medidas de propriedades de fluxo podem ser divididas em comportamento linear e
não-linear (BARNES, 1993):
Revisão da Literatura 12
2.2.2.1. Reologia de Fluxo ou Não-linear (Volume)
As propriedades não-lineares são determinadas e dependem diretamente da tensão e da
taxa de cisalhamento aplicado e avalia variações na viscosidade do sistema.
Estas propriedades podem ser determinadas a partir das seguintes equações 1 e 2:
F = η . D (1)
η = F/D (2) Onde: F = tensão de cisalhamento (Pa), D = taxa de cisalhamento (1/segundos), η = viscosidade (Pa/segundos)
A tensão de cisalhamento (F) é a força por unidade de área imposta a um líquido e a
taxa de cisalhamento (D) é o gradiente de velocidade de fluxo produzido por F. Viscosidade é
definida como a medida da fricção interna entre camadas adjacentes de fluido, esta fricçao está
diretamente relacionada à resistência das camadas do fluido ao movimento imposto (IDSON,
1978; BARNES, 1994, HOLMBERG et al., 2003).
O reograma utilizado para se caracterizar o perfil reológico de uma amostra, é
constituído pela plotagem da tensão de cisalhamento versus a taxa de cisalhamento. O perfil
reológico de uma amostra pode ser dividido em fluxos Newtoniano e não-Newtoniano (plástico,
pseudoplástico e dilatante), estes apresentando ou não tixotropia ou reopexia (IDSON, 1978;
BARNES, 1994; ANSEL; POPOVICH; ALLEN, 1999).
Fluidos Newtonianos exibem proporcionalidade direta entre a tensão de cisalhamento e
a taxa de cisalhamento, assim a uma determinada temperatura, a viscosidade é independente da
taxa de cisalhamento. Desta forma, um único ponto do reograma é suficiente para se determinar
a viscosidade do sistema. São exemplos os líquidos formados por móleculas de baixo peso
molecular e soluções poliméricas diluídas (IDSON, 1978; BARNES, 1994; TADROS, 1994).
Revisão da Literatura 13
Para fluidos não-Newtonianos, tensão de cisalhamento e taxa de cisalhamento não são
diretamente proporcionais. Assim, a viscosidade depende da taxa de cisalhamento aplicada,
diferentes valores de viscosidade podem ser obtidos para diferentes medidas de uma mesma
amostra. Estes fluidos apresentam assim, viscosidade aparente ou não verdadeira. São exemplos
deste perfil reológico, cremes e loções cosméticas e/ou farmacêuticas em sua grande maioria
(TADROS, 2004; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
2.2.2.2. Reologia Oscilatória/Dinâmica ou Linear (Superfície)
A reologia interfacial estuda a resposta de superfícies e interfaces móveis à deformação.
Emulsões contêm um filme molecular ou macromolecular de tensoativos na interface fluida
(móvel), entre as fases aquosa/fase oleosa (VAN DEN TEMPEL, 1977; JUNGINGER, 1992;
TADROS, 1994, BOS; VAN VLIET, 2001; MORRISON; ROSS, 2002; WILDE, 2007).
Este filme além de necessário para estabilizar a dispersão, também inicia estresses
interfaciais adicionais aos estresses produzidos pela tensão interfacial (γ). Gradientes de tensão
interfacial ocorrem quando concentrações não uniformes de tensoativos ou polímeros se
desenvolvem numa interface fluida. A região que apresenta depleção destas moléculas
apresenta maior valor de tensão interfacial. A elasticidade dilatacional de Gibbs é definida
como ε = dγ/dlnA (onde A representa a área interfacial), resultante do gradiente de tensão
interfacial estabelecido. Este gradiente pode ocorrer durante o processo de emulsificação ou
quando dois glóbulos em dispersão se aproximam. Quando a interface é esticada, as moléculas
adsorvidas não são mais suficientes para cobri-lá por completo e áreas escassas de tensoativos
ou polímeros são criadas. Este gradiente permite então que moléculas de tensoativos ou
polímeros se difundam das fases dispersa/dispersante para a interface, preenchendo as possíveis
lacunas formadas no filme. Durante este processo, líquido pode ser transportado para interface,
Revisão da Literatura 14
fenômeno denominado como efeito Marangoni. Em adição, outros estresses reológicos de
natureza viscosa podem surgir, e são relacionados à estresses interfaciais e viscosidades
dilatacionais (VAN DEN TEMPEL, 1977; JUNGINGER, 1992; TADROS, 1994, BOS; VAN
VLIET, 2001; MORRISON; ROSS, 2002; Camtel Ltd., 2007).
A reologia de superfície pode ser realizada atraves de métodos dilatacionais e de
cisalhamento. Os métodos dilatacionais avaliam alterações nos valores de tensão interfacial em
função de mudanças específicas na área interfacial. Esta análise avalia a resistência da camada
adsorvida à fenômenos de compressão e expansão. Os métodos de cisalhamento são realizados
dentro de uma faixa pré-definida de taxa e tensão de cisalhamento, assim as propriedades do
sistema são analisadas em função da freqüência e do tempo, bem como da temperatura e da
pressão. Este método fornece os módulos viscoelásticos de estocagem e perda, que são
dependentes da freqüência aplicada (VAN DEN TEMPEL, 1977; WARBURTON, 1993; PY et
al, 1994; TADROS, 1994; BOS; VAN VLIET, 2001; MORRISON; ROSS, 2002;
HOLMBERG et al, 2003, Camtel Ltd., 2007; WILDE, 2007):
G∗ = módulo complexo,
G’ = módulo de estocagem ou solid-like;
G’’= módulo de perda ou liquid-like.
Para as análises oscilatórias, os módulo de estocagem (G’) e de perda (G’’) serão
obtidos a partir dos parâmetros descritos nas equações 3 e 4:
G’ = (τ0/γ0) cos δ (3)
G’’ = (τ0/γ0) sen δ (4) Onde: G’= modulo de estocagem em Pa; G’’ = módulo de perda em Pa; τ0 =amplitude de stress; γ0 = amplitude de tensão; cos/sen δ = co-seno e seno do ângulo de mudança de fases
A viscosidade dinâmica (η’) será calculada de acordo com a equação 5:
η’ = G’’/ω (5) Onde η’= viscosidade dinâmica, G’’ = módulo de perda em Pa e ω = freqüência em rad/segundos
Revisão da Literatura 15
Para experimentos de reologia dinâmica de cisalhamento, o estresse é variado
periodicamente com alterações a uma determinada frequência (stress sweep test) ou, o estresse
é mantido constante para uma determinada faixa de frequência (frequency sweep test), assim os
valores de viscoelasticidade, viscosidade dinâmica interfacial (η’) e elasticidade
superficial/interfacial (G’) são determinados. O ângulo (δ) é definido em fase quando está na
faixa entre 0⁰ e 90⁰. Valores de δ entre 0 e 45⁰ caracterizam sistemas elásticos, e entre 45 e 90⁰
sistemas viscosos. A maioria das soluções de tensoativos/polímeros possui características
intermediárias (viscoelásticas) (WARBURTON, 1993; TADROS, 1994; TERRISSE et al.,
1994; BOS; VAN VLIET, 2001; MORRISON; ROSS, 2002; HOLMBERG et al, 2003;
LIPPACHER; MULLER; MADER, 2004, Camtel Ltd., 2007).
A ação do filme interfacial ou da barreira mecânica formada na interface fase
aquosa/fase oleosa de emulsões pode ser quantificado através de determinação de reologia
interfacial. A força do filme interfacial está diretamente relacionado a estabilidade de emulsões
(WARBURTON, 1993; OPAWALE; BURGESS, 1998a e 1998b; MORRISON; ROSS, 2002;
JIAO; BURGESS, 2003; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
Segundo Myers (1998) e Opawale e Burgess (1998b), para a estabilidade a longo prazo
de emulsões, a força da barreira mecânica formada pelos tensoativos, é mais relevante do que a
tensão interfacial resultante. O emprego de tensoativos poliméricos promove a formação de
barreira ou interface com estabilidade física superior quando comparado ao emprego de
tensoativos monoméricos (VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005). Hameyer e Jenni
(1996) relataram a superioridade de tensoativos poliméricos para estabilidade em longo prazo
de emulsões múltiplas.
Um dos principais fatores, segundo Florence e Whitehill (1982) para a estabilidade a
longo prazo de emulsões múltiplas é a força dos filmes interfaciais formados, primário e
secundário. Informações sobre as interações entre as moléculas de tensoativos nestas interfaces
Revisão da Literatura 16
podem promover um enfoque racional no desenvolvimento destes sistemas (TERRISSE et al.,
1994; OPAWALE; BURGESS, 1998a e 1998b).
2.2.3. Isotermas de Langmuir
Existe uma ampla gama de tensoativos (propriedades anfifílicas) que reduzem
drasticamente a tensão superficial da água. Muitos destes compostos são insolúveis em água e
podem com a ajuda de solventes voláteis e hidrofóbicos se espalharem facilmente na superfície
da água (interface água/ar) e formar uma monocamada insolúvel. Estas monocamadas são
denominadas filmes de Langmuir (L), e representam uma situação específica na adsorção
interfacial, porque todas as moléculas estão concentradas em uma camada de espessura
molecular. A natureza anfifílica do tensoativo determina a orientação das moléculas na interface
(se ar/água ou água/ar) (SHAW, 1975; MYERS, 1988; MARTIN, 1993; HIEMENZ;
RAJAGOPALAN, 1997; KSV Instruments Ltd., 2001).
Quando a solução de substância anfifilíca em solvente lipofóbico é colocada na
superfície da água com auxílio de uma microseringa, a solução se espalha rapidamente e cobre
a área disponível. A evaporação do solvente permite que a formação da monocada. Quando a
área disponível para a monocamada é extensa, a distância entre as moléculas adjacentes é
considerável e assim a interação entre elas é fraca. Sob estas condições, a monocamada de
tensoativos tem efeito não significativo sob a tensão superficial da água. Se a área disponível
para monocada é reduzida com o auxílio de um sistema de barreiras, as moléculas começam a
exercer efeito repulsivo umas sobre as outras (MARTIN, 1993; KSV Instruments Ltd., 2001).
Estes dois fenômenos de superfície são denominados pressão de superfície (Π), sendo
esta determinada pela equação 6:
Revisão da Literatura 17
Π = γ – γ0 (6) Onde: γ0 = tensão superficial na ausência da monocamada; γ = tensão superficial na presença da monocamada
Durante a compressão da monocamada, a pressão de superfície e a área molecular (em
média) é continuamente monitorada. A pressão superficial é usualmente determinada pelo
método da placa de Wilhelmy (MARTIN, 1993; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997; KSV
Instruments Ltd., 2001).
Um indicador importante das propriedades da monocamada de um material anfifílico é
dado pela medida da pressão de superfície em função da área superficial de água disponível
para cada molécula. Este experimento é conduzido sob temperatura constante e é definido como
pressão superficial, área de isoterma ou simplesmente isoterma. Usualmente uma isoterma é
obtida pela compressão do filme (reduzindo a área com o auxílio de barreiras) a uma velocidade
constante, enquanto a pressão superficial é constantemente monitorada (SHAW, 1975;
MARTIN, 1993; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997).
Dependendo do material estudado, repetidas compressões e expansões podem ser
necessárias para se obter um perfil reprodutível. Regiões podem ser distinguidas na análise de
uma isoterma e são denominadas fases. Conforme a monocamada é comprimida, é possível
visualizar as mudanças de fases através de descontinuidades na isoterma. O comportamento de
fases da monocamada é principalmente determinado pelas propriedades físicas e químicas da
molécula e da temperatura e composição da subfase. A microestrutura da monocamada
depende, por exemplo, do comprimento da cadeia hidrocarbônica da molécula e da magnitude
de forças atrativas e repulsivas entre os grupos polares (SHAW, 1975; MARTIN, 1993;
HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997; KSV Instruments Ltd., 2001).
A terminologia utilizada para classificar as diferentes fases da monocamada foi proposta
por Harkins, no início dos anos 50 (SHAW, 1975). Monocamadas estendidas apresentam-se no
estado bidimensional gasoso (G), e conforme a compressão e transição de fases ocorrem, a
Revisão da Literatura 18
monocamada adquire o estado líquido expandido (L1), estado intermediário (I), e em seguida,
líquido condensado (L2) e finalmente a monocamada pode apresentar o estado bidimensional
sólido (S). Se a monocamada for comprimida além da fase S, entrará em colapso, que poderá ou
não ser observado por uma diminuição rápida da pressão de superfície (SHAW, 1975; MYERS,
1988; MARTIN, 1993; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997; KSV Instruments Ltd., 2001).
Os resultados obtidos a partir de estudos de fenômenos de superfície possuem
imensurável aplicabilidade para as ciências farmacêuticas, em especial para o desenvolvimento
de sistemas dispersos. Por exemplo, considerando-se a importância da microestrutura do filme
interfacial formado entre fases aquosa/oleosa para a estabilidade cinética de emulsões, conhecer
a área ocupada por cada molécula de tensoativo nesta interface permitiria a otimização da
estabilidade do sistema. A eficiência nos processos de molhabilidade e detergência dependem
diretamente da concentração de material adsorvido (MARTIN, 1993; MORRISON; ROSS,
2002).
2.3. Estabilidade Físico-química de Emulsões
Os mecanismos de estabilidade da emulsão podem ser descritos como: (a)
eletrostático; (b) estérico e (c) eletroestérico (BECHER; SCHICK, 1987; BROOKS;
RICHMOND; ZERFA, 1998; LOCHHEAD, 1994; HOLMBERG et al, 2002; MORRISON;
ROSS, 2002).
A estabilidade da emulsão é controlada pelas propriedades do filme interfacial formado
entre a fase aquosa e oleosa e pelas características físico-químicas da camada de adsorção
formada na superfície dos glóbulos dispersos. Estas propriedades incluem além da diminuição
do valor da tensão interfacial, as características da solução contínua próxima a interface,
dependentes da composição e da concentração do agente tensoativo e/ou polímeros utilizados
Revisão da Literatura 19
(FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; LOCHHEAD, 1994;WIACEK; CHIBOWSKI,
1999, HOLMBERG et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002).
Este filme pode induzir forças estéricas e eletrostáticas repulsivas entre glóbulos
próximos. A adição de tensoativos permite a formação de uma monocamada adsorvida à
interface e uma dupla camada iônica pode ser formada ao redor dos glóbulos (FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON, 1988; SOARES; SILVA, 1996; RIBEIRO, 1996; MORRISSON;
ROSS, 2002; ROLAND et al., 2003: CAPEK, 2004).
Esta dupla camada é formada por uma região interna denominada camada de Stern,
onde os íons estão fortemente ligados; estes íons de carga oposta ou contra-íons e por uma
região denominada camada Difusa, onde os íons estão fracamente ligados; estes íons de mesma
carga ou co-íons. O modelo da dupla camada permite visualizar a atmosfera/densidade iônica
nas proximidades de um glóbulo carregado e explica como atuam as forças de repulsão
eletrostática. Um glóbulo carregado, por exemplo, negativamente e sua atmosfera carregada
positivamente produzem um potencial elétrico relativo à solução. Este possui um valor máximo
na superfície do glóbulo e diminui gradualmente com a diminuição da densidade iônica,
aproximando-se a zero fora da camada Difusa (PINHO; STORPIRTIS, 1998; ATTARD, 2001;
HOLMBERG et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002; ZETA-METER Inc., 2006).
A teoria DLVO, assim denominada em homenagem aos seus autores Derjaguin,
Landau, Vervey e Overbeek, descreve a estabilidade de sistemas dispersos através de dois
potenciais independentes. O potencial da dupla camada elétrica é positivo (repulsivo) e o
potencial de van der Waals é negativo (atrativo). Estes atuam quando dois glóbulos e/ou
partículas dispersos em solução se aproximam (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988;
PINHO, STORPIRTIS, 1998; WIACEK; CHIBOWSKI 1999; HOLMBERG et al., 2002;
MORRISON; ROSS, 2002; ZETA-METER Inc., 2006).
O potencial de superfície não pode ser determinado diretamente e assim, usualmente
para o cálculo da interação eletrostática, este é substituído pelo potencial eletrocinético ou zeta.
Revisão da Literatura 20
O potencial zeta é uma maneira efetiva de controlar o comportamento dos glóbulos, pois indica
a relação entre o potencial de superfície e as forças de repulsão entre os glóbulos (FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON, 1988; STACHURSKI; MICHALEK, 1996; RIBEIRO, 1996;
WIACEK; CHIBOWSKI, 1999; HOLMBERG et al., 2002; MORRISON; ROSS, 2002;
ROLAND et al., 2003).
O potencial zeta é definido como a diferença de potencial entre a superfície de íons
fortemente ligados à superfície da partícula e uma região neutra (não-carregada) da solução,
onde há uma diferença relevante de viscoelasticidade quando comparada à solução adjacente
aos glóbulos. Quando o potencial zeta é de 30mV (em módulo) ou maior, a força repulsiva da
dupla camada é maior do que a força atrativa de van der Waals evitando assim, uma possível
floculação (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; JEONG; OH; KIM, 2001 e ROLAND
et al., 2003; ZETA-METER Inc., 2006).
O método mais utilizado para mensurar o potencial zeta é o emprego da mobilidade
eletroforética das partículas em dispersão em um campo elétrico carregado (FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON., 1988, MORRISON; ROSS, 2002; KULMYRZAEV; SCHUBERT,
2003 e ROLAND et al., 2003).
Pode-se alterar a carga superficial do glóbulo, aumentando ou diminuindo a barreira
energética. Esta barreira é formada pela dupla camada elétrica e por mecanismos de repulsão
estérica. Alterações na atmosfera iônica, como a provocada pela adição de eletrólitos,
tensoativos iônicos e alterações no valor do pH da solução, podem afetar diretamente a carga do
glóbulo. Em cada caso, a determinação do potencial zeta indicará o efeito da alteração,
principalmente em relação a sua estabilidade. O valor do potencial zeta, por si só é um dado
limitado. Entretanto, alterações neste valor com relação a mudanças na constituição e
características da suspensão/emulsão, são informações significativas sobre as condições da
interface e, assim, sobre a fase dispersa da emulsão (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON,
Revisão da Literatura 21
1988; STACHURSKI; MICHALEK, 1996; GU; LI, 1997, 1998; HOLMBERG et al., 2002;
MORRISON; ROSS, 2002; ZETA-METER Inc., 2006; MORAIS et al., 2006b).
A adição de eletrólitos à fase contínua de emulsões O/A provoca redução do potencial
repulsivo da dupla camada elétrica, contudo o potencial atrativo de van der Waals permanece
inalterado. Esta redução provoca uma redução do potencial total de superfície e dependendo da
quantidade de eletrólitos adicionados, a altura da barreira energética é reduzida, perdendo-se
assim a estabilidade do sistema (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988).
O termo estabilidade estérica é geralmente empregado para descrever a atuação de
macromoléculas, polímeros e/ou tensoativos poliméricos adsorvidos na superfície da fase
descontínua ou dispersa da emulsão. Sua atuação está baseada na demanda conformacional por
espaço (FRIBERG; HILTON; GOLDSMITH, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON,
1988; MARTIN, 1993; LOCHHEAD, 1994; SCHULLER; ROMANOWSKI, 1998).
Existem algumas exigências para que a estabilização estérica seja eficiente: (a) a
macromolécula deve se adsorver fortemente na superfície, pois moléculas adsorvidas
fracamente podem ser desorvidas quando da aproximação entre os glóbulos; (b) a
macromolécula deve cobrir toda a superfície do glóbulo, caso contrário, a mesma molécula
poderá se adsorver em mais de um glóbulo, provocando o fenômeno denomidado floculação
por ponte (bridging flocculation), mais comumente observado para polímeros constituídos por
cadeias lineares e de alto peso molecular; (c) a maneira como o polímero se adsorve na
superfície do glóbulo é crítica, se a molécula se adsorver na conformação esticada ou estendida,
não promoverá proteção estérica. O polímero ancorado na superfície do glóbulo deve apresentar
loops e caudas extendidas na fase dispersante; (d) estes segmentos da molécula devem ser
solúveis na fase contínua, fenômeno diretamente correlacionado a conformação apresentada
pelo polímero em solução (FRIBERG; HILTON; GOLDSMITH, 1987; FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON, 1988; MARTIN, 1993; LOCHHEAD, 1994; HOLMBERG et al.,
2002; MORRISON; ROSS, 2002).
Revisão da Literatura 22
Os mecanismos de estabilização estérica estão baseados no comportamento das
macromoléculas adsorvidas na interface quando ocorre aproximação entre os glóbulos em
dispersão. Existem dois principais mecanismos: (a) quando os segmentos (loops e caudas) das
moléculas de polímero/macromolécula adsorvidos em glóbulos adjacentes podem se sobrepor e
daí se associar ou, (b) ou quando esta associação é termodinamicamente inviável e os
segmentos são comprimidos (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; MARTIN, 1993;
LOCHHEAD, 1994; HOLMBERG et al., 2002).
No primeiro caso, ocorre aumento da concentração de moléculas entre os glóbulos.
Este aumento é responsável pelo fenômeno denominado exclusão/repulsão por osmose, onde
ocorre um influxo de solvente/fase dispersante para esta região mais concentrada em moléculas,
promovendo afastamento entre os glóbulos. Para o segundo caso, as macromoléculas adsorvidas
na superfície de glóbulos adjacentes tornam-se comprimidas quando ocorre aproximação entre
estes. Este fenômeno induz estas moléculas a adquirirem uma conformação mais articulada ou
dobrada do que aquela favorecida pelo solvente no qual a molécula está dissolvida, ou seja,
ocorre uma diminuiçao no número de possíveis configurações para os loops e caudas. Esta
alteração da configuração molecular conduz a uma diminuição da entropia das moléculas
adsorvidas, aumentado a energia livre do sistema, e assim, o tornando termodinamicamente
desfavorável. Um aumento da energia livre do sistema correlaciona-se com a força de repulsão
entre os glóbulos, com os loops e caudas se extendendo a partir da superfície do glóbulo. Este
fenômeno é denominado repulsão por restrição de volume (FRIBERG; HILTON;
GOLDSMITH, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; LOCHHEAD, 1994).
Partículas sólidas finamente divididas também promovem estabilização estérica. Para
que isto ocorra, é preciso que estas partículas sejam pequenas em comparação ao tamanho do
glóbulo e se adsorvam na interface (BECHER; SCHICK, 1987; FRIBERG; HILTON;
GOLDSMITH, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; LOCHHEAD, 1994).
Revisão da Literatura 23
Estas partículas precisam ser removidas para que o processo de coalescência ocorra e a
energia necessária para a desorção desta depende do seu ângulo de contato com os líquidos em
questão. Um ângulo de contato ≥90⁰ seria o ideal, pois valores superiores indicam que a
partícula poderia ser removida para a fase contínua e valores ≤30⁰ para a fase dispersante
(FRIBERG; HILTON; GOLDSMITH, 1987).
Algumas variáveis do processo, como a velocidade de agitação das fases, a ordem de
adição das fases e a temperatura, influenciam marcadamente as características físico-químicas
finais da emulsão (LIN; KURIHARA; OHTA, 1975; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998;
SIMOVIC et al., 1999).
Assim, diferentes tamanhos de glóbulos podem ser obtidos dependendo do método de
emulsificação escolhido, o que explica a influência do método de obtenção na estabilidade do
sistema obtido (JEONG; OH; KIM., 2001; FERNANDEZ et al., 2004; MORAIS et al., 2006a).
A distribuição granulométrica de um sistema em dispersão depende da velocidade de
agitação entre as fases dispersa e dispersante durante o processo de emulsificação e da
velocidade de adição de uma das fases sobre a outra (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998).
O tamanho dos glóbulos de uma emulsão determina a probabilidade da ocorrência de
fenômenos como floculação e coalescência. Geralmente, quanto menor o tamanho dos glóbulos
dispersos, maior a estabilidade do sistema (JEONG; OH; KIM, 2001). É possível obter
emulsões com glóbulos de dimensões abaixo de 1 μm empregando-se métodos de emulsificação
de baixa energia (ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001; FERNANDEZ et al., 2004). São
exemplos desta metodologia: (a) o método de temperatura de inversão de fases que faz uso de
tensoativos não iônicos polietoxilados sensíveis às mudanças de temperatura, e (b) o método de
emulsificação por inversão de fases (ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001; MARSZAL, 1987;
MILLER; HENNING; GRÜNBEIN, 2001; SALAGER et al., 2004; MORAIS et al., 2006a).
Revisão da Literatura 24
2.4. Emulsificação - Processos de Inversão de Fases
Existem dois métodos principais de emulsificação: o de emulsificação direta e o de
wash-out. Para o primeiro método, frações volumétricas de fases aquosa e oleosa pré-
determinadas são diretamente homogeneizadas. Durante este processo despende-se grande
quantidade de tensoativos, energia térmica e mecânica (BOUCHAMA et al., 2003; SAJJADI et
al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003). Na segunda metodologia, o recipiente de
preparo é preenchido com a fase oleosa e esta submetida à agitação constante, a fase aquosa,
que será inicialmente a fase dispersa, é então adicionada sob velocidade constante à fase oleosa
(BOUCHAMA et al., 2003).
Emulsões podem ser obtidas pelo processo de inversão de fases, que geralmente é
observado quando o método wash-out é empregado. Durante o processo de inversão de fases da
emulsão, um sistema O/A inverte para A/O ou vice-versa e a curvatura da interface O/A se
altera gradualmente. Como neste ponto a tensão interfacial do sistema decresce a valores
mínimos, o processo de inversão de fases empregado na obtenção de emulsões despenderia
gasto energético mínimo (BECHER; SCHICK, 1987; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998;
HOLMBERG et al., 2002; MORRISON & ROSS, 2002; SAJJADI et al, 2003a e b; SALAGER
et al, 2004).
Como os valores de condutividade para emulsões O/A e A/O diferem entre si em várias
ordens de grandeza, a determinação da condutividade elétrica pode ser empregada para
caracterizar o locus de inversão de fases da emulsão (BOUCHAMA et al., 2003).
Podem ocorrer dois tipos de inversão de fases em emulsões (BROOKS; RICHMOND,
1991; VAESSEN; STEIN, 1995; SAJJADI et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003;
ROBERTS; XIE; BROOKS, 2006): (a) inversão transicional e (b) inversão catastrófica.
A inversão transicional pode ocorrer com mudanças na afinidade dos tensoativos não-
iônicos etoxilados pelas fases aquosa e/ou oleosa e pode ser induzida por fatores como
Revisão da Literatura 25
temperatura, valores de EHL, salinidade da fase aquosa e polaridade da fase oleosa (BECHER;
SCHICK, 1987; VAESSEN; STEIN, 1995; ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001; SAJJADI et
al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; SALAGER et al., 2000, 2004 e XIE; BROOKS,
2004).
Aumentos na temperatura do sistema em dispersão promovem alterações nas possíveis
interações (pontes de hidrogênio, interações dipolo-dipolo e dipolos induzidos) entre os
tensoativos não iônicos etoxilados e a fase aquosa dispersante. Estes tensoativos apresentam
valores de EHL ≥10,0, sendo moléculas anfifílicas com predominância evidente do aspecto
hidrofílico. Acima da temperatura de EHL, ou da temperatura de inversão de fases (TIF), phase
inversion temperature (PIT), a molécula do tensoativo torna-se predominantemente lipofílica
(SHINODA; FRIBERG, 1986; BECHER; SCHICK, 1987; MARSZALL, 1987; FRIBERG;
GOLDSMITH; HILTON, 1988).
É importante ressaltar que o ponto de turvação ou cloud point pode ocorrer para os
tensoativos não iônicos etoxilados em solução aquosa, ou seja, trata-se do tensoativo em
solução. Quando há aumento da temperatura da solução, esta pode alcançar um ponto crítico,
onde a molécula de tensoativo torna-se insolúvel, fenômeno visualizado através da turvação da
solução (BECHER; SCHICK, 1987; MARSZALL, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON,
1988; LOCHHEAD, 1994; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997; HOLMBERG et al., 2002).
A emulsificação pelo método da temperatura de inversão de fases (TIF), phase inversion
temperature (PIT), também definida como temperatura de equilíbrio hidrofílico-lipofílico
(EHL), produz emulsões com distribuição granulométrica abaixo de 1μm e baseia-se no
conceito de inversão transicional. Este método depende da temperatura de manipulação; quando
o equilíbrio hidrofílico-lipofílico do par de tensoativo atinge o equilíbrio na interface dos
glóbulos, este sistema tensoativo exibe algumas características próprias como forte poder
solubilizante e tensão interfacial mínima (MARSZAL, 1987; ZERFA; SAJJADI; BROOKS,
2001; SALAGER et al., 2004). Contudo, para que ocorra a inversão de fases transicional é
Revisão da Literatura 26
necessário que a concentração dos tensoativos empregados na formulação esteja acima da
concentração micelar crítica (CMC) (SAJJADI et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS,
2003).
Para sistemas constituídos por um único tensoativo não iônico, o valor da temperatura
de EHL é fixa e independe de mudanças na composição da emulsão à pressão constante,
contudo para emulsões contendo mais que um tensoativo não iônico, a temperatura de EHL é
dependente da concentração dos tensoativos, da razão em peso entre os tensoativos empregados
e da fração volumétrica entre fase aquosa e oleosa. Isto ocorre principalmente devido a
diferenças na distribuição de cada tensoativo em agregados ou na fase oleosa (KUNIEDA et al.,
1996).
A inversão de fases catastrófica pode ocorrer quando há um aumento do volume da fase
dispersa ou variações na razão dos volumes da fase aquosa e oleosa. Este tipo de inversão é
irreversível e pode ocorrer em ampla faixa de frações volumétricas. O termo catástrofe significa
mudança brusca no comportamento de um sistema e ocorre como resultado de mudanças
graduais nas condições de processo. O número de possíveis estruturas e parâmetros envolvidos
determina a complexidade da catástrofe (VAESSEN; STEIN, 1995; BROOKS; RICHMOND;
ZERFA, 1998; ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001; SAJJADI; JAHANZAD; BROOKS, 2002;
SAJJADI et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; BOUCHAMA et al., 2003;
SALAGER et al., 2000, 2004; ROBERTS; XIE; BROOKS, 2006). Quando a fração
volumétrica da fase dispersa aumenta, as diferenças estruturais entre dispersões O/A e A/O
tornam-se aparentes (PACEK; NIENOW; MOORE, 1994). A inversão de fases catastrófica,
embora influenciada pela presença do tensoativo, é primordialmente dependente do tipo e
distribuição granulométrica dos glóbulos formados, ou seja, quantidade e morfologia da fase em
dispersão (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998).
A emulsificação através de inversão de fases (EIF), emulsion phase inversion (EPI),
pode ser considerada um tipo de inversão catastrófica, onde o ponto de inversão de fases (PIF) é
Revisão da Literatura 27
o ponto no qual a emulsão, constituída por fase aquosa, oleosa e tensoativos; inverte de fases à
temperatura constante. O PIF representa a razão volumétrica entre a quantidade de fase aquosa
e a quantidade de óleo presente no sistema, quando a inversão de fases ocorre. A adição
sucessiva de água à fase oleosa, promove a formação inicial de fase aquosa dispersa e de fase
oleosa dispersante. Entretanto, com o aumento da fração volumétrica de água há uma mudança
espontânea na curvatura das moléculas de tensoativo e conseqüentemente a emulsão A/O
inverte para O/A no locus de inversão (MARSZALL, 1987; SALAGER et al., 2004). A
distribuição granulométrica dos glóbulos dispersos da emulsão próxima ao locus de inversão
catastrófica (PIF) é consideravelmente polidispersa e os glóbulos são relativamente grandes
(VAESSEN; STEIN, 1995; XIE; BROOKS, 2004).
Quando há aumento da fase dispersa, a coalescência entre os glóbulos dispersos se
sobrepõe à quebra de glóbulos e é freqüentemente considerado um dos mecanismos que
controla a inversão de fases. Quanto maior a fração volumétrica da fase dispersa, maior o
número de colisões entre os glóbulos dispersos, aumentando o tamanho destes devido à
coalescência. Estes mecanismos estão diretamente relacionados à densidade e à viscosidade das
fases em dispersão e da tensão interfacial (PACEK; NIENOW; MOORE, 1994; BOUCHAMA
et al., 2003).
No processo de inversão transicional, a estabilidade da emulsão antes e após a inversão
de fases é comparável. Entretanto para o processo de inversão catastrófica, a emulsão inverte de
um sistema com estrutura mais estável para outro menos estável (VAESSEN; STEIN, 1995).
Porém, Zerfa et al. (2001) descreveram a obtenção de sistemas estáveis após processo de
inversão catastrófica.
A teoria de Winsor baseia-se na influência da razão volumétrica das fases dispersa e
dispersante sendo pormenorizada dependendo da região do diagrama de fases onde a emulsão é
formulada: (a) Winsor I: há predominância de emulsões O/A e pode estar dividida em duas
fases, uma fase oleosa + unímeros de tensoativos dissolvidos na CMC e uma microemulsão
Revisão da Literatura 28
O/A contento óleo solubilizado em micelas normais; (b) Winsor II: emulsões A/O e fase aquosa
+ unímeros de tensoativos dissolvidos na CMC + microemulsão A/O e (c) Winsor III: que pode
estar dividida em três comportamentos diferentes: excesso de fase aquosa + microemulsão
oleosa, excesso de fase oleosa + microemulsão aquosa; e uma fase tensoativa ou middle phase,
estrutura bicontínua, formada por água e óleo solubilizado, separados por camada interfacial de
tensoativos (BROOKS; RICHMOND, 1991; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998;
SALAGER et al., 2000, 2004).
De acordo com o sistema e a nomenclatura desenvolvida por Winsor para caracterizar as
emulsões considerando a razão volumétrica entre fase aquosa e oleosa e não só a liofilia do
agente tensoativo, durante a inversão de fases da emulsão, o sistema estará na fase III, onde
existe excesso de fases aquosa e oleosa e há a formação de microemulsão, neste ponto a
estabilidade é mínima e o gasto energético para formação da emulsão também será mínimo
(BECHER; SCHICK, 1987; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SAJJADI et al., 2003;
SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; SALAGER et al., 2004).
Mapas de transição de fases que descrevem o comportamento de sistemas constituídos
por fase aquosa/fase oleosa/tensoativo (não-iônico) têm sido desenvolvidos por Brooks et al.
(1998) e Salager et al. (2000, 2004).
De acordo com a região (Figura 2), estes mapas descrevem os possíveis tipos e
morfologias de uma emulsão, dependendo de variáveis relacionadas à formulação e ao processo
de emulsificação, além de indicar o locus de inversão de fases das emulsões. Estes têm sido
empregados e adaptados a sistemas constituídos por diferentes fases oleosas e agentes
tensoativos (ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001; SAJJADI; JAHANZAD; BROOKS, 2002;
SAJJADI et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; XIE; BROOKS, 2004; ROBERTS;
XIE; BROOKS, 2006); e consideram a polaridade, a natureza e a concentração do tensoativo, a
fração volumétrica água/óleo, a salinidade da fase aquosa, a natureza da fase oleosa e a
Revisão da Literatura 29
temperatura de emulsificação. (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al.,
2000, 2004).
Figura 2 - Mapa de transição de fases, fração volumétrica das fases aquosa e oleosa versus a diferença de afinidade do par de tensoativos, representando os diferentes tipos de emulsão obtidos em função da região. Os locus de transição de fases também são descritos (BROOKS; RICHMOND, 1991; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al., 2000, 2004)
Estes mapas de transição integram as variáveis relacionadas à formulação e ao processo
de emulsificação porque consideram concomitantemente: (a) a liofilia dos agentes tensoativos
empregados, ou seja, a molécula do tensoativo per si como o clássico trabalho desenvolvido por
Griffin; (b) os conceitos formulados por Winsor no início da década de 50, que, além da liofilia
do tensoativo empregado, também considera a influência da fração volumétrica da fase oleosa e
aquosa utilizada e (c) a influência da temperatura de emulsificação nas características de liofilia
dos agentes tensoativos não iônicos em uma determinada formulação, teoria da temperatura de
inversão de fases desenvolvida alguns anos depois por Shinoda. Estas teorias foram e são
fundamentais para o desenvolvimento da ciência de emulsões; entretanto isoladamente não
podem acomodar todas as variáveis da formulação e do processo envolvidas na emulsificação
(BROOKS; RICHMOND, 1991; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al.,
2000, 2004; IZQUIEDO et al., 2005).
Revisão da Literatura 30
2.5. Nanoemulsões
Nanoemulsões são constituídas por glóbulos com distribuição de tamanho entre 20 e
500nm, ou seja, com dimensões entre os glóbulos de microemulsões e emulsões convencionais
ou macroemulsões (FERNANDEZ et al., 2004). Estudos quanto à aplicação de emulsões com
glóbulos menores que 1 μm e de nanoemulsões têm sido desenvolvidos como: (a) carreadores
de fármacos, tanto para uso tópico e/ou cosmético (TADROS et al., 2004b; SONNEVILLE-
AUBRUN; SIMONNET; L’ALLORET, 2001; MORAIS et al., 2006a); (b) aplicações
farmacêuticas, incluindo parenteral (BENITA; LEVY, 1993; SZNITOWSKA et al., 2001);
ocular (KLANG et al., 1994; CALVO; VILA-JATO; ALONSO, 1996) e transdérmica (WU;
RAMACHANDRAN; WEINER, 2001).
Alguns aspectos físico-químicos destes sistemas coloidais são determinantes para sua
estabilidade superior quando comparados aos sistemas de macroemulsões (TADROS et al.,
2004b). O tamanho dos glóbulos permite grande redução da força gravitacional sobre o sistema,
o que permite que o movimento Browniano dos glóbulos seja suficiente para sobrepô-la e
assim, evitar fenômenos como cremeação e sedimentação durante o período de armazenagem.
A granulometria do sistema também é responsável por prevenir o fenômeno da coalescência,
como estes glóbulos são não facilmente deformáveis, flutuações em sua superfície são
minimizadas. Em adição, a espessura do filme interfacial de tensoativos (relativa ao raio do
glóbulo) previne qualquer diminuição e rompimento do filme entre os glóbulos em dispersão
(CAPEK, 2004).
As nanoemulsões podem ser obtidas, empregando-se métodos de emulsificação de baixa
energia, em especial o processo de inversão de fases transicional, com ou sem a formação de
estruturas líquido-cristalinas ao redor dos nano-glóbulos. O emprego destes métodos para
obtenção de nanoemulsões tem sido amplamente descrito (BOUCHEMAL et al., 2004;
Revisão da Literatura 31
FERNANDEZ et al., 2004; TADROS et al., 2004; SONNEVILLE-AUBRUN; SIMONNET;
L’ALLORET, 2001; USÓN; GARCIA; SOLANS, 2004; IZQUIERDO et al., 2005; MORAIS
et al., 2006a).
Dentre os processos de instabilidade de emulsões, maturação de Ostwald (Ostwald
ripening), citado nos itens 2.1. e 2.2.2., é o mais preocupante para as nanoemulsões. Afinal
quanto maior a curvatura interfacial do glóbulo em dispersão, maior a solubilidade da fase
dispersa na fase dispersante. Este processo envolve o movimento de moléculas da fase dispersa
para dispersante através de difusão passiva ou mesmo através de transporte assistido por
micelas. Assim, o mecanismo de maturação de Ostwald (Ostwald ripening) permite que os
glóbulos maiores aumentem em tamanho as expensas dos menores. Deve-se observar ainda que,
quanto mais polidisperso o sistema, mais pronunciado será este mecanismo, afinal mais
pronunciada será a diferença de solubilidades e/ou potencias químicos entre os glóbulos em
dispersão (CAPEK, 2004).
Algumas vantagens da aplicação de nanoemulsões como veículo farmacêutico e/ou
cosmético tem sido descritas: (a) a grande área de superfície do sistema permite liberação
rápida e eficiente dos ativos a partir da formulação; (b) a granulometria do sistema poderia
promover maior penetração de ativos na pele e (c) a fluidez do sistema, estável mesmo na
ausência de agentes espessantes, pode conferir sensação agradável ao consumidor durante a
aplicação do produto na pele (SONNEVILLE-AUBRUN; SIMONNET; L’ALLORET, 2001;
BOUCHEMAL et al., 2004; TADROS et al., 2004b; USÓN; GARCIA; SOLANS, 2004). As
nanoemulsões podem ser empregadas como substitutas de lipossomas e vesículas, sistemas que
apresentam estabilidade inferior. É possível em alguns casos haver a formação de fases líquido-
cristalinas lamelares ao redor dos glóbulos da nanoemulsão, o que sem dúvida amplia sua
estabilidade físico-química. Ao contrário das microemulsões que geralmente exigem elevadas
concentrações de tensoativos, o que em muitos aspectos inviabiliza a aplicação cosmética e/ou
Revisão da Literatura 32
farmacêuticas destes sistemas, as nanoemulsões podem ser preparadas empregando-se
concentrações de tensoativos entre 3,0 e 10,0% (BOUCHEMAL et al., 2004).
2.6. Emulsões Múltiplas
2.6.1. Definição
Emulsão múltipla é uma emulsão na qual a fase dispersa contém pequenas gotas de uma
outra fase dispersa em seu interior. Esta segunda fase dispersa está fisicamente separada por
uma fase dispersa de composição distinta. São sistemas onde os dois tipos de emulsão (A/O e
O/A ou O/A e A/O) existem simultaneamente, podendo assim ser do tipo A/O/A (Figura 3) ou
O/A/O. Sistemas ainda mais complexos como A/O/A/O e O/A/O/A, glóbulos múltiplos
contendo glóbulos múltiplos, têm sido descritos (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FOX,
1986; MATSUMOTO, 1983, 1986, 1987; OMOTOSHO, 1990; YAZAN; SEILLER;
PUISIEUX, 1993; GARTI, 1997a e b; RIEGER; BANKER, 1998; ROSANO; GANDOLFO;
HIDROT, 1998; KANOUNI; ROSANO; NAOULI, 2002; VASUDEVAN; NASER, 2002;
BENICHOU et al., 2004; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
Segundo Florence e Whihehill (1982) as emulsões podem ser classificadas de acordo
com sua morfologia em: (a) tipo A, glóbulos múltiplos que apresentam um único glóbulo
grande interno; (b) tipo B, glóbulos múltiplos que apresentam quantidade razoável de glóbulos
pequenos internos e (c) tipo C, glóbulos múltiplos que apresentam grande quantidade de
glóbulos pequenos internos. O tipo C é o mais útil para o emprego como veículos cosméticos
e/ou farmacêuticas (VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005) (Figura 3).
Revisão da Literatura 33
Figura 3 - Morfologia dos glóbulos múltiplos, segundo Florence e Whitehill (1982)
2.6.2. Aplicações
Emulsões múltiplas possuem várias aplicações em áreas da indústria cosmética,
farmacêutica, alimentícia e química em geral (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; RAYNAL et
al., 1993; SELA; MAGDASSI; GARTI, 1995; GARTI, 1997a e b; NAKHARE; VYAS, 1996;
ARNEJO; GARCIA; LORENZO, 2001; KANOUNI; ROSANO; NAOULI, 2002; YU et al.,
2003; BENICHOU et al., 2004; DEVANI; ASHFIRD; CRAIG, 2005).
Este sistema possui propriedades particulares, tais como: (a) capacidade de
encapsulamento de ativos cosméticos ou fármacos; (b) proteção da substância encapsulada
quanto a processo de oxidação; (c) habilidade de veicular substâncias incompatíveis, por
exemplo, com características hidrofílico/lipofílico/hidrofílico para emulsões A/O/A,
respectivamente, em um mesmo sistema e (d) liberação prolongada do ativo ou fármaco
encapsulado (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; DAVIS; WALKER, 1983; LUCA et al., 1990;
LIN; WU, 1991; ROCHA-FILHO, 1989, 1992; TERRISSE et al., 1993; YAZAN et al., 1995;
JAGER-LEZER et al, 1996; LAUGEL et al., 1996; RIEGER; BANKER, 1998; ARNEJO;
GARCIA; LORENZO, et al., 2001; YU et al., 2003 e BENICHOU et al., 2004).
A aplicação de emulsões múltiplas pelas ciências cosmética, farmacêutica e química em
geral tem suas limitações no que diz respeito a dificuldades em caracterizar e elucidar os
parâmetros envolvidos em sua estabilidade e seus mecanismos de liberação e de obtenção (em
especial em etapa única) (LAUGEL et al., 1998a e b). Assim, o uso de emulsões múltiplas
Revisão da Literatura 34
como veículo para liberação controlada de ativos cosméticos ou fármacos depende do sucesso
de formulações, usando óleos e emulsificantes que produzam características adequadas de
estabilidade e possuam baixa toxicidade (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FOX, 1986;
DAVIS; WALKER, 1987; BENICHOU et al., 2004; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC,
2005).
Luca et al. (1990) salientaram que a possibilidade de introduzir ativos na fase aquosa
interna e externa permite um perfil de liberação com ação prolongada e imediata numa mesma
formulação, pois a liberação prolongada do ativo contido na primeira fase dispersa, ou a mais
interna, é esperada pelo fato deste ter que transpor duas interfaces. A possibilidade de se
desenvolver sistemas com perfil de liberação sustentado proporciona benefícios em termos de
cinética de liberação do ativo/ou fármaco e possibilita redução nas dosagens e número de
aplicações usuais do produto cosmético e/ou farmacêutico (BRODIN; KAVALIUNAS;
FRANK, 1978; DAVIS; WALKER, 1987).
Apesar desta gama de aplicações em potencial, as emulsões múltiplas, assim como as
macroemulsões e nanoemulsões, são sistemas termodinamicamente instáveis podendo
apresentar problemas de instabilidade durante o período de armazenamento. Portanto, o
formulador de sistemas múltiplos deve estar atento a processos como: lixiviação de
componentes da fase interna (ativos, fármacos, tensoativos e polímeros); floculação da primeira
e segunda fase dispersa; coalescência das fases de mesma liofilia e, por fim, separação de fases
(FLORENCE; WHITEHILL, 1982; FOX, 1986; DAVIS; WALKER, 1987; NAKHARE;
VYAS, 1996; ROSANO; GANDOLFO; HIDROT, 1998; KANOUNI; ROSANO; NAOULI,
2002).
Revisão da Literatura 35
2.6.3. Estabilidade
Segundo Fox (1986) alguns fatores são fundamentais para tornar uma emulsão múltipla
comercialmente bem sucedida: determinar o tipo e as características químicas dos agentes
emulsionantes utilizados; caracterizar a influência da razão entre o volume da fase oleosa e
aquosa na produção e estabilidade da emulsão múltipla; determinar a proporção mais adequada
entre os tensoativos da emulsão primária e múltipla, determinar o método de manipulação mais
adequado e padronizar e validar os métodos de análise da estabilidade do sistema múltiplo.
A estabilidade de uma emulsão múltipla depende das variáveis da formulação, e também
das variáveis do processo de obtenção. Os objetivos ao se produzir um sistema múltiplo devem
ser eficiência na encapsulação do ativo na fase mais interna da emulsão, estabilidade adequada
deste ativo in vitro e um perfil de liberação adequado para aplicações in vivo. As propriedades
da fase oleosa e do tensoativo estão diretamente envolvidas com a estabilidade da emulsão
primária e sem dúvida uma emulsão primária instável conduzirá a formação de uma emulsão
múltipla instável (DAVIS; WALKER, 1987).
Vários trabalhos têm sido desenvolvidos a fim de elucidar os fatores concernentes à
estabilidade de emulsões múltiplas A/O/A e O/A/O. Garti (1997b) enumera os fatores que têm
sido primordialmente avaliados: estabilização da interface interna da primeira emulsão; seleção
de fase oleosa adequada, o uso de possíveis carreadores; o emprego de complexantes e doadores
de viscosidade e, finalmente a estabilização da interface externa.
A estabilidade das emulsões múltiplas pode ser ampliada utilizando-se vários métodos
como a estabilização na presença de eletrólitos; a formação de um gel polimérico na fase
aquosa, e a complexação interfacial entre tensoativos não-iônicos e macromoléculas
(NAKHARE; VYAS, 1996). Yazan et al. (1995) sugeriram que este último fator seria explicado
pelo fato deste filme interfacial complexo poder restringir a migração dos tensoativos de uma
Revisão da Literatura 36
interface para a outra, fator que parece ser uma das causas de instabilidade das emulsões
A/O/A.
Segundo Baillet et al. (1994) a estabilidade também poderia ser ampliada em função do
aumento da viscosidade da fase dispersante e da diminuição do tamanho dos glóbulos múltiplos
dispersos. Entretanto, o tamanho dos glóbulos não poderia ser muito reduzido, pois promoveria
aumento pronunciado da área de superfície de contato, descaracterizando possível ação
sustentada do sistema.
A influência da velocidade e do tempo de adição da emulsão primária à fase externa
sobre o tamanho dos glóbulos formados deve ser considerada para o processo de re-
emulsificação. Um período de tempo insuficiente pode produzir glóbulos muito grandes,
inaceitáveis para a estabilidade do sistema, enquanto períodos prolongados podem formar
emulsões com glóbulos consideravelmente pequenos, porém não múltiplos (FOX, 1986;
DAVIS; WALKER, 1987). Luca et al. (1990) e Fox (1986) concluíram que o processo de re-
emulsificação é crítico para estabilidade da emulsão múltipla. Fatores como a adição das fases
aquosa ou oleosa e o valor da temperatura de manipulação também são relevantes.
Florence e Whitehill (1982) afirmaram que a natureza da fase oleosa pode ter grande
influência na estabilidade de um sistema múltiplo. Como regra geral sabe-se que óleos minerais
produzem sistemas mais estáveis do que óleos vegetais (DAVIS; WALKER, 1987). Vasudevan
e Naser (2002) observaram que a eficiência na produção de sistemas múltiplos é maior quando
o óleo mineral é utilizado ao invés de óleos vegetais, que apresentam composição mais
complexa. Quanto aos tensoativos utilizados, Laugel et al. (1996) verificaram que
concentrações muito baixas do tensoativo hidrofílico utilizado no processo de re-emulsificação
para sistemas (A/O/A) podem não ser suficientes para produzir uma emulsão estável.
Entretanto, em altas concentrações, principalmente acima da concentração micelar crítica
(CMC), pode haver solubilização através de micelas das moléculas do tensoativo lipofílico da
interface para a fase aquosa externa, conduzindo à desestabilização do sistema.
Revisão da Literatura 37
Hameyer e Jenni (1996) afirmaram que, para aprimorar a escolha dos tensoativos
utilizados em emulsões múltiplas alguns fatores devem ser considerados: (a) tensoativos
hidrofílicos devem possuir valores de EHL acima de 15,0; esta característica minimizaria a
solubilização do tensoativo hidrofílico na fase oleosa e assim, sua tendência de migração; (b) o
uso de quantidades mínimas de tensoativos, o que dificultaria a adsorção parcial destes na
interface com liofilia oposta evitando a desestabilização destas interfaces.
Métodos para a avaliação da estabilidade das emulsões múltiplas têm sido descritos,
submetendo as amostras a estresses mais moderados do que os utilizados para emulsões simples
(BURBAGE; DAVIS, 1980; FLORENCE; WHITEHILL, 1982; LAUGEL et al., 1994 e 1996).
Alterações na estabilidade podem ser mensuradas através da quantificação dos glóbulos
múltiplos durante um período de tempo determinado ou através de estudos das propriedades
reológicas. Estas incluem tanto análises interfaciais quanto do comportamento reológico do
sistema disperso. Análises microscópicas podem monitorar mudanças significativas na
morfologia dos glóbulos (LIN; WU, 1991; DAVIS; WALKER, 1993; NAKHARE; VYAS,
1996; OPAWALE; BURGESS, 1998b e JIAO; BURGESS, 2003).
Análises reológicas de emulsões múltiplas têm sido empregadas na caracterização
estrutural, avaliação da estabilidade física e na análise de possíveis desestruturações do sistema
múltiplo. Contudo muitos parâmetros desta correlação continuam pouco esclarecidos (PY et al.,
1994; TERRISSE et al., 1994; OPAWALE; BURGESS, 1998; MUGUET et al., 1999; JIAO;
BURGUESS, 2003; TADROS, 2004b).
JIAO et al., (2002) avaliaram a importância da correlação entre análises reológicas,
como por exemplo, da determinação da viscoelasticidade interfacial com a estabilidade de
emulsões múltiplas. Estudos recentes têm demonstrado a viabilidade do emprego de análises
reológicas oscilatórias, correlacionando os fatores G’ e G’’ com mudanças da quantidade de
fase dispersa de emulsões múltiplas após períodos pré-determinados e assim com a estabilidade
(JIAO; BURGESS, 2003; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
Revisão da Literatura 38
Outro método indireto para estimar a estabilidade consiste na adição de marcadores
químicos em uma das fases, seguido de estudos de diálise calculando-se posteriormente o
rendimento (DAVIS; WALKER, 1987). A eficiência de encapsulação pode ser determinada
utilizando marcadores disponíveis comercialmente como eletrólitos, glicose ou corantes.
Alterações na estabilidade podem ser mensuradas através da quantificação dos glóbulos
múltiplos durante um período de tempo determinado ou através de estudos das propriedades
reológicas, e análises microscópicas podem monitorar mudanças significativas na morfologia
dos glóbulos, (DAVIS; WALKER, 1987; LIN; WU, 1991; NAKHARE; VYAS, 1996;
OPAWALE; BURGESS, 1998b, JIAO; BURGESS, 2003).
Nakhare e Vyas (1996) avaliaram a estabilidade de emulsões múltiplas A/O/A
acrescidas de macromoléculas e polímeros (gelatina, albumina sérica bovina, álcool polivinílico
e ácido poliacrílico) presentes na fase aquosa interna e concluíram que as emulsões contendo
macromoléculas apresentaram maior estabilidade e maior eficiência no encapsulamento do
diclofenaco de sódio.
Yazan et al. (1995) também avaliaram a adição de polivinilpirrolidona (PVP) em
emulsões A/O/A e a hipótese seria da formação de uma rede polimérica na região adjacente a
interface, particularmente na fase aquosa externa, fato que aumentaria a estabilidade do sistema.
Entretanto, os resultados sugerem que o PVP possui baixa influência sobre a estabilidade ou
sobre o comportamento reológico da emulsão formulada e, quando submetida a altas
temperaturas, a emulsão contendo PVP foi menos estável que o controle sem PVP, indicando
que o polímero não foi capaz de formar uma rede polimérica satisfatória na fase aquosa da
emulsão para ampliar sua estabilidade.
A adição de eletrólitos, como por exemplo, de cloreto de sódio (NaCl), em soluções de
tensoativos ou em emulsões, pode provocar o fenômeno denominado salt-out. Em emulsões,
este promove um rearranjo das moléculas de tensoativos nas interfaces O/A e A/O, que se
modificam, tornando-se mais rígidas, formando então uma barreira mecânica, aumentando a
Revisão da Literatura 39
estabilidade. Este fenômeno pode ser explicado como resultado de um rearranjo/reorganização
do filme interfacial, consequência de sua desidratação. Com o aumento da concentração de
NaCl as interfaces tornam-se mais condensadas. Contudo, dependendo da quantidade de sal
utilizada, o sistema pode se desestabilizar progressivamente, proporcionando a destruição dos
glóbulos múltiplos (BRODIN et al., 1989).
As emulsões múltiplas são sistemas ainda mais instáveis quando comparados a
emulsões simples, considerando-se a presença de duas interfaces, das possíveis interações entre
estas e do aumento ainda maior de área interfacial, os mecanismos de estabilidade cinética e
termodinâmica desses sistemas tornam-se ainda mais complexos, exigindo do formulador
conhecimento acurado dos parâmetros físico-químicos envolvidos tanto em seu processo de
obtenção, quanto para a sua estabilidade.
2.6.4. Mecanismos de Liberação
A avaliação do perfil de liberação do sistema múltiplo permite traçar um modelo de
liberação sustentada além de ser um método útil para análise da integridade do filme ou
membrana oleosa para emulsões A/O/A. A seleção do ativo marcador para este tipo de sistema
possui alguns requisitos: solubilidade aquosa; solubilidade oleosa mínima; difusão mínima ou
mesmo inexistente pela fase oleosa; ser facilmente analisado e não possuir efeitos significativos
sobre as propriedades da emulsão (ZATZ; CUEMAN, 1988).
Vários estudos têm demonstrado a capacidade de encapsulamento e o perfil de liberação
de substâncias ativas em emulsões O/A/O. Estes sistemas têm sido empregados em cosméticos
por possuírem grande quantidade de fase oleosa e daí serem capazes de formar um filme
oclusivo (barreira) na superfície da pele, aumentando seu conteúdo hídrico por diminuir a perda
de água transepidermal (ROCHA-FILHO, 1997; SILVA et al., 1997).
Revisão da Literatura 40
As características de liberação do ativo ou fármaco a partir desses sistemas podem ser
influenciadas por vários fatores como a composição da emulsão (concentração e tipo de
tensoativo empregado), o método de preparo (volume das fases aquasa e oleosa), tamanho dos
glóbulos, viscosidade, valores de pH, e a natureza das moléculas encapsuladas, em particular
quando do emprego de eletrólitos (GARTI, 1997a; JAGER-LEZER et al., 1996; LAUGEL et
al., 1996; LIN; WU, 1991; NAKHARE; VYAS, 1996).
Davis e Walker (1987), Yazan et al. (1995), Garti (1997a e b) e Benichou et al. (2004)
identificaram os possíveis mecanismos para liberação do princípio ativo a partir de sistemas
múltiplos: difusão do ativo não ionizado através da camada intermediária; difusão do ativo
ionizado ou não ionizado através de membranas líquidas óleo/água e coalescência da fase
interna e ruptura dos glóbulos múltiplos. Laugel et al. (1996) consideraram a difusão e a
diferença de pressão osmótica como fatores determinantes para a modulação da liberação de
princípios ativos a partir de sistemas múltiplos.
Yazan et al. (1995) sugerem que o aumento no tempo de liberação do ativo a partir
desses sistemas depende de vários fatores, incluindo a natureza da fase oleosa, o gradiente
osmótico das duas fases aquosas para sistemas A/O/A, a concentração das fases, a liofilia do
ativo e possíveis interações deste com os componentes da interface do glóbulo. Para que haja
liberação sustentada do ativo encapsulado os sistemas múltiplos devem se manter físico-
quimicamente estáveis. Outras propriedades têm sido demonstradas pelos sistemas múltiplos
como: imobilização de enzimas, camuflagem do sabor desagradável de alguns fármacos;
remoção de drogas ou fármacos em incidentes envolvendo overdose; tratamento de efluentes
industriais; preparo de vesículas lipídicas e de microcápsulas; além de formulações como
aerossol e cosméticos para liberação prolongada de fragrâncias (FLORENCE; WHITEHILL,
1982; FOX, 1986; DAVIS; WALKER, 1987; BENICHOU et al., 2004; VASILJEVIC;
VULETA; PRIMORAC, 2005).
Revisão da Literatura 41
Laugel et al. (1996) utilizaram a diidralazina como marcador e avaliaram o perfil de
liberação de emulsões A/O/A. Os autores desenvolveram metodologia analítica que permite
avaliar se a liberação do marcador ocorreria por difusão passiva ou rompimento dos glóbulos
múltiplos. O marcador foi quantificado na fase externa da emulsão imediatamente após seu
preparo e em função do tempo para avaliar o rompimento dos glóbulos múltiplos durante o
período de estocagem. O coeficiente de partição foi um parâmetro eficiente para predizer a taxa
de difusão a partir do sistema em análise (LAUGEL et al., 1996, 1998a e b).
A estabilidade de emulsões A/O/A na presença de substâncias ativas hidratantes (uréia e
ácido glicólico) foi avaliada por Jeger-Lezer et al. (1996). Os autores concluíram que estas
substâncias ativas não interferem na estabilidade da emulsão. Análises microscópicas não
revelaram mudanças na natureza ou tamanho dos glóbulos múltiplos. As emulsões foram
preparadas com o ácido glicólico na forma ionizada, assim, o perfil de liberação foi avaliado
através da determinação da condutividade elétrica. Pelo fato do ativo estar ionizado, a liberação
não poderia ter ocorrido por difusão passiva, assim os autores propõem transporte micelar,
devido à concentração do tensoativo hidrofílico acima da CMC, ou através do rompimento dos
glóbulos múltiplos.
Laugel et al. (1998a) observaram que a incorporação de derivados triterpênicos em
emulsões múltiplas O/A/O protelou o processo oxidação e proporcionou um perfil de liberação
sustentado após aplicação tópica. Os autores concluíram que compostos triterpênicos e seus
derivados osídicos em níveis terapêuticos (1%) podem ser encapsulados em emulsões O/A/O. A
função de reservatório desta emulsão foi demonstrada após sua aplicação tópica. Os altos níveis
de compostos triterpênicos e a permanência por longos períodos na epiderme e na derme, em
comparação com aqueles obtidos com o uso de uma emulsão simples, viabilizam o uso
terapêutico da formulação desenvolvida.
Laugel et al. (1998b) também observaram que a liberação de hidrocortisona a partir de
sistemas múltiplos O/A/O foi prolongada quando comparada a emulsões simples e que a
Revisão da Literatura 42
liberação do fármaco depende marcadamente das características do veículo. A emulsão múltipla
favoreceu a retenção de hidrocortisona na derme, aumentando a concentração do fármaco em
seu sítio de ação, o que pode prolongar o efeito terapêutico local e diminuir possíveis efeitos
sistêmicos.
A possibilidade de se desenvolver veículos com perfil de liberação sustentado
proporciona benefícios em termos de cinética de liberação do ativo/ou fármaco, possibilitando
redução nas dosagens e número de aplicações usuais de determinado ativo/ou fármaco (DAVIS;
WALKER, 1987; LUCA et al., 1990).
2.6.5. Métodos de Obtenção
Estas emulsões complexas podem ser obtidas principalmente pelos métodos: (a)
emulsificação em uma e (b) em duas etapas, utilizando-se o diagrama ternário com a finalidade
de aprimorar a emulsificação em uma única etapa (ROCHA-FILHO; VAUTION; SEILLER,
1989; ROCHA-FILHO, 1992; LUCA et al., 1990; GOMES; ROCHA-FILHO, 1993; YAZAN
et al., 1995; GARTI, 1997a e b; DEVANI; ASHFIRD; CRAIG, 2005).
Dentre estes, o mais utilizado é o processo de emulsificação em duas etapas que consiste
no preparo de uma emulsão primária A/O ou O/A que é então re-emulsificada (segunda etapa) e
adicionada à outra fase aquosa ou oleosa contendo tensoativos hidrofílicos ou lipofílicos,
respectivamente, formando emulsões múltiplas do tipo A/O/A ou O/A/O (LUCA et al., 1990;
GARTI, 1997a e b; ROCHA-FILHO, 1997; LAUGEL et al., 1998a; TOGNIOLO;
GONÇALVES; ROCHA-FILHO, 1999; YU et al., 2003; CARLOTTI et al., 2005).
Um método de obtenção de emulsões múltiplas A/O/A foi proposto por Gomes e
Rocha-Filho (1993) e consiste em utilizar misturas binárias dos tensoativos (álcoois e ésteres
graxos etoxilados) com valores finais de EHL de 8,5; 10,5; 11,5 e 12,0 e diferentes óleos
vegetais (rícino, girassol e milho) na produção de emulsões A/O/A. Também foi avaliada a
Revisão da Literatura 43
adição de macromoléculas (hidroxietilcelulose) à fase aquosa e sua possível interação com o
tensoativo lipofílico. As emulsões múltiplas mais estáveis foram obtidas quando existia uma
similaridade entre a região hidrofóbica do tensoativo hidrofílico com a fase lipofílica. O
aumento do caráter hidrofílico da mistura de tensoativos (aumento do EHL) provocou redução
no tamanho dos glóbulos múltiplos o que favoreceu sua estabilidade.
Ferrari, Lofredo e Rocha-Filho (2000) desenvolveram e avaliaram emulsões múltiplas
O/A/O utilizando o óleo de copaíba como fase oleosa. As emulsões foram obtidas pelo método
de diagramas de fase e por emulsificação em duas etapas. Dentre as formulações desenvolvidas
a mais estável foi a formulada com 5% de monooleato de sorbitano como tensoativo lipofílico.
A estabilidade destas formulações foi ampliada com a adição de eletrólitos (cloreto de sódio
0,1%), que tornaram a membrana intermediária mais rígida, devido à desidratação da superfície;
e com uso de ozoquerita 1,0% que aumentou a viscosidade da fase externa oleosa.
Emulsões múltiplas (A/O/A ou O/A/O) podem ser obtidas pelo método em etapa única
baseando-se no conceito de que estas emulsões consistem em mesofase (sistema intermediário)
entre sistemas simples O/A e A/O e podem ser formadas durante processo de inversão de fases,
sobretudo quando tensoativos não-iônicos são empregados na manipulação (SHINODA;
FRIBERG, 1986; MARSZALL, 1987; GARTI, 1997; ZERFA; SAJJADI; BROOKS, 2001;
SAJJADI; JAHANZAD; BROOKS, 2002; SAJJADI et al., 2003; SAJJADI; ZERFA;
BROOKS, 2003; BOUCHAMA et al., 2003; XIE; BROOKS, 2004; SALAGER et al., 2004;
DEVANI; ASHFIRD; CRAIG, 2005; BR Pat. 0180700074452; MORAIS et al., 2008). Quando
há formação de sistemas complexos contendo glóbulos múltiplos estas inversões podem ser
descritas como não verdadeiras (BROOKS; RICHMOND, 1991).
Pacek, Nienow e Moore (1994) sugeriram que o processo de inversão de fases ocorre
como resultado do desenvolvimento de emulsões múltiplas. Assim, dependendo da escolha dos
componentes da formulação e das condições escolhidas para execução do processo, emulsões
múltiplas podem ser obtidas sem a necessidade da etapa de re-emulsificação. Oh et al. (2004)
Revisão da Literatura 44
descreveram a obtenção de emulsões O/A/O em etapa única. Entretanto, os autores não
correlacionaram este mecanismo de obtenção com processo de inversão de fases, mas sim com
a migração de tensoativos entre as fases dispersas e dispersante.
Lin, Kurihara e Ohta (1975) e Matsumoto (1983) já especulavam a possibilidade de
formação de emulsões múltiplas durante o processo de inversão de fases e a provável migração
do par de tensoativos entre as interfaces interna e externa e Brooks, Richmond e Zerfa (1998)
investigaram a importância em conhecer a localização dos tensoativos empregados durante o
processo de inversão de fases para a formação de emulsões múltiplas.
O desenvolvimento de emulsões múltiplas através de método em etapa única simplifica
a técnica para obtenção destes sistemas quando comparado ao processo em duas etapas
(MATSUMOTO, 1983, 1986, 1987; OH; KURIHARA; OHTA, 2004). Os estudos com a
finalidade de aperfeiçoar o método de obtenção de sistemas dispersos são etapas primordiais
para compreensão das variáveis relevantes do processo e os mecanismos envolvidos em sua
estabilidade.
OBJETIVOS
Objetivos 46
3. OBJETIVOS
O objetivo geral da pesquisa foi desenvolver emulsões múltiplas A/O/A, elucidando as
variáveis relevantes à formulação e ao processo de emulsificação em etapa única, caracterizar
os aspectos físico-químicos das emulsões múltiplas A/O/A obtidas e dos tensoativos
empregados, e realizar testes preliminares de estabilidade e do perfil de liberação de um ativo
modelo (cafeína).
Os objetivos específicos da pesquisa foram:
Caracterizar físico-quimicamente as emulsões simples obtidas durante o processo
pretendido;
Avaliar e caracterizar a estabilidade físico-química dos sistemas dispersos simples
obtidos;
Analisar a influência de variações qualitativas e quantitativas na composição dos
sistemas múltiplos propostos e no processo/método de emulsificação em etapa única;
Determinar as características físico-químicas dos tensoativos hidrofílico e lipofílico
empregados na formulação dos sistemas múltiplos;
Determinar as características físico-químicas e microestruturais da emulsão múltipla
A/O/A, correlacionando-as ao processo de obtenção e à estabilidade do sistema;
Realizar estudos preliminares de estabilidade das emulsões múltiplas obtidas;
Realizar estudos preliminares da liberação do ativo modelo (cafeína) a partir dos
sistemas múltiplos obtidos.
MATERIAL E MÉTODOS
Material e Métodos 48
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Material
4.1.1. Fase Oleosa
Óleos vegetais: canola e soja de grau alimentício (Bunge Alimentos S.A.) e rícino,
oliva, maracujá e germe de trigo de grau farmacêutico (Beraca);
Óleo mineral: vaselina líquida grau USP (Labsynth);
Derivados de silicone (dimeticone, fluido de silicone de média viscosidade, 350 CSt),
200 Fluid® (Dow Corning).
4.1.2. Tensoativos
Monooleato de sorbitano (Figura 4): mono-éster do ácido oléico e hexitol anidrido
derivado de sorbitol, denominado pelo CTFA como Sorbitan oleate (C24H44O6), massa
molar (g/mol) de 428,61; com valor de EHL de 4,3. Fongragen MOS® (Clariant),
Span80® (Oxiteno);
Figura 4 - Estrutura molecular de monooelato de sorbitano (Span80®) (www.sigmaaldrich.com/catalog/search/ProductDetail/SIGMA/S6760)
Material e Métodos 49
Óleo de rícino hidrogenado e etoxilado: éster obtido pela reação de óxido de etileno
com óleo de rícino hidrogenado, denominado pelo CTFA como PEG 40 hydrogenated
castor oil, massa molar (g/mol) de 2.589, valor de EHL de 14,1. ChremophorRH40®
(Basf), Croduret 50 Special® (Croda), Emulsogen HCO040® (Clariant), UltroilRH400®
(Oxiteno); A Figura 5 representa a estrutura molecular do poli óxido de etileno e a
Figura 6 a estrutura molecular do óleo de rícino (a estrutura polimérica do
CremophorRH40® não está disponível na literatura);
Óleo de rícino etoxilado: éster obtido pela reação de óxido de etileno com óleo de
rícino não-hidrogenado, denominado pelo CTFA como PEG 40 castor oil, peso
molecular (g/mol) de 2.695, valor de EHL de 13. SurfomR400® (Oxiteno), UltroilR400®
(Oxiteno);
Figura 5 - Estrutura molecular do óxido de etileno, para o Cremophor RH40® n=40 (aproximadamente) (MEYER; WAIDELICH; FRAHM, 2002 e CROY; KWON, 2005)
Figura 6 - Estrutura molecular do óleo de rícino (MEYER; WAIDELICH; FRAHM, 2002 e CROY; KWON, 2005)
Material e Métodos 50
TritonX100®: éter fenil octil polioxietileno, denominado pelo CTFA como Octoxynol-
9, (C14H22O(C2H4O)n), valor de EHL de 13,5 (Sigma) (Figura 7);
Figura 7 - Estrutura molecular do Triton X100®, n=9,5 (aproximadamente) (www.sigmaaldrich.com/catalog/ProductDetail/SIAL/P1754)
Tween80®: polietilenoglicol (20) monooleato de sorbitano, denominado pelo CTFA
como Polysorbate 80, (C64H124O26), massa molar (g/mol) de 1.310, valor de EHL de
15,0 (Sigma) (Figura 8).
Figura 8 - Estrutura molecular do Tween80®, w+x+y+z=20 (www.sigmaaldrich.com/catalog/ProductDetail/SIAL/X100)
4.1.3. Fase aquosa
Água destilada recém obtida.
Material e Métodos 51
4.1.4. Aditivos
Sais hidrolisáveis
Cloreto de alumínio (AlCl3), Cloreto de cálcio (CaCl2), cloreto de sódio (NaCl),
bicarbonato de sódio (NaHCO3) e carbonato de sódio (Na2CO3), (Nuclear Ind.
Química);
Agentes Tensoativos
Cloreto de cetiltrimetilamônio (CCTA), cocamidapropilbetaína (CPB), lauril sulfato de
sódio (LSS);
Polímeros
Polímeros Naturais: polissacarídeo obtido por fermentação (Goma xantana);
polissacarídeo derivado de celulose (Natrosol®) e Carboximetilcelulose (Cmc) e
polissacarídeo obtido a partir de extratos de sementes (Goma Guar) (D’Altamare
Química);
Polímeros Sintéticos: sodium polyacrilate (Rapithix A-100® fornecido pela ISP),
(Aculyn 44® fornecido pela D’Altamare Química), polyacrylamide (and) C13-14
isoparaffin (and) laureth-7 (Sepigel 305® fornecido pela Chemyunion); hydroxylpropyl
starch phosphate (Structure XL® fornecido pela National Starch & Chemical);
Material e Métodos 52
Partículas Sólidas Finamente Divididas: Silicato de alumínio e magnésio (Veegun
Ultra® fornecido pela R.T.Vanderbilt Company Inc.);
Fase Móvel: acetato de sódio, água destilada e deionizada (Nanopure® Ultrapure water
system – Barnstead), acetonitrila (grau CLAE, Fisher Scientific), tetraidrofurano
(OPTIMA – Fisher Scientific), ácido acético glacial (grau reagente, Sigma-Aldrich);
Solventes para Processo de Extração do Ativo a partir da Emulsão Múltipla: etanol
desidratado para CLAE (Acros);
Solvente para Isoterma de Langmuir: metanol (grau CLAE, 0,2 mícrons filtrado,
Fisher Scientific);
Solução Tampão: acetato de sódio (Sigma), solução de ácido acético 2N (pH 5,5);
Ativo Modelo: cafeína anidra (Sigma, grau para cromatografia líquida de alta eficiência
(CLAE) ≥99%).
Material e Métodos 53
4.2. Métodos
4.2.1. Preparo da Emulsão Simples O/A
As emulsões simples foram obtidas pelo método de emulsificação por inversão de fases
(EIF). Foi empregada uma mistura de tensoativos (monooleato de sorbitano 2,58% p/p e éster
derivado do óleo de rícino hidrogenado e etoxilado, 2,42% p/p). A quantidade total de
tensoativos foi mantida em 5,0% p/p, resultando em um valor de EHL de 8,9 (GONÇALVES,
2000). A mistura de tensoativos foi solubilizada na fase oleosa (óleo de canola, 5,0% p/p). As
fases aquosa (90 %p/p) e oleosa foram aquecidas separadamente à temperatura de 70±2°C, em
seguida a fase aquosa foi vertida lentamente sobre a oleosa sob agitação constante e contínua de
400rpm (agitador mecânico Fisaton® – 702R) até que a emulsão adquirisse a temperatura
ambiente (25±5°C), conforme metodologia desenvolvida por Gonçalves (2000).
4.2.2. Caracterização Físico-química da Emulsão Simples O/A
4.2.2.1. Determinação do Valor de pH
O eletrodo foi inserido diretamente na amostra e o valor de pH determinado
(peagômetro Digmed® – Modelo DMPH-2).
Material e Métodos 54
4.2.2.2. Determinação da Temperatura de Inversão de Fases
A temperatura de inversão de fases da emulsão simples O/A foi determinada com
auxílio de um condutivímetro (DIGIMED® – Modelo CD-20) com aquecimento da amostra sob
temperatura monitorada (FERNANDEZ et al., 2004).
4.2.2.3. Influência da Adição de Tensoativos e Eletrólitos à Emulsão Simples
O/A
Os eletrólitos (cátions e ânions) e os tensoativos (caráter iônico e anfotérico) descritos
no item 4.1.4. foram acrescidos separadamente à fase externa da emulsão simples, nas seguintes
concentrações: 0,1%, 0,5% e 1% (e 0,25% somente para o tensoativo catiônico). Todos os
aditivos (na forma sólida) foram adicionados às amostras logo após o preparo e as análises
foram realizadas após 48 horas.
4.2.2.4. Determinação do Potencial Zeta e Distribuição Granulométrica
Os valores de potencial zeta foram obtidos a partir da derivação da mobilidade
eletroforética determinada utilizando o counter DELSA 440 SX® (Coulter Eletronics, MA,
USA). Este sistema analisa a mobilidade das partículas e colóides (0,02 a 3,0µm de diâmetro)
em dispersões líquidas utilizando medições independentes e simultâneas com laser Doppler em
quatro ângulos diferentes (8,9; 17,6; 26,3; 35,2°). A distribuição de tamanho das partículas é
baseada em espectroscopia de correlação de fótons ou espalhamento quase-elástico de luz. Esta
caracteriza o tamanho das partículas (granulometria) iluminando-as com laser. As amostras
Material e Métodos 55
foram inicialmente diluídas em água destilada na proporção de 1:20 e aplicadas na cubeta do
aparelho com o auxílio de uma seringa hipodérmica adaptada.
4.2.3. Teste de Estabilidade da Emulsão Simples O/A
4.2.3.1.Teste Preliminar de Estabilidade
As emulsões classificadas macroscopicamente como estáveis após 24 horas da
manipulação foram submetidas aos testes preliminares de estabilidade. As amostras submetidas
ao teste foram classificadas quanto a possíveis alterações macroscópicas em: N = normal; LM =
levemente modificada; M = modificada e IM = intensamente modificada (FERRARI, 1998,
2002).
4.2.3.1.1. Estresse Térmico
As amostras foram submetidas a aquecimento (banho-maria termostatizado) (Nova
Técnica Ltda® – Modelo 281 NT) na faixa de temperatura de 40 a 80±5°C, durante ciclos de 30
minutos, com incrementos de temperatura de 5°C após cada ciclo. Após o término do teste, as
emulsões simples foram avaliadas quanto ao aspecto macroscópico, valor do pH, análise do
potencial zeta e da distribuição granulométrica.
4.2.3.1.2. Centrifugação
Em tubo de ensaio cônico graduado para centrífuga foram adicionadas amostras de cada
formulação e submetidas a ciclos de 30 minutos de duração a 1000, 2500 e 3500rpm (70, 440 e
Material e Métodos 56
863G, respectivamente) (Fanem® Ltda. – Modelo 206 R; Excelsa BABY II) (ANSEL;
POPOVICH; ALLEN, 1999).
4.2.4. Teste de Estabilidade Acelerada
As amostras foram submetidas à diferentes temperaturas (4±2°C, 25±2°C e 45±2°C) por
um período de 30 dias. As leituras foram realizadas no 1º, 7º, 15º e 30º dia, após o preparo. As
amostras foram avaliadas quanto a possíveis variações nos valores de pH, potencial zeta e
distribuição granulométrica. (RIBEIRO, 1996; FERRARI, 1998, 2002).
4.3. Preparo da Emulsão Múltipla A/O/A
O método descrito a seguir foi considerado base para o preparo da emulsão múltipla,
exceção para o estudo das variáveis da composição ou método de obtenção desta, quando as
devidas exceções são especificadas.
As emulsões múltiplas foram obtidas pelo método de Emulsificação por Inversão de
Fases (EIF) e pelo método de temperatura de inversão de fase (TIF). Tensoativos, monooleato
de sorbitano 2,42% p/p e éster derivado do óleo de rícino hidrogenado e etoxilado, 2,58% p/p,
foram empregados.
A quantidade total de tensoativos foi mantida em 5,0% p/p, resultando em um valor de
EHL de 9,3. A mistura de tensoativos foi solubilizada na fase oleosa (óleo de canola). As fases
aquosa e oleosa foram aquecidas separadamente à temperatura de 78±2°C, com auxílio de
banho termostatizado, com controle do incremento de temperatura (⁰C/minutos) (Haake
Phoenix II B5® – ThermoFisher Scientific), e em seguida a fase aquosa foi vertida lentamente
Material e Métodos 57
sobre a oleosa sob agitação constante e contínua de 450rpm (agitador mecânico) até que a
emulsão adquirisse a temperatura ambiente (25±5°C).
Para os estudos de liberação do ativo modelo (cafeína), foi escolhida a amostra
considerada mais estável em relação aos parâmetros avaliados. A cafeína (1,0 %p/p) foi
solubilizada na fase aquosa previamente ao aquecimento de fases.
4.3.1. Análise de Variáveis da Composição dos Sistemas Múltiplos Propostos
4.3.1.1. Influência da Temperatura
4.3.1.1.1. Emulsificação a Frio
A fase oleosa (óleo de canola) e o par de tensoativos foram homogeneizados. A fase
aquosa foi gotejada nesta mistura com o auxílio de uma bureta (velocidade de gotejamento não
controlada). Nenhuma das fases foi aquecida, sendo o experimento conduzido sob temperatura
ambiente monitorada de 25±5°C. As concentrações das matérias-primas utilizadas não foram
alteradas. A formulação foi obtida sob agitação contínua e constante de 400rpm.
4.3.1.1.2. Emulsificação com Aquecimento de Fases
As fases aquosa e oleosa foram aquecidas separadamente à temperatura de 70±2°C. Em
seguida, a fase aquosa foi vertida lentamente sobre a oleosa sob agitação constante e contínua, a
velocidade de 400rpm até que a emulsão atingisse a temperatura ambiente (25±5°C). As fases
aquosa e oleosa foram ainda manipuladas com aquecimentos de 65, 70, 75 e 80±2°C.
Material e Métodos 58
4.3.1.1.3. Emulsificação com Aquecimento de Fases e Resfriamento sob
Temperatura Controlada
A fase oleosa adicionada de tensoativos e a fase aquosa foram aquecidas em banho-
maria até atingirem temperatura de 75±5°C. Em seguida, a fase oleosa contendo tensoativos
(tensoativo lipofílico/Span80® e tensoativo hidrofílico/SurfomR400®) foi colocada em banho-
maria termostatizado a 80±2°C° e a fase aquosa adicionada lentamente sobre esta mistura.
A amostra foi então submetida à agitação constante de 400rpm. A emulsão foi resfriada
sob temperatura controlada; a temperatura do banho foi decrescida de 80 até 30±2°C em
intervalos constantes de 5±1°C. Assim para cada temperatura foi possível analisar
microscopicamente a amostra e observar a presença ou não de glóbulos múltiplos e/ou possíveis
alterações em sua morfologia em resposta às mudanças de temperatura.
4.3.1.2. Influência da Ordem de Adição das Fases Aquosa, Oleosa e dos
Tensoativos
Os tensoativos hidrofílico e lipofílico foram adicionados à fase oleosa ou o tensoativo
hidrofílico à fase aquosa e o lipofíco à fase oleosa; a fase aquosa foi vertida lentamente sobre a
fase oleosa.
4.3.1.3. Influência da Velocidade e Tempo de Agitação
As amostras após emulsificação foram imediatamente submetidas à agitação constante e
contínua de 400; 800 1200 e 1500rpm - agitador mecânico (Fisaton® – Modelo 713) e a ciclos
Material e Métodos 59
de agitação de 30 segundos sob alta rotação (2000 a 8000rpm) (Ultra Turrax® - Modelo T25
Janke & Kunkel) até que a amostra adquiresse temperatura ambiente (25±2°C)
(MATSUMOTO, 1986,1987).
4.3.2. Análise de Variáveis do Processo de Obtenção dos Sistemas Múltiplos
Propostos
4.3.2.1. Influência do Emprego de Matérias-primas de Diferentes
Fornecedores
Foram empregados tensoativos hidro e lipofílicos, conforme descrito no item 4.1.2.,
provenientes de diferentes fornecedores comerciais, com a finalidade de avaliar possível
influência da composição da matéria-prima na formação de sistemas múltiplos.
4.3.2.2. Influência do Tipo de Fase Oleosa
Foram empregados para esta análise diferentes óleos vegetais (canola, rícino, oliva,
maracujá, soja e germe de trigo) com composições graxas distintas. O uso de óleo mineral
(vaselina líquida) e de dimeticone (200 Fluido®) como fase oleosa também foi avaliado.
Material e Métodos 60
4.3.2.3. Influência de Diferentes Frações Volumétricas de Fase Aquosa para
Razão Fixa Óleo/Tensoativo
Foram pesadas diferentes quantidades das três matérias-primas base desta formulação:
tensoativo, óleo de canola e água destilada (Tabela 1). Incrementou-se gradativamente a
concentração da fase aquosa, entretanto a relação tensoativo/fase oleosa em 1:1 foi preservada.
Mesmo variando a proporção da mistura de tensoativos o valor de EHL 9,3 foi mantido para
todas as amostras.
Tabela 1 - Concentrações em % (p/p) dos componentes das formulações (1 a 11) e razão final
Formulações Tensoativo% (p/p) Fase Oleosa% (p/p) Fase Aquosa% (p/p) Razão final
1 33,3 33,3 33,3 1:1:12 25,0 25,0 50,0 1:1:2 3 16,7 16,7 66,7 1:1:4 4 12,5 12,5 70,0 1:1:65 10,0 10,0 80,0 1:1:8 6 8,3 8,3 83,4 1:1:10 7 7,1 7,1 85,7 1:1:128 6,3 6,3 87,5 1:1:14 9 5,7 5,6 88,8 1:1:16 10 5,0 5,0 90,0 1:1:1811 4,5 4,5 90,9 1:1:20
4.3.2.4. Influência do Valor de EHL da Emulsão
A seleção (screnning) do valor EHL foi realizada a partir de 4,3 (valor do EHL do
tensoativo lipofílico/Span80®) até 13,0 (valor do EHL do tensoativo hidrofílico/SurfomR400®).
Para o cálculo das quantidades de tensoativos hidrofílico e lipofílico necessárias (Tabela 2)
para obtenção de cada valor de EHL a Equação 7 foi empregada:
EHLA x 0,01A + EHLB x 0,01B = EHL (7) Onde: EHL = equilíbrio hidrofílico-lipofílico, A = quantidade de tensoativo hidrofílico em %, B = quantidade de tensoativo lipofílico em %, A + B = 100% (ANSEL; POPOVICH; ALLEN, 1999)
Material e Métodos 61
Tabela 2 - Concentração em % (p/p) de tensoativo lipofílico e hidrofílico utilizado para obtenção do EHL da emulsão
Valor de EHL Tensoativo lipofílico% (p/p) Tensoativo hidrofílico% (p/p) 4,3 5,00 - 5,0 4,60 0,40 6,0 4,02 0,98 7,0 3,45 1,55 8,0 2,87 2,13 8,8 2,41 2,59 9,0 2,30 2,70
10,0 1,72 3,28 11,0 1,15 3,85 12,0 0,57 4,43 13,0 - 5,00
4.3.2.5. Influência da Variação da Razão Fase Aquosa/Fase Oleosa para cada
Valor de EHL
Para avaliar a influência de diferentes proporções dos volumes das fases aquosa e oleosa
na obtenção deste sistema disperso, mistura de tensoativos hidrofílico e lipofílico
(SurfomR400® e Span80®, respectivamente) a 5,0%, com valores finais de EHL de 7,0 a 11,0
(Tabela 3) foi empregada.
Tabela 3 - Concentração em % (p/p) dos volumes das fases aquosa e fase oleosa para diferentes sistemas dispersos obtidos
Formulação Fase Aquosa % (p/p) Fase Oleosa % (p/p) Tensoativo % (p/p) 1 90,0 5,0 5,0 2 85,0 10,0 5,0 3 80,0 15,0 5,0 4 75,0 20,0 5,0 5 70,0 25,0 5,0 6 65,0 30,0 5,0 7 60,0 35,0 5,0 8 55,0 40,0 5,0 9 50,0 45,0 5,0 10 47,5 47,5 5,0
Material e Métodos 62
4.3.2.6. Determinação da Região de Obtenção de Emulsões Múltiplas através
do Diagrama Ternário (Diagrama de Fases)
O diagrama ternário foi construído variando-se inicialmente as concentrações de 10 em
10%, a fim de cobrir toda a superfície do triângulo, obtendo-se assim 36 formulações para cada
sistema proposto (Figura 9 e Tabela 4). Após determinação da região onde foi possível obter
sistemas múltiplos, repetiu-se o digrama nesta região variando-se as concentrações dos
componentes da formulação de 5 em 5%.
Figura 9: Representação do diagrama ternário
Material e Métodos 63
Tabela 4 - Concentrações dos componentes da emulsão para cada amostra Número da Amostra Óleo % (p/p) Tensoativo % (p/p) Água destilada % (p/p)
1 80 10 10 2 70 20 10 3 70 10 20 4 60 30 10 5 60 20 20 6 60 10 30 7 50 40 10 8 50 30 20 9 50 20 30 10 50 10 40 11 40 50 10 12 40 40 20 13 40 30 30 14 40 20 40 15 40 10 50 16 30 60 10 17 30 50 20 18 30 40 30 19 30 30 40 20 30 20 50 21 30 10 60 22 20 70 10 23 20 60 20 24 20 50 30 25 20 40 40 26 20 30 50 27 20 20 60 28 20 10 70 29 10 80 10 30 10 70 20 31 10 60 30 32 10 50 40 33 10 40 50 34 10 30 60 35 10 20 70 36 10 10 80 37 60 15 25 38 60 5 35 39 55 15 30 40 55 10 35 41 55 5 40 42 50 15 35 43 50 5 45 44 45 15 40 45 45 10 45
Material e Métodos 64
Continuação
46 45 5 50 47 40 15 45 48 40 5 55 49 35 20 45 50 35 15 50 51 35 10 55 52 35 5 60 53 30 15 55 54 30 5 65 55 25 20 55 56 25 15 60 57 25 10 65 58 25 5 70 59 20 15 65 60 20 5 75 61 15 20 65 62 15 15 70 63 15 10 75 64 15 5 80 65 10 15 75 66 10 5 85 67 5 20 75 68 5 15 80 69 5 10 85 70 5 5 90
Material e Métodos 65
4.4. Mapa de Inversão de Fases
Após caracterizar as variáveis relevantes da composição, do processo de obtenção do
sistema múltiplo e a temperatura de inversão de fases; o mapa de inversão de fases da emulsão
foi construído, adaptado a partir da literatura (BROOKS; RICHMOND, 2002, BROOKS,
RICHMOND; ZERFA, 2003e SALAGER et al, 2000, 2004). Foi elaborado plotando-se as
frações volumétricas entre fase aquosa/oleosa pelos valores de EHL empregados para o par de
tensoativos utilizados na obtenção da emulsão múltipla.
4.5. Caracterização Físico-química dos Tensoativos empregados para
Obtenção do Sistema Múltiplo
4.5.1. Determinação do Ponto de Turvação (cloud point)
Solução aquosa do tensoativo hidrofílico, derivado do óleo de rícino etoxilado,
hidrogenado ou não (CremophorRH400® ou Ultroil®/Surfom®R400, respectivamente) numa
concentração de 1,0% foi aquecida sob temperatura controlada até 92±2°C e com agitação
contínua e constante (MARSZALL, 1987). O procedimento foi realizado tanto em banho-maria,
como em chapa metálica. O cloud point foi determinado pela temperatura de turvação da
solução.
Material e Métodos 66
4.5.2. Determinação da Tensão Superficial/Interfacial
4.5.2.1. Método da Gota Pendente
As tensões superficiais das soluções aquosas de CremophorRH400® e
Ultroil/Surfom®R400 foram mensuradas pelo método da gota pendente usando o método da
análise do perfil eixo-simétrico da gota, tensiômetro automático (Modelo - OCA-20,
Dataphysics®) com o objetivo de se observar o comportamento do tensoativo em tempos de
cinética curtos e obter o gráfico para cálculo de CMC das soluções. Uma gota da solução de
interesse é formada na extremidade de uma agulha com ponta reta (d=1,65mm) conectada a
uma seringa com dosagem eletronicamente controlada, dentro de uma cubeta de vidro óptico,
contendo um volume da solução no fundo, para manter a atmosfera saturada, de forma a evitar a
evaporação da gota durante as medidas.
A gota é sujeita às forças de tensão superficial e gravidade e pode ser filmada por meio
de uma câmara. As medidas foram realizadas em intervalos de 60 segundos. O volume da gota
formada variou em função da tensão superficial e, dessa forma em função da concentração da
solução. A tensão superficial foi determinada digitalizando a imagem e analisando o seu perfil e
ajustando-o à equação de Young-Laplace (Equação 8):
ΔP = (ρd – ρl) g h = (1/R1) + (1/R2) (8)
Onde: ΔP = diferença de pressão entre o interior e a parte externa da gota; ρd – ρl = densidades da fase líquida e do ar, respectivamente; g = aceleração da gravidade, h = altura da coluna líquida na gota e R1 e R2 = os dois raios principais de curvatura.
Material e Métodos 67
4.5.2.2. Método da Placa de Wilhelmy
Tensiômetro de superfície, utilizando o método da placa de Wilhelmy (Figura 10),
(Modelo K12, Krüss®, Alemanha) foi empregado para determinar a tensão superficial das
amostras descritas na Tabela 5 em função da temperatura.
Tabela 5 - Amostras preparadas para determinação da tensão superficial em função da temperatura Amostras preparadas para determinação dos valores de Tensão Superficial
Óleo de canola Óleo de canola + Span80 (24,2%)
Óleo de canola + Cremophor (25,8%) Água + Cremophor RH40 (25,8%)
Óleo de canola + Span80 (2,42%) + Cremophor RH40 (2,58%) Óleo de canola + Span80 (24,2%) + Cremophor RH40 (25,8%)
Um banho termostatizado foi utilizado para controle da temperatura (Haake Phoenix II
B5 ® – ThermoFisher), com controle da taxa de aumento da temperatura (em ⁰C/minuto,
conforme a necessidade do experimento). A concentração de tensoativo empregada foi a mesma
utilizada no preparo da emulsão múltipla em uma etapa.
Os valores de tensão superficial foram inicialmente determinados a 25±2⁰C. Em
seguida as amostras foram aquecidas a uma taxa de ±1⁰C/minuto, considerado aumento lento
para as condições experimentais. Já a amostra de solução aquosa CremophorRH40® à 25,8%,
foi aquecida à taxa de ±5⁰C/minutos, considerada rápida para as condições experimentais.
Material e Métodos 68
Figura 10 ‐ Esquema do método de medida de tensão superficial/interfacial utilizando a placa de Wilhelmy (HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997)
4.5.3. Determinação da Concentração Micelar Crítica (CMC)
Com auxílio dos gráficos obtidos de cinética de tensão interfacial, tensiômetro
automático – (Modelo OCA-20, Dataphysics®, 4.5.2.1.) os valores de tensão superficial para
cinco diferentes valores de concentrações dos tensoativos foram plotados versus a concentração
dos tensoativos em log.
4.5.4. Determinação da Reologia de Fluxo (Volume)
As propriedades reológicas foram obtidas empregando-se medidas não-lineares. Foi
utilizado Reômetro Rotacional (Modelo - DVIII, Brookfild Instruments®), spindlle cilíndrico e
adaptador para pequenas quantidades de amostras, modelo UL Adapter. O adaptador, com o
auxílio de um banho, permitia a termostatização da amostra em análise. Foram empregadas 15g
de amostra (Tabela 6). Inicialmente a análise foi realizada para amostras a temperatura de
25±2⁰C. Em seguida, as amostras foram aquecidas (taxa de aquecimento de ±1⁰C/minuto)
(Haake Phoenix II B5® – ThermoFisher) até valores considerados críticos para obtenção da
Material e Métodos 69
emulsão múltipla em uma etapa (78±2⁰C) e os valores de viscosidade monitorados durante o
processo de aquecimento (dados coletados a cada 5⁰C). Reogramas de taxa de cisalhamento em
função da tensão de cisalhamento foram obtidos para o intervalo de temperatura de 78±2⁰C.
Tabela 6 - Amostras preparadas para determinação do perfil reológico em função da temperatura Amostras preparadas para determinação do perfil reológico (bulk rheology)
Água + Cremophor RH40 (25,8%) Óleo de canola + Cremophor (25,8%)
Óleo de canola + Span80 (24,2%) Óleo de canola+CremophorRH40+Span80 (50,0%)
4.5.5. Determinação da Reologia Dinâmica/Oscilatória (Superfície)
A reologia interfacial do sistema múltiplo (propriedades viscoelásticas das interfaces
constituídas pelos tensoativos hidro e lipofílicos empregados, associados ou não) foi avaliada.
O reômetro Interfacial Rheometer (Modelo CIR A-100, Camtel®, Reino Unido, software
CIR100) é formado por um galvanômetro (movimento em forma de rosca), um anel de Du
Nouy (Pt/Ir) 13mm de diâmetro, fixado ao galvanômetro, sistema para movimentação da
amplitude do anel e de um sensor para detecção do deslocamento do anel (Figura 11). O anel
oscila ±1⁰ sobre seu eixo vertical. O movimento de amplitude do anel é medido através de uma
sonda (displacement sensor control) e a análise automática do sinal gerado fornece os dados de
viscoelasticidade.
Material e Métodos 70
Figura 11 - Esquema do mecanismo de funcionamento do reômetro de superfície, empregando o método do anel oscilatório de superfície (Camtel® Ltd., 2000)
Para o experimento, foram utilizados pratos de 50mm de diâmetro. Para as análises
superficiais, ao recipiente foi adicionado volume conhecido das amostras (10mL) e o anel
imerso automaticamente. Para as análises interfaciais, as amostras de menor densidade (2mL)
foram adicionadas sobre a fase de maior densidade com auxílio de pipeta volumétrica.
Inicialmente, as amostras (Tabelas 7 e 8) foram analisadas a 25±2⁰C. Em seguida,
aquecidas com auxílio de um banho (Haake Phoenix II B5® – ThermoFisher) e avaliadas a
50±2⁰C, com incrementos de temperatura de 1⁰C/minuto. Os valores de viscoelasticidade foram
obtidos em função do tempo (time sweep). A amplitude de distorção foi mantida em
5.000mRadianos/segundos e a freqüência oscilatória em 3,0 Hz. Os fatores calculados de G’e
G’’ utilizados pelo software foram 7.657E-13 e 2.429E-11, respectivamente.
Material e Métodos 71
Tabela 7 - Amostras preparadas para determinação da reologia superficial em função do tempo Amostras preparadas para determinação dos valores de Reologia Superficial
Água + Cremophor RH40 (0,5; 1,0; 5,0; 10,0; 15,0; 25,8%) Óleo de canola
Óleo de canola + Span80 (24,2%) Óleo de canola + Cremophor (25,8%)
Óleo de canola+CremophorRH40+Span80 (50,0%) Óleo de canola+Span80 (24,2%)+Água+CremophorRH40 (25,8%)
Água + Cremophor RH40 (25,8%) Água + TritonX100 (25,8%)
Água + Tween80 (25,8%)
Tabela 8 - Amostras preparadas para determinação da reologia interfacial em função do tempo Amostras preparadas para determinação dos valores de Reologia Interfacial
Água + Cremophor RH40 (5,0%) Água + Cremophor RH40 (25,8%)
Água +Óleo de canola Água +Óleo de canola + Span80 (24,2%)
Água +Óleo de canola + Cremophor (25,8%) Água +Óleo de canola+CremophorRH40+Span80 (50,0%)
4.5.6. Isotermas de Langmuir
Para determinação da pressão superficial dos tensoativos empregados em função da área
ocupada sobre água destilada e deionizada, soluções em metanol de 5,0 µL/mL dos tensoativos
(isolados ou associados) foram preparadas. Foi avaliada a influência da temperatura e da adição
do ativo modelo (cafeína) sobre o comportamento das amostras. Para este experimento foi
empregada Balança de Langmuir – Langmuir/Blodgett (Modelo KVS 2000, software KVS
2000), cujo princípio utilizado para produzir as isotermas é o da placa de Wilhelmy, velocidade
de deposição de 0,1 a 85mm/minuto, e velocidade das barreiras de 0,01 a 400mm/minuto. Cuba
de Teflon, espessura da base de 1,5mm, área efetiva do filme de 570x150mm2, montada sobre
placa com termoregulador.
Material e Métodos 72
4.6. Caracterização Físico-química da Emulsão Múltipla A/O/A
4.6.1. Análise Macroscópica
O aspecto macroscópico e as propriedades organolépticas da emulsão múltipla foram
avaliados após 24 horas do preparo.
4.6.2. Análise Microscópica
As emulsões foram observadas em microscópio óptico (Olympus® – Modelo BX50) e
(Zeiss® – Modelo Micro Tech Optical (Ne) Inc. Alemanha), com câmera (HyperHD CCD-
IRIS/RBG Color Video Camera, Sony, Japão software FBG32) e hot plate acoplados. Neste
último, as amostras foram observadas em função da temperatura (30 a 85±2⁰C).
4.6.3. Quantificação e Distribuiçao Granulométrica
A contagem estimada de glóbulos múltiplos foi realizada utilizando câmara para
contagem de hemácias por cm3 de amostra (NAKHARE; VYAS, 1996) e com auxílio do
Microscópio Leica® - Mod. DMLB (10μl para cada amostra); acoplado a uma câmera que
digitalizava as imagens captadas no software Leica Q win®.
O tamanho e a distribuição granulométrica dos glóbulos múltiplos também foram
determinados através de counter - Accusizer Optical Particle Size® (intervalo de medida: 1-
500μm, Modelo 770, Particle Sizing Systems Inc.), software Nicomp PPS cw788.
Material e Métodos 73
4.6.4. Determinação do Valor do pH
Conforme descrito em 4.2.2.1.
4.6.5. Determinação da Condutividade Elétrica
Foi determinada a 25±5°C inserindo diretamente o eletrodo nas amostras. O aparelho foi
aferido com solução de KCl 0,1N (DIGIMED® – Modelo CD-20).
4.6.6. Determinação do Potencial Zeta
Conforme descrito no item 4.2.2.4.
4.6.7. Determinação da Viscosidade
A viscosidade relativa (em relação à água) das amostras consideradas viáveis para as
análises conseguintes foi avaliada a 25±5°C com auxílio do aparato de viscosímetro de
Ostwald, segundo a Equação 9:
η2,1 = ρ2/ρ1 x t2/t1 (9) Onde: η2,1 = viscosidade relativa; ρ = densidade; t = tempo de escoamento, 1 = água; 2 = emulsão em análise (ANSEL; POPOVICH; ALLEN, 1999)
A densidade das amostras foi obtida com auxílio do densímetro Anton Paar®, Modelo -
DMA4500.
Material e Métodos 74
4.6.8. Influência da Adição de Polímeros e Sólidos Finamente Divididos
Foram adicionados separadamente diferentes polímeros (descritos no item 4.1.4.) nas
concentrações de 0,1; 0,2; 0,3%.
4.6.9. Determinação do Perfil Reológico
Os reogramas, de taxa de cisalhamento em s-1 (S) versus tensão de cisalhamento
dinas/cm2 (F) e de taxa de cisalhamento em s-1 (S) versus viscosidade (η), foram obtidos
utilizando o reômetro Brookfield Instruments® – Modelo LVDV-I, cilindro axial, spindles S18
e S34. O índice de consistência foi obtido a partir dos dados de tensão de cisalhamento (F), taxa
de cisalhamento (S) através do modelo de Herschel-Bulkley (PY, et al. 1994) descrito pela
Equação 10:
F = K x Sε (10)Onde: K = índice de consistência; F’ = tensão de cisalhamento; S = taxa de cisalhamento; ε = índice de fluxo (ANSEL; POPOVICH; ALLEN, 1999; PY, et al. 1994).
4.6.10. Identificação de Grupos Funcionais de Moléculas dos Tensoativos na
Fase Oleosa da Emulsão – Avaliação de Possível Migração (Determinação do
Coeficiente de Partição dos Tensoativos)
As amostras 60, 66 e 70 do diagrama ternário foram centrifugadas em 3 ciclos de 15
minutos cada a 1.000, 2.000 e 3.000rpm e em seguida mantidas durante 30 dias sob temperatura
controlada de 45°C ±2°C. A fase oleosa (fase superior) foi submetida a análises qualitativas por
espectrofotometria no infravermelho (IV), visando à identificação de grupos funcionais dos
tensoativos empregados nesta fase (COZZOLI, 1993). Os espectros de absorção no IV foram
Material e Métodos 75
registrados em espectrofotômetro Perkin-Elmer Spectrum RX IFTIR System®, em celas de KBr
para líquidos (filme).
4.7. Teste Preliminar de Estabilidade da Emulsão Múltipla A/O/A
Conforme descrito no item 4.2.3.1. Exceção para o período e velocidade empregados no
processo de centrifugação para retirada de fase oleosa para análise em infravermelho (1 ciclo de
30 minutos a 3000rpm).
4.8. Estudos Preliminares da Liberação do Ativo Modelo (Cafeína) in vitro
4.8.1. Sistema Cromatográfico
A fase móvel, composta por solução aquosa de acetato de
sódio/acetonitrila/tetraidrofurano (95,5:2,5:2,0) foi preparada segundo a Farmacopéia
Americana (United States Pharmacopeia XXV) (2002). 2L de solução aquosa contendo 1,64g
de acetato de sódio anidro foi preparada, 1.910mL desta solução foram transferidos para frasco
volumétrico de 2L e daí adicionados 50mL de acetonitrila e 40 mL de tetraidrofurano. Esta
solução teve o valor de pH ajustado para 4,5 com o auxílio de ácido acético glacial. A solução
final foi filtrada (Millipore Type: HVP® 0,45µm) e sonicada durante 30 minutos. O sistema
utilizado foi cromatógrafo Perkin Elmer® 785A, com detector UV/Vis, forno, bomba (Series
200), coletor automático, coluna Symmetric C8 3,5µm (4,6x100mm), Software Peak 3.56, taxa
de fluxo da fase móvel de 2,0 mL/minuto, detector UV no comprimento de onda de 273nm,
volume de injeção de 20µL, e pressão de 2.000psi, com degaseificador acoplado (Membrane
Degasser SP – Thermo®, Separation Products). Para determinação da concentracão de cafeína
nas amostras analisadas foi desenvolvida curva de calibração utilizando-se concentrações
Material e Métodos 76
conhecidas do ativo (3,125; 6,25; 12,5; 25,0; 50,0 e 100,0 µg/mL) em solução aquosa. As
análises foram realizadas em triplicata.
4.8.2. Determinação do Coeficiente de Partição da Cafeína Anidra
O óleo de canola foi empregado como fase oleosa, solução aquosa tamponada (tampão
acetato) no valor de pH 5,5 como fase aquosa, numa temperatura de 32±2ºC. Inicialmente as
fases aquosa, contendo cafeína numa concentração de 25,82mg/mL (concentração teórica de
saturação) e oleosa foram colocadas em contato, sob agitação magnética, para saturação da fase
oleosa, durante um período de 24 horas. Em seguida, a agitação foi retirada, e as fases foram
mantidas em contato durante 24 horas para alcançar o equilíbrio. A concentração de cafeína na
fase oleosa foi determinada após extração conforme o método desenvolvido para extração do
ativo a partir da emulsão múltipla e analisada utilizando-se cromatografia líquida de alta
eficiência, conforme item 4.8.1. O coeficiente de partição foi determinado pelo emprego da
Equação 11 (RITSCHEL & KEARNS, 1999):
CPA = (C°2 – C’2) X a (11) C’2 X b
Onde: CPA = coeficiente de partição aparente; C°2 = concentração da substância na fase aquosa antes do equilíbrio; C’2 = concentração da substância na fase aquosa após o equilíbrio; a = volume de fase aquosa; b = volume de fase oleosa.
Material e Métodos 77
4.8.3. Determinação da Porcentagem de Cafeína presente na Fase Dispersa
da Emulsão Múltipla A/O/A
Imediatamente após o preparo da amostra, a emulsão múltipla 66 do diagrama ternário
foi centrifugada a 300rpm/15minutos, obtendo-se cremeado concentrado em glóbulos múltiplos
e uma fase límpida formada por emulsão simples (nanoemulsão). À 10µL de cada fase etanol
3mL e fase móvel 1mL foram adicionados. A solução resultante foi homogeneizada com o
auxílio de um vórtex e então filtrada utilizando-se sistema formado por seringa hipodérmica e
filtro (Millex – Syringe Driven Filter Unit, PVDF Durapore®, Millipore) com a finalidade de se
retirar qualquer resíduo de componente lipofílico. A porcentagem de cafeína presente em cada
uma das amostras foi determinada por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
conforme item 4.8.1.
4.8.4. Estudos de Liberação do Ativo Modelo (cafeína) a partir das Emulsões
Múltiplas A/O/A
O cremeado da amostra 66 obtido conforme item 4.8.3. foi avalidado quanto a liberação
do ativo modelo (cafeína).
Para os estudos de liberação do ativo, sistema de diálise USP 2 (Dissolution
System:Distek-Premiere5100®), acoplado a um aparato de análise automática, baseado em
detecção no ultra-violeta (Rainbow – Dynamic Dissolution Monitor System®, in situ Delphian
UV fiber optic system), software Indigo foi empregado. As amostras (emulsões múltiplas
A/O/A e simples O/A) foram pesadas com auxílio de seringa hipodérmica e injetadas em
membranas de diálise (Sterille DispoDializer: Spectra/Por®CE), constituídas de éster de
celulose e MWCO de 100.000Kda. O experimento foi conduzido em recipientes de 900mL, sob
Material e Métodos 78
agitação constante de 75rpm (utilizando-se pás) e temperatura controlada de 32±2ºC. As
detecções foram feitas automaticamente com o auxílio de sondas metálicas inseridas na solução
receptora. A solução receptora era constituída de tampão acetato pH 5,5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados e Discussão 80
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Caracterização Físico-química da Emulsão Simples
As emulsões simples inicialmente obtidas pela metodologia proposta foram
caracterizadas quanto aos valores de potencial zeta, tamanho dos glóbulos, pH e temperatura de
inversão de fases. Em seqüência as amostras foram submetidas a variações de temperatura e à
adição de aditivos ionizáveis, sais e tensoativos iônicos e anfotérico, para verificar possíveis
influências nestes parâmetros. Mudanças na carga dos glóbulos podem ser detectadas através do
potencial zeta. Quanto maior o potencial zeta, em módulo, maior a estabilidade do sistema
disperso. Entretanto, informações sobre mudanças no valor do potencial zeta são relevantes
apenas quando podem ser relacionadas às mudanças no processo de obtenção e/ou na
composição da emulsão (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; STACHURSKI;
MICHALEK, 1996; ROLAND et al., 2003).
A manuntenção do tamanho dos glóbulos, durante o período de armazenamento e após
os testes preliminares de estabilidade e os de estabilidade acelerada indica um sistema estável;
pois quanto mais rápido os glóbulos aumentam em tamanho, menor será sua estabilidade
(JEONG; OH; KIM, 2001; ROLAND et al., 2003; IZQUIERDO et al., 2005).
Resultados e Discussão 81
5.1.1. Teste de Estabilidade da Emulsão Simples
Avaliação da Influência da Temperatura e de Estresse Gravitacional
Inicialmente a composição do sistema foi mantida inalterada, apenas as condições de
armazenamento das amostras foram variadas. O aquecimento das amostras (estresse térmico)
permitiu um incremento da energia cinética do sistema e com mudanças bruscas nos valores de
temperatura em períodos definidos (teste de estabilidade acelerada) foi possível avaliar a
susceptibilidade do sistema a este parâmetro. Becher e Schick (1987) descreveram a
importância dos testes de estabilidade acelerada para se prever a estabilidade da emulsão em
longo prazo. O teste de análise de variância – ANOVA, foi aplicado aos resultados em análise
(resultados com valores de p>0,05 são considerados não significativos).
As características macroscópicas das emulsões permaneceram inalteradas, após serem
submetidas à temperatura de 80±2°C durante estresse térmico e ao final dos três ciclos de
centrifugação, assim estas podem ser classificadas como N (normal, sem alteração) (FERRARI,
1998, 2000).
Alterações não significativas foram observadas para os valores de potencial zeta, antes e
após o estresse térmico. Valores de p = 0,79269 (Tabela 9) foram obtidos.
Tabela 9 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos antes e após o teste de estresse térmico (média e desvio padrão, n = 3)
Antes do teste de estresse térmico Após o teste de estresse térmico
pH pz (mV) tamanho (nm) pH pz (mV) tamanho (nm)
6,35±0,19 -49,54±5,69 214,7±0,47 6,51±0,02 -37,04±0,87 232,33±24,51
Onde: pz = Potencial zeta, mV = milivolts, nm = nanômetros
Resultados e Discussão 82
Para o teste de estabilidade acelerada, temperaturas de 4±2, 25±2 e 45±2°C, os valores
de p foram 0,14473; 0,96121 e 0,89379; respectivamente (Tabela 10).
Tabela 10 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos após o teste de estabilidade acelerada (média e desvio padrão, n = 3)
Teste de estabilidade acelerada Temp
(°C) → 4 25 45
Tempo (dias) ↓ pH pz (mv) tam. (nm) pH pz (mV) tam. (nm) pH pz (mV) tam. (nm)
1 6,63± 0,01
-52,96± 7,23
233,33± 24,51
6,35± 0,19
-49,54± 5,69
214,7± 0,47
6,61± 0,02
-45,81± 5,56 216±0,0
7 6,0± 0,04
-39,47± 6,18 268±0,0 5,92±
0,04 -41,44±
4,31 216±0,0 5,82± 0,03
-49,03± 0,64
250,67± 24,51
15 6,89± 0,01
-46,9± 10,02 268±0,0 6,73±
0,02 -51,71± 13,16 216±0,0 6,71±
0,02 -45,55±
4,01 233,33±
24,51
30 7,26± 0,01
-39,47± 6,18 268±0,0 6,92±
0,01 -46,18±
4,78 233,33±
24,51 5,59± 0,32
-56,97± 6,36 216±0,0
Onde: Temp. = temperatura, d = tempo em dias
Os valores de potencial zeta obtidos, entre -30 e -60 mV, indicam estabilidade
eletrostática de moderada a adequada, mesmo após os testes a temperaturas elevadas
(LOCHHEAD, 1994; ZETA-METER Inc., 2008). Além disso, os resultados estão de acordo
com dados da literatura, que sugerem que a temperatura é um parâmetro de influência pouco
relevante para a carga superficial de uma partícula e/ou glóbulo e assim para os valores de
potencial zeta do sistema (KONG; BEATTIE; HUNTER, 2001).
Considerando a possibilidade de formação de pontes de hidrogênio entre os grupos etóxi
da cadeia polietilênica, com subseqüente formação de grupos oxônio e interações dipolo-dipolo,
valores negativos de potencial zeta podem ser produzidos em sistemas dispersos obtidos a partir
de misturas de tensoativos não-iônicos. Conseqüentemente, a carga superficial dos glóbulos
deve ser proporcional ao número de grupos polietilênicos da cadeia e a concentração destas
cadeias na superfície dos glóbulos em dispersão. Assim, é incorreto dizer que tensoativos não-
Resultados e Discussão 83
iônicos não sejam afetados pela presença de eletrólitos no sistema (BECHER; SCHICK, 1987,
FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; STACHURSKI; HICHALEK, 1996; HO;
AHMAD, 1999; HSU; NACU, 2003).
Outro aspecto relevante para a análise dos valores de potencial zeta para emulsões
obtidas a partir de tensoativos não iônicos é que em altas concentrações, as moléculas de
tensoativo na interface podem se rearranjar e proteger os grupos éter-oxigênio possivelmente
formados, diminuindo os valores de potencial zeta observados (BECHER; SCHICK, 1987).
A análise da distribuição granulométrica das emulsões simples, imediatamente após o
preparo, confirmou a formação de nanoemulsões, com glóbulos de 214,7±0,47nm (Tabela 9) e
233,33±24,51nm (Tabela 10 e Figura 12 (c)). O tamanho dos glóbulos de uma emulsão
depende do método de emulsificação empregado. Os resultados obtidos sugerem a viabilidade
do método de emulsificação por inversão de fases (EIF) para o desenvolvimento destes sistemas
e vai ao encontro da demanda industrial atual por emulsões estáveis, obtidas através de métodos
que consumam baixa energia, diminuindo assim o custo do processo (LIN; KURIHARA;
OHTA, 1975; MARSZALL, 1987; SALAGER et al., 2000; ZERFA; SAJJADI; BROOKS,
2001; FERNANDEZ et al., 2004; TADROS, 2004; USÓN; GARCIA; SOLANS, 2004;
IZQUIERDO et al., 2005).
O ponto de máxima energia de repulsão entre os glóbulos dispersos em uma emulsão
(onde há o predomínio máximo do potencial de repulsão/positivo) é denominado barreira
energética, o valor desta barreira indica a estabilidade do sistema (FRIBERG; GOLDSMITH;
HILTON, 1988). Quando há fornecimento de energia cinética suficiente, térmica, por exemplo,
deve haver incremento do movimento Browniano dos glóbulos da emulsão. Assim dois
glóbulos podem superar a barreira energética e se chocar e fenômenos como floculação e
coalescência tornam-se possíveis (BECHER; SCHICK, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH;
HILTON, 1988; JEONG; OH; KIM, 2001; KONG; BEATTIE; HUNTER, 2001).
Resultados e Discussão 84
Com o aumento da energia cinética do sistema disperso em análise, foi possível
observar um incremento no tamanho dos glóbulos, entretanto não significativo (p ≥ 0,05)
(Figura 12 (c)). Alguns autores têm descrito comportamentos semelhantes entre temperatura e
tamanho de glóbulos para sistemas dispersos específicos (nanoemulsões) (JEONG; OH; KIM,
2001; KONG; BEATTIE; HUNTER, 2001). Os resultados sugerem que mesmo após
incremento da energia cinética do sistema, fenômenos de instabilidade inerentes a sistemas de
nanoemulsões, como coalescência e Ostwald ripening não foram observados.
Nas mesmas condições de teste, os valores de pH também não apresentaram variações
significativas (p ≥ 0,05) (Tabelas 9 e 10 e Figura 12 (a)).
Os resultados obtidos para os valores de potencial zeta, tamanho de glóbulos e de pH,
sugerem que o sistema em estudo é consideravelmente estável. As amostras permaneceram
macroscopicamente estáveis por até 30 dias após sua manipulação (Figura 12 (a), (b) e (c)).
Resultados e Discussão 85
(a) (b)
(c) Figura 12 - Resultados de valores de pH (a), potencial zeta (em mV) (b) e tamanho dos glóbulos (em nm) (c) em função do tempo (em dias) durante o teste de estabilidade acelerada (média e desvio padrão, n = 3)
5.1.2. Determinação da Temperatura de Inversão de Fases
Amostras simples manipuladas de acordo com formulação e metodologia (descritas no
item 4.2.1.) foram submetidas a aquecimento controlado. Não foi possível observar quaisquer
variações abruptas no valor de condutividade a temperaturas ≥92±2°C quando a fase aquosa das
amostras avaliadas começou a evaporar. O béquer foi vedado com auxílio de filme parafinado
com o intuito de evitar perdas relevantes de fase aquosa por evaporação, contudo ao final do
teste as amostras já apresentavam o volume visualmente reduzido. Como as amostras foram
obtidas empregando-se tensoativo não iônico com grau de etoxilação igual a 40 em média,
Resultados e Discussão 86
valores de temperatura de inversão de fases acima de 100°C são esperados (HOLMBERG et al.,
2003; FERNANDEZ et al., 2004).
5.1.3. Avaliação da Influência da Adição de Eletrólitos (Sais e Tensoativos
Ionizáveis)
Para esta análise os parâmetros concernentes ao processo foram mantidos, entretanto a
composição da amostra foi alterada pela adição de aditivos ionizáveis (eletrólitos). Os valores
de pH, potencial zeta e tamanho de glóbulos para as nanoemulsões sem aditivos são descritos
na Tabela 11.
Tabela 11 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho de glóbulos para amostras sem aditivos, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3)
pH pz (mV) Tamanho (nm) 6,59±0,06 -44,01±5,06 268±0,0
Onde: pz = Potencial zeta, mV = milivolts, nm = nanômetros
O valor de potencial zeta para as amostras em análise foi significativamente alterado
após adição dos aditivos (Tabela 12 e Figura 13). O teste de análise de variância - ANOVA foi
aplicado.
Resultados e Discussão 87
Tabela 12 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanho dos glóbulos após adição de tensoativos, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3) Tens. → LSS (aniônico) CCTA (catiônico) CPB (anfotérico)
Conc. (%) ↓ pH pz (mV) tam.
(nm) pH pz (mV) tam. (nm) pH pz (mV) tam.
(nm)
0,1 7,62± 0,05
-55,22± 7,4
267,67± 0,5
5,96± 0,09
-26,01± 2,3 268±0,0 6,51±
0,09 -44,99±
5,4 268±0,0
0,25 - - - 4,57± 0,45
-5,27± 5,6
250± 24,7 - - -
0,5 7,58± 0,09
-66,81± 4,9
267,67± 0,5
4,65± 0,01
4,87± 5,7
268±0,0
6,30± 0,02
-45,07± 1,84
267,67± 0,47
1,0 7,48± 0,08
-73,02± 1,7 268±0 3,80±
0,04 12.92±
2,1 268±0,0 6,22± 0,07
-47,76± 3,4
233,33± 24,5
Onde: pz = Potencial zeta, mV = milivolts, tam. = tamanho, nm = nanômetros. LLS=lauril sulfato de sódio, CCTA=cloreto de cetiltrimetilamônio, CPB=cocomidapropilbetaína.
O tensoativo aniônico (LSS) aumentou em módulo o potencial zeta das amostras em
todas as concentrações empregadas, de -55,22 a 0,1%, -66,81 a 0,5% até -73, 02 mV a 1,0%, p
= 0,00266. Este incremento no valor absoluto do potencial zeta pode ser atribuído aos grupos
sulfato das moléculas de tensoativo adsorvidas na interface dos glóbulos (GRACIAA et al.,
2002). Já o tensoativo catiônico (CCTA) exibiu influência significativa, porém em sentido
inverso, os valores de potencial zeta diminuíram em módulo de -26,01 a 0,1%,-5,57 a 0,5% até
+12,92 mV a 1,0%, p = 8,1349E-7. Entre 0,25 e 0,5% ocorreu reversão da carga de negativa
para positiva. O tensoativo anfotérico (CPB) não alterou significativamente os valores de
potencial zeta, p = 0,8404. Possíveis alterações nos valores de potencial zeta para estas
amostras estão diretamente relacionadas às mudanças nos valores de pH da emulsão. Os
resultados sugerem que no valor de pH de 6,34 (em média) o tensoativo anfotérico não se
dissocia e conseqüentemente não pôde alterar a carga dos glóbulos em dispersão (Figura 13
(a)).
Resultados e Discussão 88
(a) (b)
(c) Figura 13 - Resultados de potencial zeta (mV): (a) tensoativos, (b) sais/cátions (c) sais/anions em função da concentração de aditivo (em %p/p). Concentrações de 0,1, 0,5 e 1,0 % (exceto para o tensoativo anfotérico que foi usado também a 0,25%). Resultados foram obtidos 48 horas após a adição (média e desvio padrão, n = 3)
Para as amostras acrescidas de sais ionizáveis, apenas o AlCl3 produziu alterações
significativas nos valores de potencial zeta: ocorreu um decréscimo (em módulo) de -42,47 a
0,1%; -39,57 a 0,5% e de -28,17 mV a 1,0%, p= 0,03025. Os resultados demonstram que os
cátions mono (NaCl) e divalente (CaCl2), nas concentrações empregadas, não alteraram o
potencial zeta das amostras em análise (Tabela 13 e Figura 13 (b)).
Resultados e Discussão 89
Tabela 13 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanhos após adição de cátions, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3)
Eletrólitos (sais/cátions) Elet. → NaCl (Na+) CaCl2 (Ca+2) AlCl3 (Al+3)
Conc. (%) ↓ pH pz
(mV) tam. (nm) pH pz
(mV) tam. (nm) pH pz
(mV) tam. (nm)
0,1 6,67± 0,11
-47,27± 0,40
250,67± 24,51
6,52± 0,04
-46,33± 6,62 268±0,0 4,15±
0,04 -42,47±
0,92 268±0,0
0,5 6,40± 0,02
-38,72± 2,44
267,67± 0,47
6,47± 0,04
-46,1± 0,20
250,33± 24,98
3,64± 0,09
-39,57± 0,76 268±0,0
1,0 6,4± 0,03
-36,97± 1,87 268±0,0 6,54±
0,06 -42,2± 4,53
233,33± 24,51
3,27± 0,02
-28,16± 9,11
250,33± 24,98
Onde: Elet. = eletrólitos, mV = milivolts, tam., Conc. = concentração (% p/p), tam. = tamanho = nm=nanômetros
Os ânions NaHCO3 e Na2CO3 alteraram os valores do potencial zeta de -53,56 a 0,1%
para -62,02 mV a 1,0% (p = 0,00145) e de -62,81 a 0,1% para -50,25 mV a 1,0% (p = 0,00755),
respectivamente (Tabela 14 e Figura 13 (c)).
Tabela 14 - Resultados de valores de pH, potencial zeta e tamanhos com adição de ânions, 48 horas após o preparo (média e desvio padrão, n = 3)
Eletrólitos (sais/ânions) Elet. → NaHCO3 (CO3
-) Na2CO3 (CO3-2)
Conc. (%) ↓ pH pz
(mV) tamanho
(nm) pH pz (mV)
tamanho (nm)
0,1 8,68± 0,11
-53,56± 2,62
268,33± 1,25
9,48± 0,11
-62,81± 0,59 268±0,0
0,5 8,92± 0,08
-63,94± 3,75
267,67± 0,47
10,0± 0,05
-64,54± 8,13 268±0,0
1,0 9,03± 0,03
-62,02± 1,17 268±0,0 10,12±
0,09 -50,25±
1,72 267,67±
0,47
Onde: Elet. = eletrólitos, Conc. = concentração (% p/p), tam = tamanho
Resultados e Discussão 90
Para as emulsões em análise, o valor de potencial zeta foi de -44,01±5,06mV (Tabela
11) antes da adição de aditivos.
A magnitude do potencial zeta (em módulo) está diretamente correlacionada à
estabilidade eletrostática de sistemas dispersos. A determinação do potencial zeta é um
instrumento útil para se caracterizar as propriedades das cargas superficiais de sistemas
coloidais, pois determina a repulsão ou a atração eletrostática entre glóbulos próximos
(FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988, JEONG; OH; KIM, 2001, KULMYRZAEV;
SCHUBERT, 2003; ROLAND et al., 2003).
Os eletrólitos aumentam a força iônica na fase aquosa de emulsões O/A comprometendo
a repulsão eletrostática entre os glóbulos dispersos. Alguns eletrólitos se ligam a grupos
carregados com carga oposta na superfície dos glóbulos (KULMYRZAEV; SCHUBERT,
2003). A adição de eletrólitos à fase contínua de uma emulsão O/A pode reduzir o potencial
repulsivo da dupla camada, diminuindo conseqüentemente o potencial total (líquido) do sistema
disperso. Entretanto, o potencial de van der Waals permanece essencialmente inalterado, e por
isto a altura da barreira energética pode ser reduzida a um nível que provoque perda total da
estabilidade do sistema (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988).
Kulmyrzaev e Schubert (2003), Jayme, Dustan e Gee (1999) sugeriram que esta
diminuição da barreira energética e, por conseguinte, da estabilidade, é resultado da diminuição
da espessura da dupla camada, assim a extensão da repulsão eletrostática ficaria espacialmente
restrita. Jayme, Dustan e Gee (1999) descreveram ainda que a adição de macromoléculas, além
de comprimir a dupla camada, poderia provocar rearranjo na estrutura da interface alterando a
estabilidade do sistema.
A influência da adição de eletrólitos em sistemas dispersos depende da quantidade
empregada. Para emulsões O/A, a quantidade de aditivos que pode ser adsorvida na interface é
proporcional a hidrofobicidade (JEONG; OH; KIM, 2001). Contudo, para as três diferentes
concentrações de sais ionizáveis, não foram detectadas diferenças significativas para os valores
Resultados e Discussão 91
de granulometria (p ≥ 0,05) e para o aspecto macroscópico das amostras. Entretanto, para os
valores de potencial zeta e pH as alterações foram significativas (Tabelas 12 a 14). Friberg,
Goldsmith e Hilton (1988) afirmaram que após a adição de eletrólitos em sistemas dispersos,
existe um intervalo determinado para o qual as emulsões demonstrariam sinais de instabilidade,
portanto a adição de concentrações elevadas inviabilizaria a identificação deste intervalo e a
avaliação da sua influência nos valores de potencial zeta do sistema.
A influência de eletrólitos na carga superficial de partículas e/ou glóbulos depende não
apenas de sua concentração, mas também de suas valências. Cátions divalentes e trivalentes,
como Ca+2 e Al+3, são mais prontamente adsorvidos na interface O/A (GU; LI, 1997). O Ca+2 é
adsorvido por espécies carregadas negativamente, resultado da carga divalente e do seu grau de
hidratação em solução aquosa (KULMIRZAEV; SCHUBERT, 2003). Os cátions di e
trivalentes promovem em solução valores de potencial zeta mais negativos do que os cátions
monovalentes por apresentarem maior capacidade de comprimir a dupla camada elétrica
(MARSZALL, 1987). O AlCl3 exibiu influência determinante sobre os valores de potencial
zeta. Os resultados mostram-se coerentes com aqueles descritos pela literatura.
Apesar das alterações significativas dos valores de potencial zeta e da densidade de
cargas na interface O/A, as amostras não apresentaram quaisquer sinais evidentes de
instabilidade como, por exemplo, alterações organolépticas ou fenômenos como, cremeação ou
separação de fases. Assim, é razoável sugerir duas possíveis explicações: (a) apesar da
blindagem da carga criada através de dipolo/dipolo ou dipolo-induzido pelo tensoativos não
iônicos e moléculas adjacentes na interface da emulsão, a ponto de diminuir marcadamente os
valores de potencial zeta, a predominância marcante da estabilidade estérica conferida pelos
tensoativos não-iônicos é corroborada; (b) e/ou que os aditivos utilizados não se adsorveram
especificamente na interface da dispersão.
Dependendo dos valores de pH, as concentrações de íons H+ e OH- adsorvidos na
interface O/A alteram a carga do glóbulo. Em baixos valores de pH há aumento da
Resultados e Discussão 92
concentração de H+ em solução e conseqüentemente, aumento da concentração deste íon na
interface da emulsão, que neutraliza a carga negativa líquida do sistema disperso. Para o íon
OH- o efeito de adsorção seletiva na interface ocorre em altos valores de pH resultando em
aumento da carga líquida negativa da emulsão (JAYME; DUSTAN; GEE, 1999). Assim, para
emulsões com valores de pH próximos à neutralidade, (Tabelas 12 a 14), os íons H+ e OH-
adsorvidos na interface (tensoativo não-iônico do tipo polietoxilado) possivelmente não
permitiram uma ligação efetiva entre os aditivos em estudo e a superfície dos glóbulos.
Entretanto, com os aditivos CCTA, AlCl3, NaHCO3 e Na2CO3, para os quais as amostras
apresentaram mudanças significativas nos valores de pH (p ≤ 0,05), ou seja, valores não
próximos da neutralidade; também não foi possível detectar fenômenos de instabilidade
macroscópica. Assim, para as emulsões em análise, uma possível alteração eletrostática não
pôde ser correlacionada aos valores obtidos de pH para as amostras.
A diminuição no valor absoluto do potencial zeta deve ser normalmente correlacionada
ao aumento na tendência de floculação do sistema disperso, ou seja, a aumentos no tamanho dos
glóbulos e/ou partículas em dispersão (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; JEONG;
OH; KIM, 2001 e Zeta-Meter Inc., 2008). Porém, as Tabelas de 12 a 14 e a Figura 14 (a), (b) e
(c) indicam que para as amostras em análise, o tamanho dos glóbulos não foi alterado
significativamente (p ≥ 0,05). Para os valores de pH, apenas as amostras contendo CCTA,
AlCl3, NaHCO3 e Na2CO3 exibiram influência significativa (p ≤ 0,05) (Tabelas 12 a 14).
Resultados e Discussão 93
(a) (b)
(c) Figura 14 - Resultados de granulometria (em nm) em função da concentração de aditivos (em %p/p). (a) tensoativos, (b) sais/cátions (c) sais/anions nas concentrações de 0,1, 0,5 e 1,0 % (exceto para o tensoativo anfotérico que foi usado também a 0,25%). Resultados foram obtidos 48 horas após a adição, (média e desvio padrão, n = 3)
O aspecto macroscópico destes sistemas mesmo após a adição de aditivos ionizáveis em
quantidades relevantes, indica que o mecanismo de estabilidade eletrostático não é relevante
para a estabilidade deste sistema e sugere que para o par de tensoativos escolhido, o
componente estérico é o principal constituinte do mecanismo de estabilidade eletroestérica da
nanoemulsão.
A adição gradual da fase aquosa à fase oleosa contendo tensoativo hidrofílico e
lipofílico produz micelas intumescidas, a adição de água produz fase aquosa dispersa em fase
oleosa dispersante. A migração do tensoativo hidrofílico para a fase aquosa permite a inversão
Resultados e Discussão 94
de fases da emulsão para O/A. Esta inversão ocorre em um ponto energético mínimo, formando
glóbulos de diâmetros menores que 1μm. Assim, a fase na qual o tensoativo é previamente
solubilizado é outro aspecto relevante para obtenção de nanoemulsões pelo método de inversão
de fases, determinando algumas propriedades físico-químicas da emulsão. (LIN; KURIHARA;
OHTA, 1975; MARSZALL, 1987; SALAGER et al., 2000, 2004; USÓN; GARCIA; SOLANS,
2004; FERNANDEZ et al., 2004).
Com a determinação da temperatura de inversão de fases (TIF) da nanoemulsão foi
possível especificar qual o tipo de inversão envolvida em seu processo de obtenção. Valores de
(TIF) ≥90±2°C para este sistema (conforme item 5.1.2.) indicam a possível exclusão do método
de emulsificação por temperatura de inversão de fases do processo, já que a metodologia
desenvolvida utilizou aquecimento de fases de 70±2°C.
Os resultados sugerem que a formação de nanoemulsões deve ser atribuída à cinética do
processo de emulsificação e à mudança de curvatura da molécula do tensoativo durante o
processo de emulsificação por inversão de fases e não à temperatura de obtenção ou aos
parâmetros relacionados à temperatura de inversão de fases.
5.2. Desenvolvimento da Emulsão Múltipla A/O/A
A nanoemulsão desenvolvida e caracterizada na primeira parte desta pesquisa foi
escolhida como formulação base e/ou inicial para a subseqüente etapa de obtenção de emulsões
múltiplas (exceção para a cadeia do tensoativo hidrofílico, hidrogenada para emulsões
múltiplas). A formulação base escolhida é a descrita em seguida, apresentando valor de EHL de
9,3:
Resultados e Discussão 95
Tabela 15 - Formulação base e/ou inicial escolhida para desenvolvimento da emulsão múltipla, valor de EHL de 9,3
Composição % (p/p) Óleo de canola 5,00
Éster derivado do óleo de rícino hidrogenado e etoxilado 2,58 Monooleato de sorbitano 2,42
Água destilada 90,0
As fotomicrografias (Figura 15) são das primeiras amostras de emulsões múltiplas
obtidas. Foram manipuladas conforme composição descrita acima; ambas as fases aquecidas
separadamente a 78±2°C, o par de tensoativos adicionados à fase oleosa, a fase aquosa foi
lentamente adicionada à fase oleosa, sob agitação mecânica constante de 450rpm.
(a) (b) Figura15 - Fotomicrografias das primeiras emulsões múltiplas obtidas. (a) aumento de 200X; (b) aumento de 400X.
Resultados e Discussão 96
5.2.1. Análise de Variações da Composição dos Sistemas Dispersos Propostos
5.2.1.1. Influência da Temperatura no Processo de Obtenção da Emulsão
Múltipla
Emulsificação a Frio
Após a manipulação, o aspecto macroscópico da emulsão era leitoso e esta se
apresentava levemente cremeada, com odor característico do óleo de canola. Na análise
microscópica, quantidade relevante de glóbulos múltiplos (ocupando todo campo em análise)
foi observada, entretanto estes não apresentavam morfologia e distribuição granulométrica
uniforme, além de pouco conteúdo interno. Estes resultados vêm corroborar com a teoria de que
o processo de temperatura de inversão de fases (inversão de fases transicional) não deve ser o
único envolvido para a obtenção de glóbulos múltiplos em etapa única para este sistema em
análise.
Emulsificação com Aquecimento de Fases
As emulsões manipuladas à temperatura de 70±2°C apresentaram aspecto macroscópico
leitoso, com odor característico do óleo de canola e nenhum sinal de instabilidade macroscópica
após 48 horas do preparo. Quanto ao aspecto microscópico, estas amostras apresentaram
glóbulos pequenos e dificilmente visualizados ao microscópio (aumento de 400X).
As emulsões manipuladas a 78±2°C apresentaram cremeação logo após o preparo. Este
sinal de instabilidade se acentuou após 48 horas do preparo, entretanto nenhum sinal de
separação de fases foi detectado mesmo após 180 dias do preparo. Quanto ao aspecto
Resultados e Discussão 97
microscópico, grande quantidade de glóbulos múltiplos foi observada (não quantificados),
apresentando morfologia homogênea quanto à distribuição de tamanhos e forma, além de
apresentarem alto conteúdo interno.
As amostras também foram manipuladas a 65±2°C e exibiram aspectos macro e
microscópicos semelhantes aos apresentados pela amostra obtida a 70±2°C. Já as amostras
manipuladas a 82±2°C apresentam morfologia semelhante às amostras obtidas a 78±2°C.
Os resultados sugerem que a temperatura é um fator relevante para formação de
glóbulos múltiplos nestes sistemas e que possivelmente qualquer discussão sobre os resultados
deve levar em consideração o intervalo de temperatura entre 80±4°C.
Emulsificação com Aquecimento das Fases Oleosa e Aquosa com
Resfriamento sob Temperatura Monitorada
O objetivo desta análise foi observar em qual temperatura, ou faixa de temperatura, os
glóbulos múltiplos seriam formados. Glóbulos múltiplos foram observados para todas as
temperaturas analisadas, desde 80±2°C, logo após a dispersão completa da fase aquosa na
oleosa, porém houve mudança na morfologia desses glóbulos durante o período de resfriamento
da emulsão.
No intervalo de temperatura de 80 a 45±2°C as alterações mostraram-se gradativas,
como por exemplo, o aumento no tamanho dos glóbulos múltiplos e diminuição da carga
interna. A 55±2°C glóbulos simples foram visualizados e a 45±2°C os glóbulos múltiplos
apresentaram-se disformes e com distribuição de tamanhos não homogêneos. Entretanto, a
40±2°C este padrão muda e o sistema readquire as características que possuía a 80±2°C
(glóbulos pequenos, carregados internamente e distribuição de tamanhos não uniformes)
mantendo este padrão até atingir 30±2°C.
Resultados e Discussão 98
Após 24 horas do preparo a amostra manteve o aspecto microscópico obtido na última
temperatura de análise, porém apresentava-se cremeada. Este aspecto sugere a formação de
glóbulos múltiplos, que contendo maior quantidade de fase oleosa, e assim, menos densos que
os glóbulos simples, ascenderiam mais prontamente à superfície da amostra. Estes resultados
sugerem possível relação entre o processo de formação do sistema múltiplo às temperaturas
próximas a 80±2°C (aproximadamente 12±2°C abaixo da temperatura de inversão de fases), e
no intervalo de 30 a 40±2°C, onde os glóbulos múltiplos readquirem as morfologias
apresentadas inicialmente. Novamente, os resultados sugerem que a temperatura de inversão de
fases (TIF) do sistema influencia no aspecto morfológico dos glóbulos múltiplos, entretanto não
é o único fator determinante para obtenção do sistema múltiplo em estudo.
5.2.1.2. Influência da Ordem de Adição dos Tensoativos e das Fases Aquosa e
Oleosa
A adição dos tensoativos hidro e lipofílico na fase aquosa e a solubilização do
tensoativo hidrofílico na fase aquosa e do tensoativo lipofílico na fase oleosa conduzem à
separação total de fases da emulsão após 24 horas da manipulação. A composição foi formulada
conforme item 5.2. e temperatura de manipulação de 78±2°C, mantendo agitação de 450rpm. A
análise microscópica demonstrou que a adição dos tensoativos na fase aquosa diminui a
quantidade de glóbulos múltiplos e tem efeito deletério sobre a distribuição granulométrica do
sistema disperso. Entretanto, a solubilização dos tensoativos na fase de liofilia semelhante, não
diminui a quantidade de glóbulos múltiplos produzidos, porém, a forma e a distribuição
granulométrica foram influenciadas negativamente. Após 24 horas do preparo, as duas amostras
em análise não apresentaram glóbulos múltiplos. Foi possível visualizar gotas de óleo no campo
microscópico em análise para todas as amostras logo após o preparo, indicando ineficiência do
Resultados e Discussão 99
par de tensoativos em dispersar a fase oleosa e que a fase na qual o tensoativo é solubilizado
determina sua eficiência de emulsificação, independente da quantidade e valor de EHL
empregado.
Estes resultados sugerem que o mecanismo de emulsificação por inversão de fases (EPI)
é determinante para obtenção de glóbulos múltiplos a partir do sistema proposto. Molliet, Collie
e Black (1961) já relataram que a adição de tensoativos que facilmente se solubilizavam na fase
oleosa, também se difundiriam mais rapidamente para interface, formando assim a interface
entre as fases aquosa e oleosa mais prontamente. Os resultados estão em concordância com Lin,
Kurihara e Ohta (1975) que em análise de obtenção de emulsões múltiplas em única etapa,
observaram que estas eram formadas apenas quando o par de tensoativos era adicionado na fase
oleosa.
5.2.1.3. Influência da Velocidade e Tempo de Agitação
A velocidade de agitação influenciou consideravelmente a obtenção de sistemas
múltiplos a partir da formulação escolhida. A composição foi formulada conforme item 5.2. e
temperatura de manipulação de 78±2°C. Com o emprego de agitação mecânica houve formação
de glóbulos múltiplos que, entretanto, diminuíram em quantidade e tamanho com o aumento da
agitação.
No intervalo de velocidades de 800 a 1500rpm, os glóbulos múltiplos apresentaram
alteração na forma, em especial na estrutura da interface (glóbulo múltiplo/fase externa), sendo
este totalmente irregular. Após análise qualitativa, foi possível observar poucos glóbulos
múltiplos, contáveis no campo de análise, não permitindo a caracterização do sistema como
múltiplo para as amostras manipuladas sob ciclo de agitação de alta pressão (Ultra Turrax®). As
amostras manipuladas no intervalo de agitação de 400 a 1200rpm apresentaram halo de
Resultados e Discussão 100
cremeação logo após o preparo; as amostras manipuladas em velocidades de 1200 a 8000rpm
apresentaram intensa formação de espuma e após 24 horas do preparo não apresentavam
quaisquer estruturas múltiplas, permitindo somente a identificação de glóbulos simples com a
visualização microscópica do movimento Browniano (aspecto macro e microscópico igual ao
apresentado pela amostra obtida em 5.1.).
Sugere-se que em altas velocidades, o sistema que possivelmente estaria em Winsor III,
onde a tensão interfacial já é mínima e permite velocidades de coalescência significativamente
elevadas, coalesceria em taxas ainda maiores, não consentindo tempo suficiente para a
formação da emulsão múltipla. Conseqüentemente, após análises qualitativas, a velocidade de
agitação de 450rpm foi escolhida como ideal para as próximas formulações.
5.2.2. Análise de Variações do Processo de Obtenção dos Sistemas Dispersos
Propostos
5.2.2.1. Influência de Matérias-Primas de Diferentes Procedências
Para avaliar a possível interferência de variações na composição da matéria-prima na
obtenção de glóbulos múltiplos, a emulsão base foi novamente manipulada (composição
conforme item 5.2. e temperatura de manipulação de 78±2°C) utilizando o mesmo tipo de
tensoativo lipofílico (monooleato de sorbitano), porém de outros dois fornecedores
(Span80®/Brenntagla e FongragenMOS®/Clariant).
Sistemas múltiplos foram obtidos com características macro e microscópicas
semelhantes. Avaliou-se também a possível interferência do tensoativo hidrofílico (éster
derivado do óleo de rícino hidrogenado e etoxilado), utilizando matéria-prima de três
fornecedores diferentes (SurfomRH400®/Oxiteno, EmulsogenHCO 40®/Clariant,
Resultados e Discussão 101
CremophorRH400®/Basf e Croduret50Special®/Croda). Emulsões múltiplas com características
microscópicas semelhantes, exceto para a amostra manipulada com a matéria-prima
Croduret50Special®/Croda, onde glóbulos múltiplos se apresentaram disformes, foram obtidas.
Os resultados sugerem que prováveis impurezas ou maiores variações no grau de
etoxilação das cadeias dos tensoativos hidrofílicos podem alterar a morfologia do glóbulo,
porém não a obtenção destes.
5.2.2.2. Influência de Diferentes Tipos de Fase Oleosa
Os óleos vegetais utilizados na manipulação foram escolhidos considerando-se a
diversidade de sua composição graxa. Também foi avaliada a influência do óleo mineral e do
óleo de silicone na obtenção de glóbulos múltiplos. A composição da formulação foi formulada
conforme item 5.2. e temperatura de manipulação de 78±2°C, mantendo agitação de 450rpm.
As amostras obtidas com óleos vegetais e vaselina líquida apresentaram aspecto macro e
microscópicos semelhantes, emulsão leitosa cremeada, com odor característico do óleo
empregado, e quantidade e morfologia de glóbulos múltiplos semelhantes (carregados
internamente e com distribuição homogênea de tamanhos).
O emprego do óleo de silicone (dimeticone) como fase oleosa influenciou
negativamente a obtenção da emulsão múltipla. Quanto ao aspecto macroscópico, o silicone
produziu emulsões heterogêneas, que apresentaram separação de fases 24 horas após o preparo.
A morfologia dos glóbulos múltiplos não sofreu alterações relevantes, porém a quantidade e o
tamanho apresentaram diminuição quando comparados às outras fases oleosas empregadas. Foi
possível observar gotículas de óleo no campo em análise. O par de tensoativos empregado não
foi adequado, em composição e/ou proporção, para emulsificar a quantidade de silicone
utilizada.
Resultados e Discussão 102
Deve-se assim, considerar a relevância da constituição/estrutura química da fase oleosa
na obtenção de sistemas múltiplos a partir da formulação proposta. Uma possível interferência
negativa da fase oleosa vegetal estaria baseada na possibilidade de haver maior número de
interações entre as moléculas de tensoativos e as cadeias graxas insaturadas dos óleos vegetais
provocando alterações na integridade do filme interfacial (BECHER; SCHICK, 1987),
entretanto para o sistema em estudo, empregando óleos vegetais, tal interferência não foi
observada.
5.2.2.3. Influência de Diferentes Frações Volumétricas de Fase Aquosa em
Razão Fixa entre Fase Oleosa e Tensoativos (p/p)
As amostras foram analisadas macro e microscopicamente após a manipulação, 24 e 48
horas após o preparo. Na Tabela 16 a formação de emulsões múltiplas e o aspecto
macroscópico imediatamente após o preparo, em função da variação da fração volumétrica de
fase aquosa empregada estão descritos. Temperatura de manipulação de 78±2°C e agitação de
450rpm.
Os resultados descritos demonstram que o volume de fase dispersante deve estar pelo
menos em uma concentração 6 a 20 vezes maior que o da fase dispersa, para que haja formação
de glóbulos múltiplos. Para as menores frações volumétricas avaliadas a formação de glóbulos
múltiplos pode ser considerada não relevante (amostras de 4 a 7). Outro aspecto proeminente é
o de que não há necessidade do uso de tensoativos em altas concentrações para a formação de
glóbulos múltiplos, o que seria prejudicial para formulações com finalidade cosmética e/ou
farmacêutica. É importante notar que para razão de 1:1:16 (amostra 9) não houve formação de
glóbulos múltiplos, enquanto que para razão 1:1:18 (amostra 10) os mesmos foram
identificados. Isto sugere que existe uma proporção ótima entre a concentração de tensoativos e
Resultados e Discussão 103
a fração volumétrica das fases oleosa e aquosa, onde ocorreria a formação de glóbulos
múltiplos, demonstrando a importância da construção e análise de diagrama de fases para
identificar e analisar o comportamento de fases para este sistema.
Não se deve deixar de abordar a formação de emulsões múltiplas A/O/A com
quantidades mínimas de óleo se comparadas à fração volumétrica de fase aquosa. Este aspecto
pode ser prontamente identificado na morfologia (fotomicrografias) dos glóbulos múltiplos nos
quais dificilmente visualiza-se a fase oleosa intermediária. Não houve mudanças macro e
microscópicas perceptíveis para todas as formulações após 24 e 48 horas do preparo.
Tabela 16 - Razão final entre tensoativos (p/p), fase oleosa e fase aquosa e possível formação de glóbulos múltiplos
Amostra Razão Final Emulsão Múltipla Aspecto
Macroscópico Microscópico
1 1:1:1 não Gel não homogêneo GS 2 1:1:2 não Gel não homogêneo GS 3 1:1:4 não Aspecto leitoso homogêneo GS 4 1:1:6 sim Aspecto leitoso homogêneo GM+ 5 1:1:8 sim Aspecto leitoso homogêneo GM+ 6 1:1:10 sim Aspecto leitoso homogêneo GM+ 7 1:1:12 sim Aspecto leitoso homogêneo GM+ 8 1:1:14 sim Aspecto leitoso/ cremeada GM+++ 9 1:1:16 não Aspecto leitoso homogêneo GS 10 1:1:18 sim Aspecto leitoso/ cremeada GM+++ 11 1:1:20 não Aspecto leitoso homogêneo GS
Onde: As amostras são discriminadas em função das razões finais óleo/tensoativo/água. Apenas a fase aquosa sofreu variação. A formação e o aspecto macro e microscópicos das emulsões múltiplas obtidas também são descritas. GS=glóbulo simples, GM=glóbulos múltiplos
5.2.2.4. Influência do Valor EHL da Emulsão (Screening do EHL)
A influência do valor de EHL da emulsão na formação de glóbulos múltiplos foi
avaliada. A composição foi formulada conforme item 5.2. (exceção para a cadeia do tensoativo
hidrofílico, não hidrogenada para esta análise), temperatura de manipulação de 78±2°C,
mantendo agitação de 450rpm.
Resultados e Discussão 104
As formulações foram analisadas logo após a manipulação, 24 horas e 168 horas (07
dias) após o preparo. Após 24 horas do preparo as mesmas foram submetidas à centrifugação
(30 minutos a 3000rpm), para avaliar a influência do estresse mecânico (gravitacional) na
morfologia dos glóbulos múltiplos e na estabilidade da emulsão. Os resultados estão descritos
na Tabela 17.
A formulação com valor de EHL de 4,3 exibiu cremeação logo após o preparo e aspecto
macroscópico não homogêneo. A formulação EHL 5,0 apresentou estruturas disformes
contendo glóbulos, entretanto, estas não podem ser consideradas glóbulos propriamente ditos
(não apresentaram morfologia esférica). A amostra com valor de EHL de 6,0 apresentou
glóbulos múltiplos com forma e distribuição de tamanhos pouco homogêneos.
As formulações de 7,0 a 9,0 após 24 horas do preparo apresentaram aspecto
macroscópico homogêneo, sem alterações significativas na análise microscópica (exceção para
7,0 e 8,0 onde visualizamos diminuição dos glóbulos múltiplos). Para as formulações 10,0 a
13,0 os glóbulos múltiplos sofreram alterações morfológicas significativas quanto à forma e à
distribuição de tamanhos, assumindo aspectos heterogêneos, glóbulos simples também foram
visualizados.
As formulações com valores de EHL de 7,0 a 13,0 foram submetidas à centrifugação.
Microscopicamente as amostras de 8,0 a 12,0 sofreram nítida diminuição no tamanho dos
glóbulos múltiplos, mantendo sua morfologia.
As amostras que apresentaram separação de fases (alteração macroscópica) após 24
horas do preparo não foram conseqüentemente submetidas à centrifugação, contudo estas não
apresentaram alterações quanto aos aspectos microscópicos. Todas as amostras submetidas ao
teste de centrifugação não sofreram alterações microscópicas perceptíveis e o rompimento dos
glóbulos múltiplos não foi observado, o que vem corroborar com a possibilidade de formação
de um filme interfacial bastante coeso e viscoelástico para o sistema em estudo.
Resultados e Discussão 105
Tabela 17 - Análise macro e microscópica das amostras formuladas com diferentes valores de EHL
Valores de EHL ↓
Após preparo
1 dia (24 h após)
7 dias (Após 168 horas)
Centrifugação
Imediata Após 24 h
4,3 Cremeação
Separação de fases
Separação de fases - -
5,0 Cremeação
Separação de fases
Separação de fases - -
6,0 Cremeação GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM - -
7,0 Aspecto
homogêneo GM
Aspecto homogêneoGM
Cremeação GM
Não separou e não cremeou
GM
Não separou e não cremeou
GM
8,0 Aspecto
homogêneo GM
Aspecto homogêneoGM
Aspecto homogêneoGM
Não separou e não cremeou
GM
Não separou e não cremeou
GM
8,8 Aspecto
homogêneo GM
Aspecto homogêneoGM
Aspecto homogêneoGM
Cremeação GM
Cremeação GM
9,0 Aspecto
homogêneo GM
Aspecto homogêneo GM
Cremeação GM
Cremeação GM
Separação de fases GM
10,0 Aspecto
homogêneo GM
Cremeação GM
Cremeação GM
Cremeação GM
Separação de fases GM
11,0 Aspecto
homogêneo GM
Cremeação GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
12,0 Aspecto
homogêneo GM
Cremeação GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
13,0 Cremeação GM
Cremeação GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
Separação de fases GM
Onde: Valores de EHL = valores do equilíbrio hidrofílico-lipofílico para cada amostra em análise; GM = glóbulo múltiplo, GS = glóbulo simples
5.2.2.5. Influência de Variações na Fração Volumétrica Fase Aquosa/Fase
Oleosa para cada Valor de EHL na Obtenção da Emulsão Múltipla
As formulações com aspecto macro e microscópico adequados à estabilidade de
sistemas dispersos, obtidas a partir do screening dos valores de EHL, estão no intervalo de EHL
de 7,0 a 13,0 (Tabela 17).
A composição foi formulada conforme item 5.2., temperatura de manipulação de
78±2°C, sob agitação de 450rpm. As diferentes frações volumétricas entre fases aquosa/ oleosa,
Resultados e Discussão 106
mantendo a mistura de tensoativos em 5,0% (amostras de 1 a 10) descritas na Tabela 3, foram
aplicadas para cada valor de EHL escolhido.
As análises macro e microscópica das emulsões múltiplas formuladas estão resumidas
nas Tabelas 18 a 29. Quanto ao aspecto macroscópico: consistência e possíveis sinais de
instabilidade como: (a) alterações na cor ou odor, (b) cremeação e (c) separação de fases, foram
criteriosamente avaliadas. Quanto aos aspectos microscópicos: avaliaram-se os parâmetros (a)
presença e quantidade de glóbulos múltiplos; (b) características morfológicas, quantidade de
glóbulos simples e/ou múltiplos dentro dos glóbulos múltiplos (carga interna); (c) morfologia
do glóbulo, esférica ou não; (d) distribuição de tamanhos, e (e) presença de glóbulos simples.
Análises preliminares demonstram a formação de glóbulos múltiplos para todos os
valores de EHL avaliados. Entretanto, os sinais de instabilidade são menos evidentes nas
amostras com valores de EHL de 9,3; 10,2 e 10,4 (Tabelas de 20 a 25); apesar de diferentes
morfologias e quantidade de glóbulos múltiplos terem sido observadas para cada caso.
Estes resultados indicam que a formação e morfologia dos glóbulos múltiplos estão
correlacionadas ao valor de EHL escolhido para a emulsão, ou seja, o equilíbrio entre os
tensoativos hidro e lipofílico. Vale ressaltar que os valores ótimos de EHL para o sistema
múltiplo identificados estão próximos ao valor do EHL requerido do óleo de canola (8,8)
conforme previamente definido por Gonçalves (2000) e que empregando a mesma formulação,
porém metodologia de preparo distinta nanoemulsões estáveis foram obtidas (item 5.1.)
(MORAIS et al., 2006b).
Os resultados sugerem ainda, que a razão (p/p) entre os tensoativos empregados está em
um valor ótimo para formação de emulsões múltiplas. De acordo com a literatura, altas
concentrações do tensoativo hidrofílico influenciam negativamente a estabilidade do sistema
múltiplo, o que não é o caso para este sistema, onde concentrações próximas dos tensoativos
hidro e lipofílicos foram empregadas (MATSUMOTO, 1982, 1986, 1987; GARTI, 1997).
Resultados e Discussão 107
Tabela 18 - Formulações com valor de EHL 7,3; análise do aspecto macro e microscópico das amostras logo após o preparo
Formulação com EHL 7,3. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + ++ +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ ++ +++ +++ + + -
4 Separação de fases +++ ++ +++ +++ ++ ++ - 5 Cremeação +++ +++ +++ ++ ++ + - 6 Separação de fases +++ ++ +++ + + + - 7 Separação de fases +++ ++ +++ + + + - 8 Separação de fases +++ ++ +++ ++ ++ ++ - 9 Separação de fases +++ ++ +++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ ++ ++ ++ ++ -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 19 - Formulações com valor de EHL 7,3, análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 7,3. Análise 24 horas após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Separação de fases +++ + + +++ ++ ++ +++ 2 Separação de fases +++ +++ ++ +++ ++ ++ +++ 3 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + - 4 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + - 5 Separação de fases + + +++ + + + - 6 Separação de fases + + +++ + + + - 7 Separação de fases ++ + +++ + + + - 8 Separação de fases +++ ++ +++ + + + +++ 9 Separação de fases + + +++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ ++ + + + -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 108
Tabela 20 - Formulações com valor de EHL 9,3, análise do aspecto macro e microscópico das amostras logo após o preparo
Formulação com EHL 9,3. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ ++ ++ +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ +++ +++ +++ + + -
4 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ + +++ +++ ++ ++ -
5 Cremeação +++ + +++ +++ + + +++ 6 Separação de fases +++ +++ +++ +++ ++ + - 7 Separação de fases +++ + +++ + + + - 8 Separação de fases +++ ++ +++ ++ ++ ++ - 9 Separação de fases +++ + +++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ ++ ++ + + -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 21 - Formulações com valor de EHL 9,3, análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 9,3. Análise 24 horas após preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + +++ +++ +++ +++
4 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + +++ +++ +++ +++
5 Separação de fases +++ +++ ++ +++ + + ++ 6 Separação de fases +++ +++ ++ +++ ++ + ++ 7 Separação de fases +++ +++ ++ +++ ++ + ++ 8 Separação de fases +++ +++ ++ ++ +++ +++ ++ 9 Separação de fases +++ + +++ + ++ ++ +++ 10 Separação de fases +++ +++ ++ ++ + + +++
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 109
Tabela 22 - Formulações com valor de EHL 10,2, análise do aspecto macro e microscópico das amostras logo após o preparo
Formulação com EHL 10,2. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação ++ + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + + +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + +++ ++ ++ -
4 Cremeação +++ +++ + +++ ++ ++ - 5 Separação de fases + + + +++ + + - 6 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + - 7 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + - 8 Separação de fases ++ ++ + +++ + + - 9 Separação de fases +++ +++ +++ + + + - 10 Separação de fases ++ ++ ++ + + + -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 23 - Formulações com valor de EHL 10,2, análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 10,2. Análise 24 horas após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ + ++ +++ ++ ++ +++
4 Cremeação +++ +++ +++ +++ + + - 5 Separação de fases +++ ++ ++ + + + - 6 Separação de fases +++ ++ ++ + + + - 7 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + ++ 8 Separação de fases +++ +++ ++ + + + - 9 Separação de fases +++ +++ +++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ ++ + + + ++
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 110
Tabela 24 - Formulações com valor de EHL 10,4, análise do aspecto macro e microscópico das amostras logo após o preparo
Formulação com EHL 10,4. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
4 Cremeação +++ +++ +++ + + + - 5 Cremeação +++ +++ ++ + ++ ++ - 6 Cremeação +++ +++ ++ + + + - 7 Separação de fases +++ +++ +++ + + + - 8 Separação de fases +++ +++ +++ + + + - 9 Separação de fases +++ +++ ++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ +++ + ++ ++ -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 25 - Formulações com valor de EHL 10,4; análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 10,4. Análise 24 horas após manipulação.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + +++ +++ +++ +++
3 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + + + + +++
4 Cremeação +++ +++ ++ + + + - 5 Separação de fases ++ ++ ++ + + + - 6 Separação de fases +++ +++ ++ + ++ ++ - 7 Separação de fases +++ +++ +++ + + + +++ 8 Separação de fases +++ +++ +++ + + + +++ 9 Separação de fases +++ +++ ++ + + + - 10 Separação de fases +++ +++ +++ ++ +++ +++ -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 111
Tabela 26 - Formulações com valor de EHL 11,6; análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 logo após o preparo
Formulação com EHL 11,6. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação +++ +++ ++++ +++ + + -
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + ++ ++ ++ + -
3 Separação de fases ++ +++ ++ +++ +++ +++ - 4 Separação de fases +++ +++ ++ +++ +++ +++ - 5 Separação de fases +++ +++ ++ +++ ++ ++ - 6 Separação de fases +++ +++ ++ +++ ++ ++ - 7 Separação de fases +++ +++ +++ +++ + + - 8 Separação de fases +++ +++ +++ ++ + + - 9 Separação de fases +++ +++ +++ ++ + + - 10 Separação de fases +++ +++ +++ ++ + + -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 27 - Formulações com valor de EHL 11,6; análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 11,6. Análise 24 horas após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação +++ +++ ++ +++ +++ ++ -
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ ++ ++ +++ +++ +++ +++
3 Separação de fases + + + ++ + +++ +++ 4 Separação de fases +++ + ++ + ++ ++ - 5 Separação de fases +++ +++ ++ +++ +++ +++ - 6 Separação de fases +++ + ++ +++ ++ ++ - 7 Separação de fases +++ +++ +++ + + + +++ 8 Separação de fases ++ +++ +++ ++ ++ ++ +++ 9 Separação de fases ++ +++ +++ ++ ++ ++ +++ 10 Separação de fases ++ +++ +++ ++ ++ ++ +++
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 112
Tabela 28 - Formulações com valor de EHL 12,7; análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 logo após o preparo
Formulação com EHL 12,7. Análise após o preparo.
Amostra Aspecto macroscópico
Aspecto microscópico
Glóbulo múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ +++
2 Cremeação ++ + + +++ +++ + +++ 3 Cremeação ++ + + +++ + + +++
4 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ +++ ++ +++ + ++ -
5 Cremeação ++ ++ ++ + + + - 6 Separação de fases +++ +++ +++ + + + - 7 Separação de fases + ++ +++ + + + - 8 Separação de fases +++ +++ +++ + + + -
9 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ ++ ++ +++ ++ + -
10 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + ++ ++ ++ + + -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Tabela 29 - Formulações com valor de EHL 12,7; análise do aspecto macro e microscópico das amostras 24 horas após o preparo
Formulação com EHL 12,7. Análise 24 horas após o preparo.
Amostra Aspecto macroscópico
Aspecto microscópico
Glóbulo múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
1 Cremeação +++ + +++ +++ +++ ++ +++
2 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ + ++ +++ +++ ++ +++
3 Separação de fases +++ ++ +++ +++ + + ++ 4 Separação de fases ++ ++ + +++ + ++ ++ 5 Separação de fases +++ +++ + +++ + + ++ 6 Separação de fases +++ +++ + ++ + + ++ 7 Separação de fases +++ +++ + ++ + + ++ 8 Separação de fases +++ +++ + +++ + + ++ 9 Separação de fases +++ +++ ++ ++ + + ++
10 Separação de fases + ++ ++ ++ + + - Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 113
5.2.2.6. Aplicação do Diagrama Ternário na Otimização da Obtenção de
Glóbulos Múltiplos
O emprego do método de obtenção de emulsões através de diagrama ternário é um pré-
requisito para identificação e análise do comportamento de fases dos sistemas dispersos
formados por água/óleo/tensoativo (KUNIEDA et al., 1996; TESTARD; ZEMB, 2002). O
diagrama ternário (Figura 9) é representado no plano como triângulo eqüilátero onde os três
constituintes são simétricos. Os três vértices do triângulo correspondem a 100% dos três
constituintes: óleo/ água/ tensoativo. O vértice superior representa 100% do óleo, o inferior
direito representa 100% do tensoativo e o inferior esquerdo representa 100% da fase aquosa.
Foi possível identificar, através do emprego do diagrama de fases, a região, ou seja, as
razões entre fase aquosa, fase oleosa e tensoativos que podem formar glóbulos múltiplos a partir
da metodologia proposta. Composição conforme item 5.2., tensoativos previamente adicionados
na fase oleosa, temperatura de 78±2°C e agitação de 450rpm até resfriamento (25±2°C). O
vértice esquerdo e região subjacente, onde a quantidade de fase dispersante é maior (fase
aquosa) produziu sistemas múltiplos (Figura 16). Os resultados estão de acordo com Salager et
al. (2000 e 2004) que afirmam que o volume de fase dispersa e de fase dispersante em razões
bastante divergentes de 1:1 em emulsões, pode conduzir a fenômenos de inversão catastrófica,
produzindo assim, um sistema disperso anormal e ocasionalmente múltiplo. Contudo, é
importante salientar que o diagrama aqui desenvolvido não pode ser considerado um diagrama
ternário real, melhor seria defini-lo como diagrama de fases; afinal os tensoativos não iônicos
polietoxilados comerciais são misturas de moléculas de diferentes cadeias, com uma fração
média de grau de etoxilação; outro aspecto que deve ser considerado é o emprego de um par, e
não de apenas um tensoativo não iônico (KUNIEDA et al., 1996; XIE; BROOKS, 2004).
Resultados e Discussão 114
Figura 16 - Diagrama ternário com áreas especificadas de acordo com os aspectos macro e microscópico dos sistemas dispersos obtidos. Glóbulos múltiplos foram formados no vértice inferior esquerdo e região subjacente. Onde: ME (E) = microemulsão estável após 24 horas, ME (I) = microemulsão instável após 24 horas
As análises macro e microscópicas realizadas logo após a manipulação e após 24 horas
do preparo estão reunidas nas Tabelas 30, 31 e 32. O aspecto macro e microscópico das
emulsões foram avaliados quanto a fenômenos como cremeação, separação de fases, e a
formação de glóbulos múltiplos e/ou simples. Os glóbulos múltiplos foram avaliados quanto à
morfologia e resistência à ruptura em função do tempo (em horas e/ou dias).
Foi possível identificar regiões no diagrama onde glóbulos múltiplos são formados sem
quaisquer sinais de cremeação ou separação de fases, contudo sua quantidade é na maioria das
vezes não significativa para classificar a emulsão como sistema múltiplo. Em outras áreas,
próximas ou subjacentes, glóbulos múltiplos são formados em quantidades consideráveis,
porém os sinais de instabilidade são visualmente detectados. Constituem toda área azul
emulsão/loção A/O/A.
Resultados e Discussão 115
Tabela 30 - Análise macro e microscópica das formulações 1 a 36 obtidas a partir do diagrama ternário, logo após o preparo e 24 horas após o preparo
Amostras obtidas pelo diagrama ternário (EHL 9,3)
Amostra Aspecto Macro Após preparo
Aspecto Macro Após 24 horas
Aspecto Micro Após preparo
Aspecto Micro Após 24 horas
1 Separação de fases Separação de fases - GS 2 Separação de fases Separação de fases - GS3 Separação de fases Separação de fases GM GM 4 Microemulsão Microemulsão - - 5 Creme branco Creme branco GS GS
6 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
7 Microemulsão Microemulsão - -8 Gel Gel - GS 9 Creme branco Creme branco GS GS
10 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
11 Microemulsão Emulsão amarelada - - 12 Microemulsão Emulsão amarelada - GS13 Gel Gel - - 14 Creme branco Creme branco GS/GM GS
15 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GM GM
16 Gel Gel - - 17 Microemulsão Microemulsão - - 18 Gel Gel - GS 19 Gel Gel - GS
20 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
21 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
22 Emulsão amarelada Emulsão amarelada GS GS 23 Microemulsão Microemulsão - - 24 Gel Gel GS GS 25 Gel Gel GS GS 26 Gel Gel - GS
27 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
28 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GS/GM GS/GM
29 Gel Gel - GS
30 Gel Gel Separação de fases - GS
31 Gel Gel Separação de fases - GS
32 Gel Gel - GS 33 Gel Gel GS GS 34 Gel Gel GS/GM GS 35 Gel Gel - GS
36 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS/GM
Onde: A formação e o aspecto macro e microscópicos das emulsões múltiplas obtidas são descritos, GM = glóbulo múltiplo; GS = glóbulo simples
Resultados e Discussão 116
Tabela 31 - Análise macro e microscópica das formulações 37 a 70 obtidas a partir do diagrama ternário, logo após o preparo e 24 horas após o preparo
Amostras obtidas pelo diagrama ternário (EHL 9,3).
Amostra Aspecto Macro Após preparo
Aspecto Macro Após 24 horas
Aspecto Micro Após preparo
Aspecto Micro Após 24 horas
37 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Aspecto homogêneo - GS
38 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo Separação de fases GM GM
39 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Aspecto homogêneo GS GS
40 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Aspecto homogêneo GM GS/GM
41 Separação de fases Separação de fases GS/GM GS/GM
42 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Aspecto homogêneo GS GS
43 Separação de fases Separação de fases GM GM
44 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS GS
45 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GM GM
46 Separação de fases Separação de fases GM GM
47 Aspecto homogêneo Loção
Aspecto homogêneo Loção GS/GM GS/GM
48 Emulsão leitosa Cremeação Separação de fases GS/GM GS/GM
49 Aspecto homogêneo Loção
Aspecto homogêneo Loção GS GS
50 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Separação de fases GM GM
51 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS/GM
52 Separação de fases Separação de fases GS/GM GS/GM
53 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
54 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
55 Separação de fases Separação de fases GM GS
56 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
57 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
58 Separação de fases Separação de fases GM GM
59 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Aspecto homogêneo GS/GM GS
60 Separação de fases Separação de fases GM GM
61 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS GS
62 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS GS
63 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo Separação de fases GS/GM GS/GM
64 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo
Emulsão leitosa Cremeação GS GS/GM
65 Emulsão leitosa Cremeação Separação de fases GS GS
66 Emulsão leitosa Cremeação Separação de fases GS/GM GM
Resultados e Discussão 117
Continuação
67 Emulsão amarelada Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
68 Emulsão amarelada Cremeação Separação de fases GS GS
69 Emulsão amarelada Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GS
70 Emulsão leitosa Cremeação
Emulsão leitosa Cremeação GS/GM GM
Onde: A formação e o aspecto macro e microscópicos das emulsões múltiplas obtidas são descritos, GM = glóbulo múltiplo; GS = glóbulo simples
Resultados e Discussão 118
Tabela 32 - Análise macro e microscópica das formulações obtidas a partir do diagrama ternário, 30 dias após o preparo
Formulação com EHL 9,3. Análise 30 dias após o preparo.
Amostra Aspecto Macroscópico
Aspecto Microscópico
Glóbulo Múltiplo (GM) (GS)
QDT AGL TAM CARGA MORF Uniforme
DIST TAM Homogênea QTD
37 Cremeação + + + +++ +++ +++ +++ 38 Separação de fases +++ ++ ++ + ++ ++ -
39 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + +++ +++ +++ ++
40 Cremeação +++ +++ ++ ++ ++ + - 41 Separação de fases +++ +++ +++ ++ +++ ++ -
42 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + ++ +++ ++ +
43 Separação de fases +++ +++ +++ + + + -
44 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo ++ + + ++ +++ ++ -
45 Cremeação +++ +++ ++ ++ + + - 46 Separação de fases + + + ++ + + + 47 Loção ++ + + +++ ++ ++ + 48 Separação de fases +++ ++ +++ + + + +
49 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + ++ +++ ++ +
50 Cremeação ++ ++ + ++ +++ ++ - 51 Cremeação +++ +++ + +++ +++ + - 52 Separação de fases +++ +++ +++ +++ ++ + -
53 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + ++ +++ ++ -
54 Cremeação +++ +++ +++ +++ ++ + -
55 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + + +++ ++ -
56 Cremeação + + + + +++ ++ -
57 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + + +++ ++ -
58 Cremeação +++ +++ ++ +++ ++ + -
59 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo + + + ++ +++ ++ -
60 Cremeação +++ +++ ++ +++ ++ + - 61 Separação de fases - - - - - - + 62 Cremeação + + ++ + ++ ++ - 63 Cremeação ++ ++ ++ ++ +++ ++ -
64 Emulsão leitosa Aspecto homogêneo +++ +++ + +++ +++ ++ -
65 Cremeação + + + ++ +++ ++ - 66 Cremeação ++ ++ + +++ +++ +++ - 67 Separação de fases - - - - - - + 68 Separação de fases - - - - - - + 69 Separação de fases + + ++ ++ +++ ++ - 70 Cremeação ++ + + ++ +++ +++ -
Onde: glóbulo múltiplo (GM), glóbulo simples (GS), quantidade de glóbulos (QDT.), nível de aglomeração (AGL.), conteúdo do glóbulo múltiplo (CARGA), estrutura globular (MORF. Uniforme), glóbulos com tamanhos próximos (DIST. TAM. Homogênea). Parâmetros estimados por análise microscópica. Presença em quantidade relevante (+++), quantidade moderada (++), quantidade pequena (+), ausência de glóbulos múltiplos (-)
Resultados e Discussão 119
5.3. Mapa de Inversão de Fases
Com os resultados obtidos a partir da avaliação da influência de diferentes razões
volumétricas O/A em função de diferentes valores de EHL para a emulsão múltipla (4.3.2.5.),
mapas de transição de fases foram construídos logo após e 24 horas após a manipulação das
emulsões múltiplas.
Apesar de considerar o valor de EHL calculado e assim estimado; e não o valor de EHL
verdadeiro, que como visto a priori leva em consideração as variáveis da composição e do
processo de emulsificação; os mapas elaborados permitem identificar a região na qual ocorre a
formação de sistemas múltiplos e analisar a influência do balanço hidro-lipofílico do par de
tensoativos e das diferentes razões volumétricas empregados. É possível observar que o
comportamento do mapa muda em apenas 24 horas, indicando o dinamismo do processo, a
região onde podem ser obtidas emulsões múltiplas sofre razoável diminuição.
Os resultados sugerem que para o desenvolvimento e a formulação de novos veículos
cosméticos e/ou farmacêuticos é necessário ao formulador pensar nas emulsões como um todo,
em todo o sistema disperso, e nunca em variáveis ou parâmetros isolados.
(a) (b) Figura 17 - Mapa de inversão de fases (valores de EHL x razão volumétrica A/O) para amostras analisadas microscopicamente imediatamente após (a) e 24 horas após o preparo (b)
Resultados e Discussão 120
5.4. Caracterização Físico-química dos Tensoativos
5.4.1. Determinação do Ponto de Turvação (cloud point)
Soluções aquosas contendo 1,0% de cada um dos tensoativos hidrofílicos empregados
(óleo de rícino não hidrogenado e etoxilado Surfom/UltroilR400® e óleo de rícino hidrogenado
e etoxilado40EO, CremophorRH400®), foram aquecidas até 80±5°C em banho-maria e sem
agitação e em placa de aquecimento sob agitação magnética constante. A temperatura foi
monitorada com auxílio de termômetro. Nenhum sinal de turvação foi visualmente observado;
mesmo contra fundo escuro.
O emprego de matéria-prima comercial e de água não deionizada deveria diminuir a
temperatura de cloud point (FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988) apesar disso não foi
possível determiná-la pela metodologia proposta. A limitação prática para obtenção do cloud
point para tensoativos não iônicos etoxilados com grau de etoxilação acima de 15, como o
empregado nesta pesquisa (óleo de rícino hidrogenado ou não e etoxilado 40EO), tem sido
descrita pela literatura e há relato de valores superiores a 100±2°C (BECHER; SCHICK, 1987;
HOLMBERG et al., 2002).
Resultados e Discussão 121
5.4.2. Determinação da Tensão Superficial/Interfacial
Cinética em Tempos Curtos
Os tensoativos SurfomR400® e CremophorRH400® exibem rápida velocidade de
adsorção, afinal não foi possível registrar seu tempo inicial (Figura 18). A cinética de adsorção
é conduzida por difusão e quanto maior a concentração da solução, mais rápida é sua difusão.
Isto demonstra que os tensoativos analisados, apesar do caráter comercial e sem purificação,
não apresentam variações significativas para os tamanhos de cadeia, o que resultaria em uma
cinética lenta de adsorção (até horas). Outro aspecto observado é a ausência de ponto mínimo
na curva de tensão superficial. Tensoativos contendo impurezas mais insolúveis ou com
atividade tensoativa mais acentuada que o próprio tensoativo, adsorvem-se preferencialmente
na interface líquido-ar e podem proporcionar maior empacotamento molecular com
conseqüente diminuição da tensão superficial (SHAW, 1975; RABOCKAI, 1979; BEIRD,
1997).
Os gráficos indicam que para elevadas concentrações de tensoativo a presença de
impurezas tem menor influencia sobre os valores de tensão superficial (Figura 18). O equilíbrio
de adsorção-dessorção rápido indica que a polidispersidade do SurfomR400®/UltroilR400® e
CremophorRH400® são semelhantes e não elevadas. Para este parâmetro, não houve diferenças
consideráveis entre o tensoativo hidrogenado e etoxilado, do não hidrogenado.
Resultados e Discussão 122
(a) (b) Figura 18 - Curvas de tensão superficial ou tensão interfacial líquido-ar em função do tempo (em segundos): (a) tensoativo hidrofílico hidrogenado e etoxilado 40EO (CremophorRH400®) e (b) tensoativo hidrofílico não hidrogenado e etoxilado 40EO (Surfom/UltroilR400®)
Influência da Temperatura – Ponto de Tensão Superficial/Interfacial Mínimo
Durante os processos de emulsificação por inversão de fases (EIF) e pela temperatura de
inversão de fases (TIF), o fenômeno de tensão interfacial mínima entre as fases aquosa/oleosa
que ocorre na fase Winsor III, favorecendo curvatura interfacial nula entre as fases aquosa e
oleosa e assim, a formação de emulsões múltiplas anormais tem sido reportado (SHINODA;
FRIBERG, 1986; MARSZAL, 1987; SALAGER et al., 2000, 2004).
Assim, com o objetivo de caracterizar a influência da temperatura sobre o filme de
tensoativos formado na interface aquosa/oleosa dos glóbulos múltiplos, os valores de tensão
superficial/interfacial foram determinados para soluções com a adição de tensoativos de liofilia
compatível, em associação ou não. A determinação do ponto teórico de tensão
superficial/interfacial mínima, fundamental para a formação de glóbulos múltiplos em etapa
única foi o objetivo principal. Uma superfície planar entre a fase aquosa/oleosa foi empregada
como modelo e daí seus valores correlacionados à interface dos glóbulos (OPAWALE;
BURGESS, 1998a, 1998b).
Resultados e Discussão 123
Os resultados de tensão superficial/interfacial obtidos para as amostras analisadas, estão
descritos nos gráficos seguintes (Figuras 19 a 24).
O óleo de canola exibiu leve decréscimo no valor de tensão superficial a partir 50±2⁰C,
entretanto nenhuma mudança relevante foi observada (Figura 19). A análise do comportamento
do óleo de canola (puro) em função da temperatura foi realizado para comparação com as
amostras contendo tensoativos. As alterações observadas podem ser resultado de uma
reestruturação/reorganização dos ácidos graxos constituintes do óleo de canola (GENNIS,
1989).
Figura 19 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola em função do aumento da temperatura (em ⁰C)
Para a análise das amostras de óleo de canola acrescidas de um dos tensoativos,
lipofílico (Span80®) ou hidrofílico (CremophorRH40®), foram empregadas as concentrações de
24,2 e 25,8 (p/p%), respectivamente. Estas concentrações são as mesmas empregadas no
preparo das emulsões múltiplas (valor de EHL de 8,9).
Os valores de tensão superficial para estas amostras exibiram decréscimo gradativo com
o aumento da temperatura (Figuras 20 (a) e 21 (a)), mas nenhuma inflexão foi observada no
gráfico obtido. Durante o resfriamento (Figuras 20 (b) e 21 (b)), estas amostras apresentaram
aumento gradativo dos valores de tensão, exceto para a amostra óleo de canola e
Resultados e Discussão 124
CremophorRH40® que durante o resfriamento, demonstrou um ponto de inflexão, não
relevante, em 60±2⁰C.
(a) (b) Figura 20 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de Span80® (concentração de 24,2p/p%) em função do aumento (a) e diminuição da temperatura (b) (em ⁰C)
(a) (b) Figura 21 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de CremophorRH40® (concentração de 25,8p/p%) em função do aumento (a) e diminuição da temperatura (b) (em ⁰C)
Soluções aquosas do tensoativo hidrofílico também foram avaliadas. Foi possível
observar que para a faixa de temperatura de 80±2⁰C, a amostra exibiu um ponto relevante de
inflexão (de aproximadamente10mN/m) (Figura 22). Estes resultados sugerem que a molécula
de tensoativo hidrofílico sofre reorganização intramolecular e intermolecular (com a água), em
um valor específico de temperatura (MARTIN, 1993; HIEMENZ; RAJAGOPALAN, 1997;
Resultados e Discussão 125
HOLMBERG et al., 2003) e é importante ressaltar que o mesmo está no intervalo de
temperatura considerada crítica para o processo de obtenção de emulsões múltiplas em etapa
única.
Figura 22 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) de solução aquosa de CremophorRH40® em função do aumento da temperatura (em ⁰C), concentração 25,8p/p%
As amostras contituídas de óleo de canola e da mistura dos tensoativos (lipofílico e
hidrofílico) também foram avaliadas em função da temperatura. Foram empregadas
concentrações as de 5,0% (Figura 23) e 50,0% (Figura 24). Em todos os testes, as amostras
exibiram pontos de inflexão relevantes durante o processo de aquecimento. Contudo, foi
possível observar que este ponto é diretamente proporcional a concentração de tensoativos
empregada. A amostra contendo 5,0% apresentou uma queda em torno de 10mN/m, enquanto
nas amostras contendo 50,0% a queda foi de aproximadamente 30mN/m, apresentando valores
de tensão próximos a zero, ou seja, valores de tensão superficial/interfacial mínimo.
Outra variável analisada foi a influência da taxa de aumento da temperatura, se rápida
ou lenta (Figura 24), sobre os valores de tensão para as amostras contendo o par de tensoativos.
Os resultdos indicam que a taxa considerada lenta apenas protelou o ponto de tensão mínima
em ±2mN/m.
Resultados e Discussão 126
Figura 23 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) do óleo de canola acrescido de Span80® e CremophorRH40® (concentrações de 2,42 e 2,58p/p%, respectivamente) em função da temperatura (em ⁰C)
(a) (b) Figura 24 - Caracterização da tensão superficial (em mN/m) de óleo de canola acrescido de CremophorRH40® e Span80® (concentração de 25,8 e 24,2% p/p%, respectivamente) em função do aumento da temperatura, aquecimento rápido (a) e aquecimento lento (b)
A análise da tensão superficial/interfacial em função da temperatura, para as amostras,
com ou sem a adição de tensoativos de liofilia compatível, associados ou não, e em função da
temperatura, permitiu que fosse determinado o ponto de tensão superficial/interfacial mínima.
Estes resultados corroboram com a literatura e permitiram a análise experimental de sistemas
múltiplos obtidos em etapa única.
Resultados e Discussão 127
5.4.3. Determinação da Concentração Micelar Crítica (CMC)
Os valores de CMC dos tensoativos em análise foram calculados utilizando a
descontinuidade brusca, quebra (indicada pela linha vermelha), na reta do gráfico de tensão
superficial versus log da concentração (OPAWALE; BURGESS, 1998b) (Figura 25). De
acordo com os gráficos foi possível observar valores idênticos de CMC de 10-3 mol/L-1para os
tensoativos hidrofílicos avaliados (CremophorRH400® e SurfomR400®) constituídos por cadeia
carbônica etoxilada e hidrogenada e não hidrogenada, respectivamente. A característica da
cadeia do tensoativo, hidrogenada ou não, parece não interferir neste parâmetro. Outro aspecto
relevante é que, mesmo em se tratando de amostras comerciais a quantidade de impurezas não
foi suficiente para alterar os valores de CMC.
(a) (b)
Figura 25 - Curvas de concentração micelar crítica (CMC): (a) tensoativo hidrofílico hidrogenado e etoxilado 40EO (CremophorRH400®) e (b) tensoativo hidrofílico não hidrogenado e etoxilado 40EO (SurfomR400®)
Resultados e Discussão 128
5.4.4. Determinação da Reologia de Fluxo (Volume)
Estudos reológicos de soluções de tensoativos monoméricos e/ou poliméricos, em
especial a avaliação dos valores de viscosidade em função de estresses como o aumento da
temperatura, permitem a caracterização de interações intramoleculares (cadeias hidrofóbicas) e
intermoleculares, como por exemplo, (grupos polares e moléculas do solvente, pontes de
hidrogênio), além de fornecer informações sobre a organização destas moléculas em solução.
Estas informações podem ser correlacionadas ao comportamento destas moléculas na interface
de sistemas dispersos, como emulsões e suspensões (GENNIS, 1989; HOLMBERG et al., 2003;
SCHRAMM et al., 2003).
Neste sentido, a viscosidade de soluções de tensoativos (Span80® e CremophorRH40®)
foi avaliada em função do aumento da temperatura (Figuras 27 a 29).
A solução aquosa de CremophorRH40® (25,8p/p%) (Figura 26) apresentou diminuição
relevante para os valores de viscosidade até valores de temperatura próximos a 80±2⁰C, a partir
deste ponto, o aumento da temperatura provocou aumento de aproximadamente 20cP, no valor
da viscosidade da solução. Este comportamento é denominado “enrijecimento térmico”
(thermal gelation), e ocorre devido à transição de fases, de uma solução micelar para uma fase
cristalina cúbica (HOLMBERG et al., 2003). Este fenômeno indica que a a molécula de
CremophorRH40® possui comportamento distinto, reorganizando-se com mudanças de fases
dentro da faixa de temperatura considerada crítica para a obtenção de emulsões múltiplas em
etapa única.
Resultados e Discussão 129
Figura 26 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de solução aquosa de CremophorRH40® (concentração de 25,8p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C)
Os resultados obtidos para as soluções de óleo de canola contendo CremophorRH40®
(25,8%), Span80® (24,8%) e a associação de ambos (50,0%) estão descritos nas Figuras 27, 28
e 29, respectivamente. Os valores de viscosidade diminuíram gradualmente com o aumento da
temperatura e não apresentaram nenhuma peculiaridade na faixa de temperatura considerada
crítica para o processo de emulsificação em etapa única.
Figura 27 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de CremophorRH40® (concentração de 25,8p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C)
Resultados e Discussão 130
Figura 28 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de Span80® (concentração de 24,2p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C)
Figura 29 - Caracterização da viscosidade (em cPs) de óleo de canola acrescido de CremophorRH40® e Span80® (concentração de 25,8 e 24,2p/p%) em função do aumento da temperatura (em ⁰C)
5.4.5. Determinação da Reologia Dinâmica/Oscilatória (Superfície)
Considerando-se a maior complexidade das emulsões múltiplas, Tadros, Dederen e
Taelman (1997); Opawale e Burgess, (1998a, 1998b); Jiao, Rhodes e Burgess (2002); Jiao e
Burguess (2003); Lippacher et al. (2004); Vasiljevic, Vuleta e Primorac (2005) sugerem que a
reologia dinâmica (oscilatória) de volume e de surperfície são os métodos mais adequados para
análise da microestrutura e avaliação da estabilidade de emulsões múltiplas em função do
tempo, quando comparada ao emprego de reologia não-linear ou de fluxo.
Resultados e Discussão 131
Parâmetros como a elasticidade, viscosidade dinâmica superficial de cisalhamento e a
viscoelasticidade permitem caracterizar quantitativamente o equilíbrio entre as propriedades
elásticas e viscosas do sistema em análise. Quanto menor o valor de (δ), mais pronunciada o
caráter elástico e vice-versa (OPAWALE; BURGESS, 1998a, 1998b; BOS; VAN VLIET,
2001; LIPACHER, et al., 2004; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
Análises de reologia dinâmica superficial foram realizadas para amostras constituídas
por óleo de canola, óleo de canola acrescido de tensoativos lipo e hidrofílicos, em associação ou
não. Para as análises de reologia dinâmica interfacial, foi caracterizada a superfície planar entre
a água deionizada e destilada (exceção para a amostra contento tensoativo hidrofílico) e as
amostras acima citadas em função da temperatura. Com o aumento desta, aumenta-se a
mobilidade das moléculas, o que dependendo do rearranjo/reorganização do filme de
tensoativos, pode aumentar ou diminuir o grau de interação entre as mesmas (LIPPACHER et
al., 2004).
Os resultados de reologia superficial (Tabelas 33 a 36) indicam que as amostras em
análise apresentam-se viscoelásticas, com predominância do aspecto viscoso (δ≥45⁰). Estes
resultados são esperados para interfaces estabilizadas por tensoativos, que são fluidas e
respondem prontamente às diferenças de grandiente criadas por quaisquer distúrbios na
interface (efeito Gibbs Marangoni) (Manual Camtel Ltd., 1998; BOS; VAN VLIET, 2001). Os
valores de viscoelasticidade diminuíram com o aumento da temperatura para todas as amostras,
exceto para amostra constituída de óleo de canola puro, para qual ocorreu um aumento do
aspecto viscoso com o aumento da temperatura (Tabela 33).
Resultados e Discussão 132
Tabela 33 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3
Óleo de Canola (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 48,06±7,34 39,35±2,33 34,8±6,93 50±2 70,92±2,87 46,6±9,76 24±4,82
Tabela 34 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola acrescido de Span80® (24,2p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3
Óleo de Canola+Span80® (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 77,11±6,39 96,2±4,67 135±5,66 50±2 61,61±4,96 80,5±2,83 54,53±5,12
Resultado peculiar apresentou a amostra constituída de óleo de canola e
CremophorRH40®, exibindo um descréscimo de aproximadamente 60⁰ (Tabela 35), e
tornando-se assim predominantemente elástica a 50±2⁰C. Estes resultados indicam que o
sistema exibe maior capacidade de recuperação após estresses com o aumento da temperatura.
Tabela 35 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola acrescido de CremophorRH40® (25,8p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3
Óleo de Canola+CremophorRH40® (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 72,87±5,13 82,9±0 55,9±13,57 50±2 9,38±0,78 12,3±0,56 33,7±1,27
Os valores de elasticidade superficial (mN/m) demonstraram decréscimo com o
aumento da temperatura, exceção para o óleo de canola (Tabela 33). Contudo, o padrão deste
decréscimo foi distinto para as diferentes amostras. A amostra contendo Span80® exibiu
diminuição de aproximadamente 15mN/m (Tabela 34), já para a amostra contendo
CremophorRH40®, a diminuição foi em torno de 70mN/m (Tabela 35) e para a amostra
contendo os tensoativos em associação, o decréscimo foi de aproximadamente 410mN/m
(Tabela 36).
Resultados e Discussão 133
Tabela 36 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície do óleo de canola acrescido de Span80® e CremophorRH40® (24,2 e 25,8p/p%, respectivamente) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3
Óleo de Canola+Tensoativos (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 86,42±0,59 464,5±113,84 88,6±7,35 50±2 61,57±1,17 55,8±15,55 86±19,79
Os resultados sugerem que a molécula de CremophorRH40®, em associação ou não com
Span80®, foi marcadamente influenciada pelo aumento da temperatura. Estes resultados
sugerem ainda que existe sinergismo entre as moléculas de CremophorRH40® e Span80® na
diminuição dos valores de elasticidade superficial sob influência de aumentos da temperatura.
A elasticidade de um filme está diretamente relacionada a possíveis pontos de interação
entre as moléculas. Assim, os resultados sugerem que com o aumento de temperatura e da
mobilidade molecular, as moléculas de CremophorRH40® se reorganizaram, provocando
diminuição crítica nos valores de elasticidade superficial (OPAWALE; BURGESS, 1998a,
1998b; BOS; VAN VLIET, 2001;SCHRAMM et al., 2003 e LIPACHER et al., 2004). Este
comportamento pode estar relacionado a obtenção de emulsões múltiplas em única etapa com o
par em análise, por inviabilizar apropriadamente pontos de interações moleculares, permitindo
que as forças de adesão entre as moléculas de tensoativos e as fases aquosa e oleosa sejam
diminuídas, fenômeno que ocorreria durante a fase de Winsor III.
Com o aumento da temperatura, as moléculas de tensoativos não-iônicos etoxilados
tornam-se mais lipofílicas (MYERS, 1989; HOLMBERG et al., 2003), e assim ampliariam suas
interações hidrofóbicas (entre si e com o óleo de canola) e entre os monômeros na superfície
com micelas invertidas em solução (OPAWALE; BURGESS, 1998a, 1998b; SCHRAMM et
al., 2003 e LIPACHER et al., 2004). Entretanto, não foi possível observar aumentos da
elasticidade superficial para o CremophorRH40® até a temperatura avaliada (50±2⁰C), os
resultados sugerem que o aumento de temperatura em questão não foi suficiente para inverter a
lipofilia do tensoativo analisado.
Resultados e Discussão 134
Para os valores de viscosidade dinâmica, todas as amostras analisadas apresentaram
decréscimo gradativo com o aumento da temperatura. Entretanto, para este parâmetro, a
amostra óleo de canola contendo Span80® exibiu diminuição de aproximadamente 85mN.s/m, e
assim maior susceptibilidade a aumentos de temperatura (Tabela 34).
Como a amostra óleo de canola acrescida de CremophorRH40® exibiu decréscimo
relevante, inclusive com mudança de fases para δ, em função do aumento da temperatura,
soluções aquosas de CremophorRH40®, em diferentes concentrações (0,5; 1,0; 5,0; 10,0; 15,0;
20,0 e 25,8 p/p%) foram avaliadas (25±2⁰C). A análise de solução de CremophorRH40® em
função da temperatura não foi realizada porque com o aumento da tempertaura a solução
tornava-se heterogênea, áreas com aspecto de gel, áreas com aspecto de solução (a agitação
magnética não pode ser mantida durante a realização do experimento), inviabilizando os
resultados obtidos.
Os valores de elasticidade superficial diminuíram em função do aumento das
concentrações analisadas (Figura 30). Para os valores de viscosidade dinâmica o
comportamento foi exatamente o oposto (Figura 31). Os resultados indicam que o aumento do
número de moléculas do tensoativo na superfície, à temperatura ambiente, é desfavorável as
interações intramoleculares, as três cadeias hidrofóbicas da molécula (Figura 6), além do
número de grupos etóxi (40 para o CremophorRH40®, e somente 10 para o TritonX100® e 20
para o Tween80®) na interface líquido-ar, limitariam espacialmente estas interações indicando
que, a formação de micelas em solução seria a localização mais viável para o excesso de
moléculas de tensoativos. O nível de organização molecular parece diminuir com o aumento da
concentração do tensoativo analisado, explicando o aumento da viscosidade dinâmica.
(OPAWALE; BURGESS, 1998a, 1998b; SCHRAMM et al., 2003; LIPACHER, et al., 2004;
VASILJEVIC et al., 2005).
Resultados e Discussão 135
Figura 30 - Caracterização da elasticidade superficial (em mN/m) de soluções aquosas de CremophorRH40® em função de diferentes concentrações (25±2⁰C)
Figura 31 - Caracterização da viscosidade dinâmica(em mN) de soluções aquosas de CremophorRH40® em função de diferentes concentrações (25±2⁰C)
Considerando o comportamento peculiar do CremophorRH40®, tanto em função do
aumento da temperatura, como em função do aumento na concentração, análises da reologia
superficial para diferentes tensoativos hidrofílicos foram realizadas, com a finalidade de se
correlacionar os valores de viscoelasticidade, elasticidade superficial e viscosidade dinâmica em
função da estrutura química (Figuras 6 a 8).
Todas as amostras apresentaram perfil viscoelástico, entretanto a solução de
CremophorRH40® exibiu o maior caráter elástico.
Quanto a elasticidade superficial, as amostras de TritonX100® e Tween80® exibiram
valores maiores. Os resultados sugerem que estas moléculas apresentariam maior número de
pontos passíveis a interações intra e intermoleculares quando comparadas à molécula de
Resultados e Discussão 136
CremophorRH40®. Este comportamento deve estar diretamente relacionado a presença das três
cadeias carbônicas e ao número elevado de grupos etóxi (40), que dificultariam possíveis
interações intramoleculares e intermoleculares, inclusive deve-se considerar possíveis
dobramentos ao longo destas cadeias.
Para os valores de viscosidade dinâmica, a solução de Tween80® foi relativamente
maior (Tabela 37).
Tabela 37 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para superfície da água acrescida de CremophorRH 40®, TritonX100® e Tween80® (25,8p/p%), em diferentes temperaturas, em função do tempo. Média e desvio padrão, n = 3
Água+Tensoativos Hidrofílicos (após 2.600 segundos à 25±2⁰C)
Tensoativo Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
CremophorRH40® 82,0±3,43 204,33±105,29 53,73±1,72 TritonX100®
Tween80® 87,87±0,60 85,80±0,67
356,67±82,58 312,67±44,79
95,73±5,50 53,83±3,48
Os valores de reologia interfacial (Tabelas 38 a 42) indicam que todas as amostras
analisadas exibiram perfil viscoelástico, mesmo a 50±2⁰C. Os resultados de elasticidade
interfacial indicam que as amostras não apresentaram perfil uniforme com o aumento da
temperatura, entretanto nenhuma variação foi definida como anormal, considerando-se a
sensibilidade do experimento em questão.
As amostras contendo Span80® e ambos os tensoativos na fase oleosa (Tabelas 39 e
41), apresentaram valores de elasticidade interfacial elevados. Os resultados indicam atividade
molecular dos tensoativos na interface, capacidade de formar interfaces resistentes a colapsos
e/ou multilamelares (OPAWALE; BURGESS, 1998a, 1998b; SCHRAMM et al., 2003).
Quando o CremophorRH40® foi adicionado à fase aquosa e o Span80® à fase oleosa
(Tabela 42) os valores exibidos são extremamente menores àqueles obtidos em associação na
fase oleosa. Este resultado poderia explicar o fato de que a adição do tensoativo hidrofílico na
Resultados e Discussão 137
fase aquosa e do lipofílico na oleosa, não permitiu a formação de emulsões múltiplas em etapa
única, sugerindo a formação de filmes menos rígidos e resistentes a estresses.
Os resultados de viscosidade dinâmica indicam que a interface com óleo de canola
acrescido de Span80® (Tabela 39) apresenta valores maiores do que para as amostras de óleo
de canola contendo CremophorRH40® (Tabela 40). Para as amostras empregando ambos os
tensoativos, quando ambos foram adicionados ao óleo de canola os valores de viscosidade
dinâmica foram relevantemente maiores, comparados à adição de cada um separadamente nas
fases de liofilia semelhante (Tabelas 41 e 42). Estes resultados indicam que a interface
formada, quando ambos os tensoativos estão inicialmente na fase oleosa, é mais fluido e assim
responde melhor a diferenças de gradiente, distúrbios (efeito Gibbs Marangoni).
Quanto maior a viscosidade interfacial (dinâmica) do sistema, maior será a estabilidade
do mesmo. Quando os glóbulos se aproximam, a taxa de drenagem entre glóbulos de fase
oleosa (para emulsões O/A por exemplo) será determinada parcialmente pela viscosidade da
interface, que se suficientemente elevada pode ser uma barreira à coalescência (SCHRAMM et
al., 2003).
A adição de ambos os tensoativos na fase oleosa produziu filmes com maior elasticidade
e viscosidade interfacial, e poderia embasar teoricamente este parâmetro considerado
fundamental para obtenção de emulsões múltiplas em etapa única.
Tabela 38 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos
Água+Óleo de Canola (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 83,98±5,31 148±24,04 51,77±1,9950±2 63,34±1,55 197±24,91 12,57±2,18
Resultados e Discussão 138
Tabela 39 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola acrescido de Span80® (24,2p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos
Água+Óleo de Canola+Span80® (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 89,85±0,01 2620±360,42 371,3333±39,3250±2 89,82±0,01 3346,667±179,54 243,6667±10,02
Tabela 40 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola acrescido de CremophorRH40® (25,8p/p%) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos
Água+Óleo de Canola+CremophorRH40® (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 89,35±0,04 358,5±2,12 74,4±1,7 50±2 85,99±3,78 290±0 86,2±17,11
Tabela 41 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água/óleo de canola acrescido de Span80® e CremophorRH40® (24,2 e 25,8p/p%, respectivamente) em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos
Água+Óleo de Canola+Tensoativos (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 89,99±0 19.133,33±461,88 993±050±2 89,99±0 13.600±624,5 1.060±0
Tabela 42 - Determinação dos parâmetros de viscoelasticidade para interface água acrescida de CremophorRH40® (25,8p/p%) /óleo de canola acrescido de Span80® (24,28p/p%), em diferentes temperaturas, em função do tempo. Valores obtidos (média e desvio padrão, n = 3) após 2.600 segundos
Água+CremophorRH40®+Óleo de Canola+Span80® (após 2.600 segundos)
Temperatura (⁰C) Viscoelasticidade δ (⁰) Elasticidade (mN/m) Viscosidade (mN.s/m)
25±2 88,82±0,18 669±95,6 189±4,24 50±2 88,84±0,74 617,5±132,23 189±45,25
Resultados e Discussão 139
5.4.6. Determinação das Isotermas de Langmuir
Os resultados obtidos a partir de estudos de fenômenos de superfície permitem
caracterizar a interface formada entre fase aquosa/oleosa de emulsões, correlacioná-los a
estabilidade do sistema, apresentando desta forma, imensurável aplicabilidade para o
desenvolvimento de sistemas dispersos. O emprego de isotermas de Langmuir permite
caracterizar a monocamada de substâncias anfifílicas (tensoativos) adicionada sobre uma
subfase em função da diminuição/compressão da área depositada. As características deste filme
dependem de fatores como as propriedades físico-químicas da molécula anfifílica
(comprimento da cadeia hidrocarbônica e magnitude das forças de atração e repulsão entre os
grupo polares, por exemplo), e da composição e temperatura da subfase (MARTIN, 1993;
MORRISON; ROSS, 2002).
Para as análises da isoterma de Langmuir, foram preparadas amostras do tensoativo
hidrofílico (CremophorRH40®), lipofílico (Span80®) e do ativo marcador (cafeína anidra).
Estas amostras foram avaliadas isoladamente ou em associação, à temperatura de 25±2⁰C
(Figuras 32 e 33) ou para incrementos de temperatura (de 30 a 80⁰C) (Figura 34).
A solução de cafeína foi avaliada com a finalidade de se analisar possíveis influências
do ativo marcador na interface dos glóbulos da emulsão.
As amostras do tensoativo hidrofílico, do par de tensoativos e do par de tensoativos
acrescidos do ativo marcador não apresentaram qualquer mudança de fases à 25±2⁰C,
evidenciadas por ausência de inflexões na curva da isoterma (Figuras 32 e 33). A cafeína não
apresentou qualquer influência sobre o par de tensoativos, detectável por esta metodologia. O
comportamento da molécula de Span80® (tensoativo monomérico) pode ser justificado pela
relevante diferença entre o tamanho/peso molecular do mesmo com o da molécula do tensoativo
hidrofílico, considerado um tensoativo polimérico.
Resultados e Discussão 140
Figura 32 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5µm de CremophorRH40®, Span80® e CremophorRH40® + Span80® em metanol adicionadas a água destilada e deionizada (25±2⁰C)
Figura 33 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5µm de CremophorRH40® + Span80® +Cafeína em metanol adicionadas a água destilada e deionizada (25±2⁰C)
Os resultados apresentados pelas amostras de tensoativo hidrofílico e lipofílico
associados em função de incrementos da temperatura estão representados na Figura 34. É
possível observar que para a faixa de temperatura considerada crítica para obtenção de
emulsões múltiplas em etapa única (78±2⁰C), a isoterma exibiu um comportamento distinto,
com uma marcante inflexão, caracterizando mudança para fase sólida (S). Este comportamento
deve ser considerado e indica uma dramática alteração na microestrutura do filme interfacial em
função da temperatura. A linha horizontal observada em seguida, pode indicar que a
monocamada readiquiriu o estado líquido e entrou em colapso (MARTIN, 1993; MORRISON;
ROSS, 2002, HOLMBERG et al., 2003).
Resultados e Discussão 141
Figura 34 - Caracterização da pressão de superfície (em mN/m) de soluções de 0,5µm de CremophorRH40®+Span80® em metanol adicionadas a água destilada e deionizada, em função da temperatura
Resultados e Discussão 142
5.5. Caracterização Físico-Química da Emulsão Múltipla A/O/A
Para este teste e para os testes seguintes, as amostras 60, 66 e 70 (Tabela 31) obtidas a
partir do diagrama ternário, salvo exceções indicadas, foram escolhidas por terem sido
consideradas as mais estáveis, quanto aos parâmetros macro e microscópicos previamente
analisados (Tabela 46), como por exemplo, morfologia e manutenção dos glóbulos múltiplos
em função do tempo.
5.5.1. Análise Macroscópica
As amostras foram avaliadas quanto ao aspecto macroscópico: consistência e possíveis
sinais de instabilidade como: (a) alterações na cor ou odor, (b) cremeação e (c) separação de
fases. Emulsões manipuladas a faixa de 78±2⁰C apresentaram-se fluidas, leitosas, e fenônemos
como cremeação e separação de fases não foram observados imediatamente após o preparo. O
processo de cremeação foi observada 24 horas após o preparo para as amostras 60 e 70. A
amostra 60 (fase aquosa/fase oleosa 75/20 p/p%) exibiu maior volume de cremeado. Amostras
manipuladas com diferença de ±1⁰C deste intervalo apresentaram separação de fases
imediatamente após o preparo, com a emulsão 60 exibindo maior volume de óleo na superfície.
Os resultados indicam que o aspecto macroscópico de emulsões múltiplas A/O/A é
extremamente dependente da temperatura de emulsificação.
Resultados e Discussão 143
5.5.2. Análise Microscópica
Análise Morfológica
Quanto aos aspectos microscópicos, os seguintes parâmetros foram avaliados: (a)
presença e quantidade de glóbulos múltiplos; (b) características morfológicas, quantidade de
glóbulos simples e/ou múltiplos dentro dos glóbulos múltiplos (carga interna); (c) morfologia
do glóbulo, esférica ou não; (d) distribuição de tamanhos, e (e) presença de glóbulos simples.
A Figura 35 apresenta as fotomicrografias obtidas 24 horas, 7 e 30 dias após o preparo,
apenas as fotos com melhores resoluções foram selecionadas.
Amostra 60 1 dia 200x Amostra 60 1 dia 1000x
Resultados e Discussão 144
Amostra 66 1 dia 200x Amostra 66 1 dia 1000x
Amostra 70 1 dia 1000x
Amostra 60 7 dias 200x Amostra 60 7 dias 1000x
Resultados e Discussão 145
Amostra 66 7 dias 1000x
Amostra 70 7 dias 200x Amostra 70 dias 1000x
Amostra 60 30 dias 400x Amostra 60 30 dias 1000x
Resultados e Discussão 146
Amostra 66 30 dias 100x Amostra 66 30 dias 400x
Amostra 70 30 dias 200x Amostra 70 30 dias 1000x Figura 35 - Amostras 60, 66 e 70 do diagrama ternário analisadas após 24 horas, 7 e 30 dias do preparo. Apenas as melhores resoluções foram selecionadas, assim o valor da ampliação pode variar para algumas fotos
Segundo Florence e Whihehill (1982) as emulsões podem ser classificadas de acordo
com sua morfologia em: (a) tipo A, glóbulos múltiplos que apresentam um único glóbulo
grande interno; (b) tipo B, glóbulos múltiplos que apresentam quantidade razoável de glóbulos
pequenos internos e (c) tipo C, glóbulos múltiplos que apresentam grande quantidade de
glóbulos pequenos internos. O tipo C é o mais útil para o emprego como veículos cosméticos
e/ou farmacêuticas (VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005). As amostras 60 e 70 podem
ser classificadas como do tipo C e a amostra 66 como do tipo B.
Os resultados indicam que a obtenção de emulsões múltiplas A/O/A é extremamente
dependente da temperatura de emulsificação. Para as formulações 66 e 70 foi possível observar
Resultados e Discussão 147
glóbulos múltiplos uniformes, morfologia adequada (glóbulos esféricos), razoável carga interna
e adequada distribuição granulométrica. A amostra 60 apresentou maior quantidade de glóbulos
múltiplos, porém com morfologia e distribruição granulométrica inferiores a 66 e 70. Dentre as
amostras analisadas, a emulsão 66 foi considerada mais estável para aos parâmetros macro e
microscópicos avaliados.
A faixa de temperatura considerada ótima foi de 78±2⁰C. Amostras manipuladas com
±1⁰C deste intervalo apresentam glóbulos com morfologia disforme. É importante ressaltar que
mesmo dentro da estreita faixa de temperatura considerada ótima, diferenças microestruturais
foram observadas para temperaturas de emulsifcação distintas em apenas ±1⁰C (Figura 36), o
que, sem dúvida, dificultou a reprodutibilidade do aspecto microscópico da amostra durante a
pesquisa. Os resultados sugerem que a temperatura é um fator relevante para a
formação/morfologia/granulometria.
(a) (b) Figura 36 - Fotomicrografias de amostras 66 obtidas 24 horas após o preparo (a) (78±1⁰C) (TM = 2,48) e (b) (79±1⁰C) (TM = 1,54). TM = tamanho médio em µm. Aumento de 400x
Resultados e Discussão 148
Análise Morfológica sob Estresse Térmico
Com o intuito de estudar o comportamento/morfologia dos glóbulos múltiplos quando
submetidos a relevantes estresses térmicos, a amostra 66 foi submetida a aquecimento, e teve
sua morfologia monitorada. Até 65±2⁰C, nenhuma alteração foi detectada. Aumentos na
temperatura provocaram alterações graduais na morfologia, com inicial rompimento dos
glóbulos internos, seguido da perda do formato esférico. A partir de 85±2⁰C foi possível
observar a ruptura de alguns dos glóbulos múltiplos.
Estes resultados indicam que a interface dos glóbulos múltiplos (especialmente a
secundária) é extremamente resistente a estresses térmicos, permitindo sugerir ridigez/força da
microestrutura interfacial do sistema, afinal a interface apresentou relevante capacidade de não
alteração e/ou recuperação, mesmo quando submetidas a estresses térmicos ≤65±2⁰C para a
interface primária e ≤85±2⁰C para a interface secundária.
5.5.3. Quantificação e Distribuição Granulométrica
A quantificação estimada de glóbulos múltiplos por cm3 de emulsão utilizando câmara
de Neubauer® para contagem de hemácias conforme metodologia empregada por Nakhare e
Vyas (1996) mostrou-se inviável para as amostras em análise. Como a distribuição de tamanhos
de glóbulos múltiplos diverge inter e intra-amostras, o fator densidade desses glóbulos deve ser
considerado, pois os mesmos se distribuíram distintamente em profundidade no compartimento
da lâmina, influenciando a contagem entre amostras, impossibilitando assim, a possível
padronização do método. A inviabilidade prática deste método já havia sido descrita por Becher
e Schick (1987).
Resultados e Discussão 149
De acordo com Becher e Schick (1987) uma contagem estimada de até 300 glóbulos
com auxílio de um microscópico pode fornecer resultados com desvio padrão <8% e um limite
de confiança de 95%, parâmetros aceitáveis para as análises em questão. Os resultados da
contagem estimada para as amostra 60, 66 e 70 após 1, 7 e 30 dias são descritos na Tabela 43.
As amostras apresentaram aumento de tamanho dos glóbulos múltiplos após 30 dias do preparo.
Tabela 43 - Análise da distribuição granulométrica das formulações 60, 66 e 70 obtidas a partir do diagrama ternário, 48 horas, 7 e 30 dias após o preparo
Distribuição granulométrica das amostras obtidas a partir do diagrama ternário Amostra→ Tempo↓
60 66 70 Cont. Méd. Max DP Cont. Méd. Max DP Cont. Méd. Max DP
1 227 4,32 24,21 4,32 398 1,01 5,29 0,58 189 9,28 24,28 4,01 7 335 2,27 28,26 0,11 369 0,97 7,15 0,62 268 6,08 16,67 2,59
30 505 20,79 69,82 9,31 186 17,01 53,88 10,36 404 26,91 126,27 16,7 Onde: Tempo em dias; Cont.= número de glóbulos contados; Méd. = tamanho médio (em μm); Max = tamanho máximo identificado (em μm) e DP = desvio padrão para Cont.
O intervalo de distribuição granulométrica para as emulsões múltiplas através do
counter para partículas e/ou glóbulos de até 3,0µm foi de 298 a 2.285nm. Quando comparados
os valores de distribuição granulométrica para as amostras 70 obtidas em diferentes
temperaturas, 70±2°C e 78±2°C, respectivamente, notam-se considerável diferença (207 a
378nm e 1670 e 2426nm).
Os resultados da distribuição granulométrica das emulsões múltiplas obtidas através de
counter para partículas e/ou glóbulos de até 500µm estão descritos na Tabela 44 e Figura 37.
Tabela 44 - Distribuição granulométrica (média e desvio padrão, n = 3) das emulsões múltiplas A/O/A manipuladas a 78±2⁰C
Distribuição Granulomética (µm) 60 3,92±0,45 66 2,96±0,44 70 2,73±0,62
Resultados e Discussão 150
(a) (b)
(c) Figura 37 - Distribuição granulométrica das amostras 60 (a), 66 (b) e 70 (c) em µm. Amostras caracterizadas 24 horas após o preparo
Os resultados indicam glóbulos múltiplos consideravelmente menores do que os
relatados pela literatura (FLORENCE; WHITEHILL, 1982), indicando que a análise pode ter
sido comprometida pela necessidade prévia de diluição (etapa exigida pela metodologia em
questão). Esta metodologia tem sido questionada em trabalhos como os de Becher e Schick,
(1987); Py et al. (1994); Rosano, Gandolfo e Hidrot (1998).
Para as emulsões múltiplas em análise, diluindo as amostras, a fração volumétrica
água/óleo/tensoativo é alterada, ou seja, a região de obtenção desta amostra no diagrama de
fases é inevitavelmente alterada. Outra possibilidade é a de que a diluição poderia causar algum
processo de instabilidade, rompendo os glóbulos múltiplos em glóbulos simples menores.
Deve-se considerar ainda, que o aparelho não diferencia entre glóbulos maiores ou glóbulos
Resultados e Discussão 151
floculados, o que é possivelmente provável, considerando-se as modificações do sistema em
análise.
Porém, a possibilidade da metodologia desenvolvida permitir a produção de glóbulos
múltiplos com granulometria bem abaixo da relatada pela literatura, característica relevante
para estabilidade cinética em longo prazo de emulsões, deve ser considerada.
Independente da interferência da diluição no tamanho dos glóbulos múltiplos, os
resultados indicam que a temperatura de emulsificação é determinante para a formação de
glóbulos múltiplos.
5.5.4. Determinação dos valores de pH e Condutividade Elétrica
Os valores de pH e condutividade elétrica observados para as amostras 60, 66 e 70
foram 6,65; 6,35 e 6,7 e 68,4; 81,0 e 93,8μS/cm, respectivamente. Os resultados sugerem que
assim como os valores de potencial zeta, os valores de pH das emulsões múltiplas não sofreram
modificações quando comparados aos da nanoemulsão ou emulsão simples. Os valores de
condutividade apenas confirmam o tipo de emulsão múltipla obtida A/O/A, devido às razões
óleo/água de 1:16 a 1:18.
5.5.5. Determinação dos Valores de Potencial Zeta
As formulações produzidas a partir do diagrama de fases que exibiram melhores
resultados quanto à avaliação macro e microscópicos (Tabela 45) foram submetidas a análises
dos valores de potencial zeta. A análise da estabilidade eletrostática do sistema múltiplo através
da determinação de seu valor de potencial zeta sugere que as características físico-químicas da
interface não sofreram alterações expressivas na mudança do sistema de nano para emulsões
Resultados e Discussão 152
múltiplas. Os valores de potencial zeta também foram próximos, independente da área do
diagrama ternário na qual a emulsão múltipla tenha sido obtida.
Tabela 45 - Análise da estabilidade eletrostática de formulações obtidas a partir do diagrama ternário, 48 horas (2 dias) e 240 horas (10 dias) após o preparo
Potencial zeta em mV de emulsões múltiplas obtidas através do diagrama de fasesAmostras 28 36 40 44 45 50 51 54 58 60 63 64 66 70
48 -52,6 -47,2 -40,4 -41,7 -42,5 -44,6 -43,2 -41,6 -45,9 -46,1 -47,3 -46,2 -43,7 -54,9240 -47,5 -47,8 -48,7 -48,9 -47,9 -46,1 -50,3 -50,0 -58,0 -66,5 -47,7 -56,9 -49,8 -60,7
5.5.6. Determinação da Viscosidade Relativa em Relação à Água
Os valores de viscosidade relativa em relação à água para as amostras 60, 66 e 70 foram
obtidos: 2,34; 1,74 e 1,42; respectivamente. Para amostra 70 obtida a temperatura de 70±2°C,
ou seja, na temperatura onde glóbulos múltiplos não são formados, o valor de viscosidade
relativa obtido foi de 1,14; consideravelmente menor do que o valor para amostra 70 contendo
glóbulos múltiplos. Os resultados estão dentro do esperado, afinal as emulsões foram
formuladas com alta fração volumétrica de fase aquosa e a emulsão 70 múltipla deve ter
viscosidade maior que a nanoemulsão 70, afinal a quantidade de fase dispersa no primeiro caso
é maior.
A emulsão 60 apresentou viscosidade maior que as amostras 66 e 70, pois a quantidade
de fase dispersa (fase oleosa/intermediária) é maior. Os resultados indicam que a viscosidade
das amostras aumentou conforme aumento da granulometria das emulsões (IDSON, 1978;
BARNES, 1993). Outro ponto relevante é que para valores baixos de viscosidade, o fenômeno
de cremeação foi facilitado.
Resultados e Discussão 153
5.5.7. Influência da Adição de Polímeros e Sólidos Finamente Divididos
As características físicas do filme interfacial formado entre os glóbulos múltiplos
dispersos (A/O) e a fase aquosa (A) dispersante devem prevenir fenômenos como coalescência
entre glóbulos próximos e protelar a difusão de água da fase dispersa para dispersante. Filmes
condensados com forte interação lateral e boa elasticidade funcionam como barreira e podem
inviabilizar colisões entre glóbulos próximos (MYERS, 1988; SELA et al., 1994; BENICHOU,
et al., 2004).
Uma constante no comportamento das emulsões múltiplas em análise é que quanto
maior a quantidade de glóbulos múltiplos, maiores e mais evidentes os sinais de instabilidade
(cremeação e/ou separação de fases). A cremeação ocorreu provavelmente devido à diferença
nos valores de densidade das fases dispersa e dispersante da emulsão, para as amostras em
análise este fenômeno poderia ser resultado da diferença de densidades entre os glóbulos
múltiplos (fase dispersa) e a fase aquosa ou mesmo a emulsão simples externa (fase
dispersante).
A formulação 60 do diagrama ternário, com evidente sinal de cremeação, foi escolhida
para a avaliação da influência sobre a morfologia dos glóbulos múltiplos após adição de
polímeros à emulsão, por apresentar quantidade superior e morfologia adequada dentro dos
aspectos microscópicos considerados relevantes. Polímeros iônicos e não-iônicos, amplamente
empregados na produção de cosméticos e medicamentos, foram utilizados na tentativa de
eliminar o fenômeno da cremeação, sem alterar os aspectos morfológicos dos glóbulos
múltiplos obtidos.
As formulações acrescidas de Raphitix® a 0,1 e 0,2% exibiram glóbulos múltiplos com
morfologia alterada (perda de carga e da forma esférica e aglomeração), entretanto não
apresentaram alteração quanto à quantidade de glóbulos múltiplos do sistema. A adição de
Resultados e Discussão 154
Raphitix® a 0,3% produziu efeito negativo tanto na quantidade como na morfologia dos
glóbulos múltiplos. O polímero evitou a cremeação a 0,2 e 0,3%.
As formulações contendo Aculyn44® a 0,1 e 0,2% não apresentaram alterações
morfológicas, contudo os glóbulos diminuíram em tamanho na análise após 48 horas do preparo
(dados não apresentados); as amostras com 0,3% exibiram perda da forma observada na análise
inicial, porém após 15 dias os glóbulos perderam carga. Apenas as formulações contendo 0,2%
não exibiram sinais de cremeação. Apesar de ainda creamadas, as amostras contendo
Aculyn44® em todas as concentrações mantiveram a quantidade, porém não a morfologia dos
glóbulos múltiplos, que perderam material interno.
Para as formulações acrescidas de cmc, goma guar e goma xantana os glóbulos
múltiplos aumentaram em quantidade em função do tempo, não obstante demonstraram
separação de fases a 0,1% e 0,2% e acentuada alteração morfológica. Para goma guar, os
aspectos macro e microscópicos da emulsão foram negativamente influenciados para todas as
concentrações empregadas. A cremeação foi protelada para as amostras contendo cmc a 0,2% e
goma xantana em todas as concentrações. O cmc em todas as concentrações influenciou
negativamente o aspecto macroscópico da emulsão (separação de fases), contudo a formação de
glóbulos múltiplos não foi prejudicada, porém os glóbulos se apresentaram intensamente
floculados. O oposto ocorreu para o Veegun® em todas as concentrações, onde apenas glóbulos
simples foram observados.
Os polímeros que se mostraram mais adequados às finalidades propostas foram o
Aculyn44® e Raphitix® a 0,2%. Os resultados relativos da análise microscópica quanto à
quantidade de glóbulos múltiplos, 24, 48 horas e 15 dias após o preparo estão resumidos na
Tabela 46.
Resultados e Discussão 155
Tabela 46 - Análise microscópica de formulação obtida a partir do diagrama ternário acrescida de polímeros, em três períodos distintos
Emulsões múltiplas (Amostras 60 do diagrama de fases) acrescidas de polímeros Polímeros→ Conc.(%) ↓
Raphitix® Aculyn44® Cmc Goma Guar Goma Xantana 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
0,1 +++ +++ +++ +++ +++ ++ ++ ++ +++ +++ ++ ++ + ++ ++ 0,2 +++ ++ ++ +++ +++ ++ + + ++ ++ ++ +++ ++ ++ ++ 0,3 + + ++ +++ +++ ++ + + ++ ++ ++ ++ + ++ ++
Onde: 1 = 24 horas após o preparo (1 dia); 2 = 48 horas após o preparo (2 dias) e 3 = 360 horas após o preparo (15 dias) e Conc. = concentração empregada de polímeros. + = quantidade de glóbulos múltiplos
A adição de polímeros e macromoléculas provoca compressibilidade e rearranjo na
superfície dos glóbulos, causando alterações na dupla camada. Considera-se que a interação
tensoativo/polímero ocorra individualmente entre a molécula do tensoativo e a cadeia do
polímero, ou seja, através de adsorção ou mesmo através da formação de complexos
poliméricos agregados. Interações entre polímeros e tensoativos não-iônicos são geralmente não
substanciais. Algumas características físico-químicas comuns à maioria dos tensoativos não-
iônicos, como o tamanho dos seus grupos hidrofílicos e baixos valores de CMC inviabilizam
interações entre os grupos polares do tensoativo com as cadeias/caudas hidrofóbicas destes
polímeros (BECHER; SCHICK, 1987; FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; MYERS,
1988; ATTWOOD, 2003).
No entanto, para as amostras acrescidas de polímeros não-iônicos (Aculyn44®, goma
guar e xantana), os resultados sugerem que interações entre os aditivos e a interface dos
glóbulos múltiplos foram possíveis, afinal estes apresentaram algum tipo de alteração
morfológica ou mesmo separação de fases.
A presença de grupos carregados ao longo das cadeias de polímeros iônicos (Raphitix®
e cmc) introduz a possibilidade (e assim a probabilidade) de interações eletrostáticas relevantes,
acrescidas aos fatores estéricos. As interações entre regiões hidrofóbicas do polímero e
tensoativo são favorecidas pela neutralização das cargas distribuídas ao longo da cadeia
polimérica após sua adsorção às moléculas de tensoativos (BECHER; SCHICK, 1987;
Resultados e Discussão 156
FRIBERG; GOLDSMITH; HILTON, 1988; MYERS, 1988). Para as amostras acrescidas de
Cmc as interações interferiram negativamente para a estabilidade da emulsão. As interações
entre o par de tensoativos e o Raphitix® foram semelhante a dos polímeros não-iônicos.
O aditivo que apresentou melhores resultados foi o Raphitix® a 0,1 e 0,2%, pois a 0,3%
os glóbulos múltiplos foram detectados apenas no aumento de 400X com tamanhos
razoavelmente menores (dados não apresentados). Os polímeros naturais, goma guar e xantana
em todas as concentrações empregadas, influenciaram negativamente, tanto na estabilidade,
quanto no sensorial das amostras, mantendo, contudo a morfologia e tamanho dos glóbulos
múltiplos.
5.5.8. Determinação do Perfil Reológico
As emulsões 60, 66 e 70 exibiram perfil reológico Newtoniano, observado tanto para os
gráficos em função da tensão de cisalhamento (dinas/cm2), quanto para os gráficos em função
da viscosidade (cP). Para as amostras em análise não foi possível calcular o índice de
consistência (K), segundo modelo de Herschel-Bulkley, conforme proposto, pois este só se
aplica as amostras de fluxo não-Newtoniano (PY, et al., 1994; TADROS, 1994 e 2004).
Resultados e Discussão 157
Figura 38 - Reograma (tensão de cisalhamento x taxa de cisalhamento) das amostras 60, 66 e 70 obtidas a partir do diagrama ternário. GM=cremeado da amostra 70, GS=fase límpida da amostra.
A construção de reogramas é útil para caracterizar quaisquer tipos de emulsões.
Processos de instabilidade que causam a destruição dos glóbulos aumentam o volume da fase
externa, e consequentemente provocam diminuição da viscosidade aparente da amostra em
função do tempo. Contudo, foi inviável utilizar este parâmetro (bulk rheology) para avaliar a
estabilidade das emulsões A/O/A em análise, onde a quantidade de fase aquosa externa é muito
alta e determina marcadamente o comportamento Newtoniano das emulsões (PY et al., 1994;
TERRISSE et al., 1994; VASILJEVIC; VULETA; PRIMORAC, 2005).
Quanto maior a diminuição da viscosidade com o tempo, maior a quantidade de fase
dispersa, ou seja, menor a quantidade de glóbulos múltiplos. Porém, esta análise (estabilidade
versus tempo) para as emulsões em análise, baseadas apenas nos reogramas (Figura 38) torna-
se inviável na prática, onde a quantidade de fase aquosa externa é muito alta (VASILJEVIC;
VULETA; PRIMORAC, 2005).
Assim, vale ressaltar que a correlação de reogramas com a microestrutura de emulsões
deve ser criteriosa, por exemplo, em situações como o emprego de concentrações elevadas de
espessantes na fase externa pode limitar a avaliação a interações entre a fase externa da emulsão
com agente doador de viscosidade/polímero utilizado, e não necessariamente entre a fase
dispersa e dispersante da emulsão (HOLMBERG et al., 2003; SCHRAMM et al., 2003).
Resultados e Discussão 158
5.5.9. Identificação de Grupos Funcionais de Moléculas dos Tensoativos na
Fase Oleosa da Emulsão – Avaliação de Possível Migração (Determinação do
Coeficiente de Partição dos Tensoativos)
Segundo Cozzoli (1993) a análise estrutural de moléculas de tensoativos por
infravermelho permite identificar grupos químicos comuns aos tensoativos não iônicos
etoxilados e propoxietoxilados. Estes grupos teriam absorção na faixa entre 1.500 e 1800nm.
Especificando, grupo oxietileno 1.725 nm (banda forte) e 1.780 (banda fraca).
Inicialmente a avaliação de uma possível migração das moléculas de tensoativos hidrofílico
tinha o intuito de incluir ou descartar este fenômeno do processo de emulsificação pesquisado.
Este fato está diretamente relacionado à formação de glóbulos múltiplos segundo Lin, Kurihara
e Ohta (1975); Matsumoto (1982) e Oh et al. (2004). A priori houve a tentativa de se adequar a
metodologia de análise de coeficiente de partição de fármacos para os tensoativos empregados
na formulação. Entretanto, mesmo quando as duas fases eram colocadas em contato (fase
aquosa com tensoativo hidrofílico) e submetidas a temperaturas muito superiores a empregada
na metodologia supracitada, como a própria temperatura de emulsificação (78±2°C) e amostras
imediatamente retiradas de fase oleosa, análises em IV não permitiram a identificação de
grupos químicos dos tensoativos. Além disso, a análise pelo IV não permite quantificar, apenas
identificar a presença de moléculas de tensoativos na fase oleosa.
Em uma etapa seguinte, as amostras foram submetidas a ciclos alternados de
centrifugação e estresse térmico com a finalidade de se separar a fase oleosa, com o intuito de
se avaliar a presença ou não de tensotivos hidrofílicos na fase oleosa. Mesmos após serem
mantidas por 30 dias a 45±2°C, após os ciclos supracitados, a amostra 66 apresentou apenas
gotículas de óleo na superfície, o que inviabilizou a retirada de amostra para análise
espectrofotométrica.
Resultados e Discussão 159
De acordo com os espectros obtidos para as amostras 60 e 70 (dados não apresentados),
utilizando o espectro do óleo de canola para comparação, a amostra 60 apresentou grupos do
tensoativo hidrofílico em maior intensidade, enquanto a amostra 70 em menor intensidade.
Estes perfis diferentes permitem sugerir que para a amostra 60, onde houve formação mais
eficiente de glóbulos múltiplos; o tensoativo hidrofílico migraria mais eficientemente da fase
oleosa para interface.
Este mecanismo confirmaria os dados da literatura que demonstram a importância da
migração do tensoativo hidrofílico inicialmente colocado na fase oleosa para interface A/O na
formação do glóbulo múltiplo. E que como demonstrado pelos resultados apresentados,
independentemente da quantidade de tensoativo hidrofílico empregado, e sim do
comportamento apresentado pelas variáveis de composição e processo utilizados.
5.6. Testes Preliminares de Estabilidade da Emulsão Múltipla A/O/A
As amostras 60, 66 e 70 do diagrama ternário foram submetidas aos testes preliminares
de estabilidade após 24 horas do seu preparo. O comportamento das emulsões submetidas a
elevadas temperaturas e à centrifugação estão resumidos nas Tabelas 47 e 48, respectivamente.
As emulsões múltiplas começaram a apresentar modificação intensa, quando submetidas
a temperaturas superiores a 50±2°C. As amostras 60 e 70 separaram de fases a 60±2°C,
enquanto a amostra 66 apenas a 70±2°C. As amostras múltiplas submetidas a protocolo de
centrifugação semelhante ao indicado para emulsões simples apresentaram-se creamadas logo
no primeiro ciclo, sendo que a amostra 70 apresentou também separação de fases.
Resultados e Discussão 160
Tabela 47 - Análise da estabilidade macroscópica de formulações obtidas a partir do diagrama ternário, 48 horas após o preparo
Amostras do diagrama ternário submetidas a estresse térmico Amostra →
Temp. (em °C) ↓ 60 66 70
30 NM NM NM 40 LM NM LM 45 LM NM LM 50 IM IM IM 55 IM IM IM 60 Separação de fases IM Separação de fases 65 - IM - 70 - Separação de fases -
Onde: NM = não modificado, LM = levemente modificado, IM = intensamente modificado, Temp. = temperatura em °C
Com o aumento da força gravitacional aplicada, os sinais de instabilidade macroscópica
aumentaram até se estabilizarem para as emulsões 60 e 70, contudo a amostra 66 não
apresentou separação de fases, mesmo a 3.000rpm. Análises microscópicas demonstraram que
para ambos os testes, a quantidade de glóbulos múltiplos nas amostras diminui, o que era
esperado, afinal a fase oleosa que continha os glóbulos de água separou em uma fase superior;
entretanto, a morfologia dos glóbulos remanescentes permaneceu inalterada, indicando a
capacidade de recuperação do filme interfacial, mesmo quando submetidos a situações extremas
de estresse.
Tabela 48 - Análise da estabilidade macroscópica de formulações obtidas a partir do diagrama ternário, 48 horas após o preparo
Amostras do diagrama ternário submetidas à centrifugação (volume de cremeado em mL)Amostra →
Ciclos (em rpm) ↓ 60 66 70
1.000 3,7 NM 1,7/ SF 2.000 3,1/ SF 1,0 1,4/ SF 3.000 3,1/SF 3,0 1,4/ SF
Onde: NM = não modificado e SF = separação de fases
Resultados e Discussão 161
5.7. Estudos Preliminares da Liberação do Ativo Modelo (Cafeína Anidra) in
vitro a partir da Emulsão Múltipla A/O/A
5.7.1. Sistema Cromatográfico
Com o objetivo de se avaliar a concentração de cafeína anidra nos estudos de coeficiente
de partição, porcentagem do ativo modelo na fase dispersa da emulsão e liberação in vitro foi
padronizada uma metodologia analítica para quantificar a cafeína por cromatografia líquida de
alta eficiência (CLAE). A fase móvel empregada eluiu o ativo rapidamente (6,316±0,0665
minutos), com pico fino e bem definido (Figura 39).
Figura 39 – Cromatograma da cafeína anidra (6,43 minutos). Condições cromatográficas: coluna Symetric C8 (3,5µm), fase móvel: solução aquosa de acetato de sódio, acetonitrila e tetraidorfurano (95,5:2,5:2,0), fluxo de 2,9mL/min, e comprimento de onda ajustado para 273nm
As condições cromatográficas possibilitaram a elaboração de uma curva de calibração
linear na faixa de concentração de 0 a 100 µg/mL do ativo (Figura 40).
Para verificar possíveis interferências do tensoativo nas amostras analisadas, solução
aquosa de CremophorRH40® foi injetada no CLAE. Não se observou alterações no pico de
eluição da cafeína e nem pico algum correspondente ao tensoativo até 20 minutos de análise.
Resultados e Discussão 162
Figura 40 - Representação gráfica da curva de calibração da cafeína na faixa de concentração de 0 a 100µg/mL. Equação da reta: y=40,61-7,107. Coeficiente de correla;áo linear (r)=1,0), n=3
5.7.2. Determinação do Coeficiente de Partição do Ativo Modelo
O coeficiente de partição representa a avaliação da afinidade relativa de um
ativo/fármaco entre dois solventes imiscíveis, assim como um indicador do valor de partição
deste ativo/fármaco de uma fase para a outra. Ativos hidrofílicos, contendo grupos polares
(como por exemplo, hidroxil, carboxil, amino e etc), tem sua solubilidade relativa aumentada na
fase aquosa e diminuída na fase oleosa ou orgânica, assim o coeficiente de partição óleo/água
(O/A) aparente para estes componentes são baixos (MARTIN, 1993; RITSCHE; KEARNS,
1999).
O valor do coeficiente de partição O/A aparente obtido para uma fase oleosa ou
orgânica e fase aquosa em específico deve ser empregado apenas para este sistema em
particular (RITSCHEL; KEARNS, 1999). Desta forma, o coeficiente de partição aparente da
cafeína anidra foi determinado para a água deionizada e destilada e o óleo de canola.
A concentração inicial da cafeína na solução tampão foi de 24,91mg/mL e após partilha
foi de 22,30mg/mL. Aplicando-se a equação de Ritschel e Kearns (1999), o coeficiente de
partição aparente (CPA) obtido foi de 0,1170, confirmando a hidrofilia da cafeína (DIAS et al.,
1999; CLÉMENT et al., 2000).
Resultados e Discussão 163
O coeficiente de partição é um parâmetro eficiente para predizer a taxa de liberação de
fármacos a partir de emulsões (LAUGEL et al., 1996, 1998a, 1998b). É preciso considerar, por
exemplo, que fármacos extensamente lipofílicos podem não migrar da fase oleosa para fase
aquosa, em um sistema como uma emulsão O/A. Entretanto, é importante salientar que este é
um parâmetro que não define, mas auxilia na compreensão de mecanismos envolvidos para
determinação do perfil de liberação de um ativo/fármaco a partir de dispersões.
5.7.3. Determinação da Porcentagem de Cafeína na Fase Dispersa da
Emulsão Múltipla A/O/A
Uma análise macro e microscópica criteriosa da emulsão mostrou que o sistema é
constituído por glóbulos múltiplos, mas também por glóbulos simples de dimensões
nanométricas (dados não apresentados). Quando ocorre cremeação, este aspecto fica evidente, o
cremeado constituído basicamente por glóbulos múltiplos (fato explicado pela diferença de
densidade entre fases dispersa e dispersante) e o não cremeado, por emulsão O/A. Sendo assim,
o objetivo deste experimento foi determinar se o ativo marcador, componente altamente
hidrofílico, adicionado à fase aquosa estaria encapsulado pelos glóbulos múltiplos da emulsão,
ou se estaria apenas na fase aquosa externa da emulsão simples.
A concentração de cafeína adicionada na emulsão foi de 10mg/mL. Considerando-se
que a quantidade de amostra utilizada para o processo de extração foi de 10µL, e o volume de
solventes empregados de 4,0mL, a concentração esperada de cafeína era de 24,94µg/mL.
Os resultados obtidos, 15,42±1,22µg/mL de cafeína anidra para o cremeado e
16,81±0,93µg/mL para a emulsão simples sugerem que o processo de encapsulação foi
eficiente, pois a quantidade de cafeína detectada no cremeado (glóbulos A/O) foi similar ao
obtido para a fase aquosa (externa, dispersante) da emulsão simples.
Resultados e Discussão 164
É importante salientar que estes resultados são apenas indicativos, afinal não foi
possível determinar com exatidão (limitações experimentais) se o cremeado era constituído
apenas por glóbulos múltiplos, e o não cremeado apenas pela emulsão simples.
5.7.4. Liberação do Ativo Modelo a partir da Emulsão Múltipla A/O/A
Os resultados obtidos indicam que, no atual estágio de desenvolvimento, a porcentagem
de ativo liberado da emulsão múltipla estudada em função do tempo variou muito de uma
amostra para outra. Perfis distintos como a liberação de todo ativo em 60 minutos, assim como
a liberação de apenas 80% em 48 horas foram exibidos (dados não apresentados).
As possíveis causas desta relevante variação poderiam ser assim resumidas: (a) os
resultados da análise microscópica da emulsão indicam que mesmo dentro de uma faixa estreita
de temperatura de emulsificação, morfologias distintas para os glóbulos múltiplos foram
observadas. O processo é extremamente dependente da temperatura, e dentro das condições
experimentais disponíveis, foi impossível garantir uma variação menor que ±2⁰C; (b) a
utilização do cremeado (obtido após centrigugação) para os estudos de liberação não garantiu
que apenas glóbulos múltiplos estavam sendo empregados, emulsão simples com cafeína mais
prontamente disponível para transpor a membrana de diálise explicaria um perfil de liberação
tão rápido quanto 60 minutos; e (c) considerando que os glóbulos múltiplos da emulsão 66,
empregada para os estudos de liberação, apresentavam tamanho de 2,96±0,44µm, a suposição
de que os glóbulos internos estariam na faixa nanométrica, além da presença de duas
membranas para serem transpostas, do aspecto altamente hidrofílico do ativo explicariam o
perfil de liberação onde 80% do ativo não foi liberado mesmo depois de 48 horas de análise.
O controle da temperatura de aquecimento das fases aquosa e oleosa e do processo de
emulsificação, por mais que preciso, não garantiram a uniformidade da microestrutura da
Resultados e Discussão 165
emulsão. Assim, mais importante do que a determinação do valor exato de temperatura ótima
para o processo de emulsificação, seria uma compreensão mais ampla do processo, a
possibilidade de tornar a temperatura fator menos determinante, o que sem dúvida, viabilizaria
na prática a obtenção de sistemas com morfologia reprodutível e daí, aplicáveis a etapa
seguinte, de avaliação do perfil de liberação.
Deve-se considerar também possíveis limitações da técnica empregada para análise de
liberação de ativos a partir de sistemas dispersos desenvolvidos para aplicação tópica. O
emprego de células de diálise vertical ou célula de Franz seria mais adequado para o sistema
desenvolvido, pois representaria com maior fidelidade o processo de liberação do ativo para a
pele.
5.8. Obtenção de Emulsões Múltiplas A/O/A em Etapa Única
A formação de emulsões múltiplas pelo método de emulsificação em etapa única pode
ser fundamentada no conceito de que sistemas múltiplos são uma mesofase (estruturas
intermediárias) entre emulsões simples O/A e A/O. O desenvolvimento de sistemas múltiplos
pode preceder o processo de inversão de fases para emulsões simples e vários estudos têm
relatado este tipo de fenômeno (MATSUMOTO, 1983; VAESSEN; STEIN, 1995; ZERFA;
SAJJADI; BROOKS, 2001; BOUCHAMA et al., 2003; SAJJADI; JAHANZAD; BROOKS,
2002, SAJJADI; et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; XIE; BROOKS, 2004; BR
Pat. 0180700074452; MORAIS et al., 2008).
O tipo de emulsão obtida (O/A ou A/O) depende essencialmente da natureza das
matérias-primas empregadas e da fração volumétrica entre as fases dispersa e dispersante:
quando estes parâmetros são alterados pode ocorrer inversão de fases. Em resposta a uma
determinada perturbação do sistema, alterações da temperatura e/ou razão volumétrica das fases
dispersa e dispersante, as emulsões (dispersões líquido/líquido em geral) podem exibir inversão
Resultados e Discussão 166
de fases (BROOKS; RICHMOND, 1991; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SAJJADI;
et al., 2003; SAJJADI; ZERFA; BROOKS, 2003; XIE; BROOKS, 2004; ROBERTS; XIE;
BROOKS, 2006).
Emulsões normais são definidas como aquelas em concordância com a teoria de
Brancroft, ou seja, a fase na qual o tensoativo é predominantemente solubilizado ou ainda, a
fase onde o tensoativo forma solução micelar torna-se a fase contínua ou dispersante da
emulsão, esquematicamente O/A (micelas) (O/Am) ou A/O(micelas) (A/Om) (BECHER; SCHICK,
1987; MARSZAL, 1988; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998). Pode-se inferir que
emulsões O/A devem ser produzidas quando o par de tensoativos empregado exibe valores
elevados de EHL, característica do par de tensoativos empregados nesta pesquisa e possíveis
inversões de fases estariam relacionadas a mudanças no equilíbrio hidrófilo-lipófilo do par de
tensoativos.
De acordo com a regra de empacotamento de Ostwald, inversões de fases ocorrem
quando o sistema em dispersão atinge uma condição de empacotamento próxima a valores
críticos. Estudos demonstram que se emulsões múltiplas são formadas neste ponto, a fração
volumétrica efetiva da fase dispersa é muito maior do que a fração volumétrica verdadeira,
afinal existe glóbulos dispersos dentro dos glóbulos dispersos (BROOKS; RICHMOND, 1991).
No intuito de relacionar as variáveis relevantes à formulação, como a natureza dos
componentes empregados (parâmetro crítico para teoria de Bancroft) e ao processo e a
composição, ou melhor, a quantidade dos componentes da emulsão (parâmetro crítico para
teoria de Ostwald) a inversões de fases durante o processo de emulsificação, Brooks, Richmond
e Zerfa (1998) e Salager et al. (2000, 2004) criaram o termo SAD (surfactant affinity difference)
ou diferença de afinidade do tensoativo (DAT), que segundo os autores representaria o mesmo
conceito desenvolvido por Winsor, mas que, entretanto é baseado em termos experimentalmente
obtidos. A teoria de Winsor baseia-se na influência da razão volumétrica das fases dispersa e
Resultados e Discussão 167
dispersante sendo pormenorizada dependendo da região do diagrama de fases onde a emulsão é
formulada.
Na fase Winsor III, fase tensoativa ou middle phase, em uma faixa estreita de
temperatura, a solubilidade do tensoativo é extremamente baixa, tanto na fase aquosa quanto na
oleosa. Consequentemente há a formação de uma terceira fase, formada por líquido isotrópico
separado (SHINODA; FRIBERG, 1986).
Correlacionando DAT com as fases de Winsor observa-se que DAT<0
(negativo)=Winsor I, DAT>0 (positivo)=Winsor II e DAT=0 =Winsor III, middle phase ou fase
de tensoativo (BROOKS; RICHMOND, 1991, BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998;
SALAGER et al., 2000, 2004).
De acordo com o mapa de transição (Figura 41), emulsões na região A apresentam
frações volumétricas O/A próximas a 1, emulsões na região B apresentam frações volumétricas
de água ≤30% e na região C ≥70%. Assim, as regiões B- e C+ favoreceriam a formação de
emulsões anormais, em B- e C+ DAT favorece a formação de um tipo de emulsão, enquanto a
razão volumétrica O/A favorece outro.
Resultados e Discussão 168
Figura 41 - Mapa de transição de fases (composição x diferença de afinidade do tensoativo DAT), indicando onde ocorre a formação de emulsões normais, anormais e quando estão na região Winsor I e II. O mapa indica a região de uma possível histerese para inversão de fases transicional e a linha verde indica a microestrutura das emulsões ao longo do processo (BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; SALAGER et al., 2000, 2004)
A formação de emulsões anormais é favorecida quando a concentração empregada de
tensoativos é muito alta ou muito baixa e/ou quando a fração volumétrica entre fase aquosa e
oleosa é muito diferente de 1 (SALAGER et al., 2002, 2004; XIE; BROOKS, 2004). Para as
emulsões múltiplas formuladas, foram empregados tensoativos na concentração de 5,0%, razão
volumétrica fase oleosa/tensoativos de 1:1 e razão volumétrica entre fase dispersa/dispersante
de 1:16 a 1:18, condições estas que seguramente remetem estas formulações a um possível
processo de inversão de fases. A formação das emulsões começaria em B- e finalizariam em C-.
Sugere-se que o processo possa ser assim descrito. A água é inicialmente solubilizada
pelas micelas dispersas na fase oleosa (Am/O), formando assim micelas inversas intumescidas
(B-). No início do processo de emulsificação a temperatura está elevada (78±2ºC). Como
sugerido pelos resultados já apresentados, o valor da temperatura de emulsificação, mesmo que
abaixo do valor de temperatura de inversão de fases, influencia no processo de emulsificação.
Como o sistema não atravessou a linha transicional de inversão, pode-se sugerir que o locus de
inversão para este sistema estaria deslocado no sentido de maior lipofilia, como esquematizado
no mapa de transição de fases (Figura 41).
Resultados e Discussão 169
Assim, a emulsão não inverteria de fases, mas a característica predominante do par de
tensoativos seria lipofilica e a emulsão inverteria de Am/O para A/Om. Inicialmente, com o
resfriamento da emulsão, prevalece ainda o caráter lipofílico do par de tensoativos, ao mesmo
tempo em que o aumento gradual de água continua resultando em aumento da fração
volumétrica da fase dispersa. Quando o sistema alcança Winsor III, a tensão interfacial mínima
do sistema permite a inversão de A/Om para Om/A, inversão catastrófica pelo aumento contínuo
na proporção de fase dispersa. Estes resultados estariam em conformidade com a regra de
empacotamento de Ostwald, entretanto em oposição à teoria de Bancroft. Acredita-se que para
estes sistemas, na middle phase, durante a inversão de A/Om para Om/A pode ocorrer
simultaneamente a inclusão de fase aquosa na solução oleosa micelar interna e daí haveria
também a formação de A/O/Am+O/Am a partir de Om/A, com concomitante resfriamento do
sistema.
Esta emulsão múltipla estaria de acordo com a regra de Ostwald, afinal deve-se
considerar que seu volume real é bem maior que seu volume efetivo, e em acordo com a regra
de Bancroft, pois o par de tensoativos predominantemente hidrofílico formará micelas na fase
aquosa externa.
No processo de emulsificação em análise, a fase aquosa foi gradualmente adicionada à
fase oleosa contendo as moléculas dos tensoativos hidrofílico e lipofílico, no mapa de transição
de fases (Figura 41) a emulsão deslocou-se da esquerda para direita, ou seja, a emulsão inicia
sua formação em B-, onde há pouca água para a formação de um sistema hidrofílico (Winsor I),
ocorrendo à formação de emulsões anormais. Assim emulsões A/O anormais seriam formadas
para uma região onde há muita água, com DAT>0 (lipofílico) onde óleo deveria constituir a
fase externa (Winsor II).
A tensão interfacial mínima que ocorre durante os processos de emulsificação por
inversão de fases (EIF) e a temperatura de inversão de fases (TIF), fase Winsor III, favorece
curvatura interfacial nula e inversões de emulsões simples tornam-se prontamente possíveis. A
Resultados e Discussão 170
formação de emulsões múltiplas anormais ocorreria provavelmente porque este sistema em
análise pode ser temporariamente incompatível com a existência de macroemulsões normais
(SHINODA; FRIBERG, 1986; MARSZAL, 1987; SALAGER et al., 2000, 2004; BR Pat.
0180700074452; MORAIS et al., 2008).
A metodologia e formulação propostas neste estudo produzem sistemas múltiplos que
podem ser definidos como emulsões anormais, comumente definidas como emulsões múltiplas
formadas durante processo de inversão de fases. A formação destes sistemas anormais ocorre
provavelmente como resultado de conflito entre as teorias de Bancroft e Ostwald. (BECHER;
SCHICK, 1987; MARSZAL, 1987; BROOKS; RICHMOND; ZERFA, 1998; BR Pat.
0180700074452; MORAIS et al., 2008).
A emulsão múltipla anormal obtida sugere que a formação de glóbulos múltiplos para a
metodologia e formulação propostos é resultado de uma combinação entre mecanismos de
inversão transicional e catastrófica, com possível predominância da inversão catastrófica, e
seria formada como um sistema intermediário que satisfaria duas situações distintas (através
dos processos de EIF e TIF) (BR Pat. 0180700074452; MORAIS et al., 2008).
Os resultados indicam que a estrutura química e propriedades físico-químicas dos
tensoativos, extensamente avaliadas por análises de fenômenos de superfície, bem como a
metodologia empregada no processo de emulsificação são aspectos determinantes para a
obtenção, morfologia e estabilidade de glóbulos múltiplos formados em etapa única.
Referências Bibliográficas 171
CONCLUSÃO
Conclusão 171
6. CONCLUSÃO
Após avaliação da influência de estresse térmico e gravitacional e da adição de
eletrólitos sobre os sistemas simples (nanoemulsões), os valores de potencial zeta e
granulometria indicam a inexistência de quaisquer sinais de instabilidade e sugerem que seu
mecanismo de estabilidade eletroestérica seja essencialmente constituído pelo componente
estérico;
A temperatura de manipulação e de emulsificação foram parâmetros fundamentais para
obtenção de sistemas dispersos múltiplos A/O/A em uma única etapa;
Os aspectos macro e microscópico das emulsões múltiplas A/O/A obtidas apresentaram-
se extremamente dependentes da temperatura de emulsificação;
Os resultados indicam glóbulos múltiplos consideravelmente menores do que os
relatados pela literatura;
Os valores de EHL, ou seja, a proporção entre o tensoativo hidrofílico e lipofílico,
influenciaram na obtenção dos glóbulos múltiplos;
O emprego do diagrama ternário ou de fases aperfeiçoou a escolha das concentrações de
água/óleo/tensoativos empregadas na formulação das emulsões múltiplas;
As características físico-químicas dos tensoativos hidrofílicos empregados foram
consideradas semelhantes para os parâmetros avaliados e parecem não interferir na obtenção da
emulsão múltipla;
O processo de emulsificação influenciou na obtenção e na morfologia dos glóbulos
múltiplos;
Foi possível observar valores de tensão superficial próximos a zero, ou seja, valores de
tensão superficial/interfacial mínimo. Este ponto foi diretamente proporcional a concentração
de tensoativos empregada e observado no intervalo específico de temperatura considerada
crítica para o processo de obtenção de emulsões múltiplas em etapa única;
Conclusão 172
Para este mesmo intervalo de temperatura, a molécula de tensoativo hidrofílico em
solução aquosa sofreu reorganização intramolecular e intermolecular;
Foi inviável utilizar a reologia de fluxo para avaliar a estabilidade das emulsões A/O/A
em análise, onde a quantidade de fase aquosa externa era muito alta e determinou o
comportamento Newtoniano das emulsões;
Os resultados de reologia de fluxo sugerem que o tensoativo hidrofílico apresentou
transição de fases, de uma solução micelar para uma fase cristalina cúbica, no intervalo de
temperatura considerado crítico para a obtenção de emulsões múltiplas em etapa única;
Os resultados de elasticidade superficial sugerem que a molécula de CremophorRH40®,
em associação ou não com Span80®, foi marcadamente influenciada pelo aumento da
temperatura. Estes resultados sugerem ainda que existe sinergismo entre as moléculas de
CremophorRH40® e Span80®. Este comportamento pode estar relacionado a obtenção de
emulsões múltiplas em única etapa com o par em análise por inviabilizar apropriadamente
pontos de interações moleculares, permitindo então que as forças de adesão entre as moléculas
de tensoativos e as fases aquosa e oleosa sejam diminuídas, fenômeno que ocorreria durante a
fase de Winsor III;
Os resultados de elasticidade superficial indicam ainda que o aumento do número de
moléculas do tensoativo na superfície foi desfavorável as interações intramoleculares, as três
cadeias hidrofóbicas da molécula na interface líquido-ar, limitariam espacialmente estas
interações. O nível de organização molecular parece diminuir com o aumento da concentração
do tensoativo analisado, explicando o aumento da viscosidade dinâmica;
A isoterma para os tensoativos em associação e em função da temperatura, exibiu um
comportamento distinto, com marcante inflexão, caracterizando mudança para fase sólida (S) na
a faixa de temperatura considerada crítica para obtenção de emulsões múltiplas em etapa única.
Este comportamento indica uma dramática alteração na microestrutura do filme interfacial;
Conclusão 173
O emprego de tensoativos não-iônicos etoxilados deve estar envolvido com o processo
de inversão de fases transicional;
A razão entre o volume da fase dispersa e dispersante está envolvida na obtenção de
sistemas múltiplos em uma única etapa e deve estar relacionada ao processo de inversão de
fases catastrófico;
O processo de encapsulação foi eficiente, afinal a quantidade de cafeína detectada no
cremeado (glóbulos A/O) foi similar ao obtido para a fase aquosa (externa, dispersante) da
emulsão simples;
Os resultados obtidos indicam que, no atual estágio de desenvolvimento, não foi
possível definir um perfil de liberação para a emulsão múltipla em análise. Perfis distintos como
a liberação de todo ativo em 60 minutos, assim como a liberação de apenas 80% em 48 horas
foram exibidos;
Os estudos das propriedades físico-químicas dos tensoativos, do filme interfacial
formado entre as fases oleosa e aquosa empregadas, foram primordiais para compreensão dos
fenômenos envolvidos e relevantes ao processo de obtenção de glóbulos múltiplos em etapa
única. Aspectos até então considerados teóricos puderam ser exibidos experimentalmente;
O método de emulsificação escolhido permitiu a obtenção do sistema múltiplo em etapa
única e determinou as características físico-químicas dos sistemas dispersos obtidos;
A formação de emulsões múltiplas anormais não ocasionais ou momentâneas sugere
uma combinação dos processos de inversão de fases transicional e catastrófica;
As emulsões múltiplas obtidas podem ser consideradas estáveis frente às metodologias de
avaliação e análise empregadas.
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